Upload
trinhhuong
View
223
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
Ana Isabel Louro da Ponte
Relatório de Estágio Profissionalizante
Mestrado Integrado em Medicina
Área: Medicina Comunitária
Trabalho efectuado sob a Orientação de: Dra. Maria da Graça Vasques Amorim da Costa Veiga
Abril, 2011
Relatório de Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária – FMUP
o Dr.ª Graça Veiga, equipa de enfermagem e administrativos do Centro de Saúde São
João.
o Dr.ª Maria Santos Rêgo, enfermeiro António Gomes e administrativos do Centro de
Saúde de Paços de Ferreira.
o Administrativas do Departamento de Clínica Geral da Faculdade de Medicina da
Universidade do Porto.
AGRADECIMENTOS
Relatório de Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária – FMUP
O presente relatório foi realizado no âmbito de um estágio de quatro semanas na
disciplina de Medicina Comunitária.
As motivações e oportunidades prendem-se com a importância da prática clínica na
formação pré-graduada, sendo fundamental a aquisição de competências no âmbito do
desempenho clínico. Além disso, esta residência poderá permitir a consolidação de
conhecimentos teórico-práticos previamente adquiridos e realização de novas aprendizagens.
Por último, este documento poderá constituir uma fonte de informação para aquilo que é
possível realizar e aprender nesta disciplina.
Os objectivos consistiram na caracterização dos centros de saúde onde decorreu o
estágio; reconhecimento da importância da disciplina no ensino pré-graduado de Medicina;
aquisição e consolidação de conhecimentos; descrição das actividades e trabalhos
desenvolvidos.
As actividades realizadas incluíram a presença em seminários; a realização tutelada e
a observação de consulta médica e procedimentos de enfermagem; a elaboração de registos de
consulta de ambos os centros de saúde, de uma história clínica, de um fluxograma sobre
«Rastreio Oncológico Ginecológico», de um panfleto sobre «Depressão» e de uma reflexão
sobre «O impacto da actual situação económico-social na saúde mental da população
portuguesa».
A actividade complementar consistiu na caracterização dos motivos de consulta
registados durante a residência de Medicina Comunitária nos dois centros de saúde
frequentados.
Pode concluir-se que o estágio de Medicina Comunitária se traduziu numa
experiência enriquecedora, por proporcionar um contacto com a Medicina Geral e Familiar,
possibilitando a percepção das diferentes áreas de intervenção sobre a pessoa e seu contexto
sócio-familiar.
RESUMO
Relatório de Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária – FMUP
The present report was carried out within a four-week-internship regarding the
Community Medicine class.
The motivations and opportunities have to do with the importance of the clinical
practice in the pre-graduation step, being the competence acquisition, as far as the clinical
performance is concerned, of extreme importance. Moreover, the goal of the above mentioned
internship was to lead to the consolidation of previously acquired knowledge (theoretical and
practical), as well as to the accomplishment of new competences. Lastly, the purpose of this
paper is also to act as a source of information as to what is possible to accomplish and learn in
this class.
The purposes were to describe the Health Centres where the internship took place;
recognise the relevance of the class in the pre-graduated teaching of Medicine; acquire and
consolidate knowledge, and describe the activities and tasks that were carried out.
The carried out activities involved seminaries attendance; actual practice under
responsible surveillance, and medical appointment attendance and nursing procedures
observance. The activities also included carrying out appointment records at both Health
Centres, one medical record, one flow chart on “Gynaecologic Oncology Screening”, one
leaflet on “Depression” and one study on “The impact of the current social and economic
situation on the Portuguese mental health.
The complementary activity was based on the description of the appointment reasons
that were registered during the internship at both Health Centres.
To sum up, it is fair to say that the Community Medicine internship proved to be an
enriching experience, due to the fact that it made available a closer contact to what General
Practice and Family Medicine is about, allowing the intern to see its different areas of
intervention on the individual itself, as well as on its social and family environments.
ABSTRACT
Relatório Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária – FMUP
1
1. Siglas…………………………………………………………………………….
2. Figuras e Tabelas………………………………………………………………...
3. Introdução e Enquadramento…………………………………………………….
3.1 Motivação e Oportunidade………………………………………………….
3.2 Objectivos do Trabalho……………………………………………………..
4. Revisão do Estado Actual dos Conhecimentos Relevantes ao Relatório………...
5. Caracterização dos Centros de Saúde…………………………………………….
5.1 Horário Atendimento | Tipo Consulta………………………………............
5.2 Número Utentes | Freguesias Abrangidas…………………………………..
5.3. Recursos Humanos | Suporte Informático | Referenciação para CSS |
Ensino pré e pós-graduado……………………………………………...............
5.4 Estrutura Física…………………………………………………...................
5.5 Características Demográficas……………………………………………….
6. Descrição das Actividades……………………………………………………….
6.1 Seminários…………………………………………………………………..
6.2 Actividades Realizadas nos Centros de Saúde………………...……………
6.3 Trabalhos Complementares…………………………………………............
6.4 Actividade Complementar…………………………………………………..
7. Conclusões.............................................................................................................
8. Bibliografia………………………………………………………………………
9. Apêndices
9.1 Apêndice I | Relação Cuidados Primários com Secundários
9.2 Apêndice II | História Clínica
9.3 Apêndice III | Fluxograma
9.4 Apêndice IV | Relação Cuidados Primários com Secundários Registos
9.5 Apêndice V | Panfleto
9.6 Apêndice VI | Reflexão
10. Anexos.
10.1 Anexo I | Ciclo de Vida de Duvall
10.2 Anexo II | Risco Familiar de Segovia Dreyer
10.3 Anexo III | Risco Familiar Imperatori
10.4 Anexo IV | Classificação Social Graffar
2
3
4
4
5
6
8
8
9
9
11
11
13
13
14
16
17
29
30
32
32
33
46
51
53
55
59
59
59
60
60
ÍNDICE
Relatório Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária – FMUP
2
CS Centro de Saúde
CSPF Centro de Saúde Paços de Ferreira
CSSJ Centro de Saúde de São João
CSP Cuidados de Saúde Primários
CSS Cuidados de Saúde Secundários
DM Diabetes mellitus
FMUP Faculdade Medicina Universidade Porto
HTA Hipertensão arterial
ICPC Classificação Internacional de Cuidados Primários
(do inglês «International Classification of Primary
Care»)
MC Medicina Comunitária
MGF Medicina Geral e Familiar
MAPA Monitorização ambulatória de pressão arterial
SASU Serviço Apoio Situações Urgentes
SAM Sistema de Apoio ao Médico
SAPE Sistema de Apoio à Prática de Enfermagem
SINUS Sistema de Informatização nas Unidades de Saúde
REP Relatório de Estágio Profissionalizante
USF Unidade de Saúde Familiar
1. SIGLAS
Relatório Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária – FMUP
3
Figura 1 Pirâmide Etária do CSSJ
Figura 2 Pirâmide Etária do CSPF
Figura 3 Pirâmide etária dos doentes das consultas assistidas
no CSPF
Figura 4 Pirâmide etária dos doentes das consultas assistidas
no CSSJ
Figura 5 Consultas no CSPF
Figura 6 Consultas no CSSJ
Figura 7 Distribuição dos motivos de consulta por Capítulos
da ICPC-2 no CSPF e CSSJ
Figura 8 Distribuição dos Capítulos da ICPC-2 na Consulta
Aberta no CSPF e no CSSJ
Figura 9 Distribuição dos Capítulos da ICPC-2 na Consulta
Programada no CSPF e no CSSJ
Tabela 1 Horário Atendimento | Tipo de Consulta
Tabela 2 Número Utentes | Freguesias Abrangidas
Tabela 3 Recursos Humanos | Suporte Informático |
Referenciação para CSS | Ensino
Tabela 4 Estrutura Física
Tabela 5 Características Demográficas
Tabela 6 Cronograma Actividades CSPF
Tabela 7 Cronograma Actividades CSSJ
Tabela 8 Capítulos da ICPC-2
Tabela 9 Componentes da ICPC-2
Tabela 10 Distribuição dos Capítulos da ICPC-2 por género e
faixa etária no CSPF
Tabela 11 Distribuição dos Capítulos da ICPC-2 por género e
faixa etária no CSSJ
Tabela 12 Principais motivos de consulta no CSPF
Tabela 13 Principais motivos de consulta no CSSJ
2. FIGURAS E TABELAS
Relatório Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária – FMUP
4
O presente Relatório de Estágio Profissionalizante (REP) insere-se no âmbito da 3ª
Edição da Unidade Curricular do 6º Ano do Curso de Mestrado Integrado em Medicina
“Dissertação/Monografia/Relatório de Estágio Profissionalizante”, ano lectivo de 2010/2011.
Consiste na descrição das experiências vivenciadas na residência de Medicina Comunitária
(MC), numa avaliação focalizada nos conhecimentos adquiridos, na realidade vivida e nos
subsequentes resultados pedagógicos.1
3.1 Motivação e Oportunidade
O curso de Medicina da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) é
constituído por um ciclo de anos básicos e um ciclo de anos clínicos. Isso denota a ênfase
dada à prática clínica na formação pré-graduada e a necessidade de aquisição de competências
e capacidades no âmbito do desempenho clínico e, daí, a opção pela realização de um REP.
A residência em MC proporciona o contacto com os Cuidados de Saúde Primários
(CSP), nomeadamente Medicina Geral e Familiar (MGF), que constitui o primeiro nível de
contacto do indivíduo, da família e da comunidade, representando o primeiro elemento de um
processo permanente de assistência de saúde. Os Médicos de Família exercem o seu papel
profissional promovendo a saúde, prevenindo a doença e prestando cuidados curativos, de
acompanhamento ou paliativos, quer directamente, quer através dos serviços de outros,
consoante as necessidades de saúde e os recursos disponíveis no seio da comunidade servida,
auxiliando ainda os pacientes, sempre que necessário, no acesso àqueles serviços.2 Desta
forma, por um lado, esta residência permite um contacto mais próximo com o indivíduo,
contextualizando-o na sua realidade familiar e social. Por outro lado, perante esta abrangência
de actuação, assim como a diversidade demográfica das pessoas que recorrem aos CSP, esta
residência poder-se-á revelar uma mais valia para a integração e consolidação de
conhecimentos teórico-práticos adquiridos ao longo da minha formação, bem como realização
de novas aprendizagens.
Nos últimos anos, tem-se assistido a uma redução da taxa de ocupação das vagas da
especialidade em MGF, aliado ao declínio de interesse dos estudantes de medicina e jovens
médicos por esta especialidade. A influência do ensino pré-graduado nas escolhas
profissionais dos jovens médicos, nomeadamente a influência de um departamento de Clínica
Geral com forte implementação na Faculdade, a existência de maior número de professores de
3. INTRODUÇÃO E ENQUADRAMENTO
Relatório Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária – FMUP
5
MGF dentro da Faculdade, em especial tutores e docentes que exerçam a sua actividade
clínica em centros de saúde (CS), assim como a existência de currículos longitudinais que
permitam maior contacto com a disciplina e o exercício da sua prática profissional poderão
constituir importantes factores de influência.3 Assim, este REP poderá constituir um
documento passível de consulta, onde será clarificado e explanado o conteúdo desta
disciplina. Tal exposição também poderá viabilizar a percepção do impacto pedagógico da
disciplina e consequentes mudanças no sentido de uma contínua melhoria na formação
académica do curso de Medicina, nomeadamente, numa reorganização curricular com vista a
dar uma maior ênfase aos CSP.
No presente REP descrevem-se os objectivos, os CS, as actividades e os trabalhos
complementares desenvolvidos durante a residência em MC que é constituída por uma
valência rural e uma valência urbana, que tiveram lugar em CS. A residência teve a duração
de quatro semanas.
3.2 Objectivos do Trabalho
o Enfatizar a oportunidade concedida pela residência em MC para o contacto com os
CSP, nomeadamente MGF.
o Reconhecer a importância da MC no ensino pré-graduado da Medicina.
o Consolidar conhecimentos adquiridos ao longo do curso, assim como adquirir
novas aptidões e aprendizagens.
o Caracterizar os CS frequentados, atentando às semelhanças e diferenças
encontradas.
o Salientar as actividades desenvolvidas e respectivo impacto na minha formação
pessoal e profissional.
o Analisar os motivos de consulta nos CS frequentados.
Relatório Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária – FMUP
6
A MGF define-se como a prestação de cuidados primários continuados e abrangentes
ao indivíduo no seu todo, a nível individual, familiar e de comunidade; os cuidados primários
envolvem a capacidade de tomar medidas adequadas para qualquer problema que o paciente
apresenta, quer este faça ou não parte de um relacionamento médico – doente. Além disso,
visa a promoção da saúde, prevenção da doença e prestação de cuidados curativos, de
acompanhamento ou paliativos. 2,4
Torna-se pertinente a abordagem do conceito de Unidade de Saúde Familiar (USF),
na medida que apesar dos CS frequentados não o serem, são exemplos de CS que funcionam
com uma estruturação similar. Além disso, o CSPF tem data prevista de conversão para USF
em Fevereiro de 2011. As USF são pequenas unidades operativas dos CS com autonomia
funcional e técnica, que contratualizam objectivos de acessibilidade, adequação, efectividade,
eficiência e qualidade, e que garantem aos cidadãos inscritos uma carteira básica de serviços.
