23
1 UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU ARQUITETURA E URBANISMO ESTUDO COMPARATIVO ENTRE O EDIFÍCIO LOUVEIRA E EDIFÍCIOS COMERCIAIS PRODUZIDOS ATUALMENTE 2.º AARM D1 Adriana Dalbelo Ariel Santa Rosa Cynthia Hirano Denis Batista Jéssica Malheiro Jéssica Vieira Joas Ferreira Professor Orientador: Fernando Guillermo Vázquez Ramos SÃO PAULO NOVEMBRO DE 2011

2aarmd1 - Louveira - Nov

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: 2aarmd1 - Louveira - Nov

1

UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU

ARQUITETURA E URBANISMO

ESTUDO COMPARATIVO ENTRE

O EDIFÍCIO LOUVEIRA

E EDIFÍCIOS COMERCIAIS

PRODUZIDOS ATUALMENTE

2.º AARM D1

Adriana Dalbelo

Ariel Santa Rosa

Cynthia Hirano

Denis Batista

Jéssica Malheiro

Jéssica Vieira

Joas Ferreira

Professor Orientador:

Fernando Guillermo Vázquez Ramos

SÃO PAULO

NOVEMBRO DE 2011

Page 2: 2aarmd1 - Louveira - Nov

2

Sumário

1. Biografia do arquiteto Página 3

2. Edifício Louveira Página 4

2.1. Ficha Técnica

Página 4

2.2. Introdução

Página 4

2.3. Implantação Página 5

2.4. Pavimento tipo Página 7

2.5. Sistema estrutural e materiais Página 7

2.6. Circulação vertical, horizontal e acessos Página 8

2.7. Insolação e ventilação Página 10

2.8. Elementos diferenciais Página 11

2.9. Fachadas Página 15

3. Tabela comparativa

Página 16

4. Análise comparativa Página 17

5. Conclusão Página 22

6. Referencias bibliográficas Página 23

Page 3: 2aarmd1 - Louveira - Nov

3

1. Biografia do Arquiteto

João Batista Vilanova Artigas (Curitiba PR 1915 - São Paulo SP 1985). Arquiteto, engenheiro, urbanista,

professor. Forma-se engenheiro-arquiteto pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo - Poli/USP,

em 1937, após ter sido estagiário na construtora Bratke e Botti. Abre uma empresa de projeto e construção

com Duílio Marone a Artigas & Marone Engenheiros, ao mesmo tempo que participa de exposições da Família

Artística Paulista - FAP. Em 1944, afasta-se da construtora e decide montar escritório próprio, ao lado do

calculista Carlos Cascaldi, e, engajado na política de regulamentação da profissão, funda, com outros colegas,

a representação do Instituto dos Arquitetos do Brasil - IAB/SP em São Paulo. Filia-se ao Partido Comunista

Brasileiro - PCB, em 1945.

Recebe, em 1947, uma bolsa de estudo da Fundação Guggenheim, que lhe permite viajar por 13 meses

pelos Estados Unidos. Participa, em 1948, da criação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da

Universidade de São Paulo - FAU/USP, onde passa a lecionar. Com o acirramento da Guerra Fria, radicaliza o

tom ideológico do seu discurso, particularmente nos textos que escreve para a revista marxista Fundamentos,

ligada ao PCB Le Corbusier e o Imperialismo, 1951, e Os Caminhos da Arquitetura Moderna, 1952. Viaja para

a União Soviética, desencantando-se com a arte e arquitetura do Realismo Socialista, e mergulhando em uma

crise profissional, que se estende até meados dos anos 1950, quando projeta as residências Olga Baeta, 1956,

Rubem de Mendonça ("casa dos triângulos"), 1958, e a segunda residência Taques Bittencourt, 1959, com

pórticos de concreto armado. Inicia uma série de projetos escolares para o governo do Estado de São Paulo,

em que se destacam os ginásios de Itanhaém e de Guarulhos. Esses projetos, feitos na administração

Carvalho Pinto (1910 - 1987), marcam o início das relações entre arquitetura moderna e o poder público em

São Paulo, até então quase inexistentes.

