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[3] [4] [6] Após as eleições realizadas no final do passado mês de Julho, os orgãos recentemente eleitos da Juventude Popular da Maia tomaram posse num jantar recheado de amigos, ao qual se seguiu uma festa animada. Foi a 18 de Setembro de 1974 que reuniu pela primeira vez a Comissão Coordenadora da então Juventude Centrista, para organizar aquela que viria a ser "nossa" Juventude Popular. Estamos todos de parabéns! Um sistema fiscal mais brando e desburocratizado, mais amigo da iniciativa individual e, acima de tudo, mais justo. Um sistema de “flat tax” representa tudo isto. Os completos socialistas ainda têm medo desta nova abordagem. [8] Se fosse vivo, Francisco Lucas Pires faria, neste mês de Setembro, 66 anos. Tal facto ajuda a provar que nos abandonou cedo demais. O Jovem pretende assim fazer uma justa homenagem ao antigo presidente do CDS e presidente honorário da Juventude Popular, recordando factos marcantes da sua vida.

33 O JOVEM [Setembro2010]

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O Jovem, jornal oficial da Juventude Popular da Maia. www.jpmaia.org

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[3] [4] [6]

Após as eleições realizadas no final do passado mês de Julho, os orgãos recentemente eleitos da Juventude Popular da Maia tomaram posse num jantar recheado de amigos, ao qual se seguiu uma festa animada.

Foi a 18 de Setembro de 1974 que reuniu pela primeira vez a Comissão Coordenadora da então Juventude Centrista, para organizar aquela que viria a ser "nossa" Juventude Popular. Estamos todos de parabéns!

Um sistema fiscal mais brando e desburocratizado, mais amigo da iniciativa individual e, acima de tudo, mais justo. Um sistema de “flat tax” representa tudo isto. Os completos socialistas ainda têm medo desta nova abordagem.

[8]

Se fosse vivo, Francisco Lucas Pires faria, neste mês de Setembro,

66 anos. Tal facto ajuda a provar que nos abandonou cedo

demais. O Jovem pretende assim fazer uma justa homenagem ao

antigo presidente do CDS e presidente honorário da Juventude

Popular, recordando factos marcantes da sua vida.

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Se tivessemos a felicidade de ainda o ter entre nós, Francisco Lucas Pires estaria a comemorar 66 anos por estes dias. Apesar de a história ainda esconder a sua memória atrás de uma bruma demasiado espessa para tão grande personalidade, o registo do seu valor e da sua grandeza não merecem passar despercebidos. Lucas Pires foi incomensuravelmente grande nos campos académico e político, ficando para nós, jovens populares, na memória como um dos presidentes do CDS e como presidente honorário da nossa “jota”. Para os curiosos que tentam saber mais sobre esta figura, a sua craveira intelectual e estatura política saltam à vista como parte das mais perenes imagens que os que com ele conviveram guardam na memória. Mas, se as convicções intelectuais e políticas nem sempre convencem toda a gente – mau era se assim fosse – em torno de Lucas Pires, os testemunhos de quem com ele privou, muito ou pouco, convergem na unanimidade da sua decência enquanto pessoa. Dono de uma integridade limpa e uma espinha dorsal inquebrável, Francisco Lucas Pires ficará para sempre recordada como uma grande pessoa e, só depois, como um bom político. Outros, para seu grande mal mas para bem da boa consciência humana, não ficarão registados como alguém digno em qualquer um dos campos. Cada vez mais, escasseiam os políticos – e as amostras de políticos – que tenham um nível aproximado daquele que Lucas Pires tão naturalmente exibia. Mais difícil ainda: não abunda por aí, no seio político, e até no breve cruzar de rua quotidiano, quem tenha na rectidão e a honestidade, pontos norteadores da sua acção e conduta de vida. Francisco Lucas Pires

fica-nos também como isso mesmo: um pedaço de decência onde muitos a querem fazer escassear.

A falta de noção, misturada com falta de vergonha na cara, chega, muitas vezes, a ser confrangedora. Muitas das vezes com que me deparo com esse tipo de situações, o protagonista é o PCP. O “nosso” partido comunista que, ao contrário de muitos por essa Europa fora, com a complacência de um país torto e de um eleitorado aparentemente inconsciente, nunca se reformulou ou adaptou às novas realidades dos tempos actuais. Como que inspirado pela intransigência ideológica patética do seu fundador e líder histórico, Álvaro Cunhal, os comunistas portugueses continuam fieis à cartilha da clandestinidade e aos mandamentos de uma doutrina soviética que recusam deixar morrer. Acontece que, ao contrário do ano passado em que o Prémio Nobel da Paz não escapou À influência do “babanço” colectivo por Obama, este ano o galardoado dá à distinção um significativo reforço de sentido. O PCP, do alto do seu anacronismo e da sua falta de contacto com a realidade, criticou o facto de o prémio ter sido atribuído a alguém que está preso por lutar pela liberdade de expressão. Para eles, o comunismo é fixe… o resto que se lixe!

Francisco Lucas Pires fica-nos também como isso mesmo: um pedaço de decência onde muitos a querem fazer escassear.

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notícias

O CDS/PP e a JP arrancaram para mais um ano político que se prevê intenso. No habitual comício na Praça do Peixe, na bonita cidade de Aveiro, centenas de militantes de ambas as estruturas compareceram com entusiasmo num dia que foi de todos nós. A Juventude Popular da Maia fez questão de marcar presença visível mais uma vez fazendo-se representar por vários elementos da concelhia que participaram nos workshops e conferências, proporcionados durante a tarde, e apoiaram, à noite, os discursos empolgantes de Michael Seufert e Paulo Portas. Está assim aberto mais um ano de batalhas contra o marasmo deste socialismo, de trinta e seis anos, que teima em destruir Portugal.

