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ESTATUTO DA ADVOCACIA E A ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL

TÍTULO IDA ADVOCACIA

CAPÍTULO IDa Atividade da Advocacia

Art. 1º São atividades privativas de advocacia:I – a postulação a qualquer órgão do Poder Judiciário e aos jui-zados especiais; (Vide ADIN 1.127-8).II – as atividades de consultoria, assessoria e direção jurídicas.§ 1º Não se inclui na atividade privativa de advocacia a impetração de habeas corpus em qualquer instância ou tribunal.§ 2º Os atos e contratos constitutivos de pessoas jurídicas, sob pena de nulidade, só podem ser admitidos a registro, nos órgãos competentes, quando visados por advogados.

D ComentáriosAs atividades privativas inauguram o EAOAB antes mesmo de qual-

quer requisito ou definição sobre o que é o advogado, qual seu papel na sociedade e os requisitos indispensáveis para sua inscrição nos quadros do Conselho Seccional.

O inciso I trata de atividades propriamente judiciais, enquanto o inciso II elenca a caracterização típica de atividades extrajudiciais que depen-dem não somente da formação em direito, como da regular inscrição do advogado nos quadros da OAB.

O EAOAB procura tratar, desde seu início, das atividades que devem ser consideradas como privativas para o exercício da advocacia, elencando uma série de deveres a serem observados pelos advogados, merecendo destaque:

a) Postulação em Juízo: postular é pedir, solicitar a prestação de algo. Segundo dispõe o EAOAB, o advogado é o único com capacidade postulatória, previsão encontrada também no Novo Código de Processo Civil em seu art. 103, caput, enquanto seu parágrafo único

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dispõe que “lícito à parte postular em causa própria quando tiver habilitação legal”, devendo as partes possuir capacidade processual para estar (e não postular) em juízo. Qualquer exceção a esta regra deve estar legalmente estabelecida.

b) Assessoria, Consultoria, Direção e Gerência Jurídica: todas estas atividades são privativas do advogado regularmente inscrito na OAB, não podendo ser exercida por bacharel ou por estagiário, configurando-se exercício ilegal da profissão nos termos dos arts. 47 da Lei de Contravenções Penais e 4º do RGEAOAB.

c) Visto em Atos Constitutivos de Sociedade: por exigência legal, toda pessoa jurídica deve ter seus atos constitutivos assinados por advoga-do. Para que o contrato social surta seus efeitos, portanto, o advogado deverá acompanhar e subscrever o instrumento, somente tendo seu registro deferido pela Junta Comercial nestes casos, considerando-se nulo o ato na sua ausência, seguindo o regramento da Lei de Registros Públicos, em seu art. 114, incisos e parágrafo único.

A exceção se faz para micro e pequenas empresas, que, por força da Lei Complementar 123/2006, dispensa a presença de advogado para sua constituição, portanto, sendo assim realizada.

d) Atos Extrajudiciais Determinados por Lei: ainda que para atos extra-judiciais não se exija a capacidade postulatória, é importante mencio-nar que em alguns casos a lei exige a presença de um advogado para ratificá-los e para que surta seus efeitos legais, como em inventários, separações e divórcios extrajudiciais, nos termos dos arts. 610 e 733 do Novo Código de Processo Civil de 2015, tendo como fundamento a Resolução 35/2007 do Conselho Nacional de Justiça.

Em razão da ADIn 1.127-8, o Supremo Tribunal Federal entendeu que a postulação em juízo, apesar de ato privativo do advogado, deve ser relativizada em alguns casos, tornando dispensável o advogado em oito hipóteses:

a) Habeas Corpus: o § 1º procura esposar entendimento sobre a não obrigatoriedade de advogados para impetração de Habeas Corpus, isto porque o texto constitucional já resguardou como garantia fun-damental e cláusula pétrea de todo e qualquer cidadão, insculpido no art. 5º, LXVIII, ratificado igualmente pelo Código de Processo Penal, no art. 654, prevendo que “O  habeas corpus  poderá ser impetrado por qualquer pessoa, em seu favor ou de outrem, bem como pelo Ministério Público”. O advogado, assim, é dispensável

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para impetração de habeas corpus, uma vez que se impetra como cidadão, juntando cédula de RG ou título de eleitor para tanto. Mesmo quando quem o impetra é advogado, não o faz no exercício regular de sua profissão, mas sim como cidadão.

O Superior Tribunal de Justiça, por exemplo, recebeu em 25 de junho de 2015, Habeas Corpus escrito à mão em papel higiênico enviado de paciente preso na penitenciária de Guarulhos I (SP) e em 20 de abril de 2015, a mesma Corte Superior já havia registra-do outro pedido encaminhado da mesma maneira. Em 2014, um detento do Ceará redigiu suas razões em um pedaço de lençol.

Vale ressaltar que a EC 45/2004 determina que para concursos com-prove-se três anos de efetivo exercício da advocacia, o que se faz por pelo menos cinco atos privativos de advogado ao ano, não entrando no cômputo impetrações de habeas corpus, devendo-se levar em consideração a listagem feita pelo REGOAB, em seu art. 5º, parágrafo único e alíneas, se constituindo em rol taxativo de possibilidades.

Ainda no tocante ao Habeas Corpus, existem discussões doutri-nárias e judiciais acerca da possibilidade de Recurso em HC ser realizado pelo próprio paciente, sem a necessidade de advogado e de capacidade postulatória, posição esta que faz sentido, uma vez que a capacidade para recorrer decorre da capacidade para postular, como extensão do direito de ação e se o habeas corpus é assegura-do a todos sem a necessidade de capacidade postulatória, perde o sentido a jurisprudência negar o exercício pleno deste direito.

b) Juizados Especiais de Pequenas Causas e Juizados Especiais Fede-rais: em ambos os casos é possível a postulação sem a necessidade de advogado. No Juizado Especial de Pequenas Causas, regulado pela Lei 9.099/1995, pode a parte comparecer em juízo para propor demanda de até 20 salários mínimos, por força do art. 9º, enquanto no Juizado Especial Federal, regulado pela Lei 10.259/2001, pode--se propor demanda de até 60 salários mínimos, conforme dispõe o art. 10 sem a presença de advogado.

