Upload
joao-paulo-alcantara
View
218
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
7/24/2019 5074-25077-1-PB
1/26
DOI: 10.12957/geouerj.2013.5074
Geo UERJ - Ano 15, n. 24, v. 1, 1 semestre de 2013 p. 181-206
ISSN: 1415-7543E-ISSN: 1981-9021http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/geouerj
EPISDIOS PLUVIAIS EXTREMOS E A VULNERABILIDADE
SOCIOAMBIENTAL DO MUNICPIO DE FORTALEZA:
Oevento do dia 27/03/2012
EXTREME PLUVIAL EPISODES AND SOCIOENVIRONMENTAL
VULNERABILITY IN THE CITY OF FORTALEZA:
The eventofday 03/27/2012
Joo Lus Sampaio OlmpioGegrafo, mestrando em Geografia (UFC)
Universidade Federal do [email protected]
Patrcia Mena Barreto VieiraBacharel em Servio Social (UECE)
Coordenadoria Municipal de Defesa Civil de [email protected]
Maria Elisa ZanellaGegrafa, Dr. em Meio Ambiente e Desenvolvimento (UFPR)
Universidade Federal do [email protected]
Marta Celina Linhares SalesGegrafa, Dr. em Geografia Fsica (USP)
Universidade Federal do [email protected]
Resumo
Este artigo trata da relao entre os episdios pluviaisextremos e a vulnerabilidadesocioambiental, bem como os resultados desta interaona organizao dos espaosurbanos, tendo-se como rea de estudo a cidade de Fortaleza-CE. O processo deconstituio do territrio desta cidade implicou na ocupao de reas ambientalmentefrgeis por populaes socialmente vulnerveis, resultando na formao de espaos deriscos, expostos durante os episdios pluviais intensos, como o ocorrido no dia27.03.2012. Utilizaram-se como referenciais tericos a abordagem socioambiental e oSistema Clima Urbano. Objetivou-se a compreenso dos sistemas atmosfricos indutoresde precipitaes intensas, bem como se analisou os elementos naturais e sociaisformadores dos riscos naturais e as consequncias negativas sobre o espao de Fortaleza.Constatou-se que ocorreu a associao da ZCIT, VCAS e CCM para a produo dasinstabilidades atmosfricas do referido dia. Foram identificados e espacializados osimpactos hidrometericosna cidade, enfatizando-se o agravamento das condies de riscosnaturais e a desorganizao do espao urbano em anlise.
7/24/2019 5074-25077-1-PB
2/26
DOI: 10.12957/geouerj.2013.5074
Geo UERJ - Ano 15, n. 24, v. 1, 1 semestre de 2013 p. 181-206
ISSN: 1415-7543E-ISSN: 1981-9021http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/geouerj
Palavras-chaves: Vulnerabilidade Socioambiental, Episdios Pluviais Extremos,Abordagem Socioambiental, SCU, Fortaleza.
AbstractThis article is about the relationship between the extreme pluvial episodes and thesocioenvironmental vulnerability, as well as the results of this interaction in theorganization of the urban spaces. The area of study is the city of Fortaleza-CearaState,Brazil. The process of urbanization of this cityresulted in the occupation of vulnerableenvironmental areas by an unprivileged socioeconomic population, resulting in thecreation of spaces of risk, exposed during the intense pluvial episodes, as that happened atMarch, 27th 2012. It was used as theoryreferential the socioenvironmental approach andthe Urban Climate System. The objective of the understanding of weather systems thatinduce intense rainfall, as well as were analyzed the former social and natural elements ofnatural risks and the negative consequences about the space of Fortaleza. It was found a
combination of ZCIT, VCAS and CCM in the production of atmospheric instabilities ofthe day. It was identified and spatialized the hydrometric impacts in the city, emphasizingthe aggravation of the natural risk conditions and the disorganized of the urban space inanalysis.
Key-words: Socioenvironmental Vulnerability, Extreme Rainfall Episodes, ApproachSocioenvironmental, UCS, Fortaleza.
Introduo
Produto das relaes conflituosas entre a sociedade e a natureza, os desastres
naturais so eventos cada vez mais comuns e danosos s populaes, causando
sentimentos e explicaes diferenciadas em cada parcela da sociedade. Muitas so as
hipteses para explic-los, normalmente apontam-se os responsveis pelassuas
manifestaes, mas, infelizmente, poucos so os que se vm como participantes deste
processo e que indicamaes viveis para reduo dos riscos e a soluo dos problemas
antes, durante e depois da ocorrncia dos desastres.
O discurso no entorno dessa problemtica, no se restringe mais ao meio
acadmico, mas alcana a sociedade como um todo. Na impressa, na poltica e nas
conversas do cotidiano, temascomo desenvolvimento sustentvel, mudanas climticas
e desastres naturais, outrora restritos a certos grupos intelectuais, so cada vez mais
comuns. Todavia, h um notrio superficialismo sobre tais questes, por vezes h o
surgimento de verdades absolutas sem uma real comprovao cientfica, outros
7/24/2019 5074-25077-1-PB
3/26
DOI: 10.12957/geouerj.2013.5074
Geo UERJ - Ano 15, n. 24, v. 1, 1 semestre de 2013 p. 181-206
ISSN: 1415-7543E-ISSN: 1981-9021http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/geouerj
atribuem os impactos destes eventos a foras sobrenaturais onde o homem apresenta-se
com um ser passvel ao processo de constituio dos riscos, alm dos exageros e
subestimo por parte de grupos especficos.
Diante da magnitude dos eventos catastrficos que ocorrem em outras partes do
mundo, por muito tempo afirmou-se que no Brasil no havia desastres. Mas ento como
explicar os atuais impactos, na verdade de longa histria, que vm atingindo o Brasil?
As regies Sul e Nordeste se reversam em perodos muito secos e muito chuvosos, no
Norte os desvios pluviais apresenta-se severos, nas reas urbanas frequente a
divulgao de notcias relacionadas s inundaes e aos deslizamentos. Nestes termos,
como explicar tal problemtica cada vez mais frequenteem um territrio que dizem no
haver desastres? Quem contribui para a formao destes novos cenrios? So perguntasnovas e cada vez mais cobradaspela sociedade, cabendo aos pesquisadores buscar as
suas respostas.
Neste sentido, a procura de respostas perpassa por um conhecimento integrado
que envolva as cincias naturais, sociais e exatas, de modo que cadauma possa d sua
contribuio na busca do entendimento destes novos cenrios, assim como a elaborao
de propostas e tecnologias para a soluo da referida problemtica. Entre estes ramos do
conhecimento, toma destaque a Geografia Socioambiental uma vez que estasefundamenta na compreenso do meio ambiente como o produto da relaoentre
sociedade e natureza, dada por um processo constante de transformao, resultando em
estados momentneos de harmonia e conflito. Tal abordagem expe o cenrio de
constituio dos riscos, desastres e vulnerabilidadesambientais.