Os novos órgãos da Juventude Popular d a Maia, eleitos no

plenário concelhio de 27 de Julho, tomaram posse na

passada sexta-feira, dia 17 de Setembro, na vila do Castêlo

da Maia, na companhia de dezenas de militantes e

simpatizantes não só da Juventude Popular mas também

do CDS/PP.

Com as presenças de Henrique Campos Cunha, Presidente

da Distrital do Porto do CDSPP, Michael Seufert,

Presidente da Juventude Popular, Vera Rodrigues,

Presidente da Distrital do Porto da Juventude Popular e de

José Eduardo Azevedo, Presidente do CDS/PP Maia, a

nova Comissão Política da JP Maia, liderada por Manuel

Oliveira, marcou desta forma o arranque para um novo

ano político que será pautado por uma continuidade da

exigência e qualidade a que a própria estrutura tem vindo a

habituar todos aqueles que seguem atentamente o seu

percurso.

Se entre os vários discursos da noite destacou-se o do

presidente da concelhia, Manuel Oliveira, que se

prolongou devido à enumeração das actividades que

marcaram o anterior mandato da concelhia.

Foi ainda prometido que a concelhia da Maia não esquecerá e estará atenta à vida interna da Juventude Popular e que, como sempre o fez, continuará a promover junto de todos que o mais importante é a estrutura e aquilo que ela pode fazer pelo futuro da juventude portuguesa.

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irreverência!

Liderada então, interinamente, por

Caetano Cunha Reis, a Juventude

Centrista foi fundamental no período

conturbado do Verão Quente, como pólo

de equilíbrio às forças da extrema-

esquerda que usavam da violência para

tentar impor o seu rumo ao país, como se

vê em dois episódios: o do Congresso do

CDS no Porto e o do Comício da JC no

Teatro S. Luís em Lisboa.

O I Congresso do CDS no Porto, no mês

de Janeiro de 1975, foi sitiado por forças

manifestantes que o queriam impedir de

reunir e queriam, à força, invadi-lo. Foi

com a ajuda de muitos militantes da JC

que se formou um corredor de segurança

à volta do Palácio de Cristal, para

proteger os congressistas e o decorrer

dos trabalhos. O congresso acabou por

ter de ser interrompido devido à violência

no seu exterior, para se realizar noutra

data.

Mas já antes a Juventude Centrista

sentira que a sua existência estava

ameaçada pelos que não deixariam de

usar a violência contra os que pensam

36 anos de

diferente: a 4 de Novembro de 1974

organizava-se o primeiro Comício da

Juventude Centrista, em Lisboa no

Teatro S. Luís. Pretendia-se juntar pela

primeira vez os jovens que acreditavam

na liberdade e não no socialismo que se

apresentava como caminho único para a

revolução. Só que o Comício nunca

chegou a realizar-se: forças da esquerda

reuniram-se para impedir os jovens

centristas de se reunir. Houve muita

violência e feridos. Não contente com o

impedimento do comício, a turba seguiu

para o Largo do Caldas e assaltou a sede

do CDS.

Fundada a 28 de Setembro, foi portanto

a 4 de Novembro que a JC tem a sua

prova de fogo. E é em honra e em

recordação destes primeiros militantes

que sofreram a violência do processo

revolucionário, que festejamos todos os

anos o aniversário da Juventude Popular

a 4 de Novembro.

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? FLAT TAX QUEM TEM MEDO DA

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A Constituição da República Portuguesa

consagra, preto no branco, a

obrigatoriedade de o sistema fiscal

obedecer a um carácter progressivo. Ou

seja, quanto maior o rendimento do

contribuinte, maior a percentagem de

imposto a que está sujeito. Esta é mais

uma das tralhas ideológicas que este

documento socialista impõe aos cidadãos

portugueses, deixando-os privados da

possibilidade legal de adoptar um

sistema diferente e muito em voga nas

últimas duas décadas em vários países

europeus: a “flat tax”, também chamada

“flat rate” ou, em português, “taxa plana”.

Salvo variantes, o sistema funciona

assim: taxam-se todos os rendimentos à

mesma taxa (por hipótese 20%), acaba-

se com as deduções fiscais, e introduz-se

um valor de rendimentos que não é

taxado. Este valor substitui as deduções

que já não existem e/ou representa o

patamar de sobrevivência, valor sobre o

qual o estado se abstém de tributar.

Importa logo referir que um sistema fiscal

de taxas planas não se esgota com a

introdução de uma só taxa para calcular o

imposto sobre os rendimentos singulares

– sem escalões, portanto. As propostas

de “flat tax” conhecidas prosseguem

também o objectivo da simplificação

fiscal e pessoalmente é esse aspecto que

mais me atrai neste sistema.

Tipicamente, quanto a agregados

familiares o sistema prevê que se somem

os rendimentos e os valores livres de

imposto (mesmo dos membros que não

aufiram rendimento, tais como crianças –

ainda que neste caso o valor possa ser

inferior ao dos adultos), e se faça a conta

ao imposto devido como se de um sujeito

fiscal se tratasse.

Assim sendo, imaginemos os tais 20% de

taxa e um valor de isenção de 500€ para

adultos e 250€ para crianças.

* Todos os contribuintes com

rendimentos abaixo de 500€ não pagam

imposto pois estão abaixo do valor de

isenção.

* Um contribuinte com 1000€ de

rendimento paga 20% de imposto sobre

500€ de rendimento (os restantes 500€

são livres de tributação), i.e., paga

500€*0,2=100€, o que corresponde a 10%

do seu rendimento.

ao imposto devido como se de um sujeito

fiscal se tratasse.

