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PODER JUDICIÁRIO Justiça Federal de Primeira Instância SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE SERGIPE 1ª VARA FEDERAL Este Juízo não desconhece o entendimento tradicional de que, para os agentes ruídos e calor, é indispensável a apresentação do laudo técnico. Este Juízo já o aplicou em diversos casos com decisões confirmadas pela Instância Superior. Não obstante isto, é preciso reexaminar a questão para acompanhar as mudanças da legislação previdenciária. Quanto à eficácia probatória do PPP, existem algumas controvérsias que necessitam serem dirimidas, a saber: 1) se pode abranger período trabalhados anteriores a 01.01.2004; 2) se necessita ser contemporâneo a sua realização; 3) se é necessário juntar laudo técnico no caso de ruído ou calor O Perfil Profissiográfico Previdenciário – PPP foi introduzido no art. 58, § 4º da Lei n.º 8.213/91, com a redação determinada pela Lei n.º 9.528/97, nos seguinte termos: Lei n.º 8.213/91, 58 (omissis), § 4º A empresa deverá elaborar e manter atualizado perfil profissiográfico abrangendo as atividades desenvolvidas pelo trabalhador e fornecer a este, quando da rescisão do contrato de trabalho, cópia autêntica desse documento.(Incluído pela Lei nº 9.528, de 1997) Por sua vez, o Decreto n.º 4.032, de 26.11.2011, modificou o Regulamento da Previdência Social (Decreto n.º 3.048/99) dispondo da matéria nos seguintes termos: Decreto n.º 3.048/99, Art. 68 (omissis) § 2º A comprovação da efetiva exposição do segurado aos agentes nocivos será feita mediante formulário denominado perfil profissiográfico previdenciário, na forma estabelecida pelo Instituto Nacional do Seguro Social, emitido pela empresa ou seu preposto, com base em laudo técnico de condições ambientais do trabalho expedido por médico do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho. (Redação dada pelo Decreto nº 4.032, de 2001) (...) § 4º A empresa que não mantiver laudo técnico atualizado com referência aos agentes nocivos existentes no ambiente de trabalho de seus trabalhadores ou que emitir documento de comprovação de efetiva exposição em desacordo com o respectivo laudo estará sujeita à multa prevista no art. 283. (...)

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PODER JUDICIÁRIO

Justiça Federal de Primeira Instância SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE SERGIPE

1ª VARA FEDERAL

Este Juízo não desconhece o entendimento tradicional de que, para os agentes ruídos e calor, é indispensável a apresentação do laudo técnico. Este Juízo já o aplicou em diversos casos com decisões confirmadas pela Instância Superior. Não obstante isto, é preciso reexaminar a questão para acompanhar as mudanças da legislação previdenciária.

Quanto à eficácia probatória do PPP, existem algumas controvérsias que necessitam serem dirimidas, a saber:

1) se pode abranger período trabalhados anteriores a 01.01.2004;

2) se necessita ser contemporâneo a sua realização;

3) se é necessário juntar laudo técnico no caso de ruído ou calor

O Perfil Profissiográfico Previdenciário – PPP foi introduzido no art. 58, § 4º da Lei n.º 8.213/91, com a redação determinada pela Lei n.º 9.528/97, nos seguinte termos:

Lei n.º 8.213/91, 58 (omissis), § 4º A empresa deverá elaborar e manter atualizado perfil profissiográfico abrangendo as atividades desenvolvidas pelo trabalhador e fornecer a este, quando da rescisão do contrato de trabalho, cópia autêntica desse documento.(Incluído pela Lei nº 9.528, de 1997)

Por sua vez, o Decreto n.º 4.032, de 26.11.2011, modificou o Regulamento da Previdência Social (Decreto n.º 3.048/99) dispondo da matéria nos seguintes termos:

Decreto n.º 3.048/99, Art. 68 (omissis) § 2º A comprovação da efetiva exposição do segurado aos agentes nocivos será feita mediante formulário denominado perfil profissiográfico previdenciário, na forma estabelecida pelo Instituto Nacional do Seguro Social, emitido pela empresa ou seu preposto, com base em laudo técnico de condições ambientais do trabalho expedido por médico do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho. (Redação dada pelo Decreto nº 4.032, de 2001) (...) § 4º A empresa que não mantiver laudo técnico atualizado com referência aos agentes nocivos existentes no ambiente de trabalho de seus trabalhadores ou que emitir documento de comprovação de efetiva exposição em desacordo com o respectivo laudo estará sujeita à multa prevista no art. 283. (...)

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Processo nº

II

§ 6º A empresa deverá elaborar e manter atualizado perfil profissiográfico previdenciário, abrangendo as atividades desenvolvidas pelo trabalhador e fornecer a este, quando da rescisão do contrato de trabalho ou do desligamento do cooperado, cópia autêntica deste documento, sob pena da multa prevista no art. 283. (Redação dada pelo Decreto nº 4.729, de 2003) § 8º Considera-se perfil profissiográfico previdenciário, para os efeitos do § 6º, o documento histórico-laboral do trabalhador, segundo modelo instituído pelo Instituto Nacional do Seguro Social, que, entre outras informações, deve conter registros ambientais, resultados de monitoração biológica e dados administrativos.(Incluído pelo Decreto nº 4.032, de 2001)

Não obstante o Decreto n.º 3.048/99, com as modificações acima, determinar que o Perfil Profissiográfico Previdenciário seria o documento que comprovaria a exposição a agente nocivos a saúde na forma estabelecida pelo INSS, o certo é que a autarquia previdenciária somente institui a sua obrigatoriedade a partir da Instrução Normativa nº 99, de 05.12.2003, com efeitos a partir de 01.01.2004 1.

