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4º Encontro Nacional da Associação Brasileira de Relações Internacionais
De 22 a 26 de julho de 2013.
Gestão da Cooperação Internacional dos Governos Locais: Caso comparativo das cidades de Belo Horizonte e São Paulo
Instituições Internacionais
Artigo
Eduardo Augusto Café Fundação João Pinheiro
Bárbara Beatriz Maia Pinto Alves Instituto de Relações Internacionais - USP
Belo Horizonte 2013
2
Eduardo Augusto Café Bárbara Beatriz Pinto Maia
Gestão da Cooperação Internacional dos Governos Locais: Caso comparativo das cidades de Belo Horizonte e São Paulo
Trabalho submetido e apresentado no 4º Encontro Nacional da Associação Brasileira de Relações Internacionais – ABRI.
Belo Horizonte 2013
3
RESUMO
A partir da década de 90, o processo de redemocratização nos países latino-americanos, o esforço pela definição de constituições que delegam mais participação às localidades, o aprofundamento dos laços econômicos com diversos países do mundo levaram os governos locais procurarem oportunidades de financiamento, de atração de investimentos, de boas práticas no exterior e de posicionamento internacional. Nesse contexto, as cidades brasileiras têm traçado estratégias voltadas à internacionalização. Dois casos de inserção internacional bem sucedidos, porém distintos, é o de Belo Horizonte e São Paulo. O presente artigo pretende responder, portanto, dois questionamentos: Quais as diferenças e semelhanças de inserção internacional de São Paulo e Belo Horizonte? Como as duas cidades viabilizam essa inserção?Para isso, os autores pretendem comparar as motivações e estratégias, as capacidades e constrangimentos legais, administrativos e financeiros para essa inserção, os atores envolvidos no processo e os resultados atingidos por essas duas cidades.
Palavras chave: Internacionalização de cidades, Belo Horizonte, São Paulo, paradiplomacia
4
Nas últimas décadas, umas das características mais marcantes das relações
internacionais tem sido a crescente pluralidade dos vetores de interação. Os esquemas
verticalizados de condução da política externa, que centralizavam a atuação dos agentes
oficiais do Estado, já não restringem o Sistema Internacional. E diante de uma expansão
rápida e sem rumos delineados da ordem mundial, emergem novos e múltiplos agentes,
marcados pela generalização das relações horizontais, dotados de uma vasta consciência
de cidadania e de uma ampla percepção das variadas formas de interação possibilitadas
pelo avanço tecnológico. (LESSA, 2002)
Estes processos de expansão e descentralização refletiram-se na redefinição da
natureza, do alcance e dos limites da ação estatal diante da globalização, o que leva à
discussão sobre a perda do espaço de atuação dos Estados e a diminuição do seu poder
decisório no plano internacional. João Vicente da Silva Lessa faz algumas considerações a
este respeito:
Com efeito, a transnacionalização dos processos produtivos, a intensa movimentação dos capitais financeiros, o desenvolvimento dos meios globais de comunicação e, conseqüentemente, dos métodos de administração no interior das corporações e de outras entidades impõem a noção de uma relativização do poder dos Estados nacionais. A ação concomitante de diversos agentes internacionais “globais” tenderia a diluir as fronteiras das economias nacionais e a diminuir sensivelmente a capacidade dos Estados de controlar essas economias pelo emprego do usual arsenal de medidas monetárias, fiscais e financeiras (LESSA, 2007, p.11). 1
A modernização tecnológica da comunicação e a perspectiva de uma maior
integração cultural global têm enfraquecido as culturas nacionais e o papel do Estado como
protetor e promotor das mesmas. Da mesma forma, existe uma remodelação entre as
relações do Estado com suas respectivas regiões. O Estado deixa de ser mediador único
entre as relações feitas por suas regiões e dá lugar a uma configuração mais complexa, na
qual as regiões atuam dentro do Estado, mas também dentro dos regimes transnacionais e
da economia global.
A autora Rachel Biderman, em seu texto “Mudanças Climáticas Globais e Políticas
Públicas no Nível Subnacional” afirma que com relação às mudanças climáticas, por
exemplo, a participação de outros atores tais quais ONGs e entes subnacionais, é
fundamental para a evolução do tema enquanto formador de políticas internacionais
capazes de preservar o meio ambiente.
“Apesar do engajamento na busca de soluções para o problema ter se configurado histórica e juridicamente de forma a incluir apenas atores multilaterais e Estados no sistema da ONU, há
1 SILVA LESSA, José Vicente. “Paradiplomacia no Brasil e no Mundo: o poder de celebrar tratados dos governos não centrais”. Viçosa: Ed. UFV, 2007. p.11
5
diferentes atores e críticos que defendem a importância da ação conjugada com outros atores relevantes, que incluem desde coalizões de Estados, governos subnacionais, organizações não governamentais, entidades do setor produtivo, dentre outros. Nesse contexto, têm se formado vários tipos de agremiações de atores no nível subnacional para busca de soluções diferenciadas em prol do equilíbrio climático planetário. Alguns atores transnacionais, em particular redes de ação transnacional integradas por municípios, formaram-se nas últimas duas décadas, para atuar em conjunto, tais como o programa do International Council of Local Environmental Initiatives (ICLEI) Cities for Climate Protection (CCP), o International Solar Cities Initiative, Energie-Cités, Climate Alliance e o C40”.2
Relações mais horizontais no Sistema Internacional são percebidas também como
via de acesso à promoção de parcerias que funcionem como complementares externos em
todos os níveis. A complementaridade neste caso significa que o ente subnacional busca
parceiros que complementem suas necessidades, para que a cooperação funcione como
forma de atingir seus interesses. São formadas as consciências e interesses de governos
locais, de associações civis, de grupos, regiões e municípios. Existe ainda uma percepção
de que as oportunidades de superação de problemas recorrentes e históricos podem ser
encontradas em um contexto mais fértil da cooperação internacional.