Em 1961, realiza uma seqüência notável de projetos que definem as linhas mestras do que se chama

"escola paulista": o Anhembi Tênis Clube, a Garagem de Barcos do Iate Clube Santa Paula, e o edifício da

FAU/USP, na Cidade Universitária, todos em São Paulo. No ano seguinte, propõe inovações didáticas

marcantes na "reforma do ensino" da FAU/USP, definindo critérios curriculares que seriam adotados por muitas

escolas de arquitetura. Após o golpe militar de 1964, é preso e, logo depois, exilado no Uruguai, de onde

regressa e passa a viver na clandestinidade. Retorna à FAU/USP em 1967, e profere uma aula inaugural em

rejeição à luta armada, intitulada O Desenho, em que defende o projeto como atitude de resistência à

opressão. Projeta em 1968, com Paulo Mendes da Rocha (1928) e Fábio Penteado (1929), o Conjunto

Habitacional Zezinho Magalhães Prado - Parque Cecap, em Guarulhos, para 50 mil moradores.

Após o Ato Institucional nº 5 - AI-5, em 1969, é afastado mais uma vez da FAU/USP, à qual retorna apenas

com a anistia, no fim de 1979, na condição de auxiliar de ensino. Reassume em 1984 sua posição anterior à

cassação, após submeter-se a um concurso para professor titular, cujas argüições foram publicadas com o

título de A Função Social do Arquiteto.1 É um dos mais importantes arquitetos brasileiros, tendo recebido da

Union Internationale des Architectes - UIA os prêmios Jean Tschumi, 1972, por sua contribuição ao ensino de

arquitetura, e Auguste Perret, 1985, por sua obra construída.

Page 4: 2aarmd1 - Louveira - Nov

4

2. Edifício Louveira

2.1. Ficha Técnica

• Localização: Rua Piauí, 1081

• Entre a Rua Dr. José de Quiroz e Rua Aracaju

• Higienópolis, São Paulo, SP, Brasil

• Arquitetura: Arquitetos João Batista Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi

• Data: 1946

• Construção: Perez de Moraes & Barros Leite Eng. E Constr.

• Contratante: Antonio Junqueira

• Terreno: 1575,00 m² - 35x45 m

• Taxa de ocupação: 44% - 692,00 m²

• Coeficiente de aproveitamento: 3,4 – 5400,00 m² de 4rea construída

• Tipo do edifício: blocos laminares isolados

• Categoria de uso: Habitação multifamiliar

• Orientação: NE/SO

• Estacionamento: Pátio posterior

• Número de unidades: 30 Aptos.

• Unidades: Dois apartamentos por andar de 160,00m² cada.

• Tombamento: 1992

• Órgão de tomabamento: Condephaat

2.2. Introdução

No início do século XX, a cidade de São Paulo passou por intenso crescimento e industrialização, o que

acarretou em uma reestruturação urbana. Entre as décadas de 30 e 40, difundiu-se inicialmente no centro da

cidade paulistana o processo de verticalização, que inaugurava novos sistemas construtivos e nova linguagem

tipológica na arquitetura paulistana, além das propostas modernistas que vingavam na arquitetura brasileira.

(GALESI & C. M. CAMPOS,2003)

A expansão vertical no centro e posteriormente no centro expandido da cidade de São Paulo foi

possibilitada devido a conjunto de normas e emendas que garantiam melhor qualidade dos edifícios em relação

a uma implantação no terreno que permitisse melhor insolação e ventilação nos apartamentos. (GALESI & C.

M. CAMPOS,2003)

“(...) a arquitetura racional permitia maximizar o aproveitamento do solo e ao mesmo tempo prover espaços

de qualidade, trazendo ainda uma estética mais afinada com as aspirações de modernidade urbana, industrial

e metropolitana que legitimavam o recurso à moradia em altura.”

(GALESI & C. M. CAMPOS,2003)

Após a década de 30, com o desenvolvimento de técnicas construtivas e dos elevadores, os edifícios

residenciais se tornaram a solução mais viável para habitação coletiva.

Foi em meio a esse contexto que João Batista Vilanova Artigas projeta o Edifício Louveira, no final da

década de 40, no bairro da zona sul paulistana, Higienópolis.

Page 5: 2aarmd1 - Louveira - Nov

5

Em 1992 o edifício foi tombado pela CONDEPHAAT (Conselho do Patrimônio Histórico, Artístico e

Arquitetônico de São Paulo) por ser considerado um modelo da primeira fase da arquitetura moderna

paulistana.

