3 Textos de Bonheffer

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3 TEXTOS DE BONHEFFERTenho me fatigado tanto todos os dias Vestindo, despindo e arrastando amor Infncia, sis e sombras. HILDA HILSTDependncia

Os homens vo a Deus na sua misria,imploram socorro, pedem felicidade e po,ver-se livres da doena, da culpa e da morte.Assim fazem todos, cristos e pagos.

Os homens vo a Deus na sua misriaencontram-no pobre, humilhado, sem abrigo nem po,vem-no engolido pelo pecado, pela impotncia e morte.Os cristos acompanham a Deus no seu sofrimento.

Deus vai a todos os homens na sua misria,sacia-lhes o corpo e o esprito com o seu po,por cristos e pagos morre a morte da cruze perdoa a uns e a outros.

Dietrich Bonhoeffer (Cristos e Pagos)

Dependncia, a bela orientadora da vida crist est desorientada, no se situa mais entre o dedicar a Deus o sentido ltimo da existncia e a coragem necessria para enfrentar as contingncias da vida sem reivindicar a proteo divina na forma de anteparos e corrimos, quando a experincia de viver se mostra hostil.Este o caso; prioridades pessoais justificam o j gasto conceito de dependncia de Deus que, repetido a exausto, soa como confisso piedosa, humilde reverncia dos aflitos que no do um passo sequer na vida sem intimar auxlio divino.Creio, emprestei corda para minha prpria execuo, afinal no foi Jesus mesmo que disse sem mim nada podeis fazer? Falta luz mas ainda dia, sigamos ento e quebremos as louas do tempo.

Confessar-se totalmente dependente de Deus, significa aos homens do nosso tempo que ele (Deus) aquele que preenche as lacunas da existncia abertas pelas deficincias descritas na bula do perfeccionismo idealista, que sepultou os sentidos inaugurando a poca da razo, parindo o homem terico. Trocando em midos, Scrates e seu mtodo. Vinho velho em odre velho, servido como novo.As oraes do homem terico, tambm fiel terico, so uma denuncia pblica envolta em linguagem devota, da fragilidade da confisso que no se sustenta no cho da vida. Cho esse pavimentado com as polidas pedras da desconfiana. Os lbios que, na orao confessam dependncia total de Deus entregam do que est cheio o corao pelos itens da lista de pedidos.Ora por incapacidade de agir com coragem e criatividade, ora por desencargo de conscincia; o fiel terico aciona Deus quando uma falha em seu discurso linear escrito sob a frgil impresso da antiga lgica causal precisa ser preenchida para dar sentido e segurana ao roteiro contingencial da vida.

A que ponto chegamos. Do chamado insegurana e a ser entregues como ovelhas para o matadouro, reivindicao da proteo divina como se fosse direito adquirido.Um pouco antes. Quando eu era menino e pensava como menino, achava que Deus havia sido banido para a periferia da existncia pelo homem cientfico, mas quando cheguei a ser homem percebi que a inabilidade do crente em trabalhar a vida com coragem foi o real motivo do seu exlio, e de l s acionado para resolver algum problema fsico ou econmico, ou alguma querela jurdica, em seguida banido novamente.

A pocilga foi posta baixo.

Na longa noite a dentro em busca de sentido para Deus no mundo, encontrei em Dietrich Bonhoeffer um companheiro solidrio. O telogo alemo percebeu que o mundo atingiu seu estado adulto e com ele os homens se tornaram no religiosos (que no apelam para o transcendente a todo momento na soluo dos problemas ou explicao dos eventos naturais). Este homem aprendeu a levar adiante de si, por si mesmo, as questes mais fundamentais da existncia sem recorrer a Deus como hiptese de trabalho.Sensvel a este movimento e para no incorrer no mesmo erro dos dicotomistas conceituais (aqueles que culpam a cincia pelo descrdito "mensagem evanglica", quando deveriam reconhecer a incoerncia dos prprios discursos), Bonhoeffer fez uma ntida distino entre atitude religiosa e f crist.

