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setembro/outubro 2005 n18 Fortaleza recebe quarta etapa do Circuito Loterias Caixa www.cpb.org.br Bernardinho relembra Paraol impíada de Atenas b r ica no DF produz cadeiras de rodas a preços ac essíveis Br asileiros trazem medalhas do Aberto Europeu de Atletismo e do Pan da IBSA

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Bernardinho relembra Paraolimpíada de Atenas Fábrica no DF produz cadeiras de rodas a preços acessíveis Fortaleza recebe quarta etapa do Circuito Loterias Caixa s e tem bro / o ut u bro 2 0 0 5 w w w . c p b . o rg . b r Vital Severino Neto Presidente do Comitê Paraolímpico Brasileiro É na diversidade de apoio a modalidades distintas que o CPB pretende ampli- ar o leque de conquistas de nossos atletas, oferecendo-lhes o suporte para seu desenvolvimento profissional. Boa leitura!

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  • setembro/outubro 2005n18

    Fortaleza recebe quarta etapa do Circuito Loterias Caixa

    w w w . c pb . org . br

    Bernardinho relembraParaolimpada de Atenas Fbrica no DF produz cadeiras derodas a preos acessveis Brasileiros trazem medalhas do AbertoEuropeu de Atletismo e do Pan da IBSA

  • NO PDIO02 Antnio Tenrio30 Luiz Algacir43 Antnio Delno

    CULTURA06 Entrevista com Mauricio de Sousa

    ESPECIAL09 Aberto Europeu de Atletismo Paraolmpico

    Em setembro de 2005 completou-se um ano da gloriosa participao bra-sileira na Paraolimpada de Atenas, na Grcia. As 33 medalhas ganhas

    apontaram para o ineditismo tanto da quantidade como da qualidade da conquista. Afinal, foram 14 ouros, 12 pratas e sete bronzes feito

    que alou o Brasil 14 colocao geral e ao 3 lugar das Amricas.

    Entre os atletas, o nadador Clodoaldo Silva inscreveu definitiva-mente seu nome no esporte mundial. Em oito finais disputadas nos Jogos de Atenas, venceu seis e ainda levou uma prata. Fora tama-nha eficincia, seu carisma e sua conscincia social elevam-no ao status de dolo, condio que ser ratificada agora em novembro com o Prmio do Comit Paraolmpico Internacional, que elege Clodoaldo o melhor atleta paraolmpico masculino do mundo.

    Como se no bastassem tantas honrarias, Clodoaldo tambm Silva, a exemplo do judoca tricampeo paraolmpico Antnio Tenrio, do jogador de futebol para cegos, ouro em Atenas, Joo Batista e de vrios outros atletas que enchem o movimento paraolmpico de orgulho e vivacidade. O tema abordado na matria de capa e traz curiosidades interessantes acerca das origens desta verdadeira legio de Silvas espalhados pelo pas,

    assim como de seus maiores expoentes.

    A quarta etapa do Circuito Loterias Caixa Brasil Paraolmpico de Atletismo e Natao, realizada em Fortaleza, em incio de outu-

    bro, igualmente merece destaque por evidenciar que o Comit Paraolmpico Brasileiro mantm um rumo decidido e altivo no sen-

    tido de superar, em Pequim-2008, os resultados obtidos em Atenas. Para tanto, o CPB investe ainda na participao de atletas brasileiros

    em competies internacionais, como o Aberto Europeu de Atletismo Paraolmpico, ocorrido na Finlndia, no final de agosto, os IV Jogos Pan-

    americanos de Deficientes Visuais (IBSA), em setembro, em So Paulo, a Copa Amrica de Bocha Paraolmpica, na Argentina, tambm em setem-

    bro, e o V Mundial de Tiro com Arco, na Itlia, em outubro.

    na diversidade de apoio a modalidades distintas que o CPB pretende ampli-ar o leque de conquistas de nossos atletas, oferecendo-lhes o suporte para seu

    desenvolvimento profissional.

    Boa leitura!

    Vital Severino Neto Presidente do Comit Paraolmpico Brasileiro

    M a r a c a t u

    NOTCIAS13 Copa Amrica de Bocha Paraolmpica14 Paraolmpicos no SporTV15 Circuito Loterias Caixa: Fortaleza20 Dana em cadeira de rodas22 Fbrica de cadeira de rodas33 Hipismo brasileiro ganha Fair Play34 IV Jogos Pan-americanos da IBSA

    CAPA24 Paraolmpicos da Silva

    ADRENALINA40 Ranimiro Lotuffo

    OPINIO46 Bernardinho

  • ..............

    H exatas trs paraolimpadas, judocas de todo o mundo tentam, em vo, furar o bloqueio intransponvel chamado Antnio Tenrio da Silva. Atlanta-1996, Sidney-2000 e Ate- nas-2004 coroam o lutador com a difcil marca de trs ouros paraolmpicos. Tamanha superioridade deve-se disciplina com que encara as cerca de quatro horas dirias de treina-mento e ambio por novas conquistas. Antes da prxi-ma paraolimpada, minha meta o mundial, em 2006, e o parapan do Rio de Janeiro, em 2007, afirma resoluto o atleta que, em setembro deste ano, sagrou-se campeo da II Copa do Mundo e tambm levou o ouro nos IV Jogos Pan-americanos de deficientes visuais.

    Por Leandro Ferraz

    02

  • Natural de So Bernardo do Campo, em So Paulo, Tenrio conheceu o jud aos 7 anos. Foi a maneira encontrada pela famlia para trabalhar o j ento altssimo nvel de energia do ir-requieto garoto. justamente em uma brincadeira de rua que perde a viso do olho esquerdo. Tinha 13 anos e recebeu uma pedrada arremessada de um estilingue do amigo. Aos 19 adquire uma infeco alrgica no olho direito. Sem relao alguma com o acidente que lhe tirou a primeira vista, a infeco ocasiona descolamento de retina e leva-o cegueira total. Hoje, aos 34, Antnio Tenrio independente e consciente das adaptaes que teve que se acostumar para seguir com sua vida. Acredito que quem adquire uma

    deficincia depois de adulto sofre mais. Fiquei quase um ano sem sair de

    casa, deprimido mesmo,relata.

    Regi

    nald

    o Ca

    stro

    Gasp

    ar N

    bre

    ga

    03

    Ao mirar o fotgrafo, Tenrio mostra percepo incomum.

  • nico dos atletas patrocinados pelas Loterias Caixa de uma modalidade diferente das de atletismo e natao, Tenrio acompanhou de perto vrias atividades de promoo da quarta etapa do Circuito Brasil Paraolmpico, em Fortaleza, no incio de outubro. Comps a mesa do seminrio realizado no teatro da Unifor para alunos de educao fsica, parti- cipou da visita s crianas do projeto Vilas Olmpicas, da Secretaria de Esporte e Juventude do Cear, marcou presena na demonstrao do esporte paraolmpico num shopping da cidade, deu entrevista ao vivo para uma tev local e ainda assistiu s competies de na-tao. Tanto empenho revela a fibra de um profissional dedicado ao esporte paraolmpico no geral, mas tambm compromissado com sua modalidade especfica. A cada etapa do circuito das Loterias Caixa surgem novos atletas na natao e no atletismo. Tenho sugerido que o jud seja includo no prximo ano, pois um esporte que sempre traz medalhas para o Brasil, tanto em olimpadas como em paraolimpadas, constata Tenrio.

    O patrocnio trouxe a estabilidade necessria para se dedicar exclusivamente ao jud. Por outro lado, sabe que vida de atleta curta. Diante disso, comea a estender seus tentcu-los para outras reas. No momento, tenho alguns convites para atuar na poltica. Pro-vavelmente, assumirei um cargo de coordenador do paradesporto da cidade de Diadema, anuncia o atleta, que no descarta trabalhar tambm com transporte de cargas, ramo no qual seu irmo tem experincia.

    Mas que os adversrios deste tricampeo paraolmpico no se animem. Antnio Tenrio da Silva no pretende pendurar o quimono to cedo. E estar aguardando um por um em Pequim-2008.

    Gasp

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    Gasp

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    bre

    ga

    04

    A rotina de medalhas s refora a alegria por mais vitrias.

  • 05

    A seo No pdio desta edio traz os perfis do judoca Antnio Tenrio da Silva (pgs. 2 a 4), que tambm est na matria de capa, do mesatenista Luiz Algacir (pgs. 30 a 32) e do

    velocista Antnio Delfino (pgs. 43 a 45). Divirta-se!

    Turma da Mnica

    www.artshopping.com.br

  • 06

    Um dia, Mauricio de Sousa chegou em casa e comeou a prestar ateno nas filhas. Maringela, a primeira delas, brincava com Mnica, que tentava bater com seu coelho em Magali, uma devoradora de melancias. Inspirado ne-las, Mauricio foi dando vida Turma da Mnica. Nesse meio tempo, j havia criado outros personagens consa-grados dos quadrinhos brasileiros, como Bidu e Fran-jinha, Piteco, Chico Bento, Penadinho e Cebolinha. Pas-sados mais de 40 anos, o desenhista orgulha-se de ter formado vrias geraes. Atento para a representao completa do universo infantil na Turma da Mnica, investiu na criao de personagens com deficincia.

    Em 2004, o desenhista trouxe vida dois novos inte-grantes: Luca, cadeirante, e Dorinha, deficiente visual. Luca , inclusive, um amante de todos os esportes, prin-cipalmente o basquetebol. Mauricio escolheu o nome Dorinha em homenagem a Dorina Nowil, deficiente visual e criadora da Fundao Dorina Nowil, referncia brasileira na rea da deficincia. Luca, por sua vez, foi apelidado de Da Roda e Paralaminha, pois f do cantor Herbet Vianna e da banda Paralamas do Sucesso.

    Alm disso, em 2005, Mauricio lanou a coleo Conhea a Turma, que apresenta os personagens da Turma da Mnica em braille. A proposta da coleo revelar s crianas com deficincia visual o novo universo criado pelo desenhista.

    Mauricio de Sousa conta sobre oprazeroso desao da incluso de

    personagens com decincia na Turma da Mnica

    Por Patrcia Osandn

    Jos

    Car

    los

    Buld

    rini

    Laer

    te F

    erre

    ira

    O criador ao lado de uma das suas criaturas.

    Trabalho para Mauricio brincadeira. E vice-versa.

    06

  • 07

    Mauricio nasceu em Santa Isabel, uma pequena cidade do estado de So Paulo, em outubro de 1935. O talento para as artes vem de bero. Afinal, Antnio Mauricio, seu pai, era barbeiro e poeta. A me, Petronilha, poetisa. Mauricio tambm trabalhou em rdios de interior, onde en-saiou nmeros de canto e dana. Para ajudar no oramento domstico, desenhava cartazes e psteres. Chegou a trabalhar por cinco anos como reprter policial do jornal Folha da Manh. Mas seu destino estava mesmo marcado pelos quadrinhos. Passou um bom tempo batalhando para conquistar espao para suas tirinhas em jornais brasileiros. E, de-pois de muito esforo, teve seu talento reconhecido. Mauricio calcula ter vendido mais de 800 milhes de revistas no Brasil.

    Conra a entrevista exclusiva que a Brasil Paraolmpico fez com um dos maiores desenhistas brasileiros de todos os tempos.

    BP De onde veio a idia de criar Dorinha e Luca?MS Crianas com algum tipo de dificuldade fazem parte do nosso dia-a-dia. Hoje, freqentam as escolas e brincam quando podem nas ruas, nos campinhos, nos ptios dos prdios, nos rios, nas matas. Dependendo de suas dificuldades, aceitam desafios e se superam. Servem de exemplo para os que no tm limitaes. Essas crianas, que permearam minha

    infncia tambm, no estavam representadas na Turma da Mnica. Era uma falha. Uma distrao que me preocupava. Afinal, a Turma da Mnica composta de crianas representativas da multiplici-dade e da universalidade do mundo infantil.

