9
2017 SETEMBRO/OUTUBRO EDIÇÃO NÚMERO 02 Clique na barra de rolagem do seu navegador para visualizar a edição completa.

2017 SETEMBRO/OUTUBRO EDIÇÃO NÚMERO 02 Clique na barra de rolagem do ... · posto fosse fornecido ao paciente, que morreu exatamente no dia da ordem judicial. Página 4. A exigência,

  • Upload
    others

  • View
    1

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: 2017 SETEMBRO/OUTUBRO EDIÇÃO NÚMERO 02 Clique na barra de rolagem do ... · posto fosse fornecido ao paciente, que morreu exatamente no dia da ordem judicial. Página 4. A exigência,

2017SETEMBRO/OUTUBROEDIÇÃO NÚMERO 02

Clique na barra de rolagem do seu navegadorpara visualizar a edição completa.

Page 2: 2017 SETEMBRO/OUTUBRO EDIÇÃO NÚMERO 02 Clique na barra de rolagem do ... · posto fosse fornecido ao paciente, que morreu exatamente no dia da ordem judicial. Página 4. A exigência,

ACONTECEO DEVER DE INFORMAR DIREITO ISSN 2316-7718EDIÇÃO ESPECIAL - 2

POLÊMICA: A INSATISFAÇÃO DO CIDADÃO COMO PEÇADA “INDÚSTRIA DO MERO ABORRECIMENTO”. PÁGINA 8

Calendário do Ministério das Comuni-cações prevê o desligamento do sinal analógico de TV em Teresópolis no ano que vem, juntamente com Nova Fribur-go. A mudança, porém, só vale se pelo menos 93% dos domicílios tiverem con-versor ou receptores digitais – caso con-trário os dois sinais, analógico e digital, vão coexistir.

Já em Guapimirim e Petrópolis, o des-ligamento do sinal analógico poderá ocorrer mês que vem, caso o índice seja atingido.

A migração de sinal vai liberar uma faixa de frequência, atualmente utilizada pelas emissoras de televisão, abrindo caminho para a expansão da internet 4G, possibilitando maior velocidade na transmissão de dados. Confira as datas de desligamento na página 3.

‘A pílula do câncer’

Juiz dacidademandoudar parapaciente

Cerca de dois anos atrás, a fos-foetanolamina, conhecida como 'pílula do câncer' passou a ser uma luz no fim do túnel para quem já não tinha mais esperanças no tratamento convencional – na maioria das vezes caro e com for-tes efeitos colaterais.

Em 2015, o advogado Lúcio Flávio Vieira Bueno entrou com Ação na Vara da Justiça Federal de Teresópolis, pedindo a subs-tância, para um microempresário da cidade.

O juiz Caio Márcio Gutterres Taranto determinou que o com-posto fosse fornecido ao paciente, que morreu exatamente no dia da ordem judicial. Página 4.

A exigência, porém,é de 93% dos domicílios

com conversor

O prefeito licenciado Mário Tricano foi à Rádio Terê FM, onde disse que a licença do cargo nada tem a ver com questões de saú-de. Falou não sofrer de câncer ou Parkin-son, a fim de exemplificar.

Bom saber que a saúde do prefeito – ou de qualquer outra pessoa – está em ordem.

Bom saber seria também que a Prefeitura não venha a negar licença por doença, pes-soal ou familiar próxima, a quaisquer subordinados. Acima de questão legal, é questão humanitária.

PONTO DE VISTA

A doençado prefeito

A PRAÇA É NOSSAVárias praças públicas de Teresópolis possuem equipamentos de ginástica. Mas você sabe a

função e os benefícios que eles podem trazer à sua saúde? O ACONTECE convidou o especialis-ta em treinamento funcional Paulo Marques para experimentar cada um dos aparelhos. Página 7.

RAULESTEVESEle foi o pioneiro do turismo

no município. PÁGINA 6

A Interativa Núcleo Terapêutico já disponibiliza no município o método conhecido como 'Therasuit', indicado para o tratamento da paralisia cerebral, entre outras situações. O método, desenvolvido nos Estados Unidos, é oriundo da tecnologia espacial e já foi tema de reportagem do programa Bem Estar, da TV Globo. A fisioterapeuta Carina de Almeida Câmara Gomes falou ao ACONTECE sobre os benefícios da nova técnica:- O que a gente consegue em um mês com Therasuit, o tempo pode ser de até um ano na fisioterapia convencional. Página 4

'Therasuit' sobe a Serra

Criado em 1993, por uma mudança na Lei Orgânica do município, o Auxílio-Transporte Universitário previa o pagamen-to de condução para quem preci-sava estudar fora da cidade. Conheça na página 5, o contexto histórico que fez do benefício a perspectiva dos estudantes na década de 90 e também no século XXI.uuu Confira ainda reportagem sobre os 90 anos do Colégio São Paulo, e o evento de Ciências do Colégio Estadual Edmundo Bit-tencourt, onde em outubro acon-tece a demonstração dos projetos de robótica dos alunos.

O Auxílio-Transportee a História

A Emenda do então vereador Dr. LuizRibeiro previa custear até 100% dovalor do transporte para os universitários

CHACRINHA PARTICIPOU DEFILME EM TERESÓPOLIS. P. 2

Carina, Maria Augusta e Tatiano, na Interativa

Famílias na Justiça

Magistradoaposta nos

acordos. P. 3

“O MACACOTÁ CERTO...”Máscara confeccionada em Tere-

sópolis, no Bairro São Pedro, ilus-trou quadro no Programa Zero Um, da TV Globo. O apresentador Tiago Leifert usou a máscara ao comentar o filme 'Planeta dos Macacos: A Guerra'. Apesar do nome do muni-cípio não ter sido citado, o episódio mostra que temos valores locais no caminho certo. Página 2

Teresópolissem sinalanalógicoem 2018

Imagem internet

Imagem

inte

rnet

Page 3: 2017 SETEMBRO/OUTUBRO EDIÇÃO NÚMERO 02 Clique na barra de rolagem do ... · posto fosse fornecido ao paciente, que morreu exatamente no dia da ordem judicial. Página 4. A exigência,

ACONTECESETEMBRO/OUTUBRO - 20172

100 ANOS DO ‘VELHO GUERREIRO’CHACRINHA

PARTICIPOU DEFILME RODADO

EM TERESÓPOLISCenasincluemCasteloMontebello,que seráreaberto aopúblico

O apresentador Abelardo Bar-bosa, o ‘Chacrinha’(1917-1988),talvez a maior referência da TVbrasileira, participou na décadade 60 de filme que teve algumascenas rodadas em Teresópolis.

Com duração de uma hora emeia, ‘O pobre príncipe encan-tado’ tem no elenco nomes comoWanderley Cardoso, FlávioMigliaccio e Dorinha Durval, enarra a estória de um jovem quevem passar as férias na cidade,onde encontra uma moça porquem se apaixona. A amada,porém, só será de fato dele apósuma competição de cavaleirosque acontece numa Corte mon-tada num jardim.

É aí que se inicia a participaçãoespecial de Chacrinha, que inter-preta o arauto, que anuncia os

acontecimentos do dia na Corte:“Alô ‘seu’ Zé, já melhorou do

pé?”, inicia o velho guerreiro,após ter sua entrada anunciadapelo Rei. “Alô Rei Salomão, jáparou de comer feijão? Alô donaRainha, cara de tainha...”

Em seguida anuncia que os pre-tendentes à mão da princesa deve-rão competir no torneio real: o ven-cedor, além de casar com a prin-cesa, de quebra herdará o reino.

O reino parece ser representa-do pelo Castelo Montebello –localizado na Rua Heitor deMoura Estevão, conhecida comoItapicuru, no centro da cidade. Eé justamente com várias imagensdo castelo que o filme começa.Na abertura agradecimentos aoentão prefeito Waldir BarbosaMoreira, ao jornalista DélcioMonteiro e ao Teresópolis Jornal,por ele dirigido.

Do Castelo Montebello, o es-pectador é transportado para aorla do Rio de Janeiro, possivel-mente Copacabana, onde um ca-sal de amigos joga frescobol. Nes-se momento o filme recorre a umamontagem na qual quem assistetem a nítida impressão que o cas-telo fica em frente à praia.

‘O pobre príncipe encantado’,produzido em preto e branco, nãoé totalmente rodado emTeresópolis nem tampouco temqualquer nome da dramaturgialocal em seu elenco.

As cenas rodadas no municí-pio, entretanto, chamam a aten-

ção: o Dedo de Deus, o Sober-bo e a estrada que liga a cidadeao Rio de Janeiro fazem partedas imagens, assim como osônibus do ExpressoTeresópolis. No ponto de para-da próximo à antiga delegaciade Polícia, no Alto, aparecemos personagens interpretadospor Wanderley Cardoso e Flá-vio Migliaccio, que depois ba-

tem bola numa rua do mesmobairro. Antes são exibidas ce-nas na Praça Baltasar daSilveira, onde fica a Matriz deSanta Teresa, e outra tendo oprédio do Higino, ao fundo.

Até a Banda Marcial do Co-légio Nossa Senhora do Carmofaz uma participação, sucedidapor cenas no Parque Regadas,em frente à extinta loja Artesa-

nato Teresópolis. No local estáum automóvel Aero-Willys, di-rigido por ‘Tonho’, personagemde Migliaccio, que em seguidavai com sua companheira à tam-bém extinta Confeitaria Mickey,que ficava num conjunto de lo-jas defronte à Praça Baltasar daSilveira. Uma das charretes queoutrora faziam ponto no local emlugar dos atuais taxis aparece em

CINEMA ERA PONTO ALTOLançado na segunda metade da

década de 60, o filme ‘ O pobrepríncipe encantado’ coincide comTeresópolis como sede de lança-mentos cinematográficos em ní-vel nacional. Entre 1964 e 1972o município foi palco de diver-sos festivais de cinema, que atra-íam público e nomes do mundoartístico para a cidade.

As salas de projeção tambémeram várias.

Teresópolis chegou a ter pelomenos sete cinemas. O primei-ro foi o Cinema Teatro Impé-rio, na Várzea, em frente à Pra-ça Baltasar da Silveira, ondeaconteciam duas sessões apenasnos finais de semana, uma à tar-de para crianças, a chamadamatinê, e outra para jovens eadultos, no início da noite. OImpério foi o primeiro cinemado município. Na frente da tela

havia um palco, onde eram en-cenadas peças de teatro. Isso des-mente o mito de que Teresópolisnunca teve teatro ou algo simi-lar em outros tempos. O anfitea-tro da Casa de Cultura, no bairrode Fátima, e o teatro da Prefei-tura, montado onde antes era oauditório, foram eventos poste-riores ao Império – inauguradoem 1928.

