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SEMINÁRIO PRESBITERIANO BRASIL CENTRAL APOLOGÉTICA DE FRANCIS SCHAEFFER por Paulo Sérgio Alves Monografia Apresentada ao: Jadiel Martins Sousa que é Prof.de Apologética Como Requisito Parcial para Obtenção do Grau de BACHAREL EM TEOLOGIA Goiânia-GO 2001 1

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SEMINÁRIO PRESBITERIANO BRASIL CENTRAL

APOLOGÉTICA DE FRANCIS SCHAEFFER

por

Paulo Sérgio Alves

Monografia Apresentada ao: Jadiel Martins Sousa que é

Prof.de Apologética

Como Requisito Parcial paraObtenção do Grau de

BACHAREL EM TEOLOGIA

Goiânia-GO2001

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Sumário

Sumário..............................................................................................................................2Introdução..........................................................................................................................31 – Vida e Obras de Francis Schaeffer..............................................................................42 – Metodologia Apologética............................................................................................6

A – Alvo da Apologética Cristã...................................................................................6A.1 – O Homem Moderno e seu problema...............................................................6A.2 – Origem Histórica do Homem Moderno..........................................................7A.3 – A Influência do Pensamento Moderno na Vida do Homem Moderno............8A.4 – O Alvo a Ser Atingido na Problemática do Homem Moderno.....................11

B – O Fundamento da Apologética Cristã...................................................................11C – A Estratégia da Apologética Cristã......................................................................13

C.1 - Identificação do Ponto de Contato..................................................................13C.2 – Confronto Negativo: Mostrar o “Ponto de Tensão”......................................14C.3 – Confronto Positivo: Mostrar a Saída..............................................................15

3 – Avaliação da Apologética de Schaeffer...................................................................17Conclusão........................................................................................................................19Bibliografia......................................................................................................................20

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Introdução

Apologética é a parte da teologia que elabora métodos de transmissão eficaz do

evangelho, bem como trabalha na defesa desta fé cristã contra os ataques vindos de fora.

E relacionado a este assunto, muitos apologistas cristãos existiram, e.g. Justino Martir,

C.S.Lewis, e o próprio apóstolo Paulo. O tema deste trabalho é a avaliação da

metodologia apologética de Francis Schaefer. E para esta tarefa foi utilizado três obras

que foram analisadas, para se extrair a estrutura de sua metodologia. Estas obras

principais foram: A Morte da Razão, O Deus que Intervém e Verdadeira

Espiritualidade.

Este trabalho está dividido em três partes. A primeira faz uma apresentação de

Francis Schaeffer bem como um comentário breve de suas obras. A segunda foi o

detalhamento de sua metodologia apologética, destacando três pontos: o alvo, a base e a

estratégia da apologética cristã na ótica de Schaeffer. E a terceira parte, foi uma breve

avaliação com uma crítica propriamente dita, e a consideração da relevância do sistema

do autor.

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1 – Vida e Obras de Francis Schaeffer

Um dos maiores expoentes da apologética cristã, que a história conheceu foi

Francis August Schaeffer (1912-1984). Antes da Guerra ele tinha estudado nos Estados

Unidos, onde obteve seu doutorado. Neste país trabalhou como pastor no período de

1938-1948. Depois foi para a Europa onde fundou e dirigiu a famosa Comunidade

L’Abri, “O Abrigo” em Huénoz, nos Alpes Suíços. Muitas pessoas de diversas partes

do mundo, com diversas culturas – e.g. universitários, escritores, pastores, músicos,

pintores – foram a esta Comunidade L’Abri em busca de respostas honestas para suas

perguntas honestas, que para Schaeffer era a razão de ser da comunidade. Acerca desta

ele disse que ensinar “as respostas cristãs históricas e responder com honestidade às

perguntas sinceras são tarefas penosas, mas foi dessas lutas que veio a realidade, sem a

qual um trabalho incisivo como L’Abri jamais teria sido possível.”1

Além de ter fundado a comunidade L’Abri, para ajudar pessoas com problemas

existenciais e intelectuais, Francis Schaeffer desenvolveu uma metodologia apologética,

com o fim de defender e transmitir a fé cristã diante do mundo moderno. E nesta tarefa

escreveu várias obras importantes, que contém informações de sua apologética. O Dr.