    BP O que foi preciso, efetivamente, para inventaros personagens?MS Para se criar um personagem com algum tipo de deficincia, t-nhamos que estudar o mundo da pessoa com deficincia, seus hbi-tos, suas dificuldades, sua adaptao, seus sentimentos com relao s outras crianas. Tnhamos que mergulhar fundo, tambm, para nos despirmos de preconceitos. Mesmo inconscientes. E chegar a um consenso, eu e a equipe de roteiristas, quanto forma de apresent-los como personagens e no bojo de um roteiro, de uma histria com seriedade, respeito, humor e mensagem. Foram necessrias muitas reunies, debates, estudos e discusses. E assim foram nascendo a Dorinha e o Luca. A receptividade dos personagens tem sido acima da expectativa. Estamos estudando o lanamento de mais um per-sonagem com deficincia, uma menina com sndrome de Down. J tnhamos o Humberto, que surdo e no aprendeu a falar, intera-

    07

  • gindo h tempos com a turminha

    , mas que no usamos muito por fa

    lta de conheci-

    mento do mundo dos surdos. Isso

    algo que pretendemos desenvolv

    er tambm.

    BP Com base no fato de Luca ser um

    amante dos esportes, qual a

    sua opinio sobre a prtica esportiva

    , especialmente para crianas

    e adolescentes?MS Os esportes s

    o brincadeiras com regras, comp

    etitivas ou no, que ajudam e

    muito no desenvolvimento fsico

    e at mesmo mental das crianas

    . A ordem, a

    disciplina e a busca de superao s

    o indispensveis para a garotada

    .

    BP Quais os projetos futuros para

    Luca e Dorinha?MS Eles vo con

    tinuar interagindo com o resto

    da

    Turma, trazendo, quando possv

    el, algum tipo de

    mensagem, mesmo subliminar, so

    bre a necessidade

    da incluso e dos cuidados para co

    m a populao com

    algum tipo de deficincia.

    BP Como foi a experincia de ter dese

    nhado

    a capa da revista Brasil Paraolmpico

    antes do

    glorioso desempenho do Brasil nos Jo

    gos Paraolmpicos

    de Atenas? MS Quando eu vi

    a os jogos, no acreditava no que

    estava assistindo. Maravilhei-me

    com a per-

    formance tanto dos brasileiros qua

    nto dos outros atletas. Fiquei org

    ulhoso por ter colaborado

    com a revista antes da Paraolimpa

    da.

    BP Voc teve algum

    contato mais prximo com alguma p

    essoa com de-

    cincia?MS: Alm de visi

    tas que nossos roteiristas fizeram

    Associao de Assistncia Cri

    ana Defi-

    ciente (AACD), para papos com a

    crianada cadeirante, tivemos, nos

    estdios, conversas com os

    atletas paraolmpicos Silvio Luiz, i

    nstrutor de escalada, e Cristiano P

    acheco, que halterofilista.

    BP Qual a importnc

    ia de personalidades como voc ou at

    mesmo os

    dolos brasileiros que defenderam o p

    as em Atenas para as pessoas

    com de

    cincia e a sociedade em geral?

    MS Todos precisamos de dolos, valor

    es, modelos. Que podem ser nossos p

    ais,

    professores, pessoas que admiramo

    s. Quando realizamos algum traba

    lho

    ou ao que possa servir de exemplo

    , devemos ficar felizes. E repetir a d

    ose.

    Quando pessoas com algum tipo de

    deficincia quebram as barreiras d

    o im-

    possvel, melhor ainda. Mostraremo

    s possibilidades e caminhos de rea

    liza-

    o para uma infinidade de pessoas

    .

    BP O que falta para a

    s pessoas com decincia poderem

    exercer sua cidadania na sociedade bra

    sileira?

    MS Talvez uma maior conscientiza

    o sobre a necessidade de incluso so

    cial.

    Conscincia de que todos temos os m

    esmos direitos e que podemos lutar

    pela

    incluso, tanto no plano pessoal e f

    amiliar quanto na sociedade e jun

    to aos

    poderes constitudos.

    Colaborou Antoniolli

    Assessoria & Marketing

    08

    Capa da Brasil Paraolmpico de

    agosto de 2004.

  • Seleo retorna com 17 medalhas do Aberto Europeu

    At l e t i s m o b r a s il e i r o ganhao mun

    d o

    Uma dobradinha bem brasileira deu incio ao Aberto Eu-ropeu de Atletismo Paraolmpico, em Espoo, na Finlndia, entre os dias 17 e 28 de agosto. No primeiro dia de com-peties, o baiano Ozivan Bonfim e o brasiliense Moiss Vicente, ambos da classe T46 (para amputados ou com comprometimento dos membros superiores), repetiram a ttica de ajuda mtua que vinham adotando em outras competies e conquistaram ouro e prata para o Brasil nos 10 mil metros, respectivamente. Somos amigos den-tro e fora das pistas. Nosso nico adversrio mesmo o rel-gio, afirma Moiss com sabedoria. Apesar de saber que brigamos pela mesma medalha, tambm precisamos lembrar que somos companheiros, alm de brasileiros competindo jun-tos. S temos a ganhar com essa parceria, completa Ozivan.

    Por Patrcia OsandnFotos Malafaia Produes

    Amigos fora e dentro das pistas, Ozivan (amputado da mo esquerda) e Moiss sempre se ajudam nas competies. Resultado: ouro e prata para o Brasil.

    Acima, Roseane dos Santos em ao.

    09

  • Pedro Csar conquis-tou duas pratas, uma nos 200m e outra no revezamento 4 x 100m.

    O chefe da delegao no Aberto Europeu, Andrew Parsons, explica que a du-pla formada por Ozivan e Moiss fortalece o grupo brasileiro. Eles se ajudam na conquista de ttulos ao mesmo tempo em que o esporte paraolmpico cresce com isso, diz. O clima de amizade entre os inte-grantes da seleo brasileira de atletismo , alis, um dos pontos mais positivos apontados pelo coordenador tcnico da modalidade, Ciro Winckler. O nosso desempenho na Finlndia confirmou o crescimento e a profis-sionalizao do atletismo brasileiro nos ltimos anos, declara Ciro.

    A prova da sintonia da equipe brasileira foi a meda-lha de prata no revezamento 4x100m rasos para de-ficientes visuais, a segunda deste tipo conquistada em uma competio internacional a primeira foi no Pan-americano do Mxico, em 1999. Clayton Pacheco, Hilrio Moreira, Andr Garcia e Pedro Csar marcaram o tempo de 45s10, ficando atrs apenas do grupo portugus, que ficou com 44s74. Durante as competies, Clayton ganhou um novo apelido: homem de ferro. Afinal, alm do 4x100m, que correu por ltimo, competiu no salto em dis-tncia, salto triplo e pentatlo (que rene cinco pro-vas salto, lanamento de dardo e disco e 100m e 1500m rasos). Apesar de no ter ganho meda-lhas nas outras em que competi, a prata do revezamento premiou essa minha verdadeira maratona no Europeu. Foi uma coroao de todo o esforo com os treinamentos, comemora Clayton, que, apenas neste ano, bateu trs vezes o re-corde brasileiro no salto em distncia, um no triplo e outro no dardo este ltimo no Aberto Europeu.

    Os desafios para a seleo brasileira comearam bem antes da Finlndia. At setembro de 2005, fo-ram quatro etapas do Circuito Loterias Caixa Brasil Paraolmpico de Atletismo e Natao. A partir dos melhores ndices tcnicos da primeira fase da com-petio, realizada em Minas Gerais, em junho, fo-ram escolhidos os representantes no Aberto. Ape-sar de ser um ano ps-paraolmpico, est sendo bastante movimentado, o que positivo para a modalidade. Participar deste Circuito com calendrio fixo um diferencial para o esporte brasileiro, aponta Antnio Delfino, da classe T46, que conquistou um ouro nos 100m e uma prata nos 400m, prova na qual precisou enfrentar, alm de uma forte febre, o australiano Health Francis. O brasileiro marcou 49s40, o quinto melhor tempo de sua car-reira, e Health, 49s28. O bronze foi para Aleksandr Polishuk, do Azerbaijo. Nos Jogos Paraolmpicos de Atenas, tambm em um forte confronto, o ouro tinha sido de Delfino, com direito a um recorde mundial (48s46), e a prata do australiano (48s72).

    A delegao, composta por 29 integrantes, sendo 16 atletas, cinco atletas-guia, dois tcnicos e seis staffs, retornou com 17 meda-lhas: seis ouros, oito pratas e trs bronzes, deixando o Brasil em 10 lugar geral e em 3 das Amricas, atrs apenas de Estados Unidos e Canad. O Aberto reuniu cerca de 900 atletas de 47 pases de todo o mundo.

    O Aberto foi a competio mais importante de 2005 para o atletismo mundial. A principal expectativa dos atletas agora o Mundial da modalidade, em setembro de 2006, na Holanda. Alm disso, h ainda o Parapan-americano de 2007, no Rio de Janeiro, e os Jogos Paraolmpicos de Pequim, em 2008. Quando chegar o fim do ano, pretendo avaliar com meu tcnico, Raimundo Tadeu Martins, o meu desempenho, de forma que eu possa melhorar sempre. Quero chegar com tudo nesse Mundial, projeta Delfino.

  • O melhor dos melhoresUm brasileiro em especial chamou a ateno dos espectadores do Aberto Europeu de Atletismo Paraolmpico. Odair Ferreira dos Santos (baixa viso) conquistou dois ouros, nos 800m e 5.000m rasos, e uma prata nos 1.500m, tornando-se o principal destaque da equipe que representou o Brasil na competio. Neste bate-bola, Odair conta um pouco sobre o que viveu na Finlndia.

    BP Como voc avalia sua participao no Aberto?OF Tive um bom desempenho. Eu j tinha conhecimento que enfrentaria provas bastante acirradas, o que aconteceu de fato. A Finlndia serviu como mais uma preparao para os atletas brasileiros, especialmente para acompanharmos como anda o nvel dos concorrentes dos outros pases, que costuma ser muito forte. Acho que o segredo de qualquer bom esportista muito treinamento e dedicao.

    BP De que forma voc encara a atual fase do atletis-mo brasileiro?OF Vejo que as coisas melhoraram bastante depois do bom desempenho do Brasil nos Jogos Paraolmpicos de Atenas. O atletismo brasileiro cresceu bastante nos ltimos anos. Tenho a certeza de que poderemos esperar vri-

    os resultados positivos no Mundial da Holanda, em 2006.

    BP Qual a importncia do Circuito Loterias Caixa Brasil Paraolmpico na preparao dos paraolmpicos?

    OF Os atletas passaram a ter um calendrio fixo de competies com o Circuito. Alm disso, os melhores tambm so premiados pelo seu desempenho. Isso positivo, uma vez que agora os atletas brasileiros podem treinar com uma perspectiva maior.

    Joaquim Cruz prestigia equipe brasileiraUma das presenas mais comentadas pela delegao nacional foi a de Joaquim Cruz, primeiro e nico atleta olmpico do pas at hoje a ganhar medalha de ouro em prova de pista (Los Angeles, em 1984, nos 800m). Joaquim est iniciando um trabalho de treinamento da equipe paraolmpica dos Estados Unidos. Neste depoimento exclusivo, o corredor conta como tem sido o trabalho com o esporte para pessoas com deficincia.

    A minha experincia na Finlndia com os atletas paraolmpicos foi sensacional. O encontro com os brasileiros foi superinteressante - em toda a minha carreira esportiva, nunca havia visto uma comunidade de atletas e treinadores to unidos e agradveis. Para mim, foi uma experin-cia nova ver tantos brasileiros conquistando medalhas numa nica competio de atletismo. Tive tambm os meus momentos emotivos. No final da competio, cheguei concluso de que os desafios maiores esto nas mentes das pessoas e nem tanto nos fsicos dos atletas.

    Olhos da conquistaNas pistas, eles so muito mais do que os olhos do atleta. Companheiros, confidentes e apoiadores, os atletas-guia esto sempre a postos para guiar os corre-dores com deficincia visual para suas vitrias. O segredo de tudo o bom entrosamento e a convivncia diria. uma questo de conhecer quem estou guiando seus sonhos, alegrias, tristezas e os pontos fortes e fracos, acredita Cssio Henrique Da-mio, que, alm de ser guia, tambm treinador do mineiro Carlos Bart. Apoio que Bart agradeceu com uma prata nos 1.500m rasos.