Em seguida surgiu o CinemaTupi, na Avenida DelfimMoreira, do mesmo proprietáriodo Império, que exibia as pelí-culas integralmente. Já o Tupiusou a estratégia de sequenciaras exibições – caminho já adota-do pelas radionovelas da época,em capítulos.

As sessões eram semprelotadas. Há de se ressaltar o con-texto histórico: a televisão aindanão existia no Brasil, o que só

ocorreria pouco mais de 20 anosdepois, em 1950, quando o em-presário e jornalista AssisChateaubriand, inaugurou a TVTupi de São Paulo. No ano se-guinte, entrava no ar a Tupi, doRio de Janeiro.

Os canais de TV, entretanto,não representaram de forma al-guma a popularização da televi-são brasileira, já que os recepto-res eram importados, caros e ain-da apresentavam problemas porconta da distinção de padrão desinal adotado em cada país.

O Cinema São Miguel, no cen-tro, aparece em 1955, já numcenário de cultura televisiva queiria cada vez mais se aprofundar.Ao São Miguel, se seguiram oCine Arte, no Alto, o Vitória, noParque Regadas, e o Alvorada,na Avenida Feliciano Sodré, jána década de 60.

Uma improvisada, mas inte-ressante sala de projeção, tam-bém foi montada na Posse. Erao Cinema da Posse do ‘seu’José Português. As sessões sóeram iniciadas com todos osassentos ocupados.

O Império, o primeiro a fun-cionar na cidade, também foio primeiro a encerrar suas ati-vidades. O último foi o Alvo-rada.

Se a TV deu sua contribui-ção para o esvaziamento dassalas de projeção, tal fenôme-no foi ainda mais fomentadopelo advento do videocassetee das locadoras.

Após um período sem salasde projeção, Teresópolis voltoua contar com um novo concei-to de cinema, dessa vez nãomais na rua, mais instalado emshopping center.

‘Chacrinha’ participou na década de 60 de filme que teve algumas cenas rodadas em Teresópolis.

primeiro plano.Há ainda cena na Praça Nilo

Peçanha, próxima à Escola mu-nicipal Ginda Bloch, no Alto,onde a inscrição feita em pedrasno jardim exibindo o nome dacidade é mostrada com destaque.

O filme foi produzido pela JBProduções Cinematográficas emparceria com a Condor Filmes.

A direção é de Daniel Filho.

DEU MACACO NA CABEÇA

MÁSCARA FEITA NA CIDADE EM REDE NACIONAL

Uma máscara alusiva aofilme ‘Planeta dosMacacos: A Guerra’,vista em rede nacio-

nal, foi confeccionada emTeresópolis. A máscara foi mos-trada no programa ‘Zero Um‘, daTV Globo, no início de julho. Oapresentador Tiago Leifert che-gou a usar o adereço, após mos-trar algumas cenas e falar sobreo filme, que já estreou nos cine-mas, inclusive na cidade:

“Torço para que, realmente, dêtudo certo para os macacos”, res-saltou o apresentador, aparecen-do em seguida já com a máscara,passando a se comunicar por ges-tos e legendas, numa das quaisse lia: “Parece que alguém esta-va com medinho da ‘batalha’ pela

bilheteria com o Homem-Ara-nha”, brincou.

Tiago Leifert justificou suatorcida contra os humanos, ar-gumentando que César, o ge-neral macaco, interpretadoagora pelo ator Andy Serkis,havia sido injustiçado no pri-meiro filme.

‘Planeta dos Macacos: A Guer-ra’ mostra um combate travadoentre símios e humanos, estes li-derados pelo ator WoodHarrelson, no papel de umimpiedoso coronel, que extermi-na e aprisiona diversos macacos,que serão vingados por César.Para isso, ele luta contra seus ins-tintos. A guerra entre as duas ra-ças pode, então, ameaçar o futu-ro do planeta.

MÁSCARA FEITA NOBAIRRO SÃO PEDRO

A máscara produzida sob encomenda para o programatem a assinatura do masks designer Vitor Lopes e de suaequipe, que trabalham num ateliê no Bairro de São Pedro.

O trabalho do masks designer foi tema da edição an-terior do ACONTECE.

Em três anos, foram mais de 100 moldes produzidos,todos com movimento de boca, um diferencial.

Vitor explicou que o processo de confecção de umamáscara tem início com a referência do personagem aser produzido, o que é feito em três dimensões. Apósvem a etapa do manequim, uma escultura da futura más-cara. Em seguida a aplicação da borracha ou látex, fina-lizando com o acabamento, como a pintura.

Dependendo da complexidade, a confecção de umamáscara pode durar dois meses ou até mais, mas tambémé possível realizar o trabalho em dias, quando o molde jáestá pronto.Tiago Leifert usa a máscara no programa

imagem internet

imagem internet

BALLET - JAZZ - DANÇA LIVREDANÇAS URBANAS - DANÇA DE SALÃO

ZUMBA - STILETTO - TEATRO

Rua Dr. Aleixo 77 - Várzea - Teresópolis-RJ - Tel.: (21) 973602748

Page 4: 2017 SETEMBRO/OUTUBRO EDIÇÃO NÚMERO 02 Clique na barra de rolagem do ... · posto fosse fornecido ao paciente, que morreu exatamente no dia da ordem judicial. Página 4. A exigência,

ACONTECE SETEMBRO/OUTUBRO - 2017 3

“A Justiça foi criada parabuscar a paz social”

Juiz JoséRicardodestacaimportânciados acordos

O juiz José Ricardo Ferreira deAguiar, titular da 2ª Vara de Fa-mília de Teresópolis, investe namediação e conciliação para asolução de conflitos.

O magistrado também foi im-portante personagem na tragédiade 2011, além de ter atuado ati-vamente nos entendimentos jun-to ao Poderes Executivo eLegislativo em Teresópolis quepermitiram a liberação da áreaonde foi erguido o novo Forumdo município.

O juiz concedeu entrevista aoACONTECE em julho de 2016,ainda na fase de projeto de reto-mada do jornal:

- Seguramente, o Forum deTeresópolis é um dos mais mo-dernos do país e fornece todaacessibilidade e conforto, não sópara os funcionários, mas a todaa sociedade – ressaltou.

E destacou a importância dasnovas instalações:

- Em relação à Vara de Famí-lia, foi importante em questãoda privacidade, segurança,tranquilidade... Os gabinetes,as salas de audiência, hoje ofe-recem muito mais privacidadedo que antes, quando as pesso-as ficavam em corredores jun-tamente com quem aguardavao atendimento em outras varas.Hoje, no terceiro andar, só háas duas Varas de Família – ob-servou. - O trabalho da Vara deFamília chamo de formiguinha,de constância. Se houver umelevado número de audiênciaspor semana, se despachar osprocessos o mais breve possí-vel, a quantidade que entra serásempre menor à quantidade queé julgada.

Antes, a Vara de Família en-globava as demandas relativas

também à infância, juventude eidoso. O incremento da deman-da, entretanto, levou à criação deuma segunda Vara.

Ele explica que a área de fa-mília é responsável por ações dedivórcio, alimentos, visitação,interdição, partilha, entre outrasatribuições. De acordo com JoséRicardo, a maior demanda é porpensão de alimentos e visitação.

O magistrado aposta nos acor-dos para a resolução dos confli-tos, na maioria das vezes delica-dos por envolver aspectos emo-cionais.

- Por que surgiu a Justiça? Porque ela foi criada? A Justiça foicriada para buscar a paz social.A solução de um conflito. Per-gunto: você consegue resolverum conflito com uma sentençacondenatória, favorecendo a umaparte, mesmo que essa parte es-teja certa? Não. A solução doconflito, em quase todos os ca-sos, deveria ser através da medi-ação, do acordo, da tentativa decomposição e,consequentemente, a busca dapaz social – assinalou.

E prosseguiu:- Então, o meu perfil, como

magistrado, é não medir esforçospara tentar a mediação, a conci-liação. Isso tem dado um resul-tado absurdo de êxito. Ou seja,as sentenças homologatórias aquiatendem as duas partes. Todoaquele que faz um acordo, mes-mo sabendo que está dando amais do que deveria, não estádando de forma coercitiva, entãose satisfaz com a solução do pro-cesso. Isso gera um índice infi-nitamente pequeno de recursosnesta Vara.

Sobre a repercussão do novoCódigo de Processo Civil na áreade família, o magistrado observaque a recente legislação valori-zou a mediação, “mas, como todamáquina nova, ainda demandamuita adequação, muito estudo,e muito aperfeiçoamento, não dodispositivo criado, mas na apli-cação desse dispositivo. O códi-go veio melhorar muito a presta-ção jurisdicional.”

O juiz foi personagem atuantena tragédia de 2011 na RegiãoSerrana do Estado do Rio, con-siderada a maior catástrofe natu-ral da História do Brasil. Passa-dos mais de cinco anos, elerelembra o esforço comum das

forças da sociedade, para atenu-ar a necessidade e o sofrimento:

- Em oito dias, fizemos o reco-nhecimento de todos os corpos eo enterro com dignidade. Resta-ram, na época, cerca de 40 cor-pos que não foram reclamados.Contudo, foi coletado o materialgenético, para eventual reconhe-cimento.

O magistrado finalizou ressal-tando a importância da valoriza-ção das relações sociais, sobre-tudo quando o foco são as pes-soas de maior proximidade:

- A minha mensagem é deamor. Antigamente ouvia os ido-sos falarem que a vida passamuito rápido. E passa. A sua fa-mília, o seu amigo, o seu vizi-nho, são joias que Deus deixaem nossas mãos por algum tem-po. Seja o tempo que for, usu-frua dessa joia da melhor formapossível. Cuide dos seus e dopróximo com a melhor das boas-vontades. A energia positiva re-flete no bem-estar e na energiapositiva. Se você passar a amarmais um pouco, tolerar, quererpara o outro aquilo que vocêquer para si, o mundo vai me-lhorar bastante.

ABI: ‘Devemosabandonar asroupas usadas’

A Associação Brasileira de Imprensa (ABI)enviou ofício de congratulações ao editor do‘Acontece’, Marcelo Esteves, parabenizandopela passagem de seu aniversário de nasci-mento.

No ofício, a ABI cita o poeta Fernando Pes-

soa: “Há um tempo em que devemos abando-nar as roupas usadas, que já têm a forma donosso corpo, e esquecer também os caminhosque levam sempre aos mesmos lugares”.

