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O ESPECTRO Núcleo de Ciência Política - ISCSP UL 9ª EDIÇÃO - 14 de Abril de 2014 Marchas pela Dignidade “22M” Globo, pág. 6 CONGRESSO DA JUVENTUDE COMUNISTA PORTUGUÊS “O primeiro fim de semana de Abril deste ano foi pretexto para dar som ao descontentamento enquanto cidadaos conscientes num Congresso de energia e cujo sentimento de uniao permanecia entre as centenas de cadeiras presentes no auditorio principal da Faculdade de Medicina Dentaria da Universidade de Lisboa. A necessidade de dar resposta aos varios problemas que inundam a vida dos milhares de portugueses consagra-se a maior preocupaçao numa sala composta por tres grandes paineis vermelhos” REPORTAGEM, 7 PORTUGAL O flagelo do desemprego Economia, 4 COREIA DO NORTE Glande Líder Globo, 5 CRITICA LITERARIA O outro Cabo Ex-Libris, 3 POLITICA Política no Feminino Globo, 6 Releia as últimas edições do jornal http://issuu.com/oespectro

9ª Edição - O Espectro

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Jornal académico online do Núcleo de Ciência Política

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O ESPECTRO Núcleo de Ciência Política - ISCSP UL 9ª EDIÇÃO - 14 de Abril de 2014

Marchas pela Dignidade

“22M” Globo, pág. 6

CONGRESSO DA JUVENTUDE COMUNISTA PORTUGUÊS

“O primeiro fim de semana de Abril deste ano foi pretexto para dar som ao descontentamento enquanto cidada os conscientes num Congresso de energia e cujo sentimento de unia o

permanecia entre as centenas de cadeiras presentes no audito rio principal da Faculdade de Medicina Denta ria da Universidade de Lisboa. A necessidade de dar resposta

aos va rios problemas que inundam a vida dos milhares de portugueses consagra-se a maior preocupaça o numa sala composta por tre s grandes paine is vermelhos”

REPORTAGEM, 7

PORTUGAL

O flagelo do

desemprego

Economia, 4

COREIA DO

NORTE

Glande Líder

Globo, 5

CRI TICA

LITERA RIA

O outro Cabo

Ex-Libris, 3

POLI TICA

Política no

Feminino

Globo, 6

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02 | 14 Abril 2014

O ESPECTRO

EDITORIAL

Chegamos a Abril. Neste me s, va rios sa o os acontecimentos que nos ve m de imediato a memo ria. Acontecimentos que tiveram releva ncia o suficiente para mudarem o decurso da nossa histo ria, a ní vel nacional. Mas as mudanças na o se fizeram so em Portugal. Todo o mundo viveu igualmente com as conseque ncias das mesmas. Entre murais pintados nas ruas, entre mensagens alusivas a este ta o importante me s, entre tantas ediço es especiais (uma das quais sera espectriana para celebrar o 25 de Abril), a indiferença do Espectro na o se manifesta. A partilha de opinio es sobre os mais variados temas acolhe uma importa ncia significativa para todos no s, enquanto cidada os. Neste sentido, apresentamos temas cujo debate pode ser extenso e cuja dicotomia de posiço es tem a possibilidade de ser fomentada. Chegamos a Abril. E o Espectro chega a sua nona ediça o. As marchas pela dignidade, o flagelo do desemprego, a polí tica no feminino, entre outros temas, fazem parte de um vasto debate que no s propiciamos a todos os interessados nestas mate rias. Esse e o nosso ideal. Esse e o espí rito que queremos entre todos os nossos leitores. De no s para vo s, uma boa leitura.

Adriana Correia

FICHA TÉCNICA

Coordenação Adriana Correia Vice-Coordenação Joana Lemos Coordenador de Entrevistas e Reportagens Adriana Correia Revisão Adriana Correia e Cristina Santos Editor Isa Rafael Plataformas de Comunicação Andre Cabral, Jose Salvador, Joa o Martins e David Martins Cartaz Cultural Isa Rafael Redação Adriana Correia Joana Lemos Joa o Miguel Silva Joa o Pedro Louro Joa o Pedro Rodrigues Joa o Silva Rui Campos Rui Coelho Rui Sousa Tiago Sousa Santos

CONTACTOS Facebook: facebook.com/OEspectro Correio electrónico: [email protected] Twitter: twitter.com/O_Espectro

