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5 Exemplos de verificação 5.1. Considerações gerais Com o objetivo de verificar as novas implementações realizadas no programa, foram analisados vários exemplos a fim de comparar os resultados numéricos do GEOFLUX3D com resultados analíticos (quando disponíveis), experimentais (conhecidos na literatura) ou numéricos (programas comerciais de reconhecida confiabilidade). Os exemplos de verificação abordados neste capítulo encontram-se listados na tabela (5-1). Como pode se apreciar, o nível de complexidade destes exemplos foi incrementando-se a fim de testar todos os métodos de solução anteriormente apresentados. Tabela 5-1.- Exemplos de verificação. # Exemplo Tipo de análise 1 Infiltração em um solo estratificado parcialmente saturado Fluxo 2 Carregamento de uma sapata corrida rígida Tensão-deformação 3 Adensamento unidimensional Acoplamento linear 4 Adensamento bidimensional Acoplamento linear 5 Adensamento tridimensional Acoplamento linear 6 Carregamento de uma fundação de solo elastoplástico em condições não drenadas Acoplamento não linear 7 Ensaios triaxiais em amostras de solo parcialmente saturado Acoplamento não linear 5.2. Análises desacopladas 5.2.1. Análise do fenômeno de fluxo Este problema foi proposto por Forsyth et al. (1995) e representa um problema de infiltração bidimensional em solo estratificado parcialmente saturado. Segundo Forsyth et al. (1995), quando um solo estratificado apresenta graus de saturação próximos do residual na condição inicial, a solução numérica do problema torna-se bastante complicada em função da não linearidade originada pelas relações constitutivas hidráulicas. Por esta razão, este exemplo é um excelente teste para verificar o método de solução não linear (MNRA). A geometria do problema e as condições de contorno estão apresentadas na figura (5.1). A malha é composta por 9766 elementos TRIA3 e 5001 nós.

5.1. Considerações gerais - PUC-Rio€¦ · (5.4) a fim de simular uma sapata corrida rígida. A superfície de escoamento no plano desviador foi representada pelo hexágono de

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5 Exemplos de verificação

5.1. Considerações gerais

Com o objetivo de verificar as novas implementações realizadas no

programa, foram analisados vários exemplos a fim de comparar os resultados

numéricos do GEOFLUX3D com resultados analíticos (quando disponíveis),

experimentais (conhecidos na literatura) ou numéricos (programas comerciais de

reconhecida confiabilidade). Os exemplos de verificação abordados neste capítulo

encontram-se listados na tabela (5-1). Como pode se apreciar, o nível de

complexidade destes exemplos foi incrementando-se a fim de testar todos os

métodos de solução anteriormente apresentados.

Tabela 5-1.- Exemplos de verificação.

# Exemplo Tipo de análise 1 Infiltração em um solo estratificado parcialmente saturado Fluxo 2 Carregamento de uma sapata corrida rígida Tensão-deformação 3 Adensamento unidimensional Acoplamento linear 4 Adensamento bidimensional Acoplamento linear 5 Adensamento tridimensional Acoplamento linear 6 Carregamento de uma fundação de solo elastoplástico em

condições não drenadas Acoplamento não linear

7 Ensaios triaxiais em amostras de solo parcialmente saturado Acoplamento não linear

5.2. Análises desacopladas

5.2.1. Análise do fenômeno de fluxo

Este problema foi proposto por Forsyth et al. (1995) e representa um

problema de infiltração bidimensional em solo estratificado parcialmente

saturado. Segundo Forsyth et al. (1995), quando um solo estratificado apresenta

graus de saturação próximos do residual na condição inicial, a solução numérica

do problema torna-se bastante complicada em função da não linearidade originada

pelas relações constitutivas hidráulicas. Por esta razão, este exemplo é um

excelente teste para verificar o método de solução não linear (MNRA). A

geometria do problema e as condições de contorno estão apresentadas na figura

(5.1). A malha é composta por 9766 elementos TRIA3 e 5001 nós.

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Figura 5.1.- Geometria e malha de elementos finitos utilizadas na modelagem de um solo

não saturado estratificado submetido a infiltração.

Os parâmetros do modelo de van Genuchten, para cada estratificação ou

zona, estão listados na tabela (5-2) e a figura (5.2) apresenta as curvas

características obtidas com estes parâmetros. Observe que os parâmetros das

zonas 3 e 4 são similares, mas ksat da zona 4 e 10 vezes o valor da zona 3.

Tabela 5-2.- Parâmetros utilizados na análise do fenômeno de fluxo.

Parâmetros\zona 1 2 3 4 Unidades Permeabilidade saturada (ksat) 8,0611 4,7952 4,2319 42,319 [m/dia] Porosidade (n) 0,3680 0,3510 0,3250 0,3250 [-] Saturação residual ( r

lS ) 0,2771 0,2806 0,2643 0,2643 [-]

Parâmetro de Van Genuchten (vg) 3,3400 3,6300 3,4500 3,4500 [m-1] Parâmetro de Van Genuchten (nvg) 1,9820 1,6320 1,5730 1,5730 [-]

0.01 0.1 1 10 100 1000 10000s (kPa)

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

1.0

Sl (

-)

zona 1zona 2zonas 3 e 4

1E-005 0.0001 0.001 0.01 0.1 1 10 100kr ksat (m/dia)

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

1.0

Sl (

-)

zona 1zona 2zona 3zona 4

Figura 5.2.- Curvas características das zonas de solo utilizadas na análise de infiltração

em solo estratificado.

