156

2ª Edição Da Revista Onisciência

Embed Size (px)

DESCRIPTION

REVISTA ONISCIÊNCIA

Citation preview

  • Ficha Tcnica

    Revista Onis Cincia, Vol I, Ano I, N 2, Braga, Portugal,Setembro Dezembro, 2012. Quadrimestral

    Vol. I Ano I N 2Setembro Dezembro 2012Perodico QuadrimestralISSN 2182598XBraga- Portugal4700-006

    O contedo dos artigos de inteira responsabilidade dosautores.

    Permite-se a reproduo parcial ou total dos artigos aqui

    publicados desde que seja mencionada a fonte.

    [email protected].: 351 964 952 864

    EDITOR:

    Ribamar Fonseca JniorUniversidade do MInho - Portugal

    DIRETORA COORDENADORA:Karla HaydUniversidade do MInho - Portugal

    CONSELHO EDITORIAL:Bendita DonacianoUniversidade Pedaggica de Moambique - Moambique

    Camilo Ibraimo UsseneUniversidade Pedaggica de Moambique - Moambique

    Cludio Alberto Gabriel GuimaresUniversidade Federal do Maranho - Brasil

    Claudia MachadoUniversidade do MInho - Portugal

    Carlos Renilton Freitas CruzUniversidade Federal do Par - Brasil

    Diogo Favero PasuchUniversidade Caxias do Sul - Brasil

    Fabio Paiva ReisUniversidade do MInho - Portugal

    Hugo Alexandre Espnola MangueiraUniversidade do MInho - Portugal

    Karleno Mrcio BocarroUniversidade Humboldt de Berlim - Alemanha

    Valdira BarrosFaculdade So Lus - Brasil

    DIVULGAO E MARKETING:Larissa CoelhoUniversidade do MinhoPortugal

    DESIGN GRFICO:Ricardo Fonseca - Brasil

    Leia mais: http://www.revistaonisciencia.com/servi%c3%a7os/Crie seu site grtis: http://www.webnode.com.br

  • 3Revista Onis Cincia, Braga, V.1, Ano 1 N 2, setembro / dezembro 2012 ISSN 2182-598X

    ENSAIO

    O QUE A PAZ LIBERAL: O SENTIDO E AS FRONTEIRAS DE UM MODELO VIGENTE DECONSTRUO DA PAZ, QUE ANSEIA A UM STATUS DE PRETENSO UNIVERSALINQUESTIONVELHLDER FELIPE AZEVEDO......................................................................................................05

    ARTIGOS

    INVESTIGAO-AO: UMA METODOLOGIA PARA PRTICA E REFLEXO DOCENTEKARLA HAYD OLIVEIRA DA FONSECA..................................................................................16QUATRICS RESEARCH SUITE IN ACADEMIC CONTEXTCLAUDIA MACHADO..................................................................................32A FORMAO DE PRTICAS EMPREENDEDORAS NA REDE DE ECONOMIACRIATIVA DO ESTADODO CEAR - BRASILKARINE PINHEIRO DE SOUZA................................................................................................55DEMONSTRAO DE UMA FERRAMENTA PARA O AUXLIO NA FORMAO DO PREO DEVENDA EM MICRO E PEQUENAS EMPRESAS COMERCIAISROSICLIA SQUENA......................................................................................................65DAS POLTICAS MIGRATRIAS AO CARNAVAL: O MULTICULTURALISMO COMO UTOPIA SOCIALLARISSA A. COELHO.................................................................85A EFETIVIDADE DOS DIREITOS DE CRIANAS E ADOLESCENTES E A DEFENSORIA PBLICAMARIO LIMA WU FILHO................................................................................................98A INTERVENO ANMALA NAS AES DE ALIMENTOSCHELLI ANNE BASSO.........................................................................................................111O PACTO DE PERMANNCIA NO CONTRATO DE TRABALHO UMA ANLISE COMPARADAENTRE PORTUGAL E BRASILCESAR AUGUSTO DE LIMA MARQUES..............................................................................128LONGEVIDADE SEM VELHICE: MEDICINA REGENERATIVA E BIOTECNOLOGIAS DEREJUVENECIMENTOFERNANDA DOS REIS ROUGEMONT....................................................................................141

    SUMRIO

  • 4Revista Onis Cincia, Braga, V.1, Ano 1 N 2, setembro / dezembro 2012 ISSN 2182-598X

    Revista Onis Cincia uma publicao on-line quadrimestral, voltadapara as cincias sociais. Neste sentido, busca se consolidar como um frumde reflexo e difuso dos trabalhos de investigadores nacionais eestrangeiros. Desse modo pretende dar sua contribuio, nos diferentes

    campos do conhecimento, trazendo para o debate temas relevantes para as cinciassociais. Dirigida a professores e investigadores, estudantes de graduao e ps-graduao, a revista abre espao para a divulgao de Ensaios, Dossis, Artigos,Resenhas Crticas, Tradues e Entrevistas com temticas e enfoques quepossam enriquecer a discusso sobre os mais diferentes aspetos desse importantecampo das cincias.

    AAPRESENTAO

  • 5Revista Onis Cincia, Braga, V.1, Ano 1 N 2, setembro / dezembro 2012 ISSN 2182-598X

    O QUE A PAZ LIBERAL?O SENTIDO E AS FRONTEIRAS DE UM MODELO VIGENTE DE CONSTRUO DA PAZ,

    QUE ANSEIA A UM STATUS DE PRETENSO UNIVERSAL INQUESTIONVEL.

    HLDER FILIPE AZEVEDO

    Licenciado em Filosofia pela U.M.Ps-graduado em tica e Filosofia Poltica pela U.C.P.

    Ps-graduado em Direitos Humanos pela [email protected]

    INTRODUO

    Quando, h mais de trs sculos, Espinosa defendia que um homem livre apenas aquele que vive sob os ditames da razo1, proclamava aquele que viria a ser um dosmaiores valores fundamentais do liberalismo moderno: a primazia de uma liberdadeindividual, racional, como fundamento privilegiado de uma melhor construo ou organizaosocial. Essa liberdade individual reclamada j pelos grandes contratualistas clssicosbritnicos dos sculos XVII e XVIII, como Hobbes, Hume, Locke e Adam Smith a que umgoverno submetido lei estaria obrigado a assegurar aos seus cidados, viria a inspirar aemergncia desse liberalismo evoludo2 como resposta ao absolutismo e s guerras religiosas3

    que dominavam praticamente toda a Europa ps-medieval. Ao longo da modernidade, essaideia de liberdades individuais ou fundamentais como o direito vida, a liberdade depensamento, de expresso, de religio, de imprensa, o direito propriedade privada ou igualdade perante a lei aliada ideia econmica de mercados livres, desregulados, assentena mxima laissez faire, laissez aller, laissez passer, foi-se impondo no ocidente, passando a

    1 Bento de Espinosa, tica. Lisboa: Relgio Dgua, 1992, pp. 425-4302 Ao longo da histria existiram, e continuam a existir, vrios tipos de liberalismo, sendo os mais conhecidos ecomentados, o Liberalismo Ingls ou anglo-saxnico e o Liberalismo Continental ou europeu, que sodiferentes na sua formulao mas que atendem ao mesmo fim. Neste trabalho utilizo o conceito de liberalismode forma genrica e homognea, ou seja, como um projecto que agrega em si os mesmos princpios e a mesmafinalidade independentemente do mtodo e do percurso que preconiza cada uma das diferentes propostas.Para mais informao sobre os diferentes tipos de liberalismo, cf. Friedrich A. Hayek, Principios de un ordensocial liberal. Madrid: Unin Editorial, 2011, pp. 55-703 Michael Walzer, na sua obra The Revolution of the Saints. A study in the origins of radical politics, demonstracomo a emergncia do liberalismo no sculo XVII superou as guerras religiosas entre catlicos e protestantes.Cf. Walzer, La revolucin de los santos, Katz Editores, 2008, pp 319-323.

  • 6Revista Onis Cincia, Braga, V.1, Ano 1 N 2, setembro / dezembro 2012 ISSN 2182-598X

    caracterizar os Estados liberais como Estados modernos, dominantes, desenvolvidos eprsperos, culminando naquilo a que actualmente chamamos de welfare states, ou Estados dobem-estar social.

    Esse factor especfico do liberalismo, caracterizado por uma concepo maisindividualista da sociedade, assenta precisamente na crena de que a liberdade de aco dosindivduos favorece e estimula o desenvolvimento social e que o Estado deve limitar-se afunes rgidas de garantia desses direitos, assumindo um papel mais passivo, de no-interferncia, do que de um Leviat ao estilo hobbesiano, esse grande monstro (Estado) quetudo domina.

    Na verdade, esse primeiro liberalismo incipiente e disfuncional moldou a prpriahistria de luta poltica e social europeia e condicionou o futuro, ao ponto de, j no incio dosculo XX, Max Weber vaticinar aquela noite polar de glida escurido e dureza4. Essesculo ficou marcado por duas guerras trgicas, a segunda das quais viria a definir muitodaquilo que ns somos hoje, derivado dessa vitria de um modelo liberal mais estruturado eabrangente e que estava obrigado a encontrar respostas para um homem confrontado com ofracasso da poltica, o despojo dos humanismos, o perigo das ideologias, o desespero perantea sua capacidade autodestrutiva, as ameaas da cincia e da tecnologia, e que ansiava porsolues capazes de o tranquilizar e capacitar para reerguer-se numa pretenso histrica deaspirar a uma dignidade humana criadora, responsvel e livre, onde imperasse a esperananum futuro muito melhor do que esse terror vivido at ento. esse liberalismo adaptado scircunstncias que passa a dominar e a determinar as regras no seio da comunidadeinternacional, adquirindo uma natureza tanto impositiva como comprometida.

    A paz liberal surge, assim, como produto da histria e do liberalismo enquantoideologia e, a partir da conquista do status dominante, pretendeu essencialmente alcanarobjectivos constitucionais capazes de promover a paz, a justia distributiva, o pluralismocultural e essa liberdade individual.5

    Na actualidade, h uma questo que se coloca a todas as teorias sobre a construo esustentabilidade da paz: como podemos emancipar uma comunidade sem dominar, semignorar a diferena, sem alienar a mente do outro? a esta questo que a paz liberal procura

    4 Max Weber, A Poltica como Profisso. Ed. Universitrias Lusfonas, p. 102.5 Cf. Michael Walzer, A Guerra em Debate. Lisboa: Cotovia, 2004, p. 185

  • 7Revista Onis Cincia, Braga, V.1, Ano 1 N 2, setembro / dezembro 2012 ISSN 2182-598X

    responder, assumindo-se como a nica proposta capaz, vivel e eficaz de satisfazer osrequisitos pressupostos nessa questo.

    Neste trabalho procurarei expor a teoria da paz liberal como se apresenta naactualidade, atendendo ao pensamento de autores como Oliver Richmond6, ou autores maiscomunitaristas como Michael Walzer, mas referenciando igualmente as fragilidades e ascrticas de que alvo este modelo, e procurando possveis alternativas para ajustar a teoria aum mundo heterogneo em constante mutao que reclama, cada vez mais, novas vises paravelhos problemas.