Ressalte-se que nos Juizados Especiais de Pequenas Causas pode--se pleitear valores de até 40 salários mínimos, momento no qual a presença do advogado se fará obrigatória.

Sobre os Juizados Especiais Criminais, inclusive os federais, a pre-sença do advogado será sempre requisito obrigatório, de acordo com o art. 68 da Lei 9.099/1995 e do já decidido pelo STF na ADIn 3.168/DF.

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c) Justiça do Trabalho: mesma maneira deve-se observar e estender este entendimento à Justiça do Trabalho, em que impera o prin-cípio do jus postulandi, nos moldes dispostos no art. 791 da CLT, estipulando que “os empregados e os empregadores poderão recla-mar pessoalmente perante a Justiça do Trabalho e acompanhar as suas reclamações até o final”, tendo sido relativizado para alcançar apenas os atos posteriores à postulação inicial, além de não incidir nas ações de competência direta do Tribunal Superior do Trabalho, por força da Súmula 425/10:

“JUS POSTULANDI NA JUSTIÇA DO TRABALHO. ALCANCE. Res. 165/2010, DEJT divulgado em 30.04.2010 e 03 e 04.05.2010.O jus postulandi das partes, estabelecido no art. 791 da CLT, limita--se às Varas do Trabalho e aos Tribunais Regionais do Trabalho, não alcançando a ação rescisória, a ação cautelar, o mandado de segurança e os recursos de competência do Tribunal Superior do Trabalho.”

Assim, verificamos que não há necessidade de advogado para a postu-lação trabalhista, mas se a parte estiver representada por causídico, dife-rentemente do habeas corpus, entrará para o cômputo dos atos privativos de advogado para concurso público.

d) Justiça de Paz: a competência legal da Justiça de Paz existe desde a Constituição do Império de 1824, permanecendo na atual Carta Política de 1988, tendo como fundamento celebrar casamentos, verificar de ofício ou após impugnação o processo de habilitação e exercer funções conciliatórias sem caráter jurisdicional.

e) Ação Revisional Penal: o Código de Processo Penal prevê em seu art. 623 que “A revisão poderá ser pedida pelo próprio réu ou por procurador legalmente habilitado ou, no caso de morte do réu, pelo cônjuge, ascendente, descendente ou irmão”, de modo que a ação de revisão penal poderá ser proposta sem a presença de advogado pelo próprio réu e em caso de falecimento, aqueles habilitados como seu cônjuge, ascendentes, descendentes ou mesmo seu irmão.

f) Processo Disciplinar Administrativo: o STF, quando do julgamen-to do Recurso Extraordinário 434.059, assentou o entendimento de que “a falta de defesa técnica por advogado no processo admi-nistrativo disciplinar não ofende a Constituição”, previsão inserida na Súmula Vinculante nº 5, o que objetiva a dispensa do advogado.

g) Ação Direta de Inconstitucionalidade Proposta pelo Presidente da República: o Presidente da República, quando empossado,

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poderá apresentar ADIn perante o STF sem a necessidade de que advogado assine a petição, embora se recomende o acompanha-mento por um causídico.

h) Lei de Alimentos: o Diploma Legal estabeleceu que a pessoa, quando considerada pobre na acepção jurídica do termo, pode-rá procurar diretamente ou com advogado o juízo competente para recebimento dos alimentos devidos por força do art. 2º da Lei 5.478/68.

Observação: Mandado de Segurança, Ação Popular, Ação Civil Pública e Ação Coletiva exigem a presença de advogado em sua postulação.

Apesar de os cursos jurídicos, de maneira geral, trabalharem com os estudantes para prepará-los aos conflitos judiciais, devemos ressaltar que o advogado pode também ter papel importante na Mediação e na Arbitragem, com bases nas Leis 9.307/1996 e 13.140/2015 para resolução de conflitos.

Ainda que mediadores, árbitros ou conciliadores, as disposições do NCED recaem sobre os advogados que exercem essas funções, bem como do EAOAB, de modo que devem igualmente receber honorários por sua atuação quando da instauração desses litígios (arts. 2º, VI, 48, § 4º, e 77 do NCED).

O NCPC tratou igualmente de estabelecer, entre os arts. 165 e 175, disposições referentes à importância da mediação, conciliação e arbitragem para os advogados, não apenas atuando no papel de mediador, árbitro ou conciliador, mas também para propagar e incentivar a utilização desses meios para resolução de litígios, que deve ser estimulada pelo Estado e pelos magistrados, segundo dispõe o mesmo Diploma Processual Civil, em seu art. 3º, §§ 1º a 3º. Nas palavras do Professor Paulo Lôbo:

“O trato do advogado com mediadores e árbitros leigos importa conduta profissional desformalizada e aberta, porque deve sempre estar disponível para a transação, com espírito conciliador. O advo-gado não pretende que se diga o direito contra o outro, a vitória de um e a derrota do outro, mas a justiça possível e preferencialmente negociada. Sua aptidão para conciliar é mais importante”. (LÔBO, Paulo Luiz Netto. Comentários ao Estatuto da Advocacia e da OAB. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 12)

Devemos lembrar que o advogado não existe apenas para os casos em que tenha litígios, devendo ele zelar pelo melhor interesse do seu cliente antes de tudo. Buscar o justo pode significar não necessitar o ingresso no Judiciário, resolvendo-se a questão de forma conciliatória e rápida, denotando a preocupação do advogado com o seu cliente.

