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Teresina-PI, outubro de 2012 | N. 02 Pág. 04 Trabalhadores atrás das grades: o medo da violência no Bairro Água Mineral Pág. 03 Drogas: ex-usuários mostram que um outro fim é possível No bairro Água Mineral é aparente a facilidade com que se consegue certos tipos de drogas. Alguns mora- dores começaram a utilizá-las muito cedo, ainda na in- fância. Porém, um outro fim é possível. Veja o relato de alguns deles. Falta medicamentos e atendimento odontológico no Centro de Saúde Moradores reclamam da falta de medicamentos con- trolados, que demoram até dois meses para chegar, e da suspensão de alguns tratamentos odontológicos. Há mais de um ano o posto não tem a caneta de baixa usada para fazer procedimentos como a restauração. Pág. 06 Mineral Notícias O primeiro jornal comunitário do bairro Água Mineral

2ª Edição - Mineral Notícias

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Anseios, questionamentos, visões e melhorias desejadas pela comunidade são pontos a serem priorizados durante a construção de um jornal comunitário. E nesta segunda edição do Mineral Notícias nos voltamos para as reivindicações de quem vive no bairro Água Mineral.

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Teresina-PI, outubro de 2012 | N. 02

Pág. 04

Trabalhadores atrás das grades: o medo da violência no Bairro Água Mineral

Pág. 03

Drogas: ex-usuários mostram que um outro fim é possível

No bairro Água Mineral é aparente a facilidade com que se consegue certos tipos de drogas. Alguns mora-dores começaram a utilizá-las muito cedo, ainda na in-fância. Porém, um outro fim é possível. Veja o relato de alguns deles.

Falta medicamentos e atendimento odontológico no Centro de Saúde

Moradores reclamam da falta de medicamentos con-trolados, que demoram até dois meses para chegar, e da suspensão de alguns tratamentos odontológicos. Há mais de um ano o posto não tem a caneta de baixa usada para fazer procedimentos como a restauração.

Pág. 06

Mineral NotíciasO primeiro jornal comunitário do bairro Água Mineral

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Editorial

2 Teresina-PI, outubro de 2012 | N. 02

Anseios, questionamentos, visões e melhorias desejadas pela comunidade são pontos a serem priorizados durante a construção de um jornal comunitário. E nesta segunda edição do Mineral Notícias nos voltamos para as reivindica-ções de quem vive no bairro Água Mineral.

Escutamos vários moradores e, de porta em porta, conhecemos os problemas que cada um enfrenta na comunida-de, sejam eles na saúde, educação, infraestrutura ou saneamento básico. A partir daí, nós, estudantes de jornalismo, conquistamos um vínculo de proximidade com os moradores. Com isso, esperamos ter conseguido refletir as neces-sidades da comunidade, prestando um serviço essencial a quem não possui voz na grande mídia.

A elaboração desta segunda edição deu-se durante o período das eleições municipais, momento em que promessas são levadas à comunidade como forma de conquistar votos. É preciso que a população se mantenha atenta a esses discursos, para exigir de seus representantes eleitos o cumprimento de tantas promessas. Além disso, não se pode esquecer que os políticos estão lá para defender os interesses de todos, sendo função de todo cidadão fiscalizar o seu trabalho e zelar pelas necessidades do bairro.

Assim, o Mineral Notícias se propõe a ser um palco de vozes onde várias inquietações possam ser transmitidas a fim de solucionar os problemas do Água Mineral. Agradecemos a todos os comerciantes, professores, donas de casa, enfermeiras, dentistas, pedreiros, membros das igrejas, enfim, todos que contribuíram para esta edição. Esperamos que se sintam vistos, e que este jornal sirva não somente para espelhar sua realidade, mas como objeto de transfor-mação dela.

