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250 anos de José Bonifácio (A Tribuna)

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Série de matérias, dividida em seis partes, em comemoração aos 250 anos do Patriarca da Independência

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VIVIANEPEREIRA

EDITORADEESPORTES

"Amicus certus in res incerta cernitur. É chegadaa ocasião demedarmais umaprova de amizade,tomando conta da educação do meumuito ama-do e prezado filho, seu Imperador. Eu delego emtão patriótico cidadão a tutoria do meu queridofilho e esperoque, educando-onaqueles sentimen-tos de honra e de patriotismo com que devem sereducados todos os soberanos, para serem dignosde reinar, ele venha um dia a fazer a fortuna doBrasil, de que me retiro saudoso. Eu espero queme faça este obséquio, acreditando que, a nãomofazer, euviverei sempreatormentado.Seuamigo constantePedro"

Do prédio da ca-deia velha, ou-viam-se os sonsque chegavamdefora,apontan-do o pé de guer-

ra que se instalara no Rio de Ja-neiro. Dentro, o cenário não eramuito diferente. Uma guerra si-lenciosa, quasemuda, travava-senaquela que ficou conhecida co-mo‘anoitedaagonia’.Uma guerra de resistência dos

deputados que dali não arreda-ram pé por 27 horas seguidas. AAssembleia Constituinte teriadesfechodiferentedepois danoi-tede11denovembrode1823.Porvoltade10horasdamanhã

do dia 12, José Bonifácio, queestava entre os resistentes, dor-miu cerca de duas horas em umbanco. Quando acordou, foi atésuacasa tomarbanhoemudarderoupa.Muitos deputados foram pre-

sos ao deixar o edifício. Bonifáciochegou à sua casa e, enquantocomiaalgorapidamenteparavol-tar à assembleia, recebeu umofi-cial que comunicou a dissoluçãoda constituinte e lhe avisouque oimperador o chamava. À respos-tanegativadooficialquandoper-guntou se deveria se considerarpreso, respondeu: “Neste caso,posso acabar o meu jantar, e se oSr. Oficial quiser, estimarei mui-toquesesirvadealgumacoisa”.Dali o Patriarca da Indepen-

dência seguiu escoltado para umpavilhão onde já se encontravamseus irmãos Martim Francisco eAntonio Carlos. Transportadosdepois para a Fortaleza da Laje,foramlevadosao subterrâneosu-jo, onde o ex-ministro dormiu,sobreumtapetevelho.Nodia 20de novembro embar-

cou em um navio velho rumo àEuropa. Partiu banido, desterra-do, junto comos irmãos, amulhereafilhaGabriela.

DA INDEPENDÊNCIAAOEXÍLIOAguerra política que levou a estasituação extrema começou bemantes. Da volta ao Brasil, em1819, até seu envio ao exílio naEuropa, mal se passaram quatroanos. Esse tempo foi suficientepara Bonifácio participar demo-mentosimportantes,comoapro-clamaçãodaIndependência.A já acirrada briga política fi-

cou pior após 7 de setembro de1822. O ministro brigava commão de ferro contra os adversá-rios, que levavam intrigas ao im-perador.Quando Dom Pedro mandou

desfazer ordens suas, em 27 deoutubro, Bonifácio pediu demis-são.Masaopiniãopúblicaclama-va pelo retorno de Bonifácio.Acuado, Dom Pedro o chamoudevolta.Os trabalhos da Assembleia

Constituintecomeçaramem3demaio de 1823. Como Bonifácioconsiderava que os poderes doimperador eramsuperiores a ela,logo arrumou mais inimigos. Aestessesomaramosquenãoapro-

vavam a campanha do ministropelo fim da escravidão. E tam-bém a Marquesa de Santos,amante do imperador, que nãogostava dos questionamentosqueBonifáciofaziasobresuapre-sençanavidaimperial.A pressão foi suficiente para,

em15de julho,DomPedro forçara demissão de Bonifácio, que foipara seu retiro em Santos, ondepretendia ficar entre os seus “li-vros, pedras e reagentes quími-cos”, deixando para sempre “amalfadadacorte”.Ainda não era sua hora de dei-

xar a política. Como deputado,precisaria se licenciar da assem-bleia.MasseuirmãoAntonioCar-loseraoprincipalautordaConsti-tuição e precisava da ajuda fami-liar.Bonifácioestavadevolta.Nessa fase, um golpe dissolveu

a constituinte em Portugal e de-volveu poder a Dom João VI. NoBrasil, chegou a preocupação deque a Independência se esvaísse.Algunsministroseramportugue-ses,assimcomoquasetodoopes-soaldoserviçodoimperador.OsjornaisdosAndradascritica-

vam essa postura e a presença deoficiais portugueses no exércitobrasileiro. Boa parte do ministé-rio se demitiu. Com reprimen-das, a Câmara respondeu que la-

mentava, mas manteve a dúvidasobrealealdadedastropasportu-guesas.Osdeputadosqueriamesclare-

cimentos. Era 11 de novembro de1823 e foi assim que teve início anoite da agonia, que culminariacomBonifácio embarcando paraoexílio.