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Julgados do TEDO Tribunal de Ética e Disciplina de São Paulo já decidiu sobre o exer-

cício irregular da profissão:

“E-3.279/06 – EXERCÍCIO DA PROFISSÃO – CONSULTORIA JURÍDICA PRESTADA POR BACHAREL EM DIREITO – IM-POSSIBILIDADE.Não basta cursar a faculdade de direito, obter aprovação e ter expedido seu diploma ou certificado de conclusão do curso, para ser advogado. Para ser advogado é preciso estar inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil. São atividades privativas de advocacia a postulação em juízo e as atividades de consultoria, assessoria e di-reção jurídica. São nulos os atos privativos de advogado praticados por pessoa não inscrita na OAB, sem prejuízo das sanções civis, penais e administrativas (artigos 1º e 4º do EAOAB). O bacharel em direito não pode sob qualquer hipótese prestar consultoria ju-rídica, que é atividade privativa da advocacia, sob pena de cometer crime de exercício ilegal da profissão (Regulamento Geral – artigo 4º).” (V.U., em 16/02/2006, do parecer e ementa do Rel. Dr. Luiz Antônio Gambelli – Rev. Dr. Fabio Kalil Vilela Leite – Presidente Dr. João Teixeira Grande)

“EXERCÍCIO DA PROFISSÃO – ASSESSORIA E CONSULTO-RIA JURÍDICAS PRESTADAS POR BACHAREL EM DIREITO E ESTAGIÁRIO – IMPOSSIBILIDADE.1 – Os cursos jurídicos não formam advogados, mas somente bacharéis em direito, que, para habilitarem-se profissionalmente, são obrigados a inscrever-se na OAB, cumprindo as exigências definidas no artigo 8º do Estatuto, para só então serem autorizados a exercer as atividades da advocacia e utilizar-se da denominação de advogado, que é privativa dos inscritos na Ordem (artigo 3º do Estatuto). Portanto, o bacharel em direito não pode sob qualquer hipótese prestar assessoria e consultoria jurídicas, que são ativida-des privativas da advocacia (artigo 1º, II, do Estatuto), sob pena de cometer crime de exercício ilegal da profissão (Regulamento Geral – artigo 4º). 2 – O estagiário, mesmo que devidamente inscrito, também não poderá prestar assessoria e consultoria jurídicas, a não ser que o faça em conjunto com advogado e sob a responsabilidade deste (art. 3º, § 2º, do Estatuto). 3 – O advogado é o primeiro juiz de seus atos, portanto, deve decidir, com base nas normas legais e de acordo exclusivo com sua consciência e deveres para com sua profissão, quais as medidas que entende necessárias para coibir as atitudes que julgue prejudiciais ao pleno, legal e ético exercí-cio da advocacia.” (TED/OAB/SP. Proc. E-3.011/2004 – v.u., em

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19/08/2004, do parecer e ementa do Rel. Dr. Guilherme Florindo Figueiredo – Rev. Dr. Zanon de Paula Barros – Presidente Dr. João Teixeira Grande)

Na mesma esteira, vemos decisão do Tribunal de Ética e Disciplina de Goiás:

“Ementa: Assinatura em Petição de Não Inscritos na OAB. Advo-gado que permite a assinatura em petição a estudante de Direito não inscrito como estagiário comete infração ético disciplinar. Portanto, há que se aplicar a pena de censura prevista no art. 35, inciso I, do EAOAB, devendo constar dos assentamentos do ins-crito, conforme dispõe o parágrafo único do artigo citado, cons-tante da Lei 8.906/94. Decisão: Representação julgada procedente, aplicando ao representado a pena de censura, nos termos do voto da Relatora.” (P. D. n.º 11.173/99. V. U. Presidente da 1ª Turma do TED/OAB/GO – Dr. Célio Medeiros Cunha. Relatora – Juíza Dalva Moura da Silva Martins. 04.05.2004)

§ 3º É vedada a divulgação de advocacia em conjunto com outra atividade.

D ComentáriosO § 3º traz importante vedação para divulgação da advocacia com

outras atividades. Por mais nobre que seja a outra profissão, não se pode ocorrer a divulgação conjunta com a advocacia. A vedação ao exercício em conjunto com outras atividades é total e procura privilegiar a profis-são, não importando se a outra atividade tenha natureza civil, comercial, público, privada ou mesmo não lucrativa.

Igualmente, não se pode exercer no mesmo espaço profissão conjunta com a advocacia. O profissional pode ser médico e advogado, contador e advogado, engenheiro e advogado, mas não no mesmo espaço, motivo pelo qual a identificação deve ser clara e inequívoca de que se trata tão somente de escritório de advocacia.

Este parágrafo procura ratificar o esposado também pelo Código de Ética e Disciplina de 2015, ao estipular em seu art. 39 que “a publicidade profissional do advogado tem caráter meramente informativo e deve primar pela discrição e sobriedade, não podendo configurar captação de clientela ou mercantilização da profissão”, bem como pelo art. 4º e alíneas do Provimento 94/2000.

Com o Novo Código de Ética e Disciplina, aprovado pelo Conselho Fe-deral da OAB em 4 de novembro de 2015, procurou-se dar nova roupagem

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ao dispositivo, aumentando as possibilidades de divulgação da atividade de advogado, tais como levar em consideração o avanço tecnológico e das mídias sociais.

Apesar disso, as empresas e comércios em geral podem possuir um departamento jurídico para realizar todas as atividades jurídicas deli-mitadas no objeto do contrato, não podendo prestar assessoria jurídica fora do objeto do contrato. A vedação se faz como maneira de evitar a comercialização da advocacia, para não ocorrer a “casadinha”, venda de um serviço em conjunto com outro.

