138
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA “APLICAÇÃO DE NANOPARTÍCULAS EM FILMES UTILIZADOS EM EMBALAGENS PARA ALIMENTOS” Márcia Regina de Moura Aouada* Tese apresentada como parte dos requisitos para obtenção do título de DOUTORA EM CIÊNCIAS, área de concentração: FÍSICO- QUÍMICA. Orientador: Luiz Henrique Capparelli Mattoso * bolsista CNPq São Carlos - SP 2009

2416

Embed Size (px)

DESCRIPTION

....

Citation preview

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE SO CARLOS CENTRO DE CINCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA

    DEPARTAMENTO DE QUMICA PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM QUMICA

    APLICAO DE NANOPARTCULAS EM FILMES UTILIZADOS EM EMBALAGENS PARA ALIMENTOS

    Mrcia Regina de Moura Aouada*

    Tese apresentada como parte dos requisitos para obteno do ttulo de DOUTORA EM CINCIAS, rea de concentrao: FSICO-QUMICA.

    Orientador: Luiz Henrique Capparelli Mattoso

    * bolsista CNPq

    So Carlos - SP 2009

  • Ficha catalogrfica elaborada pelo DePT da Biblioteca Comunitria/UFSCar

    A638an

    Aouada, Mrcia Regina de Moura. Aplicao de nanopartculas em filmes utilizados em embalagens para alimentos / Mrcia Regina de Moura Aouada. -- So Carlos : UFSCar, 2009. 119 f. Tese (Doutorado) -- Universidade Federal de So Carlos, 2009. 1. Fsico-qumica. 2. Quitosana. 3. Filmes comestveis. 4. Hidroxipropil metilcelulose. 5. Propriedades de barreira. I. Ttulo. CDD: 541.3 (20a)

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE SO CARLOSCentrodeCinciasExatasedeTecnologia

    DepartamentodeQumicaPROGRAMA DE PS-GRADUAO EM QUMICA

    CursodeDoutorado

    Assinaturasdos membrosda bancaexaminadoraqueavaliarame

    aprovarama defesadetesededoutoradoda candidataMarciaReginade

    Moura Aouadarealizadaem30deabril de2009:

    ~~Dr.LuizHenriqueCapparelliMattoso

    . uenritteMonteiroCordeirodeAzeredo

    /~k~MProf.Dr.LeonardoFemandesFraceto

  • Eu vos louvarei de todo o corao, Senhor, porque ouvistes as minhas palavras. Na presena dos anjos eu vos cantarei. Ante vosso santo templo prostrar-me-ei, e louvarei o

    vosso nome, pela vossa bondade e fidelidade, porque acima de todas as coisas, exaltastes o vosso nome e a vossa promessa. Quando vos invoquei, vs me respondestes; fizestes crescer a fora de minha alma. Ho de vos louvar, Senhor, todos os reis da terra, ao

    ouvirem as palavras de vossa boca. E celebraro os desgnios do Senhor: Verdadeiramente, grande a glria do Senhor. Sim, excelso o Senhor, mas olha os

    pequeninos, enquanto seu olhar perscruta os soberbos. Em meio adversidade vs me conservais a vida, estendeis a mo contra a clera de meus inimigos; salva-me a vossa

    mo. O Senhor completar o que em meu auxlio comeou. Senhor, eterna a vossa bondade: no abandoneis a obra de vossas mos.

    SALMO 137 - Agradecimento

  • Dedico esta tese aos meus

    pais, PAULO RAIMUNDO e OLIVIA TEREZINHA, pelos maiores e valiosos ensinamentos.

    Por ter vocs, nenhuma dificuldade impedimento e toda alegria completa.

  • Dedico esta tese ao meu amor

    FAUZE AOUADA, pelo carinho, ateno, fora e por sempre estar ao meu lado.

  • AGRADECIMENTOS

    A DEUS, pela vida e pela presena constante nela, que me d fora para ir cada vez mais longe.

    Ao Dr. LUIZ MATTOSO, pela orientao, incentivo, confiana, amizade e por

    acreditar em mim na realizao do trabalho. Meus sinceros agradecimentos.

    Aos meus irmos ANA PAULA e LUIZ GUSTAVO, pela amizade e confiana, por acreditarem em mim, me mostrando que posso alcanar tudo que desejo.

    Aos pesquisadores Dr. JOHN M. KROCHTA, Dra. TARA H. MCHUGH e Dr.

    ROBERTO J. AVENA-BUSTILLOS do USDA, Estados Unidos, Albany-Califrnia, pela infra-estrutura disponibilizada, por compartilharem seus conhecimentos comigo e por

    todo auxlio e ensinamento dado a mim e ao trabalho.

    A Dra. HENRIETTE MONTEIRO CORDEIRO DE AZEREDO da Embrapa-CNPAT, pela amizade e disponibilidade a mim dispensada em vrios momentos.

    A professora e Dra. LCIA HELENA MASCARO da UFSCar, pela ateno e

    incentivo dado na correo do projeto de Doutorado e relatrios.

    Aos professores Dr. LEONARDO FRACETO e RENATA DE LIMA pela amizade, partilha de conhecimentos e estudo toxicolgico das nanoestruturas.

    Aos secretrios, bibliotecrios, telefonistas, pesquisadores, tcnicos, etc, a todos os colegas

    da EMBRAPA-CNPDIA sempre atenciosos e prestativos.

    A EMBRAPA INSTRUMENTAO AGROPECURIA, pela infra-estrutura e pelo excelente ambiente de trabalho.

    Ao Departamento de Qumica, da UNIVERSIDADE FEDERAL DE SO CARLOS,

    pela oportunidade dada na realizao do Doutorado e apoio na pesquisa.

    Aos amigos da EMBRAPA-CNPDIA que de uma maneira ou de outra contriburam para meu aprimoramento e fizeram parte do meu dia-a-dia.

    Ao CNPq pelo apoio financeiro.

  • PRODUO CIENTFICA

    Publicaes em Peridicos:

    - MOURA, Mrcia R. de; AOUADA, Fauze A.; AVENA-

    BUSTILLOS, Roberto J.; MCHUGH, Tara H.; KROCHTA, John M.; MATTOSO,

    Luiz Henrique C. Improved barrier and mechanical properties of novel

    hydroxypropyl methylcellulose edible films with chitosan/tripolyphosphate

    nanoparticles. Journal of Food Engineering, 92: 448-53; 2009.

    - MOURA, Mrcia R. de; AVENA-BUSTILLOS, Roberto J.;

    MCHUGH, Tara H.; KROCHTA, John M.; MATTOSO, Luiz Henrique C.

    Properties of novel hydroxypropyl methylcellulose films containing chitosan

    nanoparticles. Journal of Food Science, 73: 31-7; 2008.

    - MOURA, Mrcia R. de; AOUADA, Fauze A.; MATTOSO, Luiz

    Henrique C. Preparation of chitosan nanoparticles using methacrylic acid.

    Journal of Colloid and Interface Science, 321: 477-83; 2008.

    - AZEREDO, Henriette M.C.; MOURA, Mrcia R. de; OLSEN, Carl;

    DU, Wen-X.; MATTOSO, Luiz Henrique C.; AVENA-BUSTILLOS, Roberto J.;

    McHUGH, Tara H. Performance of mango puree edible films as affected by

    chitosan submicronparticles and high methoxyl pectin. International Journal of

    Food Science & Technology, submetido.

    - MOURA, Mrcia R. de; AOUADA, Fauze A.; FRACETO,

    Leonardo F.; LIMA, Renata de; MATTOSO, Luiz Henrique C. Evaluation of

    toxicity of chitosan nanoparticles. Journal of Colloid and Interface Science, a ser

    submetido.

  • - MOURA, Mrcia R. de; AZEREDO, Henriette M. C.; McHUGH,

    Tara H.; MATTOSO, Luiz Henrique C. Thickness effects of hydroxypropyl

    methylcellulose films with chitosan nanoparticles on their properties. Journal of

    Food Engineering, a ser submetido.

    Publicaes em Anais e Participao em Congressos - MOURA, M. R. de; AOUADA, Fauze A.; CATTELAN, Alexandre

    J.; MOSCARDI, Flvio; MUNIZ, Edvani C.; VAZ, Carlos M. P.; MATTOSO,

    Luiz Henrique C. Desenvolvimento de nanopartculas e hidrogis para sistemas de

    liberao controlada de insumos agrcolas para a cultura de soja. IV Congresso

    Brasileiro de Soja, 2006, Londrina-PR, Brasil.

    - MOURA, M. R. de; AOUADA, Fauze A.; MATTOSO, Luiz

    Henrique C. Preparation of chitosan with controlled nanoparticles sizes.

    ISNAPOL, 2007, Gramado-RS, Brasil.

    - MOURA, M. R. de; AOUADA, Fauze A.; MATTOSO, Luiz

    Henrique C. Nanopartculas de quitosana para aplicao na sntese de filmes

    utilizados na indstria de alimentos. 3 Workshop de Rede de Nanotecnologia

    Aplicada ao Agronegcio, 2007, Londrina- PR, Brasil.

    - MOURA, M. R. de; AVENA-BUSTILLOS, Roberto J.; MCHUGH,

    Tara H.; MATTOSO, Luiz Henrique C. Mechanical properties of films from

    hydroxy propyl methyl cellulose and chitosan nanoparticles. SBPMat, 2007,

    Natal-RN, Brasil.

    - MOURA, M. R. de; AVENA-BUSTILLOS, Roberto J.; MCHUGH,

    Tara H.; KROCHTA, John M.; MATTOSO, Luiz Henrique C. Barrier and

  • mechanical properties of hydroxypropyl methylcellulose edible films containing

    chitosan nanoparticles. IFT Annual Meeting & Food Expo, 2008, New Orleans-

    LA, USA.

    -AZEREDO, H. M. C.; MOURA, M. R. de; OLSEN, C.; MATTOSO,

    L.H.C.; AVENA-BUSTILLOS, R. J.; McHUGH, T. H. Influence of chitosan

    submicronparticles and pectin on mechanical and barrier properties of mango puree

    edible films.IFT Annual Meeting & Food Expo, 2008, New Orleans-LA, USA.

    - MOURA, M. R. de; MCHUGH, Tara H.; KROCHTA, John M.;

    MATTOSO, Luiz Henrique C. Influence of particle size on the thermal and water

    vapor barrier properties of HPMC films containing chitosan nanoparticles. Nano

    9th: International Conference on Nanostructured Materials, 2008, Rio de Janeiro-

    RJ, Brasil.

    -AZEREDO, H. M. C.; MOURA, M. R. de; MATTOSO, Luiz

    Henrique C.; AVENA-BUSTILLOS, Roberto J.; MCHUGH, Tara H.

    Propriedades mecnicas e de barreira de filmes nanocompsitos de quitosana e

    celulose microcristalina. 18 Congresso Brasileiro de Engenharia e Cincia dos

    Materiais, 2008, Porto de Galinhas-PE, Brasil.