ExpedienteUniversidade Federal do Piauí

Pró-Reitoria de Extensão (PREX)Centro de Ciências da Educação (CCE)

Departamento de Comunicação Social (DCS)

Curso de Comunicação Social : Hab. Jornalismo

Projeto de Extensão Mineral Notícias

Reitor da UFPI: Prof. Dr. Luiz de Sousa Santos Júnior

Pró-Reitora de Extensão:Profª. Drª. Maria da Glória Carvalho Moura

Diretor do CCE: Prof. Dr. José Augusto de Carvalho Mendes

Sobrinho Chefe do DCS:

Profª. Drª. Jacqueline Lima DouradoCoordenador do Curso:

Prof. Dr. Paulo Fernando de Carvalho LopesCoordenadora do Projeto:

Profª. Drª. Jacqueline Lima Dourado

ReportagensAline Rocha, Ayla Esmero,

Dalilla Campelo, Edilberto Marques,

Isolda Benício,Jamila Carvalho, Tertuliano Filho,

Maria Clara Estrêla, Priscila Florêncio, Wanderson Alves

FotosAyla Esmero, Luana Furtado,

Marcela Pachêco, Suzana Dâmaris

[email protected]

DiagramaçãoDalilla CampeloDenise Moura

Ellen LopesLaíze Basílio

Tertuliano Filho

Jornalista Responsável Denise Moura (DRT/PI - 1529)

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foi a da faca. Chegou um caba de noite e empurrou um facão aqui nas minhas costelas e eu gritando, porque o negó-cio é ruim demais. A gente fica assom-brado.”, conta ele.

Dona Marcela Machado vive o mesmo medo. O seu comércio já foi assaltado seis vezes, três só este ano. Ela conta que quando veio morar no bairro, há 27 anos, as coisas eram di-ferentes e que hoje a violência é muito grande. “Aqui a violência é tão gran-de que nem a minha cerveja eu posso mais vender aqui fora”, afirma ela, que ainda em agosto teve o filho assassina-

3Comerciantes do Água Mineral sofrem por falta de segurança

Os assaltos ocorrem a qualquer hora do dia e da noite, e muitos trabalham atrás de grades para evitar assaltos

Teresina-PI, outubro de 2012 | N. 02

Comerciantes trabalham atrás de grades na tentativa de evitar os assaltos. Seu Antônio Brito (esquerda) já foi assaltado 13 vezes e Dona Marcela (direita) pedeu um filho por conta da violência.

A ação dos assaltantes já faz par-te da rotina de alguns moradores do bairro Água Mineral. Uma realida-de fácil de se notar ao caminhar por suas ruas, onde quase todos os comer-ciantes atendem aos clientes detrás de grades de proteção, às vezes passando mercadorias e recebendo o dinheiro através de portinholas. É o caso do comerciante Antônio dos Santos, que após ser assaltado, há cerca de 10 anos, colocou grades em seu comércio. Des-de então ele não sofreu nenhum assal-to, mas nem todos os comerciantes do bairro tiveram a mesma sorte.

Antônio Brito, 51 anos, já teve seu comércio assaltado 13 vezes, sendo que três delas ocorreram apenas no mês de julho. Morador do Água Mi-neral há 31 anos, ele não acredita que as coisas possam ser diferentes e depo-sita sua segurança apenas na fé. “Pra bandido não tem jeito não, porque as leis só protegem bandidos. Quem se meter com bandido vai morrer, poli-cial não empata ninguém de morrer. E confiar em quem? Só em Deus.”, de-sabafa. Seu Antônio não chegou a ser machucado durante os assaltos, mas algumas experiências o deixaram alar-mado. “A vez mais ruim que eu achei

do com seis tiros. “Meu filho morreu com 27 anos. Ele morreu porque ele era do mundo da droga”.

Além dos assaltos aos comércios, o sargento Morais, da 3ª Companhia do 9º Batalhão da Polícia Militar, afirma que muitos estudantes e caminhantes também são vítimas de assalto na re-gião. A violência não se restringe às ruas, sendo a violência doméstica a principal ocorrência registrada.

O sargento diz ainda que a Compa-nhia conta apenas com duas viaturas para os bairros Água Mineral e Riso-leta, um efetivo reduzido para uma grande demanda.

No entanto, é importante ressaltar que a melhoria do policiamento do bairro, que deve ser cobrada, não é a única medida necessária à diminuição da violência. A desigualdade social e econômica, a falta de investimentos na educação, do incentivo ao esporte e de acesso ao lazer são realidades que devem ser mudadas para que a violên-cia possa ser diminuída. É responsa-bilidade do poder público, e dever de todo morador lutar por isso.

Fotos: Luana Furtado

Por Tertuliano Filho

“E confiar em quem? Só

em Deus.”