Schaeffer foi “um dos poucos pensadores evangélicos contemporâneos que procuraram

compreender firmemente a cultura secular.”2 As suas principais obras foram: A Morte

da Razão (1968), O Deus que Intervém (1968) e Verdadeira Espiritualidade (1971).

Em Verdadeira Espiritualidade, Francis Schaeffer publica um material usado

nas suas palestras, que primeiramente foram reproduzidas em fitas de aúdio. Nesta obra

o assunto é a natureza da verdadeira espiritualidade, com o enfoque para a prática cristã.

1 Francis A. Schaeffer, Verdadeira Espiritualidade (São Paulo-SP: Cultura Cristã,1999), 8.2 Colin Brown, Filosofia e Fé Cristã (São Paulo-SP: Vida Nova, 1983), 165.

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É uma reflexão da teologia bíblica, porém com uma ênfase sobre alguns aspectos que

são relevantes para a problemática do homem moderno.

A Morte da Razão é um ensaio, onde Schaeffer “procurou analisar as tendências

gerais não somente da filosofia e da teologia mas, sim, também da arte e da literatura

desde a Idade Média até o presente.”3 Esta obra é bem sintética e tem uma preocupação

histórica. Nesta ele chega ao seu objetivo de esclarecer o conceito de “homem moderno

e seu desespero”.

Em O Deus que Intervém, a intenção do autor é mostrar como o cristianismo é

relevante como uma alternativa razoável para o homem moderno preso em seu

desespero. “Sua intenção é expor o vazio do pensamento secular e da moderna teologia,

mas, muito mais que isso, oferecer uma esperança bem fundamentada de que o homem

encontre de novo sua verdadeira personalidade e propósito, se apenas voltar-se à

Palavra vivificadora que Deus nos comunicou nos documentos das Escrituras.”4

Muitas outras obras foram produzidas, bem como material de palestras e fitas de

aúdio. No próximo capítulo, estar-se-á vendo alguns aspectos da metodologia de Francis

Schaeffer.

3 Ibid, 165.4 Ver apresentação da obra na capa de fundo, Schaeffer, O Deus que Intervém (Brasília-DF: Refúgio, 1981).

5

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2 – Metodologia Apologética

A – Alvo da Apologética Cristã

Para se elaborar uma apologética, primeiramente é necessário saber qual o alvo

específico que será objeto do empreendimento desta. Pois para cada época existem

novas questões a serem trabalhadas, novas ênfases no pensamento não cristão ortodoxo.

Na Morte da Razão, Schaeffer identifica o alvo de sua empresa apologética, bem

como procura compreender o problema deste em suas origens históricas. Já no O Deus

que Intervém, entre várias outras temáticas, ele analisa mais detalhadamente as

expressões do pensamento moderno na vida prática do homem moderno.

A.1 – O Homem Moderno e seu problema

O alvo da apologética de Schaeffer é o homem moderno, ou seja, é o indivíduo

que vive sob a influência e implicações do sistema de pensamento moderno.

O homem moderno se caracteriza principalmente pela nova forma de abordar à

verdade, não vendo esta sob a categoria do absoluto e sim do relativo. Portanto critica

veementemente a metodologia dialética de Hegel. Esta concepção relativa da verdade, é

para ele o problema crucial da apologética cristã, neste contexto.

A tragédia da nossa situação hoje é que homens e mulheres estão sendo

fundamentalmente afetados por esta nova maneira de encarar a verdade e, contudo, nunca sequer

analisaram o desvio ocorrido. Os jovens nos lares cristãos são educados dentro da velha estrutura

da verdade e depois são submetidos à estrutura moderna. Com o tempo ficam confusos porque

não conseguem compreender as alternativas que lhes estão sendo apresentadas. A confusão se

transforma em perplexidade e em pouco tempo estão completamente subjugados.5

5 Schaeffer, O Deus que Intervém, 15.

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O outro problema do homem moderno é o dualismo entre a vida “espiritual” de

fé e a vida racional. Que os levam a perder todo a identidade existencial da vida. Na

concepção do homem moderno, os valores cristãos foram substituídos, e em

consequência disto na perspectiva modernista: o “homem já morreu. Deus já morreu. A

vida se tornou uma existência sem significado, e o homem não passa de uma roda na

engrenagem. A única via de escape passa por um mundo fantástico de experiências,

drogas, absurdos, pornografia, uma ‘experiência final’ elusiva, e de loucura.”6.

