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CAPTULO I

O Catecumenato na poca Patrstica Crisstomo 311

9. SO JOO CRISSTOMO ( 407)

CAPTULO I

As catequeses de S. Joo Crisstomo

Durante mais de doze anos, de 386 a 398, So Joo Crisstomo exerceu o ofcio de pregador em Antioquia. Cabia-lhe, nesta qualidade, preparar os catecmenos para receberem o batismo. As instrues por ele pronunciadas com este objetivo compreendem, quanto ao contedo global, a explicao do Smbolo e dos ritos sacramentrios. So elas chamadas, na literatura crist, homilias catequticas ou catequeses mistaggicas. A prpria palavra catequese abonada por Crisstomo, que em determinado passo faz trocadilho com a raiz das palavras fazer eco, ecoar, ao dizer que, na falta da palavra do orador, a sua catequese dever sempre ecoar no corao dos auditores.

Noutra homilia, alude Crisstomo sua funo de iniciador sagrado. Informa-nos que na mesma manh tinha falado do Demnio ao explicar aos catecmenos a frmula da renncia a Satans. Melhor ainda, na homilia XII do seu grande comentrio do Gnesis, que os historiadores situam em geral na Quaresma de 388 em Antioquia, diz-nos Crisstomo que teve de interromper a seqncia das suas instrues: a primeira vez, para corrigir os cristos que guardavam o jejum da pscoa judaica; a segunda, para dirigir uma exortao particular aos no iniciados e convid-los a prepararem-se com fervor para a graa do batismo.

1. As duas catequeses de Montfaucon

No obstante, quase nada resta da atividade literria de Crisstomo neste domnio. Na imensa obra oratria do Santo, Montfaucon apenas pde encontrar duas homilias que do pelo nome de catequeses. a primeira um texto cuja tradio manuscrita pobre. Montfaucon no descobriu pessoalmente nenhum testemunho dela e apenas se contentou em reproduzir na sua edio o texto de Fronton du Duc, que provavelmente se apoia no Coislin 245 do sculo XI. Pelo contrrio, a Segunda homilia bem mais conhecida. Quase toda a tradio manuscrita a relaciona invariavelmente com os 22 discursos sobre as esttuas, pronunciados na Quaresma de 387, em Antioquia, por ocasio dos trgicos acontecimentos l ocorridos. Esta Segunda homilia constitui habitualmente o 21 discurso da srie e nunca d pelo nome de catequese II. Montfaucon no tem, pois, razo ao relaciona-la com a catequese I, quando d a entender que a seqncia desta, tanto mais que no h qualquer ligao interna entre as duas homilias.

Compreendemos, porm, a posio de Montfaucon, pois a homilia a que ele chama catequese II realmente a homilia II de um ciclo mistaggico. Foi ela pronunciada dez dias depois da primeira, hoje perdida.

O essencial desta catequese consagrado explicao dos diversos nomes do batismo. O recm-iniciado ser chamado fiel, pois ele prprio se fia em Deus pela f e Deus fia-se nele ao confiar-lhe os seus mais preciosos bens. Ser chamado iluminado, , , recm-iluminado, visto que receber no batismo uma luz indefectvel.

2. As quatro catequeses de Papadopoulos-Krameus

A catequese chamada primeira s assim pde ser designada porque estava seguida de outra ou vrias. Em 1909, o sbio bizantinista Papadopoulos-Krameus teve a sorte de encontrar a seqncia completa do ciclo catequtico num homilirio da Biblioteca Sinodal de Moscovo. Neste manuscrito, a catequese I, correspondente edio de Fronton du Duc, seguida de outras trs com os nmeros II, III e IV, todas inditas. O feliz sbio diligenciou por publicar a sua descoberta numa coleo de importncia secundria de textos religiosos bizantinos. Esse motivo, bem como o lugar e o ano da edio - So Petersburgo, 1909 - explica em certa medida que textos to importantes tenham permanecido ignorados da maior parte dos prprios especialistas.

Os documentos so claramente autnticos e formam um ciclo completo de quatro catequeses pronunciadas em Antioquia. tirada esta concluso de toda a liturgia e mais particularmente, mas por diferente razo, do final da homilia III, na qual Crisstomo pede aos futuros batizandos que rezem pelo seu bispo, de cujas mos vo receber esse grande benefcio, e tambm pelos padres entre os quais ele prprio se conta. Tal situao para Crisstomo s em Antioquia se verifica. Foi pronunciada a primeira homilia trinta dias antes da Pscoa.

Partindo dos diversos nomes do sacramento (banho de renascimento, iluminao, batismo, sepultura, circunciso, cruz) que Crisstomo explica aos catecmenos a natureza do batismo, enquanto mistrio de morte e ressurreio. Termina com violenta diatribe contra os juramentos. Os que, no prazo de dez dias, se no corrigissem desse mau hbito seriam afastados do batismo.

A catequese II, feita passados dez dias, comea assim: Deitastes fora da vossa boca o mau hbito dos juramentos? Pois eu no me esqueo nem do que vos pedi nem do que vs me prometestes. este exrdio que obriga a considerar esta homilia como seqncia da precedente. Outro passo prova-o com evidncia. D-se conta Crisstomo de que, no precedente discurso, tinha perdido o fio da meada ao atacar de maneira intempestiva os juramentos: Na conversa anterior, queria eu dizer-vos por que razo decidiram os vossos pais que a vossa iniciao crist havia de fazer-se nesta poca do ano e no em qualquer outra. E dizia eu que esta escolha de tempo no se fazia sem mais nem para qu. O passo em questo l-se efetivamente na catequese I em idnticos termos.

consagrada a primeira parte divina mistagogia do batismo. Antes de mais, Crisstomo explica que a graa do Esprito, dada no batismo, no limitada a um tempo especial. Todavia, visto que a Pscoa o tempo em que o nosso rei triunfou da morte e do diabo e , assim, justo celebrar o aniversrio desta vitria por meio de reais liberalidades, tal como fazem os reis da terra nos aniversrios dos seus triunfos, a Igreja e os Padres decidiram fazer a iniciao divina neste tempo especial, para que a comunho segundo o tempo e a poca acompanhasse a comunho segundo a realidade dos mistrios.

Em segundo lugar, Crisstomo explica o simbolismo dos exorcismos. Ainda ento lembra-se do propsito afirmado na primeira catequese: Quero pagar uma dvida e dizer-vos por que, ao sairdes daqui, ns vos mandamos, nus e descalos, ouvir as palavras dos exorcistas. Em terceiro lugar, o orador quereria ter tratado dos nomes dos futuros batizandos. Mas o seu corao de pai est inquieto. Receia que os filhos no estejam ainda completamente curados do mau hbito dos juramentos. Fala longamente deste ponto e mostra, com o exemplo de Herodes, quo perigoso jurar, at em coisas indiferentes, pois acontece que um se expe, quer ao perjrio, quer a cometer qualquer m ao.

A srie de catequeses de Papadopoulos revela um encadeamento rigoroso entre as trs primeiras homilias (fato que o editor no ps em relevo). Tinha prometido que vos diria confessa Crisstomo na terceira catequese a razo por que nos chamamos fiis. por esta fala que a catequese III se liga necessariamente segunda. Com a primeira tem um idntico liame interno.

A catequese III a ltima que faz antes do batismo. Foi ela feita em Quinta-Feira Santa. O orador explica aos futuros batizados as cerimnias da renncia a Satans e da adeso a Cristo, cerimnias que devero realizar-se no dia seguinte, s trs horas da tarde, na hora e no dia da Paixo do Salvador; tambm lhes expe os ritos do batismo, que h de celebrar da a dois dias, na noite de sbado para domingo de Pscoa.

O caso da quarta homilia especial. Enquanto os trs discursos precedentes apresentam explicitamente o ttulo de catequese, este vem intitulado simplesmente: Aos nefitos, para a festa da Pscoa. Pelo que respeita ao contedo, continuamos no mesmo contexto sacramentrio. No h, porm, nesse discurso nenhum dado interno que nos obrigue a relacion-lo com o ciclo das catequeses I-III de preferncia a qualquer outra srie. Fao este reparo porque esta mesma homilia faz parte da coleo das oito catequeses de Stavronikita.

O texto grego no tem testemunhos muito melhores que o das catequeses I-III. Dele subsistem, todavia, vestgios em diversos florilgios, nomeadamente nos Sacra Parallela, onde se encontram cinco fragmentos. Mas sobretudo na forma de uma antiga verso latina que a homilia conheceu larga difuso e gloriosa fortuna. Foi, na verdade, traduzida muito cedo, cerca de 415, por Aniano de Cleda, e faz parte, na traduo manuscrita, da famosa coleo das trinta e oito homilias latinas de So Joo Crisstomo, coleo j assinalada por Wilmart e, desde ento, estudada por numerosos autores. Um dos mais belos discursos de Crisstomo, exclama Dom Wilmart, sobre a redeno pelo sangue de Cristo, que nos assegurada pelo batismo. Ainda no se encontrou o texto original; apenas possumos alguns dos seus passos, graas a So Joo Damasceno nomeadamente. Haidacher, em excelente estudo, estabeleceu pertinentemente a autenticidade e traduziu para alemo a antiga verso latina, j h muito atribuda por Gamier e Aniano.

A antiga verso latina tem sido muitas vezes publicada nas edies latinas de So Joo Crisstomo. Aparece em quase todas as edies do sculo XVI. Nos comeos do sculo XVII, o meritrio Savile publicou pela primeira vez o conjunto da obra grega de Crisstomo em cinco magnficos volumes, em Eton, 1612. Sobre a homilia aos nefitos no diz palavra, visto no conhecer nenhum testemunho grego sobre ela. Em consequncia deste silncio, os editores latinos sentiram escrpulos em conservar esta homilia nas suas colees. Nomeadamente, no vem nas grandes edies latinas de Paris, 1636, e de Frankfort, 1697.

Bernardo de Montfaucon, a quem cabe o mrito da edio mais completa e definitiva, feita at agora, do texto grego, acompanhado de uma verso latina, no adianta mais sobre a homilia aos recm-batizados. Mas o que surpreende ele incluir o incipit grego no seu repertrio alfabtico dos incipit de Crisstomo. Haidacher conclui da que este texto devia ainda conservar-se, por essa altura, nalguma biblioteca do Ocidente e que teria sido algum dos numerosos e diligentes serventes de Montfaucon, que por conta deste faziam o inventrio dos fundos da Europa, quem certamente lhe transmitiu este incipit. Pois na opinio de Haidacher, se Montfaucon tivesse tido o texto mo, no teria deixado de o publicar. Na realidade, Montfaucon conheceu perfeitamente a clebre homilia no texto grego, mas julgou-a indigna de ser publicada.

Mas vamos, sem mais delongas, prova das minhas afirmaes. Tinha eu ficado intrigado, assim como o professor Haidacher, pelo incipit grego da homilia includo no repertrio de Montfaucon. Os papis que deste se conservam na Biblioteca Nacional de Paris permitem conhecer a maior parte das fontes que serviram para a confeco do repertrio. Foi assim que descobri a indicao do manuscrito em que Montfaucon tinha lido a homilia aos nefitos. Era o Colbert 365, actual Paris grego 700, do sculo x. A nossa homilia encontra-se realmente a com este ttulo curioso, que permanece para mim um enigma, e que certamente qualquer indicao litrgica: Do mesmo, aos (novos) iluminados, leitura para o ofcio chamado De manhzinha Maria dirigiu-se ao tmulo.

Descobri, ainda, um novo vestgio da homilia num florilgio pouco estudado, o manuscrito grego 12 da Biblioteca Nacional de Estrasburgo. O extrato do discurso traz este ttulo: De Crisstomo, extrato dos discursos mistaggicos aos nefitos, discurso Ill. Ora no cdice 6 de Stavronikita v-se que a homilia aos nefitos precisamente a terceira de uma srie de oito catequeses.

