43
FORMANDO VERDADEIROS ADORADORES Um manual de orientação para músicos, dirigentes, equipes e ministros de louvor. VOCÊ ESTÁ PREPARADO PARA SER UM VERDADEIRO ADORADOR? A igreja brasileira tem experimentado um grande despertamento na área do louvor e adoração a Deus. Vários grupos e ministérios estão surgindo por todo o país, convocando os cristãos a fazerem da própria vida uma experiência sublime de louvor ao Criador. As igrejas também têm dado ênfase ao período de louvor no culto prestado a Deus. Vêm enriquecendo-o com todo tipo de instrumento, danças e outras formas de expressão de adoração. Mas será que tudo isso realmente tem sido agradável a Deus? Será que não corremos o risco de apresentarmos algo muito belo apenas exteriormente? Não há a possibilidade de nossas intenções não serem corretas e, o que é pior, estarmos cheios de barreiras e pecados que impedem o fluir da verdadeira adoração? Formando Verdadeiros Adoradores é um manual que tem o objetivo de orientar a todos os que estão envolvidos no ministério de louvor e que desejam de todo o coração dar o melhor de si para Deus. João A. de Souza Filho, escreveu também os livros: O Ministério de Louvor da Igreja; O Louvor e a Edificação da Igreja; e Ministério de Louvor: Revolução na Vida da Igreja; todos publicados pela Betânia. O autor tem sido chamado para ministrar sobre o assunto em igrejas por todo o Brasil. Esta obra nasceu de sua experiência junto a esses grupos que sempre levantam questões importantes, expressam suas dúvidas, dificuldades, e procuram novos caminhos para um louvor verdadeiro que chegue a Deus como aroma suave. Alguns assuntos abordados: Uma análise dos vários tipos de cânticos que entoamos em nossas congregações. Como o pecado pode afetar os ministros de louvor e sua atuação na igreja. Se é certa ou não a cobrança de cachês por parte dos músicos e cantores cristãos. A vida espiritual dos líderes de louvor. Quando os músicos não estão afinados com a liderança da igreja. Este é um livro extremamente prático e atual. Com certeza todas as pessoas envolvidas com o ministério de louvor na igreja serão muito abençoadas e poderão obter novas diretrizes para o exercício do louvor individual e congregacional. Editora Betânia Belo Horizonte 2003 1

4844972 Formando Verdadeiros Adoradores 1

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: 4844972 Formando Verdadeiros Adoradores 1

FORMANDO VERDADEIROS ADORADORES

Um manual de orientação para músicos, dirigentes, equipes e ministros de louvor.

VOCÊ ESTÁ PREPARADO PARA SER UM VERDADEIRO ADORADOR?

A igreja brasileira tem experimentado um grande despertamento na área do louvor e adoração a Deus. Vários grupos e ministérios estão surgindo por todo o país, convocando os cristãos a fazerem da própria vida uma experiência sublime de louvor ao Criador.

As igrejas também têm dado ênfase ao período de louvor no culto prestado a Deus. Vêm enriquecendo-o com todo tipo de instrumento, danças e outras formas de expressão de adoração.

Mas será que tudo isso realmente tem sido agradável a Deus? Será que não corremos o risco de apresentarmos algo muito belo apenas exteriormente? Não há a possibilidade de nossas intenções não serem corretas e, o que é pior, estarmos cheios de barreiras e pecados que impedem o fluir da verdadeira adoração?

Formando Verdadeiros Adoradores é um manual que tem o objetivo de orientar a todos os que estão envolvidos no ministério de louvor e que desejam de todo o coração dar o melhor de si para Deus.

João A. de Souza Filho, escreveu também os livros: O Ministério de Louvor da Igreja; O Louvor e a Edificação da Igreja; e Ministério de Louvor: Revolução na Vida da Igreja; todos publicados pela Betânia. O autor tem sido chamado para ministrar sobre o assunto em igrejas por todo o Brasil. Esta obra nasceu de sua experiência junto a esses grupos que sempre levantam questões importantes, expressam suas dúvidas, dificuldades, e procuram novos caminhos para um louvor verdadeiro que chegue a Deus como aroma suave.

Alguns assuntos abordados:

Uma análise dos vários tipos de cânticos que entoamos em nossas congregações.

Como o pecado pode afetar os ministros de louvor e sua atuação na igreja.

Se é certa ou não a cobrança de cachês por parte dos músicos e cantores cristãos.

A vida espiritual dos líderes de louvor.

Quando os músicos não estão afinados com a liderança da igreja.

Este é um livro extremamente prático e atual. Com certeza todas as pessoas envolvidas com o ministério de louvor na igreja serão muito abençoadas e poderão obter novas diretrizes para o exercício do louvor individual e congregacional.

Editora BetâniaBelo Horizonte

2003

1

Page 2: 4844972 Formando Verdadeiros Adoradores 1

Índice

Prefácio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 03

Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 04

1. Querubins – Seis Asas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 05

2. Os Querubins e nossa Hinologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

3. Impedimento Básico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

4. O Problema é Técnico ou Espiritual? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

5. Irmão, o que Há com Nossa Igreja? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

6. Juntas Espirituais Enferrujadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38

Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42

Notas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

Formando Verdadeiros Adoradores© 2003 by Editora Betânia

RevisãoÂngela Mara

CapaInventiva Comunicação

Fotos da CapaStock Photos / Photodisc

Composição e ImpressãoEditora Betânia

Ficha Catalográfica elaborada por Ligiana Clemente do Carmo. CRB 8/6219

1ª Edição, 2003

Editora Betânia S/CRua Padre Pedro Pinto, 2435, Venda Nova

31570-000 Belo Horizonte. MGCaixa Postal 5010, 31611-970 Venda Nova, MG

2

Souza Filho, João A. de. Formando Verdadeiros Adoradores / João A. de Souza Filho;revisão de Ângela Mara – Belo Horizonte : Betânia, 2003 96p.; 21cm.

ISBN 85-358-0075-1 1. Adoração. 2. Louvor. 3. Ministério de Louvor. I. Título.

CDD 248.3 26

Page 3: 4844972 Formando Verdadeiros Adoradores 1

Prefácio

Passaram-se muitos anos desde que escrevi O Ministério de Louvor da Igreja. Ele teve uma edição particular em 1986. Depois, em 1988, foi publicado pela Editora Betânia. Certamente uma nova geração de adoradores surgiu em nossa nação nesse período. Creio também que muitos iniciam no ministério de louvor fazendo daquele primeiro livro seu manual. Quando comento com alguns líderes a data em que ele foi escrito, ouço comentários do tipo: "Eu nem era convertido ainda" ou "EU tinha apenas seis anos de idade". E essas observações variam de um lugar para outro.

Recentemente participei de um encontro nacional com líderes de louvor, músicos e componentes de grupos. Muitos deles, surpresos por me conhecerem, disseram:

"Você é o meu pai virtual."; "Já li todos os seus livros."; "Que bom abraçar você!"

Expressões como essas aumentam cada vez mais nossa responsabilidade com o que pregamos e escrevemos. E todos os dias, por cartas, e-mails ou telefonemas, líderes de louvor me fazem perguntas nessa área. Outros valem-se da amizade que tem comigo para pedir aconselhamento pastoral. Na medida do possível, procuro atender a todos.

Por volta de 1988, o número de igrejas que experimentavam uma vida ativa de louvor e adoração era bastante reduzido. Depois do lançamento do livro, passei a receber convites para ministrar na maioria das denominações brasileiras. Vi algo surpreendente acontecer. Houve uma abertura nas igrejas. Elas modificaram a estrutura dos cultos e formaram equipes dedicadas á liderança do louvor. Em pouco tempo, o cenário espiritual da igreja se ampliou. Surgiram cânticos novos, músicas de adoração e contemplação, e hinos de guerra.

Deus levantou uma geração de músicos e autores nacionais. Atualmente temos abundância de hinos, de letras maravilhosas; são cânticos de adoração, de comunhão, de guerra e de salvação que poderiam formar um novo e grande hinário. Eu louvo a Deus, pois pude abençoar e impor as mãos sobre alguns desses compositores que hoje viajam pelo país restaurando a igreja, ensinando a novos líderes e ministrando louvores. São vidas preciosas que honram o nome do Senhor!

Em 1982, Deus me inspirou a compor o seguinte cântico, baseado na versão corrigida do Salmo 138.1:

Eu te louvarei, Senhor,De todo o meu coração;Na presença dos anjosA ti cantarei louvores!

Em muitas gravações, ele aparece como "anônimo". Na verdade, nunca imaginei que o cântico se esparramasse das fronteiras de nossa congregação local.

Algum tempo depois, enquanto estudava o tema de restauração da igreja, baseado em Neemias, o Senhor me inspirou a escrever o livro Com Alegria e Louvor, reeditado com o título O Louvor e a Edificação do Igreja. E não faz muito que a Editora Betânia publicou meu terceiro livro, Ministério de Louvor: Revolução na Vida da Igreja. O tema parece inesgotável. Surgiram no mercado outros livros de louvor e adoração escritos por gente experiente, brasileiros como eu, que tem contribuído bastante para o crescimento e amadurecimento da igreja.

Não tenho nenhum comprometimento com esse ou aquele grupo. Sendo assim, nunca me sinto cerceado na expressão de alguma verdade. Essa é uma posição sublime, única, que no entanto me impõe uma certa responsabilidade, bem como algumas limitações. Por ser um ministro da Igreja, e não de uma denominação específica, aprendi a respeitar os meus irmãos em cada segmento da igreja brasileira. Por isso ministro em todos os grupos denominacionais do país. Quero ver a Igreja edificada. Não sou um escritor denominacional, sujeito ao julgamento da banca de alguma convenção, mas um pastor comprometido com Jesus Cristo e sua Igreja. No passado, vários de meus livros foram censurados e proibidos, não apenas de serem vendidos, mas também de serem mencionados do púlpito. Meu primeiro livro, Para Onde Vai a Renovação? - que teve uma tiragem de apenas três mil exemplares e que eu mesmo editei em 1974 - foi o instrumento que Deus usou para abraçar a causa da Igreja. Mais recentemente, o conto Ratos de Igreja resultou numa grande perseguição ministerial. Numa reunião do conselho de uma certa igreja, cogitou-se em se comprar toda a edição e queimá-la numa grande fogueira. Felizmente decidiram pelo bom senso.

Quando meu primeiro livro sobre louvor foi editado, nada havia no mercado sobrc o assunto. Hoje encontramos muitas publicações sobre esse tema nas prateleiras das livrarias. E estou certo de que você, caro leitor, apreciará mais este livro, já que ele trata de aspectos práticos, da solução para as dificuldades e obstáculos desse ministério santo. Portanto chega às suas mãos uma nova publicação. Não tenho dúvidas. Você será grandemente abençoado por Deus!

3

Page 4: 4844972 Formando Verdadeiros Adoradores 1

Introdução

Estou colocando em forma de livro um tema que costumo apresentar nos seminários de louvor. Nestes, fazemos, com os ministros de louvor - dirigentes e componentes de grupos - uma avaliação sobre os fatores que impedem que o louvor flua nos cultos de nossas igrejas. São várias as causas que encontramos. E é possível achar muitas outras. Poderiam ser dez ou vinte. Aliás, alguns dirigentes de louvor apresentaram ainda outras razões por que o louvor não flui na congregação deles. Contudo, por serem casos isolados, que têm a ver apenas com aquela igreja, achei por bem não abordá-los neste livro.

Os temas aqui apresentados foram discutidos exaustivamente em pequenos grupos, devido à relevância que o assunto tem para todos nós. E óbvio que a primeira das causas, o pecado, precisou de uma abordagem mais ampla, por ser um problema espiritual que afeta diretamente a vida da igreja. Outros impedimentos, especialmente técnicos, não são abordados em demasia, porque na questão técnica as dificuldades variam de uma congregação para outra. Em algumas igrejas, os grupos de louvor não encontram grande impedimento técnico, pois elas dispõem de recursos financeiros para a compra de bons equipamentos e até mesmo para o sustento dos músicos. Não é, porém, o que acontece na maioria das igrejas brasileiras. Os dirigentes e os componentes da equipe de louvor muitas vezes não dispõem de recursos financeiros. E há igrejas que, mesmo possuindo os meios, não tem a visão bíblica de sustentar um obreiro que trabalhe exclusivamente na área musical. Aliás, sem essa visão ministerial, o orçamento atende a todos os setores, menos a área de louvor.

Além dos problemas de ordem técnica, há os espirituais. E tais questões requerem outro tipo de solução. Por isso apresento o caminho para a superação das dificuldades. E acredito que cada igreja sabe como lidar com seus problemas de fé, de doutrina e de espiritualidade.

Também abordo uma questão delicada, o pagamento de cachê a cantores e grupos de louvor. E todos sabem que a venda de material fonográfico, muitas vezes, é grande, proporcionando os recursos para a manutenção dessas pessoas. Ainda há o constrangimento que alguns cantores e bons dirigentes de louvor trazem a nós, os pastores, ao cobrar cachê para que venham à nossa igreja. Trato desse tema como pastor e como dirigente de louvor - se bem que sempre me recusei a entrar no comércio fonográfico. E assim, como pastor e como dirigente de louvor, sei o que pensam ambos os lados.

Preocupa-me também a vida espiritual dos líderes. O leitor encontrará aqui dicas de como vencer nessa ou naquela área da vida. Por isso, tendo como exemplo os querubins, desenvolvo uma linha de raciocínio que o ajudará a entender o mundo espiritual e a conduzir a congregação à presença de Deus.

Davi perguntou: "Como virá a mim a arca do Senhor?" (2Sm 6:9.) Encontrar um meio de trazer a presença de Deus para Jerusalém deixou Davi inquieto. Fracassara em seu primeiro intento de levar a arca até lá. No caminho, Deus feriu a Uzá, que morreu ao segurar a arca. Nada funcionou como deveria. O carro de bois era novo, o povo celebrava com danças e com alegria. Apesar de tudo isso, os bois tropeçaram. Na tentativa de segurar a arca, Uzá morreu fulminado por Deus. Esse acontecimento gerou temor em Davi. Contudo o rei não desistiu. Consultou os sacerdotes e descobriu no livro da lei que a arca deveria ser conduzida pelos varais, sobre os ombros dos sacerdotes. Davi, então, chamou os sacerdotes, e incumbiu-lhes de levar a arca. Explicou-lhes por que Deus havia irrompido antes contra o povo: "Porque, então, não o buscamos, segundo nos fora ordenado" (1Cr 15:13).

Algumas igrejas assemelham-se a Davi tentando levar a arca para Jerusalém. Buscam coisas novas. Procuram modificar a estrutura musical. Querem inovar sempre. Imitam o que está dando certo em outras igrejas. Esquecem-se de que boas estruturas nem sempre garantem a presença de Deus. Afinal, a presença do Senhor em nosso meio não depende de novas estruturas, mas de obediência e de fidelidade a ele. Os princípios estão na Palavra. Depois de descobrir a vontade de Deus, Davi preparou a arca para que esta fosse trazida para Jerusalém. Agora não seria transportada em um carro novo, mas viria do jeito antigo, sobre os ombros dos levitas. Só podemos sentir a presença de Deus em nossos cultos se cumprirmos alguns quesitos. Na época de Davi, na de Salomão e na de Neemias, Deus se fez presente no templo - hoje a igreja. Quando associarmos a boa técnica a uma vida de santidade, Deus se manifestará em nossos cultos também!

O princípio pode ser antigo, mas é um fundamento. E tudo o que é princípio bíblico funciona, mesmo milênios depois. Modelos novos que não estejam apoiados no fundamental tendem a fracassar.

Pelo fato de ser autor, sempre que compro um livro, costumo olhar as notas bibliográficas que identificam as fontes que o escritor consultou. Neste meu livro, indico poucas notas. Devo confessar que é mínima a quantidade de obras que abordam temas como este o que diminuiu consideravelmente as fontes de consulta. Por isso, nesse quesito, esta publicação é que passará a ser referencial bibliográfico para outros escritores. Além do mais, consideraremos que os anos de ministério e a prática na área do louvor dão embasamento a tudo o que escrevi. Certamente, você, leitor, não ficará desapontado. Será grandemente beneficiado com este livro.

4

Page 5: 4844972 Formando Verdadeiros Adoradores 1

Capítulo 01 - Querubins - seis asas

"Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas: com duas cobria o rosto, com duas cobria os seus pés e com duas voava". (Is 6:2)

"E os quatro seres viventes, tendo cada um deles, respectivamente, seis asas, estão cheios de olhos, ao redor e por dentro; não têm descanso, nem de dia nem de noite, proclamando: Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso, aquele que era, que é e que há de vir". (Ap 4:8)

Inspirando Nossos Dirigentes de Cultos e Nossa HinologiaOs querubins são seres celestiais que nos deixam curiosos – não sabemos bem quem nem

quantos são – e intrigados – aparecem em duplas ou em grupos e, pela descrição, não correspondem à noção de beleza que temos dos seres angelicais. Afinal, a idéia que fazemos dos anjos nos foi transmitida pelas obras de artistas da Renascença. Rafael e seus discípulos pintaram vários. Michelangelo também os retratou no teto da Capela Sistina, em Roma. Assim, nossa concepção de beleza não inclui anjos belíssimos... com pés de bezerro. Da mesma forma, não entendemos a visão que João teve de Jesus no Apocalipse - um Cordeiro, parecendo morto, em pé, com sete chifres e sete olhos. A descrição que os profetas e o apóstolo fazem do mundo espiritual parece-nos bastante estranha.

Os querubins são vistos do Gênesis ao Apocalipse. Ezequiel nem consegue descrevê-los direito por causa da glória resplendente de Deus que os cerca. Logo após a queda, o Senhor os coloca à entrada do Éden, com espada reluzente, para impedir que o homem voltasse ao jardim. "E, expulso o homem, colocou querubins ao oriente do jardim do Éden e o refulgir de uma espada que se revolvia, para guardar o caminho da árvore da vida." (Gn 3:24)

Moisés, orientado por Deus, coloca dois deles, de ouro batido, sobre a arca da aliança (Êx 25:18-22). Mais carde, eles foram reproduzidos, no templo de Salomão, em tamanho maior, de tal maneira que suas asas sobressaíam da cortina. Elas cobriam os varais e estes eram vistos de fora do Santo dos Santos (1Rs 8:6-8).

Davi exclama num dos salmos: "Tu que estás entronizado acima dos querubins, mostra o teu esplendor" (Sl 80:1). Ao que tudo indica, Davi compreendia que esses anjos exercem um papel importante na manifestação do Senhor, pois, para ele, Deus está entronizado acima dos querubins!

Três dos profetas bíblicos - Isaías e Ezequiel, no Antigo Testamento, e João, no Apocalipse - intrigam-nos um pouco mais quanto aos seres de suas visões. Ezequiel diz que ficou sabendo que aqueles seres estranhos - aqui com quatro asas, e não seis - eram querubins, interpretação não sua, mas de alguém que lhe deu a entender à visão: "Fiquei sabendo que eram querubins. Cada um tinha quatro rostos e quatro asas" (Ez 10:20-21). A descrição deles no primeiro capítulo é impressionante; quase incompreensível.

Em sua visão, Isaías diz que viu serafins. No entanto todos se assemelham aos que João viu no Apocalipse. Este afirma que eram querubins. Compare Isaías 6:1-3 com Apocalipse 4:6-8. Quando comparamos as três visões - a de Isaías, a de Ezequiel e a de João - percebemos uma semelhança entre todas elas. Isso nos leva a crer que os serafins de Isaías são os mesmos querubins de Ezequiel e do Apocalipse. As notas de rodapé das Bíblias comentadas sugerem que esses serafins são seres de fogo e que a palavra deriva de "queimar". São seres de fogo! Ezequiel diz que eles eram "como carvão em brasa" e que "o fogo corria resplendente por entre os seres, e dele saíam relâmpagos" (Ez 1:13.) Em Ezequiel, cada um deles tem quatro rostos. O tipo de fisionomia coincide com o relato de João, só que possuíam apenas um rosco cada. Como se pode notar, nem sempre é possível explicar uma visão em linguagem humana. Isaías vê um dos seres tirando brasas do altar. Ezequiel os vê tirando brasas do meio deles (Ez 10:2,6-8).

Os três profetas nos levam a entender a função desses querubins. Por serem coma chamas, envolvidos em fogo e cheios de glória, têm o encargo de irem adiante do Senhor, como guardiões da sua glória. Não que Deus precise ser protegido de algum intruso que queira furar o cerco de glória e atingi-lo, como fazem hoje os "beijoqueiros" e os invasores da privacidade alheia. Pelo contrário, serve para nos proteger, para não sermos consumidos pela presença do Senhor. A glória que protege a Deus protege-nos de sermos consumidos!

5

Page 6: 4844972 Formando Verdadeiros Adoradores 1

A forma com que se manifestam, porém, sugere-nos alguns princípios relevantes para nossa atitude pessoal e coletiva no culto a Deus. E aqui, se o leitor me permitir, preciso dar asas à imaginação. Vou divagar teologicamente em busca de símbolos, pois estamos longe de entender a dimensão da visão desses profetas. Mesmo assim, podemos nos aventurar a extrair algumas lições dessas manifestações celestiais. Contudo, por favor, não diga a seus irmãos que você almeja o querubinato! Apesar de carregar as imperfeições, os desejos e as carências de um terráqueo lavado e regenerado pelo sangue de Jesus Cristo, seja você mesmo!

Cobrindo o rosto

"Cada um tinha seis asas: com duas cobria o rosto..."