Assim sendo, imaginemos os tais 20% de

taxa e um valor de isenção de 500€ para

adultos e 250€ para crianças.

• Todos os contribuintes com

rendimentos abaixo de 500€ não pagam

imposto pois estão abaixo do valor de

isenção;

• Um contribuinte com 1000€ de

rendimento paga 20% de imposto sobre

500€ de rendimento (os restantes 500€

são livres de tributação), i.e., paga

500€*0,2=100€, o que corresponde a 10%

do seu rendimento;

• Um contribuinte com 10500€ de

rendimento paga 20% de imposto sobre

10500€-500€=10000€ de rendimento.

Isto corresponde a 10000€*0,2=2000€,

i.e., ~19% do seu rendimento;

• Um agregado familiar em que dois

adultos agreguem 2000€ de rendimento

e que tenha duas crianças irá pagar 20%

sobre 2000€-(2*500€ + 2*250€)=500€,

logo 500€*0,2=100€ de imposto que

correspondem a 5% do seu rendimento;

• Já um agregado familiar com dois adultos

e duas crianças que obtenha um rendimento

de 16500€, pagará 20% sobre 16500€-

1500€=15000€, donde obtemos

15000€*0,2=3000€ de imposto equivalentes

a 18% sobre o seu rendimento.

Como se vê a taxa plana continua a ser

progressiva pois o valor do imposto pago

é, proporcionalmente, baixo para

rendimentos baixos e alto para

rendimentos altos. Ao contrário do

sistema actual, em que o objectivo da

política fiscal parece ser “taxar mais

quem tem mais”, este sistema taxa

menos quem tem menos e aproxima o

valor taxado dos, neste caso, 20% da taxa

conforme os rendimentos aumentam.

Há ainda grandes ganhos de eficiência e

justiça tributiva, porque a simplificação e

abolição dos benefícios fiscais permite

Como se vê a taxa plana continua a ser

progressiva pois o valor do imposto pago

é, proporcionalmente, baixo para

rendimentos baixos e alto para

rendimentos altos. Ao contrário do ao

imposto devido como se de um sujeito

fiscal se tratasse.

Assim sendo, imaginemos os tais 20% de

sistema actual, em que o objectivo da

política fiscal parece ser “taxar mais

quem tem mais”, este sistema taxa

menos quem tem menos e aproxima o

valor taxado dos, neste caso, 20% da taxa

conforme os rendimentos aumentam.

Há ainda grandes ganhos de eficiência e

justiça tributiva, porque a simplificação e

abolição dos benefícios fiscais permite

aos contribuintes poupar tempo,

dinheiro, trabalho e paciência. Deixa de

ser preciso coleccionar facturas e

engendrar esquemas fiscais que

optmizem o rendimentos disponível. Na

verdade o contabilista perde sentido para

organizar IRS: a declaração de IRS passa

a ter meia-dúzia de campos, e não há

devoluções nem buracos no código

tributário. Se após uma mudança para

taxa plana o contribuinte médio pagasse

o mesmo de imposto que antes, já estaria

a poupar dinheiro e transtorno em

montantes não-desprezáveis.

Não faço ideia se os valores que

apresentei são realistas para gerar receita

que permita alimentar a máquina pública,

mas ao fazer contas é preciso não

esquecer: a poupança na máquina da

administração fiscal, a poupança em

deduções fiscais manhosas que acabam,

o dinheiro disponível no bolso dos

contribuintes é taxado quando o gastam

via IVA e que os valores devidos são

conhecidos no momento da entrega da

declaração, já não havendo que perder

tempo a calcular rendimentos

tributáveis, descontos devidos, etc,etc.

O princípio é simples: taxam-se todos os rendimentos

à mesma taxa, independentemente de que tipo de

rendimento se trata. Na mesma leva acaba-se com o

grosso das deduções fiscais. Idealmente, como

resultado, obtemos menos impostos para todos e

simplicidade fiscal: a declaração de impostos pode ser

feita num guardanapo.

Um sistema fiscal mais brando e desburocratizado,

mais amigo da iniciativa individual e, acima de tudo,

mais justo. Um sistema de “flat tax” representa tudo

isto. Os completos socialistas ainda mostram muito

medo desta nova abordagem.

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Se fosse vivo, Francisco Lucas Pires faria

este mês 66 anos. A 15 de Setembro de

1944, na sua Coimbra de sempre, nascia

aquele que viria a ser uma das figuras mais

marcantes da política portuguesa do pós-25

de Abril.

Licenciou-se aos 22 anos pela Faculdade de

Direito da Universidade de Coimbra, onde

concluiu também o Curso Complementar

de Ciências Político-Económicas com a

impressionante marca de 18 valores, algo

que lhe valeu a distinção com o prémio para

melhor tese do curso, atribuído pela

faculdade. O seu desempenho académico

de grande distinção valeu-lhe uma bolsa de

estudos na Fundação Calouste Gulbenkian

em Tubingen, na RFA, onde teve como

mentor o Prof. Dr. Otto Bachof,

considerado um dos principais nomes do

Direito Administrativo alemão. O seu

registo académico impressionante fica

concluído com o doutoramento obtido por

unanimidade e classificação máxima.

Enquanto professor, destacou-se como

professor de Direito Constitucional e

Direito Europeu, tendo participado nesta

condição em inúmeros júris de

doutoramento e mestrado. Os seus palcos

foram a Faculdade de Direito da

Universidade de Coimbra e a Universidade

Católica do Porto, tendo ainda dirigido o

curso de Direito da Universidade Autónoma

de Lisboa. Destacou-se ainda como autor

de obras incontornáveis no campo do

Direito e da Política, bem como pelas

participação, com inúmeros textos, em

várias publicações como revistas e jornais.