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Drogas: ex-usuários mostram que um outro fim é possível

Teresina-PI, outubro de 2012 | N. 024

O “Problema das drogas” mesmo sendo assunto comum aos nossos ou-vidos, nem sempre é posto ao devido valor ou a devida gravidade. Só nos importamos, realmente, quando essa realidade nos atinge, seja por alguém próximo, seja com a aproximação com nossas casas. Devemos ficar atentos. No bairro Água Mineral mesmo, já fica aparente a facilidade com que se conseguem certos tipos de drogas, se-guindo uma realidade tanto estadual, quanto nacional. Mas nem sempre foi assim.

Com ajuda de alguns entrevista-dos, fomos capazes de compreender o que ocorria na Vila Cristalina e Água Mineral algumas décadas atrás, guiando para a situação que vemos hoje. No passado, reinavam as “Guer-ras de Gangues”, o bairro era refém da violência e da imposição de poder. Maurício*, morador do bairro há mais de 10 anos, explica que a motivação desses embates, ao contrário do que se possa imaginar, não era o tráfi-co de drogas, mas sim, uma fome de obter respeito na comunidade. Eram cerca de 50 gangues que disputavam o respeito e o espaço na região. Mui-

tas crianças e adolescentes passaram a fazer parte des-se universo, porque temiam represálias dos membros das gangues rivais.

Os jovens se sentiam en-curralados e sem alternativa, no caso de Maurício, ele era perseguido e espancado na escola. Entre 11 e 16 anos em média, uniam-se às gan-gues sem saber a dimensão de suas escolhas, seduzidos pelo poder de segurar uma arma, um desprendimento do valor de suas próprias vi-das. Quanto à polícia, sabe--se que, incapaz de deter os conflitos, causava proposi-talmente, a discórdia entre as gangues rivais. Dentro desse contexto, já havia a facilida-de de conseguir drogas, ini-ciando um ciclo vicioso de consumo dessas substancias.

Não existem dados de-talhados recentes da quan-tidade total de usuários de drogas existentes no país e

isso dificulta o combate à comercia-lização e o tratamento de viciados. No Brasil, os dados que se têm são com relação às apreen-sões feitas pela Polícia Federal que triplicaram de 2004 para cá. Segundo o Relatório

Mundial sobre Drogas publicado este ano, percebeu-se um aumento no con-sumo de cocaína no Brasil e em outros países da América do Sul.

De acordo com informações da Delegacia de Prevenção e Repressão a Entorpecentes, o comércio de dro-gas ilícitas no Piauí aumentou cerca de 40% em relação ao ano de 2010. As drogas mais comercializadas no Estado são a maconha e o crack. No bairro Água Mineral e na Vila Crista-lina o uso desses entorpecentes é bas-tante evidente. Os usuários tem muita facilidade de encontrar vários tipos de drogas na região. “A gente vê eles usando aqui em frente todos os dias. Eles não estão mais se importando não”, disse uma moradora do bairro *Para preservar a identidade dos entrevistados utilzou-se nomes fictícios.

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Drogas: ex-usuários mostram que um outro fim é possível5Teresina-PI, outubro de 2012 | N. 02

que prefere não ser identificada.Basta chegar à Praça do Buenos Aires que logo se descobre com quem comprar. “Aquilo virou uma Cracolândia”, diz um morador. E segundo depoimen-tos, a presença da polícia ali continua sem fazer grande efeito em relação ao consumo de drogas e venda, apesar de os moradores considerarem im-portante a atuação do Ronda Cidadão pelas ruas, no que diz respeito a dimi-nuição da violência.

A ajuda da família é um dos pon-tos primordiais da saída das drogas, “Quando chegava em casa fedendo, ainda louco da droga, minha mãe deitava comigo e cuidava, isso me fez pensar demais”, diz um morador do bairro e ex-usuário de crack. A fé

e principalmente a conversa devem ser valorizadas, como aliados da recuperação. “Já consegui... Fiz vários cur-sos, estou esperando ser chamado pra trabalhar, fiz minha casa, querem assinar minha carteira, a confiança que eu tinha perdido, estou reconquistando. Entrar na casa de pessoas que nunca pensei que poderia entrar, hoje já deixam, eu era muito malandro, tu pensa que iam me deixar entrar na tua casa? Eu era perdido. E eu digo que pra quem quer entrar, é só uma fase, depois de um ano os caras querendo tua cabeça, tu se arrepende mesmo...”, depoimento de Maurício*, ex-usuário de drogas e ex-integrante de gangue.

