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ATA DA 6ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA COMISSÃO NACIONAL DE POLÍTICA INDIGENISTA Brasília, 18 e 19 de setembro de 2008.

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ATA DA 6ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA

COMISSÃO NACIONAL DE

POLÍTICA INDIGENISTA

Brasília, 18 e 19 de setembro de 2008.

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ATA da 6ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA COMISSÃO NACIONAL DE POLÍTICA INDIGENISTA

Aos 18 dias do mês de setembro do ano de dois mil e oito, no Hotel Nacional, Brasília,

Distrito Federal, realizou-se a 6ª Reunião Ordinária da Comissão Nacional de Política Indigenista, com

a participação dos seguintes representantes titulares e suplentes indígenas: Ak'jabor Kayapó,, Anastácio

Peralta Guarani Kaiowá, Antonio Pessoa Potiguara, Brasílio Priprá, Dilson Domente Ingaricó, Dodô

Reginaldo Lourenço Terena, Élcio Severino Manchinery, Francisca Pareci, Heliton Gavião, Ivan Bribis

Rodrigues, João Xerente, José Arão Guajajara, José Ciríaco Sobrinho Potiguara, Kleber Luiz dos Santos,

Lindomar Rodrigues Xocó, Lourenço Borges Milhomem, Luiz Fernando Matchua Kadiwéu, Luiz Titiah

Pataxó Hã Hã Hãe, Manoel Messias da Silva Xucuru, Marcos Luidson Xucuru, Sandro Emanuel dos

Santos Tuxá, Sansão Ricardo Flores, Simone Vidal da Silva Karipuna; representantes de governo:

Márcio Augusto Freitas de Meira, André Araújo – Ministério do Desenvolvimento Agrário, Carlos

Nogueira da Costa Junior – Ministério de Minas e Energia, Celso Lourenço Correa – Casa Civil, Edgard

Dias Magalhães – Funasa, Gersen dos Santos Luciano – Ministério da Educação, Heloisa Solino Evelin –

GSI, Jorge Luiz Quadros – Ministério da Justiça, Cel. José Caixeta Ribeiro – GSI, Kleber Gesteira Matos

– SG/PR, Lylia da Silva Guedes Galetti – Ministério do Meio Ambiente, Luana Lazzeri Arantes –

Ministério do Desenvolvimento Social e do Combate à Fome, Cel. Marinho Pereira Rezende Filho –

Ministério da Defesa, Olga Cristina Novion – Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão,

Quenes Gonzaga – SG/PR, Teresinha Maglia – Ministério da Justiça, Wanderley Guenka – Funasa;

representantes da sociedade civil: Gilberto Azanha – CTI, Ricardo Verdum – Inesc, Saulo Ferreira

Feitosa – CIMI; convidados permanentes: Deborah Duprat – 6ª Câmara do Ministério Público Federal,

Alda Freire de Carvalho – Advocacia Geral da União.

A ata da 6ª Reunião Ordinária da Comissão Nacional de Política Indigenista, realizada

nos dias 18 e 19 de junho de 2008, consiste na transcrição, na íntegra, das falas dos membros titulares e

suplentes da CNPI, e demais participantes desta reunião, conforme a seguir:

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6ª Reunião Ordinária Brasília, Distrito Federal, 18 e 19 de setembro de 2008

Dia 18 de setembro de 2008 – Manhã

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Bom dia. Eu queria agradecer aqui a presença do Professor Nado, Chefe de Gabinete do Ministério da Justiça. A apresentação do Professor Nado é o primeiro ponto da nossa pauta aqui. Normalmente, nós começamos o nosso trabalho com a aprovação da ata da reunião passada e, em seguida, entramos na nossa pauta normal. Mas, eu queria sugerir à plenária que, hoje, nós começássemos com a apresentação do Professor Nado sobre o Pronasci porque ele tem que pegar um avião e só dispõe de 45 minutos para fazer aqui essa apresentação. Então, eu queria sugerir à plenária que a gente entrasse na apresentação e, em seguida a essa discussão sobre o Pronasci, retomaríamos a nossa pauta, com a aprovação da reunião passada etc. Ou seja, faríamos uma inversão de pauta, diante da necessidade de o Professor Nado sair.

Eu queria só deixar um esclarecimento. Essa é uma pauta que nós já tínhamos agendado, pelo menos, há umas duas ou três reuniões da CNPI e que foi sendo adiada. Finalmente, hoje, vamos ter essa discussão aqui. Qual é a idéia do Pronasci? O Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania é um programa coordenado pelo Ministério da Justiça e, dentro do Ministério da Justiça, o coordenador é o Professor Nado. A idéia é que o Professor Nado apresente para nós o que é o programa para que a Bancada Indígena, principalmente, e posteriormente a Comissão, com base na apresentação dele, possam trazer propostas para que o Pronasci possa incorporar também a questão indígena, dentro do seu programa. Na verdade, eu estou esclarecendo isso porque o Professor Nado não vai trazer nenhuma proposta específica para a questão indígena, embora, estejamos todos abertos para, justamente, a partir do programa, receber a contribuição da CNPI. Eu só queria dar esse esclarecimento inicial e consultar se estamos de acordo com relação a esse encaminhamento, por conta do tempo. Não estou vendo nenhuma manifestação contrária, então, gostaria de passar a palavra ao Professor Nado para ele poder fazer a apresentação do Pronasci.

Professor Nado − Coordenador do Pronasci no Ministério da Justiça: Obrigado, Presidente Márcio. Obrigado, Comissão Nacional de Política Indigenista por nos receberem neste momento. Eu estou acompanhado do Coordenador de Relações Institucionais do Pronasci, Professor Celso Paz. Igualmente nos acompanha o Edson, que responde pelo Sistema de Monitoramento e Avaliação do Pronasci − SIMAP, construído e elaborado pela Fundação Getúlio Vargas.

Integrantes da CNPI,

O Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania − Pronasci será apresentado em três etapas. Por quê? Primeiro, nós temos uma breve apresentação conceitual. Nessa apresentação conceitual teremos a possibilidade do entendimento do que pretendemos, de fato, com o Pronasci. Uma segunda etapa é o “estado da arte”, como o Ministro Tarso Genro gosta de dizer, ou seja, em que nível se encontra o Pronasci na sua execução, efetivamente. E um terceiro momento é uma brevíssima

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animação, quando nós buscamos informar, esteticamente, o que será o Pronasci quando se tornar realidade no cotidiano das áreas indicadas.

Então, vamos imediatamente à apresentação. O primeiro ponto central é a compreensão do que se tem referido como mudança de paradigma na área da segurança pública, a partir do segundo mandato do Presidente Lula. O que verdadeiramente pretendemos? Quando iniciamos o debate sobre o Pronasci, no seu processo de formulação, lá em março e abril de 2007, nós costumávamos escutar que segurança pública deveria ser tratada rigorosamente, numa visão mais conservadora e mais tradicional da repressão. Inclusive, nós escutamos as corporações e ouvimos dizer que é preciso mais armamento, mais viaturas, mais coletes, mais munição; é preciso ter armas do mesmo nível das armas que, invariavelmente, hoje os traficantes possuem; ou seja, é preciso reprimir com mais qualidade.

Essa visão mais conservadora vem sendo debatida por intelectuais, estudiosos, acadêmicos, que têm dito o contrário. Eles têm dito o seguinte: não se resolve a insegurança, a violência e a criminalidade, só com repressão. É preciso, na verdade, termos concretamente mais saúde, mais educação, mais emprego, melhores condições de vida, mais ações sociais capazes de reduzir a criminalidade.

O que o Pronasci faz? Não faz uma opção entre a primeira visão, mais conservadora, e a segunda visão, mais progressista. O Pronasci coloca um “e” no lugar do “ou” e busca aliar ações sociais, mobilizadas em nome da segurança. Então, busca integrar e aliar a necessária prevenção − para evitarmos o avanço do crime e da violência − com uma necessária também repressão. Afinal, é prerrogativa do Estado o uso da força, quando se fizer necessário. Então, o Pronasci integra ações sociais e ações de segurança, fazendo com que tenhamos objetivos muito claros:

1. A valorização dos profissionais de segurança pública.

Não é possível mudar esse paradigma sem que os policiais estejam mudando também, se capacitando, se qualificando, portanto, tendo uma nova visão.

2. A ressocialização das pessoas com penas restritivas de liberdade.

Os senhores sabem que, hoje no Brasil, a população carcerária alcança 450.000. Dessa população carcerária, aproximadamente 75% a 76% são jovens entre 18 e 24 anos. E desses 76%, por sua vez, há uma reincidência que bate quase na casa de 80%. Ou seja, esses jovens, que são a imensa maioria da população apenada, passam pela prisão, voltam para a vida, mas voltam para a vida do crime. Então, se não ressocializarmos esses jovens de fato, nós não teremos uma alteração na insegurança e na violência, nos índices que aí estão postos hoje na sociedade brasileira.

3. A promoção do acesso desses jovens às políticas sociais do governo.

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Muitos desses jovens que foram cooptados pelo crime não querem mais saber da escola, não querem mais saber de um atendimento psico-social, não querem ter acesso a ações do Estado, estão definitivamente incorporados à realidade do crime. 4. Promoção do acesso à justiça.

Esse é um outro dado estarrecedor. Dessa população de 450.000 apenados, nós temos perto de 80.000 que não deveriam estar presos hoje. Olhem a responsabilidade para afirmar isso! Nós somos do Ministério da Justiça, temos a responsabilidade do Departamento Penitenciário Nacional e, hoje, 80.000 apenados não deveriam estar lá, deveriam estar soltos, cumprindo penas alternativas, tendo outras punições menos rigorosas do que estar lotando o estabelecimento penal que, a essa altura, nem vaga mais tem. Nós estamos trabalhando nesse sentido. Isso ocorre invariavelmente. O cidadão está preso, deixou de ser cidadão temporariamente para ser apenado, mas continua preso lá, por não ter assistência jurídica, por desconhecer minimamente os seus direitos e não ter acesso à justiça. Portanto, isso é fundamental.

5. Intensificar o combate ao crime organizado e à corrupção policial.

Os senhores têm acompanhado as ações da Polícia Federal que, se necessário, têm cortado na própria carne, como os senhores presenciaram nesses últimos dias, mas estamos combatendo isso com o devido rigor, sob a orientação do nosso Ministro.

6. Recuperação de equipamentos urbanos.

Por vezes, uma lâmpada numa praça reduz o índice de criminalidade. Então, é preciso reurbanizar também essas áreas conflagradas.

Todos esses objetivos estão sustentados na promoção dos direitos humanos, respondendo à questão de gênero, à etnia, à raça à orientação sexual e à ampla diversidade cultural do Brasil. As razões do crime no Rio de Janeiro não são as mesmas razões do crime em Recife. Então, é preciso observar também essa peculiaridade.

De primeiro, nós já mostramos os valores. Por quê? Porque, invariavelmente, a gente raciocina com bons conceitos e, no final, muitos me indagam: Tem dinheiro para tudo isso? Temos. São 6,7 bilhões. O orçamento da segurança pública nunca ultrapassou 600 a 700 milhões/ano, no governo federal. A partir do Pronasci, nós temos a manutenção dos recursos do Fundo Nacional de Segurança Pública e do Fundo Penitenciário Nacional, que bate na casa de 600 a 700 milhões. Além disso, nós temos R$ 1.406.000.000/ano para investirmos na ação de segurança. Portanto, são praticamente dois bilhões/ano, o que vai totalizar quase 10 bilhões em quatro anos. Essa é uma oportunidade que nós não tivemos até aqui. O Presidente Lula, a partir do Pronasci, nos oportuniza esse debate e a implementação de soluções.

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Então, não resta nenhuma dúvida que a questão indígena tem que estar igualmente contemplada pelo Pronasci, haja vista a violência que conhecemos no campo e nessa área. Então, aqui temos 6,7 bilhões.

Há alguns estados prioritários. Por quê? Porque, evidentemente, nós temos um índice de violência nos orientando. Então, os estados prioritários são: Acre, Alagoas, Bahia, Ceará, o Entorno do Distrito Federal, Espírito Santo, Minas Gerais, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo. Esses são os mais violentos do país. Só para os senhores entenderem, a média nacional da taxa de homicídios é de 29/100.000 habitantes. Isso, no Brasil. O Rio Grande do Sul, por exemplo, está rigorosamente na média. Agora, se apontarmos o Rio de Janeiro, a taxa de homicídios chega a 54/100.000. E, estarreçam-se, no Grande Recife, a taxa de homicídios vai a 78/100.000; na Grande Vitória, vai a 74/100.000. Então, a vitrine internacional do país é o Rio de Janeiro, com uma taxa de homicídios de 54/100.000 habitantes. Agora, a Grande Recife está com uma taxa de homicídios de 78/100.000. Então, é preciso observar que, lamentavelmente, a violência está avançando em todo o país. Outros estados estão contemplados com algumas ações: Rio Grande do Norte, Piauí, Sergipe e Tocantins.

Qual é o foco central do Pronasci? Nós queremos resgatar o jovem para a cidadania, o jovem entre 15 a 24 anos, o jovem em situação de risco, o jovem que está preso, o jovem egresso do sistema prisional e, portanto, ressocializado, na nossa perspectiva, o jovem que está em absoluto descontrole familiar ou em conflito com a lei. Nós iremos identificar esses jovens na comunidade, como irei demonstrar em seguida.

O jovem oriundo do serviço militar é também foco do Pronasci porque este jovem, hoje, tem sido cooptado pelo crime organizado, porque ele tem talento no manuseio de armas, ele tem capacidade de estratégia e tática e esse conhecimento, hoje, está sendo assimilado pelo crime organizado. Então, ele se encontra ali por duas razões: para evitar que ele seja cooptado, de um lado, e para auxiliar na identificação dos demais jovens em conflito com a lei. Portanto, o jovem oriundo do serviço militar é importante nesse momento.

Obviamente, não poderia afastar, como foco do programa, os profissionais de segurança pública. A idéia é que tenham uma nova capacitação.

Agora, um dado importante. Nós organizamos o Pronasci em ações estruturais e programas locais. As ações estruturais alcançam os 26 estados e o Distrito Federal, as 27 Unidades da Federação. Os programas locais estão tendo início nas áreas mais violentas do país, que são aquelas 11 primeiras regiões metropolitanas, de mais alto índice de violência. Então, o que acontece? Nós temos 94 projetos e ações. Obviamente, eu não irei me debruçar uma a uma, sob pena de não terminarmos este encontro hoje, mas irei listar aquelas que são fundamentais para o sucesso do Pronasci.

1. Estruturação de estabelecimentos penais especiais para jovens e para mulheres.

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São estabelecimentos penais com sala de aula, com um anfiteatro para cultura, com um módulo de saúde, com inclusão digital. Esses estabelecimentos penais terão 421 vagas previstas para jovem. Nós vamos retirar os jovens do sistema prisional tradicional, os que estão apenados, e colocá-los nesse novo estabelecimento para, de fato, pensarmos em ressocialização. Então, o estabelecimento penal é fundamental. Para as mulheres, em separado, igualmente, para não vivermos o que presenciamos lá no Pará, que certamente todos tiveram a oportunidade de ter a informação.

2. Reformulação das instituições de segurança pública.

Nós queremos a polícia de proximidade. Não queremos mais a polícia radiopatrulha, como teoricamente chamamos. O que é a polícia radiopatrulha? Todos conhecem aqui. Sentam dois policiais numa viatura e fazem a ronda. Quando escutam um barulho em determinado bairro, vila ou mesmo favela, tratam, ou de acelerar e fazem de conta que não ouviram o barulho, ou continuam a ronda normalmente, sem ter ouvido nada. Essa polícia de rádio-patrulhamento tem que ser substituída por uma polícia de proximidade. A nossa utopia é, de fato, alcançarmos a Polícia Comunitária Cidadã, que será uma nova representação do Estado dentro da comunidade, um policial capaz não só de dirimir conflitos, mas um policial capaz de informar quais equipamentos do Estado estão disponíveis ali naquela região para assistir o cidadão do ponto de vista da saúde, do ponto de vista educacional, do ponto de vista cultural. Portanto, é um novo policial, uma nova visão, um novo paradigma.

3. Manutenção da Força Nacional de Segurança com sede própria.

Nós teremos, aqui em Luziânia, 550 homens e mulheres de prontidão para qualquer necessidade de todos os estados brasileiros. Agora, no dia 30, o Ministro Tarso Genro inaugura a sede e os primeiros 150 homens chegam para a capacitação e qualificação na Força Nacional de Segurança Pública.

4. Construção dos Centros de Reabilitação do Agressor − Lei Maria da Penha.

Aqui temos um dado para a compreensão de todos que eu julgo igualmente decisivo. Hoje, eu tenho a responsabilidade de ser o Chefe de Gabinete do Ministro Tarso Genro e de ser o Secretário-Executivo do Pronasci. Por que o Ministro Tarso Genro colocou o Pronasci no gabinete? O Pronasci não é da Secretaria Nacional de Segurança Pública − SENASP, como não é do Departamento Penitenciário Nacional − DEPEN, como não é da FUNAI, como não é da Polícia Federal, nem da Polícia Rodoviária Federal, nem da Secretaria da Reforma do Judiciário, tampouco da Secretaria Nacional de Justiça. O Pronasci mobiliza todo o Ministério, em nome da segurança, ampliando o conceito. Para o Ministro Tarso Genro, segurança é segurança econômica, é segurança jurídica, é segurança política, é segurança pública. Para que pudéssemos ampliar este conceito, todas as unidades, todos os órgãos, todos os departamentos do Ministério da Justiça estão mobilizados com quatro, cinco, seis projetos cada um. Os 94 projetos são responsabilidade de Secretaria a Secretaria. Não é mais a SENASP que tem,

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exclusivamente, a responsabilidade sobre a segurança; não é só o DEPEN que tem responsabilidade sobre a questão previdenciária. O Pronasci articula esse conjunto de ações.

Então, a Lei Maria da Penha, que é estruturada, tocada pela Secretaria da Reforma do Judiciário é uma das ações fundamentais para assistirmos a violência contra a mulher, para podermos enfrentá-la satisfatoriamente e isso demonstra a horizontalidade das ações do Pronasci. É por isso que eu me encontro aqui. A FUNAI, que é Ministério da Justiça, tem de imediatamente se integrar a essa mobilização que todas as Secretarias e todos departamentos estão produzindo, em função do Pronasci e a partir dele.

5. Valorização dos profissionais de segurança pública.

Observem bem o que estamos fazendo e que é transformador, de fato. Tem um tripé aqui. Para mudar a segurança pública, tem que valorizar o profissional. Como é que se valoriza o profissional? Tem que ter melhor salário, tem que ter mais preparo, mais capacitação e mais capacidade para trabalhar, e tem que ter moradia digna. Hoje, no Brasil, tem policiais que têm que trocar de roupa para poder chegar em casa porque, senão, ele é identificado imediatamente como um policial e, portanto, considerado um perigo para aquela área em que o tráfico, por exemplo, domina. Então, nós estamos oferecendo um Plano de Financiamento Habitacional para os policiais de baixa renda. Já entregamos 460 unidades no Rio Grande do Sul, perto de 20 ou 30 em Alagoas e vamos entregar agora 1.000 unidades no Rio de Janeiro. E é praticamente sem juros. É a mais baixa operação na Caixa Econômica Federal e os policiais podem acessar sem ter a dificuldade do cadastro. Muitos policiais não estão morando minimamente de forma digna porque, quando chegam lá para pedir o financiamento, têm problema no SPC, no SERASA. Então, haverá isenção cadastral, autorizada por lei. Nós estamos conquistando isso e fazendo com que o policial resgate a sua dignidade, morando melhor, recebendo uma bolsa e estudando. Para estudar, ele recebe R$ 400,00. Muitos podem perguntar: “Mas R$ 400,00 resolve?”. No Rio de Janeiro, um policial militar percebe R$ 850,00 por mês; no Rio Grande do Sul, que a gente sempre diz que é um estado politizado, lá na ponta do Brasil, um policial militar percebe R$ 860,00. Esse é o salário de um policial da Brigada Militar do Rio Grande. Então, R$ 400,00 é um aumento efetivo de 50% no salário. E mais. Ele vai estudar para se formar como um Policial Comunitário, ele recebe os R$ 400,00 e, se quiser, pega os R$ 400,00 e paga a prestação da casa própria, que não chega a R$ 400,00, fica sempre em torno de R$ 250,00 ou R$ 270,00. Então, percebam que esse tripé a que me referi é seguramente a possibilidade concreta do resgate da dignidade do policial.

6. Ampliação da Rede Nacional de Altos Estudos em Segurança Pública − RENAESP.

A Rede Nacional de Altos Estudos em Segurança Pública está mobilizada para assistir a esse policial. O que é a RENAESP? 81 instituições de nível superior, 81 universidades estão formando policiais. Os senhores sabem que todos aqui, para pensarem a segurança pública e a questão indígena, têm que se desobrigar daquela idéia: “Eu não sou um intelectual da área de segurança! Eu não sou um estudioso. Eu

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não sou um policial!”. Eu quero dizer aos senhores que, se nós mobilizarmos hoje a intelectualidade da segurança pública do Brasil, nós não vamos chegar a mais que 10 ou 12 nomes. Quando eu convoco os intelectuais para fazer uma discussão, são sempre os mesmos 10 ou 12. Não é culpa deles! Que bom que eles estão estudando segurança pública, mas nós não temos 20, não temos 30, não é como uma outra área do saber. Se nós chegarmos a uma biblioteca e procurarmos onde está a prateleira dos livros sobre segurança pública, eu os desafio a encontrar uma prateleira cheia sobre o tema. Não tem. Tem violência, violência, violência! Agora, como enfrentá-la, quais estratégias, quais programas, nós temos parcos recursos intelectuais a esse respeito. Com isso, eu estou justificando que, se tem um caráter revolucionário no Pronasci, seguramente, é a Rede Nacional de Altos Estudos. Por quê? Porque nós estamos gerando uma nova inteligência de segurança pública, que não há no nosso país. Portanto, essa é uma oportunidade rara, com essas 81 instituições, e seguem aí inúmeros cursos, como cursos de tecnólogo, especialista, Mestre em Segurança pública etc. Vocês conhecem Faculdade de Segurança Pública no Brasil? Tem Graduação de Segurança Pública no Brasil? Pois agora passará a ter. Invariavelmente, a área de segurança é confundida com a área de Direito. O policial federal vai fazer um concurso e o ideal é que ele seja formado em Direito. É importante, mas não é segurança pública. Então, nós estamos inovando nessa área. Seguem inúmeros cursos, como cursos de tecnologia não letal, fonética forense, medicina legal, entre outros.

7. Enfrentamento à corrupção policial e ao crime organizado.

Estamos desenvolvendo também ações normativas capazes de incidir na mudança:

• A Reforma do Código de Processo Penal. Nós fizemos quatro alterações muito significativas que já foram aprovadas no Congresso Nacional. Não é possível mais levar tanto tempo para resolver se o cara tem que ser condenado ou não. Eu estive no Rio de Janeiro no aniversário dos 15 anos da chacina de Vigário Geral. Olhem que horrível! Lá, estivemos debatendo, depois de 15 anos, o que se processou. Passaram-se 15 anos e muito daqueles que foram responsáveis pela chacina estão sendo processados, mas ainda estão sendo processados. Apenas um ou dois já foram punidos. Os demais estão empurrando o processo na Justiça, entram com um recurso, com mais um recurso e assim vai. Agora, o novo Código de Processo Penal não admite recurso interposto. Tem direito a uma instância e, naquela instância, pode recorrer uma vez. Não fica naquela história de entrar na Vara de crime comum, depois vai para Vara Federal, depois acessa o Supremo e cada um vai pedindo mais prazo do que o outro. Agora, não é assim. Então, a Reforma do Código do Processo Penal é Fundamental.

• Lei de Lavagem de Dinheiro e a Lei de Tipificação do Crime Organizado. O crime organizado não era tipificado, até então. Quando se tipificava o crime organizado, na hora de abrir o inquérito e depois o processo todo, ficava se pensando o seguinte: “E agora? Vou enquadrá-lo como crime financeiro, como um crime comum, como formação de quadrilha?”. Agora, tem a lei que tipifica e caracteriza o crime organizado.

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• Regulamentação do Sistema Único de Segurança Pública − SUSP. Todos conhecemos os avanços que ocorreram no país, na área da saúde, após a instituição do SUS. Agora, nós queremos o SUSP, que já está pactuado entre os estados, mas ainda não está regulamentado. Isso está previsto no Parágrafo 7º do Art. 144 da Constituição Cidadã de 1988, mas até hoje nós não regulamentamos a segurança pública no país. Tem lá orientações gerais na Carta Magna, mas não tem a regulamentação. É isso que pretendemos agora através do SUSP.

• A Lei Orgânica para a Polícia Civil e Polícia Militar. Cada polícia no nosso país faz do jeito que acha melhor, desde a formação até à orientação do seu trabalho. No Rio Grande do Norte é absolutamente diferente do Rio Grande do Sul. Então, temos que ter padrões mínimos, ainda que respondam às peculiaridades locais.

• Estruturação de Ouvidorias.

• Campanha do Desarmamento.

• Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, que seguramente pode dizer respeito a um debate nosso conjunto.

Enfim, essas são as ações estruturais. Agora, eu quero apresentar rapidamente alguns programas locais:

1. Programa Território de Paz

Institui-se um Gabinete de Gestão Integrada Municipal, com o apoio da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal, da Polícia Civil, da Polícia Militar, a presença da Prefeitura, dos seus Secretários da Área de Ação Social, enfim, se integra uma inteligência local para discutir a violência. A partir daí, o Ministério da Justiça aporta recursos, contrata uma equipe multidisciplinar e começa a desenvolver um plano de comunicação comunitário. Vai lá na comunidade dizer que o Pronasci está chegando. E está chegando com quê? Está chegando com o Programa II, que pode ter a apoio da Força Nacional de Segurança, se necessário, mas faz a integração do jovem e da família.

Eu vou dar um exemplo que tenta sintetizar o conjunto de projetos do Programa II, que é o Programa Integração do Jovem e da Família.

2. Programa Integração do Jovem e da Família.

Aquele plano de comunicação é desencadeado, chegamos à comunidade com a equipe multidisciplinar, sob orientação do gabinete de gestão e se identifica uma família. Esta família tem a mãe e três filhos. Um não está em casa porque está preso; o segundo está na idade de seguir o caminho do irmão mais velho, substituindo-o no crime; e o terceiro é novinho e está saindo para a escola naquele momento. O

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que faremos? Identificada essa família, nós iremos aportar o Economia Solidária para a família, através da relação que estabelecemos com o Ministério do Trabalho e Emprego. A Economia Solidária vai tentar retirar aquele segundo filho do crime. Esse segundo filho virá para um atendimento psico-social e imediatamente ingressará no Projeto para Jovens em Território de Descoesão Social − PROTEJO. Ali nós teremos um resgate da sua cidadania, uma aula de direitos e deveres. Não é escola regular. Esse jovem será assistido com uma bolsa de R$ 100,00. Além do Economia Solidária, a mãe poderá formar-se “Mulher da Paz”, recebendo uma bolsa de R$ 190,00, para nos auxiliar na identificação de outras famílias em risco. O que nós queremos? Queremos assistir aquela família, oferecer possibilidade de trabalho, oferecer uma bolsa para resgatar a cidadania do jovem. Então, essas ações integradas, e em grande escala, porque recursos nós temos, farão com que a nossa incidência, a nossa inserção na área conflagrada de fato comece a constranger o crime e a mudar aquela ambiência. Essa é a nossa expectativa, a partir de uma série de projetos.

Temos aqui o representante do Ministério da Saúde, da FUNASA. No Programa de Saúde da Família − PSF, os agentes comunitários estão sendo capacitados com uma nova atribuição, que eu tenho chamado de “atribuição Pronasci”. Além de todas as atribuições que ele tem na área da saúde, ele também tem que nos auxiliar a identificar a família em risco, informar o Pronasci e, imediatamente, nós somos acionados e vamos até lá à família indicada pelo agente comunitário do PSF. Nós temos 14 Ministérios que são nossos parceiros e que estão relacionados com todas essas ações que eu vou apresentando aqui, aos poucos.

3. Programa Segurança e Convivência.

• Implementação de um novo modelo de polícia.

Na hora em que o novo modelo de polícia está instituído, esses policiais que estão estudando são levados para a área conflagrada. São os policiais com uma nova visão, um novo paradigma, um novo modelo de polícia, que é a Polícia Comunitária.

• Espaços urbanos reorganizados

Temos que ter os espaços urbanos reorganizados, então, nos conectamos com o Programa de Aceleração do Crescimento − PAC. Um exemplo concreto é o Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. Há uma previsão de 496 milhões em obras para o Complexo do Alemão. Até um teleférico, um bondinho, vai ter para subir o morro. É um novo sistema viário na favela. É uma reurbanização de fato. Isso está conectado com a chegada do Pronasci. O PAC e o Pronasci chegam juntos para reurbanizar, transformar a ambiência e, portanto, mudá-la de forma significativa.

• Percurso Social Informativo.

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O que é o Percurso Social Informativo? É a nossa interface com o Ministério da Educação, a nossa interface com o Ministério da Ciência e Tecnologia, a nossa interface com o Ministério do Desenvolvimento Social. Por que essa interface com os Ministérios? Porque aquele jovem que nós resgatamos no atendimento psico-social, agora, tem que voltar para a escola regular. Se não tem vaga, o Pronasci vai lá e paga a vaga. Como? Descentraliza recursos para o Ministério da Educação. Se lá na hora conflagrada houver mil jovens estudando no Programa de Educação de Jovens e Adultos − EJA, e nós identificarmos que há 80 jovens do Pronasci que têm que voltar a estudar na escola regular, nós chegaremos ao Ministério da Educação e diremos: “Nós queremos pagar esses 80 que estão chegando”. Nesse caso, descentralizamos recursos para o Ministério da Educação e eles asseguram a integração daqueles jovens identificados pelo Pronasci. E assim segue o percurso social com o EJA, o Brasil Alfabetizado, o PROUNI e Universidade Aberta do Brasil, orgulhosamente, projetos iniciados pelo Ministro Tarso Genro, quando lá estivemos no Ministério da Educação. Então, isso também é fundamental porque o jovem poderá sair do crime e chegar à universidade, desde que ele tenha essa assistência do Pronasci.

Na área da cultura, temos os pontos de cultura e os museus comunitários. Estaremos instalando pontos de cultura lá dentro do Complexo do Alemão, lá dentro da área conflagrada. Isso já está pactuado. Os recursos já estão descentralizados para o Ministério da Cultura. No esporte, da mesma maneira. Já temos uma ação incisiva com o Ministro Orlando porque é fundamental o resgate do jovem. Temos o programa de inclusão digital e assim nós queremos acreditar que é possível essa mudança, essa transformação.

Isso aqui é só a etapa conceitual. Eu vou mostrar agora, muito rapidamente, o relatório das ações para vocês compreenderem que tudo isso que foi dito agora, ainda que brevemente. Eu sei que, às vezes, a gente é exaustivo, mas quando eu apresentei o Pronasci, diante do Presidente e do Ministro, para todo o país, no dia 20 de agosto de 2007, eu falei vinte minutos. Hoje, para falar do Pronasci, é quase impossível fazê-lo em menos de uma hora e meia a duas horas.

Observem como boa parte do que eu disse vem se tornando realidade. Esse é o relatório das ações. Isso que eu apresentei a vocês até aqui foi apresentado para o Presidente Lula e para o Ministro lá no dia 20 de agosto de 2007. De lá para cá, o que produzimos?

• Força Nacional de Segurança Pública com 8.000 homens formados. Há 8.000 homens que estão prontos, no país, com uma nova visão para qualquer intervenção. Destes, 696 já estão atuando − no Rio de Janeiro, no Maranhão, no Distrito Federal, em Roraima − enfim, tem homens espalhados por todo o país. A sede, como eu disse, está por ser inaugurada.

• Gabinete de Gestão Integrada Municipal. Dos 84 municípios indicados como os mais violentos, 73 já instalaram o Gabinete de Gestão Integrada, por lei municipal. E 55 deles já receberam um aporte de recursos para instituir a inteligência local, com vídeo monitoramento, câmeras, um pequeno centro

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de inteligência, informática, para que também eles possam estar efetivamente observando o que ocorre na violência local. Foram disponibilizados 51 milhões.

• A Rede Nacional de Altos Estudos. São quatro ciclos, sendo que, 51.000 policiais estudaram no primeiro ciclo, 85.000 no segundo ciclo, 125.000 no terceiro e este total aqui está em amarelo porque, ontem, já fechamos em 135.000. Portanto, já alcançamos praticamente 1/3 do efetivo nacional do país. Nós temos hoje 650.000 a 700.000 policiais no país, sendo que 1/3, praticamente, já está se capacitando, se qualificando, estudando e, portanto, se tornando um policial comunitário.

• Bolsa Formação. Desses que estão estudando, quantos estão recebendo bolsa? 27.912. Na verdade, ontem já fechamos em 34.000. Tem 34.000 policiais recebendo a bolsa de R$ 400,00.

• Plano Habitacional. Já são 14 unidades no Acre, 309 na Bahia, 471 no Ceará e ali segue. Já estamos entregando as casas, os policiais já estão recebendo as chaves, morando com dignidade. Isso, conectado com a bolsa e com a formação, há de mudar rigorosamente a concepção desse policial.

• Departamento Penitenciário. São 11 estabelecimentos penais especiais para jovens. As obras já estão iniciadas em sete estados. Por quê? Porque tem a relação federativa. Naturalmente, o estado tem de responder às nossas reivindicações, tem que disponibilizar o terreno, tem a licença ambiental, enfim, tem todas as exigências legais. São mais de 120 milhões para essa área.

• Secretaria do Direito Econômico − Canal Comunidade, Geração Consciente e Monitoramento do Cidadão. É a redução da área de conflito na área do consumidor. Tem muitos conflitos pequenos que se dão porque um comprou um tênis do outro. Então, nós vamos incidir também na comunidade, através da ação do consumidor.

• Laboratório de Combate à Lavagem do Dinheiro. O Distrito Federal, Goiás, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Bahia, além do próprio Departamento da Polícia Federal, já têm a instalação de uma nova inteligência para identificação da lavagem de dinheiro.

• Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas. Há dois postos sendo instalados em Pernambuco, no aeroporto e no terminal rodoviário; no Pará, no Aeroporto de Belém; no Rio de Janeiro, há discussão se será ou não no aeroporto; em São Paulo, já tem em Guarulhos; em Goiás, está na sede do Ministério Público. Estamos instituindo rigorosamente todas as ações.

• Mulheres da Paz. Estão sendo capacitadas 12.025 Mulheres da Paz, num orçamento de 25 milhões. São mulheres que estão sendo preparadas para serem agentes de segurança pública na comunidade.

• Jovens resgatados do itinerário do crime. No final do ano, serão 20.825 jovens.

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• Núcleo de Justiça Comunitária.

• Lei Maria da Penha.

• Assistência Jurídica ao preso. Estamos articulados já com diversos estados para que possamos mobilizar essa assistência jurídica ao preso.

• Ministério da Saúde. Descentralizamos nove milhões para a formação do PSF na atribuição Pronasci.

• Economia Solidária. São 12 milhões para o Trabalho e Emprego.

• Ministério do Esporte. São 32 milhões em quatro ações.

• Ministério da Educação. São 80 milhões para a formação de educadores para o sistema prisional.

• Ministério da Ciência e Tecnologia. São 11 milhões em telecentros. Todas essas regiões conflagradas terão inclusão digital. O jovem vai ter acesso ao computador, à informática.

• Secretaria Nacional Antidrogas. Programa Fé na Prevenção. Sem olhar para qual religião, estamos mobilizando a todas as religiões para que possam interagir na capacitação e incidência sobre as drogas.

• Ministério da Cultura. São 24 milhões.

E ali segue uma proposta de agenda que está sendo implementada. Isso aqui é uma referência à Fundação Getúlio Vargas, que estará monitorando e avaliando o tempo inteiro. Por último, quero me referir ao orçamento. Daquele 1bilhão quatrocentos e seis milhões, nós temos 793 milhões empenhados e comprometidos outros 276 milhões. Portanto, nós ainda temos 103 milhões. Por aí, a CNPI pode pensar em alguma ação, mesmo para este ano porque ainda dispomos de recursos para cumprirmos todo o orçamento do Pronasci.

Rapidamente, Edson, vamos mostrar a nossa utopia. É curioso o que eu vou mostrar, mas é uma forma de sintetizar o que nós queremos alcançar rigorosamente com o Pronasci. Observem isso aqui. Esta é a área conflagrada. Imaginem que isso aqui é o Complexo do Alemão, ou que é a Favela da Maré, ou a Vila Restinga, lá do Rio Grande do Sul. Aqui é uma área conflagrada. Nessa área conflagrada se instala o Gabinete de Gestão Integrada Municipal. É uma concertação que se dá entre o Ministério da Justiça, o estado e o município. Representantes das três esferas organizam o Gabinete de Gestão Integrada, com o apoio da Polícia Federal. Lá vem o policial federal e a sua inteligência altamente tecnológica. Nesse momento, a Força Nacional chega à área conflagrada para dar uma primeira sensação de segurança e mostrar que o Estado Brasileiro está chegando onde ele nunca apareceu. E aí, está a Força Nacional se

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mobilizando. Instalamos o Gabinete de Gestão e chega o Plano de Comunicação. Nós vamos sim colar cartazes nos bares e nos botecos, para informar que o Pronasci está chegando. Não é a grande mídia que vai dizer isso. É um Plano Comunitário de Comunicação. Na seqüência, as casas são construídas, no Plano Habitacional para assistir o policial de baixa renda. O estabelecimento especial penal para jovens igualmente começa a ser estruturado. Os policiais que recebem a casa deslocam-se para a universidade mais próxima para receberem a bolsa e começarem a estudar como Policiais Comunitários Cidadãos. Eles vão para a comunidade e instalam o Posto Comunitário da Polícia Cidadã. A partir daí, começamos a identificar os jovens. Alguns jovens são presos sim e levados para a ressocialização no estabelecimento penal especial. Simultaneamente, acionamos a assistência jurídica para, obviamente, acompanhar aquele jovem.

No que diz respeito ao conflito na área do consumidor, nós teremos uma espécie de ônibus, um Pronasci Móvel, que será a presença do Estado na área conflagrada.

Essa Polícia Comunitária, que está interagindo, vai também interagir com as mulheres da paz que, a essa altura, estão formadas e começam a visitar as casas, a identificar famílias e alcançam um número de jovens que são trazidos para o PROTEJO. Esses jovens vão resgatar a sua cidadania num curso de direitos e deveres, para, depois, seguirem para a ação tradicional. Essas Mulheres da Paz também servem como mediadoras de conflitos na comunidade e esses jovens são deslocados para a escola. Agora, eles seguem o percurso social e formativo e voltam à comunidade, depois de um, dois ou três anos, dependendo do que julgarmos na avaliação. Aqueles jovens que foram presos, tiveram assistência jurídica, se ressocializaram e voltaram para a vida comunitária.

Resta a ação da Polícia Rodoviária Federal, que vocês têm acompanhado, com a Lei Seca e com a Redução extraordinária de vítimas no trânsito.

Esse exemplo aqui é apenas para tentar sintetizar uma tese. Nós temos 94 projetos e ações do Pronasci. Se um a um obtiver êxito, isso ainda não será o Pronasci. Se todos os policiais estudarem, isso não será o Pronasci. Se todos os policiais receberem casa, isso ainda não é o Pronasci. O Pronasci surgirá com força se estas ações estiverem conectadas. Ou seja, o policial recebe a casa, estuda, está ganhando melhor e vai atuar como um policial comunitário, no posto comunitário da área conflagrada. As Mulheres da Paz recebem a bolsa e vão para a mesma área conflagrada para constranger o crime e mudar essa ambiência. Então, o Pronasci é a integração desses projetos e é esse o desejo do Presidente Lula, é essa a orientação do Ministro Tarso Genro.

É por isso que reiteramos aqui a nossa expectativa que a Comissão Nacional de Política Indigenista seja capaz, a partir de hoje, de formular projetos capazes de se integrarem ao Pronasci e, igualmente, serem capazes de um aporte de recursos do mesmo Pronasci. Por isso, agradeço aqui a oportunidade que tive, cumprimentando a Dra. Débora que acaba de chegar e nos contemplar com a sua presença. Só lamento, Presidente Márcio, a limitação da agenda. A expectativa era que começássemos um pouco mais cedo,

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mas eu viajo agora às 11h50min para o Rio de Janeiro, onde participo de um debate organizado pelo Centro da ONU, na PUC do Rio de Janeiro, para que possamos seguir interagindo com as mudanças necessárias, a partir do Pronasci. Mais uma vez, muito obrigado, e espero que a CNPI se integre definitivamente ao Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania. Muito obrigado.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Eu gostaria de agradecer a apresentação do Professor Nado e gostaria de lhe perguntar se ele teria pelo menos uns cinco ou dez minutos porque acho que é importante que a gente possa agora ouvir alguns companheiros da Bancada Indígena sobre essa questão.

Eu quero só lembrar − e o Professor Nado já fez referência a isso − que existe uma abertura ampla do Pronasci, inclusive, com recursos carimbados, para que a CNPI possa apresentar uma proposta. A idéia é a FUNAI se integrar ao Pronasci e eu sugeri que fosse feita aqui a discussão na CNPI. Então, eu queria ver se poderíamos ouvir alguns companheiros, sobretudo, os da Subcomissão de Justiça, Segurança e Cidadania. Aqui temos o Anastácio, o Saulo, o Sandro, que são da Subcomissão, além de outros representantes. Estão inscritos o Caboquinho, o Saulo e a Chiquinha.

Antonio Pessoa Gomes “Caboquinho” − povo Potiguara: Bom dia a todos. Escutando aqui atentamente o pronunciamento do nosso companheiro. Eu fiquei com algumas dúvidas e gostaria que fossem esclarecidas. A primeira coisa que eu levanto aqui é: Qual foi o critério do Pronasci para se trabalhar, principalmente, nas questões dos casos indígenas? Essa é uma das coisas que eu queria saber por que para mim não ficou claro. Hoje, nós temos vários índios em situações complicadas e queria saber como se está tratando essa questão do Pronasci.

A outra coisa que eu queria saber também é como foi pensado esse projeto, uma vez que, nos maiores centros urbanos, e em outros locais do país, a violência continua, até porque, faltam alternativas para os chamados “meliantes”. Eu sou vítima disso porque foi assaltado várias vezes e muitos assaltantes falavam que não tinham alternativa de vida, a única alternativa era assaltar. Então, eu queria saber como é que está se tratando essa questão dessas pessoas.

Uma outra coisa que eu fiquei pensando também são essas facções que tem hoje, principalmente, no Rio de Janeiro e São Paulo, e nós vemos na mídia televisada que pessoas dessas facções estão sendo soltas porque o Judiciário não está cumprindo com o seu dever. Como é que se prende um meliante desses e depois de um mês, dois meses, anos, o Judiciário não consegue resolver esse problema?

Uma coisa também que eu fiquei pensando foi sobre a questão dos Conselhos Tutelares. Na maioria das vezes, esses Conselheiros são indicados pelo próprio gestor municipal. Não existe uma política para indicação de pessoas para trabalharem com questões relativas à criança e ao adolescente.

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A outra coisa que eu queria ressaltar é como está sendo feita essa discussão do Judiciário com todas essas colocações que foram feitas. Na maioria das vezes, o Judiciário fica muito a dever com as situações que lhe são apresentadas, principalmente, na questão da violência no Brasil. Obrigado.

Saulo Ferreira Feitosa − Conselho Indigenista Missionário: Bom dia. Eu queria agradecer a apresentação do Professor Nado e lamentar a sua saída imediata. Realmente, como o Presidente da CNPI informou, a Subcomissão de Segurança, Justiça e Cidadania já vem trabalhando há um ano as questão que têm relação direta com o Pronasci e nós não temos recebido, por parte do governo, da Secretaria Nacional de Segurança Pública, nenhuma resposta das nossas preocupações, desde a questão da identificação de todos os indígenas que se encontram hoje no presídio. Então, para nós, essa questão prisional é uma preocupação. Como também, as questões da localização desses indígenas nos respectivos presídios. Quando o senhor tratou das ações estruturais, apareceram aqueles presídios especiais para mulheres e jovens e nós ficamos refletindo a questão dos indígenas. O ideal é que o cumprimento da pena, quando isso se fizer necessário, aconteça na comunidade indígena ou o local mais próximo. Mas, às vezes, a própria comunidade não quer que a pessoa cumpra a pena no local. Essas pessoas ficam aonde? Nos presídios em que nós temos feito algumas visitas, a situação desses indígenas é bastante complicada. Nós sempre nos referimos aqui ao Estado do Mato Grosso do Sul, embora não seja o único estado onde isso acontece, mas lá tem uma população indígena carcerária grande e, de fato, há indígenas que estão presos por questões políticas, por conta da disputa fundiária; outros por questão de discriminação mesmo; e outros que estão envolvidos em crimes vários. Só que, todos eles ao serem presos são tratados como índios bandidos e, dentro dos presídios, eles ficam numa situação de segregação bastante complicada. Há um número grande. Então, espero que haja outra oportunidade em que o senhor possa se reunir com a Subcomissão que trata esses assuntos específicos porque nós temos interesse em aprofundar essa discussão e apresentar algumas propostas.

Francisca Navantino “Chiquinha” − povo Pareci: Bom dia a todos e a todas. Eu sou Francisca Pareci, da região amazônica, Mato Grosso. Eu achei interessante a exposição do senhor. Pelo que a gente está vendo, o governo de fato está criando e implementando uma política de segurança pública. Eu gostaria de saber, por exemplo, se dentro de toda essa implementação, essa construção, a nossa responsabilidade como CNPI também será de propor uma política de atendimento dentro da realidade sócio-econômica e cultural das comunidades indígenas. Assim como está tendo toda essa violência fora das terras indígenas, muita dessa violência está adentrando as terras indígenas e há uma preocupação muito grande quanto a isso. Hoje, por exemplo, o próprio crime organizado já está próximo em algumas comunidades. Nós temos indígenas jovens ainda que estão envolvidos com drogas e outras coisas mais. Eu até gostaria de aproveitar a oportunidade para parabenizar pela Lei Seca. Ela foi muito importante, principalmente, nas fronteiras. Por outro lado, temos comunidades em que há uma grande incidência de alcoolismo e nós vemos que ainda há muito pouca ação em relação a essa situação. E, às vezes, quando pretendemos fazer algo, não há um incentivo que possa de fato conduzir a uma ação efetiva de melhoria.

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Nesse caso, eu coloco também a questão da integração do jovem e família. No caso das comunidades indígenas, também é importante a integração desse jovem dentro da sua própria comunidade. Há também a questão da valorização da cultura. Então, é mais ou menos sobre isso que eu queria que o senhor pudesse falar um pouquinho. Obrigado.

Professor Nado − Coordenador do Pronasci no Ministério da Justiça: As questões, mais objetivamente, estão respondidas. No que diz respeito a quais critérios o Pronasci empregou para a questão indígena, a resposta é exatamente o que nós estamos buscando aqui. Esses critérios serão definidos pela Comissão Nacional de Política Indigenista. A questão indígena não foi colocada no Pronasci num primeiro momento, por isso, não está contemplada até então. Mas temos ordem expressa do Ministro já há alguns meses nesse sentido. Só que, diante de idas e vindas, a presença do Presidente Lula na CNPI e outras questões mais urgentes, nós não conseguimos ter, antes, esse momento que estamos vivenciando aqui agora. Então, é preciso deixar claro que esse critério tem que ser construído pelos senhores. Quando a Chiquinha pergunta qual é a responsabilidade que nós vamos ter, a responsabilidade é a que os senhores estabelecerem que querem ter, ou seja, o que realmente nós podemos fazer no que diz respeito à violência na questão indígena.

No que diz respeito especificamente ao DEPEN e à SENASP, nós podemos deliberar aqui, os senhores podem deliberar sobre uma imediata audiência com o Diretor-Geral do DEPEN, como com o Secretário Nacional de Segurança Pública, tratando dessas questões que já estão postas. Nós temos um grupo de indígenas presos, temos que verificar onde se encontram e que tipo de diagnóstico nós podemos fazer, que tipo de levantamento. Então, eu tenho convicção que todas as ações aqui serão as melhores possíveis para que possamos ter uma resposta.

Em relação aos Conselhos Tutelares, que também foram pontuados aqui, de fato, isso é uma preocupação nossa. A Secretaria Especial de Direitos Humanos, que é uma das parceiras do Pronasci, são 14 Ministérios envolvidos, tem tido esta preocupação. Nós queremos incidir, inclusive, sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente − ECA porque não está claro lá o que verdadeiramente organiza, estrutura, ordena e normatiza o Conselho Tutelar. Nós temos municípios em que há eleições para Conselheiros Tutelares através de entidades representativas, que têm poder de voto. Por outro lado, tem lugares em que a eleição é direta, é como se fosse uma eleição para vereador. E tem casos em que é por nomeação do prefeito. Igualmente, há uma disparidade salarial. Em algumas cidades, o salário é digno, é bom, é importante para o Conselheiro Titular se mobilizar, se mexer e trabalhar. Mas, tem outros locais em que eles não recebem salário, é quase que uma ação voluntária. Então, eu já pactuei com a Secretaria Especial de Direitos Humanos porque, afinal, há uma interface direta com a Secretaria Especial de Direitos Humanos, para que nos apresentem rigorosamente uma proposta. Estamos nessa expectativa. São 76.000 Conselheiros Tutelares no Brasil. Se nós conseguirmos engajar os Conselheiros Tutelares, as Mulheres da Paz, a Polícia Comunitária, numa mobilização forte, nós poderemos mudar essa ambiência, mais rapidamente.

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Vou pedir licença para sair agora, Márcio. Um abraço.

Débora Duprat − Ministério Público: Deixe-me só aproveitar aqui rapidamente a sugestão. Eu acho que essa sugestão de chamarmos aqui o Diretor Geral do DEPEN é fundamental porque nós já identificamos a situação de invisibilidade dos índios presos, exatamente, porque a classificação é externa e aquele que classifica se recusa a admitir a identidade indígena, principalmente, em determinadas regiões, notadamente, no nordeste, centro-oeste e sudeste. Então, eu acho que essa sugestão de pensarmos como tornar o índio visível no sistema penitenciário é fundamental. É só uma sugestão.

Professor Nado − Coordenador do Pronasci no Ministério da Justiça: Doutora Débora, eu vou pensar alto. Não há nenhuma responsabilidade do Ministro em relação ao que eu vou dizer. Nós instituímos as quotas no Ministério da Educação. Foi travado um debate muito duro, àquela época, e eu participei diretamente dessa implementação, quando o Ministro Tarso Genro determinou a implementação das quotas na universidade. Não seria impensado afirmar aqui que pudéssemos ter quotas nos estabelecimentos penais para jovens, ou para mulheres, no que diz respeito ao índio. Então, eu só fiz aqui uma reflexão apressada e rápida, mas que também pode contribuir. Muito obrigado.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Boa viagem, Professor Nado. Eu vou fazer um encaminhamento. A Subcomissão de Segurança, Justiça e Cidadania, que é composta por seis membros, três indígenas e três do governo, e que tem também a participação do Ministério Público, da AGU, da Secretaria Especial de Direitos Humanos e da SEPPIR. Então, a idéia é que a gente possa marcar uma reunião específica com o Pronasci para a gente já dar o encaminhamento técnico a partir dessa apresentação e discussão. Certo? Obrigado, Professor Nado.

Eu fiz esse encaminhamento meio corrido porque o Professor Nado estava saindo, mas eu gostaria de consultar ao plenário sobre isso. Eu fiz esse encaminhamento até a partir da fala do Saulo e acho importante que essa questão não fique aqui, que esse processo continue.

Pierlângela Nascimento Cunha − povo Wapichana : Eu sou da região amazônica, Roraima. Eu acho que o encaminhamento é pertinente e, como o Pronasci tem ações articuladas com outros Ministérios, todos nós temos interesse em continuar porque, tanto na nossa Subcomissão de Educação, como na Subcomissão de Gênero Infância e Juventude, essas questões estão muito relacionadas com o que foi colocado aqui. Então, não só a Subcomissão de Segurança, Justiça e Cidadania, mas acho que as demais Subcomissões também têm interesse justamente por serem ações articuladas. Portanto, a gente precisa se apropriar melhor disso e colocar o que tem que ser colocado. Então, a participação das outras Subcomissões para nós é fundamental, principalmente, a Subcomissão de Educação e de Gênero, Infância e Juventude.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Eu acho que a proposta da Pierlângela complementa o encaminhamento, sugerindo que não só a Subcomissão de Segurança, Justiça e

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Cidadania, mas os membros das outras Subcomissões, principalmente a de Gênero, Infância e Juventude e a de Educação possam também participar deste encaminhamento. Eu queria saber se a plenária concorda com esse encaminhamento. Acho que estamos de acordo, então, está aprovado esse encaminhamento em relação à questão do Pronasci, daqui para frente. É uma questão de definir a agenda e fazer as reuniões necessárias.

Na nossa pauta está previsto agora, na seqüência, a discussão sobre a saúde, com uma apresentação do Ministério da Saúde. Antes disso, eu queria apenas consultar o plenário porque houve uma solicitação de dois representantes do Conselho de Saúde Indígena − CONDISI, o Nelson e o Fernando, de que eles possam participar aqui da nossa reunião. Então, eu gostaria de consultar o plenário se estamos de acordo em relação a isso. De acordo? Então, está autorizada a presença também do Nelson e do Fernando aqui na nossa reunião. Eles são representantes da área da saúde. Também temos uma solicitação por parte dos servidores do CONDISEF, e aqui estão alguns representantes do CONDISEF que são funcionários da FUNAI, no sentido de que eu, publicamente, nesse momento, transmitisse à Bancada Indígena presente na CNP, um agradecimento formal dos servidores da FUNAI e do CONDISEF em geral, especialmente, ao representante Ak´Jabor Kaiapó pelo posicionamento que foi feito pelos indígenas na reunião passada da CNPI, com a presença do Presidente Lula, a respeito da questão dos servidores da FUNAI. Como o Presidente Lula deu resposta a essa questão, publicando uma Medida Provisória, que atendeu, de forma muito importante à reivindicação dos servidores, eu estou transmitindo essa solicitação porque os representantes do CONDISEF me pediram para fazer esse agradecimento especial à Bancada Indígena. Vale a pena até uma salva de palmas em nome dos servidores. O agradecimento seria principalmente para o Ak´Jabor Kaiapó, que não chegou ainda. Não estou vendo o Ak´Jabor Kaiapó aqui. Mas, assim que o Ak´Jabor Kaiapó chegar, vamos transmitir a ele essa mensagem dos servidores. Os servidores estão aqui presentes representando mais de 2000 servidores da FUNAI que me pediram que transmitisse esse agradecimento.

Dando seqüência, como eu disse no início, normalmente, nós temos aquela tarefa de aprovação da ata da reunião passada. Então, por uma questão de agilidade na nossa pauta, eu queria propor que os membros da CNPI possam fazer a leitura do resumo da ata e, ao longo do dia de hoje e amanhã, no momento adequado, faríamos a votação e aprovação dessa ata, ou correção da ata. A idéia é que passemos imediatamente para o próximo ponto, que é a apresentação da Representante do Ministério da Saúde, a Doutora Cleonara, sobre uma proposta do Ministério da Saúde, que é decorrente do que ocorreu na reunião passada da CNPI, quando foram colocadas pela bancada indígena, de forma muito enfática, as dificuldades e problemas de gestão na área da saúde indígena. Então, por uma determinação do Presidente da República e do próprio Ministro da Saúde, foram tomadas decisões em resposta a essas reivindicações. Quando eu fui procurado pelo Ministro da Saúde, me informando dessas decisões, eu sugeri ao Ministro da Saúde que o próprio Ministério da Saúde pudesse vir a esta reunião da CNPI hoje para trazer as explicações necessárias para que a plenária pudesse ter o pleno conhecimento dessas medidas. Então, eu gostaria de passar a palavra à Doutora Cleonara para que ela possa fazer essa apresentação.

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Cleonara Maria Schwartz − Ministério da Saúde: Bom dia a todos. Primeiro, eu gostaria de agradecer o convite da CNPI para estar aqui. A minha fala é uma delegação do Ministro Temporão que, a pedido do Presidente Lula, solicitou que a saúde respondesse às demandas desta Comissão. Então, a idéia é atualizar cada uma das ações previstas por esta Comissão, informando em que pé elas estão no Ministério da Saúde para, em seguida, discutirmos um pouco essa questão da criação da nova Secretaria, enfim.

A primeira questão que é uma demanda antiga do Movimento Indigenista e da própria FUNASA, é a questão da autonomia administrativa, orçamentária e financeira dos Distritos Sanitários Indígenas. Isso já foi aprovado pelo Ministério do Planejamento, e, muito provavelmente, num prazo de 10 dias, embora seja complicado se colocar prazos de dias, esse decreto de alteração do Regimento Interno da FUNASA vai ocorrer. Mesmo que, numa perspectiva de médio prazo, as atribuições da Saúde Indígena, que hoje estão a cargo da FUNASA, possam passar para outro órgão do Ministério da Saúde, essa é uma demanda que vai ocorrer porque, independente de para quem os Distritos vão estar sendo referenciados na sua gestão, a proposta de sua autonomia é um consenso entre todos. Isso está sendo encaminhado.

A questão da recomposição da Força de Trabalho talvez seja um ponto um pouco mais complicado porque a questão dos contratos temporários, com a previsão de 802 cargos para justamente darem conta desse processo administrativo nos DSEIs, ainda está em análise pelo Ministério do Planejamento, por conta de que não são só esses contratos temporários que estão previstos. Há também previsão de contratos temporários de outras Secretarias e outros órgãos do governo. Tem todo um cuidado do Ministério do Planejamento nesse sentido, até por conta dos controles externos, do Ministério Público etc., nessa criação dos contratos temporários. Mas, sem dúvida, não tem como se implementar a proposta da descentralização e da autonomia sem recursos humanos, sem pessoas para responderem a isso. Então, esse é um processo que está ocorrendo concomitantemente.

Tem uma proposta de um Comitê da Política de Recursos Humanos para o Subsistema. Essa proposta foi colocada numa Portaria que está a cargo da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação, do Ministério da Saúde. Os membros dessa Comissão já foram indicados. Ainda não foi convocada nenhuma reunião nesse sentido, mas está dentro do prazo porque a Portaria é de junho e são 180 dias para se propor um estudo de como seria essa questão dos recursos humanos.

Por último, tem a questão da recomposição orçamentária. Era uma demanda de 64 milhões e, na proposta orçamentária do Ministério da Saúde, já foi adequada essa solicitação de 64 milhões para dar conta do custeio das ações de serviços da saúde.

Eu acho que uma questão importante é que a criação da nova Portaria independe da questão do ordenamento da saúde indígena. É uma decisão política do Ministro Temporão, por conta de que, hoje, nós temos no SUS um modelo de atenção primária à saúde, que são as equipes de Saúde da Família. O

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próprio Pronasci colocou isso como uma das articulações que essa política vem fazendo. Nós já atuamos com quase 26.000 equipes no Brasil. Metade da população brasileira já é atendida no SUS por esse modelo de atenção e a meta do Ministério da Saúde é universalizar a saúde da família até 2011. Então, a meta é que todo o brasileiro tenha uma equipe que o cuide, mesmo no setor privado. A Agência Suplementar também tem trabalhado nessa lógica dos Médicos Generalistas, os enfermeiros e odontólogos que cuidem, ao longo do tempo, trabalhem de uma forma integral etc. Nessa perspectiva é que se cria essa Secretaria de Atenção Primária e promoção da saúde. Dentro do Ministério, nós temos dito que, finalmente, nós estamos trabalhando a questão da saúde e não da doença. Historicamente, o modelo do SUS é muito baseado nos procedimentos, nos leitos hospitalares e esse modelo é médico centrado e hospitalar. Nós estamos invertendo porque os melhores modelos de sistemas de saúdes universais do mundo são orientados pela atenção primária. Então, a criação da Secretaria de Atenção Primária e Promoção da Saúde vem nesse contexto.

Portanto, há uma reforma administrativa interna do Ministério da Saúde, uma prerrogativa, inclusive, do Ministro de fazer isso. Aproveitando esse Projeto de lei, porque a Secretaria de Atenção Primária e Promoção da Saúde é um Projeto de Lei, o Ministro Temporão entendeu que trazer para dentro dessa Secretaria o Departamento de Saúde Indígena seria uma das respostas a essas demandas de toda a questão das dificuldades da gestão da FUNASA em executar as ações e serviços da saúde − tanto que 90% dessas ações não são feitas diretamente pela FUNASA − como pelo próprio modelo de atenção. Trazer para dentro de uma Secretaria de Atenção Primária, que tem uma proposta de um modelo para toda a população brasileira, no nosso ponto de vista, seria muito importante para se conquistar a melhora dos indicadores de saúde da população indígena. Quando a gente compara com o restante da população brasileira, nós temos indicadores que são de 40 a 60 anos atrás. Mesmo nos melhores modelos de alguns Distritos Sanitários Indígenas, que já têm uma ação muito importante de melhoria dos indicadores, ainda assim, esse resultado é muito pior do que o restante da população brasileira.

Eu acho que era isso, basicamente, e fico à disposição para o nosso debate porque penso que essa é a idéia dessa apresentação aqui. Uma coisa muito importante é que essa proposta é uma proposta, é um Projeto de Lei, não tem Decreto, não tem nada colocado. Acho que, no debate, poderemos entrar em mais detalhes nesse sentido. Por exemplo, a morbimortalidade da população indígena, ou seja, do que as etnias estão adoecendo e morrendo, e de como nós imaginamos que, dentro da estrutura do Ministério da Saúde, fica mais fácil de resolver essas questões específicas, nós temos uma defesa de que na Secretaria, nós temos mais condições de melhorar essas questões do que hoje é o design da FUNASA. O que eu acho mais importante que fique claro é que essa é uma proposta. O Ministro Temporão, se valendo da criação da nova Secretaria, coloca a questão de trazer para dentro dessa Secretaria a gestão do Departamento de Saúde Indígena. Mas, a idéia é a gente discutir isso. Talvez, não sendo suficiente no debate aqui hoje, em todas as Oficinas Regionais da CNPI, nós estamos nos organizando para estar fazendo essa discussão, inclusive, no nível local.

