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8778 O DIREITO À PAZ: A CONSTITUCIONALIZAÇÃO DE UM DIREITO FUNDAMENTALMENTE HUMANO * ** EL DERECHO A LA PAZ: LA CONSTITUCIONALIZACIÓN DE UN DERECHO FUNDAMENTALMENTE HUMANO Pietro de Jesús Lora Alarcón RESUMO Partindo do Constitucionalismo e do Internacionalismo, dois movimentos de forte impacto na compreensão e realização do Direito como fenômeno histórico e cultural, o artigo sustenta o reconhecimento do direito humano à paz como fator de pré- compreensão da ordem jurídica das sociedades nacionais e da sociedade internacional. Nesse sentido, é proposta uma interpretação do direito em pauta atendendo às características de universalidade, interdependência e conexidade harmônica com o conjunto dos direitos humanos. O artigo questiona ainda a relação vertical entre constituição e tratados, argumentando a necessidade de uma relação horizontal, que outorgue prioridade à dignidade como valor essencial do Direito, defendendo o fortalecimento dos sistemas de proteção internacional dos direitos humanos. PALAVRAS-CHAVES: PALAVRAS CHAVES: DIREITO À PAZ - DIREITOS HUMANOS, CONSTITUCIONALISMO - INTERNACIONALISMO RESUMEN Partiendo del Constitucionalismo y del Internacionalismo, dos movimientos de fuerte impacto en la comprensión y realización del Derecho como fenómeno histórico y cultural, el artículo sustenta el reconocimiento del derecho humano a la paz como factor de precomprensión del orden jurídico de las sociedades nacionales y de la sociedad internacional. En ese sentido, se propone una interpretación del derecho en pauta, atendiendo a las características de universalidad, interdependencia y conexión harmoniosa con el conjunto de los derechos humanos. El artículo cuestiona también la relación vertical entre constitución y tratados, argumentando la necesidad de una relación horizontal, que otorgue prioridad a la dignidad como valor esencial del Derecho, defendiendo el fortalecimiento de los sistemas de protección internacional de los derechos humanos PALAVRAS-CLAVE: PALAVRAS CLAVES: DERECHO A LA PAZ – DERECHOS HUMANOS – CONSTITUCIONALISMO - INTERNACIONALISMO INTRODUÇÃO * Trabalho publicado nos Anais do XVIII Congresso Nacional do CONPEDI, realizado em São Paulo – SP nos dias 04, 05, 06 e 07 de novembro de 2009. ** Trabalho indicado pelo Programa de Pós-Graduação em Direito da Iinstituição Toledo de Ensino.

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    O DIREITO PAZ: A CONSTITUCIONALIZAO DE UM DIREITO

    FUNDAMENTALMENTE HUMANO * **

    EL DERECHO A LA PAZ: LA CONSTITUCIONALIZACIN DE UN DERECHO FUNDAMENTALMENTE HUMANO

    Pietro de Jess Lora Alarcn

    RESUMO

    Partindo do Constitucionalismo e do Internacionalismo, dois movimentos de forte impacto na compreenso e realizao do Direito como fenmeno histrico e cultural, o artigo sustenta o reconhecimento do direito humano paz como fator de pr-compreenso da ordem jurdica das sociedades nacionais e da sociedade internacional. Nesse sentido, proposta uma interpretao do direito em pauta atendendo s caractersticas de universalidade, interdependncia e conexidade harmnica com o conjunto dos direitos humanos. O artigo questiona ainda a relao vertical entre constituio e tratados, argumentando a necessidade de uma relao horizontal, que outorgue prioridade dignidade como valor essencial do Direito, defendendo o fortalecimento dos sistemas de proteo internacional dos direitos humanos.

    PALAVRAS-CHAVES: PALAVRAS CHAVES: DIREITO PAZ - DIREITOS HUMANOS, CONSTITUCIONALISMO - INTERNACIONALISMO

    RESUMEN

    Partiendo del Constitucionalismo y del Internacionalismo, dos movimientos de fuerte impacto en la comprensin y realizacin del Derecho como fenmeno histrico y cultural, el artculo sustenta el reconocimiento del derecho humano a la paz como factor de precomprensin del orden jurdico de las sociedades nacionales y de la sociedad internacional. En ese sentido, se propone una interpretacin del derecho en pauta, atendiendo a las caractersticas de universalidad, interdependencia y conexin harmoniosa con el conjunto de los derechos humanos. El artculo cuestiona tambin la relacin vertical entre constitucin y tratados, argumentando la necesidad de una relacin horizontal, que otorgue prioridad a la dignidad como valor esencial del Derecho, defendiendo el fortalecimiento de los sistemas de proteccin internacional de los derechos humanos

    PALAVRAS-CLAVE: PALAVRAS CLAVES: DERECHO A LA PAZ DERECHOS HUMANOS CONSTITUCIONALISMO - INTERNACIONALISMO

    INTRODUO * Trabalho publicado nos Anais do XVIII Congresso Nacional do CONPEDI, realizado em So Paulo SP nos dias 04, 05, 06 e 07 de novembro de 2009. ** Trabalho indicado pelo Programa de Ps-Graduao em Direito da Iinstituio Toledo de Ensino.

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    A intensificao dos conflitos internacionais uma constante no perodo ps-guerra fria. A confrontao em lugar do dilogo e a negociao, o recurso violncia e intolerncia e o retrocesso ocasionado pela ausncia de uma poltica de paz - especialmente por parte das potncias hegemnicas -, que permita priorizar a cooperao inter-estatal, produzem fortes doses de pessimismo em torno vigncia dos direitos humanos na sociedade internacional e de suas prprias condies de efetividade nas sociedades nacionais.