Embora o homem tenha se tornado no religioso, ele mantm uma atitude religiosa, e esta que, distinta da f crist, converte Deus numa espcie de "Tapa Buracos da Existncia" ou " Deus das Brechas", rebaixando-o a condio de um Deus ex machina, obrigando-o a constantes sadas dos assuntos da vida medida que estes vo se resolvendo graas a cincia. Da priso ecoa a voz do mrtir de Tegel que pergunta: Como a palavra de Deus poder mostrar sua absoluta soberania num mundo como o nosso? Se o estado adulto do mundo leva consigo a condio no religiosa do homem, como poder Cristo vir a ser Senhor dos homens no religiosos? Outros espritos mais angustiados se perguntam: Onde h um lugar para Deus ento? Como no encontram resposta, condenam a evoluo da cincia em todos os campos do saber como culpada pela calamidade em que esto postos.Para outros, outra sada se apresenta; voltar para trs resgatando a mentalidade medieval, forjando um estado de inocncia ultrapassada que custa caro sinceridade para com Deus e ao incentivo cristo da busca por maturidade.

Para Bonhoeffer, no entanto, a resposta unilateral. Ele afirma que no podemos ser sinceros com Deus se no reconhecermos que requerido de ns vivermos num mundo mesmo que Deus no estivesse nele. Isso significa primeiro, uma recusa a se apoiar em Deus para preencher as lacunas da existncia. Segundo, requer do cristo reconhecer sua verdadeira situao diante de Deus como homem adulto. Sendo Deus este que nos faz saber que temos que viver como homens que vo adiante na vida sem necessitar dele como anteparo, tampouco como preenchimento dos vos abertos pela nossa incapacidade de agir com coragem frente as ambiguidades da vida.Este Deus exige de ns o exerccio da liberdade no mundo, sem recorrer a ele como hiptese de trabalho. Aqui o conceito de dependncia ganha contornos verdadeiramente decisivos.

Envolto em sua religiosidade o homem remetido ao poder de Deus no mundo, o ex machina. Ao contrrio, o evangelho remete ao sofrimento e a fraqueza de Deus no mundo. Em Cristo, s o Deus que sofre pode ajudar-nos. No fraqueza de falta de poder, mas fraqueza assumida na voluntria cumplicidade radical da encarnao em submisso e humildade, como aquele que se esvazia de si mesmo para se relacionar em sinceridade com Deus e com o prximo, no se valendo de sua filiao divina para viabilizar fuga aos enfrentamentos da vida.Paradoxalmente, Deus encontra lugar e poder no mundo a partir da sua impotncia. A evoluo descrita para o estado adulto do mundo quebra uma falsa imagem de Deus em essncia mtica, e possibilita re-descrever sua imagem sob o olhar agora liberto do homem para o Deus da Bblia.Neste ponto a estrada chega a uma bifurcao. Uma via leva a permanncia no estado infantilizador do homem que busca Deus nos limites da deficincia para a soluo dos prprios sofrimentos. A outra leva ao Getsmani, onde o Cristo convida para velar com ele no pice do sofrimento de Deus no mundo.

Vivenciar com o Cristo os ltimos momentos no Getsmani, velar com ele no momento crtico em que clama pela possibilidade de passar o clice sem ter de beb-lo, constitui a experincia da f despojada do seu revestimento religioso, a verdadeira converso. A atitude do Cristo em no levar em conta os prprios sofrimentos em reverente submisso a vontade do Pai o revs do gasto conceito de dependncia de Deus que, mesmo repetido a guisa de confisso piedosa, no faz liga com a vida crist levada com f.Despida do seu revestimento religioso a f pode falar desde o mais alm, acolhendo o pedido do Cristo no Getsmani em resoluta reverncia, enchendo o pleno da vida da certeza de que sem ele ns nada podemos fazer. Nos atos do Cristo, dependncia, a bela orientadora da vida crist, no algo parcial, como na leitura do homem religioso, tampouco evocada para preencher as lacunas abertas, antes, um ato total da vida. O caminho at o Getsmani o da entrega. O caminho de volta o do comprometimento, para dentro da vida. De dentro da vida que o Cristo ensina que devemos amar a Deus. Cristo transcende por ser um homem para os outros homens. No corao da vida que vamos encontrar Deus.

O conceito de dependncia na atitude de Jesus, ganha contornos ticos e lana ento a f como fundamento do conceito. Na atitude do homem religioso a falta de f o faz buscar a Deus para suprir as falhas entre as partes. Na atitude do cristo adulto a f o faz buscar a Deus no turbilho da vida que onde nos tornamos verdadeiramente dependentes, onde nos tornamos homens para os outros homens.

Alex Carrari

Dietrich Bonhoeffer:Cristo, Seor de los no-religiososArnaud CORBIC

"Cmo puede Cristo llegar a ser tambin Seor de los no-religiosos" en un "mundo adulto", para el que "la hiptesis de Dios" resulta ya superflua? sta era la preocupacin, a la vez existencial y teolgica, del ltimo Bonhoeffer en sus cartas de la cautividad. El autor del presente artculo, que ha publicado recientemente un opsculo que lleva como subttulo "Del penltimo al ltimo Bonhoeffer", nos acerca a la ltima etapa de su vida y al testimonio de su muerte como discpulo de Jess.

