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Design 3D em Tecelagem Jacquard como ferramenta para a concepção de novos produtos. – Aplicação em Acessórios de Moda
________________________________________________________________________ Cap.II – Estado da Arte – Tecidos
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II. ESTADO DA ARTE
3. Tecidos Ao observarmos à nossa volta, veremos que estamos cercados de objectos das mais variadas
formas, de diversos materiais e cores, com as mais diferentes funções. Nesta diversidade,
identificamos um grupo que se apresenta de várias formas, cores, desenhos e funções
diferentes, mas com características em comum, que são os objectos têxteis. Como
característica comum, os tecidos são todos feitos a partir de fibras têxteis, através de métodos
de cruzamento e entrelaçamento.
3.1. Conceito de Tecido Tecido sob o ponto de vista técnico têxtil, segundo ESCOBET é o género obtido em forma de
lâmina mais ou menos resistente, elástico e flexível, mediante o cruzamento e entrelaçamento
de duas séries de fios, uma longitudinal e a outra transversal.
Muito antes de surgir a técnica de estamparia, foi possível modificar o aspecto destes fios,
combinar texturas e conseguir diversificar ao infinito o aspecto dos tecidos, formando os
motivos a partir do próprio acto de tecer. Ao longo do tempo, os motivos dos cruzamentos
tornaram-se linguagens peculiares a cada povo, a cada civilização. Os tecidos, com seus
signos, tornaram-se meios de comunicação. Um lento processo de evolução que passou de
região a região, de século a século.
3.2. Breve História dos Têxteis Uma das mais antigas formas de trabalho humano é a fiação e tecelagem, sendo que a
evolução da técnica da produção de tecidos está ligada fundamentalmente à evolução das
sociedades. Os primeiros indícios de objectos têxteis podem ser datados de há mais ou menos
10.000 mil anos, coincidindo com o sedentarismo agrícola dos primeiros homens, muito antes
da invenção da escrita, no início da Idade do Bronze. E provém da arte dos cesteiros, que
graças aos etnólogos, é possível perceber as estruturas, vistas como que através de uma lente
de aumento, das armações-tecidos de várias cestarias. Alguns criadores têxteis, ao
redescobrirem a arte de fazer cestos, voltaram a conferir uma coerência fundamental ao
conceito de cruzamento de fios, eterna base do tecido.
Os mais antigos têxteis foram descobertos nas turfeiras da Europa Setentrional, onde as
mulheres já usavam camisas longas e saias, nas civilizações lacustres da Suíça, na
Mesopotâmia, na Cordilheira dos Andes e nos gelos do norte da Escandinávia. Mas também
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existem indícios têxteis em grutas da Península Ibérica. Sendo frágeis e facilmente
putrescíveis, não há de facto abundância de objectos têxteis pré-históricos, encontrando-se
representações em pedra e pinturas rupestres de homens e mulheres vestidos com peças têxteis
identificáveis.
Segundo VICENT-RICARD (1989,p.175), “Esses primeiros tecidos eram de armação-tela
(tafetá), muito parecida com a actual: o entrelaçamento do fio de teia com o fio de trama
reproduzia um módulo básico: um fio preso, outro saltado, cruzando-se indefinidamente.
Depois vieram mais duas armações: a armação-sarja (sarja) e a armação-cetim (cetim).
Estas são, até hoje, as três armações básicas de todos os tecidos”.
Os Egípcios, 2500 a.C. conheciam a arte de fiar com perfeição e teciam tafetá e sarja. A
grandiosidade e exuberância da tecelagem que se vê, no Antigo Egipto, podem parecer difícil
de entender dada a simplicidade dos instrumentos que se utilizava. No entanto, o tear antigo,
manual, já continha, primitivamente, estágios das técnicas que as máquinas automáticas de
nossos dias utilizam. O chamado "tear de Circe" e o "tear de Penélope" conhecidos das antigas
pinturas gregas, dão-nos uma ideia da utilização da tecelagem nos tempos da guerra de Tróia.