É um modelo inovador de organização da prestação de cuidados de saúde à população,
composta por uma equipa multidisciplinar de médicos, enfermeiros e administrativos com
autonomia de organização, apresentando anualmente objectivos e metas concretas no Plano
de Acção, fazendo avaliações internas de desempenho, de execução e de cumprimento dos
objectivos propostos. Cada USF tem como representante um médico, que em conjunto com
um profissional de enfermagem e um administrativo, garante a sua coordenação e a qualidade
do serviço, na dimensão técnico-científica e organizacional. 5,6
A organização do trabalho numa USF deve garantir boa acessibilidade aos utentes,
nomeadamente através de uma resposta no próprio dia, podendo levar à realização ou
marcação de uma consulta. Para marcar consulta, preferencialmente por telefone, cada USF
tem um horário previamente designado. O horário de cada unidade é das 8 às 20 horas, todos
os dias úteis, existindo em algumas USF prolongamento de horário, para além das 20 horas e
aos fins-de-semana. A prestação de cuidados de saúde à lista de utentes inclui cuidados de
saúde de MGF e de enfermagem, designadamente: consulta individualizada de saúde de
adultos e a grupos específicos, vulneráveis e de risco (planeamento familiar, saúde materna,
saúde infantil e juvenil, vigilância oncológica, diabéticos, hipertensos, idosos); consulta no
domicílio; prestação de cuidados em situações de doença aguda e urgente; prestação de
cuidados em situação de doença crónica ou múltipla, articulação com cuidados de saúde
secundários (CSS) para referenciação ou recepção de doentes; vacinação e procedimentos de
4. REVISÃO DO ESTADO ACTUAL DOS CONHECIMENTOS RELEVANTES AO
REP
Relatório Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária – FMUP
7
enfermagem. Em algumas USF podem existir consultas de outras especialidades médicas, nas
quais outros médicos especialistas dão apoio aos médicos de família. Podem existir ainda
consultas de Psicologia e Nutrição, bem como apoio de Assistente Social. Cada médico de
família é responsável pela prestação de cuidados aos seus utentes, mas o corpo clínico e
restante equipa fazem substituição no caso de ausência de qualquer um dos elementos, de
modo a garantir a prestação de cuidados a todos os utentes inscritos na USF. Esta inter-
substituição confere maior acessibilidade e proximidade aos seus utentes. Não é necessário a
marcação de consulta para renovar receitas de medicação crónica, pois uma vez tendo
entregue na Secretaria o Cartão de Medicação Prolongada, cada utente será informado da data
em que poderá levantar o Cartão com receita renovada. 5,6
Actualmente, em Portugal encontram-se 278 USF activas. As USF produzem maior
grau de satisfação nos utentes pela acessibilidade e ganhos em saúde e nos profissionais pelo
trabalho de equipa com autonomia e com um regime remuneratório específico.5,6
Relatório Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária – FMUP
8
A residência de MC passa pela realização de uma valência urbana e uma valência
rural. A primeira teve lugar no CS de São João (CSSJ) e a última no Centro de Saúde de
Paços de Ferreira (CSPF). O presente capítulo aborda as seguintes características: horário de
atendimento, tipo de consulta (Tabela 1); número de utentes, freguesias abrangidas (Tabela
2); recursos humanos, suporte informático, referenciação para CSS, ensino pré e pós-
graduado (Tabela 3); estrutura física (Tabela 4); características demográficas da população
(Tabela 5, Figura 1, Figura 2).
5.1 Horário Atendimento | Tipo Consulta
Na Tabela 1 é possível observar que há muitas semelhanças entre o horário de
atendimento e o tipo de consulta realizado nos dois CS.
CSSJ7 CSPF
Horário
Atendimento
Segunda-feira a Sexta-feira.
8 horas às 20 horas.
Segunda-feira a Sexta-feira.
8 horas às 20 horas.
SASU1: 20h às 24h em dias
úteis e das 8h às 24h aos fins-
de-semana e feriados.
Tipo
Consulta
o Saúde de Adulto.
o Vigilância a grupos de risco:
Hipertensos.
Diabéticos.
o Grupos Vulneráveis:
Saúde Materna.
Saúde Infantil.
Planeamento Familiar.
Vigilância Oncológica.
o Cessação Tabágica.
o Aberta.
o Psicologia.
o Podologia.
o Domicílio.
o Saúde de Adulto.
o Vigilância a grupos de risco:
Hipertensos.
Diabéticos.
o Grupos Vulneráveis:
Saúde Materna.
Saúde Infantil.
Planeamento Familiar.
Vigilância Oncológica.
o Cessação Tabágica.
o Aberta.
o Psicologia.
o Nutrição.
o Domicílio.
5. CARACTERIZAÇÃO DOS CS
Tabela 1. Horário de Atendimento | Tipo de Consulta. 1. SASU: Serviço de Apoio Situações Urgentes.
Relatório Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária – FMUP
9
5.2 Número Utentes | Freguesias Abrangidas
CSSJ CSPF
Número
Utentes
20 073 Utentes inscritos. 36 890 Utentes inscritos.
Freguesias
Abrangidas
12 Freguesias. 16 Freguesias.
5.3 Recursos Humanos | Suporte Informático | Referenciação para CSS | Ensino Pré e Pós-
graduado
Em termos quantitativos de médicos e enfermeiros não se registam grandes diferenças
nos dois CS. Qualitativamente, verifica-se a existência de um podologista no CSSJ, ao passo
que o CSPF conta com a presença de um nutricionista e de uma assistente social (Tabela 3).
Em ambos os CS, os registos clínicos são feitos em suporte informático através do
Sistema de Apoio ao Médico (SAM). Adicionalmente, no CSSJ também são utilizados os
programas Higia e DiabCare. O Higia e o SAM são usados para registo da história clínica do
utente segundo o método SOAP, marcação de consultas, prescrição de receitas, pedido de
meios complementares de diagnóstico e atribuição de atestados e certificados de incapacidade
temporária para o trabalho; o programa DiabCare permite a monitorização dos utentes
diabéticos. O Sistema de Informatização nas Unidades de Saúde (SINUS) e o Alert P1 são
usados em ambos os CS, sendo o primeiro para fins administrativos e o segundo para
referenciação dos doentes para os CSS. O Sistema de Apoio à Prática de Enfermagem (SAPE)
é usado no CSPF, permitindo a informatização dos registos de enfermagem e que podem ser
acedidos pelos médicos através do SAM (Tabela 3).
Um pequeno apontamento referente a recursos materiais prende-se com a inexistência
de electrocardiógrafo e monitorização ambulatória de pressão arterial (MAPA), no CSPF.
Tabela 2. Número Utentes | Freguesias Abrangidas.
Relatório Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária – FMUP
10
CSSJ CSPF
Recursos
Humanos
o Dez médicos de MGF.
o Dois psicólogos.
o Dezasseis enfermeiros.
o Um podologista.
o Seis administrativos.
o Dois auxiliares de apoio e
vigilância.
o Onze médicos de MGF.
o Um psicólogo.
o Dezasseis enfermeiros.
o Um nutricionista.
o Um assistente social.
o Doze administrativos.
o Sete auxiliares de apoio e
vigilância.
Suporte
Informático
o SAM1.
o Higia.
o DiabCare.
o Alert P1.
o SINUS2.
o SAM1.
o Alert P1.
o SINUS2.
o SAPE3.
Referenciação
para CSS
o Centro Hospitalar do Porto
(Hospital de Santo António,
Maternidade Júlio Dinis e
Hospital Maria Pia).
o Instituto Português de
Oncologia do Porto.
o Hospital da Prelada.
o Hospital Magalhães Lemos.
o Centro Hospitalar Tâmega
e Sousa.
o Hospital de São João.
o Hospital da Prelada.
Ensino Pré e
Pós-graduado
o Medicina Preventiva (pré-
graduado).
o MC (pré-graduado).
o MGF (pós-graduado).
o Pediatria (pós-graduado).
o Psicologia (pós-graduado).
o MC (pré-graduado).
o MGF (pós-graduado).
o Psicologia (pós-graduado).
Tabela 3. Recursos Humanos | Suporte Informático | Referenciação para CSS | Ensino. 1. SAM: Sistema de Apoio ao Médico. 2. SINUS: Sistema de Informatização nas Unidades de Saúde. 3. SAPE: Sistema de Apoio à Prática de Enfermagem.
Relatório Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária – FMUP
11
5.4 Estrutura Física
5.5 Características Demográficas
CSSJ CSPF
Estrutura
Física
o Cinco pisos: cave, rés-do-chão,
1º, 2º, 3º andares.
o Dez gabinetes médicos.
o Duas salas de enfermagem.
o Gabinetes administrativos.
o Sala de reuniões/biblioteca.
o Salas de lavagem e
esterilização.
o Três salas polivalentes.
o Balcões de atendimento.
o Bar.
o Lavabos.
o Escadas e elevador.
o Dois pisos: rés-do-chão, 1º andar.
o Dez gabinetes médicos.
o Dez salas de enfermagem.
o Gabinetes administrativos.
o Sala de reuniões/biblioteca.
o Salas de lavagem e esterilização.
o Cinco salas polivalentes.
o Balcões de atendimento.
o Bar.
o Lavabos.
o Escadas.
Tabela 4. Estrutura Física.
Figura 1. Pirâmide Etária do CSSJ.
Figura 2. Pirâmide Etária do CSPF.
Relatório Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária – FMUP
12
CSSJ CSFPF Portugal (2009)8
Relação de
Masculinidade1
78,7 %.
O sexo feminino
predomina sobre o sexo
masculino (Figura 1),
estando de acordo com a
tendência demográfica da
população portuguesa,
ainda que de forma mais
expressiva.
101,1%.
O sexo masculino
apresenta ligeiro
predomínio sobre o sexo
feminino (Figura 2).
93,8 %.
O sexo feminino
predomina sobre o sexo
masculino.
Índice de
Envelhecimento2
131 Indivíduos idosos por
cada 100 jovens.
A inversão da pirâmide
etária (Figura 1) é
coincidente com a
tendência registada na
pirâmide etária
portuguesa, traduzindo
uma população
envelhecida.
63 Indivíduos idosos por
cada 100 jovens.
Apesar de ocorrer um
estreitamento da base da
pirâmide, a população
jovem do CSPF é
superior à população
idosa (Figura 2).
117 Indivíduos idosos
por cada 100 jovens.
O elevado valor obtido
neste índice representa
o envelhecimento
populacional que se
deve à menor
natalidade e aumento
da esperança média de
vida.
Classe Etária
Predominante
Para o sexo masculino, a
classe etária
predominante é dos 35-39
anos (Figura 1).
Para o sexo feminino, a
classe etária
predominante é a> 74
anos (Figura 1).
Para o sexo masculino, a
classe etária
predominante é dos 35-39
anos (Figura 2).
Para o sexo feminino, a
classe etária
predominante é dos 40-44
anos (Figura 2).
Para o sexo masculino,
a classe etária
predominante é dos 30-
34 anos.
Para o sexo feminino, a
classe etária
predominante é dos 30-
34 anos.
Tabela 5. Características Demográficas. 1. Razão entre indivíduos do sexo masculino e do sexo feminino. 2. Razão entre a população idosa (≥ 65 anos) e a população jovem (0 – 14 anos).
Relatório Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária – FMUP
13
A valência rural de MC decorreu entre os dias 30 de Agosto de 2010 e 10 de Setembro
de 2010 (Tabela 6). A valência urbana de MC decorreu entre os dias 20 de Dezembro de 2010
e 31 de Dezembro de 2010 (Tabela 7).
6.1 Seminários
A residência em MC engloba a realização de dois seminários, no Departamento de
Clínica Geral da FMUP, o primeiro seminário foi leccionado pela Dr.ª Luciana Couto no dia
25 de Outubro de 2010 e o segundo seminário foi leccionado pela Dr.ª Graça Veiga no dia 8
de Novembro de 2010. Os temas abordados nos seminários foram:
Data Actividade Realizada no CSSJ
20/12 Consulta Programada
21/12 Consulta Programada
Consulta Aberta
22/12 Procedimentos de Enfermagem
23/12 Consulta Programada
Consulta Aberta
24/12 Tolerância de Ponto – Natal
27/12 Consulta Programada
28/12 Consulta Programada
Consulta Aberta
29/12 Procedimentos de Enfermagem
30/12 Consulta Programada
Consulta Aberta
31/12 Consulta Programada
Consulta Aberta
Data Actividade Realizada no CSPF
30/08 Apresentação
31/08 Consulta de Reforço
01/09 Consulta do Adulto
Procedimentos de Enfermagem
02/09 Consulta de Saúde Infantil
Procedimentos de Enfermagem
03/09 Consulta ao Domicílio
Consulta de Vigilância da HTA
Procedimentos de Enfermagem
06/09 Consulta de Reforço
Consulta de Saúde Materna
Procedimentos de Enfermagem
07/09 Consulta de Vigilância da DM
Consulta de Cessação Tabágica
08/09 Consulta do Adulto
09/09 Consulta de Saúde Infantil
Procedimentos de Enfermagem
10/09 Consulta de Vigilância da HTA
Procedimentos de Enfermagem
6. DESCRIÇÃO DAS ACTIVIDADES
Tabela 6. Cronograma de Actividades
CSPF.
HTA: Hipertensão Arterial
DM: Diabetes Mellitus
Tabela 7. Cronograma de Actividades
CSSJ.
Relatório Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária – FMUP
14
o Papel dos CSP. A consulta e respectivos registos.
o Grupos de risco ou vulneráveis.
o Planeamento familiar. Saúde da Mulher. Saúde Materna. Saúde Infantil e Juvenil.
o Problemas relacionados com os idosos.
o Rastreios e imunizações.
o Delineação dos trabalhos complementares a realizar na valência urbana e na valência
rural.
6.2 Actividades nos Centros de Saúde
Actividades realizadas no CSPF
Para a realização da valência rural do estágio clínico de MC, foi-me atribuída uma
tutora, Dr.ª Maria Rêgo.