2.3. Implantação

Imagem 1 (SILVA, 2009)

O Edifício Louveira é composto por dois blocos laminares paralelos implantados em um terreno de esquina,

ilustrado na Imagem 1

Ao criar dois blocos independentes e implantá-los paralelamente no terreno, Vilanova Artigas quebra com a

tipologia mais utilizada na época e que provavelmente caberia a este programa, que seria a implantação de um

monobloco em “L”.

A fim de proporcionar melhor qualidade de insolação e ventilação a todos os apartamentos Vilanova Artigas

os implanta livremente no terreno, isolando-os.

Distando cerca de vinte metros um bloco do outro, criou uma praça interna no projeto que se relaciona

diretamente com a Praça Vilaboim localizada em frente ao edifício na Rua Aracaju. Esse espaço foi utilizado

parte como área de estacionamento e parte como jardim, onde está implantada uma rampa sinuosa que

interliga os dois blocos e estes, com a rua.

Dessa maneira, o projeto de Vilanova Artigas assume fundamental importância por conseguir relacionar o

espaço público com o privado, sendo este um dos projetos pioneiros a tomar em consideração aspectos

urbanísticos e a relação com o entorno urbano ao se projetar o espaço privado. Além disso, o projeto original

não previa muros no limite do terreno o que reforça ainda mais esta relação.

Apesar de projetar dois volumes com possibilidade de quatro vistas, Artigas utiliza apenas duas delas em

cada bloco, cegando exatamente as laterais direcionadas a Praça Villaboim, o que valoriza ainda mais a praça

interna e o eixo/relação formado com a praça em frente.

Os acessos de pedestres estão separados do acesso de automóveis e funcionam quase como continuação

da calçada, sendo assim, acessos livres.

Page 6: 2aarmd1 - Louveira - Nov

6

Imagem 2. Estudo de implantação, acessos e relação com o entorno

(Desenho por Cynthia Hirano e Jéssica Vieira)

Imagem 3. Estudo do pavimento térreo e acessos (Desenho por Cynthia Hirano e Jéssica Vieira)

Page 7: 2aarmd1 - Louveira - Nov

7

2.4. Pavimento tipo

Referente â hierarquização dos espaços a arquitetura moderna aboliu a hierarquização entre eles. Na

composição entre espaços realizados pela arquitetura clássica era possível identificar o espaço principal as

vezes por questões de proporção, forma, cânones artísticos ou atendimento a uma tipologia. Na arquitetura

moderna não existia espaços principais porque muitos dos conceitos artísticos da Beux- Arts foram negados

como a proporção, simetria e a tipologia. Cada arquiteto poderia criar um tipo e os espaços acabaram se

aproximando por similaridades de função e com a retirada da parede (elemento arquitetônico importante para

delimitar um espaço e torna-lo grande ou pequeno em relação a outro) os espaços passaram a ser fluidos

impossibilitando qualquer hierarquia entre eles.

No caso do edifício Louveira, Vilanova Artigas não utiliza o conceito de espaços fluidos e a planta é ainda

muito convencional, pois o edifício marca a sua transição entre a influência de Frank Lyord Wright para uma

composição moderna mais pessoal.

Imagem 4. Planta com estudo de mobiliamento do apartamento tipo (Desenho por Jéssica Malheiro)

2.5. Sistema estrutural e materiais

Nesse projeto de Vilanova Artigas, são colocados novas soluções projetuais decorrentes do pensamento

modernista e do desenvolvimento tecnológico de sistemas construtivos. Sobre este aspecto é importante

ressaltar o uso do concreto armado na construção do edifício e das fachadas envidraçadas como inovações

tecnológicas, além da modulação em que foi projetado todo o edifício que permitiu economia de tempo e capital

no desenvolvimento do projeto. Os edifícios contam também com elevadores, elementos fundamentais que

possibilitaram o desenvolvimento dos projetos de edifícios em altura.

Page 8: 2aarmd1 - Louveira - Nov

8

Imagem 5. Corte com indicação dos elementos estruturais (Desenho por Jéssica Vieira)

2.6. Circulação vertical, horizontal e acessos

Os acessos ao edifício Louveira, já citados anteriormente e ilustrados na Imagem 3, são livres e acontecem

como continuação do espaço público, integrando-o com o projeto.