    Entretanto, esse mesmo grau de insegurana e o desconhecimento das liberdades podem e devem ser os fatores que impulsionem e alicercem uma reflexo jurdica e poltica sobre a relao entre o direito paz e os direitos humanos como conquistas dos povos.

    Essa reflexo deve partir da base de que no basta com a mera formulao normativa dos direitos humanos, tampouco suficiente realizar diagnsticos, nem basta com o preenchimento de relatrios por parte de entidades internacionais ou segmentos da sociedade civil que agem de boa f. preciso criar novos e reforar os antigos mecanismos jurdicos e de controle poltico da ao estatal e dos atores armados nos marcos da interdependncia entre paz e direitos humanos, tanto na sociedade internacional como no interior das sociedades em conflito. dizer, estabelecer limites e procurar cenrios de negociao.

    Por isso, a efetividade da paz, do direito vida e das liberdades pblicas requer de uma poltica pblica internacional dirigida a esses fins. A idia transformar os cenrios de conflitos em cenrios de paz.

    Nessa perspectiva, o presente artigo sustenta a necessidade de descortinar o contedo jurdico do direito paz como direito humano, examinando a relao entre esse direito e o conjunto normativo geral desses direitos, sobre a base de uma atitude no apenas cognoscitiva, mas tambm atuante no terreno jurdico. Essa postura est ancorada em trs elementos que permeiam toda a exposio: a superao do enquadramento tradicional entre iusnaturalismo e positivismo sobre o tema; a anlise da imbricao entre direitos humanos e direitos fundamentais e, finalmente, a reconsiderao na horizontal da relao supostamente vertical entre Constituio e Tratados, reduzida idia de que documento tem peso maior e, portanto, qual deve ser aplicado diante de circunstncias to variadas quanto urgentes. .

    Partindo dessas premissas, parece-nos possvel advogar na contemporaneidade por e atravs de uma hermenutica de aplicao dos Pactos e Documentos do Sistema

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    Internacional de Proteo da vida e das liberdades, que priorize o ser humano, em detrimento de mal entendidos interesses nacionais e supostas razes de Estado. .

    1. DIREITO CONSTITUCIONAL INTERNACIONAL, PAZ E DIREITOS HUMANOS: A SUPERAO DA VERTICALIDADE ENTRE CONSTITUIES E TRATADOS A FAVOR DA VIDA E DA DIGNIDADE

    Os limites possveis e razoveis arbitrariedade como elementos das decises polticas dos Estados constituem a constante preocupao, no campo do Direito, de dois movimentos que correram paralelos durante longo tempo, o Constitucionalismo e o Internacionalismo.

    Trata-se, como se conhece, de movimentos histricos de carter poltico, com impactos contundentes no modo de ser do Direito e do Estado e na compreenso dos direitos humanos. Seus objetivos consistem precisamente em procurar, atravs de Constituies e tratados, a regulao das relaes entre os membros da sociedade politicamente organizada, tanto no mbito interno como no internacional.

    Pode-se afirmar que o primeiro, o Constitucionalismo, tem suas razes na celebrada Charta Magna Libertatum de 1215 documento assumido pela doutrina como primeira e verdadeira Carta de Liberdade para os seres humanos contra o despotismo estatal. Por sua vez, o Internacionalismo surge com inusitada fora, a pesar de contar com antecedentes consuetudinrios muito antigos, logo da assinatura do Tratado de Westflia, em 1648, mais ou menos paralelo consolidao do Estado moderno.

    Por certo que a discusso sobre a data exata de origem ou sobre qual dos movimentos ostenta maior grau de influncia na construo de valores como a justia, a igualdade ou a legalidade, no a questo central para o pesquisador. Resulta de muita maior importncia consignar como, especialmente a partir do final da Segunda Guerra, se aprofundou a relao entre os dois a ponto de surgir no plano acadmico o denominado Direito Constitucional Internacional. Vislumbra-se uma ramificao da disciplina jurdica que se ocupa de sistematizar as normas que desde as constituies, como documentos dotados de supremacia no interior dos ordenamentos jurdicos, orientam a poltica externa dos Estados.

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    Nessa ordem de idias, h que dizer que o contedo do Direito Constitucional Internacional reconhece e evidencia a existncia de uma mutao na natureza cientifica tanto do Direito Constitucional como do Direito Internacional. O que parece claro com relao a esse ponto que a viso internacional, por um lado, contribuiu de maneira decisiva para que o Direito Constitucional superasse um enfoque paroquial, dizer, deixa-se de ser um direito eminentemente intra-estatal, sem dilogo com os demais Estados constitucionais em termos de conexo para a proteo do ser humano. Por outro lado, essa ramificao do Direito comeou a se preocupar com a regulao dos propsitos do Estado constitucional na sociedade internacional.

    Em conseqncia, se as constituies em um comeo continham normas exclusivamente direcionadas regulamentao das relaes internas Estado-indivduo, logo passaram a conter normas sobre os fundamentos do comportamento do Estado no mbito externo, invadindo o cenrio internacional e declarando, por exemplo, que os direitos humanos proclamados nos Estatutos internacionais devem ser adicionados ao leque de direitos por elas historicamente albergados. Talvez no constitua exatamente um ineditismo que as constituies dirijam seu olhar esfera internacional, mas, certamente, as atualidades do constitucionalismo, a fora normativa das constituies, a principiologia que emana desses Diplomas, implicam um direcionamento maior, em nossos dias, da atividade internacional.