Assisti às consultas de Saúde Infantil, Saúde Materna, Saúde Adulto, HTA, DM,
Cessação Tabágica e Reforço, tendo uma participação activa na recolha de informação
clínica, realização de exame físico, discussão de diagnósticos diferenciais e plano terapêutico.
Pude constatar a importância dos CSP, em termos de rastreio e diagnóstico precoce, bem
como a articulação com os CSS, quer na referenciação ou recepção de doentes. Não procedi
ao registo informático dos dados colhidos, contudo, foi-me explicado o funcionamento do
SAM e quais as suas aplicações e potencialidades.
Pude efectuar aprendizagem de procedimentos na sala de enfermagem,
nomeadamente, participar no ensino dos pais no âmbito de Saúde Infantil, avaliar a tensão
arterial e participar no ensino ao doente hipertenso, pesquisar glicemias capilares e aplicar o
livro do diabético, administrar fármacos e vacinas, executar pensos segundo técnicas
assépticas.
Tive oportunidade de constatar a importância do papel da Assistente Social, através do
apoio concedido a uma família carenciada que precisava de apoio económico na compra de
alimentos desprovidos de glúten para a filha mais nova que tinha doença celíaca.
Realizei duas visitas domiciliárias médicas que me permitiram ter a noção do contexto
sócio-familiar dos doentes, algo que, muitas vezes, não é tão claro num consultório. Além
disso, as visitas domiciliárias mostraram-se de extrema importância para o acompanhamento
médico de pessoas que, à partida, por impedimento da sua condição física e de mobilidade,
Relatório Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária – FMUP
15
não iriam ter acesso aos cuidados de saúde. No primeiro domicílio, uma casa pequena
degradada e sem grandes condições de higiene, OSR, sexo masculino, 78 anos, vive com a
esposa e está acamado tendo uma doença pulmonar obstrutiva crónica. Realiza
oxigenoterapia. Foi realizado o exame físico. O plano terapêutico passou por reforço da
cessação tabágica, manutenção da medicação, prescrição da vacina da gripe sazonal e
contacto com enfermagem para mudança da algália. No segundo domicílio, uma casa de dois
andares com sinais de dificuldades económicas, GBL, sexo masculino, 43 anos, vive com os
pais. É um doente obeso com Síndrome de Down, com antecedentes de DM, dislipidemia e
acidente vascular cerebral com hemiparésia esquerda. Realizou-se o exame físico, tendo sido
detectada uma hérnia abdominal paramediana direita e uma úlcera de pressão na nádega
direita. O plano terapêutico passou pelo reforço do ensino alimentar e de cuidados de higiene,
manutenção da medicação habitual e prescrição da vacina sazonal da gripe.
Actividades realizadas no CSSJ
Para a realização da valência urbana do estágio clínico de MC, foi-me atribuída uma
tutora, Dr.ª Graça Veiga.
Assisti às consultas de Saúde Infantil, Saúde Adulto, Planeamento Familiar, HTA, DM
e Aberta, tendo uma participação activa na recolha de informação clínica, realização de exame
físico, discussão de diagnósticos diferenciais e plano terapêutico. Pude constatar a
importância dos CSP, em termos de promoção da saúde, prevenção da doença, rastreio,
diagnóstico precoce e tratamento, bem como a articulação com os CSS, quer na referenciação
ou recepção de doentes. Procedi à realização de consulta tutelada, o que possibilitou a
aquisição de autonomia, desenvolvimento e melhoramento de técnicas de comunicação
médico-doente, familiarização com o suporte informático Higia, bem como a percepção da
responsabilidade profissional.
Pude efectuar aprendizagem de procedimentos na sala de enfermagem,
nomeadamente, participar no ensino dos pais no âmbito de Saúde Infantil, avaliar a tensão
arterial e observar o ensino ao doente hipertenso, a pesquisa glicemias capilares, a
administração de fármacos e vacinas e a execução de pensos segundo técnicas assépticas. Não
foi possível a observação de colocação e remoção de MAPA, bem como a realização de
electrocardiograma.
Relatório Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária – FMUP
16
6.3 Trabalhos Complementares
No CSPF, foram realizados:
o Relação dos Cuidados Primários com os Secundários, com o registo dos
motivos de consulta, diagnósticos postos em hipótese ou confirmados, casos de doentes
referenciados para outros CSP ou para os CSS, casos de doentes recebidos de volta dos CSS
(Apêndice I). A opção pelo registo de consultas referentes a diferentes dias, deve-se ao facto
de que no CSPF para cada dia existia um tipo de consulta específico, o que não permitiria
mostrar a diversidade inerente à MGF.
o História Clínica (Apêndice II), que na especialidade de MGF apresenta algumas
particularidades como o estabelecimento do paralelismo entre os aspectos biográficos e
patológicos do indivíduo (biopatografia, linha de vida de Medalie, escala de readaptação
social de Holmes e Rahe) e a interacção do indivíduo com o seu meio familiar e social
(psicofigura de Mitchel, círculo familiar de Thrower, ciclo de vida de Duvall, apgar familiar
de Smilkstein, risco familiar de Segovia Dreyer e Imperatori, classificação social de
Graffar).9,10
o Fluxograma alusivo ao tema «Rastreio Oncológico Ginecológico» (Apêndice III).
No CSSJ, foram realizados:
o Relação dos Cuidados Primários com os Secundários, com o registo dos
motivos de consulta, diagnósticos postos em hipótese ou confirmados, doentes referenciados
para outros CSP ou para os CSS, doentes recebidos de volta dos CSS (Apêndice IV). Seguiu-
se a metodologia utilizada na valência rural, usando registos de diferentes dias. Contudo, no
CSSJ, não havia consultas específicas para cada dia.
o Panfleto subordinado ao tema «Depressão». Dado tratar-se de uma patologia
prevalente, pretende-se neste trabalho abordar a depressão em diferentes vertentes: definição,
etiologia, sintomatologia, suporte social e tratamento (Apêndice V).
o Reflexão sobre o tema «Impacto da actual situação económico-social, na saúde
mental da população portuguesa». Este tópico surgiu de uma consulta aberta, na qual uma
doente recorreu por sintomatologia depressiva em consequência do seu despedimento. A
presente reflexão pretende realizar uma abordagem da relação entre o desemprego e a
depressão (Apêndice VI).
Relatório Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária – FMUP
17
6.4 Actividade Complementar | Motivos de Consulta
Introdução
O motivo de consulta é a razão que leva o doente a procurar os cuidados de saúde.
Pode ser um sintoma, uma queixa, um pedido de renovação de prescrição de medicamentos
ou de exames auxiliares de diagnóstico, um atestado médico, um procedimento administrativo
ou um problema social.11,12
A classificação pelo médico de família dos motivos de consulta permite caracterizar a
morbilidade em MGF. Ao identificar padrões de procura de consultas nesta especialidade,
representa um instrumento importante na medição e definição da procura de serviços no
sistema de saúde. Os dados resultantes também serão úteis para o planeamento da promoção
da saúde e prevenção de doenças e no estabelecimento de um programa de garantia de
qualidade em MGF. 12
Os motivos de consulta ou descrição das razões que levam o paciente a procurar o seu
médico de família podem ser codificados pela Classificação Internacional de Cuidados
Primários (ICPC). A ICPC foi desenvolvida pelo comité de classificações da Organização
Mundial de Médicos de Família como uma classificação própria para utilização nos cuidados
primários. Apresenta dezassete capítulos (Tabela 8) e sete componentes (Tabela 9) com
rubricas com um código numérico de dois dígitos. A forma como o paciente expressa o seu
motivo de consulta determina a escolha do capítulo e do componente. A rubrica ICPC
escolhida deverá ser tão semelhante quanto possível ao motivo apresentado pelo paciente. Em
Portugal, a ICPC-2 é utilizada como padrão dos registos clínicos de MGF, em investigação e
no treino de médicos em MGF. Durante vários anos a sua utilização na prática dos médicos de
família foi limitada, em boa parte devido à utilização de sistemas de registo em papel. No
entanto, com a informatização recente de um número progressivamente maior de CS, essa
situação tem vindo a aumentar. Actualmente, todos os sistemas de registo electrónico
utilizados nos CS e nas USF permitem e incentivam a utilização da ICPC-2. 11,12
O presente trabalho tem como objectivo a caracterização dos padrões de consulta de
MGF registados durante a residência de MC em dois CS: CSSJ e CSPF.
Relatório Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária – FMUP
18
Métodos
Efectuou-se um estudo observacional, durante o horário expresso de consulta dos
tutores do CSPF e do CSSJ, nos períodos compreendidos entre 30 Agosto de 2010 e 10 de
Setembro de 2010 e entre 20 de Dezembro de 2010 e 31 de Dezembro de 2010,
respectivamente. O estudo abrangeu uma totalidade de 14 dias de consulta: 8 dias de consulta
no CSPF e 6 dias de consulta no CSSJ.
A população alvo incluiu os indivíduos inscritos na lista de utentes do CSPF e do
CSSJ, sendo a amostra constituída por todos os doentes que frequentaram as consultas
programadas durante o horário expresso de consulta dos tutores do CSPF e do CSSJ e as
consultas abertas para os quais os tutores do CSPF e CSSJ eram destacados.
Em suporte informático de Microsoft Office Excel 2003®, registaram-se os motivos de
consulta até um máximo de três por doente, bem como a idade e o sexo deste. Quando o
doente referia um número de motivos superior a três, a inclusão dos mesmos baseou-se na
ordem pela qual os referiu na consulta, na medida em que, subjectivamente, lhes deve ter
atribuído essa ordem de importância. A metodologia dos registos baseou-se na ICPC-2, com
A Geral e Inespecífico
B Sangue, Baço e Medula Óssea
D Aparelho Digestivo
F Olho
H Ouvido
K Aparelho Circulatório
L Sistema Músculo-Esquelético
N Sistema Nervoso
P Psicológico
R Aparelho Respiratório
S Pele
T Endócrino, Metabólico e Nutricional
U Aparelho Urinário
W Gravidez e Planeamento Familiar
X Aparelho Genital Feminino
Y Aparelho Genital Masculino
Z Problemas Sociais
1 Sinais e sintomas
2 Procedimentos diagnósticos e preventivos
3 Medicação, tratamento, procedimentos
terapêuticos
4 Resultados
5 Administrativo
6 Referenciações e outros motivos de consulta
7 Diagnóstico/doença
Tabela 8. Capítulos da ICPC-2.
Tabela 9. Componentes da ICPC-2.
Relatório Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária – FMUP
19
codificação dos capítulos e rubricas para os motivos de cada doente. De salientar que a
rubrica ICPC-2 escolhida foi aquela que era o mais símile possível com o motivo apresentado
pelo doente. No CSPF, nas consultas programadas de Saúde Infantil, Saúde Materna e Grupos
de Risco (HTA e DM), se o doente não expressasse nenhum motivo, aqueles que foram
considerados era a realização de exame físico parcial, procedimentos preventivos e de
promoção de saúde e, nos casos em que eram necessários, prescrição de medicação. No CSSJ,
seguiu-se a metodologia supracitada para as consultas programadas de Saúde Infantil, Saúde
Materna e Grupos de Risco (HTA e DM).
Resultados
Durante o período em que ocorreu o registo dos motivos de consulta, no CSPF
registaram-se 74 consultas e 153 motivos de consulta, o que se traduz numa relação de 2,1
motivos por consulta. Relativamente à amostra, 54% dos doentes eram do sexo masculino e
46% do sexo feminino e cerca de 51% dos doentes tinham idade compreendida entre os 25 e
os 64 anos (Figura 3).
Durante o período em que ocorreu o registo dos motivos de consulta, no CSSJ
registaram-se 121 consultas e 230 motivos de consulta, o que se traduz numa relação de 1,9
motivos por consulta. Relativamente à amostra, 35,5 % dos doentes eram do sexo masculino e
64,5 % do sexo feminino e cerca de 61,2 % dos doentes tinha idade compreendida entre os 25
e os 64 anos (Figura 4).
Figura 3. Pirâmide etária dos doentes das consultas
assistidas no CSPF.
Relatório Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária – FMUP
20
No CSPF, a maioria das consultas eram programadas (89%), registando-se 11% de
consultas abertas (Figura 5). No CSSJ, essa diferença é menos acentuada, com 62% de
consultas programadas e 38% de consultas abertas (Figura 6).
Na distribuição dos motivos de consulta por capítulos da ICPC-2 (Figura 7), no CSPF,
verificou-se que, em termos globais, os cinco capítulos mais frequentes são, por ordem
decrescente, A, K, T, D e L, constituindo 77,8% dos motivos de consulta. Não se registou
nenhum motivo de consulta que se enquadrasse nos capítulos F, H, U e Y. No CSSJ, os cinco
capítulos mais frequentes são, por ordem decrescente, R, A, L, K, B, constituindo 65,2 % dos
motivos de consulta. De referir que se registaram motivos de consulta referentes a todos os
capítulos do ICPC-2.
Figura 4. Pirâmide etária dos doentes das consultas assistidas no
CSSJ.
Figura 5. Consultas no CSPF Figura 6. Consultas no CSSJ
Relatório Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária – FMUP
21
Na distribuição dos motivos de consulta por capítulos da ICPC-2 (Figura 8) pela
Consulta Aberta no CSPF, verificou-se que, em termos globais, os seis capítulos mais
frequentes são, D, K, A, B, L e R, onde os quatro últimos capítulos têm igual prevalência. Na
consulta aberta do CSSJ, verificou-se que, em termos globais, os cinco capítulos mais
frequentes, por ordem decrescente, são, R, A, L, K, U.
Na distribuição dos motivos de consulta por capítulos da ICPC-2 (Figura 9) pela
Consulta Programada no CSPF, verificou-se que, em termos globais, os cinco capítulos mais
frequentes, por ordem decrescente são, A, K, T, P, L. Na Consulta Aberta do CSSJ, verificou-
se que, em termos globais, os cinco capítulos mais frequentes, por ordem decrescente, são, A,
L, K, R, B.