Posteriormente, sobrevieram diversas Instruções Normativas, sendo que a atualmente vigente é a Instrução Normativa nº 45 INSS/PRES, de 06/08/2010, a qual revogou a Instrução Normativa nº 20 INSS/PRES, de 10/10/2007. Acerca do PPP, regulamentou a questão nos seguintes termos:

Art. 254. As condições de trabalho, que dão ou não direito à aposentadoria especial, deverão ser comprovadas pelas demonstrações ambientais e documentos a estas relacionados, que fazem parte das obrigações acessórias dispostas na legislação previdenciária e trabalhista. § 1º As demonstrações ambientais e os documentos a estas relacionados de que trata o caput, constituem-se, entre outros, nos seguintes documentos: I - Programa de Prevenção de Riscos Ambientais - PPRA; II - Programa de Gerenciamento de Riscos - PGR; III - Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção - PCMAT; IV - Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional - PCMSO; V - Laudo Técnico de Condições Ambientais do Trabalho - LTCAT; e VI - Perfil Profissiográfico Previdenciário - PPP. § 2º Os documentos referidos nos incisos I, II, III e IV do § 1º deste artigo poderão ser aceitos pelo INSS desde que contenham os elementos informativos básicos constitutivos do LTCAT. § 3º Os documentos referidos no § 1º deste artigo serão atualizados pelo menos uma vez ao ano, quando da avaliação global, ou sempre que ocorrer qualquer alteração no ambiente de trabalho ou em sua organização, por força

1 Instrução Normativa INSS/DC n.º 99/2003, Art. 148. A partir de 1º de janeiro de 2004, a empresa ou equiparada à empresa deverá elaborar PPP, conforme Anexo XV, de forma individualizada para seus empregados, trabalhadores avulsos e cooperados, que laborem expostos a agentes nocivos químicos, físicos, biológicos ou associação de agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física, considerados para fins de concessão de aposentadoria especial, ainda que não presentes os requisitos para a concessão desse benefício, seja pela eficácia dos equipamentos de proteção, coletivos ou individuais, seja por não se caracterizar a permanência. A referida Instrução Normativa modificou a Instrução Normativa nº 095 INSS/DC, de 7 de outubro de 2003.

Fábio
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III

dos itens 9.2.1.1 da NR-09, 18.3.1.1 da NR-18 e da alínea “g” do item 22.3.7.1 e do item 22.3.7.1.3, todas do MTE. § 4º Os documentos de que trata o § 1º deste artigo emitidos em data anterior ou posterior ao exercício da atividade do segurado, poderão ser aceitos para garantir direito relativo ao enquadramento de tempo especial, após avaliação por parte do INSS. Art. 265. Existindo dúvidas com relação à atividade exercida ou com relação à efetiva exposição a agentes nocivos, de modo habitual e permanente, não ocasional nem intermitente, a partir das informações contidas no PPP e no LTCAT, quando estes forem exigidos, e se for o caso, nos antigos formulários mencionados no art. 258, quando esses forem apresentados pelo segurado, poderá ser solicitado pelo servidor do INSS esclarecimentos à empresa, relativos à atividade exercida pelo segurado, bem como solicitar a apresentação de outros registros existentes na empresa que venham a convalidar as informações prestadas. Art. 271. O PPP constitui-se em um documento histórico-laboral do trabalhador que reúne, entre outras informações, dados administrativos, registros ambientais e resultados de monitoração biológica, durante todo o período em que este exerceu suas atividades e tem como finalidade: I - comprovar as condições para habilitação de benefícios e serviços previdenciários, em especial, o benefício de auxílio-doença; II - prover o trabalhador de meios de prova produzidos pelo empregador perante a Previdência Social, a outros órgãos públicos e aos sindicatos, de forma a garantir todo direito decorrente da relação de trabalho, seja ele individual, ou difuso e coletivo; III - prover a empresa de meios de prova produzidos em tempo real, de modo a organizar e a individualizar as informações contidas em seus diversos setores ao longo dos anos, possibilitando que a empresa evite ações judiciais indevidas relativas a seus trabalhadores; e IV - possibilitar aos administradores públicos e privados acessos a bases de informações fidedignas, como fonte primária de informação estatística, para desenvolvimento de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como definição de políticas em saúde coletiva. § 1º (omissis) § 2º (omissis) Art. 272. A partir de 1º de janeiro de 2004, conforme estabelecido pela Instrução Normativa nº 99, de 2003, a empresa ou equiparada à empresa deverá preencher o formulário PPP, conforme Anexo XV, de forma individualizada para seus empregados, trabalhadores avulsos e cooperados, que laborem expostos a agentes nocivos químicos, físicos, biológicos ou associação de agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física, considerados para fins de concessão de aposentadoria especial, ainda que não presentes os requisitos para a concessão desse benefício, seja pela eficácia dos equipamentos de proteção, coletivos ou individuais, seja por não se caracterizar a permanência. § 1º O PPP substitui o formulário para comprovação da efetiva exposição dos segurados aos agentes nocivos para fins de requerimento da aposentadoria especial, a partir de 1º de janeiro de 2004, conforme inciso IV do art. 256.

