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NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

6 Nocoes de Direito Constitucional

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  • NOES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

  • Didatismo e Conhecimento 1

    NOES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

    CONSTITUIO: PRINCPIOS FUNDAMENTAIS.

    A seguir, h se estudar os quatro primeiros artigos da Constituio Federal, que trazem os princpios fundamentais da Repblica Federativa do Brasil. Para tanto, convm a anlise de cada dispositivo separadamente, para sua melhor compreenso.

    1 Art. 1, CF. Reproduzamos o dispositivo, para facilitar o entendimento do leitor:

    Art. 1 A Repblica Federativa do Brasil, formada pela unio indissolvel dos Estados e Municpios e do Distrito Federal, constitui--se em Estado Democrtico de Direito e tem como fundamentos:

    I - a soberania;II - a cidadania;III - a dignidade da pessoa humana;IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;V - o pluralismo poltico.Pargrafo nico. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta

    Constituio.

    Os princpios fundamentais da Repblica Federativa do Brasil esto posicionados logo no incio da Constituio ptria, aps o prembulo constitucional, e antes dos direitos e garantias fundamentais. Representam as premissas especiais e majoritrias que norteiam todo o ordenamento ptrio, como a dignidade da pessoa humana, o pluralismo poltico, a prevalncia dos direitos humanos, a harmonia entre os trs Poderes etc.

    H se tomar cuidado, contudo, para eventuais pegadinhas de concurso. Se a questo perguntar quais so os fundamentos da Re-pblica Federativa do Brasil, h se responder aqueles previstos no art. 1, caput, CF. Agora, se a questo perguntar quais so os objeti-vos fundamentais da Repblica Federativa do Brasil, h se responder aqueles previstos no art. 3. Por fim, se a questo perguntar quais so os princpios seguidos pelo Brasil nas relaes internacionais, h se responder aqueles previstos no art. 4, da Lei Fundamental.

    1.1 Significado de Repblica Federativa do Brasil (art. 1, caput, CF). Com efeito, a expresso Repblica Federativa do Brasil, usada no art. 1, caput, CF, revela, dentre outras coisas:

    A) A forma de Estado: o Brasil uma federao, isto , o resultado da unio indissolvel de Estados-membros, dos Municpios e do Distrito Federal. Inclusive, por fora do art. 60, 4, I, CF, a forma federativa de Estado clusula ptrea constitucionalmente explcita.

    B) A forma de governo: O Brasil uma repblica.

    1.2 Significado de Estado Democrtico de Direito (art. 1, caput, CF). Ato contnuo, o mesmo art. 1, caput, prev que esta unio indissolvel dos membros da federao constitui-se um Estado Democrtico de Direito, Estado este que representa o resultado de uma revoluo histrica, por ser o sucessor, nesta ordem, dos Estados Liberal e Social.

    1.3 Significado de soberania (art. 1, I, CF). Significa poder poltico, supremo e independente. Soberania, aqui, tem significado de soberania nacional. totalmente diferente da soberania popular, de que trata o pargrafo nico, do art. 1, CF, segundo a qual todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos da Constituio.

    1.4 Significado de cidadania (art. 1, II, CF). o direito de ter direitos. O cidado, por meio da cidadania, pode contrair direitos e obrigaes.

    1.5 Significado de dignidade da pessoa humana (art. 1, III, CF). A dignidade humana o elemento mais forte que a Consti-tuio Federal consagra a um ser humano, apesar de independer desta consagrao constitucional para que o ser humano tenha o direito existncia digna.

    Consiste a dignidade numa srie de fatores que, necessariamente devem ser observados para que o homem tenha condies de so-brevivncia. No toa que a dignidade da pessoa humana tem status de sobreprincpio constitucional, isto , est acima at mesmo dos princpios ( o entendimento que prevalece na doutrina).

  • Didatismo e Conhecimento 2

    NOES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

    1.6 Significado de valores sociais do trabalho e da livre iniciativa (art. 1, IV, CF). o reconhecimento de que adotamos o capitalismo (iniciativa privada), mas um capitalismo humanista, isto , fortemente influenciado pelos valores sociais do trabalho. exatamente por isso, p. ex., que os arts. 7 e 8, da Constituio Federal, consagram uma srie de direitos aos trabalhadores e rurais. exatamente por isso tambm, p. ex., que no se pode impor pena de trabalhos forados, que se considera o trabalho escravo crime, e que se exige que o trabalho deve ser justamente remunerado de acordo com sua complexidade.

    1.7 Significado de pluralismo poltico (art. 1, V, CF). Por ser o Brasil um pas cuja identidade resultante da miscigenao tnica, religiosa, racial, ideal, o pluralismo poltico assegura que todas estas nuanas sejam devidamente respeitadas, constituam elas ou no uma maioria. dizer, desta forma, que o pluralismo poltico representa o respeito s minorias, tambm.

    2 Art. 2, CF. Reproduzamos o dispositivo, para facilitar o entendimento do leitor:

    Art. 2 So Poderes da Unio, independentes e harmnicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judicirio.

    So trs os Poderes da Repblica, a saber, o Executivo (ou Administrativo), o Legislativo e o Judicirio, todos independentes e harmnicos entre si.

    Por independncia, significa que cada Poder pode realizar seus prprios concursos, pode destinar o oramento da maneira que lhe convier, pode estruturar seu quadro de cargos e funcionrios livremente, pode criar ou suprimir funes, pode gastar ou suprimir despe-sas de acordo com suas necessidades, dentre inmeras outras atribuies.

    Por harmonia, significa que cada Poder deve respeitar a esfera de atribuio dos outros Poderes. Assim, dentro de suas atribuies tpicas, ao Judicirio no compete legislar (caso em que estaria invadindo a esfera de atuao tpica do Poder Legislativo), ao Executivo no compete julgar, e ao Executivo no compete editar leis (repete-se: em sua esfera de atribuies tpica).

    Essa harmonia, tambm, pode ser vista no controle que um Poder exerce sobre o outro, na conhecida Teoria dos Freios e Contra-pesos.

    bvio que cada Poder tem suas funes atpicas (ex.: em alguns casos o Judicirio legisla) (ex. 2: em alguns casos o Legislativo julga). Isso no representa bice, todavia, que a atuao funcional de cada Poder corra de maneira independente, desde que respeitada a harmonia de cada um para com seus Poderes-irmos, obviamente.

    3 Art. 3, CF. Reproduzamos o dispositivo, para facilitar o entendimento do leitor:

    Art. 3 Constituem objetivos fundamentais da Repblica Federativa do Brasil:I - construir uma sociedade livre, justa e solidria;II - garantir o desenvolvimento nacional;III - erradicar a pobreza e a marginalizao e reduzir as desigualdades sociais e regionais;IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raa, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminao.

    Logo no incio do estudo dos princpios fundamentais, localizados entre os arts. 1 e 4, da Constituio, foi dito que os funda-mentos da Repblica Federativa do Brasil no so a mesma coisa que os objetivos fundamentais da Repblica Federativa do Brasil.

    Melhor explica-se: por fundamentos entende-se aquelas situaes que j so inerentes ao sistema constitucional ptrio. A digni-dade da pessoa humana, p. ex., no um objetivo a ser alcanado num futuro prximo, mas uma exigncia prevista para o presente. J os objetivos fundamentais so as premissas a que o Brasil se compromete a alcanar o quanto antes em prol da consolidao da sua democracia.

    Graas a este art. 3, pode-se falar que o Brasil vive gide de uma Constituio compromissria, dirigente. O art. 3 nos revela que temos um caminho a ser percorrido. O art. 3 a busca pela concretizao dos princpios fundamentais do art. 1.

    E, como objetivos fundamentais, se elenca a construo de uma sociedade livre, justa e solidria (art. 3, I), a garantia do desenvolvi-mento nacional (art. 3, II), a erradicao da pobreza e da marginalidade, e a reduo das desigualdades sociais e regionais (art. 3, III), e a promoo do bem de todos, sem preconceitos de origem, raa, sexo, idade, cor, e quaisquer outras formas de discriminao (art. 3, IV).

    3.1 Significado da expresso construir uma sociedade livre, justa e solidria (art. 3, I, CF). A fraternidade no con-sagrada explicitamente na Constituio, tal como o so a liberdade e a igualdade, somente se lhe fazendo meno no prembulo constitucional, quando se utiliza a expresso sociedade fraterna.

    Por sociedade livre, se entende a no submisso deste pas a qualquer fora estrangeira (tal como j foi este pas colnia de Portu-gal) bem como por qualquer movimento totalitrio nacional (tal como j foi este pas vtima do regime militar).

  • Didatismo e Conhecimento 3

    NOES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

    Por sociedade justa h se entender aquela que respeita e que faz ser respeitada, no permitindo atrocidades polticas, abusos eco-nmicos, ou violaes dignidade humana.

    Por fim, por sociedade solidria h se entender a observncia ao terceiro vetor da Revoluo Francesa, a saber, a fraternidade, representativa da cooperao interna e internacional.

    3.2 Significado da expresso garantir o desenvolvimento nacional (art. 3, II, CF). Mais frente se estudar a chamada ter-ceira gerao/dimenso de direitos fundamentais, ligada ao valor fraternidade, dentro da qual estariam, dentre outros, o direito ao progresso, ao meio ambiente, e o direito de propriedade sobre o patrimnio comum da humanidade.

    Este desenvolvimento nacional deve ser entendido em sentido amplo, isto , para mais que um simples progresso econmico. Engloba, tambm, o desenvolvimento poltico, social, cultural, ideal, dentre tantos outros.

    3.3 Significado da expresso erradicar a pobreza e a marginalizao e reduzir as desigualdades sociais e regionais (art. 3, III, CF). Trata-se de desdobramento da garantia do desenvolvimento nacional do art. 3, II, CF.

    O Brasil uma nao de diferenas socioeconmicas gritantes no que atine sua populao, com a majoritria concentrao de riqueza nas mos de poucos. Sendo assim, como um processo osmtico, do meio mais para o menos concentrado, preciso que parte dessa riqueza seja transferida aos grupos populacionais mais carentes.

    Veja-se que, neste aspecto, o texto constitucional foi feliz em seu texto: preciso erradicar a pobreza e a marginalizao, mas re-duzir as desigualdades sociais e regionais. Ora, bem sabem todos que sempre haver discrepncias sociais e regionais (a concentrao da produo industrial, p. ex., obviamente se concentra em sua maior parte na regio sudeste e em menor parte na regio norte do pas). O que se deve , apenas, atenuar estas desigualdades.

    J a pobreza pobreza em qualquer lugar (com o perdo da licena potica), e, portanto, deve ser extirpada deste pas.