    T ive um bom resultado para a minha pri-meira competio internacional. No tenho nem como descrever o esprito de represen-tar o Brasil em outro pas. Para conseguir-mos bons resultados preciso treinar forte. E claro que ajuda muito contar com o apoio de um treinador e guia como o Cs-sio, diz Bart, de 23 anos. Quem j sabe bem os segredos de um bom atleta-guia Gerson Knittel, que est no movimento paraolmpico desde 1987. A relao entre ambos deve ser dotada de muita confiana. Alm disso, o guia pre-cisa trabalhar, sempre que possvel, outros aspectos, como a auto-estima do corredor, alm do companheirismo, pondera. Em todos esses anos de trabalho, Gerson j guiou diversos atletas do movimento paraolmpico. Atualmente, conduz Maria Jos Ferreira Alves, a Zez, para os lu-gares mais altos do pdio. O Gerson j sabe quando no estou bem e at mesmo nas provas que no terei um bom resultado. A confiana fundamen-tal, diz Zez, que foi eleita a representante da delegao na abertura da competio, quando desfilou ao lado de Antnio Delfino, o porta-bandeira do Brasil. Somente neste Europeu, foram duas medalhas conquistadas por Zez, prata nos 100m e bronze nos 400m.

    11

    Odair levou dois ouros e uma prata

    da competio.

    Outro atleta-guia experiente, Jorge Luiz Silva, o Chocolate, conduz

    Terezinha Guilhermino

    Div

    ulga

    o

  • B om comeo

    12

    Medalhistas do Europeudria Santos (Ouro nos 100m e nos 200m);Andr Garcia (Bronze nos 100m);Antnio Delfino (Ouro nos 100m e Prata nos 400m);Carlos Bart (Prata nos 1.500m);Gilson dos Anjos (Bronze nos 1.500m);Maria Jos Ferreira Alves (Prata nos 100m eBronze nos 400m);Moiss Vicente Neto (Prata nos 5.000m e 10.000m);Pedro Csar Moraes (Prata nos 200m);Odair Ferreira (Ouro nos 800m e 5.000m e Prata nos 1.500m);Ozivan Bonfim (Ouro nos 10.000m).

    Equipe do revezamento 4x100m (prata)Andr Garcia, Clayton Pacheco, Hilrio Moreira e Pedro Csar Moraes.

    A velocista dria Santos, maior medalhista brasileira de Paraolimpadas quatro ouros e oito pratas, comeou sua participao no Aberto Europeu com o p direito. Pou-cos dias antes do incio da competio, dria j estava na Finlndia competindo no Mundial de Atletismo da IAAF, quando conquistou um ouro nos 200m. Alm de ter ganho o ttulo de tricampe do Mundial, dria, que cega, foi a nica brasileira, entre atletas com e sem deficin-cia, a subir no pdio. No Europeu, foram mais dois ouros nas duas provas em que correu, os 100m e os 200m. Meus objetivos eram esses mesmos, ser tricampe e conquistar os ouros no Europeu. Fui para ga-nhar e consegui. Meus focos agora so o Mun-dial, o Parapan e a Paraolimpada, enumera.

    dria com adeterminao de sempre.

    Odair com mais um ouro no peito.

    Rosinha no trouxe medalhas.

    Alm da prata nos 400m, Delfino ganhou o ouro nos 100m.

  • B om comeo

    Por Leandro FerrazFoto Paulo Miranda

    Equipe brasileira retorna da Copa Amrica de Bocha Paraolmpica com duas medalhas e muita experincia

    Praticada por paralisados cere-brais e pessoas com outros tipos de deficincia, desde que utilizem ca-deira de rodas, a bocha paraolmpi-ca dividida em quatro categorias BC1 a BC4, sendo que, nesta l-tima, o comprometimento motor menor. O Brasil conquistou a pra-ta na competio por equipes, com a participao de Rafael Gregrio, Eduardo Seiboth, Vladimir Morei-ra, Maciel Santos e Eder Noguei-ra. J na disputa de duplas BC4, Eliseu dos Santos e Jos Roberto da Silva ficaram com o bronze.

    Segundo o tcnico da delegao brasileira, Paulo Miranda, a par-ticipao foi bastante positiva, pois, alm de pontuar para o ran-king da Associao Internacional de Esportes para Paralisados Ce-rebrais (CP-ISRA), o grupo pde adquirir vivncia competitiva.

    Somente o Maciel, o Vladimir e a Cristiane [Nitek, que no ganhou medalha] tinham participaes internacionais anteriores. O resultado foi importante para nossa pre-tenso de chegar Paraolim-pada de Pequim-2008,afirma Miranda.

    Esporte de origem distante historiadores remontam sua prtica ao Egito e Gr-cia antiga, por meio de objetos de forma esfrica, como pedras redondas a bocha disseminou-se rapidamente entre os latinos, sendo hoje bastante popular em pases como Itlia e Espanha.

    Na Amrica do Sul, chegou primeiro na Argentina, trazida por imigrantes italianos. Tornou-se oficial como esporte na dcada de 1930, mas apenas em 1944 o continen-te criou a Confederao Sul-americana de Bochas, qual o Brasil filiou-se em 1950.

    A bocha estreou no programa paraolmpico oficial nos Jogos de Nova Iorque-1984. Antes, porm, na Paraolimpada de Toronto-1976 (Canad), o Brasil ganharia sua primeira medalha paraolmpica: prata no lawn bowls, tipo de bocha sobre a grama.

    BC1 IndividualBC2 IndividualBC3 IndividualBC4 Individual

    Duplas BC3Duplas BC4

    Equipes

    ArgentinaCanad

    ArgentinaChile

    CanadCanad

    Argentina

    CATEGORIAQuadro de medalhas da Copa Amrica de Bocha Paraolmpica

    OURO PRATA BRONZEArgentinaArgentinaCanad

    ArgentinaEUA

    Argentina

    BRASIL

    CanadCanadCanadCanad

    Argentina

    BRASILCanad

    Com um grupo novato em com-peties internacionais, o Comit Paraolmpico Brasileiro levou 11 atletas para Mar del Plata, Ar-gentina, para disputar a Copa Amrica de Bocha, de 22 a 29 de setembro. Tambm participaram da competio EUA, Canad, Ar-gentina e Chile.

    Equipe brasileira de bocha trouxe prata e bronze da Argentina.

  • 14 Um balano geral aps um ano dos jogos paraolmpicos de Atenas. Esse foi o tema do programa Momento Olmpico, do canal Sportv, que no dia 18 de agosto recebeu os atletas Clodoaldo Silva, Antnio Tenrio e Andr Brasil. Vale ressal-tar que Andr vinha, at ento, competindo em provas nacio-nais na categoria S10 (ltimo nvel, que concentra atletas com menor grau de comprometimento fsico-motor). Entretanto, para ser considerado atleta paraolmpico, precisava passar por uma classificao internacional, o que ocorreu no dia 20 de setembro, com resultado negativo para Andr. Porm, o CPB levar o atleta para nova classificao em dezembro deste ano, no Aberto de Natao dos EUA.

    O programa do Sportv, apresentado pelo jornalista Marcelo Barreto, contou com a participao do reprter Regis Rsing, que esteve na Grcia no ano passado para cobrir a Paraolim-pada de Atenas.

    Entre os assuntos abordados, o reconhecimento da atuao sem precedentes de uma delegao brasileira em paraolim-padas e a indita cobertura jornalstica que permitiu ao Brasil conhecer os seus novos heris. Os dois jornalistas revelaram, ainda, que os jogos paraolmpicos de 2004 foram o evento mais marcante de suas carreiras profissionais e uma experincia pessoal nica. Foi um momento divisor de guas no Brasil. Essa ltima edio dos jogos paraolmpicos fez com que o pas verdadeiramente conhecesse o paradesporto. Foi um marco em termos de cobertura de mdia e, para mim, o evento mais significativo da minha carreira, conta Marcelo Barreto.

    Programa do Sportv analisa legado da participao brasileira em Atenas

    O jornalista Marcelo Barreto, apresentador do programa, recebe o reprter Regis Rsing e os atletas Clodoaldo Silva, Antnio Tenrio e Andr Brasil.

    Clodoaldo Silva, o tubaro paraolmpico de Atenas, com seis ouros e uma prata em oito provas disputadas, falou de sua situao atual. O nadador, que h um ano, antes das competies, tinha que pegar trs nibus para treinar, hoje, com o patrocnio das Loterias Caixa, vive em boas condies. Minha vida mudou muito. Tudo o que eu tenho devo ao esporte. Faltava visibilidade, o que houve em Atenas. O paradesporto agora est muito profissional. O Circuito Loterias Caixa Brasil Paraolmpico, que comeou este ano, veio se somar a tudo isso, atesta Clodoaldo.

    Nessa avaliao de ano ps-Atenas, o judoca Antonio Tenrio revelou seu entusiasmo com a presena da mdia na competio. Em 96, nos jogos de Atlanta, voltei frustrado porque no tinha mdia. Em 2004, lavei a alma e voltei satisfeito, comemora Tenrio. O judoca, tricampeo paraolmpico, lembrou ainda da importncia dos Jogos Pan-americanos do Rio de 2007. Atualmente, as maiores barreiras que enfrentamos so as arquitetnicas. O Pan de 2007 vai ajudar muito porque o Rio de Janeiro ter que se adequar e as outras cidades podero tom-lo como exemplo. E vamos mostrar tambm que po-demos realizar olimpadas e paraolimpadas aqui.

    Por Mariana GenescFoto Julia Censi

    focoMovimento paraolmpico

    em

  • PORT

    AS A

    BERT

    AS

    Fortaleza de

    Sob forte sol e ventos caractersticos da metrpole litornea com cerca de 2 milhes de habitantes, atletas de todo o pas empenharam-se nas disputas em busca de novas marcas e recordes, em uma competio que j gura como a mais importante do calendrio paraolmpico nacional.

    Como estratgia para promover o circuito e, ao mesmo tempo, apre-sentar o movimento paraolmpico ao pblico, foram realizadas algumas atividades com a presena de atletas, como seminrio na Universi-

    Te r ra d o m a ra c a t u e d e v i o l e i ro s , c a n t a d o r e s e e m b o l a d o r e s , ac i d a d e d e Fo r t a l e z a / C E r e c e b e u , n o i n c i o d e o u t u b r o , a q u a r t a e t a p a d oC i rc u i t o L o t e r i a s C a i x a B r a s i l Pa r a o l m p i c o d e A t l e t i s m o e N a t a o .

    dade de Fortaleza, visita ao projeto Vilas Olmpicas, da Secretaria de Esporte e Juventude do Cear, demonstrao do esporte no shopping Benca e jantar com empresrios de casas lotricas (ver nos quadros).

    Na piscina do Clube Nutico, alm dos j esperados ouros em todas as provas disputadas por atletas como Clodoaldo Silva, Adriano Lima e Fa-biana Sugimori, dois fatos chamaram a ateno. O primeiro a paulista

    por Leandro Ferrazfotos Mike Ronchi e Rita Camacho

    Mike

    Ron

    chi /

    Rita

    Cam

    acho

    Na montagem, Fabiana Sugimori invade as praias de Fortaleza.

  • Atletismo reserva surpresaAs provas de atletismo disputadas na Unifor coroaram, mais uma vez, Odair Ferreira dos Santos (baixa viso), que garantiu o ouro nos 800m e 1.500m rasos. Uma importante realizao do corredor este ano foi o oitavo lugar nos 1.500m do Trofu Brasil de Atletismo, em junho colocao nada modesta, j que foi o nico atleta com deficincia a correr a prova. Apesar do calor e do vento aqui do Cear, consegui fazer bons tempos. Estou melhorando cada vez mais, afirma Odair.Uma dobradinha que tem dado certo tanto no circuito como em outras competies a de Ozivan Bonfim e Moiss Vicente, que levaram ouro e prata nos 5.000m rasos, em Fortaleza. Os atletas repetiram a tcnica utilizada durante o Aberto Europeu de Atletismo Paraolmpico, na Finlndia, em agosto deste ano, quando se ajudaram em todo o percurso da prova dos 10.000m para conseguir ultrapassar os concorrentes. Foi uma vitria em conjunto. Estamos usando esta estratgia em todas as competies e tem dado certo. bom para ns e, principalmente, para o Brasil quando estamos competindo internacionalmente, explica Ozivan, que ganhou outro ouro durante o circuito, nos 10.000m.

