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109 PUBLICAÇÕES CPRH / MMA - PNMA11 DIAGNÓSTICO SOCIOAMBIENTAL - LITORAL NORTE O MEIO SOCIOECONÔMICO DO LITORAL NORTE 3 USO E OCUPAÇÃO DO SOLO 3.2 USO E OCUPAÇÃO DO SOLO Com base em imagens de satélite tomadas em agosto de 1996 e agosto de 1998, foram identificados e mapeados, no Setor Norte do litoral pernambucano, nove tipos de áreas representativas dos padrões de uso e ocupação do solo, ali, predominantes. De acordo com os elementos que as constituem, as referidas áreas foram agrupadas em três categorias, a saber: áreas com predominância de atividades agropecuárias; áreas com predominância de uso urbano, industrial ou urbano industrial; e ecossistemas naturais. As três categorias de áreas correspondem a, respectivamente, 61,2%, 8,4% e 30,4% da superfície do Litoral Norte (tabela 16). Na primeira categoria – áreas com predominância de atividades agropecuárias – incluem-se as áreas correspon- dentes aos seguintes padrões de uso do solo: cana-de-açúcar (40,1%); granjas, fazendas e chácaras (9,3%); policultura (6,3%); coco-da-baía (2,8%); silvicultura (1,5%); aqüicultura (1,0%); e cana-policultura (0,2%). Na segunda categoria - áreas com predominância de uso urbano, industrial ou urbano industrial – figuram: áreas urbanas consolidadas (4,7%); áreas de expansão urbana planejada e espontânea (1,7%); bairros rurais e vila industrial (0,2%); distritos e zonas industriais (0,6%); e áreas degradadas por mineração que, juntamente com manchas de solo exposto, totalizam 1,2%. Na terceira categoria – ecossistemas naturais – estão incluídos: rema- nescentes da Mata Atlântica (12,8%); áreas com cobertura vegetal em recomposição (6,3%); manguezais, áreas alagadas e mananciais de superfície (11,3%). Tomando como base as informações contidas nas tabelas 16 e17, no mapa 02, em fontes bibliográficas e em dados levantados através de pesquisa de campo, foi elaborada a caracterização das áreas supracitadas, a seguir apresen- tada.

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3.2 USO E OCUPAÇÃO DO SOLO

Com base em imagens de satélite tomadas em agosto de 1996 e agosto de 1998, foram identificados e mapeados,no Setor Norte do litoral pernambucano, nove tipos de áreas representativas dos padrões de uso e ocupação dosolo, ali, predominantes. De acordo com os elementos que as constituem, as referidas áreas foram agrupadas emtrês categorias, a saber: áreas com predominância de atividades agropecuárias; áreas com predominância de usourbano, industrial ou urbano industrial; e ecossistemas naturais. As três categorias de áreas correspondem a,respectivamente, 61,2%, 8,4% e 30,4% da superfície do Litoral Norte (tabela 16).

Na primeira categoria – áreas com predominância de atividades agropecuárias – incluem-se as áreas correspon-dentes aos seguintes padrões de uso do solo: cana-de-açúcar (40,1%); granjas, fazendas e chácaras (9,3%);policultura (6,3%); coco-da-baía (2,8%); silvicultura (1,5%); aqüicultura (1,0%); e cana-policultura (0,2%). Nasegunda categoria - áreas com predominância de uso urbano, industrial ou urbano industrial – figuram: áreasurbanas consolidadas (4,7%); áreas de expansão urbana planejada e espontânea (1,7%); bairros rurais e vilaindustrial (0,2%); distritos e zonas industriais (0,6%); e áreas degradadas por mineração que, juntamente commanchas de solo exposto, totalizam 1,2%. Na terceira categoria – ecossistemas naturais – estão incluídos: rema-nescentes da Mata Atlântica (12,8%); áreas com cobertura vegetal em recomposição (6,3%); manguezais, áreasalagadas e mananciais de superfície (11,3%).

Tomando como base as informações contidas nas tabelas 16 e17, no mapa 02, em fontes bibliográficas e em dadoslevantados através de pesquisa de campo, foi elaborada a caracterização das áreas supracitadas, a seguir apresen-tada.

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3.2.1 - CANA-DE-AÇÚCAR

Recobrindo expressiva parcela do Litoral Norte (40,1%), a cana-de-açúcar é o padrão de uso do solo predomi-nante nos municípios de Araçoiaba, Itaquitinga, Goiana, Igarassu e Itapissuma, onde ocupa, respectivamente,77,1%, 75,7%, 52,6%, 35,6% e 34,3% da superfície municipal (quadro 07). No que se refere à distribuição,pelos municípios, da área total ocupada com cana-de-açúcar no Litoral Norte (TABELA 17), verifica-se que aparcela maior da área representativa desse padrão de uso do solo encontra-se no município de Goiana (47,5%),seguido, de longe, pelos municípios de Igarassu (19,3%), Itaquitinga (14,3%) e Araçoiaba (12,8%).

Espacialmente, a lavoura canavieira está concentrada na porção ocidental dos municípios acima mencionados, oraenvolvendo ecossistemas naturais (remanescentes da Mata Atlântica e cobertura vegetal em recomposição) eáreas de silvicultura, ora circundando núcleos urbanos, áreas de policultura e áreas de granjas, fazendas e cháca-ras. Em alguns trechos dos municípios de Goiana e Itapissuma a área canavieira projeta-se para leste, confinandocom o manguezal e com as áreas de predominância de coco-da-baía (mapa 02).

Cultivada em todas as formas de relevo, a lavoura canavieira ocupa topos e encostas de morros e tabuleiros, alémde várzeas e terraços fluviais e de áreas com modelado suave (foto 19), recobrindo, portanto, desde superfíciesplanas ou com baixas declividades até encostas com declividade superior a 30%, onde ocorrem, com freqüência,concentrações de nascentes (mapa 01).

Monopolizadora da ocupação do solo, a cana, em sua expansão, tem motivado a destruição de grande parte dacobertura florestal das várzeas e das encostas com altas declividades, apesar das restrições dessa última categoriade área ao uso agrícola, especialmente a culturas temporárias. Em conseqüência, a cobertura florestal, no subespaçocanavieiro do Litoral Norte, restringe-se a alguns vales da porção central ou oriental dos municípios de Igarassu,Itaquitinga e Goiana, onde os remanescentes da Mata Atlântica apresentam-se, na maior parte, degradados ousubstituídos por bambu (Bambusa vulgaris), sobretudo em Goiana e Itaquitinga (mapa 02).

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O cultivo de bambu nas encostas com alta declividade (foto 20) vem sendo a alternativa utilizada pela Usina SantaTereza com o duplo objetivo de substituir a cana nos terrenos onde essa cultura não pode ser mecanizada e deobter matéria-prima para produção de celulose destinada à unidade de produção de papel (Fábrica Portela) queo Grupo João Santos possui no município de Jaboatão dos Guararapes. A previsão da empresa, em junho de 1999,era atingir, até o ano 2002, quinze mil hectares de área cultivada com essa gramínea, em Goiana e Itaquitinga(Tavares, 1999). Além de envolver custos mais baixos com mão-de-obra que a cana-de-açúcar, “o bambu podeviver mais de 130 anos e seu primeiro corte ocorre quando ele chega aos três anos. (...) Sua produtividade ficaentre 18 e 25 toneladas por hectare ano” (Ferraz apud Tavares, 1999).

FOTO 19 – Canavial ocupando a várzea e as encostas suaves dos tabuleiros adjacentes.No centro, à direita, a sede do Engenho Pedregulho (Rio Capibaribe Mirim, Goiana).

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FOTO 20 – Cultivo de bambu em encostas com alta declividade e, de cana-de-açúcar, na várzea.

Tradicionalmente praticado em sistema de monocultura, o cultivo da cana-de-açúcar, na área, é realizado emgrandes propriedades, a maior parte das quais pertencentes a quatro empresas – a Companhia Agroindustrial deGoiana (Usina Santa Tereza) e a Usina Nossa Senhora das Maravilhas (no município de Goiana), a Usina São José(no município de Igarassu) e a Usina Matary (no município de Nazaré da Mata), a segunda temporariamenteparalisada e a última desativada, em conseqüência da crise que, desde o final dos anos oitenta, vem atingindo osetor sucroalcooleiro do Estado.

Praticado em solos predominantemente arenosos, nos tabuleiros e nos terraços litorâneos e em solos rasos ecom afloramentos rochosos, nos terrenos cristalinos da extremidade ocidental da área, o cultivo da cana envolveo uso de correção do solo, adubação química, aplicação de herbicida, mecanização (nas áreas com topografiaplana ou suave-ondulada) e irrigação (na fundação da cultura).

A produtividade média da cana é de 65-70 toneladas por hectare, nos solos melhores, caindo para 40 t/hectare,nos solos mais fracos e em época de estiagem prolongada (seca). Para efeito de comparação, cabe lembrar que,em 1995, a produtividade média da cana, no Estado de Pernambuco e na Mata Setentrional Pernambucana, era daordem de, respectivamente, 49,5 e 53,1 toneladas por hectare (IBGE, 1995). A cana produzida no Litoral Nortedestina-se ao fabrico de açúcar (refinado, cristal e demerara) e álcool (anidro e hidratado) pelas agroindústrias emfuncionamento na área. A exemplo das demais áreas canavieiras do litoral pernambucano, o período de colheitae moagem da cana estende-se de agosto a fevereiro, época seca do ano.

A mão-de-obra utilizada no setor agrícola provém dos núcleos urbanos (cidades de Itaquitinga, Araçoiaba,Itapissuma, Goiana, Igarassu e Três Ladeiras), dos povoados e bairros rurais (Sapé, vila Botafogo, Alto do Céu,Sumaré e Vila Rural), das agrovilas (Engenho Campinas e outras) e das áreas de policultura (sítios de Carobé deCima e assentamentos rurais – Engenhos Novo, Caiana, Gutiúba e Pituaçu, entre outros), localizados no interiore nas proximidades do segmento canavieiro em pauta.

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O principal problema da área em questão está relacionado com a crise econômica do setor que, ao provocar ofechamento ou paralisação temporária de algumas usinas e a redução da produção de outras, agrava problemassociais crônicos da atividade. Dentre os problemas da área, sobressaem: a) o crescente desemprego da força detrabalho dos núcleos urbanos e aglomerados rurais que têm na cana-de-açúcar a principal, se não a única, alterna-tiva de emprego de sua população ativa; b) a elevada concentração fundiária aliada ao monopólio da terra pelacana, motivando a falta de área para cultivo de lavouras de subsistência e para expansão dos núcleos urbanos edos aglomerados rurais cercados por canaviais; c) a baixa produtividade da cana; d) a devastação/degradação dosremanescentes da Mata Atlântica e a destruição da fauna característica desse ecossistema; e) a poluição do solo edos recursos hídricos superficiais por herbicida e outros produtos químicos utilizados no cultivo da cana e porresíduos da agoindústria.

Em face dos problemas que vem atravessando, o padrão de uso e ocupação do solo em apreço, apresenta ten-dências a: a) diversificação da atividade agrícola dominante – a cana-de-açúcar – com pecuária de corte (foto 21)e inhame, em alguns engenhos particulares; com silvicultura (especialmente bambu), nos engenhos da Usina SantaTereza; e com soja (foto 22), árvores frutíferas (caju, goiaba, banana e cajá) e espécies madeireiras, nos engenhosda Usina São José (Jornal do Commércio, 16/07/2000); b) restrição do cultivo de cana às áreas planas (várzeas etabuleiros) e com baixa declividade, que permitam o uso de mecanização e irrigação; c) investimento em pesqui-sa, visando a obtenção de variedades de cana mais produtivas e resistentes; d) modernização contínua do proces-so industrial com vistas à automatização total.

FOTO 21 – Pecuária de corte em área, antes ocupada com cana-de-açúcar(Engenho Itapirema de Cima, Itaquitinga).

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FOTO 22 – Cultivo de soja pertencente à Usina São José (Três Ladeiras, Igarassu).

3.2.2 POLICULTURA

As áreas acima indicadas abrangem 6,3% da superfície do Litoral Norte (tabela 16) e apresentam-se como ocor-rências esparsas, situadas tanto no interior como na periferia das áreas de cana-de-açúcar e de granjas, fazendase chácaras bem como no entorno de aglomerados urbanos, sobretudo daqueles localizados na porção sul-orien-tal do espaço em estudo (mapa 02).