Outros de nossos entre-vistados, Eduardo* e Feli-pe* ambos ex-usuários de drogas, moradores do bair-ro, concordam que muito

da situação que se vê hoje, recai na ociosidade, a falta de alguma ativi-

dade para fazer nas horas livres. “Ás vezes, o cara, passa o dia todo em casa pensando besteira e acaba indo atrás das drogas, se tivesse esporte, acredito muito no esporte, duvido se neguim cansado ia atrás de problema” diz Fe-lipe, 19 anos, usuário desde os 13 anos de idade. É nosso dever lutar por mu-danças, exigir praças com quadras, in-centivar a prática de esportes, projetos comunitários, cursos de inglês, dança, teatro e instrumentos musicais, além de formar grupos de debates, incen-tivo a leitura. Claro, que o problema vai além, mas pequenos atos e novas posturas podem iniciar uma contra proposta às drogas.

Por Aline Rocha, Isolda Benício e Priscila Florêncio

Fotos ilustrativas - Google imagens

VOCÊ DEVERIA SABER!!!

Uma pesquisa feita em maio de 2011 pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas (CEBRID) com 8.500 entrevistados, mostrou que 19,4% da população entrevistada já fez uso de drogas ilícitas pelo menos uma vez na vida.

Dentre essas drogas a mais utilizada foi a maconha (6,9%). A re-gião Nordeste ficou com o maior percentual de pessoas entrevista-das que consumiram drogas alguma vez na vida.

Com relação aos dependentes, pode-se constatar que a região nor-deste possui o maior número de dependetes alcoólicos (16,9%) do país.

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Teresina-PI, outubro de 2012 | N. 026

Bairro Água Mineral tem maior foco de hanseníase e tuberculose de Teresina

O bairro Água Mineral tem a maior quantidade de casos de hanse-níase e tuberculose de Teresina, apesar de já haver cura para essas doenças. Uma das razões é a resistência ao tra-tamento.

Segundo Antonia Lopes, que tra-balha no Centro de Saúde Francisca Trindade, as pessoas de baixa renda não aderem ao tratamento porque é demorado e elas querem uma cura rá-pida. Outro motivo é a vergonha, pois logo que começa o tratamento da han-seníase, a doença aflora na pele, fican-do mais perceptível.

Antigamente as pessoas que con-traiam hanseníase e tuberculose eram isoladas da população para evitar o contágio. Muitos doentes eram leva-dos ao bairro Água Mineral por ficar

perto do rio, onde havia uma água de boa qualidade e a possibilidade de realizar trabalhos na roça, já que não havia ajuda do governo.

Hoje, a realidade é bem diferente. Antonia Lopes afirma que no Centro de Saúde são ministradas palestras para conscientizar a população e res-salta que o tratamento é sigiloso. “A gente pontua nas palestras que não é vergonha ter tuberculose ou hanse-níase, a única coisa que a pessoa tem que fazer é buscar tratamento, que

Hanseníase Tuberculose* Manchas na pele de cor parda,

esbranquiçadas ou eritematosas, às vezes pouco visíveis e com limites imprecisos;

* Tosse por mais de duas semanas com produção de catarro;

* Alteração da temperatura no local afetado pelas manchas;

* Febre, sudorese, cansaço;

* Dormência em algumas regiões do corpo causada pelo comprometimento dos nervos. A perda da sensibilidade

local pode levar a feridas e à perda dos dedos ou de outras partes do organismo;

* Dor no peito, falta de apetite e emagrecimento;

* Aparecimento de caroços ou incha-ço nas partes mais frias do corpo, como

orelhas, mãos e cotovelos;

* Nos casos mais graves pode haver escarros com sangue.

Por Ayla Esmero

uma vez iniciado, evita o contágio de outras pessoas”, diz.

Modos de TransmissãoA hanseníase e a tuberculose são

transmitidas pelas vias respiratórias, como por exemplo, tosse, espirros e saliva. Seguindo o tratamento correta-mente, o paciente não só se cura mais rápido, como evita o contágio de ou-tras pesssoas. Ao identificar os sinto-mas abaixo, procure imediamente um posto de saúde.

