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152
4 Uma análise das Campanhas da Fraternidade realizadas no terceiro milênio a partir dos modelos de Igreja
Neste capítulo, vamos mostrar e analisar os diferentes modelos de Igreja que
se fizeram presentes na Campanha da Fraternidade durante este novo milênio.
Apenas não será apresentada a Campanha da Fraternidade de 2005 porque ela não
foi elaborada pela CNBB, mas sim pelo CONIC, por ser uma campanha
ecumênica.
4.1. Introdução
Antes da apresentação das Campanhas que aconteceram no início do novo
milênio, é importante apresentar alguns elementos conjunturais que trouxeram
grande influência na preparação e na realização das mesmas. Um primeiro
elemento foi a realização do “Projeto Rumo ao Novo Milênio.
Em 1995, as Diretrizes Gerais da Igreja no Brasil ganham nova perspectiva
e passam a se chamar Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no
Brasil. Isso aconteceu por causa da necessidade de fazer com que a Igreja se torne
mais “agressiva” nos seus métodos evangelizadores. Acostumada a trabalhar com
pequenos grupos, a Igreja se via retraída no contato com a massa. Da ação
pastoral para a ação evangelizadora – essa passagem sinaliza o anseio por
mudança no método pastoral e por maior abertura às massas católicas afastadas437
.
No mesmo ano em que as Diretrizes da Evangelização ganhavam novas
perspectivas, o episcopado brasileiro voltava a realizar um projeto único pastoral,
fato que não acontecia desde que o Plano de Pastoral de Conjunto foi substituído
pelas Diretrizes Gerais da ação Pastoral da Igreja no Brasil. O Projeto Rumo ao
Novo Milênio – PRNM, surgiu em resposta à Tertio Millennio Adveniente, que
pedia a preparação para o jubileu do ano 2000, e tinha o seguinte esquema:
437
Cf. Godoy, M. J. “A CNBB e o processo de evangelização do Brasil” in INP, op. cit., p. 394.
153
1997
Ano B
Jesus Cristo Evangelho de
Marcos
Sacramento
do Batismo
Virtude da
Fé
1998
Ano C
Espírito
Santo
Evangelho de
Lucas
Sacramento
do Crisma
Virtude da
Esperança
1999
Ano A
Deus Pai Evangelho de
Mateus
Sacramento
da
Penitência
Virtude da
Caridade
2000 Santíssima
Trindade
Evangelho de
João
Sacramento
da Eucaristia
O ano de 1996 foi um ano preparatório e os esquemas de trabalho foram
desenvolvidos seguindo as quatro exigências da evangelização inculturada438
.
Este Projeto condicionou as Campanhas da Fraternidade que aconteceram
entre os anos de 1997 e 2000. A Campanha da Fraternidade estava ligada à
exigência da evangelização inculturada do Serviço e seguiu as suas propostas para
cada ano. Assim, o Projeto Rumo ao Novo Milênio propôs como objetivo para a
exigência inculturada do Serviço no ano de 1997, o resgate dos direitos sociais e a
Campanha da Fraternidade vai contribuir com a consecução deste objetivo através
do tema: “Fraternidade e os encarcerados”, e do lema: “Cristo liberta de todas as
prisões”.
O mesmo acontece em 1998, quando o objetivo para a exigência inculturada
do Serviço proposto foi o resgate dos direitos políticos e a Campanha da
Fraternidade trabalhou o tema: “Fraternidade e Educação”, e o lema: “A serviço
da vida e da esperança”.
Em 1999, o objetivo para a exigência inculturada do Serviço proposto foi o
resgate dos direitos econômicos e a Campanha da Fraternidade trabalhou o tema:
“A fraternidade e os desempregados”, e o lema: “Sem trabalho... Por quê?”.
O ano 2000 foi o de uma grande novidade na Campanha da Fraternidade: a
Campanha da Fraternidade Ecumênica, que surgiu da necessidade da participação
da Campanha da Fraternidade na exigência da evangelização inculturada do
438
Cf. Ibidem, p. 395.
154
diálogo. Esta Campanha teve como tema: “Dignidade humana e paz”, e como
lema: “Novo milênio sem exclusões”.
A concretização do Projeto Rumo ao Novo Milênio levou as comunidades
a crescerem e se amadurecerem no campo da pastoral e da evangelização. Por
isso, na Assembléia de Porto Seguro, que aconteceu no ano 2000, os bispos
aprovaram, em linhas gerais, o novo projeto de Evangelização: o Projeto Ser
Igreja no Novo Milênio (SINM). Este projeto foi mais simples que o Projeto
Rumo ao Novo Milênio e tinha como objetivo renovar a identidade e a missão da
Igreja. O texto bíblico adotado no Projeto SINM foi o livro dos Atos dos
Apóstolos. A sua implantação foi ajudada pela carta apostólica Novo Millennio
Ineunte, do papa João Paulo II439
.
A Carta Apostólica Novo Millenio Ineunte não apresentou nenhuma
contribuição expressiva para a reflexão eclesiológica e só influenciou de forma
mais direta a Campanha da Fraternidade de 2009, sobre segurança pública, na
qual as reflexões contidas no Julgar encontram o seu ponto de partida na
centralidade de Cristo.
A 41ª Assembléia Geral da CNBB, realizada em Itaici de 30 de abril a 09
de maio de 2003 aprovou as Diretrizes gerais da ação evangelizadora da Igreja no
Brasil 2003 – 2006440
. A partir das novas Diretrizes, foi desenvolvido o Projeto
Nacional de Evangelização “Queremos Ver Jesus, Caminho, Verdade e Vida, que
se propôs a ser para a Igreja um verdadeiro mergulho na fé e no amor.441
Seus
objetivos são:
Objetivo Geral: "Evangelizar proclamando a Boa Nova de Jesus Cristo,
caminho para a santidade, por meio do serviço, diálogo, anúncio e testemunho de
comunhão, à luz da evangélica opção pelos pobres, promovendo a dignidade da
pessoa, renovando a comunidade, formando o povo de Deus e participando da
construção de uma sociedade justa e solidária a caminho do REINO definitivo"
Objetivo Específico: "Anunciar o Evangelho de Jesus Cristo, sua pessoa,
vida, morte e ressurreição para proporcionar o ENCONTRO PESSOAL com
439
Cf. Ibidem, p. 396 440
Cf. CNBB, Diretrizes gerais da ação evangelizadora da Igreja no Brasil, 2003-2006, p. 7. 441
Cf. CNBB, Queremos Ver Jesus: Caminho Verdade e Vida n.o 5.1
155
Cristo, e ajudá-la na adesão a Ele e no compromisso de segui-lo na tarefa
missionária por Ele confiada" (EA 8-12; DGAE 69.93)442
.
No que diz respeito à CNBB, houve ainda um evento de grande importância
que foi a alteração do Estatuto Canônico da Instituição. Esta alteração, entre
outras coisas, extinguiu a antiga CEP (Comissão Episcopal de Pastoral), que era
constituída por bispos representantes das seis dimensões da ação evangelizadora e
pastoral, e criou as Comissões Episcopais Pastorais responsáveis pelas diferentes
áreas de atuação da Igreja no Brasil. Criou também o CONSEP (Conselho
Episcopal de Pastoral), constituído pelos presidentes das Comissões Episcopais
Pastorais. Foram criadas 10 Comissões Episcopais Pastorais, sendo que a
dimensão sócio-transformadora foi desdobrada em três Comissões Episcopais
Pastorais: a Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e
da Paz, a Comissão Episcopal para a Cultura, Educação e Comunicação Social e a
Comissão Episcopal para a Vida e a Família. Este desdobramento fez com que o
discurso voltado para a ação sócio-transformadora perdesse força e, com ele, o
modelo de Igreja libertadora, que cede espaço para o modelo serva.
Outro evento de grande importância foi a Va Conferência Geral do
Episcopado da América Latina e do Caribe, que aconteceu em Aparecida. Esta
Conferência, de cunho evangelizador e pastoral, não discutiu a eclesiologia em si,
mas a ação da Igreja no continente, e propôs o início de uma grande missão
continental e a conversão pastoral. A CNBB adotou a Missão Continental como
Projeto Nacional de Evangelização.
4.2. A Campanha da Fraternidade de 2001
4.2.1. O que foi a Campanha
Esta campanha, cujo tema foi “Campanha da Fraternidade” e o lema foi
“Vida Sim, Drogas Não”, foi fruto de um grande trabalho de coleta de assinaturas
e formação de opinião nos Regionais da CNBB desenvolvido principalmente pela
Pastoral da Sobriedade e pela Pastoral da Juventude. Teve por objetivos
sensibilizar a comunidade eclesial e social em relação ao problema das drogas,
442
Ibidem n.os
8.1 e 8.2
156
mobilizar a Igreja para uma ação profética em favor da vida e contra a exclusão
conseqüente do modelo econômico, despertar para a solidariedade para com as
vítimas das drogas e denunciar o hedonismo e o materialismo que induzem ao
consumo de entorpecentes443
. O Texto-base foi elaborado principalmente com
contribuições da Pastoral da Sobriedade e pelo Secretário Executivo da Campanha
da Fraternidade, Pe. Antonio Donizetti Sgarbi. O Pe. Sgarbi deixou o cargo e a
CNBB antes da realização da Campanha, e esta ficou a cargo no novo Secretário
Executivo, Pe. José Adalberto Vanzella, que assumiu os trabalhos da Campanha
Fraternidade em novembro de 2000.
4.2.2. O conteúdo da Campanha
Na primeira parte do Texto-base, o Ver, são feitos alguns esclarecimentos
prévios sobre elementos conceituais e o sistema das drogas para, em seguida,
entrar em questões como dependência química, suas explicações e suas
conseqüências, tanto para o usuário como para a sua família e para a sociedade em
geral. Também são analisadas as relações existentes entre o mundo das drogas, a
crise social e o modelo econômico vigente. Por fim, são apresentadas iniciativas,
seja da parte da Igreja, das diferentes organizações da sociedade civil e de
políticas públicas para o controle e a superação do problema.