3. As oito novas catequeses de Stavronikita

I, 1-11: Catequese primeira. Aos que vo ser iluminados.

A primeira catequese a mais longa de todas. Inicia o ciclo de pregaes destinadas aos catecmenos, os quais, ao comear a Quaresma, se inscreveram para receber o batismo na noite pascal. Crisstomo considera este ato como um alistamento nas milcias de Cristo e dirige aos novos soldados uma primeira catequese em que facilmente distinguimos trs partes: instruo sobre o sentido do batismo (1-18); exposio breve da f 19-24); e exortao para a prtica da vida crist (25-48).

A iniciao do batizando concebida como se fosse a instruo de uma noiva, pois que o batismo o casamento espiritual entre a alma e Cristo.

Estas realidades espirituais s pelos olhos da f so compreendidas. Visto que a f o fundamento da piedade, prope o orador fazer ao auditrio uma exposio breve do Credo.

A f deve provar-se pelas obras e o batizando deve, j desde ento, exercitar-se na prtica das virtudes crists. Mas que nada tema: o jugo de Cristo suave e o fardo, leve.

No se esquece Crisstomo da causa dos pobres. Visto que no batismo Cristo nos perdoa a dvida do pecado, os credores que vo receber o batismo devem entregar aos devedores o recibo de crdito e os lucros. Todos, enfim, devem abster-se de jurar, das corridas no hipdromo, de teatros e dos jogos o circo. Que desde j se mostrem eles dignos da honra de em breve serem chamados cristos e fiis. O ardor destes vai ser para o orador um precioso encorajamento para que continue a instru-los.

Se compararmos esta catequese com a sua equivalente da srie de Papadopoulos-Krameus, verifica-se que tanto uma como outra tm estrutura prpria. Todavia, o ambiente espiritual o mesmo: em ambas, os desenvolvimentos do amor inspiram-se na idia da milcia crist e do casamento mstico. H um breve passo paralelo sobre o batismo como remisso dos pecados, mesmo dos mais graves. Com a catequese II de Montfaucon, esta homilia tem de comum a exortao contra os augrios e as observncias do paganismo.

II, 11-17 v: Continuao da instruo dos que vo ser iluminados e explicao clara do que se realiza de maneira simblica e tpica no divino batismo.

O prprio ttulo da homilia mostra que o orador prossegue com a instruo dos batizandos, comeada na precedente catequese. Se a primeira se situa nos princpios da Quaresma, no dcimo dia, sem dvida, por analogia com a srie de Papadopoulos, surge esta como a ltima das pregaes pr-batismais. O batismo est eminente e Crisstomo guardou esta ltima instruo para a iniciao sumria dos catecmenos nos mistrios que vo receber dentro de poucos dias. , evidentemente, impossvel que entre as duas catequeses no tenha havido outras instrues. Na prpria catequese II, alude Crisstomo a uma instruo diria que, para os catecmenos, era seguida da cerimnia dos exorcismos. Mais do que pensar numa srie eventual de catequeses, anloga de Cirilo de Jerusalm ou de Teodoro de Mopsuesto, julgamos ns que o orador quer referir-se aos sermes de Quaresma pregados a toda a assemblia crist, como, por exemplo, as suas prprias homilias sobre o Gnesis.

A catequese II , antes de mais, breve. Compreende tambm um exrdio que parece desproporcionado. O orador, para mostrar o excessivo da misericrdia divina, recorda o plano inteiro da Salvao.

Os flios 13-17 v. descrevem os ritos da iniciao crist. So de grande importncia para a histria da liturgia e dos sacramentos (tratarei deste ponto na ltima parte desta introduo). Crisstomo comea por explicar o rito dos exorcismos. Dirige-se depois aos padrinhos dos batizandos e mostra-lhes a gravidade das obrigaes que vo contrair ao darem-se como garantes dos batizados. Explica, por fim, o rito da renncia a Satans e da adeso a Cristo. Nesse momento, Crisstomo cede emoo, ao lembrar-se da noite feliz em que ele prprio merecera pronunciar tal juramento. O batismo de Crisstomo situa-se, como sabemos, em 372. Podia, entre 387 e 397, evoc-lo como acontecimento j longnquo e lamentar com grande humildade os pecados por ele cometidos desde ento. Este passo comum catequese presente e homilia III de Papadopoulos-Krameus, na qual o trecho est mais bem desenvolvido.

Em seguida, Crisstomo descreve a uno que antecede o batismo, na fronte e no corpo todo, e o rito do batismo propriamente dito, dando-nos sempre a frmula sacramental em uso na sua igreja. Informa-nos de que, ao sarem das piscinas do batismo, os nefitos saboreiam logo o corpo e o sangue do Senhor, mas no se alonga sobre este mistrio. Termina com a recomendao aos batizados de rezarem pela paz da Igreja, pelo regresso dos transviados e pela converso dos pecadores.

Se compararmos esta catequese com as catequeses II. e III de Papadopoulos, verificamos em ambos os lados uma prtica litrgica absolutamente idntica e o mesmo simbolismo sacramentrio. Vrios passos so comuns s duas sries. Mas nunca o caso da reproduo servil. Crisstomo encontra facilmente frmulas novas para apresentar as mesmas idias. uma marca do seu gnio e, para a catequese recentemente descoberta, uma garantia de autenticidade.

III. Homilia dirigida aos nefitos

Deve incluir-se entre as mais comovedoras homilias de Crisstomo. Foi ela proferida na prpria manh de Pscoa, quando, j terminadas as cerimnias do batismo, despontava para a Igreja a aurora bem-aventurada, mensageira eterna de luz e alegria. Crisstomo transborda de alegria e afeto. Felicita em primeiro lugar os recm-batizados e convida-os para o combate espiritual. Cristo est com eles, ou, antes, neles, nesta espiritual arena. D-lhes no s armas, como tambm alimento, que o seu prprio sangue. Mostra o orador a virtude do sangue de Cristo por meio da virtude da sua prefigurao. Se o sangue do cordeiro afugentou o anjo exterminador, com quanto mais forte razo o sangue de Cristo, que cobre de prpura a lngua dos nefitos, no pe em fuga o inimigo espiritual!

Que os recm-batizados permaneam fiis ao juramento feito. Que fiquem temerosos de recair no pecado, pois, se h ainda uma remisso, j no h o segundo nascimento pelo banho do batismo. Deixamos o Egito, no fiquemos suspirosos pela escravido. Temos coisa melhor que Moiss e o man: temos Cristo e o altar, fonte inesgotvel de todos os bens.

IV. Aos nefitos. Sobre esta palavra: Se algum est em Cristo, ento uma nova criatura .. .

As homilias IV-VIII no so catequeses mistaggicas propriamente ditas. Crisstomo, embora se dirija aos nefitos, no se esquece dos outros membros da assemblia crist. Na verdade, todos se podem chamar nefitos se conservarem o brilho do batismo recebido. O tema destas homilias no constitui a explicao dos sacramentos, mas, sim, a iniciao na vida crist. Expe o orador aos nefitos as obrigaes morais que lhes vm do batismo. Inspira-se ele nos textos litrgicos da semana pascal, ou no aproveitamento de acontecimentos exteriores, tais como as corridas no hipdromo (homilia VI), uma sinaxe sobre o tmulo dos mrtires (homilia VII), a presena das pessoas do campo (homilia VIII).

Informa-nos Crisstomo de que as festas pascais dos nefitos duravam sete dias. Eram elas assinaladas por reunies dirias com instruo. O encerramento verificava-se, por conseguinte, no sbado da semana da Pscoa. A homilia viu, que encerra a srie - explicitamente o diz o orador -, foi, portanto, proferida nesse dia. Para os cinco dias que separam domingo do sbado, ficam-nos quatro homilias. No creio, efetivamente, que a homilia IV, que poderia ajustar-se rigorosamente ao prprio dia de Pscoa, seja uma segunda homilia pascal. A liturgia desse dia estava j suficientemente preenchida com as cerimnias da manh; de tarde, era lida com toda a solenidade a Paixo do Salvador, como sabemos, pelo prprio Crisstomo.

Apoiando-me em razes de crtica interna, alis frgeis, eu proporia a distribuio seguinte: homilia IV, no domingo ou na segunda-feira de Pscoa; homilia V, na tera-feira; homilia VI, na quarta-feira; homilia mi, na sexta-feira; homilia viu, no sbado. A luz da Ressurreio e a alegria da vida nova conferem a estes textos uma atmosfera e um calor especiais que vm avivar ainda mais o brilho dos nefitos, que durante estes sete dias usam a veste branca do seu batismo.

A homilia IV comenta o texto pascal por excelncia: Se algum est em Cristo, uma nova criatura, texto que acabava de ser lido assemblia. Sobre este texto possumos o comentrio de Crisstomo e uma homilia includa por Montfaucon no nmero dos spuria. Na nossa homilia, que nada tem de comum com estes dois textos agora referi- dos, comea Crisstomo por dar livre curso sua alegria. Prope aos nefitos o exemplo de So Paulo - caracterstica nova muito crisostomiana -, So Paulo que foi to profundamente mudado aps o batismo, e depois expe o que se deve entender por vida nova. Termina o orador exortando os nefitos a mostrarem-se dignos do seu batismo.

V, 29-34 v: Parenese. Sobre a moderao no beber e no comer. Aos nefitos.

O ttulo de parenese ajusta-se a esta homilia, que toda uma exortao moral. Crisstomo, psiclogo avisado e fervoroso do ideal monstico, receia para os seus fiis o relaxamento que viria como consequncia das festas pascais. Sabe ele bem que as almas vulgares se lanam nos prazeres com um mpeto tanto menos reprimido quanto mais deles se tinham privado ao longo da Quaresma. Com risco de desagradar aos ouvintes, prega o orador uma nova quaresma espiritual, pedindo-lhes, no a abstinncia do beber e do comer, mas a do pecado e a dos excessos que a ele conduzem.

Mas porqu dirigir palavras to duras a ouvintes que, pela grande ateno que mostram, revelam disposies to boas? Tem Crisstomo uma resposta que aparece constantemente nas suas homilias: que os ouvintes ho de repetir a outros as boas palavras do pregador. De novo prope ele aos nefitos o exemplo de So Paulo.

Esta homilia apresenta numerosos passos paralelos com uma homilia sobre a Pscoa, pertencente ao perodo antioquiano. Esta homilia tem a mais, sobre a festa da Pscoa, desenvolvimentos que no aparecem na nossa homilia, como no aparecem em nenhuma das outras desta srie.

VI, 34-39 v: Censura dirigida aos que abandonaram a sinaxe para irem s corridas e aos

teatros. E aos nefitos.

A desgraa que Crisstomo receava na precedente homilia no deixou de se verificar. H lugares vazios na assemblia. Aps a Quaresma, as corridas do hipdromo recomearam, e cristos h que no receiam assistir a elas, esquecendo-se ao mesmo tempo da Quaresma, da festa da Pscoa, da comunho dos mistrios divinos e das instrues todas. Crisstomo mostra o seu desnimo e a sua dor. Tal negligncia dos seus ouvintes corta-lhe as asas coragem, pois v que perde o tempo com to negligentes cristos. Depois de severas admoestaes sobre o mau exemplo dado pelos culpados e sobre o castigo que eles merecem por essa conduta, o pregador desenvolve por fim o tema do sermo que, sob a influncia da emoo, quase tinha esquecido: Tudo o que fizerdes, fazei-o para glria de Deus.

A homilia acaba por uma mensagem dirigida aos nefitos e cujos termos lembram a concluso da primeira homilia sobre a inscrio dos Atos dos Apstolos.

VII, 39 v-46: Que os restos dos santos mrtires nos so de muito grande utilidade. Sobre o desprezo dos bens do mundo e o amor dos bens celestes. Sobre a orao e a esmola. Aos nefitos.