A.2 – Origem Histórica do Homem Moderno

Ao defender e transmitir o evangelho para o homem moderno em seu desespero,

Francis Schaeffer chegou à conclusão que para entender as tendências do mundo

moderno, é importante primeiramente buscar na história, os principiais pressupostos que

foram se desenvolvendo até chegar na atual configuração dos termos. E nesta

compreensão delimita a sua pesquisa, a partir de Tomás de Aquino.

Surpreeender-se-ão alguns que, analisando as tendências do pensamento moderno, eu comece com Tomás de Aquino e prossiga, tendo-o como ponto de partida. Estou, porém, persuadido de que o nosso estudo deve interessar-se, não só isoladamente como também conjuntamente, pela história e pela filosofia. Só nos será possível compreender as tendências atuais do mundo do pensamento, se visualizarmos a situação segundo sua origem histórica, e, ao mesmo tempo, atentarmos minuciosamente para o desenvolvimento das formas de pensamento filosófico. Somente após havermos efetuado este ponto preliminar teremos condições para enfrentar os aspectos práticos da questão de como comunicar a verdade imutável a um mundo em mudança.7

Nesta pesquisa histórica, focaliza a origem e o desenvolvimento da tendência

moderna em fazer uma separação da realidade humana em duas partes. Ele chama este

esquema de dicotomia entre “graça” e “natureza”. A graça é a parte da realidade que diz

respeito aos valores espirituais do homem, que são objeto da fé. E natureza são os

aspectos da realidade humana disponível à razão.

Para Schaeffer, Tomás de Aquino foi que abriu caminho para a discussão e

desenvolvimento da dicotomia da graça e natureza. Fez isto ao conceber na vida

humana um papel autônomo para a razão, dando-lhe poderes de poder tratar de assuntos

relativos à fé.

Pressupondo esta autonomia da razão em relação à fé, o pensamento foi se

desenvolvendo ao longo do tempo, e o resultado foi que a natureza, guiada pela razão,

devorou a fé. Aquele que estava no andar de baixo destrui o andar de cima. Isto fez com

6 Schaeffer, A Morte da Razão (São José dos Campos-SP: Fiel, 1993), 1.7 Ibid, 6.

7

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que o esquema se tornasse unilateral. Antes natureza e graça, depois somente natureza

sem graça. Isto foi evidenciado na filosofia e nas ramificações culturais da vida humana.

Kant estabeleceu um abismo entre a graça e a natureza, e Hegel introduziu um novo

esquema para tratar da realidade.

Esta mudança de mentalidade (natureza sem graça) atingiu por exemplo a

ciência e a moral. A ciência moderna dos primórdios passou para uma nova fase: “a

moderna ciência moderna”. E na moral pôde-se perceber a “moderna moralidade

moderna”.

Viver numa perspectiva de um esquema de natureza sem graça, é contra a

própria natureza do mundo e da existência humana. E por isto o homem reagiu a esta

unilateralidade da natureza sem graça, porém à luz do pensamento de uma verdade

relativa, na dialética hegeliana, onde não há absolutos. Isto se expressou na frustação e

abandono da tentativa de se edificar um sistema de pensamento que englobasse todo a

realidade. Esta atitude é “desespero”, é deixar de considerar a vida como uma unidade.

O primeiro homem a se submeter a esta “linha de desespero” traçado por Hegel,

que ele mesmo superou no seu idealismo, foi Kierkegaard (1813-1855), nasceu neste

sentido, esta mentalidade do homem moderno. Em vez de um esquema de natureza e

graça mutuamente dependentes e independentes, e em vez da unilateralidade da

natureza sem graça, o homem moderno no seu desespero, montou um esquema de uma

natureza e graça totalmente separadas e autônomas entre si. A natureza no âmbito da

vida “real” e a graça na “religiosidade sem significado”.

A.3 – A Influência do Pensamento Moderno na Vida do Homem Moderno

O desespero da mentalidade moderna surgiu depois do homem moderno ter se

submetido a viver abaixo da linha do desespero, deixando de encarar a realidade como

uma só, passando a ver-se a si mesmo como algo dicotômico.

Segundo Schaeffer este modo de pensar “se disseminou de três diferentes

maneiras. Em primeiro lugar, difundiu-se geograficamente, da Alemanha para o

exterior.” Em “segundo lugar, espalhou-se através de classes. A intelectual foi a

primeira a ser afetada” e a “grande massa recebeu o novo modo de pensar através dos

meios de comunicação sem análisá-lo.” E em “terceiro lugar, disseminou-se este modo

de pensar mediante sucessivas disciplinas”8. Estas disciplinas são: a filosofia, a arte, a

música, a cultura geral e a teologia.

