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Anais do II Simpósio de Violão da Embap, 2008 334 A MÚSICA INDÍGENA E SUA FUNÇÃO COMO BASE DE COMPOSIÇÃO PARA VIOLÃO 1 Willian Marcel Cordeiro Lentz 2 RESUMO: Para se abordar o contexto da música indígena dentro de composições eruditas é necessário possuir, além dos próprios conhecimentos da música ocidental, o conhecimento deste outro campo musical. Necessitamos dos conhecimentos históricos; dos desenvolvimentos teóricos sobre a música indígena; noções da instrumentação; no caso de se abordar um tema de certa tribo, entender seus costumes, qual a função da música nesta tribo e como ela é feita; e direcionar a composição especificamente para uma determinada instrumentação. Palavras-chave: Composição; Violão; Quarteto Podemos desenvolver duas formas de composição: na primeira a utilização de um ou mais temas e timbres particulares, apenas como uma coloratura ou para dirigir certa imagem ao ouvinte, tendo maior ênfase o sentido musical derivado da Europa; a segunda será composta mantendo as características do primitivo, mantendo as questões rituais, a visão do próprio índio perante a sonoridade, sendo que o que mais importa não é o envolvimento da música primitiva na música evoluída, mas o inverso. A história da música indígena sempre será a mesma, com pequenas alterações à medida que são descobertos certos detalhes. Os primeiros registros desta música datam do século XVI com a chegada dos portugueses ao Brasil. O principal objetivo dos portugueses na época do “descobrimento” era obter riquezas, dominar e adaptar seu estilo de vida em novas terras, estes são uns dos fatores pelos quais a cultura indígena despertou pouco interesse na época, mas isto não significa que foi totalmente ignorada. Os relatos da música indígena daquela época são vagos e de duvidosa aceitação. O primeiro pesquisador a registrar a música indígena em pauta foi 1 Trabalho apresentado ao II Simpósio Acadêmico de Violão da Embap, de 6 a 11 de outubro de 2008. 2 Graduando em Composição e Regência pela Embap.

22 William Lentz

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  • Anais do II Simpsio de Violo da Embap, 2008

    334

    A MSICA INDGENA E SUA FUNO COMO BASE DE COMPOSIO PARA VIOLO1

    Willian Marcel Cordeiro Lentz2

    RESUMO: Para se abordar o contexto da msica indgena dentro de composies eruditas necessrio possuir, alm dos prprios conhecimentos da msica ocidental, o conhecimento deste outro campo musical. Necessitamos dos conhecimentos histricos; dos desenvolvimentos tericos sobre a msica indgena; noes da instrumentao; no caso de se abordar um tema de certa tribo, entender seus costumes, qual a funo da msica nesta tribo e como ela feita; e direcionar a composio especificamente para uma determinada instrumentao.

    Palavras-chave: Composio; Violo; Quarteto

    Podemos desenvolver duas formas de composio: na primeira a

    utilizao de um ou mais temas e timbres particulares, apenas como uma

    coloratura ou para dirigir certa imagem ao ouvinte, tendo maior nfase o

    sentido musical derivado da Europa; a segunda ser composta mantendo as

    caractersticas do primitivo, mantendo as questes rituais, a viso do prprio

    ndio perante a sonoridade, sendo que o que mais importa no o

    envolvimento da msica primitiva na msica evoluda, mas o inverso.

    A histria da msica indgena sempre ser a mesma, com pequenas

    alteraes medida que so descobertos certos detalhes. Os primeiros

    registros desta msica datam do sculo XVI com a chegada dos portugueses

    ao Brasil. O principal objetivo dos portugueses na poca do descobrimento

    era obter riquezas, dominar e adaptar seu estilo de vida em novas terras, estes

    so uns dos fatores pelos quais a cultura indgena despertou pouco interesse

    na poca, mas isto no significa que foi totalmente ignorada.

    Os relatos da msica indgena daquela poca so vagos e de duvidosa

    aceitao. O primeiro pesquisador a registrar a msica indgena em pauta foi

    1 Trabalho apresentado ao II Simpsio Acadmico de Violo da Embap, de 6 a 11 de outubro de 2008. 2 Graduando em Composio e Regncia pela Embap.

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    Jean Lery, estudante de Teologia, entre 1557 e 1558, sendo os nicos relatos

    grafados desta poca as anotaes da msica Tupinamb.