Publicacin original: Dietrich Bonhoeffer, Seigneur des non-religieux, tudes 3943(2001)371-382.

Edicin en papel de esta edicin electrnica: Revista "Selecciones de Teologa" 161(2002)51-58

A partir del 5 de abril de 1943, en que fue encarcelado, Bonhoeffer no se encuentra en medio de universitarios y seminaristas, sino con prisioneros, hombres "no-religiosos" que pasan de Dios. La carta del 30.04.1944 marca un corte en su vida y en su pensamiento: ya no espera para l un cambio de situacin. Las bombas amenazan con destruir la prisin de Tegel. Sabe por experiencia que "el mundo est determinado por poderes contra los que la razn no puede nada". Sin embargo, se encara con el porvenir, no tanto el suyo como el de la humanidad y el del cristianismo. Es en este contexto en el que se pregunta teolgicamente y de forma programtica: "Cmo hablar del cristianismo al margen de todo lenguaje religioso? Cmo hablar de Dios sin religin?"

Un lenguaje renovado

Si en la carta del 30.04.1944 formulaba Bonhoeffer estas preguntas, en la del 5.05. 1944 esboza una respuesta: hay que hablar de Dios "en la mundanidad" (weltlich: en la realidad de este mundo), tal como habla de Dios el AT, o sea, en la finitud y en las pasiones humanas, en el lmite y en la realidad de las cosas, como lo que hace que el mundo sea mundo, mientras que el a priori metafsico impone al mundo hablar de Dios como fuera y ms all de los lmites. Escribe Bonhoeffer: "En este momento, mi reflexin se centra en cmo se podra renovar "laicamente" (weltlich: en la mundanidad) -en el sentido del AT y de Jn 1, 14- la interpretacin de conceptos como arrepentimiento, fe, justificacin, nuevo nacimiento, santificacin". Para l, en el AT, el ms all y la victoria sobre la muerte se viven siempre "en el ms ac" (Diesseitigkeit) y remiten al hombre a la finitud en la historia.

En el Esbozo de un estudio, redactado en prisin, a propsito del tema mundanidad (Weltlichkeit) y Dios escriba Bonhoeffer que "nuestra relacin con Dios no es una relacin "religiosa" con el ser mas elevado, ms poderoso, que se pueda imaginar -ah no est la verdadera trascendencia-, sino que consiste en una nueva vida "para los dems", en la participacin en la existencia de Jess. No son las tareas infinitas e inaccesibles las que constituyen la trascendencia, sino el prjimo que hallamos en nuestro camino".

"El mundo, mayor de edad"

Entre el 30 de abril y el 18 de julio de 1944 toma Bonhoeffer una conciencia cada vez ms aguda de que, a consecuencia de una evolucin histrica producida principalmente por el siglo de las Luces, el mundo ha llegado a su mayora de edad, ha adquirido una cierta autonoma, una autosuficiencia en numerosos mbitos, y esto de manera irreversible.

El mundo ha aprendido a resolver todas las cuestiones importantes sin apelar a la "hiptesis Dios". Y esto vale -para Bonhoeffer- no slo para las cuestiones cientficas y artsticas, sino tambin para las ticas e incluso para las religiosas. Corno en el mbito cientfico, tambin en el humano, Dios es empujado cada vez ms lejos, fuera de la vida: l pierde terreno.

Bonhoeffer analiza esta nueva forma que adopta el atesmo en la modernidad. Hay en l un desplazamiento significativo: no se trata tanto de la negacin de la existencia de Dios como de la afirmacin de su inutilidad. Cuando el mundo era "menor de edad", la "hiptesis Dios" posea todava su utilidad. Pero, alcanzada la mayora de edad, el mundo pasa fcilmente de Dios. Es lo que Bonhoeffer constata en el contexto arreligioso de la prisin, sensible a este atesmo prctico. Y da su diagnstico:

"Las personas religiosas hablan de Dios cuando los conocimientos humanos (a veces por pereza) chocan con sus lmites o cuando las fuerzas humanas fallan. En el fondo se trata de un deus ex machina que ellos hacen salir a escena para resolver problemas aparentemente insolubles o para intervenir en ayuda de la impotencia humana. En una palabra: explotan siempre la debilidad y los lmites de los seres humanos. Evidentemente, esta manera de actuar slo puede durar hasta el da en que los seres humanos, con sus propias fuerzas, harn retroceder un poco sus lmites y en que el deus ex machina resultar superfluo".