8 Ibid, 42-43.

8

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Quanto à influência do pensamento moderno nestas disciplinas, além de A Morte

da Razão, Francis trabalha mais extensamente este assunto no O Deus que Intervém.

Onde trata deste assunto nos chamados “passos na linha do Desespero”.

Passo 1: Filosofia

Para Schaeffer, Hegel é a porta de entrada, mais quem entra na porta é

Kierkgaard. Deste modo, o primeiro passo se deu na Filosofia.

E isto se expressou mais especificamente no existencialismo, que foi a rejeição

de qualquer esquema de sistema unificado, ou seja, foi uma rejeição ao essencialismo.

O homem, no existencialismo, não tem essência. E a principal característica destes

filósofos é a concepção de que a vida do homem não tem um sentido objetivo e real.

Porém o homem por meio da vontade e liberdade, se auto-autentifica dando a si mesmo

o sentido da vida, no entanto, ao fazer isto qualquer direção é válida.

Além do existencialismo, outras correntes também expressaram este desespero

moderno. O Positivismo Lógico e Filosofia Analítica, que negaram da filosofia qualquer

tentativa de se formular um sistema integrador do conhecimento.

Para Schaeffer o Existencialismo é distinto do Positivismo e Filosofia Analítica,

entretanto acerca destas últimas pode-se afirmar que “apesar de concordarmos que não

estão relacionadas, na sua origem, com o existencialismo, têm contudo comum o

seguinte: à usa própria maneira, são todas anti-filosofias.”9

A filosofia, portanto, se descaracterizou, em muitos de seus compartimentos, a

experiência sem significado é a saída do mundo da natureza.

Passo 2: Arte

O segundo passo se deu na Arte, e Schaeffer analisa vários nomes,

demonstrando em suas obras, traços e expressões da tendência modernista de pensar,

vendo a realidade separada em dois âmbitos.

Entre os nomes dos artistas, pode ser encontrado Van Gogh e Gaughin e

Cézanne. “Cada um deles tentou encontrar uma verdade universal na sua arte”. Porém,

quando “viram que haviam atravessado o limiar da linha do desespero, esses homens

começaram uma busca desesperada para achar a verdade universal que os devolvesse à

9 Schaeffer, O Deus que Intervém, 27.

9

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realidade, algo mais que apenas particularidades. Estavam procurando expressar uma

forma e uma liberdade que fossem válidas no âmbito da sua disciplina, a arte.”10

Além destes três citados acima, outras expressões modernas na Arte, foram

analisadas em Picasso, Modrian, no Dadaísmo, em Marcel Duchamp, nos “Happenings”

e nos ambientes.

Passo 3: Música

Dentro da tradição da música clássica, pode-se perceber, também, como foi que

o pensamento moderno dicotômico se infiltrou na composição da música moderna.

Ele identifica e estuda Jonh Cage, e de forma geral a música concreta. Esta

expressa nas suas composições o retrato da realidade concebida por seus compositores

em que tudo “é relativo, nada é seguro, nada é fixo, tudo está fluindo.”11

Passo 4: Cultura Geral

Dentro da cultural mais geral, também, o pensamento moderno encontrou

expressão. Dentro desta cultura geral há uma amplitude de ramificações, que em suma

tem em comum, serem expressões culturais da vida humana.

Ele cita exemplo do desespero moderno em Henry Miller, que foi um escritor,

que por traz da pornografia traz afirmações filosóficas profundas, com uma atitude anti-

lei, combatendo a moral.

A noção de uma verdade que prescinde de tese em oposição à antítese, em prol

de uma tríade de tese-antítese-sintese, afetou a concepção de gênero humano. Isto abriu

alternativas a mais, da tradicional divisão homem-mulher, surgiu o homossexualismo

filosófico.

Dentro do Teatro, pode ser visto em John Osborne, traços do desespero

moderno. Na poesia, tem-se o nome de Dylan Thomas. Também, foram afetados o

cinema, os meios de comunicação em massa e os Beatles.

Passo 5: Teologia

A Teologia, também, foi influenciada pelo pensamento moderno dicotomista.

Esta se afastou do Cristianismo Bíblico. O existencialismo que atingiu a Filosofia,

também atingiu a Teologia.