A circulação no edifício ocorre de três maneiras: rampa, escadas e elevadores. A rampa está implantada no

jardim e serve como elemento de ligação entre os blocos, o estacionamento e a rua. As escadas e os

elevadores são os meios de locomoção interna, formando o sistema de circulação vertical do edifício.

O Edifício Louveira, como dito anteriormente, foi projetado no período moderno da arquitetura brasileira, um

período de mudanças ideológicas que transformou – e alguns aspectos mantiveram seguindo as concepções

da Beux- Art – diversos fatores da arquitetura.

A transformação da circulação entre os ambientes tanto externos como os internos dos apartamentos

proposto pelo movimento moderno resulta na exclusão do corredor, muito utilizado na arquitetura clássica e

anterior ao estilo moderno para promover a ligação entre os espaços e criar ambientes mais amplos e

integrados.

No período moderno o corredor foi excluído, pois era entendido como um espaço desnecessário no projeto.

Em alguns temas da arquitetura os espaços deveriam ser mínimos, pois assim atendiam a lógica industrial que

reservava as maquinas um espaço mínimo em que cabia apenas o que era realmente necessário.

Page 9: 2aarmd1 - Louveira - Nov

9

Encontramos esta característica na planta do edifício Louveira ao percebermos a aproximação entre os

espaços o que exclui a necessidade de um corredor. Nos edifícios contemporâneos as soluções atendem à

interesses comerciais e não a propostas que visam responder a novas necessidades humanas.

Imagem 6. Estudo de Circulação e Acessos do Pavimento Tipo (Desenho por Cynthia Hirano e Jéssica Viera)

Page 10: 2aarmd1 - Louveira - Nov

10

Imagem 7. Zoneamento do Pavimento Tipo (Desenho por Cynthia Hirano)

2.7. Insolação e ventilação

O projeto do Edifício Louveira permite excelente insolação e ventilação nas salas, dormitórios e varandas,

orientados para o Norte, ou seja, valorizam-se em relação a esses quesitos as áreas sociais dos apartamentos.

As faces orientadas para o Sul (pátio interno e fundos do terreno), abrigam as áreas de serviços do

apartamento, como os banheiros, as cozinhas e as circulações (corredores).

A praça interna do projeto além de ser um elemento de integração com o entorno urbano, auxilia para essas

condições em todos os ambientes dos dois blocos.

“Artigas fez da insolação e ventilação no seu projeto um diferencial, pois na época as normas começaram a

exigir que edifícios residenciais construídos em ruas residenciais privilegiadas tivessem recuos frontais e áreas

verdes livres no terreno, a fim de garantir uma ocupação de qualidade e inovação arquitetônica” (GALESI & C.

M. CAMPOS,2003)

Page 11: 2aarmd1 - Louveira - Nov

11

Imagem 8. Estudo de insolação e orientação solar (Desenho por Jéssica Malheiro)

2.8. Elementos Diferenciais

Nesse projeto de Vilanova Artigas há pontos de interesse diferenciados como a rampa externa de

interligação entre os blocos e a rua, as empenas cegas adotadas, a modulação construtiva com uso de pilotis e

a praça interna.

Quanto a praça interna, além de esta proporcionar melhor qualidade de ventilação e iluminação a ambos os

blocos, ela possui forte integração com o entorno urbano e principalmente, com a Praça Villaboim localizada

em frente ao edifício. Parece que no projeto de Artigas, essa praça interna ajardinada tem um papel central,

pois, serve de local de estar e circulação tanto de pedestres como de automóveis. Além de estabelecer

continuidade visual com o espaço exterior, tanto em termos volumétricos como no que se refere à presença de

vegetação, o jardim integra-se com os térreos em pilotis que também diferencia o projeto. Os mesmo

auxiliaram em uma implantação mais suave no terreno aclive, evitando maior movimento de terra.

A rampa sinuosa implantada nessa praça é um elemento estruturante de expressão estética utilizada pelo

arquiteto com o intuito de interligar os blocos e uni-los com o espaço público. Por ser um elemento suave e de

forma orgânica, esta contrasta com os dois volumes dos blocos dando uma quebra na linguagem racional e

retilínea proposta.

