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40 anos de Porsche 911

40 anos de Porsche 911 · 356, projetado por Ferry Porsche e lançado em 1950, começava a se tor-nar obsoleto. Embora tenha passado por mudanças significativas de estilo e mecânica,

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40 anos de

Porsche 911

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A vida começa aos 40Lançado em 1963, o Porsche 911 chega aos 40 anos emplena forma. Nenhum outro carro esporte conseguiu isso.Texto: Luiz Alberto PandiniFotos: Porschepress

Classic News

Ferdinand Alexander “Butzi” Porscheesculpindo o 911 em argila.

Cinco gerações de Porsche 911. De 1963 a 2003, conceito inalterado.

A equipe responsável pelodesenvolvimento do 911.

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O carro espor te mais bem sucedi-do de todos os tempos está fazendo40 anos. Apresentado em setembro de1963, o Porsche 911 chega a 2003em plena forma, com aura de vencedore, principalmente, como uma lenda dahistória do automóvel.

Nenhum outro carro de sua cate-goria conseguiu permanecer tantotempo no mercado sem alterar seuconceito básico. Não é preciso forçar

a vista para reconhecer, nos novosmodelos, a herança do 901 apresen-tado em 1963. O que mudou, e muito,foram a mecânica – alterada constan-temente na busca por mais desempe-nho – e a dotação de equipamentos deconfor to e segurança, acompanhando(na verdade, muitas vezes iniciando) aevolução tecnológica de cada época.

É verdade que o 911 de 2003 nãotem um único parafuso em comum com

o modelo de 1963. O conceito básico,porém, permanece inalterado: motorde alto desempenho alojado na trasei-ra, assegurando agilidade e boa tra-ção nas rodas traseiras, otimizando adistribuição de peso e a frenagem.Nestes 40 anos, o motor 6 cilindrosboxer quase dobrou de cilindrada etriplicou sua potência: o motor origi-nal, refrigerado a ar, tinha 130 cv con-tra os 420 cv atuais do 911 Turbo

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refrigerado a água. Mesmo assim,manteve uma característica fundamen-tal: um uivo inconfundível.

A história do 911 começou aindano final da década de 1950. O modelo356, projetado por Ferr y Porsche elançado em 1950, começava a se tor-nar obsoleto. Embora tenha passadopor mudanças significativas de estiloe mecânica, o 356 enfrentava limita-ções de desempenho por conta do seumotor de quatro cilindros, que já tinhaatingindo seu limite. Mais: a Porscheestava firmando seu nome nas compe-tições com modelos mais potentes ecom motores mais sofisticados.

Ferr y Porsche percebeu em 1959que a solução seria um automóvel to-talmente novo. A proposta era ambici-osa, principalmente levando em contaque na época a Porsche era uma com-panhia pequena, com cerca de 1.000funcionários. Ferr y fez apenas duasexigências básicas: o novo carro teriaque ter um motor mais for te e ser maisconfor tável que o 356. Deixou clarotambém que ficaria muito contente sepudesse acomodar no novo Porsche,“sem o menor problema”, uma sacolade tacos de golfe.

Surge a novidadeO primeiro passo foi construir o

motor, o que foi feito rapidamente.Quando ficou pronto, as origens eramevidentes: refrigeração a ar, cilindros(seis) contrapostos (o conhecido“boxer”), extenso uso de materiais le-ves como alumínio e magnésio. Em co-mum com o 356, o novo Porsche teria oposicionamento do motor – na traseira,atrás do eixo. Era uma maneira de me-lhorar a distribuição de peso, proporci-onar melhor tração em pistas escorre-gadias e facilitar os trabalhos de ma-nutenção. As suspensões de eixos os-cilantes e braços paralelos do 356deram lugar a braços de semi-engatena traseira e Mac Pherson na diantei-ra. Isso tornou a estabilidade do 911muito melhor não somente do que a do356, como de todos os outros espor-tivos no mercado.

Ferdinand Alexander “Butzi”Porsche, filho mais velho de Ferry e naépoca com 25 anos, foi incumbido decriar as formas do novo carro. “Não setratava simplesmente de desenhar umnovo carro, mas de criar o sucessor de

Cabriolet: versão conversível só foi lançada em 1982,quando o 911 já tinha 19 anos de existência.

911 Turbo, de 1975: 260 cv de potência.

O Targa foi criado pela Porsche como alternativa aosconversíveis. O carro acima é de 1967.

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um modelo que tornou-se clássico empouco mais de uma década”, relembraFerdinand Alexander, também chamadode “F. A.” e de “Butzi”. Ele prossegue:“Design não é moda. Um bom produtodeve ser discreto em sua beleza”.

“Butzi” Porsche criou um carro cominterior mais espaçoso, oferecendoespaço no banco traseiro suficientepara carregar dois adultos em peque-nos percursos. O protótipo, batizadode 754 T7, já tinha muitas das idéiaspresentes quando a Porsche apresen-tou o 901/911 – par ticularmente aextremidade dianteira prolongada e ocapô dianteiro baixo, que caracterizamo 911 até hoje. A nova carroceria,embora parente do 356, mostrava umcarro totalmente novo. Era um cupêelegante, de estilo suave e moderno,com capacidade para quatro passagei-ros (“2+2”), mais espaçoso e confor-

tável que o 356. O novo Porsche ime-diatamente conquistou o público pre-sente ao salão do automóvel de Frank-fur t de 1963, onde foi lançado.

Encanto imediatoLogo na apresentação do 901, a

francesa Peugeot comunicou à Porscheque havia patenteado o direito de deno-minar seus automóveis usando núme-ros de três algarismos com zero nomeio. A Porsche então oficializou onome 911 – o que não causou qual-quer transtorno, pois o encanto dopúblico com o novo carro foi imediato.As primeiras unidades ganharam asruas em 1964. Nessa época, o motortinha 2,0 litros e alcançava 130 cv.