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O ESPECTRO

POLI TICA INTERNA

O P I N I ÃO d e T I AG O S O U S A S A N TO S

A m a i o r i a d o s s e m - c o n s e n s o

Luí s Amado, ex-Ministro de Es-tado e dos Nego cios Es-trangeiros no XVIII Governo Constitucional liderado por Jose So crates, declarou no passado dia 12 de Abril em entrevista a Antena 1 que apo s as eleiço es do pro ximo ano "(...) tem que haver um Governo de maioria". E , sem du vida, fundamental que o pro ximo executivo se apresente enquanto uma gar-antia de estabilidade polí tica e, consequentemente, financeira. Se assim o e , ou deveria ser, em todos os actos eleitorais, torna-se quase obrigato rio nas pro xi-mas eleiço es legislativas, na me-dida em que sera o as primeiras apo s o fim do programa de as-siste ncia e Portugal estara ainda no iní cio de uma nova fase, sob o olhar atento das instituiço es europeias e dos investidores es-trangeiros. Durante esse perí odo, qualquer crise polí tica sera fatal para os desí gnios da naça o. Quanto ao conteu do, na o poderia estar mais de acordo com as exige ncias apontadas pelo socialista. Ainda assim, o facto de ser um militante do Partido Socialista a dize -lo parece-me desconcertante, ten-do em conta a actual situaça o polí tica. Enquanto força polí tica de oposiça o ao actual Governo de maioria, o partido que melhor colocado esta nas in-tenço es de voto para levar de vencidas as pro ximas eleiço es, parcas vezes se mostrou dis-poní vel para um entendimento tripartido entre PSD, CDS e PS. Nem mesmo quando o mais alto representante da Repu blica Portuguesa, Aní bal Cavaco Silva, endereçou um convite a s tre s forças polí ticas para chegarem a um entendimento numa aproxi-maça o a um Governo de Salvaça o Nacional, o partido de Anto nio Jose Seguro se mostrou

disponí vel para trabalhar em conjunto com a actual maioria governativa. Para ale m da con-stante recusa, no que a um en-tendimento com os partidos da "direita" diz respeito, por parte da maior força da oposiça o, ao longo dos u ltimos anos, o Partido Socialista tem-se mostrado tambe m intransi-gente, a uma viragem a es-querda e a uma "coligaça o" com as forças menos represen-tadas em Assembleia da Repu blica. As diferenças ideo-lo gicas parecem na o o permit-ir. Assim, os dois entendimen-tos alternativos que se podem retirar das declaraço es de Luí s Amado, tornam-se a partida uma prova da falta de orien-taça o polí tica no seio do seu partido. Dito isto, importa ressalvar os motivos que con-duzem a anterior afirmaça o. Por um lado, as afirmaço es po-dem ser entendidas enquanto um apelo do militante ao seu lí der para que, caso vença o pro ximo acto eleitoral legisla-tivo se coligue com um dos partidos actualmente detento-res do poder. Desta feita a hipocrisia seria gritante! No decurso dos tre s anos do Gov-erno liderado por Pedro Pas-sos Coelho, so em sede de dis-cussa o para o decre scimo do Imposto sobre os Rendimen-tos de Pessoas Colectivas, se viu uma verdadeira aproxima-ça o e negociaça o entre as for-ças ja referidas. O que levaria o PSD a colaborar com uma for-ça partida ria que raramente colaborou consigo? No espec-tro oposto, podem as premis-sas defendidas na ja referida entrevista "apelar" a uma co-ligaça o com o Bloco de Esquer-da e/ou Partido Comunista Portugue s. Segundo a mais re-cente sondagem das intenço es

de voto levada a efeito pelo jornal Expresso, so uma colig-aça o tri-partida ria com as du-as forças suprarreferidas per-mitiria uma maioria absoluta a um possí vel Governo liderado por Seguro (tendo em conta a dificuldade da existe ncia de um Governo de Bloco-Central). Como seriam ultrapassadas as diverge ncias em relaça o a Eu-ropa e a todas as implicaço es que daí derivam, de forma a permitir um entendimento en-tres estas forças polí ticas? As pro ximas eleiço es represen-tam o iní cio de uma nova fase polí tica para o nosso paí s e o Partido Socialista apresenta-se, ate a data, enquanto princi-pal candidato a vito ria. Uma possí vel concretizaça o deste cena rio deixaria Anto nio Jose Seguro numa posiça o negocial de grande exige ncia, que po-deria ser fatal para as as-piraço es socialistas. E certo que para ter sucesso e permit-ir a continuidade da retoma da economia e das finanças por-tuguesas, o pro ximo Governo tera de ser suportado por uma maioria absoluta no o rga o leg-islativo. Quem quer que saia vencedor no pro ximo acto elitoral tera a difí cil missa o de formar um Governo ma-iorita rio e aí , o verdadeiro poder de negociaça o marcara a diferença. Mas ate la , as in-tenço es de voto podem alterar-se completamente. Todas as possibilidades esta o em aber-to, mesmo com a hipocrisia demonstrada pelo Partido So-cialista no que a consensos diz respeito.