No que se refere à distribuição espacial, a maior parte das áreas de policultura localiza-se no município de Abreue Lima (28,2%) seguido, de perto, por Goiana (24,3%) e Igarassu (21,8%), concentrando os três municípios74,3% das áreas policultoras do Litoral Norte (tabela 17). Entretanto, quando se considera a participação dessepadrão de uso do solo na superfície dos municípios (tabela 16), a expressão das áreas de policultura reduz-se,significativamente, frente a outras formas de uso e ocupação do solo, caindo para 17,5% em Abreu e Lima, ondea cobertura florestal lidera a ocupação do solo e para 4,2% em Goiana e 6,3% em Igarassu, onde a cana-de-açúcar monopoliza, respectivamente, 52,6 e 35,6% da superfície municipal.

Ocupando posição secundária na economia rural dos municípios do Litoral Norte, a policultura é uma atividadepraticada em pequenas propriedades originárias, sobretudo, de assentamentos rurais que abrangem quase seten-ta e cinco por cento das áreas policultoras do setor litorâneo em causa. O restante dessas áreas está constituídopor sítios, em geral, resultantes do parcelamento (por herança) de sítios maiores e de fazendas de coco ou doloteamento de partes de engenhos.

Os primeiros assentamentos rurais da área datam dos anos setenta e foram implantados em terras dos EngenhosNovo e Caiana (1973) e Itapirema do Meio (1978) – os dois primeiros localizados no município de Abreu e Limae o terceiro, no município de Goiana. No entanto, somente na segunda metade dos anos oitenta e ao longo dosanos noventa, intensifica-se a implantação de assentamentos rurais no Litoral Norte (quadro 05).

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QUADRO 05 - LITORAL NORTE DE PERNAMBUCO - ASSENTAMENTOS RURAISIMPLANTADOS PELO INCRA E PELO FUNTEPE,NO PERÍODO 1973-1999

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Alguns desses imóveis localizam-se em áreas de relevo bastante acidentado, solos rasos com afloramentos rocho-sos e predominância de altas declividades, a exemplo dos Engenhos Novo, Caiana, Santo Antônio do Norte (foto23) e Gutiúba, todos na extremidade ocidental da área, onde as formações sedimentares cedem lugar aos terre-nos cristalinos. Os demais assentamentos têm a maior parte de suas terras em tabuleiros (foto 24) e relevossuave-ondulados das Formações Barreiras, Beberibe e Gramame, cujos solos, embora espessos, são origináriosdos depósitos arenosos que recobrem, freqüentemente, as duas primeiras formações. Com exceção dos assen-tamentos Santo Antônio do Norte, Pituaçu, Fazenda Boa Vista, Engenho Ubu e Sítio Inhamã, onde existe relativaabundância de água durante todo o ano, nos demais, a falta desse recurso, sobretudo na estação seca, constituiforte limitação à atividade agropecuária.

Atividade característica de pequenas propriedades, a policultura é praticada em imóveis cuja área total raramenteultrapassa dez hectares e cuja área média situa-se entre 3,5 e 8,5 hectares, nos assentamentos rurais implantadospelo INCRA e entre 0,5 e 4,2 hectares nos do FUNTEPE (quadro 05), sendo inferior a cinco hectares na maiorparte dos sítios. Alguns desses imóveis, no entanto, chegam a medir até três contas (0,15 ha), em assentamentosdo FUNTEPE e a reduzir-se ao “chão da casa” e a um pequeno quintal, em alguns sítios, a exemplo dos localiza-dos ao sul de Tejucopapo.

Tendo como marca principal a diversificação agrícola, a policultura da área envolve uma gama variada de cultivos(foto 25) e o criatório de animais de pequeno porte. Dentre as culturas praticadas no conjunto das áreas policultorasem apreço, sobressaem: macaxeira (foto 24), inhame, banana, mandioca e maracujá, secundadas por milho, fei-jão, batata-doce, amendoim, frutas (coco, mamão, graviola, acerola, manga, jaca, caju, goiaba, abacate, limão eabacaxi) e hortaliças (coentro, cebolinha, tomate, alface, chuchu, pimentão, couve, repolho, quiabo, maxixe,melão e melancia). A horticultura localiza-se nas várzeas que têm disponibilidade de água o ano inteiro e é prati-cada com irrigação manual. A adubação orgânica é utilizada nas hortaliças, enquanto a adubação com produtoquímico e com torta de usina são as mais usadas nos outros cultivos comerciais.

FOTO 23 – Policultura em encosta com declive acentuado (Assentamento Rural Engenho San-

to Antônio do Norte, Itaquitinga).

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FOTO 24 – Policultura em topo plano de tabuleiro da Formação Barreiras.Cultura de macaxeira no primeiro plano e fruteiras no segundo plano(Assentamento Rural Pitanga I – Área 2, Abreu e Lima)

O beneficiamento da produção resume-se à atividade das casas de farinha existentes, em maior número, nasáreas onde o cultivo de mandioca ou de macaxeira figuram entre os mais expressivos dentre os praticados nosestabelecimentos agrícolas, a exemplo dos assentamentos rurais Engenho Regalado onde existem 4 casas defarinha, Pitanga 1 (foto 26) que possui 3 unidades do gênero, Inhamã e sítios de Carobé de Cima, entre outros,cada um com 2 casas de farinha.

A atividade pecuária das áreas de policultura abrange a criação de “galinha de capoeira”, para consumo da família,secundada por animais de médio porte (porco, cabra) e umas poucas cabeças de gado bovino (mestiço), principal-mente nos imóveis maiores. A apicultura é pouco praticada nas áreas em análise, ocorrendo com maior expres-são apenas em dois assentamentos (Engenho Ubu e Pitanga 1).

A produtividade das culturas das áreas em questão é, em geral, muito baixa, em conseqüência do baixo potencialnatural dos solos, associado à ausência de práticas de correção/recuperação desse recurso (correção do ph,adubação, rotação de culturas, combate à erosão), de uso de sementes selecionadas, de irrigação fora das várzeasetc. Quando os produtores utilizam algumas dessas práticas, as culturas beneficiadas apresentam produtividadesuperior à média do Estado e da região, a exemplo da macaxeira que alcançou, em 1999, 15 a 20 toneladas/ha(média atual da Zona da Mata, 10 a 12 toneladas/ha) e do inhame que varia de 7 t/ha (cultivado sem irrigação) a15-20 t/ha (quando irrigado), não dispondo-se, para essa cultura, de dados relativos à produtividade no Estadonem na região.

Esses dados mostram que a produtividade agrícola média das áreas policultoras reflete não só as condições natu-rais das mesmas mas, sobretudo, o apoio técnico e financeiro à atividade. No tocante a essas áreas, os programasde apoio ao pequeno produtor priorizam os novos assentamentos rurais mas, dispõem de poucos recursos paraatender à demanda desse segmento da policultura, que se ressente, ainda, do atraso na liberação dos recursosobtidos.

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FOTO 25 – Diversidade de cultivos em parcelas do Assentamento Rural Engenho Pituaçu (Itaquitinga).

FOTO 26 – Casa de Farinha no Assentamento Rural Engenho Regalado (Abreu e Lima).

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Em termos concretos, os novos assentados têm recebido assistência técnica do Projeto LUMIAR (no momento,suspenso) e da EBAPE (Empresa de Abastecimento e Extensão Rural de Pernambuco, ex-EMATER/PE) e apoiofinanceiro de Programas do Governo Federal, tais como o Programa Especial de Crédito para a Reforma Agrária(PROCERA) e o Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) que, através do BNB,disponibilizam recursos para investimento e para custeio da produção.

Além do apoio dos programas acima mencionados, os produtores dos assentamentos rurais contam com apoiodo PRORURAL/BNB que está-se propondo a financiar projetos para avicultura de corte, piscicultura, instalaçãode casa de farinha comunitária e melhoria das barracas de comercialização da produção à margem da BR-101 (noassentamento Engenho UBU) e para perfuração de poço comunitário (nos assentamentos Pitanga 1 e Inhamã).

O excedente do consumo familiar, juntamente com o produto das culturas comerciais (nem sempre existente),compõe a produção comercializável das áreas policultoras que é vendida ao atravessador – agente responsávelpela comercialização de cerca de 70 a 80% do produto agrícola das citadas áreas. A venda ao atravessador éefetuada tanto nas feiras e na CEASA (Centrais de Abastecimento de Pernambuco) como nos locais de produção,onde o preço pago ao produtor é, em geral, muito baixo.

A falta de transporte, a distância do mercado e o estado precário das rodovias, principalmente durante a estaçãochuvosa, leva a que a venda do produto no próprio estabelecimento agrícola seja a alternativa utilizada pelagrande maioria dos pequenos produtores das áreas em apreço, com grandes perdas para os mesmos. Em Abreue Lima, no entanto, o deslocamento da produção dos assentamentos até a feira tem sido facilitado pela Prefeituraque envia, todo sábado, uma caçamba para apanhar a produção dos parceleiros.

Uma outra forma de comercialização utilizada por alguns produtores, embora em menor escala, é a “venda napedra” (venda direta ao consumidor) nas feiras de Goiana, Tejucopapo, Araçoiaba, Itaquitinga, Igarassu, Cruz deRebouças, Abreu e Lima e Camaragibe e, no caso específico dos produtores do Engenho Ubu, a venda embarracas improvisadas por ditos produtores à margem da BR-101, no trecho em que essa rodovia corta o assen-tamento. Essas formas de comercialização, embora corrijam distorções inerentes à venda ao atravessador, aindasão pouco utilizadas pelos pequenos agricultores, visto somente serem acessíveis a um pequeno número deprodutores e viáveis para a comercialização de uma parte reduzida da produção.

A mão-de-obra utilizada nas áreas de policultura é, basicamente, a da família que, quando não é a única de quelança mão o agricultor, chega a representar, em média, 80% da força de trabalho requerida pela atividade. Dissoresulta que a utilização do trabalho assalariado nessas áreas tem caráter eventual e se restringe aos estabeleci-mentos maiores que, em geral, recorrem à própria comunidade para atender suas necessidades de mão-de-obraassalariada.

No que concerne à organização rural, verifica-se existir essa prática quase que apenas entre os produtores dosassentamentos rurais, visto ser a mesma incentivada pelo INCRA e exigida pelas instituições financiadoras dosprojetos agrícolas. Tal prática, no entanto, enfrenta, na maior parte dos assentamentos, dificuldades para seconsolidar ou fortalecer, por tratar-se de experiência nova para a totalidade dos pequenos agricultores.

Dentre os assentamentos do Litoral Norte, apenas no Engenho Ubu a associação de produtores conta com umaboa participação dos filiados, embora nem todos estejam com a contribuição de associado atualizada. Nesseassentamento, a boa participação dos produtores na associação tem como motivação as lutas e conquistas daentidade em benefício de seus integrantes. Por outro lado, a falta de participação e a inadimplência da grandemaioria dos associados, nos demais assentamentos, têm como conseqüência o enfraquecimento (político e mate-rial) desse importante instrumento de defesa dos interesses dos pequenos produtores rurais.

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Diante do exposto, as áreas de policultura do Litoral Norte apresentam uma gama variada de problemas, dentreos quais sobressaem: a) a baixa fertilidade do solo (em todas as áreas); b) a falta de água, na superfície e na sub-superfície, impossibilitando a prática de irrigação, em várias áreas; c) predomínio de altas declividades, em algu-mas áreas; d) inexistência de cobertura vegetal adequada à proteção dos recursos hídricos, do relevo e do solo,em áreas críticas; e) falta de apoio financeiro para os produtores dos sítios e dos assentamentos antigos (total-mente emancipados); f) falta de capacitação técnica da totalidade dos pequenos produtores; g) baixa produtivida-de das culturas; h) inexistência de unidades de beneficiamento dos produtos da fruticultura; i) dificuldade detransporte para deslocamento da produção até o mercado: j) falta de infra-estrutura de comercialização (locaispara armazenamento, conservação e venda) da produção; k) falta de conservação das rodovias secundárias quese tornam intransitáveis no período chuvoso; l) forte presença do atravessador na comercialização dos produtos;m) inexistência/incipiência de organização dos produtores na maior parte das comunidades analisadas; n) forteadensamento populacional em algumas áreas policultoras, associado a intensa fragmentação da terra, sobretudona periferia de núcleos urbanos; o) falta de equipamentos e serviços básicos (posto médico, ambulância, postotelefônico, escola, esgotamento sanitário, coleta de lixo etc), nas comunidades integrantes das áreas de policultura.

Como tendências dessas áreas, sobressaem: a) a de crescimento da produção, sobretudo da fruticultura, nasáreas onde as condições naturais e/ou técnicas apresentam-se menos restritivas; b) a de persistência da migraçãoda força de trabalho jovem, especialmente nas áreas onde o adensamento populacional inviabiliza a sobrevivênciada família ampliada; c) a de aumento do número de assentamentos rurais, sobretudo em áreas onde a produçãode cana-de-açúcar vem sendo mais atingida pela crise do setor sucroalcooleiro; e d) a de crescente urbanizaçãodas áreas policultoras contíguas aos núcleos urbanos mais dinâmicos.

