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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO COPPEAD DE ADMINISTRAÇÃO
LUCIANA SOUSA DE CARVALHO
A ADOÇÃO DE PRINCÍPIOS LEAN PELO SETOR DA CONSTRUÇÃO CIVIL
RIO DE JANEIRO
2013
ii
Luciana Sousa de Carvalho
A ADOÇÃO DE PRINCÍPIOS LEAN PELO SETOR DA CONSTRUÇÃO CIVIL
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração, Instituto COPPEAD de Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Administração.
Orientador: Prof. Kleber Fossati Figueiredo, Ph. D.
Rio de Janeiro
2013
iii
Carvalho, Luciana Sousa de.
A adoção dos princípios lean pelo setor da construção civil. / Luciana Sousa de Carvalho. -- Rio de Janeiro: UFRJ, 2013.
196 f.; 31 cm.
Orientador: Kleber Fossati Figueiredo
Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto COPPEAD de Administração, 2013.
1.Práticas lean. 2. Construção Civil. 3. Administração – Teses. I. Figueiredo, Kleber Fossati. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto COPPEAD de Administração. III. Título.
iv
Luciana Sousa de Carvalho
A ADOÇÃO DE PRINCÍPIOS LEAN PELO SETOR DA CONSTRUÇÃO CIVIL
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração, Instituto COPPEAD de Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Administração.
Aprovada em ____________________________________________________
Prof. Kleber Fossati Figueiredo, Ph.D. (Orientador) COPPEAD/UFRJ
____________________________________________________
Profª. Cláudia Affonso Silva Araújo, D.Sc. COPPEAD/UFRJ
____________________________________________________
Prof. Paulo Alcântara Gomes, D.Sc. Escola de Engenharia – UFRJ e Rede de Tecnologia do Rio de Janeiro
v
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Ronaldo e Rosa, responsáveis por todas as minhas
conquistas, por terem sido maravilhosos guias e pelo apoio incondicional, cada um a
sua maneira.
A minha querida irmã Larissa, meu orgulho e razão das minhas gargalhadas.
Ao meu orientador, Kleber Figueiredo, pelas sugestões, pela orientação e por
ter possibilitado unir a minha graduação com os ensinamentos do mestrado.
Aos professores Cláudia Araújo e Paulo Alcântara Gomes, por aceitarem
compor a banca de defesa desta dissertação.
Aos meus colegas de COPPEAD, pela amizade, parceria e momentos de
descontração durante o curso.
Aos profissionais das empresas que se dispuseram a responder esta
pesquisa, tornando possível este trabalho.
Enfim, a todos que me ajudaram, direta ou indiretamente, a concluir mais esta
etapa da minha vida.
vi
RESUMO
CARVALHO, Luciana Sousa de. A Adoção de Princípios Lean pelo Setor da
Construção Civil. 2013. 197f. Dissertação (Mestrado em Administração) – Instituto
COPPEAD de Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, 2013.
O setor da construção civil tem papel fundamental na economia nacional dos
países. Apesar das críticas ao desempenho de má qualidade, há cerca de duas
décadas, a construção civil vem sofrendo os impactos de uma série de modificações
conjunturais que obrigam as construtoras a reorientar suas estratégias. O interesse
pela adoção da filosofia lean é baseado nas evidências empíricas de que suas
práticas melhoram a competitividade das empresas, sobretudo, na forma de redução
dos prazos e custos e aumento da qualidade, aspectos demandados pelo mercado.
O objetivo deste trabalho é investigar como as práticas lean estão sendo
implementadas na construção civil no ambiente brasileiro. Mais especificamente, o
estudo visa identificar os fatores que motivam as construtoras a implantar tais
práticas, bem como quais dessas práticas são mais recorrentes, os resultados
obtidos, as possíveis dificuldades encontradas nesse processo e as perspectivas
futuras deste tipo de prática no país. Identificou-se que as principais motivações que
conduziram à introdução das práticas lean foram o maior grau de competitividade
entre as empresas, o aumento das exigências do mercado e a redução de custos.
Os principais benefícios encontrados foram a eliminação de desperdícios, a melhoria
substancial na curva de aprendizado da força de trabalho e sua relação com a
implantação das práticas, processos mais eficientes e redução de custos, ao passo
que as dificuldades relatadas foram, sobretudo, relacionadas à falta de experiência
na adoção de práticas e à resistência à mudança cultural radical. Os resultados
desde trabalho sugerem que, de fato, há evidências de que as práticas lean
melhoram os níveis de desempenho operacional e a competitividade das
construtoras.
Palavras-chave: práticas lean, construção civil, princípios lean, Lean Construction
vii
ABSTRACT
CARVALHO, Luciana Sousa de. A Adoção de Princípios Lean pelo Setor da
Construção Civil. 2013. 197f. Dissertação (Mestrado em Administração) – Instituto
COPPEAD de Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, 2013.
The construction sector plays a key role in the countries’ national economy.
Despite criticism concerning lousy performance, about two decades ago, this sector
has been suffering the impacts of a series of conjunctural changes that has been
pushing construction companies to reorient their strategies. The interest in the
adoption of lean philosophy is based on empirical evidences that their practices
improve business competitiveness, especially in the form of reducing time and costs
and increasing quality; aspects demanded by the market. The main goal of this work
is to investigate how lean practices are being implemented in the Brazilian
construction sector. More specifically, the study aims to identify the factors that
motivate construction companies to implement such practices, as well as which of
these practices are more recurrent, the results achieved, the possible difficulties in
the process and the future prospects of this practice in the country. It was identified
that the main motivations that led to the introduction of lean practices were highest
competitiveness among companies, market increasing demands and cost reduction.
The main benefits found were the elimination of waste, substantial improvement in
the workforce learning curve and its relation with the implementation of the practices,
more efficient processes and costs reduction while the difficulties reported were
mostly related to lack of experience in the adoption of practices and resistance to
radical cultural changes. The results of this study suggest that, in fact, there are
evidences that lean practices improve operational performance levels and
competitiveness among construction companies.
Keywords: lean practices, construction industry, lean principles, Lean Construction
viii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Percentual de atividades que não agregam valor .....................................59
Figura 2 – Gráfico dos níveis de avaliação do SiAC .................................................71
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Resumo das práticas lean na construção civil ........................................61
Tabela 2 - Resumo das motivações relacionadas à implantação de práticas lean na
construção civil ..........................................................................................................64
Tabela 3 - Resumo das dificuldades relacionadas à implantação de práticas lean na
construção civil ..........................................................................................................65
Tabela 4 - Resumo dos resultados relacionados à implantação de práticas lean na
construção civil ..........................................................................................................66
Tabela 5 – Resumo das características gerais das construtoras estudadas ..........142
Tabela 6 – Motivações para a implantação de práticas lean ..................................144
Tabela 7 – Práticas lean adotadas ..........................................................................148
Tabela 8 – Dificuldades de implantação das práticas lean .....................................159
Tabela 9 – Resultados obtidos com a implantação .................................................163
ix
LISTA DE SIGLAS
Ademi – Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário
BCG – Boston Consulting Group
GBC - Green Building Council
IGLC - International Group for Lean Construction
ISO - International Organization for Standardization
JIT – Just in Time
LEED - Leadership in Energy and Environmental Design
LCI – Lean Construction Institute
LIB – Lean Institute Brasil
OHSAS - Occupational Health and Safety Assessment Specification (Especificação
para Avaliação da Segurança e Saúde Ocupacional)
PBQP-H – Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat
SECONCI - Serviço Social da Indústria da Construção Civil
SiAC – Sistema de Avaliação da Conformidade de Empresas de Serviços e Obras
da Construção Civil
Sinduscon – Sindicato da Indústria da Construção Civil
SMED – Single Minute Exchange of Dies
STP – Sistema Toyota de Produção
TPM – Total Productive Maintenance
VSM – Value Stream Mapping
x
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 13
1.1 OBJETIVO DO ESTUDO ................................................................... 13
1.2 RELEVÂNCIA DO ESTUDO .............................................................. 13
1.3 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO ............................................................. 17
1.4 ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO ........................................................... 17
2 REVISÃO DA LITERATURA ........................................................................ 19
2.1 INTRODUÇÃO ...................................................................................... 19
2.2 FILOSOFIA LEAN ................................................................................. 20
2.2.1 O que é a filosofia lean ................................................................... 20
2.2.2 Como surgiu a filosofia lean ........................................................... 23
2.2.3 Os princípios e práticas lean........................................................... 25
2.2.4 Fatores que contribuem para a implantação bem sucedida de
princípios e práticas lean .................................................................................... 30
2.2.5 Os benefícios da adoção da metodologia lean ............................... 32
2.3 FILOSOFIA LEAN NA CONSTRUÇÃO CIVIL ....................................... 36
2.3.1 O que é Lean Construction ............................................................. 36
2.3.2 A origem do conceito Lean Construction ........................................ 39
2.3.3 Princípios e práticas da construção lean ........................................ 41
2.4 IMPLANTAÇÃO DE PRÁTICAS LEAN NA CONSTRUÇÃO CIVIL ....... 52
2.4.1 Motivações...................................................................................... 52
2.4.2 Dificuldades de implantação ........................................................... 53
2.4.3 Resultados esperados e resultados encontrados em implantações
em andamento ................................................................................................... 57
2.5 RESUMO E PROPOSTA DE ESQUEMA CONCEITUAL PARA
ANÁLISE DOS CASOS ......................................................................................... 61
3 METODOLOGIA DE PESQUISA ................................................................. 68
xi
3.1 PERGUNTAS DE PESQUISA ............................................................... 68
3.2 MÉTODO DA PESQUISA ..................................................................... 68
3.3 A ESCOLHA DOS CASOS ................................................................... 69
3.4 SELEÇÃO DAS EMPRESAS E DOS ENTREVISTADOS ..................... 72
3.5 COLETA E ANÁLISE DOS DADOS ...................................................... 73
3.6 LIMITAÇÕES DO MÉTODO ................................................................. 74
4 DESCRIÇÃO DOS CASOS ......................................................................... 76
4.1 CONSTRUTORA ALFA ......................................................................... 76
4.1.1 Motivações para a implantação de práticas lean ............................ 78
4.1.2 Práticas adotadas ........................................................................... 81
4.1.3 Dificuldades de implantação ........................................................... 90
4.1.4 Resultados obtidos com a adoção de práticas lean ........................ 91
4.1.5 Projetos Futuros ............................................................................. 93
4.2 CONSTRUTORA BETA ........................................................................ 93
4.2.1 Motivações para a implantação de práticas lean ............................ 95
4.2.2 Práticas adotadas ........................................................................... 98
4.2.3 Dificuldades de implantação ......................................................... 105
4.2.4 Resultados obtidos com a adoção de práticas lean ...................... 108
4.2.5 Projetos Futuros ........................................................................... 110
4.3 CONSTRUTORA GAMA ..................................................................... 111
4.3.1 Motivações para a implantação de práticas lean .......................... 112
4.3.2 Práticas adotadas ......................................................................... 114
4.3.3 Dificuldades de implantação ......................................................... 123
4.3.4 Resultados obtidos com a adoção de práticas lean ...................... 125
4.3.5 Projetos Futuros ........................................................................... 128
4.4 CONSTRUTORA ÔMEGA .................................................................. 128
4.4.1 Motivações para a implantação de práticas lean .......................... 129
xii
4.4.2 Práticas adotadas ......................................................................... 131
4.4.3 Dificuldades de implantação ......................................................... 137
4.4.4 Resultados obtidos com a adoção de práticas lean ...................... 138
4.4.5 Projetos Futuros ........................................................................... 140
5 ANÁLISE DOS CASOS ............................................................................. 142
5.1 INTRODUÇÃO ................................................................................. 142
5.2 CARACTERÍSTICAS GERAIS DAS EMPRESAS ENTREVISTADAS
......................................................................................................................... 142
5.3 MOTIVAÇÕES PARA A IMPLANTAÇÃO DE PRÁTICAS LEAN .. 144
5.4 PRÁTICAS ADOTADAS .................................................................. 148
5.5 DIFICULDADES DE IMPLANTAÇÃO .............................................. 159
5.6 RESULTADOS OBTIDOS COM A ADOÇÃO DE PRÁTICAS LEAN
162
5.7 PERSPECTIVAS FUTURAS ........................................................... 166
6 RESUMO, CONCLUSÕES E SUGESTÕES DE PESQUISAS FUTURAS 168
6.1 RESUMO DA PESQUISA ................................................................ 168
6.2 CONCLUSÕES ................................................................................ 169
6.3 CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS E GERENCIAIS ............................. 183
6.4 SUGESTÕES DE PESQUISAS FUTURAS ..................................... 183
REFERÊNCIAS ............................................................................................ 185
APÊNDICE A – ROTEIRO PARA ENTREVISTAS ....................................... 195
13
1 INTRODUÇÃO
1.1 OBJETIVO DO ESTUDO
O presente trabalho tem por objetivo investigar como as práticas lean
estão sendo implementadas na construção civil no ambiente brasileiro. Mais
especificamente, o estudo visa identificar os fatores que motivam as construtoras
a implantar tais práticas, ou seja, o porquê de estarem implementando práticas
lean em suas operações, bem como quais práticas são mais recorrentes, os
resultados obtidos com a implantação, as possíveis dificuldades encontradas
nesse processo e as perspectivas futuras deste tipo de prática no contexto
brasileiro.
1.2 RELEVÂNCIA DO ESTUDO
A construção civil - setor de negócios com papel fundamental na economia
nacional dos países (ZANTANIDIS e TSIOTRAS, 1998) - é essencialmente uma
atividade baseada em projetos, operada em um ambiente de considerável
complexidade e incerteza devido à estrutura fragmentada de sua cadeia de
suprimentos; aos relacionamentos comerciais de curto prazo (muitas vezes
conflituosos); ao parco fluxo de informações; e ao alto grau de dependência entre
tarefas – diferenças chave entre a construção e outros setores centrados em
processos (FEARNE e FOWLER, 2006).
O setor da construção civil é, sem dúvida, o menos integrado entre todos os
principais setores industriais. Os projetos são invariavelmente tratados como uma
série de operações sequenciais e predominantemente isoladas, na qual agentes
individuais têm pouca participação ou compromisso com o sucesso a longo prazo do
produto resultante – as edificações (FEARNE e FOWLER, 2006).
Também fazem parte do contexto da construção o progresso lento e
frequentes problemas de baixa produtividade, qualidade insuficiente, atrasos e
14
segurança precária, que acabam por impedir a entrega de valor aos clientes
(SENARATNE e WIJESIRI, 2008).
Problemas de planejamento de projeto e/ou da construção, de gerenciamento
de materiais e fluxos de trabalho, e de monitoramento e controle existentes no
modelo da construção civil tradicional fazem com que o fluxo de processos na
construção seja desnecessariamente fragmentado, complexo, pouco transparente e
variável. No controle do projeto, as situações criadas para resolver crises consomem
totalmente os recursos e a atenção do gerenciamento, deixando pouco espaço para
o planejamento e para as atividades que geram melhorias (KOSKELA, 1992;
WIGINESCKY, 2009).
Além disso, o histórico da construção civil também é marcado pela
competição baseada mais em preços e menos na qualidade e no tempo de entrega.
O controle da qualidade é necessário, porém difícil, posto que a forte competição
faz com que as empresas utilizem materiais mais baratos (ZANTANIDIS e
TSIOTRAS, 1998). Como consequência de processos de baixa qualidade, alguns
estudos realizados no Brasil apontam para percentuais bastante elevados de perdas
(FORMOSO et al., 1997).
Contudo, apesar das críticas ao desempenho de má qualidade, a construção
civil, em especial a construção de edifícios, vem experimentando, desde a década
de oitenta, os impactos de uma série de modificações conjunturais. Dessa maneira,
as formas tradicionais de realizar e gerenciar os processos de construção passaram
a enfrentar desafios sem precedentes, que obrigam as construtoras a pensarem na
reorientação de suas estratégias de posicionamento no mercado, de forma a
privilegiar a qualidade e a produtividade no processo de produção (GILLEARD,
1992; FABRÍCIO e MELHADO, 1998; RAY e RAJU, 2008; IBRAHIM et al., 2010).
No caso específico da produtividade, publicações específicas da área, como a
revista Téchne, apontam para a falta de visão sistêmica das construtoras sobre essa
questão e como a variação da produtividade de execução pode ser muito maior do
que o esperado. Ao contrário do que se imaginava, a variação não é de apenas 5%
a 10%. Ela pode chegar a 50%, 80% e até 100%. Portanto, reduções no percentual
de produtividade da mão de obra - que pode ser equivalente à metade do custo da
obra em alguns casos -, podem dobrar ou triplicar os ganhos com os
empreendimentos.
15
Novas técnicas, novos processos e novos equipamentos estão transformando
os canteiros de obra de diferentes portes em todo o país. Aos poucos a construção
civil no Brasil começa a implementar soluções já utilizadas há anos na Europa e nos
Estados Unidos. Entretanto, segundo dados da Associação Brasileira de Tecnologia
para Construção e Mineração, em 2013, cerca de 60% a 70% das construções ainda
seguem métodos tradicionais (CASTRO, 2013).
Ademais, nos últimos anos, observou-se também um aumento das exigências
dos clientes, especialmente em relação à qualidade (que vem ocorrendo em todos
os setores da economia), que fez com que a qualidade passasse a ser valorizada
como um elemento importante para a competitividade no setor da construção. Os
impactos dessa exigência podem ser observados através do aumento do número de
empresas que buscam implantar programas de gestão da qualidade e da
produtividade para a obtenção de certificações e adequação aos novos
condicionantes competitivos (FABRÍCIO e MELHADO, 1998).
Outro aspecto ligado às modificações conjunturais mencionadas pode ser
observado no estudo da professora de gestão e tecnologia na construção civil da
Universidade de São Paulo, Mércia Barros, apresentando pela revista Exame, que
estima que haja um déficit de 250.000 trabalhadores no setor da construção civil
(STEFANO et al., 2011). Dessa forma, a escassez e encarecimento de mão de obra
(além dos gastos referentes à sua qualificação) levaram as construtoras a
industrializar o processo construtivo, movimento que vem se acentuando nos últimos
anos. A tendência aponta para que a construção torne-se um processo de
montagem, semelhante ao setor automotivo. A utilização de pré-moldados,
importante para esse processo, reduz o tempo da obra, a necessidade de
funcionários, os custos do empreendimento e o volume de resíduos produzidos,
assim, aumentando a produtividade e a competitividade das empresas (CASTRO,
2013).
Dentre as abordagens apresentadas por diversos pesquisadores como formas
de resolver problemas do setor, destaca-se a filosofia lean, que consiste na
reconfiguração dos ativos da empresa e dos relacionamentos com seus parceiros da
cadeia de suprimentos, visando estabelecer um novo patamar para a criação de
valor adicional aos clientes. Tais mudanças permitem às organizações enxergar um
16
grande número de oportunidades e redefinir a natureza da competição em seus
setores (JONES, 2007).
O interesse pela adoção da filosofia lean na construção é baseado,
principalmente, nas evidências empíricas de que suas práticas melhoram a
competitividade das empresas em seus mercados, na forma de redução dos prazos
e custos e aumento da qualidade, aspectos demandados pelo mercado (SANCHEZ
e PÉRES, 2001; ALARCON e SEGUEL, 2002; MULLENS e NAHMENS, 2004). De
acordo com Ballard e Howell (2003) países como Reino Unido, Austrália, EUA e
Brasil ganharam benefícios significativos pela adoção dos conceitos de Lean
Construction (SENARATNE e WIJESIRI, 2008). Esses conceitos são difundidos,
sobretudo, por instituições que atuam como plataforma para o estudo e difusão da
filosofia lean, como o International Group of Lean Construction (IGLC) e o Lean
Construction Institute (LCI).
O International Group for Lean Construction (IGLC), criado em 1993, é
formado por uma rede de profissionais e pesquisadores de arquitetura, engenharia e
construção que acreditam que a prática, a educação e a pesquisa nessas três áreas
precisam ser radicalmente renovadas para responder aos desafios futuros
(INTERNATIONAL GROUP FOR LEAN CONSTRUCTION, 2012).
O grupo tem por objetivo atender a demanda dos consumidores e melhorar
drasticamente os processos e produtos da arquitetura, da engenharia e da
construção. Para alcançá-lo, o grupo vem criando novos princípios e métodos para o
desenvolvimento de produtos e para o gerenciamento da produção, voltados
especificamente para a construção civil, porém, semelhantes aos da produção lean,
comprovadamente bem sucedidos na manufatura. O IGLC destaca-se pela ênfase
na teoria, dado a constatação de que a falta de uma teoria explícita tem sido um dos
maiores gargalos para o progresso do setor da construção. Entre os temas
discutidos pelo IGLC estão: planejamento e controle da produção, pessoas, gestão
da cadeia de suprimentos, segurança, qualidade e o ambiente etc. Esses aspectos
precisam ser radicalmente renovados para responder aos desafios futuros do setor
(INTERNATIONAL GROUP FOR LEAN CONSTRUCTION, 2012).
Já o Lean Construction Institute (LCI), criado em 1997, tem o objetivo de
catalisar as transformações no setor da construção para que sejam entregues
projetos utilizando um sistema operacional enxuto, centrado em torno de uma
17
linguagem comum, de princípios fundamentais e de práticas básicas (LEAN
CONSTRUCTION INSTITUTE, 2012).
É nesse contexto de competitividade e difusão de práticas lean na construção
civil, e buscando suprir uma lacuna de estudos similares no contexto brasileiro, que
pode ser identificada a relevância de um estudo sobre práticas lean envolvendo
construtoras brasileiras. A importância teórica do tema está associada à
necessidade de se compreender melhor o processo de implantação de práticas lean
e seus desdobramentos dentro do contexto da estratégia dessas empresas. A
importância prática deste trabalho decorre da possibilidade de utilização dos
resultados do estudo como subsídio para melhorar o planejamento e
operacionalização das práticas lean no ambiente nacional.
1.3 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO
Foram consideradas neste estudo empresas de construção civil com atuação
no Estado do Rio de Janeiro. As construtoras devem estar certificadas no nível A do
SiAC (Sistemas de Avaliação da Conformidade dos Serviços e Obras) do Programa
Brasileiro de Qualidade e Produtividade no Habitat (PBQP-H), do Ministério das
Cidades. Ademais, devem ter como atividade principal a construção de edificações
verticais (residenciais ou comerciais), desconsiderando–se os empreendimentos do
tipo baixa renda, os quais possuem outras peculiaridades.
As fontes de dados desta pesquisa estão, sobretudo, baseadas no ponto de
vista dos entrevistados - gestores e demais responsáveis por conduzir a implantação
de práticas lean em suas empresas e acompanhar seu desenvolvimento ao longo do
tempo.
1.4 ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO
O estudo aqui apresentado está organizado em seis capítulos, da seguinte
forma:
18
• O primeiro capítulo apresentou os objetivos do estudo e a sua
relevância.
• O segundo capítulo traz uma revisão da literatura, iniciando-se com a
definição de “Filosofia lean”. Em seguida, aborda este conceito no
contexto da Construção Civil, identificando quais as motivações, as
dificuldades e os resultados associados à implantação das práticas
lean.
• O terceiro capítulo apresenta a metodologia do estudo, trazendo as
perguntas da pesquisa, o método escolhido, a seleção das empresas e
dos entrevistados, o processo de coleta e análise e as limitações do
método.
• O quarto capítulo apresenta a descrição dos casos estudados,
seguindo a estrutura formada pelas perguntas de pesquisa e
baseando-se no esquema conceitual fruto da revisão da literatura.
• O quinto capítulo apresenta a análise dos casos, confrontando os
resultados obtidos com os pontos identificados na literatura.
• O sexto e último capítulo apresenta as conclusões, contribuições e
limitações do estudo e as sugestões para estudos futuros sobre este
tema.
19
2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 INTRODUÇÃO
Nesse capítulo será apresentado o referencial teórico a ser utilizado na
elaboração do roteiro de entrevistas que será aplicado em empresas do setor da
construção civil. Ademais, seu objetivo é servir como base para posterior análise
das práticas adotadas por essas empresas, dos fatores que motivam as construtoras
a adotá-las, das dificuldades de implantação, bem como dos benefícios oriundos da
adoção de princípios lean na construção civil, conforme apontado pelos
pesquisadores de Lean Construction.
Para tanto, a revisão de literatura que fundamenta esta pesquisa está dividida
em quatro partes. A primeira delas aborda o conceito de “Filosofia lean” de forma
mais ampla, considerando seu papel tanto na manufatura quanto em serviços. Nela
também são expostos os princípios e práticas da Filosofia lean, bem como os
benefícios alcançados pelas organizações que puseram tais princípios em prática.
A parte seguinte começa a focar no tema central dessa pesquisa. A Filosofia
lean será abordada no contexto da Construção Civil, através da explanação da
origem e do conceito “Lean Construction”, bem como dos princípios e práticas da
construção enxuta. A terceira parte da revisão aborda os eventos relacionados à
implantação das práticas lean pelas construtoras, identificando quais as motivações
que as levam a adotar tais práticas, os obstáculos que podem surgir durante a fase
de implantação e os resultados esperados e efetivamente obtidos com tal esforço.
O capítulo se encerra com um resumo dos pontos mais relevantes que
auxiliarão as análises posteriores, através da apresentação de uma proposta de
esquema conceitual que reúne as principais práticas lean mencionadas na literatura
sobre Lean Construction, os aspectos que motivam a sua adoção, as possíveis
dificuldades encontradas pelas construtoras e os resultados de sua implantação.
Os artigos utilizados no desenvolvimento da revisão da literatura foram
retirados das bases de dados Proquest, Science Direct, Emerald e Ebsco no período
de dezembro de 2011 a junho de 2012. As palavras chave introduzidas nestas bases
20
foram: lean construction, lean thinking, lean production, lean philosophy, lean
principles, lean principles in construction, lean initiatives. Algumas dessas palavras
chave também foram empregadas em português, visando obter material de
referência que pudesse abordar a filosofia lean no contexto da construção civil no
Brasil. Cabe destacar, entretanto, que alguns artigos citados na revisão da literatura
não foram resultado direto das buscas feitas com as palavras chave mencionadas. A
localização de tais artigos se deu com base nas referências de artigos já lidos.
2.2 FILOSOFIA LEAN
2.2.1 O que é a filosofia lean
No início da década de 1990, Womack e Jones popularizaram o termo
produção enxuta (Lean production) para descrever a gestão ultra-eficaz de
processos da empresa considerada por eles como exemplar – a Toyota. Segundo os
autores, para produtores e provedores (funcionários, gerentes etc.), criar processos
de produção enxuta implica determinar como configurar atividades vinculadas de
negócios, sobretudo entre empresas, para atender à necessidade da clientela sem
desperdiçar tempo, energia e recursos – seus ou do consumidor (WOMACK e
JONES, 2005).
O Lean Institute Brasil (LIB) define que o termo lean refere-se a uma
estratégia de negócios para aumentar a satisfação dos clientes através da melhor
utilização dos recursos. Portanto, o propósito da gestão lean é fornecer valor aos
clientes, consistentemente, e com os custos mais baixos. Isso ocorre através de
processos de identificação de melhoria dos fluxos de valor e por meio do
envolvimento de pessoas qualificadas e motivadas em prol desse objetivo (LEAN
INSTITUTE BRASIL, 2012).
Enriquecendo a definição, Jones (2007) defende que lean consiste em
aprender como reconfigurar os ativos e os relacionamentos com parceiros da cadeia
de suprimentos, visando estabelecer um novo patamar para a criação de valor
adicional aos clientes. Tais mudanças permitirão às organizações enxergar um
21
grande número de oportunidades e redefinir a natureza da competição em seus
setores. Além disso, um insight fundamental por trás desse conceito é o
entendimento de que o valor para o consumidor é criado por ações de diferentes
pessoas ao longo de diversos departamentos e organizações. Jones (2007) também
aponta que, embora os princípios lean tenham sido inicialmente aplicados ao chão
de fábrica, todas as atividades de suporte podem ser redesenhadas utilizando os
mesmos princípios e ferramentas. É preciso, entretanto, enxergar as organizações
como um conjunto de fluxos de valor horizontais, ao invés da familiar organização
vertical de funções e departamentos.
A definição técnica de lean apresentada pelo periódico “The Controller’s
Report” (ANONYMOUS, 2008) diz que o termo refere-se ao uso de certos conceitos
gerenciais, como o kaizen (melhoria contínua) e o kanban (reabastecimento
permanente) desenvolvidos pela Toyota e por outras empresas japonesas. Segundo
o periódico, os praticantes de práticas lean são atraídos por sua ênfase na eficiência
e na eliminação de desperdícios, bem como na resultante estabilidade de preços
que elas proporcionam ao consumidor. Ademais, as organizações adotam práticas
lean com o objetivo de aumentar a produtividade, alcançar maior flexibilidade,
melhorar a qualidade de seus produtos e reduzir o tempo de seus ciclos. Tudo isso,
em última análise, com custos menores.
Helmold (2011) resume o conceito de lean através do princípio dos 5Rs, que
enfatizam a mentalidade do defeito zero: “the Right part in the Right quality must
arrive at the Right time in the Right quantity and at the Right place”. Isto é: o
componente certo, com a qualidade certa deve chegar no tempo certo, na
quantidade certa, no lugar certo.
É relevante mencionar que Liker (1992 apud D’AMICO, 2009b) defende que
lean não se trata de imitar as ferramentas utilizadas pela Toyota em um processo
particular de produção; na realidade, diz respeito ao desenvolvimento de práticas
adequadas ao perfil de cada organização (D’AMICO, 2009b; LEAN INSTITUTE
BRASIL, 2012). Tais práticas deverão ser diligentemente exercidas para que se
alcance um desempenho que adicione valor continuamente aos consumidores e à
sociedade, ao mesmo tempo em que as empresas se mantêm competitivas e
lucrativas (D’AMICO, 2009b).
22
Um termo bastante referenciado na literatura sobre este tema é “Lean
Thinking” (ou Pensamento Enxuto). Muitos autores (entre eles COMM e
MATHAISEL, 2000 apud WAN e CHEN, 2008, WAN e CHEN, 2008; PIERCY e
RICH, 2009) apresentam definições para o termo. Entretanto, é a definição de
Coleman (2008), compartilhada por Howard (2008), que parece melhor esclarecer
este conceito. O autor considera Lean Thinking como uma extensão do conceito de
produção enxuta e o descreve como a cultura de resolver problemas (com o uso de
ferramentas), através de um processo contínuo de melhoria e busca por excelência.
O Lean Thinking visa, portanto, criar mais valor e aumentar a capacidade de
resposta às demandas do consumidor através da busca constante, ao longo de toda
a operação da empresa, de atividades que não adicionam valor (COLEMAN, 2008).
Contudo, enfatiza-se que, pelo fato de as práticas lean não serem adotadas
intuitivamente pela maioria das pessoas, a cultura da organização tem impacto
significativo nos processos de melhoria e na forma como a empresa desenvolve e
aprimora suas competências chave (core competences) (COLEMAN, 2008; HÖÖK e
STEHN, 2008).
De forma complementar, o pensamento enxuto visa eliminar ou reduzir
significativamente a variabilidade do ambiente operacional, para capturar a eficiência
no processo de produção (FEARNE e FOWLER, 2006). Lean Thinking requer que os
praticantes pensem de forma diferente sobre os processos de seu negócio,
desafiando crenças, hábitos e habilidades. Além disso, ele estimula que a empresa
utilize seus funcionários - maiores conhecedores dos processos da empresa – como
meio de descobrir novas oportunidades de eliminar barreiras, reduzir o número de
atividades que não geram valor e fomentar a capacidade de formação de equipes
(COLEMAN, 2008).
Os pioneiros da produção lean desenvolveram uma enorme gama de
ferramentas e técnicas que permitiram aos seus seguidores rastrear uma série de
problemas em suas operações, eliminar desperdícios, de modo a tornarem-se
enxutos. A maioria das ferramentas disponíveis foi desenvolvida para solucionar
problemas específicos, como a baixa disponibilidade de equipamentos, tempo longo
de setup e elevado nível de produtos em processo (WAN e CHEN, 2009). Contudo,
esses autores argumentam que ainda são poucas as ferramentas destinadas à
23
identificação de áreas problemáticas que podem ser adaptadas pelos praticantes em
seus casos particulares.
O tópico 2.2.3 deste capítulo apresentará algumas das ferramentas e técnicas
utilizadas pelas empresas que optaram pela trajetória lean, citadas na literatura
sobre o tema.
2.2.2 Como surgiu a filosofia lean
O livro “The machine that changed the World”, publicado em 1990 por
Womack et al.1, foi oficialmente responsável pela introdução do termo “Lean
Production” (HOLWEG, 2007; WAN e CHEN, 2008; WONG e CHEAH, 2011). Desde
então, tornou-se uma das referências mais citadas sobre gestão de operações na
última década. De acordo com os autores do livro, os princípios lean, na realidade,
foram empregados diversas vezes ao longo da história. Embora a terminologia “Lean
Production” ainda não fosse usada, Henry Ford, o exército romano, o comandante
Nelson da Marinha inglesa e outras figuras notórias já faziam uso de práticas lean
em suas empreitadas (HOLWEG, 2007).
A primeira pessoa a integrar verdadeiramente todo o processo de produção
foi Henry Ford, em 1913 (LANDER, 2010). Ele casou, com consistência, peças
intercambiáveis com trabalho padronizado e em movimento para criar o que chamou
de “fluxo de produção”. Ford definiu um processo com etapas de fabricação que lhe
permitia fabricar e montar carros em poucos minutos (BAUMHARDT, 2002 apud
WIGINESCKI, 2009).
Entretanto, o problema do sistema Ford de produção não se encontrava nos
fluxos ou nos estoques, posto que era capaz de girar o estoque de toda a
companhia em poucos dias. A grande questão residia na sua incapacidade de
1 Jim Womack, Daniel Jones e Daniel Roos são participantes do grupo de pesquisa do renomado Massachusetts Institute of Technology (MIT). A publicação do livro “The machine that changed the World” é resultado de um longo estudo sobre o estilo japonês de produção, em especial, do estudo do Sistema Toyota de Produção (STP) na década de 80. Diferentemente de Holweg (2007), Wan e Chen (2008), Yamamoto e Bellgran (2010) e Wong e Cheah (2011); Bowen e Youngdahl (1998) e Kim (2002) defendem que John Krafcik, também pesquisador do programa internacional de automotores do MIT, foi quem cunhou o termo “Lean Production”, em 1988.
24
oferecer variedade. Quando o mundo passou a exigir tal variedade e em ciclos
menores que os 19 anos do Ford Modelo T, as demais montadoras responderam a
essa necessidade oferecendo diversas opções (WILSON, 1996). Contudo, eram
amparadas por sistemas de produção cujo design e etapas de fabricação
representavam um retrocesso, sendo mais complexos e consumindo mais tempo
(KOCAKULÂH, BROWN e THOMSON, 2008).
Observando essa situação, a Toyota, nos anos 1930 e principalmente no
período pós Segunda Guerra, percebeu que uma série de inovações simples poderia
resultar simultaneamente em processos com fluxos contínuos e ampla variedade de
produtos ofertados. Dessa forma, a empresa revisou as ideias originais de Ford e
desenvolveu o Sistema Toyota de Produção (STP) que incluía, entre outras
ferramentas inovadoras, estoques seguindo o sistema just-in-time (HOWELL, 1999;
CONTE e GRANSBERG, 2001; LEAN ENTERPRISE INSTITUTE, 2012).
O STP foi desenvolvido para que a empresa pudesse sobreviver em situações
de dificuldade, na qual os recursos eram bastante limitados e não se podia arcar
com desperdícios (LANDER, 2007; WAN e CHEN, 2009). A partir daí, o conceito
lean foi difundido nos Estados Unidos, sendo empregado por diversas indústrias que
buscavam a mesma melhoria drástica em suas operações e na experiência de seus
clientes (COLEMAN, 2008).
Cusumano (1985 apud HOLWEG, 2007) e Fujimoto (1999 apud HOLWEG,
2007) apontam que o conceito lean não foi uma invenção isolada inspirada no
sistema just-in-time (JIT), mas o resultado de um processo dinâmico de aprendizado
que adaptou práticas oriundas da indústria automobilística e têxtil japonesa em
resposta às contingências do ambiente no Japão em dado momento.
Esse aprendizado foi retratado na publicação “The machine that changed the
World”, mencionada no início deste tópico, e desencadeou uma série de estudos
sobre a adoção de práticas lean. Inicialmente, sua aplicação restringia-se ao setor
automotivo, mas rapidamente foi difundida entre as operações de manufatura e de
serviços (PICCHI, 2003). À medida que a filosofia lean foi sendo difundida em outros
países, líderes passaram a adotar suas práticas além da manufatura, atingindo os
setores de logística e distribuição, serviços, construção, varejo, saúde, e até mesmo
o Governo (LEAN INSTITUTE BRASIL, 2012). Dessa forma, a produção enxuta não
apenas desafiou com sucesso as aceitas práticas da produção em massa na
25
indústria automobilística, mudando significativamente o trade-off entre produtividade
e qualidade, como também fez com que uma ampla gama de operações
manufatureiras e de serviços fossem repensadas (HOLWEG, 2007).
Wan e Chen (2008; 2009), entretanto, argumentam que, apesar do STP ter se
mostrado eficaz para a Toyota, uma série de ferramentas desse sistema é destinada
à resolução de problemas específicos e, portanto, são difíceis de serem
precisamente reproduzidas por outros praticantes. Dessa forma, os autores
defendem que a publicação “Lean Thinking” de Womack e Jones (1996) foi a
responsável por resumir de forma sistemática os cinco elementos críticos para a
implementação de princípios lean. São eles: valor, fluxo de valor (value stream),
fluxo, produção puxada (pull) e busca pela perfeição. Esses elementos críticos -
também chamados de princípios lean – serão abordados mais adiante.
Höök e Stehn (2008) criticam o estudo de Womack e Jones no sentido de que
falta aos cinco princípios lean uma ênfase nos recursos humanos e em sua
criatividade. Assim, com base na revisão da literatura, os autores desenvolveram um
esquema, o qual denominaram “the house of Lean Production” (a casa da produção
enxuta), que incorpora aos cinco princípios de Womack e Jones os demais
elementos que compõem a cultura lean.
Embora questões culturais também tenham sido levantadas por outros
autores (e.g., LIKER, 2001 apud HÖÖK e STEHN, 2008; YAMAMOTO e
BELLGRAN, 2010) os cinco princípios de Womack e Jones são amplamente
reconhecidos e citados de forma recorrente na literatura.
2.2.3 Os princípios e práticas lean
Para auxiliar as empresas ao redor do mundo a adotarem práticas lean em
suas operações, em 1996 Womack e Jones identificaram cinco princípios lean,
mencionados brevemente no tópico anterior, que servem de guia para organizações
de todos os setores da economia (PIERCY e RICH, 2009). São eles:
(1) Valor. Determina o que é valor para o consumidor em um produto ou
serviço, ou seja, quais são os benefícios percebidos por esse consumidor
26
(TATIKONDA, 2007; PIERCY e RICH, 2009). Diferentemente do que muitos
pensam, não é a empresa e sim o cliente quem define o que é valor. É sabido que a
necessidade gera o valor, dessa forma, cabe às empresas identificar quais são as
necessidades e procurar satisfazê-las, cobrando por isso um determinado preço, a
fim de manter a empresa competitiva e aumentar os lucros. Tudo isso deve ocorrer
via melhoria contínua dos processos, redução dos custos e aumento da qualidade
(LEAN INSTITUTE BRASIL, 2012).
(2) O fluxo de valor. Mapeia, através de um mapa de processos (ou de
fluxos de valor), como o valor é entregue. Recomenda-se usar esse instrumento
como base para a identificação e eliminação de qualquer área ou processo que não
agregue valor (PIERCY e RICH, 2009). Mais detalhadamente, o Lean Institute Brasil
aponta que o fluxo de valor consiste em dissecar a cadeia produtiva e separar os
processos em três tipos: aqueles que efetivamente geram valor; aqueles que não
geram valor, mas são importantes para a manutenção dos processos e da
qualidade; e aqueles que não agregam valor, e que, portanto, deverão ser
eliminados imediatamente. É importante ressaltar que essa análise não deve focar
apenas na redução de custos; deve ser acompanhada sob a ótica da geração de
valor, levando em conta o longo prazo e o processo como um todo - desde a criação
do produto até a sua venda (LEAN INSTITUTE BRASIL, 2012).
(3) Fluxo Contínuo. Assegura um fluxo suave de produtos e informações
do início ao final da cadeia de valor. Seu objetivo é excluir inventários ou zonas de
“amortecimento” (buffer zones) através da utilização dos “facilitadores estruturais”
(structural enablers) como designs modulares, células de trabalho, máquinas de uso
geral e trabalhadores com múltiplas capacidades (PIERCY e RICH, 2009). A
remoção de obstáculos, como a desorganização, gargalos e defeitos, torna possível
o trabalho circular mais livre e rapidamente (TATIKONDA, 2007). O Lean Institute
Brasil argumenta que assegurar o fluxo contínuo exige uma mudança na
mentalidade das pessoas, posto que é necessário deixar de lado a ideia de que a
produção por departamentos é a melhor alternativa (LEAN INSTITUTE BRASIL,
2012).
(4) Produção puxada (pull). Apenas se entrega o que é realmente
demandado (pulled) pelo consumidor, ao invés de servi-lo através de estoques ou
buffers. Dessa forma, as operações são controladas sem que haja a utilização de
estoque em processo e a decisão de o que, quando e como produzir é tomada com
27
base no consumo do cliente. Por esta razão, neste modelo, diferentemente do que
ocorre na produção empurrada (na qual a operação começa antes da ocorrência da
demanda pelo produto), o fluxo de materiais ganha extrema importância
(TATIKONDA, 2007; PIERCY e RICH, 2009).
(5) Perfeição. Busca contínua pela melhoria dos processos e sistemas
com base nos princípios mencionados acima, almejando atingir a perfeição (PIERCY
e RICH, 2009). O aperfeiçoamento contínuo em direção a um estado ideal deve
nortear todos os esforços da empresa, através de processos transparentes, no qual
os membros da cadeia tenham conhecimento profundo do processo como um todo,
sendo capazes de contribuir na busca de melhores formas de criar valor (LEAN
INSTITUTE BRASIL, 2012).
Os princípios expostos por Womack e Jones (1996) são amplamente citados
na literatura e reconhecidos por sua originalidade. São também recorrentes na
literatura (e.g., LANDER, 2007; HÖÖK e STEHN, 2008; YAMAMOTO e BELLGRAN,
2010) as quatorze práticas identificadas no livro “The Toyota Way”, publicado por
Jeffery Liker em 1997. De forma sucinta, as quatorze práticas são:
(1) Basear decisões gerenciais na filosofia de longo prazo, mesmo que
elas representem os custos financeiros de objetivos de curto prazo. As decisões de
longo prazo devem se sobrepor às de curto prazo e isso pode ser feito alinhando
toda a organização em uma única direção, seguindo um propósito comum
(D´AMICO, 2009a).
(2) Criar fluxos de processos contínuos de forma a trazer possíveis
problemas à tona. Os processos devem ser redesenhados para que atividades não
agregadoras de valor sejam eliminadas e para que materiais e informações circulem
com rapidez (PICCHI, 2003; TATIKONDA, 2007).
(3) Utilizar o sistema “pull” para evitar produção excessiva. O objetivo
desta prática é reduzir estoques e ganhar flexibilidade para prover o consumidor
com o produto que ele deseja, na quantidade e tempo requisitados por ele.
(TATIKONDA, 2007).
(4) Nivelar a carga de trabalho. Os métodos de produção lean procuram
tirar a pressão de pessoas e equipamentos através da eliminação de variações nas
escalas de produção (D´AMICO, 2009a).
28
(5) Construir uma cultura de alcançar a qualidade certa da primeira vez, ao
invés de ficar solucionando problemas (HELMOLD, 2011).
(6) Tarefas padronizadas são a base para a melhoria contínua e para o
empowerment dos funcionários (SACKS et al., 2010). Um dos objetivos da produção
enxuta é desenvolver procedimentos estáveis e replicáveis, colaborando para
manter a previsibilidade e tempos e resultados consistentes (D´AMICO, 2009a).
(7) Utilizar controles visuais para que nenhum problema fique oculto
(SACKS ET AL., 2010).
(8) Utilizar apenas tecnologia confiável e testada que sirva às pessoas e
processos (e que não as substitua). Liker (1992 apud D’AMICO, 2009b) aconselha
que os gestores devem rejeitar ou modificar tecnologias que não estejam alinhadas
com a cultura da organização ou que possam resultar em falta de confiança ou
perturbações (disruptions).
(9) Desenvolver líderes que, conhecendo o trabalho, vivam a filosofia da
empresa e ensinem-a aos demais. Líderes devem atuar como modelos da filosofia
da organização e da forma de fazer negócios (ACHANGA et al., 2005).
(10) Desenvolver funcionários e equipes excepcionais que sigam a filosofia
da empresa. Os gestores devem fazer uso de equipes multifuncionais visando
melhorar a qualidade e a produtividade. (D´AMICO, 2009b; TURESKY e CONNELL,
2010).
(11) Respeitar a rede de contatos – parceiros e fornecedores – desafiando-
os e auxiliando-os a crescer e prosperar (GARRETT e LEE, 2011).
(12) Verificar pessoalmente a situação para entender corretamente cada
evento. Além disso, os gestores devem verificar dados durante a busca por soluções
ou formas de melhoria (D´AMICO,2009b).
(13) Tomar decisões devagar, por consenso, considerando todas as opções
disponíveis, porém, implementá-las rapidamente. (D´AMICO,2009b)
(14) Tornar-se uma organização voltada para o aprendizado e proteger sua
base de conhecimento (SPEAR e BOWEN, 1999 apud PICCHI, 2003; ACHANGA et
al., 2005).
Além das práticas mencionadas acima, cabe ainda citar, de forma mais
específica, algumas ferramentas comumente utilizadas pelas empresas que optaram
29
pela trajetória lean. Em seu artigo, Kocakulâh, Brown e Thomson (2008) apresentam
as principais ferramentas lean, dentre elas, é possível destacar:
(1) Mapeamento do Fluxo de Valor (Value stream mapping – VSM).
Consiste em uma ferramenta básica para representar visualmente os fluxos de
informação e de materiais no processo produtivo (e a relação entre eles), para a
identificação de atividades que não agregam valor (ABDULMALEK e RAJGOPAL,
2007; TATIKONDA, 2007; GARRETT e LEE, 2011). O mapeamento, por si só não
afeta o bottom line da organização, mas permite aos gestores visualizar, de forma
simples, o fluxo de valor. Kocakulâh, Brown e Thomson (2008) defendem que o
VSM é a base para a priorização de ações lean, pois ajuda o gestor a identificar os
sete desperdícios clássicos nos processos: (1) superprodução, seja para o
consumidor ou para a etapa seguinte do processo; (2) transporte; (3) estoques, tanto
de produto em processo quanto de produto acabado; (4) espera de trabalhadores e
máquinas pela chegada de componentes; (5) defeitos; e (6) super processamento
(e.g. diminuir a o ritmo de operação de uma máquina para obter uma superfície com
acabamento mais refinado do que o requerido).
(2) A metodologia dos 5S’s foi introduzida pela montadora Toyota para
descrever os métodos adequados de manutenção da empresa. São eles: Seiri
(separar os desnecessários), Seiton (ordem), Seiso (limpeza), Seiketsu
(padronização), Shitsuke (manutenção). Os 5S’s, cujo maior benefício é a disciplina,
são geralmente aplicados na forma dos chamados eventos Kaisen, nos quais
funcionários e gestores são retirados de suas rotinas e solicitados a focar em uma
área específica para que possam praticar os 5S’s e promover melhorias
(KOCAKULÂH, BROWN e THOMSON, 2008; SHIL, 2009; LANDER, 2010).