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Como condição inicial adotou-se uma carga hidráulica de pressão de -7,34m

em todo o modelo. Todos os contornos do modelo, exceto o trecho sujeito à

infiltração, foram considerados impermeáveis.

As tolerâncias utilizadas foram: ITOL = 10-4 e DTOL = 10-3. Os

incrementos de tempo adotados foram: t0 = 10-2dias; tmin = 10-3dias e tmax =

2dias. O tempo total de simulação foi Timetotal = 30dias.

A figura (5.3) apresenta os resultados dos contornos de graus de saturação

correspondentes a 40, 50 e 60% no final do período de simulação. Nesta figura, os

resultados do GEOFLUX3D foram comparados com aqueles obtidos

recentemente por Therrien et al. (2010), observando-se uma boa concordância. Da

figura (5.3) também pode ser observado que as taxas de infiltração não foram

suficientes para saturar nenhuma camada de solo após 30 dias de simulação.

0.0 1.0 2.0 3.0 4.0 5.0 6.0 7.0 8.0x (m)

0.0

1.0

2.0

3.0

4.0

5.0

6.0

y (m

)

Geoflux3D - Sl = 40%

Geoflux3D - Sl = 50%

Geoflux3D - Sl = 60%

Hydrogeosphere

Figura 5.3.- Contornos de saturação no solo após 30 dias de simulação.

5.2.2. Análise do fenômeno de tensão-deformação

Neste exemplo verificaram-se as implementações realizadas para o modelo

Cam-Clay Modificado. Para este fim, foi escolhido o problema proposto por

Sheng & Sloan (2003), que consiste na aplicação de deslocamentos prescritos na

superfície de uma argila normalmente consolidada, simulando uma sapata corrida

rígida. Segundo Sheng & Sloan (2003), a simulação deste tipo de problema é um

excelente teste para os algoritmos de solução, já que ocorre uma forte rotação das

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tensões principais ao redor da sapata. Por esta razão, este problema serviu para

verificar os métodos de integração de tensão (MIEA) e de solução não linear

(MNRA).

Devido à simetria da sapata, apenas a metade do problema é modelado no

estado plano de deformações, utilizando uma malha de 144 elementos QUAD8 e

481 nós, como mostra a figura (5.4). Os parâmetros utilizados na simulação

encontram-se listados na tabela (5-3).

Figura 5.4.- Geometria e malha de elementos finitos empregadas na simulação de uma

sapata corrida rígida sobre um solo normalmente consolidado.

Tabela 5-3.- Parâmetros utilizados na análise do fenômeno de tensão-deformação.

Parâmetros Valores Unidades Ângulo de atrito (ϕ’) 23,0 [°] Módulo de Poisson () 0,30 [-] Inclinação da LCN (λ0) 0,25 [-] Inclinação da LCD ( ) 0,05 [-] Peso específico dos grãos sólidos (s) 26,8 [kN/m3] Porosidade na LCN com p’=1kPa (n) 0,643 [-]

O estado inicial de tensão foi determinado aplicando as forças de corpo com

K0=0,72 e RPA =1,0.

Como condições de contorno, os deslocamentos horizontais foram restritos

nas linhas localizadas em x=0 e x=5B; já na linha localizada em y=0, os

deslocamentos foram restritos tanto na vertical quanto na horizontal.

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Deslocamentos verticais de 1,25B foram impostos no trecho indicado na figura

(5.4) a fim de simular uma sapata corrida rígida.

A superfície de escoamento no plano desviador foi representada pelo

hexágono de Mohr-Coulomb com o critério de arredondamento proposto por

Sheng et al. (2000).

As tolerâncias utilizadas foram: FTOL =10-6, ITOL = 10-5 e DTOL = 10-3.

Os incrementos de tempo adotados foram: t0 = 10-2unds; tmin = 10-3unds e

tmax = 50unds. Os deslocamentos prescritos foram aplicados em um tempo total

de simulação Timetotal = 1000unds.

A figura (5.5) apresenta a distribuição do estado de tensão, tanto no início

quanto no final da simulação. Verifica-se a rotação das tensões principais,

principalmente na região próxima à borda da sapata em que as tensões principais

máximas inicialmente tinham uma direção vertical e posteriormente rotacionaram

para a direção horizontal.

a) b)

Figura 5.5.- Distribuição das tensões principais: a) no inicio da simulação e b) no final da

simulação. Malha indeformada.

A figura (5.6) apresenta os resultados, obtidos por Sheng & Sloan (2003) e

pelo GEOFLUX3D, para o desenvolvimento das pressões na base da sapata em

função dos deslocamentos prescritos. Esta pressão na base da sapata foi calculada

como a soma das reações verticais dos nós que simulam a sapata corrida rígida.

Observa-se que ambos os resultados tiveram uma excelente concordância. No

final da simulação, o GEOFLUX3D determinou uma pressão de 26,7kPa,

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resultando numa diferença de 1,4% em relação à pressão determinada por Sheng

& Sloan (2003), que forneceu um valor de 27,1kPa.