3.2.3 - CANA-POLICULTURA

Compreende o segmento espacial localizado na porção sul-ocidental do município de Goiana, correspondente aoAssentamento Rural Engenho Itapirema do Meio (mapa 02). Criado pelo INCRA, em 1978, o referido assenta-mento abrangia uma área de 750 hectares, desmembrada do engenho homônimo, e dividida em 16 parcelas comárea média de 46,8 ha. Da área original, restam apenas dois terços e, dos primeiros parceleiros, tão somentecinco (cerca de um terço).

A área apresenta topografia predominantemente plana – cerca de 80% está em tabuleiro -, solo arenoso, recur-sos hídricos (superficiais e sub-superficiais) escassos e cobertura florestal bastante degradada, restrita a pequenostrechos de algumas encostas.

Dos onze proprietários atuais, a maior parte tem a cana como cultura principal, secundada por coco anão, ma-mão, maracujá, macaxeira, inhame, graviola, acerola, mandioca, feijão e milho, cultivados sem irrigação. O criatóriose resume a umas poucas galinhas de capoeira.

No cultivo da cana, os produtores utilizam correção do solo, gradagem e sulcagem (com auxílio de trator),herbicida e adubação química. Nas demais culturas, utilizam apenas adubação orgânica e fazem aplicação depesticida. Com exceção da cana que é cultivada com mão-de-obra familiar e assalariada (proveniente de Itaquitinga,de Sapé e do próprio assentamento), os demais cultivos são realizados com a força de trabalho da família.

Sem apoio financeiro e orientação técnica, a agricultura da área em análise conta com recursos escassos (dospróprios agricultores) resultando em baixa produtividade agrícola, inclusive da cana cuja média é 50 t/ha, caindopara 25-30 t/ha, com a seca. A do coco anão é 30 frutos/pé, colhidos a cada 45 dias, sem irrigação. Com irrigação,a produtividade média da cultura é 50 frutos/pé.

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No que se refere à comercialização da produção, a cana é vendida à usina, que cobra do fornecedor o frete doproduto, ao passo que a maior parte dos demais produtos é vendida ao atravessador da CEASA, no próprioestabelecimento agrícola e nas feiras próximas. Num como noutro caso, os principais problemas da comercializaçãosão a falta de transporte para deslocamento da produção até o mercado e o baixo preço dos produtos impostopelo atravessador.

Aos problemas acima mencionados, acrescem-se: a) a falta de água para irrigação; b) a baixa fertilidade do solo; c)a falta de recursos para os produtores investirem na produção e na comercialização; d) fraca organização dosprodutores; e) adensamento da população residente nas parcelas, resultando em sobreutilização agrícola do solo;f) falta de equipamentos básicos (posto médico, posto telefônico, ambulância, escola de 1o grau maior) na comu-nidade que, à época da pesquisa (julho/1999), possuía trezentas pessoas. Como tendências da área, destacam-se:a) a de redução da cana-de-açúcar e de aumento das demais culturas; b) a de migração da força de trabalhojovem.

3.2.4 - COCO-DA-BAÍA

Atividade tradicional dos terrenos arenosos da faixa costeira do Estado, a cultura do coqueiro tem sido a atividademais afetada pela expansão urbana e urbano-industrial no Litoral Norte. A urbanização iniciada na década desetenta e intensificada nas décadas subseqüentes estimulou o loteamento das fazendas e sítios de coco já, emparte, reduzidos em suas dimensões como resultado do processo de divisão dos imóveis por herança.

Em conseqüência dessa dinâmica, a área atual de predominância da cultura do coqueiro no segmento litorâneoem estudo corresponde a 2,8% da superfície desse segmento (tabela 16) e apresenta-se descontínua, constituin-do manchas esparsas localizadas na porção centro-oriental dos municípios de Goiana e Itapissuma, na porçãooriental do município de Igarassu e nos setores sul e norte-ocidental do município de Itamaracá (mapa 02).Expulso dos terraços marinhos que bordejam as praias, em conseqüência da valorização imobiliária dos terrenos,ali, situados, o coqueiro ocupa, atualmente, trechos de terraços fluviais, algumas encostas e topos de tabuleirosda Formação Barreiras ou de relevos modelados em sedimentos das formações Gramame e Beberibe, no mo-mento, pouco atrativos para outras formas de uso do solo (fotos 27 e 28).

FOTO 27 – Coqueiral sem trato, ocupando encosta de tabuleiro, em Carrapicho (Goiana).

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FOTO 28 – Expansão urbana em área, antes, pertencente a Fazenda de coco(Praia de Carne de Vaca, Goiana)

Embora os municípios de Goiana, Igarassu, Itapissuma e Itamaracá, juntos, detenham 99,6% da área total ocupa-da com a cultura do coqueiro no Litoral Norte, a participação dessa área na superfície daqueles municípios, nãopassa de 2,5%, 3,8%, 10,8% e 9,8%, respectivamente (tabelas 16 e 17). Fora das áreas acima indicadas, a culturado coqueiro acha-se pulverizada em granjas e sítios onde se mistura a outras culturas e, em geral, carece deexpressão econômica.

As maiores fazendas de coco do Litoral Norte (com 300 a 500 ha plantados com coqueiro) localizam-se noentorno da cidade de Itapissuma (Fazenda Mulata e Fazenda da Cobra), entre Carrapicho e São Lourenço (nomunicípio de Goiana) e no município de Igarassu (Fazendas Santa Rita e Ramalho) (foto 29). Nas fazendas e sítios,predomina o coqueiro gigante ou da praia, ao passo que, nas granjas, a variedade mais cultivada é o coqueiro anão.Enquanto as fazendas de coco cultivam o coqueiro isolado ou em consórcio com pecuária bovina, os sítioscultivam-no consorciado com outras fruteiras (manga, caju, acerola, banana, abacate) e com lavoura de ciclocurto (macaxeira, inhame, batata-doce etc).

Realizado em moldes tradicionais, tanto nas grandes como nas pequenas unidades de produção, o cultivo docoqueiro na área raramente é realizado com a utilização de técnicas e insumos modernos (irrigação, sementes emudas selecionadas, espaçamento correto, adubação, limpas periódicas e mecanizadas, aplicação de defensivos,polinização facilitada e renovação dos coqueirais). Poucos produtores adquirem mudas da planta na EstaçãoExperimental de Itapirema ou irrigam o coqueiral, incluindo-se, entre os que cultivam coco irrigado, a FazendaMulata, no município de Itapissuma.

A ausência de tais práticas tem resultado, por sua vez, na baixíssima produtividade da cultura cuja média atual é de4 a 5 frutos por coqueiro, a cada colheita ou cerca de 2000 frutos/ha/ano (contra 10 000 frutos/ha/ano em culturairrigada). Dentre as doenças que atacam o coqueiro, sobressai a lixa - micose que, nos últimos cinco anos, atingiugrande parte dos coqueirais litorâneos, motivando uma queda acentuada da produção. A esses fatores, acrescem-se a falta de apoio técnico e de incentivo financeiro à atividade bem como de medidas capazes de viabilizarem acapitalização do setor, tornando-o competitivo.

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FOTO 29 – Coqueiral da Fazenda Ramalho (Nova Cruz, Igarassu).

A mão-de-obra utilizada na manutenção e na colheita do coqueiral varia com o tamanho da propriedade e,portanto, com a extensão da área cultivada (Vasconcelos, 2000, p. 72), sendo constituída por trabalhadoresassalariados, no caso das fazendas e pela força de trabalho da família, nos sítios menores. A colheita é realizada acada dois meses, para o coco verde e a cada três ou quatro meses, para o coco seco. Na realização dessa tarefasão utilizados, via de regra, trabalhadores especializados – tiradores, ajuntadores e descascadores – residentesnas vilas e povoados próximos aos coqueirais.

A preparação do coco seco para venda consiste na retirada da casca do fruto, da qual pode ser extraída a fibrautilizada como matéria-prima pelas fábricas de capacho e de estofados de carro, às quais os grandes produtoresde coco em geral doam o resíduo da descasca, em troca do pó que utilizam na adubação do coqueiral. Conside-rando que os custos de transporte da casca até a fábrica e de retorno do pó até a fazenda correm por conta doproprietário da fábrica, a distância entre a fazenda de coco e a unidade de beneficiamento, muitas vezes inviabilizaa utilização da casca pela indústria e o conseqüente reaproveitamento do pó pelo produtor de coco (idem, p. 76).

Os produtores da área vendem o coco verde ao atravessador que repassa o produto aos barraqueiros das praias.Alguns, dentre os de maior porte, vendem o produto diretamente para São Paulo. O coco seco (descascado)também é vendido ao atravessador que comercializa o produto na CEASA ou nas feiras e ao intermediário daindústria de leite de coco ou de polpa, que compra a matéria-prima aos grandes produtores. A presença doatravessador na comercialização do coco (verde ou seco) e, mais recentemente, a concorrência do produtoimportado, têm constituído as causas principais do rebaixamento do preço desse produto, tornando-se, portan-to, fatores de desestímulo ao seu cultivo.

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Mergulhada em profunda crise, a cultura do coqueiro tende a continuar sofrendo redução da área ocupada e dovolume produzido. Com o loteamento das fazendas onde é cultivado, o coco vai, aos poucos, transformando-seem cultura de granja para, em futuro próximo, sofrer nova retração, com a urbanização (iminente) dessas áreas.

Dentre os problemas da atividade, no Litoral Norte, sobressaem: a) o caráter rudimentar das técnicas utilizadasno cultivo do coco e no beneficiamento de seu primeiro subproduto (a casca); b) a baixa fertilidade do solo dasáreas onde predomina a cultura; c) a falta de água para irrigação dos coqueirais; d) a falta de apoio técnico ecreditício à atividade; e) a incidência de pragas e doenças sem a adoção de medidas capazes de impedir a propa-gação das mesmas e de promover a recuperação dos coqueirais atingidos; f) o baixo preço do produto, agravadopela forte presença do atravessador na comercialização; g) a concorrência do produto importado, provocandoretração da demanda do coco seco pela indústria; h) a inexistência de associação de produtores, a nível municipale estadual.

3.2.5 GRANJAS, FAZENDAS E CHÁCARAS

Segundo padrão de uso e ocupação do solo, em extensão, do Litoral Norte, as granjas, fazendas e chácarasocupam 9,3% da área e têm maior expressão nos municípios de Igarassu (22,5%) e Itamaracá (19,5%), seguidosde Paulista, Itapissuma e Abreu e Lima com, respectivamente, 9,3%, 8,4% e 7,4% da superfície municipal ocupa-da por esse padrão de uso do solo (tabela 16 e fotos 30 e 31). No que se refere à distribuição da área total degranjas, fazendas e chácaras pelos municípios do setor litorâneo em causa, cabe ressaltar a posição de Igarassuque detém 52,9% da mencionada área, seguido, de longe, pelos demais municípios (tabela 17).

No que tange à distribuição espacial, as granjas, fazendas e chácaras concentram-se nas porções oriental e cen-tro-sul da área, circundando núcleos urbanos ou acompanhando eixos viários principais tais como a PE-018, PE-014, PE-049 e trechos da BR-101 Norte (mapa 02). Situam-se tanto em áreas de alta declividade como em toposplanos e áreas de baixa declividade, ocupando terrenos de natureza calcária (Formação Gramame), arenítica(Formação Beberibe) e argilo-arenosa (Formação Barreiras).

As unidades integrantes do padrão de uso e ocupação do solo em apreço resultam, em sua maior parte, doparcelamento de fazendas e sítios produtores de coco ou de engenhos e medem 1 a 12 hectares (no caso dasgranjas), 0,1 a 1 hectare (nas chácaras) e 100 a 700 hectares (no caso das fazendas de gado). Pertencem, na maiorparte, a empresários e profissionais liberais residentes em Recife.

As granjas e chácaras têm como função principal o lazer de segunda residência e, como atividade comum, o cultivode fruteiras. Nas granjas, a atividade agrícola envolve o cultivo de coqueiro anão, laranja, mamão, banana, limão,abacate, acerola, caju, jaca, mangaba, sapoti, graviola, cana, macaxeira, milho verde, inhame, capim e, em menorescala, a produção de mudas de coco e outras fruteiras bem como de plantas ornamentais. Algumas praticamapicultura e piscicultura ou criam umas poucas cabeças de bovino.

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FOTO 30 – Granjas em Igarassu, à retaguarda do Canal de Santa Cruz, próximo à divisa Igarassu/Itapissuma.

FOTO 31 – Granjas à margem direita do rio Jaguaribe (Itamaracá). No primeiro plano,Reserva Ecológica do Jaguaribe e, ao fundo, ocupação urbana da Praia do Pilar.