Apenas um ano e meio depois deseu surgimento, o 911 já era conside-rado um sucesso. Em 1965, surgiuuma versão mais acessível: o 912,

com a carroceria do 911 e o motor1,6 de 4 cilindros e 90 cv herdado do356. A par tir de 1966, iniciou-se umprocesso de contínuo aumento na po-tência dos motores. A cada vez queisso acontecia o 911 tornava-se ain-da mais atraente para o público.

O surgimento de versões mais po-tentes obedeceu a um planejamentocuidadoso e seguiu o desenvolvimen-to nas pistas. Primeiro, surgiu a inje-ção de combustível, introduzido nomodelo 911E (de Einsprinz, injeção),que desenvolvia 140 cv ainda com omotor de 2,0 litros. Em seguida, co-meçou a fase de aumentar a cilindradados motores: 2,2 litros (1970), 2,4 li-tros (1972), 2,7 litros (1973, ano emque os carburadores foram definitiva-mente aposentados na linha Porsche).As cilindradas continuariam subindonos anos seguintes para 3,0 litros,

Um 911 1963 (na frente, à esquerda) e as evoluções, identificadas pelos códigos de projeto: “G” (branco, anos 1970), “964”(vinho, 1989), “993” (prata, 1993) e “996” (preto, 1998). Tais denominações transformaram-se em “apelidos” de cada geração.

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depois 3,2; 3,4; 3,6 e até 3,8 (no mo-tor refrigerado a ar). Em 1973, a crisedo petróleo causou, entre outras coi-sas, a valorização da economia de com-bustível. Muitos esportivos sofrerame os 911 foram equipados com inje-ção K-Jetronic da Bosch, mantendo ainjeção mecânica para as versõesmais potentes.

No salão do automóvel de Paris de1974, foi lançada a maior evolução atéentão: a versão 911 com motorturbocomprimido. Denominado “930”,tinha 260 cv e 3,0 litros, indo de 0 a100 km/h em 6s2. No começo do anoseguinte, uma unidade chegou ao Bra-sil. “O Porsche Turbo não apresentaos aspectos negativos característicosdos chamados ‘carros de alto desem-penho’ convencionais. Ele não é baru-lhento, nem duro, nem espartanamenteequipado, nem delicado. Tudo foi de-senhado sob medida para os mais exi-gentes, seja em termos de equipamen-tos ou conforto. Impecável no trânsitodiário e dono de um caráter tão fasci-

nante que o slogan da Porsche – ‘diri-gir na forma mais pura’ – faz muitosentido”, registrava a revista brasi-leira Grand Prix de junho de 1975, emar tigo sem identificação do autor.Estas palavras, na verdade, resumema essência do 911 ao longo de toda asua existência.

As alterações mecânicas forammais intensas que as de estilo. Aindaem 1973, a frente recebeu um spoiler,enquanto a traseira passou a osten-tar uma asa, logo abaixo do vidro tra-seiro. A função desta última não eraapenas estética: ela atuou efetivamen-te na aerodinâmica do carro, causan-do maior empuxo para baixo e aumen-tando a estabilidade do carro em al-tas velocidades. Não por acaso, o ta-manho das asas traseiras acompanhouo crescimento da potência dos moto-res. O aspecto externo da carroceriamanteve-se praticamente inalteradodurante mais de duas décadas, mas acada inovação de mecânica, mais rígi-da e leve esta se tornava.

Apesar da demanda do mercado nor-te-americano, a Porsche nunca equipouo 911 com câmbio automático. Durantealgum tempo, entre as décadas de 1960e 1970, a fábrica ofereceu a opçãoSportmatic, uma caixa de câmbio manu-al com embreagem automática operadapela alavanca, permitindo que as para-das e par tidas fossem feitas semacionamento da embreagem.

Para 1989, o Porsche 911, chama-do internamente de “964”, recebeu mui-tas atualizações. Foi nessa época que aPorsche passou a oferecer tração nasquatro rodas – o Carrera 4. Para alojar osistema de tração integral, toda a partede baixo do carro precisou serredesenhada, induzindo o desenvolvi-mento do motor, transmissão, sistemade direção, eixos, rodas, pneus e siste-ma de ventilação, aquecimento e ar con-dicionado. Outra novidade: pela primei-ra vez o 911 passava a ter de sérieairbag e ABS. A versão mais potente da“família 964” era o 911 Turbo 3.6, com360 cv e câmbio de cinco marchas.

Butzi e Ferry Porsche em 1993, ano em que o 911 completou 30 anos de existência.

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O “964” foi substituído em 1993pelo “993”. Este tem alterações im-por tantes, tanto no estilo quanto emdetalhes técnicos não perceptíveisà primeira vista. Os faróis tinham ân-gulo de inclinação menor. A asa tra-seira foi combinada com a cur vaturada tampa do motor. Por dentro docapô, um motor totalmente revisadoe com tuchos hidráulicos produziaagora 272 cv na versão aspirada,com velocidade máxima de 270 km/h. Suspensões totalmente novas efreios ainda mais eficientes maisuma vez colocaram o “993” como omelhor espor tivo do mercado. Foi aúltima evolução do 911 com motorrefrigerado a ar. Terminaria com 285cv na versão aspirada e 408 cv naturbinada.

No final de 1997, a Porsche apre-sentou o 911 com a novidade mais drás-tica de sua história: um carro comple-tamente novo e com motor refrigeradoa água. A única característica comumaos 911 anteriores era a configura-

ção 6 cilindros boxer traseiro. Os mo-tores a ar foram aposentados, princi-palmente, porque havia poucas possi-bilidades de aper feiçoamento nos que-sitos custos, emissões e ruídos.

