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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC/SP
Mauro Tadeu Baptista Sobhie
Análise comparativa de avaliação em
press releases e notícias
DOUTORADO EM LINGÜÍSTICA APLICADA E
ESTUDOS DA LINGUAGEM
SÃO PAULO
2008
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC/SP
Mauro Tadeu Baptista Sobhie
Análise comparativa de avaliação em
press releases e notícias
Tese apresentada à Banca Examinadora
como exigência parcial para obtenção do
título de Doutor em Lingüística Aplicada
e Estudos da Linguagem pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, sob
orientação da Profa. Dra. Leila Barbara.
DOUTORADO EM LINGÜÍSTICA APLICADA E
ESTUDOS DA LINGUAGEM
SÃO PAULO
2008
Banca examinadora
___________________________________
___________________________________
___________________________________
___________________________________
___________________________________
Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos ou científicos, a
reprodução total ou parcial desta tese, por processos eletrônicos
ou de fotocopiagem
Assinatura: Data:
AGRADECIMENTOS
Agradeço às seguintes pessoas e instituições; peço desculpas antecipadamente por
quaisquer omissões, totalmente indesculpáveis, mas totalmente involuntárias.
Ao CPNq, pelo apoio financeiro indispensável para a realização desta pesquisa.
À orientadora Leila Barbara, por seu enorme carinho e paciência infinita, que me
apresentou o mundo acadêmico e ensinou a fazer pesquisa científica, além de muito
me ensinar sobre a vida e sobre mim mesmo.
À minha esposa Vilma, que sempre me apoiou e me compreendeu em todos os
momentos difíceis e que soube suportar os momentos de distância. Os cuidados e seu
carinho foram essenciais para que eu pudesse enfrentar todas as dificuldades e
privações da vida e passado a ser uma pessoa melhor. Também ao Flávio, pela
amizade e o incentivo constante.
Aos meus pais, que sempre me deram apoio para que eu chegasse até aqui e que
compreenderam os anos de distância. Às minhas irmãs e meus sobrinhos, pelo
carinho.
A toda a minha família, que também soube compreender a ausência e sempre me
incentivou em minha jornada.
Aos professores do LAEL, que muitas vezes me mostraram apoio e incentivo para ir
em frente, especialmente os professores Rosinda Ramos, Tony Berber Sardinha,
Orlando Vian Jr. e Taïs Bittencourt, que participaram de minhas bancas de
qualificação e ofereceram sua contribuição valiosa ao desenvolvimento desta
pesquisa, além de sua inestimável amizade. Agradeço também à professora Nina
Célia Almeida de Barros pela contribuição à versão final desta tese e aos diversos
professores de outras instituições estrangeiras, que deram orientações valiosas e
desinteressadas, especialmente os professores Geoff Thompson, Kazuhiro Teruya,
Jim Martin e Carlos Gouveia.
Às funcionárias do LAEL, Maria Lúcia e Márcia, que apesar de todas as
dificuldades, sempre me incentivaram e deram apoio indispensável nas atividades
acadêmicas, sem falar na enorme amizade e carinho.
Aos funcionários da PUC/SP, especialmente da Secretaria de Alunos, Secretaria de
Teses e Biblioteca, pelo atendimento sempre simpático e solícito.
Por último, e não menos importante, aos colegas de nosso grupo de orientação e
demais colegas do LAEL, que, cada um de seu jeito, me auxiliaram a avançar nos
estudos e me permitiram participar de suas vidas, dando provas de grande apreço e
amizade, e ajudando a enfrentar a aridez da vida acadêmica.
Resumo
Este trabalho tem como objetivo analisar a avaliação na linguagem
empresarial. A avaliação é um aspecto da linguagem relacionado à interação, sendo
um campo de estudos que pode trazer contribuições significativas para a área
empresarial, pois as empresas são entidades que dependem de sistemas de
comunicação para criar alianças entre seus elementos internos, com outros grupos e
instituições.
As análises lingüísticas foram baseadas no arcabouço teórico da Lingüística
Sistêmico-Funcional (LSF), apresenta uma detalhada descrição de como os recursos
ideacionais e interpessoais da linguagem descritos por Halliday (1978, 1994) podem
ser usados com propósitos avaliativos em diferentes gêneros, conforme os estudos de
Avaliação e Avaliatividade. Diferentemente de outras análises de avaliação baseadas
na LSF, esta pesquisa faz uma análise comparativa baseada em corpus entre os press
releases de duas empresas brasileiras de telecomunicações e notícias publicadas por
um jornal sobre os mesmos assuntos, discutindo as avaliações explícitas e implícitas
contidas nessas descrições e os valores envolvidos nelas à luz do contexto.
Os resultados da análise mostraram quatro grupos principais de diferenças
entre press releases e notícias: os press releases tendem a atribuir avaliações
positivas aos serviços oferecidos aos clientes, à capacidade da própria empresa, a
ações que aumentem essa capacidade e aos seus resultados positivos. As notícias, por
sua vez, tendem a excluir essas avaliações positivas e incluir informações sobre
limitações dos produtos e problemas internos das empresas. Os resultados permitiram
também observar que as empresas e o jornal utilizam conjuntos de valores
semelhantes ao fazerem suas avaliações, mesmo quando os pontos de vista são
diferentes. Dessa forma, esta pesquisa pretende que seus resultados tragam subsídios
para que as empresas possam se comunicar melhor com os seus diferentes públicos e
para a educação de leitores críticos, que identifiquem os valores que estão por trás
das escolhas lingüísticas dos textos.
Palavras chave: avaliação, avaliatividade, press releases, notícias, análise comparativa
Abstract
This dissertation aims at analyzing evaluation in the business language.
Evaluation is an aspect of language related to interaction, being a field of studies that
may bring a significant contribution to business since companies are entities that
depend on communication systems to construct alliances both between their internal
elements and with external individuals and institutions.
The linguistic analysis herein is based on the theoretical framework of the
Systemic-Functional Linguistics (SFL) that provides us with a detailed description
on how the ideational and interpersonal resources of language described by Halliday
(1978, 1994) may be used with evaluative purposes in different genres based on
Evaluation and Appraisal studies. Differently from other SFL-based analysis of
evaluation, this research makes a corpus-based comparative analysis between press
releases from two Brazilian telecommunication companies and news stories
published by an online newspaper about the same topics, discussing the explicit and
implicit evaluations embodied in these texts and the values involved on them at the
light of the context.
The analysis has shown four major groups of differences between Press
Releases and News: Press Releases tend to assign positive evaluations to the benefits
to the customer, the capacity of the company itself, their capacity improvements and
positive results. On the other hand, the News tends to exclude such positive
evaluations and include information on product‟s constraints and company‟s internal
problems. The results also revealed that the companies and the newspaper use similar
sets of values in their evaluations, even when expressing different points-of-view.
Therefore, it is expected that the analysis herein provide resources to enable
companies to communicate better with their different audiences and to the education
of critical readers enabled to identify the values underlying the linguistic choices of
the texts.
Key-words: evaluation, appraisal, press releases, news, comparative analysis
Sumário
INTRODUÇÃO ------------------------------------------------------------------------------------ 13
I. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ---------------------------------------------------------- 21
1.1. A visão funcional da linguagem da LSF ------------------------------------------------- 21
1.2. A relação entre texto e contexto ----------------------------------------------------------- 23
1.3. Estratificação e metáforas gramaticais --------------------------------------------------- 27
1.4. A metafunção ideacional -------------------------------------------------------------------- 28
1.4.1. A função lógica ------------------------------------------------------------------- 29
1.4.2. A função experiencial ---------------------------------------------------------- 31
1.4.3. Metáforas ideacionais ----------------------------------------------------------- 42
1.5. A metafunção interpessoal ------------------------------------------------------------------ 46
1.5.1. O sistema de Modo -------------------------------------------------------------- 47
1.5.2. Metáforas interpessoais --------------------------------------------------------- 50
1.6. Atribuição de papéis ------------------------------------------------------------------------- 52
1.7. Avaliação e avaliatividade ------------------------------------------------------------------ 53
1.7.1. O sistema de avaliação de Hunston ------------------------------------------- 55
1.7.2. O sistema da Avaliatividade --------------------------------------------------- 57
1.7.2.1. O subsistema de Atitude ------------------------------------------- 58
1.7.2.2. O subsistema de Engajamento ------------------------------------ 63
1.7.2.3. O subsistema de Gradação ----------------------------------------- 65
1.7.3. Considerações sobre os estudos de avaliação e avaliatividade ---------- 66
1.8. As empresas e o mercado ------------------------------------------------------------------- 68
1.9. O mercado de telecomunicações no Brasil ---------------------------------------------- 69
1.10. A comunicação empresarial, os press releases e as notícias ----------------------- 71
II. METODOLOGIA DE PESQUISA -------------------------------------------- 75
2.1. Descrição das empresas --------------------------------------------------------------------- 76
2.2. Procedimentos de coleta e organização dos dados ------------------------------------ 77
2.3. Descrição do corpus -------------------------------------------------------------------------- 78
2.4. Metodologia de análise --------------------------------------------------------------------- 81
Sumário (cont.)
2.4.1. Estudos sobre análises computadorizadas ---------------------------------- 81
2.4.2. A abordagem usada nesta pesquisa ------------------------------------------ 84
2.5. Palavras exclusivas e palavras significativamente exclusivas ----------------------- 86
2.6. Instrumentos de análise --------------------------------------------------------------------- 88
2.6.1. Comparação lado a lado dos textos ------------------------------------------- 89
2.6.2. Listas de palavras significativamente exclusivas -------------------------- 91
2.7. Análise dos recursos ideacionais ---------------------------------------------------------- 94
2.7.1 Análise gramatical das linhas de concordância ---------------------------- 94
2.7.2. Análise dos participantes ------------------------------------------------------- 95
2.7.3. Análise das relações ideacionais nas quais os participantes estão
envolvidos ------------------------------------------------------------------------- 95
2.8. Análise dos recursos avaliativos ---------------------------------------------------------- 96
III. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ------------------------ 99
3.1. Apresentação dos resultados --------------------------------------------------------------- 99
3.2. Relatos de linguagem ------------------------------------------------------------------------ 100
3.3. Representação das atividades da empresa ----------------------------------------------- 106
3.4. Análise da avaliação ------------------------------------------------------------------------- 112
3.4.1. Oferta de benefícios ------------------------------------------------------------- 113
3.4.1.1. Oferta de serviços pelos produtos -------------------------------- 114
3.4.1.2. Limitações e restrições dos produtos ---------------------------- 132
3.4.1.3. Divergências em press releases e notícias ---------------------- 140
3.4.2. Demonstração de capacidade -------------------------------------------------- 146
3.4.3. Aumento de capacidade da empresa ----------------------------------------- 158
3.4.3.1. Aumento de capacidade por ações da empresa ---------------- 158
3.4.3.2. Aumento de capacidade por ações de parceiros --------------- 160
3.4.3.3. Problemas internos -------------------------------------------------- 165
3.4.4. Resultados das ações das empresas ------------------------------------------- 169
3.4.4.1. Expressos por ações dos clientes --------------------------------- 169
3.4.4.2. Expressos por indicadores financeiros -------------------------- 173
3.5. Considerações sobre a discussão dos resultados---------------------------------------- 176
Sumário (cont.)
CONSIDERAÇÕES FINAIS -------------------------------------------------------------------- 181
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS --------------------------------------------------------- 189
ANEXO I – Títulos dos press releases e notícias ------------------------------------------- 197
ANEXO II – Quantidades de palavras --------------------------------------------------------- 201
ANEXO III – Palavras significativamente exclusivas -------------------------------------- 203
Índice de figuras
Figura 1. Contexto, metafunções e léxico-gramática --------------------------------------- 25
Figura 2. Taxonomia de participantes --------------------------------------------------------- 32
Figura 3. Representação dos tipos de processos --------------------------------------------- 34
Figura 4. Relação entre modalidade, polaridade e modo ---------------------------------- 49
Figura 5. Sistemas interpessoais de Thompson e Thetela --------------------------------- 52
Figura 6. O sistema da Avaliatividade -------------------------------------------------------- 58
Figura 7. O subsistema de Engajamento ------------------------------------------------------ 64
Figura 8. O subsistema de Gradação ---------------------------------------------------------- 65
Figura 9. Elementos do sistema de marketing ----------------------------------------------- 69
Figura 10. Lista de comparação lado a lado -------------------------------------------------- 90
Figura 11. Sistema de bases de avaliação para os produtos ------------------------------- 178
Figura 12. Sistema de bases de avaliação para as empresas ------------------------------ 179
Índice de quadros
Quadro 1. Análise sob as três metafunções -------------------------------------------------- 27
Quadro 2. Sistemas dêiticos ideacionais ------------------------------------------------------ 29
Quadro 3. Tipos de processos relacionais ---------------------------------------------------- 36
Quadro 4. Circunstâncias de extensão e localização --------------------------------------- 38
Quadro 5. Padrões de congruência entre significados e classes gramaticais ---------- 42
Quadro 6. Exemplo de deslocamento metafórico ------------------------------------------- 43
Quadro 7. Convenção de notação da constituência lexicogramatical ------------------- 44
Quadro 8. Funções de fala ----------------------------------------------------------------------- 46
Quadro 9. Modalização e modulação --------------------------------------------------------- 51
Índice de quadros (cont.)
Quadro 10. Exemplos de realizações metafóricas de propostas e proposições ------- 51
Quadro 11. Comparação entre Hunston e Martin ------------------------------------------- 67
Quadro 12. Tamanho do corpus ---------------------------------------------------------------- 78
Quadro 13. Atividades descritas nos press releases e notícias --------------------------- 79
Quadro 14. Funções ideacionais das palavras significativamente exclusivas --------- 99
Quadro 15. Quantidade de palavras e linhas de concordância --------------------------- 100
Quadro 16. Palavras exclusivas usadas em relatos de linguagem ----------------------- 101
Quadro 17. Números de press releases e notícias com relatos de linguagem --------- 104
Quadro 18. Ocorrência de participantes por número de textos --------------------------- 106
Quadro 19. Ocorrência das relações ideacionais por número de textos ---------------- 108
Quadro 20. Funções ideacionais do exemplo 33 -------------------------------------------- 114
Quadro 21. Funções ideacionais do exemplo 34 -------------------------------------------- 116
Quadro 22. Funções ideacionais do exemplo 35 -------------------------------------------- 117
Quadro 23. Funções ideacionais do exemplo 36 -------------------------------------------- 119
Quadro 24. Funções ideacionais do exemplo 38 -------------------------------------------- 121
Quadro 25. Funções ideacionais do exemplo 39 -------------------------------------------- 122
Quadro 26. Descrição dos clientes por processos mentais -------------------------------- 124
Quadro 27. Funções ideacionais do exemplo 44 -------------------------------------------- 125
Quadro 28. Funções ideacionais do exemplo 45 -------------------------------------------- 126
Quadro 29. Funções ideacionais do exemplo 62 -------------------------------------------- 134
Quadro 30. Funções ideacionais do exemplo 64 -------------------------------------------- 135
Quadro 31. Funções ideacionais do exemplo 65 -------------------------------------------- 136
Quadro 32. Funções ideacionais dos exemplos 67 e 68 ----------------------------------- 137
Quadro 33. Funções ideacionais do exemplo 70 -------------------------------------------- 138
Quadro 34. Funções ideacionais do exemplo 71 -------------------------------------------- 139
Quadro 35. Funções ideacionais do exemplo 72 -------------------------------------------- 140
Quadro 36. Estrutura ideacional do exemplo 73 -------------------------------------------- 141
Quadro 37. Funções ideacionais do exemplo 74 -------------------------------------------- 142
Quadro 38. Funções ideacionais do exemplo 76 -------------------------------------------- 143
Quadro 39. Funções ideacionais do exemplo 82 -------------------------------------------- 147
Quadro 40. Funções ideacionais do exemplo 83 -------------------------------------------- 147
Quadro 41. Estrutura de comparação dos exemplos 82 e 83 ----------------------------- 147
Quadro 42. Funções ideacionais no grupo nominal do exemplo 99 --------------------- 156
Quadro 43. Funções ideacionais no grupo nominal do exemplo 100 ------------------- 156
Quadro 44. Funções ideacionais do exemplo 107 ------------------------------------------ 159
Índice de quadros (cont.)
Quadro 45. Ações dos parceiros da empresa no evento ----------------------------------- 162
Quadro 46. Ações dos paulistas no evento --------------------------------------------------- 163
Quadro 47. Títulos dos press releases e notícias da Tele_A ------------------------------ 197
Quadro 48. Títulos dos press releases e notícias da Tele_B ------------------------------ 198
Quadro 49. Quantidades de palavras em press releases e notícias da Tele_A -------- 201
Quadro 50. Quantidades de palavras em press releases e notícias da Tele_B -------- 202
Quadro 51. Palavras significativamente exclusivas nos press releases da Tele_A -- 203
Quadro 52. Palavras significativamente exclusivas nos press releases da Tele_B --- 204
Quadro 53. Palavras significativamente exclusivas nas notícias sobre a Tele_A ---- 206
Quadro 54. Palavras significativamente exclusivas nas notícias sobre a Tele_B ----- 207
Introdução
13
Introdução
O presente trabalho faz parte do Projeto DIRECT – Em Direção à Linguagem
dos Negócios, na linha de pesquisas de Linguagem e Trabalho do Programa de Pós-
Graduação em Lingüística Aplicada e Estudos da Linguagem (LAEL) da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Como parte desse projeto, esta pesquisa
se inclui entre outras que têm como objetivo geral analisar o uso da linguagem em
atividades profissionais com base no arcabouço teórico da Lingüística Sistêmico-
Funcional.
A opção pelo estudo da linguagem empresarial veio de minha experiência
profissional em empresas de diversos setores e cumprindo diversas funções, entre as
quais o atendimento de clientes, treinamento de usuários, desenvolvimento de propostas
técnico-comerciais e concorrências. Essa experiência prática mostrou a importância do
uso apropriado da linguagem nas empresas para obter informações e colaboração,
resolver conflitos, analisar problemas e persuadir; dessa maneira, considero o setor
empresarial um campo de estudos relevante para os estudos lingüísticos, não apenas
pela importância das empresas na economia, mas também no desenvolvimento das
carreiras profissionais dos indivíduos.
Dentro da linguagem empresarial, escolhi analisar materiais de comunicação
relacionados a empresas brasileiras do mercado de telecomunicações para dar
continuidade aos meus estudos na Lingüística Aplicada, devido à minha formação
acadêmica e experiência profissional. Esta pesquisa está relacionada ao mercado de
telecomunicações, no qual atuei como engenheiro eletrônico, à área de marketing, na
qual tenho pós-graduação lato sensu e que fez parte de minhas atividades profissionais
no atendimento de clientes e negociação de vendas, e à linguagem empresarial e técnica,
na qual estou envolvido desde 1992, como tradutor. Dessa forma, procurei trazer para a
interpretação dos dados esse conhecimento de mundo adquirido, assumindo, dentro de
meus limites, o papel de especialista.
O arcabouço teórico da lingüística sistêmico-funcional (doravante LSF),
desenvolvida por Michael Halliday e outros estudiosos desde a década de 1950, foi
escolhido para esta pesquisa por seu foco sociossemiótico e funcional, que mostra como
os significados são criados pelos falantes para realizar determinadas funções em uma
sociedade, em uma complexa relação entre o texto e o seu contexto de uso. A LSF
oferece ao analista todo um arsenal de ferramentas de análise poderosas e flexíveis, com
Introdução
14
as quais podemos analisar isoladamente cada aspecto do texto e as maneiras pelas quais
os diferentes aspectos do texto operam em conjunto entre si, oferecendo classificações
gramaticais bem definidas e aceitando interpretações alternativas, o que nos permite
lidar com aspectos como a ambigüidade da linguagem.
A LSF é uma teoria adotada por um grupo crescente de pesquisadores em todo o
mundo. No Brasil, além do Grupo DIRECT, outros grupos de pesquisa que utilizam a
LSF, como os grupos formados por pesquisadores da PUC/SP como o Edulang, voltado
à pesquisa sobre o ensino e aprendizagem de línguas em contextos digitais, e o Grupo
de Abordagem Instrumental e o Ensino-Aprendizagem de Línguas em Contextos
Diversos. Em outras universidades, podemos citar o Grupo CORDIALL, da Faculdade
de Letras da UFMG, que estuda a utilização de corpora em Estudos Cognitivos da
Linguagem, dos Estudos da Tradução e da Análise Crítica do Discurso. O grupo de
Texto, Discurso e Práticas Sociais (NUPDISCURSO) reúne pesquisadores da UFSC e
da Universidade Federal de Santa Maria no estudo de gêneros textuais; temos também o
grupo de Linguagem e Ideologia da UNB, que estuda o discurso em uma teoria social
crítica e os grupos de Lingüística sistêmico-funcional, lingüística de corpus e análise do
discurso e de Práticas discursivas em contextos pedagógicos da PUC/RJ.
Aqui, abro um parêntese para justificar a escolha da principal fonte de referência
sobre a LSF utilizada nas descrições gramaticais, a terceira edição do Introduction to
Functional Grammar de Halliday e Matthiessen, edição de 2004. Pessoalmente
considero que a descrição da teoria sistêmica introduzida nessa edição permite ao leitor
compreender melhor do que as edições anteriores a lógica subjacente aos sistemas
gramaticais propostos pela LSF. Dessa forma, as referências a essa obra vêm com a
indicação de Halliday e Matthiessen (este último indicado como revisor da terceira
edição), embora seja possível encontrar a maior parte das descrições gramaticais nas
edições de 1985 e 1994 desse livro de Halliday.
O problema a ser enfrentado neste estudo surgiu de uma preocupação que
sempre me acompanhou durante toda a minha experiência profissional: identificar pela
linguagem o que influencia as pessoas e o que podemos fazer com a linguagem de
forma que elas colaborem com os nossos objetivos. Para lidar com questões como essas,
a LSF oferece conceitos e modelos que nos permitem analisar as formas como as
pessoas representam a sua experiência de mundo e interagem com os outros,
respectivamente descritas pelas metafunções ideacional e interpessoal de Halliday
(1978, 1994) e os desenvolvimentos desses sistemas propostos por outros estudiosos.
Introdução
15
Entre esses desenvolvimentos, podemos citar a detalhada descrição dos sistemas
ideacionais desenvolvida por Halliday e Matthiessen (1999, 2004), o sistema
interpessoal proposto por Thompson e Thetela (1995) e questões de Avaliação e
Avaliatividade1 discutidas por autores como Hunston (2000), Martin (2000) e Martin e
White (2005). Esta pesquisa também se baseou em estudos não lingüísticos, como as
descrições de materiais de comunicações de Bell (1991) e Fowler (1991), além de
estudos de marketing e administração de estudiosos como Philip Kotler (1990) e
Torquato (1986).
Dessa maneira, esta pesquisa tem como objetivo teórico contribuir para os
estudos de interação feitos dentro do arcabouço teórico da LSF, vindo, assim, a se reunir
aos pioneiros que analisam a Avaliação e o sistema de Avaliatividade no idioma
português brasileiro. Além disso, este trabalho é um dos primeiros voltado
especificamente à linguagem empresarial. Em um levantamento das pesquisas de
Avaliatividade feitas no Brasil, observei que a maior parte dos trabalhos encontrados
nessa área em nosso idioma estuda o uso da linguagem no ensino, como Sartin (2007),
textos de opinião, como Cabral e Barros (2007), ou políticos, como Souza (2007), para
mencionar apenas alguns dos participantes do 33rd International Systemic Functional
Congress, realizado na PUC/SP em 2006.
A análise das atitudes dos falantes sobre o que falam está prevista nos estudos de
Avaliação, como o de Hunston (2000) e o sistema de Avaliatividade (Martin, 2000;
Martin e White, 2005). Para Martin e White, a Avaliatividade (Appraisal):
“... refere-se ao lado interpessoal na linguagem, à presença subjetiva dos
escritores/falantes nos textos, na medida em que eles adotam posições com
relação ao material que eles apresentam e àqueles com quem eles se
comunicam. Refere-se aos modos como escritores/falantes aprovam e
desaprovam, ficam entusiasmados e repudiam, aplaudem e criticam e como
posicionam seus leitores/ouvintes a fazerem o mesmo. Está relacionada à
construção pelos textos de comunidades de sentimentos e valores
compartilhados e com os mecanismos lingüísticos usados para compartilhar
emoções, gostos e avaliações normativas. Refere-se aos modos como
escritores/falantes constroem semanticamente identidades ou personas autorais,
como entram em alinhamento/desalinhamento com respondentes existentes ou
potenciais e como constroem para seus textos um público desejado ou ideal.”
(Martin e White, 2005:1) 2
1 A tradução de Appraisal como Avaliatividade é discutida nos meios acadêmicos; em trabalhos de outras
universidades, é usado o termo “Valoração”. 2 A menos que haja indicação em contrário, todas as traduções incluídas neste documento são de minha
responsabilidade.
Introdução
16
Esse mapeamento entre os significados ideacionais e interpessoais está alinhado
à visão de Lemke (1992:87), que relaciona os significados ideacionais à ideologia,
dizendo que "o ideacional pode ser visto como uma ferramenta ou pretexto para a
sustentação, modificação, apoio ou contestação de uma estrutura de interesses sociais,
valores e pontos de vista". Na mesma linha, Thompson (1996a:76) aponta uma relação
íntima entre os significados ideacionais e interpessoais, dizendo haver “muitas formas
alternativas que os falantes podem escolher para representar o mundo, e a escolha feita
será em grande parte dependente de seus propósitos”.
Essa posição também é assumida por Hunston (2000:195), para quem “as
palavras escolhidas para descrever o mundo em um texto inevitavelmente refletem a
ideologia do escritor, ou mais apropriadamente, a ideologia da parte da sociedade de
onde vem o escritor”. Dessa maneira, ao criar as suas representações de mundo, os
falantes transmitem também seus sistemas de valores, introduzindo diversos tipos de
avaliações (Martin e White, 2005:28), de forma explícita ou implícita.
Um exemplo de como os recursos de representação do mundo, que a priori
estariam mais relacionados à metafunção ideacional de Halliday, podem ser utilizados
com propósitos interpessoais é apresentado de forma sistêmica na proposta de função
interacional de Thompson e Thetela (1995:107). Essa função mostra como papéis
sociais podem ser projetados aos participantes do discurso por recursos de nomeação e
atribuição, em seu conceito de papéis projetados, que são os “papéis atribuídos pelo
falante/escritor aos participantes do evento da linguagem” (1995:108).
Esse conceito foi posteriormente desenvolvido por Ramos em sua pesquisa sobre
a construção da identidade dos participantes em prospectos institucionais pela
“organização taxonômica dos itens lexicais (palavras chave-chave), que se configuram
para representar os participantes no universo textual” (1997:41). Nesse trabalho, Ramos
(1997:76) mostrou como a representação do mundo feita pelo falante afeta a interação
entre os participantes, pois segundo ela “os itens lingüísticos usados num texto não são
escolhas arbitrárias: elas nos dão importantes insights sobre a visão de um mundo que o
escritor deseja transmitir”.
Entretanto, a atitude do falante não é expressa apenas pelo modo como fala dos
participantes de seu discurso. Van Leeuwen (1996:38) aponta a exclusão ou inclusão de
atores sociais e das atividades destes na representação como um recurso que o escritor
tem para adequar seus interesses ou propósitos com relação aos seus leitores, visão
compartilhada por Fowler (1991:71), para o qual ao fazer escolhas de transitividade
Introdução
17
sempre estamos suprimimos outras possibilidades. Para analisar a exclusão, segundo
Van Leeuwen (1996:39) seria necessário comparar diferentes representações de uma
mesma prática social, pois não haveria vestígios dessa exclusão na análise de um único
texto.
Para analisar algumas das informações que não foram incluídas nas
representações de mundo feitas pelas empresas, utilizei a comparação entre as
representações fornecidas em press releases emitidos por duas empresas brasileiras de
telecomunicações (referenciadas neste trabalho como Tele_A e Tele_B) sobre suas
atividades empresariais e as incluídas em notícias publicadas por um jornal online
(Jornal_A) sobre os mesmos assuntos em datas próximas. Dessa maneira, foi possível
analisar as descrições e avaliações incluídas nas notícias e não nos press releases e vice-
versa.
Os comunicados à imprensa, ou press releases, foram considerados apropriados
para esta pesquisa por sua função de transmitir as informações que a empresa deseja que
sejam publicadas nos veículos de comunicação e que necessariamente tenham algum
interesse jornalístico para serem publicadas pelos jornais, não sendo, dessa forma, uma
promoção explícita da empresa, como ocorre nos materiais institucionais ou nas
propagandas. Outra característica é que, embora forneça as informações, a empresa não
tem o poder de determinar como será texto que chegará aos leitores do jornal, dentre os
quais estão os públicos que a empresa deseja atingir; dependendo de seus próprios
interesses, o jornal pode incluir na notícia informações de outras fontes ou interpretar as
informações fornecidas de uma forma desfavorável à empresa.
Isso pode ocorrer porque, segundo Fowler (1991:10), a notícia é articulada a
partir de uma posição ideológica, impondo uma estrutura de valores na representação de
mundo construída no texto (:4). Fowler lembra que:
“... a publicação de um jornal é um negócio e uma indústria, sendo esperado que
os produtos do jornal sejam determinados por fatores decorrentes de sua atuação
no mundo, como a necessidade de lucros e o relacionamento com outros agentes
sociais, que determinarão a seleção dos eventos e tópicos que terão interesse
jornalístico para serem publicados e também as maneiras como os eventos serão
representados”. Fowler (1991:20)
Considerando a distinção feita por Biber (1995:70) entre os conceitos de gênero
e tipo de texto, pela qual os gêneros são identificados por critérios externos ao texto
(como as relações entre os interactantes, por exemplo) e os tipos de texto são agrupados
Introdução
18
por similaridades em suas formas lingüísticas, os press releases e as notícias
pertenceriam a gêneros diferentes, independentemente de suas semelhanças. Enquanto o
press release é dirigido aos veículos de comunicação, com o propósito de promover a
imagem da empresa e de seus produtos junto a clientes em potencial e outros grupos que
possam ter interesse nas atividades da empresa; a notícia é dirigida ao público geral,
com o propósito de fornecer informações sobre as atividades da empresa.
Dessa maneira, esta análise pode também ser vista como uma comparação entre
dois gêneros diferentes de uma mesma cadeia de eventos comunicativos (Fairclough,
1995:37), que divulgam as atividades a partir da empresa, passando pelo jornal e
chegando aos públicos finais, em um estudo da intertextualidade (Halliday e Hasan,
1989:47) entre esses eventos comunicativos. Em suas notícias, o jornal discute as
informações fornecidas no press release, “desconsiderando” e excluindo informações
que não julga relevantes para os seus propósitos, e incluindo aquelas que considera
relevantes sobre o assunto discutido no press release, em uma indicação da sua posição
de leitura (Martin e White, 2005:25) do press release. Cabe aqui observar que o
conceito de gênero foi utilizado neste trabalho apenas para a identificação dos materiais
utilizados na pesquisa; dado o foco na análise das diferenças lingüísticas entre os textos,
uma discussão mais aprofundada sobre as diversas teorias que estudam o gênero poderá
ser feita em uma pesquisa posterior.
Com base nos conceitos apresentados acima, foram definidas as perguntas de
pesquisa abaixo para orientar essa pesquisa:
1. Quais são as diferenças nas formas como os press releases e as notícias
descrevem as atividades da empresa?
2. Como as diferenças encontradas expressam diferentes formas de avaliação
dessas atividades?
3. Quais são os valores que baseiam essas avaliações?
A pergunta 1 está relacionada à representação de mundo (Halliday, 1994:106)
construída nos textos; para responder essa pergunta, temos de identificar as diferenças
entre press releases e notícias relacionadas aos participantes envolvidos nas descrições
das atividades, as ações que esses participantes executam e as circunstâncias nas quais
essas ações ocorrem, identificando também as formas como essas relações ideacionais
estão expressas nos textos.
Introdução
19
A pergunta 2 está relacionada à avaliação (Hunston e Thompson, 2000) e à
avaliatividade (Martin e White, 2005), às maneiras pelas quais as relações ideacionais
identificadas nos press releases ou nas notícias podem mostrar as posições do jornal e
das empresas perante as atividades descritas em seus textos e criar laços de afinidade
com os públicos aos quais esses materiais se destinam.
A resposta à pergunta 3 está relacionada às bases que fundamentam as
avaliações incluídas no texto (Hunston, 2000:200), ou seja, os critérios pelos quais
podemos dizer que uma determinada relação ideacional pode expressar uma avaliação
positiva ou negativa. Identificando os conceitos3 que servem como base para as
avaliações, podemos analisar como os conjuntos de valores subjacentes às descrições
das atividades e as estratégias usadas nos press releases e notícias para construir suas
avaliações no texto. Seguindo a visão de Lemke (1992:83), isso envolve traçar relações
intertextuais que nos permitam interpretar uma determinada ação ou característica e
dizer se ela é apropriada ou significativa para uma determinada prática social.
Para responder a estas perguntas, foi coletado um corpus formado por pares
compostos por um press release e uma notícia que tratassem de uma mesma atividade
da empresa. O motivo para o uso de pares de press releases e notícias em vez da
comparação de dois corpora, um com todos os press releases da empresa e o outro com
todas as notícias sobre a empresa no período, foi a possibilidade de comparar
individualmente os recursos léxico-gramaticais usados para descrever cada tópico. Essa
comparação individual foi considerada necessária devido a dois fatores: a variação de
significado das palavras de acordo com o contexto e a diversidade dos recursos léxico-
gramaticais que podem ser usados para realizar os significados ideacionais e
interpessoais, conforme descrito nos capítulos de fundamentação teórica e metodologia
deste trabalho.
A análise comparativa dos recursos léxico-gramaticais presentes nos press
releases e notícias foi baseada em ferramentas oferecidas pela Lingüística de Corpus,
com o uso do aplicativo Wordsmith Tools (Scott, 2004). A Lingüística de Corpus foi
desenvolvida a partir dos trabalhos pioneiros de Sinclair e Leech, ambos publicados no
ano de 1966 (citados em Berber-Sardinha, 2000:332), e estuda a linguagem como
3 O termo “conceito” é usado neste trabalho em seu sentido genérico, de “noção” e “idéia”, não utilizando
o arcabouço teórico da Teoria do Conceito, descrita, entre outros, por Dahlberg (1978).
Introdução
20
sistema probabilístico em uma abordagem empirista (Berber-Sardinha, 2000:349), em
uma visão da linguagem alinhada à da LSF.
A análise comparativa entre corpora de diferentes autores não é comum em
análises de Avaliatividade, não sendo de meu conhecimento a existência de estudos com
tal abordagem metodológica. Para lidar com as especificidades da análise comparativa
de um aspecto lingüístico como a avaliação, que pode ser expressa nos textos por uma
diversidade tão grande de recursos, utilizei procedimentos desenvolvidos com base no
conceito de palavras significativamente exclusivas, apresentado no capítulo de
fundamentação teórica deste trabalho. Dessa maneira, o presente estudo procura trazer
uma contribuição tanto ao estudo da avaliação na linguagem empresarial quanto à
metodologia de análise de Avaliatividade baseada em corpus em um balanço entre a
análise quantitativa e a qualitativa que, segundo Martin e White (2005:260) “é um
importante desafio à medida que procuramos aprofundar o nosso conhecimento da
avaliação no discurso”.
Além desta introdução, este trabalho compreende os seguintes capítulos:
O Capítulo 1, de Fundamentação Teórica, apresenta um breve histórico e os
conceitos básicos da Lingüística Sistêmico-Funcional, incluindo os modelos usados
para descrever suas dimensões fundamentais, além das descrições das metafunções
ideacional e interpessoal e os recursos léxico-gramaticais usados para realizar esses
significados, incluindo os estudos relacionados à Avaliação e Avaliatividade.
O Capítulo 2, de Metodologia de pesquisa, descreve os procedimentos usados na
pesquisa, incluindo as perguntas de pesquisa, os procedimentos de coleta de corpus e a
descrição do corpus coletado, os procedimentos e instrumentos de análise usados na
análise comparativa do corpus e as listas de palavras resultantes dessas comparações.
O Capítulo 3, de Apresentação e discussão dos resultados, inclui a apresentação
dos resultados obtidos e a discussão desses resultados para responder as perguntas de
pesquisa, compreendendo a identificação de padrões ideacionais, os recursos avaliativos
utilizados e os valores envolvidos nessas avaliações.
As Considerações Finais deste trabalho apresentam de forma resumida os
principais resultados obtidos, as limitações da pesquisa e os sugerem possíveis
desenvolvimentos nos procedimentos e análises realizadas no âmbito desta pesquisa.
I. Fundamentação teórica
21
I. Fundamentação teórica
Este capítulo apresenta a fundamentação teórica que baseia a metodologia e as
análises descritas nos próximos capítulos. Como dissemos anteriormente, a teoria
lingüística que baseia esta pesquisa é a Lingüística Sistêmico-Funcional (LSF),
principalmente por seu foco na funcionalidade da linguagem e na interpretação dos textos
em seus contextos de uso, além do poderoso ferramental analítico oferecido para a
descrição da linguagem.
A seguir, são apresentadas as teorias de comunicação e marketing utilizadas neste
trabalho, que descrevem o sistema de marketing proposto por Kotler (1990:49), destacam a
importância da comunicação nessas relações e apresentam os materiais de comunicação
incluídos nesse trabalho, os press releases e as notícias. Este capítulo inclui também um
breve histórico do mercado de telecomunicações no Brasil, que oferece informações de
contexto para a interpretação dos dados no mercado brasileiro.
As próximas seções descrevem a visão funcional da linguagem oferecida pela
lingüística sistêmico-funcional, incluindo a descrição das metafunções ideacional e
interpessoal, e de suas realizações léxico-gramaticais, os estudos de avaliação, como os
publicados por Hunston e Thompson (2000), entre outros, e o sistema de Avaliatividade
proposto por Martin (2000).
1.1. A visão funcional da linguagem da LSF
A LSF estuda a linguagem a partir de um ponto de vista sócio-semiótico,
considerando-a como um dos diversos sistemas de criação de significados que fazem parte
da cultura de uma sociedade (Halliday e Hasan, 1989:03). Por essa visão, os membros de
uma sociedade trocam significados uns com os outros para executar tarefas nas atividades
reconhecidas como próprias dessa sociedade.
A análise sistêmica mostra que a funcionalidade é uma característica intrínseca à
linguagem. Segundo Halliday (1994:xiii), a linguagem seria o produto de um processo
evolucionário, orientado “pelas maneiras como a linguagem foi usada por dezenas de
milhares de gerações para satisfazer as necessidades do homem”. Dessa forma, para
Halliday e Matthiessen (2004:31), “toda a arquitetura da linguagem segue linhas funcionais
I. Fundamentação teórica
22
e a linguagem é como é devido às funções nas quais ela se desenvolveu na espécie
humana”, onde por funções da linguagem podemos entender “as maneiras pelas quais as
pessoas usam a linguagem” (Halliday e Hasan, 1989:15).
Os aspectos funcional e semântico da linguagem são destacados por Eggins
(1994:2) em quatro premissas básicas da LSF:
(i) o uso da linguagem é funcional;
(ii) a função da linguagem é criar significados;
(iii) os significados são influenciados pelo contexto social e cultural no qual eles são
trocados; e
(iv) o processo de uso da linguagem é um processo semiótico, que envolve a criação de
significados por escolhas. (Eggins (1994:2)
Essas premissas destacam a importância do significado na LSF. Halliday
(1992:353) explica o conceito de significado como sendo um produto do impacto da
experiência do mundo externo ao falante em sua consciência interna. Isso quer dizer que o
falante organiza em sua consciência na forma de significados todas as percepções captadas
por seus sentidos das coisas do mundo ao seu redor e das relações sociais com os outros
membros de seu grupo. Essa organização da experiência em significados depende,
portanto, da forma como o falante vê o mundo, da cultura da sociedade da qual cada
falante faz parte, incluindo as práticas sociais comuns e as formas como a linguagem é
utilizada.
A definição de texto na LSF também segue critérios funcionais, sendo “um
instrumento para a troca de significados que constituem o sistema social” (Halliday
1978:182) e “uma instância de linguagem que está realizando alguma função em um
contexto” (Halliday e Hasan, 1989:10). Assim, um texto pode ser visto como um evento
interativo, uma troca social de significados (Halliday e Hasan, 1989:11), que
“simultaneamente reflete a relação entre o falante e o mundo, interpretando a experiência,
e a relação entre o falante e os outros, com o estabelecimento de relações sociais”. Eggins
(1994:5) destaca a importância da funcionalidade, definindo texto como “uma interação
lingüística completa (falada ou escrita), preferencialmente do início ao fim”. Dessa
maneira, a questão do que é considerado texto parece estar relacionada ao cumprimento de
uma função desejada pelo falante, mesmo que não possamos definir com certeza todo o
alcance e complexidade do propósito comunicativo de um falante ao criar um texto.
I. Fundamentação teórica
23
Halliday (1972:350) diz que, apesar do imenso número de maneiras diferentes pelas
quais usamos a linguagem, podemos identificar um conjunto finito de funções com
características que são comuns a todos esses usos. As funções básicas da linguagem são
expressar a experiência humana e desempenhar relacionamentos pessoais e sociais. Para
Halliday (1994:xiii), os recursos semânticos que executam essas funções podem ser
reunidos em três metafunções. O conceito de metafunção é definido por Halliday e Hasan
(1989:44) como sendo “a parte do sistema de uma linguagem desenvolvida para executar
uma função específica.”
As três metafunções são: ideacional (a representação de experiências), interpessoal
(associada às relações sociais entre os participantes do discurso) e textual (o modo como
organizamos as mensagens). Neste modelo, a metafunção textual, pode ser considerada
uma função que habilita as outras duas, pois organiza o fluxo discursivo e cria coesão e
continuidade ao desenrolar do texto, segundo Matthiessen, (1995:20), é a metafunção que
“expressa os significados ideacionais e interpessoais como informações que podem ser
compartilhadas entre o falante e o ouvinte.”
1.2. A relação entre texto e contexto
Para Halliday (Halliday e Hasan, 1989:47), “o relacionamento entre texto e
contexto é dialógico; o texto cria o contexto na mesma medida em que o contexto cria o
texto”. Esse é um conceito básico da LSF, que está alinhado à visão de Firth, para o qual
“todo significado é função de um contexto”, ou seja, um mesmo texto em contextos
diferentes daria origem à criação de significados diferentes (Halliday e Hasan, 1989:10).
A LSF utiliza os conceitos de contexto de situação e contexto de cultura para
descrever o ambiente em que os textos são utilizados. O contexto de cultura é um ambiente
que vai além do contexto de situação, que compreende todo o retrospecto cultural dos
participantes e das práticas em que estes estão envolvidos. Lemke destaca o papel do
contexto de cultura na criação de significados:
O “contexto de cultura” deve ser representado não apenas pelos sistemas de
recursos semióticos que nos dizem o que pode ser significado, mas também a
caracterização do que é significado recorrentemente: dito e feito em um texto após
o outro e em uma ocasião de discurso após a outra. Somente dessa maneira
podemos interconectar textos, contextos situacionais e os sistemas mais amplos de
I. Fundamentação teórica
24
atitudes, crenças, valores e opiniões de uma comunidade social real. (Lemke,
1988:30)
O contexto de situação é definido por Halliday e Hasan (1989:11) como o contexto
no qual o texto se desenrola e o ambiente imediato no qual um texto está tendo uma função
(1989:46). Para a LSF, o contexto de situação é um construto semiótico de natureza não
lingüística que descreve a situação com base em princípios funcionais, seguindo a
definição de Firth, sendo apropriado para a análise de eventos de linguagem (Hasan,
1995:186-190).. Para Hasan, esta é uma visão que difere do conceito original de
Malinowski, para o qual o contexto faria referência a tudo significativo que acontece
concorrentemente com a atividade de fala.
O contexto de situação é formado por um conjunto de categorias que descreve uma
realidade construída intersubjetivamente entre os interactantes. Segundo Halliday e Hasan
(1989:12), os princípios que podemos usar para interpretar o contexto social de um texto,
ou seja, o ambiente no qual os significados são trocados, são descritos pelas variáveis de
contexto denominadas campo (field), relações (tenor) e modo (mode):
O campo do discurso refere-se ao que está acontecendo, à natureza da ação
social que está sendo executada: no que é que os participantes estão envolvidos
As relações do discurso referem-se a quem está participando da interação,
à natureza dos participantes, seus status e papéis: que tipos de relações entre papéis
são obtidos entre os participantes, os tipos de papéis de fala que estão sendo aceitos
no diálogo e todo o conjunto de relações socialmente significativas nas quais os
falantes estão envolvidos.
O modo do discurso refere-se a que papel a linguagem está
desempenhando, o que é que os participantes estão esperando que a linguagem faça
por eles na situação: a organização simbólica do texto, o status que ele tem e a sua
função no contexto, incluindo o canal (falado, escrito, etc.) e também o modo
retórico, o que está sendo feito pelo texto, em termos de categorias como
persuasivo, expositório, didático, etc. (Halliday e Hasan, 1989:12)
Conforme Halliday e Hasan (1989:38), todo texto carrega informações sobre o seu
contexto de uso; dessa forma, podemos recuperar as características de campo, relações e
I. Fundamentação teórica
25
modo da situação a partir do texto. A LSF descreve essa relação entre texto e o contexto
por um modelo que representa a linguagem (Halliday e Matthiessen, 2004:24), como um
sistema semiótico complexo, com vários níveis, ou estratos. A representação do sistema da
linguagem em estratos mostra como a gramática faz a interface entre o que acontece fora
da linguagem (os acontecimentos e situações do mundo e os processos sociais que
acontecem nele) e os fraseados (wordings)4 pelos quais os significados dessa experiência
humana são organizados na linguagem.
Como explica Hasan (1995:212) esse processo é constituído por duas partes: na
primeira, a experiência e as relações interpessoais são transformadas em significado, no
estrato da semântica. Em seguida, o significado é transformado em palavreado, no estrato
da léxico-gramática, em uma relação entre estratos denominado realização. A figura 1
apresenta uma representação da relação entre as variáveis de registro, as metafunções e os
principais sistemas gramaticais.
contexto (variáveis de contexto) modo relações campo
metafunções (significados) textual interpessoal ideacional
sistemas gramaticais (fraseados) tema modo transitividade
Figura 1. Contexto, metafunções e léxico-gramática
Essa figura mostra que o aspecto funcional da linguagem perpassa toda a relação
entre o texto e contexto. Dessa maneira:
a variável de campo tende a ser realizada por significados da metafunção
ideacional, que tende a ser realizada pelo sistema gramatical de Transitividade;
a variável de relações tende a ser realizada por significados da metafunção
interpessoal, que tendem a ser realizados pelo sistema gramatical de Modo; e
a variável de modo tende a ser realizada por significados da metafunção textual,
que tendem a ser realizados pelo sistema gramatical de Tema.
4 Os termos da LSF utilizados neste trabalho foram traduzidos conforme a lista de termos de sistêmica
disponível em http://www2.lael.pucsp.br/~tony/sistemica/
I. Fundamentação teórica
26
A relação entre os diferentes tipos de linguagem usados nas diversas situações é
representada pelo conceito de registro. Segundo Halliday e Hasan:
“o registro é um conceito semântico, definido como uma configuração de
significados que estão tipicamente associados, por um lado, a uma determinada
configuração situacional formada pelas variáveis de campo, relações e modo
descritas acima; e por outro, às características léxico-gramaticais que realizam
esses significados”. (Halliday e Hasan, 1989:38)
Dessa maneira, o conceito de registro parece expressar um mapeamento entre um
contexto de uso e as características dos textos usados nesse contexto, realizadas por
recursos léxico-gramaticais. O termo léxico-gramática expressa a união do léxico e da
gramática em um único estrato, em um continuum do qual o léxico e a gramática são
pontos extremos. Esse continuum expressa a realização de significados pelas operações
simultâneas da escolha de léxico e a escolha de estruturas gramaticais. Em termos simples,
ao expressarmos um significado, construímos orações escolhendo determinadas palavras e
determinadas estruturas gramaticais, como em o homem andou rapidamente / O homem
correu. Aqui, temos significados próximos expressos por uma estrutura gramatical, na qual
a expressão do significado de “movimento” (no processo andou) é modificada pela
expressão de significado de “alta velocidade” (na circunstância de modo rapidamente) no
primeiro exemplo. No segundo exemplo, esses dois significados estão expressos por um
único item lexical (o processo correu) no estrato do fraseado.
Segundo Halliday (1972:351), o conceito de sistemas gramaticais nos permite
mostrar como as funções da linguagem estão incorporadas à gramática como
“componentes funcionais”. Por essa perspectiva, (Halliday, 1978:148), o texto é um
produto dos componentes funcionais do sistema semântico, que operam em conjunto no
texto de forma integrada, sendo “realizados simultaneamente na oração em inglês, mas não
de forma discreta de forma que possamos apontar um segmento da oração e dizer que
pertence a um significado e outro segmento como que pertencendo a outro” (Halliday,
1973:317). Assim, não é possível “dizer que uma determinada palavra ou sintagma tenha
apenas um significado experiencial e que outra tenha apenas significado interpessoal”
(Halliday e Hasan, 1989:23). O quadro 1 apresenta classificações gramaticais (descritas
mais à frente) de uma mesma oração sob o ponto de vista das três metafunções.
I. Fundamentação teórica
27
Desde 1815 o país não tem sido perturbado por nenhuma guerra
Experiencial Circunstância Meta Processo Ator
Interpessoal Adjunto Sujeito Finito Predicador Adjunto
Textual Tema Rema
Quadro 1. Análise sob as três metafunções (adaptado de Thompson, 1996a:34)
Dessa maneira, podemos atribuir uma função a um elemento da oração quando
fazemos a análise sob o ponto de vista de uma metafunção, mas isso não impede que
atribuamos outra função à mesma palavra ou sintagma quando analisada sob o ponto de
vista de outra metafunção. Em termos práticos, essa flexibilidade nos permite analisar a
função de cada oração inicialmente por uma única metafunção para depois analisar as
maneiras pelas quais esses recursos atuam em conjunto na criação de significados.
1.3. Estratificação e metáforas gramaticais
Para Halliday (1998:189), o significado é criado em um espaço semiótico definido
pelo estrato semântico (que faz interface com o mundo dos fenômenos experienciais) e o
estrato léxico-gramatical (que faz interface com os sistemas de fonologia e grafologia).
Nesse sistema estratificado, a experiência é transformada em significado por um
mapeamento entre significados e formas, que pode ser feito por diversas maneiras
diferentes. Essas diferentes maneiras de realização guardam entre si uma relação de
agnação (agnation, cf. Halliday e Matthiessen, 2004:31), pela qual expressões agnatas
entre si têm significados próximos, realizados de maneiras diferentes.
Segundo Halliday (1998:188), os significados podem ser expressos, ou realizados
por diferentes formas por um processo de metáfora gramatical. As metáforas gramaticais
diferem das metáforas lexicais, cujo conceito é mais próximo da metáfora tradicional
(Halliday, 1998:191), e que normalmente fazem a oposição entre dois termos. No exemplo
os frutos de seu esforço, temos uma oposição entre frutos/resultados, onde uma construção
mais literal seria os resultados de seu esforço. Esse exemplo mostra que houve apenas a
substituição do léxico, sem alterações na estrutura gramatical (Halliday, 1998:213).