O documento é assinado pelo presidente daentidade, jornalista Domingos Meirelles.

EM TERESÓPOLIS

Em 28 de novembro do anoque vem, Teresópolis entrará de-finitivamente na era digital datelevisão. É quando o sinalanalógico de TV será desligado.A data foi estabelecida pelo Mi-nistério da Ciência, Tecnologia,Inovação e Comunicações.

A data de desligamento na ci-dade é a mesma de NovaFriburgo, mas diferente dos mu-nicípios de Petrópolis eGuapimirim, onde o sinalanalógico deixará de existir nodia 25 de outubro deste ano.

Até dezembro de 2018, maisde 1.300 cidades brasileiras es-tarão recebendo o sinal digital daTV aberta – contra cerca de qua-tro mil que ainda estarão no sis-tema analógico. A mudança nadatem a ver com o sistema de TV acabo.

Apesar da data definida para amigração analógico-digital, a si-tuação ainda pode mudar. O Di-ário Oficial da União de 29 demaio de 2017 publicou Portariaque estabelece que 93% dos do-micílios têm de estar aptos à re-cepção do novo sistema.

Enquanto o índice não for atin-gido, os dois sinais – tanto oanalógico quanto o digital – vãocoexistir. Mas, assim que 93 emcada 100 domicílios estiveremdotados de conversor ou recep-tor digital, o sinal analógico dei-xará de ser transmitido. A aferi-ção será feia com base em esta-tísticas do Governo.

Desde 2006, as emissoras in-vestem para levar o sinal digitalaos municípios.

Quando o sinal analógico fordesligado definitivamente, os te-levisores que ainda não estiveremaptos ao sinal digital exibirãouma mensagem, informando so-bre a mudança. O único caminhoserá a compra de um conversor euma antena que pode ser internaou externa. No caso da antenainterna, a boa recepção vai de-

pender da localização. Pode serque haja a necessidade do auxí-lio de um profissional. Para quemfor instalar a antena externa porconta própria, o que pode não serrecomendável, é preciso ficaratento às condições de seguran-ça, o que inclui foco em fiaçõeselétricas que muitas vezes ficamperto de lajes ou telhados. A si-tuação pode representar risco devida.

Conversores e antenas já estãoà venda há algum tempo na ci-dade, mas a procura ainda é bai-xa. O equipamento custa, emmédia, R$ 100, mas os valoresdependem da marca. Osbeneficiários de programas soci-ais do Governo Federal têm di-reito ao equipamento sem custos.

Para quem mora em condomí-nios que dispõem de antena co-letiva, será preciso verificar se elaé UHF e preparada para recebere distribuir o novo sinal com aintensidade adequada, a fim dechegar perfeita a todos os anda-res e apartamentos. Se isso nãoocorrer, poderá ser necessária ainstalação de amplificadores emtodos os andares, ou até a substi-tuição da antena coletiva, o quepoderá acarretar em cobrança decota extra para condomínios semreserva financeira.

A TV digital chega com a pers-pectiva de maior nitidez de ima-gem, som de melhor qualidade,além da possibilidade de mobili-dade e interatividade.

Mas a implantação do novosinal vai além: a mudança vaipermitir a expansão da oferta deinternet 4G para todo o país. Issoporque o sinal analógico ocupahoje a faixa de 700 MHz. Coma liberação, tal faixa defrequência passará a ser ocupa-da pela internet. A expectativa éde aumento de velocidade de na-vegação, sem contar a melhorcobertura de sinal em ambien-tes fechados.

imagem internet

“Se você passar a amar mais umpouco, tolerar, querer para o outroaquilo que você quer para si, omundo vai melhorar bastante.”

Juiz José Ricardo

A Rua Elvira Lippi, no Alto, recebeu reparo na tubulação de água, mas não arecomposição do asfaltamento, após concluido o serviço.Um morador decidiu, por conta própria, cimentar o que era asfalto.A situação deveria ilustrar o debate sobre uma eventual privatização ou concessãodos serviços de água e esgoto.“

SINAL ANALÓGICOSERÁ DESLIGADOEM NOVEMBRODE 2018

Page 5: 2017 SETEMBRO/OUTUBRO EDIÇÃO NÚMERO 02 Clique na barra de rolagem do ... · posto fosse fornecido ao paciente, que morreu exatamente no dia da ordem judicial. Página 4. A exigência,

ACONTECESETEMBRO/OUTUBRO - 20174

MÉTODO CRIADO NOSEUA CHEGA À CIDADETherasuit é usadono tratamento daparalisia cerebral

Criado em Michigan, nos Es-tados Unidos, em 2002, o méto-do de reabilitação física denomi-nado Therasuit já está disponí-vel em Teresópolis. Criado pelosfisioterapeutas americanos Ri-chard e Izabela Koscielny, pais deuma criança com paralisia cere-bral, o método vem conquistandocada vez mais adeptos no Brasil.

A veste, denominada suit, temraízes na era espacial russa, paracontrapor efeitos negativos vivi-dos pelos astronautas, como atro-fia muscular e osteoporose, emfunção da ausência de gravida-de. O método combate os efeitosdo desuso e imobilização do cor-po, treinando o físico como se

fosse de uma criança não acome-tida pela paralisia cerebral, cominfluência no crescimento, de-senvolvimento e maior indepen-dência do paciente.

- É um método de tratamentointensivo – disse ao ACONTE-CE a fisioterapeuta Carina deAlmeida Câmara Gomes. – Temvárias indicações de tratamento.

Segundo a fisioterapeuta, o mé-todo pode ser indicado não só paracrianças com paralisia cerebral,mas também Síndrome de Down,atraso no desenvolvimento, Trau-matismo Raqui Medular (TRM),Traumatismo Crânio Encefálico(TCE), Acidente Vascular Cere-bral, Acidente Vascular Encefáli-co, entre outras indicações.

- O tratamento tem a duraçãode três a quatro semanas, trêshoras por dia. Mas tudo dependeda avaliação do paciente – expli-ca Carina. – O que a gente con-

MÃE DE PACIENTE: GANHOS SÃO VISIVEISSegue relato de Flávia Lopes da Silveira, mãe de Guilherme (foto),

em tratamento com o método em Teresópolis:“O Therasuit foi muito importante no desenvolvimento motor e cog-

nitivo de Guilherme. Desde o primeiro intensivo, foi visível os gan-hos, que em terapias convencionais demorariam muito mais tempo.Para cada criança é um programa e um objetivo a alcançar. No caso doGuilherme o intervalo é de 2 meses entre os programas e o objetivo éandar. Hoje ele troca os passos. Para uma criança que nem sentadaficava, ganhou força muscular e equilíbrio. É demonstrado a cada in-tensivo, fotos e vídeos de antes e depois. E é realmente visível o de-senvolvimento da criança. E entre os intervalos, a criança faz as tera-pias e realiza os exercícios para permanecer os ganhos.”

Fez bem o juiz Federal de Teresópolis Caio Márcio ao decidir a favor dopaciente com câncer. Mais que isso: considerou, pelo que se avalia da deci-são, respeitar a vontade do doente incurável, que via na ‘fosfo’ a esperançaque a Medicina convencional não era mais capaz de lhe oferecer. Imagine-mos, porém, decisão oposta. O Estado não deveria decidir o que queremosou não fazer com nosso próprio corpo – sobretudo quando o que está emjogo é o direito constitucional à vida.

Cerca de dois anos atrás, cen-tenas de casos envolvendo pes-soas portadoras de câncer foramparar nas varas da Justiça Fede-ral em todo o país. Elas pediamacesso à fosfoetanolamina – umcomposto presente nas célulashumanas e que foi sintetizado emlaboratório pelo químico Gilber-to Orivaldo Chierice, da Univer-sidade de São Paulo (USP).

A sintetização visava obtermaior quantidade do composto.Em tese, a ‘fosfo’, como passoua ser chamada a substância, teriaeficácia no combate às célulascancerígenas e seria um mecanis-mo de proteção do próprio orga-nismo. Entretanto, determinadaspessoas não a produziriam emquantidade suficiente.

O composto sintetizado passoua ser, então, uma luz no fim dotúnel para quem já não tinha maisesperanças no tratamento conven-cional – na maioria das vezes caroe com diversos efeitos colaterais.

A ‘fosfo’, ao contrário, nãoapresentava efeitos indesejáveise estava sendo disponibilizadasem custo aos doentes, cujos re-latos de melhora e regressão dadoença se espalharam pelo Bra-sil, chamando inclusive a aten-ção de outros países.

A mídia se mostrou dividida,com setores que apoiavam e ou-tros que contestavam o uso dasubstância, evocando a Legisla-ção vigente, no tocante, sobretu-

do, a alegada falta de pesquisa eaval do órgão responsável peloregistro e autorização de medi-camentos no país.

A classe médica foi outro se-tor que reagiu fortemente aocomposto.

Foi tamanha a repercussão quea polêmica foi parar no Congres-so Nacional, que realizou váriasaudiências, ouvindo diversos se-tores da sociedade, entre elesportadores da doença. O casochegou ao gabinete da Presidên-cia da República e, à época, apresidente Dilma Rousseff auto-rizou legalmente a substância.

Os rumos da questão, contudo,mudariam a partir do impedi-mento da presidente.

Posteriormente a discussãochegou ao Supremo TribunalFederal (STF), em Brasília. Por6 votos a 4, os ministros suspen-deram a Lei que autorizava o usoda substância, em sessão no dia19 de maio de 2016. Inclusive osministros que votaram por libe-rar o composto para pacientesterminais foram voto vencido. Aalegação da Associação MédicaBrasileira foi de que a ‘fosfo’ tra-ria risco à saúde e ao tratamentoconvencional.

ADVOGADO: ESPERANÇAQUE NÃO PODESER NEGADA

Seis meses antes de tudo isso,porém, um microempresário de

Teresópolis deu entrada na Jus-tiça Federal do município comuma Ação pedindo a fosfoetano-lamina sintética.

O ACONTECE decidiu pornão divulgar nome e bairro doentão paciente, não somente emrespeito à legislação, mas tam-bém respeitando e se solidarizan-do com a família do doente, por-tador de tumor renal que invadiuo canal medular, a chamada me-tástase.

Em 10 de dezembro de 2015,o advogado Lúcio Flávio VieiraBueno, que representava o paci-ente em estado terminal, entroucom Ação de Obrigação de Fa-zer com pedido de antecipaçãode tutela na Vara da Justiça Fe-deral de Teresópolis. A antecipa-ção de tutela é um mecanismojurídico de caráter excepcional,urgente, aplicado para prevenirdanos irreparáveis ou de difícilreparação.