Seis asas simbolizam, possivelmente, a rapidez com que executam seu comissionamento. João Milton descreve um dos querubins:

O corpo divinal seis asas lhe ornam:As duas que dos largos ombros saem,Cobrem-lhe o peito em teor de régio manto:Do meio corpo as duas lhe decoramToda a cintura até chegar-lhe aos joelhosCom penas de ouro e celestiais matizesLarga zona estrelada afigurando:Dos pés as duas com extrema graçaLhos ataviam, ostentando airosasO etéreo Azul, a púrpura brilhante:Logo sacode as asas com que ao longeLança nos ares celestial fragrância.1

Creio que os querubins cobrem o rosto para não se exibir, num ato de humildade.2 Não chamam atenção para si. Esconder o rosto, nesse caso, fala da humildade desses seres. Ao tratar da queda do querubim de luz - transformado em Satanás - Ezequiel diz: "Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor." (Ez 28:17). Satanás, no passado, quando vivia no empíreo (céu), deu-se conta de sua beleza. Certamente era mais belo que muitos outros que Deus criara. Paulo dá a entender que, até mesmo entre os seres celestiais, há diferença de brilho e de glória: "Uma é a glória dos celestiais, e outra, a dos terrestres. Uma é a glória do sol, outra, a glória da lua, e outra, a das estrelas; porque até entre estrela e estrela há diferenças de esplendor..." (1Co 15:40-41). A beleza e a glória que os querubins emanam são tão intensas que poderiam chamar atenção para si, e não para o que eles querem apresentar - Deus e sua glória.

Os dirigentes de louvor não devem chamar atenção para si quando estão diante da congregação. E às vezes o fazem. Falam demais. Gesticulam excessivamente. Pulam em demasia. Usam roupas extravagantes, cordões de ouro e enfeites. Abusam de coreografias. O dirigente de louvor não pode aparecer. O que ele deve fazer aparecer é a pessoa do Senhor Jesus Cristo. Deve liderar o culto a Deus de tal maneira que passe despercebido. Dessa forma, as pessoas não se fixam nele, e sim no ambiente de contemplação e de adoração. Quando a glória de Deus inunda o lugar em que estamos, o dirigente de louvor está escondido; ora prostrado, ora ministrando com alguém, ora cantando suavemente, e até mesmo sentado. Ele deixa Deus agir!

Às vezes vemos mais o homem, o grupo e o conjunto de cantores do que a Jesus. Hoje criamos uma cultura de gritaria, de berros e urros; de exaltação do baterista, do contrabaixista e do tecladista. É como se esses fossem os instrumentos pelos quais Deus se faz presente. Podemos incorrer no mesmo pecado de Lúcifer: contemplar nossa beleza e nossa habilidade artística, desviando para nós mesmos a glória devida a Deus. Uma coisa é a espontaneidade de um grito numa manifestação do Espírito, outra bem diferente são as expressões de nossa carnalidade.

João Batista é exemplo de humildade para nós. Ao ver Jesus entrando no Jordão para ser batizado, exclama: "É este a favor de quem eu disse: após mim vem um varão que tem a primazia, porque já existia antes de mim" (Jo 1:30). No dia seguinte, quando Jesus passa, João aponta para ele e diz a dois de seus discípulos que ali estavam: "Eis o Cordeiro de Deus!" (Jo 1:36.) E eles, sem titubear, seguiram a Jesus. João é modelo de humildade. Levou seus discípulos a seguirem a Jesus, e não a si mesmo, Muitas vezes afirmara que não era digno de desatar as correias da sandália de

6

Page 7: 4844972 Formando Verdadeiros Adoradores 1

Jesus. Por fim, seus discípulos o ouvem dizendo: "Convém que ele cresça e que eu diminua" (Jo 3:30).

Duas vezes, o outro João, o apóstolo, prostra-se diante do anjo e por esse é repreendido: "Vê, não faças isso." (Ap 19:10; 22:8-10). Essa atitude do anjo deveria ser imitada por todos nós: honrar a Deus e não aceitar glória dos homens. Contudo o que fica visível nos cultos de celebração, nos festivais e nas apresentações de cantores nacionais e estrangeiros é que tentamos ser adorados. É como se fossemos seres superiores dentro da igreja. Para sustentar essa imagem, utiliza-se todo tipo de artifício: chegar atrasado, enviar a equipe na frente, etc.

Eu já presenciei algumas situações desconcertantes. Assisti a um cantor estrangeiro em nossa cidade, e nem sendo pastor e líder local consegui chegar perto dele. Interpretei para um famoso "profeta" americano, desses que enchem estádios, e ele nunca deixou que eu me aproximasse dele. Era permitido apenas um aperto de mão, e eu recebia algumas recomendações:

"Você deve ficar um metro à direita e para trás. Não pode aparecer."

Lamento que ele só pudesse aparecer com a minha tradução!

Uma cobertura, tipo túnel, foi construída para que um outro chegasse ao palanque. Esses são "anjos" que gostam de ser adorados. Palco é lugar de show; altar, de consagração! No palco, o cantor quer aparecer. No altar, ele fica escondido sob as asas de Deus!

Devemos aprender com os querubins; aprender com os anjos; aprender com João Batista: Só Jesus deve aparecer!

Cobrindo os pés

"Com duas cobria os seus pés..."

Imagino que, se os querubins encobrem o rosto por serem belos, encobrem os pés por causa da imperfeição. Seres celestiais, cheios de tanta glória, acreditamos, não poderiam ter pés tão feios -mesmo que brilhem como o bronze polido. Eles têm pés de vaca! A Bíblia diz que são de bezerros. "As suas pernas eram direitas, a planta de cujos pés era como a de um bezerro e luzia como o brilho de bronze polido." (Ez 1:7.) Quer dizer, têm pernas de homem e pés de bezerro. Vamos nos imaginar seres humanos com pés de vaca!

Não apenas nossa beleza - o rosto - deve ser escondida para que brilhe somente a de Cristo, mas também nossas imperfeições têm de ser encobertas. E o que as esconde é a mesma glória de Deus. Quer dizer, a mesma glória que brilha serve para ocultar nossa fraqueza. No caso dos querubins, os pés, apesar de feios, brilham com a glória de Deus. Nossos pés, pelo que podemos depreender das Escrituras, também são símbolo de imperfeição, e o Senhor quer que nos apresentemos diante dele como somos. Os sapatos que usamos encobrem a feiúra de nossos pés, Nenhum homem, ao que parece, gosta de expor os pés; não os acha belos. Por isso usa os melhores calçados, não apenas para escondê-los e protegê-los, mas também para caminhar mais confortavelmente. Moisés apresenta-se calçado diante da sarça e Deus lhe pede que se aproxime sem as sandálias. Josué está diante do anjo, calçado, pronto para a guerra. O anjo então lhe pede que tire os sapatos: "Descalça as sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é santo" (Js 5:15). Os pés representam nosso caminhar e nossa imperfeição. Por isso queremos protegê-los.

Paulo afirma: "E os que nos parecem menos dignos no corpo, a estes damos muito maior honra; também os que em nós não são decorosos revestimos de especial honra" (1Co 12:23). Um homem pode estar vestido com impecável elegância. Todavia, se os sapatos estiverem sujos, ou se a cor destoar do resto, ou se ele estiver descalço, toda sua perfeição e beleza desaparecem pela feiúra dos pés.

O dirigente de louvor, portanto, tem de cobrir o seu caminhar com a glória do Senhor! Deve reconhecer que, apesar de atrair para si tanta glória - quando está diante de Deus e do povo - não tem um caminhar perfeito. Entretanto, como um querubim que, apesar de tanta glória, tem pés como de bezerro, os pés do dirigente de louvor e do pregador recebem o brilho celestial que encobre sua imperfeição. Parece que Deus vê nossos pés sob o ângulo de sua glória: "Que formosos são sobre os

7

Page 8: 4844972 Formando Verdadeiros Adoradores 1

montes os pés do que anuncia as boas-novas, que faz ouvir a paz, que anuncia coisas boas, que faz ouvir a salvação, que diz a Sião: O teu Deus reina!" (Is 52:7).

Podemos emanar o perfume de Deus, o brilho de sua glória, mas o Senhor sempre deixa um quê de imperfeição para nos manter humildes diante dele. Pode ser uma esposa que não acompanha o marido na fé ou um filho que se desvia. Às vezes é um negócio que emperra; uma calúnia que nos atordoa; um pecado do qual não conseguimos nos desvencilhar. Pode ser qualquer coisa que faça com que olhemos para nossos pés e nos envergonhamos de nossa imperfeição. O obreiro - seja ele dirigente de louvor ou pastor - quando olha para o espelho e vê refletida nele a glória de Deus, tem a tendência de se exaltar. Mas, ao olhar para os pés, não pode fazer outra coisa senão chorar.

Paulo tinha tanto com que se gloriar; recebera inúmeras revelações e visões. Ele estivera no paraíso e contemplara a mais perfeita glória de Deus. Ouvira palavras que lhe foram proibidas de mencionar na Terra. No entanto, sempre que pensava em se gloriar, algo misterioso para nós lhe sobrevinha e o deixava transtornado. Paulo era esbofeteado. Paulo tinha uma fraqueza.

Todos temos fraquezas. Os santos caminham com fraquezas. Sempre que ele pensava em contar vantagens - gloriar-se - um mensageiro de Satanás o esbofeteava. Creio que esse espinho na carne não era uma doença física, mas algo na esfera espiritual. Já que visões, sonhos e revelações estão bem acima do natural, esse espinho, bem como o demônio que o atormentava, situavam-se no mundo espiritual. Deixe-me dizer isto: Certas marcas de pecado jazem em nossa mente para nos lembrar que somos salvos e vivemos por causa da graça de Deus. Paulo orou três vezes, mas Deus não afastou a imagem que o oprimia. O Senhor conhecia a fraqueza de Paulo e mostrou-lhe que teria de conviver com ela a vida toda. Qual foi a resposta de Deus?

"A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo." (2Co 12:9).

"Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós." (2Co 4:7).

Às vezes tentamos encobrir nossas falhas, principalmente dos homens. E supomos que conseguimos escondê-las de Deus. Contudo isso é impossível. O Senhor sabe que somos fracos, e já providenciou para que, em Cristo, na cruz, sejamos crucificados e tratados. A mesma obra da cruz, que perdoa nossos pecados quando somos salvos, atua na nossa santificação. Há mais um ponto: Deus usa os fracos como depósito de sua graça e poder! João da Cruz afirmou que "os que querem ser santos em um dia fazem muitas promessas, mas, como não são humildes e confiam em si mesmos, quanto mais propósitos fazem, mais caem".3 "Os mais santos não são os que cometem menos faltas... Os mestres espirituais advertem que Deus deixa, às vezes, nos melhores santos, certos defeitos dos quais, por mais que façam, não conseguem se livrar, para que sintam sua própria fraqueza e para que vejam o que seriam sem a graça de Deus..."4

A glória opera em vasos imperfeitos! E nossa imperfeição está ali, apontando para nós, dizendo-nos que precisamos de Deus sempre! O Senhor deixa certas falhas nos seus filhos para que aprendam a depender exclusivamente dele. A glória e a graça de Deus vêm sobre nós, escondendo nossas fraquezas. Assim como os pés de bezerro - feios - brilham com a glória do Senhor, nosso caminhar é santificado por sua glória. Todos os que aparecem na galeria dos heróis da fé, no capítulo 11 de Hebreus, possuíam fraquezas. Algumas destas, a liderança da igreja hoje simplesmente não admite!

Somos como Mefibosete. Esse neto de Saul, aleijado de ambos os pés; esse filho de Jônatas, agora trazido para a casa de Davi, come com este à mesa. Mas é aleijado! No entanto suas pernas não são vistas. Ficam encobertas sob as toalhas da mesa do rei (2Sm 9). Somos imperfeitos no nosso caminhar - temos pés que não condizem com a natureza de glória. Estes, contudo, têm suas imperfeições cobertas com o brilho da glória de Deus!

Entretanto, como os belos querubins possuem pés feios (em nosso conceito), cuja feiúra desaparece ao brilho semelhante a bronze polido, assim também nós temos fraquezas. Nosso andar não é perfeito. Contudo a glória de Deus brilha e encobre nosso caminhar de imperfeição. O Senhor distribui aos seus filhos um pouco de sua glória. "Eu lhes tenho transmitido a glória que me tens dado, para que sejam um, como nós o somos." (Jo 17:22). No meio das tribulações - sejam elas devido a erros que cometemos ou a falhas de outros, ou sejam vindas diretamente de Satanás - o

8

Page 9: 4844972 Formando Verdadeiros Adoradores 1

peso de glória é eterno, acima de toda comparação (2Co 4:18). Isso porque a glória que sobre nós brilha vem do Senhor. Apenas refletimos a glória de Deus!

Voando

"... E com duas voava"

Os querubins que Isaías e João viram - com seis asas - ainda dispõem de duas para voar. Eles têm uma estrutura cheia de rodas que andam com eles; que se movimentam quando eles se movimentam. "Andando os seres viventes, andavam as rodas ao lado deles; elevando-se eles, também elas se elevavam. Para onde o espírito queria ir, iam, pois o espírito os impelia... andando eles, andavam elas e, parando eles, paravam elas..." (Ez 1:19-21.) Depreende-se do texto que eles não fazem força. Duas asas cobrem-lhes o rosto e duas, os pés. Sobram-lhes duas para voar. E ainda têm uma carga para levar!

Não importa se a tarefa é árdua ou de grande importância. Podemos voar pelo Espírito! "Para onde o espírito queria ir, iam", diz o texto. Nesse sentido, o dirigente de louvor pode levar a congregação para onde quiser. Se tem um bom louvor, para cima; se não, para baixo. Apesar da extravagante aparência, pois todos têm quatro cabeças (Ez 1:10), é mostrada aqui a multiplicidade da hinologia do povo. O leão representa os cânticos de guerra; o bezerro, os de comunhão; o cara de homem simboliza as necessidades humanas; e a águia, nossa adoração - assunto ao qual dedico um capítulo no livro Ministério de Louvor: Revolução na Vida da Igreja. Os querubins vão aonde Deus quer; para onde o Senhor os envia. Eles têm liberdade de agir, mas estão presos Àquele que sai e entra. Para onde Deus vai, eles vão. Tudo o que fazem tem um único objetivo: mostrar a glória do Senhor!

Olhos que vêem

É interessante observar que tanto na visão de Ezequiel como na de João esses seres angelicais têm olhos por todo o corpo. João viu Jesus na forma de um Cordeiro morto que possuía sete olhos - mas ele mesmo interpreta que os olhos são "os sete Espíritos de Deus enviados por toda a terra" (Ap 5:6). Para nós, conforme o ditado popular, "os olhos são a janela da alma", é por onde a alma tem contato com o mundo exterior. Entretanto não entendemos por que os querubins têm tantos olhos.

"Todo o corpo dos querubins, suas costas, as mãos, as asas e também as rodas que os quatro tinham estava cheia de olhos ao redor." (Ez 10:12).

Para Thomas Scott, os olhos representam o conhecimento e a sabedoria infinitos de Deus que organizam cada dispensação. Fazem com que o propósito do Senhor não seja desvirtuado por quaisquer conjunturas e que nada lhes passe despercebido.5 Eles têm olhos por dentro e por fora, o que significa que vêem em todas as direções: de fora para dentro e de dentro para fora. Seriam extensões da onipresença e onisciência de Deus? Podem enxergar o céu e a Terra; as pessoas e os seres celestiais; vêem o que lhes está por trás e o que está diante deles. Nada lhes fica encoberto.

E assim o dirigente de louvor e o pastor, dirigidos pelo Espírito Santo, tudo vêem. Tudo percebem. Movem-se facilmente em direção aos homens e também em direção a Deus. Podem estar entre os homens, no meio da congregação, sem perder o Senhor de vista. Estão diante dele sem perder de vista o povo. No culto, soltam-se em profusão diante de Deus, mas não se afastam da Terra. Estão vendo o que acontece na congregação, entre o povo, sem que as fraquezas e as dificuldades da igreja afetem sua comunhão com o Senhor. Eles voam em todas as direções e não perdem o rumo! Os problemas do povo não os afetam. Eles têm olhos que vêem a Deus e não o perdem de vista. O pior líder - pastor ou dirigente de louvor - é aquele que, cego, sem visão, perde o Senhor de vista!

Um dos cânticos que Alda Célia escreveu diz o seguinte:

Vou voar como a águia;Vou dançar como o vento;Vou fluir como o rio e cantar como os anjos;Escalar a montanha e andar sobre as águas.Vou louvar como no primeiro amor;Pois eu vi a glória do Senhor.6

9

Page 10: 4844972 Formando Verdadeiros Adoradores 1

Quando nos deparamos com a glória do Senhor, depois que ele nos perdoou os pecados, tudo isso pode acontecer! Passamos da inebriante sensação em que alternamos risos, danças e palmas à solene prostração em que nossos lábios se fecham por não termos como nos expressar.

O dirigente de louvor, por fim, deve seguir a glória de Deus, e não uma direção própria. Ele está encarregado de levar as pessoas a experimentarem o mover do Senhor na vida delas. Cabe a ele trazer essa glória divina aos homens e aproximá-los cada vez mais de Deus! Apesar de não ser um dos querubins, o dirigente de louvor deve aprender com eles a olhar com muitos olhos sem se confundir; a voar em todas as direções, guiado pelo Espírito, sem perder o rumo!

Os querubins enxergam o passado, o presente e o futuro, e expressam o que sentem em relação a Deus no cântico que se ouve noite e dia no céu:

"Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Todo-poderoso, que era, e que é, e que há de vir" (Ap 4:8).

10

Page 11: 4844972 Formando Verdadeiros Adoradores 1

Capítulo 02 - Os querubins e nossa hinologia

"Santo, Santo, SantoÉ o Senhor dos Exércitos;toda a terra está cheia da sua glória." (Cântico dos Querubins)

Sabemos que o Espírito Santo é, e sempre foi, o grande inspirador da música do povo de Deus. A hinologia da igreja preserva cânticos quase milenares - em especial os da época da Reforma para cá - que entoamos em nossos cultos. Não temos dúvida de que esse seja um legado do Espírito ao povo de Deus. Quero, no entanto, sem exagerar no campo da aplicação teológica - como dizem alguns, sem "elucubrações" teológicas - ilustrar, a partir da aparência dos querubins, os tipos de cânticos de nossa hinologia.

Os rostos desses querubins nos inspiram e nos levam a uma aventura espiritual. Na visão de Ezequiel, "os quatro tinham rosto de leão; à esquerda, rosto de boi; e também rosto de águia, todos os quatro" (Ez 1:10). A descrição do rosto de homem é complementada no texto de Apocalipse 4:7: "O primeiro ser vivente é semelhante a leão, o segundo, semelhante a novilho, o terceiro tem o rosto como de homem, e o quarto ser vivente é semelhante à águia quando está voando". Já ouvi pregadores usarem os rostos desses querubins para falarem dos quatro Evangelhos. É uma boa analogia, certamente. Eu também já utilizei essas quatro figuras. Usei-as para falar das características de nossos dirigentes de culto. O dirigente tipo leão leva o povo à guerra. O tipo bezerro conduz o povo à comunhão. O tipo águia leva o povo à adoração. Já o dirigente homem conhece as necessidades das pessoas e seus cânticos falam dos problemas delas.

Contudo esses querubins são adoradores e proclamam a glória de Deus ininterruptamente, como vimos em Ezequiel. Eles não se cansam de exaltar dia e noite o poder de Deus. Nos cânticos do Apocalipse, eles estão diretamente envolvidos na adoração, celebração e exaltação de Deus e de Jesus Cristo. E como adoradores, seus rostos de águia, de leão, de bezerro e de homem indicam as características dos cânticos que entoamos em nossos cultos.

Cânticos de Guerra

"O primeiro ser vivente é semelhante a leão." (Ap 4:7).

O leão denota coragem, guerra e liderança. Ao que tudo indica, podemos ver a força desse querubim nos poderosos cânticos de guerra que incendeiam a igreja na luta contra o mal. O povo vive o que canta. Uma igreja que não entoa cânticos de guerra, ou que não expressa o seu vigor profético em hinos cheios de determinação, não conhece o gosto da vitória. Os cânticos falam do que vivemos.

Nesses últimos tempos, a hinologia da igreja no Brasil foi invadida por cânticos de guerra como jamais se dera em toda a sua história. E isso não é obra humana, mas do Espírito de Deus que sabe do que a igreja precisa. Se examinarmos nossos antigos hinários, veremos que em todos eles um bom número de hinos são de guerra. Contudo muitos destes deixaram de ser cantados, pois a igreja perdeu seu espírito de luta. Nos últimos trinta anos, porém, Deus voltou a trazer muitos cânticos de guerra à igreja, acrescentando-os aos dos hinários. Assim, ao lado de Castelo Forte, escrito por Lutero em 1531, temos Avante, Avante, ó Crentes, e também Pelo Senhor, marchamos, Sim!

O Espírito Santo tem dado à igreja cânticos para serem entoados em qualquer ocasião. Não cantamos hinos de guerra em todos os cultos, mas também não os entoamos apenas em marchas e passeatas. Sempre que necessário, o Senhor faz esse espírito de guerra impregnar a igreja. Então ela se lembra dos cânticos que lhe deram grandes vitórias. O dirigente de louvor é alguém que lidera as guerras do povo de Deus.

Como parte desse espírito de guerra, surge também o dirigente de louvor com cara de leão. Ele leva a igreja a se posicionar diante de certas situações que exigem dela uma atitude de confrontação. Ergue-se o líder rugindo, bramando, conclamando, cantando, perseguindo os demônios como se estivesse à cata da presa, já que seus cânticos falam de triunfo. E ele não desiste enquanto não percebe que a congregação sente o gosto da vitória em seu louvor.