Na segunda parte do Texto, o Julgar, é feita uma análise sobre a vida e a
morte a partir do texto de Dt 30, 19: “Escolhe, pois, a vida”, na qual são
analisadas questões como o valor da pessoa humana no seu contexto pessoal e
social, a busca pela felicidade, a questão da liberdade, dos limites e dos hábitos. A
Igreja deve se colocar a serviço da vida a partir da sua valorização, dos princípios
da fé e da prática do amor, para mostrar o amor que liberta, transforma e faz
crescer.
Por fim, na terceira parte, o Agir, o texto apresenta propostas de atuação no
que diz respeito a políticas públicas, prevenção ao uso de drogas, intervenção,
tratamento e reinserção social diante dos casos de dependência. O texto também
mostra as responsabilidades da família, da escola e da Igreja.
443
Cf. CNBB. Texto Base CF 2001. São Paulo: Salesiana, n.o 11.
157
4.2.3. Os modelos de Igreja presentes na Campanha
Um primeiro modelo que encontramos nesta Campanha é a Igreja
libertadora, que deve se mobilizar e também envolver outras Igrejas e a
sociedade em favor de uma vida digna para todos, justiça social, fraternidade e
paz, sendo que este trabalho pode constituir-se num verdadeiro e próprio empenho
de evangelização444
. O contexto social, econômico, político e cultural gera
esvaziamento do sentido da vida, desespero e busca ilusória do prazer, que
contribuem para o agravamento do problema das drogas445
. A Igreja deve engajar-
se na luta por um mundo livre do flagelo das drogas, sendo que este engajamento
deve ser situado num universo mais amplo do que o simples comércio e consumo
de drogas, que gera e alimenta todo o universo das drogas446
.
Outro modelo que aparece é a Igreja como Instituição. As paróquias têm o
objetivo de evangelizar, oferecer os meios de salvação aos fiéis e a cura do
coração para a edificação da Igreja e construção de uma sociedade justa e
solidária447
. Também vemos a Igreja como Arauto, anunciadora do Reino, que é a
sua própria razão de ser448
.
Mas o modelo mais presente na Campanha é a de Igreja Serva. A
Campanha fala do apelo à conversão a partir de um tema relevante para a
convivência humana que exige respostas concretas449
, para agir em favor dos
pobres e excluídos450
. Pois a fé deve ser revitalizada para mover os cristãos ao
enfrentamento dos desafios que lhes são impostos diante do sofrimento das
pessoas451
, e interpelar a todos os que são capazes de um olhar amoroso para
reconhecer no outro a imagem e a semelhança de Deus452
. A Igreja deve
sensibilizar todas as pessoas para a questão453
levando todos a compreenderem
que a Igreja está a serviço da vida. A vida deve ser desenvolvida com dignidade,
alegria e paz e, por isso, tocados pelo sofrimento dos nossos irmãos e irmãs,
444
Cf. Ibid., Introdução. 445
Cf. Ibid., n.o 74.
446 Cf. Ibid., n.
o 118.
447 Cf. Ibid., n.
o 196.
448 Cf. Ibid., n.
o 123.
449 Cf. Ibid., n.
o 2.
450 Cf. Ibid., n.
o 11.
451 Cf. Ibid., n.
o 70.
452 Cf. Ibid., n.
o 14.
453 Cf. Ibid., n.
o 4.
158
devemos superar contrastes e ambigüidades dos que carregam consigo as
conseqüências do mercado da droga454
.
4.3. A Campanha da Fraternidade de 2002
4.3.1. O que foi a Campanha
A Campanha da Fraternidade 2002 teve como tema: “a fraternidade e os
povos indígenas” e como lema: “Por uma terra sem males”. Este tema foi
escolhido devido aos fatos acontecidos em Porto Seguro, por ocasião da
celebração dos 500 anos da primeira missa no Brasil455
. A elaboração do Texto-
base ficou a cargo do Conselho Indigenista Missionário – CIMI, mas a sua
redação, principalmente o Julgar, elaborado pelo Pe. Paulo Suess, assessor
teológico do CIMI, sofreu muitas alterações nas revisões realizadas pelo
Secretário-Geral da CNBB.
Os principais motivos para a realização dessa campanha foram o processo
de evangelização do Brasil, que já dura mais de quinhentos anos, mas, no entanto,
persistem em nosso País muitos pecados, principalmente em relação aos povos
indígenas. Estes nos mostram a necessidade da conversão, pois os clamores de
justiça que são feitos pelos povos indígenas são uma pública denúncia dos nossos
pecados. Estes clamores mostram também a necessidade de que a Igreja como a
sociedade resgatem as dívidas sociais que têm em relação aos primeiros
moradores da nossa terra. Esta Campanha da Fraternidade representa também a
possibilidade de aprendermos com as culturas indígenas.
4.3.2. O conteúdo da Campanha
O objetivo geral da CF 2002 foi “motivar a conversão das pessoas, da
sociedade brasileira e da própria Igreja para a solidariedade, a justiça, o
respeito e o amor, dando especial destaque, desta vez, aos povos indígenas. Ser
solidários, justos e amorosos para com nossos irmãos índios!”456
.
454
Cf. Ibid., n.o 117.
455 Cf. Capítulo 1, item 1.4.1 desta tese.
456 CNBB. Texto-base CF 2002. São Paulo: Salesiana, n.
o 1
159
A primeira parte do Texto-base é o ver que, inicialmente, faz uma
abordagem da história do Brasil a partir da ótica da opressão aos povos indígenas
e suas ações de resistência. Em seguida, o texto mostra a atuação da Igreja nesse
processo abordando as principais questões relacionadas aos povos indígenas na
atualidade como violência, terra, meio ambiente, educação, saúde e ressurgimento
dos povos. O texto também mostra os problemas atuais em relação aos povos
indígenas e as suas raízes, principalmente problemas relacionados com o neo-
liberalismo, o pluralismo, os mecanismos de dominação cultural e a folclorização
da cultura.
No julgar, a partir da pergunta de Deus a Caim: “Onde está teu irmão?” (Gn
4, 9), o texto nos convida a uma reflexão sobre nossas responsabilidades que deve
despertar em nós a questão do profetismo, tanto no que diz respeito à nossa ação
profética em relação aos povos indígenas como a denúncia das raízes de toda
injustiça que sofrem como sermos capazes de ver os povos indígenas como
profetas que denunciam o futuro ao qual está destinado os povos excluídos. O
texto também é um convite para que todos venham a analisar a questão das
minorias encontrando nelas suas razões de esperança que geraram na história e
continuam gerando hoje protagonismo e solidariedade. A partir disso, o texto
procura iluminar essas razões de esperança das minorias com o Evangelho da paz
a fim de que esta iluminação lance todos ao protagonismo que leva a globalização
econômica a dar lugar aos valores do Evangelho. Assim, somos convidados a,
juntos, olhar o futuro para caminhar em comunidade, na gratuidade e na partilha
num mútuo aprendizado em vista do desenvolvimento de um projeto comum que
possibilite a felicidade de todos.
O agir apresenta iniciativas nas áreas de parceria e solidariedade em vista da
satisfação das necessidades dos povos indígenas. Também nos convida a repensar
concepções e a superar condicionamentos que geram uma mentalidade de
desigualdade, fundamentada no preconceito e na discriminação de povos e de
culturas. A partir da proposta evangélica, podemos construir uma nova visão da
história, rompendo com a ideologia econômica e abrir caminho para discussões
sobre questões concretas como o problema da terra, as políticas públicas, o
Estatuto do Índio, etc., em vista da superação dos conflitos e da construção de
uma nova sociedade, que tenha novos fundamentos para sua existência e
legitimação. Estes fundamentos devem se fazer valer em vista da importância da
160
pessoa humana e da sua supremacia diante de todos os demais valores que
norteiam a convivência entre as pessoas, ou seja, uma sociedade que seja fraterna
e solidária em relação a todos os seus membros, independentemente das condições
que caracterizam a sua existência.
4.3.3. Os modelos de Igreja presentes na Campanha
A Campanha da Fraternidade de 2002 apresenta os modelos de Igreja
Instituição, Arauto da Palavra e, principalmente, Libertação. O modelo
Instituição aparece na narrativa da celebração dos 500 anos da chegada do
Evangelho à Terra de Santa Cruz e da presença da Igreja nesse tempo, assim como
os papéis por ela desenvolvidos, os seus erros e pedidos de perdão457
. O modelo
Arauto da Palavra aparece principalmente quando existe a necessidade de
fundamentação do profetismo na Palavra e no seu anúncio, já que a Palavra revela
o que está oculto, denuncia o pecado e apresenta a proposta do Reino de Deus.
Assim, o anúncio da Palavra faz com que as pessoas tenham os seus segredos
desvendados e adorem a Deus458
.
Mas o modelo predominante é o Libertador, o que mostra que o CIMI
conseguiu manter uma grande influência na redação final do Texto-base. O texto
fala em conversão para a justiça459
, em luta pela terra460
, convida a ouvir os brados
de dor e de esperança dos povos indígenas461
e a romper o silêncio para recontar a
história, reparando e pedindo perdão pelos erros cometidos462
. À luz do Concílio,
a Campanha chama a Igreja a assumir o compromisso de defender e promover a
dignidade da pessoa humana e denunciar as injustiças sociais, reorientando a sua
ação junto aos povos indígenas num trabalho conjunto em defesa da vida463
. Esta
luta da Igreja já vem acontecendo na história do Brasil e tem sido um grande
esforço para evitar a extinção dos indígenas464
. Não se trata de um trabalho de
457
Cf. Ibid., n.o 138.
