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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA – UFU INSTITUTO DE GEOGRAFIA – IG A ACESSIBILIDADE PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA NO PARQUE DO SABIÁ E NO PARQUE VICTÓRIO SIQUIEROLLI NA CIDADE DE UBERLÂNDIA-MG Uberlândia 2010

350 Ecione Maria Da Silva

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA – UFU INSTITUTO DE GEOGRAFIA – IG

A ACESSIBILIDADE PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA NO PARQUE DO SABIÁ E NO PARQUE VICTÓRIO SIQUIEROLLI

NA CIDADE DE UBERLÂNDIA-MG

Uberlândia

2010

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ECIONE MARIA DA SILVA

A ACESSIBILIDADE PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA NO PARQUE DO SABIÁ E NO PARQUE VICTÓRIO SIQUIEROLLI

NA CIDADE DE UBERLÂNDIA-MG

Monografia apresentada ao Instituto de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Geografia. Orientador: Prof. Dra. Beatriz Ribeiro Soares

Uberlândia

2010

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

Ecione Maria da Silva

A ACESSIBILIDADE PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA NO PARQUE DO SABIÁ E NO PARQUE VICTÓRIO SIQUIEROLLI

NA CIDADE DE UBERLÂNDIA-MG

Banca Examinadora:

________________________________________________________

Prof. Dra. Beatriz Ribeiro Soares - UFU

________________________________________________________

Prof. Dr. Vicente de Paulo da Silva - UFU

________________________________________________________

Prof. Dr. Vitor Ribeiro Filho - UFU

Data ____/____/____

Resultado _____________

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3

À minha mãe Ermelinda pela

paciência, apoio, compreensão,

amor e companherismo que tem me

dedicado durante toda a minha vida.

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4

AGRADECIMENTOS

A minha orientadora, Profa Dra Beatriz Ribeiro Soares pela paciência, pelo

apoio, pela confiança e por compreender minhas limitações.

Aos Professores do Instituto de Geografia, que compartilharam seus

conhecimentos e me ensinaram a importância de nossa profissão.

Ao Prof. Dr. Vicente e ao Prof. Dr. Vitor, pelo carinho e por me presentearem

com sua participação na defesa de minha monografia.

Aos funcionários da Universidade Federal de Uberlândia, que me auxiliaram

quando eu necessitei.

A minha mãe Ermelinda, que esteve sempre a meu lado, me auxiliando nos

trabalhos de campo, me aconselhando em cada decisão a ser tomada e me

apoiando quando necessitava me locomover para resolver as questões

relacionadas à monografia.

Ao Arley Rossi, que me presenteou com sua amizade em um momento difícil

de minha vida e me ensinou que eu deveria lutar por meus sonhos. Seu apoio

e carinho foram fundamentais para que eu chegasse até aqui.

Aos meus amigos da Turma 49a Geografia-UFU, especialmente à Carla,

Daniela e Marcela pelo apoio, pelos momentos de aprendizagem e de

descontração que compartilhamos durante o curso.

Aos funcionários do Parque do Sabiá e do Parque Victorio Siquierolli, por terem

me ajudado durante os trabalhos de campo e me fornecido informações.

A todos os amigos e familiares que me acompanharam durante minha jornada

acadêmica.

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A história do Homem se faz, em todos os tempos, de sucessão de momentos, mais ou menos longos, de obscuridade e cegueira, e de momentos de luminosidade, onde a recuperação da consciência restaura o Ser Humano na dignidade de viver, que também é busca e escolha de caminhos, visão resplandescente do futuro, e não apenas prisão no cotidiano vivido como preconceito, isto é, num presente subalternizado pela lógica instrumental. (MILTON SANTOS, 1992)

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RESUMO Atualmente todos os esforços das pessoas com deficiência são no sentido de promover uma inclusão social justa, possibilitando melhores condições de vida. Ao reivindicar uma cidade acessível, essas pessoas mostram sua força como agentes modificadores do espaço e, sendo os parques urbanos, espaços de uso público onde as pessoas vão passar seus momentos de lazer destinados a toda a população, deveriam conter todos os dispositivos de acessibilidade para pessoas com deficiência, que como qualquer cidadão, também tem direito ao lazer e recreação. Portanto este trabalho tem por objetivo analisar as condições de acesso para as pessoas com deficiência física aos parques urbanos da cidade de Uberlândia, com ênfase ao Parque do Sabiá e ao Parque Victorio Siquierolli. Palavras-chave : parques urbanos, pessoas com deficiência física, espaço, acessibilidade.

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ABSTRACT Currently, every deficient people effort seeks the promotion of a reasonable social inclusion, which could lead better life conditions. Demanding an accessible town, this people shows the strengh of space modifyer agent and, as the urban gardens are places of public use, destinated to all society, where people spend their leasure time, they should contain every accessibility devices to deficient people, who, as any other citizen, also have the right to recreation and leasure times and places. Therefore, this production has the goal of analysing the accessibility conditions to deficient people in Uberlândia’s urban gardens, emphasizing Sabiá Garden and Victorio Siquierolli Garden. Key words: urban gardens, deficient people, space, accessibility.

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LISTA DE FIGURAS

Tabela 01: Dados Sobre a População Urbana .................................................17

Quadro 1: Síntese das Características do Zoneamento Morfológico-Funcional

de uma Cidade Média .......................................................................................18

Quadro 02: Evolução da Terminologia Usada em Relação à Pessoa com

Deficiência ........................................................................................................24

Figura 01: Uberlândia , Localização dos Parques Urbanos, 2007...................34

Figura 02: Parque do Sabiá; Vista aérea da represa, 2007.............................35

Figura 03: Parque do Sabiá; Vista aérea do Complexo, 2007.........................36

Figura 04: Estádio João Havelange e Arena Presidente Tancredo Neves; Vista

aérea, 2007.......................................................................................................37

Figura 05: Parque do Sabiá; Horto Municipal, 2007........................................37

Figura 06: Parque do Sabiá; Mapa Ilustrativo da área a ser analisada, 2007..38

Figura 07: Parque Victorio Siquierolli,Vista aérea, 2007.................................40

Figura 08: Parque Victorio Siquierolli; Entrada Principal, 2008.......................40

Figura 09: Parque Victorio Siquierolli, Sala Verde Dr. Kerr (esquerda) e Museu

de Biodiversidade (direita), 2007......................................................................42

Figura 10: Parque Victorio Siquierolli, Parque Infantil, 2009............................42

Figura 11: Parque Victorio Siquierolli, Arena de Teatro, 2009..........................43

Figura 12: Parque Victorio Siquierolli, Trilha do Óleo, 2009.............................44

Figura 13: Parque do Sabiá; Locais preferidos pelos entrevistados, 2009.......48

Figura 14: Parque do Sabiá, Entrada Principal, 2009.......................................49

Figura 15: Parque do Sabiá, Rampa improvisada na entrada para o parque

infantil, 2009.......................................................................................................50

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Figura 16: Parque do Sabiá, Rampa dentro das normas da ABNT, 2009........50

Figura 17: Parque do Sabiá, Rampa de acesso à piscina, 2009......................51

Figura 18: Parque do Sabiá, Banheiro parcialmente adaptado e sem porta para

cadeirantes, 2009 .............................................................................................52

Figura 19: Parque do Sabiá; Bebedouro Inadequado para Cadeirante, 2009..53

Figura 20: Parque do Sabiá, Tipos de pisos encontrados, 2009.....................54

Figura 21: Parque do Sabiá, Outros locais com falta de estrutura de acesso

para cadeirantes, 2009......................................................................................56

Figura 22: Pq Victorio Siquierolli;Pistas de acesso ao Prédio Sede, 2009......57

Figura 23: Pq Victorio Siquierolli,Escada de acesso ao Prédio Sede,2009 ....58

Figura 24: Parque Victorio Siquierolli, Banheiro adaptado e com porta, 2009.59

Figura 25: Parque Victorio Siquierolli, Bebedouro acessível para cadeirante,

2009...................................................................................................................60

Figura 26: Parque Victorio Siquierolli, Bebedouro com obstáculo para

cadeirante, 2009................................................................................................60

Figura 27: Parque Victorio Siquierolli;Degraus no caminho de acesso à Trilha

do Óleo, 2009....................................................................................................61

Figura 28: Parque Victorio Siquierolli;Ponte de acesso à Trilha do Óleo com

obstáculos para cadeirantes, 2009.................................................................62

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LISTA DE SIGLAS

APARU- Associação dos Paraplégicos de Uberlândia

ABNT- Associação Brasileira de Normas Técnicas

CIF- Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde

FUTEL- Fundação Uberlandense de Turismo, Esporte e Lazer

IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística;

NBR 9050- Normas Brasileira de Acessibilidade

OMS- Organização Mundial de Saúde

ONU- Organização das Nações Unidas

PcD - Pessoas com Deficiência-

PMU- Prefeitura Municipal de Uberlândia

UFU- Universidade Federal de Uberlândia

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Sumário

Resumo......... ....... ............ ........ ........ . ........... ........ ........ ..........06

Abstract........ ........ ............ ........ ....... . ............ ........ ........ ..........07

Lista de Figuras.................................................................................................08

Lista de Siglas...................................................................................................10

1.0 Introdução ..................................................................................................12

2.0 Considerações Teóricas:entendendo melhor os conceitos........................16

3.0 Os Parques Urbanos de Uberlândia...........................................................33

3.1 O Parque do Sabiá.......................................................................................35

3.2 O Parque Victorio Siquieroli.........................................................................39

4.0 Um Olhar sobre as condições de Acesso nos Parque Objetos desse Estudo:

Trabalhos de Campo Realizados.......................................................................46

4.1 A Estrutura de Acesso do Parque do sabiá.................................................48

4.2 A Estrutura de Acesso no Parque Victorio Siquierolli..................................56

5.0 Considerações Finais..................................................................................63

Referências........................................................................................................65

Anexos...............................................................................................................68

Anexo 1: Questionário.......................................................................................70

Anexo 2: Lei 1925 de 28 de junho de 1971.......................................................73

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A ACESSIBILIDADE PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA NO PARQUE DO SABIÁ E NO PARQUE VICTÓRIO SIQUIEROLLI NA CIDADE DE UBERLÂNDIA-MG

1.0 Introdução

As pessoas com deficiência vêm lutando por seu direitos como cidadãos

há vários anos, obtendo muitas conquistas no que diz respeito ao processo de

inclusão social e isso pode ser comprovado acompanhando os diferentes

momentos desse segmento da sociedade vivenciados ao longo da história.

Durante a era pré-cristã as pessoas com deficiência eram totalmente ignoradas

pela sociedade que preferiam eliminá-las a conviver com suas diferenças. O

mesmo ocorreu no período feudal, quando influenciadas pela igreja católica, as

pessoas que tinham alguma deficiência eram vistas como figuras

representativas do pecado.

No século XVIII até meados do século XIX as pessoas com deficiência

eram segregadas em instituições, sem receberem nenhum tratamento

adequado às suas condições. No final do século XIX e meados do século XX

surgem várias instituições com o intuito de oferecer uma educação diferenciada

às pessoas com deficiência para direcioná-las a trabalhos que exigiam pouco

nível intelectual, uma vez que tais pessoas eram consideradas com baixa

capacidade para aprendizagem. De acordo com Sassaki (1999) o movimento

de inclusão social das pessoas com deficiência começou incipiente na segunda

metade dos anos oitenta do século XX nos países mais desenvolvidos, tomou

impulso na década de noventa também em países em desenvolvimento e se

fortalecerá nos primeiros dez anos do século XX envolvendo todo o mundo,

como realmente vem acontecendo.

Silva (2002) destaca dois marcos fundamentais da luta por cidadania

das pessoas com deficiência: o Ano Internacional da Pessoa com Deficiência

no mundo e a Assembléia Constituinte no Brasil. Para Silva (2002) o Ano

Internacional da Pessoa com Deficiência teve grande importância porque o

tema chegou até à imprensa e foram realizados vários programas de televisão

sobre o assunto e, a Assembléia Constituinte por ter sido aprovada uma das

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mais completas constituição do mundo no que diz respeito às pessoas com

deficiência.