0.00 0.25 0.50 0.75 1.00 1.25/B (-)

0

5

10

15

20

25

30P

ress

ão (

kPa

)

Geoflux3D

Sheng & Sloan, 2003

Figura 5.6.- Pressão na base da sapata versus deslocamentos prescritos.

5.3. Análises acopladas de problemas de adensamento linear

As análises apresentadas nesta seção são baseadas na teoria de Biot e tratam

do problema de adensamento de solos em uma, duas e três dimensões. Para

representar o fenômeno de tensão-deformação empregou-se o modelo elástico

linear e para representar o fenômeno de fluxo empregou-se o modelo de saturado.

Observe que pela adoção destes modelos, as matrizes globais devem permanecer

constantes durante todo o tempo das análises, e em consequência, a solução destes

problemas apenas dependerá do tamanho dos incrementos de tempo que sejam

escolhidos. Por esta razão, estes exemplos são excelentes testes para o método de

solução temporal implementado (MITA), já que se sabe que a solução dos

problemas de adensamento pode sofrer oscilações, principalmente nos instantes

iniciais de simulação.

5.3.1. Adensamento unidimensional

Este problema foi estudado inicialmente por Terzaghi (1943) e consiste no

adensamento de uma coluna de solo de altura L=15m pela aplicação de um

carregamento Q=10kPa no seu topo drenante, como ilustrado na figura (5.7).

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Figura 5.7.- Geometria e malha de elementos finitos empregadas na simulação de uma

coluna de solo saturado homogêneo submetida a um carregamento.

A coluna de solo saturado foi modelada com uma malha de 20 elementos

tipo BRICK8 e 248 nós. Os parâmetros do modelo encontram-se listados na tabela

(5-4). Como condição inicial, admitiu-se uma condição de equilíbrio hidrostático

com a superfície freática estabelecida no topo da coluna.

Como condições de contorno, nos nós correspondentes a este topo aplicou-

se uma pressão nula a fim de simular a condição drenante que produz o

adensamento do solo. Todas as outras superfícies do modelo foram consideradas

impermeáveis. Os deslocamentos horizontais em todos os nós foram restritos a

fim de caracterizar o adensamento unidimensional. Na base do modelo também

foram restritos os deslocamentos verticais.

Tabela 5-4.- Parâmetros utilizados na análise de adensamento unidimensional.

Parâmetros Valores Unidades Módulo de Young do esqueleto sólido (E) 1x105 [kPa] Módulo de Poisson do esqueleto sólido () 0,25 [-] Permeabilidade isotrópica saturada (ksat) 1x10-5 [m/s]

O carregamento foi aplicado incrementalmente em um período de tempo de

0,1s. Após este período o carregamento foi mantido constante até o final da

simulação. As tolerâncias utilizadas foram ITOL = 10-5 e DTOL = 10-3. Os

incrementos de tempo adotados foram t0 = 0,1s; tmin = 10-5s e tmax = 10s. O

tempo total de simulação foi Timetotal = 3600s.

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Observe que este problema satisfaz as hipóteses de desacoplamento de

Terzaghi, por tanto é possível obter soluções analíticas tanto para os excessos de

poropressão quanto para os deslocamentos verticais em toda a coluna de solo.

Neste sentido é necessário definir o “fator adimensional de Terzaghi” como

2v )21)(1(

)1(T

L

tEk

l

sat

(5.1)

Durante o processo de solução verificaram-se reduções do primeiro

incremento de tempo pelo método de solução temporal (MITA) até um valor de

7x10-4s. Após este subincremento de tempo, os novos incrementos de tempo

foram acrescidos até atingir o incremento de tempo máximo em 175s de

simulação.

A figura (5.8) apresenta as evoluções temporais, analítica e numérica, dos

excessos de poropressão normalizados na base da coluna, observando-se uma

excelente concordância nos resultados.

0.0001 0.001 0.01 0.1 1 10Tv

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

pl/Q

Geoflux3D

Terzaghi

Figura 5.8. Excesso de poropressão normalizado na base da coluna versus fator tempo.

Da mesma forma, as evoluções temporais, analítica e numérica, dos

deslocamentos no topo da coluna podem ser comparadas, como apresenta a figura

(5.9), observando-se novamente, uma excelente concordância de resultados.

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Exemplos de verificação

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0.0001 0.001 0.01 0.1 1 10Tv

-0.00140

-0.00105

-0.00070

-0.00035

0.00000

uz (

m)

Geoflux3D

Terzaghi

Figura 5.9. Deslocamentos verticais no topo da coluna versus fator tempo.

Finalmente, as figuras (5.10) e (5.11) apresentam os excessos de

poropressão e os deslocamentos verticais, respectivamente, obtidos pelas soluções

analítica e numérica, ao longo da coluna de solo em quatro instantes de tempo.

0 2 4 6 8 10pl (kPa)

-15

-12

-9

-6

-3

0

z (m

)

Geoflux3D - 60s

Geoflux3D - 600s

Geoflux3D - 1800s

Geoflux3D - 3600s

Terzaghi

Figura 5.10. Excesso de poropressão na coluna de solo em quatro instantes de tempo.

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-0.00140 -0.00105 -0.00070 -0.00035 0.00000uz (m)

-15

-12

-9

-6

-3

0

z (m

)

Geoflux3D - 60s

Geoflux3D - 600s

Geoflux3D - 1800s

Geoflux3D - 3600s

Terzaghi

Figura 5.11. Deslocamentos verticais na coluna de solo em quatro instantes de tempo.