    O QUE A PAZ LIBERAL E PORQUE ESTA SIGNIFICATIVA?

    O conceito de paz liberal relativamente recente, mas encerra em si uma profundadimenso histrica. Alis, o prprio conceito j nos diz que estamos diante de uma visoespecfica da paz, que surge como um produto da ideologia liberal. Ento, se aceitarmos adimenso ontolgica e no apenas epistemolgica da paz liberal, como sugerem autorescomo Oliver Richmond, precisamos de perceber o que foi e o que o liberalismo, e como asua construo e evoluo impregnou o conceito de paz de uma dimenso substancial que lheatribui uma natureza profundamente coerente e vivel diante daquilo que prope.

    O liberalismo moderno emergiu na segunda metade do sculo XVIII e no sculo XIX,como uma proposta radical de transformao poltica e social. Com a garantia de tornar avivncia da liberdade como valor fundamental, a igualdade como propsito de justia social, ea democracia como expresso racional de uma vontade geral e condio de aplicao real dosprincpios revolucionrios, o liberalismo comeou, assim, por trilhar um caminho ambiciosode conduzir os Estados rumo ao desenvolvimento, emancipao popular e convergnciaideolgica num mundo em desenvoluo.7 Aplicar a liberdade como valor fundamental,garantindo aos cidados uma universalizao profunda das liberdades individuais como aliberdade de expresso, de voto, de reunio, de acesso a cargos pblicos, entre outros estavana posio prioritria dos idelogos liberais. A igualdade, consideravam, seria uma igualdadeperante a lei, que se instituiria como uma consequncia natural da aplicao da liberdade.Finalmente, a sociedade justa seria uma sociedade que, para alm da preservao das

    6 Oliver Richmond, Understanding the Liberal Peace in The Transformation of Peace. Palgrave, forthcoming,2005.7 Cf.Friedrich Hayek, Principios de un orden social liberal, pp. 55-74

  • 8Revista Onis Cincia, Braga, V.1, Ano 1 N 2, setembro / dezembro 2012 ISSN 2182-598X

    liberdades individuais e da administrao de uma justia igual para todos, culminaria numairmandade social onde todos se relacionassem desinteressadamente como irmos, sem espaopara a inveja, para a explorao e, principalmente, para a dominao dos fracos pelos maisfortes.8

    A paz na perspectiva liberal deve ser ento representada na ideia de uma comunidadeonde a lei e a ordem prevalecem, tanto interna como externamente. Enquanto projecto, estapaz liberal surge como uma defesa contra os piores excessos do Estado de Natureza, de tipohobbesiano, o estado de terror psicolgico permanente, a guerra de todos contra todos e omedo de uma morte violenta. Mas uma paz que possui em si mesma uma natureza hbridaque agrega o antigo modelo da paz do vencedor aliado ao iluminismo e ao cristianismo.9 Estemodelo est baseada na paz constitucional e nas tentativas seculares do sculo XX para criaruma paz institucional ao nvel da sociedade internacional, nacional e civil. No entanto, a pazliberal no deixa de ser um reflexo da experincia ocidental de pacificao, assente nosperodos ps-guerras mundiais, na construo das Naes Unidas, nos modelos dedesenvolvimento e pacificao da Unio Europeia, e noutros modelos, como o da OCDE. Nabase de actuao da paz liberal est o chamado Consenso de construo de paz que, comoindica o nome, se baseia num consenso discursivo entre coligaes de organizaes, Estados,instituies, actores locais, ONGs, Fundos financeiros de apoio ao desenvolvimento e outros,com vista implementao do modelo de paz a construir em situaes ps conflito.

    O padro comum dos Estados liberais, que sustentam a paz liberal, so: a democracia,os direitos humanos, a existncia de mercados livres, uma sociedade civil vibrante10 e omultilateralismo. Como defende Richmond, a paz liberal uma forma de ideal platnicoassociado a um imperativo moral kantiano. algo que se apresenta como desejvel ealcanvel, e que se pode universalizar j que possui uma mais-valia em si mesmo. QuandoKant postula que ningum pode constranger outro a ser feliz sua maneira ( forma comocada um concebe o bem-estar dos outros homens), mas a cada um permitido buscar a suafelicidade pela via que lhe parecer boa, contando que no cause dano liberdade dos outros

    8 Cf. Joel Serro, Introduo ao estudo do pensamento poltico portugus na poca contempornea (1820-1920), in Liberalismo, Socialismo, Republicanismo: Antologia de Pensamento Poltico Portugus. Lisboa: LivrosHorizonte, p. 13-24.9 Cf. Oliver Richmond, op. cit., p. 310 Esta ideia de sociedade civil vibrante como fundamento de qualquer sociedade liberal pode ser entendidocomo a possibilidade de indivduos mais fracos se mobilizarem por meio de grupos sociais, por forma areivindicar os seus interesses e possibilitando a sua entrada no sistema poltico. Cf Francis Fukuyama, AsOrigens da Ordem Poltica. Alfragide: D. Quixote, 2012, p. 690 e 691.

  • 9Revista Onis Cincia, Braga, V.1, Ano 1 N 2, setembro / dezembro 2012 ISSN 2182-598X

    aspirarem a um fim semelhante, e que pode coexistir com a liberdade de cada um, segundouma lei universal possvel11, est j a defender esse carcter moral, social e poltico doliberalismo e da ideia de universalizar o aspecto mais profundo da paz liberal, que afelicidade de cada indivduo. A existncia de uma conscincia individual que aspira a umaprocura natural da felicidade, aliada ao mesmo propsito por parte dos outros, permiteentender a existncia de instituies polticas capazes de salvaguardar direitos e obrigardeveres, de forma a garantir precisamente uma paz social necessria ao alcance dessespropsitos liberais.

    Assim, na resposta questo sobre a relevncia da paz liberal, podemos concluir queeste modelo de paz existe como uma consequncia natural do domnio do liberalismoenquanto ideologia poltica, econmica e social, nas naes vencedores da segunda grandeguerra e que, por esse motivo, passaram a uma posio hegemnica no palco das relaes edas instituies internacionais. A paz liberal reflecte a paz segundo os ditames das naesvencedores da segunda guerra mundial. A partir da constatao das virtudes que compe estemodelo, importa analisar as suas fraquezas e as crticas de que alvo, por forma a sustentar ouno a sua validez enquanto modelo base para um consequente aperfeioamento futuro.

    EM QUE MEDIDA PODEM AS CRTICAS S OPERAES DE CONSTRUO DAPAZ SER ENTENDIDAS COMO EMPREENDIMENTOS NEO-COLONIAIS?

    O modelo de paz liberal encerra algumas fragilidades intrnsecas, que advm da suaprpria crena de que possui uma dimenso superior, infalvel e universal.

    Uma das criticas mais contundentes sua implementao reside na ideia de que aimposio desse modelo conduz a uma perda das referncias tradicionais, a uma dissoluodos vnculos sociais, a uma globalizao econmica centrada numa concorrncia desleal edesenfreada e a uma implementao de um hiperindividualismo descaracterizador da ideia decomunidade.

    Uma das respostas possveis a esta crtica pertinente pode residir na ideia derefundao da democracia, que seja capaz de superar a estril oposio entre sociedadepatriarcal repressiva e sociedade ultraliberal desumanizada12. A necessidade de resistir ao

    11 Kant, A Paz Perptua e Outros Opsculos. Lisboa: Edies 70, 1988, pp. 57-102, p. 7612 O filsofo blgaro Ztvetan Todorov, na sua obra Los enemigos ntimos de la democracia, acabada de publicarem Espanha, pela Galaxia Gutemberg Crculo de Lectores, reclama precisamente desta necessidade de umaPrimavera Europeia capaz de responder ao ineficaz status vigente, evitando assim o ultraliberalismo, o

  • 10Revista Onis Cincia, Braga, V.1, Ano 1 N 2, setembro / dezembro 2012 ISSN 2182-598X

    pensamento nico, de retornar o poder ao povo, de proporcionar um maior poder denegociao entre os diferentes actores sociais e estatais, de equilibrar as liberdades individuaise a defesa do interesse comum, so vias para superar as limitaes subjacentes ao pensamentoliberal e de melhor capacitar a implementao da paz liberal como modelo privilegiado edominante. O prprio Oliver Richmond sustenta a necessidade da paz liberal evoluir para umsistema mais hbrido ou emancipatrio, onde o modelo de implementao da paz liberal residanuma avaliao do contexto associada a uma relao mais prxima com as comunidadeslocais, onde no haja coercibilidade ou qualquer tipo de imposio sem legitimidade por partedos diferentes actores (Estados, ONGs, comunidades locais, organizaes internacionais,fundos de apoio ao desenvolvimento, etc.), e onde a grande preocupao esteja direccionadapara a justia social, atendendo sempre especificidade de cada comunidade concreta.

    Uma segunda crtica ou fragilidade da teoria da paz liberal reside no chamadoconsenso de construo da paz. Um dos pressupostos legitimadores da aplicao do modelode paz liberal na reconstruo ps-blica de um Estado reside neste consenso, que procuraagregar organizaes internacionais, como a ONU, a UNESCO, o FMI, o Banco Mundial,ONGs, Fundos financeiros de apoio ao desenvolvimento, e actores locais. Quando h uma

    quebra do consenso de construo da paz, cai-se num impasse, na inaco ou passa-se a agirunilateralmente, margem desse consenso. neste cenrio que surgem as maiores crticasnos fruns internacionais, j que falta de consenso surgem os extremismos ideolgicos euma imposio hiperconservadora da paz liberal. Com a quebra do consenso, emergemfaces e tenses nas relaes entre Estados e organizaes que antes cooperavam, o queacaba por minar as pretenses de implementao da prpria paz. Ao impor hegemonicamenteum modelo de reconstruo de um Estado, como acontece por exemplo no Iraque, ainterveno passa a ser vista como uma agresso, no apenas pelos actores locais, mas

    tambm no seio da comunidade internacional.Uma tentativa de superar este problema poderia ser a reforma das Naes Unidas,

    acabando com o Conselho de Segurana, que j no representa o mundo actual. Este conselhode segurana, dominado por uma matriz ideolgica desfasada do mundo contemporneo,poderia ser substituindo por comisses de peritos que, por sua vez, recomendariam assembleia geral, diferentes abordagens a aplicar em cada caso especfico, ou seja, atendendo

    messianismo, a xenofobia e o populismo. Cf. El filsofo Ztvetan Todorov reclama una Primavera europea,Agencia EFE, sbado, 12 de mayo de 2012, 6:08 GTM in www-es.news-republic.com.

  • 11Revista Onis Cincia, Braga, V.1, Ano 1 N 2, setembro / dezembro 2012 ISSN 2182-598X

    especificidade e ao contexto de cada caso. O objectivo seria comprometer todos os Estado,em p de igualdade, com as solues a aplicar em cada situao concreta, responsabilizando-os tambm directamente. Com o status actual, aquilo que acontece acaba por legitimar ascrticas de neo-imperialismo aos EUA, j que estes possuem de um poder efectivo dentro dasNaes Unidas que lhe garante um papel dominante no plano das intervenes militares e naresoluo de problemas ps-blicos.