Da Pré-história à actualidade, a trama da história (tanto dos homens como da moda), é
formada pela utilização de materiais naturais e pelo facto de tecê-los. Os materiais naturais
alguns empregados há 4 ou 5 mil anos, são ainda os mesmos usados hoje, base de nossas
teceduras e de nossos motivos. Porém, a obtenção da matéria-prima e sua produção era de
grande dificuldade. Na Antiguidade já se nota, porém, variada cultura de fibras, ressaltando
entre elas o linho e o algodão, de origem vegetal, e a seda e a lã, de origem animal. No
Período Neolítico, provavelmente foi domesticado o carneiro, pelos povos persas. Foram
descobertos na Mesopotâmia, na necrópole de Susa, os primeiros vestígios de têxteis em fibra
de linho, desenvolvendo-se a cultura do linho nas costas da Suécia, ao mesmo tempo, nas
margens do Nilo, no Egipto Antigo. O faraó Amasis (525 a.C.) presenteou Heródoto com
toalhas de algodão, que segundo Heródoto, vieram da Índia. Graças às campanhas de
Alexandre, chegaram à Grécia, o linho e o algodão egípcios. A seda surgiu na China, por volta
do ano 2500 ou 2600 a.C., na época do Imperador Haoag-ti, quando sua esposa apanhou por
acaso um casulo de bicho-da-seda que caíra de uma amoreira. Os chineses aprenderam a criar
bichos-da-seda e guardaram sua descoberta em absoluto segredo. Mas, no século VI d.C. dois
monges conseguiram contrabandear, escondidos dentro de uma bengala oca, milhões de ovos
ainda fechados de bômbices. A “rota da seda”, ligando a China a Roma, foi a primeira das
grandes vias de comunicação, itinerário concreto da linguagem dos povos por meio do tecido.
Aristóteles menciona a seda, mas sua obtenção constituiu segredo até o século XVI, ocasião
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que foi introduzida na Europa a técnica de sua fabricação, graças ao contrabando de monges
jesuítas. Neste período, também, a lã veio das estepes da Ásia Central e chegou até Inglaterra.
Com a transformação da propriedade agrícola em empresa administrada segundo os critérios
do lucro, em certas regiões da Inglaterra, a partir do final do século XV reflectiu-se profundas
mudanças na estrutura da sociedade inglesa. Os "cercamentos" tiveram nos séculos XVI e
XVII um outro carácter suplementar, isto é, a substituição do cultivo de cereais pela criação de
ovelhas, dada a maior rentabilidade desta última actividade, em função da alta dos preços da lã
no mercado internacional.
Segundo VINCENT-RICARD (1989, p.177-178), “ A Bíblia mostra todo o simbolismo de que
eram revestidos os materiais naturais: tanto no Levítico como no Deuteronômio rejeita-se
formalmente a mistura da lã com o linho. Tal mistura de tecidos era proibida com o objectivo
de respeitar a especificidade de cada forma de existência: a vida nómada e a vida sedentária.
Esaú, o pastor, veste-se com a lã de seu rebanho, enquanto Jacó, já sedentarizado, veste-se de
linho. O relato mítico não faz mais que mostra de forma didáctica o secular confronto de dois
géneros de vida: a agricultura e a criação animal. Até o século XV essa proibição é mantida
no estatuto dos ofícios: os tintureiros só podiam tingir seda, lã, tecidos lisos não trabalhados
e tecidos pisoados. As transgressões eram punidas com pesadas multas”.
A partir da consciência do que representam essas mitologias faz com que reflictamos até que
ponto a realidade básica do têxtil, transcendendo em muito os imperativos económicos e
técnicos, revela a existência de uma cultura.
O princípio da proibição de misturas manteve talvez até a era industrial, na França. As regras
quanto ao fabrico de tecidos mistos eram muito rígidas. Esse factor podia significar um abuso
por parte de determinada classe, ou ainda a libertação desta classe, o que levaria a uma ruptura
sócio-cultural.
No período mercantilista, durante o sistema corporativo, inicia-se o processo de concentração
industrial na tecelagem com as fábricas de Abbeville e as célebres manufacturas de Gobbelin.
A regulamentação selectiva e extremamente controlada banalizou-se e deixou de existir com o
advento da era industrial, transformando-se aos poucos num sistema de rupturas aceleradas.