    -MOURA, Mrcia R. de; AOUADA, Fauze A.; AVENA-

    BUSTILLOS, Roberto J.; MCHUGH, Tara H.; KROCHTA, John M.; MATTOSO,

    Luiz Henrique C. Preparao e caracterizao mecnica de filmes comestveis

    sintetizados a partir de hidroxipropil metilcelulose e nanopartculas. 18

    Congresso Brasileiro de Engenharia e Cincia dos Materiais, 2008, Porto de

    Galinhas-PE, Brasil.

  • ix

    LISTA DE ABREVIATURAS

    Tenso ANOVA Anlise de Varincia

    DSC Calorimetria Diferencial de Varredura

    E Mdulo de Elasticidade

    FT-IR Espectroscopia no Infravermelho com Transformada de Fourier

    GS Grau de Substituio

    HPMC Hidroxipropil Metilcelulose

    KCl Cloreto de Potssio

    MET Microscopia Eletrnica de Transmisso

    MEV Microscopia Eletrnica de Varredura

    NPs Nanopartculas

    O2P Permeabilidade ao Oxignio

    PMAA Poli(cido metacrlico)

    QS Quitosana

    RH Umidade Relativa

    RMN Espectroscopia de Ressonncia Magntica Nuclear

    Td Temperatura de Degradao

    TG Termogravimetria

    TPP Tripolifosfato de Sdio

    WVP Ingls (Water Vapor Permeability) Permeabilidade ao Vapor de gua

  • x

    Lista de Tabelas TABELA 2.1: Trs diferentes tipos de nanopartculas QS-TPP formadas, com diferentes concentraes dos reagentes.......................................................................................................... 29 TABELA 2.2: Valores de tamanho mdio para as diferentes NPs de quitosana em pH = 4,0. .... 39 TABELA 2.3: Valores de H para as diferentes NPs de quitosana.............................................. 50 TABELA 2.4: Influncia da concentrao de QS e TPP no tamanho de partcula. ...................... 54 TABELA 2.5: Influncia da concentrao de QS e TPP nos valores de potencial zeta................ 55 TABELA 3.1: Valores de tamanho mdio para as diferentes NPs de quitosana em pH = 4,0. .... 69 TABELA 3.2: Solubilidade em gua dos filmes com e sem nanopartculas incluso. ................... 71 TABELA 3.3: Tenso para filmes de HPMC com diferentes concentraes e tamanhos de partculas........................................................................................................................................ 75 TABELA 3.4: Efeito da formulao e tamanho de partculas no mdulo de elasticidade, e % de elongao nos filmes de HPMC. ................................................................................................... 76 TABELA 3.5: Tenso para filmes de HPMC com diferentes concentraes e tamanhos de partculas, aps sete meses de estocagem...................................................................................... 77 TABELA 3.6: Permeabilidade ao oxignio para filmes de HPMC contendo nanopartculas inclusas. ......................................................................................................................................... 81 TABELA 3.7: Temperatura de degradao dos filmes de HPMC e HPMC com nanopartculas. 82 TABELA 4.1: Efeito da presena e tamanho de partculas, no mdulo de elasticidade e elongao dos filmes contendo nanopartculas de QS-TPP............................................................................ 96 TABELA 4.2: Tenso para filmes de HPMC com diferentes concentraes e tamanhos de partculas, aps sete meses de estocagem...................................................................................... 96 TABELA 4.3: Efeito da presena e tamanho de partcula no WVP dos filmes de HPMC.......... 97 TABELA 4.4: Temperaturas de degradao de filmes de HPMC sem e com nanopartculas. .. 101

  • xi

    Lista de Figuras FIGURA 1.1: Diferenciao estrutural entre nanoesferas e nanocpsulas...................................... 7 FIGURA 1.2: Representao esquemtica da polimerizao em molde tipo I. (POLOWINSKI, 2002)................................................................................................................................................ 9 FIGURA 1.3: Representao esquemtica da polimerizao em molde tipo II. (POLOWINSKI, 2002).............................................................................................................................................. 10 FIGURA 1.4: Gelatinizao da quitosana com tripolifosfato de sdio......................................... 11 FIGURA 1.5: Representao da estrutura primria da quitosana (a) e quitina (b) onde n o grau de polimerizao............................................................................................................................ 12 FIGURA 1.6: Esquema da obteno da quitina e quitosana. ........................................................ 14 FIGURA 1.7: Estrutura qumica da hidroxipropil metilcelulose, onde n o grau de polimerizao. (R = -CH2CH(OH)CH3, CH3 ou H) ...................................................................... 17 FIGURA 1.8: Representao grfica das propriedades mecnicas de tenso versus deformao. FONTE: (WARD e HARDLEY, 1998). ....................................................................................... 22 FIGURA 2.1: Fotografia da sntese das nanopartculas. ............................................................... 27 FIGURA 2.2: Foto das solues: com ausncia (soluo transparente) e presena (soluo opalescente) de nanopartculas. ..................................................................................................... 28 FIGURA 2.3: Equipamentos utilizados na sntese das nanopartculas QS-TPP. .......................... 29 FIGURA 2.4: Mecanismo proposto de preparao das nanopartculas (MOURA et al., 2008). .. 35 FIGURA 2.5: Espectro de FT-IR da quitosana (2a) e nanopartculas (2b-d)................................ 36 FIGURA 2.6: Espectro de C13 VACP-MAS: a) quitosana pura; b) 0,2% (m/v) de quitosana na sntese das nanopartculas; c) 0,5% (m/v) na sntese e d) 0,8% (m/v) na sntese. * Corresponde ao grupo CH3 acetil residual. .............................................................................................................. 38 FIGURA 2.7: Distribuio do tamanho mdio de nanopartculas de QS-PMAA com 0,5 % (82 nm) e 0,2 % m/v (110 nm) de quitosana. ...................................................................................... 40 FIGURA 2.8: Dependncia do tamanho de partcula com a variao de pH para concentraes de 0,2; 0,5 e 0,8% m/v de QS utilizadas na sntese............................................................................ 41 FIGURA 2.9: Micrografia de MET de nanopartculas de QS-PMAA preparadas com 0,2% (m/v) de QS na sntese, equilibrada em pH 8,0....................................................................................... 42 FIGURA 2.10: Dependncia do potencial zeta com a variao do pH em suspenses de nanopartculas preparadas com 0,2; 0,5 e 0,8 % (m/v) de QS. As anlises foram realizadas na temperatura de 25 C. .................................................................................................................... 45 FIGURA 2.11: Micrografias de MET das nanopartculas de quitosana preparadas com (a) 0,2; (b) 0,5 e (c) 0,8 (m/v) de quitosana a pH 4. ..................................................................................... 47 FIGURA 2.12: Micrografias de MET de nanopartculas de Q sintetizadas com 0,2% (m/v) em pH = 4,0 e equilibradas aps a sntese em a) pH= 7,0 e b) pH= 8,0. .................................................. 48 FIGURA 2.13: Curva de DSC para quitosana pura e nanopartculas sintetizadas com 0,2; 0,5 e 0,8% (m/v) de QS. A programao utilizada para todas as anlises foi: rampa de aquecimento de 20 at 450 C; razo de 5 C/min sob atmosfera de nitrognio com vazo de 50 mL/min. ........ 49 FIGURA 2.14: Curvas de TG para (a) QS, nanopartculas de QS com (b) 0,2; (c) 0,5 e (d) 0,8 % (m/v). As curvas foram obtidas nas seguintes condies: rampa de aquecimento de 20 at 500 C, com razo de aquecimento de 10 C/min para cada amostra; vazo de nitrognio mantida em 60 cm3/min.......................................................................................................................................... 51 FIGURA 2.15: Espectro de FT-IR da quitosana (A); TPP (B) e nanopartculas QS-TPP(C)...... 52

  • xii

    FIGURA 2.16: Micrografia eletrnica de transmisso de nanopartculas sintetizadas a partir de 3,00 mg L-1 de QS e 1,2 mg L-1 de TPP (85 nm). ......................................................................... 56 FIGURA 3.1: Fotografia do esquema de preparao do filme de HPMC..................................... 62 FIGURA 3.2: Micrografias de MEV: (a) filme controle (somente HPMC); (b) QS-PMAA nanopartculas com 0,2 % (m/v) de quitosana; (c) filme de HPMC contendo 6,3 % de nanopartculas com 110 nm; (d) o mesmo que (c) em 20.000 X de magnificao. ...................... 70 FIGURA 3.3: Curva de tenso-deformao para filmes de HPMC com 6,3 % (110 nm), 14,3% (82 nm) e 20,7% (59 nm) de nanopartculas QS-PMAA adicionadas e com uma curva de filme contendo somente quitosana sem nanopartculas (QS-MAA)....................................................... 72 FIGURA 3.4: Tenso dos filmes de HPMC com diferentes concentraes e tamanhos de nanopartculas. Os valores mdios so apresentados e as barras indicam os erros das medidas. . 74 FIGURA 3.5: Dependncia da permeabilidade dos filmes de HPMC com a concentrao de nanopartculas para diferentes tamanhos de partculas: (a) 59 nm; (b) 82 nm e (c) 110 nm. Diferentes letras sobre as barras indicam significncia a P < 0,05. Ou seja, a b c................. 78 FIGURA 3.6: Representao esquemtica do modelo de permeao proposto. ........................... 79 FIGURA 3.7: Representao esquemtica do modelo de permeao proposto. ........................... 80 FIGURA 3.8: Curva de DSC para filme de HPMC puro. A curva foi obtida nas seguintes condies: vazo de nitrognio de 50 mL min-1, razo de aquecimento de 10 C min-1, porta amostra de alumnio com tampa.................................................................................................... 84 FIGURA 4.1: Efeito da incorporao de nanopartculas na tenso de filmes de HPMC. As colunas mostram os valores mdios e as barras de erro indicam os desvios. As diferentes letras nas colunas indicam significncia a P < 0,05. Ou seja, a b c. ................................................ 95 FIGURA 4.2: Curva TG dos filmes de HPMC (A) e do filme de HPMC com NPs de 110 nm (B). As anlises foram realizadas em atmosfera de nitrognio com vazo de 60 cm3 min-1, amostra com massa de 6-7 mg e porta amostra de platina. ....................................................................... 100 FIGURA 4.3: Micrografias eletrnicas de varredura de filmes de HPMC puro (a) e filme de HPMC contendo nanopartcula de QS-TPP com 221 nm (b)...................................................... 102