Hoje as pessoas com deficiência contam com inúmeras Leis que

defendem seus direitos e primam pela questão da acessibilidade, no entanto o

cumprimento dessas Leis não é observado efetivamente, sendo essa questão,

mais um dos pilares da luta das pessoas com deficiência, que se faz de

maneira mais eficaz através de grupos e/ou entidades representativas dessas

pessoas. Em Uberlândia existe a Associação dos Paraplégicos de Uberlândia-

APARU que, além de lutar pelo cumprimento das Leis cumpre o importante

papel na divulgação das mesmas para a sociedade e, principalmente, para as

pessoas as quais está representando. Como explica Santos (1992) é com o

grupo que encontramos os meios de multiplicar as forças individuais, mediante

a organização, manifestando seus interesses e reivindicando a qualidade de

vida e a cidadania que são direitos inalienáveis do ser humano.

Os grupos e entidades representativas não medem esforços para

conquistar uma cidade onde todos possam usufruir dos serviços e

equipamentos existentes, onde todos possam circular com conforto e

segurança podendo trabalhar, estudar, se divertir, praticar esportes, enfim,

praticar todos os atos da vida diária independentemente de suas condições

físicas.

Lefebvre (1972, apud Yázigi, 2000) afirma que o direito à cidade é uma

forma superior de direito: direito à liberdade; à individualização, ao habitat e ao

habitar; o direito à obra ao direito à apropriação implicam no direito à cidade.

Ao reivindicar uma cidade acessível, as pessoas com deficiência

mostram sua força como agentes modificadores do espaço. Lefebvre (1991) diz

que a cidade muda quando muda a sociedade no seu conjunto.

Desta forma, a cidade é obra a ser associada mais com a obra de arte do que com o simples produto material. Se há uma produção da cidade e das relações sociais na cidade, é uma produção e reprodução de seres humanos por seres humanos, mais do que uma produção de objetos. A cidade tem uma historia, ela é obra de uma história, isto é, de pessoas e de grupos bem determinados que realizam essa obra nas condições históricas. (LEFEBVRE, 1991, p. 46-47)

Assim, pode-se afirmar que as cidades vivem em constante

metamorfose com o intuito de atender as necessidades de seus habitantes. O

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lazer e a recreação são necessidades inerentes ao ser humano, que busca

satisfazê-las indo a bares, cinemas, praça, parques, etc.. Portanto, o objetivo

desse trabalho é analisar as condições de acesso para as pessoas com

deficiência física aos parques urbanos da cidade de Uberlândia, com ênfase ao

Parque do Sabiá e ao Parque Victorio Siquierolli, discutindo a importância dos

parques urbanos nas cidades médias, verificando se esses parques possuem

acessibilidade que permitem a inclusão das pessoas com deficiência e

analisando se essas pessoas levam em consideração as condições de acesso

dos parques urbanos quando selecionam os locais para seus momentos de

lazer e recreação.

Para atingir esses objetivos foi realizada a pesquisa bibliográfica de

livros e artigos científicos junto às bibliotecas da Prefeitura Municipal de

Uberlândia-PMU, da Universidade Federal de Uberlândia-UFU e internet, com

o objetivo de dar suporte teórico para a análise da temática.

Posteriormente foi realizado a pesquisa in loco, ou seja, levantamento de

dados para verificar a existência ou não da acessibilidade no Parque do Sabiá

e no Parque Victório Siquierolli da cidade de Uberlândia. Qualquer um que

deseje conhecer um fenômeno só poderá ter sucesso se entrar em contato

com ele, ou seja, vivê-lo (praticá-lo) dentro do próprio meio deste fenômeno

(Kaiser, B., 1985, p. 26). Sendo assim, para se saber a real situação da

estrutura de acesso para as pessoas com deficiência física é imprescindível a

realização de coleta de informações diretamente nos parques urbanos,

tornando a pesquisa mais complexa e completa, além de poder suscitar

questões que até então permanecem ofuscadas.

Durante as pesquisas em campo foi feito o registro fotográfico das

barreiras de acesso encontradas, especialmente as arquitetônicas, bem como

das adaptações que até o presente momento já foram feitas, afim de avaliar se

estas estão de acordo com as normas técnicas. Sotang (2004) defende o uso

da fotografia dizendo que o que está escrito sobre uma pessoa ou um fato é

declaradamente, uma interpretação, assim como pinturas e desenhos, mas

imagens fotográficas não parecem manifestações a respeito do mundo e sim

pedaços dele, miniaturas da realidade que qualquer um pode fazer ou adquirir.

Para Sotang (2004) as fotos nos fornecem testemunhos da realidade.

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Também foi realizada uma pesquisa com vinte pessoas com deficiência

física que utilizam cadeira de rodas para sua locomoção, para constatar se

estas levam em consideração as condições de acesso dos parques urbanos

quando selecionam os locais para seus momentos de lazer e recreação, bem

como para relatarem as experiências ou situações que tiveram de enfrentar ao

acessar esses locais, quando escolhidos para passarem seus momentos de

lazer e recreação, pois conforme Yázigi (2000, p. 471) num momento em que

se busca o aperfeiçoamento da democracia, ignorar o usuário de um assunto

que lhe diz respeito se afigura como verdadeira aberração teórica.

Por fim, foi feito a análise e interpretação das informações levantadas

nas pesquisas bibliográficas, nas entrevistas e em campo elaborando assim

este trabalho.

Hoje todos os esforços são no sentido de promover uma inclusão justa,

com efetiva inserção das pessoas com deficiência na sociedade, possibilitando

melhores condições de vida. Sendo o espaço com suas relações sociais, o

objeto de estudo da Geografia, torna-se necessário inserí-la no contexto da

inclusão social plena de todos os cidadãos, contribuindo para a formação de

uma sociedade justa e humana.

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16

2.0 Considerações Teóricas:entendendo melhor os co nceitos

O Brasil foi um país essencialmente rural desde os primórdios de sua

colonização, porém, essa situação começou a mudar no início do século XX,

quando o processo de urbanização ganha impulso devido às mudanças no

sistema político e econômico, acelerando-se ainda mais a partir da década de

1940 em virtude da intensificação do processo de industrialização.

No plano político, as maiores alterações se deram no âmbito das idéias dominantes e nas bases de sustentação do regime até então no poder. Até a Revolução de 1930, o sistema político se sustentava apoiando-se na propriedade rural, nas atividades primário-exportadoras da economia[...] e na oligarquia rural que controlava o poder. [...] No plano econômico [...] os investimentos para a produção de bens para o mercado interno passaram a ter maior participação no processo de formação do capital da economia. [...] Tem-se, desta forma, dois acontecimentos de certa forma inter-relacionados: a emergência da burguesia/comercial e o crescimento do mercado urbano de bens e serviços. Eles tiveram influencia direta no processo de urbanização e na formação do sistema urbano na medida em que favoreceram o crescimento das cidades e o seu inter-relacionamento. (ANDRADE; LODDER, 1979, p. 17-18)

Assim, têm-se um país que até 1940 via o crescimento dos seus centros

urbanos basicamente ligado à economia primário-exportadora, mas que a partir

desta década, em decorrência do processo de industrialização para

substituição das importações, assiste a expansão do setor industrial, o

aumento do êxodo rural e a consolidação da rede urbana nacional.

Rocha (2006), diz em seu artigo que em 1920 o país possuía

aproximadamente 27.500.000 habitantes, sendo 4.552.000 residentes nas

cidades ou vilas, resultando num percentual de 16,55% de população urbana

no Brasil. Conforme o censo demográfico do IBGE (2000) esse percentual

passa para 31,2% em 1944, 36, 1 % em 1950, 45,08% em 1960, 55,98% em

1970, 67,70% em 1980, 75,47% em 1991 e 81,23% em 2000. Rocha (2006)

afirma que até as décadas de 1940 e 1950 o país ainda se classifica como

extremamente rural, havendo um equilíbrio entre a população rural e urbana na

década de 1960 e, somente nas décadas de 1970 e 1980 pode-se dizer que o

Brasil passou a ter um caráter predominantemente urbano.

Segundo as estimativas de 2008, divulgadas em agosto desse mesmo

ano pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-IBGE, o Brasil tinha

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17

189,6 milhões de habitantes, sendo a população urbana de aproximadamente

87%. Portanto é preciso lembrar que o processo de urbanização se iniciou no

começo do século XX e se acentuou a partir da década de 1940, mas o país

passou a ser considerado urbano somente a partir da década de 1970, quando

a população residente na cidade ultrapassou aquela residente na área rural.

Ano População Total

População Urbana

População Urbana (percentual)

1950 51.944.397 18.782.891 36,16 1960 70.992.343 32.004.817 45,08 1970 94.508.583 52.904.744 55,98 1980 121.150.573 82.013.375 67,70 1991 146.917.459 110.875.826 75,47 2000 169.590.693 137.755.550 81,23 2008 189.600.000* 164.952.000* 87*

Tabela 01: Dados Sobre a População Urbana Fonte: IBGE, 2000 Org: SILVA, E. M. *Dados Estimados

Logo, observa-se que o processo de urbanização no Brasil,

intensificado a partir da década de 1940, atinge praticamente todas as regiões,

elevando também o número de cidades médias e de sua população, estando a

maioria destas cidades localizadas no Sul e no Sudeste do País.

Em seu trabalho sobre as cidades médias Amorim Filho (2005)

apresenta sete critérios gerais que permitem caracterizar, identificar e

classificar a cidade média, que abrange desde a capacidade de interação com

o seu espaço regional e aglomerações urbanas de hierarquia superior; a

relação que a cidade mantém com o espaço rural microrregional; o nível de

autonomia da cidade; sistema de rede bem desenvolvidos afim de otimizar as

interações com o espaço micro-regional e com os níveis superiores da

hierarquia urbana; saber distinguir cidade média de centro de polarização

regional ou micro-regional; o tamanho demográfico da cidade, sua estrutura

interna e relações externas; e por fim, tem-se o critério que considera o

zoneamento morfológico-funcional urbano da cidade média, utilizado pelo

autor para realização de seus trabalhos.

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18

No critério morfologia urbana, Amorim Filho (2005) diz que a cidade

média deve apresentar sua estrutura morfológica interna composta pelo centro

funcional principal, vários sub-centros que atendam as necessidades dos

moradores das zonas pericentral (envolve o centro principal) e periférica, e uma

periferia cuja evolução se dá principalmente através de saltos, resultando numa

estrutura polinuclear. Além desses espaços, o autor ainda destaca a zona

periurbana, que é a zona de transição para os espaços rurais. O quadro abaixo

apresenta uma síntese do zoneamento morfológico-funcional da cidade média:

Nível de hierarquia urbana

Zona Central Zona Pericentral Zona Periférica Zona Periurbana

Cidade Média

-Centro principal bem definido funcionalmente (forte presença de equipamentos “raros” de alcance regional); diferenciação funcional interna; paisagem e morfologia típicas (construções em altura, maior densidade de construções, forte movimento de veículo e de pessoas, animação); função residencial superada pelas funções terciárias; centro com polarização pelo menos microrregional.

-Extensa espacialmente com predomínio da função residencial; presença de subcentros especializados ou polifuncionais ao longo dos eixos, praças e de entroncamentos; diferenciação morfológica e paisagística em função de diferenças sócio- econômicas; presença de equipamentos especiais como hospitais, universidades, estações rodoviárias e ferroviária, etc.

De dois tipos: contínua (como prolongamento da zona pericentral) e descontínua, ou polinuclear, formada por loteamentos ou vilas; presença de subcentros polifuncionais bem modestos (comércio e serviço de vizinhança) e de alguns subcentros especializados; extensão proporcional ao nível hierárquico e tamanho da cidade.