A igreja, então, marcha, rodeia profeticamente a Jericó que está em seu caminho. Ela solta brados de guerra e avança contra o mal. Imagino que esse espírito tenha inflamado os autores dos hinos 530 e 534 da Harpa Cristã (versão atualizada). Esses dois cânticos estão na base do

11

Page 12: 4844972 Formando Verdadeiros Adoradores 1

crescimento das Assembléias de Deus no país. O mesmo se deu com Castelo Forte, que foi uma pilastra para a Igreja Luterana; e com Avante, ó Crentes, que teve grande importância para tantas outras denominações. As igrejas que surgiram nos últimos trinta anos foram inflamadas por uma variedade de cânticos de guerra, entre eles, Pelo Senhor, Marchamos, Sim! O querubim com rosto de leão leva o povo de Deus à guerra! Um outro cântico diz:

Avançai, fiéis soldados,Contra as hostes infernais!Pois se ouvem já os brados:Homens de Gideão sejais!1

Essa exaltação da supremacia do Leão de Judá sobre o diabo é expressa nos cânticos de guerra:

Se nos quisessem devorarDemônios não contados,Não nos podiam assustar,Nem somos derrotados.O grande acusadorDos servos do SenhorJá condenado está;Vencido cairáPor uma só palavra.2

Às vezes o cântico não tem, necessariamente, uma letra de guerra, mas possui espírito de luta, como o Firme nas Promessas (C.C. 154). Seu autor, Russel Carter, compôs esse cântico com A. B. Simpson (fundador da Aliança Cristã e Missionária).

Firme nas promessas não irei falhar,Vindo as tempestades a me consternar;Pelo Verbo eterno eu hei de trabalhar,Firme nas promessas de Jesus.3

Deus é um Deus de guerra. Basta ler as Escrituras para vermos o Senhor em combate, de Gênesis a Apocalipse. Nas grandes batalhas da Bíblia - e, em meu livro Estratégias de Guerra Espiritual, aconselho a todos que as estudem - Deus estava no comando. Não apenas Jericó, a batalha mais visível, mas em todas as guerras que Israel venceu, o comandante era Deus!

O Salmo 149 dá um exemplo do louvor de guerra. É claro que temos muitos salmos de guerra, mas esse fala do louvor na assembléia dos santos, em que o povo destrói o inimigo armado com a espada do louvor! Louvor nos lábios e espada na mão: "Nos seus lábios estejam os altos louvores de Deus, nas suas mãos, espada de dois gumes" (v. 6). Louvor e espada como armas do povo na batalha espiritual! Isaias expressou essa situação da seguinte maneira: "Cada pancada castigadora, com a vara, que o Senhor lhe der, será ao som de tamboris e harpas; e combaterá vibrando golpes contra eles" (Is 30:32). Os cânticos de guerra envolvem cada combatente de Deus! Se para as forças armadas os cânticos motivam os soldados a enfrentar dificuldades no mar, no ar e na selva, com o exército de Deus ocorre o mesmo! E o querubim com cara de leão vai à frente, liderando o povo com os cânticos de guerra.

Cânticos de Comunhão

"... O segundo, semelhante a novilho..."

O querubim com cara de bezerro - ou novilho - também contribui para a hinologia da igreja. O bezerro é um animal doméstico a serviço da família. Submisso às ordens de seu dono, o bezerro é preparado para arar a terra e transportar cargas. Quando adulto, torna-se boi. Por isso Ezequiel o vê com rosto de boi. É um serviçal. O bezerro denota comunhão dos domésticos da fé, da irmandade. Alguns dirigentes de louvor têm essa característica, e a tônica de seus cânticos é a comunhão dos fiéis. Por isso o dirigente com cara de novilho quer ver os irmãos abraçados, irmanados numa corrente de amor fraterno, de perdão e de união. Ele vê a congregação como um grande rebanho que precisa receber compreensão, amor e cuidados.

Não existe igreja sem convívio. A genuína igreja cultiva a convivência entre os membros. Uma congregação sem relacionamentos até pode existir, mas é em forma de igreja empresarial, na qual a motivação é o dinheiro, o sucesso e o crescimento denominacional. O verdadeiro povo de Deus vive

12

Page 13: 4844972 Formando Verdadeiros Adoradores 1

de relacionamentos. E o bezerro, um animal doméstico, exemplifica o habitual do dia-a-dia, as lidas, os problemas, as amizades.

O querubim com cara de novilho nos inspira a escrever cânticos de amor, de perdão mútuo. É quando saímos do nosso lugar, abraçamos os irmãos, choramos com eles. É quando sentimos as necessidades deles, os abençoamos com nossa presença em seu lar, os socorremos com ajuda financeira, etc. Nenhuma igreja amadurece se não aprender a viver os relacionamentos. Daniel de Souza escreveu este cântico:

Recebi um novo coração do Pai,coração regenerado, coração transformado,coração que é ensinado por Jesus.Como fruto deste novo coração,Eu declaro a paz de Cristo,Te abençôo, meu irmão;Preciosa é a nossa comunhão;Somos corpo, e assim bem ajustado,Totalmente ligado, unidos, vivendo em amor,Uma família sem qualquer falsidade,Vivendo a verdade,Expressando a glória do Senhor!Uma família, vivendo o compromisso,Do grande amor de Cristo,Eu preciso de ti, querido irmão,Precioso és para mim, querido irmão.4

O querubim com cara de bezerro sabe que a igreja precisa de cânticos relacionais - de amor e comunhão.

Deus cuidará de ti,Em cada dia proverá;Sim, cuidará de ti,Deus cuidará de ti.(Hino 344 - Cantor Cristão)

E profetizamos sobre a vida do nosso irmão, sabendo que ele precisa do nosso apoio e de força para seguir adiante: "Meu irmão, precioso és para mim!" Entoamos cânticos que expressam nosso amor uns para com os outros: "Como é precioso, irmão, estar bem junto a ti".

O religioso que vem aos cultos não se sente muito confortável quando a igreja canta esse tipo de cântico, porque ele está distante de tudo, não está a par da vida da igreja, nem dos problemas dos irmãos, nem de suas vitórias. Ele apenas vem e assiste ao culto. É o cristão solitário, que vive só. Geralmente acha que não precisa de ajuda!

Cânticos que Falam das Necessidades Humanas

"... O terceiro tem o rosto como de homem..."

Esse querubim com cara de homem também nos inspira a entoar cânticos que falam de nossas necessidades, de nossas fraquezas; que retratam nossa humanidade. Às vezes precisamos "descer" do trono de glória da presença de Deus em nossos cultos para atender às necessidades dos que nos visitam. São aqueles que ainda não têm condições de adorar nem de entoar "Santo, Santo, Santo é o Senhor!" São os que vêm aos cultos cheios de problemas, de dores físicas, emocionais e espirituais. Eles precisam conhecer o Jesus Homem, o Deus que se fez carne para habitar entre nós; o Jesus que de nós se compadece. Muitas vezes, como pastor, noto que há visitantes no culto, pessoas que ainda não conhecem a Cristo, e percebo que o louvor está elevado demais para elas. Os irmãos, empolgados e cheios da glória celestial, são então trazidos de volta à realidade.

Mas isso não ocorre apenas com referência à nossa humanidade. Cantamos a respeito da relação homem/Jesus. O querubim com cara de gente nos inspira cânticos que falam de nossas necessidades humanas, e de como o Jesus humano se compadece de nós! Começamos então a entoar cânticos de fé. Às vezes é gratificante voltar aos hinos antigos, cantar "Foi na cruz, foi na cruz onde um dia eu vi meu pecado castigado em Jesus". É bom conduzir os irmãos enquanto cantam "Somente crê, somente crê, tudo é possível, somente crê"; e levá-los a crer no Deus dos impossíveis, a dizerem "Hoje vou tocar nas vestes de Jesus"!

13

Page 14: 4844972 Formando Verdadeiros Adoradores 1

Sempre é bom trazer de volta O Bondoso Amigo, versão da Harpa Cristã – O Grande Amigo, do Cantor Cristão - ou ainda buscar para a hinologia da igreja o Sou Feliz e Tu és Fiel, Senhor.

Joseph Scriven é o autor de O Grande Amigo. Esse cântico é fruto de sua experiência com o Jesus Homem, que estava sempre ao seu lado. Era ainda jovem e residia na Irlanda quando sua noiva, as vésperas do casamento, caiu do cavalo e faleceu. Imigrou para o Canadá. Sua triste sina o seguiu ali. Viu sua segunda noiva morrer de pneumonia depois de ser batizada nas águas geladas de um lago. Anos depois recebeu uma carta de sua mãe. Ela morava na Irlanda. Contava-lhe que estava muito enferma e aflita. Joseph Scriven, ao ler essa notícia, derramou sua alma perante o Senhor e escreveu:

Em Jesus amigo temos,Mais chegado que um irmão;Ele manda que levemosTudo a Deus em oração!Oh! que paz perdemos sempre,Oh! que dor no coração,Só porque nós não levamosTudo a Deus em oração!5

Seu corpo foi encontrado caído a beira do rio. Pela posição, dava para entender que esteve ajoelhado e depois tombou para o lado. Ali morreu. Ele experimentou o amor do companheiro Jesus o tempo todo!

Esses cânticos do querubim com cara de homem representam os dramas da vida humana. É uma hinologia rica que fala da obra de Cristo, de seu sofrimento, do seu sangue derramado e da vitória do homem, Jesus, sobre os poderes das trevas.

Cânticos de Adoração

"... E o quarto ser vivente é semelhante à águia quando está voando."

A águia é uma ave que se isola das demais, anda só, sobe as alturas e não teme as tempestades. Por tudo isso, ela representa a vida de adoração do crente. Subindo pelas correntes de ar quente, sem nenhum esforço, a águia denota a leveza, a simplicidade da adoração que não exige esforço, que segue apenas a corrente do Espírito.

São raros os dirigentes de adoração que têm a característica da águia. E quando aparecem, são incompreendidos, pois o adorador costuma se isolar dos demais. É comum ele se esquecer do que se passa ao seu redor, deleitando-se na presença de Deus.

Nossa hinologia de adoração é vasta, mas pouco usada. Por quê? Porque a adoração não é um momento no culto, antes da pregação ou depois dela. A adoração é um estilo de vida e de serviço, de amor ao próximo e ao Senhor. Adoração não é apenas aquele tempo que gastamos no culto a Deus, de mãos erguidas, em júbilo santo, prostrados ou contemplativos. É serviço em todas as dimensões! É devoção. É compromisso. E os cânticos o dizem muito bem.

Quantos cânticos têm um misto de adoração, quebrantamento e entrega! Este, por exemplo, é um cântico de entrega mesclado de adoração:

Tudo entregarei!Tudo entregarei!Sim, por ti, Jesus bendito,Tudo deixarei!

Já este é um hino em que apelamos ao irmão que se consagre a Deus. Este tem um toque de adoração:

Quando tudo perante o Senhor estiver,E todo o teu ser ele controlar,Só, então, hás de ver que o Senhor tem poder,Quando tudo deixares no altar.

Não apenas somos levados a adorar como águia, mas inspirados a escrever e a entoar hinos que expressam nossa profunda adoração ao Senhor. Cânticos que entronizam a Jesus, que exaltam o poder de Deus e que falam da obra do Espírito Santo fazem parte de nossa hinologia.

14

Page 15: 4844972 Formando Verdadeiros Adoradores 1

Capítulo 03 - Impedimento básico

O pior que pode suceder a um dirigente de louvor é ele dirigir o culto com o semblante e a alma desfigurados pelo pecado.

Sempre que participo de seminários de louvor e adoração, vejo líderes de equipes e dirigentes do louvor congregacional fazerem perguntas que precisam ser analisadas com sinceridade. O mais comum é levantarem questões sobre as razões de eventuais bloqueios no fluir do Senhor no culto da igreja. E óbvio que não vamos ao culto apenas para usufruir da presença do Senhor - queremos adorar, louvar, servir e bendizer a Deus. Tampouco fazemos barganha com o Senhor: Nós o exaltamos e o bendizemos e, em troca, Deus nos abençoa. Apesar de ser essa a característica dominante nas reuniões da igreja, não é a isso que nos propomos e nem o que incentivamos os irmãos a fazer. No entanto não ignoramos que, da parte de Deus, há uma espécie de retribuição, de benção. O Senhor não se contém e se "derrama" sobre nós. Ele invade nossas reuniões - numa espécie de aprovação ao que estamos fazendo, uma retribuição do que estamos lhe oferecendo!

Então, por que levantar questões sobre o que pode impedir a manifestação de Deus em nossos cultos? Exatamente porque desejamos oferecer o melhor ao Senhor. E esse oferecimento inclui o perfeito louvor - o alimento que agrada a Deus e o torna sensível ao seu povo!

Nós, pastores, por via de regra, quando o culto está amarrado e nada flui como queremos, apontamos sempre numa direção: pecado no meio do grupo de louvor. Contudo temos de defender os dirigentes e componentes da equipe de louvor, pois, apesar dos defeitos inerentes ao ser humano, são orientados a viverem em busca de santidade e em comunhão com Deus. Nem sempre vivem na prática de pecado e, no entanto, naquele dia em especial, o culto estava "pesado", o louvor não fluiu, os instrumentos não afinavam entre si, nada dava certo. E diante deles, surge o dedo acusador, atribuindo-lhes pecados ou falhas, como se eles, e somente eles, fossem responsáveis por tudo o que acontece na igreja. Ora, e o que dizer da equipe pastoral? Está tudo certo com os pastores? Nenhum deles incorreu em prática pecaminosa durante a semana? E o que dizer da própria igreja?

É óbvio que o pecado está por trás de tudo, até mesmo das falhas humanas. No entanto nem sempre é por culpa dos músicos e do dirigente que o culto não flui. É bom termos em mente outras situações que precisam ser analisadas. Há alguns dias tive de me deter no estudo desse tema, porque foi esta a acusação que os músicos ouviram do líder da igreja:

"O louvor não flui porque existe pecado entre vocês!"

Esse tipo de acusação deixa todo mundo desanimado e é um terreno fértil para a acusação de Satanás. Numa reunião em que fui convidado a ministrar para os músicos, estudamos juntos as várias possibilidades de o culto não fluir como todos gostaríamos.

Essa troca de idéias permitiu que abordássemos vários aspectos. Vou começar pelo pior obstáculo à manifestação dt Deus:

O PecadoTodos concordamos que o pecado é realmente um obstáculo para a manifestação divina. Ele

impede também que os músicos e dirigentes de louvor se sintam à vontade. Imaginemos que um dos pastores da igreja, ou que alguns dos que exercem liderança congregacional, ou que alguém da equipe de louvor viva sistematicamente na prática do pecado. Caso isso esteja ocorrendo, pode-se pregar o mais eloqüente sermão, e ter a melhor e mais afinada equipe de música, que nada acontecerá.

Outro dia um pastor me procurou para que eu o ajudasse a resolver um problema sério. A equipe de louvor se encontrava em pecado. Alguns rapazes do grupo estavam adotando práticas homossexuais entre si. Nesse caso, é preferível ter um irmão, sozinho, com seu violão, tocando em três acordes - com todas as limitações possíveis - a ter uma pluralidade de instrumentos executados por várias pessoas que estejam em pecado. Em geral os demônios se sentem à vontade no meio de crentes que estejam assim, e inflamam a igreja com o mesmo pecado que a liderança está praticando. Observe bem: se começam a aparecer muitos casos de adultério, a liderança deve se reunir e fazer um auto-exame! Vale também para os outros pecados.

15

Page 16: 4844972 Formando Verdadeiros Adoradores 1

"Mas as vossas iniqüidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que vos não ouça." (Is 59:2)

"Afasta de mim o estrépito dos teus cânticos, porque não ouvirei as melodias das tuas liras" (Am 5:23)

É duro ouvir isso da boca do próprio Deus! Não adianta se esforçar, fazer o melhor, ensaiar - no dizer de Amós, oferecer manjares, holocaustos e ofertas pacíficas; nem promover grandes celebrações de louvor (Am 5:21-22) - se não houver uma vida de justiça e integridade. Em outras palavras, o discurso tem de estar alinhado com a prática, com o estilo de vida. O Senhor levanta uma questão que às vezes nos passa despercebida: O povo de Israel imaginava que estava oferecendo sacrifícios a Deus, mas era aos demônios que os oferecia. Estevão, citando Amós, diz que os sacrifícios eram oferecidos a Moloque e à estrela do deus Renfã! (At 7:42-43)

O povo achava que estava adorando a Deus nos dias de Moisés, mas Amós diz o contrário: o povo adorava a Moloyue e a Renfã. Talvez seja esse mesmo o problema dos dias de hoje. Não seriam cantores e bandas que pensam estar servindo a Deus e que, aos olhos do Senhor, estão oferecendo seu louvor e música aos demônios?

Apareceu nos últimos anos uma nova geração de líderes de louvor que são acompanhados por bandas. Falam de Cristo e do novo nascimento. Fazem apresentações totalmente despidos da roupagem da santidade, da roupagem interior. Suas vestimentas também não são decentes, estão mais de acordo com o estilo social de bem-vestir adotado pela igreja. Mulheres sensuais e seminuas, com um vocabulário profano - não que queiramos que todos aprendam o evangeliquês - afirmam ser membros dessa ou daquela igreja. Não apenas as mulheres, mas também os homens confundem, pelo visual e pelo modo de falar, a mensagem do evangelho. Apesar da obscenidade e do mundanismo que chega a repugnar ao mais vil pecador, seus pastores sorriem e caladamente consentem. Afinal, o nome deles e o de sua igreja são veiculados pela mídia nacional. Outros, vestindo a roupagem tradicional dos evangélicos, com a promessa de um compromisso com Deus, sugam dos pobres o dinheiro e os bens.

O cantor, ou grupo, que fica famoso passa a fazer exigências financeiras, cobrando cachês, às vezes, altíssimo. É sobre isso que trato nas próximas páginas.

Fiquei sabendo de um certo cantor que chegou a uma cidade onde participaria de um festival de música gospel no ginásio de esportes. Ele exigiu que lhe pagassem à vista, e antes de se apresentar. Como os organizadores não dispunham de todo o dinheiro, pois ainda contavam com a venda de ingressos até a hora do show, ele se negou a cantar. Difícil foi convencê-lo de que deveria participar. Se isso acontecesse comigo, eu subiria ao palanque e falaria a verdade para todo mundo. Denunciaria esse tipo de pessoa que explora o povo de Deus. Falta autoridade aos homens de Deus - os pastores da cidade! Alguns organizadores de festivais já me contaram fatos e episódios que me deixaram admirado. Esses cantores lhes deixam contas no hotel com todo tipo de coisa - de bebida alcoólica a denúncias da portaria sobre pessoas intrusas no quarto.

Além desses, surgiram pastores, pregadores e cantores, em todas as denominações, que se agregam à classe vil protagonizada por Jezabel e Balaão. Não possuem aquela extravagante aparência, nem as requebradas coreografias, nem o palavreado mundano. Mantêm a antiga forma de vestir e o visual tradicional dos crentes. Contudo em nada diferem em suas atitudes e em sua moral dos que não conhecem a Jesus. Não foram por ele transformados. Seus cachês são os mais altos e seu comportamento, o pior! São pessoas que, mesmo mantendo a postura evangelical, a aparência tradicional, repito, encaixam-se perfeitamente no perfil traçado por Pedro e por Judas (2Pe 2:10-22; Jd 1:8-16). Quer dizer, na aparência são crentes, cantores e pastores, mas, no interior, são tão pervertidos como qualquer mundano. Em contrapartida, às vezes a aparência de alguns componentes de grupos e de alguns pastores não é aquela convencional evangélica/pentecostal. Aboliram a tradicional gravata e o paletó e, no entanto, interiormente, são santos. O colorido de suas roupas não os encaixa no perfil de "santos", mas o interior desses irmãos comprova o contrário.

E que perfil espiritual negativo é esse que, a despeito da aparência, contamina a todos, tanto os bem como os mal-vestidos; os evangélicos e os que não são tidos como tais? O próprio mundo questiona o discurso e os valores de certos artistas que se dizem evangélicos mas que não apresentam nenhuma mudança de vida. Questiona também gente famosa do círculo evangélico, que não é artista, pela quantidade de discos que vende no mercado. A quem essas pessoas estão

16

Page 17: 4844972 Formando Verdadeiros Adoradores 1

servindo? A Deus ou aos demônios? No Antigo Testamento, o povo adorava a Moloque pensando estar adorando a Deus; e hoje? Quantos estão servindo a Belial - no dizer de João Milton, em O Paraíso Perdido, o pior dos demônios?

Sempre fiquei intrigado com a denúncia de que Jezabel induzia os servos de Deus à imoralidade. O próprio Jesus a denuncia em Apocalipse 2:20. A maioria dos comentaristas concorda que havia uma mulher que, semelhantemente à Jezabel do Antigo Testamento, exercia certo fascínio e autoridade entre o povo. Não resta dúvida de que deveria se vestir sensualmente e ao mesmo tempo manter uma impressionante postura de espiritualidade. Uma mulher de dons e revelações, por todos admirada, mas que mantinha uma prática de vida que compelia os servos de Deus à prostituição. Não se trata de um sistema como alguns supõe, trata-se de uma pessoa considerada bem espiritual na igreja.

O orgulhoO orgulho, a soberba e a arrogância são sintomas de uma grave enfermidade espiritual. É triste

observar que é exatamente nessa área que a maioria dos livros de auto-ajuda buscam incentivar o indivíduo a erguer-se e a firmar-se. "Você precisa se auto-valorizar." "Precisa dizer a si mesmo que você é importante." Esse é o teor do discurso deles. Se, por um lado, esse tipo de afirmativa é importante e até ajuda realmente uma pessoa a erguer-se, por outro, é a mesma que lança o indivíduo para a derrota, para longe da presença de Deus. O Senhor abomina o orgulho. Para ele, este é, dos pecados, o mais vil. Isso porque o indivíduo que se tem como "o tal", que se ensoberbece, assemelha-se à Satanás. Tiago captou muito bem o que o Senhor sente sobre isso ao citar um outro texto bíblico: "Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes" (Tg 4:6).

Lúcifer, o querubim da guarda, ungido, de grande capacidade ministerial, vê-se cercado pelo sucesso e pela autoridade que tem nos céus. Acima dele, apenas Deus. Um pensamento lhe vem à mente: "Por que não ser Deus?" E a soberba de ser o maior o conduz à queda. Rebela-se querendo ser Deus. "Estimas o teu coração como se fora o coração de Deus." (Ez 28:2). Não é assim que os dirigentes de louvor e os componentes do grupo de adoração costumam raciocinar?