    Uma terceira crtica ao modelo de paz liberal incide sobre os objectivos ocultos quemuitas vezes caracterizam as intervenes militares e os arranjos sociais ps-conflito. Com asguerras do Kuwait, do Afeganisto e do Iraque, os crticos do actual modelo sustentam que asjustificaes pblicas que foram fornecidas para a interveno militar e para a reconstruodestes Estados, encerram em si interesses ocultos, como o petrleo, recursos naturais,dominao geoestratgica, interesses econmicos, entre outros. Para alm destas suspeitas, oscrticos defendem ainda que os interesses justificados no se coadunam com os interesses dascomunidades locais, j que as intervenes so vistas como mtodo privilegiado de preservarmonoplios ou basties sociais por parte de Estados que j se encontram em posiodominante e no querem perder esses privilgios.

    Richmond, por exemplo, defende que a melhor resposta a este tipo de crtica seriaatravs da atribuio de mais poder e autonomia s comunidades locais. S assim, se poderiaalcanar uma maior imparcialidade nas intervenes e na aplicao do modelo de paz liberal.Com objectivos bem definidos, com diferentes actores na execuo do modelo de paz aalcanar e comandados por actores locais, atendendo aos sectores mais marginais como oindividuo, a comunidade, o parentesco, o contexto, a cotidianidade e os costumes poder-se-iasuperar as naturais desconfianas na aplicao do modelo de paz liberal.

    Um quarto problema que se coloca ao modelo de paz liberal diz respeito aos seuscustos e ao capital que movimenta. Presume-se habitualmente que a democratizao, odesenvolvimento, as reformas econmicas e os direitos humanos so gratuitos, mas naverdade envolvem custos econmicos considerveis, para no dizer astronmicos. Os crticossustentam que a dinmica guerra/paz serve para sustentar uma poderosa industria militar queper si capaz de fazer prosperar uma economia de mercado, como a americana ou como a dealgumas potncias europeias. Uma anlise histrica demonstra que a economia de certosEstados dominantes prospera em perodos de guerra e ps-guerra, devido massificao deproduo de equipamentos e estruturas militares, mas tambm de bens e produtos necessrios

  • 12Revista Onis Cincia, Braga, V.1, Ano 1 N 2, setembro / dezembro 2012 ISSN 2182-598X

    a qualquer reconstruo de um Estado. Mais uma vez, a crtica ao modelo de paz liberalcentra-se no auto-interesse de quem intervm e no no interesse de quem intervencionado.

    Este problema poderia ser resolvido, como j evidenciei, com uma reforma das NaesUnidas, dotando-a de um poder de coercibilidade sobre os Estados, por forma a garantir umasustentabilidade e uma coerncia nos propsitos de qualquer interveno internacional. Umdos grandes problemas resultantes do modelos de paz liberal a excessiva militarizao domundo, com Estados armados para l do que se consideraria razovel, colocando o prpriomundo em perigo. Acaso existisse um poder legislativo e coercitivo por parte da ONU, poder-se-ia encontrar solues globais pacificadoras, como por exemplo, criar uma determinada taxasobre o oramento da defesa dos Estados e canaliz-la para o desarmamento ou para apoio aodesenvolvimento. Esta taxa ou imposto, resultaria em benefcios concretos, como a reduodos oramentos estatais para a defesa, mais apoio ao desenvolvimento ou a acelerao dodesarmamento do mundo. Este tipo de proposta deveria surgir da parte dos defensores da pazliberal, se quiserem demonstrar que estamos perante o nico modelo de paz capaz de garantira segurana internacional e a prosperidade dos povos.

    Finalmente, a ltima das crticas que desenvolverei neste ensaio diz respeito aochamado problema dos transplantes. Uma das propriedades fundamentais da paz liberal oseu carcter universal, ou seja, que possvel transplantar e universalizar com sucesso estemodelo. No entanto, aquilo que a anlise epistemolgica nos vem dizendo que nem sempreos transplantes correm bem13. Se cada comunidade especfica e valoriza o bem ou a justiade acordo com os seus padres de vida e de costumes, ento difcil implementar uma lgicaliberal sem parecer que se est a destruir essa comunidade. Muitas vezes um transplante dapaz liberal sem atender especificidade de cada Estado, de cada comunidade, de cada cultura,transforma esses Estados em Estados mais fracos, com uma sociedade civil marcada pelodesemprego, pela falta de desenvolvimento, e onde emergem velhas frmulas denacionalismo. Por isso, os grandes objectivos da paz liberal como a eliminao da guerra,

    13 Um dos autores mais interessantes na anlise aos transplantes do capitalismo no mundo o filsofo peruanoHernan de Soto que sustenta a ideia de que o capitalismo falha muitas vezes, no derivado de um problemaintrnseco, mas sim das condies locais em que aplicado. Por exemplo, o capital move-se muito custa dettulos de propriedade, no entanto, grande parte da populao dos pases latino americanos e asiticos nopossuem qualquer tipo de ttulo de propriedade, o que faz com que exista uma economia paralela quemovimenta muito dinheiro mas que incapaz de ser transformada em benefcios sociais e bem-estar para acomunidade. Cf. Hernan de Soto, O mistrio do Capital. Porque triunfa o capitalismo no ocidente e fracassa noresto do mundo. Lisboa: Editorial Notcias, 2002.

  • 13Revista Onis Cincia, Braga, V.1, Ano 1 N 2, setembro / dezembro 2012 ISSN 2182-598X

    do terrorismo, da violncia poltica, do subdesenvolvimento, da violao dos direitoshumanos e outras formas de violncia estrutural fracassam.

    A resoluo deste tipo de problema passa por aquilo que venho defendendo nesteensaio, ou seja, pela reformulao das instituies internacionais, pela adaptao do modeloao contexto e pela agregao de diferentes actores nos planos de paz a concretizar.

    Existem outras crticas que podem ser feitas ao modelo de paz liberal, no entantoquando se procura entender o que esses crticos prope como alternativa, entramos num vazioinstitucional ou numa anarquia internacional ao estilo do status medieval e pr-contemporneo, onde prevalecem os Estados soberanos individuais, com ausncia de leisreais que os vincule no mbito do direito internacional, com ausncia de polticas comunssobre assuntos como a ambiente, o controlo de armas, normas laborais, movimentos decapitais, entre outros, e onde as negociaes bilaterais so feitas com base nos interessesnacionais.

    A posio dos defensores do modelo liberal e dos crticos oscila em acusaes mtuasde terem pretenses neocolonialistas, no entanto, autores como Michael Walzer, OliverRichmond ou Mark Duffield defendem que o poder liberal distinto do poder imperial,defendendo no entanto uma posio mais emancipatria para a superao do status actual, quese posicione entre a ideia de um Estado Global ou Repblica Mundial ao estilo kantiano, e a

    anarquia internacional. A evoluo poder passar pela construo global de um modelo detipo europeu (Unio Europeia ou OCDE), em colaborao com uma srie de organizaesglobais de carcter poltico, econmico e jurdico que sirvam para modificar a soberania dosEstados, tornando-os mais prsperos e respondendo s pretenses dos seus actores locais. Ofortalecimento da ONU com a incorporao do Banco Mundial e de um tribunal internacionalpoder representar uma evoluo no modelo de paz liberal, mas isso s ser exequvel se foracompanhado com a necessidade de transformar a sociedade civil num reforo da democracia,alargando um vasto leque de competncias a associaes cvicas como forma de garantir maisajuda mtua, uma maior defesa dos direitos humanos, uma proteco eficaz das minorias,uma luta concreta a favor da igualdade de gnero, uma defesa do ambiente e progressos nasreas relativas aos direitos laborais.14

    14 Cf. Walzer, op. cit., p. 192

  • 14Revista Onis Cincia, Braga, V.1, Ano 1 N 2, setembro / dezembro 2012 ISSN 2182-598X

    CONSIDERAES FINAIS

    Quando falamos da paz liberal, oscilamos sempre entre aquilo que desejvel e aquiloque factvel. A grande vantagem, mas tambm a maior fraqueza do modelo dominante depaz liberal, reside precisamente na hegemonia que possui e na falta de alternativas viveiscapazes de proporcionar uma aceitao e uma adeso por parte dos Estados e das instnciasinternacionais. O que aparece como mais natural, na actualidade, uma evoluo do modelo,presumivelmente para um estilo de organizao semelhante ao praticado pela Unio Europeia,que assente na igualdade e na autonomia dos diferentes actores, em objectivos que atendam aobem comum e com a finalidade de preservar as liberdades fundamentais, a estabilidade e aprosperidade das naes. A paz liberal pode servir como modelo-base para a construo denovas respostas capazes de superar as velhas crticas e os fracassos dos planos actuais deinterveno militar e de foras de reconstruo da paz, precisa de descobrir novas vias dedesenvolvimento sem cair em distopias fantasiosas, como a ideia de um Estado global, umagrande potncia nica, que manteria a paz permitindo uma certa independncia cultural, aoestilo de um millet otomano15.

    O que podemos almejar evoluir na continuidade, j que a paz liberal, apesar dos seusproblemas e das suas limitaes, vem provando ser o modelo mais capaz de alcanarresultados positivos dentro do contexto em que todos vivemos, isto , dentro de um mundocomplexo, militarizado e dominado por velhos rancores e novas pretenses de domnio.

    REFERNCIAS

    ARANGUREN, Jos Luis (1999). tica y Poltica. Madrid: Biblioteca Nueva.

    BALIBAR, tienne (2005). Violencias, Identidades y Civilidad. Barcelona: Gedisa.

    CHOMSKY, Noam (2006). A democracia e os mercados na nova ordem mundial. Lisboa:Antgona..

    15 Mtodo utilizado pelo governo otomano, no sculo XIX, que permitia uma certa independncia jurdica sdiferentes religies do Estado. Assim, permitia o uso da sharia para os islmicos, do direito cannico para oscristo, e da halakha para os judeus.

  • 15Revista Onis Cincia, Braga, V.1, Ano 1 N 2, setembro / dezembro 2012 ISSN 2182-598X

    DUFFIELD, Mark (2004). Las Nuevas Guerras en el Mundo Global La convergencia entredesarrollo y seguridade. Madrid: Catarata.

    ESTVEZ, Jorge (2012, Fevereiro). Paz Liberal e Internacional Statebuilding, crtica ysurgimento de un nuevo paradigma in Relaciones Internacionales, nm. 19.www.relacionesinternacionales.info

    FUKUYAMA, Francis (2012). As Origens da Ordem Poltica. Alfragide: D. Quixote.

    GUINSBURG, J. (org.) (2004). A Paz Perptua Um Projecto para Hoje (Kant, Derrida,Rosenfeld, Romano). S. Paulo: Perspectiva.

    HAYEK, Friedrich A. (2011). Principios de un orden social liberal. Madrid: Unin Editorial.

    MISES, Ludwig Von (2011). Liberalismo. Madrid: Unin Editorial.

    PIMENTA, Catarina (2009, Dezembro). A Construo da Paz: Relaes e Futuro inRelaes Internacionais, nm. 24, pp. 171-174.