-Presença de uma zona de transição urbano rural mais ou menos extensa, e que se confude nas imediações da cidade com a periferia polinuclear e descontínua; presença de alguns equipamentos terciários pontuais; aumento das casas de campo, de clubes campestres e hotéis- fazenda; diminuição das fazendas e aumento das pequenas propriedades com produtos para a cidade média.

Quadro 1: Síntese das Características do Zoneamento Morfológico-Funcional de uma Cidade Média Fonte: AMORIM FILHO, 2005. p.60

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O critério tamanho demográfico é bastante utilizado pelos pesquisadores

para conceituar a cidade média brasileira, no entanto o número de habitantes

considerados sofre variações entre os órgãos governamentais e alguns

pesquisadores.

Conforme o Programa Nacional de Apoio às Capitais e Cidades de Porte Médio- PNCCPM, no momento de sua implantação na década de 1970, as cidades consideradas de porte médio eram aquelas aglomerações com população entre 50 mil a 250 mil habitantes. Para o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE , a cidade média é aquela que possui população entre 100.000 e 500.000 habitantes. Conforme a Organização das Nações Unidas ONU , as cidades médias são aquelas com aglomerações entre 100.000 e 1.000.000 de habitantes. Já a União dos Arquitetos Internacionais UIA - delimita como cidades médias aquelas que possuem entre 20.000 a 2.000.000 de habitantes .(FRANÇA, 2007, p. 51)

Andrade e Lodder (1979) utilizaram o critério tamanho demográfico para

classificar as cidades médias, conceituando-as como sendo aquelas que em

1970 possuíam uma população entre 50 e 250 mil habitantes. De acordo com

esses autores, estão implícitas no tamanho populacional algumas das

dimensões funcionais urbanas que refletem o nível de complexidade e de

complementaridade das atividades econômicas nestes centros e os diferentes

graus de interação da cidade com suas áreas de influência. (ANDRADE;

LODDER, 1979, p. 36)

Existe uma certa dificuldade na definição do conceito de cidades médias

utilizando-se apenas do critério tamanho demográfico, sendo necessário

acrescentar a este critério vários outro aspectos.

Apesar da antiguidade dos estudos a cerca das cidades médias, existe certa dificuldade em sua definição. Muito embora, tenha implícita uma noção de dimensão populacional há, contudo, diversos critérios necessários para uma definição mais completa sobre o conceito de cidade média. Ao critério demográfico, devem-se somar aspectos como nível de funcionalidade urbana, especialização ou diversificação das atividades econômicas, natureza, intensidade e periodicidade das relações espaciais, o papel como centros de gestão do território e o arranjo espacial das hinterlândias que comandam, assim como deve-se examinar a gênese e a evolução do contexto sócio-espacial, no qual estão inseridas essas cidades. (ALVES; DINIZ, 2008, p. 81)

Por fim, verifica-se que as cidades médias possuem grande importância

no cenário econômico atual do país, localizando-se nesses locais grandes

Page 21: 350 Ecione Maria Da Silva

20

empresas do setor de serviços e comércio, industrial e agroindústria, atraindo

migrantes de cidades pequenas e do campo, que buscam empregos e

qualidade de vida.

Uberlândia seguiu esta tendência de urbanização, sendo marcada por

grandes transformações e, segundo Andrade e Lodder (1979), já na década de

1970, se encontrava no grupo de cidades médias que apresentavam

relativamente as melhores condições necessárias para o seu crescimento

econômico. Na contagem da população no ano de 2007 realizada pelo IBGE,

Uberlândia possuía uma população de aproximadamente 608.369 habitantes

distribuídos em uma área total de 4115,09 Km2 . Considerando que o IBGE

classifica as cidades médias como sendo aquelas com população entre

100.000 e 500.000, França (2007) diz que Uberlândia pode ser considerada

como grande cidade média não metropolitana, reforçando assim, a idéia de que

não se pode criar uma definição rígida para as cidades médias, e de que ao se

usar o critério demográfico, deve-se somar a ele as características econômica,

política e social. Se aplicarmos o critério de zoneamento morfológico-funcional

de Amorim Filho, será identificado na configuração urbana de Uberlândia, as

características citadas pelo autor para o conceito de cidade média.

Ramires (1998) explica que a expansão do espaço urbano de Uberlândia

ocorreu de forma mais intensa na década de 1970, destacando que, enquanto

nos anos de 1960, verificou-se uma ampliação de cerca de 680 mil metros

quadrados na cidade, na década seguinte tal valor chega a mais de três

milhões de metros quadrados, ou seja, houve uma ampliação extremamente

significativa dos espaços periféricos, com investimentos na construção de

conjuntos habitacionais por parte do Poder Público e também da iniciativa

privada.

A grande migração de pessoas de outras cidades e também a migração

de pessoas que antes viviam no campo foi um fator primordial para o

desenvolvimento urbano e econômico do município. Esse aumento

populacional acarreta também o aumento do número de pessoas com

deficiência-PcD residindo na área urbana de Uberlândia, o que

conseqüentemente, gera a necessidade de uma estruturação da cidade para o

exercício da cidadania dessas pessoas.

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21

Conforme Zardo (2007), hoje Uberlândia é uma cidade média em plena

expansão progressista e modernista, possuindo uma excelente estrutura

logística em transportes e telecomunicações e economicamente considerada

um dos maiores pólos agroindustriais do Estado, favorecida pela sua excelente

localização territorial, ligando o sudeste e o centro-oeste do país, como

também o sul e o norte devido à sua proximidade entre os estados de São

Paulo, Mato Grosso e Goiás .

O espaço urbano capitalista [...] é um produto social. Resultado de ações acumuladas através do tempo e engendradas por agentes que produzem e consomem espaço. [...] A complexidade da ação dos agentes sociais inclui práticas que levam a um constante processo de reorganização espacial que se faz via incorporação de novas áreas ao espaço urbano, densificação do uso do solo, deterioração de certas áreas, renovação urbana, relocação diferenciada da infra-estrutura e mudanças, coercitivas ou não, do conteúdo social e econômico de determinadas áreas da cidade. (CORRÊA, 1995, p.11)

Santos (1992) fortalece a importância dos agentes sociais, ao definir

espaço, como sendo a soma dos objetos geográficos, naturais e artificiais, mais

a sociedade, destacando que a essência do espaço é social e este se encontra

em permanente evolução. “O espaço deve ser considerado como um conjunto

indissociável de que participam, de um lado certo arranjo de objetos

geográficos, objetos naturais e objetos sociais, e, de outro, a vida que preenche

e os anima, ou seja, a sociedade em movimento.” (SANTOS, 1988, p. 26-27)

Portanto, pode-se afirmar que a cidade está em permanente processo

de transformação, sendo esse espaço resultado da ação da própria sociedade,

que a modifica a todo instante visando atender as suas necessidades. Como

diz Burmeister (2001), a cidade de hoje nunca é igual a de amanhã e sua

riqueza está na diversidade que oferece. Ela é dinâmica e recriar este ambiente

para que todos possam usufruir dos seus variados espaços se torna um grande

desafio, principalmente para aquelas pessoas que apresentam algum tipo de

deficiência. “O espaço da cidade é, assim, e também, o cenário e o objeto das

lutas sociais, pois estas visam, afinal de contas, o direito à cidade, á cidadania

plena e igual para todos.” (CORRÊA, 1995, p. 09)

De acordo com o IBGE (2000) o número de brasileiros que apresentam

algum tipo de deficiência, é de 14,5 %, ou seja, se esse valor for aplicado ao

número atual de habitantes de Uberlândia, corresponderia à 88.213 pessoas e,

Page 23: 350 Ecione Maria Da Silva

22

dentre estas, 25.693 apresentam deficiência física ou motora. Vital (2006)

explica que pela primeira vez utilizou-se o critério de Classificação Internacional

de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde - CIF recomendado pela OMS,

estando o questionário utilizado pelo IBGE baseado em dois esquemas, sendo

o primeiro formado a partir de um modelo centrado nas características

corporais do indivíduo e o segundo é estruturado sobre uma escala de

gradação de dificuldades na realização de tarefas.

As pessoas com deficiência também são agentes capazes de modificar

o espaço onde vivem e no que diz respeito à cidade de Uberlândia, muito se

tem feito para permitir que essas pessoas tenham o direito de viver com mais

autonomia e independência, mesmo sabendo que ainda existem inúmeras

barreiras que impedem o acesso dessas pessoas a uma vida mais digna,

... na realidade de Uberlândia, não se percebia, e ainda hoje não se percebe, a efetiva igualdade de oportunidades entre as pessoas, sendo público e notório que as pessoas com deficiência continuavam e muitas ainda continuam excluídas por ausência de dispositivos de acessibilidade e por barreiras outras que nem sempre são relacionadas à deficiência (RESENDE, 2003. p. 03).

É comum o uso da terminologia “portadores de deficiência”, porém,

como destacado por Soares et. al (2006, p.01) o termo pessoa com deficiência

é o que está sendo utilizado na proposta de Convenção Internacional, para que

proteja, defenda e promova os direitos humanos das pessoas com deficiência

em todo o mundo, elaborada e discutida pela Organização das Nações Unidas

– ONU; também para indicar que a deficiência é só mais uma característica

dessa pessoa. Sassaki (2002) explica que no Brasil, o termo portador de

deficiência tornou-se bastante popular, principalmente entre os anos de 1986 e

1996, no entanto, pessoas com deficiência defendem que nenhuma pessoa

porta uma deficiência como se estivesse portando um objeto e sim, que elas

possuem algum tipo de deficiência que faz parte de suas características

pessoais.

No Decreto Federal no 5296, firmado pelo presidente da República no

dia 2 de dezembro de 2004, regulamentando a Lei 10048 de 08 de novembro

de 2000 e a Lei 10098 de 19 de dezembro de 2000, ainda é usado a expressão

“pessoa portadora de deficiência”. Vital (2006, p. 16,) lembra que as definições

foram modificadas no Brasil no final do século XIX e os textos legais que tratam

Page 24: 350 Ecione Maria Da Silva

23

o tema com maior especificidade ao longo do século XX refletem ainda, em boa

medida, conceitos usados dentro do modelo médico.

Assim, no Decreto no 5296/04, encontramos esse termo para designar

aquela pessoa que possui limitação ou incapacidade para o desempenho de

atividade. Nesse mesmo parágrafo encontra-se a definição de deficiência

física, como sendo,

alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho de funções;. (DECRETO FEDERAL no 5296/04, Art. 5o, § 1o, Inciso I)

Deve-se observar, que no decreto há a distinção entre as expressões

pessoa portadora de deficiência física e pessoa com mobilidade reduzida,

estando essa classificada como “aquela que não se enquadrando no conceito

de pessoa portadora de deficiência, tenha, por qualquer motivo, dificuldade de

movimentar-se, permanente ou temporariamente, gerando redução efetiva da

mobilidade, flexibilidade, coordenação motora,e percepção” (DECRETO

FEDERAL 5296/04, Art. 5o, § 1o, Inciso II). A Associação Brasileira de Normas

Técnicas- ABNT apresenta o conceito de pessoas com mobilidade reduzida de

uma maneira mais fácil de ser compreendida. Dessa forma para a ABNT,

pessoa com mobilidade reduzida é “aquela que, temporária ou

permanentemente, tem limitada sua capacidade de relacionar-se com o meio e

de utilizá-lo. Entende-se por pessoa com mobilidade reduzida, a pessoa com

deficiência, idosa, obesa, gestante entre outros” (NBR 9050/04, p. 04)

Em qualquer dos casos, a acessibilidade é de fundamental importância

para a qualidade de vida no espaço urbano de uma cidade média, devendo ser

respeitadas as condições de cada um, não importando se a pessoa usa cadeira

de rodas, é idosa, gestante ou está com um carrinho de bebê.

Silva (2002) diz que é comum as pessoas se sentirem constrangidas ao

se referirem a uma pessoa que possui algum tipo de deficiência, por não saber

a forma adequada com que devem tratá-la, utilizando-se assim, do termo que

consideram mais elegante ou correta.