Chegou-se, por fim, à filosofia de efémero, do consumo imediato, já sem qualquer ligação
com o contexto histórico e social.
O rápido desenvolvimento da tecelagem exige métodos mais modernos, o que induz à
chamada Revolução Industrial.
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Fig. 2.48. Revolução Industrial
A Revolução Industrial, ou com mais propriedade, a Revolução Industrial Inglesa, que
realizando melhor que os outros países, da área central da economia mundial, a acumulação
primitiva de capitais, pôde criar condições para a introdução contínua de inovações técnicas e
da forma fabril de produção. O carácter verdadeiramente revolucionário desse processo, que
levou o homem a tornar-se independente das forças da natureza, para realizar suas tarefas
produtivas, localiza-se na força motriz. Até então, qualquer mecanismo tinha sua propulsão
dependente ou da força humana e dos animais, ou das forças naturais, ventos e rios; tal
situação mudou radicalmente com a introdução da máquina a vapor por James Watt. Embora
conhecido desde a Antiguidade como fonte de energia, o vapor de água nunca fora utilizado.
Sua adopção como fonte de força motriz tornou a fábrica uma realidade palpável.
O primeiro ramo da indústria a ser mecanizado foi a manufactura de teares, por volta de 1767
(Hargreaves).
Foi Cartwright quem construiu o tear mecânico, que se popularizou a partir de 1820,
permitindo o aparecimento de modernas fábricas de tecidos. Originalmente o tear de
Cartwright era movido por bois, logo utilizando a força motriz, invenção demandada pela
tecelagem.
Os signos de uma evolução cultural e social, apoiadas em tradições seculares e míticas,
conferem significado às novas fibras, concebidas sempre para serem misturadas. Os
fabricantes de fibras artificiais e sintéticas começam a levar em conta as tradições culturais.
Não se incluem neste caso o nylon, que se impôs como produto comum, destinado ao mercado
de amplo consumo. Eles representam antes um prolongamento do hábito de usar roupas
neutras e duráveis, próprio do século XIX. Mas já se percebe uma perfeita adequação entre
mito e realidade, a moda “segunda pele”, que oferece uma nova aparência, para uma vida
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diferente. O importante é definir bem a nova identidade dos sintéticos, experimentando ao
mesmo tempo associações inéditas.
Num breve exame da história do têxtil, desde a Idade do Bronze até os nossos dias, de nada
valeria se não mostrasse pelo menos uma concordância entre continuidade e rupturas culturais,
indícios de mutações, sempre presentes na trama do tecido. Nota-se, na longa aventura têxtil
da humanidade, uma continuidade em espiral das codificações feitas de rupturas e exageros, a
cada estágio da mudança. Pode dizer-se que no estágio actual, prelúdio híbrido da sociedade
pós-industrial, vê nascer na trama da memória colectiva, o reconhecimento devido do
material.
Fig. 2.49. Indústria Têxtil – 1928 – Portugal
Da fibra ao fio, do fio ao pano, o tecido revela uma coerência contínua, inerente à criatividade
de todos os tempos. Na era industrial, privilegia-se a roupa pronta para ser usada, em
detrimento da linguagem do tecido. Os médias só transmitem ao público o discurso do “bem
vestir”.
Hoje, o material volta a preocupar os criadores e ganha mais importância que a busca de
formas, o público encara a roupa de modo mais pessoal e assumido.
Ao longo da história da humanidade, técnicas ancestrais fizeram de diferentes civilizações
centros da arte têxtil. Para se poder exprimir em termos actuais a trama da história do tecido, e
entender como foi possível determinadas formas de expressão criativa chegarem a possuir
linguagem própria e assim poderem comunicar-se por meio de motivos e textura, é preciso
voltar à história dos mitos fundamentais, arquétipos das civilizações.
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3.3. Tecelagem A tecelagem é a operação de cruzamento ortogonal de dois sistemas de fios de modo a
produzir um tecido. Realiza-se em máquinas denominadas teares ou, mais modernamente, por
máquinas de tecer.
Fig. 2.50. Máquina de Tecer
Como já foi dito anteriormente, o tecido é um corpo têxtil laminar mais ou menos flexível,
produzido pelo cruzamento dos dois sistemas de fios: um longitudinal – teia, e o outro
transversal – trama.