    Em 1934 o msico Luciano Gallet desenvolve um estudo sobre a msica

    indgena nos seus Estudos de Folclore. Notando, ao observar as pesquisas

    anteriores sua, o pouco progresso da msica indgena at aquela poca.

    Comparou-a as formas europias: a diferena na escala musical, insinuando

    quartos de tom; diversidade no sistema harmnico e quadratura rtmica sem

    relao com a da msica europia.

    Em seguida no ano de 1938 Luiz Heitor Corra de Azevedo em sua tese:

    Escala, ritmo e melodia dos ndios brasileiros, discute a respeito dos quartos

    de tom, e discute, envolvendo a msica africana, a ocorrncia da desafinao

    ao entoarem-se certas melodias, tanto no canto como na msica instrumental,

    levando-se a pensar na existncia do quarto de tom, o que poderia descartar

    as idias iniciadas por Gallet. Acentua a deficincia da msica primitiva na

    emisso exata das notas. Cita a forma da escala heptafnica entre os ndios

    percebendo a relao com a msica ocidental, mas adverte o fato de existir

    contato das tribos com os brancos.

    Grande pesquisador sobre a msica indgena brasileira foi Darcy

    Ribeiro. No ano em que entra em contato com a tribo Mbay (1948), presencia

    um ritual fnebre:

    Em que o xam prevendo a morte de um ndio encerrava-se num

    cercado de esteiras e cantava fazendo os ltimos esforos para obrigar a alma a voltar para o corpo (...). Quando o moribundo comeava a expirar, o nidjienigi (xam) tomava o chocalho e saa em disparada, corria um quarto de lgua, gritando, cantando e chamando a alma. Aps a morte do mbay juntavam-se todas as mulheres, choravam e cantavam os feitos hericos do falecido.(CAMU, Helza, 1977)

    Importantes documentos so os fonogramas recolhidos por Darcy

    Ribeiro, os quais representam a situao musical das tribos, por exemplo, a

    Kadiweu e Ofai, que alm de revelarem manifestaes de real importncia,

    representam os ltimos flagrantes caracterizando os grupos, que foram se

    modificando com a presena da civilizao. Os coros Ofais so os ltimos

    gravados, em que revelam as particularidades do grupo e seu estilo, o qual o pesquisador surpreendeu-se com a sincronizao perfeita.

  • Anais do II Simpsio de Violo da Embap, 2008

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    Terence Turner, em 1963, pesquisando os Kayaps do Norte estuda a

    msica relacionada s questes sociais e cerimoniais mostrando sua grande

    importncia dentro da tribo. Percebe-se como na maioria das tribos o canto

    coral quase sempre acompanha as danas.

    Ao passar dos sculos a cultura indgena tem sofrido fortes impactos

    pela presena de outras culturas, adaptando a seu modo de vida as culturas

    que entraram em contato com seu povo.

    Atualmente o modo de vida de muitas tribos indgenas encontra-se mais

    prxima da civilizao, por exemplo, dos ndios Guarani, no Paran, na sua

    msica se percebe a base de sua cultura, e se encontra o canto coral e a

    marcao rtmica caracterstica da msica tribal, porm implementada por

    instrumentos como o violo, o violino, e tambm alguns outros instrumentos

    que em sua origem no faziam parte de sua msica, estas canes rituais

    gravadas so comercializadas, fazendo com que a msica se popularize e para

    se obter lucro sobre sua venda, por um lado importante para a cultura

    brasileira ter maior conhecimento de sua msica nativa, mas por outro os

    povos indgenas perdem sua cultura original, afastando-se cada vez mais de

    suas origens. Porm, ainda encontram-se pequenos grupos indgenas localizados

    mata adentro em locais que pouqussimos antroplogos e pesquisadores

    chegaram, no Pantanal, Acre e Amaznia, por exemplo, no interior destas

    tribos praticam-se rituais ao modo de seus antepassados.

    As melodias indgenas variam de tribo para tribo, e em cada uma foi se

    desenvolvendo, com o passar do tempo, formas meldicas fixas. O repouso e a

    acentuao so pontos que do sentido, como na msica europia, linha

    meldica tribal.