Nesta homilia, proferida num dos numerosos martyria (santurios dedicados a um mrtir) da cidade, Crisstomo d-nos a conhecer o lugar ocupado pelo culto dos mrtires na Igreja, no declnio do sculo IV. Cremos que esta homilia tenha sido feita na sexta-feira da semana da Pscoa. Na igreja sria, esse dia era consagrado, desde o sculo IV, memria dos mrtires cristos mortos por Sapor II, em Sexta-Feira Santa de 341. Como no se podia celebrar-lhes a memria no dia da paixo do prprio Salvador, transferiu-se a sua festa para a sexta-feira seguinte. Bem depressa esse dia se tornou numa espcie de comemorao de todos os mrtires, e talvez tenhamos, nesta homilia, um testemunho indireto deste uso.

O panegrico dos mrtires est subentendido em Crisstomo pelo tema da homilia, que permanece eminentemente pascal: Buscai os bens l do alto, onde Cristo est, direita de Deus. Os mrtires desprezaram o tirano e os tormentos que lhes infligiam ao corpo. Com os olhos da f, eles viam Cristo sentado direita do Pai, por cima dos coros anglicos. Ora o batismo introduz o nefito no estado de martrio, j que ele morreu para o mundo, assim como no estado de vida nova em Cristo. O esplendor desta vida nova , agora, simbolizado pelas vestes brancas. Mas o brilho dessas vestes, por mais cuidado que se tome, acaba por ficar turvado. Mas isso no deve acontecer com o brilho interior. Devemos constantemente aumenta-lo pela orao, que uma conversa com Deus e alcandora a alma a soberana dignidade, e tambm pela esmola, companheira inseparvel da orao. A meno da orao e da esmola sugere ao pregador o exemplo do centurio Cornlio, ao qual esta prtica mereceu, aps extraordinria viso, a graa do batismo. Cornlio proposto imitao dos militares que tiram pretexto do seu estado para matarem o tempo em banquetes e beberrices e que, para resumir, julgam que tudo lhes permitido por serem soldados. O exemplo de Comlio constitui lio, at para monges e clrigos ao servio da Igreja.

VIII, 46-51 v: Mensagem de louvor e felicitaes s gentes vindas do campo. Sobre Abrao, enamorado dos bens celestes, modelo para todos ns, to presos aos terrenos bens. Programa da vida crist. Aos nefitos.

Eis-nos chegados ao termo das pregaes pascais. Ao longo de uma semana, os nefitos fruram abundantemente do ensinamento de excelentes doutores. No tem Crisstomo o costume de se lisonjear a si prprio. Poderamos, por consequncia, concluir deste passo que no era ele o nico a instruir os recm-batizados, mas que o bispo Flaviano e outros padres lhes dirigiam alternadamente a palavra.

Nesta ltima reunio, ouvintes ocasionais vieram realar com a sua presena o brilho da cerimnia. Direi mais abaixo quem so estas gentes do campo que falam uma lngua diferente do grego, mas que o entendem sem dvida suficientemente para apreenderem a instruo de Crisstomo e os cumprimentos que este lhes dirige pela sua virtuosa vida. Nesta descrio deleitada da vida simples do campo transparece em Crisstomo a saudade dos seus anos de vida monstica nas montanhas dos arredores de Antioquia. O tema desenvolvido est bem resumido no ttulo: Abrao e os santos do Antigo Testamento receberam promessas temporais e aspiraram aos bens eternos; ns, ao invs, recebemos de Deus a promessa dos bens eternos e precipitamo-nos para os temporais. O pregador emprega o seu grande talento para nos mostrar quo desejveis so os bens celestes, e quo instveis so os bens terrenos, glria e riqueza. Este passo inteiro comum homilia sobre Abrao.

Na concluso, enfim, Crisstomo d os ltimos conselhos aos nefitos e indica-lhes um programa completo da vida crist.

4. Antioquia e no Constantinopla

Ser importante, para a histria da prtica litrgica, saber onde que So Joo Crisstomo proferiu as catequeses novas. Pensamos naturalmente em Antioquia, mas no podemos, a priori, excluir Constantinopla. Certamente que, na capital, o bispo teve constantemente de suportar dificuldades graves e no pde consagrar-se, tanto como desejaria, ao ministrio da pregao. Em 401, Crisstomo est ausente da capital e muitos dos nefitos desse ano lamentaram no ter recebido o batismo das mos do seu bispo. ele prprio quem no-lo diz num discurso proferido no seu regresso da sia. Em 404, fica o bispo detido no seu palcio e as cerimnias pascais foram assinaladas pelas perturbaes sangrentas que Paladius nos d a conhecer em pormenor. Portanto, se as homilias tivessem sido proferidas em Constantinopla, s poderiam situar-se nos anos de 398-400 ou em 403.

De fato, os dados da crtica interna favorecem pouco esta tese. A humildade e o tom de familiaridade esto mais a condizer com o padre de Antioquia do que com o bispo de Constantinopla.

A favor de Antioquia h uma prova decisiva que tira qualquer hesitao. Na oitava catequese, proferida para o encerramento das festas batismais, refere-se Crisstomo presena de pessoas vindas do campo. Estas pessoas falam outra linguagem. Ora, impossvel pensar que nos arredores mais prximos de Constantinopla se no tenha falado grego.

Estamos, pois, em condies de afirmar que as oito novas catequeses se referem ao ministrio de Joo em Antioquia.

5. Data.: Pscoa do ano 390?

Crisstomo, ordenado sacerdote no princpio da Quaresma de 386, comeou logo as funes de pregador. Os primeiros testemunhos sobre a sua atividade so os oito sermes sobre o Gnesis. Comparando as oito catequeses com os oito sermes sobre o Gnesis, no descobrimos nenhum lugar paralelo importante nem qualquer expresso caracterstica comum s duas sries. No creio, pois, que as oito catequeses sejam de 386.

Na Quaresma de 387, Crisstomo proferiu as homilias sobre as esttuas. O tema principal do ensino moral a luta contra o mau hbito dos juramentos. Precisamente por esta razo, que Montfaucon situou a catequese I, que tambm insiste nesse tema, no princpio da Quaresma de 387. Mas j Tillemont tinha formulado uma objeo sria contra esta opinio. Depois da descoberta das trs catequeses que vinham a seguir na srie, feita por Papadopoulos-Krameus, parece impossvel continuarmos a pensar no ano de 387.

Estou tentado a situar as trs primeiras catequeses de Papadopoulos-Krameus na Quaresma de 388. Crisstomo ter retomado, no princpio da Quaresma, os seus ataques contra os juramentos.

As homilias novas no apresentam qualquer indcio cronolgico que permita situ-las no perodo de 389-398. Noto simplesmente uma flagrante identidade de linguagem entre estes discursos e o comentrio do Gnesis datado de 388. No podemos, porm, situ-las nesse ano, pois a homilia 33 sobre o Gnesis cita a srie de homilias aos nefitos sobre a Inscrio dos Atos. Mas no andaramos longe da verdade se as situssemos nos primeiros anos que vm logo aps esta data. Temos, agora, todos os dados e pormenores de lugar e tempo para estudarmos a liturgia batismal de Antioquia, no tempo de So Joo Crisstomo, nos fins do sculo IV.

CAPTULO II

A liturgia batismal em antioquia pelos fins do sculo IV

1. Catecmenos e fiis

A situao das comunidades crists de Antioquia ou de Constantinopla, no fim do sculo IV e princpio do v, muito semelhante que ns conhecemos das igrejas do Ocidente atravs da obra de Santo Agostinho ou de Santo Ambrsio. A par do grupo de batizados, havia a massa de catecmenos. Os primeiros chamavam-se fiis, , cristos, , iniciados, ; os segundos, simplesmente catecmenos, . No iniciados, . O grupo dos batizados tinha, quanto ao sacramento, uma origem tripla. Uns so cristos batizados ao nascerem, a pedido de pais cristos. Crisstomo testemunha tal uso precisamente na catequese III: a razo pela qual batizamos as criancinhas, embora elas no tenham pecados; e ainda noutro texto dirigido a Constantinopla: Outros so cristos batizados na idade adulta, no fervor de uma preparao normal feita nos quarenta dias que antecedem a Pscoa. Outros, enfim, so clnicos, batizados em perigo de morte, sem suficiente preparao normal, e escapados ao perigo.

Os catecmenos so de duas espcies. Segundo autores dignos de crdito, a Igreja considerava catecmenos os filhos de pais cristos. Os outros catecmenos so os que, vindos do paganismo e tocados pela Graa, pediam Igreja a inscrio no catecumenato. Mas tambm com freqncia esta inscrio era apenas uma opo para receber o batismo na hora da morte. A luta contra o batismo dos clnicos preocupao constante de Crisstomo, pastor de almas. Apresentavam os catecmenos o pretexto do temor de recair no pecado aps o batismo. A est - diz Crisstomo- uma conduta insensata, pois o batismo na hora da morte incerto e, se chega a ser recebido, que frutos dar? No devemos recear o pecado aps o batismo. Deus d a fora para permanecermos fiis e, para as quedas humanas, previu Ele novos meios de reparao, tais como a confisso, a orao, a esmola e as boas obras.

A tibieza dos catecmenos e a sua hesitao em receberem o batismo so causa de escndalo e fazem rir os pagos. Se a vossa filosofia tem qualquer poder, dizei-nos o que significa, ento, essa multido de no iniciados. Os mistrios so bons e desejveis, pensa o catecmeno. Mas, ento, porqu esperar render a alma para os receber? A morte no a hora de receber os mistrios da nova vida, mas a hora do testamento. Ora, mesmo para o testamento, a lei humana prev que ele seja feito com pleno conhecimento e em vida de quem o faz; alm disso, manda acrescentar a seguinte clusula, como condio para a validade: enquanto vivo, com conhecimento e sade, que disponho do que me pertence. Ser possvel iniciar nos mistrios um indivduo que j no est consciente e que j no tem o uso da fala para pronunciar o terrvel juramento? Aquele que difere continuamente o batismo para a hora da morte assemelha-se ao soldado que vai alistar-se quando a guerra est acabada, ou ao atleta que se despe para o combate quando j os espectadores se levantam para deixarem o estdio. Cristo, na verdade, no deu o batismo como sacramento de mortos, mas como princpio de vida.

Em caso de perigo de morte coletiva, guerra, tremor de terra, os catecmenos apresentavam-se em multido ao batismo e com freqncia se viam os padres obrigados a admiti-los ao sacramento sem poder fazer sequer a iniciao mistaggica. Conta-nos Crisstomo um episdio deste gnero cujo heri um dicono dos seus familiares: Sobreveio um dia a clera de Deus (qualquer flagelo, sem dvida, ou o cerco da cidade; no diz Crisstomo onde que os acontecimentos se deram). O familiar a que me refiro era muito novo e da ordem dos diconos. Nesta circunstncia trgica, encontrava-se o bispo ausente e nenhum dos padres era grandemente zeloso. Numa noite, e rapidamente, faziam iluminar vrios milhares de pessoas. Batizavam toda a gente, mesmo os que nada sabiam. Em tais circunstncias, o dicono chamou a casa dele os catecmenos em grupos de cem ou duzentos e ensinava-lhes apenas o que se relacionava com os mistrios, de modo que os outros no podiam aproximar-se.

As calorosas exortaes de Crisstomo apenas traduziam a afetuosa solicitude da Igreja, que, nas suas oraes, no cessa de implorar a Deus a graa do batismo para os catecmenos. Na divina liturgia h realmente o tempo dos catecmenos e o tempo dos fiis. No primeiro, faz-se a instruo dos catecmenos e a orao comum pela salvao deles. Pois, diz Crisstomo, no para as paredes que o dicono proclama: Oremos pelos catecmenos.