    No campo do Direito Internacional a inovao ocasionada pelo prestgio dos direitos humanos se fez palpvel porque se abandonou o mero carter de Direito inter-estatal, concebido, como diz Carrillo Salcedo, (...)por y para los Estados, esto es, el mnimo jurdico necesario para regular las relaciones de coexistencia y cooperacin entre los Estados soberanos territoriales , e ento passou a estudar os mecanismos de observao e regulao das obrigaes jurdicas da ONU e dos Estados membros para com a vida e a dignidade humanas.

    Nessa tica, o entrelaamento entre os dois campos do Direito em tela pode ser demonstrado pela preocupao em vencer o desafio de introduzir na normatividade estatal os documentos internacionais que refletem uma expectativa universal sobre a efetividade dos direitos humanos. Assim, surgiram sistemas de proteo internacional desses direitos, paralelos aos sistemas de proteo interna dos denominados direitos fundamentais. Logo se originou, na Amrica Latina especialmente, uma polmica sobre a tcnica mais apropriada para reconhecer a juridicidade dos tratados sobre direitos humanos oriundos do Internacionalismo.

    A verdade que no encontramos nenhuma razo suficientemente plausvel, do ponto de vista material, para distinguir direitos fundamentais e direitos humanos. Trata-se, na

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    prtica, dos mesmos direitos, protegidos em terrenos diferentes o nacional e o internacional e do que se trata de encontrar o mecanismo ideal que reproduza, da melhor forma possvel, o amparo da dignidade das pessoas.

    No entraremos na discusso sobre o que pode ser considerado primeiro, se a Constituio ou o Tratado. Essa discusso meramente artificial. O primeiro, logicamente, o ser humano. E a obrigao de respeit-lo implica que entre o Direito Constitucional e seus sistemas de proteo e o Direito Internacional para o mesmo fim, exista uma relao horizontal e no vertical, como a que at hoje se expe por um setor da doutrina.

    Pois bem, advirta-se que firmemente sujeito a essa modificaes importantes no campo da compreenso do fenmeno jurdico se focaliza o tema da paz como direito humano fundamental.

    Ainda que possam ser esboadas crticas impactantes efetividade do princpio da proibio da violncia - especialmente se levamos em conta os acontecimentos do presente, bem como a eroso que sofreu progressivamente nos ltimos vinte anos -, a verdade que a liberdade dos Estados para declarar a guerra, dizer, a possibilidade concreta de usar a violncia como instrumento poltico, no pode nem deve ser considerada uma ferramenta privilegiada de soluo de conflitos no campo internacional.

    A intencionalidade da utilizao da fora no a opo prevista na assinatura da Carta das Naes Unidas em 1945 e, mais ainda, expressamente condenada na Declarao Universal de Direitos Humanos de 1948.

    Ao lado da proibio - princpio geral a seguir - desde a metade do sculo XX e por iniciativa da ONU, bem como de um importante grupo de organizaes internacionais, realizaram-se trabalhos de controle e conteno de conflitos. Pode se mencionar ainda, que foram redigidas propostas de convnios internacionais para a proteo dos direitos humanos.

    Destarte, foi tomando corpo uma extensa rede de tratados amplos ou setorizados, dirigidos proteo das pessoas. Vale a pena mencionar, por exemplo, o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Polticos e o Pacto Internacional de Direitos Econmicos, Sociais e Culturais, adotados pela ONU atravs da Resoluo 2200-A de 16 de dezembro de 1966. Ao quais deve-se adicionar a Conveno Internacional sobre

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    a Eliminao de Todas as Formas de Discriminao racial, adotada pela Assemblia Geral da ONU atravs da Resoluo 2106-A de 21 de dezembro de 1965, a Conveno sobre o Estatuto dos Refugiados adotada em 1952 e a Conveno contra a Discriminao da Mulher de 18 de dezembro de 1979, entre outras no menos importantes.

    Da que o compromisso com a proteo dos direitos humanos seja cada vez mais evidente, norteando os pressupostos e finalidades do Direito Internacional. E, paralelamente, que o resguardo dos mesmos direitos tenha sido a bssola orientadora da viso do Direito Constitucional que procura, especialmente neste comeo de sculo, promover as condies objetivas, no seio das sociedades nacionais, que abram espaos justia social e a democracia ampla e participativa.

    De tudo resulta que, sem dvida, uma das funes centrais do Direito Constitucional e do Direito Internacional consista na preveno dos conflitos nacionais e internacionais. No vo, no interior das constituies j aparece o direito paz como um direito fundamental unido vocao da soluo pacfica das controvrsias. A Constituio do Brasil, por exemplo, o consagra no artigo 4, maneira de princpio; a Constituio da Colmbia, por sua vez, o faz no artigo 22; a Constituio da Guatemala de 1985 trata do direito no artigo 2; a da Venezuela, no artigo 3, para to somente mencionar alguns Textos Constitucionais do contexto latino-americano.

    Como fruto desse compromisso as relaes internacionais deixaram de ser algo alheio vida cotidiana dos povos. Ainda que seja possvel atribuir ao avano das comunicaes ou acelerao das relaes comerciais da atualidade o que tem sido chamado de globalizao ou internacionalizao a verdade que ningum poderia afirmar que o Direito deixou de ter uma contribuio nesse terreno.

    Com este prembulo, trabalharemos a seguir entre as fronteiras do Direito Constitucional Internacional, mantendo a vinculao estreita entre paz e direitos humanos.