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Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Estão abertas as inscrições. A Doutora Débora foi a primeira a se inscrever. Depois, a Francisca, o Sansão, o Arão, Marquinho, Coboquinho. Então, vamos seguir essa ordem. Primeiro, a Dra. Débora.

Débora Duprat − Ministério Público: Bom dia. Eu tenho algumas dúvidas. Quero deixar muito claro que, para mim, não se coloca em discussão o fato de a saúde indígena estar sendo transferida para o Ministério da Saúde. Acho que essa é uma questão de gestão administrativa e não nos cabe contestar. Agora, há algumas preocupações. Primeiro, como é que ficaria a questão da autonomia dos DSEIs? A autonomia dos DSEIs é uma conseqüência do próprio modelo do subsistema do SUS. Nunca foi implementada, por equívoco, já de início. Para corrigir essa distorção, depois de quatro conferências, a idéia foi de mexer no Decreto de Organização da FUNASA, para transformar os DSEIs em unidades gestoras. Saindo a saúde indígena da FUNASA e indo para o Ministério da Saúde, como é que fica a questão do DSEI? Essa é uma pergunta.

A segunda pergunta é o seguinte: eu acompanhei o processo da saída da Saúde Indígena da FUNAI para a FUNASA e o impacto que isso representou para as populações indígenas, principalmente, no que diz respeito à questão cultural. É a questão de você ter um pessoal absolutamente despreparado para tratar dessa especificidade, com uma arrogância de um modelo de saúde ocidental, sem atenção às práticas tradicionais, sem respeito ao pajé, enfim, é uma situação que se prolongou por muito tempo e que ainda tem atualidade. Eu perguntaria se essa Secretaria teria como se capacitar para ter esse cuidado de manter essa interlocução permanente e atenção a uma situação que é de interculturalidade, mais do que qualquer outra.

Há uma terceira coisa, ainda na mesma linha. Há algum tempo, foi baixada uma Portaria em conjunto − FUNASA e SAS − não me recordo do número, que foi muito debatida, cheia de problemas, mas com seus méritos também, com uma pretensão de um controle maior dos recursos da SAS. Mas, nesses debates com a SAS, nós verificamos que, no âmbito do Ministério da Saúde, havia muito desconhecimento a respeito do subsistema. Ou seja, o modelo é o modelo do SUS e a idéia é trabalhar com esse modelo, ignorando que o subsistema é um subsistema. Se ele não tivesse essas especificidades, não seria um subsistema, desconhecendo que a descentralização se dá entre União/Distrito. O município não é integrante desse subsistema. Ele pode até ser um parceiro em ações complementares, mas ele não é um integrante do subsistema indígena. Eu não sei se me fiz entender, mas, basicamente, são essas as minhas preocupações, de início.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: O próximo inscrito é a Chiquinha. Então, seguindo, é o Sansão. Eu vou sugerir que a gente faça uma seqüência de três perguntas e depois passamos à resposta. Não sei se vocês concordam. Seriam blocos de três perguntas, está bem?

Sansão Ricardo Flores − povo Tikuna: Bom dia. Primeiramente, eu queria fazer um tipo de agradecimento ao governo pela decisão do próprio governo, pela proposta de definição de uma saúde

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indígena. Já foi contemplado pela fala da Dra. Débora, com relação a esse modelo, mas a minha grande preocupação com relação a um novo modelo de saúde hoje é porque as competências também foram transferidas. Foram transferidas atribuições, principalmente, aos municípios. Vai haver algum tipo de seminário nos municípios para que haja um trabalho adequado às populações indígenas das regiões? Se criarmos uma nova Secretaria e não fizermos um tipo de trabalho nos municípios, é evidente que ainda continuaremos nos esquecendo da saúde indígena. A minha grande questão é sair de um seminário na região do Alto Solimões, do Estado do Amazonas, onde a preocupação é muito grande. Tivemos 300 lideranças reunidas e a situação lá não está fácil. Então, a minha pergunta é: Como é que vai ser feita essa transferência de responsabilidade também para os municípios, principalmente, na parte do convênio? Eu estou de acordo com a criação dessa nova Secretaria porque todas as lideranças realmente pedem a mudança. Obrigado.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Quem falou foi o Sansão, que é da povo Tikuna, do Alto Solimões e agora vai falar a Professora Francisca, que é da povo Pareci, do Mato Grosso.

Francisca Navantino (Chiquinha) − povo Pareci: Eu também quero compartilhar as mesmas preocupações dos meus antecessores. Eu já estou bastante preocupada com algumas questões. Toda a vez que as políticas são criadas, a partir de um nivelamento de atendimento, por exemplo, dentro da universalidade, geralmente, nós indígenas somos penalizados. Nós não somos atendidos dentro das nossas especificidades. Uma outra questão também é que, na minha visão, a saúde indígena não é igual à saúde de qualquer um outro cidadão brasileiro. A saúde indígena é completamente diferente. Por exemplo, vão ser passadas algumas competências para o município. Nós temos receio disso. Há os convênios e nós sabemos que boa parte dos municípios não tem uma boa relação com as comunidades indígenas, com exceção de alguns, que a gente conta nos dedos. Eles não têm uma boa relação, os índios são tratados com indiferença, são discriminados etc. Eu estou sabendo que lá no meu estado, por exemplo, já está havendo um movimento contrário à forma como as coisas estão sendo encaminhadas. A mudança é positiva sim; precisamos mudar esse modelo que está aí. Mas, também, para sair desse modelo e entrar num outro modelo para nivelar todo mundo igual, eu fico preocupada com essa proposição.

Há uma outra questão também. De que forma o movimento indígena, o segmento da saúde indígena, que são primeiramente os índios, suas lideranças e depois os profissionais não-índios, que são tão importantes, vão participar desse processo? A mudança para nós é importante, desde que nós participemos desse processo. Também tem que haver o reconhecimento dos profissionais indígenas nesse processo. De que forma isso está sendo trabalhado? É com isso que nós ficamos preocupados. É claro que essa mudança pegou todo mundo de surpresa, de uma certa forma. Todo mundo estava esperando alguma coisa que ia acontecer. Essas respostas precisam ser dadas para o movimento indígena, para as comunidades, porque isso gera muita insegurança. O pessoal está muito preocupado com essa situação. Então, eu gostaria que a senhora pudesse adentrar nessa questão e esmiuçar para nós aqui como é que está sendo isso. Eu estou vendo que já estão postas aqui algumas questões. Por exemplo,

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já estão sendo feitas nomeações. De uma certa forma, o gestor tem direito de indicar aquela pessoa que é de sua confiança, mas, eu penso que, no caso da saúde indígena, isso tem que passar pelo crivo do segmento da saúde indígena. Os seus verdadeiros beneficiários têm que saber quem é que vai trabalhar com eles. Nomear as pessoas, tudo bem. Só que, de repente, nomeiam um que é o maior inimigo dos índios! A gente sabe disso. E tem também a questão da concepção do atendimento com os povo s indígenas. Nós sabemos que a saúde não é meramente a questão assistencial; ela tem outras implicações interna. Como fica isso dentro das aldeias, das comunidades? Eu já estou muito preocupada com tudo isso e gostaria que você abordasse essa questão do reconhecimento dos profissionais; de que forma o movimento indígena vai participar; de que forma os profissionais da saúde indígena, os índios primeiramente, e os demais profissionais aliados à causa, estarão participando dessa construção. Essa é a nossa cobrança. A questão é de que maneira eles estarão tendo acesso às informações, para não ficar uma coisa muito politiqueira. Se você sai de uma politicagem e entra na outra, para nós não compensa. Toda a mudança é importante, desde que ela venha acompanhada de um processo de participação efetiva. É por isso que nós brigamos. E tem a questão realmente de que a saúde indígena não é uma saúde como a de qualquer outro cidadão. Ela é muito diferenciada e você vai esbarrar com algumas concepções de saúde indígena, dentro das próprias comunidades. É com isso que nós estamos preocupados. Eu li esse documento, achei interessante, mas não vi nenhuma explicação dizendo que os índios serão respeitados dentro da sua diversidade. Vocês colocam todo mundo aqui dentro do mesmo saco e isso nós não vamos aceitar! Então, eu gostaria que você pudesse esclarecer isso. Eu posso até estar equivocada na minha fala. Mas, eu gostaria de me inteirar, primeiramente, de compreender esse processo e assegurar a participação indígena em todos os encaminhamentos. Era isso. Obrigado.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Vou passar a agora a palavra à Doutora Cleonara para responder a esse bloco de três perguntas. Em seguida, estão inscritos o Arão, o Marquinhos, o Caboquinho e o Élcio.

Cleonara Maria Schwartz − Ministério da Saúde: A primeira coisa importante de ser colocada é que o que está na lei está garantido. É uma responsabilidade de o ente federal executar as ações e coordenar a política da saúde indígena. Num determinado momento, em 1999, o ente federal delegou isso à FUNASA. Então, isso permanece como uma responsabilidade federal. Todo o desenho da política e do subsistema não está alterado. Nós não estamos discutindo a política nem o subsistema; isso está mantido. Isso não está de forma nenhuma sendo alterado; não estamos alterando as formas de participação, nem o fato de que o DSEI é que é a unidade. Eu acho que uma coisa importante seria esclarecer que a Portaria 2656 trata dos recursos que vão para os municípios, e eles já existem desde 1999. É uma parte dos recursos do custeio da saúde indígena. Isso que a gente está falando aqui do Departamento de Saúde Indígena vir para uma nova Secretaria não está tratando de passar recursos para municípios. A responsabilidade pela saúde indígena permanece no DSEI e, na verdade, nós estamos dando autonomia para que isso seja executado da melhor forma possível. Em determinados momentos, em determinados territórios, o município vai ser complementar, ou o estado, porque o subsistema de saúde indígena está dentro do Sistema Único de Saúde e as pessoas são atendidas valorizando todo o processo da medicina

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tradicional etc., mas, quando se precisar da medicina alopática, as pessoas vão ser atendidas dentro do que é hoje o Sistema Único de Saúde. Não existe um outro sistema que vai atender, vai internar ou vai fazer um procedimento para a população indígena. Inclusive, nesse aspecto do respeito à medicina tradicional, no Ministério da Saúde, nós temos uma política das práticas integrativas e complementares, onde nós justamente queremos evoluir para a própria medicina tradicional dos povo s indígenas, inclusive, como uma forma de trazer isso para o restante do sistema. A idéia é que a gente evolua nesse sentido e eu acho que o Ministério da Saúde está muito moderno nesse sentido. Nós tivemos um evento, em abril deste ano, inclusive, com a representação da Organização Mundial da Saúde, nesse sentido do respeito às práticas tradicionais na atenção.

Toda a questão do respeito à interculturalidade e aos profissionais de saúde que fazem a atenção, também não estamos alterando isso. Na verdade, nós imaginamos que todos os profissionais que estão hoje envolvidos, de alguma forma, deverão estar mantidos nesse processo de atenção à saúde indígena. É claro que essa é uma mudança que não está pronta. Acho que nós temos que construir, por exemplo, qual é o limite da autonomia orçamentária, financeira dos DSEIs na contratação dos recursos humanos. Isso não está claro. Nós vamos construir isso ao longo do tempo. Por quê? Porque o Decreto que está lá no Ministério do Planejamento trata somente dessa questão administrativa, da possibilidade de termos mais capacidade de gestão na compra dos insumos, nessa questão administrativa. Ele não trata da contratação dos recursos humanos, que é o grande problema hoje, com a terceirização e tal. Nessa perspectiva, eu imagino que vamos ter vários modelos. Acho que não vai ser um modelo único, mas sempre respeitando quem já faz isso, quem já tem um histórico conhecimento disso. Essas ações que são paralelas a todo esse processo, como por exemplo, esse Comitê que trata da formação e da educação permanente dos recursos humanos, fazem parte desse processo. A nível nacional, nós precisamos proporcionar, inclusive, uma cooperação horizontal, que é entre profissionais de saúde porque, muitas vezes, eles vêm com conhecimento tradicional, alopático e aprendem, no processo de trabalho. Então, é importante que isso seja constantemente trocado entre os profissionais, entre os agentes indígenas etc. Quer dizer, a capacidade que o nível nacional tem de proporcionar essa discussão e essa troca de experiências é muito grande. Inclusive, acho que esse é um papel do nível nacional nesse sentido.

Não tem nenhuma nomeação sendo feita. Não existe nem a criação da Secretaria. Há um Projeto de Lei da Secretaria e a proposta de que essa Secretaria tenha um Departamento de Saúde Indígena, que hoje já existe. Portanto, esse Departamento de Saúde Indígena viria para a nova Secretaria com os seus cargos, e com os novos cargos que serão criados no bojo da nova Secretaria, mas ainda não tem nenhuma nomeação, em hipótese nenhuma. Isso ainda é um projeto de lei. Foi apresentado como um projeto de lei.

Na questão da participação, ela é mantida nos fóruns que já existem. Talvez uma questão importante que eu não falei na minha fala inicial é que, junto com essa discussão da criação da nova Secretaria, se criou um GT no Ministério da Saúde para discutir essa própria mudança interna, regimental. Acho que tem que ficar claro que, assim como há coisas que não estão claras para vocês, esse GT é também uma

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coisa nova e recente no Ministério da Saúde. Nós estamos com esse GT também fazendo a discussão interna da nova Secretaria, das novas atribuições e das recomposições dentro do próprio Ministério porque tem algumas áreas que vêm de uma outra Secretaria para essa nova Secretaria e esse GT vai fazer isso. Então, quando a gente for discutir especificamente, por exemplo, qual é o entendimento que se tem dessa autonomia dos DSEIs, tanto do ponto de vista administrativo, como da própria possibilidade de contratação, que vai ter que estar vinculada com o concurso e várias outras ações, é claro que nós vamos ter que fazer isso dentro da representação que existe no Conselho Nacional de Saúde, nesse espaço da CNPI e nos espaços regionais da CNPI, como o Fórum Permanente etc. Eu acho que não tem, em nenhum momento, um desrespeito ao que foi conquistado e isso está dado e garantido.

José Arão Marize Lopes − povo Guajajara: Bom dia. A minha fala não vai ser diferente da fala dos parentes que me antecederam. Eu queria dizer que, de fato, o desenho do modelo de atendimento às comunidades indígenas é um modelo que, se existisse na prática, seria um modelo perfeito, com atendimento básico lá na aldeia, desenvolvido pelos Agentes Indígenas de Saúde, mas, a verdade é que isso não acontece na prática e acaba trazendo toda essa demanda para as cidades mais próximas, até no caso do atendimento primário. Eu não estou aqui querendo fazer um histórico da situação, mas é preciso a gente lembrar um pouco disso também para chegar no ponto em que estamos hoje. Tem a questão da falta de apoio logístico lá na ponta para os profissionais de saúde; tem a questão do transporte; tem a questão de um termômetro que, às vezes, o profissional não dispõe para executar suas ações básicas lá na comunidade; um anestésico para o dentista desenvolver suas ações lá na comunidade; a questão da própria comunicação, meios de transporte, insuficiência de medicamentos controlados e medicamentos de uso contínuo. Tem parentes morrendo no Brasil afora por falta de remédios para pressão, medicamentos do dia-a-dia, medicamentos para doidos etc. Lá na região do Grajaú do Arame, por exemplo, tem um índio de 12 ou 13 anos que está amarrado direto porque não tem controle. É um absurdo isso, mas é real, está acontecendo lá. Então, que tipo de modelo é o modelo perfeito para atendimento das nossas comunidades indígenas? Nós precisamos participar desse processo. Nós falamos isso sempre aqui e, às vezes, isso se torna até chato. Muitas vezes, o modelo feito pelos intelectuais talvez não seja o modelo ideal para atendimento das nossas comunidades indígenas. A Chiquinha foi feliz na sua fala ao ressaltar que a gente precisa sim participar desse processo.

Como é que fica o subsistema de saúde nesse processo de mudança, indo lá para o Ministério da saúde? Ele continua subsistema de saúde? Os 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas vão permanecer com a sua autonomia, que já foi prometida há muito tempo e que, aliás, é uma conquista do movimento indígena durante esse processo? Essa conquista vai ser respeitada?

Na municipalização das ações, nós temos muito medo que essas ações primárias, essas ações básicas e outras ações sejam de fato repassadas para os municípios. Nós temos prefeitos pelo Brasil afora que recebem recursos da SAS para atendimento das comunidades indígenas e nunca os utilizaram. Temos governadores que são anti-índios; temos prefeitos que, por questões fundiários e até por questões pessoais, não gostam dos índios, não gostam de ver nossos parentes. Como é que vai ficar esse

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atendimento uma vez que essas ações forem municipalizadas? É por isso que nós gostaríamos de ter uma garantia de que essas ações não vão ser municipalizadas, que elas vão acontecer. Como é que fica a relação da SAS com os municípios e a contratação desses profissionais com recursos da SAS. Até agora, pelo menos no Estado do Maranhão, eu desconheço que exista um contrato de profissionais, seja ele agente indígena de saúde ou médico. Não tem contrato firmado nenhum. Como é que ficam essas garantias? Agora, o profissional está contratado, amanhã, ele não é mais contratado porque o contrato é só de forma oral, não existe nada no papel. Qual é a prática que nós vamos estabelecer para que isso aconteça?

Tem a questão do reconhecimento da categoria dos Agentes Indígenas de Saúde e Agentes Indígenas de Saneamento. Nós temos os Agentes do PAC. Eles já têm a categoria reconhecida, mas nossos agentes indígenas de saúde e agentes indígenas de saneamento não têm a categoria reconhecida. Então, nessa mudança que vai ser feita, é preciso que se pense um tratamento específico para os Agentes Indígenas de Saúde e Agentes Indígenas de Saneamento, para que ele de fato possa ter uma formação e capacitação adequada, para serem reconhecidos como profissionais na sua categoria. Hoje isso não existe. Assim como, a capacitação e qualificação de todo o profissional que for trabalhar na saúde das comunidades indígenas, para eles terem um pouco de conhecimento de como lidar com a saúde indígena, que é diferente dessa loucura que a gente tem visto nos hospitais.

Tem também a questão de qual é o pensamento que o Ministério da Saúde tem em relação aos próprios Secretários de Estado. Nós temos ações descentralizadas nos estados, como a questão da vacina, por exemplo. Como é que o Ministério da Saúde pensa em lidar com os Secretários Estaduais e Municipais da Saúde? Como é que isso é visto dentro do Ministério da Saúde hoje? Precisamos de uma resposta. Temos povo s indígenas no Brasil em que as crianças ainda não foram vacinadas e quando a vacina chega, já é com muito tempo de atraso.

A última pergunta que eu faço é a seguinte: Será que daqui a 30 dias, dois meses, ou daqui a um ano, a nova proposta do governo, através de uma Minuta de uma Medida Provisória, não vai chegar na CNPI, mesmo que eu não esteja mais aqui, como uma proposta surpresa de municipalização das ações de saúde indígena? Essa é a minha última pergunta. Nós temos muito medo disso. O nosso medo não é de confrontar com o prefeito, mas é porque está em jogo a saúde de nossos filhos, de nossas mulheres, de nossos avós, de todo mundo. É essa a pergunta que eu faço. Muito obrigado.

Marcos Luidson de Araújo – povo Xucuru: Bom dia a todos e a todas. Primeiro, eu queria dizer que a decisão tomada por parte do governo é uma questão que, de fato, foge da nossa competência em relação a esse Projeto de Lei. Como já foi dito pelos companheiros, são essas preocupações que nós temos. Eu não vou repetir o que os companheiros já falaram, mas nesse processo de transição, de fato, nós precisamos acompanhar de perto, até porque, se trata de Projeto de Lei e nós não sabemos quanto tempo isso vai demorar dentro do Congresso Nacional. Há toda uma correlação de forças contrárias. Pode ser que isso ocorra. Mas, quando isso vier a se concretizar, de fato, nós precisamos acompanhar

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todas essas mudanças de transição. É por isso que, quando nós colocamos a questão desse GT que foi pensado, é porque nós precisamos compartilhar com isso. Da mesma maneira que compartilhamos a criação do Projeto de Lei da criação do Conselho Nacional de Política Indigenista. Nós dialogamos juntos − governo, movimento indígena, bancada indígena − e isso foi construído coletivamente. Então, por que não trabalhar isso também coletivamente? Essa é uma pergunta que eu faço também.

Quando o Arão fala da questão dos municípios, isso é muito preocupante. A gente tem tratado dessa questão já há muito tempo, inclusive, dizendo não à municipalização, mas há algumas questão que fogem do nosso controle, até porque, os hospitais que atendem os povo s indígenas estão localizados nos municípios e eles recebem um incentivo fundo a fundo, que é repassado do Ministério. Agora, em relação à questão da contratação de pessoal, dos profissionais, esse é um questionamento que nós fazemos e temos trabalhado isso ao longo desses anos todos. Há muitas situações complexas. Por exemplo, em Pernambuco, especificamente em Jatobá e Petrolândia, onde atendem o povo Pancararu, os prefeitos simplesmente chegaram para a FUNASA e disseram: “A gente não quer atender índio aqui não. A gente não quer contratar esses profissionais. A gente não quer saber desse negócio não”. Então, se tem um prefeito que é sensível à causa, até que acontece a contratação de agentes de saúde. Mas, e quando isso não acontece? Sem contar, que a gente estava discutindo na reunião passada a questão dos Termos de Pactuação que está ocorrendo nos municípios. Nós falamos sobre essa questão aqui na Comissão Nacional e as coisas vão acontecendo de tal maneira que, muitas vezes, a gente fica sem saber onde vamos parar. Nós temos muita clareza em relação a essa situação dessa proposta. Nós temos que participar efetivamente dela. Quando a gente trabalha a questão do fortalecimento dos DSEIs é justamente na perspectiva que essas contratações sejam feitas pelos próprios DSEIs, para que isso não fique à mercê das Secretarias Municipais, em que não temos garantia nenhuma dos profissionais. É essa situação que nós temos batalhado e temos tentado firmar o pé, construindo propostas junto com o governo, junto com o movimento indígena para que, de fato, tenhamos uma saúde de ponta garantida.

Uma outra preocupação é o seguinte: tudo bem que está se trabalhando nesse Projeto de Lei da criação da Secretaria de Promoção da Saúde dos povo s Indígenas, mas eu fico me perguntando: hoje, uma das ações que também é compartilhada com a FUNASA é a questão da engenharia e do saneamento básico. O saneamento básico entra nessa nova Secretaria ou não? Por quê? O saneamento também faz parte. Se a gente trabalha a prevenção, ela se dá também na engenharia quando não tem água adequada para o consumo humano, a exemplo do que aconteceu recentemente lá em Xucuru. Teve um surto de hepatite lá na comunidade e, quando foi feita a análise da água, constatou-se que a água estava contaminada. De quem é essa responsabilidade? É da engenharia. Então, onde é fica essa situação nessa nova proposta? Isso também tem que ficar muito bem claro. Vai tirar só a parte da saúde indígena para a Secretaria? Eu entendo que essa questão da saúde está englobando também a engenharia. É preciso que tenhamos isso muito bem claro. Nós estamos tratando da questão da prevenção da saúde e, quando se trata da prevenção, eu entendo que o saneamento básico tem que estar dentro desse contexto porque é fundamental para a questão da saúde indígena do nosso país. Eram essas as minhas considerações.

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Elcio Severino da Silva – povo Manchinere: Bom dia. Meu nome é Elcio Manchinere, eu sou da região amazônica, do Estado do Acre. É com grande satisfação que a gente recebe essa notícia da criação da Secretaria porque é uma demanda já puxada pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira − COIAB, há muito tempo. Eu não gostaria de fazer perguntas, mas de sugerir que esse projeto pudesse ser mais discutido e detalhado na Comissão, para que a gente pudesse estar trabalhando numa Oficina ou fazer uma Reunião Extraordinária da CNPI para discutir esse Projeto de Lei, detalhando a maneira como vai funcionar o Departamento de Saúde Indígena dentro da nova Secretaria. O problema do funcionamento da saúde indígena não é uma questão de recursos porque nós até temos bastantes recursos. O problema é o Sistema Único de Saúde. Então, nós devemos debater como estar trabalhando a questão do SUS para atender às especificidades das comunidades indígenas. Então, a minha sugestão é que a gente possa aprovar oficinas dentro da CNPI para debater melhor a questão do Projeto de Lei. Muito obrigado.

Participante não identificada: Aproveitando o que o Marquinhos perguntou, hoje em dia, os recursos da SAS são exclusivamente para contratação de equipes multidisciplinares, em todos os lugares. É um recurso funda a fundo. A discussão no âmbito da autonomia dos DSEIs − e o que o Marquinho sugere é de o próprio DSEI contratar − é a questão do Fundo Distrital. Isso já foi objeto de reflexão pelo Ministério?

Cleonara Maria Schwartz − Ministério da Saúde: Eu vou começar pela fala do Elcio, dizendo que a idéia é exatamente essa; é a gente fazer as discussões a partir dessa apresentação. Tem várias questões que o Arão coloca, por exemplo, de medicamentos, vacinas etc., e o SUS tem regras para isso. Então, imaginando a autonomia distrital para compra de insumos, nós vamos ter que discutir especificamente a questão indígena. Nós vamos querer que o DSEI tenha autonomia para a compra de medicamento excepcional? Provavelmente não porque no Ministério já há inúmeros estudos que mostram que esses medicamentos, que são muito caros, devem estar centralizados, num estado maior, por exemplo. O Estado de São Paulo, por exemplo, nesse quesito de medicamentos excepcionais, tem um preço muito melhor, às vezes, do que os próprios pregões nacionais. Essa questão do medicamento excepcional é um exemplo, mas tem vários outros insumos, como as vacinas. Nenhum ente federado hoje compra vacinas. A compra das vacinas é uma prerrogativa do nível nacional. O que a gente precisa é que os DSEIs, com sua autonomia logística, tenham a capacidade de receber esses insumos e transferir para as aldeias indígenas para que a população que tem que receber essas vacinas, efetivamente, as recebam.

Eu acho que, de fato, na lógica das necessidades, nós temos que discutir o papel dos DSEIs com autonomia. É nesse sentido que nós estamos criando essa demanda antiga da autoridade sanitária do DSEI. Eu acho que o limite dessa autoridade, na compra, na contração etc., ainda não está discutido. Inclusive, a própria criação do Fundo. Nós temos modelos, por exemplo, dos Hospitais do Rio, que são do Ministério da Saúde, não têm um Fundo próprio. Eles entram no processo, é claro que há licitação etc., mas eles encaminham isso ao Ministério da Saúde através de um processo e é no Ministério da

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Saúde que se executa a transferência etc. Então, eu acho que nós temos que estudar qual é o melhor formato. Só tem sentido o Fundo se for executar, fazer compras etc.

Eu entendo que, numa perspectiva futura, nós estamos discutindo todo o recurso que hoje está dividido. Uma parte dos recursos é essa que está na SAS, que é para fazer a atenção básica e um percentual menor é o que vai para os hospitais. A gente precisa evoluir nisso. A gente evoluiu um pouco na regra da atenção básica, no per capita, mas nada no hospital. Eu acho que nós precisamos ter critérios, retomar a questão do “Hospital Amigo do Índio”, para que, de fato, o movimento diga que esse hospital, de fato, nos atende da forma como a gente quer. Então, assim como nós tentamos os critérios para o repasse fundo a fundo para fazer a atenção básica, nós também precisamos criar os critérios para os hospitais receberem esses recursos. Na Portaria 2656 nós não criamos esses critérios porque não tínhamos o histórico disso. Eu acho que nós temos que aproveitar as coisas positivas dessa Portaria. Por exemplo, o fato do cadastro de todos os estabelecimentos de saúde estarem dentro do Cadastro Nacional, as CASAIs, todas as equipes multidisciplinares. Antes, nós não tínhamos essa informação e por isso, inclusive, a dificuldade de cadastro novo porque a gente não tem um para trás do que foi sendo executado. Então, eu acho que nós temos que aproveitar as coisas positivas dessa Portaria para essa discussão. Eu vejo que, na lógica do que a gente trabalhou Fundo a Fundo, que era uma lógica per capita, é que nós vamos ter um per capital ou um recurso que é do DSEI, conforme a população. Nesse sentido, do tamanho que for a capacidade da autonomia dessa autoridade sanitária distrital, eu estou entendendo que, no futuro, ela vai trabalhar com todos os recursos indígenas, ou seja, o que hoje é da SAS e o da FUNASA. É por isso que eu digo que vamos ter vários desenhos. Em alguns locais, o município pode até executar as ações dentro da aldeia porque tem lugares em que isso ocorre de maneira satisfatória. Mas, tem outros lugares que não. Não vai ser o município, de jeito nenhum. É o DSEI que tem a responsabilidade dessa contratação, na ida para a aldeia etc. a engenharia não está prevista vindo para essa Secretaria. Nós estamos falando de saúde indígena. Eu acho que esse exemplo que você deu é importante também a gente separar. A água é um determinante da saúde e da doença. Agora, construir ou oportunizar poços, ou seja, as mais variadas formas de água potável é hoje uma responsabilidade do Departamento de Engenharia. Agora, analisar a água, avaliar a qualidade dessa água, tem outras áreas do Ministério da Saúde que fazem isso. A própria vigilância. Então, esse exemplo que você deu da contaminação da água, a gente precisa utilizar os recursos da própria vigilância no sentido da análise da água e temos que ter a indicação do que nós precisamos para resolver o problema de uma contaminação por Hepatite A num determinado lugar. Eu só queria deixar claro que o Departamento de Engenharia da FUNASA não está previsto para vir para esta Secretaria. A Secretaria vai tratar da atenção à saúde indígena.

Quanto à questão do reconhecimento dos agentes, o primeiro passo foi dado. Nós temos o Código Brasileiro de Ocupações e já foi criada a Portaria Nº. 370, de julho de 2007, onde se cria o Agente Indígena e o Agente de Saneamento. Agora, isso é uma parte do processo, no sentido de ser uma categoria profissional. O próprio Agente Comunitário de Saúde, que existe desde 1993, é uma política estratégica do Ministério da Saúde, até por conta de uma Emenda Constitucional de criação da sua

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profissão, que exigiu, em 2006, um curso de formação. A idéia é que você cria a profissão, mas você tem que dizer o que você precisa estudar para ser aquilo. Foi isso que a Emenda 51 fez. Então, nenhum Agente Comunitário de Saúde já terminou a sua formação, então, nós não temos nenhuma carteira profissional de Agente Comunitário de Saúde. Então, acho que o agente indígena está dentro desse processo, essa é uma prioridade para a nossa discussão, mas nós temos o aprendizado do próprio Agente Comunitário e o Agente Indígena entraria nessa perspectiva. Acho que é isso.

Nós não estamos mexendo na lei que cria o Subsistema. O território da saúde indígena é o Distrito Sanitário Indígena. Eu acho que eu já tinha me referido a isso antes e está mantido e, em hipótese nenhuma, isso está sendo colocado em discussão.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Como nós temos três inscritos agora, quando a Cleonara responder da próxima vez, ela fala desses assuntos que ficaram faltando. O próximo inscrito é o Caboquinho, depois é o Anastácio e depois o Saulo. Eu queria sugerir que, na fala do Caboquinho, a gente encerre as inscrições porque já são 12h10min, então, eu proponho que, ao concluir esse tema da saúde, a gente faça um intervalo para o almoço. Então, na fala do Caboquinho se encerram as inscrições.

Antonio Pessoa Gomes (Caboquinho) – povo Potiguara: Eu queria fazer algumas perguntas, até porque, fica melhor para o meu conhecimento. A primeira coisa que eu queria perguntar é como se lança uma proposta dessa, uma Minuta dessa, e só depois é criado um GT para estudar essas propostas. Eu pensaria que seria o contrário. Primeiro, se formaria o GT para depois se lançar a proposta, mas, parece que vocês começam de cima para baixo, como sempre fizeram.

Uma outra coisa é que a proposta da autonomia, pelo que eu fiquei sabendo, já estava pronta para ser publicada ontem ou hoje e, por conta dessa proposta aí, a proposta da autonomia foi novamente arquivada. Eu fiquei sabendo isso e para nós isso é uma grande perda.

Uma outra questão que eu quero saber é quanto à questão das ações de saúde, principalmente, na questão primária, secundária e terciária. Parece-me que eu não estou entendendo como é que vai ficar. Na questão das CORI, novamente, vai acontecer o que está acontecendo, ou seja, indicações políticas. Não tem para onde ir. São indicações políticas e cabines de emprego para os políticos dessas regiões. Eu acho que vai continuar a mesma coisa.

Uma outra coisa é que, com essa nova proposta, parece que o Ministério não quer que existam mais índios, querem que praticamente as mulheres indígenas fiquem totalmente sem produzir. Dentro dessa proposta, é uma coisa absurda. Vocês sabem que os índios gostam de produzir, mas está proposta aqui que se façam as laqueaduras. Era basicamente isso.

Anastácio Peralta – povo Guarani Kaiowá: Bom dia. A gente sabe que nesses 500 anos, nada foi feito para favorecer as comunidades indígenas. Mas, tem uma Constituição que acaba obrigando os

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governantes a fazerem alguma coisa pela gente. Eu vejo que essa proposta pode ser o eixo da idéia, mas a nossa proposta anterior era totalmente diferente dessa porque o movimento indígena, desde 1995, vem discutindo por uma Secretaria de Saúde Indígena própria. Essa era a discussão do Movimento Abril Indígena e também da COIAB. A idéia que a gente tinha era de se ter uma Secretaria de Saúde Indígena e não essa Secretaria que está aqui. Eu até fico preocupado porque o Presidente Lula, de tanto querer arrumar a situação, às vezes, vai dando o remédio a mais, só que ao dar uma dose a mais pode acabar matando. Eu acho que a gente deveria discutir mais essa questão. Eu vejo que não tem nenhum índio dentro do GT para pensar como vamos fazer isso. Como que a gente entra nesse GT para que tenhamos a participação indígena?

Outra coisa que eu vejo é que a proposta da saúde é trabalhar a interculturalidade da saúde. Eu vejo que as pessoas têm muita dificuldade de aplicar isso dentro das áreas. Não tem uma prevenção para isso, valorizando. No discurso do governo, às vezes, a gente acaba falando que tem, ainda mais quando a gente é agente de saúde. Às vezes, a gente faz de conta que faz e a comunidade faz de conta que está recebendo. Eu fico pensando como é que a gente entra nesse tema para por em prática a saúde indígena, principalmente, a saúde indígena diferenciada, como já temos na educação. Na educação, nós já temos uma experiência de educação diferenciada, mas a gente não consegue ter uma saúde intercultural. A prevenção mesmo, a gente não tem. Temos que ver como entrar nesse quadro com mais prevenção. Às vezes, não basta só dar o remédio. Para você ter uma boa saúde, você precisa de muita coisa. Primeiro, ter uma boa alimentação, ter um espaço de terra, ser feliz e alegre. Isso é que traz a saúde. Não adianta socar remédio na pessoa se a alma dele está triste, se o sentimento dele está mais para a morte do que para a vida. Às vezes, a própria saúde está morrendo. O Ministério da Saúde está mais morto do que vivo. Como é que a gente vai levantar a saúde indígena? Eu estou com dificuldade de entender esse entrevero todo. Não é que eu acho que está errado, mas eu não consigo entender. O tronco da saúde indígena pode ser essa proposta, mas como desgalhar isso para a saúde indígena? A gente pensava numa Secretaria Indígena e hoje tem várias coisas aqui dentro para a gente pensar como fazer a saúde. Eu confesso que estou bastante preocupado. Eu não consigo nem me expressar melhor porque é como quando você se atrapalha no caminho, não sabe se vai ou se volta. Eu estou com medo de não aceitar isso aqui e estou com medo de aceitar também. Acho que isso precisa ser mais esclarecido porque talvez aconteça como no caso da mineração, começaram a discutir conosco, mas foram outros que aprovaram. É só para tomar esse cuidado. Eu acho que é uma responsabilidade grande da CNPI, do próprio país e do próprio governante porque trata-se de saúde e saúde é coisa séria. Eu vejo que o Lula tem bastante preocupação, mas acabou dando uma dose a mais de remédio, sem muito consultar o próprio médico. Era essa a minha fala. Obrigado.

Saulo Ferreira Feitosa − Conselho Indigenista Missionário: Eu achei importante esse comentário do Anastácio porque, realmente, a gente não pode aceitar que o governo diga que isso aqui é uma resposta a uma reivindicação do movimento indígena, de criação de uma Secretaria de Saúde Indígena. Eu até estive olhando os documentos das Conferências de Saúde Indígena e o movimento nunca reivindicou a criação de uma Secretaria de Atenção Primária à Saúde. A proposta era a criação de uma Secretaria de

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Saúde Indígena. Aqui, não muda em nada. Substancialmente, você desloca da FUNASA para essa Secretaria e continua existindo lá um Departamento de Saúde Indígena. A discussão do movimento indígena era em termos de poder de gerenciamento das ações. Então, era uma Secretaria ligada diretamente ao Ministro da Saúde. Então, vamos parar de confundir as questões. Para mim, aqui é um arranjo governamental de gestão. Nesse caso, tudo bem. Agora, se a gente pegar o Projeto de Lei, a gente não entende nada porque ele apenas altera a Lei 10.683. Agora, na mensagem enviada ao Presidente da República é que vocês confundem tudo. Inclusive, a pergunta que o Marcos fez sobre a questão da engenharia e porque, na mensagem, vocês dedicam um parágrafo inteiro, o parágrafo 7º. Eu também estava entendendo o deslocamento da questão para lá. O problema é que se mistura muita coisa. É a brincadeira que o Caboquinho fez com relação ao número de laqueaduras. É claro que a Secretaria não vai atender à questão indígena porque é uma Secretaria genérica e, mais uma vez, não se respeitam as especificidades. É claro que se a Secretaria fosse especificamente indígena, esse problema da laqueadura era de fato bastante contestável e poderíamos incorrer até num crime de genocídio. A gente entende que não é assim, só que o arrazoado é tão complicado que ele confunde quem vai ler esse arrazoado.

A outra questão que eu gostaria que você se posicionasse é, de fato, sobre essa Portaria que constitui o GT. Primeiro, vocês complicam tudo na proposta genérica, desrespeitam a reivindicação histórica do movimento indígena das especificidades e, quando constituem o GT, aquela Portaria desrespeita uma instância, que é a Comissão Nacional de Política Indigenista. Então, de fato, é bastante complicado. Além do aspecto que o Caboquinho levanta que você faz essa inversão, ou seja, primeiro propõe o Projeto de Lei e depois cria o GT, esse GT desconsidera a existência da CNPI e até da própria FUNAI. A FUNAI nem aparece no GT.

Uma outra questão que eu também acho que caberia uma discussão nossa é que parece que esse Projeto de Lei protela a solução dos problemas que vêm sendo colocados em relação à saúde indígena porque o problema da saúde indígena não é só onde vai estar ligado o Departamento de Saúde Indígena, se vai estar ligado à FUNASA e à Secretaria. Quais são as questões urgentes? A terceirização. Você vai transferir a FUNASA para a Secretaria, mas a terceirização continua, continua a atenção através dos convênios. Então, quando é que se vai avançar, de fato, na implementação do modelo de atenção? É aquilo que foi dito inicialmente. Sei lá quanto tempo esse Projeto de Lei vai ficar tramitando no Congresso Nacional. Se a gente ficar esperando que ele seja aprovado, criar a Secretaria e só depois a gente passar a enfrentar a questão de fato, como é que nós vamos estar tratando esses problemas emergenciais? Tem uma questão urgente que é essa da autonomia dos DSEIs e, independente da autonomia, tem a questão da política mesmo, essa a que eu me referi anteriormente.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Já foram feitas três perguntas, então, teremos agora a resposta. Em seguida, temos os três últimos inscritos: a Pierlângela, a Lylia e o Ak’Jabor.

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Cleonara Maria Schwartz − Ministério da Saúde: Não sei se ficou clara a questão do GT. Eu acho que, junto com a decisão de um Projeto de Lei, o Ministro cria um GT dentro do Ministério para articular essa discussão. Eu não sei se vou estar sendo incorreta, mas acho que se o “Cacique” manda, na verdade, a gente está discutindo uma decisão do Ministro Temporão e que é prerrogativa dele. É sim uma questão de governo, do Executivo. Acho que é parte disso. Eu acho que tem que ficar claro que esse GT não está discutindo a transferência das atribuições do DESAI para essa Secretaria somente. Essa é uma parte do processo. Ela está discutindo a Secretaria como um todo, essa mudança, por isso, o GT é formado somente de Coordenações do Ministério da Saúde, por isso não tem representantes da FUNAI nem do movimento indígena. Eu acho que não ficou claro, na proposta que eu coloquei, que a partir da reunião desse GT, que vai discutir essas coisas macro da mudança da Secretaria como um todo, as questões específicas dessa transferência, porque não é só a transferência física, mas as atribuições e essas questões importantes, aí sim, nós vamos fazer isso nos locais já existentes, que eu estou entendendo que é a própria CNTI, mas, enfim, vocês podem me dizer se há uma outra forma, se é uma representação do Fórum, por exemplo, participando como convidado desse GT. Eu estou entendendo que é a própria CNPI, inclusive, regionalmente. Então, acho que tem que ficar claro que o GT ...

Saulo Ferreira Feitosa − Conselho Indigenista Missionário: É que eu estou me referindo ao GT especificamente da atenção à saúde dos povo s indígenas. Não sei se é o mesmo GT. Eu estou me referindo à Portaria 1922 de 11 de setembro: “Cria o Grupo de Trabalho com o objetivo de apresentar propostas de ações e medidas a serem implementadas no âmbito do Ministério da Saúde, no que se refere à gestão dos serviços de saúde oferecidos aos povo s indígenas”. É a essa Portaria que eu estou me referindo. Então, esse GT é específico sim.

Cleonara Maria Schwartz − Ministério da Saúde: Eu até não fui chamada para a criação desse GT, para discutir a proposta de quais iam ser os integrantes, mas, no nosso entendimento, era coordenar a discussão da criação da Secretaria e a questão da transferência das obrigações era uma parte desse processo. Mas, eu acho que isso é tranqüilo. Acho que não é um problema. Eu só acho que precisa ficar claro que é um GT interno, que trata das questões internas do Ministério da Saúde, do ponto de vista regimental mesmo. Nós não estamos discutindo política. Quando esse for o tema, é óbvio que nós vamos fazê-lo com a representação que já existe.

Eu não entendi a questão da indicação política da CORI. Realmente, eu não entendi a colocação.

Você também colocou o que é emergencial e que a nova Secretaria não resolve. Eu comecei a minha fala colocando quais eram as questões emergenciais que esta Comissão, inclusive, tinha apontado ao Ministério da Saúde e suas soluções. Como eu coloquei antes, a Secretaria, independente da questão indígena, está sendo criada. Nós entendemos que é melhor para a saúde indígena que tenha um Departamento de Saúde Indígena nessa nova Secretaria. Essa é a proposta do Projeto de Lei. Então, as questões emergenciais, como por exemplo, a autonomia dos DSEIs, eu abri a minha fala colocando isso. A Secretaria está criada. É um Decreto de Lei que vem do Ministério do Planejamento e vai para a Casa

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Civil. Absolutamente, essa discussão impediu, ou demorou, ou atrasou essa negociação e essa decisão. Absolutamente. Muito pelo contrário porque, para fazer isso, faz hoje, mudando um Decreto do Estatuto da FUNASA e, como a Secretaria não foi criada, justamente para não atrasar essa demanda é que está sendo feito o Decreto mudando o Estatuto da FUNASA. É claro que, depois, se muda para onde vai a responsabilidade do acompanhamento. Isso também é por Decreto posterior e não tem nenhum problema. Mas, é justamente para não atrasar uma demanda desta Comissão é que ele está sendo encaminhado dessa forma. De maneira nenhuma, essa discussão atrapalhou esse processo. É claro que as outras respostas que nós gostaríamos de dar, que é a questão do concurso, enfim, e todas as outras questões demandam coisas muito mais complexas porque em relação à forma de contratação, por exemplo, que é o grande problema hoje da atenção, nós precisamos definir de que forma essas pessoas vão ser contratadas, qual é o regime de contratação, e isso não é uma questão específica da saúde indígena, é uma questão do Sistema Único de Saúde, não só do Brasil até, mas acho que é do mundo inteiro, no sentido de qual é a melhor forma de regime para os trabalhadores de saúde, enfim.

Pierlângela Nascimento Cunha − povo Wapichana : Eu sou Pierlângela, da região amazônica. Nós perdemos tempo para iniciar. Eu queria registrar isso porque muitas pessoas chegam tarde e saem cedo. Já são 12h26min e temos poucas pessoas aqui da Bancada do Governo. Então, eu queria registrar isso. Ou a gente chega cedo e começa na hora, com o pessoal que tem, ou então, a gente vai sempre sair perdendo nas nossas reuniões. Esta é uma Comissão com representantes do governo e representantes indígenas. A gente fica aqui só com o pessoal da saúde e de alguns outros Ministérios e só nós indígenas. Eu acho que as outras pessoas também precisam ouvir para colocar o posicionamento delas. Eu queria fazer esse registro porque não é só responsabilidade do Ministério da Saúde. Nós estamos discutindo a questão das articulações e saúde é um problema de todos.

Eu acho que esse trabalho, essa Secretaria, como já foi dito antes, realmente, não era aquilo que nós queríamos e que o movimento indígena colocou. A nossa reivindicação era a criação de uma Secretaria específica, dentro do Ministério da Saúde. Assim como a gente tem a FUNAI, que trata dessa questão geral e chega a todas as comunidades indígenas, nós queríamos esse atendimento diretamente porque, a exemplo da saúde, pode-se criar o mesmo que se criou na educação. A nossa reivindicação também era criar uma Secretaria Nacional de Educação Escolar Indígena, considerando a especificidade que se tem. Não é fácil. Não adianta ter dinheiro. Isso para nós é muito claro. Não adianta ter dinheiro se não tivermos pessoas atendendo lá na ponta, se a gestão não funcionar. Na SECAD, entram os negros, quilombolas etc. Ou seja, tudo o que ninguém quer dar atenção colocaram numa Secretaria só, acho que para os outros órgãos se livrarem um pouco. Fica ali e vocês se resolvem. A SECAD tem toda essa diversidade. Não era isso que a gente queria. A gente sempre quis uma questão mais específica, devido à questão do território mesmo. Chegar às comunidades mais distantes não é fácil e quem tem experiência nisso é a FUNAI. Hoje, a FUNASA acumulou essa experiência. Existe já uma experiência acumulada, não se está inventando a discussão. Eu acho que esse GT que vai trabalhar deve aproveitar essas discussões que já foram feitas e uma das questões muito importantes é que as Conferências de Saúde apontam muita coisa. Nós precisamos fazer uma análise desses relatórios porque, muitas vezes, isso não

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é feito. Então, se vocês pegarem o primeiro relatório da questão da saúde indígena até o último e fizerem uma análise, há propostas que estão lá, desde o primeiro relatório até agora, e não foi dada atenção a isso. Então, para esse trabalho todo, tem que ser feito esse levantamento da experiência que a FUNASA tem e ver quais são realmente os erros e os acertos que já tivemos. Então, acho que temos que aproveitar isso para dar um passo maior e não para retroceder ou continuar as mesmas questões. Isso é uma questão clara para nós, é gestão.

Então, esse quadro novo que vão criar tem que ser de uma forma que a gente dê um passo e não retroceda. Não adianta mudar de Secretaria se o próprio Ministério vai criar como um Departamento, para um território desses. Às vezes, vocês pensam só na população indígena. Em termos de população, nós somos poucos, realmente, nesse Brasil, mas o nosso território é imenso. A distribuição dessa população nesse território é que precisa ser atendida. Então, essa noção entre a população e relação com o nosso território, muitas vezes, não é considerada. É isso que tem que ser considerado. Às vezes, pegam só o número dos povo s indígenas numa determinada região e não sabem nem qual é a área que vai ser atendida, se vão de barco, de avião etc. É isso que eu queria colocar e pontuar. Já existe toda essa discussão, então, eu acho que esse GT deve entender que, hoje, a gente vê no governo vários departamentos que trabalham com essa questão. Aqui está o MDS, MDA, todo mundo se virando com três pessoas e assim não dá para atender à saúde indígena. Então, era isso que eu queria alertar porque as outras questões já foram colocadas. Se tem que dar um passo, vamos dar um passo maior e já temos experiência acumulada para dar esse passo maior. A preocupação também é que, enquanto está sendo discutido esse projeto de lei, qual vai ser essa relação entre Secretaria, FUNAI, FUNASA e a continuidade desse atendimento hoje? Nós temos problemas sérios e questão de saúde não espera o projeto de lei sair. Então, como é que vamos nos afinar para resolver isso? Eu acho que a resposta que a gente quer receber aqui hoje é como vai ser a solução para todos os problemas que estão aqui hoje. A FUNASA também continua. Então, antes de se discutir, tem que ter um GT de transição para essa mudança. A preocupação é realmente saúde e outras questões que estão acontecendo e precisamos de uma solução. A resposta que eu quero ouvir é sobre esses problemas pontuais que estão hoje aí postos.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: A Lylia é a próxima inscrita e depois o Ak’Jabor. Ele é o último, antes de passarmos para as respostas finais da Dra. Cleonara.

Lylia da Silva Guedes Galetti − Ministério do Meio Ambiente: Em atenção à fala inicial da Pierlângela, eu quero me desculpar pelo atraso, publicamente. Eu tinha uma agenda impossível de transferir e quero dizer que eu comuniquei à Secretária-Executiva e solicitei que, se houvesse oportunidade, ela colocasse logo no início, até para não se ficar esperando quorum. Mas, conversei com a Terezinha na hora em que cheguei e ela me disse que não teve oportunidade de fazer isso.

Até há poucos minutos atrás, e como eu cheguei atrasada, eu fiquei tentando achar o documento para que eu pudesse fazer aqui uma leitura porque, realmente, para mim, isso é uma coisa absolutamente nova. Acabei de tomar conhecimento. Fui lá na Secretaria pedir uma cópia porque imaginei que teria

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sido distribuído aqui para todos os presentes. Não foi. Eu consegui aqui com o colega indígena aqui do lado e dei uma olhada rápida. Inicialmente, a minha pergunta era com relação à questão do SISVAN Indígena, o Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional, que está no âmbito do DESAI, e como seria esse trabalho.

Depois de várias perguntas e respostas, e de ter lido o documento, eu compreendi que, na verdade, essa é uma discussão que não tem muito como ser feita aqui porque a Portaria apenas cria o GT e diz que ele vai estudar essa passagem da gestão da saúde indígena para o âmbito do Ministério da Saúde, dentro de uma Secretaria específica de atenção à saúde universal, possivelmente, pelo que eu ouvi aqui até agora, uma Diretoria que cuidaria mais especificamente da gestão da saúde indígena. Pelo que eu entendi das falas até agora, com sua autonomia garantida, esperamos que muito em breve, para atender às reivindicações dos povo s indígenas, os DSEIs também ficariam sob a responsabilidade dessa Secretaria. Não sei. Mas, pelo que nós temos aqui, tem poucos elementos para se pensar e se dizer alguma coisa sobre esse novo sistema de gestão através do Ministério da Saúde.

Desse ponto de vista, eu quero concordar com as colocações já feitas por lideranças indígenas, com relação à participação dos indígenas nesse processo. Eu acho que seria interessante que o Ministério da Saúde colocasse uma possibilidade aqui de uma participação indígena, indicada pela CNPI e tal. Esse é um procedimento político, uma atitude política do governo brasileiro, praticamente, desde que o Presidente Lula assumiu e que, recentemente, com a criação da CNPI, vem ganhando força, no sentido de que, nessa relação do Estado com os povo s indígenas, deveríamos considerar sempre a participação indígena como absolutamente prioritária, não só porque isso tem uma referência constitucional forte, mas também, porque nós temos acordos internacionais, como a Convenção 169, que garante isso.

Eu estou no governo há quase cinco anos e sinto que a questão da saúde é muito sensível. Em todas as reuniões da CNPI a gente tem um problema grave para tratar na área de saúde, há todo esse cenário que a gente tem com relação aos convênios, aos desvios, enfim. Aliás, esses desvios não são de responsabilidade direta nem da FUNASA, nem do Ministério, mas das próprias conveniadas. O fato é que essa é uma questão tão sensível que seria interessante que o Ministério da Saúde abrisse essa possibilidade de um acompanhamento mais de perto e oficial dessa Comissão Nacional, com relação a essa mudança. Essa é a minha visão e eu acho que, nesse momento, eu pelo menos não tenho elementos para discutir o sistema em si, até porque, não é o que está em discussão com os elementos que nós temos nesse momento. Só coloco a minha preocupação em relação ao SISVAN porque foi a primeira coisa que me veio à cabeça antes de ter acesso à leitura da Portaria e da justificativa do Ministro da Saúde no encaminhamento do Projeto de Lei.

Um outro aspecto que eu queria colocar, só para registrar, seria a participação dos Hospitais Universitários nesse processo de atenção básica à saúde. Estou falando dos Hospitais das Universidades Federais e a importância deles estarem envolvidos nessa questão da atenção à saúde dos povo s indígenas. Era só isso. Obrigada.

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Ak´Jabor − povo Kaiapó: Boa tarde a todos. Eu vou colocar pouca coisa também e depois vou perguntar sobre a saúde. Vou falar aqui a minha dificuldade. Desde o início nós estamos brigando junto e fortalecendo os trabalhos, eu tenho muita dificuldade. Ontem à noite, conversando com outros caciques, eu ia entregar o meu cargo aqui na CNPI e da liderança para ficar junto com meus filhos. Não dá para mim ficar desse jeito. As diárias que eu recebi para participar da CNPI são de cinco dias e aqui acabam. O que é que eu vou levar para a minha família? Eu fico muito preocupado com isso. Meus filhos ligaram para mim ontem dizendo que estão com muitas dificuldades e eu também estou com dificuldades aqui. Quem está pagando comida para mim é o Arão, o Cacique Caboquinho, enfim, são essas pessoas que estão me ajudando. Então, já que eu estou brigando pelos direitos de todos e estou com dificuldades desse jeito, é melhor entregar a minha liderança para outras pessoas. Eu não quero saber de mais nada. Eu vou ficar junto com a minha família. Só que as outras lideranças disseram para não fazer isso porque eu era importante. Só que, eu também tenho que ver isso pelo meu lado. O Presidente da FUNAI ajuda mesmo, mas o problema é que o Diretor deles é muito lento. É isso que está atrapalhando. Ele não resolve os problemas o mais rápido possível. O Cacique Caboquinho disse para eu não sair porque nós estamos juntos aqui ainda, então, vou segurar um pouco, mas, na próxima, não sei.

Eu tenho uma pergunta ao Presidente: Tem um projeto, um roteiro, para se discutir isso lá na base. Foram colocados três dias de discussões e não concordaram. Eu não quero isso. Por quê? Só três dias para discutir a mudança do Estatuto dos povo s Indígenas, não são suficientes. Nós precisamos mais de uma semana para discutir isso. Só três dias não dá. Nós temos que discutir artigo por artigo, parágrafo por parágrafo, temos que ver tudo para saber o que vai acontecer no futuro. Se forem só três dias, vai ser tudo rapidinho e nós vamos ir contra a proposta no projeto, contra a gente mesmo. É assim que enganam os índios. É por isso que eu não gostei de três dias de reunião. Essa é a pergunta para o Presidente.

A outra é para a representante do Ministério da Saúde. Nós pedimos mudança, realmente. Nós pedimos a mudança da saúde indígena para melhorar a saúde indígena. Nós sempre reclamamos, pedimos ao Presidente Lula, ao Presidente da FUNASA. Nós reclamamos muito com o Dr. Edgar, com o Dr. Vanderley. Primeiro, eu não aceitava a mudança da FUNAI para a FUNASA. Eu não aceitava a saída da saúde indígena para a FUNAI e a FUNASA. Quem começou isso foi o Dr. Ubiratan. Eu briguei muito com eles lá no Auditório da FUNAI. Depois, nós conversamos. No início é que é muito ruim. Ele me disse que ia melhorar e eu decidi esperar um pouco. Só que, agora, piorou.

Em relação aos remédios que foram pedidos, o governo mandou só remédios para vermes. É sério! Nós criamos a nossa associação e eles mesmo é que compram remédios da farmácia. Os remédios da farmácia é que curam rapidamente, mas, os remédios do governo já chegam vencidos etc. Eles estão enganando os índios. Só que os índios que já sabem ler e escrever sabem isso, mas os outros índios que não sabem nem ler e escrever? Esse é o engano. E agora? Nessa mudança, eu já disse que deveriam criar essa um Secretaria de Saúde Indígena para os povo s indígenas diretamente. Já perguntaram: Por que criar uma

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Secretaria de Saúde para os quilombolas, os sem-terra, negros etc. que estão aí dentro. Para que isso? Eu não aceito isso. Não sei se os meus parentes aceitam, mas eu quero garantir mesmo é uma Secretaria de Saúde para os índios. Eu quero mudar sim, quero melhorar sim, mas isso tem que ser garantido para o índio mesmo.

Se criarem a Secretaria de Saúde Indígena, a FUNAI deveria fiscalizar, em parceria com organizações não-governamentais, como a COIAB, a CNPI etc., que podem ajudar a fiscalizar nessa Secretaria, como parceria. Isso pode ser feito lá na frente porque ficar só com a Secretaria, já vai piorar de novo. É disso que eu tenho medo. Então, todas as organizações não-governamentais, o Ministério Público, a FUNAI e a CNPI deveriam acompanhar isso. Então, era isso que eu queria colocar. Lá na frente, vamos estudar isso, senão, vamos cair no buraco.

Nós não queremos municipalizar a saúde. Ninguém quer isso porque tem prefeitos que não gostam dos índios; outros estão preocupados só com a questão do dinheiro e, quando chega a campanha, eles tiram recursos para usar na campanha. São quatro anos de mandatos de prefeitos. Alguns deles até ajudam os índios, mas, quando o outro entra, acaba tudo. Nós temos uma preocupação muito grande mesmo com isso. Vamos estudar, vamos falar, vamos fortalecer, vamos construir a saúde. Obrigado.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Passo a palavra à Dra. Cleonara, para responder e encerrarmos o nosso debate aqui pela manhã.

Cleonara Maria Schwartz − Ministério da Saúde: Eu acho que o principal questionamento da Pierlângela foi como fica até à mudança. Eu acho que, enquanto a regra não é mudada, vale a regra atual. Então, na própria questão da autonomia dos DSEIs, o Decreto que foi proposto nos moldes em que a FUNASA encaminhou, tem prazo estabelecido. É para o ano que vem. Então, nós temos esses meses para discutir essas questões. Eu já coloquei anteriormente qual é o limite dessa autonomia, que tamanho vai ter a administração de cada DSEI, o papel etc. Então, até que a regra mude, vale a regra atual. Acho que isso tem que ficar bem claro.

Em relação à questão do SISVAN, eu acho que permanece o SISVAN. É um sistema que até está na governabilidade lá do nosso departamento, a Política Nacional de Alimentação e Nutrição. Eu não entendi bem a tua questão.

(Fala fora do microfone)

Essa é uma questão não específica desse sistema. A gente precisa colocar toda a atenção indígena nos sistemas próprios do SUS, considerando suas especificidades de povo etc. Acho que essa é a questão. O sistema já existe e nós precisamos compatibilizar. É como, por exemplo, a própria internação hospitalar. A dificuldade que nós tivemos de criar os critérios para financiar os hospitais que atendem bem à população indígena foi justamente porque nós não tínhamos na Autorização de Internação Hospitalar −

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AIH, a especificidade se era índio ou não. Nós criamos isso com a Portaria 2656. Então, é isso. Nós temos que ter nos sistemas já existentes a especificidade da questão da atenção indígena.

Não sei se eu não fui clara o suficiente, mas o GT vai tratar de questões administrativas. Eu acho que isso é o mais claro. Não tem dúvida que este governo trabalha com o controle social. Eu acho que o SUS é, talvez, quem historicamente mais tenha sido construído com a participação social, mas eu acho que nós temos que entender os momentos. Nós estamos num momento intermediário. O GT nem se reuniu, precisa ter algum produto para daí sim ser apresentado. Reunir o GT simplesmente as pessoas sem um objeto concreto não tem muito sentido. Esse é um processo administrativo muito inicial e eu estou entendendo que o produto desse GT inicial vai ser tratado aqui nesta Comissão. Eu acho que é ela que faz a representatividade dos povo s indígenas. Eu faço até uma consulta porque eu acho que pode ser neste local ou nas regionais, quero o que nós tínhamos proposto, inclusive. É importante a gente discutir no nível local porque, os problemas, as necessidades, as realidades são muito diferentes. A chance de a gente discutir coisas no nível local e ter um resultado melhor é muito maior do que nesse espaço. Então, para mim está claro que, respeitando a questão do controle social e do movimento, é essa CNPI, onde vai ser trazida qualquer construção que esse GT, inicialmente administrativo, vá trazer. Inclusive, no prazo que a gente tem das questões que já estão encaminhadas, como o Decreto da autonomia etc.

Só para terminar, eu queria dizer que nós fomos muito solicitados − nas falas de vários de vocês e até da representação de governo − da falta de entendimento desse processo. A própria exposição de motivos da criação da Secretaria foi feita muito de última hora, não está adequada e traz essa confusão do saneamento sim. Nós construímos um documento para tentar esclarecer. Nós vamos distribuir e ficamos à disposição para qualquer dúvida, na medida em que esse processo vá sendo construído. Eu estou entendendo que isso vai ser construído conjuntamente e nós vamos ter pessoas junto com a FUNASA nas CNPIs regionais que iniciam a partir de 23 de setembro, em Recife e Imperatriz. Lá, nós poderemos também estar discutindo isso mais adequadamente, a partir da realidade local.