Havera soluça o caso Anto nio Jose Seguro seja nomeado Primeiro-Ministro, ou estara a vantagem do lado de Pedro Passos Coelho?

CRÍTICA LITERÁRIA,

por Rui Coelho

O Outro Cabo

Derrida

Com o aproximar do desafio eleitoral numa Unia o Europeia que, entre a dogma tica austerita ria e o ressurgir da extrema-direita, vai perdendo, cada vez mais, de vista a sua pro pria raza o de ser, parece-me especialmente relevante trazer a vossa consideraça o O Outro Cabo, de filo sofo france s Jacques Derrida. Escrito por ocasia o da assinatura do Tratado de Maastricht, que baptizaria a nova Europa, esta obra reflecte, bem ao estilo obscurantista terrorista do seu autor, sobre o que significa ser europeu. Desde tempos medievais que a percepça o que o velho continente tem de si passa pela sensaça o de ser “o outro cabo”, um ape ndice ocidental da imponente A sia. Se o cabo se afirma como a cabeça e a capital, a Europa torna-se berço de feno menos como o pensamento iluminista, o modelo econo mico capitalista e o colonialismo extracontinental. No entanto, a verdadeira identidade do continente reside, para Derrida, na sua alteridade: mais que ser cabo, trata-se de ser outro. Assim, a verdade profunda do europeu seria a abertura multicultural, ensaiada ja nas descobertas. A actualidade deste livro prende-se com o presente contexto em que a Unia o Europeia perde o norte e vai sendo alvo de crescente contestaça o. Fica o apelo do autor a que esta possa redescobrir o seu rosto anti-dogma tico, democra tico e pluralista.

COLUNA EX LIBRIS

Núcleo de Ciência Política ISCSP UL Núcleo de Ciência Política ISCSP UL Núcleo de Ciência Política ISCSP UL

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ECONOMIA

04 | 14 Abril 2014

O ESPECTRO

O P I N I ÃO d e J O ÃO P E D R O L O U R O

A r e s p o n s a b i l i d a d e d á f r u t o s

Recentemente, Portugal foi brindado com a notí cia de que o de fice orçamental em 2013 se

fixou nos 4,9% do PIB, segundo o Instituto Nacional de Estatí stica (INE). Sa o dados como estes que demonstram, inequivocamente, a

responsabilidade, a credibilidade e o rigor do trabalho que tem vindo a ser desenvolvido. A menos de dois meses do fim do Programa de Assiste ncia Econo mica e Financeira (PAEF) é fundaméntal continuarmos a cumprir os compromissos que assumimos em 2011 quando tivemos necessidade de pedir ajuda financeira a Troika. E nesta perspectiva que ningue m pode deixar de ficar satisfeito pela diminuiça o do de fice que se tem vindo a verificar de ano para ano. Em 2012, o de fice orçamental situava-se nos 6,4% tendo diminuí do para 4,9%, em 2013. Esté u ltimo nu méro é bastante satisfato rio uma vez que ficou abaixo da meta estipulada e acordada com a Troika que era de 5,5%. Considero importante ainda

reforçar a importa ncia de Portugal conseguir ter um de fice orçamental muito reduzido para que a necessidade de financiamento (dé pédirmos mais dinhéiro emprestado) seja cada vez menor. No entanto, e claro que esta reduça o do de fice deve-se sobretudo ao aumento de impostos, das contribuiço es sociais e dos cortes da despesa. E tambe m por esta raza o que esta notí cia na o e so positiva para o Governo mas deve ser tambe m motivo de orgulho para todos os portugueses na medida em que foram e sa o os sacrifí cios de todos portugueses que esta o a dar frutos. Todavia, e verdade que estes sinais positivos da economia na o se reflectem no “bolso” dos portugueses. Mas tambe m na o e menos verdade que te m

sido criados os alicerces para o crescimento econo mico e so esse crescimento e que possibilitara um alí vio da carga fiscal e consequente aumento do poder de compra das famí lias. Prova disto e o debate que ja tem vindo a ser realizado no seio polí tico sobre o aumento do sala rio mí nimo e a reduça o do IRS. O caminho tem vindo a ser traçado com seriedade e, possivelmente, estaremos na curva mais importante da viagem das nossas vidas. Se queremos chegar ao destino do crescimento econo mico sustenta vel, esta curva nunca poderia ser feita com investimentos em auto-estradas sem carros ou com Parcerias Pu blico-Privadas suicidas pelo que isso causaria um novo despiste, tal como o que aconteceu em Maio de 2011.