O uso da paradiplomacia por entes subnacionais em busca de inserção internacional
se torna cada vez mais freqüente. As regiões fazem uso do caráter oportunista (já que não é
institucionalizada) e experimental desta relação – diferente da diplomacia formal, que é
profundamente institucionalizada e com consolidada por meios burocráticos – e passam a
fazer uso dela para suprir sua necessidade de operar no sistema internacional; contudo, por
não ser institucionalizada e não estar determinada formalmente, a paradiplomacia é
revestida por uma complexa lógica funcional, e as determinações políticas passam a ser o
aspecto chave de seu funcionamento (KEATING, 2004).
O desaparecimento da distinção entre assuntos internos e internacionais e entre as
questões de âmbito nacional e regional representam, dentro da paradiplomacia, uma nova
dimensão relevante tanto para o regionalismo quanto para as relações internacionais. Da
mesma forma, a política é cada vez mais assunto de complexas redes, e já não pode ser
limitada às instituições, pois transborda tanto os limites entre o público e o privado quanto as
fronteiras nacionais.
Os autores da área de relações internacionais começaram a estudar a fundo o
fenômeno da paradiplomacia a partir da década de 90, destacando-se Duchakek (1990),
2 BIERDMAN, Rachel. “Mudanças Climáticas Globais e Políticas Públicas no Nível
Subnacional”. Cadernos Adenauer XIII (2012) Nº1
6
Cornago & Weiller (1994), Mitchell e Leicester (1999), Keating (1999/2004), Hocking (1990),
Cornago (2001), Lecours (2000/2002). Todos se preocuparam em tentar definir o que é
paradiplomacia e analisar suas motivações, objetivos, resultados e implicações. Ressalta-se
a definição de Cornago Prieto (2004), que conceituam paradiplomacia dos governos
subnacionais como:
o envolvimento de governos regionais e locais nas relações internacionais, mediante o estabelecimento de contatos permanentes e ad hoc, com entidades públicas ou privadas estrangeiras, com o objetivo de promoção socioeconômica, política e cultural, bem como de qualquer outra dimensão exterior nos limites de sua competência constitucional3.
Implementada pelos governos sub-regionais, a paradiplomacia pode ser considerada
como um conjunto de políticas públicas que visam a atender demandas da sociedade,
potencializando os resultados dos projetos locais. Essa política pública pode ser pensada a
partir do tripé da gestão: política, programática e organizacional (MOKATE & SAAVEDRA,
2006). A gestão política é a definição da missão e visão da organização, que são ligados à
mobilização dos esforços a fim de conseguir recursos e a autoridade para tal. A gestão
programática trata de definir os programas e projetos para a internacionalização; e, por fim,
a organizacional trata de buscar a capacidade operacional para realização dos programas.
Levando em consideração as abordagens apresentadas, pretende-se, nesse artigo,
comparar as motivações e estratégias, as capacidades e constrangimentos legais,
administrativos e financeiros para essa inserção, os atores envolvidos no processo e os
resultados atingidos pela cidade de São Paulo e Belo Horizonte em face de suas atividades
paradiplomáticas. A comparação se baseará no tripé motivações e mobilização de recursos
financeiros (político), programas e projetos (programático) e a estrutura e recursos humanos
criada para tal (organizacional).
1. Caso de São Paulo
Existem hoje diversas cidades brasileiras que estão inseridas internacionalmente e
fazem uso constante da cooperação descentralizada, como por exemplo, o município de
São Paulo – SP, que utiliza sua amplitude física e capacidade produtiva para atrair eventos
de grande porte juntamente com um grande fluxo de turismo de negócios.; ou o município
de Porto Alegre – RS que explorou de forma muito hábil a sua escolha como sede do Fórum
3 CORGANO PRIETO, Noé. O outro lado do novo regionalismo pós-soviético e da Ásia-Pacífico: a diplomacia federativa além das fronteiras do mundo ocidental. In: VIGEVANI, Tullo; WANDERLEY, Luiz Eduardo; BARRETO, M. Inês e MARIANO, P. (orgs). A dimensão subnacional e as relações internacionais. São Paulo: EDUC; UNESP/EDUSC, 2004. p. 251-282.
7
Mundial, além de ter feito um uso muito inteligente da política de orçamento participativo. E
como um último exemplo, o município de Belo Horizonte (BH) que além de ter se tornado
um pólo turístico se destaca também por sua arquitetura histórica, e mais recentemente por
sua participação nos fóruns ambientais.