    3.4 Significado da expresso promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raa, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminao (art. 3, IV, CF). Eis o reconhecimento do pluralismo como elemento norteador da nao (o plu-ralismo, como j dito outrora, muito mais que o simples conceito de democracia).

    A promoo do bem de todos deve ser feita sem qualquer diferenciao quanto s posies polticas, religiosas, tnicas, ideais, e sociais.

    4 Art. 4, CF. Reproduzamos o dispositivo, para facilitar o entendimento do leitor:

    Art. 4 A Repblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaes internacionais pelos seguintes princpios:I - independncia nacional;II - prevalncia dos direitos humanos;III - autodeterminao dos povos;IV - no interveno;V - igualdade entre os Estados;VI - defesa da paz;VII - soluo pacfica dos conflitos;VIII - repdio ao terrorismo e ao racismo;IX - cooperao entre os povos para o progresso da humanidade;X - concesso de asilo poltico.Pargrafo nico. A Repblica Federativa do Brasil buscar a integrao econmica, poltica, social e cultural dos povos da Amrica

    Latina, visando formao de uma comunidade latino-americana de naes.

    O art. 4 a revelao de que vivemos em um Estado Constitucional Cooperativo, expresso esta utilizada por Peter Hberle, defensor de uma concepo culturalista de Constituio. Por Estado Constitucional Cooperativo se entende um Estado que se dispo-nibiliza para outros Estados, que se abre para outros Estados, mas que exige algum grau de reciprocidade em troca, a bem do desenvol-vimento de um constitucionalismo mundial, ou, ao menos, ocidental.

    4.1 Significado de independncia nacional (art. 4, I, CF). a consequncia da soberania nacional, constante do art. 1, I, CF. Afinal, graas independncia deste pas que se autoriza a cham-lo de nao soberana.

    4.2 Significado de prevalncia dos direitos humanos (art. 4, II, CF). Os direitos humanos so protees jurdicas necessrias concretizao da dignidade da pessoa humana.

  • Didatismo e Conhecimento 4

    NOES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

    Em verdade, os direitos fundamentais nada mais so que os direitos humanos internalizados em Constituies.

    Desta forma, tal como os direitos fundamentais devem prevalecer no plano interno, tambm os direitos humanos devem ser a tnica no plano internacional. Disso infere-se que tanto faria ao constituinte ter consagrado, neste art. 4, II, CF, a prevalncia dos direitos humanos (como o fez) ou a prevalncia dos direitos fundamentais. O resultado pretendido o mesmo.

    4.3 Significado de autodeterminao dos povos (art. 4, III, CF). Esse princpio um recado s demais naes. Por tal, o Brasil afirma que no aceita nem adota a prtica de que um povo seja submetido/subordinado a outro. Todos tm direito a um Estado, para que possam geri-lo, autonomamente, da maneira que melhor lhes convier.

    4.4 Significado de no interveno e defesa da paz (art. 4, IV e VI, CF). A Repblica Federativa do Brasil um Estado no beligerante. No uma tendncia deste pas as guerras de conquistas nem as guerras preventivas, tal como praxe na cultura norte--americana, mas s as guerras defensivas, isto , as guerras de proteo ao territrio e ao povo brasileiro, ainda que, para isso, precise lutar fora do espao territorial ptrio. Em outras palavras, guerra defensiva no significa esperar ser invadido, como erroneamente se possa pensar.

    Para a soluo dos conflitos, busca-se a arbitragem internacional, os acordos internacionais, a mediao, o auxlio das Naes Uni-das etc. O belicismo s deve ser utilizado em ltimo caso.

    4.5 Significado de igualdade entre os Estados (art. 4, V, CF). Trata-se de princpio autoexplicativo. O Brasil no reconhece a existncia de Estados maiores ou melhores que os outros to-somente por seu poderio blico, econmico, cultural etc. Sendo iguais todas as naes, todas podem proteger-se e ser protegidas contra ameaas estrangeiras, tal como o Brasil se autoriza a fazer.

    4.6 Significado de soluo pacfica dos conflitos (art. 4, VII, CF). Trata-se de desdobramento dos princpios da no interven-o e da defesa da paz j estudados. Para a soluo dos conflitos, busca-se a arbitragem internacional, os acordos internacionais, a mediao, o auxlio das Naes Unidas etc. O belicismo s deve ser utilizado em ltimo caso.

    4.7 Significado de repdio ao terrorismo e ao racismo (art. 4, VIII, CF). Repdio tem significado de repulsa, contrariedade. Racismo um termo amplo para designar qualquer tipo de discriminao, seja ela de raa ou no.

    O Brasil no tem uma tipificao especfica para crimes de terrorismo, como o tem para os crimes de racismo. A Lei de Segurana Nacional (Lei n 7.170/83) apenas fala em atos de terrorismo em seu art. 20, sem especificar, contudo, o que seriam estes atos e como puni-los. Por tratar-se de conceito indeterminado, h se defender que, hoje, o Brasil no pune de forma autnoma o crime de terrorismo.

    4.8 Significado de cooperao entre os povos para o progresso da humanidade (art. 4, IX, CF). Um bom exemplo da aplica-o deste princpio est no pargrafo nico, do art. 4, da Constituio Federal, segundo o qual a Repblica Federativa do Brasil buscar a integrao econmica, poltica, social e cultural dos povos da Amrica Latina, visando formao de uma comunidade latino-ame-ricana de naes. Tal objetivo acabou sendo em parte alcanado com a criao do MERCOSUL, ainda no totalmente implementado.

    Essa ideia de cooperao entre os povos remonta a uma proposta defendida pelo globalismo, de formao de blocos econmico--polticos de desenvolvimento recproco. Some-se a isso o fato de que, o art. 4, IX, CF, em sua parte final, faz meno ao progresso da humanidade, o qual considerado um direito fundamental de terceira dimenso/gerao, aliado ao valor fraternidade, na abrasilei-rada classificao de Paulo Bonavides.

    Assim, unindo a ideia de fraternidade de criao de grupos de pases (como o MERCOSUL, como a Unio Europeia etc.), forma--se o princpio de cooperao entre os povos para o progresso de cada pas e da humanidade.

    4.9 Significado de concesso de asilo poltico (art. 4, X, CF). Asilo poltico a proteo que um Estado d a nacionais de outros Estados que estiverem sofrendo perseguies polticas em razo de sua ideologia, crena, etnia etc. O Estatuto do Estrangeiro (Lei n 6.815/80) regula a condio do asilado. Em seu art. 28, se afirma que o estrangeiro admitido no territrio nacional na condio de asilado poltico ficar sujeito, alm dos deveres que lhe forem impostos pelo direito internacional, a cumprir as disposies da legislao vigente e as que o Governo brasileiro lhe fixar.

  • Didatismo e Conhecimento 5

    NOES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

    DA APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS: NORMAS

    DE EFICCIA PLENA, CONTIDA E LIMITADA; NORMAS PROGRAMTICAS.

    1 Aplicabilidade das normas constitucionais. A aplicabilidade das normas constitucionais diz respeito sua eficcia jurdica, isto , sua capacidade de atingir os objetivos previstos na norma, regulando os comportamentos a que se prope.

    Neste sentido, uma ampla gama de classificaes doutrinrias feita: normas constitucionais mandatrias e normas constitucionais diretrias, normas constitucionais self-executing e normas constitucionais not self executing, normas constitucionais preceptivas e diretivas etc.

    Como se no bastasse, cada autor nacional faz a sua prpria classificao de normas constitucionais. Neste sentido, h se falar na classificao de Meirelles Teixeira (normas constitucionais de eficcia plena e normas constitucionais de eficcia reduzida), na classificao de Celso Ribeiro de Bastos e Carlos Ayres Brito (normas de aplicao e normas de integrao), bem como na classi-ficao de Maria Helena Diniz (normas com eficcia absoluta, normas com eficcia plena, normas com eficcia relativa restring-vel, e normas com eficcia relativa complementvel).

    Mas, indubitavelmente, partiu do italiano Vezio Crisafulli a classificao mais arraigada neste pas, graas contribuio de Jos Afonso da Silva, que abrasileirou-a. Com efeito, o italiano divide as normas constitucionais em de eficcia plena e de eficcia limitada. Neste diapaso, o brasileiro acrescenta a estas duas modalidades as normas de eficcia contida.

    Esta classificao, de Jos Afonso da Silva, a mais difundida na doutrina brasileira, e, por isso, ser a seguir explicada.

    2 Normas de eficcia plena. So normas absolutamente vigentes desde a entrada em vigor da Lei Fundamental ptria (ou, caso se trate de Emenda Constituio, desde a incluso do texto da Emenda Constituio). Por isso se diz que sua aplicabilidade direta, imediata e integral.

    Segundo Jos Afonso da Silva, para que uma norma constitucional tenha eficcia plena, precisa ser completa no sentido de que contenha todos os elementos e requisitos para a sua incidncia direta.

    Assim, no preciso lei regulamentadora para se saber, p. ex., que so brasileiros natos os nascidos na Repblica Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes no estejam a servio de seu pas (art. 12, I, a, CF). Com isso, fica claro que no preciso lei infraconstitucional para que tais normas possam entrar em operao. E, caso venha alguma lei infraconstitucional tratando de assunto moldado em norma de eficcia plena, tal lei no poder restringir os efeitos desta norma, mas apenas reforar seu mbito de validade e abrangncia.

    3 Normas de eficcia contida. So normas que incidem, tambm, diretamente desde a edio do texto constitucional. A diferena para as normas de eficcia plena, contudo, que enquanto naquelas leis infraconstitucionais no podem restringir-lhe a abrangncia, nestas isso possvel. Por isso se diz que estas normas so de aplicabilidade direta, imediata, mas no integral.

    Como exemplo, o art. 5, XIII, da Constituio, preceitua que livre o exerccio de qualquer trabalho, ofcio ou profisso, atendidas as qualificaes profissionais que a lei estabelecer. Trata-se de norma de eficcia contida, pois, em regra, o exerccio de qualquer ofcio/profisso livre, embora lei possa restringir isso. o caso do exerccio da advocacia, p. ex., que seria livre a todo bacharel em direito caso no se exigisse a prvia incluso no quadro da Ordem dos Advogados do Brasil.

    4 Normas de eficcia limitada. Diferentemente das normas de eficcia plena e contida que vigem desde o advento da Constituio Federal (ou, se for o caso, de Emenda Constitucional), as normas de eficcia limitada necessitam de complemento infraconstitucional a bem do incio de sua operacionalidade. Por isso, se diz que tais normas tm aplicabilidade indireta, mediata e reduzida.