O P I N I ÃO d e J O ÃO P E D R O R O D R I G U E S

O f l a g e l o d o d e s e m p r e g o

O desemprego e o trabalho preca rio sa o o rosto da crise econo mica e financeira vivida em Portugal desde 2008 e mais acentuadamente desde 2010. A conduça o polí tica nacional e europeia conduziram a destruiça o maciça de empregos e registou-se em Portugal um recorde da taxa de desemprego de 17,8%, em Maio de 2013. Sensivelmente um ano depois, empolgam-se as almas com a grande vito ria do governo no combate a crise e com a ta o esperada retoma econo mica. Longe de mim desvalorizar os positivos indí cios estatí sticos, mas recuso-me ver neles o retrato de um grande sucesso e muito menos a legitimaça o da polí tica de austeridade. A queda da taxa de desemprego em simultaneo com um aumento da taxa de emprego

que se registou nos u ltimos 2 trimestres, e sem du vida um fator positivo, mas por detra s desta melhoria existe um

custo exorbitante para a sociedade portuguesa, convenientemente esquecido. A fatura do desemprego vai

muito ale m dos subsí dios e transfere ncias sociais registadas nos livros contabilí sticos e sera , sem

du vida, o maior fardo resultante da crise. Uma vez que na o se atribui valor a vida, na o entram nas contas do

de fice o custo de cada jovem licenciado que emigrou, na o so em termos do custo absoluto da sua formaça o mas tambe m da perda da sua potencial carreira contributiva. Tambe m na o se considera a perda individual resultante da impossibilidade de continuar a estudar e das externalidades positivas daí resultantes, ainda que o governo teime em afirmar que esta realidade na o existe. Mais gravoso ainda, sa o as dificuldades que esta dina mica introduz para a concretizaça o do nosso modelo social, ja martirizado pela evoluça o demogra fica adversa. Outra realidade preocupante na dina mica do desemprego e que este se esta a tornar estrutural, isto e , ha desempregados que na o voltara o a arranjar emprego independentemente

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da melhoria das condiço es econo micas (em 2012 a previsa o estatí stica ja apontava para os 11,5%). Estes trabalhadores sa o maioritariamente provenientes do setor da construça o civil, restauraça o e come rcio e te m em comum o baixo ní vel de qualificaço es e idade “avançada” (entenda-se, mais de 40 anos). Para estes, o governo na o tem soluça o e a economia, agora mais direccionada para setores intensivos em ma o-de-obra qualificada, parece tambe m na o ter. Os medí ocres programas de qualificaça o do IEFP, para pouco mais te m servido do que

ajudar na reduça o fictí cia da taxa de desemprego e falham no seu objetivo primordial: dotar os desempregados de novas ferramentas adequadas a s necessidades do mercado de trabalho. Mas o futuro na o faz parte, tradicionalmente, da agenda dos governos da terceira repu blica. Tal como em 1990 se ignorou a falta de competitividade da economia portuguesa, a falta de eficie ncia, transpare ncia e rigor no setor pu blico e a evoluça o demogra fica adversa para o estado social, tambe m agora o governo na o se importa com as conseque ncias

ECONOMIA

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O ESPECTRO

futuras do desemprego e pouco mais se preocupa com as actuais: a impossibilidade de constituir famí lia; a perda de dignidade; a desestruturaça o de famí lias; o aumento da exploraça o e da precariedade; a falta de perspectivas de vida; o ní vel de vida reduzido a subsiste ncia para milhares de famí lias; o aumento da pobreza e da exclusa o social; a perda futura de crescimento, competitividade e sustentabilidade da sociedade portuguesa; o aumento exponencial das desigualdades sociais e o consequente desaparecimento da uto pica

igualdade de oportunidades do imagina rio dos portugueses, sa o apenas assombraço es fantasmago ricas desinteressantes e alimentadas por opositores toldados, que visam ensombrar o esplendor governativo da coligaça o. Afinal de contas, os livros de contabilidade e as estatí sticas do INE na o espelham esta realidade. A boa moda portuguesa, as conseque ncias do presente que as enfrentem os outros. E tempo de festejar, o que interessa e o crescimento de 1,5% para 2015. Viva a s eleiço es!