    A msica se caracteriza por pontos bsicos e pontos condutores, que

    pelos estudos de Helza Camu, podemos chamar de sons bsicos e sons

    condutores. Os condutores so os repousos mais breves que do sentido

    melodia.

    Analisando estes pontos de apoio encontramos trs tipos: o contnuo, o

    meio-conclusivo e o conclusivo. As formas contnuas so encadeamentos que

    pela sua formao tendem a se repetir indefinidamente. O meio-conclusivo o

  • Anais do II Simpsio de Violo da Embap, 2008

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    que mantem a suspenso podendo ser concludo. J a ltima forma o

    caminho final para o qual a melodia levada, o remate final.

    Para manter o sentido meldico percebe-se o uso de um nico som que

    serve de apoio, o que leva a um sentido cadencial de destaque dentro da

    melodia executada. Em algumas tribos, como os Kayow e Urubus, nota-se a

    repetio constante do som fundamental, que d um sentido de fora

    condutora envolvendo o todo.

    Para se desenvolver a amplitude musical usa-se a imitao, que busca

    sua origem na repetio de um som nico. Esta repetio se nota em toda

    sociedade primria. Dentro destas repeties encontram-se variaes

    meldicas que do as principais caractersticas da msica cantada.

    A necessidade de se formar escalas fixas a determinadas tribos um

    trabalho que exige cautela, pois necessrio obter um grande nmero de

    cantos e execues instrumentais para se encontrar as sries gerais, que

    seriam os sons comuns encontrados nas melodias cantadas, para da se

    elaborar as sries parciais, que so a denominao da escala alcanada por

    cada tribo, todas estas anlises tm como fundo racional o sentido tonal da

    msica do ocidente.

    Muitos pesquisadores j elaboraram estudos e seriaram msicas das

    tribos que cada um estava a pesquisar e a diferena de uma tribo para outra

    muito extensa, enquanto algumas, como a tribo Tupinamb e os Mura, tem

    extenso de 7 a 8 sons respectivamente, outras como os Pares e os Kadiweu,

    tem sua escala geral formada por 25 a 40 sons respectivamente. Por causa

    destas grandes diferenas encontradas se torna complicado se desenvolver

    formas fixas, ainda porque necessrio se aumentar o nmero de canes

    analisadas para se ter certa segurana do que se fixar como forma definitiva.

    Na msica indgena h a repetio simples e o desenvolvimento. Na

    repetio a regularidade rtmica obedecida com rigor, por no haver variao

    alguma. O desenvolvimento se processa do desenho completo ou fragmentado

    estabelecendo a regularidade necessria para manter o sentido e a lgica.

    No canto silbico a regularidade rtmica absoluta pela

    interdependncia entre letra e msica.

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    Pode-se notar em outros cantos a fragmentao da palavra, como

    tambm a prolongao de vogais; encontram-se tambm a omisso de slabas

    e deslocao da acentuao.

    Sendo a regularidade rtmica fato instintivo, estes fenmenos podem

    ocorrer em qualquer nvel de cultura.

    O ritmo tem grande importncia, pela nova frmula que um mesmo

    desenho pode ser representado ao se mudar sua forma rtmica.

    Com relao aos compassos encontram-se valores (relacionados a

    msica ocidental): simples, como 2/2, 2/4, 3/8, 4/4, e compostos, como 6/8 e

    9/8.

    A acentuao rtmica dentro da msica indgena simples, e encontrada

    sempre na cabea do tempo. Nas observaes feitas sobre a tribo Kadiweu em

    compassos de 6/8 notam-se dois tipos de acentuao:

    a) dividindo as unidades de tempo em dois grupos (anexo 1);

    b) dividindo as unidades de tempo em trs grupos (anexo2).

    Em canes de muitas tribos se encontra marcaes de tempo variadas,

    juntamente com as acentuaes que mudam o carter do ritmo realizado.

    A msica ritual a expresso mais importante dentro das tribos

    indgenas. Como j foi visto, desde o sculo XVI foi observado a sua

    importncia. Quase sempre a dana acompanha a melodia marcando o ritmo.

    A utilizao da msica indgena dentro da msica erudita j foi adotada

    por compositores como H. Villa-Lobos, um exemplo a sute O Descobrimento

    do Brasil, em que ele faz experincias com os sons e os utiliza de forma

    generalizada.