Julgados do TEDSobre o tema, verificamos o posicionamento do Tribunal de Ética e

Disciplina de São Paulo:

“E-3.259/05 – EMENTA Nº 1 – EXERCÍCIO PROFISSIONAL E ATIVIDADE ESTRANHA À ADVOCACIA – AS ATIVIDADES PRIVATIVAS DA ADVOCACIA ESTÃO PREVISTAS NO AR-TIGO 1º DO ESTATUTO DA OAB – PROFERIR PALESTRAS É ATIVIDADE ESTRANHA À ADVOCACIA – O ADVOGADO, COMO QUALQUER OUTRO CIDADÃO, PODE EXERCER A FUNÇÃO DE PRELETOR, CONTUDO, A PROPAGANDA DAS PALESTRAS A SEREM PROFERIDAS JAMAIS PODERÁ SER FEITA EM CONJUNTO COM SUA ATIVIDADE PROFISSIO-NAL, SOB PENA DE INFRAÇÃO AO § 3º DO ARTIGO 1º DO ESTATUTO DA OAB. Não poderá ser divulgado o exercício da advocacia em conjunto com a atividade de ‘preletor’. Se a condição de ‘preletor’ admite propaganda, o exercício da advocacia não a admite. O advogado na divulgação de sua profissão (publicidade, e não propaganda) deverá restringir-se aos ditames dos artigos 28 a 34 do Código de Ética e Disciplina, da Resolução nº 2/92 do Tribunal de Ética e Disciplina da OAB/SP – Turma Deontológica e do Provimento 94/2000 do Con-selho Federal da OAB.” (V.U., em 17/11/2005, da ementa e parecer da Relatora Dr.ª Maria do Carmo Whitaker – Revisor Dr. Benedito Édison Trama – Presidente ad hoc Dr. Fabio Kalil Vilela Leite)

“EXERCÍCIO DE OUTRAS ATIVIDADES PROFISSIONAIS SIMULTANEAMENTE COM A ADVOCACIA – CORRETOR DE IMÓVEIS, DESPACHANTE POLICIAL E CORRETOR DE SEGUROS.Proibição total quanto ao exercício conjunto com a atividade de despachante policial (art. 28 da Lei n. 8.906/94 e art. 1º do Provi-mento 62/88). Inexistência de impedimento ou incompatibilidade

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com relação às atividades de corretagem, embora não recomendável. Necessidade imperiosa de preservação dos preceitos éticos e de or-dem pública, não podendo, por consequência, serem as atividades conjuntas exercidas no mesmo espaço físico nem angariar causas ou clientes e comprometer o direito/dever de sigilo profissional e inviolabilidade do escritório de advocacia, além da estrita obediên-cia ao parágrafo 3º do art. 1º do EAOAB, que veda a divulgação de advocacia em conjunto com outra atividade, melhor entendido pela leitura do art. 31 do Código de Ética e Disciplina.” (TED/OAB/SP. Proc. E – 1.389 – V.U. – Rel. Dr. Benedito Édison Trama – Rev. Dr. José Carlos Magalhães Teixeira – Presidente Dr. Robison Baroni)

E o Tribunal de Ética e Disciplina do Rio Grande do Sul segue o mesmo entendimento:

“Ementa: DIVULGAÇÃO DOS SERVIÇOS DE ADVOCACIA CONJUNTAMENTE COM CORRETAGEM DE IMÓVEIS.Representação procedente. Incorre em sanção ética disciplinar aquele que divulga serviços de advocacia conjuntamente com corretagem de imóveis.” (TED/OAB/RS. Julgamento em 18 de Setembro de 2007, Processo/ano: 239993/2006, Relator: Carlos Felipe Vizzotto de Castro, Decisão: Unânime, Órgão Julgador: Quinta Turma)

Há, entretanto, um limite para incursão na pena de exercer a atividade em conjunto, isto é, nem sempre o advogado estará necessariamente in-fringindo o dispositivo em comento, uma vez que ele pode exercer outras atividades, desde que em locais distintos ou quando ambas são exercidas no mesmo imóvel, mas em salas distintas. Vemos o posicionamento do TED de São Paulo sobre o assunto:

“EXERCÍCIO PROFISSIONAL – ADVOGADO QUE TAMBÉM EXERCE A PROFISSÃO DE ENGENHEIRO DE SEGURANÇA DO TRABALHO.Não existe proibição para que o advogado exerça outras profis-sões. Deve fazê-lo em locais distintos e sem divulgação conjunta das atividades sob pena de afronta ao art. 1º, § 3º, da Lei 8.906/94 e Resolução 13/97 deste sodalício. O advogado não pode ainda desenvolver essas atividades no mesmo local sob pena de violar o sigilo profissional, independência e liberdade profissional e caracterizar concorrência desleal e mercantilização vedados pelo EAOAB e CED. Ementa nº 2.” (TED/OAB/SP. Proc. E-3.080/04 – v.m., em 09/12/04, do parecer e ementa do Rel. Dr. Carlos Roberto Fornes Mateucci – Rev. Dr. Fábio Kalil Vilela Leite – Presidente Dr. João Teixeira Grande)

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“ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA – EXERCÍCIO CONCOMI-TANTE COM OUTRA ATIVIDADE REGULAMENTADA NO MESMO LOCAL – CORRETOR DE IMÓVEIS – NECESSIDADE DE DISTINÇÃO.A atividade de corretor de imóveis pode ser desenvolvida simul-taneamente com o exercício da Advocacia, não estando elencada em nenhuma das hipóteses de impedimento ou incompatibilidade previstas nos artigos 28 a 30 do Estatuto vigente. Necessidade de preservação dos preceitos éticos e de ordem pública, não poden-do, por consequência, serem as atividades conjuntas exercidas no mesmo espaço físico nem angariar causas ou clientes. Não caracterização da prática da infração ético-disciplinar prevista no artigo 33, parágrafo único, do Estatuto da Advocacia e artigo 5o, do Código de Ética e Disciplina, vez que as duas atividades, embora desenvolvidas nas dependências do mesmo imóvel, apresentam instalações distintas, não restando comprometido o direito/dever de sigilo profissional e a inviolabilidade do escritório de advo-cacia.” (TED/OAB/SP. Proc. E- 087/09 – v.m., em 25/03/11, Rel. (voto divergente) Dr. Achilles Benedicto Sormani – Presidente Dr. Ailton José Gimenez)

Art. 2º O advogado é indispensável à administração da justiça.§ 1º No seu ministério privado, o advogado presta serviço público e exerce função social.§ 2º No processo judicial, o advogado contribui, na postulação de decisão favorável ao seu constituinte, ao convencimento do julgador, e seus atos constituem múnus público.§ 3º No exercício da profissão, o advogado é inviolável por seus atos e manifestações, nos limites desta lei.