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24

A terminologia usada com relação às pessoas com alguma deficiência

evoluiu no decorrer do tempo, acompanhando as conquistas obtidas por este

segmento da sociedade. Cambiaghi (2007) apresenta em seu trabalho, um

quadro baseado em Sassaki (2003), que mostra a evolução no Brasil da

terminologia usada em relação às PcD:

ÉPOCA TERMOS E SIGNIFICADOS

VALOR DA PESSOA

Desde o começo da História e durante Séculos, obras de literatura, nomes de instituições, leis, mídia e outros meios mencionavam “os inválidos”.

O termo significava “indivíduos sem valor”. Em pleno século 20, ainda se utilizava este termo, embora já sem nenhum sentido pejorativo.

Aquele que tinha deficiência era considerado socialmente inútil, um fardo para a família, alguém sem valor profissional.

Século XX até 1960. Após as duas Guerras Mundiais, a mídia usava o termo incapacitados.

O termo significava, de início, “indivíduos sem capacidade” e, mais tarde, passou a ter o sentido de “indivíduos com capacidade residual”. Durante várias décadas, seu uso designava pessoas de qualquer idade. Uma variação foi o termo “os incapazes”, que significava “indivíduos que não são capazes” de fazer algumas coisas por causa da deficiência que tinham.

Significou um avanço para a sociedade reconhecer que a pessoa com deficiência poderia apresentar alguma capacidade residual, mesmo que reduzida. Mas, ao mesmo tempo, considerava-se que a deficiência, qualquer que fosse o tipo, eliminava ou reduzia a capacidade da pessoa em todos os aspectos: físico, psicológico, social, profissional etc.

Continua

Page 26: 350 Ecione Maria Da Silva

25

ÉPOCA TERMOS E SIGNIFICADOS

VALOR DA PESSOA

De 1960 até 1980. No final da década de 50, foi fundada a Associação de Assistência à Criança Defeituosa – AACD (hoje denominada Associação de Assistência à Criança Deficiente). Nesse período, surgiram as primeiras unidades da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais - Apae.

O termo defeituoso significava indivíduos que possuíam alguma deformidade, principalmente física. O termo deficiente significava indivíduos que possuíam deficiência física, mental, auditiva, visual ou múltipla, que os levava a executar as funções básicas de vida como andar, sentar-se, correr, escrever, tomar banho etc., de uma forma diferente daquela como as pessoas sem deficiência faziam. Este fato começou a ser aceito pela sociedade. O termo excepcional significava “indivíduos com deficiência mental”.

A sociedade passou a utilizar estes três termos, que focalizam as deficiências em si sem reforçarem o que as pessoas não conseguiam fazer como a maioria. Ao mesmo tempo, difundia-se o movimento em defesa dos direitos das pessoas superdotadas (expressão substituída por “pessoas com altas habilidades” ou “pessoas com indícios de altas habilidades”). O movimento mostrou que o termo “os excepcionais” não poderia referir-se exclusivamente aos que tinham deficiência mental, pois os superdotados também são excepcionais por estarem no outro extremo da curva da inteligência humana.

De 1981 até 1987. Por pressão das organizações de pessoas com deficiência, a ONU instituiu o ano de 1981 como sendo o “Ano Internacional das Pessoas Deficientes” E o mundo achou difícil começar a dizer ou escrever “pessoas deficientes”. O impacto desta terminologia foi profundo e ajudou a melhorar a imagem destas pessoas.

Pela primeira vez, em todo o mundo, o substantivo “deficientes” (como em “os deficientes”) passou a ser utilizado como adjetivo, sendo-lhe acrescentado o substantivo “pessoas”. A partir de 1981, a palavra “indivíduos” deixou de ser usada para se referir às pessoas com deficiência.

Foi atribuído o valor “pessoas” àqueles que tinham deficiência, igualando-os em direitos e dignidade à maioria dos membros de qualquer sociedade ou país.

Continua

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26

ÉPOCA TERMOS E SIGNIFICADOS

VALOR DA PESSOA

De 1988 até 1993. Alguns líderes de organizações de pessoas com deficiência contestaram o termo “pessoa deficiente” alegando que ele considerava a pessoa deficiente em sua totalidade, o que era inaceitável para eles.

A expressão pessoa portadora de deficiência, utilizada somente em países de língua portuguesa, foi proposta para substituir o termo “pessoa deficiente”. Por simplificação, a expressão foi reduzida para “portador de deficiência”.

O “portar uma deficiência” passou a ser um valor agregado à pessoa. A expressão foi adotado nas Constituições federal e estaduais e em todas as leis e políticas pertinentes ao campo das deficiências. Conselhos, coordenadorias e associações passaram a incluir o termo em seus nomes oficiais.

De 1990 até 1994. O art. 5º da Resolução CNE/CEB nº 2, de 11/9/01, explica que as necessidades especiais decorrem de três situações, que podem envolver dificuldades vinculadas a deficiências ou dificuldades não vinculadas a uma causa orgânica.

“pessoas com necessidades especiais”. O termo surgiu primeiramente para substituir “deficiência” por “necessidades especiais”. daí a expressão “portadores de necessidades especiais”. Depois, esse termo passou a ter significado próprio sem substituir o nome “pessoas com deficiência”.

Com a vigência da Resolução nº 2, a expressão necessidades especiais deu origem a outras, como crianças especiais, alunos especiais, pacientes especiais, etc., numa tentativa de amenizar a contundência da palavra deficiente.

Junho de 1994. A Declaração de Salamanca- surgida após a Conferência Mundial sobre “ Educação de Necessidades Especiais: Acesso e Qualidade”, realizada na Espanha, em junho de 1994- preconiza a educação inclusiva para todos, tenham ou não uma deficiência.

Ficou estabelecido que pessoas com deficiência e pessoas sem deficiência, quando tiverem necessidades educacionais especiais e se encontrarem segregadas, têm o direito de integrar-se a escolas inclusivas e da sociedade inclusiva.

Ao segmento dos excluídos passou a ser reconhecido o direito de, por meio de seu poder pessoal, exigir sua inclusão em todos os aspectos da vida em sociedade

Continua

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27

ÉPOCA TERMOS E SIGNIFICADOS

VALOR DA PESSOA

Hoje Atualmente, a expressão pessoas com deficiência passou a ser preferida por um número cada vez maior de adeptos.

Essa expressão faz parte do texto da Convenção Internacional para Proteção e Promoção dos Direitos e Dignidade das Pessoas com Deficiência, elaborado pela ONU em 2003.

Os princípios básicos para chegar a essa denominação foram: não esconder ou camuflar a deficiência; mostrar com dignidade sua realidade; valorizar as diferenças e necessidades decorrentes da deficiência; combater neologismos que tentam diluir as diferenças e defender a igualdade entre as pessoas com deficiência e as demais em termos de direitos e dignidade; identificar nas diferenças todos os direitos que lhe são pertinentes e, a partir daí, encontrar medidas específicas para o Estado e para a sociedade diminuírem ou eliminarem as chamadas restrições de participação.

Quadro 02: Evolução da Terminologia Usada em Relação à Pessoa com Deficiência Fonte: CAMBIAGHI, 2007, p. 30-32

De acordo com o texto da Convenção sobre os Direitos das Pessoas

com Deficiência, aprovado pelo Congresso Nacional em 2008, o termo utilizado

deve ser pessoa com deficiência, referindo-se àquelas pessoas que têm

impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou

sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem impedir sua

participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as

demais pessoas.

A evolução dos termos usados para designar PcD está relacionado ao

processo histórico, refletindo o grau de inserção e o valor atribuído a essas

pessoas pela sociedade em cada período. Sassaki (2002) alerta que em uma

sociedade inclusiva, a linguagem torna-se um elemento fundamental, pois

expressa o respeito ou a discriminação em relação à PcD.

Conforme Resende (2004) o espaço como fator social é constantemente

alterado para abrigar as diferenças e as contradições entre todos os indivíduos,

ficando evidente a importância da acessibilidade para as PcD ou com

mobilidade reduzida, que também habitam a cidade e utilizam o espaço urbano

para o exercício de suas atividades diárias e de lazer, como todos os cidadãos.

Page 29: 350 Ecione Maria Da Silva

28

Nesse trabalho serão analisados os aspectos arquitetônicos e

urbanísticos do conceito de acessibilidade, uma vez que este termo abrange

vários outros contextos, como acessibilidade à educação, acessibilidade

financeira, acessibilidade à saúde, etc.

Segundo Machado (2004 apud SOUSA; BRAGA 2006, p. 03) o conceito

de acessibilidade possui diferentes definições, fundamentadas em diferentes

teorias. De uma forma geral é definida como sendo uma medida de esforço

para se transpor uma separação físico-territorial, caracterizada pelas

oportunidades apresentadas ao indivíduo ou grupo coletivo para que possam

exercer suas atividades. A acessibilidade torna possível o acesso dos

indivíduos aos locais de emprego, lazer, estudo, equipamentos públicos etc,. O

Decreto 5296/04 assim define o termo acessibilidade,

condição para utilização, com segurança e autonomia, total ou assistida, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos serviços de transporte e dos dispositivos, sistemas e meios de comunicação e informação, por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida (DECRETO FEDERAL no 5296/04, Art. 8o, Inciso I)

O conceito de acessibilidade está, portanto, diretamente ligado ao

conceito de Desenho Universal que, de acordo com Okimoto; Silva; Lotufo

(2006) considera a diversidade humana na elaboração de projetos

arquitetônicos e urbanísticos, de forma a respeitar as diferenças existentes

entre as pessoas e a garantir a integração entre produto / ambiente e usuários

para que sejam concebidos como sistemas e não como partes isoladas. O

termo desenho universal é designado pelo Decreto 5296/04 como,

concepção de espaços, artefatos e produtos que visam atender simultaneamente todas as pessoas, com diferentes características antropométricas e sensoriais, de forma autônoma, segura e confortável, constituindo-se nos elementos ou soluções que compõem a acessibilidade. (DECRETO FEDERAL no 5296/04, Art. 8o, Inciso IX)

Para tanto, a concepção do espaço arquitetônico ou urbanístico também

deve fundamentar-se nos conceitos de acessibilidade, na interação entre o

indivíduo com o espaço, de forma a contribuir com o desenho de ambientes

adequados ao usuário nas suas formas e usos.

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29

[...] Particularmente para elas (pessoas com deficiência), a acessibilidade ao espaço é um dos itens de maior importância para o pleno respeito de suas individualidades. (...) A prática tem mostrado que algumas limitações e incapacidades na vida de uma pessoa com deficiência advêm da inadequação do meio e da falta de oportunidades de que dispõe a comunidade em geral [...]. (RESENDE, 2004, p. 41-42)

Dessa forma estar-se-á possibilitando a inclusão social das PcD no

espaço urbano e, nesse estudo em específico, aos parques urbanos

destinados ao lazer, à recreação e às atividades voltadas para a Educação

Ambiental de uma cidade média. Para Sassaki (1999), inclusão social

conceitua-se como o processo pelo qual a sociedade se adapta para poder

incluir, em seus sistemas sociais gerais, pessoas com deficiência e,

simultaneamente estas se preparam para assumir seus papéis na sociedade,

ou seja, ocorre a efetivação da equiparação de oportunidades para todos.

Quando se discute a acessibilidade aos espaços de uso público,

classificados pela NBR-9050 como sendo aqueles disponibilizados para uso do

público em geral e considerados por Yazigi (2000) como o lugar de exercício da

cidadania, percebe-se que a atenção se volta principalmente para a área

central da cidade, sendo pouco debatido em relação aos bairros periféricos e

aos parques urbanos.