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IV

Art. 256. Para instrução do requerimento da aposentadoria especial, deverão ser apresentados os seguintes documentos: I - para períodos laborados até 28 de abril de 1995, véspera da publicação da Lei nº 9.032, de 1995, será exigido do segurado o formulário de reconhecimento de períodos laborados em condições especiais e a CP ou a CTPS, bem como, para o agente físico ruído, LTCAT; II - para períodos laborados entre 29 de abril de 1995, data da publicação da Lei nº 9.032, de 1995, a 13 de outubro de 1996, véspera da publicação da MP nº 1.523, de 1996, será exigido do segurado formulário de reconhecimento de períodos laborados em condições especiais, bem como, para o agente físico ruído, LTCAT ou demais demonstrações ambientais; III - para períodos laborados entre 14 de outubro de 1996, data da publicação da MP nº 1.523, de 1996, a 31 de dezembro de 2003, data estabelecida pelo INSS em conformidade com o determinado pelo § 2º do art. 68 do RPS, será exigido do segurado formulário de reconhecimento de períodos laborados em condições especiais, bem como LTCAT, qualquer que seja o agente nocivo; e IV - para períodos laborados a partir de 1º de janeiro de 2004, conforme estabelecido por meio da Instrução Normativa INSS/DC nº 99, de 5 de dezembro de 2003, em cumprimento ao § 2º do art. 68 do RPS, o único documento será o PPP. § 2º Quando o PPP contemplar períodos laborados até 31 de dezembro de 2003, serão dispensados os demais documentos referidos no art. 256. § 3º Quando o enquadramento dos períodos laborados for devido apenas por categoria profissional, na forma do Anexo II do RBPS, aprovado pelo Decreto nº 83.080, de 1979 e a partir do código 2.0.0 do quadro anexo ao Decreto nº 53.831, de 1964, e não se optando pela apresentação dos formulários previstos para reconhecimento de períodos laborados em condições especiais vigentes à época, o PPP deverá ser emitido, preenchendo-se todos os campos pertinentes, excetuados os referentes à exposição a agentes nocivos. § 4º O PPP deverá ser emitido pela empresa empregadora, no caso de empregado; pela cooperativa de trabalho ou de produção, no caso de cooperado filiado; pelo órgão gestor de mão-de-obra, no caso de trabalhador avulso portuário e pelo sindicato da categoria, no caso de trabalhador avulso não portuário. § 5º O sindicato de categoria ou órgão gestor de mão-de-obra estão autorizados a emitir o PPP, bem como o formulário que ele substitui, nos termos do § 1º do art. 272, somente para trabalhadores avulsos a eles vinculados. § 6º omissis § 7º omissis § 8º O PPP deverá ser emitido com base nas demais demonstrações ambientais de que trata o § 1º do art. 254. § 9º A exigência do PPP referida no caput, em relação aos agentes químicos e ao agente físico ruído, fica condicionada ao alcance dos níveis de ação de que trata o subitem 9.3.6, da NR-09, do MTE, e aos demais agentes, à simples presença no ambiente de trabalho. § 10 Após a implantação do PPP em meio magnético pela Previdência Social, este documento será exigido para todos os segurados, independentemente do ramo de atividade da empresa e da exposição a agentes nocivos, e deverá abranger também informações relativas aos fatores de riscos ergonômicos e mecânicos.

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§ 11 omissis § 12 O PPP deverá ser assinado por representante legal da empresa, com poderes específicos outorgados por procuração, contendo a indicação dos responsáveis técnicos legalmente habilitados, por período, pelos registros ambientais e resultados de monitoração biológica, observando que esta não necessita, obrigatoriamente, ser juntada ao processo, podendo ser suprida por apresentação de declaração da empresa informando que o responsável pela assinatura do PPP está autorizado a assinar o respectivo documento. § 13 omissis § 14 O PPP e a comprovação de entrega ao trabalhador, na rescisão de contrato de trabalho ou da desfiliação da cooperativa, sindicato ou órgão gestor de mão-de-obra, deverão ser mantidos na empresa por vinte anos.

O Perfil Profissiográfico Previdenciário – PPP é documento emitido com base em laudo técnico de condições ambientais do trabalho expedido por médico do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho, nele contendo, obrigatoriamente, as atividades desenvolvidas pelo trabalhador e, em caso de exposição a agentes nocivos, em caráter habitual e permanente, não ocasional nem intermitente, a intensidade e a concentração do agente (art. 271 caput da IN nº 45 INSS/PRES, de 06/08/2010).