Neste sentido, atribuir somente natureza os danos decorrentes dos desastres
naturais um equvoco (VEYRET; RICHEMOND, 2007). Mas cabe explic-los a partir
do papel do homem cada vez mais incisivo, em funo das mudanas que proporcionasobre a dinmica dos sistemas ambientais e na formao de sociedades vulnerveis, e
principalmente de grupos especficos dentro de uma mesma sociedade.
Este cenrio marcante na cidade de Fortaleza. Situada na poro setentrional
do Nordeste brasileiro, o seu stio urbano (Figura 1) atingido periodicamente por
eventos pluviais extremos, causando a desorganizao do espao em questo.
Acrescenta-se que parcela significativa da populao habitante possui alta
7/24/2019 5074-25077-1-PB
4/26
DOI: 10.12957/geouerj.2013.5074
Geo UERJ - Ano 15, n. 24, v. 1, 1 semestre de 2013 p. 181-206
ISSN: 1415-7543E-ISSN: 1981-9021http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/geouerj
vulnerabilidade socioambiental, j que grupos sociais especficos residem em espaos
naturais susceptveis s adversidades dos fenmenos naturais. O crescimento espacial
desordenado da cidade remonta aos sculos XIX e XX, quando a populao citadina
amplia-se rapidamente em decorrncia das migraes rural-urbano, motivadas pelas
secas que impactavam os sertes interioranos (COSTA, 2007). Tal situao retrata a
ausncia de um planejamento territorial em nvel estadual e municipal. No primeiro
caso, destaca-se a ineficcia da gesto dos desastres naturais, especificamente sobre as
secas do semirido, e em nvel municipal remonta a precariedade do ordenamento
urbano, ao evidenciar a ocupao de terrenos imprprios para a habitao pelas
populaes menos abastadas.
Figura 1 Mapa de localizao do municpio de Fortaleza.
O territrio de Fortaleza marcado pela significativa diversidade social,
econmica e natural, resultando em cenrios ambientais diferenciados e em espaos que
reagem de forma distinta s manifestaes abruptas da dinmica ambiental. Neste
sentido, no espao urbano observam-se situaes de misria e riqueza, riscos e
amenidades, conflitos e harmonias, indicando a segregao socioespacial e
socioambiental reinante (ZANELLA et al, 2009).
7/24/2019 5074-25077-1-PB
5/26
DOI: 10.12957/geouerj.2013.5074
Geo UERJ - Ano 15, n. 24, v. 1, 1 semestre de 2013 p. 181-206
ISSN: 1415-7543E-ISSN: 1981-9021http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/geouerj
A vulnerabilidade socioambiental desta cidade resulta do uso inadequado de
determinados espaos sujeitos a uma dinmica natural singular ou decorrente de
atividades e intervenes humanas que pem em risco parcela da populao. Em
Fortaleza, o processo de crescimento urbano favoreceu a ocupao de ambientes
frgeis,marcados por processos especficos que por vezes entram em conflito com a
dinmica social presente, de modo que periodicamente geram-se situaes de crise.
Ademais, a histrica carncia em aes de planejamento e de ordenamento territorial
no permitiram a implantao das infraestruturas necessrias s atividades urbanas,
promovendo-se diversos impactos socioambientais.
Grosso modo, a vulnerabilidade socioambiental de Fortaleza mais crtica sobre
as plancies dos rios Cear/Maranguapinho e do Coc e na plancie litornea, os quaisapresentam uma ocupao espontnea por populaes socialmente vulnerveis,
resultado de um processo de segregao socioambiental, historicamente vigente nas
cidades brasileiras.
Inundaes, alagamentos, deslizamentos e soterramentos so as principais
manifestaes da dinmica natural,promovendo danos sobre os indivduos vulnerveis.
Entretanto, as condies ambientais e socioeconmicas impem outros riscos de ordem
tecnolgica e social, como o risco de contaminao biolgica e qumica, violncia,desemprego/subemprego, incndios, exploses, desabamentos, entre outros. Formam-se
verdadeiras bacias de risco, que em aluso as bacias hidrogrficas, so reas para
onde convergem diversos riscos(REBELO, 2008).
Nestes termos, a presente pesquisa buscou analisar a dinmica socioambiental do
espao urbano de Fortaleza durante a ocorrncia de um episdio pluvial extremo
ocorrido em 27 maro de 2012. Assim, atravs da Abordagem Socioambiental e do
Sistema Clima Urbano (SCU), objetivou-se compreender a dinmica atmosfricaassociando-a aos impactos promovidos no espao urbano.
Materiais e mtodos
7/24/2019 5074-25077-1-PB
6/26
DOI: 10.12957/geouerj.2013.5074
Geo UERJ - Ano 15, n. 24, v. 1, 1 semestre de 2013 p. 181-206
ISSN: 1415-7543E-ISSN: 1981-9021http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/geouerj
Este trabalho fundamentou-se em dois referenciais tericos de cunho geogrfico
e ambiental, a saber: a Abordagem Socioambiental, proposta por Mendona (2002,
2004, 2010) e o Sistema Clima Urbano (SCU)elaborado por Monteiro(1976,2011).
Conforme explicita Mendona (2002), a problemtica ambiental que se
configura no decorrer do sculo XX, exigiu novas reflexes dos gegrafos, na busca de
respostas e solues que retratem a complexidade do meio ambiente, produto construdo
atravs das inter-relaes mantidas entre a sociedade e a natureza. Neste sentido, fez-se
eminente a ruptura com a clssica dicotomia entre as Geografias Fsica e Humana, mas
caminhou-se na direo de integr-las em um todo, assim como se mostram na
realidade, resultando numa Geografia dita Socioambiental.
A Abordagem Socioambiental um referencial de cunho sistmico e complexo,que busca a unidade do conhecimento geogrfico sobre o meio ambiente,
fundamentando-se no produto das relaes entre os sistemas da sociedade e os da
natureza, de modo que o meio ambiente encontra-se em constante processo de
transformao, resultado da dinmica socioambiental construda (MENDONA, 2002).
Caracteriza-se pela multi e interdisciplinaridade, portanto no se limita a um mtodo
especfico, mas abarca tanto os mtodos das cincias sociais como os das naturais,
visando o entendimento e a soluo da problemtica ambiental evidenciada, entretantosem negligenciar a construo de mtodos prprios, embasados na reflexo
socioambiental posta.Recentemente, Mendona (2011), traz uma reflexo acerca da
abordagem dos riscos, resilincia e das vulnerabilidades socioambientais urbanas,
associadas aos eventos climticos extremos.
Com efeito, se faznecessrio que o estudo sobre os riscos e desastres naturais
ocorra sobre a perspectiva anteriormente apresentada, tendo em vista que tal
problemtica o produto combinado em um mesmo espao e tempo de fenmenosnaturais, associados aos processos humanos que modelam o espao natural em funo
de suas necessidades, com destaque ao espao urbano, devido intensidade das
intervenes. Por vezes, esta relao produz desarmonias ainda pouco entendidas, mas
geradoras de danos expressivos para ambos os lados deste conjunto.