Novamente, ambas as soluções apresentaram uma excelente concordância.

Das figuras (5.8) e (5.10) se observa que os excessos de poropressão foram

praticamente dissipados após os 3600s da simulação. Já nas figuras (5.9) e (5.11)

se observa que os maiores assentamentos ocorreram no topo da coluna, na ordem

de 1,25mm, valores estes baixos em função da elevada rigidez do solo em

comparação com o carregamento aplicado.

5.3.2. Adensamento bidimensional

Neste exemplo, proposto por Pinto (2004), modela-se o adensamento

bidimensional de um meio estratificado de baixas permeabilidades. Um

carregamento Q é aplicado em parte da superfície do solo da fundação, simulando

uma sapata corrida flexível que provoca deformações tanto na direção vertical

quanto na horizontal.

Devido à simetria da sapata, apenas a metade do problema é modelado no

estado plano de deformações, utilizando uma malha de 270 elementos QUAD8 e

877 nós, como mostra a figura (5.12). Os parâmetros utilizados na simulação

encontram-se listados na tabela (5-5). O solo mais superficial (solo 1) tem uma

profundidade de B/2=6m e o solo mais profundo (solo 2) tem uma profundidade

de 7B/6=14m.

Como condição inicial, foram aplicadas cargas hidráulicas totais de 20m em

todo o modelo.

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Figura 5.12.- Geometria e malha de elementos finitos empregadas na simulação de uma

sapata flexível sobre um solo heterogêneo.

Tabela 5-5.- Parâmetros utilizados na análise do adensamento bidimensional.

Parâmetros Valores Unidades Módulo de Young do esqueleto sólido no solo 1 (E1) 1x104 [kPa] Módulo de Poisson do esqueleto sólido no solo 1 (1) 0,0 [-] Permeabilidade isotrópica saturada no solo 1(ksat1) 36x10-5 [m/min] Módulo de Young do esqueleto sólido no solo 2 (E2) 4x104 [kPa] Módulo de Poisson do esqueleto sólido no solo 2 (2 ) 0,0 [-] Permeabilidade isotrópica saturada no solo 2(ksat2) 5,4x10-5 [m/min]

Como condições de contorno foram aplicadas cargas de pressão nulas sobre

os nós que simulam a sapata a fim de simular a condição drenante que produz o

adensamento do solo. No contorno localizado em x=5B/2 aplicou-se uma carga

total prescrita de 20m. Todos os outros contornos foram considerados

impermeáveis. Os deslocamentos horizontais foram restritos em x=0 e x=5B/2. Os

deslocamentos verticais foram restritos em y=0.

Um carregamento Q=200kPa foi aplicado incrementalmente em um período

de tempo total de 0,1min. Posteriormente, este foi mantido constante até a

completa dissipação dos excessos de poropressão.

As tolerâncias utilizadas foram: ITOL = 10-5 e DTOL = 10-3. Os

incrementos de tempo adotados foram: t0 = 10-1min; tmin = 10-2min e tmax =

50min. O tempo total de simulação foi Timetotal = 2000min.

Durante o processo de solução deste exemplo, novamente verificaram-se

reduções do primeiro incremento de tempo pelo método de solução temporal

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Exemplos de verificação

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(MITA) até um valor de 2x10-2min. Após este subincremento de tempo, os novos

foram acrescidos até atingir o incremento de tempo máximo em 764min de

simulação.

A figura (5.13) apresenta os excessos de poropressão obtidos pelo

GEOFLUX3D em dois instantes de tempo de simulação. No tempo t=16,5min, os

excessos de poropressão são elevados, em torno de 126,5kPa. Já no tempo

t=1914.5min, esses excessos são praticamente dissipados e deformações ocorrem

nas regiões próximas à sapata.

a) b) Figura 5.13.- Excessos de poropressão no solo simulados pelo GEOFLUX3D para dois

instantes de tempo: a) 16,5 minutos e b) 1914,5 minutos. Malha deformada com fator de

escala = 10.

Os resultados obtidos com o GEOFLUX3D foram comparados com aqueles

obtidos por Pinto (2004) empregando o programa ANLOG (Nogueira, 1998),

como mostra a figura (5.14). Observa-se que as soluções numéricas de ambos os

programas apresentaram uma excelente concordância.

0 20 40 60 80 100 120 140

Excesso de poropressão (kPa)

-20.0

-16.0

-12.0

-8.0

-4.0

0.0

Pro

fun

did

ade

(m

)

-0.18 -0.15 -0.12 -0.09 -0.06 -0.03 0

Deslocamentos verticais (m)

-20.0

-16.0

-12.0

-8.0

-4.0

0.0

tempo = 16,5min

tempo = 114,5min

tempo = 514,5min

tempo = 1914,5min

Abaqus

a) b)

Figura 5.14.- a) Excessos de poropressão e b) deslocamentos verticais ao longo do

plano de simetria para quatro instantes de tempo.

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Exemplos de verificação

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Na figura (5.14a) observam-se excessos de poropressão elevados nos

primeiros 16,5 minutos, principalmente na interface dos solos 1 e 2. Com o passar

do tempo, as poropressões se reduzem em ambas as camadas, mas com maiores

taxas no solo 1. Isto ocorre porque esta camada tem uma permeabilidade saturada

superior e porque está mais próxima ao contorno drenante. Da figura (5.14a)

observa-se que os excessos de poropressão em ambos os solos foram totalmente

dissipados após 1914,5min de simulação.