    Regiane Nunes da Silva, 20 anos, da categoria S13 (baixa viso), que bateu o recorde brasileiro nos 100m livre, com o tempo de 1min29s74, e nos 400m livre, com 7min12s73. Foi uma briga pessoal. J tinha batido o recorde em treino, mas sempre co muito ansiosa nas com-peties. Hoje, entrei determinada para ganhar, vibra a nadadora aps quebrar a marca dos 100m no primeiro dia de competies. Estreante no circuito, Regiane tem glaucoma congnito e nada h cinco anos.

    Outro destaque foi a participao dos nadadores argentinos Betiana Ba-sualdo, da classe S2, e Sebastian Ramirez, da S4, a mesma de Clodoaldo Silva. Ao todo, conquistaram sete medalhas, sendo quatro ouros para Betiana (50m, 100m e 200m livre e 50m costas) e um ouro e duas pra-tas para Ramirez (50m costas, 100m peito e 150m medley, respectiva-mente). Atletas de Mar del Plata, eles estavam acompanhados da tcnica argentina Maria Emilia di Scala e elogiaram a organizao do circuito. Na Argentina, no temos competies nacionais com tantos atletas e to bem organizadas como esta. Estamos muito felizes em competir aqui e espera-mos poder voltar na etapa de Porto Alegre, diz Betiana.

    Danilo Glasser mostra

    garra

    e Ednia Garcia, leve

    za.

    16

    A surpresa no atletismo ficou por conta da derrota da maior medalhista paraolmpica brasileira, dria Santos, para a tambm mineira Terezinha Guilhermino, nos 100m rasos. Terezinha, que competia na categoria T12 (percepo de vultos), foi reclas-sificada recentemente para T11 (cega). Fico feliz e honrada de ter ultrapassado a melhor velocista cega do mundo, a dria, comemora Terezinha, que levaria o ouro tambm nos 200m, desta vez sem a participao de dria, que no correu esta prova.

    Terezinha ( direita) vence dria nos 100m rasos.

  • 17

    Eles so vencedores s por chegar em Fortaleza. Anal, foram quatro dias de estrada e desgaste. Mesmo assim, os atletas do Rondnia Clube Paraolmpico (RCP) conquistaram nove medalhas no circuito: duas de ouro, quatro de prata e trs de bronze. Nada de novo para o diretor-tcnico do RCP, Silvio Roberto Corsino do Carmo. Participamos de todas as etapas do circuito at agora: Belo Horizonte, Recife, Rio e Fortaleza. Apesar da falta de recursos, inclusive de infra-estrutura para treinamento, conseguimos medalhas nas quatro cidades, orgulha-se Silvio, que diz ter nanciado do prprio bolso parte das pas-sagens de nibus da delegao.

    Equipe de Rondnia enfrenta quatro dias de nibus para competir

    Com este con-junto de resulta-

    dos, buscamos apoio para os

    atletas viajarem de avio, arma.

    17

    Nos quatro de dias de volta para Rondnia, a bagagem dos atletas ficou mais pesada: foram nove medalhas ao todo.

  • ESTUDANTES DA UNIFOR LOTAM AUDITRIO DA INSTITUIO PARA CONHECER O MOVIMENTO PARAOLMPICO

    Na quarta-feira, 28/9, antes do fim de semana de competies, integrantes do Comit Paraolmpico Brasileiro, entre coordenadores, tcnicos e atletas, estiveram na Uni-versidade de Fortaleza para apresentar o seminrio Brasil Paraolmpico: de Atenas a Pequim. Os cerca de 200 estudantes presentes puderam aprender um pouco sobre a histria e a organizao do esporte de alto rendimento para atletas com deficincia.

    O judoca Antnio Tenrio e o nadador Lus Silva, ambos medalhistas em paraolimpa-das e patrocinados pelas Loterias Caixa, compartilharam suas experincias e respon-deram a perguntas dos alunos. Segundo o coordenador do curso de Educao Fsica da Unifor, professor Amrico Ximenez, o seminrio serviu como oportuna comple-mentao acadmica, j que na grade curricular da universidade existem disciplinas voltadas para a prtica de esporte de pessoas com deficincia. Hoje, no estado do Cear, 17% da populao possui alguma deficincia e temos que ter profis-sionais qualificados para atender a essa demanda, explica Ximenez.

    Na noite de quinta-feira, 29/9, as Loterias Caixa promoveram um jantar com empresrios de ca-sas lotricas de Fortaleza, atletas, o presidente do Comit Paraolmpico Brasileiro, Vital Severino Neto, e autoridades locais, como o secretrio de Esportes e Juventude do Cear, Lcio Bonfim, e o deputado federal Andr Figueiredo.

    Os convidados foram recebidos em um coquetel com apresentao de danas tpicas de vrios es-tados brasileiros. Durante o jantar, a atrao foi o msico cearense David Valente, de 28 anos, que toca teclado com os ps. O msico, que tem artrogripose, doena congnita que atrofia os msculos e membros superiores, emocionou os pre-sentes, em especial a pernambucana Roseane Ferreira dos Santos, a Rosinha, que chegou a subir no palco e cantar com David.

    MSICA E DANA EM JANTAR PARA EXALTAR O ESPORTE PARAOLMPICO

    AGUARDANDO FOTO

    18

    Diretor de atividades eportivas da Unifor,Prof. Carlos Augusto de Souza inicia seminrio.

    Rosinha solta a voz com o msico David Valente.

  • CRIANAS CEARENSES CONHECEM DE PERTO ESPORTE PARAOLMPICO

    Cerca de 200 crianas e adolescentes de baixa renda do projeto Vilas Olmpicas, da Secretaria de Esporte e Juventude do Cear, se divertiram com atletas paraolmpicos na manh de sexta-feira, 30/9. O judoca ini-ciante Lucas de Oliveira, 12 anos, estava impressionado:

    19

    dria Santos, Andr Garcia, Antnio Delfino, Antnio Tenrio, Adriano Lima, Clodoaldo Silva, Fabiana Sugimori, Lus Silva, Roseane dos Santos e Suely Guimares. A nata do es-porte paraolmpico brasileiro distribuiu aut-grafos e conversou com o pblico cearense na tarde da sexta-feira, no shopping Benfica.

    Tambm presente atividade, o atleta e as-sessor da secretaria de esporte e juventude, Humberto Henriques, fez demonstraes de basquetebol em cadeira de rodas.

    SHOPPING EM FORTALEZARECEBE ATLETAS

    A competio em Fortaleza, quarta etapa do CircuitoLoterias Caixa Brasil Paraolmpico de Atletismo e Natao, reuniu cerca de 400 atletas. O CPB agradece a parceria e o empenho do secretrio de esporte e juventude do governo do Cear, Lcio Bonfim, e de seu as-sessor, Humberto Henriques. Da mesma forma, exalta o comprometimento do diretor de natao do Clube Nutico, Rui do Cear Filho, do diretor de atividades esportivas da UNIFOR, Carlos Augusto de Souza (Prof. Carlo), e do vice-reitor de extenso e comuni-dade universitria da UNIFOR, Prof. Randal Martins Pompeu. Cabe ainda parabenizar a atuao do deputado federal pelo Cear e vice-presidente da comisso de esporte e turismo da Cmara, Andr Figueiredo, na concretizao do evento.As prximas etapas sero em Porto Alegre (19 e 20 de novembro) e So Paulo (17 e 18 de dezembro). Colaboraram Patrcia Osandn e Luciana Pereira.

    Com vendas nos olhos, as crianas brincaram de futebol de cegos e receberam o carinho dos atletas.

    Se j difcil lutar enxergando, imagina no podendo ver nada!, espan-ta-se referindo-se ao tricampeo Antnio Tenrio, que cego.

    Arremessar a bola de uma ca-deira de rodas:

    o pblico passa pela experincia dos paraolmpicos, que compareceram em peso ao evento.

  • De um lado, dribles, fintas, manobras arrojadas, contato fsico extremo. De outro, passos coreografados, cumpli-cidade nos movimentos orquestrados, criatividade. Em comum, o ritmo intenso de treinamentos e competies e a liberdade para arriscar improvisos. Basicamente, esta a rotina do paraibano Valdemir Tavares, 22 anos, que divide seu tempo entre duas paixes: o basquete em cadeira de rodas e a dana.

    Paralisado dos membros inferiores desde os dois anos de idade, devido poliomielite, Valdemir locomoveu-se pelo cho at os 12 anos, pois seus pais no tinham dinheiro para comprar uma cadeira de rodas. Porm, o que faltava no campo financeiro transbordava na afetuosidade. Meus pais sempre se esforaram muito para eu ter uma boa educao. Todos os dias, minha me me levava nos braos at a escola. Na volta para casa, era a mesma coisa, comenta emocionado.

    A relao precoce com o esporte foi importante motivo de socializao. Participava de todas as brincadeiras com as outras crianas. Sempre fui bem aceito, declara o atleta. Tamanha exposio valeu a pena. Em uma destas diverses com amigos, quando j contava 16 anos, Valdemir foi abordado pelo motorista da equipe de basquete em cadeira de rodas da Fundao Centro Integrado de Apoio ao Portador de Deficincia (Funad), entidade vinculada ao governo do Estado da Paraba. Aceitou sem hesitar o convite para participar do grupo, onde est at hoje.

    Valdemir abraa desafio na dana e acumula ttulos nacionaisCerca de dois anos aps ter entrado para a equipe da Funad, ele e seus companheiros receberam a visita da danarina Luciene Rodrigues. Ela trazia a proposta de desenvolver um trabalho esportivo com dana. A re-cepo ao projeto no foi animadora. Valdemir foi o nico que teve ousadia e coragem de querer aprender algo novo, afirma Luciene. Contudo, no incio, ele teve que agentar muitas brincadeiras, algumas revestidas de preconceito. J conquistei esse espao e acredito que mais da metade do meu time esteja danando, diverte-se Valdemir.

    Baile de Atleta de basquete em cadeira de rodas, Valdemir Tavares quebra preconceitos e aventura-se na dana

    Por Leandro FerrazFotos TV Globo/Renato Rocha Miranda

    Versatilidade

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  • 21

    Atleta de basquete em cadeira de rodas, Valdemir Tavares quebra preconceitos e aventura-se na dana

    Versatilidade

    Valdemir foi o nico que teve ousadia e coragem de querer aprender algo novo

    At agora, est dando para conciliar a dana com o basquete. Toro para que nunca acontea choque de datas, se no ficarei em maus lenis

    lbum de famlia: os atores da novela, Totia Meirelles e Marcos Frota, a diretora Teresa Lampreia, a dupla Valdemir Tavares e Luciene Rodrigues e a professora de dana em cadeira de rodas, Maria Antonieta.

    A tambm paraibana Luciene, 49 anos, engenheira qumica de for-mao, mas dedica-se dana h 30 anos, sendo 14 reabilitao. Descobriu a dana competitiva em cadeira de rodas em 2001, atravs de um projeto da Universidade de Campinas. Entusiasmou-se tanto com o trabalho que, logo em seguida, ajudou a fundar a Confederao Brasileira de Dana em Cadeira de Rodas, da qual vice-presidente, ao lado da presidente Eliana Lcia Ferreira, criadora do projeto da Unicamp.

    O fato que a dupla Valdemir e Luciene se afinou e, em trs campeonatos nacionais de dana, foi vice em 2002 e bicampe em 2003 e 2004. Tnhamos apenas seis meses de treinamento em 2002, completa Luciene. O prximo confronto nacional ser em Juiz de Fora/RJ, de 21 a 26 de novembro de 2005. Quanto ao campeonato mundial de dana em cadeira de rodas, realizado de 23 a 26 de setembro, na Polnia, ainda no foi dessa vez que puderam participar. Apesar de classificados para representar o Brasil na competio, no con-seguiram verba para custear passagens e hospedagem.