Quanto ao SCU, este consiste em um referencial que analisa os eventos
climticos de forma sistmica, produto das relaes estabelecidas entre os elementos
7/24/2019 5074-25077-1-PB
7/26
DOI: 10.12957/geouerj.2013.5074
Geo UERJ - Ano 15, n. 24, v. 1, 1 semestre de 2013 p. 181-206
ISSN: 1415-7543E-ISSN: 1981-9021http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/geouerj
climticos, naturais e os construdos pelo homem, resultando na produo de climas
urbanos especficos e diferenciados do seu entorno. Assim, a compreenso do clima
urbano parte do entendimento da dinmica climtica regional associada aos processos
antropognicos que modificam a superfcie terrestre (MONTEIRO, 1976, 2011).
Neste referencial, a anlise geogrfica do clima e dos seus agentes produtores
pode ser enfocada sob trs grandes conjuntos do universo climtico, que devem ser
dirigidos aos canais da percepo sensorial humana. Assim, o SCU pode ser analisado
sob os subsistemas termodinmico, fsico-qumico e hidrometerico (MONTEIRO,
1976; 2011). Este ltimo foi empregado na presente pesquisa, visando oentendimento
da variabilidade temporal e espacial das precipitaes extremas e suas repercusses
sobre a populao fortalezense e no seu respectivo territrio.
Procedimentos tcnico-operacionais
Foram selecionados 15 Postos de Coleta de Dados (PCD)situados na Regio
Metropolitana de Fortaleza (RMF), visando verificar a distribuio espacial das chuvas,
correlacionando-as com os fatores atmosfricos e ambientais que influenciam nesta
variabilidade. Assim,utilizou-se4 postos no municpio de Fortaleza, na qual seroanalisados os impactos hidrometericos, retratando o ambiente urbano costeiro. Com
relao aos demais postos,5 estavam na zona costeira dos municpios vizinhos e 6 em
setores da depresso sertaneja, logo recebendo menos influncia do oceano (Figura 2).
Os dados foram disponibilizados pela Fundao Cearense de Meteorologia e Recursos
Hdricos (FUNCEME), sendo obtidos em escala diria, de modo que foram mensurados
os valores mdios da srie histrica, o valor acumulado para o ms de maro de 2012 e
os totais dos dias 27 e 28 deste ms para cada posto.
7/24/2019 5074-25077-1-PB
8/26
DOI: 10.12957/geouerj.2013.5074
Geo UERJ - Ano 15, n. 24, v. 1, 1 semestre de 2013 p. 181-206
ISSN: 1415-7543E-ISSN: 1981-9021http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/geouerj
Figura 2 Mapa de localizao dos Postos de Coleta de Dados.
Aps a coleta dos dados, foram realizadas tabulaes no software Excel,
buscando analisar a variabilidade diria das chuvas, ressaltando o comportamento
habitual e excepcional das precipitaes, alm do exame dos valores totais no dia do
episdio pluvial aqui enfatizado. Para a anlise da distribuio espacial das
precipitaes foi empregado o software Surfer 10, adotando-se como mtodo
geoestatstico a Krigagem. Este se baseia na Teoria das Variveis Regionalizadas, demodo que supe que a distribuio espacial de um determinado fenmeno
estatisticamente homognea em uma rea em anlise (MARCUZZO; ANDRADE;
MELO, 2011).
Tambm foram analisadas as imagens dos satlites meteorolgicos Meteosat-9
(composio colorida) e Goes-12 (realada), disponibilizadas pelo Centro de Previso
de Tempo e Estudo Climtico (CPTEC), alm da leitura das cartas sinpticas fornecidas
pela Diretoria de Hidrografia e Navegao (DHN), visando interpretar a gnese e aevoluo dos sistemas atmosfricos.
Com relao aos impactos hidrometericos, foram coletados dados de
ocorrncias de danos junto a Defesa Civil Municipal de Fortaleza, sendo posteriormente
analisados, classificados e espacializados em um Sistema Informao Geogrfica (SIG)
por meio do software ArcGis 9.3.
7/24/2019 5074-25077-1-PB
9/26
DOI: 10.12957/geouerj.2013.5074
Geo UERJ - Ano 15, n. 24, v. 1, 1 semestre de 2013 p. 181-206
ISSN: 1415-7543E-ISSN: 1981-9021http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/geouerj
Riscos, vulnerabilidade socioambiental e impactos hidrometericos
A ocorrncia de eventos pluviomtricos extremosrevela o grau de
vulnerabilidade socioambiental a que estexposta cada parcela da populao citadina,
indicando as contradies socioespaciais e socioambientais do espao urbanoe,
consequentemente, apontaquais os indivduos so mais susceptveis dinmica natural,
bem como os fatores que os colocam em situao de risco.
Entende-se por vulnerabilidade socioambiental a situao em que espaos
naturais vulnerveis so ocupados por populaes que no tem meios prprios ou
auxlio externo efetivo para resistir e superar as adversidades dos ambientes dos quais se
apropriaram, de modo que as mesmas encontram-se expostas aos riscos de desastresambientais (DESCHAMPS, 2004; ZANELLA et al, 2009).
Conforme Deschamps (2004), a vulnerabilidade socioambiental forma-se
quando populaes socialmente vulnerveis habitam os espaos naturalmente
vulnerveis. Assim, a autora expressa que:
H uma estreita relao entre a localizao espacial dos grupos queapresentam desvantagens sociais e aquelas reas onde h risco de ocorreralgum evento adverso, ou seja, populaes socialmente vulnerveis selocalizam em reas ambientalmente vulnerveis. (DESCHAMPS, 2004,p.140).
Mendona (2010) ao tratar da vulnerabilidade socioambiental urbana, expe que
a mesma evidencia a heterogeneidade espacial dos riscos, relevando as diferenciaes
socioespaciais de cada parcela da sociedade e a complexidade do espao urbano.
Neste sentido, a vulnerabilidade socioambiental est intimamente vinculada aos
riscos de desastres ambientais. Entende por riscos ambientais a situao de
probabilidade de que um evento ambiental danoso atue sobre uma populao e seusbens materiais e imateriais reconhecidamente vulnerveis, causando danos e prejuzos
(ISDR, 2004). Nestes termos, os riscos somente ocorrem na presena simultnea de um
evento ambiental perigoso e de uma vulnerabilidade socioambiental. Portanto, so
produtos das relaes de mtuas entre sociedade e natureza.
Na literatura cientfica h uma concordncia que os riscos ambientais podem ser
classificados em naturais, tecnolgicos e sociais, embora se reconhea que esta
7/24/2019 5074-25077-1-PB
10/26
DOI: 10.12957/geouerj.2013.5074
Geo UERJ - Ano 15, n. 24, v. 1, 1 semestre de 2013 p. 181-206
ISSN: 1415-7543E-ISSN: 1981-9021http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/geouerj
compartimentao meramente didtica,visando a especializao do conhecimento. A
realidade mostra-se mais complexa, de modo que frequentemente estes riscos ocorrem
conjuntamente no mesmo espao. Tal situao comumente vivida pelas populaes
mais vulnerveis, habitantes de espaos sujeitos s adversidades dos sistemas naturais,
tecnolgicos e sociais ou das relaes entre eles.Este trabalho foi realizado sobre os
riscos naturais, especialmente sobre os originados de episdios pluviais concentrados,
representando variaes extremas aos padres habituais ao ritmo climtico
(MONTEIRO, 2011).