Para Colesanti (1994) e Toledo e Santos (2008) os parques urbanos são

áreas verdes que integram os espaços livres de construção da cidade. Nos

estudos desses autores os espaços livres de construção são as áreas não

edificadas que compõem a configuração urbana, podendo ter várias funções

como

[...] fornecer iluminação e ar aos edifícios altos situados no centro da cidade e perspectivas de vistas do contorno urbano, aliviando os cidadãos do sentimento de aglomeração e opressão física; dar oportunidade ao cidadão para satisfazer suas necessidades de ocupação do tempo livre quer física, psicológica ou social; e propiciar que áreas com características únicas possam ser preservadas. ( COLESANTI, 1994, p. 65)

As áreas verdes, são os espaços livres cuja função seja à de

preservação ou recuperação da vegetação e/ou destinada ao lazer público.

Sendo assim, os parques urbanos, que constituem as áreas verdes da

cidade são espaços de uso público onde as pessoas vão passar seus

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30

momentos de lazer e, como são destinados a toda a população, deveriam

conter todos os dispositivos de acessibilidade para pessoas com deficiência,

que como qualquer cidadão, também tem direito ao lazer e recreação.

Colesanti (1994) enfatiza que lazer e recreação são dois conceitos distintos.

Lazer é considerado o tempo disponível das pessoas após uma jornada de trabalho e recreação compreende uma variedade muito grande de atividades neste tempo disponível desde assistir televisão, ir ao cinema, ao teatro até praticar os mais variados esportes. O uso do tempo livre para a recreação surge como uma prerrogativa da sociedade moderna urbano-industrial, apesar do lazer ser uma necessidade importante para o homem ao longo do tempo, variando apenas a intensidade segundo o contexto físico, sócio-econômico e político social de cada grupo. . ( COLESANTI, 1994, p. 70-71)

Dumazedier (1978) apud Castro (2006), classifica lazer como sendo o

conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade

para descansar, recrear, aprimorar sua formação intelectual, etc., após cumprir

suas obrigações profissionais, familiares e sociais, identificando dessa forma

três funções básicas para o lazer que inclui a reparação dos desgastes físicos

e mentais do cotidiano, a substituição do tédio e da monotonia por momentos

alegres e prazerosos e por fim a função de desenvolvimento pessoal.

Toledo e Santos (2008); Colesanti (1994) e Rodrigues (2007) contam

que os parques urbanos surgiram no final do século XVIII, atingindo o pleno

desenvolvimento na Inglaterra entre as décadas de 1850 e 1860, quando o

crescente processo de industrialização e expansão urbana provocaram

alterações profundas no ambiente natural, resultando na procura por espaços

onde a população pudesse suprir as atuais necessidades de contato com a

natureza, de lazer e recreação e de possuírem um ambiente que contrastasse

com aquele ambiente insalubre observado nas cidades. Portanto, inicialmente,

esses parques tinham como função o lazer e a contemplação da natureza e

eram freqüentados apenas pelas elites da sociedade. Somente no início do

século XX, os parques urbanos incorporam novas funções e o uso desses

espaços assume o caráter democrático, atendendo a toda a população.

No Brasil, os parques urbanos são criados para complementar o cenário

das elites que controlavam o país e desejavam incorporar à configuração

urbana, elementos importados da sociedade européia, como sinônimo de

modernidade e, conforme Rodrigues ( 2007, p. 66) “às massas urbanas eram

Page 32: 350 Ecione Maria Da Silva

31

destinados os vazios urbanos, tais como as várzeas, fundos de vale, rios e

riachos”. Mas a partir de 1950, com a rápida expansão das cidades brasileiras,

os espaços até então destinados à massa da população tendem a reduzir-se

cada vez mais ou mesmo desaparecerem e os parques urbanos passam a

atender a demanda social por espaços de lazer, recebendo também

equipamentos e infra-estrutura para a prática de esportes e realização de

atividades culturais.

É preciso lembrar que hoje os Parques Urbanos também são espaços

onde os professores do ensino básico levam seus alunos para realização de

trabalhos direcionados à Educação Ambiental e, portanto torna-se fundamental

que estes locais estejam preparados para receber alunos com deficiência. O

Decreto 5296/04 no seu Artigo 15o, também prevê que os parques e demais

espaços públicos, estejam de acordo com as normas técnicas no que diz

respeito à acessibilidade, garantido a todos o direito de usufruírem desses

espaços com autonomia e segurança.

De acordo com Sanchotene (2004 apud TOLEDO; SANTOS, 2008), as

áreas verdes apresentam vários benefícios diretos e indiretos e, dentre eles

pode-se destacar o lazer, a recreação e a melhoria das relações humanas

psico-sociais, promovendo a saúde mental e física das pessoas.

A criação de áreas verdes como parques e praças, na zona urbana dos municípios, auxilia no aumento da qualidade de vida da população, perdida nos grandes centros, ampliando o índice de área verde por habitante nos municípios. Além de tudo isso, a finalidade dos espaços verdes livres é a plena expansão das funções de lazer e recreação. Recrear é voltar a criar energias. Todo homem deve ter possibilidade de escolher como recrear; há, portanto, necessidade de existir um sistema adequado de recreio para todas as classes e idades, compreendendo diversas alternativas. (RONDINO, 2005 apud TOLEDO; SANTOS, 2008, p. 87 )

De acordo com esses autores, os parques urbanos são de fundamental

importância para a qualidade de vida da população, devendo ser acessíveis a

todos, sem distinção de classe social, idade e/ou condição física da pessoa.

Apesar de Rondino (2005 apud TOLEDO; SANTOS, 2008) enfatizar que todo

homem deve ter a possibilidade de escolher como recrear, as pessoas com

deficiência ainda não tem o pleno acesso aos parques urbanos pois estes não

estão estruturalmente preparados para recebê-los, o que acaba limitando suas

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32

possibilidades de escolha. Como afirma Sassaki (1999, p. 41) é “fundamental

equipararmos as oportunidades para que todas as pessoas, incluindo

portadores de deficiência, possam ter acesso a todos os serviços, bens,

ambientes construídos e ambientes naturais, em busca da realização de seus

sonhos e objetivos.”

Continuam a existir barreiras aos logradouros e aos programas de lazer e recreação. Isto se deve, em grande extensão, às atitudes, aos mitos e aos equívocos a respeito dos interesses, capacidades e necessidades das pessoas que são deficientes. Planejadores não dão a devida consideração a este segmento da população quando do desenvolvimento de políticas e/ou programas. De fato, na maioria dos casos, a inclusão de pessoas com deficiência é considerada uma adaptação ou um ajustamento que poderia ser feito somente quando recursos orçamentários a mais puderem ser encontrados. [...] A noção de acesso universal e projeto sem barreiras continua a ser vista como um luxo com que muitas vezes não se pode contar. Mas a experiência do Programa de Acessibilidade dos Parques Canadenses, por exemplo, confirma o fato de que recintos acessíveis atraem um crescente número de visitantes. Está também evidenciado que os programas e políticas que incluem pessoas portadoras de deficiências beneficiam a comunidade inteira.[...] A Associação Mundial de Lazer e Recreação tem o potencial para influir nas atitudes e para promover projetos sem barreiras, acesso universal e inclusão de pessoas com deficiência nas atividades de lazer e recreação. (WESTLAND, 1995 apud SASSAKI, 1999, p. 100-101)

Uberlândia possui seis parques urbanos, sendo o Parque do Sabiá e o

Parque Victório Siquierolli os dois mais freqüentados. Portanto, é necessário

avaliar as condições de acesso para pessoas com deficiência física,

especificamente àquelas que utilizam cadeira de rodas para sua locomoção,

nesses espaços, analisando também a importância desses parques para a

qualidade de vida da população, identificando as ações implementadas para

garantir a acessibilidade das pessoas com deficiência nesses locais e avaliar

se essas pessoas levam em consideração as condições de acesso dos

parques urbanos quando selecionam os locais para seus momentos de lazer e

recreação.

Page 34: 350 Ecione Maria Da Silva

33

3.0 Os Parques Urbanos de Uberlândia

Os Parques Urbanos foram inicialmente criados para atender a

necessidade da elite burguesa no final do século XVIII, pois com o

desenvolvimento industrial e o crescimento urbano, as cidades começaram a

ter um alto índice de insalubridade, sendo necessário a criação de um espaço

onde essa elite pudesse respirar o ar mais puro, passar seus momentos de

recreação e lazer em um ambiente salubre e mais tranqüilo.

Os parques urbanos são espaços livres ao público em geral e além

daquela função inicial de contemplação da natureza, tornaram-se espaços com

funções múltiplas, que vão desde a melhora da qualidade de vida urbana, com

a conservação de ambientes naturais, ser um espaço de socialização e um

ponto turístico para a cidade bem como um espaço de sensibilização e

educação ambiental.

Em Uberlândia, o primeiro Parque Municipal criado foi o Parque do

Sabiá devido a necessidade de se construir no espaço urbano um local de

lazer e recreação para a população de baixa renda. Os demais parques

municipais, Parque do Distrito Industrial, Parque Luizote de Freitas, Parque

Mansur, Parque Santa Luzia e Parque Victorio Siquierolli, foram implantados

com o intuito de preservação de partes do cerrado existentes na cidade e para

práticas de atividades ligadas à Educação Ambiental.

Como pode ser observado na figura abaixo, cada setor da cidade possui

um parque municipal. No entanto, se for comparada a área verde total do

município com o número de habitantes, chegar-se-á à conclusão de que em

Uberlândia é preciso o desenvolvimento de programas que incentivem a

criação de novos parques e o plantio de árvores tanto pela população como

pelo poder público, como forma de suprir a degradação ambiental provocada

pela expansão urbana.

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35

O objeto de estudo deste trabalho são os parques do Sabiá e Victório

Siquierolli, que serão comentados a seguir para maior conhecimento de sua

criação e sobre a estrutura encontrada em cada parque para uso da

comunidade.

3.1 O Parque do Sabiá

O Parque do Sabiá foi o primeiro parque urbano criado no município e é

administrado pela FUTEL (Fundação Uberlandense de Turismo, Esporte e

Lazer). Localiza-se no setor Leste da cidade de Uberlândia, estando sua

entrada principal situada na Avenida Haia, bairro Tibery, nas coordenadas

geográficas 18o 54’ 27” latitude S e 48o 14’ 27” longitude W.

Figura 02: Parque do Sabiá; Vista aérea da represa, 2007 Fonte: Adaptado do site da Prefeitura Municipal de Uberlândia

Todo o complexo do Parque do Sabiá possui uma área total de 1850000

m2, onde podem ser encontrados um bosque de 350m2 de área verde, com

mesas distribuídas em vários locais, onde os visitantes podem se reunir com a

Page 37: 350 Ecione Maria Da Silva

36

família e amigos, constituindo-se, portanto, de um local agradável para que a

população possa ter um contato mais próximo com natureza e assim minimizar

os efeitos negativos provocados pela correria da vida urbana; vários

equipamentos para recreação, como campos de futebol, quadras, parque

infantil, uma pista para caminhada com 5100m de extensão, o Recanto do

Truqueiro, piscinas, o aquário, zoológico, lagos e duas piscinas que são

abastecidos por três nascentes da Bacia do Córrego Jataí.

Figura 03: Parque do Sabiá; Vista aérea do Complexo, 2007 Fonte: Adaptado do site da Prefeitura Municipal de Uberlândia

Nesse espaço também estão o Horto Municipal, onde são cultivadas

várias espécies de plantas que são disponibilizadas à população, o Estádio

João Havelange e a Arena Presidente Tancredo Neves (Sabiazinho) onde,

além de jogos de futebol, também ocorrem vários eventos da cidade, como

festivais de musicas e outros shows. Esses equipamentos não farão parte

desse estudo uma vez que não se encontram diariamente abertos ao público e

estão situados externamente à área verde que será aqui considerada nosso

objeto de trabalho. As figuras abaixo mostram o Estádio João Havelange, a

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37

Arena Presidente Tancredo Neves, o horto municipal e a área do parque a ser

contemplada pelo estudo .