O P I N I ÃO d e R U I S O U SA

G l a n d e L í d e r

Kim Jon Un acorda. Apressa-se o funciona rio. Geraldes vive na casa do grande lí der faz cinco anos. Cabeleira farta e sorriso na cara, o presta vel homem patina em cada erre. "Glande lí der, glande lí der!", exclama ele assegurando qualquer necessidade terminada em lo gica. Kim recorda o seu sonho. Contra todas as expectativas, a la mpada entra em curto-circuito levando ao sussurro sorrateiro "It´s possible, it´s possible." Levanta-se da cama, e obriga o espelho do quarto a caminhar em direcça o a sua pessoa. "E s lindo, nino". Nessa tarde, Grande Lí der comunica ao paí s a sua influe ncia na naça o. A partir de hoje, todos os habitantes masculinos da mui nobre terra abençoada devem apresentar o corte de cabelo do seu lí der. Duas semanas depois, a noticia e transportada para o mundo real. Os domí nios da ideia sa o transversais. Sena o vejamos: numa altura de desconfiança em relaça o aos valores e princí pios da humanidade, "Glande Lí der" da uma chapada de luva branca a todos os cidada os que po em em

causa valores ta o simples como o da igualdade. Todos os indiví duos devem ser iguais. A ní vel de tecido capilar ja leva uma volta de avanço. No plano econo mico, Kim elabora o seu pro prio banco de fomento. Modelo standard, produça o em massas. Torna a classe dos barbeiros numa das mais importantes da naça o. Estou em crer que equipara os profissionais com a mais alta tecnologia ao que o cabelo diz respeito. Se isto na o e a revoluça o industrial, na o sei o que e . No plano financeiro e tributa rio, Jon Un simplifica na politica de cortes. U nico. Na o ha penteado extraordina rio de solidariedade. Muito menos escalo es no imposto do pe lo singular, vulgarmente conhecido com IPS. Quanto a exportaço es diz respeito, o sistema torna-se mais claro: na venda de ma o de obra todos apresentam o mesmo aspecto, facilitando as promoço es dois por um. Na vertente da educaça o, Kim implementa a disciplina de Princí pios Gerais de Orga nica Capilar, obrigato ria no

segundo ciclo. A cadeira divide-se em aulas pra ticas e teo ricas, contendo a parte pra tica uma visita de estudo ao Museu do Kim, onde esta o embalsamados os restos de cabelo do querido tio Jang. Para terminar, o chefe supremo tem uma excelente janela de oportunidade na diplomacia internacional. Kim Jon Un prepara-se para provocar os lideres mundiais a seguirem a ideia do mesmo. Deixo aqui o meu testemunho humilde sincero. Temos Wanda Stuart. Temos Maria Jose Vale rio. Temos Anselmo

Ralph. So na o ve quem na o quer. Glande Lí der, termina o seu discurso enigmatizando a ultima afirmaça o: "Para a semana pensarei em algo melhor. Bem haja meu povo". Kim pensa na continuaça o do seu projecto capilar. Sugere aos seus neuro nios um corte u nico nos pe los pu bicos retratando a sua magnifica face. Geraldes sabe do plano. Franze o sobrolho e interroga o seu mando. E se o nariz na o corresponder a s dimenso es de Vossa Excele ncia?

GLOBO

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O ESPECTRO

GLOBO

O P I N I ÃO d e R U I C A M P O S

2 2 M

Realizou-se no passado dia 22 de Março uma grande e combativa manifestaça o na cidade de Madrid, em Espanha. Com o lema “Marchas da dignidade” e com as exige ncias de na o pagamento da dí vida, na o aos cortes, na o aos governos da troika e ainda pelo pa o, trabalho e tecto para todos e todas, esta manifestaça o foi o culminar de uma se rie de marchas que percorreram o Estado espanhol e mobilizaram centenas de organizaço es sociais nos quais se incluem partidos, sindicatos e outros colectivos. Esta mobilizaça o assumiu, desde iní cio, um cara cter diferente daquele a que se tem assistido. Primeiro, porque no manifesto publicado e afirmado, claramente, que a dí vida na o deve ser paga e, isto, por si so , representa uma clara confrontaça o com a lo gica e com o sistema em vigor. Segundo, e este e um factor de grande importa ncia, a adesa o de centenas de organizaço es