    Sucesso nas pistas leva par de danarinos a atuar na novela Amrica, da Rede GloboAtleta da seleo brasileira sub-23 de basquete em cadeira de rodas, Valdemir participou do campeonato nacional da modalidade, em setem-bro, pela seleo do Nordeste. Perdeu a final para So Paulo por 68 x 63, em uma disputa acirrada. Coisas do esporte.

    J no campo da arte, a dupla debutou em horrio nobre da Rede Globo. O convite partiu da prpria autora da novela Amrica, Gloria Peres, logo aps assistir, encantada, apresentao de ambos na mostra coreogrfica de dana de salo do Rio de Janeiro, na Estudantina. A carreira est de vento em popa. At agora, est dando para conciliar a dana com o basquete. Toro para que nunca acontea choque de datas, se no ficarei em maus lenis, brinca Valdemir, deixando escapar um ar de preocupao.

    Luciene Rodrigues

    Valdemir Tavares

  • Empregar pessoas com deficincia e produ-zir cadeiras de rodas para suprir a demanda brasileira. Esses so os grandes objetivos da Forte e Leve, fbrica de cadeiras de ro-das instalada no Distrito Federal, que visa produo de cadeiras esportivas e de uso dirio. O projeto foi idealizado pela ONG ICP Cultural, que desde 1999 trabalha em de-fesa da pessoa com deficincia. A verba de instalao veio de financiamento do BNDES.

    A fbrica tem dois atrativos sobre os concor-rentes privados: o preo e a confeco realiza-da por pessoas que conhecem as dificuldades enfrentadas. Eu ando de cadeira de rodas desde os 10 anos. Quando olho para uma pes-soa com deficincia, sei exatamente o que ela precisa para ficar confortvel no equipa-mento, conta Ariosvaldo Silva, o Parr,

    Linha deMontagem

    atleta paraolmpico do atletismo, que tambm compe oquadro de funcionrios da fbrica.

    A melhor cadeira produzida, toda de alumnio, custa aproxi-madamente R$ 800 em valores de hoje, metade do que cos-tuma ser cobrado por outros fabricantes brasileiros. Ao todo, sete funcionrios, sendo cinco deficientes, trabalham com carteira assinada nas atividades que resultam em cerca de 150 unidades por ms.

    Conforme dados do ICP Cultural, somente em Braslia 700 pessoas esto sem se locomover, presas em casa, por no possurem uma cadeira de rodas. A fbrica, que funciona desde 9 de junho, surgiu justamente para sanar esse pro-blema. Em caso de comprovao de comprador carente, os preos da compra e da manuteno podem ser negociados.

    Projeto inovador de Brasliaquer facilitar acesso a cadeirasde rodas esportivas e tradicionais.

    Por Marcelo WestphalemFotos Marcelo Westphalem

    22

    Diretor-presidente da Ong ICP Cultural, Sueide Miranda.

  • A produo em larga escala ainda esbarra na ausn-cia de algumas mquinas. A instituio est pleite-ando junto ao BNDES a compra de trs equipamen-tos novos, que agilizaro a construo dos produtos. Interessados em adquirir as cadeiras de rodas, que podem ser feitas sob medida, devem ligar para (61) 3234 0016.

    Atualmente, o ICP Cultural responsvel pela efetivao em torno de 3 mil empregos de pessoas com deficincia em empresas do DF. Alm de ser o melhor processo de incluso social, a conquista do emprego possibilita o resgate da auto-estima e da cidadania, explica Sueide Miranda, diretor-presidente da organizao que, em conjunto com o projeto da fbrica, atua em diversos outros programas de apoio popu-lao.

    Segundo ele, a fbrica de cadeiras de rodas tambm tem como foco modelos esportivos. Hoje, temos nove esportes prati-cados em cadeiras de rodas, mas o acesso a elas ainda est dificultado pelos altos preos praticados pelos fabricantes, afirma Miranda. Uma cadeira de atletismo importada, por exemplo, custa cerca de US$ 6,5 mil.

    As dependncias da fbrica so confortveis e a equipe tra-balha unida. O local todo construdo para receber traba-lhadores com qualquer tipo de deficincia, explica Onildo Miranda, gerente. Ele busca fechar alguns convnios para ampliar a produo, e, em breve, selecionar novos fun-cionrios. O Ministrio do Esporte est entre os cotados para uma parceria.

    Os funcionrios da fbrica trabalham duro paraatender demanda.

  • Alan

    San

    tos

    Alan

    San

    tos

  • SOBRENOME DE MAIOR INCIDNCIA NO BRASIL, OS

    SILVA TOMAM DE ASSALTO O MOVIMENTO PARAOLMPICO

    E MOSTRAM A FORA INCLUSIVA DO ESPORTE PARA

    PESSOAS COM DEFICINCIA

    Eles esto entranhados na linhagem do povo brasileiro. De origem ainda controversa (

    ver quadro), porm notadamente

    humilde, o fato que as inmeras famlias Silva espalhadas pelo pas ganham desta

    que em vrios campos da socie-

    dade, chegando ao pice de eleger no ltimo pleito um presidente da Repblica, Lus I

    ncio Lula da Silva, oriundo das

    classes mais baixas, como manda o figurino dos Silva.

    No esporte, no diferente. Ayrton Senna da Silva, tricampeo de Frmula 1 em 19

    88, 90 e 91; Lenidas da Silva, o

    diamante negro, inventor da bicicleta no futebol; e Ademar Ferreira da Silva, bicampe

    o de salto triplo nas Olimpa-

    das de 1952 (Finlndia) e 1956 (Austrlia), so apenas alguns exemplos de um rico mo

    saico de coragem, persistncia

    e fora, qualidades ntimas grande massa annima e trabalhadora que fundamenta

    a identidade brasileira e ecoa

    o nome do pas aos quatro cantos do mundo.

    Prtica ainda recente e com amplas possibilidades de expanso, o esporte par

    aolmpico tambm colhe os louros da abun-

    dncia de Silvas nas modalidades existentes no Brasil. Entre eles, o mais not

    vel Clodoaldo Silva. Apelidado de tubaro

    paraolmpico das guas, encantou o mundo com seis medalhas de ouro e uma de

    prata em oito provas de natao disputadas

    na Paraolimpada de Atenas-2004. importante que outros atletas tenham reco

    nhecimento da mdia, comenta, solidrio,

    Clodoaldo. O esporte paraolmpico no vive s de um ou dois atletas. preciso

    garantir uma visibilidade coletiva, com mais

    dolos, a exemplo do esporte olmpico, ensina, com a modstia natural de um

    autntico Silva.

    Superao, igualmente, a marca registrada de Clodoaldo Silva, potiguar que c

    onhece de perto muitos percalos da vida.

    Hoje, por toda trajetria de sucesso no esporte, posso dar uma condio melh

    or para minha famlia, agradece Clodoaldo,

    que tem paralisia cerebral em decorrncia da falta de oxignio no parto.

    Mas o impulso de ajudar o prximo no se limita apenas aos parentes. Elaboro

    u um projeto, ainda em fase de captao

    de patrocinadores, chamado Mergulho para o futuro. O intuito levar crian

    as de comunidades carentes, com e sem

    decincias, a praticarem natao. Tero acesso tambm a aulas de informtica

    e cursos prossionalizantes. Alm disso, o

    nadador voluntrio assduo em diversos projetos sociais no Rio Grande do Nort

    e, onde visita escolas e outras instituies

    para passar um pouco de sua experincia de vida. Atravs do meu exemplo, ten

    to mostrar que tudo

    possvel. Basta querer, acreditar, buscar as oportunidades, enumera Clodoaldo

    .

    ClodoaldoO esporte paraolmpico no vive

    s de um ou dois

    atletas. preciso garantir uma visibilidade coletiva,

    com mais dolos, a exemplo do esporte olmpico

    25

  • Joao

    FUTEBOL DE CEGOS CONQUISTA PRIMEIRO OURO PARA MODALIDADE COLETIVA A des-peito do excelente resultado na Grcia, ouro contra os arquirrivais argentinos, a equipe de futebol de cinco (para cegos) ressente a falta de patrocina-dores. Quem lamenta Joo Batista da Silva, camisa 9 e artilheiro da Paraolimpada de Atenas, em um discurso bastante anado com o de Clodoaldo. A triste realidade que no temos apoio externo. As empresas s querem investir em esportes individuais. J os coletivos, como o futebol a grande paixo na-cional , cam de fora, joga duro.

    Silva de pai e me, o craque da seleo cou cego aos 8 anos devido a um glaucoma. Foi descoberto para o futebol aos 15, em uma competio na escola. A gente jogava com a bola coberta por uma sacola plstica para fazer barulho, lembra. Desesperanoso, Joo diz considerar-se apenas mais um Silva, um cidado co-mum, que paga impostos e mensalo. Mas, logo a seguir, recupera o brio e se contradiz ao armar, cheio de orgulho, que Joo Silva conhecido e temido no mun-do do futebol paraolmpico.

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    bre

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  • Joao

    DETERMINAO DE UM SILVA MANTM REGULARIDADE DE VITRIAS NO JUDTricampeo paraolmpico de jud (Atlanta-1996, Sid-ney-2000 e Atenas-2004), Antnio Tenrio da Silva mantm a hegemonia em sua categoria por tan-tos anos graas constante garra e dedicao aos treinamentos. O sobrenome Silva tambm veio dos dois lados, materno e paterno. J o Tenrio, acre-dita ter herdado de uma ligao de sua famlia com a do lendrio deputado Tenrio Cavalcanti, poltico famoso por andar sempre acompanhado de sua el Lurdinha, uma metralhadora, e imortalizado no lme O homem da capa preta, protagonizado por Jos Wilker. Meus pais sempre contavam essa histria. Eu nunca pesquisei nossa rvore genealgica para conrmar, disfara Antnio.

    Historiadores e genealogistas divergem sobre as possveis origens do sobrenome Silva. Talvez, todas as verses te-nham um pouco de fundamento, o que conrmaria a dis-seminao por meio de diversas razes distintas.

    No Imprio Romano, o nome seria um apelido para rotular os novos habitantes das cidades vindos da selva, j que, em latim, silva signica selva ou silvcola. Na regio da Europa onde hoje Portugal, o nome teria se popularizado aps a invaso ibrica, no sculo I a.C. Os judeus tambm podem gurar como colaboradores da expanso da dinastia Silva. Forados a se converter religio crist, a partir de 1497, acabavam assumindo ttulos autenticamente lusitanos.

    possvel ainda que, na poca das grandes navegaes, muitos tenham adotado o sobrenome por virem de Silves, cidade natal de Vasco da Gama. A propsito, outros crem que os portugueses que atravessavam o Atlntico acrescentavam mais um sobrenome: Costa, para os que cavam no litoral; e Silva para os que se aventuravam rumo ao interior.

    Por m, os escravos teriam sido os maiores propagadores dos Silva no Brasil. Com a abolio, optaram por adotar os sobrenomes de seus antigos senhores. Como a maioria dos escravos era de fazendas do interior, os Silva se alastraram rapidamente.

    ORIGEM DO SOBRENOME

    Bastante irrequieto na infncia, ingressou no jud aos 7 anos, levado pelo pai. Aos 13, porm, acidentou-se com um estilingue e cou cego do olho esquerdo. Seis anos depois, uma infeco na vista direita causou descolamento de retina, deixando-o totalmente sem viso. A adaptao ao jud paraolmpico foi rpida, porque eu j conhecia os golpes. Foi s acreditar em mim novamente, perceber que eu era capaz de continuar, explica o judoca.

    da obstinada determinao que Antnio Tenrio da Silva, paulista de So Bernardo do Campo, extrai foras para seguir em frente. Fico muito orgulhoso de ser mais um Silva no Brasil, no meio de tantos outros que fazem o pas crescer.