  • xiii

    Resumo

    APLICAO DE NANOPARTCULAS EM FILMES UTILIZADOS

    EM EMBALAGENS PARA ALIMENTOS: Nanopartculas formadas a partir de

    quitosana (QS) foram obtidas pelo mtodo de polimerizao em molde (QS-

    PMAA) e gelatinizao ionotrpica (QS-TPP). As nanopartculas foram analisadas

    atravs de anlises de FT-IR, tamanho de partcula, potencial zeta, microscopias

    eletrnicas (transmisso e varredura) e medidas de TGA. As nanopartculas

    sintetizadas apresentaram morfologia homognea, ou seja, tamanho uniforme e

    forma esfrica. O tamanho das partculas e o potencial zeta foram dependentes da

    concentrao de quitosana utilizada no mtodo de preparao e do pH. As

    diferentes partculas foram incorporadas em filmes de hidroxipropil metilcelulose

    (HPMC) a fim de melhorar suas propriedades. Para isso, uma soluo de HPMC

    com 3% m/v foi preparada e sobre esta foi adicionada soluo de nanopartculas de

    ambas as snteses. Nos filmes foram realizadas anlises de propriedades mecnicas

    (tenso, elongao e mdulo de elasticidade), propriedades de barreira [vapor de

    gua (WVP) e oxignio], anlise de espessura, microscopia eletrnica de varredura

    e anlises trmicas. O filme controle de HPMC sem nanopartcula apresenta um

    valor de WVP de 0,79 g mm/ kPa h m2. Com a incorporao das nanopartculas de

    QS-PMAA os valores de WVP do filme decrescem para 0,64; 0,59 e 0,47 g mm/

    kPa h m2 com a incorporao de nanopartculas de 59; 82 e 110 nm,

    respectivamente. Com a incorporao de nanopartculas de QS-TPP os valores de

    WVP decrescem para 0,58; 0,45 e 0,33 g mm/ kPa h m2 com a incorporao de

    nanopartculas com 220; 110 e 85 nm, respectivamente. Da mesma forma, as

    propriedades mecnicas dos filmes de HPMC foram significativamente melhoradas

    com a insero de nanopartculas de quitosana. Este trabalho demonstrou que os

    filmes contendo nanopartculas podem ser considerados como extremamente

    promissores para serem aplicados em embalagens na conservao de alimentos.

  • xiv

    Abstract

    APPLICATION OF NANOPARTICLES IN FILMS USED FOR

    FOOD PACKAGING: Dispersions composed of chitosan (CS) were obtained by

    the template polymerization (CS-PMAA) and ionotropic gelatinization (CS-TPP).

    The nanoparticles were analyzed by FT-IR analysis, particle size, zeta potential,

    electron microscopy (transmission and scanning), and TGA analysis. The

    nanoparticles obtained presented a very homogeneous morphology showing a quite

    uniform particles size distribution and a rather spherical shape. The particle size

    and zeta potential were dependent on the chitosan concentration used during the

    preparation method and pH. Different particles were incorporated in the

    hydroxypropyl methylcellulose (HPMC) films in order to improve their properties.

    For this, a 3% HPMC (in w:v %) solution was prepared and added in this

    nanoparticles solutions of both syntheses. The films were characterized by

    mechanical (tensile, elongation and elastic modulus), barrier [water vapor (WVP)

    and oxygen], thickness, morphological, and thermal properties. The WVP of the

    control HPMC film was 0.79 g mm/kPa h m2. The WVP decreased significantly

    when CS-PMAA nanoparticles were incorporated to HPMC films. For example,

    WVP decreased to 0.64; 0.59 and 0.47 g mm/kPa h m2 for films containing 59, 82

    and 110 nm, respectively. For CS-TPP nanoparticles the WVP decreased to 0.58;

    0.45 and 0.33 g mm/kPa h m2 for films containing nanoparticles with 220, 110 and

    85 nm, respectively. The same way, the mechanical properties of the HPMC films

    were strongly improved when CS nanoparticles were incorporated. In this way,

    HPMC films containing nanoparticles could be considered as promising materials

    for application in packaging for preservation of foods.

  • xv

    SUMRIO INTRODUO .............................................................................................................................1 CAPTULO I: Reviso Bibliogrfica .....................................................................................5

    1.1. Nanotecnologia aplicada em embalagens............................................................................. 6 1.2. Nanopartculas polimricas .................................................................................................. 6

    1.2.1. Polimerizao em molde ............................................................................................... 8 1.2.2. Gelatinizao Ionotrpica............................................................................................ 10

    1.3. Quitosana ............................................................................................................................ 11 1.4. Matrizes polissacardicas.................................................................................................... 15 1.5. Hidroxipropil metilcelulose (HPMC)................................................................................. 17 1.6. Formao de filmes ............................................................................................................ 18 1.7. Propriedades dos filmes...................................................................................................... 20

    CAPTULO II: Sntese e Caracterizao de Nanopartculas de Quitosana Sintetizadas Por Diferentes Mtodos ...............................................................................24

    2.1. Introduo........................................................................................................................... 25 2.2. Materiais e Mtodos ........................................................................................................... 26

    2.2.1. Materiais ...................................................................................................................... 26 2.2.1.1. Sntese 1................................................................................................................ 26 2.2.1.2. Sntese 2................................................................................................................ 26

    2.2.2. Mtodos ....................................................................................................................... 26 2.2.2.1. Preparao das Nanopartculas............................................................................. 26

    2.2.2.1.1. Mtodo de polimerizao do cido metacrlico (QS-PMAA) - Sntese 1 ..... 26 2.2.2.1.2. Mtodo de gelatinizao ionotrpica (QS-TPP) - Sntese 2.......................... 28

    2.2.2.2. Caracterizao de nanopartculas QS-PMAA ...................................................... 30 2.2.2.2.1. Anlise por FT-IR.......................................................................................... 30 2.2.2.2.2. Anlise por RMN........................................................................................... 30 2.2.2.2.3. Tamanho mdio e distribuio do tamanho das partculas............................ 31 2.2.2.2.4. Anlise por Potencial Zeta............................................................................. 31 2.2.2.2.5. Microscopia Eletrnica de Transmisso (MET)............................................ 31 2.2.2.2.6. Calorimetria Diferencial de Varredura (DSC)............................................... 32 2.2.2.2.7. Termogravimetria (TG) ................................................................................. 32

    2.2.2.3. Caracterizao nanopartculas QS-TPP................................................................ 32 2.2.2.3.1. Anlise por FT-IR.......................................................................................... 32 2.2.2.3.2. Tamanho de partculas e distribuio do tamanho das partculas ................. 33 2.2.2.3.3. Anlise por Potencial Zeta............................................................................. 33 2.2.2.3.4. Termogravimetria (TG) ................................................................................. 33 2.2.2.3.5. Microscopia Eletrnica de Transmisso (MET)............................................ 34

    2.3. Resultados e Discusses ..................................................................................................... 34 2.3.1. Nanopartculas QS-PMAA.......................................................................................... 34

    2.3.1.1. Sntese das nanopartculas .................................................................................... 34 2.3.1.2. Anlise de FT-IR .................................................................................................. 36 2.3.1.3. Anlise de RMN ................................................................................................... 37 2.3.1.5. Anlise do potencial zeta das partculas ............................................................... 43 2.3.1.5. Microscopia Eletrnica de Transmisso (MET)................................................... 46 2.3.1.6. Calorimetria Diferencial de Varredura (DSC)...................................................... 48 2.3.1.7. Termogravimetria (TG) ........................................................................................ 50

  • xvi

    2.3.2. Nanopartculas QS-TPP............................................................................................... 52 2.3.2.1. Anlise de FT-IR .................................................................................................. 52 2.3.2.2. Tamanho mdio de Partculas .............................................................................. 53 O efeito da concentrao de QS e TPP no tamanho final das NPs e parmetros que afetam o tamanho de partculas j foram relatados na literatura. CALVO et al. (1997) relataram que o tamanho dessas partculas depende de ambas as concentraes, tanto de QS quanto de TPP. GAN et al. (2005) estudaram a diferena entre partculas associadas com protena, tipo albumina do soro bovino (BSA) e partculas sem BSA. Partculas carregadas com BSA apresentam tamanho maior que partculas sem o carregamento. Esse fato ocorre devido alta massa molar e tamanho das molculas de protenas.................. 54 2.3.2.3. Potencial Zeta ....................................................................................................... 54 2.3.2.4. Microscopia Eletrnica de Transmisso (MET)................................................... 55

    2.4. Concluses.......................................................................................................................... 57 CAPTULO III: Sntese e Caracterizao de Filmes de Hidroxipropil Metilcelulose Contendo Nanopartculas de Quitosana e Poli(cido metacrlico) ..59

    3.1. Introduo........................................................................................................................... 60 3.2. Materiais e Mtodos ........................................................................................................... 62

    3.2.1. Materiais ...................................................................................................................... 62 3.2.2. Mtodos ....................................................................................................................... 62

    3.2.2.1. Preparao dos filmes........................................................................................... 62 3.2.2.2. Caracterizao dos Filmes .................................................................................... 63

    3.2.2.2.1. Determinao da espessura............................................................................ 63 3.2.2.2.2. Microscopia Eletrnica de Varredura (MEV) ............................................... 63 3.2.2.2.3. Solubilidade do filme em gua ...................................................................... 64 3.2.2.2.4. Propriedades Mecnicas ................................................................................ 64 3.2.2.2.5. Permeabilidade ao Vapor de gua (WVP).................................................... 65 3.2.2.2.6. Permeabilidade ao Oxignio (O2P) ............................................................... 67 3.2.2.2.7. Termogravimetria (TG) ................................................................................. 67 3.2.2.2.8. Anlise Estatstica.......................................................................................... 68 3.2.2.2.9. Calorimetria Diferencial de Varredura (DSC)............................................... 68

    3.3. Resultados e Discusses ..................................................................................................... 68 3.3.1. Determinao do Tamanho Mdio .............................................................................. 68 3.3.2. Morfologia do Filme.................................................................................................... 69 3.3.3. Solubilidade do filme em gua .................................................................................... 70 3.3.4. Propriedades mecnicas............................................................................................... 72 3.3.5. Permeabilidade ao Vapor da gua (WVP).................................................................. 77 3.3.6. Permeabilidade ao Oxignio (O2P).............................................................................. 81 3.3.7. Anlise da degradao ................................................................................................. 82 3.3.8. Estudos de Calorimetria Diferencial de Varredura (DSC) .......................................... 83

    3.4. Concluses.......................................................................................................................... 85 CAPTULO IV: Sntese e Caracterizao de Filmes de Hidroxipropil Metilcelulose Contendo Nanopartculas de Quitosana e Tripolifosfato de Sdio........................................................................................................................................................86

    4.1. Introduo........................................................................................................................... 87 4.2. Materiais e Mtodos ........................................................................................................... 88

    4.2.1. Materiais ...................................................................................................................... 88 4.2.2. Mtodos ....................................................................................................................... 88

  • xvii

    4.2.2.1. Preparao dos filmes........................................................................................... 88 4.2.2.2. Caracterizao dos Filmes .................................................................................... 89

    4.2.2.2.1. Determinao da espessura............................................................................ 89 4.2.2.2.2. Propriedades Mecnicas ................................................................................ 89 4.2.2.2.3. Permeabilidade ao Vapor de gua (WVP).................................................... 90 4.2.2.2.4. Permeabilidade ao Oxignio (O2P) ............................................................... 91 4.2.2.2.5. Termogravimetria (TG) ................................................................................. 91 4.2.2.2.6. Microscopia Eletrnica de Varredura (MEV) ............................................... 92 4.2.2.2.7. Anlise Estatstica.......................................................................................... 92 4.2.2.2.8. Calorimetria Diferencial de Varredura (DSC)............................................... 92