458 Cf. Ibid., n.
o 170.
459 Cf. Ibid., n.
o 2.
460 Cf. Ibid., n.
o 11 e 15.
461 Cf. Ibid., n.
o 45.
462 Cf. Ibid., n.
o 42-43.
463 Cf. Ibid., n.
o 37.
464 Cf. Ibid., n.
o 162.
161
assistencialismo ou paternalismo, mas de um amplo projeto de descolonização465
no qual o índio é chamado a ser participante e protagonista466
e nós somos
chamados ao resgate da dívida social que temos com os primeiros habitantes do
nosso país467
.
4.4. A Campanha da Fraternidade de 2003
4.4.1. O que foi a Campanha
Esta Campanha teve como tema: “Fraternidade e Pessoas Idosas”, e como
lema: “Vida, dignidade e esperança”. Foi fruto de um lobby feito pela Pastoral da
Criança em todo o Brasil para difundir uma experiência que ela desenvolveu no
Estado do Paraná no sentido de criar uma Pastoral da Terceira Idade. Um dos
principais responsáveis pela organização e implantação deste trabalho foi o Dr.
João Batista Lima Filho, médico geriatra que reside na diocese de Cornélio
Procópio. O Dr. João Batista Lima Filho teve um papel de grande importância na
preparação e execução desta Campanha. Também teve papel de importância na
preparação desta Campanha o Pe. Dimas Lara Barbosa, Secretário-Executivo do
Instituto Nacional de Pastoral – INP, que foi o responsável pela elaboração da
primeira redação do Julgar.
4.4.2. O conteúdo da Campanha
O objetivo geral da CF 2003 foi “motivar todas as pessoas, para que,
iluminadas por valores evangélicos, sejam construtoras de novos
relacionamentos, novas estruturas, que assegurem valorização integral às
pessoas idosas e respeito aos seus direitos”468
. Os seus objetivos específicos
tratavam de conscientização sobre responsabilidades, superação de preconceitos,
busca de parcerias, elaboração de políticas públicas, lutas em favor dos direitos
das pessoas idosas e educação para o envelhecimento.
O Ver apresenta inicialmente a situação atual do Brasil em relação ao
envelhecimento e às pessoas idosas. Mostra o aumento da população idosa no
465
Cf. Ibid., n.o 180.
466 Cf. Ibid., n.
o 222.
467 Cf. Ibid., Introdução.
468 CNBB. Texto-base CF 2003. São Paulo: Salesiana, n.
o 3.
162
país, o aumento da expectativa de vida dos brasileiros e a radical mudança nos
percentuais de presença da população idosa em relação às demais faixas etárias
ocorrida nas últimas décadas. O Ver apresenta também os mitos e preconceitos
que estão presentes na nossa sociedade e a influência dos meios de comunicação
social na formação e manutenção dos mesmos. Em seguida, passa a mostrar
elementos conceituais e existenciais de fundamental importância para a
compreensão da velhice. Num outro momento, o Ver mostra algumas questões
atuais que envolvem o problema do envelhecimento, dando destaque para as
políticas públicas inadequadas e omissas e para o problema da Previdência Social,
tanto no que diz respeito à parte da Instituição de Seguridade Social como também
os mais diferentes tipos de crimes cometidos contra aposentados e pensionistas,
principalmente por parte da própria família e dos comerciantes de pequenos
municípios, a questão da moradia e da cidade, os problemas em relação aos
portadores de necessidades especiais, principalmente as que geram perda de
autonomia. O texto aborda ainda outras questões como a do o envelhecimento dos
religiosos, religiosas e presidiários, a questão da morte e a educação para o
envelhecimento.
No Julgar, o texto apresenta inicialmente a questão da dignidade humana e
dos seus fundamentos para, em seguida, mostrar algumas perspectivas bíblicas
sobre a velhice. Depois, o texto analisa as ameaças causadas pelas mudanças
econômicas, sociais, culturais e éticas em relação à velhice. O julgar também
reflete sobre a terceira idade como uma etapa do desenvolvimento humano, que
deve ser compreendida e vivida como tal, e a velhice, que deve ser vista como
memória, numa visão de passagem da maturidade biológica para a maturidade
biográfica. Por fim, apresenta a espiritualidade na velhice.
O Agir apresenta propostas inicialmente nas áreas de políticas públicas.
Também apresenta a necessidade da atuação, tanto da parte do Estado como da
Igreja, na educação para o envelhecimento e a morte, assim como a necessidade
de utilização de recursos institucionais. Outra questão importante é a atenção aos
idosos com dependência, que engloba também o problema dos maus tratos, tanto
intencionais como decorrentes de descuido. Existe a necessidade de superação dos
mitos e preconceitos e o texto apresenta os caminhos para que isso aconteça,
dando especial destaque para os trabalhos necessários em relação aos meios de
comunicação social, já que se constituem num importante meio de formação da
163
opinião pública e de formação de valores. O texto também trabalha a questão das
famílias das pessoas idosas, suas responsabilidades e suas dificuldades e, por fim,
o papel da Igreja, das pastorais, dos serviços e dos movimentos eclesiais em
relação à pessoa idosa.
4.4.3. Os modelos de Igreja presentes na Campanha
O primeiro modelo que encontramos nesta Campanha é o de Igreja como
Serva, com centralização agir das pessoas, principalmente dos leigos e leigas, de
acordo com o documento Christifideles Laici número 34 testemunhando de modo
especial o amor de Deus como forma de anúncio da Palavra469
. A Igreja vê a vida
como um grande dom de Deus e está a serviço dela470
e zela por ela em todas as
suas dimensões, tendo em vista o ser humano na sua totalidade471
.
Outro modelo presente nesta Campanha é o de Igreja como Comunhão. O
texto fala da unidade da Igreja não como uniformidade, mas como integração
orgânica das legítimas diversidades, o que é compreendido a partir do Corpo
Místico de Cristo472
no qual nos relacionamos com o Absoluto473
. A partir disso, o
texto mostra a necessidade do planejamento em vista de uma ação pastoral de
conjunto e orgânica que faça com que cada pastoral, ao seu modo, segundo a sua
competência, aborde a questão das pessoas idosas. Isso é importante para que não
se crie uma nova pastoral e seja evitado o risco de uma pastoral
departamentalizada e fragmentada474
. Ao mesmo tempo, a Campanha pretende
que sejam valorizadas as ações de todas as pastorais475
buscando a sua unidade e
articulação a partir de um objetivo comum, que o objetivo geral, proposto pela
Campanha da Fraternidade, em vista da superação de todos os problemas e
dificuldades relacionados com a pessoa idosa.
469
Cf. Ibid., n.o 191.
470 Cf. Ibid., n.
o 136.
471 Cf. Ibid., n.
o 158.
472 Cf. Ibid., n.
o 223.
473 Cf. Ibid., n.
o 153.
474 Cf. Ibid., n.
o 224.
475 Cf. Ibid., n.
o 231.
164
4.5. A Campanha da Fraternidade de 2004
4.5.1. O que foi a Campanha
Esta Campanha teve como tema: “Fraternidade e água”, e como lema:
“Água, fonte de vida”. Foi resultado de uma mobilização nacional a partir da
Pastoral da Terra e de movimentos ecológicos. Esta mobilização conseguiu adesão
de todos os Regionais da CNBB e também de Organizações Não Governamentais,
entidades de classe e até mesmo de órgãos oficiais como a Câmara Legislativa da
Paraíba, a Agência Nacional da Água – ANA e dos Ministérios das Minas e
Energia e do Desenvolvimento, entre outros.
Teve um papel de relevância nos trabalhos desta Campanha o Sr. Roberto
Malvezzi, conhecido pela alcunha de Gogó, residente na Diocese de Juazeiro da
Bahia, membro da Comissão da Pastoral da Terra – CPT, e também cantor e
compositor.
Os trabalhos preparativos para a Campanha foram feitos pelo Secretário
Executivo Pe. José Adalberto Vanzella, mas a sua realização ficou a cargo do
novo Secretário Executivo, Côn. José Carlos Dias Toffoli, uma vez que, durante
os trabalhos preparatórios, cumpriu-se o tempo de mandato da Presidência da
CNBB, no qual era Presidente Dom Jayme Henrique Chemello, Vice-presidente,
Dom Marcelino Pinto Cavalheira e Secretario-Geral Dom Raymundo Damasceno.
Assim, assumiram a nova presidência: Dom Geraldo Majella Agnelo como
Presidente, Dom Celso José de Queiróz como Vice-presidente e Dom Odilo Pedro
Scherer como Secretário-Geral. Devido à troca da Presidência, o Pe. José
Adalberto Vanzella renunciou ao cargo.
A nova presidência realizou uma nova revisão dos materiais e isso causou
um grande atraso na distribuição do Texto-base e dos demais subsídios,
prejudicando a preparação e realização da Campanha. Esta revisão mudou alguns
aspectos do Texto-base como, por exemplo, eliminou o modelo de Igreja
libertadora, presente nas versões anteriores.
4.5.2. O conteúdo da Campanha
O objetivo geral da Campanha foi “conscientizar a sociedade que a água é
fonte de toda a vida, uma necessidade de todos os seres vivos e um direito da
165
pessoa humana, e mobilizá-la para que esse direito de água com qualidade seja
efetivado para as gerações presentes e futuras”476
. Os seus objetivos específicos
foram: conhecer a realidade hídrica do Brasil a partir da realidade local;
desenvolver uma mística ecológica que valorize a água nos seus significados mais
profundos; apoiar as iniciativas existentes para superar graves problemas;
desenvolver um espírito solidário em relação aos que sofrem por falta de água;
defender a participação popular na elaboração de políticas públicas e
administração dos recursos hídricos477
.