Falta medicamentos e atendimento odontológico no Centro de Saúde São muitas as reivindicações dos

moradores do bairro Água Mineral, duas delas são a falta de medicamen-tos controlados e a suspensão de al-guns tratamentos odontoló-gicos como as restaurações.

Dona Cláudia Rodrigues é uma das prejudicadas com a falta de medicamentos. Ela diz que os medicamentos controlados demoram de um a dois meses para serem recebidos, e ainda reclama da marcação de consultas para médico psiquiatra.

Segundo a administrado-ra do posto de saúde, Marta Cristina, não existe a falta de medicação, o que há é o atraso na entrega e o grande número de pessoas que usam remédios contro-

lados. Essa entrega fica por conta da Fundação Municipal de Saúde, e cada zona da cidade tem apenas um dia da semana para fazerem seus pedidos.

é a falta de materiais odontológicos. Segundo a dentista Antônia Lopes, há mais de um ano o posto não tem a caneta de baixa, usada para fazer pro-

cedimentos como a restaura-ção. E há mais de três meses falta o amalgamador usado para fazer manipulações nos tratamentos dentários.

A dentista mostrou ainda a requisição enviada a Fun-dação Municipal de Saúde para o conserto dos mate-riais. A solicitação foi feita no dia 17 de julho de 2009 e até o da entrevista, 13 de se-tembro de 2012, o material ainda não havia chegado ao Centro de Saúde Francisca

Trindade. Por Edilberto Marques

Falhas no Centro de Saúde prejudicam tratamento de Claúdia Rodrigues

Outro problema enfrentado por quem necessita do Centro de Saúde

Foto: Marcela Pachêco

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Page 7: 2ª Edição - Mineral Notícias

Teresina-PI, outubro de 2012 | N. 02 7Alunos reclamam da falta de estrutura para prática esportiva na escola

A prática de exercícios físicos, aliada a uma alimentação saudável, é essencial para uma boa qualidade de vida. Um dos grandes responsáveis por conscientizar crianças e adoles-centes sobre o benefício proporciona-do pelo esporte é a escola que, através da disciplina de educação física, tem a possibilidade de ensinar isso na teoria e na prática.

Na Unidade Escolar Raimundo Wall Ferraz, a oferta de várias opções para a prática esportiva constitui uma das estratégias para incentivar os jo-vens na prática da educação física. A escola oferece futsal, voleibol, hande-bol, entre outros.

A importância dada aos esportes traz bons resultados para a institui-ção que já venceu por quatro vezes os Jogos Interescolares do Estado e foi, inclusive, representante do Piauí em João Pessoa na Paraíba. Por esse moti-vo, segundo o diretor adjunto da esco-la, Paulo Lacerda, os alunos da Unida-de Escolar estão sempre cobrando da diretoria a realização de jogos amis-tosos entre as classes. Ele afirma que a receptividade deles é muito boa em relação à prática esportiva.

Ainda de acordo com ele, a Escola Wall Ferraz possui uma parceria com o governo do Estado através do proje-to Saúde da Família que faz o acompa-nhamento físico e nutricional dos alu-nos. A equipe do projeto, composta de

médicos, nutricionistas e educadores físicos, avalia o Índice de Massa Cor-poral (IMC) das crianças e adolescen-tes e, com isso, pode prevenir contra doenças como obesidade, problemas cardiovasculares e outras.

Mas o que se percebe através de depoimentos de alunos é que isso não vem acontecendo. O próprio presi-dente do Grêmio Estudantil da escola, Alexandre Santos, chegou a afirmar que não tem sequer conhecimento de nenhum acompanhamento físico den-tro da instituição. A prática esportiva acontece sim e com bastante entusias-mo por parte dos alunos, mas eles di-zem não haver nenhum programa do gênero sendo desenvolvido na escola.

Além disso, a estrutura física da quadra de esportes ainda não é total-mente adequada à prática esportiva. Um das reclamações mais frequentes diz respeito ao piso e às cercas e arames que fazem a proteção do local. Muitas delas estão quebradas e isso acaba por danificar o material usado nas aulas, principalmente as bolas. De acordo com o diretor adjunto, Paulo Lacerda, esse material é comprado, existe, mas não pode ser bem conservado com a atual situação da quadra esportiva da escola. Ele acrescenta ainda que não há uma verba específica para a Educa-ção Física escolar destinada a reparos e ajustes na estrutura física.