DAFRANÇAAPAQUETÁDo embarque no Rio de Janeiroaté a chegada ao destino, foramquase seis meses e meio de ago-nia.Desde apartida, quando tro-caram o comandante brasileiropor umportuguês, tudo indicavauma emboscada para os irmãosAndradas, para jogá-los nasmãos dos portugueses que elescriticaramedequemexigiamim-postos.Faltou comida, um temporal

provocougrandesavariasnobar-co, que parou emumporto espa-nhole ficou incomunicável.AEs-panhaqueriamandá-losaPortu-gal,aoqueosexiladosreagiram.Bonifácioprecisoupedirprote-

ção a Londres para chegar, em 5de junho de 1823, em Bordéus,na França. Ali viveu 5 anos e 8meses sob a vigilância da polícia,apontadocomochefedeumafac-çãoquequeriaderrubaramonar-quiabrasileira.

Doexílioescreviaartigoson-de chamava Dom Pedro de‘malasarte”e ‘rapazinho”.Oim-perador o declarou inocenteem 1824, mas não o chamoudevolta.Só aos 66 anos retornou ao

Brasil, onde desembarcou em23 de julho de 1829 carregan-domágoas e o corpoda esposaNarcisa, morta durante a via-gem. Semdinheiro, pediu em-prestado para pagar o enterroeasdespesasdonavio.Encontrouumambientepo-

lítico tumultuado, comdesen-tendimentos entre o impera-dor e o legislativo. O homemvelho,pobreesofridosópensa-vaemseisolar.Instalou-se no que chamou

de “Retiro filosófico dePaque-tá”, onde poderia estar sob osol quente, que faria bem aoreumatismo, e próximo de ár-vores.Eainda teria omarparamatar as saudadesda suaSan-tos.Mas em 6 de abril de 1831

recebeu carta de Dom Pedrolhe entregando seu bem maisprecioso: o filho que seria her-deiro. O imperador abdicounodiaseguinte.Os inimigos de Bonifácio

conseguiram, em abril de1832,tirar-lheatutoria.Sódei-xouopaçoà forçadeordemdeprisão expedida pela Regên-cia. Ficou preso em sua casaem Paquetá até o fim do pro-cesso crime que o acusava deconspirador e perturbador daordempública.Intimado a comparecer ao

tribunal e constituir advoga-dos, escreveu ao juiz, em24defevereiro de 1835: “não preci-so, portanto, de defesa, quenão seja negar positivamenteo de que sou acusado em umprocessoirregular, injustoeab-surdo. Se, porém,paranãode-morar o julgamento de outrosmeus chamados co-réus, é deabsoluta necessidade que eutenha advogado, então no-meio a todos aqueles homensdeprobidadequequeiramofi-ciosamente encarregar-se daminha defesa bem curta e fá-cil”.Foi considerado revel até o

final do julgamento, em 14 demarço,quandoosjuradosvota-ram pela absolvição dos réus.Em uma cerimônia emocio-nante, mais de duas mil pes-soasderamvivasaBonifácio.Ele estava velho e doente

quando encontrou a paz emPaquetá. Chegou a mudar-separa Niterói, por insistênciados irmãos, para tratar a saú-de. Morreu em 6 de abril de1838.Seu corpo foi embalsamado

eficounoRiodeJaneiroaté25deabril,quandoafilhaGabrie-la o trouxe para Santos, ondeesteveprimeironacapela-morda Igreja doConventodeNos-sa Senhora do Carmo. Agora,repousa no Pantheon que levaonomedesua família,noCen-tro Histórico, em sua cidade,comoeraseudesejo.

>>JoséBonifácio,HistóriadosFundadoresdo Impé-riodoBrasil,Octávio TarquíniodeSousa

>>ProjetosparaoBrasil, JoséBonifaciodeAndra-daeSilva–GrandesNomesdoPensamentoBrasi-leiro,organizaçãoMiriamDolhnikoff

>>ConstruçãodaNaçãoeEscravidãonoPensamen-todeJoséBonifácio,AnaRosaCloclet daSilva

>>JoséBonifácioeaUnidadeNacional,TherezinhadeCastro

>>JoséBonifácio,PrimeiroChancelerdoBrasil,JoãoAlfredodosAnjos

>>GrandesPersonagesdaNossaHistória,editoraAbril

CARTA

Suasfrases

Oexiladoqueviroututor imperial

Háexatos250anos,em13dejunhode1763,nasciaemSantosohomemqueiriamudaro futurodoBrasil.EsteéasextamatériaeencerraasériequecontouumpoucodahistóriadeJoséBonifácio– lon-gedepretenderesgotaravidaricado

homemquetevevárias faces: foibacha-relemdireito, filósofo,escritor,estadis-ta,cientista,mineralogista, abolicionis-

ta...Semdeixaro ladohumano.

Bibliografia

“Miseráveis!Comosabemqueeunãotenhooutrapaixãosenãoamar

aminhapátriaerespeitaroseuchefe,e issonão lhesconvinha,emenos lheconvémpresentemente(...)mecaluniameme

perseguem(...) jamaismeofuscaramarazãoou

fizeramcócegasnocoração”

“Éprecisosacrificar-separaobemdoBrasil,

e tunãoverásestebem.Oscamposestãocheiosdesementeirasdeflores,e tunãoasgozarás (...)vivamoshojeseno-lopermitem;não lutemos

contraodestino.Oindivíduoénada,aespécieé tudo”

A-8 Local ATRIBUNA Quinta-feira 13www.atribuna.com.br junho de2013