    1. O DIREITO PAZ

    A PAZ, A PROIBIO DO USO DA FORA E OS DIREITOS HUMANOS

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    Adotar medidas tendentes a assegurar os direitos humanos nas sociedades nacionais e na sociedade de Estados continua a ser o primeiro elemento a ser levado em conta para manter a relao de no-violncia.

    Com efeito, a ordem jurdica, seja nacional ou internacional, tem como base que os seres humanos, construtores da mesma, cheguem a um consenso sobre aquilo que deve ser resguardado. precisamente levando em conta tais acertos, que indicam que o valor vida o primeiro dos elementos a proteger, que emerge o destaque da rejeio e conteno do uso da fora como mecanismo de soluo de conflitos.

    Como se trata de um consenso, a histria da proibio da violncia no mbito das relaes internacionais acompanha a discusso entre os Estados sobre a forma de combinar o interesse nacional com o interesse internacional de paz e segurana em favor da vida humana.

    Isso explica que o cesse da violncia e a efetividade dos diretos humanos dependa da maneira como a sociedade internacional conjunturalmente se defina e das mudanas na correlao de foras das potncias dominantes, hegemnicas ou perifricas, que determinem o carter da poca.

    Nessa perspectiva, dinmica e mutvel, das relaes internacionais, durante o sculo XIX, apesar das restries aos mecanismos e formas de fazer a guerra e a existncia de Estados neutros, o denominado Ius ad bellum ou direito guerra vigorava quase de forma plena. Como ressalta Mathias Herdegen, tal vez seja apenas digna de meno a Conveno Drago-Porter I de 1907, que determinou certas restries ao uso da fora para obter o pagamento de dvidas contratuais.

    O professor da Universidade de Bonn, aludindo obra de P. Heilborn, Grundbegriffe ds Vlkerrechts, lembra que para o Direito consuetudinrio internacional em 1912 no existia nenhuma norma sobre quando era possvel iniciar uma guerra. (...) si un Estado quiere exponerse a si mismo, podr iniciar en cualquier momento una guerra. La fuerza por tanto, es incondicionalmente permitida en las relaciones entre los Estados.

    A pesar de canalizar os esforos para estabelecer relaes pacficas, a verdade que no comeo do sculo XX a criao da Liga das Naes no constituiu uma possibilidade real de submeter aos Estados aos imperativos da paz. Os artigos 12 e 13 do seu Estatuto estabeleciam tmidas recomendaes. Durante esse perodo, o mais significativo foi o

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    Pacto Briand- Kellog para a Proscrio da Guerra, pelo qual os Estados-partes renunciaram violncia como instrumento de poltica nacional.

    Foi apenas concluda a Segunda Guerra e com a criao da Organizao das Naes Unidas que se formulou um sistema de coibio o uso da fora utilizando-se como referncia o monoplio atribudo ao Conselho de Segurana. Esta estrutura, que faz parte da intimidade da ONU, tem a finalidade exclusiva de manter o restaurar a paz atravs de medidas militares do prprio Conselho ou atravs da utilizao do procedimento por parte de um Estado, de maneira individual, sempre que conte com a autorizao devida do rgo.

    H que anotar alguns elementos polticos e jurdicos que se fizeram presentes nessa poca para facilitar o caminho a uma progressiva construo do direito paz. Sem dvida que no campo poltico o fim da guerra foi o elemento determinante. compreensvel que o nimo da maioria das naes, no marco de uma nascente correlao de foras indita, caracterizada pela bipolaridade, fosse de no permitir novas ameaas paz que to duramente tinha sido conquistada em solo europeu.

    No terreno jurdico, como j foi reconhecido pela doutrina, a proclamao em da dignidade da pessoa humana como fundamento dos direitos humanos na Carta de So Francisco de 1945, bem como o altssimo coeficiente de proteo que se pretende efetivar desde ento, supus uma inegvel transformao no Direito Internacional.

    Dessa forma, junto ao princpio da soberania como manifestao das comunidades polticas independentes, surgiu o da efetividade plena dos direitos humanos como princpio orientador das relaes internacionais. Essa vinculao da atuao estatal ao vigor de tais direitos se ratifica com a adoo pela Assemblia da ONU da Declarao Universal de 10 de dezembro de 1948.

    Por sua vez, o artigo primeiro da Declarao sobre a Preparao da Sociedade para Viver em Paz, Resoluo 33/73 da ONU, expressa claramente que todas as naes tem o direito inerente paz.

    Tambm, a Declarao sobre o Direito dos Povos Paz, proclamada pela ONU, a travs da Resoluo 39/11 de 1984, expressa que os povos do planeta tm o direito sagrado paz, declarando que proteger tal direito e fomentar a sua realizao constitui uma obrigao fundamental de todo o Estado, o qual deve promover aes de cooperao bilateral e multilateral com outros Estados.

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    A Resoluo n 53/243, referente Declarao sobre uma Cultura de Paz, foi aprovada pela Assemblia Geral da ONU em 1999, como expresso de profunda preocupao com a persistncia e proliferao da violncia e dos conflitos nas diversas partes do mundo, reconhecendo a necessidade de se eliminar todas as formas de discriminao e manifestao de intolerncia.

    Contudo, j advertimos que a efetividade dos direitos depende de um conjunto de condies de variada ordem econmicas, polticas, sociais, culturais resultando essencial a superao da fragilidade da sociedade internacional. Essa fraqueza decorre, especialmente, da falta de compromisso de alguns Estados em particular nesta etapa da histria tanto com os direitos humanos como com a eliminao da violncia e com o respeito s disposies da prpria ONU.