Y prosigue:

"Me gustara hablar de Dios, no en los lmites, sino en el centro, no en la debilidad, sino en la fuerza, no a propsito de la muerte y de la falta, sino en la vida y la bondad del ser humano. En los lmites, me parece preferible callarse y dejar sin resolver lo que no tiene solucin (...). Dios est en el centro de nuestra vida, estando ms all de ella".

Bonhoeffer piensa a Dios en la positividad, en el centro de la realidad. El Dios viviente ha creado y crea el mundo. ste posee su autonoma. Reposa en la mano de Dios. Y por esto Dios no tiene necesidad de intervenir en l de modo visible o milagroso. Pues, como Creador que es, constituye el centro absoluto de la realidad.

Bonhoeffer pone en guardia al telogo contra toda apologtico que intente probar a este mundo adulto que no puede vivir sin el "tutor Dios". "Deseara llegar -escribe- a que Dios no sea introducido fraudulentamente por un vericueto hbilmente disimulado, sino que se reconozca simplemente el carcter adulto del mundo y del ser humano." La mayora de edad hay que comprenderla positivamente, "mejor de lo que ella misma se comprende, mediante Cristo y el Evangelio".Y esto sin intentar "camuflar el atesmo del mundo; por el contrario, es preciso quitarle el velo. Y es justamente as como cae sobre el mundo una luz sorprendente. El mundo adulto es un mundo sin Dios y por esto acaso est ms cerca de Dios de lo que lo estaba el mundo menor de edad".

"Etsi Deus non daretur"

Partiendo de la constatacin emprica de la mayora de edad del mundo, le dio Bonhoeffer una interpretacin teolgica con miras no slo a la humanidad, sino tambin a la cristologa, invitando a una nueva comprensin del ser humano y de Dios, que encuentra su fundamento en la cristologa:

"No podemos ser honestos sin reconocer que es necesario que vivamos en el mundo etsi Deus non daretur.(...). Llegados a la mayora de edad, hemos de reconocer de forma ms verdadera nuestra situacin ante Dios. Dios nos hace saber que es preciso que vivamos como seres humanos que llegan a vivir sin Dios. El Dios que est con nosotros es el que nos abandona (Mc 15,34)! El Dios que nos deja vivir en el mundo sin la hiptesis de trabajo "Dios" es aqul ante el cual estamos constantemente. Ante Dios y con Dios vivimos sin Dios. Dios se deja desalojar del mundo y clavar en cruz. Dios es impotente y dbil en el mundo y slo as est con nosotros y nos ayuda. Mt 8,17 nos indica claramente que Cristo nos ayuda, no por su omnipotencia, sino por su debilidad y sus sufrimientos."

"He aqu la diferencia decisiva con todas las dems religiones. La religiosidad del ser humano le remite en su miseria al poder de Dios en el mundo: Dios es el deus ex machina. La Biblia le remite al sufrimiento y a la debilidad de Dios. Slo el Dios sufriente puede ayudar. En este sentido, se puede decir que la evolucin del mundo hacia la edad adulta, haciendo tabla rasa de una falsa imagen de Dios, libera la mirada del ser humano para dirigirla hacia el Dios de la Biblia, que adquiere su poder y su lugar en el mundo por su impotencia."

Esta es la radicalizacin cristolgica operada por el ltimo Bonhoeffer. El argumento cristolgico es el de la redencin en la pasin y crucifixin de Cristo. Dios ya no es el deus ex machine pretendidamente todopoderoso, hecho a medida de nuestras concepciones del poder, al que se puede apelar cuando uno est escaso de soluciones, sino que el Dios de la Revelacin es el que nos abandona, el que nos salva por su receso y su impotencia en este mundo. Este es el Dios revelado, el Dios que ninguna sabidura humana, ninguna religin, se ha atrevido a proponer. Pero hay que pesar las palabras: "Dios nos hace saber que es preciso vivir como seres humanos que llegan a vivir sin Dios. El Dios que est con nosotros es el que nos abandona. El Dios que nos deja vivir en el mundo sin la hiptesis de trabajo Dios, es aqul delante del cual estamos constantemente".