Batizado internamente de “996”,o novo motor tinha 3,4 litros e potên-cia máxima de 300 cv a 6.800 rpm.Como em todo Porsche, freios e sus-pensões foram cuidadosamentedimensionados para oferecer seguran-ça e dirigibilidade inéditos no merca-do. Além disso, o cliente poderia es-colher entre o câmbio manual de 6marchas ou o Tiptronic S de 5 mar-chas. Para a linha 2002, os 911 ga-nharam um motor de 3,6 litros com320 cv de potência e uma ligeira alte-ração nos faróis dianteiros.

Em 1999, entrou em cena o 911GT3, tendo como característica maismarcante o motor de 3,6 litros com360 cv, descendente direto do usadono 911 GT1 vencedor da 24 Horas deLe Mans de 1998. Este motor tem ca-beças dos cilindros feitas em liga

leve de alta resistência às tempera-turas elevadas e bielas de titânio. OGT3 é uma série especial: foi produ-zido em 2001 e voltou na linha 2003,com o motor desenvolvendo 381 cv –o aspirado mais potente da linha. O911 Turbo já chegou a 420 cv (valorque se manteve inalterado desdeaquela época) enquanto o GT2, tam-bém turbo e relançado em 2001, che-gou a 462 cv.

A característica fundamental do911 e também de seu antecessor, o356, é que um Porsche deve ser umcarro esporte não apenas confiável erápido, mas também totalmente volta-do à conveniência diária. Este princí-pio, aplicado desde o começo da em-presa, aliado a qualidade e acabamen-to incomparáveis, permanece inalteradoaté hoje. O 911 se manteve na vanguar-da tecnológica em diversas áreas, sen-do freqüentemente um carro à frentede seu tempo. É essa vitalidade quedeve prolongar a vida do 911 por, quemsabe, mais 40 anos.

Porsche 911 “40º aniversário”: edição limitada em 1963 unidades.

Como par te das comemoraçõespelo 40º aniversário do 911, a Porschelançou uma edição especial denomi-nada “911 40º aniversário”. Serão so-mente 1.963 unidades (número esco-lhido para remeter ao ano de lança-mento do 911), todas pintadas na corPrata Metálico GT. Até agora, essematiz era exclusivo do roadsterPorsche Carrera GT.

A base (carroceria e mecânica) éa do 911 Carrera Coupé. O motor tam-bém é o mesmo: 6 cilindros opostos,aspirado, 3,6 litros. Mas a potênciafoi aumentada de 320 cv para 345 cv,devido à instalação de um kit de pre-paração que pode ser encomendadopara qualquer Porsche 911. O “91140º Aniversário” acelera de 0 a 200km/h em 16,5 segundos, 1 segundomenos que o 911 convencional. A ve-locidade máxima, de 290 km/h, é 5km/h superior à do modelo de série.

Edição comemorativa comdetalhes exclusivos

A carrocer ia tem detalhesestilísticos exclusivos. Na traseira, porexemplo, ele é identificado simples-mente como “911”. O interior tem aca-

bamento em couro cinza escuro e, noconsole, uma placa numerada com ainscrição “911 40º Aniversário” dife-rencia esta edição limitada.

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Quatro décadas de sucessoTexto: Roberto AranhaFotos: Porschepress

Em 1963, a Porsche jamais pode-ria cogitar que o carro a ser lançadonaquele ano seria o inspirador do mo-delo de 2003.

A forma conceitual da evolução doprojeto do 911 surpreende em seudesenvolvimento e fidelidade nestesquarenta anos. O 911 evoluiu semperder a identidade, e por isso tornou-se um ícone do segmento de automó-veis espor te.

O 911 foi um carro que evoluiu dedentro para fora, da concepção mecâ-nica para a dinâmica, orientando suasformas para otimizar seu desempenho.As alterações sempre foram conseqü-ência das evoluções do desempenhodinâmico – não visando estética, maseficiência. O aumento de potência ge-rava maior velocidade, que requeriamelhores suspensão e freios, e con-seqüentemente melhor aerodinâmica.

Para proporcionar estabilidade, em1973 foram usados aerofólios noCarrera RS – pela primeira vez eleseram aplicados em um carro de série.No Turbo, em 1975, os pneus e rodasmaiores tornaram necessária umacarrocer ia mais larga, com umaerofólio ainda maior.

No final dos anos 1980, os aero-fólios ficaram móveis, sendo recolhidoseletricamente. Com os motores maio-

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res, os 911 foram crescendo nas di-mensões do compartimento do motor,do habitáculo, das rodas e dos freios.

Seu charme e sucesso vem da leal-dade ao conceito do projeto do modelo901, apresentado no salão do automó-vel de Frankfurt de 1963. Os merca-dos internacionais se voltaram para anovidade do 911, que reunia o concei-to de carro espor te com confiabilidadee per formance superlativas.

As evoluções ocorridas nos anos1970 solidificaram sua imagem espor-tiva e tiveram reflexos no sucesso devendas. O final da primeira década do911 foi marcado pela consagração davitória na estréia do 911 Carrera RSnas 24 Horas de Daytona, em janeirode 1973. Ganharia títulos também noscampeonatos Europeu de GT e de su-bida de montanha, além das mais im-por tantes provas de rally.

A par tir de 1973, o 911 entrou emuma fase de desenvolvimento acelera-do, conseqüência das regulamenta-ções de segurança e da crise do petró-leo. As normas de segurança impuse-ram o pára-choque absorvedor de im-pactos, que durante 15 anos transfor-mou-se em uma das marcas registradasdo 911. A crise de energia, por sua vez,proporcionou a pesquisa e a introdu-ção da eletrônica embarcada.

À esquerda: Porsche 911 Carrera RS de 1973, com motor de 2,7 litros e 210 cvde potência. Na época, era o carro mais veloz à venda no mercado alemão.

Abaixo: 911 Carrera 4 (aqui, o modelo 1991). A experiência dos ralisfoi valiosa para criar um sistema de tração integral eficiente.