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Até 1990, a avicultura era a atividade predominante no setor, sobretudo em Igarassu. Hoje, apenas algumasdessas unidades produzem frango de corte e ovos, em integração com empresas do setor avícola (abatedouros efábricas de rações). Além dessas atividades, as granjas mais produtivas, a exemplo das localizadas no Tabuleiro deMonjope, têm projeto para diversificar a produção, com ranicultura (criação e beneficiamento), industrializaçãode água de coco, produção de derivados de mel, polpa de frutas e macaxeira pré-cozida.

A produção das granjas é vendida ao atravessador, na própria granja ou na CEASA, quando o produtor dispõe detransporte para deslocar o produto até Recife. Alguns produtores de coco vendem o produto aos barraqueiros daorla marítima de Boa Viagem. O associativismo, no setor, encontra-se ainda em fase de consolidação, sobretudoonde os proprietários desenvolvem atividades produtivas e inexiste ou funciona precariamente, onde predominao lazer de segunda residência.

As fazendas existentes na área são em pequeno número - duas em Abreu e Lima e duas em Itapissuma - e depequeno porte. Praticam pecuária bovina de corte (gado nelore e guzerat), criação de cavalo de raça e, em menorescala, criação de algumas cabeças de búfalo, atividades que, em geral, associam com cultivo de coqueiro. Fazemcriatório semi-intensivo, utilizando pastagem artificial, na maior parte, cultivada sem irrigação.

Como principais tendências do padrão de uso do solo em apreço, figuram: a) permanência da queda da avicultura;b) o aumento da produção de milho verde e coco verde, da horticultura (nas propriedades maiores e com dispo-nibilidade de água), da apicultura e da criação de peixes ornamentais; c) o loteamento das granjas localizadas,sobretudo em torno dos núcleos urbanos mais dinâmicos (Abreu e Lima, Igarassu e Itamaracá); d) expansão daárea de granjas e chácaras, pelo parcelamento de fazendas de coco e de áreas ainda ocupadas com mata ecobertura vegetal em recomposição.

Dentre os problemas do segmento em análise, sobressaem: a) falta de água para irrigação; b) dificuldade deescoamento da produção, em conseqüência da falta de pavimentação e de conservação das rodovias de acesso àmaior parte das áreas; c) falta de incentivo à capitalização das atividades desenvolvidas, de sorte a possibilitar autilização do potencial produtivo do setor; d) organização incipiente dos produtores, retardando conquistas im-portantes para o setor tais como melhoria da infra-estrutura e dos serviços básicos, apoio técnico, financiamentoe acesso direto do produtor ao mercado, entre outras; e) falta de equipamentos e serviços básicos (escola de 1o

grau maior, posto médico, posto telefônico, serviço de segurança e coleta de lixo) para atender às comunidadessituadas no interior ou na periferia das áreas mais afastadas dos centros de prestação desses serviços.

3.2.6 AQÜICULTURA

Praticada em alguns estuários do Litoral Norte, a aqüicultura é uma atividade em expansão, na área, envolvendotanto o cultivo artesanal de peixe, camarão e ostra como a produção, em larga escala e com tecnologia avançada,de camarão marinho. Atualmente, as duas modalidades ocupam uma área total de 1 360,67 hectares distribuídosnos municípios de Goiana (70,0%), Itapissuma (23,2%) e Itamaracá (6,8%) (tabela 17 e mapa 02).

No primeiro caso (aqüicultura artesanal), incluem-se os pequenos viveiros localizados no estuário do rio Jaguaribe(foto 32), totalizando 77,61 ha, no rio Arataca e no Canal de Santa Cruz, sendo 15,18 ha no município de Itamaracáe 19,04 ha no município de Itapissuma, perfazendo, juntos, 111,83 ha ou o correspondente a 8,2% da áreaocupada com aqüicultura no Litoral Norte. A estes acrescem-se os cultivos de ostra-de-mangue recém-implanta-dos no estuário dos rios Arataca e Itapessoca.

No segundo caso (produção, em larga escala, de camarão marinho), situam-se os projetos de carcinicultura im-plantados ou em implantação nos estuários dos rios Goiana e Megaó (Atlantis Aqüacultura) e Botafogo (AtapuzAqüicultura, no município de Goiana e Maricultura Netuno, no município de Itapissuma) bem como na FazendaTabatinga, à retaguarda da praia homônima, em Ponta de Pedras (mapa 02), totalizando 1 248,84 hectares ou91,8% da área total da atividade no Litoral Norte.

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FOTO 32 – Viveiros artesanais de peixe e camarão no estuário do rio Jaguaribe (Itamaracá), em em áreas deantigas salinas.

A criação artesanal de peixe ou camarão é, em geral, praticada por pescadores, pequenos agricultores e trabalha-dores rurais e urbanos que têm, nessa atividade, uma alternativa para complementar a renda obtida nas demaisatividades. Exceções a esses casos, são os viveiros que o Instituto de Oceanografia da Universidade Federal dePernambuco mantém na Ilha de Itamaracá, com o objetivo de apoiar as atividades de ensino e pesquisa do citadoinstituto e os viveiros da Secretaria de Agricultura do Estado também, ali localizados e administrados pela Peni-tenciária Agrícola de Itamaracá (foto 33).

Praticada com poucos recursos técnicos e financeiros, a aqüicultura artesanal envolve a criação de peixe (sauna,

tainha, camurim, curimã, bicudo e carapeba), em geral apanhados no próprio estuário, e de camarão vilafranca cujalarva é produzida no laboratório existente em Porto de Galinhas. Tanto o peixe como o camarão são cultivadosem tanques pequenos com paredes de barro, cuja água é trocada a intervalos que variam de cada maré a cadaquinze dias. O peixe é criado sem fornecimento de ração, ao passo que o camarão é alimentado com ração euréia, sem que o produtor receba orientação segura acerca da quantidade de ração a ser ministrada e da relaçãoentre a quantidade de larva e a capacidade dos tanques. Em ambos os casos, a atividade é realizada com mão-de-obra familiar e sem combate a predadores.

A despesca do peixe é anual ou a cada dois anos, enquanto a do camarão é feita a cada três meses. Em ambos oscasos, a produtividade é muito baixa. Uma parte do produto destina-se ao autoconsumo e o restante é vendidoao atravessador. Quando o viveiro é arrendado, metade do produto da despesca vai para o proprietário doviveiro, como pagamento pela utilização deste. Apesar do investimento requerido e dos riscos inerentes à criaçãode camarão, nos moldes em que a atividade é praticada, a tendência observada é a de substituição da criação depeixe pela de camarão ou a venda dos tanques a produtores maiores como vem ocorrendo no estuário do rioJaguaribe, onde evidencia-se a tendência de substituição progressiva da atividade artesanal pela empresarial.

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FOTO 33 – Viveiros mantidos pelo Instituto de Oceanografia da UFPE e pela PenitenciáriaAgrícola de Itamaracá, no Canal de Santa Cruz.

O cultivo artesanal de ostra (ostreicultura) teve início, em 1999, com a implantação de algumas unidades familia-res, no estuário do rio Arataca, a jusante do Assentamento Engenho Ubu, com apoio do Centro Josué de Castroe do Programa Capacitação Solidária. A atividade teve prosseguimento com a implantação, em fins do ano 2000/início de 2001, de unidades similares, em duas áreas do estuário do rio Itapessoca, sendo uma localizada ao ladodo Morro do Celeiro, vizinho de Barra de Catuama, e outra, próximo do bairro Malvinas, ambas com apoio doPRORENDA RURAL-PE e do IBAMA.

A ostreicultura envolve três etapas, a saber: a) montagem da estrutura composta de caixas para berçário, travessei-

ros e mesas de cultivo; b) manejo, compreendendo o conjunto de práticas utilizadas na atividade, desde a capturadas sementes no ambiente natural ou sua aquisição em laboratórios de produção artificial até os cuidados dispen-sados nos períodos de aclimatação das sementes e engorda das ostras; c) colheita, após seis a oito meses demanejo, “a depender do tamanho inicial das sementes e da produtividade natural do local de cultivo.” (PRORENDARURAL-PE, maio de 2000). O produto da atividade destina-se, em princípio, à venda em bares, restaurantes ehotéis.

Os principais problemas enfrentados pelos aqüicultores artesanais são: a) falta de recursos financeiros e de co-nhecimentos técnicos para a prática correta da atividade; b) baixo grau de instrução dos produtores, na maiorparte, analfabetos; c) dependência do atravessador, para comercialização do produto; d) alteração das caracterís-ticas ambientais dos estuários, em conseqüência dos despejos industriais e da utilização de explosivos e substân-cias tóxicas pela pesca predatória; e) corte do mangue para construção dos viveiros (foto 34), sem recuperaçãoda vegetação, após a desativação dos mesmos; f) freqüentes roubo do produto; g) falta de organização dos pro-dutores.

Produzindo em grande escala e em condições técnicas bem diversas da aqüicultura artesanal, os grandes projetosde carcinicultura mobilizam extensas áreas dos estuários constituídas, na maior parte, por ilhas ,ali localizadas.

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FOTO 34 – Mangue degradado para instalação de viveiro de camarão, na localidade denominada Xié (Itamaracá).

O maior projeto do gênero, no Litoral Norte – o Atlantis Aquacultura – situa-se na Ilha de Tiriri, localizada entre osrios Goiana e Megaó (mapa 02). A implantação do projeto teve início em 1997, sendo o mais antigo dentre os quatroexistentes na área. Ocupando 770,8 ha, o referido projeto tem cerca de setenta viveiros de oito hectares em média(quarenta e cinco dos quais em operação e vinte cinco em fase de instalação, à época da pesquisa – novembro/1999),destinados a engorda e a reprodução. O restante da área do projeto é ocupado com canais, berçário para pós-larva,planta de processamento, unidade de apoio à produção e unidade de apoio administrativo.

A espécie de camarão cultivada é a Litopenaeus vannamei cujas larvas são produzidas pelas empresas Aqualider eTecmares, ambas localizadas no litoral do município de Ipojuca. O processo de produção utilizado pela Atlantisabrange seis fases: 1) recepção das larvas; 2) contagem estatística; 3) aclimatação; 4) berçário; 5) engorda; 6)despesca. As práticas utilizadas na atividade incluem: alimentação com ração balanceada, fertilização da água,troca diária de parte da água dos tanques e controle de predadores, com telagem das comportas do canal queinterliga os tanques aos rios Megaó e Goiana. Produzindo com tecnologia avançada, o empreendimento vemapresentando produtividade média elevada – cerca de quinze toneladas por tanque de oito hectares, por despescarealizada a cada ciclo de noventa dias.

A atividade emprega três tipos de mão-de-obra: mão-de-obra especializada, com formação de nível superior,utilizada em supervisão e gerenciamento; mão-de-obra semi-especializada, com formação técnica de nível médio(técnico agrícola, técnico em aquacultura) ou com experiência em fazendas de camarão; e mão-de-obra nãoespecializada, recrutada na região (em Tejucopapo, Carne de Vaca e São Lourenço), na maior parte constituídapor ex-trabalhadores da cana.

O projeto conta com apoio financeiro do FINOR/SUDENE e produz para o mercado interno (supermercadosCarrefour e Bompreço). À época da pesquisa de campo (novembro/1999), a empresa estava procedendo aampliação da área de produção (de 45 para 70 viveiros) e a instalação da unidade de beneficiamento (lavagem elimpeza, classificação por tamanho, descabeçamento, filtragem e congelamento), com vistas ao fornecimento doproduto ao mercado internacional (Espanha e Estados Unidos).

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O segundo empreendimento do gênero, em extensão, no Litoral Norte – a Maricultura Netuno – situa-se noestuário do rio Botafogo, no local denominado Engenho Porto e Salina e acha-se, ainda, em fase de instalação(foto 35). Abrange uma área total de 676,5 ha, dos quais cerca de 270 ha correspondem à área destinada atanques-berçários e viveiros (de engorda e reprodução). O restante da área da fazenda deverá ser ocupada pelasunidades industrial e de apoio à produção, por diques e estradas, canais de abastecimento e descarga de água epela reserva florestal, prevista em 299,5 hectares de mangue (cf. Plano de Controle Ambiental da MariculturaNetuno, encaminhado à CPRH, em 1999). O projeto tem como meta principal a produção de camarões marinhos(adultos) para os mercados interno e externo bem como de náuplios e pós-larvas para consumo próprio e vendado excedente no mercado regional.

O terceiro e o quarto projetos de carcinicultura em instalação no Litoral Norte – Atapuz Aquacultura (foto 35) eFazenda Tabatinga – medem, respectivamente, 155,52 e 26,16 hectares, sendo, portanto, de dimensão inferior àdos dois projetos acima descritos.