Participante não identificado: Eu só queria fazer uma ressalva, Doutora, que esses encontros regionais aos quais a senhora está citando são encontros para discutir o Estatuto do Índio. Não são para discutir a questão da saúde indígena. A questão da saúde é outra coisa. Nós vamos estar empenhados na discussão do Estatuto do Índio. Quero que fique bem claro que o objetivo desses encontros não é discutir essa proposta que está sendo colocada aqui.

Cleonara Maria Schwartz − Ministério da Saúde: Mas, é discutir a parte de saúde porque o que está sendo proposto é uma questão operacional. Agora, para atender à agenda que está no Estatuto da Saúde, a questão da Secretaria e onde vão estar vinculados os DSEIs vão nos ajudar a construir a agenda que está no Estatuto. Acho que é essa a discussão.

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Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Bem, nós cumprimos a nossa meta. Todos os que se inscreveram fizeram as suas perguntas, a Doutora Cleonara respondeu a todas as perguntas e está sendo entregue um documento do Ministério da Saúde, esclarecendo pontos que foram levantados aqui. Eu acho que é importante que os membros da CNPI possam levar isso para as bases. Esse é um documento oficial do Ministério da Saúde, então, isso responde a muitas das perguntas. O entendimento que a CNPI tem é de que, em termos gerais das perguntas, basicamente, havia a preocupação dos Membros da CNPI em relação à continuidade do Subsistema de Saúde Indígena, da responsabilidade federal sobre esse subsistema e de que a proposta não significa municipalização nenhuma da saúde indígena e os compromissos, que foram reivindicados na CNPI, de fortalecimento dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas, de criação, inclusive, dessa autonomia administrativa e financeira dos DSEIs está plenamente garantida, que a lei do subsistema é mantida e que, portanto, a proposta em vigor, do Subsistema de Saúde Indígena, estaria garantida nessa transferência de comando administrativo para o Ministério da Saúde. Esse é o entendimento que a Presidência tem em relação às perguntas e respostas e espero que, no decorrer do período próximo, com esses seminários, o espaço para aprofundamento dessa discussão, que foi uma decisão política tomada pelo governo, é exatamente a CNPI, na Subcomissão de Saúde, e também nos encontros que serão realizados nos próximos meses agora. Eu creio que esse é um momento importante para o aprofundamento dessa discussão e espero que a gente possa efetivamente avançar nesse processo de fortalecimento do Subsistema de Saúde Indígena. Acho que essa é a grande preocupação.

Como disse a Dra. Cleonara, o que está valendo hoje continua valendo enquanto não houver a mudança. Então, as regras do jogo não mudam, enquanto não houver a aprovação do Projeto de Lei em relação ao comando da gestão. Agora, pelo que eu entendi, antes mesmo disso, serão feitas as medidas de planejamento − fortalecimento do DSEI, unidade gestora administrativa, autonomia, ligação direta com Brasília − enfim, essas medidas serão tomadas antes mesmo da mudança da lei, no âmbito da FUNASA, para que, a posteriori, quando for aprovado o Projeto de Lei, seja feita essa transferência. Esse é o nosso entendimento e acho que isso talvez se tenha tornado mais claro pelas dúvidas que foram levantadas e agora temos a oportunidade de discutir e aprofundar. A CNPI será sempre aberta para este debate. Essa questão da saúde é um debate prioritário que foi colocado pelos representantes indígenas na CNPI, desde a primeira reunião. É unânime a reclamação dos indígenas em relação ao atendimento, embora, temos que reconhecer que tivemos avanços importantes no Subsistema de Saúde Indígena. Então, acho que é o momento de amadurecimento disso. Acho que é importante encararmos isso. É o momento de amadurecimento de um passo importante que, inclusive, é fruto da própria reivindicação do movimento indígena e da CNPI.

Com isso, eu gostaria de propor que nós fizéssemos um intervalo para o almoço e retomássemos nossos trabalhos às 14h30min, dando seqüência à nossa pauta. O próximo ponto é exatamente a apresentação da Subcomissão de Assuntos Legislativos, que vai trazer a proposta que foi discutida pela Subcomissão em relação às Oficinas Regionais do Estatuto dos povo s Indígenas. Então, às 14h30min, retomamos nossos trabalhos com a apresentação da Subcomissão de Assuntos Legislativos. Obrigado.

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Tarde do dia 18 de setembro de 2008.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: O próximo ponto da pauta é o relato da Subcomissão de Assuntos Legislativos sobre as Oficinas Regionais do Estatuto dos povo s Indígenas. Eu queria pedir que os Membros da Submissão façam a apresentação, lembrando a todos do plenário que, como foi decidido na última reunião, entre a última reunião e esta agora, foi realizado um Seminário Nacional, aqui em Brasília, promovido pela Subcomissão, onde foi discutida a questão do Estatuto dos povo s Indígenas, com toda a bancada indígena presente e alguns convidados. Inclusive, teve a presença do Relator da ONU para os Direitos Indígenas, Dr. James Anaya, que esteve presente na Abertura, quando foram discutidas todas as questões relacionadas a essa agenda que vai ser apresentada.

Então, eu gostaria de pedir para algum representante da Subcomissão nos apresente a proposta que foi discutida nessa Subcomissão.

Relator da Subcomissão de Assuntos Legislativos: Na reunião da Subcomissão de Assuntos Legislativos, inicialmente, nós fizemos uma avaliação breve sobre a realização da Oficina Nacional, que aconteceu em agosto, aqui no Hotel Nacional. Independente da avaliação na Subcomissão no dia de ontem, pessoas que integram a CNPI, principalmente, os representantes governamentais, já haviam feito uma avaliação em dois momentos, e também uma outra por parte do movimento indígena e indigenista. Então, nós saímos da Oficina Nacional com algumas questões já bastante definidas, em termos de metodologia e orientações gerais sobre os procedimentos, e também em relação aos conteúdos. As avaliações feitas nos ajudaram a perceber, inicialmente, que é impossível trabalhar, nos grupos, a questão do texto do PL 2.057. Não o conteúdo geral do texto, mas a leitura do texto, considerando a íntegra dos títulos, ou seja, pegando os artigos e incisos de cada capítulo. Nós vimos que não há condições de fazer isso porque demanda muito tempo. Então, nós optamos por outra forma de fazer as Oficinas Regionais. Consideraríamos o PL 2.057, mas a leitura que será feita em cada grupo é apenas para se interar do conteúdo. Na discussão, não ser levará em conta todos os artigos, e sim questões que foram elaboradas e que estão sendo modificadas. Essas questões procuram extrair de cada grupo a discussão política, o conteúdo de cada tema, mas não a formulação. Não teremos nas Oficinas Regionais aquela preocupação com a técnica legislativa.

Com base nesse entendimento, a Subcomissão elaborou um primeiro roteiro, chamado “Roteiro para Discussão nas Oficinas Regionais” e solicitou que cada Subcomissão melhorasse o conteúdo das questões. As Subcomissões, no dia de ontem, trabalharam na perspectiva de alterar, suprimir e elaborar novas questões. Nós já sabemos que a maioria das Subcomissões trabalhou isso. A nossa sugestão é que as alterações feitas às questões formuladas sejam entregues à Secretaria da CNPI e que a Teresinha já possa inserir no texto essas sugestões das Subcomissões porque nós não teremos tempo para estar retrabalhando o texto. Pelas questões que já foram reformuladas pelas Subcomissões, nós temos o entendimento de que elas já serão imediatamente integradas ao texto da discussão porque essas

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Subcomissões é que têm, de fato, o conhecimento do tema. Isso agilizaria o nosso trabalho no sentido de estar refazendo aquele roteiro todo.

A segunda questão que nós trabalhamos também na Subcomissão foi o chamado “Informações Importantes para o Procedimento das Oficinas”. Isso também foi distribuído para vocês. O que é que nós chamamos de informações importantes? São todas aquelas informações que nós entendemos necessárias para o bom funcionamento dos encontros regionais. Até porque, já tendo essa primeira experiência, nós nos deparamos com problemas próprios do movimento indígena, em termos de representação do próprio movimento, a quantidade de participantes e outras questões que foram mais da nossa organização mesmo. Nós tivemos dificuldades em assegurar a memória do encontro todo, houve perda de algum material que foi sistematizado pelos grupos, então, nós esperamos que isso não se repita nas Oficinas Regionais. A preocupação nossa, nesse momento, é apresentar o roteiro de discussão. Em princípio, quem participou das reuniões dessa Subcomissão já conhece, já discutiu, já complementou ou suprimiu o que deveria suprimir. E temos esse outro roteiro, com essas outras informações que são mais de ordem prática.

Na Subcomissão, ontem, nós fizemos um exercício para imaginar os possíveis imprevistos. Alguns dos imprevistos de ordem nacional nos surpreenderam. Por exemplo, pela quantidade de participantes, porque o número foi superior ao que a gente imaginava, e surgiram discussões mais políticas do próprio movimento indígena, que acabaram repercutindo no seminário.

Nós imaginamos que, em algumas regiões, isso poderá acontecer também, mas entendemos que, se os representantes indígenas da CNPI de fato realizarem a tarefa de articulação e tiverem a capacidade de assegurar a maior representatividade possível nas Oficinas Regionais, alguns problemas que aqui apareceram, como por exemplo, disputas sobre participação, já estarão sendo superados na própria articulação. Então, se houver uma boa articulação, teremos menos problemas no dia das oficinas. Os problemas que por ventura surgirem, como por exemplo, o aumento do número de participantes, nós consideramos que cabe aos coordenadores indígenas, que são membros da CNPI, estabelecerem um diálogo com os seus parentes na região. Por quê? Porque essas oficinas vão se dar com base em um orçamento previamente estabelecido, um contrato já feito entre o Ministério da Justiça e a empresa que ganhou a licitação, e nós não temos condições de, no momento da realização da oficina, estar alterando o número de participantes, acomodação em hotéis etc. Então, nós até já tivemos uma conversa prévia com os representantes indígenas, na reunião onde estavam só os indígenas e depois voltamos a aprofundar essas questões práticas, ontem, na Subcomissão.

Como proceder nas Oficinas em termos de distribuição de tempo etc.? Essas orientações gerais estão todas no material que vocês receberam. Não vale a pena a gente está lendo aqui. Então, acho que, já que todos têm as informações nas mãos, nós poderíamos abrir para os esclarecimentos, ao invés de fazermos a leitura.

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Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Vamos ouvir o Caboquinho.

Antonio Pessoa Gomes “Caboquinho” − povo Potiguara: Presidente, é só uma questão de esclarecimento e informação sobre a articulação dos participantes na discussão do Estatuto do Índio. Em alguns estados, principalmente, no Estado do Mato Grosso, o próprio administrador é quem já está fazendo essa articulação sem antes consultar nem a Representante da CNPI. Então, nós temos que ter um certo cuidado com isso.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Eu não estou entendendo, o som está ruim.

Antonio Pessoa Gomes “Caboquinho” − povo Potiguara: Eu queria somente fazer um esclarecimento aqui. Já está acontecendo, principalmente no Mato Grosso, que o administrador está articulando os índios já para essas oficinas, enquanto que o Representante da CNPI, que é a Chiquinha, ficou sabendo já depois, por outras pessoas. Eu estou alegando isso porque isso pode acontecer em outros estados, de esse trabalho seja feito sem consultar a CNPI. Nós temos que estar bem atentos a isso. Era só isso.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Estão inscritos a Teresinha o André e o Anastácio.

Teresinha Gasparin Maglia − Ministério da Justiça: Vou falar como representante do Ministério da Justiça, mas também como Secretária-Executiva, só reforçando o que o Saulo colocou. Eu estou batendo na mesma tecla, mas é extremamente importante que não se ultrapasse o número de indígenas nas oficinas, tendo em vista que, não podemos ultrapassar o número de 150 participantes nas Oficinas. A firma vencedora da licitação disse que não vão aceitar nem uma pessoa a mais. Então, se ultrapassarmos esse número de participantes, quem será responsável serão os próprios governadores do evento. É só para termos esse cuidado e para que não tenhamos que pagar a diária de um, dois, três, quatro ou cinco parentes. São 100 ou 150 participantes, dependendo da região.

Em relação ao que o Caboquinho falou, Dr. Márcio, sobre aquele documento, eu estou fazendo um documento, como Secretaria Executiva, e peço sua licença, estou repassando aos administradores este documento com informações importantes que o Saulo acabou de levantar, reforçando que quem escolhe os participantes da oficina lá na região serão os Membros da CNPI, com suas organizações. Eu estou concluindo o documento e passando por fax para cada administrador. Obrigado.

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André Araújo − Ministério do Desenvolvimento Agrário: Lá na Subcomissão, nós tivemos uma dúvida e eu acho importante se deixar claro nesse roteiro até que ponto as Oficinas vão poder discutir o título e se aquele conjunto de temas fica naquele título ou não. Por exemplo, nós discutimos que a questão madeireira não poderia ficar isolada, teria que ser discutida no âmbito de recursos naturais. Isso não ficou claro no roteiro. Então, acho que é importante, primeiro, você fazer um esclarecimento se a gente vai ter que ficar “careta” lá na Oficina, dentro de cada título das caixinhas, ou como é que vai ser.

Anastácio Peralta – povo Guarani Kaiowá: Eu vejo que, para fazermos essas articulações, nós precisaríamos de uma estrutura, para poder fazer as visitas, para buscar as lideranças mesmo da própria área. Era isso que eu queria comentar. Eu estou lá, mas a gente não tem uma estrutura para poder viajar etc. Então, temos que saber como vamos fazer para ter uma estrutura para fazer esse encontro.

Luiz Vieira Titiah – Pataxó Hã Hã Hãe: A minha preocupação é como, para essa oficina, nós puxamos para que as bases sejam ouvidas nessa questão do Estatuto. Como titular da CNPI, eu quero deixar aqui registrado que, principalmente no nosso estado, nós não vamos aceitar alguém do governo vir querer fazer outra política dentro da Oficina do Estatuto. Queremos também que seja encaminhado aqui o que ficou registrado na última região, de que quem vai ter a autonomia de cada oficina no estado é o membro da CNPI de cada estado. Eu já estou ouvindo alguns boatos que alguns administradores, que não estão gostando da atuação do membro Indígena que está na CNPI, querem misturar as coisas. Acho que está na hora de o Senhor, como Presidente da CNPI e Presidente da FUNAI, fazer uma carta circular pedindo que respeitem os Membros Indígenas da CNPI, que têm toda a autonomia de articular e organizar as oficinas.

Kohalue Karajá − Região Amazônica: Para a Subcomissão de Assuntos Legislativos, eu gostaria de sugerir, já que estamos tratando da questão do Estatuto do Índio, que tratássemos da questão de gênero. Eu acho que poderíamos ter alguns artigos que se referissem à questão das crianças, das mulheres e outros. Seria uma colocação para a equipe da Subcomissão. Obrigado.

Pierlângela Nascimento Cunha − povo Wapichana : Eu vou me reportar sobre a questão da Assessoria Jurídica para as discussões. Nós recebemos uma Moção de Repúdio à Comissão Nacional de Política Indigenista e ela foi encaminhado ao Presidente da 6ª Câmara, Secretaria Especial de Defesa dos Direitos Humanos da Presidência da República, ao Ministro da Justiça e à Secretaria Especial de Igualdade Racial, devido ao episódio que aconteceu no seminário. Ao recebermos esse documento ficamos bastante preocupados porque, para nós do Movimento Indígena, esse é um momento importante e não são vaidades que vão quebrar o trabalho que vem sendo construído há muito tempo. Na Oficina da Carteira Indígena, que foi na semana passada, aqui em Brasília, as lideranças das organizações indígenas, inclusive, das que estão citadas no documento que foi entregue aos senhores, fizeram um outro documento, que deve ter chegado às mãos do Presidente, mas não dos outros porque foi feito na sexta-feira e só agora deve estar sendo encaminhado. Foi feito um documento de esclarecimento das organizações indígenas do Brasil, em relação às atitudes tomadas no Seminário e o

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reconhecimento ao trabalho da CNPI no sentido de que os representantes indígenas são as legítimas pessoas para discutir e levar essas questões às bases. Em relação ao outro documento que havia sido enviado, realmente, as organizações citadas, nessa Oficina da Carteira Indígena, também colocaram aqui que não reconhecem o documento. Então, essas são questões internas do movimento e que nós não queremos que afetem o nosso trabalho. Nós conversamos com todas as lideranças, nessa Oficina da Carteira Indígena estavam mais de 70 pessoas de várias regiões, e foi decisão da Bancada Indígena da CNPI conversar com todas as lideranças e discutir essa Moção que foi feita em relação à Comissão Nacional de Política Indigenista. A Comissão não é formada só pelos indígenas, mas pelo governo também. O que foi discutido que a Assessoria Jurídica de todas as Oficinas, quem vai escolher é cada Regional. Nós não delegamos a ninguém o poder de irem a todas as oficinas. Foi essa a decisão que foi discutida e o documento das lideranças que foi encaminhado foi esse. Então, as questões jurídicas, o acompanhamento nas oficinas, vai ser escolhido pelas próprias regiões. Cada região vai ter o seu grupo e vai convidar quem quiser para fazer a sua assessoria jurídica lá. É isso que eu quero informar, em nome da Bancada Indígena e das Organizações Indígenas do Brasil.

Francisca Navantino “Chiquinha” − povo Pareci: Eu queria fazer algumas colocações a respeito do trabalho que nós vamos fazer porque, depois dessas reuniões que nós tivemos, eu fiquei um pouco apreensiva por conta de tanta responsabilidade que nós temos em promover uma discussão, cara a cara com as nossas comunidades indígenas, dentro de um contexto de estar ressuscitando o Estatuto porque, para alguns parentes, ele já estava mais morto do que vivo. Eu estou pensando no suporte que vamos precisar. Como o Caboquinho colocou, já tem iniciativas de alguns administradores que estão conversando com a comunidade, mas se der qualquer coisa errada, a culpa vai ser do representante da CNPI, foi ele que fez tudo errado. Então, eu penso, Presidente, que na qualidade também de Presidente da FUNAI, vai ser necessário que o senhor passe informes e orientações administrativas de como se dará todo esse processo. A discussão não é somente da CNPI, tem um interesse muito grande também por parte da FUNAI, como uma instância que articula, que é responsável pela promoção da política indigenista do nosso país e das mudanças que estão acontecendo. Então, para nós é muito importante o apoio da Vossa pessoa e da gestão do senhor também. Eu fiquei muito assustada porque eu nem tinha conversado nada, estava aguardando esta reunião e, lá no Mato Grosso, na reunião que nós tivemos com todos os nossos gestores das indígenas e lideranças também, já havia comentários sobre a discussão do Estatuto e sempre vai a figura de quem está na frente. Eu sinto que é necessário, não só um bom preparo das administrações que vão trabalhar no processo e também dessas pessoas que vão daqui. Nós vamos ter alguns convidados. Por exemplo, a nossa Oficina vai ter 150 indígenas, a CNPI vai dar todo o suporte para que 100 indígenas estejam presentes e a nossa organização vai bancar os outros 50. Então, eu estava aguardando esta reunião para a gente poder tomar uma posição e eu encaminhar para lá. Na final de semana, estarei tendo uma reunião com a nossa organização, inclusive, o Presidente está vindo lá da aldeia para essa reunião, e depois, na segunda-feira, vamos reunir com todo mundo para discutir e definir as tarefas. Acho que é um trabalho não só da CNPI e tem o suporte da FUNAI também e isso vai ser muito importante. Eu até convidei algumas pessoas da OAB do meu estado que querem participar para acompanhar. Tem um Promotor nosso amigo que tem nos dado muito apoio lá em Mato Grosso,

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diante do contexto que vocês já conhecem, e ele gostaria muito de participar, até porque, ele está fazendo o Mestrado na questão dos direitos indígenas. Ele trabalha em vários fóruns dessa pasta e nós o convidamos para nos acompanhar e nos dar um suporte, mas eu penso que um dos maiores suportes é o da FUNAI porque a administração fica próxima das terras indígenas. Então, as pessoas vão procurar as informações lá. Se esse pessoal da administração, os funcionários, não estiverem preparados para dar um suporte e informações corretas do que está se passando, vai sair fofoca de tudo quanto é nível e isso vai gerar todo o tipo de situação que até foge da nossa competência como representante indígena na CNPI. Isso é para fazer com que a reunião tenha de fato êxito. Essa é uma das minhas preocupações.

Por outro lado, nós já estamos indicando alguns servidores da nossa confiança, que são pessoas responsáveis e têm competência para discutir essa temática. Mas, eu penso que nada seria mais importante do que a FUNAI se manifestar, como instância de política indigenista, através de uma nota, ou sei lá como vocês pensam fazer isso, para poder orientar as administrações regionais sobre essa discussão do Estatuto dos povo s Indígenas. Eu tenho certeza que, na semana que vem, os índios já vão começar a procurar as administrações para saberem as notícias. Então, eu gostaria de deixar isso registrado.

Há algumas questões que nós já estamos encaminhando na parte da educação, mas eu vou falar isso na hora da apresentação da minha Subcomissão. Obrigada.

Brasílio Priprá − Região sul e sudeste: Boa tarde a todos. Eu queria fazer minhas as palavras da Francisca. Realmente, Presidente, nós precisamos do apoio da FUNAI, até porque, é o primeiro encontro que a CNPI vai ajudar e acompanhar, e nós precisamos do apoio das administrações. No caso da região sul, seria: Passo Fundo, Chapecó, Londrina, Iguarapuava e Curitiba. Se fosse possível, nós gostaríamos que os administradores disponibilizassem alguns profissionais da área jurídica, que conhecem muito bem essas comunidades indígenas, para que nos orientassem. O nosso acordo com as lideranças é que são as lideranças de base que vão escolher quem vai participar. Então, são as pessoas que eles escolherem e não as administrações. Mas, outros colaboradores são eles que vão escolher. Nós gostaríamos de ter um apoio dessas administrações. Nós sabemos que não vai sair perfeito, mas que saia o melhor possível. Qualquer erro, nós da CNPI é que vamos ser considerados culpados. Então, eu gostaria que o Senhor Presidente encaminhasse um documento nesse sentido, para nos ajudar. Muitos líderes indígenas de base têm vontade de se expressar, mas, aquilo que eles dizem, às vezes, tem que ser transformado numa linguagem adequada sob o ponto de vista jurídico. Para isso, nós temos que ouvir e ter esses profissionais para nos ajudar. É essa colaboração que nós gostaríamos de receber do Presidente da FUNAI. Muito obrigado.

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Lylia da Silva Guedes Galetti − Ministério do Meio Ambiente: Eu queria só dar uma sugestão. Na II Oficina da Carteira Indígena, na semana passada, nós passamos o vídeo da reunião da Comissão Nacional de Política Indigenista com o Presidente Lula. O resultado foi muito interessante. Estavam lá servidores da FUNAI que ficaram admirados com a defesa que os próprios índios fazem do fortalecimento da FUNAI nas suas falas. Lá estavam membros da CNPI, representantes da COIAB e também muitos índios vindos das aldeias e das pequenas associações comunitárias. Esse problema das relações políticas com essas lideranças que estão destacadas no cenário nacional, participando de fóruns, tem muito a ver com a dificuldade deles compreenderem exatamente esse processo e de reconhecerem essas lideranças. Nesse sentido, esse vídeo da CNPI foi muito bom para isso. Muitos índios que estavam lá nunca tinham ouvido falar de CNPI, descobriram isso, viram a participação de cada um de vocês naquela reunião, as falas, e isso teve um efeito muito positivo junto às comunidades. Inclusive, nós não tivemos condições de reproduzir, mas todo mundo queria levar o vídeo para casa. Eu acho que essas coisas ajudam esse reconhecimento, tanto daquilo que a Comissão como um todo vem fazendo, vem encaminhando, quanto em relação especialmente às lideranças indígenas que participam da Comissão. Então, se houver um tempo, eu acho que nesses seminários sobre o Estatuto, se deveria começar pela própria apresentação da CNPI, mostrando o que é a CNPI, como é que ela trabalha e quem são os indígenas que dela fazem parte. Eu acho que seria legal a gente distribuir esse vídeo, mandar reproduzir. Não fica caro. A idéia é que cada um saísse com esse vídeo desses encontros. Eles vão mostrar para as comunidades e acho que isso é importante. Obrigada.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Eu entendi que tem uma sugestão da Lylia, a mais do que está aqui no documento da Subcomissão, no sentido de que, nos seminários, fosse apresentado o vídeo da CNPI com o Presidente Lula porque seria uma forma de esclarecimento maior para a base do movimento indígena, das lideranças indígenas que vêm das aldeias e participam desses seminários, para mostrar o que significa a CNPI. Além disso, há a sugestão que nós façamos uma reprodução desse vídeo para ser distribuído. Eu considero que são duas propostas. A primeira é de passarmos o vídeo nos seminários e a segundo é de reproduzirmos mais cópias do vídeo. A segunda proposta depende de orçamento. Nós já fizemos 100 cópias e não temos orçamento disponível na CNPI para fazermos mais. Então, essa segunda proposta está condicionada a conseguirmos orçamento. Mas, a primeira proposta independe de orçamento. Nós temos os CDs para irem para as oficinas.

Francisca Navantino “Chiquinha” − povo Pareci: É possível nós mesmos fazermos a reprodução?

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Não tem copyright, como dizem. É liberado. Vocês podem copiar à vontade e distribuir. É software livre. Se cada Ministério puder fazer cópias desse DVD para contribuir para o debate será bem vindo.

Lylia da Silva Guedes Galetti − Ministério do Meio Ambiente: Nós poderíamos fazer uma apresentação breve do que é a CNPI, talvez até num PowerPoint, mostrando o que é a CNPI, há quanto tempo existe, o que ela faz e depois mostrar esse vídeo.

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Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Está entendido. Então, eu queria consultar o plenário se todos concordam com essa proposta de se incorporar essa proposta da Lylia ao que foi apresentado pela Subcomissão de Assuntos Legislativos. Alguém tem alguma posição contrária? Ninguém se posicionou contrário, então, fica aprovada essa sugestão da Lylia de se incluir isso na programação.

O entendimento em relação às outras colocações é que todas elas vêm no sentido de que a FUNAI se manifeste formalmente junto aos administradores para que eles dêem todo o apoio logístico necessário para que o Encontro aconteça da melhor forma possível, mas sem que isso signifique que ele vai interferir no conteúdo do Seminário porque quem coordena politicamente o Seminário é o Representante da CNPI. É isso? Então, eu vou pedir à Teresinha que, com base no que foi aprovado aqui, prepare esse documento formal que eu, como Presidente da CNPI e Presidente da FUNAI, vou encaminhar para cada administrador da FUNAI no Brasil inteiro, com o nome de cada coordenador indígena que vai assumir cada Seminário, citando nominalmente, e dizendo ao administrador que, em caso de qualquer dúvida que ele tenha a respeito da coordenação do evento, ele deve procurar o representante da CNPI, responsável lá na região. Eu acho que esse é um documento que nós temos que preparar formalmente para ser encaminhado a todos os administradores da FUNAI.

Dessa forma está contemplado?

Francisca Navantino “Chiquinha” − povo Pareci: No caso do Mato Grosso, pelo tamanho que o nosso estado tem e pela diversidade de opiniões e de propostas, no meu estado, eu gostaria que todos os administradores estivessem lá porque eles são sempre isentos e não vão às reuniões dos índios e, quando há qualquer confusão, eles são os primeiros que atiçam. Então, para evitar essa confusão, no caso do Estado do Mato Grosso, eu gostaria de propor que eles participassem até para saberem das mudanças que estão sendo propostas.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Então, no mesmo documento que eu vou encaminhar, eu vou não só informar quem é o coordenador indígena da CNPI local, como também determinar que os administradores da FUNAI participem do Encontro naquele estado. Eu entendo que, com esse documento encaminhado, o coordenador indígena deve procurar o administrador da FUNAI, tomando a iniciativa, como autoridade que é, eleito membro da CNPI, de ir ao administrador e se colocar como protagonista do processo. O administrador vai receber esse nosso documento de orientação, além dos documentos que já forem citados aqui.

Esse encaminhamento contempla as questões que foram levantadas?

Pierlângela Nascimento Cunha − povo Wapichana: Eu vi aqui na memória da reunião da Subcomissão que os Representantes da Secretaria de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça acompanharão as

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oficinas na qualidade de observador, a fim de coletar dados, informações e impressões que poderão contribuir na sistematização e articulação das informações. A sugestão é que nos encaminhem esses nomes antes, até para a gente poder apresentar direito as pessoas. Nós queríamos também saber com antecedência o nome dos representantes dos demais órgãos de governo que irão participar dessas oficinas, para a gente saber quem é que vai estar lá, quais são os Ministérios e quais são os órgãos de governo que vão estar participando porque é importante a gente saber com antecedência os setores que vão estar lá e aqueles que a gente pode convidar da própria região onde vai ser realizado o encontro. Então, eu acho que é importante a Bancada Governamental nos repassar o nome das pessoas que vão dos Ministérios. No caso das pessoas que não forem daqui de Brasília, tem as representações locais e nós poderemos estar convidando aquelas pessoas que a gente achar necessário e importante que estejam lá no evento. Eu gostaria de solicitar isso à Bancada Governamental para a gente ter esse quadro de quem vai estar participando da Oficina. E também no caso da Secretaria de Assuntos Legislativos.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Antes de passar a palavra à Teresinha, eu queria reforçar isso que a Pierlângela colocou, porque acho que é importantíssimo mesmo termos a informação do nome dos membros governamentais que vão participar do encontro, com antecedência, sobretudo, os técnicos da SAL, que estarão acompanhando todos os encontros.

Teresinha Gasparin Maglia − Ministério da Justiça: Eu não sei se eu passei para os representantes indígenas, que além dos dois representantes da Secretaria de Assuntos Legislativos − SAL, o Ministério da Justiça também está disponibilizando, para cada oficina, um funcionário da Assessoria da Assessoria Parlamentar. Por que colocar a Assessoria Parlamentar nas oficinas? Tendo em vista que o Estatuto está parado lá no Congresso há tantos anos, na hora em que começarem essas oficinas lá na ponta, lá dentro do Congresso Nacional, alguns deputados que são contra e que não querem que isso avance, vão começar a bater aqui e os deputados que estarão em defesa do Estatuto, em defesa dessa proposta, não vão estar municiados de informações para contrapor quem está atacando. Em função disso, o Ministério da Justiça colocou dois assessores parlamentares− um que atua no Senado e o outro que atua na Câmara − que estarão trabalhando em conjunto, trocando as informações entre eles e repassando para os deputados de defesa para que eles tenham subsídios e dizer o que está acontecendo nas oficinas. A gente sabe que, muitas vezes, nos meios de comunicação, a coisa chega bem distorcida e os deputados lá também vão bater. Então, a FUNAI está colocando um Assessor de Imprensa para garantir que o sucesso da oficina seja refletido na imprensa de forma positiva e o Ministério da Justiça está colocando um assessor parlamentar em cada oficina para que se possa fazer a defesa no ato, lá no Congresso, e não esperar que os deputados façam essa defesa depois de uma, quatro ou cinco semanas. Era isso que eu gostaria de colocar.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Com essas informações e com as sugestões que foram colocadas e o encaminhamento que nós demos aqui, eu queria consultar o plenário se estamos de acordo.

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Saulo Ferreira Feitosa − Conselho Indigenista Missionário: Tem uma pergunta que foi feita pelo André e outra pelo Kohalue. A questão que o André levanta é quanto à orientação metodológica dos grupos e o agrupamento dos títulos. Eu queria dizer que tudo o que está sendo enviado são sugestões. São sugestões metodológicas e a sugestão também do roteiro de discussão. É lógico que, na Oficina, você pode fazer mudanças e ajustes. A idéia de enviar esse material antes é porque, em alguns momentos, foi colocada essa preocupação e até se pensou em contratar facilitadoras. Eu dizia que os coordenadores, que são Membros do CNPI, já estão capacitados para fazer isso, eles vão coordenar toda a Oficina. Então, esses materiais foram produzidos para que todos tivessem uma orientação comum, mas são sugestões que podem ser melhoradas, alteradas. O importante é que se garanta que o conteúdo que foi discutido nos grupos seja registrado. É por isso que a Secretaria Executiva vai assegurar para cada Oficina uma equipe de sistematização. Então, embora cada grupo tenha um relator, haverá a equipe que fará a sistematização geral. Pode-se inovar. Por exemplo, aqui no Acampamento Terra Livre, os índios não gostam desse tipo de trabalho de relatoria que nós fazemos no grupo porque vem no Pen-Drive. Eles preferem colocar em papel madeira, cartazes, etc. Então, vocês podem mudar os recursos, adaptar, mas temos que assegurar o registro das discussões. Acho que isso é o importante. Se quiserem agrupar títulos, juntar grupos, tudo bem. Se vocês decidirem trabalhar com 12 grupos em vez de seis, também pode. Isso não tem problema.

Francisca Navantino “Chiquinha” − povo Pareci: Em relação ao que a Teresinha colocou sobre os dois assessores parlamentares do Congresso que vão acompanhar, eu não sei se já estão escolhidos, mas temos que ver também se são pessoas ligadas ao movimento. Nós sabemos que o Congresso é praticamente todo contra nós. Então, temos que ver se esses caras não vão lá só para ver o que os índios estão fazendo e quando chega na hora, deturpam tudo. Eu já estou tão cansada dessas coisas! O Deputado do Mato Grosso em quem nós temos confiança, que é o Deputado Carlos Abicalil, já chamou muito a nossa atenção para isso, em várias reuniões e até disse que gostaria de acompanhar, no caso do Mato Grosso e em alguns outros estados. Ele é um grande aliado nosso.

Outra coisa que eu queria saber é se a gente vai levar algum material para lá, se vocês vão mandar com antecedência, ou se nós vamos ter necessidade de reproduzir material lá. Nós temos que ver tudo isso porque tudo tem que ser programado quase um mês antes para que possamos pedir apoio das parcerias. Senão, não conseguimos.

Seria importante disponibilizar também aquele informativo da CNPI. Teresinha, você mandou aquele informativo para nós, distribuiu, teve até confusão porque todo mundo quer aquele material. Eu queria saber se esse informativo da CNPI vai estar disponível também porque a receptividade muito grande e chegou às aldeias sim porque eu vi muitos índios com esse documento na mão.

Teresinha Gasparin Maglia − Ministério da Justiça: Quanto ao informativo, nós fizemos para aquele evento e fizemos um pouco a mais. Alguns Membros da CNPI me solicitaram e nós enviamos. O que eu tenho hoje são 10 pacotes de 80 exemplares. É somente isso. Então, eu pensei em colocar um pacote de

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80 exemplares por Oficina. É o que eu posso fazer. Eu solicitei ao Ministério que fossem reproduzidos mais, mas encerrou o contrato da gráfica e está sendo feita nova licitação. Então, nós teríamos que fazer isso à parte. Além disso, como o Dr. Márcio colocou, esse informativo tem que ser atualizado. No próximo informativo, nós temos que colocar a foto do Presidente Lula.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: A nossa proposta é que a gente possa fazer uma segunda edição, já incluindo a reunião com o Presidente e tudo. Só que agora não vai dar tempo porque tem a questão da licitação. Então, a idéia é distribuir um pacote para cada Seminário.

Primeiro, eu queria consultar se, com esses encaminhamentos que nós discutimos aqui, estão contempladas as preocupações que foram colocadas.

Francisca Navantino “Chiquinha” − povo Pareci: Por enquanto, sim.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Então, por enquanto, nós aprovamos que está tudo certo. Está aprovado. Eu queria aproveitar também para colocar aqui para a plenária, porque tem a ver com esse debate do Estatuto, que a CNPI recebeu duas correspondências: uma do Instituto Brasileiro Indígena para a Propriedade Intelectual − INBRAPI; e a outra do Centro Indígena de Estudos e Pesquisas − CINEP. Essas correspondências foram dirigidas ao Presidente da CNPI, reivindicando a participação de seis advogados indígenas nas Oficinas Regionais do Estatuto dos povo s Indígenas, como assessores indígenas aos Membros da CNPI. Essa é uma reivindicação que foi encaminhada formalmente e eu preciso consultar a plenária sobre isso. Também houve uma segunda comunicação à Presidência da CNPI, em que as advogadas indígenas Kaingang, Fernanda e Suzana, estão reivindicando participar como assessoras também dos Membros da CNPI. Então, eu queria consultar o plenário. Nesse caso, se trata de reivindicações de advogados indígenas. Então, eu vejo que é reivindicação, sobretudo, para a Bancada Indígena. Se a Bancada Indígena quiser, nós nem precisamos resolver isso agora. Posso deixar isso como uma questão que a Bancada Indígena discutiria e, posteriormente, teríamos uma posição, ou decidimos agora. Vamos avaliar qual é a opinião de vocês sobre esse tema.

Luiz Vieira Titiah – povo Pataxó Hã Hã Hãe: A minha preocupação, e acho que a de todos aqui, é com o que já aconteceu. Nós estamos preocupados com esses profissionais indígenas que estão aí estudando direito e querendo até desrespeitar os Membros da CNPI. Na Oficina da Carteira Indígena, eu coloquei isso para a companheira Fernanda. Na última reunião do Estatuto, como uma liderança que havia sido escolhida lá na base, eu me senti um pouco desrespeitado pela fala dela. Então, eu queria deixar bem claro que, lá na nossa região, quem vai convidar as pessoas para participarem e discutirem junto com as lideranças vamos ser eu e o Sandro Tuxá, como representantes da CNPI no colegiado indígena.

Marcos Luidson de Araújo – povo Xucuru: Senhor Presidente, é uma questão de ordem. Eu vi que muita gente se inscreveu e nós temos muito trabalho pela frente. Como isso diz respeito a uma consulta à Bancada Indígena, embora o comunicado seja à CNPI, mas a Bancada Indígena é quem tem que decidir

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isso. Então, eu acho que nós poderíamos sentar num outro momento para discutir isso e faríamos um comunicado formal da nossa decisão.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Então, eu faço uma consulta aos que se inscreveram. A Francisca insiste em falar, o Kolahue também, então, vou ter que garantir a fala deles.

Sansão Ricardo Flores − povo Tikuna da Região Amazônica: Primeiramente, eu gostaria de falar um pouco aos nossos parentes que são profissionais, de que nós os respeitamos muito, assim como nos respeitamos também dentro da Bancada Indígena e na Bancada Governista também. Eu não concordo, sinceramente, que nós do Movimento Indígena, de repente, tomarmos uma posição contrária ao que é do nosso interesse. Nós não podemos ser oposição aos nossos interesses. Isso me preocupa muito. Eu me refiro aos nossos advogados indígenas que estão por aqui, que tiveram oportunidade de estudar essa área. Por conta disso, precisamos pensar direito e ver se há possibilidade da participação deles. Eu concordo plenamente quando Titiah fala que seremos nós que levaremos as pessoas que vão assessorar cada oficina. Nós indicamos porque nós conhecemos as pessoas de boa fé, dentro do movimento indígena, e as pessoas não-indígenas de boa fé também. A minha posição é essa.

Francisca Navantino “Chiquinha” − povo Pareci: Eu também quero deixar bem registrado de que no caso do meu estado, Mato Grosso, quem vai escolher os assessores para fazerem esse trabalho muito importante e de responsabilidade, que é o Estatuto dos povo s Indígenas, serei eu na condição de representante deste colegiado, a nossa organização de Mato Grosso e as lideranças. Nós vamos escolher e vamos levar esses convidados.

Kohalue Karajá − Região Amazônica: Como membro do CNPI, eu concordo com as colocações do Titiah, da Chiquinha e do Sansão. De repente, eu estou vendo que alguns parentes nossos estão misturando questões pessoais. Eu acho que, em relação aos advogados indígenas, é óbvio que cada um deles teve a oportunidade de estudar e chegar onde estão hoje. Eu também faço parte desse grupo, então, sinto que estou sendo atingido diretamente. Eu sou membro do Núcleo Associação dos Advogados Indígenas do Brasil e, como membro da CNPI, também gostaria de sugerir aos nossos parentes que, se houve um erro por parte da própria Fernanda Kaingang, acho que a Comissão poderia conversar com ela, mas, outros não podem pagar por isso. É natural que os advogados indígenas queiram atuar e apoiar nosso movimento. Até porque, foi criado recentemente o CINEP, visando exatamente estar atuando futuramente no movimento indígena, apoiando vocês. Por que não a gente abrir um espaço para eles. Vocês sabem muito bem que o Movimento Indígena tem carência de apoio jurídico. Muitas vezes, as organizações indígenas não têm condições de pagar advogado particular. Então, eu acho que nada mais justo do que dar oportunidades aos nossos parentes, advogados indígenas sim.

Antonio Pessoa Gomes “Caboquinho” − povo Potiguara: É lamentável a gente estar tratando um ponto como esse, mas acho que é importante. O que ficou bem claro é que essa pessoa que está pedindo para assessorar foi a mesma pessoa que fez uma nota de repúdio contra a CNPI. Como é que você faz uma

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nota de repúdio e depois querer assessorar a CNPI. Eu acho que cada região que tem seus advogados índios, se eles atuam na questão indígena, é claro que eles vão ser convidados. Se na minha região tivesse um advogado índio, é claro que eu ia chamá-lo. Agora, o que eu não admito é que muitos índios, que são advogados, fiquem tentando discriminar o próprio parente e depois querendo passar por cima. Eu não concordo com isso não.

Pierlângela Nascimento Cunha − povo Wapichana : Eu queria também registrar que, na nossa região, também tem alguns advogados que fazem parte do CINEP. A Dra. Joênia, por exemplo, faz parte do Observatório e é quem vai nos assessorar junto com os estudantes indígenas que estão cursando Direito e o grupo que está lá. Então, se tivesse alguém aqui em Brasília, que fosse de Roraima, e que fosse advogado, nós levaríamos para lá. Os nossos assessores também vão ser de lá e, no caso, o CINEP não está fora. Cada um tem seu posicionamento. No caso do Estatuto, cada região vai escolher. Então, nós só vamos trabalhar com os advogados e os assessores de lá, e com aqueles que a gente convidar. Até porque, essa foi uma decisão das organizações lá. Como membro da CNPI, eu não vou dar um parecer sobre o que já foi discutido com as 16 organizações do Estado de Roraima. Então, eu não posso dizer que vou aceitar alguém porque quem definiu foram as organizações. Estou falando aqui em nome das organizações. Quanto à inclusão de mais duas pessoas daqui como assessores, acho que a Bancada Indígena é que tem que definir porque nós temos seis assessores. Então, em relação a essa solicitação, nós vamos ter que sentar, definir e encaminhar. Nós já temos nossos seis assessores, então, nós vamos definir quem é melhorar para nos assessorar. Essa é uma conversa que devemos ter entre a gente.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Temos inscritos ainda o Deoclides e o Lindomar. Eu queria propor que nós encerrássemos as inscrições.

Deoclides de Paula − Estado do Rio Grande do Sul: Em relação à Fernanda, eu queria colocar o seguinte: eu conheço a Fernanda, ela se criou na região sul, só que ela não tem apoio das lideranças. Inclusive, isso ficou claro para nós na região que aconteceu aqui na região sul. Eu acho que quem tem que decidir se ela vai nos assessorar é o próprio Estado do Rio Grande do Sul. Normalmente, eles não vão aceitar. Acho que essa pessoa já perdeu completamente a credibilidade com o Estado do Rio Grande do Sul. Era isso que eu gostaria de colocar. Os caciques do Estado do Rio Grande do Sul mandaram pedir desculpas, principalmente, à Bancada Indígena, pelo que aconteceu com ela. Então, quem vai decidir se ela vai ou não assessorar vão ser as lideranças do Estado do Rio Grande do Sul.

Lindomar Santos Rodrigues – povo Xocó: Eu fui contemplado na fala da Pierlângela e do outro companheiro porque isso já está no Regimento. Na medida em que a bancada indígena for necessitando de assessoria, ele vai convidando. Pode ser índio, pode ser branco, isso já está fechado na minha concepção. Com referência às Oficinas Regionais, é claro que eu não vou deixar de procurar um assessor da minha base para procurar outro de uma outra região. Para mim, isso já está fechado. Obrigado.

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Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Eu vou tentar dar um encaminhamento a essa questão. Pelo que eu ouvi das falas de todos os representantes da Bancada Indígena que se inscreveram, eu percebi claramente duas posições. Uma posição é com relação à reivindicação do INBRAPI e CINEP de seis advogados participarem das Oficinas Regionais. Pelo que eu entendi, a posição majoritária é de que cada coordenador vai convidar os advogados que forem da confiança da coordenação local. Isso significa que alguns advogados do CINEP e INBRAPI até poderão ser convidados, mas isso vai depender da coordenação da Oficina Regional. Essa é a posição que eu entendi como sendo majoritária. Foram citados, inclusive, alguns estados em que alguns advogados do CINEP já vão participar de algumas oficinas. Então, a resposta seria que isso vai ficar a cargo de cada coordenador e ele convidaria quem for da confiança no âmbito regional.

Com relação à segunda reivindicação, o atendimento que eu tiro de todas as colocações é que, pelo Regimento da CNPI, a Bancada Indígena tem direito a seis assessores e cabe à Bancada Indígena escolher os seus assessores a cada reunião. Então, cabe à Bancada Indígena contemplar ou não as duas advogadas que reivindicam atuar como assessoras, a cada reunião. É isso? Então, fica aprovada essa decisão, por posição majoritária, unânime, da Bancada Indígena e da Bancada do Governo também.

Agora, para a gente concluir esse ponto de pauta, eu queria perguntar ao plenário, tendo visto as deliberações da Subcomissão, com mais a sugestão feita pela Lylia, que já foi aprovada, se estamos todos de acordo com os encaminhamentos discutidos e deliberados aqui. Alguém tem alguma posição contrária ou algo a acrescentar?

Antonio Pessoa Gomes “Caboquinho” − povo Potiguara: Eu acho que atitudes como essa, não só em relação a reivindicações de índios, mas também de pessoas que não são índios, têm que vir para cá mesmo. Eu não vim para a Carteira Indígena e fiquei sabendo que tinha pessoas que foram convidadas, não sei por quem, se auto-representando como índias, em nome das mulheres. Eu estou me referindo diretamente à Eliane Potiguara. Ela não é Potiguara, nunca morou na área Potiguara e está se auto-afirmando como tal. Nós repudiamos um ato desses porque é um ato impensado. Essa pessoa que a convidou poderia ter consultado a base também. Nós já entramos na Justiça contra essa mulher, na Polícia Federal, já a denunciamos na Europa, entramos com várias ações contra essa mulher, mas ela continua ainda se auto-apresentando como Potiguara.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: É o seguinte. Nós já aprovamos e deliberamos a questão do tema dessa Subcomissão. É só questão de ordem.

Lylia Galetti: Eu queria só comentar um pouco o que aconteceu com a Eliane em 1992. Eu e o Caboquinho entregamos a Eliane à Polícia Federal e ela foi presa no aeroporto porque ela estava usando uma identidade falsa ideológico e o nosso Procurador, Dr. Luciano Maia, deixou um processo em aberto para a gente tomar qualquer posição contra ela. Eu fui ao Rio de Janeiro fazer o levantamento da vida

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dela. Ela saiu do Movimento Negro, brigou, entrou na Comissão Pró-Índio e lá começou a se apoderar de direitos nossos, que não são dela.

Lylia da Silva Guedes Galetti − Ministério do Meio Ambiente: Eu queria só dizer que a Oficina, afinal, foi promovida pelo Ministério do Meio Ambiente e pelo MDS e fui eu que convidei a Eliane. Desculpem os Potiguaras, mas eu não tenho ficha corrida da Eliane e nem da Fernanda. As duas me procuraram, perguntaram se poderiam participar. No caso da Eliane, precisou de uma passagem, nós tivemos desistências justificadas, antecipadamente, de pessoas indicadas nos encontros que não viriam e eu não vi nada demais em deixar que elas participassem. No caso da Fernanda, foi sem nenhum custo porque nós contratamos pacote de hotel e tinha vaga. No caso da Eliane, eu dispunha de uma passagem. Agora, eu quero dizer que não dá para, a cada evento, sair perguntando às bases, ou mesmo para a COIAB para perguntar se posso chamar uma pessoa ou não. No caso da Eliane, eu não tenho a ficha corrida dela. Se isso é real, então, por favor, me passem. No caso da Fernanda, eu já a conheço de alguns encontros, falamos sobre propriedade intelectual etc., e pelo que eu ouvi da Fernanda, do meu conhecimento dela publicamente, eu nunca vi a Fernanda falar uma vírgula contra parentes, contra os direitos indígenas, muito pelo contrário. O que eu conheço publicamente da Fernanda é isso. Da Eliane, o que eu conheço publicamente é a Rede Grumin porque ela manda os e-mails para todos os órgãos que trabalham com isso.

Então, não se trata nem de um pedido de desculpas, porque eu acho que não cabe, mas de uma explicação do que aconteceu e porque a Fernanda e a Eliane estavam lá. No caso da Fernanda, ninguém está questionando a identidade indígena dela e, como Coordenadora da Carteira Indígena e do evento, eu jamais diria a um índio para não participar. Ela estava lá como convidada da Coordenação da Carteira Indígena.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Eu declaro encerrado esse tema. Já decidimos, então, vamos passar para o próximo ponto da nossa reunião. Agora, são os relatos das Subcomissões. A próxima Subcomissão a se apresentar é a Subcomissão de Saúde. Então, eu gostaria que o representante da Subcomissão de Saúde viesse fazer o relato.

José Arão Marize Lopes − Coordenador da Subcomissão de Saúde: Boa tarde a todos. Sobre a parte da saúde, ontem, nos conversamos um pouco sobre o Decreto e a nossa conclusão foi que nós deveríamos apresentar, nessa Oficina do Estatuto do Índio que começa terça-feira, lá em Imperatriz, embora não tenha nada ainda acertado, nem hotel, nem nada, a idéia é discutirmos a real situação do que já existe, as Portarias e tudo mais, para a gente não criar um novo pensamento partindo da questão do Estatuto, tendo uma inovação ou alguma coisa nesse sentido. Nós vamos seguir aquele roteiro que já existe, a Lei Arouca e tudo mais. A nossa base de discussão vai ser nesse sentido. Então, não tem nada de alteração, nada de novidade. Na questão do Decreto, nós também devemos fazer uma explanação nesse sentido lá no evento da discussão do Estatuto do Índio. Basicamente, é esse o sentido da nossa discussão.

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Edgard Dias Magalhães − Ministério da Saúde: Eu queria só complementar a colocação do Arão. A proposta do Estatuto é de 1994 e, em 1999, tivemos a Lei Arouca, que já colocou os fundamentos do Subsistema de Saúde Indígena. Então, nós temos que lembrar que já temos uma legislação específica, já aprovada, em vigor e acreditamos que ela atende à demanda. Então, no Estatuto, no Capítulo da Saúde, eu proporia que se fizesse uma remissão à Lei Arouca, a Lei 9.836, que se aplicaria a esse assunto. Nesse sentido, no roteiro de discussão, eu acho que seria interessante que se reproduzisse a Lei Arouca. Acho que são sete artigos sobre a saúde, que eu proponho que sejam reproduzidos nesse roteiro para que fosse lembrada a legislação que está em vigor. Essa legislação responde a essas questões que estão aqui. Da forma como estão colocadas, elas ficam um pouco ultrapassadas porque já estão respondidas pela Lei Arouca.

José Arão Marize Lopes − Coordenador da Subcomissão de Saúde: Na reunião passada, foram feitos alguns encaminhamentos sobre a saúde que seriam apresentados naquela reunião, mas por conta de uma série de justificativas técnicas e tudo mais, isso não aconteceu. Principalmente, na questão da autonomia dos DSEIs, não foi possível porque havia alguns ajustes a serem feitos. A informação que nós temos é que o documento já está pronto há praticamente 30 dias, não depende mais de parecer técnico. Então, eu queria reforçar a necessidade de a gente avançar nesse processo e faço aqui uma recomendação para que isso seja citado como pauta de encaminhamento de fato e para que isso aconteça. Há uma ansiedade muito grande, não só nossa, dos Membros da CNPI, mas nós indígenas do país todo estamos aguardando essa resposta porque é uma ação concreta do governo que era para ter sido assinada há muitos dias atrás. Acredito que, nesse avanço dessa discussão, isso possa de fato vir a acontecer para que, na próxima reunião da CNPI, a gente não tenha que estar aqui pedindo isso novamente. Então, eu queria reforçar essa questão da necessidade de que isso de fato venha a acontecer.

Edgard Dias Magalhães − Ministério da Saúde: Eu queria só lembrar que, hoje cedo, a Dra. Cleonara já colocou o compromisso do Ministério da Saúde com o encaminhamento da publicação desse Decreto que confere autonomia aos Distritos e isso está mantido como encaminhamento. Não há interrupção no encaminhamento dessas providências. Isso já está no Ministério do Planejamento, as análises técnicas estão concluídas e o Decreto deve estar saindo nos próximos dias para a Casa Civil, para as providências de publicação. Isso já foi afirmado hoje cedo e há concretamente o encaminhamento dessas providências.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Eu queria saber se tem alguém que queira se inscrever. Eu tenho uma sugestão de encaminhamento. Como hoje pela manhã nós já tivemos uma longa discussão sobre a questão da saúde, em função da apresentação feita pelo Ministério da Saúde, eu acho que muitas questões desse tema já foram tratadas. Quero só lembrar que todos os encaminhamentos que a Subcomissão de Saúde apresentou aqui, como disse o Edgard agora, foram encaminhados pelo governo, o Decreto está saindo do Ministério do Planejamento para a Casa Civil, para publicação e a própria representante do Ministério da Saúde, hoje pela manhã, já informou que

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esse encaminhamento está sendo realizado. Como sugestão de encaminhamento, eu queria que os inscritos fossem objetivos, tentando focar questões bem objetivas e que nas Oficinas Regionais, a gente pudesse levar, não só essa discussão da Subcomissão, como também as informações que foram trazidas hoje aqui pelo Ministério da Saúde, em relação ao Projeto de Lei de criação da Secretaria no Ministério da Saúde e de transferência do Departamento de Saúde Indígena e do Subsistema para o Ministério da Saúde.

Lindomar Santos Rodrigues – povo Xocó: Eu queria só pedir o apoio dessa Comissão para que, dentro desse contexto nacional da saúde agora, que a CNPI pudesse se reunir junto ao Fórum para que pudéssemos avançar falando a mesma língua. Era só isso. Obrigado.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Com certeza.

Marcos Luidson de Araújo – povo Xucuru: Uma coisa que não entrou e que nós conversamos pela manhã, mas não foi dado nenhum encaminhamento, e como podemos encaminhar agora alguma coisa como pauta desta Subcomissão, a minha sugestão é em relação ao Grupo de Trabalho que foi criado. Por mais que seja uma decisão política do Ministério, do Ministro, mas, como nós temos trabalhado conjuntamente, temos construído conjuntamente todas essas questões e estamos debruçados hoje na Comissão Nacional de Política Indigenista, no meu ponto de vista, eu não vejo nenhum prejuízo de haver a participação de algum membro desta Subcomissão ou da CNPI nesse GT. Não vejo prejuízo nenhum em relação a isso. Que custa nós acompanharmos esse Grupo de Trabalho? Estou colocando isso enquanto membro da Bancada Indígena para que possamos mandar um documento ao Ministro, da Bancada Indígena, ou da própria CNPI como um todo, consultando-o e pedindo esse espaço de construção para que possamos participar também desse GT. Está se tratando da criação de uma Secretaria de Saúde para os povo s Indígenas. Por que não a gente participar também desse processo? Por que não assumirmos, de fato, esse protagonismo junto com o governo? Inclusive, na imagem, seria até louvável. Então, eu colocaria esse pedido para que possamos acrescentar isso reforçando esse pedido da CNPI para os nossos Membros participarem desse GT.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Então, o encaminhamento seria que a CNPI aprovaria um documento, a ser encaminhado ao Ministro da Saúde, solicitando ao Ministro da Saúde que, no GT que foi criado no âmbito do Ministério da Saúde, quando se tratasse da questão indígena, o Ministério da Saúde convidasse, ou incluísse, um representante do Grupo da Subcomissão de Saúde da CNPI nesse GT para essa discussão. É isso? Tem mais algum inscrito?

Edgard Dias Magalhães − Ministério da Saúde: Eu só queria dar um aviso. O Marquinhos me consultou sobre os incentivos da atenção básica que ainda não foram pagos. Há uma preocupação com o pagamento das equipes multidisciplinares nos municípios. Houve um atraso de trâmite na documentação dentro da SAS e esses incentivos estão sendo pagos amanhã, para o Brasil todo. Era só para tranqüilizá-los. Eu queria avisar que o Dr. Vanderley teve que se ausentar para despachar alguns

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documentos importantes no DESAI, então, ele não retorna hoje. Mas, amanhã, a representação estará aqui. Eu vou me ausentar daqui a pouco porque vou viajar para São Gabriel da Cachoeira e amanhã não estarei por aqui.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Vamos votar agora essa proposta do Marquinhos, mas eu só queria fazer uma sugestão nessa proposta. A sugestão é que a gente solicitasse que tivesse um representante indígena da Subcomissão de Saúde e um representante governamental da CNPI nesse GT, caso ele aceite. A idéia é se manter a paridade da representatividade da CNPI. A única proposta que temos além do que já foi apresentado é essa proposta do Marquinhos, no sentido de que a CNPI fizesse um documento para o Ministro da Saúde, José Gomes Temporão, solicitando que ele considere a participação de um representante indígena e um representante governamental da CNPI no GT que está discutindo a criação da nova Secretaria no Ministério da Saúde.

Lindomar Santos Rodrigues – povo Xocó: Eu gostaria que saísse também uma recomendação daqui para o Ministério da Saúde, no sentido de que fosse respeitado o controle social e pudesse garantir também uma vaga para o Fórum de Presidentes de Conselhos Distritais de Saúde Indígena, que é a instância máxima do controle social na saúde. Obrigado. Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Você está propondo que inclua também o Presidente do Fórum?

Lindomar Santos Rodrigues – povo Xocó: É porque, a nível nacional, a CNPI está sendo a instância máxima que o governo está olhando. Ele criou o Fórum de Presidentes, mas não está levando em consideração. Só que esse Fórum de Presidentes é a instância máxima na saúde, além dos Conselhos locais e distritais.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Então, a proposta é que essa correspondência a ser encaminhada ao Ministro Temporão inclua, além da solicitação dos dois representantes da CNPI, o Presidente do Fórum Nacional de Presidentes de Conselhos Distritais de Saúde Indígena. É isso. A proposta está entendida pelo plenário? Eu queria consultar se tem alguém contrário ao encaminhamento dessa solicitação. Ninguém se manifesta contrário? Então, está aprovado. Nós vamos encaminhar uma solicitação ao Ministro da Saúde nesse sentido. O Representante do Ministério da Saúde se abstém na votação. Então, está aprovada a proposta com uma abstenção do Representante do Ministério da Saúde/FUNASA.

Com isso, nós concluímos essa etapa e passamos agora para a apresentação da Subcomissão de Terras Indígenas.

Dodô Reginaldo Lourenço – Representante da Subcomissão de Terras Indígenas: Boa tarde. Eu sou índio Terena do Mato Grosso do Sul. Esse tema não somente repercute entre os Guarani, Kaiowá, mas

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também no meu povo Terena. São quase 40 caciques do Mato Grosso do Sul e eu fui eleito, então, estou falando em nome da região do centro-oeste, do Mato Grosso do Sul. Eu me preocupei bastante, já estive conversando com o Presidente de manhã e acho que esse debate lá no Mato Grosso do Sul vai ser muito bom porque nós vamos levar lá para a nossa base e discutir junto com nossos companheiros, lideranças, advogados e professores. Eles têm mais conhecimento. Então, nós discutimos ontem e decidimos que deveríamos levar para a nossa base essa discussão sobre terras indígenas. Eu recebi há poucos momentos esse documento sobre 2.090 hectares na Terra Buriti, mas aqui não fala da reivindicação que nós estamos tendo lá na região de 17.200 hectares. Eu recebi esse documento agora para as autoridades ficarem sabendo que, ao todo, são 2090 hectares, com uma população de 4.500 pessoas. Eu achei isso bastante interessante. Quando se fala em terras indígenas, eu procurei estar sempre participando nas discussões sobre as terras indígenas. Então, nós vamos levar essa discussão lá para a base. Obrigado.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Tem um documento da Subcomissão de Terras Indígenas que foi entregue aqui na reunião e eu queria saber se tem alguma outra inscrição, algum comentário.

Brasílio Priprá − Região Sul e Sudeste: Na região que nós tivemos tinha muito pouca gente. Eu até queria cobrar aqui porque acho que o pessoal deveria colaborar mais e participar também dessa discussão porque é interesse de todos, tanto nosso, comunidade indígena, como do governo.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Eu queria só perguntar uma coisa. Está escrito aqui no texto que estavam presentes na reunião: o Dodô, Brasílio, Sansão, e o Paulo Santilli da FUNAI.

Brasílio Priprá − Região sul e sudeste: O que eu estou comentando aqui é que o governo está devendo para o pessoal que está acompanhando, colaborando, sugerindo e nos ajudando em alguma coisa. Na verdade, a reunião acabou se esvaziando. Na discussão sobre os empreendimentos com impacto em terras indígenas, só estava a Iara. Na outra discussão sobre as terras indígenas, só estava o Santilli, que veio trazer a lista. Então, vou fazer uma crítica agora no sentido de que o pessoal precisa acompanhar mais. Nós ficamos sozinhos e as coisas andam muito pouco. É isso que eu quero dizer.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: É porque, além do Paulo Santilli, tem outros membros do governo que participam dessa Subcomissão. Então, fica aqui o registro de que os representantes governamentais que participam dessa Subcomissão que não participaram devem fazer um esforço para participar na próxima reunião. Mais precisamente, é o Representante do Gabinete de Segurança Institucional e INCRA. O Representante da FUNAI estava participando.