Advirtamos que Dios contina siendo el sujeto de todas las frases. Ni el cristianismo se convierte en atesmo ni el atesmo en cristianismo. Es la experiencia del atesmo del mundo, llegado a su mayora de edad, la que alcanza aquello que la Revelacin cristiana tiene de nico y que acontece en la cruz: es en la experiencia del receso de Dios como el ser humano se deja alcanzar por Dios. Igualmente, "vivir en el mundo etsi Deus non daretur", o sea, como si Dios no fuese dado (se sobreentiende: como "hiptesis"), para el ltimo Bonhoeffer, significa, no "como si Dios no existiese", sino que Dios no puede ya ser presupuesto, precisamente en un "mundo llegado a la mayora de edad" y arreligioso, para el cual "la hiptesis de Dios" resulta, en lo sucesivo, superflua.

"La disciplina del arcano"

Hasta tres veces menciona Bonhoeffer la "disciplina del arcano" . "Es necesario -escribe- restablecer una disciplina del arcano, por la que los misterios de la fe cristiana deben ser protegidos de la profanacin". Por analoga con la Iglesia antigua que no presentaba los misterios cristianos sin una larga iniciacin, es preciso no mezclar la consolacin de Dios con las realidades dramticas del ser humano ni separar el cristianismo de la realidad.

Para el ltimo Bonhoeffer, el cristianismo y la Iglesia no se diluye en el mundo, sino que la Iglesia sigue siendo una Iglesia de bautizados en Cristo, cuyo testimonio ser precisamente oculto: "Nuestro ser cristiano no puede tener hoy sino dos aspectos: la plegaria y la accin por los seres humanos segn la justicia.(...). La vida de los cristianos ser silenciosa y oculta. Pero habr seres humanos que orarn, actuarn con justicia y esperarn el tiempo de Dios". La Iglesia es siempre Cristo bajo forma de comunidad, escondido entre los seres humanos, existiendo "para los dems". Y viviendo de la sola gracia.Para Bonhoeffer, hay asimismo una necesario pudor o interioridad de la fe, que no tiene nada que ver con la ostentacin religiosa y que, por el contrario permite una presencia en el mundo ms profunda y respetuosa de su autonoma. En una carta expresa as su malestar en presencia de los que hablan en una "terminologa religiosa":

"Me pregunto a menudo por qu un instinto cristiano me inclina con frecuencia hacia las personas que no son religiosas, ms bien que hacia las que lo son. Y esto no con una intencin misionera, sino casi fraternalmente. Mientras que, frente a personas religiosas, con frecuencia no me atrevo a pronunciar el nombre de Dios -porque tengo la impresin de que produzco un sonido falso y de que no soy honesto- (...) frente a personas no religiosas puedo ocasionalmente nombrar a Dios con toda tranquilidad y como algo que cae por su peso".

Las realidades "ltimas" y "penltimas"

Por "realidades ltimas" entiende Bonhoeffer el acontecimiento de la Revelacin en Cristo y por "realidades penltimas", el mundo en que vivimos. Ahora bien, Cristo, la ltima Palabra que no pasar jams y que pone su sello en todas las cosas, no slo hace que "lo penltimo" -las realidades humanas ordinarias y banales de la existencia- se presente, sino que se remite continuamente a ello. Para l, la fe nos remite, no a unos problemas religiosos, sino a nuestras tareas humanas: "Nuestra mirada se dirige hacia las realidades ltimas, pero tenemos todava nuestras tareas, nuestras alegras y nuestros sufrimientos en esta tierra".

"Slo si se ama la vida y la tierra lo bastante para que todo parezca acabado cuando ellas estn perdidas, se tiene el derecho de creer en la resurreccin de los muertos y en un mundo nuevo (...). El que quiere pasar inmediatamente al NT, a mi juicio, no es cristiano (...). La ltima palabra no debe preceder a lo penltimo. Vivimos en las realidades penltimas y esperamos, en la fe, las ltimas."

Bonhoeffer utiliza aqu un argumento a fortiori -"Slo si... "para significar que Cristo, con su santidad, no arrasa lo que precede, sino que asume y culmina infinitamente lo que ya era "bueno", y en lo que l se apoya, superndolo, revelando as de nuevo el "precio". Lo que hay de ltimo y definitivo en la Revelacin de Dios, precisamente en el hombre Jess, no anula ni la realidad ni el valor -nicos- de lo que es "penltimo", terrestre, provisional y frgil, sino que lo eleva y lo "salva" para darle gratuitamente todo su valor. En este sentido, ya que lo "ltimo", que es Cristo, remite a lo "penltimo", que es el mundo con sus tareas humanas, "Cristo puede llegar a ser tambin el Seor de los no-religiosos".