A Ação buscou acionar o Go-verno Federal e a USP para ob-tenção da substância, que só po-dia ser conseguida por via judi-cial.

Na exposição de fatos, o ad-vogado explica que o paciente“foi submetido a cirurgia paradescompressão do canal medu-lar invadido por tumor renal”,sendo portador de limitações“para tratamento mais agressivo,como diabete, aneurisma da aor-ta e coronariopatia”.

Prossegue o advogado, argu-mentando que o paciente esperano composto “melhores resulta-dos no tratamento e nos cruéisefeitos decorrentes da moléstia.(...) Em busca de controle dossintomas nefastos do câncer, ecom isso conseguir melhora nasua qualidade de vida, bem comouma possível cura da doença,pois é em razão dessa grande es-perança que ainda se mantémvivo. Além disso, procura no re-ferido composto a esperança deredução dos tumores, o impedi-mento de novas metástases, as-sim como a diminuição da inten-sa dor que sente.”

Salientando a seriedade e cre-dibilidade da pesquisa desenvol-vida pelo químico Gilberto Chi-erice, o advogado pontua mais àfrente que a substância “se tor-nou uma esperança a mais paraeste paciente, o qual, diante desua realidade, não lhe pode sernegada”.

O PARECER DASECRETARIA DE SAÚDE

No dia seguinte ao recebimen-to da Ação, o juiz Caio MárcioGutterres Taranto, da Justiça Fe-deral de Teresópolis, mandou en-caminhar os autos “com urgência”ao Núcleo de Assessoria TécnicaEm Ações de Saúde, da Secreta-ria Estadual de Saúde. Determi-nou que o parecer técnico fosseconcluído no prazo de 48 horas.

No parecer, entre outros aspec-tos, o órgão cita a Anvisa e falada necessidade legal de registropara fabricação e comercializa-ção, além de eficácia e seguran-ça da substância, dizendo quenão há qualquer garantia comrelação à mesma.

Menciona, mais adiante, arti-gos científicos do uso da ‘fosfo’em animais de laboratório. Emcaso de Leucemia, o composto“(...) prejudica a expansão decélulas malignas (...)”. Em testesin vitro, ou seja, fora de sistemasvivos, houve a destruição dascélulas doentes.

Já no caso de melanoma, agres-sivo câncer de pele, in vitro “(...)induziu cototoxicidade seletivapara as células tumorais sem afe-tar a capacidade proliferativa decélulas normais.”

E prossegue: “E os animaisportadores de tumores dorsais demelanoma B16F10 apresentaramsignificativa redução de cargatumoral, mostrando inibição dacapacidade de crescimento e ametastatização.”

O parecer traz ainda relação deunidades de saúde habilitadas emoncologia, observando que o pa-ciente não estava em atendimen-to pelo sistema público.

DECISÃO JUDICIALNO DIA DA MORTE

Em 18 de dezembro de 2015,uma semana após impetrada a

Ação, o juiz Federal Caio Már-cio decidiu por conceder a cha-mada antecipação de tutela, esti-pulando que a substância fossefornecida ao paciente por doismeses.

“A prescindibilidade do trata-mento com o medicamento plei-teado deverá ser comprovado nocurso da instrução, podendo, in-clusive, caso seja necessário, serdeterminada a realização de pro-va pericial”, escreveu o juiz.

Na decisão o magistrado ain-da assinala que “a necessidade/utilidade do referido compostoalegada pelo Autor é de sua in-teira responsabilidade” e deter-mina ainda que o paciente apre-sente em cinco dias “declaraçãosubscrita de próprio punho deciência formal” do parecer téc-nico emitido pelo órgão estadualde Saúde.

Com isso, como preliminar-mente se avalia, concedia o juizo direito de o paciente decidirsobre seu próprio corpo e saúde,como postularam muitos pacien-tes pelo país ao defenderem o usoda substância.

Mas o drama foi marcado pelaironia do destino, apesar da ce-leridade da Justiça no caso:

Exatamente no mesmo dia emque o juiz autorizou o forneci-mento da ‘fosfo’, o microempre-sário de Teresópolis morria aos63 anos, no Hospital São Lucas,no Rio de Janeiro.

segue em um mês com Therasuit,o tempo pode ser de até um anona fisioterapia convencional,para ganhar um objetivo funcio-nal. Portanto, a gente consegueuma evolução mais rápida, issodependendo da condição de cadapaciente. É gratificante, pois oretorno é mais rápido.

As ferramentas utilizadas nométodo, relata a fisioterapeuta,são a chamada ‘gaiola’, um am-biente especial onde são fixadosos elásticos, que por sua vez sãoligados a uma veste apropriada.Pesos acoplados à ‘gaiola’ têmconexão com os elásticos, o quefaz com que os exercícios esti-mulem pontos específicos docorpo do paciente, de acordo comas necessidades e objetivos a se-rem alcançados no tratamentototalmente individualizado.

Os benefícios são diversos,como enumera Carina:

- Há melhora na densidade ós-sea, na flexibilidade articular, naintegração dos reflexos, sem con-tar o ganho de força muscular,resistência e realinhamento docorpo. Há ainda a melhora dassinergias musculares e o ganhode habilidades funcionais. Asfunções motoras também sãobeneficiadas.

A fisioterapeuta explica que ométodo pode ser indicado parapacientes a partir de dois anos deidade, jovens, adultos, e é inter-disciplinar:

- Pode ser associado a outrasterapias, como a ocupacional, afonoaudiologia, a psicopedago-gia ... O terapeuta é quem vaiavaliar as necessidades.

O método Therasuit é disponi-bilizado em Teresópolis na Inte-rativa Núcleo Terapêutico, quefica na Rua Manoel José Lebrão167, próximo à entrada da Barra.

JUIZ DA CIDADE MANDA DAR, MASPACIENTE MORRE ANTES DE RECEBER

A ‘PÍLULA DO CÂNCER’

FOSFOETANOLAMINA REPRESENTOU ALTERNATIVA À TERAPIA CONVENCIONAL

foto

ced

ida

Page 6: 2017 SETEMBRO/OUTUBRO EDIÇÃO NÚMERO 02 Clique na barra de rolagem do ... · posto fosse fornecido ao paciente, que morreu exatamente no dia da ordem judicial. Página 4. A exigência,

Alunos já desenvolvem projetospara evento em outubro

ACONTECE SETEMBRO/OUTUBRO - 2017 5

ROBÓTICANO ESTADUAL“

Quem passa pelo Colégio Es-tadual Edmundo Bittencourt, nocentro da cidade, talvez não sedê conta de que ali não aconte-cem apenas aulas e provas. OEstadual, como é conhecido,também é uma instituição de pes-quisa e produção de conhecimen-to.

No dia 16 de outubro está mar-cado para acontecer um eventono qual os alunos vão expor osprojetos que estão sendo desen-volvidos na área de robótica, en-volvendo não só a construçãode pequenos robôs, mas tambémprogramação, sistema de auto-mação de casas, alarmes eletrô-nicos e braços mecânicos con-trolados por computador, porexemplo.

O evento ainda vai mostrar pro-jetos dos estudantes nas áreasde sustentabilidade e botânica.

Ano passado estudantes doEstadual conquistaram importan-tes posições.

Alunos do 1º e 3º anos do ensi-no médio e normal alcançaram asegunda posição na X Feira deCiências, Tecnologia e Inovaçãodo Rio de Janeiro, com o desen-volvimento de um aplicativo ca-paz de localizar fontes de água.

E não é só isso.Antes, na II Feira de Ciências e

Tecnologia, estudantes do 1º anodo Ensino Médio, também fica-ram com o segundo lugar com otrabalho ‘Agrotóxico e orgânico’,que tratou sobre as diferenças noteor nutricional dos alimentos.

Já os alunos de 1º ano do Ensi-no Médio da professora SilviaCamelo Diniz foram finalistas em2016 do Couchmaster.

Estudantes também participa-ram do 1º Torneio de Sport Ga-mes do Rio de Janeiro, no CefetMaracanã.

Além disso, os alunos BrenoLeonardo Ferreira de Paula e Vi-nícius Lima Vidal receberam Men-ção Honrosa da Obmep (Olimpí-ada Brasileira de Matemática dasEscolas Públicas), no ano passa-do.

A Feira de Ciência, Tecnologiae Inovação é considerada a mai-or do gênero no Rio de Janeiro,aberta à participação dos estu-dantes das redes pública e priva-da. Envolve Ciências biológicase da Saúde; Ciências Exatas; In-terdisciplinar e Desenvolvimen-to de Tecnologia.

Concorreram, além de Teresó-polis, estudantes de Barra do Pi-raí, Cachoeiras de Macacu, Cam-pos de Goytacazes, Itaboraí, Ita-ocara, Nilópolis, Niterói, NovaIguaçu, São João de Meriti, Va-lença, Resende, Rio de Janeiro eNova Friburgo.

APLICATIVO DELOCALIZAÇÃO EQUALIDADE DE FONTESO ‘Qualifontes’, aplicativo de-

senvolvido por um grupo de alu-nos do Estadual, é capaz de in-formar não só a localização demais de dez fontes de água deTeresópolis, como também a suapotabilidade, ou seja, se está pró-pria ou não para consumo huma-no.

O professor de Biologia Lean-dro de Oliveira Costa foi o orien-tador do projeto. Ele explicou aoACONTECE que os estudantesforam a campo inclusive coletar aágua que foi analisada no labora-tório da escola pelos próprios alu-nos com o uso de kits.

A localização para o aplicativofoi feita com base nas coordena-das geográficas, obedecendo aum sistema de georreferenciamen-to, com o auxílio do Google Maps.Com o aplicativo, é possível sa-ber qual a fonte mais próxima etraçar a melhor rota para chegaraté ela.

O aplicativo, que seis mesesatrás chegou a cerca de dois milusuários, funciona no sistemaoperacional Android, é grátis eestá disponível na Play Store.

- No momento as informaçõesnão estão sendo atualizadas,porque queremos oferecer à Pre-feitura para gerenciar, já que elapossui um sistema de análise dequalidade de fontes – observouo professor, acrescentando queo aplicativo ainda não foi ofere-cido ao poder público.

“NÃO É ÉTICOGANHAR DINHEIRO

COM ISSO”O professor Leandro Costa res-

salta que o objetivo ao oferecer oprojeto à Prefeitura é somentebeneficiar o município:

- Como é uma escola pública,não vejo como ético ganhar di-nheiro com isso. O que é públicotem que voltar de graça para apopulação. Por isso, queremosceder à Prefeitura. Não faz senti-do ganhar dinheiro dentro de umainstituição pública.