Page 12: 2aarmd1 - Louveira - Nov

12

“A peça, de desenho sinuoso, une os dois blocos de apartamentos implantados em cotas diferentes do

terreno e flui passeando pelo jardim, extensão natural da praça ao lado.” (RABELO).

A árvore existente no eixo da curva da rampa foi colocada propositalmente, pois forma uma composição

com o elemento, além de sombrear o espaço de circulação.

Para reforçar a integração criada entre as praças, Vilanova Artigas coloca empenas cegas nas laterais do

edifício, sendo duas delas voltadas para a praça em frente, destacando ainda mais a praça interna criada entre

os blocos.

Ao conceber o projeto, Artigas segue rigorosamente uma modulação de pilares, colocando no pavimento

térreo pilotis que auxiliam na implantação dos edifícios. É interessante notar que a implantação da escada de

acesso pela Rua Piaui independe da modulação de pilotis existente e, como resultado, a escada atravessa um

dos pilotis.

Imagem 9. Rampa de acesso da praça central (Fotografia por Pedro Kok)

Page 13: 2aarmd1 - Louveira - Nov

13

Imagem 10. Empenas Cegas (Fotografia por Pedro Kok)

Page 14: 2aarmd1 - Louveira - Nov

14

Imagem 11. Modulação de Pilotis (Fotografia por Pedro Kok)

Imagem 12. Detalhe da escada de acesso na Rua Piaui (Fotografia por Rico Lima)

Page 15: 2aarmd1 - Louveira - Nov

15

2.9. Fachadas

No edifício Louveira, a disposição dos cômodos fez com que a composição das fachadas tivesse

tratamentos diferenciados. As faces voltadas para o Norte possuem um desenho alternado entre faixas

horizontais criadas pelos frisos aparentes das lajes e pelos panos dos caixilhos. Essas fachadas são divididas

em três partes: uma central, composta por um pano de vidro, onde ficam as salas e os terraços, e duas faixas

formadas pelas janelas com venezianas dos dormitórios, cuja movimentação acontece verticalmente através de

contrapesos, recurso iniciado pelo próprio Vilanova Artigas em suas residências.

As faces orientadas para o Sul abrigam a cozinha e as circulações de serviços, o desnível causado entre os

halls de serviço e social trás movimento nesta fachada. A produção dos efeitos de saliências faz com que

mesmo as elevações menos “nobres” do edifício ganhem uma presença marcante, ao invés de serem tratadas

como empenas secundárias que não deveriam ser vistas, como costumava ocorrer na maioria dos prédios

residenciais da época.

Imagem 13. Estudo de Fachada (Desenho por Jéssica Malheiro)

Page 16: 2aarmd1 - Louveira - Nov

16

3. Tabela comparativa

Para melhor traçar uma descrição comparativa entre os edifícios analisados, foi desenvolvida a tabela abaixo.

Edifício Louveira

Arte Prime Residence

Red Tatuapé You, Metropolitan

Atmosphera

ÁREA DO TERRENO 1786 m² 8485,92 m² 6246 m² 3560 m² 58000 m² Nº DE EDIFÍCIOS 2 2 1 1 9 M²/APTO 150 A = 216

B = 163 A = 35 B = 50 C= 71 D=89

A = 42 B = 56 C = 31 D = 62 E = 95

A = 78 B = 131

Nº DE APTOS/ANDAR 2 A = 2 B = 4

- - A = 4 B = 4

Nº DE UNIDADES 30 162 - - - Nº DE PAVIMENTOS A = 7 B = 8 27 + Térreo +

2 subsolos 25 +

Cobertura 23 -

Nº DE PLANTAS TIPO 1 2 4 5 2 USO DO EDIFÍCIO Residencial Residencial Residencial Residencial

e Comercial Residencial

ÁREAS DE LAZER Não Sim Sim Sim Sim ESTACIONAMENTO Sim Sim Sim Sim Sim Nº DE VAGAS/APTO - A = 3

B = 2 A e B = 1 C e D = 2

1 A = 1 B = 2

ÁREAS VERDES Sim Sim Sim Sim Sim INTEGRAÇÃO COM O ENTORNO

Sim Não Não Não Não

AP. NO TÉRREO Sim Não Não Não Não AP. ÁREA DE ESTAR (M²)