Na metáfora gramatical, segundo Halliday (1998:213), há uma mudança de uma
categoria gramatical para outra, que envolve operações complexas, com a mudança vertical
de nível de constituência e uma mudança horizontal, de classe e função. Essas operações
são apresentadas em maiores detalhes nas descrições das metáforas gramaticais ideacionais
e interpessoais, incluídas nas próximas seções, que descrevem as realizações léxico-
I. Fundamentação teórica
28
gramaticais das metafunções ideacional e interpessoal. Como este trabalho não analisou em
detalhes a metafunção textual, os sistemas gramaticais relacionados a essa metafunção não
serão descritos aqui. Entre as fontes de referência que descrevem tais sistemas gramaticais
estão, além do próprio Halliday (1994) e Halliday e Matthiessen (2004), os trabalhos de
outros sistemicistas como Fries (1993) e Matthiessen (1995). No idioma português, as
primeiras descrições dos sistemas textuais podem ser encontradas em Barbara e Gouveia
(2001), Gouveia e Barbara (2001, 2003) e Ventura e Lima-Lopes (2002).
1.4. A metafunção ideacional
A metafunção ideacional reúne os significados usados para criar representações de
mundo. Essas representações são modelos ou padrões de experiência que, segundo
Halliday (1994:106), constroem “um quadro mental da realidade, para fazer sentido do que
acontece ao redor e no interior do falante”. Criando essa representação de mundo, o falante
impõe uma ordem no fluxo infinito e contínuo de eventos, segmentando esse fluxo em
acontecimentos distintos (Halliday e Matthiessen, 2004:170). Nessa representação, cada
acontecimento identificado pelo falante é modelado na oração por um construto
denominado figura, cujos elementos são “um processo que se desenrola no tempo,
participantes diretamente envolvidos neste processo de alguma maneira e opcionalmente,
circunstâncias de tempo, espaço, causa, maneira e alguns outros tipos” (Halliday e
Matthiessen, 2004:170).
As seqüências de figuras são realizadas por seqüências de complexos oracionais
(Halliday e Matthiessen, 2004:364) para expressar diversos tipos de relações lógico-
temporais entre os fragmentos de realidade percebidos pelo falante, como relações de
causa e efeito ou seqüências de acontecimentos no tempo. As figuras podem ser
combinadas pelo falante em seqüências, que são séries de figuras que podem ser
expandidas indefinidamente por relações de expansão e projeção. Nas relações de
expansão, uma figura expande outra, explicando-a em outras palavras, somando-se a ela ou
enriquecendo-a com detalhes; enquanto que nas relações de projeção, uma figura pode
projetar outra como fala ou pensamento (Halliday e Matthiessen, 1999:50-51). A
representação da experiência humana em termos semânticos, segundo Halliday (1979:211),
pode ser descrita por dois modos distintos, o lógico e o experiencial.
No modo experiencial, segundo Halliday (1979:211), a realidade é realizada mais
concretamente, na forma de construtos cujos elementos fazem referência a coisas. As
I. Fundamentação teórica
29
estruturas lingüísticas atuariam como metáforas para as relações entre coisas e os
elementos que participam dessas relações e são definidos por elas, sendo esses elementos
identificados como Processo, Ator, Meta, Extensão, Maneira e outros. Estes, por sua vez,
são interpretados como “papéis” “ocupados por” diversas classes de fenômenos, e essas
classes de fenômenos têm nomes, nomes como lua e brilho e sombrio.
No modo lógico, a realidade é representada em termos mais abstratos, na forma de
relações que são independentes da natureza das coisas. Para Halliday (1979:215), as
estruturas lógicas são de tipo diferente das estruturas experienciais, interpessoais e textuais.
Em termos da teoria sistêmica, onde esses três tipos de estrutura – particulada (elementar),
prosódica e periódica – geram simplexos (orações, grupos, palavras, unidades de
informação, ou seja, funções atribuídas a elementos individuais), as estruturas lógicas
geram complexos (complexos oracionais, complexos de grupos, etc., ou seja, funções
atribuídas à relação entre dois ou mais elementos). Segundo Halliday e Matthiessen
(2004:61), a função experiencial tende a ser realizada por estruturas segmentais, baseada
na constituência, e a função lógica tende a ser realizada por estruturas iterativas. A função
lógica e a experiencial da metafunção ideacional são descritas em mais detalhes nas
próximas subseções.
1.4.1. A função lógica
Para expressar a interpretação de sua experiência, o falante organiza os fenômenos,
em seus vários níveis de complexidade, em relações de expansão e projeção (Halliday e
Matthiessen, 1999: 106). Essas relações lógicas são descritas abaixo:
Expansão:
Elaboração (i.e, por exemplo, viz) – uma oração expande a outra elaborando outra (ou parte
desta), dizendo a mesma coisa em outras palavras, especificando em maiores detalhes,
comentando ou exemplificando.
Extensão (“e”, “ou”) – uma oração estende a outra quando inclui algum elemento novo,
dando uma exceção ou oferecendo uma alternativa.
Intensificação (então, ainda, dessa forma) – uma oração intensifica a outra enriquecendo
está última, qualificando-a com algum elemento circunstancial de tempo, lugar, causa ou
condição.
I. Fundamentação teórica
30
Projeção:
Locução: “diz” – uma oração é projetada por outra, que a apresenta como uma locução,
uma construção de fraseado
Idéia: “pensa” – uma oração é projetada por outra, que a apresenta como uma idéia, uma
construção de significado. (Halliday e Matthiessen, 2004:378)
Deve-se destacar que, embora as definições acima estejam aplicadas à oração, as
relações lógicas podem ser expressas entre elementos de todos os níveis, da palavra ao
complexo oracional (Halliday e Matthiessen, 2004:367).
Um sistema importante na construção de complexos lógicos é o de Conjunção
(Halliday e Matthiessen, 2004:541), que estabelecem relações de elaboração, extensão e
intensificação entre elementos e que em trabalhos anteriores (Halliday e Matthiessen,
1999:58) era realizado por um elemento denominado relator. Alguns exemplos de
conjunções são:
Elaboração: em outras palavras (expositório), por exemplo (explicativo), etc.
Extensão: ainda assim, mas (adversativo), por outro lado (variativo), etc.
Intensificação: portanto (causal), da mesma forma (maneira), etc
Um sistema detalhado de Conjunção pode ser encontrado em Halliday e
Matthiessen (2004:541).
Além da relação lógico-semântica entre as orações, a função lógica também é
descrita pela interdependência, também chamada de taxe, entre as orações (Halliday e
Matthiessen, 2004:373). Segundo Halliday e Matthiessen (2004:374-75), quando as duas
orações são de mesmo status, temos uma relação paratática com uma oração iniciadora e
outra continuadora, o que na gramática tradicional é conhecido como coordenação.
Quando as duas orações forem de status diferentes, temos uma relação hipotática com uma
oração dominante e outra dependente, o que na gramática tradicional é descrito como
subordinação.
I. Fundamentação teórica
31
1.4.2. A função experiencial
Para Halliday e Matthiessen (2004:177), as figuras que representam a representação
de mundo do falante são realizadas em orações compostas por elementos denominados
processo, participante e circunstância. Os elementos que formam o “centro” da oração – o
processo e os participantes envolvidos – expressam facetas complementares da mudança, a
transiência e a permanência. A transiência é a experiência de mudança no tempo, expressa
no grupo verbal que tem a função de processo. A permanência é a experiência de
estabilidade no tempo, tendo uma localização no espaço (concreto ou abstrato), expressa
no grupo nominal que tem a função de participante.
O quadro 2 mostra os sistemas ideacionais de TEMPO VERBAL e
DETERMINAÇÃO. O sistema de tempo verbal permite relacionar os fenômenos
observados pelo falante no tempo (um processo aconteceu antes ou depois de outro
processo), enquanto que o sistema de determinação permite posicionar uma entidade com
relação a outra ou com relação a um grupo de entidades (onde, por exemplo, aquele
homem diferencia um indivíduo em particular dos outros).
tipo de elemento localização sistema termos
processo (realizado
pelo grupo verbal)
tempo referencial TEMPO VERBAL passado (era)
presente (é)
futuro (será)
participante (realizado
pelo grupo nominal)
espaço referencial DETERMINAÇÃO específica (o, esse, este,
aquilo, etc.)
não específica (um, algum,
qualquer, etc.)
Quadro 2. Sistemas dêiticos ideacionais (adaptado de Halliday e Matthiessen, 2004:178)
As próximas subseções descrevem em maiores detalhes os elementos da
transitividade:
A) Participantes
Segundo Halliday e Matthiessen (1999:54), o participante é um elemento inerente
ao processo, que causa a sua ocorrência ou que medeia este processo, havendo muitas
maneiras pelas quais o participante pode tomar parte de um processo: “executando o
processo, sentindo-o, recebendo-o, sendo afetado por ele, dizendo-o e assim por diante”.
Em Halliday e Matthiessen (1999:60), os participantes são classificados como coisas
I. Fundamentação teórica
32
(things) com qualidades (qualities). Um sistema de taxonomia de Coisas é apresentado na
figura 2:
Figura 2. Taxonomia de participantes
Alguns exemplos destes elementos são (traduzido de Halliday e Matthiessen,
1999:61):
Consciente: pessoa, homem, mulher, criança, etc.
Animal: cavalo, cachorro, formiga, etc.
Objeto: casa, pedra, martelo, etc.
Substância: água, ar, areia, etc.
Abstração material: história, matemática, calor, sabor, cor, etc.
Instituição: governo, escola, empresa, etc.
Objeto semiótico: livro, documento, pintura, receita, etc.
Abstração semiótica: noção, idéia, fato, princípio, etc.
A identificação da natureza dos participantes é importante para a análise, pois
determinados tipos de participante estarão associados a determinados processos e, como
discutido na seção de Avaliação, também a interpretação dos tipos de Atitude que podem
ser associados a determinados tipos de participantes. As descrições das funções dos
participantes no sistema de Transitividade são apresentadas na seção B, como parte das
descrições dos processos aos quais esses participantes estão associados.
A.1) Qualidades
Como visto acima, os participantes são realizados por grupos nominais, compostos
por uma Coisa (Thing), que é o núcleo semântico do grupo nominal. Esses participantes
I. Fundamentação teórica
33
podem ser modificados por vários tipos de elementos, como mostrado em Halliday e
Matthiessen (2004:312-324):
Dêitico – usado para especificar a coisa expressa no grupo nominal, como esse,
esta, aquele, meu, seu. Em inglês, essa função também é cumprida pelo
genitivo „s, que não existe em português.
Pós-Dêitico – usado em conjunto com o Dêitico, para especificar ainda mais a
coisa, fazendo referência “à sua fama ou familiaridade, status no texto ou
similaridade/dissimilaridade com outro subconjunto de coisas” (Halliday e
Matthiessen, 2004:316).
Numerativo – que indica uma característica numérica, como por exemplo: o
governador nomeou | sete ministros |.
Epíteto – destaca uma característica da Coisa, como bonita, velho, rápido.
Classificador – indica uma categoria na qual podemos classificar a Coisa,
como por exemplo, (trens) elétricos
Qualificador – sintagmas e orações deslocadas em nível (rankshift), encaixadas
no grupo nominal, referidas por Halliday como pós-modificadores (post-
modifiers)5, como em: a criança com o chapéu azul e a criança que usava um
chapéu azul.
Segundo Halliday e Matthiessen (2004:486), podem ser formados grupos nominais
complexos, formados por mais de um participante, segundo as relações lógicas de
expansão e projeção (como em meu irmão e eu, onde “meu irmão” e “eu” guardam entre si
uma relação lógica de expansão: extensão). Além disso, podem ser formadas expressões de
Faceta (Facet) no grupo nominal (2004:334), nas quais um participante representa uma
parte ou característica de outro (como em o topo da montanha).
B) Processo
O processo é o núcleo da transitividade, que realiza a metafunção ideacional
(Halliday, 1994:106). Usando os recursos do sistema ideacional, o falante interpreta o
mundo da experiência por meio de um conjunto de tipos de processos, representados na
5 No idioma português, os elementos Epítetos e Classificadores, diferentemente do inglês, tipicamente são
colocados após o núcleo do grupo nominal, o que parece tornar o conceito de pré e pós-modificador do grupo
nominal impróprio em nosso idioma. Desconheço a existência de estudos sobre essa questão.
I. Fundamentação teórica
34
figura 3. A representação dos tipos de processos por um círculo mostra, segundo Halliday
(1994:107) e Halliday e Matthiessen (2004:172), que (i) não há prioridade de um processo
sobre o outro e que (ii) embora haja áreas centrais, relacionadas a significados prototípicos
dos processos, essas regiões são contínuas, com fronteiras indistintas entre si.
Os principais tipos de processos estudados pela LSF são os processos Material (que
acontecem no mundo material), Mental (que descrevem experiências internas do ser
humano) e Relacional (processos de classificação e identificação). Halliday (1994:107)
descreve também outros processos, que estariam nas fronteiras dos processos principais, o
Comportamental (manifestações exteriores dos processos mentais), Verbal (relações
simbólicas construídas na consciência humana e desempenhadas na forma de linguagem) e
o Existencial (pelo qual os fenômenos existem ou acontecem).
Figura 3. Representação dos tipos de processos
Alguns exemplos desses processos são mostrados a seguir:
Processo Material: Eles construíram uma casa.
Nesse exemplo, temos um participante (eles) responsável por uma ação material
(construíram) e um participante que foi criado fisicamente a partir dessa ação (casa).
Processo Mental: Ela gostou do presente.
Esse exemplo mostra uma manifestação da consciência (gostou) de um participante (ela)
provocada por outro participante (presente).
Processo Relacional: A Tele_A é a provedora de telecomunicações premium do Brasil.
Esse processo estabelece uma relação entre dois participantes, no qual um deles (Tele_A)
I. Fundamentação teórica
35
é representado (é) como um participante que ocupa uma determinada posição (a
provedora de telecomunicações premium do Brasil)
Processo Verbal: Ele disse: “olá”.
Nesse exemplo, temos um participante (ele) que cria uma locução (“olá”)
Processo Comportamental: A moça sorriu.
Esse processo apresenta uma reação física (sorriu) resultante de uma manifestação da
consciência de um participante (a moça)
Processo Existencial: Há uma árvore na montanha.
Esse processo representa a existência de um participante (a árvore).
Os Processos Materiais expressam variações provocadas por ações físicas, como a
criação ou transformação de algo (Halliday e Matthiessen, 2004:179). Os principais
participantes de processos materiais são:
Ator (Actor): O participante responsável pela entrada de energia no processo, por
exemplo, João, em João chutou a bola.
Meta (Goal): O participante que é modificado pelo processo. No exemplo acima, a
Meta seria a bola.
Escopo (Scope): Uma entidade que existe independentemente do processo e que
não é afetada por este (HALLIDAY E MATTHIESSEN, 2004:192). Esse
participante representa um domínio dentro do qual ocorre o processo (por exemplo,
tênis, em João joga tênis) ou expressa o processo propriamente dito (por exemplo,
banho, em João toma banho)
Recebedor (Recipient): Participante que recebe um produto, por exemplo, João,
em João levou um soco.
Cliente6 (Client): Participante que recebe um serviço. Ele recebeu elogios
Atributo (Attribute): Especifica o estado resultante da meta (por exemplo, branca,
em deixou a roupa branca) (Halliday e Matthiessen, 2004:194)
Processos Mentais: Processos relacionados à experiência da consciência do
falante, causados por algo que altere a consciência ou que nela seja originado (Halliday e
Matthiessen, 2004:197). Os principais participantes desses processos são:
6 Nas análises, optei por manter a categoria de Beneficiário (Halliday 1994:144), para identificar o Recebedor
e o Cliente, como aquele “a quem ou para quem o processo ocorre”.
I. Fundamentação teórica
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Experienciador (Senser): Um participante consciente ou representado como
dotado de consciência, que sinta, pense, queira ou perceba (Halliday e Matthiessen,
2004:201), como Maria, no exemplo: Maria gostou do presente.
Fenômeno (Phenomenon): O participante externo ao falante que provoca a
reflexão, sentimento, desejo ou percepção (Halliday e Matthiessen, 2004:203),
como presente, no exemplo, Maria gostou do presente
Processos Relacionais: Processos que caracterizam e identificam (Halliday e
Matthiessen, 2004:210). Os processos relacionais são mostrados no quadro 3:
atributivo
“y é um atributo de x” identificador
“y é a identidade de x”
(1) intensivo
“x é y”
Maria é inteligente Maria é a líder; A líder é Maria
(2) possessivo
“x tem y”
Maria tem um piano O piano é de Maria
(3) circunstancial
“x está em y”
A festa é em uma terça-feira Amanhã é dia 10; Dia 10 é amanhã
Quadro 3. Tipos de processos relacionais
Os participantes dos processos relacionais são:
Portador (Carrier): Entidade à qual foi atribuída uma classe (Halliday e
Matthiessen, 2004:219), como em Maria é bonita, que coloca Maria entre a classe de
pessoas bonitas. Em processos relacionais possessivos, o Portador é o participante
Possuidor (Possessor), como em Maria tem um piano, onde Maria é caracterizada como
alguém (Possuidor) que tem um piano.
Atributo (Attribute): Classe atribuída ao Portador. Nos exemplos acima, o Atributo
de Maria é bonita. Em processos relacionais possessivos, o Atributo é o participante
Possuído (Possessed), que no exemplo acima, seria o piano.
Identificado (Identified): O elemento ao qual é atribuída uma identificação
(Halliday e Matthiessen, 2004:227), como as baleias em as baleias são os maiores
mamíferos da Terra.
Identificador (Identifier): O elemento que identifica um participante. No exemplo
acima, o Identificador seria os maiores mamíferos da Terra.
I. Fundamentação teórica
37
Adicionalmente aos participantes acima, temos os participantes Atribuidor
(Attributor) e Designador (Assigner) que, respectivamente, são os participantes
identificados no texto como os responsáveis pela atribuição e identificação (Halliday e
Matthiessen, 2004:237), como eles, em Eles tornaram Maria feliz (atribuição) e Maria é
vista por eles como bonita (identificação).
Em Halliday e Matthiessen (2004:230), é discutida a interoperação entre as
categorias Identificador/Identificado e Característica/Valor (Token/Value), relacionada à
codificação e decodificação da identificação do participante na oração, que não será tratada
aqui por não ter sido considerada relevante para as análises.
Processos Comportamentais: Processos de comportamento fisiológico ou
psicológico (Halliday e Matthiessen, 2004:248). Tem como participantes:
Comportante (Behaver): O participante que expressa o comportamento, como
Maria, em Maria riu.
Comportamento (Behaviour): O comportamento observado, por exemplo, o
sonho, em Maria teve um sonho, sendo um participante abstrato.
Processos Verbais: Processos que expressam um dizer (Halliday e Matthiessen,
2004:252), transformando, assim uma locução ou idéia em participante. Tem como
participantes:
Dizente (Sayer): O participante identificado como o responsável pelo que foi dito,
como João, em João disse: “Estou com fome”.
Verbiagem (Verbiage): O participante que identifica o que foi dito; no exemplo
acima, “Estou com fome”, sendo um participante semiótico.
Receptor (Receiver): Um participante afetado pelo que foi dito, por exemplo,
Maria em João acusou Maria de fraude.
Processos Existenciais: Processos de existir (Halliday e Matthiessen, 2004:256),
que representam algo que existe ou acontece. Nesses processos, o participante envolvido é
o Existente (Existent) (Halliday e Matthiessen, 2004:258), como roubo em Houve um
roubo.
I. Fundamentação teórica
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C) Circunstâncias
Os processos podem ser expandidos por circunstâncias, consideradas por Halliday e
Matthiessen (2004:263) como um processo “menor” (por não conter um verbo) subsidiário
ao processo da oração principal. Segundo Halliday e Matthiessen (2004:261), o sintagma
preposicional é uma construção híbrida, estando entre um grupo e uma oração, por ser
formado por uma preposição, que atua quase como um verbo, e um grupo nominal, que
não é diferente do participante da oração principal. Dessa forma, é feita a distinção entre
participantes “diretos” e “indiretos”, sendo estes últimos participantes que participam
“circunstancialmente” do processo. Os principais tipos de circunstância são descritos a
seguir:
As circunstâncias de Extensão e Localização expressam o desenrolar do processo
no espaço e tempo. (Halliday e Matthiessen, 2004:264). Extensão (Extent): expressa a
extensão do processo no tempo e espaço: a distância na qual o processo ocorreu ou a
duração no tempo do processo. Inclui também a categoria de freqüência, que diz quantas
vezes ocorre o processo. Localização (Location): expressa a localização do processo no
tempo e espaço: o local onde o processo ocorreu ou o tempo (data/hora) em que ele
ocorreu, como mostrado no quadro 4:
Circunstâncias espacial temporal
Extensão (inclui intervalo)
Distância (Distance)
andou (por) sete milhas
parou a cada dez jardas
Duração (Duration)
parou (por) duas horas
parou a cada dez minutos
Freqüência (Frequency)
bateu três vezes
Localização Lugar (Place)
trabalhou na cozinha
Tempo (Time)
levantou às seis da manhã
Quadro 4. Circunstâncias de extensão e localização (traduzido de Halliday e Matthiessen,
2004:264)
As circunstâncias de Maneira (Manner) expressam a maneira pela qual o processo
ocorre, compreendendo as subcategorias de Meio, Qualidade, Comparação e Grau. As
circunstâncias de Meio (Means) expressam os meios pelos quais o processo ocorre:
as ligações para a Embratel em São Paulo podem ser feitas pelo número novo da
operadora
I. Fundamentação teórica
39
As circunstâncias de Qualidade (Quality) destacam uma característica do processo:
O cartão telefônico tem se mostrado uma opção de mídia atraente para empresas que
desejam colocar, de uma forma diferenciada, suas marcas em evidência.
As circunstâncias de Comparação (Comparison) expressam uma semelhança ou
diferença:
O plano, lançado há sete meses, tem 100 mil usuários e funciona da mesma forma que a
internet a cabo. (semelhança)
Diferentemente das linhas fixas tradicionais, o Livre não cobra a assinatura mensal do
usuário. (diferença)
As circunstâncias de Grau (Degree) caracterizam a intensidade de uma
característica associada ao processo.
Agora, com a oferta das linhas para o público em geral, a tendência da demanda é aumentar
ainda mais.
As circunstâncias de Causa (Cause) expressam um motivo ou objetivo pelo qual
ocorre o processo. Contém três subcategorias:
As circunstâncias de Razão (Reason), que expressam condições existentes que
levaram o processo a ocorrer.
A Telefônica São Paulo economizará, só neste ano, cerca de R$ 1,5 milhão com postagem
nos Correios, devido à redução do peso dos envelopes.
As circunstâncias de Propósito (Purpose), que são as condições desejadas pelas
quais o processo ocorre
Para mais informações, é só acessar o site www.telefonica.com.br/midiaemcartao.
I. Fundamentação teórica
40
As circunstâncias de Benefício (Behalf), que expressam tipicamente uma pessoa em
favor da qual o processo ocorre.
Além desta, para os clientes residenciais também estão disponíveis as versões 300, 450 e
600 Kbps.
As circunstâncias de Contingência (Contingency) especificam um elemento do qual
depende a ocorrência do processo. Essa categoria abrange os sub-tipos de Condição,
Concessão e Falta. As circunstâncias de Condição (Condition) expressam circunstâncias
que precisam ser obtidas para que o processo ocorra.
Foi o que declarou à agência Reuters um tenente-coronel da Aeronáutica, ligado à
administração da base aérea, sob a condição de anonimato.
As circunstâncias de Concessão (Concession) expressam uma causa frustrada, com
o sentido de “apesar”
Mesmo com as tarifas promocionais, as ligações entre São Paulo e Rio de Janeiro, por
exemplo, podem sair mais baratas por outras operadoras.
As circunstâncias de Falta (Default) têm o sentido de uma condição negativa, como
em “se não houver” “a menos que”.
Na ausência de tais agências, não ocorrerá o investimento privado necessário.
As circunstâncias de Acompanhamento (Accompaniment) expressam uma forma de
participação conjunta no processo, podendo ser comitativa (como em Fred veio com/sem
Tom) ou aditiva (como em Fred veio, assim como/em vez de Tom)
Isto inclui um ambiente de serviços de contingência para aplicações críticas, bem como um
ambiente de testes e homologação de novos sistemas.
I. Fundamentação teórica
41
As circunstâncias de Papel (Role) têm os subtipos de Guisa (Guise) e Produto
(Product). As circunstâncias de Guisa expressam o significado de ser (atributo ou
identidade) na forma de circunstância.
Uma nova versão do serviço de banda larga da Telefônica, o Speedy, tem como alvo o
usuário que faz "uso básico" da internet.
As circunstâncias de Produto têm o significado de “tornou-se”, de forma similar a
um atributo ou identidade.
Em 1998, a instituição transformou-se em fundo de pensão fechado multipatrocinado.
As circunstâncias de Assunto (Matter) são relacionadas a processos verbais, sendo
equivalentes à Verbiagem, ao que está sendo descrito, referido ou narrado.
Em relação ao ranking do Procon, é preciso entender que ele mostra números absolutos,
sem levar em conta as dimensões da base de clientes das empresas que constam da lista.
As circunstâncias de Ângulo (Angle) são relacionadas ao Dizente de uma oração
“verbal” ou ao Experienciador de uma oração “mental”. As circunstâncias de Fonte
(Source) são usadas para representar a fonte da informação.
Segundo a empresa, a extensão dos prazos da dívida irá assegurar que a Embratel
continue a investir para atender o mercado corporativo, governo e clientes residenciais.
De acordo com o presidente da Anhembi Turismo, Caio Luiz de Carvalho, o evento não
terá custo para a prefeitura ou para o Estado.
As circunstâncias de Ponto de Vista (Viewpoint) são usadas para representar a
informação dada pela oração como o ponto de vista de alguém.
Para a Telemar, o comercial da Embratel é "propaganda enganosa".
I. Fundamentação teórica
42
Halliday e Matthiessen (2004:262) estabelecem as seguintes relações entre os tipos de
conjunções e as relações lógicas:
Intensificação: Circunstâncias de Extensão, Localização, Maneira, Causa e
Contingência
Extensão: Circunstância de Companhia
Elaboração: Circunstância de Papel
Projeção: Circunstâncias de Assunto e Ângulo
Deve-se destacar que essa é apenas uma breve descrição de toda a complexidade
envolvida na identificação de participantes, processos e circunstâncias, que é uma das áreas
que mais provocam discussões entre os sistemicistas. A próxima seção apresenta o
conceito de metáforas gramaticais ideacionais, que descreve outras formas de realização
dos significados ideacionais.
1.4.3. Metáforas ideacionais
Como comentado acima, os significados podem ser expressos pelo uso de
diferentes recursos léxico-gramaticais por um processo metafórico. Ao falar de metáforas,
podemos distinguir formas congruentes e formas não congruentes, onde o conceito de
congruência está relacionado, segundo Halliday (1998:208) à maneira pela qual a relação
entre o significado e a classe gramatical começou a ser desenvolvida ao longo da evolução
da linguagem. Segundo Halliday (1998:208), temos os seguintes padrões de congruência
entre os significados associados à metafunção ideacional e as classes gramaticais:
função semântica [expressa por] classe gramatical
relator (em seqüências) conjunção
processo menor (na circunstância) preposição
processo verbo
qualidade adjetivo
entidade (“coisa”) substantivo
Quadro 5. Padrões de congruência entre significados e classes gramaticais (Halliday, 1998:208)
Dessa maneira, por exemplo, a forma congruente de se representar uma relação
entre duas orações seria pelo uso de um relator, expresso por uma conjunção, a forma
congruente de uma circunstância seria uma preposição; um processo teria como realização
I. Fundamentação teórica
43
típica um verbo e um participante, um substantivo. Em Halliday e Matthiessen (2004:177),
a descrição das realizações típicas dos elementos da transitividade na oração utiliza o
conceito de grupos de palavras, onde os processos são realizados tipicamente por grupos
verbais, os participantes, por grupos nominais, e as circunstâncias, por sintagmas
preposicionais ou grupos adverbiais.
Entretanto, esses mesmos significados podem ser expressos por formas não
congruentes, que seriam variações nas formas de realização dos significados. Um exemplo
dessas variações pode ser visto no quadro 6, que mostra uma relação de causa e efeito
(você estudou, assim foi aprovado) realizada de maneiras diferentes:
mudança de status mudança de nível exemplo De: relator: conjunção De: complexo oracional Você estudou, assim foi aprovado
Para: circunstância Para: oração Você foi aprovado pelo estudo
Para: processo Para: oração Sua aprovação resultou do estudo
Para: qualidade Para: grupo nominal A aprovação decorrente de seu estudo ...
Para: substantivo Para: grupo nominal O resultado de seu estudo foi a aprovação
Quadro 6. Exemplo de deslocamento metafórico (adaptado de Halliday 1998:212)
Como podemos ver acima, a relação de causa/efeito da primeira oração, expressa
pela conjunção (assim) está expressa por uma circunstância (pelo) na segunda oração, pelo
processo (resultou) na terceira, por uma qualidade (decorrente) na quarta oração e por um
participante (resultado) na última.
Segundo Halliday (1998:211), qualquer elemento ideacional pode ser transformado
em uma entidade, em um dos recursos mais poderosos de criação de significados,
denominado nominalização (Halliday e Matthiessen, 2004:656). A transformação de ações
e estados em participantes do discurso permite a atribuição de qualidades a ações (como
em excelente defesa) e a composição de ações (como em o início da instalação), para que
possamos atribuir papéis a ações e estados ou que omitamos o sujeito da ação (como em a
implementação teve início em abril). A nominalização também tem um papel importante
na avaliação, como mostrado em Martin (2006:180), permitindo que, por exemplo,
“empacotemos” conjuntos de valores em uma palavra, como em promoção.
Como já mencionado, na metáfora gramatical, há uma mudança de uma categoria
gramatical para outra, que envolve a mudança vertical de nível de constituência e uma
mudança horizontal, de classe e função (Halliday, 1998:213). Como as classes e funções
gramaticais já estão descritas acima, a seguir são descritas as formas como os significados
I. Fundamentação teórica
44
podem ser expressos em diferentes níveis da estrutura, que é a dimensão da LSF que se
refere ao aspecto composicional da linguagem denominado constituência (Halliday e
Matthiessen, 2004:9).
Segundo Halliday e Matthiessen:
(...) ao analisar a gramática, vemos que a estrutura de cada unidade é uma
configuração orgânica, formada por unidades que têm funções distintas com
relação ao todo. Essas unidades podem ser organizadas para formar complexos e
seqüências iterativas, que trabalham juntas como uma única parte. Dessa forma,
unidades menores podem formar unidades maiores, que podem ser reunidas para
formar unidades maiores ainda. (Halliday e Matthiessen, 2004:9)
Na teoria sistêmica, essa constituência é organizada em níveis (ranks) que
organizam o modo como o significado é expresso na gramática. Em Halliday e Matthiessen
(2004:9), são resumidos os cinco princípios da constituência, que mostram os modos pelos
quais as unidades podem ser combinadas:
1. Há uma escala de nível na gramática de cada língua, que pode ser descrita por:
complexo oracional, oração, grupo/sintagma, palavra e morfema (do maior para o menor
nível). Como a análise gramatical analisa estruturas formadas por mais de uma palavra, os
níveis usados na análise gramatical são o complexo oracional, oração e grupo de palavras.
Esses níveis podem ser identificados pelo sistema de notação mostrado no quadro 7:
||| complexo oracional [[[ ]]] complexo oracional deslocado <<< >>> complexo oracional
encaixado
|| oração [[ ]] oração deslocada << >> oração encaixada
| sintagma ou grupo [ ] sintagma ou grupo deslocado < > sintagma ou grupo
encaixado
Quadro 7. Convenção de notação para representar a constituência léxico-gramatical (adaptado de
Halliday e Matthiessen, 2004: 10)
2. Cada escala é formada por uma ou mais unidades do nível imediatamente
inferior, como no exemplo abaixo:
| A avenida | | será interditada | | para a festa |
No exemplo acima, temos uma oração formada por três grupos de palavras: um
grupo nominal (A avenida), um grupo verbal (será interditada) e um sintagma
preposicional (para a festa).
I. Fundamentação teórica
45
3. Unidades de mesmo nível podem formar complexos, como mostrado nos
exemplos abaixo:
Embratel indica | Weffort e Mendonça de Barros | para conselho
Nesse exemplo, temos um grupo nominal complexo, formado por dois nomes
próprios, Weffort e Mendonça de Barros. No exemplo abaixo, temos um complexo
oracional formado por duas orações, uma iniciada por A Tele_B tem procurado (...) e a
outra iniciada por sem esquecer a preocupação (...).
||| A Tele_B tem procurado patamares cada vez mais elevados de eficiência e
produtividade, || sem esquecer a preocupação em atender os segmentos da sociedade de
menor renda. |||
4. Pode existir o deslocamento de nível (rank shift), pelo qual a unidade de um rank
pode ser colocada em um nível inferior (downranked) para funcionar na estrutura de uma
unidade de seu próprio nível ou de um nível inferior, como abaixo:
As linhas da economia são voltadas para | um público [[[ que precisa de um telefone fixo, ||
mas quer controlar os gastos com chamadas para celulares ou interurbanos ]]] |.
No exemplo acima, temos um grupo nominal que faz referência ao público-alvo da
empresa. Esse grupo nominal contém um elemento de nível superior, um complexo
oracional formado por duas orações (que precisa (...) e mas quer controlar (...)).
5. É possível que uma unidade seja encaixada dentro de outra, não como uma
constituinte desta, mas de forma a dividi-la em duas partes separadas, como no exemplo
abaixo:
Amaral destacou |, no entanto, | que as empresas já praticam tarifas promocionais para
DDD e DDI, menores que as autorizadas.
Nesse exemplo, temos um sintagma preposicional (no entanto) encaixado, que
divide em duas a oração principal (Amaral (...) destacou que).
Após a apresentação dos principais recursos relacionados à metafunção ideacional
utilizados na análise, a próxima seção analisa os recursos léxico-gramaticais que realizam a
I. Fundamentação teórica
46
metafunção interpessoal, além dos desenvolvimentos baseados nessa teoria e os estudos de
avaliação.
1.5. A metafunção interpessoal
Além de interpretar a experiência, a linguagem também estabelece os papéis
pessoais e sociais com os outros, pelos recursos da metafunção interpessoal. Como
apontado por Halliday e Matthiessen:
"a oração da gramática não é somente uma figura que representa um processo, mas
também uma proposição ou proposta, pela qual informamos ou perguntamos,
damos ordens ou fazemos ofertas e expressamos nossa avaliação ou atitude com
relação ao que estamos tratando ou sobre o que estamos falando". (Halliday e
Matthiessen, 2004:29)
Uma das principais funções da linguagem é possibilitar a interação entre as pessoas,
permitindo ao falante “entrar” em uma interação (Halliday, 1978:112) com outros falantes
e agir sobre eles (Halliday 1994:xiii). Pelos recursos de criação de significados
relacionados à metafunção interpessoal, o falante pode expressar status, atitudes sociais e
individuais, avaliações e julgamentos (Halliday, 1970:189).
Conforme Halliday (1994:68), “a oração é organizada como um evento interativo
que envolve o falante, ou escritor, e o público”, no qual o falante assume uma função de
fala e atribui uma função de fala ao ouvinte. Halliday (1994:68-69) utiliza dois critérios
básicos para distinguir as funções de fala: se a linguagem é usada para dar ou pedir e a
natureza do que está envolvido na troca, se bens e serviços ou informações. Com base
nesses critérios, as funções de fala básicas são classificadas como oferta, comando,
declaração ou pergunta, como mostrado no quadro 8.
Papel na troca O que está sendo trocado
bens e serviços informações
dar oferta
“você quer esta chaleira?” declaração
“ele está dando a chaleira a ela”
pedir comando
“dê para mim esta chaleira!” pergunta
o que ele está dando a ela?
Quadro 8. Funções de fala (traduzido de Halliday, 1994:69)
Segundo Halliday e Matthiessen (2004:110), as funções básicas de fala são “pontos
de entrada para uma grande variedade de funções retóricas”, o que quer dizer que,
I. Fundamentação teórica
47
combinando essas funções com outros recursos léxico-gramaticais que realizam a
metafunção interpessoal, podemos fazer ofertas na forma de sugestões ou pedidos na forma
de perguntas, por exemplo. No estrato da semântica, as trocas de bens e serviços são
denominadas propostas e as trocas de informações são denominadas proposições (Halliday
1994:70-71, Halliday e Matthiessen, 2004:110). Os principais recursos lingüísticos
relacionados à metafunção interpessoal são descritos a seguir.
1.5.1 O sistema de Modo
Os significados relacionados à metafunção interpessoal são realizados na oração
principalmente pelo sistema de Modo (Mood), que é a gramaticalização do sistema
semântico das funções de fala (Halliday e Matthiessen, 2004:113). A estrutura do sistema
de Modo é formada pelo Sujeito (Subject), Finito (Finite) e Resíduo (Residue).
O Sujeito faz parte da proposição, sendo “sobre o que” a proposição pode ser
afirmada ou negada (Halliday e Matthiessen, 2004:117). Esse elemento, realizado por um
grupo nominal, pode ser identificado por uma pergunta de confirmação, por exemplo, na
proposição João fez o bolo, João pode ser identificado como Sujeito pela pergunta de
confirmação: Não fez (João)?
O Finito, que faz parte de um grupo verbal, tem a função de tornar a proposição
finita, torná-la algo sobre o que se pode argumentar, estabelecendo uma relação entre essa
proposição e o contexto no evento de fala, pela referência ao momento em que essa fala
ocorre e ao julgamento do falante. Essas duas características, segundo Halliday e
Matthiessen (2004:116) têm em comum a dêixis interpessoal, por criarem entre o falante e
o ouvinte uma região semântica de tempo e incerteza. O tempo interpessoal está
relacionado à diferença do que é presente para o falante e o que é presente para o ouvinte;
pela incerteza, o falante pode expressar ou pedir para o ouvinte expressar a certeza ou
dúvida sobre a proposição.
A referência entre a proposição e o contexto do evento da fala é expressa pelo
tempo verbal primário – o passado, presente ou futuro. Em uma comparação com a
metafunção ideacional, a expressão de tempo na metafunção ideacional refere-se ao tempo
entre os fenômenos (processos) descritos, enquanto que na metafunção interpessoal, a
expressão de tempo refere-se ao tempo entre a proposição e o momento da fala. Neste
ponto, parece útil introduzir a distinção feita por Halliday e Matthiessen (2004:280) entre o
I. Fundamentação teórica
48
tempo ideacional (seqüência de acontecimentos), interpessoal (relação entre o momento do
enunciado e o tempo no qual ocorrem os acontecimentos) e o tempo textual (seqüência
ditada pela organização do texto), que pode ser vista no exemplo abaixo:
Hoje choveu, ontem fez sol e amanhã o tempo estará nublado.
Em termos interpessoais, as três orações acima posicionam o falante no tempo com
relação aos eventos relatados. Tomando como base o momento em que o falante criou esse
texto, choveu neste dia, em algum momento anterior à escrita, fez sol no dia anterior a este
dia e o tempo estará nublado no dia seguinte. Em termos ideacionais, essas três orações
posicionam um evento perante o outro no tempo. Assim, há uma seqüência de fenômenos
meteorológicos, que podemos representar como Dia 1 (Ontem): Sol; Dia 2 (Hoje): Chuva;
e Dia 3 (Amanhã): Nublado. Em termos textuais, há uma seqüência de eventos no texto:
Evento (1): chuva, Evento (2): sol e Evento (3): tempo nublado. Outros exemplos de
diferenças no tempo interpessoal são mostrados no capítulo de apresentação e discussão
dos resultados.
A referência ao julgamento do falante é descrita pelo sistema de Modalidade, que
expressa uma região de incerteza, na qual, segundo Halliday (1994:356) e Halliday e
Matthiessen (2004:147), as propostas variam entre a inclinação e a obrigação e, as
proposições, entre a probabilidade (possibilidade) e normalidade (freqüência). O outro
elemento do Finito, segundo Halliday (1994:356), é a polaridade, que expressa a área de
significado que varia entre o sim e o não.
Dessa forma, uma oração de fornecimento de informação será positiva ou negativa
sobre alguma proposição, com variados graus de certeza, ou a proposição poderá ser às
vezes positiva e às vezes negativa, com variados graus de probabilidade. Da mesma forma,
uma oração de fornecimento de “bens e serviços” poderá ser um comando ou proibição,
com variados graus de obrigatoriedade, ou expressar a vontade ou a repulsa, com variados
graus de inclinação, como mostrado na figura 4:
I. Fundamentação teórica
49
Figura 4. Relação entre modalidade, polaridade e modo (traduzido de Halliday e Matthiessen,
2004:619)
Continuando com a descrição da estrutura do Mood, temos o componente
denominado Resíduo, que é o que sobra na oração após termos identificado o Sujeito e o
Finito. Esse elemento pode compreender os elementos funcionais denominados Predicador
(Predicator), Complemento (Complement) e Adjunto (Adjunct).
Segundo Halliday e Matthiessen (2004:121), o Predicador está incluído no grupo
verbal, não compreendendo o operador temporal ou modal e não tendo, por si próprio, a
função de Finito. Ele tem quatro funções: (i) especificar uma referência de tempo diferente
da referência ao tempo do evento de fala, isso é, o tempo verbal auxiliar; (ii) especifica
diversos outros aspectos e fases, como começar a (fazer algo) ou havia (feito algo); (iii)
especifica a voz (ativa ou passiva) e (iv) especifica o processo que está sendo predicado
pelo Sujeito. Muitas vezes, o Predicador está “fundido” com o tempo verbal principal em
um verbo, como em fazia, onde faz é o Predicador e a flexão do verbo no passado faz parte
do Finito.
O Complemento é um grupo nominal da oração que teria potencial para ser o
Sujeito, mas que não está ocupando essa função na oração analisada. No exemplo acima,
João fez o bolo, o bolo é o Complemento da estrutura gramatical, por não ter o status da
responsabilidade modal sobre a veracidade da proposição. Já os Adjuntos, são elementos
do Resíduo que não têm potencial para ser Sujeito da oração, sendo tipicamente realizados
I. Fundamentação teórica
50
por grupos adverbiais ou sintagmas preposicionais. Conforme Halliday e Matthiessen
(2004:125), os Adjuntos podem ser diferenciados por critérios metafuncionais, em:
adjuntos modais – com função interpessoal, estão associados aos significados de
modalidade, temporalidade e intensidade do sistema de Modo, como possivelmente,
freqüentemente e totalmente; além desses temos os adjuntos de comentário, como
infelizmente e muitos outros mais.
adjuntos circunstanciais – com função ideacional, que funcionam como circunstâncias na
estrutura de transitividade da oração.
adjuntos conjuntivos – com função textual, fazem a coesão entre orações, como entretanto
e portanto
Halliday e Matthiessen (2004:133) também incluem na descrição da oração como
troca os elementos denominados Vocativo (Vocative) e Expletiva (Expletive). O Vocativo
pode ser usado pelo falante para habilitar o ouvinte a participar da interação ou com outros
propósitos, como marcar um relacionamento interpessoal, como em agradeço a você,
João, pelo presente. O elemento expletivo pode ser usado pelo falante para expressar sua
atitude, por exemplo, em Jesus! Como está quente!. Esses elementos têm uma função
expressamente interpessoal e não têm uma função gramatical na oração, conforme Halliday
e Matthiessen (2004:134).
1.5.2 Metáforas interpessoais
Segundo Halliday (1994:356), a modalidade é uma área que apresenta uma alta
elaboração metafórica, apontando que “os falantes têm incontáveis maneiras de expressar
as suas opiniões – ou melhor, talvez, de dissimular o fato de que eles estão expressando as
suas opiniões” (1994:355), não sendo sempre possível dizer o que é uma representação
metafórica da uma modalidade.
Com relação à questão de congruência, já comentada na seção que descreve a
metafunção ideacional, Thompson (1996a:40) observa que três das funções de fala estão
fortemente associadas a estruturas gramaticais particulares: as declarações são expressas
por orações declarativas, as perguntas por orações interrogativas e os comandos por
orações imperativas; as ofertas, segundo Thompson, não estariam relacionadas a uma
escolha de modo específico, mas estreitamente relacionadas à modalidade. Alguns tipos de
realizações típicas da modalização e modulação pelo uso de operadores modais, adjuntos
modais e predicadores são mostrados no quadro 9:
I. Fundamentação teórica
51
Função de fala Intermediação Realização típica Exemplo
proposição declaração,
pergunta
modalização:
probabilidade
operador modal finito
adjunto modal
(ambos)
Eles devem saber
Certamente que sabem
Certamente que devem saber
modalização:
normalidade
operador modal finito
adjunto modal
(ambos)
Isso deve acontecer
Isso sempre acontece
Isso sempre deve acontecer
proposta comando modulação:
obrigação
operador modal finito
predicador de verbo na
voz passiva
Você deve ser paciente!
Espera-se que você seja
paciente!
oferta modulação:
inclinação
operador modal finito
predicador adjetivo
Eu devo vencer!
Estou determinado a vencer!
Quadro 9. Modalização e modulação (Halliday, 1994:91)
Esse quadro mostra alguns exemplos de como os modos oracionais (como a
declaração e o imperativo) podem ser combinados com recursos da estrutura de modo
(finito e predicador) para a expressão das diversas funções de fala. Em outro tipo de
metáfora ideacional, o quadro 9 mostra exemplos de modulação e modalização realizados
metaforicamente, por meio de recursos de projeção. Nos exemplos abaixo, a função de fala
é determinada pelo processo responsável pela projeção:
Função de fala Declarativa Interrogativa
Proposta:
comando
Eu imploro que você (...)
Eu quero que você (...)
Eu gostaria de sugerir que (...)
Eu gostaria que (...)
Posso sugerir que você (...) ?
Proposição:
declaração
Eu garanto a você que (...)
Você precisa acreditar que (...)
Eu poderia garantir a você que (...)
Você acreditaria que (...) ?
Proposição:
pergunta
Eu gostaria de saber se (...)
Imagino se (...)
Eu preciso perguntar a você se (...)
Eu devo imaginar se (...)
Você precisa me dizer se (...)
Eu posso perguntar se (...) ?
Você diria que (...) ?
Você pode me dizer se (...) ?
Você quer dizer que (...) ?
Quadro 10. Exemplos de realizações metafóricas de propostas e proposições que envolvem grupos
complexos de projeção (baseado em Halliday e Matthiessen, 2004:630)
Segundo Halliday e Matthiessen (2004:61), a função interpessoal tende a ser
realizada por padrões prosódicos, o que significa que podem ser observados padrões no
texto como os descritos por Martin e White (2005:24), de saturação, intensificação e
dominação.
Os exemplos abaixo mostram três padrões prosódicos que combinam expressões
atitudinais:
I. Fundamentação teórica
52
Saturação: Que inferno, cara, quem diabos disse que eu gosto dessa droga?
Intensificação: Essa é uma mentira suja, nojenta, descarada e mesquinha.
Dominação: Você tem absoluta certeza que Maria não retirou as chaves da caixa?
No exemplo acima de saturação, temos itens lexicais atitudinais (inferno, diabos,
droga) distribuídos em toda a sentença. No exemplo de intensificação, temos itens lexicais
atitudinais (suja, nojenta, descarada e mesquinha) aplicados a um participante do discurso
(mentira), que se somam para aumentar a atitude negativa quanto a esse participante. No
exemplo de dominação, temos dois itens lexicais atitudinais (absoluta e certeza) que
determinam a atitude expressa na oração, pela ausência de outros itens atitudinais. Um
exemplo de como a prosódia é utilizada para expressar a atitude do falante é apresentado
na análise que Martin (1992a:557-558) faz da música Born in USA, na qual “o tom
nacionalista passa a ser irônico e culmina em um grito de angústia”.
1.6. Atribuição de papéis
Thompson e Thetela (1995:106-107) apresentaram uma proposta que desenvolve o
sistema de Halliday, mostrando como o escritor pode manejar parcialmente a interação
atribuindo papéis a si mesmo e ao leitor no texto. Essa proposta separa a função
interpessoal em duas funções relacionadas, mas relativamente independentes: a função
pessoal e a função interacional, como mostrado no modelo delineado na figura 5.
Figura 5. Sistemas interpessoais de Thompson e Thetela (1995:107)
I. Fundamentação teórica
53
A função pessoal enfoca questões relacionadas à modalidade – a responsabilidade
do falante com relação ao que fala – e à avaliação – a atitude, posição, ponto de vista, ou
sentimento do falante ou escritor com relação às entidades ou proposições sobre as quais
está falando (Hunston e Thompson, 2000:5). A função interacional seria, por esse modelo,
subdividida em papéis desempenhados (enacted roles) e papéis projetados (projected
roles).
Os papéis projetados são os atribuídos pelo falante/escritor pela intitulação aberta
dos dois participantes envolvidos no evento de linguagem. Isto é feito pela escolha dos
termos usados para nomear ou indicar os dois participantes e pelos papéis imputados a eles
nos processos relacionados na oração. Quando o falante/escritor projeta papéis, o
personagem ao qual o papel é projetado é simultaneamente um participante no evento da
linguagem e um participante na oração, como em:
As linhas da economia são voltadas para um público que precisa de um telefone
fixo (...)
Neste exemplo, o escritor projeta um papel por nomeação ao produto (linhas da
economia, um produto que traz um benefício - a economia - ao consumidor) e, ao mesmo
tempo, projeta por atribuição a esse mesmo produto o papel de algo dirigido a um público
definido como aqueles que precisam de um telefone fixo.
Para Thompson e Thetela (1995:109), a importância de se distinguir esses dois
tipos de participantes (participante na interação e o participante na transitividade da
oração) é que não somente a escolha do rótulo (primeira, segunda ou terceira pessoas) é
importante: o falante/escritor pode também lidar parcialmente com a interação projetando
diferentes papéis de transitividade para si e o público-alvo. Dessa forma, vemos neste
exemplo que a proposta de Thompson e Thetela representa um desenvolvimento do
modelo padrão de sistema interpessoal proposto por Halliday, mostrando como as escolhas
ideacionais feitas pelo escritor podem realizar significados interpessoais.
1.7. Avaliação e avaliatividade
Esta seção descreve alguns dos estudos mais recentes do fenômeno lingüístico da
avaliação (evaluation) e o sistema teórico de avaliatividade (appraisal) desenvolvido por
Martin (2000) e Martin e White (2005) para descrever sistemicamente esse fenômeno.
I. Fundamentação teórica
54
Hunston e Thompson (2000:5) definem a avaliação como “um termo abrangente
para a expressão da atitude ou posição, ponto de vista ou sentimento do falante ou escritor
sobre as entidades ou proposições das quais está falando”, e apontam três principais
funções da avaliação:
Expressar a opinião do falante ou escritor, e fazendo isso, refletir o sistema de valores
dessa pessoa e de sua comunidade, pois “cada ato de avaliação expressa um sistema de
valores da comunidade e cada ato de avaliação também ajuda a construir esse sistema de
valores. Assim, identificar o que o escritor pensa revela a ideologia da sociedade que
produziu o texto” (2000:6).