Brasílio Priprá − Região sul e sudeste: Na reunião passada, foi proposto que o IBAMA também acompanhasse porque é do interesse do IBAMA também. Na verdade, não compareceu ninguém.

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Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: A Teresinha está me comunicando aqui que o IBAMA foi oficiado, então, nós vamos reiterar essa solicitação.

Francisca Navantino “Chiquinha” − povo Pareci: Não sei se faço a pergunta para a Subcomissão, ou para o senhor, na condição de Presidente da FUNAI, mas eu gostaria de saber de que forma estão sendo acompanhadas as discussões sobre zoneamento nos estados. Por exemplo, no meu estado está acontecendo esse processo e eu fiquei sabendo que isso já aconteceu em outros estados também. O companheiro está falando aqui que no Amazonas já teve esse procedimento. Eu sei que isso está acontecendo em vários estados porque parece que isso faz parte da discussão da Constituição Federal, enfim, tem toda uma história sobre isso. Agora, cada estado está se organizando, de acordo com a sua condição e de acordo com a política que o governo adota, para que se possa fazer essa discussão com a sociedade, a nível nacional, mas com a sociedade civil participando. Eu me preocupo muito com isso porque, no caso do Estado do Mato Grosso, no começo do zoneamento, nós ficamos de fora porque não estávamos entendendo de que se tratava. Deu um pânico em muita gente porque nós achávamos que esse processo em que o governo estava fazendo um levantamento de terras para depois ver o que fazer. Havia toda uma campanha contra nós indígenas por conta das terras e nós achávamos que essa seria uma forma também de deslanchar um outro processo, que está vindo via governo, no sentido de querer diminuir as terras indígenas e, de certa forma, piorar ainda mais a situação em relação às terras indígenas. Mas aí, a gente viu que não era nada disso. Trata-se de uma política sim, de zoneamento, de monitoramento do que ocorre no entorno das terras indígenas, mas de uma maneira geral. Nesse sentido, eu queria verificar com o senhor de que forma, dentro do governo federal, está sendo processada essa discussão. O governo federal está deixando por conta de cada estado fazer essa tarefa. Então, essa é uma questão que eu estou trazendo aqui, não só como militante do nosso movimento, mas também em nome da nossa organização que está acompanhando todo esse processo lá. O senhor sabe a situação que nós estamos vivendo. Então, eu queria saber se o governo federal tem algum grupo de trabalho, tem alguma instância do governo que está fazendo isso. Eu acho que está muito por conta da gente. Nós é que estamos convidando as instâncias, fazendo isso e aquilo. Era isso que eu queria perguntar. Obrigado.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Estão inscritos: a Lylia, Pierlângela, Almir Suruí e a Dra. Débora. Eu queria propor à Lylia, que é do Ministério do Meio Ambiente e certamente vai estar respondendo por que essa é uma questão afeta ao Ministério do Meio Ambiente, que ela esperasse as perguntas todas e depois falasse.

Pierlângela Nascimento Cunha − povo Wapichana : Eu gostaria de falar, de um modo geral, sobre a questão das terras indígenas hoje no Brasil e o movimento anti-indigenista que está vivo, mais do que nunca, mostrando agora toda a sua cara porque a gente sabe que o preconceito contra nós já vem de muito tempo. Só que agora, não está mais velado, está escancarado em toda a mídia. A minha pergunta é como nós vamos encarar essa questão das terras indígenas dentro da CNPI. Essa é uma questão que eu quero colocar para a Bancada Governamental também. É a questão do zoneamento, o PAC, enfim,

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várias questões que estão interligadas. É dinheiro do governo federal indo para os estados, cada vez a gente vendo os estados se manifestando contra os indígenas e cada vez mais a mídia focando isso. Eu estou colocando aqui um desafio para todos nós, não só indígenas, porque a gente já tem essa luta, mas enquanto Comissão Nacional. Temos que ver o que é que o Governo Federal, aqui sentado, está se propondo a fazer para que haja também um rebate dessa posição. Enfim, o que está sendo pensado na Casa Civil, na Presidência da República. Está me incomodando muito olhar para o outro lado e ver só três pessoas. Eu não estive aqui presente na reunião com o Presidente, mas sei que teve muita gente querendo entrar aqui. E agora? Cadê esse pessoal? Cadê esse povo que estava querendo entrar aqui naquela reunião e hoje não está nem aqui.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Eu queria aproveitar para comentar rapidamente esse assunto que a Pierlângela estava colocando e que eu estava conversando com os representantes governamentais que estão presentes aqui. O Presidente Lula, na reunião passada, cobrou dos Ministros que dêem prioridade à participação dos Ministérios na Comissão Nacional de Política Indigenista e que participem efetivamente, assiduamente. Ele me delegou a competência de avisá-lo caso isso não aconteça. Então, eu quero dizer que isso está sendo registrado em ata e eu vou ser obrigado a comunicar ao Presidente Lula que, infelizmente, muitos Ministérios não estão participando da forma assídua e dedicada que deveriam. Nós temos que louvar aqueles que chegam na hora, participam e estão aqui, mas eu também vou ter que dizer ao Presidente que tem alguns Ministérios que não estão seguindo a sua orientação. Estou fazendo esse comentário porque fui delegado pelo Presidente Lula, como Presidente da CNPI, a fazer isso. Então, eu queria avisar que vou comunicar esse fato ao Presidente. A Pierlângela tem toda a razão. Não é a primeira vez que ela coloca isso e a Bancada Indígena sempre está aqui presente, assiduamente, e do lado da Bancada do Governo sempre tem aquela falha aqui ou acolá. Então, eu queria registrar isso.

Pierlângela Nascimento Cunha − povo Wapichana : Se fosse uma questão de horário, nós já acordamos em começar cedo e terminar no horário porque cada um tem seus compromissos, sua família. Nós até já conversamos isso em reuniões anteriores, então, a gente já vem tentando acertar. Eu também faço uma cobrança aqui ao Representante do Ministério da Justiça porque aqui está a Teresinha, mas ela é nossa Secretária-Executiva. O Titular do Ministério da Justiça deveria estar também aqui acompanhando. Se o Ministro não está, o representante dele tem que estar. A CNPI é vinculada ao Ministério da Justiça. A Teresinha também exerce a função de Secretária-Executiva e tem que estar resolvendo várias questões.

Então, no caso das questões das terras indígenas, o meu questionamento é o que nós vamos fazer. A gente sabe que, timidamente, já houve uma campanha mostrando os indígenas, mas hoje não tem nada. O Governo Federal pode sim contratar uma empresa e fazer uma campanha divulgando e contrapondo essa situação que está hoje visível. Nós indígenas não temos dinheiro para fazer isso. Nós não temos como pagar uma matéria para contrapor nada. O que nos incomoda é que todos os estados recebem muito dinheiro do Governo Federal e ficam dizendo que o Governo Federal não repassa recursos, só que todas as planilhas mostram que são muitos os recursos alocados pelo Governo Federal. Em Roraima, se

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não fossem os recursos do Governo Federal, aqueles invasores que estão lá não iam sustentar porque o imposto não é pago, eles são isentos até 2018. Então, o Governo Federal tem como intervir também, não só a FUNAI, mas todos os órgãos. Está aqui o Representante da Casa Civil e eu queria ouvir o que se pode fazer porque, na questão das terras, nós estamos à tona. No Mato Grosso, por exemplo, os parentes estão em perigo, não podem ir nem na cidade. No dia 18 de outubro, aqueles mesmos que foram lá para Roraima vão fazer uma manifestação lá no Mato Grosso do Sul. A questão da Terra Indígena Raposa Serra do Sol suscitou tudo isso, fora, as ações que já estão sendo impetradas contra as terras indígenas. Então, nós estamos sendo ameaçados. Independente do julgamento, nós continuamos sendo ameaçados. Precisa ser tomada uma atitude e nós povo s indígenas não temos dinheiro para fazer divulgação, para fazer nada. A gente conta com os parceiros, mas a CNPI tem que tomar um posicionamento porque aqui está a representação do Governo Federal. Então, eu coloco essa questão em pauta e quero que a Bancada do Governo fale alguma coisa sobre o que vocês estão achando de tudo isso. Pelo menos, dêem a opinião de vocês.

Débora Duprat − Ministério Público: Eu vou ser muito breve, até porque, o que eu ia dizer era exatamente sobre essa percepção do esvaziamento da Bancada Governista na reunião de hoje na CNPI. Eu vi isso desde hoje de manhã e acho que hoje era um dia fundamental para que a CNPI tomasse uma posição a respeito exatamente dessa questão de terras indígenas. Nós saímos de um enfrentamento em relação à Raposa Serra do Sol, estamos vivendo outro enfrentamento, recente, com relação ao Mato Grosso do Sul, e é preciso se pensar numa posição de CNPI, enquanto instância interinstitucional, paritária, de reposta a isso. Temos que ver quais as atitudes que serão tomadas. Serão campanhas de comunicação? Haverá uma posição do governo de modo a proteger esses índios envolvidos nesses conflitos diretamente? É essa a minha preocupação. Eu lamento que na Subcomissão de Terras tenha estado presente apenas o Paulo, representando a FUNAI. A questão não tem avançado. Não se trata apenas de demarcar terras, mas de enfrentar, antes disso, uma série de provocações que têm se repetido Brasil afora.

Almir Narayamonga Suruí − Região Amazônica: Algumas coisas que eu gostaria de falar aqui, ela já falou, mas eu vou complementar. Em relação ao zoneamento, eu queria falar um pouco porque o Estado de Rondônia teve uma experiência muito boa em relação ao zoneamento. Eu entendi que esse zoneamento que está acontecendo no Mato Grosso é com parceria com o Ministério do Meio Ambiente. A minha sugestão é que o Ministério dê possibilidade não somente de participação política para as representações indígenas do Estado do Mato Grosso, mas também apoio financeiro para que eles tenham condições de propor, participar e defender áreas indígenas. Nós tivemos grandes avanços no Estado de Rondônia para que o estado também reconhecesse o valor do território indígena a partir daquele conhecimento dos povo s que tiveram garantia de zoneamento dentro do Estado de Rondônia para defender suas terras.

Uma outra coisa é que eu fico preocupado porque eu sei que temos grande prioridade de listas de terras indígenas no Brasil, mas gostaria que essa questão dos povo s indígenas isolados lá na região amazônica

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também fosse examinada. Eu sugiro que o esse Departamento dos povo s Indígenas Isolados também participasse da Subcomissão de Terras Indígenas para trazerem essa preocupação. Além disso, gostaríamos de saber onde estão programados esses grandes projetos. Quero citar aqui de novo o exemplo do Rio Madeira e outras regiões amazônicas. Essa é uma preocupação que pode parecer pequena, mas é grande e muito séria para nós porque temos aproximadamente mais de 67 povo s isolados na Amazônia. Então, eu queria que essas questões que estão sendo colocadas aqui pelos nossos companheiros indígenas sejam levadas a sério.

Sansão Ricardo Flores − povo Tikuna: Eu gostaria de complementar a fala da Francisca porque eu faço parte da Comissão de Macro Zoneamento do Estado do Amazonas. Eu participei de 11 consultas públicas no Estado do Amazonas e tenho uma visão muito grande em relação ao nosso estado. O que me preocupa é que nós temos essa lista de terras que ainda não estão demarcadas, nem são identificadas. O macro zoneamento mostra todas as áreas e como está dividido hoje o estado. A gente sabe que em cada unidade de conservação, RESEX e outras áreas, existem os povo s indígenas que não têm ainda suas terras demarcadas. Então, essa é uma preocupação minha. É claro que o zoneamento é importante porque trata da questão da potencialidade de cada área, mas o que vejo é que muitos dos povo s indígenas que ainda não têm suas terras demarcadas ficam lá e a qualquer momento podem ser retirados de suas terras porque aquela unidade não pode ser mexida, não pode ter pessoas lá. Então, é por isso a minha grande preocupação. A minha proposta é que se acelere a demarcação dessas terras o mais rápido possível para que essas terras onde existem aqueles povo s indígenas apareçam na legenda do macro zoneamento.

Francisca Navantino “Chiquinha” − povo Pareci: Bom, Presidente, diante do que a companheira Pierlângela falou, eu quero fazer uma proposta em relação a essa campanha que estão fazendo contra nós indígenas, quase em todo o território nacional. Eu gostaria de fazer uma proposta no sentido de que a CNPI pudesse se manifestar e solicitar ao Governo Brasileiro, oficialmente, através da SECOM, para que ela possa desenvolver uma campanha nacional, igual à campanha do Bolsa Família, enfim, uma série de campanhas que o governo está fazendo e deixando a marca registrada “Brasil é de Todos!”. É muito linda essa campanha, mas como é que ficam os índios? Então, eu gostaria de propor que elaborássemos um documento, assinado por todos nós, Bancada Indígena e Bancada Governamental, solicitando ao governo, através da SECOM, para que a gente possa fazer esse encaminhamento. Como eu falei ontem, nós temos dois canais de televisão do governo. Então, vamos aproveitar bastante esses canais de televisão, e também outros canais que a gente sabe que o governo tem, para que possa fazer essa campanha. A minha proposta de encaminhamento é essa.

Em relação à questão do zoneamento que o Almir colocou. De fato, uma coisa que tem me preocupado muito é em relação à posição do governo quanto às demandas apresentadas pelos governos estaduais. Eu sei que os governadores vêem aqui, conversam, negociam, quando voltam para lá só ficam pajeando os índios, então, há uma conexão entre os governos. Agora, até fizeram parcerias. Eu gostaria de ter uma posição em relação a essa questão do zoneamento. Isso é muito sério. Eu já coloquei falei ontem da

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situação que nós estamos vivendo lá. Então, para mim isso é muito importante porque nós temos umas cinco ou seis áreas que estão com problemas seriíssimos e nós temos medo que vá estourar uma situação pior, fora do controle da própria FUNAI e do próprio Governo.

Kohalue Karajá − Região Amazônica: Eu gostaria de fazer um breve comentário em relação a essa questão das terras. Na Ilha do Bananal e nas terras indígenas do Tocantins, nós não temos tantos problemas como os nossos parentes que estão no sul, em Roraima, no Amazonas, no nordeste. Então, eu gostaria de focar mais na Ilha do Bananal. A desocupação aconteceu recentemente, com a retirada dos posseiros, dos fazendeiros e agora a maioria das comunidades indígenas perguntam: E agora, o que vai ser feito por nós? O governo vai disponibilizar recursos para fazermos alguns projetos sociais? A maioria está vivendo de aluguel de pasto. Eu sei que isso é inconstitucional. Já houve essa retirada dos posseiros.

E outra coisa, quando se trata de fazer um desmatamento para fazer uma roça mecanizada, lá é permitido desmatar apenas 30 hectares. Não pode ser mais. Tem que pedir autorização do IBAMA pela questão ambiental. Lá também existe carência de apoio técnico. No caso do Tocantins, têm apoiado alguns projetos em áreas indígenas, principalmente, na área dos Apinajé e Krahô. Então, eu gostaria que o Ministério do Meio Ambiente, juntamente com a FUNAI pudesse disponibilizar técnicos para preparar alguns projetos para 2009. E a aquisição de sementes também, para as comunidades mais carentes dos povo s Apinajé e Krahô. Na nossa região, nem tanto, porque a Ilha do Bananal tem muita riqueza natural, tem peixe etc. Era isso, Muito obrigado.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: O próximo inscrito é o Brasílio. Eu queria propor que, na fala dele, a gente encerrasse as inscrições, até porque, nós temos um intervalo logo em seguida para o lanche.

Brasílio Priprá − Região sul e sudeste: Por que não colocar uma índia bonita nessa campanha. É do Brasil. Nós temos índias bonitas! O Governo Lula é um governo em que nós confiamos, é um governo do povo , estamos confiando, estamos lutando, temos espaço para falar, somos companheiros de luta e eu fico triste quando eu vejo uma situação daquelas. O Exército tem feito alguma coisa, mas deveria ter mais coisas para mostrar para o povo brasileiro que o Brasil é das comunidades indígenas, tem comunidades indígenas que viviam aqui antes desses povo s e eles devem ser respeitados. É por isso que essas terras devem ser demarcadas. A minha área indígena era de 14.156 hectares e já diminuiu para 14.085. Está diminuindo. Essa é a minha preocupação.

Eu quero fazer um pedido ao Senhor Presidente. O senhor sabe que nada impede a demarcação da Terra Xokleng. Tem um pedido das comunidades indígenas do povo Xokleng para que encaminhem policiais federais para demarcar essa terra. Nós estamos pedindo isso desde o ano passado e precisamos. A área é nossa. O pessoal que está lá está desvastando tudo o que tem, cortando as araucárias e outras madeiras. Então, Presidente, eu gostaria de pedir ao Senhor para olhar isso com carinho e resolver essa situação. Até porque, eu estive no norte do Paraná e sabemos que todas as terras do sul hoje vivem só com 10%

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das terras indígenas. Eu pedi até a colaboração da Casa Civil, do Exército, todos os órgãos do governo que podem colaborar nesse sentido para que no próximo governo, ou no próximo Governo Lula mesmo, quem sabe, vamos ter mais quatro anos, vão pedir a demarcação dessas terras e vai acontecer o que está acontecendo no Mato Grosso. Então, eu gostaria que esse governo se preparasse para o futuro, educando o povo brasileiro. Nós temos muitos intelectuais de cadeira, mas, na verdade, na mentalidade, eles pensam muito menos do que nós e nós sabemos respeitar. Então, eu deixo aqui esse pedido para todo o pessoal do governo, especialmente para o Presidente da FUNAI, para ver essa demarcação das terras do povo Xokleng com carinho, como outras tantas que tem por aí.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Os próximos inscritos já são da Bancada Governamental: a Lylia, depois o Aderval e o André.

Lylia da Silva Guedes Galetti − Ministério do Meio Ambiente: Bom, vamos por partes aqui. Primeiro, com relação à questão das Subcomissões, eu queria informar a situação do Ministério do Meio Ambiente. Nós perdemos três técnicos: da Subcomissão de Terras, que era o Fábio; da Subcomissão de Legislação, que era o Weber; e da Subcomissão de Etnodesenvolvimento, que era o Cássio. O Cássio foi substituído pela Maira, que está em viagem técnica; o Weber foi substituído pelo Clinton e não sei se ele já está na lista, mas vou ter que cobrar dele essa ausência; e o Fábio foi substituído também. A única Subcomissão que está sem indicação do Ministério do Meio Ambiente é a Subcomissão dos Empreendimentos, do PAC. Eu não sei se vocês já fizeram uma solicitação direta para o IBAMA. Eu tinha me comprometido a ver a representação do Ministério, se não me engano, ainda na reunião da Paraíba. Nós passamos para o Gabinete, eu vou cobrar e ver o que está acontecendo. É o Secretário que tem que falar com o outro para indicar.

Com essa história do vazio aqui, eu me lembro da época que eu participei da Comissão Nacional de Promoção da Igualdade Racial, na época a Ministra Matilde, ainda, quando o movimento negro falava em “racismo institucional” quando o pessoal começava a faltar muito. Ela sempre tomava a medida de cobrar diretamente do Ministro. Eu me lembro que houve uma vez em que eu e a minha suplente estávamos viajando e o Gabinete da Ministra Matilde acionou diretamente a Ministra para cobrar a presença do Ministério do Meio Ambiente. Pode ser uma alternativa.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Mas, é isso que eu vou fazer. Teve um cidadão que me pediu para fazer isso. O nome dele é Luis Inácio Lula da Silva.

Lylia da Silva Guedes Galetti − Ministério do Meio Ambiente: Pronto. Com relação ao ZEE, é um programa da Secretaria de Extrativismo e Desenvolvimento Rural do Ministério do Meio Ambiente, que funciona numa grande Comissão Nacional, com vários Ministérios presentes, inclusive, o Ministério da Integração Nacional, que não participa aqui, e vários Ministérios que estão aqui. Agora, os ZEEs dos estados são um convênio que o estado tem que querer fazer. O MMA repassa dinheiro, que não é só dele porque também vem do Ministério da Integração, Ministério da Defesa e de vários outros Ministérios,

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para trabalhar a parte técnica dos instrumentos, fazer mapas, enfim. Eu entendo muito pouco dos instrumentos mais técnicos do Zoneamento. Agora, politicamente, também não sou nem um pouco especialista em relação a isso, mas desde que eu estou no MMA e trabalhando com a questão indígena, nós temos tentado trazer o ZEE para incluir a participação indígena, a representação indígena nos estados onde esse processo está acontecendo. Tem estados que não querem fazer. Na Amazônia, há alguns estados em que esse processo já está avançado, como o Acre, se não me engano. Mas, há outros onde a coisa está emperrada. No caso do Mato Grosso, em 2002, foi abortado um ZEE porque foram feitas algumas consultas, mas, logo em seguida, o Blairo Maggi assumiu e o processo não avançou. A Chiquinha sabe que essa questão do ZEE do Mato Grosso é uma briga antiga.

O que eu posso fazer, se vocês acharem interessante, é trazer o Coordenador do ZEE para ele mostrar como é que o programa funciona e quais são as aberturas que nós teríamos para incluir as representações indígenas, nas audiências, enfim, no processo de construção. É um processo extremamente político, de disputa territorial muito forte. No caso do Mato Grosso, nós sabemos que não há, da parte do governo do estado e dos grandes proprietários locais, nenhum interesse em reservas, nem para o meio ambiente, de biodiversidade e coisas do tipo, e muito menos para os povo s indígenas. Quero lembrar que nós estamos no Congresso com dois Projetos de Lei sustando a homologação de terras indígenas. Um deles é do Deputado Federal Homero, que é da base do Blairo Maggi. Ele foi Secretário de Agricultura do primeiro governo do Blairo Maggi e esse Projeto de Lei é de auditoria dele. Não é uma coisa isolada. Nós já sabemos disso também. Nós sabemos que não é uma coisa isolada e não é só com a questão indígena. Está vindo junto com as Unidades de Conservação também. No mesmo pedido de que não cabe ao Executivo homologar terras indígenas, está esse movimento no Congresso com relação às Unidades de Conservação. Então, acho que é uma questão mesmo da disputa de classe que está acontecendo no país.

Eu sou favorável à questão da campanha. Aliás, acho que já passou até da hora, principalmente, em função da questão da Raposa Serra do Sol, e desse movimento que é real. Eu gostaria até de colocar uma sugestão aqui com relação à questão do povo Guarani, no Mato Grosso do Sul. É o documento que foi escrito pelo Vice-presidente da ABA. É um documento curto, grosso e muito eficaz do ponto de vista do posicionamento favorável à demarcação das terras e rebatendo um pouco a histeria da direita conservadora e dos grandes proprietários de terras em relação à demarcação das terras Guarani no Mato Grosso do Sul. Não sei se a posição é da ABA, ou é só dele, mas sou favorável a que a gente, como CNPI, trabalhe nessa linha.

Eu não registrei muito bem a fala do companheiro que falou do Tocantins com relação ao atendimento dos índios Apinajé e Krahô e na Ilha do Bananal. Acho que seria uma questão de vermos isso com a SGDC porque já é uma outra temática. Agora, no Ministério do Meio Ambiente, tem essa possibilidade de projeto, mas é uma demanda espontânea que tem que vir da comunidade.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Obrigado, Lylia. O próximo é o Aderval.

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6ª Reunião Ordinária Brasília, Distrito Federal, 18 e 19 de setembro de 2008

Aderval Costa Filho − Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome: Eu só queria registrar que, há duas semanas atrás, eu participei de uma reunião do Comitê Interministerial BR-163 Sustentável, onde foi apresentado o resultado do Zoneamento Ecológico Econômico da área de influência da BR-163. Eu fiquei um pouco preocupado com as diretrizes e as linhas adotadas. Quando a parte sócio-ambiental é informada pelos órgãos que estão em diálogo, ela é plotada no mapa, no zoneamento. Mas, acho que nada prospectiva, sem nenhuma abertura. Eu senti que não há muita abertura ou pré-disposição de reconhecer regiões com presença de índios isoladas, ou terras que ainda não foram identificadas ou demarcadas e também, em termos da sócio-diversidade, só povo s indígenas e unidades de conservação estavam plotados na área de abrangência. É o único zoneamento que ocorreu até agora no Estado do Pará. Inclusive, o governo do estado está empolgadíssimo e vai tornar isso uma lei, tão logo seja aprovado o ZEE. Eu fiquei muito preocupado. O governo do estado estava presente na reunião e hoje haveria uma reunião para aprovar o ZEE. Eu acho que é de interesse de vocês, sobretudo, dos povo s indígenas do Estado do Pará, conhecer isso. Talvez fosse o caso de, para além de linhas de atuação, de procedimentos, de metodologia, trazer a EMBRAPA, que foi responsável pelo ZEE da BR-163, para poder apresentar os resultados aqui e responder as questões relacionadas aos povo s indígenas. Lá, eles colocam uma margem de segurança, designando como áreas socialmente sensíveis, que é a categoria usada, mas eu não sei exatamente quantos quilômetros são no entorno das terras indígenas e se isso é suficiente como área socialmente sensível. De qualquer forma, eu fiquei preocupado de que isso já esteja tão adiantado e ainda não tenha sido pauta de discussão nesta instância da CNPI. Acho que deveríamos, pelo menos, ouvir os povo s indígenas que são afetados. A perspectiva é mesmo de identificar potencialidades econômicas. Aparecem vários quadros com a vocação econômica de cada município, mas com poucas áreas socialmente sensíveis e eu fiquei muito preocupado, em sendo um estado de tal dimensão e com a presença de tantos povo s indígenas. Eu gostaria de registrar isto.

André Araújo − Ministério do Desenvolvimento Agrário: Em relação à reclamação do Brasílio, eu acho que ela é pertinente. No caso da Subcomissão de Terras, o representante do MDA é o INCRA e já não participa a algumas reuniões. Então, eu me comprometo de fazer uma chamada lá, mas não sei até que ponto será eficiente. Por isso, eu queria solicitar que a Secretaria incluísse o Ministério do Desenvolvimento Agrário na sua comunicação porque nem sempre as autarquias têm um fácil diálogo. A gente também está repensando as indicações desta Comissão e vamos colocar o INCRA com uma cadeira, não sei se como titular ou suplente. Provavelmente, na suplência, para tentar fazer com que eles acompanhem as discussões mais de perto.

Em relação à outra temática que foi levantada, da campanha, eu só queria recordar que, aqui nesta Comissão, nós já discutimos isso e já aprovamos que o Governo Federal ia providenciar uma campanha de esclarecimento dos direitos dos povo s indígenas em relação ao reconhecimento e das terras indígenas. Por conta de alguns comentários da parte do Exército em relação à Raposa Serra do Sol, o Ministério da Defesa colocou que isso não representava a visão oficial do governo. Então, deliberamos por isso. Acho que não temos votar. Está na ata aprovada.

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6ª Reunião Ordinária Brasília, Distrito Federal, 18 e 19 de setembro de 2008

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Está na ata da reunião, e foi encaminhado, como de praxe. Acho que a proposta da Chiquinha hoje vai além disso. É de que a gente encaminhe uma solicitação formal da CNPI à SECOM, que é o órgão responsável por isso. É bem lembrar que a SECOM é a Secretaria à qual está vinculada a Empresa Brasileira de Comunicação − EBC, que tem a TV Brasil.

André Araújo − Ministério do Desenvolvimento Agrário: Pelo que eu tinha entendido da nossa deliberação era que se tratava de uma campanha nacional, de televisão, para esses esclarecimentos. Celso Lourenço Moreira Correa − Casa Civil da Presidência da República: A Casa Civil não tem nenhuma pendência em relação às demandas que foram encaminhadas sobre a questão indigenista. Aliás, tem uma, com relação ao poder de polícia e, se tudo der certo, no mês que vem, vamos fazer uma reunião para ver se conseguimos resolver essa pendência. É uma pendência até antiga. Tirando isso, não tem nenhuma terra indígena para ser homologada lá, pendente. Se for encaminhado pelo Ministério da Justiça, a gente rapidamente põe no Diário Oficial, faz a pesquisa, faz tudo direitinho. Às vezes, a gente pensa na Casa Civil como o órgão que resolve tudo. Na última reunião da CNPI, nós tivemos a presença do Presidente da República aqui e ele assumiu o compromisso de cobrar isso. Então, a gente precisa alimentar o Presidente de informações e ele vai cobrar. Não tem nada pendente. Nessa questão da campanha, a SECOM é ligada à Presidência da República e não à Casa Civil. A Casa Civil não tem nem assessoria de imprensa. Então, eu acho que é razoável usarmos esse espaço público para fazer essa comunicação. Então, temos que tomar uma providência de chamar a SECOM aqui, fazermos uma reunião, ou então, encaminhar uma demanda formalmente, ou pela CNPI, ou pelo próprio Ministério da Justiça, que é a pasta que é responsável pela defesa dos direitos, pela questão de terras e tudo mais. É uma questão de encaminhar isso. Chegam lá na Casa Civil questões de toda a ordem porque a Presidência da República lida com o Brasil inteiro e tem todas as relações possíveis. Hoje, essas questões federativas não estão mais na Casa Civil e sim na Secretaria de Relações Institucionais, que tem uma Subchefia de Assuntos Federativos. Mas, a Casa Civil não dá vazão. A Casa Civil não vai virar para a FUNAI e dizer: “Estão reclamando, lá no Mato Grosso do Sul, pára os trabalhos”. O trabalho está andando, está no cronograma, nós estamos vendo os fazendeiros gritarem lá, mas não estamos dando vazão a isso. É um direito constitucional, missão do Estado, trabalho executivo e esse governo não brecou. Saiu a homologação da Raposa, com toda a dificuldade. O ex-Ministro da Justiça negociou bastante, foi ao Supremo, saiu a homologação e tinha muita gente que apostava que essa homologação não ia sair. Ou seja, não tem nada lá parado. Talvez tenha um problema de encaminhamento de algumas coisas da forma correta para que elas aconteçam. Por exemplo, descobrimos agora que essa questão da comunicação já foi deliberada e que, no entanto, nós não acionamos a SECOM. Temos que acionar a SECOM, ou a CNPI, ou o Ministério da Justiça.

A Casa Civil também esteve presente em todas as reuniões da CNPI, com uma assiduidade plena. Só tem um representante porque o suplente é o meu chefe, então, eu tenho que vir.

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Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Como eu falei, a gente tem que louvar aqueles que são freqüentes, assíduos. Realmente, a Casa Civil tem sempre participado das nossas reuniões, assim como o Ministério da Defesa. Aliás, o próximo inscrito é o Representante do Ministério da Defesa.

Coronel Marinho Pereira Rezende − Ministério da Defesa: Eu quero aproveitar o discurso do André, do MDA, quando ele citou um encaminhamento da última reunião. Eu vou me antecipar aqui ao relato da Subcomissão de Justiça, Segurança e Cidadania, porque nós fomos solicitados a apresentar o posicionamento institucional referente à questão de terras indígenas em regiões de fronteira e a relação desse tema com a soberania nacional. Essa solicitação foi encaminhada ao Ministério e foi atendida por mim ontem, se não me engano. Sempre que solicitados, nós temos feito questão de sempre apresentar o nosso posicionamento. Então, foi apresentado o posicionamento do Ministério da Defesa em relação ao tema proposto. Era isso.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Eu vou tentar dar um encaminhamento rápido para a gente poder sair para o intervalo. O primeiro ponto é que os Zoneamentos Ecológicos Econômicos nos estados são uma preocupação da CNPI e a idéia é que o Ministério do Meio Ambiente, que é quem acompanha essa questão, possa fazer um esforço no sentido de que a questão indígena esteja presente nessa discussão, ou até que indígenas possam participar dessas discussões nos estados. Esse é um primeiro ponto a ser acrescentado ao Relatório da Subcomissão.

Uma segunda questão que eu registrei aqui é que a Subcomissão de Terras Indígenas tenha também a participação da Coordenação Geral de Índios Isolados, da FUNAI, porque essa é uma questão séria e que precisa também estar incluída aí. Como Presidente da FUNAI, eu já acolhi a proposta de, na próxima reunião da Subcomissão a gente já incluir também um representante da Coordenação Geral de Índios Isolados, na Subcomissão.

O terceiro ponto que foi levantado foi o encaminhamento, pela CNPI, de um documento formal a ser enviado à Secretaria de Comunicação da Presidência da República, no solicitando, diante do ambiente negativo anti-indígena, que a mídia brasileira tem exposto ultimamente, que o Governo Federal possa fazer uma campanha de valorização das culturas indígenas, a nível nacional. Isso já foi aprovado numa reunião anterior, mas eu entendi que agora há uma proposta mais específica de encaminhamento desse documento à SECOM, em relação a esse tema.

Aproveito também para informar, diante de todas as colocações que aqui foram feitas, está sendo entregue amanhã para todos os Membros da CNPI a listagem com todas as terras indígenas. Essa listagem foi preparada pela FUNAI e está sendo copiada para ser entregue a todos os Membros da CNPI. Não sei se ficou faltando algum ponto, mas entendi que eram esses os pontos que foram levantados, além daquilo que veio da Subcomissão.

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Débora Duprat − Ministério Público: Eu acho que faltou convocar alguém do Ministério do Meio Ambiente, que trata exatamente dessa questão do zoneamento, para vir dar explicações, inclusive, a respeito de metodologia, critérios etc.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Exatamente. Esse foi o primeiro ponto que eu ressaltei. Então, esses pontos a mais que eu coloquei aqui serão acrescentados ao Relatório da Subcomissão e eu queria perguntar se tem algum posicionamento contrário a acrescentar essas decisões e essas deliberações.

(Fala fora do microfone)

Exatamente. O documento vai ser feito, eu assino como Presidente da CNPI e encaminho para a SECOM, assim como, foi aprovado aquele documento para o Ministério da Saúde.

Marcos Luidson de Araújo – povo Xucuru: Em relação a essa campanha, o senhor falou na promoção da cultura dos povo s indígenas. Eu acho que não é só isso. De repente, vai aparecer só os índios dançando etc. Acho que poderíamos pensar algo além disso, explorando essa questão dos direitos dos povo s indígenas na Constituição Brasileira, a questão territorial, enfim, toda essa questão. Acho que deveria ser algo amarrado nesse sentido.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Sem dúvida. Eu fiz uma referência genérica à cultura, mas, é óbvio que nós temos que falar dos direitos dos povo s indígenas, o que inclui a questão cultural, a diversidade cultural.

Débora Duprat − Ministério Público: Talvez a gente não tenha tempo agora porque estamos vivendo, no presente, toda essa onda no Mato Grosso do Sul. Mas, eu acho que o ideal seria chamar alguém da SECOM para construirmos junto uma campanha. Agora, talvez, imediatamente, precisemos de alguma coisa.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Eu acho que esse documento que vai ser encaminhado à SECOM é justamente para provocar a SECOM até para que ela possa vir à CNPI e trazer uma proposta para discussão na CNPI. Acho que pode ser colocado dessa forma no próprio documento.

Pierlângela Nascimento Cunha − povo Wapichana: Até porque, a nossa grande preocupação nas campanhas que são feitas sobre os povo s indígenas é que elas desconsideram os povo s indígenas do nordeste. Nós temos essa preocupação muito grande, até por dizerem que esses povo s não são povo s indígenas, então, temos que valorizar essa diversidade mesmo. É a diversidade não só usando o cocar e pintura, mas a diversidade dos povo s indígenas em todas as regiões.

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Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Exatamente. Como eu consultei o plenário e ninguém se opôs, eu considero aprovadas todas essas deliberações. Eu queria sugerir à plenária, se todos concordarem que, diante dos fatos recentes relativos ao Mato Grosso do Sul, que todos acompanhamos, no sentido do preconceito, gravidade de ameaças etc. Eu queria sugerir que a CNPI aprovasse uma nota se posicionando criticamente em relação a manifestações que têm ocorrido no Mato Grosso do Sul, por parte da imprensa, da mídia e também dos setores de oposição ao trabalho que a FUNAI está fazendo lá. Então, diante dessa questão, eu queria sugerir que a gente, também nesse caso, produzir uma nota da CNPI de repúdio a essa postura que tem acontecido no Mato Grosso do Sul. Alguém se manifestaria contra isso?

Participante não-identificado: Eu só queria confirmar o que ela disse. Isso se diz do pessoal do Nordeste, agora, no Sul também, como é mais europeu, eles também dizem que aqui não tem mais índios. Os índios são lá os Ianomâmi. É a mesma situação.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Eu só quero saber se está aprovada essa proposta da Nota da CNPI. Então, está aprovada. Nós temos que elaborar essa Nota, alguém tem que redigir. A própria Subcomissão vai elaborar essa Nota para a gente aprovar amanhã.

André Araújo − Ministério do Desenvolvimento Agrário: É sobre a campanha. Eu não entendo muito bem como funciona essa parte de comunicação, por parte do governo federal, mas eu queria ponderar o seguinte: vários Ministérios fazem campanhas publicitárias isoladas, sem depender da SECOM, de toda uma articulação com a Presidência etc.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Ao contrário, André. Todas as campanhas passam pela SECOM.

André Araújo − Ministério do Desenvolvimento Agrário: Tem que passar por lá, tudo bem, é um esclarecimento que você está colocando, mas o Ministério da Justiça não pode encampar essa campanha? A minha preocupação é que a gente vai encaminhar um documento para a SECOM, vamos convencer a SECOM a vir aqui, ela só vai vir em dezembro. Depois, vamos sentar para discutir como vai ser a campanha. Essa campanha vai sair quando? Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: O entendimento que eu tenho do encaminhamento que nós tiramos aqui é que essa nota vai ser encaminhada agora imediatamente à SECOM e, como Presidente da CNPI, uma vez que a nota foi encaminhada, eu estou responsabilizado por ir à SECOM e já tratar desse assunto para que, quando a SECOM vier à CNPI, já venha com alguma proposta efetiva sobre esse tema. Esse é o entendimento que eu estou tendo em relação a esse encaminhamento.

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Débora Duprat − Ministério Público: Eu acho que uma coisa é a nota, que deve ser encaminhada imediatamente à SECOM, até para ela conseguir os espaços na grande imprensa para divulgação dessa nota. Agora, diante do que o André disse e do que o Celso acabou de explicar também, eu acho que seria o caso de já se começar a planejar aqui os termos dessa campanha e encaminhá-la já pronta para a SECOM. A idéia é já nos adiantarmos porque parece que é assim que funciona em todos os Ministérios.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Eu pedi para a Subcomissão elaborar a nota e apresentar amanhã para a gente aprovar e os princípios da campanha que foram colocados aqui estão todos em ata, ou seja, os direitos dos povo s indígenas, ressaltando esses direitos em todo o Brasil; a diversidade dos indígenas em todo o Brasil. Então, os princípios são esses que estão colocados aqui.

Sansão Ricardo Flores − povo Tikuna: Eu só queria reforçar o que o parente do Rio Grande do Sul falou. Na Amazônia também existem povo s que não são considerados indígenas. Tem alguns grupos que todo mundo acha que não são mais indígenas. Por conta disso, há essa grande importância que eles sejam também contemplados na mídia.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Exatamente. Então, não tendo mais nenhuma inscrição, considero aprovadas essas deliberações e acrescidas ao Relatório da Subcomissão. Eu proponho que a gente pare agora para o intervalo para o lanche que está nos esperando e, em seguida, vamos voltar aqui para a próxima Subcomissão, que é a Subcomissão de Educação.

Participante não identificada: Vamos voltar ainda hoje? É isso? Então, eu tenho que deixar a minha desculpa já. Eu não vou poder voltar. A minha suplente é a minha diretora. Eu vou ligar para ela. Eu vou tentar desmarcar, mas eu tenho uma reunião às 18 horas no Ministério. Esse é o problema.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: É uma questão de ordem. Nós temos ainda a Subcomissão de Educação, a Subcomissão de Justiça, Segurança e Cidadania, a Subcomissão de Etnodesenvolvimento , a Subcomissão de Acompanhamento de Empreendimentos, a de Políticas Públicas, Orçamento e Gestão, Gênero e Infância e Juventude. Só daria tempo hoje para a gente discutir o tema da educação. Hoje só dá tempo de discutir só um tema. Quando voltarmos do lanche, temos que tomar uma deliberação aqui porque muitas pessoas estão pedindo para que a gente possa passar para amanhã porque está tendo um esvaziamento da plenária. Então, vamos lanchar e voltaremos em 15 minutos.

(Intervalo)

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Pessoal, eu não tive tempo nem de ir lá para o lanche porque eu fiquei numa reunião aqui. Eu queria fazer uma sugestão, com base numa situação real, prática. Não é o ideal. Por mim, a gente continuava aqui para a gente apresentar mais uma Subcomissão. Só que tem uma questão prática. Nós estamos esvaziados. Até mesmo a Bancada Indígena já vieram

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colocar que, por questão da distância do alojamento, não dá para continuar agora. Então, por uma situação real, eu acho que nós vamos ter que interromper a nossa reunião agora e eu proponho que, amanhã, a gente comece mais cedo. Nós temos seis Subcomissões a serem apresentadas e ainda temos a apresentação que eu vou fazer do encaminhamento que o Presidente deu para a gente construir uma metodologia. Eu quero apresentar isso também. Ainda tem aquele tempo que a Bancada Indígena solicitou para discutir algumas questões. Agora, a Bancada Indígena poderia se reunir hoje e, amanhã, a gente ganha tempo. O que eu queria propor é que, amanhã, a gente começasse às 8h30min. Então, vamos marcar para a gente começar a reunião amanhã às 8h30min. A idéia é começarmos mais cedo para a gente tentar objetivar e dar conta do nosso recado. Então, a maioria aprovou para nós começarmos amanhã, às 8h30min. Então, até amanhã. Boa noite.

Dia 19 de setembro de 2008 – Manhã

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Vamos tentar se posicionar para a gente começar a reunião porque nós marcamos às 8h30min, eu cheguei aqui às 8h30min e não pude começar porque tinha pouca gente. Vamos começar assim mesmo. Então, vou passar a palavra imediatamente à Subcomissão de Educação para iniciar o seu relato, embora com prejuízo porque a maioria dos representantes do governo não chegou ainda. Tem também representantes indígenas que ainda não chegaram. Então, vamos começar porque, senão, não vamos cumprir a pauta.

Francisca Navantino − Relatora da Subcomissão de Educação: Bom dia a todos e a todas. Eu vou começar a apresentação da Subcomissão de Educação e, depois, os demais membros também poderão fazer as suas colocações sobre as discussões que nós tivemos.

A Subcomissão de Educação se reuniu no dia 17. Estávamos eu, a Professora Pierlângela, o José Arão, o Lourenço Krikati, a Maria Helena Fialho, a Maria Elisa Ladeira, o Gersen Baniwa e o Luis Donizete. Nós nos reunimos e fizemos uma pauta das nossas discussões. Nessa pauta, nós colocamos a apresentação das respostas do MEC ao documento que foi entregue ao Presidente Lula. Nós consideramos isso muito importante porque nós queríamos saber a resposta do que o governo está se colocando. Um outro ponto foi a discussão sobre as metodologias do Estatuto e nós já temos uma proposta. A realização da Conferência Nacional de Educação Escolar Indígena, informes sobre os arranjos etno-educacionais e proposta da criação do Sistema Nacional. Além de outras dúvidas que nós pudemos tirar. Foi feita essa pauta e, a partir daí, foi passada a palavra ao Representante do MEC, Professor Gersen Baniwa para fazer sua apresentação.

De início, a partir das respostas que foram dadas, foi feito um quadro com as seguintes questões demandas: demandas que nós apresentamos; a quem se dirigia, que foi basicamente ao MEC; a situação; e as perspectivas e próximos passos que tomaremos. Então, vocês receberam esse material e podem

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acompanhar um pouco do que foi colocado lá. Nós pudemos fazer uma avaliação do que nós propomos e por aqui vocês podem acompanhar a discussão da Subcomissão.

Nós fizemos esse quadro e eu considerei muito importante porque, primeiro, temos a situação como está, depois, a perspectiva e o que nós vamos fazer. Dentro disso, o Gersen foi dando as respostas. Dentro do que nós apresentamos para o governo, eles nos apresentaram uma Nota Técnica, que é um relatório sobre as medidas adotadas pelo Ministério a partir do que nós apresentamos. Do ponto de vista da Subcomissão, a avaliação que nós fizemos foi que as respostas não foram satisfatórias. Foi bastante insuficiente porque nós fizemos uma série de reivindicações de coisas que nós já vimos pedindo há décadas, há muitos anos, pelo contexto e pela própria situação. Eles nos mandaram a resposta e, segundo o próprio representante − é pena que o Gersen não chegou ainda − isso não foi ainda satisfatório. Há questões que estão pendentes do MEC, não têm consenso da instituição e há resistência.

Pelo acompanhamento da demanda, nós temos vários itens:

• A gestão do Sistema Nacional de Educação Indígena e a proposta da criação da Secretaria Nacional de Educação Indígena.

Nós entendemos que essa Secretaria é muito importante para que ela possa lidar com todos os níveis e modalidades de ensino que tem a educação escolar indígena, com uma equipe técnica qualificada, com orçamento etc. Nós achamos também que, por conta, por exemplo, da demanda existente, das necessidades e do que está posto na legislação, há necessidade dessa Secretaria. Mas, no MEC, não há esse entendimento.

Outra questão também é de que as respostas todas do MEC foram apenas em cima do Programa PAR, do que está posto. Não foi apresentada nenhuma outra alternativa. Então, para nós, isso não é uma política ainda. Está se dando uma ação centrada no PAAR. Se outro governo que entrar vai continuar o PAAR ou não, nós vamos ficar nessa dependência. Então, essa é uma questão que nós enfatizamos muito por conta das questões que, a cada dia que passa, estão sendo levantadas em cima da educação. Então, pelo documento que vocês estão vendo aí, o MEC afirma que a SECAD responde à demanda, dentro daquilo que ela pode fazer e dentro do Programa do PAAR. É isso.

Portanto, nesse Item o1, da Gestão do Sistema Nacional de Educação, dessa proposta da Secretaria, nós mantivemos a nossa proposta. Não abrimos mão da criação da Secretaria e dissemos que não concordamos que a SECAD responda à demanda por articulação nos diferentes níveis de ensino e apenas por programas existentes no MEC. Nós queremos a ampliação de uma política mesmo. O MEC coordena as políticas, mas os executores são as instâncias das Secretarias que são responsáveis pelo sistema no país. Esse é um grande gargalo que eu vejo nessa questão porque, ao mesmo tempo em que ele é responsável pela política, ele repassa os recursos e o outro é quem vai executar. Isso é complicado para a gente.

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O movimento mantém a proposta da criação da Secretaria, com um orçamento que possa expressar as necessidades das comunidades e com a equipe técnica.

• Criação de um Subsistema de Educação Escolar Indígena: o modo de garantir o direito a uma educação diferenciada.

O MEC respondeu informando que foi constituído um Grupo de Trabalho, a partir do que nós apresentamos. Esse GT é formado por várias instâncias, para discutir os subsídios para a construção desse subsistema. No meu estado, por exemplo, nós já avançamos um pouquinho só, mas não encontramos ainda instrumentos jurídicos suficientes que possam dar conta. Precisa haver uma mudança no marco legal, uma alteração do marco legal. Há essa necessidade para que isso aqui possa, de fato, trazer uma expressão maior dessa necessidade de mudança. Então, precisamos mudar o marco legal, complementar, para que possa atender a essa discussão. A partir desse GT, nós pretendemos apresentar essas discussões e essa proposta. A resposta é que a situação que nós estamos vivendo deverá ser objeto de estudo.

Qual é a nossa perspectiva? Nós mantivemos que avaliamos que a discussão pode prosseguir no GT, recomendamos a sua formalização e a divulgação de uma agenda de trabalho, de forma que se tenha uma proposta consolidada antes da realização da Conferência Nacional. Na verdade, até nessa discussão do Subsistema, está proposto pelo MEC que seja uma discussão da Conferência Nacional e, na perspectiva do MEC, o GT poderia responder a isso.

- Realização do Censo Específico.

Um instrumento que nós consideramos muito importante é o Censo Escolar. Eu lido com isso lá no nosso Conselho porque é, a partir do Censo Escolar, que nós podemos saber quantos alunos temos e podemos também ter um quadro geral dessa realidade. Nós insistimos nesse Censo Específico. O MEC responde que o Censo Escolar que está posto hoje é o suficiente e propõe aperfeiçoá-lo junto ao INEP. Nós já tivemos algumas reuniões. A Pierlângela vai falar depois sobre o papel da CNEEI que tem feito várias propostas sobre essa questão do Censo. Nós insistimos que o Censo Específico é muito importante porque vai mostrar o quadro da realidade da Educação Escolar Indígena. É um diagnóstico que se faz, mas não é esse o entendimento que o MEC tem.

Qual é a nossa perspectiva? Nós discordamos do MEC e mantivemos a proposta da criação e realização do Censo Escolar Específico, que possa apontar indicadores dessa realidade e propor políticas também porque é a partir disso que nós vamos propor novas políticas, avaliações dessas políticas e outras coisas mais. Tem também a questão de outras informações muito importantes que o Censo Específico possa dar.

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- Controle Social e participação indígena nas políticas públicas da educação.

Nós criamos a proposta da criação do Conselho Nacional de Educação Escolar Indígena, vinculado ao Gabinete do Ministro, com poderes deliberativos. Isso foi o que nós propusemos. O MEC respondeu que, após consulta jurídica, está elaborando um Projeto Lei para criar o Conselho com caráter deliberativo, interinstitucional, paritário e não normativo. Esse Projeto Lei será enviado ao Congresso Nacional. Informa também que está reformulando a Comissão Nacional de Educação Escolar Indígena, até então, composta por representantes indígenas, e que agora passará a ser interinstitucional e paritária entre representantes indígenas e não indígenas. Ou seja, enquanto a gente aguarda os procedimentos de encaminhamento, para o Congresso, da mensagem do governo sobre a criação do Conselho Nacional de Educação Escolar Indígena, por outro lado, há a proposta dessa reformulação da Comissão Nacional de Educação Escolar Indígena, ampliando a sua composição, com demais representantes e segmentos da própria educação escolar indígena.

Nós recomendamos que, da nossa parte, que o MEC se comprometa a agilizar esse processo da criação do Conselho e também formalizar imediatamente a ampliação e reformulação da atual Comissão, tendo em vista que já é uma proposta acordada sobre a nova composição da mesa.

- Incentivo e apoio para a criação e funcionamento de mecanismo de consulta e participação dos povo s indígenas na formulação de políticas públicas nos governos − federal, estadual e municipal − em cumprimento à Convenção 169 da OIT.

Muitos estados estão trabalhando com essa Convenção 169. Não sei como que está essa avaliação, mas, no meu estado, por exemplo, a Convenção está valendo. Agora, nessa onda de campanha, a gente fica preocupado porque eles estão querendo até desestabilizar a própria Convenção. Houve questionamentos em cima dela.

O que é que o MEC informa para nós sobre isso. Eles dizem que, convocada a Conferência, na Conferência, instituindo a Comissão Organizadora, a Conferência será um espaço de participação dos povo s indígenas. O nosso entendimento é que esse espaço seja contínuo. Assim como acontece com a saúde, que sempre tem Conferências Nacionais, de dois em dois anos, ou de quatro em quatro anos, nós pretendemos fazer uma agenda de Conferências, para fazermos a avaliação de políticas e proposição também reformulando essa situação que está. Eles colocam aqui a realização de etapas locais, por escolas, por territórios etc. Essa é a resposta que o MEC deu.

Qual é a nossa perspectiva? Recomendamos avançar na proposição desses mecanismos de controle, a serem discutidos na Conferência. Recomendamos ainda a discussão da proposta dos territórios etno-educacionais. Hoje, eles têm o nome de “arranjos”. Nós não concordamos com esse nome porque, para nós, “arranjos” não tem sentido, então, estamos discutindo a mudança para “territórios etno-

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educacionais” que contemplem o colegiado para controle social e participação indígena. Esses arranjos já foram apresentados aqui, mas há muitas dúvidas. As Secretarias ainda estão totalmente perdidas em relação a isso, há muito pouca informação. Então, essa é uma coisa que está surgindo, mas o MEC acha que isso vai resolver muita coisa. No nosso entendimento, isso não vai dar conta da realidade. Então, há uma série de outras questões e nós precisamos avançar nessas discussões. O nosso Secretário Estadual de Educação, Dr. Ságuas Moraes, é o Coordenador do CONSED para a pasta da Educação Escolar Indígena. Ele tem colocado para nós as dificuldades que eles estão encontrando para conversar com os Secretários Estaduais. Nas reuniões que acontecem, ninguém aparece. Só aparecem os técnicos e os Secretários não aparecem. Numa reunião de um colegiado de Secretários Estaduais, mandam técnicos! Inclusive, ele estava muito injuriado. Ele já manifestou muitas vezes esse descontentamento da forma como o CONSED está sendo trabalhado. Isso já mostra a fragilidade do próprio CONSED e nós colocamos isso para o representante do MEC. Onde já se viu, numa instância que é para os Secretários Estaduais participarem, discutirem, apresentarem suas propostas, ver os encaminhamentos, só aparecem técnicos e só ele de Secretário de Estado, como coordenador. Inclusive, ele ficou de elaborar um parecer sobre isso e me convocou para ajudá-lo a discutir isso.

Nós mantemos a nossa posição, não abrimos mão disso e colocamos que temos que ampliar e melhorar essa discussão sobre os territórios, fazendo uma ampla discussão porque quem vai ser mais afetado nessa questão serão as comunidades indígenas e as suas escolas.

- Transformação da vaga do representante indígena do Conselho Nacional, em vaga do movimento indígena.

Quem sempre indica é o governo. O MEC não deu nenhuma resposta a essa demanda, até o momento. Eles alegam que o Estatuto do Conselho Nacional está passando por uma reformulação e não nos deu uma resposta satisfatória em relação a essa demanda.

Qual é a nossa proposição? Mantermos a proposta. Apesar de não terem respondido, nós mantivemos a nossa proposta e insistimos que o Ministro formalize essa vaga.

• A Educação Básica nas Terras Indígenas.

3.1 Elaboração e implementação de diretrizes desde a Educação Infantil até ao Ensino Médio.

Ou seja, para a educação básica em geral, voltadas para o contexto do respeito à cultura, às línguas, desenvolvimento sustentável etc., pelo MEC e CNEEI.

A resposta deles foi que a proposta é de elaborar diretrizes referenciais, a partir de Conferências, e submetê-las à CNEEI. A Subcomissão concorda com o encaminhamento, mas recomenda que seja realizado um trabalho prévio de preparação das propostas que possam ser apresentadas e discutidas nas

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conferências. É a mesma situação do Estatuto, nós entendemos que tem que haver uma ampla discussão, uma preparação, uma organização de quem vai discutir isso lá na base. A gente sabe que isso não é fácil. Então, nós recomendamos isso e que seja feito com antecedência. Nós já estamos muito preocupados porque já deveriam ter sido realizadas duas Conferências Regionais agora neste semestre e até ao momento não temos sinal disso. Então, não vai dar para fazer duas mais. Talvez, uma, e lá em dezembro. Então, essa é uma preocupação muito grande e nós estamos achando que a coisa está muito devagar para acontecer.

3.2 Apoio e Ampliação à oferta do Ensino Fundamental, Ensino Médio Regular, Integrado e Profissionalizante com programas de apoio às escolas de estudantes indígenas, de modo a garantir a sustentabilidade.

O que responde o MEC. Ele informa que vem o PAAR. Eles remetem tudo para o PAAR. Ou seja, o PAAR vai resolver. No caso de alguns estados, por exemplo, além do PAR, nós temos também aquele programa “Brasil Profissionalizado” e muitos estados fizeram convênios com esse programa. Eu vou dar o exemplo do meu estado porque eu estou acompanhando isso. Eu estou vendo muita dificuldade para a gente implementar esse programa lá, até porque, não tem uma diretriz. Aliás, a diretriz tem, que é o PROEJA, mas não está tendo um preparo das Secretarias para lidar com essa demanda. A resposta deles é toda submetida para o PAAR. Muitos estados nem responderam aos recursos que receberam e tem recursos que vão voltar para o MEC porque muitos estados não conseguiram fazer a licitação e uma série de outras questões. O meu estado, com tudo isso que a gente tem lá, está tendo dificuldade para implementar determinadas ações.

Então, a resposta que eles deram é essa que vocês estão vendo aí. Informam que vai haver a complementação do PAAR e, no caso do ensino médio integrado, no meu Estado do Mato Grosso, por exemplo, está contemplado no “Brasil Profissionalizado”, que é para todo mundo. Nós vamos tentar ver se conseguimos implementar isso, mas estamos encontrando dificuldades.

O que é que nossa Subcomissão recomenda? Que o MEC apresente uma avaliação sobre a evolução do PAAR, em termos de execução dos recursos financeiros pelas Secretarias Estaduais, cumprimento dos objetivos dos planos, e que elabore um sistema de monitoramento público do PAAR, acessível aos representantes indígenas. Sugere ainda a elaboração de um documento marco zero, que permita verificar os avanços alcançados ano a ano. Nós temos visto que o grande gargalo é exatamente o não acompanhamento, a ausência de mecanismos efetivos que possam acompanhar os gastos dos recursos e o desenvolvimento das políticas e das ações por parte dos estados. O MEC não tem controle de nada. Esse é um dos nossos maiores problemas. Nós mantemos a nossa proposta e enfatizamos que se tem que aprimorar e melhorar esse processo de execução no sentido do monitoramento dessas ações dos estados.

3.3 Criação e Implementação de uma Política Lingüística.

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O MEC simplesmente não nos deu resposta. Não tem proposta nenhuma. Cada estado vai ter que ver o que pode fazer.

Qual é a proposta da Subcomissão? A Subcomissão insiste na importância da proposta, lembrando que uma política lingüística é fundamental para o sucesso de uma educação bilíngüe e fortalecimento das 180 línguas indígenas. Então, nós mantemos a proposta, mas essa é uma situação preocupante. Nós colocamos aqui que essa é uma falha muito grande por parte do MEC, dentro de um item extremamente importante para a questão da afirmação da identidade, para a elaboração e implementação de uma política de educação escolar indígena, específica, diferenciada, intercultural e não há, por parte da instância responsável, uma política para essa ação. Então, nós propomos a criação de um GT, com um especialista, para a formulação de uma proposta a ser apresentada ao MEC. Essa é a nossa proposição.

3.4 Criação e publicação de uma política de fomento.

Essa é uma outra situação. O MEC informa que pretende discutir e formular tal política no âmbito da CAPEMA, que é aquela instância que eles criaram para fazer a avaliação das propostas que são encaminhadas de projetos de elaboração e publicação de material.

Qual é a nossa proposta? A Subcomissão mantém a proposta e recomenda a convocação da CAPEMA que não é acionada pelo MEC há mais de um ano. A CAPEMA está parada, estacionou.

3.5 Criação de programas específicos para atendimentos aos estudantes indígenas: gestão de melhoria das condições nas escolas, em referência à organização escolar, merenda e transporte.

O MEC responde que está estudando a reformulação da questão da merenda escolar, mas não diz nada a respeito do transporte escolar. Hoje, nas comunidades indígenas, o transporte escolar está sendo utilizado mais para tirar os índios das aldeias para estudar na cidade do que para fazer de fato o transporte dos alunos das aldeias para escolas centrais. Isso não está sendo feito. Então, essa questão do transporte é um problema sério.

A Subcomissão mantém a reivindicação, lembrando que, além dos problemas com merenda, as comunidades indígenas têm dificuldade com o transporte escolar e manutenção das escolas. Esse é um grande problema também porque os índios entram no sistema para todas as escolas da rede pública, não tendo um dispositivo específico para manter as escolas indígenas.

• Construção, Ampliação e Reforma.

4.1 O desejo das comunidades do ponto de vista de uma política de arquitetura específica voltada para as comunidades. A nossa proposta foi que esse desejo fosse atendido.

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O MEC respondeu que foram descentralizados recursos, pelo PAAR, junto aos estados, mas a gente sabe que isso não está sendo implementado. Muito pelo contrário, há mil problemas com licitações e há empresas que estão devolvendo as escolas porque não estão conseguindo fazer esta ação. E há muitos outros problemas.

4.2 A Subcomissão coloca que as Secretarias não estão executando a construção das escolas e recomenda que o MEC crie mecanismos e indicadores para acompanhar o uso dos recursos e monitorar o resultado da ação, bem como, buscar alternativas para garantir a construção das escolas com outros órgãos.

Essa também é uma proposta que nós estamos apresentando. Já que os estados e municípios não estão dando conta, que vejam outra alternativa, outra ação que possa trazer instituições até às organizações indígenas para construir as escolas. O que não pode acontecer é o que está acontecendo agora.

1. Equipar as escolas indígenas com mobiliário.

Essa também é uma outra situação para desenvolver de fato uma educação de qualidade. O MEC não respondeu a esta demanda. Não deu resposta nenhuma para nós sobre equipar escolas etc.

A Subcomissão insiste na reivindicação, tendo em vista a precariedade das escolas indígenas de todo país.

2. Implantação de bibliotecas e laboratórios de informática com internet nas escolas indígenas, de modo a possibilitar o acesso dos estudantes à literatura universal e rede mundial de computadores.

O MEC também não respondeu a esta demanda. Todas essas demandas que não tiveram resposta, nós consideramos que são fundamentais, principalmente, no caso do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. Isso significa que tem muitos estudantes, muitos jovens, que estão vazando para as cidades para poderem continuar seus estudos porque nas aldeias não tem infra-estrutura. Então, não houve resposta e nós insistimos na continuidade desta proposta. Ainda colocamos mais: discutir a criação de um programa específico junto ao FNDE.

• Formação inicial e continuada. 1. Criação da carreira do magistério no sistema e regularização funcional dos professores.