"Se não fosse o nosso grupo...""Se não fosse eu na liderança do louvor...""O culto fica no ponto para o pastor pregar."

Mas isso não soa bem diante de Deus.

Satanás usou da inteligência para galgar ao seu posto de autoridade - o de governar sobre os anjos e cuidar dos negócios do céu. Ele usou da sabedoria para aumentar suas riquezas e por causa disso seu coração se ensoberbeceu. O pensamento de que "eu sou o tal" corrói o mais perfeito dos santos. Contaminou o querubim de luz. Ele, que era o "sinete da perfeição, cheio de sabedoria e formosura" (Ez 28:12), ungido por Deus e "perfeito nos seus caminhos", viu-se tomado de corrupção. Repito: Se esse que era o espelho da perfeição, criado por Deus, cheio de autoridade, ungido pelo Senhor, se corrompeu, o que dizer de nós, homens terrenais?

Será que o leitor se acha incorruptível? Você acredita que, por ter a unção divina, jamais pecará? A trama diabólica consiste em levar a pessoa a confiar demais em si mesma. Quando Jeremias diz que é maldito o homem que confia no homem (Jr 17:5), não está falando de se confiar em outra pessoa, mas em si próprio. O que confia em si está a ponto de deslizar pelo abismo da corrupção e da soberba.

Há, pois, uma linha espiritual imperceptível que separa a auto-estima - coisa que todos precisam ter - da arrogância e da soberba. Manter-se do lado certo é a grande virtude de todo adorador.

O desprezo pelas autoridades constituídas da igrejaOs apóstolos se aprofundam nesse tema e expõem várias situações que experimentamos quase

que no dia-a-dia da igreja. "Não temem difamar autoridades superiores", diz Pedro sobre aqueles que vivem na carne, seguindo imundas paixões - e aqui, explica-se, imunda paixão não se refere apenas a questões sexuais como lascívia e prostituição, mas a tudo o que contraria a vontade de Deus. Esses são atrevidos e arrogantes e desprezam qualquer governo (2Pe 2:10), Isso nos lembra uma expressão bem conhecida nos países latinos: "Hay gobierno, soy contra" - existe governo, sou contra. Essa indisposição contra toda autoridade e governo não pode estar presente naqueles que dirigem o povo no culto a Deus, nem tampouco nos que pastoreiam o rebanho. Um pastor rebelde tem congregação rebelde. Líderes rebeldes perpetuam o mesmo erro em seus discípulos. Desse modo,

17

Page 18: 4844972 Formando Verdadeiros Adoradores 1

todo componente de grupo de louvor tem de se purificar do espírito de rebelião, um espírito satânico, destrutivo e pernicioso.

Judas chama aqueles que são assim de "sonhadores alucinados", que "não só contaminam a carne, como também rejeitam governo e difamam autoridades superiores" (Jd 1:8). O leitor já notou a estreita ligação que há entre o espírito de rebelião e a carnalidade? Comece a observar. Todo rebelde tem uma tendência às condutas imorais, seja na área sexual, seja no hábito de mentir, de cultivar o orgulho e a presunção, ou qualquer outra prática que pode ser acobertada por um manto de espiritualidade.

Pedro aponta "especialmente os que seguem os desejos impuros da carne e desprezam a autoridade" (2Pe 2:10 - NVI). Os componentes da equipe de louvor estão em constante luta contra os desejos impuros - quanta confissão é feita nos encontros com eles! E quem não é tentado na sua carne? Não são os pastores líderes de igrejas tão humanos quanto nós? E por que se arvoram em seres superespirituais como se houvesse esse tipo de pessoa em nosso meio?

O mais espiritual é sempre propenso a sofrer uma queda maior. E quando seguem "o caminho de Caim, buscando o lucro", caem no erro de Balaão, e dos que foram destruídos na rebelião de Corá (Jd 1:11 - NVI). Judas exemplifica, com esses personagens bíblicos, certos cantores, músicos e dirigentes de louvor que trabalham na igreja buscando apenas glória para si. São aqueles que usam o ministério de louvor para proveito próprio, para terem lucro espiritual - sobressair entre os demais - e financeiro - na produção e venda de material fonográfico. Todos sabemos o fim de Caim, de Balaão e de Corá (Coré na versão corrigida). Muitos cantores terminam suas noites de louvor e adoração, de cultos abençoados nos quais exerceram todo seu carisma, em encontros nos hotéis, prostituindo-se com moças levianas que comparecem às suas apresentações.

E o caso é pior ainda. Os anjos, "embora maiores em força e poder" (2Pe 2:11), não ousam sibilar nem a mínima acusação contra autoridades superiores - embora até poderiam fazê-lo devido ao posto que ocupam. E no encanto muitos líderes e componentes de grupos de louvor, além de serem impuros na carne, desprezam a autoridade, sendo insolentes e arrogantes. Se, por um lado, nossos dirigentes de louvor e componentes de grupos buscam controlar suas paixões carnais, por outro, costumam ter deslizes num ponto que Deus considera muito importante: o respeito à autoridade. O pecado de rebelião - levantar-se contra a autoridade estabelecida na igreja pelo governo de Deus – é um pecado grave aos olhos do Senhor. Judas compara os que "rejeitam as autoridades e difamam os seres celestiais" (v. 8 - NVI) aos anjos que "não conservaram suas posições de autoridade" (v. 6 - NVI).

Se o desprezo à autoridade constituída é assim tão sério para Deus, muito pior é quando o desprezo é contra os que o Senhor colocou em posição de governo na igreja, lista declaração, vinda dos lábios de Deus, tem de ser levada a sério:

"A obediência é melhor do que o sacrifício, e a submissão é melhor do que a gordura de carneiros. Pois a rebeldia é como o pecado da feitiçaria, e a arrogância como o mal da idolatria" (1Sm 15:22-23 - NVI).

O querubim de luz transformou-se em Satanás devido à rebelião. A perfeição - e ele é mencionado como sendo o sinete da perfeição - não o impediu de arrogar-se contra a autoridade de Deus (Ez 28:12). A unção e a autoridade recebidas do Senhor também não o impediram de tornar-se um rebelde (vv. 14,15). Que diremos, então, de nós? Se esse ser cheio de formosura, perfeito, sem falhas, foi tomado de orgulho e de independência de Deus - a ponto de levantar-se contra os céus - o que esperar de nós? A única maneira de controlar nosso espírito de rebelião é nos revestirmos diariamente de Jesus Cristo e de sua humildade.

Belial está solto!

"Porém os filhos de Belial serão todos lançados fora como os espinhos, pois não podem ser tocados com as mãos" (2Sm 23:6)

Varias vezes as Escrituras mencionam esse demônio. Eli pensou que Ana estivesse embriagada e ela prontamente replicou: "Não tenhas, pois, a tua serva por filha de Belial" (1Sm 1.16).

18

Page 19: 4844972 Formando Verdadeiros Adoradores 1

Os filhos de Eli eram influenciados por esse demônio. "Eram, porém, os filhos de Eli filhos de Belial e não se importavam com o Senhor." (1Sm 2.12.)

Belial não é um demônio comum. Ele é um dos príncipes das trevas, e chega a ser confundido com o próprio Satanás. Alguns comentaristas falam de Belial como sendo apenas uma expressão hebraica usada a respeito daqueles que incitam à idolatria ou à insurreição, referindo-se a pessoas sexualmente imorais ou mentirosas. É isso o que encontramos na nota de rodapé da Bíblia de Genebra. É também o termo hebraico para "indignidade ou iniqüidade", diz Russell Champlin.1

Mas, afinal, quem é esse Belial que anda fazendo estragos na igreja do Senhor Jesus? Que espírito é esse que ocupa os púlpitos, que mente, persegue, adultera, que faz o mal em nome de Deus, e que nem é notado nem exaltado como os demais príncipes de Satanás?

Encontramos uma descrição da forma de atuação desse príncipe satânico na obra O Paraíso Perdido, de João M¡lton. Esse escritor cego, contemporâneo de Shakespeare, célebre cristão, compôs um dos cinco poemas épicos do mundo. Creio que ele teve uma aguçada percepção espiritual quando falou do modo de agir de Belial.

Milton abre a cena épica com Satanás, no profundo abismo, recobrando-se da queda que o Messias lhe impôs. O primeiro a despertar ali, ao lado de Satanás, foi Belzebu, seguido por Moloque, Camos, Baalim, Astarote, Tamuz, Dagom, Rimom, Osíris, Ísis, Hórus e o derradeiro deles, Belial. Todos se colocam à disposição de seu líder e com ele traçam planos de continuar a luta contra o Altíssimo. Falando sobre Belial, diz Miltón:

Espírito nenhum mais torpe que eleDos altos Céus caiu no fundo do Orco,Nem mais grosseiro para amar o vícioSó por ser vício. Em honra desse monstroNão se erguem templos, nem altares fumam;Porém, com refinada hipocrisia,É quem templos e altares mais freqüentaChegando a ser ateus os sacerdotes,Bem como de Eli sucedeu os filhosQue de Deus os alcáceres encheramDe atroz fereza, de brutal lascívia!Reina ele pelas cortes, nos palácios,E nas cidades onde os vícios moram,Onde a devassidão, a infâmia, o ultraje,Sobem por cima das mais altas torres.Ali, assim que tolda a noite as ruas,Os filhos de Belial nelas divagam (...)2

Penso que Milton definiu de forma apropriada a atividade desse iníquo e perverso príncipe do mal. Foi ele que inspirou os filhos de Eli a fazerem do Tabernáculo do Senhor um antro de orgia, perversão e maldade, resguardados sob o manto da religião. Operando nos bastidores da religião e da fé, Belial consegue vituperar o bom nome de Deus nos dias de hoje. Em alguns lugares, ele ocupa solenemente púlpitos de igrejas e campanários de catedrais. Desse modo inspira, com sua presença, atividades que se mostram cheias de piedade, mas que são danosas e prejudiciais à igreja. Belial está conseguindo fazer com a igreja o que Moloque não pôde e não pode. Afinal, Moloque teve de mudar de tática para votar a sacrificar crianças, para destruir casamentos e aniquilar a família; e, nesse sentido, Belial serve-lhe de grande ajuda. Aquele que agia pelas ruas de Sodoma e fincou residência na pequena Gibeá, onde uma mulher foi violentada e morta pelos homens da cidade, age sem ser notado entre o rebanho de Deus.

Quando Milton diz que Belial ama o vício só por ser vício, vêm-me à mente os jovens que, abandonando a fé, seqüestraram a filha de um famoso empresário e depois o fizeram de refém. A imprensa, com uma ponta de orgulho, permitia-se divulgar que os rapazes eram membros de cerca denominação evangélica. Belial sabe como conquistar discípulos e menosprezar a fé! Silenciosamente atua nos antros com vícios; nas portas das escolas, conquista adeptos para o mal; e age tranqüilo na catequese ideológica de alguns governos.

19

Page 20: 4844972 Formando Verdadeiros Adoradores 1

Belial está por trás de romances, histórias, filmes e documentários. Inspira os autores a escreverem os mais lindos contos, as histórias mais apreciadas. Freqüenta, com certa pompa, o mundo das letras, do teatro e da música. Fala de amor e de paz, ao mesmo tempo em que opera com malícia, indignidade e desprezo.

Historicamente não se sabe de nenhum templo erguido a Belial - como se construiu para todos os demais. Contudo, no dizer de Milton, ele freqüenta os templos. Perverso como é, consegue atrair para si as orações feitas aos demais príncipes. Sabe que pode encontrar nos adoradores a honra que espera, pois toda oração, adoração e sacrifício cujo fim é a pessoa, a sustentação do ego, o orgulho, a defesa própria, o bem-estar pessoal, são incenso que lhe sobe às narinas e que sustenta sua iniqüidade. A oração do fariseu em Lucas 18 chega-lhe ao olfato como agradável cheiro. A do publicano não lhe serve, pois ela não está perfumada com seu próprio espírito.

Na igreja percebe-se sua presença vil que é acobertada pelo manto do amor e do cuidado ao próximo. Belial, com sua iniqüidade, divide a igreja, permeia a liderança, assenta-se nas tribunas dos concílios e convenções, em reuniões de ministérios, nas pregações tidas como as mais espirituais. Ele é adorado sempre qur a iniqüidade e a perversidade ocupam espaço em nosso coração e quando nossa motivação deixa de ser Deus, e passa a centralizar-se em projetos humanos. É exaltado até mesmo em ritos e leis, como foi o caso dos filhos de Eli. Tudo o que faziam era num ambiente sagrado. A pompa da religiosidade deles era como sacrifício agradável a esse demônio. A forma como agiam na casa de Deus fez com que fossem chamados na Bíblia de filhos de Belial. Inclusive Eli julgou Ana injustamente, repreendendo-a, achando que ela estivesse bêbada no templo - comportamento normal dos filhos dele. E no entanto ela estava cheia da presença de Deus.

Belial é um mistério que precisa ser desvendado.

O mau testemunho

A opção de ser crente, de ser um fiel discípulo de Cristo - as vezes uma decisão difícil, sabendo-se que há um preço a ser pago em seguir a Jesus - já não é levada em conta por boa parte dos que se dizem cristãos. São pessoas que dão péssimo testemunho, pois seu comportamento na área profissional contradiz seu palavreado e suas afirmações de fé. E isso vai do carpinteiro ao artista, da empregada doméstica ao famoso atleta, do estudante ao político.

Algumas igrejas parecem ter perdido o rumo. A quantidade de membros que se divorciam é testemunha gritante de como o evangelho diluiu-se no meio de uma sociedade paganizada. A santidade de alguns jovens que decidem viver castos até o casamento é motivo de chacota no seio da própria congregação.

A mensagem de Amós precisa ecoar novamente na igreja, pois tem uma palavra de alerta aos membros da comunidade da fé. Ele não apenas diria "afastem de mim o som das suas canções e a música das suas liras" (Am 5:23-NVI), mas acrescentaria:

"Afastem de mim o palavreado das mensagens que vocês pregam, pois fecho os ouvidos quando vocês sobem ao púlpito. Cerro os olhos para não ler o que escrevem. Detesto quando mencionam o meu nome. Vocês têm uma música muito linda, uma banda perfeita, uma voz belíssima, mas o som de sua melodia chega aos meus ouvidos desafinado pelo estilo de vida perverso que vocês levam. O cheiro que vocês exalam provoca-me náuseas. Repugno o som dos instrumentos que vocês tocam..."

Amós clama pelas ruas contra a liderança da igreja:

"Vocês oprimem o pobre e o forçam a dar-lhes o trigo." (Am 5:11 - NVI) Ou, em outras palavras: Para satisfazer seus desejos pessoais, para construir suntuosas catedrais e comprar apartamentos e terras, vocês sugam dos pobres todo o dinheiro que eles têm. "Vocês oprimem o justo, recebem suborno e impedem que se faça justiça ao pobre nos tribunais." (5:12 - NVI) Ou seja: Vocês os mantêm sob o jugo da autoridade, ameaçando-os e intimidando-os com a possibilidade de exclusão pública do rol de membros. A opressão da vara do pastor, de todas, é a pior!

Amós clama na igreja:"Vocês se deitam em camas de marfim e se espreguiçam em seus sofás." (6:4 - NVI) Enquanto

isso, os pobres da igreja dão duro e trabalham. Seus obreiros andam em ônibus lotados, ou a pé, suando para fazer a obra de Deus. Vocês, porém, como líderes, do alto de sua autoridade, descansam

20

Page 21: 4844972 Formando Verdadeiros Adoradores 1

no sofá. Ficam deitados, repassando um a um os canais de tevê; deleitam-se em viagens; dormem nos mais caros hotéis; e freqüentam os shoppings da moda.

Ele diz aos cantores e grupos que cobram altos cachês para se apresentarem nas igrejas:

Vocês "dedilham suas liras como Davi e improvisam em instrumentos musicais" (Am 6:5 - NVI), mas não têm o coração de Davi. Buscam, isso sim, o próprio bem-estar e, depois de cantarem e louvarem nos cultos das igrejas ou nos festivais, fecham atrás de si as portas do quarto de hotel e deleitam-se na fartura da melhor comida e das bebidas mais caras. E, às vezes, também se entregam a orgias sexuais. "Vocês bebem vinho em grandes taças" - não apenas vinho, mas toda sorte de bebidas caras e finas nas festas de gente ímpia que detesta o nome de Cristo - "e se ungem com os mais finos óleos" - têm aparência de possuir grande unção e poder, confundem poder e unção com habilidade e profissionalismo. Fazem do ministério seu ganha-pão, "mas não se entristecem com a ruína de José", isto é, vocês não choram, nem clamam, nem jejuam, nem se importam com a decadência da igreja e do mundo. Pensam apenas em vocês mesmos! (Am 6:6 - NVI)

"Aos retos fica bem louva-lo" (Sl 33:1)

"Catem de júbilo e se alegrem os que têm prazer na minha retidão" (Sl 35:27)

Como se vê, Deus olha mais para o coração do homem do que para seus talentos. Retidão, vida íntegra e sinceridade de coração são mais importantes para o Senhor que nossos melhores sacrifícios. Esta é a mensagem central em toda a Bíblia: Deus quer sinceridade, lealdade e vida íntegra, e despreza todo sacrifício e oferta que não surgem de um coração sincero e de uma vida reta. Don Moan escreveu um cântico em inglês cuja letra, traduzida, é mais ou menos assim:

O louvor lhe cai muito bem!Você louva e me adora com muita desenvoltura.O louvor lhe cai muito bem!Mas você não vive o que canta;Você não tem o coração reto para comigo,No entanto o louvor lhe cai muito bem!

Quantas vezes nossa musicalidade, habilidade de tocar instrumentos, capacidade de cantar e bela voz soam e chegam diante de Deus como algo desagradável, sem tempero, sem nenhum perfume.

A situação mais difícil que o líder de louvor enfrenta é ter de decidir entre um músico habilidoso e com boa técnica e outro com vida de oração, consagração e santidade, mas sem muita perfeição técnica. O que fazer? Tomar sua decisão em conformidade com o que diz a Escritura, seguindo parâmetros de santidade. É preferível um músico quebrantado e humilde com pouca técnica a um habilidoso, pecador e mundano.

A cobrança de cachês

As necessidades do dia-a-dia podem levar o homem - seja ele pastor ou dirigente de louvor - a tornar-se um negociante dos dons recebidos de Deus. Ele se transforma num mercador e cai, conseqüentemente, na mesma condenação do diabo. Ezequiel fala desse espírito de comércio que fez o querubim cair (Ez 28:16-18), e tanto Pedro quanto Judas citam o comércio como causa da queda de um homem de Deus. Balaão amou o salário da injustiça (2Pe 2:15) e por buscar o lucro foi condenado (Jd 1:11 - NVI). São homens-dirigentes de louvor e pastores - que não passam de "rochas submersas nas festas de fraternidade que vocês fazem", ou seja, os grandes eventos musicais. "São pastores que só cuidam de si mesmos", isto é, mercadejam a mensagem de Deus, buscando viver regaladamente (Jd 1:12 - NVI). Esse é o perfil daqueles que, com iniqüidade, ministram em nossos cultos. Paulo diz que esses mercadejam - leia-se adulteram - a Palavra de Deus. E por quê? Em busca do benefício pessoal! "Porque nós não estamos, como tantos outros, mercadejando a palavra de Deus." (2Co 2.17).

Ezequiel fala que o querubim perfeito - mais tarde Satanás - era um especialista em vendas; era bom de negócios. Contudo, à medida que cresceu na arte de fazer negócios, passou a ficar cheio de violência. "Na multiplicação do teu comércio, se encheu o teu interior de violência, e pecaste." (Ez 28:16) O pecado entra de forma sutil na vida dos cantores e integrantes de bandas. Aquela

21

Page 22: 4844972 Formando Verdadeiros Adoradores 1

motivação pura e sincera de serviço a Deus, à medida que se negocia e se vê o dinheiro entrando, cede lugar à iniqüidade. Então essas pessoas caem no mesmo laço de Balaão e do querubim de luz. O sucesso corrompe o mais humilde dos homens! Vez por outra a mídia secular denuncia certos líderes evangélicos pela abastança com que vivem - casas luxuosas, caríssimos carros importados, contas bancárias recheadas, etc. O mundo gosta de pecar, mas não aceita que os líderes cristãos vivam em pecado nem que tenham o mesmo estilo de vida deles.

"Por meio dos seus muitos pecados e do seu comércio desonesto você profanou os seus santuários." (Ez 28:18 - NVI) O comércio musical no meio da igreja - e ninguém está criticando a venda de material para uso dos crentes - vem sendo corrompido pela ganância de certos pastores e cantores. São pessoas que visam apenas ao lucro!

Creio que neste ponto cabe uma pequena nota sobre o mercantilismo ou a cobrança de cachês que muitos empregam como condição para cantar ou não numa igreja. Claro que não vou fazer aqui uma análise profunda de como nós, pastores e músicos, nos comportamos na questão financeira neste grande Brasil. Contudo há muitos abusos nessa área. O pressuposto é o seguinte: se o louvor é arte, a pregação também o é. Se os pregadores não costumam cobrar cachês, uma atitude sadia ainda mantida por cercos ministros, por que o fazem os cantores?

Durante anos venho mantendo a mesma postura no que se refere ao que escrevi em 1986 no livro Ministério de Louvor da Igreja. Este principio bíblico continua inexorável: O ministério dos cantores e o daqueles que dirigem nossos cultos de louvor e adoração se equivalem ao ministério pastoral e da pregação da Palavra de Deus. No meu caso, evito até mesmo levar livros comigo e insisto com os irmãos que os encomendem diretamente as editoras. Às vezes até providencio algumas cópias e as levo comigo. Como não sou um bom negociante, quase nunca os vendo. Minha esposa costuma me chamar de "São Francisco". Há pouco tempo, visitei uma igreja tão pobre no meio de uma favela que doei todos os livros aos obreiros. E é importante frisar que preciso comprá-los de meus editores.