O município de São Paulo se encaixa nos padrões supracitados, sendo uma cidade
de grande porte, com mais de 15.000.000 habitantes e é hoje uma das três capitais de
estados brasileiros que mais realiza cooperação descentralizada internacional de acordo
com a Confederação Nacional de Municípios (CNM), realizando projetos com participação
internacional em diversas áreas. A cidade faz uso deste tipo de cooperação internacional,
como política pública e cria políticas públicas que auxiliem a inserção internacional do
município. Desta forma, São Paulo caracteriza-se como um exemplo interessante não só de
estabelecimento de relações internacionais por um município, como também de uma
coordenação eficiente entre as políticas municipais, estaduais e federais que possibilitam o
desenvolvimento sócio-econômico da cidade. A prefeitura de São Paulo define em seu
website a cidade como cosmopolita e global, em busca de atingir seu verdadeiro potencial
como metrópole internacional:
“São Paulo, com seus 11 milhões de habitantes, locomotiva econômica que participa em mais de 10% no PIB do Brasil, quer romper o ciclo dos males típicos de uma megalópole, e assumir definitivamente a identidade de cidade global. Para tanto, não se deve somente buscar minimizar os efeitos colaterais do crescimento, mas também e principalmente, identificar os setores onde surgem soluções produtivas que nos podem trazer acesso a novas fronteiras de colaboração econômica internacional, em benefício comum. São Paulo ocupa a 10ª colocação no ranking das cidades mais ricas do mundo e, segundo estudo da Price Water House Coopers, deverá crescer em média 4,2% por ano, alcançando a 6ª posição até 2025. Como difusor econômico-comercial do continente, pode integrar também as nações vizinhas nesse processo de crescimento. Centro de negócios e serviços onde estão 63% das multinacionais estabelecidas no Brasil, a sexta maior bolsa de valores e a segunda maior frota de helicópteros do mundo, os maiores bancos, agências de publicidade, entre tantos outros exemplos, São Paulo pode oferecer o melhor para seus habitantes. O cosmopolitismo de seu povo se reflete em sua gastronomia altamente diversificada e de alta qualidade, servida em quase 30 mil estabelecimentos ou, ainda, nas inúmeras opções culturais e de entretenimento nos 39 centros culturais, 9 salas de concerto, 44 parques, mais de 400 teatros e cinemas, e 124 museus. O multiculturalismo faz com que São Paulo fale muitos idiomas, encurtando a rota do entendimento, da colaboração entre os povos. São Paulo tem indiscutível destaque nas suas relações diplomáticas, criando canais bilaterais de cooperação que já propiciaram muitos projetos conjuntos, além do intercâmbio frequente de experiências. Maior cidade da América do Sul, São Paulo finalmente assume sua vocação de capital dos negócios, e coloca toda sua estrutura a serviço da captação de investimentos e geração de empregos, na busca da melhor qualidade de vida para seus cidadãos.”4
4 Prefeitura Municipal de São Paulo .
http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/relacoes_internacionais/. Consultado pela última vez: 26 de agosto de 2012. Às 19h00
8
Apesar de seu tamanho e alcance internacional, a cidade de São Paulo formalizou
sua estrutura internacional posteriormente às cidades menores como Campinas por
exemplo. Essa estrutura sofreu com falta de investimentos durante algumas gestões de sua
prefeitura, chegando por vezes a ser completamente extinta por alguns gestores; contudo
em julho de 2001 a Secretaria de Relações Internacionais da Prefeitura de São Paulo teve
sua existência formalizada por meio da Lei Municipal nº 13.165.
A formalização da atuação internacional da cidade possibilitou não só que São Paulo
usufruísse de sua estrutura física para sediar importantes eventos internacionais, como
também abriu possibilidade para que a cidade realizasse acordos internacionais e se
integrasse a redes de cidades, projetando a região metropolitana e seus interesses no
cenário global.
A participação em redes internacionais está entre os principais projetos da Secretaria,
e São Paulo está inserida de forma atuante nas principais redes globais, incluindo redes
europeias e latino-americanas. A cidade assegura sua representação em órgãos
internacionais como Mercosul, Unasul e ONU também por meio da atuação da Secretaria
Municipal.
Está entre os principais objetivos da Secretaria atrair investimentos e oportunidades
comerciais para o município. Diante do perfil industrial e produtivo da cidade, são diversas
as oportunidades de sediar eventos e da abertura de negócios entre São Paulo e várias
partes do mundo, como também é diversa a gama de temas e áreas nas quais a prefeitura
consegue atuar: como turismo, tecnologia da informação, indústria têxtil, automobilística,
gráfica, entretenimento, entre tantas outras.
A participação do município dentro do evento C40, que reúne as quarenta maiores
cidades do mundo em busca de alternativas para o desenvolvimento sustentável foi
considerada de extrema importância para o bom desenvolvimento das negociações. Outros
projetos da Secretaria incluem acordos internacionais nas áreas de transporte e educação,
contando com acordos de cooperação técnica para formar profissionais brasileiros no
exterior, troca de tecnologias e investimento para troca de equipamentos.
Devido a sua grande visibilidade global, a cidade recebe uma grande oferta de
projetos, tornando a postura da Secretaria reativa, contudo não menos expressiva. Com
vistas em projetos futuros além de sua participação como sede dos principais eventos
esportivos - a exemplo de ser sede da abertura da Copa do Mundo de Futebol - a Secretaria
vem investindo fortemente na candidatura de São Paulo como sede da Expo 2020. O evento
agrega expositores de diversas áreas de todo o mundo para expor suas ideias, produtos e
9
inovações dentro de uma temática especifica. Para 2020 a candidatura de São Paulo vem
com o tema "Força da Diversidade, Harmonia para o Crescimento".
Mesmo com grandes demandas a estrutura da Secretaria Municipal de Relações
Internacionais é modesta, contando com uma relativa instabilidade de tempo de atuação de
seus funcionários. Isto ocorre devido ao investimento na área internacional ser feito pelos
gestores da região ser flutuante conforme a transição dos governos. Ainda sim, o Secretario
Leonardo Barchini Rosa conta com uma equipe de 45 pessoas, estando eles distribuídos em
diversos cargos e coordenadorias: um assessor adjunto; equipe de gabinete; assessoria
especial; coordenadoria de assessoria internacional; coordenadoria de assessoria
internacional e redes de cidades; coordenadoria de relações metropolitanas; coordenadoria
de relações federativas; coordenadoria de projetos especiais e supervisão de administração
e finanças.