    4.3. Resultados e Discusses ..................................................................................................... 93 4.3.1. Propriedades Mecnicas .............................................................................................. 93 4.3.2. Permeabilidade ao Vapor de gua (WVP).................................................................. 97 4.3.3. Permeabilidade ao Oxignio (O2P).............................................................................. 99 4.3.4. Degradao Trmica.................................................................................................. 100 4.3.5. Morfologia dos Filmes .............................................................................................. 102 4.3.6. Estudos de Calorimetria Diferencial de Varredura (DSC) ........................................ 103

    4.4. Concluses........................................................................................................................ 103 CAPTULO V: Consideraes Finais .................................................................................105

    5.1. Concluses Gerais ............................................................................................................ 106 5.2. Sugestes para trabalhos futuros ...................................................................................... 107

    CAPTULO VI: Referncias Bibliogrficas ....................................................................108

  • 1

    INTRODUO A conservao dos alimentos exige em geral tratamentos fsicos ou

    qumicos para manter ou aumentar a sua vida de prateleira. A utilizao de

    embalagens, rgidas ou flexveis, imprescindvel, visto que esta tem que agir

    como uma barreira entre o ambiente externo e o alimento. Atualmente, a maioria

    das embalagens flexveis produzida com plsticos, isto , de materiais sintticos

    de fonte no renovvel, que apesar de possurem excelentes propriedades

    funcionais, so consideradas no biodegradveis e esto envolvidas em problemas

    ambientais (SOARES et al., 2005).

    Recentemente surgiu um grande interesse pelo desenvolvimento de

    embalagens biodegradveis, principalmente, devido demanda por alimentos

    ecologicamente corretos, de alta qualidade e devido, tambm, s preocupaes

    ambientais sobre o descarte desses materiais no renovveis que levam milhares de

    anos para serem degradados (LE HELLAYE et al., 2008; MARCOS et al., 2008;

    CAO et al., 2009).

    Uma das solues encontradas para amenizar este problema,

    particularmente na rea de embalagens de alimentos, o desenvolvimento de

    filmes ou biofilmes a partir de materiais renovveis que possam substituir os

    materiais sintticos. Porm o maior desafio da utilizao destes filmes

    biodegradveis substituir as embalagens convencionais, mantendo, com a mesma

    eficcia, a qualidade do produto, garantindo sua vida de prateleira atravs do

    controle de caractersticas mecnicas e de permeabilidade (KESTER e

    FENNEMA, 1986; KROCHTA et al., 2002; YAKIMETS et al., 2007;

    SRINIVASA et al., 2007; OLIVAS e BARBOSA-CANOVAS, 2008).

    Alguns sistemas promissores desenvolvidos pelo nosso grupo para

    melhorar as caractersticas dos filmes biodegradveis sintetizados envolvem a

  • 2

    incorporao de nanoestruturas nos filmes (MOURA et al., 2008; MOURA et al.,

    2009).

    O agronegcio brasileiro tem ocupado uma posio de lder mundial,

    entre outros aspectos, devido s pesquisas e investimentos neste setor. Para que os

    pases continuem crescendo e abrindo novos mercados, vrios setores ainda

    requerem agregao de valor aos seus produtos, o que s pode ser feito pela

    incorporao contnua de novas tecnologias.

    As perdas ps-colheita de frutas frescas so enormes, cerca de 25 a

    40%, dependendo do tipo de fruta e do uso de tecnologias de operaes ps-

    colheita. Isso reflete a falta de conhecimento dos manipuladores de frutas sobre os

    fatores biolgicos e as condies do ambiente envolvido na deteriorao, ou a falta

    de uso de tecnologias ps-colheita requeridas na preservao da qualidade das

    frutas.

    Muita pesquisa atualmente vem sendo realizada com o objetivo de

    explorar o potencial dos filmes e coberturas comestveis e/ou biodegradveis em

    manter e estender a qualidade e a vida til de produtos frescos e reduzir a

    quantidade de embalagens descartveis no biodegradveis. As coberturas so

    formadas diretamente sobre a superfcie do alimento, enquanto os filmes so pr-

    formados e posteriormente aplicados. Entretanto comum que os termos coberturas

    e filmes sejam utilizados indistintamente.

    Tradicionalmente, os filmes so usados para reduzir a perda de peso,

    alterando a permeabilidade e criando um efeito de atmosfera modificada sobre as

    frutas frescas. Coberturas j foram aplicadas em frutas como bananas, mas,

    mangas, pras, morangos, goiabas entre outras. As coberturas e filmes sintetizados

    apresentaram influncia na fisiologia das frutas, no atraso do amadurecimento e no

    metabolismo do fruto ps-colheita. Filmes sintetizados podem tambm sofrer

  • 3

    modificao, com o intuito de melhorar ainda mais as propriedades e desempenho

    desse filmes, frente ao seu uso.

    Neste contexto a aplicao da nanotecnologia para aumentar a

    competitividade e a sustentabilidade do agronegcio pelo desenvolvimento de

    novos usos de produtos de origem agropecuria pode se tornar uma soluo.

    O presente trabalho busca a melhoria das propriedades mecnicas e de

    barreiras de filmes comestveis para a indstria de embalagens pela insero de

    materiais nanoestruturados em filmes de polissacardeos. A utilizao de

    polissacardeo como matriz muito importante, visando diminuio da poluio

    ambiental causada pelo excesso de embalagens plsticas descartadas no ambiente.

    Alm disso, o aprimoramento na sntese e caracterizao de nanopartculas de

    quitosana extremamente promissor na utilizao em embalagens.

    Para uma melhor apresentao e discusso dos resultados obtidos, essa

    tese ser subdividida como descrito a seguir:

    - Captulo 1: Onde foi apresentada uma reviso geral da literatura

    sobre os aspectos principais da tese.

    - Captulo 2: Contm o mtodo de sntese e caracterizao de

    nanopartculas de quitosana baseado em dois mtodos de sntese: polimerizao em

    molde e gelatinizao ionotrpica.

    - Captulo 3: Contm a preparao e caracterizao dos filmes de

    HPMC contendo nanopartculas sintetizadas com base na polimerizao em molde.

    - Captulo 4: Contm a preparao e caracterizao dos filmes de

    HPMC contendo nanopartculas sintetizadas com base na gelatinizao ionotrpica.

    - Captulo 5: apresentado um resumo das principais concluses da

    tese, em um item denominado consideraes finais.

  • 4

    O principal objetivo da tese a incorporao de nanopartculas

    polimricas em matrizes polissacardicas de fontes renovveis, derivadas de

    celulose, atuando como reforo nas propriedades mecnicas e melhoria nas

    propriedades de barreira.

    Esse trabalho compreendeu ainda os seguintes objetivos especficos:

    1) Determinar o tamanho de partculas variando a concentrao de

    polmeros na sntese, a fim de se obter sistemas com possvel controle de tamanho.

    2) Caracterizar as nanopartculas quanto morfologia, potencial zeta,

    distribuio de tamanho, FT-IR, anlise trmica, dando nfase principalmente para

    o sistema de sntese desenvolvido por este grupo, baseado na polimerizao em

    molde.

    3) Determinar a melhor condio de preparo dos filmes, a fim de se

    obter filmes homogneos.

    4) Caracterizar os filmes quanto s propriedades mecnicas e de

    barreira com o objetivo de se otimizar as propriedades dos filmes.

  • 5

    CAPTULO I: Reviso Bibliogrfica

  • 6

    1.1. Nanotecnologia aplicada em embalagens A nanotecnologia, a manipulao da matria na escala dos tomos e

    molculas (um nanmetro [nm] um bilionsimo de metro), est rapidamente

    convergindo com a biotecnologia e tecnologia da informao para alterar

    radicalmente os sistemas da alimentao e agricultura.

    A nanocincia e a nanotecnologia so consideradas atualmente, como

    um dos mais fascinantes avanos nas tradicionais reas do conhecimento e

    constituem um dos principais focos das atividades de pesquisa, desenvolvimento e

    inovao em todos os pases industrializados (CHAVES, 2002; PIRES, 2004).

    Atualmente, a embalagem e o monitoramento de alimentos constituem

    o foco principal de pesquisa e desenvolvimento nanotecnolgico da indstria de

    alimentos. As embalagens que incorporam nanomateriais podem ser ativas, o que

    significa que podem responder a condies ambientais ou se autoconservarem, ou

    inteligente, significando que podem alertar o consumidor sobre contaminao,

    condies inadequadas de estocagem e/ou presena de patgenos.

    Existem vrios tipos diferentes de nanoestruturas, onde dependendo do

    material de composio e tipos de snteses, podem variar suas caractersticas.

    Dentre os materiais nanoestruturados as nanopartculas merecem destaque, devido

    ao grande nmero de estudos realizados nesses sistemas. As nanopartculas podem

    ser divididas em orgnicas (nanopartculas polimricas, que sero aplicadas em

    nosso trabalho) e inorgnicas (nanopartculas metlicas e xidos).

    1.2. Nanopartculas polimricas O termo nanopartcula inclui as nanocpsulas e as nanoesferas, as

    quais diferem entre si segundo a composio e organizao estrutural (FIGURA

    1.1). As nanocpsulas so constitudas por um invlucro polimrico disposto ao

    redor de um ncleo oleoso, ou seja, h diferenciao de ncleo. Por outro lado, as

  • 7

    nanoesferas, que no apresentam leo em sua composio, so formadas por uma

    matriz polimrica, onde a diferenciao de ncleo no observada, trata-se de uma

    matriz mais homognea.

    FIGURA 1.1: Diferenciao estrutural entre nanoesferas e

    nanocpsulas.

    As nanopartculas polimricas podem ser sintetizadas a partir de

    polmeros sintticos como poliacrilatos e policaprolactona (PCL) ou polmeros

    naturais como gelatina e quitosana (PANYAM e LABHASETWAR, 2003;

    QURRAT-UL-AIN et al., 2003). Vrios mtodos de preparao so encontrados

    na literatura. Esses mtodos podem ser classificados em duas principais categorias:

    (1) as que requerem uma reao de polimerizao ou (2) as que utilizam

    diretamente uma macromolcula, ou um polmero pr-formado (SCHAFFAZICK

    et al., 2003).

    No caso da sntese de nanopartculas polimricas, um material que est

    sendo bastante utilizado a quitosana. Uma grande variedade de mtodos de

    sntese e aplicaes de nanopartculas de quitosana encontrada na literatura

    (BORGES et al., 2007; AJUN et al., 2009; DU et al., 2009). No presente trabalho

    foram utilizados dois mtodos de sntese: polimerizao em molde e gelatinizao

    ionotrpica.