Construir e manter relações entre o escritor ou falante e o ouvinte e o leitor , com fins
de manipulação (pela qual o escritor pode usar a avaliação para persuadir o leitor a ver as
coisas de um determinado ponto de vista), hedging e polidez. (2000:8).
Organizar o discurso – A avaliação organiza o discurso e indica a sua significância,
dizendo ao leitor qual “o ponto” do discurso, tendendo a ocorrer em pontos de fronteira de
um discurso, de forma a monitorar a organização deste discurso (Sinclair, 1987, citado em
Hunston e Thompson, 2000:11).
Para Martin (2000:145) e Martin e Rose (2003:22), a Avaliatividade (Appraisal)
refere-se aos recursos semânticos usados pelos falantes/escritores “para negociar atitudes
em seus textos, expressando avaliações de emoções de pessoas, julgamentos de caráter e
apreciação de coisas, atribuindo uma intensidade a essas avaliações e identificando as
fontes responsáveis por essas avaliações”. Dessa maneira os falantes/escritores “constroem
identidades ou personas de autor para si mesmos e um público desejado ou ideal para os
seus textos, expressam alinhamento ou não-alinhamento a respondentes reais ou potenciais
e constroem comunidades que compartilham os mesmos sentimentos, valores e avaliações
normativas” (Martin e White, 2005:1).
As próximas seções apresentam em maiores detalhes o sistema de avaliação
proposto por Hunston e o sistema de avaliatividade de Martin (2000) e Martin e White
(2005).
I. Fundamentação teórica
55
1.7.1 Os parâmetros de avaliação de Hunston
Para explorar os tipos de avaliação expressos pelo falante, Hunston desenvolveu um
conjunto de parâmetros de avaliação com base no conceito de planos de discurso de
Sinclair (citado em Hunston, 2000:183), segundo o qual o texto reflete (e interpreta) a
interação entre o leitor e o escritor no plano interativo e apresenta um conteúdo (diz
coisas sobre o mundo) no plano autônomo. Esse conjunto de funções propõe analisar cada
oração do texto nos planos interativo e autônomo pelos parâmetros de Status e Valor.
No plano interativo, o Status reifica as declarações, o que as transforma em algo ao
qual se pode atribuir um valor (Hunston, 2000:193). As declarações podem ser analisadas
em termos do tipo de declaração (fato, opinião, hipótese, premissa, etc.) e da fonte de cada
declaração (afirmação do escritor, declaração atribuída a outro, etc.) (Hunston, 2000:186).
O Valor das declarações no plano interativo depende de a declaração estar apoiada em
evidências ou ser senso comum (avaliação positiva), ou poder ser criticada facilmente
(avaliação negativa). As evidências que apóiam a declaração também podem ser fornecidas
no próprio texto; assim, segundo Hunston (2000:194), “o processo de atribuir valor no
plano interativo contribui para a organização do texto”. Essa visão da construção da
avaliação ao longo do texto também é seguida por Jordan (2001:163), que utiliza o termo
„avaliação‟ para indicar agrupamentos simples ou complexos de assessment-basis.
No plano autônomo, o Status restringe o espectro de critérios ou fundamentos pelos
quais algo pode receber Valor; dessa forma, a avaliação nesse plano depende de uma
experiência intertextual comum entre o escritor e o leitor (Hunston, 2000:200). A função
de Valor é nesse caso, um parâmetro do tipo “bom/ruim”, que pode ser analisado com base
no participante que está sendo avaliado, na base para a avaliação, o valor
(positivo/negativo) e a fundamentação para essa atribuição de valor.
O conceito de Status no plano autônomo de Hunston parece, dessa forma, trazer o
conceito de identidade ao estudo da avaliação, como o descrito por Lemke (in press), para
o qual as identidades são múltiplas e cumulativas. Esta é uma visão similar à visão sócio-
construtivista de Coupland e Nussbaum, (1993:x), segundo os quais quem somos nos
diversos pontos de nossa passagem pela vida, carrega alguma relação sistemática com as
nossas experiências [anteriores] em interações lingüísticas e sociais”. Dessa forma, a
identidade de cada participante no texto e a imagem que o leitor tem desse participante
restringem os valores que podem ser atribuídos a ele.
I. Fundamentação teórica
56
Para definir o Valor no plano autônomo, Hunston utiliza em suas análises
(2000:196) um parâmetro que chama de “base que fundamenta a avaliação”, que nos diz o
motivo pelo qual uma determinada instância de avaliação pode ser considerada positiva ou
negativa. A relação entre as bases que fundamentam a avaliação e os valores
compartilhados pela comunidade é traçada por Lemke (1988:30), que relaciona o conceito
bakhtiniano de vozes a formações temáticas intertextuais, que relacionam textos que
“falam das mesmas coisas das mesmas maneiras”. Essa visão parece ser compartilhada por
Thibault (2004:42), que associa o conceito bakhtiniano de vozes aos valores sociais dos
falantes, dizendo que “o sistema da heteroglossia social pode ser visto como um campo de
vozes nos quais os agentes sociais se deslocam e se posicionam em suas atividades de
criação de sistemas”. Nesse sistema, aponta Thibault (:42), os indivíduos constituem suas
identidades pelas formas como se alinham, se opõem ou se posicionam de outra maneira
qualquer perante as vozes do sistema de heteroglossia.
Thompson (1996b:509) diz que é possível identificar vozes da comunidade em
provérbios e falas que não especifiquem a fonte da informação, mas que possam ser
associados pelo leitor a determinados grupos pelo conhecimento compartilhado, tendo
assim uma função de solidariedade. Essa é uma visão alinhada à de Lemke (1988:30), para
o qual “mesmo um texto que pareça falar uma única voz „pura‟ fala e é ouvido em uma
comunidade de muitas vozes e o significado desse texto é criado em relação a essas vozes”.
Para fins de ilustração, temos a seguir um exemplo de análise segundo os
parâmetros de Status e Valor nos planos interativo e autônomo do trecho abaixo:
"Estamos apoiando o reveillon de duas das maiores capitais brasileiras para
presentear nossos clientes com uma passagem de ano especial", afirma Executivo_A,
presidente da Tele_A. (press release)
No plano interativo, analisando o exemplo em termos de Status temos uma
afirmação atribuída a um executivo da empresa. O Valor dessa sentença dependerá, como
citado acima, das evidências que apóiam a proposição e da facilidade com a qual podemos
aceitar ou rejeitar essa afirmação como verdadeira. O Valor no plano interativo do exemplo
pode ser evidenciado pela descrição do evento, apresentada na sentença seguinte do press
release:
Em São Paulo, o Reveillon Tele_A na Paulista terá como tema "Vamos Celebrar o Futuro"
e deverá contar com a presença de cerca de 2 milhões de pessoas. Cerca de três mil
I. Fundamentação teórica
57
profissionais, de operadores de som e de luz a seguranças e médicos, estarão envolvidos no
megaevento. (press release)
Nessa sentença, que cita a expectativa de público e os recursos de pessoal
envolvidos no evento, podemos ter uma evidência de que esse evento tem realmente
condições de ser “especial”.
Analisando, por exemplo, a oração Estamos apoiando o reveillon de duas das
maiores capitais brasileiras no plano autônomo, podemos identificar o participante
avaliado como a Tele_A (nós, elíptico na oração). O Status desse elemento no plano
autônomo vem da imagem que o leitor tem da Tele_A (uma empresa que tem condições
financeiras, entre outras coisas) e o Valor decorre da ação da empresa de patrocinar o
evento, que pode ser considerado positivo com base no valor positivo de se “oferecer um
evento”, por exemplo.
1.7.2. O sistema da Avaliatividade
Os estudos de Avaliatividade (Appraisal) (Martin, 2000; Martin e Rose, 2003 e
Martin e White, 2005) oferecem uma descrição sistêmica detalhada do que podemos
chamar de potencial de significado do falante como avaliador, pelo qual o escritor
relaciona atitudes aos participantes do discurso, indica sua atitude com relação às atitudes
expressas no texto e intensifica/atenua todas essas atitudes. Esta seção descreve o sistema
de Avaliatividade, incluindo uma introdução do sistema e de sua relação com a LSF, os
sistemas de avaliatividade e as suas realizações léxico-gramaticais nos textos.
O modelo de Avaliatividade foi desenvolvido dentro do arcabouço teórico da
lingüística sistêmico-funcional, estando relacionado à criação de significados interpessoais,
que são os recursos semânticos usados para negociar relações sociais. Segundo (Martin e
White, 2005:7-8), os estudos sobre Avaliatividade foram desenvolvidos a partir do início
dos anos 90 no sentido de desenvolver uma perspectiva mais voltada ao léxico e os
sentimentos. Essas pesquisas tiveram como objetivo complementar a orientação então
utilizada na LSF, mais relacionada à interação, resultante do trabalho de Michael Halliday
na gramática do modo e modalidade e em trabalhos de outros autores na análise da
estrutura de trocas nos diálogos.
Para Martin e White (2005:34-35), a Avaliatividade é um dos três grupos principais
de recursos semânticos do discurso, juntamente com a negociação (negotiation –
I. Fundamentação teórica
58
relacionado às funções de fala e estrutura de trocas) e o envolvimento (involvement –
relacionado aos recursos usados para negociar relações, especialmente solidariedade –
como o uso de jargão especializado e gírias). A Avaliatividade compreende três domínios
distintos que interagem entre si, a Atitude (Attitude), relacionada aos sentimentos, o
Engajamento (Engagement), relacionado às fontes das atitudes, e a Gradação
(Graduation), que amplifica/atenua os sentimentos e faz as categorias ficarem mais ou
menos distintas. Esses sistemas são mostrados na figura 6.
Figura 6. O sistema da Avaliatividade
1.7.2.1. O subsistema de Atitude
Segundo Martin e White (2005:42), a Atitude compreende três regiões semânticas,
representadas pelos sistemas de Afeto, Julgamento e Apreciação, que estão relacionados
aos conceitos tradicionais de emoção, ética e estética, respectivamente. Neste quadro
teórico, o Afeto pode ser considerado o sistema básico de Atitude (Martin 2000:147),
estando relacionado às respostas emocionais, expressas em sentimentos positivos e
negativos. O Julgamento se refere às avaliações de caráter feitas com base em normas
morais de comportamento, enquanto que a Apreciação se refere às avaliações de
fenômenos semióticos ou naturais baseadas na adequação dos produtos das ações ao fim
que se destinam, ou conforme o valor que recebem em um determinado campo de
atividade (Martin e White, 2005:42-43).
Da mesma forma que no sistema gramatical de Transitividade, parece haver uma
forte correlação entre a natureza dos participantes e os tipos de avaliações aos quais os
I. Fundamentação teórica
59
participantes estão sujeitos: no sistema de Afeto, o participante identificado como a fonte
da emoção (Emoter) é um participante consciente ou representado como sendo consciente;
enquanto que o fenômeno que provoca a emoção (Trigger) pode ser um participante de
qualquer natureza; o sistema de Apreciação é usado para avaliar coisas não conscientes,
físicas ou semióticas; e o sistema de Julgamento é usado para avaliar participantes
conscientes, ou representados como conscientes e inseridos em uma comunidade de valor.
No sistema de Afeto, as avaliações são agrupadas em três conjuntos principais:
in/felicidade, in/segurança e in/satisfação (Martin e White, 2005:49):
Os significados relacionados à in/felicidade compreendem as reações
emocionais internas de alegria ou tristeza.
Os significados relacionados à in/segurança compreendem nossos
sentimentos de paz e ansiedade com relação ao ambiente que nos rodeia.
Os sentimentos relacionados à in/satisfação compreendem os sentimentos de
realização de metas e frustração.
No sistema de Julgamento, as avaliações estão agrupadas em dois conjuntos
principais, estima social e sanção social.
Os significados relacionados à estima social são classificados em:
normalidade (a oposição entre normal/diferente), capacidade (capaz/incapaz) e
tenacidade (resoluto/titubeante)
Os significados relacionados à sanção social são classificados em:
veracidade (confiável/não confiável) e propriedade (ético/não ético)
No sistema de Apreciação, as avaliações estão agrupadas em:
Reação (interessante/desinteressante)
Composição (harmônico/desarmônico, consistente/inconsistente, etc.)
Valor (valioso/não valioso).
Martin (1992b:363) sugere haver uma relação entre a atitude e o sistema gramatical
de modo de Halliday, pela qual o desejo de atuar no mundo por uma proposta (oferta ou
I. Fundamentação teórica
60
comando) indica uma insatisfação com a situação atual e um desejo de melhorá-la (do
ponto de vista do falante). Assim, fazer uma proposta implicaria em uma avaliação
negativa da situação atual e uma avaliação positiva da situação desejada.
A) Realizações na léxico-gramática
A Atitude pode ser realizada diretamente (inscribed) pelo uso de léxico atitudinal,
que apresenta explicitamente a opinião ou avaliação do escritor sobre o que está sendo
descrito, ou indiretamente (cf. Martin e White, 2005:56) (invoked) pelo uso de léxico
descritivo, que apenas apresenta uma descrição da realidade. Nessa descrição, segundo
Martin e White (2005:62) “a seleção de significados ideacionais é suficiente para invocar a
avaliação, mesmo na ausência de léxico avaliativo explícito” (Martin e White, 2005:62). A
diferença entre as atitudes inscrita e evocada pode ser vista no exemplo abaixo, que
descreve duas características de uma boneca:
Esta boneca é linda, com articulações nos joelhos e cotovelos. (descrição de um produto
em um site de vendas)
Na oração principal, o Epíteto linda mostra explicitamente a atitude do falante
perante a boneca, o que não ocorre na circunstância da oração, que fala das articulações do
brinquedo. Embora sem avaliativos explícitos, a boneca pode ser avaliada positivamente
por essa característica, pois a criança poderá desenvolver sua criatividade e se divertir mais
com uma boneca que pode ficar em várias posições. Dessa maneira, a diferença entre a
avaliatividade inscrita e a evocada parece ser que na avaliatividade inscrita o falante deixa
claro o seu posicionamento por um item lexical atitudinal, enquanto que na avaliatividade
evocada, o falante prefere expressar a sua atitude perante o que está sendo avaliado
destacando uma característica deste ou ação executada por este.
Por outro lado, é possível considerar que a “objetividade” criada pela ausência de
expressões de sentimento por si só se constitui em uma atitude, como mostrado na análise
de um documento oficial feita em Martin e Rose (2003:55), que relaciona a ausência de
atitude explícita observada à oficialidade do documento.
“Podemos argumentar que os recursos usados para definir os termos (...) são na verdade
recursos monoglóssicos usados para garantir que o Ato fale com uma voz clara no que se
refere aos seus objetivos administrativos. A ausência de graduação ajuda a manter as
I. Fundamentação teórica
61
definições rígidas; a quase ausência de projeção, modalização e concessão opera para
reforçar a posição monovocálica. Esse não é, em outras palavras, um texto com o qual se
possa argumentar – é a Lei.” (Martin e Rose, 2003:55)
A ausência de atitude explícita também é analisada por Hunston (2000:199), para
quem a solidariedade pode ser construída entre o escritor e o leitor exatamente por não
tornar explícita a significância avaliativa de determinadas partes do texto. Dessa forma, a
principal diferença entre a atitude inscrita e a atitude invocada não é uma “ausência” da
atitude, mas sim o fato dessa atitude estar estabelecida no texto de maneira mais ou menos
explícita. Usando a atitude invocada, o escritor pode não deixar claro os sentimentos que
tem perante o que está sendo avaliado e se esses sentimentos são positivos ou negativos.
Outra conseqüência possível pode ser que, expressando a avaliatividade de maneira menos
explícita, o falante possa reduzir a possibilidade de uma resposta negativa por parte do
leitor sobre a sua avaliação.
Na análise da atitude inscrita, é necessário considerar que o tipo de atitude expresso
no texto, embora orientado pelo léxico, não é determinado pelo item lexical escolhido.
Como a Avaliatividade é uma função da semântica do discurso, que pode ser realizada por
diversos recursos léxico-gramaticais (Martin e White, 2005:45), a sua interpretação deve
ser feita com base no significado, e não em léxico atitudinal e estruturas gramaticais
específicas. Dessa maneira, não há uma correspondência biunívoca entre um item lexical e
um determinado tipo de atitude (Martin e White, 2005:52). As descrições de atitude
fornecidas em Martin (2000), Martin e Rose (2003) e Martin e White (2005) apresentam
listas de exemplos de itens lexicais relacionados às diversas categorias de atitude;
entretanto, essas listas têm como objetivo “oferecer uma orientação geral quanto aos
significados que estão em jogo, não devendo ser vistas como um dicionário de valor que
possa ser aplicado mecanicamente na análise dos textos” (Martin e White, 2005:52).
B) Interoperação entre atitudes inscritas e invocadas
Para Martin e White (2005:10), a Avaliatividade está no estrato da semântica do
discurso, e uma das razões para isso é que a realização de uma atitude tende a se espalhar
pelo discurso, independentemente de fronteiras gramaticais, tendendo a “colorir mais de
um texto do que o circunscrito pelo seu ambiente gramatical local” (Martin e White,
2005:63). As escolhas feitas pelos recursos de Avaliatividade, segundo Martin e Rose
I. Fundamentação teórica
62
(2003:54), ressoam umas com as outras, formando um padrão prosódico de atitude que
percorre todo o texto.
Entretanto, quando formos analisar a atitude do falante no texto, podemos
considerar também as escolhas ideacionais que não tragam uma avaliação inscrita,
conforme mostrado na análise feita por Martin e White (2005:75), que inclui na análise as
marcas (tokens) ideacionais encontradas no texto que possam sugerir uma Atitude. Essa
interoperação entre avaliações explícitas e implícitas pode ser encontrada também nas
funções referencial (que fornece informação pela recapitulação da experiência do narrador)
e avaliativa (que comunica o significado da narrativa estabelecendo algum ponto de
envolvimento pessoal) do modelo criado por Labov (citado em Cortazzi e Jin, 2000:105)
para analisar narrativas. Por esse modelo, a eficácia da narrativa dependeria do uso da
avaliação pelos narradores para mostrar como querem que a narrativa (a seqüência de
eventos ideacionais no texto) seja entendida.
Dessa maneira, as avaliações presentes no texto afetam umas às outras, sejam feitas
por léxico atitudinal ou não, não operando de maneira apenas pontual na oração do texto
em que se encontram. A atitude inscrita pode afetar a natureza da atitude invocada,
“lançando e reforçando uma prosódia que direciona os leitores em suas avaliações do
material ideacional não atitudinal” (Martin e White 2005:64; 2005:139). Um exemplo
dessa prosódia é apresentado em Martin e White (2005:67), quando indica que “quando um
participante é explicitamente julgado em um papel, é possível reconhecer uma apreciação
invocada de suas realizações; de maneira similar, quando uma atividade é explicitamente
apreciada como uma coisa, um julgamento de quem a realizou pode ser invocado”.
Essa relação entre o Julgamento de quem executou a ação e a Apreciação da ação
também pode ser vista, em outros termos, no conceito de Status e Valor no plano
autônomo de Hunston (2000:202), para quem o Status de um participante restringe a
resposta do leitor, restringindo também, em termos mais gerais, como o próprio texto fará a
avaliação. Essa visão está alinhada ao sistema interpessoal de Thompson e Thetela
(1995:109) descrito anteriormente, pelo qual o escritor pode atribuir papéis aos
participantes por relações de transitividade.
A prosódia criada pelos avaliativos explícitos, que transcende as fronteiras
gramaticais das estruturas em que são usados, pode ser utilizada em propósitos que Hoey
(1983:28), em sua análise de textos de Chomsky, descreve como “manipulativos”. Essa
análise mostrou que a avaliação é particularmente difícil de ser desafiada quando está
I. Fundamentação teórica
63
incorporada na estrutura da oração e do discurso, ou seja, quanto menos perceptível for a
avaliação, maior probabilidade terá de conseguir manipular o leitor, como no exemplo
abaixo (Hoey, 1983:33):
For anyone concerned with intellectual processes, or any question that goes beyond mere
data arranging, it is the question of competence that is fundamental.
(Para qualquer pessoa preocupada com processos intelectuais ou qualquer outra questão
que vá além de uma mera organização de dados, a questão da competência é que é
fundamental)
Em sua análise, Hoey (1983:33) afirma que é difícil para o leitor discutir a
avaliação feita quanto à organização dos dados como mera, pois não é essa a questão
discutida na oração principal da sentença. A avaliação está, nesse caso, incorporada ao
grupo nominal, que faz parte de um sintagma preposicional que funciona como adjunto –
Hoey afirma que quando a avaliação é usada como modificação de um substantivo, é mais
facilmente tomada como informação dada, ou conhecimento comum, e menos propensa ao
escrutínio do leitor, com o que parece concordar Matthiessen (2004:612), que distingue
aqui o status interpessoal das orações em:
orações livres (free) – que fazem uma contribuição direta ao desenvolvimento do
diálogo, selecionando “livremente” o mood para indicar o seu valor na negociação
orações encapsuladas (bound) – orações que são hipotaticamente dependentes ou
embutidas.
Esses conceitos parecem sugerir que a resposta do leitor pode depender do nível da
estrutura em que as avaliações são feitas, em uma visão complementar à visão de
realização prosódica da avaliatividade proposta por Martin e White (2005:33).
1.7.2.2. O subsistema de Engajamento
Segundo Martin e White (2005:92), o subsistema de Engajamento (Engagement)
está relacionado aos recursos lingüísticos pelos quais os escritores/falantes adotam uma
postura com relação às posições de valor que estão sendo referenciadas no texto e com
relação aos quais elas se dirigem. Isso ocorre pela inclusão de significados que de alguma
maneira expressam no texto um cenário heteroglóssico de enunciados anteriores, pontos de
vista alternativos e respostas antecipadas (Martin e White, 2005:97).
I. Fundamentação teórica
64
O subsistema de Engagement prioriza, segundo Martin e White (2005:135) a
perspectiva dialógica, analisando como a voz do autor está se posicionando com relação às
reações e respostas da audiência antecipadas por ele. Martin e White (2005:135) destacam
sua orientação prospectiva, ou antecipatória, preocupada com as maneiras pelas quais o
texto constrói para si uma audiência e apresenta seu engajamento com essa audiência.
Segundo Martin e White (2005:93), essa perspectiva dialógica os leva, em primeiro lugar,
a observar a natureza da relação que o falante apresenta com “outros enunciados da mesma
esfera”, se ele reconhece esses falantes anteriores e como atua com eles e, em segundo
lugar, a observar os sinais fornecidos pelos falantes de quais as respostas que eles esperam
de seus públicos.
Esse subsistema engloba os meios para que a voz do autor se posicione com relação
(se engaje) com outras vozes e posições alternativas do contexto de comunicação, criando
solidariedade não apenas em termos de concordância/discordância, mas também de
reconhecer como válida a diversidade de pontos de vista (2005:96). O sistema de
Engajamento é baseado nos conceitos de expansão e contração dialógicas, pelos quais “as
locuções permitem posições e vozes alternativas (expansão dialógica) ou desafiam evitam
ou restringem o escopo delas” (Martin e White, 2004:102). O sistema de Engajamento é
mostrado na figura 7.
Figura 7. O subsistema de Engajamento7
As principais subcategorias desse sistema são:
7 Traduções dos termos conforme proposto em Lopes e Vian Jr. (2007)
I. Fundamentação teórica
65
Discordância: a voz textual se posiciona em desacordo ou rejeição a uma posição
contrária, reconhecendo a existência dessa posição, por exemplo: você não precisa deixar
de comer para perder peso – que reconhece e nega a preposição de que você precisa deixar
de comer para perder peso.
Proclamação: representando a proposição como altamente válida e fundamentada,
a voz textual se coloca contra, suprime ou descarta posições alternativas, como por
exemplo, em: obviamente que isso é verdade.
Entretenimento: apresentando explicitamente a proposição como fundamentada
em sua subjetividade individual, a voz do autor representa a proposição como uma de uma
gama de posições possíveis – assim leva em consideração ou invoca essas alternativas
dialógicas, como, por exemplo, em: as evidências sugerem que isso seja verdade.
Atribuição: representando a proposição como fundamentada na subjetividade de
uma voz externa, a voz textual representa a proposição como uma dentre uma gama de
proposições possíveis, como em: conforme Halliday (...).
1.7.2.3. O subsistema de Gradação
Uma característica dos significados de atitude e engajamento é a possibilidade de
serem objeto de gradação, uma função que pode reduzir ou intensificar os seus graus de
positividade ou negatividade (Martin e White, 2005, 135). O subsistema de graduação é
delineado na figura 8.
Figura 8. Subsistema de gradação: força e foco (Martin e White, 2005:154)
I. Fundamentação teórica
66
No sistema de avaliatividade, segundo Martin e White (2005:137), a gradação
opera em dois eixos. O primeiro refere-se à intensidade ou quantidade, descrito pelo
subsistema de Força, e o segundo refere-se à prototipicalidade ou precisão pela qual as
fronteiras das categorias são definidas, descrito pelo subsistema de Foco.
Segundo Martin e White (2005:137), o aspecto da prototipicalidade (foco) é
aplicado a categorias que, de um ponto de vista experiencial, não variam em escala, como
nos exemplos abaixo:
Eles não tocam jazz de verdade
Eles tocam algo parecido com jazz
Os aspectos de intensificação e quantificação (Martin e White, 2005:140) descritos
no subsistema de força, operam sobre: quantidades, por exemplo: extremamente idiota;
processos, por exemplo: atrapalhou muito; e modais, por exemplo: altamente provável.
O sistema de Avaliatividade proposto por Martin e White, dessa forma, oferece um
amplo instrumental sistêmico para a análise da avaliação e um ponto de referência para
futuras pesquisas em avaliação, como indicado em Martin e White (2005:46).
1.7.3. Considerações sobre os estudos de avaliação e avaliatividade
Nas seções anteriores, foram mostradas várias formas pelas quais o falante pode
expressar a sua atitude nos textos. Este trabalho considera que todas as escolhas léxico-
gramaticais no texto refletem de alguma forma a atitude do falante, porque, pelo
relacionamento entre texto e contexto, qualquer combinação específica das escolhas
lingüísticas ideacionais, interpessoais e textuais no texto pode afetar o contexto de
situação, incluindo as variáveis de relações (tenor). Essa posição está em consonância com
a visão de Stubbs, citada em Martin e White (2005:92) de que todos os enunciados trazem,
de alguma maneira, a postura ou atitudes do falante.
Comparando os conceitos propostos por Hunston com os de Martin e White e as
análises feitas com base nesses conceitos, parece haver uma grande complementaridade
entre esses dois sistemas. Enquanto Martin e White analisam a interoperação dos sistemas
de Avaliatividade no texto e sua relação com o contexto (Martin e White, 2005:210), o
conceito de Status de Hunston permite interpretar instâncias específicas de avaliação no
I. Fundamentação teórica
67
texto conforme a identidade da entidade que está sendo avaliada, em uma intertextualidade
compartilhada com o leitor.
Enquanto Hunston dá prioridade à base que fundamenta a avaliação em suas
análises (2000:196), Martin e White dão prioridade à categorização das atitudes nos
subsistemas de Afeto, Apreciação e Julgamento. Por essa complementaridade, podemos
usar as bases utilizadas na avaliação para estabelecer categorias de Avaliatividade
(constituindo-se em um rationale para essas categorias), relacionando, assim, as bases para
a avaliação às vozes do sistema de heteroglossia.
Outra complementaridade entre os sistemas de Martin e Hunston parece ser o modo
como a avaliação é construída ao longo do texto. Enquanto Martin privilegia a construção
prosódica, Hunston parece propor a construção do valor ao longo do texto, por relações
lógicas, na qual o valor de uma proposição depende do que é avaliado em outras
proposições. As principais características consideradas complementares na análise estão
resumidas no quadro 11.
Hunston Martin Avaliação de Status e Valor nos planos interativo
e autônomo
Análise pelas bases que fundamentam a avaliação
Atribuição de Valor (interativo) por outras
proposições no texto
Avaliatividade, pelos sistemas de Atitude,
Engajamento e Gradação.
Significados que expressam Atitudes de Afeto,
Apreciação e Julgamento.
Atitudes inscritas e evocadas
Realização prosódica da avaliação
Quadro 11. Comparação entre Hunston e Martin
Como o objetivo desse trabalho é identificar os conjuntos de valores que afetam as
escolhas dos falantes, escolhi fazer a análise em dois passos: em primeiro lugar,
identificando as avaliações conforme as categorias do sistema de Avaliatividade; em
seguida, analisando as bases para as avaliações e os modos como as avaliações são
construídas no texto, uma abordagem que se provou útil nas análises feitas nessa pesquisa.
A segunda parte deste capítulo trata das teorias não lingüísticas que baseiam este
trabalho, das áreas de marketing e comunicação.
I. Fundamentação teórica
68
1.7. As empresas e o mercado
Com relação às interações das empresas com o mercado, podemos ver, segundo
Torquato (1986:14), a empresa como um sistema aberto organizado, formado pelas
relações entre seus componentes internos e relações com os diversos elementos do meio
ambiente:
Como sistema, a empresa possui limites definidos, de um lado, pelos componentes
administrativos necessários à geração de bens e serviços, de outro, recebe influências do
meio ambiente, podendo-se aduzir, por inferência, que uma empresa não é apenas
resultante de componentes concretos do micro-sistema organizacional, mas é conseqüência
de forças, pressões, recursos e situações, nem sempre fáceis de se detectar, presentes no
corpo social. Quando se organiza, pois, uma empresa, na verdade, o que está-se
organizando são seus circuitos internos e externos, ajustando-os e promovendo seu
intercâmbio com outros sistemas. (Torquato, 1986:14)
Kotler (1990:49) criou um sistema de marketing onde podem ser encontrados
diversos elementos além da organização e seu mercado consumidor que interagem entre si
em um sistema de marketing, definido como “um conjunto de instituições e fluxos
significativos que liga as organizações aos seus mercados.” (:48). Nesse sistema, podemos
ver vários elementos além das empresas, seus clientes e concorrentes, como os
fornecedores de produtos e serviços, os intermediários de marketing (responsáveis pelas
funções de procura de mercados, distribuição física, comunicação, e outras), que fazem
parte do sistema central de marketing. O sistema de marketing, assim, descreve toda “a
rede de instituições-chave que interagem a fim de suprir os mercados finais com os bens e
serviços de que necessitam” (Kotler, 1990:50).
Além desse sistema central, existem outros elementos a serem considerados pela
empresa, como os diversos públicos, que podem ser definidos como grupos distintos que
possuam um interesse ou cause um impacto real ou potencial em uma organização (Kotler,
1990:50), como a comunidade financeira, a mídia de massa e, até mesmo, grupos de
consumidores que possam ter se reunido para boicotar a empresa. Dessa forma, em seus
planos de marketing, as empresas também têm de considerar as variáveis não-controláveis
do macroambiente, como as características demográficas da população, economia, leis,
tecnologia e cultura. Os elementos desse mercado podem também, segundo Lewis
(1990:01), formar alianças entre si para atingir objetivos comuns; dessa forma, as empresas
I. Fundamentação teórica
69
podem firmar parcerias com seus fornecedores, clientes, agências governamentais, mídia e
quaisquer outros participantes do sistema de marketing.
Um modelo simplificado de sistema de marketing é representado na figura 9:
Figura 9. Elementos do sistema de marketing da empresa e do meio ambiente (Kotler, 1990:50)
1.9. O mercado de telecomunicações no Brasil
O setor de telecomunicações está relacionado aos sistemas de transmissão e
recepção de informações por voz (como a conversação na telefonia fixa e celular ou a
transmissão de programas de rádio, por exemplo), dados (como, por exemplo nos sistemas
de troca eletrônica de dados usados no comércio, indústria e finanças, ou ainda a Internet)
ou imagens e voz (programas transmitidos na TV via satélite e TV a cabo). Esses sistemas
permitem a comunicação ponto a ponto entre uma pessoa ou rede de computação a outra
(como na telefonia e alguns sistemas de transmissão de dados) ou de um ponto a vários
outros pontos (como, por exemplo, na difusão de TV e rádio).
A indústria das telecomunicações passou por profundas mudanças a partir da
década de 80, principalmente quanto às inovações tecnológicas (Coutinho, Cassiolato e
Silva, 1995:13; Siqueira, 2000:122), que trouxeram a maior diversidade dos produtos para
diversos tipos de clientes. Existem, por exemplo, sistemas públicos de telefonia fixa que
atendem o público geral e a comunicação entre grupos específicos, como é o caso da
comunicação organizacional, que ocorre dentro de organizações formalmente estruturadas
I. Fundamentação teórica
70
(Straubhaar e LaRose, 2004:8-10), que têm condições de ter suas próprias redes privadas
de voz e dados.
No Brasil, até a década de 60 os serviços de telecomunicações eram prestados por
centenas de pequenas concessionárias municipais, estaduais e privadas. Esse cenário foi
alterado inicialmente pelo Código Brasileiro de Telecomunicações criado pela Lei Federal
4.117/65 (Coutinho, Cassiolato e Silva, 1995:103), que implementou diretrizes para o setor
de comunicações, a coordenação da expansão das redes e serviços e a implementação da
Tele_A como responsável pelas comunicações de voz e dados nacionais e internacionais.
Em 72, foi criado o Grupo Telebrás, uma holding que incorporou as concessionárias
existentes em subsidiárias estaduais (Siqueira, 2000: 107), como por exemplo a Telesp em
São Paulo, a Telerj no Rio de Janeiro e a Telemig em Minas Gerais.
O mercado brasileiro sofreu alterações fundamentais a partir da privatização. A
Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) foi instalada em 1997, sob a Lei Geral de
Telecomunicações (LGT) - a Lei nº 9.472/1997, para viabilizar o atual modelo das
telecomunicações brasileiras e exercer as atribuições de outorgar, regulamentar e fiscalizar
esse setor, “com o objetivo de combinar o investimento privado com a garantia de
universalização e continuidade dos serviços, cidadania e desenvolvimento econômico e
social, com a ação regulatória do poder público no tocante ao regime de tarifas e à
concorrência efetiva” (Ramires, 2004:9).
A Anatel foi responsável por preparar todos os regulamentos que balizaram a
privatização das empresas estatais e desenvolver o esforço de regulação8. Com a
desregulamentação do mercado brasileiro de telecomunicações e o final do monopólio
estatal nessa área, o território brasileiro ficou dividido em quatro regiões geográficas:
Região I: Nordeste, Sudeste (exceto São Paulo) e Norte (exceto AC, RO e TO); Região II:
Centro-Oeste, Sul e Estados do AC, RO e TO; Região III: São Paulo; e Região IV: Todo
o Brasil.
O setor foi dividido em 12 holdings no leilão do sistema Telebrás realizado em
julho de 1998: três de telefonia fixa local e de longa distância com atuação regional, uma
de telefonia fixa de longa distância nacional e internacional e oito de telefonia móvel,
prevendo a existência de operadoras "espelho", que concorreriam com as operadoras
8 Informações coletadas no site da agência, em http://www.anatel.gov.br/Portal/exibirPortalInternet.do#
I. Fundamentação teórica
71
locais. Atualmente, há grupos que detêm o controle de operadoras de telefonia fixa e de
telefonia móvel.
Outro fator que afetou o mercado de telecomunicações foi o maior controle das
atividades das empresas e a maior proteção aos direitos do consumidor, com a criação do
Código de Defesa do Consumidor (Lei n.º 8.078, de 11 de setembro de 1990), que
estabelece normas de proteção e defesa do consumidor, de ordem pública e interesse
social. Em São Paulo, área de atuação das empresas analisadas, existe o Procon - Fundação
de Proteção e Defesa do Consumidor – que tem por objetivo elaborar e executar a política
de proteção e defesa dos consumidores do Estado de São Paulo 9.
A proteção do mercado pelo poder público também é exercida pelo CADE -
Conselho Administrativo de Defesa Econômica - criado em 1962 e transformado, em 1994,
em Autarquia vinculada ao Ministério da Justiça, tem suas atribuições previstas na Lei nº
8.884, de 11 de junho de 1994. Conforme informações fornecidas no site do CADE 10
, ele
tem “a finalidade de orientar, fiscalizar, prevenir e apurar abusos de poder econômico,
exercendo papel tutelador da prevenção e repressão do mesmo”. O CADE atua de maneira
preventiva, analisando “fusões, incorporações e associações de qualquer espécie entre
agentes econômicos”, e repressiva, impedindo “práticas infrativas à ordem econômica, tais
como: cartéis, vendas casadas, preços predatórios, acordos de exclusividade, dentre
outras”.
1.10. A comunicação empresarial, os press releases e as notícias
Segundo Torquato (1986:16), o equilíbrio entre todos os elementos que interagem
com a empresa é obtido por um processo de comunicação entre três grandes sistemas, o
sistema sócio-político (valores globais e políticas de meio ambiente), o sistema econômico
industrial (as leis do mercado) e o sistema inerente ao microclima interno das organizações
(normas e políticas necessárias às operações industriais). Dessa maneira, a comunicação
(:17) “intermedeia o discurso organizacional, ajusta interesses, controla os participantes
internos e externos, promove, enfim, maior aceitabilidade da ideologia empresarial”, sendo
fundamental na organização da empresa.
Torquato (1986:129) ressalta a importância do uso dos canais jornalísticos para
veicular notícias relacionadas à empresa, colocando os canais jornalísticos como os mais
9 Informações coletadas no site do Procon, em http://www.procon.sp.gov.br/
10 Informações coletadas no site do CADE, em http://www.cade.gov.br/
I. Fundamentação teórica
72
apropriados para a comunicação da empresa com a comunidade. Diferentemente da
publicidade institucional, que exalta os méritos da empresa, e da propaganda, que muitas
vezes cria uma imagem artificial e parcial da empresa, a notícia empresarial pretende
atingir esses objetivos pela informação, mesmo que essa informação seja apresentada
explicitamente de uma forma persuasiva.
Em Kopplin e Ferrareto (1996:75), é destacado o papel dos press releases nesse
esforço de comunicação. Produzidos por uma assessoria de imprensa e destinados aos
veículos de comunicação, esses materiais têm como função básica "levar às redações
notícias que possam servir de apoio, atração ou pauta, propiciando solicitações de
entrevistas ou de informações complementares". Assim, "o gênero fundamental do release
é o informativo, por enfatizar o fato em seu estado puro, limitando-se à descrição de seus
aspectos principais" (1996:98), estando a interpretação dos fatos a cargo do jornalista do
veículo de comunicação. Isso implica que no press release, a empresa não tem o poder de
determinar como as informações serão utilizadas pelo veículo de comunicação, que pode
incluir na notícia informações de outras fontes ou interpretar as informações fornecidas de
uma forma desfavorável à empresa.
Essa dependência do julgamento do jornalista (ou da pessoa que tenha o poder de
decisão no veículo de comunicação) sobre o interesse jornalístico e a conseqüente
divulgação das informações fornecidas coloca o press release como um material
especialmente adequado a esta pesquisa, pois, entre outras características: (i) as
informações divulgadas devem criar uma imagem positiva da empresa e, ao mesmo tempo,
ter interesse para a comunidade e (ii) em condições normais, a empresa não tem poder de
determinar quais serão as informações e as opiniões presentes no texto final.
Bell (1991:58) cita o press release como um dos tipos de fonte de informação
utilizados pelos jornalistas; dessa forma, notícias e press releases podem ser vistos como
dois elementos distintos de uma cadeia de eventos comunicativos (Fairclough, 1995:37),
na qual um evento comunicativo recontextualiza os outros (1995:41), por exemplo, pela
representação de falas de indivíduos ou instituições na notícia.
Fowler (1991:20) destaca que “a publicação de um jornal é um negócio e uma
indústria, com local definido na economia da nação e do mundo”. Dessa maneira, as
atividades da imprensa e o jornal publicado são afetados por fatores decorrentes da atuação
das empresas jornalísticas no mundo, como a necessidade de lucros e o relacionamento
I. Fundamentação teórica
73
com outros agentes sociais; por exemplo, empresas de outras indústrias, agentes
financeiros, órgãos públicos e os leitores.
Essas relações com outros agentes da sociedade determinarão a seleção dos eventos
e tópicos que terão interesse jornalístico para serem publicados e também as maneiras
como os eventos serão representados. Para Fowler (1991:13), as notícias não são
simplesmente algo que acontece, mas o que pode ser considerado ou apresentado como
tendo “valor de notícia” (newsworthiness), segundo um conjunto de critérios que
compreende fatores como a referência a pessoas e países de elite, proximidade cultural e
impacto, entre outros.
Fowler (1991:21) afirma que, como os jornais precisam ser escritos e produzidos
com muita rapidez, os jornalistas precisam ter estratégias de coleta de notícias,
selecionando determinados tipos de fontes que são monitoradas consistentemente, entre as
quais órgãos públicos e organizações ou indivíduos que emitem declarações ou que fazem
entrevistas coletivas, principalmente as fontes com autoridade oficial e/ou poder financeiro
(1991:22).
Para Bell (1991:38), os jornalistas preferem trabalhar com fontes escritas que já
estejam em um estilo apropriado, que exijam um mínimo de retrabalho: as cópias de
agências noticiosas, os press releases e histórias anteriores sobre o mesmo tópico. Os press
releases, que segundo Bell são “abertamente desdenhados, mas muito usados pelos que
trabalham em jornais”, se bem escritos podem ter uma boa chance de serem publicados em
grande parte intactos. Para Bell (:39), a pouca necessidade de edição por parte do jornalista
constitui-se em um dos principais fatores para a escolha da notícia para a publicação.
Dentre as principais formas de edição, Bell (1991:70) destaca a eliminação de informações,
seja de modificadores de grupos nominais, sentenças inteiras ou, com menor freqüência, de
palavras individuais, as substituições lexicais e as alterações em estruturas sintáticas,
tipicamente exigidas após a retirada de informações do texto.
A relação entre press releases e notícias tem sido objeto de pesquisas em estudos de
gênero, como os realizados por Bell (1991), que afirma a importância dos press releases na
construção das notícias, sendo identificada por Strobbe e Jacobs (2005:289) uma
formulação prévia dos press releases, que imitariam as características típicas das notícias
para facilitar a cópia das informações. Em Strobbe e Jacobs (2005:291) é feita uma
comparação entre os press releases publicados pela Internet, como os analisados nesta
pesquisa, com press releases tradicionais, chegando à conclusão que o fato desses
I. Fundamentação teórica
74
materiais poderem ser vistos diretamente pelos consumidores provocou uma mudança
radical nas características dos press releases. Dessa maneira, esses e-releases passaram a
combinar a formulação de press releases tradicionais com recursos promocionais
encontrados em outros materiais publicitários, como a auto-referência e citação da própria
empresa em terceira pessoa e o uso de imperativos.
Como resultado dessa mudança, os press releases publicados pela Internet
ultrapassaram o seu objetivo original de levar notícias às redações, tendo contato direto
com os clientes e constituindo-se em materiais promocionais por seu próprio mérito. O uso
da Internet como canal de comunicação dos press releases colocaria esses materiais
potencialmente à disposição de todos os elementos do sistema de marketing, que assim
passam a ser leitores diretamente dos press releases da empresa.
As teorias de marketing e comunicação, além do histórico do mercado de
telecomunicações no Brasil nos dão uma visão do contexto de uso dos materiais, utilizada
na interpretação dos resultados. A seguir, passamos para o próximo capítulo, que apresenta
a metodologia de análise seguida neste trabalho.
II. Metodologia de pesquisa
75
II. Metodologia de pesquisa
Este capítulo de metodologia descreve o corpus de pesquisa e apresenta os
procedimentos de coleta e organização dos dados, os instrumentos utilizados e os
procedimentos seguidos na análise dos dados. A metodologia foi definida com base no
objetivo da pesquisa de analisar as formas pelas quais as empresas expressam avaliações
de suas atividades, por meio de uma comparação entre as representações das atividades
expressas nos press releases das empresas com as representações das mesmas
atividades expressas nas notícias de um jornal on-line.
Os procedimentos descritos neste capítulo são baseados no conceito de natureza
probabilística da linguagem, (Halliday, 1991:45), que pressupõe variações nas
freqüências de ocorrência dos padrões lingüísticos conforme o contexto de uso da
linguagem, e os estudos de padrões lingüísticos em gêneros específicos, relacionados
aos estudos de corpora pequenos (Ghadessy, Henry e Roseberry, 2001) que, segundo
Sinclair (2001:xi), são mais adequados à investigação das características de gêneros
específicos, “diferentemente dos estudos que analisam corpora de maiores dimensões,
nos quais os pesquisadores procuram encontrar informações sobre a linguagem de
forma geral”.
As análises dos resultados, apresentada no próximo capítulo, consideram as
empresa e o jornal como os escritores dos press releases e notícias respectivamente,
independentemente de quem tenha fisicamente escrito os textos, conforme o conceito de
escritor-no-texto, que é o sujeito do discurso identificado como o responsável pelo texto
(Thompson e Thetela, 1995:110; Ramos, 1997:48). Além disso, o termo interactantes
será utilizado como referência aos escritores-no-texto (as empresas Tele_A e Tele_B e o
jornal Jornal_A) e aos leitores potenciais dos textos. O termo participante será
utilizado como referência aos participantes do sistema ideacional, o que pode incluir
pessoas e entidades conscientes ou não conscientes, abstrações materiais e semióticas, e
outros tipos de participantes, como descrito em Halliday e Matthiessen (1999:60). As
atividades descritas nos textos serão alternativamente referidas pelo termo “tópico”,
definido por Ramos (1997:77), como “aquilo que o texto trata”.
II. Metodologia de pesquisa
76
2.1. Descrição das empresas
Esta seção traz um breve histórico das empresas e do jornal que publicaram os
press releases e as notícias analisados, seguindo a visão de Biber (1995:33), pela qual a
descrição da situação é fundamental para a análise da linguagem em uso. O motivo para
a decisão de analisar duas empresas foi ter uma base de dados maior e mais
diversificada para a análise, pois, apesar de as duas empresas atuarem no mesmo
mercado, elas têm históricos diferentes e formas de atuação diferentes, o que nos
permite comparar as avaliações feitas entre uma empresa e o jornal em um maior
espectro de atividades.
A escolha das empresas e do jornal foi baseada em eles estarem entre os maiores
do mercado em suas respectivas áreas, por seus respectivos históricos e pela mesma área
de atuação principal, que é o Estado mais desenvolvido e populoso do Brasil, segundo
dados do IBGE/2005.
A Tele_A está há 40 anos no mercado brasileiro de telecomunicações. Antes da
privatização, era a empresa responsável pelas ligações de longa distância nacionais,
transmissão de dados via fibras ópticas e via satélite em todo o território nacional;
atualmente, tem autorização para atuar no mercado de telefonia local, sendo uma nova
participante no mercado de São Paulo e outros Estados. Tem empresas subsidiárias na
área de call center, uma provedora de acesso gratuito à Internet e uma empresa que
opera o maior sistema de satélites da América do Sul.
A Tele_B assumiu as operações de telefonia na Região III após a privatização e,
conseqüentemente, o controle da planta de cabos de telefonia fixa instalada no Estado
de São Paulo. A Tele_B também obteve autorização para concorrer no mercado de
telefonia local em outros Estados. Além da telefonia fixa, telefonia celular e telefonia de
longa distância nacional e internacional, a empresa oferece outros serviços, como um
serviço de conexão rápida à Internet que lidera o mercado de internet rápida no país,
duas das maiores operações do país em internet, serviços de call center e contact center.
O Jornal_A, que publicou as notícias analisadas nesta pesquisa, pertence ao
grupo que publica o jornal impresso de maior circulação do Brasil. Esse jornal foi o
primeiro veículo de comunicação do Brasil a oferecer conteúdo on-line a seus leitores,
proporcionando acesso pela Internet aos conteúdos das edições impressas e online. O
conteúdo do Jornal_A é de livre acesso aos assinantes do maior provedor Internet do
II. Metodologia de pesquisa
77
Brasil em número de assinantes, o que coloca as notícias analisadas nesse trabalho ao
alcance de um grande público.11
2.2. Procedimentos de coleta e organização dos dados
O corpus analisado nesta pesquisa é composto por dois subcorpora, um para a
análise da Tele_A e o outro, da Tele_B. Esses subcorpora são formados por pares de
textos, onde cada par é formado por um press release da empresa e uma notícia do
jornal on-line sobre uma mesma atividade da empresa. Dessa maneira, foram criadas
inicialmente quatro pastas separadas de arquivos: uma para os press releases da Tele_A,
outra para os press releases da Tele_B, uma terceira pasta para notícias sobre a Tele_A
e a última, para notícias sobre a Tele_B.
O uso de pares de press releases e notícias em vez da comparação de dois
corpora, um com todos os press releases da empresa e o outro com todas as notícias
sobre a empresa no período, permitiu comparar individualmente os recursos léxico-
gramaticais usados para descrever cada tópico. Essa comparação individual foi
considerada necessária devido a dois fatores: o fato de uma palavra poder ter
significados diferentes em contextos diferentes e a diversidade dos recursos léxico-
gramaticais que podem ser usados para realizar tanto os significados ideacionais,
relacionados à descrição da experiência humana, quanto os recursos avaliativos,
conforme os conceitos teóricos apresentados na fundamentação teórica deste trabalho.
O primeiro passo para a formação do corpus foi a criação de uma base de dados
de apoio, formada pelos títulos dos press releases emitidos pelas duas empresas nos
anos de 2003 a 2005. Os títulos dos press releases foram encontrados nas páginas web
das empresas, em seções acessadas a partir da página principal pelos links “Sala de
Imprensa” (Tele_A) e “Imprensa” (Tele_B). No período entre o início de 2003 e o final
de 2005, foram encontrados nos sites das empresas, coincidentemente, 339 press
releases emitidos pela Tele_B e 339 press releases emitidos pela Tele_A.
Essa base de dados foi utilizada como referência na busca das notícias
correspondentes aos press releases pelo mecanismo de busca oferecido no site do jornal
online. Em seguida, foram formados dois arquivos com os títulos encontrados e, com o
auxílio da ferramenta Wordlist do aplicativo Wordsmith Tools (Scott, 2004), descrito
11
Informações coletadas nas páginas das empresas na Internet.
II. Metodologia de pesquisa
78
em mais detalhes a seguir neste capítulo, foram criadas duas listas de palavras, uma para
cada empresa, com base nesses títulos. Essas palavras foram usadas como uma
indicação dos termos a serem usados nos mecanismos de busca do jornal on-line para se
encontrar as notícias que poderiam corresponder aos press releases.
Como resultado desse procedimento de busca, no site do Jornal_A, foram
encontradas, coincidentemente, 27 notícias sobre a Tele_A e 27 notícias sobre a Tele_B
que atendiam os critérios estabelecidos para a formação do corpus, que foram a
atividade social na qual a empresa esteve envolvida e a proximidade de datas de
publicação do press release e da notícia. Deve-se destacar que uma das notícias
analisadas nas fases iniciais desta pesquisa descrevia tópicos publicados em dois press
releases publicados na mesma data. Para evitar que a comparação de uma notícia com
dois press releases pudesse afetar a consistência dos resultados, esse vigésimo oitavo
“par” formado por dois press releases e uma notícia foi excluído do corpus. Isso
porque, por questões de tempo, não consegui argumentos nem para defender o uso dos
dois press releases como um único texto na análise e nem a análise separada dos textos,
criando dois pares com uma mesma notícia.