35 A = 45,2 B = 28,5

- - A = 31,1 B = 44,4

AP. ÁREA DE SERVIÇO (EM M²)

15 A = 22,3 B= 18,3

- - A = 11 B = 13,8

AP. TERRAÇOS/VARANDAS (EM M²)

11 A = 30 B = 26

- - A = 5,7 B = 9,25

AP. Nº DE DORMITÓRIOS E ÁREA (EM M²)

3 dormitórios

(61 m²)

A = 4 suítes (38,8 m²)

B = 4 suítes (42,9 m²)

A e B = 1 C = 2 D = 3

A = 1 B = 2

A = 2 (19,2 m²)

B = 3 (35,9 m²)

AP. Nº DE BANHEIROS E ÁREA (EM M²)

2 (8,5 m²) A = 6 (20 m²) B = 6 (17,3

m²)

A e B = 1 C = 2 D = 2

A, B, C e D = 1

E = 3

A = 2 (6,8 m²) B = 4 (11,9

m²)

AP. ÁREA DE CIRCULAÇÃO INTERNA

8 m² A = 10 m² B = 18,7 m²

- - A = 5 m² B = 4 m²

CIRC. VERTICAL ESCADA

1/bloco 1/bloco - - 1/bloco

CIRC. VERTICAL ELEVADOR

2/bloco A= 3 B= 5

6 - A = 2 B = 2

Tabela 1. Comparativo entre os edifícios.

Page 17: 2aarmd1 - Louveira - Nov

17

4. Análise comparativa

Comparação entre o Edifício Louveira (São Paulo, 1949) e o Condomínio Atmosphera (Jundiai, 2011)

Imagem 14. Estudo de implantação do condomínio Atmosphera. (Desenho por Cynthia Hirano)

Com a comparação entre um edifício paradigmático de 1949, no caso nosso objeto de estudo, o Edifício

Louveira; e um edifício comercial de 2011 pode-se observar diferenças e semelhanças significativas em

relação ao partido, às áreas, e ao o que se valoriza e busca no projeto, por exemplo.

Para melhor visualização dos aspectos comparados em relação aos edifícios comerciais, utilizaremos os

croquis de estudo do Edifício Atmosphera, localizado em Jundiaí – SP.

O condomínio Atmosphera é composto por nove blocos de apartamentos residenciais implantados em um

terreno com cerca de 58.000 m².

Os blocos estão implantados nas laterais do terreno isoladamente, formando diversos espaços livres e, um

espaço enorme linear central no qual foram colocados equipamentos de lazer que subsidiem os moradores.

Essa configuração foi analisada na maioria dos edifícios comerciais atuais selecionados pelo grupo.

Em se tratando dos edifícios comerciais, portanto, observa-se uma implantação que visa à valorização dos

equipamentos internos já que estes ocupam a maior parte do terreno, além de melhores vistas. Como se pode

observar na Imagem 14, juntamente à Imagem 15, os apartamentos estão divididos em os que possuem uma

melhor vista para a praça interna ao condomínio e os que têm uma melhor insolação, com fachadas

direcionadas ao norte.

Ainda sobre os equipamentos instalados nos edifícios comerciais atuais, percebe-se que a intenção é suprir

algumas necessidades do morador sem que este tenha que se locomover para fora do condomínio, diminuindo

a relação do morador com a cidade, trazendo certa comodidade. Sendo esta uma resposta às novas

necessidades dos moradores que buscam edifícios residenciais com essas instalações para evitar alguns

Page 18: 2aarmd1 - Louveira - Nov

18

deslocamentos pela cidade, evitando aborrecimentos com o trânsito caótico, da cidade de São Paulo por

exemplo.

No Condomínio Atmosphere existem diversos equipamentos de lazer relacionados a atividades físicas e

esportes. Essa situação acontece em quase todos os novos empreendimentos. Além do motivo de

deslocamento, acredita-se que essa seja uma resposta a falta de investimentos em espaços públicos por toda

a cidade.

Essa configuração do espaço interno dos condomínios, como consequência dos partidos dos projetos,

proporciona uma relação com o entorno do edifício completamente distinta da acontecida no Edifício Louveira a

qual, já citada anteriormente, faz uma integração com espaço urbano, valorizando-o.