    Oswa

    nild

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    ..............Quando tinha 15 anos, o hoje reconhecido mesate-nista Luiz Algacir pensou que sua vida mudaria para sempre. E, de fato, ele tinha razo. Mas o que parecia o fim, quando caiu de uma rvore e ficou paraplgico, foi apenas o comeo de toda uma tra-jetria de muitos ouros, pratas e bronzes com o tnis de mesa. Eu era moleque demais, no con-seguia ficar quieto para nada. Costumo dizer que Deus marca para no perder de vista. s vezes, me pergunto quem sou e o que represento para o Brasil. Como seria o Luiz se ele andasse? H um propsi-to em todas as coisas que acontecem no mundo, acredita.

    At ento, Luiz tinha o sonho da maioria dos ado-lescentes: ser jogador de futebol. O fato de o pai jogar no Paran Clube apenas o incentivava ainda mais. Tomei uma rasteira do destino de uma hora

    para outra e vi os meus objetivos ficando para trs, enquanto estava l em uma cadeira de rodas. Tranquei-me por um ano e meio em casa, s saa para a fisioterapia, conta. O sol voltou a brilhar na vida de Luiz somente quando, certo dia, seus amigos o tiraram fora de casa e o incentiva-ram a voltar a viver.

    Em 1992, ento com 19 anos, conheceu a Asso-ciao dos Deficientes Fsicos do Paran (ADFP), onde comeou a trabalhar como tcnico de telefo-nia. At ver pessoas como eu fazendo coisas que nunca imaginaria fazer, percebi o quanto tinha estacionado no tempo. Lembro-me at hoje de um dia quando estava na frente da Associao e che-gou um cadeirante de carro. Quando ele desceu do veculo sozinho, foi como se eu estivesse levando um tapa da vida dizendo acorda!, ressalta. Alm de trabalhar na ADFP, Algacir tambm comeou a jogar basquetebol, sua outra grande paixo. A

    uma competio nacional. A primeira experincia internacional chegou em 95, em Stoke Mandeville, na Inglaterra. Apesar de no ter conquistado medalhas nessa ocasio, Luiz des-taca a importncia das competies internacionais, quando tem a oportunidade de conhecer seus adversrios.

    Mas ainda era muito pouco para ele. Um desbravador dos desafios e de personalidade intensa, basta colocar nas mos de Luiz uma raquete e uma bolinha para se ver um show de ta-lento e tcnica. Tambm em 95, conquistou a prata no Parapan-americano de Mar del Plata, na Argentina. Com isso, veio a convocao para os Jogos Paraolmpicos de Atlanta, em 96. Enlouqueci de vez, afinal eu mal imaginava o que era uma Paraolimpada, confessa Luiz, que ficou com a 9 colocao geral na competio. Desde ento, o curitibano no parou mais. Nos Jogos Mundiais de Stoke Mandeville, na Nova Zelndia, em 1999, con-quistou o 3 lugar em dupla. Em 2000, durante o Open de Tnis de Mesa, em Agrigento, na Itlia, foi considerado o melhor jogador do campeonato, quando ficou com a prata. Um ano

    insistncia da amiga da seleo brasileira, Maria Luza Passos, para conhecer o tnis de mesa trans-formou as perspectivas de Luiz. A maioria das pessoas no d nada pelo tnis de mesa antes de conhec-lo. Mas quando comea a praticar no quer parar mais, afirma. Um ano aps ter ingressado no tnis de mesa, em 1993, Algacir participou da sua primeira competio na-cional, em Recife. Era tambm sua primeira viagem de avio. Voltou para Curitiba com trs medalhas de prata nas categorias equipe, individual e open. Todos me disseram que bastava treinar mais que eu conseguiria chegar onde quisesse, lembra. Desde 1994, Luiz no perde

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  • Luiz,grandeo

    Concentrao, raa e garra fazem parte da receita de sucesso de um dos

    melhores mesatenistas do mundoEu era moleque demais, no conseguia ficar quieto para nada. Costumo dizer que Deus marca para no perder de vista.

    Por Patrcia Osandn

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    depois, no Parapan-americano de Tnis de Mesa, na Argentina, ficou com o ouro por equipe e com a prata individual e no open.

    Em 2003, no Parapan-americano de Tnis de Mesa, no Brasil, conquistou o ouro individu-al e por equipe e, ainda, uma prata no open, alm de ter sido considerado o melhor joga-dor de tnis de mesa da Amrica do Sul de 2001 e 2002. No 1 Campeonato Europeu de Tnis de Mesa Paraolmpico, em 2004, con-quistou o ouro individual. Participou ainda das Paraolimpadas de Sydney e Atenas, mas no chegou a conquistar medalhas.

    Alm do tnis de mesa, Luiz tem outras paixes, como a me, dona Dirce, e a namo-rada, Enemare. Em Curitiba, cidade que referncia nacional na questo da aces-sibilidade para as pessoas com deficin-cia, Luiz j batalhou muitas vezes para, por exemplo, a construo de banheiros adaptados ou para tornar alguns locais mais acessveis. Se no lutarmos, no veremos a realidade mudar. O Brasil precisa acreditar mais nas pessoas com deficincia. No queremos ajuda, mas sim espao e condio de ir e vir, enfim, cidadania, prega, com a mes-ma veemncia e fora de um saque mortal.

    A Europa e a sia so os melhores no tnis de mesa porque viajam mais para competies internacionais, alm de Nesse sentido, o Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer. Para viajarmos para

    a Europa, por exemplo, os custos so muito grandes. difcil viver do esporte. Mas no deixo de ver e valorizar o quanto estamos crescendo nos ltimos anos, reconhece.

    terem um treinamento mais pesado.

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  • Jogo limpo

    Em Atenas, o cavalo Arestote, da amazona francesa Valerie Salles, que era uma das favoritas ao ouro paraolmpico, sofreu um ataque cardaco e morreu instantes antes da atleta iniciar sua apresentao. Na ocasio, a equipe brasileira de hipismo ofereceu a Valerie e ao seu tcnico a gua Charlie Girl, para que ela pudesse competir dois dias depois na prova de Estilo Livre com Msica, na mesma categoria do nico cavaleiro brasileiro presente na paraolimpada, Marcos Fer-nandes Alves, o Joca. A amazona francesa aceitou a oferta e comoveu o pblico ao participar da prova e homenagear seu cavalo Arestote.

    Para o subchefe de misso da equipe brasileira, Andrew Parsons, ape-sar de todos estarem concentrados para o primeiro dia de competies, foi inevitvel sensibilizarem-se com a dupla desolao da francesa. Ela tinha grandes condies de conquistar uma medalha. Alm disso, perdeu de forma inesperada seu cavalo, um grande companheiro,

    Por Patrcia OsandnFotos Wander Roberto

    Ganhadores do Trofu Pierre de Coubertin World TrophyAleksey Nemov, ginstica artstica, Rssia . Durante os Jogos Olmpicos de Atenas, na final da competio de ginstica artstica, os espectadores no concordaram com os resultados que os juzes deram ao russo Aleksey Nemov, da ginstica artstica, e comearam a protestar. O outro ginasta, at ento, estava esperando h quinze minutos para iniciar sua performance. Foi ento que Aleksey subiu na plataforma onde estava o pblico e pe-diu silncio para que a competio pudesse continuar.

    Markus Rogan, natao, ustria . Na final dos 200m costas dos Jogos Olmpicos de Atenas, o nadador Aaron Peirsol foi desqualificado por uma falta tcnica. O aus-traco Markus Rogan foi declarado vencedor da prova, mesmo sob indagao dos outros nadadores sobre os motivos da desqualificao de Aaron. Depois da deciso dos juzes de lhe dar a medalha de ouro, Rogan declarou em frente s cmeras que a medalha no era sua, mas de Aaron. Rogan foi ento homenageado pelo trofu Pierre de Coubertin, alm de, no fim de 2004, ter sido escolhido o esportista do ano na ustria.

    relembra.As demais equipes de hipismo congratularam o Brasil por sua generosidade em oferecer a gua, ato que no foi demonstrado por qualquer outro pas. A tcnica bra-sileira, Marcela Pimentel, sente ainda hoje na pele a repercusso da atitude. Acabamos abrindo as portas do hipismo internacional para o Brasil, conta orgulhosa. Segundo Marcela, desde Atenas, o hipismo paraolmpico tem crescido bastante no pas, principalmente em Braslia. Nossa idia pre-parar uma equipe competitiva para o mundial da Inglaterra, em 2007, que servir de seletiva para os Jogos Paraolmpicos de Pequim, em 2008.

    Uma ao imediata de solidariedade, aps um triste episdio, colocou a equipe brasileira de hipismo paraolmpico em evi-dncia nos Jogos de Atenas-2004. O resultado que a atitude ser reconhecida, no dia 26 de novembro deste ano, na Polnia, com um diploma do Comit Internacional em prol do Fair Play (CIFP), organizao co-fundada pelo Comit Internacional de Cincia Esportiva e Educao Fsica (ICSSPE) e a Associao Internacional de Imprensa Esportiva. Os brasileiros concorre-ram ao Trofu Pierre de Coubertin International, conferido a equipes ou atletas por um gesto de fair play, mesmo que tal ati-tude comprometesse a vitria ou o desempenho na competio.

    Mais importante prmio conferido pelo CIFP, o trofu Pierre de Coubertin premia uma equipe ou atleta por um gesto de fair play. Diversos or-ganismos internacionais indicam concorrentes a essa categoria. Os ganhadores do trofu Pierre de Coubertin foram o russo Aleksey Nemov e o austraco Marcus Rogan.

    Equipe brasileira . Andrew Parsons (Subchefe de Misso), Marcela Pimental (Tcnica) e Marcos Fer-nandes Alves, o Joca (Cavaleiro).

    CIFP . O Comit Internacional em prol do Fair Play (CIFP) uma prestigiada organizao fundada h mais de 40 anos que anualmente concede diplomas, cartas de congratulaes e os trofus mais impor-tantes em trs categorias:

    Trofu Pierre de Coubertin International Fair Play, conferido a uma equipe ou atleta por um gesto de fair play;

    Trofu Jean Borotra International Fair Play, entregue a uma personalidade por uma postura de fair play ao longo de sua carreira esportiva;

    Trofu Willi Daume International Fair Play, oferecido a uma personalidade ou organizao por promover o fair play.

    A amazona francesa Valerie Salles com a gua Charlie Girl, cedida pela equipe brasileira.

    O cavaleiro Marcos Alves, o Joca, e a tcnica Marcela Pimentel.

    Valerie agradece o apoio recebido em Atenas.

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  • de encher os olhosParticipao

    Foram seis dias de muito suor e superao extrema. De 5 a 10 de setembro, a cidade de So Paulo sediou um dos mais importantes eventos esportivos das Amricas. Os IV Jogos Pan-Americanos de deficientes visuais da IBSA (Federao Internacional de Esportes para Cegos) reuniram 279 atletas, nas modalidades atletismo, jud, goalball e natao. No mesmo perodo, foram disputados tambm a II Copa Mundial de Jud, a V Copa Amrica de Fute-bol e o III Pan-Americano de Xadrez da IBCA (Associao Internacional de Xadrez para Cegos).

    Na cerimnia de abertura dos jogos, o iatista e secretrio de Esportes, Ju-ventude e Lazer do estado de So Paulo, Lars Grael, destacou a relevncia do evento.

    Meninas do Brasil arrasam no GoalballUma das grandes revelaes do Pan-Americano foi a equipe feminina de goalball do Brasil. No triangular com as duas maiores foras do esporte, Estados Unidos e Canad, as brasileiras venceram trs partidas e empata-ram apenas uma, garantindo presena na final do torneio contra as norte-americanas. O ouro no veio, mas a medalha de prata foi muito comemorada. Ganhamos das duas melhores equipes do mundo, crescemos muito nos lti-mos tempos, analisa Cludia Amorim, artilheira da seleo.