    O desenvolvimento de mtodos, no sentido de definir escalas e poder

    utilizar cada uma com suas caractersticas dentro de novas composies,

    utilizando no s instrumentos indgenas e sim mesclando a msica primitiva

    brasileira com a msica moderna e instrumentos desenvolvidos no ocidente,

    o principal objetivo deste estudo.

    O primeiro passo se desenvolver as sries parciais, separando-as e

    organizando-as de acordo com cada tribo, este um caminho para se designar

    modos indgenas, relacionando cada qual com sua utilizao em cada tribo. A

    maioria das sries foram elaboradas partir dos estudos feitos entre o sculo

    XVI a meados do sculo XX

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    O segundo passo desenvolver a parte rtmica encontrada em cada

    tribo envolvendo suas caractersticas individuais.

    O terceiro seria a juno dos elementos anteriores, melodias (escalas),

    e ritmos, trabalhando dentro destas funes processos que iro dar o carter

    principal da pea.

    Aps se obter todos os conhecimentos necessrios h um amplo

    caminho que pode ser seguido, no espao primitivo-civilizado, em que a unio,

    tanto dos conceitos musicais quanto do uso de instrumentos variados pode

    exercer um funcionamento musical de caractersticas sonoras de grande

    interesse para a msica contempornea.

    Direcionando todo este raciocnio para a elaborao de uma obra para

    violo surge a composio de minha autoria chamada Bebidas Cerimoniais,

    baseada em fontes notadas no livro de Helza Camu feitas pelo antroplogo

    Darcy Ribeiro sobre sua pesquisa realizada dentro da tribo Kadiweu.

    A tribo Kadiweu se envolveu ao lado do Brasil na Guerra do Paraguai,

    esta tribo tem caracterstica de um povo pecurio, considerados bons

    montadores. Uma de suas diferenas culturais dentre as outras tribos que

    quando se referem ao paj o chamam de Capito.

    Quanto cerimnia ela faz referncia Guerra do Paraguai e

    principalmente aos navios avistados pelos ndios no rio Paraguai. Durante esta

    cerimnia, que dura alguns dias, todo o grupo organiza-se em uma espcie de

    regime militar e cada personagem desta cerimnia recebe seus cargos, tais

    como cabo, sargento, etc. Como encontrado dentro da composio.

    O principal objetivo com referncia ao violo como instrumento foi a de

    se realizar um trabalho que pudesse utilizar sons caractersticos no

    tradicionais. Como idia principal, explorar a questo percussiva possvel de

    ser executada ao violo, servindo de exemplo o rufato.

    O objetivo secundrio foi a utilizao do sistema tonal para elaborar a

    composio baseada nos temas da msica Kadiweu.

    A questo da repetio, que tem a funo de levar o indivduo ao transe,

    tambm foi adotada, mantendo as caractersticas presentes nos rituais

    indgenas compreendidos num todo.

    A cerimnia divide-se em sete partes:

  • Anais do II Simpsio de Violo da Embap, 2008

    340

    1. A primeira com os homens chamando o Capito: caracterizada pelo

    uso do tambor como nico instrumento;

    2. Introduo cerimnia: executado com flautas e tambor;

    3. Formao dos soldados para a cerimnia: marcao rtmica utilizando

    somente o tambor;

    4. As ltimas quatro partes nas quais bebem o capito, o sargento, o

    cabo e os soldados: em que o tema musical abordado no incio da

    cerimnia sofre pequenas variaes,

    A abordagem de estudos feitos sobre pontos em comum dentro das

    tribos brasileiras, como frmulas rtmicas, msica vocal e uso de intervalos

    musicais, e o envolvimento da funo que a msica tem de levar o indivduo

    ao transe, servem de base para desenvolver principalmente o Preldio, que

    no est envolvido diretamente com a cerimnia, e os movimentos

    seqenciais a ele.

    Os passos seguidos nos movimentos seguintes ao Preldio envolvem a

    repetio, a utilizao das melodias das canes que so originariamente

    executadas somente por flautas, a variao rtmica, sons que idealizam

    uma imagem pertencente aos sons da natureza, harmonizao, e

    diferenciaes timbrsticas. No foi utilizada a armadura de clave para

    indicar a tonalidade, mantendo o sentido de que a msica nativa no

    executada com o pensamento da utilizao deste conceito.

