2014 Texto Sobre Agrotóxicos e Agricultura Orgânica

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  • 30/05/2014 10h29 - Atualizado em 30/05/2014 10h29

    Uso sustentvel de agrotxicos requer aplicao correta, alerta pequisador Assunto foi debatido em painel na Expoagro, em MS, nesta semana. Pesquisador diz que tem de ser levadas em conta as peculiaridades da rea. Do Agrodebate

    Embrapa trabalha para prever riscos no uso de agrotxicos (Foto: Reproduo/TV Morena)

    O uso sustentvel de agrotxicos depende fundamentalmente da aplicao do produto na forma correta. A avaliao foi feita pelo pesquisador da Embrapa Agropecuria Oeste, Rmulo Penna Scorza Jnior, durante painel realizado nesta semana na Feira Agropecuria Internacional do municpio de Dourados (Expoagro), a 225 quilmetros de Campo Grande.

    O pesquisador lembrou que quando um agrotxico registrado no Brasil so realizados vrios testes relacionados sua eficincia e ao seu comportamento ambiental, justamente para caracteriz-lo quando a sua periculosidade ambiental, mas que existe um outro componente chamado de exposio, quando a

    recomendao de uso no obedecida, o que faz com as pessoas e o meio ambiente fiquem expostas a altas concentraes do produto.

    Como se garante, ento, o uso sustentvel? Usando o produto da forma correta, conforme recomendao do rtulo. Mas tambm ficando atento s peculiaridades de sua propriedade, como no aplicar o agrotxico prximo a recursos hdricos, tomar cuidado com lixiviao, logicamente fazer a aplicao do produto em horrios mais adequados para evitar altas temperaturas, explicou Scorza Jnior.

    Ele comentou ainda que tambm possvel antever o comportamento ambiental do agrotxico no campo, se forem levados em conta as caractersticas do produto, do solo e do clima. Tendo subsdios tcnicos, com essas informaes em mos, possvel ter uma ideia dos possveis riscos ou do potencial de contaminao dos recursos hdricos daquele agrotxico. Com os subsdios tcnicas, feita a comparao entre molculas, explica.

    O pesquisador detalhou ainda que existe outra maneira de prever os riscos. a maneira pela qual a pesquisa tem se dedicado, elaborando programas de computador que tentam simular o que acontece no campo, utilizando simplesmente uma ferramenta computacional com posse das informaes de clima, de solo e da molcula do agrotxico, por meio de modelos matemticos. Com isso possvel saber at que profundidade vai chegar, a que concentrao vai chegar naquela profundidade, quanto tempo vai permanecer no solo e o que vai acontecer com o produto se mudar a poca de aplicao, comenta.

    Nesse sentido, Scorza Jnior diz que a Embrapa tem trabalhado no desenvolvimento de um programa de computador que tem como objetivo simular o comportamento ambiental de molculas de agrotxicos em cenrios agrcolas brasileiros. Com isso, ser possvel estimar concentraes que podem ocorrer nesses cenrios agrcolas. Com base nesses valores, nessas estimativas, os rgos que lidam com os registros de molculas de agrotxicos querem utilizar essas ferramentas para avaliar o risco ambiental no Brasil, concluiu.

    http://g1.globo.com/mato-grosso/agrodebate/noticia/2014/05/uso-sustentavel-de-agrotoxicos-requer-aplicacao-correta-alerta-pequisador.html

  • Raquel Rigotto: A herana maldita do agronegcio por Manuela Azenha publicado em 20 de fevereiro de 2011 s 18:28

    O uso dos agrotxicos no significa produo de alimentos, significa concentrao de terra, contaminao do meio ambiente e do ser humano

    Raquel Rigotto professora e pesquisadora do Departamento de Sade Comunitria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Cear. Coordenadora do Ncleo Tramas Trabalho, Meio Ambiente e Sade, Raquel contesta o modelo de desenvolvimento agrcola adotado pelo Brasil e prev que para as populaes locais restar a herana maldita do agronegcio: doenas e terra degradada.

    Desde 2008, o Brasil ultrapassou os Estados Unidos para se tornar o maior consumidor de agrotxicos do mundo. Segundo dados da Organizao das Naes Unidas, tambm o principal destino de agrotxicos proibidos em outros pases.

    Na primeira parte da entrevista, Raquel fala sobre o paradigma do uso seguro" dos agrotxicos, que a indstria chama de defensivos agrcolas. De um lado todo mundo sabe que eles so nocivos. De outro se presume que haja um modo seguro de utiliz-los. O aparato legislativo existe. Mas, na prtica Raquel d um exemplo: o estado do Cear, que onde ela atua, no dispe de um laboratrio para fazer exames sobre a presena de agrotxicos na gua consumida pela populao. Ela comea dizendo que em 2008 e 2009 o Brasil foi campeo mundial no uso de venenos na agricultura.

    Na segunda parte da entrevista, Raquel diz que os agrotxicos contriburam mais com o aumento da produo de commodities do que com a segurana alimentar. Revela que cerca de 50% dos agrotxicos usados no Brasil so aplicados na lavoura da soja. Produto que se tornar rao animal para produzir carne para os consumidores da Europa e dos Estados Unidos. Diz que o governo Lula financiou o agronegcio a um ritmo de 100 bilhes de reais anuais em financiamento contra 16 para a agricultura familiar e que foi omisso: no mexeu na legislao de 1997 que concedeu desconto de cerca de 60% no ICMS dos agrotxicos. Enquanto isso, o Sistema nico de Sade (SUS) est completamente despreparado para monitorar e prevenir os problemas de sade causados pelos agrotxicos.