Fig. 2.51. Representação do TECIDO
A forma como os dois sistemas de fios se irão cruzar será em função do ligamento ou debuxo
do tecido, podendo construir-se um número quase ilimitado de diferentes ligamentos –
debuxos.
O debuxo de um tecido é um elemento muito importante, pois, dele depende a estrutura do
tecido final. Propriedades dos tecidos tais como a aparência, o toque, a capacidade de
moldagem, a flexibilidade, etc., dependem da estrutura do tecido e do tipo de fios utilizados.
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3.3.1. Formação do Tecido Um tecido é, portanto, o produto resultante de três componentes fundamentais:
• Teia;
• Trama;
• Estrutura.
De notar que, na estrutura, estão incluídas, além do ligamento (debuxo), duas variáveis que
dizem respeito directamente à teia e à trama, que são: densidade de fios por centímetro na teia
e densidade de fios por centímetros na trama.
Para a formação de um tecido será necessário efectuar o cruzamento dos fios de teia com os
fios de trama. Para isso, e uma vez que a teia é previamente preparada com a totalidade dos
fios e o comprimento necessário à produção da quantidade desejada de tecido, só existe uma
solução para se realizar o respectivo cruzamento dos dois sistemas de fios: a divisão dos fios
de teia em dois planos diferentes, de forma a criar a possibilidade de se inserir um fio de trama
entre eles.
O espaço assim criado entre as duas “folhas” de fios de teia é normalmente conhecido por
cala. Para efectuar a abertura da cala e a inserção da trama, de modo a realizar-se o debuxo
pretendido, os teares apresentam-se equipados com sistemas que actuam no movimento dos
quadros dos liços do tear, onde são colocados os fios de teia numa determinada ordem.
Podemos ter três situações para a realização do ligamento (debuxo) pretendido:
• No caso da execução de debuxos mais ou menos simples e os liços não excedam a
capacidade do tear, utilizam-se sistemas designados por maquinetas, sendo a mais
moderna a maquineta rotativa (electrónica);
• No caso da execução de debuxos muito complicados e que excedem a capacidade de
liços possíveis pelo tear, deverão utilizar-se maquinetas do tipo Jacquard;
• No caso do ligamento (debuxo) apresentar características especiais, como, por
exemplo, a formação de argolas, no caso de felpo, os teares deverão vir equipados por
dispositivos a que se possam acoplar dois órgãos de teia, e o movimento dos quadros
dos liços poderá ser efectuado com a utilização de um dos sistemas anterior, consoante
a complexidade do ligamento (debuxo).
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Fig.2.52. Maquineta Electrónica
Estas maquinetas (electrónica e Jacquard) podem ser programadas a partir do sistema de
comandos do tear ou a partir de um computador central.
Depois de aberta a cala, efectua-se a inserção de um fio de trama no seu interior. Após a
inserção da trama, os fios de teia deverão ser movimentados para uma posição intermédia, de
modo a efectuar-se a colocação da trama inserida no interior do tecido. Esta introdução do fio
de trama do tecido denomina-se batimento da trama e é executado pelo pente que se encontra
ligado a um sistema do tear, que se designa por batente. Após a realização do batimento da
trama, os fios de teia tornam a formar uma nova cala, repetindo-se o ciclo, ou seja, todos os
passos anteriormente descritos.
O debuxo com que se pretende construir o tecido vai determinar a ordem segundo a qual os
fios da teia irão ser repartidos pelos planos superior e inferior de cala e o número de fios de
trama a inserir nessa ordem. Assim, a formação de um tecido envolve três funções ou fases
importantes:
• A abertura e fecho da cala;
• Inserção da trama;
• Batimento da pente, que consiste em encostar a passagem inserida ao tecido já
produzido.
Embora essas funções sejam realmente fundamentais, há outras, igualmente necessárias, que
são:
• O controlo ou desenrolamento da teia, que ocorre através de um mecanismo que
desenrola a teia do órgão numa velocidade e tensão constantes;
• O controlo ou enrolamento do tecido, que é realizado por um mecanismo que retira o
tecido da área de tecelagem a uma velocidade constante a qual determinará a
densidade de trama do tecido.