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Para 1975 a Porsche apresentouo Turbo 3.0 (260 cv), com carroceriade aço galvanizado. Esta versão tor-nou o 911 o ícone da engenharia auto-mobilística daquela época, sendo elei-to pela imprensa especializada comoo melhor e mais potente automóvelproduzido em série.

A imagem do Porsche 911 se soli-dificou cada vez mais em função desuas características de desempenhoe confiabilidade, e do sucesso nas pis-tas em todas as categorias. As formastornaram o 911 o carro espor te maisreconhecido e desejado nos maioresmercados mundiais. O carro se con-sagrou como símbolo de sucesso, bomgosto e desempenho.

Em 1983, o 911 entrou na sua ter-ceira década de existência com a tradi-ção e o peso de um projeto de 30 anosem um mercado crescente de tecnologiaoriental, recheado de acessórios e novi-dades eletrônicas. A Porsche apostavanos modelos 928 e 944, inseridos nospadrões contemporâneos (motor dian-teiro e tração traseira), pensando nasubstituição do 911.

O fim da produção do 911 foi anun-ciado em 1986. Mas a Porsche nãolevara em consideração que suas ca-racterísticas exclusivas e já clássicaseram exatamente o que o distinguiados espor tivos pasteurizados dosanos 1980. A divulgação dessa inten-ção gerou um movimento inesperadodos cl ientes, que correram àsrevendedoras Porsche para comprar osúltimos 911. A diretoria da empresa,surpreendida com essa demanda, mu-

dou de idéia. Percebeu que poderiaperpetuar o mito e decidiu continuar aprodução do 911, já pensando em fazê-lo por um longo tempo.

O primeiro fruto dessa decisão foio 959, um biturbo 4x4 com 450 cv,lançado em 1986 como série especi-al e vencedor do Rally Paris-Dakar na-quele mesmo ano. Esse carro foi elei-to o projeto de automóvel mais avan-çado do século 20. É impressionantea semelhança do 959 com o Turbo de2000. Muitos dos equipamentos habi-tuais nos Porsche de hoje causaramfuror na época do lançamento do 959.

Esta imposição dos clientes, quefizeram o criador se orientar pelo su-cesso da criação, propiciou desafiospara o depar tamento de engenhariaao projetar os 911 com dirigibilidade

Porsche 959, de 1986: considerado o carro mais avançado doséculo 20, acabou ditando o estilo e a tecnologia da série 993.

Começo e fim de uma era, a dos 911com motor refrigerado a ar. Acima, o

911S de 1967; abaixo, o Targa de 1997.

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e potências muito superiores às dooriginal. Estas modificações fizeramdo 911 um carro cada vez melhor emais atual. Surgiram os modelosCarrera 4 com tração integral e osrecursos eletrônicos.

Em 1994, o lançamento das ver-sões “993”, nas versões Coupé, Targae Cabriolet, deixou claro que o 911era um projeto brilhante e atual. Sus-pensão multilink, 6 marchas, Variocame motor ainda mais evoluído mostra-vam que o modelo ainda tinha muito aoferecer. E o lançamento do “996” comrefrigeração líquida, em 1998, foi aconstatação de que é possível supe-rar um excelente padrão de projeto.

É estimulante poder fazer uma pre-visão tendo como referência quatrodécadas. As próximas gerações do911 reunirão tradição e vanguardatecnológica, linhas admiráveis, desem-penho, segurança, exclusividade e – apalavra-chave do 911 desde sua cria-ção – identidade. Tem sido assim des-de 1963. Pode continuar por mais al-gumas décadas. Quem esperar verá.

Lançado em 1974, o 911 Turbo tornou-se referência deperformance entre os carros esporte no mundo. Acima, o

1996; ao centro, a versão de 1993; embaixo, o de 1982.

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210 cv e foi usado nos Porsche 904 e906. Também foram feitas mudançasna suspensão e introduzidas as famo-sas rodas “Fuchs”, consideradas asmais típicas dos primeiros Porsche.

1967• Apresentada a versão 911T, comomodelo 1968. Tinha motor de 110 cve câmbio de 4 marchas.• A Porsche passa a oferecer a opçãodo câmbio Spor tomatic, uma caixasemi-automática com quatro mar-chas, equipada com um conversor detorque e uma embreagem elétrica aci-onada sempre que o motorista trocade marchas. Esse câmbio manteve-se na linha até 1980.

Novo Porsche 911 GT3 RS, derivado do modelo GT3 e apresentado em 2003: edição limitada para homologação emcompetição. Na versão de rua, recebeu decoração que remete ao 911 Carrera RS de 1973.

A evolução do 911, ano a ano

1963• O Porsche 901 é apresentado no sa-lão do automóvel de Frankfur t.

1964• Início das vendas, já com o nomedefinitivo 911. O motor 2,0 litros de-senvolvia 130 cv, permitindo ao carroatingir 210 km/h.

1965• Percebendo que havia mercado para ummodelo mais barato, a Porsche lança o912. A carroceria é a mesma do 911,mas o motor, herdado do 356, tem 4 ci-lindros e 1,6 litros, desenvolvendo 90 cv.

• Apresentação da versão Targa (tetoacima dos passageiros e vigia trasei-ra em lona, coluna central rígida). Essasolução, criada pela Porsche, é copia-da até hoje. O termo “targa” (homena-gem à Targa Florio, corrida disputadana Itália entre 1906 e 1977) passa adenominar todo carro com esse tipode carroceria.