    Isto posto, enquanto tal norma no vem, no podem (como regra) ser aplicadas. Por isso, pode-se dizer que a Constituio Federal de 1988 contempla dispositivos que ainda no entraram em funcionamento. Isto , inclusive, um problema constitucional e sua consequente crtica: a inrcia do legislador em regulamentar as normas desta espcie que necessitam ser regulamentadas.

    Com efeito, as normas de eficcia limitada se subdividem em de princpio institutivo (ou organizacionais) e em de princpio programtico (ou programticas):

    A) Normas de eficcia limitada de princpio institutivo. So as normas que se propem criao de institutos, organismos ou enti-dades.

    O art. 18, 2, da Constituio, como exemplo, prev que os Territrios Federais integram a Unio, e sua criao, transformao em Estado ou reintegrao ao Estado de origem sero reguladas em lei complementar.

  • Didatismo e Conhecimento 6

    NOES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

    Tal norma prev a criao de Territrios Federais. No momento, o Brasil no possui nenhum Territrio Federal, o qual, para ser criado, necessita de lei complementar. Desta forma, trata-se de norma limitada de princpio institutivo, j que ela somente ter real apli-cabilidade caso de opte por criar, mediante lei complementar, um Territrio Federal, o qual representa um instituto/organismo/entidade.

    O mesmo ocorre, noutro exemplo, no terceiro pargrafo, do art. 25, da Lei Fundamental, segundo o qual os Estados podero, mediante lei complementar, instituir regies metropolitanas, aglomeraes urbanas e microrregies, constitudas por agrupamentos de Municpios limtrofes, para integrar a organizao, o planejamento e a execuo de funes pblicas de interesse comum;

    B) Normas de eficcia limitada de princpio programtico (normas programticas). Tratam-se de normas atravs das quais o cons-tituinte, ao invs de regular diretamente determinados interesses, limitou-se a traar os princpios para serem cumpridos a curto, mdio e longo prazos, a depender da complexidade da matria a ser organizada.

    Ou seja, so normas que versam sobre polticas ou programas de governo.A grande quantidade destas normas espalhadas pela Constituio levou o portugus J. J. Gomes Canotilho a cunhar a expresso

    Constituio Dirigente, tpica de um Estado Social, que conduz ideia de vinculao poltica dos rgos de direo.Isto porque, durante muito tempo prevaleceu a viso de que tais normas estariam submetidas discricionariedade do Estado, que

    deveria implement-las de acordo com a observncia do binmio necessidade/possibilidade. O problema que, passados quase vinte e cinco anos do advento da Constituio da Repblica, de 1988, muitas destas normas no foram (ou, pior, acabaram sendo esquecidas) regulamentadas pelo legislador. o que se pode observar no direito de greve para o servidor pblico, at hoje sem regulamentao (hoje, o STF vem mandando aplicar, via mandado de injuno, a lei de greve da iniciativa privada (Lei n 7.783/89) no que couber aos servidores pblicos), ou na norma regulamentadora do mandado de injuno (hoje, aplica-se, por analogia, a norma regulamentadora do mandado de segurana).

    A Constituio tenta, exatamente, acabar com esta esfera de discricionariedade livre, ao vincular o legislador, o administrador e o ju-dicirio no compromisso do cumprimento de todos os preceitos constitucionais, sejam eles plenos, contidos, ou, aqui no caso, limitados.

    DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS: DOS DIREITOS

    E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS; DOS DIREITOS SOCIAIS; DOS DIREITOS

    DE NACIONALIDADE; DOS DIREITOS POLTICOS.

    A seguir, h se estudar as quatro espcies de direitos e garantias fundamentais previstas na Constituio Federal: direitos e deveres individuais e coletivos, direitos sociais, direitos da nacionalidade, e direitos polticos. Para tanto, cada espcie ser estudada separada-mente.

    1 Direitos e deveres individuais e coletivos. Reproduzamos o art. 5, CF, para facilitar o estudo:

    Art. 5 Todos so iguais perante a lei, sem distino de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pas a inviolabilidade do direito vida, liberdade, igualdade, segurana e propriedade, nos termos seguintes:

    I - homens e mulheres so iguais em direitos e obrigaes, nos termos desta Constituio;II - ningum ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa seno em virtude de lei;III - ningum ser submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;IV - livre a manifestao do pensamento, sendo vedado o anonimato;V - assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, alm da indenizao por dano material, moral ou imagem;VI - inviolvel a liberdade de conscincia e de crena, sendo assegurado o livre exerccio dos cultos religiosos e garantida, na

    forma da lei, a proteo aos locais de culto e a suas liturgias;VII - assegurada, nos termos da lei, a prestao de assistncia religiosa nas entidades civis e militares de internao coletiva;VIII - ningum ser privado de direitos por motivo de crena religiosa ou de convico filosfica ou poltica, salvo se as invocar para

    eximir-se de obrigao legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestao alternativa, fixada em lei;IX - livre a expresso da atividade intelectual, artstica, cientfica e de comunicao, independentemente de censura ou licena;X - so inviolveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenizao pelo dano ma-

    terial ou moral decorrente de sua violao;XI - a casa asilo inviolvel do indivduo, ningum nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de fla-

    grante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinao judicial;

  • Didatismo e Conhecimento 7

    NOES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

    XII - inviolvel o sigilo da correspondncia e das comunicaes telegrficas, de dados e das comunicaes telefnicas, salvo, no ltimo caso, por ordem judicial, nas hipteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigao criminal ou instruo processual penal;

    XIII - livre o exerccio de qualquer trabalho, ofcio ou profisso, atendidas as qualificaes profissionais que a lei estabelecer;XIV - assegurado a todos o acesso informao e resguardado o sigilo da fonte, quando necessrio ao exerccio profissional;XV - livre a locomoo no territrio nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, perma-

    necer ou dele sair com seus bens;XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao pblico, independentemente de autorizao, desde que

    no frustrem outra reunio anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prvio aviso autoridade competente;XVII - plena a liberdade de associao para fins lcitos, vedada a de carter paramilitar;XVIII - a criao de associaes e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autorizao, sendo vedada a interferncia

    estatal em seu funcionamento;XIX - as associaes s podero ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por deciso judicial, exigindo-

    -se, no primeiro caso, o trnsito em julgado;XX - ningum poder ser compelido a associar-se ou a permanecer associado;XXI - as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, tm legitimidade para representar seus filiados judicial ou ex-

    trajudicialmente;XXII - garantido o direito de propriedade;XXIII - a propriedade atender a sua funo social;XXIV - a lei estabelecer o procedimento para desapropriao por necessidade ou utilidade pblica, ou por interesse social, median-

    te justa e prvia indenizao em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituio;XXV - no caso de iminente perigo pblico, a autoridade competente poder usar de propriedade particular, assegurada ao proprie-

    trio indenizao ulterior, se houver dano;XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela famlia, no ser objeto de penhora para pa-

    gamento de dbitos decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento;XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilizao, publicao ou reproduo de suas obras, transmissvel aos herdeiros

    pelo tempo que a lei fixar;XXVIII - so assegurados, nos termos da lei:a) a proteo s participaes individuais em obras coletivas e reproduo da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades

    desportivas;b) o direito de fiscalizao do aproveitamento econmico das obras que criarem ou de que participarem aos criadores, aos intrpretes

    e s respectivas representaes sindicais e associativas;XXIX - a lei assegurar aos autores de inventos industriais privilgio temporrio para sua utilizao, bem como proteo s criaes

    industriais, propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desen-volvimento tecnolgico e econmico do Pas;

    XXX - garantido o direito de herana;XXXI - a sucesso de bens de estrangeiros situados no Pas ser regulada pela lei brasileira em benefcio do cnjuge ou dos filhos

    brasileiros, sempre que no lhes seja mais favorvel a lei pessoal do de cujus;XXXII - o Estado promover, na forma da lei, a defesa do consumidor;XXXIII - todos tm direito a receber dos rgos pblicos informaes de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral,

    que sero prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindvel segurana da sociedade e do Estado;

    XXXIV - so a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas:a) o direito de petio aos Poderes Pblicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder;b) a obteno de certides em reparties pblicas, para defesa de direitos e esclarecimento de situaes de interesse pessoal;XXXV - a lei no excluir da apreciao do Poder Judicirio leso ou ameaa a direito;XXXVI - a lei no prejudicar o direito adquirido, o ato jurdico perfeito e a coisa julgada;XXXVII - no haver juzo ou tribunal de exceo;XXXVIII - reconhecida a instituio do jri, com a organizao que lhe der a lei, assegurados:a) a plenitude de defesa;b) o sigilo das votaes;c) a soberania dos veredictos;d) a competncia para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida;XXXIX - no h crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prvia cominao legal;

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    NOES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

    XL - a lei penal no retroagir, salvo para beneficiar o ru;XLI - a lei punir qualquer discriminao atentatria dos direitos e liberdades fundamentais;XLII - a prtica do racismo constitui crime inafianvel e imprescritvel, sujeito pena de recluso, nos termos da lei;XLIII - a lei considerar crimes inafianveis e insuscetveis de graa ou anistia a prtica da tortura, o trfico ilcito de entorpecentes

    e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evit-los, se omitirem;

    XLIV - constitui crime inafianvel e imprescritvel a ao de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrtico;

    XLV - nenhuma pena passar da pessoa do condenado, podendo a obrigao de reparar o dano e a decretao do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, at o limite do valor do patrimnio transferido;