Francisco Lucas Pires casou em 1973 com

Maria Teresa Bahia de Almeida Garrett,

casamento do qual nasceriam os seus

quatro filhos: Simão, Rafael, Martinho e o

conhecido escritor Jacinto.

Após uma curta vida de dedicação à

academia, à causa pública, ao ideal europeu

e a demais paixões que partilhou, Francisco

Lucas Pires morreu no dia 22 de Maio de

1998, aos 54 anos, devido a um enfarte do

miocárdio que viria a revelar-se fatal.

Se fosse vivo, Francisco Lucas Pires faria no

dia 15 de Setembro 66 anos, o que

demonstra o quão precoce foi a sua partida.

Expressou a vontade de morrer “como alguém

que ajudou a dar nobreza à política portuguesa".

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liberdade de alternativas. Coexistia com esta vertente liberal, uma acentuada preocupação social acompanhada de arrojadas e liberais concepções do sistema de segurança social. O objectivo de Lucas Pires era colar a imagem do PSD e Mota Pinto ao PS de Mário Soares, culpando ambos pelas medidas impopulares e de contenção e ainda pelo caminho socializante do país. Lucas Pires afirmou que ambos não passavam de uma ideia velha e falhada tornando-se necessário contrapor uma nova ideia e um novo programa. O objectivo era conquistar o eleitorado democrata cristão, liberal e conservador, construindo a partir desse eleitorado um partido popular de centro, contando sempre com a imagem de esquerda que Mota Pinto imprimia ao PSD. O projecto parecia ser do agrado dos eleitores, visto que o CDS subia nas sondagens para valores perto dos 20%. A inesperada eleição de Aníbal Cavaco Silva para Presidente do PSD, com um programa liberal, em ruptura com o Bloco Central, apostando em Diogo Freitas do Amaral para Presidente da República e com um discurso muito próximo do de Lucas Pires, vem baralhar a estratégia do CDS. Lucas Pires ter-se-á mesmo apercebido de que toda a sua estratégia poderia ter sido posta em causa com a eleição de Cavaco Silva, mas isso não o impediu de recusar reedição da AD, ao não aceitar as condições impostas pelo PSD para que esta se realizasse. Nem os votantes de protesto, que acabaram por se refugiar no PRD, acabaram por salvar o CDS nas eleições legislativas de 1985 que se seguiram e este desceu aos 10%, elegendo apenas 22 Deputados. Estes resultados eleitorais confirmaram, sobretudo, que o CDS não estava apto a definir uma estratégia independente da estratégia do PSD, antes teria sempre de se conformar com aquela. Falhava o projecto de um partido popular de centro-direita e de direita, capaz de albergar o eleitorado democrata cristão, liberal e conservador. O CDS, fora, mais uma vez, ultrapassado pelo PSD no seu discurso natural. A tentativa mais ousada que o CDS até então fizera de alargar a sua base eleitoral e de se afirmar como verdadeiro partido alternativa ao socialismo fracassou com Lucas Pires. Nunca, como com Lucas Pires, o partido jogou tão forte na tentativa de liderar o espaço político à direita do PS. | Adolfo Mesquita Nunes

A demissão de Diogo Freitas do Amaral abriu uma crise de sucessão que culminou em Fevereiro de 1983 com a eleição de Francisco Lucas Pires para presidente da Comissão Política Nacional do CDS. Francisco Lucas Pires ganhou notoriedade no CDS por representar a ruptura com o estilo centrista e democrata cristão de Diogo Freitas do Amaral e o seu discurso era manifestamente menos vocacionado para a doutrina democrata cristã, encontrando maior eco na direita liberal. A sua ascensão a líder do partido foi por isso encarada como a ascensão de um direitista a líder do CDS e como a vitória das bases da província sobre as bases da capital. Poucos meses depois da sua eleição como líder do CDS, em Abril de 1983, Lucas Pires teve de enfrentar um desafio eleitoral, em resultado da dissolução da Assembleia da República pelo então Presidente da República, General Ramalho Eanes. Sem muito tempo para estruturar um discurso novo e sinónimo da viragem então ocorrida no partido, o CDS desceu para 12% dos votos e 30 Deputados Na oposição ao governo de bloco central então formado pelo PS e pelo PPD/PSD, Lucas Pires dispôs do tempo que necessitava para organizar o partido e para lhe dar um novo rumo. Lucas Pires procurou então criar um novo programa liberal e de inspiração cristã, a que chamou primeiro de nacionalismo liberal e depois de conservadorismo popular. Com esse programa, reunido no documento Programa Para Uma Nova Década, procurou Lucas Pires um “cristão regresso à pureza do princípio da subsidiariedade, na ordem política, económica, educativa e social”, para tal juntando um conjunto significativo de jovens quadros do CDS e de outras figuras independentes ligadas ao liberalismo, denominados como Grupo de Ofir. O programa então elaborado era transversalmente atravessado pelo liberalismo. De acordo com este novo programa, as principais metas do país seriam a liberdade da economia, a autoridade do Estado e a mobilidade da sociedade, sendo o Homem considerado como alguém que aspira a uma maior

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Francisco Lucas Pires é eleito pela primeira

vez para o Parlamento Europeu pela

Assembleia República, em 1986.

O seu empenho na construção europeia

grangea-lhe assinalável prestígio e é dos

então 24 Deputados Portugueses, o que

mais se destaca no plano europeu, tendo

sido o primeiro português a ser eleito Vice-

Presidente do Parlamento Europeu.