1966• Lançamento da versão 911S, já in-tegrando a linha 1967. Foi a primeiradas muitas vezes em que o motor do911 teve sua potência aumentada – omotor de 2,0 litros passou a ter 160cv, permitindo chegar a 225 km/h. Emconfiguração de corrida, o motor tinha

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1968• A Porsche passa a ter representa-ção oficial no Brasil por intermédio daDacon. Chegam ao País os 912E, cria-dos especificamente para o mercadobrasileiro para se adequar à legisla-ção de importação da época.• Primeiro desenvolvimento significati-vo na carroceria: distância entre-eixosaumentada de 2.211 para 2.268 mm ealterações na suspensão dianteira tra-zem um novo padrão de dirigibilidade.• No final do ano, o 912 deixa de serfabricado.

1969• Introdução do câmbio de cinco marchas.A cilindrada do motor é aumentada para2,2 litros (2.195 cm³). Com isso, os 911“T”, “E” e “S” passam a desenvolver, res-pectivamente, 125, 155 e 180 cv.

1970• O Targa passa a ter vigia traseiraem vidro.

1971• Novo aumento de cilindrada (2.341cm³), valendo para a linha 1972. Po-tência das versões 911 T, E and S au-menta para 130, 165 e 190 cv.

1972• A denominação Carrera aparece pelaprimeira vez no 911 e marca a subidade cilindrada para 2,7 litros. Com 210cv, pode chegar a 245 km/h.

1973• Lançamento do Carrera RS, commotor de 2,7 litros. A Porsche homo-loga também a configuração CarreraRSR, específica para corridas e queconsegue suas primeiras vitóriasainda nesse ano.

1974• Apresentado o 930, primeiro carroesporte do mundo equipado com mo-tor turbo de série (3,0 litros, 260 cv).Anos depois, ele seria rebatizado como911 Turbo. A versão RSR Turbo, decorrida, desenvolve 500 cv.

1975• A Porsche torna-se o primeiro fa-bricante do mundo a usar carroceriagalvanizada em ambos os lados. Pas-sa a oferecer garantia de 6 anos con-tra ferrugem.

1976• Motor de 3,0 litros, agora em alumí-nio, substitui o de 2,7 litros na versãoCarrera.• Em sua primeira temporada, oPorsche 935 (modelo de corrida pre-pa rado de acordo com asespecificações do Grupo 5) vence vá-rias corridas e também o Campeo-nato Mundial de Marcas. Repetiria aconquista em 1977 e seria usadocom sucesso por equipes par ticula-res até meados dos anos 1980.

1977• No dia 3 de junho, sai da linha deprodução um 911S 2.7, o 250.000ºPorsche produzido desde o começodas atividades da empresa, em 1948.• Novo sistema de injeção de combus-tível reduz o consumo do 911 SC (3,0litros, 180 cv) em 17% em relação aomodelo anterior.• Apresentado o 911 Turbo modelo1978, com motor de 3,3 litros e 300cv de potência e freios herdados do917 de competição.

1978• Surge o 911 mais potente da histó-ria: o 935 “Moby Dick”, modelo decorrida com motor turbo de 3,2 litros.Desenvolvia nada menos que 845 cv.

1979• O Porsche 911 torna-se o primeiro carroesporte de alto desempenho a receberconversor catalítico, seguindo as normasnorte-americanas de controle de emissões.• Um 935 da equipe particular Kremervence a 24 Horas de Le Mans.

1982• Quase 20 anos após seu lançamen-to, o 911 ganha pela primeira vez umaversão conversível.

1983• Apresentado no Salão do Automóvelde Frankfurt o protótipo do Porsche 959,um 911 com tração nas quatro rodas emodificado para se enquadrar ao GrupoB da FIA para competições de rally.• Novo sistema de injeção eleva a po-tência do motor de 3,2 litros para231 cv (linha 1984).

Raio-X de um 911 da geração “996”: uma jóia mecânica.

O Turbo da geração “993”: mais que otriplo da potência do 911 de 1963.

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1984• Vitória no Rally Paris-Dakar com um911 SC 4x4.• Produzido o 200.000º Porsche 911.

1985• Início das vendas do 959, equipadocom motor turbo e tração nas quatrorodas controlada eletronicamente.• Introdução de barras laterais de pro-teção para proteger os passageiros deeventuais impactos.• Garantia contra corrosão passa de6 para 10 anos.

1986• O 959 vence o Rally Paris-Dakar.

1987• Apresentado no salão de Frankfur t o911 Speedster, uma série especialcomemorativa dos 25 anos do 911.Sua característica era o pára-brisamais baixo, referência direta aoPorsche 356 - o modelo que foi substi-tuído pelo 911.

1988• Apresentação do Carrera 4 e come-moração do 25º aniversário do 911. Omotor, com 3,6 litros, chega a 250 cv.

1989• No 80º aniversário do professorFerdinand “Ferry” Porsche, a compa-

nhia apresenta o novo Carrera, batiza-do internamente como “964”. Surge ocâmbio Tiptronic.

1992• Após breve interrupção, o 911 Turbovolta a ser fabricado, agora com 320cv de potência, integrando a linha 1993.

1993• Apresentação de uma nova geração,denominada internamente como“993”. Além de ter novas carroceria esuspensões, o motor refrigerado a arconta com tuchos hidráulicos e passaa desenvolver 272 cv.• Disputada a primeira edição da

Fera para as pistas: é o 911 GT2 Evo, de 1998, preparado especialmente para corridas. Seu motor turbo chegava a 520 cv.

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Porsche-Pirelli Supercup, campeonatomonomarca aber to exclusivamente ao911, com corridas disputadas nasmesmas datas e locais dos GPs deFórmula 1 disputados na Europa.

1994• Stuttgar t Spor tcar abre sua primei-ra concessionária e passa a vendercarros Porsche no Brasil.

1995• O Turbo volta à cena, agora com duasturbinas. A cilindrada permanece (3,6 li-tros), mas a potência sobe para 408 cv.• Surge o 911 GT2, uma versão maisleve e potente do Turbo.

• Outro modelo volta à linha de produ-ção: o Targa, agora com teto de vidro.