Dinmica Climtica Regional
Grosso modo, as precipitaes no estado do Cear obedecem a uma
sazonalidade, onde h um perodo curto e irregular de chuvas concentradas em 3 a 6
meses do primeiro semestre do ano, principalmente entre fevereiro a maio, seguido por
um perodo de estiagem prolongado. Entretanto, a dinmica climtica regional
caracteriza-se por uma elevada variabilidade interanual, de modo que frequentemente
ocorrem desvios negativos e positivos significativos em relao s mdias
pluviomtricas, estando relacionados com as alteraes na configurao normal dacirculao atmosfrica global, destacando as interaes oceano-atmosfera no Pacfico e
no Atlntico Intertropical (MOLION; BERNARDO, 2002). Ademais, as precipitaes
tambm apresentam uma m distribuio espacial,principalmente em funo dos efeitos
dos fatores geogrficos locais e regionais (ZANELLA, 2007). A seguir so apresentadas
as caractersticas dos principais sistemas atmosfricos atuantes no estado do Cear,
destacando-se a ZCIT, o VCAS e o CCM, uma vez que a associao destes sistemas
produziu o episdio pluvial extremo aqui analisado.
A Zona de Convergncia Intertropical (ZCIT) o principal sistema atmosfrico
responsvel pela determinao da intensidade do perodo chuvoso. Consiste em uma
banda de nuvens, formada na confluncia dos ventos Alsios, sobreposta ao equador
trmico, migrando entre os hemisfrios ao longo do ano. No Nordeste, a ZCIT provoca
chuvas de vero-outono, perodo no qual se encontra em sua posio mais
7/24/2019 5074-25077-1-PB
11/26
DOI: 10.12957/geouerj.2013.5074
Geo UERJ - Ano 15, n. 24, v. 1, 1 semestre de 2013 p. 181-206
ISSN: 1415-7543E-ISSN: 1981-9021http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/geouerj
meridional,resultando em uma maior conveco e aumento das instabilidades
atmosfricas (FERREIRA; MELLO, 2005; MENDONA-DANNI-OLIVEIRA, 2007).
O Vrtice Ciclnico de Ar Superior (VCAS) corresponde a um conjunto de
nuvens formadas no oceano Atlnticopelo turbilhonamento do ar em altos nveis,
possuindo uma forma circular, girando em sentido horrio e realizando um percurso de
leste para oeste (MOURA, 2008). A borda do VCAS corresponde a uma rea de baixa
presso, portanto possibilitando a formao de nuvens e a ocorrncia de chuvas.
Entretanto, o centro uma rea de alta presso, onde o ar realiza um movimento de
subsidncia, limitando a formao de nuvens.
Os Complexos Convectivos de Meso escala (CCM) so aglomerados de nuvens
formados a partir de condies locais favorveis, como as caractersticas do relevo,presso, temperatura, etc., gerando chuvas de curta durao e de forte intensidade, com
perodo de vida mdio de 10 a 20 horas (FERREIRA; MELLO, 2005). Nesta pesquisa,
estes trs sistemas so fundamentais, uma vez que a associao dos dois primeiros, em
macro escala, resultou no terceiro em meso escala, produzindo uma situao
atmosfrica instvel e geradora deuma chuva de carter excepcional para a cidade de
Fortaleza e, consequentemente, gerando diversos impactos neste territrio.
Tambm ocorrem outros sistemas atmosfricos, como asLinhas de Instabilidade,as Ondas de Leste e as brisas martimas.No segundo semestre do ano o estado passa a
sofrer a influncia do Anticiclone do Atlntico Sul, associado Massa Equatorial
Atlntica,provocando estabilidade no tempo (ZANELLA, 2007).
Entretanto, a intensidade e a regularidade das precipitaes encontram-se
vinculadasaos padres termodinmicos da atmosfera acima dos oceanos Pacfico e
Atlntico, criando anomalias na circulao atmosfrica tropical, com destaque as
perturbaes nas clulas de Walker e Hadley, provocando desvios positivos e negativosna pluviosidade no Nordeste brasileiro. Tais alteraes produzem os fenmenos
ocenico-atmosfricos de El Nio/La Nia e do Dipolo do Atlntico (FERREIRA;
MELLO, 2005).
O aquecimento das guas do Pacfico produz o fenmeno de El Nio, o qual
tende a inibir as chuvas na regio em foco, favorecendo a ocorrncia de anos secos e
muito secos. Em contrapartida, o resfriamento das guas gera o fenmeno La Nia,
7/24/2019 5074-25077-1-PB
12/26
Geo UERJ -
http:/
favorecendo a ocorrncia
melhor distribudas no t
chuvosos(XAVIER, 2011;
O Dipolo do Atlnt
Atlntico Norte e Sul.
principalmente nas reas A
guas esto mais aquecida
3), h uma tendncia de
anos de neutralidade do P
tampouco de La Nia, a
Superfcie do Mar (TSMsituao, tanto podem oc
favorecendo a ocorrncia d
O episdio de 27 de mar
Os episdios pluvi
Fortaleza, fruto das influsistemas atmosfricos caus
Figura 3 reas para o
DOI: 10.12957/
Ano 15, n. 24, v. 1, 1 semestre de 2013 p. 181-206
ISSN: 1415-7543E-ISSN: 1981-9021www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/geouerj
de chuvas, por vezes acima das mdias e
mpo, resultando em anos habituais, ch
MONTEIRO, 2011).
ico forma-se pela diferena de temperatura e
uanto as guas no Atlntico Sul esto
e B, a situao favorvel as chuvas, no en
no Atlntico Norte, especialmente nas re
iminuio das precipitaes (XAVIER, 2
acfico Equatorial, no havendo o predom
pluviosidade encontra-se comandada pela
no Atlntico Equatorial. Xavier (2004)orrer desvios positivos como negativos
e eventos climticos intensos.
de 2012
is concentrados so fenmenos recorrentes
ncias dos eventos ocenico-atmosfricosadores de instabilidade no espao em anlise.
lculo da TSM do Atlntico Intertropical. F2001.
eouerj.2013.5074
, possivelmente,
vosos e muito
ntre as guas do
mais aquecidas,
tanto, quando as
s C e D (Figura
01). Porm, em
nio do El Nio,
Temperatura da
xpe que nestaa pluviosidade,
no municpio de
lobais sobre os
nte:XAVIER,
7/24/2019 5074-25077-1-PB
13/26
DOI: 10.12957/geouerj.2013.5074
Geo UERJ - Ano 15, n. 24, v. 1, 1 semestre de 2013 p. 181-206
ISSN: 1415-7543E-ISSN: 1981-9021http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/geouerj
Zanella, Sales e Abreu (2009) identificaram queentre os anos de 1974 a 2006,
ocorreram 115 episdios pluviais concentrados (> a 60 mm/24h)e que apenas 3 anos
no registraram esse tipo de episdio. Alm disso, verificaram que h uma tendncia de
anos com maiorfrequncia de episdios durante os anos de La Nia e que alguns anos
com situao atmosfrica diferenciada apresentaram um nmero significativo de
episdios concentrados.