Na sua imagem pública, em Portugal, mais

do que o facto de ter sido Presidente do

CDS avulta a sua qualidade de Deputado

Europeu.

Essa circunstância repercute-se nas

eleições de 1987. No mesmo dia realizam-

se eleições para a Assembleia da República

e para o Parlamento Europeu. Enquanto

que o CDS obtém apenas 4.34% para a

Assembleia da República (elegendo apenas

4 Deputados, no total de 250) recolhe

15.41% dos sufrágios para o Parlamento

Europeu, (elegendo 4 Deputados no total

de 24).

Se o fenómeno Cavaco Silva e a atracção

do voto útil no PSD pôde justificar o súbito

emagrecimento da votação nacional do

CDS, o valor que obteve nas eleições

europeias e que excedeu claramente

aqueles valores podia legitimamente ser

reclamado por Francisco Lucas Pires.

Francisco Lucas Pires viu confirmada a sua

legitimidade como Deputado Europeu, mas

começam a deteriorar-se as relações entren

ele e a direcção do CDS. Em 1989, nas

eleições autárquicas o CDS obteve apenas

9% dos votos enquanto que, nas europeias

ultrapassava os 14% (elegeu, então, 3

Deputados Europeus).

Para comunicar com os seus eleitores e dar-

lhes conhecimento das suas actividades

como Deputado no Parlamento Europeu,

Francisco Lucas Pires cria em 1994 a "Carta

da Europa". Tratava-se, com efeito, de uma

carta: da Carta do Deputado europeu aos

que nele votaram e que ele representava da

melhor maneira.

No início dos anos 1990, o CDS radicaliza as

suas posições face à União Europeia e é

expulso do Partido Popular Europeu.

Francisco Lucas Pires, fiel aos seus

princípios, mantém-se como deputado

independente no PPE.

Estava consumada a separação entre o CDS

e Francisco Lucas Pires e este aceita ser

candidato independente pelo PSD, ao

mesmo tempo que se esforça por

aproximar o PSD do Partido Popular

Europeu. | || || carloscoelho.eu

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O que te motivou a assumir uma candidatura à Distrital de Setúbal? A candidatura a que presidi enquanto candidato à CPD de Setúbal foi motivada tanto por uma visão ideológica daquilo que deve ser a JP enquanto organização política jovem de direita, como pela crença no papel que a tal direita jovem pode desempenhar na mudança necessária ao Distrito de Setúbal e a Portugal. Na nossa moção Libertas, apresentada no III Congresso Distrital de Setúbal ficou patente o nosso compromisso com a Democracia-Cristã, não num sentido meramente abstracto mas na defesa clara e frontal: da Vida desde a sua concepção à morte natural; da Família, na sua forma tradicional e secular de manifestação do amor entre um homem e uma mulher com vista à reprodução; da Pátria, união indivisível e soberana da terra e povo; da Justiça Social, como objectivo que deverá reger toda a classe política na construção do bem-estar de todos e na preocupação privilegiada para com todos aqueles que menos têm. A nossa vontade de Liberdade torna-se especialmente provocadora numa região onde o comunismo ainda está bem alicerçado, onde a esquerda é instalada e a direita, pela menos a nossa direita, tem de assumir uma postura verdadeiramente revolucionária no sentido da mudança. Além desta perspectiva cristã da política, foram também importantes na minha candidatura as metas referentes à reorganização da estrutura local da JP, especialmente no sentido da criação de um projecto de unidade que permita uma

foram também importantes na minha candidatura as metas referentes à reorganização da estrutura local da JP, especialmente no sentido da criação de um projecto de unidade que permita uma política de continuidade, continuidade essa que, se Deus quiser, nos fará alcançar o pleno das concelhias no fim do mandato e alicerça-las de forma segura nos próximos.uma distrital, facto que poucos meses depois se tornou realidade. Pode-se dizer que na altura isso constituiu uma lufada de ar fresco para nós, os militantes de Setúbal. Apesar da pouca duração da CPD presidida por Tiago Gonçalves, e dos conflitos que marcaram a presidência da sua sucessora, Raquel Leal, na altura deu-se um manifesto crescimento da estrutura local da Juventude Popular, e se, dois anos depois, me foi possível voltar a constituir uma CPD muito devo às sementes cá deixadas pelos meus antecessores. Penso pois, que o caso de Setúbal é paradigmático da situação nacional da JP, e da importância que as distritais têm em assumir um papel de coordenação das concelhias e, talvez mais importante ainda em apoiar os novos militantes que em concelhos onde nunca existiu qualquer estrutura concelhia da JP. Como tal não podem contar com a experiencia de militantes mais antigos de anteriores CPC’s na sua missão de difundir o ideário democrata-cristão nas suas comunidades. Em que condições encontraste a estru-tura da JP no distrito, e que metas e objectivos assumiste perante as mesmas? Quando surgiu a ideia de uma possível

Em que condições encontraste a estru-tura da JP no distrito, e que metas e objectivos assumiste perante as mesmas? Quando surgiu a ideia de uma possível candidatura à Distrital de Setúbal a única concelhia activa em todo o distrito era a de Setúbal, à qual eu na altura presidia. Aquando da ponderação da candidatura, em finais de 2008, fui sendo incentivado pelo Luís Delgado da Concelhia de Almada, pelo Presidente da Distrital do CDS/PP Dr. Nuno Magalhães e por militantes dispersos pelo Distrito, alguns deles com bastante tempo de JP mas já bastante afastados devido à desestruturação existente.Na altura teria sido impossível a constituição de uma Distrital porque simplesmente não havia gente suficiente para constituir as concelhias necessárias. No entanto, desde finais de 2008 até às autárquicas e legislativas de 2009, conseguimos, com muita ajuda do partido, árduo trabalho dos militantes mais antigos e a frescura trazida pelos mais recentes, formar uma sólida equipa distrital e várias concelhias em crescente dinamismo. Com este crescimento tão rápido de concelhias foi importante garantir a representação de militantes das diversas concelhias na CPD, como forma privilegiada de aceder ao apoio que a Distrital lhes poderá prestar no plano da organização de actividades e da coordenação entre os vários presidentes concelhios, mas sempre visando o alcance de uma maior autonomia.