10 Ibid, 33.11 Ibid, 40.

10

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Depois da tentativa frustada de encontrar um Jesus histórico e uma religião

natural, surgiu uma nova Teologia. “A nova teologia perdeu a esperança de achar um

campo de conhecimento unificado. De maneira que, em contraste com a teologia bíblica

e da Reforma, ela é uma anti-teologia.”

Shaeffer acusa Barth de ter inserido a Teologia dentro do pensamento moderno

dicotômico, quando este postula um Cristianismo que prescinde totalmente da verdade

histórica. É uma religião, portanto, com dois aspectos, o aspecto natural e o aspecto

sobrenatural. Porém este último é uma impossibilidade no sentido de se tornar

inteligível. O que sobra é uma religião que consiste em um jogo de termos do

cristianismo ortodoxo, porém esvaziadas de sentido, e aliás, sem sentido nenhum,

somente pragmático. O Cristianismo na Nova Teologia é simplesmente um sistema de

símbolos religiosos que ajudam a compreensão do homem.

A.4 – O Alvo a Ser Atingido na Problemática do Homem Moderno

Pelo que se pode perceber, o pensamento do homem moderno, assume vários

aspectos, que internamente são distantes entre si. São várias manifestações com

conteúdo bem diferenciados e muitas vezes antagônicos entre si.

Se a apologética visasse combater estas expressões, com todas as suas

particularidades, o esforço se tornaria muito mais complexo e difícil, mais do que já é.

Porém, Shaeffer, não visa atingir as várias expressões, e sim a forma. Pois embora o

conteúdo seja diferente, as várias linhas do pensamento moderno tem algo em comum,

algo que as unifica, que é metodologia dialética. Francis diz: “Se queremos realmente

entender o século em que vivemos precisamos compreender que o inimigo real não é a

forma exterior que a dialética toma. Esta pode ser expressada de forma teísta ou ateísta.

O inimigo não é a forma ocasional que ela toma, mas é a própria metodologia

dialética.”12

B – O Fundamento da Apologética Cristã

Visto que a apologética consiste não somente de uma defesa mas também de

uma transmissão do Evangelho. E visto que, existe não somente um lado negativo, de

demolição, mas também, um positivo de substituição. É necessário um fundamento

teológico do Cristianismo que sirva de base para toda investida apologética. Depois de

12 Ibid, 46.

11

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identificar o alvo, é necessário uma estratégia e uma base. Esta base será mencionada

neste capítulo.

O fundamento teológico de Francis Schaffer é o Cristianismo Bíblico puro. Para

ele a mensagem cristã é em si uma alternativa para o desespero do homem moderno. O

cristianismo é uma alternativa para se considerar o que foi perdido na dicotomia da vida

do homem moderno. E o aspecto mais importante do Cristianismo é o seu aspecto

histórico. Francis Schaffer, portanto, irá enfatizar bastante este aspecto do cristianismo.

Porém, anterior a este, também partirá do pressuposto básico de verdade. É a afirmação

de que a verdade é absoluta que é a implicação direta do cristianismo. Ele trabalhou isto

bastante na parte III, “Como o Cristianismo Histórico Difere da Nova Teologia”, da sua

obra O Deus que Intervém.

Porém, é na obra Verdadeira Espiritualidade, que Schaeffer vai detalhar

melhor o fundamento teológico do cristianismo bíblico e histórico. Nesta obra, o autor

mostra como é que no kerygma evangélico, nos fatos por ele anunciados, afetam

decisivamente a noção de realidade e de espiritualidade. Para ele o Cristianismo não tem

uma espiritualidade sem significado, mas que a morte e ressurreição de Cristo afetou de

forma concreta o tempo e espaço da realidade humana.

Portanto é a espiritualidade do tempo e espaço, que foi afetado por um evento

Cristo também no tempo e espaço, é que faz o Cristianismo ser uma religião dicotômica,

mas sistêmica e unificadora. O homem vive no tempo e no espaço e portanto a sua

espiritualidade também se dá neste ambiente, e não em teorias ou misticismo semântico.