    Na terceira parte da entrevista Raquel diz que Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (Anvisa) nem sempre tem apoio dentro do prprio governo para tratar do problema dos agrotxicos. Afirma que tarefa de pesquisadoras como ela alertar o governo Dilma para a gravidade do problema, j definida por pesquisadores como uma herana maldita que as grandes empresas do agronegcio deixaro para o Brasil; doenas, terras degradadas, ameaa biodiversidade. Ela lembra que o rio Jaguaribe, que corta reas de uso intensivo de agrotxicos, de onde sai a gua para consumo da regio metropolitana de Fortaleza.

    Transcrio da entrevista:

    Viomundo O Brasil continua sendo o maior consumidor de agrotxicos do mundo?

    Raquel Rigotto - Os dados de 2008 e 2009 apontaram isso, eu no vi ainda os de 2010. Mas nos anos anteriores tivemos esse triste ttulo.

    V Por que a senhora acha que o Brasil vai nesse contra-fluxo? Os Estados Unidos e a UE proibindo o uso de agrotxicos e o Brasil aumentando o consumo?

    RR - um fenmeno que tem muito a ver com o contexto da reestruturao produtiva, inclusive da forma como ela se expressa no campo. Ns estamos tendo na Amrica Latina, como um todo, uma srie de empreendimentos agrcolas que se fundam na monocultura, no desmatamento, so cultivos extensivos, de rea muito grande, ento isso praticamente obriga a um uso muito intenso de agrotxicos. Ento tem a ver com a expanso do chamado agronegcio na Amrica Latina, como um todo.

  • V Existem pesquisas que comprovam os malefcios dos agrotxicos?

    RR Sim, os agrotxicos antes de serem registrados no Brasil, eles so analisados pelo Ministrio da Sade, da Agricultura e do Meio Ambiente e eles so classificados de acordo com sua toxicidade para a sade humana e de acordo com o seu impacto para o meio ambiente. Ento desde o comeo, quando eles so registrados, a gente j sabe que eles so produtos nocivos. Isso j vem descrito nas monografias que as prprias indstrias fabricantes apresentam para os rgos dos governos. Aqueles que so classificados como grupo 1, por exemplo, do ponto de vista da toxicidade para a sade humana, so aqueles que so extremamente txicos, depois vm os altamente txicos e os moderadamente txicos ou os pouco txicos.

    J sabemos desde o incio que so substncias nocivas vida e tm impacto no s sobre as pragas mas sobre as pessoas e os ecossistemas. Agora, para alm disso ns temos uma larga gama de estudos mostrando os impactos ambientais dos agrotxicos, as contaminaes de gua, de ar, de solo, de reduo da biodiversidade, de contaminao de alimentos, e tambm do ponto de vista da sade humana, que vai desde a intoxicao aguda at os chamados efeitos crnicos.

    V Se a nocividade desses produtos algo comprovado, por que eles no so banidos?

    RR - Na verdade, o que se construiu foi o que a gente chama de paradigma do uso seguro. Quer dizer, se reconhece que h uma nocividade mas tambm se prope estabelecer condies para o uso seguro. A voc tem limitaes desde os tipos de cultivos em que cada produto pode ser usado, o limite mximo de tolerncia dele no ambiente de trabalho, at mesmo na gua de consumo humano, o tipo de equipamento de proteo que deve ser fornecido aos trabalhadores e tambm a informao que eles devem ter.

    Voc tem um amplo aparato legislativo que criaria condies para um suposto uso seguro desses produtos. Mas a partir das experincias nossas aqui de cultivo na fruticultura irrigada para exportao no Cear, a gente vem questionando muito se existe esse uso seguro. Por exemplo, o governo estadual, que tem o rgo estadual de meio ambiente, que deteria a atribuio de acordo com a legislao federal de monitorar os impactos ambientais dos agrotxicos, no dispe de um laboratrio que seja capaz de identificar a contaminao da gua por agrotxicos. Na pesquisa, enviamos as amostras para Minas Gerais porque no Cear no tem rgos pblicos que o faam. E nem mesmo no setor privado tem instituies de segurana. E existem uma srie de outras evidncias de que essas condies do uso seguro no esto vigendo.

    V Hoje o mundo precisa dos agrotxicos?

    RR Vivemos um discurso de que os agrotxicos redimiriam o mundo da fome. Isso ns experimentamos historicamente e prpria ONU e a FAO reconhecem que houve o aumento da produo daquilo que chamamos hoje de commodities, como a soja, o acar, a cana, mas isso no implicou segurana alimentar e reduo dos padres de desnutrio e subnutrio entre os mais pobres. Ampliou-se a produo dessas commodities mas sequer a gente pode cham-las de alimentos porque o problema da fome persiste.