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Para realizar os movimentos fundamentais foram sendo propostas várias soluções, desde as
mais simples e pré-históricas, realizadas totalmente à mão ou com a ajuda de paus, até às
sofisticadas máquinas de tecer actuais, automatizadas. Entre os dois extremos encontra-se uma
evolução de pelo menos 7000 anos, em que se foram desenvolvendo os modos de realizar os
três movimentos fundamentais, a que se juntaram outros movimentos designados como
movimentos auxiliares:
• Métodos para diminuir os tempos de paragem para abastecimento de trama;
• Protecções para os fios de teia e de trama, que param o tear em caso de quebras;
• Protecção do pente;
• Soluções para variação do ligamento ou debuxo;
• Selecção das cores da trama.
Um tear, portanto, é uma máquina que realiza todos estes movimentos de uma forma
coordenada.
3.3.2. Processo de Tecelagem A operação de tecelagem propriamente dita consiste em fazer passar um fio de trama, através
da cala, de um lado ao outro do tear. Os elementos responsáveis por essa formação são
designados por sistemas de inserção de trama e servem como base para a classificação dos
teares.
Assim, podemos classificar os teares, consoante o sistema de inserção de trama que possuem:
• Teares de Lançadeiras: É o sistema mais antigo, e foi a partir deste que todos os outros
sistemas evoluíram. Este sistema consiste em fazer passar uma lançadeira que contem
no seu interior o fio de trama enrolado numa canela.
• Teares de Projécteis: Este sistema utiliza um projéctil de aço polido de reduzidas
dimensões e de reduzido peso, sendo este disparado de um dos lados do tear,
normalmente do lado esquerdo. Com este sistema, deixa de ser necessária a operação
de canelagem, uma vez que o fio de trama é alimentado a partir de bobinas de fio.
• Teares de Pinças: Neste sistema existem duas formas diferentes de efectuar a inserção
dos fios de trama com recurso a pinças:
a) A pinça insere o fio de trama, segurando-o pela ponta e que corresponde ao
denominado sistema Dewas – duas pinças com suportes rígidos ou flexíveis;
b) A pinça insere o fio de trama arrastando-se pela ponta que se designa como sistema
Gabler – duas pinças, normalmente de suporte rígido.
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• Teares Jacto de Fluidos: Este sistema é conseguido através de um jacto de um fluido,
que podem ser por Jacto de Ar, ou Jacto de Água:
a) Jacto de Ar – Consiste em fazer passar o fio da trama de um lado ao outro da teia,
através da cala, recorrendo a um sistema de jacto de ar, que é disparado por um
bico injector colocado na zona de alimentação da trama;
b) Jacto de Água – Compreende um injector onde o fio de trama é inserido e
arrastado por um jacto de água até o lado oposto do tear. Este sistema fica limitado
a fibras, ou filamentos contínuos, de materiais hidrofóbicos.
3.3.3. Ligamento ou Debuxo do Tecido O debuxo é a representação gráfica do cruzamento ortogonal dos fios da teia com os fios da
trama. Para estudar convenientemente os diferentes cruzamentos dos fios devemos representá-
los em papel quadriculado, além do que é necessário traduzir esses cruzamentos de modo a
que o mecanismo do tear os possa realizar. O espaço entre dois traços verticais corresponde a
um fio de teia e o espaço entre dois traços horizontais corresponde a uma passagem (fio de
trama).
Na representação gráfica do tecido, cada quadrado é igual a intersecção de um fio com uma
passagem:
• Quadrado pintado – representa que o fio de teia passa por cima do fio de trama, e é
denominado de “pica”;
• Quadrado por pintar – representa que o fio de trama passa por cima do fio de teia, e é
denominado de “deixa” ou “larga”.
Segundo NEVES (2000, I, p.49), “Um tecido é uma estrutura tridimensional composta por
fios entrelaçados com direito, avesso e espessura e não apenas uma superfície gráfica. Esta
noção de tridimensionalidade dos tecidos deve estar sempre presente no estudo do debuxo,
pois não se trata de desenhos feitos sobre papel quadriculado, mas sim da representação do
modo de cruzamento dos fios ou seja da estrutura do tecido”.