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FOTO 35 – Vista aérea das áreas de instalação dos Projetos de Carcinicultura Maricultura Netuno (à esquerda)e Atapuz Aquacultura (à direita), próximo à desembocadura do rio Botafogo no Canal de Santa Cruz (divisaItapissuma/Goiana).

À diferença das unidades artesanais de aqüicultura, os empreendimentos em apreço estão estruturados paraproduzirem em sistema semi-intensivo, com tecnologia avançada, alta produtividade e em condições de competirnos mercados interno e externo. Incentivada pela expansão de tais mercados, a tendência da atividade é deocupar novas áreas, seja pela aquisição de viveiros artesanais seja pela compra/ utilização de áreas ainda nãoexploradas, o que tem ocorrido à custa da destruição de parte da vegetação de mangue.

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Com base no exposto, identifica-se como principais problemas da atividade: a) devastação do mangue para im-plantação/ampliação da infra-estrutura de produção e das vias de acesso aos projetos; b) degradação do mangueem conseqüência do bloqueio do fluxo de água salgada, nos trechos isolados com a construção das vias de acesso;c) falta de mão-de-obra qualificada tanto de nível superior como de nível médio; d) redução da área de pescaestuarina, sem a criação, em escala equivalente, de alternativas de geração de renda para a população que viviadaquela atividade, nas áreas, hoje, ocupadas com os grandes projetos de carcinicultura; d) a perspectiva de insta-lação, até o ano 2003, de trinta mil hectares de viveiros na Região Nordeste, na medida em que parte dessesempreendimentos estará localizada no Litoral Norte, agravando, assim, os problemas acima mencionados.

3.2.7 - USO INDUSTRIAL

A atividade industrial, no Litoral Norte, inclui tanto indústrias modernas de grande, médio e pequeno porte comoindústrias tradicionais de micro e pequeno porte e caráter artesanal. As indústrias integrantes do setor modernoconcentram-se nos municípios de Paulista, Abreu e Lima e Igarassu, sendo praticamente inexistentes nos municí-pios de Itaquitinga, Araçoiaba e Itamaracá e pouco expressiva nos municípios de Goiana e Itapissuma. No tocanteaos três primeiros municípios, as indústrias de médio e grande porte encontram-se no Distrito Industrial ArthurLundgren localizado em Paulista e Abreu e Lima ou distribuem-se ao longo da BR-101, no trecho compreendidoentre as rodovias PE-015 e PE-041, esta última abrigando em seus doze quilômetros iniciais, algumas das princi-pais indústrias de Igarassu (mapa 02).

Em Itapissuma, as indústrias de maior porte concentram-se junto à PE-035 onde também está localizado o distri-to industrial do município, exceção apenas da NAVESUL que, por sua especificidade (estaleiro), foi instalada noencontro do rio das Pacas com o Canal de Santa Cruz. Em Goiana, as indústrias de maior porte situam-se na zonarural, exceção apenas da indústria mais antiga do município – a FITEG (desativada) – que está encravada na malhaurbana.

O segmento industrial em apreço é, na maior parte, constituído por unidades de médio porte e, em menor escala,por unidades de grande e pequeno porte. Muitas dessas indústrias têm a matriz no Centro Sul do país ou perten-cem a grupos, ali, sediados. Não obstante tais características, as unidades integrantes de dito segmento têmapresentado reduzido poder de permanência na área, sendo significativo o número de empresas que, nos últimosdez anos, fecharam ou entraram em crise, transferindo para o setor informal da economia um contingente cres-cente da força de trabalho urbana.

Quanto à distribuição dessas indústrias segundo o gênero, observa-se a tendência de concentração de determina-dos gêneros em alguns municípios, a saber: Paulista, com 33,3% de suas indústrias classificadas nos gêneros Têxtile Vestuário e 29,2%, nos gêneros Química e Produtos de Matérias Plásticas; Igarassu, com 34,6% das unidadesindustriais integrantes dos gêneros Química e Produtos de Matérias Plásticas e 23,7% nos gêneros Metalúrgica,Mecânica e Material Elétrico/Eletrônico e de Comunicações; Abreu e Lima, com 25,0% das indústrias nos gêne-ros Química e Produtos de Matérias Plásticas, 21,4% no gênero Têxtil e Vestuário e 21,4% nos gêneros Metalúrgica,Mecânica e Material Elétrico/Eletrônico e de Comunicações; e Goiana, com 50,0% de sua atividade industrialcentrada no gênero Extração de Minerais (mineração de areia). O restante das indústrias do setor, integrantesdos diferentes gêneros, está distribuído, em idênticas proporções, em Itapissuma e nos municípios supracitados.

A distribuição das indústrias por bacia hidrográfica revela uma elevada concentração industrial no trecho inferiordas bacias dos rios Barro Branco-Timbó, Igarassu, Paratibe e, em menor escala, no trecho médio da bacia do rioBotafogo. Pouco concentrada, mas incluindo indústrias de grande porte, apresenta-se a atividade industrial nassub-bacias dos rios Tracunhaém e Capibaribe Mirim, no trecho contido no município de Goiana. Tais concentra-ções, associadas ao elevado potencial degradador de muitas dessas indústrias e à inexistência de rede de esgotonas áreas onde estão localizadas, têm como resultado a poluição dos rios e estuários integrantes das bacias acimamencionadas e a provável degradação dos respectivos ecossistemas.

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O outro segmento da atividade em questão é constituído por um grande número de micro e pequenas unidadesde produção que ocorrem dispersas na malha urbana dos municípios da área. Integram tal segmento a maiorparte das padarias e serrarias, os fabricos de móveis e produtos alimentares, confecções, gráficas, serralharias etc.que utilizam, quase sempre, a mão-de-obra da família e, eventualmente, um a três assalariados, em geral semvínculo empregatício. Descapitalizadas e com baixo nível tecnológico, a quase totalidade dessas indústrias apre-senta baixa produtividade e grande potencial degradador, contribuindo, freqüentemente, para a poluição do solo,do ar e dos recursos hídricos das áreas onde estão localizadas. Ao contrário do segmento moderno, a atividadeartesanal tende a continuar expandindo-se e a manter o baixo nível tecnológico e de produtividade vigente nosetor.

3.2.8 - USO URBANO E URBANO-INDUSTRIAL

As áreas urbanas do Litoral Norte concentram-se nas porções sul-oriental e oriental desse segmento litorâneo,avançando para o norte ao longo da BR-101 (até o limite entre os municípios de Igarassu e Itapissuma) e da PE-035 (até a cidade de Itapissuma). Pelo litoral, a ocupação urbana estende-se ao longo da orla marítima, desde aPraia do Janga (em Paulista) até a Praia de Carne de Vaca, com uma breve interrupção no trecho compreendidoentre essa última praia e a de Ponta de Pedras (ambas, no município de Goiana). Integram essas concentrações asáreas urbanas dos municípios de Paulista, Abreu e Lima, Igarassu, Itapissuma e Itamaracá e do distrito de Ponta dePedras, no município de Goiana (mapa 02).

Fora das citadas concentrações, constituindo áreas urbanas isoladas, encontram-se as cidades de Goiana, Itaquitingae Araçoiaba e as vilas de Tejucopapo (município de Goiana) e Três Ladeiras (município de Igarassu). Com exceçãoda vila de Tejucopapo, que localiza-se na porção norte-oriental do Litoral Norte, os demais núcleos urbanos estãolocalizados na porção ocidental desse segmento do Litoral Pernambucano (mapa 02).

Os dois conjuntos de áreas urbanas acima mencionados – o das porções oriental e sul-oriental e o da extremidadeocidental do Litoral Norte – ocupam, em geral, superfícies planas dos terraços marinhos e fluviais e, em menorescala, áreas de relevo ondulado modelado em depósitos das formações Barreiras, Beberibe e Gramame.

O primeiro dos conjuntos supracitados teve sua origem vinculada a três fatores propulsores de urbanização –indústria, função administrativa e pesca/lazer – e, como ponto de partida, os primeiros núcleos a abrigarem essasfunções, na área, quais sejam: o núcleo urbano-industrial de Paulista, o núcleo administrativo de Igarassu e aspovoações de pescadores que surgiram ao longo da orla marítima e constituíram pontos de atração para veranis-tas e turistas. Posteriormente, os eixos viários que cortam o Litoral Norte – BR-101 Norte, PE-015, PE-018, PE-035, PE-022 e vias litorâneas – funcionaram como catalizadores do processo de expansão dos núcleos originais ecomo motivadores da conurbação entre os núcleos urbanos em apreço e destes com Olinda e Recife.

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3.2.8.1 - A AGLOMERAÇÃO URBANO-INDUSTRIAL DA PORÇÃO SUL-ORIENTALDO LITORAL NORTE

A vocação urbano-industrial de Paulista nasceu no final do século XIX, com a instalação, em 1891, no municípiode Paulista, da Companhia de Tecidos Paulista (Lima, 2000, p. 36) e, posteriormente, da Fábrica Aurora, tambémdo gênero Têxtil. Junto a cada uma dessas indústrias surgiram, no início do século XX, as respectivas vilas operá-rias (FIDEM, 1978, p. 381), ao mesmo tempo que, entre ambas, foi-se constituindo o centro comercial e adminis-trativo do núcleo urbano em formação.

Com a implantação, em 1966, do Distrito Industrial Arthur Lundgren, em Paulista e Abreu e Lima, à margem daBR-101 Norte, teve início a expansão do núcleo urbano-industrial de Paulista, fenômeno que recebeu grandeimpulso, a partir dos anos setenta, com a construção, pela COHAB, dos conjuntos habitacionais Arthur LundgrenI e II (entre a PE-015 e a BR-101 Norte), Jardim Paulista (a oeste do núcleo urbano-industrial), Maranguape I e IIe Engenho Maranguape (à margem da PE-022) (mapa 02).

A construção de conjuntos habitacionais ao longo da PE-022 transforma essa rodovia em eixo direcionador daexpansão urbana de Paulista para nordeste, motivando o surgimento, nas décadas seguintes (oitenta e noventa),tanto de loteamentos populares (Nossa Senhora da Conceição, Riacho da Prata, Alameda Paulista) como deinvasões (Chega Mais, Lagoa Azul e outras), em áreas alagadas e manguezais, à retaguarda da citada rodovia. Aexpansão da cidade para o sul e para sudoeste, no ritmo em que vem-se processando, em breve interligará onúcleo urbano de Navarro e a Vila Torres Galvão, em Paulista, com a mancha urbana norte-ocidental de Olinda,completando, assim, a conurbação dos dois centros urbanos.

A expansão do núcleo urbano-industrial de Paulista, através do surgimento de novos bairros, deu lugar à consti-tuição de subcentros comerciais e de prestação serviços, tanto no interior desses bairros como ao longo dasprincipais vias de ligação dos mesmos com os núcleos urbanos mais antigos – Paulista-sede, Navarro, Paratibe eFragoso -, ampliando a diferenciação funcional da cidade e fortalecendo sua centralidade no sistema urbanometropolitano.

A elevada taxa de crescimento demográfico aliada à valorização crescente do solo urbano em Paulista, tem moti-vado a ocupação irregular das áreas livres (praças, jardins, vias de circulação e espaços entre as moradias) tantodos conjuntos habitacionais supracitados como de outros setores do tecido urbano, inclusive de áreas protegidas(alagados, manguezais) e áreas de risco (várzeas fluviais e encostas com alta declividade). A ocupação dessas áreascom moradias e instalações para comércio e serviços informais, tem contribuído para a degradação do solo e dosrecursos hídricos, na medida em que provoca a sobreutilização do sistema de esgotamento sanitário e o escoa-mento dos dejetos diretamente para os canais, rios e estuários.

Além da expansão do núcleo urbano-industrial de Paulista, a implantação do Distrito Industrial Arthur Lundgren,em 1966, impulsionou a ocupação urbano-industrial ao longo da PE-015 e da BR-101 Norte, a ponto de “ ... vê-se a área composta por Paulista, Paratibe e Abreu e Lima, formar quase uma conurbação que se estende emdireção a Igarassu.” (Costa, 1982, p. 84). A exemplo de Paulista, a expansão do núcleo urbano de Abreu e Limaintensificou-se a partir dos anos setenta, com a construção pela COHAB, do Núcleo Habitacional de Abreu eLima (1974) e, posteriormente, dos conjuntos habitacionais Caetés I, II e III (mapa 02).

A instalação de várias indústrias isoladas, ao longo da BR-101 e a constituição de um importante eixo de comércioe serviços, no trecho em que essa rodovia corta a cidade de Abreu e Lima, foi outro fator decisivo para a expan-são acelerada desse núcleo urbano. A implantação, nas décadas de 80 e 90, de vários loteamentos (Jardim Planal-to, Arco-iris, Boa Sorte, Parque Alvorada, Santo Antônio e São José) atesta o intenso ritmo de crescimento dacidade, nesse período.