    XLVI - a lei regular a individualizao da pena e adotar, entre outras, as seguintes:a) privao ou restrio da liberdade;b) perda de bens;c) multa;d) prestao social alternativa;e) suspenso ou interdio de direitos;XLVII - no haver penas:a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;b) de carter perptuo;c) de trabalhos forados;d) de banimento;e) cruis;XLVIII - a pena ser cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado;XLIX - assegurado aos presos o respeito integridade fsica e moral;L - s presidirias sero asseguradas condies para que possam permanecer com seus filhos durante o perodo de amamentao;LI - nenhum brasileiro ser extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalizao, ou de

    comprovado envolvimento em trfico ilcito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei;LII - no ser concedida extradio de estrangeiro por crime poltico ou de opinio;LIII - ningum ser processado nem sentenciado seno pela autoridade competente;LIV - ningum ser privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral so assegurados o contraditrio e ampla defesa,

    com os meios e recursos a ela inerentes;LVI - so inadmissveis, no processo, as provas obtidas por meios ilcitos;LVII - ningum ser considerado culpado at o trnsito em julgado de sentena penal condenatria;LVIII - o civilmente identificado no ser submetido identificao criminal, salvo nas hipteses previstas em lei;LIX - ser admitida ao privada nos crimes de ao pblica, se esta no for intentada no prazo legal;LX - a lei s poder restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem;LXI - ningum ser preso seno em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciria competente, salvo

    nos casos de transgresso militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;LXII - a priso de qualquer pessoa e o local onde se encontre sero comunicados imediatamente ao juiz competente e famlia do

    preso ou pessoa por ele indicada;LXIII - o preso ser informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistncia da famlia

    e de advogado;LXIV - o preso tem direito identificao dos responsveis por sua priso ou por seu interrogatrio policial;LXV - a priso ilegal ser imediatamente relaxada pela autoridade judiciria;LXVI - ningum ser levado priso ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisria, com ou sem fiana;LXVII - no haver priso civil por dvida, salvo a do responsvel pelo inadimplemento voluntrio e inescusvel de obrigao ali-

    mentcia e a do depositrio infiel;LXVIII - conceder-se- habeas corpus sempre que algum sofrer ou se achar ameaado de sofrer violncia ou coao em sua liber-

    dade de locomoo, por ilegalidade ou abuso de poder;LXIX - conceder-se- mandado de segurana para proteger direito lquido e certo, no amparado por habeas corpus ou habeas data,

    quando o responsvel pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pblica ou agente de pessoa jurdica no exerccio de atribuies do Poder Pblico;

    LXX - o mandado de segurana coletivo pode ser impetrado por:

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    NOES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

    a) partido poltico com representao no Congresso Nacional;b) organizao sindical, entidade de classe ou associao legalmente constituda e em funcionamento h pelo menos um ano, em

    defesa dos interesses de seus membros ou associados;LXXI - conceder-se- mandado de injuno sempre que a falta de norma regulamentadora torne invivel o exerccio dos direitos e

    liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes nacionalidade, soberania e cidadania;LXXII - conceder-se- habeas data:a) para assegurar o conhecimento de informaes relativas pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de

    entidades governamentais ou de carter pblico;b) para a retificao de dados, quando no se prefira faz-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo;LXXIII - qualquer cidado parte legtima para propor ao popular que vise a anular ato lesivo ao patrimnio pblico ou de enti-

    dade de que o Estado participe, moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimnio histrico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada m-f, isento de custas judiciais e do nus da sucumbncia;

    LXXIV - o Estado prestar assistncia jurdica integral e gratuita aos que comprovarem insuficincia de recursos;LXXV - o Estado indenizar o condenado por erro judicirio, assim como o que ficar preso alm do tempo fixado na sentena;LXXVI - so gratuitos para os reconhecidamente pobres, na forma da lei:a) o registro civil de nascimento;b) a certido de bito;LXXVII - so gratuitas as aes de habeas corpus e habeas data, e, na forma da lei, os atos necessrios ao exerccio da cidadania;LXXVIII - a todos, no mbito judicial e administrativo, so assegurados a razovel durao do processo e os meios que garantam a

    celeridade de sua tramitao.1. As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais tm aplicao imediata.2. Os direitos e garantias expressos nesta Constituio no excluem outros decorrentes do regime e dos princpios por ela adota-

    dos, ou dos tratados internacionais em que a Repblica Federativa do Brasil seja parte.3. Os tratados e convenes internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional,

    em dois turnos, por trs quintos dos votos dos respectivos membros, sero equivalentes s emendas constitucionais.4. O Brasil se submete jurisdio de Tribunal Penal Internacional a cuja criao tenha manifestado adeso.

    1.1 Direito vida. O art. 5, caput, da Constituio Federal, dispe que o direito vida inviolvel. Dividamos em subtpicos:A) Acepes do direito vida. So duas as acepes deste direito vida, a saber, o direito de permanecer vivo (ex.: o Brasil veda a

    pena de morte, salvo em caso de guerra declarada pelo Presidente da Repblica em resposta agresso estrangeira, conforme o art. 5, XLVII, a c.c. art. 84, XIX, CF), e o direito de viver com dignidade (ex.: conforme o art. 5, III, CF, ningum ser submetido tortura nem a tratamento desumano ou degradante) (ex. 2: consoante o art. 5, XLV, CF, nenhuma pena passar da pessoa do condenado, po-dendo a obrigao de reparar o dano e a decretao do perdimento de bens ser, nos termos de lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, at o limite do valor do patrimnio transferido) (ex. 3: so absolutamente vedadas neste ordenamento constitucional penas de carter perptuo, de banimento, cruis, e de trabalhos forados) (ex. 4: a pena ser cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado, conforme o inciso XLVIII, do art. 5, CF) (ex. 5: pelo art. 5, XLIX, assegurado aos presos o respeito integridade fsica e moral);

    B) Algumas questes prticas sobre o direito vida. Como fica o caso das Testemunhas de Jeov, que no admitem receber trans-fuso de sangue? Como fica a questo do conflito entre o direito vida e a liberdade religiosa? O entendimento prevalente o de que o direito vida deve prevalecer sobre a liberdade religiosa.

    E o caso da eutansia/ortotansia? So escassas as decises judiciais admitindo o direito de morrer, condicionando isso ao elevado grau de sofrimento de quem pede, bem como a impossibilidade de recuperao deste. H se lembrar que, tal como o direito de perma-necer vivo, o direito vida tambm engloba o direito de viver com dignidade, e conviver com o sofrimento fsico um profundo golpe a esta dignidade do agente.

    E a legalizao do aborto? Tambm h grande celeuma em torno da questo. Quem se pe favoravelmente ao aborto o faz com base no direito privacidade e intimidade, de modo que no caberia ao Estado obrigar uma pessoa a ter seu filho. Quem se pe de maneira contrria ao aborto, contudo, o faz com base na vida do feto que se est dando fim com o procedimento abortivo.

    E a hiptese de fetos anencfalos? O Supremo Tribunal Federal decidiu pela possibilidade de extirpao do feto anenceflico do ventre materno, sem que isso configure o crime de aborto previsto no Cdigo Penal. Isto posto, em entendendo que o feto anenceflico tem vida, agora so trs as hipteses de aborto: em caso de estupro, em caso de risco vida da gestante, e em caso de feto anenceflico. Por outro lado, em entendendo que o feto anenceflico no tem vida, no haver crime de aborto por se tratar de crime impossvel, afinal, para que haja o delito necessrio que o feto esteja vivo. De toda maneira, qualquer que seja o entendimento adotado, agora possvel tal hiptese, independentemente de autorizao judicial.

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    NOES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

    1.2 Direito liberdade. O direito liberdade, consagrado no caput do art. 5, CF, genericamente previsto no segundo inciso do mesmo artigo, quando se afirma que ningum ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa seno em virtude de lei. Tal dispo-sitivo representa a consagrao da autonomia privada.

    Trata-se a liberdade, contudo, de direito amplssimo, por compreender, dentre outros, a liberdade de opinio, a liberdade de pensa-mento, a liberdade de locomoo, a liberdade de conscincia e crena, a liberdade de reunio, a liberdade de associao, e a liberdade de expresso.

    Dividamos em subtpicos:A) Liberdade de conscincia, de crena e de culto. O art. 5, VI, da Constituio Federal, prev que inviolvel a liberdade de cons-

    cincia e de crena, sendo assegurado o livre exerccio dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteo aos locais de culto e a suas liturgias. Ademais, o inciso VIII, do art. 5, dispe que assegurada, nos termos de lei, a prestao de assistncia religiosa nas entidades civis e militares de internao coletiva.

    H se ressaltar, preliminarmente, que a conscincia mais algo amplo que crena. A crena tem aspecto essencialmente religioso, enquanto a conscincia abrange at mesmo a ausncia de uma crena.

    Isto posto, o culto a forma de exteriorizao da crena. O culto se realiza em templos ou em locais pblicos (desde que atenda ordem pblica e no desrespeite terceiros).

    O Brasil no adota qualquer religio oficial, como a Repblica Islmica do Ir, p. ex. Em outros tempos, o Brasil j foi uma nao oficialmente catlica. Com a Lei Fundamental de 1988, o seu art. 19 vedou o estabelecimento de religies oficiais pelo Estado.

    Mas, ento, como fica a utilizao de smbolos religiosos em locais pblicos? Como o Brasil um Estado laico, no faria sentido a colocao de crucifixos em salas de audincia, p. ex. Os tribunais vm entendendo, contudo, que sua colocao ou retirada algo facultativo ao administrador do local, por representarem manifestaes culturais de um pas pluralista e multifacetrio como o Brasil.

    E quanto aos feriados religiosos? A sua fundamentao est no art. 215, 2, da Constituio Federal, segundo o qual a lei dispor sobre a fixao de datas comemorativas de alta significao para os diferentes segmentos tnicos nacionais. Isto posto, tal dispositivo vem sendo interpretado no sentido de que o feriado deve possuir um aspecto cultural muito forte para viger. Ainda assim, h quem ques-tione o excesso de feriados catlicos.

    O que a escusa de conscincia? Est prevista no art. 5, VIII, da Constituio, segundo o qual ningum ser privado de direitos por motivo de crena religiosa ou de convico filosfica ou poltica, salvo se as invocar para eximir-se de obrigao legal a todos im-posta e recusar-se a cumprir prestao alternativa fixada em lei.

    Enfim, a escusa de conscincia representa a possibilidade que a pessoa tem de alegar algum imperativo filosfico/religioso/poltico para se eximir de alguma obrigao, cumprindo, em contrapartida, uma prestao alternativa fixada em lei.

    A prestao alternativa no tem qualquer cunho sancionatrio. apenas uma forma de se respeitar a convico de algum.E se no houver prestao alternativa fixada em lei, fica inviabilizada a escusa de conscincia? No, a possibilidade ampla. Mesmo

    se a lei no existir, a pessoa poder alegar o imperativo de conscincia, independentemente de qualquer contraprestao.E se a pessoa se recusa a cumprir, tambm, a prestao alternativa? Ficar com seus direitos polticos suspensos (h quem diga que

    seja hiptese de perda dos direitos polticos, na verdade), por fora do que prev o art. 15, IV, da Constituio Federal.B) Liberdade de locomoo. Consoante o inciso XV, do art. 5, da Lei Fundamental, livre a locomoo no territrio nacional em

    tempos de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos de lei (essa lei a de n 6.815 - Estatuto do Estrangeiro), nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens.

    Isso nada mais representa que a liberdade de ir e vir;C) Liberdade da manifestao do pensamento. Conforme o art. 5, IV, da Constituio ptria, livre a manifestao do pensamento,

    sendo vedado o anonimato. Por outro lado, o inciso subsequente a este assegura o direito de resposta, proporcional ao agravo, alm da indenizao por dano material, moral ou imagem.