A espiritualidade verdadeira do cristão, se dá na santificação que é a vida numa

realidade concreta do aqui e agora. Deve ser uma espiritualidade não às expensas da

visão de realidade da Bíblia, de um mundo sobrenatural. “Ora, a espiritualidade do

cristão, sobre a qual escrevemos nos capítulos anteriores, não subsiste sozinha. Ela está

relacionada com a unidade da ótica com que a Bíblia vê o universo. Isso quer dizer que

precisamos entender – intelectualmente, com as janelas abertas – que o universo não é o

que nossa geração diz que é, ao ver somente o universo naturalista.”13

A base da apologética de Francis Schaefer, pode ser dita, que é a sua afirmação

do cristianismo bíblico sem retirar deste a visão de um mundo sobrenatural. O homem

moderno entrou em desespero, porque, passou a ver o mundo somente do ponto de vista

de sua metade, o lado natural. Sendo assim, aquilo que nele existe e que é relacionado

com aspectos do lado sobrenatural, tem sido substituído por outros elementos naturais e

13 Schaeffer, Verdadeira Espiritualidade, 81-82.

12

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existenciais. Por isto é que o cristianismo bíblico se constituí como uma alternativa

distinta para sair do desespero da dicotomia, portanto, “em oposição à parca experiência

existencial, ou às experiências religiosas orientais, a glória da realidade experiencial do

cristão é que podemos vivenciá-la com as portas e janelas intelectuais escancaradas.”14

Em suma a base da apologética de Francis Schaeffer, é a unidade entre fé e razão

na espiritualidade e vida humana, à luz da morte e ressurreição de Jesus, bem como no

poder do Espírito operando no tempo e espaço aqui neste mundo. Não há separação nem

dicotomia, e sim uma continuidade do mundo sobrenatural no mundo natural.

C – A Estratégia da Apologética Cristã

Depois de estabelecer o alvo, que a noção dialética expressa no desespero

dicotômico do homem moderno. E depois de firmar a base do qual se partirá os ataques

e defesas do cristianismo, que é fé bíblica histórica unificadora da realidade. É

necessário uma estratégia de ataque, que é a transmissão da fé cristã ao homem

moderno, que via de regra também pode ser usada na defesa do cristianismo.

A estratégia de Francis Schaeffer, que é a sua tarefa apologética, consiste em

mostrar e demonstrar a fraqueza e inutilidade do pensamento moderno, em suas

expressões desesperadas e desintegradas. E com base no cristianismo histórico, depois,

apresentar uma solução para preencher o lugar vazio que foi deixado pela ausência do

pensamento moderno. Esta solução esta no kerygma evangélico.

C.1 - Identificação do Ponto de Contato

Toda tarefa apologética, pressupõe um ponto de contato, ou como alguns dizem,

“ponto de conexão”. Pois a natureza da tarefa do apologista é intelectual e discursiva.15

Nenhum argumento pode ser demonstrado, se não houver uma acordo sobre a

veracidade das premissas envolvidas. Deve haver uma crença em comum, uma premissa

pelo qual se desenvolverá o argumento, na defesa ou ataque apologético.

Francis Schaeffer, encontra este “ponto de conexão”, na realidade da vida do

homem moderno. Como o universo em sua natureza envolve uma unidade entre a razão

e a fé, entre a natureza e a graça, desconsiderar esta unidade, é necessariamente entrar

em conflito com a própria realidade, e se colocar em estado de inconsistência

existêncial.

14 Ibid, 91-92.15 Ver Alan Richardson, Apologética Cristã (Rio de Janeiro-RJ: JUERP, 1978), 22-26.

13

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Portanto, o ponto de contato da apologética schaffiana é a própria realidade

presente na vida dos homens modernos. Pois embora eles no pensamento neguem esta

realidade, na prática em maior ou menor grau, afirmam esta realidade negada. E é ai que

se situa o ponto de conexão. Como poderia o homem moderno negar que é um ser

moral, que acredita no bem? Como poderia negar que tem sentimentos de amor e

estéticos? Como poderia negar a realidade que diz que ele é um ser pessoal? É nestas

verdades práticas do homem, que Schaeffer começa sua argumentação.

C.2 – Confronto Negativo: Mostrar o “Ponto de Tensão”

Uma vez estabelecido o ponto de conexão, em que tanto o cristão com o homem

moderno estão de acordo com certos fatos da realidade humana, que não podem ser

negados na prática. O próximo passo, é de natureza negativa, é o processo de limpar o

terreno, bombardeando o inimigo em seus pontos fracos, e deixando o território vazio.

Este passo, para Franscis, é o passo em que as pressuposições modernistas tem que ser

abandonadas, por se mostrarem inadequadas para explicar a realidade.