    Sobre as formas tcnicas o uso do rufo se destaca, este efeito consiste

    numa forma de execuo em que o som proporcionado pelas cordas

    tranadas, a inferior sobre a superior, lembre ao timbre de um tambor,

    instrumento presente em toda a produo sonora da msica cerimonial,

    pode ser utilizado em toda a extenso do brao, soando em diversos tons.

    As tcnicas de percusso na caixa de ressonncia tambm so

    adotadas, em todas as regies. O uso das cordas na parte da pestana, na

    mo do violo, entra como a funo do som da natureza, na imitao dos

    sons noturnos parecendo grilos, o resto dos efeitos naturais, so

    executados da forma tradicional sobre as cordas do instrumento, como

    harmnicos naturais, por exemplo. Proporcionando a sonoridade de todos

    estes elementos envolvidos.

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    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    CAMU, Helza. Introduo ao Estudo da msica Indgena Brasileira. Rio de Janeiro, 1977. PECHINCHA, Mnica Thereza Soares. Kadiweu. Disponvel em www.socioambiental.org/pib/epi/kadiweu/kadiweu.shtm.

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    A MSICA INDGENA E SUA FUNO COMO BASE DE COMPOSIO PARA VIOLO1

    Willian Marcel Cordeiro Lentz2

    RESUMO: Para se abordar o contexto da msica indgena dentro de composies eruditas necessrio possuir, alm dos prprios conhecimentos da msica ocidental, o conhecimento deste outro campo musical. Necessitamos dos conhecimentos histricos; dos desenvolvimentos tericos sobre a msica indgena; noes da instrumentao; no caso de se abordar um tema de certa tribo, entender seus costumes, qual a funo da msica nesta tribo e como ela feita; e direcionar a composio especificamente para uma determinada instrumentao.

    Palavras-chave: Composio; Violo; Quarteto

    Podemos desenvolver duas formas de composio: na primeira a

    utilizao de um ou mais temas e timbres particulares, apenas como uma

    coloratura ou para dirigir certa imagem ao ouvinte, tendo maior nfase o

    sentido musical derivado da Europa; a segunda ser composta mantendo as

    caractersticas do primitivo, mantendo as questes rituais, a viso do prprio

    ndio perante a sonoridade, sendo que o que mais importa no o

    envolvimento da msica primitiva na msica evoluda, mas o inverso.

    A histria da msica indgena sempre ser a mesma, com pequenas

    alteraes medida que so descobertos certos detalhes. Os primeiros

    registros desta msica datam do sculo XVI com a chegada dos portugueses

    ao Brasil. O principal objetivo dos portugueses na poca do descobrimento

    era obter riquezas, dominar e adaptar seu estilo de vida em novas terras, estes

    so uns dos fatores pelos quais a cultura indgena despertou pouco interesse

    na poca, mas isto no significa que foi totalmente ignorada.

    Os relatos da msica indgena daquela poca so vagos e de duvidosa

    aceitao. O primeiro pesquisador a registrar a msica indgena em pauta foi

    1 Trabalho apresentado ao II Simpsio Acadmico de Violo da Embap, de 6 a 11 de outubro de 2008. 2 Graduando em Composio e Regncia pela Embap.

  • Anais do II Simpsio de Violo da Embap, 2008

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    Jean Lery, estudante de Teologia, entre 1557 e 1558, sendo os nicos relatos

    grafados desta poca as anotaes da msica Tupinamb.

    Em 1934 o msico Luciano Gallet desenvolve um estudo sobre a msica

    indgena nos seus Estudos de Folclore. Notando, ao observar as pesquisas

    anteriores sua, o pouco progresso da msica indgena at aquela poca.

    Comparou-a as formas europias: a diferena na escala musical, insinuando

    quartos de tom; diversidade no sistema harmnico e quadratura rtmica sem

    relao com a da msica europia.

    Em seguida no ano de 1938 Luiz Heitor Corra de Azevedo em sua tese:

    Escala, ritmo e melodia dos ndios brasileiros, discute a respeito dos quartos

    de tom, e discute, envolvendo a msica africana, a ocorrncia da desafinao

    ao entoarem-se certas melodias, tanto no canto como na msica instrumental,

    levando-se a pensar na existncia do quarto de tom, o que poderia descartar

    as idias iniciadas por Gallet. Acentua a deficincia da msica primitiva na

    emisso exata das notas. Cita a forma da escala heptafnica entre os ndios

    percebendo a relao com a msica ocidental, mas adverte o fato de existir

    contato das tribos com os brancos.