    WALZER, Michael (2004). A Guerra em Debate. Lisboa: Cotovia.

    - (2008). La Revolucin de los Santos Estudio sobre los orgenes de lapoltica radical. Madrid: Katz.

    RAMSBOTHAM, Oliver, WOODHOUSE, Tom, MIALL, Hugh (2011). Resolucin deConflictos La prevencin, gestin y transformacin de conflictos letales. Barcelona:Bellaterra.

    RICHMOND, Oliver (2011, Fevereiro). Resistencia y Paz Liberal in RelacionesInternacionales, nm. 16, recuperado em 7 de Maio de 2012 dewww.relacionesinternacionales.info

    - (2005). Understanding the Liberal Peace in The Transformation of Peace.Palgrave.

  • 16Revista Onis Cincia, Braga, V.1, Ano 1 N 2, setembro / dezembro 2012 ISSN 2182-598X

    INVESTIGAO AO: UMA METOLOGIA PARA PRTICA EREFLEXO DOCENTE.

    Karla Hayd Oliveira da FonsecaMestre em Educao

    Universidade do Minho [email protected]

    Este artigo consiste em compreender a Investigao-Ao como uma metodologiaexistente na rea das cincias sociais. Constata-se, que existe uma preocupao e interessecrescentes no campo da educao na utilizao desta metodologia, no sentido de permitiruma maior objetividade dos resultados obtidos. Pretende-se contribuir para uma reflexocrtica sobre esta metodologia no campo da investigao em educao. Abordam-se nesteestudo suas potencialidades, dificuldades e limitaes. Conclui-se a Investigao-Ao emarticulao com a prtica docente e suas implicaes para o ensino.

    PALAVRAS-CHAVE: Investigao-Ao. Reflexo docente. Ensino

    INTRODUO

    O objetivo deste trabalho consiste em compreender a Investigao-Ao I.Acomo uma metodologia existente na rea das cincias sociais. No entanto, no nossainteno evidenciar esta metodologia como a mais apropriada, ou que existe umapredominncia de metodologias quantitativas sobre as qualitativas, pois o que determina aescolha por uma metodologia depende do objeto e objetivos de estudo privilegiados peloinvestigador.

    Constata-se, contudo, que existe uma preocupao e interesse crescentes nocampo da educao na utilizao desta metodologia, no sentido de permitir uma maiorobjetividade dos resultados obtidos, sejam eles de ordem quantitativa ou qualitativa, nareduo da subjetividade e no a sua eliminao, concorrendo deste modo para acredibilidade dos juzos de valor emitidos.

    Pretendemos, assim, com a realizao deste estudo, contribuir para umareflexo crtica sobre esta temtica, conhecer as potencialidades, dificuldades e limitaes,na utilizao desta metodologia no campo da investigao em educao, bem como

  • 17Revista Onis Cincia, Braga, V.1, Ano 1 N 2, setembro / dezembro 2012 ISSN 2182-598X

    tcnicas e instrumentos utilizadas na I-A. Por fim, concluiremos a Investigao-Ao emarticulao com a prtica docente e suas implicaes para o ensino.

    1. ORIGENS , CONCEITOS E TRAJETRIA DA INVESTIGAO AO

    A origem da Investigao Ao um tanto confusa, e muito poucoprovvel que algum dia venhamos a saber quando ou onde teve origem este mtodo,simplesmente porque as pessoas sempre investigaram a prpria prtica com a finalidade demelhor-la (TRIPP, 2005, p. 445), ainda que, muitos autores atribuam a criao doprocesso a Kurt Lewin. Perante esta afirmao, apresentaremos a origem percorrendodiversos autores que aprofundaram a temtica.

    Segundo Barbier (1985, p.38), a investigao-ao tem a sua origem comopesquisa psicolgica de campo, e tem como objetivo uma mudana de ordempsicossocial, pois a meta desta pesquisa, a transformao radical da realidade social e amelhoria de vida das pessoas envolvidas. Ainda, segundo o mesmo autor,

    Costuma-se geralmente sustentar que a pesquisa-ao teve origem com KurtLewin, psiclogo de origem alem, naturalizado americano, durante a provao daSegunda Guerra Mundial. Alguns pensam, entretanto, que John Dewey e omovimento da Escola Nova, aps a Primeira Guerra Mundial, constituram umprimeiro tipo de pesquisa-ao pelo ideal democrtico, pelo pragmatismo e pelainsistncia no hbito do conhecimento cientfico tanto nos educadores como noseducandos (...) a pesquisa-Ao tem fortes razes na Psicologia Social,posteriormente se abrindo para a pesquisa da vida social ampliando de formacrescente a participao das populaes envolvidas, e de certa forma promovendouma ruptura com os paradigmas clssicos da pesquisa em Cincias Humanas.

    As designaes para a palavra nem sempre so as mesmas: h quem, conformeos casos prefira Ao Investigao, Investigao na e/ou para a Ao, Pesquisa Ao, entre outros, mas o fundo e o estmulo so idnticos, pode ser entendida como umaforma de pesquisa social com base emprica que tem como associao a teoria (pesquisa) ea prtica (ao), em oposio pesquisa tradicional - crtica ao positivismo - a partir deuma colaborao mtua entre pesquisador e pesquisado. Almeida (2001) refere, ainda,outra noo pertinente: I & D (Investigao e Desenvolvimento), a que tm sidoconcedidas imensa visibilidade e grandes recursos econmicos.

    Para Esteves (2009, p.265), o trabalho pioneiro de Action Research pertence aKurt Lewin, (1890 1947), que o aplicou pela primeira vez nos Estados Unidos. Apareceu

  • 18Revista Onis Cincia, Braga, V.1, Ano 1 N 2, setembro / dezembro 2012 ISSN 2182-598X

    no mbito da psicologia, demonstrando sempre, uma tendncia preocupante em relao aosproblemas sociais da sociedade americana. No seu trabalho, Lewin tentou mostrar, de certomodo, que a ao mais eficaz que o discurso para induzir modificaes de certoscomportamentos humanos.

    Latorre (2003, p. 24), nos seus estudos apresentados em La investigacin accin referencia vrios autores, a seguir: Elliott (1993) a define como um estudo de umasituao social que tem como objetivo melhorar a qualidade de ao dentro da mesma;Lomax (1990) a define como uma interveno na prtica profissional com a inteno deproporcionar uma melhoria; J para Bartalom (1986) a Investigao - Ao umprocesso reflexivo que vincula dinamicamente a investigao, a ao e a formao,realizada por profissionais das cincias sociais acerca da sua prpria prtica.

    Deste modo, podemos designar a I.A um conjunto de estratgias para melhorara prtica educativa e social, orientada para a melhoria da prtica nos diversos campos.

    Para Kemmis (1984), a I.A constitui uma forma de questionamento reflexivo ecoletivo de situaes sociais, realizado pelos participantes, com vista a melhorar aracionalidade e a justia das suas prprias prticas sociais ou educacionais, bem como acompreenso dessas prticas e as situaes nas quais aquelas prticas so desenvolvidas.Trata-se de I.A quando a investigao colaborativa, por isso importante reconhecer queesta prtica desenvolvida atravs da Ao pelos membros dos grupos de interveno, empequena escala, no funcionamento do mundo real.

    A Investigao - Ao pode ser representada como uma metodologia deinvestigao que utiliza em simultneo a Ao e a Investigao num processo cclico, ondeh uma variao progressiva entre a compreenso, a mudana, a ao e a reflexo crtica daprtica docente.

    No campo educacional Sanches (apud Moreira, 2001, p.127) refere que a I.Ausada como estratgia formativa de professores facilita a sua formao reflexiva, promoveo seu posicionamento investigativo face prtica e a sua prpria emancipao.

    Quanto sua trajetria, Fernandes (2005, p.3) assinala a Investigao - Ao daseguinte forma:

    1- Dcada de 40 - O trabalho pioneiro de Kurt Lewin, nos Estados Unidos.

    2- Dcada de 70 - Depois de um declnio da Investigao- Ao, esta intensificada pelos estudos de Stenhouse (1970), Elliott (1973), Allal (1978),apresentando modelos alternativos investigao educativa tradicional.

  • 19Revista Onis Cincia, Braga, V.1, Ano 1 N 2, setembro / dezembro 2012 ISSN 2182-598X

    3- Dcada de 80 Argyris e Schn (1985) foram os principais autores a retomar edesenvolver os conceitos de Investigao - Ao, tratando-os como umaabordagem cientfica especfica, na qual o investigador gera um novoconhecimento acerca do sistema social e, ao mesmo tempo, esfora-se paramud-lo. Na Austrlia surge com os trabalhos desenvolvidos por Kemmis eCarr, de orientao emancipatria e de crtica social.Neste contexto, como podemos observar na trajetria citada, o termo I.A

    aparece em 1913, na Alemanha, num trabalho realizado em Viena de forma bastantemitigada. Porm, possvel situ-la em dois grandes momentos histricos: o primeironasce nos Estados Unidos, na dcada de 40, tendo como pioneiro Kurt Lewin, aps aSegunda Guerra Mundial e o segundo mais europeu, americano e australiano, indo dosanos 70 at os dias atuais.

    Segundo Tripp (2005, p.445) foi esse tipo de diversidade que levou aInvestigao - Ao educacional a ser descrita como uma famlia de actividades. Trata-

    se na verdade de um puzzle de concepes, percepes e entendimentos, onde a sua base constituda a partir da investigao emprica para a melhoria da prtica. Na continuidadedo dilogo com esta problemtica, abordaremos no tpico seguinte as caractersticas daI.A.

    2. PRINCIPAIS CARACTERSTICAS DA INVESTIGAO AO

    Investigao ao ou pesquisa - ao uma forma de investigao - ao

    que utiliza tcnicas de pesquisa consagradas para informar a ao que se decide tomar paramelhorar a prtica (Tripp, 2005, p.447). Uma das caractersticas mais marcante da I.A que se trata de uma metodologia de investigao orientada para a melhoria da prtica paraaperfeioar e resolver os problemas sociais. Portanto, destacaremos suas caractersticas,conforme os autores consultados (Kemmis e McTaggart in Fernandes, 2005, p.3; Cohen eManion apud Simes, 1990, p.42).

    Participativa e colaborativa, no sentido, em que prticos e investigadores trabalhamem conjunto na concretizao de um projeto;

    Situacional, pois preocupa-se com o diagnstico de um problema, num contextoespecfico e tenta resolv-lo nesse mesmo contexto;

  • 20Revista Onis Cincia, Braga, V.1, Ano 1 N 2, setembro / dezembro 2012 ISSN 2182-598X

    Cclica j que a investigao envolve um conjunto de ciclos, nos quais asdescobertas iniciais geram possibilidades de mudana, que so entoimplementadas e avaliadas como introduo do ciclo seguinte; e

    Auto-avaliativa uma vez que as modificaes so continuamente avaliadas emonitorizadas, numa perspectiva de flexibilidade e adaptabilidade, com vista aproduzir novos conhecimentos e a alterar a prtica.

    Neste sentido, as caractersticas da I.A apresentada atravs do contributo devrios autores, sempre empenhados na busca pela melhoria da prtica para a resoluo dosproblemas sociais, resultaram na busca pelos ciclos de Investigao-Ao.