Um dia, deu-se Crisstomo a comentar a orao da Igreja de Antioquia pelos catecmenos. Foi assim que ele nos conservou o prprio teor de uma orao antiga e venervel. E no sabemos que mais admirar neste passo, se a orao da Igreja, se o comentrio do seu fiel intrprete. No resisto ao prazer de transcrever aqui essa orao, tal como podemos reconstitui-la a partir do comentrio de Crisstomo. O dicono convida primeiramente toda a assemblia orao: Rezemos instantemente pelos catecmenos. De p, em ordem, e oremos. Em seguida enumera as peties, s quais os fiis sinceramente se associam: Oremos para que Deus, cheio de misericrdia e de bondade, oua as suas oraes; que lhes abra os ouvidos do corao e lhes ensine a palavra da verdade. Que lhes deposite no esprito o temor de Deus e os fortifique na f. Que lhes revele o evangelho da sua justia, lhes d esprito divino, pensamentos castos, vida pura, para que vivam segundo a f, dia e noite.

Oremos com mais constncia ainda, por eles, para que Deus os livre de todo o mal e de qualquer ao imoral, do pecado diablico, de toda a infelicidade que lhes possa vir do adversrio. Que, no tempo oportuno, os torne dignos do banho do novo nascimento, da remisso dos pecados, das vestes da incorruptibilidade. Que Deus os abenoe nas suas entradas e sadas, ao longo de toda a vida, as suas casas e familiares; que d a todos os seus empreendimentos feliz xito.

Aps esta orao da Igreja pelos catecmenos, na qual se pedem, primeiramente, os bens supremos e, em seguida, maneira de encorajamento e com senso pedaggico, os bens materiais, o dicono exorta os catecmenos a rezarem por si prprios. Estes encontravam-se prostrados por terra durante a orao dos fiis. Agora, o dicono pede-lhes que se levantem e faam a orao seguinte: Vs, os catecmenos, orai ao anjo da paz; pedi que todos os vossos assuntos sejam tratados com paz, assim como em paz se passem o dia presente e os dias todos da vossa vida; pedi que os vossos ltimos instantes sejam cristos: belo e til que vs possais apresentar-vos ao Deus vivo e ao seu Cristo.

Aps esta orao, de que se ter notado o sabor antigo, os catecmenos eram mandados embora. Pois, neste fim do sculo IV, a disciplina do arcano continuava em vigor. Os catecmenos encontravam-se perfeitamente instrudos nas verdades da f, na histria do Antigo Testamento e dos Evangelhos, mas no tinham o direito de assistir aos mistrios, nem de conhecer as oraes rituais ou as frmulas dos sacramentos. No me cabe aqui dizer qual era, ento, o significado exato desta disciplina. Na poca de Crisstomo j no havia o perigo das denncias ou das falsas interpretaes dos pagos. O conhecimento e a fruio dos sacramentos esto reservados aos fiis, porque s eles formam a verdadeira famlia de Deus; s eles tm direito de conhecer o tesouro da casa paterna e de se alimentarem das suas riquezas. Os catecmenos so afastados da mesa real e privados de todos os bens nela contidos, pois eles so estranhos e no filhos.

Em toda a sua obra, insiste Crisstomo nesta diferena fundamental entre o catecmeno e o fiel, como j vimos pela anlise das catequeses antigas e novas. Eis, ainda a este respeito, outros pensamentos do grande doutor. O catecmeno um estrangeiro em relao ao fiel. No tem, na verdade, nem o mesmo chefe, nem o mesmo pai, nem a mesma cidade. Alimento, vesturio, mesa, casa, tudo diferente. Um tem como rei a Cristo, o outro, o demnio; um tem como prazer a Cristo, o outro, a corrupo. O vesturio de um o rei dos anjos; usa o outro um tecido de seda; a cidade de um o Cu, do outro a Terra.

O catecmeno, estrangeiro como , no tem Deus como pai. Esta afirmao, severa primeira impresso, profundamente verdadeira na perspectiva do mistrio, pois s o batismo nos torna filhos de Deus, segundo a vida sobrenatural e segundo o verdadeiro ser. No pode o catecmeno dizer a orao do cristo, o Pai-Nosso. Que esta orao - diz Crisstomo - o bem prprio dos fiis. So as leis da Igreja e o princpio da mesma orao que no-lo ensinam. O no iniciado, na verdade, no pode chamar Pai a Deus. As leis eclesisticas a que se refere Crisstomo designam no s a disciplina da missa, em que a despedida dos catecmenos vem antes da recitao do Pater, como tambm os ritos da iniciao crist que incluem a recitao do mesmo Pater pelo recm-batizado, quando sai das piscinas sagradas.

Outro cntico clebre, o hino do Sanctus, chamado na Igreja Oriental chroubicon, era desconhecido pelos' no iniciados e reservado aos cristos acabados, porque s eles so da famlia dos anjos que louvam ininterruptamente Deus-Trindade. A honra Que espera o catecmeno de cantar em breve o hino tremendo do chroubicon (deve torn-lo muito cuidadoso em guardar a lngua das canes profanas e impuras. Crisstomo, alis, ao falar da ventura dos mrtires, diz que eles cantam com os anjos o livro do trisgio como vs sabeis, vs que sois iniciados.

To grande diferena segundo a graa tinha naturalmente de revelar-se no comportamento. Ao cristo iniciado no era permitido levar a mesma vida que os catecmenos. Infelizmente, queixa-se Crisstomo, com demasiada freqncia, o cristo no se distingue do catecmeno seno no momento da despedida, quando este deixa a igreja e o fiel fica para a celebrao dos mistrios.

2. Inscrio dos catecmenos para o batismo. Os fiadores. As instrues preparatrias.

Dos diversos textos vistos ressalta que, se o catecumenato era de si ordenado para o batismo, no conduzia necessariamente a ele. Demasiadas pessoas ficavam catecmenos toda a vida e, na prpria expresso de Crisstomo, celebravam todos os anos a Quaresma sem nunca celebrarem a Pscoa. Se Crisstomo se torna insistente para levar os catecmenos a receberem o batismo, a sua maneira de agir, porm, nada tem do compelle intrare. Nas instrues que faz aos batizandos surge-nos, pelo ct1ntrrio, cheio de severidade para a admisso ao batismo. Exige dos catecmenos seria preparao moral e intelectual. Estava precisamente a a razo de ser dos exerccios e das instrues da Quaresma. Nessa ocasio, os catecmenos que seriamente desejavam ser batizados na noite pascal deviam assumir um compromisso positivo e fazer-se inscrever para o batismo. Entravam assim na classe dos illuminandi, dos que devem ser iluminados, expresso que traduz literalmente a expresso grega que se encontra como ttulo das duas primeiras catequeses.

A inscrio, nas grandes cidades como Antioquia e Constantinopla, era feita nos primeiros dias da Quaresma e prolongava-se certamente por uns dez dias. Vemos, na verdade, que a primeira instruo aos illuminandi, aps o encerramento das inscries, se realiza trinta dias antes da Pscoa. Nos grandes centros, os sacerdotes no podiam conhecer as disposies morais dos que vinham pedir o batismo. Da o uso de fiadores, atestado por Teodoro de Mopsuesto nas suas catequeses, e pelo pseudo-Dinis, na Hierarquia Eclesistica: Quando um homem escreve Dinis est inflamado pelo amor das realidades que no so deste mundo e est animado pelo santo desejo de receber a sua parte delas, primeiro aproxima-se de um dos iniciados, pede-lhe que o conduza ao sumo sacerdote, ao mesmo tempo que promete obedincia total a tudo que lhe for prescrito; pede-lhe que aceite o encargo da sua admisso e quanto respeitar sua vida futura... Este, assumindo o encargo do novio, condu-lo quele que recebeu o nome de hierarquia (o bispo). Este ltimo, tendo recebido com alegria os dois homens, expressa primeiramente a sua gratido.

Dinis descreve em pormenor e segundo a transposio do mistrio que corresponde ao seu desgnio a cerimnia e as oraes da inscrio dos catecmenos. Por seu lado, Crisstomo nada diz da inscrio nem dos fiadores. Mas deixa subentender a existncia dos fiadores e da inscrio, pois continuamente chama aos catecmenos aqueles que esto inscritos nos pergaminhos de Cristo, e na catequese II dirige-se aos fiadores. Em Teodoro de Mopsuesto, o fiador desempenha um papel muito importante. Intervm em todos os graus da iniciao. Fica responsvel no s pelas disposies do candidato, mas tambm o assiste nos diversos momentos da iniciao e nas cerimnias sacramentais. Era assim em Antioquia no tempo de Crisstomo, j que ele, no decorrer da catequese mistaggica reservada aos batizandos, bruscamente se dirige aos fiadores. Nesse momento, d-nos a conhecer o nome oficial por que eles, ento, eram designados e tambm o nome que o uso comeava a consagrar. O fiador oficialmente chamava-se o que recebe. Esta expresso, segundo a filologia, liga-se palavra latina suscepti, j empregada por Tertuliano para designar os recm-baptizados, e faz pensar que o responsvel recebe o batizado ao sair do banho sagrado. Mas o texto de Crisstomo sugere outro significado. Recorre, com efeito, o orador a uma comparao tomada do Direito. O o fiador que se apresenta como cauo por aquele que pede a terceiro determinada soma de dinheiro. Assim, o , no batismo apresenta-se como fiador de que o indivduo em causa far bom uso dos bens espirituais que lhe sero confiados pela Igreja e respeitar os compromissos contrados no batismo. Este termo, demasiado jurdico, era, na linguagem corrente, substitudo por outro mais familiar e afetivo. Tinha prevalecido o uso de chamar aos fiadores , , pais espirituais, o que nos aproxima do termo atual patrinus, padrinho, e os seus sbditos, , filhos espirituais, o que no est longe de afilhado.

Depois da inscrio no registo dos que devem ser iluminados, o catecmeno acompanhava todos os exerccios da Quaresma: rigoroso jejum, instrues quotidianas e catequeses reservadas. A respeito destas ltimas, verifica-se que o seu uso se avilta em Antioquia no tempo de Crisstomo. Com efeito, o ciclo das catequeses em Crisstomo muito mais reduzido do que nos seus ilustres antecessores e at nos seus contemporneos. Cirilo de Jerusalm tem 19 catequeses e 5 mistagogias; Teodoro de Mopsuesto, 16, das quais 5 mistaggicas. A srie de catequeses de Crisstomo publicadas por Papado-poulos-Krameus seguida e acaba com quatro homilias.

O ensino dado por Crisstomo aos catecmenos , em suma, margem da mentalidade do prprio autor, voltada mais para os esforos da ascese e os progressos na virtude do que para a especulao propriamente dita sobre os artigos da f. Pois, segundo ele, de nada serviria recebermos a luz da f, se no tivssemos anteriormente purificado o olho do nosso corao para receber a iluminao divina.

3. Os exorcismos

O primeiro rito preparatrio para o batismo a ser referido por Crisstomo o dos exorcismos. O pregador tinha o propsito de explicar este rito desde a primeira catequese, mas f-lo realmente na segunda. Volta a faz-lo na segunda da nova srie: Depois da instruo diria, ns mandamo-vos para as falas daqueles que vos exorcizam. Quase poderia parecer que os exorcismos se realizavam diariamente depois da instruo da tarde. , todavia, possvel que a expresso designe aqui a catequese mistaggica, que substitui, nos dias em que a h, a instruo da tarde. De qualquer maneira, coisa assente que se faziam os exorcismos sada de cada catequese. Os illuminandi eram confiados aos exorcistas, que exercem este cargo na Igreja em virtude de uma ordem hierrquica (, pois, diz Crisstomo, eles esto ordenados para essa funo, Os catecmenos, cobertos " somente pela tnica dos penitentes, avanavam de ps descalos e com as mos levantadas para o cu, tal como suplicantes maneira antiga, ou como os cativos acorrentados no triunfo de um vencedor. Qualquer diferena de classe social era aqui aniquilada, e no deixa Crisstomo de dar glria, por esse fato, Igreja, que no olha s vantagens deste mundo. E realmente era espetculo inslito e novo, para os olhos de uma sociedade fortemente diferenciada em classes, ver fundidos na mesma atitude de cativeiro espiritual o prncipe e o sbdito, o rico e o pobre, o homem livre e o escravo. Com efeito, pelo pecado, so todos escravos do demnio. ele, realmente, o verdadeiro senhor deste rebanho que ainda no traz a marca do Senhor, pois o catecmeno uma ovelha sem o sinete divino. Mas este cativeiro acabar muito em breve: j os exorcistas, temveis para o demnio, se apressam a afugentar o tirano e a preparar a casa para a vinda do Rei. Os cativos do demnio iro dai a pouco reencontrar a verdadeira ptria, a Jerusalm celeste, a nossa me comum, a Igreja.