Esse é um problema sério e o MEC também não nos deu essa resposta. Não temos resposta e estamos com problemas sérios nas comunidades indígenas e nas Secretarias.

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A Subcomissão mantém essa reivindicação e indica a incorporação dessa temática nas discussões sobre o Estatuto dos povos Indígenas. Nós estamos remetendo isso porque a carreira do magistério está colocada em legislações pertinentes à educação escolar indígena, mas não foi regulamentada em alguns estados. Além disso, o debate sobre a carreira do magistério indígena cria mil problemas dentro dos estados. Por exemplo, o sindicato bate de frente com a gente dizendo que não concorda e tem outros segmentos da educação que também não concordam. Mas, o MEC também não deu resposta nenhuma. Ele poderia ter se manifestado.

2. Elaboração de diretrizes curriculares e referenciais pedagógicos para o Curso de Magistério.

Isso aqui são as condições para esses programas funcionarem. Mas, não houve resposta do MEC. Nós vamos insistir nisso e propusemos também a elaboração de diretrizes, qualificação de professores e também a situação de que não tem parâmetros nenhum dentro do sistema e é por isso que muitos cursos de magistério são tidos como de baixa qualidade. Não há esses mecanismos de fato. Nós estamos bastante preocupados porque não tivemos nenhuma resposta do MEC.

3. Criação da dotação orçamentária para a formação de professores.

Nós insistimos na criação da política para apoiar as ações de secretarias, universidades, organizações indígenas e indigenistas.

O que é que o MEC diz? Novamente, remete aos recursos que eles enviaram para os 14 estados e que estão dentro do PAAR também. Eles também colocaram algumas propostas de formação continuada de professores em 17 estados.

Qual é a nossa proposição? Nós insistimos na proposta de que o financiamento também contemple as universidades e organizações indígenas e indigenistas. Nós estamos num mato sem cachorro. Se as Secretarias Estaduais e Municipais não cumprirem a formação, os índios não terão formação. O que é que vai acontecer? Ainda não há uma proposta de discussão entre as organizações não-governamentais indígenas e indigenistas de dar continuidade nesse processo. Não há proposta nenhuma para isso. É por isso que nós estamos insistindo.

4. Retomada, por parte do MEC, da questão do financiamento para as organizações não-governamentais indígenas e indigenistas para ações de formação inicial continuada e produção de material didático.

O MEC também não respondeu. É a mesma situação anterior. Não recebemos resposta. Nós insistimos nisso e lembramos que vários processos de formação foram interrompidos pela decisão arbitrária do MEC, causando prejuízos aos professores indígenas e suas comunidades. Muitos projetos que estavam

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em andamento nas comunidades, executados pelos órgãos indigenistas e indígenas foram paralisados. Nesse sentido, o prejuízo está sendo muito grande para os professores.

5. Promoção de formação continuada para professores, especialmente, nas modalidades de educação especial e educação infantil.

O MEC também não respondeu. Essa já está sendo uma demanda, precisamos abrir uma discussão e o MEC tem que orientar isso aí. Não tem resposta do MEC e nós mantivemos a reivindicação.

6. Ensino superior e formação de profissionais.

É a mesma situação: permanência, acesso, êxito da formação dos profissionais em diferentes áreas de conhecimento, com um programa específico.

O MEC informa que o PROLIND vai responder pela parte dos professores e a CAPES vai responder por outros. Informa que já tem seleção de edital e que está em elaboração a proposta de edital de financiamento para atender à demanda de acesso. Na verdade, isso aqui é uma bolsa para os estudantes indígenas terem acesso e permanência ao programa. Então, também não é um programa específico, voltado para a especificidade indígena.

Insistimos na proposta de uma política de longo prazo para o ensino superior, não só visando a formação de professores, mas também, de outros profissionais indígenas em diferentes áreas de atuação.

7. Contemplar a demanda do REUNI.

Não tivemos resposta do MEC. A Subcomissão insiste na reivindicação porque entendemos que é uma ação muito importante, mas o MEC também não deu resposta.

Vou encerrar minha fala colocando que, em relação a outros itens, como por exemplo, o Estatuto, a Subcomissão irá um texto contextualizado para a educação escolar indígena, para atualizar a situação da educação escolar indígena nesses últimos anos. São 20 anos de LDB, 10 anos daquilo e não tem nenhuma avaliação. Então, nós precisamos também atualizar os dados. Nós vamos elaborar um texto para atualizar a situação da educação escolar indígena no Brasil, para contribuir com o texto do Estatuto dos povo s Indígenas. Então, questões que não foram contempladas nessas leis pertinentes que nós temos hoje, provavelmente, serão apresentadas para o texto do Estatuto.

Uma outra coisa que eu queria colocar é que está havendo uma divulgação para os estados e municípios de que a FUNAI não será parceira dos estados, na formação inicial e continuada de professores indígenas. Por conta disso, está tendo muitos problemas. As Secretarias Estaduais que trabalham sério estão muito preocupadas com isso. Por exemplo, a nossa Secretaria lá ficou apavorada quando falaram

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que a FUNAI não vai mais ser parceira. Por quê? Porque o MEC insiste em dizer que ela não poderá fazer a mesma ação que ela. Mas, que ação é que ela está fazendo, se não responde?

Então, era isso que eu queria colocar e passo a palavra aos meus companheiros de Subcomissão para se manifestarem. Podem fazer perguntas também.

Participante não identificado: O Presidente foi atender o Cacique Raoni e pediu que eu ficasse aqui. Então, eu queria ver se tem algum outro integrante da Subcomissão que queira complementar a apresentação.

Pierlângela Nascimento Cunha − povo Wapichana: A Subcomissão tentou ver essas questões antes, até para socializar e discutir em cima das demandas que foram apresentadas e a resposta do Ministério da Educação porque nós não tínhamos como ficar esperando a próxima reunião. Foi por isso que nós fizemos todo esse trabalho.

Uma das questões que está clara para nós é o PAAR, que foi dado como resposta, e o problema que está havendo hoje nos estados. Quando a gente fala que não adianta disponibilizar dinheiro sem ter gestão, ou pela própria parte de o governo exercer o controle social, injetar dinheiro em Secretaria Estadual e Municipal não funciona. As Secretarias estão se recusando. Isso é o mais grave que nós estamos colocando aqui. Foram disponibilizados 126 milhões para as Secretarias, no final de 2007, isso foi empenhado, mas até hoje as ações não estão sendo feitas. Eles receberam o dinheiro e, no final do ano, esse dinheiro vai retornar porque eles não estão executando essas ações. É por isso que os cursos de formação estão parados. Os recursos eram para a formação inicial e continuada de professores, construção de escolas e elaboração de material didático. Esses são os três itens que não estão sendo executados. Então, a questão é muito séria e nós remetemos ao MEC para dar uma resposta porque, injetar dinheiro, e no final do ano esse dinheiro retornar não tem sentido. O que é que nós vamos ficar fazendo um ano, e isso sem parceria das organizações indígenas porque nós também recebíamos e dávamos a formação sem o apoio da Secretaria. Nós buscávamos o apoio de universidades e outras instituições e conseguíamos fazer isso. Mas, agora, com essa posição da SECAD, fica difícil. É bom que fique bem claro que essa é uma posição da SECAD e não do MEC. Dentro da Secretaria de Educação Básica, através de editais, nós podemos acessar editais para fazer ações junto ao Ministério da Educação, tanto as organizações indígenas como as organizações indigenistas. Isso é uma questão dentro da SECAD e isso vai implicar em todas essas questões que nós colocamos aqui.

Nós vamos querer dar uma resposta. Por exemplo, nós temos três estados, como Roraima, que já estamos denunciando ao Ministério Público Federal. Nós não recebemos recursos do PAAR, nem em 2007 e nem 2008. Nós não fomos contemplados. Estamos denunciando isso porque não adianta ter dinheiro e não chegar lá. Se os recursos não chegam lá, nós estamos ferrados.

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A questão da FUNAI sair desse processo, para nós não é pertinente. Nós não queremos isso porque, se não fosse a FUNAI, com os poucos recursos que foram disponibilizados durante esse período da nossa formação, nós não teríamos formação. Então, está terminando hoje uma turma de ensino superior porque a FUNAI e a universidade cumpriram com o seu papel. A Secretaria de Educação passou três anos sem dar nenhum aporte financeiro para formar aqueles professores que são do quadro efetivo do estado. Nós não estamos formando novos professores, não. São os professores do quadro do estado. Então, nós estamos sem esses recursos e estamos colocando essa questão via judicial porque não podemos ficar no prejuízo. Então, nós não aceitamos, devido a essa experiência, que a FUNAI saia desse processo porque isso inviabiliza qualquer ação de educação.

Eu faço parte da Comissão Nacional de Educação Escolar Indígena e foi deliberado o encaminhamento de uma indicação de uma vaga de titular e suplente para fazer parte da Comissão Organizadora da Conferência para a CNEEI. Eu não sei se esse documento já foi entregue porque isso precisa ser feito imediatamente por conta das reuniões dessa Comissão Organizadora que já estão programadas. Todos receberam o Decreto da Conferência? Nós fazemos parte da Comissão Organizadora. Agora, nós não vimos a participação da FUNAI na realização da Conferência. A FUNAI só está entrando na Comissão Organizadora e ela tem um papel diferente de quem vai realizar. A nossa preocupação é essa porque quem chega lá na ponta, para fazer o deslocamento dos indígenas, para fazer um monte de coisas, é a FUNAI. Então, eu pergunto ao Gersen se vai ter todo o aporte financeiro nessa questão. Também tem muitas áreas em que a parceria do Exército e da FAB são importantíssimas. Por exemplo, tem áreas onde só a FAB é que chega. Então, isso tem que ser colocado na mesa. É muito importante dar ênfase a essas questões. Então, eram essas as questões que eu queria colocar.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Eu sei que tem algumas inscrições aqui, mas eu queria pedir permissão ao plenário para a gente fazer uma curta interrupção, um parêntese no nosso debate, porque nós estamos recebendo aqui um ilustre visitante, que é o Cacique Raoni, que veio aqui para conhecer a CNPI. Ele já foi informado mais ou menos da importância da CNPI e quis vir aqui para dizer a opinião dele e deixar uma mensagem. Ele foi informado que certamente todos aqui da CNPI têm um respeito muito grande por ele e para nós é um grande orgulho recebê-lo aqui nessa nossa Comissão. Por isso, eu pediria que pudéssemos fazer um intervalo para transmitir-lhe essa nossa mensagem e ele também tem uma mensagem para nós. Temos um tradutor aqui.

Cacique Raoni: (Tradução) Bom dia, parentes. Eu vou tentar resumir para vocês o que o Cacique Raoni falou: Bom dia. Eu estou muito feliz de visitar vocês. Vocês estão agora discutindo essas políticas para nós mesmos. Os índios mesmos estão discutindo essas políticas públicas. Vocês criaram essa Comissão. Eu queria que tivesse um representante de cada povo nesta Comissão, junto com vocês brancos. Há muito tempo eu vinha pensando exatamente nisso. Eu vinha pensando nos líderes, os caciques se unirem como está acontecendo agora. Eu vinha pensando nisso. Desde quando eu comecei a lutar, quando eu era mais novo, eu vinha pensando nisso. Eu já conversei com muitos políticos, pessoas de grande nome, pedindo para que nos respeitassem. Nós somos os primeiros habitantes do Brasil. A minha

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idéia é que o branco tem que respeitar o índio e o índio tem que respeitar o branco para que os índios também possam participar desse progresso, desse desenvolvimento, para a gente trabalhar junto, de fora pacífica. Para finalizar, eu estou muito feliz de ver vocês e pelo fato de os próprios índios estarem discutindo essas políticas públicas para decidir sobre a vida deles mesmos. Eu estou muito feliz, muito contente. Era isso que eu queria dizer para vocês. Força! Continuem assim, discutindo desse jeito, vocês índios, nossos parentes de várias etnias. Vocês têm que continuar com essa luta, discutindo essas políticas públicas. Eu estou contente e feliz. Obrigado.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Eu queria perguntar se algum representante indígena gostaria de transmitir alguma mensagem ao Cacique Raoni.

Anastácio Peralta – povo Guarani Kaiowá: Eu queria agradecer a vinda dele aqui. É uma grande liderança que veio compartilhar aqui com a CNPI. Ele continua sempre apoiando a CNPI porque é o eixo das nossas lutas e onde podemos fazer as nossas reivindicações também e construir uma política pública que possa dar rumo ao nosso país e às nossas comunidades indígenas. Obrigado.

(Falas fora do microfone)

Francisca Navantino (Chiquinha) − povo Pareci: Eu não tenho nem palavras para dizer da honra que eu tenho de estar representando o nosso Estado do Mato Grosso, com o apoio do seu povo Mebêngôkre porque foram vocês que asseguraram eu estar aqui. E, mais ainda, de ter os professores indígenas no curso do PROESI, trabalhando com eles na formação de professores para que possamos dar continuidade à educação escolar indígena, dentro do respeito, dentro da diversidade e ver que os professores indígenas Mebêngôkre, no nosso programa de formação, têm mostrado claramente a inteligência, a capacidade e a competência de serem Mebêngôkre. Eles têm contribuído e muito na educação do nosso estado. Então, para mim é uma honra muito grande estar aqui pela confiança e credibilidade que vocês depositaram na minha pessoa, através das lideranças de vocês que ajudaram a fazer com que eu possa estar aqui hoje. Muito obrigado, de coração.

(Fala fora do microfone)

Brasílio Priprá: Bom dia a todos. Eu quero agradecer a presença do ilustre Cacique Raoni, o qual conheci com o Presidente Lula numa área indígena lá no Rio Grande do Sul, no início dos anos 90, e por quem eu tenho muito respeito porque o Raoni é um símbolo do nosso país. Quando nós discutirmos aqui políticas públicas para os povo s indígenas, devemos nos lembrar que o Cacique Raoni colocou a responsabilidade em nós, a confiança e nós temos que carregar isso nas costas com muito respeito e muita dedicação. O Raoni tem sempre um pensamento de que, no futuro, os nossos filhos, as famílias deles, os nossos povo s, estejam bem nesse Brasil. O meu agradecimento e o meu respeito ao Cacique Raoni. Eu esqueci de comentar que eu sou Xokleng, do Estado de Santa Catarina, a única aldeia no Brasil. Muito obrigado.

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Cacique Raoni: Fala em língua indígena, sem tradução.

Antonio Pessoa Gomes (Caboquinho) − povo Potiguara: Eu só queria agradecer também a presença do ilustre Cacique Raoni, pessoa que sempre inspirou a luta indígena, principalmente, na Constituinte de 88, quando estava somando com os outros índios do Brasil para que os nossos direitos constitucionais fossem garantidos de fato. Nós já participamos juntos de várias reuniões e seminários e ele é uma pessoa de suma importância para esta luta que nós enfrentamos. Sabemos que é uma luta difícil, mas como ele disse bem claramente, só a união dos índios junto com as pessoas do governo que trabalham conosco é que podemos somar muito. Obrigado, Cacique Raoni, por estar aqui somando conosco. Eu também sou Cacique do povo Potiguara, lá do Estado da Paraíba. Muito obrigado.

Cacique Raoni: Fala em língua indígena, sem tradução.

Marcos Luidson de Araújo – povo Xucuru: Como já foi dito por todos, é sempre um prazer e eu tive honra hoje de poder trocar algumas palavras com o Cacique Raoni. Eu tenho uma inspiração até hoje para mim, que é o Cacique Chicão. O meu pai, que foi assassinado em 1998, sempre falava do Cacique Raoni. Infelizmente, ele foi assassinado e, provavelmente, se estivesse vivo, estaria aqui nesta Comissão. Eu assumi o cacicado muito jovem, com 21 anos de idade, e tenho me inspirado no trabalho que o Raoni tem feito pelos povo s indígenas. Então, quero dizer que sou um seguidor também do Cacique Raoni, tenho aprendido muito com o que tenho escutado, visto, com as idéias que ele tem colocado para nós. Somos muito jovens e somos a semente que foi plantada há muitos anos atrás. É claro e evidente que nós estamos regando essa semente todos os dias e que vamos dar prosseguimento aos nossos filhos e nossos netos. É por isso que estamos aqui nesta Comissão, tentando definir o nosso projeto de futuro para os povo s indígenas no nosso país. Obrigado pela sua presença. Espero ter outras oportunidades de podermos dialogar porque tenho muito a aprender com você.

Cacique Raoni: Fala em língua indígena, sem tradução.

Luiz Vieira Titiah – Pataxó Hã Hã Hãe: Queremos agradecer a presença do nosso parente Raoni e dizer que é um grande fortalecimento do colegiado indígena ter a presença dele aqui. Nós entendemos que é uma grande força para nós que estamos aqui porque ele também contribuiu para que isso se realizasse. Eu também queria pedir à Secretaria da CNPI que pudessem disponibilizar essa fala dele, que foi traduzida, porque isso é importante para nós levarmos para a nossa região, para saberem que um líder guerreiro esteve presente aqui na CNPI e deu as suas palavras de fortalecimento para nós.

Aproveitando, eu queria fazer um convite, em nome do povo Pataxó Hã Hã Hãe, para estar presente lá no nosso julgamento no dia 24. Nós sabemos que na época em que o nosso parente foi queimado aqui em Brasília, ele foi uma das pessoas que deu a maior força para que fossem tomadas providências sobre a morte do nosso parente.

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Cacique Raoni: Fala em língua indígena, sem tradução.

Pierlângela Nascimento Cunha − povo Wapichana: Eu sou Pierlângela, do povo Wapichana de Roraima. Nós estamos na luta pela desintrusão da terra indígena Raposa Terra do Sol. O exemplo que Raoni e outras lideranças antigas nos continuam repassando é muito importante para nós. Hoje, nós somos apenas três mulheres indígenas nesta Comissão, ainda predominam os 17 homens, mas, nessa luta, muitas mulheres sempre vieram dar força aos homens. Então, essas três mulheres estão aqui na luta com os homens também. Nós pudemos ver, na Europa, o trabalho que essas lideranças fizeram. Quando eu estive lá agora para falar da Raposa Serra do Sul, nós fomos vendo todo esse processo que essas lideranças levaram lá para fora também, a nossa voz, a nossa situação. Então, nós realmente agradecemos porque são pessoas como o Raoni que nos ensinaram que nós temos que lutar pelo nosso povo sempre. Então, só temos a agradecer.

Cacique Raoni: Fala em língua indígena, sem tradução.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Só para concluir, eu queria dizer, Raoni, que aqui nós temos um Representante do Ministério da Justiça; o Celso é Representante da Presidência da República, da Casa Civil; o Coronel Caixeta é representante do Gabinete de Segurança Institucional; o Coronel Marinho é Representante do Ministério da Defesa; a Olga é Representante do Ministério do Planejamento; o Quenes é Representante da Secretaria Geral da Presidência da República; o Gersen Baniwa que é indígena, é Representante do Ministério da Educação. Ele trabalho no governo, é Coordenador de Educação lá no MEC; o Aderval é do Ministério do Desenvolvimento Social; o André é Representante do Ministério do Desenvolvimento Agrário. Temos também aqui o Saulo que é representante do CIMI e o Gilberto Azanha, que é representante do Centro de Trabalho Indigenista. É uma entidade que, como o CIMI, trabalha há muitos anos com a questão indigenista. Aqui atrás temos também vários funcionários da FUNAI e do Ministério de Desenvolvimento Social que dão apoio à nossa Comissão. Há outros representantes também indígenas da COIAB, como a Valéria e o Paulinho e o Frederico que é do IPEA. Tem a Dra. Deborah Duprat, uma pessoa muito importante, do Ministério Público Federal, da 6ª Câmara, que cuida dos direitos indígenas. É nossa companheira e está sempre aqui presente na CNPI. Todos nós estamos muito agradecidos pela sua visita.

Tradutor do Cacique Raoni: Ele falou que considera muito importante esse trabalho, gostou muito de visitar vocês e quer voltar de novo. Ele disse ao Presidente que esse é um trabalho muito importante que vocês estão fazendo. Ele gostou muito. Ele falou com o Presidente aqui que, se não tivesse outros compromissos na FUNAI, ele estaria aqui participando da reunião com vocês, até dando algumas idéias, dando uma orientação, mas ele tem outros compromissos. Ele quer dar um abraço em todos.

Deborah Duprat − Ministério Público: Eu tenho algumas dúvidas, até para a gente poder avançar na reflexão sobre algumas questões. A primeira dúvida é com relação ao item 1.2, a criação desse

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subsistema de educação escolar indígena. Vocês pensaram nesse subsistema como uma reprodução do subsistema da saúde, ou seja, federal, ou como um subsistema aproveitando o que existe hoje em termos de competência escalonada. Não sei o que vocês pensaram. Essa é a primeira pergunta.

Em relação ao item 1.3, eu queria saber se a Comissão avaliou o Censo Escolar Nacional que vem sendo feito. Eu queria saber se há uma avaliação disso por parte da Subcomissão.

Com relação ao item 02, a questão do controle social, aqui está prevista a criação do Conselho Nacional de Educação Escolar Indígena. O grande problema que eu vejo com relação ao controle social na educação escolar é que ele sempre fica no topo. Ele nunca está na base da pirâmide. Ele nunca tem mecanismos de controle social, como acontece, por exemplo, na saúde, em que o controle social opera desde a base até o topo. Eu queria saber se vocês avaliaram as propostas de controle social nessa perspectiva dos arranjos etno-educacionais.

Eu estou vendo que, em relação ao problema da criação da carreira do magistério indígena, a Subcomissão está indicando a inclusão dessa temática nas discussões sobre o Estatuto do Índio. O que está acontecendo é que várias Secretarias já estão fazendo concurso de professor, sem que tenha a carreira de magistério específica. Roraima, por exemplo. Eu queria saber se isso está sendo avaliado e se vamos continuar com a carreira geral. Do contrário, se houver um consenso a respeito da necessidade da carreira específica de magistério indígena, essa é uma discussão para ontem. Ela não pode ficar submetida ao tempo do Estatuto do Índio no Congresso. E nem cabe porque, se for mantido o modelo atual, é uma carreira do estado. Não tem nem como ser discutida no âmbito do Estatuto.

A questão do financiamento das universidades, organizações indígenas e indigenistas nos cursos de formação inicial e continuada dos professores. Eu não tenho essa informação também, mas queria saber qual é a validade que está se dando a esses cursos realizados fora das Secretarias Estaduais. Como é que isso está funcionando? Eu não tenho essa informação.

No item 5.4, eu queria saber a respeito dos recursos do PAAR e das pactuações. Eu me lembro que as pactuações iam permitir que não houvesse descontinuidade no fluxo de recursos para os cursos de formação inicial e continuada de professores. Mas, parece que não é o que está acontecendo. Então, eu gostaria de saber onde está o problema.

Capitão Potiguara − Região Nordeste-Leste: Eu tenho uma sugestão para incluir na proposta da Subcomissão, que é uma preocupação muito grande que eu tenho com relação ao nosso ingresso nas universidades. Eu queria sugerir que fosse incluída a criação de Cursinhos Pré-Vestibulares para que os alunos indígenas pudessem ter uma preparação melhor e fazer curso nas universidades federais. Por que isso? Eu estou numa universidade há 29 anos e vejo a deficiência do meu povo quando ingressa em vários cursos. A área em que temos mais pessoas nossas é no Curso de Pedagogia e numa faculdade

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particular, mas na Universidade Federal da Paraíba, a deficiência é muito grande. É por isso que se inclua na proposta a criação de Cursinhos Pré-Vestibulares.

Brasílio Priprá: Bom dia. Meu nome é Brasílio Priprá. Eu até queria sugerir que tivesse uma linha de pensamento no curso superior. Vou dar um exemplo aqui do Estado do Paraná. Tem as vagas na Universidade Federal, como tem também nas universidades estaduais que também dão apoio aos universitários indígenas, uma bolsa para que eles se mantenham no curso. Eu já disse várias vezes que a dificuldade do aluno é quando ele sai da aldeia, quando a universidade é um pouco longe, e não tem como se manter lá na cidade para terminar o curso dele. Eu acho que teria que ter uma bolsa, um programa de governo, para que esses alunos pudessem ser mantidos nessa universidade. Tinha que ter bolsa para todos os cursos porque, na verdade, as comunidades indígenas precisam receber bolsas de todos os cursos para aqueles que estiverem interessados em fazer vestibular e ingressar no curso superior. As comunidades indígenas precisam ter gente nos cursos da área de saúde, na área jurídica, enfim, em todas as áreas. Eu sei que tem alguma coisa nesse sentido, mas ainda é muito pouco. A minha sugestão seria nesse sentido. A grande dificuldade lá na minha área é que o pessoal tem vontade de estudar, mas a universidade mais próxima, que aliás é uma universidade boa, está há mais ou menos 100 km de distância. Eles vão estudar lá e voltam todo o dia à noite. A nossa comunidade não tem como pagar um ônibus para transportar esses alunos. Eu acho que, nesse sentido, deveria se dar uma oportunidade de se dar um transporte para facilitar que os nossos alunos se preparem melhor para o mercado. Nós não temos como fugir disso. Temos que preparar e informar para que eles tenham um futuro melhor. Era isso que eu queria deixar como sugestão e colaborar também nesse sentido.

Anastácio Peralta – povo Guarani Kaiowá: Eu fico preocupado porque estou na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul e lá não tem professores suficientes para trabalhar com os alunos indígenas. Ela fez uma parceria com o estado, mas como aumentou o número de alunos, não tem professor para atender os alunos. Eu tenho perguntado para eles por que eles não contratam mais profissionais para atender os alunos indígenas. Eles dizem que não têm orçamento. Então, eu queria ver como é que a gente podia fazer para a universidade arrecadar mais dinheiro para contratar mais profissionais para atender aos alunos indígenas. Era isso.

Kohalue Karajá − Região Amazônica: A minha fala é sempre voltada para a questão dos acadêmicos, principalmente, para o meu povo lá do Tocantins. Nós temos aproximadamente 58 alunos indígenas na Universidade Federal de Tocantins − UFT. A minha pergunta vai ser para a FUNAI e representante do MEC. Atualmente, o Estado do Tocantins, através da Secretaria de Cidadania e Justiça vem custeando o aluguel da casa, água e energia onde estão 18 alunos indígenas, na capital, em Palmas, Tocantins. Nós também conseguimos, através da Secretaria de Ação Social, com a ajuda da Dra. Walkiria e eles estão nos dando uma ajuda de custo, mas não é suficiente para eles se manterem na universidade. O problema é que o mandato do governador está terminando, daqui a dois anos, e, provavelmente, o outro governador que venha a entrar vai acabar com essa locação da casa e não sei como é que vai ser daqui para frente. Não sei como é que a FUNAI e o MEC vão fazer para dar apoio a

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esses alunos indígenas porque eles estão na universidade, estão estudando, 13 deles estão cursando medicina e nós não queremos perder esse apoio. Nós gostaríamos que o próprio Presidente da FUNAI entrasse em contato com o governador para que pudesse manter essa casa de apoio e a Subcomissão poderia também fazer algum documento para pedir esse apoio.

Falei do Tocantins, mas, nós temos que pensar também que, com a criação do quotas nas universidades do Brasil todo, a demanda cresceu muito em relação aos estudantes universitários indígenas. Então, é natural que a FUNAI não possa mais atender a toda essa demanda, no sentido de disponibilizar ajuda de custo e bolsas de estudo. Nós temos que pensar numa maneira de apoiar esses estudantes universitários indígenas. Nossos estudantes, muitas vezes, entram na universidade e depois voltam para trás por conta de falta de apoio financeiro. Era isso. Obrigado.

Deborah Duprat − Ministério Público: Eu tenho uma última pergunta para o Gersen também. Eu gostaria de saber como é que a SECAD está pensando essa educação intercultural, desde a educação básica até ao ensino superior. O que acontece é que, até ao ensino médio, nós temos iniciativas que garantem a interculturalidade. Mas, no caso do acesso ao ensino superior, o ambiente é de monoculturalidade, de monoculturalismo. As universidades ainda são um espaço de um saber hegemônico. Então, eu queria saber como a SECAD está pensando essa passagem. Do contrário, a educação diferenciada vai parar no ensino médio e o acesso à universidade vai ficar cada vez mais complicado.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Eu vou passar a palavra agora para o representante do MEC, o Gersen, mas, antes, eu queria fazer um comentário também sobre o item 3.3, que é a criação e implementação de uma política lingüística. Segundo diz aqui no relatório, a Subcomissão insiste na importância da proposta, lembrando que uma política lingüística é fundamental para o sucesso de uma educação bilíngüe etc. Como está dito aqui que o MEC não teria respondido a essa questão, eu queria acrescentar aqui que nós construímos uma prioridade de governo, que é justamente uma política de estudo das línguas, documentação das línguas, que a FUNAI assumiu, tem orçamento e conseguimos um apoio para desenvolver isso. Então, Gersen, e acho que seria interessante para o MEC também que a gente pudesse fazer uma dobradinha aí. Ou seja, que essa política que nós já estamos desenvolvendo com a FUNAI possa ser inserida na política do MEC e nós faríamos um trabalho conjunto. Nós já estamos com orçamento garantido até 2010, porque isso está dentro das prioridades da agenda social do governo, inclusive, com apoio da Fundação Banco do Brasil para o desenvolvimento dessas pesquisas, estudos de documentação da línguas. Isso já foi discutido na CNPI, já foi aprovado na Subcomissão de Educação, então, esse seria um ponto que eu sugiro que a gente pudesse acrescentar aqui. Então, vou passar a palavra ao Gersen.

Participante não identificada: Antes de o Gersen falar, eu queria fazer um comentário em cima do que você está colocando, Presidente. Esse programa é da FUNAI. Nas discussões que tivemos, essa proposta seria inserida dentro da formação inicial. Só que, agora, com essa questão que está posta de que a FUNAI

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não é mais para estar atuando como parceira no processo de formação, do ponto de vista financeiro e outras coisas mais, nós queríamos até conversar a respeito disso porque isso está sendo colocado para a própria FUNAI e a gente precisa de uma resposta. Por exemplo, meu estado não aceita isso. Já fizemos até um documento deixando claro que não aceitamos a saída da FUNAI. A gente entende que a FUNAI não é só para financiar, mas ela tem que ter uma atuação também do ponto de vista pedagógico, por conta das deficiências que as Secretarias têm. Era isso.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: A posição da FUNAI é de participar e ser parceira do MEC, trabalhando em tudo aquilo que a gente definir. Eu já conversei com o Gersen sobre isso e nós temos acordo em relação a que nós precisamos definir qual é o papel da FUNAI e qual é o papel do MEC. O que é que cabe à FUNAI? Se a gente definir que cabe à FUNAI isso, isso ou aquilo, essa vai ser a parte da FUNAI nesse processo. Da nossa parte, nós temos todo o interesse em participar e contribuir, inclusive, nessa questão lingüística, que é uma coisa que a gente já está fazendo.

Gersen Baniwa − Ministério da Educação: Primeiro, eu acho que, de fato, nos últimos meses, nós tivemos um contato intenso com a equipe da FUNAI. Eu tive a oportunidade de trabalhar praticamente um dia com toda a equipe de educação da FUNAI e acho que hoje há um ambiente institucional muito positivo na construção dessas políticas. Eu vou me ater alguns pontos que foram tratados pelos parentes indígenas, apenas para esclarecer. Não é meu estilo pessoal de debater ou defender, não é nada disso. Acho que o processo de políticas públicas para os povo s indígenas está em permanente construção. Então, acho que tem que ser visto dessa maneira e tratado dessa maneira, inclusive, por nós que estamos trabalhando na gestão dessas políticas. Acho que esse é um ponto fundamental.

De uma maneira geral, acho que essa agenda está sendo construída, agora, acho que dentro de um tempo e dentro das condições que nós temos. Eu acho que nós temos que ter muita objetividade também diante dessas possibilidades e limitações que nós temos. No caso do MEC, por exemplo, acho que tem uma enorme vontade, clareza, consciência do seu papel, das grandes demandas, inclusive, demandas reprimidas dentro da política de educação escolar indígena, mas há também os avanços que tivemos nos últimos anos, por um esforço da sociedade brasileira de uma maneira geral, particularmente, dos povo s indígenas. Mas, nós precisamos trabalhar em cima do tempo. Lá no Ministério da Educação, na Coordenação da Educação Escolar Indígena, em função do tempo que temos, pensando na gestão atual do Presidente Lula, nós definimos algumas prioridades. Inclusive, eu queria esclarecer que, na resposta que enviamos à Subcomissão − e eu já deixei isso claro na Subcomissão − nós demos prioridade, privilegiamos aquelas ações que consideramos estratégicas, estruturantes. Nós temos uma missão a cumprir nos próximos dois anos e três meses do Governo Lula, que é consolidar políticas. Há algumas políticas que podem ser consolidadas nesse tempo e o nosso esforço está voltado para isso. Essa é a única razão de o MEC não ter respondido alguns itens porque há uma decisão política nossa de dizer: “Olha! Esses outros pontos são importantes, mas nós não temos pernas até para nos aventurar a responder isso no tempo que temos e com a equipe que temos”. Então, preferimos dizer que consideramos essas outras ações mais estratégicas e é em cima disso que vamos

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trabalhar. Eu até poderia iniciar dizendo isso. Nós pontuamos aqui seis pontos de relevância que são prioridades e que o MEC vai trabalhar junto com todo mundo, com a FUNAI e os demais parceiros, principalmente, os estados e municípios, nesse período de dois anos e três meses.

Primeiro, temos a realização da Conferência Nacional de Educação Escolar Indígena. Ela já está convocada e estamos iniciando o trabalho de sua implementação. É um trabalho enorme. Imaginem o que isso representa em termos de trabalho de equipe, operacional etc. Todo mundo aqui pode imaginar o que é realizar uma Conferência Nacional de Educação Escolar Indígena num país continental como o Brasil.

Segundo, temos o PAAR Indígena. Nesse sentido, o Ministério da Educação tem uma posição hoje forte. Isso não impede qualquer possibilidade de se discutir o futuro da política de educação escolar indígena. Mas, hoje, o Ministério da Educação tem uma posição clara, que é consolidar e fortalecer o regime de colaboração dos sistemas que trabalham com educação escolar indígena. Essa é a missão do MEC hoje. É fortalecer e consolidar o regime de colaboração. Nós sabemos que o regime de colaboração é uma ordem constitucional, é uma ordem legal, mas que tem enormes fragilidades. Inclusive, não é só para a educação escolar indígena, mas para a educação de uma maneira geral. Então, no âmbito do MEC, também com relação à educação escolar indígena, o esforço e aperfeiçoar esse regime. Esse é o nosso mandato hoje. É preciso a gente ter coerência com isso. Qualquer possibilidade de um novo modelo é uma coisa que deve ser discutida, trabalhada, processada e assim por diante. O importante é ficar claro que o instrumento que trabalhamos hoje é o regime de colaboração e a tarefa é aperfeiçoar esse regime de colaboração. Então, quando estamos falando do PAAR Indígena, ele tem essa missão.

Qual é o espírito do PAAR Indígena? Uma das argumentações dos sistemas de ensino para não avançarmos nas políticas de educação escolar indígena era a ausência de recursos. Então, o Ministério da Educação que, se o problema eram recursos, nós vamos bancar os recursos. Em 2008, o MEC começou contratando recursos para os estados num primeiro momento e nós estamos iniciando com os municípios a partir do ano que vem. Então, hoje, não é mais um problema de recursos. Os estados estão cheios de recursos lá nas suas contas, mas a velocidade com que se implementa isso é outra coisa. Estamos tratando disso. Até porque, estados que recebiam R$ 500.000,00 por ano, de um ano para o outro, começam a receber 15 ou 20 milhões e não têm estrutura, não têm equipe. Isso está sendo trabalhado, mas acho que essa é uma segunda prioridade porque há enormes desafios a serem enfrentados.

Temos também os territórios etno-educacionais. Para nós do MEC, essa é uma prioridade e um pouco uma carta na manga. Por quê? A nossa avaliação é de que há vontade política, começamos a ter recursos financeiros, mas as coisas continuam com bastante dificuldade, com bastante lentidão na execução das ações. A pergunta é: O que é que falta efetivamente? A nossa avaliação é que há vontade política porque os Secretários Estaduais de Educação têm se reunido a cada mês e, a cada mês, a educação escolar indígena está na pauta do CONSED. E todos os Secretários dizem: “Topamos, queremos, vamos fazer”.

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Isso colocado no papel, eu estou entendendo como vontade política. Se há vontade política de todos os atores, se temos recursos, o que é que falta? Daí entra a relevância dos territórios etno-educacionais. No nosso entendimento, é uma questão de gestão. No espírito do regime de colaboração, nós precisamos trabalhar um regime de colaboração efetivamente compartilhado, articulado, ou outro termo que a gente queira dar. Então, os territórios etno-educacionais se constituem num instrumento que nos queremos experimentar e implementar. Principalmente, no sentido da gestão. Na nossa leitura, há três partes relevantes dos territórios etno-educacionais. Por que eu estou falando “territórios”? A idéia original era de “arranjos etno-educacionais”. Houve um diálogo com a sociedade. Aliás, esse diálogo é interessante e expressa um momento muito positivo de diálogo que vivemos no Brasil. A proposta inicial do MEC era de “arranjos etno-educacionais”. Nós fomos conversar com vários segmentos e descobrimos que muita gente entende e gosta do termo “arranjos”, mas uma grande maioria tinha um problema psicológico com o nome. Falavam que no Brasil para tudo se dá um jeitinho, então, poderia parecer mais um arranjo que a gente vai dar. Então, nós entendemos isso e sugerimos ao Ministro a mudança do nome. Hoje, estamos trabalhando com o termo “territórios etno-educacionais” e parece que há consenso quase que geral, inclusive, nos instrumentos internacionais de direito indígena hoje. O termo “território” me parece mais forte, mais provocativo também no sentido positivo e estamos trabalhando agora com o termo “territórios etno-educacionais”. Nós entendemos que o grande lance dos territórios é porque é uma possibilidade de fazer um planejamento articulado, não só no âmbito dos entes federados, mas considerando principalmente as formas de articulação dos próprios povo s indígenas, que não necessariamente respeitam essa territorialidade administrativa brasileira, de municípios e estados. Temos que começar a dar esse tratamento étnico. Quer dizer, no caso de povo s que estão situados em três estados, não tem sentido cada estado ter uma política diferente para um mesmo povo . Se nós pensarmos uma política lingüística, a gente nunca conseguiria construir, por exemplo, uma política lingüística para os Kaiapós, que estão em dois estados. Seria impossível pensar numa política lingüística para os Kaiapós porque a política lingüística no Pará será completamente diferente, hoje, da política lingüística Kaiapó do Mato Grosso. São sensibilidades diferentes e até concepções políticas dos estados diferentes.

Além disso, esse planejamento precisa ser permanentemente avaliado, monitorado, acompanhado, corrigido, redimensionado e assim por diante, com ampla participação dos atores envolvidos naquele território. Então, eu acho que esse é um instrumento, uma estratégia extremamente importante para isso porque você envolve todos os atores, sem exclusão. Por exemplo, quando a gente trabalha em ensino superior, o grande problema hoje é quais são as universidades que têm sensibilidade e querem trabalhar de forma articulada, compartilhada o ensino superior indígena. Nós não sabemos. Agora, com os territórios etno-educacionais, cada território poderá ter o mapeamento de quais são as universidades públicas que podem ser potenciais parceiras em determinado território, em determinado espaço etno-geográfico. A partir de um planejamento, se mapeia. Eu acho que os territórios têm uma composição completa. Para planejar, precisa ter diagnóstico e os diagnósticos serão produzidos no âmbito dos territórios etno-educacionais. Por isso, está sendo instalado o Observatório de Educação Escolar Indígena. São grupos de pesquisa, nas universidades públicas, para ajudar a produzir essas informações,

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esse diagnóstico. A partir desse diagnóstico, se planeja de forma articulada com todos os atores. Quando eu me refiro a todos os atores, estou falando dos índios, FUNAI, universidades, CEFETs, Escolas Agrotécnicas, Ministério Público, municípios, estados, enfim, todos os entes envolvidos naquele território.

Mas, isso não basta. É preciso que haja um acompanhamento permanente. No Ministério da Educação, nós estamos avançando. Ainda ontem, estávamos conversando com o Secretário e com a Assessoria do Ministro para a gente procurar ser mais usado nesse propósito do território etno-educacional. Eu cheguei a provocar a Assessoria do Ministro e disse: “Que tal a gente avançar agora no âmbito dos territórios etno-educacionais para começar a responder uma nova determinação constitucional legal no Brasil, que é a Convenção 169?”. A idéia é a gente trabalhar, no âmbito dos territórios etno-educacionais, um espaço de controle social que deveria se aproximar muito do que determina a Convenção 169, com a participação prévia, qualificada, consentida e assim por diante. Acho que, com o esforço de todo mundo, nós poderemos dar esse salto no Ministério da Educação. Pelo que eu pude perceber, não há nada contra. Agora, o ritmo político é outro. Esperamos que esses dois anos e três meses sejam suficientes para a gente avançar nessa linha.

A outra questão é o Ensino Superior. Para o ensino superior, nós estamos trabalhando a formação de professores indígenas. Nós estamos com 1.200 professores indígenas em formação, com apoio hoje financeiro do MEC, via PROLIND. Este ano, devem entrar mais 1.500, então, vamos ultrapassar 2.000 professores indígenas em formação. Nós temos uma meta, até 2010, de que praticamente todos os professores que estão hoje atuando nas escolas indígenas estejam em formação. Até ao ano passado, eu diria que essa seria uma meta difícil, mas acho que hoje é possível a gente responder, pelo menos, à demanda atual. São 8.000 professores indígenas que precisam de formação superior e nós achamos que até 2010, conseguimos colocar esses professores em formação, com licenciaturas interculturais.

Com relação a outras formas de conhecimento, eu acho que isso está caminhando também. A proposta atual, já de consenso no Ministério da Educação, é de elaboração de um programa de bolsas para estudantes indígenas do ensino superior. Mas, o que temos avançado até hoje é para atender apenas aos alunos da rede federal. Isso é o que está consensuado hoje. A idéia é que, a partir do ano que vem, o Ministério da Educação comece a atender os alunos que estão na rede federal. A grande questão é: E os que estão na rede estadual? E os que estão na rede privada? Não existe um não a esse público, mas ainda não achamos um instrumento para isso. Para a rede federal, isso é mais tranqüilo. No outro caso, estamos empenhados em achar algum instrumento que ajude a resolver essa questão.

E tudo isso nessa linha de pensar acesso e permanência. Então, bolsa para aluno não resolve por si. Por isso, para nós a rede federal é importante porque o MEC vai induzir para que as universidades federais criem programas que ajudem a permanência do aluno. Uma coisa é o aluno receber a bolsa. A outra coisa é a condição que a universidade tem que oferecer para que ele permaneça e tenha sucesso. Então, basicamente, são dois sub-eixos nessa linha.

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Por fim, temos as diretrizes curriculares. Na nossa proposta, nós queremos aproveitar a realização das Conferências regionais para discutirmos uma proposta que atenda a todas as demandas hoje com relação às diretrizes curriculares porque vai da educação infantil ao ensino médio e ao ensino superior em duas modalidades. É importante dizer isso porque vai muito na linha do que a Dra. Deborah ponderou. Para nós, hoje, a prioridade é trabalhar as diretrizes curriculares do ensino fundamental e do ensino médio, como um único ciclo, mas por etapas. Você tem a educação infantil que deve receber um tratamento diferenciado. E temos o ensino fundamental e o ensino médio nas modalidades existentes, ou seja, o ensino médio regular e o ensino médio tecnológico, profissionalizante, integrado e assim por diante. A segunda ação, na linha do ensino superior, o que nós estamos definindo na agenda é basicamente diretrizes para a formação de professores indígenas. Aí também são duas modalidades. Precisamos de diretrizes para o magistério, equivalente ao ensino médio, e para as licenciaturas interculturais. Acho que dá para a gente resolver isso até 2010.

Agora, com relação ao que a Dra. Deborah ponderou, é mais complicado. Como é que nós vamos começar a garantir a interculturalidade na formação dos alunos indígenas, nas universidades de uma maneira geral? Primeiro, tem essa questão da autonomia das universidades. Isso é bem complicado de trabalhar. Uma das possibilidades que no MEC se discute é a gente estimular as universidades a trabalharem os chamados “cursos específicos”. Por que é possível garantir a interculturalidade nas licenciaturas interculturais? Porque é um curso específico. Por exemplo, no Mato Grosso do Sul, tem a proposta do curso de agroecologia. Então, de repente, com um curso específico de agroecologia, você pode garantir esse princípio fundamental da educação escolar indígena, que é a interculturalidade.

Acho que o caminho mais interessante de começar a enfrentar essa situação seja esse. Nós não enxergamos como possibilidade próxima intervir nos cursos das universidades para que garantam essa interculturalidade. De fato, o grande problema do ensino superior, de uma maneira geral, é esse porque os cursos das universidades formam os índios para serem brancos. Eles entram índios nas universidades e saem brancos da universidade. Então, acho que esse é o principal desafio para quem discute o ensino superior indígena para além das licenciaturas interculturais.

Deborah Duprat − Ministério Público: Você me permite, Gersen? São excelentes as suas respostas e ponderações. Realmente, nas universidades, nós temos esse grave problema, e também solução, da autonomia universitária, no sentido de a universidade dispor da sua grade curricular como bem entende. Mas, eu não sei se vocês avaliaram, tanto a Subcomissão, quanto o MEC e a CNPI, uma proposta bastante interessante de concessão de bolsas pelo VIGISUS. Vocês conhecem? O Gersen provavelmente conhece. Isso surgiu na área de saúde. O que é? Você verifica que não tem profissionais da área de saúde para dar conta do modelo de atendimento à saúde. O que é que o VIGISUS fez? Ele entrou com bolsas para formação específica na área de saúde. Eles criam o compromisso com o estudante de que, ao se formar, ele retorne esse conhecimento para a área. Isso não é nenhuma novidade. Às vezes, a gente vai fazer mestrado e doutorado fora do Brasil e fica com a obrigação de

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retornar à universidade e prestar serviço por um tempo. Então, não estamos criando nenhuma discriminação.

O segundo dado que me parece bastante interessante é que nesses acordos feitos pelo VIGISUS com as universidades, elas passam a ter que oferecer determinados cursos específicos para a saúde indígena, trabalhando conhecimentos tradicionais, fitoterápicos, enfim, tem algumas disciplinas que são pensadas nesse contexto. Então, eu queria ouvir tanto o MEC quanto a Subcomissão se há alguma reflexão a respeito disso e se é possível pensar em avançar um programa desse tipo.

Gersen Baniwa − Ministério da Educação: Só para concluir, numa leitura pessoal, e é um pouco a partir disso que nós trabalhamos no Ministério da Educação, eu diria que nós estamos numa fase meio que de transição. Há experiências da última década que demonstram que a educação escolar indígena teve um espaço importante no âmbito da política brasileira. Sem dúvida nenhuma, os números apontam isso. Mas, nós estamos num momento de avaliação e de reelaboração dessas políticas daqui para frente. Nós não queremos antecipar muito as discussões porque eu acho que nós temos dois momentos, no âmbito do MEC, fora a própria CNPI e outros, para discutir isso. Então, seria o momento de reavaliar as experiências e reelaborar as políticas daqui para frente. O primeiro momento é a própria Conferência e o segundo é exatamente o momento dos territórios etno-educacionais como uma forma de planejamento e gestão das políticas. Então, acho que esses dois momentos é que nos indicarão as diretrizes.

Uma coisa importante é que nós temos um problema de tempo e temos que pensar, inclusive, como tratar isso. A nossa Conferência Nacional de Educação Escolar Indígena está desenhada para outubro de 2009. Também está se iniciando a Conferência Nacional de Educação Brasileira. Eu acho que é um momento histórico. Finalmente, seria a segunda conferência porque a primeira aconteceu em 1994, na gestão do Ministro Murilo Hingel. Então, essa é a segunda Conferência Nacional de Educação, na história republicana do Brasil. Qual é a importância disso? Nós fomos discutir que seria extremamente importante que as deliberações da nossa Conferência de Educação Escolar Indígena fossem contempladas na Conferência Nacional de Educação. A única dificuldade nossa é casar tempo porque a gente ainda vai estar discutindo nas regionais quando todo o aparato da Conferência Nacional estará pronto. Dessa forma, vamos ter enorme dificuldade para influir nas discussões da Conferência Nacional. Mas, tem vontade dentro do MEC. Então, nós estamos com esse dilema, se nós aceleramos um pouco mais a nossa Conferência da Educação Escolar Indígena para dar tempo de entrar no ritmo da Conferência Nacional, o que seria extremamente importante. As nossas deliberações da Conferência da Educação Escolar Indígena ganhariam muita força, se conseguíssemos colocar isso na Conferência Nacional de Educação Brasileira. Então, acho que isso é uma coisa interessante. Quem está coordenando a Conferência Nacional é o Secretário Chagas, que é o Secretário-Executivo Adjunto do Ministério da Educação. Eu tive uma conversa com ele e ele está totalmente aberto e acha isso extremamente relevante. Eu acho que, para a educação indígena no Brasil, isso seria extremamente importante.

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Agora, para concluir, teve uma fala do Capitão Potiguara sobre os Cursinhos Pré-Vestibulares. Curiosamente, o MEC tem uma estratégia de atuação hoje. Se para a educação básica, o caminho são os estados e municípios, para o ensino superior, a estratégia do MEC é trabalhar via universidades públicas. Então, é possível realizar os Cursos Pré-Vestibulares pelas próprias universidades. O MEC banca, mas via universidades. Assim como, na lógica do Ministério da Educação, para a educação básica, tudo deve ser via estados e municípios, para o ensino superior, tudo deve ser via universidades. Isso é para forçar que se quebrem as barreiras que as instituições apresentam. Então, a leitura no MEC é essa. Se a gente sempre procura um atalho para que as ações sejam efetivadas, você deve responsabilizar essas instituições, sejam elas universidades, municípios ou estados. Então, existe hoje uma decisão política do Ministério da Educação que é forçar essas instituições. Eu acho que as universidades têm pouquíssima sensibilidade, ou não querem trabalhar com as questões indígenas, ou com ações afirmativas. Da mesma maneira, os municípios e estados. Qual é a posição do MEC? Buscar instrumentos para sensibilizar as instituições a assumirem isso. Então, no caso do ensino superior, são as universidades. Elas são universidades federais, públicas, universidades estaduais, vamos colocar recursos para que essas universidades realizem esses Cursos Pré-Vestibulares. O MEC faz a sua parte. Nós já conversamos com a ANDIFES. A ANDIFES vai fazer parte da nossa Comissão de Educação Escolar Indígena, então, eu acho que é um bom momento para a gente fazer isso. Eu diria que, em termos de pensar mesmo essa educação, esse momento é muito rico. Agora, temos desafios e temos a questão temporal para avançarmos e consolidarmos essas políticas. Acho que, de uma maneira geral, é esse o panorama atual.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Obrigado, Gersen. Estão inscritos: a Pierlângela, o Capitão, a Lylia e a Chiquinha.

Pierlângela Nascimento Cunha − povo Wapichana Eu queria fazer um levantamento de uma reflexão, já que nós estamos aqui pensando em políticas públicas. Nós discutimos muito e ao longo deste ano nós temos sentado aqui por dois ou três dias para conversar. Nós temos visto muito o discurso da autonomia. Todo mundo tem autonomia nesse país, mas eu não sei se isso é uma desculpa para não ser fazer as cosias. Os estados têm autonomia, os municípios têm autonomia, as universidades federais têm autonomia, e nós povo s indígenas? Quando é que nós vamos ter autonomia de ter o que a gente quer? Quando a gente fala em uma organização indígena receber um recurso, não podemos ter autonomia. No caso da educação, por exemplo, vocês não podem receber recursos diretamente. Quando a gente fala em criar um sistema, devido à questão territorial e à diversidade que nós temos, também não temos autonomia. Nós temos aqui no país um outro sistema, que é o sistema militar, que institucionalmente tem suas escolas, todo o seu aparato e isso está dentro do Ministério da Educação. Então, nós não estamos falando de coisas do outro mundo ou de coisas impossíveis. Acho que a gente se prende muito a coisas que realmente fazem com que nunca possamos ter autonomia. Será que os povo s indígenas vão ter que se institucionalizar para terem autonomia? Nesse país, tudo o que é instituição tem autonomia e a gente acaba tirando um pouco a autonomia dos povo s indígenas. Era essa a reflexão que eu queria fazer para que a gente pense muito bem quando falar a palavra “autonomia”, porque quando se fala em “autonomia dos povo s indígenas”, parece que é bomba atômica do mundo. Era isso que eu queria falar.

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Capitão Potiguara − Região Nordeste-Leste: Eu queria dizer que talvez eu seja privilegiado, perante os parentes, por ser funcionário da Universidade Federal da Paraíba e ter a coragem de bater de frente com a universidade e ter criado um Grupo de Trabalho lá no setor de Estudos e Assessoria a Movimentos Populares, que nos dá suporte para sentar com o reitor, discutir e cobrar dele algumas ações. Nós já estamos com o Curso Pré-Vestibular há três anos e foi instalado agora em duas cidades, Baía da Traição e Marcação. Não botamos em Rio Tinto porque a comunidade de Rio Tinto é pequena e não deu para a gente botar o pré-vestibular lá dentro. O Caboquinho estava presente na reunião com o reitor, quando nós solicitamos também que ele criasse um curso específico na área de saúde não só para os Potiguaras, mas que todos os povo s indígenas do país tivessem acesso a um curso específico. Primeiro, ele criou um Curso de Antropologia e Cultura Indígena, que já tem um vestibular no meio do ano. Minhas filhas me incentivaram, eu fiz vestibular e passei para Antropologia e Cultura Indígena. Esse curso está aberto na Paraíba. Ele montou um campus lá em Rio Tinto e Mamanguape e esse curso já está funcionando na Federal da Paraíba.

Lylia da Silva Guedes Galetti − Ministério do Meio Ambiente: Eu acho que nessa discussão do acesso ao ensino superior seria interessante que o MEC, junto com a CNPI, com a Subcomissão de Educação, fizessem um levantamento preliminar de todas as universidades estaduais e federais que têm algum tipo de ação mais específica para povo s indígenas, que têm experiências diferenciadas. No Mato Grosso, por exemplo, isso é muito claro. O Capitão aqui acabou de falar da Universidade Federal da Paraíba e nós temos um Departamento de Educação Indígena na Federal de Minas Gerais. Entre as universidades não federais, tem a Universidade Católica Dom Bosco do Mato Grosso do Sul, que também tem um núcleo indígena. E o Caboquinho está lembrando que em Curitiba também. Então, acho que seria interessante juntar todas as experiências, fazer um seminário, enfim, conhecê-las mais de perto para pensarmos num desdobramento dessa ação.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Tem experiências em várias outras universidades, como a Universidade Federal do Tocantins, Universidade Federal do Pará, Universidade Federal de Goiás, a Universidade de Brasília, entre outras. Na fala da Professora Francisca, nós vamos encerrar as inscrições para darmos um encaminhamento.

Francisca Navantino (Chiquinha) − povo Pareci: Eu vou tentar responder algumas questões que a Deborah colocou a partir de algumas avaliações e um pouco também da exposição do Gersen, em relação à questão do sistema, se a gente está avaliando. Nós já vimos sempre discutindo essa questão do sistema. Nós avaliamos o sistema que está posto, o que nós temos aí. Esse modelo que é para todos os brasileiros, a rede pública. Nós temos avaliado esse sistema. A minha Dissertação de Mestrado foi sobre uma avaliação do sistema do Mato Grosso em relação à situação dos povo s indígenas e, na nossa conclusão final, nós percebemos que, de fato, é incompatível, por uma série de fatores, inclusive, com grandes obstáculos para se efetivar uma educação escolar específica e diferenciada. Não tem essa perspectiva nas Secretarias de Educação. Eu digo isso porque estou dentro de uma Secretaria de

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Educação, estou dentro de um Conselho Estadual de Educação e a gente vem exatamente tendo esse embate constante com os gestores por conta disso. Recentemente, nós tivemos um Encontro de Gestores Indígenas do Mato Grosso. Nós reunimos 100 representantes indígenas, juntando lideranças, professores, diretores de escola, vários segmentos da comunidade indígena, para discutir a questão da gestão. Isso foi taxativo. Eu e a Severiá, que é uma índia Carajá, minha companheira de trabalho, maravilhosa, temos uma compatibilidade muito grande nas nossas idéias e ficamos avaliando um monte de coisas. Nesse Encontro, nós fizemos uma fala para os índios e ficamos esperando eles se manifestarem. Foi impressionante a aceitabilidade que eles tiveram em relação ao que nós estávamos colocando ali. Nós pautamos ponto por ponto das questões. Eu fiz uma análise institucional e ela faz do ponto de vista local, da comunidade, a partir da realidade dela porque ela trabalha numa escola xavante, ela é casada com um xavante, que é cacique lá. Ela fez essa avaliação. Nós colocamos essa questão da Subcomissão, exatamente porque não temos mecanismos. Os índios entram no sistema como qualquer servidor. Então, não há diferença.

E quando se trabalha a questão de gestão das escolas, a situação é pior, como eu já coloquei em vários momentos. Muitas vezes, um diretor de escola ou um professor indígena têm que mudar seu nome porque o sistema não aceita um nome indígena. Eu já estou numa briga constante com a Secretaria para mudar esse sistema, que se chama Turmalina, e colocar um sistema diferente par atender cada realidade das escolas. Os nossos professores e diretores se manifestaram dizendo que não agüentam mais essa situação porque é uma enxurrada de burocracia e eles acabam tendo que despejar a questão mais para a ordem administrativa e gerencial da escola do que para o pedagógico. Isso foi colocado.

Outra questão que nós percebemos é o despreparo das Secretarias. Há um despreparo total. Na nossa Secretaria, eu estou lá numa briga constante, tentamos selecionar os melhores profissionais da rede para trabalharem lá, pessoas que fossem sensíveis à questão indígena, e temos mil problemas. A dificuldade para eles entenderem esse diferenciado e essa especificidade é muito grande. Eles confundem as coisas e acabam exigindo dos professores indígenas e dos gestores, uma postura geral como qualquer outro gestor. As exigências são as mesmas. Então, nós começamos a avaliar isso. Depois de muita reclamação, nós decidimos discutir o subsistema. De onde partimos? Do exército, que tem escolas próprias. A primeira discussão que houve foi há quase 10 anos atrás. Foi no MEC. Naquela época, eu estava lá. Foi no tempo da Comissão de Educação Escolar Indígena, que era paritária, formada pelas ONGs e os índios. Nós levantamos a primeira discussão sobre essa questão. Um pesquisador apresentou para nós um pouquinho do que ele tinha pesquisado na internet, na biblioteca e em vários outros lugares. Foi o Professor e Antropólogo, Luis Otávio da Cunha. Ele nos mostrou o Decreto e como funciona o sistema do Exército para uma escola diferenciada. E lá o ensino é diferenciado, pelo menos, pelo entendimento que foi passado para nós. Aí, a gente pôde ver como é que funciona lá a formação dos professores e tal. Essa foi a primeira vez que a gente viu uma situação diferente. É lógico que, de lá para cá, nós apresentamos essa proposta. Era o Governo Fernando Henrique e a Maria Helena participou. A Maria Helena tem uma memória incrível. Ela é um computador. E o Luis Donizete Grupioni é outro computador. Eles estiveram lá e acompanharam essa discussão. Nesse momento, a primeira discussão

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que foi feita sobre subsistema foi mostrando um exemplo concreto. Ficou de nós chamarmos alguém do Exército e alguém do Ministério para discutir conosco e explicar, por exemplo, como é que funciona uma escola militar. Não é que nós fôssemos copiar, mas era para a gente ter uma idéia. Só que, daí para frente, nunca mais ninguém tocou nesse assunto. Na época, o MEC não aceitou, nós tivemos uma resistência muito grande da política do FHC. A Secretária de Ensino Fundamental, Dra. Iara, ficou indignada de a gente estar discutindo essa temática, ficou brava conosco e, depois, o assunto queimou lá e nunca mais.

Agora que nós estamos fazendo essas discussões, com Gersen lá no MEC, é que estamos trazendo novamente essa situação. Então, Deborah, a avaliação que a gente faz de tudo isso é esse apanhado de coisas que a gente vem trazendo das situações que os índios estão vivendo nas aldeias. Quando, eles fazem concurso, não há diferença de acesso do professor indígena ao concurso. O concurso é diferenciado por conta da língua e de uma série de outras questões que são colocadas nas provas. É apenas isso, mas a inserção desse profissional indígena dentro do sistema de carreira é igual para todo mundo. E aí a gente percebe que há um conflito entre os interesses indígenas, a questão da diversidade, a questão coletiva, com os interesses individuais porque, a partir do momento que passa no concurso, esse professor indígena passa a exercer uma função funcional dentro daquela escola e a Secretaria, por outro lado, o enxerga apenas como um funcionário. Quando eu fiz essa fala para os nossos parentes, agora no Encontro, isso teve um impacto muito grande, não para nós indígenas, mas para a Secretaria. Eles diziam: “Mas, como assim! Nós estamos vendo a escola!”. E eu disse: “Não. Vocês enxergam a escola do ponto de vista institucional, o professor indígena é um funcionário público”. Eles mostraram para os índios que passaram no concurso o Estatuto do Servidor Público. E aí? Matou toda essa discussão de magistério indígena. Por outro lado, como não houve nenhuma regulamentação dessa parte da carreira do magistério indígena, só ficou colocado na Resolução, no Parecer, mas não foi regulamentado à parte, o resultado foi zero. Não tem nada. A desculpa que se dá é que não tem mecanismo e o sindicato vem para cima de nos detonar.