E finaliza enfatizando sua visãodo papel da escola pública:

- Ela tem que ser uma escolade excelência, pois ela é para apopulação de uma forma geral.A escola precisa promover aconstrução do conhecimento.Não adianta nada só decorar oconteúdo. O importante é que oestudante aprenda e aplique deverdade.

LUA MINGUANTEÉ bastante producente que a Prefeitura de Teresópolis atente para iniciativascomo a do Colégio Estadual.Num cenário de ‘farinha pouca, meu pirão primeiro’, nem tudo está perdido.Há ainda aqueles que querem dar a sua parcela de contribuição, mesmo semnada em troca, e com os bolsos acenando na posição de Lua Minguante.

‘Os dias eram assim’O que fez do Auxílio-Transporte a

grande perspectiva dos estudantesPara entender o que fez do be-

nefício denominado Auxílio-Transporte a grande perspectivade quem desejava ou precisavaestudar fora de Teresópolis e nãotinha recursos para custear a con-dução, é preciso voltar à décadade 90.

O contexto é de redemocratiza-ção do Brasil, mas também de cri-se, patrocinada pelo fracasso doGoverno Collor no campo econô-mico. Ao mesmo tempo, desde1991, subia o número de vagasoferecidas, candidatos inscritose ingressos por vestibular emcursos de graduação presenciaisno país, e também na Região Su-deste, conforme dados do Minis-tério da Educação e do Inep.

O número de candidatos ins-critos entre 1991 e o ano 2000,passou de 1.094.952 para1.950.585. A quantidade, inclusi-ve, é incompleta, já que em 2000,nove instituições de ensino su-perior não responderam ao Cen-so da Educação Superior.

Somando-se a demanda, a ofer-ta de ensino universitário no mu-nicípio era menor que a atual –além de não existir a modalidadeque ficaria conhecida como EAD,o ensino a distância.

É nesse cenário que a CâmaraMunicipal de Teresópolis apro-va, em 1993, Emenda de autoriado então vereador Luiz Ribeiro,acrescentando um inciso ao arti-go 176 da Lei Orgânica.

No projeto, aprovado por una-nimidade à época, Luiz Ribeiroargumentava que “esperamos daroportunidade a todos que dese-jarem evoluir nos estudos, umavez que a educação é um direitode todos e é uma das obrigaçõesdo Poder Público”.

Luiz Ribeiro também argumen-tou na ocasião que “existem mui-tas pessoas residentes em nosso

município desejando estudarfora, em cursos não oferecidosaqui, mas que não podem fazê-lopor falta de condições financei-ras, principalmente para pagar acondução”.

A Emenda, promulgada em 6 dedezembro de 1993, previa custearaté 100% do valor do transporte,abrangendo cursos técnicos esuperiores.

Mas a mudança não foi regula-mentada pelo Executivo à época,o que só ocorreria a partir de 2005,no Governo Roberto Petto.

Em 11 de abril daquele ano, aCâmara promulgou Emenda doExecutivo, alterando a redação doinciso do Artigo 176, sobre o au-

xílio-transporte. A Emenda esta-belecia ainda prazo de até 60 diaspara regulamentação do benefí-cio.

Embora com mudanças, a par-tir daí o auxílio-transporte, ideali-zado em 1993, passou a valer naprática.

Atualmente, devido à crise eco-nômica e fiscal que também re-percutiu em Teresópolis, o bene-fício não está mais em vigor.

Segundo o mais recente Censoda Educação Superior, divulgadono fim do mês passado, as matrí-culas presenciais tiveram umaleva queda, passando de 82,6%do alunado nacional, em 2015,para 81,4%, ano passado.

Já os matriculados no EADaumentaram 20% no mesmoperíodo.

Mesmo assim, dos quase trêsmilhões de estudantes que in-gressaram em 2016 no ensino su-perior 71,8% estão em cursos pre-senciais.

LIVRO MENCIONATRANSPORTEPós-graduado em Direito Edu-

cacional, o advogado Fábio Es-teves observa a questão dotransporte universitário em seulivro ‘A Educação como relaçãode consumo nas Instituições Pri-vadas de Ensino Superior’ (AgBook, 2009):

“(...) O direito à educação trazum sentido mais amplo do queaquele mencionado na Constitui-ção Brasileira. Além de direitogarantido por Lei, depende depolíticas públicas capazes de vi-abilizá-las. (...)”.

E prossegue Fábio Esteves,sócio da RCE Advogados:

“(...) Aquele que pode se des-locar, que pode pagar, tem o ‘di-reito à Educação’. Aquele quenão possui condições sequer dechegar até a instituição não pos-sui o mesmo ‘direito’. (...) “

E completa o advogado, em suapeça acadêmica:

“O direito consignado na Cons-tituição é amplo e claro: refere-seà possibilidade, à ‘paridade dearmas’ que cada um deva possuirigualitariamente no acesso a estaetapa da vida estudantil e forma-dora. (...) “

O livro não trata exclusivamen-te do tema transporte, fazendoapenas breve passagem sobre oassunto. Mas constrói uma abor-dagem sobre a relação estabele-cida entre o aluno e a faculdade,sob a ótica das relações jurídicasde consumo.

COLÉGIO SÃO PAULO VAICOMEMORAR 90 ANOS

EM 96, ‘ACONTECE’DOCUMENTOU PROTESTO

Em agosto de 1996, um grupo de estudantes literalmente acam-pou em frente à Prefeitura, chamando a atenção de quem passavapelo local.

O passe livre nos ônibus intermunicipais fazia parte das rei-vindicações, que incluíam ainda a criação de um teatro munici-pal, entre outros pleitos.

O grupo acabou sendo recebido pelo então prefeito Luiz Barbo-sa e por membros do seu secretariado.

Entre os dias 17 e 31 de outu-bro, o Colégio São Paulo, noAlto, vai promover exposiçãocomemorativa aos 90 anos defundação. O evento pretendereunir itens que possam ajudara contar a História da escola.Para isso, o CSP solicitou às fa-mílias e aos ex-alunos que cola-borem com trabalhos escolares,fotos, documentos, raridadesliterárias, vídeos, lembranças eobjetos em geral.

No dia 20 de outubro, aindacomo parte das comemorações peloaniversário de fundação, o colégiocelebrará missa solene, às 19 ho-ras, na Igreja de Santo Antônio.

Já no dia seguinte, haveráfesta por adesão no Espaço

Higino, com a apresentação daBanda Cinco Estações.

MADRE CÂNDIDA FOI APRIMEIRA DIRETORAOs trechos do texto a seguir

foram extraídos da ‘Revista Co-memorativa: 75 anos do ColégioSão Paulo’, publicada em junhode 2002, tendo como jornalistaresponsável Maurício Mendes.

“Tudo começou quando emdezembro de 1925 e janeiro de1926, as irmãs Angélicas do Co-légio São Paulo de Ipanema-RJ,foram acolhidas, para passaremas férias, pela família Perry, em suaresidência, na Av. Delfim Moreira– ‘A Quinta das Magnólias’. (...)

“Nessa oportunidade, as irmãs

verificaram que Teresópolis sópossuía um estabelecimento deensino: o Grupo Escolar Higinoda Silveira, que acabara de serfundado.

“As famílias teresopolitanas,conhecendo as Angélicas, pedi-ram com grande insistência, quefundassem um colégio na cidade,onde seus filhos pudessem conti-nuar os estudos secundários.

“A idéia foi bem aceita por Ma-dre Flávia da Rocha, diretora doCSP do Rio, e Superiora da Con-gregação. (...)

“O prédio da chácara (da Famí-lia Mendes Campos, na RuaMuqui) foi adaptado para um in-ternato de até 20 alunas e exter-nato misto, comportando os cur-

sos infantil, primário e secundá-rio.

“Foi o primeiro colégio religi-oso que aqui se instalou. (...)

“Em curto prazo, iniciou-se aoficialização das escolas parti-culares de Contabilidade, dan-do ao colégio a oportunidade deabrir um curso de Comércio.

“Os cursos primário e infantilprogrediram. (...)

“Muitas famílias passaram ase interessar pelo trabalho de-senvolvido, sob orientação deMadre Cândida Rocha, primeiradiretora do colégio, religiosa degrande cultura, virtude e erudi-ção. (...)

Faleceu em 8 de setembro de1968.”

Page 7: 2017 SETEMBRO/OUTUBRO EDIÇÃO NÚMERO 02 Clique na barra de rolagem do ... · posto fosse fornecido ao paciente, que morreu exatamente no dia da ordem judicial. Página 4. A exigência,

Ele foi pioneiro no comércioe turismo. Juiz da época

o classificou como cidadãoexemplar

120 anos de Raul Martins Esteves

Amélia e Raul sentados, na lateral da colchoaria e também casa, hoje Travessa Portugal

EMEL ELEVADORESA EMEL É TRADIÇÃO EM MANUTENÇÃO E REFORMA DE ELEVADORES E ESCADAS ROLANTES.

NOSSO ENDEREÇO É RUA FILEUTERPE 691 – LOJA C – BAIRRO SÃO PEDRO.NOSSOS TELS: (21) 2642-0455/ 3097-4666/ PLANTÃO: 9 9802-0855 / 9 8185-0006.

NOSSOS ENDEREÇOS ELETRÔNICOS SÃO: WWW.AMARELASINTERNET.COM/EMEELEVADORES- E O EMAIL [email protected]. ESTAMOS REGISTRADOS NO CREA SOB O

NÚMERO 2007215453. EMEL, GARANTIA DE SEGURANÇA E QUALIDADE!

ACONTECESETEMBRO/OUTUBRO - 20176

O pioneirismo do Turismo em Teresópolis guarda divergências históricas. ParaOsíris Rahal, o precursor foi Raul Esteves; já para o também historiador JoãoOscar, o pioneiro foi George March. Entretanto, não é isso o que importa. Massim que cada família busque valorizar seu passado, para melhor entender opresente e buscar exemplos para o futuro. Isso, o mais importante.“

Há 120 anos nascia RaulMartins Esteves.

O homem – que iria fazer Histó-ria em Teresópolis – era deSapucaia, ao Norte do Estado doRio, mas se considerava mineiro.Nascido a 26 de maio de 1896, eraum dos três filhos de AntônioMartins da Costa Esteves ePerciliana Rosa Corrêa. As irmãseram Corina e Lindoca. Desdepequeno, ajudava a mãe viúva nosustento do lar.