2.3. Descrição do corpus
Os dados relativos ao tamanho do corpus coletado estão apresentados
resumidamente no quadro 12, expressos em quantidades de press releases ou notícias
encontradas em cada faixa de quantidade de palavras, para facilitar a visualização.
Número de
palavras
Press releases
da Tele_A
Press releases
da Tele_B
Notícias da
Tele_A no
Jornal_A
Notícias da
Tele_B no
Jornal_A
Abaixo de 100 1 - - -
100 – 200 4 1 11 11
201 – 300 7 7 10 10
301 – 400 6 8 1 4
401 – 500 3 5 5 1
501 – 600 - 4 - 1
Acima de 601 6 2 - -
Menor texto
(palavras)
78 183 111 109
Maior texto
(palavras)
2.401 700 474 509
Tamanho total
(palavras)
12.437 10.430 6.508 6.312
Quadro 12. Tamanho do corpus (em número de textos vs. quantidade de palavras)
II. Metodologia de pesquisa
79
Conforme mostrado no quadro 12, o jornal usou quantidades de palavras
aproximadamente iguais nas notícias publicadas sobre as duas empresas, em sua
maioria entre 100 e 300 palavras. Foi observado também que a maioria dos press
releases tem um número de palavras maior do que o de sua notícia correspondente. Em
apenas 8 dos 27 pares da Tele_A e em 3 dos 27 pares da Tele_B a notícia tem mais
palavras do que o press release, o que a análise mostrou indicar a inclusão de
informações de outras fontes.
No quadro, podemos ver, por exemplo, que 11 das notícias sobre a Tele_A no
Jornal_A têm entre 100 e 200 palavras e que 5 dessas notícias têm entre 401 e 500
palavras. Esse quadro mostra também os números máximos e mínimos de palavras
encontrados nos textos; por exemplo, podemos ver que a notícia menos extensa sobre a
Tele_A tem 111 palavras, e a mais extensa, 474 palavras. Os números absolutos de
palavras de cada par podem ser encontrados no Anexo II – Quantidades de palavras.
No corpus analisado, foram encontrados textos sobre diversas atividades em que
as empresas estão envolvidas. Nessas atividades, as empresas atuam na sociedade de
várias formas: a oferta de produtos aos clientes, patrocínios das Empresas a eventos
culturais dirigidos a públicos gerais ou específicos, ações internas à Empresa dirigidas
aos seus funcionários, fornecedores e empresas subsidiárias, ações que envolvem
agências reguladoras e a publicação de balanços financeiros. Os números de pares de
textos que descrevem cada uma das atividades das empresas, juntamente com a
identificação desses pares, são mostrados no quadro 13.
Atividade Tele_A Tele_B
Produtos 8 pares (pares 1, 2, 9, 10, 15, 17, 24 e 27)
18 pares (pares 2, 3, 4, 6, 7, 9, 10, 12, 14,
15, 17, 18, 21, 23, 23, 25, 26 e 27)
Agências reguladoras 7 pares (pares 4, 13, 18, 19, 20, 21 e 22)
1 par (par 1)
Patrocínio 4 pares (pares 3, 14, 25 e 26)
4 pares (pares 8, 11, 13 e 19)
Ações internas 6 pares (pares 5, 6, 8, 12, 16 e 23)
-
Divulgação de balanços 2 pares (pares 7 e 11)
4 pares (pares 5, 16, 20, 24)
Total 27 27
Quadro 13. Atividades descritas nos press releases e notícias por Empresa
Nas atividades relacionadas aos produtos, a Empresa fornece produtos e serviços
a clientes e recebe pagamento por eles. Nas atividades relacionadas ao patrocínio, como
II. Metodologia de pesquisa
80
afirmado por um executivo do setor, a Empresa apóia atividades culturais sem receber
pagamento, em troca da divulgação de sua marca:
“Os megashows têm sempre um patrocinador, principalmente fabricantes de aparelhos
ou operadoras. Isso já é uma direção de estratégia para a faixa etária de consumo. Da
mesma forma, há segmentos patrocinando eventos teatrais. Ali, no fundo, ela não está
fazendo aquilo por vontade de fazer promoção cultural. Está ligando sua marca ao
evento, porque aquele público lhe interessa.” Juarez Quadros, ex-ministro das
Comunicações e sócio da Orion Consultores Associados. (Revista BITES, Ano 1 – Ed. 3,
pg. 14)
As ações internas são aqui definidas como as ações executadas pela empresa que
afetam a sua própria estrutura interna, como a compra de empresas, trocas de executivos
e investimentos realizados. As relações com as agências reguladoras visam
principalmente regular as relações entre a empresa, seus concorrentes e os seus clientes.
A divulgação periódica dos balanços financeiros é uma obrigação legal imposta às
sociedades anônimas no Brasil pela Lei 6.404 de 15 de dezembro de 1976, que dispõe
sobre as sociedades por ações, conforme o Art. 275, Seção IV e o Art. 289, em redação
dada pela Lei no 9.457 de 1997, que obriga as empresas a publicarem os resultados “no
órgão oficial da União ou do Estado ou do Distrito Federal, conforme o lugar em que
esteja situada a sede da companhia, e em outro jornal de grande circulação editado na
localidade em que está situada a sede da companhia.”
A principal diferença indicada no quadro acima é o maior número de pares de
textos da Tele_B sobre produtos e um maior número de pares de textos da Tele_A sobre
ações legais contra os concorrentes e ações dirigidas à própria Empresa. Essa diferença
pode ser atribuída ao fato de a Tele_A ser uma empresa que começou a concorrer com
as operadoras de telefonia fixa já estabelecidas em vários estados a partir de 2002; além
disso, a Tele_A também passou por várias reestruturações internas, que incluíram a
venda da empresa pela controladora que a adquiriu no leilão da Telebrás.
As próximas seções apresentam os procedimentos seguidos na análise do corpus.
Essa apresentação compreende a descrição dos instrumentos de análise e dos
procedimentos seguidos na análise dos resultados.
II. Metodologia de pesquisa
81
2.4. Metodologia de análise
Os procedimentos de análise descritos a seguir tiveram como objetivo identificar
as diferenças de posicionamento entre as empresas e o jornal ao descrever uma mesma
atividade. Como discutido na fundamentação teórica, essas diferenças podem ocorrer
pela inclusão/exclusão de participantes, das características e ações desses participantes,
e também pela inclusão/exclusão de itens avaliativos explícitos. Para identificar os
valores que baseiam os posicionamentos do jornal e das empresas, esta pesquisa utilizou
uma abordagem baseada em corpus, com o intuito de identificar conjuntos de valores
utilizados consistentemente na descrição de diferentes atividades.
2.4.1. Estudos sobre análises computadorizadas
Esta seção tem como objetivo apresentar os estudos que serviram como base
para os procedimentos de análise utilizados nesta pesquisa e justificar o
desenvolvimento de ferramentas específicas para a comparação de pares de textos.
Esses estudos envolvem os recursos disponíveis para a análise auxiliada por
computador, incluindo estudos sobre análises comparativas e estudos sobre a análise da
avaliação realizados com o auxílio desse instrumento.
A análise do corpus foi baseada no aplicativo Wordsmith Tools (Scott, 2004). A
escolha por esse aplicativo foi decidida pelo grande número de funções oferecidas por
ele, reunidas em suas três ferramentas principais, denominadas Wordlist, Concord e
Keywords, além do fato de esse aplicativo ser amplamente utilizado nas pesquisas do
grupo DIRECT, como Ramos (1997), Freitas (1997), Bressane (2000) e Sobhie (2003),
para citar apenas alguns. Os principais instrumentos de análise oferecidos pelo
Wordsmith Tools, conforme relacionado por Berber-Sardinha (2004:87), são:
Wordlist: Listas de palavras individuais, listas de clusters (multipalavras -
conjuntos formados por mais de uma palavra), listas de consistência e
consistência detalhada, além de informações estatísticas.
Concord: Listas de concordância, colocados, agrupamentos lexicais, padrões de
colocados, gráficos de distribuição de palavras.
KeyWords: Listas de palavras-chave, bancos de dados de listas de palavras
chave, palavras chave-chave, palavras-chave associadas, agrupamentos textuais,
gráficos de distribuição de palavras-chave e listas de elos entre palavras-chave.
II. Metodologia de pesquisa
82
Os instrumentos de análise oferecidos pelas listas da ferramenta Wordlist
identificam a freqüência de ocorrência de todas as palavras do corpus, em valores
absolutos e relativos ao tamanho do corpus, oferecendo também a possibilidade de
comparação entre duas listas de palavras diferentes (listas de consistência). As listas de
palavras criadas também fornecem informações importantes para a caracterização do
corpus, como o número total de palavras (tokens) e o número de palavras diferentes
(types).
Já os instrumentos de análise oferecidos pelas listas da ferramenta KeyWords
trabalham com o conceito de palavras-chave. Palavras chave são palavras identificadas
por uma relação entre as freqüências de ocorrência dessa palavra no corpus de estudo e
no corpus de referência, que é um corpus de dimensões muito maiores do que o corpus
analisado, formado por textos de muitos gêneros diferentes (Berber-Sardinha, 2004:100-
101).
Finalmente, os instrumentos oferecidos pela ferramenta Concord permitem a
análise do uso da palavra em seu contexto em uma análise das colocações (palavras
próximas à palavra analisada, dentro de um horizonte definido pelo analista, cf. Collins
e Scott, 1997:186), na qual o analista pode observar as estruturas gramaticais nas quais
as palavras são utilizadas e identificar padrões gramaticais, como no estudo de Hunston
(2006). Conforme apontado por Collins e Scott (1997:187), a análise combinada do
aboutness em ampla escala no texto, identificado pelo conjunto de palavras-chave, e,
em escala mais localizada, pelos links de colocação, apresenta ao analista um panorama
topical do texto analisado.
Em um levantamento das ferramentas disponíveis para a comparação entre
corpora, foi observado que essa comparação pode ser baseada nos conceitos de
freqüência e consistência dos itens lexicais. O estudo utilizado como base para a criação
dos instrumentos de análise desta pesquisa foi uma análise de um corpus de textos
pequenos, composto por 18 relatórios de empresas de Scott (2001:57), que propõe
utilizar os conceitos de consistência, chavicidade e consistência significativa, descritos a
seguir:
A consistência é uma característica de freqüência de um corpus que mostra a
relação entre o número de textos do corpus que contêm uma determinada palavra
e o número total de textos do corpus, expresso em porcentagem. (2001:58)
II. Metodologia de pesquisa
83
A chavicidade é um índice numérico que compara as freqüências de ocorrência
de uma palavra em um corpus de estudo e em um corpus de referência. Esse
valor é encontrado pela fórmula de log-likelihood, que, na comparação entre o
corpus de estudo e um corpus de referência, “funciona bem com amostras de
textos grandes e pequenas e permite a comparação direta da significância de
fenômenos raros e comuns” (Dunning, 1993:2).
A consistência significativa é uma característica da freqüência de ocorrência de
uma palavra em um corpus. Segundo as listas de consistência apresentadas por
Scott (2001: 60-61), essa característica é baseada no índice de chavicidade da
palavra em todo o corpus, não considerando o número de textos em que a
palavra ocorre.
Berber-Sardinha (1999:2) criou os conceitos de palavras chave exclusivas e
palavras chave compartilhadas, com o intuito de auxiliar os analistas a fazer recortes
em suas listas de palavras chave. As palavras chave exclusivas são as palavras chave de
um corpus que não são encontradas em outros corpora de estudo, enquanto que as
palavras chave compartilhadas seriam as palavras chave encontradas em mais de uma
lista de palavras chave. Dessa maneira, pela comparação entre uma lista de palavras
chave e as listas de palavras chave oferecidas por seu banco de palavras chave, o
analista poderia identificar as palavras chave exclusivas de seu corpus de estudo.
Com relação à análise da avaliatividade baseada em corpus com o auxílio do
computador, Kaltenbacher (2006:274-275) aponta a variedade de palavras que podem
ser usadas para expressar a avaliação inscrita e o significado implícito em trechos de
texto da avaliação invocada como problemas para definir os termos de busca a serem
usados na análise da avaliatividade por listas de concordância em um corpus.
Kaltenbacker sugeriu algumas estratégias para a análise da avaliatividade,
embora reconheça que mesmo o uso conjunto de todas essas estratégias pode não
capturar todas as avaliações presentes no corpus. Essas estratégias envolvem prever as
palavras de busca que expressariam itens avaliativos e participantes avaliados no
registro analisado, procurar avaliações nas proximidades de itens avaliativos já
identificados, analisar as avaliações presentes em uma amostra de texto e depois usar os
resultados para analisar todo o corpus e, finalmente, usar listas de freqüência para
encontrar itens potencialmente avaliativos.
II. Metodologia de pesquisa
84
Os motivos para o desenvolvimento de procedimentos específicos para esta
pesquisa, que levaram à não utilização do conceito de consistência significativa
proposto por Scott e nem das análises sugeridas por Kaltenbacker, são decorrentes dos
objetivos desta pesquisa, de analisar se os valores envolvidos nos posicionamentos da
empresa e do jornal poderiam ser identificados por diferenças recorrentes nos recursos
léxico-gramaticais usados nas descrições dos tópicos. Outras abordagens de análise de
avaliatividade baseada em corpus estudam fraseologias de palavras e expressões
específicas, como Hunston (2006) e Miller (2006), que não são adequadas para análises
de textos inteiros, como a feita nesta pesquisa.
2.4.2. A abordagem usada nesta pesquisa
A abordagem desenvolvida especificamente para os fins desta pesquisa resultou
de duas particularidades. A primeira é a abordagem da análise da avaliação pela
comparação entre gêneros diferentes, que visa identificar a exclusão ou inclusão de
participantes e as relações entre participantes na descrição de uma determinada
atividade. Dessa maneira, foi privilegiada inicialmente na análise a presença ou
ausência do item lexical no texto em vez da freqüência de ocorrência deste item no
texto. Essa particularidade está relacionada à necessidade de comparar o significado na
palavra nas descrições de cada tópico, em consonância com a visão de Hunston
(2001:13), pela qual os padrões colocacionais das palavras e frases são dependentes do
contexto de uso, considerando o texto como unidade de análise.
Essa preocupação é baseada na afirmação de Flowerdew (2001:78) que “o léxico
menos especializado pode assumir acepções especializadas em um determinado
contexto, ou seja, palavras de uso geral que assumem significados especiais em uma
determinada área técnica”. Assim, uma palavra como local, que tem um significado
técnico específico quando o tópico se refere à telefonia (serviço prestado na modalidade
local, com o acesso direto dos assinantes ao equipamento de comutação), pode ter um
significado menos específico quando o tópico se referir a um evento patrocinado pela
empresa. É óbvio que o procedimento aqui proposto não elimina totalmente os erros de
comparação decorrentes dos diferentes sentidos que uma palavra possa assumir –
infelizmente, todo procedimento está sujeito a algum tipo de erro – mas a comparação
entre tópicos pode eliminar uma grande parte desses erros, especialmente com o auxílio
das listas de concordância.
II. Metodologia de pesquisa
85
A abordagem proposta neste trabalho também pode dar conta dos problemas
relacionados à dependência do contexto na interpretação de palavras que se repetem no
corpus por mecanismos de repetição de superordenadas e hiponímia como apontado por
Hoey (1991:70):
Há bases razoáveis para esperar que a repetição possa ser rastreada por computador. Se
houver acesso possível a um lexicon sofisticado, pode ser possível rastrear pelo menos
algumas das paráfrases no texto; este lexicon, poderia também permitir o
reconhecimento de repetição por superordenadas e hiponímias, embora garantir que os
referentes seriam idênticos para os últimos seria presumivelmente impossível. Mas,
como isso depende das propriedades inerentes da palavra (entretanto, essas podem ser,
em princípio, modificadas pelo contexto, a repetição por co-referência seria, a princípio,
impossível de ser automatizada sem o acesso a informações enciclopédicas mantidas
por local e data de composição; em um texto escrito durante os anos 80 na Grã-
Bretanha, Mrs Tatcher e Prime Minister seriam co-referenciais; em um texto similar,
escrito durante os anos 70, Prime Minister poderia co-referencial com qualquer um dos
quatro possíveis, dependendo do ano e mês da composição. (Hoey, 1991:70)
Utilizando na comparação pares de textos sobre o mesmo tópico e datas, que
compartilham o mesmo contexto, teremos uma maior probabilidade de que as mesmas
palavras de conteúdo se refiram aos mesmos participantes e ações. Levando em
consideração na comparação todas as palavras do texto, poderemos analisar palavras
que ocorrem em menor freqüência, que podem ser formas de referência diferentes a um
mesmo participante ou que tenham com esse participante alguma relação de
superordenação ou hiponímia. Assim, as palavras de busca para a análise de
concordância foram identificadas com base nas diferenças mais freqüentes no uso de
padrões léxico-gramaticais entre press releases e notícias, em uma análise individual
das diferenças entre as descrições de cada tópico pela empresa e pelo jornal.
A segunda particularidade desta análise é a diversidade de formas e a natureza
prosódica das realizações da avaliação, com a identificação de diferenças em padrões
léxico-gramaticais que ocorrem com pouca freqüência em um par de textos, mas que
podem ser encontradas na comparação de um grande número de pares. Assim, temos de
levar em consideração as características de realização da avaliação, que pode ser
expressa nos textos por uma variedade de recursos léxico-gramaticais, como, por
exemplo, as diferentes formas de realização do subsistema de Atitude apresentadas por
Martin e White (2005:45).
II. Metodologia de pesquisa
86
Dessa forma, a abordagem seguida neste trabalho considera que as palavras que
ocorrem uma ou poucas vezes no texto são importantes, pois a avaliação pode ser
realizada por recursos lingüísticos variados, em diferentes níveis da estrutura do texto
ou mesmo em pontos específicos da estrutura do texto, como mostrado na análise de
disjuntos de Thompson e Zhou (2000:121) e de advérbios de Conrad e Biber (2000:56).
Como todos esses aspectos podem implicar em uma possível baixa freqüência do
léxico usado na realização desses aspectos em cada texto, preferi não utilizar o conceito
de palavras chave para identificar as diferenças entre os press releases e as notícias, pois
as palavras chave, cuja utilidade no estudo de aboutness (Philips, 1991:7) foi
demonstrada em vários trabalhos, como os de Collins e Scott (1997) e Ramos (1997),
identificam principalmente as palavras de conteúdo do texto.
Para a análise comparativa dos textos em termos de padrões léxico-gramaticais,
foi necessário criar procedimentos e instrumentos de análise específicos para a
comparação entre um press release e uma notícia de cada par e a consolidação das
diferenças encontradas ao longo de todo um corpus de pares de textos. Para os fins desta
análise, a metodologia utilizada nesta pesquisa propõe analisar a consistência e a
freqüência separadamente, com base nos conceitos de palavras exclusivas e palavras
significativamente exclusivas, descrito na próxima seção.
2.5. Palavras exclusivas e palavras significativamente exclusivas
Considerando as particularidades desta pesquisa relacionadas na seção anterior e
os instrumentos de análise de corpus, cheguei à conclusão que precisaria desenvolver
procedimentos específicos para a análise, que dessem mais importância ao número de
textos em que as palavras ocorrem do que à freqüência total de ocorrência das palavras
em todos os textos do corpus. Para dar conta dessas particularidades, utilizei os
conceitos de palavras exclusivas e palavras significativamente exclusivas que, no
contexto dessa pesquisa, são definidos como mostrado abaixo:
Para um par formado por um press release e uma sua notícia que descrevem
uma mesma atividade:
II. Metodologia de pesquisa
87
uma palavra compartilhada será uma palavra que ocorre no press release e na
notícia de um mesmo par;
uma palavra exclusiva do press release será uma palavra que ocorre no press
release e não na notícia correspondente; uma palavra exclusiva da notícia será
uma palavra que ocorre na notícia e não no press release correspondente;
uma palavra significativamente exclusiva será uma palavra que ocorre como
palavra exclusiva, no press release ou na notícia, em um número considerado
significativo de pares.
Dessa forma, para cada comparação de um press release com sua notícia
correspondente haverá uma lista de palavras exclusivas do press release, uma lista de
palavras exclusivas da notícia e uma lista de palavras compartilhadas. As listas de
palavras compartilhadas somente foram usadas nesta pesquisa como parte do
procedimento de montagem dos instrumentos de análise, não sendo usadas na análise
lingüística propriamente dita, que enfocou as diferenças entre os materiais.
O principal critério na identificação das palavras significativamente exclusivas é
o número de textos em que uma palavra ocorreu de forma exclusiva, diferentemente da
comparação entre corpora, que identifica palavras que ocorreram com freqüência
inusitada em todo o corpus, sem identificar os textos isoladamente. Dessa maneira, o
conceito de exclusividade tem como objetivo mostrar o que se destaca na comparação
entre dois tipos de materiais diferentes pelo uso exclusivo de determinadas palavras em
um dos materiais.
Esse procedimento permite que o analista observe duas variáveis separadamente:
o número de textos em que uma determinada palavra ocorreu e a freqüência de
ocorrência dessa palavra, obtidas em um segundo passo pelo número de linhas de
concordância. Isso evita que palavras de alta freqüência em poucos textos sejam
consideradas representativas de todo o corpus, o que Ramos (1997:117) fez com o uso
de palavras chave-chave, que são “palavras que são palavras chave em mais de um
texto” (:125).
Outra vantagem do uso do conceito de palavras exclusivas é dispensar o uso do
corpus de referência na análise, o que evita dois problemas: o primeiro é que o corpus
de referência não deve conter os textos sob análise (Berber-Sardinha, 2004:100). Esse
foi um problema para a análise desta pesquisa, pois o corpus do Banco de Português,
II. Metodologia de pesquisa
88
compilado e mantido pela Pontifícia Universidade Católica como parte do Projeto
DIRECT comporta vários anos de notícias publicadas pelo Jornal_A (Berber-Sardinha,
2004:164), provavelmente contendo muitas, se não todas, das notícias utilizadas nesta
presente pesquisa. O segundo problema, relacionado a este primeiro, é o efeito de
filtragem observado por Berber-Sardinha (2004:100), pelo qual “um corpus de
características genéricas semelhantes ao do corpus sob estudo tende a filtrar, ou seja,
eliminar os elementos genéricos em comum, resultando em uma lista de palavras-chave
que não inclui esses elementos”. Esse efeito de filtragem foi considerado nessa análise
como potencialmente danoso à observação da avaliação, pelas características já citadas
desse aspecto da linguagem. Por esse motivo, também descartei utilizar um corpus de
referência composto especialmente para a análise feita nessa pesquisa, visto que seria
inviável evitar os efeitos da filtragem causados por esse corpus de referência sobre os
recursos avaliativos do press release e da notícia.
Os instrumentos de análise utilizados nesta pesquisa estão descritos em maiores
detalhes nas próximas seções.
2.6. Instrumentos de análise
Para as análises comparativas, foram criados dois instrumentos de análise
comparativa, utilizados complementarmente um ao outro para permitir ao analista
comparar textos de dois pontos de vista diferente: um estatístico, que totaliza as
diferenças encontradas em cada par de textos, e outro visual, que permite comparar
trechos entre os textos de cada par individualmente.
A criação dos instrumentos de análise foi baseada nas ferramentas
computacionais Wordlist e o Concord, oferecidas pelo aplicativo Wordsmith Tools
(Scott, 2004). Com esse aplicativo, podemos observar diversos aspectos de como as
palavras são usadas em um texto ou em um conjunto de textos.
O Wordlist foi utilizado nesta pesquisa na criação de listas de freqüência de
ocorrência das palavras dos textos, além da coleta de dados estatísticos como os
números totais de palavras (tokens) e palavras diferentes (types) presentes nos textos.
Um dos recursos do Wordlist que foi essencial para a criação dos instrumentos usados
na pesquisa é a sua função de Consistência (Consistency), usada na comparação entre
II. Metodologia de pesquisa
89
cada press release e a sua notícia correspondente. As listas de consistência foram usadas
para identificar as palavras que ocorreram nos dois textos de cada par ou em apenas um
deles.
O Concord mostra como as palavras estão sendo usadas no contexto. Além de
fornecer as linhas de concordância de uma ou mais palavras, esse aplicativo também
fornece listas de colocadas (as palavras próximas à palavra de interesse) e padrões de
colocação, entre outros recursos. As listas de concordância foram usadas nesta pesquisa
para identificar as funções ideacionais das palavras exclusivas e os estágios do texto nos
quais essas palavras foram usadas.
Outra característica importante das ferramentas do Wordsmith Tools para os
procedimentos aqui descritos é a sua capacidade de operar com aplicativos como o
Microsoft Word e o Microsoft Excel, que foram usados intensivamente na criação dos
instrumentos de pesquisa, conforme descrito nos procedimentos a seguir.
2.6.1. Comparação lado a lado dos textos
Para vermos em que contexto as palavras exclusivas são usadas, os textos foram
colocados em uma comparação lado-a-lado. Os quadros de comparação lado-a-lado
permitem que o analista visualize a ocorrência das palavras comuns e exclusivas no
contexto, identificando trechos idênticos ou quase idênticos e trechos diferentes entre os
press releases e notícias. Esses quadros foram criados pelo procedimento abaixo:
a. O press release e a notícia foram colocados lado a lado em uma tabela de duas
colunas de um arquivo de documento do Microsoft Word.
b. O destaque das palavras comuns foi feito pela função Editar/Substituir do
Microsoft Word, que foi usada para localizar cada ocorrência da palavra no texto e
substituir essa palavra pela mesma palavra, só que em realce.
A visualização do uso do léxico comum pela comparação lado-a-lado dos textos
foi criada como ferramenta de suporte para permitir que o analista veja se os itens
lexicais compartilhados ou exclusivos de um dos textos estão acompanhados de outros
itens lexicais de mesmo status; por exemplo, para que se possa observar se os itens
lexicais exclusivos em um dos textos co-ocorriam com outros itens lexicais também
exclusivos no mesmo texto. Nas comparações dos textos, os itens lexicais utilizados nos
II. Metodologia de pesquisa
90
dois textos foram destacados em cinza-claro; os termos utilizados apenas por um dos
textos foram deixados sem destaque.
Esse procedimento nos permite saber se uma palavra utilizada apenas no press
release, por exemplo, está próxima de outras palavras utilizadas apenas neste press
release ou por palavras comuns aos dois textos. Na lista criada por esse procedimento,
temos as palavras comuns entre os dois textos apresentadas em destaque. As palavras
sem realce na coluna do press release são as palavras usadas exclusivamente no press
release, e as palavras sem realce na coluna da notícia são as palavras utilizadas
exclusivamente na notícia, como mostrado na figura 10.
PRESS RELEASE NOTÍCIA 06/06/2003
Conselho da Tele_A Participações tem dois novos
integrantes: Francisco Weffort e José Roberto Mendonça
de Barros
O Conselho Consultivo da Tele_A Participações, empresa
holding da Tele_A, conta com dois novos integrantes: o
ex-ministro da Cultura Francisco Weffort e o economista
José Roberto Mendonça de Barros. Eles se juntarão às
demais personalidades que já integram o grupo, cuja
função é ser um importante instrumento de relacionamento
com toda a sociedade brasileira, servindo como uma via de
mão dupla que recolhe e encaminha informações sobre a
Empresa e a conjuntura econômico-social do País.
Além dos dois novos integrantes, o Conselho Consultivo
da Tele_A Participações, criado em dezembro de 1999, é
integrado pelas seguintes personalidades: Affonso Celso
Pastore, Luiz Felipe Lampreia, Marcílio Marques Moreira
e Murillo Aragão.
06/06/2003 - 13h54
Tele_A indica Weffort e Mendonça de Barros para
conselho
A Tele_A Participações anunciou hoje que seu conselho
consultivo terá dois novos integrantes: o ex-ministro da
Cultura Francisco Weffort e o economista José Roberto
Mendonça de Barros, ex-secretário da Camex (Câmara
de Comércio Exterior).
Segundo a holding, função do conselho "é ser um
importante instrumento de relacionamento com toda a
sociedade brasileira, servindo como uma via de mão
dupla que recolhe e encaminha informações sobre a
empresa e a conjuntura econômico-social do país".
Além dos dois novos integrantes, o conselho consultivo,
criado em dezembro de 1999, é integrado pelo ex-
presidente do Banco Central, Affonso Celso Pastore, ex-
ministro das Relações Exteriores, Luiz Felipe Lampreia,
ex-ministro da Fazenda Marcílio Marques Moreira e o
cientista político Murillo Aragão.
Figura. 10. Lista de comparação lado-a-lado
A figura 10 mostra como a lista permite a visualização das semelhanças e
diferenças entre os textos. Como semelhança, por exemplo, podemos identificar um
trecho do press release que tem um correspondente exatamente igual na notícia, entre é
ser um importante (...) e a conjuntura econômico-social do país. Nos textos, podemos
ver que este trecho está identificado como sendo a função do conselho, em duas
construções gramaticais diferentes: o grupo, cuja função é ser (...) (press release) e
função do conselho é ser (...) (notícia). Outra diferença é o uso na notícia do verbo
anunciou e da preposição segundo para indicar a empresa como a origem da informação
fornecida. No último parágrafo, podemos também ver que os integrantes do conselho
II. Metodologia de pesquisa
91
são referenciados como personalidades no press release e não na notícia, que por sua
vez qualifica cada integrante do conselho individualmente, como ex-presidente do
Banco Central e cientista político, por exemplo.
Cabe observar que para identificar os trechos dos textos que fossem iguais ou
quase iguais, foi necessário identificar todas as palavras compartilhadas entre os dois
textos. Se apenas as palavras mais freqüentes ou de maior chavicidade fossem
consideradas na análise, não seria possível diferenciar uma palavra usada
exclusivamente em um dos textos de uma palavra com baixa freqüência de ocorrência
em um ou nos dois textos do par.
2.6.2. Listas de palavras significativamente exclusivas
A lista de comparação lado a lado pode oferecer ao analista uma indicação visual
das semelhanças e diferenças entre o press release e a notícia de cada par. Entretanto,
para observar essas diferenças e a freqüência de ocorrência das palavras comuns e
palavras exclusivas ao longo de todo um corpus de pares de textos, foi necessário
consolidar as listas de palavras comuns e exclusivas de cada par individual em uma
única lista. Essa lista foi construída de forma a mostrar em quantos pares uma
determinada palavra fosse uma palavra comum ou exclusiva de um dos textos. A
criação dessa lista seguiu os passos abaixo:
a. A criação de três arquivos de texto, um no qual foram colocadas as palavras
comuns de todos os pares do corpus, outro com as palavras exclusivas dos press
releases e um terceiro com as palavras exclusivas das notícias de todos os pares
do corpus.
b. Com o uso da ferramenta Wordlist do Wordsmith Tools, foram criadas três
listas de palavras com base nos arquivos de texto acima. Dessa maneira, por
exemplo, foi possível identificar a quantidade de pares nos quais uma
determinada palavra foi comum ou exclusiva de um dos textos.
c. A ferramenta Wordlist foi usada para criar uma lista de consistência para a
comparação entre essas três listas de palavras. Com essa lista, foi possível
identificar em quantos pares uma determinada palavra foi comum aos dois textos
e em quantos essa mesma palavra foi exclusiva de um dos textos.
II. Metodologia de pesquisa
92
A classificação das palavras nessa lista foi baseada em um valor numérico, neste
trabalho denominado índice de exclusividade, calculado com base nos critérios abaixo:
a. A relação entre o número total de pares nos quais a palavra ocorreu e o
número total de pares no corpus. Esse critério foi incluído para que as palavras
que aparecessem em um maior número de pares ficassem em posição mais alta
na lista.
b. A relação entre o número de pares nos quais uma palavra como palavra
exclusiva e o número total de pares nos quais essa palavra ocorreu. Essa relação
mostra a predominância da ocorrência da palavra como exclusiva em um dos
textos.
A lista consolidada de palavras comuns e exclusivas mostra todas as palavras
que ocorreram em todos os press releases e em todas as notícias, acompanhadas do
número de vezes que essas palavras ocorreram exclusivamente nos press releases mas
não em suas notícias correspondentes, que ocorreram exclusivamente nas notícias mas
não em seus press releases correspondentes e as palavras comuns aos dois textos de
cada par. A classificação desses dados foi feita por um índice que considerasse o
número total de pares em que uma palavra foi usada em um dos textos do par com
relação ao número de vezes que apareceu somente no outro texto ou nos dois textos,
segundo a fórmula geral:
T
E
OC
EE
N
N
N
NI *
Onde:
IE = índice de exclusividade, que pode ser usado para expressar o índice de
exclusividade nos press releases (IPR) ou nas notícias (INW).
NOC = quantidade de pares nos quais ocorreu a palavra, seja no press release, na
notícia ou nos dois.
NE = quantidade de pares nos quais ocorreu uma palavra de maneira exclusiva
(no press release ou na notícia).
NT = quantidade total de pares do corpus.
II. Metodologia de pesquisa
93
Essa fórmula permite a classificação de cada item lexical (i) pela diferença entre
as ocorrências exclusivas no press release e na notícia; (ii) pela relação entre esse maior
uso em um dos textos e o número total de textos em que a palavra ocorre; e (iii) pelo
número de textos em que a palavra ocorreu apenas no material sob análise. As listas de
palavras significativamente exclusivas são apresentadas no Anexo III.
Com base nessas listas de palavras exclusivas, foram montadas quatro listas de
concordância:
linhas de concordância com as ocorrências das palavras exclusivas dos press
releases da Tele_B
linhas de concordância com as ocorrências das palavras exclusivas dos press
releases da Tele_A
linhas de concordância com as ocorrências das palavras exclusivas das notícias
sobre a Tele_B
linhas de concordância com as ocorrências das palavras exclusivas das notícias
sobre a Tele_A
Os índices de exclusividade de cada tipo de material foram usados para
selecionar as palavras incluídas nas análises de concordância. A análise apresentada no
capítulo de análise de resultados foi baseada nas palavras exclusivas com índice de
exclusividade nos press releases maior ou igual que 0,15 e de palavras exclusivas das
notícias com índice de exclusividade maior ou igual a 0,11. Esses valores foram
escolhidos porque, em corpora formados por 27 pares, correspondem a uma palavra ser
exclusiva em 4 press releases e 3 notícias, respectivamente (0,15 x 27 = 4 e 0,11 x 27 =
3). Esses valores foram definidos pelas quantidades de palavras significativamente
exclusivas e de linhas de concordância obtidas com essas palavras, onde procurei não
utilizar palavras significativas em poucos textos e ao mesmo tempo ter uma quantidade
de palavras que oferecesse um conjunto suficiente de resultados para a análise.
As linhas de concordância foram inicialmente utilizadas para analisar as
diferenças referentes ao uso dos recursos ideacionais entre os press releases e as
notícias, para responder à primeira pergunta de pesquisa. Com base nesses resultados,
foram identificadas categorias de avaliação, para responder à segunda e terceira
perguntas de pesquisa, como mostrado a seguir.
II. Metodologia de pesquisa
94
2.7. Análise dos recursos ideacionais
A análise das linhas de concordância teve como objetivo identificar as diferenças
entre press releases e notícias relativas às relações ideacionais utilizadas nas respectivas
descrições das atividades.
Para facilitar a categorização dos resultados, utilizei na planilha Excel, criada
para a análise das concordâncias, os recursos de automatizados proporcionados por esse
aplicativo, que facilitaram as contagens dos números de ocorrência de cada categoria
gramatical nas linhas e evitam a necessidade de refazer tais contagens a cada alteração
na classificação. Os recursos de filtragem desse aplicativo também permitiram a
contagem dos números de textos nos quais as relações ideacionais analisadas ocorreram,
embora de maneira menos automatizada.
A análise foi feita em três passos: (i) a função das palavras significativamente
exclusivas na estrutura ideacional da oração ou complexo oracional; (ii) a identificação
e categorização dos participantes ou ações aos quais se referem as funções de (i); e (iii)
a identificação e categorização das relações ideacionais nas quais os participantes
identificados em (ii) estão envolvidos, definidas pelos demais participantes envolvidos
nessa mesma relação, como descrito nas três subseções abaixo.
2.7.1. Análise gramatical das linhas de concordância
Nessa etapa da análise, foram identificadas as funções ideacionais das palavras
significativamente exclusivas, conforme o nível de constituência dos quais essas
palavras fazem parte:
Oração: Quando as palavras exclusivas são usadas em núcleos de grupos de
palavras (nominais, verbais e preposicionais) (Halliday e Matthiessen,
2004:170), elas foram classificadas pela função do grupo de palavras, em
participantes, processos e circunstâncias.
Grupos de palavras: Quando as palavras exclusivas são usadas como
modificadores de grupos de palavras, elas foram classificadas pela função dentro
do grupo, como, por exemplo, epítetos, classificadores e qualificadores nos
grupos nominais (Halliday e Matthiessen, 2004:312) e tempos verbais modais
nos grupos verbais (Halliday e Matthiessen, 2004:335).
II. Metodologia de pesquisa
95
Complexos oracionais: Quando as palavras exclusivas são usadas para
estabelecer relações entre orações, como as conjunções, elas foram classificadas
pela relação lógica estabelecida (Halliday e Matthiessen, 2004:405).
Na apresentação dos resultados, a análise inicial das funções gramaticais das
palavras significativamente exclusivas mostra resultados em valores percentuais com
relação ao número total de linhas de concordância.
2.7.2. Análise dos participantes
O segundo passo da análise identifica os participantes e ações envolvidos nas
atividades descritas indicados pelas categorias gramaticais encontradas no primeiro
passo da análise. Essa identificação foi baseada no sistema de marketing descrito no
capítulo de fundamentação teórica (Kotler, 1990:49) e em informações de contexto.
Alguns dos participantes identificados nessa etapa foram as próprias empresas, os
clientes (referidos no sistema de marketing como “mercado”), parceiros da empresa,
concorrentes e agências reguladoras. Além dos participantes, foram identificadas ações
executadas por esses participantes e circunstâncias nas quais ocorreram essas ações,
como a identificação de datas e locais. Os resultados obtidos nessa etapa foram
discutidos em conjunto com os resultados da análise das relações ideacionais, descrita a
seguir.
2.7.3. Análise das relações ideacionais nas quais os participantes estão envolvidos
Esse terceiro passo da análise envolveu identificar as relações nas quais os
participantes acima estão envolvidos, ou seja, criar categorias de análise com base nos
demais participantes envolvidos na relação ideacional, em uma segunda interpretação
baseada no contexto. As categorias identificadas são apresentadas na seção 3.1.2. do
capítulo de apresentação e discussão dos resultados. Os exemplos abaixo mostram como
a análise das linhas de concordância das palavras significativamente exclusivas é feita
nesses três níveis, na qual a palavra analisada é pelo, considerada significativamente
exclusiva nos press releases da Tele_A.
O primeiro exemplo é parte de uma descrição de uma atividade relacionada às
agências reguladoras:
II. Metodologia de pesquisa
96
Além das medidas preventivas impostas pelo CADE sobre a Tele_B, a Anatel
requereu da B. T. que a cobrança feita à Tele_A tenha o mesmo preço que o
melhor preço oferecido a qualquer um dos seus clientes de linhas alugadas.
Nesse exemplo, a palavra pelo foi classificada como sendo: (i) uma conjunção
que faz parte de um sintagma nominal, (ii) que expressa uma ação de um participante
identificado como agência reguladora e que (iii) apresenta um resultado de uma ação da
Tele_A. No exemplo abaixo, também obtido em uma linha de concordância da palavra
pelo, temos uma atividade relacionada a um produto da Tele_A:
Depois de setecentos lances, somando mais de sete horas de leilão, a Tele_A
venceu o pregão eletrônico realizado pelo Tribunal Regional Federal (TRF) (...)
Nesse exemplo, a palavra pelo foi classificada como sendo: (i) uma conjunção
que faz parte de um sintagma nominal, (ii) que expressa uma ação de um participante
identificado como cliente e que (iii) apresenta um resultado de uma ação da Tele_A.
Como podemos ver acima, enquanto que a primeira classificação é gramatical, a
segunda depende do contexto quanto à identificação dos participantes responsáveis pela
ação; já a terceira classificação é mais dependente da interpretação do analista,
envolvendo a análise de todos os participantes envolvidos na ação. A apresentação
desses resultados foi feita em termos de número de textos nos quais essas relações
ideacionais ocorreram com relação ao número total de textos, conforme o princípio de
análise por número de textos seguido na metodologia.
2.8. Análise dos recursos avaliativos
As relações ideacionais encontradas na etapa anterior foram agrupadas sob o
ponto de vista da avaliação, cuja análise identificou:
O tipo de Atitude, conforme o sistema de Avaliatividade (Martin e White,
2005:42)
A forma de realização da Atitude (invocada ou evocada e o nível da estrutura do
texto no qual as Atitudes são expressas).
II. Metodologia de pesquisa
97
A base que fundamenta a avaliação, isso é, os conjuntos de valores que, segundo
a interpretação do analista, poderiam ser utilizados pelos membros da
comunidade como base para considerar uma avaliação positiva ou negativa.
As análises dos resultados obtidos pelos procedimentos aqui descritos são
apresentadas no próximo capítulo.
II. Metodologia de pesquisa
98
III. Apresentação e discussão dos resultados
99
III. Apresentação e discussão dos resultados
Este capítulo apresenta e discute os resultados obtidos nas análises descritas no
capítulo de Metodologia. Os resultados estão organizados em: apresentação dos
resultados das diferenças nas representações de mundo, apresentação das interpretações
desses significados ideacionais conforme as teorias de avaliação e avaliatividade e uma
parte final, de considerações sobre a discussão dos resultados.
3.1. Apresentação dos resultados
Esta seção apresenta as categorias de análise identificadas pelas linhas de
concordância obtidas com as palavras significativamente exclusivas, compreendendo a
identificação das categorias gramaticais das palavras significativamente exclusivas, os
participantes identificados por essas palavras e as relações ideacionais das quais eles
participam nas atividades descritas.
Inicialmente, são apresentadas as funções ideacionais das palavras
significativamente exclusivas nas linhas de concordância no quadro 14, em valores
percentuais calculados com base nos números de linhas de concordância apresentados
no quadro 15:
Funções ideacionais Press releases
Tele_A (%)
Press releases
Tele_B (%)
Notícias
Tele_A (%)
Notícias
Tele_B (%)
Participantes 21,22 26,58 15,98 4,55
Modificadores de grupo
nominal
49,42 32,14 29,51 11,36
Processos 6,99 9,91 15,98 32,95
Modificadores de grupo
verbal
2,46 3,38 2,87 9,09
Circunstâncias 17,72 27,23 28,69 34,09
Conjunções (Relatores) 2,20 0,76 6,97 7,95
Total 100,00 100,00 100,00 100,00
Quadro 14. Funções ideacionais das palavras significativamente exclusivas
Os valores percentuais apresentados no quadro 14 são baseados nos seguintes
números de linhas de concordância, obtidos a partir das listas de palavras
significativamente exclusivas apresentadas no Anexo III.
III. Apresentação e discussão dos resultados
100
Press releases
Tele_A
Press releases
Tele_B
Notícias
Tele_A
Notícias
Tele_B
Palavras significativamente
exclusivas 61 81 26 19
Linhas de concordância 773 918 244 88
Quadro 15. Quantidades de palavras significativamente exclusivas e linhas de concordância
As análises apresentadas a seguir mostraram que os números apresentados no
quadro 15 indicam que os press releases trazem informações não fornecidas nas
notícias; além disso, o número relativamente maior de palavras significativamente
exclusivas nas notícias sobre a Tele_A indica a inclusão de informações não contidas
nos press releases correspondentes nessas notícias, o que foi confirmado pela análise.
Esses dados se refletem nos números apresentados no quadro 14, onde temos maiores
porcentagens de palavras significativamente exclusivas relacionadas a participantes nos
dois corpora de press releases e nas notícias sobre a Tele_A. As análises também
mostraram que as maiores porcentagens de palavras significativamente exclusivas com
a função de processos e circunstâncias nas notícias resultaram principalmente de
construções relacionadas à projeção de informações e diferenças relativas ao tempo
interpessoal.
A análise preliminar das linhas de concordância pelas funções gramaticais
mostrou ser útil separar a análise em dois grupos de resultados: o primeiro, que reúne as
palavras envolvidas em projeções de falas atribuídas a fontes de informação, expressas
por relatos de linguagem (language reports, cf. Thompson, 1996b:509); o segundo
grupo, que reúne palavras envolvidas nas descrições das atividades das empresas. Esses
grupos de resultados são detalhados a seguir.
3.2. Relatos de linguagem
A análise das linhas de concordância mostrou palavras relacionadas a relatos de
linguagem, que na LSF estão relacionados aos recursos de projeção (Halliday e
Matthiessen, 2004). Esses relatos são usados para indicar as informações obtidas e as
fontes dessas informações, pois, segundo Bell (1991:53), nem sempre os jornalistas
estão presentes nos acontecimentos. Nos press releases, os relatos de linguagem,
principalmente de executivos da empresa, são usados para fornecer informações em um
formato que possa ser usado pelos jornalistas sem exigir o trabalho de edição, que
III. Apresentação e discussão dos resultados
101
segundo Strobbe e Jacobs (2005:289), é um recurso de pré-formulação (preformulation)
amplamente usado em press releases para facilitar o aproveitamento das informações.
O press release, segundo Bell (1991:58) é um dos tipos de fonte de informação
utilizados pelos jornalistas; dessa forma, notícias e press releases podem ser vistos
como dois elementos distintos de uma cadeia de eventos comunicativos (Fairclough,
1995:37), na qual um evento comunicativo recontextualiza os outros (1995:41), por
exemplo, pela representação de falas de indivíduos ou instituições na notícia, como no
exemplo 1:
1. A Tele_A economizará mais de 30% dos seus custos com informática e também terá a
certeza de manter seu parque de informática sempre atualizado com a mais avançada
tecnologia. (press release da Tele_A)
A Tele_A informou que economizará mais de 30% dos seus custos com informática e
também terá a certeza de manter seu parque de informática sempre atualizado com a
mais avançada tecnologia. (notícia sobre a Tele_A)
Em 1, a notícia traz as mesmas informações que o press release, mas
recontextualiza essas informações, identificando-as como informações fornecidas pela
empresa; em termos de Engajamento, o jornal atribui essas informações a uma fonte
externa, sem negá-las, pelo recurso de Atribuição: Conhecimento.
As funções gramaticais das palavras significativamente exclusivas que
identificam relatos de linguagem no corpus são:
a) palavras de grupos nominais que realizam participantes relacionados a
processos verbais, como Dizente, Receptor e Alvo;
b) palavras de grupos verbais que realizam processos verbais;
c) palavras de sintagmas nominais que realizam projeções ou que identificam
participantes relacionados a processos verbais.
Podemos ver essas diferentes funções no quadro 16 mostra palavras
significativamente exclusivas nos press releases da Tele_B relacionados a relatos de
linguagem. No quadro 16, temos palavras em grupos nominais que indicam
participantes na função de Dizentes, como balanço, em balanço consolidado de janeiro
a setembro entregue hoje à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) (palavras
III. Apresentação e discussão dos resultados
102
significativamente exclusivas em negrito); preposições em sintagmas nominais
(conforme) e processos verbais (afirma, complementa). Neste ponto, cabe observar
quanto à metodologia de análise adotada que trechos do texto como esse, que reúnem
diversas palavras significativamente exclusivas, aparecem em maior número nas linhas
de concordância; entretanto, essa concentração de palavras significativamente
exclusivas não afeta os resultados quando contamos o número de textos nos quais as
relações indicadas por essas palavras são observadas, pois todas essas linhas de
concordância estão associadas a um único texto.
PALAVRA LINHA DE CONCORDÂNCIA
VALORES conforme balanço consolidado de janeiro a setembro entregue hoje à Comissão de Valores
Mobiliários (CVM). O número de usuários supera em 69% os 423,5 mil clien
À ta velocidade, conforme balanço consolidado de janeiro a setembro entregue hoje à Comissão
de Valores Mobiliários (CVM). O número de usuários supera em 69% os 4
AINDA nidades de fixação de marcas e produtos pelos consumidores. O trabalho apontou ainda que o
cartão telefônico é utilizado por 70% da população do Estado e por
AO ço menor A operadora também vai aproveitar a oportunidade para esclarecer ao público sobre
as reais vantagens da linha fixa em comparação a opções disponí
HOJE o final dos seis primeiros meses de 2002, conforme balanço consolidado entregue hoje à CVM
(Comissão de Valores Mobiliários). A receita operacional líquida acu
CONFORME es do Speedy, serviço de banda larga para acesso à internet em alta velocidade, conforme
balanço consolidado de janeiro a setembro entregue hoje à Comissão de
INFORMA antes do prefixo atual A Tele_B informa que três prefixos da região do Ipiranga serão
alterados a partir da zero
SP tisfação do cliente", afirma F.X.F, presidente da Tele_B /SP
GRUPO solidez dos resultados alcançados", diz F. X. F., presidente do Grupo Tele_B no Brasil. "Deve-
se destacar que nosso volume de investimentos
AFIRMA serviços como o Speedy e à gestão totalmente focada na satisfação do cliente", afirma F. X.
F., presidente da Tele_B.
FERNANDO na definição de despesas, justificam a solidez dos resultados alcançados", diz F.X.F.,
presidente do Grupo Tele_B no Brasil. "Deve-se
FERREIRA despesas, justificam a solidez dos resultados alcançados", diz F.X.F., presidente do Grupo
Tele_B. "Deve-se destacar que nosso
BALANÇO es, volume que deverá chegar a R$ 1,4 bilhão até o fim do ano. Vale destacar no balanço,
ainda, o crescimento de 11% do EBIDTA, que passou de R$ 4,000 bilhões,
COMISSÃO velocidade, conforme balanço consolidado de janeiro a setembro entregue hoje à Comissão de
Valores Mobiliários (CVM). O número de usuários supera em 69% os 423
COMPLEMENTA possibilitam o acesso das camadas mais desfavorecidas a uma linha telefônica",
complementa.
CONSOLIDADO viço de banda larga para acesso à internet em alta velocidade, conforme balanço consolidado
de janeiro a setembro entregue hoje à Comissão de Valores Mobiliários
CVM solidado de janeiro a setembro entregue hoje à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). O
número de usuários supera em 69% os 423,5 mil clientes existentes ao
ENTREGUE re da Tele_B, conforme balanço consolidado entregue hoje à Comissão de Valores Mobiliários
(CVM). Ao final do semestre, o
MOBILIÁRIOS e balanço consolidado de janeiro a setembro entregue hoje à Comissão de Valores Mobiliários
(CVM). O número de usuários supera em 69% os 423,5 mil clientes
Quadro 16. Palavras significativamente exclusivas usadas em relatos de linguagem
Nas notícias, as principais funções das palavras significativamente exclusivas
relacionadas a relatos de linguagem são:
III. Apresentação e discussão dos resultados
103
a) Circunstâncias de ângulo: realizadas nas notícias principalmente pelo uso da
preposição segundo, como em 2:
2. Segundo a Tele_A, o serviço tem um diferencial: adota o sistema de tarifação por
minuto, em vez de pulso. (notícia sobre a Tele_A)
b) Processos verbais: principalmente pelos verbos diz, disse, como em 3 e 4:
3. A. X., diretor de desenvolvimento de soluções da Tele_A, diz que a internet móvel dá
comodidade aos usuários. (notícia sobre a Tele_A)
4. "A empresa continuará se empenhando para que o cliente da Tele_B seja o mais
satisfeito entre os clientes das operadoras de telefonia no Brasil", disse o diretor-geral
da Tele_B, M. A. (notícia sobre a Tele_B)
A seguir, temos exemplos encontrados dentre as linhas de concordância que
agregam aspectos ideacionais, interpessoais e textuais aos processos verbais. A
influência de aspectos ideacionais pode ser observada nas notícias sobre a Tele_A, nas
quais foi também observada a ocorrência do processo verbal anunciou:
5. A Tele_A anunciou hoje que seu conselho consultivo terá dois novos integrantes: (...)
(notícia sobre a Tele_A)
Todas as ocorrências de processos verbais realizadas por anunciou referem-se a
ações que introduzem alguma alteração no modo de operação da empresa; dessa
maneira, além de projetar a informação na notícia, a escolha desse processo indica que a
empresa está falando sobre algo novo. Com relação aos aspectos interpessoais, temos o
processo verbal afirma, presente nas listas de exclusividade dos press releases da
Tele_A e da Tele_B:
6. “O cliente poderá facilmente optar pelo que é mais conveniente, dependendo do local
onde estiver”, afirma A. X., Diretor de Desenvolvimento de Soluções da Tele_A.