(3) A manutenção produtiva total ou “total productive maintenance”
(TPM) é a metodologia utilizada para atacar questões relacionadas ao tempo de
máquina (paradas, quebras, tempo de setup, ciclos lentos, defeitos, retrabalhos
etc.). Através dessa ferramenta são avaliados (1) disponibilidade - se a máquina
está ou não disponível; (2) performance – se a máquina está funcionando na
velocidade ótima e (3) taxa de qualidade – quantos peças defeituosas são
produzidas (KOCAKULÂH, BROWN e THOMSON, 2008; POPHALEY, 2010).
(4) Troca rápida de ferramentas ou “single minute exchange of dies”
(SMED). O SMED foi desenvolvido no Japão nos anos 1950 como resposta à
30
necessidade emergente de produção de lotes cada vez menores para atender as
demandas dos consumidores. Através dessa ferramenta busca-se padronizar e
simplificar as atividades de modo a minimizar a necessidade de trabalhadores com
habilidades específicas. O objetivo do SMED é reduzir o tempo de setup,
melhorando o fluxo, a qualidade e capacidade (KING, 2009).
(5) O Six Sigma visa desenvolver produtos e processos com zero defeito,
com base em uma curva normal. Todo processo tem variações, porém o Six Sigma
ajuda a definir quais características de um componente são críticas para reduzir a
variação do processo através da aplicação rigorosa do processo de coleta de
métricas e análise estatística (CIMA et al., 2011).
O tópico 2.2.5 deste capítulo abordará novamente alguns princípios e práticas
mencionados nesta seção e os benefícios relacionados a eles.
2.2.4 Fatores que contribuem para a implantação bem sucedida de
princípios e práticas lean
O BCG (The Boston Consulting Group) conduziu entrevistas com executivos
de diversas empresas com diferentes níveis de experiência sobre práticas lean para
entender os fatores que levaram determinadas organizações a obterem sucesso
com a adoção dessas práticas. A maioria dos executivos entrevistados relata que
programas lean são difíceis ou muito difíceis de serem implantados e as razões
atribuídas a essa dificuldade são variadas. Alguns mencionam a resistência cultural,
falta de habilidades ou questões ligadas à liderança. Outros apontam que os
processos em suas empresas não são corretamente entendidos ou que os
funcionários têm problemas em absorver novas estratégias e métodos. Além disso,
um dos executivos relatou que as pessoas se esquecem de que sua principal função
é servir ao consumidor (SIRKIN et al., 2008).
Em virtude disso, o BCG apresenta sete fatores chave (também publicados no
periódico “The Controller’s Report”, ANONYMOUS, 2008) para auxiliar as
organizações durante a adoção de práticas lean. Esses fatores, apresentados a
seguir, ajudam a explicar porque algumas empresas obtêm mais sucesso adotando
práticas lean do que outras.
31
(1) Escolher projetos estratégicos, centrados no consumidor (BOWEN e
YOUNGDAHL, 1998). Iniciativas alinhadas com a estratégia geral da organização e
focadas no cliente reforçam a mensagem de que entender, satisfazer e reter o
consumidor é prioridade número um (SIRKIN et al., 2008).
(2) Pensar grande, mas começar pequeno. Programas lean devem ser
ambiciosos, porém é necessário começar com testes de pequenos projetos, focando
em áreas de maior prioridade. (SIRKIN et al., 2008).
(3) Envolver a todos – desde a alta gerência até o bottom line – para tornar
disponível um volume maior de conhecimento e ideias, além de criar uma atmosfera
de entusiasmo (ACHANGA et al., 2005).
(4) Customizar a abordagem conforme a cultura de cada organização (e.g.
hierárquica, individualista etc.) (D’AMICO, 2009b; LEAN ENTERPRISE INSTITUTE,
2012).
(5) Atribuir pessoal em tempo integral e com amplo conhecimento sobre os
princípios e práticas lean, suas ferramentas e técnicas (DIXON, 2009).
(6) Usar métricas para direcionar o progresso. William E. Deming já dizia
que “não se melhora o que não se mede, não se mede o que não se define, não se
define o que não se entende”. Entretanto, o conjunto de métricas deve estar
alinhado com a estratégia geral da organização (ANONYMOUS, 2008).
(7) Comunicar, comunicar, comunicar. É importante manter a visibilidade e
estimular o feedback contínuo (DIXON, 2009; TURESKY e CONNELL, 2010).
Muitos gestores e engenheiros erroneamente acreditavam que a adoção da
produção lean (em especial, do Sistema de Produção Toyota) meramente consistia
na implementação de ferramentas lean individuais (e.g. JIT, Kanban). Entretanto, há
variáveis que podem comprometer o sucesso dessas ferramentas. A cultura
organizacional, por exemplo, desempenha um papel bastante importante para o
sucesso ou fracasso da implementação de práticas lean. Portanto, é uma dimensão
que deve ser cuidadosamente estudada (YAMAMOTO e BELLGRAN, 2010; WONG
e CHEAH, 2011). Indo mais além, pode-se dizer que as mudanças requeridas para a
implantação das práticas lean também devem ocorrer ao longo da cadeia de valor
da organização, dado a sua significância estratégica (BHASIN e BURCHER, 2006).
Além disso, a utilização de uma série de ferramentas lean de uma só vez
pode resultar em uma situação caótica. Portanto, é preciso selecionar as
32
ferramentas certas para a situação particular de cada organização (WAN e CHEN,
2009).
Por fim, cabe destacar que, embora a alta gerência deva se comprometer
verbalmente com a adoção de práticas lean, ela também deve demonstrar
responsabilidade e fazer acompanhamento adequado (TURESKY e CONNELL,
2010; GARRETT e LEE, 2011) de modo a sustentar verdadeiramente o processo de
mudança organizacional. As equipes responsáveis pela implementação das práticas
devem contar com um mix adequado de pessoas familiarizadas com o assunto, com
habilidades necessárias e recursos suficientes para obter resultados de sucesso,
que, por sua vez, deverão ser mensurados através de um sistema compreensível
para dar suporte a novas mudanças e melhorias. (TURESKY e CONNELL, 2010).
2.2.5 Os benefícios da adoção da metodologia lean
Com base na leitura de diversos estudos de caso sobre os impactos da
adoção de práticas lean por empresas de diferentes setores (com características e
limitações particulares à sua atividade) (e.g. LIKER, 1997; DETTY e YINGLING,
2000; ABDULMALEK e RAJGOPAL, 2007), é possível fazer um levantamento dos
principais benefícios alcançados por essas organizações que empreenderam tais
iniciativas.
A adoção de práticas de produção lean tem impactado significativamente na
produtividade de vários setores da indústria (WAN e CHEN, 2009; RAHMAN,
LAOSIRIHONGTHONG e SOHAL, 2010; WONG e CHEAH, 2011). Além de
adotarem as práticas com o objetivo de aumentar a produtividade, as organizações
também visam alcançar maior flexibilidade, melhorar a qualidade de seus produtos e
reduzir o tempo de seus ciclos. Tudo isso, em última análise, com custos menores
(ANONYMOUS, 2008).
De acordo com Seeliger et al. (2005 apud WONG e CHEAH, 2011), nos três a
cinco primeiros anos de implementação de práticas lean não é incomum que
empresas atinjam reduções de até 75% no estoque, aumento da produtividade dos
funcionários em até 20%, melhoria do nível de serviço de entregas para cerca de
99%, reduções de 75% nos lead time e de 50% na utilização dos espaços, aumento
33
da capacidade em 20% e redução de tempo de setup em 75% e do número de
defeitos em 20%, anualmente. Os autores citados por Bhasin e Burcher (2006) (e.g.
Lathin, 2001; Nystuen, 2002; Claudius Consulting, 2004) relatam percentuais um
pouco diferentes, conforme os casos por eles estudados, mas, em linhas gerais,
percebe-se que os benefícios gerados pela adoção de práticas lean são substanciais
em termos de melhoria de desempenho das organizações (HANSON e VOSS, 1998
apud BHASIN e BURCHER, 2006).
A produção lean, de acordo com Bowen e Youngdahl (1998), não apenas traz
mais eficiência para as empresas que a adotam, como também lhes confere maior
flexibilidade. Para esses autores, são benefícios da produção lean (e seus
respectivos princípios):
(1) A redução dos trade-offs de desempenho (KIM, 2002). A produção lean
combina a eficiência da prática de produção em massa com abordagens flexíveis de
produção artesanal. Dessa forma, têm-se trabalhadores flexíveis suportados por
ferramentas de uso geral produzindo múltiplos produtos em linhas de montagem
únicas (BOWEN e YOUNGDAHL, 1998). Isso torna possível realizar economias com
equipamentos, pessoal e transporte (DETTY e YINGLING, 2000). Ademais, as
equipes de funcionários buscam constantemente maneiras de reduzir os tempos de
configuração ou de mudança de produto. Assim, os clientes se beneficiam da
expansão da variedade de produtos ao passo que as empresas beneficiam-se do
aumento da oferta de produtos sem que haja perda de eficiência (BOWEN e
YOUNGDAHL, 1998).
(2) A fluidez dos processos de agregação de valor e a implementação da
atração pelos clientes (WOMAK e JONES, 1996 apud BOWEN e YOUNGDAHL,
1998). Com base no sistema just-in-time (JIT), criam-se fluxos contínuos e sistemas
puxados nos quais as peças são “puxadas” para as estações de trabalho à medida
que os clientes fazem seus pedidos (demanda real do cliente) e conforme a sua
necessidade na cadeia de operações (LEAN INSTITUTE BRASIL, 2012). Essa
prática traz como benefícios a eliminação de desperdícios com excessos de estoque
e o aumento da visibilidade de problemas relacionados à qualidade de produtos e
processos (GARRET e LEE, 2011). Para que esse sistema funcione, ou seja, para
que as empresas “puxem” a produção, os autores defendem que é necessário
abandonar a meta de produzir grandes lotes, responsáveis por proporcionar
34
economias de escala (BOWEN e YOUNGDAHL, 1998; KOCAKULÂH, BROWN e
THOMSON, 2008; SACKS et al., 2010).
(3) A tecnologia de grupo (Group Technology) consiste no agrupamento de
famílias de peças conforme requisitos de processos semelhantes, em combinação
com os esforços de redução dos tempos de setup. Tal medida tem por objetivo
propiciar um aumento substancial da velocidade de realização de um fluxo (SHAHIN,
2010).
(4) A eliminação de desperdícios da cadeia de valor das atividades desde
o desenvolvimento até a entrega do produto (BOWEN e YOUNGDAHL, 1998).
Desperdício é todo tempo, espaço ou material usado na realização de atividades (de
manuseio, transporte, inspeção, estoque, retrabalho etc.) que não contribui
diretamente para adicionar valor ao produto acabado (IBRAHIM et al., 2010). A
manufatura enxuta pretende eliminar todas as atividades que não estejam
agregando valor ao processo produtivo (BOWEN e YOUNGDAHL, 1998; GARRET e
LEE, 2011).
(5) A intensificação do foco no cliente e o envolvimento do mesmo no
desenvolvimento do produto e nos processos de entrega. Nas produções lean, os
clientes participam ativamente na provisão de insumos para as equipes de projeto.
Em alguns casos, os clientes participam, inclusive, como equipes paralelas de
projetos de engenharia (MONCZKA et. al., 2011). Bowen e Youngdahl (1998)
apontam que as empresas que se sobressaem neste quesito tendem a ter
desempenhos de alto nível com relação a custo, qualidade, entrega e flexibilidade.
(6) A delegação de poder para trabalhadores e equipes (empowerment).
Um argumento fundamental da produção lean é que a qualidade, a produtividade e a
flexibilidade podem ser aumentadas com a transferência de responsabilidades e da
tomada de decisão para os empregados (BOWEN e YOUNGDAHL, 1998).
Entretanto, embora os funcionários e equipes confiram ganhos à empresa através
da identificação de problemas e do desenvolvimento de processos de trabalho, não
são tolerados desvios desses processos, posto que o controle estatístico das
variações do processo depende de trabalhos padronizados (SACKS et al., 2010).
Treinamentos proporcionam aos funcionários oportunidades de desenvolver
habilidades e uma mentalidade lean (TURESKY e CONNELL, 2010).
35
Além dos benefícios acima descritos, também é possível listar como
resultados desfrutados pelas organizações que têm se baseado na filosofia lean:
• A melhoria da qualidade do produto final (BHASIN e BURCHER, 2006;
ABDULMALEK e RAJGOPAL, 2007; CERYNO e POSSAMAI, 2008; OLIVEIRA,
2008);
• Ganhos de produtividade (SHERIDAN, 2000; apud. BHASIN e BURCHER,
2006) e da capacidade de produção (OLIVEIRA, 2008);
• Redução do tempo de entrega, ou seja, aumento da velocidade de resposta
ao cliente (BOWEN e YOUNGDAHL, 1998; BHASIN e BURCHER, 2006; CERYNO e
POSSAMAI, 2008; OLIVEIRA, 2008);
• Redução no prazo de desenvolvimento de novos produtos (OLIVEIRA,
2008);
• Aumento na satisfação dos clientes e a melhoria do relacionamento com
eles (SOHAL e EGGLESTON, 1994 apud DETTY e YINGLING, 2000; BHASIN e
BURCHER, 2006; OLIVEIRA, 2008);
• Redução no número de pedidos processados em regime de urgência
(OLIVEIRA, 2008);
• Melhoria no relacionamento da área comercial com a área de produção
(OLIVEIRA, 2008);
• Redução do estoque de produto semi-acabado entre os processos e de
produto final nos depósitos (OLIVEIRA, 2008) e melhor controle de estoque
(ABDULMALEK e RAJGOPAL, 2007);
• Redução nos espaços requeridos para estocagem de produtos (DETTY e
YINGLING, 2000; OLIVEIRA, 2008);
• Melhoria da competitividade da organização em relação aos concorrentes e
criação de vantagem estratégica (SOHAL e EGGLESTON, 1994 apud DETTY e
YINGLING, 2000; BHASIN e BURCHER, 2006);
• Redução do tempo de troca de ferramentas para mudança do mix de
produtos (BOWEN e YOUNGDAHL, 1998; DETTY e YINGLING, 2000; OLIVEIRA,
2008);
36
• Visão clara das capacidades do sistema de produção (OLIVEIRA, 2008);
• Redução dos custos operacionais de produção (BHASIN e BURCHER,
2006; CERYNO e POSSAMAI, 2008; OLIVEIRA, 2008);
• Melhoria na performance financeira devido, entre outras coisas, a economias
com pessoal, equipamentos e transporte (DETTY e YINGLING, 2000;
ABDULMALEK e RAJGOPAL, 2007);
• Redução de desperdícios (ABDULMALEK e RAJGOPAL, 2007);
• Programações precisas e operações eficientes (LIKER, 1997);
• Melhoria no nível de moral dos trabalhadores (OLIVEIRA, 2008), do
aprendizado organizacional (DETTY e YINGLING, 2000) e outros benefícios
intangíveis, difíceis de quantificar (STANDARD e DAVIS, 2000 apud BHASIN e
BURCHER, 2006).
2.3 FILOSOFIA LEAN NA CONSTRUÇÃO CIVIL
Esta sessão buscará abordar os conceitos da produção lean aplicados ao
contexto da Construção Civil, apresentando suas semelhanças e particularidades,
bem como as práticas mais recorrentes implantadas pelas empresas do setor.
Assim, inicialmente serão apresentados o conceito “Lean Construction” e sua origem
para que, em seguida, sejam expostos os princípios e práticas adotadas pelas
construtoras.
2.3.1 O que é Lean Construction
Uma característica distintiva da literatura sobre Lean Construction (ou
construção enxuta) é a falta de definições comuns. Ao realizar uma revisão da
literatura sobre o tema, Jorgensen (2006 apud JORGENSEN e EMMITT, 2008)
encontrou uma grande variedade de interpretações, concluindo que poucos autores
haviam apresentado definições explícitas e concisas, tornando difícil, portanto,
estabelecer exatamente o que o termo Lean Construction significa. Diante da
37
ausência de uma definição mais sólida, será utilizada a definição apresentada pelo
Lean Construction Institute (LCI) (LEAN CONSTRUCTION INSTITUTE, 2012) para
esclarecer o conceito.
Lean Construction, de acordo com o LCI, é uma abordagem baseada na
gestão da produção para a entrega de projetos – sendo, portanto, uma nova forma
de projetar e construir instalações de capital. Aplicada à construção, a filosofia lean
muda a forma como o trabalho é executado durante todo o processo de entrega.
Lean Construction envolve desde os objetivos do sistema de produção lean -
maximização do valor e minimização de desperdícios – até a aplicação de técnicas
específicas (LEAN CONSTRUCTION INSTITUTE, 2012).
Howell (1999) contribui para a definição do conceito mencionando que a
construção lean não se trata de produção em massa e nem de produção artesanal, e
tem como objetivo melhorar o atendimento às necessidades do cliente, utilizando
menos de tudo.
O Lean Construction Institute (2012) aponta que a adoção de práticas lean na
construção civil implica que:
• As instalações e seu processo de entrega sejam projetados conjuntamente
para melhor revelar o propósito dos clientes.
• O trabalho esteja estruturado ao longo de todo o processo para maximizar o
valor e para reduzir o desperdício.
• Esforços para gerenciar e melhorar o desempenho visem melhorar o
desempenho total do projeto, pois este resultado é mais importante do que a
simples redução dos custos ou o aumento da velocidade de qualquer
atividade isoladamente.
• O conceito de "controle" seja redefinido, passando de "monitoramento dos
resultados" para "fazer as coisas acontecerem." O desempenho dos sistemas
de planejamento e controle devem ser medidos e aprimorados.
Com base nos pontos acima listados, Lean Construction é principalmente útil
em projetos complexos, incertos e rápidos, enfatizando a entrega rápida e confiável
de valor (IBRAHIM et al., KIM, 2002). Além disso, sua prática desafia a crença de
que sempre deve haver trade-off entre tempo, custo e qualidade (KIM, 2002).
38
Argumenta-se, entretanto, que as edificações são diferentes dos demais
produtos manufaturados em diversos aspectos, que acabam por afetar a maneira na
qual novos processos de produção podem ser implantados (GANN, 1996 apud LOW
e FANG, 2005; PICCHI, 2003; IBRAHIM et al., 2010). Dessa forma, Jorgensen e
Emmitt (2008), Höok e Stehn (2008) e Mao e Zhang (2008 apud Eriksson, 2010)
advertem que muitos dos argumentos, tanto positivos quanto negativos, levantados
no debate sobre Lean Production não podem ser simplesmente transpostos para o
contexto de construção, devendo a Lean Construction ser desenvolvida e modificada
de modo a se encaixar no contexto baseado em projetos.
Ao revisar a literatura sobre manufatura e produção lean, bem como a
literatura no campo da construção lean, é possível destacar uma série de
características que são específicas da construção lean. Um exemplo das
particularidades da construção é a existência de multiplos “clientes finais” e o fato de
que raramente poderá ser considerado apenas um único cliente final (JORGENSEN
e EMMITT, 2008).
Outras características diferenciadoras em grande marca dos produtos
manufaturados e produtos resultantes da construção incluem as amplas dimensões
das construções, a imobilidade do produto produzido, o elevado custo de produção
para gerar produtos duráveis e de qualidade e o elevado grau de complexidade no
número de partes componentes e ligações necessárias (LOW e FANG, 2005;
IBRAHIM et al., 2010). Entretanto, essas características físicas das edificações não
devem limitar a implementação de novas técnicas na construção (PICCHI, 2003;
LOW e FANG, 2005).
Wright (2000) já havia argumentado que o processo de concepção e
construção de edificações é marcadamente diferente dos produtos manufaturados.
Entretanto, também defende que a adoção de alguns conceitos de gestão da
produção lean na construção civil tem potencial para aumentar substancialmente a
eficiência na entrega das construções.
Da mesma maneira, Conte e Gransberg (2001) reforçam que a implantação
de modelos de gestão da produção com base nos princípios e práticas lean é viável
e pode ser aplicada a qualquer tipo de construção, independentemente da
tecnologia de execução empregada, posto que esta filosofia lean, acima de tudo,
tem como intenção a otimização do processo de gestão da produção.
39
O resultado do estudo conduzido por esses autores permitiu aos mesmos
demonstrar que é possível atingir uma redução média de 20% a 30% no tempo
previsto de construção e uma redução do custo total de produção entre 5% e 12%.
Adicionalmente, ambos estão convictos de que a construção lean na esfera
brasileira é viável devido ao reconhecimento da importância das atividades de
planejamento e concepção por parte das empresas do setor. Tal atitude consolidará
novos tipos de competitividade sustentável em ambientes marcados pela incerteza e
risco. (CONTE e GRANSBERG, 2001).
2.3.2 A origem do conceito Lean Construction
O termo “lean” foi empregado na construção civil apenas alguns anos depois
de ter ganho impulso nas indústrias transformadoras ocidentais. Sua aplicação no
ambiente da construção foi discutida pela primeira vez em 1992, no trabalho de Lauri
Koskela (“Application of the New Production Philosophy to Construction”), que
investiga o que o autor chama de "filosofia da nova produção" e sua aplicação à
construção civil (JORGENSEN e EMMITT, 2008). Neste mesmo trabalho, o
pesquisador argumenta sobre a necessidade de uma teoria de gestão da produção
para o contexto da construção (GHOSH e CORBETT, 2009).
Seu trabalho enfatiza a importância do fluxo do processo de produção, bem
como os aspectos relacionados à conversão de inputs em produtos acabados -
elementos importantes para reduzir o valor desperdiçado nos canteiros de obra.
Segundo ele, a produção deve ser vista como um fluxo que gera valor por meio de
processos de conversão, caracterizados por custos, tempo e grau de valor
acrescentado (WRIGHT, 2000; CONTE e GRANSBERG, 2001; SENARATNE e
WIJESIRI, 2008). Neste contexto, considerando a elevada incerteza típica do setor
da construção, faz-se essencial a adoção de medidas de gestão que sejam capazes
de tornar estável o ambiente operacional, reduzindo a variabilidade do processo de
produção e aumentando significativamente a confiabilidade das fases de
planejamento da produção, inclusive da logística interna do canteiro de obras.
(CONTE e GRANSBERG, 2001).
40
Desde que Koskela (1992) apontou que a adoção de práticas lean poderia
melhorar a eficiência no setor da construção, diversas pesquisas foram conduzidas
nessa área. Pesquisadores trabalharam em conjunto com praticantes investigando a
teoria, princípios e técnicas da Lean Construction, bem como seus impactos no setor
(GHOSH e CORBETT, 2009).
A partir de 1993, duas grandes linhas de pensamento passaram a reger os
trabalhos sobre construção lean. Uma delas é o conceito de Transformação-Fluxo-
Valor apresentado por Koskela, conforme mencionado acima, e a outra linha refere-
se ao método “Last Planner” de controle da produção, introduzido por Ballard e
Howell e utilizados pela maioria das empresas de construção norte-americanas
(BERTELSEN, 2002; KIM, 2002).
A técnica “Last Planner” consiste na utilização de procedimentos formais e
flexíveis de planejamento da produção como primeiro passo para tornar estável o
ambiente de produção, posto que um projeto bem executado reflete precisamente
seu planejamento. Ademais, um bom planejamento da produção envolve planejar
elementos que possam ser efetivamente executados. (CONTE e GRANSBERG,
2001).
Embora estudos sobre construção enxuta estivessem sendo desenvolvidos,
Howell, em 1999, relatou que a forma de gestão da produção na construção
derivava da abordagem da produção em massa, na qual os projetos eram
otimizados atividade por atividade, considerando que o valor para o cliente já havia
sido identificado durante a fase de concepção do projeto (HOWELL, 1999). Assim,
eram feitos esforços no sentido de reduzir custos e a duração das atividades. Ou
seja, a gestão do projeto focava nas atividades, ignorando considerações sobre fluxo
e valor (KOSKELA, 1992; KOSKELA e HUOVILA, 1997 apud HOWELL, 1999).
Apesar da promoção da construção lean ter ganho alta visibilidade em países
como EUA, Reino Unido, Dinamarca, Austália e Brasil pelos benefícios significativos
que geraram aos seus praticantes (BALLARD e HOWELL, 2003 apud SENARATNE
e WIJESIRI, 2008), pouco tem se visto em termos de debate crítico sobre o tema.
Histórias de sucesso e relatos de resultados significativos após a aplicação de
abordagens lean e suas ferramentas são comuns no setor da construção; contudo,
em muitos casos, a documentação é incipiente ou inexistente (JORGENSEN e
EMMITT, 2008). O campo da construção lean é relativamente imaturo e,
41
ocasionalmente, é criticado por ter um viés positivo, baseado em argumentos
entusiasmados nos livros de gestão, ao invés de se examinar o raciocínio teórico e
imparcial característico dos periódicos da área (GREEN e MAY, 2005; FEARNE e
FOWLER, 2006; JORGENSEN e EMMITT, 2008; ERIKSSON, 2010).
Embora haja uma forte promoção do tema na imprensa profissional e em
redes nacionais e globais de construção lean, Lean Construction não tem marcado
presença massiva em revistas do setor. A maioria das publicações são documentos
de conferências, descrevendo melhorias significativas de desempenho e, portanto,
havendo poucas evidências de um debate crítico. A literatura relacionada à
produção lean reflete certa maturidade, entretanto, uma filosofia coerente para a
construção lean ainda não foi desenvolvida (JORGENSEN e EMMITT, 2008).
Ademais, Jorgensen e Emmitt (2008) advertem que a falha em reconhecer o
lado potencialmente “obscuro” dos princípios lean no debate da construção civil deve
ser um motivo de preocupação. O perigo está em pesquisadores e profissionais
serem induzidos ao erro por uma literatura excessivamente otimista. Embora o
trabalho de Lauri Koskela seja frequentemente citado, poucos têm discutido a
estrutura inteira desse conceito, preferindo se concentrar apenas em aspectos
discretos.
Atualmente, as instituições que atuam como plataforma para o estudo e
difusão da filosofia lean são o International Group of Lean Construction (IGLC),
fundado em 1993, e o Lean Construction Institute (LCI), fundado em 1997, cujos
papéis foram previamente descritos no capítulo 1 no tópico sobre a relevância do
tema.
2.3.3 Princípios e práticas da construção lean
Em conformidade com os princípios da produção lean apresentados por
Womack e Jones (1996), a implementação da construção lean consiste em seguir os
seguintes passos: (1) definir o que é valor para o cliente; (2) planejar a sequência de
atividades necessárias para entregar os valores identificados previamente; (3)
alcançar um fluxo eficiente de trabalho; (4) desempenhar as atividades apenas
quando necessário para atingir esses valores; e (5) buscar a perfeição através da
42
aplicação contínua das etapas anteriores. Tudo isso deve ser realizado evitando-se
desperdícios de tempo, talentos, recursos financeiros e energia (WRIGHT, 2000).
Ainda que estes princípios tenham sido muito úteis para a implementação da
filosofia lean na produção e na construção civil, sua validade pode ser discutida,
sobretudo em relação ao fato de os princípios não focarem na minimização de
desperdícios em todas as suas formas, mas somente no desperdício na forma de
espera. Contudo, verifica-se em alguns trabalhos sobre o assunto, que a espera
nem sempre é ruim. Buffers bem dimensionados e corretamente posicionados
podem ser necessários a fim de otimizar o processo (BERTELSEN, 2002).
Além disso, antes da difusão dos cinco princípios de Womack e Jones (1996)
para a produção lean, Koskela (1992 apud PICCHI, 2003) já havia abordado essa
mesma questão, de forma mais detalhada, aplicando o Lean Thinking à construção
civil com base em onze princípios, os quais serviram de suporte para diversos
trabalhos subsequentes (e.g. SANTOS, 1999; ISATTO et al., 2000; PICCHI, 2003).
Adicionalmente, é possível associar a cada um destes onze princípios, apresentados
a seguir, diversas práticas encontradas na literatura, que foram e estão sendo
implantadas por empresas que atuam no setor. São elas:
Princípio 1: Reduzir a representatividade de atividades que não agregam
valor (ou seja, atividades que geram desperdícios) (NETO, 2002; GARRETT e LEE,
2011; IBRAHIM et al., 2010; SACKS et al., 2010). A redução de desperdícios
consiste no elemento core mais importante da construção lean (FEARNE e
FOWLER, 2006; JORGENSEN e EMMITT, 2008; GREEN, 1999 apud ERIKSSON,
2010; BALLARD e HOWELL, 2003 apud ERIKSSON, 2010; MAO e ZHANG, 2008
apud ERIKSSON, 2010), posto que a indústria da construção é grande geradora de
desperdícios, oriundos de diversas atividades (BALDWIN et al., 2009).
Práticas associadas: A redução de desperdícios deve ocorrer tanto dentro
da organização quanto entre as empresas envolvidas no projeto (FEARNE e
FOWLER, 2006). Sua redução deve ser cuidadosamente considerada pelos
projetistas desde o processo de concepção do projeto (BALDWIN et al., 2009) e os
trabalhadores devem ser encorajados a manter o local de trabalho limpo e
organizado toda vez que determinada atividade for concluída (SALEM et al., 2006).
A existência de estoques e a armazenagem e transporte não eficientes de
materiais devem ser considerados desperdícios (AKINTOYE, 1995; SALEM et al.,
43
2006 apud ERIKSSON, 2010). Constata-se que a maioria dos materiais é manejada
mais de uma vez antes que eles sejam efetivamente incorporados à construção. Isso
pode ser resultado de um planejamento fraco (FEARNE e FOWLER, 2006).
Outro aspecto ligado à redução de desperdícios diz respeito à adoção de
tecnologias da informação (GREEN e MAY, 2005; BALLARD et al., 2003 apud
ERIKSSON, 2010). Conjuntos de ferramentas de TI para modelagem em 3D
permitem a detectar e corrigir a maioria dos erros antes que a produção inicie
(BALLARD et al., 2003 apud ERIKSSON, 2010, WOKSEPP e OLOFSSON, 2008
apud ERIKSSON, 2010). Ferramentas de TI reforçando a integração entre os
agentes da cadeia de suprimentos e suas tarefas, também aumentam a chance de
sucesso em relação a custos e ao cronograma (O’CONNOR e YANG, 2004;
WOKSEPP e OLOFSSON, 2008 apud ERIKSSON, 2010).
É também um elemento central a fabricação de componentes e unidades fora
do canteiro ou local de trabalho. A pré-fabricação e a pré-moldagem reduzem o
desperdício de material e encurtam a duração da obra (princípio 4) (GREEN e MAY,
2005; BALDWIN et al., 2009).
Ademais, acidentes de trabalho são considerados eventos não agregadores
de valor. Portanto, atuar de forma a garantir a segurança dos trabalhadores da
construção é natural do ideal da construção lean para a eliminação de desperdícios
(SACKS, ROZENFELD e ROZENFELD, 2005 apud GHOSH E CORBETT, 2009). A
perda ou lesão de trabalhadores treinados e experientes resulta em “perturbações”
(disruptions) no progresso do trabalho, acarretando em perdas de produtividade,
moral baixa e custos adicionais (GHOSH e CORBETT, 2009).
Princípio 2: Aumentar o valor das saídas (outputs) através da consideração
sistemática dos requisitos do consumidor (NETO 2002). O foco no consumidor final é
vital para a maximização do valor da construção enxuta (WRIGHT, 2000;
JORGENSEN e EMMITT, 2008; WINCH, 2006 apud ERIKSSON, 2010; MAO e
ZHANG, 2008 apud ERIKSSON, 2010). Empreiteiros e fornecedores devem
entender essas necessidades para poderem oferecer aos clientes o que realmente
precisam e não o que eles pedem (STYHRE et al., 2004 apud ERIKSSON, 2010).
Práticas associadas: O conceito de valor para o cliente, embora seja
importante, apresenta certo número de desafios quando aplicado à construção de
edificações, posto que estas representam um investimento de longo prazo, podendo
44
estar em funcionamento por cem anos ou mais e ter um grande número de
proprietários e usuários. Portanto, a filosofia lean só faz sentido na construção civil
se o valor e desperdícios são definidos em relação à uma perspectiva da “vida
inteira” da edificação (JORGENSEN e EMMITT, 2008).
Além disso, apesar do preenchimento das exigências do consumidor gerar
valor em todos os projetos, verifica-se que, em alguns casos, esses requisitos não
são identificados e nem esclarecidos (KOSKELA, 1992; LOW E FANG, 2005). A
natureza de competição por custos da indústria da construção civil está levando
fornecedores de materiais e subempreiteiros a afastarem-se da "agenda lean",
centrando-se quase exclusivamente na eficiência e na utilização da capacidade para
obter projetos concluídos dentro do orçamento e no tempo, e menos no que os
clientes querem. (FEARNE e FOWLER, 2006).
A fim de aumentar o foco no cliente final, é importante adotar práticas lean
desde a fase de concepção do projeto (WRIGHT, 2000; BALDWIN et al., 2009;
FREIRE E ALARCÓN, 2002 apud ERIKSSON, 2010).
Um estudo realizado por Oliveira, Lima e Meira (2007) envolvendo
construtoras de João Pessoa (PB) aponta que as empresas vêm adotando práticas
para alcançar a satisfação dos clientes, como: a realização de questionários de
satisfação durante a entrega e pós-ocupação, a mudança de métodos construtivos,
a manutenção antes da entrega, a estipulação de prazos para realização de
reformas (com as alterações de projeto sendo arquivadas) e a execução do projeto
mantendo os prazos planejados.
Bertelsen e Emmitt (2005 apud GARRIDO e PASQUIRE, 2011) reforçam que,
sem entender o cliente, o conceito de valor fica indefinido e sem um conceito
tangível de valor, o desperdício torna-se ainda mais intangível. Dessa forma, a
geração de valor para o cliente pode ser amplamente conectada ao primeiro
elemento core.
Princípio 3: Reduzir a variabilidade (NETO, 2002; SACKS et al., 2010).
Processos de produção são variáveis. Ainda que se tratando de um mesmo produto,
dois itens não são iguais e os recursos necessários para a sua produção ( tempo,
matéria prima, mão de obra) variam. A variabilidade, em especial aquela relacionada
à duração de atividades, aumenta o volume de tarefas que não agregam valor.
45
Dessa forma, a redução da variabilidade nos processos deve ser considerada um
objetivo intrínseco das empresas (KOSKELA, 1992).
Práticas associadas: Koskela (1992) e Santos, Powell e Formoso (1999)
apontam como abordagens para reduzir a variabilidade a utilização de Poka-Yokes,
a padronização de atividades (através da implementação de procedimentos
padronizados) e a medição, identificação da causa de falhas e eliminação de
problemas no processo.
Conte e Gransberg, (2001) defedem que a redução da variabilidade das
atividades por ser alcançada usando-se a técnica Last Planner (mencionada no item
2.3.1 deste capítulo e também relacionada ao oitavo princípio) aliada ao suporte
incondicional da alta gestão da empresa e das equipes de produção, incluindo o
mestre de obras e as principais partes subcontratadas.
Koskela (1992) acrescenta que quaisquer desvios do “alvo”, como, por
exemplo, no desempenho do cronograma (porcentual de atividades executadas
conforme o planejado), podem ser abordados neste princípio. Contudo, há
variabilidades que estão atreladas a incertezas externas (geologia, mão de obra e
matéria prima locais etc.)
Princípio 4: Reduzir os tempos de ciclo (NETO, 2002; KOSKELA,1992; LOW
e FANG, 2005; BALLARD, 2003 apud ERIKSSON, 2010; GARRETT e LEE, 2011).
Segundo Krupta (1992, 2006 apud KOSKELA, 1992) a utilização do tempo como
métrica é mais útil que métricas relacionadas ao custo e a qualidade, pois ele pode
ser usado para conduzir melhorias em ambos. Um fluxo de produção pode ser
caracterizado pelo tempo de ciclo, que se refere ao tempo requerido para uma
determinada peça atravessar o fluxo (tempos de processamento, de inspeção, de
espera e de movimentação). Através da filosofia lean, o tempo de ciclo pode ser
reduzido forçando-se a redução dos tempos de inspeção, espera e movimentação
(KOSKELA, 1992).
Práticas associadas: Howell (1999) observou que gerenciar a interação
entre atividades e o efeito combinado de sua dependência ao longo das cadeias de
suprimento e montagem é essencial para entregar os projetos em tempos menores.
46
Como práticas que visam a redução dos tempos de ciclo, Santos, Powell e
Formoso (1999) sugerem isolar as atividades que agregam valor das atividades de
suporte, mudar a ordem dos processos e sincronizar e suavizar os fluxos.
Adicionalmente, Oliveira, Lima e Meira (2007) observaram em seu estudo que
construtoras têm reduzido a duração de suas obras através da fiscalização diária, do
cumprimento e melhoramento da programação das tarefas e da realização de
alterações no layout do canteiro que visem a otimização de espaço e a circulação de
materiais. Koskela (1992) reforça essa questão dizendo que é importante que a
detecção e a correção de desvios nos tempos de ciclo (variabilidade) ocorram de
maneira rápida. Isso pode ser alcançado através da redução dos níveis hierárquicos
e do empowerment e motivação dos funcionários que trabalham diretamente no
fluxo de produção.
Alterações no layout do canteiro visando a minimização de distâncias,
sincronização de fluxos, redução da variabilidade e o isolamento de atividades que
agregam valor das atividades de suporte também são práticas que objetivam a
redução dos tempos de ciclo (KOSKELA, 1992).
Princípio 5: Simplificação dos processos (NETO, 2002). Sistemas complexos
são inerentemente menos confiáveis do que sistemas simples. A simplificação pode
ser entendida como a redução do número de componentes de um produto e/ou a
redução do número de etapas em um fluxo de materiais ou de informações.
Práticas associadas: A simplificação dos processos pode ser alcançada
através da minimização do número de etapas, partes e ligações (KOSKELA, 1992
apud PICCHI, 2003). A ênfase do projeto e planejamento da construção é transferida
de tarefas específicas para a inter-relação das atividades (WRIGHT, 2000). A
perspectiva de sistemas é necessária para aumentar a eficiência global de projetos
de construção lean e para evitar e sub-optimizações (GREEN e MAY, 2005;
JORGENSEN e EMMITT, 2008; PHENG e FANG, 2005 apud ERIKSSON, 2010;
WINCH, 2006 apud ERIKSSON, 2010). Um fluxo de trabalho confiável considerado
em um sistema como um todo é mais crítico do que a velocidade ou custo de
atividades vistas de forma individual (MILLER et al., 2002; ELFVING et al., 2005;
WINCH, 2006 apud ERIKSSON, 2010).
47
Através dessa perspectiva, é possível minimizar o número de etapas, partes e
ligações, simplificando, assim, o processo construtivo (KOSKELA, 1997 apud LOW e
FANG, 2005; PHENG e FANG, 2005 apud ERIKSSON, 2010). Dessa forma, a
utilização de contratos com grande escopo é preferível, ao invés da divisão dos
projetos em pequenas partes, envolvendo muitos agentes da cadeia de suprimentos,
durante curtos períodos de tempo (ERIKSSON, 2010).
Princípio 6: Aumentar a flexibilidade das saídas (outputs). A flexibilidade para
readaptar o plano de produção é tão importante quanto o planejamento do projeto
(CONTE e GRANSBERG, 2001).
Práticas associadas: Picchi (2003) aponta como ferramentas que tornam o
processo mais flexível: os set-ups rápidos, a utilização de equipamentos flexíveis
(que possam ser utilizados em mais de uma atividade) e a multifuncionalidade de
operadores.
Ajustes rápidos no planejamento da produção podem ser feitos através da
realização de planos de trabalho semanais para o controle do fluxo de trabalho,
conforme sugere, por exemplo, a técnica Last Planner (mencionada no item 2.3.1 e
prática associada a vários dos princípios aqui apresentados). Essa prática permite
identificar as tarefas que não foram cumpridas no prazo determinado para que suas
respectivas causas sejam reconhecidas e, dessa forma, um plano de ação seja
desenvolvido para se adequar à mudança (ERIKSSON, 2010).
Princípio 7: Aumentar a transparência dos processos (NETO, 2002). A falta
de transparência aumenta a propensão a erros nos processos, uma vez que reduz a
sua visibilidade e a motivação para a introdução de melhorias. Dessa forma, o
aumento da transparência tem por objetivo tornar os processos observáveis e,
assim, facilitar seu controle e melhoria (KOSKELA, 1992).
Práticas associadas: O estabelecimento de marcos (milestones) contribui
para aumentar o foco no cronograma (SALEM et al., 2006; SACKS et al., 2010).
Torná-los explícitos (controle visual) a todos fará com que os participantes do projeto
sintam-se mais envolvidos na sua execução (SALEM et al., 2006; SACKS et al.,
2010). O aumento da transparência dos processos tem por objetivo tornar o
processo construtivo observável, para facilitar o controle e melhoria de todos os
funcionários (KOSKELA, 1992 apud LOW e FANG, 2005).
48
Santos, Powell e Formoso (1999) sugerem que o aumento da transparência
nos processos pode ser alcançado através da manutenção da limpeza e da
organização do ambiente de trabalho e pelo aumento do número de controle visuais.
Princípio 8: Focar no planejamento e controle do processo completo (NETO,
2002; GREEN e MAY, 2005; JORGENSEN e EMMITT, 2008). Há duas razões para
o controle de fluxo segmentado: o fluxo percorre diferentes unidades em uma
organização hierárquica ou atravessa uma fronteira organizacional. Em ambos os
casos há um risco de subotimização (KOSKELA, 1992).
Práticas associadas: A técnica Last Planner (brevemente descrita no
terceiro princípio) é um elemento chave capaz de melhorar o planejamento e
controle eficiente da produção (JORGENSEN e EMMITT, 2008; WRIGHT, 2000;
BALLARD et al., 2003 apud ERIKSSON, 2010; WINCH, 2006 apud ERIKSSON,
2010). O planejador (“planner”) é quem atribui tarefas aos trabalhadores diretos,
sendo sua responsabilidade fazer apenas atribuições de "qualidade" - aquelas que
estão bem definidas, na melhor sequência possível e de acordo com a capacidade
disponível. O desempenho do sistema de planejamento pode ser medido e
melhorado através do acompanhamento do percentual de tarefas concluídas, da
identificação das causas de falhas de planejamento e da tomada de medidas para
prevenir sua reincidência (WRIGHT, 2000).
Em outras palavras, cada planejador prepara planos de trabalho semanais
para o controle do fluxo de trabalho e, caso as tarefas não sejam cumpridas no
prazo determinado, deve-se buscar as respectivas causas e desenvolver um plano
de ação para prevenir falhas futuras (ERIKSSON, 2010). O estabelecimento de
marcos (milestones), conforme mencionado no princípio anterior, contribui para
aumentar o foco no cronograma (SALEM et al., 2006; SACKS et al., 2010).
Conte e Gransberg (2001) defendem que todo o planejamento da produção
deve ter como base a manutenção do ritmo de trabalho, ao invés de buscar picos de
produtividade visando melhorar a performance de uma determinada atividade, que
nem sempre assegura a melhor combinação para o projeto como um todo.
Ademais, o controle dos custos de produção e do consumo de materiais e
mão de obra em cada tarefa executada deve ser baseado na demanda definida na
fase de concepção do projeto, durante as etapas de planejamento da produção.
Dessa forma, quando cada ciclo da produção se inicia na obra, a equipe de gestores
49
é capaz de perceber, com antecedência, a demanda diária de materiais, força de
trabalho e equipamentos para cada tarefa. Portanto, pode-se elaborar um plano
otimizado para o transporte desses elementos e sua disponibilização. Durante essa
fase é possível identificar gargalos no fornecimento e erros de planejamento, os
quais devem ser usados como fonte de aprendizado para as atividades futuras
(CONTE e GRANSBERG, 2001).
Princípio 9: Promover a melhoria contínua nos processos (WRIGHT, 2000;
ERIKSSON, 2010). Melhorias contínuas são importantes para a redução de
desperdícios (princípio 1) e para aumentar a eficiência no processo construtivo ao
longo do tempo (NETO, 2002; GREEN e MAY, 2005).
Práticas associadas: Contratos de longo prazo são fundamentais para
promover melhorias duradouras, reduzindo o papel dos tradicionais contratos de
curto prazo, focados na redução de custos (GREEN e MAY, 2005; ERIKSSON,
2010). Empresa e fornecedores trabalhando juntos em uma série de projetos,
facilitará a transferência de conhecimentos e experiências entre os agentes da
cadeia de suprimentos de um projeto para o outro (ERIKSSON, 2010).
Portanto, recomenda-se uma relação de cooperação, na qual os
relacionamentos entre os agentes da cadeia de suprimentos facilitam a solução
conjunta de problemas através da integração das competências e esforços dos
diferentes agentes (geralmente referidos como parcerias) (ERIKSSON, 2010). O
filosofia lean apoia o desenvolvimento do trabalho em equipe pelo ponto de vista da
redivisão de responsabilidades ao longo da cadeia de suprimentos (HOWELL,
1999).
Em posição central para o estabelecimento de parcerias coesas está a
realização de uma boa comunicação, integração e coordenação de todas as partes
envolvidas (ELFVING et al., 2005; PHENG e FANG, 2005 apud ERIKSSON, 2010) e
em todas as fases do projeto (SUESS, 2005), que podem ser facilitadas por várias
ferramentas colaborativas (como o estabelecimento de objetivos comuns, escritórios
conjuntos, trabalho em equipe etc.) Cabe mencionar que é importante que todas as
partes se beneficiem desses relacionamentos. (GREEN e MAY, 2005; ERIKSSON
2008 apud ERIKSSON, 2010; ERIKSSON e NILSSON, 2008 apud ERIKSSON,
2010; ERIKSSON, 2010).
50
Comum et al., (2000 apud LOW e FANG, 2005) sugerem que as relações de
longo prazo entre empreiteiros e fornecedores (através de subempreiteiros de mão
de obra e materiais) proporcionam algum grau de controle sobre suas cadeias de
suprimentos. Isso ajuda a alcançar a padronização (standardization) e a troca de
designs (inter-changeability) - necessária caso haja uma ampla gama de
componentes distintos a serem montados em um arranjo com diferentes
permutações, para satisfazer a demanda dos clientes (GANN, 1996 apud LOW e
FANG, 2005).
Além disso, funcionários e trabalhadores devem ser encorajados a iniciar
idéias e soluções de melhoria para resolver os problemas encontrados em campo
(BALLARD et al., 2003 apud ERIKSSON, 2010; PHENG e FANG, 2005 apud
ERIKSSON, 2010). As equipes devem se encontrar periodicamente para trocar
conhecimentos e experiências e, conjuntamente, propor ideias para problemas
críticos (SALEM et al., 2006 apud ERIKSSON, 2010). Cabe ainda mencionar que
treinamento é um preceito básico para a implantação eficaz de práticas lean
(GREEN e MAY, 2005; FREIRE e ALARCÓN, 2002 apud ERIKSSON, 2010).
De acordo com Freire e Alarcón (2002 apud ERICKSSON, 2010), o controle e
medições de diferentes tipos de indicadores de desempenho são vitais a fim de
determinar se a performance está melhorando – práticas que também atendem ao
princípio 8. Posteriormente, as razões para o desempenho satisfatório ou
insatisfatório devem ser analisadas a fim de se decidir sobre potenciais ações de
melhoria (FREIRE e ALARCÓN, 2002 apud ERIKSSON, 2010).
Princípio 10: Equilibrar melhoria de fluxo com melhoria na conversão (NETO,
2002), posto que as conversões e os fluxos têm diferentes potenciais de melhoria.