    Grande pesquisador sobre a msica indgena brasileira foi Darcy

    Ribeiro. No ano em que entra em contato com a tribo Mbay (1948), presencia

    um ritual fnebre:

    Em que o xam prevendo a morte de um ndio encerrava-se num

    cercado de esteiras e cantava fazendo os ltimos esforos para obrigar a alma a voltar para o corpo (...). Quando o moribundo comeava a expirar, o nidjienigi (xam) tomava o chocalho e saa em disparada, corria um quarto de lgua, gritando, cantando e chamando a alma. Aps a morte do mbay juntavam-se todas as mulheres, choravam e cantavam os feitos hericos do falecido.(CAMU, Helza, 1977)

    Importantes documentos so os fonogramas recolhidos por Darcy

    Ribeiro, os quais representam a situao musical das tribos, por exemplo, a

    Kadiweu e Ofai, que alm de revelarem manifestaes de real importncia,

    representam os ltimos flagrantes caracterizando os grupos, que foram se

    modificando com a presena da civilizao. Os coros Ofais so os ltimos

    gravados, em que revelam as particularidades do grupo e seu estilo, o qual o pesquisador surpreendeu-se com a sincronizao perfeita.

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    Terence Turner, em 1963, pesquisando os Kayaps do Norte estuda a

    msica relacionada s questes sociais e cerimoniais mostrando sua grande

    importncia dentro da tribo. Percebe-se como na maioria das tribos o canto

    coral quase sempre acompanha as danas.

    Ao passar dos sculos a cultura indgena tem sofrido fortes impactos

    pela presena de outras culturas, adaptando a seu modo de vida as culturas

    que entraram em contato com seu povo.

    Atualmente o modo de vida de muitas tribos indgenas encontra-se mais

    prxima da civilizao, por exemplo, dos ndios Guarani, no Paran, na sua

    msica se percebe a base de sua cultura, e se encontra o canto coral e a

    marcao rtmica caracterstica da msica tribal, porm implementada por

    instrumentos como o violo, o violino, e tambm alguns outros instrumentos

    que em sua origem no faziam parte de sua msica, estas canes rituais

    gravadas so comercializadas, fazendo com que a msica se popularize e para

    se obter lucro sobre sua venda, por um lado importante para a cultura

    brasileira ter maior conhecimento de sua msica nativa, mas por outro os

    povos indgenas perdem sua cultura original, afastando-se cada vez mais de

    suas origens. Porm, ainda encontram-se pequenos grupos indgenas localizados

    mata adentro em locais que pouqussimos antroplogos e pesquisadores

    chegaram, no Pantanal, Acre e Amaznia, por exemplo, no interior destas

    tribos praticam-se rituais ao modo de seus antepassados.

    As melodias indgenas variam de tribo para tribo, e em cada uma foi se

    desenvolvendo, com o passar do tempo, formas meldicas fixas. O repouso e a

    acentuao so pontos que do sentido, como na msica europia, linha

    meldica tribal.

    A msica se caracteriza por pontos bsicos e pontos condutores, que

    pelos estudos de Helza Camu, podemos chamar de sons bsicos e sons

    condutores. Os condutores so os repousos mais breves que do sentido

    melodia.

    Analisando estes pontos de apoio encontramos trs tipos: o contnuo, o

    meio-conclusivo e o conclusivo. As formas contnuas so encadeamentos que

    pela sua formao tendem a se repetir indefinidamente. O meio-conclusivo o

  • Anais do II Simpsio de Violo da Embap, 2008

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    que mantem a suspenso podendo ser concludo. J a ltima forma o

    caminho final para o qual a melodia levada, o remate final.

    Para manter o sentido meldico percebe-se o uso de um nico som que

    serve de apoio, o que leva a um sentido cadencial de destaque dentro da

    melodia executada. Em algumas tribos, como os Kayow e Urubus, nota-se a

    repetio constante do som fundamental, que d um sentido de fora

    condutora envolvendo o todo.

    Para se desenvolver a amplitude musical usa-se a imitao, que busca

    sua origem na repetio de um som nico. Esta repetio se nota em toda

    sociedade primria. Dentro destas repeties encontram-se variaes

    meldicas que do as principais caractersticas da msica cantada.