(press release da Tele_A)
A escolha desse processo nos press releases traz uma maior certeza quanto à
veracidade da informação fornecida, em uma realização metafórica de modalidade
(Halliday e Matthiessen, 2004:626). Com relação aos aspectos textuais, temos o uso de
conjunções (ainda) e processos verbais (complementa), como em 7 e 8.
III. Apresentação e discussão dos resultados
104
7. "Vale ressaltar, ainda, que os processos de registro, coleta, tarifação e faturamento das
contas foram certificados pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) em
novembro do ano passado, reafirmando a qualidade operacional dos sistemas da
empresa", destaca M.A., diretor-geral da Tele_B. (press release da Tele_B)
8. Se a dimensão da base de clientes da Tele_B fosse considerada a empresa nem faria
parte do ranking" diz F.X.F., presidente do Grupo Tele_B do Brasil. "Qualidade é um
dos principais valores e uma das maiores prioridades do Grupo Tele_B no Brasil e no
mundo", complementa.
Em 7, a conjunção ainda mostra que essa fala do executivo da Tele_B é uma
continuação de uma fala anterior no texto. Em 8, essa continuidade é expressa pela
escolha do processo verbal complementa, na seqüência de um relato de fala anterior, o
qual utiliza o processo verbal diz.
Com relação aos participantes identificados com as fontes das informações nas
análises ideacionais dos participantes, a análise mostrou números significativos de press
releases e notícias com relatos de linguagem de participantes próximos às empresas,
como a própria empresa, seus funcionários e parceiros. Além disso, foram observados
números significativos de relatos de linguagem de participantes externos, como
concorrentes, agências reguladoras e outros, como mostrado no quadro 17:
Press releases
Tele_A
Press releases
Tele_B
Notícias
Tele_A
Notícias
Tele_B
Fala das empresas e participantes
próximos
10 11 18 12
Fala de participantes externos 0 1 7 3
Quadro 17. Números de press releases e notícias com relatos de linguagem nas linhas de
concordância (em um total de 27 pares da Tele_A e 27 pares da Tele_B)
A presença desses participantes indica a tendência do jornal de incluir
informações de contexto diferentes daquelas apresentadas pela empresa. Por exemplo,
em 9 é representada a fala de um executivo de uma agência reguladora.
9. Segundo o presidente da Anatel, E. A., o aumento das tarifas representará um impacto
de 0,15 ponto percentual no índice oficial de inflação (IPCA). (notícia sobre a Tele_B)
Nos exemplos de 10 a 12, temos a identificação na notícia de informações sobre
a Tele_A emitidas por participantes externos à empresa que têm a autoridade de
especialistas no setor:
III. Apresentação e discussão dos resultados
105
10. Segundo fontes do setor, o motivo mais provável da demissão seria exatamente o
vazamento da operação de compra da Tele_A por parte da Telos. (notícia sobre a
Tele_A)
11. De acordo com analistas, a venda da Tele_A poderia render até US$ 400 milhões aos
cofres da Tele_D. (notícia sobre a Tele_A) 12. Segundo especialistas, os grupos de telecomunicações estão investindo em provedores
gratuitos para gerar receita às suas empresas de telefonia fixa. (notícia sobre a
Tele_A)
Em 13, temos um exemplo de uma fala da concorrente da Tele_A introduzida na
notícia, com informações negativas sobre a empresa.
13. Para a Telemar, o comercial da Tele_A é "propaganda enganosa".
"A Telemar acredita que as informações inverídicas levam o consumidor ao erro, por
fazê-lo acreditar em inúmeras afirmações enganosas acerca de tarifas, planos e serviços
ofertados", diz a Telemar, em nota. (notícia sobre a Tele_A)
Em 13, a projeção da fala da concorrente da Tele_A é feita inicialmente por uma
circunstância de ponto de vista (Para a Telemar) e, na sentença seguinte, por um
processo verbal (diz). Esse exemplo mostra também a presença de um participante
classificado como objeto semiótico (Halliday e Matthiessen, 1999:190), identificado
como nota, em uma circunstância de local. A introdução desses participantes foi
observada principalmente nas notícias, como referência ao documento emitido pelas
empresas dos quais as informações foram obtidas, como nos exemplos de 14 a 16.
14. A decisão foi divulgada na noite desta sexta por comunicado da Tele_A. (notícia
sobre a Tele_A)
15. “(...) pequenas empresas, pequenos escritórios e para o mercado residencial", diz o
comunicado divulgado pela Tele_A.
16. Segundo o documento, a Vésper deve ser adquirida sem dívida bancária e sem
desembolso de caixa por parte da Tele_A.
Os exemplos acima mostram algumas das diversas formas pelas quais os
participantes do tipo objeto semiótico podem ser usados para projetar locuções (o uso
desse tipo de participante para projetar locuções é discutido em Halliday e Matthiessen
(2004:469)). Em 14, temos comunicado como participante indireto em uma
circunstância de meio, em 15, como o Dizente das informações, e em 16, temos
documento como participante indireto em uma circunstância de ângulo.
III. Apresentação e discussão dos resultados
106
Para os fins desta apresentação de resultados, que analisa a interoperação dos
diversos recursos avaliativos no texto, as questões relativas às formas de projeção e os
tipos de participantes identificados como as fontes das informações, além da influência
desses recursos na avaliação, serão discutidas em conjunto com os recursos que
expressam a representação das atividades, na seção 3.4.
3.3. Representação das atividades das empresas
Essa seção descreve as categorias de análise criadas com base nas relações
ideacionais que ocorreram em um número considerado significativo nesta pesquisa de
press releases ou notícias, interpretadas com base no conhecimento prévio do analista.
Como descrito na seção de metodologia, a análise das descrições das atividades
compreendeu a identificação dos participantes e das relações entre esses participantes
indicados pelas linhas de concordância das palavras significativamente exclusivas, pelo
número de textos nos quais esses participantes e atividades foram identificados. O
quadro 18 apresenta as principais diferenças entre os materiais quanto aos participantes
identificados.
Participantes
(em número de textos)
Press releases
Tele_A
Press releases
Tele_B
Notícias
Tele_A
Notícias
Tele_B
Empresa 24 27 21 20
Clientes 18 25 7 5
Produto 17 26 7 13
Parceiros 14 14 8 2
Concorrentes 10 1 14 1
Agências reguladoras 7 8 7 2
Funcionários 6 10 1 1
Controladora 1 0 5 0
Quadro 18. Ocorrência de participantes por número de textos (em um total de 27 pares da
Tele_A e 27 pares da Tele_B)
Analisando os números do quadro acima, podemos observar as seguintes
diferenças entre os materiais:
III. Apresentação e discussão dos resultados
107
As empresas (Tele_A) e (Tele_B) e suas ações são identificadas em todos os
materiais, o que pode indicar que as empresas e suas ações são representadas de
maneiras diferentes nos press releases e notícias.
Com relação aos clientes e produtos, a comparação entre os press releases e
notícias da Tele_A indica que pode haver relações entre produtos e clientes
representadas nos press releases que não são representadas nas notícias. Na
comparação entre os textos da Tele_B, as palavras significativamente exclusivas
também descrevem produtos e clientes, possivelmente de uma maneira diferente
daquela apresentada nos press releases.
Um maior número de press releases das duas empresas representa atividades de
parceiros e funcionários, parecendo destacar as ações desses participantes nas
atividades da empresa.
Um maior número de press releases e notícias da Tele_A inclui a presença de
concorrentes, o que a análise mostrou estar relacionado às disputas judiciais nas
quais a Tele_A esteve envolvida.
Um número relativamente significativo de notícias da Tele_A descreve a
atuação da empresa controladora, o que a análise mostrou estar relacionado às
atividades envolvidas na venda da Tele_A.
A análise das diferenças em termos de participantes, em uma primeira
associação entre as palavras significativamente exclusivas e o contexto, apresenta
algumas informações sobre as diferenças entre press releases e notícias. Os resultados
da próxima análise mostram outras informações que podem nos dar uma visão mais
ampla sobre essas diferenças.
A análise das linhas de concordância das palavras significativamente exclusivas
mostrou ser possível classificar as relações ideacionais nas atividades da empresa em
categorias que, para os efeitos deste trabalho, foram denominadas lançamento,
descrição, objetivos, resultados das ações e histórico. Os números de textos nos quais
ocorreram essas categorias são mostrados no quadro 19 (os números em negrito indicam
valores considerados significativos), seguido pelas definições das categorias.
III. Apresentação e discussão dos resultados
108
Categorias Press releases
Tele_A
Press releases
Tele_B
Notícias
Tele_A
Notícias
Tele_B
Lançamento 14 11 4 6
Descrição
Serviços 17 23 6 8
Limitações e requisitos 3 11 0 6
Preço 4 15 2 8
Parceiros 14 14 9 0
Concorrentes 13 8 13 2
Contato 2 21 0 0
Instruções 0 11 0 0
Objetivos 16 14 9 2
Resultados das ações 13 21 11 4
Histórico 3 5 4 0
Quadro 19. Ocorrência das relações ideacionais por número de textos (em um total de 27 pares
da Tele_A e 27 pares da Tele_B)
Essas categorias são definidas e exemplificadas nos itens abaixo. Nos exemplos
apresentados nesses itens, as palavras em negrito mostram as palavras
significativamente exclusivas presentes nas sentenças.
A) Lançamento da ação da empresa – Essa categoria reúne as relações
ideacionais que indicam o início da atividade descrita, como por exemplo, o lançamento
de um produto (como no exemplo 17), a assinatura de um contrato, a data de um evento
ou a publicação dos resultados financeiros (como no exemplo 18).
17. A Tele_B coloca à disposição dos paulistas, até 31 de maio, mais 73 mil terminais da
Linha da Economia Família (...) (press release da Tele_B)
18. De acordo com as normas de ampla divulgação da Bolsa de Valores Americana (SEC),
os resultados serão divulgados via business wire e, logo após, estarão disponíveis no site
da Empresa Brasileira de Telecomunicações. (press release da Tele_A)
Nas linhas de concordância, foram observados casos nos quais essa concentração
de palavras significativamente exclusivas nas notícias da Tele_B se devem a diferenças
de tempo interpessoal descritas na seção 1.5.1 da fundamentação teórica desse trabalho,
como nos exemplos 19 e 20 (diferenças em fontes sublinhadas):
19. A partir da zero hora deste sábado, 04 de setembro, as ligações entre 39 municípios da
Grande São Paulo deixam de ser cobradas como longa distância e passam a ser cobradas
como chamadas locais. (press release da Tele_B)
III. Apresentação e discussão dos resultados
109
A partir da zero hora de amanhã, as ligações entre os 39 municípios da Grande São
Paulo deixam de ser cobradas como longa distância e passam a ser cobradas como
chamadas locais. (notícia da Tele_B)
20. A Tele_B acaba de lançar campanha de final de ano que oferece condições especiais de
pagamento a clientes com débitos com a empresa. (press release da Tele_B)
A empresa de telefonia lançou ontem campanha com condições especiais de pagamento.
(notícia da Tele_B)
Dessa maneira, essa concentração de palavras significativamente exclusivas não
representa diferenças na representação ideacional, podendo ser atribuídas às diferenças
entre o momento da ação e o momento da publicação do texto nos press releases e nas
notícias sobre a Tele_B.
B) Características da ação da empresa – Essa categoria reúne as relações
ideacionais que apresentam características da atividade da empresa, compreendendo as
seguintes subcategorias:
B.1) Serviço – Relações ideacionais que descrevem em o que a ação da empresa
afeta ou pode afetar participantes externos, incluindo componentes da atividade e
clientes aos quais esses componentes são dirigidos. O que é considerado aqui serviço
depende da atividade da empresa: nas atividades relacionadas aos produtos, descreve a
relação dos produtos e seus componentes com os clientes (como em 21); nas atividades
relacionadas aos patrocínios, descreve a relação entre os eventos patrocinados pela
empresa e os públicos aos quais se destinam; e nas ações internas (como em 22) e ações
junto a agências reguladoras, descreve como essas ações afetam as próprias empresas.
21. O serviço de telefonia local da Tele_A é destinado a clientes do mercado corporativo e
se caracteriza pela conexão do PABX do cliente à Central Local da Tele_A por meio de
acessos de 2 Mbps, com opções de planos de serviço diferenciados. (press release da
Tele_A)
22. Nos nove primeiros meses de 2004, a constante atualização tecnológica e a expansão
das opções de serviço foram sustentadas por investimentos de R$ 883,1 milhões,
volume que deverá chegar a R$ 1,4 bilhão até o fim do ano. (press release da Tele_B)
B.2) Limitações e restrições dos serviços – Relações ideacionais que
descrevem características das atividades das empresas que possam trazer algum tipo de
III. Apresentação e discussão dos resultados
110
custo adicional aos clientes – seja um aumento de preços, um requisito imposto para o
uso dos produtos e participação nos eventos ou qualquer tipo de inconveniente que
possa representar uma perda para os clientes, como em 23.
23. Diferentemente das linhas convencionais, a linha econômica precisa de um cartão pré-
pago para fazer chamadas mais caras, como DDD, DDI e ligações para celular. (notícia
sobre a Tele_B)
B.3) Preço – Relações ideacionais que descrevem o custo financeiro imposto
aos participantes externos decorrente das ações da empresa, como em 24.
24. A assinatura do Speedy Solução Condomínio, na versão de 300 Kbps, custa R$ 63,90 e
os provedores podem ser encontrados a partir de R$ 14,90. (press release da Tele_B)
B.4) Ações de parceiros – Reúne relações ideacionais que descrevem ações
compreendidas nas atividades da empresa que possam ser explícita ou implicitamente
imputadas a uma outra empresa ou indivíduo que de alguma forma atuam em favor dos
interesses da empresa nessa atividade. Em 25, é mostrada a presença de parceiros que
auxiliam a Tele_B na venda dos cartões telefônicos; em 26, o parceiro é um artista que
participa de um evento patrocinado pela Tele_A.
25. Os cartões podem ser encontrados em milhares de estabelecimentos, incluídos
Correios e lotéricas, nos valores de R$ 5, R$ 15 e R$ 25. (press release da Tele_B)
26. No encerramento, o cantor Denílson Benevides fará uma apresentação de um "mix" de
canções que se referem à cidade, como Ronda, Sampa, Sinfonia de São Paulo e Perfil
de São Paulo. (press release da Tele_A)
B.5) Ações de concorrentes – Reúne relações ideacionais que descrevem ações
compreendidas nas atividades da empresa que possam ser explícita ou implicitamente
imputadas a uma outra empresa ou indivíduo de alguma forma atuem contra os
interesses da empresa nessa atividade, como em 27.
27. Com a compra da Vésper, a Tele_A passou a atender as mesmas áreas da Tele_B e
Telemar. (notícia sobre a Tele_A)
III. Apresentação e discussão dos resultados
111
C) Objetivos apresentados para a ação da empresa – Relações ideacionais que
descrevem alterações positivas desejadas para a empresa que possam ser alcançadas em
decorrência das atividades, como em 28.
28. Até o final de 2006, o plano deverá alcançar o patamar de 500 mil assinantes. (press
release da Tele_B)
D) Resultados obtidos com ações da empresa– Relações ideacionais que
descrevem resultados decorrentes das ações das empresas. O exemplo 29 mostra
resultados em termos da resposta dos clientes ao lançamento dos produtos, enquanto
que 30 mostra a resposta da agência reguladora às medidas legais tomadas pela Tele_A.
29. Esse sucesso demonstra o interesse do público pela telefonia fixa (...) (press release da
Tele_B)
30. Assim, conforme a decisão do Cade, a Telesp não mais poderá cobrar de seus
concorrentes preços superiores aos cobrados da sua subsidiária Tele_B Empresas (...)
(press release da Tele_A)
E) Histórico – Relações ideacionais que expressam ações que precedem no
tempo as ações referidas na categoria de lançamento. Essas ações podem ser indicadas
expressamente como causas para as ações da empresa ou interpretadas como tal pelo
conhecimento do contexto, como em 31.
31. A operadora brasileira foi posta a venda pela sua controladora --a MCI-- no final do
ano passado e tem sido alvo de uma forte disputa travada entre o consórcio Calais e a
mexicana Telmex, que vê na Tele_A a grande chance de se estabelecer no mercado
brasileiro. (notícia sobre a Tele_A)
A análise das linhas de concordância das palavras significativamente exclusivas
nos permite identificar diferenças nas representações ideacionais dos press releases e
notícias, de forma a responder à primeira pergunta de pesquisa. Algumas diferenças já
citadas anteriormente referem-se à exclusão das informações e o uso de relatos de
linguagem pelas notícias.
A principal diferença identificada pelos quadros acima parece ser que enquanto
as empresas utilizam mais recursos para descrever os seus produtos, os parceiros e
funcionários envolvidos, e os clientes alvo dos produtos, as notícias mantêm o foco na
ação da empresa de lançar o produto. Isso parece ser mais visível nos press releases da
III. Apresentação e discussão dos resultados
112
Tele_B, que tem um maior número de textos com palavras significativamente
exclusivas relacionadas à descrição dos produtos, incluindo informações sobre as
formas pelas quais os clientes podem fazer contato com a empresa e o fornecimento de
instruções de uso dos produtos aos clientes. Além disso, foi observado um maior
número de textos da Tele_B que descreve os resultados de suas ações, sejam esses
expressos em termos financeiros ou em volumes de vendas. As noticias sobre a Tele_B
parecem apresentar uma visão divergente sobre os produtos, com informações relativas
às limitações dos produtos e aos preços destes.
Outra diferença encontrada nos quadros vem a confirmar as análises iniciais que
mostraram um maior número de press releases e notícias da Tele_A que descrevem
relações com agências reguladoras e concorrentes, atribuídas à entrada da Tele_A em
diversos mercados locais.
A discussão dos resultados apresentada a seguir mostrou que as relações
ideacionais encontradas podem ser agrupadas em categorias de instâncias de avaliação.
Esse movimento na análise se constitui em uma delimitação do corpus, que mostra
como as empresas expressam diferentes tipos de comparação entre suas ações e as de
suas concorrentes e comparações temporais, entre uma situação existente antes da ação
da empresa e outra, após essa ação. Esses grupos de relações ideacionais serão
analisados na próxima seção, que mostra como as avaliações são expressas nos textos.
3.4. Análise de avaliação
As formas de realização das relações ideacionais identificadas e as avaliações
envolvidas são discutidas nas próximas seções. A análise dos exemplos é composta por
três partes: análise das funções ideacionais, identificação das funções dos participantes e
a análise da avaliação e das formas como ela é construída nos textos.
Conforme discutido na fundamentação teórica, as discussões sobre a avaliação
são baseadas no sistema e a forma de realização. Em termos de sistema, as avaliações
são classificadas por tipo e polaridade, conforme o sistema de Atitude (Martin e White,
2005:42) e os conjuntos de valores subjacentes à avaliação. Em termos de forma de
realização, as avaliações são descritas pelos recursos ideacionais dos diversos níveis da
estrutura do texto, da palavra ao complexo oracional. Como o foco dessa análise são as
III. Apresentação e discussão dos resultados
113
formas de realização das avaliações e os valores nelas envolvidos, a identificação das
Atitudes pelo sistema de Martin e White (2005) ficou restrita às categorias principais de
Apreciação, Julgamento e Afeto, exceto quando considerado necessário para a discussão
do exemplo em questão.
A análise dessas categorias sob o ponto de vista da avaliação mostrou ser
possível agrupar essas categorias em quatro grupos de relações ideacionais, cujos
exemplos serão apresentados e discutidos nas próximas seções deste capítulo:
Oferta de benefícios: Relações ideacionais que identificam os clientes-alvo dos
produtos e os benefícios que esses clientes poderão usufruir com eles. Essa categoria
também inclui características negativas dos produtos.
Demonstrações de capacidade das empresas: Relações ideacionais que
evidenciam a capacidade da empresa de fornecer os serviços oferecidos.
Aumento de capacidade das empresas: Relações ideacionais que descrevem
ações que podem aumentar a capacidade de agir da empresa.
Resultados das ações das empresas: Relações ideacionais que expressam ações
e situações que podem ser vistas como efeitos das ações das empresas.
A análise dos resultados é baseada em exemplos e excertos retirados do corpus,
sendo que os excertos são utilizados quando a descrição do fenômeno de avaliação
envolver dois ou mais complexos oracionais diferentes que estejam em um mesmo
trecho contíguo do texto. Para facilitar a leitura, os exemplos e excertos estão
identificados por uma mesma seqüência numérica.
3.4.1. Oferta de benefícios
A análise comparativa mostrou que as notícias sobre a Tele_A e sobre a Tele_B
tendem a excluir a descrição dos benefícios oferecidos aos clientes pelos produtos ou
eventos patrocinados pelas empresas. Esta seção descreve estruturas que podem ser
consideradas realizações de ofertas aos clientes, conforme Thompson e Thetela
(1995:122), nas quais “os textos publicitários representam o leitor como um futuro
usuário dos produtos anunciados, o que muitas vezes implica em uma condição” – ou
seja, para usufruir dos benefícios, o cliente terá de comprar o produto. Em termos de
III. Apresentação e discussão dos resultados
114
Atitude, tais ofertas se constituem em expressões de Apreciação dos produtos e
expressões de Julgamento das empresas, cuja polaridade depende de os benefícios
serem reconhecidos como positivos ou negativos.
3.2.1.1. Ofertas de serviços
A análise do corpus mostrou realizações de ofertas que utilizam o tempo verbal
futuro, elementos modais e outras metáforas de modalidade. O excerto 32 foi retirado de
um press release que descreve um produto da Tele_A, a infra-estrutura utilizada pelo
produto e os serviços colocados à disposição dos clientes. A análise mostra que esse
excerto contém diversas avaliações positivas quanto ao produto, que se reforçam entre
si, em expressões de atitude inscritas e evocadas.
32. Com a Click 21, os internautas brasileiros terão Internet gratuita com a qualidade e
segurança já conhecidas da Tele_A. A qualidade da conexão será garantida pelo maior
backbone Internet da América Latina, através de um discador simples e de fácil uso.
Além disso, os usuários terão acesso a duas contas gratuitas de e-mail (com até 30 Mb
de armazenamento cada uma), webmail para acessar e-mails de qualquer lugar do
mundo, antivírus, anti-spam e links para os melhores sites disponíveis na World Wide
Web. Em breve, o portal terá conteúdo próprio e o usuário poderá dispor de uma série
de outras ferramentas. (press release da Tele_A)
Desse excerto, temos o exemplo 33, que descreve o produto:
33. Com a Click 21, os internautas brasileiros terão Internet gratuita com a qualidade e
segurança já conhecidas da Tele_A.
Em 33, temos as funções ideacionais abaixo. Nessa oração, temos duas
interpretações possíveis: em (a), o sintagma preposicional com a qualidade (...) faz parte
do grupo nominal, modificando o participante Internet gratuita. Em (b), o sintagma
preposicional acima modifica o processo, em uma circunstância de maneira:
(a) Circunstância de
meio
Possuidor Pr. Rel. Possuído
(b) Circunstância de
meio
Possuidor Pr. Rel. Possuído Circunstância de maneira
Com a Click 21 os internautas
brasileiros
terão Internet
gratuita
com a qualidade e segurança
já conhecidas da Tele_A
Quadro 20. Funções ideacionais do exemplo 33
III. Apresentação e discussão dos resultados
115
Nessas duas interpretações, temos:
Identificação do Produto – pelo seu nome (Click 21), na Circunstância de Meio.
Essa circunstância pode ser interpretada também como a condição necessária
para que o cliente usufrua dos serviços.
Identificação do Cliente – pelo termo usado para designar os Possuidores
potenciais dos produtos (internautas brasileiros).
Identificação do Serviço – nos grupos nominais que indicam os participantes nas
funções de Possuído (internet gratuita...)
Identificação da Empresa – no sintagma nominal (Tele_A)
Nessa oração, a realização da oferta é realizada pelo tempo verbal futuro, em
terão. Nessa oração, são avaliados os seguintes participantes:
O Serviço (Internet): O benefício identificado é expresso por um grupo nominal
que destaca as características do serviço de acesso à Internet, pelo Classificador
gratuita, e o Qualificador com a qualidade e segurança já conhecidas da Tele_A. A
identificação dessas características pode ser considerada uma expressão de Atitude
positiva de Apreciação. Essa avaliação tem como base os conceitos de “custo” e
“benefício”, onde o custo é zero (gratuita) e o benefício é identificado por participantes
abstratos (qualidade e segurança), que indicam características do produto.
O Produto (Click 21): Essa oração expressa uma Atitude positiva de Apreciação
do produto baseada no conceito de “proporcionar benefícios”, pois isso aumenta a
chance dos produtos serem adquiridos pelos clientes e da empresa ter bons resultados.
Outro conceito que pode ser usado como base para a avaliação é a “trazer algo novo”,
pois o produto pode proporcionar um aumento de capacidade aos clientes em potencial.
A Empresa (Tele_A): Esse grupo nominal também identifica qualidade e
segurança como sendo características intrínsecas da Tele_A, expressando assim uma
Atitude de Julgamento positivo quanto à empresa, com base em que ter tais qualidades é
positivo.
Os Clientes: Nessa interpretação, o valor positivo dessa Apreciação estaria
diretamente relacionado a uma Atitude de Julgamento quanto à capacidade futura dos
usuários que utilizarem o produto.
III. Apresentação e discussão dos resultados
116
No exemplo 34, também retirado do excerto acima, temos uma oração que
evidencia a capacidade da empresa de oferecer um produto de qualidade, reforçando o
valor da afirmação expressa no exemplo 33. Em 34, um elemento da infra-estrutura da
empresa (backbone) tem um papel ativo em garantir (aqui interpretado como fornecer
garantia a, ou proporcionar com segurança condições para) uma característica do
serviço, a qualidade da conexão.
34. A qualidade da conexão será garantida pelo maior backbone Internet da América Latina,
através de um discador simples e de fácil uso.
Em 34, temos as funções ideacionais abaixo:
Meta Pr. Mat. Ator Circ. Maneira A qualidade da
conexão
será garantida pelo maior backbone
Internet da América Latina
, através de um discador
simples e de fácil uso.
Quadro 21. Funções ideacionais do exemplo 34
Nessa oração, temos:
Identificação do serviço: conexão.
Identificação da característica do serviço: qualidade
Identificação de um componente do produto: backbone
Identificação de um componente do produto: em (discador...)
Aqui temos a oferta da empresa realizada no grupo verbal, pelo uso do processo
garante, que traz uma carga de modalidade alta de certeza, além do tempo verbal futuro,
em será. Nessa oração, são avaliados os seguintes participantes:
O Serviço: Em a qualidade da conexão temos um grupo nominal no qual
conexão é a Coisa descrita e qualidade é Faceta (Halliday e Matthiessen, 2004:335).
Esse grupo nominal destaca uma Qualidade (Halliday e Matthiessen, 1999:184) do
serviço que expressa uma Atitude positiva de Apreciação, pelo conceito de que
“proporcionar benefícios” é positivo e a característica de “qualidade” traz a segurança
de que esses benefícios serão consistentemente obtidos.
O Componente do Produto (backbone): No grupo nominal, o backbone é
avaliado positivamente (o maior) em comparação aos demais concorrentes de uma
região geográfica definida (a América Latina), com base nos conceitos de “ter
III. Apresentação e discussão dos resultados
117
capacidade” e “ser melhor que a concorrência”. Nessa oração, o backbone também é
avaliado por sua ação, no tempo verbal futuro, de garantir a qualidade da conexão.
Essa ação expressa uma Atitude positiva de Apreciação quanto ao backbone, com base
no conceito de “trazer melhoria”. Deve ser observado aqui que, a rigor, o fato de ser o
maior não implica necessariamente na qualidade da conexão. Dessa maneira, embora
essas duas expressões de Atitude possam ser compreendidas pelo leitor como tendo uma
relação de causa, na verdade, seriam duas avaliações independentes.
O Componente do Produto (discador): Nesse exemplo, há ainda uma
circunstância de meio (Halliday e Matthiessen, 2004:262), expressa em através de um
discador simples e de fácil uso, que avalia o discador (programa usado para estabelecer
a conexão entre o computador do usuário e o servidor da empresa) do provedor gratuito
positivamente de maneira explícita pelo uso dos classificadores simples e fácil uso. Essa
avaliação positiva tem como base outro tipo de avaliação por “custo x benefício”, onde
o custo seria o esforço do usuário para obter a conexão e o benefício seriam os serviços
proporcionados pelo provedor.
O exemplo 35, também retirado do excerto acima, descreve outros componentes
do produto As sentenças desse exemplo têm uma relação lógica de extensão com a
oração do exemplo 33, expressa pela conjunção além disso, relaciona o produto
identificado em 33 aos componentes do produto identificados em 35.
35. Além disso, os usuários terão acesso a duas contas gratuitas de e-mail (com até 30 Mb
de armazenamento cada uma), webmail para acessar e-mails de qualquer lugar do
mundo, antivírus, anti-spam e links para os melhores sites disponíveis na World Wide
Web. Em breve, o portal terá conteúdo próprio e o usuário poderá dispor de uma série
de outras ferramentas.
Nesse exemplo, temos as funções ideacionais abaixo:
Relator Possuidor Pr. Rel. Possuído
Além
disso,
os usuários terão acesso a duas contas gratuitas de e-mail (com até 30 Mb de
armazenamento cada uma), webmail para acessar e-mails
de qualquer lugar do mundo, antivírus, anti-spam e links
para os melhores sites disponíveis na World Wide Web
usuário poderá
dispor de
uma série de outras ferramentas
Quadro 19. Funções ideacionais do exemplo 35
III. Apresentação e discussão dos resultados
118
Nessa oração, temos processos relacionais que expressam uma relação de posse entre os
participantes identificados como:
Cliente – pelo termo usado para designar os Possuidores potenciais dos produtos
(usuários).
Componentes do Produto – no grupo nominal que indica os participantes nas
funções de Possuído (acesso a duas contas ...) e, na oração seguinte, uma série
de outras ferramentas.
A oferta é novamente realizada pelo tempo verbal futuro, além de Atitudes
positivas de Apreciação, baseadas no conceito de “custo x benefício”, expressas:
No grupo nominal, em características atribuídas às contas de e-mail, em gratuita
(Epíteto) e até 30 MB de armazenamento (Qualificador), com base no benefício
da “capacidade”.
Na oração, na ação atribuída ao webmail, em acessar e-mails de qualquer lugar
do mundo (Processo), com base no benefício da “conveniência”.
Na palavra, nos termos antivírus e anti-spam, pela oposição (expresso pelo
prefixo anti) a entidades avaliadas negativamente pela comunidade (vírus e
spam), com base no benefício da “segurança”.
No grupo nominal, pela avaliação positiva explícita atribuída aos sites, em
melhores (Epíteto), com base no benefício do “entretenimento”.
No grupo nominal, pelo Numerativo série, em uma série de outras ferramentas.
Diferentemente do grupo nominal do parágrafo acima, este grupo nominal não é
avaliado por um item avaliativo explícito. A polaridade da avaliação parece ser
decorrente de uma combinação de recursos de Gradação (expressa pela
quantidade numérica, em uma série) e a avaliação de que as outras ferramentas
são algo positivo (pela associação destas, pelo Pós-Dêitico (Halliday e
Matthiessen, 2004:317) outras, e as ferramentas avaliadas positivamente no
texto).
A análise acima mostra como pode ser complexa a construção da avaliação até
mesmo em um pequeno trecho de texto, construída por relações ideacionais entre a
III. Apresentação e discussão dos resultados
119
empresa, produto, componentes do produto e serviços, expressa em vários níveis de
constituência. A avaliação do produto é construída por uma lista de serviços
proporcionados pelo produto, em avaliações explícitas e implícitas. Por essas relações,
uma avaliação positiva conferida a um desses participantes influencia a avaliação de
outro produto relacionado a este, em uma visão de construção de valor no texto próxima
à de Hunston (2000:194). A análise também mostrou como as Atitudes expressas no
texto são baseadas em uma composição de valores reconhecidos na sociedade, como
custo x benefício, trazer melhorias e ter destaque perante os concorrentes.
O conjunto de serviços pode ser avaliado explicitamente, como no exemplo 36,
no qual o provedor também é avaliado positivamente pelos serviços que proporciona.
Neste caso, essas características são avaliadas explicitamente como vantagens.
36. O provedor entra no mercado oferecendo uma série de vantagens: a garantia de uma
conexão rápida, sem sinal de ocupado, suporte 24 horas e serviço de e-mail com maior
capacidade de armazenamento que a maioria dos concorrentes. (press release da
Tele_A)
Em 36, temos as seguintes funções ideacionais:
Oração dominante Oração dependente
Ator Pr. Mat. Escopo Pr. Mat. Meta
O provedor entra no mercado oferecendo uma série de vantagens:
(vantagens)
Quadro 23. Funções ideacionais do exemplo 36
Em 36, temos:
Identificação do produto: por sua área de atuação, em provedor
Identificação dos clientes: em mercado
Identificação dos serviços: no grupo complexo iniciado por uma série de vantagens,
que relaciona os serviços proporcionados pelo produto
Nesse complexo nominal, são avaliados os seguintes participantes:
O produto: No complexo oracional O provedor entra no mercado oferecendo
uma série de vantagens, o produto participa de dois processos, na oração dominante e
na dependente. Na oração dominante, o produto pode ser visto como algo novo no
mercado, em sua função de Ator de processo material expresso por entra. A avaliação
III. Apresentação e discussão dos resultados
120
dessa mudança está expressa na oração dependente, pela qual o produto pode ser
avaliado positivamente com base no conceito de “proporcionar benefícios”.
Os serviços: No grupo nominal | uma série de vantagens: [ (vantagens) ] |, a
avaliação positiva das características do produto é feita explicitamente, pelo uso do item
avaliativo vantagens. As características do produto colocadas em destaque são
referenciadas um grupo nominal complexo, que expressa uma relação de elaboração
entre uma série de vantagens e as características, pelo uso do sinal ortográfico de dois
pontos (:). Essas características são:
Conexão: A característica de ser uma conexão rápida, sem sinal de ocupado
expressa uma Atitude positiva de Apreciação com base na velocidade
(benefício) e facilidade de conseguir conexão (custo). Essa característica faz
uma referência implícita à concorrente representada pelos produtos de
tecnologia anterior, que utilizavam a conexão discada, de menor velocidade e
dependente da capacidade de linhas telefônicas do servidor.
Suporte: A característica 24 horas do suporte oferecido expressa uma Atitude
positiva de Apreciação, porque o usuário poderá ter o benefício de receber
assistência a qualquer momento, pelo conceito de “segurança”.
Serviço de e-mail: Avaliado pela Atitude positiva quanto à sua característica de
ter maior capacidade de armazenamento que a maioria dos concorrentes. Essa
característica traz uma comparação explícita com os concorrentes e uma
avaliação positiva do serviço, com base no conceito de “ser melhor”.
O grupo nominal acima expressa valores que fazem referência a um
conhecimento supostamente compartilhado com o leitor sobre as necessidades dos
clientes e os produtos anteriores. A lista de características mencionadas mantém uma
relação lógica de elaboração com relação à avaliação explícita presente no núcleo do
grupo nominal em vantagens e, em termos de avaliação, evidenciam essa avaliação
explícita. Como visto acima, cada uma das características mencionadas do produto
também é objeto de Atitudes invocadas e evocadas, que, nesse caso, afetam
positivamente a avaliação do produto.
O excerto 37 mostra outras formas encontradas no corpus para expressar
avaliação e identificar os clientes do produto:
III. Apresentação e discussão dos resultados
121
37. A Tele_B1, empresa do Grupo Tele_B, acaba de ativar no Aeroporto Internacional de
São Paulo/Guarulhos o serviço Speedy Wi-Fi, que permite acesso de banda larga sem
fio à internet.
(...)
A conexão à internet em banda larga garante a navegação em alta velocidade para
facilitar a vida de profissionais em viagem, estudantes, usuários de equipamentos
portáteis e internautas em geral.
Os internautas poderão acessar a web para pesquisas, consulta de notícias, cotações,
emails, emitir pedidos, entre outras aplicações. O Speedy Wi-Fi é também muito útil
para executivos, equipes de vendas e prestadores de serviços em geral, principalmente
para os que atuam também fora de seus escritórios. (press release da Tele_B)
Nesse excerto, inicialmente os clientes são identificados implicitamente, em uma
circunstância de lugar, como sendo os freqüentadores do Aeroporto Internacional de
São Paulo. Em seguida, os clientes são identificados explicitamente por suas áreas de
atuação, em profissionais, estudantes, executivos, equipes de vendas e prestadores de
serviço. Os clientes também são identificados pelos produtos que eles utilizam, em
internautas e usuários de equipamentos portáteis. Além disso, eles são identificados
pelas situações nas quais utilizam os produtos, em profissionais em viagem e que atuam
fora também fora de seus escritórios.
Em 37, temos uma associação entre um componente do produto (conexão) e os
serviços proporcionados pelo uso do produto, em pesquisas, consultas de notícias,
emitir pedidos, entre outras aplicações, como mostrado nos exemplos 38, 39 e 40:
38. A conexão à internet em banda larga garante a navegação em alta velocidade para
facilitar a vida de profissionais em viagem, estudantes, usuários de equipamentos
portáteis e internautas em geral.
Nesse exemplo, temos um complexo oracional com duas orações, em uma relação
hipotática:
Oração dominante Oração dependente (finalidade) A conexão à internet em banda larga garante a
navegação em alta velocidade
para facilitar a vida de profissionais em
viagem, estudantes, usuários de equipamentos
portáteis e internautas em geral.
Quadro 24. Funções ideacionais do exemplo 38
No complexo oracional acima, a relação entre o componente do produto
(conexão à internet em banda larga) e o serviço oferecido por este (navegação em alta
velocidade) é expressa pelo processo material garante. Aqui também podemos destacar
III. Apresentação e discussão dos resultados
122
que, pelo sistema interpessoal de modo, o uso de garante também expressa um alto grau
de certeza de que a proposição é verdadeira, aumentando o valor da oferta da empresa.
Na oração dependente, temos outro processo material expresso por facilitar, que
mostra uma relação ideacional que tem o componente do produto (conexão) como Ator
e a transformação que ele introduzirá no dia-a-dia dos clientes (expresso por a vida
de...), que nessa oração tem o papel de Meta.
Comparando os exemplos 36 e 38, temos duas formas similares de construção de
avaliação, realizadas por diferentes recursos léxico-gramaticais. No exemplo 36, temos
um grupo nominal complexo que tem como núcleo uma categoria superordenada de
participantes (vantagens) que traz uma avaliação explícita a uma lista de serviços
(conexão, suporte, serviço de e-mail). Já no exemplo 38, temos um processo (facilitar a
vida) que é elaborado na circunstância da oração seguinte em atividades do dia-a-dia
dos clientes (pesquisas, consultas de notícias, etc.).
O exemplo 39, retirado do mesmo excerto, descreve em maiores detalhes, em
uma relação lógica de elaboração entre esses dois exemplos, as maneiras pelas quais o
uso do produto pode alterar a vida dos clientes.
39. Os internautas poderão acessar a web para pesquisas, consulta de notícias, cotações,
emails, emitir pedidos, entre outras aplicações.
Ator Pr. Mat. Escopo Circunstância de finalidade Os internautas poderão acessar a web para pesquisas, consulta de notícias, cotações,
emails, emitir pedidos, entre outras aplicações.
Quadro 25. Funções ideacionais do exemplo 39
Em uma análise de avaliação, essas relações ideacionais expressam uma Atitude
positiva de Apreciação ao produto com base nos conceitos de “proporcionar benefícios”
e “segurança” (de que o produto tem capacidade de proporcionar os benefícios
oferecidos).
Podemos observar aqui que os serviços identificados na circunstância de
finalidade acima não são avaliados explicitamente nessa oração. Apenas o
conhecimento prévio compartilhado entre a empresa e os clientes permite que haja a
atribuição de valor a esses serviços e a associação à avaliação positiva de facilitar a
vida da sentença anterior. Assim, parece haver uma concordância implícita entre a
empresa e os clientes sobre o valor dessas vantagens, seguindo a visão de Hunston
III. Apresentação e discussão dos resultados
123
(2000:199), identificando, dessa maneira, os clientes alvo da ação da empresa, como
sendo grupos de pessoas que compartilhem ou aceitem a visão da empresa e
reconheçam essas características como vantajosas.
No exemplo 40, também retirado do excerto acima, temos outra Atitude positiva
explícita de Apreciação quanto ao produto:
40. O Speedy Wi-Fi é também muito útil para executivos, equipes de vendas e prestadores
de serviços em geral, principalmente para os que atuam também fora de seus escritórios.
Esse exemplo mostra uma relação entre o produto (Speedy Wi-Fi) e uma de suas
características (ser muito útil para...), expressa por um processo relacional. Essa
característica expressa uma Atitude explícita de Apreciação positiva ao produto, com
base no conceito de “proporcionar benefícios”. Os benefícios oferecidos
especificamente a esses profissionais pelo produto não estão identificados diretamente;
dessa forma, a avaliação positiva aqui também depende do conhecimento compartilhado
quanto às necessidades desses profissionais.
Em 40, há uma relação lógica de extensão criada pelo uso do Adjunto conjuntivo
(Halliday e Matthiessen, 2004:540) também, que inclui as categorias de clientes
executivos, equipes de vendas e prestadores de serviços aos clientes identificados nas
sentenças anteriores, o que intensifica a Atitude de Apreciação positiva atribuída ao
produto. Essa categoria de clientes é adicionalmente identificada por uma ação, atuam
fora de seus escritórios. Como esse exemplo apresenta a última oração que fala do
produto do press release, essa relação entre o produto e esses profissionais não é
elaborada posteriormente, como nos exemplos anteriores, mas pelas avaliações
expressas anteriormente no texto.
As atitudes dos exemplos acima são baseadas em um conhecimento
compartilhado do contexto, pelo qual os benefícios seriam imediatamente aceitos como
positivos pelos clientes. Entretanto, o benefício oferecido por uma característica do
produto nem sempre pode ser percebido facilmente, como mostrado em 41:
41. Esse tipo de acesso pode ser oferecido, tanto em conjunto com a linha telefônica, ou
separadamente, e é competitivo com as tecnologias ADSL existentes, ainda com
vantagem de ser uma solução sem fio (wireless). A Tele_A terá uma solução que a
permitirá atender o mercado residencial e oferecer acesso banda larga à internet. (press
release da Tele_A)
III. Apresentação e discussão dos resultados
124
Esse exemplo indica que uma vantagem do produto é ser uma solução sem fio,
sem indicar explicitamente o benefício que essa característica traria ao cliente, para o
que temos de recorrer a informações do contexto. Como mencionado na descrição das
empresas feita no capítulo de metodologia, a Tele_A é uma nova entrante nos mercados
de telefonia local, não tendo a posse da fiação que chega aos assinantes, que pertence às
antigas concessionárias. Dessa maneira, o principal benefício dessa característica do
produto de ser sem fio para os clientes parece ser apenas a possibilidade de eles serem
atendidos pela Tele_A. Em termos de atribuição de Valor à proposição, essa falta de um
benefício claro para o cliente pode reduzir, na visão do leitor, a avaliação positiva
atribuída ao produto.
O exemplo 42 mostra outra forma de descrição de produtos e identificação dos
clientes, expressa por processos mentais desiderativos (Halliday e Matthiessen,
2004:210).
42. O Business Link Direct oferece às empresas a possibilidade de estarem conectadas
permanentemente à internet. Este serviço é indicado para organizações de todos os
portes que têm intenção de prover acesso interno aos seus empregados/clientes através
da rede corporativa; que desejem montar serviços de informação (information
provider), criando uma presença institucional na internet; ou, ainda, que queiram se
transformar em provedores de serviços de conexão (access provider), fornecendo
conexão à internet para terceiros, através de sua própria rede. (press release da Tele_A)
Nesse exemplo, temos a seguinte identificação entre desejos dos clientes e os
benefícios oferecidos pelo produto, no grupo nominal, que tem orações deslocadas em
nível na estrutura de transitividade mostrada no quadro 26:
Experienciador Pr. Ment. Fenômeno Organizações de
todos os portes que
têm intenção de prover acesso interno aos seus empregados/clientes
através da rede corporativa
desejem
montar serviços de informação (information provider),
criando uma presença institucional na internet
queiram se transformar em provedores de serviços de conexão
Quadro 26. Descrição dos clientes por processos mentais
Nesse caso, a indicação de que os clientes não têm os serviços no momento
presente é feita pelo uso do processo mental desiderativo. Essa forma de identificação
dos clientes por seus desejos faz uma correspondência entre os benefícios oferecidos
pelos produtos e os desejos e necessidades atuais dos clientes. A empresa mostra que
III. Apresentação e discussão dos resultados
125
conhece os desejos dos clientes, demonstrando conhecimento do mercado
(“capacidade”) e uma proximidade dos clientes pela preocupação de atender os seus
desejos, o que envolve valores como “empatia” e “proporcionar benefícios”.
Essa relação entre os clientes e os produtos também é estabelecida por um
processo relacional (Este serviço é indicado para organizações de todos os portes), no
qual a empresa assume um papel similar ao de uma “consultora”, indicando (como
Designador, cf. Halliday e Matthiessen, 2004:237) essa relação entre o serviço e os
clientes (em um processo relacional atributivo do tipo qualidade, com o sentido de “ser
aplicável a”, cf. Halliday e Matthiessen, 2004:238).
O excerto 43 mostra como as Atitudes podem ser construídas ao longo de dois
complexos oracionais. Esse excerto descreve uma mudança na forma de tarifação de um
produto já existente e o efeito que essa mudança trará aos usuários. Nesse excerto, a
oferta é realizada pelo uso do modal no futuro (poderão), e a mudança efetuada pela
ação da empresa é expressa no grupo verbal, em passam a ter.
43. Ligações entre 39 municípios vizinhos da Grande SP passam a ter tarifa local
Usuários poderão falar até oito vezes mais pagando mesmo valor (press release da
Tele_B)
Nesse excerto, temos o exemplo 44:
44. Ligações entre 39 municípios vizinhos da Grande SP passam a ter tarifa local
Nesse exemplo, analisamos as funções de transitividade no quadro 27:
Portador Pr. Rel. Atributo Ligações entre 39 municípios vizinhos da Grande SP passam a ter tarifa local
Quadro 27. Funções ideacionais do exemplo 44
Em 44, temos os seguintes elementos:
Identificação do serviço: no Portador: Possuidor, em Ligações.
A identificação dos clientes que serão afetados pela mudança: no Classificador
do grupo nominal (39 municípios vizinhos da Grande SP)
Identificação da mudança provocada pela ação da empresa: na elaboração por
fase (Halliday e Matthiessen, 2004:511) do grupo verbal (passam)
III. Apresentação e discussão dos resultados
126
Identificação da nova característica do serviço: pelo Atributo: Possuído (tarifa
local).
O exemplo 44 descreve uma modificação no produto (passar a ter tarifa local).
Esse exemplo não contém itens avaliativos explícitos e a atribuição de valor (no plano
autônomo) à mudança depende fortemente do contexto – do conhecimento de que
cidades próximas pertencentes à Grande São Paulo pagavam tarifas mais caras. Esse
valor apenas é identificado em termos dos benefícios resultantes para os clientes no
complexo oracional seguinte (exemplo 45):
45. Usuários poderão falar até oito vezes mais pagando o mesmo valor.
Esse complexo oracional descreve a alteração em termos do custo dos serviços
com a nova tarifa, explicando a vantagem de passar a ter tarifa local. Em 45, temos as
seguintes funções ideacionais:
Ator Processo Circunstância de
grau
Oração dependente
Usuários poderão falar até oito vezes mais pagando o mesmo valor
Quadro 28. Funções ideacionais do exemplo 45
Nessa estrutura, a oferta feita ao cliente contém os seguintes elementos:
Identificação do cliente: identificados em usuários
Identificação do benefício: o benefício é indicado pela combinação entre o serviço
oferecido ao cliente na nova situação e o pagamento pelo serviço:
Identificação do resultado da comparação com o serviço antigo: na circunstância de
grau até oito vezes mais
Identificação do custo: Na oração dependente, em pagando o mesmo valor.
O exemplo 45 mostra como a avaliação é construída pelo conjunto da oração
dominante e a dependente. Nesse exemplo, a avaliação positiva do produto é resultado
de uma comparação entre dois dos elementos acima: o benefício (falar oito vezes mais)
e o custo (pagando o mesmo valor) do produto antes e depois da ação da empresa, com
base nos conceitos de “aumento de capacidade” e “custo financeiro”. Essa construção
da avaliação fica mais clara com uma comparação por absurdo, pela qual não haveria
III. Apresentação e discussão dos resultados
127
nenhum benefício com a alteração, por exemplo, em se poder falar oito vezes mais
pagando oito vezes mais. Dessa forma, a atribuição de valor autônomo construída no
exemplo 45 (falar mais pelo mesmo preço) afeta a atribuição de valor autônomo no
exemplo 44 (a alteração de tarifa).
A atribuição de Atitudes também pode ocorrer por comparações com
concorrentes. As análises abaixo examinam exemplos nos quais as empresas usam
Numerativos que modificam Epítetos para comparar suas ações com as de seus
concorrentes com base em um critério específico, como no exemplo 46.
46. A mudança de performance em relação a banda estreita é bastante evidente, mesmo na
utilização de serviços básicos, como pesquisas, e-mail e outros. Isto se dá devido a uma
velocidade em média três vezes melhor que a do acesso discado. (press release da
Tele_B)
Em 46, temos uma comparação entre um produto da empresa e o concorrente (acesso
discado), composto pelas seguintes funções:
Identificação do concorrente – em acesso discado
Identificação do critério de comparação – em velocidade
Identificação do resultado da comparação – três vezes melhor
Deve-se observar que essa oração contém um item explícito positivo, mas para que a
avaliação do produto seja positiva, o critério pelo qual o produto é comparado terá de
ser reconhecido como positivo (alta velocidade).