Neste momento, é importante, mostrar que o conceito de verdade relativa nega a

realidade prática da vida do homem. É mister portanto, mostrar ao homem moderno que

sua concepção de mundo exige posturas impossíveis de serem realizadas na prática. Um

exemplo pode ser dado: Uma moral relativa, pressupõe a falta de sentido de qualquer

moral, pois não havendo um padrão, qualquer padrão é válido. É por isto que dentro

desta concepção, o homem moderno não pode julgar como errado, alguém cuja ética e

moral permite casar com várias mulheres, matar crianças e velhinhos, abusos sexuais, o

roubo, e assim por diante. Viver sem a concepção de um bem moral absoluto, é

pressupor que tudo é permitido.

A tarefa do apologista será portanto, identificar na prática do homem moderno,

quais os valores que ele mantém em sua vida, que são negados em seu sistema. Schaefer

chama isto de identificar “o ponto de tensão”. Ele trabalha com a premissa universal

básica que diz: “ninguém consegue viver coerentemente com suas pressuposições não

cristãs e, consequentemente, por se defrontar com o mundo real e consigo mesmo, na

prática você encontrará um ponto sobre o qual possam falar.”16

Portanto, na tarefa negativa da apologética, o procedimento não é apresentar o

kerygma evangélico: Deus existe, Jesus morreu pelos pecados, Jesus ressuscitou dos

mortos, você é um pecador, você deve crer em Jesus, para não ir para o inferno. Tudo

16 Schaeffer, O Deus que Intervém, 125.

14

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isto é verdade, sim, mas não deve ser usado neste momento. Schaeffer diz que a

“verdade que permitimos entrar primeiro não é uma afirmação dogmática da

verdade das Escrituras, mas a verdade do mundo externo e a verdade daquilo que

a própria pessoa é.”17

Uma vez que se encontra “o ponto de tensão”, a pessoa que estiver consciente da

realidade, e não quer viver em vão, tem que escolher entre sua vida prática e entre seu

sistema de pensamento moderno. Schaeffer fala disto como um teto de “proteção

contra os golpes do mundo real”. É dever do apologista retirar este teto, que é uma

tarefa delicada. “O cristão, amorosamente e com lágrimas verdadeiras, deve remover o

teto e permitir que a verdade do mundo externo e do que o homem é o atinjam. Quando

o teto removido, cada indivíduo precisa ficar nu e ferido perante a verdade do que

existe.”18

C.3 – Confronto Positivo: Mostrar a Saída.

Depois ter realizado o aspecto negativo, e o terreno ter ficado limpo, é

necessário construir algo no lugar, e esta é tarefa positiva da apologética. Seria muito

inadequado para o cristão, demolir o sistema de crenças de uma pessoa, e deixar esta

desampara e vazia sem uma solução. O cristão a partir da sua base irá apresentar o

Cristianismo como a alternativa entre o desespero e o desespero.

É nesta parte, que o Cristianismo tem que ser apresentado, ou seja, a mensagem

kerygmática da fé cristã. Tal como foi estada como o fundamento da apologética neste

trabalho. Schaeffer, mostra os principais pontos que devem ser confessados pelo

homem moderno que queira se tornar um cristão.

1 – Você crê que Deus existe, que é um Deus pessoal e que Jesus Cristo é Deus – sempre lembrando que não estamos falando da palavra ou da idéia Deus, mas do Deus infinito-pessoal que existe?

2 – Você reconhece que é culpado perante este Deus – lembrando que não estamos falando de sentimentos de culpa, mas de culpa moral verdadeira?

3 – Você crê que Jesus Cristo morreu no espaço e no tempo, na história, na cruz e que quando morreu, Sua obra substitutiva em sofrer o castigo de Deus pelo pecado foi inteiramente alcançada e que é completa?

4 – Baseado nas promessas de Deus em sua comunicação escrita conosco, a Bíblia, você quer se entregar (ou já se entregou) a este Cristo como seu Salvador pessoal – não confiando em nada que você tenha feito ou venha a fazer?19

Estes pontos devem ser transmitidos, deixando que tornar cristão é o ato possível

somente com base no que Cristo fez na cruz, e somente a fé nisto que pode iniciar a

17 Ibid, 128.18 Ibid, 127.19 Ibid, 134.

15

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pessoa no Cristianismo. Não se pode esquecer de falar que a vida cristã, é uma vida de

santificação do pecado.

16

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3 – Avaliação da Apologética de Schaeffer

Ao se avaliar a apologética de Francis Schaeffer pode-se referir a dois pontos: A

crítica propriamente dita desta e a relevância desta para o contexto pós-moderno dos

dias atuais.