Na figura (5.14b) observa-se que ocorre um assentamento máximo de

16,5cm, valor este similar ao de 16,55cm obtido por uma simulação desacoplada

empregando o GEOFLUX3D.

5.3.3. Adensamento tridimensional

Neste exemplo se analisa o adensamento de uma argila saturada de baixa

permeabilidade que é submetida instantaneamente a um carregamento. Nestas

condições têm se observado, como nos exemplos de adensamento 1D e 2D, que é

a água que suporta inicialmente todo o carregamento, gerando poropressões da

mesma ordem de grandeza.

Entretanto, em alguns casos também têm se observado que estas

poropressões podem atingir valores superiores àquele do carregamento que foi

aplicado. Este comportamento paradoxo foi observado inicialmente por Mandel

(1953) através de ensaios triaxiais e posteriormente por Cryer (1963) através da

análise do adensamento de uma esfera. Assim, este fenômeno de adensamento

passou a ser conhecido na literatura como fenômeno de Mandel-Cryer.

Com o intuito de reproduzir o fenômeno de Mandel-Cryer, neste exemplo

empregou-se uma esfera de argila de baixa permeabilidade que sofre um repentino

incremento na sua pressão de confinamento. A geometria e a malha do modelo

são apresentadas na figura (5.15). Observe que, devido à simetria da esfera, o

modelo foi representado por apenas 1/8 desta, empregando-se uma malha

composta por 4835 elementos TETR4 e 990 nós.

Os parâmetros utilizados são apresentados na tabela (5-6). Como condição

inicial, as cargas hidráulicas de pressão em toda a esfera foram consideradas

nulas. A ação das forças gravitacionais foi desabilitada para este problema.

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Exemplos de verificação

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Figura 5.15.- Geometria e malha de elementos finitos empregadas na análise de uma

esfera de argila submetida a uma pressão confinante.

Como condições de contorno, os deslocamentos nos planos de simetria

foram impedidos nas suas respectivas direções normais. Estes planos de simetria

foram considerados impermeáveis e foi aplicada uma pressão nula na superfície

externa da esfera a fim de modelar uma condição drenante que gera o

adensamento.

Tabela 5-6.- Parâmetros utilizados na análise do adensamento tridimensional.

Parâmetros Valores Unidades Módulo de Young do esqueleto sólido (E) 1x104 [kPa] Módulo de Poisson do esqueleto sólido () 0,33 [-] Permeabilidade isotrópica saturada (ksat) 4,91x10-5 [m/s]

A pressão confinante foi aplicada incrementalmente em um período total de

0,6s. Após este período, esta pressão foi mantida constante até o final da

simulação. As tolerâncias utilizadas foram ITOL = 10-5 e DTOL = 10-3. Os

incrementos de tempo adotados foram t0 = 10-2s; tmin = 10-6s e tmax = 0,4s. O

tempo total de simulação foi Timetotal = 14s.

Gibson et al. (1963) apresentaram gráficos da solução analítica deste

problema, mostrando a evolução temporal da poropressão no centro da esfera.

Posteriormente, Wong et al. (1998) e Cruz (2008) utilizaram essas soluções

analíticas para validar suas soluções numéricas. Isto também foi realizado

empregando o GEOFLUX3D.

Durante o processo de solução deste exemplo, também se verificaram

reduções do primeiro incremento de tempo pelo método de solução temporal

(MITA) até um valor de 10-5s. Após este subincremento de tempo, os novos

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Exemplos de verificação

98

incrementos foram acrescidos até atingir um valor máximo de 0,07s em 2,15s de

simulação. O incremento de tempo máximo não foi atingido.

A figura (5.16) apresenta os resultados dos excessos de poropressão gerados

pelo carregamento em dois instantes de tempo da simulação. No tempo t=0,6s

observam-se excessos de poropressão elevados, em torno de 121kPa, que são

praticamente dissipados após 14 segundos de simulação.

Tempo = 0,6 segundos Tempo = 14 segundos

Figura 5.16.- Excessos de poropressão simulados para dois instantes de tempo.

Para efeitos de comparação entre os resultados analíticos e numéricos, a

poropressão no centro da esfera foi normalizada em relação à pressão de

confinamento e foi utilizado o fator adimensional de Terzaghi empregando o raio

da esfera no lugar de L na equação (5.1).

A evolução temporal da poropressão no centro da esfera é apresentada na

figura (5.17). Observa-se uma excelente concordância entre os resultados

analíticos e numéricos.

Nesta figura, verifica-se também o efeito de Mandel-Cryer, mediante o qual

a poropressão atinge valores superiores aos da pressão de confinamento

(poropressão normalizada acima da unidade). A solução numérica forneceu uma

poropressão normalizada máxima de 1,187 após 0,6s de simulação, enquanto que

a solução analítica forneceu 1,192, resultando num erro relativo de 0,42%.

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Exemplos de verificação

99

0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0raiz(Tv)

0.00

0.20

0.40

0.60

0.80

1.00

1.20

1.40

pl/P

cGeoflux3D

Gibson et al, (1963)

Figura 5.17.- Evolução temporal da poropressão normalizada no centro da esfera de

Cryer.