  • 8

    1.2.1. Polimerizao em molde A polimerizao em molde ocorre atravs de interaes cooperativas

    (interaes hidrofbicas, ligaes de hidrognio e foras eletrostticas) entre os

    grupos complementares de molculas de monmeros e o molde, formando um

    complexo polieletroltico (Polowinski, 2002). Interaes de van der Waals no

    especficas em combinao com interaes estereoqumicas do polmero em

    formao com o molde, tambm pode levar polimerizao em molde. De modo

    geral, forma-se um gel interpolimrico compacto ou um precipitado de complexo

    polimrico agregado. A presena de um molde normalmente afeta vrias

    caractersticas da polimerizao, tais como a cintica, a massa molar e a

    microestrutura do polmero formado.

    O mecanismo de polimerizao em molde depende do grau de

    adsoro ou complexao do monmero (M) pelo molde:

    M + -T- -T(M)-

    onde -T- significa um stio do molde. A constante de equilbrio de

    adsoro, KM , depende de alguns fatores tais como o modo de interao, a

    temperatura e o solvente. Dois casos extremos podem ser discutidos: KM = e KM = 0. Quando KM se aproxima do (tipo I), o monmero est completamente adsorvido por todos os stios do molde por foras eletrostticas ou ligaes de

    hidrognio. Uma forte preferncia do molde pelo monmero indica que o molde

    pode ser insolvel no solvente na ausncia do monmero. Se o molde solvel em

    um solvente apropriado, ento o solvente pode competir com o monmero pelos

    stios T, reduzindo KM. Deste modo, apenas variando o solvente, pode-se ajustar o

    KM e portanto, o modo de propagao do molde. Quando KM se torna muito

  • 9

    pequeno, a propagao do molde se procede s custas da reao com o monmero

    adsorvido adjacentemente.

    Com KM = 0 (tipo II) as macromolculas do molde esto praticamente

    solvatadas pelo solvente. Um pr-requisito para a propagao em molde sob esta

    condio que o oligmero formado na soluo (ou seja, a polimerizao se inicia

    fora do molde) se complexa com o molde, depois de atingido um tamanho crtico.

    A partir da, a propagao procede ao longo do molde pela adio de molculas de

    monmero advindo da soluo, presente na vizinhana do molde. Esses dois tipos

    de reaes podem ser ilustrados pelos esquemas apresentados nas FIGURAS 1.2 e

    1.3.

    FIGURA 1.2: Representao esquemtica da polimerizao em molde

    tipo I. (POLOWINSKI, 2002)

  • 10

    FIGURA 1.3: Representao esquemtica da polimerizao em molde

    tipo II. (POLOWINSKI, 2002)

    1.2.2. Gelatinizao Ionotrpica Uma propriedade da quitosana, muito interessante, sua habilidade de

    gelatinizar em contato com polinions especficos. Esse processo de gelatinizao

    se deve formao de reticulao inter- e intramolecular mediada por esses

    polinions. O mtodo de gelatinizao ionotrpica (FIGURA 1.4) um dos

    mtodos mais utilizados na obteno de nanopartculas de quitosana (CALVO et

    al., 1997; GAN et al., 2005). Essa tcnica envolve a adio, temperatura

    ambiente, de uma fase alcalina (pH 7-9) contendo tripolifosfato (TPP) em uma fase

    cida (pH 4-6) contendo quitosana. As nanopartculas so formadas imediatamente

    aps a mistura das duas fases atravs de ligaes inter- e intramoleculares formadas

    entre os fosfatos do TPP e os grupos amino da quitosana.

  • 11

    FIGURA 1.4: Gelatinizao da quitosana com tripolifosfato de sdio.

    A formao de nanopartculas de quitosana-TPP de alto rendimento

    com tamanho nanomtrico e densidade de carga predeterminada, pode ser

    simplesmente manipulada e controlada variando-se as condies de processo como

    concentrao de quitosana, razo em massa de quitosana e TPP e valores de pH.

    1.3. Quitosana A quitina um polissacardeo natural que se destaca do ponto de vista

    qumico por apresentar um grupo acetamido. Sua desacetilao conduz a um novo

    biopolmero denominado quitosana (KUMAR et al., 2000).

    Durante os ltimos trinta anos, estes biopolmeros vm despertado

    bastante interesse junto comunidade cientfico mundial, devido principalmente ao

    grande potencial de aplicao apresentado por estes materiais em diversas reas

    (SHAHIDI e ARACHCHI, 1999). Este fato observado tanto para formas

    naturais como para os derivados. Entretanto, o reconhecimento cientfico, como j

    comentado anteriormente, no se deu imediatamente aps a descoberta, mas s veio

    depois do reconhecimento das propriedades qumicas e fsicas.

  • 12

    A confirmao de presena de glucasamida na estrutura desses

    polissacardeos, que possui como caracterstica bsica um grupo amino no carbono

    2, os tornaram especiais do ponto de vista qumico, fsico e biolgico (HIRANO et

    al., 1999).

    Sendo assim, a quitosana um polissacardeo derivado da quitina,

    cujas estruturas so mostradas nas FIGURAS 1.5a e 1.5b, respectivamente.

    Apresenta, em maior proporo na cadeia polimrica, unidades de - (1 - 4) 2

    amino 2 desxi D glicose e, em menor nmero, unidades de - (1 4) 2

    acetamido 2 desxi D glicose da quitina. Possui semelhana na sua estrutura

    qumica com a celulose, porm exibe propriedades diferenciadas devido presena

    dos grupos amnicos (BELITZ e GROSCH, 1992).

    (a)

    (b)

    FIGURA 1.5: Representao da estrutura primria da quitosana (a) e

    quitina (b) onde n o grau de polimerizao.

    A quitosana pode ser encontrada naturalmente na parede celular de

    fungos, mas sua maior fonte disponvel obtida atravs do processo de

  • 13

    desacetilao da quitina, polissacardeo encontrado abundantemente na natureza e

    que constitui o exoesqueleto de insetos e crustceos (SOLOMONS, 1996).

    A prtica industrial mais comum, utilizada no processo de

    desacetilao, e que tambm bastante empregada em laboratrio de pesquisas

    aquela na qual a desacetilao da quitina realizada em suspenso de soluo

    aquosa de hidrxido de sdio, sendo que a concentrao dessa soluo, o excesso

    de lcali, o tempo e a temperatura da reao so variveis, conforme o

    procedimento adotado (FIGURA 1.6). Assim, no se pode definir uma condio

    padronizada para a realizao dessa reao. Entretanto, NO et al. (1992) afirmam

    que a eficincia da desacetilao e as caractersticas da quitosana so afetadas pelos

    seguintes fatores:

    a) temperatura e tempo de reao;

    b) concentrao da soluo de lcali e adio de diluente (lcoois de

    cadeia curta e cetonas so empregados);

    c) razo quitina/lcali;

    d) tamanho das partculas de quitina;

    e) atmosfera da reao e presena de agentes que evitem a

    despolimerizao.

    Quitina e quitosana so polmeros atxicos, biodegradveis,

    biocompatveis e produzidos por fontes naturais renovveis, cujas propriedades

    vm sendo exploradas em aplicaes industriais e tecnolgicas h quase setenta

    anos (ROBERTS e GOOSEN, 1996).

    Devido as suas caractersticas atxicas e de fcil formao de gis, a

    quitosana tem sido considerada, h dcadas, como um composto de interesse

    industrial e especialmente de uso farmacutico (CAMPANA-FILHO et al., 2000).

    Recentemente, contudo, uma srie de estudos tem sido publicada, caracterizando o

  • 14

    uso da quitosana como cobertura de alimentos ou revestimentos protetores em

    frutas e legumes processados (COMA et al., 2002; EUSABEE et al., 2008).

    FIGURA 1.6: Esquema da obteno da quitina e quitosana.

    Estes trabalhos enfocam, essencialmente, as propriedades antifngicas

    e antibacterianas da quitosana, conforme demonstrado por NO et al. (2007),

    indicando, por conseguinte, o seu uso potencial sobre superfcies cortadas ou sobre

    frutos com alta taxa de maturao ps-colheita. Como a quitosana se constitui de

    fibras no-digerveis, no apresenta, portanto, valor calrico, independentemente da

    quantidade ingerida, o que mais um atrativo para a indstria alimentar.

  • 15

    DEVLIEGHERE et al. (2004) investigaram a atividade

    antimicrobiana da quitosana, suas interaes com os componentes alimentcios e

    sua aplicabilidade no recobrimento de frutas e vegetais. Neste estudo verificou-se

    que o retardamento do crescimento microbiano ficou limitado a produtos com baixa

    concentrao de protenas e NaCl. Com relao ao recobrimento de frutas e

    verduras, no entanto, o efeito foi promissor quanto s frutas, porm, foi verificada a

    adio de um leve gosto amargo para as verduras.

    CHIEN et al. (2007), trataram fatias de manga com solues de

    quitosana, a diferentes concentraes, armazenadas a 6 C. As coberturas no

    afetaram o sabor natural da manga em fatias e a caracterstica de cor no diferiram

    das amostras in natura. Alm disso, inibiram crescimento de microrganismos e

    prolongaram a qualidade e a vida de prateleira da manga.

    1.4. Matrizes polissacardicas A utilizao de revestimentos comestveis ou biodegradveis com o

    intuito de retardar a desidratao no recente. J no sculo XVI, os europeus

    protegiam a carne da perda de umidade atravs da aplicao de gordura animal

    (LABUZA e CONTRERAS, 1981).

    Dentre as principais classes de materiais que so utilizados na

    formao de filmes esto: polissacardeos, lipdios e protenas. Dentre esses os

    polissacardeos merecem destaque.

    Os polissacardeos apresentam caractersticas coloidais e, quando em

    contato com o solvente apropriado ou agente de intumescimento, produzem gis ou

    suspenses de elevada viscosidade mesmo em baixas concentraes. Apresentam

    uso consagrado na indstria alimentcia e farmacutica, atuando como agentes

    filmgenos, espessantes, emulsionantes, estabilizantes, formadores de matrizes

  • 16

    hidroflicas e hidrogis, entre outras aplicaes, principalmente devido a suas

    caractersticas biodegradveis (WHISTLER e MILLER, 1997).

    O grande crescimento na utilizao de polmeros biodegradveis e

    sistemas polimricos aquosos, observado nas ltimas duas dcadas, esto

    diretamente relacionados reduo do impacto ambiental. Por exemplo, o

    crescente aumento na quantidade de materiais plsticos desperdiados e

    descartados, sendo que uma parte disso oriunda das embalagens, tm levado

    vrios pases a se mobilizarem para minimizar e tentar solucionar problemas

    ambientais. As embalagens produzidas com polmeros sintticos convencionais so

    consideradas inertes ao ataque imediato de microrganismos. Essa propriedade faz

    com que esses materiais apresentem um longo tempo de vida til e,

    conseqentemente, provoquem srios problemas ambientais, visto que, aps o seu

    descarte, demoram em mdia 100 anos para se decomporem totalmente (ROSA,

    2001).