    Veja-se, pois, que a Constituio protege a manifestao do pensamento, isto , sua exteriorizao, j que o pensamento em si j livre por sua prpria natureza de atributo inerente ao homem.

    Ademais, a vedao ao anonimato existe justamente para permitir a responsabilizao quando houver uma manifestao abusiva do pensamento.

    Neste diapaso, uma denncia annima pode dar incio a um Inqurito Policial? O Supremo Tribunal Federal entende que a denn-cia annima, por si s, no pode dar ensejo a um processo-crime/inqurito, sob risco de ver-se instaurada uma srie de processos-crime/inqurito por motivos escusos, como vingana e chantagem poltica. Todavia, para o Guardio da Constituio, a denncia annima pode ensejar a verificao, pela autoridade policial, do contido na denncia, para que, em verificando sua plausibilidade, a sim instaure o Inqurito Policial para o desenrolar regular das investigaes;

    D) Liberdade de profisso. livre o exerccio de qualquer trabalho, ofcio ou profisso, atendidas as qualificaes profissionais que a lei estabelecer (art. 5, XIII, CF).

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    NOES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

    Trata-se de norma constitucional de eficcia contida, seguindo a tradicional classificao de Jos Afonso da Silva, pois o exerccio de qualquer trabalho livre embora a lei possa estabelecer restries. o caso do exerccio da advocacia, p. ex., condicionado prvia composio dos quadros da Ordem dos Advogados do Brasil por meio de exame de admisso.

    Tal liberdade representa tanto o exerccio de qualquer profisso como a escolha de qualquer profisso;E) Liberdade de expresso. Trata-se de liberdade amplssima. Conforme o nono inciso, do art. 5, da Lei Fundamental, livre a

    expresso da atividade intelectual, artstica, cientfica e de comunicao, independentemente de censura ou licena.Tal dispositivo a consagrao do direito manifestao do pensamento, ao estabelecer meios que deem efetividade a tal direito,

    afinal, o rol exemplificativo de meios de expresso previstos no mencionado inciso trata das atividades intelectuais, melhor compreen-didas como o direito elaborao de raciocnios independentes de modelos preexistentes, impostos ou negativamente dogmatizados; das atividades artsticas, que representam o incentivo cena cultural, sem que msicas, livros, obras de arte e espetculos teatrais, por exemplo, sejam objeto de censura prvia, como houve no passado recente do pas; das atividades cientficas, aqui entendidas como o direito pesquisa e ao desenvolvimento tecnolgico; e da comunicao, termo abrangente, se considerada a imprensa, a televiso, o rdio, a telefonia, a internet, a transferncia de dados etc.;

    F) Liberdade de informao. assegurado a todos o acesso informao e resguardado o sigilo da fonte, quando necessrio ao exerccio profissional (art. 5, XIV, CF).

    Tal liberdade engloba tanto o direito de informar (prerrogativa de transmitir informaes pelos meios de comunicao), como o direito de ser informado.

    Vale lembrar, inclusive, que conforme o art. 5, XXXIII, da Constituio, todos tm direito a receber dos rgos pblicos infor-maes de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que sero prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindvel segurana da sociedade e do Estado;

    G) Liberdade de reunio e de associao. Pelo art. 5, XVI, CF, todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao pblico, independentemente de autorizao, desde que no frustrem outra reunio anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prvio aviso autoridade competente. Eis a liberdade de reunio.

    J pelo art. 5, XVII, CF, plena a liberdade de associao para fins lcitos, sendo vedado que associaes tenham carter parami-litar. Eis a liberdade de associao.

    O que diferencia a reunio da associao, basicamente, o espao temporal em que existem. As reunies so temporrias, para fins especficos (ex.: protesto contra a legalizao das drogas). J as associaes so permanentes, ou, ao menos, duram por mais tempo que as reunies (ex.: associao dos plantadores de tomate).

    Ademais, a criao de associaes independe de lei, sendo vedada a interferncia estatal em seu funcionamento (art. 5, XVIII, CF). As associaes podero ter suas atividades suspensas (para isso no se exige deciso judicial transitada em julgado), ou podero ser dissolvidas (para isso se exige deciso judicial transitada em julgado) (art. 5, XIX, CF). Ningum poder ser compelido a associar-se ou manter-se associado, contudo (art. 5, XX, CF).

    Tambm, o art. 5, XXI, da CF, estabelece a possibilidade de representao processual dos associados pelas entidades associativas. Trata-se de verdadeira representao processual (no substituio), que depende de autorizao expresso dos associados nesse senti-do, que pode ser dada em assembleia ou mediante previso genrica no Estatuto.

    1.3 Direito igualdade. Um dos mais importantes direitos fundamentais, convm dividi-lo em subtpicos para melhor anlise:A) Igualdade formal e material. A igualdade deve ser analisada tanto em seu prisma formal, como em seu enfoque material.Sob enfoque formal, a igualdade consiste em tratar a todos igualmente (ex.: para os maiores de dezesseis anos e menores de dezoito

    anos, o voto facultativo. Todos que se situam nesta faixa etria tm o direito ao voto, embora ele seja facultativo).Ademais, neste enfoque formal, a igualdade pode ser na lei (normas jurdicas no podem fazer distines que no sejam autorizadas

    pela Constituio), bem como perante a lei (a lei deve ser aplicada igualmente a todos, mesmo que isso crie desigualdade).J sob enfoque material, a igualdade consiste em tratar de forma desigual os desiguais (ex: o voto facultativo para os analfabetos.

    Todavia, os analfabetos no podem ser votados. A alfabetizao uma condio de elegibilidade. Significa que, se o indivduo souber ler e escrever, poder ser votado. Se no, h bice constitucional a que ocupe cargo eletivo);

    B) Igualdade e aes afirmativas. Como fica a questo das aes afirmativas? Elas ferem o princpio da igualdade, ou consagram, justamente, a ideia de igualdade material? Preliminarmente, as aes afirmativas so polticas pblicas ou programas privados criados temporariamente e desenvolvidos com a finalidade de reduzir as desigualdades decorrentes de discriminaes ou de uma hipossuficin-cia econmica ou fsica, por meio da concesso de algum tipo de vantagem compensatria de tais condies.

    Quem contra as aes afirmativas argumenta que, em uma sociedade pluralista, a condio de membro de um grupo especfico no pode ser usada como critrio de incluso ou excluso de benefcios. Ademais, afirma-se que elas desprivilegiam o critrio republicano do mrito (segundo o qual o indivduo deve alcanar determinado cargo pblico pela sua capacidade e esforo, e no por pertencer a determinada categoria); so medida inapropriada, imediatista, e podem ser utilizadas como meio de politicagem barata (ou seja, por tal argumento, h outros meios mais adequados para obter esse resultado); fomentariam o racismo e o dio; favoreceriam negros de classe mdia alta; bem como ferem o princpio da isonomia por causar uma discriminao reversa.

  • Didatismo e Conhecimento 12

    NOES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

    Por outro lado, quem favorvel s aes afirmativas defende que elas representam o ideal de justia compensatria (o objetivo compensar injustias passadas, dvidas histricas, como uma compensao aos negros por t-los feito escravos, p. ex.); representam o ideal de justia distributiva (a preocupao, aqui, com o presente. Busca-se uma concretizao do princpio da igualdade material); bem como promovem a diversidade.

    Nada obstante o posicionamento que se tome, h se lembrar que o Supremo Tribunal Federal, tambm mui recentemente, reconhe-ceu a constitucionalidade das polticas de aes afirmativas por unanimidade, seja para o caso de afrodescendentes, seja para o caso de estudantes advindos do ensino pblico, o que indica, a partir das decises prolatadas, um perodo de prevalncia da tese por bastante tempo no Guardio da Constituio;

    C) Igualdade de gnero. A CF expressa, em seu art. 5, I: homens e mulheres so iguais nos termos da Constituio Federal. Isso significa que a CF pode fixar distines, como o faz quanto aos requisitos para aposentadoria, quanto licena-gestante, e quanto ao servio militar obrigatrio apenas para os indivduos do sexo masculino, p. ex. Quanto legislao infraconstitucional, possvel fixar distines, desde que isso seja feito em consonncia com a Constituio Federal, isto , sem exced-la ou for-lhe insuficiente.

    1.4 Direito segurana. A segurana tratada tanto no caput do art. 5, como no caput do art. 6, ambos da Constituio Federal.No caput do art. 6, se refere segurana pblica, que ser estudada quando da anlise dos direitos sociais. A segurana a que se

    refere o caput do art. 5 a segurana jurdica, que impe aos Poderes pblicos o respeito estabilidade das relaes jurdicas j cons-titudas.

    Engloba-se, pois, o direito adquirido (o direito j se incorporou a seu titular), o ato jurdico perfeito (h se preservar a manifestao de vontade de quem editou algum ato, desde que ele no atente contra a lei, a moral e os bons costumes), e a coisa julgada ( a imuta-bilidade de uma deciso que impede que a mesma questo seja debatida pela via processual novamente), consagrados todos no art. 5, XXXVI, da Constituio Federal.

    1.5 Direito de propriedade. Conforme o art. 5, caput e inciso XXII, da Constituio Federal, assegurado o direito de propriedade. H limitaes, contudo, a tal direito, como a funo social da propriedade. Para melhor compreender tal instituto fundamental, pois, h se dividi-lo em temas especficos:

    A) Funo social da propriedade. A funo social, consagrada no art. 5, XXIII, CF, no apenas um limite ao direito de proprie-dade, mas, sim, faz parte da prpria estrutura deste direito. Trocando em midos, s h direito de propriedade se atendida sua funo social (h, minoritariamente, quem pense o contrrio).

    Conforme o art. 182, 2, da Constituio Federal, a propriedade urbana cumpre com sua funo social quando atende s exigncias fundamentais de ordenao da cidade expressas no plano diretor.

    J conforme o art. 186, da Lei Fundamental, a funo social da propriedade rural cumprida quando atende, simultaneamente, e segundo critrios e graus de exigncia estabelecidos em lei, ao aproveitamento racional e adequado, utilizao adequada dos recursos naturais disponveis e preservao do meio ambiente, observncia das disposies que regulam as relaes de trabalho, e explorao que favorea o bem-estar dos proprietrios e dos trabalhadores.

    Indubitavelmente, a funo social da propriedade, seja ela urbana ou rural, representa a mitigao do status absoluto que por tempos marcou a relao entre o homem e a coisa (objeto). Imiscuindo-se nesta relao h agora, pois, o aspecto social a que a coisa e o homem devem servir.