Por Dalilla Campelo e Maria Clara Êstrêla

Mesmo sem infraetrutura alunos mantém atividades físicas

Foto: Suzana Dâmaris

Fotos: Suzana Dâmaris

A falta de manutenção é visível nas instalações da escola

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Teresina-PI, outubro de 2012 | N. 028O recomeço da vida de um morador do Água Mineral

Ao adentrar na residência de Fran-cisco Ferreira, o Filho, percebemos que ela tem uma característica mar-cante: a casa não é plana. Logo no começo, tem um pequeno lance de escadas que leva ao outro andar da moradia. Isso seria normal na casa de qualquer pessoa, mas na casa de Filho, é, no mínimo, surpreendente.

A história desse morador do Bairro Água Mineral surpreende tanto quan-to sua casa. Filho descobriu um câncer no tornozelo em 2003, quando mora-va em São Paulo e trabalhava na área de segurança patrimonial. Hoje é ca-sado e tem 37 anos, vive normalmente e realiza um trabalho social através da Igreja Evangélica na qual se congrega.

Depois de ter passado por várias quimioterapias que não tiveram su-cesso, o câncer do tornozelo trouxe uma consequência bastante notável na vida de Filho: a perda da sua per-na direita por conta de uma crise de

dor súbita. “A dor era como se eu tivesse batido a canela na quina dessa escada. Só que não passa-va de jeito nenhum. Quando eu cheguei no médico e ele me disse que precisava amputar, eu fiquei foi feliz, só pra ver como essa dor tava grande”, afirma. Ao contrário de outros amputados, que geral-mente passam bastante tempo na UTI, Filho, depois de três dias de operado, foi logo pra sua casa em São Paulo.

Mas não parou por aí. Um tempo depois, descobriu que o câncer tinha se espalhado e che-gado ao seu fígado. A cicatriz que atravessa toda a sua barriga nos prova que a cirurgia foi bastante agressiva. Os médicos operaram na perspectiva de tirar-lhe a parte infectada do órgão, no entanto, no ato da cirurgia, descobriram que

ele já estava inteiramente contamina-do. Mesmo tendo sido aconselhado pelos médicos e por amigos, ele deci-diu não continuar mais o tratamento ofertado pela medicina. “Muita gente me criticou, dizendo que eu tava de-sistindo da minha vida, que não era

pra eu fazer isso. Mas eu preferi ir pra casa, porque, se fosse pra eu morrer, pelo menos eu tinha aproveitado com a minha família.” Mesmo sem o trata-

mento adequado, hoje, nove anos de-pois, Filho possui uma vida saudável. “Eu não estava desistindo da vida, eu coloquei a minha vida nas mãos de Deus.”

Atualmente é aposentado e vive com a esposa numa casa que não é o ideal pras suas novas necessidades. No entanto, ele se adaptou às mudanças e por isso não vê dificuldades em prati-camente escalar o lance de escadas do começo da sua casa. Afirma ter pro-blemas para sair, já que muitas ruas do bairro não são asfaltadas e os ônibus demoram bastante e, assim, acaba se valendo de caronas para se locomover. O trabalho social que realiza é a visita na casa de pessoas que estão passan-do por dificuldades iguais às que ele passou: alguma doença grave ou a perda de alguma parte do corpo. “O mais importante é a parte psicológica da pessoa. É outro mundo, outro uni-verso, outra situação. Você tem que se readaptar. Só quem sabe o que é isso é quem já passou por essa situação, por isso que é importante ‘pras’ pessoas que alguém que sabe o que é, vá lá e dê uma palavra de conforto, de apoio. Muitas vezes, a pessoa só quer ser ou-vida.”

Francisco Ferreira, o Filho, nove anos depois do câncer, em sua residência.

Por Jamila Carvalho

Foto: Ayla Esmero

“Eu preferi ir

pra casa, porque se fosse pra eu

morrer, pelo menos eu tinha aproveitado com

a minha família.”

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“Você tem que se

readaptar. Só quem sabe o que é isso é

quem já passou por essa situação.”