Llegar a ser "un ser humano y un cristiano"

Antes de desentraar el contenido de la carta del 21.07.1944, conviene recordar el contexto: desde la prisin de Tegel, Bonhoeffer escribe a su amigo Bethge, el da siguiente del complot abortado contra Hitler, en el que l estaba implicado. Sabe que apenas queda esperanza para l, no slo de salir en libertad, sino tambin en vida. Ahora bien, durante su cautividad encuentra personas que, sin invocar a Dios, permanecen profundamente humanas hasta el fin. Es en este contexto en el que l prolonga su cuestionamiento teolgico: "Cmo puede Cristo llegar a ser tambin Seor de los no-religiosos?".

En esta carta Bonhoeffer constata positivamente el proyecto del hombre moderno de llegar a ser humano sin "Dios", sin un "Dios" que deshumanizara, indicando al mismo tiempo el camino de humanizacin al que conduce el proyecto de llegar a ser ms humano con el Dios revelado en el hombre Jess. Recuerda que "el cristiano no es un homo religiosus, sino simplemente un hombre, como Jess era un hombre por contraposicin a Juan Bautista".

Conviene evitar un malentendido. Sera un contrasentido tomar al Bonhoeffer de 1944-45 por un telogo que anunciase un cristianismo secularizado, un humanismo modelado sobre el atesmo, en que Jess sera una referencia histrica entre otras. Bonhoeffer no se convierte en ateo. Hay que pesar todas las palabras de la carta del 21.07.1944:

"El cristiano es terrestre, no de manera anodina y banal, como la gente ilustrada, eficaces, indolentes o lascivos, sino que es disciplinado y el conocimiento de la muerte y de la resurreccin est siempre presente en l. Creo que Lutero vivi de esta forma".

Afirmar que "el cristianismo no es de este mundo" significa -para Bonhoeffer- que no es una religin, la cual:

1) apoyndose sobre un presupuesto metafsico, apunta a un ms all del mundo para huir de la realidad de este mundo;

2) apoyndose sobre el presupuesto de la interioridad o "alma", por oposicin a la exterioridad y a la historia, conduce al individualismo y a la autosatisfaccin por las propias obras;

3) apoyndose sobre el presupuesto de la parcialidad, la religin se reserva un mbito separado de lo profano: lo sagrado.

Pues bien, para Bonhoeffer, es ah todava donde la experiencia del atesmo del "mundo que ha llegado a su mayora de edad" alcanza el culmen de la Revelacin divina. Pues, paradjicamente, Dios no se ha revelado en un hombre religioso en el triple sentido mencionado, sino en, por y como un ser humano (Mensch); no en un sacerdote, sino en, "ser humano sin ms"; no en lo sagrado, sino simplemente en la vida humana. Jess no es Juan Bautista: "Vino Juan Bautista, que ni coma pan ni beba vino, y decs: Est endemoniado. Vino el Hijo del hombre que come y bebe, y decs: Mirad qu comiln y bebedor, amigo de recaudadores y pecadores"(Lc 7,33.34), o sea, de los "no-religiosos".

Para Bonhoeffer, Cristo no es un hombre de lo sagrado, sino un homo humanus: un humano que vive lo humano con cada ser humano, revelando as la profundidad de gracia en lo interior mismo de lo humano. Para l, si Dios ha asumido plenamente nuestra humanidad en su Hijo, es bueno para el hombre ser hombre, llegar a serlo y seguir sindolo, para ser, tras las huellas de Cristo, un hombre con y para los dems.

De la misma manera, si Dios lo ha creado todo y lo ha querido salvar todo en su Verbo hecho carne, todo lo que es carne, "la vida humana entera", debe ser tambin el lugar de su presencia y no slo el mbito litrgico. Es en este sentido como hay que comprender que "el cristiano es terrestre". Consiguientemente, no es que el cristianismo est reservado a una lite piadosa que crece al socaire de lo sagrado, si que el cristiano sigue a Cristo convirtindose radicalmente en hombre, y no con las prcticas religiosas. En este sentido, "Cristo puede llegar a ser tambin Seor de los no-religiosos". El "ser cristiano" recibe de la Encarnacin su significado ltimo: es llegar a ser humano en el sentido pleno de la palabra, y seguir sindolo en el contexto deshumanizante de la prisin. En la misma carta escribe Bonhoeffer:

"Sigo aprendiendo que es viviendo plenamente la vida terrestre como uno llega a creer. Cuando se ha renunciado completamente a llegar a ser alguien -un santo o un pecador convertido o un hombre de Iglesia- (...), a fin de vivir en la multitud de tareas, de cuestiones (...), de experiencias y de perplejidades(...), entonces uno se pone plenamente en manos de Dios, uno toma en serio, no sus propios sufrimientos, sino los de Dios en el mundo, donde vela con Cristo en Getseman (...); es as como uno llega a ser un ser humano, un cristiano".