    Alis, esta funo social da propriedade que assegura que a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela famlia, no ser objeto de penhora para pagamento de dbitos decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento (art. 5, XXVI, CF);

    B) Inviolabilidade do domiclio. A Constituio Federal assegura, em seu art. 5, XI, que a casa asilo inviolvel do indivduo, nin-gum nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinao judicial.

    Veja-se que, em caso de flagrante delito, para prestar socorro, ou evitar desastre, na casa se pode entrar a qualquer hora do dia. Se houver necessidade de determinao judicial, a entrada na residncia, salvo consentimento do morador, somente pode ser feita durante o dia.

    Isto posto, para fins de interpretao constitucional, deve-se adotar uma interpretao extensiva acerca do conceito de casa. As-sim, abrange escritrios, consultrios, quartos de hotel habitados, estabelecimentos comerciais e industriais (na parte em que no so abertos ao pblico), a boleia de caminho (mas s enquanto o motorista dorme, pois, durante o trabalho, na estrada, veculo comum sujeito a blitz) etc.

    Ademais, a Constituio Federal utiliza a expresso durante o dia. Pelo critrio cronolgico, dia das 6h00min at as 18h00min (veja-se que esse critrio diferente daquele adotado pelo CPC, que admite a execuo de mandados at as 20h00min); pelo critrio fsico-astronmico, dia o espao de tempo que vai da aurora ao crepsculo (no se trata de um critrio subjetivo, pois a cincia con-segue determinar com preciso os horrios da aurora e do crepsculo); e, pelo critrio misto, deve haver conjugao dos dois critrios anteriores, para dar o mximo de proteo ao domiclio (assim, pode-se ingressar das 6h00min at as 18h00min, desde que o sol j tenha nascido (aurora) ou no tenha se posto (crepsculo));

  • Didatismo e Conhecimento 13

    NOES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

    C) Requisio da propriedade. A Constituio Federal prev duas hipteses de requisio: no caso de iminente perigo pblico, a autoridade competente poder usar de propriedade particular, assegurada ao proprietrio indenizao ulterior, se houver dano (art. 5, XXV, CF); e no caso de vigncia de estado de stio, decretado em caso de comoo grave de repercusso nacional ou ocorrncia de fatos que comprovem a ineficcia da medida tomada durante o estado de defesa, possvel a requisio de bens (art. 139, VII, CF).

    Na requisio civil no h transferncia de propriedade. H apenas uso ou ocupao temporrios da propriedade particular. Trata-se de ocupao emergencial, de modo que s caber indenizao posterior, e, ainda, se houver dano.

    A requisio militar tambm emergencial. Tambm s haver indenizao posterior, diante de dano;D) Desapropriao da propriedade. Prevista no art. 5, XXIV, da CF, cabvel em trs casos: necessidade pblica; utilidade pblica;

    e interesse social.Na desapropriao, d-se retirada compulsria da propriedade do particular.Se em razo de interesse social, exige-se indenizao em dinheiro justa e prvia, como regra geral.E, nos casos de necessidade e utilidade pblica, o particular no tem culpa alguma. Trata-se, meramente, de situao de prevalncia

    do interesse pblico sobre o interesse privado. A indenizao, como regra geral, tambm deve ser prvia, justa, e em dinheiro.Ainda, no caso de desapropriao por interesse social, pode ocorrer a chamada desapropriao sano, pelo desatendimento da

    funo social da propriedade. Nesse caso, diante da culpa do proprietrio, a indenizao ser prvia, justa, porm no ser em dinheiro, mas sim em ttulos pblicos. Com efeito, so duas as hipteses de desapropriao-sano: desapropriao-sano de imvel urbano, prevista no art. 182, 4, III, CF (o pagamento feito em ttulos da dvida pblica, com prazo de resgate de at dez anos); desapropriao--sano de imvel rural, prevista no art. 184, CF (ela feita para fins de reforma agrria, e o pagamento feito em ttulos da dvida agrria, com prazo de resgate de at vinte anos, contados a partir do segundo ano de sua emisso);

    E) Confisco da propriedade. O confisco est previsto no art. 243 da CF. Tambm hiptese de transferncia compulsria da proprie-dade, como a desapropriao. Mas, dela se distingue porque no confisco no h pagamento de qualquer indenizao.

    Isto posto, so duas as hipteses de confisco: as glebas de qualquer regio do pas onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrpicas sero imediatamente expropriadas e especificamente destinadas ao assentamento de colonos, para o cultivo de produtos alimentcios e medicamentosos, sem qualquer indenizao ao proprietrio e sem prejuzo de outras sanes previstas em lei (art. 243, caput, CF); bem como todo e qualquer bem de valor econmico apreendido em decorrncia do trfico ilcito de entorpecentes e drogas afins ser confiscado e reverter em benefcio de instituies e pessoal especializado no tratamento e recuperao de viciados e no aparelhamento e custeio de atividades de fiscalizao, controle, preveno e represso do crime de trfico dessas substncias (art. 243, pargrafo nico, CF);

    F) Usucapio da propriedade (aquelas previstas na Constituio). H duas previses constitucionais acerca de usucapio, em que o prazo para aquisio da propriedade reduzido: usucapio urbano (aquele que possuir como sua rea urbana de at duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposio, utilizando-a para sua moradia ou de sua famlia, adquirir-lhe- o domnio, desde que no seja proprietrio de outro imvel urbano ou rural, conforme o art. 183, caput, da CF); e usucapio rural (aquele que, no sendo proprietrio de imvel rural ou urbano, possua como seu, por cinco anos ininterruptos, sem oposio, rea de terra, em zona rural, no superior a cinquenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua famlia, tendo nela sua moradia, adquirir--lhe- a propriedade, consoante o art. 191, caput, da CF).

    No custa chamar a ateno, veja-se, que as hipteses constitucionais tambm exigem os requisitos tradicionais da usucapio, a saber, a posse mansa e pacfica, a posse ininterrupta, e a posse no-precria.

    No custa lembrar, por fim, que imveis pblicos no podem ser adquiridos por usucapio;

    G) Propriedade intelectual. A Constituio protege a propriedade intelectual como direito fundamental.Aos autores pertence o direito exclusivo de utilizao, publicao ou reproduo de suas obras, transmissvel aos herdeiros pelo

    tempo que a lei fixar (art. 5, XXVII, CF).So assegurados, nos termos de lei, a proteo s participaes individuais em obras coletivas e reproduo da imagem e voz

    humanas, inclusive nas atividades esportivas (art. 5, XXVIII, a, CF), bem como direito de fiscalizao do aproveitamento econmico das obras que criarem ou de que participarem (art. 5, XXVIII, b, CF).

    A lei assegurar aos autores de inventos industriais privilgio temporrio para sua utilizao, bem como proteo s criaes indus-triais, propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvi-mento tecnolgico e econmico do pas (art. 5, XXIX, CF);

    H) Direito de herana. Tal direito est previsto, de maneira pioneira, no trigsimo inciso, do art. 5, CF. Nas outras Constituies, ele era apenas deduzido do direito de propriedade.

    Ademais, a sucesso de bens de estrangeiros situados no pas ser regulada pela lei brasileira em benefcio do cnjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que no lhes seja mais favorvel a lei pessoal do de cujus (art. 5, XXXI, CF).

  • Didatismo e Conhecimento 14

    NOES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

    1.6 Direito privacidade. Para o estudo do Direito Constitucional, a privacidade o gnero, do qual so espcies a intimidade, a honra, a vida privada e a imagem. Neste sentido, o inciso X, do art. 5, da Constituio, prev que so inviolveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito indenizao pelo dano material ou moral decorrente de sua violao:

    A) Intimidade, vida privada e publicidade (imagem). Pela Teoria das Esferas, importada do direito alemo, quanto mais prxima do indivduo, maior a proteo a ser conferida esfera (as esferas so representadas pela intimidade, pela vida privada, e pela publici-dade).

    Desta maneira, a intimidade merece maior proteo. So questes de foro personalssimo de seu detentor, no competindo a tercei-ros invadir este universo ntimo.

    J a vida privada merece proteo intermediria. So questes que apenas dizem respeito a seu detentor, desde que realizadas em ambiente ntimo. Se momentos da vida privada so expostos ao pblico, pouco pode fazer a proteo legal que no resguardar a honra e a imagem do indivduo.

    Por fim, na publicidade a proteo mnima. Compete proteo legal apenas resguardar a honra do indivduo, j que o ato p-blico;

    B) Honra. O direito honra almeja tutelar o conjunto de atributos pertinentes reputao do cidado sujeito de direitos. Exatamente por isso o Cdigo Penal prev os chamados crimes contra a honra.

    1.7 Direitos de acesso justia. So vrios os desdobramentos desta garantia:A) Defesa do consumidor. Conforme o inciso XXXII, do art. 5, da Constituio, o Estado promover, na forma da lei, a defesa do

    consumidor. Tal lei existe, e foi editada em 1990. a Lei n 8.078 - Cdigo de Defesa do Consumidor;B) Inafastabilidade do Poder Judicirio. A lei no excluir da apreciao do Poder Judicirio leso ou ameaa de direito (art. 5,

    XXXV, CF). Junte-se a isso o fato de que os juzes no podem se furtar de decidir (proibio do non liquet). Isso tanto verdade que, na ausncia de lei, ou quando esta for omissa, o juiz decidir o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princpios gerais de direito (art. 4, da Lei de Introduo s Normas do Direito Brasileiro);

    C) Direito de petio e direito de certido. So a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas, o direito de petio aos Poderes pblicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder (art. 5, XXXIV, a, CF), bem como a obteno de certides em reparties pblicas, para defesa de direitos e esclarecimento de situaes de interesse pessoal (art. 5, XXXIV, b, CF);

    D) Direito ao juiz natural. A Constituio veda, em seu art. 5, XXXVII, a criao de juzos ou tribunais de exceo. Desta maneira, todos devem ser processados e julgados por autoridade judicial previamente estabelecida e constitucionalmente investida em seu ofcio. No possvel a criao de um tribunal de julgamento aps a prtica do fato to somente para apreci-lo.

    Em mesmo sentido, o art. 5, LIII, CF prev que ningum ser processado nem sentenciado seno pela autoridade competente;E) Direito ao tribunal do jri. Ao tribunal do jri compete o julgamento dos crimes dolosos contra a vida, salvo se tiver o agente

    prerrogativa de foro assegurada na Constituio Federal, caso em que esta prerrogativa prevalecer sobre o jri ( o caso do Prefeito Municipal, p. ex., que ser julgado pelo Tribunal de Justia, pelo Tribunal Regional Federal ou pelo Tribunal Regional Eleitoral a depen-der da natureza do delito perpetrado).