D ComentáriosO art. 2º do EAOAB disciplina aquilo que já é consagrado pela Cons-

tituição Federal de 1988, que tratou em seu art. 133 que “o advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei”. Conforme ensinamentos do Professor Paulo Lôbo:

“O princípio da indispensabilidade não foi posto na Constituição como favor corporativo aos advogados ou para reserva de mercado profissional. Sua ratio é de evidente ordem pública e de relevante interesse social, como instrumento de garantia de efetivação da

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cidadania. É garantia da parte e não do profissional”. (LÔBO, Paulo Luiz Netto. Comentários ao Estatuto da Advocacia e da OAB. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 40)

Ao considerarmos sob o viés constitucional e com base no EAOAB, ve-rificamos que o advogado goza de quatro características principais, sendo elas: Indispensabilidade; Inviolabilidade; Função Social e Independência, que permeiam tanto este Estatuto, como o Código de Ética e Disciplina e o Regulamento Geral.

Observa-se também que a Carta Política surge após um momento conturbado da História brasileira, garantindo-se ao advogado a prer-rogativa de indispensável à manutenção da própria democracia e como fundamento para o acesso à justiça, de modo que o art. 5º estipula no inciso XXXV que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”.

O ministério privado do advogado, isto é, o exercício regular da pro-fissão, é uma atividade enaltecedora das instituições democráticas e deve sempre ser enaltecido como preponderante para sua manutenção.

Ao se enfatizar que o advogado presta serviço público e exerce função social, não significa sua imediata promoção ao funcionalismo público sem a necessidade de concurso público, o que é vedado pela Constituição Federal.

Pelo contrário, verificamos que o EAOAB dispôs que às vistas da socie-dade, o desempenho do advogado, seja em atos judiciais ou extrajudiciais, é necessário para que se cumpra a função social, delimitada em vários institutos da Carta Magna.

Percebe-se a importância do advogado para administração da justiça quando verificamos que se ressalta não apenas o seu múnus público, ou seja, sua atividade como indispensável à sociedade e ao exercício da cidadania.

Eleva-se neste sentido a relevância do seu papel na sociedade, que não se limita às relações processuais ou às atividades privativas de sua compe-tência. Historicamente a advocacia se encontra na defesa das instituições democráticas brasileiras e na luta pela prevalência do bem social.

Por isso, a postulação em juízo é sempre com vistas a buscar o melhor interesse do seu cliente, utilizando-se para tanto de todos os meios lícitos e idôneos para convencer o julgador sobre o pleito realizado.

O advogado, no exercício regular de suas funções, tem ainda a invio-labilidade por seus atos praticados e manifestações realizadas, sempre se balizando de acordo com os preceitos legais em vigor.

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Deve, portanto, agir com prudência e contribuir para o bom desenvol-vimento do processo judicial ou administrativo na defesa dos interesses dos clientes, sem nunca deixar de seguir o ordenamento jurídico e a ética indispensável à profissão.

Lembremos que esta disposição é válida apenas e tão somente quando o advogado encontra-se exercendo a profissão. Em caso de encontrar-se em sua vida privada, esta regra não poderá ser aplicada.

Art. 3º O exercício da atividade de advocacia no território brasi-leiro e a denominação de advogado são privativos dos inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).§ 1º Exercem atividade de advocacia, sujeitando-se ao regime desta lei, além do regime próprio a que se subordinem, os inte-grantes da Advocacia-Geral da União, da Procuradoria da Fazenda Nacional, da Defensoria Pública e das Procuradorias e Consulto-rias Jurídicas dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e das respectivas entidades de administração indireta e fundacional.

D ComentáriosComo extensão do art. 1º, deste EAOAB, o exercício da profissão de

advogado, tanto em sua atividade como em sua denominação, devem ser privativos aos inscritos nos quadros da OAB, o que implica afirmar que somente os oficialmente aprovados no Exame Nacional Unificado podem requerer a inscrição nas seccionais. A faculdade de direito não forma advogados, mas é um dos requisitos para sua inscrição.

Conforme já mencionado (vide comentários ao art. 1º do EAOAB), o exercício da atividade por pessoa não habilitada implica em sanções e penalidade legais nas esferas criminal, cível e disciplinar. A sujeição a esta lei é ampla, mas gera inúmeras discussões no campo, uma vez que a subordinação ao regime da lei comporta todos os profissionais que exercem a atividade jurídica.

Atentemo-nos também que a função de advogado descrita neste dis-positivo somente pode ser exercida por profissional regularmente inscrito no Conselho Seccional da OAB do seu referido Estado, além de cumprir com todos os requisitos indispensáveis para sua efetivação constantes no art. 8º, deste EAOAB, que serão melhor abordados quando da análise comentada do dispositivo.

Sendo o EAOAB uma norma Federal, aplica-se a todos os integrantes no âmbito da União Federal, dos Estados, Municípios, Distrito Federal e

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das entidades da administração direta e fundacional, devendo observar as disposições do Estatuto.

Embora se tenham inúmeras discussões sobre o alcance do Código de Ética e Disciplina (como é o caso dos defensores), quanto à Lei não podem ficar dúvidas, estando todos sob sua guarda, além das disposições concernentes ao regime próprio de cada função.

Exemplo dessa discussão pode ser encontrado no art. 4º, § 6º, da Lei Complementar 80/1994, com a redação dada pela Lei Complementar 132/2009, aduzindo que a capacidade postulatória para o Defensor Pú-blico decorre exclusivamente da sua nomeação e posse no cargo público.