sociais e polí ticas de va rios quadrantes polí ticos no seio da esquerda, ou seja, aderiram grupos comunistas, anarquistas, radicais, entre outros. Esta realidade podera representar algo novo na vida polí tica daquele Estado a curto-me dio prazo. A manifestaça o em si, na o querendo entrar no “velho “ jogo de nu meros, teve uma estrondosa participaça o em termos de nu mero de manifestantes mas tambe m na pro pria dina mica que assumiu desde inicio e que se propagou pelos restantes dias de protesto. Destaque tambe m para o papel da polí cia e da comunicaça o social que desenvolveram uma estrate gia de desinformaça o e criminalizaça o do M22. No dia 22 de Março o que passou nas notí cias na o foi a manifestaça o em si nem as razo es que levaram tanta gente a sair a rua mas sim os confrontos entre

manifestantes e polí cias e como seria de esperar, a grande maioria dos meios de comunicaça o social rapidamente tentou passar a imagem de que o M22 seria uma concentraça o de “radicais” e “extremistas”. De igual modo essa tentativa foi tambe m desmontada nas redes sociais e em sites de apoio a manifestaça o em que fica provado que foi a polí cia a provocar os manifestantes ja que, a altura, ainda decorriam os discursos e outras actividades polí ticas no palco montado. No final do dia o resultado foram centenas de detidos e tambe m de feridos mas para a histo ria ficara mais uma repressa o aos movimentos que rejeitam a actual situaça o, ficara tambe m a demonstraça o de uma poderosa solidariedade entre os manifestantes que nos dias seguintes a manifestaça o exigiram a libertaça o de todos os detidos a 22 de Março bem

como a continuaça o dos protestos pela alteraça o das polí ticas e do sistema. A pergunta do costume e que importa fazer, e agora? Apo s o sucesso das marchas e da mobilizaça o unita ria conseguida em torno de objectivos concretos, o espirito no seio do M22 parece ser de continuar e de intensificar a luta atrave s dos mais diversos meios e te m, alia s, sido convocadas va rias manifestaço es para dar continuidade a este movimento mas e impossí vel prever o que vai de facto acontecer tanto no seio do movimento como na pro pria vida polí tica espanhola, e contudo, expectavel que este tipo de mobilizaço es continue a acontecer e que haja uma maior participaça o por parte das populaço es. Ao mesmo tempo na o sera de admirar que o Estado espanhol procure reprimir ou criminalizar este tipo de movimentos e em particular aqueles que desafiam o sistema capitalista.

O P I N I ÃO d e J O ÃO M I G U E L S I LVA

P o l í t i c a n o Fe m i n i n o ? Fa ç a f a vo r.

A Angela ou a Dilma sa o dos poucos exemplos da presença feminina na alta cena polí tica internacional da actualidade. O problema nesta realidade e a de que sa o praticamente homens, tal como o Professor Sousa Lara aponta nas suas aulas. Na o sei se posso discordar de todo com esta afirmaça o, tendo em conta que os traços de personalidade pu blica (o privado, a elas lhes diz respeito) sa o mais ide nticos aos do sexo masculino. A presença de mulheres nos po dios ma ximos da polí tica ainda esta longe de ser uma realidade. Para quem ja me conhece e, na o querendo fazer o papel de sexista e claro, sabe que prefiro ver uma mulher ao volante (perigo, so no alcatra o)

dos destinos de instituiço es internacionais ou de uma naça o, do que propriamente um homem. Christine Largarde e o exemplo ma ximo daquilo que se pode considerar como uma presença verdadeiramente feminina, num lugar de influe ncia que e o de chefe-ma ximo do FMI. Malas e vestidos Channel na o precisam de ser fazer parte dos requisitos para uma governante ser verdadeiramente feminina. Vejamos, se queremos ter uma mulher a comandar, na o estamos interessados que ela acabe por se comportar como um homem mas sim destacar-se da multida o de homens

presentes na polí tica. Ja Michelle Obama e uma das principais impulsinadoras para que se coloque um fim ao facto de “adereço” continuar a ser sino nimo de Primeira-Dama. Neste sentido, tem desempenhado um trabalho razoa vel na tomada de iniciativa pro pria, na o relegando a sua posiça o polí tico-social apenas ao de ser uma residente VIP da Casa Branca, como fizeram a maioria das suas antecessoras. No passado, Thatcher - como homem polí tico que era mas sem deixar de lado o seu estilo feminino particular -, tomou o pulso do Reino Unido como poucos compatriotas masculinos fizeram. De pe

firme, na o entrou no Euro, ajudou a po r um fim a Guerra Fria, começou um guerra da qual saiu vencedora e por aí adiante. Resultado das circunsta ncias ou na o, obteve um curriculum de fazer inveja a qualquer polí tico. Fez aquilo que todas as mulheres com o seu poder deviam fazer: usar o seu “estatuto” feminino como vantagem. Podemos dizer que falta ambiça o ao sexo feminino que colocam os deveres familiares a frente dos profissionais, entre tantas outras razo es mas a verdade e que, fazendo parte da histo ria, as mulheres garantem o seu futuro como lí deres natas que sa o.