    Plsticos ou polmeros biodegradveis so aqueles que degradam sob a

    ao de organismos vivos, e tambm por meio de reaes abiticas tais como foto-

    degradao, oxidao e hidrlise, que podem alterar o polmero devido a fatores

    ambientais (RAGHAVAN, 1995; AMASS et al., 1998). Dentre estes materiais,

    polissacardeos, como derivados de celulose, quitina/quitosana, alginato e

    carragenina so extensivamente usados em alimentos, cosmticos e na medicina,

    devido s suas diferentes propriedades e biodegradabilidade. A hidroxipropil

    metilcelulose (HPMC), um ter de celulose no qual os hidrognios e grupos

    hidroxilas da celulose foram parcialmente substitudos por alquil ou por grupos

    alquil substitudos, para modificar as caractersticas da celulose nativa. um

    polmero altamente solvel em gua e de fcil obteno de filmes, e j largamente

    aplicado na indstria alimentcia.

  • 17

    1.5. Hidroxipropil metilcelulose (HPMC) A celulose formada por unidades D-glicopiranosdicas, unidas por

    ligaes 14 numa cadeia longa e no-ramificada, as quais levam a formao de

    uma cadeia linear. Os trs grupos hidroxilas por unidade monomrica formam

    fortes ligaes secundrias entre as cadeias, impedindo sua fuso

    (CANEVAROLO, 2002). Devido sua infusibilidade e insolubilidade, a celulose

    geralmente convertida em derivados para tornar-se mais processvel. O nmero

    mdio de hidroxilas que so substitudas em um determinado produto conhecido

    como grau de substituio (GS). Todos os derivados da celulose importantes so

    produtos da reao de um ou mais dos trs grupos hidroxilas, que esto presentes

    em cada unidade glicopiranosdica (CHANDRA e RUSTGI, 1998). A estrutura do

    HPMC encontrada na FIG. 1.7 (PEKEL et al., 2004).

    Derivados de celulose so principalmente utilizados em embalagens,

    devido sua biodegradabilidade. Uma limitao destes materiais sua

    sensibilidade gua, produzindo uma perda de propriedades quando o grau de

    hidratao aumenta (COMA et al. 2003).

    FIGURA 1.7: Estrutura qumica da hidroxipropil metilcelulose, onde n

    o grau de polimerizao. (R = -CH2CH(OH)CH3, CH3 ou H)

    BALASUBRAMANIAM et al. (1997) utilizaram filmes de HPMC no

    recobrimento de almndegas de frango fritas em leo de amendoim. Este filme

  • 18

    reduziu a perda de umidade e a quantidade de leo absorvida a partir de 40

    segundos de fritura, entre 50 a 90 C.

    HIREMATH et al. (2002) estudaram a miscibilidade entre polivinil

    pirrolidona (PVP) e HPMC. Os resultados mostraram que os polmeros formaram

    blendas miscveis em toda faixa de composio. Atravs de infravermelho, os

    autores demonstraram que ocorre forte ligao de hidrognio intermolecular entre o

    grupo carbonila do PVP e grupos hidroxila do HPMC.

    Apesar da grande capacidade do HPMC em formar filmes, a

    elaborao do mtodo de sntese dos filmes e mtodos para melhoria das

    propriedades, tanto de barreira quanto mecnicas, so etapas que devem ser levadas

    em considerao no estudo.

    1.6. Formao de filmes Existe diferena em relao a recobrimentos comestveis e filmes. Os

    recobrimentos so aplicados ou confeccionados diretamente sobre o produto ou

    alimento a ser protegido enquanto filmes so estruturas independentes que podem

    ser utilizadas para envolv-los, aps sua fabricao (AZEREDO, 2003). Os filmes

    podem localizar-se na superfcie ou como finas camadas entre diferentes partes do

    produto. No nosso trabalho estamos desenvolvendo a produo de filmes e no de

    recobrimentos. Ou seja, a preparao do filme feita em separado ao produto que

    este vai proteger.

    O processo de revestimento de uma matriz por um filme polimrico

    envolve foras de coeso, que atuam entre as cadeias do polmero formador do

    filme, e foras de adeso, que atuam entre o filme e o suporte (CARVALHO,

    1996). Entre os materiais que constituem os suportes, so citados na literatura: o

    acrlico (TPIA-BLACIDO et al., 2005), o poliestireno (AUDIC e CHAUFER,

  • 19

    2005), o vidro (GODBILLOT et al., 2006), o polietileno (CARVALHO, 1996) e

    o poli(tetrafluoretileno), Teflon (HOSNY et al., 1998).

    Duas tcnicas podem ser usadas, basicamente, para a obteno de

    filmes polimricos livres: o processo de nebulizao (spraying) e o processo

    conhecido como evaporao do solvente (solvent casting). Durante o processo de

    spraying, o filme formado por deposio de gotculas atomizadas, formando

    camadas homogneas de filmes (KFURI, 2003). O processo de evaporao do

    solvente envolve a disperso do polmero em um solvente ou mistura de solventes

    adequados, formando um sistema relativamente viscoso. A disperso ento

    vertida sobre uma superfcie no adesiva (suporte) e levada para uma estufa para

    que o solvente evapore.

    Depois que todo o solvente foi evaporado, o filme seco pode ser

    retirado do suporte. Alguns fatores, tais como o tipo do solvente utilizado e as

    condies de evaporao (temperatura), exercem forte influncia nas propriedades

    finais de filmes polimricos (CARVALHO, 1996).

    Alteraes estruturais nos filmes podem ser obtidas se as disperses de

    polmeros so preparadas com solventes adequados ou no, ou se so preparadas

    com uma mistura desses solventes. Pode-se dizer que um solvente adequado para

    um polmero quando os valores dos parmetros de solubilidade do solvente e do

    polmero forem semelhantes. Em solventes adequados, as molculas polimricas

    apresentam uma conformao em hlice de forma expandida. Durante a evaporao

    do solvente, h um aumento da concentrao da disperso. Assim, as foras

    intermoleculares, entre os segmentos das cadeias de uma molcula polimrica e

    tambm entre os segmentos das cadeias das molculas polimricas da vizinhana,

    tornam-se cada vez mais eficazes e o filme resultante formado por uma estrutura

    densa e forte, devido ao entrelaamento das cadeias.

  • 20

    Uma outra situao ocorre se o polmero for colocado em uma soluo

    diluda contendo solventes adequados ou solventes no adequados. As hlices

    polimricas so compactas e interagem somente superficialmente quando o

    solvente evaporar. O filme resultante heterogneo, pois sua estrutura apresentar

    microporos. Se o polmero for preparado com uma mistura de solventes, devido s

    diferentes taxas de evaporao de cada componente da mistura, uma situao

    crtica ocorrer durante a formao do filme, na qual a separao do polmero a

    partir da soluo acontecer (formao do gel).

    A estrutura do filme polimrico dependente do estgio no qual ocorre

    a separao de fases. Se a separao ocorrer precocemente, por exemplo, antes da

    formao do gel, ento ser obtido um filme com poros abertos em sua estrutura.

    De uma outra forma, se a separao ocorrer em um estgio posterior da formao

    do filme, quando as molculas do polmero j estiverem interagindo fortemente

    (aps a formao do gel), ento filmes contendo poros fechados em sua estrutura

    sero formados. E se nenhuma separao ocorrer, filmes com estrutura densa sero

    formados de maneira similar aos filmes preparados com bons solventes

    (KROCHTA et al., 1994; JONES e MEDLICOTT, 1995).

    Uma das preocupaes na tcnica de evaporao do solvente manter

    constante para todos os filmes que sero sintetizados e analisados, as mesmas

    condies de preparao, como: temperatura, solvente, tempo de evaporao e

    suporte.

    1.7. Propriedades dos filmes Os filmes utilizados em alimentos no devem apresentar sabor para

    no serem detectados durante o consumo do produto alimentcio que foi coberto ou

    embalado. Quando os filmes apresentarem um aroma ou sabor particular, suas

  • 21

    caractersticas sensoriais devem ser compatveis ao alimento (DEBEAUFORT et

    al., 1998).

    Os filmes para embalagens devem apresentar os seguintes requisitos:

    alta eficincia barreira (vapor de gua e gs) e mecnica; estabilidade trmica,

    obteno por tecnologia de processamento simples, no poluente e de baixo custo,

    tanto de matrias primas como de processo (DEBEAUFORT et al., 1998).

    A eficincia barreira de gua desejvel para retardar a desidratao

    da superfcie de produtos frescos (carne, frutas e verduras) ou congelados. Muitos

    produtos requerem embalagens que sejam barreira ao vapor de gua para evitar

    ganho ou perda de umidade. A migrao de vapor de gua um dos principais

    fatores de alterao da qualidade sensorial, caractersticas microbiolgicas, fisico-

    qumicas e sensoriais bem como estabilidade de estocagem.

    Filmes preparados com polissacardeos apresentam alta taxa de

    permeabilidade ao vapor de gua, devido principalmente, a grande solubilidade

    apresentada por esses. Assim esse um parmetro que necessita ser melhorado.

    O controle das trocas gasosas, particularmente do oxignio, permite o

    melhor controle da maturao das frutas ou a reduo da oxidao de alimentos

    sensveis ao oxignio. A transferncia de vapores orgnicos deve ser diminuda a

    fim de reter os compostos de aroma no produto durante a estocagem ou prevenir a

    penetrao de solventes no alimento, o que pode envolver toxicidade ou sabor no

    caracterstico (off-flavor) (GENNADIOS e WELLER, 1990). A deteriorao

    dos alimentos causada principalmente pelo crescimento microbiano nas

    superfcies dos alimentos (TORRES e KAREL, 1985). A utilizao das pelculas

    que apresentam baixa taxa de permeabilidade a gases, como as sintetizadas por

    polissacardeos, reduz o acesso do oxignio aos tecidos, minimizando tais

    alteraes (KESTER e FENNEMA, 1986).

  • 22

    Para que as embalagens no percam sua proteo pelo manuseio ou

    armazenamento necessrio que os filmes apresentem uma certa resistncia

    ruptura, abraso e tambm uma certa flexibilidade, que permita a deformao do

    filme sem a sua ruptura (VICENTINI e CEREDA, 1999).

    Assim, uma importante propriedade dos filmes polimricos sua

    resposta aplicao de uma fora, indicada por dois tipos principais de

    comportamentos: o elstico e o plstico. Materiais elsticos iro retornar sua

    forma original desde que a fora seja removida. Materiais plsticos no retomam

    sua forma. Nestes, o fluxo ocorre semelhantemente a um lquido altamente viscoso.

    A maioria dos filmes polimricos sintticos demonstra uma combinao dos

    comportamentos elstico e plstico, apresentando comportamento plstico aps o

    limite elstico ter sido excedido. A FIGURA 1.8 exemplifica o comportamento de

    um material viscoelstico sob tenso.

    FIGURA 1.8: Representao grfica das propriedades mecnicas de

    tenso versus deformao. FONTE: (WARD e HARDLEY, 1998).