Manter uma postura de jamais cobrar cachês, e de exercer o ministério de louvor sem se corromper como mercantilismo tão em voga na igreja, é tarefa hercúlea para todos os que querem se comportar seguindo a Bíblia. O tema - se devemos ou não cobrar cachês e, conseqüentemente, ingressos do povo - vem sendo discutido intensa e exaustivamente nos últimos anos. E as opiniões entre os que trabalham nessa área se divergem.

Alguns cantores e ministros de louvor não cobram cachês e recebem ofertas dadivosas das igrejas - uma raridade (levando-se em conta que pastores conferencistas recebem pequenas ofertas) - enquanto outros cantores exigem cachês, quase sempre altos, para se apresentarem pelo Brasil. Já ouvi falar que alguns cantores exigem o pagamento do cachê, em dinheiro, antes da apresentação, do contrário se recusam a se apresentar diante da multidão que os espera. Essa é uma barganha mercantilista revestida de muita carnalidade. E ainda há, é claro, a exigência de bons hotéis, transporte, e de privacidade total.

Por outro lado, sou testemunha de verdadeiras raridades no meio evangélico: homens simples, legítimos ministros de Deus, que vivem de ofertas e da venda de seus produtos - o que os leva a andarem "com a corda no pescoço". Dentre essas raridades, no entanto, alguns cometem o erro de determinar um valor mínimo para a oferta que precisam receber. Isso é uma lástima. Frisam que não é cachê, mas um valor de referência para poderem se manter.

Se somos ministros de Jesus Cristo, temos de nos espelhar na vida daqueles que escreveram as primeiras páginas da história da igreja. Paulo, por exemplo, não exigia para si além do que cobrisse suas necessidades imediatas. Jesus se despiu de sua riqueza em favor dos pobres. De outro modo, a corrupção reaparece sob o véu da espiritualidade do ministério. Sofrer o dano, depender de Deus e se manter incorruptíveis no meio dessa geração é tarefa para poucos.

Como afirmei, nem mesmo o querubim de luz conseguiu manter-se incólume num ambiente de intensa e brilhante santidade. O que pode acontecer, então, com os ministros de Deus aqui nesta Terra em que a corrupção grassa? "O sinete da perfeição, cheio de sabedoria e formosura" (Ez 28:12) apresentou sinais de corruptibilidade no empíreo. Esse fato deveria servir de exemplo a nós, ministros, que pregamos e cantamos em encontros de louvor e adoração, e também a todos os que, para cobrir custos, cobram ingressos tão altos que poucos conseguem participar de seus encontros e seminários.

22

Page 23: 4844972 Formando Verdadeiros Adoradores 1

A questão não é apenas a cobrança de taxas para seminários de música, de batalha espiritual, etc. - que poderia ser evitada se a igreja também administrasse os recursos financeiros desses encontros e por eles se responsabilizasse. Há também uma pressão econômica que certos conferencistas dessas áreas exercem. Fazem exigências aparentemente simples, mas que, no acerto das contas, redundam em custos para as igrejas que os convidaram. As igrejas deveriam se precaver financeiramente e arcar com todas as despesas, sem ônus para os participantes. Assim todos poderiam se beneficiar de nossos seminários com conferencistas vindos de fora. Contudo a igreja também se tornou mercantilista. Além de se submeter às exigências apresentadas por seus convidados, ela também aderiu aos critérios do mercado financeiro.

Ora, qualquer pessoa que paga ingresso para assistir a uma noite de louvor com algum famoso sabe que está pagando para ter direito a um show. Às vezes o ministro de louvor ou conferencista, que não cobra cachê, nem sequer imagina que por trás de sua presença há um mercantilismo da igreja ou dos organizadores do programa. Assisti a um ministro de louvor que tentava fazer da reunião no ginásio um momento de adoração e louvor. Com cânticos espirituais, procurava levar a multidão à presença de Deus. Mas todos pagaram para assistir a um espetáculo e o ministro, possivelmente, nem sabia que não conseguiria seu intento de levar o povo à adoração. O espírito de show estava no ar. O ministro, por sua vez, ao notar que o frenesi ocupava a platéia, cedeu e fez seu espetáculo particular! Como show, foi nota dez!

O comércio

A comercialização de tudo o que é recebido de Deus - os dons espirituais; a capacidade de cantar; o conhecimento musical; saber pregar bem - apresentando como desculpa que colocamos o material à disposição do corpo de Cristo para a edificação da igreja, e que o vendemos por bom preço, pode assemelhar-se à soberba e ao orgulho. Isso porque, mesclado à boa intenção de se vender para edificar o corpo, está o erro de lucrar com os dons que de graça recebemos do Senhor. Parece-nos que o ensino de Jesus, de graça você recebeu, de graça deve dar, não se aplica ao comércio que fazemos dos dons que Deus outorgou a nós. A questão não é a venda de produtos.

Algumas pessoas, inclusive, citam a limpeza que Jesus fez no templo, expulsando dali os mercadores, argumentando que não se deve vender nada na casa de Deus. No entanto o lugar físico que chamamos de igreja não é a casa de Deus. As pessoas é que são a casa de Deus. E também a limpeza não foi no templo - onde estava a arca e o santuário - mas na área do templo. O problema não é o de vender produtos. Nesse episódio que citei os judeus vendiam e compravam junto ao templo animais que eram oferecidos em sacrifício. E isso é recomendado na lei.

Quando o caminho fosse longo demais para levar um animal ao sacrifício, o ofertante poderia vendê-lo na sua cidade e comprar o mesmo produto na cidade onde fosse sacrificar - no caso Jerusalém. "Quando o caminho te for comprido demais, que os não possas levar, por estar longe de ti o lugar que o Senhor, teu Deus, escolher... então, vende-os, e leva o dinheiro na tua mão... Esse dinheiro, dá-lo-ás... por vacas, ou ovelhas, ou vinho, ou bebida forte, ou qualquer coisa que te pedir a tua alma..." (Dt 14:24-26.)

O problema é que na cidade grande o comércio de artigos para sacrifício andava inflacionado. O ofertante vendia um animal por um preço e ao chegar a Jerusalém descobria que um outro, igual ao que vendera em sua cidade por tanto, custava o dobro ali (Jo 2:13). Nos dias de Jesus, os judeus exploravam comercialmente os irmãos. Deus condena o abuso, não o comércio; a usura, não o juro. Usura é juro abusivo. O mercado de animais podia funcionar, mas os mercadores estavam abusando do preço dos produtos.

Não é isso o que vem ocorrendo em nossos dias? O problema não é a venda de produtos em nossas igrejas, mas o abuso nos preços. E alguns pastores são coniventes com a situação. Querem também lucrar. Ora, nós, os cristãos, deveríamos nos empenhar para oferecer os produtos com o menor preço possível. Bíblias, livros e discos, tão necessários ao crescimento espiritual de qualquer pessoa, deveriam ficar quase a preço de custo. Especialmente quando a inflação não é alta.

Esse é um terreno perigoso. O limite entre vender e vender é espiritual, imperceptível. Vem daí a dificuldade que se tem na hora de se produzir artigos cristãos e colocá-los no mercado. Tomemos como exemplo a produção de um CD, e façamo-nos a seguinte pergunta: Por que os CDs evangélicos são colocados no mercado pelo mesmo preço de um secular? Todos sabemos que é possível vendê-lo por menos da metade da valor do outro, do cantor mundano - se bem que alguns cantores

23

Page 24: 4844972 Formando Verdadeiros Adoradores 1

evangélicos não passam de mundanos - e no entanto esses CDs são vendidos pelo mesmo preço de um secular. Seria possível aplicar um lucro menor para que todos pudessem adquirir uma obra cristã? A resposta é sim!

Um outro exemplo são os livros e Bíblias que têm preços bem mais acessíveis se comparados aos das publicações mundanas. Um livro com a espessura da Bíblia é vendido muito mais caro no mercado secular, mas as Escrituras têm preços módicos. E por que não agir da mesma forma com os CDs? Por causa da ganância das riquezas, o mesmo pecado cometido pelo querubim de luz. "Pela extensão da tua sabedoria no teu comércio, aumentaste as tuas riquezas; e, por causa delas, se eleva o teu coração." (Ez 28:5.) A questão não está em vender ou não um produto, mas na iniqüidade que cerca o comércio. Esta declaração profética deixa claro que o querubim tornou-se diabo: "Pela multidão das tuas iniqüidades, pela injustiça do teu comércio, profanaste os teus santuários" (Ez 28:8 - grifo do autor). A questão é a prática injusta de altos lucros. Um produto que poderia ser vendido por um valor digno é comercializado a preços exorbitantes. E é isso que o Senhor condena! É pecado diante de Deus!

E nesse perigoso terreno, o querubim de luz fracassou. A questão, repito, não é simplesmente se pode ou não vender produtos, mas avaliar a legalidade em cada caso e o quanto de injustiça se pratica no comércio cristão. Às vezes me pergunto como Dorcas, a quem Pedro ressuscitou, se comportaria em nossos dias. Será que ela escreveria um livro contando sua experiência, com o relato de alguém que presenciou a morte dela; gravaria seu testemunho e sairia a viajar pelas igrejas vendendo o milagre da sua ressurreição? Ou, quem sabe, voltaria à máquina de costura, continuando sua tarefa de preparar roupas para os pobres. Muitas pessoas se aproveitam da benevolência que Deus lhes concedeu. Recebem de graça, mas lucram com os dons. E como uma coisa leva à outra...

Ao lado da cobrança de cachês, essa é uma das questões mais polêmicas no meio cristão. Seria isso o que Pedro, em linguagem simbólica, queria dizer ao escrever sobre os que, impelidos pela avareza, fariam comércio de nós? "Também, movidos por avareza, farão comércio de vós." (2Pe 2:3.) Imagino que, às vezes, envolvemo-nos no laço do comércio desenfreado - não apenas nós que gravamos cânticos ou mensagens e publicamos livros, mas também as congregações que nos recebem. Algumas igrejas sovinas não cumprem sua palavra, não dão ofertas, nem pagam as passagens dos cantores e dos preletores. Isso nos força a recorrer ao comércio - vender para continuar em frente! Assim, as igrejas, que deveriam ser atalaias contra a corrupção, tornam-se agentes ativos desta no comércio que grassa no meio evangélico.

A transformação do evento em show

Alguns fatores identificam quando o encontro é um show, e não um momento de louvor e adoração. Primeiro, o individualismo do cantor ou ministro. Ele não fala com ninguém. Chega à cidade pouco antes do encontro e mal tem tempo de passar pelo hotel antes de se dirigir ao local do festival. Segundo, exige que somente ele se apresente na plataforma - ninguém pode lhe fazer sombra. Terceiro, ao terminar o show sai correndo e, cercado de seus seguranças, livra-se de todos e corre para o hotel. Quarto, não se preocupa em se reunir com ministros de louvor e adoração nem com os pastores que organizam o evento na cidade. Em outras palavras, chega em cima da hora e sai no outro dia bem cedo. No caso específico que tenho em mente, o famoso cantor se esquivou, ou aqueles que o trouxeram o esquivaram, de se encontrar com grandes nomes da música brasileira que estavam ali presentes. Ele ignorou a liderança espiritual da cidade e, no primeiro vôo da manhã, partiu. Quinto, não está nem aí para o que os outros pensam. Podem não gostar dele, mas o que lhe importa é que tem uma gravadora forte, com uma estrutura de distribuição internacional, e que será convidado novamente para a mesma cidade e aplaudido pelos mesmos pastores.

Esse festival de desencontros não se encaixa no modelo bíblico ministerial. Não posso imaginar o apóstolo Paulo chegando a uma cidade cercado de seguranças, pregando durante a noite e saindo correndo pela manhã sem ao menos instruir os pastores locais. Não consigo vê-lo fazendo exigências financeiras nem impondo regras que trouxessem benefícios apenas a ele, Timóteo, Silas e Lucas. Aliás, Paulo tampouco se submeteria ao mercantilismo das igrejas. Preferiria seguir para uma cidadezinha perdida do interior, a fim de proclamar a mensagem do Senhor.

Nós, ministros de Deus - que pregamos sua Palavra, que ministramos louvores nas igrejas e em congressos, que escrevemos livros (como no meu caso), que editamos CDs e fitas - vivemos na corda bamba. Um pequeno descuido pode nos levar a incorrer no pecado de Lúcifer. Pode fazer com que cometamos os mesmos erros denunciados tão bem pelos profetas Isaías e Ezequiel: perder nossa

24

Page 25: 4844972 Formando Verdadeiros Adoradores 1

santidade, sermos afetados pela corruptibilidade, pelo mercantilismo e, pior, pelo orgulho. Quando isso acontece, resta-nos ouvir a advertência de Deus: "Afasta de mim o estrépito dos teus cânticos; porque não ouvirei as melodias das tuas liras. Antes..." (Am 5:23-24).

Viajando pelo Brasil e ministrando nas mais diversas denominações, tornei-me testemunha de como o espírito de show tomou conta dos cultos, de como os negócios são mais importantes do que ficar ali junco à plataforma ou ao púlpito ministrando vida àqueles que vieram nos ouvir... Apesar do risco de alguns quererem "tocar em nossas vestes", é dever de todo ministro de Cristo gastar-se em favor das vidas, ministrando-lhes cura, perdão, arrependimento e amor. Depois de tantos anos de ministério, posso relatar das inúmeras vezes em que famosos evangelistas chegam e saem, tomam a oferta e se vão sem sequer respeitar os obreiros do Senhor na cidade. Diria até que agem sem ao menos levar em conta que ali existem homens de Deus que os respeitam e os admiram, e esperam deles um comportamento à altura de ministros do Senhor.

Nesse festival de desencontros, nós, os pastores, também nos chocamos e criamos atritos. Daí a premente necessidade de rever com a máxima urgência alguns critérios. Devemos até mesmo criar parâmetros claros para definir de que forma os homens de Deus devem ministrar aos membros de nossas igrejas. É claro que precisamos fazer isso sem jamais desrespeitar o profeta, para que possamos receber também o galardão de profeta.

O assunto é amplo e envolve particularidades que aqui não quero abordar. No entanto aconselho um estudo minucioso - à luz da Palavra - do certo e do errado, do que é bíblico e aceitável e daquilo que é inaceitável em nossos dias. Deixo aqui a plataforma de onde podemos partir em busca de soluções.

25

Page 26: 4844972 Formando Verdadeiros Adoradores 1

Capítulo 04 - O problema é técnico ou espiritual?

"Cantem-lhe uma nova canção; toquem com habilidade ao aclamá-lo." (Sl 33:3 - NVI)

"Então uma nuvem encheu o templo do Senhor, de forma que os sacerdotes não podiam desempenhar o seu serviço, pois a glória do Senhor encheu o templo de Deus." (2Cr 5:13-14 - NVI)

Nem sempre se resolve tudo com a melhor técnica. Não adianta os pastores buscarem recurso na retórica, na homilética, na estrutura do sermão, num lindo tema. A mensagem que produz resultados pode até conter esses ingredientes. Contudo a pregação será vazia sem a graça e unção de Deus. O mesmo acontece com o louvor da igreja. Uma questão técnica realmente atrapalha, e só a unção do Senhor consegue superar nossas deficiências. Uma boa técnica, porém, não é sinônimo de perfeito louvor. As duas coisas - técnica e unção - têm de andar juntas!

Falta de Entrosamento Técnico e Espiritual Entre os Músicos

Certamente não é só o pecado que pode representar um obstáculo ao fluir de Deus no culto. É possível que um grupo de louvor viva em consagração a Deus e mesmo assim não consiga fluir pela falta de entrosamento entre os músicos. As Escrituras não apresentam nenhum caso de falta de entrosamento, mas mostra que, quando há harmonia entre eles, Deus se faz presente na reunião. Em 2 Crônicas 5.11-14, os músicos e cantores estavam em perfeita sintonia musical e espiritual.

E aqui temos de abordar dois tipos de entrosamento, ou afinação. O natural, em que todos tocam e cantam em perfeita harmonia; e o espiritual, quando todos estão afinados com a música do céu. Ambos são importantes: afinados entre si e com o Espírito Santo!

No natural, quando os acordes do teclado não estão afinados com os da guitarra - para citar apenas um exemplo - ou mesmo que estejam afinados, mas não fazem o mesmo acorde ou acordes que se ajustam entre si simultaneamente, a dissonância ressoa por todo o ambiente. No dizer de um irmão que fica na porta atento aos visitantes, "é de doer os ouvidos". São falhas corrigidas nos ensaios. E ensaio exige liderança musical e espiritual, a participação de alguém que corrige, que coordena, e que, acima de tudo, tenha um ouvido musical.

Exemplos de entrosamento no Antigo Testamento

Em 2 Crônicas 5 e 7, o registro da glória de Deus inundando o templo é impressionante. Esses capítulos destacam que a presença divina foi tão forte que os sacerdotes não podiam sequer entrar no santuário para ministrar diante do Senhor. "Sucedeu que a casa, a saber, a Casa do Senhor, se encheu de uma nuvem; de maneira que os sacerdotes não podiam estar ali para ministrar, por causa da nuvem, porque a glória do Senhor encheu a Casa de Deus." (2Cr 5:13-14) Uma outra versão diz que "não podiam os sacerdotes ter-se em pé... porque a glória do Senhor encheu a Casa de Deus" (ARC). Isso aconteceu quando Salomão levou a arca da aliança para dentro do novo templo. Logo depois, ele ora ao Senhor - oração que ocupa todo o capítulo seis - e, novamente, a glória de Deus inunda o templo, de tal maneira, que "os sacerdotes não podiam entrar na Casa do Senhor" (2Cr 7:2), fato que foi presenciado por todos os filhos de Israel que estavam do lado de fora. Eles viram a nuvem de glória descer sobre o templo! Essa glória visível em forma de nuvem e fogo esteve sempre presente na vida do povo de Deus. Na saída do Egito, na inauguração do tabernáculo no deserto, durante os dias de peregrinação, e agora, no novo templo planejado por Davi e construído por seu filho Salomão.

E aqui desejo fazer uma observação. Sempre que Deus quer renovar a aliança com seu povo, manifesta-se de diversas maneiras: com milagres, prodígios, com abalos sísmicos - como em Atos -com a ação de anjos, com vida e com morte, com a terra se abrindo, com a água jorrando, etc.

Contudo esse entrosamento técnico e espiritual dos levitas e sacerdotes não se deu do dia para a noite. Ele se iniciou quando Davi decidiu transportar a arca da aliança pura Jerusalém. Desde a guerra com os filisteus, na qual morreu a família sacerdotal, Eli, Hofni e Finéias - Davi nem era nascido - que a arca não estava em poder dos sacerdotes. Nessa ocasião, o lugar de adoração foi totalmente destruído. Inclusive, séculos mais tarde, nos dias de Jeremias, Deus lembra esse acontecimento ao povo (Jr 26:6-9). Após um tempo em que a arca estava entre os filisteus, estes, devido à praga que se espalhara entre o povo, decidiram levá-la para o território de Israel. Deixaram-na na casa de Abinadabe, e seu filho Eleazar foi designado para cuidar dela (1Sm 7:1). Depois o

26

Page 27: 4844972 Formando Verdadeiros Adoradores 1

texto de 2Samuel 6 relata que ela está no mesmo lugar onde havia sido deixada cerca de sessenta ou setenta anos antes.

Foram necessários seis ou sete décadas para que a arca voltasse ao seu lugar, e para que Deus outra vez manifestasse sua glória a todo o povo. Costumo dizer que Samuel herdou uma nação num estado espiritual lastimável, mas que foi ele quem fez a transição para a chegada de Davi; e este, por sua vez, a transição para o reino de Salomão.

Agora Davi, ao trazer a arca para Jerusalém, comete um grave erro. Ele desconhecia os regulamentos para o transporte da arca - afinal, nesses sessenta ou setenta anos, a arca ficou parada numa casa. Então ele mandou que ela fosse transportada num carro novo - sempre a idéia de inovação - forma que Deus não aprovava. A partir daí Davi inicia os passos que lhe trarão entrosamento técnico - seguir certas diretrizes da lei - e espiritual, uma área difícil de ser trabalhada. O conjunto formado pela técnica e pelo espiritual pode ser o meio pelo qual Deus costuma surpreender seus filhos.

A arca foi trazida para Jerusalém sobre o ombro dos sacerdotes (1Cr 15:1-15). Dessa vez não houve morte, houve muita alegria. A morte sempre ocorre quando princípios divinos são violados! Uma das primeiras coisas que o rei fez foi separar Quenanias, chefe dos levitas músicos. O homem entendia de música e de instrumentos; não apenas cantava - sabia conduzir os louvores! Hemã, Asafe e Jedutum (Berequias) foram também escolhidos nessa ocasião e, liderados por Quenanias, encheram a terra de Israel com louvores, música e júbilo.

Logo a seguir, percebe-se uma mudança na liderança dos louvores. Quenanias fez a sua parte na transição e é agora substituído por Asafe. "Naquele dia (isto é, no dia em que trouxeram a arca para Jerusalém), foi que Davi encarregou, pela primeira vez, a Asafe e a seus irmãos de celebrarem com hinos o Senhor." (1Cr 16:7) A glória de Deus só desceu ao templo anos depois, quando a equipe estava técnica e espiritualmente afinada. Notemos que, a partir do capítulo 25 de 1 Crônicas, os turnos diários de adoração se revezam, diante de Deus, nas vinte e quatro horas, comandados por Asafe, Hemã e Jedutum. Isso se dá diante da tenda armada nos fundos da casa de Davi, onde a arca fora deixada. Quando a glória de Deus desceu ao templo, os sacerdotes já haviam tratado de muitos detalhes entre si. Há anos vinham tocando e cantando juntos. Certamente tiveram muitas horas de ensaio; sabiam como adorar espontaneamente; passaram longos períodos estudando as leis; fizeram salmos e cânticos; experimentaram novos sons, novos instrumentos; etc. E Davi, estava ali presente ensinando-lhes a arte de tocar e de criar novos sons.