5.4. Análises acopladas de problemas não lineares

Após a análise dos exemplos de adensamento com acoplamento linear,

partiu-se para a análise de problemas com acoplamento não linear. Neste sentido,

os exemplos a seguir constituem testes mais rigorosos para os algoritmos de

solução desenvolvidos, principalmente para o método de solução não linear

(MNRA).

5.4.1. Carregamento de uma fundação de solo elastoplástico em condições não drenadas

Neste exemplo verificaram-se as implementações realizadas no modelo de

Mohr-Coulomb. Para este fim, foi escolhido o problema proposto por Sloan &

Abbo (1999b), consistente na aplicação de uma carga distribuída em condições

não drenadas na superfície de um solo saturado, simulando uma sapata corrida

flexível.

De acordo com Sloan & Abbo (1999b), a análise deste tipo de problema em

tensões efetivas é incapaz de modelar corretamente a capacidade de suporte do

solo de uma fundação, a menos que um ângulo de dilatância nulo seja utilizado.

Esta teoria foi inicialmente proposta por Small (1977), que verificou que o uso de

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Exemplos de verificação

100

um ângulo de dilatância não nulo produz uma queda no excesso de poropressão e

consequentemente, um ganho na resistência do solo quando submetido a

carregamentos em condições não drenadas.

O modelo e a malha utilizados nesta simulação são apresentados na figura

(5.18). Novamente, em função da simetria da sapata de comprimento B=2m,

apenas a metade da geometria foi modelada no estado plano de deformações,

utilizando uma malha de 190 elementos QUAD8 e 629 nós. Os parâmetros

utilizados são apresentados na tabela (5-7).

Figura 5.18.- Geometria e malha de elementos finitos empregadas na análise de um solo

elastoplástico com comportamento não drenado submetido a uma carga distribuída.

Tabela 5-7.- Parâmetros utilizados na análise com acoplamento não linear.

Parâmetros Valores Unidades Módulo de Young (E) 2x104 [kPa] Módulo de Poisson () 0,30 [-] Coesão (c’) 100,0 [kPa] Ângulo de atrito (’) 20,0 [DEG] Porosidade (n) 0,50 [-] Permeabilidade isotrópica saturada (ksat) 1,67x10-5 [m/s]

Como condição inicial, foram aplicadas tensões e cargas de pressão nulas

em todo o modelo.

Como condições de contorno, os deslocamentos horizontais foram

restringidos em x=0m e em x=8B enquanto que os deslocamentos verticais e

horizontais foram restringidos em y=0m. Um carregamento Q=1000kPa foi

aplicado incrementalmente até aproximar o colapso do solo.

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Exemplos de verificação

101

Para representar a superfície de escoamento de Mohr-Coulomb no plano

desviador, empregou o critério de arredondamento proposto por Abbo (1997), que

somente arredonda pequenas regiões próximas aos vértices do hexágono.

As tolerâncias utilizadas foram: ITOL = 10-5 e DTOL = 10-3. Os

incrementos de tempo adotados foram: t0 = 10-1s; tmin = 10-2s e tmax = 2s. O

tempo total de simulação foi Timetotal = 200s.

Sloan & Abbo (1999b) realizaram quatro simulações empregando diferentes

valores para o ângulo de dilatância (): 0°, 1°, 5° e 20°. Essas mesmas simulações

foram realizadas com o GEOFLUX3D.

A figura (5.19) apresenta os deslocamentos verticais da sapata no eixo de

simetria (x = 0m) em função do carregamento aplicado. Verifica-se uma excelente

concordância entre os resultados do GEOFLUX3D e aqueles apresentados por

Sloan & Abbo (1999b). Observa-se também que o comportamento linear elástico

do solo, para todos os ângulos de dilatância, permanece até um carregamento

aplicado de 300kPa. A partir desse valor, o solo começa a sofrer deformações

plásticas e o comportamento das quatro simulações torna-se diferente.

0 150 300 450 600 750 900

Carga (kPa)

-0.14

-0.12

-0.10

-0.08

-0.06

-0.04

-0.02

0.00

Des

loca

men

to v

ert

ical

(m

)

= 0o

= 1o

= 5o

= 20o

Sloan & Abbo (1999)

Pressão de colapso

Figura 5.19.- Deslocamentos verticais em função do carregamento no centro da sapata

flexível.

Na simulação com =0°, o solo está próximo do colapso para um

carregamento de 482kPa, reproduzindo a resposta obtida através de uma análise

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Exemplos de verificação

102

não drenada. Na simulação com =1°, o colapso do solo ocorre para uma

carregamento em torno de 525kPa. Já nas simulações com =5° e =20°, o solo

da fundação pode suportar carregamentos superiores daqueles obtidos para =0° e 

=1°. 

Estes comportamentos ocorrem porque, para o modelo de Mohr-Coulomb,

ângulos de dilatância não nulos produzem deformações plásticas negativas que

ocasionam uma queda no excesso de poropressão à medida que o carregamento

continua sendo aplicado. Em consequência, o solo aparentemente pode suportar

maiores cargas antes do colapso. Estes resultados confirmam o exposto por Small

(1977), que concluiu que análises em tensões efetivas com ângulos de dilatância

não nulos podem ir contra a segurança, superestimando a pressão de colapso de

um solo em condições não drenadas.