Assim, no Edifício Louveira, em que a praça central (em menor proporção) se integra com os blocos

formando uma praça ajardinada, os espaços livres e de lazer do condomínio Atmosphera se integram com os

blocos formando agradáveis espaços de estar para os moradores. No entanto, a fundamental diferença entre

os dois edifícios é exatamente a integração que estes possuem com o entorno urbano.

No caso do Edifício Louveira, o partido de Vilanova Artigas foi a implantação de dois blocos que se

interligassem com a praça em frente, criando um espaço semi-público. Já no caso do Condomínio Atmosphera,

não há preocupação em relacionar o condomínio com seu entorno, busca-se criar dentro do limite do terreno

todos os equipamentos necessários aos moradores.

Além disso, no projeto de Vilanova Artigas não havia a intenção de murar o limite do terreno o que

aumentou ainda mais a relação deste com a rua. No Condomínio Atmosphera, todo o limite do terreno é

murado.

Quanto ao meio de acesso de pedestres e automóveis, no projeto do Edifício Louveira há a separação

desses acessos. Para os pedestres, há duas possibilidades de acessar os dois blocos, pela rampa no jardim e

pela escada da Rua Piaui. Esses acessos são livres e ocorrem fluidamente pela calçada, quase como uma

continuação dela.

No Condomínio Atmosphera, no entanto, tanto o acesso de pedestres como o de automóveis acontecem

por uma única portaria sendo assim um acesso restrito e controlado. Porém, ao adentrar no condomínio, os

acessos aos edifícios são livres e a interligação entre eles é feita por um caminho sinuoso que passa por todos

os blocos, equipamentos de lazer e espaços de estar do condomínio. De certa forma, também se buscou assim

como no projeto de Vilanova Artigas relacionar todos os espaços projetados, no entanto, apenas dentro do

espaço particular sem relacioná-lo ao espaço público.

Quanto às plantas tipo dos apartamentos de ambos, graficamente mostrado no G1, observa-se que nas

duas plantas distintas (de 78m² e 131m²) do Edifício Atmosphera, há uma proporção existente na relação nas

áreas dos cômodos, tendo uma maior valorização nas áreas de estar, enquanto que no Edifício Louveira, essa

maior valorização encontra-se nos dormitórios.

Percebe-se que nos edifícios atuais como os do condomínio Atmosphera, a hierarquização dos espaços é

uma das estratégias de venda do mercado imobiliário. Nem sempre há uma preocupação com fatores

ergonômicos, mas se modifica a planta tipo, aumentando ou diminuindo alguns espaços com a finalidade de

variar o preço do imóvel.

Essa valorização do imóvel atualmente é representada nos edifícios comerciais através do tamanho da área

de estar e das varandas juntamente da quantidade dos banheiros, deixando bem claro que em grande parte

das vezes realmente é somente na quantidade de sanitários e não em suas qualidades internas.

Page 19: 2aarmd1 - Louveira - Nov

19

Gráfico 1. Comparação do zoneamento dos apartamentos analisados. (Por Cynthia Hirano e Adriana Dalbelo)

No quesito de tratamento das fachadas, diferente do Edifício Louveira, os edifícios atuais são de difícil

análise, pois apesar de remeterem a um estilo não o seguem completamente e alguns, são ecléticos, pois

misturam tipologias e linguagens de períodos diferentes.

Entretanto, todos eles possuem aspectos similares, mas, se diferem do Edifício Louveira, nos seguintes

pontos:

• Pouca ou nenhuma permeabilidade com o entorno não havendo então alteração de fachada decorrente

do entorno urbano, já o Edifício Louveira possui a praça central que amplia o espaço da Praça

Vilaboim, integrando-a ao conjunto e dando tratamento diferenciado as fachadas do edifício voltadas a

ela, que por opção do arquiteto, se tornam cegas.

• Grandes sacadas que predominam as fachadas e fazem uma interação entre o ambiente externo e

interno no apartamento, que também acontece no Edifício Louveira, porém em menor proporção que

não fazem alterações significativas nas fachadas.

• Na maioria dos edifícios comerciais atuais não há tratamento diferenciado das fachadas.

• Muros altos dificultando a visão interna do edifício para maior segurança e privacidade dos moradores.