    3. CICLOS DA INVESTIGAO AO

    A Investigao - Ao uma metodologia de investigao constituda decritrios e mtodos, onde faz inferncia teorias sobre a ao educativa, que segundoLatorre (2003 p. 32) ganha consistncia em comparao com outras metodologias namedida em que se impe como um projecto de ao que transporta em si estratgias de

    ao.

    Desta dualidade entre o requisito terico e a ao concreta provm o cartercclico da I.A, uma vez que vrios autores Kurt Lewin, Kemmis, Elliott, e Whitehead(apud Latorre, 2003), partilham desta viso que se estruturam pela forma de uma espiral.

    Deste processo metodolgico observamos um conjunto de fases - planificao,ao, observao, reflexo, avaliao e reformulao - que se desenvolvem de formacontnua e em movimento circular, possibilitando o ncio de novos ciclos que desencadeianovas espirais de experincias de ao reflexiva.

    Segundo Lessard-Hbert (1994), o termo ciclo utilizado no sentido de umconjunto ordenado de fases que, uma vez completadas, podem ser retomadas para serviremde estrutura planificao, realizao e validao de um segundo projeto e assimsucessivamente.

  • 21Revista Onis Cincia, Braga, V.1, Ano 1 N 2, setembro / dezembro 2012 ISSN 2182-598X

    Figura 1 Espiral de ciclos da Investigao-Ao

    Podemos observar na figura 1, devido suas caractersticas peculiares aInvestigao-Ao no se limita a um nico ciclo, o que permite aos participantes reajustesna ao. O que se pretende com esta metodologia produzir mudanas nas prticas tendoem vista alcanar melhorias de resultados.

    Assim, inferimos que a colaborao aliada mudana so peas-chave naconstruo de um projeto de investigao. E que s uma interveno de carter proativointegrada num processo colaborativo entre as partes envolvidas na ao, atravs do debatee da confrontao de registros efetuados ao longo da ao investigativa poder obter osresultados almejados.

    Apesar de autores como Kemmis, Elliott e Whitehead apresentarem distintosmodelos de investigao-ao, no apresentam grandes mudanas, pois todos partem doModelo de Kurt Lewin. Entretanto, todos esses autores trazem contributos significativospara esta medodologia, no relegando nenhum deles, a viso espiralada dos conceitosexpostos.

    Portanto, a Investigao Ao constitui uma metodologia de planificao,reflexo, estratgias e ao evidenciadas pela explanao atravs de seus ciclos e modelos.De posse desta informao, passaremos a discorrer a aplicabilidade da Investigao-Ao.

    4. A APLICABILIDADE DA INVESTIGAO - AO

    A Investigao - Ao, tal como j foi referido anteriormente, um processocontnuo da ao reflexiva ao desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e atitudes

    AO

    OBSERVAO

    REFLEXO

    AVALIAO

    REFORMULAO

    PLANIFICAO

  • 22Revista Onis Cincia, Braga, V.1, Ano 1 N 2, setembro / dezembro 2012 ISSN 2182-598X

    em que todos participam, investigando as suas prprias prticas sociais a fim de conhec-las e melhor-las.

    A diversidade dos contextos histrico-geogrfico-culturais explica, de algumaforma, as diferentes caractersticas que a investigao-ao foi adquirindo atravs dotempo. A produo discursiva elaborada em torno destas caractersticas grandiosa. Noentanto, depois da leitura dos autores referenciados, conclumos que a maior parte dostextos publicados essencialmente de natureza terica, com propsitos de orientao dasprticas. Versam os fundamentos tericos, as finalidades, as vias metodolgicas, ou seja,trata-se de um discurso orientado para o que deve e como deve ser feito.

    Mximo-Esteves (2008) ressalta que desconhece o seu grau de aceitao naprtica, ou seja, o modus operandi das orientaes tericas, quais as suas adaptaesefetuadas perante a realidade dos diversos contextos, o impacto que a teoria teve e quais assuas vantagens.

    Contudo, o contributo da I.A na prtica educativa pode e deve levar a umaparticipao mais ativa do professor como sujeito de mudana.

    Como refere Benavente (1990, pp.60-109), os processos de mudana soproblemtica nuclear da I.A. A autora desenvolve esta ideia, como se pode constatar noseguinte pargrafo:

    Pretende-se analisar condies, potencialidades, obstculos, mecanismos,procedimentos, agentes de mudana; pretende-se intervir em situaes eprocessos reais, com os actores neles envolvidos, e pretende-se analisar essasexperincias de interveno e de transformao. Isto significa trabalharsimultaneamente em vrios nveis interligados de estruturao das relaessociais (Benavente, 1990b, p.11).

    Diz ainda:

    [] a cada nvel da realidade (estruturas e actores) h dinmicas e inrcias,passividades e lgicas, rotinas e hbitos, prticas habituais, que a mudanasociopoltica e as intervenes do poder central no podem transformar s por si(idem, 1990b).

    Nesta linha de pensamento, Perrenoud apresentado por Benavente (1990b,p.81-90) designa por Sociologia da Interveno.

    Os mecanismos desencadeados, os papis e identidades do interventor-investigador e as ambiguidades inerentes aos contratos formais e informais que ovo ligando s instituies e aos actores sociais envolvidos.

    Mudar implica transformaes de mentes e aes. No entanto no tarefa fcil:Porque, tendo como objectivo melhorar a vida das pessoas, pode estar a pr emconflito as suas crenas, estilos de vida e comportamentos. Para que essa

  • 23Revista Onis Cincia, Braga, V.1, Ano 1 N 2, setembro / dezembro 2012 ISSN 2182-598X

    mudana seja efectiva, necessrio compreender a forma como os indivduosenvolvidos vivenciam a sua situao e implic-los nessa mesma mudana, poisso eles que vo viver com ela (Sanches, 2005, s/p)

    Deste modo, a Investigao - Ao permite aos usurios assumir suas escolhase decidir quais as mudanas que pretendem utilizar. de posse desta anlise que oprocesso possa ter resultados satisfatrios.

    Neste sentido, o envolvimento de todos os intervenientes numa trade ao-reflexo-ao, resultar em mudanas na comunidade educativa. Assm, a I.A surge comouma metodologia eficaz.

    A este respeito Moreira (apud Sanches, 2005, s/p) refere:A dinmica cclica de ao-reflexo, prpria da investigao-ao, faz com queos resultados da reflexo sejam transformados em praxis e esta, por sua vez, dorigem a novos objectos de reflexo que integram, no apenas a informaorecolhida, mas tambm o sistema apreciativo do professor em formao. nestevaivm contnuo entre ao e reflexo que reside o potencial da investigao-ao enquanto estratgia de formao reflexiva, pois o professor regulacontinuamente a sua ao, recolhendo e analisando informao que vai usar noprocesso de tomada de decises e de interveno pedaggica.

    Outra dimenso a considerar na aplicabilidade da I.A o conhecimento darealidade. Como afirma Carrasco (2000, pp. 24-25), a anlise da realidade ou odiagnstico de uma situao social supe uma fase importante do mtodo de ao einterveno social.

    Para Ander-Egg (apud Fernandes, 2005, p.9) o conhecimento da realidade queimplica o conhecimento de outros fatores:

    O diagnstico social um processo de elaborao e sistematizao deinformao que implica conhecer e compreender os problemas e necessidadesdentro de um contexto determinado, as suas causas e evoluo ao longo dotempo, assim como os factores condicionantes e de risco e as suas tendnciasprevisveis; permitindo uma descrio dos mesmos segundo a sua importncia,possibilitando o estabelecimento de prioridades e estratgias de interveno, demaneira que possa ser determinado de antemo o seu grau de viabilidade efuncionalidade, considerando tanto os meios disponveis como as foras eactores sociais implicados nas mesmas.

    Neste sentido, podemos inferir que o objetivo fundamental da anlise darealidade conhecer a problemtica da situao para, assim, o modificar, servindo deconhecimento para refletir e questionar as prticas sociais.

    Para Esteves (apud Silva e Pinto, 1986), ao nvel dos procedimentosmetodolgicos e tcnicos utilizados, esta modalidade de Investigao - Ao no se afastada investigao tradicionalmente codificada pelos textos de metodologia. O que mais sediferencia a circunstncia de ser desencadeada por algum que tem necessidades de

  • 24Revista Onis Cincia, Braga, V.1, Ano 1 N 2, setembro / dezembro 2012 ISSN 2182-598X

    informao/conhecimento de uma situao problema a fim de agir sobre ela e dar-lhesoluo.

    5. AS TCNICAS NA INVESTIGAO AO

    Tal como em qualquer outra metodologia, a I.A necessita de tcnicas einstrumentos de recolha de informao para dar prosseguimento ao seu objeto deinvestigao. Portanto, utiliza vrios mtodos disponveis ao nvel das cincias sociais. Noentanto, a especificidade deste tipo de trabalho tende a privilegiar as metodologiastradicionalmente chamadas de no experimentais ou qualitativas (Guerra, 2002, p.73).

    Dos vrios autores consultados, destacamos Lessard-Hbert (1994); Cohen eManion (1990) e Antonio Latorre (2003), dando especial destaque a este ltimo.

    Lessard-Hbert (1994, pp. 143-144) aponta, citando De Bruyne et al, trsmodos de recolha de dados associados s metodologias qualitativas:

    1. O inqurito, que assume duas formas: a oral (entrevista) e a escrita(questionrio);2. A observao que assume duas formas: direta, sistemtica (observadorexterior) e participante (observador conhecido ou oculto); e3. Anlise documental a partir de fontes privadas ou oficiais (relatrios,arquivos, estatsticas).

    Cohen e Manion (1990, p. 279) consideram que, as vrias fases do processo deI. A. devem ser constantemente monitorizadas por uma variedade de mecanismos(questionrios, dirios, entrevistas, estudos de caso, entre outros). esta observaorigorosa de situaes e fatos que permite efetuar modificaes, reajustamentos,redefinies e mudanas de direo.

    Segundo Latorre (2003, p. 54) as tcnicas de recolha de dados so muitovariadas. Optando-se por utilizar umas ou outras, tendo em conta o grau de interao doinvestigador com a realidade e o problema que est a ser investigado. Neste sentido,Latorre (2004) apresenta um conjunto de tcnicas que agrupa a observao, a conversao,a anlise de documentos e os meios audiovisuais.

    Recorrendo ao autor acima referenciado, apresenta-se de um mododiscriminado cada uma das tcnicas e respectivos instrumentos de recolha de dados.

  • 25Revista Onis Cincia, Braga, V.1, Ano 1 N 2, setembro / dezembro 2012 ISSN 2182-598X

    5.1. TCNICAS BASEADAS NA OBSERVAO

    A observao participante considerada um mtodo interativo, uma tcnicade observao direta, pois implica a presena do observador nos acontecimentos que est aobservar. Ao envolver-se com as pessoas e acontecimentos de uma forma mais direta oinvestigador torna-se um conhecedor mais profundo da realidade que est a observar.