Figura 04: Estádio João Havelange e Arena Pres.Tancredo Neves; Vista aérea, 2007 Fonte: http://forum.skyscraperpage.com/showthread.php?t=157422, acesso em Nov. 2009

Figura 05: Parque do Sabiá; Horto Municipal, 2007 Fonte: Adaptado do site da Prefeitura Municipal de Uberlândia

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38

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39

Colessanti (1994) explica em seu trabalho, que o Parque do Sabiá foi

implementado para que os trabalhadores tivessem um local para seus

momentos de lazer e recreação, em uma área com infra-estrutura para

descanso, práticas esportivas, pescaria e, que tal área, também fosse voltada

para ser um ponto turístico na cidade. Assim, em 23 de março de 1971,

através da Lei 1898, o Poder Público Municipal oficializa a área do Manancial

Jataí para fins turísticos e bem estar social. Em junho desse mesmo ano, a Lei

1925 autoriza a abertura do crédito especial e realização de concorrência

pública para as obras de construção e do Parque do Sabiá, que de acordo com

o seu Artigo 2o se caracterizaria da seguinte forma,

Denomina-se “PARQUE DO SABIÁ” o conjunto de obras a ser implantado naquele próprio municipal e que se destinará exclusivamente para fins turísticos e bem estar social constando, entre outras, das seguintes obras e atrações: piscina, duchas, campos de esportes, camping, represa para fins aquáticos, jardim zoológico, bosque de essências nativas, campo para aeromodelismo, autódromo, criação ou viveiro de peixes, aves e animais da fauna nacional. (LEI MUNICIPAL no 1925/71, Art. 2o)

Ainda segundo Colessanti (1994), a empresa Quatro Rodas

Empreendimentos Turísticos recebeu, por meio de doação, uma parte da área

do parque, ficando sob sua responsabilidade construir um complexo turístico,

mas como não conseguiu cumprir o prazo determinado pela Lei 2283/73, teve

que devolver a área à Prefeitura, que em 1977 deu início à construção do

Parque, sendo inaugurado em 07 de novembro de 1982.

Em 2006 foi construído no Parque um Centro de Educação Ambiental

onde de acordo com o site da PMU, os alunos e demais visitantes participam

de atividades cujo objetivo é divulgar a importância da preservação do meio

ambiente, tanto na escala global, quanto no próprio espaço do Parque.

3.2 O Parque Victorio Siquieroli

O Parque Victorio Siquierolli localiza-se no setor Norte da cidade de

Uberlândia, nas coordenadas geográficas 18o 52’ 19” latitude S e 48o 17’ 2”

longitude W, tendo como principal via de acesso a Avenida Antonio Thomas

Ferreira de Rezende e a portaria situada na Av. Nossa Senhora do Carmo .

Sua área total é de 232300 m2, sendo composta por área privada da fazenda

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40

Metálica que foi doada pelo então proprietário Sr. Victório Siquierolli ao

município de Uberlândia. A área do Parque é de preservação permanente do

córrego Liso e córrego do Lobo (Carvão), que se encontra bastante degradada.

Figura 07: Parque Victorio Siquierolli,Vista aérea, 2007 Fonte: Adaptado do site da Prefeitura Municipal de Uberlândia

Figura 08: Parque Victorio Siquierolli; Entrada Principal, 2008 Autor: NEVES, C. jun/2008

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41

De acordo com Rodrigues (2007) a criação do Parque deriva de dois

fatores, quais sejam, a preocupação do Sr. Victório Siquierolli com a área de

cerradão presente em sua fazenda e, da gestão conjunta do referido

proprietário e da Administração Municipal tendo como objetivo promover a

implantação do Parque. Diferentemente do Parque do Sabiá, cuja criação se

deu com o objetivo de proporcionar lazer e recreação à população de baixa

renda do município, o Parque Victorio Siquierolli foi criado com o objetivo de

preservação de uma área de vegetação nativa e de ser um local direcionado à

educação ambiental para a população. Além disso, também está aberto à

comunidade para seus momentos de lazer e contemplação da natureza.

O Parque Municipal Victorio Siquierolli é um exemplo de parque urbano na cidade de Uberlândia, que busca através da educação ambiental empregada junto às crianças das escolas públicas e particulares e aos visitantes livres, incentivar a divulgação de uma idéia ambiental para a sociedade como um todo, além de conservar uma área de cerrado com vegetação nativa, dentro perímetro urbano, assegurando assim a qualidade ambiental de cidade e de vida da população. (SILVA; FERREIRA, 2003, p. 02)

O Parque Victório Siquierolli foi regulamentado pelo Decreto 8166/00 e

sua inauguração se deu em 31 de agosto de 2002, dia do aniversário da cidade

de Uberlândia. Sua estrutura é composta por um parque infantil, uma pista para

caminhada, pela trila interpretativa denominada Trilha do Óleo e pela sede,

onde funciona o Conselho Municipal de Desenvolvimento Ambiental-

CODEMA, o Museu de Biodiversidade e a Sala Verde Dr. Kerr.

No Museu de Biodiversidade os visitantes encontrarão um acervo da

flora e fauna de espécies típicas do Cerrado, como lobo-guará, jaguatirica, tatu,

etc., todos taxidermizados, uma coleção de insetos e sementes, além de um

herbário do Instituto de Biologia da UFU com amostras da botânica.

A Sala Verde conta com uma biblioteca e um acervo de vídeos, onde os

estudantes e demais visitantes do Parque podem assistir filmes e realizar

atividades de pesquisas ligados às questões ambientais.

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42

Figura 09: Parque Victorio Siquierolli, Sala Verde Dr. Kerr (esquerda) e Museu de Biodiversidade (direita), 2007 Fonte: Adaptado do site da Prefeitura Municipal de Uberlândia

O parque infantil possui brinquedos construídos com madeira de

reflorestamento, contribuindo para ampliar a percepção ambiental das crianças.

Próximo ao parque infantil tem-se uma pista para caminhada e um teatro de

arena para realização de eventos.

Figura 10: Parque Victorio Siquierolli, Parque Infantil, 2009 Autor: SILVA, E. M. ago/2009

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43

Figura 11: Parque Victorio Siquierolli, Arena de Teatro, 2009 Autor: SILVA, E. M. ago/2009

A Trilha do Óleo é uma trilha interpretativa, onde os visitantes têm

contato direto com a natureza, identificando algumas espécies vegetais,

observando erosões, o curso d’água, etc. viabilizando novas experiências.

Durante o percurso trilhado, o ser humano interage em diferentes escalas com o meio natural. Nesta interação ativa, os visitantes levam algo consigo, seja uma nova mentalidade, novas sensações, experiências, lembranças ou aprendizados. Viagens ao meio, paisagens cênicas, belezas naturais, abstrações, sensações. É o mundo dos sentidos a ser explorado como facilitador do desenvolvimento de uma consciência crítica. Ver, ouvir, sentir, cheirar, tocar, apreciar. Enfim, usufruir ao máximo das possibilidades multissensoriais que o meio oferece. (BEDIM, 2004, p.05)

Page 45: 350 Ecione Maria Da Silva

44

Figura 12: Parque Victorio Siquierolli, Trilha do Óleo, 2009 Autor: SILVA, E. M. set/2009

Toda a estrutura do Parque está aberta ao público, que em geral,

usufruem deste espaço nos fins de semana. As escolas das redes pública e

privada podem agendar visitas monitoradas durante a semana. Esse

agendamento deve ser feito com bastante antecedência, pois a visita ao

parque é uma atividade extra classe bem solicitada pelos professores.

Na visita monitorada, os professores recebem apoio de monitores da

seção de Educação Ambiental, que acompanharão e orientarão as atividades

realizadas com os alunos. Os monitores também promovem oficinas de

Educação Ambiental, onde os alunos trabalham com materiais recicláveis e

materiais extraídos da natureza. Assim, são oferecidas três tipos de oficinas,

sendo elas:

1. A oficina “Brinquedolixo e Fantolixo”, onde os alunos levam

material reciclável para a produção de brinquedos e fantoches;

2. A oficina “Cores do Chão”, onde os alunos fazem pinturas

utilizando pigmentos extraídos do solo;

3. A oficina “Hortas em Pequenos Espaços”, ensina aos alunos

como aproveitar embalagens que antes seriam descartadas,

Page 46: 350 Ecione Maria Da Silva

45

como garrafas PET e caixas de leite, para o cultivo de hortaliças

que posteriormente serão consumidas pelos próprios alunos e

seus familiares.

Diante dessas considerações, pode-se dizer que o Parque Municipal

Victório Siquierolli assim como o Parque Municipal do Sabiá possuem

grande importância ao preservar áreas de cerrado no município, para a

sensibilização no que diz respeito às questões ambientais e como opção

de lazer e recreação para a população em geral, incluindo aí as pessoas

com deficiência, que buscam esses locais para amenizar os efeitos

negativos resultantes da vida urbana, melhorando assim, a qualidade de

vida.

Page 47: 350 Ecione Maria Da Silva

46

4.0 Um Olhar sobre as condições de Acesso nos Parqu e

Objetos desse Estudo: Trabalhos de Campo Realizados

O Direito de ir e vir assegurado pela Lei a todos os cidadãos ainda não é

observado em nosso país. Uberlândia aos poucos vem adequando seu espaço,

mas ainda tem um longo caminho a seguir para oferecer uma cidade

totalmente acessível para as PcD poderem se locomover e realizar suas

tarefas diárias.

Durante os trabalhos de campo realizados no Parque do Sabiá e no

Parque Victorio Siquierolli, observou-se que apenas uma pequena parte desses

espaços foram adaptados para usuários de cadeira-de-rodas.

Como dito anteriormente, o termo acessibilidade refere-se à

possibilidade de se usar ou se locomover com segurança, autonomia e

independência, sendo estes fatores a base do trabalho de campo realizado.

Para complementar a pesquisa, foram aplicados questionários com cadeirantes

e acompanhantes de pessoas usuárias de cadeira-de-rodas, que devido ao

grau da deficiência, não conseguem se locomover sem ajuda, visando saber

como a questão da acessibilidade nesses parques são vistas por elas.

Aplicar os questionários foi a fase mais exaustiva do trabalho, pois

muitas das pessoas consultadas se poderiam responder as questões, diziam

preferir não emitir opinião por ter ido ao Parque há muitos anos atrás ou por

nunca ter ido, como no caso do Parque Victorio Siquierolli. Todos os

entrevistados consideram os Parques Urbanos importantes para a qualidade de

vida dos moradores de Uberlândia, por serem locais onde as crianças e adultos

se distraem e podem descansar a mente, como dito por um entrevistado, mas o

que se observou nas entrevistas é que poucos cultivam o hábito de freqüentar

os parques por falta de tempo ou por falta de motivação devido à dificuldade de

acesso.

A faixa etária dos participantes situa-se entre 20 e 55 anos e todos

residentes em Uberlândia há mais de cinco anos. Quando questionados se

acham que os espaços destinados ao lazer e recreação em Uberlândia, como

os clubes, lanchonetes, casas de shows, parques, praças, etc., estão

preparados para receberem usuários de cadeira-de-rodas, 63% dos

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47

entrevistados responderam que raramente algum local está preparado para

receber cadeirantes, 37% acham estes espaços não estão preparados e

nenhum entrevistado considerou que os espaços destinados ao lazer e

recreação em Uberlândia possuem estrutura adequada para este segmento da

sociedade. As pessoas que acompanham cadeirantes são as que mostram

maior indignação com relação à falta de acessibilidade dos espaços urbanos e

acham que pouca coisa melhorou enquanto as pessoas usuárias de cadeira-

de-rodas reconhecem que em Uberlândia ainda falta muita adequação, mas

que se for comparada com outros locais, a cidade já evoluiu bastante para as

PcD. Uma entrevistada que é acompanhante de cadeirante disse que “na

Praça Sérgio Pacheco as barras de ferro colocadas para não haver circulação

de bicicletas ou motos na pista de caminhada impede o caminho do cadeirante

pelo entorno da praça, ou seja, se o cadeirante quiser sair pela Av Monsenhor

Eduardo não tem jeito, havendo só uma saída”.