Figura 7. Distribuição dos motivos de consulta por Capítulos da ICPC-
2 no CSPF e no CSSJ.
Figura 8. Distribuição dos Capítulos da ICPC-2 na Consulta Aberta no CSPF e
no CSSJ.
Relatório Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária – FMUP
22
Em relação à distribuição dos capítulos da ICPC-2 pelo género e faixa etária no CSPF
(Tabela 10), até aos 14 anos, predominam os motivos de consulta englobados pelo capítulo A,
representando cerca de 90% dos motivos para ambos os sexos (93% para o sexo masculino e
89% para o sexo feminino), na faixa etária dos 0-4 anos e 80% na faixa etária dos 5-14 anos
(80% para o sexo masculino e 78% para o sexo feminino). Na faixa etária dos 25-44 anos, ao
passo que no sexo masculino verifica-se uma heterogeneidade da distribuição dos motivos de
consulta, havendo um predomínio dos capítulos A, D, K e P, no sexo feminino destacam-se os
motivos de consulta que se enquadram no capítulo W, representando cerca de 58% dos
motivos de consulta em mulheres nesta faixa etária. Na faixa etária dos 45-64 anos, o capítulo
K é o que regista mais motivos de consulta, representando 25% dos motivos de consulta dos
doentes do sexo masculinos e 50% dos motivos de consulta dos doentes do sexo feminino. Na
faixa etária dos 65-74 anos, para o sexo masculino, o capítulo K segue o comportamento da
faixa etária precedente, representando 38% dos motivos de consulta deste género.
Adicionalmente, o capítulo T apresenta uma elevada prevalência nesta faixa etária, para
ambos os géneros (56% para o sexo masculino e 75% para o sexo feminino). Na faixa etária
igual ou superior aos 75 anos, verifica-se um comportamento idêntico ao da faixa etária
precedente, com predomínio dos motivos de consulta dos capítulos K e T.
Figura 9. Distribuição dos Capítulos da ICPC-2 na Consulta Programada
no CSPF e no CSSJ.
Relatório Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária – FMUP
23
Em relação à distribuição dos capítulos da ICPC-2 pelo género e faixa etária no CSSJ
(Tabela 11), até aos 14 anos, predominam os motivos de consulta englobados pelo capítulo A
e R. Aqueles referentes ao capítulo A representam 80% dos motivos para o sexo feminino, na
faixa etária dos 0-4 anos, e 50% para ambos os sexos (38,5% para o sexo masculino e 80%
para o sexo feminino), na faixa etária dos 5-14 anos. Aqueles referentes ao capítulo R
representam 20% dos motivos de consulta para o sexo feminino, na faixa etária dos 0-4 anos,
e cerca de 28% para ambos os sexos (cerca de 31% para o sexo masculino e 20% para o sexo
feminino), na faixa etária dos 5-14 anos. Na faixa etária dos 15-24 anos, verifica-se uma
maior heterogeneidade na distribuição dos motivos de consulta pelos capítulos de ICPC-2. No
sexo masculino, os capítulos A, L, R constituem 60% dos motivos de consulta; no sexo
feminino, o capítulo A constitui cerca de 42% dos motivos de consulta. Na faixa etária dos
25-44 anos, verifica-se uma distribuição heterogénea dos motivos de consulta, contudo, no
sexo masculino há um predomínio do capítulo K e no sexo feminino há um claro destaque dos
capítulos A e R, que globalmente constituem cerca de 61% dos motivos de consulta das
mulheres nesta faixa etária, logo seguidos dos capítulos P, W e U. De salientar que este
último grupo demográfico (doentes do sexo feminino com idades compreendidas entre os 25-
44 anos) é o mais prevalente. Na faixa etária dos 45-64 anos, no sexo masculino, os capítulos
K, T e L são os capítulos mais frequentes, representando cerca de 70% dos motivos de
0-4 5 - 14 15-24 25-44 45-64 65-74 >75
♂ ♀ ♂ ♀ ♂ ♀ ♂ ♀ ♂ ♀ ♂ ♀ ♂ ♀
A 14 8 8 7 3 2 2 1 2
B 2 2 1 1
D 3 1 3 1 1
F
H
K 3 1 4 11 6 2 3
L 1 2 2 1 3
N 1 2
P 3 1 3 1
R 2 1 3
S 1 1
T 1 1 1 9 9 3
U
W 7
X 1
Y
Z 1
Total 15 9 10 9 0 0 17 12 16 22 16 12 12 3 153
Tabela 10. Distribuição dos Capítulos da ICPC-2 por género e faixa
etária no CSPF
Relatório Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária – FMUP
24
consulta para este género; no sexo feminino, os capítulos L, R, X são os capítulos mais
frequentes, representando cerca de 60% dos motivos de consulta para este género. Na faixa
etária dos 65-74 anos, para o sexo masculino, há uma distribuição heterogénea dos motivos de
consulta, com um ligeiro predomínio do capítulo Y. No sexo feminino, os capítulos K, L e T
representam cerca de 64 % dos motivos de consulta. Na faixa etária igual ou superior aos 75
anos, verifica-se novamente uma distribuição heterogénea dos motivos de consulta, sendo
apenas de salientar que, no sexo feminino, cerca de 50% dos motivos de consulta enquadram-
se no capítulo R.
Os dez primeiros motivos de consulta no CSPF (Tabela 12) representam 61,6% dos
motivos registados, sendo essencialmente referentes à prescrição de fármacos e realização de
exame físico parcial do sistema circulatório e endócrino. Verifica-se também uma elevada
prevalência de procedimentos referentes à prevenção da doença ou sua progressão, e
promoção de hábitos diários saudáveis, aspecto fulcral dos Cuidados de Saúde Primários
(CSP). Os dez primeiros motivos de consulta no CSSJ (Tabela 13) representam 36 % dos
motivos registados, sendo essencialmente referentes a sinais e sintomas respiratórios, gerais e
inespecíficos e músculo-esqueléticos. Além disso, a prescrição de fármacos, realização de
exame físico parcial, prevenção da doença ou sua progressão e promoção de hábitos diários
saudáveis são procedimentos prevalentes nas consultas assistidas.
0-4 5 - 14 15-24 25-44 45-64 65-74 >75
♂ ♀ ♂ ♀ ♂ ♀ ♂ ♀ ♂ ♀ ♂ ♀ ♂ ♀
A 4 5 4 2 5 3 10 1 3 1
B 1 1 1 3 3 1 1 1 1
D 1 1 1 4 2 1 1
F 1 1
H 1 1 1 1 1
K 6 2 6 2 1 3 3
L 2 1 1 4 4 13 3 2
N 1 1 1 3 1 1
P 1 1 5 1 1 1
R 1 4 1 2 1 1 15 2 8 1 1 1 8
S 2 1 2 1
T 1 6 1 3 1
U 1 3 3 1
W 1 4
X 4 5
Y 1 2
Z 1
Total 0 5 13 5 10 12 18 57 23 43 9 14 5 16 230
Tabela 11. Distribuição dos Capítulos da ICPC-2 por género e faixa etária
no CSSJ
Relatório Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária – FMUP
25
Discussão
Em termos de características demográficas dos doentes das consultas assistidas no
CSPF e no CSSJ, a maior fatia de doentes situa-se entre os 25 e 44 anos. No entanto, no CSPF
há um ligeiro predomínio do sexo masculino a utilizar os CS, ao passo que no CSSJ, as
Rubrica
ICPC
Motivo de Consulta
Valor
Absoluto
(n)
Valor
Relativo
(%)
Valor
Cumulativo
(%)
1 A31 Exame médico/avaliação saúde – parcial 20 13,1 13,1
2 A45 Observação/educação para a saúde/aconselhamento 18 11,8 24,9
3 K31 Exame médico/avaliação saúde – parcial 9 5,9 30,8
4 K50 Medicação/prescrição/renovação/injecção 9 5,9 36,7
5 K45 Observação/educação para a saúde/aconselhamento 8 5,2 41,9
6 T31 Exame médico/avaliação saúde – parcial 7 4,6 46,5
7 T45 Observação/educação para a saúde/aconselhamento 7 4,6 51,1
8 T50 Medicação/prescrição/renovação/injecção 7 4,6 55,7
9 B60 Resultados de análises/procedimentos 5 3,3 59
10 P17 Abuso tabaco 4 2,61 61,6
Restantes Motivos 59 38,4 100
Total 153 100
Rubrica
ICPC
Motivo de Consulta
Valor
Absoluto
(n)
Valor
Relativo
(%)
Valor
Cumulativo
(%)
1 R05 Tosse 15 6,5 6,5
2 B60 Resultados de análises/procedimentos 13 5,7 12,2
3 R07 Espirro/congestão nasal 10 4,3 16,5
4 A31 Exame médico/avaliação saúde – parcial 8 3,5 20
5 A04 Debilidade/cansaço geral/fadiga 7 3 23
6 A45 Observação/educação para a saúde/aconselhamento 7 3 26
7 K50 Medicação/prescrição/renovação/injecção 6 2,6 28,6
8 L03 Sinais/sintomas região lombar 6 2,6 31,2
9 L17 Sinais/sintomas pés/dedos do pé 6 2,6 33,8
10 A03 Febre 5 2,2 36
Restantes Motivos 147 63,9 100
Total 230 100
Tabela 13. Principais motivos de consulta no CSSJ.
Tabela 12. Principais motivos de consulta no CSPF.
Relatório Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária – FMUP
26
mulheres recorrem com maior frequência ao CS. Importa ter em consideração que as
semelhanças ou diferenças demográficas encontradas entre as amostras populacionais dos
dois CS poderão ser devidas ao tempo de seguimento diminuto e ao tamanho amostral
reduzido, podendo não ser representativo das características demográficas reais da população
inscrita nos dois CS.
Em ambos os CS, verifica-se uma diferença quantitativa entre as consultas abertas e
programadas, com maior discrepância no CSPF. Por um lado, o predomínio de consultas
programadas em relação a consultas abertas em ambos os CS pode dever-se ao facto da carga
horária de um médico ser maioritariamente formada por consultas programadas. A menor
discrepância observada no CSSJ, pode dever-se ao facto do maior número de horas de
consulta aberta realizada pela tutora da valência urbana, para colmatar períodos de férias de
outros médicos, numa época do ano em que é usual isso acontecer.
Na distribuição dos motivos de consulta por capítulos da ICPC-2, três dos cinco
capítulos mais prevalentes foram idênticos em ambos os CS: «gerais e inespecíficos»,
«aparelho circulatório» e «sistema músculo-esquelético». Por outro lado, no CSPF os motivos
referentes ao «aparelho digestivo» tiveram uma elevada prevalência, ao passo que no CSSJ,
os motivos referentes ao «aparelho respiratório» foram o motivo de consulta mais frequente.
Isto poderá ter como base uma causa sazonal, na medida que determinada patologia infecciosa
respiratória é mais prevalente no Inverno, altura em que se realizou a residência no CSSJ (ver
adiante). Distribuindo os capítulos da ICPC-2 pelo tipo de consulta (aberta/programada),
verifica-se que em ambos os CS e independentemente do tipo de consulta, os «motivos gerais
e inespecíficos», do «aparelho circulatório» e do «sistema músculo-esquelético» encontram-se
entre os mais prevalentes. Na consulta aberta verifica-se uma maior prevalência de patologia
aguda, nomeadamente infecciosa, dos aparelhos digestivo, respiratório e urinário. Por outro
lado, na consulta programada, verifica-se uma maior prevalência de patologia de curso
insidioso, nomeadamente HTA, DM, lombalgias.
No CSPF, até aos 14 anos, predominam os motivos «gerais e inespecíficos»; dos 25-
44 anos predominam os motivos relacionados com a «gravidez, parto e planeamento
familiar»; a partir dos 45 anos, há uma permuta para os motivos dos aparelhos «circulatório»
e «endócrino/metabólico e nutricional». No CSSJ, até aos 24 anos, predominam os motivos
«gerais e inespecíficos» e «respiratórios»; dos 25-44 anos, predominam os motivos «gerais e
inespecíficos» e «respiratórios», seguidos pelos motivos relacionados com a «gravidez, parto
e planeamento familiar» e «psicológicos»; a partir dos 45 anos, há um aumento da prevalência
dos motivos «músculo-esqueléticos» para ambos os sexos. Além disso, para o sexo
Relatório Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária – FMUP
27
masculino, a partir dessa idade há uma permuta para os motivos dos aparelhos «circulatório»
e «endócrino/metabólico e nutricional», ao passo que no sexo feminino, isso ocorre a partir
dos 65 anos. Na faixa etária igual ou superior a 75 anos, os motivos «respiratórios» são os
mais frequentes. De acordo com um estudo realizado por Rodrigues12
, este identificou um
padrão semelhante em que nos mais jovens se destacam queixas gerais e inespecíficas e do
aparelho respiratório, situação compatível com as necessidades especiais de promoção de
saúde e de prevenção da doença. Nos mais idosos predominam as referentes ao aparelho
circulatório e ao sistema músculo-esquelético, enquanto nas idades intermédias sobressaem os
referentes à idade fértil. Deste modo, parece haver coerência entre a progressão etária e os
motivos de consulta.