O Ver parte da importância da água na composição do corpo humano para
mostrar as relações entre água e saúde e a necessidade do acesso de todos à água
com qualidade. A partir daí, o texto apresenta uma visão prospectiva no que diz
respeito aos problemas que se fazem presentes no mundo, procurando mostrar a
responsabilidade de todos diante da questão da qualidade da água e as
conseqüências dos atuais problemas para a humanidade no futuro. Esta questão
relaciona o problema da água com o Mutirão para a Superação da Miséria e da
Fome, desenvolvido pela Igreja, pois ambos têm as mesmas exigências éticas e a
mesma mística.
A água é destinada a todos os seres vivos, e é usada para muitas finalidades
como consumo humano, irrigação, geração de energia, navegação, pesca,
indústria, lazer e medicina, entre outros. A água tem também muitas dimensões,
valores e significados como o biológico, o social, o simbólico, paisagem e
turismo, política e relações de poder, poesia e arte, saúde, etc.
O mundo enfrenta uma crise em relação à água, porém, se de um lado existe
muito de realidade, por outro lado há também muito de ideologia. Em muitos
lugares temos suficiência de água, mas em outros temos carência, tanto
quantitativa quanto qualitativa e, se existe a luta pela preservação, a água também
significa uma oportunidade para grandes negócios. Isso acontece devido ao
discurso que diz que se algo custa caro, o preço motiva o controle do uso, mas o
outro lado deste discurso é o fato de que as pessoas de pouco poder aquisitivo
ficarão privadas de tão importante bem. Esta questão se agrava por causa da
degradação e do desperdício. Também temos os problemas da legislação sobre a
476
Texto-base CF 2004, São Paulo: Salesiana, n.o 2.
477 Cf. Ibid., n.
o 3.
166
água, antiga e inadequada, isso sem falar da questão das políticas públicas,
geralmente tendenciosas, e da questão da responsabilidade internacional diante
dos problemas em questão.
O Julgar mostra a água como fonte de vida, alimento e abundância e sua
presença em muitas tradições religiosas. Em seguida, o texto apresenta algumas
perspectivas bíblicas sobre a água e por fim, tira algumas decorrências éticas
como o direito à vida digna, a garantia do direito à água, a condenação do
mercantilismo, a necessidade de uma economia mais racional e solidária e a
importância da luta contra a poluição.
No agir, o texto propõe a participação de todos para a realização de um
mapeamento nacional da situação da água. Propõe também o desenvolvimento de
uma mística em torno da água com visitas, celebrações, romaria da terra e da água
e adesões para superação de problemas locais, maior valorização da água na
liturgia, realização de romaria das águas e outras atividades. Também é
importante o apoio a iniciativas já existentes como a convivência com o semi-
árido, captação de água de chuva, preservação dos lagos da Amazônia, apoio aos
pescadores e áreas de preservação, etc. Também é necessário o desenvolvimento
do espírito solidário em relação aos que sofrem por causa da falta de água e a luta
por políticas públicas verdadeiramente democráticas.
4.5.3. Os modelos de Igreja presentes na Campanha
Um primeiro modelo que encontramos no texto é a compreensão de Igreja
como Comunhão, que tem uma missão a executar, a missão evangelizadora que
recebeu de Jesus, que é formar novos irmãos. A Campanha da Fraternidade tem
como permanentes os mesmos objetivos da Igreja: despertar o espírito
comunitário e a solidariedade na busca do bem comum, educar para a vida
fraterna a partir do amor e da justiça, que são as exigências centrais do
Evangelho478
.
478
Cf. Ibid., Introdução.
167
O modelo Sacramento também está presente. A água está ligada ao
sacramento do batismo, fonte de todas as vocações, que insere a pessoa humana
na vida da Igreja e os torna participantes da mesma missão479
.
Outro modelo que percebemos nesta Campanha é a Igreja como Serva. A
Campanha deve fazer com que todos compreendam que o futuro da humanidade
depende do futuro da água480
e, através do serviço e da fidelidade à mensagem
global da Sagrada Escritura e da Tradição da Igreja481
, todos devem assumir suas
responsabilidades. Assim, todos estarão abrindo fronteiras para irmanar toda a
humanidade482
e fazer com que a solidariedade transponha fronteiras483
. Este
serviço deve unir todos os setores da sociedade e todas as religiões484
. Como
exemplo, o texto cita o Nordeste, onde ONGs, dioceses, pastorais, movimentos
sindicais e movimentos sociais se uniram num conjunto de mais de 800 entidades
para formar a Associação do Semi-Árido – ASA, que desenvolve o projeto de
construção de um milhão de cisternas para abastecer um milhão de famílias com
água potável485
. Também existe, nesse sentido, a proposta da criação do
Parlamento Mundial da água que, embora controvertido, deve ser considerado486
.
O serviço deve estender-se também aos atingidos por barragens, que são
obrigados a saírem de suas terras. A construção de novas barragens com a
finalidade de geração de energia elétrica ameaça todos os ribeirinhos e também
exige o serviço e a solidariedade de todos487
.
4.6. A Campanha da Fraternidade de 2006
4.6.1. O que foi a Campanha
Esta Campanha teve como tema: “Fraternidade e pessoas com deficiência”,
e como lema: “Levanta-te, vem para o meio (Mc 3,3)”. Foi marcada por
dificuldades na sua elaboração, a começar pelo enunciado do tema. Depois de
479
Cf. Ibid., n.o 141.
480 Cf. Ibid., n.
o 180.
481 Cf. Ibid., n.
o 142.
482 Cf. Ibid., n.
o 155.
483 Cf. Ibid., n.
o 171.
484 Cf. Ibid., n.
o 154.
485 Cf. Ibid., n.
o 159.
486 Cf. Ibid., n.
o 174.
487 Cf. Ibid., n.
o 179.
168
nove meses de coleta de dados e sem sucesso na elaboração de uma versão
satisfatória do texto, o Secretário-Geral da CNBB, Dom Odilo Pedro Scherer, e o
Secretário Executivo da Campanha da Fraternidade, Côn. José Carlos Dias
Toffoli, convocaram para uma reunião na sede da CNBB o Pe. José Adalberto
Vanzella e o Sr. Evaristo Eduardo Miranda, leigo da Arquidiocese de Campinas,
funcionário da Embrapa, que escreveu muitos livros e artigos sobre o assunto e
tornou-se um dos representantes do Brasil junto à Organização das Nações Unidas
para as discussões em torno de questões que envolvessem pessoas com
deficiência. O Sr. Evaristo Eduardo Miranda ficou encarregado de redigir o Ver e
o Agir e o Pe. José Adalberto Vanzella ficou encarregado de redigir o Julgar.
Assim, ficou pronta uma redação satisfatória do texto que, com algumas
modificações, foi aprovada.
4.6.2. O conteúdo da Campanha
O objetivo geral desta campanha foi “conhecer melhor a realidade das
pessoas com deficiência e refletir sobre a sua situação, à luz da Palavra de Deus
e da ética cristã, para suscitar maior fraternidade e solidariedade em relação às
pessoas com deficiência, promovendo sua dignidade e seus direitos”488
. Seus
objetivos específicos foram apresentar a realidade das pessoas com deficiência,
denunciar ideologias e contra-valores presentes na sociedade, mostrar valores
evangélicos que fundamentam as relações humanas, luta por defesa de direitos,
promoção da autonomia e da participação de pessoas com deficiência e
possibilitar a inclusão dessas pessoas na sociedade e na Igreja489
.
O Ver começa com uma discussão teórica sobre os conceitos ligados à
deficiência humana. Em seguida, apresenta uma visão histórica sobre a questão da
deficiência, inicialmente a história do Brasil, dando especial destaque às
conquistas acontecidas no século XX e, logo após, apresenta a história da Igreja
segundo o mesmo aspecto, para depois, concluir com a história do protagonismo
das pessoas com deficiência e suas conquistas sociais. O assunto seguinte é a
apresentação dos principais problemas e desafios ligados à deficiência que estão
presentes na nossa realidade atual.
488
Texto-base CF 2006, São Paulo: Salesiana, n.o 4.
489 Cf. Ibid., n.
o 5.
169
O Julgar introduz a questão a partir da igualdade e da dignidade da pessoa
humana, mesmo em suas diferenças, tendo como modelo e paradigma a
Santíssima Trindade. Em seguida, o texto apresenta a pessoa de Jesus, seus
relacionamentos, suas atitudes, seus objetivos e suas propostas diante das
deficiências. Por fim, o texto denuncia as interpretações e as falsas soluções para a
questão e conclui o Julgar apresentando decorrências éticas a partir do Evangelho.
O Agir apresenta inicialmente a necessidade da sensibilização sobre a
realidade em vista do profetismo. Em seguida, apresenta valores evangélicos que
devem nortear a vida das famílias de pessoas com deficiência. O outro tema
abordado é a questão da prevenção das deficiências, principalmente das
decorrentes de problemas de saúde e de acidentes os mais diversos. Por fim,
conclui com uma exortação no sentido de envolvimento de todos na questão e
desenvolvimento de atitudes e gestos de solidariedade.
4.6.3. Os modelos de Igreja presentes na Campanha
Nesta Campanha, também estão presentes diferentes modelos de Igreja. Um
primeiro modelo é a compreensão de Igreja Libertadora que atua a partir do
conhecimento da realidade das pessoas com deficiência, vista à luz do Evangelho
e da ética cristã para superar o imobilismo e o fatalismo e para libertar e
transformar as famílias, a Igreja e a sociedade490
. A Igreja questiona a si mesma,
mas também a sociedade sobre as atitudes e os relacionamentos para com as
pessoas com deficiência491
.
A Igreja também é entendida como Instituição que deve assumir a sua
responsabilidade diante dos problemas das pessoas com deficiência,
principalmente as organizações religiosas que possuem o carisma da educação492
.