    A sociedade internacional pode ser frgil, mas institucionalizada, e para uma conscincia jurdica universal alicerada na paz e a vida no possvel tolerar medidas dbias que suponham uma absolutizao do uso da fora para atender exclusivos interesses de Estados hegemnicos. Em tudo caso, ainda que o contexto seja extremamente complexo, o interesse manifesto de ocupar regies consideradas estratgicas do planeta, no intuito de manter esquemas contemporneos de domnio, tornam bastante discutvel as desculpas poltico-jurdicas de combate ao terrorismo, ao narcotrfico ou at a chamada interveno humanitria quando protagonizada por Estados de recente histria blica.

    Sobre o ponto, M. Herdegen opina sobre a existncia de uma zona gris entre una conducta evidentemente ilegal y uma conducta evidentemente justificada en el plano de las consecuencias jurdicas (...), sustentando que, de fato, existe muita pouca ateno heterognea opinio da comunidade de Estados e da doutrina do Direito Internacional sobre esse problema.

    Cabe constatar que existe uma polmica no terreno do que possvel para a comunidade internacional em termos de ajuda e resgate dos direitos humanos em situaes de conflito, que passa pela justificao da interveno humanitria. No entanto, existe uma certa e entendvel insegurana jurdica pelo que a medida possa representar em desfavor paz e os prprios direitos que se pretendem proteger.

    O que nos parece que preciso avanar na interpretao atualizada da Carta da ONU, em discusses como a redefinio da composio do Conselho de Segurana, na promoo do desenvolvimento do Direito Constitucional Internacional, o que talvez tenha um impacto mais eficaz na promoo do que temos denominado o direito humano paz.

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    O DIREITO PAZ: UM DIREITO FUNDAMENTALMENTE HUMANO.

    Vamos partir no presente segmento de uma viso com relao ao denominado direito paz, delimitando seus contornos para evitar possveis desvios de ateno.

    Nesse sentido, apelaremos a um subsdio valioso da Corte Constitucional colombiana, que na Sentena T - 028-1994 distinguiu entre o direito paz e o direito subjetivo tranqilidade:

    Un ordenamiento constitucional, por naturaleza, mira el inters general. De ah que la paz, como derecho, supone la relacin social, y se manifiesta como la ordenada convivencia bajo la aplicacin de la justicia. Por tanto, jurdicamente hablando, es impreciso homologar el derecho constitucional a la paz, que es un derecho social, con el derecho a la tranquilidad de una persona, que es un derecho subjetivo. En el evento de que se perturbe sta, existen otros mecanismos de defensa, distintos a la tutela, salvo el caso en que se ocasione un perjuicio irremediable. El derecho a la paz, tal como lo consagra la Constitucin, en su artculo 22, supone la armona social inspirada en la plena realizacin de la justicia.

    Sera un desconocimiento del verdadero significado de la paz, suponer que siempre que a una persona le perturbe el efecto del quehacer de otra, se lesione por ello el derecho fundamental a la paz; no hay que confundir la paz constitucional con la tranquilidad subjetiva de uno de los asociados ().

    De maneira que a paz da qual falamos, e qual atribumos a caracterstica de direito humano daquela que se reveste de um carter mais universal e denso, daquela paz que foge em situaes evidentes de conflitos permanentes, persistentes, oriundos de aes estatais ou de atores dedicados a uso da violncia como meio ou fim. Um direito tpico dentre os denominados de terceira gerao.

    Destarte, vamos partir da perspectiva da universalidade, que , sem dvida, uma das caractersticas mais significativas dos direitos humanos como categoria histrica, pois se vincula a sua gnese.

    Da a afirmao de Perez Luo:

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    (...) el gran invento jurdico-poltico de la modernidad reside, precisamente, em haber ampliado la titularidad de las posiciones jurdicas activas, o sea, de los derechos a todos los hombres, y, en consecuencia, de haber formulado el concepto de derechos humanos.

    O contedo da universalidade implica o reconhecimento de dois elementos importantes: o primeiro, a lembrana de que os seres humanos pertencem a um mesmo gnero, e que nessa dimenso a violao de um direito humano em qualquer lugar do Planeta deve ser sentida e tem uma conseqncia ou uma repercusso no conjunto da humanidade; a segunda, que existe uma capacidade de reao diante das ameaas paz e vida, um sentimento compreensvel de autodefesa, que no se perde, ainda que possa em sociedades em conflito surgir uma indiferena momentnea diante da barbrie.

    No terreno dessa conotao universal, pode-se afirmar o direito paz como um dos que mais pode desfrutar desse vis. Pelo que convm tratar, logicamente em conseqncia, do seu contedo como direito humano.

    Distinguem-se, em seguida, dois campos de trabalho. No primeiro deles, vislumbra-se a positividade, dizer, o conjunto de normas jurdicas que regulamentam o comportamento dos atores sociais na esfera nacional e internacional para que se abone o dilogo e a negociao e se guarde distncia da guerra.

    No segundo campo entramos no exame dos fatos, dos fenmenos ou motivos que originam a agressividade estatal ou de atores por fora do Estado, e que decidem livrar combates para modificar a estrutura poltica. Nesta possibilidade de anlise, a disciplina jurdica se inclina a que quanto mais sejam minimizadas as causas da violncia maiores sero os alcances das polticas de paz. Logicamente que, nesse processo de reduo de causas da violncia o Estado se re-legitima e o Direito adquire um sentido concreto.