Com efeito, o PPP é emitido pela empregadora ou equiparado, devidamente assinado pelo representante legal ou procurador com poderes especiais, com base nas demonstrações ambientais, fazendo expressa referência ao responsável técnico por aferir aos agentes nocivos (art. 271, §§ 4º, 5º, 8º e 11 da IN nº 45 INSS/PRES, de 06/08/2010). Em outras palavras, o PPP não necessita necessariamente ser subscrito pelo engenheiro do trabalho ou médico do trabalho, contudo deve ser emitido com base nas demonstrações ambientes e fazer expressa referência ao responsável técnico por sua aferição.

E mais, a partir de 01.12.2004, o PPP constitui documento único para comprovar a natureza especial e substitui, para todos os efeitos, as demonstrações ambientais (art. 272, §§ 1º e 2º da IN nº 45 INSS/PRES, de 06/08/2010). Em outros termos, de acordo com a regulamentação expedida pelo INSS, o laudo técnico deixou de ser exigido como documento obrigatório nos requerimentos administrativos para a concessão da aposentadoria especial por entender o INSS que o PPP seria suficiente.

Por sua vez, a existência de PPP desacompanhada do laudo não significa que não existe laudo. Isto porque continua sendo obrigatória a realização do laudo e sua respectiva atualização (art. 58, §§ 3º e 4º da Lei n.º 8.213/91 c/c art. 58, § 3º do Decreto n.º 3.048/99), contudo o mesmo permanece na empresa a disposição do INSS e somente em caso de dúvida seria necessária a sua apresentação.

Art. 265. Existindo dúvidas com relação à atividade exercida ou com relação à efetiva exposição a agentes nocivos, de modo habitual e

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permanente, não ocasional nem intermitente, a partir das informações contidas no PPP e no LTCAT, quando estes forem exigidos, e se for o caso, nos antigos formulários mencionados no art. 258, quando esses forem apresentados pelo segurado, poderá ser solicitado pelo servidor do INSS esclarecimentos à empresa, relativos à atividade exercida pelo segurado, bem como solicitar a apresentação de outros registros existentes na empresa que venham a convalidar as informações prestadas.

Assim, a eficácia probatória do PPP dispensa a apresentação concomitante do laudo, pois apesar de não se confundir com o laudo é emitido com base neste último. Tal medida teve por objetivo simplificar e desburocratizar a análise do tempo de serviço especial.

Corrobora este raciocínio que a empresa está obrigada a entregar ao segurado o PPP (art. 58, § 4º da Lei n.º 8.213/91 c/c art. 58, § 6º do Decreto n.º 3.048/99 ) e não mais o laudo técnico.

IN nº 45 INSS/PRES, de 06/08/2010, Art. 271 (omissis) § 11. O PPP será impresso nas seguintes situações: I - por ocasião da rescisão do contrato de trabalho ou da desfiliação da cooperativa, sindicato ou órgão gestor de mão-de-obra, em duas vias, com fornecimento de uma das vias para o trabalhador, mediante recibo; II - sempre que solicitado pelo trabalhador, para fins de requerimento de reconhecimento de períodos laborados em condições especiais; III - para fins de análise de benefícios por incapacidade, a partir de 1º de janeiro de 2004, quando solicitado pelo INSS;

Ora, se a instância administrativa prescinde a sua apresentação, parece-me curial que não seria possível exigir na esfera judicial porque o Poder Judiciário estaria sendo mais rígido que a instância administrativa e frustraria a confiança legítima do segurado e da empresa na legitimidade dos atos normativos do INSS. Mutadis mutandis, aplica-se o entendimento firmado no REsp 1151363/MG:

5. Descabe à autarquia utilizar da via judicial para impugnar orientação determinada em seu próprio regulamento, ao qual está vinculada. Nesse compasso, a Terceira Seção desta Corte já decidiu no sentido de dar tratamento isonômico às situações análogas, como na espécie (EREsp n. 412.351/RS). 2

Em relação à possibilidade de apresentação do PPP em juízo, somente é cabível quando houver uma dúvida fundada, seja porque: 1) na instância administrativa foi requerida a empresa a sua apresentação, mas esta não o fez; 2) se não foi requestado, o INSS tomou conhecimento de um fato concreto posterior que torne falso, inexistente e etc. Esta postura tem por escopo evitar a controvérsia artificial somente pela apresentação de resposta, atrasando desnecessariamente a prestação jurisdicional.

2 STJ, REsp 1151363/MG, 3ª Seção, Rel. Ministro JORGE MUSSI, julgado em 23/03/2011.

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VII

Ora, se o PPP substitui para todos os efeitos e a Instrução Normativa não faz ressalva quanto à questão do ruído ou calor, tem-se que é desnecessário a apresentação de laudo referente a ruído, seja anterior ou posterior, desde que os dados necessários estejam descritos.

Por sua vez, embora seja obrigatório para períodos trabalhados a partir de 01.12.2004, o PPP pode abranger períodos anteriores a 31.12.2003, desde que contenham todos os elementos necessários. Neste passo, não se exige que o PPP seja contemporâneo, uma vez que foi criado em momento ulterior. Quando o PPP contiver período anterior, é desnecessário a juntada de qualquer outro documento (Vide art. 272, §§ 1º, 2º e 3º da IN nº 45 INSS/PRES, de 06/08/2010).