1996• O 911 GT1, feito especialmente paracorridas, dependia da existência de umaversão de rua para ser homologado. APorsche constrói uma pequena série deGT1 com motor turbo de 3,2 litros (544cv), que chegava a 310 km/h.

1997• A Porsche passa a ser representadano Brasil pela Stuttgar t Spor tcar.• O Porsche 911 passa pelareformulação mais marcante de suahistória. Com o nome-código “996”,ganha motor refrigerado a água. Acarroceria, reestilizada, passa a terdimensões internas e externas maio-res do que antes.

1998• Comemoração do 50º aniversário daPorsche.• Dois Porsche 911 GT1 terminam nosdois primeiros lugares na 24 Horas deLe Mans.• Volta do 911 Cabriolet.

1999• O novo 911 GT3 consegue uma mar-ca histórica: o bicampeão mundial derally, Walter Rohrl, consegue percor-rer os 22,8 km do traçado original docircuito de Nurburgring, na Alemanha,em 7min56s33. É a primeira vez queum carro espor te original rompe a bar-reira dos 8 minutos nesse circuito,considerado o mais difícil do mundo.

2000• Apresentado o 911 Turbo. Seus 420cv, sua aceleração de 0 a 100 km/hem 4s2 e a tração integral fazem deleo esportivo de produção mais veloz eestável do mercado.

2001• Mudança no desenho dos faróis di-anteiros.• Volta a versão GT2 (como modelo2002), com motor baseado no do 911GT1 de 1998. Motor biturbo de 3,6litros passa a ter 462 cv, sendo capazde levar o carro a 315 km/h.

2002• Motor do 911 Carrera passa de 3,4para 3,6 litros, ficando com 320 cv depotência.• Após quatro anos, a Porsche volta aoferecer a versão Targa com teto devidro.• Lançado o Carrera 4S, combinandomotor aspirado e carroceria do Turbo.

2003• GT3 volta a ser fabricado após umano. Passa a desenvolver 381 cv (an-tes, 360 cv), vai de 0 a 100 km/h em4s5 e chega a 306 km/h. É mais po-tente 911 com motor aspirado.• Lançamento de três novas versões:911 Carrera 4S Cabriolet, 911 TurboCabriolet e 911 GT3 RS – este, uma sé-rie especial de 200 unidades, feita parahomologar o modelo em corridas.• Porsche coloca à venda um númerolimitado (1.963 carros) da edição co-memorativa “911 40º Aniversário”.

Edição comemorativa: em 2003, a Porsche lança o “911 40º Aniversário”.

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Magia infinitaComo manter atual um modelo desenhado há 40 anos.Texto: Anísio CamposFotos: Porschepress

Criar um automóvel com desenhoque mantenha a preferência do públicodurante mais de 40 anos é uma faça-nha. A Porsche conseguiu isso com o911, graças a uma combinação extre-mamente feliz de estilo e qualidadesmecânicas. Estilo, no caso, criado apartir da necessidade de ter formas lim-pas e aerodinâmicas. Sem bordas, can-tos nem enfeites desnecessários.

O desenho do Porsche 911 fez (efaz) sucesso justamente por sua sim-plicidade e pureza. Ferdinand Porschecriava a estrutura, o motor, as suspen-

sões e tudo o mais que faz um carroandar. Depois, precisava “vesti-lo” edesejava que isso fosse feito da manei-ra mais simples possível. Foi com essafilosofia que ele, mesmo não sendoestilista, criou vários espor tivos quese tornaram clássicos.

Ferdinand Porsche tinha grande ex-periência com formas aerodinâmicasnuma época em que elas eram muitopouco estudadas, ao menos em com-paração com o que se veria nas déca-das seguintes. Nos anos 1930, elecriou para marcas como Auto Union e

Mercedes-Benz carros construídos es-pecificamente para superar recordesde velocidade. Por suas formas, essescarros eram chamados de “streamlined” (numa tradução livre, algo como“desenhado com linhas fluidas”).

Professor Ferdinand aplicou essaescola nos primeiros modelos Porschee já nos anos 1940 construiu seus car-ros com cantos arredondados, umaforma pouco comum na época. Quan-do criou o 356, o nome “Porsche” jáera grife, devido aos trabalhos desen-volvidos antes da Segunda Guerra. Por

As linhas modernas do 901 substituindo o veterano 356.

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isso e pelo fato de o carro ter um de-senho demasiado simples em uma épo-ca em que se valorizavam formas re-buscadas, acredito que o sucesso do356 se deveu muito mais pelo desem-penho e pela assinatura do criador doque propriamente pelo estilo.

Boa par te desta análise de estilovale também para o Porsche 911. Comuma diferença: este último tornou-se“eterno” por potencializar todas quali-dades já presentes no antecessor. Mes-mo assim, é muito difícil encontrar so-mente uma razão para o sucesso do 911.

Ferdinand Alexander Porsche, também conhecido como “Butzi” ou “F.A.”, é o filho mais velho de Ferr y Porsche e neto do professor FerdinandPorsche. Nascido em 11 de dezembro de 1935, tinha 26 anos quandorecebeu uma incumbência especial: desenhar a carroceria do modeloque substituiria o Porsche 356.

Butzi Porsche era um dos chefes do departamento de estilo da fábri-ca. Mesmo assim, lembra até hoje a emoção que sentiu: “Todo desenhis-ta daria o coração para criar um novo Porsche. Eu e meus seis colegasdo departamento ficamos muito felizes, mas logo percebemos a respon-sabilidade que tínhamos nas mãos”.