3.3.3.1. Classificação dos Ligamentos ou Debuxos Os Ligamentos classificam-se por:
• Fundamentais – São aqueles a partir dos quais todos os outros derivam: Tafetá, Sarja e
Cetim;
• Derivados – Grupo de ligamentos especiais que derivam directamente dos
fundamentais: Derivados do Tafetá, Derivados da Sarja e Derivados do Cetim;
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• Compostos – Resultam de modificações, combinações, elaborações exercidas sobre ou
com os ligamentos fundamentais e seus derivados de acordo com regras próprias;
• Múltiplos – São os que produzem tecidos múltiplos (forrados, duplos ou triplos);
• Especiais – São os que produzem tecidos especiais (ex. veludo).
Como já foi dito, as Estruturas Fundamentais são aquelas de que derivam todas as outras
estruturas, e as Estruturas Derivadas são aquelas que derivam das Fundamentais. A seguir
trataremos das Estruturas Fundamentais e suas Derivadas:
• Tafetá – É o debuxo mais simples e o mais utilizado. Pode ser considerado como
sendo a sarja mais simples. Obtêm-se tecidos leves, de grande maleabilidade em
termos de conforto. O lado direito é sempre igual ao avesso do tecido, possuindo um
aspecto liso.
Fig. 2.53. Tafetá
• Derivados de Tafetá – Obtêm-se estes debuxos por ampliação dos alinhavos de um
quer no sentido da teia, quer no sentido da trama ou simultaneamente nos dois
sentidos.
Fig. 2.54. Derivado de Tafetá – Ampliado à Teia Fig. 2.55. Derivado de Tafetá -Ampliado à Trama
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• Sarja – A característica principal da Sarja é o avanço um, dado a qualquer ordem de
tecelagem. Esta estrutura apresenta inclinações bem nítidas, formando riscas diagonais,
que depende da relação entre a densidade da teia e a densidade da trama.
Fig. 2.56. Sarja
• Derivados da Sarja – Podem ser: Sarja “Leve” – quando no lado direito do tecido há
mais trama relativamente à teia (número maior de deixas); Sarja “Pesada” – quando no
lado direito do tecido há mais teia relativamente à trama (número maior de picas);
Sarja “Neutra” ou “Batávia” – quando o número de picas é igual ao número de deixas,
ou seja, o direito é igual ao avesso.
• Cetim – São tecidos de aspecto liso e brilhante. O efeito de diagonal é evitado através
de uma boa repartição dos pontos de ligação. Sempre que desejamos um tecido com o
direito de aparência lisa, impõe-se a utilização desta estrutura, onde predomina a
formação pela teia ou pela trama, conforme os debuxos utilizados. Sempre que se
pretende valorizar a teia em relação à trama, escolhe-se um cetim efeito teia, e no caso
contrário, optar-se-á por um cetim efeito trama.
Fig. 2.57. Cetim
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3.4. Tecidos Duplos Estes tecidos são caracterizados por terem duas teias e duas tramas, sendo constituídos por
duas telas tecidas simultaneamente uma sobre a outra e devidamente ligadas de modo a
constituir um único tecido. Nota-se que o direito da tela superior e o avesso da tela inferior
formaram a parte visível do tecido.
Os tecidos duplos possuem uma grande variedade de utilizações, podemos citar algumas:
toalhas de mesa, tecidos decorativos para estofos e cortinados, fraldas e vestuário para bebé,
gravatas, fatos de homem, casacos de senhora, entre outros.
3.4.1. Classificação dos Tecidos Duplos Os tecidos duplos são classificados conforme o processo de ligação das duas telas. Assim
podemos classifica-los como:
• Ligados por si próprios.
• Ligados por fios suplementares de ligamento.
• Ligados por mudança de tela.
3.4.1.1. Tecidos Duplos Ligados por Si Próprios A teia superior cruza com a trama superior para formar a tela superior. Do mesmo modo, o
cruzamento da teia e a trama inferiores produzem a tela inferior.