O texto, porém, não permite inferir que exista a dispensa da inscrição do Defensor Público nos regulares quadros da OAB. Na realidade, o dis-positivo demonstra que para postulação em juízo o Defensor Público não precisa fazer prova do instrumento procuratório, bastando para tanto a posse no cargo. Esse é o entendimento seguido pelo Conselho Federal e que consideramos o correto, valendo este raciocínio para os Exames de Ordem.

 § 2º O estagiário de advocacia, regularmente inscrito, pode pra-ticar os atos previstos no art. 1º, na forma do regimento geral, em conjunto com advogado e sob responsabilidade deste.

D ComentáriosO estagiário, compreendido como o estudante de direito cursante do

4º ou 5º anos e regularmente inscrito nos quadros da OAB, pode praticar os atos descritos no caput deste artigo, em conjunto com outro advogado, jamais sozinho, ainda que “autorizado” pelo advogado. Para tanto, deve observar o EAOAB, o Código de Ética e Disciplina e o Regulamento Ge-ral da OAB, de modo que a responsabilidade pelos atos praticados pelo estagiário sempre será do advogado que o acompanha e o instrui.

Embora no antigo EAOAB, de 1963, o estagiário pudesse praticar todos os atos que hoje são privativos do advogado, devemos nos atentar que o caráter do estágio não é o de profissionalizar o estudante, mas sim de instruí-lo na carreira, isto é, o estágio não é uma profissão e o local em que ele se realiza, mesmo sendo em escritório privados, tem como único intuito a educação do estagiário. Bem expôs o Professor Paulo Lôbo:

“Ao contrário do Estatuto anterior, que permitiu o exercício pelo estagiário dos atos não privativos de advogado, o novo Estatuto faculta ao primeiro (regularmente inscrito na OAB) exercer todos os atos, desde que acompanhado necessariamente por advogado

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(incluindo o procurador ou o defensor público) e sob a respon-sabilidade deste. A atuação do estagiário não constitui atividade profissional; integra sua aprendizagem prática e tem função pe-dagógica”. (LÔBO, Paulo Luiz Netto. Comentários ao Estatuto da Advocacia e da OAB. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 41)

Para se identificar, deve sempre colocar a categoria estagiário junto à petição ou documentos, ou seja, o número de sua inscrição seguida de “–E”, para mostrar que não se trata de advogado, podendo incorrer em infração disciplinar caso não o faça (quem responde é o advogado orientador de acordo com a infração e o disposto no Código de Ética e Disciplina. O estagiário, no máximo, recebe a pena de censura).

Tem como direito: retirar e devolver autos em cartório; obter certidões de processo em curso ou findos; participar de atos extrajudiciais quando autorizado ou substabelecido pelo advogado (como reunião de condomínio) e assinar petição de juntada sozinho, seguindo as possibilidades previstas pelo no art. 29, §§ 1º e 2º, do REGOAB. Todos esses atos praticados pelo estagiário não ensejam o exercício da atividade profissional, já que sua função é unicamente pedagógica e faz parte do seu aprendizado, justificando-se inclusive a necessidade de acompanhamento por advogado responsável.

Mesmo sendo prática comum, o estagiário não pode despachar com o juiz, sendo este um direito legal destinado somente ao advogado. Igual-mente, não pode figurar em publicidade do escritório ou no nome da sociedade, sob pena de infração disciplinar, uma vez que apenas advogados podem constituir sociedade.

Dispõe o artigo 29 do Regulamento Geral o seguinte:

Art. 29. Os atos de advocacia, previstos no Art. 1º do Estatuto, podem ser subscritos por estagiário inscrito na OAB, em conjunto com o advogado ou o defensor público.§ 1º O estagiário inscrito na OAB pode praticar isoladamente os seguintes atos, sob a responsabilidade do advogado:I – retirar e devolver autos em cartório, assinando a respectiva carga;II – obter junto aos escrivães e chefes de secretarias certidões de peças ou autos de processos em curso ou findos;III – assinar petições de juntada de documentos a processos judi-ciais ou administrativos.§ 2º Para o exercício de atos extrajudiciais, o estagiário pode comparecer isoladamente, quando receber autorização ou subs-tabelecimento do advogado.

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Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil • Art. 3º

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Jornada de TrabalhoDesde a edição da Lei 11.788 de 2008, a jornada de atividade do

estagiário em geral não pode ser superior a seis horas diárias, com dura-ção máxima de dois anos. O concedente tem ainda a facultatividade da concessão de auxílio-transporte e quando o período de estágio for igual ou superior a um ano no mesmo local, o estagiário terá direito a férias.

O estágio compreende a carga horária de 300 horas e deve ser cumprido dentro ou fora da faculdade (ou parte dentro e parte fora), cabendo também a ele todas as hipóteses de incompatibilidade destinadas aos advogados. Dentro dessa carga horária, compreende-se não apenas o estágio pro-fissional, como também o estudo do Código de Ética e Disciplina, deste EAOAB e a continuidade com a excelência acadêmica, isto é, por mais importante que o estágio seja na vida profissional do estudante, ele não poderá em hipótese alguma atrapalhar seus estudos.

Para a carga horária ser cumprida em sua integralidade, o estudante pode estagiar em instituições de ensino, em seus núcleos de prática jurídica, na Defensoria Pública, em escritórios de advocacia públicos ou privados, credenciados e fiscalizados pela OAB. Em algumas localidades, existe a presença do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE) que procuram intermediar as relações entre as partes.

Os Núcleos de Prática Jurídica (NPJ) mantidos pelas instituições de ensino possuem como característica a inserção do aluno nas rotinas básicas da profissão, tendo caráter duplamente instrutivo: ao mesmo tempo em que possibilita ao estudante tomar conhecimento das práticas comuns da profissão, como a prestação de serviços jurídicos e as técnicas de negociação coletiva, de arbitragem e de conciliação, procura também inseri-lo nas ques-tões rotineiras dos fóruns, com a redação de atos processuais e profissionais, as rotinas processuais, a assistência e a atuação em audiências e sessões.