Esse entrosamento pode ser visto da seguinte maneira em 2 Crônicas 5:

1. O grupo tinha unidade na santificação. "Todos os sacerdotes, que estavam presentes, se santificaram, sem respeitarem os seus turnos." (v. 11.) Isso quer dizer que todos tomaram as mesmas medidas, os mesmos procedimentos: banharam-se, vestiram roupas novas e prepararam-se espiritualmente para o grande evento. A ocasião era de celebração, e a equipe A tocou ao lado da equipe C. Eram vinte e quatro equipes! Traduzindo para hoje, podemos dizer que todos oraram e jejuaram; todos comprometeram-se com seus líderes; todos tinham um só propósito! Mas como é difícil alcançar esse primeiro estágio! Sempre alguém comete um deslize, não está bem espiritualmente, e tratando-se de músicos e cantores, muita coisa precisa ser deixada de lado para que a santificação seja o padrão de todos.

2. Havia unidade no estilo de vida. "Vestidos de linho fino." (v. 12.) Todos se vestiram de linho fino, isto é, estavam trajados adequadamente para a celebração. Mas tal vestimenta não representa apenas um tipo de toga ou capa; fala, isto sim, de uma vida de honestidade. "Porque o linho finíssimo são os atos de justiça dos santos." (Ap 19:8) "Todos têm uma vida de santidade. Todos praticam a justiça. Não há entre eles mentiroso, nem alguém que roube ao seu próximo, nem homem ou mulher respondendo a processos por injúria, calúnia ou difamação. É gente de proceder correto. Não deixam sequer um ponto que o diabo consiga usar de estribo para segurar o grupo. As vezes, nos congressos e encontros de louvor para os quais sou convidado, descobre-se que a falta de santificação e de um estilo de vida cristão impede o mover de Deus entre nós.

3. Todos possuíam técnica apurada. "E quando em uníssono, a um tempo, tocaram as trombetas e cantaram para se fazerem ouvir." (v. 13) Todos obedeciam à mesma pauta musical e espiritual! Todos cantavam. Eles tinham disposição, união e competência, e isso resultou em afinação. Naquele momento o dirigente de louvor pediu que todos cantassem a uma voz e tocassem em uníssono. Foi o que ocorreu. Nosso maior problema é quando os instrumentos não se afinam entre si.

27

Page 28: 4844972 Formando Verdadeiros Adoradores 1

Uma nota desafinada é percebida até pelo mais desatento ouvido. Quando as cordas estão afinadas entre si, e quando todos fazem acordes ao mesmo tempo, as chances de alcançarmos o tão sonhado tom espiritual são maiores.

4. Havia unidade de propósito. Estavam ali com seus instrumen¬tos para louvar ao Senhor com uma única motivação: "Porque ele é bom, porque a sua misericórdia dura para sempre" (v. 13). Nenhum deles estava ali para dar seu show particular, mostrar sua voz, salientar-se dos demais. Todos tinham a mesma motivação. As roupas, os instrumentos e o cantar em uníssono são todos aspectos naturais. E o que lhes deu afinação espiritual? A motivação! Primeiro todos acercaram sua afinação tanto no aspecto natural quanto no espiritual. Eles estavam ali com o único propósito de bendizer a Deus. E o que aconteceu? "A glória do Senhor encheu a Casa"!

Se o leitor voltar ao capítulo 25 de 1 Crônicas, irá perceber que esse entrosamento técnico e espiritual foi adquirido com muito ensaio e submissão de todos aos ensinamentos do Rei Davi. Ele teve a visão de como seriam os turnos de louvor. Era ele quem comandava! Dele vinham as ordens técnicas e espirituais. Dele veio a ordem para exaltar e cantar a bondade e misericórdia de Deus. Asafe, Hemã e Jedutum eram líderes e todos os levitas de sua ordem a eles se submetiam. Mas esses estavam debaixo da autoridade de Davi. Com isso estou lembrando que todo entrosamento começa no princípio divino da autoridade. O rei dava as ordens. Os líderes ouviam do rei. Eles repassavam a visão a seus filhos e, assim, formavam elos que os mantinham unidos. No ministério, a amizade não pode interferir na autoridade. Aliás, a amizade costuma prejudicar a autoridade. Há uma liderança específica à qual se deve obedecer.

Os novatos tocavam com os mestres, isto é, eram incentivados no ministério de louvor. "Deitaram sortes para designar os deveres, tanto do pequeno como do grande, tanto do mestre como do discípulo." (1Cr 25:8.) Com um entrosamento desses, o cenário estava preparado para Deus manifestar sua glória. Se nosso propósito é o de bendizer ao Senhor - se estamos despojados de todo orgulho, da vontade de aparecer e de mostrar técnicas novas, etc.; se estivermos vivendo corretamente - então criamos o ambiente para que a glória de Deus se manifeste entre nós.

Parece-nos que o mesmo tipo de entrosamento ocorreu nos dias de Neemias, por ocasião da inauguração dos muros e do templo. Ali, Matanias - descendente de Asafe - era o líder dos louvores. Ele e seus irmãos subiram sobre os muros da cidade com muito louvor e alegria "de modo que o júbilo de Jerusalém se ouviu até de longe" (Ne 11:17; 12:8,43).

O som do céu só pode ser ouvido se certos requisitos forem preenchidos.

David Tame1 fala que os chineses buscavam o tom celestial e que dispunham no reino de um diapasão que aferia o tom da música por todo o império. Acreditavam que aquele diapasão possuía o tom do empíreo e, portanto, por ele todos os instrumentos do país eram afinados. Parece que essa afinação espiritual ainda é buscada em nossos dias por todos quantos reconhecem que a música é importante para a sublimação do espírito humano. Os adeptos de algumas religiões tentam encontrar o canal que os leve para cima. E por que não nos preocupamos também em encontrar o tom espiritual, ou o canal que nos leva a Deus? A música era importante para Davi, do contrário não teria instituído um sistema levítico de adoração, que incluía paramentos, pessoas, instrumentos musicais e poesias.

A solução, contudo, pode estar mais acima: em Deus!

Aprendendo a ouvir a música do céu

Aprender a ouvir a música do céu é um assunto sobre o qual os escritores, sejam brasileiros ou estrangeiros, evitam escrever para não se indisporem com a opinião do povo - ou melhor, dos cantores e dos dirigentes de louvor. No entanto David Tame, um escritor sem compromisso cristão, abordou esse tema com muita propriedade. Lê-se o livro como se come um peixe: as espinhas traiçoeiras de seus conceitos devem ser cuspidas e o filé saboroso, engolido. O autor elogia a boa música, cristã ou não. Ele cita o Rei Davi e outros personagens bíblicos como pessoas que sabiam encontrar o tom espiritual. Faz também uma abordagem histórica plausível que nos põe a refletir sobre a origem de cercas músicas e seu papel na degradação do homem e da sociedade. Eu citei alguns de seus conceitos em meu livro Ministério de Louvor: Revolução na Vida da Igreja (Editora Betânia).

Obviamente não precisamos da opinião de David Tame para entender que a música de adoração toca a alma do homem e o coloca em contato com Deus. Ela leva o ser humano ao quebrantamento e

28

Page 29: 4844972 Formando Verdadeiros Adoradores 1

à humilhação pessoal; à sublimação divina; ao entendimento da soberania e propósitos divinos. Para alcançar tudo isso, basta ler e estudar a adoração à luz do que diz a Bíblia. Há um tom espiritual que precisa ser alcançado por todo aquele que quer adorar a Deus e viver em comunhão com ele. Alguns culpam Jubal, o primeiro inventor de instrumentos musicais, pela música ruim só porque ele descendia de uma raça caída (ver Gênesis 40:20-22). Contudo isso não é um bom argumento. O poder regenerador de Cristo, advindo de sua obra na cruz, ainda não operava nos dias de Davi, de Eliseu, de Moisés, de Salomão e dos profetas. No entanto esses homens criaram, a partir dos mesmos instrumentos cuja origem estava em Jubal, melodias e letras que agradaram aos ouvidos de Deus.

A música que tocamos e entoamos em nossos cultos deve levar o ser humano "para cima", isto é, deve colocar o homem em contato com o Criador e Salvador. E não apenas isso, mas deve trazer iluminação ao interior da pessoa. Tem de levá-la a refletir sobre seu pecado e sua miséria, e a depender totalmente de Deus. Não é uma música que apenas toca a emoção dela; toca também o seu espírito.

A música do céu é sempre a mesma, mas soa de forma diferente no coração de cada pessoa. É como o Sol que chega mais forte para uns e com menos brilho para outros, e cujo calor pode alcançar as regiões mais frias da Terra. Os crentes mais antigos supõem que a música de adoração deve ser a mesma que estão acostumados a ouvir desde crianças. Aquela música sublime, calma e lenta, ao som do órgão de fole. A nova geração vê por outro ângulo: consegue afinar seu espírito ao som "pesado" e adorar em meio ao barulho ritmado por bateria, contrabaixo e palmas. Precisamos levar em conta é se a música edifica. Algumas canções usadas em nossos cultos e outras gravadas por cantores deixam-nos irrequietos, irados, nervosos. Esse é um indício de que não é uma música que leva "para cima".

Precisamos, portanto, encontrar o que os antigos chamavam de "tom celestial", aquela música que leva o indivíduo a entrar no "canal" de Deus. Procuro, nesta poesia, explicar melhor esse "tom".

Tom espiritual

Onde quer que se vá,Apenas um som há de se ouvir.Seja dos homens, pássaros e animais,Será, como da harmonia musical, o tinir.Cantando em diferentes tons,Baixo, alto, altíssimo som,A natureza alcança, de forma perfeita,Do empíreo, o celestial tom,O UniversoConsegue captar na pautaMusical celestialQual correnteza a levar suave e firmeCada nota diferente ao trono celestial.

Como acontece no rio calmo,Cada folha pela correnteza vai,Desprendida de si mesma,Solta em leveza,Cada som da natureza,Envolta no tom de Deus,Atrai.

Apenas um tom, o celestial,De diferentes timbres se une,Vindos de nações, povos e tribos,A proclamar no céuA grandeza de Deus!

Todos os dias muda-se o tom,Não se cansam, pois, de criarNovas melodias a incorporar o tom,De novos sons cada alma se quer saciar!2

29

Page 30: 4844972 Formando Verdadeiros Adoradores 1

Falta de Entrosamento Entre Músicos e Dirigente

Nos dias de Davi, encontramos Quenanias, chefe dos levitas músicos. Ele "tinha o encargo de dirigir o canto, porque era perito nisso" (1Cr 15:22). Todos os demais seguiam a orientação dele na grande celebração que se fez quando Davi levou a arca de volta para Jerusalém. Nos dias de Neemias, Jezraías era o maestro que dirigia os músicos e cantores do templo (Ne 12:42). Não adianta ter bons músicos se o dirigente é ruim ou vice-versa. Deve haver uma perfeita coordenação entre eles. O dirigente comanda e, a um sinal seu, os músicos sabem em que direção devem seguir.

A pessoa encarregada de dirigir o culto, especialmente a que conduz o povo nos louvores, deve participar dos ensaios do grupo. Caso contrário, enquanto todos acertam o passo, ele estará sempre errando. É claro que não estou pensando aqui nos pastores que gostam de fazer tudo sozinhos, que crêem ser insubstituíveis e que tomam a direção dos louvores pensando que nunca precisam participar dos ensaios. A respeito desses nem preciso comentar. Contudo há dirigentes de louvor que se acham suficientes em tudo, além dos que não tocam nenhum instrumento, apenas cantam, e acreditam que não precisam participar dos ensaios. Mas é justamente nesses períodos que acertamos o passo com os músicos, que aprendemos a cantar no tom certo, a respeitar a introdução dos cânticos e a entrar em perfeita sintonia com todos.

Enganam-se os que pensam que o dirigente de louvor deve seguir o que os músicos determinarem. Ele deve impor o ritmo, a cadência. Os músicos o seguem. O dirigente não fica atrelado aos músicos, mas estes, ao dirigente. Podem também desenvolver uma técnica em que todos - músicos e dirigente - se entendem e se afinam perfeitamente.

O dirigente de louvor e os músicos criam códigos entre eles que lhes permitem andar na mesma direção. Um sinal com a mão, com o dedo, uma palavra, e todos sabem o que virá a seguir. E mais: não são os músicos que puxam o dirigente, e sim o líder comanda o louvor. E isso se dá até mesmo no ritmo. Se o momento exigir um ritmo mais lento ou mais acelerado, não são os músicos que devem tomar a iniciativa, e sim o dirigente. Essa integração requer que todos olhem para ele; mas exige também que ele olhe para os músicos. Se ele quer interromper o cântico, faz; e todos o seguem. Esse entrosamento é importante. A congregação nem percebe o que está acontecendo, mas sente-se segura com o líder que tem.

Quando os músicos e o dirigente de louvor se descompassam, isto é, não se alinham, seja no natural ou no espiritual, há desordem. E isso impede uma maior manifestação de Deus nos cultos. A harmonia, portanto, não é apenas uma questão técnica, mas espiritual. E refiro-me à harmonia que deve haver entre o dirigente e os músicos, e também e entre os próprios músicos. Nesse sentido, cai bem o texto de Paulo aos coríntios:

"Irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo suplico a todos vocês que concordem uns com os outros no que falam, para que não haja divisões entre vocês; antes, que todos estejam unidos num só pensamento e num só Parecer" (1Co 1:10 - NVI).

Se estivesse tratando da área do louvor, Paulo diria: "Toquem todos no mesmo tom; cantem todos a mesma música; vivam todos no mesmo espírito; tenham todos o mesmo parecer quanto ao propósito do culto..."

Falta de Entrosamento Entre Dirigente e Congregação

Se a congregação não está acostumada com o dirigente e vice-versa, se não houver um perfeito entrosamento entre eles, o louvor também não flui. O povo conhece o seu dirigente de louvor. Sabe quando ele está num bom mood (ânimo, humor), se está bem ou não. E o dirigente conhece a congregação. Ele pode detectar quando ela está cansada fisicamente, afadigada espiritualmente, etc. O dirigente levanta a mão, faz um gesto, usa o tom de voz, e o povo, que o conhece, segue suas orientações. Corresponde a qualquer gesto seu, pois já se acostumou com sua direção.

A Bíblia afirma que "os levitas ensinavam o povo na Lei... dando explicações, de maneira que entendessem o que se lia" (Ne 8:7-8; 9:3-5). O dirigente ensina a congregação e esta passa a fluir com ele em tudo o que ele disser e fizer. O bom dirigente é aquele que leva a igreja a aprender os cânticos corretamente. Ele corrige os erros comuns da congregação. Ele pode parar um cântico no meio da execução para corrigir o hino sem perder a unção nem o pique do culto; ao contrário, contribui para aumentar o gozo e a participação dos irmãos. Os sacerdotes paravam a leitura para explicar o sentido do texto, e nos pequenos grupos diante de Esdras os levitas ajudavam o povo a

30

Page 31: 4844972 Formando Verdadeiros Adoradores 1

entender o sentido dos escritos. Assim também se dá com o dirigente de louvor. Ele ensina, e o povo canta corretamente.

Por falar nisso, quero incluir aqui uma observação que considero importante.

O dirigente de louvor é quem supervisiona os cânticos que serão entoados no culto congregacional. Ele também corrige os erros mais graves de português. A letra foi mal escrita e o povo a canta erradamente. A igreja pode estar cantando "eu me prosto", então ele ensina que é "eu me prostro". Corrige também as letras traduzidas, pois normalmente apresentam erros, em especial nas traduções do espanhol. O cântico do Marcos Witt Tua Fidelidade é Grande foi mal traduzido. Precisamos nos lembrar de que a expressão "nadie es como tu" não pode ser traduzida como "nada é como tu". Nadie em espanhol significa ninguém. Assim, o bom dirigente conserta esses erros e passa a cantar "ninguém é como tu". Ele também corrige a métrica. Certas traduções amontoam palavras num pequeno trecho musical, deixando o hino "incantável". Cabe ainda a ele eliminar os erros doutrinários, especialmente em cânticos que falam do sangue de Jesus e de sua vinda. Aquele hino que diz "o mercado está vazio", por exemplo, foge totalmente da linha escatológica adotada pela maioria das igrejas. Dá a entender que tudo vai parar aguardando o retorno do Senhor.

Letras truncadas são projetadas no telão e as pessoas cantam por cantar, porque não têm nenhum sentido.

A propósito, algumas traduções nos levam a repetir palavras com entonação errada. Há uma música do Paulo Wilbur em que a maioria das palavras ficou com a sílaba tônica trocada. Isso acontece com "afoguem", que é cantada como se fosse oxítona. Nem sempre uma música pode ser traduzida ao pé da letra. Às vezes uma versão fica bem melhor, pois mantém o sentido original e cria uma letra mais fluente.

O dirigente de louvor, portanto, cuida desses detalhes e, sempre que possível, corrige esses erros. Se levarmos em conta que o povo vive o que canta, ele passará a falar um português errado devido aos erros de seus cânticos.

"Gloriar-se-á no Senhor a minha alma; os humildes o ouvirão e se alegrarão. Engrandecei o Senhor comigo, e todos, à uma, lhe exaltemos o nome." (Sl 34:2-3)

Juntos eles glorificam a Deus!

"Vestirei de salvação os seus sacerdotes, e de júbilo exultarão os seus fieis." (Sl 132:16)

Falta de Resposta da Congregação ao Dirigente

Contudo, por melhor que seja o dirigente do culto, há ocasiões em que a congregação não responde muito bem às suas iniciativas. Falei da falta de entrosamento entre o dirigente e a congregação, mas pode acontecer de a igreja ter um ótimo dirigente e não lhe corresponder à altura. O dirigente está afinado, sensível a Deus, mas não recebe o retorno da congregação no que ele quer. Em alguns salmos, a autor propõe aos anjos, aos ministros ou às obras de Deus que levantem a voz em louvor ao Todo Poderoso. Isso significa que o salmista tem uma visão tão grande da majestade de Deus que conclama a todos a louvá-lo.

"Cantai ao Senhor um cântico novo, parque ele tem feito maravilhas; a sua destra e o seu braço santo lhe alcançaram a vitória. Celebrai com júbilo ao Senhor, todos os confins da terra; aclamai, regozijai-vos e cantai louvores. Bendizei ao Senhor; todos os seus anjos... Bendizei ao Senhor, todos os seus exércitos... Bendizei ao Senhor, vós, todas as suas obras... Bendize, ó minha alma..." (Sl 98:1,4; 103:20-22).

O dirigente conclama, mas não é correspondido. Às vezes é como um profeta clamando no deserto - pedindo que o povo louve e adore. Em outras ocasiões, mais se parece com uma águia solitária em adoração, pois a igreja não corresponde ao que ele pretende. Ele, então, voa sozinho!

Geralmente isso ocorre quando o avivamento na igreja não atinge a todos. Costumo dizer, nesse caso, que houve um "avivamento departamental". O pessoal do louvor anda a mil, mas a congregação reage a passos de lesma. Os jovens estão "pegando fogo", enquanto os demais sentam-se em bancos frios, que mais parecem prateleiras de geladeira. Essa situação assemelha-se ao que acontece com as casas do sul do país, região em que resido. Como o frio é intenso, o calor é "departamental" - só há calor na parte que fica um fogão a lenha ou uma lareira; o resto da casa é

31

Page 32: 4844972 Formando Verdadeiros Adoradores 1

gelado. Assim são certas igrejas: o fogo de Deus está aquecendo os jovens; os adultos estão frios. O líder da mocidade leva o grupo para as praças; os velhos acomodam-se nos bancos. A equipe de louvor faz vigílias de adoração e oração; os demais contentam-se com a mesmice dominical. Numa congregação assim, é difícil ministrar!

Estafa, Fadiga e Canseira dos Componentes do Grupo

Aqui é bom discutir primeiramente a canseira física. Davi foi bastante sábio quando estabeleceu que cada grupo de louvor ficaria apenas uma hora no templo cantando e adorando a Deus (Veja 1 Crônicas 25). Mais do que isso causa canseira. É difícil a situação dos músicos que às vezes tocam em vários cultos no mesmo dia, além de participarem de reuniões de liderança, ensaios, escola dominical, etc. Nem todos os componentes da equipe de louvor podem se dedicar ao ministério em tempo integral, ensaiando, preparando letras e cifras, e estudando a Bíblia. Somente grandes igrejas conseguem assalariar os músicos, levando-os a fazer parte da equipe ministerial. Na maioria das congregações, nossos músicos e cantores trabalham e estudam, dispondo de poucas horas à noite ou nos fins de semana, o que pode resultar em canseira no fim do domingo.

Contudo há um outro tipo de situação que deixa os músicos cansados e abatidos. É quando eles se esforçam em fazer o melhor para Deus, mas não são compreendidos pela liderança da igreja que não entende suas reivindicações. A reclamação que mais se ouve dos líderes em congressos de louvor e adoração é que a liderança pastoral não faz a sua parte, isto é, não adquire o equipamento do qual eles precisam. Existem pastores que não sabem investir numa boa aparelhagem de som, em retornos para a plataforma, numa bateria acoplada à mesa de som, teclados, instrumentos, etc. E isso deixa os músicos desanimados. Nos dias de Neemias, os levitas encarregados do serviço do templo sentiram-se desanimados e cada um voltou para sua cidade (Ne 13:10). Foram abandonados pela liderança!

Quantos líderes se sentem desencorajados por essa falta de compreensão dos pastores? A tesouraria não libera nem um único centavo para adquirir um cabo, um metro de fio, uma régua, um adaptador - coisas pequenas e de baixo custo, mas de grande necessidade para a equipe de louvor.