    A necessidade de se formar escalas fixas a determinadas tribos um

    trabalho que exige cautela, pois necessrio obter um grande nmero de

    cantos e execues instrumentais para se encontrar as sries gerais, que

    seriam os sons comuns encontrados nas melodias cantadas, para da se

    elaborar as sries parciais, que so a denominao da escala alcanada por

    cada tribo, todas estas anlises tm como fundo racional o sentido tonal da

    msica do ocidente.

    Muitos pesquisadores j elaboraram estudos e seriaram msicas das

    tribos que cada um estava a pesquisar e a diferena de uma tribo para outra

    muito extensa, enquanto algumas, como a tribo Tupinamb e os Mura, tem

    extenso de 7 a 8 sons respectivamente, outras como os Pares e os Kadiweu,

    tem sua escala geral formada por 25 a 40 sons respectivamente. Por causa

    destas grandes diferenas encontradas se torna complicado se desenvolver

    formas fixas, ainda porque necessrio se aumentar o nmero de canes

    analisadas para se ter certa segurana do que se fixar como forma definitiva.

    Na msica indgena h a repetio simples e o desenvolvimento. Na

    repetio a regularidade rtmica obedecida com rigor, por no haver variao

    alguma. O desenvolvimento se processa do desenho completo ou fragmentado

    estabelecendo a regularidade necessria para manter o sentido e a lgica.

    No canto silbico a regularidade rtmica absoluta pela

    interdependncia entre letra e msica.

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    Pode-se notar em outros cantos a fragmentao da palavra, como

    tambm a prolongao de vogais; encontram-se tambm a omisso de slabas

    e deslocao da acentuao.

    Sendo a regularidade rtmica fato instintivo, estes fenmenos podem

    ocorrer em qualquer nvel de cultura.

    O ritmo tem grande importncia, pela nova frmula que um mesmo

    desenho pode ser representado ao se mudar sua forma rtmica.

    Com relao aos compassos encontram-se valores (relacionados a

    msica ocidental): simples, como 2/2, 2/4, 3/8, 4/4, e compostos, como 6/8 e

    9/8.

    A acentuao rtmica dentro da msica indgena simples, e encontrada

    sempre na cabea do tempo. Nas observaes feitas sobre a tribo Kadiweu em

    compassos de 6/8 notam-se dois tipos de acentuao:

    a) dividindo as unidades de tempo em dois grupos (anexo 1);

    b) dividindo as unidades de tempo em trs grupos (anexo2).

    Em canes de muitas tribos se encontra marcaes de tempo variadas,

    juntamente com as acentuaes que mudam o carter do ritmo realizado.

    A msica ritual a expresso mais importante dentro das tribos

    indgenas. Como j foi visto, desde o sculo XVI foi observado a sua

    importncia. Quase sempre a dana acompanha a melodia marcando o ritmo.

    A utilizao da msica indgena dentro da msica erudita j foi adotada

    por compositores como H. Villa-Lobos, um exemplo a sute O Descobrimento

    do Brasil, em que ele faz experincias com os sons e os utiliza de forma

    generalizada.

    O desenvolvimento de mtodos, no sentido de definir escalas e poder

    utilizar cada uma com suas caractersticas dentro de novas composies,

    utilizando no s instrumentos indgenas e sim mesclando a msica primitiva

    brasileira com a msica moderna e instrumentos desenvolvidos no ocidente,

    o principal objetivo deste estudo.

    O primeiro passo se desenvolver as sries parciais, separando-as e

    organizando-as de acordo com cada tribo, este um caminho para se designar

    modos indgenas, relacionando cada qual com sua utilizao em cada tribo. A

    maioria das sries foram elaboradas partir dos estudos feitos entre o sculo

    XVI a meados do sculo XX

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    O segundo passo desenvolver a parte rtmica encontrada em cada

    tribo envolvendo suas caractersticas individuais.

    O terceiro seria a juno dos elementos anteriores, melodias (escalas),

    e ritmos, trabalhando dentro destas funes processos que iro dar o carter

    principal da pea.