Para avaliar a influência que os critérios de arredondamento exercem nos

resultados, duas novas simulações foram realizadas empregando o exemplo

anterior com =0° e utilizando os critérios propostos por Abbo (1997) e Sheng et

al. (2000) junto com círculo de Drucker & Prager. A figura (5.20) apresenta os

deslocamentos verticais no centro da sapata em função da carga aplicada para

cada forma da superfície de escoamento no plano desviador.

0.0 100.0 200.0 300.0 400.0 500.0

Carga (kPa)

-0.14

-0.12

-0.10

-0.08

-0.06

-0.04

-0.02

0.00

Des

loca

men

to v

ert

ica

l (m

)

Mohr-Coulomb

Sheng-Sloan

Drucker-Prager

Figura 5.20.- Deslocamento vertical no centro da sapata em função da carga para cada

forma da superfície de escoamento no plano desviador.

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Exemplos de verificação

103

Observa-se que o critério de Drucker-Prager superestima a pressão de

colapso do solo, fornecendo baixos deslocamentos quando é aplicado um

carregamento de 483kPa. Neste caso, as deformações plásticas ocorrem a partir de

uma carga de 350kPa, isto é, 50kPa após o resultado correto. Comportamento

similar ocorre com o critério de Sheng et al. (2000); no entanto, este superestima a

pressão de colapso em um valor menor porque adota uma forma que se aproxima

mais àquela do hexágono de Mohr-Coulomb.

5.4.2. Ensaios triaxiais em amostras de solo parcialmente saturado

Neste exemplo verificaram-se as implementações realizadas para o modelo

Barcelona. Para este fim, foi escolhido o problema proposto por Sheng et al.

(2003b) que consiste na simulação de ensaios de compressão triaxial em amostras

previamente submetidas a diferentes sucções. A simulação deste tipo de problema

é um excelente teste para o algoritmo de integração de tensões (MIEA), já que

ocorre uma contribuição das sucções na definição das tensões constitutivas e das

superfícies de escoamento.

Os ensaios triaxiais foram simulados por Sheng et al. (2003b) em duas

fases. Na primeira fase, foram aplicados incrementos de sucção pela base das

amostras mantendo o valor inicial da pressão de confinamento. Estes incrementos

de sucção foram lentamente aplicados de tal forma que a sucção foi

uniformemente distribuída em todas as amostras. Na segunda fase, as amostras

foram comprimidas axialmente sob condições drenadas mantendo a sucção

atingida na fase anterior.

Observe que, como ocorre uma distribuição uniforme da sucção em ambas

as fases, estes ensaios podem ser modelados por um acoplamento parcial, já que

as sucções podem ser prescritas durante toda a simulação. Com isto, apenas os

deslocamentos constituem os graus de liberdade do problema; no entanto, a

contribuição da sucção, na avaliação das tensões constitutivas, ainda deve ser

avaliada. Análises deste tipo foram inicialmente adotadas na concepção do BBM e

continuam sendo muito utilizadas por alguns pesquisadores (Abed, 2008; Nian et

al., 2011a). Por esta razão, análises similares foram utilizadas na modelagem dos

ensaios triaxiais.

As amostras cilíndricas simuladas por Sheng et al. (2003b) tiveram 4cm de

diâmetro e 8cm de altura. Entretanto, devido à simetria das amostras, apenas uma

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Exemplos de verificação

104

quarta parte destas foi modelada utilizando uma malha de 70 elementos BRICK20

e 452 nós, como mostra a figura (5.21). Os parâmetros utilizados na simulação

encontram-se listados na tabela (5-8).

Figura 5.21.- Geometria e malha de 1 elemento finito empregadas na análise do ensaio

triaxial.

Tabela 5-8.- Propriedades mecânicas e hidráulicas das amostras utilizadas nos ensaios

triaxiais.

Parâmetros Valores Unidades Ângulo de atrito (ϕ’) 20,0 [DEG] Módulo de Poisson () 0,30 [-] Inclinação da LCN (λ0) 0,25 [-] Inclinação da LCD ( ) 0,05 [-] Peso específico dos grãos sólidos (s) 26,8 [kN/m3] Porosidade na LCN com p’=1kPa (n) 0,66 [-] Parâmetro para determinar λs (r) 0,75 [-] Parâmetro para determinar λs ( s ) 0,012 [kPa-1]

Saturação residual ( rwS ) 0,0 [-]

Permeabilidade isotrópica saturada (ksat) 10-8 [m/s] Parâmetro de Van Genuchten (vg) 1,0 [m-1] Parâmetro de Van Genuchten (nvg) 0,5 [-] Parâmetro de Van Genuchten (mvg) 1,0 [-]

Como condição inicial, aplicou-se uma tensão hidrostática de 20kPa em

todo o modelo das amostras com uma RPA=1,2. Cargas de pressão nula também

foram consideradas como condições iniciais.

Como condições de contorno, os deslocamentos horizontais na direção x

foram restringidos no plano x=0cm, os deslocamentos horizontais na direção y

foram restringidos no plano y=0cm e os deslocamentos verticais foram

restringidos no plano z=0cm. Na primeira fase do ensaio, sucções de 0kPa,

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Exemplos de verificação

105

100kPa e 200kPa, correspondentes aos três ensaios, foram aplicadas em 100

incrementos em todos o modelo. Na segunda fase, foram aplicados deslocamentos

verticais prescritos de -2cm na superfície z=4cm em outros 100 incrementos.