O orçamento da secretaria é relativamente pequeno proporcionalmente ao orçamento
da cidade como um todo, mas no passar dos anos houve um considerável aumento. E
mesmo com as características especificas da cidade e suas grandes proporções, o padrão
de aplicação desses recursos se assemelha a de muitas outras cidades menores, sendo a
maioria deles aplicado em recursos humanos. A diferença é que ao contrário de cidades
menores, São Paulo recebe muito investimento de seus parceiros nos projetos em que se
envolve, o que resulta em um investimento financeiro menor por parte da cidade mas uma
participação maior em projetos e redes.
Tabela 1: Orçamento da Secretaria de Relações Internacionais e Federativas de SP.
Ano Orçamento (R$)
% Ano Orçamento (R$)
%
2006 477.000 0,0031% 2010 3.351.637 0,0124%
2007 2.601.829 0,0141% 2011 11.981.381 0,0395%
2008 3.038.347 0,0134% 2012 4.359.987 0,0128%
2009 6.222.129 0,0264%
Fonte: elaboração própria a partir do Demonstrativo da LOA de 2006 a 2013
São Paulo prioriza em seu discurso a visibilidade da cidade, a recepção de grandes
eventos e o investimento em novas oportunidades de negócios. Contudo, a cidade ainda
possui muitas atividades internacionais distribuídas e realizadas por outros setores que não
a Secretaria de Relações Internacionais, e ainda muitos outros eventos que nem sequer
chegam ao conhecimento do governo devido as grandes proporções da cidade. Desta forma
uma percepção acurada da atuação internacional de São Paulo é complexa e demanda uma
10
pesquisa extensa, contando ainda com uma maior oferta de dados e informações por parte
do governo da cidade.
2. O caso de Belo Horizonte
A primeira vez que se vislumbra a possibilidade de ação internacional por parte do
município de Belo Horizonte foi por meio da Lei 6.918 em 1995, que instituí a Secretaria
Municipal de Assuntos Extraordinários5.
Perpétuo (2010) menciona que somente em 1997, na gestão do médico Célio de
Castro que as relações internacionais de Belo Horizonte passam a ter um viés mais
institucional. Os projetos de internacionalização ficaram a cargo da Secretaria Municipal de
Indústria e Comércio, que era responsável por “acompanhar os projetos com viés
internacional tais como: Cidades Sustentáveis BH-Assunção, Mercociudades,
Internacionalização de BH e o Fórum da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA)”
(PERPETUO, 20010). Percebe-se, então, que Belo Horizonte tinha alguns projetos de
internacionalização em andamento e que o novo prefeito preferiu vincular as atividades
internacionais ao desenvolvimento econômico do município.
A primeira estrutura dedicada especificamente às ações internacionais de BH surgiu
em 2001, por meio do Decreto 10.877, assinado pelo então prefeito Fernando Pimentel: a
Gerência de Relações Internacionais (GRI), vinculada à Secretaria Municipal de Governo,
Planejamento e Coordenação Geral, cujo secretário era o próprio prefeito6. Nesse decreto,
são elucidados os diversos mecanismos de ação internacional da prefeitura, como a
5 A lei abre espaço, apesar de que tangencialmente, para a atividade internacional em seu primeiro
artigo, inciso i e ii: (i)acompanhar programas de intercâmbio e cooperação em qualquer área de interesse do município, com entidades governamentais; (ii) assessorar o Prefeito quanto a qualquer aspecto relacionado com operações de crédito externo contraídas ou a serem contraídas por entidades da administração direta ou indireta do município (BELO HORIZONTE, 1995) 6 As competências da GRIN, segundo artigo 43 do decreto são:(i) encaminhar contatos internacionais
visando ao desenvolvimento de ações de internacionalização da Prefeitura, assim como organizar a agenda de viagens internacionais para representantes dos municípios; (ii) gerenciar e acompanhar, em conjunto, os órgãos envolvidos, ações da Prefeitura com redes de integração, entidades, ONGs e organismos financeiros internacionais, relacionados com projetos do governo municipal, tendo em vista o estabelecimento de parcerias e convênios; (iii) assessorar na promoção de ações que visam criar oportunidades de inserção do município nas negociações com agentes internacionais; (iv) assessorar na realização de eventos e programas propostos pela Prefeitura, bem como sugerir a participação do Município em fóruns internacionais que promovem o intercâmbio de experiências e o fortalecimento político e socioeconômico da cidade, à luz das diretrizes e prioridades estabelecidas pela Prefeitura de Belo Horizonte; (v) gerenciar a secretaria executiva da gerência de relações internacionais (BELO HORIZONTE, 2001).
11
cooperação multilateral via redes e fóruns (iv), captação de recursos, por meio de convênios
internacionais (ii) e organização de missões internacionais (i), unindo essas ações às
diretrizes e prioridades do governo municipal de Belo Horizonte.
No mesmo ano, o prefeito Fernando Pimentel decidiu criar um grupo técnico para
internacionalização de Belo Horizonte com a presença de oito órgãos da administração
pública local7. Essa estratégia levou aos órgãos assimilarem as questões internacionais na
prefeitura, embora os resultados práticos não tenham sido observados, principalmente no
âmbito da criação de uma marca internacional da cidade.
Em 2005, a Secretaria Municipal Adjunta de Relações Internacionais (SMARI) da
Prefeitura de Belo Horizonte foi criada como órgão subordinado da Secretaria Municipal de
Governo (SMOG). Sua finalidade, definida pela Lei 9.011/2005 era “estabelecer e manter
relações e parcerias internacionais e planejar e coordenar as políticas para negociação e
captação de recursos financeiros junto a organismos multilaterais e agencias
governamentais.” Perpétuo (2010) elucida que, apesar da adoção da estrutura anterior à
2005, não houve um processo de transição entre a Gerência de Relações Internacionais e a
SMARI, em que se houvesse registrado as atividades em forma de relatório ou até mesmo a
continuidade de servidores públicos.