A classificação dos motivos de consulta pela Rubrica da ICPC-2 apresenta algumas
diferenças. No CSPF, os motivos de consulta prendem-se com exame físico parcial e
educação para a saúde global e inespecífica, principalmente devido aos doentes em idade
pediátrica e devido à HTA e DM. O especialista de MGF está numa posição privilegiada para
prestar cuidados de Medicina Preventiva a nível dos ciclos vitais individual e familiar. Assim,
na consulta de vigilância de Saúde Infantil e Juvenil, os procedimentos preventivos devem ter
em consideração vários aspectos, nomeadamente o rastreio e a detecção de problemas de
visão, de audição e de desenvolvimento estaturo-ponderal. Além disso, é importante a
promoção de um estilo de vida saudável com a prática de uma alimentação equilibrada e de
exercício físico regular.13
A HTA e a DM são duas doenças crónicas muito prevalentes em
Portugal. Estudos apontam para uma prevalência da HTA de cerca 42% e uma prevalência da
DM de cerca de 12% em Portugal.14,15
Além disso, são doenças que exigem acompanhamento
regular para controlo das pressões arteriais, índices glicémicos e multidisciplinar – dadas as
complicações cardíacas, renais ou oftalmológicas – bem como tratamento crónico. Além
disso, o médico de família também tem como papel a sensibilização para a adopção de um
estilo de vida saudável com uma alimentação equilibrada, prática de exercício físico e
controlo de outros factores de risco cardiovasculares, como a dislipidemia. Importa atentar
que a diferença encontrada nos dois CS, poderá não ser real, na medida que no CSPF havia
dias específicos para a consulta de Saúde Infantil e de vigilância da HTA e da DM, ao passo
que no CSSJ, essas consultas eram aleatórias na semana. No CSSJ, importa salientar duas
situações: gripe e lombalgia. Constata-se que muitos dos motivos de consulta apontados pelos
doentes referem-se a sintomatologia gripal: tosse, congestão nasal, febre e cansaço geral. De
acordo com o Sistema Nacional de Vigilância da Gripe, a época de gripe sazonal engloba o
período de tempo de aproximadamente vinte e quatro semanas que decorre entre o início de
Relatório Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária – FMUP
28
Outubro de um determinado ano (semana 40ª) e o final de Março do ano seguinte (semana
13ª).16
Tendo em conta o período em que foi realizada a residência no CSSJ (duas últimas
semanas de Dezembro) e a residência no CSPF (primeira quinzena de Setembro), pode ser
uma justificação plausível para a diferença encontrada. A lombalgia é um motivo frequente de
consulta médica em MGF, assim como noutras especialidades. É um importante problema de
saúde pública pela morbilidade e custos económicos e sociais que acarreta. A prevalência de
lombalgia em Portugal encontrada num estudo foi de 49%, prevalência que se assemelha às
encontradas por estudos realizados noutros países como Espanha ou Inglaterra. 17
Neste trabalho, podem apontar-se algumas limitações. Por um lado, para a obtenção de
resultados mais fidedignos e que pudessem reflectir melhor a realidade dos dois CS, era
necessário um período de tempo superior, permitindo a obtenção de uma amostra
populacional maior e que abrangesse as diferentes estações do ano, dado que algumas doenças
são tipicamente sazonais. Por outro lado, apesar da existência de critérios de inclusão e de
exclusão para a classificação da ICPC-2, poderá haver divergências inter-observador. Num
estudo realizado que tinha como objectivo a avaliação da utilização da ICPC-2 por parte dos
médicos internos de MGF, na segunda metade da sua formação como especialistas, entre 25%
a 50% dos motivos de consulta não foram codificados correctamente, quer devido a erros,
quer devido a omissões. A explicação avançada prende-se com o facto da classificação dos
motivos de consulta ser específica da especialidade de MGF. Além disso, nos motivos de
consulta, as respostas dos internos denotam também que uma das regras fundamentais da
classificação – usar a terminologia a respeitar pela visão do doente – foi frequentemente
ignorada, visto que os internos tinham uma tendência para usar a sua interpretação enquanto
técnicos acerca do que o doente afirma. Assim, para que as informações contidas nos registos
electrónicos possam ser estudadas e comparadas é necessário que os médicos saibam aplicar
na prática a ICPC-2 e o façam de forma consistente. Se isso não acontecer, as diferenças
encontradas poderão ficar a dever-se à variabilidade inter-observador, não representando
variações reais.11
Contudo, é de ressalvar que não se verifica variabilidade intra-observador,
na medida que foram usados de forma rigorosa os mesmos critérios na classificação dos
motivos de consulta de ambos os CS.
Relatório Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária – FMUP
29
A MGF é uma especialidade que actua em diferentes níveis, nomeadamente promoção
da saúde, prevenção da doença, rastreio, diagnóstico, tratamento. Além disso, está em
constante articulação com outros CSP e CSS. Desta forma, perante esta abrangência de
actuação, assim como a diversidade demográfica, cultural e social das pessoas que recorrem
aos CSP, a residência de MC constituiu uma experiência enriquecedora permitindo a
integração e consolidação de conhecimentos teórico-práticos adquiridos ao longo da minha
formação, bem como realização de novas aprendizagens, nomeadamente, na aquisição de
princípios de prevenção, rastreio e diagnóstico precoce. Além disso, possibilitou o contacto
com grupos específicos como saúde infantil/juvenil, saúde da mulher, saúde materna, grupos
de risco como HTA e DM, entre outros. Por último, permitiu o desenvolvimento e
aperfeiçoamento de técnicas de comunicação com os doentes, a familiarização com os
registos em suporte informático e a consciencialização da responsabilidade profissional.
Foram cumpridos os objectivos delineados, com a aquisição de aprendizagens, competências
e capacidades fundamentais à minha prática clínica futura. De referir, que a notável
organização da disciplina de MC, bem como a colaboração, disponibilidade e atitude
pedagógica dos orientadores de estágio, possibilitaram o cumprimento dos objectivos
delineados.
A residência em MC possibilitou o contacto com a realidade da saúde extra-hospitalar,
nomeadamente os CS. O CSPF e o CSSJ tipificam o exemplo da prestação de um serviço de
saúde de qualidade, salientando a importância dos CSP no sistema nacional de saúde.
Em jeito de conclusão, fica a sugestão para a extensão temporal da residência de MC,
ou a criação de carga horária noutros anos curriculares do curso de Medicina, que está
demasiadamente focado nas especialidades hospitalares.
7. CONCLUSÕES
Relatório Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária – FMUP
30
1. Ferreira, MA; Barbosa, J. Normas de Organização e Avaliação da Unidade Curricular,
FMUP, 2010/2011.
2. Allen J, Gay B, Crebolder H, Heyman J, Svab I, Ram P, Evans P. et al. A Definição
Europeia de Medicina Geral e Familiar – WONCA Europa 2002. Acedido em 27 de Outubro
de 2010 em www.woncaeurope.org.
3. Gaspar D. Medicina Geral e Familiar Uma escolha Gratificante. Acta Med Port 2006; 19:
133-140.
4. Murtagh AM J. Compêndio Clínica Geral, 1º ed. Portugal; Mc Graw – Hill; 1996.
5. Cuidados de Saúde Primários Portugal. Acedido em 24 de Janeiro de 2011 em
http://www.mcsp.min-saude.pt/engine.php?cat=153.
6. Unidade de Saúde Familiar de Serpa Pinto. Acedido em 24 de Janeiro de 2001 em
http://rrexperimental.no.sapo.pt/serpapinto.htm.
7. Hespanhol A. Malheiro A, Pinto AS. O Projecto “Tubo de Ensaio”. Breve história do
Centro de Saúde São João. Rev Port Clin Geral 2002; 18: 177-86.
8. Instituto Nacional de Estatística. Acedido em 24 de Janeiro de 2011 em http://www.
ine.pt/xportal/xmain?bdnivelgeo=1&contexto=bd&bdtemas=1115&bdsubtemas=111510&xpi
d=INE&xpgid=ine_base_dados&bdpagenumber=1.
9. Caeiro RT. Registos Clínicos em Medicina Familiar. Lisboa: Instituto de Clínica Geral da
Zona Sul, 1991.
10. Rebelo L. Genograma familiar: O bisturi do Médico de Família. Rev Port Clin Geral
2007; 23: 309-17.
8. BIBLIOGRAFIA
Relatório Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária – FMUP
31
11. Pinto D, Corte-Real S. Codificação com a Classificação Internacional de Cuidados
Primários (ICPC) por internos de Medicina Geral e Familiar. Rev Port Clin Geral 2010;
26:370-82.
12. Rodrigues JG. Porque consultam os utentes o seu Médico de Família?. Rev Port Clin
Geral 2000; 16:442-52.
13. Hespanhol AP, Couto L, Martins C, Viana M. Educação para a saúde e prevenção na
consulta de medicina geral e familiar (II). Rev Port Clin Geral 2009; 2: 242-52.
14. Cortez-Dias N, Martins S, Belo A, Fiúza M. Prevalência e Padrões d Tratamento da
Hipertensão Arterial nos Cuidados de Saúde Primários em Portugal, Resultados do Estudo
Valsim. Ver Port Cardiol 2009; 28(5):499-523.
15. Sociedade Portuguesa de Diabetologia, DGS e Associação Protectora dos Diabéticos em
Portugal. Estudo da prevalência da Diabetes em Portugal (PREVADIAB). 2009. Acedido em
4 de Janeiro de 2010, em http://www.portaldasaude.pt/NR/rdonlyres/219DAD78-CD13-
43CE-9221-42744B2 4176C/0/EstudoprevalenciaDiabetesemPortugal.pdf
16. Andrade HR. Vigilância epidemiológica da gripe em Portugal. Rev Port Clin Geral
2005;21:379-88.
17. Ponte C. Lombalgia em cuidados de saúde primários. Rev Port Clin Geral 2005;21:259-
67.
Relatório Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária – FMUP
32
9.1 Apêndice I – A Relação dos Cuidados Primários com os Secundários
9. APÊNDICES
Relatório de Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária – FMUP 33
9.2 Apêndice II – História Clínica
Identificação
Nome R.B.C.
Sexo Feminino
Data Nascimento
Idade
21 de Setembro 1948
61 anos
Etnia Caucasiana
Naturalidade Carvalho, Frazão, Paços de Ferreira
Residência
Profissão
Estado Civil
Carvalho, Frazão, Paços de Ferreira
Empregada doméstica
Solteira
Escolaridade 4º ano
Data e local de recolha da informação: 7 de Setembro de 2010.
Local de recolha da informação: Centro de Saúde de Paços de Ferreira.
Fonte da informação: A doente.
Médica de Família: Dr.ª Maria Santos Rêgo.
História Médica Prévia
Doenças Infância:
o Sarampo. Nega outras doenças de infância.
Doenças Prévias:
o Apendicite em 1981. Foi submetida a apendicectomia.
o Miopia. Efectuou cirurgia correctiva em 1998.
o Hipertensão arterial diagnostica em 2004. Está medicada.
o Diabetes mellitus tipo 2 diagnosticada em 2004. Nega nefropatia, retinopatia ou
neuropatia diabéticas. Está medicada com antidiabéticos orais.
o Glaucoma diagnosticado em Junho de 2010. Está medicada.
o Nega dislipidemia.
o Nega patologia cardíaca, pulmonar, renal, gastrintestinal ou genitourinária.
Antecedentes Ginecológicos e Obstétricos:
o Menarca aos 11 anos.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária – FMUP 34
o Ciclos regulares com cataménios de 5 dias e interlúnios de 28 dias.
o Menopausa aos 48 anos.
o Nega gravidezes ou abortamentos.
o Nega métodos de contracepção.
o Realiza rastreio oncológico de neoplasia mamária, com mamografia.
Cirurgias:
o Apendicectomia, em 1981.
o Cirurgia oftalmológica, em 1998.
Acidentes: Nega história de acidentes.
Transfusões: Nega história de transfusões.
Grupo Sanguíneo: Grupo A Rh positivo.
Alergias: Nega antecedentes de alergias.
Cuidados de Saúde Habituais
Alimentação: Realiza seis refeições diárias: pequeno-almoço, refeição a meio da manhã,
almoço, lanche, jantar e ceia. Refere ingestão equilibrada de carne e peixe. Ingere legumes e
frutas. Refere que cozinha com baixo teor de sal. Não ingere café.
Hábitos Alcoólicos: Ingere um copo de vinho tinto maduro por refeição principal.
Hábitos Tabágicos: Nega hábitos tabágicos.
Abuso de Drogas: Nega consumo de drogas.
Viagens: Nega realização de viagens.
Actividade Física: Além daquela que é exigida pela sua profissão, refere que realiza, de forma
esporádica, caminhadas com cerca de meia hora de duração.
Medicação:
o Ácido acetilsalicílico.
o Alprazolam. Doente refere auto-medicação, aquando da altura do falecimento da sua mãe,
facto que a transtornou.
o Estazolam.
o Latanoprost.
o Lisinopril.
o Metformina.
o Timolol.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária – FMUP 35
Vacinação: Vacinas do Plano Nacional de Vacinação actualizadas. Apesar de ter indicação
para tomar a vacina da gripe, a doente opta por não o fazer.
História Social e Profissional
Escolaridade: Completou o 4º ano de escolaridade.
Religião: Católica.
Habitação: Boas condições (electricidade, água canalizada e saneamento básico).
Agregado Familiar: Vive com a sua patroa.
Profissão: Empregada doméstica.
Grau de Autonomia/ Avaliação Funcional
Autónoma e sem qualquer grau de dependência.
Antecedentes Familiares
Pai:
o Tinha diabetes mellitus e antecedentes de cirurgia gástrica para ressecção de úlcera
gástrica. Faleceu em 1988, com 78 anos, devido a acidente trombótico.
Mãe:
o Faleceu em 1992, com 80 anos, devido a complicações ateroscleróticas. Não tinha diabetes
mellitus.