Julgados do TEDSobre o estagiário, além do julgado já elencado sobre a impossibilidade

de consultoria por parte de bacharéis e estudantes, temos ainda a impossi-bilidade de que o estagiário participe dos honorários sucumbenciais, que são considerados verbas exclusivas do advogado atuante na causa, sendo o estágio ainda de caráter puramente pedagógico:

“HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS – DESTINAÇÃO AO ADVOGADO – COMPENSAÇÃO EM ACORDO – PARTICI-PAÇÃO DE ESTAGIÁRIO.I. É posicionamento unânime deste Tribunal, que os honorários de sucumbência pertencem integralmente ao advogado, que não

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deve abrir mão deste direito, na medida em que foi fruto de intensa luta da classe, que se arrastou por muitos e muitos anos, só sendo coroada de êxito com o advento da Lei n. 8.906/94 – Estatuto da Advocacia.II. É, porém, permitido ao advogado na montagem de acordo, transigir em seus honorários. Em caso de acordo, quando a parte paga os honorários do advogado ex-adverso, os honorários assim recebidos compensam os contratuais quando houver estipulação neste sentido expressamente acertada com o cliente (E-3758/2009).III. O estagiário durante o período de estágio, não faz jus aos ho-norários sucumbenciais. Segundo ensina Paulo Luiz Netto Lôbo: ‘A atuação do estagiário não constitui atividade profissional; integra sua aprendizagem prática e tem função pedagógica’. Portanto, tal atuação, que tem suas atividades isoladas restritas àquelas estabelecidas no artigo 29 do Regulamento Geral, e todas as demais, sob a respon-sabilidade expressa de um advogado, nos termos do artigo 3º, § 2º, da EAOAB, por se tratar de aprendizagem prática e com finalidade pedagógica, não se constituindo em atividade profissional, não gera participação nos honorários de sucumbência. Se, porventura, após inscrito na OAB como advogado, permanecer no escritório em que estagiou e atuando no processo, terá direito aos honorários sucum-benciais, na proporção do trabalho executado, no período e na estrita condição de advogado. Por outro lado, se houve algum acordo com o advogado que se retirou em relação aos honorários de sucumbência, este tem que ser respeitado pelos três, como exige a ética.” (Proc. E-4.045/2011 – v.m., em 15/09/2011, do parecer e ementa do Rel. Dr. Guilherme Florindo Figueiredo, com declaração de voto divergente do Julgador Dr. Luiz Antonio Gambelli – Rev. Dr. Zanon de Paula Barros – Presidente Dr. Carlos José Santos da Silva)

Art. 4º São nulos os atos privativos de advogado praticados por pessoa não inscrita na OAB, sem prejuízo das sanções civis, penais e administrativas.Parágrafo único. São também nulos os atos praticados por advogado impedido – no âmbito do impedimento – suspenso, licenciado ou que passar a exercer atividade incompatível com a advocacia.

D ComentáriosO dispositivo ratifica aquilo que já estudamos no art. 1º, §§ 1º a 3º,

deste EAOAB. Todos os atos praticados por não inscritos nos quadros da OAB, além de nulos, são passiveis de sanções civis (pelos prejuízos

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Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil • Art. 4º

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causados aos particulares ou ao Estado com os atos praticados), penais (pelo exercício ilegal da profissão, com pena de detenção de 15 dias a seis meses, pela Lei de Contravenções Penais e pelo Regulamento Geral da OAB) e administrativas (com as sanções disciplinadas no EAOAB e no Código de Ética e Disciplina).

Tais restrições e penalidades se aplicam igualmente aos advogados que, apesar de regularmente inscritos, não podem exercer a atividade, como nos casos de impedimento, suspensão, licença ou quando exerça atividades incompatíveis com a advocacia, possibilidades que estudaremos em seu devido tempo.

A nulidade apresenta as seguintes características:

(i) Pode ser declarada de ofício;(ii) Pode ser provocada por qualquer interessado ou pelo Ministério

Público;(iii) É imprescritível, não convalescendo com o tempo;(iv) Apaga, ao ser declarada, os efeitos ab initio (ab ovo) (desde o

início);(v) Não pode ser suprida ou sanada.

Da mesma maneira que o caput do art. 4º procura proteger a socie-dade dos atos praticados por quaisquer pessoas não inscritas na OAB, o parágrafo único resguarda o mesmo benefício àqueles que por ventura são atingidos por advogados que, mesmo inscritos, não podem por algum motivo exercer a atividade.

O parágrafo único do referido dispositivo traz ainda as figuras do impedimento, suspensão, licenciamento e incompatibilidade, que traba-lharemos no seu devido tempo, mas para efeitos didáticos, cumpre-nos sintetizar para pleno aproveitamento:

✓ Impedido é o advogado que tem restrições ao exercício da advo-cacia contra determinada pessoa de direito público devido o fato de possuir uma das condições dispostas no art. 30 do EAOAB;

✓ Suspenso é o advogado que sofreu como punição disciplinar a impossibilidade temporária – e não definitiva – de desempenhar a advocacia (art. 37 do EAOAB);

✓ Licenciado é o advogado que pediu afastamento temporário – e não definitivo – da atividade, com a interrupção do pagamento da anuidade (art. 12 do EAOAB);

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✓ Incompatível é o advogado que passa a exercer cargo que impeça o exercício da advocacia, como por exemplo, a magistratura, sendo definitivo (art. 28 do EAOAB).