A Igreja também deve combater o dualismo que algumas vezes se faz presente no
seu meio e separa a fé da vida, a oração do compromisso social e diminui a força
da sua presença no mundo493
, pois através dos Concílios de Nicéia I e III,
490
Cf. Ibid., n.o 12.
491 Cf. Ibid., n.
o 3.
492 Cf. Ibid., n.
o 287.
493 Cf. Ibid., n.
o 198.
170
Constantinopla II e III, Éfeso e Calcedônia, professa a fé no mistério da
Encarnação e na presença e atuação histórica de Jesus494
.
Também encontramos a Igreja compreendida como Comunhão, que deve
incluir as pessoas com deficiência nos seus organismos de participação, pois estas
estão no seu coração e, sem elas, a Igreja é mutilada. Não basta a assistência, é
necessário abrir a essas pessoas caminhos de participação495
.
Mas o modelo predominante de Igreja nesta Campanha da Fraternidade é a
compreensão de Igreja como Serva. A Igreja, desde os seus primórdios, sempre
prestou inestimáveis serviços às pessoas com deficiência496
, principalmente a
partir de suas instituições, assegurando direitos pessoais e sociais a essas
pessoas497
. Este trabalho tem grande continuidade nos nossos dias, principalmente
quando existem ameaças da parte da sociedade em relação àquelas pessoas que
deveria proteger498
, pois não deve haver deficiência na nossa capacidade de amar
e servir499
.
No que diz respeito ao serviço, tem especial destaque a luta para fazer valer
os direitos garantidos por Lei, exigindo o seu cumprimento, assim como é
necessária a luta para que outros direitos também sejam amparados pela Lei.
Assim, é importante o trabalho de instituições que trabalham em prol da justiça,
como a Ordem dos Advogados do Brasil – OAB, Comissão Brasileira de Justiça e
Paz – CBJP, entre outros500
.
4.7. A Campanha da Fraternidade de 2007
4.7.1. O que foi a Campanha
Esta Campanha teve como tema: “Fraternidade e Amazônia”, e como lema:
“Vida e Missão neste chão”.
Na 36ª Assembléia Geral da CNBB, que aconteceu em Itaici em 1998, o
bispo prelado do Xingu, Dom Erwin Kräutler, fez um pronunciamento sobre a
494
Cf. Ibid., n.o 161.
495 Cf. Ibid., n.
o 268.
496 Cf. Ibid., n.
o 40-61.
497 Cf. Ibid., n.
o 104.
498 Cf. Ibid., n.
o 78.
499 Cf. Ibid., n.
o 87.
500 Cf. Ibid., n.
o 248.
171
Amazônia como terra de missão501
. No dia 21 de abril de 1999, durante a 37ª
Assembléia Geral da CNBB, ocorrida em Itaici, Dom Erwin Kräutler pediu em
espaço para uma comunicação sobre a Amazônia. O que deveria ser uma
comunicação de dez minutos ocupou mais de uma hora e resultou numa
mensagem ao povo de Deus por parte dos bispos da Amazônia denunciando a
gravidade dos problemas lá existentes502
. Um dos desdobramentos deste fato foi a
criação da Comissão Episcopal para a Amazônia, no dia 16 de abril de 2002,
durante a 41ª Assembléia Geral da CNBB503
. Esta Comissão Episcopal
desenvolveu um trabalho junto às dioceses e Regionais da CNBB e, entre outras
iniciativas, conseguiu que a Campanha da Fraternidade de 2007 tivesse como
tema a Amazônia.
4.7.2. O conteúdo da Campanha
O objetivo geral da Campanha foi “conhecer a realidade em que vivem os
povos da Amazônia, sua cultura, seus valores e as agressões que sofrem por
causa do atual modelo econômico e cultural, e lançar um chamado à conversão,
à solidariedade, a um novo estilo de vida e a um projeto de desenvolvimento à luz
dos valores humanos e evangélicos, seguindo a prática de Jesus no cuidado com
a vida humana, especialmente a dos mais pobres, e com toda a natureza”504
. Seus
objetivos específicos foram: promover um conhecimento atualizado da Amazônia;
denunciar situações de agressão à vida, aos povos e ao meio ambiente e denunciar
suas causas; promover a solidariedade de experiências, saberes, valores e bens, em
vista do fortalecimento da identidade, autonomia e soberania dos amazônidas;
estimular um estilo de vida respeitoso do ambiente e do próximo; fortalecer a
presença da Igreja na região; incentivar políticas públicas com gestão popular505
.
O Ver apresenta, inicialmente, dados estatísticos sobre a Amazônia para
mostrar, em seguida, os povos e as culturas presentes na região. Depois, apresenta
os problemas que estão presentes atualmente na Amazônia como ocupação,
disputa de território, modelo de desenvolvimento, internacionalização,
501
Cf. CNBB, Comunicado Mensal n.o 520, abril de 1998, p 576ss.
502 Cf. CNBB, Comunicado Mensal n.
o 530, abril de 1999, p 1.075.
503 Cf. CNBB, Comunicado Mensal n.
o 570, abril de 2003, p 715-717.
504 Texto-base CF 2007. São Paulo: Salesiana, n.
o 11.
505 Cf. Ibid., n.
o 12.
172
militarização, narcotráfico e dificuldades de integração entre os países que
compõem a região. Também apresenta problemas sociais como a pobreza e sua
concentração nas periferias das capitais e das principais cidades. O texto também
apresenta as organizações sociais amazônicas e suas lutas pelo direito à terra, ao
uso sustentável da floresta e aos direitos sociais e políticos. Por fim, mostra a
presença da Igreja na Amazônia, sua atuação histórica e sua situação atual.
O Julgar inicia mostrando como o projeto de Deus para o mundo nos
questiona sobre a realidade atual da Amazônia, que é uma grande manifestação da
maravilhosa obra da criação. Em seguida, denuncia a violação do projeto de Deus
através de situações concretas como trabalho escravo, decorrente da idolatria do
dinheiro, e o desrespeito aos povos e suas culturas. Para superar essa situação, é
necessário o trabalho evangelizador com sua força sócio-transformadora que
determina um novo jeito de ser Igreja, conclamando a todos para a
responsabilidade neste trabalho tendo a cultura como caminho para a sua
realização, o que deve levar a Igreja a ver e a pensar a Amazônia a partir da
Amazônia.
O Agir enfoca a necessidade do conhecimento da realidade amazônica
através da formação, educação e divulgação dos seus elementos naturais e
culturais. Em seguida, afirma a necessidade da denúncia profética dos pecados
que lá se fazem presentes e da explicitação dos valores evangélicos que devem ser
força de transformação da morte em vida e gerar a promoção da solidariedade em
todos os sentidos, fruto de uma verdadeira conversão e de uma mudança de
mentalidade fundamentada em novos questionamentos. Enfim, o texto apresenta
sugestões concretas tanto para as ações no âmbito de políticas públicas como no
exercício da fraternidade missionária.
4.7.3. Os modelos de Igreja presentes na Campanha
A Campanha da Fraternidade de 2007 apresentou uma grande variedade de
modelos de Igreja, o que implica numa análise mais extensa do que as demais.
O texto apresenta a Igreja como Instituição quando mostra a presença da
Igreja na Amazônia a partir do século XVI, com a chegada dos europeus506
e quer,
506
Cf. Ibid., n.o 11.
173
com esta Campanha, apoiar e fortalecer esta presença507
. A Igreja presente na
Amazônia está satisfazendo com vitalidade às necessidades dos povos508
através
de seus organismos como o CIMI e o desenvolvimento de atividades missionárias,
muitas vezes em parceria com diversos órgãos governamentais e com a sociedade
organizada509
.
A Igreja também criou muitas instituições para desenvolver e aprimorar seus
trabalhos na região amazônica. Entre elas, merecem destaque o Centro de Estudos
sobre o Comportamento Humano – CENESCH, em Manaus, e o Instituto de
Pastoral Regional – IPAR, em Belém para, como Igreja, responder aos novos
desafios510
, através do desenvolvendo de uma teologia, uma espiritualidade, uma
pastoral e uma missionariedade própria para a região. Este trabalho envolveu um
grande número de pessoas que contribuíram para que o povo pudesse manter viva
sua fé e sua vivência cristã511
. A Igreja também desenvolveu o Projeto Igrejas
Irmãs, que favoreceu a abertura de algumas prelazias e outras presenças
eclesiais512
, além do desenvolvimento de CEBs em toda a região, que deverão ser
fortalecidas com a realização do XII Intereclesial de CEBs que será em Porto
Velho, o primeiro a acontecer na região amazônica513
. O Projeto Igrejas Irmãs
também possibilitou a formação de agentes vindos de outras regiões para trabalhar
com a Igreja local, apesar de ainda não responder a todas as necessidades sociais e
eclesiais, o que mostra que a sua presença precisa ser ainda maior514
. Esta foi a
primeira vez que, entre os objetivos específicos da Campanha da Fraternidade,
apareceu um objetivo institucional515
.
Outro modelo presente é o de Igreja Libertadora. A Igreja deve colaborar
na organização do povo e na sua resistência diante das agressões do modelo
econômico516
, assumindo a orientação libertadora de Medellín517
. Um exemplo
desta prática foi a Assembléia Conjunta de Santarém, da qual saiu o documento:
507
Cf. Ibid., n.o 12.
508 Cf. Ibid., n.
o 249.
509 Cf. Ibid., n.
o 251.
510 Cf. Ibid., n.
o 252.
511 Cf. Ibid., n.
o 263.
512 Cf. Ibid., n.
o 253.
513 Cf. Ibid., n.
o 256 a.
514 Cf. Ibid., n.
o 256 b.
515 Cf. Ibid., n.
o 12.
516 Cf. Ibid., n.
o 1.
517 Cf. Ibid., n.
o 250.