    Uma das propriedades mecnicas apresentadas pelos filmes so

    resistncia trao e elongao. A resistncia trao a mxima tenso suportada

    pelo filme at o momento de sua ruptura. A elongao a medida de maleabilidade

    do filme e pode ser considerada como uma caracterstica que define a habilidade do

  • 23

    filme em deformar antes de ocorrer sua ruptura. Baixos valores de elongao

    implicam em filmes quebradios (MACLEOD et al., 1997). Outra propriedade

    mecnica avaliada em filmes polimricos o mdulo de elasticidade (mdulo de

    Young), que a relao linear entre a tenso aplicada e a deformao sofrida e

    determinado pela inclinao da curva de tenso versus deformao na regio

    elstica.

  • 24

    CAPTULO II: Sntese e Caracterizao de

    Nanopartculas de Quitosana Sintetizadas Por

    Diferentes Mtodos

  • 25

    2.1. Introduo A quitosana (QS) um biopolmero obtido da desacetilao da quitina,

    que o maior constituinte de exoesqueletos de crustceos e outros animais

    marinhos (BOONSONGRIT et al., 2006). Atualmente a quitosana vem sendo

    utilizada no tratamento de guas, produo de cosmticos, drogas e medicamentos,

    aditivos alimentcios, membranas semipermeveis e no desenvolvimento de

    biomateriais (JIANG et al., 2006; ALMENAR et al., 2009; XIAO et al., 2009).

    A abundncia (baixo custo), biodegradabilidade, no toxicidade e

    origem natural, fazem da quitosana um material bastante vivel na utilizao na

    agricultura.

    O estudo de nanopartculas (NPs) de quitosana j algo bem difundido

    no meio cientfico. S que a cada ano, vem crescendo o nmero de descobertas

    inovadoras na rea de nanotecnologia utilizando a quitosana (NASCIMENTO et

    al., 2001; WU et al., 2005; BODNAR et al., 2005; DOUGLAS et al., 2006). As

    nanopartculas (NPs) tem sido desenvolvidas visando inmeras aplicaes, tais

    como: aumentar a capacidade de armazenamento e processamento de dados dos

    computadores; criar novos mecanismos para a liberao de medicamentos mais

    seguros e menos prejudiciais ao paciente dos que os disponveis de hoje; criar

    materiais mais leves e mais resistentes do que metais e plsticos, para aplicao em

    construes, automveis e avies; e diversas outras inovaes.

    Novos meios de energia, proteo ao meio ambiente, menor uso de

    matrias primas escassas so possibilidades concretas dos desenvolvimentos em

    nanotecnologia que esto ocorrendo.

    A literatura relata vrias maneiras diferentes de snteses de

    nanopartculas, com diferentes tamanhos (JANES e ALONSO, 2003; LIU et al.,

    2005). Entretanto, as nanopartculas de quitosana na maioria dos trabalhos

    apresentam tamanhos maiores que 125 nm, usualmente na faixa de 175 600 nm.

  • 26

    A obteno de nanopartculas de quitosana com tamanhos menores

    algo realmente inovador no campo da nanotecnologia.

    Essa etapa teve como objetivo, sintetizar nanopartculas de quitosana a

    partir de dois mtodos diferentes: i) polimerizao em molde atravs da

    polimerizao de cido metacrlico em soluo de quitosana (QS-PMAA); ii)

    gelatinizao ionotrpica da quitosana com tripolifosfato de sdio (QS-TPP).

    2.2. Materiais e Mtodos

    2.2.1. Materiais

    2.2.1.1. Sntese 1 - Quitosana; a quitosana utilizada foi da Polymar, (Fortaleza-Brasil).

    (MW= 71,3 kDa, grau de desacetilao 94%, fornecido pelo fabricante).

    - Persulfato de potssio (K2S2O8); obtido da Aldrich (St. Louis, USA).

    - cido metacrlico (MAA); obtido da Aldrich (St. Louis, USA).

    2.2.1.2. Sntese 2 - Quitosana; Polymar, Fortaleza-Brasil. (MW= 71,3 kDa, grau de

    desacetilao 94%).

    - Tripolifosfato de sdio (TPP); obtido da Aldrich (St. Louis, USA).

    2.2.2. Mtodos

    2.2.2.1. Preparao das Nanopartculas

    2.2.2.1.1. Mtodo de polimerizao do cido metacrlico

    (QS-PMAA) - Sntese 1 As nanopartculas foram preparadas por polimerizao do cido

    metacrlico em soluo de quitosana, a partir de duas etapas (MOURA et al.,

  • 27

    2008). Na primeira etapa, a quitosana foi solubilizada em soluo de cido

    metacrlico (0,5% v/v) por 12 horas, sob agitao magntica. As concentraes de

    quitosana utilizada na sntese foram de 0,2; 0,5 e 0,8 (% m/v). Na segunda etapa,

    adicionou-se sob a soluo previamente solubilizada 0,2 mmol de K2S2O8 com

    agitao mecnica. O sistema foi fechado e mantido a 70 C por 1 hora, para que

    ocorresse a polimerizao do cido metacrlico (FIGURA 2.1). Com o aumento de

    poli(cido metacrlico) na soluo, essa muda de clara para uma suspenso

    opalescente, indicando a formao de nanopartculas QS-PMAA.

    FIGURA 2.1: Fotografia da sntese das nanopartculas.

    Finalmente, aps 1 hora de reao, a suspenso foi imersa em banho

    de gelo por 30 minutos. As nanopartculas foram centrifugadas e ento re-

    suspensas em gua deionizada (Mili-Q). Na FIGURA 2.2, apresentada uma foto

    da soluo de nanopartculas antes e aps a formao das nanoestruturas.

  • 28

    FIGURA 2.2: Foto das solues: com ausncia (soluo transparente)

    e presena (soluo opalescente) de nanopartculas.

    2.2.2.1.2. Mtodo de gelatinizao ionotrpica (QS-TPP) -

    Sntese 2 Para a preparao de nanopartculas de quitosana e tripolifosfato de

    sdio, utilizou-se o mtodo de gelatinizao inica de grupamentos da QS com

    TPP.

    As nanopartculas foram obtidas de acordo com o procedimento,

    reportado primeiramente por CALVO et al. (1997). Na primeira etapa, solubilizou-

    se a quitosana em soluo de cido actico nas concentraes de 3,0 e 4,4 mg/mL.

    Deixou-se a quitosana solubilizando em cido, por cerca de 6 horas. Aps esse

    perodo, a soluo foi alocada em um homogenizador (Polytron PT 3000-

    Brinkmann). Sob agitao de 4500 rpm, 28 mL de soluo de TPP com

    concentrao de 1,2 e 2,1 mg/ mL foram adicionados em 70 mL das solues de

    QS (TABELA 2.1). A taxa de adio da soluo de TPP foi de 1 mL/min. A zona

    de suspenso opalescente, que apareceu no sistema aps a adio do TPP, foi

    atribuda as nanopartculas formadas.

  • 29

    TABELA 2.1: Trs diferentes tipos de nanopartculas QS-TPP

    formadas, com diferentes concentraes dos reagentes.

    Concentrao de

    Quitosana (mg/mL)

    Concentrao de

    TPP (mg/mL)

    3,15 0,6

    2,14 0,6

    2,14 0,3

    Na Figura 2.3, apresentado uma fotografia dos equipamentos

    utilizados na sntese das nanopartculas.

    FIGURA 2.3: Equipamentos utilizados na sntese das nanopartculas

    QS-TPP.

  • 30

    2.2.2.2. Caracterizao de nanopartculas QS-PMAA

    2.2.2.2.1. Anlise por FT-IR A partir das nanopartculas sintetizadas, estas foram centrifugadas,

    congeladas em nitrognio lquido e liofilizadas, para s depois serem misturadas

    com brometo de potssio (KBr) e prensadas em alta presso, formando pastilhas.

    Espectros de FT-IR foram obtidos registrando 128 varreduras de 4000 a 400 cm-1,

    com resoluo de 2 cm-1, em um Perkin Elmer Spectrum, modelo Paragon 1000.

    As anlises de FT-IR foram realizadas na quitosana pura e nas NPs

    com diferentes quantidades de QS. As anlises de FT-IR foram importantes para

    analisar o mecanismo pelo quais as NPs so formadas. Permitir tambm, a

    caracterizao estrutural e composio qumica dos diferentes tipos de polmeros e

    dos materiais, elucidando os tipos de ligaes qumicas e os grupos funcionais

    presentes nos polmeros utilizados no trabalho.

    2.2.2.2.2. Anlise por RMN Os ensaios de RMN C13 VACP-MAS foram realizados em um

    espectrmetro Varian Inova 400, com campo de 9,4 T. Os espectros de RMN no

    estado slido foram obtidos utilizando os seguintes parmetros: pulso de /2, tempo de aquisio de 12,8 ms, e tempo de repetio de 1 ms.

    Foram utilizados aproximadamente 200 mg de amostra em rotores de

    zircnio com 5 mm de dimetro.

    As amostras foram analisadas com frequncia de rotao de 6.500 Hz.

    Todos os espectros foram filtrados usando funo de decaimento exponencial

    (lb=10).

  • 31

    2.2.2.2.3. Tamanho mdio e distribuio do tamanho das

    partculas A distribuio do tamanho das partculas foi determinada no aparelho

    Fiber Optic Quasi Elastic Light Scattering (FOQELS) (Brookhaven, USA), que

    opera pelo princpio de difrao de raios laser. As medidas foram realizadas em

    triplicata, na temperatura de 25 C. As anlises foram feitas, em solues com

    diferentes concentraes de QS na sntese das nanopartculas (0,2; 0,5 e 0,8 %

    m/v). Para nanopartculas obtidas a partir do mtodo de polimerizao em molde,

    foram realizadas medidas de tamanho em diferentes pHs na faixa entre 3,0 - 9,0.

    2.2.2.2.4. Anlise por Potencial Zeta A carga superficial das partculas foi analisada por um Zeta Potencial

    Analyzer (Brookhaven, USA). Nessas medidas, o KCl foi adicionado fase

    dispersora, de modo que sua concentrao foi de 10-4 mol L-1, a fim de manter

    constante a fora inica do meio. As medidas foram realizadas a temperatura

    ambiente (25 C). Para nanopartculas obtidos a partir do mtodo de polimerizao

    em molde, foram realizadas medidas de potencial zeta em diferentes pHs, onde a

    faixa analisada foi pH 3,5 - 9,0. Todas as anlises foram realizadas em triplicata.

    2.2.2.2.5. Microscopia Eletrnica de Transmisso (MET) As suspenses de partculas foram caracterizadas quanto forma das

    partculas e homogeneidade da suspenso, atravs de Microscopia Eletrnica de

    Transmisso (MET). O microscpio utilizado foi um Philips CM200. As amostras

    foram sonificadas por 2 min, para obter melhor disperso e prevenir a aglomerao

    das NPs. Uma gota da suspenso foi adicionada sobre uma grade de cobre e seca a

    temperatura ambiente, para ento ser analisada por MET.