O prprio rito inclua as palavras terrveis da conjurao, destinadas a afugentar os demnios mais cruis, uma orao invocatria do soberano Senhor, na qual se aludia ao castigo da geena. Os efeitos deste rito so a purificao da inteligncia, a compuno do corao, a runa dos demnios e a preparao espiritual da alma para receber o seu Senhor e Rei.

4. Renncia a Satans e adeso a Cristo

Aps o rito dos exorcismos, faz Crisstomo meno da cerimnia solene da renncia a Satans e da adeso a Cristo. A catequese III de Papadopoulos-Krameus informa-nos de que esta cerimnia se realizava em Quinta-Feira Santa, s trs horas da tarde. A catequese por ns publicada no tem qualquer indicao de tempo. Insinua, antes, que a cerimnia se realizava em Sbado Santo, de tarde, pois, se nos fiarmos no novo texto, no h qualquer intervalo de tempo a separar as cerimnias: renncia-adeso, uno da fronte e depois, quando cai a noite, uno do corpo todo e batismo. Crisstomo, por se lembrar deste mesmo juramento que ele prprio outrora proferira, fala de maneira que faz pensar que o juramento precedia imediatamente o batismo. Insisto neste pormenor, por ele me permitir formular uma hiptese. Sem dvida que, primitivamente, a renncia a Satans e a adeso a Cristo vinham imediatamente antes do batismo. Ainda assim era, quando o prprio Crisstomo recebeu o batismo em 372.

Depois, por causa do grande nmero de batizados e para dar mais importncia cerimnia da renncia, anteciparam a cerimnia um dia e fixaram-na na tarde de Sexta-Feira Santa. J assim se fazia, quando Crisstomo proferiu as suas catequeses.

A escolha de hora to solene era inspirada por tocante simbolismo. s trs horas de sexta-feira, quando Cristo morria na cruz, o ladro mereceu, pela sua confisso, entrar com Cristo no Paraso. Para que a comunho segundo o tempo acompanhasse a comunho segundo a realidade, a cerimnia da renncia a Satans e da adeso a Cristo foi fixada em Sexta-Feira Santa, s trs horas da tarde.

O ofcio era solene e presidido pelos sacerdotes. Estes conduzem os futuros iniciados Igreja e ordenam-lhes que se ponham de joelhos. Os catecmenos, descalos, vestidos, como nos exorcismos, com a tnica, ajoelham-se e levantam as mos para o cu. Os sacerdotes passam diante deles e recebem de cada um individualmente a frmula do juramento. Ei-la como citada por Crisstomo na nova catequese: Eu renuncio a ti, Satans, s tuas sedues, ao teu servio e s tuas obras.

Sem dvida nenhuma, temos aqui a prpria frmula empregada em Antioquia, a mesma que todos os outros textos conhecidos de Crisstomo confirmam, mas que nenhum deles tinha ainda dado no seu teor completo.

Crisstomo atribui grande importncia a esta cerimnia. Informa-nos casualmente que ela no podia ser omitida mesmo no caso do batismo dos clnicos. Mais acima falei do simbolismo que Crisstomo prope para este passo: a renncia a Satans e a adeso a Cristo so, em suma, o contrato de casamento e o compromisso da noiva com o esposo. Nas homilias ps-batismais, volta Crisstomo a referir-se, por vrias vezes, a este contrato. preciso ficar-lhe fiel a vida inteira, pois os anjos, espectadores invisveis, recolheram as nossas palavras para as transcreverem nos livros celestes, que sero abertos no Dia do Juzo.

5. 0 oficio da renncia a Satans e da adeso a Cristo segundo o ordo de Constantinopla

Temos, na cerimnia que acabo de descrever, a origem de uma funo litrgica destinada a grande xito. Joo de Antioquia, ao ser nomeado bispo de Constantinopla, levou para a capital mais de um costume litrgico. Pertence a esse nmero certamente a cerimnia de Sexta-Feira Santa, pois encontramo-la em uso em Constantinopla e ordines antiqussimos conservaram-nos no s os pormenores das cerimnias, como ainda a catequese que o bispo dirigia na circunstncia aos batizandos. O eminente liturgista que foi Goar e os sbios pesquisadores das liturgias orientais Conybeare e Dmitrievski no deixaram de se interessar por estes ordines e publicaram o fragmento uncial de um cdice do fundo Barberini da Vaticana, que tido pelo mais antigo testemunho. O texto grego publicado por estes autores apresenta, em vrios passos, falta de sentido. Quase no h traduo e, desta maneira, os que no so especialistas na liturgia batismal ignoram os ritos e o significado desta magnfica cerimnia tal como se desenvolveu, com algumas variantes de pormenor, dos sculos V-VI ao sculo XII. No resisto ao prazer de apresentar aqui uma traduo deste documento segundo o grego de Conybeare, corrigido em vrios passos segundo o texto grego indito do manuscrito Ottoboni grego 175. Ver o leitor que o rito e o seu simbolismo esto conformes liturgia e ao pensamento de Crisstomo. Eu estaria quase tentado a atribuir a breve catequese que se vai ler ao prprio Crisstomo. O contedo no indigno dele, mas a forma demasiado impessoal e tambm familiar demais para que possamos defender seriamente esta atribuio. A forma leva-nos, antes, a pensar em Proclus ou noutro qualquer patriarca do sculo V ou VI.

Renncia e adeso que se realiza em Sexta-Feira Santa de Pscoa, sob a presidncia do arcebispo, com todos os catecmenos reunidos na Santssima Igreja.

O arcebispo chega pela hora sexta e sobe tribuna. Depois de o arquidicono ter dito: Demos ateno, diz o arcebispo: Paz para todos. E o arcebispo diz aos catecmenos: Julgai-vos com temor e benzer-vos (com o sinal da cruz). Tirai a roupa e o calado. Feito isso, comea ele a catequese desta maneira.

(Catequese). Eis que chegou o fim do vosso catecumenato e o tempo da vossa libertao. Ides hoje apresentar a Cristo a carta da vossa f. O papel a vossa conscincia, a tinta a vossa lngua e a caneta a vossa atitude. Vede, pois, bem como ides vs assinar a vossa confisso. No caminheis pela margem para no serdes seduzidos. Os que esto para morrer tomam as suas ltimas disposies. Constituem outrem como herdeiro dos seus bens. Ora tambm vs ides, amanh noite, morrer para o pecado. Agora, portanto, tomais as vossas disposies e fazeis testamento, que esta renncia. Vs constitus o diabo como herdeiro do pecado. Deixais-lhe os pecados como herana paterna. Portanto, se algum de vs tem qualquer coisa do diabo na alma, que a lance fora. Pois o que est para morrer j no tem poder sobre os prprios bens. Que ningum, pois, de entre vs nada mais tenha do diabo na alma. Por esta razo que vs estais direitos, com as mos levantadas para o cu, como se os anjos vos revistassem para saberem se ainda haveria algo do diabo convosco. Que ningum guarde dio, nem permanea colrico, nem venha por manha, nem oua com hipocrisia. Lanar para o diabo qualquer mancha e qualquer excrescncia do mal. Portai-vos como cativos, pois como cativos que Cristo vos resgata. Cada um de vs sopre sobre o diabo, olhando para ele bem de frente e com dio. Entrai no ntimo das vossas conscincias, perscrutai os vossos coraes. Que cada um veja o que tem feito e, se alguma coisa h em vs do adversrio, cuspi-o pela exsuflao.

Que ningum aqui seja judeu, por hipocrisia; que ningum tenha dvidas sobre o mistrio. A palavra de Deus perscruta os vossos coraes de maneira mais incisiva que uma espada de dois gumes. O diabo est agora voltado para oriente, range os dentes, arrepia os cabelos, agita as mos e morde os lbios, est furioso e geme da prpria solido, e no pode acreditar na vossa libertao. por isso que Cristo vos pe diante dele para a ele renunciardes e soprardes sobre ele para comear a lutar contra ele. O diabo est voltado para ocidente, o lado onde se encontra o princpio das trevas. Vs renunciais a ele e soprais sobre ele. Depois voltai-vos para oriente e alistai-vos nas fileiras de Cristo.

Permanecei no temor. Pois, aqui, tudo temvel e terrvel. Aqui, todas as potncias do cu esto presentes. Os anjos e os arcanjos transcrevem de maneira invisvel as vossas palavras. Os querubins e os serafins entreabrem os cus para aceitarem os vossos contratos e os levarem ao Senhor. Dai, por conseguinte, ateno maneira como renunciais ao inimigo e como aderis ao Criador.

Depois disso, diz-lhes: Voltai-vos para ocidente, conservai as mos levantadas e repeti o que eu digo: Renuncio a Satans, a todas as suas obras, a todo o seu servio, a todos os seus anjos e a toda a sua seduo. Ele diz isso trs vezes e todos repetem logo aps. Em seguida, interroga-os trs vezes: Renunciastes a Satans? Eles dizem: Renunciamos. Ele diz-lhes: Soprai sobre ele.

Diz-lhes em seguida, de novo: Voltai-vos para oriente, baixai as mos. Permanecer no temor e repeti o que digo: E alisto-me nas fileiras de Cristo, e creio em Deus, Pai Todo-Poderoso, criador do cu e da terra, etc., at ao fim. Diz isso trs vezes e todos repetem aps ele. Pergunta-lhes: Alistastes-vos nas fileiras de Cristo? Respondem: Alistamo-nos nas suas fileiras. Faz a pergunta trs vezes. E depois diz-lhes: Adorai-o. E, enquanto todos O adoram, faz ele esta orao: Bendito seja Deus, que quer que todos sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade, agora e sempre e pelos sculos dos sculos.

E diz de novo: Eis que renunciastes ao diabo e aderistes a Cristo. O contrato est aceite. O Senhor guarda-o no cu. Procurai respeitar as convenes, pois este contrato ser-vos- apresentado no Dia do Juzo. No percais o capital; acrescentai-lhe, antes, os juros. Vede que de nada tenhais a corar diante do terrvel e temvel tribunal, quando todas as potncias do cu forem desfeitas e o gnero humano se apresentar a julgamento. As mirades de anjos pronunciar-se-o, bem como os exrcitos de arcanjos e as potestades do alto; haver o rio de fogo, o verme que no morre, as trevas exteriores; e ento o contrato ser lido. Se tiveres sido generoso e misericordioso, logo ters por defensores aqueles para os quais usaste de misericrdia. Mas, se foste desumano, avarento, sem piedade, altivo, injusto para quantos no tinham agravos de ti, o diabo erguer-se- ento contra ti: Senhor, este homem renunciou a mim somente por palavras; pelas obras ficou sempre meu servidor. E os anjos ho de gemer e os justos ho de chorar sobre ti. E o resultado da sentena at de dizer custoso. C na terra, quando algum cai numa infelicidade, encontra defensores, chama os amigos, socorrido pelos parentes, resgatado pelas riquezas que tiver. L, nada que se parea: nem pai que socorra, nem me comovida at s entranhas, nem irmo que acorra, nem amigos que se apressem. Mas todo o homem ficar nu, s e sem recursos, absolvido ou condenado unicamente pelas suas obras, pois, se o irmo no salva, quem poder salvar? Procurai, pois, defender-vos a vs prprios. Renunciastes ao diabo, odiai-o at ao fim. Alistastes-vos nas fileiras de Cristo, confessai-o at ao ltimo suspiro. Morrei nesta confisso ortodoxa e no naufragueis na f. Tende piedade do pobre, no desprezeis os que so vtimas da injustia; no roubeis os bens de outrem, nem leseis os inocentes, no escuteis discursos vos, defendei os vossos padres e acautelai a vossa vida em todas as circunstncias.