Butzi e seus estilistas tinham instruções simples sobre o novo car-ro. Ele deveria ter as mesmas dimensões externas do 356, distânciaentre-eixos pelo menos 20 centímetros maior, traseira longa e fluida.“Butzi” Porsche projetou o protótipo 754 T7, já com elementos facilmen-te reconhecíveis no Porsche 911. Ferry Porsche aprovou, mas não ficousatisfeito com a traseira. “Ele achava que não era como um Porschedeveria ser”, conta Butzi. “Minha sugestão era ter uma pequena dobra noteto e só colocar a janela traseira depois dela”, lembra Butzi. A distânciaentre-eixos foi então ligeiramente encur tada e chegou-se ao estilo apre-sentado em 1963. “O teto menor deixou a carroceria mais harmoniosa”,reconhece o desenhista.

Depois do 911, Butzi Porsche desenhou também o 904 (ver Clubnewsnúmero 10), concebido especialmente para competições e até hoje con-siderado um dos carros de corrida mais bonitos de todos os tempos. Em1972, Butzi abriu um estúdio próprio e passou a atuar como estilistaindependente. Presidiu entre 1990 e 1993 o Conselho de Supervisão daDr. Ing. h. c. F. Porsche AG, ao qual permanece ligado até hoje.

A visão do criador

O que se pode dizer com segurança éque o 911 tem história, personalidadee qualidade. Isso agrada a grupos sele-tos como o formado pelos comprado-res de Porsche, que desejam exclusi-vidade e elegância.

As atualizações estilísticas feitas aolongo dos anos foram muito eficientes.Houve um momento em que decidirammanter o 911 pelo máximo de tempo. Sóque, para isso, era preciso mexer o míni-mo possível no carro! Certamente umdesafio, pois os meios e o objetivo erame continuam sendo, afinal de contas,

antagônicos. Cada mudança de estiloteria que ser muito sutil, e a Porschevem fazendo isso com maestria.

O 911 tem muito tempo pela fren-te. Além de ter estilo, é um Porsche.Para muitas pessoas, isso basta.

* Anísio Campos é um dos mais renomados estilistas

brasileiros e tem profunda ligação com a trajetória da

marca Porsche no Brasil. Foi piloto de competição da

equipe Dacon e sócio da equipe Z, que correu com um

Porsche 908/2. Criou para a Dacon carros especiais

como o Nick e o 828 – este, inspirado no Porsche 928.

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Mais de 12.000 vitóriasEste é o número estimado de vitórias do Porsche 911 conquistadas desde osanos 1960 em corridas de todos os tipos. Nenhum outro carro conseguiu tanto.Texto: Luiz Alberto PandiniFotos: Porschepress

O Porsche 911 tem um papel fun-damental na história da marca emcompetições. Tão logo o carro foi lan-çado, a fábrica decidiu inscrevê-lo nomaior número possível de competi-ções, a fim de firmar sua imagem es-por tiva. O que a Porsche não tinhacomo supor é quanto o então novomodelo seria vitorioso – e muito me-nos que, quatro décadas depois, o 911continuasse sendo um dos modelos

mais competitivos em corridas de car-ros espor te, longas e cur tas.

Segundo cálculos da própr iaPorsche, mais da metade das 23.000vitórias da marca desde sua criação,em 1948, foi obtida pelo 911 ou porderivados como os 934, 935 e 959.Essas vitórias aconteceram em todosos continentes, em ralis e corridas depista de todos os tipos (longas, cur-tas, monomarca e multimarca), em

campeonatos mundiais, continentaise nacionais. Muitas dessas vitóriasforam obtidas sobre carros bem maispotentes, contribuindo ainda maispara a imagem de qual idade ecompetitividade do Porsche 911.

A primeira vitória aconteceu em1965. Dois funcionários da Porsche,Herber t Linge e Peter Falk, eram con-siderados “outsiders” quando inscre-veram um 911 no Rally de Monte Carlo.

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No entanto, voltaram para casa com otroféu da vitória na classe, após ter-minarem em 5º lugar na classificaçãogeral. Entre 1968 e 1970, as duplasVic El ford/David Stone e BjornWaldegaard/Lars Helmer venceram orally pilotando um 911. Em 1970, omotor desenvolvia 230 cv.

No asfalto, a primeira vitória impor-tante de um 911 aconteceu na 24 Ho-ras de Daytona de 1973. Pilotado pe-

los lendários Peter Gregg (também cha-mado de “Peter Perfeito”, uma alusãoao personagem do desenho animado“Corrida Maluca”) e Hurley Haywood, ocarro da equipe Brumos Porsche derro-tou protótipos especiais de competiçãocomo o Mirage e a Matra. Meses maistarde, o 911 de Herber t Müller/Gijs vanLennep venceria a Targa Florio, Itália,derrotando as marcas “da casa” (Ferrari,Lancia e Alfa Romeo).

No final de 1974, o lançamento doPorsche 911 Turbo (inicialmente cha-mado de “930”) abriu caminho para acriação das versões 934 e 935, obe-decendo às novas regras baixadaspela FIA para o Campeonato Mundialde Marcas. Por elas, cada fabricantepoderia homologar versões específicaspara competição, inclusive com moto-res muito mais potentes, desde que acarroceria fosse idêntica às dos mo-

À esquerda, Herbert Linge/Peter Falk no Rally de Monte Carlode 1965: o 911 terminou sua primeira competição em

5º lugar na classificação geral e 1º em sua classe.

Abaixo, um 935 Turbo de 1977, ano em que aPorsche ganhou o Mundial de Marcas.

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volvia os 956 e 962 para estas corri-das, a Porsche reservou ao 911 a ta-refa de vencer o difícil Rally Paris-Dakar. Pilotado por René Metge/Dominique Lemoyne, o 911 venceu oParis-Dakar em 1984. No ano seguin-te, a Porsche apresentou-se nessacorrida com o revolucionário 959, di-retamente derivado do 911. Ainda pou-co desenvolvido, o carro terminou em2º lugar em 1985. Venceu o Paris-Dakar em 1986, também com a duplaMetge/Lemoyne. Nesse mesmo ano,Metge e Claude Ballot-Lena disputa-ram a 24 Horas de Le Mans com ummodelo 961, um 959 preparado pelaPorsche AG especialmente para essacorrida. Era o único GT inscrito e ter-minou em 7º lugar, à frente de muitosprotótipos.