Segundo Koskela (1992), a melhoria de ambos está intimamente interrelacionada,
uma vez que fluxos melhores requerem menos capacidade de conversão e,
portanto, menos investimentos em equipamentos. Ademais, fluxos mais controlados
tornam mais fáceis a implementação de novas tecnologias de conversão, ao passo
que uma nova tecnologia de conversão pode proporcionar menor variabilidade e,
assim, melhorias no fluxo.
Práticas associadas: Em 1992, Koskela expôs que o planejamento da
produção não consiste apenas na visão voltada aos processos de conversão, mas,
sobretudo, no planejamento da gestão de fluxos de informações, materiais e mão de
51
obra e na delimitação das responsabilidades (MECCA, 1999; HIROTA e FORMOSO,
2000). Para tanto, não é requerido apenas a absorção de novos conhecimentos
individuais, mas, principalmente, a mudança de atitudes na gestão do processo de
produção como um todo - que trata-se do desenvolvimento de competências.
Desenvolver as competências gerenciais dos profissionais do setor tem como
objetivo incentivar a adoção mais ampla de práticas lean e, dessa forma, promover o
processo de mudança na construção civil (HIROTA e FORMOSO, 2000).
Princípio 11: Benchmarking (NETO, 2002). Consiste na comparação entre o
desempenho atual de uma empresa e do líder do setor. Benchmarking é,
essencialmente, um procedimento de definição de metas. Muitas vezes, é um
estímulo útil para se descobrir e alcançar melhorias através da identificação de
falhas fundamentais nos processos e da reconfiguração radical dos mesmos. Ela
ajuda a superar a síndrome NIH eo poder de rotinas arraigadas (KOSKELA, 1992).
Práticas associadas: Ter conhecimento dos processos, avaliando as forças,
fraquezas, oportunidades e ameaças da organização, além de conhecer quem são
os líderes do setor e os principais concorrentes, e as melhores práticas que vem
sendo adotadas por eles. Ao realizar essa análise, as construtoras poderão
incorporar (copiando ou modificando) melhores práticas à empresa, e delinear um
nicho de mercado pela combinação das forças existentes da companhia com as
melhores práticas externas (KOSKELA, 1992 apud LOW e FANG, 2005).
Por fim, cabe mencionar o estudo de Green e May (2005) que propõe que os
esforços de implementação de práticas da construção enxuta podem ser divididos
em três estágios distintos, com graus crescentes de sofisticação. De acordo com os
pesquisadores, o estágio 1 foca na eliminação de desperdícios sob uma perspectiva
técnica e operacional. Nele encontram-se a adoção de indicadores de performance e
o compartilhamento de ganhos e perdas, citados por Eriksson (2010).
O estágio Lean 2 foca na eliminação de relacionamentos adversários e no
aumento das relações de cooperação e do trabalho em equipe entre os agentes da
cadeia de suprimentos (GREEN e MAY, 2005). Os autores defendem que o estágio
3 é o mais sofisticado, envolvendo uma mudança estrutural na governança de
projeto. Suas partes fundamentais são: tecnologia da informação, pré-fabricação,
Last planner, contratos de longo prazo, treinamento em todos os níveis da
organização e uma perspectiva de sistemas tanto de processos como do produto
52
(também citadas por Eriksson, 2010). Pode-se dizer que, dos três estágios de
implementação da construção lean, somente o terceiro pode ser plenamente julgado
como Lean Construction (GREEN e MAY, 2005).
2.4 IMPLANTAÇÃO DE PRÁTICAS LEAN NA CONSTRUÇÃO CIVIL
O objetivo desta sessão é identificar os aspectos que motivam as construtoras
a adotarem práticas lean em seu cotidiano de obras, bem como os principais
obstáculos enfrentados durante o processo de implantação e os resultados
encontrados pelas empresas que assumiram tal tarefa.
2.4.1 Motivações
Nas duas últimas décadas do século passado e início desta, a construção civil
foi objeto de pressões internas e externas, como: crise financeira; escassez de obras
públicas; crescente grau de competição existente entre as empresas; aumento do
nível de exigência dos consumidores, principalmente em relação à qualidade do
projeto e de sua execução; reduzida disponibilidade de recursos financeiros, entre
outros fatores (LORENZON e MARTINS, 2006). Com o contínuo declínio das
margens de lucro e o aumento da concorrência em projetos de construção, as
empresas do setor, a partir dos anos 90, promoveram mudanças buscando soluções
que lhes proporcionassem melhores níveis de desempenho (e.g. aumento do lucro e
formas de eliminar desperdícios) (NORIE/UFRGS/SINDUSCON-SP, 1999;
MASTROIANNI e ABDELHAMID, 2003; LORENZON e MARTINS, 2006), através da
adoção de novas práticas de gestão e tecnologia de produção. Uma das formas
encontradas para tal foi por meio da adoção de práticas da construção lean
(NORIE/UFRGS/SINDUSCON-SP, 1999).
De acordo com Salem et al. (2005), apesar de várias abordagens terem sido
desenvolvidas com intuito de melhorar a eficiência e a eficácia dos processos de
construção, técnicas de construção lean oferecem a promessa de minimizar, se não
de eliminar completamente, as atividades que não agregam valor.
53
O interesse pela adoção da filosofia lean na construção é baseado,
principalmente, nas evidências empíricas de que suas práticas melhoram a
competitividade das empresas em seus mercados, na forma de redução dos prazos
e custos e aumento da qualidade, aspectos demandados pelo mercado (SANCHEZ
e PÉRES, 2001; ALARCON e SEGUEL, 2002; MULLENS e NAHMENS, 2004).
Ademais, com a constatação tanto do mercado quanto da parte operacional
que a construção lean contribui para o sucesso competitivo da empresa, torna-se
mais fácil convencer proprietários e gestores sobre a importância dessa filosofia
(NETO, 2002). Muitas construtoras são impulsionadas a implementar práticas lean,
pois estas promovem mudanças organizacionais e operacionais que permitem às
empresas melhorar seus níveis de eficiência e eficácia, de modo a atingirem níveis
de classe mundial de competitividade (ALARCON e SEGUEL, 2002).
Cabe mencionar, entretanto, que o que leva uma empresa a adotar a filosofia
lean em seu cotidiano também pode variar de acordo com seu posicionamento de
mercado ou com um projeto em específico que desenvolverá. A busca pela
eficiência máxima (ou seja, pela redução de custos) não será sempre o principal
objetivo competitivo da produção, pois pode haver outro objetivo que se enquadre
melhor na estratégia competitiva da empresa. Por exemplo, em um edifício comercial
do tipo shopping center, o prazo de entrega pode ser mais importante do que o
preço final da obra para a empresa, posto que o retorno mais rápido das vendas
poderá compensar o custo adicional para a entrega do empreendimento em um
espaço mais curto de tempo (NETO, 2002).
Por fim, também podem ser identificadas como motivações para a adoção de
práticas lean, a preocupação das construtoras em aumentar a segurança e ordem
no ambiente de trabalho e em controlar e reduzir o lead-time do projeto (BALLÉ e
BOUTHILLON, 2011).
2.4.2 Dificuldades de implantação
Ballé e Bouthillon (2011) argumentam que o fator número um para o sucesso
de qualquer projeto é dispor da equipe de gestão certa, pronta para deslanchar o
projeto. Contudo, dispor da equipe adequada nunca é uma tarefa fácil, dado que os
54
funcionários estão sempre envolvidos em outras atividades, deixam a empresa ou
estão sobrecarregados.
Além disso, não é comum as empresas desenvolverem um plano estratégico
formal e estruturado para a implantação de práticas lean. Este aspecto aliado a um
processo decisório baseado na experiência dos gestores da organização poderá
gerar problemas durante a implementação das práticas, à medida que as decisões
tomadas pelos gestores, possivelmente, demonstrarão uma visão míope, sem uma
abordagem sistemática, que poderão influenciar a performance da empresa no longo
prazo. Como consequência, a introdução da filosofia lean estará comprometida, uma
vez que não há um plano ou uma linha de pensamento coerente que conduza a
empresa por um caminho seguro para a aplicação total dos princípios da construção
lean, acarretando em um grande desperdício de tempo (NETO, 2002).
Essa falta de preocupação com os objetivos estratégicos gera baixa
motivação das pessoas ao longo do processo, posto que estas não têm ideia do
tempo que levará para que as mudanças sejam introduzidas e os objetivos sejam
completamente atingidos. Além disso, compromete o alinhamento estratégico da
empresa. Um exemplo disso são empresas que investem em melhorias (como a
introdução de paredes de dry wall etc.), mas se esquecem de considerar a demanda
do mercado, a cultura dos habitantes da região, impactos nos serviços de
suprimento e em alguns departamentos da empresa. Assim, a falta de clareza na
definição dos objetivos estratégicos pode minar o sucesso da implementação de
práticas lean, dado que esses objetivos informam uma direção a ser seguida,
facilitando a definição dos estágios do processo de implantação (NETO, 2002).
Ballé e Bouthillon (2011), por outro lado, afirmam que a mudança cultural
radical é uma grande dificuldade do processo de implantação das práticas lean,
principalmente em questões relacionadas à mudança do relacionamento com os
fornecedores (mudança nos contratos etc). Através de sua experiência prática, os
autores relatam que nenhuma das novas estratégias traçadas para a implementação
de práticas da construção lean são fáceis ou foram completamente implementadas.
Elas continuam a ser uma luta constante contra a “maré” da indústria e do
comportamento humano natural (BALLÉ e BOUTHILLON, 2011).
De forma complementar, Lorenzon e Martins (2006) relatam o estudo de
Dulaimi e Tanamas (2001) realizado em Cingapura, cuja conclusão foi de que
55
somente parte dos conceitos foi implantada pela construtora objeto de estudo e que
a resistência cultural, trabalhadores desqualificados e descomprometidos, alta
rotatividade (implicando em falta de treinamento), são elementos que dificultam o
sucesso da implantação de práticas lean.
Dessa forma, a mudança de modelos mentais e de comportamento através do
pensamento lean (Lean Thinking) tornou-se um desafio inicial dos projetos, pois tem
grande impacto no processo de implantação de algumas ferramentas como, por
exemplo, os 5S’s. Para eliminar essa barreira, são oferecidas aulas de formação
(treinamento), pratica-se o reconhecimento como forma de promover a mudança
comportamental, o envolvimento dos trabalhadores é encorajado e melhorias reais
são recompensadas (SALEM et al., 2005). Pode-se concluir assim, que uma das
questões principais para o sucesso da implantação das práticas está em obter o
comprometimento e o envolvimento das pessoas da organização com o novo
desafio (ALARCON e SEGUEL, 2002).
A questão do treinamento, mencionada acima, é um aspecto chave, porém
pode trazer dificuldades para a empresa uma vez que resulta no aumento de
encargos nos estágios iniciais de implantação. Cabe lembrar, entretanto, que no
longo prazo os treinamentos servirão para aumentar a eficiência das construtoras e
mais do que compensar o investimento inicial destinado à formação dos funcionários
(SALEM et al., 2005).
Também é difícil para as construtoras atingir as metas agressivas traçadas.
Com base nas observações feitas por Ballé e Bouthillon (2011) em diversos
canteiros de obras visitados, o alcance dessas metas raramente acontece. Em
primeiro lugar, porque sempre acontece algum evento que não havia sido
considerado previamente e, em segundo lugar, porque essas metas são de fato
difíceis de serem alcançadas. No entanto, elas devem ser perseguidas, pois o
simples fato de não serem atingidas é fonte de reflexão, fazendo com que
determinados aspectos sejam repensados radicalmente.
Outra dificuldade apontada por esses pesquisadores diz respeito à postura
dos CEOs das empresas. Estes devem deixar que as pessoas tomem decisões, de
certa forma, fracas de modo que, a partir delas, possam aprender e se desenvolver.
Deixar de lado o sistema comando-controle é uma tarefa difícil para os funcionários
do nível da gestão para baixo. Essa mudança pode causar desconforto e até a saída
56
de alguns gestores, que não aceitam que sua função principal passou a ser a de
educador de seus subordinados ao invés de “condutor”. Dessa forma, ao seguirem a
filosofia lean, os gestores devem estimular as pessoas a pensar, fazendo-lhes
perguntas, mas nunca dando-lhes as respostas. Devem, portanto, frear o impulso e
a tentação de acelerar o processo através da simples apresentação de respostas
para possibilitar que os membros da empresa desenvolvam a capacidade de
solucionar problemas de performance (BALLÉ e BOUTHILLON, 2011).
De acordo com Isatto et al. (2000 apud LORENZON e MARTINS, 2006), os
princípios e práticas lean interagem fortemente uns com os outros e devem ser
aplicados de forma integrada nos processos de gestão. No entanto, percebe-se a
existência de uma série de pesquisas sobre construção lean baseada em apenas
um dos princípios ou em alguns dos mais notórios. Isso ocorre, muitas vezes,
porque os princípios são muito amplos, sendo difícil trabalhar com eles de forma
integrada. No entanto, este procedimento pode comprometer a compreensão da
filosofia como um todo e de onde se quer chegar, correndo-se o risco de investir
muito tempo na implementação e, ao final, constatar que o efeito desejado não foi
alcançado (NETO, 2002).
Ademais, a falta de familiaridade ou de entendimento a cerca dos conceitos e
da implantação de práticas lean são as maiores barreiras no início do projeto,
segundo Salem et al., (2005). Uma das dificuldades no processo de comunicação
desses conceitos, por exemplo, são os termos usualmente empregados pela gestão
do processo de produção. Esses termos (tais como fluxos, perdas, processo,
operação, transparência ou eficácia) passam a ser fundamentais na introdução da
nova filosofia, porém apresentam significados diferentes. A palavra fluxo, por
exemplo, pode passar uma ideia positiva na construção tradicional, à medida que a
ênfase na produtividade faz com que o gerente evite ao máximo as horas paradas. A
movimentação no canteiro e a existência de estoques de materiais são indicativos
de que o processo está em andamento. Na construção lean, entretanto, fluxo remete
a um problema: a existência de atividades de fluxo (inspeção, espera, transporte)
que devem ser eliminadas ou reduzidas ao máximo, posto que não agregam valor
ao produto (HIROTA E FORMOSO, 2000).
Um estudo realizado nos Estados Unidos apontou como uma das limitações
para a implementação de práticas lean, a falta de investimento em pesquisa por
57
parte do setor da Construção Civil (SALEM et al., 2005). Anteriormente, Banik (1999)
já havia afirmado que o setor hesita em investir em pesquisa e desenvolvimento
para melhor a produtividade. Dessa forma, a construção lean encontra-se ainda em
um estágio inicial de desenvolvimento.
Prova disso é que práticas lean como os 5S’s, visualização do processo e
reuniões informais diárias, por exemplo, são novas para o setor da construção e,
como não existem normas uniformes para a implementação dessas práticas na
construção civil, surgem dificuldades, posto que a avaliação das práticas
mencionadas segue critérios muito subjetivos (SALEM et al., 2005).
No que concerne à avaliação das práticas lean, foi constatada a falta de
modelos de medição para a Lean Construction. Apesar dos importantes alertas
sobre o papel da medição de desempenho tanto na implementação quanto no uso
de sistemas de gestão em ambientes lean, pouco foi feito no sentido de solucionar
tal problema. A isto se soma, no contexto brasileiro, a lenta adoção desses conceitos
por empresas do setor. Desta maneira, faz-se necessário o desenvolvimento de
formas de medição de desempenho que sejam coerentes com a filosofia lean e
levem em consideração as especificidades do setor da construção civil (LORENZON
e MARTINS, 2006).
De forma conclusiva, Hessen (2000) afirma que é imperativo investigar e
aprofundar as razões e os fatores que tornam difíceis a implementação, de modo
que as construtoras possam estabelecer mecanismos que permitam melhorar e
aumentar o alcance e a eficácia da aplicação de práticas lean.
2.4.3 Resultados esperados e resultados encontrados em implantações
em andamento
Como resultados da implantação de práticas lean, espera-se que a melhoria
do fluxo de materiais de construção implique menos tempo despendido no fluxo de
valor e, como consequência, obtenha-se um processo cada vez mais enxuto (AL-
SUDAIRI, 2007). Além disso, a redução do número de tarefas que não agregam
valor e as mudanças propostas no processo produtivo fazem com que a
produtividade aumente e o tempo de ciclo seja reduzido. Deve-se levar em
58
consideração que esses resultados tendem a se intensificar no longo prazo
(MULLENS e NAHMENS, 2004).
Ademais, espera-se que alterações na produção tenham impacto sobre todos
os outros departamentos da empresa. Portanto, essas mudanças precisam ser
pensadas com antecedência, de modo a evitar incoerências estratégicas que
afetem, no futuro, o desempenho da empresa (por questões internas) e para que a
nova filosofia possa realmente mudar o modo de produção da organização com
menos desperdício de tempo (NETO, 2002).
Como resultado de treinamentos e do encorajamento da participação dos
empregados (inclusive com recompensas atreladas a melhorias reais), a força de
trabalho apresentou uma melhora substancial na curva de aprendizado e maior
aceitação em relação à filosofia lean e sua implementação (SALEM et al., 2005).
Foi observado em casos de implantação bem sucedida de práticas lean que a
geração de valor - um dos princípios da construção lean - têm mostrado excelentes
resultados na forma de melhorias na produção, menor tempo de produção, redução
de custos, aumento da segurança dos trabalhadores e maior satisfação do cliente
(CHRISTOFFERSEN et al., 2001 apud BERTELSEN, 2002).
Muitos estudos (e.g. Tommelein, 1997; Tommelein, 1998; Crowley, 1998; Al-
Sudairi, 2004; Salem e Zimmer, 2005) provam que a adoção de práticas lean
tornaram os processos da construção mais eficientes. Em alguns casos, a duração
do projeto apresentou redução de 20% a 55% e a produtividade aumentou entre
10% e 37% (KARTAMET et al., 1995 apud AL-SUDAIRI, 2007).
Estudos realizados em empresas de construção de menor porte ou em
projetos de maior simplicidade, como a pesquisa apresentada por Al-Sudairi (2007),
apontam que as práticas lean não são apenas eficientes em processos complexos,
como também apresentam bons resultados em processos mais simples.
Ao testarem a eficácia das práticas lean utilizadas por uma construtora em um
de seus projetos, Salem et al. (2005) constataram a necessidade de se promover
mudanças culturais e treinamento para o uso eficaz das ferramentas lean. Além
disso, descobriram que as ferramentas da produção lean podem ser modificadas e
utilizadas em projetos de construção de forma bem sucedida.
59
Ademais, é necessário advertir sobre o perigo da existência de panaceias, por
exemplo, em torno de novas tecnologias ou de programas de gestão e treinamento.
É comum as empresas adquirirem ou implementá-los sem se perguntarem se eles
são realmente importantes para apoiar ou alavancar suas estratégias competitivas.
Como consequência disso, existem casos notórios de construtoras que adquiriram
determinada tecnologia (especialmente em feiras e eventos) que, posteriormente,
foram subutilizadas ou não usadas de nenhuma maneira. Isso ocorreu porque no
momento da compra não foi verificado se haveria um volume suficiente de trabalho
para a sua absorção, se a força de trabalho estava adequadamente treinada, se
haveria matéria prima disponível no mercado para esse novo tipo de tecnologia e se
realmente era importante adquirir um produto competitivo (NETO, 2002).
Neto (2002) também aponta que a sequência de implementação das práticas
lean pode variar de empresa para empresa, devido às suas características internas
e às suas necessidades conjunturais. Mais uma vez, as definições estratégicas da
empresa podem ajudar a conferir mais coerência no processo, conforme foi
defendido no item anterior.
Ao implementar práticas lean na construção civil e realizar o Mapeamento do
fluxo de valor (Value stream mapping – VSM, mencionado no item 2.2.1), Mullens e
Nahmens (2004) identificaram as atividades que contribuíram para a criação de valor
para os clientes, bem como as atividades que agregaram pouco ou nenhum valor. O
manuseio de matéria prima e o retrabalho foram as principais atividades,
contribuindo com 47% da mão de obra consumida nas tarefas não agregadoras de
valor (Figura 1). Isso ocorreu porque, uma vez iniciado, o fluxo de atividades
agregadoras de valor foi rotineiramente interrompido. O acesso deficiente aos
materiais e ferramentas, fluxos de processos mal definidos e questões relacionadas
a supervisão da força de trabalho também contribuíram para este resultado.
Figura 1 – Percentual de atividades que não agregam valor. Adaptado do estudo de Mullens e Nahmens (2004).
60
Com base nessas constatações, práticas da construção lean foram
empregadas no processo de modo a remover os obstáculos que impediam o fluxo
contínuo de atividades agregadoras de valor (MULLENS e NAHMENS, 2004).
Para concluir esse tópico, cabe ressaltar que o interesse na adoção de
práticas lean por parte das construtoras é baseado, principalmente, nas evidências
empíricas que essas práticas melhoram a competitividade das empresas, sob a
forma de redução de prazos e custos e aumento da qualidade (SANCHEZ e PÉRES,
2001). No entanto, embora a implantação das práticas lean tenha como objetivo o
aumento da competitividade das empresas, isto pode não ocorrer imediatamente.
Fatores como o tipo de empresa, o produto e a metodologia empregada podem
influenciar os resultados encontrados (LEWIS, 2000). Além disso, Hirota e Formoso
(2000) advertem que a aplicação dos conceitos da produção lean na construção civil
deve resultar de um processo de transferência e não de réplica, ocorrendo
aprendizagem por meio da ação de implantação das práticas (LORENZON e
MARTINS, 2006).
Para concluir este tópico, cabe ainda apontar que a implantação de práticas
lean deve atender a algumas condições para que os resultados apresentados na
literatura sejam alcançados. De acordo com Salem et al. (2005), o compromisso da
alta gestão com a implementação das práticas pode vir a ser o fator mais importante
no sucesso de sua implementação. Anteriormente, Alarcon e Seguel (2002) também
defendiam a promoção de incentivos para a média gestão - nível gerencial
designado pelos autores como sendo a chave para a implementação bem sucedida
de mudanças nas organizações. Contudo, cabe mencionar que recompensas
econômicas não são um elemento prioritário de motivação para gerentes de projeto
e demais profissionais. Antes do lado financeiro, esses funcionários valorizam o
reconhecimento pessoal, maior participação nas decisões, treinamento para o
desenvolvimento pessoal etc. (ALARCON e SEGUEL, 2002)
Sob a ótica de Ballé e Bouthillon (2011) e em consonância com o que foi
exposto neste capítulo, lean está relacionado a produtos e pessoas, e não a
processos ou ferramentas de produtividade. Portanto, a empresa precisa
desenvolver pessoas de modo a conseguir desenvolver seus produtos.
61
2.5 RESUMO E PROPOSTA DE ESQUEMA CONCEITUAL PARA ANÁLISE
DOS CASOS
Todo o empenho deste capítulo teve por objetivo descrever as características
inerentes à filosofia lean, em sua forma mais abrangente, até convergir para sua
aplicação no contexto da Construção Civil, identificando os princípios da construção
lean e as principais práticas associadas a eles, conforme os estudos conduzidos
pelos pesquisadores da área.
Ademais, buscou-se levantar os aspectos ligados à implantação dessas
práticas no que diz respeito às dificuldades enfrentadas pelas construtoras, às
motivações que as conduzem a adotar determinadas práticas e aos resultados
esperados e obtidos com sua implantação.
Nos quadros a seguir, são apresentados os principais pontos da literatura
sobre construção lean. A tabela 1, em sua primeira coluna apresenta os princípios
da construção lean e na segunda coluna, associada a cada princípio, estão as
práticas indicadas pelos diversos autores pesquisados. A tabela 2, dividido em três
colunas, apresenta as motivações que levam as construtoras a adotarem práticas
lean em suas operações, as dificuldades que podem vir a encontrar durante a fase
de implantação e os resultados esperados e obtidos com a adoção das práticas.
Ambos os quadros servirão de base não só para a elaboração do roteiro de
entrevistas como para todo o desenvolvimento da pesquisa:
Tabela 1 – Resumo das práticas lean na construção civil
Princípios lean na Construção Civil
Práticas lean na Construção Civil
1 – Redução de desperdícios
• Incentivos para a redução de desperdícios dentro da organização e entre as empresas envolvidas (FEARNE e FOWLER, 2006);
• Redução de desperdícios desde a fase de concepção do projeto (BALDWIN et al., 2009);
• Encorajar os trabalhadores a manterem o local de trabalho limpo e organizado (SALEM et al., 2006);
• Planejamento do fluxo de materiais para eliminação ou minimização de estoques e transportes ineficientes de recursos (AKINTOYE, 1995; FEARNE e FOWLER, 2006; SALEM et al., 2006 apud ERIKSSON,
62
2010); • Adoção de ferramentas de TI para detectar e corrigir erros antes da
produção (BALLARD et al., 2003; GREEN e MAY, 2005; WOKSEPP e OLOFSSON, 2008 apud ERIKSSON, 2010);
• Adoção de ferramentas de TI para integrar os agentes da cadeia (O´CONNOR e YANG; 2004; WOKSEPP e OLOFSSON, 2008 apud ERIKSSON, 2010);
• Fabricação ou utilização de pré-moldados (GREEN e MAY, 2005; BALDWIN et al., 2009);
• Garantir a segurança dos trabalhadores (SACKS, ROZENFELD E ROZENFELD, 2005 apud. GHOSH E CORBETT, 2009; GHOSH E CORBETT, 2009).
2 – Aumentar o valor para o cliente
• Pensar no valor para o cliente numa perspectiva de “vida inteira” do produto (WRIGHT, 2000; NETO, 2002; JORGENSEN e EMMITT, 2008);
• Identificação clara das necessidades do cliente desde o projeto (WRIGHT, 2000; BALDWIN et al., 2009; FREIRE e ALARCÓN, 2002 apud ERIKSSON, 2010; STYHRE et al., 2004 apud ERIKSSON, 2010)
• Realização de questionários de satisfação durante a entrega e pós-ocupação (OLIVEIRA, LIMA e MEIRA, 2007);
• Mudança de métodos construtivos (OLIVEIRA, LIMA e MEIRA, 2007); • Manutenção antes da entrega (OLIVEIRA, LIMA E MEIRA, 2007); • Estipulação de prazos para realização de reformas (com as alterações
de projeto sendo arquivadas) (OLIVEIRA, LIMA e MEIRA, 2007); • Execução do projeto mantendo os prazos planejados (OLIVEIRA,
LIMA e MEIRA, 2007).
3 – Reduzir a variabilidade
• Utilização de Poka-Yokes (SANTOS, POWELL e FORMOSO, 1999); • Padronização (SANTOS, POWELL e FORMOSO, 1999; SACKS et al.,
2010); • Medição, identificação e eliminação de problemas no processo
(SANTOS, POWELL e FORMOSO, 1999);
4 – Reduzir os tempos de ciclo
• Gerenciamento da interação entre atividades (HOWELL, 1999) com ênfase na interrelação de tarefas ao invés de tarefas específicas (WRIGHT, 2000; GREEN e MAY, 2005; JORGENSEN e EMMITT, 2008; PHENG e FANG, 2005; WINCH, 2006 apud ERIKSSON, 2010);
• Isolar as atividades que agregam valor das atividades de suporte (SANTOS, POWELL e FORMOSO, 1999);
• Mudar a ordem dos processos (SANTOS, POWELL e FORMOSO, 1999);
• Sincronização e suavização dos fluxos (SANTOS, POWELL e FORMOSO, 1999; KOSKELA, 1992 apud LOW e FANG, 2005);
• Fiscalização diária (NETO, 2002; OLIVEIRA, LIMA e MEIRA, 2007); • Cumprimento e melhoramento da programação de tarefas (BALLARD
et al., 2003 apud ERIKSSON, 2010; OLIVEIRA, LIMA e MEIRA, 2007); • Alterações no layout de canteiro para otimização de espaço e
circulação (OLIVEIRA, LIMA e MEIRA, 2007).
63
5 – Simplificação dos processos
• Minimização do número de etapas, partes e ligações através de planejamento (NETO, 2002; KOSKELA, 1992 apud PICCHI, 2003);
• Fluxo de trabalho confiável (MILLER et al., 2002; ELFVING et al., 2005; WINCH, 2006 apud ERIKSSON, 2010);
• Utilizar contratos de grande escopo ao invés de divisões do projeto em pequenas partes (ERIKSSON, 2010).
6 – Aumentar a flexibilidade das
saídas
• Set-ups rápidos (PICCHI, 2003); • Utilização de equipamentos flexíveis (PICCHI, 2003); • Multifuncionalidade de operadores (PICCHI, 2003); • Planos de trabalho semanais para o controle do fluxo de trabalho e
desenvolvimento de planos de ação com as readequações necessárias (ERIKSSON, 2010).
7 – Aumentar a transparência dos
processos
• Tornar explícito a todos os funcionários os marcos (milestones) estabelecidos no cronograma para envolvimento destes na execução (KOSKELA, 1992 apud LOW e FANG, 2005; SALEM et al., 2006; SACKS et al. 2010);
• Manutenção da limpeza e da organização do ambiente de trabalho (SANTOS, POWELL e FORMOSO, 1999);
• Aumento do número de controles visuais (SANTOS, POWELL e FORMOSO, 1999).
8 – Focar no planejamento e
controle do processo completo
• Técnica Last Planner (ter um responsável por atribuir adequadamente tarefas aos trabalhadores, de acordo com capacidade, sequência, função, etc.) aliada ao suporte incondicional da alta gestão da empresa e das equipes de produção, incluindo o mestre de obras e as principais partes subcontratadas. (WRIGHT, 2000; CONTE E GRANSBERG, 2001; JORGENSEN e EMMIT, 2008);
• Acompanhamento do percentual de tarefas concluídas em relação ao cronograma (WRIGHT, 2000; ERIKSSON, 2010);
• Identificar as causas das falhas e tomar medidas para prevenir reincidências (ERIKSSON, 2010);
• Planos semanais para controle do fluxo de trabalho ERIKSSON, 2010; • Estabelecer marcos (SALEM et al., 2006; SACKS et al., 2010); • Planejar a produção visando a manutenção do ritmo de trabalho ao
invés de picos de produtividade em determinadas atividades (CONTE e GRANSBERG, 2001);
• Controlar custos e o consumo de matéria prima e mão de obra em cada tarefa de acordo com a demanda definida no planejamento da produção (perceber com antecedência a demanda diária de cada recurso) (CONTE e GRANSBERG, 2001);
• Usar erros de planejamento como fonte de aprendizado (CONTE e GRANSBERG, 2001).
9 – Melhoria contínua dos
processos
• Contratos e relacionamentos de longo prazo com demais agentes da cadeia ao invés de contratos de curto prazo, focados em custo (GREEN e MAY, 2005; ERIKSSON, 2010);
• Relações de cooperação entre empresa e fornecedores �trabalhando juntos para transferência de conhecimentos e para solução conjunta de problemas (ERIKSSON, 2010);
64
• Desenvolver relacionamentos � boa comunicação, integração e coordenação de todas as partes (internas e externas) e em todas as fases, assegurada pelo gestor do projeto (SUESS, 2005; ELFVING et al., 2005 apud ERIKSSON, 2010; PHENG e FANG, 2005 apud ERIKSSON, 2010);
• Uso de ferramentas colaborativas com os parceiros: delimitação de objetivos comuns, escritórios conjuntos, trabalho em equipe etc. (GREEN e MAY, 2005; ERIKSSON, 2008 apud ERIKSSON, 2010; ERIKSSON e NILSSON, 2008 apud ERIKSSON, 2010; ERIKSSON, 2010);
• Redivisão de responsabilidades ao longo da cadeia (HOWELL, 1999); • Encorajar funcionários a desenvolver ideias e soluções de melhoria
para problemas de campo (BALLARD et al., 2003 apud ERIKSSON, 2010; PHENG e FANG, 2005 apud ERIKSSON, 2010);
• Reuniões periódicas da equipe (SALEM et al., 2006 apud ERIKSSON, 2010);
• Treinamento (GREEN e MAY, 2005; FREIRE e ALARCÓN, 2002 apud ERIKSSON, 2010);
• Indicadores de desempenho (FREIRE e ALARCÓN, 2002 apud ERIKSSON, 2010).
10 – Equilibrar melhoria de fluxo com melhoria na
conversão
• Gestão de fluxos de informações, materiais e mão de obra na delimitação das responsabilidades (MECCA, 1999; HIROTA e FORMOSO, 2000);
• Desenvolver as competências gerenciais dos profissionais para promoverem o processo de mudança (HIROTA e FORMOSO, 2000).
11 – Benchmarking • Análise de características internas e externas à empresa (NETO, 2002; KOSKELA, 1992 apud LOW E FANG, 2005).
Tabela 2 – Resumo das motivações relacionadas à implantação de práticas lean na construção civil
Motivações para a implantação das práticas
• Conjuntura do setor :
• questões financeiras (crises, financiamentos etc.) (LORENZON e MARTINS, 2006)
• maior grau de competitividade entre as empresas do setor (LORENZON e MARTINS, 2006)
• aumento das exigências do consumidor / demanda do mercado (LORENZON e MARTINS, 2006)
• Melhoria dos níveis de desempenho operacional e/ou organizacional:
• redução de custos (NORIE/UFRGS/SINDUSCON-SP, 1999; MASTROIANNI e ABDELHAMID, 2003; LORENZON e MARTINS, 2006);
• aumento das margens de lucro (NORIE/UFRGS/SINDUSCON-SP, 1999;
65
MASTROIANNI e ABDELHAMID, 2003; LORENZON e MARTINS, 2006);
• formas de eliminar desperdícios (de mão de obra, de matéria prima, de atividades que não agregam valor ao produto final) (MASTROIANNI e ABDELHAMID, 2003; SALEM ET AL., 2005; LORENZON e MARTINS, 2006) ;
• aumento da qualidade (SANCHEZ e PÉRES, 2001; NETO, 2002; ALARCON e SEGUEL, 2002; MULLENS e NAHMENS, 2004);
• redução dos prazos / tempos de ciclo � controle e redução de lead-times (SANCHEZ e PÉRES, 2001; ALARCON e SEGUEL, 2002; NETO, 2002; MULLENS e NAHMENS, 2004; SALEM et al., 2005; BALLÉ e BOUTHILLON, 2011);
• aumento da segurança e ordem no ambiente de trabalho (BALLÉ e BOUTHILLON, 2011);
• Nível estratégico:
• evidências de que práticas lean melhoram a competitividade da empresa (ou seja, adotar práticas por constatar o sucesso de quem implantou) (SANCHEZ e PÉRES, 2001; ALARCON e SEGUEL, 2002; NETO, 2002; MULLENS e NAHMENS, 2004; SALEM et al., 2005);
• atingir níveis de classe mundial em termos de competitividade (ALARCON e SEGUEL, 2002);
• alinhamento com a estratégia da empresa / posicionamento de mercado (NETO, 2002).
Tabela 3 – Resumo das dificuldades relacionadas à implantação de práticas lean na construção civil
Dificuldades para implantação das práticas
• Falta de um planejamento estratégico claro, formal e estruturado para guiar a implantação e evitar desperdício de tempo (NETO, 2002);
• Dispor de uma equipe de gestão adequada, devido a (BALLÉ e BOUTHILLON, 2011):
• rotatividade
• funcionários sobrecarregados
• funcionários envolvidos também em outras atividades
• Processo decisório baseado apenas na experiência do gestor, sem uma abordagem sistemática (NETO, 2002);
• Resistência cultural;
• resistência à mudança cultural radical (inclusive no relacionamento com fornecedores) (BALLÉ e BOUTHILLON, 2011)
• postura dos CEO’s � precisam permitir que os funcionários aprendam com seus erros e decisões fracas (BALLÉ e BOUTHILLON, 2011)
• gestor deve passar a atuar como educador e não como “condutor” (BALLÉ e BOUTHILLON, 2011)
66
• Trabalhadores desqualificados (DULAIME e TANAMAS, 2001 apud LORENZON e MARTINS, 2006);
• Falta de treinamento (devido ao aumento de encargos) (SALEM et al., 2005; DULAIME e TANAMAS, 2001 apud LORENZON e MARTINS, 2006);
• Baixa motivação e comprometimento das pessoas (por falta de familiaridade ou de entendimento dos conceitos, dos objetivos desejados com a implantação e de seu tempo de duração) (HIROTA e FORMOSO, 2000; NETO, 2002; SALEM et al., 2005);
• Atingir as metas agressivas traçadas, seja por situações imprevistas ou pela ousadia das metas (BALLÉ e BOUTHILLON, 2011);
• Dificuldade de trabalhar as práticas de forma integrada (ISATTO et al., 2000; NETO, 2002);
• Falta de investimento em P&D pelo setor � a construção enxuta encontra-se em estágio inicial de desenvolvimento em termos de práticas, padrões, modelos de medição etc. (BANIK, 1999; SALEM et al., 2005; LORENZON e MARTINS, 2006).
Tabela 4 – Resumo dos resultados relacionados à implantação de práticas lean na construção civil
Resultados esperados e resultados obtidos
• Tempo de ciclo reduzido/menores prazos (SANCHEZ e PÉRES, 2001; CHRISTOFFERSEN et al., 2001 apud BERTELSEN, 2002; MULLENS e NAHMENS, 2004; KARTAMET et al., 1995 apud AL-SUDAIRI, 2007; AL-SUDAIRI, 2007);
• Aumento da produtividade (MULLENS e NAHMENS, 2004; KARTAMET et al., 1995 apud AL-SUDAIRI, 2007);
• Eliminação ou minimização de desperdícios (NETO, 2002; MULLENS e NAHMENS, 2004);
• Intensificação ao longo do tempo dos resultados acima listados (MULLENS e NAHMENS, 2004);
• Melhora substancial na curva de aprendizado da força de trabalho e sua relação com a implantação das práticas (SALEM et al., 2005);
• Melhoria da produção / processos mais eficientes (CHRISTOFFERSEN ET AL., 2001 apud BERTELSEN, 2002; KARTAMET ET AL., 1995 apud AL-SUDAIRI, 2007);
• Redução de custos (SANCHEZ e PÉRES, 2001; CHRISTOFFERSEN et al., 2001 apud BERTELSEN, 2002);
• Aumento da segurança dos trabalhadores (CHRISTOFFERSEN et al., 2001; apud BERTELSEN, 2002);
• Aumento da qualidade (SANCHEZ e PÉRES, 2001);
• Maior satisfação do cliente (CHRISTOFFERSEN et al., 2001 apud BERTELSEN, 2002);
• Novas tecnologias e novos processos de gestão e treinamento subutilizados ou não usados quando a estratégia da empresa não é levada em consideração (NETO, 2002);
67
• A implementação de práticas lean pode não aumentar a competitividade das empresas imediatamente (LEWIS, 2000);
• Ocorrência de aprendizado por meio da ação (LORENZON e MARTINS, 2006);
• Práticas lean são eficazes não só em projetos complexos como nos projetos de menor porte e maior grau de simplicidade (AL-SUDAIRE, 2007);
• Necessidade de promover mudanças culturais e treinamento para o uso eficaz das ferramentas lean (SALEM et al., 2005).
68
3 METODOLOGIA DE PESQUISA
O objetivo desse capítulo é descrever aspectos metodológicos deste estudo.
Primeiramente serão apresentadas as cinco perguntas de pesquisa para que fique
explícito o que se pretende com o estudo. A segunda parte aponta a metodologia de
pesquisa que foi utilizada e o porquê de sua escolha. A terceira e quarta seções do
capítulo abordam, respectivamente, os critérios para a escolha dos casos e o
processo de seleção das empresas e dos entrevistados. A quinta seção descreve
como se deu a coleta de dados e sua posterior análise e, por fim, o capítulo se
encerra com a identificação das limitações do método de pesquisa.
3.1 PERGUNTAS DE PESQUISA
O propósito dessa pesquisa é responder como ocorre o processo de adoção
de práticas lean mais especificamente nas construtoras no estado do Rio de Janeiro.
Este propósito pretende ser alcançado através das respostas a cinco perguntas de
pesquisa:
• Por que as construtoras estão implementando práticas lean?
• Quais práticas lean vêm sendo adotadas pelas construtoras?
• Quais as dificuldades enfrentadas pelas construtoras brasileiras que decidem
adotar práticas lean em suas operações?
• Que resultados foram alcançados pelas construtoras que implantaram
práticas lean?
• Quais as perspectivas futuras desse tipo de prática no setor?
3.2 MÉTODO DA PESQUISA
A primeira etapa do processo metodológico deste estudo foi verificar junto à
Diretoria do Lean Institute Brasil (LIB) o número de construtoras que utilizam a
69
metodologia lean para que justificasse o desenvolvimento de uma pesquisa
quantitativa por meio da aplicação de questionário. Contudo, com base nas
informações disponibilizadas pelo LIB, o número de construtoras brasileiras que
implementam práticas lean é incipiente no país, se comparado o setor da construção
civil com outros setores.
De forma complementar, durante o processo de revisão da literatura sobre
construção lean, verificou-se que pouco se tem escrito sobre o tema no Brasil.
Dessa forma, feita a pesquisa com o LIB e constatada a escassez de estudos
empíricos sobre a utilização da metodologia lean por construtoras brasileiras, a
abordagem mais adequada para o presente estudo, segundo YIN (2005), seria a
pesquisa qualitativa, em função de seu caráter exploratório e da natureza de suas
perguntas. Portanto, a metodologia utilizada foi o estudo de casos múltiplos, para
guiar a investigação sobre o fenômeno.
Ainda de acordo com Yin (2005), uma das principais fontes de informação
para a elaboração de estudo de casos é a entrevista. Em virtude da escassez de
fontes secundárias de dados, esta pesquisa teve como método principal de coleta de
dados as entrevistas em profundidade. Contudo, sempre que disponibilizados,
relatórios internos das empresas também foram utilizados como fonte secundária de
dados.
Optou-se, neste estudo, por entrevistas orientadas por um roteiro semi
estruturado, apresentado no Apêndice A, com perguntas abertas baseadas na
revisão da literatura e abordando os aspectos relacionados às perguntas da
pesquisa. No decorrer das entrevistas, procurou-se estimular os entrevistados a
contribuírem livremente com o estudo, tirando partido da flexibilidade inerente ao
método.
3.3 A ESCOLHA DOS CASOS
Na ausência de um selo ou certificação relacionado especificamente à
utilização da metodologia lean na construção civil, foram analisadas outras
certificações concedidas a empresas do setor a fim de identificar uma cujos critérios
definidores se aproximassem mais da metodologia lean.
70
Analisadas as certificações comuns no setor (e.g. ISO 9000, OSHAS 18001,
LEED etc.) concluiu-se que nenhuma delas englobava critérios suficientemente
aderentes à metodologia lean. Contudo, o Programa Brasileiro de Qualidade e
Produtividade no Habitat (PBQP-H), do Ministério das Cidades, possui um Sistema
de Avaliação da Conformidade dos Serviços e Obras (SiAC), que avalia as
empresas aderentes ao Programa levando em consideração critérios que englobam
algumas das práticas lean apresentadas na revisão da literatura.
Segundo o Ministério das Cidades, o PBQP-H integra-se à Secretaria
Nacional de Habitação e é um instrumento do Governo Federal cuja meta é
organizar o setor da construção civil em torno de duas questões principais: a
melhoria da qualidade do habitat e a modernização produtiva. Para tanto, o PBQP-H
pretende criar e estruturar um novo ambiente tecnológico e de gestão (métodos e
ferramentas de gestão) para o setor (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2013).
Diversas entidades fazem parte do Programa, representando os segmentos
da cadeia produtiva: construtores, projetistas, fornecedores, fabricantes de materiais
e componentes, bem como a comunidade acadêmica e entidades de normalização,
além do Governo Federal.
O PBQP-H envolve um conjunto de ações que tem como objetivo: aumentar a
competitividade no setor, melhorar a qualidade de produtos e serviços, reduzir
custos etc. No longo prazo, espera-se criar um ambiente competitivo, que propicie
soluções mais baratas e de melhor qualidade para a redução do déficit habitacional
no país.
Dessa forma, as construtoras avaliadas e aprovadas pelo SiAC do PBQP-H
adotam práticas que envolvem, por exemplo:
(1) Redução do custo através da redução de desperdícios e melhoria da
qualidade;
(2) Aumento da produtividade;
(3) Qualificação de recursos humanos;
(4) Modernização tecnológica e gerencial;
(5) Políticas sistêmicas de qualidade para a cadeia produtiva visando a
satisfação do consumidor.
71
De acordo com o Ministério das Cidades, o SiAC avalia a conformidade do
sistema de gestão da qualidade das empresas, considerando as características
específicas do setor da construção civil e baseando-se na série de normas ISO 9000
(MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2013).
Além disso, o SiAC propõe a evolução dos patamares de qualidade da
construção civil em quatro níveis (conforme a figura a seguir). O intuito do Programa
é fazer com que, através de um sistema de qualidade evolutivo (indo do nível D até
o nível A), as construtoras brasileiras consigam atingir um nível de qualidade
equivalente a ISO 9001. Além disso, o Governo criou o PBQP-H, pois vários órgãos
já estavam exigindo ISO 9001 como critério para as construtoras estarem aptas a
participar de licitações e terem acesso a financiamentos públicos, e muitas delas não
conseguiam se certificar por este sistema.
Figura 2 – Gráfico dos níveis de avaliação do SiAC. Fonte: SINDUSCON-JP. <http:// http://www.sindusconjp.com.br/pbqp/pbqpsiac.jsp>. Acesso em: 08 de fevereiro de 2013.
Para obter a declaração de adesão, a empresa deve, primeiramente,
implantar os requisitos referentes ao nível “D”. O próximo passo é documentar esses
procedimentos em um manual de qualidade e enviá-lo junto com outros documentos
para a Secretaria Executiva. As empresas aprovadas passam a constar na lista de
empresas qualificadas no site do PBQP-H. No nível “D” do SiAC, a empresa de
serviços e obras é responsável legalmente pela veracidade do conteúdo das
72
informações prestadas, não sendo necessário realizar a auditoria na empresa para
emissão do certificado.
A certificação PBQP-H / SiAC nível “A” é equivalente à implantação completa
da norma NBR ISO 9001. Por se tratar do nível mais completo de certificação do
SiAC, neste estudo foram selecionadas apenas construtoras que possuem a
certificação nível “A” do Programa.
3.4 SELEÇÃO DAS EMPRESAS E DOS ENTREVISTADOS
Algumas empresas foram contatadas durante o desenvolvimento do estudo e
a seleção das construtoras estudadas foi realizada, primeiramente, levando em
consideração aquelas que atendiam ao perfil apresentado no item anterior e, em
seguida, a disponibilidade em receber a pesquisadora.
Cabe destacar que não era mandatório que as empresas utilizassem
oficialmente a nomenclatura “práticas lean”, “construção lean” etc. Considerou-se
como empresa com potencial para ser estudada todas aquelas aprovadas no
Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H), dado que
os critérios avaliados pelo Programa englobam diversas práticas lean. Portanto, a
seleção ocorreu independentemente do termo “lean” ser utilizado para designar as
práticas adotadas. Tal medida deve-se ao número reduzido de construtoras
brasileiras que têm conhecimento e/ou aplicam a filosofia lean em seu cotidiano.
Por uma questão de praticidade, foi delimitado que as construtoras
selecionadas deveriam atuar no Estado do Rio de Janeiro. Também levou-se em
consideração a facilidade de acesso e obtenção de informações. Além disso, foi
definido que seriam elaborados quatro estudos de caso, uma vez que foram
observadas, após a realização da quarta entrevista, repetições nas informações
coletadas.