No hesitei em vos falar das infelicidades. Sabeis, daqui para o futuro, como vos podeis defender delas. Fiz o que estava em mim fazer. Falei-vos com antecedncia das infelicidades com medo de que a espada irrompa subitamente e leve alguma das almas deste povo. Pois, a partir de agora, o inimigo observa as vossas palavras, os vossos movimentos e todas as vossas aes. Tomai as vossas precaues para que o adversrio nada tenha a dizer contra vs no Dia do Juzo e ns possamos ficar sem corar no tribunal de Cristo e ouvir esta feliz e desejada sentena: Vinde, benditos de meu Pai, tomar posse do reino preparado desde o princpio do Mundo. A Ele cabem a glria, a honra e a adorao, agora e sempre, e pelos sculos dos sculos. Amm.

Depois do amm, ele diz-lhes: Erguei as mos. (Orao): Pela boa ordem do Universo, pela tranqilidade das santas igrejas, digamos: Senhor, tende piedade. Pelos muito piedosos imperadores e toda a corte, pelo seu exrcito e pelo povo amado de Cristo, digamos: Senhor, tende piedade. Pelo resgate das nossas almas e para que Satans seja rapidamente esmagado debaixo dos nossos ps, para que a nossa cidade seja preservada do sangue (do fogo e dos tremores de terra, e por todas as cidades e todas as provncias), digamos: Senhor, tende piedade. E o arcebispo benze a multido como de costume, e faz a ecfonese: Pois Tu s o Deus misericordioso e amigo dos homens. A Ti, glria, etc. E depois do amm, dia Voltai a vestir-vos e a calar-vos e vai-se para o santurio e faz a orao pelos que se preparam para a santa iluminao, enquanto o dicono reza como de costume; o bispo recita a mesma orao sem fazer a ecfonese habitual no fim: Mestre, Senhor e Deus, chama os Teus servidores Tua santa iluminao e digna-te conceder-lhes essa grande graa. F-los renascer para a vida eterna, enche-os do poder do Teu Esprito Santo para os unirdes a Cristo, a fim de no serem mais filhos do corpo, mas filhos do Teu Reino.

Depois de acabar esta orao, o dicono em vez de dizer: Inclinai a cabea, diz: Todos os que devem ser iluminados, avanar para a imposio das mos e a bno. O bispo impe as mos a todos, homens e mulheres, e volta depois ao p do altar e faz a ecfonese em voz alta: Pois Tu s a nossa iluminao, glria a Ti, etc. O bispo diz: Paz a todos. Depois de o dicono ter dito: Inclinai a cabea, o bispo faz de novo esta splica: Deus, nosso Salvador, Tu que queres que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade, faz brilhar a luz do Teu conhecimento nos nossos coraes e no corao dos que se preparam para a santa iluminao. Digna-te conceder-lhes a Tua imortal merc e uni-los santa Igreja catlica (e apostlica). Pois a Ti que Te pertence ter misericrdia e salvar, a Ti, nosso Deus. Rendemos-te glria, a Ti, Pai, Filho e Esprito Santo, agora e sempre e pelos sculos dos sculos. Amem. E depois do amm, diz o dicono: Avancemos em paz. O povo: Em nome do Senhor. E vem logo a despedida. D-se um tempo de espera e fica completa a divina liturgia.

6. Uno dos catecmenos e profisso de f

O ordo da renncia a Satans e da adeso a Cristo levou-nos menos longe de Crisstomo do que poderia parecei- primeira vista. Inclui naturalmente os desenvolvimentos rituais, que esto ausentes das catequeses de Crisstomo. Mas tais desenvolvimentos so a prpria marca da vida. O elemento mais importante contido no ardo e que parece faltar nas catequeses a profisso de f antes do batismo. o momento de examinarmos se a liturgia que as catequeses de Crisstomo nos do a conhecer inclui tambm uma profisso de f. Sem dvida que, na primeira catequese, o orador expe com gravidade aos catecmenos os principais artigos da f, mas na descrio dos ritos do sacramento em nenhum passo menciona explicitamente a profisso de f. Em Crisstomo, a renncia a Satans e a adeso a Cristo vm seguidas, aparentemente, no da profisso de f, mas da uno do catecmeno. Este rito afirmado em diversas ocasies pelo orador e explicado com evidente prazer. O catecmeno renunciou a Satans, alistou-se nas fileiras de Cristo e, tal como o recruta que acaba de jurar bandeira, marcado com uma uno. O ministro no indicado com clareza. Crisstomo pe-nos, aqui e adiante, perante uma sria dificuldade. O que executa os ritos da iniciao habitualmente designado por ,, o sacerdote; em dois ou trs lugares, por o bispo. Num texto explcito, diz Crisstomo que o ministro da iniciao o bispo assistido pelos sacerdotes: Rezai - pede Crisstomo aos catecmenos -, rezai pelo nosso bispo por cujas mos e palavras ides vs receber estes bens. Rezai muito pelos sacerdotes que ao mesmo tempo que ns assistem (o pontfice). Perante esta indeterminao, decidi traduzir sempre por sacerdote, mesmo se com muita freqncia o termo designa o bispo.

O sacerdote imediatamente o marca, como um soldado que acaba de assentar praa no estdio do esprito; unge-o na fronte com o perfume espiritual impondo-lhe o sinal (da cruz) e dizendo: F. ungido em nome do Pai e do Filho e do Esprito Santo. As explicaes que a catequese III de Papa-dopoulos-Krameus nos fornece tiram qualquer hesitao sobre o sentido que mais convm a : no se trata aqui de uma marca da graa, que o bem prprio do Esprito Santo, mas concretamente do sinal da cruz: (Cristo) te manda marcar e d-te, sobre a fronte, a cruz. Esta uno, precisamente, torna o batizando temvel para o demnio, porque o fulgor do sinal da cruz que brilha sobre a fronte cega o demnio.

A catequese n de Stravronikita tem pelo menos a vantagem de nos dar a conhecer a frmula desta uno. a mesma que a de Teodoro de Mopsuesto: Tu avanas, pois, para o santo batismo e primeiro largas todo o teu vesturio; como convm, s todo ungido com o leo da uno. O pontfice comea por dizer: F. ungido em nome do Pai e do Filho e do Esprito Santo. Crisstomo, diferentemente de Teodoro de Mopsuesto, distingue cuidadosamente os dois momentos da uno: a primeira uno na fronte parece seguir-se imediatamente ao juramento de fidelidade a Cristo. Depois, logo que chega a noite, faz-se a uno do corpo todo. O sacerdote despoja o catecmeno das suas vestes, conforme diz expressamente a catequese III da srie Papadopoulos. A catequese II omite o sujeito, mas o emprego da voz ativa e transitiva obriga a tirar a mesma concluso. Esta mesma catequese especifica que a uno do corpo no feita pelo sacerdote. Os diconos e os clrigos inferiores ungiam os homens; a uno das mulheres era feita por diaconisas. Pois, embora a nudez requerida pelo batismo no seja a da vergonha mas a da inocncia reencontrada, tudo deve ser feito na decncia e sobriedade que convm ao mais puro dos mistrios.

Ado e Eva estavam nus e no conheciam a vergonha antes de terem recebido a veste do pecado, o qual, realmente, superabunda de vergonha. Por conseguinte, tambm aqui no h qualquer motivo de pecado. Pois a piscina (do batismo) bem melhor do que o paraso. No h aqui serpente, mas Cristo que exerce a funo de mistagogo com o objectivo do renascimento pela gua e o Esprito Santo. No h aqui rvores belas e agradveis vista, mas h os carismas do esprito. No h aqui a rvore do conhecimento do bem e do mal; no h lei nem mandamentos, mas a graa e os dons.

Depois da uno do corpo todo, o catecmeno desce s piscinas sagradas para receber o batismo. assim que em nenhum passo vemos fazer meno explcita de profisso de f antes do batismo. O termo confisso, , que se encontra a propsito da ligao a Cristo, no , em nossa opinio, uma profisso de f, mas a proclamao da suserania de Cristo. Todavia, um passo da catequese III da Papadopoulos-Krameus, que no infelizmente dos mais claros, leva-me a pensar que a profisso de f era feita depois da ltima catequese e consistia na recitao do smbolo da f em uso na Igreja de Antioquia. Eis esse passo: por isso que a nossa proclamao de hoje chamada f e j no vos pediremos que digais qualquer palavra antes de dizerdes: Eu creio. Esta proclamao que se chama a f, e que se faz em Quinta-Feira Santa, no poderia identificar-se com a redditio symboli? Esta profisso de f fazia-se entre as mos do bispo, que presidia cerimnia e dava uma instruo sobre o smbolo. Tiro esta concluso de outro passo da mesma catequese, na qual diz Crisstomo: No a mim que me pertence fazer-vos a instruo sobre a f, mas sim ao doutor. Este termo , no singular, no pode designar seno o didscalo, por excelncia, na comunidade crist, o bispo.

Num passo do comentrio da primeira aos Corntios, que os historiadores comumente colocam em Antioquia, Crisstomo insinua claramente que a profisso de f precedia imediatamente o batismo. Prope-se o orador explicar a dificuldade clssica do batismo dos mortos. Quero em primeiro lugar - diz ele - lembrar queles que dentre vs foram iniciados a palavra que os mistagogos vos mandaram pronunciar nessa noite [...]. Quereria eu falar claramente mas no ouso faz-lo por causa dos no iniciados. Pois estes tornam-nos a explicao mais difcil, quando nos obrigam ou a no falarmos claramente ou a dizer diante deles o que no deve ser dito. Pois bem, o melhor que puder falarei por palavras veladas, equvocas. Depois da proclamao das palavras msticas e temveis, depois das terrveis regras dos dogmas trazidos do cu, tambm ns acrescentamos isto no fim, quando vamos proceder ao batismo, e ordenamos que digam: Creio na ressurreio dos mortos, e nesta f que somos batizados. Com efeito, depois de termos confessado isso e todos os outros (artigos) que descemos fonte das guas sagradas.

Creio na ressurreio dos mortos: esta frmula como tal no se encontra nem no smbolo de Nicia, que traz a ressurreio da carne, nem no smbolo de Constantinopla, do qual se distingue pela adjuno de Eu creio. No smbolo de Antioquia, ao qual Crisstomo se refere, o artigo precedente era, como no smbolo de Nicia, a remisso dos pecados. Podemos, portanto, concluir que havia em Antioquia, no tempo de Crisstomo, embora este no fale explicitamente do assunto nas suas catequeses, uma dupla profisso de f: a primeira, que consistia na recitao do smbolo, quer em Quinta-Feira Santa, depois da ltima catequese, quer em Sexta-Feira Santa, depois da cerimnia da renncia a Satans e a adeso a Cristo; a segunda, sob a forma de perguntas, imediatamente antes do batismo. talvez a esta profisso que Crisstomo alude na catequese n, ao dizer: , pois, esta f na Trindade que nos vale a remisso dos pecados e esta confisso que nos merece a filiao. Proclus, na mistagogia j mais de uma vez assinalada, leva a pensar que, em Constantinopla, esta profisso acompanhava igualmente o batismo e era feita maneira de perguntas e respostas: Tu disseste: Creio no Pai Todo-Poderoso... Disseste: Creio no Senhor Jesus Cristo, filho de Deus... Disseste: Creio no Esprito Santo...