    Quem produz alimentos, quem produz comida realmente no Brasil, a agricultura familiar. No ano de 2008, mais de 50% dos agrotxicos consumidos no Brasil foi nas plantaes de soja. Essa soja em grande parte exportada para ser transformada em rao animal e subsidiar o consumo europeu e norte-americano de carne. Ento isso no significa alimentao para o nosso povo, significa concentrao de terra, reduo de biodiversidade, contaminao de gua, solo e ar e contaminao dos trabalhadores e das famlias que vivem no entorno desses empreendimentos. Alm das enormes perdas para os ecossistemas, o cerrado, a caatinga e at mesmo o amaznico, que est sendo invadido pela expanso da fronteira agrcola.

    Ento claro que deixar de usar agrotxico no algo que se possa fazer de um dia para o outro, de acordo com o que os agrnomos tm discutido, mas por outro lado ns temos muitas experincias extremamente positivas de agroecologia, que a produo de alimentos utilizando conhecimentos tradicionais das comunidades e saberes cientficos sensveis da perspectiva da justia scio-ambiental. Esses sim, produzem qualidade de vida, bem viver, soberania e segurana alimentar, e conservao e preservao das condies ambientais e culturais.

    V - Como a senhora avalia a poltica do governo Lula em relao aos agrotxicos?

    RR O governo Lula teve um papel muito importante na expanso do agronegcio no Brasil. Para dar dados bem sintticos, o financiamento que o governo disponibilizou para o agronegcio anualmente foi em torno de 100 bilhes de reais e para a agricultura familiar foi em torno de 16 bilhes de reais. Ento h um desnvel muito grande.

  • O governo Lula foi omisso em relao s legislaes vigentes no Brasil desde 1997, que concedem uma iseno de 60% do ICMS para os agrotxicos. Ou seja, existe um estmulo fiscal comercializao, produo e uso dos agrotxicos no pas. Isso, evidentemente, atrai no espao mundial investimentos para o nosso pas, investimentos que trabalham com a contaminao. Tambm poderamos falar das polticas pblicas, continuamos com o Sistema nico de Sade, que apesar de ser da maior importncia enquanto sistema de universalidade, equidade, participao e integrao, ainda um sistema completamente inadequado para atender a populao do campo.

    Ainda um sistema cego para as intoxicaes agudas e os efeitos crnicos dos agrotxicos. E com rarssimas excees nesse enorme pas, um sistema que ainda no consegue identificar, notificar, previnir e tratar a populao adequadamente. Existe uma srie de hiatos para a ao pblica que precisam ser garantidos para que se possa respeitar a Constituio Federal no que ela diz respeito ao meio ambiente e sade.

    V Alguns agrotxicos tem sido revistos pela ANVISA. Como esse processo tem corrido?

    RR A ANVISA pautou desde 2006, se no me engano, a reavaliao de 14 agrotxicos. Segundo estudos inclusive dos prprios produtores, as condies relatadas no momento do registro tinham se alterado e, portanto, pensaram em reavaliar as substncias. Esse processo vem correndo de forma bastante atropelada porque o sindicato da indstria que fabrica o que eles chamam de defensivos agrcolas, utiliza no s de suas articulaes com o poder poltico no Senado Federal, com a bancada ruralista, mas tambm de influncias sobre o Judicirio, e gerou uma srie de processos judiciais contra a ANVISA, que o rgo do Ministrio da Sade responsvel legalmente por essas atribuies. Mas alguns processos j foram concludos.

    V A senhora acha que essa reavaliao pode ser vista como um avano na poltica nacional?

    RR A ANVISA um rgo que tem lutado com competncia para cumprir aquilo que a legislao exige que ela faa mas s vezes ela tem encontrado falto de apoio dentro dos prprios rgos pblicos federais. Muitas vezes o prprio Ministrio da Agricultura no se mostra comprometido com a preservao da sade e do meio ambiente como deveria, a Casa Civil muitas vezes interfere diretamente nesses processos, o Ministrio da Sade muitas vezes no tem compreenso da importncia desse trabalho de reavaliao dos agrotxicos. A ANVISA uma das dimenses da poltica pblica, no que toca s substncias qumicas, que vem tentando se desenvolver de maneira adequada, mas com muitos obstculos. No contexto mais geral, a gente ainda enxerga poucos avanos.

    V As perspectivas daqui pra frente, no governo Dilma, no trazem muita esperana, ento

    RR Acho que vamos ter a tarefa histrica, enquanto pesquisadores, movimentos sociais e profissionais da sade, de expr ao governo Dilma as gravssimas implicaes desse modelo de desenvolvimento agrcola para a sade da populao como um todo. Porque no so s os agricultores ou os empregados do agronegcio, os atingidos por esse processo. Aqui no nosso caso [do Cear], por exemplo, o rio que banha essas empresas e empreendimentos, que o rio Jaguaribe, o mesmo cuja gua trazida para Fortaleza, para abastecer uma regio metropolitana de mais de 5 milhes de pessoas. Essa gua pode estar contaminada com agrotxicos e isso no vem sendo acompanhado pelo SUS.

    Ns temos toda a questo das implicaes da ingesto de alimentos contaminados por agrotxicos na sade da populao. Em que medida esse acento dos cnceres, por exemplo, na nossa populao, como causa de morbidade e de mortalidade cada vez maior no Brasil, no tem a ver com a ingesto diria de pequenas doses de diversos princpios ativos de agrotxicos, que alteram o funcionamento do nosso corpo e facilitam a ocorrncia de processos como esse, j comprovado em diversos estudos. Ento preciso que o governo esteja atento.