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Menos industrializada do que Paulista e apresentando porte funcional bem mais modesto do que aquele centrourbano, Abreu e Lima desempenha a função de “cidade dormitório” com elevado contingente de população debaixa renda. A inserção desse contingente populacional no espaço urbano em análise tem-se dado tanto pelaocupação irregular das áreas livres dos loteamentos regularizados como através de invasões em áreas de morros,a exemplo do Morro do Fosfato (Alto José Bonifácio) – a maior invasão de Abreu e Lima – e, mais recentemente,na periferia dos conjuntos habitacionais da COHAB, incluindo-se, nesse caso, a Invasão Frei Damião localizada naperiferia norte do Conjunto Habitacional Caetés I e a ocupação das encostas com alta declividade situadas entreos conjuntos habitacionais Caetés I e II.

Essas formas de ocupação desordenada do solo, além de contribuírem para a desestabilização das encostas e oaumento das áreas de risco, em conseqüência da devastação da cobertura vegetal dessas áreas, degradam o soloe os cursos de água pelo lançamento, nos mesmos, dos resíduos (excedentes ou totais) de origem doméstica eindustrial. A falta de saneamento ou a precariedade desse sistema na maior parte dos bairros, agrava, em muito,o problema ambiental do núcleo urbano em apreço.

O segundo núcleo gerador da aglomeração urbana sul-oriental do Litoral Norte – o núcleo urbano de Igarassu –surgiu no século XVII, constituindo, juntamente com Olinda e Conceição (em Itamaracá), as primeiras vilas funda-das no Nordeste (Andrade, 1977, p. 24). Guardando as características originais, em conseqüência do fraco dina-mismo apresentado ao longo de sua evolução, “Igarassu, com suas igrejas, seu convento, seu recolhimento demulheres virtuosas, seu suntuoso edifício da Cadeia e da Câmara era [no século XVIII] um pequeno centrourbano, onde funcionavam dois curtumes. Na sua área de influência situavam-se as povoações de Tracunhaém eBom Jardim” (Idem, p.34).

Como outras cidades nordestinas desprovidas de indústrias e dependentes da área rural que as cerca, Igarassupossuía, em 1950, 2 116 habitantes, enquanto a cidade de Paulista (a sede + a vila de Navarro) e as vilas deParatibe e Abreu e Lima possuíam, naquele ano, respectivamente 21 243, 5 609 e 5 554 habitantes (IBGE, 1960).Embora conte, hoje, com um parque industrial “formado por 30 grandes indústrias”, Igarassu apresenta níveiselevados de desemprego “chegando a 40% da população [total]” e taxa de analfabetismo da ordem de “36% dapopulação adulta” (Melo, 2001, p.5), a par de um crescimento urbano médio de 4,5% ao ano, no período 1970-2000 (IBGE, 2001). Crescimento esse que, no caso específico da sede municipal, foi da ordem de 6,0% ao ano, noperíodo 1970-1980 e de 5,8% ao ano, no período 1980-1991.

Funcionando como “zona de amortecimento” dos fluxos migratórios que se dirigem da Mata Setentrional para oNúcleo Metropolitano, a cidade de Igarassu vê crescer, a cada ano, o cinturão de miséria de sua periferia. Dentreos fatores que contribuem para as elevadas taxas de crescimento do núcleo urbano de Igarassu, figuram: a) suaproximidade do mercado de trabalho metropolitano; b) o valor relativamente baixo do solo na periferia dessenúcleo urbano (sobretudo se comparado àquele das áreas correlatas de Recife, Olinda e Paulista); c) a presençade granjas e sítios em torno da cidade, gerando oportunidade de emprego para uma parcela da força de trabalhonão qualificada; d) a proximidade do estuário, de onde a população de baixa renda, mormente a desempregada,retira parte de seu sustento.

O dinamismo demográfico de Igarassu se reflete no grande número de loteamentos implantados em seu períme-tro urbano, nas décadas de oitenta e noventa (Loteamentos Encanto Igarassu - 1985; Projeto Verde Teto e Cen-tro Igarassu, em 1987; Condomínio Santa Cruz - 1993; Padre Cícero, Frei Damião, Santa Bárbara, Rumo Leste ePrivê Vila Harmonia, em 1994; Cortegada – 1996; Parque Igarassu e Nova Holanda, em 1997; Bairro Novo deMonjope – 1998, entre outros).

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Até 1970, a área urbana do distrito-sede de Igarassu compunha-se do pequeno núcleo formado em torno docentro histórico localizado à margem da PE-035 (ao sul do ponto em que essa rodovia corta o rio Igarassu) edistava quatro quilômetros de Cruz de Rebouças, seu bairro mais importante cortado pela BR-101. O crescimen-to urbano pós-setenta não só preencheu os espaços vazios entre aqueles núcleos, interligando-os, como projetoua ocupação urbana para o norte – ao longo da BR-101 e da PE-035, até a divisa de Igarassu com Itapissuma, paraoeste e para leste desses eixos viários, agregando, ao tecido urbano, áreas até então integrantes de granjas e sítiosde coco. Paralelamente, concentram-se em torno dos citados eixos viários a função comercial e os principaisequipamentos de prestação de serviços.

Concomitante à ocupação planejada do solo urbano, proliferaram, em Igarassu, as ocupações irregulares efetuadastanto através de invasões em áreas de antigos e novos loteamentos (Recanto Igarassu, Cortegada, São Vicente eoutros) como em áreas alagadas, margens de rios e estuários. Combinam-se, assim, no mesmo espaço, cresci-mento urbano, surgimento de bolsões de pobreza e ocupação desordenada do solo, como fatores de degradaçãosobretudo dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos com o agravante de encontrar-se esse núcleo urbanointeiramente situado sobre a superfície de afloramento da Formação Beberibe (aqüífera) e conter apenas umacomunidade com esgotamento sanitário – a Vila Saramandaia, construída pela COHAB, provavelmente na décadade setenta.

Também sobre a Formação Beberibe, encontra-se localizado o núcleo urbano de Itapissuma, interligado a Igarassue a Itamaracá pela PE-035 e separado do primeiro desses aglomerados apenas pelo Distrito Industrial José Ermíriode Moraes que se estende do limite sul do município de Itapissuma até a periferia da sede municipal.

Tendo como origem um pequeno porto, à margem do Canal de Santa Cruz, junto ao qual se formou uma aldeiade pescadores, a povoação de Itapissuma teve sua evolução vinculada à atividade pesqueira. “Mais tarde, a PE-035, que liga Igarassu à Ilha de Itamaracá (...) vem interferir na configuração da trama urbana, atravessando onúcleo de Itapissuma.” (FIDEM, 1978, p. 121). A construção, em 1940, da Ponte sobre o Canal de Santa Cruzdeve ter impulsionado a expansão do aglomerado ao longo da PE-035 e da Estrada do Pasmado – rodovia secun-dária que interliga Itapissuma à BR-101, na altura da igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem do Pasmado.

Cidade de pequeno porte, Itapissuma caracteriza-se como um núcleo residencial com um setor terciário (comér-cio e serviços) de reduzida expressão, concentrado ao longo da PE-035 (ruas João Pessoa, Frei Serafim e PraçaAgamenon Magalhães) e do cais em cujo entorno (Bairro São Gonçalo) reside o segmento social de renda maisalta, predominando, no restante do espaço urbano, a população de renda baixa (pescadores e subempregados) eos desempregados.

Ocupando terras do Patrimônio (da Igreja) e cercada por Fazendas de coco – Fazenda Mulata (ao norte e a oeste)e Fazenda da Cobra (ao sul) – a cidade tem formato alongado no sentido leste-oeste (mapa 02) e não dispõe deespaço para crescer, embora tenha apresentado crescimento anual moderado (2,8%), no período 1970-2000. Apartir de 1970, a expansão urbana de Itapissuma tem-se dado, sobretudo, através de invasões, sendo essa aorigem de vários bairros, a exemplo de Cajueiro, Várzea, Nossa Senhora da Conceição, Grêmio, São Pedro eBarreiro. O único loteamento existente no perímetro urbano de Itapissuma – o Cidade Criança – surgiu nadécada de oitenta e já tem uma invasão em sua periferia sul e sudoeste, junto do manguezal do riacho dos Paus,afluente do rio das Pacas.

Impedida de expandir-se em áreas contíguas, a cidade tem parte de seu crescimento direcionado para o BairroMangabeira, localizado na porção centro-sul do município, a cerca de três quilômetros do núcleo urbano, ao ladodo distrito industrial. Situado na zona rural do município, em área loteada para granjas e chácaras, o bairro emapreço não tem calçamento e dispõe de poucos equipamentos e serviços para atender à população constituída,na maior parte, de desempregados, pescadores e trabalhadores rurais.

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Com apenas 15% da área da sede (ou cerca de 500 domicílios) atendidos com esgotamento sanitário (rede decoleta e tratamento do esgoto) à época da pesquisa (outubro de 1999), Itapissuma apresenta como principalproblema ambiental o alto risco de contaminação do Aqüífero Beberibe, sobre o qual estão assentados a cidadee o Bairro Mangabeira, bem como do Canal de Santa Cruz, em cuja margem situam-se áreas urbanas (inclusive,invasões) desprovidas de esgotamento sanitário e, mesmo, de fossa séptica, utilizada apenas por 5,2% dos domi-cílios, em 1991.

3.2.8.2 - A URBANIZAÇÃO DA ORLA MARÍTIMA

Disposta ao longo do litoral, a área que abriga a concentração urbana da porção oriental do Litoral Norte teve suaocupação inicial definida pela presença, ali, de três elementos característicos do litoral nordestino – o mar, osterraços marinhos e restingas e os manguezais. Esses três elementos deram origem às formas de ocupação que,por muito tempo, marcaram a paisagem da área em apreço, quais sejam: sítios de coqueiro, lavouras de subsis-tência e “algumas fruteiras, assinalando a presença de habitações rústicas e dispersas.” (Costa, 1982, p.21).

Essa paisagem que predominou, em toda orla marítima norte, até o início dos anos setenta, sofreria, a partir deentão, profundas modificações impulsionadas pela intensificação do processo de expansão urbana de Recife. Esseprocesso, que teve como um de seus eixos a faixa de praia norte da RMR, atingiu a área na década de cinqüenta,com a implantação, na orla marítima de Paulista, em 1953, do primeiro loteamento “ ... localizado no início doJanga (...) estendendo-se desde a beira-mar até próximo à Lagoa Tururu.” Idem, p. 110).

Com esse loteamento, iniciou-se também “a expulsão dos antigos moradores da área próxima ao mar” muitosdos quais, não tendo para onde ir, “fixaram-se em local próximo à lagoa (...) resultando a formação no local de umpequeno aglomerado que recebeu a denominação de Tururu.” O surgimento de outros loteamentos e a expulsãodos moradores que ocupavam as áreas loteadas fizeram surgir, mais adiante, um outro aglomerado denominado“Ilha dos Macacos” (p. 110) que, junto com Tururu, constituíram as primeiras favelas do espaço em questão.

Ao longo da década de setenta, intensificou-se a ocupação da faixa litorânea, próxima à praia e à rodovia PE-001,atingindo Pau Amarelo (ao norte) e provocando o recuo, para o interior, das populações nativas forçadas a aban-donarem as áreas loteadas. Nas décadas de oitenta e noventa, o processo de expansão urbana, iniciado emPaulista na década de cinqüenta, alcança as praias de Conceição e Maria Farinha e avança para o norte (fotos 36 e37), envolvendo núcleos urbanos e povoados antigos do litoral de Igarassu, Itamaracá e Goiana, reproduzindo, naorla marítima desses municípios, a dinâmica que, nas décadas anteriores, presidiu a urbanização da orla de Paulista.

Tanto em Paulista, como nos demais municípios, paralelamente ao adensamento da ocupação da faixa próxima domar - mais valorizada e apropriada pelo segmento social de renda média e média alta – efetuou-se a ocupação dasáreas afastadas da orla por moradias de padrões construtivos progressivamente baixos (foto 38), evoluindo parapadrões subnormais, nas áreas de mangues e alagados e nas encostas das colinas e tabuleiros que limitam, emalguns trechos, os terraços litorâneos. Não só no tocante ao padrão construtivo, mas também quanto à infra-estrutura, a faixa próxima do mar diferencia-se daquelas mais interiorizadas que se apresentam progressivamentedesprovidas de áreas livres, vias de circulação largas e pavimentadas, esgoto etc.