Essa comparação entre a ação da empresa e a de outros participantes pode ser
vista no exemplo 47, relacionado à festa de aniversário da cidade de São Paulo, um
evento patrocinado pela Tele_A:
47. A sonorização, com mais de 300 mil watts de potência, vai garantir uma festa à altura
de grandes produções internacionais. (press release da Tele_A)
Em 47, o evento patrocinado pela empresa é avaliado por uma comparação com outros
eventos, com base em uma de suas características, um participante abstrato definido
como a sonorização da festa. A avaliação do evento em questão compreende:
III. Apresentação e discussão dos resultados
128
A avaliação positiva atribuída aos outros eventos (produções), pelo Epíteto
grandes e o Classificador internacionais.
A caracterização da sonorização por um critério quantitativo (mais de 300 mil
watts de potência), que evidencia a alegação feita pela empresa.
Esse exemplo mostra como a avaliação de um participante pode depender da
comparação com outros participantes aos quais tenha sido atribuída uma avaliação
positiva (no caso, indicando ter o mesmo potencial de “entretenimento”).
Os exemplos abaixo mostram outros benefícios proporcionados pelos produtos
além da capacidade de comunicação. O exemplo 48 descreve as ilustrações de uma nova
série de cartões telefônicos, cujos benefícios não estão claramente identificados no
texto:
48. Os novos Cartões Pré-Pagos de telefonia fixa, que permitem ligações nacionais e
internacionais, trazem imagens de passistas, integrantes de baterias das escolas de
samba, destaques, baianas, fantasias e palhaços. (press release da Tele_A)
Em 48, além das características do produto relacionadas à comunicação
(permitem ligações), temos destacada uma característica visual, expressa em trazem
imagens de passistas, integrantes de baterias de escolas de samba, destaques, baianas,
fantasias e palhaços. A descrição dessa característica não traz nenhum item avaliativo
explícito e essa característica não volta a ser mencionada no texto, o que nos leva à
conclusão de que a avaliação dessa característica apenas pode ser feita com base em um
conhecimento intertextual compartilhado com o leitor, diferentemente do exemplo 49,
que descreve um produto do mesmo tipo:
49. Tele_B lança série inédita de cartões telefônicos com times de futebol
(...)
Uma das faces dos cartões é ilustrada com fotos e imagens dos estádios, salas de
troféus, escudos e mascotes dos times. No verso, há textos explicativos sobre os fatos
históricos, principais títulos e curiosidades. Foram produzidas 1,2 milhão de unidades,
que estão sendo distribuídas em todo o Estado. Com este cartão de 50 créditos, além de
colecionar estampas diferenciadas, o usuário pode falar mais com um único cartão.
(press release da Tele_B)
Em termos de avaliação, o produto é avaliado por ser inédito e por conter
motivos relacionados ao futebol, como mencionado nos complexos oracionais
III. Apresentação e discussão dos resultados
129
subseqüentes à oração acima. Essas podem ser consideradas avaliações positivas, com
base no conceito de que os colecionadores de cartões telefônicos podem aumentar as
suas coleções com estampas diferenciadas, que pode atribuir aos cartões Atitudes de
Apreciação, por permitirem a esse público aumentar as suas coleções (Martin e White,
2005:56).
Não menos importante para a avaliação é o conceito de que o futebol tem um
papel importante na cultura brasileira, o que pode atrair tanto amantes do futebol em
geral quanto torcedores dos times retratados nos cartões, o que pode atribuir Atitudes de
Apreciação: Reação ou até mesmo Afeto aos produtos – papel que no exemplo 48 é
desempenhado pelo carnaval, igualmente valorizado em nossa cultura. Essas avaliações
podem atribuir uma Atitude de Julgamento: Estima Social positiva à empresa,
representada como sendo a responsável pelo lançamento do produto, que pode aumentar
as vendas da empresa e melhorar os seus resultados financeiros.
Além dos benefícios relativos aos serviços e custo, foram encontrados outros
tipos de benefícios no corpus, oferecidos aos clientes e outros públicos. Os exemplos
abaixo, retirados de um press release da Tele_B que descreve uma alteração no número
de folhas utilizadas na conta telefônica enviada aos clientes, mostram vários tipos de
benefícios oferecidos a diferentes públicos que, em seu conjunto, reforçam a avaliação
positiva da ação da empresa:
50. Novo modelo de conta da Tele_B traz mais comodidade e ajuda na preservação
ambiental (título do press release da Tele_B)
O título do press release acima relaciona dois benefícios do produto, a
comodidade e a preservação ambiental. Essa suposta “comodidade” é explicada no
exemplo 51:
51. Impressa na frente e no verso, a nova fatura obteve 94% de aprovação em pesquisa
realizada com usuários. As principais vantagens apontadas são maior facilidade de
consulta e simplificação do arquivamento. (press release da Tele_B)
Em 51, temos dois grupos nominais (maior facilidade de consulta e
simplificação do arquivamento) que expressam alterações nas ações de clientes
proporcionadas pela alteração nas contas. Essas alterações estão avaliadas
explicitamente pelo termo vantagens. O exemplo 52 explica como o novo modelo de
III. Apresentação e discussão dos resultados
130
conta estaria relacionado à vantagem de “preservação ambiental”, realizando uma oferta
pelo uso do modal (podem):
52. Além disso, com a redução do volume de papel, mais de 10 mil árvores podem deixar
de ser derrubadas. (press release da Tele_B)
Esse exemplo expressa uma relação de causa entre o menor uso do papel e a
redução na derrubada de árvores pela circunstância de maneira (com a redução...) o que
pode ser visto como um benefício para os grupos que se preocupam com o meio
ambiente e trazer uma imagem positiva da empresa, com base no conceito de
“preservação ambiental”.
Em 53, temos benefícios que a empresa terá com a mudança, relativos ao seu
custo de operação, que podem expressar uma Atitude positiva de Julgamento à empresa
com base no conceito de “capacidade”, “proporcionar melhorias” e “eficiência” para os
clientes (por sinalizar uma possível redução de preços) e outros grupos interessados na
empresa, por exemplo, investidores.
53. A Tele_B economizará, só neste ano, cerca de R$ 1,5 milhão com postagem nos
Correios, devido à redução do peso dos envelopes. Além disso, os custos com aquisição
de papel sofrerão redução mensal de R$ 160 mil. (press release da Tele_B)
Os benefícios da alteração podem trazer assim uma imagem positiva à empresa
junto a diferentes públicos. É de se observar que na comparação com a notícia, o
benefício da comodidade não é mencionado. Um motivo pode ser que este é um
benefício dependente da percepção individual de cada cliente de sua relação com o
produto, sendo, assim, menos verificável pelo jornal, que não aceitou a atribuição dessa
atitude aos clientes pela empresa.
Nas atividades relacionadas a patrocínios, temos outro tipo de benefício, que
podemos denominar “entretenimento”. O exemplo 54 descreve as atrações musicais da
festa de Reveillon na cidade de São Paulo.
54. As atrações musicais contemplarão diferentes estilos: samba, sertanejo, rock, techno e,
até mesmo, jazz. O espetáculo foi preparado para atender todos os gostos e para atrair
pessoas das mais diferentes faixas etárias, inclusive famílias, para a Avenida Paulista.
(press release da Tele_A)
III. Apresentação e discussão dos resultados
131
Nesse exemplo, os clientes são identificados por serem de todas as faixas etárias
e coletivamente como família, em um convite explícito para que as pessoas levem toda
a família. Além da Atitude de Afeto, que em nossa cultura é um valor atribuído à
família, o evento pode ajudar a resolver um problema prático, de onde levar a família no
final de semana, expressando uma Atitude positiva de Apreciação. Os clientes são
identificados também pelos tipos de músicas de que gostam, onde a validade da
expressão todos os gostos é evidenciada na sentença anterior, que enumera os estilos
musicais dos artistas contratados. Essas características expressam uma Atitude positiva
de Apreciação à festa, com base no conceito de “entretenimento”, podendo trazer uma
Atitude positiva de Julgamento: Estima Social à Tele_A, que patrocinou o evento. Esse
exemplo inclui também ações de outros participantes como parceiros da empresa, que
são analisadas em mais detalhes mais à frente neste capítulo.
No patrocínio de eventos, os press releases da Tele_B enfocam atividades
educacionais, como no excerto 55, relacionado a um acervo de aparelhos telefônicos
antigos.
55. Fundação Tele_B cria "Kit Feira de Ciências", com relíquias da história das
telecomunicações, para escolas de SP (título)
Quem imaginaria manusear, no ano de 2004, aparelhos telefônicos de antes de 1900?
Relíquias como um modelo reversível de mão, original de 1877, ou um aparelho de
1892, com pé de ferro e monofone, conservado com as características e a pintura
original, estão guardadas no acervo do Núcleo Memória Tele_B, mantido pela
Fundação Tele_B. O objetivo do núcleo é resgatar, preservar e divulgar a história da
telefonia e seu desenvolvimento tecnológico. (press release da Tele_B)
Em 55, temos a identificação dos clientes do produto cultural Kit Feira de
Ciências no título, em uma circunstância de causa (para escolas de SP). A sentença
seguinte coloca o leitor no papel de alguém que desejaria ter acesso a aparelhos
telefônicos antigos por meio de uma pergunta, que é um recurso argumentativo
discutido em Thompson e Thetela (1995:120). Outro grupo ao qual a Tele_B oferece os
benefícios pode ser identificado pela análise do exemplo 56:
56. O objetivo do núcleo é resgatar, preservar e divulgar a história da telefonia e seu
desenvolvimento tecnológico.
Em 56, temos um processo relacional que identifica uma intenção da Tele_B,
nominalizada em objetivo com uma série de processos materiais dos quais o Núcleo
III. Apresentação e discussão dos resultados
132
Memória Tele_B é Ator e a Meta é a história da telefonia. Dessa maneira, a Tele_B
pode ser avaliada positivamente pelos grupos de pessoas que se alinham ao conceito de
“preservação da cultura”.
A próxima seção apresenta limitações e restrições que atenuam a avaliação
atribuída aos produtos, seja reduzindo o valor dos benefícios ou aumentando o custo dos
produtos.
3.4.1.2. Limitações e restrições dos produtos
As análises mostraram que itens avaliativos positivos explícitos atribuídos aos
produtos tendem a ser excluídos das notícias, como mostrado em 57, no qual a menção
a serviços de qualidade e rede foi excluída na notícia.
57. A extensão dos prazos da dívida permitirá que a Tele_A continue a investir em serviços
de qualidade e em rede para atender o mercado corporativo, governo e clientes
residenciais. (press release da Tele_A)
Segundo a empresa, a extensão dos prazos da dívida irá assegurar que a Tele_A
continue a investir para atender o mercado corporativo, governo e clientes residenciais.
(notícia sobre a Tele_A)
Em 58, a ação nominalizada em aquisição é modalizada pelo uso de potencial na
notícia, expressando uma menor certeza de que esta ação será efetivamente executada.
Essa comparação também mostra a exclusão da característica de competitividade dos
produtos da empresa (em oferta competitiva), excluindo também o valor da avaliação
positiva.
58. Esta aquisição permitirá que a Tele_A aumente o escopo dos seus negócios de serviços
de voz local, incluindo a oferta competitiva de acesso de banda larga via tecnologia
EV-DO para pequenas empresas, pequenos escritórios e clientes residenciais. (press
release da Tele_A)
"Esta potencial aquisição permitirá que a Tele_A aumente o escopo do seu serviço de
voz local, incluindo o oferecimento de acesso banda larga pela tecnologia sem fio EV-
DO, para pequenas empresas, pequenos escritórios e para o mercado residencial", diz o
comunicado divulgado pela Tele_A. (notícia sobre a Tele_A)
Os exemplos acima mostram várias modificações nas informações feitas nas
notícias que reduzem o valor positivo das avaliações das atividades das empresas
quando comparados com as avaliações feitas nos press releases, o que pode refletir o
cuidado do jornal de não fazer uma promoção explícita da empresa.
III. Apresentação e discussão dos resultados
133
Entretanto, as notícias apresentam outras características que podem ser vistas
como limitações dos produtos oferecidos, expressando atitudes negativas quanto aos
produtos e reduzindo o valor da oferta da empresa. No exemplo 59, a restrição é
lexicalizada em limitação, no grupo nominal limitação de tráfego, expressando uma
Atitude negativa de Apreciação quanto ao produto.
59. Além dos novos pacotes de serviços do Speedy, que agora terão limitação do tráfego,
a Tele_B anunciou hoje uma versão do serviço de internet por banda larga para
condomínios. (notícia sobre a Tele_B)
A limitação do produto está identificada em uma oração encaixada (embedded)
que expressa uma diferença do produto com relação aos anteriores, em que agora terão
limitação de tráfego. A avaliação negativa do produto está lexicalizada na palavra
limitação, aplicada ao tráfego de dados oferecido ao usuário. Essa característica
expressa uma Atitude inscrita de Apreciação negativa ao produto, com base no conceito
de “capacidade”.
O exemplo 60, retirado de notícia sobre um produto da Tele_B, descreve uma
limitação do produto com base na comparação com um serviço anterior.
60. O usuário acessa a internet a uma velocidade de 128 kbps e tem um limite de consumo
mensal de 500 MB. Antes do novo serviço, os clientes residenciais tinham como opção
apenas as versões 300, 450 e 600 kbps do Speedy. O mais barato deles custa,
atualmente, R$ 59,90 e dá direito a 3 GB por mês. (notícia sobre a Tele_B)
Em 60, o produto é avaliado negativamente pela sua característica de limite de
consumo mensal. Além disso, o produto é avaliado negativamente de maneira implícita
pela comparação feita com os produtos anteriores pela característica de quantidade de
dados a serem transmitidas (500 MB contra 3 GB), com base no conceito de
“capacidade”. Nesse exemplo, a notícia atribui uma avaliação negativa ao produto com
base em sua “capacidade” de velocidade e consumo de dados, apesar do preço ser
menor do que os anteriores.
Os exemplos 61 e 62 mostram avaliações feitas por oposições lógicas entre
diferentes bases de avaliação.
III. Apresentação e discussão dos resultados
134
61. Apesar de o preço ser mais atrativo que os planos mais baratos de internet por cabo --
que custam cerca de R$ 45 por mês-- e de não exigir nenhum equipamento além do
modem, do computador e da linha telefônica, o usuário deve estar ciente que a linha
discada oferece uma velocidade de navegação inferior. (notícia sobre a Tele_B)
O exemplo 61 inicia descrevendo características do produto que podem ser
interpretadas como expressões de Atitude positiva, com base no conceito de custo
(preço e requisitos de equipamento). Entretanto, o valor dessas características é
atenuado logo no início da oração, pelo uso do disjuntivo apesar, que indica que haverá
uma oposição entre a característica positiva apresentada inicialmente e uma
característica negativa posterior. Na oração seguinte, o produto é avaliado
negativamente por sua característica de velocidade de navegação, que recebe o Epíteto
inferior. Novamente, essa característica expressa uma Atitude inscrita de Apreciação
negativa, com base no conceito de “capacidade”.
No exemplo 62, retirado da notícia que comenta a decisão da Tele_A de não
reajustar os valores de suas tarifas.
62. Tele_A abre mão de reajuste para DDD, mas preço pode ser maior. (notícia sobre a
Tele_A)
Em 62, temos um complexo oracional com duas orações, no qual a oração
dependente expressa uma relação adversativa com a oração dominante (Halliday e
Matthiessen, 2004:409)
Oração dominante Oração dependente
Ator Pr. Mat. Escopo Conj. Portador Pr. Rel. Atributo
Tele_A abre mão
de
reajuste para
DDD,
mas preço pode ser maior
Quadro 29. Funções ideacionais do exemplo 62
Em 62, a empresa é avaliada positivamente na oração dominante por abdicar de
uma ação que prejudica os usuários, informação que também é fornecida no press
release; entretanto, a notícia atenua essa avaliação positiva ao avaliar negativamente a
característica de preço do produto pelo Atributo maior, com base no conceito de
“custo”. No exemplo 63, na seqüência da notícia, o jornal faz uma comparação negativa
à Tele_A, com base no custo das ligações feitas pelas concorrentes:
III. Apresentação e discussão dos resultados
135
63. Mesmo com as tarifas promocionais, as ligações entre São Paulo e Rio de Janeiro, por
exemplo, podem sair mais baratas por outras operadoras. A Tele_B cobra menos
que a Tele_A para o minuto de chamadas das categorias normal (7h às 9h, 12h às 14h e
18h às 21h em dias úteis), reduzida (6h às 7h e 21h às 24h em dias úteis) e super-
reduzida (0h às 6h). Por isso, o consumidor deve sempre pesquisar os melhores preços
antes de fazer as chamadas. Os valores cobrados estão disponíveis nos sites das
operadoras. (notícia sobre a Tele_A)
Podemos ver como o uso da avaliação na notícia altera o ato de fala; no press
release, essa decisão é apresentada como uma oferta aos clientes; na notícia, as
avaliações negativas de Apreciação quanto ao preço são seguidas por um comando
explícito aos clientes para que pesquisem preços nas concorrentes, incluindo a
informação de como encontrar essas informações.
Os press releases também apresentam características que podem ser
consideradas limitações dos produtos, mas não tão explicitamente quanto nas notícias,
como no excerto 64, que expressa uma condição necessária – um requisito – para que o
cliente utilize o serviço.
64. Para obter acesso ao serviço, basta ao usuário dispor de um computador portátil
(palmtop, notebook ou handheld) que contenha um dispositivo compatível com a
tecnologia Wi-Fi, conhecida tecnicamente como IEEE 802.11b. (press release da
Tele_B)
Oração
dependente
Possuidor Pr. Rel. Possuído
Para obter acesso
ao serviço usuário dispor um computador portátil (palmtop, notebook ou
handheld) que contenha um dispositivo
compatível com a tecnologia Wi-Fi, conhecida
tecnicamente como IEEE 802.11b
Quadro 30. Funções ideacionais do exemplo 64
A oração dependente do complexo oracional acima expressa uma condição
necessária para que o usuário utilize o serviço. Apesar de ser, na verdade, uma
exigência que restringe o número de usuários potenciais do produto e impõe um custo
financeiro àqueles que não possuem os equipamentos exigidos, essa condição é
expressa como uma vantagem do produto, pelo uso do adjunto modal basta, que
indicaria uma Atitude inscrita positiva de Apreciação. Essa pode ser vista também como
uma forma de se identificar os clientes-alvo do produto como as pessoas que já têm esse
equipamento, para os quais o custo da utilização do serviço seria zero.
III. Apresentação e discussão dos resultados
136
O exemplo 65 mostra uma outra descrição do produto encontrada em um press
release, expressa de maneira a não deixar clara a limitação do produto.
65. Para solicitar a Linha da Economia Família e confirmar a disponibilidade no endereço
do cliente, basta ligar 0800 10 15 15 ou acessar www.tele_b.com.br. (press release da
Tele_B)
Nesse exemplo, temos:
Oração dependente (finalidade) Oração dominante
Para solicitar a Linha da Economia
Família e confirmar a disponibilidade no
endereço do cliente,
basta ligar 0800 10 15 15 ou acessar
www.tele_b.com.br.
Quadro 31. Funções ideacionais do exemplo 65
Essa oração pode ser vista como uma limitação do produto por dois motivos. Em
primeiro lugar, essa sentença mostra na oração dominante ações que o cliente potencial
precisa executar (ligar e acessar) para estar em condições de executar as ações
identificadas na oração dependente, o que nos dois casos pode ser entendido como um
custo (esforço) para o cliente. Assim como no exemplo anterior, esse esforço é atenuado
pelo adjunto modal basta, que pode implicar em uma atitude positiva de Apreciação
expressa sobre a facilidade que o cliente encontrará para fazer o contato.
A segunda limitação do produto é expressa pela ação de confirmar a
disponibilidade, o que significa que há a possibilidade de que o cliente não possa
contratar o serviço. Essa possibilidade, que traz uma avaliação negativa do produto, é
indicada na oração por um item lexical que normalmente é utilizado para expressar uma
Atitude positiva (disponibilidade), podendo não ser assim facilmente identificada pelo
leitor.
Já no exemplo 66, a Tele_B coloca uma exigência, da obrigatoriedade da
contratação de um provedor de acesso, após apresentar as vantagens do produto,
expressas em deixarem para trás as limitações e aproveitar ainda mais o potencial da
web:
66. O Speedy 128 Light é o primeiro passo para os usuários deixarem para trás as
limitações da Internet discada e aproveitar ainda mais o potencial da web. Vale lembrar
que para acessar a Internet os clientes deverão escolher um provedor de acesso, dentre
III. Apresentação e discussão dos resultados
137
os mais de 200 disponíveis para o Speedy, que podem ser assinados a partir de R$19,90
por mês. (notícia sobre a Tele_B)
Os benefícios proporcionados aos usuários do produto representam uma
comparação entre um concorrente (a Internet discada), avaliado negativamente de
forma explícita como limitado, e o produto da empresa, avaliado positivamente pela
vantagem que confere aos usuários (aproveitar o potencial da web). A sentença
seguinte mostra um requisito a ser cumprido para que os clientes usufruam dessa
mudança (os clientes deverão escolher um provedor de acesso). Essa obrigação imposta
aos clientes parece ser justificada pelo aumento de capacidade de acesso, expressa na
sentença anterior; além disso, essa obrigação é atenuada pela avaliação positiva
atribuída à disponibilidade de provedores e pelo preço (embora este não esteja avaliado
explicitamente).
Nos press releases da Tele_B, quase todas as ocorrências do modal podem são
usadas em proposições que mostram ações que os usuários devem executar para
poderem utilizar os serviços, em realizações metafóricas de comandos, como abaixo:
67. Os cartões pré-pagos podem ser encontrados em 22 mil estabelecimentos comerciais,
incluídos Correios e lotéricas, nos valores de R$ 5, R$ 15 e R$ 25. (press release da
Tele_B)
68. As adesões ao Plano Internet Ilimitada podem ser feitas por meio dos provedores
habilitados ou pelo 0800 77 15 270, que funciona das 9h00 às 21h00 de segunda-feira a
sábado. (press release da Tele_B)
Produto Cliente Modalidade Ação cartões pré-pagos podem encontrados em 22 mil estabelecimentos
comerciais
Plano Internet
Ilimitada
podem adesões – ser feitas por meio dos
provedores habilitados ou pelo 0800 77 15
270
Quadro 32. Funções ideacionais dos exemplos 67 e 68
Nesses exemplos, o comando é realizado pela combinação entre a modalidade e
um processo no qual o cliente é colocado como Ator, com o sentido de “o cliente tem de
empreender algum esforço, ou seja, ter um custo, para usar o produto”. Nos press
releases, essa obrigação é atenuada em um estágio anterior, no qual as empresas
destacam os benefícios que podem ser obtidos pelo uso do produto.
III. Apresentação e discussão dos resultados
138
O exemplo 69, similar ao anterior, usa a expressão têm à sua disposição para
realizar metaforicamente um comando similar.
69. Os interessados em mais informações têm à sua disposição um call center com
atendimento para o LIVRE pelo telefone 0800 721 2165 (ligação gratuita). (press
release da Tele_B)
Em 69, temos uma realização metafórica de uma oferta, realizada em têm à sua
disposição que, na verdade, expressa um comando, atenuado pelo valor de se “ter mais
informações” e o custo da ligação (gratuita).
O exemplo 70 descreve um produto da Tele_B por suas características de preço
e tempo de conexão. Nesse exemplo, a empresa expressa uma avaliação positiva quanto
ao preço do produto ao mostrar o quanto o preço mensal custa ao cliente por dia.
70. Com o Plano Internet Ilimitada, por apenas R$ 29,90/mês -- menos de R$ 1 por dia --, o
internauta usa a internet discada pelo tempo que quiser, sem pagar pela chamada e sem
precisar esperar a madrugada, fim de semana ou feriado. (press release da Tele_B)
Esse exemplo apresenta duas características do produto, o preço e o tempo de
acesso, na estrutura ideacional abaixo:
Oração dominante Or. depend. Or. depend. Circ. Meio Circ. Cond. Circ.
Duração
Com o Plano
Internet
Ilimitada,
por apenas
R$ 29,90/mês
-- menos de
R$ 1 por dia -
-,
o internauta
usa a internet
discada
pelo tempo
que quiser,
sem pagar
pela
chamada
e sem precisar
esperar a
madrugada, fim
de semana ou
feriado.
Quadro 33. Funções ideacionais do exemplo 70
Nesse exemplo, temos:
Identificação do produto: na circunstância de companhia (Com o Plano Internet
Ilimitada), na qual o produto é identificado por seu nome comercial.
Identificação do preço do produto: no sintagma preposicional complexo (por
apenas R$ 29,90/mês -- menos de R$ 1 por dia --) que expressa uma
circunstância de maneira.
Identificação do cliente: como usuário da Internet (internauta)
III. Apresentação e discussão dos resultados
139
Identificação do serviço: a utilização da infra-estrutura (internet discada) da
empresa sem limite de tempo.
A avaliação do produto pelo preço tem duas partes, a descrição do preço (por
apenas R$ 29,90/mês), no qual o preço é avaliado explicitamente como baixo em
apenas, e um segundo elemento do sintagma preposicional que elabora o preço mensal
em seu equivalente (menos de R$ 1) por dia, que aparentemente é considerado ínfimo
pela empresa.
Tanto na característica de preço quanto de tempo de conexão, essa descrição faz
uma referência implícita ao modelo anterior de cobrança do acesso à Internet discada,
que cobrava pela conexão valores de uma ligação telefônica normal, cobrada por minuto
de uso e com tarifas reduzidas em períodos de menor utilização. A comparação dessas
características pode atribuir uma avaliação positiva ao produto com base no conceito de
“custo/benefício”, com relação ao produto anterior.
Como visto nos exemplos acima, as empresas podem atenuar as obrigações
impostas aos clientes pelo uso de avaliativos positivos atribuídos aos produtos; dessa
maneira, mesmo que percebendo a obrigação que lhe imposta, o cliente pode decidir se
as vantagens compensam os ônus decorrentes do uso dos produtos. Na comparação com
o exemplo 71, de um press release da Tele_B, vemos que a empresa apresenta uma
limitação do produto, referente ao prazo da promoção da empresa, que aumenta o valor
da oferta da empresa:
71. A promoção que garante habilitação gratuita será mantida até 31 de dezembro e não há
previsão de prorrogação da campanha. (press release da Tele_B)
Em 71, temos a estrutura ideacional abaixo:
Or. dominante Or. dependente
Meta Pr.
Mat.
Ator Circ.
Tempo
Pr.
Exist. Existente
A promoção que
garante habilitação
gratuita
será
mantida
{0} até 31 de
dezembro
e não há previsão de prorrogação
da campanha.
Quadro 34. Funções ideacionais do exemplo 71
Nessa estrutura ideacional, temos:
Identificação da ação da empresa: Em promoção.
III. Apresentação e discussão dos resultados
140
Identificação do componente de custo do produto: Em habilitação
Identificação do custo: gratuita
Identificação do prazo: Em até 31 de dezembro.
A alteração de custo para o cliente (avaliada como promoção) é delimitada no
tempo, do início da promoção até 31 de dezembro. A oração dependente traz uma
avaliação positiva à contratação do produto dentro do prazo, com base no critério de
“segurança”, pela incerteza de que o cliente voltará a ter essa oportunidade.
3.4.1.3. Divergência em press releases e notícias
Um exemplo de diferença de ponto de vista entre press releases e notícias
quanto aos possíveis benefícios de um produto foi identificado em cinco pares da
Tele_B (pares 10, 15, 17, 21 e 22) sobre produtos denominados linhas da economia, nos
quais foram encontradas diferenças de Avaliatividade entre os press releases e as
notícias relacionadas a uma combinação entre a identificação do público-alvo dos
produtos e as diferentes vantagens que seriam proporcionadas aos clientes pelo uso dos
produtos. A análise desse pares mostrou que a notícia pode divergir da posição da
empresa mesmo quando avalia positivamente o produto.
Uma das principais diferenças encontradas entre os press releases e as notícias
na descrição dessa linha de produtos, analisada separadamente aqui por este ser o tópico
em cinco dos pares da Tele_B, é a identificação das pessoas de baixa renda como o
público-alvo dos produtos nos press releases, como mostrado nos exemplos a seguir.
72. Tele_B inicia nova expansão para facilitar acesso do público de menor renda à linha
fixa (press release da Tele_B)
Nesse complexo oracional, temos a seguinte estrutura de transitividade:
Oração dominante Oração dependente Ator Pr.
Mat.
Meta Pr. Mat. Meta
Tele_B inicia nova expansão para facilitar acesso do público de menor
renda à linha fixa
Quadro 35. Funções ideacionais do exemplo 72
III. Apresentação e discussão dos resultados
141
Nesse complexo oracional, há uma relação de finalidade entre a oração dominante e
a dependente, com:
Identificação da empresa: Pelo seu nome (Tele_B), na função de Ator das
orações dominante e dependente.
Identificação da ação da empresa: Como Meta da oração dominante (nova
expansão)
Identificação da ação do cliente: Como Meta da oração dependente (acesso)
Identificação do cliente: No grupo nominal, identificado pela classe social, em
uma função agnata à de Ator (público de menor renda)
Identificação do serviço: No grupo nominal, em uma função agnata à de Meta
(linha fixa)
No exemplo acima, a oferta é expressa pela relação de finalidade entre a ação da
empresa e a ação dos clientes possibilitada pelo produto. Em termos de avaliação, a
ação da empresa (expansão) recebe um Epíteto (nova) que pode indicar uma Atitude de
Apreciação, com base no conceito de “mudança”. A polaridade dessa Atitude
dependerá, nesse caso, da mudança ser avaliada positivamente. Nesse exemplo, a ação
da empresa é avaliada explicitamente pela ação que descreve o objetivo da ação, que é
facilitar o acesso do público de menor renda.
No exemplo abaixo, a oferta da empresa de parcelar o pagamento é expressa
pelo modal no futuro (poderá) no grupo verbal da primeira sentença e pelo tempo verbal
futuro na segunda (vai tornar). Essa oferta também é apresentada como dirigida ao
público de menor renda em 73:
73. A partir de amanhã, 03/06, quem solicitar a Linha da Economia Família da Tele_B
poderá parcelar o valor da habilitação (R$ 82,06) em dez vezes de R$ 8,20. A promoção
vai tornar ainda mais fácil a aquisição do serviço por pessoas de menor poder aquisitivo.
(press release da Tele_B)
Ator Pr. Rel. Atributo Portador Beneficiário
A promoção vai tornar ainda mais fácil a aquisição do
serviço
por pessoas de
menor poder
aquisitivo
Quadro 36. Funções ideacionais do exemplo 73
III. Apresentação e discussão dos resultados
142
Em 73, a ação da empresa nominalizada em promoção é representada como Ator
de um processo material que tem como Beneficiário uma ação dos clientes, expressa em
aquisição do serviço. Essa ação recebe uma Apreciação positiva inscrita, expressa no
grupo verbal tornar mais fácil, de significado similar ao processo expresso em facilitar
no exemplo anterior.
O exemplo 74 apresenta dois benefícios do produto, a economia e o controle de
gastos, através do uso dos cartões, que também identificam o cliente-alvo como alguém
a quem esses benefícios seriam interessantes.
74. “O grande atrativo das novas linhas é a economia e a possibilidade de usar o cartão pré-
pago para as ligações destinadas a celulares e de longa distância, uma alternativa eficaz
para controlar os gastos”, afirma Odmar Almeida Filho, vice-presidente de clientes
residenciais da empresa. (press release da Tele_B)
Nesse exemplo, temos o seguinte processo relacional:
Identificado Pr. Rel. Identificador
O grande atrativo
das novas linhas
é a economia e a possibilidade de usar o cartão pré-pago para
as ligações destinadas a celulares e de longa distância, uma
alternativa eficaz para controlar os gastos
Quadro 37. Estrutura ideacional do exemplo 74
O produto é avaliado explicitamente pela nomeação coletiva dos benefícios
(economia e possibilidade do uso dos cartões) por um termo superordenado, em grande
atrativo. No identificador acima, o uso dos cartões recebe também uma avaliação
positiva pela sua identificação com uma alternativa eficaz.
No exemplo 75, a realização da oferta usa modalização mais alta de certeza
(Halliday e Matthiessen, 2004: 621) quanto ao controle de gastos, com o uso do modal
garante.
75. A Tele_B coloca à disposição dos paulistas, até 31 de maio, mais 73 mil terminais da
Linha da Economia Família, serviço que garante controle de gastos por meio do uso
de cartões pré-pagos para as ligações mais caras - DDD, DDI e para celular. (press
release da Tele_B)
Em 75, a empresa também introduz um participante ideacional que representa
um aspecto da relação entre os produtos e os clientes, nominalizado em controle de
III. Apresentação e discussão dos resultados
143
gastos. O controle de gastos representa uma vantagem que a empresa alega ser oferecida
pelos produtos, que não é reconhecida nas notícias do jornal.
Foram observadas diferenças de modalização e modulação (Halliday e
Matthiessen, 2004: 147) entre as formas pelas quais essa vantagem é representada, que
podem expressar diferentes tipos de Apreciação aos produtos, conforme a relação feita
por Martin e White (2005:54) entre os sistemas interpessoais de Modalidade e
Engajamento. Diferentemente dos press releases, as notícias utilizam recursos de
modulação que mostram o uso do cartão pré-pago como uma obrigação imposta aos
clientes que querem fazer chamadas para celulares ou outras cidades, como mostrado
nos exemplos a seguir.
76. Na assinatura do plano "economia" já está embutido uma franquia de 100 pulsos para
chamadas locais. Para fazer ligações mais caras --para celulares e chamadas
interurbanas ou internacionais--, será preciso comprar um cartão pré-pago e carregar o
telefone.
Já o assinante da linha "super economia" só poderá receber ligações. Para fazer ligações
para celulares ou chamadas locais, o assinante também terá de comprar cartões com
créditos. (notícia sobre a Tele_B)
Em 76, temos as seguintes obrigações impostas aos clientes, em realizações
metafóricas de comandos:
Or. dependente Oração dominante
Ator Pr. Mat. Meta
Para fazer ligações mais caras (...) será preciso
comprar
um cartão pré-pago e
carregar o telefone.
Para fazer ligações para celulares
ou chamadas locais,
o assinante também terá
de comprar
cartões com créditos.
Quadro 38. Funções ideacionais do exemplo 76
Nos press releases, a modalização é usada para indicar a capacidade que os
clientes de fazer o controle de gastos usando os cartões, enquanto que nas notícias, a
modulação é usada para indicar a obrigação de compra dos cartões para fazer chamadas.
Em termos de Avaliatividade, essas diferenças no uso da modalidade podem ser
relacionadas a julgamentos de capacidade dos clientes, o que por sua vez pode afetar a
Apreciação atribuída aos produtos (Martin e White, 2005:60).
Nos exemplos até aqui apresentados, os press releases utilizaram mais léxico
avaliativo do que as notícias. Foi possível observar que as notícias utilizam itens
III. Apresentação e discussão dos resultados
144
avaliativos explícitos com relação a um dos componentes de preço dos produtos, o valor
da assinatura. Os itens avaliativos vantagem e diferencial são usados nas notícias para
nominalizar uma característica dos produtos: o preço das linhas econômicas com
relação às linhas telefônicas tradicionais.
77. Tele_B lança telefone fixo pré-pago com assinatura mensal mais barata (título)
(...)
A grande vantagem das novas linhas em relação ao telefone tradicional é o custo da
assinatura mensal. O custo de assinatura das linhas pré-pagas varia de R$ 11,15 (no
plano chamado "super economia") a R$ 22,30 (no plano "economia") por mês. Na linha
telefônica tradicional, o assinante residencial paga uma assinatura mensal de R$ 31,14.
(notícia sobre a Tele_B)
Comparando o título da notícia em 77 e o título do press release no exemplo 72,
do mesmo par, podemos observar que enquanto o press release ressalta o atendimento
ao público de baixa renda, a notícia destaca uma característica do produto, que tem uma
assinatura mensal mais barata. No exemplo 77, podemos observar também que a
notícia parece evitar a avaliação implícita inserida no nome dos produtos, utilizando
aspas para se referir às “linhas da economia”.
Os press releases e notícias que tratam das linhas da economia utilizam a
comparação com a concorrência para avaliar os produtos. Os exemplos 78 e 79 mostram
que enquanto o press release faz a comparação entre o preço das ligações dos produtos
da empresa com o preço cobrado pela telefonia fixa, a notícia faz a mesma comparação
introduzindo outro concorrente, o telefone fixo tradicional.
78. Preço menor
A operadora também vai aproveitar a oportunidade para esclarecer ao público sobre as
reais vantagens da linha fixa em comparação a opções disponíveis no mercado. Para se
ter uma idéia, um minuto de ligação local pela Linha da Economia custa até quatro
vezes menos que o preço cobrado pela concorrência.
(...)
“As novas opções ampliam sobremaneira as oportunidades para o público de menor
renda poder utilizar uma linha fixa, que, apesar de todos os planos e promoções
apresentados pela telefonia móvel, continua sendo a forma mais barata de comunicação
por telefone disponível no mercado”, diz Manoel Amorim, diretor-geral da Tele_B SP.
(press release do Par 1)
Em 79, a notícia atribui ao preço das ligações feitas com os produtos uma
Apreciação negativa inscrita, expressa em desvantagem. Para isso, introduz um
participante (telefone fixo tradicional) que não está presente nos press releases, criando
III. Apresentação e discussão dos resultados
145
assim uma representação de mundo diferente daquela apresentada pela empresa,
utilizando os mesmos conjuntos de valores (custo, comparação com o concorrente) para
atribuir uma avaliação negativa ao produto.
79. A desvantagem é que a ligação do telefone fixo pré-pago para um celular, por exemplo,
será mais cara que uma chamada feita de um telefone fixo tradicional.
Exemplo disso é uma chamada local do fixo para um celular, que hoje custa cerca de R$
0,45 o minuto. Nas linhas econômicas, a mesma ligação custará R$ 0,70. (notícia sobre
a Tele_B)
A ausência de Apreciação positiva inscrita nos press releases a uma
característica do produto que é mostrada como vantajosa na notícia parece ter como
objetivo manter o destaque à característica considerada mais importante pela empresa,
de controle de gastos. Por outro lado, podemos também considerar que o uso da
Apreciação positiva inscrita de vantagem atribuída na notícia ao preço de assinatura
pode ter como objetivo fazer um contraponto à Apreciação negativa também inscrita de
desvantagem atribuída ao preço das ligações. Dessa forma, o jornal pode não deixar
clara a sua opinião sobre o produto por apresentar com o mesmo destaque as suas
avaliações positivas e negativas, deixando a cargo do leitor a escolha do que lhe é mais
importante.
Em 80, temos um relato de linguagem atribuído a um executivo da Tele_B que
concorda com o ponto de vista expresso no jornal. Essa fala do executivo não consta no
press release, provavelmente tendo sido obtida em um contato posterior.
80. A desvantagem é que a ligação do telefone fixo pré-pago para um celular, por exemplo,
será mais cara que uma chamada feita de um telefone fixo tradicional. Exemplo disso é
uma chamada local do fixo para um celular, que hoje custa cerca de R$ 0,45 o minuto.
Nas linhas econômicas, a mesma ligação custará R$ 0,70. "Essa diferença de preço é
normal. Todo pré-pago custa mais. Existem diferenças de custos, como o da
distribuição de cartões, que precisam ser compensados no custo da chamada",
disse Executivo_B. (notícia sobre a Tele_B)
A avaliação da afirmação atribuída ao executivo no jornal parece ser aqui
bastante dependente da proximidade entre a fonte de informação (o executivo) e a
empresa, pois temos um porta-voz da empresa fornecendo informações que trazem uma
avaliação potencialmente negativa do produto. Dessa maneira, a atribuição a uma fonte
de informações externa, nesse caso parece reforçar o valor das afirmações da notícia (de
que as ligações feitas com o produto da Tele_B são mais caras), em vez de reduzir a
III. Apresentação e discussão dos resultados
146
responsabilidade da notícia pela afirmação, com base no conceito de que um
funcionário não faria informações que contrariassem os valores da empresa.
Analisando as diferenças entre as descrições dos produtos “linhas da economia”,
vemos que os press releases identificam o público-alvo de seus produtos nominalmente
como a população de baixa renda e pelas suas ações, como clientes que querem ter o
controle de seus gastos, usando cartões pré-pagos para fazer as ligações mais caras.
Como analistas do discurso, neste ponto, poderíamos perguntar: Será que a população
de baixa renda realmente faz um menor número de ligações de maior preço, de forma
que o menor preço da assinatura mensal compense o uso de cartões, com os quais as
ligações são mais caras quando comparados à telefonia tradicional? O controle de gastos
é indicado como uma vantagem à população, mas também não seria parte de uma
estratégia da empresa para evitar prejuízos decorrentes da inadimplência? Essa pode ser
uma interpretação possível da posição do jornal, que nas notícias constrói uma
representação na qual a empresa faz a população pagar mais caro pelas ligações.
3.4.2. Demonstrações de capacidade
Nas seções anteriores, foram discutidas as formas de avaliações dos produtos da
empresa pela relação entre estes e os clientes. Essa seção discute as formas pelas quais
as empresas evidenciam a sua capacidade de fornecer os benefícios oferecidos e tentam
se destacar perante as concorrentes.
Um dos recursos utilizado pela Tele_A para evidenciar a sua capacidade foi o
uso do texto padrão abaixo, incluído em todos os seus press releases:
81. Sobre a Tele_A
A Tele_A é a provedora de telecomunicações premium do Brasil, oferecendo uma
grande variedade de serviços de telecomunicações - telefonia local e de longa distância,
voz avançada, transmissão de dados em alta velocidade, internet, comunicação de dados
por satélites e redes corporativas. A Empresa é líder em serviços de dados e de internet
no País, estando em posição privilegiada para ser a operadora com uma rede fim a fim
(all-distance) da América Latina. A rede da Tele_A possui cobertura nacional com
quase 29 mil quilômetros de cabos ópticos, representando cerca de um milhão e sessenta
e nove mil quilômetros de fibras ópticas. (texto padrão dos press releases da Tele_A)
Neste excerto, temos dois exemplos de qualidades atribuídas à empresa que a
diferenciam das demais pelo uso de Classificadores que modificam um grupo nominal
que têm a função de Identificador em um Processo Relacional Identificador:
III. Apresentação e discussão dos resultados
147
82. A Tele_A é a provedora de telecomunicações premium do Brasil
Identificado Pr. Relacional Identificador
A Tele_A é a provedora de telecomunicações premium do Brasil
Quadro 39. Funções ideacionais do exemplo 82
83. A Empresa é líder em serviços de dados e de internet no País
Portador Pr. Relacional Atributo
A Empresa é líder em serviços de dados e de internet no País
Quadro 40. Funções ideacionais do exemplo 83
Nessa estrutura, temos dois itens avaliativos com significados próximos
realizados por elementos de categorias diferentes nas orações. A palavra premium é um
Epíteto do grupo nominal, enquanto que a palavra líder é o núcleo do grupo nominal
que indica um Atributo da empresa. Entretanto, na estrutura de comparação, ambas
desempenham funções semelhantes, como mostrado no quadro 41.
Empresa Qualidade Grupo do qual se destaca Local
Tele_A premium provedora de telecomunicações Brasil
Empresa líder outras provedoras de serviços de dados
e de internet
País
Quadro 41. Estrutura de comparação dos exemplos 82 e 83
Nestes dois exemplos, temos:
Identificação da empresa – pelo nome Tele_A e sua natureza jurídica, de
empresa, além de seu setor de atuação, como provedora
Identificação das qualidades atribuídas à empresa, como premium (como
Classificador do grupo nominal ) e líder (como Atributo do Processo Relacional
Atributivo)
Identificação do grupo do qual a empresa se destaca (superordenado), nestes
exemplos: das demais provedoras de telecomunicações e empresas que atuam
em serviços de dados e internet
III. Apresentação e discussão dos resultados
148
Identificação do local em que ocorre a comparação. Nos exemplos, temos a
identificação feita:
No grupo nominal | provedora de telecomunicações premium do Brasil | , no
qual temos um sintagma preposicional do Brasil em função de Qualificador
das empresas. Alternativamente, o sintagma preposicional do Brasil pode ser
considerado como tendo a função de Dêitico.
Na circunstância de local no País.
Essas duas qualidades distinguem a empresa como melhor perante as outras. Na
oração dependente do exemplo abaixo, a empresa é diferenciada das outras pelo uso do
Dêitico demonstrativo específico (Halliday e Matthiessen, 2004:314), em “a
operadora”.
84. (...) estando em posição privilegiada para ser a operadora com uma rede fim a fim (all-
distance) da América Latina.
Nessa oração, a avaliação é feita pela combinação entre a característica que
distingue a Tele_A das demais (ter uma rede fim a fim, no grupo nominal) e a posição
da empresa perante as demais operadoras (expressa no identificador circunstancial de
um processo relacional, em posição privilegiada).
O exemplo 85 mostra que se um dos elementos dessa combinação (posição x
característica) for negativo, a avaliação será negativa.
85. O serviço de banda larga Speedy foi um dos alvos de reclamações dos consumidores
paulistas da Tele_B. Segundo dados do Procon, a empresa ficou no ano de 2002 em
quarto lugar no ranking de reclamações dos consumidores, deixando a "liderança" para
a Tele_A. (notícia)
O uso irônico da palavra liderança, sinalizado pelo uso de aspas, atribui à
Tele_A (que tem a função de Beneficiário na oração) uma qualidade que a destaca
perante as outras como a melhor em algo, só que por um critério que pode ser
considerado negativo, de ser a que mais recebe reclamações. Dessa forma, nesse
exemplo temos como resultado uma avaliação negativa atribuída à Tele_A.
As estruturas abaixo também são usadas para descrever a empresa e suas ações
com base em comparações entre as ações da empresa e as de suas concorrentes. Os tipos
de comparação e os recursos léxico-gramaticais utilizados são descritos a seguir.
III. Apresentação e discussão dos resultados
149
A) Ser a primeira
Os exemplos abaixo mostram descrições das empresas e de seus produtos com
avaliações atribuídas às empresas e aos seus produtos com base no valor de “ser o
primeiro”. O Numerativo primeira/o é usado freqüentemente em grupos nominais que
fazem referência às empresas e suas ações. Veja o texto abaixo:
86. Os novos Cartões Pré-Pagos de telefonia fixa, que permitem ligações nacionais e
internacionais, trazem imagens de passistas, integrantes de baterias das escolas de
samba, destaques, baianas, fantasias e palhaços. Os cartões têm valores de R$ 10, R$ 21
e R$ 100. São ideais para viagens internacionais, pois permitem ligações para todo o
País e o exterior e, também, do exterior para o Brasil. A Tele_A é a primeira empresa
de telecomunicações a lançar um cartão do gênero no Brasil, sendo uma de suas
principais vantagens o controle de gastos, além de permitir que, durante viagens, se
evitem chamadas a cobrar ou então as taxas cobradas nos hotéis para quem deseja
telefonar. (press release da Tele_A)
Destacamos desse texto a oração abaixo:
87. A Tele_A é a primeira empresa de telecomunicações a lançar um cartão do gênero no
Brasil, (...) (press release da Tele_A)
Em 87, temos a seguinte estrutura experiencial com um processo relacional
identificador (Halliday e Matthiessen, 2004:227), que identifica a empresa como sendo
a primeira a executar uma determinada ação. O exemplo mostra uma comparação
ideacional entre a empresa e as concorrentes, formada pelas seguintes funções:
A identificação da empresa que está sendo comparada com as outras
(Tele_A)
A identificação da posição da empresa perante as outras, pelo Numerativo
(primeira).
A identificação do grupo no qual a empresa se destaca, que é uma categoria
superordenada (Halliday e Matthiessen, 2004: 573) formada pelo conjunto
de Coisa + Classificador, acima (empresas de telecomunicações).
A identificação do critério pelo qual a empresa ocupa uma posição perante
as demais, pela ação expressa no Qualificador (lançar um cartão do gênero
no Brasil).
III. Apresentação e discussão dos resultados
150
Aa identificação da localização geográfica, que se refere à localização
comum a todos os participantes e ações envolvidos (Brasil).
Conforme mostrado acima, podemos distinguir em uma oração diversas funções
ideacionais, que em seu conjunto expressam uma função retórica de comparação. Na
análise da avaliação, teremos:
Sistema (tipo de avaliação): Pelo subsistema de Atitude, essa parece poder ser
classificada como uma atitude de Julgamento: Capacidade (Martin & White, 2005:53),
pois parece possível interpretar o papel da Tele_A no texto como o de um participante
consciente. Essa avaliação pode ser considerada positiva, com base em uma combinação
dos fatores relacionados abaixo:
(a) Ineditismo da ação da empresa, pelo Numerativo (primeira), como
comentado acima. Essa característica pode trazer uma avaliação positiva à empresa, por
indicar que ela teria uma maior capacidade em termos de recursos ou um maior senso de
oportunidade do que as demais. Entretanto, o valor positivo dessa avaliação depende de
a ação da empresa também ser positiva. Essa característica também é dependente da
identificação da localização geográfica da ação, que reduz o risco da alegação da
empresa ser considerada falsa, se outro produto semelhante tiver sido lançado em algum
outro país.
(b) Valor da ação da empresa, que identifica do critério pelo qual a empresa é
considerada diferente das demais, expresso em a lançar um cartão do gênero no Brasil.
Em termos de forma de expressão, podemos considerar essa oração como uma
expressão de avaliação implícita, pois não há na oração nenhum item avaliativo
explícito. O valor dessa proposição pode ser obtido a partir do cotexto no qual essa
proposição está inserida, apresentado acima, no qual essa oração está rodeada de outras
avaliações explícitas e implícitas do tipo Apreciação: Valor (Martin e White, 2005:56)
que avaliam o produto positivamente, como em São ideais para viagens internacionais
e sendo uma de suas principais vantagens o controle de gastos. Em um exercício de
substituição por um valor negativo, veremos que se a ação fosse considerada negativa
pelo leitor, toda a oração expressaria uma avaliação negativa.
c) Capacidade de executar a ação – A empresa se destaca de outras empresas de
telecomunicações do Brasil que também teriam condições de lançar o produto. Além
disso, a avaliação da ação e da empresa depende do reconhecimento do leitor da
III. Apresentação e discussão dos resultados
151
capacidade da própria Tele_A em lançar o produto, o que remete a questões de
intertextualidade e conhecimento de mundo do leitor.
Esse padrão ideacional de comparação é encontrado em outras estruturas de
transitividade, como mostrado no excerto 88, que mostra o título de um press release no
qual a característica de “ser o primeiro” é aplicada ao produto.
88. Tele_A lança em Amapá e Roraima primeira linha fixa livre de assinatura
Os usuários de telefonia fixa residencial dos estados de Amapá e Roraima têm uma
alternativa competitiva à concessionária de telefonia local. A Tele_A coloca ao alcance
da população dessas localidades o LIVRE, uma linha telefônica fixa que custa ao
consumidor somente o que ele usa. A proposta da Tele_A é livrar os clientes
residenciais do custo da assinatura mensal. O consumidor só paga o valor das ligações.
(press release)
Desse excerto, temos o exemplo 89:
89. Tele_A lança em Amapá e Roraima primeira linha fixa livre de assinatura
Em 89, temos a qualidade de “ser a primeira” atribuída a um produto da empresa
(linha fixa), em uma construção de significado similar à usada no exemplo anterior
(sendo lança a primeira linha livre de assinatura similar a a primeira a lançar uma
linha livre de assinatura). No grupo nominal usado como referência ao produto, temos:
A identificação da empresa (Tele_A) como Ator.