Quanto à critica propriamente dita, Collin Brown, faz um bom comentário,

Schaeffer, mais especificamente A Morte da Razão, diz algumas coisas importantes:

1 – “A Morte da Razão deve ser lida e julgada por aquilo que é – não uma

história definitiva do pensamento, mas, sim, um ensaio sugestivo e provocador.”20

2 – A fortaleza da posição de Schaeffer é dupla: A primeira é que procura

apresentar um conceito integrado da totalidade da vida. Procura relacionar a fé cristã

com a totalidade da vida; a segunda é que de forma diferente de “dalgumas versões do

cristianismo, especialmente as mais radicais dos últimos duzentos anos, não se trata de

elaborar uma filosofia preconcebida, e depois enfeitá-la com linguagem teológica.”21 É

sim uma tentativa de unificar o natural e sobrenatural na Bíblia.

3 – Schaeffer não procura demonstrar a veracidade de elementos dentro da fé

cristã, e.g. a existência de Deus, ou a vida após a morte. Na verdade ele procura mostrar

duas coisas. “De um lado, a filosofia secular fracassa totalmente quanto ao fazer sentido

do homem, do mundo, da história e da experiência pessoal com um todo, ao recusar-se a

aceitar qualquer coisa senão aquilo que suas premissas racionalistas permitirão. E, do

outro lado, o sistema de crenças apresentado pela Bíblia realmente faz bom sentido.”22

No que diz respeito à relevância da apologética de Francis Schaeffer, para os

dias atuais da pós-modernidade, pode-se dizer que a sua apologética ainda é relevante.

20 Brown, Filosofia e Fé Cristã, 167.21 Ibid, 167.22 Ibid, 167.

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Alguém poderia objetar dizendo que este método foi usado e elaborado para ser

aplicado num contexto de um mundo de mentalidade moderna, e visto que, os dias

atuais são marcados pelo pensamento pós-moderno, a apologética schaeffiana teria que

ser reformulada, caso contrário perderia seu valor.

Respondendo a esta objeção, pode-se dizer que o termo “moderno” pode ser mal

entendido neste contexto. Na verdade quando Schaeffer falar de pensamento moderno,

ele está tratando da concepção dicotômica da realidade, que divide esta, e que torna o

homem inconsistente. Como foi visto, Francis não visa combater, de modo específico,

as várias modalidades do pensamento moderno e sim, a forma por trás destes, que é a

concepção de uma verdade à moda de Hegel, dialética, em outras palavras, a verdade

relativa. Portanto, quando o autor estudado fala sobre mentalidade moderna, fala da sua

atitude para com a verdade. Sendo assim, no mundo pós-moderno, muito mais do que

no período moderno se encaixa neste conceito de homem moderno. Se tem uma verdade

mais bem defendida, nos dias de hoje, é o conceito relativista da verdade, expresso no

pluralismo pós-moderno. A mesma lógica que valeu para o tempo de Schaeffer continua

valendo para os dias de hoje. Não se pode negar que existem novas ênfases e tendências

no pensamento pós-moderno, porém não são estes conteúdos que são combatidos e sim

o princípio básico por trás destes.

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Conclusão

Concluindo este trabalho, é bom falar que o método apologético de Francis

Schaeffer é pertinente à nossa época. Foi um método que mostrou ser eficaz, quando

aplicado pelo nosso apologista cristão. Sua Comunidade L’Abri é a prova maior de que

seus esforços, como disse Paulo, não foram em vão.

Porém, uma nota aqui deve ser feita, de nada vale toda esta metodologia

apologética, se o Espírito Santo de Deus não se utilizar deste meio para tocar no coração

do homem moderno ou pós-moderno. A apologética é necessária sim, embora não é a

eficiência e eficácia desta que irá trazer os frutos e resultados.

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Bibliografia

Brown, Colin, Filosofia e Fé Cristã. São Paulo-SP: Vida Nova, 1983.

Richardson, Alan, Apologética Cristã. Rio de Janeiro-RJ: JUERP, 1978

Schaeffer, Francis A, A Morte da Razão. São José dos Campos-SP: Fiel, 1993.

__________________, O Deus que Intervém. Brasília-DF: Refúgio, 1981.

__________________, Verdadeira Espiritualidade. São Paulo-SP: Cultura Cristã,1999.

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