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Como avalias, até ao momento, a prestação da Juventude Popular no distrito de Setúbal e no contacto com os jovens? A CPD foi eleita a 5 de Junho do presente ano, e como seria natural numa estrutura recentemente eleita sem antecessora directa, muito do trabalho realizado tem sido sobretudo no que toca à sedimentação das concelhias já existentes e na criação de novas concelhias. Temos também de reforçar os laços com o partido em todo o distrito e aprofundar a colaboração entre JP e CDS/PP nas diversas concelhias, facto que aliás tem sido bem sucedido, sobretudo pelo exemplo de dedicação que os nossos militantes demonstraram nos períodos eleitorais de 2009. No que toca à comunicação com o exterior optamos por, nesta fase, apostar na presença regular nos órgãos de comunicação social, sendo que de momento estamos a trabalhar em campanhas de projecção do nosso ideário junto à população no geral e à juventude em particular. Que diagnóstico social e económico fazes do distrito de Setúbal? Que problemas e quais as soluções? Falar na situação socioeconómica do nosso

distrito é ter em conta que vivemos numa

terra de potencialidades subaproveitadas

que espelha em potência as dificuldades

sentidas no todo da Nação.

No entanto, não acreditamos nem

aceitamos que tais problemas possam ser

estruturais. Resultam sim, de anos e anos

de controlo absoluto por parte da esquerda,

resultando essa influência sovietizante

numa desconfiança crónica na iniciativa

económica privada por parte dos

municípios e em níveis de desemprego

bastante altos.

À questão do desemprego junta-se, e alia-

se, a criminalidade que infelizmente se tem

vindo a tornar uma marca do nosso distrito.

Somos o quarto maior distrito a nível

populacional em Portugal, como tal, o

nosso potencial humano é grande no que

toca especialmente aos três grandes

sectores tradicionais da economia em

Setúbal: a pesca, a indústria e também a

agricultura.

A aposta clara nestes sectores económicos

é, para nós, a solução para a resolução dos

grandes problemas sociais que

enfrentamos com destaque para a pobreza

que afecta muitas famílias tanto na

Margem Sul como na zona do Alentejo

é, para nós, a solução para a resolução dos grandes problemas sociais que enfrentamos com destaque para a pobreza que afecta muitas famílias tanto na Margem Sul como na zona do Alentejo Litoral. A nossa proximidade com a capital é pois praticamente só geográfica, ficando o nosso progresso bastante aquém, sobretudo quando muitas vezes somos as primeiras vítimas de más políticas, nomeadamente na área da imigração, problema que resulta nos elevadíssimos níveis de criminalidade que se sentem nos concelhos de Almada, Barreiro, Seixal e Setúbal. Actualmente a Juventude Popular tem cinco distritais activas. Como avalias a importância de haver estruturas distritais eleitas para o desenvolvimento da JP? A apreciação que faço desta questão prende-se precisamente com a minha vivência de militante da JP no distrito de Setúbal. Quando em 2005 entrei na Juventude Popular estávamos a um passo de constituir uma distrital, facto que poucos meses depois se tornou realidade. Pode-se dizer que na altura isso constituiu uma lufada de ar fresco para nós, os militantes de Setúbal. Apesar da pouca duração da CPD presidida por Tiago Gonçalves, e dos conflitos que marcaram a presidência da sua sucessora, Raquel Leal, na altura deu-se um manifesto crescimento da estrutura local da Juventude Popular, e se, dois anos depois, me foi possível voltar a constituir uma CPD muito devo às sementes cá deixadas pelos meus antecessores. Penso pois, que o caso de Setúbal é paradigmático da situação nacional da JP, e da importância que as distritais têm em assumir um papel de coordenação das concelhias e, talvez mais importante ainda em apoiar os novos militantes que em concelhos onde nunca existiu qualquer estrutura concelhia da JP. Como tal não podem contar com a experiencia de militantes mais antigos de anteriores CPC’s na sua missão de difundir o ideário democrata-cristão nas suas comunidades.

uma distrital, facto que poucos meses depois se tornou realidade. Pode-se dizer uma distrital, facto que poucos meses depois se tornou realidade. Pode-se dizer que na altura isso constituiu uma lufada de ar fresco para nós, os militantes de Setúbal. Apesar da pouca duração da CPD presidida por Tiago Gonçalves, e dos conflitos que marcaram a presidência da sua sucessora, Raquel Leal, na altura deu-se um manifesto crescimento da estrutura local da Juventude Popular, e se, dois anos depois, me foi possível voltar a constituir uma CPD muito devo às sementes cá deixadas pelos meus antecessores. Penso pois, que o caso de Setúbal é paradigmático da situação nacional da JP, e da importância que as distritais têm em assumir um papel de coordenação das concelhias e, talvez mais importante ainda em apoiar os novos militantes que em concelhos onde nunca existiu qualquer estrutura concelhia da JP. Como tal não podem contar com a experiencia de militantes mais antigos de anteriores CPC’s na sua missão de difundir o ideário democrata-cristão nas suas comunidades.