A identificação da ação da empresa, pelo processo material expresso por lança.
A identificação do local da ação (em Amapá e Roraima)
A identificação da posição do produto perante os concorrentes (primeira)
A identificação do grupo do qual o produto se destaca (linha fixa)
A identificação da característica que destaca o produto (livre de assinatura)
Diferentemente do exemplo anterior, a avaliação positiva do produto está
expressa na própria oração – dependendo da adequação da proposta da empresa – ter
uma linha que dispensa o pagamento da assinatura – aos desejos dos clientes. Da mesma
forma que o exemplo anterior, a avaliação positiva decorrente do ineditismo da ação e
da vantagem oferecida pelo produto permite atribuir uma avaliação positiva à empresa,
com uma Atitude de Julgamento.
III. Apresentação e discussão dos resultados
152
Nesse excerto, a empresa e seus produtos também são descritos como sendo uma
alternativa às empresas já estabelecidas no mercado, pois como citado na descrição das
empresas apresentada no capítulo de Metodologia, a Tele_A começou a concorrer com
as empresas já estabelecidas a partir de 2002. O exemplo 90 mostra a oração do excerto
acima na qual o produto é apresentado como alternativa a um concorrente:
90. Os usuários de telefonia fixa residencial dos estados de Amapá e Roraima têm uma
alternativa competitiva à concessionária de telefonia local.
Em 90, a comparação com a concorrência é expressa na forma de referência ao
produto (alternativa). Esse produto é avaliado pelo Qualificador (competitiva), que
apresenta uma comparação em uma estrutura de significado próximo a “que é
competitiva com relação/quando comparada à concessionária de telefonia local”.
Analisando a avaliação atribuída ao produto, a proposição apresenta uma Atitude
de Apreciação: Valor (Martin e White, 2005:56) que podemos considerar positiva para
o usuário dos serviços (obviamente, negativa para a concorrente), com base no conceito
de que a concorrência é vantajosa para o usuário. Outro ponto que pode ser destacado é
a forma de nomeação da concorrente (concessionária), que é um termo relacionado ao
período no qual havia um monopólio nas telecomunicações e que pode, por
intertextualidade, trazer uma avaliação negativa à concorrente, com base no critério pelo
qual a concorrência é positiva.
Nesse excerto, a empresa evidencia a característica de competitividade do
produto, aumentando assim o valor de sua afirmação, mostrando como ele é melhor do
que o existente. O produto é identificado por seu nome (LIVRE) em 92. A avaliação do
produto é feita nas orações e complexos oracionais abaixo:
91. Tele_A lança em Amapá e Roraima primeira linha fixa livre de assinatura
92. A Tele_A coloca ao alcance da população dessas localidades o LIVRE, uma linha
telefônica fixa que custa ao consumidor somente o que ele usa. (press release)
93. A proposta da Tele_A é livrar os clientes residenciais do custo da assinatura mensal. O
consumidor só paga o valor das ligações.
Em 92, a avaliação do produto (LIVRE) é feita em um grupo nominal complexo,
que traz uma identificação entre o produto e sua descrição, em | o LIVRE |, uma linha
telefônica fixa [[ que custa ao consumidor somente o que ele usa. ]] |. A oração
encaixada nesse grupo nominal parece trazer uma comparação implícita com a
III. Apresentação e discussão dos resultados
153
concorrência, sugerindo que os concorrentes cobram pelo o que o consumidor não usa.
A diferença de custo é identificada em 93, como o custo da assinatura mensal. Com
base em um conceito próximo ao do custo x benefício, de que “não é justo pagar pelo
que não se usa”, essa característica do produto parece atribuir uma Atitude de
Julgamento (Martin e White, 2005:52) positiva à empresa e negativa aos concorrentes.
Podemos também observar nos exemplos acima a coesão lexical criada entre o
nome do produto (LIVRE) e o valor que lhe é atribuído, no Qualificador livre de
assinatura, no título do press release, em 91 e no processo incluído no Identificador
livrar os clientes residenciais do custo da assinatura mensal, em 93. Essa repetição
pode reforçar a identificação entre o produto avaliado e o valor que lhe é atribuído.
Em uma comparação com as notícias, foram identificadas situações em que a
notícia mostra uma ação anterior da concorrente, em uma estrutura gramatical similar à
anterior. Veja o exemplo 94, no qual temos uma oração na qual a empresa é identificada
por ser a segunda a fazer algo, o que exclui da empresa o diferencial de ser a primeira.
94. O grupo Tele_A lança hoje oficialmente o provedor de acesso gratuito à internet Click
21.
A Tele_A é o segundo grupo de telecomunicações a oferecer esse serviço em menos de
uma semana. Na segunda, a Tele_B anunciou a expansão de seu provedor gratuito
iTele_B de dez para 164 cidades no Estado de São Paulo. (notícia sobre a Tele_A)
Analisando o contexto em que essa oração é usada, podemos interpretar que o
foco principal da notícia é a sua conclusão, de informar uma tendência das empresas de
telecomunicações de lançar provedores gratuitos, e não a ação da empresa. O mesmo
parece ocorrer no exemplo 95, que compara um press release e a sua notícia
correspondente:
95. Em 30 de setembro de 2001, a Tele_B tornou-se a primeira operadora do País a
antecipar, em mais de dois anos, as metas de universalização, adquirindo então o direito
de estender suas atividades para todo o Brasil. (press release da Tele_B)
A operadora (Tele_B) será a segunda entre as grandes teles a sair da sua área de atuação
para disputar as ligações de longa distância. Desde ontem, a Telemar está oferecendo o
mesmo tipo de serviço. (notícia sobre a Tele_B)
No press release, temos o destaque dado à empresa em ser a primeira a
antecipar as metas de universalização. Na notícia, temos o destaque dado à informação
III. Apresentação e discussão dos resultados
154
da empresa ser a segunda a disputar o mercado de longa distância, direito adquirido pela
antecipação das metas.
Observe na comparação com o press release correspondente que a empresa se
identifica como a primeira a executar uma ação relacionada à concessão para expandir
sua área de atuação, selecionando assim uma das ações relacionadas à atividade na qual
ela pode ter uma avaliação positiva.
B) Ser a única
Em um significado similar à “ser o primeiro”, a empresa é descrita nos exemplos
abaixo como sendo a única a realizar algum tipo de ação. A diferença entre ser a
primeira e a única reside em que ser a primeira é uma qualidade persistente no tempo;
assim que a empresa é a primeira a fazer algo, nenhuma mais pode ser a primeira. Se
outra empresa passar a fazer o mesmo, essa qualidade de única não será mais aplicável.
Uma conseqüência dessa diferença pode ser vista nos exemplos 96 e 97:
96. Nos últimos 13 meses, a Tele_B é a única entre as grandes operadoras, incluídas as de
longa distância, a atingir e superar todos as 35 metas de qualidade estipuladas pelo
órgão regulador. (press release da Tele_B)
97. A Tele_A é a única empresa de telecomunicações do Brasil a não aumentar os preços
de suas ligações locais ou de longa distância. (notícia da Tele_B)
Similarmente aos casos descritos na seção anterior, essas estruturas de
comparação atribuem às empresas uma Atitude de Julgamento: Capacidade positiva, por
fazer algo que as outras não fazem – assim como nos casos anteriores, dependendo de o
critério pelo qual ela é identificada como única ser considerado positivo pelo leitor. Nos
exemplos acima, temos em comum:
A identificação das duas empresas (Tele_B e Tele_A)
o qualificador que as distingue das demais empresas (única)
a identificação dos grupos dos quais as empresas se destacam (grandes
operadoras e as demais empresa de telecomunicações do Brasil)
A comparação entre esses dois exemplos mostra que a polaridade da ação impõe
ou não a necessidade da circunstância de tempo para evidenciar a proposição, ou seja,
aumentar o valor desta. Em 96, temos uma circunstância de tempo (nos últimos 13
III. Apresentação e discussão dos resultados
155
meses) para delimitar uma ação com polaridade positiva (atingir e superar todos as 35
metas de qualidade estipuladas pelo órgão regulador); em 97, temos uma ação com
polaridade negativa (não aumentar os preços de suas ligações locais ou de longa
distância) sem circunstância de tempo, o que implica que as outras empresas não podem
compartilhar essa característica com a Tele_A, por já terem aumentado os seus preços.
C) Os valores das empresas
A análise do corpus mostrou a associação entre as empresas e participantes
abstratos que nominalizam valores como qualidade e ética. O exemplo 98 associa a
qualidade à empresa, por meio de um processo relacional identificador:
98. "Qualidade é um dos principais valores e uma das maiores prioridades do Grupo Tele_B
no Brasil e no mundo", complementa. (press release da Tele_B)
Nessa oração, temos um processo relacional identificador, com:
Identificação da empresa, como Coisa (do Grupo Tele_B) em um grupo
nominal
Característica da empresa, como Faceta (Halliday e Matthiessen, 2004:335) de
um grupo nominal (um dos principais valores e uma das maiores prioridades)
Identificação da qualidade, em qualidade
Essa oração avalia positivamente a Tele_A no grupo nominal e na oração
dominante. O grupo nominal expressa uma característica da Tele_A como valores, que
atribui uma avaliação positiva à empresa com base no conceito de “ter valores” e
prioridades, que atribui uma avaliação positiva à empresa por sua ação de estabelecer
objetivos. Na oração dominante, é feita mais uma avaliação positiva à empresa, pela
identificação desses valores e prioridades com o conceito de qualidade, com base no
conceito positivo atribuído a essa característica. Dessa maneira, nessa oração a empresa
convida o leitor a se alinhar à empresa, atribuindo a ele o papel de alguém que considera
essas características como positivas.
Os press releases da Tele_A utilizam o conceito de “livre mercado” para atribuir
características positivas à empresa e características negativas aos concorrentes, como no
III. Apresentação e discussão dos resultados
156
exemplo 99, que mostra um outro uso de primeiro como Numerativo para dar destaque
à ação de um participante.
99. Essas foram as primeiras ações dos agentes reguladores brasileiros, explicitamente, em
nome da concorrência em telecomunicações.
Numerativo Coisa Dêitico Qualificador primeiras ações dos agentes
reguladores
brasileiros
em nome da concorrência em
telecomunicações
Quadro 42. Funções ideacionais no grupo nominal do exemplo 99
Nesses casos, o primeiro destaca o ineditismo da ação da empresa e das agências
reguladoras não com relação a outros participantes, mas sim quanto às suas próprias
ações, como no exemplo 100:
100. Trata-se do primeiro passo do Cade na efetivação de uma concorrência justa no
mercado de telecomunicações.
Numerativo Coisa Dêitico Qualificador
primeiro passo do Cade na efetivação de uma concorrência justa
no mercado de telecomunicações
Quadro 43. Funções ideacionais no grupo nominal do exemplo 100
Essa estrutura parece ser usada para sugerir que a ação seria a primeira
manifestação de uma linha de ação da empresa, sendo, na visão do press release, a
primeira dentre muitas ações em favor de um propósito que a empresa avalia como
positivo. Essas proposições expressam Atitude de Julgamento: Estima Social quanto à
Tele_A aos agentes reguladores e ao Cade como os responsáveis pelas ações acima.
Podemos observar uma diferença entre os exemplos acima na atribuição
explícita do avaliativo justa ao participante concorrência em 100, ao passo que em 99, a
avaliação é mais dependente do Status que o leitor atribui à concorrência.
Entre as atividades que envolvem agências reguladoras, especialmente nos pares
de textos da Tele_A, foram encontrados vários exemplos de ações destinadas a limitar a
ação das concorrentes por meio de ações judiciais. A atribuição de valores considerados
negativos às concorrentes parece aqui ser uma realização metafórica de uma sugestão
para que os clientes que se alinhem aos valores da Tele_A, avaliados positivamente, e se
afastem dos concorrentes, o que também pode ser observado em 101.
III. Apresentação e discussão dos resultados
157
101. Tele_A obtém Medida Preventiva contra Telemar (título)
Telemar é obrigada a cessar prática anti-competitiva (press release da Tele_A)
Em 101, a Tele_A atribui um avaliativo explícito negativo de Julgamento à ação
da concorrente, pelo Epíteto anti-competitiva. A atribuição de uma avaliação negativa à
ação da empresa traz à ação da Tele_A e à decisão da Anatel uma avaliação positiva,
pois interrompe uma ação (prática da Telemar) negativa. Em 102, as concorrentes
também são identificadas como sendo contra a livre concorrência.
102. A atuação em conjunto da Tele_A e das duas empresas espelhos locais é uma forma de
preservar o modelo de competição no Brasil. A aquisição da Vésper pela Tele_A
evidencia o seu comprometimento em ser líder no mercado brasileiro de
telecomunicações com uma gama completa de serviços. Clientes residenciais,
corporativos e usuários de internet banda larga terão uma alternativa forte às operadoras
de serviços locais monopolistas. (press release da Tele_A)
Em 102, temos a contraposição das ações da empresa com as das concorrentes.
A ação da Tele_A é retratada como positiva, ao preservar o modelo de competição no
Brasil. As concorrentes, são retratadas negativamente, como monopolistas. Esses
conceitos estão relacionados à privatização dos serviços de telecomunicações, baseada
na livre concorrência. Essas relações também podem atribuir à Tele_A a imagem de
nova, em oposição às antigas concorrentes.
O exemplo 102 também utiliza o conceito de “comprometimento” para expressar
uma Atitude positiva de Julgamento com relação à empresa, implicando que a empresa
continuará os seus esforços no longo prazo para atender os seus clientes. Esse conceito
também é usado no exemplo 103:
103. "Deve-se destacar que nosso volume de investimentos é um dos indicativos que
reiteram de forma inequívoca o compromisso de longo prazo da Tele_B com o País"
(press release da Tele_B)
O exemplo 104 mostra a participação do Jornal na ação judicial; nesse caso, o
Jornal atua como um parceiro da Tele_A ao fazer denúncias contra as concorrentes:
104. Segundo a executiva da Tele_A, "existem informações mais do que suficientes que
demonstram a intenção de formação de cartel por parte das três concessionárias de
telefonia fixa local, o que fere as diretrizes do Direito Econômico e da Lei Geral de
Telecomunicações e traz prejuízo direto a toda a sociedade brasileira, em especial aos
consumidores". (press release da Tele_A)
III. Apresentação e discussão dos resultados
158
A Tele_A levará hoje ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), SDE
(Secretaria de Direito Econômico) e Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações)
nova representação contra as teles fixas sobre a denúncia de formação de cartel com
base na reportagem da Jornal_A no domingo. (notícia sobre a Tele_A)
O exemplo 104 mostra que a Tele_A e o Jornal_A compartilham os mesmos
valores, reconhecendo a importância da livre concorrência, também defendida pelas
agências reguladores citadas. Dessa maneira, a Tele_A pode ser avaliada positivamente
com base no conceito de “respeito à autoridade”. Em oposição à posição da Tele_A, as
concorrentes são identificadas com a situação anterior, de monopólio, em uma Atitude
negativa de Julgamento: Sanção Social, expressa pela ação de formação de cartel.
O exemplo 105 apresenta uma diferença com relação ao exemplo anterior pela
discordância quanto à posição de uma autoridade, o Procon, que publica periodicamente
uma lista das empresas que mais receberam reclamações fundamentadas.
105. "Em relação ao ranking do Procon, é preciso entender que ele mostra números
absolutos, sem levar em conta as dimensões da base de clientes das empresas que
constam da lista. Se a dimensão da base de clientes da Tele_B fosse considerada a
empresa nem faria parte do ranking" diz F. X. F., presidente do Grupo Tele_B Brasil.
(press release da Tele_B)
Em 105, a Tele_B mostra a sua posição contrária quanto aos critérios utilizados
na composição do ranking do Procon, que lista as empresas que mais receberam
reclamações dos consumidores, deixando implícito que o Procon deveria levar em conta
as dimensões da base de clientes. Dessa maneira, contrapõe dois valores diferentes: o
“respeito à autoridade” perde lugar aqui para um conceito de “racionalidade”, pelo qual,
segundo a empresa, o Procon deveria seguir a lógica indicada em seu press release.
3.4.3. Aumento de capacidade da empresa
A capacidade de ação da Tele_A e Tele_B pode ser ampliada por ações internas
ou por ações de parceiros, que executam ações que não fazem parte das atividades
principais dessas empresas.
3.4.3.1. Aumento de capacidade por ações da empresa
As ações da empresa podem ser avaliadas pelo impacto que causam na
organização, por exemplo, um aumento de capacidade da empresa que a permita atender
III. Apresentação e discussão dos resultados
159
melhor os clientes, como no exemplo 106, que trata da aquisição de outra empresa pela
Tele_A:
106. A Tele_A anunciou hoje que firmou carta de intenção para a aquisição da Vésper São
Paulo S.A. e a Vésper S.A., empresas de serviços locais concorrentes nas regiões de São
Paulo (Região III) e Norte & Nordeste (Região I) do Brasil. As operações de serviços
locais da Vésper são prestadas em 17 estados englobando 76% da população. Esta
aquisição permitirá que a Tele_A aumente o escopo dos seus negócios de serviços de
voz local, incluindo a oferta competitiva de acesso de banda larga via tecnologia EV-
DO para pequenas empresas, pequenos escritórios e clientes residenciais. (press release
da Tele_A)
Desse excerto, temos o exemplo 107:
107. Esta aquisição permitirá que a Tele_A aumente o escopo dos seus negócios de serviços
de voz local, incluindo a oferta competitiva de acesso de banda larga via tecnologia EV-
DO para pequenas empresas, pequenos escritórios e clientes residenciais
Em 107, temos uma ação da empresa (aquisição) que objetiva trazer um
aumento de capacidade à própria Tele_A no tempo verbal futuro. O exemplo descreve
uma relação de causa entre esse aumento de capacidade e a nova capacidade de
atendimento aos clientes (identificados como pequenas empresas, pequenos escritórios
e clientes residenciais), expressa por uma construção causativa, que segundo Halliday e
Matthiessen (2004:513), é equivalente a uma modulação:
Iniciador Pr. Mat. Ator Pr. Mat. Meta
Esta aquisição permitirá que a Tele_A aumente o escopo dos seus negócios
de serviços de voz local
Quadro 44. Funções ideacionais do exemplo 107
Diferentemente do exemplo anterior, abaixo é mostrada uma relação entre a ação
da empresa (investimentos) e os clientes por meio de um processo relacional. Em 108,
essa ação da empresa é avaliada positivamente por trazer um aumento de capacidade
aos clientes, expresso pelas ações de melhoria da qualidade e desenvolvimento de
produtos.
108. Entre os principais focos de investimentos este ano estão a melhoria da qualidade de
atendimento ao cliente e o desenvolvimento de produtos que vão além do plano básico
de telefonia - caso da banda larga, dos serviços digitais e de planos alternativos. (press
release da Tele_B)
III. Apresentação e discussão dos resultados
160
No exemplo 109, a ação da empresa está relacionada ao treinamento de seus
funcionários.
109. A Tele_B realizou um treinamento intensivo com seus operadores da Central de
Atendimento (tel. 103). Eles estão preparados para prestar todos os esclarecimentos aos
clientes de forma ágil e personalizada. (press release da Tele_B)
Nesse exemplo, há uma relação de causa implícita entre as duas sentenças –
entre o treinamento dos operadores e o estado atual, de prontidão para atender bem os
clientes. Nesse caso, a oferta é realizada metaforicamente na oração dependente (para
prestar todos os esclarecimentos...), que expressa o serviço disponível ao cliente. Esse
serviço é avaliado positivamente pelo Numerativo (todos), com base no conceito de
“capacidade” e na circunstância de maneira (de forma ágil e personalizada), com base
no conceito de “proporcionar benefícios” e “eficiência”.
No corpus, foi possível observar atitudes positivas expressas não quanto a uma
mudança, mas a uma manutenção de capacidade da empresa, como em 110 e 111.
110. O presidente da Tele_A, Jorge Luís Rodriguez, e sua vice, Cláudia de Azerêdo Santos,
renunciaram.
(...)
A vice-presidente de Marketing e Assuntos Externos, Purificación Carpinteyro,
continuará na empresa. (notícia sobre a Tele_A)
111. Vários dos fornecedores da Tele_A na área de TI continuarão a prestar serviço à
operadora através da IBM. É o caso da Proceda, fornecedora atual da Tele_A na área de
assistência técnica e funções de help desk. (press release da Tele_A)
Esses exemplos mostram Atitudes positivas de Apreciação quanto à
continuidade da situação atual, com base no conceito de “segurança” (de que as coisas
não irão piorar).
3.4.2.2. Aumento de capacidade pela atuação de parceiros
Com relação ao aumento de capacidade pela atuação de parceiros, as descrições
dos tópicos nos press releases da Tele_A mencionam com maior freqüência a
participação de outras empresas e indivíduos que colaboram em suas atividades. No
excerto 112, a ação de uma empresa fornecedora de infra-estrutura de tecnologia de
informação traz melhorias à Tele_A:
III. Apresentação e discussão dos resultados
161
112. A Tele_A e a IBM assinaram, no dia 7 de abril, um contrato para prestação de serviços
de outsourcing. Depois de passar por um processo de concorrência e vencer, a IBM
passa a operar toda a infra-estrutura de tecnologia da informação da Tele_A.
Com a estratégia de outsourcing, a Tele_A reduzirá custos, oferecerá mais qualidade de
serviços e irá concentrar suas atenções no mercado de telecomunicações. (press release
da Tele_A)
Desse excerto, temos o exemplo 113:
113. Com a estratégia de outsourcing, a Tele_A reduzirá custos, oferecerá mais qualidade de
serviços e irá concentrar suas atenções no mercado de telecomunicações.
Em 113, temos a expressão de uma Atitude positiva inscrita de Apreciação
quanto à estratégia da empresa (outsourcing, em uma circunstância de maneira)
expressa pelas ações que a empresa executará em um tempo futuro, em reduzirá,
oferecerá (no qual, a oferta também é lexicalizada) e irá. Aqui, temos uma relação de
causa-efeito entre a ação da empresa (estratégia de outsourcing) e os resultados
pretendidos. Esses resultados são avaliados positivamente com base nos conceitos de
custo e eficiência (reduzindo os custos e concentrando esforços na atividade principal da
empresa) e benefício (aumentando a qualidade dos serviços oferecidos aos clientes).
Essas avaliações positivas trazem também uma avaliação positiva à empresa, que é
apresentada como uma entidade que terá um aumento de capacidade no futuro.
No exemplo 114, o aumento de capacidade da Tele_B é expresso na
circunstância de finalidade:
114. Para ampliar as vendas, a empresa vem fechando parcerias com administradoras de
condomínios e construtoras. A primeira parceria foi acertada com a administradora
Lello, a maior do Estado de São Paulo. (press release da Tele_B)
Acima, a parceira da Tele_B é avaliada explicitamente como tendo grande capacidade
(em a maior). Essa característica da parceira evidencia o potencial de aumento das
vendas mencionado na circunstância de finalidade, expressando também uma Atitude
positiva de Julgamento à Tele_B.
Em 115, os parceiros estão identificados na circunstância de local (em 1,4 mil
pontos de venda, incluídas casas lotéricas e agências dos Correios), não tendo um
papel de agente na estrutura ideacional:
III. Apresentação e discussão dos resultados
162
115. Nos valores de R$ 5,00, R$ 15,00 e R$ 25,00, os cartões podem ser encontrados em 1,4
mil pontos de venda, incluídas casas lotéricas e agências dos Correios. (press release da
Tele_B)
A avaliação positiva atribuída ao produto, nesse caso, tem como base o conceito
do “custo” do esforço dos clientes em adquirirem o produto – quanto mais pontos de
venda, mais fácil será adquirir os cartões – o que também aumenta a capacidade de
venda da empresa. Outro tipo de avaliação positiva que pode ser atribuída à empresa
pelas ações dos parceiros tem como base a capacidade de fechar acordos com outras
empresas e estabelecer parcerias, uma capacidade vital no mercado atual.
Os próximos excertos se referem à festa de aniversário da cidade de São Paulo,
patrocinada pela Tele_A. O excerto 116 mostra várias ações executadas por
participantes externos à empresa.
116. Estão sendo instaladas bandeiras do estado e do município nos canteiros centrais da
Paulista. Moradores e responsáveis pelos prédios da avenida também foram convidados
pela Paulista Viva e Anhembi a participar das comemorações hasteando bandeiras da
cidade e/ou do estado, uma forma de contribuir para despertar nos paulistanos um
sentimento de orgulho e cidadania.
O palco das comemorações, instalado na altura do número 1842, a sete metros do solo,
atravessa a Paulista de uma calçada à outra. Sobre ele será montado um bolo
cenográfico de 20 metros, com quatro andares. Uma vela artificial (fogos de artifício)
será apagada por duas crianças paulistanas. A Banda Sinfônica Jovem do Estado, que
estará apresentando a Suíte Paulistana, também conduzirá o Parabéns.
(...)
Durante a programação serão feitas homenagens a várias personalidades paulistanas,
que estão sendo convidadas a participar da festa pela organização.
Nos quadros abaixo, temos processos que expressam relações entre a
organização e os paulistanos e a relação entre estes paulistanos e o Evento. Esses
processos mostram uma atuação conjunta entre os responsáveis pela festa, entre os quais
se inclui a Tele_A, e os paulistanos que, dessa forma, são representados como parceiros
potenciais da empresa, com papel ativo no evento e executando ações que não poderiam
ser executadas pela Tele_A.
Paulistanos Processo Parceiro
bandeiras do estado e do município Estão sendo instaladas {0}
Moradores e responsáveis pelos prédios da avenida foram convidados pela Paulista Viva e Anhembi
Quadro 45. Ações dos parceiros da empresa no evento
III. Apresentação e discussão dos resultados
163
Paulistanos Processo Evento
Moradores e responsáveis
pelos prédios da avenida
participar das comemorações
{Moradores e responsáveis
pelos prédios da avenida}
hasteando bandeiras da cidade e/ou do estado
{Moradores e responsáveis
pelos prédios da avenida}
contribuir para despertar nos paulistanos um sentimento de orgulho
e cidadania
duas crianças paulistanas será apagada Uma vela artificial (fogos de artifício)
personalidades paulistanas participar festa
Quadro 46. Ações dos paulistas no evento
Em 116, podemos também observar a ocorrência de palavras que guardam uma
relação de hiponímia com a categoria de festa, como comemorações, bolo, vela, festa e
a canção “Parabéns”. O conjunto desses elementos pode trazer uma avaliação positiva à
festa com base em recordações afetivas dos leitores quanto a esses elementos.
No press release, as relações entre a cidade e a Avenida Paulista e a cidade e as
comemorações são expressas no grupo nominal, pelo uso de uma forma de referência à
cidade (cidade, São Paulo, da capital) como Qualificador dos grupos nominais que se
referem à Avenida e às comemorações. No grupo nominal, a Avenida também recebe
Qualificadores que ressaltam o seu prestígio junto à cidade (mais famosa, mais
conhecida, o grande cartão postal).
117. A Avenida Paulista, cartão postal de São Paulo, vai ser o principal palco das
comemorações dos 451 anos da cidade.
(...)
A idéia dos organizadores, apoiadores e autoridades é transformar a avenida mais
conhecida da cidade em cenário para as grandes comemorações da capital, a exemplo
do que acontece no Reveillon. A Paulista é um espaço democrático, cenário de grandes
manifestações culturais. O objetivo é estender essa tendência, a exemplo do que já
acontece com o Reveillon oficial da cidade, à comemoração do aniversário de São
Paulo, tornando também a festa uma tradição na Avenida, que é o grande cartão postal
da cidade. (press release da Tele_A)
No excerto 117, a empresa ressalta o valor da Avenida Paulista para a cidade,
expressando sua atitude positiva de Apreciação quanto à relação entre a Avenida e a
cidade de São Paulo, em a avenida mais conhecida da cidade, espaço democrático,
cenário de grandes manifestações culturais e o grande cartão postal da cidade.
A inclusão desse participante (Avenida Paulista) na descrição da festa, não
incluída na notícia, parece reforçar a associação entre a cidade e seus símbolos com a
Tele_A – que participa do evento como patrocinadora. O patrocínio às comemorações
de aniversário de São Paulo e do Reveillon de São Paulo e Rio de Janeiro pode ser visto
III. Apresentação e discussão dos resultados
164
como uma tentativa da Tele_A de se aproximar desses públicos, pois é uma empresa
que está entrando no mercado de telefonia local nessas cidades, com base no conceito
de “aumento de área de atuação”.
O excerto 118 descreve os artistas que participaram da festa de aniversário de
São Paulo, patrocinada pela Tele_A.
118. Entre as atrações previstas estão bandas e artistas consagrados, como Cidade Negra, Art
Popular, Falamansa, entre outros talentos. (press release da Tele_A)
O início dos shows está marcado para as 12h, com Salgadinho. Na seqüência, se
apresentam Resgate, Sinfônica Jovem do Estado, Art Popular, Cidade Negra,
Falamansa, Batom na Cueca e Denílson Benevides. (notícia sobre a Tele_A)
Nestes exemplos, podemos observar o uso de léxico atitudinal no press release,
na formas de referência usadas para os artistas, em atrações e talentos, além do Epíteto
consagrados. Na notícia, os artistas são simplesmente citados, sem nenhum léxico
atitudinal. Entretanto, mesmo sem a presença do léxico atitudinal, a relação entre os
shows e os artistas permanece na notícia; dessa forma, pode haver uma aproximação
entre os leitores da notícia e as comemorações pela simples representação ideacional
dos artistas, pela atitude de Apreciação: Reação que a qualidade musical dos artistas
possa provocar nos leitores.
A análise mostrou que se a empresa tiver um papel secundário em uma
atividade, a importância de sua participação pode não ser reconhecida pelo jornal. Isso
ocorre nas notícias do corpus referentes ao patrocínio de eventos; de cujos títulos os
nomes das empresas foram excluídos, como mostrado nos exemplos de 119 a 122:
119. Tele_A patrocina Welcome Rio 2003 (press release)
Campanha quer fazer o carioca receber bem o turista no Carnaval (notícia)
120. Tele_A presenteia São Paulo e Rio de Janeiro com Reveillon (press release)
Comissão define Réveillon na Paulista após 3 dias de planejamento (notícia)
121. Fundação Tele_B e Estação Ciência promovem debate sobre o uso pedagógico de jogos
(press release)
Especialistas debatem uso pedagógico de jogos (notícia)
122. Fundação Tele_B e Secretaria da Educação de SP se unem em capacitação de alunos e
professores no uso da Internet (press release)
SP faz parceria para capacitar aluno e professor no uso da internet (notícia)
III. Apresentação e discussão dos resultados
165
Como os eventos culturais não fazem parte da atividade principal das empresas
(o que em inglês é conhecido como core business), não é possível recuperar a referência
às empresas nos títulos das notícias. Como os nomes das empresas estão ausentes de
todos os títulos das notícias, aparentemente os jornais preferiram dar destaque aos
eventos, não se referindo ao envolvimento das empresas como patrocinadoras. Dessa
maneira, as empresas Tele_A e Tele_B não são avaliadas nos títulos das notícias cujos
tópicos são relacionados aos patrocínios de eventos, embora suas participações como
patrocinadores tenham sido reconhecidas no corpo do texto.
Nas notícias, foram encontrados também vários exemplos nos quais o jornal
indica o não fornecimento de uma informação específica, dessa maneira destacando a
falta de cooperação das fontes de informação desejadas, que dessa maneira, deixam de
atuar como parceiras do jornal em sua atividade de fornecimento de informações:
123. A direção da Tele_B não forneceu detalhes sobre investimentos da expansão. (notícia
sobre a Tele_B)
124. O mercado do Paraná e Santa Catarina é controlado pela Tele_F, que não se
manifestou sobre a nova concorrente ontem. (notícia sobre a Tele_A)
125. Por enquanto, a Tele_E prefere não dar detalhes sobre a operação. (notícia sobre a
Tele_B)
126. O valor da oferta inicial não foi divulgado pelo Cliente_A nem pela Tele_A. (notícia
sobre a Tele_A)
Esses exemplos indicam informações que o jornal teria interesse em transmitir
aos seus leitores e que não foram fornecidas. Nesses exemplos, o jornal assume a
responsabilidade por dizer que as empresas não forneceram as informações. O valor
dessa declaração, nesse caso, é resultante apenas da credibilidade do jornal que, se
aceita como válida pelo leitor, pode levar a uma avaliação negativa das empresas por
não terem fornecido essas informações. Esse recurso pode ser usado, assim, para
preservar a imagem do jornal como fonte de informação junto a seus leitores e atribuir
uma avaliação negativa aos participantes que se recusaram a assumir o papel de
parceiros do jornal nessa situação específica.
3.4.3.3. Problemas internos
Os exemplos abaixo tratam de problemas internos da empresa, noticiados nas
notícias sobre a Tele_A e, como seria de se esperar, não descritos nos press releases.
Esses exemplos mostram que a prosódia de Atitudes negativas em um texto sobre a
III. Apresentação e discussão dos resultados
166
empresa podem não trazer uma avaliação negativa à empresa, mesmo que a notícia seja
sobre ela.
O excerto 127, que descreve os motivos da demissão de uma executiva, mostra
informações fornecidas na notícia sobre a empresa que não constam nos press releases
correspondentes.
127. Tele_A manda demitir S.P. da direção da Telos (título)
(...)
S. P., que foi Secretária Nacional de Previdência Complementar no governo Fernando
Henrique Cardoso, estava envolvida no processo de venda da Tele_A, empresa
patrocinadora do fundo de pensão. Como patrocinadora, a empresa tem assento no
fundo de pensão dos funcionários. Ela surpreendeu o mercado de telecomunicações na
última segunda ao afirmar, publicamente, que o fundo de pensão estava disposto -- e
tinha dinheiro em carteira-- para comprar o controle da Tele_A. Segundo fontes do
setor, o motivo mais provável da demissão seria exatamente o vazamento da operação
de compra da Tele_A por parte da Telos. Apesar da existência do interesse, o assunto
vazou antes da hora.
Também pesa contra S. P. sua péssima relação com os atuais dirigentes da Previ, o
fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, que eram representantes dos
bancários na época em que estava na Secretaria de Previdência Complementar. Como
superintendente da Telos, S. P. nomeou o ex-ministro da Previdência W. O. para a
direção da Tupi, o que provocou atritos com a Previ, que também é acionista da
empresa. (notícia sobre a Tele_A)
O excerto acima fornece dois motivos que justificariam a ação da empresa de
demitir a executiva, a declaração da intenção de compra do controle da Tele_A e o
relacionamento com os dirigentes da Previ. Esses motivos são apresentados em uma
relação lógica de extensão, pelo uso da expressão também pesa contra.
A capacidade da empresa de executar a ação de mandar demitir, expressa no
título da notícia, é evidenciada no texto (Como patrocinadora, a empresa tem assento
no fundo de pensão dos funcionários.). Essa ação da empresa pode ser avaliada, dessa
forma, com base em dois conceitos diferentes: o primeiro, a sua capacidade legal de
executar a ação, o que está relacionado a uma Atitude positiva de Julgamento: Sanção
social; o segundo, está relacionado à imagem possivelmente negativa de quem demite, o
que pode expressar uma Atitude negativa de Julgamento: Estima social junto aos
leitores, que pode ser reforçada pelo uso do processo mandar, que pode trazer uma
imagem de prepotência à empresa. No título do press release, essa atitude negativa é
evitada pelo enfoque dado à contratação do novo executivo e a omissão da ação de
demissão (Telos tem novo diretor superintendente e, no texto, Ele assume o cargo em
substituição a S. P. V.).
III. Apresentação e discussão dos resultados
167
A primeira justificativa apresentada para a demissão é indicada em 128:
128. Ela surpreendeu o mercado de telecomunicações na última segunda ao afirmar,
publicamente, que o fundo de pensão estava disposto -- e tinha dinheiro em carteira--
para comprar o controle da Tele_A.
Em 128, temos uma relação lógica de causa-efeito entre a declaração da
executiva e a reação do mercado de telecomunicações. O participante mercado tem, na
oração, a função de Experienciador de um processo mental, expresso por surpreendeu.
A executiva, que nessa oração tem a função de Fenômeno, é avaliada negativamente por
uma Atitude de Julgamento: Sanção social, com base no conceito de que uma
profissional não pode fazer algo que surpreenda o mercado – em outras palavras, deve
obedecer a autoridade.
Podemos observar aqui que a autoridade do Experienciador é uma função
importante na avaliação; em uma comparação, uma ação de um executivo que
surpreendesse a concorrência poderia ser avaliada positivamente. Outra função
importante para a avaliação negativa é expressa na Circunstância de Maneira
(publicamente), que mostra como a declaração foi feita – destacada na notícia pela
colocação dessa circunstância em um sintagma preposicional encaixado, expressando
uma avaliação negativa pela inadequação da maneira como a declaração foi feita. No
exemplo 129, a declaração é avaliada negativamente pela forma de referência utilizada
em vazou.
129. Apesar da existência do interesse, o assunto vazou antes da hora.
Na oração acima, temos duas bases de avaliação diferentes, contrapostas pelo
uso do disjuntivo apesar. A executiva poderia ser avaliada positivamente por ter dado
uma informação verdadeira, mas a inadequação de seu ato traz uma avaliação negativa
nessa oração pela forma de referência de sua declaração (vazou) e pela circunstância de
tempo (antes da hora). Essa primeira justificativa parece, assim, ser baseada no
conceito de que a empresa deve apresentar uma voz única; caso um indivíduo da
corporação aja em dissonância com a empresa, ele se sujeita a ser excluído desta.
A segunda justificativa apresentada para a demissão da executiva a avalia
negativamente de forma explícita, como mostrado nos exemplos 130 e 131:
III. Apresentação e discussão dos resultados
168
130. Também pesa contra S. P. sua péssima relação com os atuais dirigentes da Previ, o
fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, que eram representantes dos
bancários na época em que estava na Secretaria de Previdência Complementar.
131. Como superintendente da Telos, S. P. nomeou o ex-ministro da Previdência W. O. para
a direção da Tupi, o que provocou atritos com a Previ, que também é acionista da
empresa.
Nos exemplos acima, a executiva é avaliada por sua relação com os dirigentes de
uma acionista da empresa. Essa relação recebe o Epíteto de péssima em 130 e é
referenciada como atritos em 131, sendo avaliada negativamente com base no conceito
de que o relacionamento com um acionista deve ser bom – outra forma de “respeito à
autoridade”.
O excerto 132 apresenta o histórico dos problemas financeiros da controladora
da Tele_A, também uma informação não fornecida no press release.
132. No começo da semana, surgiram rumores de que Telmex preparava uma nova oferta
para comprar a Tele_A. O magnata mexicano C. S., controlador da Telmex, tinha em
julho do ano passado US$ 1,7 bilhão em dívida da MCI. A proposta seria trocar as
ações da empresa americana na Tele_A pela amortização da dívida.
A W.C. decretou moratória em 2002 por conta de um escândalo contábil de US$ 11
bilhões que levou ao indiciamento criminal do ex-presidente da empresa B. E., na
Justiça dos EUA. O caso foi considerado uma das maiores moratórias da história dos
EUA. (notícia sobre a Tele_A)
Desse excerto, temos o exemplo 133.
133. A W.C. decretou moratória em 2002 por conta de um escândalo contábil de US$ 11
bilhões que levou ao indiciamento criminal do ex-presidente da empresa B. E., na
Justiça dos EUA.
A moratória implica em uma demonstração da redução de capacidade da
empresa, pois esse é um instrumento legal, utilizado por empresas em dificuldades. O
julgamento negativo de sanção social aqui está na circunstância de causa, expresso
pelos termos escândalo e indiciamento criminal.
É de se observar que, nos dois exemplos acima, que tratam da demissão da
executiva e dos problemas legais da controladora, há uma prosódia negativa, criada por
diversas palavras e relações que se espalham por todo o excerto. Entretanto, como essas
avaliações negativas não estão atribuídas à Tele_A, elas podem não trazer uma
avaliação negativa à empresa. Dependendo da interpretação do leitor, é possível
argumentar que todas essas avaliações negativas da executiva e de suas ações poderiam
III. Apresentação e discussão dos resultados
169
até mesmo trazer uma avaliação positiva à ação da empresa na notícia, pelas
justificativas oferecidas pela notícia, com base no conceito da “capacidade” da empresa
de resolver os seus problemas.
3.4.4. Resultados das ações das empresas
A empresa freqüentemente avalia suas ações pelos resultados alcançados com
elas. Para mostrar os resultados, expressa comparações implícitas ou explícitas entre
uma situação anterior à ação e a situação resultante. A base para a avaliação da empresa
por seus resultados positivos vem da idéia implícita de que os esforços da empresa
foram reconhecidos e aceitos pelos clientes; além disso, os resultados positivos também
implicam em um aumento de capacidade da empresa, que poderá atuar com maior poder
no mercado.
3.4.4.1. Expressos pelas ações dos clientes
As comparações entre números de clientes incluem os números de clientes, a
relação entre esses números em forma de porcentagem e as datas em que a empresa
possuía esses números de clientes.
134. A base de clientes do Speedy, ao final do primeiro semestre de 2003, chegou a 383,1
mil e representa um avanço de 35,7% em relação aos 282,2 mil usuários existentes
no final do primeiro semestre do ano passado. (press release da Tele_B)
Em 134, temos um processo relacional que expressa uma comparação entre os
números de clientes, com:
Identificação da variável a ser comparada: O número de clientes do produto
Identificação do resultado atual: O número de 383,1 mil usuários
Identificação da variação: Em avanço de 35,7%
Identificação da base de comparação: O número de 282,2 mil usuários
Identificação da data do resultado atual: Em ao final do primeiro semestre de
2003
Identificação da data da base de comparação: Em final do primeiro semestre
do ano passado
III. Apresentação e discussão dos resultados
170
Podemos observar que a avaliação positiva da empresa decorre da combinação
de todos os elementos da estrutura de comparação. Para a avaliação ser positiva, temos
que ter uma similaridade entre os períodos anterior e o atual, o resultado atual precisa
ser maior do que o número anterior, para validar a variação e, finalmente, a variável a
ser comparada deve ser considerada positiva para a empresa. Qualquer um desses
elementos que destoe do conjunto tornará a comparação ineficaz para os propósitos da
empresa, com base no conceito de “racionalidade”.
No excerto 135, temos um complexo oracional que expressa uma Apreciação
positiva inscrita pela identificação dos resultados da empresa como sucesso absoluto e
outra invocada, pela comparação entre as vendas esperadas e as efetivamente
alcançadas.
135. O serviço, que oferece a possibilidade de controle de gastos, com uso de cartões pré-
pagos, é sucesso absoluto desde o lançamento, em 12 de julho.
Quando lançou seu novo plano de expansão, voltado especialmente para as classes de
menor renda, a Tele_B esperava vender 200 mil linhas em até três meses - alcançou 600
mil linhas vendidas no período. (press release da Tele_B)
Desse excerto, retiramos o exemplo 136:
136. Quando lançou seu novo plano de expansão, voltado especialmente para as classes de
menor renda, a Tele_B esperava vender 200 mil linhas em até três meses - alcançou 600
mil linhas vendidas no período.
Em 136, temos:
Identificação da expectativa da empresa: vender 200 mil linhas
Identificação do resultado obtido: 600 mil linhas
Identificação do período das vendas: até três meses
Nessa oração, o resultado da ação da empresa não é avaliado explicitamente; a
avaliação positiva dessa ação é obtida pela comparação entre as vendas esperadas e as
efetivamente alcançadas. Entretanto, esse resultado é avaliado explicitamente como
positivo na oração anterior, mostrada no excerto acima, como sucesso absoluto, com
base no conceito de que os clientes reconheceram os benefícios oferecidos pela empresa
e adquiriram o produto.
III. Apresentação e discussão dos resultados
171
Os resultados das ações das empresas podem ser expressos também pelas
reações dos clientes a essas ações. No excerto 137, referente a um programa de
capacitação patrocinado pela Tele_B, os resultados são expressos pela participação do
público no programa de capacitação.
137. Em Educação, o principal programa da Fundação Tele_B é o EducaRede, primeiro
portal inteiramente gratuito e desenvolvido para os 45 milhões de alunos, professores e
educadores da rede pública brasileira. Além do portal, que registra 1 milhão de
pageviews mensais, o EducaRede mantém programa de treinamento de educadores no
uso da Web em sala de aula, que já capacitou 5.000 profissionais da rede pública, e o
subprograma Aulas Unidas, que promove atividades conjuntas pela internet entre alunos
de escolas de vários estados brasileiros e de outros países. (press release da Tele_B)
Nesse excerto, temos
A identificação dos clientes: em um grupo nominal complexo, em uma relação
de causa, em os 45 milhões de alunos, professores e educadores da rede pública
brasileira.
A identificação do custo: Em totalmente gratuito.
A identificação dos resultados: Em 1 milhão de pageview mensais (portal), a
capacitação de 5.000 profissionais (programa de treinamento) e atividades
conjuntas pela internet entre alunos de vários estados brasileiros e de outros
países (o subprograma Aulas Unidas)
O programa da empresa, e conseqüentemente, a própria empresa são avaliados
positivamente com base na eficácia dessas ações. Da mesma forma que o público de
baixa renda, indicado como público-alvo do produto “linhas da economia”, analisado
anteriormente, o programa parece ter uma avaliação positiva por dar capacidade a um
público desfavorecido.
O excerto 138 mostra como a ação da Tele_B alterou o comportamento dos
clientes com relação ao produto:
138. Com o Plano Internet Ilimitada, por apenas R$ 29,90/mês -- menos de R$ 1 por dia --, o
internauta usa a internet discada pelo tempo que quiser, sem pagar pela chamada e sem
precisar esperar a madrugada, fim de semana ou feriado.
Essas vantagens fizeram com que o assinante do plano, em média, passasse a navegar
2,5 mais tempo, já que pode acessar a web em horários mais convenientes às suas
necessidades, além de não ter de se preocupar com o valor da ligação. (press release da
Tele_B)
III. Apresentação e discussão dos resultados
172
Desse excerto, analisaremos o exemplo 139 (a primeira sentença já foi analisada
anteriormente):
139. Essas vantagens fizeram com que o assinante do plano, em média, passasse a navegar
2,5 mais tempo, já que pode acessar a web em horários mais convenientes às suas
necessidades, além de não ter de se preocupar com o valor da ligação.
Esse complexo oracional expressa uma relação de causa-efeito (no grupo verbal
fizeram com que, em uma construção causativa, cf. Halliday e Matthiessen, 2004:513)
entre as características do produto (mencionadas na primeira sentença e referidas na
segunda por um avaliativo positivo explícito, em vantagens) e a mudança observada no
comportamento do assinante (expressa no grupo verbal passasse a navegar),
confirmando, assim, as alegações da empresa quanto às vantagens de seu produto.
Podemos aqui traçar uma comparação entre a oferta de benefícios e os efeitos
das ações em termos de mudança de comportamento do cliente. Tanto na oferta quanto
nos efeitos, os produtos são avaliados pelos benefícios aos clientes, residindo a
diferença na localização temporal (irrelis x realis) em que esses benefícios trazem o
aumento de capacidade dos clientes.
No corpus de notícias, foram encontrados exemplos de resultados negativos das
empresas, não informados nos press releases. Em 140, vemos um exemplo no qual a
Tele_B pretende reverter um resultado negativo no passado.
140. A Tele_B --que possui 14 milhões de linhas, sendo 12 milhões em serviço-- perdeu 160
mil assinantes em 2003. Só neste ano, outras 70 mil linhas saíram de serviço.
"Queremos voltar a crescer e expandir nossa base de clientes. Acreditamos que esse
crescimento se dará por meio das classes de menor poder aquisitivo, que ainda não têm
um telefone fixo", disse o diretor-geral da Tele_B SP, Manoel Amorim. (notícia sobre a
Tele_B)
Nas duas primeiras sentenças de 140, temos três expressões de Atitude negativa
quanto à empresa: (i) em um complexo oracional encaixado, que mostra uma
comparação entre o número de linhas total (14 milhões de linhas, na oração dominante)
e o número de linhas em serviço (12 milhões, na oração dependente); (ii) na oração
dominante, por um processo relacional (perdeu 160 mil assinantes) e (iii) na sentença
seguinte, por outro processo relacional, que expressa uma mudança de status das linhas
(saíram de serviço). Embora essas sejam expressões de Atitude negativa quanto à
III. Apresentação e discussão dos resultados
173
empresa, os leitores podem atribuir uma Apreciação positiva à ação da empresa por esta
estar tentando sair de uma situação que lhe é desvantajosa.
3.4.4.2. Resultados expressos por indicadores financeiros
Um dos modos da empresa indicar o seu desempenho em um período de tempo é
a comparação por indicadores financeiros entre os resultados financeiros obtidos em um
período com os de um período anterior.
141. A Tele_B encerrou o primeiro semestre de 2003 com um EBIDTA acumulado (lucro
operacional mais depreciação) de R$ 2,481 bilhões, desempenho 3,3% superior aos R$
2,402 bilhões registrados ao final dos seis primeiros meses de 2002, conforme balanço
consolidado entregue hoje à CVM (Comissão de Valores Mobiliários). (press release da
Tele_B)
Em 141, a comparação é feita quase que totalmente em um sintagma nominal
complexo que realiza uma circunstância de Companhia: com um EBIDTA acumulado
(lucro operacional mais depreciação) de R$ 2,481 bilhões desempenho 3,3% superior
aos R$ 2,402 bilhões registrados ao final dos seis primeiros meses de 2002.
Identificação do resultado: EBIDTA de R$ 2,481, referido também como
desempenho
Identificação do período em que o resultado foi obtido: na oração dominante (o
primeiro semestre de 2003)
Identificação da comparação: variação positiva, expressa por 3,3% superior
Identificação do resultado anterior: expresso pelo valor numérico, em R$ 2,402
bilhões
Identificação do período em que o resultado anterior foi obtido: ao final dos seis
primeiros meses de 2002.
Nas notícias, os números de venda são informados, mas sem o uso de avaliativos
explícitos, como mostrado em 142.
142. Desde julho, quando o produto foi lançado, já foram vendidas 1 milhão de linhas
econômicas em todo o Estado de São Paulo. (notícia sobre a Tele_B)
III. Apresentação e discussão dos resultados
174
As comparações que resultam em avaliações negativas para a empresa nos press
releases são acompanhadas de justificativas, que comparam as condições presentes nos
períodos aos quais os resultados estão associados.
No exemplo 143, temos uma comparação entre os resultados financeiros do
primeiro trimestre de 2003 com os anteriores.