    Aps se obter todos os conhecimentos necessrios h um amplo

    caminho que pode ser seguido, no espao primitivo-civilizado, em que a unio,

    tanto dos conceitos musicais quanto do uso de instrumentos variados pode

    exercer um funcionamento musical de caractersticas sonoras de grande

    interesse para a msica contempornea.

    Direcionando todo este raciocnio para a elaborao de uma obra para

    violo surge a composio de minha autoria chamada Bebidas Cerimoniais,

    baseada em fontes notadas no livro de Helza Camu feitas pelo antroplogo

    Darcy Ribeiro sobre sua pesquisa realizada dentro da tribo Kadiweu.

    A tribo Kadiweu se envolveu ao lado do Brasil na Guerra do Paraguai,

    esta tribo tem caracterstica de um povo pecurio, considerados bons

    montadores. Uma de suas diferenas culturais dentre as outras tribos que

    quando se referem ao paj o chamam de Capito.

    Quanto cerimnia ela faz referncia Guerra do Paraguai e

    principalmente aos navios avistados pelos ndios no rio Paraguai. Durante esta

    cerimnia, que dura alguns dias, todo o grupo organiza-se em uma espcie de

    regime militar e cada personagem desta cerimnia recebe seus cargos, tais

    como cabo, sargento, etc. Como encontrado dentro da composio.

    O principal objetivo com referncia ao violo como instrumento foi a de

    se realizar um trabalho que pudesse utilizar sons caractersticos no

    tradicionais. Como idia principal, explorar a questo percussiva possvel de

    ser executada ao violo, servindo de exemplo o rufato.

    O objetivo secundrio foi a utilizao do sistema tonal para elaborar a

    composio baseada nos temas da msica Kadiweu.

    A questo da repetio, que tem a funo de levar o indivduo ao transe,

    tambm foi adotada, mantendo as caractersticas presentes nos rituais

    indgenas compreendidos num todo.

    A cerimnia divide-se em sete partes:

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    1. A primeira com os homens chamando o Capito: caracterizada pelo

    uso do tambor como nico instrumento;

    2. Introduo cerimnia: executado com flautas e tambor;

    3. Formao dos soldados para a cerimnia: marcao rtmica utilizando

    somente o tambor;

    4. As ltimas quatro partes nas quais bebem o capito, o sargento, o

    cabo e os soldados: em que o tema musical abordado no incio da

    cerimnia sofre pequenas variaes,

    A abordagem de estudos feitos sobre pontos em comum dentro das

    tribos brasileiras, como frmulas rtmicas, msica vocal e uso de intervalos

    musicais, e o envolvimento da funo que a msica tem de levar o indivduo

    ao transe, servem de base para desenvolver principalmente o Preldio, que

    no est envolvido diretamente com a cerimnia, e os movimentos

    seqenciais a ele.

    Os passos seguidos nos movimentos seguintes ao Preldio envolvem a

    repetio, a utilizao das melodias das canes que so originariamente

    executadas somente por flautas, a variao rtmica, sons que idealizam

    uma imagem pertencente aos sons da natureza, harmonizao, e

    diferenciaes timbrsticas. No foi utilizada a armadura de clave para

    indicar a tonalidade, mantendo o sentido de que a msica nativa no

    executada com o pensamento da utilizao deste conceito.

    Sobre as formas tcnicas o uso do rufo se destaca, este efeito consiste

    numa forma de execuo em que o som proporcionado pelas cordas

    tranadas, a inferior sobre a superior, lembre ao timbre de um tambor,

    instrumento presente em toda a produo sonora da msica cerimonial,

    pode ser utilizado em toda a extenso do brao, soando em diversos tons.

    As tcnicas de percusso na caixa de ressonncia tambm so

    adotadas, em todas as regies. O uso das cordas na parte da pestana, na

    mo do violo, entra como a funo do som da natureza, na imitao dos

    sons noturnos parecendo grilos, o resto dos efeitos naturais, so

    executados da forma tradicional sobre as cordas do instrumento, como

    harmnicos naturais, por exemplo. Proporcionando a sonoridade de todos

    estes elementos envolvidos.

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    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    CAMU, Helza. Introduo ao Estudo da msica Indgena Brasileira. Rio de Janeiro, 1977. PECHINCHA, Mnica Thereza Soares. Kadiweu. Disponvel em www.socioambiental.org/pib/epi/kadiweu/kadiweu.shtm.

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    ANEXOS

    1.

    2.

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