O episdio de 29.01.2004 foi analisado por Zanella e Mello (2006). Os autores
constataram que este episdio foi provocado pela associao de uma ZCIT com um
VCAS e que as chuvas dos dias 27 e 28 possibilitaram que as precipitaes do dia do
evento j encontrassem condies hidrolgicas crticas.
Com relao s precipitaes no ano de 2012, estas foram marcadas por umairregular distribuio temporal, com predominncia de chuvas de pouca intensidade,
abaixo da situao habitual para este perodo do ano, resultando em uma das secas mais
severas j registradas, associadasa alguns eventos pluviais concentrados.
Dos 182 dias entre janeiro a junho de 2012, 84 dias (46,15%) no apresentaram
nenhuma precipitao e 74 (40,66%) registraram totais dirios entre 0,1 a 10 mm em 24
horas, portanto de intensidade inexpressiva. Estas duas classes formaram o padro
pluviomtrico do primeiro semestre do ano de 2012, encontrando-se bem distribudopor todos os meses, inclusive na quadra chuvosa. Em seguida, 20 dias (10,99%)
registraram precipitaes entre 10 a 60 mm/24h, sendo entendidas como normais ao
padro pluviomtrico da regio, portanto os impactos so facilmente assimilados pela
sociedade. Tambm ocorreram dois eventos(1,10%) entre 60 a 100 mm/24h, que
provocaram danos significativos, mas dentro da capacidade de suporte da populao
fortalezense, necessitando apenas de medidas para reduzi-los ou elimina-los. Por fim,
foram registrados dois (1,10%) eventos superiores a 190 mm/24h, enquadrando-oscomo episdios pluviais extremos, geradores de impactos bastante expressivos,
necessitando de uma gesto mais eficiente dos riscos naturais. O primeiro ocorreu em
27 de maro, a partir da associao entre a ZCIT, o VCAS e o CCM, produzindo 196,5
mm/24h, sendo este analisado na presente pesquisa. O outro episdio ocorreu 23 de
junho pelas Ondas de Leste, provocando 196,6 mm/24h. Destaca-se que estas duas
7/24/2019 5074-25077-1-PB
14/26
DOI: 10.12957/geouerj.2013.5074
Geo UERJ - Ano 15, n. 24, v. 1, 1 semestre de 2013 p. 181-206
ISSN: 1415-7543E-ISSN: 1981-9021http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/geouerj
precipitaes correspondem a 16,43% e 16,44%, respectivamente, do total
pluviomtrico acumulado entre janeiro a julho de 2012 (Figura 4).
Figura 4 Dias com chuvas entre janeiro a junho de 2012, por intensidade em 24 horas.Fonte de Dados: FUNCEME Posto Meteorolgico do Campus do Pici.
O episdio do dia 27.03.2012 foi provocado pela atuao conjunta da ZCIT
associada ao VCAS (Figura 5). Neste dia, a ZCIT encontrava-se compartimentada em
uma banda dupla de nuvens, uma principal sobre o oceano Atlntico, em torno de 2N,
e outra secundria, prxima zona costeira nordestina, entre 2 a 3S. Este sistema foi
atrado pela periferia doVCAS, formado durante a madrugada, de modo que umconjunto de nuvens carregadas migrou sobre a costa cearense.
Ms Total 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31
Jan 48,1
Fev 173
Mar 489
Abr 170
Maio 101
Jun 221
Legenda
Dias sem chuvas
Dias com chuvas entre 0,1 a 10 mm, em 24 horas
Dias com chuvas entre 10 a 60 mm, em 24 horas
Dias com chuvas entre 60 a 100 mm, em 24 horas
Dias com chuvas acima de 190 mm, em 24 horas
AB
ZCIT
V
C
A
S
7/24/2019 5074-25077-1-PB
15/26
DOI: 10.12957/geouerj.2013.5074
Geo UERJ - Ano 15, n. 24, v. 1, 1 semestre de 2013 p. 181-206
ISSN: 1415-7543E-ISSN: 1981-9021http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/geouerj
Figura 5 Configurao atmosfrica sobre o Brasil em 27 de maro de 2012. A)Imagem meteorolgica, obtida pelo sensor Meteosat9. B) Carta Sinptica. Fonte:
CPTEC/INPE, Marinha do Brasil.
Entretantouma anlise, em escala regional, da evoluo do evento permite
identificar a formao de um CCM, sobre o mar, prximo costa cearense. Em seguida,
este sistema migrou para o continente, adentrando pela costa de Fortaleza e dos
municpios vizinhos, encontrando condies adequadas que o intensificaram,
provocando instabilidades no tempo por aproximadamente14horas.No final da tarde, o
sistema enfraquece e se desloca sobre a costa, em direo ao Rio Grande do Norte
(Figura 6).
Figura 6 Formao e evoluo do CCM. A 00h:00min; B 02h:30min; C 07h:00min; D 15h:45min. Fonte: satlite Goes-12, CPTEC/INPE.
Este sistema contribuiu significativamente para a pluviosidade mensal, de forma
que o ms de maro de 2012 apresentou um total pluviomtrico de 55,98% acima da
mdia mensal (313,22 mm Estao Meteorolgica do Campus do Pici). Contudo, esta
situao de chuvas acima das mdias aparente, tendo em vista que as chuvas
concentraram-se no dia 27 e secundariamente no dia 28, representando 40,42% e
18,42% da precipitao mensal, sendo que nos demais dias as chuvas foram beminferiores (Grfico 1). Ressalta-se que em funo do horrio de coleta dos dados, o total
precipitado ficou compartimentado entre os dias 27 e 28, porm a chuva aconteceu em
menos de 24 horas.
A B DC
7/24/2019 5074-25077-1-PB
16/26
Geo UERJ -
http:/
Grfico 1 PluviosidadeEsta
Com relao expressiva variabilidade, s
pouco discutida em escal
fatores geogrficos locai
determinada regio.