174
Linhas prioritárias da Pastoral da Amazônia, que orientou a caminhada da Igreja
amazônica de 1972 a 1997 buscando a encarnação na realidade e a evangelização
libertadora518
. Foram assumidas as Semanas Sociais, o Grito dos Excluídos,
desenvolveram-se as pastorais sociais, as Comissões de Justiça e Paz e a Caritas,
com o objetivo de responder aos fenômeno da urbanização e às situações de
miséria, violência e conflitos519
. Em 1990 foram incluídas na pauta de discussões
as questões ligadas ao meio ambiente520
.
As comunidades religiosas se tornaram cada vez mais inseridas em situações
de exclusão, principalmente nos interiores e nas periferias das grandes cidades,
assumindo a causa da justiça e da vida, sendo que muitos derramaram o seu
sangue, oferecendo suas vidas pelo projeto do Reino521
. Isso aconteceu
principalmente por causa da sua reação diante do aumento da opressão, por parte
daqueles que exploram e escravizam o próximo522
.
Assim, a Igreja participa do processo de libertação do viés colonial do ponto
de vista humano e cultural que prevaleceu na implantação e no desenvolvimento
da população amazônica. A Igreja atua principalmente através de uma pastoral e
de uma teologia em sintonia com as culturas locais e com os anseios e
necessidades do povo523
, numa permanente presença criadora e libertadora como
instrumento concreto de resistência contra todas as formas de morte, reafirmando
sempre o valor da vida524
.
Outro modelo presente no texto é a compreensão da Igreja como Arauto da
Palavra. As CEBs procuram, na convivência eclesial e comunitária, unir as
“sementes do Verbo” presentes na cultura e na religiosidade dos povos com o
anúncio da Palavra vivenciado e transformador525
. Isto porque anuncia a presença
do Reino como fermento misturado à nossa realidade, anuncia a boa notícia que
deve chegar a todas as nações abrindo caminho para que Cristo seja tudo em todos
518
Cf. Ibid., n.o 252.
519 Cf. Ibid., n.
o 256.
520 Cf. Ibid., n.
o 258.
521 Cf. Ibid., n.
o 257.
522 Cf. Ibid., n.
o 291.
523 Cf. Ibid., n.
o 265 a.
524 Cf. Ibid., n.
o 296.
525 Cf. Ibid., n.
o 264.
175
e as pessoas possam tornar-se membros vivos do único Corpo do Senhor que é a
Igreja526
.
Também encontramos no texto a Igreja como Comunhão. Inicialmente ela
cria comunhão com os povos da Amazônia527
, principalmente através do Projeto
Igrejas Irmãs, alimentado pelas dioceses do Sul do país que procuram viver uma
maior comunhão com as dioceses e prelazias do Norte e Nordeste528
.
Por fim, temos a compreensão da Igreja como Serva, que não fica
simplesmente discutindo no plano teórico o que seja fraternidade e presença do
Reino, mas realiza gestos de solidariedade como sinais concretos do Reino529
que
respondem aos desafios impostos pela realidade amazônica530
. A história da
presença da Igreja na Amazônia é a história do serviço da Igreja aos povos da
Amazônia. Este serviço vai desde o anúncio da Palavra até a ajuda na formação e
organização dos centros urbanos, os serviços prestados pelas pastorais sociais, o
trabalho nas escolas, hospitais, creches, asilos e outras instituições afins por parte
das Congregações Religiosas e Missionárias, a assistência aos indígenas,
ribeirinhos e quilombolas, etc.531
, como também a criação do CIMI e os seus
serviços prestados532
.
4.8. A Campanha da Fraternidade de 2008
4.8.1. O que foi a Campanha
Esta Campanha teve como tema: “Fraternidade e defesa da vida”, e como
lema: “Escolhe, pois, a vida (Dt 30,19)”. O tema da Campanha foi escolhido na
reunião da avaliação da CF 2006, em junho daquele ano, porém os trabalhos não
andaram.
Por ocasião da Assembléia Geral de 2007, foi eleita a nova Presidência da
CNBB. Dom Geraldo Lyrio Rocha foi eleito Presidente, Dom Luiz Soares Vieira,
Vice-Presidente e Dom Dimas Lara Barbosa, Secretário-Geral. O Secretário
526
Cf. Ibid., n.o 301.
527 Cf. Ibid., n.
o 249.
528 Cf. Ibid., n.
o 253.
529 Cf. Ibid., n.
o 272.
530 Cf. Ibid., n.
o 34.
531 Cf. Ibid., n.
o 232-248.
532 Cf. Ibid., n.
o 251.
176
Executivo da Campanha da Fraternidade, Côn. José Carlos Dias Toffoli
apresentou, na ocasião, seu pedido de renúncia do cargo, que foi aceito pela nova
Presidência.
O Pe. José Adalberto Vanzella, então responsável pela Campanha da
Fraternidade no Regional Sul 1, participou da reunião de Avaliação da CF 2007,
ocorrida no dia 18 de junho e, na ocasião, foi nomeado como o novo Secretário
Executivo da Campanha da Fraternidade. O Texto-base da CF 2008 não tinha
ainda a sua primeira versão e nenhum subsídio tinha sido preparado, sendo que
todo material deveria ser entregue na Editora Salesiana até o final de Agosto.
Então o Pe. Vanzella escreveu a primeira versão, com finalidade provocativa, que
foi distribuída para todos os assessores para estudo, discussão, aprimoramento e
propostas para uma segunda versão, além de possibilitar a elaboração dos
subsídios pelas assessorias. As contribuições foram entregues no final do mês de
julho e, no dia 10 de agosto, publicou a segunda versão do texto.
Uma equipe formada pela Dra. Elizabeth Kipmann Cerqueira e alguns
membros da Comunidade de Vida do Hospital São Francisco, de Jacareí – SP,
juntamente com o Prof. Francisco Borba Ribeiro Neto, do Centro de Fé e Cultura
da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP, redigiu a terceira
versão, que ficou pronta no dia 24 de agosto e passou por uma revisão final,
realizada por Dom Dimas e Pe. Vanzella, sendo o texto entregue, juntamente com
os demais subsídios, para a Editora Salesiana, no prazo previsto. Isto foi
necessário por causa do problema da distribuição do material para todo o Brasil.
Outro agravante no que diz respeito ao cumprimento de prazos para a preparação
da Campanha foi o início da quaresma de 2008 ter acontecido no dia 06 de
fevereiro, o que criou sérias dificuldades para que as comunidades, principalmente
da Região Norte, recebessem o material a tempo de capacitar seus agentes de
pastoral e realizar o planejamento das atividades da Campanha.
Com isso, o texto ficou muito acadêmico e pouco pastoral, trazendo maiores
dificuldades para a sua compreensão e aplicação. O texto não apresentou a riqueza
do processo participativo na sua elaboração, como os textos anteriores. Também é
importante colocar que, embora o texto colocasse a necessidade da defesa da vida
no seu início, no seu decurso e no seu término, o posicionamento dos bispos e das
comissões de defesa da vida acabou por centralizar o foco das discussões na
questão do aborto, o que empobreceu, e em muito, a realização da Campanha e o
177
seu alcance. O texto teve forte influência do Documento Conclusivo da V
Conferência do Episcopado Latino Americano e do Caribe, acontecido em
Aparecida-SP, entre os dias 13 e 31 de maio de 2007, principalmente no que diz
respeito à sua antropologia, ao encontro pessoal com Jesus Cristo e ao conceito de
cultura da vida. Também exerceu grande influência no texto a publicação do
Léxicon, pelo Pontifício Conselho para a Família.
4.8.2. O conteúdo da Campanha
O objetivo geral da Campanha foi “levar a Igreja e a sociedade a defender e
a promover a vida humana, desde a sua concepção até a sua morte natural,
compreendida como dom de Deus e co-responsabilidade de todos, na busca de
sua plenificação, a partir da beleza e do sentido da vida em todas as
circunstâncias, e do compromisso ético do amor fraterno”533
. Os objetivos
específicos foram: desenvolver uma antropologia que possibilite a defesa integral
da vida, fortalecimento da família, fomentar a cultura da vida, aprofundamento do
diálogo ecumênico, inter-religioso e intercultural no sentido da defesa da vida,
desenvolvimento da consciência crítica nas pessoas, propor e apoiar políticas
públicas que garantam a promoção e defesa da vida e o crescimento da fé que
fundamente o reconhecimento da sacralidade de cada pessoa534
.
O Ver começa com uma visão a respeito da pessoa humana e a relação desta
visão com a cultura da morte. Em seguida, analisa a vida, a afetividade e a
sexualidade mostrando a relação entre essas questões e a geração da vida. A partir
daí, analisa a vida não nascida, trabalhando questões sobre a origem da vida e o
aborto, que é desenvolvido longamente abordando aspectos como a sua definição,
abordagem legal, casos em que o aborto não é punido no Brasil, os argumentos
favoráveis à legalização do aborto e os contra-argumentos e o financiamento
externo para sua legalização. Ainda sobre a origem da vida, o texto fala de
células-tronco e eugenia.
Depois o texto aborda a questão do sofrimento e da morte, colocando
questões como sofrimento e dignidade humana, morte e dignidade da pessoa,
levando em conta problemas como eutanásia, distanásia, mistanásia e suicídio.
533
CNBB. Texto-base CF 2008. São Paulo: Salesiana, n.o 13.
534 Cf. Ibid., n.
o 14.
178
O Ver mostra ainda as ameaças à vida no seu decurso, como a pobreza, a
violência, a saúde pública, as questões ligadas ao meio ambiente e o discurso
sobre o crescimento populacional.
O Julgar inicia mostrando a vida como um dom do amor de Deus, que é
sempre um bem e deve conduzir a pessoa humana até ele. Este dom é
compreendido a partir da leitura da narrativa da criação presente nos dois
primeiros capítulos do livro do Gênesis. A vida como dom também deve ser
caminho para a felicidade, sendo que este caminho é proposto pelos valores do
Reino de Deus presentes no Evangelho.