- Ele nunca deixou a mãe sozi-nha. Ele fazia tudo, mas à noiteestava em casa com a mãe. Des-de pequeno ele foi assim, muitoamigo da mãe dele - contou a fi-lha Denilda Lima Esteves, faleci-da em 2011, no depoimento fami-liar em áudio ‘Memórias para ofuturo’, gravado em 2006, comcópia no acervo da Secretaria deCultura de Teresópolis.

Entrou para o Distrito de Poli-cial de Sapucaia, de onde veiotransferido para Teresópolis,numa espécie de promoção defunção. Segundo o historiadorAntônio Osíris Rahal, em seu li-vro ‘Personalidades deTeresópolis’ (1985), Raul chegouem 1916, aos 20 anos de idade. Anomeação foi assinada pelo en-tão delegado Alfredo Rebello, aquem o jovem Raul chegou a subs-tituir em algumas ocasiões.

No município conheceu Améliade Lima, filha do capitão SilvérioRodrigues de Lima e de AméliaHenriqueta de Lima. O casamen-to aconteceu em 1918, dois anosapós sua chegada à cidade.

Raul Martins Esteves foi umpioneiro. Fundador da primeiraloja de móveis de Teresópolis, abatizou com o nome de “AMobiliadora”, que mais tarde iriase transformar em “IrmãosEsteves”. A fabricação de col-chões de crina, também pioneirae com vendas até para o Rio, pre-cedeu a de móveis.

- Era a única casa de móveis deTeresópolis – observou Denilda.- Ele vendia muito pro interior. Elevendia e ia lá tirar fotografia dosnoivos. Eu mesma fui lá a um ca-samento. Ele gostava de agradaros fregueses. Sempre tinha mari-ola e bala lá (na loja) pras crian-ças. Hoje, tem muito homem, moçoaí, que diz pra mim: ‘Seu Raul,quando eu era pequeno, me davabala, mariola’...

O historiador Osíris Rahal re-gistra que Raul “foi precursor doturismo local, ao iniciar a locaçãode casas mobiliadas e a locaçãode móveis para os veranistas quepara aqui vinham ‘alugar casasou móveis por temporada”.

RIQUEZA PELO TRABALHOA filha ressaltou o esforço, a

fim de alcançar o sucesso:

- Ele trabalhava muito. O idealdele era ser rico. A instrução deleera muito pouca, mas ele era mui-to inteligente, lia muito e foiaprendendo. Não deitava nacama sem ter um livro na cabecei-ra pra ler. Por isso, que entendia esabia de tudo.

Raul – que chegou a adquirirparte da Rua Francisco Sá, Tra-vessa Portugal e a atual Traves-sa Ranulpho Féo, onde tinha afábrica de colchões – montou umaloja de móveis também no Alto,além de depósitos no Bairro SãoPedro, então Vidigueiras, e naBarra. Trabalhou com os mesmoscolaboradores anos a fio, comoVirgílio, Sebastião e Antônio.

Entre as sinceras amizades,constavam as famílias Granado,Silva Araújo, Rizzi Lippi eRegadas.

- O Ademar (Rizzi Lippi) eracompadre dele, padrinho deRossine. O ’seu’ Regadas era pa-drinho de Roland - disse Denilda.

As amizades incluíam ainda oboticário Djalma Monteiro, e ospolíticos José de Carvalho Janottie Roger Malhardes.

A primeira loja, pequena, teriasido na Avenida Delfim Moreira,mas não há certeza disso, sendoposteriormente transferida para aRua Francisco Sá, hoje Calçadada Fama. A mudança teria se dadocom a melhora das condiçõeseconômicas da família.

Na Francisco Sá, aliás, era acasa da família, depois transfor-mada na loja, com moradia anexa,até que outra residência foierguida tempos depois.

- A gente tinha a casa atrás daloja. Mais tarde, ele fez duas ca-sinhas ali também – relembrou afilha. – O negócio foi crescendo,e a família foi crescendo junto.

Raul e Amélia tiveram 11 filhos.Primeiro vieram Doralice, Dirce,Denir, Deice e Denilda.

- Nesse intervalo, minha mãeperdeu um, não sei se menino oumenina – recordou, explicandoque Dona Amélia sentira-se malao auxiliar os empregados a reco-lher o capim, matéria prima doscolchões. Nesse dia, Raul estariaacamado por causa de um reuma-tismo.

Hábil e com visão comercialpouco comum, Raul reviveu umaprática secular na humanidade –o escambo – que consiste na tro-ca de uma mercadoria por outra.Apreciador de brilhantes e safi-ras, chegou a permutar imóveispor jóias. Fez negócios ainda como departamento de estradas daépoca, o que lhe possibilitou sig-nificativa alavancada empresari-al. O órgão adquiria com ele oscolchões para o descanso dostrabalhadores.

Roland, Dila, Dilma, Ronaldo,

“A MOBILIADORA” VIRAIRMÃOS ESTEVES

Com o falecimento de RaulMartins Esteves (foto), o imó-vel da Rua Francisco Sá foi par-tilhado entre os herdeiros.Ronaldo e Rossine decidiramadquirir a parte dos outros noveherdeiros e tocar adiante o ne-gócio iniciado pelo pai. A mãe,Dona Amélia, abrira mão dosseus direitos. A parte relativa auma da irmãs, Dilma, falecidaaos 33 anos, foi depositada emconta bancária em favor dos fi-lhos, como ficou acertado naJustiça.

Acertada a questão do espó-lio, os dois irmãos decidiram er-guer um novo prédio que se en-contra até hoje no local, numaobra feita à custa de muito sacri-fício, reproduzindo a luta do pai.

A nova loja ganhou o nomede Irmãos Esteves, simboliza-da por um par de pinguins, avesque habitam regiões geladas doplaneta. A escolha se deu devi-do ao frio comum emTeresópolis, sobretudo àquelaépoca.

A empresa logo virou atraçãona cidade, não só pelos letrei-ros inovadores, inclusive como uso do neon, como pelas atra-ções e promoções que ofere-cia, num período em que poucoou nada havia de lazer emTeresópolis. Sorteios de prêmi-os para os clientes eram reali-zados, até com direito a shows.Destaque para a dupla de anõesZequinha e Quinzinho, suces-so na TV Globo à época, noPrograma Os Trapalhões.

A extensa vitrina da loja eraatração à parte. Muita gentefazia da visitação um programaobrigatório nas noites de do-mingo.

Por sugestão do jornalistaDélcio Monteiro, a empresachegou a ocupar uma páginado Teresópolis Jornal. Nasciaa coluna social “Irmãos EstevesInforma”, escrita por PedroMarcelino. Nela, notas sobreaniversário de clientes, entreoutros assuntos envolvendo onegócio.

Uma visão pioneira nas dé-cadas de 60 e 70 – tal como a dopai, nas décadas de 10 e 20.

Rossine e Denice são os outros fi-lhos do casal, numa família que tra-balhou unida e progrediu unida:

- Nunca faltou nada pra gente,com muito sacrifício dele – res-saltou Denilda. - Depois os maisvelhos começaram a ajudar osmais novos. Minha mãe costura-va as capas de colchão, de tra-vesseiro... E a gente ajudava, des-fiava paina de seda... Minha mãena máquina de costura. Depois agente também ia pra máquina.Mas ele sempre deu muito con-forto pra gente.

UNIÃO FAMILIARO crescimento da família trou-

xe a mudança de endereço para aRua Itapicuru, atual Heitor deMoura Estevão, onde Raulconstruira uma casa maior, que atéhoje encontra-se no local. Namesma rua erguera outros trêsimóveis. De acordo com os hábi-tos da época, as casas erambatizadas com os nomes das pes-soas, inscritos nas fachadas. E,assim, surgiram no local as VilasDirce, Denir e Dora. A Vila MariaDenilda ficava na Rua PrefeitoMonte, na Tijuca, onde a famíliamorou inicialmente. O próprio Raulfazia as placas com os nomes.

- Na sala cada um tinha seu lu-gar à mesa. Era uma mesa grande.Ele e mamãe na cabeceira – disseDenilda. – Todos comiam juntos,na mesma hora, havia muita uniãosempre. E um olhar de papai, agente já sabia o que ele queria.Ele não era bravo, mas gostavade tudo muito direito, muito res-peito. Dava liberdade, mas commuito respeito. Foi bom pai, bomesposo... Enfim, foi tudo, foi umapessoa muito correta.

A filha recordou as festas defim de ano, quando Raul a todospresenteava. O Natal tinha direi-to a pinheiro natural, cultivado noquintal da casa: “ Ele queria fazera árvore de Natal mais bonita quefosse. Ele que arrumava e a genteajudava. ‘ Me dá algodão, me dábola...’ E ele ficava à frente, arru-

mando tudo. Aí, de noite, botaros sapatinhos na janela, né... Eleenchia os sapatinhos decoquinhos de Natal. Ele fazia umpresépio com papel imitando pe-dra. Papai tinha muito gosto praessas coisas... E ensinou pra gen-te também. Foi uma lição que eledeu e deixou pra gente.”

FOTOS E FILMESRaul foi um homem à frente de

seu tempo, um visionário, que sa-bia compartilhar suas iniciativas.

Foi assim no setor audiovisual,do qual era admirador. Comprouum aparelho, tão logo a TV sur-giu no Brasil, na década de 50.

- Papai também gostava muitode filmar e ele passava (as filma-gens) na rua – observou Denilda.– Botava uma tela e juntava mui-ta gente pra ver o cinema, né...Ele alugava uns filmes no Rio deJaneiro (possivelmente em rolos)e passava muito desenho que ascrianças queriam ver. E quempassava na rua (Itapicuru) gos-tava de parar também pra ver.

Raul ainda distribuía laranjaspara o público durante as exibi-ções.

Em 1952, registrou o desmoro-namento de terra que destrui aestação de trem que ficava ondehoje está o Colégio EstadualEdmundo Bittencourt e o antigoForum, na Várzea. Pouco antesdo acidente, tinha ido ao local,com os filhos Roland e Rossine,conforme relatou Denilda: “Eletinha ido na estação pra pegarmóveis que vinham pelo trem. Aíaconteceu o desastre, mais oumenos meio dia, num dia de sol,bonito (carnaval)... Escutamos umestrondo muito grande... Fomosver, e era o acidente.”

A fotografia era outra paixão.Foi amigo de Torri March, famo-so fotógrafo da época, que o ori-entava sobre as técnicas.

A filha também relembrou asviagens de trem da família: “Agente só andava de trem. Todoinverno, a gente ia pro Rio. A via-

gem de trem era uma beleza, de-veria voltar. A gente tinha maismedo na descida da Serra, davaimpressão que o trem tava em pé.Mas era muito boa aquela estra-da de ferro, foi uma pena termi-nar... No Rio, pegávamos o bon-de e íamos pro Méier.”