    Ns temos uma responsabilidade de preservar essa riqueza ambiental que o nosso pas tem e isso um diferencial nosso no plano internacional hoje. No podemos deixar que nossa biodiversidade, solos frteis, florestas, clima, luz solar, sejam cobiados por empresas que no tm critrio de respeito sade humana e ao meio ambiente quando se instalam naquilo que elas entendem como pases de terceiro mundo ou pases subdesenvolvidos.

  • V Por que o Brasil com tamanha biodiversidade, terra frtil e gua necessita de tanto agrotxico?

    RR Porque a monocultura, que a escolha do modelo do agronegcio, ao destruir a biodiversidade e plantar enormes extenses com um nico cultivo, cria condies favorveis ao que eles chamam de pragas, que na verdade so manifestaes normais de um ecossistema reagindo a uma agresso. Quando surgem essas pragas, comea o uso de agrotxico e a vem todo o interessa da indstria qumica, que tem faturado bilhes e bilhes de dlares anualmente no nosso pas vendendo esse tipo de substncia e alimentando essa cultura de que a soluo usar mais e mais veneno.

    Ns temos visto na rea da nossa pesquisa, no cultivo do abacaxi, eram utilizados mais de 18 princpios ativos diferentes de agrotxicos para o combate de cinco pragas. Depois de alguns anos, a prpria empresa desistiu de produzir abacaxi porque, ainda que com o uso dos venenos, ela no conseguiu controlar as pragas. Ento um modelo que, em si mesmo, insustentvel, autofgico. As empresas vm, degradam o solo e a sade humana e vo embora impunemente. Fica para as populaes locais aquilo que alguns autores tm chamado de herana maldita, que a doena, a terra degradada, infrtil e improdutiva.

    http://www.viomundo.com.br/falatorio/raquel-rigotto-a-heranca-maldita-do-agronegocio.html

    Agricultura Orgnica O que , como comeou e suas controvrsias

    O que a Agricultura Orgnica? Agricultura orgnica uma forma de agricultura que busca a sustentabilidade econmica, social, e ecolgica. Para tal, os agricultores orgnicos no podem utilizar agrotxicos, fertilizantes sintticos, ou transgnicos, sendo que o manejo da lavoura baseia-se em tcnicas de rotao de culturas, adubos verdes, utilizao de resduos e esterco animal, uso de predadores naturais etc.

    Para a produo orgnica de animais, procura-se ao mximo o bem-estar animal, e expressamente proibido o uso de hormnios, antibiticos e aditivos sintticos.

    O comeo de tudo A agricultura orgnica a mais antiga forma de agricultura do nosso planeta. Produzir alimentos sem produtos qumicos derivados do petrleo (agrotxicos e fertilizantes) era a nica opo aos agricultores no perodo anterior Segunda Guerra Mundial. Durante as guerras, foi desenvolvida a sntese do nitrato de amnio para a sua utilizao em explosivos, mas foi posteriormente utilizado na agricultura como um adubo nitrogenado (fornecedor de nitrognio) para as plantas. De uma forma semelhante foram desenvolvidos os primeiros inseticidas, os organofosforados (DDT), que foram posteriormente utilizados na agricultura.

    O movimento orgnico se iniciou nos anos 1940 como uma reao ao crescente uso de qumicos sintticos na agricultura. Os movimentos ambientalistas se reforaram nos anos 1960, com a publicao do livro Primavera Silenciosa, onde a cientista americana Rachel Carson descrevia pela primeira vez os efeitos nocivos do uso indiscriminado do inseticida DDT, levando abolio do seu uso.

    Bases da Agricultura Orgnica Ao invs de utilizar fertilizantes sintticos, os agricultores orgnicos utilizam rotao de culturas, coberturas verdes, e compostagem para manter e melhorar a fertilidade do solo. Do mesmo modo, no lugar dos agrotxicos sintticos, as fazendas utilizam mtodos biolgicos, culturais e fsicos para limitar o crescimento das pragas e aumentar a populao de insetos benficos. Transgnicos so proibidos na agricultura orgnica por serem sintticos e representarem riscos desconhecidos.

    Por dispensarem o uso de muitas tecnologias, a produo orgnica muito mais trabalhosa que a convencional,

    exigindo mais mo-de-obra e produzindo consideravelmente menos quantidade por unidade de rea. Devido a esses fatores, os produtos orgnicos chegam mais caros ao consumidor final, podendo custar at 4 vezes mais que os convencionais.

  • A Lei dos Orgnicos No Brasil, a agricultura orgnica regulamentada pela Lei 10.831, de 23 de Dezembro de 2003. A lei estabelece critrios rgidos sobre os padres requeridos para que um produto seja considerado orgnico. A fiscalizao feita por agncias certificadoras e pelos fiscais federais agropecurios do Ministrio da Agricultura.

    Como identificar produtos orgnicos? Para o consumidor final, fica praticamente impossvel identificar um produto orgnico na prateleira dos supermercados sem que ele esteja devidamente identificado. Para que um alimento seja considerado orgnico, no basta somente ter sido produzido em um sistema orgnico, ele deve provar que realmente um alimento orgnico.