A identificação das construtoras avaliadas e aprovadas PBQP-H foi feita
através da ferramenta de busca disponibilizada no site do Ministério das Cidades
(http://www.cidades.gov.br/pbqp-h/projetos_siac_empresas.php), que permite, por
exemplo, encontrar construtoras participantes do Programa por estado e situação
73
(vigente ou prazo vencido), o que foi bastante adequado para a pesquisa. A busca
resultou em 48 empresas ligadas à construção (e.g. construtoras, incorporadoras,
concreteiras, empresas de construção pesada etc.) no Estado do Rio de Janeiro. A
partir deste resultado, foram selecionadas apenas construtoras (com ou sem
atividade de incorporação atrelada) e com atuação na região metropolitana do Rio
de Janeiro, por uma questão de praticidade. Ademais, o porte das empresas
também foi analisado de modo que fossem selecionadas aquelas com perfil
semelhante. Utilizando estes filtros, nove construtoras foram identificadas e contatas
com intuito de verificar a possibilidade de realização das entrevistas.
Os sujeitos identificados como respondentes qualificados foram,
preferencialmente, profissionais do quadro executivo das construtoras selecionadas
e que trabalhem na área de planejamento, por se tratarem de profissionais
responsáveis por introduzir e fiscalizar todos os aspectos relacionados à obra (e.g.
elaboração e andamento do cronograma, contratações, melhoria dos processos
etc.). Contudo, quando cabível, também foram entrevistados profissionais de outras
áreas, inclusive aqueles responsáveis pela execução das obras, com intuito de
complementar determinadas informações. Na construtora Alfa foram entrevistadas a
diretora de planejamento e a engenheira de planejamento, na construtora Beta
foram ouvidos o engenheiro de planejamento, o engenheiro de sustentabilidade e
segurança e o supervisor de segurança, na construtora Gama o diretor técnico e um
engenheiro de obras contribuíram para a pesquisa, ao passo que na construtora
Ômega foram entrevistados o diretor de planejamento e um dos engenheiros de
planejamento.
3.5 COLETA E ANÁLISE DOS DADOS
Considerou-se como fonte primária de dados as entrevistas conduzidas em
profundidade com os profissionais acima citados. Elas foram guiadas por um roteiro
de entrevista semiestruturado, de modo a permitir que os entrevistados pudessem
relatar suas experiências livremente, sem que os pontos críticos para o estudo
fossem deixados de fora. Para registrar as informações obtidas, utilizou-se um
gravador portátil mediante a autorização dos entrevistados. As entrevistas,
74
realizadas entre junho de 2012 e abril de 2013, tiveram, em média, uma hora e meia
de duração, de acordo com a disponibilidade de cada entrevistado e foram
transcritas para facilitar a redação dos quatro estudos de caso e possibilitar sua
posterior análise.
Como fontes secundárias, embora escassas, foram utilizados revistas e
jornais eletrônicos da área, materiais de divulgação e websites das próprias
construtoras.
O agendamento das entrevistas foi feito majoritariamente por e-mail, para que
informações essenciais sobre o conteúdo e o intuito da pesquisa fossem claramente
explanadas aos possíveis entrevistados. Tal medida teve como objetivo identificar os
entrevistados adequados ao estudo e sua disponibilidade para conceder as
entrevistas, bem como garantir o sigilo das informações coletadas. Em apenas um
caso o contato foi feito por telefone, posto que essa foi a única forma de acesso à
empresa disponibilizada à pesquisadora.
Durante a análise das entrevistas, procurou-se identificar os elementos que
satisfaziam as perguntas da pesquisa. Além disso, verificaram-se as semelhanças e
diferenças entre as construtoras em relação à adoção de práticas lean em seu
cotidiano.
3.6 LIMITAÇÕES DO MÉTODO
De acordo com Yin (2005), o método de estudo de caso apresenta
essencialmente três limitações. Para o autor, independentemente do número de
empresas estudadas, não é possível fazer generalizações para toda a população.
Dessa forma, não se deve assumir que as constatações feitas neste estudo possam
ser aplicadas para o universo das construtoras brasileiras que estejam adotando
práticas lean em suas operações.
Yin (2005) também aponta como limitação da pesquisa a subjetividade
decorrente da coleta de dados, do registro das informações concedidas pelos
entrevistados, bem como de sua análise. Para minimizar esses efeitos, sempre que
possível, eram realizadas entrevistas com o máximo de envolvidos na implantação
75
das práticas lean em cada construtora, buscando captar informações
complementares e/ou divergências nas respostas apresentadas. Contudo, nem
sempre esta ação era viável, uma vez que as equipes responsáveis pela
implantação das práticas nas construtoras eram bastante reduzidas.
Por fim, a terceira limitação identificada por Yin (2005) consiste no viés dos
entrevistados. Dado que as entrevistas são pessoais, não se pode excluir a
possibilidade de que haja viés na fonte de informações, seja por esquecimento,
omissão, distorção ou pelo entrevistado julgar que certas informações sejam
irrelevantes para a pesquisa. Para minimizar estes efeitos, procurou-se conduzir a
entrevista de maneira informal, deixando que o entrevistado respondesse as
questões livremente, sem que o roteiro fosse seguido de forma rígida. Além disso,
buscou-se obter respostas para algumas perguntas dentro de questões que não
estavam diretamente relacionadas com o assunto.
Além das três limitações do método apontadas por Yin (2005), verificou-se
que outra limitação desse estudo reside no fato da maior parte da literatura sobre o
tema abordar a teoria e estudos de caso sobre a adoção das práticas lean em
projetos de construção no ambiente norte-americano, em Cingapura e em países da
Escandinávia. Constatou-se que pouco se tem escrito sobre o tema no mercado
brasileiro, apesar de sua crescente importância para o setor da construção civil.
Por fim, cabe mencionar outras três limitações que também se fizeram
presentes ao longo da pesquisa. A primeira deve-se à falta de uma certificação
específica para a metodologia lean na construção civil, englobando um conjunto de
práticas lean a serem adotadas pelas empresas. A segunda limitação refere-se ao
número de entrevistados, bem como as funções que eles exercem nas empresas
estudadas e o tempo de duração das entrevistas ter sido, de certa forma, resultado
da disposição desses profissionais em contribuir com a pesquisa. Além de um
possível viés tanto por parte da pesquisadora quanto dos entrevistados, mencionado
anteriormente, a terceira limitação observada encontra-se na objetividade
característica dos profissionais da área de exatas, que geralmente apresentam um
raciocínio mais direto, sem o aprofundamento de determinadas questões.
76
4 DESCRIÇÃO DOS CASOS
A seguir serão apresentados quatro estudos de caso de construtoras cujo
perfil foi descrito no capítulo de metodologia. Sendo assim, todas as construtoras,
que neste estudo receberam nomes fictícios baseados no alfabeto grego, atuam no
Estado do Rio de Janeiro e são aprovadas pelo Programa Brasileiro de Qualidade e
Produtividade no Habitat (PBQB-H) do Ministério das Cidades.
Em conformidade com a revisão da literatura, cada um dos casos está
estruturado de forma a apresentar, além de um breve histórico da construtora, as
motivações que as conduziram à implantação de práticas lean em suas operações,
uma descrição das práticas atualmente implementadas (ou em fase de
implementação), as dificuldades enfrentadas, os resultados obtidos e as práticas que
cada empresa pretende implementar no futuro. Em suma, aspectos que visam
auxiliar o entendimento de como as práticas lean estão sendo implementadas na
construção civil.
4.1 CONSTRUTORA ALFA
A construtora Alfa atua no segmento imobiliário há mais de cinquenta anos,
em duas frentes: construção de edificações e incorporação imobiliária. Ao longo de
sua existência, a empresa construiu mais de 1 milhão de metros quadrados em
edificações residenciais e comerciais. Inicialmente, a empresa focava
essencialmente o segmento residencial; entretanto, devido às tendências de
mercado e à vinda de muitas construtoras para a Barra da Tijuca, a Alfa passou a
atuar também no segmento comercial. Apesar disso, o foco da empresa continua
sendo os empreendimentos residenciais multifamiliares, porém com previsão de
expansão para os empreendimentos mistos, que mesclam casas e blocos de
apartamentos.
A Alfa é sócia de algumas construtoras cariocas. Dessa forma, existem obras
que a empresa associada constrói e a Alfa realiza apenas a incorporação, obras que
a empresa constrói e o sócio é quem incorpora e empreendimentos nos quais a Alfa
77
fica responsável tanto pela construção quanto pela incorporação. A equipe de
planejamento da empresa só atua nos projetos em que a Alfa executa a construção.
Apesar de já ter realizado obras em bairros do Rio de Janeiro como Méier e
Tijuca, atualmente, a área geográfica de atuação da Alfa engloba, sobretudo, os
bairros da Barra da Tijuca, Recreio e Jacarepaguá. Embora ainda não “estartados”,
a empresa possui terrenos com previsão de lançamento em outras áreas da cidade
e até mesmo fora do Rio.
Em seus empreendimentos a empresa busca entregar ao cliente qualidade,
rigoroso cumprimento de prazos de entrega do imóvel e adequação do projeto ao
estilo de vida local. Sua preocupação com a qualidade dos empreendimentos e com
a pontualidade da execução e entrega de produtos e serviços é decorrente da
mentalidade adquirida com a certificação ISO 9001:2000.
Além da preocupação com seus clientes, a empresa investe e participa de
projetos de responsabilidade social e ecológica. Consciente de seu papel para o
desenvolvimento do país, a Alfa busca aliar a qualidade de seus produtos ao
desenvolvimento de projetos sociais. Entre os projetos que desenvolve, é possível
destacar:
• Projeto de alfabetização: Iniciado há cerca de dez anos, com o objetivo de
permitir que seus colaboradores estudem após o horário de trabalho em escolas
dentro do canteiro de obras.
• Projeto “Construir”: Comitê formado por colaboradores eleitos nas obras, que
têm como tarefa propor ideias para a melhoria da qualidade de vida dos
funcionários. Segundo a empresa, “o resultado alcançado com este projeto foi maior
interação e uma troca produtiva, com soluções implementadas no dia a dia dos
trabalhadores”.
• Projeto de reciclagem: Tem como meta conscientizar os colaboradores sobre
a importância da reciclagem. Sobras de materiais, como papelão, ferro, plástico etc.,
são separadas e vendidas. Durante a execução de uma obra, são reciclados, em
média, 1.200 quilos de material por mês. O valor arrecadado com a venda é
revertido em cestas básicas, distribuídas entre os próprios colaboradores.
78
A Alfa já recebeu diversos prêmios do setor da construção civil, entre eles
prêmios da Ademi2 e do Seconci-RJ3. Além das premiações, a empresa possui as
certificações ISO 90014, conforme mencionado anteriormente, e a ISO 140015. No
final de julho de 2012 terá nova auditoria visando receber a certificação OHSAS
180016. No que diz respeito à certificação LEED7, os responsáveis pelos assuntos
relacionados à sustentabilidade informam que a empresa está começando a produzir
um relatório de sustentabilidade de modo que, no futuro, essa certificação também
faça parte do histórico da Alfa.
4.1.1 Motivações para a implantação de práticas lean
A introdução de práticas lean pela construtora Alfa foi impulsionada por
questões de nível estratégico, como: evidências de que as práticas lean melhoram a
competitividade e alinhamento com a estratégia da empresa; por questões
relacionadas à melhoria dos níveis de desempenho operacional, entre elas: redução
de custos, eliminação de desperdícios, aumento da qualidade e redução e controle
dos tempos de ciclo; e por questões relativas ao contexto do setor, tais como o
2 Prêmio Ademi - Prêmio criado para valorizar empresas e profissionais do segmento da construção civil. A premiação é um referencial para o setor e, além de servir como incentivo, busca reconhecimento social para a atividade dos empreendedores.
3 Prêmio Seconci - Prêmio de Saúde e Segurança do Trabalho, foi criado para dar mais visibilidade aos padrões de excelência em saúde e segurança das empresas de construção (construção segura).
4 A ISO 9001 é uma dentre as normas da série de sistemas de gestão da qualidade. Ela permite à empresa entender seus processos de entrega de seus produtos/serviços a seus clientes. Fonte: http://www.bsibrasil.com.br/certificacao/sistemas_gestao/normas/iso9001/
5 A ISO 14001 é uma norma internacionalmente reconhecida que define o que deve ser feito para estabelecer um Sistema de Gestão Ambiental efetivo. A norma é desenvolvida com objetivo de criar o equilíbrio entre a manutenção da rentabilidade e a redução do impacto ambiental. Fonte: http://www.bsibrasil.com.br/certificacao/sistemas_gestao/normas/iso9001/
6 A OHSAS 18001 é reconhecida para sistemas de gestão de saúde ocupacional e segurança. Certifica as empresas que proporcionam um ambiente de trabalho seguro e saudável através de uma estrutura que lhes permite identificar e controlar os riscos à saúde e segurança, reduzir o potencial de acidentes, auxiliar na conformidade legislativa e melhorar o desempenho geral. Fonte: http://www.bsibrasil.com.br/certificacao/sistemas_gestao/normas/iso9001/
7 O LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) é um sistema de certificação e orientação ambiental de edificações. Criado pelo U.S. Green Building Council, é o selo de maior reconhecimento internacional. Fonte: http://www.gbcbrasil.org.br/?p=certificacao
79
maior grau de competitividade entre as empresas concorrentes e as demandas do
mercado. Tais motivações serão descritas a seguir:
Diante do aquecimento do mercado de construção, a competitividade entre as
empresas do setor aumentou, tanto por preço quanto por produto. Para garantir uma
fatia desse mercado, a diretora de planejamento da empresa relata que os gestores
da Alfa constataram a necessidade de racionalizar os recursos (eliminando ou
minimizando desperdícios) de forma a melhorar seu desempenho técnico
construtivo, sem perder qualidade e prazo, aspectos que já eram prioridade na
empresa.
Além disso, a empresa também sentiu-se motivada a implantar práticas lean,
uma vez que emergiam novas demandas no mercado. A diretora de planejamento
afirma que:
“Uma das formas de aumentar o valor para o cliente é tentar atingir o maior valor agregado no empreendimento. O estudo do projeto, com opções de plantas diferenciadas, o respeito ao meio ambiente e a sustentabilidade são também itens que fazem parte do escopo e que passaram a agregam valor para o cliente.”
Visando melhorar seus processos, a Alfa contratou a Practical, uma empresa
de consultoria de São de Paulo que trabalha fazendo planejamento com base na
metodologia lean. De 2008 até março de 2011, a Practical assessorou a Alfa na
implementação de práticas lean.
Antes de 2008, a Alfa terceirizava toda a parte de planejamento físico das
obras. Consciente da importância dessa atividade e de seu potencial em gerar
melhorias para a empresa decidiu-se que era hora de trazer essa função para dentro
da empresa. Uma equipe exclusivamente dedicada ao planejamento das obras foi
escalada pela diretoria da Alfa e a Practical foi então contratada para orientar o
processo de implantação da metodologia. Segundo a engenheira de planejamento
da Alfa, a implantação de práticas lean se deu não só com base nas orientações da
Practical como também nas experiências profissionais de cada integrante da equipe,
visando adequar a metodologia à realidade da empresa.
Ainda no período em que a Practical assessorava a empresa, os novos
empreendimentos que iam sendo lançados passaram a ser planejados pela própria
equipe que, sozinha, aplicava a metodologia aprendida.
80
Apesar de a função de planejamento ser considerada como “os bastidores da
construção”, a Alfa tem consciência de sua importância para o dia a dia da obra.
Embora a obra aconteça mesmo sem planejamento, ele é essencial para agregar
valor em termos de troca de informações entre as partes envolvidas. Antes da
adoção dessa prática, as reuniões da Alfa com a empresa terceirizada responsável
pelo planejamento ocorriam apenas uma vez por mês e eram bastante rápidas, não
eram feitas reuniões com a equipe de obra e o consultor, apenas com base em sua
experiência e em seu cronograma, apontava qual era o serviço que estava
impactando negativamente na obra. Então, a Alfa era quem chamava, com
dificuldade, o responsável pelo serviço atrasado, que, no momento da conversa,
fazia promessas que mais tarde não cumpriria e a Alfa somente tomaria
conhecimento disso no mês seguinte.
Esse problema fazia com que fosse atribuída uma responsabilidade muito
grande ao engenheiro da obra, pois este precisava acompanhar se os demais
prestadores de serviço estavam realmente cumprindo com o combinado. Por essa
razão, a Alfa motivou-se a executar a atividade de planejamento global da obra
internamente. Tendo o controle dentro de casa, o retorno passaria a ser mais rápido
e as medidas corretivas seriam tomadas de forma conjunta com a equipe de obra.
Ao adotar essa prática, não era intenção da Alfa enviar ordens para que o mestre de
obras executasse as atividades, estava apenas motivada a fornecer as informações
necessárias para que o engenheiro da obra fizesse isso no momento certo, dispondo
de informações precisas para cobrar prazos de seus fornecedores e funcionários.
Além disso, ao executar o planejamento físico de suas obras, a Alfa também
pretendia ter mais controle do momento em que cada contratação deve ser
realizada. Isso é importante, pois, muitas vezes, as equipes de obra estão
sobrecarregadas e não fazem o pedido quando deveriam, impactando, portanto, no
início de determinados serviços. Para evitar que tais eventos ocorram, a engenheira
de planejamento passaria a fornecer as informações no momento adequado,
apresentando aos engenheiros de obra os impactos de se postergar um dia ou mais
uma contratação ou serviço.
Entretanto, o objetivo da equipe de planejamento não é apontar erros na obra.
Seu intuito é auxiliar, com ferramentas como o MS Project, o andamento da
execução do projeto. A Alfa estava motivada a alimentar as equipes de obra com
81
informações que a maioria delas não possui, sobretudo porque os responsáveis
pelas obras não dispõem de tempo disponível para ficar no computador, planejando,
mexendo continuamente no cronograma e tentando acompanhar a dinâmica da
obra.
Outra motivação para adoção de práticas lean pela empresa foi a
possibilidade de o planejamento das tarefas “andar” junto com a obra, permitindo
rápida resolução de problemas e, dessa forma, conseguir rapidez de entrega
(redução dos tempos de ciclo), controlando custos e mantendo a qualidade.
Em suma, a adoção de práticas lean pela Alfa está alinhada com o seu
planejamento estratégico. A empresa está consciente da economia e dos ganhos de
produtividade e qualidade que essas práticas podem gerar.
4.1.2 Práticas adotadas
Com base nas entrevistas realizadas na Alfa, é possível identificar uma série
de práticas lean que vêm sendo implementadas pela construtora. As práticas, que
contemplam quase todos os onze princípios lean e que serão descritas nos próximos
parágrafos, podem aqui ser resumidas: incentivos para a redução de desperdícios
dentro e fora da organização, encorajar os trabalhadores a manterem o local de
trabalho limpo e organizado, adoção de ferramentas de TI para detectar e corrigir
erros antes da produção, execução do projeto mantendo os prazos planejados,
padronização, identificação e eliminação de problemas no processo, gerenciamento
da interação entre atividades, isolar atividades que agregam valor das atividades de
suporte, sincronização dos fluxos, fiscalização diária, cumprimento e melhoramento
da programação de tarefas, planejamento do layout do canteiro para otimização dos
espaços, fluxo de trabalho confiável, planos de trabalho semanais para controle do
fluxo de trabalho e desenvolvimento de planos de ação para as readequações
necessárias, tornar explícito a todos os marcos estabelecidos do cronograma,
Técnica Last Planner, acompanhamento percentual de tarefas concluídas, identificar
a causa de falhas e tomar medidas para prevenir reincidências, controlar os custos e
o consumo de material e mão de obra em cada tarefa, usar erros de planejamento
como fonte de aprendizado, contratos de relacionamento de longo prazo, relações
82
de cooperação com os fornecedores para a solução conjunta de problemas,
comunicação com os parceiros, encorajar funcionários a proporem melhorias,
reuniões periódicas da equipe, treinamento, gestão dos fluxos de informação,
materiais e mão de obra e análise de características da concorrência.
Como principal prática lean adotada pela empresa após a formação de uma
equipe destinada ao planejamento das obras, a engenheira de planejamento da Alfa
destaca a introdução de uma ferramenta de TI para elaboração dos cronogramas.
De posse dessa ferramenta, o setor de planejamento recebe informações da
diretoria da empresa, que é responsável pelo estudo de viabilidade de novos
projetos. A diretoria determina o período de duração da obra de acordo com o tipo
de empreendimento que será lançado e a equipe de planejamento, ciente do prazo
da obra, coleta todos os dados necessários para a elaboração do cronograma (por
exemplo, tipo de função, estrutura etc.). Este cronograma é montado seguindo o
ciclo normal de tarefas de uma obra.
Feito o cronograma, a equipe compara se o planejamento está de acordo com
o prazo que a diretoria estipulou. Quando o tempo da obra estimado pelo
planejamento é maior do que a diretoria deseja, a equipe de planejamento inicia
outra tarefa, que consiste em tentar diminuir o prazo até atingir o objetivo do estudo
de viabilidade. Para tanto, a equipe implantou as práticas lean relacionadas ao
desenvolvimento de relacionamentos com seus fornecedores. Sendo assim, equipe
se reúne com seus empreiteiros (considerados como verdadeiros parceiros), com a
empresa de fundação e demais empresas que prestam serviços que impactam
consideravelmente na duração da obra, para discutir possíveis soluções para
enxugar o cronograma.
As soluções propostas são estudadas com intuito de saber que impactos elas
terão no custo da obra e se proporcionarão ganhos efetivos. Dentre as soluções
apresentadas estão, por exemplo, a possibilidade de dobrar o número de homens
envolvidos em determinada tarefa. Esse tipo de solução não costuma ter grandes
impactos, posto que, ao invés de pagar cinco funcionários em dez meses, paga-se
dez em cinco meses. Contudo, outras atividades não conferem esta flexibilidade,
dado que para acelerá-las pode ser necessário trazer maquinário de fora ou
contratar um serviço que a priori não seria preciso, impactando consequentemente
nos custos da obra.
83
Cabe mencionar que, para conseguir desenvolver essas soluções com seus
parceiros, a Alfa adotou a prática lean de desenvolvimento de um relacionamento de
cooperação com os mesmos. A engenheira de planejamento relata que há empresas
que trabalham com a Alfa há bastante tempo (prática lean de contratos e
relacionamento de longo prazo) e que ela conseguiu formar uma cadeia de parceiros
que trabalham efetivamente juntos com a empresa, transferindo conhecimentos.
Segundo a engenheira, a prática lean de comunicação, integração e coordenação
entre as partes envolvidas (asseguradas pelos gestores do projeto) fazem com que
todos “joguem aberto” e estejam conscientes de que não adianta prometer entregar
um produto ou serviço no dia seguinte, se sabem que não poderão cumprir com o
prometido.
Há uma pressão para que seja encontrada uma forma de tentar fechar o
cronograma na data pré determinada pela viabilidade. Contudo, caso a equipe de
planejamento consiga provar que não é possível executar a obra dentro do tempo
pré determinado pela viabilidade, essa informação é passada para diretoria que
entende que o planejamento fez o possível para ajustar o cronograma, e então
assume a nova data de entrega do projeto. A informação que é passada para o
cliente já considera a nova data, acertada previamente com todas as partes
envolvidas. Cientes do que foi acordado, todos trabalham para que as coisas corram
conforme o combinado.
Depois que o cronograma para atender o estudo de viabilidade é aprovado,
outro cronograma é feito junto à obra, chamado de “meta”. Através dessa prática
lean de cumprimento e melhoramento da programação de tarefas, a equipe tem
como intuito diminuir ainda mais o ciclo de alguns serviços, pra que haja uma folga.
Essa medida permite que, em alguns casos, a conclusão da obra seja antecipada.
Isso só acontece, pois constatou-se que o estudo feito para a elaboração do
cronograma da obra funciona muito bem na prática. Os serviços são organizados de
modo que, ao concluir uma atividade, os funcionários envolvidos nela sejam
imediatamente encaminhados para outra tarefa, evitando que homens fiquem
ociosos. Para facilitar essa atividade, foi implantada a prática lean de
estabelecimento de um responsável por realizar estudos de alocação de
funcionários e seu impacto econômico na obra (prática lean de controle de custos
em cada tarefa), levando-se em consideração as funções, quantidade e capacidade
84
da mão de obra, a sequência das tarefas e a relação entre elas (prática lean de
gerenciamento da interação entre as atividades).
Conforme mencionado, o cronograma da obra é guiado pela prática lean de
eficiência global, ou seja, é pensado levando-se em consideração a equipe de
trabalho e a sequência de tarefas, enfatizando a interrelação de tarefas ao invés do
bom desempenho apenas em tarefas específicas. Para esclarecer melhor como isso
funciona, toma-se, por exemplo, dados da obra referentes à área de alvenaria a ser
executada em determinado pavimento. Sabendo-se que esta atividade deverá ser
executada em cinco dias e que a produtividade média do trabalhador é 10m² por dia,
é possível determinar a quantidade de homens necessários para realizar o serviço
no tempo esperado. Apesar de dispor de dados sobre a produtividade do
trabalhador, essa informação não é medida e atualizada com frequência, por falta de
tempo e pessoal. A produtividade é informada apenas uma vez e, no máximo, a Alfa
compartilha informações de produtividade de serviços básicos com as empresas nas
quais é sócia, considerada pela empresa como prática lean de análise de
características internas e externas à empresa. Caso a Alfa constate que suas sócias
estão produtividade superior (em termos de número de metros quadrados por dia)
irá verificar as causas da baixa produtividade em seus canteiros (e.g. falta de
treinamento, baixa motivação, menos gente envolvida etc.).
Todo início de mês é gerado um relatório com todos os serviços distribuídos
semanalmente e o percentual que deve ser executado de cada deles (prática lean
de controle do fluxo de trabalho através de planos semanais). Dessa forma,
determina-se, por exemplo, que na primeira semana do mês de julho, o serviço de
instalação elétrica deverá estar 20% concluído. Em visitas semanais à obra, um
estagiário e a engenheira de planejamento se revezam para passar o dia verificando
o percentual de cada serviço que foi de fato realizado, evidenciando-se a prática
lean de acompanhamento do percentual de tarefas concluídas em relação ao
cronograma. Com base nas informações coletadas, a equipe de planejamento
investiga com o engenheiro da obra o motivo pelo qual a tarefa que deveria estar
20% concluída ainda não foi iniciada ou está apenas 10% concluída, prática lean de
identificação de falhas para tomada de medidas que previnam reincidências.
O planejamento e os relatórios enviados à diretoria são mensais, para que
não seja gerada muita papelada, porém o controle da obra é feito semanalmente,
85
para que os problemas sejam identificados rapidamente e medidas corretivas sejam
tomadas sem que o prazo de entrega seja prejudicado.
Conforme os problemas surjam, os cronogramas são atualizados - em uma
semana. Entretanto, as alterações não são semanalmente divulgadas a todos,
havendo comunicação apenas entre a equipe de planejamento e a equipe de obra.
Todavia, caso ocorra um problema grave, ou seja, um evento que já se sabe que irá
impactar futuramente, este será comunicado de forma mais abrangente. Caso
contrário, os problemas internos vão sendo administrados pelo planejamento e
justificados no relatório de acompanhamento no final do mês – tanto em termos de
percentual concluído de cada atividade quanto em termos de orçamento.
Além das reuniões semanais que a engenheira de planejamento faz com a
equipe de obras, uma vez por mês há uma reunião em cada obra, que conta,
inclusive, com o envolvimento da alta gerência da Alfa. Na reunião estão presentes a
equipe de obras, o gerente de engenharia, a gerente de suprimentos, toda a equipe
de planejamento (inclusive a diretora), diretores de outros departamentos e até
mesmo o dono da empresa. Nesses encontros mensais todos os assuntos
relacionados à obra são discutidos, porém a reunião é sempre iniciada com o
assunto “cronograma”, para que o as metas estabelecidas e o andamento da obra
sejas expostos a todos os presentes.
Ademais, ao final de cada mês é gerado um grande caderno englobando
todas as informações da obra. Esse caderno é encaminhado à diretoria para reforçar
seu entendimento quanto ao andamento do projeto. São apresentados os
percentuais previstos para a conclusão de cada tarefa, quanto foi realizado de fato e
a meta para o mês seguinte. Cabe lembrar que a parte financeira está sempre muito
atrelada à parte física (relatórios e planilhas). Nessas planilhas são considerados
apenas os serviços de peso. Os serviços menores não são incluídos no cronograma,
posto que são atividades que não impactam no andamento e podem ser
rapidamente contratadas. Essas contratações pequenas são controladas apenas
pela equipe de obra e pelo setor de Suprimentos.
A Alfa praticamente não trabalha com mão de obra própria nas obras. Todos
os serviços essenciais são feitos por empreiteiras. Dos 500 ou 600 funcionários
envolvidos na obra, a Alfa tem cerca de 80 funcionários seus para executar
atividades de suporte, como: execução de barracos de obra, ligações, limpeza,
86
descarga de material etc. Esses funcionários são fixos da obra, mas não executam
os serviços principais, ou seja, aqueles que agregam valor.
No escritório, a Alfa dispõe de uma equipe dedicada exclusivamente ao
planejamento das obras. Esta equipe é composta pela Diretora de planejamento; um
gerente que fica mais focado no orçamento dos empreendimentos; a engenheira de
planejamento mencionada anteriormente, que fica tanto no escritório quanto em
campo; um estagiário que realiza, sobretudo, as visitas às obras e uma técnica em
edificações. Segundo a diretora de planejamento, a equipe seria reforçada por uma
analista de planejamento e outra técnica em edificações. Dessa forma, a engenheira
de planejamento contará com o auxilio do estagiário e da analista de planejamento
apenas para fazer o acompanhamento das obras. As técnicas em edificações
ficarão com o gerente no escritório apenas para a elaboração dos orçamentos. O
aumento da equipe foi planejado de modo que os integrantes que ficam no escritório
absorvam a parte financeira, enquanto que os integrantes que controlam o
andamento da obra cuidem apenas da parte física.
A engenheira de planejamento relata que o planejamento feito por sua equipe
é exatamente o que se executa na obra, salvo algum eventual problema – prática
lean de dispor de fluxos de trabalho confiáveis. Melhorias na programação como a
antecipação de certos serviços (em conformidade com a prática lean de
cumprimento e melhoramento da programação de tarefas já mencionada neste
tópico), por exemplo, são sempre sugeridas, tanto pela equipe de obra quanto pela
equipe de planejamento. Contudo, essas ideias de melhoria nem sempre são
executadas, pois podem não ser viáveis. A engenheira lembra que todas essas
ideias são discutidas com as partes envolvidas e sua presença em cada obra, uma
vez por semana, permite que ela troque informações o tempo todo com os
engenheiros, ao mesmo tempo em que aprende sobre a obra e começa a entender o
planejamento também sob a ótica de quem está em campo.
Em termos de aprendizado, a empresa implantou a prática lean de aprender
com os erros e disseminar o aprendizado em todas as suas obras. As sugestões de
melhoria também são difundidas entre os empreiteiros. Cada obra tem seus
engenheiros e cada engenheiro tem uma experiência diferente e atua de uma
determinada maneira. Transitar pelas obras permite que a engenheira de
planejamento possa levar o conhecimento adquirido e as sugestões de melhoria de
87
um engenheiro para os demais canteiros da Alfa (prática lean de encorajamento dos
funcionários para o desenvolvimento de soluções de melhoria para os problemas de
campo). Sabe-se que, em grandes obras, qualquer dia ganho na execução de um
pavimento é multiplicado pelo número de pavimentos existentes no projeto. Dessa
forma, se um engenheiro adota medidas que o fazem “ganhar prazo”, a engenheira
de planejamento comunica esse ganho aos demais engenheiros. Essa troca de
informações faz com que todos saiam ganhando.
A engenheira também destaca que, no momento em que o planejamento
físico das obras passou a ser feito internamente, eram feitas reuniões semanais com
todos os engenheiros das empreiteiras contratadas para a discussão de
determinados temas. O intuito era que cada um trouxesse suas experiências e em
conjunto desenvolvessem a melhor forma de desempenhar certas atividades (por
exemplo, aplicação de pastilhas nas fachadas, tempo de “apertar a parede”) para
que os tempos de ciclo pudessem ser reduzidos. Essa prática da Alfa, além de
proporcionar a melhoria de seus processos, interfere na motivação dos funcionários.
A empresa tem interesse em ouvir o que os colaboradores têm a dizer e isso faz
com que os funcionários sintam-se a vontade para exporem suas ideias.
A prática lean de organização do layout do canteiro é feita pelo gerente de
planejamento, que determina a localização do maquinário (para que ele possa
atender melhor o espaço da obra), do almoxarifado, das baias aonde o material será
descarregado. Já a organização e separação de todos os materiais, bem como a
prática lean de estímulo à manutenção da limpeza do ambiente de trabalho é um
trabalho da equipe de qualidade que, junto com a obra, faz todas as delimitações de
onde ficará cada material no local. O estudo de canteiro não é tão detalhado, mas
auxilia na organização do espaço. Além disso, os marcos visuais e formas de
organizar o material variam de acordo com o perfil de cada engenheiro, porém
seguindo requisitos mínimos.
A equipe de planejamento da Alfa não atua no planejamento da estocagem de
material de modo a garantir que não haja desperdícios. Isso é uma função das
empreiteiras. No entanto, através da prática lean de incentivo à redução de
desperdícios dentro da Alfa e entre as empresas a ela ligadas, o empreiteiro tem que
prestar contas das sobras de materiais, para que a Alfa saiba se está havendo
desperdícios. O estado das sobras também é verificado, pois, se há muitas peças
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quebradas ao invés de serem devolvidas inteiras é sinal de que o serviço não está
sendo executado com cautela. Porém, ao saberem que terão que prestar conta, os
funcionários automaticamente passam a tomar mais cuidado ao executar o serviço.
O fato de a construtora contratar empreiteiras diferentes para a execução das
obras não impede que haja padronização. Embora a Alfa esteja disposta a se
adequar ao perfil de cada engenheiro, de maneira geral, a construtora busca lançar
mão da prática lean de padronização. Formulários e ordens de serviço enviados
para a obra são os mesmos para todas. É trabalho da engenheira de planejamento
tentar buscar uniformidade, ou seja, convencer aquele engenheiro que executa uma
atividade de maneira diferente que ele poderá obter ganhos executando a tarefa
conforme os demais engenheiros.
Essa padronização, além de facilitar o trabalho da equipe de planejamento, é
importante em situações nas quais um engenheiro se ausenta e outro precisa
substituí-lo. Havendo padronização o engenheiro não precisa se ambientar a um
novo planejamento, apenas às características particulares da obra.
Essa flexibilidade não favorece apenas os engenheiros de obra, mas também
o trabalho do estagiário e da técnica em edificações que fazem as visitas semanais
às obras. A engenheira de planejamento pode remanejá-los de uma obra para a
outra nos períodos de férias ou caso haja problemas de relacionamento com a
equipe da obra.
No que diz respeito à prática lean de gestão dos fluxos de informação,
materiais e mão de obra para a delimitação das responsabilidades, a equipe de
planejamento da Alfa, além de determinar a sequência das tarefas e a alocação da
mão de obra, também auxilia no controle de suprimentos. Para que um serviço
comece na data estipulada no cronograma, a obra deverá fazer o pedido “x” dias
antes. A equipe de planejamento comunica à obra em que momento cada pedido
deverá ser feito, levando em consideração as informações que o setor de
Suprimentos repassa para a equipe de planejamento em termos de tempo (tempo
para mandar a carta, quantidade de dias pra receber, número de etapas internas).
Tanto os materiais quanto os serviços são sempre acompanhados para que
se tenha noção se o orçamento está correto. Caso haja divergências do real para o
orçado, são feitas investigações para encontrar as causas do problema, que podem
89
ser fruto de erros de orçamento, falta de projetos ou gastos a mais pela obra. Se o
problema encontra-se na obra, é requerida uma justificativa para tal. A razão para
estourar os gastos pode estar, por exemplo, no excessivo número de formas
estouradas repetidamente. Essa informação serve de alerta para que o engenheiro
da obra investigue as causas do problema, que pode ter sua raiz na maneira em que
os funcionários estão utilizando as formas (por falta de treinamento), no tipo de
material empregado, em erros no projeto de formas, etc. Através das práticas lean
de utilização de erros como fonte de aprendizado e de verificação e identificação de
problemas nos processos, medidas corretivas podem ser tomadas para que o
problema não volte a se repetir no futuro.
Sobre a prática lean de treinamento, a empresa incentiva que seus
funcionários estudem. Além dos cursos rápidos pagos pela Alfa, (para utilização do
MS Project, por exemplo), também é estimulado que a equipe de planejamento
busque cursos como MBA em Gestão de Negócios e Planejamento de Obras Civis,
que são 70% subsidiados pela empresa e 30% pagos pelo funcionário. Os
colaboradores vêem de uma forma muito positiva essa iniciativa. Desde que os
cursos estejam alinhados com a atividade que o funcionário desempenha (para que
agreguem valor), a empresa tem uma boa aceitação pela opção feita pelo
colaborador. A engenheira diz que, embora os salários pagos pela Alfa não sejam os
maiores do mercado, a possibilidade e facilidade de especializar-se gera bastante
satisfação aos funcionários.
“A empresa ganha e o funcionário também ganha. Já apliquei aqui coisas que aprendi nos cursos que eu sugeri. Tenho interesse em poder aplicar mais e mais coisas aqui. Esse estímulo te motiva. É muito prazeroso. Aqui você é escutado, suas ideias são ouvidas, independente de serem acatadas ou não, mas você tem um retorno de ideias e vê que o seu departamento é tido como importante e que as pessoas querem que você passe as informações”, diz a engenheira de planejamento da Alfa.
A Alfa também procura introduzir materiais em suas obras que acabem com
os momentos de aperto. Para isso, está sempre atenta ao que chega de novo no
mercado, preocupa-se em fazer pesquisas em seus canteiros e manter contatos
com profissionais de outras construtoras. Um exemplo disso pode ser observado no
processo de realização das instalações. Para que a instalação fosse feita, era
necessário que a alvenaria estivesse “apertada”, o que leva cerca de 14 dias. Ao se
observar que o mercado oferecia um material de encunhamento que permitia que a
90
alvenaria fosse “encunhada” sem precisar estar “apertada”, passou-se a utilizar esse
material nos canteiros. Dessa forma, a instalação pode ser executada com
segurança e depois de 14 dias a alvenaria é “apertada”, já com a instalação feita.
Em suma, a adoção de práticas lean pela Alfa visa seguir a lógica dos
serviços, sem que hajam atropelos e os prazos sejam respeitados sem colocar em
risco a qualidade de execução. Segundo a engenheira de planejamento, “vem do
nosso histórico a consciência da importância do planejamento para a qualidade e
para o custo. Tudo é feito e ajustado de modo que erros não se repitam na próxima
obra”.
4.1.3 Dificuldades de implantação
Sob a ótica dos entrevistados, a Alfa não se defrontou com nenhuma grande
dificuldade durante a implantação das práticas lean. Contudo, foram mencionadas
algumas pequenas dificuldades relativas à falta de experiência da equipe no instante
inicial e diferenças de vivência em campo e no escritório.
Segundo a engenheira de planejamento, a única dificuldade enfrentada
durante a implantação da metodologia lean foi a sua falta de experiência na adoção
das práticas. Acrescenta, entretanto, que isso não chegou a ser um problema para a
empresa. Com o tempo e as frequentes visitas às obras, nas quais eram trocadas
informações com os engenheiros, o aprendizado foi ocorrendo até que a engenheira
estivesse apta a desempenhar seu trabalho sozinha, sem a consultoria da Practical.
Apesar disso, pode-se dizer que ainda há um pequeno entrave à melhoria
contínua dos processos da obra, posto que a equipe de planejamento não vivencia o
dia a dia do campo. Existe uma diferença entre estar no escritório e em campo. Nem
sempre o que se planeja pode ser implementado na obra. Por essa razão, qualquer
ideia de melhoria é antes discutida com a equipe de obra.
Embora seja comum enfrentar algum tipo de resistência dos colaboradores
em relação às novas práticas, a Alfa não vivenciou este tipo de problema. Na
realidade, os engenheiros das empreiteiras já estavam esperando pelas melhorias
que seriam trazidas para a obra. Sendo assim, o relacionamento com a equipe de
91
obra é positivo, apesar da constante pressão para que eles enxuguem cada vez
mais os prazos de execução das tarefas.
4.1.4 Resultados obtidos com a adoção de práticas lean
A introdução de práticas lean pela construtora Alfa teve como principais
resultados a redução do tempo de ciclo, a eliminação de desperdícios, a melhoria na
curva de aprendizado da força de trabalho, processos mais eficientes, a redução de
custos e ocorrência de aprendizado por meio da ação. Esses e outros resultados
serão descritos a seguir:
Quando perguntada sobre quais resultados eram esperados com a adoção de
práticas lean e quais resultados foram efetivamente encontrados, a engenheira de
planejamento, que faz parte do setor de planejamento desde que este foi formado
para implantação da metodologia lean, declarou que os resultados esperados nunca
haviam sido claramente identificados pela empresa e que nenhuma meta lhe havia
sido informada.
No entanto, o que a equipe esperava, e continua buscando, é entregar o
projeto no prazo esperado (mantendo a confiabilidade) ou antecipar a sua data de
entrega. Isso deve ser feito em alinhamento com a qualidade e dentro do que é
orçado.
Segundo a diretora de planejamento da empresa, a Alfa é a empresa que tem
a maior velocidade de construção no Rio, levando em consideração que a
construtora não trabalha com pré-moldado, com obras econômicas (de baixa renda)
e também não executa obras em estrutura metálica.
A diretora acrescenta que as obras “com velocidade” fora do Brasil, e mesmo
em São Paulo, são rápidas por serem obras que utilizam pré-moldados (estrutura
metálica ou concreto). Sendo assim, pode-se dizer que a Alfa ganha em velocidade
em termos de estrutura convencional. Contudo, conforme mencionado acima, há a
preocupação em desenvolver um trabalho aliado a custo, posto que uma obra bem
planejada tem uma duração menor e prazo menor significa custos fixos menores.
92
Para saber se a sua velocidade de construção é realmente a maior, a Alfa faz
comparações com a concorrência e, principalmente, com construtoras nas quais é
sócia. Um bom exemplo de ganhos em termos de redução do tempo de ciclo das
obras é que a Alfa conseguiu antecipar uma de suas obras em doze meses,
mantendo seus padrões de qualidade.
Embora o tempo de execução da obra tenha sido evidentemente reduzido, a
empresa nunca comparou seu desempenho atual com o desempenho anterior à
adoção de práticas lean. Sendo assim, não tem total clareza de seus ganhos reais.
Estima-se, entretanto, que deva ter ocorrido uma redução no custo geral, dado a
redução do prazo das obras e a consequente diminuição dos custos fixos.
A partir do momento em que Alfa passou a fazer o planejamento e controle de
suas obras internamente, contando com uma equipe exclusivamente focada nessa
atividade, houve grande redução nos prazos de entrega das obras, uma vez que os
ajustes nos cronogramas e as medidas corretivas eram feitos com mais rapidez.
Também contribui para a redução dos prazos a transferência do aprendizado de
uma obra para a outra, posto que foi observada uma melhoria na curva de
aprendizado da força de trabalho e sua relação com a implantação das práticas. Os
estudos de alocação da mão de obra e da sequência de execução dos serviços
também geraram reduções nos custos da obra.
Outro resultado obtido com a adoção de práticas lean foram os impactos
sobre os demais departamentos da empresa. Como o departamento de
planejamento canaliza várias informações, é possível alimentar outros
departamentos no sentido de melhorar o desempenho de suas atividades. A
engenheira de planejamento relata que, de posse das informações, o departamento
de suprimentos, por exemplo, consegue levantar todo o serviço comum das obras da
empresa e negociar grandes volumes com seus fornecedores, deixando acertado
previamente as datas que esse serviço / material será utilizado nas obras. Ao
departamento de suprimentos também é encaminhado o cronograma com todas as
contratações a serem feitas e com as datas de cada etapa para que este possa
realizar as contratações no momento certo. Para que a circulação das informações
traga resultados consistentes, a engenheira destaca que essas informações
precisam ser constantemente retroalimentadas.
93
Por fim, cabe mencionar que a Alfa também obteve como resultado da
implantação de práticas lean a possibilidade de a equipe de planejamento se
antecipar aos eventos da obra. Embora a rotina de obra seja muito dinâmica, a
empresa parou de ficar “correndo atrás”. Hoje, a equipe dispõe de algum tempo para
pensar a obra, conjuntamente com o engenheiro de campo, antes que ela seja
iniciada. Assim, mesmo com toda a correria, como tudo passou a ser padronizado,
pode-se dizer que o planejamento está um passo a frente da obra.
4.1.5 Projetos Futuros
De acordo com a engenheira de planejamento, a Alfa não possui um plano
formal para a introdução de novas práticas lean nos próximos anos. No entanto,
pretende seguir com as práticas que vêm adotando até 2012 e dar seguimento ao
processo de implantação de outra ferramenta de TI, que já se encontra em teste,
com o intuito de integrar o planejamento físico e financeiro. Dessa forma, será
possível minimizar o número de ferramentas envolvidas, posto que não serão
necessários dois controles separados. Trata-se de um trabalho que ainda levará
tempo para se concretizar e, caso não traga resultados positivos, a empresa
continuará utilizando apenas a ferramenta que já faz uso.
4.2 CONSTRUTORA BETA
A Beta atua no mercado brasileiro há mais de 30 anos. Sua abrangência
geográfica inclui o Estado do Rio de Janeiro e algumas cidades da região Nordeste
do país, local onde tiveram início suas operações.
A empresa realiza empreendimentos residenciais, comerciais e industriais,
contando com ampla experiência na construção de grandes complexos hoteleiros e
hospitalares, atual foco da construtora. Esses projetos apresentam características
únicas, com necessidade de orientações específicas e clientes com demandas
distintas, exigindo flexibilidade constante da empresa.
94
Além de buscar desenvolver novas alternativas de engenharia para oferecer
soluções diferenciadas, a Beta é uma empresa integrada que planeja e gerencia
todas as etapas da obra, desde o projeto, passando por suprimentos e
armazenamento até chegar à etapa de construção.
Sendo assim, a construtora aponta que seu diferencial encontra-se no
planejamento, que engloba não apenas a construção civil em si como também os
estudos para integrar as atividades de engenharia com suprimentos e logística.
Dessa maneira, pretende entregar um resultado final superior em termos de custo e
benefício, posto que, a partir do projeto elaborado, é feito um estudo com o objetivo
de utilizar a melhor técnica construtiva viável para a região, aproveitando as
vantagens das características locais e sazonais, em termos de construção e
suprimentos.
No website da empresa, a Beta declara que sua missão é se tornar “a melhor
empresa de engenharia integrada, construindo soluções imobiliárias modernas com
qualidade, responsabilidade e sustentabilidade”. Pretende cumprir sua missão
buscando promover um ambiente de trabalho agradável e qualidade de vida a todos
os envolvidos (funcionários e clientes), pautando-se em valores como:
conhecimento, inovação, trabalho em equipe e respeito.
Uma preocupação da empresa durante o desenvolvimento de seus projetos é
dar ênfase às normas de gestão ambiental, com a adoção de práticas sustentáveis
no processo de construção das obras “verdes”. Alguns de seus empreendimentos
foram, inclusive, certificados com o selo LEED da Green Building Council (GBC) do
Brasil, obtido ainda em pouquíssimos projetos no país. Ademais, uma de suas
obras na capital carioca recebeu, em 2010, o prêmio de obra sustentável pela
Ademi.
Em meados de 2012, a Beta estava sendo auditorada para obtenção da
certificação OHSAS 18001, de segurança no trabalho. Além dos procedimentos
exigidos pelas normas reguladoras, a construtora busca implantar procedimentos
extras para que as questões relacionadas à segurança sejam sempre aprimoradas.