Outra passagem envolvendoRaul diz respeito a uma mulherdoente que não tinha para aondeir e que estaria com tuberculose,doença comum à época: “Veiouma senhora que chegou muitomal mesmo. Ele falou pro moço(marido): ‘Você vai levar ela praminha casa. E ela morreu na camade mamãe e de papai”, relatouDenilda.

“ELE AJUDAVA PRADEUS AJUDAR ELE”O sentido humanitário pelo

qual Raul pautou sua vida teriaainda outras facetas, segundo afilha: “Tinha um patronato, noAlto, quem dirigia era o capitãoGameiro. Ele até foi compadre depapai, era padrinho de Dila (filha).Ele ajudava muito. Ele tambémajudava os músicos. Acho quehoje ninguém ajuda... Precisavade uma banda de música emTeresópolis... Ele também ajuda-va os Vicentinos (Ordem católicade São Vicente de Paulo). Ele pro-curava ajudar, pra ser ajudadotambém, pra Deus ajudar ele. Eletinha muita fé em Deus, no Anjoda Guarda, em São Sebastião, queera o santo de devoção dele.”

Era também devoto de SantaLuzia. O dia 13 de dezembro eradedicado à santa, e a nenhumaatividade se dedicava em sinal desua devoção.

Raul Martins Esteves faleceuem 20 de fevereiro de 1966.

Cinco anos antes, de acordocom o historiador Osíris Rahal, oPoder Judiciário local, através dojuiz Nelson Martins Ferreira, oclassificou como uma das dez vi-das exemplares de Teresópolis,pelo seu trabalho, dedicação ehonradez.

Page 8: 2017 SETEMBRO/OUTUBRO EDIÇÃO NÚMERO 02 Clique na barra de rolagem do ... · posto fosse fornecido ao paciente, que morreu exatamente no dia da ordem judicial. Página 4. A exigência,

ACONTECE SETEMBRO/OUTUBRO - 2017 7

“ O aparelho de ginástica denominado Multi-Exercitador, instalado na Praça Nilo Peçanha, no Alto, estácom um de seus mecanismos corroído pelo tempo, oferecendo risco aos usuários.A situação requer reparo e hábito de manutenção.Nessa perspectiva, a eventual crítica transforma-se em colaboração ao Poder Público e à comunidade.

Page 9: 2017 SETEMBRO/OUTUBRO EDIÇÃO NÚMERO 02 Clique na barra de rolagem do ... · posto fosse fornecido ao paciente, que morreu exatamente no dia da ordem judicial. Página 4. A exigência,

ACONTECESETEMBRO/OUTUBRO - 20178

A indústria do “mero aborrecimento”

EXISTE “SIMPLES” VIOLAÇÃO LEGAL?Por Reny do Amaral

Carneiro Jr.

Tema em ressalte atualmente,encontramos na teoria do “meroaborrecimento” uma evasiva donosso Poder Judiciário estadualno empenho de afastar o direitoindenizatório dos jurisdicionados(cidadãos), diante de determina-das lesões comprovadamente so-fridas e ali reclamadas.

Ao buscar reparação diante dostribunais pátrios, o indivíduoaguarda uma prestação transpa-rente, segura, objetiva, imparci-al e sem intenções outras que nãoseja a aplicação da lex (lei) e,subsidiariamente, das demaisfontes disponíveis. Assim, se pro-ceder o juízo da causa para estasobservâncias principiais, haveráapenas DOIS caminhos a percor-rer, a saber: a) se HOUVE viola-ção; b) se NÃO HOUVE viola-ção, e ponto!

Havendo violação, cabe ao juizsopesar sobre a “extensão dodano”, e a partir daí, quantificara indenização correspondente, oque a boa e autorizada doutrinadenomina de quantum debeatur(do latim – “quantia devida”).

O que tem ocorrido frequente-mente, nos últimos anos commais assiduidade pelo nosso E.TJ/RJ, é que as empresas, viola-doras contumaz dos direitos dosconsumidores, construíram uma“teoria”, em suas repetitivas,insistentes e modelares teses de-fensivas, chamada de “meroaborrecimento”, corolária da fa-migerada e sabidamente existen-te “indústria do dano moral” (ter-mo atribuído à classe de pessoasque buscam enriquecimento semcausa, utilizando-se para tanto,do Poder Judiciário).

Tem-se que o “mero aborre-cimento” não é um institutoLEGAL, pois trata-se de umateoria de construção jurispruden-cial que, no decurso do tempo,ganhou força em nosso Tribunal,culminando na edição da Súmu-la nº 75 TJ/RJ, editada no anode 2005, e que ostentava aplica-ção razoável até meados do anode 2012, quando, curiosamen-te, passou a ser aplicada de for-ma massiva, com predominân-cia nas demandas consumeris-tas. Não menos importante de semencionar, é que nenhum outrotribunal estadual/regional editousúmula semelhante sobre o as-sunto. Com razão as demais cor-tes do país, se considerarmos queestamos falando de um institutohíbrido, que em sua definiçãonão configura a violação legal emsua totalidade – pois se assim o

fosse, o direito de indenizar se-ria inevitável – tampouco confi-gura a não violação – já que assentenças que a aplicam relatamtodo o histórico de FALHA NAPRESTAÇÃO DO SERVIÇO, emcristalino DESRESPEITO AODIREITO DO CONSUMIDORsem, contudo, fazer valer estadisposição legal que o protege –a Lei nº 8.078/90, o Código deDefesa do Consumidor.

Daí, já se encontra o primeiroespaço de discussão e enfrenta-mento a esta teoria e sua “sedi-mentação” pelo TJ/RJ através daapontada súmula, que, sem de-masiado esforço, já se mostra te-merária e agressora da seguran-ça jurídica.

Em contraste, o “dano moral”é um instituto LEGAL e encon-tra-se consagrado a obrigatorie-dade de sua reparação como DI-REITO FUNDAMENTAL (arti-go 5º, inciso X da CRFB), alémda positivação infra aos artigos186 c/c 927 e 944 do Código Ci-vil brasileiro.

Assim sendo, é necessário par-tir da premissa de que a teoria domero aborrecimento é matériaque não possui status de LEI,devendo, por assim dizer, limi-tar-se ao seu lugar na seara juris-prudencial (fonte secundária paraembasamentos de decisões judi-ciais) – que por sua vez – nocaso do nosso estado que sumu-lou o tema – não logra efeitovinculante e jamais logrará,visto tratar-se de súmula edi-tada por órgão regional, sendoeste efeito uma prerrogativaconstitucional daquelas súmu-las editadas pelo Supremo Tri-bunal Federal (artigo 103-ACRFB)

Não obstante, os profissionaisda advocacia se veem em umasinuca de bico, por assim dizer,ao perceberem esta vinculaçãooperada no Tribunal Regional(RJ), e que se trata de uma dis-posição teórica (mero aborreci-mento), que não há sequer a sercomparada a um instituto jurídi-co legal (como o dano moral),porém, vem sendo sobrepostanas decisões judiciais, inclusivesubjugando o instituto legal aesta mera disposição doutrináriaque, frise-se, se mostra DIVER-GENTE. Isto ocorre, por óbvio,já que não há uma definição para“mero aborrecimento” em âmbi-to jurídico, que não seja aquelatrazida a lume na edição da sú-mula nº 75 do nosso Tribunal queo conceitua como “SIMPLESdescumprimento do dever legalou contratual...” desde que“...não atente contra a DIGNI-DADE da parte...”, etc.

O conceito, de per si, é contra-ditório, visto que nos faz inda-gar: “o que seria um ‘simples’descumprimento do dever legalou contratual por alguém, quenão viole a dignidade da outraparte, no mínimo que seja?!” Overbete constante na referidasúmula (nº 75 TJ/RJ) concedeplenos poderes ao magistradopara decidir – a seu bel-prazer– quando tal violação transcen-de ou não a dignidade da par-te lesada e ainda, para EXTIR-PAR o dever de indenizar aca-so entenda pela não transcen-dência da ilícito, em que peseseu direito tenha sido violadode morte.

Absurda autonomia, quando alegislação assenta que “... a in-denização mede-se pela EX-TENSÃO do dano...”, e ainda,que “... se houver excessiva des-proporção entre a gravidade daculpa e o dano, poderá o juizREDUZIR, equitativamente, aindenização...” (§ único, artigo944 do C.C.).

Observa-se que a LEI não per-mite ao julgador SEPULTAR odever de indenizar, mas a redu-zi-lo acaso haja desproporção!

Elevando o raciocínio à esferaconstitucional, quando falamosem princípio da dignidade dapessoa humana (artigo 1º, inci-so III da Carta Magna), falamosinevitavelmente em direitos dapersonalidade, como a honra, aimagem, a reputação, a intimida-de, a vida privada, integridadesfísica e psíquica, etc., sendo que,para estas violações, a lei já de-terminou a obrigação de indeni-zar, desde a disposição da pró-pria Carta Magna (artigo 5º, in-ciso X), até o Código Civil (arti-go 186 c/c 927, § único e 944,caput, § único). Ora, estamosfalando aqui do claríssimo ebem definido conceito deDANO MORAL, cristalinamen-te conceituado pela lei, pela ju-risprudência e pela doutrina,FULMINANDO qualquer possi-bilidade de uma parte contratan-te violar o dever pactuado ou alegislação em vigor, sem macu-lar qualquer destes direitos, ain-da que levemente (neste casosim, o magistrado deverá sope-sar o quantum indenizatório, emobservância ao princípio da ra-zoabilidade).

Em suma, não há razões paraaplicação massiva e solitária des-ta súmula pelo nosso Tribunal(RJ) como se LEI fosse, se o ins-tituto legal (dano moral) não dei-xa margem para o afastamento daobrigação de reparação pelo vi-olador, ainda que a violação sedê por um “SIMPLES” descum-

primento do dever, seja ele legalou contratual.

Precisa-se urgentemente, dacooperação entre a classe advo-catícia e os cidadãos de bem con-tra a supervaloração e aplicaçãodesarrazoada da “teoria do meroaborrecimento” (não aquelesque buscam no judiciário umaforma de renda periódica, con-tribuindo para o crescimento datão defensivamente trabalhadaindústria do dano moral), umavez que o direito legalmente vi-olado não aceita evasivas! Sehá diminuição do dano causa-do, deve haver diminuição dareparação arbitrada, mas ja-mais e EXTIRPAÇÃO do de-ver de indenizar, como opera anossa jurisdição estadual atu-al, quando da costumeira apli-cação da súmula em comento.