A tecelagem é simultânea. Assim, a teia superior têm que estar arranjada com a teia inferior
numa determinada ordem. Por exemplo: 1 e 1, 2 e 1, 3 e 1, etc. O primeiro número refere-se à
teia superior e o segundo à teia inferior, podemos utilizar estas mesmas ordens na trama, não
sendo obrigatório usar a mesma ordem à teia e à trama.
Regras de construção dos debuxos, segundo NEVES (2000, I, p.97):
I. Escreve-se a ordem de teia por debaixo do futuro modelo de tecido duplo.
II. Escreve-se a ordem de trama do lado esquerdo do futuro modelo.
III. Sempre que se faz a inserção de uma passagem inferior, devem levantar-se todos os fios
superiores (levantamentos Is).
IV. Introduz-se o debuxo de tela superior onde os fios superiores cruzam com as passagens
superiores.
V. Introduz-se o debuxo da tela inferior onde os fios inferiores cruzam com as passagens
inferiores.
VI. A ligação entre as duas telas pode fazer-se:
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a) Levantando fios inferiores sobre passagens superiores. Esta ligação deverá
ficar em posição de contiguidade. Assim, no direito da tela superior esta
ligação ficará entre alinhados de teia (picas na vertical) e no avesso da tela
inferior deverá ficar entre alinhavos de trama. Estes alinhavos no debuxo
traduzir-se-ão por picas na horizontal do debuxo de tela inferior.
b) Baixando fios de tela superior sob passagens de tela inferior. Para que esta
ligação se faça em posição de contiguidade, é necessário que na tela superior, a
passagem inferior fique entre alinhavos de trama (deixas na horizontal) e no
avesso de tela inferior, fique entre alinhavos de teia (deixas na vertical).
No modelo do tecido duplo da figura a seguir será encontrado quando for possível introduzir
modelos completos da tela superior e da tela inferior.
Fig. 2.58. Estrutura de tecidos duplos ligados por si próprios
3.4.1.2. Tecidos Duplos Ligados por Fios Suplementares de Ligamento Este processo é dado através da ligação entre a tela superior e a tela inferior que pode ser feita
por fios ou passagens suplementares que não pertencem a nenhuma das telas, mas que as
ligam alternadamente. O mais comum é a utilização de fios suplementares para que a ligação
fique suficientemente forte.
A matéria-prima utilizada para os fios suplementares deve ter propriedades semelhantes ao
tecido, assim como a cor dos fios de ligamento deve ser muito próxima da cor geral do tecido.
Regras de construção dos debuxos, segundo NEVES (2000, I, p.99):
I. Escreve-se a ordem da teia por baixo do futuro modelo do tecido duplo.
II. Escreve-se a ordem da trama do lado esquerdo do futuro modelo.
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III. Sempre que se faz a inserção de uma passagem inferior devem levantar todos os fios
superiores (levantamento Is).
IV. Sempre que se faz a inserção de uma passagem inferior devem levantar-se todos os fios
suplementares de ligamentos (levantamento IL).
V. Introduz-se o debuxo da tela superior onde os fios superiores cruzam com as passagens
superiores.
VI. Introduz-se o debuxo da tela inferior onde os fios inferiores cruzam com as passagens
inferiores.
VII. A ligação entre as duas telas faz-se:
a) Levantando o fio suplementar sobre uma passagem superior. Esta ligação
deverá ser feita entre alinhavos de teia da tela superior (picas na vertical).
b) Baixando o fio de ligamento sob uma passagem inferior. Esta ligação deverá
ser feita entre alinhavos de teia do avesso da tela inferior (deixas na vertical).
No modelo da figura 2.59 podemos notar que a ligação à tela superior deverá estar alternada
com a ligação à tela inferior:
Fig. 2.59. Estrutura de tecidos duplos ligados por fios suplementares de ligamento
3.4.1.3. Tecidos Duplos Ligados por Mudança de Tela Este processo de ligação de tecidos duplos consiste na passagem da tela superior para a tela
inferior e da tela inferior para a tela superior em determinadas zonas do tecido. É apenas nas
zonas de mudança que as duas telas ficam ligadas. Neste processo, o tecido fica ligado apenas
em lugares onde ocorre mudança, originando sulcos nítidos no tecido. È mais comum usar a
ordem 1 e 1 à teia e à trama e o debuxo das duas telas é o tafetá.