    Convm dizer que esses dois campos se unificam a partir do momento em que a paz deixa de ser considerada uma aspirao de cunho meramente moral e passa a ser vista como um verdadeiro direito no marco da afirmao histrica dos direitos humanos.

    O fenmeno deveras interessante porque em sua acepo de status, os direitos so tradicionalmente vinculados a uma atribuio da qual so titulares os membros de uma certa e reconhecida sociedade nacional. Essa viso supe aceitar que o direito paz

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    proclamado como direito transindividual, coletivo ou difuso, pelo que sua tutela deve ser igualmente coletiva ou difusa.

    Em termos concretos, isso equivale a dizer que todos os seres humanos somos titulares do Direito Paz, e que estamos individualmente considerados como legitimados para acudir aos organismos competentes para efetivar a pretenso quando ameaado ou lesado.

    Esta mais uma das causas lgicas pela qual necessrio tratar do direito humano paz. Ao qual podemos adicionar que a efetividade desse direito implica que os direitos que se encontram com ele em franca interdependncia caractersticas da conexidade entre os direitos humanos - passam a ter maiores e melhores condies de proteo, como a vida, a liberdade, a igualdade, a tolerncia, a no discriminao, a solidariedade.

    O que parece difano que, ento, a paz um direito que ao vigorar plenamente prepara a efetividade de outros tantos diretos humanos.

    Uma caracterstica que se desprende, em perfeita sintonia com o j exposto, o da promoo ou projeo positiva do direito humano paz. Ou seja, a circunstncia jurdica de que a paz requer uma ao de Estado, uma permanente atitude construtiva, que passa por consider-la alvo de uma poltica pblica para uma cultura cultura de paz imprescindvel para a correta ilao do tecido social.

    Indubitavelmente que, devido a esses e outros elementos, o direito paz requer de um fortalecimento dos sistemas de proteo nacionais e internacionais de direitos humanos.

    Identificando alguns mecanismos de proteo, Carlos Villn Duran se refere a um Cdigo Internacional dos Direitos Humanos, cujo ncleo duro est composto por mais de 140 tratados internacionais e protocolos de direitos humanos, que colocam em funcionamento um conjunto institucional que se encarrega de supervisionar, controlar e garantir o cumprimento das obrigaes por parte dos Estados. Logo, Villn Duran se detm nos mecanismos de proteo, distinguindo entre mecanismos contenciosos, quase-contenciosos e no convencionais. Entre os primeiros destaca-se a Corte Internacional de Justia, os Tribunais Internacionais de Direitos Humanos, como a Corte Penal Internacional e os Tribunais Regionais, como o do Conselho de Europa, a Organizao dos Estados Americanos e a Organizao da Unidade Africana.

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    Na esteira do nosso raciocnio, importante lembrar a Carta das Naes Unidas, que ao estabelecer seus objetivos e princpios no primeiro dos seus artigos, expe:

    Artigo 1

    Os propsitos das Naes Unidas so:

    1. Manter a paz e a segurana internacionais e, para esse fim: tomar, coletivamente, medidas efetivas para evitar ameaas paz e reprimir os atos de agresso ou outra qualquer ruptura da paz e chegar, por meios pacficos e de conformidade com os princpios da justia e do direito internacional, a um ajuste ou soluo das controvrsias ou situaes que possam levar a uma perturbao da paz;

    2. Desenvolver relaes amistosas entre as naes, baseadas no respeito ao princpio de igualdade de direitos e de autodeterminao dos povos, e tomar outras medidas apropriadas ao fortalecimento da paz universal; (...)

    Mais adiante, no artigo 2, possvel observar, nos pontos 3 e 4:

    Artigo 2

    A Organizao e seus Membros, para a realizao dos propsitos mencionados no Artigo 1, agiro de acordo com os seguintes Princpios:

    (...)

    3. Todos os Membros devero resolver suas controvrsias internacionais por meios pacficos, de modo que no sejam ameaadas a paz, a segurana e a justia internacionais.

    4. Todos os Membros devero evitar em suas relaes internacionais a ameaa ou o uso da fora contra a integridade territorial ou a dependncia poltica de qualquer Estado, ou qualquer outra ao incompatvel com os Propsitos das Naes Unidas.

    Por sua vez, a Declarao Universal dos Direitos Humanos de 1948, tambm pode e deve ser considerada fonte do direito humano paz. Pode-se ler nas suas consideraes iniciais:

    Prembulo

    Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da famlia humana e de seus direitos iguais e inalienveis o fundamento da liberdade, da justia e da paz no mundo,

    Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos resultaram em atos brbaros que ultrajaram a conscincia da Humanidade e que o advento de um mundo em que os todos gozem de liberdade de palavra, de crena e da liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade foi proclamado como a mais alta aspirao do ser humano comum

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    Veja-se como o esprito que animou a redao da valiosa Declarao imprimiu que o direito humano paz seja considerado um pressuposto axiolgico e lgico para uma sociedade justa e fraterna.

    Esse entendimento ratificado no artigo XXVIII da Declarao, que expressa: Todos ser humano tem direito a uma ordem social e internacional em que os direitos e liberdades estabelecidos na presente Declarao possam ser plenamente realizados.

    Tambm, em 1986, a Declarao sobre o Direito ao Desenvolvimento estabeleceu nas suas consideraes: (...) que a paz e a segurana internacional so elementos essenciais realizao do direito ao desenvolvimento (...)