Era isso que eu queria colocar. Para fechar, eu queria me referir à validade dos cursos de formação fora das Secretarias. No caso do Mato Grosso, nós tínhamos dois cursos, um do Xingu e outro Mebêngôkre, foram devidamente regularizados porque nós do Conselho conseguimos fazer um acordo com o Secretário e também com o Conselho Estadual, mostrando as diferenças. O Conselho aceitou e regulamentou esses cursos de formação. Então, no caso do Mato Grosso, eles são regulamentados. Agora, eu sei que, nos outros estados, há grandes problemas. Era isso que eu queria colocar.

Antonio Pessoa Gomes (Caboquinho) − povo Potiguara: Eu estou preocupado com a questão do tempo.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Eu também. É por isso que eu estava falando para a Chiquinha ser mais objetiva.

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Antonio Pessoa Gomes (Caboquinho) − povo Potiguara: Ainda tem apresentações de várias Subcomissões para a gente ver, então, acho que deveríamos limitar o tempo de fala de cada um. Ainda tem muita coisa para a gente ver. Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Foi por isso que eu pedi que as inscrições se encerrassem na fala da Chiquinha. O único inscrito foi o Coronel Caixeta e encerramos e encaminhamos a questão da educação. Da próxima apresentação em diante vamos definir um tempo.

Coronel José Caixeta Ribeiro − Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República: Bom dia. É apenas porque a Chiquinha falou da questão das escolas militares e eu queria fazer um pequeno esclarecimento. Na verdade, o sistema de ensino do Exército possui várias escolas. Obviamente, em sua maioria, são escolas específicas de formação da carreira, o que é bem diferente do que nós estamos discutindo aqui. Existe a Escola de Formação de Sargentos, a Academia de Formação de Oficiais, a Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais e várias outras. Mas, eu imagino que essa pessoa que falou com a Chiquinha estava se referindo aos Colégios Militares. Os Colégios Militares existem em várias partes do país e a finalidade deles − porque nós somos transferidos com muita freqüência − é facilitar a continuação dos estudos dos nossos filhos. Mas, eles não são exclusivos para filhos de militares. Eles são abertos. O concurso é aberto a toda a população para a 5ª série do ensino fundamental e para a 1ª série do ensino médio. Só que não é um ensino diferenciado. É um colégio em que o Exército entra com as instalações e, muitas vezes, elas são cedidas pelo governo estadual, com aquela finalidade; o Exército entra com os profissionais na parte administrativa, contrata professores civis, mas o currículo é exatamente o mesmo currículo de uma escola do mesmo nível do MEC. Então, não há nenhuma diferenciação nesse aspecto. A única coisa diferente é que os alunos, além de terem as suas aulas curriculares, participam de algumas solenidades, algumas formaturas com algum caráter militar, mas, é importante frisar que não são escolas diferenciadas.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Obrigado, Coronel. Primeiro, eu queria fazer um encaminhamento em relação à Subcomissão da Educação e, em seguida, definiríamos o encaminhamento para as próximas Subcomissões, por causa do tempo. Com relação ao meu entendimento sobre o que foi apresentado pela Subcomissão de Educação, eu avalio que, pelo relato da Subcomissão e do Representante do MEC, em relação às reuniões anteriores da Subcomissão, houve um avanço significativo e um entendimento bem maior, em relação ao que havia nas primeiras reuniões da CNPI, entre a representação indígena, a FUNAI e o MEC. Acho que só isso já é um sinal muito positivo que reflete o que foi apresentado. Na minha compreensão, o conjunto geral do que foi apresentado não tem divergências, a não ser de tempo. Inclusive, houve um anúncio do MEC de que um dos conceitos que estava sendo colocado pela Subcomissão já foi compreendido pelo MEC como uma questão já resolvida, que é a questão dos territórios etno-educacionais. Acho que esse é um avanço importante. Na nossa percepção, a compreensão do território etno-educacional, realmente, é mais clara, mais nítida e é totalmente coerente com outras políticas, como no caso da saúde. Por exemplo, o Distrito Sanitário Especial Indígena não é nada mais, nada menos, do que uma forma de definição de um território, como

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também o Território da Cidadania, que é uma outra política pública que o governo desenvolve, também baseada numa concepção de território. A outra é a Lei dos Consórcios Municipais, que foi aprovada pelo Congresso e que é uma outra definição desse tipo.

Então, como encaminhamento, eu queria consultar o plenário teria alguma divergência em aprovar, em bloco, o que a Subcomissão apresentou, considerando que houve uma série de avanços e que nós temos que trabalhar agora para que esses avanços continuem, se fortaleçam, se consolidem, e naquilo que estiver ainda pendente, no âmbito da Subcomissão e da própria Comissão, que agora vai ser modificada, a gente continuaria nesse procedimento.

Francisca Navantino (Chiquinha) − povo Pareci: Eu só queria confirmar com o Representante do MEC se avançou também a discussão com as ONGs porque nós também ficamos na expectativa. Eu gostaria de saber qual foi o avanço.

Gersen Baniwa − Ministério da Educação: Houve uma sessão de conversas e eu acho que tem um encaminhamento ainda não fechado porque precisaríamos conversar diretamente com o Ministro, mas há um sinal de, para o ano que vem, reabrir editais de apoio, mas sem abrir mão dessa determinação política do Ministério da Educação de que a responsabilidade da educação básica é dos estados e municípios. A idéia é que os editais permitam que as ONGs, que têm uma tradição rica e histórica interessante na contribuição com a educação escolar indígena no Brasil possam estar fazendo o seu papel complementar, principalmente, na formação complementar, na melhoria da prática pedagógica lá na ponta. O nosso entendimento é que é nisso que os sistemas têm maior dificuldade porque você não consegue um funcionário público que fique uma semana ou 15 dias numa aldeia que está distante cinco dias da sede do município ou do estado. Então, eu acho que há várias ações que as ONGs podem contribuir muito para efetivamente se melhorar a qualidade da educação. Mas, isso ainda não está fechado. Precisamos ainda de uma conversa com o Ministro, mas, no âmbito da SECAD, há um entendimento sobre isso e, nos próximos dias, estaremos conversando com o Ministro sobre isso.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Eu gostaria, então, de submeter ao plenário se está de acordo com esse entendimento que eu propus de se aprovar em bloco, para que a gente possa continuar o processo, que está em curso, de consolidação da política da educação escolar indígena, no âmbito da Subcomissão da Educação, FUNAI, MEC, como está sendo construída nesse momento. Tem alguma posição contrária? Em não havendo nenhuma manifestação, fica aprovada, em bloco, o que a Subcomissão apresentou e os avanços apresentados pelas partes, inclusive, pela Procuradoria, com alguns questionamentos que a Dra. Deborah colocou.

Dando seqüência, e diante do nosso horário e do tempo que nós temos, eu queria fazer uma proposta de encaminhamento. Nós temos ainda as apresentações de cinco Subcomissões e o ponto final da pauta, que é a avaliação dos encaminhamentos. São 12 horas em ponto e considero que a tarde de hoje não é suficiente para a gente cobrir todos esses pontos. Então, eu proponho que a gente pudesse estender a

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nossa reunião até às 13 horas, entrarmos na apresentação da próxima Subcomissão, que é a Subcomissão de Justiça, Segurança e Cidadania e queria propor também, na verdade, foi uma proposta do Caboquinho, que eu avalizo, que a gente defina um tempo máximo para cada Subcomissão. Tem alguma outra proposta?

Participante não identificado: Se a gente saísse agora para o almoço e voltasse às 13h30min não seria melhor?

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Eu até concordo, desde que a gente comece às 13h30min de fato porque eu estava aqui às 8h30min da manhã e não tinha ninguém para começar a reunião. Esse é o primeiro ponto. O segundo ponto é que a gente estabeleça um teto de, no máximo, meia hora para a apresentação de cada Subcomissão.

Deborah Duprat − Ministério Público: Um teto de meia hora, considerando a exposição e as perguntas, eu acho bem razoável. Eu queria sugerir que, como é meia hora, que fosse feita a apresentação dessa próxima Subcomissão de Justiça, Segurança e Cidadania. Nós sairíamos daqui às 12h30min, que é um horário mais razoável em termos de trânsito, e voltaríamos às 14 horas.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: A proposta que eu fiz foi de meia hora para tudo, para a apresentação e perguntas. Agora, estou vendo que há divergências. O Gilberto Azanha é um dos que têm divergência, então, que coloque uma contraproposta.

Gilberto Azanha − Centro de Trabalho Indigenista: Os temas da próxima Subcomissão e das outras subcomissões são tão importantes quanto os das outras subcomissões. É claro que teve uma interrupção extemporânea, mas a Subcomissão de Educação esgotou a sua pauta, teve todo o tempo do mundo para discutir, então, eu acho que todas as subcomissões têm que ter tempo também. Tudo bem que se limite a exposição a 15 minutos, mas a discussão tem que ser livre, não pode ser limitada.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: O que eu estava propondo, para tentar ver se compatibiliza com o que você levantou, o que eu estava propondo foi meia hora como tempo máximo. Nós podemos definir, por exemplo, a exposição de no máximo 10 minutos e teríamos 20 minutos para perguntas. O relatório já está na mão de todos, então, pode ser até menos tempo, cinco minutos para a apresentação e o restante do tempo seria para discussão.

Saulo Ferreira Feitosa − Conselho Indigenista Missionário: É um pedido de esclarecimento. Pareceu-me que, quando a Subcomissão de Educação apresentou o seu relato, a resposta do MEC também já foi dada, então, naquele item da pauta em que haveria as repostas do governo, isso já aconteceu? Não precisamos mais retomar a resposta do governo em relação à educação? Eu estou querendo saber se já foi dada a resposta do governo. Se for assim, nós poderíamos adotar que, no relato das próximas Subcomissões, também seja dada a resposta do governo e esse item sairia da pauta. É assim?

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Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Eu queria só dar um esclarecimento em relação a isso porque é importante. A orientação do governo foi de que, em cada subcomissão, já o governo fosse dando as respostas, tanto que, na Subcomissão de Saúde, também aconteceu isso.

Saulo Ferreira Feitosa − Conselho Indigenista Missionário: Se for assim, ótimo, porque já tem um ponto da pauta − apresentação dos representantes dos ministérios − que já não aconteceria mais, uma vez que isso está seria feito junto com a apresentação das Subcomissões. Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Essa apresentação final do encaminhamento dos ministérios é muito mais para a gente apresentar uma avaliação final das respostas que foram dadas. Eu vou dar um informe de que isso não é uma coisa que fica por aqui. Nós vamos ter uma permanência desse sistema de acompanhamento e monitoramento que eu vou fazer, que foi o que o Presidente determinou.

Saulo Ferreira Feitosa − Conselho Indigenista Missionário: Qual é o seu tempo para fazer isso?

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Esse tempo é curtíssimo. É uma coisa bem breve.

Saulo Ferreira Feitosa − Conselho Indigenista Missionário: O outro ponto é a questão da conjuntura. Quando o Gilberto falou da sua preocupação, na questão da segurança, por exemplo, muitas questões são de conjuntura e nós nem tratamos na subcomissão porque entendemos que entrariam na conjuntura. Então, esse exercício nós teríamos que fazer. Ou a gente, ao tratar da subcomissão, insere as discussões de conjuntura, ou vamos fazer isso num outro tempo. Por exemplo, se for ter um momento para a conjuntura, a Subcomissão de Segurança precisaria de apenas 10 minutos para tudo, apresentação e esclarecimentos. Depois, discutiríamos na conjuntura. Agora, se não for haver um aumento da conjuntura, vamos precisar de um tempo maior. Então, é bom que tenhamos essas questões definidas para a gente se organizar até ao final do dia. Vamos manter o momento da conjuntura? Então, se vamos manter, eu faria a proposta de que, para cada Subcomissão, fosse destinado um tempo de 10 minutos para apresentação e esclarecimentos. Depois, discutiríamos tudo na conjuntura.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Bom, tem opiniões um pouquinho diferentes, mas eu considero que dá para compatibilizar. Como a orientação geral que nós demos foi no sentido de que a cada apresentação de Subcomissão o governo já traria as respostas, que é como tem sido feito, eu sugiro que a gente estabeleça um tempo para cada Subcomissão e que, nesse tempo, se discutisse tudo, inclusive, a conjuntura. Nós já estamos fazendo isso. Na questão de terras, por exemplo, nós fizemos isso. Dessa forma, ao final, nós só teríamos a avaliação final e a minha apresentação, que é muito breve sobre como vamos fazer esse monitoramento daqui para frente. Então, nós teríamos que definir quanto tempo para cada Subcomissão. Essa é um pouco a preocupação do Gilberto.

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Saulo Ferreira Feitosa − Conselho Indigenista Missionário: Diante dessa proposta, eu não concordo com a sugestão da Dra. Deborah de fazer agora a apresentação da Subcomissão de Segurança porque não vai dar tempo para esgotar a questão da conjuntura.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Então, vamos parar agora para o almoço, voltamos às 13h30min e definimos um tempo para cada apresentação.

(Falas fora do microfone)

O Saulo propôs que a gente pare agora para o almoço, volte às 13h30min e teríamos, então, esse encaminhamento de estabelecer um tempo para cada Subcomissão. Vamos tentar definir logo, senão, vamos passar todo o tempo discutindo aqui. Então, dando um encaminhamento final, nós vamos almoçar, voltar às 13h30min e teríamos uma margem de meia hora para a discussão de cada Subcomissão.

Dia 19 de setembro de 2008 - Tarde

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Eu dei uma tolerância de 15 minutos e vamos começar a nossa reunião com quem estiver aqui. Vou passar a palavra à Subcomissão de Justiça, Segurança Cidadania. Só para relembrar, são agora 13h47min. Nós vamos dar meia hora para a Subcomissão de Justiça, Segurança e Cidadania, sendo que será uma apresentação breve, com o debate já apresentando as respostas do governo e a análise da conjuntura. Então, a palavra dada à Subcomissão de Justiça, Segurança e Cidadania.

Sandro Emanuel Cruz dos Santos − Relator da Subcomissão de Justiça, Segurança e Cidadania: Boa tarde a todos. Eu queria que tivesse mais gente aqui neste momento porque falar da nossa Subcomissão de Justiça, Segurança e Cidadania é lembrar um pouco o que nós estamos enfrentando hoje sobre a questão da criminalização das lideranças. Eu queria pedir encarecidamente a todos os Membros da CNPI, que a gente pudesse, em memória do meu parente, candidato a vereador Índio Mozani, recentemente assassinado, a gente fizesse um minuto de silêncio e, posteriormente, daríamos continuidade aos trabalhos da nossa Subcomissão. Queria que todos ficassem de pé, por gentileza.

(Um minuto de silêncio em memória do Índio Mozani)

Obrigado. É com muita dor que a gente faz essa homenagem ao parente Mozani e ficamos nos perguntando até quando, na CNPI, vamos estar fazendo homenagens aos nossos mártires. Eu acho que já houve dois momentos na CNPI em que fizemos esse tipo de homenagem. O outro momento, se me recordo bem, foi em memória do parente Guarani Kaiwá, lá do Mato Grosso do Sul, parente Ortiz, e

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agora estamos fazendo isso, mais uma vez, em memória do nosso parente Mozani. Esse é o grande obstáculo do movimento indígena, o grande obstáculo dessa CNPI, para reverter tudo isso.

Seguindo a minha fala, eu vou começar citando os participantes que estiveram presentes na nossa Subcomissão e tentar ser o mais breve possível. Estiveram presentes na Subcomissão: a Marcela Andrade Soares, da FUNAI; o Paulo Celso de Oliveira, que é parente Pancararu e Coordenador da CGDDI; o Coronel José Caixeta Ribeiro do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República; a Eloísa Solino Evelyn, do Ministério do Desenvolvimento; o parente Élcio, que não está aqui hoje. E, como convidados, estavam presentes: o Coronel Marinho e, como liderança indígena, o nosso parente Anastácio Peralta e eu. Como representante da sociedade civil, estava presente o Saulo Feitosa.

Mais uma vez, a nossa Subcomissão não conseguiu avançar muito, por não termos conseguido realizar os devidos encaminhamentos solicitados pela FUNAI. O parente Paulo Pankararu, da Coordenação da CGDDI, enfatizou bem que tentou encaminhar várias coisas e uma das respostas desse encaminhamento foi a ação bastante positiva que a FUNAI teve no sentido da criação do Observatório Indígena, com o intuito de melhorar a assistência aos povo s indígenas na questão da promoção dos direitos. Mas, os devidos encaminhamentos não foram feitos da forma como deveriam ter sido feitos. Mais uma vez, não temos resposta do DEPEN e também não temos resposta ainda, por parte da FUNAI, sobre o encaminhamento que foi solicitado à AGU sobre a questão da criação de uma Defensoria Pública.

Mas, uma coisa bastante positiva na nossa Subcomissão foi a participação do Ministério da Defesa, na pessoa do Coronel Marinho. Ele veio atender à solicitação feita por esta Subcomissão sobre o posicionamento do Ministério da Defesa em relação às terras indígenas em faixa de fronteira, dados os depoimentos realizados isoladamente, como ele frisou muito bem, por parte de algumas pessoas da Força. Foram depoimentos chocantes, afirmando que as terras indígenas em faixas de fronteira constituem uma ameaça à soberania nacional, a paz no campo e outras coisas mais. O Coronel Marinho definiu o conceito de soberania. Ele disse que não tem um conceito formal adotado, mas foi utilizada a definição adotada por vários estudiosos, em que se diz que “a soberania é o poder supremo do Estado, de se organizar sem interferência de outro Estado”. Ele fez menção à questão das terras indígenas e frisou muito bem que, segundo ele, a própria fala do Ministro da Defesa é no sentido de que a questão das terras indígenas em faixa de fronteira é compatível com a soberania nacional. Ele frisou isso mais uma vez e nos trouxe certa tranqüilidade com esse posicionamento oficial por parte do Ministério da Defesa. Além disso, ele disse que todo e qualquer posicionamento contrário à fala do Ministro deveria ser desconsiderado e que as pessoas da Força que tivessem esse posicionamento iriam ser cobradas por parte do Ministério, já que o representante maior definiu claramente essa postura como sendo uma postura do governo. Isso é bom para a nossa luta também. Então, a presença do Coronel Marinho foi vista com muitos bons olhos, dada essa justificativa sobre essa questão.

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Infelizmente, os outros encaminhamentos que foram feitos e acordados por parte da nossa Subcomissão − e que todos vocês têm, por isso, não vou ler todo o documento − só tivemos um encaminhamento que nós entendemos que é necessário que haja uma reunião, sobretudo, com o Presidente da FUNAI para nós acordarmos algumas coisas. Então, nós solicitamos à CNPI que viabilize uma reunião da Subcomissão de Justiça, Segurança e Cidadania, entre os dias 18 a 20 de novembro, de 2008. Colocamos essa data com o pensamento de logo em seguida termos a reunião da CNPI para que possamos fazer encaminhamentos mais sérios e mais decisivos. Nós estamos sentindo que a nossa Subcomissão não está conseguindo avançar. Essa falta de informação é muito séria e entendemos que, numa tarde apenas, não será possível avançarmos da forma como nós queremos. Então, está se propondo uma reunião de um dia e meio, entre os dias 18 a 20 de novembro, com o Presidente da FUNAI, a fim de que sejam prestados esclarecimentos e discutidos os temas presentes na Subcomissão, que sejam de responsabilidade daquele órgão federal indigenista. Para a referida reunião, seria convidado o Ministério Público Federal e outras entidades, pessoas que possam ajudar na busca de soluções para as demandas da Subcomissão. Demandas essas, como aquela que já foi apontada na última reunião, sobre a necessidade de ter tradutores quando os parentes forem ouvidos em qualquer processo, considerando os casos freqüentes que acontecem lá no Mato Grosso do Sul. Então, nós estamos pegando a questão do Mato Grosso do Sul como eixo porque nós sabemos que é gritante. Nós conseguimos sentir isso com muito mais força na reunião preparatória que nós tivemos, até com a participação do nosso Presidente. A Subcomissão se reunirá com o Presidente da FUNAI, na véspera da reunião, ocasião em que será detalhada a pauta da reunião, quando também ocorrerá a utilização da ferramenta de monitoramento, disponibilizada pela senhora Fabiana. Nós entendemos que, para fazermos os encaminhamentos necessários, tem que haver essa reunião. Apelamos para que o Presidente possa tentar ver sua agenda e podermos sentar para que, na última reunião do ano, nós possamos fazer encaminhamentos precisos e mais seguros para o ano que vem. Até porque, nós precisamos dar essa resposta. Como eu falei, nós estamos lembrando aqui o assassinato de um parente indígena. Os índios querem ouvir uma resposta. Até quando esses casos vão ocorrer e vão ficar impunes? Até quando nós vamos ter nossos parentes no sistema prisional sem nenhum acompanhamento, sem nenhuma especificidade? O Saulo frisou muito bem na reunião que lá no Mato Grosso do Sul não se dá nenhuma atenção especial aos parentes. Eles ficam lá à revelia dentro dos presídios e não são ouvidos, no seu julgamento, com a devida tradução. Então, nós temos que dar uma resposta e fazer os encaminhamentos necessários pela nossa Subcomissão para que, no final desse ano, nós possamos trazer minimamente uma resposta para o movimento indígena.

Passo a palavra para os outros companheiros da nossa Comissão que queiram acrescentar algo que eu tenha esquecido.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Antes de passar a palavra aos outros Membros da Subcomissão, eu queria lembrar que já completaram 10 minutos de apresentação. O Gersen pediu para dar um informe porque ele vai ter que se ausentar.

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Gersen Baniwa − Ministério da Educação: É porque nós estamos num trabalho intenso de preparação da Conferência e, de vez em quando, a gente tem que sair para uma reunião lá no Gabinete do Ministro. Eu queria dar uma informação relevante porque, ontem à tarde, exatamente por conta desse compromisso no Ministério, eu não estive aqui. À noite, eu fiquei sabendo que foi lida uma carta de profissionais advogados indígenas em que consta referência ao Centro Indígena de Estudos e Pesquisas − CINEP. Eu queria informar a todos, principalmente aos parentes indígenas e às lideranças das organizações da APIB, que o CINEP é uma organização de profissionais indígenas e lideranças ligadas à APIB e a assinatura que consta é uma incorporação indevida, sem o conhecimento da direção do CINEP. Internamente, já tomamos as devidas medidas. Aqui não entro no mérito da intenção e nem o valor do ofício, mas gostaria de ressaltar apenas que não foi com o consentimento da diretoria da qual eu sou o dirigente fixado aqui em Brasília porque os outros colegas estão nas outras regiões. Então, eu queria apenas informar que as prioridades do trabalho do CINEP e do Observatório, que é do CINEP, é feito estritamente com a APIB e com as lideranças e organizações indígenas. Tanto é que vocês não estão acostumados a ver nem ofício e nem mensagem do CINEP porque quem tem que fazer isso é o movimento indígena. Nós somos de suporte. Agora mesmo estamos com 25 lideranças fazendo um curso de formação política na UNB. Nós somos apenas prestadores de serviço, não somos tomadores de decisões. Se tivermos que contribuir com alguma coisa com o movimento, eles é que têm que demandar, conversar conosco e estamos à disposição para contribuir. Agora, como tem companheiros nossos no CINEP e no Observatório, que também pertencem a outras redes, é isso que, às vezes, faz essa confusão. Era apenas para esclarecer. Nada mais do que isso. Até acho que não precisamos falar sobre isso porque, no meu entendimento, isso é uma coisa clara no movimento indígena. Só estou dizendo que isso não foi rompido porque apareceu numa carta. É só para ficar muito claro e muitos acompanham a nossa luta na APIB e no movimento indígena. Não estou entrando no mérito da questão do conteúdo. Era só isso.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Eu só queria dizer que eu abri esse informe, mas esse assunto não vai entrar em discussão. Se tiver alguma questão sobre isso, que seja conversada diretamente com o Gersen para a gente poder continuar a nossa agenda. Tem mais alguém da Subcomissão de Justiça, Segurança e Cidadania que queira complementar a apresentação.

Sandro Emanuel Cruz dos Santos − Relator da Subcomissão de Justiça, Segurança e Cidadania: Eu queria fechar a minha fala ainda porque eu esqueci de uma coisa muito importante. Em nome da Bancada Indígena do Nordeste e do Leste, nós queremos fazer um apelo à CNPI para que repensemos a data da Oficina sobre o Estatuto, lá em Recife. Estamos bastante preocupados porque a Oficina está para acontecer agora no dia 24. Nós já vimos algumas preocupações que foram apresentadas pelo parente Luis Titiah. Esse processo da questão dos índios Pataxó Hã Hã Hãe não é diferente da questão da Raposa Serra do Sol, tem a mesma importância e deve ser dado o devido valor e o devido respeito por parte da nossa Comissão Nacional de Política Indigenista. Seria muito complicado os índios estarem enfrentando esse momento que vai incidir nas nossas vidas, não só no processo da Raposa Serra do Sol, mas também em todos os processos futuros de demarcação das terras do movimento indígena, e nós estarmos lá discutindo políticas. Então, para que não se perca toda a articulação que já foi feita, uma vez que, o

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julgamento de Pataxó Hã Hã Hãe está marcado para o dia 25, e a Oficina começa no dia 24, lembrando que quando nós programamos essa data, não tinha nada marcado ainda para o julgamento de Pataxó Hã Hã Hãe. Por isso, nós pedimos aqui que o Presidente da FUNAI possa ajudar a APOEMA a trazer lideranças representativas para fazer o contraponto nesse momento. Seriam lideranças que enfrentaram os mesmos problemas, ou problemas parecidos, ou que enfrentam até hoje. De certa forma, faríamos uma coisa parecida com o que foi feito com Raposa. Nós temos que nos mobilizar dessa forma.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Só tentando já ser mais objetivo, porque, senão, nós não vamos cumprir o nosso tempo, eu queria dizer que esse assunto eu já estou tratando diretamente com o Titiah, com os Pataxó Hã Hã Hãe e nós estamos dando apoio à vinda dos Pataxó Hã Hã Hãe para acompanhar a sua questão no dia 24. Nós estamos acompanhando isso e dando todo o apoio. Com relação à mudança da data da Oficina, por mim, não tenho nenhuma objeção, até porque, é uma questão plenamente justa. Mas temos que ver o encaminhamento disso com a Secretaria Executiva e com a Subcomissão para ver se é possível fazer isso porque nós já estamos em cima. Vamos dar continuidade.

Saulo Ferreira Feitosa − Conselho Indigenista Missionário: Complementando, a questão da reunião, que o Sandro colocou, nós já poderíamos fechar essa proposta da reunião entre os dias 18 e 20. Na verdade, faríamos uma reunião no dia 19 à tarde, só com os membros da Subcomissão e no dia 20 seriam os membros da subcomissão e convidados. Depois da apresentação do Programa Nacional de Segurança com Cidadania, nós poderíamos convidar o Coordenador do Programa, o Presidente da FUNAI, a Dra. Deborah e outras pessoas que estivessem envolvidas no processo para já terminarmos a reunião no dia 20 com uma proposta e um desenho de transformação dessa proposta num programa a ser apresentado ao Pronasci. Acho que nós poderíamos estar definindo essa data. O Márcio poderia já estar vendo a agenda dele e consultar a agenda do Professor Ronaldo e também do Diretor do DEPEN para a gente sair com algumas coisas definidas. Senão, terminamos o ano e não avançamos. A proposta é que a reunião seria nos dias 19 (reunião só da Subcomissão, à tarde) e 20 (reunião de trabalho).

Há outras questões de conjuntura que não foram pautadas na Subcomissão porque, na pauta, tinha um momento da conjuntura e não vai ter mais. Então, eu me vejo na obrigação de estar colocando essas questões aqui. O Sandro começou fazendo referência ao assassinato do Mozani. O Mozani foi assassinado dentro de um contexto de luta pela terra do povo indígena Truká. Apareceu no noticiário nacional, como sendo candidato a vereador, como se fosse um crime em função da campanha eleitoral. Essa também pode ter sido uma das motivações, mas o Mozani era a principal testemunha de acusação contra quatro policiais militares de Cabrobó que assassinaram outra liderança Truká em 2005, que foi o Dena. Então, não tem como se desconsiderar esses fatores. Nesse assassinato de 2005, todo o inquérito é viciado porque a Comarca é de Cabrobó, os policiais que assassinaram o Dena e o filho dele faziam a proteção do promotor, então, lá não contamos com o Ministério Público Estadual. Eles eram guarda-costas do Promotor. O Mozani era testemunha de acusação, porque ele viu, assim como outras 600 pessoas, mas o Mazani já tinha feito o depoimento no processo, tinha sido a única testemunha ouvida e,

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certamente, seria a principal testemunha do júri. O assassinato foi num final de semana e, como ele foi sepultado só dois ou três dias depois, eu consegui chegar a tempo do sepultamento. Lá, nós ficamos sabendo das informações. O assassino foi preso porque os índios correram atrás do assassino, cercaram-no no mato e conseguiram prendê-lo. O cara era um pistoleiro, estava com armas utilizadas para esse tipo de assassinato, estava usando várias camisas para facilitar a fuga, estava fugindo em direção à caatinga, que ele conhecia bem, mas, no momento em que foi preso, ele disse que a motivação era pessoal porque, durante uma retomada de terras em 1999, ela funcionário de uma fazenda e teria havido desavença entre ele e a vítima. Então, ele assumiu a responsabilidade do crime, mas com a característica de crime de pistolagem. O processo do Mozani vai agora para a Justiça comum, na Comarca de Cabrobó, onde já tem o outro processo do Dena. Então, é uma situação que a gente não sabe como acompanhar. Os próprios Procuradores da FUNAI lá em Pernambuco têm dificuldade de segurança para se deslocar para Cabrobó, porque é uma área extremamente violenta há mais de 600 km de Recife, e ninguém está dando a devida atenção ao caso. Além disso, um dos índios que correu atrás do assassino já teve a sua casa cercada na noite do sábado da outra semana. Então, nós temos que acionar o Programa de Proteção a Testemunhas, inclusive. Eu não sei como a CNPI pode se envolver mais nessa situação porque os Truká estão, de fato, isolados. Nós temos procurado articular as entidades de direitos humanos lá em Pernambuco, algumas estão envolvidas, mas a distância e a dificuldade mesmo da violência do Sertão Pernambucano tornam difícil dar apoio aos Truká nesse momento. Então, eu acho que nós teríamos que pensar, aqui na CNPI, como estar envolvendo a Secretaria de Direitos Humanos, onde está esse Programa de Proteção à Testemunha, no que é que a FUNAI pode se envolver mais, enfim, temos que ver o que fazer.

Em relação ao assassinato do Dena, agora, uma advogada do CIMI conseguiu ser admitida como assistente de acusação. Só que ela vai ser assistente do tal promotor que era protegido pelos assassinos. Então, não sei como é que vai se dar isso. É por isso que eu estou mostrando a complicação desses casos. Nós temos que ver esses crimes como estando relacionados. Eu estou pegando os dois de 2005 e esse agora porque são os mais recentes, mas os Truká têm uma onda de assassinatos muito grande. Depois dessa minha ida lá aos Truká, eu até fiz um texto contextualizando a luta dos Truká e o Jornal Porantim publicou. Aqui também tem o assassinato do indígena Xakriabá. Aliás, do final do ano passado para cá, esse também é o terceiro assassinato de índios Xakriabás, em Minas Gerais. No único júri que houve até agora o assassino foi absolvido. Foi caracterizado como crime de racismo. O índio assassinado foi espancado por um grupo da cidade e só um era maior de idade. Ele foi a júri e foi absolvido.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Só para lembrar que nós estamos só com mais 10 minutos para concluir o tempo que nós estabelecemos.

Saulo Ferreira Feitosa − Conselho Indigenista Missionário: Pois é, mas eu não sei como é que nós vamos deixar de tratar dessas questões. Então, fizemos esse link com Minas Gerais e Pernambuco e agora temos essa outra realidade do Mato Grosso do Sul. Nós até já tivemos a oportunidade de tratar esse questão do Mato Grosso do Sul com a Presidência da FUNAI. Só que, a reação que está havendo no momento, no

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Mato Grosso do Sul, intensifica a violência e há necessidade também de proteção. Eu não sei a quem nós vamos recorrer para que, nessas áreas, você tenha mecanismos que possam facilitar um mínimo deslocamento dos índios. Eu não sei que mecanismos vão ser esses que nos vamos estar buscando.

Se a nossa Subcomissão só vai voltar a se reunir em novembro, ela também vai ter pouca eficiência para ações urgentes. Agora, nós que ficamos aqui em Brasília, tanto os órgãos governamentais como as entidades de apoio, poderíamos estar pensando em como estar acionando alguns Ministérios que estejam mais diretamente envolvidos com esses mecanismos de proteção, e a gente poder relatar melhor esses casos. Eu até me comprometo a fazer uma síntese das situações e buscar informações de como estão os inquéritos, os processos, e também das ameaças que estão surgindo lá no Mato Grosso do Sul. O Anastácio colocou a situação dele, no primeiro momento, mas nós teríamos que ver outras lideranças também lá para que elas se sintam protegidas.

O Sandro falou a situação do Ortiz e sempre que se fala desse caso eu fico bastante incomodado porque o Ortiz estava em Brasília, conversou comigo lá no CIMI e me disse que as três lideranças da aldeia dele estavam presas, que ele estava sendo obrigado a assumir a função de liderança, mesmo sem ele ser liderança daquele povo , e que ele achava que poderia ser assassinado. Insistiu até para eu ir lá e fazer uma reunião com a comunidade porque a comunidade queria fazer uma ocupação de terras e ele achava que não deveriam. Eu disse que naquela ocasião não teria condições porque estava com uma viagem marcada. Enfim, ele voltou e foi assassinado. Ele dizia que ele estava bastante ameaçado. Às vezes, a gente relativiza as ameaças. Agora, é o Anastácio que está dizendo que está ameaçado. São muitas pessoas que nós conhecemos, que fazem esse relato, mas, até porque são tantas pessoas dizendo que podem ser assassinadas que a gente acaba se acostumando a ouvir e não toma providência nenhuma. Agora, uma coisa é a gente não tomar providência enquanto indivíduo. Mas, a CNPI, sabendo dessas situações e não tomar providências é bastante grave. Então, eu estou querendo mais problematizar e espero que, conjuntamente, nós possamos pensar algumas medidas e tomar atitudes urgentes.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Diante do curto tempo, eu queria ver se tem alguém que queira complementar o relato da Subcomissão e a avaliação de conjuntura que foi feita, para que a gente possa, nesse caso específico, na ausência do Titular do Ministério da Justiça, só a Suplente é que está aqui, eu vou dar respostas de encaminhamento dessa questão, como FUNAI.

Francisca Navantino (Chiquinha) − povo Pareci: Eu queria só tirar uma dúvida em relação ao Programa de Proteção. O que está acontecendo? O pessoal da Subcomissão está insistindo muito nessa questão do Programa de Proteção e o problema de segurança que se tem no Brasil de uma maneira geral. Eu queria saber o que é que está, de certa forma, obstruindo a não inserção dos índios nesse programa. A gente vê isso com extrema preocupação.

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Lylia da Silva Guedes Galetti − Ministério do Meio Ambiente: Pode ser até uma questão de ignorância minha. A Lei Afonso Arinos ampara o preconceito contra os índios? Até onde eu conheço, não. Não. Então, acho que seria o caso de fazer um Projeto de Lei. Talvez fosse o caso de botar isso em prática.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Eu vou tentar responder, comentar e encaminhar ao mesmo tempo. Primeiro, com relação ao próprio Relatório da Subcomissão, eu quero propor que a gente encaminhe a aprovação em bloco do Relatório da Subcomissão. Acho que aconteceram momentos importantes na reunião da Subcomissão, sobretudo, a presença do Representante do Ministério da Defesa. Acho que os esclarecimentos que foram dados são muito importantes.

Com relação aos pontos que foram colocados, eu vejo que muito deles podem, e devem, ser contemplados pelo Pronasci, que foi apresentado aqui ontem pela manhã. O Pronasci tem recursos e o Ministro da Justiça já manifestou para mim, como Presidente da FUNAI, que ele quer que a FUNAI assuma também uma parte nesse programa. Eu me posicionei que a FUNAI quer sim, mas eu gostaria de ter justamente essa apresentação aqui na CNPI para que a própria CNPI e a Subcomissão de Justiça, Segurança e Cidadania pudessem levar essa proposta. Então, eu queria sugerir que a gente juntasse essas duas coisas. Ou seja, a reunião proposta pela Subcomissão para novembro, pudesse ser uma reunião em que a gente juntasse essas duas coisas e ter, nessa reunião de novembro, a presença do Coordenador do Pronasci, junto com o DEPEN, junto com a Secretaria Especial de Direitos Humanos, a FUNAI para que nós pudéssemos já elencar os pontos em que o Pronasci possa se apropriar e incluir no programa, a partir da entrada da FUNAI e da CNPI no Pronasci. Esse é um primeiro ponto. O Pronasci é a resposta do governo para essas questões da Subcomissão e nós trataríamos disso nessa reunião.

Com relação a essas questões mais emergenciais, dos assassinatos e da situação do Mato Grosso do Sul, além da aprovação de uma Nota da CNPI que já foi aprovada aqui e o texto já está sendo distribuído para que ela seja encaminhada formalmente para a sociedade do Brasil como um todo e do Mato Grosso do Sul em especial, eu queria sugerir que os Membros da Subcomissão que permanecem em Brasília, junto com a FUNAI, bem antes de novembro, já agora na seqüência da nossa reunião, pudéssemos ter uma conversa sobre os encaminhamentos emergenciais que precisam ser feitos em relação à proteção de algumas pessoas dentro do Programa de Proteção. Seria uma reunião da FUNAI com esses Membros da Subcomissão que ficam aqui em Brasília para que a gente possa dar continuidade ao nosso trabalho de forma emergencial. Eu entendo que, dessa forma, a gente pode dar um encaminhamento, até em função das sugestões que vieram da Subcomissão também e que a gente possa ter essa conversa logo, com a Secretaria de Direitos Humanos, a FUNAI e os Membros da Subcomissão que ficam em Brasília. Então, se eu entendi, acho que esses seriam os encaminhamentos fundamentais, para a gente poder dar continuidade. No médio prazo, teríamos a reunião de novembro porque nós temos todas as possibilidades de sermos incluídos no Pronasci dentro de várias das propostas que foram colocadas aqui.

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Eu queria saber se, dando esses encaminhamentos, nós estamos contemplando os pontos que foram colocados e respondendo às coisas que foram colocadas.

Olga Cristina López Ibanez Novion − Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão: Eu concordo com esse seu encaminhamento e só quero lembrar que a pessoa do Pronasci que veio ontem aqui disse que havia dinheiro que não tinha sido empenhado. Então, eu acho que é urgentíssimo a gente aproveitar essa composição toda que você está colocando e aproveitar a vontade do Pronasci de fazer e, considerando que eles têm dinheiro, para começarmos a tratar imediatamente dessa questão, ainda este ano, antes que fechem as torneiras todas do exercício.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Exatamente. Eu até comentei isso no intervalo. Vocês viram que o Coordenador do Pronasci expôs ontem aqui para nós que ainda existem 100 milhões de reais disponíveis no orçamento de 2008 do Pronasci. Então, eu acho que, nessa reunião de emergência que nós vamos fazer, nós já poderíamos tratar desse assunto com o Coordenador do Pronasci para ver se já usamos parte desse recurso para alguma ação emergencial que seja necessária. Boa lembrança da Olga.

Como nós já estamos no limite da meia hora que estabelecemos, queria consultar o plenário se estamos de acordo e se alguém tem algum ponto para acrescentar em relação aos encaminhamentos que eu sugeri.

Saulo Ferreira Feitosa − Relator da Subcomissão de Justiça, Segurança e Cidadania: Concordamos e estou querendo já amarrar uma data para essa reunião emergencial.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Eu só não estou amarrando uma data porque eu não tenho controle aqui sobre a minha agenda, nem da agenda do Professor Nado e do Diretor do DEPEN. Então, eu sugiro que essa data possa ser definida o mais rapidamente possível e nós poderíamos − FUNAI e a Subcomissão − verificar essa agenda o mais rapidamente possível.

Saulo Ferreira Feitosa − Relator da Subcomissão de Justiça, Segurança e Cidadania: Concretamente, vendo que esta semana tem o julgamento dos Pataxó, teria que ser a partir da outra semana, a partir do dia 29.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Exatamente. Eu sugiro, Saulo, que numa conversa na semana que vem, na segunda-feira, eventualmente, a gente possa ver essa data nas agendas. Nós vamos definir uma data em comum acordo.

Então, está aprovada em bloco a proposta da Subcomissão e eu estou considerando que a Nota em relação ao Mato Grosso do Sul já foi aprovada, o conteúdo da Nota está distribuído e, se não houver nenhuma manifestação contrária, essa Nota já estará aprovada para divulgação adequada.

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Luiz Vieira Titiah – povo Pataxó Hã Hã Hãe: Em nome do povo Pataxó, eu queria que esta Comissão tirasse um documento também em apoio ao julgamento que vai acontecer no dia 24.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Sugiro, então, que a Subcomissão elabore um texto de apoio para ser apresentado à plenária até ao final da tarde ainda para a gente aprovar. É uma sugestão prática. Alguém da Subcomissão tem que elaborar um texto para que a gente possa aprovar até ao final da nossa reunião.

Luiz Vieira Titiah – povo Pataxó Hã Hã Hãe: Sinto-me contemplado, então.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Vamos passar, então, para a próxima Subcomissão, que é a Subcomissão de Etno-Desenvolvimento.

Aderval Costa Filho − Relator da Subcomissão de Etnodesenvolvimento: Coordenamos a Subcomissão do Etnodesenvolvimento, eu, Aderval Costa Filho do MDS e a Simone, representando a Bancada Indígena. Estiveram presentes na reunião da Subcomissão: o Titiah, a Simone, o Donizete, por parte das representações indígenas, eu e o Henrique Cavaleiro, do MDS, o Ivan, da FUNAI, o André do MDA e o Quenes Chaves, do Ministério do Trabalho e Emprego.

O primeiro ponto de pauta foi com relação ao Seminário Nacional de Etnodesenvolvimento Indígena. Após uma série de discussões sobre a proposta do Seminário, que já foi adiado por duas vezes, por conta de agenda e de outras prioridades, deliberou-se pelo indicativo da realização do mesmo em março de 2009. Foram acordados os seguintes passos até à sua realização:

1. Levantamento de programas e ações governamentais estratégicas relacionadas ao etno-desenvolvimento para os seguintes eixos temáticos, que são os mesmos pactuados desde o início da subcomissão: gestão ambiental e territorial; proteção e revitalização de conhecimentos e práticas tradicionais; educação e sustentabilidade ambiental; fomento à produção e geração de renda; fortalecimento institucional; controle social; etno-desenvolvimento e impacto de obras e empreendimentos; políticas sociais; e integração de ações nos territórios.2. Realização de uma Reunião Extraordinária da Subcomissão, reunindo gestores dos principais programas estratégicos, para se redesenhar ou aprimorar o desenho do Seminário Nacional. A previsão de data é nos dias 18 e 19 de novembro.

O segundo ponto de pauta a proposta de criação de um Fundo Nacional de Sustentabilidade dos povo s Indígenas. Esse fundo já havia sendo discutido no âmbito da subcomissão e foi também um dos indicativos na reunião ordinária da CNPI em que esteve presente o Presidente Lula. A proposta seria visando uma maior integração das ações governamentais para povo s indígenas e também facilitar o acesso e gestão de recursos públicos para organizações indígenas e indigenistas. A idéia é tentar unificar

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uma série de programas e ações em um único Fundo, de âmbito nacional, que possibilite a execução direta, nas linhas de atuação acima descritas.

Ainda ficaram patentes algumas questões. Uma delas é a necessidade de fortalecer os órgãos que têm mandato para atuar com a questão indígena, particularmente, a FUNAI; propor um desenho de Fundo, de gestão compartilhada, a partir das experiências elencadas, eleitas e avaliadas, sob o ponto de vista do fluxo, da lógica, de acessibilidade, de facilidade de gestão, enfim, os princípios básicos; a necessidade de começarmos um diálogo no sentido de flexibilizar o acesso e a gestão de recursos públicos pela sociedade civil. Os processos estão se engessando cada vez mais e a sociedade civil não está tendo facilidade de fazer a gestão de recursos dentro dos mecanismos existentes, sobretudo os critérios jurídicos formais, instrumentos e tudo mais.

A proposta vai ser aprimorada pelos membros da Subcomissão e apresentada depois para avaliação da CNPI. Portanto, nesse ponto, nós não fomos conclusivos. Nós só retomamos a discussão e adiantamos um pouco, aprimorando a lógica e a seqüência, ou seja, os passos que precisam ser dados para podermos propor algo mais consistente e integrador.

O terceiro ponto da pauta é com relação à instituição do Grupo de Trabalho Interministerial para a elaboração de uma proposta de Política Nacional de Gestão Ambiental das Terras Indígenas. É a Portaria Interministerial − Ministério da Justiça e Ministério do Meio Ambiente − Nº. 276, de 12 de setembro. Todo mundo tem a Portaria porque ela foi reproduzida e distribuída. A Portaria 276 institui o GTI. Na Subcomissão não há nenhuma discordância quanto ao mérito dessa Portaria. Há, inclusive, concordância com relação à composição. São três membros da FUNAI, três membros do Ministério do Meio Ambiente e seis membros da CNPI, sendo dois da região norte e os demais das outras regiões. Então, com relação à composição do GTI, não há nenhum dissenso. Mas, nós achamos, e isso foi consensual, de que não está claro, sobretudo, em relação aos procedimentos de consulta, de qual é a participação da Subcomissão de Etno-Desenvolvimento e de Terras Indígenas com relação aos conteúdos do projeto ou da pré-proposta. Além disso, depois que ela seguir para consulta, não está claro aqui no Decreto de que ela vá voltar à CNPI, com as contribuições regionais, para ser apreciada e aprovada no âmbito desta Comissão.

Então, a sugestão é que se incluam um inciso e um artigo na Portaria Interministerial. Seria o Inciso III do art. 4º, nos seguintes termos: “Os produtos previstos neste artigo, bem como a proposta preliminar de Política Nacional de Gestão Ambiental de Terras Indígenas serão submetidos à apreciação e validação nas Subcomissões de Etno-Desenvolvimento e de Terras Indígenas, da CNPI”. O artigo a ser incluído seria o seguinte: “A proposta de Política Nacional de Gestão Ambiental em Terras Indígenas será apreciada e validada em reunião ordinária da CNPI para, somente após, ser encaminhada para fins de assinatura de Decreto”. Nisso está, de certa forma, subentendido no art. 4º, quando se diz que, em 60 dias, o GTI vai apresentar uma proposta de metodologia e um cronograma para as consultas públicas. Isso está subentendido, mas a Subcomissão achou por bem deixar mais claro de que essa proposta

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preliminar, antes de ir para a consulta pública, deverá ser avaliada pelas Subcomissões de Etno-Desenvolvimento e de Terras Indígenas, para depois seguir para as consultas públicas. E inserimos uma artigo, após o artigo 5º., deixando claro que os resultados finais com a consolidação da proposta viriam para a CNPI para serem apreciados em reunião ordinária.

Além disso, nós fizemos uma leitura atenta da proposta de consulta sobre o Estatuto do Índio: os componentes de exploração florestal madeireira, proteção das terras indígenas e atividades produtivas. Além da manhã da reunião das Subcomissões, nós gastamos a tarde toda avaliando ponto a ponto e já passamos para a Secretaria-Executiva, que vai passar depois para a Subcomissão que está tratando disso, para tentar aprimorar o roteiro de perguntas e observações relacionadas à consulta que começa na semana que vem. Então, eu não vou entrar no mérito. Está aí no relatório e não vou ler para não dar tempo. O Saulo já está fazendo a compilação dessas contribuições do grupo. São questões adicionais e algumas retificações nas questões já propostas.

Por fim, o André anunciou que, entre o final de novembro e início de dezembro, será realizado um seminário sobre a ATER Indigenista, com a finalidade de troca de experiências e institucionalização dos trabalhos. Então, a proposta seria de que todos os projetos que estão sendo apoiados no âmbito do Ministério do Desenvolvimento Agrário e os parceiros envolvidos seriam convidados para esse seminário. Ele tem um caráter nacional, mas voltado para aqueles projetos apoiados. Serão convidados os convenentes, parceiros do MDA na ATER Indígena, dos anos de 2006 e 2007, as organizações do movimento indígena, representantes indígenas da CNPI, as empresas estaduais de assistência técnica e extensão rural e os órgãos federais com atuação na área indígena, para um momento de pausa, reflexão e sugestão de encaminhamento para aprimoramento da política. Era isso.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Algum membro da subcomissão quer fazer algum complemento, ou está tudo contemplado?

Luiz Vieira Titiah – povo Pataxó Hã Hã Hãe: Eu faço parte da Subcomissão e o que eu quero ver aqui hoje nessa reunião da CNPI é que sejam encaminhadas as questões da Subcomissão de Etno-Desenvolvimento porque, mesmo que a gente cobre as terras, cobre as outras lutas, o etno-desenvolvimento é importante para a comunidade. Acho que o futuro da comunidade também é desenvolver o etnodesenvolvimento nas suas terras. Eu também queria dizer para os representantes do governo que, na discussão das ações de projetos do governo para as comunidades indígenas, que eles convidem os Membros da Subcomissão para fazerem parte das discussões de uma nova política para as comunidades indígenas. Na semana passada, nós participamos da ação da “Carteira Indígena” e foi importante estarmos lá dando o nosso recado, facilitando um pouco também as dificuldades nas ações de projetos de governo para as comunidades indígenas. Daqui para frente, eu espero que tenhamos encaminhamentos, principalmente, nessas oficinas, para a gente trazer os representantes de organizações de base para estarem discutindo e ficarem por dentro dessas ações de governo.

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Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Eu quero lembrar que nós já gastamos nessa discussão 20 minutos. Estão inscritos agora o Capitão Potiguara e depois a Simone.

Capitão Potiguara − Região Nordeste-Leste: É bem rápido. Eu queria pedir ao governo que diminuísse um pouco a burocracia com relação aos projetos. A gente faz um projeto e a comunidade fica esperando recursos, mas o pregão que o governo implementou hoje, às vezes, dificulta que esses recursos cheguem às nossas áreas e nós somos questionados. Eu tenho um projeto que foi aprovado no ano passado e ainda não implantamos esse projeto por causa do pregão. Isso dificulta. Nós ficamos o tempo todo sendo questionados e a comunidade acha que somos nós, as lideranças, que estamos emperrando esse processo. Eu queria deixar esse registro e pedir que o governo diminuísse um pouco essa burocracia. Eu sei que é correto fazer esse trabalho de controle social, mas se diminuísse um pouco a burocracia, para nós seria melhor.

Simone Vidal − povo Karipuna: Boa tarde. Eu sou Simone Karipuna, do estado do Amapá. Como o Titiah falou, a nossa preocupação é de estar inserindo o nosso povo dentro das discussões e fazer com que eles estejam conhecendo quais são os projetos que estão tramitando dentro do movimento. Parece que foi o MMA que esteve na “Carteira Indígena” e eu fiquei muito triste porque eu não sei como é esse procedimento e o Estado do Amapá e norte do Pará ficou ausente dessa discussão. Eu acho importante que nós sejamos inseridos nesses projetos que o governo faz. A preocupação da Subcomissão de Etno-Desenvolvimento é de estar discutindo essas propostas e encaminhando também para as regiões o que está se discutindo. Eu acho que esta Subcomissão tem um grande papel de estar fazendo essa divulgação. Era isso. Obrigada.

Lylia da Silva Guedes Galetti − Ministério do Meio Ambiente: Eu vou pedir um pouco de paciência porque eu acho que é importante, em função do problema da Portaria que está colocado aqui.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Eu só peço que tente ser bem objetiva porque o nosso tempo está se esgotando.

Lylia da Silva Guedes Galetti − Ministério do Meio Ambiente: Sim. Mas é imprescindível. Eu não posso mudar uma Portaria que foi publicada, então, temos que discutir isso. Essa Portaria foi pensada em cima de tudo o que a gente vem falando em termos de cobrança, de reivindicação absolutamente legítima e pertinente de uma Política Nacional de Gestão etc. Nós já vínhamos conversando com a FUNAI, através do CGPIMA e da SGTC e, no caso do Ministério do Meio Ambiente, através da PDPI e Carteira Indígena. Nós já vínhamos trabalhando junto na perspectiva de formular alguma coisa para a área de gestão ambiental. Nós fizemos a proposta do Plano de Gestão Ambiental do Xingu, que está um pouco atrasado, mas já foram feitos os encaminhamentos. Nós pensamos que a 5ª Reunião da CNPI com o Presidente Lula seria um momento importante para emplacar esse gol da Portaria da Gestão Ambiental. Então, foi meio corrido de fato e, inclusive, demorou para ser publicada porque teve um probleminha no original que foi assinado pelo Ministro Tarso Genro e pelo Ministro MINC. Nós acabamos chegando

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num consenso de não mexer na Portaria. Por exemplo, a FUNAI gostaria que fosse o Ministério da Justiça a designar os indígenas. Já no texto da Portaria, quem vai designar é o Ministro do Meio Ambiente. Então, nós acabamos chegando num acordo de publicar dessa maneira para não atrasar mais ainda. Então, eu considero importante colocar essas questões na Portaria, mas, por outro lado, quando a gente pensou na composição e colocou exatamente para a bancada indígena indicar a sua participação, para nós, embora não estivesse explícito, parecia óbvio, até porque eu sou membro da Subcomissão. Realmente, o ideal seria que isso ficasse registrado. Eu não sei o que vai acontecer amanhã, mas também nada é tão instável que daqui a nove meses nós não tenhamos condições de garantir isso. É uma Comissão que a CNPI está lá dentro, nós reconhecemos, como governo, o tempo todo e em tudo o que a gente faz que a relação Estado com os povo s indígenas hoje se dá através da mediação da CNPI, como um espaço político absolutamente fundamental. Então, eu pessoalmente, estou ponderando com a Comissão se vale a pena a gente cancelar essa Portaria, passar por todo o processo de CONJUS novamente, para colocar essa questão, para nós, como FUNAI e como Ministério do Meio Ambiente, Membros da CNPI e os seis representantes indígenas que também são Membros da CNPI, se existe algum risco, alguma suspeita que essas pessoas não vão fazer esse caminho. Então, a minha posição é no sentido de agilizar, inclusive porque neste momento nós estamos, paralelamente, formulando um Programa Nacional de Conservação da Biodiversidade em Terras Indígenas, com a participação intensa, para que possamos pensar a política com esse programa também.

Eu queria rapidamente agradecer aos seis membros da CNPI que participaram da Oficina e explicar para a Simone que, nesse momento, nas Regionais, nas prévias para a Oficina, nós trabalhamos com os estados que já tinham projetos. No seu caso, eu realmente não sei, mas, provavelmente, a menina que fez o levantamento usou o mesmo critério que estava sendo usado para as associações comunitárias, que era o critério de ter um projeto. Foram essas oficinas prévias que escolheram as pessoas que vieram das regiões para a Oficina Nacional. Foi uma falha. Não estou dizendo que foi correto, mas, estou lamentando. Inclusive, na última reunião, nós aprovamos dois projetos do Amapá, que estão para ser pagos. Participaram a Pierlângela, a quem quero agradecer publicamente. Ela foi a nossa Mestre-de-Cerimônias e foi uma homenagem também à Raposa Serra do Sol. Queria agradecer a todos os parceiros federais que participaram da Oficina, como o MDA, FUNASA, a EMBRAPA, MEC, Conselho Nacional de Segurança Alimentar, a COIAB, o Conselho de povo s Indígenas de São Paulo, entre outros. Agora, eu queria fazer um agradecimento especialíssimo à FUNAI, principalmente, através da CGDC, que é uma grande parceira da Carteira lá na ponta, não só na Oficina, e que participou ativamente. Nós estamos distribuindo aqui um CD que conta um pouco a história da construção da Oficina e tem também um multimídia com fotos dos projetos.

Por último, eu queria dar a notícia de que, depois de muita luta, nós conseguimos prorrogar o PDPI para 2012. Isso já dá um fôlego para a gente. Era isso. Acho que disse tudo.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Antes de passar a palavra à Pierlângela e ao Gilberto, eu queria só lembrar que nós estamos no limite do nosso tempo dessa subcomissão. Acho que

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de todas as questões que foram levantadas aqui não teve nenhuma divergência, apenas com relação a esse ponto da Portaria. Então, eu queria já antecipar uma sugestão e se a gente entrar num acordo acho que facilitaria para todos nós. A sugestão seria que constasse em ata da CNPI, uma decisão da Comissão, a partir de um posicionamento oficial do Ministério do Meio Ambiente e da FUNAI, de que toda a decisão passará pela CNPI, pela subcomissão, até porque, os membros indígenas do GT também são membros da CNPI. Então, se consta em ata uma decisão da CNPI nesse sentido, a gente facilitaria e não precisaria burocratizar uma questão, mudando uma Portaria Interministerial. É só uma sugestão que eu faço antes de passar a palavra para a Pierlângela e para o Gilberto. Estão inscritos também o Coronel Gustavo e o Aderval. Eu peço objetividade porque já estamos extrapolando o nosso tempo.

Pierlângela Nascimento Cunha − povo Wapichana: Os representantes da educação ficaram sem indicação na Subcomissão. É para a gente agilizar essa questão das indicações porque só tem três indígenas na Subcomissão. Tem que verificar tudo isso e ser encaminhado.

Eu queria colocar aqui um documento nosso que foi entregue sobre a Carteira Indígena. Mais de 90% desses projetos são feitos pelas próprias organizações indígenas e nós fizemos uma carta porque está havendo um problema muito sério em relação à aprovação desse recurso no PNUD, do Ministério do Meio Ambiente. Então, nós queremos colocar aqui, enquanto organização indígena, uma solicitação de que o próprio Presidente da CNPI e outros órgãos pudessem ter uma atuação junto à Agência Brasileira de Cooperação e do PNUD, senão, nós vamos perder todos os nossos projetos. É um valor muito alto. É um total de 4,5 milhões para esses projetos. Nós estamos muito preocupados porque o Carteira Indígena foi um projeto que realmente chegou nas comunidades indígenas. Nós temos várias experiências, estamos muito preocupados e gostaríamos de solicitar da CNPI uma intervenção direta nesse assunto para ver se a CNPI e outros órgãos governamentais possam destravar esse processo junto com o Ministério do Meio Ambiente. Esse é o nosso pedido.

Gilberto Azanha − Centro de Trabalho Indigenista: É só um esclarecimento sobre como o GTI e as reuniões que eles vão fazer vão casar com o GEF Indígena. A Lylia falou, en passant, mas eu queria entender melhor como vai ser esse casamento.

Lylia da Silva Guedes Galetti − Ministério do Meio Ambiente: Eu esqueci de dizer uma coisa sobre a Portaria. Nós consideramos que a questão da Conservação da Biodiversidade em Terras Indígenas é uma dimensão da gestão ambiental. No início do processo, até para os próprios indígenas que estavam participando, parecia que o Projeto GEF era o “ovo de Colombo”, a política. Não é. É um projeto que tem começo, meio e fim. Política é outra coisa. A gente quer deixar uma coisa registrada. Então, dentro dessas Oficinas para o GEF, nós vamos estar explicitando essa questão da Política Nacional da Gestão.

Coronel Gustavo de Souza Abreu − Ministério da Defesa: Boa tarde. Eu sou o Coronel Abreu do Ministério da Defesa. Eu sou suplente e estou aqui substituindo o Coronel Marinho. A minha intervenção é muito rápida. Em se tratando de terras indígenas, ainda que saibamos perfeitamente que

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isso está no escopo do Ministério da Justiça, em particular, da FUNAI e do Ministério do Meio Ambiente, entretanto, a o Ministério da Defesa também tem uma tangência com relação a isso. Só nesses dois meses que passaram, nós recebemos quatro requerimentos de informação lá no Ministério da Defesa, especialmente na Comissão da Amazônia, nos perguntando de que maneira a Defesa contribui com a proteção das terras indígenas. Não estamos previstos aqui na subcomissão, então, falta uma interação maior. Mesmo que não constemos aqui, se é que é possível alterar, não como membros principais, mas como colaboradores ou convidados, é sempre interessante que a Defesa participe. Por exemplo, um incêndio em uma terra indígena vai parar, invariavelmente, lá na Defesa para resolver, tendo em vista os nossos meios. Então, se a gente não participa, fica difícil a gente implementar uma ação sem conhecer a problemática. Então, mesmo que não seja como membro permanente, pelo menos, na qualidade de convidado ou colaborador, acho que é importante. Obrigado.

Aderval Costa Filho − Relator da Subcomissão de Etnodesenvolvimento: Eu queria só fazer uma sugestão de encaminhamento, corroborando a proposta do Presidente, no sentido de que, além de constar em ata, que saia uma recomendação explícita para o GTI. Seria uma recomendação, assinada pelo Presidente da Comissão, deliberada aqui em reunião ordinária, de que se procedam a essas consultas nos momentos previstos. Ou seja, tão logo o texto preliminar esteja pronto, as subcomissões devem ser ouvidas; e tão logo o texto final esteja pronto, a CNPI deve ser ouvida.

Eu queria aproveitar e dizer que, na próxima semana, vai ter uma reunião da Câmara Técnica de Comunidades Tradicionais do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco. Alguns membros da CNPI integram essa Câmara Técnica e nós estamos reativar essa Câmara Técnica. A reunião vai ser em Maceió, na semana que vem, no dia 24 e 25. Eu queria dizer também que a CONAB e MDS estarão realizando, nas próximas semanas, quatro Oficinas Estratégicas relacionadas ao Programa de Aquisição de Alimentos − PAA. Teríamos que ver como é que os povo s Indígenas podem se inserir no processo do PAA. Depois, a Luana pode dar mais informações sobre essas Oficinas.