O encontro com Jesus Cristo deve levar todas as pessoas a uma opção pela
vida, que deve ser um dos traços fundamentais da Igreja e de sua atuação. Este
encontro tem como decorrência uma série de discernimentos, com implicações
morais, diante das mais diversas questões como o valor da pessoa humana e da
sua dignidade, o avanço das ciências e as responsabilidades decorrentes desse
avanço. Também há decorrências éticas no que diz respeito às questões ligadas à
reprodução humana, como a esterilidade conjugal e o desejo de procriação, a
gestação indesejada e suas implicações, a manipulação do embrião, a vida afetiva
e sexual e seus condicionamentos. O texto também fala de decorrências na vida
social, como é o caso da pobreza e suas conseqüências, a violência nas mais
diferentes esferas de convivência, o sofrimento e suas causas. Por fim, o texto fala
de decorrências éticas diante das diferentes situações de morte, nos seus mais
diferentes significados.
O Agir mostra inicialmente as exigências da caridade em relação à vida
como a defesa da vida, acolhida e discernimento diante das ameaças à vida, o
desenvolvimento de uma espiritualidade da vida. Em seguida, aborda a questão da
formação da consciência para agir em função do desenvolvimento da vida,
mostrando a necessidade de renovar a consciência na cultura da vida. Esta
formação deve abordar questões como o desenvolvimento de uma educação
afetivo-sexual integral, explicitação do valor da família, incentivo à reflexão nos
ambientes acadêmicos e científicos, atuação junto aos meios de comunicação
social, acolhida de gestantes e menores em situação de risco, aprofundamento e
desenvolvimento da ação pastoral. O texto aborda, em seguida, a necessidade da
ação sócio-transformadora em vista da defesa e promoção da vida, através da
179
solidariedade manifesta em obras de caridade, participação em políticas públicas e
a salvaguarda da paz.
4.8.3. Os modelos de Igreja presentes na Campanha
Um primeiro modelo que encontramos nesta Campanha é a apresentação da
Igreja como Arauto da Palavra. Ela é a porta-voz da Palavra de Deus535
, é o
templo do Espírito Santo que revela e confirma a verdade e na verdade dá acesso à
realidade em sua revelação original536
, sendo que esta verdade é expressa de
forma admirável na liturgia537
. A Igreja expressa através da sua doutrina os
critérios do Evangelho para a defesa da vida de acordo com o plano de Deus, sem
cair no superficialismo, mas esclarecendo no Verbo encarnado o mistério do ser
humano538
.
O texto também vê a Igreja como Instituição, que publica documentos com
a finalidade de que todos compreendam, a partir do seu ensinamento, os avanços
da ciência. Esses documentos são trabalhos que nos mostram a Igreja viva e
dinâmica que interage com a realidade que a circunda539
. A sua disciplina é
rica540
, pois ela tem consciência da necessidade de uma preparação sólida e
constante para subsidiar, animar e exortar as pastorais e os mais diferentes setores
da sociedade no trabalho de promoção da dignidade humana541
.
O modelo de Igreja como Comunhão também se faz presente neste texto.
Ela exige ações a partir do compromisso ético do amor fraterno542
, na unidade
entre todos os batizados que tem como decorrência, tendo como critério as
exigências da caridade, o cuidado com os pobres e desamparados e o
reconhecimento da dignidade de todos543
, fazendo com que todos, pessoas e
instituições, se tornem protagonistas na superação de todas as dificuldades do
nosso tempo544
.
535
Cf. Ibid., n.o 189.
536 Cf. Ibid., n.
o 190.
537 Cf. Ibid., n.
o 240.
538 Cf. Ibid., n.
o 248.
539 Cf. Ibid., n.
o 195.
540 Cf. Ibid., n.
o 220.
541 Cf. Ibid., n.
o 279.
542 Cf. Ibid., n.
o 13.
543 Cf. Ibid., n.
o 193.
544 Cf. Ibid., n.
o 286.
180
Por fim, temos o modelo de Igreja como Serva, na qual todos são
convidados a viver a caridade numa postura de serviço e de transformação da
sociedade545
. Este serviço deve promover a pessoa humana integralmente, unindo
o serviço da caridade com o anúncio da Palavra e a celebração dos sacramentos546
.
Para isso, deve acolher a todos como Igreja samaritana547
e fazer com que todas as
nossas ações concorram para a construção de uma sociedade mais justa para todas
as pessoas548
.
4.9. A Campanha da Fraternidade de 2009
4.9.1. O que foi a Campanha
Esta Campanha teve como tema: “Fraternidade e segurança pública”, e
como lema: “A paz é fruto da justiça (Is 32, 17)”. A escolha do tema foi resultado
de um intenso trabalho de propaganda desenvolvido pela Pastoral Carcerária e
pela Pastoral da Criança, e contou, no seu processo de elaboração, principalmente
com a colaboração do Sr. Jorge da Silva e do Sr. Paulo Bahia, ambos leigos com
grande atuação na Arquidiocese do Rio de Janeiro.
O Texto-base começou a ser trabalhado em setembro de 2007, e foi
concluído em junho de 2008, assim como os demais subsídios da Campanha. Ele
pode ser muito discutido e teve nove versões, sendo que em cada uma havia a
participação de mais organismos e pastorais possibilitando, assim, que este texto
fosse muito rico, abrangente e com uma excelente visão pastoral. Esta Campanha
foi uma das que teve maior adesão na sua realização, tanto da sociedade civil
como da sociedade política.
Outro elemento que contribuiu para que esta Campanha crescesse foi a
mudança de editora. O material da Campanha deixou de ter o seu processo
editorial feito pela Editora Salesiana e passou a ser feito pelas Edições CNBB. Os
resultados logo apareceram. Os subsídios ficaram prontos e foram distribuídos
com antecedência, facilitando o treinamento nos Regionais e as capacitações nas
dioceses, paróquias e comunidades. O preço dos subsídios também caiu muito, de
545
Cf. Ibid., n.o 250.
546 Cf. Ibid., n.
o 251.
547 Cf. Ibid., n.
o 252.
548 Cf. Ibid., n.
o 281.
181
modo que facilitou a sua compra por parte das pessoas de menor poder aquisitivo
e o volume comercializado foi muito maior, conforme mostra o Anexo 4.
Houve também o lançamento do material da Campanha da Fraternidade na
Expocatólica, que aconteceu entre os dias 08 e 11 de agosto de 2008, em São
Paulo, com a presença do Secretário-Geral da CNBB, muitos bispos e presbíteros
além de autoridades como o Ministro de Estado da Justiça, o Secretário de
Segurança Pública do Estado de São Paulo, entre outros. Este evento contribuiu
muito para a divulgação da Campanha da Fraternidade.
4.9.2. O conteúdo da Campanha
Esta Campanha teve como objetivo geral: “suscitar o debate sobre a
segurança pública e contribuir para a promoção da cultura da paz nas pessoas,
na família, na comunidade e na sociedade, a fim de que todos se empenhem
efetivamente na construção da justiça social que seja garantia de segurança para
todos”549
e como objetivos específicos desenvolver nas pessoas a capacidade de
reconhecer a violência na sua realidade pessoal e social, denunciar os crimes
contra a ética, a economia e as gestões públicas, a injustiça presente na prisão
especial, foro privilegiado e imunidade parlamentar para crimes comuns,
fortalecer a ação educativa e evangelizadora, denunciar a predominância do
modelo punitivo presente no sistema penal brasileiro, favorecer a criação e a
articulação de redes sociais populares e de políticas públicas, desenvolver ações
que visem à superação das causas e dos fatores da insegurança, despertar o agir
solidário para com as vítimas da violência e apoiar as políticas governamentais
valorizadoras dos direitos humanos550
.
O Ver apresentou inicialmente uma abordagem sobre as relações humanas e
as relações sociais, mostrando a dimensão social da existência humana e as razões
da sociabilidade. Em seguida, analisou a questão do conflito, procurando uma
definição para ele, estudar tanto seus desdobramentos como também os caminhos
para a sua superação. O assunto seguinte foi a questão do medo, suas origens, o
seu uso no controle da violência, a sua força como geradora de violência e o uso
do medo para enriquecimento, através da indústria do medo.
549
CNBB. Texto-base CF 2009. Brasília: Edições CNBB, n.o 4.
550 Cf. Ibid., n.
o 5.
182
O Ver também trabalhou a questão da violência, o que ela é, suas origens, o
discurso sobre a violência, suas relações com a pirâmide social, as diferentes
manifestações da violência como violência familiar, violência no campo, violência
no trânsito, a violência do racismo, a violência policial e a violência contra os
policiais, a violência das drogas, a violência do tráfico humano, a violência da
exploração sexual, a violência no mundo do trabalho, etc. Também analisou os
vínculos existentes entre violência, corrupção e injustiça social.
O Ver apresentou ainda a questão das políticas públicas de segurança
pública e o sistema de garantia de direitos. Por fim, apresentou algumas iniciativas
de grande importância para a conquista de uma sociedade segura, mostrando tanto
ações solidárias e de proteção social como ações sócio-transformadoras e as
iniciativas da Igreja que contribuem nessa área.
O Julgar apresenta inicialmente uma iluminação bíblica que mostra o
projeto de Deus, o pecado como causa da violência, o profetismo diante da
violência, a novidade do Evangelho, o protagonismo das primeiras comunidades e
o exemplo de Paulo. Em seguida, apresenta alguns fundamentos cristológicos para
a conquista de uma sociedade segura, sendo que Cristo é o Príncipe da Paz, pois
nos reconcilia com Deus através do Mistério Pascal, celebrado no mistério
eucarístico. Deus é nosso parceiro para a construção de uma vida segura e pacífica
através do protagonismo histórico, de modo que Cristo é a nossa paz.