Irmãos:
o Irmã faleceu aos 42 anos, devido a neoplasia. Vítima de violência doméstica.
o Irmão faleceu aos 70 anos, por neoplasia. Realizou cirurgia da anca.
o Irmã com 68 anos. Tem diabetes mellitus. A doente já não tem contacto com esta irmã há
cerca de vinte anos.
o Irmão com 56 anos. Saudável. A doente refere que tem uma boa relação com este irmão,
cunhada e sobrinhos.
o Nega história familiar de doenças hereditárias.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária – FMUP 36
Genograma
Legenda
Biopatografia
R.B.C. nasceu há 61 anos, em 21 de Setembro de 1948, em Carvalho, Paços de
Ferreira. Foi a quarta filha, de cinco irmãos.
Frequentou a escola, até ao cumprimento do quarto ano de escolaridade, altura em que
deixou de estudar, tendo começado a laborar na agricultura. Em 1963, deixa a agricultura para
desempenhar funções de empregada doméstica numa casa. Manteve-se nesse emprego por
nove meses, porque a patroa era ríspida e intolerante. Em 1964, dedica-se novamente à
agricultura e, catorze anos depois, volta a desempenhar funções na casa onde havia trabalhado.
Em 1981, foi apendicectomizada em consequência de uma apendicite aguda. Em 1988, ocorre
o falecimento do pai e quatro anos depois, o falecimento da mãe, facto que a deixou
transtornada. Nesse mesmo ano (em 1992), começou a trabalhar como empregada doméstica
na casa, onde actualmente trabalha e mora. Entretanto, em 1998, foi submetida a uma
intervenção cirúrgica oftalmológica e, em 2004, foi diagnosticada com diabetes mellitus tipo 2
e hipertensão arterial.
Actualmente, a doente vive com a patroa na moradia onde trabalha. Mantém uma boa
relação com o irmão e sua família, não tendo contacto com a sua outra irmã.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária – FMUP 37
Linha de Vida de Medalie
Agregado Familiar
O agregado familiar é composto pela doente e pela patroa. Segundo a doente, a patroa é
como «uma mãe para mim» (sic), tendo uma relação de proximidade. A doente já trabalha há
dezoito anos para esta senhora, tendo ficado a viver permanentemente na sua casa desde 1997,
aquando da morte do marido. A patroa tem 72 anos, tendo como co-morbilidades hipertensão
arterial.
O agregado familiar vive numa moradia pertencente à patroa. A moradia é luxuosa,
grande e espaçosa, estando inserida numa zona residencial agradável, airosa e com ruas largas.
A moradia tem electricidade, água potável e saneamento. Como animais domésticos há a
registar um cão.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária – FMUP 38
Relações Sociais
Fora do agregado familiar, a doente afirma que tem algumas amizades, fazendo
especial referência a duas vizinhas. Relativamente ao seio familiar, diz que mantém uma boa
relação com o seu irmão mais novo e respectiva família (cunhada e sobrinhos) e com uma
prima. Diz que já não tem qualquer relacionamento, desde há vinte anos, com a sua irmã e, a
doente, culpabiliza o marido da irmã por esse facto.
Psicofigura de Mitchel
A psicofigura de Mitchel pode ser realizada pelo doente, unindo com diferentes tipos
de linhas de significado pré-estabelecido, os elementos do seu agregado familiar. Faz parte do
genograma e consiste na representação gráfica das relações inter-familiares. O esquema
apresentado representa a reprodução daquele realizado pela doente:
Relação Boa
Apgar Familiar de Smilkstein
Total: 7 pontos | Família altamente funcional.
Quase
Sempre
Algumas
Vezes
Quase
Nunca
1. Estou satisfeito com a ajuda que recebo da minha família,
sempre que alguma coisa me preocupa.
X
2. Estou satisfeito pela forma como a minha família discute
assuntos de interesse comum e compartilha comigo a solução
do problema.
X
3. Acho que a minha família concorda com o meu desejo de
iniciar novas actividades ou de modificar o estilo de vida
X
4. Estou satisfeito com o modo como a minha família
manifesta a sua afeição e reage aos meus sentimentos, tais
como irritação, pesar e amor.
X
5. Estou satisfeito com o tempo que passo com a minha
família.
X
R.B.C. Patroa
Relatório de Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária – FMUP 39
O Apgar familiar pretende determinar a funcionalidade de uma família, através da
avaliação de como a pessoa se sente inserida e posicionada dentro da sua família. No caso da
doente, pelo facto do seu agregado familiar ser constituído pela sua patroa e pela afeição que a
doente tem pela senhora, as respostas que a doente apresentou foram baseadas nesta relação. O
resultado foi de sete pontos num total de dez pontos, o que corresponde à categoria de família
altamente funcional.
Ciclo de Vida de Duvall
O ciclo de vida de Duvall define as etapas evolutivas pelas quais uma família atravessa,
sendo no mínimo necessário, a constituição de um casal. Como a doente é solteira e nunca teve
filhos, este ciclo de vida não é aplicável (vide anexo I).
Dinâmica Familiar de Minuchin
Esta representação avalia o elo emocional e o apoio que os elementos de uma família se
dão entre si. A família desta doente pode considerar-se uma família funcional e coesa.
Exceptuando a sua irmã com quem perdeu o contacto, mantém uma relação próxima com os
restantes familiares e com a sua patroa, que a considera como família.
Risco Familiar de Segovia Dreyer
Relativamente ao risco familiar, segundo Segovia Dreyer, a doente apresenta baixa
risco, com a presença de um item: morbilidade crónica, devido à diabetes mellitus e
hipertensão arterial (vide anexo II).
Risco Familiar Imperatori
A doente não apresenta qualquer factor de risco (vide anexo III).
Relatório de Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária – FMUP 40
Círculo Familiar de Thrower
O gráfico representa uma reprodução do esquema elaborado pela doente. Desta forma,
o círculo de maiores dimensões pretende ser representativo de família. Depois, de acordo com
a subjectividade da doente, esta foi colocando círculos, de menores dimensões, representativos
de pessoas presentes na sua vida, quer sejam familiares ou não. Aqueles que foram colocados
fora do círculo «família» são aqueles com os quais a doente não tem uma grande relação.
Aqueles que foram colocados dentro do círculo «família» são aqueles com os quais a doente
mantém boa relação. Além disso, quanto mais próximos estes círculos estiverem do círculo
que representa a doente, maior será a proximidade e qualidade da relação. Desta forma, a
doente colocou a irmã fora do círculo «família», referindo que já não comunicam há cerca de
vinte anos. No interior do círculo «família» colocou a prima, irmão e sua família (cunhada e
sobrinhos) à mesma distância e ligeiramente mais afastado o círculo que representa a sua
patroa, que segundo a doente é «como uma mãe para mim» (sic). Ainda no interior do círculo
«família» colocou um círculo representativo dos amigos, dos quais salientam-se duas vizinhas.
Classificação Social de Graffar
A classificação social de Graffar pretende avaliar de forma global a situação
socioeconómico da família. Assenta em cinco critérios (profissão, nível de instrução, fontes de
rendimento, conforto do alojamento e aspecto do bairro habitado), e os resultados dividem-se
Doente
Irmã
Irmão
Prima
Patroa
Vizinhas
Cunhad a
Sobrinh os
Relatório de Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária – FMUP 41
em cinco classes, sendo que a classe I representa a o nível socioeconómico mais alto e a classe
V representa o nível socioeconómico mais baixo (vide anexo IV).
A doente insere-se na classe III, com um total de 15.
Escala de Readaptação Social de Holmes e Rahe
Esta escala é constituída por quarenta e três itens representativos de acontecimentos
de vida que poderão ser factores de risco para o desenvolvimento de uma doença
psicossomática. No último ano, a doente não apresenta nenhum dos itens contemplados, pelo
que apresenta um score inferior a 150 e, consequentemente, um baixo risco de desenvolver
uma doença psicossomática.
Motivo da Consulta
Consulta de vigilância da diabetes mellitus.
História da Doença Actual
R.B.C. tem diabetes mellitus tipo 2 diagnosticada em 2004. Está medicada e
controlada com antidiabéticos orais (metformina), nunca tendo utilizado insulina. Não
apresenta história de complicações vasculares como nefropatia, retinopatia ou enfarte do
miocárdio, nem complicações neurológicas como neuropatia. Na família, o pai e a irmã têm
diabetes mellitus.
Veio à consulta para seguimento de rotina. A doente refere estar assintomática,
solicitando prescrição da medicação habitual.
1. Profissão Doméstica 5
2. Nível de Instrução Ensino primário completo 4
3. Fontes de Rendimento Vencimento mensal fixo 3
4. Conforto do Alojamento Moradia luxuosa e confortável 1
5. Aspecto do Bairro Habitado Bairro residencial bom 2
Total 15
Relatório de Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária – FMUP 42
Exame Físico
Estado Geral:
Doente consciente, colaborante, orientada no tempo e no espaço. Apresenta discurso
lógico e estruturado, sem alterações da linguagem. Apresenta bom estado nutricional, com
idade aparente idêntica à idade real. Pele e mucosas coradas e hidratadas; ausência de cianose
ou icterícia.
Sinais Vitais:
o Frequência cardíaca: 69 b.p.m.. Pulsos radiais rítmicos e simétricos.
o Pressão Arterial Sistólica: 160 mmHg.
o Pressão Arterial Diastólica: 78 mmHg.
o Frequência respiratória: 17 c.p.m..
o Temperatura auricular: 36,5º C.
Parâmetros Glicémicos:
o Glicemia Capilar: 165 mg/ dL.
o Hemoglobina Glicosilada: 6,2 %.
Parâmetros Antropométricos:
o Peso: 64 Kg.
o Altura: 1,53 m.
o Índice de massa corporal: 27,3 Kg/m2.
o Perímetro Abdominal: 90,5 cm.
Tórax:
Inspecção: Tórax simétrico, sem dismorfias, malformações, tumefacções, nódulos,
depressões, abaulamentos, circulação venosa superficial. Movimentos respiratórios presentes
bilateralmente, simétricos, rítmicos e amplos. Sem pulsatilidades cardíacas visíveis.
Palpação: Ausência de pontos álgicos. Ausência de adenomegalias axilares. Expansão
simétrica da cavidade torácica com a inspiração profunda.
Percussão: Ressonância a nível dos campos pulmonares com macicez na área cardíaca.
Auscultação Pulmonar: Murmúrio vesicular presente bilateralmente e simétrico.
Ausência de ruídos adventícios. Transmissão normal das vibrações vocais.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária – FMUP 43
Auscultação cardíaca: S1 e S2 presentes, rítmicos. Ausência de sopros ou atrito
pericárdico.
Abdómen:
Inspecção: Abdómen simétrico, móvel com movimentos respiratórios. Ausência de
peristaltismo ou circulação colateral visível. Pulsatilidade aórtica não visível. Ausência de
tumefacções ou hérnias. Cicatriz umbilical sem alterações. Apresenta cicatriz na fossa ilíaca
direita por apendicectomia.
Auscultação: Ruídos hidroaéreos audíveis em todos os quadrantes abdominais com
intensidade normal. Ausência de sopros audíveis.
Palpação: Abdómen mole e depressível, sem queixas álgicas. Ausência de defesa ou
contractura à palpação superficial ou profunda. Ausência de tumefacções ou organomegalias.
Fígado e baço não palpáveis.
Percussão: Timpanismo no hipogastro. Macicez na região hepática.
Membros Superiores:
Inspecção: Configuração normal, sem assimetrias ou deformidades, com postura
normal e sem atrofia das massas musculares. Distribuição pilosa de acordo com o género e
idade. Unhas e leitos ungueais sem alterações. Ausência de movimentos involuntários.
Movimentos passivos e activos mantidos. Ausência de sinais inflamatórios das articulações.
Palpação: Tonicidade muscular normal. Ausência de dor à palpação. Pulsos radiais
amplos e simétricos. Extremidades quentes, com preservação da sensibilidade.
Membros Inferiores:
Inspecção: Configuração normal, sem assimetrias ou deformidades, com postura
normal e sem atrofia das massas musculares. Distribuição pilosa de acordo com o género e
idade. Unhas e leitos ungueais sem alterações. Ausência de movimentos involuntários.
Movimentos passivos e activos mantidos. Ausência de sinais inflamatórios das articulações.
Palpação: Tonicidade muscular normal. Ausência de dor à palpação. Extremidades
quentes, com preservação da sensibilidade.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária – FMUP 44
Plano Terapêutico
1. Sensibilizar a doente para a importância de uma dieta saudável, com baixo teor de sal, e
da prática de exercício físico, incentivando-a a uma maior regularidade de caminhadas.
2. Manter os fármacos para o controlo da diabetes mellitus (metformina) e da hipertensão
arterial (lisinopril).
3. Realizar hemograma, bioquímica e sedimento urinário.
4. Agendar nova consulta para reavalição.
Lista de Problemas
Activos
Diabetes mellitus tipo 2.
Hipertensão arterial sistólica.
Excesso de peso.
Glaucoma.
Passivos
Relação distante com a irmã.
Comentário Final
Na altura da recolha da história clínica, R.B.C. mostrou-se bastante colaborante,
comunicativa, acessível, com um discurso lógico e estruturado e com encadeamento
cronológico que tornou claramente perceptível o resumo do seu percurso de vida.
A doente apresenta hábitos de vida saudáveis, realizando uma alimentação equilibrada
e a prática de algum exercício físico. Além disso, revela preocupação com a sua saúde, na
medida que realiza exames de rastreio periódicos (como a mamografia), cumpre a medicação
prescrita para a hipertensão arterial e diabetes mellitus, controlando diariamente os níveis de
pressão arterial e glicemia capilar.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária – FMUP 45
Em termos de suporte familiar e social, à excepção da irmã com quem perdeu contacto
há cerca de vinte anos, a doente apresenta uma boa rede familiar e social, na medida que
mantém uma boa relação com o seu irmão e respectiva família, com uma prima, com as
vizinhas que considera suas amigas e com a sua patroa que é como uma figura materna para a
doente. De salientar, é o facto da doente nunca ter casado ou ter tido filhos. Contudo, refere
que foi uma opção tomada de livre vontade e não se arrepende de o ter feito.