Sinto pena de alguns dirigentes de louvor que fazem o melhor que podem, mas que não são correspondidos pela liderança da igreja. É triste quando se tem de fazer "muletas", ou festinhas e almoços, para angariar fundos para equipar a igreja de bons instrumentos e de um bom sistema de som. Isso jamais deveria ocorrer. A igreja deveria contribuir e o tesoureiro, abrir o cofre! Não é sem razão que muitos de nossos músicos "fogem" para outros "campos", como aconteceu com os levitas no tempo de Neemias. O desânimo e a canseira são obstáculos ao mover de Deus nas reuniões da igreja!

"Também fiquei sabendo que os levitas não tinham recebido a parte que lhes era devida e que todos os levitas e cantores responsáveis pelo culto haviam voltado para suas próprias terras. Por isso repreendi os oficiais e lhes perguntei: 'Por que essa negligência com o templo de Deus?' Então convoquei os levitas e os cantores e os coloquei em seus postos." (Ne 13:10-11 - NVI)

O que fez com que os levitas e os cantores se desanimassem, voltando a cuidar do gado e do cultivo da terra? Eles deveriam ficar no templo em turnos de vinte e quatro horas para o serviço diante de Deus. No entanto a falta de provisão e a necessidade de recursos para o sustento da família levou-os a abandonar o projeto de Neemias.

Quando Neemias interferiu, "todo o povo de Judá trouxe os dízimos do trigo, do vinho novo e do azeite aos depósitos" (v. 12 - NVI). É dos dízimos e das ofertas que devem sair os recursos para a equipe de louvor, para a compra de equipamentos e de instrumentos. E é daí também que, se possível, devem ser abençoados financeiramente aqueles que não podem mais sair à busca de recursos para o sustento da família por causa das exigências do trabalho da igreja.

Esses são fatores que trazem desânimo e canseira emocional. Quando uma equipe de louvor é constantemente cobrada pela liderança, mas não recebe, em contrapartida, a atenção devida, pode ocorrer uma desafinação no mundo espiritual. Não há nada pior para uma congregação do que a desafinação espiritual. Os anjos entram na igreja pelo canal da afinação, isto é, cooperam com os líderes que juntos trabalham para que Deus ali se manifeste. Já os demônios usam a rodovia da desafinação para provocar transtornos no culto.

32

Page 33: 4844972 Formando Verdadeiros Adoradores 1

Capítulo 05 - Irmão, o que há com nossa igreja?

"Telha de igreja sempre goteja." (Ditado popular)

O que está acontecendo com nosso povo? Eis a pergunta que incomoda. Ela pode irritar o líder ou levá-lo à reflexão e à oração. O pastor deve se reunir periodicamente com o líder e a equipe de louvor para conferir com eles os últimos acontecimentos. Um pastor conformado com a congregação é um pastor derrotado. O inconformismo - aquele senso de que as coisas não estão bem - deve estar sempre presente na liderança da igreja. Por que não temos uma igreja melhor? Por que o louvor não flui?

Estafa, Fadiga e Canseira da Congregação

Esta é uma análise que tem de ser feita no âmbito físico e no espiritual. Há uma relação entre ambos, pois o espiritual é afetado pelo que acontece no ambiente físico. O povo pode, por exemplo, andar emocionalmente abalado por problemas na congregação - espírito de divisão, pecado no meio da liderança. Esses são fatores que contribuem para o desgaste espiritual da congregação. O leitor já viu uma congregação desse tipo reunir-se no domingo? Todos estão "armados" contra todos; qualquer coisa pode alterar os ânimos. Apenas uma boa liderança é capaz de reverter o quadro.

Há outros fatores que devem ser analisados também. Um deles é o período prolongado do louvor, com todo mundo em pé, num auditório inclinado. Quando a igreja está muito envolvida na adoração, nem percebe que já passou tanto tempo. Em outras ocasiões, porém, vinte minutos parecem ser uma eternidade. Pregações muito longas - nem sempre, contudo, a duração dela é o problema, especialmente quando vem ungida pelo Espírito Santo - sem conteúdo e sem um fim claro e inteligente são outra fonte de cansaço. Discursos para que o povo contribua cada vez mais, além do período que se gasta com o levantamento das ofertas e dos dízimos, são interrupções nada agradáveis. A maioria das igrejas que dedicam um bom tempo para o louvor e adoração enfrenta o desafio de levantar recursos sem perder aquela aura de espiritualidade depois de trinta minutos de adoração.

Além disso, a mesmice também cansa. Sendo assim, os pastores precisam ser sinceros consigo mesmos. Eles devem se reunir com o dirigente de louvor e com os músicos, fazendo uma avaliação dos cultos, dos excessos na área do louvor, do som alto, das pregações, das ofertas, etc. Os músicos, muitas vezes, têm ótimas sugestões! O líder da igreja deve se reunir periodicamente com eles e ouvir o que sugerem. Sempre que ocorrer algo errado, todos devem fazer uma avaliação durante a semana para que "coisas como essas" não se repitam no próximo culto da igreja.

Não devemos andar à busca de inovações, mas precisamos estar atentos a esses fatores. Quando o povo perde a expectativa e a motivação, é necessário que os líderes ouçam alguns irmãos e consultem a Deus para encontrarem novamente o rumo.

Uma congregação que já sabe na ponta da língua o que vem a seguir não tem expectativa do que vai ocorrer no culto. Essa rotina cansa, tortura, massacra e mata espiritualmente a igreja. Quando o povo perde a esperança de que aconteçam novidades, alguma coisa está errada com a liderança pastoral. A ausência de milagres, de manifestações do Espírito Santo, de uma palavra viva, de conversões e de libertação deixam a igreja fadigada espiritualmente. Em conseqüência disso, o louvor não flui. Mesmo que se tenha a melhor e mais treinada equipe de música, e os melhores equipamentos, nada ocorrerá. Pode-se ter lindos corais, muita coreografia, e poucos resultados espirituais!

Algo novo vai acontecer;Algo bom Deus tem pra nósReunidos aquiSó pra louvar ao Senhor,

Esse cântico traduzido do inglês expressa a expectativa que o povo deve ter de que Deus tem algo novo para aquele dia. Não se trata de novidade. É como o pão que comemos diariamente. Esse é um produto milenar, mas ninguém gosta de comer um pão velho. Todos os dias sai outra fornada. E sempre o queremos novo, se possível, quentinho e crocante. Assim também é com a Palavra de Deus. Ela é antiga, mas a mesma mensagem pode ser nova a cada manhã. É como o cântico antigo,

33

Page 34: 4844972 Formando Verdadeiros Adoradores 1

que se torna novo devido a esse "algo novo" que Deus tem para nós. Tenho experiência nesse sentido com meus sermões. Possuo uma pasta com alguns de trinta anos atrás, mas não consigo pregá-los. Parecem velhos. Até o papel amarelado, ainda datilografado na velha Olivetti, me repele. No entanto o mesmo tema, com um esboço diferente, pode ser pregado hoje - é o pão quente, recém saído do forno, alimentando a congregação com algo novo!

O líder, portanto, não deixa que o enfado e a canseira espiritual se apoderem da congregação. Ele tem sempre algo diferente!

Deus é a fonte da motivação. Nos dias de Neemias, o povo ofereceu grandes sacrifícios "e se alegraram; pois Deus os alegrara com grande alegria; também as mulheres e os meninos se alegraram, de modo que o júbilo de Jerusalém se ouviu até de longe" (Ne 12:43). Veja bem a expressão: "Deus os alegrou"! A motivação vem de cima, do coração de Deus, e não do músico nem do pregador. O que para o povo parecia ser motivo de tristeza, para o Senhor era de alegria. O mesmo cântico, que é entoado tantas vezes com profundo senso de arrependimento, pode ser cantado com sentimento de alegria. A reunião em que celebramos a ceia do Senhor, que tantas vezes traz contrição, em outras oportunidades produz satisfação e alegria.

Quando o povo pensou que as palavras proferidas por Esdras e Neemias eram motivo de tristeza, os dois líderes, juntamente com os levitas, disseram:

"'Este dia é consagrado ao Senhor, o nosso Deus. Nada de tristeza e de choro!'... E Neemias acrescentou: 'Podem sair; e comam e bebam do melhor que tiverem, e repartam com os que nada têm preparado... porque a alegria do Senhor os fortalecerá'. Então todo o povo saiu para comer; beber; repartir com os que nada tinham preparado e para celebrar com grande alegria, pois agora compreendiam as palavras que lhes foram explicadas." (Ne 8:9-10,12 - NVI)

Eis aqui um exemplo de povo cansado e estressado. Ele viu sua cidade arrasada, e os inimigos o perseguiam de todos os lados. Os líderes, no entanto, ao perceberem que a congregação estava cansada e enfadada de tantos problemas, sugeriram que, em vez de prantear e jejuar, comessem e se alegrassem. O que motiva nossa congregação a louvar e a adorar? Qualquer outra motivação que não seja Deus pode nos afastar da trilha certa.

Donald Stoll escreveu este cântico:

Lançarei fora o espírito pesado;Me vestirei com as vestes do louvor;E assim eu entrarei na presença do Senhor.1

Congregação Alienada de Tudo o que Está Ocorrendo

Certamente o leitor já se viu diante de uma situação assim: a igreja não corresponde ao que o grupo de louvor realiza. Este ponto, apesar da semelhança com o anterior, tem outro sentido. É possível que a turma do louvor esteja consagrada a Deus, jejue, ore, estude, ensaie e chegue aos cultos com todo "gás". No entanto a congregação não corresponde, porque não jejua, não ora, não estuda nem se consagra a Deus. São os "alienígenas" dominicais!

Nos dias de Davi, vemos o rei, os sacerdotes, os levitas e boa parte do povo participando de um grande avivamento espiritual. Havia muito que não se experimentava um tipo de avivamento como esse. Tocavam, dançavam, ministravam, e a nação de Israel se firmava como reino entre as nações. Mical, porém, estava alienada de tudo! Enquanto Davi dançava com todas as suas forças, enquanto os sacerdotes tocavam as trombetas e sacrificavam, enquanto o povo jubilava, Mical estava em casa, olhando da janela o movimento da cidade. E ela desprezou tudo aquilo em seu coração. Ao desprezar a Davi pelo que fazia, deu de ombros ao grande avivamento que Deus estava enviando para a nação (2Sm 6:14-23).

O texto bíblico agrega que "Mical, filha de Saul, não teve filhos, até ao dia da sua morte", enfatizando, com essa declaração, que a raiz de sua esterilidade estava nesse acontecimento. Por haver desprezado a Davi - desprezando assim o próprio Deus - ela não teve filhos. Nesse sentido, Mical representa aquelas igrejas que ficam estéreis por toda a vida por desprezarem o que Deus está fazendo em seu meio. Uma igreja estéril não frutifica, ano após ano continua igual; não experimenta o "novo de Deus". O Senhor sempre agracia seu povo com eventos - e diga-se, eventos não devem

34

Page 35: 4844972 Formando Verdadeiros Adoradores 1

ser institucionalizados - como nessa ocasião em que o povo de Deus experimentou um tempo de festa, com Davi dançando à frente.

Várias igrejas que conheço passam por ondas de avivamento, mas não mudam, continuam idênticas, no mesmo ritmo, por desprezarem essas ondas ou os eventos espirituais que Deus traz para o seu povo. Muitos de seus membros saem de lá e alistam-se em outra parte. E o fazem sem querer, pois afinal têm parentes naquele grupo histórico. No entanto, por quererem experimentar algo novo de Deus, abandonam sua igreja, tornando-se membros de outras congregações na cidade. Às vezes perambulam como Israel no deserto, sem identidade, como árvores arrancadas pela raiz e jogadas ao léu; quando não caem nas garras de lobos devoradores. Por quê? Porque sua igreja desprezou o evento de Deus, tornando-se estéril, improdutiva, sem filhos!

Contudo muitas congregações têm no grupo de louvor um foco de avivamento. Essa equipe ora, jejua, intercede. Ela é pontual nos ensaios, está comprometida com o reino de Deus. No entanto se desanima ao perceber que o povo continua alienado de tudo o que o Senhor quer fazer no seio da igreja. Geralmente seus componentes são os primeiros a buscarem novos redis em que possam continuar experimentando o que Deus lhes tem dado.

Como experimentar uma manifestação do Senhor numa congregação alienada do seu mover? Os componentes da equipe de louvor - normalmente jovens desejosos de um mover de Deus para sua vida - tendem ao desânimo e, para não cair no sistema e na mesmice, abandonam tudo o que estão fazendo. Nesse caso, ou se encaixam ali mesmo ou, como disse, procuram outro pastoreio.

Eu mesmo tenho participado de encontros de adoração promovidos pela equipe de louvor da igreja em que a congregação se mostra totalmente à parte de tudo o que está acontecendo - inclusive seus pastores!

"É algo dos jovens", dizem.

Dão a entender que estes representam um apêndice da igreja que pode ser afastado cirurgicamente se algum problema ocorrer. Já participei de conferências de louvor em que os pastores e os líderes nem sequer compareceram, e em que o povo, nos cultos principais, mostrava-se apático. Nesse caso, o culto, normalmente, é divido em duas partes: o início, unindo o ritual da igreja com a parte dos jovens, e o encerramento, de novo com o ritual, quase sempre acompanhado da bênção apostólica. São situações que mostram de forma clara, como numa radiografia, o estado espiritual da igreja.

Os lideres precisam entender que os eventos ocorrem sempre que Deus quer trazer um vento de renovação na igreja. Devem compreender que certas manifestações não acontecerão em todos os cultos, mas que fazem parte do mover de Deus em ocasiões especiais. Davi não dançou todos os dias - mas aquela data representou o início de uma nova conquista. Logo que trouxeram a arca para a cidade, o passo seguinte foi a conquista do monte Sião. Aquela parte da cidade estava nas mãos dos jebuseus, truncada. Assim, esses cânticos impedem o fluir do verdadeiro louvor. Além de a melodia ser indefinida, as letras são truncadas, sem fluência poética nem métrica. Incluem ainda vícios de linguagem, neologismos, erros de doutrina e de português, que deixam as músicas "incantáveis" (eis aqui um exemplo de neologismo). Em meu livro O Ministério de Louvor da Igreja, apresento a definição de Agostinho do que é um hino e, no capítulo seis, escrevo de forma sucinta o que faz do cântico um verdadeiro hino. A reverência, a comunicação do amor e propósitos de Deus, o tom médio, a beleza poética, a simplicidade e, por fim, a base bíblica, ou a verdade, são elementos indispensáveis num cântico.

Cântico solo e congregacional

Nossos dirigentes de louvor precisam entender que nem todos os cânticos são congregacionais. Alguns são escritos para solistas, outros, para corais, e outros, sim, para serem entoados por toda a congregação. O que percebo é que muitos dos cânticos trazidos para a congregação não servem para serem cantados por todos, e sim por solistas. Nem tudo o que aparece no mercado musical deve ser usado pela igreja. Isso pode ser resolvido, escolhendo-se cânticos próprios para o povo cantar.

Um bom líder saberá definir o que a congregação deve cantar. De tempos em tempos, vemos nossos cultos invadidos por cânticos que são ótimos quando cantados por um grupo ou por solistas, mas impossíveis de serem entoados por toda a igreja. E tentamos empurrá-los goela abaixo - e esses

35

Page 36: 4844972 Formando Verdadeiros Adoradores 1

tornam-se obstáculos à manifestação da presença de Deus. Exatamente por serem difíceis de se cantar, truncados na letra e na melodia, tais hinos limitam o povo, que já não se sente livre, mas tenso, buscando soletrar e entender o que se está entoando. Por fim, canta-se a letra sem notar seu verdadeiro sentido. E convenhamos, só porque é sucesso de vendas trazemos para o culto a Deus um cântico solo e tentamos fazer com que toda a congregação o cante. Esse é um dos problemas que impedem o louvor de fluir. O povo prefere cânticos simples!

E tal problema raramente é percebido por nossos dirigentes de culto; dificuldade que não reside apenas nos novos cânticos, mas também nos hinos antigos. Alguns deles também são "incantáveis"! Por isso, nesses últimos anos, os cânticos de nossos hinários tiveram uma revisão editorial, especialmente os publicados por editoras confessionais. Mas também passaram por uma revisão hinológica - feita por nossos dirigentes de culto que aprenderam a separar os cânticos solos dos congregacionais.

Aconselho aos dirigentes de louvor que evitem trazer para o culto congregacional cânticos de um mesmo autor. A tendência do compositor é ater-se a uma única linha melódica - um vício que acompanha certos autores. Às vezes ouço um CD de algum grupo americano e já na quarta faixa minha mente musical começa a ficar cansada. Esse fato também ocorre com relação a algumas gravações nacionais. Quando cânticos assim são trazidos para o culto um atrás do outro, essa canseira mental pode tomar conta da congregação. Por isso, o bom mesmo é escolher cânticos de vários autores, e não de um só. Como disse, ouvir um CD com músicas de um mesmo compositor - mesmo que seja gravado por um outro cantor - torna-se, às vezes, enfadonho.

"Então, cantou Israel este cântico: Brota, ó poço! Entoai-lhe cânticos!" (Nm 21:17)

"Entôo, entoou Moisés e os filhos de Israel este cântico ao Senhor, e disseram: Cantarei ao Senhor; porque triunfou gloriosamente." (Êx 15:1)

Se todo Israel cantou - e eram milhões de pessoas - por certo era de fácil compreensão e melodicamente aceito. A congregação flui muito mais em louvor e adoração quando entoa cânticos e hinos com melodias e letras simples, sem precisar ficar tensa e grudar os olhos na letra do hinário ou do projetor. É isto o que venho observando ao longo dos anos: cânticos vêm e vão, mas os de melodia e letras simples costumam ser sempre os mais lembrados.

Hinos Difíceis de Serem Tocados Pelos Músicos da Igreja

A princípio achei que não deveria abordar esse assunto. No entanto concluí, depois de conversar, em seminários de louvor, com vários irmãos, que nem todas as igrejas contam com músicos profissionais. A maioria de nossos conjuntos é composta de gente que se esforça, que quer aprender, que se esmera no que faz, mas que não tem formação musical. Por conseqüência, determinadas músicas podem se tornar difíceis de serem executadas. Agregue-se a isso o que relatei anteriormente, que muitos dos hinos modernos, traduzidos do inglês ou gerados em solo estrangeiro, são "incantáveis" pela média de nosso povo, e "intocáveis" pelos nossos músicos!

Não faz parte da cultura brasileira a iniciação musical nas escolas de ensino fundamental. Aprendemos, ainda crianças, Ciranda, Cirandinha e outras canções infantis - a maioria escrita ou adaptada por Vila Lobos - mas nunca tivemos aulas de música em escolas públicas. Nisso diferimos dos americanos. Nos Estados Unidos, todos os hinários possuem pauta musical. Lá aprende-se a ler música, em muitas escolas, desde pequeno. A familiaridade com as "bolinhas pretas", ou notas musicais, educa as pessoas na arte musical. Esse ensino permitiu o surgimento de um tipo de louvor moderno difícil de ser executado por muitos de nossos músicos que conhecem apenas o "dó mi sol dó" da música.

Deus, em sua infinita misericórdia, capacitou inúmeros irmãos para tocarem instrumentos, e esses executam muito bem os hinos de louvores ao Senhor. Se pedirmos a eles que toquem uma canção secular qualquer ou o hino à bandeira, terão dificuldades. Assim, existem muitas músicas difíceis de serem executadas pelos componentes de grupos de louvor, o que impede também uma fluidez no louvor e uma maior manifestação de Deus na igreja. Entendo que a manifestação da presença do Senhor independe da música, o que pode ser constatado nos eventos bíblicos, mas algumas das manifestações divinas vieram também ao som da música.

36

Page 37: 4844972 Formando Verdadeiros Adoradores 1

Visitando tanto pequenas quanto grandes congregações pelo Brasil, percebo a dificuldade dos músicos e dos irmãos que querem cantar músicas de famosos cantores americanos. São canções que estes entoam muito bem em suas apresentações musicais, mas que apresentam muita dificuldade para nossos músicos e também para a igreja.

"Entoai-lhe novo cântico, tangei com arte e com júbilo." (Sl 33:3).

Não estou defendendo a improvisação, de maneira nenhuma. Defendo, sim, técnicas que depois facilitem a improvisação. Sei de muitas pessoas com formação musical universitária, excelentes pianistas, que nem sequer tocam de improviso; só conseguem tocar com as notas musicais diante delas. Outras só tocam de ouvido e nem sabem o significado daquelas bolinhas pretas. A maioria de nossos instrumentistas tem a necessidade de que os hinos sejam cifrados - só assim conseguem executar seus instrumentos. Creio que aqueles que tocam apenas com a partitura devem buscar do Senhor a capacidade de improvisação, e os que o fazem só de ouvido devem aprender a ler a pauta musical. A arte é também um dom de Deus; nem sempre "desce" do alto; às vezes é dom adquirido pelo aprendizado.

Insisto sempre que os componentes do grupo de louvor aperfeiçoem sua técnica e aprendam a ler partituras. Só assim tocaremos com arte e com júbilo! O que toca percussão deve conhecer música tanto quanto o que toca guitarra. O grupo de louvor ficará limitado se seus integrantes não se aperfeiçoarem na arte que escolheram. Sei disso por experiência pessoal, já que não me considero um especialista em acordeão.

Por que abordar esse ponto? Porque algumas músicas que estão trazendo a presença de Deus em outros lugares não produzirão o mesmo resultado em nossos cultos!

37

Page 38: 4844972 Formando Verdadeiros Adoradores 1

Capítulo 06 - Juntas espirituais enferrujadas

"Se o machado está cego e sua lâmina não foi afiada, é preciso golpear com mais força." (Ec 10:10 - NVI)

Sempre cuido para que as dobradiças e fechaduras da minha casa não façam nenhum ruído. Essa suavidade dos gonzos me permite abrir e fechar as portas sem perturbar minha esposa. Além disso, os guinchos são indicativos de falta de lubrificação. O mesmo acontece com o encaixe perfeito da fechadura e da porta no esquadro. Permite-nos abrir e fechar uma porta sem aquele "clac" que nos denuncia. A suavidade dos movimentos dentro de casa permite a todos um sono agradável, sem serem despertados pelos ruídos. Quantas vezes as dobradiças que abrem e fecham nossos cultos estão enferrujadas! Quanto esforço é feito para que a presença de Deus venha às reuniões!