A partir daí, o Julgar nos apresenta a missão da Igreja na reconstrução da
paz como caminho para uma sociedade segura a partir da contextualização da
atuação em favor da paz, entendida de forma positiva, conforme mostra o
Documento de Medellín e o exercício do poder como serviço, tudo isso para
construir a cultura da paz.
O Agir mostra que a conquista de uma sociedade segura é de
responsabilidade de todos em geral e de cada pessoa em particular, e começa com
o reconhecimento e a superação da violência na realidade mais próxima da pessoa.
Também é necessário o desenvolvimento de ações educativas em favor da cultura
da paz, que mostre que violência não se vence com violência.
No âmbito da sociedade, algumas iniciativas devem ser tomadas na busca de
um novo modelo penal e na criação de redes sociais populares que organizem a
sociedade para o desenvolvimento de projetos e iniciativas em favor da paz.
183
Também é importante a denúncia dos crimes contra a ética, a economia e a gestão
pública.
Também é necessária a solidariedade para com as vítimas da violência,
principalmente da violência familiar e da violência urbana e o desenvolvimento de
ações, tanto educativas como sócio transformadoras.
4.9.3. Os modelos de Igreja presentes na Campanha
Vários modelos de Igreja estão presentes neste Texto-base. Um primeiro e o
modelo Instituição, que deve iluminar a realidade e mostrar os caminhos para que
o Reino de Deus aconteça na história da humanidade551
. Todos os seus membros
devem enfrentar os desafios do seu tempo, tendo como critério a pessoa e a
mensagem de Jesus552
de modo que cada cristão e a Igreja como um todo possa
ser fiel ao seu Fundador e Mestre553
.
A ação evangelizadora da Igreja é um trabalho constante de construção de
solidariedade e de paz, pois ela cria os fundamentos para a construção da
consciência das pessoas em vista da vivência de relacionamentos que superem a
violência554
. A partir da setorização das paróquias, das CEBs, das Pastorais
Sociais e demais forças vivas, a Igreja colabora ativamente na criação,
organização e articulação de grupos de reflexão e atuação diante dos problemas da
violência em vista da vida segura555
. A própria realização da Campanha da
Fraternidade durante todos esses anos é uma contribuição da Igreja para a
conquista da segurança pública556
.
Outro modelo presente é o que compreende a Igreja como Sacramento. Na
celebração da Eucaristia e da comunhão sacramental com Jesus, a Igreja, animada
pelo Espírito Santo, é enviada em missão557
, pois não é possível comunhão sem
missão nem missão sem comunhão558
, pois a comunhão faz com que a Igreja seja
551
Cf. Ibid., n.o 190.
552 Cf. Ibid., n.
o 191.
553 Cf. Ibid., n.
o 230.
554 Cf. Ibid., n.
o 263.
555 Cf. Ibid., n.
o 281.
556 Cf. Ibid., n.
o 181-188.
557 Cf. Ibid., n.
o 222.
558 Cf. Ibid., n.
o 223.
184
no mundo expressão do seu significado mais profundo559
. A Eucaristia também
abre o coração dos fiéis e da Igreja para as realidades futuras e às promessas de
participação definitiva no reino da justiça, da caridade e da paz560
.
O modelo de Igreja como Arauto da Palavra também está presente no
texto, pois ela é continuadora da missão de Jesus pelos caminhos da história e,
conduzida pelo Espírito Santo, é enviada a evangelizar, tornando-se pregadora e
construtora da paz561
.
Por fim, temos o modelo de Igreja Serva, que cria condições para que o
Evangelho seja mais bem vivido na sociedade562
, pois mostra o valor e a
importância do serviço enquanto se faz Igreja samaritana, que em cada momento
volta o seu olhar para o sofrimento e as necessidades das pessoas, tornando-se
solidária com todos e lutando para promover o bem comum563
. Um exemplo claro
deste serviço é o trabalho desenvolvido pela Pastoral Carcerária564
.
Assim, cada membro da Igreja é uma demonstração viva da mão amorosa de
Deus para com seus filhos e filhas que sofrem, desenvolvendo iniciativas também
em prol de todos os que sofrem porque são vítimas da violência que é a marca de
uma sociedade insegura565
.
4.10. Análise conclusiva
A Campanha da Fraternidade é uma atividade quaresmal, voltada para a
conversão e a solidariedade, de modo que é perfeitamente compreensível a
presença dos modelos de Igreja como Instituição, Arauto da Palavra, Serva e
Sacramento. Instituição porque é a Instituição quem determina o tempo
quaresmal, seus objetivos e as normas que regem este tempo litúrgico. Arauto da
Palavra porque as Sagradas Escrituras apresentam as exigências da conversão e os
caminhos para a sua realização. Serva porque a solidariedade exige o serviço às
pessoas em vista da satisfação de necessidades e superação de problemas.
Sacramento porque desde os tempos antigos, a quaresma é o tempo litúrgico que
559
Cf. Ibid., n.o 225.
560 Cf. Ibid., n.
o 228.
561 Cf. Ibid., n.
o 233.
562 Cf. Ibid., n.
o 3.
563 Cf. Ibid., n.
o 240.
564 Cf. Ibid., n.
o 274.
565 Cf. Ibid., n.
o 293-294.
185
privilegia os sacramentos da iniciação cristã, de modo especial o batismo,
possibilitando a emergência deste modelo de Igreja.
No entanto, outros modelos se fazem presentes nas Campanhas
apresentadas. O modelo de Igreja Libertadora está presente nas Campanhas de
2001, 2002, 2006 e 2007. Na Campanha de 2001, a presença deste modelo se
justifica a partir da atuação do Secretário Executivo, Pe. Antonio Donizetti Sgarbi.
Presbítero da diocese de Taubaté, mestre (e depois que deixou as funções na
CNBB, doutor) em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
– PUC-SP, exerceu as funções de Pároco, Vigário Paroquial, Reitor do Seminário
e, por duas vezes, Coordenador Diocesano de Pastoral. Desde os tempos de
seminarista destacou-se por uma linha libertadora. O seu trabalho conclusivo dos
estudos teológicos, realizados no Instituto Teológico Sagrado Coração de Jesus,
em Taubaté, analisou a prática de São Paulo a partir do método Ver-Julgar-Agir.
A sua atividade ministerial sempre teve forte influência do modelo libertador, o
que leva à compreensão da presença deste modelo no Texto-base da Campanha de
2001.
Nas Campanhas de 2002 e de 2007, houve forte influência do CIMI e, geral,
e do Pe. Paulo Suess em especial. O CIMI, devido aos problemas e conflitos que
envolvem a Pastoral Indigenista, sempre atuou numa linha libertadora.
Este modelo também está presente na Campanha da Fraternidade de 2006.
Como vimos acima566
, a redação do Texto-base ficou foi definida pelo Sr.
Evaristo Eduardo de Miranda e pelo Pe. José Adalberto Vanzella. O Sr. Evaristo
Miranda sempre teve uma atuação libertadora nas questões relacionadas às
pessoas com deficiência. O Pe. José Adalberto Vanzella, como o Pe. Antonio
Donizetti Sgarbi, é presbítero da diocese de Taubaté, foi Coordenador Diocesano
de Pastoral e colaborador do Pe. Sgarbi no seu ministério e o sucedeu na
Secretaria Executiva da Campanha da Fraternidade na CNBB. Como o Pe. Sgarbi,
tem uma visão libertadora da Igreja e da sua atuação evangelizadora e pastoral.
Por fim, encontramos o modelo de Igreja Comunhão. Inicialmente percebe-
se a presença deste modelo na Campanha de 2003. O grande problema que esteve
presente na elaboração desta Campanha foi a pressão da Pastoral da Criança em
vista da criação, a partir da realização da Campanha, de uma Pastoral da Terceira
566
Item 3.5.1.
186
Idade em âmbito nacional, o que facilitaria a departamentalização da pastoral e a
sua fragmentação. Por isso, o Pe. Vanzella trabalhou nos preparativos o conceito
de pastoral de conjunto a partir de objetivos comuns e diferentes formas de
abordagens, fundamentando o seu discurso na eclesiologia de comunhão e suas
decorrências pastorais. O mesmo problema aconteceu na Campanha de 2006,
quando houve uma pressão no sentido de criação de uma Pastoral das Pessoas
com Deficiência e o Pe. Vanzella, no trabalho de redação do Julgar, influenciou o
texto da mesma forma que em 2003.
Os modelos de Igreja Carismática e Esposa não são encontrados nos Textos-
base da Campanha da Fraternidade no período citado. Este fato pode ser explicado
pelo fato de que o enfoque dado na Campanha da Fraternidade, tanto em termos
de conversão como em termos de solidariedade, é a pessoa do irmão e da irmã, daí
o nome Campanha da Fraternidade, e este enfoque é facilitado pelos modelos
eclesiais que estão presentes nas Campanhas.
Também é importante apontar a influência dos Projetos Nacionais de
Evangelização nos modelos de Igreja presentes na Campanha da Fraternidade.
Deu um modo especial, o Projeto Rumo ao Novo Milênio, quando associou a
Campanha da Fraternidade à exigência da evangelização inculturada do Serviço,
determinou a presença desse modelo de Igreja a todas as Campanhas. Como os
Projetos posteriores continuaram mantendo a estrutura das quatro exigências da
evangelização inculturada, a Campanha da Fraternidade continuou atrelada a este
modelo de Igreja.
Também foi determinante para o predomínio do modelo de Igreja Serva a
mudança do Estatuto Canônico da CNBB e a divisão da dimensão sócio-
transformadora em três Comissões Episcopais Pastorais, que passaram a
evidenciar mais o modelo de Igreja Serva do que o modelo de Igreja Libertadora,
evidenciado pela dimensão sócio-transformadora.