7. O batismo

Depois da uno do corpo todo, depois da profisso de f, o catecmeno desce piscina do batismo. O bispo ou, na falta dele, o sacerdote estende-lhe a mo sobre a cabea e mergulha-o por trs vezes nas guas sagradas pronunciando a frmula sacramental: F. batizado em nome do Pai e do Filho e do Esprito Santo. Encontramos a mesma frmula na catequese III da srie Papadopoulos, a mesma ainda nas catequeses de Teodoro de Mopsuesto. A descrio circunstanciada deste ltimo permite-nos compreender a ao integral: a invocao da augusta Trindade s uma vez feita, mas, meno de cada uma das trs pessoas divinas, o pontfice faz mergulhar o batizado e f-lo emergir da gua. Desta maneira, surge a unidade da Trindade em tudo que concerne a nossa salvao.

Insiste Crisstomo sobretudo no papel ministerial do sacerdote. Este pensamento est no mago da sua teologia sacramentaria e os historiadores do dogma cristo no deixaram de not-lo. Assim, no comentrio de Mateus, diz ele: Quando s batizado, no o sacerdote que te batiza, mas Deus que toca na tua cabea pelo seu poder invisvel; nem anjo, nem arcanjo, nem ningum mais ousa aproximar-se e tocar em ti. Pois verdadeiramente Deus que nos engendra e Ele no quer que, neste divino nascimento, tenhamos outro rei seno Ele.

na mesma linha que ele diz na catequese II: No s a mo do sacerdote que toca na cabea do batizado, mas tambm a direita de Cristo, como evidente das prprias palavras do que batiza. Pois ele no diz Batizo F., mas F. batizado, mostrando assim que ele apenas o ministro da graa e que no faz mais do que emprestar a sua mo. A mesma explicao se encontra na catequese III de Papadopoulos: por isso que o sacerdote que batiza no diz: Batizo F., mas F. batizado em nome do Pai e do Filho e do Esprito Santo, cujo nome invocado. Teodoro de Mopsuesto faz anloga observao: No: Eu batizo, mas batizado, da mesma maneira que, um instante antes, o sacerdote tambm no disse: Eu marco, mas Est marcado, pois, visto no haver entre os homens nenhum capaz de tal dom - o que s a graa divina pode fazer, ele no devia dizer Eu batizo e Eu marco, mas Est marcado e Est batizado... Quanto a ele, sacerdote, mostra-se obediente e ao servio do que se realiza.

Quanto ao prprio batizado, obtm num instante todos os bens. Crisstomo, em magnfica progresso, enumera at dez as graas conferidas pelo batismo. Os recm-baptizados so livres, santos, justos, filhos de Deus, herdeiros do cu, co-herdeiros de Cristo, irmos de Cristo e seus co-herdeiros, membros de Cristo, templos de Deus, instrumentos do Esprito Santo. Crisstomo, alis, insiste na novidade de vida. o batismo uma nova criao, incomparavelmente melhor que a primeira. Deus, ao criar o primeiro homem, disse: Faamos-lhe uma ajuda. Aqui, nada de semelhante. De que ajuda poderia ter necessidade aquele que recebe a graa do Esprito Santo e completado no corpo de Cristo? O primeiro homem foi criado imagem de Deus; o homem novo est unido a Deus. O primeiro homem deu ordens aos animais, o homem novo est colocado acima dos cus. Ao primeiro homem foi dado o paraso, ao homem novo os cus. O primeiro homem foi criado no sexto dia, o homem novo est criado no primeiro dia, ao mesmo tempo que a luz. Esta ltima notao alude noite pascal, aurora do domingo, que assinala o regresso do primeiro dia, no qual foi criada a luz.

8. As cerimnias depois do batismo

Crisstomo muito sbrio, demasiado para o nosso gosto, a respeito de tudo que vem depois do batismo. Informa-nos apenas que, ao sarem das piscinas batismais, os nefitos recebem os votos da assistncia. Felicitam-nos, abraam-nos, do-lhes o beijo. Trajar-se- do beijo da paz ou de uma exploso espontnea de alegria, no codificada pela liturgia? A catequese III de Papadopoulos leva a pensar que se trata mesmo do beijo da paz. o nico rito ps-batismal referido e explicado nesta ltima catequese. Prope o orador duas explicaes: beijo da paz, pelo qual nos perdoamos as nossas mtuas ofensas, antes de nos aproximarmos do altar e de receber a comunho, segundo o preceito que Cristo nos deu: Se apresentares a tua oferenda, etc.; mas tambm beijo mstico: O Esprito Santo faz de ns os templos de Cristo. Por conseguinte, ao beijarmos a boca uns dos outros, beijamos a entrada desse templo. Que ningum, portanto, d este beijo com m conscincia e com pensamentos ocultos. Pois um beijo santo. Abraai-vos, beijando-vos com um beijo santo.

Um passo do comentrio da Epstola aos Colossenses refere aqui a recitao do Pater, em conformidade com a liturgia dos mais antigos ordines srios e bizantinos: O que sai (das piscinas do batismo) diz imediatamente: Pai nosso que estais no Cu, etc.

Imediatamente aps terem sado das piscinas sagradas (catequese lI), depois da recitao do Pater (comentrio dos Colossenses) e do mstico beijo (catequese III Papadopoulos-Krameus), os nefitos so conduzidos mesa temvel, fonte de todos os bens, e saboreiam o corpo e o sangue do Senhor. Acabava a noite, o dia novo de Pscoa levantava-se, eternamente jovem, pois o dia que o Senhor faz. Uma aps outra, as estrelas desapareciam no firmamento, enquanto astros novos se levantavam na Terra. Oron, Arcturo, Vsper e Lcifer caminhavam para o seu fim. Crisstomo desejava que os astros recm-nascidos, na manh de Pscoa fossem todos estrelas da manh.

Antes de ler estes textos magnficos, devemos responder a uma ltima questo. Crisstomo pe-nos efetivamente perante uma sria dificuldade, pois em nenhum passo refere a consignao depois do batismo, na qual a teologia catlica v hoje o sacramento da confirmao. Cirilo de Jerusalm menciona explicitamente o rito da consignao, acompanhada, esta, de nova uno. Teodoro de Mopsuesto fala igualmente de uma uno aps o batismo: Quando, pois, tu sais da, pes uma veste toda resplandecente. O pontfice avana; marca-te na fronte e diz: F. est marcado em nome do Pai e do Filho e do Esprito Santo. Esta uno, segundo Teodoro, simboliza o dom do Esprito Santo, imagem do que se passou no batismo de Cristo, de maneira que tu tenhas este sinal que o Esprito Santo veio tambm sobre ti e que tu foste ungido por Ele e que o recebeste pela graa.

Deveremos concluir da nossa catequese e da sua equivalente na srie de Papadopoulos, na qual se no faz maior meno do rito, que em Antioquia se no praticava a consignao aps o batismo? S o silncio no argumento suficiente. Fico, porm, surpreendido por tambm no encontrar nenhuma referncia a esta consignao na catequese de Produs. Evoca este, de maneira oratria, os diversos ritos do batismo: A tua atitude exprime o sentido das aes que sobre ti so realizadas. Surges nu, como algum que regressa do inimigo e a quem este tomou o vesturio. Os teus ps atestam a pobreza pela nudez. Como se estivesses mergulhado no luto, que tu apareces coberto pelos cabelos. Como um indigente, ergues as mos para o cu. Tudo isso assim feito para que saibas em que despojamento de bens tu s acolhido pelo Senhor, como ele enriquece a tua nudez com a sua graa: pelo crisma, impregna-te ele do perfume das boas obras, torna-te brilhante pelo azeite, depes a corrupo na piscina, que tem a funo de tmulo, despertas com uma juventude renovada para a vida do esprito, o teu corpo veste-se de fatos brilhantes, as lmpadas que segurais nas mos simbolizam a iluminao da alma, e David entoa para vs a melodia de um cntico de vitria: Felizes so aqueles cujas iniqidades foram perdoadas e os pecados apagados.

Vimos encontrar neste texto a seqncia dos ritos j nossos conhecidos: despojamento do vesturio, uno antes do batismo, batismo, e alguns dados novos, as vestes brancas, as velas que os recm-baptizados seguram, e o cntico do salmo 33, no decurso da liturgia batismal.

As festas dos nefitos prolongavam-se, em Antioquia, por sete dias, semelhana das festas do casamento carnal, que duravam igual nmero de dias. Os nefitos assistiam todos os dias sinaxe e Crisstomo dirigia-lhes uma exortao apropriada, como por exemplo a srie das catequeses IV-VIII, ou as homilias sobre a Inscrio dos Atos dos Apstolos. Estas pregaes nada tm de comum com as catequeses mistaggicas de Cirilo de Jerusalm, igualmente proferidas ao longo da semana pascal.

Nessas pregaes, Crisstomo surge j no como mistagogo, mas como severo moralista e mestre de vida espiritual. So dois os motivos que o levam a pregar esta nova quaresma espiritual. Por um lado, sabe que a natureza humana nunca to fraca como quando se deixa embalar no sono; por outro lado, nunca o inimigo da alma mais encarniado em nos tentar do que quando nos v a alma enriquecida dos maiores tesouros. Sem se cansar, prega Crisstomo, por conseguinte, a sobriedade de esprito qual a espiritualidade monstica d tanta importncia, o desprezo dos bens deste mundo e a contemplao dos bens celestes. E, se os exemplos que ele nos prope so diversos, aqui Paulo e Cornlio, alm Abrao ou os santos mrtires, e de novo Paulo, a lio que nos inculca sempre a mesma: evitar o mal da tibieza e da indiferena, essa , ocasio e fonte de todas as quedas; fundar a alma na sobriedade e vigilncia espiritual. Que os recm-baptizados saibam que infinitamente mais fcil conservar o brilho do seu batismo, por meio deste esforo firme, do que reencontr-lo depois do pecado, pela via das lgrimas e da penitncia. Crisstomo, em suma, prega a moral do esforo, de que ele se fez arauto, em Constantinopla como em Antioquia. No que ele desconhea o papel primacial da graa, mas a graa que no superabunda precisamente seno onde encontra a alma bem disposta, , na expresso que nele continuamente encontramos. No vou insistir nesta pregao moral de Crisstomo. A este respeito no h, nas homilias IV-VIII, temas verdadeiramente novos. Talvez se preferisse que Crisstomo continuasse o mistagogo das primeiras catequeses. Mas o ensinamento moral que ele nos ministra nas ltimas homilias no de menor valia, pois de que serviria termos recebido to grandes dons de Deus, se, por negligncia nossa, os perdssemos to depressa!

As oito catequeses que descobrimos no mosteiro atnita de Stavronikita pouco so no conjunto da obra literria de Crisstomo, pois esta imensa perfaz dezoito volumes da Patologia de Migne. Mas no perde o ano por farto. Montfaucon, que trabalhou mais do que ningum para recolher e aumentar a obra de So Joo Crisstomo, sentiu-se pago dos seus trabalhos pela descoberta da coleo das onze novas homilias. Escreve ele, com efeito, no prefcio do tomo XIII, que o ltimo da sua edio: No foi sem xito que empreendemos esta tarefa, pois recolhemos nos manuscritos grande nmero de textos que ainda no tinham sido publicados. o caso nomeadamente do tomo XII, onde o erudito leitor, certamente com prazer, ler onze novas homilias ilustres que trazem contributo importante para a histria desse tempo.