    Ademais, alm da competncia para crimes dolosos contra a vida, norteiam o jri a plenitude de defesa (que mais que a ampla defesa), o sigilo das votaes, e a soberania dos veredictos;

    F) Direito ao devido processo legal. Ningum ser privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal (art. 5, LIV). Em verdade, o termo correto devido procedimento legal, pois todo processo, para ser processo, deve ser legal. O que pode ser legal ou ilegal o procedimento.

    Ademais, h se lembrar que tambm na esfera administrativa (e no s na judicial) o direito ao procedimento devido.Por fim, insere-se na clusula do devido processo legal o direito ao duplo grau de jurisdio, consistente na possibilidade de que as

    decises emanadas sejam revistas por outra autoridade tambm constitucionalmente investida;G) Direito ao contraditrio e ampla defesa. Contraditrio e ampla defesa no so a mesma coisa, se entendendo pelo pri-

    meiro o direito vigente a ambas as partes de serem informadas dos atos processuais praticados, e pelo segundo o direito do acusado de se defender das imputaes que lhe so feitas. Assim, enquanto o contraditrio vale para ambas as partes, a ampla defesa s vale para o acusado.

    O contraditrio e a ampla defesa vigem tanto para o procedimento judicial como para o administrativo. Neste sentido, o art. 5, LV, CF prev que aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral so assegurados o contraditrio e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;

    H) Inadmissibilidade de provas ilcitas. So inadmissveis no processo tanto as provas obtidas ilicitamente (quanto contrrias Constituio) como as obtidas ilegitimamente (quando contrrios aos procedimentos estabelecidos pela lei processual). Prova ilcita e ilegtima so espcies do gnero prova ilegal.

    O art. 5, LVI, CF diz menos do que queria dizer, por se referir apenas s provas ilcitas;

  • Didatismo e Conhecimento 15

    NOES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

    I) Direito ao penal privada subsidiria da pblica. O titular da ao penal pblica o Ministrio Pblico, e a ele compete, pois, manejar esta espcie de ao penal. Se isto no for feito por pura desdia do rgo ministerial, possvel o manejo de ao penal privada subsidiria da pblica pela vtima (art. 5, LIX, CF);

    J) Direito publicidade dos atos processuais. Todos os atos processuais sero pblicos (art. 5, LX, CF) e as decises devero ser devidamente fundamentadas (art. 93, IX, CF). possvel impor o sigilo processual se o interesse pblico ou motivo de fora maior assim indicar;

    K) Direito assistncia judiciria. O Estado prestar assistncia jurdica integral e gratuita aos que comprovarem insuficincia de recursos (art. 5, LXXIV, CF). Defensoria Pblica competir tal funo, nos moldes do art. 134, caput, da Constituio Federal.

    Ademais, so gratuitos para os reconhecidamente pobres, na forma da lei, o registro civil de nascimento (art. 5, LXXVI, a, CF) e a certido de bito (art. 5, LXXVI, b, CF);

    L) Direito durao razovel do processo. Trata-se de inciso acrescido Constituio Federal pela Emenda Constitucional n 45/2004.

    Objetiva-se fazer cessar as pelejas judiciais infindveis. Para se aferir a durao razovel do processo, preciso analisar o grau de complexidade da causa, a disposio das partes no resultado da demanda, e a atividade jurisdicional que caminhe no sentido de prezar ou no por um fim clere (mas com qualidade).

    1.8 Direitos constitucionais-penais. Vejamos:A) Princpio da legalidade. No h crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prvia cominao legal (art. 5, XXXIX, CF).

    Ademais, a lei penal somente retroagir se para beneficiar o acusado (art. 5, XL, CF);B) Princpio da pessoalidade das penas. Nenhuma pena passar da pessoa do condenado (apenas a obrigao de reparar o dano e a

    decretao do perdimento de bens podem passar da pessoa do condenado, se estendendo aos seus sucessores at o limite do patrimnio transferido). Eis o teor inciso XLV, do art. 5, da Lei Fundamental ptria;

    C) Princpio da presuno de inocncia (ou presuno de no culpabilidade). Ningum ser considerado culpado at o trnsito em julgado de sentena penal condenatria (art. 5, LVII, CF). Assim, enquanto for possvel algum recurso, a presuno do acusado de inocncia.

    Isso no represente um bice imposio de prises processuais/medidas cautelares diversas da priso, todavia;D) Crimes previstos na Constituio. A prtica do racismo constitui crime inafianvel e imprescritvel, sujeito pena de recluso,

    nos termos da lei (art. 5, XLVV).A lei considerar crimes inafianveis e insuscetveis de graa ou anistia a prtica de tortura, o trfico ilcito de entorpecentes e

    drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evit-los, se omitirem (art. 5, XLIII, CF).

    Por fim, constitui crime inafianvel e imprescritvel a ao de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrtico (art. 5, XLIV, CF);

    E) Direitos relacionados a prises. Em regra, toda priso deve ser determinada pela autoridade judicial, mediante ordem escrita e fundamentada, salvo se em caso de flagrante delito (art. 5, LXI, CF).

    Ato contnuo, a priso de qualquer pessoa e o local onde se encontre sero comunicados imediatamente ao juiz competente e fa-mlia do preso ou pessoa por ele indicada (art. 5, LXII, CF).

    Nada obstante, o preso ser informado de seus direitos, dentre os quais o de permanecer calado (direito a no autoincriminao), sendo-lhe assegurada a assistncia da famlia e de advogado (art. 5, LXIII, CF).

    O preso tem direito identificao dos responsveis por sua priso ou por seu interrogatrio policial (art. 5, LXIV, CF), valendo lembrar que toda priso ilegal ser imediatamente relaxada pela autoridade judicial (art. 5, LXV, CF).

    Ademais, ningum ser levado priso ou nela mantido quando a lei admitir a liberdade provisria com ou sem fiana (art. 5, LXVI, CF).

    Por fim, s presidirias sero asseguradas condies para que possam permanecer com seus filhos durante o perodo de amamenta-o (art. 5, L, CF);

    F) Penas admitidas e vedadas pelo ordenamento ptrio. So admitidas as penas de privao ou restrio de liberdade, perda de bens, multa, prestao social alternativa, bem como suspenso ou interdio de direitos.

    Por outro lado, no haver penas de morte (salvo em caso de guerra declarada pelo Presidente da Repblica contra nao estran-geira), de carter perptuo, de trabalhos forados, de banimento e cruis. Eis o teor do inciso XLVI, do art. 5, da Magna Carta ptria;

    G) Uso de algemas. Consoante a Smula Vinculante n 11, s lcito o uso de algemas em casos de resistncia e de fundado receio de fuga ou de perigo integridade fsica prpria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da priso ou do ato processual a que se refere, sem prejuzo da responsabilidade civil do Estado;

  • Didatismo e Conhecimento 16

    NOES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

    H) Sigilosidade do inqurito policial para o defensor do acusado. De acordo com o art. 20, do Cdigo de Processo Penal, a auto-ridade policial assegurar no inqurito o sigilo necessrio elucidao do fato ou exigido pelo interesse da sociedade. Mas, esse sigilo no absoluto, pois, em verdade, tem acesso aos autos do inqurito o juiz, o promotor de justia, e a autoridade policial, e, ainda, de acordo com o art. 5, LXIII, CF, com o art. 7, XIV, da Lei n 8.906/94 (Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil), e com a Smula Vinculante n 14, o advogado tem acesso aos atos j documentados nos autos, independentemente de procurao, para assegurar direito de assistncia do preso e investigado.

    Desta forma, veja-se, o acesso do advogado no amplo e irrestrito. Seu acesso apenas s informaes j introduzidas nos autos, mas no em relao s diligncias em andamento.

    Caso o delegado no permita o acesso do advogado aos atos j documentados, cabvel reclamao ao STF para ter acesso s infor-maes (por desrespeito a teor de Smula Vinculante), habeas corpus em nome de seu cliente, ou o meio mais rpido que o mandado de segurana em nome do prprio advogado, j que a prerrogativa violada de ter acesso aos autos dele.

    1.9 Priso civil do devedor de alimentos. Esta , hoje, a nica espcie de priso civil por dvidas admitidas no ordenamento ptrio, j que o Brasil signatrio do Pacto de San Jos da Costa Rica, que veda a priso civil do depositrio infiel em seu art. 7, n. 7. A vedao priso civil do depositrio infiel, inclusive, motivou a Smula Vinculante n 25, que torne ilcita tal priso, qualquer que seja a modalidade de depsito.

    1.10 Habeas corpus. Vejamos o primeiro dos chamados remdios constitucionais:A) Surgimento. A Magna Carta inglesa, de 1215, foi o primeiro documento a prev-lo, enquanto o Habeas Corpus Act, de 1679,

    procedimentalizou-o pela primeira vez. No Brasil, o Cdigo de Processo Penal do Imprio, de 1832, trouxe-o para este ordenamento, enquanto a primeira Constituio Republicana, de 1891, foi a primeira Lei Fundamental ptria a consagrar o instituto ( da poca da Lei Fundamental a chamada Doutrina Brasileira do Habeas Corpus, que maximizava o instituto a habilitava-o a proteger qualquer direito, inclusive aqueles que hoje so buscados pela via do Mandado de Segurana). Hoje, a previso constitucional do habeas corpus est no art. 5, LXVIII, da Constituio da Repblica;

    B) Natureza jurdica. Trata-se de ao constitucional (e no de recurso processual penal, veja-se) de natureza tipicamente penal que almeja a proteo das liberdades individuais de locomoo quando esta se encontra indevidamente violada ou em vias de violao.

    Vale lembrar que, apesar de ser uma ao tipicamente penal, no h qualquer bice a que se utilize o habeas corpus em outras searas como a cvel, num caso de indevida privao de liberdade por dvida de alimentos, p. ex., ou na trabalhista, caso algum seja indevida-mente impedido de exercer seu labor, noutro exemplo;

    C) Espcies. O habeas corpus pode ser preventivo (quando houver mera ameaa de violao ao direito de ir e vir, caso em que se obter um salvo-conduto), ou repressivo (quando ameaa j tiver se materializado);

    D) Legitimidade ativa. amplssima. Qualquer pessoa pode manej-lo, em prprio nome ou de terceiro, assim como o Ministrio Pblico. A pessoa que o maneja chamada impetrante, enquanto que a pessoa que dele se beneficia chamada paciente (desta ma-neira, perfeitamente possvel que impetrante e paciente sejam a mesma pessoa).