    No masculino, uma disputa emocionante com 13 gols marcou a deciso do ouro. O jogo entre EUA e Canad terminou 7 a 6 para os canadenses, campees dos IV Jogos Pan-Americanos da IBSA. Em 2001 perdemos para os americanos. Eles tm um timo time e, com muita perseverana, ns vencemos. um momento incrvel para a gente, afirma o jogador canadense Rob Cristy.

    uma competio do mais alto nvel tcnico, difundindo e mostrando o alto rendi-mento do esporte. uma satisfao muito grande para ns sedi-la.

    Na final do goalball feminino, prevalece a supremacia norte-americana frente a revelao da equipe brasileira.

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  • B r a s i l o g r a n d e c a m p e o d o s I V

    c i e n t e s V i s u a i s

    de encher os olhosPor Joanna CollaresFotos Luiz Pires

    r i c a n o s d e D e f iJ o g o s P a n - a m e

  • Brasil domina as competies de judO jud brasileiro deu um show na II Copa do Mundo de Jud e nos IV Jogos Pan-Americanos. Na primeira competio, o Brasil conquistou seis meda-lhas de ouro, trs de prata e uma de bronze e ficou em primeiro lugar. Os medalhistas da Paraolimpada de Atenas no decepcionaram e ajudaram o pas. a primeira vez que eu consigo ser campeo de uma Copa do Mundo. um grande incentivo para mim, comemora Antnio Tenrio, tricampeo paraolmpico. No Pan-Americano, atletas de sete pases disputaram as lutas. Os judocas brasileiros garantiram cinco medalhas de ouro.

    Atletismo brasileiro fatura 41 medalhasMesmo enfrentando o frio e a chuva da capital paulista, os brasileiros li-deraram as principais provas de atletismo dos IV Jogos Pan-Americanos, conquistando 17 medalhas de ouro, 12 de prata e 12 de bronze.

    O grande nome foi Terezinha Guilhermino, de 26 anos, medalha de bronze nas Paraolimpadas de Atenas, que garantiu trs meda-lhas de ouro. Ela confirmou o favoritismo ao vencer os 200m rasos, na ca-tegoria T11 (cega), para a qual acaba de ser reclassificada. Foi uma conquista importante. Comecei a correr os 200 metros rasos h apenas trs meses e sei que posso diminuir ainda mais a minha marca, vibra a atleta.

    Outro destaque foi Andr Garcia, que venceu, por incrveis dois centsimos de segundo, o americano Royal Mitchel nos 100m rasos. A rivalidade entre ambos saudvel e bastante acirrada. Em agosto, eles participaram de um desafio durante a etapa do Circuito Loterias Caixa, no Rio de Janeiro. A idia foi realizar um tira-teima em uma distncia intermediria (150m), j que, em Atenas, o brasileiro venceu os 200m e Mitchel levou o ouro nos 100m. O resultado deste desafio foi um incomum empate, com o tempo de 16s97.

    Com vitria indita, Argentina campe da Copa AmricaBrasil e Argentina fizeram um grande jogo pela final da V Copa Amrica de Futebol para Cegos, evento paralelo ao IV Pan da IBSA. Com a vitria brasileira por 1 a 0 no primeiro jogo e um empate em 1 a 1 no segundo, s a vitria interessava aos ar-gentinos na terceira partida. E foi o que aconteceu: ganharam no tempo normal por 1 a 0, forando a prorrogao. Com um gol no ltimo minuto, a Argentina sagrou-se campe e quebrou a invenci-bilidade de 14 anos do Brasil contra os companheiros de continente.

    Mxico e Venezuela at que tentaram, mas s deu Brasil na pis-cina do Ginsio Lauro Gomes de Almeida, em So Caetano do Sul. Com 14 medalhas de ouro, 15 de prata e 15 de bronze, o pas se destacou como potncia Pan-Americana. At as Paraolimpadas de Sidney, em 2000, s existia a Fabiana Sugimori. Eu acho que os resultados do Pan mostram a renovao que estamos tendo, destaca Carlos Farrenberg, nadador do Brasil que ganhou trs medalhas de ouro e bateu o seu prprio recorde brasileiro nos 100 e 400m livre.

    O presidente da Associao Brasileira de Desportos para Cegos (ABDC), David Farias Costa, destacou o empenho de todos para

    o sucesso da competio. S conseguimos realizar este Pan graas ao comprometimento

    dos profissionais envolvidos, dos atletas que vieram e deram o

    melhor de si e dos patrocina-dores, frisa o presidente da ABDC, enti-dade responsvel pela organizao dos Jogos.

    Tambm presente ao evento, o presi-dente do Comit Paraolmpico Bra-sileiro (CPB), Vital Severino Neto, que cego, falou sobre suas impresses. O esporte para pessoas com deficincia no Brasil, no qual se insere o esporte das pessoas cegas, sofre, a partir de 2000, uma mudana radical e hoje vemos o resultado aqui.

    Consagrado em paraolimpadas, Antonio Tenrio vence sua primeira Copa do Mundo de Jud.

    A equipe foi formada h pouco tempo, so-mos um time novo e sem muita experincia. Acho que conseguimos um bom resultado,

    ressalta o jogador Luiz Pereira.

    Os meninos do Brasil ficaram em quarto lugar, aps perder o bronze para os mexicanos.

    Brasil perde invencibilidade paraArgentina no futebol de cegos.

    Natao do Brasil vence o Pan da IBSA

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  • Trio brasileiro no pdio do atletismo: Terezinha Guilhermino, Maria Jos, a Zez, e Vera Lcia Silva.

    Fabiana Sugimori comanda atuao vitoriosa do Brasil nas piscinas.

    Concentrao e tcnica na disputa de xadrez.

    Cuba domina o Pan de XadrezOs brasileiros eram maioria, mas no conseguiram evitar a vitria de Cuba. Ao todo, foram 12 jogadores do Brasil, dois cubanos, um venezuelano e um peruano participantes do III Pan-americano de Xadrez para cegos da IBCA. No primeiro dia, a vitria foi do cubano Carlos Larduet. Nas rodadas seguintes, Brasil e Cuba se revezaram na liderana. Ao final da sexta e ltima rodada, Cuba confirmou o seu favoritismo e levou ouro e prata para casa, com Norlis Ramon Tamayo e Carlos Larduet, respectivamente. O brasileiro melhor colo-cado foi Roberto Carlos Hengles, que ficou com o bronze.As adaptaes mais importantes do xadrez para cegos esto na con-feco do tabuleiro, que possui orifcios para encaixe das peas, alm de um relevo que diferencia as brancas das pretas. A partida toda nar-rada pelos jogadores, atravs de um alfabeto fontico combinado com os nmeros correspondentes.

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  • Brasileiro de basquete em cadeira de rodasdene seleo para disputar Copa AmricaEm uma nal disputada cesta a cesta at os ltimos segundos, a seleo de So Paulo II venceu a seleo do Nordeste e conquistou o 1 Campeonato Bra-sileiro de Selees de Basquete em Cadeira de Rodas. Durante a competio, que ocorreu de 7 a 11 de setembro, a comisso tcnica da Seleo Brasileira analisou o desempenho dos atletas e escolheu os 12 melhores jogadores para disputar a Copa Amrica, em novembro. Esta competio ser classicatria para o mundial da Holanda, em julho de 2006.

    Paraolmpicos brasileiros participamda Maratona de Chicago

    O V Campeonato Brasileiro de Futebol de Sete, realizado no Rio de Janeiro, nos dias 10 e 11 de setembro, teve como campe a equipe do Pantanal A, que em-placou o goleiro menos vazado da competio, Marco, e tambm o artilheiro, Luciano Rocha, com 15 gols.

    Os vencedores receberam o trofu Fabiano Peixoto, em homenagem ao atleta da seleo brasileira de futebol de paralisados cerebrais, falecido no incio de setembro. A medalha de prata cou com a Andef, do Rio de Janeiro. O estado do Mato Grosso do Sul ainda conquistou a medalha de bronze com a seleo Pantanal B.

    Jordan no topoMuita garra e determinao levaram o brasiliense Carlos Santos, o Jordan, a garantir mais um ttulo, ao sagrar-se bicampeo do 6 Vitria Open de Tnis em Cadeira de Rodas, em 11 de setembro. Na nal, o atleta, que comeou a praticar esse esporte em 2001, venceu o santista Gilmar Pires por 2X0 (6/2 e 6/3). Com esse resultado, Jordan apelido que ganhou pela admirao ao ex-astro norte-americano de basquete manteve-se em primeiro lugar no ranking brasileiro da modalidade.

    Fernando Aranha, cadeirante, e Paulo Almeida, andante, foram os nicos atletas paraolmpicos brasileiros que participaram da e-dio 2005 da Maratona de Chicago, em 9 de setembro. Depois de muito aquecimento e um bom trabalho de hidratao, eles entra-ram na pista e conquistaram bons resultados, superando a baixa temperatura local, que cou em torno de 7. Paulo cruzou a linha de chegada com o tempo de 3h36m01, cando com o primeiro lu-gar da categoria amputado. Fernando fez a prova em 2h13m27, conquistando a 10 posio.

    Mato Grosso do Sul em primeiro nofutebol de sete

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    As partidas foram observadas pela Comisso Tcnica da Seleo Brasileira

    Carlos Jordan defende o primeiro lugar no ranking.

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  • Clodoaldo o melhor do mundoO Comit Paraolmpico Internacional (IPC) elegeu Clodoaldo Silva o melhor atleta paraolmpico masculino do planeta.

    A entrega do trofu ocorrer durante um jantar de gala no dia 19 de novembro, em Bei-jing, China. Alm de reconhecer os melhores atletas do mundo, o I Prmio do Esporte Paraolmpico, promovido pelo IPC, ir premiar reas da mdia e da cincia esportiva.

    Esta a segunda vez que o tubaro paraolmpico concorre a um prmio mundial em 2005. A primeira foi a indicao para o Laureus (Oscar Mundial do Esporte), em maio, quando perdeu para a velocista em cadeira de rodas Chantel Petitclerc, do Canad. Em incio de setembro, o nadador recebeu do presidente Luiz Incio Lula da Silva a medalha da Ordem de Rio Branco, em cerimnia no Palcio do Itamaraty.

    O brasileiro Manoel Parreira Jnior a primeira pessoa com decincia do mundo a se formar no curso da SWAT americana. Ele perdeu o brao h 19 anos em um acidente de treinamento com bomba. No ltimo dia 17 de setembro, foi um dos poucos que conseguiu o certicado de concluso, em cerimnia realizada na Polcia Civil de So Paulo. A SWAT abriu, inicialmente, 80 vagas para 487 candidatos, mas somente 30 conseguiram chegar ao nal.

    Manoel no teve privilgios. Ele, como qualquer outro inscrito, foi obrigado a correr, na-dar, fazer rapel e tiro em movimento, entre outras atividades. Saiu-se bem em todas as etapas. Pensei em desistir no penltimo dia, pois no me sentia bem sicamente para a prova de tiro com carabina calibre 12, mas, graas ao incentivo dos colegas, consegui executar a srie de 28 tiros sem um erro sequer, conta Manuel, o mais novo ocial de elite da corporao americana.

    Dia Nacional de Luta da Pessoa com Decincia: 21 de setembro. Uma data para ser praticada todos os dias, pois cerca de 24,6 milhes de brasileiros, segundo o Censo 2000, enfrentam vrias batalhas pela incluso social em seu cotidiano. So diculdades como falta de acessibilidade nas cidades, ausncia de vagas no mercado de trabalho e discriminao. O esporte tem um papel fundamental na militncia em favor das pessoas com decin-cia. O desempenho de nossos atletas em Atenas, com 33 medalhas, mostra o quanto os paraolmpicos brasileiros podem ser ecientes. Atravs do respeito, da tolerncia e do dilogo, o preconceito pode ser vencido.

    Tiro com arco no alvo dos brasileirosEntre os dias 26 de setembro e 4 de outubro, o CPB levou dois representantes brasileiros para o V Mundial de Tiro com Arco, disputado em Massa, na Itlia.

    Sem experincia na modalidade, j que no tradicional no pas, o carioca Paulo Emlio Pereira e o potiguar Francisco das Chagas Dantas no conquistaram medalhas, mas voltaram da Europa satisfeitos.