    No Brasil, todo alimento orgnico deve ser certificado por agncias certificadoras credenciadas pelo governo federal, garantindo assim que os produtos rotulados como orgnicos sejam realmente o que dizem ser. Alimentos orgnicos devem vir com um selo obrigatrio do Sistema Brasileiro de Avaliao da Conformidade Orgnica, gerido pelo Ministrio da Agricultura. Alguns produtores regionais de pequena escala podem isentar-se da obrigatoriedade da certificao.

    Controvrsias Os diferentes ramos da cincia ainda no chegaram a um acordo em muitos aspectos quanto agricultura orgnica e

    a convencional. Ainda no se sabe se os produtos produzidos sob sistemas orgnicos realmente possuem maior teor de nutrientes em relao aos produzidos em sistemas convencionais. Ainda no existe certeza tambm se a produo orgnica seria capaz de produzir isoladamente alimento para toda a populao mundial atual, que dobrou desde o surgimento dos fertilizantes e pesticidas sintticos.

    Mas de uma coisa no temos dvidas: alimentos orgnicos representam menos riscos nossa sade. O uso das novas tecnologias, com o emprego de novos agrotxicos e de transgnicos traz muitas dvidas e incertezas quanto segurana dos alimentos que comemos. Os orgnicos, por outro lado, so a certeza da ausncia de contaminantes intencionais.

    http://www.cultivando.com.br/alimentacao_e_saude_alimentos_organicos_agricultura_organica.html

    SUSTENTABILIDADE - 27/06/2013 | 18h35

    Produo de alimentos orgnicos cresce 300% em 10 anos no Brasil Wllyssys Wolfang | So Paulo

    Foto: Diego Redel/Agncia RBS

    Governo ainda tem dificuldade em mapear produtores orgnicos, j que a comercializao feita de forma direta

    A produo de alimentos orgnicos cresceu mais de 300% no Brasil na ltima dcada. O nmero foi apresentado nesta quinta, dia 27, durante a Bio Brazil Fair | Biofach Amrica Latina, que acontece at o dia 30 de junho em So Paulo. Se por um lado, o mercado consegue estimar seu desenvolvimento, por outro, ainda tem dificuldade em mapear os agricultores, j que a maioria das vendas feitas no setor so diretas, de produtor para consumidor. H mais de 50 anos, a famlia de Kyioteru Iizuka trabalha com agricultura. H 15 anos, no entanto, eles resolveram mudar para os orgnicos, depois que o pai e o av perceberam que algumas pessoas estavam adoecendo pelo contato contnuo com defensivos.

    Hoje, a produo deles completamente livre de agrotxicos. At o esterco utilizado feito de maneira orgnica, atravs de um galinheiro que Iizuka mantm na propriedade, localizada na Serra da Cantareira, regio Metropolitana de So Paulo.

    Selos de certificao orgnica brasileiros

  • Tudo que ele produz certificado, e at o mato por entre as plantas retirado mo. Assim como a famlia do seu Iizuka, outros produtores seguiram o mesmo caminho e migraram da agricultura convencional para a orgnica. A quantidade de agricultores orgnicos no mundo ultrapassou 1,8 milho. De acordo com o coordenador Executivo do Organics Brazil projeto que rene 12 empresas exportadoras do setor , Ming Liu, o consumidor atual busca alimentos saudveis e seguros: O atual cenrio econmico brasileiro aponta que o mercado de orgnicos vem crescendo de forma significativa, seguindo a tendncia dos consumidores em busca de produtos saudveis e seguros. Cada vez mais vemos que o mercado vem crescendo, novos produtos com maior valor agregado vem sendo ofertado e mais empreendedores enxergam que h sim mercado que oferecem produtos com a preocupao de trazer valores e aplicao de conceitos de sustentabilidade em toda a cadeia. O mercado brasileiro de orgnicos ainda est longe de possuir os maiores produtores mundiais. Por enquanto, a sia o continente com a maior parcela na produo: cerca de 34% dos produtores, seguida pela frica, com 30%, e Amrica Latina, com 18%, de acordo com dados da Organizao das Naes Unidas para Alimentao e Agricultura (FAO) e da Federao Internacional de Movimentos de Agricultura Orgnica (Ifoam). O principal mercado consumidor o norte-americano. Os Estados Unidos, apesar de no terem uma produo considervel de orgnicos, deixa no setor mais de US$ 31 bilhes por ano, e logo em seguida vem a Europa, com US$ 29 bilhes. O mapeamento de produtores de alimentos orgnicos no Brasil encontra dificuldades devido comercializao direta. Os ltimos dados oficiais so do Censo Agropecurio, realizado em 2006. A regulamentao dos produtos orgnicos comeou a ser construda s em 2007 e entrou em vigor h apenas dois anos. http://agricultura.ruralbr.com.br/noticia/2013/06/producao-de-alimentos-organicos-cresce-300-em-10-anos-no-brasil-4183055.html

    Alimentao e Ecologia

    Um novo horizonte para a produo orgnica O Ministrio do Desenvolvimento Agrrio prepara um plano para aproximar do consumidor os alimentos orgnicos produzidos pela agricultura familiar por Mariana Melo publicado 11/06/2014 03:57, ltima modificao 12/06/2014 09:31

    Enagroecologia2014/Flickr

    Em Arataca, no sul da Bahia, feito o "chocolate rebelde". Produzido por 55 famlias em um assentamento do

    Movimento Sem Terra localizado em meio a grandes propriedades exportadoras de cacau, o chocolate Terra

    Vista levou oito anos para ganhar a certificao de "orgnico", que indica um cultivo sem agrotxicos e com

    tcnicas sustentveis. O longo e penoso perodo dificulta, e pode at inviabilizar, a criao de novos produtos

    orgnicos para o mercado brasileiro, especialmente no caso de pequenos produtores.