O Edifício Louveira conta com muro baixo que permite visão total do edifício, permitindo maior

integração com o entorno.

0

10

20

30

40

50

60

70

Edifício Louveira Arte Prime Residence (216 m²)

Arte Prime Residence (163 m²)

Atmosphera (78 m²)

Atmosphera (131 m²)

Dormitórios

Área de Estar

Sanitários

Área de Serviço

Circulação

Terraço/Varanda

Page 20: 2aarmd1 - Louveira - Nov

20

Imagem 15. Estudo de Insolação em plantas esquemáticas do condomínio Atmosphera.

(Desenho por Adriana Dalbelo)

Imagem 16. Estudo de Acessos em plantas de pavimento tipo do condomínio Atmosphera.

(Desenho por Jéssica Vieira)

Page 21: 2aarmd1 - Louveira - Nov

21

Imagem 17. Estudo de Zoneamento de planta do pavimento tipo do condomínio Atmosphera.

(Desenho por Adriana Dalbelo)

Page 22: 2aarmd1 - Louveira - Nov

22

5. Conclusão

A análise do projeto de João Batista Vilanova Artigas do edifício residencial Louveira nos fez concluir que

este projeto foi feito numa época de processo de reestruturação urbana da cidade de São Paulo e

desenvolvimento de uma nova tipologia, os edifícios em altura.

Portanto, seguindo a vertente modernista, que também se desenvolvia nesse momento, o edifício Louveira

usufruiu das inovações tecnológicas promovendo um projeto que buscou responder as novas necessidades de

moradia da época. É um projeto bem sucedido em relação a insolação e ventilação de todos os apartamentos,

dando diferentes tratamento as fachadas seguindo esses quesitos, além de ser um dos projetos pioneiros a

levar em consideração o entorno urbano para concepção do projeto, valorizando ambos. E também, foi capaz

de romper com a tipologia mais utilizada na década em que foi construído, a do monobloco em “L”, criando um

novo modelo com dois blocos independentes implantados isoladamente no terreno.

É um edifício não muito alto comparado aos novos empreendimentos que estão sendo feitos atualmente e

também, não possui muitas unidades. O que nos faz entender que, no projeto do edifício Louveira realmente se

buscou responder a essa nova tipologia que estava sendo feita, reestruturando a ideia de habitação e

buscando melhor qualidade de vida, tomando em conta sua relação com a cidade, ao contrário do que

acontece nos edifícios comerciais atuais em que se busca prioritariamente a agilidade de construção e o lucro

a ser obtido com a venda dos apartamentos.

Page 23: 2aarmd1 - Louveira - Nov

23

6. Referencias bibliográficas

ARTIGAS, Vilanova. A função social do arquiteto. São Paulo: Nobel-Fundação Vilanova Artigas, 1989.

ARTIGAS, João Batista Vilanova. Caminhos da arquitetura; São Paulo: Cosac e Naify, 2004.

CAMPOS, Candido Malta. Os rumos da cidade: Urbanismo e modernização em São Paulo. São Paulo,

Senac, 2002.

KAMITA, Masao. Vilanova Artigas; São Paulo: Cosac e Naify, 2000.

MARTINEZ, Alfonso Corona. Ensaio sobre o projeto. Brasília: Ed. UnB, 2000.

R. GALESI & C. M. CAMPOS. Edifício Louveira: Arquitetura Moderna e Qualidade Urbana. 5º Seminário

DOCOMOMO Brasil. São Paulo 2003.

RABELO, Clevio Dheivas Nobre. Entre o chão e o Céu: As rampas em Artigas. Docomomo Brasil.

SILVA, Talita Micheleti Honorato da. RELATÓRIO FINAL DE ATIVIDADES

PROJETO: APA – Arquitetura e Paisagem – Avaliação da Inserção Urbana no Meio Físico. CNPq.

SUBPROJETO: Conjuntos Residenciais sobre Encostas: avaliação da utilização desta tipologia como solução

habitacional para um futuro sustentável, Florianópolis, SC. Segunda Etapa. UNIVERSIDADE FEDERAL DE

SANTA CATARINA. Florianópolis, SC, 2009.

http://www.docomomo.org.br/ (Acessado em 3 de outubro de 2011)

http://www.higienopolis.cim.br/ (Acessado em 1.° de novembro de 2011)