Lylia da Silva Guedes Galetti − Ministério do Meio Ambiente: Eu estava conversando aqui com a Iara e a idéia foi a gente fazer uma coisa bem enxuta para andar rápido. Agora, nós estamos entendendo que, quando essa comissão se reunir, nós vamos ouvir, e a exposição da Defesa para nós seria maravilhosa. Principalmente, na Amazônia, é fundamental a presença de vocês, num trabalho conjunto e tal. E também pretendemos chamar as organizações não-governamentais.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Justamente, eu queria sugerir um encaminhamento, diante do que eu ouvi aqui. Primeiro, eu considero que, das colocações todas, a única questão que foi levantada é esse ponto. Então, no mais, considero que estão aprovados os encaminhamentos da subcomissão. Com relação a esse ponto, eu queria sugerir, se for de acordo da CNPI, que aqueles itens que foram colocados aqui constem em ata como um compromisso do MMA e da FUNAI aqui na CNPI, de que isso será cumprido. Sugiro também que a gente faça uma recomendação, como CNPI, para o GT de que, nos seus trabalhos, convide o Ministério da Defesa e

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também outras instituições governamentais e não-governamentais. É uma coisa mais aberta. A gente tem aqui o Ministério da Defesa, mas pode ter outras instituições governamentais e não-governamentais que o GT possa convidar para participar do debate. Então, haveria uma recomendação da CNPI ao GT no sentido de que convide o Ministério da Defesa e outras organizações governamentais ou instituições não-governamentais para contribuição no GT. Dessa forma, eu acho que a gente resolveria essa forma que foi levantado. Eu queria perguntar ao plenário se concordam com esse encaminhamento. Então, está aprovado o encaminhamento em relação à Subcomissão de Etno-Desenvolvimento.

Com relação ao documento que foi encaminhado, em relação à Carteira Indígena, eu queria propor que a Presidência da CNPI, juntamente com os Membros da Subcomissão, Ministério do Meio Ambiente e Ministério do Desenvolvimento Social, que a gente possa ter uma agenda com o Embaixador da ABC e quem de direito para a gente tentar levar essa mensagem de apoio à Carteira Indígena.

Lylia da Silva Guedes Galetti − Ministério do Meio Ambiente: É importante. Qual é o problema com a Agência Brasileira de Cooperação Internacional. Não é o PNUD. O PNUD já aprovou. Só que é um projeto novo para receber recursos para povo s indígenas e comunidades tradicionais. Qual é o questionamento da ABC? É justamente a questão do repasse de recursos. A gente tem um manual de convergência PNUD/TCU, que suaviza as exigências da Lei 8666 e agora dessa última instrução que fechou mais ainda.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Só uma questão de encaminhamento. Eu acho que não é para a gente entrar agora aqui na discussão do problema. Se tem um problema, a subcomissão e a Presidência vão encaminhar essa discussão com a ABC para resolver o problema. Então, vamos tratar desse encaminhamento junto à ABC.

Lylia da Silva Guedes Galetti − Ministério do Meio Ambiente: E os membros da CNPI que vão fazer parte do GT?

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Eu estava lendo aqui a Portaria. São seis e eu queria sugerir que a bancada indígena nos apresentasse os nomes para que possamos aprovar esses nomes ao final da reunião. Essa é uma questão que diz respeito diretamente à bancada indígena. Então, estou dando um tempo para vocês definirem esses nomes.

Vamos passar para o próximo ponto, que é a Subcomissão de Acompanhamento de Empreendimentos com Impacto em Terras Indígenas. Temos 30 minutos para a apresentação dessa Subcomissão.

Sansão Tikuna − Relator da Subcomissão de Acompanhamento de Empreendimentos com Impacto em Terras Indígenas: Boa tarde. Eu gostaria de ser breve, pelo tempo, mas eu fico preocupado porque eu tenho tanta coisa para a gente debater aqui em conjunto. Então, vamos ter que correr um pouco.

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Nós nos reunimos no dia 17 e participaram os seguintes Membros da CNPI: o Dodô, Brasília, Marquinhos, eu e a Iara, representando a FUNAI. Eu gostaria de lembrar que deveria ser importante a presença de todo mundo porque ficamos só nós, passamos horas e horas aguardando a presença do pessoal, e acabamos ficando só nós indígenas, até que chegou a Iara e conseguimos fazer o trabalho.

Eu vou fazer essa leitura para facilitar mais.

• Demanda da Subcomissão ao governo, com relação ao Projeto de Lei Complementar nº. 260, que tramita há 18 anos e define os atos de “relevante interesse público da União”, previstos no § 6º do art. 231 da Constituição Federal, sem posição nenhuma da Casa Civil. Os passos seriam: encaminhar um Ofício da CNPI solicitando informações sobre os encaminhamentos adotados.

• Que o Governo se abstenha de aprovar empreendimentos que afetam terras indígenas, antes da aprovação da Lei Complementar que define os atos de “relevante interesse público da União” e do Estatuto dos povo s Indígenas, no qual são previstas as condições específicas para pesquisa e lavra de minérios e aproveitamento de recursos hídricos em terras indígenas. Também não há uma posição da Casa Civil. Os passos seriam: encaminhar um Ofício da CNPI solicitando informações sobre os encaminhamentos adotados.

• Que seja analisado e definido o encaminhamento da proposta de regulamentação do componente indígena, no processo de licenciamento ambiental de empreendimentos que afetam povo s e terras indígenas. A situação é que está sendo concluído o estudo sobre a legislação ambiental indigenista sobre o licenciamento ambiental com recomendações para atuação da FUNAI e dos órgãos licenciadores, para subsidiar a regulamentação do componente indígena. Os passos seriam: realização de realizadas Oficinas de Trabalho com a Subcomissão para elaboração da proposta de regulamentação do componente indígena no licenciamento ambiental, na segunda quinzena de novembro.

• O georeferenciamento dos empreendimentos que afetam terras indígenas. Foi realizada uma reunião com o Gabinete da Segurança Institucional da Presidência da República para compartilhamento das informações e base de dados disponíveis sobre o Empreendimento do PAC. Posteriormente, foi gerado um mapa por tipo de empreendimento. Nós temos esse mapa em digital também. É o mapa do Programa PAC. Então, o material já está disponível.

• Que sejam realizados seminários regionais para que se possa analisar, complementar e discutir a listagem de empreendimentos com impacto em terras indígenas, com o objetivo de fazer o seu acompanhamento. A Subcomissão decidiu que serão realizadas reuniões regionais para o levantamento das informações. A nossa proposta é de realizar essas reuniões regionais com todos os povo s para complementar o mapeamento dos empreendimentos que impactam em terras indígenas no primeiro semestre de 2009. Nesse caso, a FUNAI deverá disponibilizar, até 15 dias

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antes da reunião, o mapeamento atualizado do conjunto de empreendimentos com impacto em terras indígenas. A FUNAI pode nos informar, não somente os programas do PAC, mas vários outros. Há vários empreendimentos, além do PAC. Isso é de interesse do movimento indígena. Serão realizados também seminários regionais no 2º semestre de 2009. O objetivo desses seminários é encaminhar informações e definir estratégias e encaminhamentos para os empreendimentos por região.

• Que sejam estudados mecanismos de participação dos povo s indígenas na definição de prioridades de desenvolvimento do país. A Casa Civil não tem posição. Então, a nossa proposta é que a CNPI faça um ofício, solicitando informações sobre os encaminhamentos adotados.

• Que o IBAMA seja convidado a acompanhar as reuniões da Subcomissão. A CNPI encaminhou ofício para o IBAMA e não obteve resposta até o momento. Os próximos passos são: reiterar Ofício da CNPI destacando a importância da participação do IBAMA na Subcomissão.

Esse foi o trabalho que nós realizamos no dia 17, ressaltando que não temos nenhuma posição da Casa Civil com relação às nossas demandas. Então, a Casa Civil pode se pronunciar neste momento e estamos solicitando que a CNPI solicite essas informações também.

Com relação aos materiais das listagens, nós temos aqui em formato digital e CD também, o mapa dos empreendimentos do Programa PAC. E também já mandei reproduzir a listagem de todos os empreendimentos que existem. Infelizmente, nós não temos materiais para distribuir para todo mundo, mas eu consegui salvar no computador ali fora e quem tiver Pen-Drive pode salvar. Temos alguns materiais que vamos distribuir e o mesmo mapa que está aqui, também está gravado nesse CD. Está certo? Então, esse é o trabalho que nós fizemos.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: A Dra. Deborah foi a primeira a se inscrever. Temos também as inscrições da Francisca, Almir Suruí e Gilberto.

Deborah Duprat − Ministério Público: O primeiro ponto que eu quero observar é que é interessante a CNPI dar uma olhada no Projeto de Lei Complementar 260, que é do Deputado Capibaribe. É um projeto bastante interessante, mas ele veio sofrendo várias modificações ao longo do tempo. É um projeto bastante antigo, já está tramitando há 18 anos, mas, mesmo na origem, ele tem alguns equívocos. Então, antes de lutar pela sua aprovação, seria interessante dar uma revisada.

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Com relação ao item 03, há uma proposta da Subcomissão sobre o componente indígena no processo de licenciamento. Eu queria informar para vocês que o Ministério Público Federal, na 4ª e 6ª Câmaras − uma trata de meio ambiente e a outra trata de povo s indígenas e outras minorias − há mais de dois anos tem um GT só estudando licenciamento ambiental, em especial, de grandes empreendimentos. Há um acúmulo de conhecimento, principalmente, em relação ao componente indígena. Por quê? Nós verificamos que os estudos de impacto ambiental foram pensados apenas em relação ao meio ambiente físico e biótico. Mas, dentro daquele meio ambiente, não se pensou muito nas pessoas. Então, o empreender, quando faz o estudo, pensa qual é a zona de influência direta daquele empreendimento, ou seja, a localização física do empreendimento e não consideram que, às vezes, as pessoas estão a quilômetros de distância do empreendimento e estão sendo impactadas. Então, é nesse aspecto de que o impacto humano não corresponde ao impacto físico, ao impacto biótico, que esse GT vem produzindo conhecimento. Eu gostaria de colocar à disposição da CNPI os componentes desse GT, para fazerem uma apresentação. Eu acho que é preciso sensibilizar, não só o IBAMA, mas todos os órgãos licenciadores estaduais para entenderem a complexidade da questão. Nós estamos com uma série de problemas no licenciamento ambiental, nessa questão de impacto direto e indireto em relação às pessoas. A segunda questão, que eu acho que está sendo muito mal conduzida, também por todos os órgãos de licenciamento, é colocar aquilo que é central no diagnóstico, que é o componente humano, como condicionante. Isso tudo transforma o estudo de impacto ambiental numa farsa porque ele é levado para a audiência pública, é submetido ao debate democrático, sem que o homem, o centro de todo o direito, porque a nossa Constituição é antropocêntrica, seja pensado. Então, o que vai para debate nas audiências públicas é algo em que o homem não está contemplado. Eu falo não só dos povo s indígenas, mas das pessoas de uma maneira geral. Eu acho que a CNPI, principalmente, precisa ter uma ofensiva bastante dura em relação a esses estudos de impacto ambiental porque, do jeito que está, nós estamos provocando a desterritorialização de povo s e comunidades tradicionais.

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Francisca Navantino − Relatora da Subcomissão de Educação: A Deborah contemplou um pouco da minha fala, mas eu gostaria de voltar a falar da questão do zoneamento lá no Mato Grosso. Os índios começaram a ver alguns problemas que eles mesmos criaram quando permitiram que certos empreendimentos fossem feitos. Quem conhece o Mato Grosso sabe do que eu estou falando. Eu também queria perguntar à Subcomissão se ela pensou nos impactos no entorno das terras indígenas. Por exemplo, pelo que eu estou observando, está posto aqui aquilo que está dentro. E o entorno? Como é que fica isso? Às vezes, os empreendimentos estão próximos da terra indígena e o impacto está muito grande. Com essa história de Paranatinga, os índios começaram a ver que o impacto naquela região vai ser muito grande. Com tanta confusão que deu, eles já estão começando a ver isso. Aliás, esse é dos empreendimentos que me preocupa muito. Então, eu queria ver se a Subcomissão pensou essa questão do entorno das terras indígenas. Essa é uma discussão que as comunidades estão peitando para discutir, mas, às vezes, por não terem informações suficientes, por serem mal preparados, não conseguem ter acesso às informações necessárias. Às vezes, as próprias entidades não conseguem passar as informações necessárias. Por exemplo, nós ficamos desesperados nos debates com empreendedores. Eu acho que a preparação e a qualificação das comunidades indígenas é uma discussão que tem que ser colocada. Eu gostaria que os parentes nos ajudassem no sentido de fazer um encaminhamento nessa direção, na questão do entorno, essas questões que estão acontecendo ao redor porque a gente tem uma preocupação muito grande com tudo isso.

Eu também queria ver se vocês estão fazendo um acompanhamento sobre os impactos por ecossistema. Por exemplo, na região do pantanal, nos fizeram uma pergunta lá que nem o menino da FUNAI não soube responder. Então, temos que ter esse acompanhamento por ecossistema, o pessoal do Pantanal, os índios da floresta, o pessoal do cerrado. Como é que estão esses empreendimentos, tanto dentro quanto fora? Precisamos fazer um levantamento, um mapeamento dessa situação. Isso me chamou a atenção porque os meninos vieram para cima de mim perguntar se eu sabia alguma coisa. A Secretaria de Meio Ambienta hoje é responsável pelo licenciamento, só que a de Mato Grosso, por exemplo, é totalmente não confiável. Não dá para confiar de forma nenhuma porque lá eles decidem o que o governo quer. Então, era mais ou menos isso que eu queria dizer. Obrigada.

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Almir Narayamonga Suruí − Região Amazônica: Eu também queria fazer um comentário em relação à Subcomissão e sugerir que o Item 03 é de grande abrangência em relação ao impacto. Mas, também é necessário que se faça uma análise profunda de alguns empreendimentos, como o do Rio Madeira e outros empreendimentos de outras regiões. Eu proponho que, quando a FUNAI receber o resultado do levantamento do impacto, traga para a Subcomissão ou para a CNPI dar um parecer em cima disso. Vejam, por exemplo, o que aconteceu com o CONAMA. Então, não podemos ter um enfrentamento entre a FUNAI e o movimento indígena sobre isso. No momento, nós temos que chegar a um consenso de como a FUNAI pode levar essa posição. Até porque, como parte da Bancada Indígena da CNPI, não podemos estar discutindo uma questão diferente. Eu quero citar como exemplo o Rio Madeira. Eu sei que cada estado deve ter seus problemas. A companheira Francisca estava falando dos problemas do zoneamento no Mato Grosso. Então, poderíamos discutir esses impactos por estado, verificando como estão sendo os avanços desses empreendimentos que podem afetar as terras indígenas. Era esse o comentário que eu queria fazer aqui. Obrigado.

Gilberto Azanha − Centro de Trabalho Indigenista: Eu queria só esclarecer um pouco mais esse Item 03, dizendo como é que essa discussão surgiu dentro da Subcomissão. A FUNAI, hoje, é ouvida. É um gesto de cortesia o órgão licenciador consultar a FUNAI e pedir Termo de Referência. O que está posto aqui é que a gente estabeleça uma norma, saída da Subcomissão e aprovada pela CNPI, a ser encaminhada ao CONAMA para isso virar uma resolução da participação da FUNAI com algum poder de veto nas decisões do licenciamento. Outra coisa é a participação indígena, como os índios são ouvidos etc. Esse é o outro tema de uma regulamentação, o sistema de audiência. Esse sistema de audiência não necessariamente está vinculado à participação da FUNAI no processo, mas pode sim ser vinculado na mesma resolução que a gente tome a ser encaminhada ao CONAMA. Em relação a esse Item 03, há um estudo que foi encomendado e contratado pela FUNAI, e que parece que está em vias de conclusão, para a gente discutir nesta reunião da Subcomissão propostas para a segunda quinzena de novembro. Então, nós veríamos esses dois lados da questão: como a FUNAI entra no processo do licenciamento e como se dá a audiência e a participação dos índios nesse processo.

Uma outra coisa que eu queria também esclarecer é que, quando a gente pede esse congelamento dos empreendimentos que afetam, antes da regulamentação da Lei Complementar, é porque, de repente, as coisas estão sendo atropeladas e isso traz enormes desgastes, enormes prejuízos de ambos os lados. Quando a gente insistia com o Carlão na tramitação do Projeto de Lei Complementar que define o “relevante interesse público da União” é porque essas coisas são vinculadas mesmo. Você não pode fazer mineração, sem ocupar um pedaço e desapossar os índios daquilo. A Constituição é clara no sentido de que, onde há desapossamento, isso tem que ser definido em Lei Complementar. Tudo está sendo feito ao arrepio da lei. O Ministério Público tem chamado a atenção em várias ocasiões e entrado com ações justamente com base nisso. Parece que o governo, e alguns segmentos do governo, não estão dando a devida atenção a isso, a não ser, depois, quando a gente criar um caso judicial exemplar, para que isso seja levado na sua devida consideração. É isso.

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Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Os próximos inscritos são o Sandro, o Saulo e o Coronel Caixeta. Eu queria avisar que faltam apenas cinco minutos para encerrar o tempo dessa Subcomissão.

Sandro Emanuel Cruz dos Santos − povo Tuxá: Eu queria me referir ao Item 06 do documento apresentado pela Subcomissão: “Que sejam estudados mecanismos de participação dos povo s indígenas na definição de prioridades de desenvolvimento do país”. Eu acho que não deveríamos dizer “estudados” porque já há uma lei que regula isso. Então, acho que deveríamos mudar a redação, usando o termo “garantido”, “assegurado”. Agora, uma coisa que poderia ser acrescentada é que deveria ser criada uma metodologia para se fazer isso. Não há essa metodologia. Um exemplo é o que está acontecendo agora com o Estatuto. Será que toda a vez que tiver consulta às comunidades vão ser feitos esses encontros regionais, ou vai ser de outra forma? A gente já tem assegurado na Convenção 169 de como deve ser essa consulta.

A outra coisa é que, se possível, eu queria que fossem prestados os devidos esclarecimentos sobre a questão do Rio Madeira. Nós já tratamos desse assunto, mas queríamos um maior esclarecimento de como foi dado esse posicionamento por parte da FUNAI no processo. Acho que os meus questionamentos eram esses e o Saulo vai acrescentar alguma coisa mais.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Tem uma questão de ordem da Dra. Deborah, antes de passar a palavra ao Saulo.

Deborah Duprat − Ministério Público: É só para lembrar que, a respeito dessa questão da consulta pública, talvez fosse interessante convidar o Instituto Sócio-Ambiental, que fez um trabalho interessante sobre consulta pública no âmbito da Convenção 169, para apresentar os mecanismos, enfim, o que é uma consulta séria.

Saulo Ferreira Feitosa − Conselho Indigenista Missionário: Uma preocupação que a gente está levantando é porque, na reunião da Paraíba, já apareceu na ata a questão do Ministério de Minas e Energias, em relação ao PL que trata especificamente da utilização de recursos hídricos. Nós ficamos sabendo que a Bancada Indígena se recusou a discutir isso por entender que a prioridade é se definir, em primeiro lugar, o que é “relevante interesse público da União”. Agora, eu não sei se fica assegurado que o MME não envie a proposta para a Casa Civil. Nós já fomos atropelados antes. Eu estou colocando isso porque aquela questão da mineração gerou um mal entendido grande e a minha interpretação, inclusive, diverge da interpretação do governo, em especial do Ministério de Minas e Energia, mas a gente não pode deixar que aconteça agora, em relação à utilização de recursos hídricos, o que aconteceu em relação à questão da mineração. É por isso que é importante, nessa Subcomissão, que esteja claro para o Ministério de Minas e Energia que a discussão sobre a utilização de recursos hídricos está vinculada a esse Projeto de Lei que trata da definição do “relevante interesse público da União”. Acho que isso é uma coisa para a gente estar levando em consideração o tempo todo.

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Coronel José Caixeta Ribeiro − Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República: Eu ia esperar para ver qual o encaminhamento que você daria, mas já que o Gilberto e o Saulo tocaram no assunto, eu queria dizer que a visão do Gabinete de Segurança Institucional é de que não pode haver esse atrelamento que está previsto aqui, do governo se abster de aprovar empreendimentos, antes que seja aprovada essa lei e o Estatuto. Nós achamos que se um projeto é considerado necessário do ponto de vista do governo e se ele tem condições de receber licenciamento ambiental, não é necessário que se espere, obrigatoriamente, a aprovação do Estatuto dos povo s Indígenas e nem essa lei que define os atos de “relevante interesse público da União”.

Na questão da exploração mineral, o GSI foi parceiro do Ministério de Minas e Energia e do Ministério da Justiça na elaboração daquela proposta do projeto. Pelo que a gente ouve falar aqui, parece que não há nenhum interesse indígena naquele projeto. Pelo que eu tenho ouvido, o projeto é bom para os indígenas também. Não vou dizer para todos, mas há interesse. Então, eu gostaria de deixar registrada essa posição do Gabinete de Segurança Institucional.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: O queria só colocar uma questão em relação à decisão. O Saulo se referiu a uma decisão que teria sido tomada na reunião da Paraíba. Eu queria recuperar a memória do que foi decidido lá, pelo menos, da minha memória, e perguntar ao plenário porque o meu entendimento é um pouco diferente desse que o Saulo colocou. Quando foram apresentados lá na Paraíba, pelo Ministério de Minas e Energia, tanto o projeto de mineração quanto o de recursos hídricos, pelo que me lembro, − e temos que recuperar a ata da reunião da Paraíba − a Bancada da CNPI não discordava, em tese, do conteúdo dos projetos em si. A proposta era que esses conteúdos fossem incorporados ao conteúdo do Estatuto e que o Estatuto fosse priorizado. Lá não foi discutido esse assunto da Lei Complementar. É isso que eu estou querendo dizer. Não houve, em nenhum momento lá na reunião da Paraíba, qualquer discussão dessa Lei Complementar. O que houve lá foi uma decisão − e a gente tem que recuperar isso na ata da reunião − de que o governo deveria dar o mesmo nível de prioridade para o Estatuto dos povo s Indígenas e de que essa prioridade deveria considerar, lá no processo, a incorporação do conteúdo do que havia sido apresentado pelo Ministério de Minas e Energia, em relação à mineração e recursos hídricos. Foi disso que se tratou lá e a deliberação saiu daquela reunião. Não foi tratado, naquela reunião da Paraíba, nada do que diz respeito a essa Lei Complementar. Não ficou amarrado nada em relação à Lei Complementar. Essa é a minha lembrança da decisão da CNPI lá. Eu só estou dando esse esclarecimento porque eu acho que é importante.

Saulo Ferreira Feitosa − Conselho Indigenista Missionário: Para mim, esse esclarecimento é ainda mais importante porque, se está vinculado ao Estatuto, melhor ainda. Agora, eu estou colocando a questão porque, em relação ao projeto de mineração, como já havia o PL 1610/96, o governo usou o pretexto de que, como a tramitação do projeto no congresso já estava avançada, não poderia aguardar a tramitação do Estatuto. Em relação a recursos hídricos, não há um projeto de lei específico que trate da utilização

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de recursos hídricos. O que há são projetos de lei que tratam do “relevante interesse público da União”. Então, se vai ficar vinculado à discussão do Estatuto, eu acho ótimo. Agora, se não vai ficar vinculado a isso, então, que se leve em conta a definição do “relevante interesse público da União”.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Eu queria só deixar bem claro. O que ficou deliberado lá na reunião da Paraíba foi que os conteúdos de projetos de lei que fossem apresentados pelo governo, que é o substitutivo em relação à mineração e o conteúdo do projeto de recursos hídricos, que foram apresentados pelo Ministério de Minas e Energia lá, em tese, a plenária não teria divergência quanto aos seus conteúdos, desde que, no processo de discussão do Estatuto, esses conteúdos fossem considerados. Esse foi o ponto de convergência encontrado lá na reunião da Paraíba. Eu estou lembrando isso para a gente ter claro o que foi aprovado lá. Nós podemos recuperar a ata da reunião. É só esse o ponto para o qual eu estou chamando a atenção.

Saulo Ferreira Feitosa − Conselho Indigenista Missionário: Mas, eu não estou contestando isso. Eu estou dizendo que tudo bem. Agora, eu estou querendo que isso conste nessa ata agora porque, se é esse o entendimento, então, vamos respeitar o entendimento para que não haja o atropelamento do processo por parte do MME, para que se respeite de fato a tramitação do Estatuto dos povo s Indígenas. Eu acho importante até que você recupera a memória dessa reunião.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: A Dra. Deborah e o Gilberto pediram a palavra. Eu só peço para a gente não estender porque já estamos extrapolando o tempo dessa Subcomissão.

Deborah Duprat − Ministério Público: Vou ser bem rápida. Esse projeto que define “o relevante interesse público da União” não tem nem como ficar no âmbito de abrangência do Estatuto. É uma lei complementar, com quorum específico. Agora, é um pressuposto lógico. Isso está na própria Constituição. A leitura que o Ministério Público faz do § 6º é que qualquer ato que interfira na posse só pode ocorrer diante de um “relevante interesse público da União”. Isso, pela especificidade dos territórios indígenas. É um território cultura e você procura deixar sob domínio do grupo a decisão a respeito do seu destino e só pode sofrer interferências em caso de absoluta excepcionalidade. Daí, a Constituição ter previsto que uma lei complementar ia definir “o relevante interesse público da União”. Não o interesse público de estados ou municípios; é só da União. Daí porque, o licenciamento de empreendimentos dentro das áreas indígenas é só do IBAMA e não é delegável. Essa é uma matéria que está toda ela de reserva de uma série de cautelas. Ocorre que, desde a Constituição, vêm acontecendo empreendimentos em áreas indígenas, não observando esse preceito constitucional. Em algumas situações, nós tivemos vitória porque usamos esse argumento. Um caso é Belo Monte, que foi parado por conta disso. Em outros, isso não aconteceu. Então, eu reconheço que é um dispositivo que suscita dúvidas no Judiciário, mas essa é a posição do Ministério Público Federal.

Gilberto Azanha − Centro de Trabalho Indigenista: Era justamente para esclarecer o Coronel Caixeta sobre essas especificidades.

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Coronel José Caixeta Ribeiro − Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República: De qualquer forma, o GSI mantém a sua posição de que não esteja vinculada a aprovação de empreendimentos pelo governo à aprovação do Estatuto e nem da lei complementar.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Não tem mais nenhuma inscrição e nós já até extrapolamos o tempo. Eu estou considerando que, na apresentação da Subcomissão de Empreendimentos, os encaminhamentos foram dados. Eu tenho um informe importante em relação ao Item 03, que já foi colocado aqui. De fato, a FUNAI está concluindo os estudos sobre a legislação relativa ao licenciamento. Inclusive, quero informar que, pelo convênio que nós estabelecemos, nós contratamos a Advogada Joênia Wapichana para nos ajudar nesse processo e ela deverá, inclusive, participar de algumas dessas Oficinas que estão sendo realizadas e concluídas. Acolho a sugestão de que a gente receba todas as contribuições para esse licenciamento, tanto do Ministério Público, como do ISA ou de outras organizações. Então, quanto a isso, acho que não há nenhuma divergência.

A única divergência que nós estamos vendo aqui é com relação a esse condicionante porque dá a entender que a subcomissão está propondo que nada seja feito em termos de empreendimentos dentro de terras indígenas, sem antes se aprovar o projeto de lei complementar. Essa é uma questão que, como a lei não está aprovada, tem um posicionamento do GSI e eu não tenho o conhecimento jurídico adequado para dar um encaminhamento em relação a esse ponto. É uma questão jurídica, não há ainda a aprovação da lei complementar e, portanto, eu entendo que está submetido ao termo constitucional. Então, eu acho que fica valendo o que está valendo hoje. A Constituição diz que não pode, que tem que haver uma lei complementar. Então, no meu entendimento, isso já está valendo hoje. Eu não sou da área jurídica, mas, no meu entendimento, embora nós tenhamos aqui o posicionamento do GSI, o que vale hoje é o que está na Constituição, enquanto o projeto de lei não for aprovado.

Coronel José Caixeta Ribeiro − Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República: No item 02, está dito o seguinte: Que o Governo se abstenha de aprovar empreendimentos que afetam terras indígenas, antes da aprovação da Lei Complementar que define os atos de “relevante interesse público da União” e do Estatuto dos povo s Indígenas. Supondo que isso leve anos e anos para ser aprovado e que o governo consiga licenciamento ambiental para uma hidrelétrica, por exemplo. Se dentro da lei atual ele conseguir aprovar, por que vai ter que esperar a aprovação do Estatuto? É isso que eu quero dizer. É uma coisa vinculada ao Estatuto e não que seja contra a lei atual, obviamente.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: O que eu estou levando em consideração aqui, só para a gente dar um encaminhamento, é que, independente da aprovação do Estatuto ou da Lei Complementar, o que está valendo hoje é o que está no texto constitucional. Pelo texto constitucional, não pode ser feito nenhuma hidrelétrica, estrada ou o que for dentro de uma terra indígena porque a Constituição deixa isso claro. Então, não há divergência porque o que está valendo é a Constituição. Enquanto a lei complementar e o Estatuto dos povo s Indígenas não forem aprovados, de fato, isso não

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pode ser feito dentro das terras indígenas porque a Constituição impede. É nesse sentido que eu estou colocando que não estou vendo ...

Gilberto Azanha − Centro de Trabalho Indigenista: Só para esclarecer. Talvez a redação do Item 02 não esteja explicitando isso que o Márcio está tentando encaminhar. Nós colocamos “afetem terras indígenas”, de uma maneira genérica, contemplando a lei complementar, que diz que tem que ter os atos de “relevante interesse público da União” para o desapossamento, a perda de território indígena, ou seja, empreendimentos dentro de terras indígenas, e os empreendimentos que afetem terras indígenas no seu entorno porque, aí sim, tem a ver com o Estatuto do Índio e a regulamentação que vai ser feita.

Eu queria já marcar a data da reunião da Subcomissão para discutir os encaminhamentos da FUNAI, para o dia 18 e 19 de novembro, coincidindo com a reunião da Subcomissão de Justiça, para facilitar a vida da Teresinha.

Participante não identificada: É uma questão de ordem. Sumiu, provavelmente, foi furtado, o notebook do Ministério da Justiça que a Teresinha trouxe. Ninguém sabe como e eu estou indo com ela lá na Polícia porque ela tem que fazer o BO.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Então, a Teresinha vai ter que se ausentar rapidamente porque ela vai ter que registrar a ocorrência desse furto. Se alguém viu alguma coisa, é importante estar dando essa informação. É triste isso.

Teresinha Gasparin Maglia − Secretária-Executiva: Só para dar a descrição. Se alguém viu, é uma mala preta, uma mala de notebook fechada. Ela estava aqui na sala de apoio, embaixo da mesa, dentro de uma caixa vermelha, que eu preparei para o dia de hoje. Se alguém viu, eu gostaria de saber por que nós estamos indo à polícia agora para registrar o Boletim de Ocorrência. Eu não sei nem a marca dele. Eu posso ir lá no Ministério pegar porque eu tenho a autorização para saída do Ministério, tenho toda a descrição. Embaixo, ele tem uma chapa do Ministério da Justiça com o tombamento do patrimônio. É uma mala preta normal, exatamente igual ao do Sansão. Essa é do Sansão. Desculpem ter interrompido, mas é uma questão urgente e eu tenho que me afastar um pouco para fazer isso. Obrigado.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Vamos tentar dar um encaminhamento aqui sobre esse tema da Subcomissão. Eu queria ouvir o Coronel Caixeta se essa explicação dada pelo Gilberto e a própria compreensão que eu, como Presidente da CNPI, tenho em relação a esse tema, se a gente tem condições de fazer o encaminhamento dessa questão, considerando que se trata de uma questão constitucional. Está claro na Constituição e isso que está escrito aqui é o fato constitucional, é redundante ao que diz a Constituição hoje. Essa é a minha compreensão. O texto é só uma afirmação daquilo que a Constituição já diz.

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Coronel José Caixeta Ribeiro − Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República: Então, não haveria necessidade de dizer para o governo se abster de aprovar empreendimentos enquanto não seja aprovado o Estatuto do Índio, por exemplo. Se ele consegue aprovar com base na Constituição e na lei ambiental de hoje, não sei por que isso tem que ser encaminhado assim. Mas também, se quiserem encaminhar com o registro do GSI, não há nenhum problema. Apenas, que seja feito esse registro. Não há nenhum problema.

Marcos Luidson de Araújo – povo Xucuru: Quando nós pensamos isso foi porque há uma tendência dessa lei complementar estar tramitando há vários anos dentro do Congresso Nacional. Se, de fato, há vários empreendimentos no país todo que entram em terras indígenas, há também interesse do governo em aprovar essa lei. Então, por que não mobilizar a Bancada do Governo nesse sentido. Essa é uma forma de se regularizar isso e nós também participarmos desse processo. Então, é também no intuito que o governo se movimento nesse sentido, para a gente poder agilizar esse processo, não só da lei complementar, mas também do Estatuto dos povo s Indígenas.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Tem duas possibilidades de encaminhamento. Uma é aprovar o texto tal como está aqui, com um registro do GSI. Mas, eu acho que um encaminhamento melhor do que esse seria a gente aprovar mesmo e fazer algum ajuste nesse texto que faça referência àquilo que o Gilberto e o Marquinhos colocaram.

Participante não identificado: Seria o caso de fazer o ajuste no próprio ofício que vai ser encaminhado.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Nessa linha que o Marquinhos colocou, seria um ajuste de tal forma que o governo priorize a aprovação desse projeto de lei porque isso é necessário para que a Constituição seja efetivamente ... Seria algo nessa linha. Acho que um ajuste nesse texto poderia nos levar a aprovar por unanimidade esse relatório. Acho melhor do que a gente aprovar com um registro diferenciado.

Participante não identificado: Tentar agilizar a aprovação tanto do Estatuto, quanto da lei complementar, com a finalidade de agilizar os próprios empreendimentos do governo. A idéia seria escrever de forma diferente.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Então, eu gostaria de sugerir, até porque o Coronel Caixeta é membro da Subcomissão também, que a Subcomissão ...

Coronel José Caixeta Ribeiro − Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República: Na verdade, eu entendi perfeitamente a idéia do Gilberto e do seu companheiro e a sua explicação e preocupação. A minha única questão é o termo “se abstenha”. Por essência, o governo não pode se abster. Isso significa omitir-se. Então, acho que talvez pudéssemos substituir a expressão “se abster”, por um termo melhor, para definir qual é a real intenção, que eu entendi perfeitamente.

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Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: O que eu gostaria de sugerir como encaminhamento é que os Membros da Subcomissão − o Coronel Caixeta, juntamente com um membro não-governamental indígena − possam fazer um ajuste nesse texto, de tal forma que a gente possa aprovar isso por unanimidade logo mais. Eu sugiro que o Gilberto Azanha e o Coronel Caixeta tentem fazer essa composição nesse texto. Eu acho que é melhor para a CNPI do que a gente ter um voto em separado, digamos assim. Com isso, eu considero aprovado o Relatório da Subcomissão de Empreendimentos, com esse ajuste que será feito no texto.

Participante não identificado: E a proposta de data para a reunião da Subcomissão, nos dias 19 e 20 de novembro para poder coincidir com a reunião da outra subcomissão?

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Está acolhida também essa proposta. Então, vamos passar adiante. A próxima Subcomissão é a Subcomissão de Políticas Públicas, Orçamento e Gestão. Lembramos que temos 30 minutos para a apresentação dessa Subcomissão.

Olga Cristina López Ibanez Novion − Relatora da Subcomissão de Políticas Públicas, Orçamento e Gestão: A Subcomissão de Políticas Públicas, Orçamento e Gestão se reuniu ontem, com a presença dos seguintes participantes: Deoclides Kaingang, Elcio Severino da Silva, Almir Suruí, eu, Olga Novion, José Maria de Almeida, da FUNAI, Celso Correa, Frederico Barbosa e Ivoneide Bandeira Cardoso, que foi convidada. Ela é assessora do Almir e o convite foi aceito pela Subcomissão.

Nós retomamos as agendas anteriores para verificar o que tínhamos conseguido fazer e o que tinha sido proposto desde que essa Subcomissão começou. Então, nós selecionamos três pontos:

Nós havíamos pedido, na reunião da Paraíba, a todos os setores que ser reúnem aqui nessa Comissão, que nos encaminhassem, conforme uma planilha que a Secretaria Executiva encaminhou aos membros da CNPI, com um destaque de todas as ações que dizem respeito aos indígenas e que não estariam contempladas na planilha que nos elaboramos e que foi entregue na reunião anterior a esta. Já solicitamos isso por duas vezes, até hoje não houve resposta, então, estamos reiterando novamente esse pedido aqui. Ficaram ainda pendentes outras solicitações anteriores, tais como: informações sobre projetos, editais e outros instrumentos e condicionamento de recursos. Isso também não foi encaminhado. Foi solicitado também que sejam enviadas as legislações, portarias, editais ou outros instrumentos para elaborar um banco de informações que seria divulgado nas comunidades para elaboração de estratégias de capacitação e direcionamento de recursos.

Como isso não aconteceu e na reunião da Paraíba uma das propostas apresentadas na plenária foi de realizar auditorias para identificar quais seriam os motivos pelos quais os recursos não chegam às áreas indígenas, e fazer um levantamento também de como o governo federal realiza o acompanhamento e aplicação dos recursos que são transferidos a estados e municípios, nós estamos propondo agora uma

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Reunião Extraordinária da Subcomissão, nos dias 11 e 12 de novembro, para preparar uma Oficina, entre representantes do governo, povo s indígenas e organizações da sociedade civil, para discutir a participação na alocação de recursos, das unidades regionais e de suas diversas ações setoriais. Logo após essa reunião prévia da Subcomissão, preparatória da Oficina, nós pensaríamos todos os passos a serem realizados, como a contratação de facilitadores e sistematizadores, definição de metodologia e tudo mais.

A idéia é conhecer qual é a visão da FUNAI em relação à gestão das ações das ADRs; conhecer quais são os modelos de gestão participativa que estão sendo utilizados; e, provavelmente, a partir daí, trazer para esta plenária, como exemplo, o plano de gestão que está sendo aplicado na terra indígena Sete de Setembro, na ADR de Passo Fundo e João Pessoa, que foram os exemplos apresentados na reunião da Paraíba. Quanto ao orçamento participativo, seriam as ações também do município de Rio Branco e no estado do Rio Grande do Sul. Parece que há pessoas aqui que conhecem bem essas ações e isso não acarretaria maiores gastos. A idéia é também conhecer os projetos de iniciativa comunitária do Planafora e discutir modelos de participação na distribuição e aplicação dos recursos que chegam às áreas indígenas.

Essa é a proposta da subcomissão. Nós pretendemos desenhar mecanismos que sirvam para os povo s indígenas trabalharem com a alocação de recursos e na definição dos planos que são elaborados nas administrações regionais. Nós sabemos que a maioria do pessoal não tem nenhum acesso a isso.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Só uma questão de ordem. As pessoas não receberam o texto e está todo mundo com dificuldade de entender.

(Falas fora do microfone)

A informação que eu tenho é que estão rodando o texto.

Olga Cristina López Ibanez Novion − Relatora da Subcomissão de Políticas Públicas, Orçamento e Gestão: O texto não pode estar sendo rodado porque, inclusive, está cheio de erros. Foi o primeiro a ser rodado. Rodaram mais de 60 cópias e eu pedi para recolher. Nós fizemos um texto para aqui. A Teresinha me deu uma cópia. Eu estou com o meu rascunho.

(Interrupção da gravação)

Almir Narayamonga Suruí − Coordenador: Todo mundo já tem o texto? O Celso vai fazer uma complementação.

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Celso Lourenço Moreira Correa − Casa Civil: Essa subcomissão está com um problema sério de encaminhamento e eu vou esperar o Presidente da FUNAI voltar para poder fazer o encaminhamento.

Participante não identificado: Eu não entendi qual é o problema que o Celso levantou.

(Falas fora do microfone)

Que desrespeito é esse? Se o Márcio pediu para o Almir coordenar, qual é o problema? Por que a gente não pode continuar a reunião?

Celso Lourenço Moreira Correa − Casa Civil: Então, eu peço que a coordenação da Subcomissão faça a apresentação.

Almir Narayamonga Suruí − Coordenador: Quem o coordenador? Parece que o coordenador indígena da nossa subcomissão viajou. Eu também faço parte da subcomissão e queria ver se alguns parentes que fazem parte dessa subcomissão poderiam fazer a apresentação pela parte indígena.

Olga Cristina López Ibanez Novion − Relatora da Subcomissão de Políticas Públicas, Orçamento e Gestão: Bom. Vamos ver onde eu parei. Nós nos reunimos ontem e retomamos todas as agendas anteriores à reunião da CNPI e vimos um monte de pontos que estavam pendentes. Na última reunião que tivemos, fizemos um pedido formal para todos os membros dos órgãos setoriais que encaminhassem as planilhas oriundas das primeiras reuniões para que fossem anexadas a essas planilhas as ações do PPA ou outras ações que estivessem incluídas nos programas do governo federal que contém recursos públicos nos seus orçamentos para a gente poder pontualizar direitinho onde estavam os recursos destinados aos grupos indígenas, às comunidades tradicionais e dos quais a gente não teria conhecimento. Isso foi pedido por duas vezes, via Secretaria-Executiva, e não foi enviada nenhuma resposta. Então, nós não sabemos se a planilha que foi apresentada está correta ou se o pessoal realmente não teve tempo de responder. Então, nós estamos reiterando aqui na plenária que, por favor, analisem essas planilhas que a Secretaria-Executiva encaminhou e nos respondam para que possamos fechar esse levantamento.

Uma proposta que nós estamos trazendo agora é de uma reunião da Subcomissão, nos dias 11 e 12 de novembro próximo, para elaborar uma proposta de Oficina, da qual vão participar representantes dos povo s indígenas, de organizações da sociedade civil e do governo, para discutir a participação das comunidades indígenas na alocação de recursos nas comunidades regionais e nas ações setoriais dos programas de governo. Isso inclui pensar como vai ser feita a Oficina, contratar facilitadores, sistematizadores e tudo o mais. Nessa reunião, nós tentaríamos preparar uma proposta de oficina para desenhar os mecanismos participativos de alocação de recursos por parte das comunidades.

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O objetivo inicial dessa reunião preparatória é conhecer qual é a visão da FUNAI quanto à gestão das ações nas ADRs e terras indígenas; conhecer os modelos de gestão participativa, se é que os há dentro da FUNAI, junto com seus tutelados, no caso; e também apresentar qual é o plano de gestão da terra indígena Sete de Setembro, como modelo para os outros povo s que não o conhecem, assim como o de Passo Fundo e de João Pessoa. Na reunião de João Pessoa, foi falado em se convidar o pessoal de Passo Fundo, lá do Sul, para apresentarem o modelo que eles estão usando e ver como é que esse modelo poderia ser ajustado para que outros povo s indígenas conseguissem acompanhar seus orçamentos. O orçamento da FUNAI está aí, mas, todo mundo diz que o dinheiro não chega lá na mão dos povo s indígenas. Então, seria uma oficina para a gente se inteirar de como é esse mecanismo todo e depois ouvir as experiências que já existem, como essa de Sete de Setembro, Passo Fundo e João Pessoa. A idéia é trazer uma contribuição aos povo s indígenas para ver como é que se pode trabalhar essa questão. Um outro exemplo é Planaflora e, a partir daí, se discutir como seriam os modelos de participação dos indígenas na gestão e gerenciamento dos recursos.

Uma outra questão que nós levantamos é sobre o Programa de Amazônia Sustentável. A demanda seria se alguém da Presidência da República ou do MMA poderia fazer uma apresentação aqui na CNPI sobre o Programa de Amazônia Sustentável.

Outra demanda era a proposta de reestruturação da FUNAI. É uma demanda de 2007, mas isso já foi atendido, de alguma maneira, numa apresentação que foi feita aqui em dezembro de 2007 e com o encaminhamento do PL 3.428 para o Congresso Nacional.

Nós também solicitaríamos à FUNAI que apresentasse aqui na CNPI o trabalho que estão fazendo com a Agenda Social Indígena. Acho que carece uma maior explicação para todos de como seria a participação da FUNAI, como é que a FUNAI está articulando essa Agenda Social Indígena com os outros Ministérios.

Então, os nossos encaminhamentos seriam: solicitar à Secretaria-Executiva a reunião do dia 11 e 12 de novembro. Não sei se era data possível para eles, mas, pela nossa agenda, esses seriam os dias em que todos os membros da Subcomissão poderiam se reunir; solicitar a apresentação na CNPI, por parte do MMA e da Presidência da República, do Programa Amazônia Sustentável, para todo mundo conhecer um pouco mais sobre ele; uma apresentação na CNPI da Agenda Social Indígena, que a FUNAI está levando junto com a Presidência da República e os outros agentes de governo. Era isso.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Tem mais algum membro da Subcomissão que queira fazer alguma complementação?

Celso Lourenço Moreira Correa − Casa Civil: Essa Subcomissão teve um problema, no seu início, porque ficou sem representação do Ministério do Planejamento, em função da mudança que houve na estrutura, porque o IPEA passou a pertencer a outra Secretaria e não mais ao Ministério do

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Planejamento e os representantes aqui na CNPI eram do IPEA. Então, essa Subcomissão ficou um tempo sem coordenação. Durante esse tempo, eu assumi as tarefas de fazer a ata, os encaminhamentos e os relatos da Subcomissão. Mas, quem coordena a Subcomissão é o Ministério do Planejamento e, por parte da representação indígena é o Deoclides Kaingang. A subcomissão tem tido muita dificuldade de trabalhar, principalmente, porque a função dela é fazer relatos sobre a situação das ações. Só que foi feito um formulário para fazer o levantamento dessas ações, esse formulário foi distribuído por duas vezes na CNPI e nenhum órgão encaminhou qualquer informação. Então, a gente não tem condições de apresentar uma avaliação sobre as ações porque os órgãos não encaminharam a descrição dessas ações.

Uma outra coisa que ficou aprovado que a Subcomissão deveria discutir é tentar buscar um modelo de gestão para as ações da política indigenista, buscando os trabalhos que têm dado melhor resultado nas administrações regionais e na relação dos órgãos que atuam na questão indígena, lá na ponta. Na segunda reunião, foi levantada uma proposta de se trazer a Brasília alguém para fazer uma apresentação das experiências da Paraíba e do Rio Grande do Sul. Como a Subcomissão se reúne durante quatro horas na véspera da plenária, e como outros temas acabaram tomando a pauta da CNPI, essa providência praticamente nunca foi adotada. A Subcomissão nunca fez uma reunião extraordinária e nunca teve condições de fazer esse processo de estudo desse modelo de gestão para trazer uma proposição. Na última reunião que nós tivemos ontem, nós resolvemos marcar uma reunião para o início de novembro, não antes por conta dos seminários regionais, para fazermos um apanhado desses modelos e tentar modelar um seminário em que, após aprovado na CNPI, seriam apresentados esses melhores resultados de gestão para ver se conseguimos disseminar essas boas práticas. Basicamente, foi isso que a Subcomissão conseguiu até hoje e está devendo bastante para a Comissão.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: As inscrições estão abertas, mas lembro que só temos mais 15 minutos.

André Araújo − Ministério do Desenvolvimento Agrário: Eu queria propor a esta Subcomissão de a gente realizar essa próxima reunião extraordinária, conjuntamente com a Subcomissão de Etnodesenvolvimento porque o esforço que vocês estão se propondo a fazer é muito parecido com o da nossa Subcomissão também, no sentido de fazer esse levantamento das ações. A princípio, nós estávamos focando apenas nas carteiras de projetos, mas, como são duas Subcomissões que estão devendo, segundo a sua própria avaliação, eu acho que poderíamos potencializar uma iniciativa e não duplicar. Essa é a minha proposta.

Francisca Navantino − Relatora da Subcomissão de Educação: Celso, eu tive que sair e não entendi muito bem, mas, na verdade, o que a Subcomissão está propondo é um encaminhamento sobre a articulação entre os governos e como se daria isso?

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Não, é dos órgãos de governo federal. Foi encaminhada uma ficha com um roteiro para encaminhamento das ações que os órgãos estão

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implementando. Todas essas ações estariam no PPA, mas não só aquelas que estariam no programa específico para povo s indígenas, que é coordenado pelo Ministério da Justiça e FUNAI. A questão é que tem várias outras ações que são implementadas junto aos povo s indígenas, mas que fazem parte de ações gerais de todos os órgãos de governo. Então, a gente estava tentando fazer esse levantamento e juntar esse bloco todo de ações para, então, apresentar na CNPI o estado dessas ações. Nós não conseguimos fazer isso porque o mecanismo de consulta falhou. Não houve resposta.

Francisca Navantino − Relatora da Subcomissão de Educação: Isso é para os órgãos do governo.

Celso Lourenço Moreira Correa − Casa Civil: Eu acho que nós precisamos de pessoas com mais experiência, na Comissão, nessa área de gestão, orçamento etc. É inevitável que a Comissão dependa de informações e, normalmente, quem teria o olho nessas ações seria a própria FUNAI porque, obviamente, ela tem a maior parte dessas ações e, de alguma forma, a FUNAI também teria que tomar conhecimento das ações que estão nas áreas indígenas e que estão sendo implementadas por outros órgãos. Nós não temos condições de fazer isso porque o José Maria faz um esforço enorme porque não existe um trabalho de sistematização dessas ações, em termos de conhecimento dessas ações. Por exemplo, o espelho que o INESP faz de orçamento é só um acompanhamento da execução, com um quadro que já foi até distribuído para todo mundo. O problema é que a gente não consegue sair disso, em termos de visualizar as ações que chegam às comunidades indígenas. Então, nós queríamos ter, pelo menos, uma descrição. Os acompanhamentos que são feitos nos relatórios de gestores de programas, de gestores de ações nos Ministérios são muitos formais e, basicamente, se restringem à aplicação de recursos. Depois do GT de 2005, que aprovou várias propostas, inclusive, a Comissão Nacional de Política Indigenista, nós tentamos, mas não conseguimos articular com os órgãos de planejamento do Ministério da Justiça e de outros Ministérios e nunca chegamos a resultado algum. Há um decreto, da década de 90, envolvendo um processo similar para fazer essa articulação e levantamento de ações, mas também nunca teve resultado.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Eu vou dar um encaminhamento. A Olga quer falar.

Olga Cristina López Ibanez Novion − Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão: Francisca, eu não sei se você lembra que na reunião da Paraíba, ou posterior à Paraíba, eu fiz um levantamento completo das ações que dizem respeito aos povo s indígenas, no PPA 2008-2011, mas não me restringindo apenas ao Programa Proteção e Promoção dos povo s Indígenas, que é próprio da FUNAI, e sim em relação a outros programas e ações de governo voltadas para os povo s indígenas e comunidades tradicionais. Pegando o que o André falou, eu acho que poderia ser uma saída fazer essa reunião conjunta porque a Carteira Indígena tem um monte de ações que são estritamente para os povo s indígenas, mas, às vezes, nós não temos uma visualização dessas ações, ou seja, o que é feito, como é feito etc. Para nós também é um pouco difícil acompanhar se esses recursos estão sendo bem gastos, se os resultados foram obtidos ou não, mesmo porque, não temos relatórios em cima disso. Então, eu acho

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que talvez seja uma saída fazermos essa reunião com a proposta de transferência das experiências, juntando as duas Subcomissões e pensarmos uma forma de implementarmos tudo isso e acompanhar como isso está sendo gerenciado.

Celso Lourenço Moreira Correa − Casa Civil: Eu queria só fazer um complemento. Esse tipo de levantamento e de acompanhamento é extremamente complicado, principalmente, com relação a um tema que envolve praticamente a atuação de todos os Ministérios. Então, eu acho muito difícil uma Subcomissão da CNPI, que se reúne bimensalmente, fazer um trabalho profundo nesse sentido. Eu acho que a gente tem que buscar outros mecanismos de fazer isso. Foram tentadas ações com Grupos de Trabalho, com Decreto instituindo esses Grupos de Trabalho e não conseguimos fazer isso. Então, eu acho que uma comissão que se reúne de dois em dois meses vai ter muita dificuldade de fazer isso, exceto, se for criada uma comissão com servidores de todos os órgãos envolvidos, que se reúna de 15 em 15 dias, ou então, que se monte um sistema de informação. Acho que é necessário se fazer uma coisa bem mais complexa do que uma Subcomissão para a gente chegar a esse objetivo de acompanhar e conhecer de perto as ações do governo federal em terras indígenas. E nós estamos falando só do governo federal em terras indígenas. Ainda tem um mundo de coisas por trás disso, como o acompanhamento de recursos que são descentralizados para os municípios, que também é uma demanda do movimento. Ou seja, é uma tarefa razoavelmente grande para que uma Subcomissão tenha condições de fazer. Talvez seja por isso que a Subcomissão está meio perdida no sentido de atender a essa demanda que foi aprovada como atribuição dela.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: O Saulo está inscrito e vamos encerrando porque eu já vou dar um encaminhamento.

Saulo Ferreira Feitosa − Conselho Indigenista Missionário: A minha proposta é que a Presidência da CNPI solicite que esse trabalho seja feito pelo IPEA e enviado à Subcomissão.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Eu queria tentar recuperar um pouco algumas coisas aqui e dar algum encaminhamento. Eu considero que essa subcomissão é muito mais importante do que a importância que está se dando para ela. Então, se a gente pediu informação para os ministérios e esses ministérios e outros órgãos governamentais não encaminham, isso é um problema porque isso é prioritário. Então, acho que o primeiro encaminhamento a ser dado é o seguinte: A Presidência da CNPI, junto com a Subcomissão, vai procurar o Ministério do Planejamento porque é o Ministério central nessa questão. Não estou fazendo juízo em relação ao trabalho da Olga, ela sabe muito bem disso, mas, estou falando aqui em termos de encaminhamento superior do Ministério do Planejamento. A FUNAI tem feito um esforço enorme nesse sentido. A FUNAI, por sua própria conta, com o apoio do Ministério do Planejamento, já fez uma renovação do PPA, juntando dois programas em um único PPA, que é o Programa de Proteção e Promoção dos povo s Indígenas. Eram dois programas e juntamos num único programa. Só que, esses dois programas, na verdade, eram cinco programas. Era muito pior do que só dois programas. Nós fizemos um movimento, que partiu da FUNAI, de englobarmos tudo no

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Programa de Proteção e Promoção de povo s Indígenas, juntando todas as ações que estavam nos dois programas anteriores, nesse programa. Só que há muitos Ministérios que desenvolvem ações que não estão dentro desse programa, ou tem vários Ministérios que têm ações que não são específicas da população indígena e que também estão fora desse programa. Há ainda ministérios que não têm nenhuma ação específica no PPA para povo s indígenas. Então, nós temos feito um trabalho junto ao Ministério do Planejamento para que isso ganhe força porque só assim a gente tem condições de consolidar a gestão da política indigenista de uma forma articulada. O PPA é o centro da gestão da política indigenista, do ponto de vista da gestão e do planejamento.

Eu vi que tudo isso está colocado aqui no relatório da subcomissão. Eu só estou ressaltando isso porque eu acho que nós temos que dar uma ênfase à aprovação desse encaminhamento. Inclusive, esse é um ponto central da determinação que o Presidente Lula nos deu na reunião da CNPI de junho. Há um sistema de monitoramento que nós estamos montando. Daqui a pouco, vou apresentar o início do processo desse sistema de monitoramento e ele tem a ver com isso também. Eu quero reiterar aqui o pedido para que os Ministérios levantem e encaminhem essas informações para a Subcomissão e nós vamos fazer um esforço de procurar os Ministérios para isso.

Respondendo ao Saulo, eu acho que o IPEA é muito bem vindo. O Frederico, que é do IPEA, é um grande parceiro nosso e o IPEA é muito bem-vindo para contribuir para isso. Só que não é só o IPEA que resolve. O Frederico está aí e sabe que o IPEA sozinho também não resolve essa questão porque não é uma questão só de acompanhamento que ele faz. A minha compreensão é que a participação do IPEA, conforme você está sugerindo, é perfeita e deve ser acolhida, mas considerando que somente a participação do IPEA não resolve. O que resolve é efetivamente que o Ministério do Planejamento, sobretudo, e os outros ministérios encaminhem as informações e nós possamos evoluir nessa questão da gestão do orçamento e planejamento da política indigenista. Só tem uma informação importante que eu acho que a gente precisa dar, porque não sei se o pessoal da FUNAI deu esse informe na Subcomissão, é que teve uma coisa positiva que foi feita da reunião passada para essa. Foi um seminário, que foi promovido pelo Ministério do Planejamento, que reuniu todos os órgãos do governo federal que participam do programa coordenado pela FUNAI − Programa de Proteção e Promoção dos povo s Indígenas − para discutir os modelos lógicos do programa. Já marcamos um momento em que vamos discutir os indicadores. Esse trabalho está sendo feito e é um passo importante porque, inclusive, já vários órgãos e Ministérios participaram desse Seminário. Houve uma resposta positiva, mas não é suficiente. Então, temos que dar prioridade a esse encaminhamento.

Eu fiz esse comentário porque essa é uma questão que me toca diretamente, até porque a FUNAI é a coordenadora do programa. Eu queria considerar que tudo o que está colocado aqui nesse relatório da Subcomissão seja aprovado, com essa ênfase que eu estou colocando. Essa é a minha proposta de encaminhamento para a plenária e queria saber se tem alguma posição contrária.

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Saulo Ferreira Feitosa − Conselho Indigenista Missionário: Passar pelo Ministério do Planejamento, tudo bem. Agora, o que o Celso colocou foi que as Subcomissões se reúnem a cada dois ou três meses.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Desculpe, Saulo. Eu não sei se ficou claro, mas o que eu quis dizer é que, como Presidente da CNPI, eu vou comandar esses processo de articular com os Ministérios e puxar essa questão.

Saulo Ferreira Feitosa − Conselho Indigenista Missionário: Não tinha ficado claro. Então, parabéns.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Então, não vai ser a ABC. Vou ser eu, como Presidente da CNPI e Coordenador do Proteção e Promoção dos povo s Indígenas que vou puxar essa questão. É a isso que eu estou dando ênfase.

Gilberto Azanha − Centro de Trabalho Indigenista: Mas não implica que o IPEA possa ter um projeto para isso.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: De forma alguma. O Fred é representante do IPEA, ele está ali atrás e ele sempre é parceiro nosso. Obviamente que estamos abertos à contribuição do IPEA.

Olga Cristina López Ibanez Novion − Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão: Só para responder ao Gilberto. Os formulários que nós já encaminhamos por duas vezes aos Ministérios e que não recebemos resposta, e que o Márcio que disse agora que vai atrás, foram elaborados pelo Frederico enquanto membro da Comissão e técnico da IPEA. Então, o rigor do IPEA está contido nesse questionário.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Então, até pode constar nessa deliberação nossa que a subcomissão convidará o IPEA para contribuir para a discussão desse programa. Então, está aprovado esse encaminhamento? Então, aprovado o encaminhamento da Subcomissão de Políticas Públicas, Orçamento e Gestão. Em seguida, passamos para a última subcomissão, que é a Subcomissão de Gênero, Infância e Juventude. Já foi distribuído, inclusive, a memória da reunião e eu queria passar a palavra a quem de direito, à Professora Pierlângela.

Pierlângela Nascimento Cunha −Relatora da Subcomissão de Gênero, Infância e Juventude: Boa tarde. Estamos quase terminando o nosso trabalho e não sei se vocês vão conseguir colocar na caixinha de vocês mais informações porque, depois de dois dias discutindo diversos temas, deve estar tudo embaralhado. Na reunião da nossa Subcomissão de Gênero, Infância e Juventude estavam presentes: o Kohalue, eu, a Léia, Valéria, que é a nossa convidada permanente, o Alexandro, da Secretaria Nacional da Juventude, a Helena Di Biasi, da FUNAI e a convidada Mary, do CONANDA.

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O primeiro assunto a ser discutido na nossa subcomissão foi a Lei Maria da Penha. Como é de conhecimento de todos, no ano passado, foi realizado o Encontro Nacional de Jovens e Mulheres Indígenas, já como decorrência de várias oficinas que tinham sido realizadas anteriormente pela FUNAI. Foram-nos repassadas as informações de como estão previstas essas oficinas. Isso está sob a coordenação da Léia, que é responsável pela Coordenação das Mulheres Indígenas da FUNAI. Então, serão realizadas 13 oficinas em diversos lugares. A primeira já foi realizada em Manaus, do dia 08 a 10 de setembro, com a participação de indígenas de Roraima e Amazonas. As outras serão realizadas até ao final do ano e em 2009.

Nós tivemos uma oficina preparatória antes dessa primeira oficina porque o que acontece é que muitos homens, indígenas e não indígenas, estão com medo das mulheres agora por conta da Lei Maria da Penha. Então, dentro de um contexto fora das comunidades é uma coisa, mas dentro das comunidades indígenas, a nossa preocupação é como levar a Lei Maria da Penha ao conhecimento das mulheres indígenas. Nós tivemos uma oficina preparatória, antes dessa primeira oficina, juntando mulheres indígenas de todas as organizações indígenas, para ouvirmos e discutirmos a metodologia junto com a FUNAI. O que foi encaminhado é que as oficinas não tratariam só da Lei Maria da Penha. A Lei Maria da Penha seria um dos pontos a serem tratados. O ponto principal seria a violência. Então, o que era para ser uma oficina só para passar a legislação e o conhecimento, devido a todos os relatos das mulheres, e por conta do tema ser bastante delicado porque muitas culturas são bastante machistas e as mulheres não terem o direito de falar, isso requer a preparação de uma metodologia bem específica para se trabalhar. A Lei Maria da Penha é colocada como um instrumento, daí toda a nossa preocupação com o contexto que vivemos enquanto mulheres indígenas. Toda essa nossa preocupação foi discutida com quem estava coordenando a oficina, com quem foi tratar sobre esse tema lá. Nós fomos convidados a participar das próximas oficinas. Não se a nossa agenda vai permitir, mas nós somos três e vamos dividir esse trabalho. Pela experiência da primeira oficina, já foram suscitadas algumas questões.