Uma outra característica da concentração urbana litorânea é a existência, ali, de dois setores distintos quanto aoperíodo de ocupação das moradias e à utilização dos serviços que atendem à população: os setores de ocupaçãopermanente e os de veraneio. No primeiro caso, incluem-se os setores urbanos ocupados pela população nativa(residente nos núcleos antigos) ou pelo contingente de renda média e média-alta que, aos poucos, foi transferindosua residência de Recife e Olinda para a orla litorânea dos municípios próximos dessas cidades, onde já eramveranistas. No segundo caso, situam-se as áreas cuja ocupação das moradias ocorre apenas nos meses de verãoou de alta estação (dezembro a fevereiro) bem como em feriados prolongados.

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FOTO 36 – Início da expansão urbana (1990), à retaguarda da Praia de Catuama (Ponta de Pedras, Goiana)

FOTO 37 – Loteamento Porto do Sol, em fase adiantada de ocupação (1999), em Catuama(Ponta de Pedras, Goiana)

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FOTO 38 – Invasão na encosta do tabuleiro, assinalando a expansão do bairro Malvinas (co-munidade de pescadores), em Ponta de Pedras, Goiana.

Dentre os setores urbanos litorâneos com predominância de ocupação permanente, encontram-se: a) o trechodo litoral de Paulista que se estende da Praia do Janga até a Praia de Nossa Senhora do Ó, abrangendo tanto a orlamarítima como as áreas a sua retaguarda, limitadas, a oeste, pelo Parque do Janga e pelo estuário do rio Timbó; b)os núcleos urbanos de ocupação antiga constituídos pela vila de Nova Cruz (em Igarassu), pelo conjunto urbanode Pilar-Jaguaribe (em Itamaracá) e pelas povoações de Barra de Catuama, Ponta de Pedras e Carne de Vaca (emGoiana), onde reside a população vinculada à pesca, ao comércio e à prestação de serviços.

Nos setores urbanos litorâneos com predominância de ocupação temporária para veraneio ou lazer de segundaresidência, incluem-se: a) a orla marítima de Paulista, no trecho entre a Praia de Nossa Senhora do Ó e o Pontalde Maria Farinha; b) a orla marítima de Igarassu que se estende do entorno da vila de Nova Cruz até o limite norteda Praia de Mangue Seco; c) a orla marítima de Itamaracá, do Forte Orange até o limite do setor de ocupaçãopermanente de Pilar e Jaguaribe bem como da Praia do Sossego até o Pontal da Ilha; d) a orla marítima de Goiana,no trecho entre a povoação de Barra de Catuama e o limite sul da vila de Ponta de Pedras (incluindo o núcleoantigo e a Vila Malvinas) e no trecho que circunda a povoação de Carne de Vaca.

A diferenciação funcional das áreas em apreço – segundo momento do processo de estruturação dos núcleosurbanos – caracteriza-se pelo surgimento, nas mesmas, de centros e eixos de comércio e serviços, para atendi-mento tanto à população permanente como ao contingente que acorre a essas áreas com objetivo de turismo elazer. Os centros de comércio e serviços que, em geral, ocorrem no interior dos núcleos antigos (cuja constitui-ção precedeu a urbanização recente) surgiram, com freqüência, em torno de uma praça central, dali irradiando-se para as ruas próximas, dando origem ao centro expandido.

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Enquanto isso, nas áreas de ocupação recente, o comércio e os serviços tendem a concentrar-se ao longo doseixos viários que cortam essas áreas, a exemplo das vias litorâneas PE-001 e PE-035 – a primeira, em Paulista e notrecho sul do litoral de Itamaracá e a segunda, na porção centro-oriental desse último município. Em torno desseseixos, localiza-se a maior parte do comércio e dos serviços de apoio às atividades de turismo e lazer – supermer-cados, padarias, casas de material de construção, restaurantes, bares, lanchonetes, hotéis, pousadas, marinas etc.

Sendo a faixa litorânea área de rápida valorização do solo, o adensamento da ocupação urbana, no setor, trazconsigo problemas relacionados à apropriação de áreas públicas (privatização da praia através da instalação debarracas e da construção de muros (foto 39) e rampas, motivando a erosão acelerada e o recuo da linha de costa;obstrução das vias de acesso à praia) e à degradação dos recursos naturais. Contribui também para a urbanizaçãodesordenada da orla marítima, a especulação imobiliária responsável pela manutenção de extensas glebas deso-cupadas, próximo à praia, enquanto ocorre o adensamento e a apropriação irregular de outras áreas.

FOTO 39 – Avanço de muro e de cercas na faixa de praia (Catuama, Goiana).

A degradação ambiental da orla marítima urbanizada tem como causa principal a inexistência de esgotamentosanitário, na maior parte das áreas de ocupação recente, tendo como conseqüência inevitável a poluição do solo,dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos e da própria praia, onde deságuam pequenos rios (maceiós) que,transformados em esgotos, lançam na praia dejetos domésticos, sem qualquer tratamento (foto 40). Muitosdesses cursos de água foram aterrados após o loteamento da área, o mesmo ocorrendo com mangues e alagadosque separavam restingas e terraços marinhos antigos e recentes.

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3.2.8.3 - A DINÂMICA DOS NÚCLEOS URBANOS DA PORÇÃO OCIDENTAL DOLITORAL NORTE

Separados espacialmente, os núcleos urbanos da porção ocidental da área refletem, em sua estrutura socioespacial,a dinâmica das áreas rurais onde estão inseridos. Dentre estes, apenas a cidade de Goiana sobressai em portedemográfico e funcional, apresentando, em 1991, uma população residente de 33 750 habitantes que, no ano2000, deve situar-se abaixo de 37 000 habitantes, considerando-se a taxa de crescimento anual da populaçãourbana do município, no período - 0,8% - (IBGE, Resultados Preliminares do Censo Demográfico de 2000).

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FOTO 40 – Maceió poluído por lixo e esgoto (Praia de Jaguaribe, Itamaracá).

Na área de influência urbana de Goiana, situam-se Itaquitinga e Tejucopapo, cuja população, no ano 2000 totalizava,respectivamente, 10 780 e 4 574 habitantes, esta última estimada com base na taxa de variação anual da popula-ção urbana do município de Goiana ao qual vincula-se, administrativamente, a vila de Tejucopapo. Araçoiaba,situada na área de influência urbana de Igarassu, possuía, então, 12 440 habitantes, tendo crescido à taxa de 3,6%ao ano, no período 1991-2000, enquanto Itaquitinga crescera, no mesmo período, 1,5% ao ano. Os quatronúcleos urbanos têm como traço comum a forte dependência da agroindústria açucareira cujo dinamismo econô-mico presidiu-lhes a evolução.

A constituição do núcleo populacional, que daria origem à cidade de Goiana remonta ao século XVI. Surgiu coma exploração do pau-brasil e, posteriormente, da cana-de-açúcar no vale do rio Goiana, transformando-se emvila, no final do século XVII (IPECONSULT, 1999, p. 42). O vigor da economia da área reflete-se na expansão donúcleo urbano de Goiana e no expressivo patrimônio histórico-religioso, ali, existente no século XVIII, constitu-ído pela Santa Casa de Misericórdia e pelas igrejas localizadas na área central da cidade e no seu entorno, teste-munhando, nos dias atuais, o esplendor daquela época (p. 44).

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Expandindo-se a partir dos monumentos religiosos construídos nos séculos XVII e XVIII, o tecido urbano deGoiana foi-se estruturando a custa do “parcelamento das áreas de sítios” localizadas em torno ou nas proximida-des desses monumentos (p. 51). Elevada à categoria de cidade em 05 de maio de 1840, Goiana constituiu, noséculo XIX, importante centro comercial, exportador de produtos agrícolas e importador de artigos da Europapara consumo de sua elite. A inauguração, em 1870, do Canal de Goiana atesta esse fato, ao mesmo tempo quefavorece a ampliação do comércio e o fortalecimento da cidade como centro comercial, ensejando a instalação,em 1882, da Associação Comercial de Goiana (IPECONSULT, 1999, p. 46). A pujança econômica da cidade, noséculo XIX, impulsiona a expansão da área urbanizada, reduzindo os vazios que separavam os núcleos iniciais deurbanização.

Apesar das crises conjunturais que atingiram o setor açucareiro e abalaram a economia do município, no séculoXIX, Goiana mantém sua importância econômica e política a ponto de ser contemplada com a instalação, em1894, de uma das cinco indústrias têxteis implantadas em Pernambuco, no período de 1891-1894 – a Fiação deTecidos Goiana (FITEG) – que impulsionará a expansão da malha urbana para o norte, para leste e nordeste,motivando a ocupação das áreas próximas do “complexo urbano-têxtil (...) composto pela fábrica, casa do pro-prietário e pela vila operária [com 376 casas].” (Idem, p. 47-49).

O dinamismo urbano-demográfico de Goiana prossegue nas duas primeiras décadas do século XX, motivando oadensamento das áreas ocupadas e dando início à formação do centro urbano atual (p. 54). Esse processo, noentanto, vê-se interrompido pela forte crise que atinge o setor açucareiro, no início dos anos 20 e continua nasdécadas subseqüentes, repercutindo na economia regional e, por extensão, no crescimento da cidade,desacelerando-o e desarticulando a malha urbana que, a partir de então, terá sua estruturação marcada pelasegregação socioespacial e pela ocupação desordenada do solo – traços característicos da organização do espaçourbano de Goiana, nos dias atuais.

Reflexo da estagnação da base econômica regional, o crescimento de Goiana, na segunda metade do século XX,terá como motivação principal a expulsão da força de trabalho do campo e sua inserção na malha urbana atravésda ocupação dos vazios periféricos e daqueles existentes no interior das áreas ocupadas, o que dar-se-á de formanão planejada, contribuindo para a proliferação de bolsões de ocupação irregular e para a desarticulação dotecido urbano.

O padrão de ocupação do solo existente, em Goiana, no final da década de 70, diversifica-se com a implantaçãodos conjuntos habitacionais Castelo Branco e Vila Mutirão (na década de setenta) e do Conjunto da Caixa Econô-mica (na década de oitenta), ambos construídos com recursos do Sistema Financeiro de Habitação (SFH). Aconstrução desses conjuntos a oeste da mancha urbana, então, existente, projeta o crescimento da cidade, na-quela direção, ao mesmo tempo que cria novos vazios, reproduzindo o padrão de “urbanização descontínua”característico daquele núcleo urbano (IPECONSULT, 1999, p. 58-62).

A expansão de Goiana para oeste se dá também através dos loteamentos populares Nova Goiana e Flexeiras,ambos implantados na década de 80, tendo como referência a PE-062 que interliga as cidades de Goiana e Con-dado. Na década de 90, os conjuntos habitacionais Castelo Branco e Mutirão interligam-se aos bairros de NovaGoiana e Flecheiras, formando um tecido urbano contínuo, ao mesmo tempo que a cidade projeta-se para noro-este com os loteamentos Boa Vista 01 e 02.

A implantação, nos anos 80, da PE-075, ligando a BR-101 a Itambé, impulsionou a expansão de Goiana para o sule para sudeste, com a ocupação de novas áreas e o surgimento dos bairros Nova Soledade, Nossa Senhora daConceição e Cidade Nova – um bairro de classe média, onde reside parte da elite urbana – e do LoteamentoParaíso, este ainda em fase de ocupação. Para leste, o crescimento urbano tem-se dado em direção à BR-101,embora a cidade conte com poucos espaços para expandir-se nessa direção, em conseqüência da reduzida exten-são do terreno situado acima das áreas alagáveis, tendo no loteamento Bom Tempo a projeção da área urbanamais a leste (Idem, p. 64).

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Como resultado da evolução acima descrita, a malha urbana de Goiana apresenta três tipos de textura represen-tativos dos três padrões de ocupação do solo urbano: a do “core” ou centro urbano, compreendendo a área

central restrita e o centro urbano expandido, onde concentram-se as atividades de comércio e prestação de servi-ços; a dos conjuntos habitacionais implantados pelo BNH; e a dos núcleos residenciais independentes.

Bastante reduzida na década de setenta, a área comercial da cidade abrigava, então, um comércio de pequenoporte e alguns serviços, distribuídos nas ruas da Misericórdia, Trapiche do Meio e em parte das ruas das Porteiras,Silvino Macedo e Soledade, nas quais as atividades supracitadas conviviam com a função comercial. A saturação daárea central, nas décadas posteriores, expandiu a ocupação comercial pelas ruas próximas, originando a área

central expandida, ao mesmo tempo que a área central restrita foi-se tornando apenas comercial. A expansão damalha urbana nas diferentes direções motivou o surgimento de subcentros e eixos comerciais secundários aolongo da PE-075, nas proximidades da BR-101, no início da Rua Nunes Machado e adjacências bem como nasproximidades do acesso principal de Goiana (Idem, p. 68 e 131).