    As notas de campo so uma das formas mais usadas nas metodologiasqualitativas. Um dos seus pontos fortes a abertura. Ao no estarem estruturadas tornam-se flexveis permitindo ao investigador abrir-se ao imprevisto e inesperado, ele v as coisastal como se apresentam diante de si, de uma forma direta e imediata, sem mediaes oupreparaes prvias.

    O dirio do investigador uma tcnica narrativa que permite recolherobservaes, reflexes, interpretaes, hipteses e explicaes de ocorrncias e ajuda oinvestigador a desenvolver o seu pensamento crtico, a mudar os seus valores e a melhorara sua prtica.

    Os memorandos analticos so notas pessoais que se destinam a analisar ainformao recolhida e fazem com que o investigador leia e reflita em intervalosfrequentes ao longo do projeto de investigao.

    5.2. TCNICAS BASEADAS NA CONVERSAO

    O questionrio o instrumento mais universal na rea das cincias sociais.Consiste num conjunto de perguntas sobre determinado assunto ou problema em estudo,cujas respostas so apresentadas por escrito e permite obter informao bsica ou avaliar oefeito de uma interveno quando no possvel faz-lo de outra forma.

    A entrevista tambm uma das estratgias bastante utilizada na Investigao-Ao e constitui-se como um complemento da observao, permite recolher dados sobreacontecimentos e aspetos subjetivos das pessoas, no diretamente observados, comocrenas, atitudes, opinies, valores ou conhecimentos, fornecendo o ponto de vista doentrevistado e possibilitando, assim, interpretar significados.

    Os grupos de discusso so uma estratgia de obteno de informao que temganho grande projeo na investigao social ao ponto de alguns autores a considerarem

  • 26Revista Onis Cincia, Braga, V.1, Ano 1 N 2, setembro / dezembro 2012 ISSN 2182-598X

    um mtodo de investigao, servem, sobretudo, para colmatar os espaos vazios deixadospela entrevista individual, na medida em que propiciam uma maior interatividade aofornecerem comparaes de experincias e de pontos de vista dos entrevistados.

    5.3. ANLISE DE DOCUMENTOS

    Os documentos oficiais, dependendo do objetivo do investigador face aoproblema a resolver, podem ter grande importncia na medida em que se constituem emboas fontes de informao. Entende-se por documentos oficiais: arquivos e estatsticas,artigos de jornais e revistas, registos de organismos pblicos, legislao, horrios, atas dereunies, planificaes, registos de avaliao, ofcios, manuais, fichas de trabalho,enunciados de exames, etc.

    Os documentos pessoais dividem-se em documentos naturais, quando so dainiciativa da prpria pessoa, no sendo solicitados nem incentivados, e em que o propsitodo seu autor pode no ser coincidente com o objetivo do investigador e em documentossugeridos pelo investigador, em que este, solicita que as pessoas escrevam sobre as suasexperincias pessoais. Este tipo de tcnica tem sido muito utilizada na Investigao - Ao,principalmente pela importncia que os investigadores do ao mtodo biogrfico narrativoe s histrias de vida.

    5.4. MEIOS AUDIOVISUAIS

    A fotografia uma tcnica de eleio na Investigao - Ao, na medida emque se converte em documentos de prova da conduta humana. So fiveis, credveis epermitem uma anlise retrospectiva dos assuntos.

    As gravaes em vdeo so tambm uma ferramenta indispensvel quando sepretende realizar estudos de observao em contextos naturais. Associa a imagem emmovimento ao som, permitindo, deste modo, ao investigador obter um feedback visual eauditivo da realidade estudada e, assim, detectar fatos que porventura lhe tenham escapadodurante a observao ao vivo.

    As gravaes em udio so uma tcnica muito utilizada na Investigao Aopois permite, captar a interAo verbal e registar as conversas de um modo detalhado.

  • 27Revista Onis Cincia, Braga, V.1, Ano 1 N 2, setembro / dezembro 2012 ISSN 2182-598X

    6. POTENCIALIDADES QUE A I.A PODER DESENVOLVER

    Uma das potencialidades da I.A tornar profissionais reflexivos,intervenientes e interacionistas nos contextos em que se inserem, dando origem a prticaspertinentes, oportunas e adaptadas s situaes com as quais trabalham, cujo objetivo promover a mudana social.

    Simes (1990, p.43) refere que o resultado da investigao ter sempre umtriplo objetivo: produzir conhecimento, modificar a realidade e transformar os actores. Ascaractersticas da flexibilidade e adaptabilidade permitem que as mudanas aconteamdurante a sua aplicao e encoraja a experimentao e inovao.

    Outras das potencialidades apresentadas pela I.A a sua capacidade deproduzir reflexes tericas, que contribuem para a resoluo de problemas em situaesconcretas, j que dilui as diferenas entre a teoria e a prtica. Para Simes (1990, p.42), ocarcter colaborativo da mesma: prticos e investigadores trabalham, em conjunto, naconcretizao de um projecto.

    Latorre (2003, apud Kemmis e McTaggart, p.27) refora a ideia anterior aoafirmar que a melhoria da prtica, a compreenso da prtica e a melhoria da situao ondetem lugar a prtica. Apesar destas caractersticas positivas a I.A encontra muitasdificuldades e limitaes para desenvolver suas aes e ganhar projeo como umametodologia cientfica eficaz. o que veremos no prximo tpico.

    7. DIFICULDADES/LIMITAES DA IMPLEMENTAO DA INVESTIGAO AO

    De acordo com Almeida (2001) h a necessidade de defender a Investigao -Ao. Esta tem sido considerada o parente pobre no campo das cincias sociais. Omesmo autor refere que dela pouco se fala, sendo insuficientemente praticada, tendo emconta as potencialidades que abrange, e mesmo quando efetuada, raramente divulgadafora dos crculos restritos que utilizam os seus resultados. Sobretudo, muito escasso onmero de publicaes, livros ou artigos de revistas cientficas que dela se ocupam.

    Desde que, Kurt Lewin, em 1948, lanou a ideia da action research, talproposta no foi bem aceita nos crculos cientficos.

  • 28Revista Onis Cincia, Braga, V.1, Ano 1 N 2, setembro / dezembro 2012 ISSN 2182-598X

    Talvez porque vinha a contra corrente da histria das prprias cincias sociais,muito preocupadas, nessa poca, em afirmar a sua cientificidade e em de limitaros campos da produo e da utilizao do conhecimento, distanciando-se dasintervenes e das ideologias (Almeida, 2001, p.175).

    Segundo o mesmo autor, durante um largo perodo de tempo foram escassos osinvestigadores que a praticaram - por vezes sob outras designaes, em correspondnciacom as alteraes que introduziram para adapt-la s suas prprias preocupaes emetodologias.

    Por parte dos adeptos da pesquisa tradicional, frequentemente, so feitasalgumas restries Investigao - Ao. Segundo Cohen e Manion (1989) a I.A situacional e especfica, pois conta com uma amostra de representividade reduzida, alm depossuir pouco ou nenhum controle sobre variveis independentes, tornado desse modo apesquisa restrita ao ambiente de estudo, diferentetemente da pesquisa cientfica tradicionalque vai alm da soluo de problemas prticos e especficos

    Para Zeichner (1993, apud Moreira 2001) consideram-se como dificuldades daI.A a escassez de estudos neste campo que validem empiricamente a Investigao - Aocomo metodologia de formao reflexiva, onde o professor preocupa-se somente com aforma didtica e no reflexiva por parte dos alunos, no o preparando para assumir outrasresponsabilidades, o que torna o contexto estrutural pouco favorvel.

    Outros autores apontam como limitaes da I. A a demora dos resultados emtermos de desenvolvimento escolar ou cultural. A ausncia do investigador no terformao acadmica outro fator que leva a incredibilidade. Por ser um processo coletivotraz obstculos para o investigador, pela existncia de variadssimas ideologias, o que tornaum risco para a pesquisa. A I.A privilegia os feitos esperados, negligenciando os efeitosno esperados de uma avaliao, o que pode demonstar falta de planejamento, e por fim, eno menos importante, a participao do investigador na Ao pode levar a umenvolvimento emocional, prejudicando assim a objetividade da pesquisa, podendo induzira parcialidade do investigador face investigao.

    8. CONSIDERAES FINAIS

    Aps a realizao deste trabalho infere-se que a partir dos trs ltimos decniosassistiu-se a uma expanso do recurso Investigao Ao, em vrias reas das cinciassociais.

  • 29Revista Onis Cincia, Braga, V.1, Ano 1 N 2, setembro / dezembro 2012 ISSN 2182-598X

    Como pudemos verificar a expresso Investigao Ao polissmica einsinua certa tenso: os conceitos Investigao e Ao so de certa forma,contraditrios. Existem na Investigao Ao lutas passionais, ideolgicas einstitucionais, conflitos de neutralidade e politizao evidenciando-se uma falta deconsenso entre os especialistas acadmicos e os seus utilizadores. No entanto, pretende ser,quanto possvel, independente, no reativa e objetiva.

    Neste sentido, os velhos discursos que persistem no tempo entre o campocientfico natural/positivista e o campo das cincias sociais/fenomenolgico, agrava-seainda mais se tivermos em considerao a proximidade e as relaes perigosas existentesentre o investigador e o objeto de pesquisa e entre o sujeito e objeto de conhecimento,fazendo desse modo a I.A perder sua credibilidade como uma metodologia credvel.

    Conclui-se a existncia de diversas dimenses quanto ao processo, forma e aocontedo nos estudos da Investigao Ao. E, embora alguns autores defendam odesconhecimento da Investigao Ao, seu grau de aceitao na prtica, ou seja, omodus operandi das orientaes tericas, quais as suas adaptaes efetuadas perante arealidade dos diversos contextos e o seu impacto, foi possvel evidenciar e aprofundar oscontributos da Investigao Ao na prtica.

    Em jeito de sntese, apesar de todas as desvantagens e limitaes, a I.A podeconstituir uma boa ferramenta para a prtica educativa na compreenso de uma realidade aser estudada, que pressupe a construo da problemtica e das estratgias de investigao,apontando como principal potencialidade a articulao, de modo permanente, dainvestigao, da ao e da formao. O que pode gerar profissionais pr-ativos e crticospara efetivao de mudanas as prticas educativas, com o objetivo de melhorar o ensino,tornando as salas de aula em ambientes de aprendizagens significativas e reflexivas.

    ACTION- RESEARCH : A METHODOLOGY FOR TEACHINGPRACTICE AND REFLECTION.

    ABSTRACT: This work is to understand the Action-Research as an existing methodologyin the social sciences. It appears that there is a growing concern and interest in the field ofeducation in the use of this methodology in order to allow greater objectivity of the results.It is intended to contribute to a critical reflection on this methodology in the field ofeducation research. In this study discusses its potential difficulties and limitations. Finally,

  • 30Revista Onis Cincia, Braga, V.1, Ano 1 N 2, setembro / dezembro 2012 ISSN 2182-598X

    we will conclude the Action-Research in conjunction with the teaching practice and theirimplications for teaching.