Magalhes e Zanel
precipitaes na faixa litor
reduzindo-se medida qudecorre da disposio geog
do oceano (Linhas de In
adentram com direo pred
da zona costeirapermite qu
Este quadro pode ser obse
apresenta valores superiore
ultrapassando a isoieta 31
em direo ao setor sudoes
amplitude entre os extremo
DOI: 10.12957/
Ano 15, n. 24, v. 1, 1 semestre de 2013 p. 181-206
ISSN: 1415-7543E-ISSN: 1981-9021www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/geouerj
do ms de maro de 2012. Fonte de Dados:o Meteorolgica do Campus do Pici.
istribuio espacial das precipitaes,ituao comum na regio do semirido n
de maior detalhe. Tal diferenciao ocorr
que favorecem ou inibem as precipit
a (2011) demostram que na RMF h uma
nea dos municpios de Fortaleza, Eusbio e
se adentra no interior do estado. Conformrfica da costa, a qual recebe sistemas atmo
stabilidades, Ondas de Leste, brisas mar
ominantemente de NE. Acrescenta-se que a
os sistemas penetrem em setores mais afas
rvado na anlise da mdia pluvial do ms
s na costa oeste de Fortaleza, de Aquiraz e l
mm mdiamensal, entretanto, as chuvas te
te,com valores mdios prximos a 150 mm
s da ordem de 170 mm (Figura 7).
eouerj.2013.5074
FUNCEME -
bserva-se umardestino, porm
e em funo de
aes em uma
concentrao de
este de Caucaia,
os autores, istofricos oriundos
imas), as quais
topografia plana
ados do oceano.
e maro, o qual
este de Caucaia,
dem a diminuir
ensais, sendo a
7/24/2019 5074-25077-1-PB
17/26
DOI: 10.12957/geouerj.2013.5074
Geo UERJ - Ano 15, n. 24, v. 1, 1 semestre de 2013 p. 181-206
ISSN: 1415-7543E-ISSN: 1981-9021http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/geouerj
Figura 7 - Mapa da distribuio espacial da precipitao mdia mensal de maro. Fontede dados: FUNCEME.
No que tange ao ms de maro de 2012, nota-se que a distribuio das
precipitaes foi semelhante ao descrito anteriormente, contudo observa-se uma
concentrao das chuvas no setor oeste de Fortaleza, com valores superiores a 480 mm
mensal (Figura 8). Todavia, o sudoeste de Caucaia, regio com valores pluviomtricos
mdios inferiores, em maro de 2012 apresentou totais ainda mais reduzidos, de modo
que a amplitude pluviomtrica intensificou-se, apresentando 371,0 mm entre os
extremos. Esta configurao foi motivada pelo sistema atmosfrico do dia 27, o qual
atingiu, sobretudo, o setor oeste de Fortaleza, estacionando sobre a costa deste
municpio, de modo que as chuvas foram pouco sentidas nas reas mais interioranas.
Para enfatizar o reduzido total precipitado neste ano, destaca-se que a isoieta de 150 mm
deslocou-se aproximadamente 20 km para sul e para oeste.
Os registros de precipitao acumulada entre os dias 27 e 28 de maro indicamuma irregular distribuio espacial das chuvas, de modo que o sistema atmosfrico
apenas atingiu o carter de evento extremo nos setor oeste de Fortaleza (PCD Pici) e
leste de Caucaia (PCD Caucaia), em decorrncia do total precipitado, 287,5 mm e 170,4
mm, respectivamente (Grfico 2; Figura 9).
7/24/2019 5074-25077-1-PB
18/26
Geo UERJ -
http:/
Figura 8- Mapa da distrib
Grfico 2 Total precipi
Ressalta-se que al
amplitude em relao ao
extremas apenas ocorrera
situado na poro sul do
inferiores aos registrados
precipitao, indicando qu
DOI: 10.12957/
Ano 15, n. 24, v. 1, 1 semestre de 2013 p. 181-206
ISSN: 1415-7543E-ISSN: 1981-9021www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/geouerj
io espacial da precipitao acumulada emFonte de dados: Funceme.
ado nos dias 27 e 28 de maro de 2012 nosFonte de dados: Funceme.
uns postos registraram precipitaes redu
valor extremo do posto Pici, o que indic
em uma poro espacial restrita. O p
muncipio de Caucaia, que normalmente
na zona costeira, nos dias27 e 28 no
e o sistema no penetrou em pores mais
eouerj.2013.5074
maro de 2012.
CDs da RMF.
zidas e elevada
que as chuvas
sto Tucunduba,
apresenta totais
bteve nenhuma
interioranas do
7/24/2019 5074-25077-1-PB
19/26
DOI: 10.12957/geouerj.2013.5074
Geo UERJ - Ano 15, n. 24, v. 1, 1 semestre de 2013 p. 181-206
ISSN: 1415-7543E-ISSN: 1981-9021http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/geouerj
setor oeste da rea em anlise. O posto de Aquiraz, no municpio homnimo, o qual
tambm se encontra na zona costeira, apresentando mdias pluviais bastante elevadas
(segunda mdia pluviomtrica mais elevada com 318,35 mm mensais) registrou apenas
o valor de 12,4 mm no dia 28, provocado pela nebulosidade do CCM, mas quando este
j se encontrava enfraquecido e migrando para o litoral do Rio Grande do Norte.
Figura 9 Mapa do total acumulado das precipitaes dos dias 27 e 28 de maro de2012. Fonte de dados: Funceme.
No dia 27 tambm foram registradas precipitaes inferiores nos postos Castelo
(40,0 mm/24h), Messejana (7,2 mm/24h) e gua Fria (56,0 mm/24h), todos em
Fortaleza, distando do posto de Pici, 8,9, 15,5 e 14,9 Km, respectivamente. Os postos de
So Gonalo do Amarante e de Stios Novos, localizados no extremo oeste da rea em
anlise, apresentaram precipitaes superiores no dia 28, devido nebulosidade
associada ZCIT, atuante neste dia, ressalta-se que no dia 27 os valores precipitadosforam de 25,0 e 0,0 mm em 24h, indicando que o CCM pouco atuou nesta regio. No
total acumulado podem ser observadas precipitaes intensas nos postos de Maranguape
(63,2 mm) e Pacatuba (77,0 mm), resultando dos efeitos orogrficos das serras de
Maranguape e Aratanha.
7/24/2019 5074-25077-1-PB
20/26
DOI: 10.12957/geouerj.2013.5074
Geo UERJ - Ano 15, n. 24, v. 1, 1 semestre de 2013 p. 181-206
ISSN: 1415-7543E-ISSN: 1981-9021http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/geouerj
Neste sentido, os registros pluviomtricos apresentaram elevada amplitude, com
mximo no posto de Pici (287,5 mm) e mnimo em Tucunduba (0,0 mm), estando 22,5
km um do outro.
Impactos hidrometericos e vulnerabilidade socioambiental
As chuvas ocorridas durante o dia 27 de maro provocaram danos e prejuzos
significativos na cidade e na populao fortalezense, especialmente naquela usuria de
espaos considerados social e ambientalmente vulnerveis, portanto estando sujeita
dinmica hidroclimatolgica decorrente deste evento, bem como apresentandocondies sociais, econmicas, culturais e fsico-estruturais que inibem a capacidade de
resistncia e resilincia dos citadinos.
A anlise dos registros de ocorrncias da Defesa Civil Municipal de Fortaleza
para o dia 27 de maro aponta que os impactos concentraram-se, principalmente, sobre
a bacia hidrogrfica do rio Maranguapinho/Cear,correspondendo regio de Fortaleza
predominantemente habitada por uma populao socialmente mais vulnervel, estando
exposta s inundaes e aos alagamentos (Figura 10). Ressalta-se que, comodemonstrado anteriormente, o sistema atmosfrico indutor destes impactos ocorreu com
mais intensidade justamente sobre est poro de Fortaleza.