Ademais, em 2012, a empresa estava passando por um momento de
mudança, saindo de um regime de administração para um regime de empreitada
global, ou seja, após o período de transição, suas obras deixariam de ser uma
95
sociedade de propósito específico para tornarem-se domínio da construtora. Tal
mudança permitirá a Beta ter mais controle, dado que alguns gerenciamentos que
não estavam ao seu alcance possam, então, ser assumidos. No regime por
administração, a Beta trabalha junto com os fornecedores, gerencia o seu trabalho e
cobra uma taxa de administração por este serviço de gerenciamento. Com a
mudança de regime, passará a administrar, pagar e gerenciar todos os
fornecedores, o que vai lhe conferir mais "poder" para coordenar os empreiteiros e
parceiros, atividades consideradas pela empresa como um grande diferencial.
4.2.1 Motivações para a implantação de práticas lean
A introdução de práticas lean pela construtora Beta foi impulsionada por
questões relacionadas ao contexto do setor, como questões financeiras,
competitividade entre as empresas e aumento das exigências do consumidor /
demanda do mercado; e questões relacionadas à melhoria dos níveis de
desempenho operacional, entre elas: redução de custos, aumento da qualidade e
redução dos prazos. Essas e outras motivações serão descritas a seguir:
A Beta preocupa-se fortemente em implementar ações que visem a
segurança e a satisfação dos funcionários que trabalham no canteiro. O que motiva
a empresa a adotar essas práticas é o fato de a construção civil estar vivendo, hoje,
um momento de alta rotatividade da mão de obra, posto que o mercado encontra-se
aquecido e há um grande número de obras sendo executadas. A perda de mão de
obra (já qualificada conforme os padrões da empresa) por conta da rotatividade,
significa, sobretudo, custos adicionais com treinamento dos novos funcionários e
perda de produtividade.
Sendo assim, a Beta acredita que práticas como: premiações (financeiras ou
não), pesquisas de satisfação, diálogo semanal com os operários e rigor no uso de
equipamentos de segurança contribuem para a satisfação do funcionário e,
consequentemente, para a sua permanência na empresa. Contudo, as práticas lean
voltadas à segurança dos trabalhadores vão mais além da preocupação com a
retenção da mão de obra. Nas palavras do supervisor de segurança da Beta: “a
missão é uma só: não ser punido pelo Ministério do Trabalho e Emprego”. Esse
96
discurso está especialmente ligado ao fornecimento e uso correto de equipamentos
de segurança e à forte fiscalização das empresas pelo Ministério.
De acordo com o engenheiro de sustentabilidade e segurança, a demanda do
mercado também é outro fator que faz com que a construtora busque introduzir
práticas lean para melhorar seus processos. Em suas palavras:
“A injeção de capital que vem sendo feita nos últimos anos na economia brasileira faz como que o mercado ‘diga’ às construtoras: Olha, eu tenho dinheiro e quero comprar. Constrói que eu compro, mas constrói rápido porque eu não quero esperar muito.”
Já o engenheiro de planejamento aponta que a empresa também está
motivada a implantar práticas que tragam melhorias simultaneamente aos quatro
pilares que sustentam suas operações: escopo, prazo, custo e qualidade. Dessa
forma, o que fomenta a introdução de novas práticas é a possibilidade de fazer
melhor, mantendo o prazo, o custo e o escopo. Portanto, para a Beta, diminuir o
custo da obra não está relacionado à redução do escopo (e.g. executar duas
demãos de pintura ao invés das habituais três demãos) como acontece em algumas
empresas, que fazem isso para atender aos requisitos de custo e prazo, porém
perdendo em qualidade. Com a implantação de práticas lean, a empresa busca, na
verdade, formas de melhorar os quatro aspectos conjuntamente.
Todavia, embora a empresa sinta-se motivada a seguir adotando práticas, por
exemplo, que reduzam seu impacto negativo no meio ambiente (e.g. aquelas
relacionadas à obtenção do selo LEED), o engenheiro de sustentabilidade e
segurança diz não conseguir vislumbrar uma sustentabilidade ambiental que não
seja fomentada por questões econômicas. Segundo ele, é difícil imaginar uma
prática que não traga a “bandeira do cifrão” à frente. Práticas lean voltadas para a
redução de resíduos, por exemplo, foram e são motivadas pela possibilidade de
reduzir custos através do reaproveitamento de materiais e/ou porque a empresa viu
que pode ganhar dinheiro revendendo resíduos para uma empresa parceira, que
recolhe e dá destino a esses resíduos, sobrevivendo desta atividade.
Outro motivo que leva a Beta a adotar práticas lean é a demanda do mercado
por novas soluções. Segundo o engenheiro de sustentabilidade e segurança:
“Eu acredito que é isso [capacidade de inovar] que vai ser o divisor de águas para os gestores da construção civil. Ou nós mudamos ou perdemos clientes. Então, aquele gestor mais ousado, mais atualizado nas inovações,
97
com certeza vai ganhar mais porque vai ver que vale a pena investir (...). Se a economia continuar aquecida, vai haver uma aceleração na introdução de novidades na construção. Se você tem quem consuma, você tem porque inovar e inovar rápido porque o cliente não quer esperar.”
Como se pode concluir, a inovação vem da necessidade. Aos olhos do
engenheiro, as inovações introduzidas pela Beta consistem mais em mudanças em
seus processos do que novidades do ponto de vista do que é feito pela
concorrência. Ou seja, as práticas adotadas pela Beta são, na maioria das vezes,
para manter a empresa competitiva. Caso a empresa não incorporasse o drywall em
suas técnicas construtivas, por exemplo, seria ela capaz de entregar a obra no prazo
que os seus concorrentes estão entregando?
Existem empresas cuja estratégia está alinhada com a introdução de
inovações. Preocupam-se em inovar, pois desejam despontar, estar no topo do
mercado; e existem também aquelas que inovam movidas pela necessidade. O
entrevistado, entretanto, se questiona se o setor da construção civil (e até mesmo o
mercado brasileiro, de forma mais abrangente) está efetivamente nessa linha de
vanguarda, de inovar por questões estratégicas ou se as mudanças são introduzidas
puramente por necessidade.
“Nós temos o selo LEED. É um selo ainda obtido por poucas obras no Brasil, mas esse número vem aumentando. Então, se o mercado está fazendo isso já não será mais inovação. Mas, por que está se tornando uma tendência de mercado? Porque lá na frente a empresa consegue melhores financiamentos se tem comprovação de planos e programas em sustentabilidade ambiental. Então, o que fomentou essa inovação foi uma necessidade de se manter, de conseguir capital, ter mais facilidade ao crédito para fazer grandes projetos. Sendo assim, vejo a certificação como uma tendência de mercado por uma motivação financeira.”
Além da facilidade de acesso ao crédito, outra motivação para a obtenção de
certificações e a implantação de práticas lean encontra-se na melhoria da imagem
da empresa perante o mercado de capitais e seus acionistas. A imagem da empresa
é essencial para o valor de suas ações e, portando, envolve novamente motivos
financeiros. Segundo o engenheiro de sustentabilidade e segurança, as certificações
são caras e, se não agregassem valor financeiro, a empresa não as buscaria.
Contudo, o engenheiro esclarece que, embora a vertente financeira seja forte,
práticas voltadas apenas para o meio ambiente não seriam sustentáveis e, portanto,
é importante que tudo esteja interligado.
98
4.2.2 Práticas adotadas
Sob a ótica dos entrevistados, foram identificadas uma série de práticas lean
que vêm sendo implementadas pela construtora Beta em suas operações. As
práticas, que serão descritas nos próximos parágrafos, podem aqui ser resumidas
em: incentivos para a redução de desperdícios dentro e fora da organização,
redução de desperdícios desde a fase de concepção do projeto, encorajar os
trabalhadores a manterem o local de trabalho limpo e organizado, planejamento do
fluxo de materiais e mão de obra para minimização de estoques e transporte
ineficiente de recursos, adoção de ferramentas de TI para integrar os agentes da
cadeia, garantir a segurança dos trabalhadores, mudança de métodos construtivos,
execução do projeto mantendo os prazos planejados, padronização, identificação e
eliminação de problemas no processo, gerenciamento da interação entre atividades,
isolar atividades que agregam valor das atividades de suporte, sincronização dos
fluxos, fiscalização diária, cumprimento e melhoramento da programação de tarefas,
planejamento do layout do canteiro para otimização dos espaços, fluxo de trabalho
confiável, planos de trabalho semanais para controle do fluxo de trabalho e
desenvolvimento de planos de ação para as readequações necessárias, tornar
explícito a todos os marcos estabelecidos do cronograma, Técnica Last Planner,
acompanhamento percentual de tarefas concluídas, identificar a causa de falhas e
tomar medidas para prevenir reincidências, contratos de relacionamento de longo
prazo, relações de cooperação com os fornecedores para a solução conjunta de
problemas, comunicação com os parceiros, redivisão de responsabilidades ao longo
da cadeia, reuniões periódicas da equipe, treinamento e análise de características
da concorrência.
De acordo com o engenheiro de planejamento, a Beta não possui uma
estratégia formal sobre quais ações tomar com relação à introdução de práticas lean
em suas operações. As práticas já em andamento foram introduzidas considerando-
se as tendências do mercado. Segundo ele, o diretor de engenharia da Beta é um
profissional com bastante experiência, atento às novas tecnologias e procura trazer
novas práticas para a construtora. Sendo assim, a equipe de planejamento acredita
bastante em sua capacidade de promover mudanças e fica à espera de seu olhar
99
atento para introduzir novidades no planejamento e no canteiro e atuando, assim,
basicamente na etapa de implementação das práticas.
O engenheiro de sustentabilidade e segurança diz que, para que a empresa
implemente uma nova prática em suas operações, ela deve atender,
necessariamente, a três vertentes: prazo, qualidade e viabilidade econômica do
produto que a empresa vai oferecer.
Pensando em melhorar seus processos e em conformidade com essas
vertentes, a empresa introduziu três novos métodos construtivos em suas operações
que lhe trouxeram vários benefícios. O primeiro método consiste na utilização de
drywall ao invés das tradicionais paredes de alvenaria e é uma prática lean de
padronização. Esse sistema, há cerca de 10 – 15 anos era pouco conhecido no
Brasil, conta com um tipo de material mais industrializado e sua montagem segue o
fluxo de uma linha de produção, diminuindo, assim, o tempo necessário para a
execução de paredes. Essa prática está associada à outra prática lean –
treinamento -, pois a Beta recebe orientações de um consultor que vai a obra uma
vez por semana para instruir as equipes de drywall no sentido de executarem
corretamente a montagem e utilizarem a quantidade correta de material para que
não haja desperdícios, prática lean ligada à redução de resíduos.
O segundo método construtivo é a laje plana, que também está associado às
práticas lean de padronização e redução de desperdícios desde a fase de
concepção do projeto. Esse método permite maior velocidade de execução e um
bom aproveitamento de material (reduzindo custos), pois trata-se de uma laje sem
vigas ou cujas vigas existentes são embutidas. Sua execução utiliza formas
metálicas (mencionadas no próximo parágrafo), resultando em alta produtividade,
posto que consiste em um processo no qual se constrói pavimento por pavimento
utilizando formas moduladas, em sequência, demandando um tempo bastante curto
por conta da padronização. Certamente deve haver previamente uma padronização
do projeto para que isso ocorra – prática lean que a empresa busca adotar sempre
que possível. Esse método também permite que alterações no projeto sejam feitas
mais facilmente mesmo após a execução da estrutura. Portanto, essa prática
confere maior flexibilidade na obra para atender novas demandas dos clientes.
O outro método construtivo adotado pela empresa são as formas metálicas no
estilo deck light que, por utilizarem uma quantidade muito menor de escoramento,
100
geram ganhos significativos em termos de velocidade de execução. Além disso, o
método construtivo anteriormente empregado utilizava grande quantidade de
madeira (inclusive para escoramento), gerando muitos resíduos, raramente
passíveis de serem reaproveitados. Já as formas metálicas são mais resistentes e
podem ser reaproveitadas em outras obras, diminuindo significativamente a
quantidade de resíduos. Percebe-se, novamente, que esta prática lean demanda
que a empresa passe a reduzir os desperdícios desde a fase de concepção do
projeto.
Ainda na linha de práticas que visam à redução de desperdícios, a Beta
dispõe de depósitos para materiais utilizados. Os funcionários são incentivados a
buscar nesses depósitos materiais (sobretudo madeira) que possam ser
reaproveitados antes que um novo material seja cortado. Através dessa prática lean,
muitas peças são reutilizadas e o que não pode ser empregado novamente na obra
é coletado por empresas parceiras que vão até o canteiro, recolhem o material (e.g.
madeira, papéis e alguns metais) e ganham dinheiro com essa atividade. Dessa
forma, o material recolhido não é descartado como entulho, misturado com os
demais resíduos. Pela redução de custos e de impactos no meio ambiente que
proporcionam, as práticas para redução de desperdícios são levadas muito a sério
pela empresa e até mesmo o material das escavações é guardado para fazer
reaterros.
A própria sobra do gesso acartonado (do drywall) também não é descartada
sem critérios. Pequenos pedaços de drywall podem ser perfeitamente utilizados para
fazer bloqueios acústicos. O restante do material que não é reaproveitado é
recolhido e processado pela empresa que fabrica as placas de drywall. A Beta faz o
registro através do manifesto de resíduos e a empresa parceira reaproveita o
material no processo de fabricação de novas peças.
Duas outras práticas implantadas e relacionadas, simultaneamente, à redução
de desperdícios e à minimização dos impactos no meio ambiente são os receptores
para coleta de água da chuva nas áreas descobertas do canteiro e o “lava rodas”.
Dentro do canteiro de obras existem muitos agregados soltos (brita, areia etc.) que
são levados para as vias urbanas, principalmente nos dias de chuva, quando presos
nos pneus dos caminhões. O “lava rodas” consiste, portanto, em um processo de
limpeza dos pneus. Antes de saírem da obra, os caminhões passam por um platô de
101
concreto inclinado com uma calha que conduz para uma caixa de areia. Após um
processo de decantação e reaproveitamento da água, os resíduos são captados.
Além da empresa não perder esses agregados que seriam dispersados em vias
públicas, eventualmente caindo na rede pluvial e assoreando as bocas de lobo, a
Beta reduz seus impactos no ambiente e não gera ônus à sociedade. Cabe levar em
consideração também que, em dias de chuva, se as ruas enchem, os funcionários
não conseguem chegar ao local de trabalho, atrasando o cronograma.
Na Beta não existe uma prática formal de “estruturação” e/ou documentação
do aprendizado. O aprendizado ocorre pela ação e o que se procura fazer é
comunicar à equipe sobre determinado problema para que ele não volte a ocorrer.
Essa prática lean de identificação da causa de falhas e tomada de medidas para
prevenção de reincidências é potencializada pela prática lean de fiscalização diária,
realizada pelos engenheiros de produção quanto à execução das tarefas e ao
andamento da obra. Dessa forma, torna-se possível adotar soluções rápidas para
problemas que venham a ocorrer.
Também é uma prática lean implantada pela empresa o acompanhamento do
percentual de tarefas realizadas em relação ao cronograma. Esse controle do fluxo
de trabalho, embora seja feito diariamente, tem como base a prática de elaboração
de planos semanais. Os engenheiros de produção ficam responsáveis por atribuir
adequadamente tarefas aos trabalhadores, de acordo com capacidade, sequência
de atividades, etc. Caso o andamento dos serviços prestados pelas empresas
contratadas não esteja de acordo com o cronograma - dificultando as práticas lean
relativas à sincronização e suavização do fluxo de atividades -, esses fornecedores
que são convocados, nas reuniões semanais, a cumprirem seus prazos no ritmo que
está estipulado pelo cronograma.
Nessas reuniões, as contratadas devem propor soluções para seus atrasos.
Se naquela semana a empresa deveria ter executado 20% de uma determinada
atividade, porém cumpriu apenas 15%, precisará apresentar um plano de como irá
recuperar os outros 5% na semana seguinte. As soluções variam de acordo com
cada tarefa (e.g. aumentando o tamanho da equipe, fazendo hora extra etc.).
Além do acompanhamento percentual das atividades feito periodicamente
pelas equipes de campo, os engenheiros de produção se comunicam
constantemente com a equipe de planejamento. A equipe de planejamento envia o
102
cronograma para as equipes de campo e estas enviam feedback sobre o andamento
das atividades e a necessidade de adaptações nos prazos. Ademais, os
engenheiros de produção buscam tornar explícito a todos os funcionários de campo
os marcos (milestones) estabelecidos no cronograma para que ocorra um
envolvimento maior dos mesmos na execução das tarefas. Essas práticas tornam o
fluxo de trabalho bastante confiável, dado o alinhamento entre planejamento e
execução.
O engenheiro de planejamento aponta que, outra prática lean que vem
trazendo resultados positivos para a empresa é o desenvolvimento de
relacionamentos com os fornecedores. A Beta e suas contratadas trabalham juntas
para transferência de conhecimentos e para solução conjunta de problemas. Após
assinar o contrato com seus fornecedores, a Beta poderia, simplesmente, enviar e-
mails ameaçando multar as contratadas que não estivessem cumprindo os prazos
estabelecidos. Contudo, ao invés de fazer isso, a construtora acredita na boa
comunicação, integração e coordenação de todas as partes, asseguradas por seus
gestores de projeto, como maneira mais eficaz de obter resultados positivos. Dessa
forma, as reuniões com seus fornecedores contribuem para o estreitamento dessa
relação de parceria e ainda possibilitam uma valiosa troca de informações entre os
profissionais.
Ainda no que diz respeito às reuniões com os parceiros, cabe destacar outra
iniciativa associada a esta prática lean que vem se mostrando eficaz desde a sua
introdução. Nos contratos firmados entre a construtora e as contratadas foi
estabelecido que os fornecedores deveriam ser representados nas reuniões por um
engenheiro com poder de decisão que pudesse, de fato, chancelar as questões
discutidas em conjunto. Tal medida reduziu o tempo entre a identificação de
soluções para problemas de atraso no cronograma e sua execução efetiva.
A Beta também tem como prática lean a utilização uma ferramenta
colaborativa com seus parceiros que consiste em um site gerenciador de projetos. É
um recurso de TI simples, porém, através dele, o fornecedor tem acesso aos
projetos e acompanha as modificações junto com a construtora.
Sob a ótica dos entrevistados na construtora Beta, outra prática considerada
na empresa como sendo lean consiste na aplicação periódica de questionários para
avaliação da satisfação dos funcionários. Nele estão incluídas perguntas que visam
103
avaliar a percepção dos funcionários em relação à, por exemplo, alimentação
oferecida, hora de descanso, procedimentos de segurança adotados, facilidade de
entendimento das instruções e treinamentos oferecidos etc. Com essa prática, a
empresa busca humanizar ao máximo a dura relação dos gestores e supervisores
com o pessoal que está na lida e reter os funcionários na empresa. Pautados nos
resultados da pesquisa, a equipe procura estudar os problemas mais recorrentes,
verifica se aquilo, de fato, está sendo um problema e estuda formas de melhorar
esses pontos. Entretanto, de acordo com o supervisor de segurança, é uma utopia
tentar atender a tudo que é solicitado. Portanto, a empresa implementa aquilo que é
possível.
Ainda pensando na satisfação dos funcionários, a Beta adaptou uma prática
de minimização de impactos no meio ambiente para, simultaneamente, melhorar as
condições de trabalho no canteiro. A empresa tem um aparelho, chamado Raivol,
localizado em alguns pontos da obra, com o qual monitora a qualidade do ar de
forma a manter-se dentre de uma faixa aceitável para não agredir o meio ambiente.
Após algum tempo, a equipe de segurança no trabalho percebeu que, prolongando a
saída do difusor para ficar acima da altura das fossas nasais, a saúde dos
funcionários não seria afetada. Assim, sem custo algum, o funcionário passou a ter
uma qualidade do ar muito melhor do que antes da implementação. E os
funcionários estão cientes disso, opinam e participam.
Conforme mencionado anteriormente, a construtora implantou a prática lean
de treinamento, política bem estruturada pela equipe. Mesmo que já possuam
experiência ou tenham sido treinados em outras empresas, todos os funcionários
que passam a integrar a equipe, sejam eles efetivos da Beta ou funcionários das
contratadas, passam por treinamento específico em suas funções, inclusive o
pessoal de escritório. Além do treinamento específico por função, a construtora
oferece treinamentos de integração, de segurança, de combate a incêndio e de
trabalho em locais confinados (apenas para determinados profissionais). Visando
melhorar continuamente, os gestores da Beta estão sempre buscando novos
treinamentos.
Além dos treinamentos de segurança, fazem parte do conjunto de práticas
lean para garantir a segurança dos trabalhadores a fiscalização sobre a utilização de
equipamentos de proteção e o acompanhamento da saúde dos funcionários, os
104
quais são instruídos a dirigirem-se à enfermaria caso ocorra qualquer
“anormalidade” enquanto trabalham.
Como algumas obras da Beta são de grande porte, compreendendo
complexos hospitalares e hoteleiros, com pavimentos amplos, geralmente há
bastante espaço para armazenamento dos insumos. Por isso, não há grande
preocupação em demarcar o layout do canteiro com pinturas e cercas. Contudo,
ainda assim, a prática lean de estudo do layout dos canteiros é desenvolvida de
forma a otimizar a circulação dos equipamentos e a armazenagem de materiais. Os
engenheiros de produção que supervisionam a obra, além de reforçarem
constantemente que os trabalhadores devem manter o canteiro limpo e organizado,
procuram fazer a separação de materiais por classe e orientam os funcionários que
fazem a armazenagem a fazê-la de forma a facilitar a entrada dos colaboradores
para a retirada dos materiais. Além disso, a armazenagem deve ser feita de modo
que os materiais acondicionados não impeçam ou atrapalhem a entrada de
máquinas no local. Essa prática lean de organização do canteiro faz com que a
incidência de acidentes diminua e, principalmente, faz com que a eficiência dentro
da obra aumente, uma vez que todos sabem aonde encontrar cada material e que
poderão retirá-lo facilmente. A equipe da Beta diz que práticas como essas são
simples de serem implementadas, são uma questão de rotina, de se habituar a
fazer.
Ademais, a organização do canteiro é importante, pois a Beta possui várias
contratadas atuando na obra e cada uma precisa ter seu espaço. A utilização do
espaço por cada contratada deve estar relacionada ao planejamento. Não adianta a
empresa de dutos armazenar uma quantidade de material em duas salas e precisar
realocar tudo dias depois, já que essas salas serão trabalhadas pela equipe de
elétrica antes do material estocado ser totalmente utilizado. Dessa forma, todas
essas ações devem estar integradas no planejamento, orientadas pela prática lean
de gerenciamento da interação entre as diversas atividades. Não é simples e requer
bastante comunicação no canteiro.
Embora a construtora tenha um almoxarifado grande, há uma preocupação
em levar os materiais para o local de execução apenas quando vão ser utilizados.
Algumas empresas terceirizadas tem sua própria logística, porém a construtora
verifica se elas estão realmente trazendo seus materiais para o canteiro no momento
105
adequado. Essas ações estão alinhadas com a prática lean de planejamento do
fluxo de materiais para a eliminação ou minimização de estoques e transporte
ineficiente de recursos.
A Beta possui um efetivo de produção pequeno sob o seu controle direto.
Porém, segundo o engenheiro de planejamento, a tendência é que suas equipes
aumentem. A construtora tem quase todos os seus serviços executados por
fornecedores subcontratados especializados em suas funções. Seu efetivo funciona
como uma equipe de apoio para atividades com pouco valor agregado e pode ser
remanejado para auxiliar as contratadas. Entretanto, ao perceber que certas tarefas
possuíam valor agregado e eram estratégicas para a empresa, a Beta passou a
assumir a responsabilidade por essas atividades. Os serviços de drywall, por
exemplo, eram executados por uma empresa contratada. Contudo, constatada a
importância do drywall e a dificuldade de encontrar um bom fornecedor, a
construtora decidiu realizar ela mesma esta tarefa, orientada por um consultor com
amplo conhecimento sobre o sistema construtivo.
Por fim, cabe concluir este tópico com uma das frases do engenheiro de
sustentabilidade e segurança sobre a adoção de práticas para tornar a empresa
mais enxuta, principalmente aquelas relacionadas com a eliminação de atividades
que não agregam valor: “Nessa concepção de tornar as coisas mais enxutas... só
tem que ter cuidado no processo de gestão de não reduzir demais. Vou tirando e
tirando cada vez mais o que não é importante e acabo tornando complexo o meu
processo de gestão”.
4.2.3 Dificuldades de implantação
Durante a implantação das práticas lean, a Beta enfrentou dificuldades
relacionadas a um processo decisório baseado quase exclusivamente na
experiência do gestor, fazendo com que não houvesse uma abordagem sistemática
e nem um planejamento estratégico claro e estruturado para guiar a implantação;
resistência às mudanças culturais tanto dos funcionários quando de seus
fornecedores, além de um pouco de falta de motivação e comprometimento de
algumas partes envolvidas. A Beta ainda aponta outras duas dificuldades que estão
106
relacionadas à falta de conhecimento sobre as práticas e os benefícios atrelados a
elas e à resistência dos clientes em relação a determinados sistemas construtivos
adotados pela construtora. Essas dificuldades serão melhor esclarecidas no decorrer
deste tópico.
A Beta trabalha com diversas empresas contratadas, inclusive dentro de seus
canteiros de obra. Quando a construtora decide implementar uma nova prática ou
técnica construtiva, a equipe da Beta aponta que, em um primeiro instante, a
aceitação das novas exigências é algo um pouco difícil. Percebe-se certa resistência
que, segundo o engenheiro de planejamento, ocorre pois as contratadas percorrem
diversos canteiros (não necessariamente da mesma construtora) e cada obra é
gerenciada de uma forma diferente. Contudo, essa dificuldade foi minimizada a partir
do momento em que as regras do jogo passaram a ser estabelecidas antes do
começo do contrato. Nele ficou definido que haveria reuniões para a solução de
problemas que viessem a ocorrer, que há um planejamento que deve ser
rigorosamente obdecido e que os parceiros devem atender a produtividade que foi
preestabelecida (e pensar em outras formas de atendê-la caso ocorram atrasos).
Além da resistência das contratadas, a empresa também enfrenta resistência
dos funcionários, principalmente no que diz respeito às práticas relacionadas à
segurança no trabalho. Seja para evitar problemas com o Ministério do Trabalho e
Emprego ou para aumentar a satisfação dos trabalhadores ou para evitar quedas na
produtividade devido ao afastamento de funcionários acidentados, a Beta investe na
compra de equipamentos de segurança e zela rigorosamente por sua correta e
plena utilização. Entretanto, alguns funcionários insistem em entrar no canteiro
utilizando, por exemplo, chinelo ou não usar o equipamento em todos os momentos
em que ele se faz necessário.
Há também resistência por parte dos consumidores. No momento em que
foram realizadas as entrevistas na Beta, a utilização do drywall como técnica
construtiva era uma política da empresa. A construtora passou a adotar o drywall
não apenas nos empreendimentos comerciais, como também nos residenciais.
Contudo, essa não é uma prática muito comum no país e alguns consumidores
ainda não a aceitam muito bem. Nos Estados Unidos, entretanto, essa é uma prática
bastante utilizada e já faz parte da cultura local. Ainda assim, a construtora segue
107
com sua estratégia, pois tanto o drywall quanto a laje plana permitem grande
flexibilidade durante a execução.
Uma dificuldade, que já vem sendo contornada pela Beta, é a identificação do
tipo adequado de incentivo para motivar cada equipe a produzir mais. Em suas
operações no Nordeste, por questões culturais, o engenheiro de planejamento diz
que oferecer “barras de ouro” no final do mês tem muito menos impacto na
produtividade dos funcionários do que propor que eles saiam mais cedo do trabalho
caso finalizem determinada tarefa no tempo desejado. Outras equipes trabalham
melhor com incentivos financeiros ou alocadas por tarefa.
O engenheiro de sustentabilidade e segurança destaca ainda a razão pela
qual existem dificuldades para a introdução de novas práticas na construção civil.
Mais do que uma dificuldade para a Beta, a construção civil como um todo,
apresenta uma resistência às novidades muito grande. “Se em um ano temos, por
exemplo, 100 produtos novos lançados, desses 100 são aproveitados no canteiro de
obras apenas 10 a 15%”. Ao longo de um determinado tempo, esses outros produtos
vão sendo incorporados pela construção civil, porém, de maneira bastante lenta. É
um processo diferente do que ocorre na indústria de automação, na qual uma nova
ferramenta é lançada e rapidamente todo o setor passa a implantá-la.
O engenheiro, que participou recentemente de alguns fóruns da Ademi sobre
o comportamento do setor da construção, acrescenta que essa resistência acontece
por uma questão comportamental. Muitos gestores do setor pensam de forma mais
ou menos semelhante e o processo decisório fica baseado quase exclusivamente
em sua experiência, muitas vezes deixando de lado sem a elaboração de um
planejamento estratégico claro e estruturado para guiar as decisões. Se um
concorrente lança um produto novo ou técnica, ao invés de copiarem, criticam.
Somente depois de muito comprovado que tal inovação é, de fato, eficaz, inicia-se
um movimento de implementação do que estava sendo feito na empresa pioneira.
Portanto, o engenheiro de sustentabilidade e segurança não acredita que a
resistência do setor em inovar seja uma questão financeira. É sabido que o prazo é
um dos elementos que regem as ações das construtoras. Por essa razão, é possível
dizer que nem sempre a introdução de inovações consistirá em geração de gastos
adicionais para a empresa, uma vez que ela poderá incorrer gastos maiores caso
não introduza determinada inovação que tenha como benefício a redução dos
108
tempos de ciclo. Com ciclos maiores, a construtora levaria mais tempo para entregar
o produto final, o que implicaria em despesas, dado que para uma obra continuar
“girando” existem muitas variáveis associadas a ela: mão de obra, logística,
segurança, insumos etc., ou seja, até o último dia “a luz está acesa” e gastos estão
sendo incorridos.
Apesar de parecer uma questão lógica, o processo de inovação ainda é lento
na construção civil. Porém, o engenheiro acredita que essa situação tende a mudar,
ainda que vagarosamente, em função da demanda. Hoje o mercado tem dinheiro
(acesso ao crédito) e anseia por respostas rápidas.
Por fim, o engenheiro aponta mais um fator que dificulta a introdução de
novas práticas na construção: falta de conhecimento. Embora existam feiras
específicas para o setor, ele acredita que algumas práticas não são adequadamente
difundidas no mercado e as empresas desconhecem quais são exatamente os
benefícios provenientes de sua implantação, não sabendo, portanto, como investir
ou implantar essas práticas.
4.2.4 Resultados obtidos com a adoção de práticas lean
Sob a ótica dos entrevistados, a introdução de práticas lean pela construtora
Beta resultou em diversos benefícios para a empresa. Entre os resultados
alcançados é possível citar o aumento da produtividade, a minimização de
desperdícios de mão de obra e material, a melhoria na curva de aprendizado da
força de trabalho e sua relação com a implantação das práticas lean, processos
mais eficientes, a redução de custos, o aumento da segurança dos trabalhadores, o
aumento da qualidade e a maior da satisfação dos clientes. Esses e outros
resultados serão descritos a seguir:
Com relação às práticas voltadas à satisfação e segurança dos trabalhadores,
foi observada uma redução do número de queixas, principalmente daquelas mais
recorrentes. Houve um aumento da satisfação e os trabalhadores reconhecem os
esforços que vêm sendo feitos pela equipe. Os funcionários satisfeitos acabam
influenciando aqueles que não percebem prontamente as melhorias.
109
O controle rigoroso no uso de equipamentos de segurança fez o número de
acidentes reduzir significativamente e, em 2012, quase não há afastamentos por
conta de acidentes de trabalho, o que tem impactado consistentemente na
produtividade da mão de obra. Em paralelo, percebeu-se que os funcionários
começam a tomar conhecimento da importância de utilizar os equipamentos de
segurança, facilitando o trabalho da equipe responsável por fiscalizar o uso de
equipamentos de proteção e impactando também na satisfação dos operários.
A organização do canteiro de obras teve como resultado a otimização do
tempo (eliminação de desperdícios relativos à mão de obra) e a redução da
incidência de acidentes. Já a adoção de novos métodos construtivos, como o drywall
e a laje plana, permitiu à construtora oferecer maior flexibilidade às mudanças
demandadas pelos clientes durante a execução da obra, impactando em sua
satisfação.
A implantação de práticas que visam à redução de desperdícios, além de ter
colaborado para a empresa obter a certificação LEED (redução do impacto no meio
ambiente), interessante para a imagem da construtora, diminuíram os custos das
obras.
O planejamento e controle constante da execução permitem à Beta manter
um fluxo contínuo de trabalho. As reuniões com as contratadas, pautadas nesse
controle das atividades, além de estreitarem o relacionamento com os fornecedores,
permitem que soluções para atrasos sejam rapidamente identificadas e colocadas
em prática. Com uma resolução de problemas mais eficiente, os prazos podem,
então, ser cumpridos. Dessa forma, o cronograma deixou de ser apenas uma folha
de papel e passou a ser um instrumento que melhorou a comunicação entre todos
os colaboradores.
O engenheiro de planejamento destaca que as práticas relacionadas ao
treinamento da mão de obra fizeram grande diferença no campo da qualidade. O
trabalho foi atingindo um nível cada vez melhor e as equipes estão cada vez mais
afinadas, a ponto de se conseguir com que essas equipes bem treinadas
multiplicassem esse conhecimento, inclusive em diferentes obras. Esse resultado
também é fruto de uma gestão comprometida com a melhoria contínua, que
dissemina uma cultura voltada para a comunicação entre as partes. Nas palavras do
supervisor de segurança: “(...) trabalhar numa empresa na qual eles te dão recursos
110
para trabalhar é muito bom. A alta gerência está comprometida e eu percebo que as
coisas fluem.”
Por fim, é relevante mencionar que, apesar de a equipe de planejamento
relatar os resultados positivos da implantação de práticas lean, a falta de indicadores
de desempenho não permite que a construtora mensure seus ganhos reais.
4.2.5 Projetos Futuros
Quando questionado sobre os planos futuros da Beta para a introdução de
novas práticas relacionadas à filosofia lean, o engenheiro de planejamento da
construtora diz não saber exatamente o que está contemplado no planejamento
estratégico da empresa no longo prazo, porém, destaca que quaisquer práticas
voltadas à satisfação dos funcionários são importantes para a empresa. Essa
preocupação foi expressa pelo presidente durante o comunicado no qual anunciou
que a construtora estava iniciando uma nova fase (item 4.2.). Entre outras coisas, o
dirigente deixou bastante claro que a satisfação dos funcionários é fundamental para
a sustentabilidade da empresa. A razão de tal preocupação deve-se à conjuntura da
construção civil entre 2009 e 2012, aproximadamente. O setor, que encontra-se
aquecido, vive um momento de alta rotatividade de mão de obra e escassez de
trabalhadores qualificados.
O engenheiro de planejamento também menciona que a alta gestão da Beta
acompanha atentamente os movimentos do mercado e pretende implementar
algumas práticas de empresas concorrentes, principalmente de empresas maiores,
com grandes contratos.
Sem fornecer maiores detalhes sobre o que será efetivamente implantado, o
engenheiro de planejamento afirma que suas próximas ações se concentrarão não
só em promover a satisfação dos funcionários como também em buscar desenvolver
parcerias com seus fornecedores e aprimorar a capacidade de gerenciamento da
equipe. Todas elas essenciais para a nova fase da empresa.
No que diz respeito à capacidade de gerenciamento, a construtora pretende
implantar novas ferramentas para o desenvolvimento das competências gerenciais
111
dos profissionais que promovem o processo de mudança. Para facilitar esse
processo, a construtora pretende trazer uma gerenciadora para o contrato para
implementar, juntamente com a empresa, procedimentos gerenciais visando a
integração de processos, a gestão de fornecedores, a execução do que foi planejado
e a utilização de indicadores de desempenho para a geração de dados relevantes,
importantes para a avaliação da qualidade e produtividade e para ações de
melhoria.
Os gestores da Beta pretendem também continuar buscando novos
treinamentos para seus colaboradores. Dentro de alguns meses, receberão
treinamento do SECONCI diretamente no local da obra com o objetivo de treinar os
funcionários em outras funções e ensinar os ajudantes a função dos profissionais.
De forma geral, o processo de aprendizado ocorre de maneira natural, os
funcionários aprendem suas funções no dia a dia da obra. Com o treinamento,
passarão a contar com um aprendizado mais formal e adequado. Contudo, para
receber tal treinamento, a construtora terá que cumprir algumas exigências, tais
como disponibilizar uma sala de aula para, no mínimo, 20 pessoas.
Além das ações mencionadas acima, os gestores da Beta estão sempre em
busca de novos prêmios e certificações, confiantes no impacto que eles
proporcionam na imagem da empresa e na credibilidade que transmitem aos
clientes, materializando, assim, a preocupação da empresa com a melhoria contínua
e a excelência.
4.3 CONSTRUTORA GAMA
A Gama atua nesse mercado há cerca de 40 anos. Sua abrangência
geográfica restringe-se, basicamente, à Niterói, cidade na região metropolitana do
Rio de Janeiro. Apesar de também executar obras comerciais, em 2013, o foco da
empresa está nas edificações multifamiliares.
Trata-se de uma empresa familiar cujos clientes têm acesso direto aos donos
da empresa. Portanto, muitos clientes, quando compram uma unidade, lidam direto
com o dono da empresa, desenvolvendo, assim, um relacionamento durante o
processo de compra e construção. O Diretor Técnico da empresa relata que existem
112
clientes que desconhecem o fato da construtora possuir SAC e reportam-se
diretamente aos donos, inclusive para a resolução de problemas que caberiam ao
Serviço de Atendimento ao Cliente.
Segundo descrito no website da construtora, seus anos de experiência e
grande número de unidades entregues fizeram com que a empresa se tornasse
reconhecida no mercado em que atua por sua preocupação com a qualidade e
satisfação dos clientes. Para tanto, tem como objetivo entregar projetos concebidos
de acordo com padrões de excelência e em conformidade com o selo de qualidade
ISO 9001. Contudo, a imagem da empresa nem sempre foi essa. Em seus primeiros
anos de atuação, a Gama era considerada pelo mercado de construção Niteroiense
como uma empresa ruim, desorganizada, com estandes sujos etc., o que gerava
duras críticas por parte de clientes e corretores.
Hoje, a Gama julga-se ciente de sua responsabilidade social. Qualidade,
custo e prazo passaram a ser três das principais variáveis que compõe um bom
atendimento e a construtora busca manter relacionamentos de longo prazo com
fornecedores, descartando, na maioria dos casos, foco exclusivo em custo.
Após a crise de 2008, a construtora cresceu, assim como todo o setor da
construção civil. A construtora, que antes entregava uma obra por ano, passou a
executar quatro obras simultaneamente após a crise. A Gama trabalha, em 2013,
com 90% de efetivo próprio, gerindo mais de 600 funcionários.
4.3.1 Motivações para a implantação de práticas lean
A introdução de práticas lean pela construtora Gama foi impulsionada por
questões relacionadas, principalmente, à conjuntura do setor, como: aspectos
financeiros (acesso a financiamentos), maior grau de competitividade entre as
empresas e aumento das exigências do consumidor e outras demandas do
mercado. Ademais, as motivações também têm relação com a melhoria nos níveis
de desempenho operacional (redução de custos e ordem no ambiente de trabalho),
bem como com o nível estratégico (posicionamento de mercado). Tais motivações
serão descritas a seguir:
113
A história da Gama e seu processo de implantação de práticas lean quase se
confundem com a história profissional de seu Diretor Técnico, na empresa desde
1988. O diretor foi convidado a integrar o quadro da empresa aos 24 anos de idade,
quando tinha apenas um ano de formado, já para ocupar o cargo de direção.
Segundo ele, naquela época, não existia uma organização sistêmica e não
havia nada determinando como as coisas deveriam acontecer dentro da empresa.
As decisões eram tomadas pelas “cabeças” que dirigiam a construtora que, de
acordo com cada situação, determinavam como proceder.
“Quando entrei, era muito novo, tinha pouca experiência, mas muita vontade. Me senti entrando no meio de um trem andando, tentando entender o que estava acontecendo, mas ao mesmo tempo, tentando implementar algumas melhorias (...). Eram coisas básicas que eu via nas outras empresas.”
“Tínhamos uma empresa totalmente despadronizada. A empresa gerava seus negócios em função das cabeças que a compunham. Não havia uma continuidade. Quando entrei já tinham passado por aqui dois diretores. Não foi passado nada para mim. Peguei um “sistema” que ninguém me disse como funcionava.”
Ao assumir o cargo, o diretor passou a ter grande abertura para implantar
melhorias. Cabe destacar, entretanto que, naquela época, a construção civil era
bastante diferente do que se vê em 2013. Segundo ele, em 1988, havia “portas
abertas” o dia inteiro, areia era jogada no meio da calçada e a rua não era limpa.
Exceto raríssimas exceções, as construtoras entregavam aos clientes um
apartamento básico, e esses deveriam concluir por conta própria o que estivesse
pendente. De forma geral, não havia o compromisso de entregar um bom produto, o
qual o proprietário pudesse apenas mobiliar para, então, morar. As construtoras se
restringiam a obedecer somente às especificações registradas em cartório.
Nos últimos vinte anos, as pressões sobre a construção civil se intensificaram.
O número de exigências sobre as obras, tanto por parte dos órgãos públicos como
da vizinhança e dos clientes (respaldados pela lei do consumidor), aumentou
significativamente. Isso fez com que as construtoras fossem pressionadas por todos
os setores da sociedade a mudar seu comportamento.
Apesar do rigor da Gama em relação aos prazos de entrega das unidades aos
clientes, a construtora era mal vista no mercado de construção. Isso fez com que o
Diretor Técnico sentisse a necessidade de trazer melhorias para a empresa de modo
114
a reposicioná-la no mercado. Durante dez anos o engenheiro implantou práticas
isoladas, obtendo sucesso em algumas e nenhum sucesso em outras.
Ao relatar como conseguiu introduzir práticas lean na Gama de maneira mais
estruturada, o diretor conta que o processo ocorreu com base nos conhecimentos
adquiridos em um curso oferecido pela equipe da Fundação Vanzolini no Sinduscon-
RJ. A abertura da primeira turma no estado do Rio de Janeiro foi impulsionada pelas
exigências que começavam a ser feitas por diversos órgãos federais quanto à
implantação de sistemas de qualidade nas construtoras. Dessa forma, foi oferecido
um curso para (1) mostrar às construtoras a importância do sistema de qualidade e
(2) dar uma direção aos profissionais das empresas sobre como implantar o sistema.
Um dos motivos que impulsionou a Gama a realizar o curso foi a possibilidade
de implantar as práticas aprendidas em sala e, assim, tornar-se apta a conquistar,
posteriormente, a certificação do PBQP-h concedida pelo Ministério das Cidades.
Dessa forma, estaria obtendo vantagem competitiva, posto que estava antecipando-
se ao que julgava ser uma futura tendência de mercado. Além disso, a Caixa
Econômica Federal começava a exigir que as empresas tivessem sistemas de
qualidade para terem acesso a financiamentos, aspecto importante para a Gama.
Durante dez anos (de 1988 a 1998) o diretor implantou práticas isoladas na
empresa, freado por sua pequena experiência profissional. Agora, respaldado pela
Presidência da construtora que o incentivou a realizar o curso, o diretor via uma
oportunidade de implantar, sem medo, tudo o que gostaria de implementar na
empresa em termos de organização de processos.
4.3.2 Práticas adotadas
Sob a ótica dos entrevistados, uma série de práticas lean que vêm sendo
implementadas pela construtora Beta. As práticas, que serão descritas nos próximos
parágrafos, podem aqui ser resumidas em: incentivos para a redução de
desperdícios dentro e fora da organização, encorajamento dos trabalhadores a
manterem o local de trabalho limpo e organizado, planejamento do fluxo de materiais
e mão de obra para a minimização de estoques e transportes ineficientes de
recursos, garantia de segurança para os trabalhadores, realização de questionários
115
de satisfação dos clientes no pós-entrega, manutenção na entrega, execução do
projeto mantendo os prazos planejados, padronização, identificação e eliminação de
problemas no processo, gerenciamento da interação entre atividades, sincronização
dos fluxos, fiscalização diária, planejamento do layout do canteiro para otimização
dos espaços, fluxo de trabalho confiável, planos de trabalho semanais para controle
do fluxo de trabalho e desenvolvimento de planos de ação para as readequações
necessárias, explicitação dos marcos estabelecidos no cronograma, Técnica Last
Planner, acompanhamento percentual de tarefas concluídas, identificação das
causas de falhas e tomar medidas para prevenir reincidências, planejamento da
produção visando a manutenção do ritmo de trabalho ao invés de picos de
produtividade, controle dos custos e consumo de material e mão de obra, contratos
de relacionamento de longo prazo, comunicação e integração com os parceiros,
encorajamento dos funcionários a proporem melhorias, reuniões periódicas da
equipe, treinamento.
Uma das práticas lean aprendidas no curso realizado no Sinduscon-RJ
consistia no controle do consumo de materiais e serviços. Para atender o nível mais
básico do Programa era solicitado que a empresa implantasse, por exemplo, um
caderno para controle de seis materiais. Contudo, a Diretoria optou por implantar o
caderno para todos os 30 materiais da obra de uma só vez. Além de obter melhores
resultados, tal medida reduziu esforço dos engenheiros e estagiários em diferenciar
quais os materiais teriam uso controlado e quais não teriam.
Durante o curso foram repassados aos participantes procedimentos semi-
prontos para serem adaptados à realidade de cada empresa. Com esses
procedimentos semi-prontos em mãos, os gestores da Gama montaram grupos de
estudo de procedimentos. Os grupos de estudo deveriam selecionar na obra os
melhores encarregados em cada função para participarem do estudo. Perguntava-
se, por exemplo, ao melhor executor de alvenaria como ele executava esta
atividade. Ele, então, descrevia detalhadamente o processo. A partir daí, adotava-se
a prática lean de identificação e eliminação de problemas no processo, ou seja, o
grupo de estudo questionava se aquele procedimento (adotado há anos pelo
encarregado) era o mais adequado e propunha melhorias quando cabível, sempre
com o “respaldo” do encarregado. Todos os procedimentos foram documentados,
116
escritos etapa por etapa. A participação dos encarregados no processo de
formalização e reformulação dos procedimentos foi fundamental.
Dessa forma, através da prática lean de encorajamento dos trabalhadores a
desenvolverem soluções de melhoria, a Gama aproximou seus melhores
funcionários do processo de tomada de decisão. Essa prática foi implementada, pois
os gestores da empresa perceberam que, se trouxessem para o canteiro toda a
papelada do curso com os procedimentos semi-prontos e a repassasse à equipe de
obra, nada seria implantado. Então, foi preciso incluir a todos no processo de
implantação. A Diretoria permitiu que os funcionários mostrassem o que faziam e,
junto com eles foi introduzindo pequenas modificações visando atender à norma.
Dessa forma, explicou-se aos encarregados que existia uma norma que ela
precisava ser atendida e que as mudanças introduzidas não seriam muito diferentes
do que ela já estava sendo feito pelos funcionários.
Esta foi a primeira etapa de implantação das práticas: fazer com que todos os
funcionários da empresa comprassem a nova ideia e estivessem envolvidos no
processo de “montagem” dos processos de serviços. O conhecimento, agora
formalizado, de como cada procedimento deveria ser executado passou a ser
transmitido para os novos funcionários que ingressavam na construtora. A prática
lean de treinamento da força de trabalho foi uma forma de dotar os funcionários com
a qualificação desejada e, ao mesmo tempo, dar continuidade à implementação das
práticas, algo que anteriormente não existia na empresa.