    KEYWORDS: Action-Research. Teacher reflection. Education

    REFERNCIAS

    Almeida, J (2001). Em Defesa da Investigao-Ao. Sociologia, Problemas e Prticas.N37,

    Barbier, R. (1985). Pesquisa-Ao na Instituio Educativa. Rio de Janeiro: Jorge ZaharEditor.

    Benavente, A (1990). Escola, Professoras e Processos de Mudana. Lisboa: LivrosHorizonte.

    Benavente, A. (1990b). Costa, A. E Machado, F. Prticas de Mudana de Investigao Conhecimento e Interveno na Escola Primria. Revista Crtica de Cincias Sociais.N29.

    Carrasco, J. e Hernndez, J. (2000). Aprendo a Investigar em Educacin. Madrid:Ediciones Rialp.

    Cohen, L. e Manion, L . (1989). Mtodos de Investigacin Educativa. Madrid: La Muralla,S.A.

    Fernandes, A. M. (2005). A Investigao-Ao como metodologia. Projeto SER MAIS Educao para a sexualidade Online, 2005 Acedido em: 8 de novembro de 2009, dehttp://nautilus.fis.uc.pt/cec/teses/armenio/TESEArmenio/vti cnf/TESE Armenioweb/cap3.pdf

    Guerra, I. (2002). Fundamentos e Processos de Uma Sociologia de Ao O Planeamento emCincias Sociais.

    Latorre, A. (2003). La Investigacin-Accin. Barcelona: Editorial Gra.

    Lessard-Hbert, M., Goyette, G. e Boutin, G. (1994). Investigao Qualitativa:Fundamentos e Prticas. Lisboa: Instituto Piaget.

    Mximo-Esteves, L. (2008). Viso Panormica da Investigao-Ao. Porto: PortoEditora.

    Moreira, M. A. (2001). A Investigao-Ao na Formao Reflexiva do Professor Estagirio de Ingls. Lisboa: Instituto de Inovao Educacional.

  • 31Revista Onis Cincia, Braga, V.1, Ano 1 N 2, setembro / dezembro 2012 ISSN 2182-598X

    Sanches, I. (2005). Compreender, Agir, Mudar, Incluir. Da investigao-Ao educaoinclusiva. Rev. Lusfona de Educao, n.5.

    Silva, A. S. e Pinto, J. M. (Orgs.) (1986). Metodologia das Cincias Sociais. Porto:Afrontamento.

    Simes, A. (1990). A Investigao-Ao: Natureza e Validade. Revista Portuguesa dePedagogia, Ano XXIV.

    Tripp, David (2005). Pesquisa-ao: uma introduo metodolgica. Educao e Pesquisa.So Paulo, v.31, n. 3.

  • 32Revista Onis Cincia, Braga, V.1, Ano 1 N 2, setembro / dezembro 2012 ISSN 2182-598X

    QUALTRICS RESEARCH SUITE IN ACADEMIC CONTEXT1

    Claudia MachadoDoutoranda em Tecnologia Educativa

    Universidade do [email protected]

    One of the methodologies to collect data used in the academic context is the investigationsurveys by surveys. The Web 2.0 opens a multiplicity of online tools to create and managesurveys without the necessity of installing software. The Qualtrics Research Suite(http://www.qualtrics.com/) belongs to this context and is different from other tools because itdisplays in a very clear, accessible and pleasant way in a free mode, many features to create,distribute and control received answers and data of the surveys. This article describes thesetools through a tutorial about the way it works.

    Keywords: Web 2.0. Qualtrics Research Suite. Academic context

    1. INTRODUCTION

    Continuing the trajectory of the internet on the following days, we verify that onthe beginning of Web 1.0 the contexts were statics, being possible only to navigate from onesite to the other through the hyperlinks, but with the Web 2.0 the user becomes an activemember and participates on the creation, selection and exchange of context posted in this siteusing open platforms.

    The concept of Web 2.0 is the result of a brainstorming section performed byOreillyMedia and by the MediaLive International. According to Tim OReilly (2006) theWeb 2.0 is:

    the business revolution in the computer industry caused by the move to theinternet as platform, and an attempt to understand the rules for success onthat new platform. Chief among those rules is this: Build applications thatharness network effects to get better the more people use them. (This is whatI've elsewhere called "harnessing collective intelligence.)

    In this new platform nominated Web 2.0 the files are available online and can beaccessed in any time and place. Besides, there is no need for recording in a determined

    1 Artigo publicado em portugus nas Actas do XI Congresso SPCE Guarda 2011.

  • 33Revista Onis Cincia, Braga, V.1, Ano 1 N 2, setembro / dezembro 2012 ISSN 2182-598X

    computer the registers of a document or to alternate the structure of a text. Thechanges are done automatically on the Web.

    The Web 2.0 technologies represent a revolution as for Web 1.0 in the way ofmanaging and making sense or offering the information in an online mode. Its philosophydiffers by its facility and velocity on which it publishes and stores texts and files. It means thatthe main objective is to make it become a way of allowing a total socialization, makingpossible to all the users, according to the necessities of each one, to select and control theinformation (Greenhow, 2007).

    The Web 2.0 tools, especially blogs, wikis, podcasts, Google Docs andSpreadsheets, are being targets of study for many investigators (Barroso and Coutinho, 2009;Bottentuit Junior and Coutinho, 2007; Carvalho et al., 2008; Coutinho and Bottentuit Junior,2008, 2009; Gomes and Lopes,2007, Gomes, 2008; Machado, 2009a, 2009b, Mota andCoutinho, 2010, among others), however there is a lack of researches that explore other toolsas the case of Qualtrics, SurveyMonkey2, EnquestaFcil3, among others.

    The Web 2.0 disposes online tools without the necessity of stalling a software,which means not to occupy any space in the computers disc as all the function are loadeddirect on the browser.

    In the sense of using all the available tools on the Web 2.0 and to subsidies thecreation of online surveys on the academic research, we present this paper which describes theQualtrics Research Suite tool through a basic tutorial.

    2. METHODOLOGY OF DATA COLLECTION: SURVEY BY SURVEYS

    One of the methodologies of data collection used in the field of investigation thatconstitui o meio mais rpido e barato de obteno de informaes, alm de no exigirtreinamento de pessoal e garantir o anonimato (Gil, 2002) is survey by surveys. This type ofresearch has as its main objective to collect information strictly patent based on a series ofplanned and ordered questions that have to be answered by the respondent on hand written

    2 More information onhttp://pt.surveymonkey.com/partners/efax.aspx?cmpid=&mkwid=sH8g9wb48&pcrid=108711077753 More information on http://www.encuestafacil.com/

  • 34Revista Onis Cincia, Braga, V.1, Ano 1 N 2, setembro / dezembro 2012 ISSN 2182-598X

    without the presence of the interviewer, with the purpose to check attitudes,opinions, believes, interests, etc... (Gil, 1999; Reis, 2010; Tuckman, 2005).

    The researcher while elaborating the questioner shall dedicate a special attention tothe process of preparing the questions, selecting each one according to the purpose for whatthe information is used, the characteristics of the public that is involved in the study and thechosen method used to announce the results. The secret of a questioner lays on itsconstruction and for this, shall be considered the following: (i) the sequence of the topics onelaborating the questions; (ii) writing the questions as natural as possible and make them easyto be understood; (iii) to avoid ambiguous questions or the ones that may suggest or induce toan answer; (iv) each question shall have only one topic to be analysed by the respondent; and(v) the questions shall be related to the objectives of the research (Reis, 2010).

    By ethical purposes the questioner shall be anonymous and confidential and can beimplemented in an online system. More than this, it shall be evaluated by a process ofvalidation of context and form (Gil, 1999, 2002; Tuckman, 2005), throughout listening tospecialists in order to be easier to detect future mistakes and to make their corrections.

    3. QUALTRICS RESEARCH SUITE

    Nowadays we see in the Internet an enormous amount of creation and managementtools of online surveys which differ on the way of creating, sending and analysing surveys.Among these tools we find Qualtrics Research Suite, which from now on, we nominate itQualtrics (Figure 1), that is part of the products offered by the site http://www.qualtrics.com/,created in 2002 by Scott M. Smith.

    Figure 1- Logotype of Qualtrics

    Qualtrics is an online tool that allows creating, distributing and controlling thereceived answers. Then, managing the data on its free version, offers a variety of functions.Among them we point: (i) there is no limit of time to the research to expire; (ii) almost 100types of questions; (iii) up to 2 active surveys at the same time; (iv) simple and intuitiveinterface; (v) possibility of including graphics, Figures and videos; (vi) to personalize the

  • 35Revista Onis Cincia, Braga, V.1, Ano 1 N 2, setembro / dezembro 2012 ISSN 2182-598X

    models of existed researches; (vii) to visualize the results of the research in realtime; (viii) to import data from SPSS and Excel; (ix) export reports in 3 shapes:PPT, DOC e PDF; and finally (x) to be available in 11 languages, including Portuguese4.

    3.1 Creating an account on QualtricsTo use Qualtrics like any other tool from Web 2.0 is necessary to create an account

    (Figure 2). Just click on FREE ACCOUNT insert the email and a password (any that youwant) receiving an email from Qualtrics and just click in the link Please click here to confirmyour request.

    Figure 2- Creating an account on Qualtrics

    In this case, after creating the account and login it is already possible to visualizethe initial interface of Qualtrics, which will be configured by selecting Account Settings(Figure 3).

    Figure 3 To Configurate Qualtrics

    After language configuration, click on the following option My surveys and theinitial interface will have the following appearance (Figure 4).

    4 Even though some few options are not translated.

  • 36Revista Onis Cincia, Braga, V.1, Ano 1 N 2, setembro / dezembro 2012 ISSN 2182-598X

    Figure 4- Qualtrics initial interface

    3.2 Creating a Survey

    There are 3 possibilities of creating a survey on Qualtrics (Figure 5):

    Figure 5- Possibilities of creating a survey

    After choosing one of the possibilities is already possible to create a survey(Figure 6) using Quick Survey Builder. To click on Click to continue will open a boxrequesting the Survey name and the Folder that will keep it (leave this part blank). Thenclick on Create Survey

    Figure 6- Creating a Survey

    3.3 Creating questions

    As we can see on Figure 7 will appear the created survey name, a box with BlockOptions and the options Copy items From and Create a New item.

  • 37Revista Onis Cincia, Braga, V.1, Ano 1 N 2, setembro / dezembro 2012 ISSN 2182-598X

    Figure7- Creating questions

    After creating the question, it is possible to change the text of Block Options, ofthe question (to advanced text, click on Rich Text Editor available above the question.However, this option only appears when the question text is selected) and the choices, beingnecessary only to click on the texts.

    On the left side of the text of Block Options there is a small arrow ( ) where ispossible to hide or to show all the questions from this block, only being necessary to clickabove the arrow. Note that when you click on one question or select the button Create a Newitem the options menus from the right side are open.

    It is advised to primarily choose the type of question in the text. Then changes onthe questions and answers can be done.

    On Figure 8, is possible to see that for each created question is automatically givena sequential number (ex. Q1, Q2, Q3, etc,), except when is inserted or imported questionsfrom other surveys. There is also the possibility of exclude and add before or after thequestions other facts, using the following buttons ( ) e ( ).