Neste sentido, observa-se que embora a magnitude do sistema atmosfrico seja
extrema, os danos resultantes foram mais significativos em funo da baixa capacidade
de resistncia, resilincia e de ajustamento da populao frente s manifestaes do
evento natural. Acrescenta-se a m gesto dos riscos naturais, ainda pouco desenvolvida
pelo Poder Pblico e pela prpria sociedade civil, estando as aes centradas na etapade resposta, sendo as medidas preventivas tmidas e pouco eficientes.
Nas demais bacias os impactos no foram frequentes, mas apresentando
considervel nmero de registros no setor norte da cidade, provocados
predominantemente por alagamentos. Na bacia do rio Coc foram pouco significativos,
estando relacionados s inundaes e ao risco de desabamento.
7/24/2019 5074-25077-1-PB
21/26
DOI: 10.12957/geouerj.2013.5074
Geo UERJ - Ano 15, n. 24, v. 1, 1 semestre de 2013 p. 181-206
ISSN: 1415-7543E-ISSN: 1981-9021http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/geouerj
Ao todo foram registradas 154 ocorrncias, sendo as inundaes e os
alagamentos os eventos que mais geraram danos, consequentemente desorganizaram o
espao e afetaram, direta e indiretamente, todas as atividades urbanas (Tabela 1). A
manifestao destes impactos hidrometericos resultou em diversos transtornos, como a
perda de utenslios domsticos, desabamentos, comprometimento do sistema de
circulao viria, trnsito confuso, prejuzos nas atividades econmicas, alm do
comprometimento da sade pblica, devido ao contato da populao com a gua,
normalmente, contaminada, bem como o aumento dos casos de dengue.
Figura 10 Mapa de localizao das ocorrncias de impactos hidrometericos para oepisdio de 27.03.2012. Fonte de dados: Defesa Civil de Fortaleza.
Um dos fatores intensificadores da amplitude espacial das inundaes e
alagamentos resulta do acmulo de resduos slidos nas galerias pluviais e nos canais
das drenagens, os quais obstruem a livre circulao das guas, alm de constiturem
locais propcios proliferao de vetores de doenas.
7/24/2019 5074-25077-1-PB
22/26
DOI: 10.12957/geouerj.2013.5074
Geo UERJ - Ano 15, n. 24, v. 1, 1 semestre de 2013 p. 181-206
ISSN: 1415-7543E-ISSN: 1981-9021http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/geouerj
Tabela 1 Tipologias dos impactos hidrometericos e bairros mais afetados
Tipologia de Ocorrncia Quantidade Bairros mais impactados
Inundao 50 Quintino Cunha, Geniba, Autran Nunes e Bom JardimAlagamento 73 Geniba, Quintino Cunha e Dom Lustosa,Incndio 4 gua Fria, Bom Jardim, Monte Castelo e Dom LustosaDeslizamento 1 Vila Velha
Desabamento 10Pici, Parangaba, Henrique Jorge, Joo XXIII, Coc, SoGeraldo, Siqueira, Barroso e Jardim Iracema
Risco de Desabamento 15 Geniba e JangurussuOutros 1 Cidade dos FuncionriosFonte de dados: Defesa Civil de Fortaleza.
Embora haja razovel conhecimento dos problemas decorrentes da poluio dos
corpos hdricos, a populao que vive em risco, por uma srie de fatores, no toma
iniciativa e nem recebe, de forma eficiente, as solues das entidades pblicas. Muitos
fatores explicam esta situao, mas algumas tomam nuanas mais significativas. Cita-se
que em alguns casos os indivduos que vivem em risco sabem das consequncias
advindas das chuvas extremas, mas por estes impactos serem uma possibilidade de
ocorrncia a populao prefere conviver com o risco, pois h a garantia da residncia,
mesmo que de forma ilegal. H tambm uma precariedade no conhecimento da
populao, motivada pela falta de experincia vivida com as inundaes, pelo baixo
nvel educacional e reduzido acesso s informaes, entre outros.Em seguida, os impactos mais registrados foram riscos de desabamento,
desabamentos e incndios, estando relacionados s ocupaes prximas dos corpos
hdricos, de pontos de alagamentos ou resultado da precariedade das residncias,
comumente construdas com materiais imprprios. Os incndios so provocados pela
associao entre os materiais de fcil combusto utilizados nas moradias, pela
precariedade do sistema eltrico, por vezes ilegais, e pela situao das residncias,
normalmente com infiltraes, gotejamentos ou mesmo inundadas. Tambm foiregistrada a ocorrncia de deslizamento nas dunas no bairro Vila Velha.
Os bairros que mais registraram impactos foram: Geniba, Quintino Cunha,
Dom Lustosa e Autran Nunes, todos integrantes da bacia do rio Maranguapinho/Cear e
estando associado ocupao das plancies de inundao destes cursos dgua.
Ressalta-se que a cidade passou por outros danos, embora de menor magnitude,
de modo que no foram informados Defesa Civil, como a abertura de buracos nas vias
7/24/2019 5074-25077-1-PB
23/26
DOI: 10.12957/geouerj.2013.5074
Geo UERJ - Ano 15, n. 24, v. 1, 1 semestre de 2013 p. 181-206
ISSN: 1415-7543E-ISSN: 1981-9021http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/geouerj
eacidentes de trnsito. Em alguns bairros no foi registrada nenhuma manifestao de
impactos, com destaque queles situados nos setores sul, nordeste e sudeste da cidade,
locais menos afetados pelo sistema atmosfrico. Alm disso, pores destes setores so
habitadas por grupos mais abastadas da cidade, portanto menos vulnerveis s
adversidades climticas.
Consideraes finais
Diante da problemtica, das discusses e dos produtos apresentados, constatou-
se que o espao urbano de Fortaleza extremamente heterogneo, revelando as
contradies socioespaciais e socioambientais presentes neste territrio, produzidas pela
vulnerabilidade socioambiental presente em cada parcela da cidade.
Neste sentido, as vulnerabilidades e os riscos se acentuam durante a ocorrncia
de episdios pluviais extremos, como o ocorrido no dia 27.03.2012. Este evento foi
formado, em macro escala, pela associao da ZCIT com um VCAS, sendo que emmeso escala a instabilidade produziu um CCM, resultando em uma precipitao
excepcional. A anlise da distribuio geogrfica das chuvas revelou que estas se
concentraram, sobretudo na zona oeste de Fortaleza, regio predominantemente
habitada por populaes mais vulnerveis, principalmente aquelas residentes nas
plancies da bacia dos rios Maranguapinho e Cear, de modo, que os principais
impactos foram as inundaes e os alagamentos das moradias e das vias de circulao,
alm de danos estruturais ao patrimnio pblico e privado.Nestes termos, o estudo dos riscos e vulnerabilidades passa essencialmente por
uma abordagem que busque analisar de forma integrada o complexo jogo de relaes
mantidas entre a sociedade, principalmente a urbana, e a natureza, visando o
entendimento da problemtica existente, bem como a criao de propostas aplicveis
para a soluo da mesma, dentro de uma gesto integrada em todos os nveis de
planejamento e de tomada de deciso.