Falta de Sensibilidade dos Músicos e dos Dirigentes ao Espírito Santo

A falta de óleo - quero dizer, de unção do Espírito Santo - faz nossa congregação dar guinchos em vez de louvar, dar gritos em vez de entoar. E, como se a igreja fosse uma porta que não se encaixa perfeitamente no batente, nós a forçamos a seguir numa linha de louvor e adoração. Fazemos muito esforço para encaixar tudo no lugar, mas nada funciona!

Este tem sido o segredo dos grandes avivamentos: permitir que o Espírito Santo assuma o controle da igreja! Isso é verdadeiro tanto para a administração da igreja quanto para os cultos a Deus. Não se pode escolher cânticos só por gostar de seu estilo, melodia e letra. Crescemos em congregações em que o dirigente do culto deixava a opção de escolha do próximo cântico aos irmãos da igreja. E nem sempre dava certo. Havíamos acabado de entoar um hino de adoração e lá vinha o pedido para se cantar "a conversão do fazendeiro". Estávamos cantando sobre o amor, e alguém pedia um cântico de guerra. Num culto assim - em que os irmãos não são conduzidos nem orientados no cantar e no falar - instala-se grande desordem e confusão. A voz de Deus nem sempre é a do povo!

Alguns mitos precisam ser questionados. Um deles é o conceito de que precisamos cantar muitos hinos para que o louvor seja bom. Ora, o líder que é sensível ao mover do Espírito Santo consegue perceber quando um cântico está fluindo ou não. Se um hino de adoração tocou na vida da igreja, levando-a ao quebrantamento, confissão e adoração, por que mudar de cântico? E sempre que se troca de hino muda-se o tom e, nessa variação de tonalidade, quebra-se a seqüência espiritual. Se você é dirigente de louvor, componente de grupo ou participante de um culto, irá concordar comigo que a mudança de tom interrompe o "tom espiritual". Portanto, se o cântico de adoração seguinte não puder ser tocado no mesmo tom, não se deve mudar. O ideal é aproveitar o "fluir" daquele cântico, da graça divina que nele se manifesta, ou, no dizer de alguns irmãos, da unção daquele louvor. É preferível um tempo de louvor mais curto e pleno da presença do Senhor a um período prolongado de músicas e hinos que não tocam nem o povo nem o coração de Deus. Às vezes um ou dois hinos são cantados para que a presença divina venha sobre a igreja.

Um outro mito é a idéia de se estipular um tempo rígido para o louvor. Nada disso. Precisamos estar atentos ao que o Espírito Santo quer para o culto da igreja. Muitas vezes um cântico começa a fluir, deixando a igreja livre na presença do Senhor. Contudo o dirigente, na ânsia de aproveitar o tempo e cantar todos os hinos de sua lista, tira a igreja do trilho certo. Um culto pode fluir em Deus tanto com poucos quanto com muitos cânticos. O bom culto não necessita de que o dirigente fique "controlando a manivela". Ele começa bem e termina melhor ainda! Sempre recomendo aos irmãos que busquem encontrar o "tom" do Espírito Santo específico para aquele culto. Se o primeiro cântico não fluiu, continue, orando em espírito, buscando encontrar a direção do Espírito de Deus para aquela reunião. Ele não nos desapontará!

O bom dirigente sabe ouvir o Espírito de Deus e por ele se deixa guiar. Costumo dizer que sua conduta se assemelha à do pregador. Este sente necessidade de estudar seu tema e de ficar um tempo em oração e meditação diante do Senhor para saber a vontade de Deus quanto ao que vai pregar e ao desenvolvimento do culto. O mesmo se dá com o dirigente do culto. Ele precisa ouvir do Espírito Santo, conversar com o pastor sobre o tema de sua mensagem e orar para sentir se o Espírito quer um louvor que feche com a mensagem programada para o culto ou não. O bom pregador também precisa ser sensível ao Espírito Santo e conhecer bem sua Bíblia. Assim entenderá quando o Espírito pedir que mude o tema de sua mensagem cinco minutos antes de pregar. Às vezes

38

Page 39: 4844972 Formando Verdadeiros Adoradores 1

o louvor, também conduzido por um homem ou uma mulher de Deus, induz-nos a mudar de mensagem.

Davi ouvia de Deus: "Uma vez falou Deus, duas vezes ouvi isto: Que o poder pertence a Deus" (Sl 62:11). Baseado nisso, quantas vezes exaltou a Deus em salmos de louvor? A abundância de cânticos, de salmos e de palavra era tanta na igreja do Novo Testamento que Paulo pergunta: "Que fazer, pois, irmãos?" (1Co 14:26) Muitos dirigentes de culto perguntam "Que fazer, pois, pastor?", não pela abundância de hinos e de manifestação de Deus, ou porque haja profecias e visões a serem compartilhadas, mas pela falta de opções! O pastor se pergunta "O que fazer?" quando o culto parece amarrado, o louvor não flui e os músicos não se entendem nem o dirigente de louvor consegue encontrar a "veia" inspiracional do culto.

É difícil nos mantermos alinhados com o que o Espírito quer para aquele dia, para aquela hora. Nós, pastores, somos as pessoas que têm mais dificuldades nessa área. Às vezes preparamos um ensino para a igreja e dez visitantes aparecem pela primeira vez a um culto evangélico. O que fazer? E uma tensão que sempre estará presente em nossos ministérios. Como acontecia com Paulo quando ele queria ir para um lugar e o próprio Espírito o impedia, pode ocorrer também com os dirigentes de louvor. Eles desejam seguir numa direção, mas o Espírito Santo tem em mente outra bem melhor.

"E, percorrendo a região frígio-gálata, tendo sido impedidos pelo Espírito Santo de pregar a palavra na Ásia, defrontando Mísia, tentavam ir para Bitínia, mas o Espírito de Jesus não o permitiu. " (At 16:6-7)

Paulo sabia quando era orientação do Espírito e quando o impedimento vinha de Satanás. Nem sempre o diabo é o responsável por um culto não fluir em Deus. Pode ser culpa do homem e até do próprio Senhor que deseja fazer algo e o dirigente ou o pregador não o permitem.

"Por isso, quisemos ir até vós (pelo menos eu, Paulo, não somente uma vez, mas duas); contudo, Satanás nos barrou o caminho." (1Ts 2:18)

E ele sabia se conduzir mesmo que não tivesse uma revelação do Espírito para o momento, pois acostumara-se a fazer sempre a vontade de Deus. Ficamos tão práticos nessa área que podemos nos guiar sem medo de errar. Pregar a Palavra de Deus era a missão de Paulo. Ele não precisava consultar o Senhor para saber se deveria ou não ir para esse ou aquele local. Ir para a Espanha estava no propósito divino, disso Paulo sabia. No caso de Atos 16, Paulo queria ir para o Norte - quem sabe chegar à China e aos mongóis - mas o Espírito Santo sabia que o centro dos acontecimentos era Éfeso, a Grécia, a futura Europa e, mais tarde, as Américas! De Éfeso Paulo conseguiu alcançar todos os povos do mundo. Por ali passavam a cultura e os mercadores. O evangelho conseguiu, assim, alcançar lugares onde Paulo nunca poderia ir!

"Mas, agora, não tendo já campo de atividade nestas regiões e desejando há muito visitar-vos, penso em fazê-lo quando em viagem para a Espanha" (Rm 15:23-24)

As pessoas que dirigem o culto tem de se manter alinhadas com a vontade do Espírito e, para tanto, precisam aprender a ser sensíveis à voz de Deus na igreja. Se você é uma dessas, deve desenvolver um "radar" espiritual que capte a vontade do Senhor a todo instante. Isso vai lhe permitir mudar o rumo do culto, cantando outro cântico, introduzindo outra palavra, deixando o Espírito agir sempre que seu radar captar as ondas de Deus. Como os querubins que têm olhos por dentro e por fora, o dirigente de louvor "vê" todas as coisas e sabe que direção tomar. E aqui quero dar uma dica. Evite dirigir os louvores de olhos fechados. Uma das maneiras de percebermos como está espiritualmente a igreja e a reação dela ao louvor é olhar a face dos irmãos. Assim veremos se estão adorando; se erguem as mãos ou bocejam, sentam-se, mostram-se cansados, etc. Se você estiver de olhos fechados ou de costas para o povo, não perceberá certos detalhes espirituais.

Mas, convenhamos, alguns fatores podem travar o culto e impedir que flua. Dentre esses, podemos citar a presença de muitos visitantes não-crentes; a falta de harmonia entre os irmãos; o despreparo do dirigente. Às vezes os demônios impedem a liberdade no louvor e o bom dirigente saberá detectar essa realidade. O ideal é parar tudo e começar a ministrar libertação na vida das pessoas! Numa igreja em que há forte espírito de divisão, o louvor também não flui. Esse é um dos casos mais difíceis, pois não se soluciona apenas com um culto, a menos que haja uma interferência substancial de Deus, levando todos ao quebrantamento. Tem de ser algo sobrenatural, sem interferência humana! Um dirigente despreparado pode reprimir ou frear a ação divina no culto. Nem

39

Page 40: 4844972 Formando Verdadeiros Adoradores 1

sempre, porém, essa é a causa. Se a congregação está espiritualmente bem, o dirigente é por ela incentivado e empurrado em direção a Deus! Os dois fatores combinados - dirigente mal preparado espiritualmente e congregação alienada - são verdadeiros "freios ABS" no culto da igreja!

Vigílias de oração, jejum e adoração

Você quer afinar espiritualmente seu grupo de louvor? Assim como dedicamos longas horas ao ensaio, para tocarmos com perfeição, devemos separar um bom tempo para que o grupo de louvor ore, jejue e adore. Isso pode ser feito em retiros espirituais. Um feriado prolongado ou um fim de semana dedicado especialmente a adoração, oração e jejum afinam espiritualmente o grupo. É a oportunidade ideal para que o Espírito Santo aperte as cravelhas de seu mais valioso instrumento - o ser humano. De nossa parte, afinamos nossos ouvidos espirituais, tornando-os sensíveis a sua voz. Basta um sussurro do Espírito e todos sabemos o que ele quer falar. Uma noite de vigília, adorando ao Senhor e ouvindo o que ele tem a nos dizer, é a solução para muitos problemas.

Numa vigília, experimente passar um tempo apenas em adoração, contemplação e prostração diante de Deus. Não se preocupe com programação. Há pouco tempo fui convidado para o retiro de um grupo de louvor e fiquei surpreso quando o líder entregou a todos os participantes um programa com tudo o que deveria acontecer durante os dois dias. Cada detalhe estava especificado no papel, até quem deveria orar, quanto tempo, etc. Nem preciso dizer o que aconteceu. Convencido de que não estávamos numa programação "normal" da igreja, o líder, por fim, deixou o retiro fluir com naturalidade. E Deus agiu! Na primeira noite, quando nos demos conta, o dia já despontava no Oriente. Depois dormimos até às 10h da manhã. Tomamos café e nos deixamos levar pela direção do Espírito até à tarde - sem almoço. Um biscoitinho, um café ou um chá serviam de distração para aqueles que gostam de ter sempre algo no estômago. Nossa principal preocupação era Deus e seu mover entre nós. Um grupo assim sai afinado do encontro - para se deparar, na maioria das vezes, com uma igreja desafinada espiritualmente.

Falta de Motivação da Igreja

Sempre que a igreja busca motivação em algo, e não apenas em Deus, frustra-se. Um lindo coral, os belos vitrais e o templo ornado são coisas que motivam por um tempo, mas depois a motivação cessa. Deus deve ser o grande Motivador da igreja. É como Davi disse: "Tu és motivo para os meus louvores constantemente" (Sl 71:6). Ou como ele afirmou em outro salmo: "Os teus decretos são motivo dos meus cânticos, na casa da minha peregrinação (Sl 119:54).

Davi se sentiu motivado a construir um templo para Deus. E o profeta Natã, entusiasmado, tratou logo de dizer que Deus era com Davi; que fizesse tudo o que havia planejado. O tabernáculo estava dividido. Havia uma parte em Gibeão, onde Zadoque ministrava (1Cr 16:37-42), e a arca da aliança estava em Jerusalém, numa tenda especialmente armada no fundo da casa de Davi, com Asafe e seus irmãos ministrando continuamente a Deus (1Cr 16:1,37). Davi pensou em construir um templo onde colocar a arca e levar os sacerdotes e levitas a exercerem seu ministério. Contudo Deus jogou-lhe um balde de água fria. O profeta voltou atrás em sua declaração e disse a Davi que o Senhor não precisava de casa para sua habitação. (Ver o texto de 1 Crônicas 17)

Não era o templo que deveria servir de motivação, mas Deus. Quando entendeu esse princípio, Davi instituiu uma ordem levítica de adoração - um templo espiritual - baseada unicamente em Deus e nos seus gloriosos feitos (1Cr 16:7-12). Davi orientou os sacerdotes a fazerem turnos de uma hora com doze pessoas. Depois de uma hora de música e louvor, um outro grupo rendia o anterior e passava a louvar a Deus. E assim, sucessivamente, noite e dia, revezavam-se os vinte e quatro turnos! Davi ensinou-lhes que o Senhor era a motivação. A ordem era: "Rendei graças ao Senhor, porque ele é bom; porque a sua misericórdia dura para sempre" (1Cr 16:34; 2Cr 5:13). Nas vinte e quatro horas, os olhos dos cantores estavam voltados para o Senhor. A única motivação deles era Deus!

A motivação da igreja é Deus, e não a bela música, os bons músicos, os ótimos instrumentos e um ambiente propício de adoração. Vitrais coloridos e paramentos servem de inspiração para a carne, mas o verdadeiro louvor flui quando o Senhor é a fonte de todas as coisas! Deus é o grande inspirador e motivador. E o louvor pode fluir muito bem num antigo depósito transformado em local de culto, sem muitos instrumentos musicais. Melhor ainda é quando uma congregação tem tudo o que falei e ainda possui a Deus como inspirador de seus louvores.

40

Page 41: 4844972 Formando Verdadeiros Adoradores 1

Contudo uma congregação perde a motivação de Deus quando cai na mesmice, quando nada de novo acontece, e os cultos se repetem vazios e sem vida. No entanto, se o Senhor é a motivação da igreja, Deus sempre atenderá aos anseios de seu povo.

Vale para a igreja o que mencionei para os músicos: um tempo de vigília ou um retiro espiritual lubrifica os gonzos, aperfeiçoa as fechaduras e torna o povo leve para adorar a Deus. Chega de manivela no povo; de ruído; de muito barulho sem nenhuma vida.

Alienação Total dos Dirigentes, Músicos e Pastores

Por último, quero tratar de uma situação que presencio com freqüência em muitas igrejas. Refiro-me aos pastores que costumam ficar totalmente alienados do que está ocorrendo no culto. Para muitos, a equipe de louvor é um apêndice do culto, cuja missão é a de animar o povo ou prepará-lo para ouvir a Palavra de Deus. Não conversam com os músicos, não lhes dão nenhum incentivo nem a orientação necessária. Também não sabem o que se passa nos ensaios. O que se pode esperar de um grupo de louvor que ora, busca a Deus e jejua, tentando dar o melhor de si para agradar a Deus, mas que tem de conviver com pastores desinteressados de tudo o que lhe acontece?

Se os pastores estiverem alienados, nada ocorrerá com a igreja. Às vezes, quando prego em algumas igrejas, observo que os pastores ficam durante o tempo de louvor falando ao celular, conversando com um obreiro, resolvendo questões da igreja. Ficam completamente à parte do que está ocorrendo no culto. Um pastor chegou a dizer-me assim:

"Pode chegar lá pelas oito e meia, na hora de pregar, porque a primeira parte é dos jovens. Eles dirigem os louvores."

Fiz questão de chegar bem cedo para ter um tempo de oração com aqueles valorosos guerreiros determinados a levar a igreja a mover-se em Deus. Pena que, logo a seguir, o "bombeiro", como eles dizem, chega e apaga o fogo!

O povo olha os líderes e se espelha neles. Se estes ficam conversando ou cochichando, se não adoram, não levantam as mãos nem abrem a boca para cantar, a igreja sente-se desanimada. O culto sempre reflete o comportamento do pastor. Anos atrás, eu pertencia a uma denominação que usava uma campainha ou uma cigarra para chamar a atenção do povo e pedir-lhe silêncio. As pessoas costumavam conversar no culto, especialmente durante a pregação. Observei que seu comportamento refletia exatamente o dos pastores que se sentavam na plataforma. O mesmo ocorre com o louvor e a adoração. Se os irmãos observarem que seus líderes estão alienados, alienam-se. O contrário também é verdadeiro. A igreja, quando vê seus pastores louvando, adorando, levantando as mãos, falando frases de louvor e engrandecendo a Deus, procederá de forma idêntica.

Esse é um quesito que mais traz ressentimento aos dirigentes de louvor e componentes de grupos. Depois de árduos ensaios, de oração e busca diante de Deus, eles vêem que seus pastores e líderes não são adoradores nem dão a mínima ao esforço do grupo. E os reflexos no povo são imediatos.

"Por que adorar e louvar?" pensam. "Comportemos-nos como os líderes. Quem vai dar ouvidos a esse dirigente de louvor que vive conclamando todos ao louvor?"

Estude esses temas com os músicos de sua igreja. Vocês poderão se aprofundar nas problemáticas de sua própria congregação. Um participante de nosso seminário chegou a contabilizar "vinte obstáculos por que o louvor não flui..."

41

Page 42: 4844972 Formando Verdadeiros Adoradores 1

Conclusão

Quis expor aqui, em poucas folhas, um pouco de tudo o que um dirigente de louvor e os componentes do grupo devem saber. Meu intuito era compor um pequeno manual que lhes servisse de ajuda. Para entender todos esses tópicos, é necessário que leiam meus outros três livros. Sempre recomendo que eles devem ser lidos na seguinte ordem: O Ministério de Louvor da Igreja; O Louvor e a Edificação da Igreja e Ministério de Louvor: Revolução na Vida da Igreja. Isso é importante porque foram escritos nessa ordem e, no decorrer dos anos, cada livro recebeu a ênfase que a época exigia.

Contudo o assunto ainda não se esgota. Quanto mais nos envolvemos com o louvor e a adoração, mais conhecemos de Deus. E aprendemos também com nossos erros. E temos aprendido com nossos irmãos que, ao longo dessas últimas três décadas, trazem-nos sugestões criativas e têm contribuído com sua vida de santidade e de dedicação para o crescimento do louvor e da adoração no Brasil. Eu trouxe aqui temas gerais; são dificuldades encontradas praticamente em todos os grupos de louvor. No entanto você pode continuar cooperando com a obra de Deus, acrescentando outros itens aos que apresento aqui e, quem sabe, escrever-me dando sua opinião sobre algum aspecto que talvez tenha me esquecido de colocar neste livro.

A partir das dicas deixadas aqui, você, os componentes do grupo e seus pastores poderão identificar as áreas mais vulneráveis da vida de louvor da igreja. Mas, por favor, leia este livro e, se possível, leia também o outro, O Louvor e a Edificação da Igreja. Forme em sua congregação um povo adorador que celebra os feitos de Deus na vida particular e em seus cultos!

Você pode escrever para o autor e ajudá-lo na identificação de outros fatores, aqui não mencionados, que impedem a manifestação da presença de Deus em nossos cultos.

Que Deus abençoe sua vida.

- João A. de Souza Filho

42

Page 43: 4844972 Formando Verdadeiros Adoradores 1

Notas

Capítulo 1

1. João Milton. O Paraíso Perdido, Canto 5, p. 145. Clássicos Jackson.2. Pelo menos é o que dizem comentaristas como Mathews Henry e Albert Barnes. Este último

desenvolve uma abordagem mais ampla sobre quem são os querubins e o que fazem. Anotações de lsaías, Baker Book House, p.139.

3. João da Cruz. Noite Escura da Alma, capítulo 5.4. I.G. Arintero. La Evolución Mística. B.A.C. Tomo 91, p. 418.5. Thomas Scott. Scott's Commentary, editado em 1854 por Willian S. Martien - Filadélfia, p.

542.6. Alda Célia. Álbum Voar Como Águia, faixa 5.

Capítulo 2

1. Hino 538 da Harpa Cristã (versão atualizada). Diga-se de passagem que a Harpa Cristã contém muitos cânticos de guerra e, ao lado do Cantor Cristão, constitui-se verdadeiro acervo de hinos para a igreja do Brasil.

2. Castelo Forte teve a letra e a música escritas pelo próprio Lutero quando tinha 46 anos de idade, em 1529. Nas palavras de Robert McCutcheon: "É excelente em todos os sentidos. É empolgante e tem dignidade, unidade e autoridade raramente igualadas".

3. Bill H. Ichter. Se os Hinos Falassem. JUERP, Vol. 3, 1984, pp. 66-69.4. Daniel Souza. Álbum Fruto do Espírito I – Declarando a Glória do Senhor, Cântico Corpo e

Família...5. Bill H. Ichter. Se os Hinos Falassem. JUERP, Vol. 1, 2ª edição de 1976, pp. 23-25.

Capítulo 3

1. R. N. Champlin. O Antigo Testamento Interpretado. Editora Candeia, p. 3906.2. João Milton. Op. Cit. Canto I, p. 22.

Capítulo 4

1. David Tame. O Poder Oculto da Música. Editora Cultrix.2. Poesia que o autor compôs durante um tempo de louvor e adoração numa conferência

profética.

Capítulo 5

1. Donald Stoll foi missionário no Brasil na década de 70, e teve grande influência no surgimento da nova hinologia da igreja. Ministramos juntos no início da Comunidade Cristã de Porto Alegre. Exerceu grande influência na vida de Asaph Borba.

43