    Nosso processo de certificao foi difcil porque a consultoria foi muito cara pra ns", diz Joelson Ferreira de

    Oliveira, representante do assentamento Terra Vista, onde feito o chocolate de mesmo nome. "Ns

    precisamos de uma certificao mais democrtica pra colocar a produo orgnica no mercado, afirma.

  • Hoje, quem quiser produzir e vender qualquer alimento como orgnico precisa, segundo a Lei de 10.831/2003,

    comprovar que no foram usados adubos sintticos, agrotxicos ou sementes transgnicas no cultivo. Precisa

    provar, tambm, respeito a leis trabalhistas dos empregados envolvidos no processo, entre outras exigncias.

    H, ainda, uma taxa de cadastramento por produto, que varia de acordo com a auditoria contratada. Juntam-

    se toda burocracia regulatria outros entraves, como cooperativas mal articuladas e produtividade

    insuficiente, que fazem a agricultura orgnica e ecolgica parecer no compatvel com a demanda atual por

    alimentos. O preo e a disponibilidade destes produtos so os principais pontos que dificultam a adeso dos

    consumidores aos orgnicos.

    Para contornar essa situao, o Ministrio do Desenvolvimento Agrrio (MDA) prepara para 2015 o Plano

    Nacional de Agroecologia e Produo Orgnica (Planapo). Segundo o secretrio nacional de Agricultura

    Familiar, Valter Bianchini, o Planapo prope uma srie de medidas que facilitaro a produo agrcola dos

    pequenos agricultores ao oferecer linhas de crditos e cadastro mais simples da produo como orgnica. A

    ideia consolidar a agricultura orgnica no mbito da agricultura familiar", diz. "O que queremos mostrar

    que possvel fazer a transio desse modelo nico da agricultura mais intensiva em insumos, com uso de

    agrotxicos, para uma agricultura mais sustentvel, seguindo os preceitos da agroecologia, afirma. A

    agroecologia consiste em tcnicas de cultivo sustentveis, sem desmatamento de reas verdes originais, com

    uso racional de gua e terra e abolio de agrotxico e transgnicos.

    Segundo Bianchinni, o plano promover a certificao de milhares de propriedades relacionadas ao cultivo

    orgnico. Hoje h, segundo o Ministrio da Agricultura, 6,7 mil produtores orgnicos regularizados. A gente

    reconhece a possibilidade de ir a 150 mil agricultores, agroecolgicos e orgnicos, ou em transio.

    Queremos avanar nessa certificao para pelo menos mais 50 mil propriedades", afirma. "O que o Planapo

    pretende sair dessa agricultura de nicho, no entorno metropolitano, de feiras diretas, e reconhecer toda

    gente que tem trabalhado com agroecologia. Com isso, mostrar que outro modelo de segurana alimentar e

    de agricultura possvel.

    O agronegcio, que muitas vezes se apresenta como principal via moderna e rentvel da agricultura, no

    pode ser considerado a nica soluo para as questes que envolvem a segurana alimentar, segundo

    Bianchini. O termo agronegcio se referia ao volume de recursos que movimenta a agricultura e a

    agroindstria. Como setores conservadores comearam a usar o termo para agregar importncia prtica, ela

    acabou se designando como o nico modelo de agricultura, mas no quer dizer voc no tenha um outro

    modelo, que tambm constitua negcios importantes e que movimente um nmero grande de agricultores.

    O aprimoramento e a desmistificao da agroecologia no mbito da agricultura familiar podem ser muito

    positivos para a sociedade, diz Bianchini. A agroecologia no se esquece da sua dimenso econmica, mas

    tambm liga a dimenso econmica s dimenses ambiental, cultural e social.

    Cenrio

    Apesar do entusiasmo com a agroecologia, o secretrio concorda que a realidade outra, pois a

    produtividade dos orgnicos ainda muito distante da do agronegcio. Mesmo assim, a agricultura familiar

    tem grande importncia para o abastecimentos dos mercados brasileiros. Ocupando aproximadamente 25%

    da rea agricultvel do Pas, o modelo familiar ainda corresponde a 38% da produo gerada no Brasil. Para

    leite, mais de 50%, alm de mandioca, mel e alguns outros que so produzidos mais do que na grande

    agricultura. A complexidade dos processos de cultivo desses alimentos no respondida pela modelo de

    agricultura patronal, diz. No Brasil, de 5,1 milhes de propriedade rurais, 4,3 mi so de agricultura familiar,

    com 12 milhes de trabalhadores.

    O secretrio tambm atenta para a segurana dos alimentos cultivados organicamente. Estudos ainda no

    mostram os impactos que as modificaes genticas tm. Ningum quer vetar essa discusso da cincia ter

    chegando alterao de genes e, futuramente, colocar o melhor sua sociedade. Mas a pressa com que os

    oligoplios querem colocar esses produtos no mercado nos d muita insegurana.