Frise-se que o ato normativo do INSS não é ilegal, pois decorreu de regra expressa de delegação do Chefe do Poder Executivo e adotou uma interpretação razoável acerca do art. 58, §§ 2º e 4º do Decreto n.º 3.048/99, verbis:

Decreto n.º 3.048/99, Art. 58 (omissis), § 2º A comprovação da efetiva exposição do segurado aos agentes nocivos será feita mediante formulário denominado perfil profissiográfico previdenciário, na forma estabelecida pelo Instituto Nacional do Seguro Social, emitido pela empresa ou seu preposto, com base em laudo técnico de condições ambientais do trabalho expedido por médico do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho. (Redação dada pelo Decreto nº 4.032, de 2001) (...) § 8º Considera-se perfil profissiográfico previdenciário, para os efeitos do § 6º, o documento histórico-laboral do trabalhador, segundo modelo instituído pelo Instituto Nacional do Seguro Social, que, entre outras informações, deve conter registros ambientais, resultados de monitoração biológica e dados administrativos.(Incluído pelo Decreto nº 4.032, de 2001)

A respeito do tema, transcreve-se brilhante julgado da Turma Nacional da Uniformização, da lavra do MM. Juiz Federal OTÁVIO HENRIQUE MARTINS PORT, verbis:

A Instrução Normativa atualmente em vigor, portanto, embora padeça de redação confusa, consagra, em seu artigo 161, inciso IV, que o único documento exigível do segurado para fins de comprovação de tempo especial, com a efetiva exposição aos agentes nocivos, é o PPP, se o período a ser reconhecido é posterior a 1º de janeiro de 2004. No entanto, o parágrafo 1º do mesmo dispositivo normativo amplia de forma inequívoca o período que pode ser objeto de reconhecimento como especial, ao prever que, quando for apresentado o PPP, que contemple também os períodos laborados até (anteriormente, portanto, a) 31/12/03, serão dispensados os demais documentos referidos neste artigo. Remanesce cristalino, de todo o expendido, que a própria Administração Pública, consubstanciada na autarquia previdenciária, a partir de 2003, por intermédio de seus atos normativos internos, prevê a desnecessidade de apresentação do laudo técnico, para comprovação da exposição a quaisquer agentes agressivos, inclusive o ruído, desde que seja

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apresentado o PPP, por considerar que o documento sob exame é emitido com base no próprio laudo técnico, cuja realização continua sendo obrigatória, devendo este último ser apresentado tão-somente em caso de dúvidas a respeito do conteúdo do PPP. Esclareça-se que o entendimento manifestado nos aludidos atos administrativos emitidos pelo próprio INSS não extrapola a disposição legal, que visa a assegurar a indispensabilidade da feitura do laudo técnico, principalmente no caso de exposição ao agente agressivo ruído. Ao contrário, permanece a necessidade de elaboração do laudo técnico, devidamente assinado pelo profissional competente, e com todas as formalidades legais. O que foi explicitado e aclarado pelas referidas Instruções Normativas é que esse laudo não mais se faz obrigatório quando do requerimento do reconhecimento do respectivo período trabalhando como especial, desde que, quando desse requerimento, seja apresentado documento emitido com base no próprio laudo, contendo todas as informações necessárias à configuração da especialidade da atividade. Em caso de dúvidas, remanesce à autarquia a possibilidade de exigir do empregador a apresentação do laudo, que deve permanecer à disposição da fiscalização da previdência social. Parece-me evidente que o louvável intuito do administrador foi justamente desburocratizar o processo de reconhecimento da atividade especial, tornando despicienda a apresentação de dois documentos muito parecidos em seu teor, que atestam a mesma situação de fato: a sujeição do empregado aos agentes agressivos. Não é cabível, nessa linha de raciocínio, exigir-se, dentro da via judicial, mais do que o próprio administrador, sob pretexto de uma pretensa ilegalidade da Instrução Normativa, que, conforme já dito, não extrapolou o ditame legal, apenas o aclarou e explicitou, dando a ele contornos mais precisos, e em plena consonância com o princípio da eficiência, que deve reger todos os atos da Administração Pública. Ademais, utilizando-se de uma interpretação teleológica, pode-se concluir que a finalidade da norma que prescreveu a exigibilidade do laudo técnico, quando se tratar do agente agressivo ruído, restou plenamente atendida pelas instruções normativas mencionadas, visto que o laudo continua sendo obrigatório, considerando a necessidade da aferição técnica da intensidade do ruído, restando sua não apresentação perante a autarquia, na via administrativa, e, por conseguinte, também na via judicial, omissão suprível pela apresentação de outro documento emitido com base no próprio laudo, o PPP. Com efeito, a acolhida de entendimento diverso implicaria a penalização do segurado que agiu com amparo na própria orientação interna editada pelo INSS, a qual ela deveria estar vinculada, mas insiste em descumprir, fazendo tábula rasa de seus atos administrativos, quando estes visam a possibilitar o atendimento aos requerimentos formulados pelos segurados de acordo com os princípios basilares da Administração, mormente o da eficiência.