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Fig. 2.60. Estrutura de tecidos duplos ligados por mudança de tela
Fig. 2.61. Efeito de Estrutura de tecidos duplos ligados por mudança de tela
Para a obtenção de variados efeitos, as mudanças de tela têm muita utilidade, desde os mais
simples efeitos de risca ou xadrez, até complicados desenhos de carácter figurativo. Também é
utilizado no fabrico de emblemas e etiquetas, obtendo-se pequenos desenhos e palavras, com
nitidez.
Em se tratando de tecidos duplos ligados por mudança de tela, o pique é um tecido constituído
na ordem 2 e 1 à teia e à trama, apresentando sulcos pelo direito e formando pequenos
desenhos geométricos. É através do levantamento de fios inferiores sobre passagens
superiores em pontos onde não ocorre contiguidade, que os sulcos são produzidos, sendo
visíveis pelo direito.
O efeito de relevo tridimensional é reforçado usando-se passagens de acolchoado, geralmente
é utilizado um fio bastante grosso e cardado. Estas passagens de acolchoamento ficam no
interior do tecido, entre a tela superior e a tela inferior e não aparecem nem no direito nem no
avesso. Normalmente os piques são feitos com fio penteado na tela superior com
características finas, e na tela inferior usa-se fio cardado ou penteado normalmente grosso. Por
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este motivo, usa-se a ordem 2 e 1. É utilizado o tafetá com debuxo nos piques, tanto na tela
superior, como na tela inferior.
Fig. 2.62. Estrutura do Piquê
Regras de construção dos debuxos, segundo NEVES (2000, I, p.102):
I. Escreve-se a ordem da teia por baixo do futuro modelo.
II. Escreve-se a orem da trama do lado esquerdo do futuro modelo.
III. Sempre que se faz a inserção de uma passagem inferior devem levantar todos os fios
superiores (levantamento Is).
IV. Sempre que se faz a inserção de uma passagem acolchoada podem levantar-se todos os
fios superiores (levantamento As).
V. Introduz-se o debuxo da tela superior onde os fios superiores cruzam com asa passagens
superiores.
VI. Introduz-se o debuxo da tela inferior onde os fios inferiores cruzam com as passagens
inferiores.
VII. A ligação entre as duas telas faz-se levantando: Fios inferiores sobre passagens
superiores. Estas ligações deverão ser feitas de modo a obter o desenho pretendido no
tecido.
Através da mudança de telas decorativas, podem fazer-se os mais variados desenhos, que
poderão ser empregados em vários artigos têxteis. Devido ao tamanho estes efeitos necessitam
de um tear Jacquard. Podem ser utilizadas mudanças totais e parciais, com a função de obter
misturas de cores quando a teia e a trama é em duas cores de 1 e 1.
Segundo ARAÚJO (1987, p.1136), para a realização de um tecido Jacquard com mudança de
tela seguem-se os seguintes passos:
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I. Estuda-se a montagem conforme os fios usados. Suponhamos que tínhamos uma
montagem de 30 fios/cm e 30 pas/cm. A capacidade do Jacquard seria por exemplo 400
fios. O tamanho efeito no tecido será = 400/30 = 13,3 cm.
II. Para este Jacquard podemos fazer debuxos em 400 fios ou num submúltiplo de 400, por
exemplo, 200, 100, 50, etc.
III. Faz-se o esquema do desenho que desejamos obter, nas dimensões que ele virá a ter no
tecido.
IV. Transporta-se para o papel de debuxo o desenho devidamente ampliado, podendo-nos
servir de um método simples de colocar um quadriculado sobre o desenho para facilitar a
ampliação.
V. Uma vez obtido o traçado do desenho sobre o papel de debuxo, introduz-se dentro e fora
da figura a estrutura de uma mudança de tela à trama, total ou parcial, conforme o caso
desejado.
Ainda segundo ARAÚJO (1987, p.1136), “o encontro entre essas suas estruturas nem sempre
se dá em modelos completos, no entanto isso não têm grande importância, devendo embora
fazer o possível para que os limites da figura fiquem bem demarcados”.