A estrutura adotada na época foi de um Secretário Municipal Adjunto, Chefe de
Gabinete, Gerência de Apoio às Atividades da Secretaria. Uma fragilidade que se aponta na
estrutura criada é que todos os cargos são comissionados. Perpétuo menciona que tal
arranjo trouxe um problema de fragilidade institucional, em que seria mais fácil extinguir
órgãos que não possuem servidores alocados, além de não criar uma carreira específica de
relações internacionais dentro do Executivo (2010, p.100).
Em 2011, com a nova administração municipal, sob o comando do prefeito Márcio
Lacerda, do PSB, decidiu-se por deslocar a SMARI da SMOG para a recém criada
Secretaria Municipal de Desenvolvimento, por meio da Lei No 10.101. A funcionária
entrevistada argumenta que a decisão foi tomada pois a nova administração acreditava que
faria mais sentido alinhar as atividades internacionais da prefeitura com a ideia do
desenvolvimento local. Para ela, se, de um lado, houve uma perda de autonomia que a
7 Secretaria Municipal de Governo, Planejamento e Coordenação Geral; de Modernização Administrativa e Informação; de Coordenação de Política Urbana e Ambiental; de Coordenação de Política Social; Coordenação de Finanças; de Comunicação Social e Belotur. A Portaria 4.205, que criou o GT, o investiu das seguintes funções: a) definir e coordenar a política de divulgação externa do município; b) unificar, normatizar e padronizar os materiais de divulgação externa do município; c) coordenar o Comitê de Internacionalização de BH; d) elaborar a agenda de eventos internacionais da Prefeitura de Belo Horizonte; e) propor e coordenar a participação do município em eventos internacionais. (PERPETUO, 2008, p.90).
12
SMARI tinha quando subordinada ao prefeito, de outro, o órgão pode se alinhar de forma
mais precisa com as ações de desenvolvimento da cidade.
A nova estrutura ampliou o número de funcionários envolvidos nas atividades da
Secretaria. O dirigente do órgão é o Secretário Adjunto de Relações Internacionais e,
subordinadas a ele, estão as Assessoras de Relações Internacionais a Assessora de
Políticas Públicas e a Assistente Administrativa
Mesmo que ampliados os recursos humanos da SMARI, o pessoal designado para a
consecução das atividades internacionais não é suficiente pela demanda de ações. Para
isso, foram negociadas seis vagas de estagiários, sendo cinco de ensino superior, e uma de
ensino médio. Os estagiários de ensino superior são subordinados às Assessoras e
possuem formação em Relações Internacionais e Comunicação Social.
Ao analisar o orçamento dedicado à SMARI, observa-se que, apesar do incremento
dos recursos de 2006 para 2012 para as relações internacionais da prefeitura, a importância
em relação à receita geral é ínfima. A porcentagem em relação à receita total da prefeitura
varia muito pouco: de 0,007% a 0,012%. Vale a pena ressaltar que pelo menos 50% dos
recursos da SMARI são dedicadas ao pagamento do pessoal que trabalha no órgão.
Tabela 1: Orçamento da Secretaria Municipal Adjunta de Relações Internacionais
Ano Orçamento (R$) % da Receita Ano Orçamento (R$) % da Receita
2006 253.271 0,007% 2010 614.000 0,01%
2007 412.520 0,01% 2011 628.486 0,008%
2008 467.988 0,009% 2012 1.022.408 0,012%
2009 600.635 0,01% 2013 943.945 0,009%
Fonte: elaboração própria a partir do Demonstrativo da LOA de 2006 a 2013
Desde 2009, a SMARI alinhou suas ações às áreas de resultados do Plano Belo
Horizonte 2030, lançado pela prefeitura. As ações internacionais visam a apoiar quatro
áreas: a promoção de investimentos e vitalidade do ambiente de negócios, cidade
conectada com o cidadão e com o mundo – modernidade, cidade sustentável –
desenvolvimento urbano responsável e cultura – uma cidade vibrante e cosmopolita.
Para isso, foram definidos cinco eixos de atuação: atração de investimentos
internacionais e promoção comercial, cooperação internacional para o desenvolvimento,
apoio ao Comitê da Copa, os programas e o marketing internacional (city branding).
No âmbito da cooperação bilateral, ressaltam-se três parcerias: com Medellín
(Colômbia), Lille (França) e Maputo. Em 2011, a prefeitura assinou um Protocolo de
Intenções com Lille, para intercâmbio de experiências na área de sustentabilidade, cultura e
13
desenvolvimento. Em outubro de 2011, Belo Horizonte enviou uma missão à Medellín
chefiada pelo prefeito Márcio Lacerda, em que foram identificadas, juntamente com os
representantes da cidade colombiana, as seguintes áreas de parceria: planejamento urbano,
reabilitação de assentamentos precários, relações internacionais, educação e
desenvolvimento econômico. Como são parcerias muito recentes ainda não há ações
efetivas implantadas, apesar de Medellín participar de um projeto em comum com Belo
Horizonte.
Das parcerias bilaterais, a que mais prosperou foi com a cidade de Maputo,
Moçambique. Ao todo foram três iniciativas distintas. A primeira, a partir da rede Cidades e
Governos Locais (CGLU), foi a implantação do peer to peer learning, em que Belo Horizonte
apresentou suas experiências de intervenções estruturantes em assentamentos precários
de BH na África do Sul e em Maputo, o que gerou a proposta de cooperação
descentralizada BH – Maputo submetida ao Programa de Cooperação Descentralizada Sul-
Sul do governo federal; entretanto, não foi aprovada. A segunda foi a submissão de
proposta da CGLU à UE de financiamento na área de desenvolvimento urbano nas duas
cidades para 2013.