Esta posição é pacífica na Turma Nacional de Uniformização, conforme acórdãos abaixo:

PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO. PREVIDENCIÁRIO. PARADIGMAS INVOCADOS. APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO.

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CONVERSÃO DE TEMPO ESPECIAL EM COMUM. POSSIBILIDADE. EXPOSIÇÃO A RUÍDOS ACIMA DOS LIMITES DE TOLERÂNCIA. CONSTATAÇÃO. TEMPUS REGIT ACTUM. FORMULÁRIO EXIGIDO. PPP. APRESENTAÇÃO DE LAUDO TÉCNICO PELO SEGURADO NA VIA ADMINISTRATIVA. DESNECESSIDADE, IN CASU. ART. 161, INC. IV, §1º, DA INSTRUÇÃO NORMATIVA INSS/PRES Nº 27, DE 30/04/2008. PRECEDENTE DESTA TNUJEF´s. INCIDENTE CONHECIDO E PROVIDO. I. Aduzindo os acórdãos paradigmas no sentido de que o perfil profissiográfico previdenciário – PPP – emitido pela empresa onde o segurado desempenhou atividades especiais deve ser reconhecido para fins de comprovação da atividade, com a consequente conversão do tempo, segundo o índice previsto em lei ou regulamento e, havendo o acórdão da Turma Recursal de origem dado provimento apenas parcial ao recurso inominado em função do entendimento daquele colegiado segundo o qual apenas após 01/01/2004 passou possível o reconhecimento da especialidade somente por meio do PPP, sem a necessidade de apresentação do laudo técnico pelo segurado, é de rigor o reconhecimento de similitude fática. II. Asseverando o §1º, inc. IV, do art. 161, da Instrução Normativa INSS/PRES nº 27, de 30/04/08 que “quando for apresentado o documento de que trata o §14 do art. 178 desta Instrução Normativa (Perfil Profissiográfico Previdenciário), contemplando também os períodos laborados até 31 de dezembro de 2003, serão dispensados os demais documentos referidos neste artigo”, afigura-se descabido exigir do segurado, mesmo em se tratando dos agentes nocivos ruído e calor, a apresentação de laudo técnico correspondente, quer na esfera administrativa, quer na judicial. III. Pode a Autarquia Previdenciária diligenciar, a qualquer tempo, junto às empresas emitentes dos referidos PPPs, a fim de obter os laudos técnicos obrigatórios, sob pena da sanção administrativa prevista no art. 58 da Lei nº 8.213/91, devendo, inclusive, representar junto aos órgãos competentes caso detecte indícios de fraude. IV. Pedido de uniformização conhecido e provido. 3 EMENTA PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA ESPECIAL. EXIGIBILIDADE DO LAUDO TÉCNICO. AGENTE AGRESSIVO RUÍDO. APRESENTAÇÃO DO PPP ¿ PERFIL PROFISSIOGRÁFICO PREVIDENCIÁRIO. POSSIBILIDADE DE SUPRIMENTO DA AUSÊNCIA DO LAUDO PERICIAL. ORIENTAÇÃO DAS INSTRUÇÕES NORMATIVAS DO INSS. OBEDIÊNCIA AOS PRINCÍPIOS DA LEGALIDADE E DA EFICIÊNCIA. 1. A Instrução Normativa n. 27, de 30/04/08, do INSS, atualmente em vigor, embora padeça de redação confusa, em seu artigo 161, parágrafo 1º, prevê que, quando for apresentado o PPP, que contemple também os períodos laborados até 31/12/03, será dispensada a apresentação do laudo técnico. 2. A própria Administração Pública, consubstanciada na autarquia previdenciária, a partir de 2003, por intermédio de seus atos normativos internos, prevê a desnecessidade de apresentação do laudo técnico, para comprovação da exposição a quaisquer agentes agressivos, inclusive o ruído,

3 TNU, PEDILEF 200772590036891, JUIZ FEDERAL RONIVON DE ARAGÃO, DOU 13/05/2011 SEÇÃO 1

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desde que seja apresentado o PPP, por considerar que o documento sob exame é emitido com base no próprio laudo técnico, cuja realização continua sendo obrigatória, devendo este último ser apresentado tão-somente em caso de dúvidas a respeito do conteúdo do PPP. 3. O entendimento manifestado nos aludidos atos administrativos emitidos pelo próprio INSS não extrapola a disposição legal, que visa a assegurar a indispensabilidade da feitura do laudo técnico, principalmente no caso de exposição ao agente agressivo ruído. Ao contrário, permanece a necessidade de elaboração do laudo técnico, devidamente assinado pelo profissional competente, e com todas as formalidades legais. O que foi explicitado e aclarado pelas referidas Instruções Normativas é que esse laudo não mais se faz obrigatório quando do requerimento do reconhecimento do respectivo período trabalhando como especial, desde que, quando desse requerimento, seja apresentado documento emitido com base no próprio laudo, contendo todas as informações necessárias à configuração da especialidade da atividade. Em caso de dúvidas, remanesce à autarquia a possibilidade de exigir do empregador a apresentação do laudo, que deve permanecer à disposição da fiscalização da previdência social. 4. Não é cabível, nessa linha de raciocínio, exigir-se, dentro da via judicial, mais do que o próprio administrador, sob pretexto de uma pretensa ilegalidade da Instrução Normativa, que, conforme já dito, não extrapolou o ditame legal, apenas o aclarou e explicitou, dando a ele contornos mais precisos, e em plena consonância com o princípio da eficiência, que deve reger todos os atos da Administração Pública. 5. Incidente de uniformização provido, restabelecendo-se os efeitos da sentença e condenando-se o INSS ao pagamento de honorários advocatícios, fixados em 10% do valor da condenação, nos termos da Súmula 111 do STJ. 4