Bibliografia
Caeiro R. Registos Clínicos em Medicina Familiar. Lisboa: Instituto de Clínica Geral
da Zona Sul, 1991
Rebelo L. A Medicina Familiar, A Família, O Genograma. Rev Port Clin Geral 1988;
32: 5-17
Relatório de Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária – FMUP 46
9.3 Apêndice III – Fluxograma | Rastreio Oncológico Ginecológico
Um dos objectivos primordiais dos cuidados de saúde consiste na prevenção ou
detecção precoce de doenças, com vista a uma intervenção mais eficaz. Os exames de rastreio
actualmente utilizados têm evidência suficiente que apoia a sua utilização, visto serem
práticos, eficazes, pouco dispendiosos e facilmente acessíveis.
Qualquer exame que se queira introduzir para fins de rastreio deve ser submetido a
uma rigorosa avaliação da sua sensibilidade, especificidade e impacto sobre a doença e
relação custo-benefício.
As doenças a rastrear devem apresentar uma elevada prevalência. O principal
objectivo de um exame de rastreio é a detecção da doença numa fase em que, intervindo,
ainda é possível a obtenção de cura. A título de exemplo, a maioria das neoplasias têm
melhor prognóstico quando identificadas como lesões pré-malignas ou quando ainda são
passíveis de ressecção. No entanto, a detecção precoce não tem necessariamente influência na
sobrevida. Nalguns estudos de rastreio do cancro do pulmão, os tumores são identificados
numa fase inicial, mas a mortalidade total é sobreponível nas populações rastreadas e não
rastreadas. A aparente melhoria nas taxas de sobrevida aos 5 anos pode ser atribuída à
detecção de pequenos tumores, em vez de uma verdadeira mudança no curso clínico após o
diagnóstico. Da mesma forma, a detecção de neoplasias da próstata pode não alterar a
mortalidade, visto que a doença é muitas vezes indolente e com co-morbilidades associadas.
Doenças com um longo período de latência são aquelas nas quais os exames de
rastreio devem incidir. O carcinoma do colo do útero tem uma longa latência entre a lesão
displásica e carcinoma invasivo, o que permite o rastreio da doença numa fase precoce.
Espera-se que a introdução de novas vacinas contra o papilomavírus humano (HPV) possa vir
a prevenir o aparecimento de novos casos de neoplasia e, em última instância, reduzir a
dependência do rastreio do cancro do colo do útero. Relativamente ao carcinoma colorrectal a
evolução da sequência pólipo adenomatoso – carcinoma colorrectal cursa em cerca de 4 a 12
anos, o que possibilita a detecção precoce de lesões através da pesquisa de sangue oculto nas
fezes. Por outro lado, o rastreio do carcinoma da mama em mulheres pré-menopausa é mais
difícil devido ao intervalo relativamente curto entre o desenvolvimento de um carcinoma da
mama localizado e a metastização ganglionar (estima-se que cerca de 12 meses).1
A evidência científica actual é consensual sobre a utilidade de programas de rastreio
do cancro em três áreas: colo do útero, mama e colorrectal. Nestas patologias, foi possível
demonstrar que a instituição do rastreio conduzia a uma diminuição das taxas de mortalidade
Relatório de Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária – FMUP 47
da ordem dos 80%, 30% e 20%, respectivamente. O mesmo ainda não se verifica em relação
ao cancro da próstata.2
Cancro do Colo do Útero
O cancro do colo do útero é uma das neoplasias malignas mais prevenível r curável. A
maioria dos cancros do colo do útero nos Estados Unidos da América ocorrem em mulheres
que nunca foram rastreadas ou que não o foram nos últimos 5 anos. Adicionalmente, outros
casos ocorrem em mulheres que não tiveram um seguimento adequado, após uma citologia
anormal. O principal método de rastreio é a citologia cervical.
O rastreio do cancro do colo do útero está contemplado, segundo o plano nacional de
saúde 2004-2010, na política nacional de rastreios de cancro. Recomenda-se o rastreio do
cancro do colo do útero por citologia cervical em mulheres com colo do útero (geralmente,
entre os 25 e 60 anos), que tenham iniciado a sua vida sexual. O rastreio deverá ser aplicado a
cada 3 anos após 2 citologias consecutivas normais.
Novas tecnologias, como o teste de DNA do HPV e a citologia em meio líquido
poderão vir a integrar, no futuro, este rastreio. Contudo, actualmente, não se dispõe de
evidência suficiente para se poder recomendar o seu uso.
Em relação à idade de início do rastreio, dados da história natural da infecção por
HPV e sobre a incidência de lesões de alto grau e de cancro do colo do útero, sugerem que o
início do rastreio pode, com segurança ser iniciado até três anos após o início da actividade
sexual ou até aos 21 anos, conforme o que surgir primeiro. No entanto, não se dispõe de
evidência suficiente para se estabelecer a idade de início de um programa de rastreio
populacional sistemático.
Em relação à idade de interrupção do rastreio, não se dispõe de evidência suficiente
para se estabelecer uma idade limite. A American Cancer Society recomenda a interrupção do
rastreio aos 70 anos, podendo continuar, em mulheres mais velhas, se não tiverem sido
previamente rastreadas. A interrupção deste rastreio deve ocorrer apenas após a obtenção de
três citologias consecutivas satisfatórias e negativas nos últimos 10 anos. 2,3
Relatório de Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária – FMUP 48
ACS-US: Anomalias de células epiteliais pavimentosas de significado indeterminado. ASC-H: Anomalias de
células epiteliais pavimentosas não se podendo excluir lesão intraepitelial de alto grau. LSIL: Lesões
intraepiteliais de baixo grau. HSIL: Lesões intraepiteliais de alto grau. A. Inclui células glandulares atípicas, adenocarcinoma in situ ou adenocarcinoma. B. Neste grupo etário, a ocorrência de cancro do colo do útero é rara e a infecção transitória do HPV é muito
frequente. C. Na mulher pós-menopáusica, o teste de DNA do HPV pode evitar a realização de colposcopia. Se o teste for
negativo, deve repetir-se a citologia passados 12 meses.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária – FMUP 49
Carcinoma da Mama
O rastreio do cancro da mama está contemplado na política nacional de rastreios de
neoplasias. Actualmente, são considerados três métodos de rastreio para o cancro da mama:
auto-exame da mama (inclui a observação e palpação pela própria mulher de modo a procurar
alterações da forma ou textura da mama ou presença de nódulos), o exame clínico da mama
(realizado pelo profissional de saúde e compreende a palpação da mama com o intuito de
detectar nódulos) e a mamografia.
De acordo com o Plano Oncológico Nacional 2001-2005, recomenda-se o rastreio do
carcinoma da mama por mamografia de dois em dois anos, na faixa etária dos 50 aos 69 anos.
Na faixa etária dos 40 aos 49 anos, não existe evidência suficiente para recomendar a
favor ou contra a realização de mamografia como método de rastreio. Deve informa-se a
mulher que a relação benefício/ risco da mamografia aumenta com a idade dos 40 aos 70 anos
e que a possibilidade de resultados falsos positivos e falsos negativos é maior nas mulheres
mais novas, devido à maior densidade de tecido mamário. Para mulheres com idade superior
a 70 anos, não existe evidência suficiente para recomendar a favor ou contra o rastreio por
mamografia. Com o aumento da esperança média de vida, algumas mulheres podem ser
candidatas a rastreio, com base numa decisão partilhada com o médico e de acordo com as
co-morbilidades, esperança média de vida e preferências individuais.
A evidência é insuficiente para recomendar, a favor ou contra, o exame clínico da
mama como método de rastreio. O auto-exame da mama não é aconselhável como método de
rastreio. Este método, usado de forma sistematizada, não resultou numa redução do tamanho
e do estadio do tumor na altura do diagnóstico, nem numa diminuição da mortalidade por
cancro da mama, aumentando, provavelmente, o número de consultas e de biopsias.
Recomenda-se que a mulher esteja atenta ao aspecto e sensibilidade normais das suas mamas
e comunique, sem demora, ao seu médico de família, qualquer alteração invulgar. 2,3
Relatório de Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária – FMUP 50
Bibliografia
1. Fauci, A.S., Kasper, D.L., Longo, D.L., et al (2008). Harrison’s Principles of Internal
Medicine. 17ª edição, The McGraw-Hill Companies, Inc.. EUA.
2. Hespanhol AP, Couto L, Martins C, Viana M. Educação para a saúde e prevenção na
consulta de medicina geral e familiar (II). Rev Port Clin Geral 2009; 2: 242-52.
3. Recomendações sobre Actividades Preventivas. Associação Portuguesa dos Médicos
de Clínica Geral. [Acesso em 3 de Setembro de 2010]. Disponível em
Http://www.apmcg.pt/PageGen.aspx?WMCM_PaginaId=27436.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária – FMUP 51
9.4 Apêndice IV – A Relação dos Cuidados Primários com os Secundários
Relatório de Estágio em Medicina Comunitária – FMUP 55
9.6 Apêndice VI – Reflexão | Impacto da actual situação económico-social na saúde
mental da população portuguesa
A.F.V.S.V., 41 anos, sexo feminino, delegada de informação médica, recorre à
Consulta Aberta do Centro de Saúde de São João, porque refere, desde há cerca de meio mês
a um mês, episódios recorrentes de choro, tristeza e perda de interesse pelas actividades
diárias. Refere «falta de forças para sair da cama» (sic). Questionada acerca de uma
possível razão explicativa deste quadro, a doente refere que vai ser despedida («Eu não sou
cega; a esta hora foram todas convocadas para uma reunião de trabalho, menos eu, por que
será?» (sic)), estando a aguardar pela carta de despedimento. Revela preocupação acrescida
pelo facto do marido estar actualmente desempregado, tendo um agregado familiar de
quatro pessoas: a doente, o marido e dois filhos menores. Por outro lado, salienta que na
área onde trabalha, a ofertas de empregabilidade estão a escassear. Refere que quando os
episódios tiveram início, não conseguia falar com ninguém sobre o assunto. Contudo,
actualmente já começa a fazê-lo com pessoas mais próximas, o que a faz sentir um pouco
melhor.
De acordo com a vivência ao longo destes quinze dias no Centro de Saúde de São
João, esta é uma história que se enquadra em inúmeras famílias portuguesas da actualidade.
Todos os dias, em qualquer meio de comunicação, a palavra «crise» prevalece. Contudo, é no
terreno que se torna claramente perceptível o impacto social que essa palavra induz. A
presente reflexão pretende realizar uma abordagem da relação entre o desemprego e a
depressão.
Segundo dados divulgados pelo Eurostat, a taxa de desemprego em Portugal
estabeleceu um pico histórico, situando-se, em Outubro nos 11%, mais 0,8 pontos percentuais
que em termos homólogos. Na União Europeia a 27, no mês em análise, Portugal ocupa a
quarta posição dos países da União Europeia com a taxa de desemprego mais elevado. Os
novos valores do Eurostat representam assim uma nova subida do número de desempregados
em Portugal, que o Instituto Nacional de Estatística (INE) tinha estimado em 609,4 mil
pessoas em média entre Julho e Setembro, quando revelou a sua taxa de 10,9% para este
período. Por sua vez, o valor de 10,9% divulgado pelo INE para o terceiro trimestre do ano
constitui um recorde dos registos feitos em Portugal relativos ao desemprego, quer desde que
o INE acompanha o desemprego (segundo trimestres de 1983), quer desde que há registo nas
séries longas do Banco de Portugal, que no caso do desemprego remonta a 1953.1,2
Relatório de Estágio em Medicina Comunitária – FMUP 56
Segundo o Presidente da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental, a crise
económica faz aumentar as doenças do foro psiquiátrico, como a depressão e a ansiedade,
salientando que sempre que há crise, independentemente da sua índole, o risco de se
desenvolver uma doença psiquiátrica está aumentado. 3
O desemprego, fruto da situação vivida no Portugal do início do século XXI, tem sido
objecto de sucessivas referências em contexto político, económico e social, mas a sua
abordagem em termos de saúde tem sido descurada no nosso país. A nível internacional,
diversos autores têm-se debruçado sobre o tema, tentando estabelecer uma causalidade entre
desemprego e alterações em termos de saúde. Aquelas que têm sido mais visadas, são as
alterações na saúde mental. Por outro lado, os distúrbios mentais e de comportamento estão
associados a uma crescente preocupação das organizações nacionais e internacionais, tais
como a Organização Mundial de Saúde (OMS), que consideram a depressão como a maior
causa de incapacidade mundial a breve prazo, com consequências económicas e sociais ainda
difíceis de identificar.4
De acordo com o DMS-IV, a depressão integra-se na categoria dos distúrbios de
humor, classificando-se em Episódio depressivo major e Distúrbio distímico. Segundo a
OMS, a depressão atinge 5,8% dos homens e 9,5% das mulheres. O diagnóstico é clínico,
sendo que a depressão caracteriza-se por presença de humor depressivo ou perda de
interesse/prazer em todas as actividades durante um período de pelo menos duas semanas.