    Figure 8 Number of sequential question and possibilities of exclude or add questions.

  • 38Revista Onis Cincia, Braga, V.1, Ano 1 N 2, setembro / dezembro 2012 ISSN 2182-598X

    It is possible to define and present better the type of question (Figure9), thru out the options that are available according to the defined choice at Change Itemtype. It is also possible to visualize in the Example Area if you move the mouse on the topof each question as presented on the survey above. And is even possible to Show all QuestionTypes e Use Question from the Library.

    Figure 9To define the type of question

    Note that different types of options will be displayed according to the selectedquestion (Figure 10). Among the types of available questions at the free account, there are:

  • 39Revista Onis Cincia, Braga, V.1, Ano 1 N 2, setembro / dezembro 2012 ISSN 2182-598X

    Figure 10Available options in each type of question (free account)

    We will use as an example of question Multiple Choice (Figure 11) with thepurpose of describe each one of the options.

    Figure 11 Type of question Multiple Choice

  • 40Revista Onis Cincia, Braga, V.1, Ano 1 N 2, setembro / dezembro 2012 ISSN 2182-598X

    To add or reduce the number of Answers using the buttons or;

    Selecting Automatic Choices, allows to choose from one list of availablepreformatted options the one that is more adequate to the question;

    To choose Answers, the way the respondent can answer the question (if youclick in More other types will be available);

    To choose how the answers will be presented (if click in More other typeswill be available) in Position;

    To obligate, if the box Force Response is selected, an answer to the questionand the button ( ) right below of the number of the question (see Figure 8);

    To display one error message for an answer if #Custom Validation is selectedin the option Validation Type.

    Bellow the chosen questions option, 6 options are available to personalize thesurvey (Figure12). There is a description below of each one.

    Figure 12 Options to personalize the survey

    Add Page Break After the selected question immediately choose next page. Add Display Logic - allows to define one condition which determine if the

    selected question shall be presented or not to the respondent. Add Skip Logic allows skipping the survey to the other question according

    to the given answer without being necessary any kind of indication, as occur inprinted surveys, if answered X skip to question Y.Throughout the button ( ) is also possible to choose the options, Add SkipLogic. It is advice to build only after all the questions are done. Is advisable toconstruct a logic only after all the questions are made.If Skip Logic is added, will be then displayed the logic that is given to the

    question according to the answer that will be chosen by the respondent thru

  • 41Revista Onis Cincia, Braga, V.1, Ano 1 N 2, setembro / dezembro 2012 ISSN 2182-598X

    (Figure13): (i) If (displays options given to the respondent to the selectedquestion); (ii) Is (display options to execute option If); and (iii) ThenSkip To (present a list of questions previously created besides the option, Endof Block and End of Survey). After creating the logic just click Done. Thesymbol ( ) will be displayed in the indicated question (Figure 14).

    Figure 13 Options to create logic

    Figure 14 Indicated question for the skip Logic

    Copy Question allows copying the selected question. Move Question allows moving all the selected questions to the selected

    block. Preview Question allows seeing how the selected question will be

    presented to the respondent.

    3.4 To edit the survey

    To edit the survey just select the tab Edit Survey (Figure 15) to 7 options to beavailable: Look & Feel, Survey Options, Survey Flow, Print Survey, Spell Check,Preview Survey and Launch Survey. Is important to mention that to the changes beeffected is necessary to save all at the end.

    Figure 15 Tab Edit Survey

    Then a brief presentation of each options of the Edit Survey will be given.

  • 42Revista Onis Cincia, Braga, V.1, Ano 1 N 2, setembro / dezembro 2012 ISSN 2182-598X

    On selecting Look & Feel the options available will be presentedand described below (Figure 16).

    Figure 16 Available Options in Look & Feel ( )choose one model among the available ones; General change the Next Button Text and Back Button Text, to insert a

    Progressive Bar, to delimited the number of Questions Per Page, pointingthe question that the respondent is answering and input Highlight Questionsand Question Separator;

    Fonts to choose the font and size of the text as for the questions than theanswers;

    Colorsto change the text color, the error message, the question separator,the back of the question text, the background,, the highlights, the choice text(answer), of the header, the text entry, the footer, the borders, the AlternateRow (alternated sequence of questions);

    Advancedto include header, footer and CSS5.

    On clicking Survey Options the user has the chance of choosing between theavailable options (Figure 17) for the survey:

    5 I t is a style language used by programmers.

  • 43Revista Onis Cincia, Braga, V.1, Ano 1 N 2, setembro / dezembro 2012 ISSN 2182-598X

    Figure 17 Survey Options

    This option (Figure 18) allows the users to create a logic research much morecomplex and conditional ways of research. By fault each question created on the surveywill be displayed in the flow of the survey.

    Figure 18 Survey Flow

    The option Print Survey allows to the user to print the survey (if there is aprinter installed and connected to the computer).

    This option executes orthographical verification on the survey.

  • 44Revista Onis Cincia, Braga, V.1, Ano 1 N 2, setembro / dezembro 2012 ISSN 2182-598X

    On option Preview Survey (Figure 19), is permitted to the user totest the survey before publishing it (this option will be open in another window). In order tonot register the test as the result of the research is necessary to select the option Ignore

    Validation. If you click on more options will be able to select Do Not Show HiddenQuestions (if available). Also the survey can be restarted thru the link Click Here to StartOver.

    Figure 19 Preview of the Survey

    After testing the survey (the one that is not activated) it can be published thru thetab Edit Survey clicking on Launch Survey. Then, Activate your survey to collectresponses will be displayed (Figure 20).

    Figure 20 Activate Survey

    After this, the link of the survey will be displayed (Figure 21). A copy can bemade and then attach it to the email that will be send to the respondents requestingparticipation on the survey.

    Figure 21 Survey Link

    3.5 To distribute the survey

  • 45Revista Onis Cincia, Braga, V.1, Ano 1 N 2, setembro / dezembro 2012 ISSN 2182-598X

    Besides the previous ways already given on how to distribute a surveythere are others thru the tab Distribute Survey (Figure 22) in which is possible to make:Survey Link, Email Survey, Email History, Social Media, In-Page Popup, WebsiteFeedback, Survey Director and Preview Survey. On planning the distribution it isnecessary to evaluate the desired results and the distribution methods to better reach them.

    Figure 22 Tab Distribute Survey

    The generated link (see Figure 20 e 21) may be attached on emails, web pages ordocuments. Following the link the survey can be directed to the survey.

    Automatically generates an email invitation (Figure 23), that allows distributingthe survey to a list of participants. Each participant receives a link and a personalidentification, which will allow them to be followed. By fault the personal links can be usedonly once. It allows the majority of the available functions in one email account and tomanage sending email and other advanced options.

    Figure 23 Invitation by email

  • 46Revista Onis Cincia, Braga, V.1, Ano 1 N 2, setembro / dezembro 2012 ISSN 2182-598X

    On Email History (Figure 24), after distributing the survey by emailthru the option Email Survey (See Figure 23), is possible to Download Mailing History(for those that didnt conclude the research) or Send Reminder of Tkank You (for thosethat concluded the research) and Delete Distribution thru the bottom ( ) that is bellowof Actions (Figure 25). Note that even the option Edit Distribution is displayedbetween the options, it is not possible to perform editions on the free accounts.

    Figure 24 Option Histrico

    Figure 25 Enviar lembrete ou agradecimento

    Makes possible to directly distribute the survey thru social networks (if youhave an account), plus it also generates an QR Code.

    Can use this to display a link to your visitors in a popup (if you have a website).

    If you have a web page, you can use this link to get feedback from your users.

  • 47Revista Onis Cincia, Braga, V.1, Ano 1 N 2, setembro / dezembro 2012 ISSN 2182-598X

    This is a distribution resource that allows thru a link to redirect thesurvey to different places based on conditions already established.

    This option allows the user to test the survey before publishing it (see Figure19).

    3.6 Seeing the results of the survey.

    As the answers are given by the respondents, the results can be seen by selectingthe survey or thru the tab View Results (Figure 26). After the selection it is possible tochoose the desired report and see it View Reports (Figure 26). Is also possible to see thetotal amount of surveys that are concluded (only the already started and finished surveys).

    Figure 26 Tab View Results

    Among the available options on tab View Results there are: View Reports,Responses, Download Data and Cross Tabulation.

    On clicking View Reports, is possible to see the options (Figure 27) Create aNew Report, Delete or even select the link Report Name which refers to the chosen

    survey. It is possible see the date of creation, the date it was modified the last time, theowner of the survey and delete the report.

    Figure 27 Available options for View Reports

    Clicking on the link of the chosen report name, a variety of options will bedisplayed (Figure 28): New Report; Copy Report that allow to copy the report format thatis being seen, Public Report that generate a link allowing to exhibit the report publically,

  • 48Revista Onis Cincia, Braga, V.1, Ano 1 N 2, setembro / dezembro 2012 ISSN 2182-598X

    Export Report that allows to export thru available buttons to DOCX, PPTX,CSV and PDF; Add Graph, located on the superior edge of each question and, after selected,while passing the mouse on the graphics, many options of graphics can be selected; AddTable, located next to the Add Graph button and , after selected, while passing the mouseon the graphics, many options of table graphics are exhibited; button More, located next tobutton Add Table, allows to insert many options and button Report Options, found belowthe button Export Report, allows many options.

    There is also the link Show Filters which is possible to filter data and to generatereports based in answers to questions or incorporated data. The link Drill Down that allowsto separate all the questions according to the answered question or to incorporate value to thedata.

    Figure 28 Available Options by clicking on the link of the name of chosen report.

    It is possible to research thru results of many categories at Recorded Responses(Figure 29), as well as to visualize the given answers to the surveys. Just click on the linkof the answer that a pop-up window will be exhibited with the answer of the survey. Also,Actions can be chosen for the selected answer thru out the button ( ). On the boxAdvanced Options, is given a list of options to be chosen as answers. On tab Responsesin Progress, the answers are not included in all the reports until they are concluded or haveexpired.

  • 49Revista Onis Cincia, Braga, V.1, Ano 1 N 2, setembro / dezembro 2012 ISSN 2182-598X

    Figure 29 Tab Responses

    It is possible to download data (Figure 30) for a file CSV, SPSS, Fixed FieldText, XML or HTML of the chosen document by clicking on the specific one or text.

    Figure 30 To download data (answers) of the survey

    It is frequently used to analyze categories of data (nominated measurescale). The cross tabulation is a table with two (or more) dimensions that registries thenumber (frequency) of the respondents that has specific characteristics described on thecells of the tab. To create a new cross tabulation (Figure31) click on the button Create aNew Cross Tabulation.

  • 50Revista Onis Cincia, Braga, V.1, Ano 1 N 2, setembro / dezembro 2012 ISSN 2182-598X

    Figure 31 Create Cross tabulation

    It is possible to select which questions you would like to display (Figure32) onBanner (Column), and the questions that you want to exhibit in Stub (Row). When youfinish selecting the questions, click on the button Create Cross Tabulations.

    Figure 32 Select the questions that you want to exhibit on the cross tabulations.

    3.7 After creating a survey

    The created surveys (Figure 33) are available on the tab