Julgados do TEDSobre o tema, temos o posicionamento do TED de São Paulo que

considerou, seguindo o disposto no art. 4º, deste EAOAB, todos os atos praticados por advogado incompatível como nulos:

“E-3.137/2005 – EMENTA Nº 2 – DIRIGENTE DE AUTAR-QUIA MUNICIPAL – PROIBIÇÃO DE ADVOGAR, SALVO QUANTO AO EXERCÍCIO DA ADVOCACIA VINCULADA À RESPECTIVA FUNÇÃO – NULIDADE ABSOLUTA DOS ATOS PRATICADOS -DIREITO DE REPRESENTAÇÃO. O advogado que tomar ciência de infração, por colega, do art. 29 do EAOAB tem o direito de promover a respectiva representação, que não pode ser anônima. No entanto, o advogado, na represen-tação, deve agir com redobrada cautela, fundando-se em segura convicção, a ser exposta em peça fundamentada. Nos termos do art. 4º e parágrafo único do EAOAB, são nulos os atos praticados por advogado que exerça atividade incompatível com a advocacia. Sobre a conduta, em processo judicial, que deve ser tomada por advogado que toma conhecimento de ato praticado em infração aos arts. 4º e 29 do EAOAB, não cabe manifestação do TED-I. Não conhecimento, nesta parte.” (V.U., em 14/04/2005, do parecer e ementa do Rel. Dr. Fábio de Souza Ramacciotti – Revª. Drª. Maria do Carmo Whitaker – Presidente Dr. João Teixeira Grande) 

Art. 5º O advogado postula, em juízo ou fora dele, fazendo prova do mandato.§ 1º O advogado, afirmando urgência, pode atuar sem procuração, obrigando-se a apresentá-la no prazo de quinze dias, prorrogável por igual período.§ 2º A procuração para o foro em geral habilita o advogado a praticar todos os atos judiciais, em qualquer juízo ou instância, salvo os que exijam poderes especiais.§ 3º O advogado que renunciar ao mandato continuará, durante os dez dias seguintes à notificação da renúncia, a representar o mandante, salvo se for substituído antes do término desse prazo.

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D ComentáriosO dispositivo visa regular a forma com que o advogado poderá postular

em juízo: por meio do instrumento de mandato, devendo para tanto provar a outorga dos poderes realizados pelo seu cliente por meio de instrumento particular ou público.

Uma vez constituído, o instrumento de mandato é válido desde o pri-meiro ato praticado até o arquivamento definitivo da demanda, ficando o advogado responsável pelo acompanhamento de todo o desenrolar processual neste período.

A depender do caso, o advogado poderá postular em juízo sem o referido instrumento, desde que o patrono afirme urgência na prestação jurisdicional, devendo obrigatoriamente apresentá-la no prazo de quinze dias, prorrogáveis por mais quinze, o que de igual modo é previsto pelo NCPC, em seu art. 104, caput e parágrafo 1º.

Importante: caso o advogado não consiga juntar o instrumento após o prazo legal, deverá informar ao juízo, que poderá nomear um advogado dativo ou dilatar outra vez mais o prazo, através de um juízo valorativo com base na razoabilidade, já que a parte não pode ser prejudicada em seu direito e ficar sem defesa.

Ainda, é um dever do advogado explicar ao seu cliente, de forma clara e inequívoca, sobre todos os riscos e dificuldades, sem incentivar aventuras jurídicas, de acordo com o que prevê o art. 29 do CED. Por tal motivo, o advogado pode recusar um mandato se apresentar para tanto um justo motivo ou se por alguma razão tiver impedimento ético com relação ao fato ou ato que deva desempenhar, conforme traz o mesmo CED, em seu art. 22.

O instrumento de procuração irá sempre habilitar o advogado para as práticas de todos os atos processuais em qualquer juízo ou instância (Procuração ad judicia), salvo àqueles em que se necessita de poderes especiais para realizá-los (Procuração ad judicia et extra), restringindo o mandatário a praticar apenas aqueles atos outorgados, conforme dispõe o Código Civil (art. 661, § 1º), ou mesmo no Processo Penal (art. 44), para oferecimento de representação ou em queixa-crime.

O Diploma Processual Civil de 2015 traz igualmente em seu art. 105, §§ 1º a 4º, um rol de especificidades em que se tem a necessidade de poderes especiais para cumpri-las, poderes estes que devem estar expressos na procuração. Uma novidade contida no NCPC encontra-se em consonân-cia com a informatização do judiciário e do processo digital eletrônico, refere-se à possibilidade de assinatura digital da procuração por meio de certificado do outorgante, facilitando o ajuizamento de demandas e a outorga de poderes ao advogado para representação.

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Vale lembrar que a lei não exige o reconhecimento de firma do outor-gante por cartórios, embora alguns órgãos e instituições públicas exijam sua apresentação, como por exemplo, o DETRAN ou o PROCON, ou mesmo quando a Lei assim o exigir, como por exemplo no caso do art. 654, § 2º, do Código Civil.

CAPÍTULO IIDos Direitos do Advogado

Art. 6º Não há hierarquia nem subordinação entre advogados, magistrados e membros do Ministério Público, devendo todos tratar-se com consideração e respeito recíprocos.Parágrafo único. As autoridades, os servidores públicos e os ser-ventuários da justiça devem dispensar ao advogado, no exercício da profissão, tratamento compatível com a dignidade da advo-cacia e condições adequadas a seu desempenho.

D ComentáriosAs disposições trazidas pelo caput do art. 6º são essenciais para o bom

desempenho das funções judiciais e para a administração da justiça, isto porque consagra com base no respeito mútuo que não existe hierarquia ou subordinação entre advogados, magistrados e membros do Ministério Público.

O comportamento deve sempre condizer com a formação em direito que todos possuem. Deve-se tratar com equidade e com base no respeito mútuo inerente não apenas à profissão, mas também à convivência pa-cífica e democrática.

Embora seja de conhecimento que por vezes esta disciplina é ignora-da por uma das partes, certo é que procura lastrear a boa relação entre as partes envolvidas nas demandas, bem como impedir que de alguma forma se estabeleçam diferenças ou abusos de autoridade por parte de juízes ou promotores.

O que se consagra, na verdade, é a firmação de que todos prestam um múnus público à sociedade e à democracia e, por isso, encontram-se no mesmo patamar.

Ao se analisar o parágrafo único, vemos que suas disposições se referem especificamente às autoridades, servidores e serventuários da justiça, para que dispensem aos advogados tratamento digno da profissão e condições para seu desempenho pleno.