As tolerâncias utilizadas foram ITOL = 10-6 e DTOL = 10-3, STOL = 10-6,

FTOL = 10-6. Os incrementos de tempo adotados foram: t0 = 10-2unds;

tmin = 10-6unds e tmax = 1,0unds. O tempo total de simulação foi Timetotal =

200unds.

A figura (5.22) apresenta as curvas de tensão de desvio (q) em função da

deformação axial das amostras. Observa-se que, quando a amostra está saturada, o

máximo valor de q é de 20,11kPa; para uma sucção de 100kPa, este valor atinge

45,12kPa; e para uma sucção de 200kPa, atinge um valor de 58,3kPa. Desta

forma, verifica-se que os incrementos de sucção aumentam a resistência ao

cisalhamento da amostra. Nesta figura, verifica-se também a boa concordância

dos resultados obtidos com aqueles apresentados por Sheng et al. (2003b).

0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5

deformação axial

0.0

10.0

20.0

30.0

40.0

50.0

60.0

q(k

Pa)

s = 200kPas = 100kPas = 0kPaSheng et al. 2003

Figura 5.22.- Curvas de tensão de desvio (q) versus deformação axial para cada

amostra analisada.

A figura (5.23) apresenta diversas curvas de resultados das simulações dos

ensaios. Novamente, foram observadas boas concordâncias dos resultados do

GEOFLUX3D com aqueles obtidos por Sheng et al. (2003b). Nestas figuras, as

letras maiúsculas referem-se aos estágios do ensaio: (A) início da primeira fase

em todos os ensaios; (B) início da segunda fase; (C) fim do ensaio. Os números

que seguem as letras B e C indicam a sucção aplicada no ensaio.

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Exemplos de verificação

106

0.0 10.0 20.0 30.0 40.0 50.0 60.0 70.0 80.0p'(kPa)

0.0

50.0

100.0

150.0

200.0

250.0

s(kP

a)

s = 200kPas = 100 kPas = 0kPaSheng et al. 2003

A,B0

B100

B200

C0

C100

C200

0.0 10.0 20.0 30.0 40.0 50.0 60.0q(kPa)

0.0

50.0

100.0

150.0

200.0

250.0

s(kP

a)

s = 200kPas = 100kPas = 0kPaSheng et al. 2003

B100

A,B0

B200

C0

C100

C200

a) b)

0.0 10.0 20.0 30.0 40.0 50.0 60.0 70.0 80.0p'(kPa)

0.0

10.0

20.0

30.0

40.0

50.0

60.0

q(kP

a)

s = 200kPas = 100 kPas = 0kPaSheng et al. 2003LEC

A,B0

B100

B200

C200

C100

C0

0.0 10.0 20.0 30.0 40.0 50.0 60.0 70.0 80.0p'(kPa)

2.0

2.0

2.1

2.1

2.2

2.2

2.3

s = 200kPas = 100 kPas = 0kPaSheng et al. 2003

C100

B100 B200

A,B0

C0C200

c) d)

Figura 5.23.- Resultados das simulações dos ensaios triaxiais com sucção controlada.

Nas figuras (5.23a-b), apresentam-se a variação da tensão octaédrica (p’) e

da tensão de desvio (q) em função da sucção (s). Observa-se que, na primeira fase,

estes incrementos de sucção produzem incrementos de p’, mas não de q. Isto

ocorre porque os incrementos de s afetam por igual os três componentes de tensão

principal e como consequência, q é nulo. Já na segunda fase, os ensaios com

maiores valores de sucção apresentaram acréscimos superiores de p’ e q.

Na figura (5.23c), apresentam-se as trajetórias de tensão no espaço

p’ versus q. Verifica-se que os incrementos de sucção fazem com que as

trajetórias de tensão atinjam a LEC com valores superiores de q, mostrando que o

solo apresenta maior resistência quanto maior for a sucção aplicada.

Na figura (5.23d), apresenta-se a variação do volume específico (ν) em

função de p’. Na primeira fase de secagem, observa-se que o volume das amostras

reduz-se à medida que a sucção é incrementada. No entanto, na segunda fase de

carregamento, a diminuição do volume é menor nas amostras que experimentaram

valores superiores de sucção. Este comportamento ocorre porque, à medida que a

sucção se incrementa, p’ e a pressão de pré-adensamento p’0 também são

incrementadas, porém em taxas diferentes, em função dos parâmetros r e

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Exemplos de verificação

107

utilizados. Para os parâmetros adotados neste exemplo, a pressão de pré-

adensamento se incrementa mais rapidamente que a tensão efetiva durante a fase

de secagem. Por esta razão, nesta fase, a RPA das amostras que foram secadas

também se incrementa, fazendo com que estas fiquem mais rígidas e portanto,

experimentem menores deformações volumétricas plásticas quando o

carregamento é aplicado. De acordo com Sheng et al. (2003b), os parâmetros r e

podem ser ajustados de tal forma que as tensões efetivas se incrementem mais

rapidamente que a pressão de pré-adensamento durante a fase de secagem; desta

forma, as amostras poderiam experimentar deformações plásticas já na fase de

secagem.

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