    E proclamou no seu artigo 5:

    Artigo 5 - Os Estados tomaro medidas resolutas para eliminar as violaes macias e flagrantes dos direitos humanos dos povos e dos seres humanos afetados por situaes tais como as resultantes do apartheid, de todas as formas de racismo e discriminao racial, colonialismo, dominao estrangeira e ocupao, agresso, interferncia estrangeira e ameaas contra a soberania nacional, unidade nacional e integridade territorial, ameaas de guerra e recusas de reconhecimento do direito fundamental dos povos autodeterminao.

    Como se observa, o direito paz tem uma conotao universal, passando a ser a condio sine qua non para tornar efetivos outros direitos humanos. Dentro do processo de evoluo, internacionalizao e projeo poltica e jurdica desse conjunto de liberdades e possibilidades do homem como ser vivo, socialmente e individualmente considerado, o direito paz exige albergue constitucional e o amparo da conscincia comunitria.

    No exageramos se expressamos que junto dignidade da pessoa humana, o direito paz se constitui em verdadeiro fator de pr-compreenso da ordem jurdica nacional e internacional.

    Nas sociedades nacionais indiscutvel que o melhor lugar para alberg-lo a prpria Constituio, que lhe outorga uma impar fora normativa, contendo um sentido tico e jurdico, qualidades dos direitos fundamentais.

    O professor Gregorio Peces-Barba, expressa com relao a essas caractersticas dos direitos que:

    (...) la relevancia moral de una Idea que compromete la dignidad humana y sus objetivos de autonoma moral, y tambin la relevancia jurdica que convierte a los derechos en norma bsica material del ordenamiento, y es instrumento necesario para que el individuo desarrolle en la sociedad todas sus potencialidades.

    Identificar o direito paz implica realizar um exerccio hermenutico que extraia sua natureza, o que parece importante para descartar outros entendimentos, que derivam da maneira como o legislador constituinte o consagra. Pode ser observado, por exemplo, como uma garantia ou como um princpio reitor das relaes internacionais.

  • 8792

    No caso brasileiro, o direito paz adquire projeo na ordem interna e na ordem internacional. No primeiro sentido, o prembulo da Constituio o constituinte expressa sua inteno de que o Estado brasileiro seja fundado na harmonia social, comprometendo-se (...) na ordem interna e internacional com a soluo pacfica das controvrsias (...).

    Logo, o direito paz aparece no marco de um subsistema principiolgico, no artigo 4, incisos VI e VII onde so consignadas a defesa da paz e a soluo pacfica dos conflitos.

    Destarte, deve ser interpretado em harmonia com o restante de princpios localizados na norma: a prevalncia dos direitos humanos, a autodeterminao dos povos, a no interveno, a igualdade entre os Estados, o repdio ao terrorismo e ao racismo, a cooperao entre os povos para o progresso da humanidade e a concesso do asilo poltico.

    Como garantia, o direito paz consiste em prever que os conflitos scias so factveis de serem resolvidos nas instncias adequadas, o que sugere simultaneamente a preservao dos valores que outorgam substancia ao regime democrtico, particularmente a igualdade, a liberdade e a justicialidade.

    Por isso, o direito humano paz, analisado tambm como garantia constitucional implica a obteno de um resultado justo, motivado e pblico, pelo aparelho jurisdicional, um devido processo legislativo nos trabalhos do Congresso e um exerccio responsvel da Administrao Pblica.

    3. A PREOCUPAO HISTRICA SOBRE A EFETIVIDADE DO DIREITO HUMANO PAZ

    Paz provm do latim pax, pacis, que indica um estado de esprito, de concrdia ou de tranqilidade.

    Entretanto, essa harmonia pode ser fictcia, ocultando, por exemplo, relaes de dominao no campo das relaes internacionais. Como quando se estuda a pax romana, que submetia aos sditos ao jus pentium, pelo qual os estrangeiros eram considerados inimigos de Roma. Modelo que tambm pode ser observado com a pax britnnica no sculo XIX.

    Historicamente o tema da paz, e no somente em sentido jurdico seno em sentidos talvez mais amplos, est presente no pensamento humanista. Autores como Francisco de Vitria ou Suarez, do testemunha dessa assertiva. Contudo, tambm tem sido preocupao de socialistas como Saint Simon. Mas recentemente Jacques Maritain e Bobbio dedicaram escritos importantes ao tema.

    Vale a pena, entretanto destacar autores como Hugo Grcio e seu Direito da Guerra e da Paz, publicada em 1625 e I. Kant, em seu Ensaio sobre a Paz Perpetua, no qual defende que a paz no natural entre os homens, mas o resultado de uma vontade consciente, passvel de ser instaurado, ainda que o normal seja um estado de guerra.

  • 8793

    Como no constitui nossa pretenso fazer uma sntese dos tratados que sobre o tema da paz foram editados ao longo da histria, parece-nos importante presentemente insistir no seu reconhecimento como direito humano, tentando descobrir o que ameaa a efetividade do direito na contemporaneidade.

    Contudo, pedimos vnia para uma reflexo em termos de historicidade e que tem a ver com o carter da poca em que conversamos sobre o tema. Vale a pena, destarte, analisar a seguinte opinio:

    Con efecto, la fase histrica actual es caracterizada no por una voluntad excepcionalmente malvada de los seres humanos, sino por la grave incerteza que los angustia delante de los nuevos problemas creados por las radicales mutaciones que intervinieron en la estructura poltica de los Estados, de la ascensin al poder de nuevas clases dirigentes, de las profundas transformaciones de la diplomacia y de los ejrcitos, debidas, sobretodo al ingreso en sus filas de personas provenientes de otras capas sociales y, por fin, del enorme desarrollo de las relaciones internacionales causadas por el aumento de la poblacin y por el progreso de la tcnica

    Essa caracterizao no teria mayores problemas, no fosse o fato de ter sido exposta por Campanholo no seu Projeto de Investigao sobre a Sociedade das Naes, que remonta primeira ps-guerra.