De acordo com o Diretor Técnico, o sistema de qualidade ensinado no curso
não exigiu que a Gama construísse sob uma determinada técnica. Exigia, na
verdade, que a construtora integrasse seus processos através da prática lean de
gerenciamento da interação entre atividades ao invés da ênfase em tarefas
específicas. Dessa forma, as etapas que não estão de acordo com o sistema de
qualidade passaram a ficar “travadas”.
As diversas etapas da obra possuem sequência, assim como prazos de
execução e procedimentos para a execução. Cabe ao engenheiro disponibilizar
insumos e avaliar o correto momento de se iniciar uma etapa, de acordo com o
efetivo disponível, a fim de que a mesma não seja interrompida até a conclusão de
todos os pavimentos. Segundo o engenheiro de obras, isso pôde ser alcançado
através das práticas lean de sincronização e suavização dos fluxos e da Técnica
117
Last Planner. Tal medida tende a regularizar o nível de trabalho, consequentemente
reduzindo picos de produtividade (prática lean de planejamento da produção visando
o ritmo de trabalho). Para manter os fluxos de trabalho, dificilmente têm-se obras
começando ao mesmo tempo. Há uma diferença entre as datas de início para que
concluída uma etapa em uma obra ela possa ser iniciada em outra e os profissionais
envolvidos sejam realocados sem que haja ociosidade.
Ademais, para que não haja ociosidade na obra, a empresa terceiriza uma
pequena parte da mão de obra, referente a atividades específicas que ocorrem
apenas em uma etapa da obra. Com esses prestadores de serviço a Gama
desenvolveu relações de parceria - prática lean de desenvolvimentos de relações e
contratos de longo prazo.
Segundo o Diretor Técnico, existem dois tipos de construção: uma totalmente
seca e montada e a outra artesanal. A Gama é uma construtora artesanal. Nada
chega montado ao canteiro, portanto, tudo é montado na obra. Contudo, todas as
atividades seguem procedimentos pré-estabelecidos (nos grupos de estudo
mencionados acima), desde o início, com a compra do terreno, passando pela
fundação, estrutura, alvenaria, emboço, azulejo, até a entrega da obra. Existe um
processo para cada etapa da obra, configurando, portanto, a prática lean de
padronização.
A Gama, que trabalha com 90% de mão de obra própria, treina seu próprio
pessoal, conforme mencionado. Apesar de ser “dependente” de grande quantidade
de mão de obra, o engenheiro de obras relata que a empresa não enfrenta
problemas com escassez de mão de obra como ocorre com suas concorrentes.
Segundo ele, sempre há pessoas interessadas em trabalhar na Gama. Isso se deve
às práticas relacionadas à satisfação dos funcionários: a construtora paga seus
funcionários religiosamente nos dias 15 e 30 e paga mais do que as outras
empresas porque deseja ter os melhores funcionários, cada um deles tem o seu
armário, tem banheiro limpo e azulejado, que é zelado pelos mesmos (a própria
equipe chama a atenção daqueles que não mantiverem o local limpo).
Em suma, os funcionários sentem-se valorizados. Alguns deles já estão na
empresa há anos. O engenheiro de obra diz que os funcionários não ficam parados
na obra. Quando terminam um serviço e estão distantes do encarregado, o que é
normal, vão procurar o encarregado para saber qual é a tarefa seguinte.
118
De acordo com o engenheiro de obras, uma das práticas lean adotadas com
intuito de garantir a segurança dos trabalhadores é a realização de reuniões
periódicas sobre segurança do trabalho, para que os funcionários sejam
relembrados sobre os procedimentos de segurança e a manterem o ambiente de
trabalho limpo. Manter o ambiente de trabalho organizado não apenas diminui o
número de acidentes de trabalho, como também consiste em uma prática lean para
a redução de desperdícios e aumento da transparência nos processos.
O engenheiro de obras da empresa relata que a prática lean de
desenvolvimento de fluxos de trabalho confiáveis foi alcançada através do bom
andamento dos processos internos da empresa e das práticas lean de
desenvolvimento de parcerias e de integração e comunicação entre as diversas
partes envolvidas. Os projetistas contratados (arquiteto, engenheiro calculista e
engenheiro de instalações) são sempre os mesmos e já estão familiarizados com o
esquema de trabalho e padrões da empresa; portanto, sabem como o projeto deve
ser entregue. Dessa forma, não há surpresas nem retrabalho.
Retrabalho é considerado pela empresa como desperdício. Dessa forma, é
exigido dos funcionários que executem as tarefas com cautela, seguindo os
procedimentos formais que lhes foram passados nos treinamentos. O engenheiro de
obras relata que, atualmente, só há necessidade de refazer um serviço se, por
ventura, algo for danificado durante a obra. Ademais, nenhum funcionário entra em
um cômodo se não for para deixá-lo pronto.
No que diz respeito ao desenvolvimento de relacionamentos com
fornecedores, o Diretor Técnico acrescenta que vários prestadores de serviço da
Gama são formados dentro da construtora. Os serviços de instalações hidráulicas,
por exemplo, eram executados por bombeiros que faziam parte do quadro de
funcionários da empresa e desempenharam muito bem suas tarefas durante muitos
anos. A Direção da construtora decidiu “transformar” tais funcionários em uma
empresa. Dessa forma, esses profissionais passaram a ganhar mais, atuando como
pessoa jurídica e prestando serviços para mais empresas enquanto que a Gama,
além de pagar menos pelo serviço, acabou com a ociosidade nessas funções (ações
que corroboram com as práticas lean voltadas à redução de desperdício de mão de
obra). Cabe destacar que a construtora deu todo o suporte para a formação dessas
novas empresas e hoje, de acordo com o Diretor Técnico, esses prestadores de
119
serviço faturam três vezes mais que antes, ao passo que a Gama reduziu seus
custos pela metade nessas funções. Inicialmente, os ex- funcionários prestavam
serviços apenas para a Gama, porém, com o tempo e com os contatos do Diretor
Técnico, passaram a prestar serviços para outras construtoras também.
O relacionamento de longo prazo da construtora com seus parceiros faz com
que não falte material em suas obras. A empresa demonstra respeito pela atividade
desses parceiros através do pagamento em dia e da preparação para receber o
material fornecido. Quando um caminhão de tijolos, por exemplo, chega ao canteiro
da Gama, tem-se a preocupação de descarregá-lo prontamente, porque o
fornecedor precisa fazer outras entregas. Essa atitude gera uma relação de
cooperação: a construtora prepara-se para receber o material cuidando para que
não haja entregas simultâneas e o fornecedor, por sua vez, não interrompe o
fornecimento para a construtora.
Além da preocupação com seus fornecedores, a construtora preocupa-se
também com a satisfação de seus clientes, por entender que seu marketing é o
próprio cliente quem faz. A empresa não possui departamento de marketing, pois
julga não ser esse o seu talento. Segundo o Diretor Técnico, a Gama não está na
mídia e não faz marketing pessoal.
Em contrapartida, percebeu-se que a implantação de práticas lean
proporcionou, ainda que de forma emergente, que a empresa mudasse sua imagem
perante corretores e clientes. Com a introdução de novas práticas, foi possível
passar credibilidade aos clientes através de um processo totalmente transparente.
Além de terem acesso direto aos donos da empresa, as obras da Gama estão
abertas a visitação, mediante agendamento prévio, a partir do instante em que o
primeiro andar de alvenaria é concluído. Ou seja, mesmo com a obra andando, há
uma pessoa em cada obra dedicada a receber os clientes que desejam ver o
andamento da obra. Segundo o Diretor Técnico, essa prática visa “trabalhar a
ansiedade” do cliente.
A preocupação com a identificação das necessidades dos novos proprietários
vai mais além. A Gama oferece um serviço de pós venda que supera o que é
determinado legalmente. Juridicamente, as empresas de construção são
responsáveis por certos aspectos do projeto durante os cinco anos subsequentes a
sua entrega. Entretanto, adicionalmente, ficou determinado que durante os seis
120
primeiros meses, quando os proprietários estão em fase de mudança, a empresa
adotaria a prática lean de manutenção antes da entrega, além de atender a
quaisquer solicitações feitas pelo cliente. Ao contrário do que é feito na maioria dos
concorrentes, o intuito de tal prática é não deixar os proprietários sem suporte só
porque as unidades já foram entregues. Nesse período de seis meses é mantida
uma equipe para atender o recém formado condomínio. O diretor diz atender a
todos, inclusive aos “maus” clientes - aqueles que destroem itens que estavam em
perfeito estado no momento da entrega. Isso é feito, pois, conforme mencionado, o
cliente é o maior marketing da empresa e seus gestores estão cientes que uma
palavra negativa danifica a imagem da empresa numa proporção muito maior do que
os clientes que falam bem dela.
Passados os seis meses após a entrega da obra (ou da última unidade), a
Diretoria Comercial da Gama envia aos proprietários um questionário de avaliação
da qualidade. As respostas do questionário são transformadas em um relatório que é
analisado pela Diretoria Técnica e pelo Comitê da Qualidade para o
desenvolvimento de ações corretivas.
O Diretor Técnico argumenta que esse procedimento demonstra que a Gama
busca melhorar continuamente. Além de ter implantado a prática lean de
identificação das causas de falhas e tomada de medidas para prevenir reincidências,
a Gama procura novas formas de continuar melhorando os seus processos. Um
exemplo disso ocorreu quando a construtora passou a adotar um sistema de pastas
para controlar cada material e serviço na obra. Resumidamente, essa prática
consistia em manter dois arquivos metálicos com três gavetas, cada uma contendo
todo o material envolvido na certificação ISO 9001. Cada vez que chegava material
no canteiro, o engenheiro ou estagiário tinha que acessar o arquivo e pegar a pasta
correspondente para preencher as informações necessárias. Da mesma forma,
quando transitava pela obra para conferir o consumo de materiais e o andamento
dos serviços precisava carregar consigo diversas pastas para imputar as
atualizações.
Com o passar do tempo, observou-se que esse processo era cansativo e
complicado para quem entrava na empresa. Então, para simplificá-lo, as pastas
foram transformadas em três cadernos: um de materiais, um de serviços e outro de
processos. Dessa forma, a prática lean de fiscalização diária foi facilitada, uma vez
121
que o engenheiro ou o estagiário podem, por exemplo, transitar pela obra conferindo
simultaneamente de 10 a 15 serviços, já que em mesmo caderno o profissional
encontra todos os itens que precisam ser conferidos e os campos a serem
preenchidos.
Ainda com relação às práticas de controle, são realizadas reuniões semanais
com a equipe para discussão de assuntos referentes ao andamento do cronograma
de obra (acompanhamento percentual de tarefas concluídas) e possíveis soluções
em casos de atraso (ex: hora extra, aumento da equipe). Essas reuniões têm data e
hora para acontecer e devem contar com a participação de toda a equipe de obra,
para que todos tomem conhecimento das metas estabelecidas. Há uma pessoa em
cada obra responsável por avisar aos gestores caso as reuniões deixem de ocorrer,
posto que existe uma crença de que as pessoas tenham certa aversão a reuniões.
Para reduzir a percepção negativa, busca-se realizar reuniões breves com a
utilização de uma ata pré-estruturada (modelo de reunião mensal) para guiar e
agilizar o processo, mantendo as pessoas focadas no assunto. Os engenheiros de
obra também procuram utilizar linguagem simples, por estarem lidando com pessoas
simples.
São discutidos todos os aspectos relacionados a prazos, consumo de
materiais etc. (prática lean de controle de custos e de consumo de matéria prima de
acordo com cada atividade) e, a partir daí, existe o compromisso dos envolvidos de
cumprirem aquilo que foi estabelecido na reunião. O engenheiro de obras relata que
os funcionários sentem-se comprometidos com o cumprimento das metas, posto que
são eles que dizem o que pode ser cumprido.
As metas definidas no cronograma (tarefas e efetivo necessário) são traçadas
mensalmente, porém seu acompanhamento é semanal. Através do controle das
atividades, a empresa é capaz de entregar suas obras no prazo acordado com os
clientes. O diretor da empresa relata que nenhuma obra é entregue atrasada e que a
empresa nunca precisou recorrer ao prazo de seis meses de carência. Todas elas
são entregues dentro do prazo combinado com o cliente no contrato, contribuindo,
assim, para a satisfação dos proprietários.
No passado, a empresa tentou reduzir seus tempos de ciclo e entregou obras
antes do prazo previsto. Entretanto, as pressões feitas pela vizinhança com relação
122
ao horário do expediente fizeram com que a empresa levasse em consideração esta
demanda e voltasse a entregar as obras em 24 meses, na média.
Com relação às práticas voltadas à redução de desperdícios, já foram
mencionadas ações que visam à redução de desperdícios de mão de obra, como a
sincronização dos fluxos de trabalho, a simplificação de processos e as ações para
eliminação de ociosidade e retrabalho. Contudo, a Gama preocupa-se também com
práticas de minimização de desperdícios de materiais. Há um efetivo controle de
consumo, merecendo atenção a etapa de formas para concreto armado, na qual os
carpinteiros costumam ser monitorados e orientados à reutilização de peças de
madeira. Além disso, costuma-se verificar o volume de sobras gerado para saber se
os funcionários não estão utilizando um material novo, sabendo que poderiam
reutilizar uma peça menor que sobrou de outra atividade. Adicionalmente, os
pedidos de tijolos, cimento, argamassas, dentre outros, são realizados tão logo se
atinja a quantidade mínima estipulada.
O lema da Gama é “a obra não se limpa, pois a obra não se suja”. Os
funcionários são instruídos (e monitorados) a manter o canteiro sempre organizado.
Para auxiliar essa prática, outra prática lean foi implantada: elaboração de estudo de
layout do canteiro. Antes que a construção comece, a equipe de obra recebe o
projeto e identifica através dele as áreas disponíveis. É feito, então, um croqui com a
delimitação de áreas de vivência, estocagem etc.
O material descarregado pelos fornecedores segue direto para a área próxima
ao transporte vertical para que os pavimentos sejam abastecidos conforme
necessário, evitando, assim, manuseio excessivo de materiais – prática lean de
planejamento do fluxo de materiais para a eliminação ou minimização de estoques e
transporte excessivo de recursos. O Diretor Técnico da empresa aponta que a
logística é fundamental para manter o custo baixo. Então, há um rigoroso controle de
estoque e quando os materiais atingem uma quantidade mínima sabe-se que ele
atingiu o ponto de pedido.
Cabe por fim destacar que a alta gestão da Gama está comprometida com a
implantação e andamento das práticas, além de estimular o constante contato entre
os engenheiros de todas as obras para a troca de experiências bem e mal
sucedidas.
123
4.3.3 Dificuldades de implantação
É possível apontar algumas dificuldades encontradas pela Gama durante o
processo de implantação das práticas lean, as quais podem ser divididas em duas
fases. A primeira tentativa de implantar algumas práticas ocorreu entre os anos 1988
e 1999 e, nesse momento, as práticas eram introduzidas de forma isolada e a
construtora esbarrava em dificuldades ligadas à falta de um planejamento
estratégico estruturado e ao processo decisório baseado apenas na pouca
experiência de seu gestor. Na segunda fase, quando passou oficialmente a
implantar as práticas lean (chamadas de sistema de qualidade) de forma mais
sistemática e com base no aprendizado decorrente do curso realizado no Sinduscon,
as dificuldades mencionadas acima deixaram de ocorrer. Porém, a Gama relata que,
ainda que pouco relevantes, surgiram dificuldades oriundas de certa resistência à
mudança cultural, do estabelecimento de metas agressivas e, algumas vezes, da
falta de experiência na adoção de certas práticas (resultando na necessidade de
ajustes).
O principal responsável pela implantação de práticas lean na Gama foi e
continua sendo o seu Diretor Técnico. Seu primeiro desafio para implementar
melhorias começou assim que foi convidado a trabalhar na construtora. Ao entrar na
empresa, foi acompanhado durante uma semana pelo antigo diretor. Nesse tempo,
não lhe foi passado nada, assim como nada era passado aos demais funcionários
que ingressavam na empresa. A empresa era desorganizada em termos de
processos, as decisões ficavam a critério do perfil de quem a estava gerindo e isso
dificultava a introdução de práticas de melhoria.
Ao assumir a empresa, o Diretor Técnico teve autonomia para colocar em
prática o seu desejo de melhorar os processos da construtora. Contudo, apesar da
autonomia, existiam os limites da empresa, o que tornava difícil o processo de
mudança. Ele declara, ainda, que sua pouca experiência gerencial (e, talvez, a falta
de uma visão mais holística do processo) lhe causavam insegurança:
“Quando você tem 24 anos, você fica com medo de afetar a empresa. Essa empresa já existia há 12 anos e era uma empresa que dava certo, apesar dos problemas, dava lucro. Então, o medo existe. Com a experiência perdi o medo. Existia o medo de mudar, mas algumas coisas eu fui tentando.”
124
Essa insegurança e a introdução lenta e isolada de práticas que nem sempre
eram bem sucedidas perdurou por dez anos. Tais dificuldades só começaram a ser
superadas entre 1999 e 2000, quando a equipe de São Paulo veio para o Rio de
Janeiro oferecer os cursos de sistema da qualidade do PBQP-h.
Para muitas construtoras a dificuldade de implementar tal sistema encontrava-
se na resistência do próprio mercado e na disseminação da ideia de que o programa
geraria grande volume de trabalho e custos adicionais. Entretanto, essa não chegou
a ser uma dificuldade para a Gama, posto que a visão e o comprometimento de seu
Diretor Técnico assim como sua ânsia por melhorias fizeram com que a empresa
contrariasse o mercado, concluísse o curso e passasse a adequar à sua realidade
os ensinamentos aprendidos (procedimentos semiprontos), resultando na
certificação pelo Programa e pela ISO 9001.
Mesmo adequando o material do curso ao seu contexto específico, a Gama
teve, inicialmente, uma pequena dificuldade. O processo resultante dessa
adaptação, embora mais simples que o explanado no curso, ainda era algo
cansativo e complicado para quem entrava. Eram utilizados, por obra, dois arquivos
com três gavetas cada com fichários e pastas com material da ISO 9000 que deveria
ser manuseado frequentemente. Novas simplificações foram feitas e este material foi
transformado em apenas três cadernos, eliminando-se aquela dificuldade.
Ciente de que o grande problema na implantação de práticas lean é conseguir
que as pessoas incorporem as mudanças, o Diretor Técnico buscou minimizar
possíveis resistências através da comunicação e da simplificação dos processos.
Quando as pessoas envolvidas (e isso já começa com o engenheiro de obra)
começaram a colocar barreiras no processo de implantação das práticas, dada a
ideia pré-concebida de que sistemas de qualidade são muito complexos, os gestores
da Gama se empenharam em mostrar a todos que as novas práticas viriam para
simplificar, que tratava-se de um sistema simples e que deveria contar com a
colaboração de todos.
A resistência à mudança ocorre porque os envolvidos sabem que o sistema
faz com que todos trabalhem, que todos sejam cobrados e sejam responsáveis pelo
sucesso do projeto. Ninguém gosta de ser cobrado. Por isso, a comunicação em
todos os níveis da empresa e a participação inclusive dos encarregados de obra foi
fundamental para minimizar as dificuldades “naturais” da implementação das
125
práticas. As dificuldades foram reduzidas ainda mais quando os primeiros resultados
começaram a aparecer e os funcionários perceberam que seu trabalho fluiu de
forma melhor do que fluía antes e, em consequência disso, a cobrança por
resultados passou a ser menor.
Outra dificuldade enfrentada pela Gama foi com o estabelecimento de
algumas metas. A construtora, que vem diminuindo anualmente o custo do metro
quadrado construído, estabeleceu uma meta bastante agressiva inicialmente. Mas,
ao perceber que a meta estava se tornando inatingível e poderia afetar a motivação
dos envolvidos, foram feitos novos cálculos e, assim, conseguiu-se continuar
diminuindo o custo do metro quadrado a cada ano.
Por fim, o Diretor Técnico relata que a Gama é a melhor empresa da cidade
em termos processuais. Segundo ele, existem obras da concorrência que são mais
bonitas e esteticamente mais elaboradas, mas diz que este não é um foco da
empresa.
4.3.4 Resultados obtidos com a adoção de práticas lean
A introdução de práticas lean pela construtora Beta resultou em diversos
benefícios para a empresa. Entre os resultados alcançados é possível citar a
minimização de desperdícios de mão de obra, a melhoria na curva de aprendizado
da força de trabalho e sua relação com a implantação das práticas lean, processos
mais eficientes, a redução de custos, a maior satisfação dos clientes e a ocorrência
de aprendizado por meio da ação. Esses e outros resultados destacados pelos
entrevistados serão descritos nos próximos parágrafos.
Embora faça o controle do consumo de materiais, dos serviços e processos, a
Gama não possui indicadores de desempenho para avaliar com precisão os
resultados da implantação das práticas lean. Entretanto, os resultados da
implementação puderam ser percebidos por todos da empresa.
Até meados da década de 1990, a imagem da Gama no mercado de
construção era muito ruim. Um dos resultados obtidos (ainda que não esperados)
com a implantação das práticas lean foi a reversão desse quadro. Para adaptar-se
126
ao sistema de qualidade e certificar-se, a empresa teve que se transformar, e isso
influenciou a forma de relacionar-se com corretores e clientes, “agentes
responsáveis” pelo marketing da firma. Não foi apenas perante o mercado que a
empresa mudou. A organização dos processos da construtora também afetou a
percepção dos funcionários e fornecedores com relação ao trabalho desenvolvido
pela Gama. O impacto nos funcionários não se restringiu apenas aos operários
ligados diretamente à obra, as práticas também tiveram impacto em outros
departamentos da empresa, em especial, o comercial.
Como resultados das práticas relacionadas à satisfação dos funcionários, a
empresa não tem ações trabalhistas há mais de dez anos e não há reclamações dos
funcionários. Ademais, percebeu-se um aumento da motivação dos mesmos,
principalmente por sentirem-se envolvidos nas decisões da empresa. A abordagem
adotada pela Gama para introduzir as práticas, sem impô-las e contando com a
participação dos encarregados, gerou orgulho, comprometimento e melhor aceitação
das mudanças que iriam ocorrer. A satisfação desses funcionários faz com que não
haja falta de mão de obra na empresa: além da baixa rotatividade, há muitos
interessados em entrar para o quadro da empresa. Segundo o Diretor Técnico:
“Nessa empresa tem fila na porta! Funcionário ruim aqui não fica, pois os outros funcionários tiram ele. Não sou eu que tiro. São os próprios colegas. A rotatividade aqui é muito pequena. Então, as pessoas vem para essa empresa porque gostam daqui. E todos da equipe querem trabalhar, o funcionário se sente valorizado.”
Sendo assim, o Diretor atribui o bom funcionamento das práticas ao fato de as
responsabilidades também serem determinadas debaixo para cima. Dessa forma, os
funcionários são cobrados por aquilo que eles se propuseram a realizar pela
empresa, sentem-se comprometidos e incluídos. Adicionalmente, o conjunto de
práticas implantadas faz com que os processos fiquem mais eficientes, que ocorra
uma melhoria na curva de aprendizado da força de trabalho e que todos trabalhem e
sejam responsáveis pelo sucesso do projeto. Além disso, os funcionários percebem
que as mudanças feitas fazem com que seu trabalho flua muito melhor do que antes,
reduzindo necessidade de cobranças.
A Gama preocupa-se também com a satisfação dos fornecedores, com os
quais desenvolve parcerias. Aos solucionar problemas de ociosidade em algumas
funções, a construtora montou empresas para que os bons profissionais dessas
127
funções tivessem a oportunidade de ganhar mais prestando serviços para a Gama e
para outras empresas, ao mesmo tempo em que a empresa gastaria menos com o
serviço. Esses profissionais, agora prestadores de serviço, continuaram oferecendo
um trabalho de qualidade, conforme os padrões da empresa e tem com a
construtora uma espécie de relação de fidelidade.
O relacionamento de longo prazo da construtora com seus parceiros faz,
também, que não falte material em suas obras. A construtora tem seus fornecedores
como parceiros, uma relação desenvolvida durante vários anos e pautada no
respeito pela atividade do outro. A Gama compra sempre nos mesmos fornecedores,
os quais sabem dessa relação de fidelidade. Quando um caminhão de tijolos, por
exemplo, chega ao canteiro da Gama, tem-se a preocupação de descarregá-lo
prontamente, posto que ele precisa realizar outras entregas no mesmo dia. Sabendo
desse tratamento, os fornecedores priorizam o abastecimento à empresa, cumprem
o prazo, pois sabem que a construtora está organizada para recebê-lo e pagá-lo
corretamente.
A construtora começou a implantar práticas lean ainda durante o curso
realizado no Sinduscon-RJ, no final da obra que estava em andamento naquele
momento. A obra seguinte a essa já foi iniciada com os procedimentos bem
estruturados e com as práticas sendo adotadas durante todo o processo. O
resultado disso foi que a Gama certificou-se já em sua primeira obra no nível A do
Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-h) e no seu
equivalente, ISO 9001. Ademais, percebeu-se que, ao longo do processo de
implantação das práticas lean, a empresa ia descobrindo, por meio do aprendizado
pela ação, novas formas de melhorar seus processos.
Por conhecer bem o mercado de construção Niteroiense, frequentar reuniões
do setor e gerir outras três empresas do ramo, o Diretor Técnico da Gama defende
que, hoje, a Gama é a melhor construtora da cidade, pois, através das práticas
adotadas (1) oferece o melhor atendimento ao cliente, resultando em clientes
satisfeitos e em nenhuma ação judicial contra a empresa por parte deles; (2) valoriza
sua mão de obra, resultando em comprometimento, retenção, motivação e em
nenhuma ação trabalhista; (3) tem o menor custo por metro quadrado do Rio de
Janeiro, que vem diminuindo a cada ano e é proporcionado tanto pelos
procedimentos formais estudados pela empresa com participação dos encarregados
128
e por práticas de controle dos materiais (logística e consumo), como pelo
relacionamento de longo prazo com projetistas que já conhecem os padrões
desejados pela construtora; (4) minimiza possíveis surpresas durante a execução
das obras e; (5) mantém seus gestores comprometidos com o andamento e
implantação de novas práticas.
4.3.5 Projetos Futuros
De acordo com o Diretor Técnico da Gama, o sistema da qualidade é
evolutivo, nunca pára. Portanto, a construtora continuará buscando formas de
melhorar continuamente. A próxima obra a ser iniciada, por exemplo, passará a
contar com três novos procedimentos ainda não utilizados pela empresa (esquadrias
de alumínio prontas, portas prontas e gesso projetado nas paredes).
Ademais, a Gama pretende continuar diminuindo seu custo por metro
quadrado construído. Para tanto, continuará mudando processos, melhorando o
projeto e a sua análise e o treinamento e aumentando as parcerias e o número de
funcionários participativos.
O Diretor Técnico também destaca que o processo de melhoria é facilitado
pelo fato de ele também ser gestor de outras três empresas do mesmo ramo. Ele
acredita ter a vantagem de atuar como um “filtro”, absorvendo conhecimento de
várias fontes e, portanto, sendo capaz de melhorar as quatro empresas sob sua
gestão.
4.4 CONSTRUTORA ÔMEGA
A Ômega é uma empresa carioca bastante reconhecida nos mercados em
que está presente. Os representantes da empresa argumentam que seu
reconhecimento deve-se ao seu alto padrão de qualidade, solidez e trajetória
inovadora. Em seus mais de 50 anos de atuação, a Ômega desempenha atividades
de incorporação imobiliária (por conta própria ou em sociedade) e de construção de
129
edificações, entregando soluções que vão desde edificações comerciais,
residenciais e industriais até hotéis e shoppings centers.
A empresa diz ter conquistado vantagem competitiva ao gerenciar a sua
cadeia produtiva, atuando em todas as etapas do negócio. A partir de 2006, a
empresa iniciou sua expansão geográfica, passando a atuar também fora do Rio de
Janeiro. Suas operações se estendem pelas principais cidades nos estados do Rio
de Janeiro, Bahia e Minas Gerais. A Ômega pretende continuar seu processo de
expansão de forma a ter abrangência nacional conforme ocorre com as maiores
construtoras do setor.
Em 2013, a empresa conta com cerca de 80% da força de trabalho própria e
investe constantemente na capacitação de seus funcionários através de programas
de responsabilidade social, com intuito de fomentar a educação profissionalizante. A
educação dos colaboradores é gratuita e abrange tanto programas de alfabetização
quanto de capacitação profissional e programas de melhoria da qualidade de vida
dos operários nas obras.
A Ômega, além de possuir as certificações ISO 9001 e PBQP-H, já foi
destaque diversas vezes em premiações e rankings como: Prêmio Vitae Rio, Prêmio
Master Imobiliário ADEMI, Prêmio Empresa do Ano, Prêmio SECONCI, Melhores e
Maiores da revista Exame entre outros.
4.4.1 Motivações para a implantação de práticas lean
A introdução de práticas lean pela construtora Ômega foi impulsionada por
questões, sobretudo, de nível estratégico (posicionamento de mercado) e
relacionadas à conjuntura do setor, como: aspectos financeiros (acesso a
financiamentos), maior grau de competitividade entre as empresas e aumento das
exigências do consumidor e das demandas do mercado. As motivações para a
implantação de práticas lean também guardam relação com a melhoria nos níveis de
desempenho operacional sob a forma de redução de custos e prazos. Essas
motivações serão descritas a seguir:
130
O início da implantação de práticas lean na Ômega é anterior à chegada do
atual diretor de planejamento na empresa. Quando este entrou para o quadro de
funcionários da construtora, em 2005, a Ômega ainda não havia se certificado pelo
PBQP-h, porém já implementava algumas práticas isoladas como a promoção de
alguns treinamentos, introdução de técnicas novas no mercado, redução de
desperdícios etc. A contratação do diretor de planejamento ocorreu com intuito de
deixar o processo de implantação das práticas mais estruturado, de forma que esse
pudesse evoluir consistente e continuamente, já fazendo parte do processo de
expansão da empresa.
O diretor conta que os primeiros passos em direção à metodologia lean
(conhecida na empresa como programa de melhoria contínua) foram motivados,
simultaneamente, por questões estratégicas e conjunturais do setor. A Ômega, que
atuava, sobretudo, no mercado imobiliário carioca, tinha como estratégia expandir-se
para outros estados (movimento iniciado no ano de 2006). Dado a grande
competitividade do setor da construção civil, a construtora precisava repensar seu
posicionamento de forma a possibilitar um ingresso sólido e, assim, alcançar rápida
aceitação nesses novos mercados.
A decisão estratégica de expandir suas operações também foi motivada pela
conjuntura do setor naquele momento. A construção civil vivenciava (e ainda
vivencia em 2013) um alto grau de competitividade entre as empresas do setor. Ao
observar evidências de que práticas lean melhoravam a competitividade das
empresas que adotavam tal metodologia, a alta gestão da Ômega decidiu que era o
momento de implantar algumas práticas em seus canteiros, inclusive para viabilizar
a sua expansão e aceitação nos novos mercados.
Para uma entrada bem sucedida nesses novos mercados, nos quais, apesar
das oportunidades de negócio, havia também a concorrência de construtoras com
longo tempo de mercado, a Ômega motivou-se a implementar práticas que
possibilitassem a melhoria de seu desempenho operacional, impactando
principalmente na redução de custos, desperdícios e tempos de ciclo. Além de
melhorarem o desempenho operacional da construtora e aumentarem o controle
sobre os processos, a introdução de práticas lean também fazia parte da estratégia
da empresa de certificar-se pelo PBQP-h. A inclusão no Programa impactaria na
131
imagem da empresa perante o mercado e lhe possibilitaria, sobretudo, facilidade de
acesso a financiamentos.
A demanda do mercado é outro fator que fez e faz com que a construtora
busque continuamente introduzir práticas lean para melhorar seus processos. Nos
últimos anos (leia-se de 2009 a 2013), o mercado imobiliário manteve-se fortemente
aquecido, contando com aumento da demanda dos consumidores, não apenas por
novas unidades, mas por projetos que contemplem suas necessidades atuais e se
adequem ao estilo de vida de uma classe média que vem aumentando de tamanho.
Além do aumento de requisitos englobados nos projetos, houve também um
aumento da pressão exercida pelos clientes no que diz respeito à conformidade com
os direitos do consumidor.
Com o decorrer do tempo, o aumento das atividades de construção resultou
na escassez de mão de obra (principalmente mão de obra qualificada) e
consequente aumento do custo da força de trabalho, que tem grande
representatividade no custo final da construção. Somado a isso, observou-se
também uma alta na rotatividade da mão de obra que significa para a empresa
perda de produtividade e custos adicionais com treinamento dos novos funcionários.
Sendo assim, a Ômega motivou-se a buscar práticas que impactassem na
satisfação de seus funcionários, a fim de tentar retê-los na empresa.
4.4.2 Práticas adotadas
Sob a ótica dos entrevistados, é possível identificar uma série de práticas lean
que vêm sendo implementadas pela construtora Ômega em suas operações. As
práticas, que serão descritas nos próximos parágrafos, podem ser aqui resumidas
em: incentivos para a redução de desperdícios dentro e fora da organização,
encorajar os trabalhadores a manterem o local de trabalho limpo e organizado,
planejamento do fluxo de materiais e mão de obra para minimização de estoques e
transporte ineficiente de recursos, adoção de ferramentas de TI, realização de
questionários de satisfação com os clientes, manutenção antes da entrega,
execução do projeto mantendo os prazos planejados, padronização, identificação e
eliminação de problemas no processo, gerenciamento da interação entre atividades,
132
sincronização dos fluxos, fiscalização diária, planejamento do layout do canteiro para
otimização dos espaços, fluxo de trabalho confiável, planos de trabalho semanais
para controle do fluxo de trabalho e desenvolvimento de planos de ação para as
readequações necessárias, tornar explícito a todos os marcos estabelecidos do
cronograma, ter um responsável por atribuir adequadamente as tarefas aos
trabalhadores de acordo com diversos aspectos, acompanhamento percentual de
tarefas concluídas, identificar as causas de falhas e tomar medidas para prevenir
reincidências, contratos de relacionamento de longo prazo, comunicação e
coordenação entre todas as partes, encorajar funcionários a desenvolver novas
soluções, reuniões periódicas da equipe e treinamento.
De certa forma, pode-se dizer que a implantação de práticas lean pela
construtora Ômega esteve dividida em dois momentos. O primeiro momento, anterior
a 2005, consistiu na constatação de que as práticas lean traziam benefícios para as
empresas que adotavam a metodologia e consequente emprego de algumas
práticas de maneira isolada. Já o segundo momento consistiu na introdução de um
conjunto de práticas lean de forma mais estruturada e consistente, contando
inclusive com a formação de uma equipe para guiar o processo de implantação.
O engenheiro de planejamento carioca, que já compunha o quadro da
empresa antes da chegada do diretor de planejamento, relata que na primeira fase
de implantação foram introduzidas práticas fundamentalmente voltadas para a
redução de desperdícios. Com a introdução da gestão de resíduos em todas as
obras, os funcionários passaram a ser incentivados a consumir os recursos de forma
otimizada, seja pelo corte/consumo planejado dos materiais com geração mínima de
sobras ou pela reutilização de materiais sempre que possível.
Além disso, por atuar no mercado de construção há mais de cinco décadas, a
Ômega já adotava a prática lean de desenvolvimento de relacionamento com seus
principais fornecedores. Muito deles são parceiros de longa data da construtora,
fazendo com que os pedidos sejam entregues em conformidade com o que foi
acordado. Essa relação de parceria também permitiu à empresa implantar a prática
lean de planejamento do fluxo de materiais para minimização de estoques e
transportes ineficientes de recursos, que foi facilitada pela abertura que a Ômega
tem com alguns de seus parceiros em relação aos volumes de entrega. Os materiais
que chegam à obra tem local específico para serem descarregados e, sempre que
133
possível, são acondicionados diretamente próximos aos elevadores para que sejam
transportados e distribuídos em quantidades menores e adequadas nos pavimentos
em que serão utilizados.
Ainda no que diz respeito à redução de desperdícios, a construtora há tempos
implantou duas práticas lean combinadas que foram enfatizadas na segunda fase de
implantação da metodologia lean. São elas o planejamento do layout dos canteiros
de obra para a otimização de espaços, circulação e controle de estoque e o
encorajamento dos trabalhadores a manterem o local de trabalho limpo e
organizado.
Outra prática lean implantada pela Ômega já na primeira fase e reforçada
posteriormente foi o treinamento de seus colaboradores internos. Em um primeiro
momento, o treinamento consistia somente na capacitação de alguns funcionários
para execução de atividades específicas. Após a introdução formal da metodologia
lean e com o aumento da demanda por mão de obra impulsionada pelo aquecimento
do setor da construção civil nos anos subsequentes, a construtora criou um
programa de educação dos colaboradores que abrange tanto cursos de
alfabetização quanto de capacitação profissional e programas de melhoria da
qualidade de vida dos operários nas obras (treinamentos de segurança, orientação
dos funcionários para a utilização consciente dos espaços de trabalho e de vivência
de modo a deixá-los limpos e organizados etc.). Nas palavras do engenheiro de
planejamento:
“O resultado desse programa de educação vai mais além da geração de funcionários mais produtivos para a empresa; ele contribui também para um ambiente de trabalho mais seguro e para o aumento da satisfação dos funcionários, que impacta no aumento da retenção da força de trabalho.”
Com a chegada do diretor de planejamento na empresa e a formação de uma
equipe voltada para o planejamento das obras e para a introdução e controle de
novas práticas lean, estruturou-se o chamado Programa de melhoria contínua para a
implantação formal e consistente de um “pacote” de práticas lean.
Uma das primeiras práticas implementadas pela equipe foi a adoção de uma
ferramenta de TI para auxiliar o planejamento das obras e detectar erros e atrasos
no cronograma. Essa ferramenta se mostrou adequada dado o momento de
expansão pelo qual a empresa passaria em breve. As novas unidades de negócio
134
nos outros estados já deveriam iniciar suas operações de posse dessa ferramenta,
que, além de conferir flexibilidade para modificar o cronograma e apontar os
desdobramentos de atrasos nas tarefas, também mantinha ligação com a prática
lean de padronização, posto que permitia a todas unidades e canteiros de obra
utilizar a mesma linguagem, facilitando a comunicação entre os profissionais de
diferentes canteiros.
Cabe ressaltar, entretanto, que, embora a Ômega busque aplicar a prática de
padronização sempre que possível (e.g. no planejamento das obras, no controle de
materiais e mão de obra, através da modulação nos projetos, etc.), a empresa julga
importante oferecer flexibilidade aos consumidores visando atender as suas
necessidades. Para tanto, a construtora oferece aos proprietários dos imóveis
comprados na planta a possibilidade de personalizarem seus apartamentos. Os
clientes podem escolher opções de plantas (sem custo adicional) e determinados
acabamentos. Dessa forma, a Ômega defende que seus clientes recebem suas
unidades prontas para morar, sem que haja necessidade de passarem por
cansativas reformas para deixar o imóvel da maneira que desejam.
Outras práticas lean que visam o aumento do valor para o cliente são a
realização de questionários de satisfação pós-ocupação, a manutenção antes da
entrega e a execução da obra dentro dos prazos acordados. Os questionários são
aplicados 18 meses após a entrega das chaves e os resultados são analisados por
uma equipe. Os pontos positivos são destacados como forma de motivar os
colaboradores a continuarem desempenhando adequadamente seu trabalho e os
pontos a serem melhorados são discutidos com os profissionais responsáveis para
que sejam identificadas sugestões de melhoria.
A prática lean de manutenção antes da entrega consiste, na verdade, em uma
checagem de cada unidade para verificar a conformidade da execução (padrão de
qualidade dos acabamentos e atendimento à personalização solicitada pelo cliente).
Havendo alguma inadequação serão providenciados os devidos reparos. No que diz
respeito à prática de execução da obra dentro dos prazos acordados, embora a
Ômega tenha conseguido reduzir seus tempos de ciclo após a implantação de
práticas lean, a data de entrega informada ao cliente já leva em consideração esses
ganhos de prazo. De acordo com o diretor de planejamento:
135
“Algumas construtoras estão trabalhando para reduzirem seus prazos em meio ao aquecimento do mercado. Mas, para a Ômega, não é interessante entregar as unidades antes do prazo combinado. Embora algumas empresas achem que essa ação possa aumentar a satisfação dos compradores, a Ômega acredita que antecipando a entrega poderá “pegar de surpresa” alguns proprietários, que já se programaram para receber o imóvel em outro momento. Portanto, a nossa meta é manter os prazos planejados.
Visando reduzir os tempos de ciclo de algumas atividades e garantir a entrega
dentro do prazo previsto pelo cronograma a Ômega implementou um conjunto de
práticas lean. A combinação da prática lean de utilização da ferramenta de TI para
elaboração e readequação do cronograma com as práticas lean de sincronização
dos fluxos e gerenciamento da interação entre as atividades, por exemplo,
permitiram à equipe de planejamento visualizar a relação entre as tarefas e o
impacto que o atraso em uma delas geraria no andamento da obra. Além disso, a
visualização da interação e duração das tarefas permitiu não somente a identificação
de pontos de melhoria referentes à redução de prazos e melhor alocação da mão de
obra (evitando ociosidade), como também a definição do momento adequado de
contratação de serviços e realização de pedidos de material.
O cronograma elaborado pela equipe de planejamento leva em consideração
não só a experiência dos membros da equipe quanto à duração e encadeamento
das atividades, mas também as informações enviadas pela equipe de obra. Isso
ocorre, pois a prática lean de desenvolvimento de boa comunicação entre as partes
envolvidas no projeto, assegurada pelo diretor de planejamento, permite a troca
constante de informações, fazendo com que o cronograma que chega à obra esteja
alinhado com o que de fato é possível ser executado, reduzindo, assim, a
necessidade de frequentes readequações.
Tendo em mãos cronogramas bem planejados associados à prática lean de
fiscalização diária das atividades, os engenheiros de obra têm suporte adequado
para executar a prática lean de acompanhamento do percentual de atividades
concluídas em relação ao cronograma. Esse acompanhamento ocorre em função de
planos de trabalho semanais, cujos marcos são explicitados a todos para
proporcionar o envolvimentos destes na execução. O objetivo dos planos semanais
é melhorar o controle do fluxo de trabalho e facilitar a identificação rápida, através da
fiscalização diária, de atrasos no cronograma. A prática lean de identificação de
136
problemas no processo permite que readequações sejam realizadas em tempo hábil,
sem que o prazo final de entrega seja alterado.
Além das readequações feitas (e.g. hora extra, reforço na equipe, etc.) para
manter o prazo das obras, as equipes de campo são orientadas a adotar a prática
lean de identificação das causas das falhas para que sejam tomadas medidas
corretivas visando a prevenção de reincidências de falhas. Tanto as soluções para
readequação do cronograma quanto as medidas corretivas para evitar a ocorrência
de problemas são discutidas em reuniões periódicas com a equipe.
A prática lean de realização de reuniões com a equipe ocorre duas vezes por
semana. A primeira delas acontece no final da semana e envolve o engenheiro de
obra, o mestre de obras e a equipe de planejamento (engenheiro de planejamento e
estagiários). O percentual de atividades concluídas é informado à equipe de
planejamento, que discute com a equipe de obra as possíveis soluções para reverter
os atrasos. Cabe mencionar que cada uma das três unidades de negócios da
Ômega possui um coordenador de planejamento, um engenheiro de planejamento e
estagiários. Essas equipes são coordenadas pelo diretor de planejamento que fica
na sede, no Rio de Janeiro, e viaja frequentemente para realizar reuniões mensais
com as equipes de cada estado.
A segunda reunião ocorre posteriormente à reunião mencionada acima e tem
por objetivo comunicar aos funcionários do canteiro o andamento da obra, os
marcos a serem atingidos na semana seguinte e as medidas tomadas para
solucionar problemas de atraso. Quando há atrasos nas tarefas realizadas pelos
prestadores de serviço contratados pela Ômega, estes também são convocados a
comparecer às reuniões, para que apresentem soluções viáveis para recuperar os
atrasos. Dessa forma, as ações descritas acima possibilitam à Ômega contar com
um fluxo de trabalho confiável.
O diretor de planejamento aponta que outra prática lean que vem trazendo
resultados positivos para a empresa é o estreitamento de relacionamentos com os
fornecedores. Dado o seu tempo de mercado, a Ômega possui fornecedores de
longa data com os quais procura estreitar relacionamentos através da prática lean
de comunicação, integração e coordenação em todas as fases do empreendimento.
A relação transparente, cordial e próxima (possibilitada por reuniões) que a Ômega
137
vem desenvolvendo com seus principais parceiros contribui para o comprimento de
prazos, negociação de volumes de pedido e troca de informações.
Outra prática lean implementada pela construtora foi a definição de
responsáveis em cada canteiro por atribuir adequadamente tarefas aos
trabalhadores de acordo com capacidade, função e sequência de tarefas. A equipe
de planejamento informa o momento em que as tarefas devem ser executadas e
transmite a responsabilidade de alocação de funcionários aos engenheiros de obra
que, com o conhecimento que acumularam por vivenciarem as atividade de campo e
conhecerem sua equipe, podem fazer atribuições mais adequadas.
Para finalizar este tópico, cabe mencionar que a Ômega adota a prática lean
de encorajamento dos funcionários a desenvolverem ideias e soluções de melhoria
para problemas de campo nos diferentes níveis da organização. Dessa forma, além
de melhorar seus processos, a construtora mantém seus funcionários envolvidos e
comprometidos com o desenvolvimento da empresa. As soluções de melhoria
propostas por determinado engenheiro de obra são testadas, quando cabíveis, e se
comprovada sua eficácia, são comunicadas internamente para que os demais
canteiros também possam introduzir a mudança. Da mesma forma, são
compartilhadas as experiências mal sucedidas para que um erro ocorrido em um
canteiro não seja desnecessariamente reproduzido em outro.
4.4.3 Dificuldades de implantação
Sob a ótica dos entrevistados, foram poucas as dificuldades enfrentadas pela
Ômega no decorrer do processo de implantação das práticas lean, conforme afirmou
o diretor de planejamento da empresa. Basicamente, a construtora deparou-se com
dificuldades relacionadas à resistência à mudança cultural, a funcionários
sobrecarregados e à falta de experiência na adoção das práticas. Essas dificuldades
serão melhor esclarecidas no decorrer deste tópico.
Antes da contratação do diretor de planejamento, a alta gestão da Ômega já
incentivava a implantação de práticas que viessem a melhorar o desempenho da
empresa e auxiliar a sua expansão territorial. Entretanto, nessa “primeira fase” de
implantação, as práticas foram introduzidas de forma isolada e dificuldades
138
relacionadas à falta de um planejamento estratégico claro e estruturado para guiar o
processo não potencializavam o impacto positivo que a implantação da metodologia
lean poderia trazer.
Além disso, o sucesso das práticas foi impactado pela falta de uma adequada
equipe de gestão. Os funcionários ficavam sobrecarregados por conta do tamanho
reduzido da equipe e ao somarem as suas funções anteriores à meta de introduzir
práticas lean e se adaptarem aos novos procedimentos.
Contudo, ao observarem a necessidade de compor uma equipe destinada ao
planejamento das obras e à implantação e controle das práticas lean, a alta gestão
da Ômega se orientou para a reestruturação desse processo. Dessa forma, o diretor
de planejamento foi convidado a compor o quadro da empresa, auxiliado por um
coordenador, que já atuava em atividades de planejamento na empresa e um
engenheiro, que exercia outras atividades na construtora, com intuito de implantar a
metodologia lean oficialmente e de forma mais consistente.
Nessa “segunda fase” de implantação, a Ômega relata que, embora pouco
relevantes, houve dificuldades relacionadas a certa resistência à mudança cultural
por parte de colaboradores internos e externos diante do pacote de mudanças e a
falta de experiência na operacionalização de algumas práticas, resultando em
aprendizado pela ação e até mesmo na necessidade de ajustes.