O aborrecimento é gerado poruma violação da lei ou do con-trato firmado, e jamais poderiaser considerado como “mero”, aponto de afastar o direito do le-sado à devida indenização. Rei-tera-se, portando, que esta é umadisposição HÍBRIDA, que tentareunir elementos de violação e denão violação legal em uma mes-ma premissa jurídica, a fim deque interesses alheios ao mundojurídico sejam atendidos pelo E.TJ/RJ, sejam eles políticos, fi-nanceiros, de poderio ou cumpri-mento de metas estipuladas peloCNJ – frise-se!

Não se prega por esta ocasião,lutar pela INEXISTÊNCIA dassituações que NÃO configuramaborrecimento (violação legal)nas demandas judiciais que re-presentamos, pois elas existem esempre existirão! No entanto,uma coisa é não haver violação,outra é haver a violação e o Po-der Judiciário negar-se à aplica-ção da lei reparatória, com vis-tas a “entendimentos” firmadosem reuniões de julgadores de de-terminado segmento – Encontrosde Juízes de Juizados Especiais– por exemplo.

Não se nega o fato de que, ex-cepcionalmente, cidadãos tentemse aproveitar de situações do co-tidiano para lograr êxito financei-ro através do Poder Judiciário(mas eu disse “situações” e não“violações”). No lema advoca-tício à base da esteira LEGALCONSTITUCIONAL, qual-quer comprovada violação le-gal ou contratual merece repa-ração, seja ela material ou ima-terial!

O que devemos enfrentar, é adesnecessária potencializaçãodesta teoria em nosso Tribunal,que a aplicava de forma modera-da até determinado momento e,

curiosamente, passou a dar ÊN-FASE à sua aplicação, chegandoao ápice disto, quando editousúmula própria (nº 75) para tra-tar o assunto (conceituando umateoria, que até então era meraconstrução doutrinária, por sinaldivergente, como elucidado) e aatribuiu status de LEI, a aplican-do, sobretudo, em detrimento àlegislações assentes, como a Leinº 8.078/90 - Código de Defesado Consumidor.

Ao direcionar mais luzes doque o necessário à tal teoria(mero aborrecimento) o TJ/RJdesprestigia o princípio da SE-GURANÇA JURÍDICA, se con-siderarmos que todos os demaisTribunais Regionais do país aaplicam de maneira moderada,artesanal e por via de exceção(não de regra). Logo, notável atamanha disparidade nos julga-mentos de casos IDÊNTICOSentre uma unidade e outra daFederação. Enquanto os demaisTribunais do país esmiúçam asdemandas para configurar a vio-lação ou não dos dispositivos le-gais aplicáveis à espécie, que seapresente pertinente, o nosso Tri-bunal tem aplicado a “teoriado mero aborrecimento” ab-surdamente EM LOTE, ouseja, para toda e qualquer açãoque verse sobre determinadoassunto, mormente os consu-meristas.

Ademais, sem razão, visto queo magistrado está CONSTITU-CIONALMENTE obrigado àfundamentar suas decisões, nostermos do artigo 93, inciso IX daCarta Maior, que consagrou oprincípio da motivação das de-cisões judiciais, acompanhadoda obrigatoriedade de funda-mentação, como elemento essen-cial do corpo decisório (senten-ça), este já encartado ao artigo489, inciso II do NCPC. Destar-te, não há como aceitar teorias ju-risprudenciais em lugar da lei, emuma clarividente inversão de fon-tes necessárias ao julgador, ondea primária (lei) cede lugar à se-cundária (jurisprudência, súmu-las e entendimentos isolados),causando irresignações e ausên-cia de efetividade jurisdicionalsem precedência.

Fundamentar uma decisão, sig-nifica explicar ao leitor do deci-sum, as razões de fato e de DI-REITO que levaram o julgador àtal conclusão. Isto é impossívelde se fazer em conformidade coma legislação, se a própria LEGIS-LAÇÃO POSITIVADA não vierem primeiro lugar em sua pon-deração (lembrando novamenteda primazia desta fonte). Estaassertiva não é de minha autoria,

Reny do AmaralCarneiro Jr.é Advogado

Fábio Estevesé Advogado

mas funciona como uma adver-tência aos magistrados em diver-sas leis de introdução a determi-nado catálogo legal seja qual fora natureza da matéria ali tratada.Como exemplo, traz-se à lume noartigo 4º da Lei de Introdução aoCódigo Civil, que com as altera-ções da Lei nº 12.376/2010, pas-sou a se intitular “Lei de Intro-dução às Normas do Direito Bra-sileiro”, em um conceito muitomais amplo e abrangente no or-denamento. Tal artigo consagraa LEI como fonte primeira, per-mitindo ao juiz se valer de ou-tras “quando a lei for omissa...”(como princípios, jurisprudênci-as, doutrinas, analogias e o direi-to consuetudinário...), e não aocontrário!

Portanto, dentre diversas argu-mentações ainda pendentes dediscussão, nasce aqui um em-brião capaz de enfrentar – juri-dicamente – a famigerada “teo-ria do mero aborrecimento”, quetem sido utilizada como ferra-menta de redução de demandase isto, em detrimento ao direitodo jurisdicionado. Concluímosque o magistrado deve reconhe-cer o direito à reparação moral,quando pertinente a violação, emcontraste ao escorço probatóriocarreado aos autos e em obser-vância prioritariamente LEGAL.De outra monta, não havendo vi-olação legal, deverá também, ob-servando o mesmo processo deminúcia probatória, aplicar a lexpara fundamentar sua decisão denão a reconhecer e ponto!

O que passar destas disposi-ções – à exemplo do reconheci-mento da falha na prestação deum serviço/produto e sua conse-quente violação legal, caracte-rizando uma lesão que a lei or-dena indenizar na medida daextensão do dano causado e omagistrado a afasta por “enten-der” que a lesão não merece re-paração ante sua insignificância– é mera tentativa de assentarentendimentos intermediáriose híbridos, atribuindo-lhesequivocado status de lei, comoasseverado, pelo que não me-recem lugar cativo no mundojurídico atual e devem ser alvode enfrentamento, não só pelaclasse advocatícia, mas por todaa sociedade lesada ante à fla-grante inaplicabilidade da legis-lação em favor dos seus direi-tos.

por Fábio Esteves

Antes de tudo, este texto nãopossui o condão de alinhar umconteúdo rebuscado ou jurídi-co. Tão somente se propõe afazer você – cidadão comum –compreender o que se passa nascanetas de alguns Tribunaisquando o assunto é reparaçãomoral advinda das relações deconsumo.

Pode até haver algum tipo deverdade no entendimento deque existem demandas oportu-nistas cujo objeto nem seriaalvo de discussão junto ao Po-der Judiciário, o que suscitariao que contumazmente foi rotu-lado ao longo de reiteradas de-cisões e defesas – sobretudoquando o polo passivo envolve

alguma empresa – na “indústriado dano moral” – ou seja, o Ju-diciário como forma de auferirganhos financeiros pelo deman-dante.

Entretanto, desde que haja pre-visão legal, nada de errado exis-te nesta prática – e em muitoscasos, sim, ela existe. Com o ad-vento do Código de Defesa doConsumidor em 1990, uma clas-se até então desprestigiada e semvoz nos Tribunais passou a terseus direitos assegurados e osdanos sofridos reparados.

Sem perder o foco na questãoprincipal, vale discorrer rapida-mente somente que a própria le-gislação deixa a cargo do enten-dimento do Juiz o que seria o tal“dano moral”, o que dá margema várias interpretações, sendo

matéria de alta subjetividade,pois o que pode afligir em dema-siado a uma pessoa pode não cau-sar o mínimo mal estar em outra,pois a letra fria da Lei nunca serácapaz de incorporar o sentimen-to de cada indivíduo.

Imagine, na hipótese, um sim-ples cancelamento de um servi-ço qualquer que você, após rei-teradas cobranças e pagamentosindevidos, inúmeros contatospelos sistemas de atendimentoque quase nunca funcionam, e-mails sem resposta, enfim, e quete levam à última e derradeiraopção a procura pela Justiça noque envolverá emprego de maistempo, mais fila (quando assisti-do pelo Defensor Público), maisdespesa (quando assistido por umAdvogado particular), em suma,

mais desgaste e muitas vezes porum valor considerado pequeno,mas que faz falta no orçamentodoméstico, incluindo aí o descon-tentamento com o serviço que aoinvés de ser fonte de satisfação eprazer, vira um peso, um encar-go, um problema na vida da pes-soa comum, que pra sua frustran-te surpresa, no final recebe a sen-tença que diz que o vivenciadonão passou de um “mero aborre-cimento” ou “dissabor natural docotidiano”, sem contar o riscoque se corre do mesmo julgadoentender que existe aí um focode má fé vez que você se atrevea “ocupar o Judiciário” por uma“causa pequena”, que aos olhosdo julgador não mereceria nematenção.

Isso, além de rasgar o Códigode Defesa do Consumidor, frus-tra o cidadão que desacredita daJustiça e passa a crer numa in-versão de valores, ou seja, a em-presa que te logra não merece

responder pelo dano causado eque você, enquanto pessoa logra-da é tida como – no portuguêsaberto – um “aproveitador daJustiça” ou um “caçador de ní-queis”.

Óbvio que uma questão deconsumo, pode não ser capaz delevar alguém ao Psiquiatra oufazer com que o cidadão recorraà medicação controlada, mas ul-trapassa sim – e muito – o limitedo mero aborrecimento. Só quempassa por uma situação dessas écapaz de mensurar o quanto aqui-lo lhe afetou ou não. E não sãopoucos que passam.

Talvez seja esta a razão damudança de postura de algunsTribunais. Ocorre que, suprimin-do a fantasiosa “indústria dodano moral”, abre-se caminhopara um tipo de nicho ainda maisperverso: a “indústria da má pres-tação do serviço e do logro aoconsumidor”.

E ainda que não afete “psico-

logicamente” o consumidor, odano moral é direito presumi-do e expresso, cuja previsão le-gal contida no Código de De-fesa do Consumidor é clara noinciso VI do artigo 6º que diz:“São direitos básicos do con-sumidor (...) a efetiva preven-ção e reparação de danos pa-trimoniais e morais, individu-ais, coletivos e difusos”; entreoutros comandos que citam talreparação nesta e em outrasLeis.

Todavia, enquanto isso, va-mos recorrer aos antiestressesque estão por aí, torcendo paraque façam o devido efeito, pois,caso contrário, pode ser que nãoadiante muito demandar parareclamar o vício do produto...

Tarja preta