Além disso, reúne pode reunir um conjunto de sintomas físicos e mentais, que envolvem o
pensamento, os impulsos e a capacidade crítica, entre os quais se encontram humor
deprimido, perda de interesse e entusiasmo por actividades anteriormente agradáveis,
diminuição de energia, fadiga intensa, lentificação ou excitação psicomotora, diminuição da
iniciativa, da atenção e da concentração, diminuição da auto-estima e da auto-confiança,
ideias de culpa e de auto-desvalorização, visão pessimista do futuro, ideias ou actos de auto-
agressão, ideação suicida e suicídio, perturbações do sono e alteração do peso e do apetite.5 É
frequente que os doentes que procuram os cuidados de saúde primários descrevam queixas
somatizadas, como insónia ou cansaço, relacionadas com a depressão, mas não revelem ou
escondam as alterações de humor que vivenciam.6
Aquilo que é geralmente atribuído de positivo ao trabalho é a sua função estruturante,
organizadora, quer da sociedade, quer da vida de cada indivíduo, actuando como uma espécie
de força aglutinadora, levando à coesão dos indivíduos face a objectivos imperativos e
evitando a desagregação da própria sociedade. Além disso, o trabalho é um meio passível de
utilização pelo indivíduo para se expressar. Dessa forma, o desemprego pode ser visto como a
Relatório de Estágio em Medicina Comunitária – FMUP 57
falta dessa tal estruturação e organização da vida. Por outro lado, o trabalho, além de permitir
alcançar objectivos, também se traduz num alicerce para a obtenção de independência de
subsistência económica. O desemprego comporta-se como um acontecimento de vida indutor
de stress, cujo impacto é variável de indivíduo para indivíduo. Existem factores mediadores
da heterogeneidade do impacto psicológico do desemprego, tais como, momento de vida em
que o desemprego ocorre; situação financeira; circunstâncias em que ficou desempregado;
percepção de justiça/injustiça no despedimento; idade e expectativas de reemprego;
habilitações literárias e qualificações profissionais; situação familiar; duração do desemprego;
estrutura do mercado de trabalho e percepção que o sujeito tem dela; capacidade de
estruturação do tempo livre; valorização do trabalho e centralidade do papel do trabalhador
relativamente aos restantes papéis de vida; atitudes proactivas de procura de trabalho; número
de pessoas que se conhece na mesma situação; mecanismos de coping.5 Relativamente à
criança no seio de uma família, a necessidade mais básica da mesma, remete-se para a figura
materna, que a alimenta, protege e ensina, assim como cria um apego individual seguro,
contribuindo para um bom desenvolvimento da família e consequentemente para um bom
desenvolvimento da criança.7
Ora, numa situação de desemprego e dificuldades económicas
que daí possam advir, nem sempre os parâmetros supracitados podem ser cumpridos.
Face à frequência com que os médicos de família se deparam com este problema,
importa salientar qual poderá ser o seu papel. As depressões ligeiras a moderadas podem ser
acompanhadas pelos médicos especialistas de medicina geral e familiar, devendo referenciar
casos mais graves para a especialidade de psiquiatria. A abordagem do doente deprimido deve
levar em consideração factores psíquicos, factores sociais e familiares. É importante a
educação e sensibilização para a utilização de mecanismos de coping que permitam, tanto
lidar com as emoções, como confrontar e resolver o problema. Podem ser utilizadas diversas
estratégias de apoio ao desempregado, de acordo com os factores presentes em cada situação;
estas não se devem restringir à transmissão de informação sobre oportunidades de emprego ou
ao fornecimento de técnicas de procura de emprego, mas também devem abranger o modo de
lidar emocionalmente e de pensar sobre a situação do desemprego. A psicoterapia,
nomeadamente, terapias cognitivas e comportamentais têm como objectivo a elaboração de
novas representações, onde a família desempenha um papel muito importante. Por um lado,
constitui o suporte do doente, e por outro lado assegura a adesão à terapêutica e atenua a
sensação de solidão que muitas vezes assola estes doentes. A família tem como função
primordial a de protecção, tendo sobretudo, potencialidades para dar apoio emocional para a
resolução de problemas e conflitos, podendo formar uma barreira defensiva contra agressões
Relatório de Estágio em Medicina Comunitária – FMUP 58
externas. Quando a família é disfuncional, as terapias cognitivas e comportamentais podem
trabalhar no sentido de descobrir e corrigir ou modificar a causa da disfunção. O tratamento
farmacológico pode ser realizado com o recurso a antidepressivos tricíclicos, inibidores
selectivos da recaptação da serotonina, inibidores da monoamino-oxidade, trazadona e
bupropiona. O tratamento deve ser iniciado com uma dose baixa, aumentando-se
gradualmente com o tempo. 5,6,7,8
Bibliografia
1. Madeira, P.M. (2010, 30 de Novembro). Eurostat revê desemprego para novo máximo de
11,1 por centro entre Maio e Setembro. Público. Acedido em 23 de Dezembro de 2010, em:
http://economia.publico.pt/Noticia/eurostat-reve-desemprego-para-novo-maximo-de-111-por-
cento-entre-maio-esetembro_1468 795
2. Eurostat revê em alta taxa de desemprego em Portugal. Acedido em 23 de Dezembro de
2010, em http://tsf.sapo.pt/PaginaInicial/Economia/Interior. aspx?content_ id=1723917
3. Crise económica faz aumentar doenças do foro psiquiátrico. Acedido em 23 de Dezembro
de 2010, em http://www.alert-online.com/pt/news/health-portal/crise-economica-faz-
aumentar-doencas-do-foropsiquiatrico?utm_source=NL_ NOTICIAS&
utm_medium=email&utm_campaign=NL_AHP_20101213
4. Gomes, J.C.R. (2003). Desemprego, depressão e sentido de coerência: uma visão do
desemprego sobre o prisma de saúde pública. Tese de Mestrado em Saúde Pública -
Universidade Nova de Lisboa, Lisboa. 212 pp.
5. Cruz, M.G.P. (2009). O impacto do desemprego nos níveis da depressão, auto-estima e
desânimo-aprendido- estudo comparativo numa amostra de empregados e desempregados.
Tese de Mestrado em Psicologia do Trabalho e das Organizações – Universidade Fernando
Pessoa, Porto. 150 pp.
6. Normas de Orientação Clínica de Depressão. Associação Portuguesa dos Médicos de
Clínica Geral. Acedido em 22 de Dezembro de 2010, em:
http://www.apmcg.pt/files/54/documentos/20091217004124437026.pdf
7. Williams, P. (1993). Problemas de Família. Edição do Departamento de Clínica Geral.
Porto.
8. Sadock, B. e Sadock, V. (2003). Kaplan & Sadock’s Synopsis of Psychiatry. 9ª edição,
Lippincott, Williams and Wilkins.
Relatório de Estágio em Medicina Comunitária – FMUP 59
10.1 Anexo I | Ciclo de Vida de Duvall
10.2 Anexo II | Risco Familiar de Segovia Dreyer
Resultado:
Alto risco ≥ 6 pontos.
Médio risco ≥ 3 pontos.
Baixo risco ≤ 3 pontos.
Ciclo de Vida de Duvall
I: Casal sem filhos.
II: Família com filhos nascidos há menos de 30 meses.
III: Família com filhos em idade pré-escolar (filho mais velho
entre 30 meses e 6 anos).
IV: Família com filhos em idade escolar (filho mais velho entre
6 anos e 13 anos)
V: Família com filhos adolescentes (filho mais velho entre os
13 anos e 20 anos).
VI: Família com adulto jovem a sair de casa (desde o primeiro
que saiu até à saída do último).
VII: progenitores na meia idade (desde o lar sem filhos até à
reforma).
VIII: progenitores na 3ª Idade (desde a reforma até à morte dos
dois elementos). Figura 1
10. ANEXOS
Factores de risco (1 ponto):
o Morbilidade crónica.
o Invalidez.
o Hospitalizações frequentes.
o Mãe analfabeta.
o Mãe solteira.
o Chefe de família desempregado.
o Ausência temporária de um dos pais.
o Chefe de família com emprego
temporário.
o Morte de pai ou de mãe.
Factores de risco (2 pontos):
o Alcoolismo.
o Droga.
o Desnutrição.
o Ausência de um dos pais.
o Pais analfabetos.
o Apgar familiar < 4.
o Filho grande deficiente.
o Chefe de família preso.
o Filho com carências afectivas
graves.
Relatório de Estágio em Medicina Comunitária – FMUP 60
10.3 Anexo III | Risco Familiar Imperatori
I. Famílias compostas por pais jovens e filhos pequenos que moram todos num quarto
alugado.
II. Famílias cuja dinâmica de relação esteja alterada e em que, pelo menos, metade dos seus
filhos, estejam sujeitos a insucesso escolar.
III. Famílias que solicitam em excesso os cuidados dos centros de saúde.
IV. Famílias cujos membros, na sua totalidade ou na grande maioria, compartilhem um factor
de risco comum (fumadores, obesos ou alcoólicos).
V. Famílias, nas quais um membro seja centro de atenção dos outros e que, por isso, altere
as relações intrafamiliares (deficiente mental ou físico que não é aceite, pai alcoólico, etc.).
VI. Famílias que, pelos seus antecedentes familiares, estejam sujeitas a um risco mais
elevado de padecer de determinado tipo de doenças embora essas doenças não estejam
presentes na actualidade.
Resultado:
Alto risco ≥ 4 itens presentes.
Médio risco ≥ 2 itens presentes.
10.4 Anexo IV | Classificação Social de Graffar
Profissão
Classificar-se-ão as famílias em cinco categorias, segundo a profissão exercida pelo pai.
Se a mãe exercer uma profissão de nível mais elevado do que a do pai, neste caso servirá de
base para a classificação da família.
1º grau: Directores de bancos, directores técnicos de empresas, licenciados, engenheiros,
profissionais com títulos universitários ou de escolas especiais e militares de alta patente.
2º grau: Chefes de secções administrativas ou de negócios de grandes empresas,
subdirectores de bancos, peritos, técnicos e comerciantes.
3º grau: Ajudantes técnicos, desenhadores, caixeiros, contra-mestres, oficiais de primeira,
encarregados, capatazes e mestres-de-obras.
Relatório de Estágio em Medicina Comunitária – FMUP 61
4º grau: Operários especializados com ensino primário completo (ex. motoristas,
polícias, cozinheiros, etc.).
5º grau: Trabalhadores manuais ou operários não especializados (ex: jornaleiros,
ajudantes de cozinha, mulheres de limpeza, etc.).
Nível de instrução
As categorias são as seguintes:
1º grau: Ensino universitário ou equivalente (12 ou mais anos de estudo). Por exemplo,
catedráticos e assistentes, doutores ou licenciados, títulos universitários ou de escolas
superiores ou especiais, diplomados, economistas, notários, juízes, magistrados, agentes do
Ministério Público, militares da Academia.
2º grau: Ensino médio ou técnico superior (10 a 11 anos de estudo). Por exemplo,
técnicos e peritos.
3º grau: Ensino médio ou técnico inferior (8 a 9 anos de estudo). Por exemplo, indivíduos
com cursos de liceu, industrial ou comercial, militares de baixa-patente ou sem Academia.
4º grau: Ensino primário completo (6 anos de estudo).
5º grau: Ensino primário incompleto (com um ou dois anos de escola primária, que
sabem ler) ou nulo (analfabetos).
Fontes de rendimento familiar
Segundo a principal fonte de rendimento da família, adoptam-se as cinco categorias
seguintes:
1º grau: A fonte principal é fortuna herdada ou adquirida.
2º grau: Os rendimentos consistem em lucros de empresas, altos honorários, lugares bem
remunerados, etc.
3º grau: Os rendimentos correspondem a um vencimento mensal fixo, tipo funcionário.
4º grau: Os rendimentos resultam de salários, ou seja remuneração po semana, por jorna,
por horas ou à tarefa.
5º grau: O indivíduo ou a família são sustentados pela beneficência pública ou privada.
Não se incluem neste grupo as pensões de desemprego ou de incapacidade para o trabalho.
Conforto do alojamento
Trata-se de dar uma impressão de conjunto, ainda que um pouco subjectiva.
Estabelecem-se cinco categorias:
Relatório de Estágio em Medicina Comunitária – FMUP 62
Grupo 1º: Casas ou andares luxuosos e muito grandes, oferecendo aos seus moderadores
o máximo conforto.
Grupo 2º: Casas ou andares que, sem serem tão luxuosos como os da categoria
precedente, são, não obstante, espaçosas e confortáveis.
Grupo 3º: Casas ou andares modestos, bem construídos e em bom estado de conservação,
bem iluminadas e arejadas, com cozinha e casa de banho.
Grupo 4º: Categoria intermédia entre 3 e 5.
Grupo 5º: Alojamentos impróprios para uma vida decente, choças, barracas ou andares
desprovidos de todo o conforto, ventilação, iluminação ou também aqueles onde moram
demasiadas pessoas em promiscuidade.
Aspecto do bairro onde habita
Grupo 1º: Bairro residencial elegante, onde o valor do terreno ou os alugueres são
elevados.
Grupo 2º: Bairro residencial bom, de ruas largas com casas confortáveis e bem
conservadas.
Grupo 3º: Ruas comerciais ou estreitas e antigas, com casas de aspecto geral menos
confortável.
Grupo 4º: Bairro operário, populoso, mal arejado ou bairro em que o valor do terreno
está diminuído como consequência da proximidade de oficinas, fábricas, estações de caminhos
de ferro, etc.
Grupo 5º: Bairros de lata.
Classificação Social
A soma total dos pontos obtidos na classificação dos cinco critérios dá-nos uma
pontuação final que corresponde à classe social, conforme a classificação que se segue:
Classe I: Famílias cuja soma de pontos vai de 5 a 9.
Classe II: Famílias cuja soma de pontos vai de 10 a 13.
Classe III: Famílias cuja soma de pontos vai de 14 a 17.
Classe IV: Famílias cuja soma de pontos vai de 18 a 21.
Classe V: Famílias cuja soma de pontos vai de 22 a 25.