Tal es la radicalizacin cristolgica operada desde el ngulo de la humanidad de Dios por el ltimo Bonhoeffer: llegar a ser un ser humano, y no slo un "cristiano", porque Dios mismo se ha revelado absolutamente en un ser humano -en Jess- "con" y "por los dems".

La muerte de Bonhoeffer, un lugar teolgico privilegiado

Hasta septiembre de 1944, en la prisin dispona Bonhoeffer de libros, de posibilidad de escribir y de fumar. Despus que el 22 deseptiembre la Gestapo descubri papeles comprometedores para el grupo de Resistencia al que perteneca, el 8 de octubre es trasladado de Tegel a la prisin de la Gestapo en Berln y de all a Buchenwald y finalmente a Flossenbrg. En adelante cesan las cartas y se rompen los contactos con el mundo exterior. Bonhoeffer sabe que va a morir. Podramos terminar donde acaban sus cartas. Pero su muerte nos parece un lugar teolgico privilegiado para meditar y orar, como lo muestra el relato de quienes pudieron tener algn contacto con l. Un oficial se expresa as:

"Bonhoeffer era todo humildad y serenidad. Me pareca siempre que irradiaba una atmsfera de bondad, de gozo, a propsito de los ms pequeos acontecimientos de la vida, as como de profunda gratitud por el simple hecho de estar en vida (...). Fue uno de los raros seres humanos que he encontrado para el que Dios era una realidad, y siempre cercana."

Un rabino, que no haba conocido a Bonhoeffer, escribi a E.Bethge, despus de la publicacin de Resistencia y sumisin que Bonhoeffer le haba hecho comprender por primera vez que se puede amar a Jesucristo. El mdico del campo, al que Bonhoeffer fue conducido para ser ejecutado, relata as su muerte:

"He visto al pastor Bonhoeffer de rodillas delante de su Dios en intensa plegaria. La manera perfectamente sumisa y segura de ser escuchado, con la que este hombre extraordinariamente simptico oraba, me conmovi profundamente. En el lugar de la ejecucin todava or, luego subi al cadalso. La muerte tuvo lugar en pocos segundos. Durante los cincuenta aos que llevo de prctica mdica no he visto morir a un ser humano tan totalmente abandonado en las manos de Dios".

La muerte de Dietrich Bonhoeffer nos parece un lugar teolgico privilegiado por cuanto, ltima y radicalmente, da testimonio de la unidad de la vida y del pensamiento de un ser humano, de un cristiano, de un telogo: l realiza en su existencia lo que l ha pensado teolgicamente. La inscripcin grabada sobre la placa conmemorativa de la iglesia de Flossenbrg, donde fue ejecutado, -"Testigo de Jesucristo entre sus hermanos"- nos parece que expresa bien lo que Bonhoeffer no ha cesado jams de ser durante su vida: un compaero de humanidad, el ser humano y el pastor que confiesa hasta el fin a Cristo, Seor.

Tradujo y condens: Mrius SALARelat 292

Viver diante de Deus, com Deus e sem Deus. Artigo de Enzo Bianchi

por isso que, mesmo diante daqueles que se definem ateus, no crentes em Deus, devemos acima de tudo nos interrogar e respeita o seu mistrio. Em todo homem, h a imagem de Deus, que, segundo os Padres da Igreja, no pode ser apagada nem pelos piores crimes cometidos pelo homem.

A opinio do monge e telogo italiano Enzo Bianchi, prior e fundador da Comunidade de Bose, publicado na revista italiana Jesus, 12-12-2011. A traduo de Moiss Sbardelotto.

Eis o texto.

Cada vez mais, de um modo quase incessante, afirma-se que, "sem Deus, tudo permitido", citando de modo abusivo de Fidor Dostovski. Isso para defender que, "com Deus ou sem Deus, tudo muda", ou que, "se Deus no afirmado, ento h perdio para o homem". A partir dessas posies, gostaria, portanto, de refletir sobre a expresso "sem Deus".