4.4.4 Resultados obtidos com a adoção de práticas lean
De acordo com os entrevistados, a introdução de práticas lean pela
construtora Ômega resultou em diversos benefícios para a empresa. Entre os
resultados alcançados é possível citar a redução dos tempos de ciclo (menores
prazos), o aumento da produtividade, a minimização de desperdícios, a melhoria na
curva de aprendizado da força de trabalho e sua relação com a implantação das
práticas lean, processos mais eficientes, a redução de custos, maior da satisfação
dos clientes, a ocorrência de aprendizado por meio da ação e a constatação de que
as práticas lean são eficazes não somente em projetos complexos. Esses e outros
resultados serão descritos nos próximos parágrafos.
139
Assim como a implantação das práticas lean pode ser entendida como sendo
composta por duas fases, os resultados obtidos em cada uma delas também podem
ser analisados em dois momentos. Na primeira fase, quando apenas algumas
práticas lean eram adotadas e de forma isolada, os resultados se concentraram
fundamentalmente na minimização de desperdício de materiais e consequente
redução de custos, posto que os funcionários passaram a ser incentivados a
consumir os recursos de forma otimizada, tanto pelo corte/consumo planejado dos
materiais com geração mínima de sobras como pela reutilização de materiais (e.g.
madeira, gesso, etc.) sempre que possível.
Sempre foi característico da Ômega o bom relacionamento com seus
fornecedores, parceiros de longa data da empresa. Portanto, mesmo antes da
conscientização da importância da metodologia lean para o bom desempenho das
empresas, a Ômega já contava com pedidos entregues em conformidade com o que
foi acordado. Ao adotar a prática lean de planejamento do fluxo de materiais para
minimização de estoques e transportes ineficientes de recursos, a Ômega obteve
resultados positivos dado a abertura que possui com seus parceiros para a
negociação quanto aos volumes de entrega e troca de informações.
A prática lean de treinamento dos colaboradores internos resultou no aumento
da produtividade, assim como em um ambiente de trabalho mais seguro que
possibilitou a redução do número de acidentes, contribuindo para a redução de
ações trabalhistas e do número afastamentos de trabalhadores qualificados. Esses
resultados impactaram indiretamente na satisfação dos funcionários e sua
consequente permanência no quadro da empresa.
Já na segunda fase de implantação das práticas lean, que ocorreu de forma
mais estruturada e consistente, os resultados foram mais relevantes e as mudanças
na produção tiveram impacto sobre os demais departamentos da empresa. Devido à
ampla comunicação, intensificação dos treinamentos e envolvimento da gestão da
empresa, observou-se não somente melhorias na produção (processos mais
eficientes) como também a ocorrência do aprendizado por meio da ação e a
melhoria substancial na curva de aprendizado da força de trabalho e sua relação
com a implantação das práticas.
A realização de reuniões semanais somada à elaboração de planos semanais
dos fluxos de atividades e acompanhamento percentual das tarefas concluídas
140
resultaram na rápida solução de problemas e contribuíram para a execução da obra
em prazos menores. Essas ações impactaram igualmente na redução de custos,
posto que obras com duração mais curta possuem custos fixos menores, além de
proporcionarem a liberação mais rápida do efetivo para ser alocado em outro
empreendimento. As reuniões frequentes em conjunto a elaboração de cronogramas
dentro de um padrão favoreceram a comunicação interna e disseminação de
conhecimentos entre os canteiros.
A identificação de pontos de melhoria oriundos das pesquisas de satisfação
pós-ocupação e as opções oferecidas aos compradores para customização de suas
unidades, bem como a entrega no prazo acordado contribuíram para o aumento da
satisfação dos clientes. O engenheiro de planejamento acredita que essas práticas
impactaram também na imagem da empresa no mercado, inclusive facilitando o seu
ingresso nos novos mercados em que passou a atuar.
Cabe destacar que, embora a Ômega faça o controle do consumo de
materiais e serviços, não possui indicadores de desempenho para avaliar com
precisão os resultados da implantação das práticas lean. Entretanto, apesar de não
quantificados, os resultados da implementação puderam ser percebidos por todos da
empresa e contribuíram para o seu bem sucedido processo de expansão.
4.4.5 Projetos Futuros
De acordo com o diretor de planejamento da Ômega, o próprio nome já indica
que o programa de melhoria contínua não tem fim. Os funcionários são estimulados
a identificarem pontos de melhoria e desenvolverem novas soluções. Da mesma
forma, os gestores da construtora estão comprometidos a continuar buscando novas
práticas e técnicas com intuito de melhorar continuamente os processos internos,
conforme as demandas e tendências identificadas no mercado se apresentem
(inclusive em relação aos movimentos dos principais concorrentes).
Segundo ele, é difícil apontar exatamente qual é a estratégia de longo prazo
no que diz respeito à introdução de novas práticas lean. No médio prazo, ele declara
que ainda existem formas de melhorar a produtividade, através, por exemplo, de
equipamentos para mecanizar algumas atividades, como as máquinas de emboço.
141
Além disso, destaca a relevância da promoção de novos treinamentos aos
funcionários. No caso dos funcionários do escritório e engenheiros de obra serão
oferecidos treinamentos na área de gestão, ao passo que às equipes de campo
serão oferecidos treinamentos de capacitação.
Adicionalmente ao desenvolvimento da capacidade gerencial da equipe, a
Ômega pretende utilizar indicadores de desempenho como forma de comparar os
resultados obtidos de uma obra para a outra, bem como utilizá-los como ferramenta
de comunicação entre profissionais de diferentes canteiros, de forma a estimulá-los
a dar continuidade às práticas e fomentar a melhoria contínua.
A Ômega pretende também continuar desenvolvendo novas parcerias com
seus fornecedores e reforçar os laços com aqueles colaboradores com os quais já
possui bom relacionamento. O intuito é formar uma rede, sempre que possível, com
as demais unidades de negócio da empresa e seus colaboradores para a troca de
informações e ganhos de escala no fornecimento de insumos.
142
5 ANÁLISE DOS CASOS
5.1 INTRODUÇÃO
O objetivo deste capítulo é analisar os casos pesquisados, estabelecendo as
diferenças e semelhanças entre eles, com base na literatura revisada e no quadro
conceitual adotado para a condução da pesquisa.
5.2 CARACTERÍSTICAS GERAIS DAS EMPRESAS ENTREVISTADAS
A tabela abaixo apresentada as características gerais das construtoras
estudadas:
Tabela 5 – Resumo das características gerais das construtoras estudadas
Atributo Construtora Alfa Construtora Beta Construtora
Gama Construtora
Ômega
Área de atuação Cidade do Rio de Janeiro
Estado do Rio de Janeiro e cidades no Nordeste do
país
Niterói (RJ) Cidades no Rio de Janeiro, Bahia e
Minas Gerais
Tempo de atuação no mercado 50+ anos 30 anos quase 40 anos 50+ anos
Número de obras realizadas simultaneamente
5 a 6 8 4 28
Nomenclatura utilizada para se referir às práticas lean adotadas
metodologia lean
melhores práticas sistema de qualidade
programa de melhoria contínua
Ano de introdução das primeiras práticas 2008 incerto ~2010 2000
(oficialmente) 2005
(formalmente)
Tamanho da equipe destinada a identificação e implementação das práticas
1 diretor de planej, 1
coordenador de planej., 1
engenheiro de planej. e
estagiários
1 diretor de planej., 1 gerente de planej.,1 eng.
de planej. + colaborações de
outros departamentos
1 Diretor Técnico
1 diretor de planejamento, 3
coordenadores de planej. (1 em cada
estado), 3 engenheiros de
planej. e estagiários
143
Suporte externo para a introdução das práticas na empresa
Consultoria -
Inicialmente nenhum e
posteriormente o curso no
Sinduscon
-
Certificações (além do PBQP-h)
ISO 9001 e ISO 14001. Prepara-se para LEED e OHSAS 18001
LEED. Prepara-se para OHSAS
18001 ISO 9001 ISO 9001
Os quatro casos estudados envolvem construtoras com considerável tempo
de mercado, que atuam há pelo menos 30 anos no setor. Apesar disso, a
implantação de práticas lean ocorreu em diferentes momentos em cada uma delas.
Enquanto a construtora Gama vivencia as práticas lean há mais de uma década, a
construtora Beta iniciou a implantação há cerca de três anos.
É interessante observar (Tabela 5) que cada empresa estudada utiliza uma
nomenclatura diferente para se referir ao processo de implantação das práticas lean.
A nomenclatura utilizada para se referir ao conjunto de práticas adotadas e a
utilização de suporte externo parecem ter relação com a forma com que a
implantação foi conduzida. As construtoras que adotam formalmente a metodologia
lean (ainda que com outro nome) ou que visualizam a implantação como algo
integrado, na forma de um sistema, parecem ter um processo de implantação mais
estruturado.
Da mesma forma, observou-se que a equipe responsável pela implantação
das práticas difere quanto à sua estrutura de construtora para construtora, inclusive
em relação ao número de obras realizadas pela empresa. Ademais, o nível
hierárquico dos entrevistados influenciou a condução das entrevistas, no sentido de
que quanto mais alto o cargo, maior a visão holística sobre como o processo de
implantação ocorreu e suas perspectivas futuras. Ou seja, era exposta uma visão
mais estratégica do processo de implantação. À medida que foram entrevistados
profissionais mais abaixo da alta gestão, percebeu-se uma visão mais pontual sobre
cada prática. Também foram observadas diferenças de percepção entre equipes
mais voltadas para o campo e outras que vivenciam mais o dia a dia do escritório.
144
5.3 MOTIVAÇÕES PARA A IMPLANTAÇÃO DE PRÁTICAS LEAN
A tabela a seguir, elaborada com base nos resultados das entrevistas e
seguindo a ordem do esquema conceitual apresentado no capítulo 2, resume as
motivações que levaram cada construtora a introduzir práticas lean em suas
operações:
Tabela 6 – Motivações para a implantação de práticas lean
Motivações para a implantação das práticas
Constr. Alfa
Constr. Beta
Constr. Gama
Constr. Ômega
Con
junt
ura
do s
etor
Questões financeiras (crises, financiamentos etc.)
X X X
Maior grau de competitividade entre as empresas do setor
X X X X
Aumento das exigências do consumidor / demanda do mercado
X X X X
Mel
horia
dos
nív
eis
de d
esem
penh
o op
erac
iona
l e/
ou o
rgan
iz.
Redução de custos X X X X
Aumento das margens de lucro
Formas de eliminar desperdícios (de mão de obra, de matéria prima, de atividades que não agregam valor ao produto final)
X
X X
Aumento da qualidade X X
Redução dos prazos / tempos de ciclo � controle e redução de lead-times
X X
X
Aumento da segurança e ordem no ambiente de trabalho
X X
Nív
el E
stra
tégi
co
Evidências de que práticas lean melhoram a competitividade da empresa (ou seja, adotar práticas por constatar o sucesso de quem implantou)
X
X
Atingir níveis de classe mundial em termos de competitividade
Alinhamento com a estratégia da empresa / posicionamento de mercado
X
X X
145
Com base na Tabela 6, é possível perceber que diversas foram as
motivações que levaram as construtoras a implementar a metodologia lean em suas
operações. Destacam-se, sobretudo, aquelas motivações ligadas à conjuntura do
setor. Tal resultado é coerente com as transformações que o setor vem passando
deste o final da década de oitenta, conforme apontam Fabrício e Melhado (1998) e
Castro (2013), caracterizadas, fundamentalmente, pelo aumento do grau de
competitividade e das exigências dos consumidores e pela escassez de mão de
obra.
Outra possível explicação para a predominância de motivações ligadas à
conjuntura do setor e menor representatividade de motivações de nível estratégico
está no estudo de Neto, pesquisador brasileiro. Embora tenha sido publicado em
2002 e alguns aspectos do setor da construção possam ter se alterado desde aquela
época, seu artigo ressalta o fato de a construção civil ainda se tratar de um mercado
altamente fragmentado, no qual muitas empresas buscam apenas sobreviver e
prover seus donos, sem que haja grandes preocupações com o crescimento da
organização. Além disso, acrescenta que há poucas barreiras de entrada e saída no
mercado, principalmente para construtoras de menor porte. Contudo, apesar do
grande número de construtoras no mercado, ele ressalta a ausência de uma cultura
voltada para a competitividade entre as empresas. Isso ocorre porque há um grande
déficit habitacional no Brasil e a grande demanda por unidades habitacionais faz
com que as construtoras tenham uma visão estratégica míope quanto à sua
abordagem operacional. Dessa forma, não são forçadas a competir umas com as
outras de maneira mais intensa, já que há mercado para todas elas. Isso pode ser
evidenciado no caso da construtora Alfa que, entre outras razões, introduziu a
metodologia lean em suas operações a partir do momento que se estabeleceu em
um bairro carioca onde a competição entre construtoras era intensa e, no caso da
construtora Gama, que adotou práticas lean para mudar a sua imagem desgastada
no mercado.
Dentre os diversos motivos para a introdução de práticas lean destacados
pelas construtoras estudadas, os mais recorrentes, ou seja, aqueles mencionados
por todas as construtoras estudadas são: (1) o maior grau de competitividade entre
as empresas, (2) o aumento das exigências do mercado e (3) a melhoria do
desempenho operacional sob a forma de redução de custos. Os pesquisadores Neto
146
(2002) e Lorenzon e Martins (2006) apresentam os estudos cujas motivações
apontadas são as mais citadas pelas construtoras estudadas nesta pesquisa.
As duas primeiras motivações citadas estão alinhadas com as observações
de Lorenzon e Martins (2006) e têm ligação com a conjuntura do setor da construção
nas duas últimas décadas. No Brasil, a construção civil foi objeto de pressões
internas e externas, os consumidores ficaram mais exigentes em relação à
qualidade do projeto e de sua execução. Mudanças na demanda e o aumento da
competitividade entre as empresas (aumento do número de construtoras e a
expansão geográfica de algumas delas) fizeram com que as construtoras
começassem a buscar soluções que lhes proporcionassem melhores níveis de
desempenho operacional, especialmente sob a forma de redução de custos,
conforme destacam Norie/UFRGS/SINDUSCON-SP (1999), Mastroianni e
Abdelhamid (2003) e Lorenzon e Martins (2006).
Três das quatro construtoras também destacaram como motivações questões
financeiras; redução dos prazos e controle e redução de lead-times, destacados por
Sanchez e Péres (2001), Alarcon e Seguel, (2002), Neto (2002), Mullens e Nahmens
(2004), Salem et al. (2005) e Ballé e Bouthillon (2011); e alinhamento com a
estratégia da empresa e seu posicionamento de mercado, apontado novamente por
Neto (2002). As questões financeiras, abordadas por Lorenzon e Martins (2006) -
autores mais assertivos sobre o tema -, estão associadas à reduzida disponibilidade
de recursos financeiros e, especificamente no caso brasileiro, à redução do número
de obras públicas. Sendo assim, muitas construtoras introduziram práticas lean em
suas operações não apenas pela possibilidade de melhoria de seus níveis de
desempenho operacional e pelo surgimento de novas demandas no mercado, mas
também por elas permitirem que a empresa se certifique em programas como o
PBQP-h e ISO 9001 e passem a ter acesso facilitado a financiamentos. Em relação
à redução dos tempos de ciclo, apenas a construtora Beta não destacou menores
prazos como motivação para adoção das práticas, possivelmente por atrelar esse
aspecto apenas à necessidade de expedientes com maior duração. A empresa
relatou que, no passado, entregou obras antes do prazo previsto. Entretanto, as
pressões feitas pela vizinhança com relação ao horário do expediente fizeram com
que a empresa levasse em consideração esta demanda e voltasse a entregar as
obras no antigo prazo.
147
Em metade das entrevistas foram citadas motivações relacionadas à redução
ou eliminação de desperdícios (tanto de mão de obra quanto de matéria prima e
atividades que não agregam valor ao produto final), que, por sua vez, impactam nos
custos da obra, conforme defendem Mastroianni e Abdelhamid (2003), Salem et al.
(2005) e Lorenzon e Martins (2006). Também foram citados o aumento da
qualidade, em alinhamento com as observações de Sanchez e Péres (2001), Neto
(2002), Alarcón e Seguel (2002) e Mullens e Nahmens (2004); e o aumento da
segurança e ordem no ambiente de trabalho, destacado por Ballé e Bouthillon
(2011), não somente pelo ônus gerado ao se ter trabalhadores qualificados
afastados por motivo de acidente, mas também para evitar ações trabalhistas e as
crescentes pressões exercidas pelo Ministério do Trabalho. E, por fim, a existência
de evidências de que práticas lean melhoram a competitividade da empresa,
conforme destacam Sanchez e Péres (2001), Alarcón e Seguel, (2002), Neto (2002),
Mullens e Nahmens (2004) e Salem et al. (2005), ou seja, as construtoras passaram
a adotar práticas lean ao constatarem o sucesso de quem já havia implantado.
Embora não tenham sido citadas na literatura sobre o tema, talvez pelo fato
da maior parte dela ser estrangeira e poucos estudos terem sido feitos no contexto
nacional, outras motivações também foram apontadas pelas construtoras. O
aumento do controle sobre os processos e o aumento da satisfação de
colaboradores internos e/ou externos foram citados por três delas. A busca pela
satisfação dos colaboradores internos está relacionada à escassez de mão de obra
e à alta rotatividade vivenciadas pelo setor no momento em que a pesquisa foi
conduzida. Melhoria da imagem da empresa no mercado, alta rotatividade da mão
de obra e escassez de mão de obra (qualificada) foram citadas por duas
construtoras, ao passo que a melhoria na comunicação entre as partes envolvidas e
a redução do impacto no meio ambiente foram motivações citadas apenas por uma
das empresas.
A possibilidade de aumentar as margens de lucro, mencionada por
Norie/UFRGS/ SINDUSCON-SP (1999), Mastroianni e Abdelhamid (2003) e
Lorenzon e Martins (2006) e atingir níveis de classe mundial em termos de
competitividade, destacada por Alarcón e Seguel (2002), não foram motivações
apontadas por nenhuma das construtoras estudas.
148
5.4 PRÁTICAS ADOTADAS
A Tabela 7, elaborada com base nos resultados das entrevistas e seguindo a
ordem do esquema conceitual apresentado no capítulo 2, resume o resultado das
entrevistas quanto às práticas lean introduzidas pelas construtoras em suas
operações:
Tabela 7 – Práticas lean adotadas
Princí-pios Práticas lean na Construção Civil Construt.
Alfa Construt.
Beta Construt.
Gama Construt. Ômega
1 –
Red
ução
de
desp
erdí
cios
Incentivos para a redução de desperdícios dentro da organização e entre as empresas envolvidas
X X X X
Redução de desperdícios desde a fase de concepção do projeto X X
Encorajar os trabalhadores a manterem o local de trabalho limpo e organizado
X X X X
Planejamento do fluxo de materiais para eliminação ou minimização de estoques e transporte ineficiente de recursos
X X X
Adoção de ferramentas de TI para detectar e corrigir erros antes da produção
X X
Adoção de ferramentas de TI para integrar os agentes da cadeia X
Fabricação ou utilização de pré-moldados X
Garantir a segurança dos trabalhadores X X X X
2 –
Aum
enta
r o
valo
r pa
ra o
cl
ient
e
Pensar no valor para o cliente numa perspectiva de “vida inteira” do produto
Identificação clara das necessidades do cliente desde o projeto X X X X
Realização de questionários de satisfação durante a entrega e pós-ocupação
X X
149
Mudança de métodos construtivos X
Manutenção na entrega X X
Estipulação de prazos para realização de reformas (com as alterações de projeto sendo arquivadas)
Execução do projeto mantendo os prazos planejados X X X X
3 –
Red
uzir
a va
riabi
lidad
e
Utilização de Poka-Yokes
Padronização X X X X
Medição, identificação e eliminação de problemas no processo X X X X
4 –
Red
uzir
os te
mpo
s de
cic
lo
Gerenciamento da interação entre atividades com ênfase na interrelação de tarefas ao invés de tarefas específicas
X X X X
Isolar as atividades que agregam valor das atividades de suporte X X
Mudar a ordem dos processos X
Sincronização e suavização dos fluxos X X X X
Fiscalização diária X X X X
Cumprimento e melhoramento da programação de tarefas X X X
Alterações no layout de canteiro para otimização de espaço e circulação
X X X X
5 –
Sim
plifi
caçã
o do
s pr
oces
sos
Minimização do número de etapas, partes e ligações através de planejamento
Fluxo de trabalho confiável X X X X
Utilizar contratos de grande escopo ao invés de divisões do projeto em pequenas partes, envolvendo muitos agentes da cadeia de suprimentos
X X
150
6 –
Aum
enta
r a
flexi
bilid
ade
das
saíd
as
Set-ups rápidos
Utilização de equipamentos flexíveis
Multifuncionalidade de operadores
Planos de trabalho semanais para o controle do fluxo de trabalho e desenvolvimento de planos de ação com as readequações necessárias
X X X X
7 –
Aum
enta
r a
tran
spar
ênci
a do
s pr
oces
sos
Tornar explícito a todos os funcionários os marcos (milestones) estabelecidos no cronograma para envolvimento destes na execução
X X X X
Manutenção da limpeza e da organização do ambiente de trabalho X X
Aumento do número de controles visuais
8 –
Foc
ar n
o pl
anej
amen
to e
con
trol
e do
pro
cess
o co
mpl
eto
Técnica Last Planner (ter um responsável por atribuir adequadamente tarefas aos trabalhadores, de acordo com capacidade, sequência, função, etc.) aliada ao suporte incondicional da alta gestão da empresa e das equipes de produção, incluindo o mestre de obras e as principais partes subcontratadas
X X X X
Acompanhamento do percentual de tarefas concluídas em relação ao cronograma
X X X X
Identificar as causas das falhas e tomar medidas para prevenir reincidências
X X X X
Planos semanais para controle do fluxo de trabalho X X X X
Estabelecer marcos X X X X
Planejar a produção visando a manutenção do ritmo de trabalho ao invés de picos de produtividade em determinadas atividades
X
Controlar custos e o consumo de matéria prima e mão de obra em cada tarefa de acordo com a demanda definida no planejamento da produção (perceber com antecedência a demanda diária de cada recurso)
X X
Usar erros de planejamento como fonte de aprendizado X
151
9 –
Mel
horia
con
tínua
dos
pro
cess
os
Contratos e relacionamentos de longo prazo com demais agentes da cadeia ao invés de contratos de curto prazo, focados em custo
X X X X
Relações de cooperação entre empresa e fornecedores � trabalhando juntos para transferência de conhecimentos e para solução conjunta de problemas
X X
Desenvolver relacionamentos � boa comunicação, integração e coordenação de todas as partes (internas e externas) e em todas as fases, assegurada pelo gestor do projeto
X X X X
Uso de ferramentas colaborativas com os parceiros: delimitação de objetivos comuns, escritórios conjuntos, trabalho em equipe etc
X
Redivisão de responsabilidades ao longo da cadeia X Encorajar funcionários a desenvolver ideias e soluções de melhoria para problemas de campo
X X X
Reuniões periódicas da equipe X X X X
Treinamento X X X X
Indicadores de desempenho
10 –
Equ
ilibr
ar m
elho
ria
de fl
uxo
com
mel
horia
na
con
vers
ão
Gestão de fluxos de informações, materiais e mão de obra na delimitação das responsabilidades
X
Desenvolver as competências gerenciais dos profissionais para promoverem o processo de mudança
X X
11 –
B
en
ch
mark
ing
Análise de características internas e externas à empresa X X
A literatura sobre Lean Construction aponta uma série de práticas lean que
podem ser implantadas no contexto da construção civil. Das 55 práticas
apresentadas pelos pesquisadores citados nesta pesquisa, aproximadamente 42%
delas foram citadas por todas as construtoras estudadas. Embora o conjunto de
práticas lean adotadas pelas construtoras não seja exatamente o mesmo, a
152
quantidade de práticas implantadas por cada empresa é similar. As construtoras Alfa
e Beta implementaram 34 das práticas listadas na revisão da literatura enquanto que
a Gama e a Ômega adotaram 32 cada uma.
Através da Tabela 7 é possível perceber que as práticas lean mais
recorrentes estão relacionadas aos princípios de redução dos tempos de ciclo
(citadas 78,5% das vezes) e de foco no planejamento e controle do processo
completo (citadas 71,8% das entrevistas), resultados coerentes com as motivações
citadas por três das quatro empresas estudadas. Destacam-se também as práticas
voltadas aos princípios de redução da variabilidade, redução de desperdícios e
melhoria contínua dos processos, citados em 66,7%, 65,6% e 63,8% dos casos,
respectivamente.
O autor que mais se destaca neste tópico é Eriksson (2010), que além de
fazer um apanhado das práticas lean apresentadas por diversos pesquisadores em
seu estudo, teve nove das dez práticas lean que apresentou citadas nas entrevistas
realizadas. Outros autores que também merecem destaque são Oliveira, Lima e
Meira (2007), Green e May (2005) e Santos, Powell e Formoso (1999).
As práticas lean implantadas por todas as construtoras entrevistadas são: (1)
o encorajamento dos trabalhadores a manterem o local de trabalho limpo e
organizado (SALEM et al., 2006); (2) a padronização, que pode ser empregada
desde a fase de concepção dos projetos e (3) a identificação e eliminação de
problemas no processo, ambas práticas apresentadas por Santos, Powell e Formoso
(1999); (4) a execução do projeto mantendo os prazos planejados, em alinhamento
com o estudos de Oliveira, Lima e Meira (2007), dado o aumento das pressões
exercidas pelos clientes nos últimos anos e o impacto que os atrasos exercem na
satisfação dos mesmos e no aumento dos custos fixos da obra; e (5) incentivos para
a redução de desperdícios dentro da organização, conforme destacam Fearne e
Fowler (2006). Tal prática está em consonância com a motivação de redução de
custos, apontada por todas as empresas estudadas. No caso das construtoras Beta
e Gama, essa preocupação se estende também para as atividades de seus
principais parceiros. Cabe destacar que a construtora Beta aponta que a prática de
redução de desperdícios vai além da redução das perdas de material. A empresa
também aplicou essa prática no âmbito da mão de obra, transformando funcionários
que desempenhavam atividades pontuais e, portanto, que apresentavam períodos
153
de ociosidade, em prestadores de serviço. Ao fazer isso, os antigos funcionários
passaram a faturar mais (prestando serviço para mais empresas) e a Gama reduziu
seus custos pela metade.
Na lista de práticas lean mencionadas em todos os casos estudados também
estão (6) reuniões periódicas da equipe (SALEM et al., 2006 apud ERIKSSON,
2010); (7) treinamento (GREEN e MAY, 2005; FREIRE e ALARCÓN, 2002 apud
ERIKSSON, 2010); (8) estabelecimento de marcos (SALEM et al., 2006; SACKS et
al., 2010); (9) explicitação dos marcos estabelecidos no cronograma a todos os
funcionários para envolvimento destes na execução (KOSKELA, 1992 apud LOW e
FANG, 2005; SALEM et al., 2006; SACKS et al. 2010); (10) acompanhamento do
percentual de tarefas concluídas em relação ao cronograma (WRIGHT, 2000;
ERIKSSON, 2010); (11) identificação das causas das falhas e tomada de medidas
para prevenir reincidências e (12) elaboração de planos semanais para controle do
fluxo de trabalho e desenvolvimento de planos de ação com as readequações
necessárias, ambas expostas por Eriksson (2010). Todas as empresas destacaram
a importância da introdução de práticas voltadas para o controle do fluxo de
trabalho, pois as situações criadas para resolver crises consumiam totalmente os
recursos e a atenção da equipe envolvida, deixando pouco espaço para o
planejamento e para a introdução de atividades que gerariam melhorias. Esse
discurso está de acordo com os estudos de Koskela (1992) e Wiginescky (2009).
Foram igualmente destacadas por todas as construtoras as práticas lean de
(13) gerenciamento da interação entre atividades com ênfase na interrelação de
tarefas ao invés de tarefas específicas, apontada por Howell (1999), Wright (2000),
Green e May (2005), Jorgensen e Emmit (2008), Pheng e Fang (2005) e Winch
(2006 apud ERIKSSON, 2010); e (14) sincronização dos fluxos (SANTOS, POWELL
e FORMOSO, 1999; KOSKELA, 1992 apud LOW e FANG, 2005), ambas adotadas
com intuito de identificar pontos de melhoria para se obter fluxos de tarefas mais
enxutos; e (15) garantia de segurança dos trabalhadores (SACKS, ROZENFELD e
ROZENFELD, 2005 apud. GHOSH e CORBETT, 2009; GHOSH e CORBETT, 2009),
prática impulsionada não só pelas pressões exercidas pelo Ministério do Trabalho
em termos de obrigatoriedade do uso de equipamentos de segurança para a
prevenção de acidentes, mas também pelo objetivo de reduzir o número de
funcionários qualificados afastados por motivo de acidente e aumentar a satisfação e
154
bem estar da força de trabalho. Acidentes de trabalho são considerados eventos não
agregadores de valor. Portanto, atuar de forma a garantir a segurança dos
trabalhadores é natural do ideal da construção lean para a eliminação de
desperdícios, conforme defendem Sacks, Rozenfeld e Rozenfeld (2005 apud
GHOSH e CORBETT, 2009). A perda ou lesão de trabalhadores treinados e
experientes resulta em “perturbações” (disruptions) no progresso do trabalho,
acarretando em perdas de produtividade, moral baixa e custos adicionais (GHOSH e
CORBETT, 2009).
Adicionalmente, a importância da prática lean de (16) fiscalização diária,
destacada por Neto (2002) e Oliveira, Lima e Meira OLIVEIRA (2007) foi enfatizada
por todos os entrevistados como sendo essencial para o bom funcionamento de
várias outras práticas implementadas. Também foram reportados durante as
entrevistas (17) as alterações no layout do canteiro para otimização de espaço e
circulação de pessoas e materiais (OLIVEIRA, LIMA e MEIRA, 2007); (18) o fluxo de
trabalho confiável (MILLER et al., 2002; ELFVING et al., 2005; WINCH, 2006 apud
ERIKSSON, 2010); e (19) a Técnica Last Planner, que consiste em definir um
responsável por atribuir adequadamente tarefas aos trabalhadores, amparado pelo
suporte incondicional da alta gestão da empresa e das equipes de produção,
incluindo o mestre de obras e as principais partes subcontratadas (CONTE e
GRANSBERG, 2001; WRIGHT, 2000; JORGENSEN e EMMIT, 2008);
Igualmente, fazem parte deste grupo práticas lean como: (20) contratos e
relacionamentos de longo prazo com demais agentes da cadeia ao invés de
contratos de curto prazo, focados em custo (GREEN e MAY, 2005; ERIKSSON,
2010); (21) desenvolvimento de relacionamentos de modo a estimular a boa
comunicação, integração e coordenação de todas as partes (internas e externas à
empresa) em todas as fases e que devem ser asseguradas pelo gestor do projeto
(SUESS, 2005; ELFVING et al., 2005 apud ERIKSSON, 2010; PHENG e FANG,
2005 apud ERIKSSON, 2010); e (22) identificação das necessidades do cliente
desde o projeto (WRIGHT, 2000; BALDWIN et al., 2009; FREIRE e ALARCÓN, 2002
apud ERIKSSON, 2010; STYHRE et al., 2004 apud ERIKSSON, 2010), que, na
realidade, ocorre mais pela observação dos quesitos que vem sendo incorporados
nos projetos e pelo acompanhamento das tendências de mercado. Embora todas as
construtoras tenham citado essa prática, cabe destacar duas atuações extremas
155
quanto ao aumento de valor para o cliente. Enquanto a Gama relata que a estética
não é um ponto forte em seus empreendimentos e, portanto, não é focada pela
empresa, a Ômega ressalta que, embora busque padronização sempre que
possível, julga importante oferecer flexibilidade aos consumidores visando atender
as suas necessidades. Para tanto, a construtora oferece aos clientes a possibilidade
de personalizar seus apartamentos. Eles podem escolher opções de plantas e
determinados acabamentos sem custo adicional, recebendo suas unidades prontas
para morar, sem que haja necessidade de passarem por cansativas reformas para
deixar o imóvel da maneira que desejam (caracterizando o consumo lean).
O cumprimento e melhoramento da programação de tarefas (BALLARD et al.,
2003 apud ERIKSSON, 2010; OLIVEIRA, LIMA e MEIRA, 2007); o encorajamento
dos funcionários a desenvolver ideias e soluções de melhoria para problemas de
campo, conforme exposto por Ballard et al. (2003 apud ERIKSSON, 2010) e Pheng
e Fang (2005 apud ERIKSSON, 2010); e o planejamento do fluxo de materiais para
a eliminação ou minimização de estoques e transportes ineficientes de recursos
(AKINTOYE, 1995; FEARNE e FOWLER, 2006; SALEM et al., 2006 apud
ERIKSSON, 2010) foram as práticas lean citadas por três entre quatro empresas.
Em relação à segunda prática mencionada acima, é interessante relembrar o
que foi dito por Howard (2008) sobre o pensamento lean. Segundo ele, é essencial
que os praticantes pensem de forma diferente sobre os processos de seu negócio e
estimula que a empresa utilize seus funcionários - maiores conhecedores dos
processos da empresa – como meio de descobrir novas oportunidades de eliminar
barreiras, reduzir o número de atividades que não geram valor e fomentar a
capacidade de formação de equipes. Tal atitude não vem sendo enfatizada pela
construtora Beta, na qual o processo decisório ainda está muito atrelado à figura de
um dos gestores. Já em relação à última prática, percebe-se que a construtora Alfa
foi a única que não implementou o planejamento do fluxo de materiais para
minimização de estoques e transportes de recursos. Na realidade, a equipe de
planejamento da construtora até identifica e sinaliza para os engenheiros das
empreiteiras contratadas os pontos de pedido mais adequados, entretanto, cabe às
empreiteiras efetuarem os pedidos e realizarem o transporte de materiais da
maneira que desejarem.
156
As práticas citadas em metade das entrevistadas são referentes à redução de
desperdícios desde a fase de concepção do projeto (BALDWIN et al., 2009); à
adoção de ferramentas de TI para detectar e corrigir erros antes da produção
(BALLARD et al., 2003; GREEN e MAY, 2005; WOKSEPP e OLOFSSON, 2008
apud ERIKSSON, 2010); ao controle de custos e o consumo de matéria prima em
cada tarefa de acordo com a demanda definida no planejamento da produção
(CONTE e GRANSBERG, 2001); à manutenção da limpeza e da organização do
ambiente de trabalho (SANTOS, POWELL e FORMOSO, 1999) visando reduzir a
incidência de acidentes e evitar desperdícios de material e tempo da mão de obra; e
à análise de características internas e externas à empresa (NETO, 2002; KOSKELA,
1992 apud LOW E FANG, 2005). Sobre essa última prática é necessário dizer que
as construtoras adotam-na apenas parcialmente. A construtora Alfa, por ter
sociedade com outras construtoras, tem mais acesso a informações externas,
sabendo inclusive que uma de suas forças está na velocidade de construção. Já a
empresa Beta destaca o olhar atento de um de seus gestores em termos de
monitoramento das novidades que surgem no mercado. Entretanto, a análise tanto
das características internas quanto externas poderia envolver mais aspectos que
não apenas os mencionados nas entrevistas.
Encontram-se igualmente neste grupo as práticas lean de realização de
questionários de satisfação durante a entrega e pós-ocupação e de manutenção
antes da entrega, ambas destacadas por Oliveira, Lima e Meira (2007); isolamento
das atividades que agregam valor das atividades de suporte, conforme defendem
Santos, Powell e Formoso (1999); desenvolvimento das competências gerenciais
dos profissionais para promoverem o processo de mudança (HIROTA e FORMOSO,
2000); e estabelecimento de relações de cooperação entre empresa e fornecedores,
os quais devem trabalhar juntos para possibilitar a transferência de conhecimentos e
a solução conjunta de problemas, em alinhamento com as observações de Eriksson
(2010).
As práticas lean citadas apenas uma vez são: a adoção de ferramentas de TI
para integrar os agentes da cadeia (O´CONNOR e YANG; 2004; WOKSEPP e
OLOFSSON, 2008 apud ERIKSSON, 2010) e, assim, facilitar o compartilhamento de
informações entre a construtora e seus parceiros; e mudanças de métodos
construtivos visando aumentar o valor para o cliente, citada por Oliveira, Lima e
157
Meira (2007). Esta prática é adotada pela construtora Beta geralmente em
empreendimentos comerciais nos quais o projeto é encomendado pelo cliente. Em
empreendimentos residenciais, nos quais os clientes compram as unidades na
planta, não há necessidade desta prática. Já a prática lean de utilização de pré-
moldados (GREEN e MAY, 2005; BALDWIN et al., 2009), foi destacada apenas pela
construtora Beta e é representada unicamente pela utilização de drywall. As demais
empresas dizem não ter implantado drywall em empreendimentos residenciais dada
a resistência cultural dos compradores a este sistema. Tal resultado está refletido na
pesquisa de Castro (2013) sobre a baixa adesão à introdução de pré-moldados na
construção civil brasileira. Segundo ela, cerca de 60% a 70% das empresas ainda
não adotaram uma abordagem de sistema de montagem em seus canteiros.
Também foram citadas apenas uma vez o planejamento da produção visando
a manutenção do ritmo de trabalho ao invés de picos de produtividade em
determinadas atividades; a utilização de erros de planejamento como fonte de
aprendizado, ambas práticas explanadas por Conte e Gransberg (2001); a gestão de
fluxos de informações, materiais e mão de obra na delimitação das
responsabilidades (MECCA, 1999; HIROTA e FORMOSO, 2000); o uso de
ferramentas colaborativas com os parceiros como a delimitação de objetivos
comuns, escritórios conjuntos, trabalho em equipe etc. (GREEN e MAY, 2005;
ERIKSSON, 2008 apud ERIKSSON, 2010; ERIKSSON e NILSSON, 2008 apud
ERIKSSON, 2010; ERIKSSON, 2010); a redivisão de responsabilidades ao longo da
cadeia (HOWELL, 1999); e a mudança da ordem dos processos, empregada pela
Alfa ao observar, por exemplo, que o mercado oferecia um material de
encunhamento que permitia que a alvenaria fosse “encunhada” antes de ser
“apertada”. Isso possibilitou que as instalações pudessem ser executadas
antecipadamente, com segurança, durante o intervalo entre sua construção e o
momento de “apertá-la” ao invés de serem feitas 14 dias depois.
Foi observado que diversas práticas lean apresentadas na literatura não
foram mencionadas nenhuma das vezes, talvez por ainda não serem práticas muito
difundidas no contexto nacional. São elas: o pensar no valor para o cliente numa
perspectiva de “vida inteira” do produto (WRIGHT, 2000; NETO, 2002;
JORGENSEN e EMMITT, 2008); a estipulação de prazos para realização de
reformas (com as alterações de projeto sendo arquivadas) (OLIVEIRA, LIMA e
158
MEIRA, 2007); a utilização de Poka-Yokes (SANTOS, POWELL e FORMOSO,
1999); a minimização do número de etapas, partes e ligações através de
planejamento (NETO, 2002; KOSKELA, 1992 apud PICCHI, 2003); set-ups rápidos
e a utilização de equipamentos flexíveis, ambas citados por Picchi (2003); a
multifuncionalidade de operadores (PICCHI, 2003); e o aumento do número de
controles visuais (SANTOS, POWELL e FORMOSO, 1999).
Embora Freire e Alarcón (2002 apud ERIKSSON, 2010) enfatizem a
importância da utilização de um sistema de medição de desempenho, merece
destaque o fato de nenhuma das construtoras entrevistadas ter implantado como
prática lean um conjunto de indicadores de desempenho para se tornarem capazes
de quantificar e avaliar consistentemente os reais benefícios obtidos após as
mudanças realizadas e sua evolução ao longo do tempo. Entretanto, em duas
construtoras os entrevistados relataram estar cientes da importância de um sistema
de medição e pretendem implantar, em um futuro próximo, um conjunto de
indicadores. Uma possível explicação para a ausência de um sistema de medição de
desempenho está no estudo de Lantelme et al. (2001), que aponta para a existência
de barreiras estruturais e comportamentais, sendo necessária a introdução de
mudanças culturais mais profundas e também a adoção de métodos de
aprendizagem na organização.
Além das práticas lean mencionadas acima, outras práticas não presentes na
revisão da literatura foram apontadas pelas construtoras estudadas. São elas (1) a
formação de uma equipe formalmente estruturada para assumir a tarefa de
implantação e controle das práticas, cujo objetivo também é operar como ponto de
concentração de informações e sugestões de melhoria, além de atuar como
catalisadora da difusão e aceitação das mudanças provocadas pela introdução de
novas práticas; (2) a realização de pesquisas de satisfação com os funcionários de
modo a identificar suas necessidades; (3) a concessão de premiações aos
colaboradores internos como forma de aumentar a motivação dos mesmos; (4)
outros mecanismos para impactar na satisfação dos clientes, tais como visitas à
obra, contato mais direto e próximo com os mesmos e a possibilidade de
customização das unidades pelos proprietários; e (5) outras práticas para a redução
de impactos no meio ambiente (e.g. redução de descarte de materiais em vias
públicas e redes pluviais, equipamentos para redução de poluição do ar etc.),
159
visando a melhoria da imagem da empresa, a eliminação de processos judiciais e/ou
a obtenção de certificações ambientais. Talvez essas práticas não estejam na
literatura por estarem relacionadas especificamente ao contexto brasileiro (como o
caso das práticas 3 e 4, por exemplo) ou por se tratarem de preocupações mais
recentes (como as práticas relacionadas ao impacto no meio ambiente, assunto que
vem ganhando fôlego a cada ano).
5.5 DIFICULDADES DE IMPLANTAÇÃO
A Tabela 8 a seguir, elaborada com base nos resultados das entrevistas e
seguindo a ordem do esquema conceitual apresentado no capítulo 2, resume o
resultado das dificuldades encontradas por cada construtora durante o processo de
implantação das práticas lean em suas operações:
Tabela 8 – Dificuldades de implantação das práticas lean
Dificuldades para implantação das práticas Constr. Alfa
Constr. Beta
Constr. Gama
Constr. Ômega
Falta de um planejamento estratégico claro, formal e estruturado para guiar a implantação e evitar desperdício de tempo
X x * x *
Dispor de uma equipe de gestão adequada, devido a:
Rotatividade
Funcionários sobrecarregados
x *
Funcionários envolvidos também em outras atividades
Processo decisório baseado apenas na experiência do gestor, sem uma abordagem sistemática
X x *
Resistência cultural
Resistência à mudança cultural radical (inclusive no relacionamento com fornecedores)
X X X
Postura dos CEO’s � precisam permitir que os funcionários aprendam com seus erros e decisões fracas
Gestor deve passar a atuar como educador e não como “condutor”
160
Trabalhadores desqualificados
Falta de treinamento (devido ao aumento de encargos)
Baixa motivação e comprometimento das pessoas (por falta de familiaridade ou de entendimento dos conceitos, dos objetivos desejados com a implantação e de seu tempo de duração)
X
Atingir as metas agressivas traçadas, seja por situações imprevistas ou pela ousadia das metas
X
Dificuldade de trabalhar as práticas de forma integrada
Falta de investimento em P&D pelo setor � a construção enxuta encontra-se em estágio inicial de desenvolvimento em termos de práticas, padrões, modelos de medição etc.
*dificuldades ocorridas na “primeira fase” de implantação e posteriormente suplantadas após a estruturação da empresa para a implantação das práticas.
Os entrevistados nas construtoras Alfa, Gama e Ômega relataram não ter
encontrado dificuldades relevantes durante o processo de implantação das práticas
lean, o que pode ser observado claramente na Tabela 8. A Diretora de planejamento
da Alfa e, principalmente, o Diretor Técnico da Gama concordam que a introdução
das práticas transcorreu com certa facilidade, posto que, antes das práticas serem
implantadas, houve tempo suficiente para que fosse feito um planejamento
adequado, considerando tanto os benefícios que poderiam ser obtidos quanto
possíveis problemas que pudessem ocorrer no processo. Dessa forma, os gestores
puderam pensar em formas de minimizar ou suprimir certas dificuldades. Já a
construtora Beta, cujos entrevistados relatam não possuir um planejamento
estratégico e estruturado para guiar o processo de implantação da metodologia lean,
foi a empresa que encontrou maior número de dificuldades.
Embora as dificuldades relatadas tenham sido avaliadas como pouco
relevantes, os entrevistados mencionaram quais foram os pequenos entraves
enfrentados por suas empresas. O número de dificuldades encontradas parece ser
ainda menor nos casos em que a construtora se estruturou para passar pelas
mudanças, principalmente com a existência de suporte externo para auxiliar no
processo. Entretanto, cabe ressaltar que as empresas estudadas desconhecem
algumas práticas lean e, portanto, ainda não adotam um considerável número delas
(em média, implantam cerca de 60% das práticas apresentadas no esquema
161
conceitual). Além disso, as construtoras vêm adotando práticas mais simples, a
maioria já implantada (e testada) pela concorrência, levando a crer que elas ainda
não passaram pelo estágio de conhecer algumas das dificuldades apontadas pelos
pesquisadores citados nessa pesquisa.
O estudo de Neto (2002) é o que mais se aproxima dos resultados
observados nesta pesquisa quanto às dificuldades enfrentadas pelas construtoras
durante o processo de implantação das práticas lean. Das quatro dificuldades
apontadas em seu estudo, três foram mencionadas por pelo menos umas das
entrevistadas. Essa situação pode estar ligada à nacionalidade de Neto, que é
brasileiro e, portanto, tende a englobar em sua pesquisa aspectos de seu contexto
nacional. Lorenzon e Martins (2006), que tiveram maior destaque no tópico de
motivações, no âmbito das dificuldades não estão em consonância com essa
pesquisa, posto que as três dificuldades apontadas pelos autores não foram citadas
em nenhum dos casos desse estudo.
Chama a atenção, entretanto, o fato de a principal dificuldade destacada por
todas as empresas estudadas não estar presente na revisão da literatura. De acordo
com os entrevistados, o principal entrave para a introdução da metodologia lean
encontra-se na falta de experiência na adoção das práticas, que pode ter relação
tanto com a falta de conhecimento sobre as práticas em si e os benefícios atrelados
a ela, como pela falta de experiência na forma de conduzir a implantação das
práticas.
Observou-se também que algumas dificuldades foram apontadas por
construtoras que, em um momento inicial, introduziram as práticas lean sem realizar
um planejamento estratégico claro, formal e estruturado para guiar a implantação e
evitar desperdício de tempo, em alinhamento com o estudo de Neto (2002). Nesses
casos, notou-se dificuldades referentes a processos decisórios ainda baseados
apenas na experiência do gestor, também apontada por Neto (2002), e a
funcionários sobrecarregados, como indicam Ballé e Bouthillon (2011). Entretanto, à
medida que a construtora Gama e, principalmente, a construtora Ômega
estruturaram formalmente o processo de implantação das práticas lean,
conseguiram suplantar essas dificuldades. O mesmo não ocorreu com a construtora
Beta que ainda enfrenta esses entraves, posto que, até o momento, não
desenvolveu uma abordagem mais estruturada e sistêmica.
162
Uma dificuldade reportada em três das quatro construtoras estudadas foi a
resistência à mudança cultural (característica do comportamento humano) que a
implantação da metodologia tende a ocasionar. Ballé e Bouthillon (2011) afirmam
que a mudança cultural radical tem impacto não apenas nos colaboradores internos
como no relacionamento com os fornecedores.