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Toma s Sima o, aluno de Cie ncia Polí tica do Instituto Superior de Cie ncias Sociais e Polí ticas da Universidade de Lisboa, juntou-se ao grupo de colegas e amigos para falar sobre o Ensino Superior, no Congresso da Juventude Comunista. O primeiro fim de semana de Abril deste ano foi pretexto para dar som ao descontentamento enquanto cidada os conscientes num Congresso de energia e cujo sentimento de unia o permanecia entre as centenas de cadeiras presentes no audito rio principal da Faculdade de Medicina Denta ria da Universidade de Lisboa. A necessidade de dar resposta aos va rios problemas que inundam a vida dos milhares de portugueses consagra-se a maior preocupaça o numa sala composta por tre s grandes paine is vermelhos. A formalidade de apresentaça o generalizada a condiça o de militante da espaço a descontraça o. Num pu lpilto com cravos na sua

base, falou-se do Ensino Superior e dos seus regulamentos de avaliaça o bem como da sua falta de professores, deficientes infraestruturas, aumento do abandono escolar e das propinas ou dos sucessivos cortes ao mesmo. Ja sobre o Racismo e Xenofobia, destaca-se a maior procura pela sobrevive ncia causada por um capitalismo instabilizador bem como a culpa pela actual crise econo mica ser dirigida aos paí ses ocidentais (da Europa do Sul), nomeadamente aos GEP (Gré cia, Espanha é Portugal), quando a elite econo mico-financeira do Norte foi a maior responsa vel. Do Litoral Alentejano falou-se de Sines, Santo Andre , Santiago e Gra ndola e do excessivo nu mero de alunos por turma, a falta de aquecimento ou de outras condiço es ao ní vel de infraestruturas bem como de um complexo industrial que tem o poder de dispensa -los ao fim de uma suposta semana

de fe rias. Ana Correia (coordénadora do Litoral Alentejano) fala, ainda, de uma crise estrutural do capitalismo e da luta dos trabalhadores e dos pobres, sem esquecer a NATO e o orçamento militar que paga a fome, a pobreza e a doença que matam milhares de seres humanos, diariamente. De seguida, Gonçalo Costa demonstrou o seu descontentamento sobre o desinteresse por parte do Governo na cultura, afirmando que esta e consomida como se de um bem ou serviço de elites se tratasse. Ja Joana Brua menciona como principal problema a emigraça o e apela a uma mudança de polí tica para alcançar as conquistas de Abril. Helena Casqueiro faz uma interpretaça o do capitalismo como o principal defensor da necessidade de trabalhar e estudar ao mesmo tempo, de trabalhos preca rios para sair da crise ou que as greves prejudicam o trabalho. Neste sentido, apelou a acça o e

mobilizaça o para alcançar aspiraço es. De seguida, Joa o Pinto Anjo, aluno da Universidade de Coimbra, assume que um "comunista na o pode perder a esperança quando a esperança parece estar perdida". Com confiança na luta e na mudança, os jovens presentes acreditam que a resiste ncia dos estudantes na o torna a educaça o pior. Viva o 10º Congresso da JCP! Viva a JCP! Ou Avante Abril! marcavam o final de qualquer intervença o. Depois do almoço, por volta das 15 horas, Luí s Encarnaça o dirige-se ao pu blico com uma t-shirt "Va o para a Troika que vos pariu". Menciona a dicotomia entre alienados e aliados ao ní vel dos interesses e na Plataforma 40/25 da JCP. Termina apelando a transformaça o. Esta foi a sua u ltima palavra de ordem. De seguida, Jorge Pires, faz refere ncia a uma luta que deixou de ser apenas econo mica para ser tambe m psicolo gica. "Péla démocracia, pélo marxismo-leninismo, por todos no s!", conclui.