As áreas residenciais diferenciam-se, sobretudo, em função do nível social de seus ocupantes, concentrando-se opadrão residencial médio e médio alto na Av. Marechal Deodoro da Fonseca, no bairro Cidade Nova e na RuaDuque de Caxias. O padrão residencial popular, típico das áreas ocupadas pela população de renda média baixa ebaixa, tem sua melhor representação nos conjuntos residenciais do BNH bem como nos bairros Nova Goiana,Flexeiras, Bom Tempo e Nossa Senhora da Conceição, sendo encontrado em “vários segmentos do espaço urba-no” (Idem, p. 130). Finalmente, vem ganhando expressão na periferia oeste da cidade, a ocupação por invasão, aexemplo da Invasão Frei Damião, que teve início há cerca de cinco anos, na área do distrito industrial (entre a PE-062 e a PE-075), cuja população vive de biscate e do cultivo de roças na área contígua às habitações.

Não obstante o porte médio a pequeno dos equipamentos comerciais e de prestação de serviços, a cidade possuium setor terciário diversificado que inclui serviços bancários (cinco agências, entre bancos públicos e privados),de saúde (dois hospitais, uma maternidade e três clínicas especializadas), educacionais (uma faculdade de forma-ção de professores, dez escolas de segundo grau e um grande número de escolas de primeiro grau), jurídicos(forum e vários cartórios), de lazer (dois clubes grandes), escritório da CELPE e da COMPESA, posto do IPSEP edo INSS, agência dos correios, vários postos telefônicos, um expressivo comércio de alimentos (vários supermer-cados, cinco restaurantes grandes e vários pequenos), seis lojas de tecidos, várias confecções etc., além da feiralivre (de grande porte) que tem lugar no sábado.

Em termos de indústria, Goiana conta apenas com uma empresa de grande porte e cinco de porte médio, dasquais somente uma localizada na área urbana – a Fiação e Tecidos de Goiana (FITEG). As demais localizam-se nazona rural e desempenham importante papel na economia municipal. São elas: a Papelão Ondulado do NordesteS/A (PONSA), localizada no km 4,5 da PE-075; a Companhia Agroindustrial de Goiana (Usina Santa Tereza), doisquilômetros ao sul da cidade e a Usina Nossa Senhora das Maravilhas, à margem da BR-101, próximo à várzea dorio Capibaribe Mirim, ambas produtoras de açúcar e álcool; a Indústria e Comércio Megaó Ltda., localizada naFazenda Megaó de Cima, ao norte da vila de Tejucopapo (produz cal e pigmentos); e a Itapessoca Agroindustrial,indústria de grande porte localizada na Ilha de Itapessoca (produz cimento da marca Nassau).

Esse perfil funcional confere a Goiana a posição de “centro de zona” (IBGE, 1987, p. 55), tendo em sua área deinfluência os municípios pernambucanos de Condado, Itaquitinga e Itambé e municípios paraibanos fronteiriços(Alhandra, Caaporã e Pitimbu). Em decorrência do fraco dinamismo econômico, Goiana vem perdendo parte desua área de influência para as cidades de Timbaúba e Carpina, esta última consolidando-se como principal pólourbano da Mata Setentrional Pernambucana.

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Apresentando características similares às de outras cidades da região canavieira do Estado, Goiana tem comoprincipais problemas: a) o crescimento de bolsões de pobreza em sua periferia, motivado pela estagnação daeconomia rural e pela incipiente base produtiva urbana; b) falta de espaço para expandir a área urbana, comprimi-da entre o rio e os canaviais, o que provoca a saturação do espaço nas áreas centrais e a ocupação desordenadado solo nas demais áreas, com riscos para a preservação do patrimônio histórico-cultural; c) falta de esgotamentosanitário em praticamente toda a área urbana; d) manutenção, no interior do espaço urbano, de formas de ocu-pação do solo pouco compatíveis com as funções desse espaço, tais como o matadouro e o cemitério. Apesar detais problemas, a cidade conta com expressivo patrimônio histórico-cultural que, adequadamente utilizado comoatração turística, pode dinamizar a economia urbana, desde que sejam removidos os obstáculos que inviabilizamtal utilização.

O segundo núcleo urbano, em extensão, na porção ocidental do Litoral Norte, a cidade de Araçoiaba, localiza-seà margem da PE-041 a meio caminho das cidades de Igarassu e Carpina, no ponto de convergência daquelarodovia com a PE-027 que interliga a cidade em apreço às áreas urbanas de Camaragibe e Recife. Núcleo urbanode pequeno porte elevado à categoria de cidade em 1995, Araçoiaba teve sua origem e dinâmica associadas àagroindústria açucareira que continua a ser a principal fonte de emprego de sua população, secundada pelopequeno comércio e pelo modesto setor de prestação de serviço constitutivos do setor terciário local.

A organização espacial de Araçoiaba revela o papel da rodovia PE-041 na estruturação de sua malha urbana,concentrando ao longo desse eixo viário o comércio e os principais equipamentos de prestação de serviços,enquanto a ocupação residencial distribui-se paralelamente ao referido eixo, ocorrendo, nas ruas vizinhas, aocupação de padrão médio. À medida que se afasta do centro, o padrão residencial evolui para o popular e, desse,para o padrão baixo e subnormal, na periferia urbana, sobretudo ao longo da PE-027, onde as invasões prolon-gam, para sudeste, esse tipo de ocupação.

Cercada por terras das usinas São José e Santa Tereza ao norte, a leste, a oeste e a sudeste bem como peloCampo de Instrução Mal. Newton Cavalcante (CIMNIC) ao sul, Araçoiaba carece de área para expandir-se. Dos15 101 habitantes do município no ano 2000, 84,4% vivem na área urbana cuja população crescera a uma taxa de3,6% ao ano, no período 1991-2000, enquanto a população do município cresceu 5,8% ao ano, de 1996 a 2000.

Desprovida de indústria, banco e serviços médicos especializados, a cidade conta, entre seus equipamentos maisimportantes, uma escola de segundo grau, um hospital (municipal) com vinte e cinco leitos, agência de correios,um posto telefônico, delegacia de polícia, mercadinhos, mercearias, padarias, armarinhos, farmácias e armazénsde material de construção. Desempenhando as funções de “centro local”, Araçoiaba tem sua área de influênciarestrita aos engenhos e povoados do entorno (Canaã, Vinagre, Chã do Conselho e Aldeia), dividindo com Igarassua polarização de Três Ladeiras e, com Camaragibe, a de Chã de Cruz.

Tendendo a manter o ritmo de crescimento da última década, alimentado sobretudo pela migração da força detrabalho expulsa do campo, Araçoiaba tem como principais problemas: a) a falta de emprego para o segmento dapopulação urbana que continua a depender da oferta de trabalho no setor canavieiro; b) a falta de área paraexpandir-se; c) a inexistência de esgotamento sanitário; d) a fraca receita do município, inviabilizando a ampliaçãoda infra-estrutura e restringindo os investimentos na área social; e) a dependência de Igarassu para atendimentoa grande parte da demanda da população por bens e serviços.

Elevada à categoria de cidade em dezembro de 1963, Itaquitinga contava, então, pouco mais de 2 800 habitantes.Encravada em área canavieira e distante dos eixos viários principais, a cidade apresentou sua mais elevada taxa decrescimento no período 1970-1991 (4,2% ao ano), caindo para 1,5% ao ano, no período 1991-2000, quando apopulação atingiu 10 780 habitantes.

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Não dispondo de área para crescer, Itaquitinga vem-se expandindo pela encosta oeste do retalho de tabuleiro queabriga o sítio urbano original, ocupando áreas de alta declividade e o leito aterrado dos riachos que descem dessasencostas (foto 41). Cidade de pequeno porte, possui um comércio de reduzida expressão e alguns equipamentosde prestação de serviços básicos - que não incluem banco nem consultório médico - distribuídos ao longo da ruaprincipal, sendo a maior parte da demanda local por bens e serviços atendida por Goiana.

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FOTO 41 – Expansão urbana através da ocupação de encosta com alta declividade (Itaquitinga).

A população urbana trabalha nas usinas, no comércio local e na Prefeitura. A paralisação da Usina Matari, novizinho município de Nazaré da Mata, agravou o desemprego da força de trabalho vinculada ao setor canavieiro.A existência de três favelas na periferia urbana e o elevado contingente de população de baixa renda atestam onível de pobreza da cidade. Esses problemas têm sido, em parte, atenuados pelos assentamentos rurais EngenhosGutiúba, Santo Antônio do Norte e Pituaçu, localizados no município, cuja produção, vendida na feira livre deItaquitinga, tem contribuído para baixar o preço dos gêneros agrícolas, ali, comercializados, além de reterem nocampo e empregarem uma parcela (ainda que pequena) da população municipal.

Dentre os problemas do núcleo urbano em apreço, sobressaem: a) o elevado desemprego da força de trabalho;b) crescimento das favelas; c) ocupação de encostas com alta declividade e aterro dos riachos que banham asáreas ocupadas; d) inexistência de esgotamento sanitário; e) degradação do solo e dos recursos hídricos pordejetos domésticos.

Duas vilas integram os núcleos urbanos isolados da porção ocidental da área: Tejucopapo e Três Ladeiras – aprimeira, localizada no município de Goiana, à margem da PE-049, a meio caminho entre a BR-101 e a vila dePonta de Pedras, no litoral; a segunda, localizada no município de Igarassu, à margem da rodovia vicinal que liga aUsina São José à cidade de Itaquitinga (mapa 02).

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Situada entre os estuários dos rios Megaó e Itapessoca, Tejucopapo tem na pesca estuarina a ocupação principalde sua população, secundada pelo trabalho nas usinas (na cana-de-açúcar), nos sítios de coqueiro e nas granjas echácaras. Com um contingente de 4 230 habitantes, em 1991, a vila apresentou crescimento lento de 1950 a1970 e cresceu a uma taxa anual de 3,0%, no período 1970 a 1991. Como resultado desse crescimento populacional,Tejucopapo expandiu-se para oeste, leste, sul e, sobretudo, para o norte, alcançando atualmente os limites daFábrica Megaó e da Mata de Megaó de Cima.

Dotada de um comércio incipiente e de poucos equipamentos de prestação de serviços, distribuídos ao longo darua principal, a vila caracteriza-se pelo predomínio de moradias simples tipo popular, na área central, passado amoradias de baixo padrão construtivo, na periferia (“pontas de rua”), onde a presença de favelas evidencia asprecárias condições sociais de uma parcela expressiva da população.

Ao contrário de Tejucopapo, que situa-se próximo ao litoral, em área de contato da cana-de-açúcar com as formaspré-litorâneas de uso do solo (monocultura do coqueiro, granjas e chácaras), Três Ladeiras, tal como os demaisnúcleos urbanos da porção ocidental do Litoral Norte, localiza-se em plena área açucareira, nos domínios fundiáriosda Usina São José. Tendo na cana-de-açúcar a única fonte de trabalho, a população de Três Ladeiras padece ofenômeno do desemprego sazonal, dependendo, na entressafra, dos programas assistenciais do Governo.

Em 1991, a população da vila totalizava 1 337 habitantes, tendo crescido a taxa anual de 5,0%, no período 1970-1991. Precariamente equipada em termos de comércio (reduzido a duas ou três barracas) e de infra-estrutura deprestação de serviços, Três Ladeiras tem porte e perfil funcional de povoado, sendo polarizada por Igarassu eAraçoiaba e ligada à principal vias de acesso àqueles centros urbanos (PE-041) por estrada sem pavimentação.

Desprovidas de base produtiva e dependentes de atividades rurais pouco dinâmicas, Tejucopapo e Três Ladeirasapresentam problemas comuns, ainda que de intensidades diversas, quais sejam: a) falta de espaço para expansãoda área ocupada, de sorte a absorver adequadamente o contingente que migra do campo para esses aglomera-dos; b) desemprego, alcoolismo e prostituição; c) falta de esgotamento sanitário e de serviço de coleta de lixo(em Três Ladeiras), ocasionando a poluição do solo e dos recursos hídricos; d) proliferação de doenças decorren-tes da falta de saneamento e da desnutrição; e) deficiência dos equipamentos comerciais e de prestação deserviços básicos; inexistência de associações comunitárias; f) situação precária do matadouro de Tejucopapo, comrisco de poluição do rio Guaribas que banha a vila, ao sul. Muitos desses problemas são comuns também aosinúmeros povoados existentes nos municípios do Litoral Norte.

O quadro, a seguir, contém a síntese das principais características, bem como dos problemas e tendências atuaisdos padrões de uso e ocupação do solo do Litoral Norte de Pernambuco.

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