Foram mencionadas apenas uma vez dificuldades referentes à baixa
motivação e comprometimento das pessoas, seja por falta de familiaridade ou de
entendimento dos conceitos, dos objetivos desejados com a implantação e de seu
tempo de duração (HIROTA e FORMOSO, 2000; NETO, 2002; SALEM et al., 2005)
e ao atingimento de metas agressivas, seja por situações imprevistas ou pela
ousadia das metas traçadas (BALLÉ e BOUTHILLON, 2011).
Não foram citadas por nenhum dos entrevistados dificuldades relativas à falta
de investimento em P&D pelo setor, reportadas por Banik (1999), Salem et al. (2005)
e Lorenzon e Martins (2006); à dificuldade de trabalhar as práticas de forma
integrada, mencionada por Isatto et al. (2000) e Neto (2002); à postura dos CEO’s
que precisam permitir que os funcionários aprendam com seus erros e decisões
fracas e à dificuldade do gestor atuar como educador e não como “condutor”, ambas
práticas citadas por Ballé e Bouthillon (2011); à trabalhadores desqualificados
(DULAIME e TANAMAS, 2001 apud LORENZON e MARTINS, 2006); e à falta de
treinamento (devido ao aumento de encargos) (SALEM et al., 2005; DULAIME e
TANAMAS, 2001 apud LORENZON e MARTINS, 2006).
Por fim, foram identificadas duas outras dificuldades não presentes na revisão
da literatura e relatadas apenas uma das vezes: a diferença de vivência entre as
equipes do escritório e de campo e a resistência dos clientes em relação a certas
técnicas construtivas que passaram a ser adotadas para, por exemplo, aumentar a
flexibilidade às mudanças e reduzir o tempo de ciclo.
5.6 RESULTADOS OBTIDOS COM A ADOÇÃO DE PRÁTICAS LEAN
Os entrevistados das construtoras estudadas destacaram os diversos
resultados que obtiveram com a implantação das práticas lean em suas operações,
os quais foram sintetizados na Tabela 7 a seguir. Merecem destaque os estudos de
Christoffersen et al., exposto por Bertelsen (2002) em seu artigo, o qual teve seus
163
cinco resultados citados pelas construtoras; Sanchez e Péres (2001); e novamente
Neto (2002), pesquisador brasileiro.
Tabela 9 – Resultados obtidos com a implantação
Resultados esperados e resultados obtidos
Construtora Alfa
Construtora Beta
Construtora Gama
Construtora Ômega
Tempo de ciclo reduzido /menores prazos X X
Aumento da produtividade X X
Eliminação ou minimização de desperdícios X X X X
Intensificação no longo prazo dos resultados acima listados
Melhoria substancial na curva de aprendizado da força de trabalho e sua relação com a implantação das práticas
X X X X
Melhoria da produção / processos mais eficientes X X X X
Redução de custos X X X X
Aumento da segurança dos trabalhadores X Aumento da qualidade
X Maior satisfação do cliente
X X X
Novas tecnologias e novos processos de gestão e treinamento subutilizados ou não usados quando a estratégia da empresa não é levada em consideração
A implementação de práticas lean pode não aumentar a competitividade das empresas imediatamente
Ocorrência de aprendizado por meio da ação X X X
Práticas lean são eficazes não só em projetos complexos como nos projetos de menor porte e maior grau de simplicidade
X
Necessidade de promover mudanças culturais e treinamento para o uso eficaz das ferramentas lean
Entre os quinze resultados apresentados na revisão da literatura apenas
quatro foram alcançados por todas as empresas estudadas. Um deles diz respeito à
164
eliminação ou minimização de desperdícios, apontado por Neto (2002) e Mullens e
Nahmens (2004), resultado buscado por todas as empresas com intuito de reduzir
os custos da obra. A Beta também busca eliminar desperdícios visando reduzir seu
impacto no meio ambiente e construir uma imagem positiva da empresa no
mercado.
Os outros três resultados referem-se à melhoria substancial na curva de
aprendizado da força de trabalho e sua relação com a implantação das práticas,
descrita por Salem et al. (2005); à melhoria da produção com a geração de
processos mais eficientes, apontado por Christoffersen et al. (2001 apud
BERTELSEN, 2002) e Kartamet et al. (1995 apud AL-SUDAIRI, 2007), que,
possivelmente, está associado ao amplo campo para a introdução de melhorias
nessa área. Este último resultado contribui também para o alcance do quarto
resultado destacado por todas as construtoras: a redução de custos, resultado
destacado novamente pelos pesquisadores Sanchez e Péres (2001) e Christoffersen
et al. (2001 apud BERTELSEN, 2002).
Três das quatro construtoras entrevistadas apontaram que obtiveram como
resultado o aumento da satisfação dos clientes, conforme sugerem Christoffersen et
al. (2001 apud BERTELSEN, 2002), que pode ser alcançada de diferentes formas
(e.g. pelo cumprimento dos prazos acordados, qualidade do projeto e de sua
execução, possibilidade de personalização, etc.). Entretanto, embora tenha sido
relatado o aumento da satisfação, chama bastante a atenção o fato de as práticas
lean voltadas para o aumento do valor para os clientes (englobadas no princípio
número 2) terem sido pouco citadas pelos respondentes. O segundo resultado
mencionado por três empresas consiste na ocorrência do aprendizado por meio da
ação, mencionado por Lorenzon e Martins (2006), e é coerente com o fato de que os
profissionais selecionados para conduzir a implantação das práticas em cada
construtoras não possuíam experiência prévia sobre esse processo.
Em alinhamento com as observações dos pesquisadores Sanchez e Péres
(2001), Christoffersen et al. (2001 apud Bertelsen, 2002), Mullens e Nahmens
(2004), Kartamet et al. (1995 apud AL-SUDAIRI, 2007) e Al-Sudairi (2007), metade
dos entrevistados mencionou que as práticas lean possibilitaram a redução de
prazos (tempos de ciclo menores) através do estudo da interação entre as atividades
e reestruturação de processos - fato que foi apontado por três das quatro
165
construtoras como uma das motivações para a implantação da metodologia lean em
suas operações. Também foi reportado por metade dos entrevistados o aumento da
produtividade, citado por Mullens e Nahmens (2004) e Kartamet et al. (1995 apud
AL-SUDAIRI, 2007).
Foram citados apenas uma vez os resultados relativos ao aumento da
qualidade, defendido por Sanchez e Péres (2001), que envolve tanto a qualidade do
projeto e atendimento às necessidades dos clientes, quanto à execução através de
processos mais eficientes; e à constatação de que as práticas lean são eficazes não
só em projetos complexos como nos projetos de menor porte e maior grau de
simplicidade (AL-SUDAIRI, 2007), que pode ser vista nos casos da construtoras
Beta e Ômega, as quais também possuem em seus portfólios obras de grande porte
como shoppings centers, complexos hospitalares e hoteleiros. E, por fim, resultados
relativos ao aumento da segurança dos trabalhadores, explicitado pelos
pesquisadores Christoffersen et al. (2001; apud BERTELSEN, 2002); que está
atrelado à três outros resultados: a redução do número de ações trabalhistas, a
redução do número de funcionários qualificados afastados por motivo de acidente e,
indiretamente, ao aumento da satisfação e bem estar da força de trabalho.
Não foram citados em nenhuma das entrevistas resultados relativos à
intensificação dos resultados obtidos ao longo do tempo (MULLENS e NAHMENS,
2004), possivelmente pela falta de indicadores de desempenho para comparação de
dados e pelo fato de a introdução das práticas ser relativamente recente nas
construtoras quando comparada ao início da difusão da metodologia lean. Tal
observação está alinhada com os estudos de Lorenzon e Martins (2006) que
constataram a falta de modelos de medição para a Lean Construction. Segundo
eles, apesar dos importantes alertas sobre o papel da medição de desempenho
tanto na implementação quanto no uso de sistemas de gestão em ambientes lean,
pouco foi feito no sentido de solucionar tal problema. A isso se soma, no contexto
brasileiro, a lenta adoção desses conceitos por empresas do setor.
Ademais, também não foram mencionados como resultados a subutilização
de novas tecnologias e novos processos de gestão e treinamento (NETO, 2002), a
possibilidade de não haver o aumento imediato da competitividade da empresa
(LEWIS, 2000) e a necessidade de promover mudanças culturais e treinamento para
o uso mais eficaz das ferramentas lean (SALEM et al., 2005). Pode-se dizer que
166
todos esses elementos seriam caracterizados como resultados negativos do
processo de implantação das práticas.
Apesar de não constarem na literatura sobre o tema, uma série de outros
resultados obtidos com a implantação de práticas lean foram citados pelos
entrevistados, talvez pelo fato de serem resultados esperados especificamente para
o contexto nacional e relacionados ao momento em que o setor se encontra. Esses
resultados foram: a melhoria na comunicação entre os colaboradores internos, a
melhoria na imagem da empresa e a obtenção de certificações, citadas por três das
quatro entrevistas; a satisfação dos funcionários, mencionada por duas construtoras;
e a melhoria da comunicação com os colaboradores externos (fornecedores e/ou
clientes), destacada por apenas um dos entrevistados.
5.7 PERSPECTIVAS FUTURAS
Observou-se que as construtoras não possuem um planejamento formal de
médio e longo prazo para a implantação de novas práticas lean. Entretanto, todas
elas dizem ter a intenção de seguir com as práticas que já vêm adotando, buscando
aprimorá-las, de acordo com o princípio de melhoria contínua exposto na revisão da
literatura.
Embora a estratégia de longo prazo não esteja definida, as construtoras
relataram existir práticas lean que pretendem adotar em um futuro próximo. Essas
práticas, contudo, diferem de uma construtora para a outra. Apenas as práticas de
treinamento, abordadas por Green e May (2005) e Freire e Alarcón (2002 apud
ERIKSSON, 2010); de desenvolvimento de relacionamento com fornecedores,
apontada por Suess (2005), Elfving et al. (2005 apud ERIKSSON, 2010) e Pheng e
Fang (2005 apud ERIKSSON, 2010); e de encorajamento dos funcionários a
desenvolver ideias e soluções de melhoria para problemas de campo (BALLARD et
al., 2003 apud ERIKSSON, 2010; PHENG e FANG, 2005 apud ERIKSSON, 2010)
foram citadas por mais de uma empresa. Todas elas ligadas ao princípio de melhoria
contínua.
As construtoras Beta e Ômega também expuseram o seu interesse em
implantar as práticas de utilização de indicadores de desempenho (FREIRE e
167
ALARCÓN, 2002 apud ERIKSSON, 2010) e de desenvolvimento das competências
gerenciais dos profissionais para promoverem o processo de mudança (HIROTA e
FORMOSO, 2000), dado a sua importância para o bom andamento da empresa.
Ademais, foram citadas, isoladamente, outras práticas como: utilização de
pré-fabricados (GREEN e MAY, 2005; BALDWIN, 2009) e outras práticas não
apontadas na revisão da literatura, como: práticas voltadas à satisfação dos
funcionários, formas de melhorar a produtividade, através, por exemplo, de
equipamentos para mecanizar algumas atividades (como as máquinas de emboço) e
a melhoria dos projetos.
168
6 RESUMO, CONCLUSÕES E SUGESTÕES DE PESQUISAS FUTURAS
Este último capítulo apresenta as conclusões resultantes da análise dos
casos à luz do referencial teórico previamente apresentado nesse estudo.
6.1 RESUMO DA PESQUISA
O presente trabalho teve como objetivo investigar como as práticas lean estão
sendo implementadas na construção civil no ambiente brasileiro. Mais
especificamente, o estudo visou identificar os fatores que motivam as construtoras a
implantar tais práticas, ou seja, o porquê de estarem implementando práticas lean
em suas operações, bem como quais práticas são mais recorrentes, os resultados
obtidos com a implantação, as possíveis dificuldades encontradas nesse processo e
as perspectivas futuras deste tipo de prática no contexto brasileiro.
A revisão da literatura levantou os principais aspectos já estudados sobre a
introdução de práticas lean no setor da construção civil. Embora ainda não haja um
volume extenso de literatura sobre o tema no contexto brasileiro, foi possível compor
um quadro conceitual, baseado, sobretudo, na literatura internacional, para orientar
a pesquisa de campo. A pesquisa pretendeu responder a seguinte pergunta geral:
“Como ocorre o processo de adoção de práticas lean nas construtoras no Estado do
Rio de Janeiro?”. Esta pergunta foi desdobrada em cinco outras perguntas
específicas:
• Por que as construtoras estão implementando práticas lean?
• Quais práticas lean vêm sendo adotadas pelas construtoras?
• Quais as dificuldades enfrentadas pelas construtoras brasileiras que
decidem adotar práticas lean em suas operações?
• Que resultados foram alcançados pelas construtoras que implantaram
práticas lean?
• Quais as perspectivas futuras desse tipo de prática no setor?
169
A metodologia utilizada foi a de estudo de casos, através de entrevistas em
profundidade com profissionais do quadro executivo das construtoras, que trabalhem
preferencialmente na área de planejamento, por se tratarem de profissionais
responsáveis por introduzir e fiscalizar todos os aspectos relacionados às obras.
Contudo, sempre que cabível, também foram entrevistados profissionais de outras
áreas, inclusive aqueles responsáveis pela execução das obras, com intuito de
complementar determinadas informações. A partir dos relatos, procedeu-se a
descrição de cada uma das construtoras entrevistadas, bem como a análise com
base na comparação dos quatro casos estudados, de forma a responder às
perguntas de pesquisa.
6.2 CONCLUSÕES
A descrição dos casos e a análise dos resultados permitem sugerir respostas
às perguntas desta pesquisa. Serão respondidas, inicialmente, as perguntas do
desdobramento da pesquisa e, ao final, será apresentada a resposta para a
pergunta geral.
Por que as construtoras estão implementando práticas lean?
Dentre as diversas motivações que levaram à introdução de práticas lean nas
construtoras estudadas, predominam, sobretudo, aquelas ligadas à conjuntura do
setor, embora as motivações ligadas à melhoria dos níveis de desempenho
operacional também tenham certa expressividade. Adicionalmente, observou-se que
as empresas então mais orientadas a se manterem competitivas e acompanharem
os movimentos do mercado do que propriamente a buscarem uma grande vantagem
competitiva. A predominância de motivações ligadas à conjuntura do setor e a menor
representatividade de motivações de nível estratégico tem relação direta com as
transformações que o setor vem passando deste o final da década de oitenta. Essas
mudanças são caracterizadas, principalmente, pelo aumento do número de
construtoras e das exigências dos clientes, pela escassez de obra etc. Além disso, a
170
construção civil ainda é um mercado altamente fragmentado, com poucas barreiras
de entrada e saída (principalmente para as empresas de pequeno porte), no qual
muitas construtoras buscam apenas sobreviver, sem que haja grandes
preocupações com o crescimento da organização. Assim, apesar do aumento da
competitividade, o déficit habitacional no Brasil e a demanda por unidades
habitacionais não forçam as construtoras a competirem umas com as outras de
maneira mais intensa.
Ainda que a competição não seja intensa, as motivações mais recorrentes, ou
seja, aquelas mencionadas por todas as construtoras estudadas, foram o maior grau
de competitividade entre as empresas (representada, sobretudo, pelo aumento do
número de construtoras no mercado), o aumento das exigências por parte dos
clientes e a possibilidade de melhoria do desempenho operacional sob a forma de
redução de custos.
A construção civil enfrenta constantes instabilidades, dado a sua forte
dependência em relação aos aspectos macroeconômicos do país. Como
consequência disso, as construtoras não podem contar com um volume constante
de recursos para financiar seus empreendimentos. Dessa forma, as motivações
descritas no parágrafo acima, somadas à facilidade de financiamento proporcionada
pela obtenção de certificações com o SiAC do PBQP-h, reforçam a ideia de que a
introdução de práticas lean nas operações das construtoras seja mais uma reação
das empresas às mudanças conjunturais do que propriamente à busca por
vantagens competitivas. A obtenção da certificação pelo PBQP-h está fortemente
atrelada às motivações relativas à melhoria dos níveis de desempenho operacional,
também bastante citadas pelas empresas estudadas, em termos de eliminação de
desperdícios (de mão de obra, matéria prima e de atividades que não agregam
valor) e de redução de prazos. Assim, a postura das construtoras estudadas parece
ser comum ao setor de construção no Brasil, caracterizado como um setor pouco
voltado à introdução de inovações e bastante artesanal, se comparado com a
construção civil em países como Estados Unidos, Singapura, China, etc.
Ademais, o perfil dos consumidores mudou nos últimos anos, os quais
passaram a demandar projetos mais completos (englobando mais requisitos) que
comtemplem suas atuais necessidades. Os clientes, respaldados pelos direitos do
171
consumidor, tem conseguido exercer maior pressão sobre as empresas,
principalmente em relação ao cumprimento dos prazos.
Embora não estejam presentes na literatura sobre o tema, talvez pelo fato da
maior parte dela ser estrangeira e poucos estudos terem sido realizados no contexto
nacional, outras motivações também foram apontadas pelas construtoras. São elas
(1) a possibilidade de aumento do controle sobre os processos, visando a eliminação
de situações criadas para a solução de crises, as quais consomem totalmente os
recursos e a atenção do gerenciamento, deixando pouco espaço para o
planejamento e para as atividades que geram melhorias; (2) a melhoria da imagem
da empresa no mercado, fortemente atrelada à satisfação dos compradores e
trabalhada pelas empresas de maneiras distintas (e.g. pela obtenção de
certificações de qualidade e selos verdes, pela entrega das unidades do prazo
acordado; por visitas aos canteiros de obra, pela possibilidade de customização das
unidades, pelo suporte oferecido no pós-entrega); (3) a melhoria na comunicação
entre as partes envolvidas, dentro e fora da organização, com intuito de melhorar o
fluxo de informações e auxiliar no processo de resolução rápida de problemas; (4) a
escassez de mão de obra, peculiar à conjuntura do setor no momento da pesquisa;
(5) a alta rotatividade da mão de obra; e (6) a redução do impacto no meio ambiente,
aspecto que vem ganhando evidência cada vez mais forte em diversos setores da
economia, inclusive em virtude do aumento das pressões exercidas pela sociedade.
Vale, por fim, mencionar outra motivação citada por três das quatro
construtoras entrevistadas que, apesar de também não estar presente na revisão da
literatura, demonstra ser relevante dada a conjuntura do setor da construção civil no
momento da realização desta pesquisa. As construtoras destacaram que (7) a
satisfação dos colaboradores internos é uma das motivações para a implantação de
determinadas práticas lean. Este resultado é consistente com informações que tem
sido divulgadas sobre o setor e aderente às motivações 4 e 5, citadas no parágrafo
anterior. O estudo da professora de gestão e tecnologia na construção civil da
Universidade de São Paulo, Mércia Barros, apresentado no capítulo 1, estima que
haja um déficit de 250.000 trabalhadores no setor da construção civil. Portanto, para
evitar a rotatividade da mão de obra e a consequente perda de produtividade e de
investimentos em treinamentos, as construtoras estão motivadas a introduzir
mudanças que visem à retenção dos funcionários. Entretanto, cabe questionar se as
172
práticas implantadas para aumentar a satisfação e motivação dos colaboradores
internos podem ser, de fato, consideradas práticas lean como defendem os
entrevistados e se continuariam sendo empregadas caso a conjuntura do setor se
altere no futuro.
Quais práticas lean vêm sendo adotadas pelas construtoras?
Das 55 práticas lean apresentadas no quadro conceitual, as construtoras
estudadas vêm adotando cerca de 60% delas. Entretanto, na visão das empresas, o
número de práticas adotadas é maior, uma vez que mencionam outras práticas,
consideradas por elas como “lean”, mas que não foram mencionadas em estudos
sobre o tema.
As práticas lean mais recorrentes estão relacionadas, sobretudo, a dois
princípios. O primeiro princípio diz respeito à redução dos tempos de ciclo, coerente
com a redução de prazos - motivação apontada por três das quatro empresas
estudadas. As principais práticas lean envolvidas nesse princípio são o
gerenciamento da interação entre as atividades com ênfase na interrelação de
tarefas ao invés de tarefas específicas, a sincronização e suavização dos fluxos, a
fiscalização diária e as alterações no layout dos canteiros para a otimização do
espaço e da circulação. O segundo princípio mais citado corresponde ao foco no
planejamento e controle do processo completo e engloba as práticas de planos
semanais para controle do fluxo de trabalho, estabelecimento de marcos,
acompanhamento do percentual de tarefas concluídas em relação ao cronograma, a
identificação das causas das falhas e tomada de medidas para a prevenção de
reincidências e a definição de um responsável por atribuir adequadamente tarefas
aos trabalhadores com o suporte da alta gestão e das equipes de produção.
Ademais, destacam-se também os princípios de redução da variabilidade, redução
de desperdícios e melhoria contínua dos processos.
É possível concluir que esses cinco princípios englobam as práticas que são
mais facilmente implantadas, que exigem baixos investimentos e que conferem
resultados mais rápidos sendo, portanto, mais praticadas no mercado. De maneira
geral, são práticas voltadas para solucionar problemas mais evidentes da construção
173
civil (como desperdícios, atrasos no cronograma, fragmentação no fluxo de trabalho,
relacionamento com fornecedores etc.) e que têm amplo campo para melhorias.
Cabe ainda ressaltar que tratam-se de práticas que também envolvem alguns dos
aspectos avaliados pelo SiAC para a obtenção da certificação.
Destaca-se também a incipiente introdução de novas tecnologias e
equipamentos, lembrando que apenas uma das construtoras utiliza elementos pré-
fabricados em seu sistema construtivo. Embora a tendência aponte para a
industrialização do processo construtivo, transformando a construção em um
processo de montagem, ainda fazem parte do contexto do setor o progresso lento e
frequentes problemas de baixa produtividade.
Vale enfatizar a ausência de um sistema de medição de desempenho em
todas as empresas estudadas. Apesar de alguns entrevistados terem relatado
estarem cientes da importância dessa prática, não foi observado nenhum
movimento em direção à fixação de metas e à introdução um conjunto de
indicadores de desempenho. Dessa forma, as construtoras ainda não são capazes
de quantificar e avaliar consistentemente os reais benefícios obtidos após as
mudanças realizadas e sua evolução ao longo do tempo. Possivelmente a
introdução de um conjunto de indicadores e o acompanhamento dos resultados
auferidos demandará a introdução de mudanças culturais mais profundas, pois
tendem a gerar maior resistência dos envolvidos uma vez que geram cobranças e a
identificação de responsáveis por determinado desempenho.
Conforme mencionado no início deste tópico, este estudo conclui que existem
outras práticas não listadas no quadro conceitual que vem sendo adotadas pelas
empresas com objetivo de atender a alguns dos princípios apresentados. Talvez
algumas dessas práticas não estejam na literatura por estarem relacionadas
especificamente ao contexto brasileiro (como mecanismos para impactar na
motivação dos colaboradores internos e outros instrumentos visando a satisfação
dos clientes) ou por se tratarem de preocupações mais recentes (como as práticas
relacionadas aos impactos no meio ambiente, assunto que vem ganhando fôlego a
cada ano).
Quais as dificuldades enfrentadas pelas construtoras brasileiras que
decidem adotar práticas lean em suas operações?
174
De maneira geral, as empresas estudadas relataram não ter encontrado
dificuldades relevantes durante o processo de implantação das práticas lean. Isso
pode ser atribuído à forma como a implantação foi e vem sendo conduzida.
Observou-se que as construtoras que adotam formalmente a metodologia lean
(ainda que com outro nome) visualizam a implantação como algo integrado, na
forma de um sistema e, portanto, têm um processo de implantação mais estruturado.
O número de dificuldades encontradas não só é menor nos casos em que a
construtora se estruturou para passar pelas mudanças, mas também nos casos em
que a empresa procurou suporte externo para auxiliar no processo.
Um exemplo da importância de se ter um planejamento estratégico para a
minimização ou eliminação de dificuldades durante a implantação de práticas lean
pode ser observado nos casos das construtoras Gama e Ômega, nas quais a falta
de um planejamento estratégico estruturado foi, em um primeiro instante, uma
dificuldade encontrada, mas que foi suprimida a partir do momento que essas
empresas constataram a necessidade de reorientação desse processo e
trabalharam para que isso ocorresse.
Para reforçar esse pensamento, vale relembrar que a Diretora de
planejamento da Alfa e, principalmente, o Diretor Técnico da Gama concordaram
que a introdução das práticas transcorreu com certa facilidade, posto que, antes das
práticas serem implantadas, houve tempo suficiente para que fosse feito um
planejamento adequado, considerando tanto os benefícios que poderiam ser obtidos
quanto possíveis problemas que pudessem ocorrer no processo. Dessa forma, os
gestores puderam pensar com antecedência em formas de minimizar ou suprimir
certas dificuldades. Entretanto, já que, de modo geral, as empresas relatam não ter
encontrado dificuldades relevantes durante a implantação de práticas lean, cabe
questionar o porquê de elas não terem implantado um número maior de práticas em
suas operações, inclusive aquelas que podem impactar mais profundamente na
organização e trazerem resultados mais expressivos.
Embora julguem poucas e/ou pequenas as dificuldades encontradas durante
a implantação, cabe destacar uma dificuldade mencionada por todas as empresas
estudadas (e que não está presente na revisão da literatura). De acordo com os
entrevistados, o principal entrave para a introdução da metodologia lean encontra-se
na falta de experiência na adoção das práticas, que pode ter relação tanto com a
175
falta de conhecimento sobre as práticas em si e os benefícios atrelados a ela, como
pela falta de experiência na forma de conduzir a implantação das mesmas. Tal
dificuldade pode estar relacionada com o pequeno número de construtoras
brasileiras que vem adotando a metodologia lean, conforme informações obtidas no
LIB. Isso reflete o fato de que este conceito ainda está pouco difundido no país,
resultando em um número pequeno de profissionais com conhecimento e/ ou
experiência nessa área.
Uma dificuldade reportada em três dos quatro casos estudados consiste na
resistência à mudança cultural radical, inclusive no relacionamento com
fornecedores. Considerando-se que as empresas ainda não implantaram um
determinado número de práticas lean, é possível inferir que ainda estão em um
estágio intermediário de implantação e, portanto, esta dificuldade tenderá a se
intensificar no momento em que práticas mais complexas forem implantadas. O
aumento do emprego de equipamentos e o movimento que vem se acentuando nos
últimos anos no sentido da industrialização do processo construtivo, por exemplo,
podem desencadear maior resistência às mudanças, uma vez que diminuirão a
necessidade de mão de obra no canteiro e os funcionários que continuarem
envolvidos na construção terão que aprender a manusear diversos equipamentos e
a trabalhar com outros sistemas construtivos.
Entretanto, até o momento, as empresas parecem ter conseguido transpor
essa e outras dificuldades que se apresentaram durante a introdução das práticas,
uma vez que ocorreu aprendizado pela ação e erros de planejamento e processos
puderam ser identificados e corrigidos ao longo do tempo. É possível que
desperdícios de tempo pudessem ter sido evitados se os profissionais envolvidos na
implantação tivessem experiência prévia no assunto.
Adicionalmente, cabe levantar uma questão que surgiu durante a entrevista
na construtora Gama, na qual o Diretor Técnico relatou que a construtora em que
trabalha é a melhor empresa da cidade em termos processuais. Contudo, apontou
que existem obras da concorrência que são mais bonitas e esteticamente mais
elaboradas, porém este não é um dos focos de sua empresa. A partir dessa
afirmação, é possível indagar se a introdução de certas práticas lean da maneira
como estão sendo conduzidas estaria tornando as empresas, de certa forma, tão
voltadas à padronização e a procedimentos a ponto de fazê-las perder a flexibilidade
176
e terem que fazer trade-offs entre melhor desempenho operacional e estética dos
projetos (ou até mesmo em relação a outros aspectos), deixando de lado pontos que
poderiam ser trabalhados com relação ao aumento da satisfação dos clientes.
Por fim, é possível concluir que a análise das dificuldades apresentada no
capítulo anterior pode ser considerada incompleta, uma vez que foi observado que
as empresas estudadas desconhecem algumas práticas e, portanto, ainda não
adotam um grande número delas. De modo geral, elas vêm adotando práticas mais
simples, a maioria já implantada (e testada) pelas concorrentes, levando a crer que
essas construtoras ainda não passaram pelo estágio de conhecer algumas das
dificuldades apontadas pelos pesquisadores citados nessa pesquisa.
Que resultados foram alcançados pelas construtoras que implantaram
práticas lean?
Quatro benefícios foram alcançados por todas as empresas estudadas: (1) a
eliminação ou minimização de desperdícios, resultado buscado pelas empresas,
sobretudo, com intuito de reduzir os custos da obra e, em alguns casos, com o
objetivo de reduzir o impacto da empresa no meio ambiente e contribuir para a
obtenção de certificações verdes; (2) a melhoria substancial na curva de
aprendizado da força de trabalho e sua relação com a implantação das práticas; (3)
a melhoria da produção com a geração de processos mais eficientes e (4) a redução
de custos.
Estes resultados estão alinhados com as motivações apontadas pelas
empresas em relação à melhoria do desempenho operacional, sobretudo sob a
forma de redução de custos. Tal redução foi alcançada de diversas formas como,
por exemplo, através de processos mais eficientes ou pela eliminação de
desperdícios proporcionada pelo planejamento do consumo de materiais,
padronização, reaproveitamento de materiais etc. Esses resultados também estão
alinhados com a motivação referente ao maior grau de competitividade entre as
empresas.
Cabe destacar, entretanto, que embora três das construtoras tenham
mencionado resultados relacionados ao aumento da satisfação dos clientes -
177
coerentes com a motivação relativa ao aumento das demandas dos consumidores -,
apenas uma das construtoras relatou que obteve como resultado o aumento da
qualidade, podendo-se inferir que as demais construtoras já tenham bons padrões
de qualidade ou que estejam proporcionando o aumento da satisfação dos clientes
de outras maneiras, por exemplo, através do rigoroso cumprimento dos prazos de
entrega, de políticas de relacionamento com os compradores (e.g. aplicação de
questionários de satisfação, visitas à obra, etc.)
Embora todos os entrevistados tenham reportado que o processo de
implantação das práticas lean tem sido bastante exitoso, possivelmente pelo fato da
construção civil no Brasil ter bastante campo para melhorias, falta às construtoras
um conjunto de indicadores de desempenho que as faça capazes de mensurar os
reais benefícios trazidos pelas introdução das práticas lean. Sabe-se que as
construtoras obtiveram melhores resultados após a introdução das práticas, porém
não se sabe quantificar, por exemplo, quais foram os ganhos de produtividade do
trabalhador (em número de metros quadrados por dia), em quanto foi reduzido o
consumo de determinando material, qual é o percentual de material que está sendo
reaproveitado, etc.
No caso específico da produtividade, conforme apresentado no capítulo 1
deste estudo, publicações específicas da área apontam, por exemplo, para a falta de
visão sistêmica das construtoras sobre essa questão e como a variação da
produtividade de execução pode ser muito maior do que o esperado. Ao contrário do
que se imaginava, a variação não é de apenas 5% a 10%. Ela pode chegar a 50%,
80% e até 100%. Portanto, acompanhar a redução das variações no percentual de
produtividade da mão de obra (que pode ser equivalente à metade do custo da obra
em alguns casos) através de indicadores, pode dobrar ou triplicar os ganhos com os
empreendimentos.
Dessa forma, conclui-se que, programas de treinamento são essenciais para
o aumento da produtividade, mas precisam ser acompanhados pela fixação de
metas e por indicadores de desempenho para garantir que a produtividade seja
mantida ou até melhorada ao longo do tempo. Isso é relevante, pois, no serviço
manual, característico do setor, cada pessoa executa determinada atividade de uma
forma, tornando a produção variável e esse aspecto se acentua quando não há
controle da produção. Tal controle é especialmente importante no caso das
178
construtoras com operações em diferentes estados do país, pois foi reforçado por
elas que questões climáticas, geográficas e culturais afetam a produtividade da mão
de obra e as variações de produtividade precisam, portanto, ser consideradas
durante a elaboração de cronogramas e orçamentos.
Talvez a falta de um sistema de medição também possa estar atrelada a falta
de modelos de medição para a Lean Construction de forma mais ampla. Conforme
visto no decorrer desta pesquisa, apesar dos importantes alertas sobre o papel da
medição de desempenho, pouco foi feito no sentido de solucionar tal problema. A
isto se soma, no contexto brasileiro, a lenta adoção desses conceitos por empresas
do setor. Desta maneira, faz-se necessário o desenvolvimento de formas de
medição de desempenho que sejam coerentes com a filosofia lean e levem em
consideração as especificidades do setor da construção civil.
Sendo assim, é possível julgar que os resultados encontrados pelas
construtoras pudessem ser potencializados, uma vez que a utilização de indicadores
de desempenho para a comparação de dados entre projetos lhes permitiria apontar
pontos de melhoria em suas operações, reforçando, assim, com o princípio lean de
melhoria contínua. Para reforçar essa ideia expõe-se o fato de que durante as
entrevistas nenhum entrevistado mencionou como resultado das práticas lean a
intensificação dos resultados obtidos ao longo do tempo. Isso pode ter ligação não
só com a falta de indicadores de desempenho para comparação de dados entre
projetos (e, sempre que possível, com a concorrência), como também com o fato da
introdução das práticas ser relativamente recente nas construtoras estudadas.
Embora constatada a importância da utilização de indicadores de desempenho,
apenas duas das quatro construtoras entrevistadas esboçaram a intenção de adotar
um conjunto de indicadores no futuro.
Adicionalmente, é importante apontar que uma prática pode atender a mais
de um princípio e, portanto, pode impactar em mais de um resultado. Além disso,
algumas práticas são consideradas práticas chave, ou seja, são essenciais para a
implantação bem sucedida de outras práticas lean e, portanto, para a conquista de
resultados positivos. Neste quesito, destacam-se as práticas lean de fiscalização
diária; práticas voltadas para o controle do fluxo de trabalho; e o desenvolvimento de
relacionamento de longo prazo com os fornecedores no processo de adoção das
iniciativas lean visando a troca de informações, a busca por soluções rápidas e o
179
comprometimento de todas as partes envolvidas para o bom andamento da
programação de atividades.
Apesar de não constarem na literatura sobre o tema, uma série de outros
resultados obtidos com a implantação de práticas lean foram citados pelos
entrevistados, talvez pelo fato de serem resultados esperados especificamente para
o contexto nacional e relacionados ao momento pelo qual o setor vem passando.
Esses resultados foram a melhoria na comunicação entre os colaboradores internos,
a melhoria na imagem da empresa e a obtenção de certificações, citadas por três
das quatro entrevistas; a satisfação dos funcionários, mencionada por duas
construtoras; e a melhoria da comunicação com os colaboradores externos
(fornecedores e/ou clientes), destacada por apenas um dos entrevistados.
Quais as perspectivas futuras desse tipo de prática no setor?
O processo de introdução de práticas lean nas construtoras estudadas nesta
pesquisa pode ser considerado exitoso, uma vez que todos os entrevistados
revelaram estarem conscientes dos benefícios trazidos pela implantação de práticas
lean e, portanto, mostraram-se otimistas quanto à evolução das práticas para o
futuro das construtoras. Contudo, cabe relembrar que as empresas não possuem um
planejamento formal para o longo prazo sobre quais serão exatamente os próximos
passos a serem dados na jornada de implantação das práticas lean.
É possível que, mantendo-se a conjuntura do setor no momento em que este
estudo foi realizado, ou seja, grande competitividade entre as empresas e aumento
das exigências por parte dos clientes, ocorra o efeito difusão. Dessa forma, mais
construtoras passarão a introduzir práticas lean em suas operações e possivelmente
haverá mais profissionais no mercado com conhecimento sobre a metodologia lean.
A tendência parece apontar na direção de as empresas buscarem implantar mais
práticas lean e/ou aperfeiçoem as práticas existentes com objetivo de manterem-se
competitivas.
Entretanto, caso a conjuntura do setor mude e, hipoteticamente a
competitividade do setor reduza consideravelmente e/ou deixe de haver escassez de
mão de obra, cabe levantar duas questões. A primeira consiste na continuidade ou
180
não de determinadas práticas lean, em especial aquelas que geram custos para as
construtoras, quanto ao aumento da satisfação de seus colaboradores internos
visando suaretenção na empresa. A segunda diz respeito à dúvida se as
construtoras que possuem certificações com intuito de obter facilidade de
financiamento continuariam, de fato, adotando práticas lean se não fosse para
manter as certificações conquistadas.
Como ocorre o processo de adoção de práticas lean nas construtoras
mais especificamente no Estado do Rio de Janeiro?
Conforme foi observado, o setor da construção civil tem evoluído nos últimos
vinte anos, desde o início da difusão dos conceitos sobre Lean Construction.
Entretanto, publicações brasileiras e observações feitas durante as entrevistas
fazem crer que, no contexto brasileiro, a adoção desses conceitos tem se dado de
maneira lenta pelas empresas do setor. Isso pode ser constatado através de
informações disponibilizadas pelo LIB sobre o número incipiente de construtoras
praticantes da metodologia lean no país e pelo fato de apenas uma construtora,
dentre as quatro pesquisadas, implantar formalmente a metodologia. Somente em
uma das outras três construtoras os respondentes relataram ter conhecimento sobre
a metodologia lean, embora chamem o conjunto de práticas adotadas pela empresa
de sistema de qualidade, posto que suas ações foram orientadas pelo SiAC do
PBQP-h.
Os entrevistados das construtoras Alfa e Gama reportaram que a introdução
das práticas transcorreu com certa facilidade, posto que, antes das práticas serem
implantadas, houve tempo suficiente para que fosse feito um planejamento
adequado, considerando tanto os benefícios que poderiam ser obtidos quanto
possíveis problemas que pudessem ocorrer no processo. Já no caso das
construtoras Beta e na primeira fase de implantação das práticas lean na Ômega, de
maneira geral, as práticas lean foram implementadas de maneira não muito
estratégica, mas como uma forma de seguir os movimentos do mercado e manter a
empresa competitiva. Portanto, não houve um pensamento mais profundo sobre o
porquê da adoção de determinadas práticas e dos reais benefícios que elas
181
poderiam gerar. Na construtora Ômega, após a formação de uma equipe designada
para desenvolver uma estratégia de implantação e condução das práticas lean, esta
questão foi solucionada. Já na construtora Beta, a falta de um planejamento
estratégico e estruturado ainda é uma questão a ser pensada, situação que pode
estar associada ao fato de a média gerência ser composta por uma equipe com
pouquíssimo tempo de empresa. Então, todo um pensamento estratégico pode ter
sido interrompido na “passagem” de uma gestão para a outra.
Embora as construtoras tenham reportado que a implantação das práticas
tenha sido exitosa e que poucas/pequenas foram as dificuldades encontradas
durante o processo, foi observado que elas adotam, em média, apenas 33 das 55
práticas lean apresentadas no esquema conceitual. Portanto, surge um
questionamento sobre o porquê de as construtoras não estarem implantando um
número maior de práticas lean se as dificuldades associadas ao processo são
poucas. Algumas explicações podem ser apontadas como possíveis respostas para
este questionamento. Entre elas está o fato do processo de implantação das práticas
lean ainda estar em estágio intermediário, no qual, de maneira geral, são adotadas
aquelas práticas já implantadas e testadas pelo mercado geralmente voltadas para
solucionar problemas mais evidentes da construção civil.
Também pode ser apontado como possível explicação o desconhecimento
sobre algumas práticas e progresso lento do setor. A construção é um dos setores
mais conservadores no Brasil, com técnicas tradicionais ainda bastante arraigadas.
Inovações e industrialização são necessárias, pois, no geral, ainda falta
padronização e mecanização no sistema de construção brasileiro que, acostumado
com mão de obra abundante e barata, preferiu durante muitos anos arcar com os
crescentes custos do trabalho manual a investir em novas tecnologias.
A conclusão de que a adoção de práticas lean ainda se encontra em estágio
intermediário nas empresas estudadas foi baseada no estudo de Green e May
(2005) apresentado anteriormente nesta pesquisa. Segundo esses pesquisadores,
os esforços de implementação de práticas lean na construção podem ser divididos
em três estágios distintos, com graus crescentes de sofisticação. O estágio 1 foca na
eliminação de desperdícios e nele encontram-se a adoção de indicadores de
desempenho e o compartilhamento de ganhos e perdas. O estágio 2 foca na
eliminação de relacionamentos adversários e no aumento das relações de
182
cooperação e do trabalho em equipe entre os agentes da cadeia de suprimentos. Já
o estágio 3 é o mais sofisticado, envolvendo uma mudança estrutural na governança
de projeto. Suas partes fundamentais são: tecnologia da informação, pré-fabricação,
Last planner, contratos de longo prazo, treinamento em todos os níveis da
organização etc. Green e May argumentam que, dos três estágios acima descritos,
somente o terceiro pode ser plenamente julgado como Lean Construction. Embora
as empresas estudadas adotem algumas práticas do terceiro estágio, ainda há
lacunas a serem suprimidas neste e nos estágios anteriores.
Outra questão levantada diz respeito à dúvida se todas as práticas lean
adotadas estão sendo implantadas de maneira correta e otimizada. É possível que,
sob a ótica dos entrevistados, algumas práticas estejam realmente sendo
implantadas, porém caberia verificar se não estão sendo conduzidas de forma sub-
otimizada e, portanto, se os resultados obtidos estão deixando de ser
potencializados. Esta questão foi levantada por várias razões. A primeira delas
encontra-se na falta de um conjunto de indicadores de desempenho para que as
empresas sejam capazes de mensurar os reais benefícios trazidos pelas introdução
das práticas lean e acompanhar seu desempenho ao longo do tempo.
A segunda razão está na constatação de que faltam no mercado profissionais
com conhecimento sobre a metodologia lean, tanto teórico quanto em termos de
experiência para conduzir a implantação de práticas lean. Dessa forma, cabe as
construtoras o desafio de capacitar seus profissionais para torná-los aptos a
compreender e implementar a metodologia lean.
Já a terceira razão está refletida no fato de que, embora, na maioria das
vezes, exista um planejamento sobre a condução das práticas, alguns aspectos não
são pensados mais a fundo e algumas práticas estão sendo adotadas de forma
“natural”, impulsionadas pela concorrência e menos no sentido de diferenciação e
busca por vantagens competitivas.
Por fim, cabe mencionar que a utilização de suporte externo tem relação com
a forma com que a implantação das práticas lean foi conduzida, posto que as
construtoras que fizeram uso deste recurso apresentam uma visão mais holística do
processo de implantação, além de o terem conduzido de maneira mais estruturada.
183
6.3 CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS E GERENCIAIS
Como contribuições teóricas deste estudo é possível destacar que a pesquisa
buscou suprir uma lacuna de estudos similares no contexto brasileiro e poderá
fornecer suporte aos interessados em Lean Construction. Ademais, a importância do
desenvolvimento de estudos na área é destacada pelo IGLC através da constatação
de que a falta de uma teoria explícita tem sido um dos maiores gargalos para o
progresso do setor da construção.
Portanto, a importância teórica da pesquisa está associada à necessidade de
se compreender melhor o processo de implantação de práticas lean e seus
desdobramentos dentro do contexto da estratégia das empresas, inclusive com a
identificação de diversos aspectos que não constam na literatura sobre o tema.
Também é possível destacar como contribuição teórica a utilização da
categorização feita em 1992 por Koskela (precursor da difusão dos princípios lean
na construção civil) e a associação de diversas outras práticas lean apresentadas
por outros pesquisadores após 1992 aos 11 princípios apresentados por ele.
As contribuições gerenciais da pesquisa podem ser vistas na identificação da
importância de se estruturar uma equipe, treinada, para guiar o processo de
implantação da metodologia lean e seu posterior acompanhamento e introdução de
melhorias; e na ênfase (reforçando o que outros pesquisadores já fizeram) da
necessidade de fixação de metas e adoção de indicadores de desempenho,
forçando os profissionais envolvidos a buscarem melhorias nas práticas existentes e
até mesmo estimulando-os a adotar outras práticas.
Ademais, a importância prática deste trabalho também decorre da
possibilidade de utilização dos resultados do estudo como subsídio para melhorar o
planejamento e a operacionalização das práticas lean no ambiente nacional.
6.4 SUGESTÕES DE PESQUISAS FUTURAS
Existem algumas oportunidades para estudos futuros relacionados à
aplicação da metodologia lean no setor da construção civil devido à escassez de
184
pesquisas sobre o tema no Brasil. Algumas sugestões seriam:
• Embora existam institutos dedicados exclusivamente ao estudo de Lean
Construction, por que as construtoras brasileiras não implementam (ou
desconhecem) formalmente esta metodologia?
• Qual é o papel dos fornecedores das construtoras como pré requisito para a
implantação de práticas lean?
• Quais as principais diferenças entre a implantação de práticas lean pelas
construtoras brasileiras e estrangeiras?
• Estudo comparativo sobre o grau de implantação de práticas lean em
construtoras do Rio de Janeiro e construtoras de outros estados.
• No caso das construtoras que possuem certificações (seja, para obterem
facilidade de financiamento, melhorarem suas imagem perante o mercado,
etc.), continuariam elas adotando práticas lean se não fosse para manter as
certificações conquistadas?
É importante salientar que ainda é difícil realizar pesquisas quantitativas com
construtoras utilizando a nomenclatura “metodologia lean”, visto que ainda há
poucos casos de aplicação formal desse tipo de metodologia no Brasil.
185
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APÊNDICE A – ROTEIRO PARA ENTREVISTAS
I) Caracterização do entrevistado e da empresa
1. Identificação do Respondente (informações confidenciais que não serão
divulgadas):
• Nome
• Departamento
• Função do Entrevistado
• Há quanto tempo está nesta função
• Há quanto tempo está na empresa
2. Descrição da empresa
• Nome
• Tempo de atuação
• Histórico/evolução das atividades da empresa
• Área geográfica de atuação
• Segmento de atuação
• Número de funcionários
• Metros quadrados construídos por ano
• Número de empreendimentos lançados
• Número de empreendimentos em construção
• Certificações e premiações (ex. ISO 9001, ISO 14001, OHSAS 18001, LEED,
Ademi, SECONCI etc.)
II.) Sobre a seleção e implantação das práticas lean:
3. Quais práticas lean foram adotadas pela empresa (Tabela 1)?
4. Como os (11) princípios da construção lean (Tabela 1) estão sendo
implementados na construtora?
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5. Que fatores motivaram a construtora a adotar a Filosofia lean? Por que da
escolha específica das práticas mencionadas na questão? (Tabela 2)
6. Grau de implantação dessas práticas. Na literatura não há informações sobre uma
escala para mensuração do grau de implantação. Buscar entender se as práticas
mencionadas já estão implantadas e “funcionando” ou se ainda estão em fase de
implantação, teste ou adequação.
7. Por quem elas foram selecionadas?
8. Quem ficou responsável pela implantação e controle? Quantas pessoas estão
envolvidas?
9. Quando cada uma delas foi implantada e qual foi o tempo de implantação? Buscar
entender a percepção de tempo.
10. A empresa enfrentou algum obstáculo durante a implantação das práticas? Em
caso afirmativo, quais foram as dificuldades encontradas? (Tabela 2)
11. A empresa conseguiu superar essas dificuldades? Em caso afirmativo, o que foi
feito para transpor as dificuldades?
12. Que resultados eram esperados durante e/ou após a implantação das práticas?
(Tabela 2)
13. Esses resultados foram alcançados? Em caso negativo, a que foi atribuído o não
atingimento das metas?
14. Que outros resultados foram encontrados além dos esperados?
15. Existe algum controle e acompanhamento periódico dos resultados? Por quem é
feito?
16. A empresa compara seus resultados com os resultados auferidos pela
concorrência?
III.) O Futuro
17. A empresa pretende seguir adotando as práticas já implementadas?
18. Pretende adotar novas práticas? Quais e por quê?