Por fim, a Rota de Maputo foi produto da participação da PBH em um evento de peer
learning em Maputo, em que BH, Porto Alegre e Durban levaram experiências sobre a
retirada dos camelôs do centro das cidades para os shoppings populares e sobre o Projeto
BH Negócios a nível territorial. A participação na Rota de Maputo tem como parceiros a
CGLU, a OIT, a FNP e a ANAMM.
Uma das opções estratégicas mais utilizadas por BH é o envolvimento em redes de
cidade. A SMARI tem envolvido BH naquelas redes que possam apoiar as áreas de
resultados definidos pelo Plano BH 2030. Na área de cidade sustentável, a cidade participa
do Centro Iberoamericano de Desenvolvimento Estratégico Urbano (CIDEU), Governos
Locais Pela Sustentabilidade (ICLEI) e Associação Internacional de Cidades Educadoras.
No âmbito geral, BH participa da Mercociudades, Cidades e Governos Locais (CGLU),
Associação Mundial das Grandes Metrópoles (METROPOLIS) e Apoiando Autoridades
Locais ao Acesso de Financiamento (FMDV), em que BH foi membro fundador.
A SMARI conseguiu projetar Belo Horizonte nas redes participantes, trazendo a Belo
Horizonte eventos importantes dessas redes. Em julho de 2010, BH sediou o VIII Congresso
do CIDEU, e, em 2012, o Congresso Mundial do ICLEI8, a edição com maior número de
8 O Congresso do ICLEI contou com a participação de 1664 participantes, sendo 911 representantes de governos locais, 176 pesquisadores, 94 representantes de empresas, 71 organizações locais, 89 oficiais de governos eleitos e 259 palestrantes, facilitadores e conferencistas (PBH, 2013). O Congresso foi uma preparação para o Rio +20, que contou com a participação do prefeito de BH
14
participantes desde então. . No caso da inserção na rede CGLU, Belo Horizonte estreitou
parceria com Maputo, Moçambique, e participa do projeto Rota de Maputo para a
Cooperação Sul-Sul para Governos Locais. Na AICE, a Prefeitura de BH coordena a Rede
Territorial Brasileira.
Na Rede Metrópolis, BH participa nas seguintes Iniciativas Metrópolis 2012-2014:
Estudo Comparativo em Governança Metropolitana, que é coordenada por São Paulo, cujo
objetivo é estudar as realidades das metrópoles levando em consideração a co-
responsabilidade público-privado em todas as etapas das políticas públicas (Metropolis,
2013); e ações concretas para mitigar, antecipar e adaptar às mudanças climáticas, cujo
objetivo é produzir um guia de políticas públicas voltado ao meio ambiente, que leve em
consideração as peculiaridades dos parceiros.
Em relação à Mercocidades, a Prefeitura, com o apoio da SMARI, organizou em
2009 o projeto Acampamento de Mercocidades. Foram escolhidos 8 alunos de escolas
públicas de BH, nas idades de 11 e 13 anos, para participar do acampamento “Novas
Gerações do Milênio”. Nesse acampamento, organizado pelas Mercocidades, os
representantes de BH participaram de discussões em relação à cooperação e os Objetivos
de Desenvolvimento do Milênio, junto com 64 estudantes de mais 8 cidades.
Alem disso, o envolvimento constante da PBH nas Mercocidades trouxe à cidade a
XV Cúpula da Mercocidades em 2010 e Secretaria Executiva da rede no período de
2010/2011. O arranjo organizacional para gestão da Secretaria Executiva foi inovadora. Por
meio do contrato entre o Departamento do Curso de Relações Internacionais da PUC-Minas
e a Prefeitura, a implementação das atividades ficou de responsabilidade de um grupo
técnico e acadêmico formado para gerir a Secretaria Executiva9.
Tabela 2: Programas da SMARI 2010-2013
Programa Conteúdo Café com o Mundo Lançado em 2010, o objetivo do programa é divulgar informações em forma
de debate sobre questões da internacionalização de Belo Horizonte para os servidores públicos e autoridades municipais da Prefeitura de Belo Horizonte. Em suas quatorze edições, realizaram-se debates sobre intercâmbio estudantil, experiências de servidores em visitas no exterior, experiências de planejamento urbano, Copa do Mundo, turismo, saúde e outros temas.
Márcio Lacerda nas discussões do Global Town Hall – fórum organizado pelo ICLEI para o futuro urbano sustentável 9 Os resultados atingidos por Belo Horizonte foram a saúde financeira da rede, acompanhando o pagamento da taxa anual e corte de gastos, planejamento estratégico da rede a partir de convênios com a Fundação Dom Cabral e a consultoria INCIDIR e a Coordenação do Comitê de Municípios dentro do Fórum Consultivo de Cidades e Regiões (FCCR) (CAFÉ & DA SILVA, 2012).