Outra entrevistada que é cadeirante, comentou que “ainda são poucos

os locais com acessibilidade, quando se tem não é completa, quando se tem

rampas, não se tem banheiros com adaptação, mesmo assim reconheço que

melhorou muito” e foi complementada por outro entrevistado que concluiu que

“ainda temos muitas falhas nos órgãos públicos e alguns estabelecimentos de

ensino e comerciais”. Isso mostra que apesar de todas as Leis existentes e

avanços que já foram conseguidos em nossa cidade, muita coisa ainda precisa

ser feita.

Outro ponto importante questionado aos participantes foi se quando

planejam ir a algum lugar para passar seus momentos de lazer e recreação,

eles escolhem locais que são acessíveis para cadeirantes. Todos os

entrevistados responderam sim a essa questão e pode-se destacar o

comentário de um entrevistado que conclui energicamente que se não entra

e/ou não cabe a sua cadeira, o local não o caberá também. Outra entrevistada

afirmou que “sempre passo saber se tem escadas, banheiros com adaptação,

estacionamento, como se chegar nas mesas, em show geralmente não se tem

nada disso mais procuro saber se tem pelo menos local com segurança”. O

local estar estruturalmente preparado para receber pessoas com deficiência

traz benefícios para todos uma vez que essas pessoas também são

consumidoras, possuem amigos e familiares que os acompanham nos

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48

momentos de lazer e recreação e acabam indicando os locais adaptados para

outras pessoas, incentivando o consumo naquele local.

4.1 A Estrutura de Acesso do Parque do sabiá

No Parque do Sabiá, os locais preferidos pelos entrevistados são o

bosque (60%), o zoológico (20%), o Recanto do Truqueiro (5%) e o restante

dividido entre os campos de futebol, as quadras, o parque infantil, as piscinas,

o aquário e os lagos.

Locais Preferidos Pelos Entrevistados no Parque do Sabiá

60%20%

5%15%

Bosque Zoológico Recanto do Trunqueiro Outros locais

Figura 13: Parque do Sabiá; Locais preferidos pelos entrevistados, 2009 Fonte:Pesquisa de Campo, ago/2009 Org: SILVA, E. M.

A justificativa para essas escolhas pelos entrevistados, foram de que

gostam de locais onde vêem muita gente, locais perto dos barzinhos e por ser

um local onde se identificam, no caso do bosque.

No Parque do Sabiá observou-se que a área próxima à entrada principal,

onde se localizam as lanchonetes, o cadeirante não encontra dificuldades de

locomoção, podendo circular livremente neste espaço. No entanto, no restante

do parque, o acesso torna-se mais restrito devido à falta de estrutura para

receber usuários de cadeira-de-rodas. Quando questionados se os

entrevistados consideram o Parque do Sabiá acessível para uma pessoa

Page 50: 350 Ecione Maria Da Silva

49

usuária de cadeira de rodas, verificou-se que 75% responderam que não e

25% disseram que sim. Mesmo entre os que responderam positivamente,

houve algumas observações como “sim, apesar de faltar alguns ajustes” e

“somente alguns locais estão preparados”. A falta de pavimentação adequada

e rampas de acesso dentro das normas NBR 9050 foram as principais barreiras

encontradas no parque pelos entrevistados.

Ao chegar ao parque pela portaria principal, o funcionário direciona o

cadeirante para o portão de entrada de veículos, pois a entrada para pedestre

não possui rampas de acesso, sendo necessário subir e descer pequenos

degraus na calçada. Mesmo optando por entrar pelo portão de veículos, o

cadeirante precisa descer um pequeno degrau, se estiver na calçada, ou

passar por um desnível existente entre a rua e o portão (Figura 14). Durante o

trabalho de campo presenciou-se um cadeirante saindo do parque e que

precisou descer de costas o desnível mencionado, pois correria o risco de cair

da cadeira-de-rodas se tentasse descer de frente.

Figura 14: Parque do Sabiá, Entrada Principal, 2009 Autor: SILVA, E. M. ago/2009

Já na entrada secundária existente próximo ao parque infantil, existe a

rampa de acesso, mas fora das normas técnicas de acessibilidade da NBR

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50

9050, com inclinação muito íngreme, evidenciando ter sido feita de forma

improvisada, assim como outras rampas encontradas no parque, com exceção

daquelas próximas às lanchonetes, que possuem os padrões recomendados

(figuras 15 e 16).

Figura 15: Parque do Sabiá, Rampa improvisada na entrada parque infantil, 2009 Autor: SILVA, E. M. ago/2009

Figura 16: Parque do Sabiá, Rampa dentro das normas da ABNT, 2009 Autor: SILVA, E. M. ago/2009

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51

Para ter acesso às piscinas o cadeirante precisa utilizar uma rampa

muito inclinada, sem corrimão de apoio e que apresenta um desnível no final,

não permitindo que o cadeirante tenha autonomia, pois é necessário ajuda para

descer e subir, além de não oferecer segurança ao usuário, como pode ser

observado na figura 17,

Figura 17: Parque do Sabiá, Rampa de acesso à piscina, 2009 Autor: SILVA, E. M. ago/2009

De acordo com a NBR 9050, os corrimãos devem ser instalados em

ambos os lados da rampa, devem ter largura de 3,0cm a 4,5cm, permitindo boa

empunhadura e deslizamento, sendo preferencialmente de seção circular,

oferecendo assim, condições seguras de utilização da rampa por qualquer

pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida. Após percorrer a rampa

de acesso às piscinas, o cadeirante ainda precisa esperar que o funcionário

abra o portão, uma vez que este permanece trancado.

Com relação aos banheiros, observou-se que apenas o existente

próximo às piscinas possui acesso fácil ao cadeirante, porém não oferece

privacidade, pois não possui porta, tendo o usuário que ficar exposto aos

olhares das demais pessoas que estiverem no local (figura 18).

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Figura 18: Parque do Sabiá, Banheiro parcialmente adaptado e sem porta para cadeirantes, 2009 Autor: SILVA, E. M. ago/2009

A NBR 9050 diz que os sanitários e vestiários acessíveis devem

obedecer aos parâmetros da Norma no que diz respeito à instalação de bacia,

mictório, lavatório, boxe de chuveiro, acessórios e barras de apoio, além das

áreas de circulação, transferência, aproximação e alcance,

Todas as barras de apoio utilizadas em sanitários e vestiários devem suportar a resistência a um esforço mínimo de 1,5 KN em qualquer sentido, ter diâmetro entre 3 cm e 4,5 cm, e estar firmemente fixadas em paredes ou divisórias a uma distância mínima destas de 4 cm da face interna da barra. Suas extremidades devem estar fixadas ou justapostas nas paredes ou ter desenvolvimento contínuo até o ponto de fixação com formato recurvado. Quando necessários, os suportes intermediários de fixação devem estar sob a área de empunhadura, garantindo a continuidade de deslocamento das mãos [...]As bacias sanitárias devem estar a uma altura entre 0,43 m e 0,45 m do piso acabado, medidas a partir da borda superior, sem o assento. Com o assento, esta altura deve ser de no máximo 0,46 m [...]O acionamento da descarga deve estar a uma altura de 1,00 m, do seu eixo ao piso acabado, e ser preferencialmente do tipo alavanca ou com mecanismos (NBR 9050, 2004, p. 64-69)

O banheiro próximo às lanchonetes oferece as mesmas condições de

acesso ao sanitário encontrado no banheiro anteriormente mencionado, com a

diferença que neste o boxe tem porta, existindo porém, na entrada desse

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53

espaço um pequeno degrau que dificulta o acesso. Já os demais banheiros

espalhados pelo parque não possuem nenhuma estrutura adequada ao usuário

de cadeira-de-rodas e, caso o cadeirante esteja próximo aos campos de futebol

ou em outro local mais afastado da portaria principal e seja necessário o uso de

um banheiro, terá de pedir ajuda para usar o mais próximo ou percorrer uma

distância considerável para usar os banheiros com maiores condições de

acesso que estão localizados próximos às piscinas ou às lanchonetes.

Um ponto interessante observado foi em relação aos bebedouros, que

são praticamente inacessíveis para alguém que está sentado em uma cadeira-

de-rodas. Os bebedouros do parque são feitos de alvenaria não possuindo a

área de aproximação da cadeira-de-rodas e estando a torneira instalada a uma

altura aproximada de 1,20m afastada da parte frontal do bebedouro,

contrariando a NBR 9050 que diz a bica deve estar localizada no lado frontal,

possuir altura de 0,90 m e permitir a utilização por meio de copo, devendo o

bebedouro acessível possuir altura livre inferior de no mínimo 0,73 m do piso,

ser garantido um módulo de referencia para aproximação frontal permitindo que

a cadeira avance sob o bebedouro até no máximo 50 cm.

Figura 19: Parque do Sabiá; Bebedouro Inadequado para Cadeirante. 2009 Autor: SILVA, E. M. ago/2009

Page 55: 350 Ecione Maria Da Silva

54

Na figura acima se tem a visão de como é difícil para o cadeirante utilizar

o bebedouro com autonomia, uma vez que a estrutura do equipamento não

permite a aproximação adequada.

Um dos maiores obstáculos observados no parque e também relatado

nos questionários é com relação à pavimentação, que dificulta o acesso do

cadeirante de forma confortável. Em vários lugares como a entrada para o

aquário, o bosque e o zoológico o revestimento do piso é feito com bloquetes

que já se encontram bastante deteriorados pelo tempo e com falhas, o que

provoca o travamento da roda dianteira da cadeira-de-rodas, parando-a

bruscamente quando se esbarra em um bloquete solto ou cai em um buraco na

pista resultante de sua perca. Uma das entrevistadas relatou que houve um

período que freqüentava bastante o Parque do Sabiá, mas deixou de ir porque

sempre quebrava os garfos da cadeira-de-rodas nas ruas do parque. Outra

entrevistada disse que gosta de ir ao parque com seus netos, mas fica restrita

ao espaço das lanchonetes, pois seus netos gostam de ficar andando no

bosque e no zoológico e, nesses locais ela não consegue se locomover com

sua cadeira.

Figura 20: Parque do Sabiá, Tipos de pisos encontrados, 2009 Autor: SILVA, E. M. ago/2009

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55

A figura acima apresenta as três situações de pisos encontradas no

Parque do Sabiá: piso de bloquetes, piso com revestimento asfaltico e piso de

terra (ao fundo). Nota-se que o tipo mais confortável para um cadeirante é o

piso com revestimento asfaltico, uma vez que suas características se

enquadram na NBR 9050 (2004, p. 39) que diz que os pisos devem ter

superfície regular, firme, estável e antiderrapante sob qualquer condição, que

não provoque trepidação em dispositivos com rodas (cadeiras de rodas ou

carrinhos de bebê).

Circular nas áreas onde o piso é de bloquete ou de terra é difícil para o

cadeirante e/ou para quem está o conduzindo, pois exige muita força muscular

para manobrar a cadeira-de-rodas e a trepidação provoca um desgaste físico

muito grande, podendo inclusive, causar danos à coluna. Durante o trabalho de

campo, obteve-se o relato do Sr. Deraldo Silva, que trabalha a dois anos na

portaria de entrada do zoológico, dizendo que nesse período a maioria dos

cadeirantes que por ali passou reclamou da estrutura do zoológico e

principalmente das condições da pavimentação. Segundo ele, até mesmo

pessoas com carrinhos de bebê mencionaram a dificuldade em andar pelo local

e que o número de visitantes poderia ser ainda maior se a pavimentação

oferecesse mais conforto aos usuários.

Outros locais com falta de estrutura de acesso, principalmente no que

diz respeito às rampas, ainda podem ser aqui mencionados, como nos campos

de futebol, alguns quiosques próximos ao lago, para as mesas de descanso

próximas ao parque infantil e a entrada para o aquário, onde a pavimentação é

de bloquete (figura 21).