143. A receita líquida de longa distância nacional, no primeiro trimestre de 2003, foi de
R$955 milhões, representando uma queda de 5,6% em relação ao trimestre anterior e
14,7% em relação ao mesmo período de 2002. Quando se compara ao trimestre anterior,
a queda pode ser explicada por fatores sazonais (menos dias úteis e férias) bem como o
efeito do bloqueio de linhas fraudulentas e inadimplentes. (press release da Tele_A)
A segunda sentença mostra uma relação de causa expressa por um processo
verbal (explicada) entre o resultado menor e o número de dias do período (o que implica
em uma comparação desigual) e a menor atividade econômica desse período
(informações de contexto). Dessa maneira, a Tele_A procura atenuar a Atitude de
Julgamento negativo decorrente do mau resultado recorrendo a valores que entende
serem compartilhados com o leitor. O mesmo ocorre no exemplo 144, no qual a receita
maior do trimestre anterior é explicada pelas eleições:
144. Comparado ao trimestre anterior, quando a receita de dados se beneficiou dos serviços
providos às eleições presidenciais, a receita de dados caiu 3,3%. (press release da
Tele_A)
Em 144, há uma relação de causa expressa por um processo material, no qual o
valor da receita tem o papel de Beneficiário (em beneficiou, aqui com o sentido de “foi
maior devido a”). O motivo de as eleições terem beneficiado a receita não é explicado
no texto; nesse caso, essa relação é assumida no texto como sendo conhecimento
compartilhado entre a Tele_A e o leitor. Novamente, aqui o press release atenua a
Atitude negativa quanto ao resultado da empresa com base no conceito de
“racionalidade”, pela comparação ter ocorrido em condições desiguais.
Um exemplo de como a cultura pode afetar as escolhas lexicais é apresentado a
seguir. No corpus analisado, em todos os títulos relativos à divulgação dos resultados da
empresa, os press releases enfocam a divulgação dos resultados, enquanto que as
notícias enfatizam o lucro que as empresas tiveram no período:
III. Apresentação e discussão dos resultados
175
145. Tele_A - Resultados do segundo trimestre de 2003 (press release)
Tele_A tem lucro de R$ 128,3 mi no segundo trimestre (notícia)
146. Tele_B divulga resultados do primeiro trimestre de 2005 (press release)
Tele_B lucra R$ 489,9 mi no trimestre (notícia)
147. Tele_B divulga resultados do primeiro semestre de 2005 (press release)
Lucro da Tele_B cresce 23,6% e supera R$ 1 bilhão no semestre (notícia)
Os exemplos 148 e 149 mostram também como o lucro da empresa foi
informado no press release e na notícia abaixo de duas maneiras diferentes:
148. O EBITDA (resultado antes da depreciação/amortização e receitas/despesas financeiras)
do período foi de R$ 3,141 bilhões, 10,6% superior ao obtido no primeiro semestre de
2004, e a margem EBITDA (EBITDA dividido pela receita operacional líquida) chegou
a 45,4%, um aumento de 1,3 ponto percentual. Ao final do primeiro semestre do ano, o
resultado líquido da empresa atingiu R$ 1,158 bilhão, volume 23,6% maior do que o
atingido no mesmo período do ano passado. (press release da Tele_B)
149. A Tele_B, operadora de telefonia fixa do Estado de São Paulo, obteve lucro líquido de
R$ 1,158 bilhão no primeiro semestre deste ano, 23,6% superior aos R$ 937 milhões de
igual período do ano passado. (notícia sobre a Tele_B)
Podemos ver que a empresa informou o resultado por meio de um indicador
financeiro de uso restrito ao setor financeiro, enquanto que a notícia usou a palavra
“lucro” para designar esse resultado. É interessante observar a ausência quase total do
termo lucro nos press releases que divulgam os resultados financeiros das empresas, o
que talvez seja um reflexo da noção arraigada na cultura católica de que “lucro é
pecado”. Dessa forma, um tanto quanto paradoxalmente, parece que as empresas se
abstêm de usar uma palavra que, embora esteja relacionada a bons resultados, pode lhes
trazer uma imagem negativa, tanto pela cultura quanto pela comparação com a situação
financeira da maior parte dos brasileiros.
A próxima seção apresenta algumas considerações sobre os resultados
discutidos.
III. Apresentação e discussão dos resultados
176
3.5. Considerações sobre a discussão dos resultados
Esta seção apresenta algumas considerações sobre as análises feitas neste
capítulo dos grupos de relações ideacionais que descrevem as atividades da empresa,
aqui denominados ofertas de benefícios, descrição da capacidade das empresas,
aumento de capacidade e descrição de resultados.
Na oferta de benefícios, temos relações ideacionais que podem ser compostas
por elementos que têm as funções de identificar a empresa, o produto, o cliente e os
benefícios oferecidos. Além desses elementos, essas estruturas tipicamente incluem
algum elemento que expressa uma realização metafórica de oferta, em uma comparação
temporal entre a capacidade do cliente no presente e a que ele pode ter se usar o produto
da empresa, como verbos modais ou advérbios de tempo. Essas realizações metafóricas
de ofertas, como apontado por Thompson e Thetela (1995:122), projetam o leitor como
um futuro usuário dos produtos.
As análises mostraram que os clientes e público alvo das empresas podem ser
identificados por uma grande variedade de recursos, como por exemplo:
localização geográfica ou por locais freqüentados pelos clientes (como em,
São Paulo e Aeroporto Internacional de São Paulo)
área de atuação (como em estudantes e profissionais)
natureza civil: Identificados como pessoa jurídica, pelo nome da empresa
(como em Banco do Brasil) ou pessoa física (como em pessoas)
uso de serviços ou equipamentos específicos (como em internautas)
desejos, intenções e ações: como em (organizações de todos os portes que
queiram se transformar em provedores de serviços de conexão)
As formas de realização metafórica de ofertas e sugestões também apresentaram
uma maior variação nos press releases, por modais (podem), tempo verbal futuro (será)
e uma combinação desses dois (poderão). Outra forma de oferta é realizada por
processos relacionais (ter à disposição, ter a opção, ter a oportunidade), além dos casos
em que a oferta é lexicalizada no próprio processo, como em oferece e garante.
Em termos avaliativos, podemos ter cadeias de avaliações construídas ao longo
do texto, como:
III. Apresentação e discussão dos resultados
177
Os benefícios oferecidos pelos produtos e eventos podem ser avaliados por
Atitudes de Apreciação e Afeto, de maneira inscrita ou evocada.
Os produtos, eventos e suas características são avaliados principalmente por
Atitudes de Apreciação, com base nos benefícios oferecidos.
As empresas podem ser avaliadas por Atitudes de Julgamento, por oferecerem
benefícios aos clientes e público. Dessa maneira, proporcionar benefícios pode
ser base para avaliações expressas por Atitudes de Apreciação dos produtos e
Atitudes de Capacidade da empresa.
Os clientes retratados como usuários dos produtos ou eventos podem ser
avaliados por Atitudes de Julgamento, pela capacidade conferida a eles pelo uso
dos produtos ou participação nos eventos.
A análise também mostrou que as avaliações são expressas por várias formas,
em diversos níveis de constituência: dentro do grupo nominal (por exemplo, por
Epítetos), dentro da oração (por exemplo, por processos relacionais), no complexo
oracional (com o uso de um item avaliativo, como vantagens, que faz referência aos
serviços relacionados em outro complexo oracional e, finalmente, fora do texto, quando
a avaliação não é feita explicitamente no texto, indicando uma instância de
intertextualidade compartilhada com o leitor.
Com relação às bases para a avaliação, temos valores associados principalmente
ao custo x benefício, onde o custo pode ser financeiro, como o preço pago pelos
produtos, por exemplo, ou alguma obrigação imposta aos clientes exigida para o uso dos
produtos. Em termos de benefícios, temos avaliações baseadas em valores como a
capacidade dos clientes decorrente do uso dos produtos, rapidez, segurança e
confiabilidade, facilidade de uso e conveniência, entretenimento e educação, entre
outros. Podemos também identificar benefícios relacionados ao Afeto, expressos quanto
à família, pátria (cidade/país) ou determinadas associações, como nas atividades
relacionadas ao futebol e ao carnaval.
As empresas que oferecem os produtos e eventos, por sua vez, podem ser
avaliadas por expressões de Atitude de Julgamento, com base em valores como trazer
melhorias e ser melhor que as concorrentes, ser ética, racional, parceira, ser confiável,
conhecer as necessidades dos clientes e ter empatia com estes. Por esses valores, as
III. Apresentação e discussão dos resultados
178
empresas podem se identificar com determinadas formações ideológicas, como o livre
mercado, democracia e preservação ambiental, por exemplo.
Com relação às limitações e obrigações impostas pelos produtos, identificadas
principalmente nas notícias, foi observado que são utilizados os mesmos valores acima
de custo x benefício, mas com a introdução de outros participantes, como concorrentes e
características negativas dos produtos (como em limitação); outros participantes
abstratos, como o controle de gastos e a qualidade, foram ignorados pelas notícias. Foi
observado também que as empresas podem utilizar composições de avaliações positivas
e negativas para atenuar o valor negativo das obrigações impostas aos clientes, ou
podem simplesmente representar essas obrigações como benefícios. Essa constatação
parece mostrar que os conceitos de valor podem ser compostos entre si, com a formação
de redes sistêmicas de bases para a avaliação para produtos e empresas como a mostrada
na figura 11.
Figura 11: Sistema de bases de avaliação para os produtos
Nas demonstrações de capacidade, as empresas utilizam principalmente
comparações com os concorrentes, em relações ideacionais que envolvem:
A identificação da empresa
A identificação de uma qualidade que destaque a empresa perante as demais,
como a primeira ou a única.
A identificação do critério que a destaque as demais, que pode ser uma ação
(como em a única a não aumentar os preços) ou uma posição (a líder)
III. Apresentação e discussão dos resultados
179
A identificação do grupo do qual a empresa se destaca (as demais empresas de
telecomunicações, por exemplo)
Nessas relações, foi observado que os critérios que as destacam das concorrentes
são principalmente baseados nos benefícios oferecidos aos clientes, com base nos
mesmos valores da oferta de benefícios. Aqui, as empresas podem atribuir valores
negativos às concorrentes e positivos a si próprias (como no caso da livre concorrência
x monopólio), no que pode ser interpretado como uma realização metafórica de um
comando (para que se alinhem à empresa e se distanciem dos concorrentes). Uma
proposta de rede sistêmica de bases para a avaliação das empresas, montada a partir dos
dados do corpus, é mostrada na figura 12.
Figura 12: Sistema de bases de avaliação para a empresa
As relações ideacionais identificadas como aumento de capacidade, que reúnem
ações que a empresa executa internamente e a identificação de parceiros nas diversas
atividades, que executam ações que estão além do escopo de atividades da empresa. Foi
observado que essas expressões de aumento de capacidade também estão associadas nos
press releases aos benefícios oferecidos aos clientes, novamente sendo baseadas nos
mesmos valores identificados na oferta de benefícios. Nas notícias, por sua vez, foram
identificadas informações sobre problemas internos das empresas (como o afastamento
de executivos), que podem expressar reduções de capacidade da empresa.
III. Apresentação e discussão dos resultados
180
Finalmente, ao apresentarem seus resultados positivos, as empresas mostram que
os benefícios oferecidos foram aceitos pelos clientes, o que evidencia a validade das
alegações das empresas feitas na oferta de benefícios e o alinhamento dos clientes aos
valores propostos pelas empresas. Essas relações envolvem principalmente
comparações entre os números de clientes existentes antes e depois das ações das
empresas, as ações executadas pelos clientes em resposta a essas ações e a apresentação
de resultados financeiros decorrentes dos pagamentos recebidos pelas empresas.
Dessa maneira, as análises mostraram que os press releases destacam o papel da
empresa principalmente por meio de comparações. Na oferta de benefícios, há uma
comparação implícita entre a capacidade atual do cliente (sem o produto) e a capacidade
futura, que ele poderá ter com o produto. Nas demonstrações de capacidade, os press
releases fazem comparações entre as empresas e os concorrentes, enquanto que nos
resultados, os press releases fazem comparações entre uma situação anterior e a
situação atual, apresentada como efeito das ações da empresa.
Além disso, a análise mostrou que as avaliações são construídas ao longo do
texto por relações intratextuais e intertextuais entre os participantes, o que está de
acordo com os conceitos de Hunston (2000:183) de Status e Valor nos planos interativo
e autônomo. Seguindo esses conceitos, vimos que as avaliações atribuídas a qualquer
um dos elementos ideacionais pode afetar as avaliações atribuídas às empresas.
As considerações finais desse trabalho são apresentadas a seguir.
Considerações finais
181
Considerações finais
Esta parte final deste trabalho apresenta um resumo da pesquisa (objetivos,
fundamentação teórica e metodologia) e discute os resultados obtidos e as contribuições
que esses resultados podem trazer para a teoria. Aqui também são discutidas as
limitações da pesquisa e os futuros caminhos que podem ser trilhados em pesquisas
posteriores.
Esse trabalho é voltado à linguagem empresarial, estudando mais
especificamente os recursos utilizados por duas empresas brasileiras de
telecomunicações ao descrever em seus press releases as atividades nas quais estão
envolvidas. As análises feitas neste trabalho enfocaram os diversos recursos léxico-
gramaticais utilizados nas descrições das atividades que mostram a atitude das empresas
perante o que descrevem, como por exemplo, as ações das empresas e de outros
participantes e a atribuição de qualidades a essas ações e participantes.
Essas questões estão relacionadas aos modos como os falantes expressam suas
posições perante o que falam, o que está relacionado às teorias lingüísticas relacionadas
ao fenômeno da avaliação. Após uma análise teórica, observei que seria possível utilizar
um modelo que utilizasse conceitos oferecidos pelo sistema de Avaliatividade (Martin,
2000; Martin e White, 2005) e pelo sistema de avaliação proposto por Hunston
(2000:183-184).
O sistema de Avaliatividade nos oferece a categorização dos tipos de Atitude e a
diferenciação entre as atitudes inscritas e evocadas, enquanto que os parâmetros de
Status e Valor nos planos interativo e autônomo propostos por Hunston, nos permitem
observar como as avaliações são construídas ao longo dos textos. Outro aspecto
importante nas análises de Hunston para este trabalho é a identificação das bases que
fundamentam as avaliações (2000:196), que neste trabalho são associadas ao conceito
de valores, que por sua vez está relacionado ao sistema de heteroglossia. Cabe aqui
observar que o subsistema de Engajamento de Martin e White (2005:92), baseado ao
conceito de heteroglossia, descreve a relação entre a voz do autor dos textos e outras
vozes (negando essas vozes ou reconhecendo-as, por exemplo), mas salvo alguma má-
interpretação de minha parte, as análises de Atitude de Martin não identificam
especificamente quais seriam essas vozes.
Considerações finais
182
Como mencionado anteriormente, a análise do posicionamento das empresas e
do jornal perante as atividades descritas segue a visão de que todos os elementos do
texto podem trazer alguma avaliação, explícita e implícita, que potencialmente
aproxime ou afaste determinadas classes de leitores das posições assumidas pelo
escritor do texto. Dessa maneira, todas as diferenças encontradas na análise comparativa
potencialmente trazem alguma diferença de avaliatividade, cabendo ao analista decidir
se essa diferença seria relevante ou não para as suas conclusões.
Isso inicialmente me levou a pensar que todos os participantes de uma
determinada atividade estariam avaliados, desde que presentes no texto. Entretanto, a
possibilidade levantada por van Leeuwen (1996:39) e Fowler (1991:71) de que o falante
possa escolher não representar determinados participantes e ações – o que pode mostrar
algum tipo de posicionamento perante esses participantes – me levou a considerar
também importante analisar o que não foi incluído nas descrições das atividades.
Neste trabalho, essa análise de participantes e ações que não foram incluídos nas
representações de mundo das empresas foi feita por uma comparação com as descrições
das mesmas atividades por um jornal on-line, que identificou as diferenças entre as
posições assumidas pela empresa e pelo jornal com relação às atividades descritas.
Dessa maneira, as análises foram orientadas pelas seguintes perguntas de pesquisa:
1. Quais são as diferenças nas formas como os press releases e as notícias
descrevem as atividades da empresa?
2. Como as diferenças encontradas expressam diferentes formas de avaliação
dessas atividades?
3. Quais são os valores que baseiam essas avaliações?
A análise comparativa não é comum em análises de avaliatividade; para dar
conta da necessidade de análise de um aspecto lingüístico que pode ser realizado por
diferentes recursos léxico-gramaticais e nos diferentes níveis de estrutura do texto, optei
por comparar as diferenças entre press releases e notícias em termos da ocorrência das
palavras e observar se essas diferenças eram observadas em um número considerado
significativo de textos. Para expressar tais diferenças numericamente, defini o conceito
de palavras exclusivas e palavras significativamente exclusivas, com base nos estudos
comparativos de Scott (2001:57) e Berber-Sardinha (1999). Com o uso do conceito de
Considerações finais
183
palavras exclusivas, foi possível trabalhar as variáveis de ocorrência no texto e
freqüência de ocorrência isoladamente, diferentemente do que acontece com o uso de
palavras-chave. É esperado que os procedimentos desenvolvidos neste trabalho possam
auxiliar outros pesquisadores que precisem comparar corpora pequenos de uma maneira
sistemática e que tenham a intenção de desenvolver esses procedimentos dentro da
lingüística de corpus, especialmente em trabalhos relacionados a questões de avaliação.
Com relação aos resultados obtidos, a análise comparativa permitiu identificar
diferenças nas formas como as atividades foram descritas e, principalmente, identificar
informações fornecidas nos press releases que não foram aproveitadas nas notícias
correspondentes e informações incluídas nas notícias que não estavam presentes em
seus press releases correspondentes.
Na comparação entre os press releases e as notícias, a análise identificou uma
concentração expressiva de palavras significativamente exclusivas dos press releases na
descrição de produtos, relacionada neste trabalho à oferta de benefícios aos clientes e
público em geral. Esses resultados parecem indicar que as notícias tendem a apresentar
a ação da empresa, enquanto que os press releases tendem a descrever os produtos e a
relação destes com os clientes. A análise também apontou uma concentração expressiva
de palavras significativamente exclusivas das notícias em atribuições de falas a
participantes internos e externos da empresa, o que seria de se esperar, devido ao
processo de produção das notícias, que dependem de fontes de informação externas.
As estruturas ideacionais que expressam diversos tipos de comparação podem
ser interpretadas como um meio das empresas em destacar a sua atuação no mercado
pelos resultados de suas ações. Ao destacar os benefícios aos clientes, a empresa mostra
o que é possível no futuro, ao descrever sua capacidade e sua posição perante os
concorrentes, a empresa mostra o que conseguiu com seus esforços anteriores, mesmo
que não expressos no texto, o que é mostrado mais explicitamente quando a empresa
descreve os resultados alcançados e faz comparações com uma situação anterior.
Nas notícias, foi também identificado um grupo de relações ideacionais, aqui
denominado Histórico, nos quais as notícias fornecem informações adicionais sobre os
tópicos descritos. Na análise comparativa, isso parece mostrar que os press releases
tendem a não apresentar informações de contexto, preferindo se concentrar nos
benefícios oferecidos pelos produtos. Essas informações de histórico, nem sempre
negativas para as empresas, mostram o interesse do jornal em contextualizar as
Considerações finais
184
atividades das empresas. A interpretação desses resultados mostrou que mesmo um
padrão prosódico de avaliações negativas nesses estágios pode trazer uma avaliação
positiva para a empresa, dependendo dos participantes avaliados negativamente e das
ações tomadas pelas empresas para resolver tais questões.
As análises mostraram os modos como as avaliações implícitas e explícitas
presentes nos textos podem ser usadas em realizações metafóricas de ofertas e
comandos nas atividades descritas nos press releases e notícias, por exemplo:
Nas descrições dos produtos e eventos patrocinados pelas empresas, a oferta de
benefícios. Nas descrições das limitações e restrições dos produtos, a sugestão
que os clientes se afastem deles.
Nas descrições de capacidade das empresas e nas atividades destinadas a
aumentar a capacidade da empresa, o convite para que os clientes se aproximem
da empresa. Nas atribuições de valores negativos aos concorrentes, a sugestão
para que os clientes se afastem desses concorrentes.
Assim, temos uma construção metafórica de ofertas e comandos pelas avaliações
feitas no texto, o que parece confirmar o papel da avaliação como uma forma metafórica
de realização dos significados interpessoais, como descrito no sistema proposto por
Thompson e Thetela (1995:107).
A interpretação dos dados também parece mostrar a natureza “orgânica” da
construção da avaliação ao longo do texto, onde a avaliação de um elemento afeta a
avaliação de todo o conjunto, em diversas relações entre o que está sendo avaliado e sua
avaliação, o que parece estar alinhado à proposta de Status e Valor no plano autônomo
de Hunston (2000:183-184). Dessa forma, as ações não apenas permitem a atribuição de
uma avaliação àquele que as executou, mas também têm sua avaliação dependente da
identidade de seu executor, seja por capacidade ou idoneidade. Dessa maneira, a
avaliação é feita não apenas no texto, mas também pelas possíveis referências
intertextuais que podem ser traçadas com base no conhecimento do contexto.
Além disso, os resultados de uma ação podem afetar a avaliação dessa ação, mas
esses resultados também podem ser avaliados, por exemplo, pela ética ou propriedade
da ação que os originou. Aplicando essa construção de avaliações pelos diversos
elementos da oração, parece ser possível vislumbrar um desenvolvimento adicional
possível da teoria com a atribuição de Status (por relações intertextuais) e Valor (pelas
Considerações finais
185
avaliações construídas no texto) a todos os elementos ideacionais, participantes,
processos e circunstâncias no texto por relações intertextuais. Isso permitiria incluir
formalmente nesse modelo o conceito de prosódia semântica proposto pela Lingüística
de Corpus (Berber-Sardinha, 2000:360), o que pode ser objeto de pesquisas futuras.
Outra contribuição possível deste trabalho está relacionada à teoria de gêneros.
Nas descrições das diferentes estruturas ideacionais que expressam comparações, foi
observada a presença de vários elementos em comum nas funções retóricas discutidas,
como por exemplo, a identificação de clientes e produtos e a realização metafórica de
ofertas. Parece ser possível sugerir que a associação de um grupo nominal a diferentes
classes de clientes ou a identificação de uma realização metafórica de oferta pelo
aspecto temporal de um grupo verbal ou até mesmo pela lexicalização dessa oferta no
processo possam ser considerados estágios obrigatórios ou opcionais (Halliday e Hasan,
1989:62) realizados na oração. Isso que parece sugerir que esses elementos realizem na
oração estágios que cumprem funções similares às encontradas no desenvolvimento do
texto, o que também pode ser objeto de pesquisas futuras.
A análise das avaliações pelos conceitos que as baseiam também parece permitir
a construção de sistemas de valores, como os esboçados ao final do capítulo anterior,
nos quais alguns valores possam ser combinados com outros, enquanto que outros
poderiam ser colocados em oposição. Como mostrado nesses sistemas, nas análises dos
corpora, foi possível identificar avaliações que podem ser associadas a valores como
“proporcionar benefícios”, atribuídos aos produtos. Esses valores podem ser
combinados com outros relacionados à capacidade das empresas, como “ser a primeira”,
“ser a maior”, e podem ser contrapostos a valores de “custo”. Outra combinação
positiva de valores, encontrados nas atividades relacionadas aos eventos patrocinados
pela empresa, seriam os valores de “entretenimento” e “segurança”, por exemplo.
A comparação entre os valores utilizados pelas notícias, principalmente quando
descrevem as limitações dos produtos, mostrou que os conjuntos dos valores utilizados
nas avaliações são basicamente os mesmos utilizados nos press releases; por exemplo,
os press releases promovem os seus produtos com avaliações positivas relacionadas a
valores de capacidade, benefícios oferecidos e custo, mas esses mesmos valores podem
ser utilizados pelas notícias para avaliar negativamente os mesmos produtos em
comparações com concorrentes ou características dos produtos que apresentem pontos
de vista diferentes dos utilizados pelas empresas.
Considerações finais
186
Essas combinações de valores podem parecer óbvias para os membros de nossa
comunidade, mas esse procedimento de análise pela identificação de valores pode ser
proveitosa quando analisamos textos produzidos por membros de outras comunidades,
podendo ser usado para a discussão de categorias adicionais de Atitudes em diferentes
culturas, aprimorando assim o sistema de Avaliatividade. Essa relação entre a avaliação
e os valores que orientam as escolhas lingüísticas pode mostrar outros
desenvolvimentos possíveis deste trabalho, com análises da relação entre os recursos
avaliativos e teorias sociológicas relacionadas a questões de poder, principalmente
baseados no conceito de classes de Bourdieu (1991:231) e os estudos de Foucault
(1984:312) sobre o poder. Esses estudos poderiam trazer uma visão mais abrangente
sobre a relação entre o texto e o contexto, por exemplo, na análise dos tipos de capitais
envolvidos nas avaliações e as relações entre diversos grupos de agentes do mundo
social.
Entre as contribuições desse trabalho para o dia a dia das empresas, podemos
citar as análises mercadológicas de comportamento dos consumidores e a tomada de
decisões bem fundamentadas para a área de marketing, além, é claro, das contribuições
para as próprias assessorias de imprensa que produzem os press releases. Obviamente,
os subsídios aqui fornecidos também podem ser utilizados na área educacional,
ensinando aos alunos a produzir textos mais adequados aos seus propósitos.
Com relação às limitações do presente trabalho, cito inicialmente o grande
número de classificações gramaticais feitas manualmente; embora eu tenha
empreendido todos os esforços para garantir a exatidão das análises, certamente foram
cometidos erros pontuais em análises específicas, mas que provavelmente não afetaram
a análise consolidada dos resultados. Outra limitação está relacionada ao tempo
disponível para a pesquisa, que não permitiu estender a análise e reduziu o número de
categorias alternativas testadas. Ao lado dessas limitações, há também a minha decisão
de não realizar entrevistas com jornalistas que utilizam press releases. Esse recurso
metodológico não foi usado principalmente pela existência de estudos anteriores,
especificamente de Bell (1991) e Jacobs (1999) que fizeram uma análise ampla do
processo de produção de notícias com base em press releases; dessa maneira, preferi
concentrar os esforços no desenvolvimento da metodologia e na análise gramatical dos
textos, que poderão, assim, ser úteis a pesquisas que investiguem o processo de
Considerações finais
187
produção de notícias em nosso país e enfoquem a análise de entrevistas com jornalistas
brasileiros.
Vejo ainda como uma das principais limitações deste trabalho o fato de que a
teoria de Avaliatividade estar ainda em seus primeiros estágios de desenvolvimento em
todo o mundo e principalmente no Brasil, onde ainda temos poucos trabalhos que
utilizam esse quadro teórico. Dessa maneira, muitos dos trabalhos sobre a
Avaliatividade utilizados aqui foram publicados dentro do período em que esta pesquisa
foi desenvolvida, como The Language of Evaluation (Martin e White, 2005) e System
and Corpus (Thompson e Hunston, 2007), além de várias teses e dissertações em todo o
mundo; dessa forma, não foi possível aproveitar aqui muitas das contribuições recentes
no estudo da avaliação e avaliatividade.
Esse ineditismo da teoria também é algo que impõe desafios ao pesquisador,
pelas lacunas observadas quanto ao rationale subjacente às categorias de Avaliatividade
propostas e à adequação destas em diferentes culturas, além da falta de definições claras
das categorias. A passagem da análise de textos individuais para as análises baseadas
em corpus também é um desafio a ser enfrentado, como afirmado em Martin e White
(2005:260). Penso, entretanto, que todos esses desafios são mais um incentivo do que
uma barreira ao pesquisador, o que pode ser observado pelo número crescente de
pesquisadores interessados nas análises de avaliação nos textos. Dessa maneira, espero
que este trabalho se constitua em incentivo para que outros pesquisadores se decidam
também a trilhar esse caminho.
Considerações finais
188
Referências bibliográficas
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Referências bibliográficas
196
Anexo I. Títulos dos press releases e notícias
197
Anexo I – Títulos dos press releases e notícias
Os quadros abaixo mostram os títulos dos press releases e notícias sobre a TELE_A e
TELE_B. A numeração dos pares foi estabelecida por ordem cronológica, pela data de
publicação.
Quadro 47. Títulos dos press releases e notícias da Tele_A
PAR TÍTULO DATA
Par 1 PR Tele_A começa a prestar serviço de telefonia local em São Paulo 30/01/03
NW Tele_A começa a atuar em telefonia local em 6 cidades de SP 29/12/03
Par 2 PR Tele_A começa a prestar serviço de telefonia local em Cuiabá, Campo
Grande e Florianópolis
17/02/03
NW Tele_A começa a prestar serviço local em Florianópolis 18/02/03
Par 3 PR Tele_A patrocina Welcome Rio 03 18/02/03
NW Campanha quer fazer o carioca receber bem o turista no Carnaval 18/02/03
Par 4 PR Decisão do Cade a favor de concorrência justa no setor de
telecomunicações beneficia Tele_A
28/02/03
NW Decisão do Cade favorece Tele_A contra Tele_B 28/02/03
Par 5 PR Tele_A assina programa de financiamento 28/02/03
NW Tele_A rola dívidas de curto prazo e ganha fôlego até 2004 28/02/03
Par 6 PR Tele_A terceiriza infra-estrutura de tecnologia da informação 09/04/03
NW Tele_A terceiriza infra-estrutura de tecnologia da informação 08/04/03
Par 7 PR Tele_A Participações - Divulgação de Resultado - Resultado do 1o
Trimestre de 03(1)
07/05/03
NW Tele_A fecha o trimestre com lucro de R$ 11 milhões 06/05/03
Par 8 PR Conselho da Tele_A Participações tem dois novos integrantes: Francisco
Weffort e José Roberto Mendonça de Barros
06/06/03
NW Tele_A indica Weffort e Mendonça de Barros para conselho 06/06/03
Par 9 PR Click 21 será o provedor de acesso gratuito com qualidade Tele_A 17/07/03
NW Tele_A lança provedor de acesso gratuito 18/07/03
Par 10 PR Tele_A assume todo o tráfego do serviço 0800 do Banco do Brasil 22/07/03
NW Tele_A leva contrato de R$ 1,5 mi mensais para oferecer 0800 ao BB 22/07/03
Par 11 PR Tele_A - Resultados do segundo trimestre de 03 29/07/03
NW Tele_A tem lucro de R$ 128,3 mi no segundo trimestre 30/07/03
Par 12 PR Tele_A acelerará Negócio de serviços locais através de aquisição 12/08/03
NW Tele_A deve comprar a Vésper sem levar dívida 12/08/03
Par 13 PR Tele_A obtém Medida Preventiva contra Telemar 25/08/03
NW Anatel obriga Telemar a dar acesso à rede local pelo menor preço à
Tele_A
22/08/03
Par 14 PR Série "Máfia dos fiscais" conquista o Prêmio Barbosa Lima Sobrinho do
Prêmio Imprensa Tele_A 03
25/09/03
NW Jornal_A é premiada por reportagens sobre transporte 26/09/03
Par 15 PR Tele_A vence pregão eletrônico do TRF - 1ª Região 08/10/03
NW Tele_A ganha contrato do TRF para fornecer rede de dados 08/10/03
Par 16 PR Telos tem novo diretor superintendente 12/12/03
NW Tele_A manda demitir Solange Paiva da direção da Telos 12/12/03
Par 17 PR Tele_A lança solução de acesso remoto Wi-Fi 29/12/03
NW Tele_A tem serviço corporativo de acesso sem fio à internet 29/12/03
Par 18 PR Tele_A: campanha faz sucesso e mostra como uma "gênia" pode
incomodar a concorrência
26/02/04
NW Tele_A rebate Telemar em polêmica sobre comercial do "Gênio 21" 20/02/04
Anexo I. Títulos dos press releases e notícias
198
Quadro 47. Títulos dos press releases e notícias da Tele_A (cont.)
PAR TÍTULO DATA
Par 19 PR Consórcio formado pela Geodex e concessionárias locais não terá acesso
ao data-room da Tele_A
11/03/04
NW MCI proíbe consórcio de teles fixas a acessar data-room da Tele_A 11/03/04
Par 20 PR Pareceres sobre a venda da Tele_A para as fixas são entregues às
autoridades
12/04/04
NW Tele_A encomenda estudo para inviabilizar venda para teles fixas 12/04/04
Par 21 PR Tele_A reitera, no Cade e na SDE, pedido de medida preventiva por
indício de cartel contra as três concessionárias de telefonia fixa.
26/04/04
NW Tele_A reforça no Cade, SDE e Anatel denúncia contra teles 26/04/04
Par 22 PR Decisão sobre unbundling favorece competição nos serviços locais e
banda larga
13/05/04
NW Anatel define regras para ampliar competição de internet rápida 13/05/04
Par 23 PR Conselho da Tele_A aceita pedidos de renúncia de Jorge Rodriguez e
Cláudia de Azerêdo Santos
09/06/04
NW Presidente e vice da Tele_A renunciam ao cargo 09/06/04
Par 24 PR Tele_A lança em Amapá e Roraima primeira linha fixa livre de
assinatura
19/07/04
NW Tele_A expande serviço de telefonia fixa sem assinatura 21/07/04
Par 25 PR Tele_A presenteia São Paulo e Rio de Janeiro com Reveillon 14/12/04
NW Comissão define Réveillon na Paulista após 3 dias de planejamento 15/12/04
Par 26 PR Avenida Paulista será palco do aniversário de São Paulo 18/01/05
NW Shows na avenida Paulista marcam aniversário de São Paulo 24/01/05
Par 27 PR Tele_A anuncia que não reajustará tarifas telefônicas 11/07/05
NW Tele_A abre mão de reajuste para DDD, mas preço pode ser maior 11/07/05
Quadro 48. Títulos dos press releases e notícias da Tele_B
PAR TÍTULO DATA Par 1 PR Melhoria da qualidade tira Tele_B do topo da lista do Procon SP 13/03/03
NW Tele_B melhora no ranking do Procon; Speedy tem reclamações 13/03/03
Par 2 PR Novo modelo de conta da Tele_B traz mais comodidade e ajuda na
preservação ambiental
21/03/03
NW Conta de telefone com menos papel vai salvar árvores 21/03/03
Par 3 PR Tele_B apresenta Internet Pública 24/03/03
NW Orelhão vai ter internet e usará cartão telefônico comum 26/03/03
Par 4 PR Tele_B coloca à disposição serviço de ligações locais em seis Estados 05/05/03
NW Tele_B dá início à expansão buscando mercado corporativo de seis
Estados
06/05/03
Par 5 PR Tele_B SP/Telesp apresenta resultados do primeiro semestre de 2003 25/07/03
NW Tele_B tem lucro semestral de R$ 480 mi 26/07/03
Par 6 PR Tele_B lança série inédita de cartões telefônicos com times de futebol 08/09/03
NW Clubes paulistas estampam série especial de cartões telefônicos 08/09/03
Par 7 PR Tele_B cria solução de Speedy especial para condomínios verticais 16/10/03
NW Speedy ganha versão especial para condomínios verticais 15/09/03
Par 8 PR Fundação Tele_B participa das comemorações do "Dia da Inclusão
Digital"
22/03/04
NW CDI lança manual de inclusão digital para empresas 22/03/04
Par 9 PR Speedy 128 Light é nova opção da Tele_B para quem ainda está na
Internet discada
08/04/04
NW Tele_B baixa preço do Speedy em versão "light" 08/04/04
Par 10 PR Tele_B inicia nova expansão para facilitar acesso do público de menor
renda à linha fixa
13/07/04
NW Tele_B lança telefone fixo pré-pago com assinatura mensal mais barata 13/07/04
Anexo I. Títulos dos press releases e notícias
199
Quadro 48. Títulos dos press releases e notícias da Tele_B (cont.)
PAR TÍTULO DATA Par 11 PR Fundação Tele_B e Estação Ciência promovem debate sobre o uso
pedagógico de jogos
16/08/04
NW Especialistas debatem uso pedagógico de jogos 13/08/04
Par 12 PR Ligações entre 39 municípios vizinhos da Grande SP passam a ter tarifa
local
02/09/04
NW Ligações telefônicas entre cidades da Grande São Paulo ficam mais
baratas
03/09/04
Par 13 PR Fundação Tele_B cria "Kit Feira de Ciências", com relíquias da história
das telecomunicações, para escolas de SP
20/09/04
NW Escolas podem pedir kit para ensinar história do telefone 12/10/04
Par 14 PR Prefixos mudam na região da avenida Paulista neste sábado 23/09/04
NW Prefixos de telefones mudam na região da avenida Paulista amanhã 24/09/04
Par 15 PR Tele_B coloca à venda mais 300 mil linhas econômicas 24/09/04
NW Tele_B coloca mais 300 mil linhas econômicas em SP 24/09/04
Par 16 PR Tele_B apresenta resultados acumulados até o 3o. trimestre de 2004 10/11/04
NW Lucro da Tele_B cresce 20% e soma R$ 538,2 milhões no trimestre 11/11/04
Par 17 PR Tele_B coloca à venda mais 120 mil linhas econômicas 03/12/04
NW Tele_B vai vender mais 120 mil linhas econômicas 03/12/04
Par 18 PR Tele_B instala Speedy Wi-Fi em Cumbica e principais aeroportos do
País
25/02/05
NW Aeroporto de Cumbica ganha alternativa para acesso sem fio à web 25/02/05
Par 19 PR Fundação Tele_B e Secretaria da Educação de SP se unem em
capacitação de alunos e professores no uso da Internet
17/03/05
NW SP faz parceria para capacitar aluno e professor no uso da internet 24/03/05
Par 20 PR Tele_B divulga resultados do primeiro trimestre de 2005 10/05/05
NW Tele_B lucra R$ 489,9 mi no trimestre 11/05/05
Par 21 PR Tele_B oferece mais 73 mil terminais da Linha da Economia Família
para o Estado de SP
24/05/05
NW Tele_B oferece mais um lote de 73 mil linhas da economia 24/05/05
Par 22 PR Tele_B parcela habilitação de Linha da Economia Família em 10 vezes 02/06/05
NW Tele_B parcela habilitação da linha da economia em dez vezes 02/06/05
Par 23 PR Reajuste das tarifas de telefonia fixa em São Paulo é inferior à variação
da inflação
30/06/05
NW Telefone aumenta 7,27% a partir de domingo 30/06/05
Par 24 PR Tele_B divulga resultados do primeiro semestre de 2005 26/07/05
NW Lucro da Tele_B cresce 23,6% e supera R$ 1 bilhão no semestre 26/07/05
Par 25 PR Três prefixos telefônicos da região do Ipiranga mudam neste sábado 21/11/05
NW Tele_B altera prefixos da região do Ipiranga no próximo sábado 21/11/05
Par 26 PR Tele_B lança campanha de fim de ano para facilitar pagamento de
débitos de clientes
29/11/05
NW Tele_B negocia dívida com inadimplente e abre mão de juro e multa 30/11/05
Par 27 PR Tele_B atinge marca de 100 mil clientes do Plano Internet Ilimitada 27/12/05
NW Tele_B tem opção mais barata que cabo para quem usa muito a internet 17/01/06
Anexo I. Títulos dos press releases e notícias
200
Anexo II. Quantidades de palavras
201
Anexo II – Quantidades de palavras
Os quadros abaixo apresentam as quantidades de palavras de cada um dos textos
utilizados no corpus em números absolutos, expressas em número total de palavras e
pelo número de palavras diferentes.
Quadro 49. Quantidades de palavras em press releases e notícias da Tele_A
Tele_A Press releases Notícias
Par palavras palavras diferentes palavras palavras diferentes
1 400 194 260 149
2 421 217 111 73
3 901 378 247 138
4 380 164 194 105
5 268 148 294 155
6 837 364 135 78
7 2.421 607 131 59
8 129 83 134 91
9 280 148 118 70
10 326 163 222 112
11 78 52 208 93
12 662 272 117 72
13 235 134 181 99
14 902 409 149 95
15 425 233 167 95
16 126 77 415 195
17 345 190 227 133
18 291 157 229 126
19 101 60 460 230
20 453 218 431 222
21 269 135 227 127
22 204 125 474 210
23 114 65 167 98
24 375 204 213 118
25 398 196 434 253
26 811 345 315 152
27 285 151 248 120
Total 12437 6508
O quadro abaixo apresenta as quantidades de palavras dos press releases e notícias da
Tele_B:
Anexo II. Quantidades de palavras
202
Quadro 50. Quantidades de palavras em press releases e notícias da Tele_B
Tele_B Press releases Notícias
Par palavras palavras diferentes palavras palavras diferentes
1 700 300 389 175
2 345 177 161 90
3 237 138 109 69
4 344 179 398 198
5 362 159 110 56
6 333 190 109 77
7 587 255 143 84
8 486 226 190 109
9 515 235 162 84
10 671 274 509 217
11 243 144 208 120
12 441 191 285 149
13 503 247 231 129
14 183 98 113 67
15 359 169 220 102
16 506 205 127 57
17 291 155 293 125
18 289 158 212 136
19 440 234 397 209
20 434 179 169 81
21 336 157 209 110
22 243 124 240 121
23 253 101 402 176
24 449 199 260 121
25 211 110 143 76
26 340 150 215 111
27 329 166 308 157
Total 10430 6312
Anexo III Lista de palavras significativamente exclusivas
203
Anexo III – Listas de palavras significativamente exclusivas
A seguir, são mostradas as listas das palavras significativamente exclusivas utilizadas
na análise, conforme a definição fornecida no capítulo de metodologia. Nos títulos das
colunas dos quadros abaixo, temos:
Palavra – Indica a palavra exclusiva
Comum – Quantidade de pares nos quais essa palavra é comum aos dois textos
Press release – Quantidade de pares nos quais essa palavra é exclusiva do press
release
Notícia– Quantidade de pares nos quais essa palavra é exclusiva da notícia
Total – Quantidade total de pares nos quais a palavra exclusiva ocorre
Excl. Empr. – Índice de exclusividade no press release
Excl. Not. – Índice de exclusividade na notícia
Quadro 51. Lista de palavras significativamente exclusivas nos press releases da
Tele_A (classificadas por índice de exclusividade)
Palavra Comum Press release Notícia Total Excl. Em
DIA 0 11 3 14 0,32
S 0 8 0 8 0,30
PELO 5 13 5 23 0,27
MAIS 5 12 3 20 0,27
QUALIDADE 0 7 0 7 0,26
SEUS 4 11 3 18 0,25
JÁ 2 10 3 15 0,25
SE 7 12 3 22 0,24
LOCAL 6 10 0 16 0,23
QUALQUER 0 7 1 8 0,23
ATENDIMENTO 1 7 0 8 0,23
INTERNACIONAIS 0 6 0 6 0,22
PRIMEIRA 0 6 0 6 0,22
TELECOMUNICAÇÕES 7 11 3 21 0,21
DEPOIS 0 7 2 9 0,20
AFIRMA 1 7 1 9 0,20
TODOS 2 7 0 9 0,20
AINDA 2 9 4 15 0,20
REDE 2 8 2 12 0,20
GRANDES 0 6 1 7 0,19
INICIATIVA 0 6 1 7 0,19
ONDE 0 6 1 7 0,19
QUAL 0 6 1 7 0,19
AUMENTAR 1 6 0 7 0,19
Anexo III Lista de palavras significativamente exclusivas
204
Quadro 51. Lista de palavras significativamente exclusivas nos press releases da
Tele_A (classificadas por índice de exclusividade) (cont.)
Palavra Comum Press release Notícia Total Excl. Em
TODO 1 6 0 7 0,19
COMO 6 9 1 16 0,19
ATRAVÉS 0 5 0 5 0,19
CADA 0 5 0 5 0,19
COMPETITIVA 0 5 0 5 0,19
DISSO 0 5 0 5 0,19
LOCALIDADES 0 5 0 5 0,19
SOLUÇÃO 0 5 0 5 0,19
AGORA 1 7 2 10 0,18
COMUNICAÇÃO 2 7 1 10 0,18
CLIENTES 6 8 0 14 0,17
TERÃO 1 7 3 11 0,16
SERÁ 4 8 3 15 0,16
ESTE 0 5 1 6 0,15
NÚMERO 0 5 1 6 0,15
TÊM 0 5 1 6 0,15
ÚNICA 0 5 1 6 0,15
RESIDENCIAIS 1 5 0 6 0,15
SOLUÇÕES 1 5 0 6 0,15
UM 11 10 3 24 0,15
ABRIL 0 4 0 4 0,15
CALL 0 4 0 4 0,15
CAPITAIS 0 4 0 4 0,15
CENTRAIS 0 4 0 4 0,15
DESPESAS 0 4 0 4 0,15
DIGITAIS 0 4 0 4 0,15
FARÁ 0 4 0 4 0,15
FEITAS 0 4 0 4 0,15
NUMA 0 4 0 4 0,15
OFERECENDO 0 4 0 4 0,15
OPORTUNIDADE 0 4 0 4 0,15
PRESENÇA 0 4 0 4 0,15
SEGUINTES 0 4 0 4 0,15
TERMOS 0 4 0 4 0,15
VÁRIAS 0 4 0 4 0,15
ELE 1 6 2 9 0,15
TODAS 2 6 1 9 0,15
Quadro 52. Lista de palavras significativamente exclusivas nos press releases da
Tele_B (classificadas por índice de exclusividade)
Palavra Comum Press release Notícia Total Excl. PR
VALORES 1 10 0 11 0,34
MAIOR 2 11 1 14 0,32
À 9 14 0 23 0,32
AINDA 3 10 1 14 0,26
MEIO 3 10 1 14 0,26
GRATUITA 0 7 0 7 0,26
VOLUME 0 7 0 7 0,26
NOS 8 12 1 21 0,25
PELA 8 12 1 21 0,25
Anexo III Lista de palavras significativamente exclusivas
205
Quadro 52. Lista de palavras significativamente exclusivas nos press releases da
Tele_B (classificadas por índice de exclusividade) (cont.)
Palavra Comum Press release Notícia Total Excl. PR
CLIENTE 1 9 2 12 0,25
ACESSO 2 9 1 12 0,25
AO 6 11 1 18 0,25
INFORMAÇÕES 2 8 0 10 0,24
ATENDIMENTO 0 6 0 6 0,22
CONTROLE 0 6 0 6 0,22
DISPONÍVEL 0 6 0 6 0,22
PRINCIPALMENTE 0 6 0 6 0,22
RESULTADOS 0 6 0 6 0,22
WWW 2 8 1 11 0,22
NÚMERO 6 10 2 18 0,21
PARTIR 5 9 1 15 0,20
HOJE 2 8 2 12 0,20
ESTE 0 6 1 7 0,19
INVESTIMENTOS 0 6 1 7 0,19
MÉDIA 0 6 1 7 0,19
ACESSAR 1 6 0 7 0,19
HORAS 1 6 0 7 0,19
APRESENTA 0 5 0 5 0,19
CENTRAL 0 5 0 5 0,19
CONFORME 0 5 0 5 0,19
DISPOSIÇÃO 0 5 0 5 0,19
ENCONTRADOS 0 5 0 5 0,19
GARANTE 0 5 0 5 0,19
INFORMA 0 5 0 5 0,19
PODERÃO 0 5 0 5 0,19
SP 4 8 1 13 0,18
FORMA 1 7 2 10 0,18
LANÇAMENTO 1 7 2 10 0,18
MENOS 2 7 1 10 0,18
GRUPO 3 7 0 10 0,18
REDE 3 7 0 10 0,18
USUÁRIOS 5 8 1 14 0,17
RELAÇÃO 1 6 1 8 0,17
ESTÃO 2 6 0 8 0,17
GASTOS 2 6 0 8 0,17
PERMITE 2 6 0 8 0,17
TELECOMUNICAÇÕES 1 7 3 11 0,16
ASSINANTES 3 7 1 11 0,16
DOS 12 10 1 23 0,16
MESES 6 8 1 15 0,16
AFIRMA 0 5 1 6 0,15
OFERTA 0 5 1 6 0,15
FERNANDO 1 5 0 6 0,15
FERREIRA 1 5 0 6 0,15
FUNCIONA 1 5 0 6 0,15
QUALIDADE 1 5 0 6 0,15
BR 4 7 1 12 0,15
COMO 8 9 3 20 0,15
PODEM 3 8 5 16 0,15
LIGAR 2 6 1 9 0,15
ACABA 0 4 0 4 0,15
Anexo III Lista de palavras significativamente exclusivas
206
Quadro 52. Lista de palavras significativamente exclusivas nos press releases da
Tele_B (classificadas por índice de exclusividade) (cont.)
Palavra Comum Press release Notícia Total Excl. PR
BALANÇO 0 4 0 4 0,15
CHEGA 0 4 0 4 0,15
COMISSÃO 0 4 0 4 0,15
COMPLEMENTA 0 4 0 4 0,15
CONSOLIDADO 0 4 0 4 0,15
CVM 0 4 0 4 0,15
DEVERÁ 0 4 0 4 0,15
DISPONÍVEIS 0 4 0 4 0,15
ENTREGUE 0 4 0 4 0,15
ESPECIALMENTE 0 4 0 4 0,15
EXISTENTE 0 4 0 4 0,15
FIM 0 4 0 4 0,15
INCLUÍDOS 0 4 0 4 0,15
INICIAR 0 4 0 4 0,15
MOBILIÁRIOS 0 4 0 4 0,15
OBTIDO 0 4 0 4 0,15
OUVIR 0 4 0 4 0,15
S 0 4 0 4 0,15
SATISFAÇÃO 0 4 0 4 0,15
SUCESSO 0 4 0 4 0,15
Quadro 53. Lista de palavras significativamente exclusivas nas notícias sobre a Tele_A
(classificadas por índice de exclusividade)
Palavra Comum Press release Notícia Total Excl. Not.
COMUNICADO 0 0 7 7 0,26
SEGUNDO 4 4 10 18 0,21
DIVULGADO 0 0 5 5 0,19
NOVA 0 0 5 5 0,19
NACIONAL 1 4 8 13 0,18
FINAL 1 2 7 10 0,18
FIXA 2 3 7 12 0,15
OPERADORA 3 2 7 12 0,15
CONTROLADORA 0 0 4 4 0,15
DISSE 0 0 4 4 0,15
NOTA 0 0 4 4 0,15
PASSADO 0 0 4 4 0,15
TELES 0 0 4 4 0,15
ESTÃO 1 2 6 9 0,15
TEM 1 2 6 9 0,15
TELEMAR 3 0 6 9 0,15
ANUNCIOU 0 2 5 7 0,13
ANO 2 5 7 14 0,13
ENTRE 4 4 7 15 0,12
DIZ 0 1 4 5 0,12
ANTES 0 0 3 3 0,11
COMPRAR 0 0 3 3 0,11
DIVULGADA 0 0 3 3 0,11
ELA 0 0 3 3 0,11
HAVIA 0 0 3 3 0,11
TAMBÉM 7 3 7 17 0,11
Anexo III Lista de palavras significativamente exclusivas
207
Quadro 54. Lista de palavras significativamente exclusivas nas notícias sobre a Tele_B
(classificadas por índice de exclusividade)
Palavra Comum Press release Notícia Total Excl. Not.
DISSE 0 0 5 5 0,19
SEGUNDO 1 1 6 8 0,17
ENTANTO 0 0 4 4 0,15
EXISTEM 0 0 4 4 0,15
ONTEM 0 0 4 4 0,15
PRECISA 0 0 4 4 0,15
TIPOS 0 0 4 4 0,15
LANÇOU 0 2 5 7 0,13
COMPANHIA 0 1 4 5 0,12
NESTA 0 1 4 5 0,12
TERÁ 1 0 4 5 0,12
ALVO 0 0 3 3 0,11
CHAMADO 0 0 3 3 0,11
COBRADA 0 0 3 3 0,11
FASE 0 0 3 3 0,11
INFORMOU 0 0 3 3 0,11
INICIAL 0 0 3 3 0,11
MAS 0 0 3 3 0,11
REGISTROU 0 0 3 3 0,11
Anexo III Lista de palavras significativamente exclusivas
208