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Bem ao estilo de Eça de Queirós, resolvi fazer uma pequena crítica

à sociedade na qual vivemos actualmente. Ninguém desconhece o

facto de que por toda a Europa surgem movimentos políticos,

sociais ou humanistas de organização social. Cada um com a sua

ideia e o seu interesse, legitimando-o numa possível ligação ao

mundo moderno, fazendo-o nutrir-se dos elementos vitais de que

vive uma Humanidade civilizada. Pergunto-me:

que Humanidade civilizada? Pegue-se no

exemplo de França: procedeu à expulsão duma

quantidade absurda de ciganos, rotulados como

“imigrantes ilegais” e defendeu o veto à entrada

de Roménia no espaço Schengen, o que poderia

permitir a livre circulação de pessoas por toda a

Europa. Entende o executivo francês que não há

uso adequado dos fundos europeus por parte de

Bucareste para integrar os ciganos no seu país e

evitar a imigração irregular. No fundo, justifica-se

este acto pela Lei da Boa Razão. Contudo,

olvidaram-se de que esta vaga de deportação

constitui um apelo à discriminação, ao racismo e

à xenofobia.

O panorama económico também contribui para

esta mutação social. Parece-me que ainda se vive

no espírito do século XIX, antes da chamada

“Geração de 70”, em que quer os dirigentes

nacionais, quer o próprio povo, viviam agarrados

às tradições e às memórias dos homens que protagonizaram a

epopeia ultramarina, apesar de esta ter ocorrido em séculos

anteriores, assim como a riqueza a que ela conduziu. Este espírito é

marcado pela falta de cultura, pela ascensão da importação, pelo

luxo desenfreado, pelo vício, pela corrupção. Temos uma

prostração do juízo nacional, uma perversão e um atrofiamento da

educação, Enquanto uns vivem na ociosidade, outros mendigam

nas ruas, uns trabalham, outros folgam nos seus lares. Preferimos

ser uma aristocracia de pobres a ser uma democracia próspera de

trabalhadores.

O próprio poder político salta

alternadamente entre as mesmas

figuras partidárias e em vez de

contrariarem todo o maldizer que os

atinge e passarem a agir no interesse da

causa pública, eles continuam a esbanjar

a fazenda pública e a contribuir para a

ruína do país. Estas figuras para além de

serem sempre as mesmas, são aquelas

que ocupam lugares de administração e

gestão em empresas públicas. São

figuras intelectualmente medíocres por

quem nós nos deixamos governar.

Vergonha deles, vergonha nossa.

Vive-se num país de delinquência e

criminalidade ao mais alto nível, em que

uma justiça morosa ao lado de penas de

prisão efectiva reduzidas é um “mimo”

para a decadência social. Vive-se com

hipocrisia e irresponsabilidade. Tantas

florestas devastadas com incêndios e porquê? Ninguém as limpou.

Não percebo: tanta atribuição de rendimentos sociais, tanto

desemprego e não houve ninguém digno de as limpar?

É esta a sociedade em que vivemos, uma sociedade

despreocupada, uma sociedade que perdeu a inteligência e a

consciência moral. Não se aposta na solidariedade e na

honestidade, mas na imbecilidade e inércia. O Estado definha,

enfraquece, dorme enquanto a ruína progride.

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Começa a ser insuportável viver neste país. É cada vez mais perceptível que o que aconteceu há trinta e seis anos atrás, com a revolta de um punhado de funcionários públicos, nada de melhor trouxe que a liberdade de expressão e associação. A burocracia está maior, a corrupção mais profissionalizada, a insegurança instalada em cada mente, da despesa pública já escasseiam palavras para descrever o desastre, o valor do mérito suplantado pela promoção da mediocridade e facilitismo e a promoção da cidadania apenas reforçada de quatro em quatro anos. Tudo isto num misto de faz de conta manuseado ao belo gosto de vigaristas, reforçado por mentecaptos, ingenuamente seguido por burros e aplaudido por seres dos quais eu tenho sérias dúvidas que saibam sequer escrever, sem erros, os seus nomes ou o local onde vivem – isto, claro, quando esses vigaristas não precisam que eles vivam noutros locais. Há trinta e seis anos que se promove esta aberração de sociedade em que metade anda a aldrabar a outra metade; em que uns trabalham e outros descansam e recebem por isso; em que uns fazem doze anos de ensino para ingressar num curso superior e outros apenas precisam de uma entrevista; em que uns declaram todos os seus rendimentos e outros fazem férias de luxo quando aparentemente são desempregados; em que uns demoram cinco anos para pagar um automóvel e outros conseguem-no gratuitamente à conta de uma empresa municipal qualquer; em que uns têm de aturar estágios não remunerados quando outros entram directamente para administradores de empresas, com capital do Estado, só porque são filhos de presidentes desta República das Bananas; em que uns têm de pagar uma licença de construção de mais uma divisão na sua casa enquanto outros usam a sua posição política para deixar construir centros comerciais em reservas ecológicas e ganham dinheiro com isso para si e para a sua família; em que uns são presos por, em auto-defesa, matar criminosos enquanto outros condenados, por abuso sexual de menores, têm tempo de antena e vitimização num canal de televisão pago por nós; em que uns não têm qualquer ajuda para criar o seu próprio posto de trabalho enquanto outros criam empresas que recebem serviços exclusivos de autarquias e do poder central; em que uns têm de pagar estudos de viabilidade caríssimos para um Aeroporto que ia ser construído num lamaçal enquanto outros, parece que políticos e donos de uma ética e história inquestionável, compram antecipadamente esses terrenos; em que uns têm de ir a unidades de