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O ESPECTRO

REPORTAGEM

A D R I A N A C O R R E I A e J O A N A L E M O S

C o n g r e s s o d e J C P

DR

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08 | 14 Abril 2014

O ESPECTRO

Ja os esta gios profissionais foram outro problema mencionado. Estes sofrem de uma precarizaça o generalizada. E de significativa importa ncia a promoça o da componente pra tica e de aprendizagem masse esta na o gera emprego, na o tem custos para quem acolhe estes estagia rios e essa realidade substitui postos de trabalho. Seria, por isso, importante uma maior fiscalizaça o, orientaça o e controlo de hora rios. Neste sentido, Patrí cia Martins veio representar o ensino profissional e revela as desigualdades sociais e econo micas alimentadas pelo Governo com a tomada de deciso es que tem vindo a fazer ao longo do tempo, afirmando que “os desí gnios financeiros e ecnono micos sa o o factor que destro i o sonho dos estudantes”, reiterando mais uma vez tudo o que fora dito durante o primeiro dia de congresso acerca das dificuldades na educaça o e na elitizaça o do ensino. Rita Rato, uma das deputadas mais empenhadas nesta luta dos jovens e mais pro xima dos o rga os da JCP, discursou no final da tarde, focando-se na luta das mulheres, nomeadamente na discriminaça o das mulheres que na o usufrem da ma xima

“sala rio igual para trabalho igual” e que continuam a ter remuneraço es profundamente dí spares dos homens no trabalho que exercem. Afirmou que “a luta das mulheres e a luta dos trabalhadores”. As suas preocupaço es, que va o ao encontro de algumas preocupaço es da JCP, prendem-se tambe m com o desemprego das mulheres jovens (salvo erro mais alto que a me dia europeia e um dos mais altos da Zona Euro). Apelidou a lei da paridade de “lei artificial”, ou seja, a lei que determina que o nu mero de homens e de mulheres nas listas constituintes dos partidos deve ser igual, dando voz a uma ideia ja antiga do PCP acerca deste assunto, porque e uma lei que significa “mais um passo na ingere ncia da vida interna dos partidos”. Um jovem de nome Andre Oliveira decidiu marcar o seu discurso pelo tema da toxicodepende ncia, um tema de vanguarda do pro prio PCP, explicando que e um instrumento de alienaça o e de lucro capitalista pois ao aproveitar-se deste que e um grave problema de sau de pu blica alimenta a marginalizaça o e o abandono dos doentes (reforçando a ideia de que sa o doentes e na o

REPORTAGEM

delinquentes). Decidiu ainda demarcar a sua posiça o da do Bloco de Esquerda e da do Partido Socialista que defendem a legalizaça o das drogas leves que apenas levam a “problemas maiores”. Foi com uma ode ao trabalho nos campos que um grupo de cantar alentejano deu o tiro de partida para o segundo e u ltimo dia de congresso, bafejado por palavras de ordem e va rios hinos, desde a Internacional ao Hino do PCP, como tambe m a famosa onda de bandeiras esvoaçantes ao som da Carvalhesa, neste que foi um dia virado para a festa e para o exterior. A reafirmaça o dos esforços e das conquistas da JCP, na senda do que havia sido o dia anterior, continuou ainda assim com poucas e muito vagas autocrí ticas a todo o percurso caminhado ate ao momento. Sofia Lisboa, curiosamente membro da Organizaça o Regional de Lisboa, foi uma das mais aplaudidas da tarde, proferindo um discurso virado para a recuperaça o das esperanças da juventude e lembrando que “cada vez há menos tempo para pensar nos sonhos” mas que a precariedade juvenil na o pode ser uma batalha travada apenas pelos comunistas.

Por entre va rias intervenço es destacaram-se chavo es como “Pelo direito ao trabalho, e ao trabalho com direitos!” que logo fez levantar uma saraivada de aplausos por entre a plateia e a mesa de trabalhos, mas tambe m neste espí rito de exaltaça o da luta surgiram jovens como Joa o Alves, estudante de Belas Artes, que proclamavam que e possí vel viver mais e melhor e que “o passado e a prova, o presente o futuro e o futuro a confiança!”. Foram tambe m estas palavras optimistas que Jero nimo de Sousa, no momento alto do congresso e com um audito rio cheio e pululante de atença o, proferiu o discurso de encerramento. O Secreta rio-Geral do PCP desde 2004 aproveitou o tempo de antena para falar nas europeias, mas o que o levara ali falou mais alto, focando-se na esperança, na legitimidade da luta juvenil, na luta sem cessar e na vivacidade do PCP, com o objectivo mais do que uma vez proferido de “transformar o sonho em vida”. E neste espí rito se passaram dois dias em que os valores do 25 dé Abril na o sé limitaram a ser relembrados e admirados como uma peça de museu, mas reafirmados e reavivados como instrumento de luta adaptado a realidade actual do paí s.

DR

Page 9: 9ª Edição - O Espectro

Núcleo de Ciência Política Universidade de Lisboa - Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas

Parceria com Jornal Económico do ISEG

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