    Situao peculiar a atualidade de que se reveste o raciocnio, pois continua a se desenvolver o direito paz no meio de transformaes profundas.

    Pois bem, temos sustentado que o direito humano paz pode ser reivindicado diante de condutas de atores armados sejam ou no estatais - que podem gerar situaes de conflito no territrio ou local em que desenvolvem suas atividades.

    No campo dos fatores que condicionam a efetividade do direito humano paz, podemos mencionar positivamente as alertas ou reclamos feitos s autoridades e rgos competentes pelos moradores de comunidades localizadas em regies de gravssimos conflitos ou disputadas por foras militares ou insurrecionais. Na Colmbia, tais alertas, por exemplo, tem servido para afugentar mais de uma ameaa de setores paramilitares quando tudo estava praticamente perdido para muitas famlias e populaes inteiras.

    Mudando de contexto, no atual perodo no h como esquecer os movimentos migratrios, e mais que essa dinmica, as polticas restritivas dos Estados centrais, que justificam dinmicas de excluso nos supostos perigos da perda da identidade. Tais medidas podem conduzir a gravssimas leses que ocasionem reaes que podem colocar em risco a segurana. A intolerncia, o abandono da solidariedade, a ausncia de condies para o desenvolvimento da fraternidade como pressuposto de aceitao em espaos multiculturais so elementos a serem levados em conta.

    Finalmente, o terrorismo, como meio de realizar fins polticos, seja de Estado ou de particulares, impede, por obvio, a conquista de elementos de paz. As pretenses hegemnicas, as constantes violaes soberania, o financiamento das atividades de controle de reas estratgicas obedecendo a lgicas geopolticas, esconde o que pode ser gravssima leso paz.

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    Em contraposio a essa dinmica guerreira, possvel argumentar a constitucionalidade e a internacionalizao de uma paz democrtica, de respeito s liberdades e fundada na dignidade de todos.

    CONCLUSO

    Pode-se afirmar a existncia de uma preocupao constante na histria com relao ao direito paz. Na atualidade, a esse direito pode se atribuir a fortalea de um fator de pr-compreenso da ordem jurdica e de verdadeiro direito humano de terceira gerao.

    O direito humano paz pode ser interpretado duplamente. Por um lado atendendo aos aspectos da ordem interna, onde constitui garantia de soluo dos conflitos limitando ao mximo o uso da violncia, permitindo o desenvolvimento progressivo da personalidade dos indivduos na sociedade nacional.

    No aspecto externo, o direito se expressa fornecendo as condies para a eliminao de estgios de anarquia na ordem internacional, estgios que, obviamente implicam o uso da fora como mecanismo de submisso para a conquista de metas oriundas de interesses nacionais particulares, que no levam em conta os interesses globais.

    BIBLIOGRAFIA

    Corte Constitucional de Colmbia. www.corteconstitucional.gov.co Site acesso em 14 de setembro de 2009.

    Kant, Immanuel. Sobre la Paz Perpetua. Traduccin de Joaquin Abelln. Madrid: Alianza Editorial. 2006.

    Kelsen, Hans/ Campagnolo, Umberto. Direito Internacional e Estado Soberano. Organizador Mario G. Losano. Traduo: Marcela Varejo. So Paulo: Martins Fontes. 2002.

    Herdegen Matthias, Derecho Internacional Pblico. Mxico: UNAM/Fundacin Konrad Adenauer. 2005.

    Peces-Barba Martinez, Gregorio. Curso de Derechos Fundamentales. Teora General. Madrid: Universidad Carlos III de Madrid. Boletn Oficial del Estado. 1999,

    Prez Luo, Antonio Enrique. La Universalidad de la Declaracin de las Naciones Unidas In 50 Aniversario de la Declaracin Universal de los Derechos Humanos. Sevilla: fundacin el Monte. 1998.

    Villn Durn, Carlos. Curso de Derecho internacional de los derechos humanos. Madrid: Trotta.2002.

  • 8795

    Consulte-se o interessante prlogo de Juan Antonio Carrillo Salcedo ao Curso de Derecho Internacional de los derechos humanos de autoria de Carlos Villn Duran. P. 21

    Direito Internacional Pblico. P. 246.

    Idem. Mesma pgina.

    Carrillo Salcedo. Prlogo obra de Carlos Villn Duran, Curso de Direito Internacional dos Direitos Humanos. P. 21

    Ob. Cit. P. 251.

    www.corteconstitucional.gov.co. Site acesso em 14 de setembro de 2009. A deciso se encontra em http://www.corteconstitucional.gov.co/relatoria/1994/T-028-94.htm.

    La Universalidad de la declkaracin de las Naciones Unidas In 50 Aniversario de la Declaracin Universal de los Derechos Humanos. Pginas 81-105.

    Ob. Cit. PP. 209-248 e 379 e seg.

    Curso de Derechos Fundamentales. Teora General. Pp. 36 e seg.

    Consulte-se a G. Peces-Barba. Ob. Cit. P. 179.

    Kant. Sobre a paz perpetua. P. 51

    Kelsen/Campagnholo. Direito Internacional e Estado Soberano. P. 204.