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Figura 21: Parque do Sabiá, Outros locais com falta de estrutura de acesso para cadeirantes, 2009 Autor: SILVA, E. M. ago/2009

Muitas adequações precisam ser feitas no Parque do Sabiá para que

todos os cidadãos possam usufruir desse espaço com autonomia e

independência e assim aproveitarem ao máximo seus momentos de lazer,

contato com a natureza e, principalmente, efetivarem a inclusão social das

pessoas com deficiência.

4.2 A Estrutura de Acesso no Parque Victorio Siquie rolli

No Parque Victorio Siquierolli os locais preferidos pelos entrevistados

são o museu de biodiversidade (50%), o parque infantil (25%) e a Trilha do

Óleo (25%). Os demais locais não foram citados por nenhum entrevistado e

vale lembrar que a Trilha do Óleo foi escolhida por acompanhantes de

cadeirantes, que ao visitar a trilha, fizeram o percurso sozinhos. Ao contrário do

que ocorreu no Parque do Sabiá onde alguns entrevistados consideraram o

parque acessível apesar de faltar alguns ajustes, o Parque Victorio Siquierolli

foi considerado totalmente inacessível por todos os entrevistados. Sabe-se, no

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57

entanto, que esse fato não condiz com a realidade, pois o prédio sede possui

estrutura adequada ao cadeirante.

O usuário de cadeira-de-rodas consegue ter acesso ao Prédio Sede

onde se encontra o Museu de Biodiversidade e a Sala Verde Dr. Kerr com

autonomia e independência, percorrendo um caminho com piso de cimento

desde a portaria, de forma segura e sem as trepidações causadas pelo piso de

bloquetes. É importante destacar que ao lado dessa pista de cimento há uma

pista em bloquetes e pôde ser observado que as pessoas mais idosas e

aquelas com carrinho-de-bebê optam por caminhar pela pista de cimento,

comprovando que um local com estrutura adequada beneficia não somente o

cadeirante, mas toda a sociedade.

Figura 22: Parque Victorio Siquierolli; Pistas de acesso ao Prédio Sede, 2009 Autor: SILVA, E. M. set/2009

Uma das pessoas entrevistadas disse ter ido ao Parque Victorio

Siquieroli uma única vez e não quis mais voltar ao local por ter encontrado

muita dificuldade em andar com sua filha, que é cadeirante. Ela disse ainda

que nem ao Museu elas conseguiram ter acesso, pois existe uma escadaria

muito grande na entrada (figura 23).

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Figura 23: Parque Victorio Siquierolli, Escada de acesso ao Prédio Sede, 2009 Autor: SILVA, E. M. set/2009

O motivo pela qual a entrevistada achou que o acesso ao Museu se

daria somente pela escadaria é porque não há sinalização indicando que o

cadeirante deve continuar andando pela pista até chegar ao fundo do prédio e

de lá seguir pela calçada lateral em direção à entrada. A sinalização adequada

é muito importante, pois em alguns locais o acesso para cadeirantes situa-se

em pontos bem diferentes do acesso para andantes, levando a pessoa a

acreditar que o local não é acessível, como aconteceu com a entrevistada

acima.

Os únicos banheiros disponíveis aos visitantes do Parque encontram-se

no Prédio Sede e estão bem preparados para atender à pessoa com

deficiência física. Neles observa-se a existência das barras de apoio na altura

adequada, lavatórios suspensos com borda superior a uma altura de

aproximadamente 0,80 m do piso acabado e respeitando uma altura livre

mínima de 0,73 m na sua parte inferior frontal possibilitando a aproximação

com a cadeira-de-rodas, ducha higiênica instalada ao lado da bacia, instalação

de sóculo na base da bacia para ajustar sua altura entre 0,43 m e 0,45 m do

piso acabado conforme NBR 9050 e porta que se abre para a parte externa do

banheiro, garantindo privacidade (figura 24).

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Figura 24: Parque Victorio Siquierolli, Banheiro adaptado e com porta, 2009 Autor: SILVA, E. M. set/2009

O bebedouro encontrado no Prédio Sede é totalmente adaptado para

cadeirante (figura 25), no entanto, o existente na área externa próximo ao

parque infantil possui as mesmas características dos bebedouros do Parque do

Sabiá, com exceção de que no existente no Parque Siquierolli há uma abertura

na parte inferior do equipamento para aproximação da cadeira-de-rodas, mas

que não permite esse avanço por não ter as medidas adequadas. Para as

crianças conseguirem alcançar a torneira do bebedouro, foi colocado um apoio

frontal utilizando-se de um bloco de concreto, onde elas sobem e podem fazer

uso da água (figura 26).

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Figura 25: Parque Victorio Siquierolli, Bebedouro acessível para cadeirante, 2009 Autor: SILVA, E. M. set/2009

Figura 26: Parque Victorio Siquierolli, Bebedouro com obstáculo para cadeirante, 2009 Autor: SILVA, E. M. set/2009

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A facilidade de locomoção e acesso para o usuário de cadeira-de-rodas

foi observada apenas em relação ao Prédio Sede (Museu de Biodiversidade e

à Sala Verde Dr. Kerr), uma vez que no restante do Parque foram encontrados

os mesmos problemas encontrados no Parque do Sabiá no que tange à

pavimentação de bloquete, bem como à ausência de rampas. Isso pode ser

observado quando se vai ao parque infantil e vê-se que ao seu redor existe

uma barreira de paralelepípedos sem nenhum espaço rebaixado para a

travessia de cadeira-de-rodas ou quando se vai à Trilha do Óleo e se depara

com escadas e pavimentação de bloquetes, com uma ponte sobre o Córrego

do Óleo feita com toras de madeira com ondulações e com obstáculos

impeditivos à locomoção do cadeirante pela trilha (figuras 27 e 28).

Figura 27: Parque Victorio Siquierolli;Degraus no caminho de acesso à Trilha do Óleo, 2009 Autor: SILVA, E. M. set/2009

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Figura 28: Parque Victorio Siquierolli;Ponte de acesso à Trilha do Óleo com obstáculos para cadeirantes, 2009 Autor: SILVA, E. M. set/2009

O Parque Victorio Siquierolli recebe semanalmente a visita de vários

estudantes do ensino básico para realização de trabalhos de campo nas aulas

sobre educação ambiental e a Trilha do Óleo é um dos principais recursos

utilizados para que esses alunos tenham contato com espécies do cerrado e

com nascentes de córregos e, por isso, deve oferecer condições de acesso em

todos os seus espaços para que nenhum aluno fique excluído de alguma

atividade, bem como para que nenhum visitante seja impedido de ter contato

com essa área verde em seus momentos de lazer.

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63

5.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O número de habitantes residentes em Uberlândia vem crescendo

significativamente a cada ano e o número de pessoas com algum tipo de

deficiência acompanha esta expansão, fortalecendo a luta desse segmento da

sociedade para a transformação dos locais onde vivem, trabalham, estudam e

passam seus momentos de lazer, pois ter respeito às condições físicas de cada

um e ter garantido a acessibilidade em qualquer ambiente é imprescindível

para a qualidade de vida do Ser Humano.

Dessa forma é preciso considerar a diversidade humana na elaboração

de projetos arquitetônicos e urbanísticos, respeitando as diferenças existentes

entre as pessoas e assim progredir em direção à inclusão social de pessoas

que vem buscando há vários anos mostrar que suas deficiências não as

impedem de exercer as atividades diárias como todos os cidadãos e o que

dificulta o exercício de sua cidadania são os obstáculos arquitetônicos e

urbanísticos encontrados pelo caminho.

Usufruir dos parques urbanos, que são espaços de uso público

importantes para a qualidade de vida dos habitantes das cidades que vão a

esses locais passar seus momentos de lazer faz parte da tônica do conceito de

inclusão social, pois além de poderem se descontrair nesses espaços verdes,

podem manter contato com outras pessoas e assim interagir socialmente

mostrando que a pessoa com deficiência não precisa ser tratada como uma

peça de cristal, que precisa ficar bem guardada para não quebrar.

Os Parques do Sabiá e Victorio Siquierolli ainda não estão totalmente

estruturados para receber pessoas cadeirantes, apesar de já ter alguns de

seus espaços adaptados e, como foi observado nas entrevistas, os espaços

mais despreparados dos dois parques são aqueles preferidos pelos visitantes

usuários de cadeira-de-rodas para passarem seus momentos de lazer, e

portanto, poderiam atrair ainda mais pessoas com deficiência se houvesse

melhores condições de acessibilidade.

Não se pode negar o fato de que adaptar espaços em áreas verdes,

principalmente, locais de preservação natural, exige estudos rigorosos para

não comprometer as características ambientais e as espécies nativas, mas

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desde que o local seja aberto ao público deverá se ter a preocupação em não

deixar ninguém excluído por falta de dispositivos de acesso.

Para finalizar, podemos afirmar que as pessoas com

deficiência vêm obtendo melhorias significativas no que diz respeito ao

processo de inclusão, mas muita coisa ainda precisa mudar para que

realmente possam exercer seus direitos de ir e vir, freqüentando qualquer

espaço da cidade e ter as condições necessárias para realizar suas tarefas

diárias e de lazer e recreação com segurança, autonomia e independência.

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65

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ANEXOS

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ANEXO 1

Universidade Federal de Uberlândia Instituto de Geografia – IG

Questionário para análise sobre a importância da acessibilidade no Parque do Sabiá e no Parque Victorio Siquierolli para usuários de cadeira-de-rodas 1. Idade:_________________ 2. Qual seu sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino 3. Você tem deficiência desde: ( ) a infância ( ) adquirida na adolescência ou na fase adulta ( ) sou acompanhante de pessoa cadeirante 4. Você acha que os espaços destinados ao lazer e recreação em Uberlândia, como os clubes, lanchonetes, casas de shows, parques, praças, etc., estão preparados para receberem usuários de cadeira-de-rodas? ( ) Sim ( ) Não ( ) Raramente Comentário:___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

5. Quando você planeja ir a algum lugar para passar seus momentos de lazer e recreação, você escolhe locais que são acessíveis para cadeirantes? ( ) Sim ( ) Não ( ) Raramente Comentário:___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

6. Uberlândia possui seis Parques Urbanos: Parque do Sabiá, Parque Santa Luzia, Parque Victorio Siquierolli, Parque do Distrito Industrial, Parque Luizote de Freitas e Parque Mansur, sendo alguns abertos ao público como espaços de lazer/recreação e para Educação Ambiental. Você acha que os Parques Urbanos são importantes para a qualidade de vida dos moradores de Uberlândia? ( ) Sim ( ) Não

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Comentário:___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 7. Com que freqüência você visita o Parque do Sabiá? ( ) Nunca ( ) Raramente ( ) Frequentemente Por quê?________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

8. Quais os locais preferidos por você quando visita o Parque do Sabiá? ( )bosque ( )campos de futebol ( )quadras ( )parque infantil ( )pista de caminhada ( )Recanto do Truqueiro ( ) piscinas ( )aquário ( )zoológico ( )Lagos Comentário:__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

9. Você considera o Parque do Sabiá acessível para uma pessoa usuária de cadeira de rodas? ( ) Sim ( ) Não Comentário:___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 10. Cite as principais barreiras encontradas por você no Parque do Sabiá: __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 11. Com que freqüência você visita o Parque Victorio Siquierolli? ( ) Nunca ( ) Raramente ( ) Frequentemente Por quê?_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

12. Quais os locais preferidos por você quando visita o Parque Victorio Siquierolli? ( )parque infantil ( )pista para caminhada ( )Trilha do Óleo ( )Museu de

Biodiversidade ( )Sala Verde Dr. Kerr.

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Comentário:___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

13. Você considera o Parque Victorio Siquierolli acessível para uma pessoa usuária de cadeira de rodas? ( ) Sim ( ) Não Comentário:________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

14. Cite as principais barreiras encontradas por você no Parque Victorio Siquierolli: __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 15. Este espaço é destinado para que você possa fazer reclamações e dar sugestões referentes ao tema “Acessibilidade ao Parque Victorio Siquierolli e Parque do Sabiá”. _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Obrigada!

Ecione Maria da Silva

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ANEXO 2

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