7/24/2019 5074-25077-1-PB
24/26
DOI: 10.12957/geouerj.2013.5074
Geo UERJ - Ano 15, n. 24, v. 1, 1 semestre de 2013 p. 181-206
ISSN: 1415-7543E-ISSN: 1981-9021http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/geouerj
Referncias
COSTA, M. C. L. Fortaleza: expanso urbana e organizao de espao. In: SILVA, J.
B; CAVALCANTE, T. C; DANTAS, E. W.C. (Org.). Cear: um novo olhar geogrfico.2. ed. Fortaleza: Demcrito Rocha, 2007.
DEFESA CIVIL MUNICIPAL DE FORTALEZA.Relatrio Interno. Fortaleza, 2012.
DESCHAMPS, M. V. Vulnerabilidade Socioambiental na Regio Metropolitana deCuritiba.Curitiba: UFPR, 2004. 155p. Tese de Doutorado em Meio Ambiente eDesenvolvimento, Universidade Federal do Paran, Curitiba, 2004.
FERREIRA, A. G.; MELLO, N. G. S. Principais sistemas atmosfricos atuantes sobre aregio nordeste do Brasil e a influncia dos oceanos pacfico e atlntico no clima da
regio.Revista Brasileira de Climatologia. Presidente Prudente, v. 1, n. 1, p. 15-28,2005.
INTERNATIONAL STRATEGY FOR DISASTER REDUCTION - ISDR.Living withrisk: a global review of disaster reduction initiatives. Geneva: UN/ISDR, 2004.
MAGALHES, G. B; ZANELLA, M. E. Comportamento Climtico da RegioMetropolitana de Fortaleza.Revista Mercator, Fortaleza, v. 10, n. 23, p. 129-145, 2011.
MARCUZZO, F. F. N; ANDRADE, J. R; MELO, D. C. R. Mtodos de interpolaomatemtica no mapeamento das chuvas do Estado do Mato Grosso.Revista deGeografia Fsica, n. 4, p. 793-804, 2011.
MENDONA, F. Geografia socioambiental. In: MENDONA, F; KOZEL, S.(Org.).Elementos de epistemologia da geografia contempornea. Curitiba: Ed. daUFPR, 2002.
_____. Riscos, vulnerabilidade e abordagem socioambiental urbana: uma reflexo apartir da RMC e de Curitiba.Revista Desenvolvimento e Meio Ambiente, n. 10, p. 139-148, 2004.
_____. Riscos e vulnerabilidades socioambientais urbanos: a contingncia climtica.Revista Mercator, v. 9, n. 1, p. 153-163, 2010.
_____. Riscos, vulnerabilidades e resilincia socioambientais urbanas: inovaes daanlise geogrfica.Revista da ANPEGE, v.7, n. 1, p. 111-118, 2011.
MENDONA, F; DANNI-OLIVEIRA, I. M. Climatologia: noes bsicas. So Paulo:Oficina de Textos, 2007.
7/24/2019 5074-25077-1-PB
25/26
DOI: 10.12957/geouerj.2013.5074
Geo UERJ - Ano 15, n. 24, v. 1, 1 semestre de 2013 p. 181-206
ISSN: 1415-7543E-ISSN: 1981-9021http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/geouerj
MOLION; J. C. B; BERNARDO, S. O. Uma reviso da dinmica das chuvas noNordeste brasileiro.Revista Brasileira de Meteorologia, v.7, n. 1, p. 1-10, 2002.
MONTEIRO, C. A. F. Teoria e Clima Urbano: um projeto e seus caminhos. In:
MONTEIRO, C. A. F; MENDONA, F. (Org.). Clima Urbano. So Paulo: Contexto,2011.
______. Teoria e Clima Urbano. So Paulo: Universidade de So Paulo/ InstitutodeGeografia, 1976.
MONTEIRO, J. B. Chover, mas chover de mansinho: desastres naturais e chuvasextremas no Estado do Cear. Fortaleza: UECE, 2011, 198p. Dissertao de Mestradoem Geografia, Universidade Estadual do Cear, Fortaleza, 2011.
MOURA, M. O. O clima urbano de Fortaleza sob o nvel do campo trmico. UFC,2008. 318p. Dissertao de MestradoGeografia, Universidade Federal do Cear, 2008.
REBELO, F. Um novo olhar sobre os riscos? O exemplo das cheias rpidas (FlashFloods) em domnio mediterrneo. Territorium, v. 15, p. 7-14, 2008.
VEYRET, Y; RICHMOND, N. M. O risco, os riscos. In: VEYTET, Y (Org.). Os riscos:o homem como agressor e vtima do meio ambiente. So Paulo: Contexto, 2007.
XAVIER, T. M. B. S. Tempo de Chuva: estudos climticos e de previso para o Cear eNordeste Setentrional. Fortaleza: ABC Editora, 2001.
______. Chuvas em janeiro e fevereiro 2004 no Cear e dificuldades para previsodurante os anos neutros no Pacfico. In: Congresso Brasileiro de Meteorologia, 13.,2004. Fortaleza.Anais...Fortaleza: CBM, 2004.
ZANELLA, M. E. As caractersticas climticas e os recursos hdricos do Cear. In:SILVA, J. B; CAVALCANTE, T. C; DANTAS, E. W.C. (Org.). Cear: um novo olhargeogrfico. 2. ed. Fortaleza: Demcrito Rocha, 2007.
ZANELLA, M. E; MELLO, N. G. S. Eventos pluviomtricos intensos em ambienteurbano: Fortaleza, episdio do dia 29/01/2004. In: SILVA, J. B; DANTAS, E. W. C;ZANELLA, M. E; MEIRELES, A. J. A. (Org.).Litoral e Serto:natureza e sociedadeno nordeste brasileiro. Fortaleza: Expresso Grfica, 2006.
ZANELLA, M. E; SALES, M. C. L; ABREU, N. J. A. Anlise das precipitaes diriasintensas e impactos gerados em Fortaleza, CE. GEOUSP Espao e Tempo, n. 25, p.53-68, 2009.
ZANELLA, M. E; COSTA, M. C. D; PANIZZA A. C; ROSA, M. V. VulnerabilidadeSocioambiental de Fortaleza. In: DANTAS, E. W. C; COSTA, M. C. L. (Org.).
7/24/2019 5074-25077-1-PB
26/26
DOI: 10.12957/geouerj.2013.5074
Geo UERJ - Ano 15, n. 24, v. 1, 1 semestre de 2013 p. 181-206
ISSN: 1415-7543E-ISSN: 1981-9021http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/geouerj
Vulnerabilidade Socioambiental:na Regio Metropolitana de Fortaleza. Fortaleza:edies UFC, 2009.
Artigo recebido para publicao em janeiro de 2013.
Artigo aceito para publicao em junho de 2013.