    Segundo o vice-presidente do CPB, Francisco Avelino, o nvel tcnico da competio foi bastante elevado. Nossos arqueiros aprenderam muito e devem passar esse co-nhecimento para os demais competidores brasileiros, arma Avelino, que acompanhou a delegao no mundial.

    Rambo paraolmpico

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    A distncia do alvo impressiona, masno mete medo nos competidores.

    Clodoaldo durante premiao do Laureus, em maio.

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  • Aos 44 anos e recuperado de um grave acidente, Ranimiro Lotuffo nem pensa em abandonar a adrenalina

    Por Marcelo WestphalemFotos Zoom Produes

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    Mesmo aps o acidente que lhe custou a perna, o cu o limite para Ranimiro.

  • Perigoso ficar enferrujando em casa!. Inspirado nesse lema, o ex-modelo Ranimiro Lotuffo supera seus limites, praticando vrios tipos de esporte de aventura. Ele j experimentou rapel, rafting, escalada, asa-delta, mas seu preferido o parapente, modalidade na qual foi competidor por vrios anos.

    A prtica de todos esses esportes de natureza um de-safio, especialmente para ele que perdeu a perna em 1995. Ao disputar uma competio de parapente realizada em Andradas-MG, pousou com seu equipamento em cima de uma rede de alta tenso e recebeu fortes choques, que obrigaram os mdicos a amputar o membro inferior di-reito, pouco abaixo da linha da cintura.

    O acidente representou um tremendo susto para a famlia. Ranimiro era modelo com slida carreira internacional, tendo desfilado e fotografado para grandes marcas, como

    Christian Dior, Giorgio Armani e Jan Paul Gaultier. Ele trabal-hou no Japo, Frana, Itlia, entre outros pases. Para um homem

    considerado smbolo sexual, a perda da perna poderia ser ainda mais difcil de ser encarada.

    O processo de adaptao foi lento, mas Ranimiro se recuperou bem. Ele conseguiu administrar todas as mudanas e, hoje, afirma levar

    uma vida normal. O preconceito maior vem de dentro de ns mesmos, ensina. Em 1998, a marca brasileira M.Officer convidou o aven-

    tureiro para desfilar no So Paulo Fashion Week. Ele aceitou imediatamente.

    O primeiro desfile era de uma coleo de inverno e o modelo usou apenas calas compridas. Mas, em 2000, no segundo So Paulo Fashion

    Week, a coleo era de vero e Ranimiro desfilou de bermuda, causando burburinho entre o pblico presente. O caso repercutiu em

    todo o Brasil. Os meios de comunicao discutiram amplamente sua participao e a maioria das pessoas achou a proposta desafiadora

    e muito bem-vinda. Depois dessas duas campanhas, Ranimiro deixou as passarelas em segundo plano e foi trabalhar em atividades

    ligadas mdia.

    O preconceito maior vem de dentro de ns mesmos

    Ranimiro em ensaio fotogrfico para uma grife masculina, em desfile e

    em uma de suas aventuras.

  • Ranimiro teve uma infncia feliz, passada com os pais e mais dois irmos em uma fazenda de

    Botucatu, interior de So Paulo, e s iniciou sua carreira de modelo em 1986, tendo trabalhado

    por trs anos no Brasil com essa profisso. Seu pai era criador de frangos e o, desde cedo, jo-

    vem grandalho ajudava-o nas tarefas dirias. A paixo pela natureza fortaleceu-se neste con-

    vvio intenso com a fauna e a flora locais. Mas o contato com os esportes de natureza s acon-

    teceu quando j morava na Europa, a convite de um sul-africano apaixonado por asa-delta.

    Seu primeiro vo foi na Iugoslvia. Ranimiro gostou e foi des-

    pertando seu lado aventureiro. Pouco tempo depois, conheceu o

    parapente, que o atraiu pela facilidade de transporte. Resolveu

    voltar para o Brasil, trazendo a representao de uma marca de pa-

    rapente italiana. Comeou a competir na modalidade e no parou

    at sofrer o acidente. Aps a recuperao, voltou com fora total

    e, at hoje, continua se aventurando em vrios esportes. Nunca

    diga que voc no capaz antes de ter tentado, afirma o atleta.

    Atualmente, dono de uma produtora multimdia e tem como

    grande objetivo um programa de televiso que mostrar as be-

    lezas do Brasil em um canal de TV paga. A idia ainda aguarda

    tramitao no Ministrio do Turismo. Ranimiro tambm atua

    como palestrante em temas relacionados a motivao e superao.

    Nunca diga que voc no capaz antes de ter tentado

    Seja em escalada ou de bicicleta, o que vale explorar novos horizontes.

  • Antnio Delno, dono de trs medalhas paraolmpicas,

    um dos maiores expoentes do atletismo no Brasil.

    Antnio Delno comeou a dar seus primeiros passos

    no atletismo paraolmpico no nal de 1999 e, em

    menos de seis meses, j era um dos representantes

    brasileiros nos Jogos Paraolmpicos de Sidney.

    Para a surpresa de todos e at mesmo dele, o atleta

    conquistou a medalha de prata nos 400 metros, classe

    T46, destinada a atletas com comprometimento ou

    amputao dos membros superiores. Foi tudo muito

    rpido. Em poucos meses comecei a correr competi-

    tivamente e logo depois j estava em Sidney. Consegui

    trazer uma medalha de prata que no esperava. Talvez

    tenha sido uma das maiores emoes da minha vida,

    conta Delno, que teve parte de seu brao direito

    amputado aps um acidente de trabalho no campo,

    onde era lavrador.

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    Por Paulo MacCulloch

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  • Seu sorriso tmido esconde um atleta extrema-mente compenetrado e focado. Ele, que um dos maiores cones do atletismo paraolmpico, se define como um obcecado por vitrias. O profissionalismo, com que muitos atletas so-nham, ele j conquistou e agora pode dedicar-se apenas luta por medalhas. Quero ganhar tudo o que competir. Tenho conscincia de que no ser fcil, mas sei que posso. Darei sem-pre o meu melhor e espero, com isso, poder trazer mais medalhas paraolmpicas, revela.

    Delfino patrocinado pelas Loterias Caixa. E seus resultados so a prova de que o apoio ao paradesporto pode render bons frutos: em sua primeira competio, a Paraolimpada de Sid-ney (2000), ele ganhou a medalha de prata nos 400m. Em Atenas (2004), foi ouro nos 200m e nos 400m e, nesta ltima prova, que-brou o recorde mundial - que era dele prprio, embora seja especialista nos 100m e 200m.

    Msica, leitura ou uma cochilada. Esses so alguns rituais de concentrao para conter a ansiedade que muitos esportistas utilizam, mas no o caso de Delfino. Sem nenhuma preparao especial, ele apenas pensa em tudo

    Como todo grande atleta, Antnio Delno tem um dolo: Joaquim Cruz. O fundista, medalha de ouro nos 800m, nas Olimpadas de Los Angeles, um exemplo de sucesso que o velocista segue.

    o que antecedeu aquele momento para se manter calmo. No fao nada demais. Quan-do acordo, penso em tudo que devo fazer para vencer. Um dos motivos de treinar tanto para me manter calmo nessas horas, avalia.

    Para ele, sua vida mudou em 1991, quando saiu da pequena cidade de Redeno, no Pi-au, onde nasceu, e foi para Braslia com a inteno de ampliar os horizontes. L, tor-nou-se funcionrio pblico e comeou a vida esportiva atravs do professor Ulisses Arajo, presidente do CETEF seu primeiro incen-tivador. Logo depois conheceu Raimundo Tadeu Martins, que seu treinador at hoje e a quem credita grande parte de seu rendi-mento. Se no tivesse sado de Redeno, provavelmente no seria o que sou hoje. Acredito que minha vida seria muito mais difcil. Mas graas a Deus tudo deu certo e hoje no tenho do que reclamar, analisa.

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    Alm de ganhar dois ouros em Atenas, Delfino bateu o

    recorde mundial nos 400 m.

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    No fao nada demais. Quando acordo, penso em tudo que devo fazer para vencer. Um dos motivos de treinar tanto para me manter calmo nessas horas.

    Funcionrio pblico na capital federal, onde mora com a esposa e os sete filhos, o velocista tem na famlia um porto seguro. Apesar de viajar muito devido s competies, ele volta com flego reno-vado para sua intensa rotina de pai de famlia. Tento dar o melhor para meus filhos. Quero dar tudo o que no tive condio de ter, afirma o atleta, que revela o que os filhos mais sentem falta quan-do ele est fora. Eles sempre pedem para eu trazer lembranas das cidades onde estou. Quando falo com as crianas ao telefone, elas nunca esquecem de fazer seus pedidos. Coisa de criana, ressalta.

    Tento dar o melhor para eles. Quero dar tudo o que no tive condio de ter.A conquista da medalha nos 400m na Paraolimpada de

    Sidney no foi fcil, mas talvez um fato inusitado ocorrido dias antes da prova possa ter contribudo positivamente para o feito de Antnio Delno. O atleta caminhava pela vila paraolmpica quando achou um par de sapatilhas no cho. Ele tinha, claro, um par de tnis, mas no eram to especiais quanto as sapatilhas que acabara de encontrar. Alm do mais, pensou, poderia ser um sinal. Ao olhar com mais ateno percebeu que eram dois nmeros menores do que seu p. Mesmo assim levou o calado a um sapa-teiro para tentar alarg-lo um pouco. Ainda no cando o ideal, Delno resolveu competir com elas. Algo me dizia que tinha que correr com elas. Pedi pro sapateiro colocar no molde do meu p para no apertar muito, revela.

    J na pista, minutos antes da nal, ele olhou a sua volta. Vrios atletas calando as melhores sapatilhas de com-petio do mundo. Eram as marcas mais famosas. E Delno com uma que tinha acabado de achar. Foi uma tima de-ciso, j que, com ela, consegui o segundo lugar, relem-bra animadamente o atleta, que hoje, apesar das boas lembranas, j no tem mais aquele par de sapatilhas.

    P assadas Aper tadas

    Mesmo feliz, Antnio Delfino sente falta de uma coisa: estudo. Ele tem muita vontade de cursar uma faculdade de Educao Fsica ou Administrao. Com a experincia que obtive nesses anos de atletismo, acho que posso fazer algum bem para o esporte. Quando parar de correr, pretendo entrar para a universidade, s no resolvi o curso, se o de Administrao ou de Educao Fsica, finaliza.

    Sempre que pode, Delfino visita projetos sociais.

    Viajar j virou rotina.

    Regi

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    o Ca

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    PB

  • SUPERANDO L I M I T E S

    Bernardinhotcnico da seleo masculina de vlei

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    O ano de 2004 foi certamente um ano especial. Anos olmpicos so sempre especiais para todos que vivem e amam o esporte.

    Conquistamos a nossa medalha de ouro aps 4 anos de muitas vitrias e trabalho rduo e vimos ainda os campees Torben Grael, Marcelo Ferreira e Robert Sheid no iatismo, bem

    como Ricardo e Emannuel ganhando as suas medalhas de ouro na praia. Vrias outras medalhas vieram e deixamos Atenas depois da emocionante atuao de Vanderlei Cor-deiro de Lima, que, mesmo com aquele episdio trgico, conseguiu seguir em frente e conquistar um bronze muito dourado na maratona.

    Cheguei ao Brasil imaginando ter vivido as maiores emoes esportivas de minha vida. Ento, sou surpreendido, nos poucos dias de descanso, com fantsticas transmisses dos Jogos Paraolmpicos. Confesso que eu e, creio, tantos brasileiros admirvamos aqueles atletas especiais pelo seu esforo e capacidade de superao e, muitas vezes, esses sentimentos vinham misturados com piedade. Mas, ao acompanhar diaria-mente as mais diversas competies, os vrios programas sobre atletas e equipes

    especiais, tornei-me absolutamente um torcedor, um entusiasmado f, que passou a sentir apenas a ansiedade pelos bons resultados de seus

    dolos atletas especiais.

    Assistindo s faanhas de Clodoaldo, Tenri