Embora minoritário, já começa a ser seguido pelos TRFs. PREVIDENCIÁRIO. AGENTE NOCIVO ELETRICIDADE. RECONHECIMENTO. CONCESSÃO DA APOSENTADORIA ESPECIAL. PERFIL PROFISSIOGRÁFICO PREVIDENCIÁRIO. VALIDADE. TNU. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. 1. Embora o fator de risco "eletricidade" não conste mais do rol dos agentes nocivos (Decreto nº 2.172/97 e Decreto nº 3.048/99), deve ser considerado como período insalubre o tempo trabalhado por empregado, sujeito à eletricidade, de forma habitual em permanente, existindo provas de tais circunstâncias por meio de Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP) e Laudo Técnico de condições ambientais de trabalho. 2. Possibilidade de apresentação do PPP, sem o laudo técnico no presente caso. "A própria Administração Pública, consubstanciada na autarquia previdenciária, a partir de 2003, por intermédio de seus atos normativos internos, prevê a desnecessidade de apresentação do laudo técnico, para comprovação da exposição a quaisquer agentes agressivos, inclusive o ruído, desde que seja apresentado o PPP, por considerar que o documento sob exame é emitido com base no próprio laudo técnico, cuja realização continua sendo obrigatória, devendo este último ser

4 TNU, PEDILEF 200651630001741, JUIZ FEDERAL OTÁVIO HENRIQUE MARTINS PORT, DJ 15/09/2009

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apresentado tão-somente em caso de dúvidas a respeito do conteúdo do PPP." (TNU, PEDILEF 200651630001741, Relator: Juiz Federal Otávio Henrique Martins Port, DJ: 15/09/2009) 2. Hipótese em que o reconhecimento do tempo de serviço pretendido viabiliza a concessão do benefício da aposentadoria especial, com as parcelas vencidas e vincendas, desde o requerimento administrativo. 3. Honorários advocatícios arbitrados em R$ 1.000,00 (mil reais), nos moldes do art. 20, parágrafo 4º, do CPC. 4. Apelação e remessa oficial parcialmente providas. 5 PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO. RECONHECIDAS COMO ESPECIAIS AS ATIVIDADES EXERCIDAS PELO AUTOR COM EXPOSIÇÃO AOS AGENTES RUÍDO E ELETRICIDADE. SOMATÓRIO DE TEMPO SERVIÇO COMUM E ESPECIAL SUFICIENTE PARA A APOSENTADORIA PLEITEADA. CONCESSÃO DO BENEFÍCIO. JUROS MORATÓRIOS E CORREÇÃO MONETÁRIA. APLICAÇÃO IMEDIATA DA LEI Nº 11.960/2009. - Acerca do contrato de trabalho celebrado com a Usina Oiteirinhos S.A., no período de 14/12/1972 a 07/08/1974, a anotação aposta entre parênteses ao lado do cargo de servente, ou seja '(digo VIGIA)', há que ser desconsiderada, visto que no formulário DSS-8030 encontra-se qualificado como servente, exercendo seu labor no setor de Manutenção, o qual, embora informe a sujeição do empregado a agentes agressivos à saúde, não quantificou os níveis de intensidade em que se dava a exposição, não havendo como reconhecer a especialidade deste tempo de serviço. - O postulante apresentou formulários DSS-8030 e perfis profissiográficos previdenciários, os quais comprovam que desempenhou em condições prejudiciais à saúde e à integridade física, nos períodos de 08/08/1974 a 08/04/1978; 17/04/1978 a 10/06/1978; 01/07/1978 a 02/12/1978; 01/01/1979 a 25/04/1979; 04/06/1979 a 07/12/1979; 25/02/1980 a 02/04/1980; 07/04/1980 a 07/03/1981; 02/10/1981 a 30/09/183; 19/07/1985 a 19/08/1987; 14/06/1988 a 28/06/1989; 02/10/1989 a 13/05/1992; 01/05/1993 a 13/09/1997; 02/07/1998 a 27/08/1998; 03/05/1999 a 30/12/2001; 11/11/2003 a 13/01/2005; 02/03/2005 a 02/01/2006; e 22/03/2006 a 17/07/2007, exposto, de forma habitual e permanente, aos agentes nocivos ruído, com intensidade acima de 90 decibéis e eletricidade com tensões superiores a 250 volts, classificados como insalubre e perigoso, nos códigos 1.1.6 e 1.1.8 do Anexo II do Decreto nº 53.831/64 e nos itens 2.0.1 dos anexos IV dos Decretos nºs 2.172/97 e 3.048/99. Logo, as atividades que submetem o trabalhador a condições doentias e perigosas, devem, sem dúvida, ser incluídas entre aquelas que ocasionam danos à saúde e compensadas com a proporcional redução do tempo exigido para aposentação, a fim de que tais danos sejam inativados. - Não se alegue que, após o advento dos Decretos 2.172/97 e 3048/99, a exposição à energia elétrica não pode ser enquadrada como atividade especial, uma vez que a posição já pacificada desta Quarta Turma é no sentido de que o fato de a eletricidade não ter sido contemplada como agente físico nocivo ou