    A importncia deste writ to grande que, nos termos do segundo pargrafo, do art. 654, do Cdigo de Processo Penal, os juzes e os tribunais tm competncia para expedir de ofcio o remdio quando, no curso do processo, verificarem que algum sofre ou est na iminncia de sofrer coao ilegal;

    E) Legitimidade passiva. Pode ser tanto um agente pblico (autoridade policial ou autoridade judicial, p. ex.) como um agente par-ticular (diretor de uma clnica de psiquiatria, p. ex.).

    F) Hipteses de coao ilegal. A coao ser considerada ilegal, nos moldes do art. 648, CPP, quando no houver justa causa para tal; quando algum estiver preso por mais tempo do que determina a lei; quando quem tiver ordenado a coao no tiver competncia para faz-lo; quando houver cessado o motivo que autorizou a coao; quando no for algum admitido a prestar fiana nos casos em que a lei autoriza; quando o processo for manifestamente nulo; ou quando extinta a punibilidade.

    Vale lembrar, por outro lado, que o segundo pargrafo, do art. 142, da Constituio, veda tal remdio constitucional em relao a punies disciplinares militares;

    G) Competncia para apreciao. A competncia determinada de acordo com a autoridade coatora. Assim, se esta for um Dele-gado de Polcia, o writ ser endereado ao juiz de primeiro grau; se for o juiz de primeira instncia, enderea-se ao tribunal a que vinculado; se for o promotor de justia, para um primeiro entendimento enderea-se ao juiz de primeira instncia e para um segundo entendimento enderea-se ao tribunal respectivo equiparando, pois, a autoridade ministerial ao magistrado de primeiro grau; se a auto-ridade coatora for o juiz do JECRIM, competente para apreciar o remdio ser a turma recursal.

    Vale lembrar, ainda, que o STF (arts. 102, I, d, i e 102, II, a, CF) e o STJ (arts. 105, I, c e 105, II, a, CF) tambm tm competncia para apreciar habeas corpus.

    H) Procedimento. O procedimento est previsto no Cdigo de Processo Penal, entre seus arts. 647 e 667;

  • Didatismo e Conhecimento 17

    NOES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

    I) Algumas consideraes finais. Pela Smula n 695, do Supremo Tribunal Federal, no cabe HC quando j extinta a pena privativa de liberdade.

    Pela Smula n 693, STF, no cabe habeas corpus contra deciso condenatria a pena de multa, ou relativo a processo em curso por infrao penal a que a pena pecuniria seja a nica cominada.

    Pela Smula n 690, STF, compete ao Supremo o julgamento de habeas corpus contra deciso de turma recursal dos juizados espe-ciais criminais.

    Por fim, pela Smula n 694, do Supremo, no cabe tal writ contra a imposio de pena de excluso de militar ou de perda de patente ou de funo pblica.

    1.11 Mandado de segurana. Vejamos:A) Surgimento. Trata-se de remdio trazido ao Brasil (h quem defenda, prevalentemente, que o instituto seja criao genuinamente

    brasileira) pela Lei Fundamental de 1934, e, desde ento, a nica Constituio que no o previu foi a de 1937. Hoje, o mandado de segurana individual est constitucionalmente disciplinado no art. 5, LXIX, e o mandado de segurana coletivo no art. 5, LXX, todos da Lei Maior ptria;

    B) Natureza jurdica. Trata-se de ao constitucional, de rito sumrio e especial, destinada proteo de direito lquido e certo de pessoa fsica ou jurdica no amparado por habeas corpus ou habeas data (com isso j se denota a natureza subsidiria do writ: ele somente cabvel caso no seja hiptese de habeas corpus ou habeas data).

    Ademais, apesar de ser mais comum sua utilizao no mbito cvel, bice no deve haver a sua utilizao nas searas das justias criminal e especializada;

    C) Espcies. O writ pode ser preventivo (quando se estiver na iminncia de violao a direito lquido e certo), ou repressivo (quan-do j consumado o abuso/ilegalidade);

    D) Legitimidade ativa. Deve ser a mais ampla possvel, abrangendo no s a pessoa fsica como a jurdica, nacional ou estrangeira, residente ou no no Brasil, bem como rgos pblicos despersonalizados e universalidades reconhecidas por lei (esplio, condomnio, massa falida etc.). Vale lembrar que esta legitimidade pode ser ordinria (se postula-se direito prprio em nome prprio) ou extraordi-nria (postula-se em nome prprio direito alheio);

    E) Legitimidade passiva. A autoridade coatora deve ser autoridade pblica ou agente de pessoa jurdica no exerccio de atribuies do Poder Pblico;

    F) Mandado de segurana coletivo. O mandado de segurana coletivo poder ser impetrado por partido poltico com representao no Congresso Nacional ou por organizao sindical, entidade de classe ou associao legalmente constituda e em funcionamento h pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados;

    G) Competncia. A competncia se fixa de acordo com a autoridade coatora. Assim, pode apreciar mandado de segurana um juiz de primeiro grau, estadual ou federal; os Tribunais estaduais ou federais; o STF (arts. 102, I, d e 102, II, a, CF); e o STJ (arts. 105, I, b e 105, II, b, CF);

    H) Procedimento. regulado pela Lei n 12.016/09, que revogou a Lei anterior, de n 1.533, que vigia desde 1951.

    1.12 Mandado de injuno. Vejamos:A) Surgimento. Prevalece que uma criao genuinamente brasileira, tendo sido previsto por primeira vez na Carta Fundamental

    ptria de 1988. Institutos com nomes semelhantes podem ser encontrados no direito anglo-saxo, embora, neste, sua finalidade distinta daquela para a qual a Constituio brasileira o criou. Atualmente, o mandado de injuno est disciplinado no art. 5, LXXI, da Consti-tuio Federal;

    B) Natureza jurdica. Cuida-se de ao constitucional que objetiva a regulamentao de normas constitucionais de eficcia limi-tada (omissas, portanto), assegurando, deste modo, o intento de aplicabilidade imediata previsto no pargrafo primeiro, do art. 5, da Constituio Federal;

    C) Legitimidade ativa. Toda e qualquer pessoa, nacional ou estrangeira, fsica ou jurdica, capaz ou incapaz, que titularize direito fundamental no materializvel por omisso legislativa do Poder pblico;

    D) Legitimidade passiva. Pertence autoridade ou rgo responsvel pela expedio da norma regulamentadora;E) Competncia. No tocante ao rgo competente para julgamento, o tal writ apresenta competncia mvel, de acordo com

    a condio e vinculao do impetrado. Assim, tal incumbncia caber ao Supremo Tribunal Federal, quando a elaborao de norma regulamentadora for atribuio do Presidente da Repblica, do Congresso Nacional, da Cmara dos Deputados, do Senado Federal, das Mesas de uma dessas Casas Legislativas, do Tribunal de Contas da Unio, de um dos Tribunais Superiores, ou do prprio Supremo Tribunal Federal (art. 102, I, q, CF); ao Superior Tribunal de Justia, quando a elaborao da norma regulamentadora for atribuio de rgo, entidade ou autoridade federal, da administrao direta ou indireta, excetuados os casos da competncia do Supremo Tribunal Federal e dos rgos da Justia Militar, da Justia Eleitoral, da Justia do Trabalho e da Justia Federal (art. 105, I, h, CF); ao Tribunal Superior Eleitoral, quando as decises dos Tribunais Regionais Eleitorais denegarem habeas corpus, mandado de segurana, habeas data ou mandado de injuno (art. 121, 4, V, CF); e aos Tribunais de Justia Estaduais, frente aos entes a ele vinculados;

  • Didatismo e Conhecimento 18

    NOES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

    F) Procedimento. No h lei regulamentando o mandado de injuno, se lhe aplicando, por analogia, a Lei n 12.016/09, inclusive no que atine ao mandado de injuno coletivo;

    G) Diferena do mandado de injuno para a ao direta de inconstitucionalidade por omisso. O mandado de injuno remdio habilitado a socorrer o particular numa situao concreta, isto , busca-se um pronunciamento apto a atender uma especificidade. J a ADO instrumento adequado a atender o particular numa situao abstrata, sendo dotado, por conseguinte, de contedo e finalidade mais abrangente que seu antecessor em razo de seu raio de alcance. Em outras palavras, seria dizer que o mandado de injuno se baseia em um comando da emergncia, e a ADI por omisso se baseia em um dispositivo de urgncia.

    H) Efeitos da deciso concedida em sede de mandado de injuno. Aqui h divergncia na doutrina e na jurisprudncia.Para uma primeira corrente (corrente no concretista), deve o Judicirio apenas cientificar o omisso em prol da edio normati-

    va necessria, dando injuno concedida natureza declaratria apenas. Este posicionamento imperou por muito tempo no Supremo Tribunal Federal.

    J um segundo entendimento, subdividindo-se, confere carter condenatrio ou mandamental cincia da mora, nos moldes de uma obrigao de fazer referida no art. 461 ou de uma execuo contra a Fazenda Pblica referida nos arts. 730 e seguintes, todos do Cdigo de Processo Civil, ensejando a necessidade de execuo de sentena, prpria no caso condenatrio, ou imprpria no caso mandamental. H julgados esparsos no STF perfilhando-se aos posicionamentos condenatrio e mandamental.

    Um terceiro entendimento (corrente concretista individual intermediria) entende que, constatada a mora legislativa, o caso de assinalar um prazo razovel para a elaborao da norma regulamentadora. Findo tal prazo e persistindo a omisso, caso de indenizao por perdas e danos a ser buscada perante o Estado.

    Por sua vez, uma quarta corrente (corrente concretista individual pura) acena pelo carter constitutivo da injuno concedida via pronunciamento judicial, mas que a criao normativa se limita apenas aos litigantes. Assim, admite-se atividade legislativa do Judici-rio, mas com alcance restrito s partes. Esse o posicionamento atualmente prevalente no Guardio da Constituio Federal.

    Por fim, uma quinta corrente (corrente concretista geral) entende, sim, ser constitutiva a natureza da injuno concedida, tomando de um caso especfico a inspirao necessria para a edio de uma norma geral e abstrata. Seria o exerccio atpico de atividade legis-lativa do Judicirio. Consoante tal entendimento, o STF sanaria ele prprio a ausncia de regulamentao a normas constitucionais de eficcia e aplicabilidade limitada.

    1.13 Habeas data. Vejamos:A) Surgimento. A origem do habeas data est no direito norte-americano, atravs do Freedom of Information Act, de 1974, com a

    finalidade de possibilitar o acesso do particular aos dados ou s informaes constantes de registros pblicos ou particulares permitidos ao pblico. No Brasil, a Constituio Federal de 1988 foi a primeira a traz-lo, em seu art. 5, LXXII;

    B) Natureza jurdica. Trata-se de ao constitucional, que objetiva assegurar o conhecimento de informaes relativas pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais de carter pblico, bem co