  • A diversidade, que ajuda a preservar espcies, fica comprometida com a monocultura. No podemos

    depender de duas, trs variedades na agricultura. O modelo agroexportador leva voc a trabalhar uma

    agricultura de muito risco, ao escolher apenas uma nica variedade. A agroecologia promove, para a

    sociedade, alimentos mais saudveis e um equilbrio maior entre a cidade e o campo, garantindo qualidade de

    vida em ambos os espaos, alm da agrobiodiversidade. No tenho dvidas de que para a sociedade esse

    modelo de agricultura melhor.

    Certificaes

    H dois anos no mercado, o chocolate rebelde j mostrou aos seus produtores que mais do que uma fonte

    de renda. Feito por famlias assentadas, o produto tem um valor simblico importante ao mostrar que a

    agricultura familiar pode se colocar a servio do meio ambiente e da sociedade. A questo importante aqui

    criar uma economia pra no ficar na dependncia, no pedir esmola ao governo", diz Oliveira do

    assentamento Terra Vista. "Para ter autonomia preciso criar um produto competitivo que banque nosso

    projeto. Ento, esse produto serve pra financiar a nossa luta, nossa organizao, a nossa educao e a nossa

    cultura. O chocolate para gente dialogar com a sociedade , diz.

    Bianchini afirma que as certificaes sero mais fceis com o Planapo. O Planapo quer resolver, junto com o

    Ministrio da Sade (MS), como isentar de taxas e diminuir a burocracia para registrar esses produtos. (...) A

    gente reconhece a necessidade das boas prticas e adequaes, mas o que se exige hoje pra ter esse selo

    est muito fora do alcance dessas famlias, desses pequenos produtores. Esse um dos gargalos pra esse

    modelo de agricultura e produo.

    Para fazer chegar ao consumidor os produtos orgnicos, o Planapo tambm contemplar o aumento dos

    circuitos de comercializao e aumento a produtividade. A gente acredita que a remunerao a este trabalho

    pode ser melhor e deixar disponvel pra um grupo maior da populao os alimentos orgnicos, no s a um

    grupo com mais dinheiro ou mais consciente, finaliza Bianchini.

    http://www.cartacapital.com.br/sustentabilidade/um-novo-horizonte-para-a-producao-organica-7596.html

    Pesquisa investiga inovao tecnolgica na agricultura orgnica 17/01/2014 Por Jos Tadeu Arantes

    Agncia FAPESP A agricultura orgnica tem crescido a taxas elevadas no Brasil. Segundo dados

    divulgados em 2013 pelo Ministrio do Desenvolvimento Agrrio, o mercado de produtos orgnicos se

    expande de 15% a 20% ao ano, abastecido por cerca de 90 mil produtores, dos quais aproximadamente

    85% so agricultores familiares.

    Uma pesquisa, conduzida por Mauro Jos Andrade Tereso, professor associado da Faculdade de

    Engenharia Agrcola (Feagri) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), investigou as condies

    de trabalho e a inovao tecnolgica no setor.

    O estudo, apoiado pela FAPESP, contou com a participao de pesquisadores da Universidade de So

    Paulo (USP), da Unicamp, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da Universidade Federal de So

    Carlos (UFSCar).

  • No perodo de vigncia da pesquisa, que se estendeu de maio de 2010 a maio de 2013, foram investigadas

    33 Unidades de Produo de Agricultura Orgnica (UPAO) dedicadas prioritariamente ao cultivo de

    hortalias. Esse montante representava um tero das UPAOs dedicadas horticultura certificadas no

    Estado de So Paulo na data inicial da pesquisa.

    Aproximadamente dois teros das UPAOs visitadas eram propriedades familiares, com reas totais no

    superiores a 20 hectares e nenhuma dedicando horticultura mais do que 15 hectares. A maioria contava

    com rea de proteo ambiental e se caracterizava pela grande diversidade de itens produzidos.

    Os pesquisadores buscaram mapear as tecnologias empregadas e as demandas, adaptaes e inovaes

    tecnolgicas, destinadas a minimizar a carga de trabalho e as dificuldades na execuo das tarefas e a

    aumentar a produtividade.

    Como a tecnologia disponvel no mercado foi desenvolvida para o modelo convencional de agricultura, os

    produtores orgnicos so obrigados a adaptar ferramentas e equipamentos e a realizar outras inovaes a

    fim de aumentar a produtividade de seu trabalho, disse Tereso Agncia FAPESP.

    A agricultura convencional, que se difundiu em escala planetria a partir da chamada revoluo verde,

    durante as dcadas de 1960 e 1970, baseia-se, grosso modo, em: monocultura; uso intensivo de compostos

    qumicos sintticos para recuperao do solo e controle de pragas; uso de maquinrio no processo de

    produo, do preparo do solo ps-colheita; uso de sementes geneticamente adaptadas ao modelo de

    produo; uso de fontes exgenas de energia em relao ao espao produtivo.

    J a agricultura orgnica, segundo definio do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, um

    sistema de produo que exclui amplamente o uso de fertilizantes, pesticidas, reguladores de crescimento

    e aditivos para a alimentao animal compostos sinteticamente.