saúde do país vizinho enquanto outros promovem uma linha de alta velocidade que ninguém precisa, mas que todos vamos pagar; em que uns não têm saneamento em pleno século XXI enquanto outros constroem, com o dinheiro desses, estádios de futebol que representam para as autarquias milhares de euros de despesa mensal; em que uns trabalham todos os dias para no final do mês receber quinhentos euros enquanto alguns (muitos) com cartão rosa-

alaranjado usufruem de salários milionários em empresas públicas ou disfarçadas disso; em que uns são marginalizados por serem verdadeiros e frontais enquanto outros abanam com a cabeça e baixam as orelhas para não perderam verdadeiras panelas e posições que ironicamente contrariam até as suas orientações políticas – pelo menos aquelas que publicamente se conhecem. Parece novela, de facto. No entanto, o mais engraçado disto tudo é que toda a gente sabe que é assim e que isto acontece! Há trinta e seis anos que são sempre os mesmos, há trinta e seis anos que se vive neste marasmo democraticamente eleito também pelos mesmos! Tudo num esquema de vício perfeito de vigarice, atropelos, ganância e egoísmo. A vigarice e o faz de conta são artes tradicionais portuguesas, aperfeiçoadas com o passar do tempo, infalíveis para atingir qualquer lugar ao sol. Este jeitinho nojento de ser, que todos parecem gostar, todos parecem compactuar e até querer usufruir, é o verdadeiro sistema e está ao virar de cada esquina. Melhor, os mentecaptos votam, batem palmas, zurram e acreditam piamente nesta arte vezes e vezes sem conta mesmo que todos os dias sejam violentados

intelectualmente por ela. Não há personalidade, não há sentido crítico, não há esperança. O que está aqui em causa já não é o pão ou o circo, mas sim uma constatação de que a maioria gosta disto, está viciada e mentalizada para acreditar nesta grande trafulhice camuflada de normalidade. A vigarice e o faz de conta são, de facto, a melhor área de negócio que esta espécie de estado de direito tem para oferecer. Para uns é igual, para outros Deus a guarde.

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É num registo de profunda desconfiança relativamente à linha

orientadora que o universo JP tende a tomar, que se justifica este

texto de opinião. Assim, a minha manifesta parcialidade face a este

assunto, não poderia senão estar claramente evidenciada via a

melhor ferramenta que a JP dispõe: o jornal da JP Maia, “O Jovem”.

Aliás, acerca deste, abriria um parêntesis para enaltecer o

desempenho e protagonismo que o jornal tem conseguido dentro

da JP, sendo certo que se tornará cada vez ainda melhor, edição

após edição. E, para os mais críticos, sim, “O Jovem” deve

claramente assumir uma parcialidade…a parcialidade de quem lá

escreve, a parcialidade dos militantes da JP Maia.

No entanto, não se assustem… Dado que hoje

em dia os nossos militantes activos na JP da Maia

estão todos do lado da cultura de valores como o

bom senso, a honradez ou ainda a honestidade,

certamente que esta parcialidade apenas e só se

poderá assumir como na busca de uma cada vez

melhor JP.

Fechado o parêntesis, mas continuando no

mesmo registo dado o meu

descomprometimento com qualquer facção,

apelo a olhar para o exemplo da JP Maia. A

minha aparente imodéstia facilmente será

equilibrada pela constatação do que nesta

concelhia se pratica desde há um ano para cá. De

facto, e sem com isto desiludir alguém porque

também nunca iludi ninguém, facilmente poderá

ser constatado que por aqui todos trabalham na

mesma direcção, em prol do crescimento da JP

Maia. Todos lutam por uma melhor JP Maia, de

mãos dadas. Todos agem de forma

descomprometida, na busca de protagonismo

colectivo em detrimento do individualismo. Qualquer acção de

marketing é sempre realizada de forma sustentada em factos

verdadeiramente imputáveis à JP Maia. Damos valor à qualidade

de cada um, não desprezando o valor e capacidade de quem quer

que mostre interesse em participar. Prescindimos da quantidade

quando esta não nos traz valor acrescentado. As nossas acções de

campanha pautam-se pela qualidade e crescimento pessoal que

transmitem a cada um dos seus participantes. A nossa publicidade

é sempre a mesma: apenas e só o nosso trabalho. Não nos

deixamos levar pela tentação fácil de cativar uma enorme massa

mediante acções politicamente vazias e civicamente pouco

valorativas. Na JP Maia, deixamos de lado as acções de índole

desportivas ou lúdicas pois existem instituições próprias para tal.

Não acreditamos que seja por esta via que se deva atrair mais

potenciais militantes. Na JP Maia, trabalha-se de forma diferente.

Na JP da Maia não precisamos de

arrecadar prémios para sabermos que

somos de longe a melhor concelhia do

país. Na JP Maia existe real mobilização

sem que esta constitua um esforço.

Verifica-se participação evidente nas

actividades das concelhias vizinhas, não

funcionando em regime de

compensações… Na JP Maia estamos

realmente sempre presentes!

Esta é a JP que defendo…Uma JP

dinâmica, de e com qualidade, coerente

e sólida onde o que se produz na JP Maia

não tenha que constituir forçosamente

um desajuste dentro do panorama

nacional. Muito mais poderia

acrescentar mas é evidente um elevado

paralelismo antagónico com outras

visões e práticas. Talvez porque afinal de

contas, não devemos defender uma JP

para e de todos mas sim uma JP apenas

para todos aqueles que realmente

acrescentarem valor e contribuírem para dignificar a Instituição de

forma contínua no tempo. Para tal, estará na hora de retirar de

cena os piões malignos que desvirtuam o cenário político na hora

das grandes decisões, sob pena de se caminhar para um vazio

político pautado por um total descrédito.