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Contagem, Betim e BH: um Belo Horizonte para o Haiti: Programa de Formação de Jovens Lideranças Haitianas
Com a parceria estabelecida com a universidade Isabela Hendrix, estudantes haitianos que vieram estudar no Brasil recebem bolsa de estudo da universidade para adquirir formação em liderança, governabilidade, gestão, políticas públicas e tecnologia de informação, por meio de bolsas oferecidas pela universidade.Esse programa surgiu no marco do Protocolo de Intenções entre a Agência Brasileira de Cooperação (ABC), o Ministério de Relações Exteriores (MRE) e a Frente Nacional de Prefeitos, cujas três cidades participam ativamente. O público alvo inicial do programa foi os haitianos que chegaram em Belo Horizonte para estudar na universidade em 2007 nos cursos de Administração, Arquitetura e Urbanismo, Biomedicina e Nutrição. Por meio do convênio, os alunos fizeram estágio nas prefeituras das três cidades e receberam treinamento sobre gestão de cidades.
Improve your English Surgiu da parceria entre a Embaixa dos Estados Unidos, o Instituto Cultural Brasil Estados Unidos e a Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte, para promover o ensino da língua inglesa na rede municipal de educação da cidade, por meio de capacitação aos alunos e professores. Em 2009 e 2010, mais de 200 professores foram capacitados, e alguns realizaram intercâmbios em escolas de Chicago. Em 2010, os alunos da rede municipal passaram a participar do programa da embaixada dos EUA, ACCESS. Segundo relatório da SMARI para o programa, no ano passado por volta de 40 alunos da rede municipal foram selecionados pela embaixada dos EUA para participação no Programa de Imersão Access, no Rio de Janeiro.
Voluntariado Internacional Visa a proporcionar a estrangeiros residentes em Belo Horizonte a oportunidade de conhecer as políticas públicas implementadas pela Prefeitura de Belo Horizonte, por meio de um estágio voluntário de seis meses. O Programa tem convênio com estudantes da PUC-Minas e UFMG. Participaram de 2011 a 2012, 27 estudantes da Venezuela, Argentina, Guiné Bissau, Áustria, França, México, Estados Unidos, Alemanha e Colômbia.
Programa BH Sustentável Visa a implementar soluções replicáveis de infraestrutura urbana e social que promovam o desenvolvimento sustentável. Para isso, reúne-se um grupo de empresas, organizações públicas e privadas que visa a discutir essas políticas e replicar esses modelos. Esse programa começará a ser implementado em 2013 e ainda não há nenhum resultado visível.
“Aliança de Autoridades Locais Latino-americanas para a Internacionalização e Cooperação Descentralizada” (Allas)
O Allas conta com a participação da Cidade do México, Lima, Quito, Medellín, Belo Horizonte, Morón, Montevidéu, do Fundo Andaluz de Municípios pela Solidariedade Internacional (FAMSI) e a rede Cidades Unidas da França (CUF). O projeto, aprovado pela UE em 2012, prevê recursos de 1.490.000 de euros para o fomento da participação internacional das autoridades locais da America Latina e da cooperação internacional descentralizada nas áreas de sustentabilidade, inclusão social e atratividade territorial. As principais ações propostas para a execução do projeto é intercâmbio de experiências, assessoria e capacitação na área internacional, criação de mecanismos de participação dos atores do planejamento da internacionalização e ações de cooperação internacional descentralizada nas três áreas citadas. A participação de BH é resultado da inserção ativa nas redes de cidades.
Fonte: elaboração própria
Na área de branding internacional, as atividades têm sido conduzidas pela Belotur,
agencia de turismo de BH, com o acompanhamento da SMARI. Ressalta-se a participação
em três feiras internacionais para divulgar a marca BH: a FITUR (2a maior feira de turismo
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do mundo, em Madri), Bolsa Turismo (a 3a maior, em Lisboa) e a IMEX (Turismo de
Negócios e Incentivos, em Frankfurt). Os resultados para a cidade foi a criação da rota BH –
Lisboa, pela TAP, a inclusão de BH em pacotes de agencias européias de turismo, voltados
à terceira idade, e a sede do Congresso Anual dos Operadores de Viagem Portugueses, em
2011.
3. Conclusão: Comparativo entre BH e São Paulo
Comparar duas prefeituras tão distintas é uma tarefa complexa, pois cada uma
destas cidades cumpre papeis diferentes. Ao mesmo tempo as duas cidades são capitais de
seus estados, forte representantes da indústria e setor privado brasileiro, além de serem
centro metropolitanos e polos culturais regionais e nacionais.
A Prefeitura de Belo Horizonte, em sua gestão política da área internacional, optou
por aliar sua estratégia com o desenvolvimento econômico local, atuando nas áreas que
envolvam planejamento urbano, atração de investimentos, capacitação de mão de obra,
desenvolvimento sustentável e divulgação da cidade no exterior. Para isso, foi necessário
trazer eventos de grande porte a BH e se envolver em temáticas que tratam do assunto,
como o Estudo Comparativo em Governança Metropolitana da rede Metrópolis e a criação
do FMDV.
Já São Paulo vem conseguindo estabilizar a formalização governamental de sua
prefeitura, por meio da participação em grandes redes e da exposição da cidade em
grandes eventos como a Expo 2020 e o C40-Cidades Globais. Além destes avanços a
estabilidade política do governo e inserção da assessoria internacional estadual nas redes
também contribuíram muito para o crescimento da secretaria nos últimos anos. A grande
diferença de inserção das duas cidades no campo da gestão política é que São Paulo adota
uma postura mais reativa, uma vez que há uma oferta grande projetos de cooperação
internacional à cidade, enquanto Belo Horizonte adotou uma postura mais ativa, buscando
ganhar terreno nas redes de cidades, a fim de captar projetos de cooperação.