    Baseia-se tambm, tanto quanto possvel, na rotao de culturas e na utilizao de estercos animais,

    leguminosas, adubao verde, reaproveitamento de materiais orgnicos vindos de fora das propriedades,

    minerais naturais e controle biolgico de pragas para manter a estrutura e a produtividade do solo,

    fornecer nutrientes para as plantas e controlar insetos, ervas daninhas e outras pragas.

    A agricultura orgnica geralmente emprega o cultivo mecnico, retomando antigas prticas agrcolas,

    porm adaptando-as s modernas tecnologias de produo agropecuria, com o objetivo de aumentar a

    produtividade com o mnimo de interferncia nos ecossistemas.

    Os agricultores orgnicos compensam a ausncia de equipamentos concebidos diretamente para eles com

    a inovao dos processos produtivos e a adoo de novos mtodos organizacionais. So tambm comuns

    adaptaes muito engenhosas dos equipamentos convencionais, afirmou Tereso.

    A diversidade de produtos e de alternativas de vendas tambm constituem estratgias importantes para os

    agricultores orgnicos competirem no mercado.

    Nossa pesquisa mostrou que esses agricultores so altamente qualificados, com uma impressionante

    quantidade de conhecimentos acerca das plantas, do solo, da relao solo-gua e de outros tpicos

    agronmicos. Alm disso, trabalham com uma grande diversidade de produtos, informou Tereso.

    Na agricultura convencional, o agricultor lida muitas vezes com um nico tipo de produto, por exemplo,

    alface ou tomate. J na agricultura orgnica, comum os agricultores lidarem com 15, 20, s vezes 60

    itens diferentes. Encontramos uma propriedade com mais de 100 itens hortcolas produzidos, prosseguiu

    o pesquisador.

  • Metade dos gestores entrevistados na pesquisa estava na faixa etria dos 40 aos 60 anos. Dois teros

    tinham mais de dez anos de experincia na atividade agrcola e na prpria agricultura orgnica. Vrios

    acumulavam mais de vinte anos de certificao.

    Alm dos gestores, a maioria dos trabalhadores das UPAOs familiares executava todas as tarefas que

    compem os diferentes sistemas de trabalho. As excees eram as poucas tarefas que requerem muita

    fora fsica, como a colheita de razes e tubrculos, realizada apenas por homens, ou atividades que

    requeriam habilidades especficas, como a preparao de mudas. As especializaes laborais surgiram nas

    operaes de mquinas e equipamentos, como tratores e pulverizadores.

    Com tal qualificao e diante da ausncia de ofertas tecnolgicas no mercado, esses agricultores buscam

    solues criativas e promovem a inovao no sentido mais estrito da palavra, no apenas trazendo novos

    aportes tecnolgicos para dentro da propriedade, mas desenvolvendo tecnologias muito especficas l

    mesmo. Essa foi uma das concluses mais interessantes de nossa pesquisa, comentou Tereso.

    Outro diferencial entre os agricultores orgnicos e os agricultores convencionais que os primeiros

    buscam diversos nichos de mercado. Normalmente, o produtor convencional vende para um

    atravessador e se contenta com isso. J o produtor orgnico procura explorar vrias possibilidades:

    cooperativas, vendas pela internet, vendas de cestas de produtos, pontos de venda prprios, convnios

    com restaurantes ou supermercados, enfim, uma gama muito grande de alternativas para escapar dos

    atravessadores, disse Tereso.

    Muitos desses produtores j criaram embalagens diferenciadas e marcas. E vrios tambm promovem

    algum tipo de processamento, agregando valor aos seus produtos.

    Solues tecnolgicas

    Depois do levantamento geral de dados, em uma segunda fase, a pesquisa estudou em profundidade as

    UPAOs que se destacaram nas vrias modalidades da inovao tecnolgica. Os pesquisadores observaram

    o dia-a-dia dos gestores destas propriedades, procurando compreender como a inovao ocorria no

    interior das UPAOs que administravam. Cada gestor foi acompanhado por pelo menos 40 horas. No total,

    os pesquisadores somaram quase 400 horas de trabalho de campo nesta segunda fase.

    Os produtores orgnicos compensam a ausncia de tecnologia disponvel na forma de mquinas e

    equipamentos com o desenvolvimento de solues tecnolgicas na forma de processos, de organizao do

    trabalho e de comercializao de seus produtos.

    O que mais chamou nossa ateno foi a capacidade de os produtores orgnicos encontrarem sadas para

    driblar a falta de oferta de equipamentos que enfrentam hoje no mercado brasileiro. Quando o mercado

    passar a oferecer equipamentos especficos para esses profissionais, eles podero superar em muito a

    produtividade da agricultura convencional, disse Tereso.

    O Brasil hoje o maior produtor de acar orgnico do mundo. Em meados da dcada de 1980, quando

    iniciou suas atividades, a produtividade da maior empresa do setor era inferior metade da mdia

    nacional. De l para c, essa empresa desenvolveu tecnologias prprias (maquinrios, equipamentos,

    novos processos agronmicos, controle biolgico de pragas etc.). Hoje, sua produtividade 80% superior

    mdia nacional. Isso mostra que, quando se conjugam conhecimentos to abrangentes dos processos

    produtivos com recursos tecnolgicos, a produtividade pode alcanar nveis surpreendentes, afirmou o

    pesquisador.

    http://agencia.fapesp.br/18486