Depois de Montfaucon pouco se acrescentou obra do Boca de Ouro. E, o mais das vezes, esse pouco no passa de peas duvidosas ou manifestamente indignas do grande doutor. Excepo nica so as trs admirveis catequeses publicadas por Papadopoulos-Krameus, mas que permaneceram infelizmente muito pouco conhecidas dos admiradores das belas-letras gregas e de Crisstomo. As oito catequeses de Stavronikita constituem, assim, o contributo mais importante para a obra de So Joo Crisstomo a partir da edio de Montfaucon, que j tem mais de dois sculos.

Mas o interesse das novas catequeses est no assunto delas, tanto como na sua novidade. Hoje, que a Igreja se retempera nas fontes vivas da tradio e a liturgia do batismo e da iniciao crist reencontra a sua primitiva importncia, tinha interesse conhecer a pensamento do grande doutor da Igreja do Oriente sobre estes pontos. As catequeses de Crisstomo vm, na altura prpria, fornecer-nos um aprecivel elemento para a teologia do batismo e para a pastoral da liturgia pascal.

OBRA: HOMILIAS CATEQUTICAS DE NOSSO PAI S. JOO CRISSTOMO, ARCEBISPO DE CONSTANTINOPLA, PARA OS QUE VO SER ILUMINADOS E PARA OS NEFITOS.

CATEQUESE I

Aos que vo ser iluminados

O catecmeno convidado ao casamento espiritual

1. Tempo de alegria e de regozijo espiritual este em que estamos! Pois eis que chegaram, como finalidade do nosso desejo e do nosso amor, os dias das npcias espirituais! Podemos, na verdade e sem engano, chamar npcias ao que hoje se cumpre; e no somente npcias, mas ainda admirvel e inslito alistamento. Mas no v algum pensar que os termos sejam contraditrios: ouamos, antes, o bem-aventurado Paulo, doutor universal; recorreu ele s duas imagens, ao dizer em certo passo: Desposei-vos com um s esposo; 1Cor 11,2 apresentei-vos a Cristo como virgem pura. E noutro passo, como se armasse soldados no momento de irem para a guerra, ao dizer tambm: Revesti-vos da armadura de Deus para que possais resistir s ciladas do demnio [...]. Ef 6,11

2. [Na verdade], hoje h alegria no cu e na terra. cf. Lc 15,7 Com efeito, se to grande o regozijo por um s pecador que se converte, com mais forte razo, por uma multido to grande que, num s impulso e rindo-se das ciladas do diabo, veio ao rebanho de Cristo para nele se inscrever com ardor, a alegria apodera-se no s dos anjos e dos arcanjos e de todas as potestades do alto, como tambm de todas as criaturas terrestres.

3. Procuremos, ento, falar-vos como esposa que deve ser introduzida na cmara santa das npcias; e, dando-vos a conhecer a riqueza enorme do esposo e a bondade inefvel de que ele d provas esposa, faamo-lhe ver a esta de que males est libertada e de que bens vai gozar. Se me permitis: ponhamos em evidncia, primeiramente, o que a ela diz respeito, e vejamos onde est, com que disposio se encontra quando o esposo a recebe. Pois ser assim que melhor transparecer a infinita bondade do soberano Senhor. De modo algum foi a graa ou a beleza dela que lhe inspiraram amor, nem sequer a primavera do corpo, quando ele a recebeu: no, ela era feia, e disforme, e maculada toda de ignomnia, e, por assim dizer, totalmente mergulhada no lamaal dos seus pecados. E, tal como ela se encontrava, mandou-a ele transpor o limiar da cmara nupcial.

4. Que ningum, ao ouvir estas palavras da nossa boca, tropece em sombria interpretao carnal. Da alma e da sua salvao que ns falamos. E o bem-aventurado Paulo, essa alma de celestial talento, ao dizer Desposei-vos como um s esposo; 2Cor 11,2 apresentei-vos a Cristo como virgem pura, mais no quis dizer que eram as almas a caminho da piedade que ele uniu a Cristo como virgem pura.

5. Com o esprito bem esclarecido a este respeito, conheamos sem rodeios qual era a deformidade anterior da esposa, para mais admirarmos a bondade do Senhor. O que haver de mais feio do que a alma que abandonou a preeminncia, que o seu atributo, que se esqueceu da nobreza que lhe vem do alto, que prodigamente se punha ao servio de dolos de pedra e de madeira, de animais irracionais, de objetos ainda mais indignos; que no cheiro a gordura queimada, no banho de sangue, nas fumaas [do culto pago] mais feia se tornava? Pois da que provm o enxame inconstante dos prazeres, as orgias, a embriaguez, cf. Rm 13,13 os vcios e todas as ignomnias que deleitam os demnios, que desta maneira so servidos.

6. Ao ver a alma nesse estado e como precipitada no fundo do abismo do pecado, no impudor da sua nudez, o bom Senhor no olha nem fealdade, nem demasiada misria, nem grandeza dos seus males. O Senhor mostra a sua excessiva bondade abrindo-lhe os braos, com as disposies de que d testemunho pelo seu profeta, que diz: Ouve, filha! V e presta ateno: esquece o teu povo e a casa de teu pai, e o rei h de enamorar-se da tua beleza. Sl 45 11-12

7. V como, desde a prpria origem, ele revela a bondade que a sua: digna-se chamar sua filha quela que deste modo se perverteu e prostituiu com os demnios impuros. E no tudo. Lembra-te de que no pede contas algumas dos pecados e no exige a justa expiao deles. Unicamente a exorta e convida a prestar ateno, assim como a aceitar a exortao e as censuras, e f-la comprometer-se a esquecer completamente o passado.

8. Viste a inefvel bondade de Deus? Viste a sua solicitude excessiva? O bem-aventurado David dirigiu outrora estas palavras ao universo inteiro, que se encontrava nesta triste situao. Chegou agora para ns o momento de, perante os que desejam o jugo de Cristo e acorrem a este alistamento espiritual, proclamarmos estas palavras e dizermos a cada um dos presentes, mudando um tanto os termos do profeta: Esquecei-vos completamente do vosso passado, vs, os novos soldados de Cristo; lanai no olvido a vossa censurvel libertinagem. Ouvi e prestai ateno, e aceitai esta admoestao salutar! cf. Sl 45,11

9. Ouve - diz o salmista, filha, v e presta ateno; esquece o teu povo e a casa de teu pai. Tu vs que , na verdade, a mesma exortao que o profeta dirigiu ao universo inteiro e que ns dirigimos hoje vossa caridade. Ao dizer esquece o teu povo, quis ele significar a idolatria, a iluso e o culto dos demnios. E a casa de teu pai, isto , esquece o teu comportamento anterior que te levou a este repugnante estado. Lana o olvido sobre todo esse passado e expulsa do esprito tudo que possa reproduzir-to. Faz isto somente, renuncia ao teu povo e casa de teu pai, isto , ao fermento velho e malcia com que gastaste a frescura da alma ao mesmo tempo que a do corpo, e o rei h de enamorar-se da tua beleza.

10. Tu vs, bem-amado, que na verdade da alma que se trata, pois a fealdade natural do corpo no pode ser mudada em beleza, visto o Senhor ter criado imutvel e invarivel a Natureza. Pelo contrrio, esta mudana fcil, mesmo muito fcil, para a alma. Isto, porqu? Isto, como? que, neste domnio, depende tudo do livre arbtrio e no da Natureza. Deste modo, possvel a uma alma disforme e horrenda, se ela nisso consentir, ser transformada no mesmo instante, chegar ao apogeu da beleza, voltar a ser bela e radiosa, assim como tambm pode em compensao, se ela se deixar arrastar, ir dar ao ltimo grau da fealdade. assim, pois, que o rei se h de enamorar da tua beleza, se te esqueceres do passado, ou, como diz o profeta, do teu povo e da casa de teu pai.

0 casamento um grande mistrio

11. Tu viste a bondade do Senhor? No foi, pois, em vo nem sem razo que eu, ao comear este discurso, chamei npcias espirituais ao que aqui se realiza. Nos casamentos carnais, na verdade, impossvel jovem esposa unir-se ao esposo, se no se esquecer dos pais e dos que a alimentaram, ao mesmo tempo que transfere sem restrio todos os seus pensamentos para o esposo, que a ela se vai unir. Por isso que o bem-aventurado Paulo, quando tambm ele falou desta matria, lhe chamou um mistrio. Depois de ter dito: Por isso o homem deixar o pai e a me e se unir sua mulher, e sero dois em uma s carne, ao ponderar a grandeza do que se realizou, no exclamou ele na sua comoo: grande este mistrio! Ef 5,31-32

12. Sim, na verdade grande. E que inteligncia humana poder alguma vez compreender a natureza do que se realizou, ao pensarmos que a jovem esposa, alimentada pelo leite materno, enclausurada em casa, ela, que os pais julgaram do seu dever rodear de tanta solicitude para a educar, chegada a hora das npcias, olvida logo primeira, num momento, as dores daquela que a deu ao mundo! Ela olvida os outros cuidados todos, o meio familiar, os vnculos da ternura, tudo, numa palavra, e transfere todos os seus pensamentos para aquele que antes daquela noite no tinha visto jamais. Tudo na sua nova situao se transformou a tal ponto que este homem doravante tudo para ela e ela o considera seu pai e sua me, seu esposo e todos os termos que se quiser. Ela j no se lembra dos que a alimentaram ao longo de tantos anos; e to estreita a unio dos dois esposos, que j nem sequer so dois, mas um s.

13. Foi isso que o primeiro homem vislumbrou com o seu olhar proftico, ao dizer: Ela se chamar mulher, porque foi tomada do homem. Por isso, o homem deixar o seu pai e a sua me e se unir sua mulher; e sero os dois uma s carne. Gn 2,23-24 O mesmo, na verdade, poderamos dizer do homem: tambm ele olvida os pais e a casa paterna para se unir e ligar quela que lhe foi ligada nessa noite. E, para nos mostrar o rigor deste vnculo, a Escritura divina no diz Ele se unir mulher, mas sim Ele prender-se- sua mulher. E no ainda o bastante, pois acrescenta: E sero os dois uma s carne. Por isso, Cristo, ao citar este texto, disse: De maneira que eles j no so dois, mas uma s carne. Esto eles a tal ponto unidos e soldados Mt 19,6 que os dois j no formam seno uma s carne! Diz-me: que entendimento poder alguma vez imaginar coisa assim? Que esprito poder compreend-la? O bem-aventurado doutor universal no tinha ele razo ao falar de um mistrio? E no apenas de um mistrio, mas ao dizer: grande este mistrio. Ef 5,32

14. Se, pois, nas realidades sensveis o casamento um mistrio e um grande mistrio, como poderamos falar com dignidade destas npcias espirituais? Agora, neste domnio em que tudo espiritual, v e examina como as coisas se passam ao invs do que acontece na ordem sensvel. No que respeita ao casamento carnal, jamais esposo algum aceitaria casar-se sem se ter informado da beleza da mulher, do seu encanto fsico, e no apenas disto, mas tambm, e antes de mais, dos bens de que ela goza.

15. Neste domnio, nada que se parea. Porqu? porque o que se realiza de ordem espiritual, e o nosso esposo, levado pelo seu amor dos homens, corre salvao das nossas almas. Ainda que sejamos feios ou disformes, miserveis no ltimo grau, sem ascendncia conhecida, escravos, lixo, corpos desfeitos, pecadores esmagados sob o peso das prprias culpas, o esposo nada contesta, de nada se informa, no pede contas. H dom gratuito, generosidade, graa da parte do Senhor. Uma coisa s nos pede ele: o olvido do passado e boas disposies para o futuro.

Contrato e presentes do casamento espiritual

16. Tu viste o excesso da graa! Tu viste a que esposo so unidas as almas dceis ao chamamento! Vejamos agora, se quiserdes, as conseqncias destas npcias msticas. Nos casamentos carnais estabelecido um contrato de dote e trocam-se presentes. O esposo traz os presentes e a futura esposa, o dote. Poderamos esperar que no casamento espi