Do ponto de vista dos recursos que as duas prefeituras recebem para gestão de suas
atividades, percebe-se que São Paulo tem investido um pouco mais em termos
comparativos que Belo Horizonte em suas relações internacionais. O pico de
investimento de BH foi de 0,012%, enquanto São Paulo apresentou pico de 0,039%,
mantendo investimentos na faixa de 0,01%. A diferença que se nota é que o orçamento da
SMARI se manteve estável ao longo do tempo (faixa de 0,007 a 0,0012%) cresceu de forma
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sustentável até 2012, enquanto em São Paulo o orçamento é varia bastante, atingindo nível
de 2012 bem abaixo ao de 2011.
Do ponto de vista programático, a internacionalização ativa de BH a envolveu em
múltiplos projetos de cooperação. Durante o período de 2010-2012, a cidade se envolveu
profundamente em algumas redes, o que permitiu estabelecer projetos de cooperação com
algumas cidades. Destacam-se a participação ativa da prefeitura no ICLEI, na Rio +20, na
cooperação com Maputo e Haiti. Os projetos da SMARI têm como escopo o intercâmbio de
experiências e a divulgação da cidade e de suas políticas públicas, seja servindo como
vitrine para estudantes estrangeiros por meio do programa de voluntariado, realizando
grandes eventos em Belo Horizonte e participando do sistema de cooperação solidária com
Haiti e Moçambique.
Outra estratégia digna de nota é a tentativa de legitimar as ações internacionais da
prefeitura e da importância delas para a cidade, por meio de colóquios que visam a incluir
em mesa redonda diversos representantes de setores dos órgãos municipais para discutir
ações de cooperação internacional. É uma forma efetiva de criar um campo intersubjetivo do
que é cooperação internacional municipal, conferindo a executora de ações internacionais –
a SMARI, a legitimidade de suas ações. Também é uma forma de controle das informações
do que tem sido feito por outros órgãos no campo internacional, além de funcionar como
prestação de contas à sociedade sobre suas atividades.
Do outro lado a caracterização de cidade global da cidade de São Paulo torna o foco
da atuação de sua Secretaria ao aprofundamento da inserção internacional da cidade no
cenário global, mantendo seus contatos políticos nas redes de cidades e focando na
realização de grandes eventos como de praxe. Com uma postura reativa, a prefeitura é mais
seletiva em participação de redes e projetos de cooperação. Entre a estrutura interna da
prefeitura, parece haver um entendimento da importância da internacionalização,
diferentemente de BH, que tem criado projetos para sensibilizar outras secretárias sobre a
importância da intenacionalização da prefeitura.
Na gestão organizacional, ressalta-se a estabilidade da estrutura de Belo Horizonte.
A SMARI possui o mesmo secretário desde 2005 e, até então, ampliou o número de
funcionários. A estabilidade é essencial para a continuidade das ações, para
consolidação de um entendimento comum sobre cooperação internacional municipal e para
a estabilização dos contatos políticos internos e internacionais que tanto as assessores
quanto o secretário estabeleceram nesses anos. A inclusão de Belo Horizonte no programa
Allas é resultado da participação ativa e estável da SMARI desde 2005 nas redes de
cidades.
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Além disso, a SMARI tem adotado alguns arranjos interessantes para lidar com a
escassez de funcionários frente às ações. No caso da Mercociudades, foi contratado uma
consultoria que planejasse as atividades da rede e a universidade para gerir a rede. Para
sua estrutura interna, contrataram-se um número substantivos de estagiários de relações
internacionais para apoiar as atividades da secretaria adjunta.
No caso de São Paulo, detecta-se instabilidade na direção e nos funcionários que
trabalham na secretaria. A mudança de governo e a falta de uma liderança continua como
em BH faz com que haja variações no orçamento das relações internacionais da cidade,
embora isso não tenha prejudicado na formação de uma equipe robusta e experiente, que
se consolida paulatinamente.
A grande diferença que se pode apontar nas relações internacionais da prefeitura
das duas cidades é que São Paulo criou uma estrutura em um contexto de cidade
internacionalizada. A função básica dessa estrutura foi ordenar a inserção internacional da
cidade, que já acontecia paralelamente de outras formas (sociedade civil, empresariado,
associações e secretarias municipais). No caso de Belo Horizonte, a criação e planejamento
da estrutura foram essenciais para a internacionalização da cidade de Belo Horizonte. De
um lado, a SRIF atuou, no seu começo, como receptora de ofertas, racionalizando as
ofertas recebidas, enquanto a SMARI atuou como criadora de oportunidades
internacionais para a cidade.
Algumas questões ainda são importantes ao analisar a cooperação internacional
municipal das duas cidades. Não há como saber, por exemplo, se os recursos destinados à
atividade internacional são suficientes para realizar os objetivos propostos. As possibilidades
internacionais são tão amplas que nenhum destinação de recursos seria suficiente para
abarcar todas as atividades internacionais possíveis. Esse é um julgamento que deve ser
feito pela gestão pública, alinhando a gestão política, programática e organizacional.
Em segundo lugar, ainda não há indicadores que consigam monitorar e avaliar os
ganhos para a sociedade a partir das atividades internacionais da cidade, inclusive da
participação em redes, o que se torna medir os benefícios das relações internacionais
municipais. A falta desse acompanhamento traz incertezas para a gestão pública que
prefere aplicar maior montante de recursos naquelas atividades em que os benefícios são
diretos e monitoráveis. Um secretário de relações internacionais dificilmente consegue
provar com precisão os benefícios de uma área internacional com vastos recursos para o
prefeito. Isso se deve a que, ainda, a paradiplomacia tem um caráter experimental e
somente as ações sustentáveis ao longo do tempo dirão se, realmente, vale a pena
participar de redes de cooperação internacional.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
Obras Impressas
Livros
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Entrevista realizada
Stephania Aleixo de Paula e Silva, Assessora de Relações Internacionais. Realizada dia 15 de abril de 2013.