  • 32

    2.2.2.2.6. Calorimetria Diferencial de Varredura (DSC) Todas as medidas de Calorimetria Diferencial de Varredura (DSC)

    realizadas nas nanopartculas foram feitas utilizando um equipamento de DSC da

    marca TA Instruments Q100.

    Aproximadamente, 4 mg de amostra foram pesadas em panelas de

    alumnio, essas panelas foram seladas e alocadas no equipamento. A programao

    utilizada para todas as anlises foi: rampa de aquecimento de 20 at 450 C; razo

    de 5 C/min sob atmosfera de nitrognio com vazo de 50 mL/min.

    2.2.2.2.7. Termogravimetria (TG) As anlises foram realizadas no aparelho TGA Q-500.

    Aproximadamente 5-6 mg da amostra foram analisados em panela de platina. Os

    experimentos foram programados com rampa de aquecimento de 20 at 500 C,

    com razo de aquecimento de 10 C/min para cada amostra. A vazo de nitrognio

    foi mantido em 60 cm 3/min. Todas as anlises foram feitas em triplicatas.

    2.2.2.3. Caracterizao nanopartculas QS-TPP

    2.2.2.3.1. Anlise por FT-IR As solues de nanopartculas foram centrifugadas, congeladas em

    nitrognio lquido e liofilizadas (12 horas), para s depois serem misturadas com

    brometo de potssio (KBr) e prensadas em alta presso, formando pastilhas.

    Espectros de FT-IR foram obtidos registrando 128 varreduras de 4000

    a 400 cm-1, com resoluo de 2 cm-1, em um Perkin Elmer Spectrum, modelo

    Paragon 1000. As anlises de FT-IR foram realizadas na quitosana pura e nas NPs

    com diferentes concentraes de materiais na sntese. A anlise permitir a

    caracterizao estrutural e composio qumica dos diferentes tipos de polmeros e

  • 33

    dos materiais, elucidando os tipos de ligaes qumicas e os grupos funcionais

    presentes nos polmeros utilizados no trabalho.

    2.2.2.3.2. Tamanho de partculas e distribuio do

    tamanho das partculas A distribuio do tamanho das partculas foi medida no equipamento

    Horiba LA 900, (Horiba Instruments Inc., Irvien, CA, USA), que opera pelo

    princpio de difrao de raios laser. As medidas foram realizadas em triplicata na

    temperatura de 25 C e pH 4,5.

    2.2.2.3.3. Anlise por Potencial Zeta A carga superficial das partculas foi analisada por um Zeta Potencial

    Analyser (Brookhaven, USA). KCl foi adicionado fase dispersora, de modo que

    sua concentrao foi de 10-4 mol L-1, a fim de manter constante a fora inica do

    meio. As partculas foram analisadas na temperatura de 25 C e pH 4,5. Todas as

    anlises foram realizadas em triplicata.

    2.2.2.3.4. Termogravimetria (TG) O procedimento foi similar ao descrito no item 2.3.2.7. As anlises

    foram realizadas no aparelho TGA Q-500. Aproximadamente 5-6 mg da amostra

    foram analisados em panela de platina. Os experimentos foram programados com

    rampa de aquecimento de 20 at 500 C, com razo de aquecimento de 10 C/min

    para cada amostra. A vazo de nitrognio foi mantida em 60 cm3/min. Todas as

    anlises foram feitas em triplicatas.

  • 34

    2.2.2.3.5. Microscopia Eletrnica de Transmisso (MET) O procedimento foi similar ao descrito no item 2.2.2.2.5. As

    suspenses de partculas foram caracterizadas quanto forma das partculas e

    homogeneidade da suspenso, atravs de Microscopia Eletrnica de Transmisso

    (MET). O microscpio utilizado foi um Philips CM200. As amostras foram

    sonificadas por 2 min, para obter melhor disperso e prevenir a aglomerao das

    NP. Uma gota da suspenso foi adicionada sobre uma grade de cobre e seca a

    temperatura ambiente, para s ento ser analisada por MET.

    2.3. Resultados e Discusses

    2.3.1. Nanopartculas QS-PMAA

    2.3.1.1. Sntese das nanopartculas A quitosana um polmero que apresenta a caracterstica de um

    polieletrlito positivo quando em soluo. Essa caracterstica faz com que a

    quitosana apresente interao eletrosttica com o cido, o que provoca a formao

    das nanopartculas, a partir, da polimerizao do cido na soluo.

    O mecanismo de preparao das nanopartculas est presente na

    FIGURA 2.4. Em se tratando de um mtodo de polimerizao em molde, a

    quitosana insolvel em gua pura, atingindo uma completa solubilizao quando

    o MAA adicionado na soluo. Isso indica que, tal como ocorre com o cido

    actico nas solues comuns de quitosana, o MAA protonou os grupos NH2 da

    quitosana. Quando a polimerizao comeou, a propagao das cadeias de PMAA

    resultou em um aumento da densidade de carga, de modo que, ao tornar-se crtica,

    os complexos polieletrlitos insolveis entre a quitosana e o poli(cido metacrlico)

    so formados atravs de interaes eletrostticas. Naturalmente, as interaes

    hidrofbicas e as ligaes de hidrognio no podem ser desconsideradas.

  • 35

    FIGURA 2.4: Mecanismo proposto de preparao das nanopartculas

    (MOURA et al., 2008).

    CH2 C

    CH3

    C

    OH

    O70 C , 1 h

    CH2 C

    CH3

    C

    OH

    O

    )( niniciador

    cido Metacrlico Poli(cido metacrlico)

    COO

    COO

    COO--- NH3

    NH3

    NH3+

    +

    +

    COO

    COO

    COO---

    NH3

    NH3

    NH3+

    +

    +

    COO

    COO

    COO---

    NH3

    NH3

    NH3+

    +

    +

    CH2 C

    CH3

    C

    OH

    O

    )( n +O

    CH2OH

    O

    NH2

    OH( )n

    COO

    COO

    COO---

    +NH3

    NH3

    NH3+

    +

    +

    CH2 C

    CH3

    C

    OH

    O

    )( n +O

    CH2OH

    O

    NH2

    OH( )n

    COO

    COO

    COO---

    +NH3

    NH3

    NH3+

    +

    +

    Poli(cido metacrlico) Quitosana

  • 36

    2.3.1.2. Anlise de FT-IR A fim de estudar a interao existente entre o grupamento amina da

    QS e o grupamento cido do PMAA foram realizadas as anlises de FT-IR.

    O espectro de FT-IR pode ser observado na FIGURA 2.5 e foi

    realizado nas nanopartculas contendo 0,2, 0,5 e 0,8 % (m/v) de quitosana e na

    quitosana pura. O espectro da quitosana pura (FIG. 2.5a) apresenta picos

    caractersticos: 1649 cm1 correspondente ao estiramento da ligao C=O de amina

    I; 1083 1020 cm-1 devido ao estiramento do C-O e 620 cm-1 devido s vibraes

    dos anis piranosdicos, de acordo com a literatura (TONHI e PLEBIS, 2002).

    2000 1500 1000 500

    -10

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    70

    80

    (d)

    (c)

    (b)

    (a)

    Tr

    ansm

    itnc

    ia (%

    )

    Nmero de onda (cm-1)

    QS

    0,2%

    0,8%

    0,5%

    FIGURA 2.5: Espectro de FT-IR da quitosana (2a) e nanopartculas

    (2b-d).

    Na FIG. 2.5b observamos que a banda em 1649 cm-1, que aparece

    claramente no espectro da quitosana pura, diminui surgindo duas novas bandas em

    1638 cm-1 (grupo COO-) e 1545 cm-1 (grupo NH3+), indicando a interao inica

    entre PMAA e QS, caracterizando a formao de nanopartculas.

  • 37

    As bandas em 1703 e 1264 cm1 (C=O) confirmam a presena de

    PMAA nas nanopartculas (AZHGOZHINOVA et al., 2004). O aumento da

    quantidade de quitosana nas NPs (FIG. 2.5b-d) provoca uma mudana qumica

    significativa, pois bandas em 1703 e 1264 cm-1 decrescem drasticamente, com

    aumento concomitante das bandas em 1638 cm-1 e 1545 cm-1. Esse fato est

    relacionado diretamente com o decrscimo na quantidade de PMAA, e aumento nas

    interaes inicas entre PMAA e quitosana que passam a existir no sistema.

    2.3.1.3. Anlise de RMN A FIGURA 2.6, apresenta o espectro de RMN das nanopartculas de

    QS-PMAA com 0,2, 0,5 e 0,8 % m/v de quitosana na sntese. Os picos C1 (105,7),

    C2 (57,6), C3 (75,5), C4 (82,9), C5 (76,1) e C6 (61,5), que aparecem no

    espectro da FIG. 2.6a correspondem estrutura da quitosana, estando de acordo

    com a literatura (SILVA et al., 2007).

    Os picos caractersticos do poli(cido metacrlico) reportados na

    literatura so: C1 (183,6), C2 (43), C3 (57) e C4 (18,7). Para as nanopartculas

    QS-PMAA os picos de RMN obtidos, esto prximos dos picos apresentados pela

    QS e PMAA. Isto mostra que essa pequena diferena no deslocamento dos picos

    acontece devido formao de nanopartculas, ou seja, a interao entre os dois

    sistemas (FIG. 2.6b 2.6d).

    Nos espectros das nanopartculas, o pico do C1 (183,6), referente ao

    grupamento COO- do cido, se desloca para uma regio de campo mais baixo

    (0,2% - 184,0; 0,5% - 188,5; e 0.8% - 190,8). Isso ocorre devido mudana na

    massa relativa da razo dos grupos COO- / COOH, que reflete nas diferenas da

    frequncia de vibrao. Os picos em 49 e 20 ppm so atribudos ao C2 e C4 do

    PMAA, respectivamente. tambm observado um decrscimo na intensidade de

    ambos os picos, quando a concentrao de quitosana na sntese das nanopartculas

  • 38

    aumentada. Com o aumento na quantidade de quitosana, uma maior quantidade de

    cido utilizada para solubiliz-las. Os outros picos, presentes nos espectros das

    nanopartculas, so atribudos estrutura da quitosana.

    FIGURA 2.6: Espectro de C13 VACP-MAS: a) quitosana pura; b)

    0,2% (m/v) de quitosana na sntese das nanopartculas; c) 0,5% (m/v) na sntese e

    d) 0,8% (m/v) na sntese. * Corresponde ao grupo CH3 acetil residual.

    2.3.1.4. Anlise do tamanho mdio das partculas

    Na TABELA 2.2, apresentada dependncia entre a quantidade de

    quitosana na sntese e o tamanho mdio das nanopartculas.

    Nesta tabela observa-se que o dimetro das partculas est diretamente

    relacionado com a quantidade de quitosana utilizada na sntese. Nas mesmas

    condies de preparao, quanto menor a massa de quitosana maior o tamanho

    200 150 100 50 0

    PMAA_C2

    PMAA_C4PMAA_C3

    *

    QS_C1QS_C5

    QS_C4

    QS_C3

    QS_C2

    (d)

    (c)

    (b)

    (