Quanto aos encaminhamentos, essa solicitação de a gente participar das oficinas será encaminhada ao Presidente da CNPI para apreciação e atendimento, conforme todas as demandas que nós temos.

O segundo ponto foi a apresentação de uma proposta da Coordenação Geral da Educação da FUNAI que nos trouxe uma proposta de ser publicado uma versão comentada do Estatuto da Criança e do Adolescente, levando em consideração a legislação da OIT e as legislações indigenistas. Esse material foi nos apresentado, mas como não tinha para todo mundo, não teve como a gente apreciar. São 77 páginas, já com os comentários jurídicos que foram solicitados, vendo essa questão da legislação indigenista.

Em relação aos encaminhamentos, segundo o que nos foi repassado, dentro da própria FUNAI já houve uma oficina para apreciação desse material do ECA comentado na visão jurídica e a proposta é também colocar comentários na área antropológica. A idéia é fazer uma discussão antropológica também e não só a parte jurídica, ou seja, que tivesse uma parte antropológica dentro do Estatuto. Não sei como se faz isso, mas a Dra. Deborah tem uma experiência que pode nos colocar. A nossa preocupação é de não

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levar as legislações só por levar, mas há toda uma preocupação com o nosso contexto, principalmente, vendo se a questão da legislação indigenista também está apreciada nesses produtos. Como são temas que estão sob a nossa responsabilidade de encaminhar, a Subcomissão vai analisar essa versão proposta, mas, como é um texto bastante extenso, nós vamos avaliar essa proposta na próxima reunião. Depois, a FUNAI encaminhará a versão com os comentários antropológicos.

Posteriormente, serão realizadas oficinas sobre o tema “família”. Depois de fazer várias discussões, principalmente, com a experiência que nós temos de vários eventos, como a Oficina com Mulheres, Oficina com Jovens, e também no Encontro Nacional e com a Oficina sobre a Lei Maria da Penha, nós chegamos à conclusão que a questão que nós vamos centrar agora é a família. Havia o objetivo de realizarmos oficinas mais específicas e, com essa experiência que nós acumulamos nesse período de trabalho, de encontros e discussões, nós percebemos que não podemos dividir os problemas em caixinhas e devemos focar na família. Agora, nós vamos começar a discutir como é que vai ser feito um trabalho desse porte para que a gente possa estar discutindo a questão da família, de forma articulada, não separada. Então, depois da discussão sobre a Lei Maria da Penha e do ECA, esse foi o nosso encaminhamento.

O terceiro foi sobre o infanticídio. É do conhecimento de todos o Projeto de Lei 1057 do Deputado Henrique Afonso. Nos foi relatado como é que está a situação atual desse encaminhamento. A Valéria é quem acompanha isso em Brasília. Sobre esse PL, há uma forte pressão da bancada Evangélica em relação a esse tema. Já houve várias audiências e nós temos acompanhado isso e a Valéria, tem acompanhado mais aqui em Brasília e tem nos repassado essas informações. Diante dessa pressão, não houve nenhuma manifestação dos povo s indígenas sobre o tema. Nós já repassamos toda essa discussão para o povo Ianomâmi. Eles estavam preparando um documento para se manifestar sobre esse tema também porque, das outras vezes, eles se manifestaram, mas isso não teve muito impacto.

O que é que nós tiramos de encaminhamento? Como tem algumas pessoas que não tratam desse tema, a nossa subcomissão era muito dividida, o nosso encaminhamento foi no sentido de que todos vão ter que se apropriar desses temas. Esse foi o nosso encaminhamento. Então, nós estamos juntando todos os documentos que tratam desse tema. Temos um parecer jurídico sobre esse projeto de lei, temos as falas das audiências que foram realizadas. Então, o nosso objetivo é juntar tudo o que temos sobre o tema que está sendo tratado, para a gente fazer uma análise dessa documentação e encaminhar para subsidiar a Relatora. É claro que isso tem que passar por uma análise jurídica. A nossa proposta é que a CNPI também se posicionasse sobre o tema. Diante disso, nós vamos precisar de bastante assessoria jurídica referente ao tema. É um tema muito delicado e temos que abordar várias questões que estão relacionadas com esse tema do infanticídio. Então, foram esses os encaminhamentos em relação ao infanticídio.

O quarto ponto é que nos foi apresentada uma indicação que foi feita ao Presidente da República e ao Ministro da Justiça pela Deputada Janete Rocha, em 2008, sobre a criação do Conselho Tutelar

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Indígena. Após a leitura da indicação e analisando os documentos que já foram discutidos, definimos que iremos providenciar toda a documentação que trata do assunto e contextualizar as discussões que já foram feitas pelos indígenas. Nas reuniões e nas discussões sobre a questão do ECA, nós já temos um documento que foi discutido com os indígenas sobre essa questão do Conselho Tutelar Indígena. Dentro do movimento indígena, essas discussões não avançaram, mas, foram feitos alguns relatos sobre o Mato Grosso do Sul e alguns locais específicos, em que foram relatadas várias situações em que estavam solicitando abrigos para crianças etc. Esse tema não tem sido debatido ultimamente, então, nós vamos pegar toda a documentação já existente sobre a criação ou não do Conselho Tutelar. Já há uma discussão sobre esse tema com os indígenas, mas, nos últimos tempos, isso não tem sido discutido com ênfase. Essa indicação é para que a gente encaminhe um documento ao Ministro da Justiça e ao próprio Presidente da República em relação a um posicionamento referente à criação do Conselho Tutelar Indígena. Foi esse o encaminhamento.

O quinto ponto é o Estatuto dos povo s Indígenas. A nossa orientação é que no roteiro sejam incluídas questões referentes a gênero, infância e juventude indígena, não como um tema específico, mas dentro dos demais temas. Essa é uma sugestão nossa, da Subcomissão, que não foi discutida com as organizações das mulheres. Então, a idéia é que, nas Oficinas Regionais, sejam dados outros encaminhamentos referentes ao tema. Nós tivemos muito pouco tempo para fazer uma análise geral do estatuto e dar uma definição se seria um capítulo, ou se essas questões estariam dentro dos vários temas. Então, a nossa proposta é que a Subcomissão leve em consideração a inclusão dessas questões e, nas oficinas, com a participação das mulheres, certamente, vão suscitar questões referentes aos temas aqui tratados.

Como encaminhamentos finais, a subcomissão entendeu que, a partir dos trabalhos que já vêm sendo desenvolvidos em parceria com a FUNAI, Secretaria Nacional de Juventude e outros órgãos do governo federal, o foco dessa Subcomissão será a família. Isso se dá devido à experiência desses trabalhos, não deixando de observar as questões mais específicas, no caso da criança, dos jovens, dos idosos, enfim. Será realizada uma visita da Subcomissão a Dourados, no Mato Grosso do Sul, nos dias 04 a 06 de novembro de 2008, com o objetivo de tirar como experiência a situação local, fazer uma análise da demanda e do que foi atendido nas questões referentes a esta Subcomissão, para que possamos buscar subsídios práticos para o trabalho dessa Subcomissão. Nós temos recebido também documentos sobre a questão da morte das crianças por desnutrição e tudo mais. Essa Subcomissão entendeu que nós precisávamos fazer uma visita in loco. A nossa preocupação é que foram criados vários GTs para resolver a situação de Dourados e nós queremos ver o que saiu de prático nisso. A gente também entendeu que não é só a questão das políticas, mas nós queremos ver como é que se dá essa articulação entre a política e a prática no local. Entendemos que devemos fazer um levantamento mais específico sobre o que nós estamos precisando. Eu queria registrar aqui que, tudo aquilo que nós solicitávamos da Comissão de Orçamento, buscando onde estão as mulheres nessas ações, nós achamos importante saber do governo onde estão essas ações e o que está sendo feito, mas a nossa preocupação, enquanto subcomissão, é se houve alguma resposta referente àquilo que foi demandado da nossa subcomissão. Como ela é tão transversal, eu não sei se atentaram para algum encaminhamento referente à nossa subcomissão, dentro dessa

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transversalidade dos Ministérios. Nós também não recebemos nenhuma resposta. Na hora da apresentação da plenária, nós esperamos que tenham sido contempladas as questões que foram encaminhadas referentes à nossa Subcomissão.

Então, esse é o nosso trabalho. Eu não sei se alguém mais da Subcomissão querem completar alguma coisa.

Capitão Potiguara − Região Nordeste-Leste: A preocupação dessa subcomissão é com relação ao jovem e ao alcoolismo, que está desenfreado nas terras indígenas. Nós temos uma preocupação muito grande e queremos que o governo implemente projetos de formação de cursos profissionalizantes, e principalmente, na área de esportes, porque precisamos ocupar esses jovens para que eles saiam dessa demanda do alcoolismo, que é uma demanda muito grande nas terras indígenas.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Feita a exposição, nós temos mais 15 a 20 minutos.

Pierlângela Nascimento Cunha −Relatora da Subcomissão de Gênero, Infância e Juventude: Eu só queria complementar também que um dos resultados da nossa Subcomissão nesse trabalho que a gente vem desenvolvendo foi a inclusão dos resultados desses encontros que foram realizados, no Plano Nacional de Política para as Mulheres, inclusive, com garantia de orçamento. No caso da própria Oficina sobre a Lei Maria da Penha já foram garantidos recursos. Nós queríamos registrado também o fortalecimento da Coordenação das Mulheres Indígenas da FUNAI.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Sem dúvida. Isso é sempre lembrado e eu sempre digo que isso está contemplado na nossa política. Estão inscritos: a Dra. Deborah, Celso e Saulo.

Deborah Duprat − Ministério Público: Nessa parte de acompanhamento de projetos legislativos, eu acho que precisa haver uma atenção especial sobre a Lei Geral da Adoção que traz um artigo específico sobre a adoção de crianças nascidas em comunidades que praticam infanticídio. Eu acho que a Comissão devia estar atento a isso. Eu estou à disposição para encaminhar esse material. Eu tenho quase certeza que já é lei e acho que isso passou batido por todos nós.

A outra coisa, Pierlângela, é que eu devo confessar um certo desconforto, quando eu leio a pauta da Subcomissão porque eu acho que ela está a reboque do que existe para as sociedades de grande formato. Não existe aqui uma preocupação em relação ao que a Convenção da 169 diz, que é o controle e domínio das suas instituições. Isso está virando o contrário. Os povo s e organizações indígenas estão reféns dos programas e projetos de governo em relação à mulher, à criança e ao adolescente. A Lei Maria da Penha, por exemplo, é um instrumento importantíssimo, valiosíssimo, mas eu estive em pelo menos uma oficina e vi o desconforto das mulheres indígenas com as soluções apresentadas pela Lei Maria da Penha, com o afastamento do lar, por exemplo. Como é que isso funciona dentro de uma

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comunidade? Estão todos angustiados em fazer incidir a Lei Maria da Penha num ambiente muito pouco propício a isso.

A mesma coisa eu vejo nessa proposta de Conselho Tutelar Indígena. É a mesma crítica que eu faço a uma proposta surgida no ano passado, sobre a tal “Universidade Indígena”, que foi feita por gente super bem intencionada. O que eu estou questionando são essas instituições genéricas que serviriam para todo e qualquer povo , atenderiam indistintamente qualquer grupo indígena, porque elas sofrem do mesmo pecado das nossas instituições que também estão desatentas à diferença. Você ter um Conselho Tutelar Indígena não vai ser muito diferente de um Conselho Tutelar como o nosso porque ele também é genérico. Será que ele vai dar conta da diferença que existe entre um Ianomâmi e um Caiapó? Enfim, entre todos vocês. Eu acho que, numa sociedade plural, a luta é por instituições plurais e não por guetos, como o Conselho Tutelar Indígena, o Hospital Indígena, a Faculdade Indígena. Eu tenho muito receio que vocês fiquem em guetos. Essa é uma sociedade tão plural − e não só os povo s indígenas, que em si já seriam uma coisa de uma pluralidade enorme, considerando a diversidade entre povo s indígenas − mas, nós temos as comunidades quilombolas, ribeirinhas, entre outras, e nós começaríamos a ter instituições para cada um deles? Eu tenho muito receio a respeito disso. Eu acho que a luta de todos é por uma sociedade plural. Todos nós estamos na mesma sociedade, que tem que estar atenta às diversas especificidades e não a criação de instâncias privativas dos povo s, que também não vão dar conta porque teria que ter uma instância para os Ianomâmis, uma instância para os Caiapós, tamanha a diversidade existente. Então, essa é uma percepção minha, que não precisa ser necessariamente a de vocês.

Com relação ao ECA, eu acho até interessante esses comentários jurídicos e antropológicos, se o propósito for apresentar o ECA para as comunidades. Mas, eu acho que há uma outra missão frente ao CONANDA, aos Conselhos Tutelares, que é mostrar a necessidade de que o ECA tenha várias leituras, a partir das várias diferenças. É isso que não está acontecendo. Eu tive uma discussão recente sobre trabalho infantil porque, no limite, o filho do ribeirinho que vai pescar com o pai, está praticando trabalho infantil. Então, é preciso ter muito cuidado com isso porque são instituições que têm o melhor propósito, mas, se não tiverem atenção para as diferenças, caem em armadilhas.

Celso Lourenço Moreira Correa − Casa Civil: A Deborah acabou fazendo uma transição da fala que a Pierlângela estava fazendo para a fala que eu pretendo fazer. Eu sou membro do Conselho Nacional de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência e esse tema do infanticídio já foi tocado lá. Eles queriam tirar uma deliberação e eu pedi que não o fizessem sem antes ouvir o posicionamento dos povo s indígenas. Então, essa é uma pauta que está lá pendente. A Deborah citou também o CONANDA e esse tema tem repercussão, no mínimo, nesses dois Conselhos. São Conselhos bem organizados, que têm uma relação meio sistêmica com os Conselhos Estaduais e Municipais, então, a partir do trabalho que a Subcomissão se propõe a fazer sobre essa questão do estudo do ECA numa visão antropológica, não é só levar para as comunidades indígenas, mas levar esses estudos também para dentro desses Conselhos, apresentar isso nesses Conselhos porque a veemência como o CONADE reagiu a essa questão do

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infanticídio indígena foi enorme. A impressão que dava é que todo o índio era criminoso. Era uma coisa pesada. Então, falta uma compreensão. Eles têm o ponto de vista deles e a reação é grande porque são pessoas que lutam contra a discriminação e têm um trabalho sério nesse sentido. O CONADE é um dos Conselhos que eu tenho mais orgulho de participar porque o Conselho funciona muito bem, já tem um longo tempo, as pessoas trabalham seriamente, já têm uma dedicação incrível, você vê aquelas pessoas lutando para conseguir espaço numa diversidade que, às vezes, a gente não compreende como essas pessoas avançar tanto e tão longe num Conselho com tanta diversidade.

Então, a partir desse momento que a Subcomissão conseguir construir essa visão, essa forma de tratar essa questão, seria interessante abrir espaço nesses Conselhos para fazer um diálogo. Esse é um ponto.

Essa questão da transversalidade e as políticas da juventude e da mulher é um processo extremamente difícil. Eu quero ler aqui um trecho de cinco linhas do Projeto de Lei 6264, que está na Câmara, e que é resultado do Projeto de Lei 213/05, que já foi aprovado no Senado. É o Estatuto da Igualdade Racial. A dificuldade de fazer isso é tamanha que eles aprovaram no artigo 10 desse PL que foi aprovado no Senado e que hoje é o PL 6264 na Câmara, e que diz o seguinte: “O Relatório Anual dos Ministros de Estado, previsto no art. 87, parágrafo único, inciso III da Constituição Federal, conterá informações sobre as políticas públicas, programas e medidas de ação afirmativa efetivadas no âmbito de sua esfera de competência”. Ou seja, é quase que uma apelação porque você não consegue enxergar as ações, então, põe no Estatuto porque no Relatório dos Ministérios tem que constar a descrição dessas ações. Essa é uma sugestão para incluir no Estatuto.

Elcio Severino da Silva – povo Manchinere: Boa tarde. Eu sou do Estado do Acre e a minha pergunta é com relação ao Conselho Tutelar Indígena. Isso tira a nossa autonomia com relação aos nossos filhos. Na própria Constituição está escrito que nós temos que viver de acordo com a nossa realidade, com as nossas culturas etc. Eu penso que, ao se constituir um Conselho desses − e eu gostaria até de ouvir o posicionamento de outros Membros da CNPI − isso nos torna reféns dessa lei que, muitas vezes, não serve muito para a gente. Eu acho que nós deveríamos trabalhar a questão da educação indígena porque é aí que estão os valores para fazer crescer um homem. É na educação indígena, nas nossas tradições. Eu acho que seria bem mais proveitoso a gente trabalhar esse meio da consciência e demonstrar que realmente o povo indígena tem condições de cuidar dos seus problemas internos. Eu acho que é isso que a gente poderia estar trabalhando. Realmente, até parece que nós não temos condições de cuidar dos nossos filhos.

Com relação à Lei Maria da Penha, ela deveria ser tratada mais como uma conscientização. Nós também temos as nossas culturas. Então, nós temos que respeitar a lei, mas não esfacelar o pouco da cultura que ainda existe entre nós. Muito obrigado.

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Saulo Ferreira Feitosa − Conselho Indigenista Missionário: É sobre o item 03, a questão do infanticídio. Primeiro, eu queria um esclarecimento da Dra. Deborah. Você está falando que existe uma lei, independente desse Projeto de Lei?

Deborah Duprat − Ministério Público: É a Lei Geral de Adoção.

Saulo Ferreira Feitosa − Conselho Indigenista Missionário: Certo. Em relação ao PL 1057, a relatora já apresentou o voto dela, na verdade, agora, a gente teria que buscar uma conversa com os Membros da Comissão de Direitos Humanos. Eu acho que o projeto tramita lá. Acho que uma das preocupações que estão sendo colocadas no momento é a maneira como eles estão procedendo. Eu vi que há requerimento na Câmara para que o Deputado Henrique Afonso e outros se desloquem até à terra indígena Suruhaja para fazer uma consulta sobre o Projeto de Lei porque esse Projeto de Lei ganha o nome de uma indígena Suruhaja. Eu até estive conversando com o pessoal do Departamento de Índios Isolados sobre isso e realmente tem uma mobilização muito grande por parte deles. No dia 17 de junho, houve mobilização em todas as capitais do país a favor do Projeto de Lei. Agora, além dessa questão de transformar o infanticídio em homicídio comum, porque eles não tratam como infanticídio e sim como homicídio comum, esse projeto traz um outro problema com relação aos indigenistas, uma vez que, estabelece que o indigenista tem a obrigação de informar onde está havendo o infanticídio. Se não informar, você já vai ser processado por crime de omissão. Você se omitiu de socorrer a possível criança que ia nascer. Inclusive, esse é um crime presumido porque você teria que deduzir que a mulher gestante iria sacrificar a criança. Então, o Projeto de Lei tem muitos problemas. Mas, a minha preocupação é para além do Projeto de Lei porque isso está sendo transformado, dentro dessa conjuntura, numa bandeira contra os direitos indígenas porque a discussão que tem é uma discussão muito preconceituosa. É como se todos os povo s indígenas no Brasil praticassem o infanticídio. Eu acho que o posicionamento da CNPI, além da questão do infanticídio, teria que contextualizar. Vocês aqui também não dizem qual é a posição da Subcomissão.

Para contribuir no debate, eu queria dizer que, na UnB, há uma cátedra de Bioética. Inclusive, eu participo desse grupo, que já vem sendo pressionado por vários segmentos e já tem discutido e tem algumas produções nessa área. Eu acho que nós poderíamos envolver esses grupos que já estão debatendo o tema.

Pierlângela Nascimento Cunha − povo Wapichana: É só um esclarecimento quanto ao entendimento da Dra. Deborah sobre a questão do Conselho Tutelar Indígena. Nós estamos trazendo a informação aqui que a Deputada fez essa indicação e que os indígenas têm que se posicionar. Está escrito no Relatório da nossa Subcomissão: “Definimos que iremos providenciar toda a documentação que trata do assunto e contextualizar as discussões que já foram feitas pelos indígenas”. Então, não é uma discussão que está partindo dos indígenas, nem dessa Subcomissão. É preciso que fique bem claro aqui que não é a Subcomissão que está criando o Conselho Tutelar. O Elcio até me perguntou se essa era uma proposta da Subcomissão. Não é. Nós estamos trazendo o que está sendo discutido, até a questão do infanticídio

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também. Essas questões estão sendo muito polemizadas, muito questionadas e se nós, como indígenas, não tirarmos um posicionamento em relação a uma indicação como essa, que é feita ao Presidente ou ao Ministro da Justiça, é perigoso para a gente. A Subcomissão tem essa documentação. Nós vamos sistematizar essa documentação porque está lá dizendo que os indígenas não querem conselhos tutelares. É isso que nós estamos colocando. Agora, a gente tem que trazer isso para a pauta. Nós seríamos cobrados depois se não o fizéssemos. A discussão vai muito mais além disso em relação a essas questões. Era só para esclarecer. Nós trazemos essas questões em pauta, mas isso não quer dizer que a gente se pauta por essas questões.

Em relação à Lei Maria da Penha, como eu falei no início, o tema a ser tratado é a violência contra as mulheres indígenas. A Lei Maria da Penha tem que ser levada ao conhecimento das mulheres indígenas, mas ela não é o instrumento, até porque, nós discutimos esses instrumentos, com as mulheres, dentro da própria comunidade. Há uma grande dificuldade das mulheres falarem sobre esse assunto. Nós estamos tendo todo o cuidado e a Lei Maria da Penha vai como um informativo e não como algo que tem que ser aplicado. Até porque, nós conhecemos a nossa realidade e sabemos como são as coisas, até porque, a reação dos homens em relação a isso é muito forte.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Homem é homem em qualquer lugar. Tem gente que diz que o sindicato dos homens é o maior sindicato do mundo e o mais organizado, para o bem e para o mal. O Caboquinho tem uma questão de ordem.

Antonio Pessoa Gomes (Caboquinho) − povo Potiguara: Eu queria fazer uma pergunta para a Dra. Deborah. A própria Constituição garante o nosso direito de organização social, de acordo com os costumes etc. A meu ver, um Conselho Tutelar Indígena está indo contra a própria organização social de determinado povo . Isso é garantido na Constituição. Então, eu queria ver como é que fica essa relação.

Deborah Duprat − Ministério Público: Ela não é tão simples. É fato que a Constituição assegura a todos os povo s indígenas a eleição do seu destino e a sua organização social. Acontece que a cultura é um processo dinâmico. Vocês não estão caçando e pescando como estavam há 500 anos atrás e há grupos indígenas que incorporaram, dentro da sua cultura, algumas práticas nossas, inclusive, de fazer uso da nossa Justiça e das nossas instituições. Por exemplo, nós temos casos de Kaingangs que entram com ações de reintegração de posse contra o cacique que os expulsou da área. Eles fazem uso da nossa Justiça. Para eles, isso é cultural, faz parte. Já em outros grupos, há mães que se socorrem do Conselho Tutelar contra a violência paterna. Então, dizer que essas instituições não podem, de forma alguma, ser usadas dentro das áreas indígenas, vai depender muito de cada grupo. Alguns incorporaram isso. São 500 anos de contato, então, alguns grupos têm isso como absolutamente natural. E, hoje em dia, isso é cultural. Por exemplo, no Mato Grosso do Sul, tinha uma polícia indígena. Então, é muito complicado, não é uma questão simples não. Tem também a questão da pensão alimentícia e INSS. Recentemente, nós tivemos uma questão bastante interessante em relação à pensão alimentícia. Era uma família poligâmica

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morreu o cara. O INSS falou que só pagava para uma mulher. Só que eram três mulheres e as três estavam reivindicando a pensão do INSS. Houve um estudo antropológico e o INSS concordou em dividir.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Não há mais nenhuma inscrição e nós estamos já no final. Diante de tudo o que foi relatado pela subcomissão, e pelos encaminhamentos sugeridos, eu vejo que não há nenhuma divergência nas falas aqui em relação a esses encaminhamentos que estão no final da exposição da subcomissão. Agora, foram levantadas várias sugestões que eu acho que têm que ser registradas em ata e incorporadas pela subcomissão. Acho que esse é o entendimento que a gente tem. Há uma série de recomendações e sugestões que eu acho que são importantes para a subcomissão. Diante disso, eu considero que os encaminhamentos, diante das colocações que foram feitas, estão aprovados por unanimidade. Alguém se coloca contra?

Nós estamos concluindo o relato da aprovação das subcomissões, com sugestões etc. Teremos um intervalo de 10 minutos para o lanche e voltaremos para a apresentação final sobre o nosso Sistema de Monitoramento, Análise da Conjuntura Geral, Aprovação das Notas, enfim, conclusão da nossa reunião. Então, temos 10 a 15 minutos de intervalo agora para o lanche.

(Intervalo)

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Vamos começar? Eu vou pedir a ajuda da nossa companheira da FUNAI, a nossa assessora. Eu vou fazer uma apresentação muito rápida, mais para vocês entenderem o procedimento metodológico que nós estamos fazendo sobre o monitoramento e acompanhamento.

Diante da determinação do Presidente Lula para que o Ministério da Justiça, CNPI e FUNAI fizessem um sistema de monitoramento e acompanhamento das deliberações encaminhadas pela CNPI e também dos encaminhamentos de prioridades do governo da política indigenista, nós desenvolvemos esse programa. O programa está pronto, mas agora está em fase de alimentação. Eu contratei uma pessoa na FUNAI que está coordenando somente o processo de alimentação de todas as informações para esse programa. É a Fabiana e ela já deve ter participado de algumas reuniões das Subcomissões. A equipe da Secretaria da CNPI e a equipe da FUNAI estão trabalhando juntas nesse processo.

O programa que está apresentado aqui é o rosto do site. Aqui vocês estão vendo várias informações da CNPI. Aqui nós temos uma planilha de monitoramento de todas as metas da Comissão Nacional de Política Indigenista. Nós temos o acompanhamento das metas, o cadastro dos representantes governamentais, o cadastro dos representantes indígenas, o cadastro dos representantes de ONGs, cadastro de convidados permanentes, os documentos da CNPI. Ou seja, esses são os principais itens e nos podemos acrescentar outros, se necessário, conforme formos avançando. O principal é o primeiro item, que é o monitoramento. Todo esse site está sendo alimentado já pela Fabiana e todos os Membros

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da CNPI vão receber uma senha e, com essa senha, vão ter acesso permanente a esse material. Então, esse site vai ser alimentado permanentemente. Por exemplo, vamos pegar a Subcomissão para Acompanhamento de Empreendimentos com Impacto em Terras Indígenas. Logo em seguida, tem uma coluna de Resoluções da CNPI. Vocês viram que, desta vez, várias Subcomissões já trabalharam com esse formato. Depois, tem a data de aprovação na plenária da CNPI; depois tem as metas associadas a resoluções da CNPI; depois tem a situação atual. Vocês podem ver que, nessa coluna da situação atual, várias das Subcomissões já têm alguma coisa preenchida, a coluna já está sendo alimentada. É justamente nessa coluna que a Fabiana está trabalhando, recolhendo as informações para que a gente possa alimentar essa coluna permanentemente. Então, o importante é que, independente da reunião da CNPI, que acontece de dois em dois meses, esse site vai estar sendo permanentemente alimentado e os Membros da CNPI, com a sua senha, poderão acessar esse site a qualquer momento. Em seguida à situação atual, nós temos atividades; depois temos o órgão responsável, inclusive, o nome da pessoa responsável; depois temos a equipe; prazos, com início e fim; indicadores temporais; documentos relacionados; e observações gerais. Nós vamos estar alimentando isso permanentemente. O Presidente Lula e a Assessoria do Presidente Lula também vão ter uma senha de acesso. Então, nós vamos estar permanentemente informando a Presidência da República e a Casa Civil sobre o andamento dos trabalhos. Como o Presidente pediu, toda a vez que tiver uma reunião da CNPI, um pouco antes da reunião, o Presidente da CNPI e o Ministro da Justiça vão informá-lo do andamento dos trabalhos etc. Só para vocês terem uma idéia, na véspera desta reunião, eu já mandei para o Presidente Lula o relatório preliminar, para ele ver esse modelo que nós criamos e que foi determinação dele.

Então, o objetivo, daqui para frente é que a gente possa alimentar esse material permanentemente e, em breve, vamos estar mandando por e-mail, para cada membro da CNPI, a senha que cada um vai ter para poder acessar esse material pela internet. Inclusive, o membro da CNPI, com essa senha, também vai poder mandar informações, emitir opiniões, fazer perguntas, para nós por e-mail, antes da reunião. Então, quando a gente chegar aqui na plenária vai ser muito mais fácil para todos os membros saberem como cada tema está andando.

Eu coloquei a Fabiana para coordenar isso porque eu achei que essa idéia do Presidente ajudaria a própria FUNAI e a coordenação do Programa de Proteção e Promoção dos povo s Indígenas. Então, eu solicitei que o programa fosse feito de tal forma que a gente possa incluir aí também as ações do PPA, aquilo que nós precisamos monitorar em termos de política geral. Então, nós vamos alimentar isso como um todo, para que, nós tenhamos não só o material das Resoluções e das Comissões da CNPI, mas que a gente tenha as ações do PPA e que isso permita que a gente possa acompanhar também o andamento dos trabalhos da FUNAI e dos Ministérios que fazem parte do programa, como por exemplo, o Ministério da Educação e o Ministério da Saúde. As ações da saúde estão dentro do mesmo programa, então, nós temos condições de acompanhar tudo isso. E os Membros da CNPI, a qualquer momento, podem imprimir esses dados e passar para as suas lideranças, dizendo que as ações do PPA são essas, nós temos um acompanhamento e monitoramento dessa forma. A senha é pessoal do membro da CNPI.

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Essa é a primeira coluna, do acompanhamento das metas. Podemos ver também o cadastro das Subcomissões.

Francisca Navantino − Subcomissão de Educação: Presidente, pelo que estou vendo nessa sua exposição, esse processo também vai possibilitar que a comunidade possa fazer uma avaliação da atuação do seu representante porque ele vai poder acompanhar quais são as pautas que aquele representante de determinada região apresentou na CNPI e quais foram os encaminhamentos. Eu acho que isso é bastante positivo para nós porque era justamente isso que nós estávamos querendo. Se temos as administrações e outras formas de os índios terem acesso, isso vai ajudar e muito. Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: A gente não tinha pensado no acompanhamento do próprio representante, mas isso responde também a uma questão que o Marquinhos levantou sobre uma segunda edição do livrinho da CNPI que nós queremos fazer. Nós avaliamos que esse é um material que também pode ser útil porque o titular ou o suplente da CNPI, na sua base, pode acessar a internet, por exemplo, numa reunião e mostrar quais são as subcomissões, o andamento dos trabalhos etc. Então, isso serve para dar transparência e dar mais visibilidade para o andamento do processo.

Era mais ou menos isso que eu queria apresentar. Como é um problema aberto, nós podemos ir sempre melhorando e enriquecendo o programa.

Carlos Nogueira da Costa Junior − Ministério de Minas e Energia: Tem um item lá de “documentos”. Todas as atas vão estar lá com as manifestações de todas as lideranças. O que vai estar dentro desses quadrinhos são as reflexões e encaminhamentos tirados pelas subcomissões. Eu estou dizendo isso porque eu participei do grupo que estava discutindo o formato lá na Secretaria-Executiva da CNPI. A idéia é, inclusive, que isso vá para o portal, disponível para todo mundo. Agora, as pessoas vão ver os resultados estanques, sem poder mexer. Haverá uma hierarquia de quem vai poder inserir e tirar dados porque ninguém quer que se modifiquem textos etc. Terá uma hierarquia para isso. Agora, para transparência, qualquer cidadão brasileiro, seja indígena ou não, pode acessar o portal e vai ver o que as pessoas estão fazendo. Agora, mexer dentro e ter acesso, seriam só os Membros da CNPI.

Francisca Navantino − Relatora da Subcomissão de Educação: Eu queria só fazer uma pergunta. Qual seria a possibilidade da relação entre esse sistema que o Senhor está apresentando aqui hoje com esse acompanhamento dessas questões no planejamento, gestão e orçamento?

Sandro Emanuel Cruz dos Santos – povo Tuxá: A FUNAI já disponibiliza no site todas as informações sobre as reuniões da CNPI, como atas e todos os documentos. Eu estou achando que esse sistema aqui é para andamento da Comissão. É isso ou não?

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Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Nesse sistema, tem todo o andamento e monitoramento das Resoluções, tudo o que está na coluna do acompanhamento. Mas, além disso, no site da FUNAI vai ter todos os documentos relativos à CNPI, atas, documentos etc.

Para responder à pergunta da Francisca, isso tem tudo a ver com a questão da Subcomissão de Orçamento, Gestão e Políticas Públicas. Como nós estamos incluindo nesse processo as ações, isso vai permitir que a gente possa ter o trabalho dessa Subcomissão mais presente aí, com mais transparência, com o monitoramento das ações, descritivo das ações etc.

Antonio Pessoa Gomes (Caboquinho) − povo Potiguara: Se alguma outra pessoa quiser dar uma contribuição, quiser melhorar um texto, como é que faz?

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Por exemplo, se você, como membro da CNPI, tem a senha e autorização para acessar, se for alguém lá da sua região, deve entrar em contato com o representante da CNPI para colocar a sugestão, ou então entrar em contato com a Secretaria-Executiva da CNPI porque não pode mexer no texto direto.

Antonio Pessoa Gomes (Caboquinho) − povo Potiguara: Pois é. A minha preocupação é justamente quando se fala em mexer no texto. Uma coisa é quando for acordado e deliberado por esta plenária, agora, acho que essa história de mexer e acrescentar não funciona. Isso é para a gente chegar na comunidade, abrir, apresentar para as pessoas o que nós estamos fazendo etc. Agora, esse negócio de mexer não funciona. Se tiver alguma proposta, anota e traz para cá para o debate.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: É exatamente isso. Mexer no texto é só quem tem autorização para mexer no texto e isso tem que ser definido. Agora a apresentação é aberta para qualquer pessoa.

Olga Cristina López Ibanez Novion − Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão: Se fosse possível, eu queria que você mostrasse como é que vai ser esse acompanhamento das ações do PPA por esse sistema.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: A idéia é que, assim como foi feito no acompanhamento nas metas, a gente também tenha aqui as metas que foram definidas pela CNPI. Agora, a gente está tentando aproveitar também para colocar as metas do PPA para que os membros da CNPI e a população indígena possam ter acesso transparente também às informações relativas às ações do PPA.

André Araújo − Ministério do Desenvolvimento Agrário: O ponto de pauta aqui também pressupõe uma análise de conjuntura. Não sei se o senhor ainda vai abrir para esse ponto. Eu acho importante e queria fazer algumas considerações porque eu não sei se só esse sistema atende ao que foi combinado com o

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Presidente Lula na última reunião. Eu acho que nós já cumprimos o nosso papel principal, que era criar o Conselho Nacional de Política Indigenista, que está lá para ser aprovado e tudo mais. Eu me questiono muito se a metodologia que a gente tem utilizado é a mais interessante. Raramente nós conseguimos vencer as pautas e damos muita prioridade. Geralmente, duas subcomissões tomam o tempo de quase toda a reunião. São as duas subcomissões que estão mais bem estruturadas, que contam com seus Conselhos, com a gestão social de seus temas bem estruturados no âmbito da sociedade. E em relação a outros temas importantes como terras indígenas, empreendimentos do PAC, etnodesenvolvimento, entre outros, a gente tem pouco tempo para discutir e fortalecer essas subcomissões. O que o Lula falou é que, nas reuniões, o governo tem que vir aqui dizer o que caminhou e o que não caminhou. Então, para a gente não ficar se frustrando com o andamento da nossa reunião, a gente podia fazer uma avaliação, senão agora, que seja o primeiro ponto de pauta da próxima reunião. Nós temos que experimentar outras formas de conduzir as reuniões da CNPI, até para que, quando tivermos o Conselho, saibamos que já tentamos de um jeito, já tentamos de outro. Essa é a minha visão. Eu não sei se os outros componentes aqui concordam, mas a gente repete encaminhamentos, como por exemplo, essa coisa da propaganda de defesa dos direitos indígenas. Essa era uma decisão tivemos que retomar. Então, são vários encaminhamentos que são tirados e que não andam. A fala dos representantes indígenas se repete bastante em alguns temas. O pessoal do governo, quando se trata do seu tema, está aqui, mas muitas vezes saem logo depois. Não é querendo criticar um ou outro, mas nós temos milhares de coisas para fazer, executar, enfim. Há uma série de questões que eu estou pontuando aqui e, se a gente for abrir, tenho certeza que muita gente vai colocar outras debilidades nossas ainda. Eu me incluo também porque acho que todo mundo tem responsabilidade nessa questão. Eu acho que, para cumprir o que o Presidente Lula colocou, nós temos que mudar a nossa forma de trabalho, até para a gente dar conta de tantas pautas importantes que nós temos e para não frutar a expectativa da base, como vocês mesmo colocam.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Eu acho que nós temos que ter sempre a consciência de que estamos num processo construção permanente da CNPI. Nós não temos uma CNPI acabada, ideal ainda. Nós estamos num processo de construção. Eu observo claramente que existe um amadurecimento, desde o início do processo da CNPI, mas ainda temos muito que avançar. Com relação à sua colocação inicial em relação à análise de conjuntura, eu tinha entendido, quando nós definimos a agenda das subcomissões, que foi incluído em cada discussão de subcomissão: o relato, a análise da conjuntura, o encaminhamento e a resposta. Foi isso que foi deliberado hoje aqui no final da manhã. Agora, no final da tarde, eu apresentaria esse modelo de acompanhamento, para que a gente possa dar conta do que o Presidente determinou. É óbvio que para dar conta do que o Presidente determinou, nós precisamos avançar mais ainda. Por exemplo, a tendência nas reuniões da CNPI é que a Bancada Indígena fala 80% do tempo e a Bancada do governo fala 20% do tempo. Então, eu concordo que esse é um problema que nós temos. Isso requer maior participação da Bancada Governamental, muitas vezes, os membros do governo não estão presentes na reunião, ou chegam atrasados. Eu fiz um registro disso ontem porque a Pierlângela levantou essa questão. Então, nós temos que fazer esse esforço para que isso se equilibre mais e para que possamos dar essas respostas que o Presidente quer. De onde é que elas

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virão? Virão dos representantes dos Ministérios, presentes na reunião da CNPI. Então, eu acho que nós precisamos avançar nesse sentido. Agora, acho que isso não deve excluir essa metodologia porque eu considero que é uma metodologia importante. É um instrumento tecnológico, mas, na verdade, o importante não é o instrumento e sim o conteúdo de transparência, de visibilidade e de respostas que a gente possa dar para cada meta, cada item estabelecido. Então, eu acho que a CNPI, a cada reunião, deve sim experimentar novas formas e reforçar e ampliar a nossa capacidade de responder às demandas. Agora, nós sempre vamos estar enfrentando o dilema do passivo. A Bancada Indígena sabe, melhor do que ninguém, que nós temos um atraso de 500 anos para discutir e, obviamente, não vai ser nesse período até ao final de 2010, nessa construção da CNPI e do próprio Conselho, que nós vamos dar conta de responder todo o atraso que nós temos. Mas, eu acho que nós temos sim condições de avançar e acho que a tua ponderação coloca esse desafio para todos nós, tanto do governo, quanto da bancada indígena. Em algumas reuniões, no final da reunião, eu também sinto que nós poderíamos ter avançado mais do que avançamos. Por outro lado, já teve reuniões em que eu senti que a gente avançou muito além do que esperávamos. Então, acho que realmente isso tem que ser enfrentado por nós e temos que tratar cada reunião como um processo desse tipo.

Deborah Duprat − Ministério Público: Estou pensando alto aqui, também com o propósito de ajudar. Eu tive um pouco essa percepção, principalmente, nessa última reunião. A tendência é que as questões que vêm de longa data e que estão melhor estruturadas reproduzem-se nesse mesmo ambiente da CNPI. A educação e saúde foram uma prova disso. A gente teve as Subcomissões com as questões muito bem postas, os representantes de governo com as respostas muito bem postas, o diálogo fluindo bem porque, pelo menos, estavam aqui para responder. No resto, falou rapidamente a Subcomissão de Empreendimentos, por exemplo. Eu concordo que, hoje em dia, ela é prioritária, mas não tem ninguém do IBAMA aqui para fazer uma análise a respeito disso. Eu acho que, talvez, em termos de metodologia, se a gente der o mesmo espaço para todas as subcomissões em todas as reuniões, esse ambiente tende a se reproduzir. Talvez seja o caso de se pensar em priorizar, para determinadas reuniões, alguns assuntos porque, senão, nós vamos ficar com a saúde e educação tomando conta da pauta, com a presença do governo aqui também prioritariamente nessas áreas.

Francisca Navantino (Chiquinha) − povo Pareci: A Pierlângela está me lembrando que ficou uma pendência em relação, por exemplo, à Conferência Nacional de Educação, por conta de que ficou acordado que o MEC mandaria a indicação do representante, titular e suplente, para compor a Comissão que vai se reunir no dia 14 e não foi nada deliberado aqui. Ou seja, vai chegar dia 14 e não vai ter representante da CNPI. Então, eu gostaria que o senhor retomasse essa pauta da educação.

André Araújo − Ministério do Desenvolvimento Agrário: Eu acho que é uma questão de ordem, Chiquinha. Você acha que a posição do Ministério da Saúde hoje foi esclarecedora, foi suficientemente clara?

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Francisca Navantino (Chiquinha) − povo Pareci: É claro que não. Então, eu acho que nós temos que rever como é que estamos trabalhando porque, depois que eles falaram, eles foram embora. Então, nós temos que pensar. Temos que mudar a forma como estamos trabalhando aqui porque não está dando certo. Pelo menos, essa é a minha visão. Quando a Lylia Galetti foi colocar um ponto super importante, que é a questão do repasse dos recursos, o Presidente achou que o tempo já tinha se esgotado e encaminhou para a próxima Subcomissão. É um tema que influencia três Ministérios importantes aqui, que é o MDA, o MMA e o MDS, pelo menos. Então, eu não sei qual é o critério utilizado para cortar um tema num ponto e o outro continuar.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Bem, vamos respeitar as inscrições. Estão inscritos: a Pierlângela e o Celso.

Pierlângela Nascimento Cunha − povo Wapichana: A minha preocupação sempre foi essa porque nós estamos num espaço de diálogo e a minha angústia é justamente porque, muitas vezes, a Bancada do Governo não vem para o diálogo. Muita gente fica sentada olhando, olhando, anotando, anotando. Só que esse é um espaço de diálogo. O que é que a gente tem visto? Essas informações que nos são repassadas subsidiam muita coisa. Quando o Ministério apresenta o que está sendo trabalhado lá, é isso que a gente espera. Então, se saúde e educação estão se sobressaindo, é porque está havendo um diálogo entre a Bancada Indígena e o Ministério. No caso do Ministério do Meio Ambiente, MDA e MDS, qual é o diálogo que está existindo fora da CNPI? Qual é o diálogo que está tendo essa bancada? Então, acho que esse diálogo não é só aqui nesta reunião. Eu acho que nós temos que fazer uma avaliação do que acontece fora daqui. Nós mantemos esse diálogo com o Ministério da Educação. Nós estamos lá cobrando direto e o pessoal da saúde também. Para nós, esses outros temas são primordiais, mas a gente tem que começar a também ter metodologias fora da reunião. Senão, não vai ser um diálogo, vai ser só uma troca do que foi feito ou não foi feito. Não é só aqui. O espaço é muito mais amplo fora daqui. Eu acho que nós temos que colocar essa reflexão nesse sentido. Por exemplo, para nós, a Carteira Indígena fez um evento no Brasil inteiro, convidou as regionais, todos participamos, então, eles proporcionaram aos Membros da CNPI uma aprendizagem naquilo que nós estávamos precisando. Isso foi muito importante para nós. Hoje, nós entendemos muito de Carteira Indígena. Então, é um aspecto que está fora da CNPI, no sentido de que não foi uma oficina organizada pela CNPI, mas o próprio Ministério convidou os membros da CNPI. Isso vai se construindo. Acho que são espaços, não só aqui, mas fora também.

Celso Lourenço Moreira Correa − Casa Civil: Aproveitando esse momento meio de catarse, de a gente botar os problemas para fora, o Fred me colocou uma dúvida. Ele era titular do Ministério do Planejamento e saiu porque ele é do IPEA e o IPEA saiu do Ministério do Planejamento. Ele tem um pouco de constrangimento, por conta das regras da CNPI, e ele queria saber se, na situação de convidado permanente que o IPEA ficou, se ele tem a liberdade de se manifestar durante as reuniões. Essa é uma demanda.

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A outra coisa é sobre a minha fala, mais cedo. Se deu a entender que eu estava fazendo alguma reclamação sobre algum órgão ou representação indígena dentro da Comissão, não era isso. Eu estava fazendo um desabafo sobre a nossa dificuldade de realmente obter informações e poder dar satisfação às lideranças indígenas.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Com relação à questão do IPEA, todos os convidados da CNPI têm direito a voz na medida em que questionem, perguntem, e o plenário aprove. Essa é a regra do Regimento. Então, está explicado e a regra é essa.

Celso Lourenço Moreira Correa − Casa Civil: Eu só vou fazer uma ponderação. O Fred é nosso companheiro na Subcomissão e, muitas vezes, durante o processo de relato, é importante que ele se manifeste porque não é à toa que ele está na Subcomissão.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Sem dúvida. Na condição de convidado, na hora em que o Fred quiser, eu achar necessário se pronunciar, é só fazer uma solicitação e, em a plenária aprovando, ele pode se pronunciar. Na subcomissão, ele é livre para se pronunciar. Eu estou falando na plenária.

Celso Lourenço Moreira Correa − Casa Civil: A minha pergunta é na plenária mesmo.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Eu queria retomar um pouco porque nós estamos no fechamento e esse fechamento é sempre assim. Eu queria retomar o fechamento da nossa reunião. Em primeiro lugar, eu acho que foi importante essa fala do André porque, falando desse jeito que ele falou aqui, ele faz aquela bagunça generalizada que é necessário a gente ter, de vez em quando, para poder dar o avanço que precisa dar. Eu acho que é isso mesmo. Acho que temos um processo de construção permanente nesta Comissão. É uma Comissão que tem uma tarefa difícil. A própria auto-afirmação dessa Comissão já é um exercício e um componente importante da política indigenista no Brasil. Eu acho que a própria existência da CNPI e tudo o que nós fizemos até hoje já é um sinal significativo desse amadurecimento. Inclusive, nós conseguimos avanços importantes na política indigenista nesse período, graças à CNPI. É bom registrar isso. Se não fosse a CNPI, muita coisa não tinha sido feita nesse espaço de um ano e meio, inclusive, medidas que nós sabemos que não estão ainda completas, como a questão da saúde, a questão da educação, que são temas realmente que estão mais acumulados em termos de discussão, como a Pierlângela falou.

Por isso, eu considero que a sugestão da Dra. Deborah pode nos ajudar nesse processo seguinte. Ou seja, que na definição da próxima pauta, nós possamos definir que temas de uma subcomissão devem ser mais valorizados numa determinada reunião, ou duas subcomissões, para que a gente puxe esse debate para o governo e trazer esse debate também para a reunião da CNPI. Acho que essa é uma sugestão interessante para a gente exercitar. Estão inscritos o Saulo, o Capitão e o Brasílio.

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Saulo Ferreira Feitosa − Conselho Indigenista Missionário: É só uma coisa que eu tinha esquecido. Eu só queria deixar registrado aqui que, no Encontro de Curitiba, a ARPINSUL, que é uma organização que sempre nos acompanhou, vai colaborar junto conosco, vai acompanhar e eu queria deixar isso registrado em ata.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Eu vou voltar à questão do instrumento. Primeiro, eu queria parabenizar o André porque ele comeu tudo o que estava na mesa, estava necessitando de energia para fazer uma avaliação e nos colocar a refletir. Em termos do instrumento, na apresentação das subcomissões, nós vimos que a Subcomissão de Educação e a da Saúde já utilizaram esse instrumento. Quando nós estávamos reunidos, nós perguntamos: “Todas as Subcomissões vão adotar isso?”. E ela disse: “Quem quiser”. Então, a orientação é que todas as Subcomissões devem se apropriar desse instrumento e, assim, na apresentação, você vai ter um instrumento unificado. Nós vamos também fazer um monitoramento na reunião e acho que isso estabelece um tempo uniforme para as subcomissões. É óbvio que, se alguma delas for apresentar um tema que demanda um aprofundamento maior, isso terá que ir para a plenária. Mas acho que essa questão de se ter um referencial instrumental e um tempo já definido, pode buscar essa perspectiva que o André colocou de um tempo equânime entre as várias subcomissões.

Uma outra questão é que há decisões que não são das subcomissões, como por exemplo, encaminhamentos que cabem à CNPI, à Secretaria-Executiva. Eu não sei como é que nós vamos monitorar porque, geralmente, é um problema a gente ficar procurando na ata se a deliberação da plenária foi ou não encaminhada porque não foi deliberação da subcomissão. Nas outras reuniões, até apareciam alguns encaminhamentos. Quando a gente for começar a nossa reunião, além da apresentação das Subcomissões, a Secretaria-Executiva deverá apresentar também quais as decisões da plenária que foram encaminhadas e as que não foram encaminhadas. Eu acho que, assim, a gente aprimora o instrumento.

Eu acho que essa sugestão é muito boa para ser incorporada no nosso procedimento, na nossa planilha de monitoramento.

Brasílio Priprá: A minha colocação é com relação ao tempo que esta Comissão está trabalhando e o que eu vi acontecer dentro dessa Comissão. Vou falar com relação às demandas que aqui chegaram, principalmente, com relação à demarcação de terras indígenas. Eu faço uma colocação com relação à terra indígena de Monte Mor porque eu nunca tive uma liberdade tão grande de falar com o governo, com o Ministro da Justiça, quando nós tivemos problemas seríssimos porque tinham montado um arsenal na Paraíba para nos expulsar da terra. Semanalmente, eu ligava duas ou três vezes para o Ministério e a Teresinha sempre nos atendeu com carinho. Isso facilitou. Quando nós chegávamos aqui na CNPI e fazíamos esse registro, de repente, começou a andar essa demanda de demarcação de terras indígenas.

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Pierlângela Nascimento Cunha − povo Wapichana: Eu queria só fazer um registro sobre a nossa Oficina do Estatuto. A nossa estava marcada para o dia 07 a 09 de outubro, mas o deslocamento na Amazônia é muito difícil e as eleições são no dia 05 de outubro, então, não daria tempo de nos deslocarmos. Nós já conversamos com a Secretaria da CNPI e remarcamos a oficina para 28 a 30 de outubro, no mesmo local.

Coronel Gustavo de Souza Abreu − Ministério da Defesa: Eu queria fazer um rápido comentário. Eu entendi a preocupação do nosso amigo. É uma preocupação de gestão. É próprio de quem trabalha com gestão ficar inquieto porque esse tipo de fórum, para quem mexe com gestão, com metas, procedimentos, atingimento de metas, às vezes, nos deixa um pouco impaciente porque a impressão que dá é que não rende. Quem mexe com gestão sabe que, às vezes, não rende mesmo.

Com relação ao comentário da Pierlângela, eu queria defender um pouco a Bancada do Governo, vamos dizer assim. Eu não acho que tenha que ser 50%-50% porque, na maioria das situações, os órgãos de governo reagem a uma demanda da Bancada Indígena. É claro que tem situações em que cabe a iniciativa da Bancada do Governo, mas, de um modo geral, é uma reação a uma demanda. Então, é natural que quem demande tenha mais tempo. Então, eu acho natural − não sei se nessa proporção 80%-20% − que a Bancada que reivindica tenha mais tempo, até pela sua argumentação, do que quem responde. Então, é uma defesa da Bancada do Governo.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Aliás, a gente tem que louvar que o Ministério da Defesa e o GSI são os ministérios que têm assiduidade e disciplina nas reuniões da CNPI. As duas instituições que estão freqüentes aqui, com disciplina e hierarquia, é a Igreja e o Exército. Então, eu quero parabenizar a Igreja e as Forças Armadas porque, realmente, demonstram a sua capacidade de organização, disciplina, assiduidade. Nós outros que não somos nem da Igreja e nem das Forças Armadas, temos feito um esforço muito grande para acompanhar, mas é difícil.

(Falas fora do microfone)

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Eu queria só lembrar algo que ocorreu e não passou por esta CNPI. O Ministério da Defesa deu um grande apoio a um trabalho que a FUNAI e a FUNASA fizeram no Vale do Javari, no primeiro semestre e nós não fizemos referência a isso aqui na CNPI. Eu queria agradecer publicamente ao Ministério da Defesa pelo apoio que deram no trabalho de vacinação e apoio à saúde que foi feito no Vale do Javari. Eu sei que a situação não se resolve com isso porque a situação lá é bem complexa. Mas, sem dúvida, sem esse apoio, nós estaríamos numa situação bem mais precária do que está hoje.

Brasílio Priprá: Eu queria agradecer ao Ministério da Defesa porque eles fizeram um trabalho sério para o povo Xokleng. O pessoal foi muito educado. Eles devem estar terminando essa semana e eu queria

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agradecer ao Ministério da Defesa que trabalhou para que o pessoal tivesse isso. Nós estamos muito agradecidos pelo trabalho. Muito obrigado.

Lylia da Silva Guedes Galetti − Ministério do Meio Ambiente: Eu tive que dar um apoio e solidariedade para a Teresinha e me ausentei porque fui com ela à delegacia. Eu queria convidar a Subcomissão de Etno-Desenvolvimento porque, daqui a provavelmente um mês, vamos lançar o Informativo dos povo s Indígenas e Meio Ambiente. A idéia é lançarmos esse informativo na posse do novo Comitê Gestor da Carteira Indígena. Nós estamos oferecendo um espaço para a Subcomissão de Etno-Desenvolvimento fazer um histórico do que já aconteceu até aqui. Eu acho que é importante.

Eu não sei se na parte da Subcomissão de Orçamento foi discutido esse levantamento sobre a execução de recursos do PPA. Isso foi tema de discussão? É porque os dados estão bastante desatualizados. Pelo menos, com relação às duas ações do Ministério do Meio Ambiente, as informações estão bastante defasadas em relação àquilo que foi executado. Eu passo por e-mail para o pessoal da Comissão. Obrigada.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Eu queria avançar para o encerramento da reunião, mas tem alguns pontos que nós ainda precisamos aprovar. Primeiro, nós temos que aprovar a ata da reunião passada. Não sei se todo mundo conseguiu ler o resumo da ata para a gente aprovar. Aprovamos a ata ou tem alguma correção a ser feita? Se não tem nenhuma manifestação contrária, fica aprovada a ata da reunião passada. Temos que também aprovar uma Nota em relação à situação do Mato Grosso do Sul. Eu quero consultar se o plenário concorda também com a Nota.

(Fala fora do microfone)

Então, aprovada a nota com necessária revisão ortográfica.

(Fala fora do microfone)

Ficou de ser elaborado um documento de manifestação de apoio aos Pataxó Hã Hã Hãe. Eu gostaria que constasse em ata que a plenária da CNPI se manifesta em apoio ao povo indígena Pataxó Hã Hã Hãe, da Bahia, em relação à decisão que será tomada pelo Supremo Tribunal Federal, no dia 24 de setembro próximo, no que tange aos seus direitos às terras tradicionalmente ocupadas. Está aprovada essa manifestação? O Coronel Caixeta está ressaltando que essa é uma manifestação da CNPI no sentido de que apóia os direitos dos povo s indígenas Pataxó Hã Hã Hãe. É uma cláusula da Constituição Federal e o Supremo Tribunal Federal terá autonomia para tomar a decisão que será acatada.

(Falas fora do microfone)

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Eu acho que esse é um ponto importante e que até reforça o que o Coronel Caixeta levantou aqui. A CNPI confia plenamente na decisão do Supremo Tribunal Federal, no sentido de acompanhar o texto constitucional.

(Falas fora do microfone)

Eu entendi que o Coronel Caixeta e o Gilberto Azanha iam fazer a mudança do texto na linha do que nós aprovamos. Então, já estava aprovado, era só uma mudança no texto que ambos iam fazer. Não sei se fizeram, mas, já estava aprovado com a mudança que eles iram fazer. Esse foi o meu entendimento.

Ficaram pendentes duas indicações pela Bancada Indígena. Uma é a da Conferência Nacional de Educação, um titular e um suplente. A outra é a dos cinco representantes para o Grupo de Trabalho Interministerial, MMA – FUNAI, sobre gestão ambiental. Eu não sei se a Bancada Indígena teve tempo para discutir. Então, o que eu sugiro como encaminhamento é que a Bancada Indígena encaminhe para a Secretária-Executiva da CNPI, os dois nomes, titular e suplente, da Conferência Nacional de Educação e os cinco nomes para o Grupo de Trabalho de Gestão Territorial em Terras Indígenas.

(Falas fora do microfone)

É bom a gente ler. Aqui diz o seguinte: seis representantes indígenas indicados pelos Membros Indígenas da Comissão Nacional de Política Indigenista. Você tem razão. Vocês é que têm que indicar. Podem ser indígenas que não sejam Membros da CNPI. Agora, no caso da educação, não. Então, eu sugiro que vocês encaminhem à Secretaria Executiva da CNPI as indicações de ambas as Comissões.

Sandro Tuxá: Nós teríamos ainda agora um tempo de cinco minutos para se referendar esses nomes? Nós dificilmente nos encontramos, só nas reuniões. Nós teríamos que apresentar esses nomes agora mesmo. Quanto à Conferência de Educação, eu entendo que nós nos sentimos inteiramente contemplados com a Chiquinha e a Pierlângela. Elas é quem vão decidir quem é a titular e a suplente. Então, nós nos sentimos contemplados, elas é que vão dizer se podem ou não. Eu acho que a minha fala reproduz a dos outros também. Então, eu queria saber se a gente ainda tem condição de ter 10 minutos para escolher os nomes.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: É claro. É só vocês passarem os nomes para a Teresinha. Nós estamos no fim da reunião. Aprovamos todas as coisas que estavam pendentes.

Participante não identificada: A Pierlângela fez a proposta ao Ministério do Meio Ambiente de ser elaborado um documento da CNPI reforçando a posição deles com relação ao Projeto de Cooperação Internacional da Carteira Indígena na ABC.

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Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Isso foi aprovado já. A gente vai encaminhar para o pessoal da ABC.

Pierlângela Nascimento Cunha − povo Wapichana: Eu só queria esclarecer que eu estou na Comissão Organizadora como membro da Comissão Nacional de Educação Escolar Indígena, então, eu não poderei estar como suplente porque já sou titular e nem o Weber também porque já está também pela Comissão Nacional de Educação Escolar Indígena. Então, a Chiquinha pode ser a titular e tem que ter mais um suplente para a Chiquinha.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Então, nós vamos dar os 10 minutos para vocês escolherem os representantes e encaminharem os nomes para a Teresinha. Eu quero fazer o encerramento da nossa reunião, agradecendo mais uma vez a todos os membros da CNPI. Eu queria pedir que a gente fizesse um agradecimento especial à Teresinha e sua equipe. Ela merece. Aliás, a Teresinha tem uma questão de ordem.

Teresinha Gasparin Maglia − Secretária-Executiva: Eu gostaria de lembrar que foi falado durante a reunião de ontem e hoje que as subcomissões que fizeram sugestões para mudança no roteiro devem encaminhá-las. Eu só recebi a sugestão do Saulo, até agora. A do Etnodesenvolvimento já está com a Carla. E as outras Subcomissões não têm nada a mudar? As questões são aquelas que estão lá? Entre hoje e amanhã nós vamos fechar o documento de discussão porque na terça-feira de manhã já iniciam as Oficinas em Imperatriz e em Recife. Nós vamos trabalhar amanhã o dia inteiro para poder fechar isso.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Bom, cada Subcomissão tem que arcar com sua responsabilidade. Quem não fez, não fez.

Luiz Vieira Titiah – Pataxó Hã Hã Hãe: Primeiro, eu quero pedir desculpa por estar saindo logo em seguida por conta da nossa questão lá e quero agradecer o empenho da D. Teresinha. Antes de encerrar, eu queria ver como é que vai ficar a questão da próxima reunião. Queria ver se poderia ser em outro lugar porque estou vendo que não tem como darmos continuidade à reunião aqui em Brasília.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Ontem foi feita uma sugestão que fizéssemos mais uma reunião extraordinária, como nós fizemos aquela da terra indígena Potiguara. Não foi discutido qual a terra indígena que seria escolhida porque é um debate complexo.

Luiz Vieira Titiah – Pataxó Hã Hã Hãe: Ficou na idéia de Pierlângela.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: O que eu quero sugerir é que a Bancada Indígena tem que amadurecer essa discussão e encaminhar o local para a Secretaria Executiva.

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Participante não identificado: Ainda nessa questão. Quando foram feitas as várias indicações, houve um entendimento por parte da Bancada Indígena, dada a situação que vivem nossos parentes, que a reunião seria no Mato Grosso do Sul, sobretudo, considerando as questões apresentadas pelo Anastácio Peralta. Então, eu acho que se tem um lugar estratégico para a reunião da CNPI é lá.

Márcio Augusto Freitas de Meira − Presidente da CNPI: Nós temos que avaliar isso. A Bancada Indígena tem que discutir e a gente recebe a proposta de vocês. Acho que vocês têm que propor pelo menos uns dois ou três lugares alternativos e data. Então, pessoal, declaro encerrada a nossa reunião. A Bancada Indígena vai indicar os nomes. Parabéns por mais uma reunião da CNPI. Obrigado.

Esgotada a pauta, foi encerrada a 6ª Reunião Ordinária da Comissão Nacional de Política Indigenista, da qual foi lavrada a presente ata, a ser aprovada por seus membros na próxima reunião da CNPI.

Brasília, 19 de setembro de 2008.

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