5 TRF 5ª, APELREEX15131/RN (00023436120104058400), 3ª Turma, Desembargador Federal FREDERICO PINTO DE AZEVEDO (Convocado), Julgamento: 19/05/2011, Publicação: DJE 26/05/2011 - Página 541.

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prejudicial à saúde, no Decreto 2.172/1997 e seguintes, não implica em que não se possa reconhecer a sua especialidade, porquanto os róis de atividades constantes dos regulamentos são meramente exemplificativos, consoante já decidiu o Superior Tribunal de Justiça. - No tocante à aduzida exigência da apresentação de laudo técnico, eis que o Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP), contendo a indicação do técnico responsável pela registro ambiental, mesmo em se tratando do agente "ruído", dispensa a apresentação do laudo técnico, consoante disposição da IN/INSS nº 20, de 10/10/2007, alterada pela IN-INSS/PRES nº 27, de 30/04/2008, devendo a empresa à qual o segurado era vinculado mantê-lo em seu poder. Jurisprudencia da TNU. - A conversão em tempo de serviço comum do período trabalhado em condições especiais somente era possível relativamente à atividade exercida até 28/05/1998, em face do disposto no art. 28 da Lei 9.711/98. Porém, à vista de que o eg. STJ tem firmado posicionamento diverso (RESP 1108945/RS), restou considerei especiais os períodos acima referidos até 24/07/2000. - Por conseguinte, possuindo o demandante tempo de serviço suficiente para a obtenção do benefício pleiteado, consoante restou constatado no juízo singular, faz jus à concessão da aposentadoria por tempo de contribuição perseguida. - Apelação improvida. Remessa oficial parcialmente provida para estabelecer que as prestações em atraso deverão ser corrigidas monetariamente, a contar do vencimento de cada parcela, nos termos do manual de cálculos da Justiça Federal, até o advento da Lei 11.960, de 29/06/2009, quando, para fins de atualização monetária e compensação da mora, passará a haver a incidência uma única vez, até o efetivo pagamento, dos índices oficiais de remuneração básica e juros aplicados à caderneta de poupança, consoante os termos do art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com redação da nova lei. 6 CONSTITUCIONAL. PROCESSO CIVIL. AGRAVO LEGAL. ATIVIDADE ESPECIAL.RUÍDO. CONTEMPORANEIDADE DO LAUDO. DESNECESSIDADE. INEXISTÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL. AGRAVO DESPROVIDO. 1. A legislação previdenciária não mais exige a apresentação do laudo técnico para fins de comprovação de atividade especial, sendo que embora continue a ser elaborado e emitido por profissional habilitado, qual seja, médico ou engenheiro do trabalho, o laudo permanece em poder da empresa que, com base nos dados ambientais ali contidos, emite o Perfil Profissiográfico Previdenciário - PPP, que reúne em um só documento tanto o histórico profissional do trabalhador como os agentes nocivos apontados no laudo ambiental, e no qual consta o nome do profissional que efetuou o laudo técnico, sendo que o PPP é assinado pela empresa ou seu preposto. 2. É desnecessária a contemporaneidade do laudo pericial, ante a inexistência de previsão legal. Precedentes desta Corte. 3. Ante o preenchimento das exigências legais, por ter sido comprovado tempo de serviço superior a 35 anos de serviço, e cumprida a carência estabelecida no

6 TRF5, APELREEX 22714/SE (00052229520114058500), 4ª Turma, Desembargador Federal EDÍLSON NOBRE, Julgamento: 19/06/2012, Publicação: DJE 21/06/2012 - Página 733

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XIII

Art. 142 da Lei 8.213/91, o autor faz jus ao benefício de aposentadoria por tempo de serviço integral, desde a data do requerimento administrativo. 4. Agravo desprovido.7

Em resumo, para o INSS: 1) em regra, o PPP se tornou documento exclusivo; 2) o PPP pode abranger períodos trabalhados anteriormente a sua obrigatoriedade 01.01.2004; 3) o PPP dispensa o laudo técnico, pois apesar de não se confundir com este último, é emitido com base nele; 4) a exigência de laudo técnico é excepcional somente quando houver uma dúvida fundada, não bastando a mera contestação em juízo.

7 TRF 3ª Região, APELREEX 0009799-73.2008.4.03.6109, 10ª Turma, Rel. JUÍZA CONVOCADA MARISA CUCIO, julgado em 28/02/2012, e-DJF3 Judicial 1 DATA:07/03/2012