Acima de tudo, o que pode significar essa expresso para os crentes, em particular para os cristos? Certamente no pode significar que h homens e mulheres que no esto diante de Deus, que no so suas criaturas e, portanto, seus filhos em "Ado, filho de Deus" (Lc 3, 38). Toda pessoa foi querida por Deus, veio ao mundo por vocao de Deus. Deus a acompanha e a sustenta, ou, melhor, a abenoa todos os dias da sua vida. Deus a ama sempre, mesmo quando essa pessoa contradiz a sua vontade, at no caso de blasfemar contra Ele ou de neg-Lo. Como o pai da parbola (cf. Lc 15, 11-32), o Deus narrado por Jesus Cristo continua amando e esperando quem est longe dele, at mesmo quem deseja a sua morte, a morte do pai. Sim, escandaloso, mas essa a verdade do Deus cristo! Na tica dos crentes, portanto, ningum pode existir sem Deus, nem o a-teu que se imagina sem Deus, nem mesmo o estulto que diz: "Deus no existe" (Salmo 14, 1; 53, 1).

Mas h outro modo de entender a expresso "sem Deus". o que se encontra em uma carta escrita da priso pelo telogo luterano Dietrich Bonhoeffer, no dia 16 de julho de 1944: "No podemos ser honestos sem reconhecer que devemos viver no mundo etsi Deus non daretur", mesmo que Deus no existisse, portanto, sem Deus. Essa expresso, na realidade, tambm muitas vezes citada despropositadamente e trada por quem nela l o anncio de um cristianismo secularizado, de um humanismo modelado no atesmo. Bonhoeffer no se torna um ateu, como demonstra o que ele mesmo afirma poucas linhas depois: "Diante de Deus e com Deus, vivemos sem Deus", ou seja, sem tomar Deus como refm, sem a necessidade mundana de Deus, sem considerar Deus como uma hiptese de trabalho, sem pensar em ter Deus do nosso lado, mas na gratuidade de Deus, a gratuidade do amor. Bonhoeffer pede que o homem se torne humano e faa referncia, por isso, humanidade de Jesus Cristo, aquele que "narrou Deus" (exeghsato: Jo 1, 18), at mesmo na cruz.

Portanto, preciso prestar muito ateno para no instrumentalizar essas palavras do grande mrtir crist, acabando por negar a sua f ou por condenar as suas expresses, que constituem um altssimo testemunho de um cristianismo adulto e pensante, em um mundo que se tornou capaz de viver sem a hiptese Deus, em uma autonomia humana que no nega Deus e o seu amor. "Deus" escreveu Eberhard Jngel " mais do que necessrio", est no espao da gratuidade, porque o seu amor transcende a lei da necessidade.

Quanto queles que se dizem ateus, sem Deus, ns, cristos, devemos respeitar a sua afirmao, logo perguntando-nos, porm: que Deus eles negam? De que Deus querem ser livres? Do Deus que ns, cristos, relatamos, que transmitimos culturalmente, ou do Deus que vida, amor, misericrdia, do Deus vivo? Aqui preciso dizer com clareza: ns, fiis, devemos estar conscientes de que, s vezes, forjamos imagens perversas de Deus e, portanto, tornamos Deus causa de blasfmia entre os povos (cf. Ezequiel 36, 20-22; Romanos 2, 24).

por isso que, mesmo diante daqueles que se definem ateus, no crentes em Deus, devemos acima de tudo nos interrogar e respeita o seu mistrio. Em todo homem, h a imagem de Deus (cf. Gnesis 1, 26-27), que, segundo os Padres da Igreja, no pode ser apagada nem pelos piores crimes cometidos pelo homem. Essa imagem torna toda pessoa capaz de fazer o bem, de ter uma conscincia, de discernir o bem do mal. E s Deus v o que acontece na conscincia, conhece a busca do bem praticada pelos chamados ateus, a sua busca do amor. Eles no a chamam de busca de Deus, mas, de fato, como afirmou Bento XVI no dia 25 de setembro passado durante a sua viagem Alemanha, "esto mais prximos do Reino de Deus do que os crentes 'de rotina'". S Deus conhece a proximidade ou a distncia do Reino de quem se diz sem Deus e de quem se diz crente.

Enfim, no podemos nos esquecer de que os cristos das origens eram acusados pelos pagos justamente de serem "a-teus", sem Deus: isto , eles so ateus para as outras religies, como afirma o amigo telogo Joseph Moingt. Sim, todos ns vivemos diante de Deus, com Deus, sem Deus. E esperamos ver o Seu rosto de amor, de paz e de vida alm da morte.