Em 1993, a Porsche decidiu pas-sar a promover o 911 por meio daSupercup (campeonato disputadocomo preliminar dos GPs de F 1 dispu-tados na Europa e nos Estados Uni-dos). O sucesso desta categoriamonomarca motivou a criação de cam-peonatos nacionais (principalmente naEuropa) e continentais, como o da Ásia.

A Porsche só voltou a desenvolverversões de 911 específicas para com-petição em meados dos anos 1990. Oauge foi a chegada do 911 GT1. Lan-çado em 1998, foi o primeiro Porschefeito em chassi de fibra de carbono.Com ele, a marca conseguiu, no anode seu 50º aniversário, uma históricadobradinha na 24 Horas de Le Mans,com Allan McNish/Laurent Aiello/Stéphane Or telli à frente de Uwe

Em 1967, a equipe por tuguesaArgus trouxe ao Brasil um Porsche911S para disputar a Mil Milhas Bra-sileiras, em Interlagos. Com um carrototalmente standard, os por tuguesesNogueira Pinto/D’Andrade Villar termi-naram a corrida em 3º lugar na primei-ra aparição de um 911 em nossas pis-

No Brasil, 6 vitóriasna Mil Milhas

delos de série. Esses carros eram cha-mados de “silhouette” (silhueta, porser o único ponto em comum com osmodelos originais). Enquadrados nosgrupos 4 e 5, os 934 e 935 dominaramo Campeonato Mundial de Marcas entre1976 e 1979. Um deles, pilotado porKlaus Ludwig/Don Whittington/BillWhittington, venceu a 24 Horas de LeMans de 1979.

A versão mais radical desses car-ros, chamada de “Moby Dick”, correuem 1978. Era um 935 mais baixo, lar-go e comprido que os outros. Pela pri-meira vez na história do 911, o motorrecebeu refrigeração líquida nas cabe-

ças dos cilindros e quatro válvulas porcilindro. Com pressão máxima do tur-bo, o motor de 6 cilindros e 3,2 litrosatingia até 845 cv de potência. Aindaem 1978, um 911 Carrera da equipeparticular francesa Almeras Frères ven-ceu o Rally de Monte Carlo, derrotandoas poderosas equipes de fábrica daFiat, Ford, Renault, Mercedes ePeugeot. O carro vitorioso foi tripuladopelos franceses Jean-Pierre Nicolas/Vincent Laverne.

No começo dos anos 1980, o Mun-dial de Marcas transformou-se emMundial de Protótipos, afastando os“silhouette” e GTs. Enquanto desen-

Stommelen e Schurti em Watkins Glen (Estados Unidos) com o 935, em 1977.

O Porsche 911 GT3-RS de Schuch/Boesel/Trindade, vencedor da Mil Milhas em 2002.

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Alzen/Bob Wollek/Jörg Müller. Em se-guida, retirou-se oficialmente das com-petições, continuando apenas com asPorsche Cup e com a assistência bá-sica às equipes de competição de todoo mundo que utilizam Porsche nas maisvariadas competições.

Mesmo sem apoio oficial da fábri-ca, os Porsche, principalmente os 911GT3 RS, continuaram competitivos econquistando diversas vitórias em suacategoria nas corridas mais impor tan-tes, como as 24 Horas de Le Mans ede Daytona. Em 2003, dois 911 GT3RS preparados por equipes par ticula-res conseguiram vitórias históricas naclassificação geral nas 24 Horas deDaytona, em fevereiro, e de Spa-Francorchamps, em agosto. O 911 ain-da tem muitas glórias pela frente.

tas. Mas, ao contrário do que aconte-ceu em escala mundial, demorariamuitos anos para o 911 tornar-se par-ticipante assíduo de nossas corridas.Razão principal: o fechamento do mer-cado brasileiro e das próprias corri-das nacionais aos carros importados.

Em 1993, o austríaco Franz Konradtrouxe dois Porsche 911 Carrera RSde sua equipe para a Mil Milhas. Umdeles, pilotado pelo brasileiro ClausHeitkotter, liderava quando saiu dapista por causa de uma chuva repenti-

na. Deixou a vitória para o outro carro,pilotado por Antônio Hermann, FranzPrangemeier e o próprio Konrad.

Nos anos seguintes, os 911 ven-ceram as edições de 1994 (Christiane Wilsinho Fittipaldi), 1995 (WilsinhoFittipaldi/Antônio Hermann), 1996(André Lara Resende/Roberto Aranha/Roberto Keller/Walter Salles Júnior –ele mesmo, o cineasta), 2001 (RegisSchuch/Flávio Trindade/Max Wilson/André Lara Resende), 2002 (RegisSchuch/Raul Boesel/Flávio Trindade)

Pode não parecer, mas este é um 911. Em 1978, a Porsche construiu o 935 “Moby Dick”, cujo motor chegava a 845 cv.

e 2003 ( Ingo Hof fmann/XandyNegrão/Ricardo Etchenique).

Além da Mil Milhas, os Porsche 911conquistaram vitórias em outra corri-da importante, a 500 Quilômetros deInterlagos. A edição de 1997 termi-nou com dobradinha da Porsche: Antô-nio Hermann/André Lara Resende ven-ceram com um GT2, deixando DenerPires/Rober to Keller em 2º com um911 turbo. Em 2002, Paulo Bonifácio/Max Wilson sagraram-se vencedorescom um 911 GT3.

Este pôster de 1969 mostra a constante vinculação da imagem do 911, suadurabilidade e segurança com as conquistas nas corridas.