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A agricultura familiar que produz e melhora a renda no sertão Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 7 • nº1098 Dezembro/2013 Monte Alegre Seu tão sonhado galinheiro O carinho por suas vaquinhas Renilde, agricultora de uma vida inteira que consegue com dedicação e planejamento junto com seu marido melhorar a cada dia a vida da sua família. As maneiras que os/as agricultores/as encontram para conviver com o Semiárido nos períodos de longa estiagem são a prova que o povo sertanejo é resistente e que além da fé que depositam em todos/as padroeiros/as das comunidades, procuram estratégias que contribuem na plantação da sua horta, na criação dos seus animais, na melhoria de suas vidas. Maria Renilde Felix Mendonça é um exemplo de que a sabedoria do/a agricultor/a junto com o saber técnico e a efetivação de políticas públicas contextualizadas para o Semiárido é um caminho próspero e duradouro. Casada com João Batista Martins há trinta anos, mãe de quatro filhos e avó de 02 netinhos ela mora há vinte anos no Assentamento Nossa Senhora Aparecida conhecido como Lagoa das Areia que fica no município de Monte Alegre, alto sertão sergipano. Agricultora de uma vida inteira, Renilde começou a lida logo cedo, aos 10 anos de idade ajudava a sua mãe Dona Ilda no plantio da roça: “Eu ia colocando o grãozinho de milho, de feijão na cova”, diz ela, que também falou sobre as dificuldades para poder estudar: “A escola era muito longe, não tinha carro pra ir, não tinha como a gente estudar, era assim, hoje está tudo muito mais fácil”. Foi assim que ela cresceu no campo e casou-se com João Batista. “A gente também não tinha nada quando casou meu marido só tinha uma redinha (risos), mas a gente foi trabalhando e conseguindo as coisas com muita luta”, nos fala. Quando o casal veio morar no assentamento há vinte anos só haviam os lotes com as casas.A busca pela água era uma luta diária como ela nos conta: “Ah, a gente bebia água de barreiro, suja, uma água verde e que tinha que ir buscar longe de carro de boi, mas era o que tinha, ou bebia ou morria de sede”.

A agricultura familiar que produz e melhora renda no sertão

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Renilde é uma agricultora que trabalhou a vida inteira no campo e com planejamento hoje tem uma renda equivalente a dois mil reais com criação de animais e uma mercearia que ela garante ter conquistado com muito trabalho e depois da chegada de algumas políticas públicas para o Semiárido.

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A agricultura familiar que produz e melhora a renda no sertão

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 7 • nº1098

Dezembro/2013

Monte Alegre

Seu tão sonhado galinheiro

O carinho por suas vaquinhas

Renilde, agricultora de uma vida inteira que consegue com dedicação e planejamento junto com seu marido melhorar a cada dia a vida da sua família.

As maneiras que os/as agricultores/as encontram para conviver com o Semiárido nosperíodos de longa estiagem são a prova que opovo sertanejo é resistente e que além da fé que depositam em todos/as padroeiros/as dascomunidades, procuram estratégias que contribuem na plantação da sua horta, na criação dos seus animais, na melhoria de suasvidas.

Maria Renilde Felix Mendonça é um exemplo deque a sabedoria do/a agricultor/a junto com o saber técnico e a efetivação de políticas públicascontextualizadas para o Semiárido é um caminho próspero e duradouro. Casada com

João Batista Martins há trinta anos, mãe de quatro filhos e avó de 02 netinhos ela mora há vinte anos no Assentamento Nossa Senhora Aparecida conhecido como Lagoa das Areia quefica no município de Monte Alegre, alto sertão sergipano.

Agricultora de uma vida inteira, Renilde começou a lida logo cedo, aos 10 anos de idade ajudava a sua mãe Dona Ilda no plantio da roça: “Eu ia colocando o grãozinho de milho, de feijão na cova”, diz ela, que também falou sobre as dificuldades para poder estudar: “A escolaera muito longe, não tinha carro pra ir, não tinha como a gente estudar, era assim, hoje estátudo muito mais fácil”.

Foi assim que ela cresceu no campo e casou-se com João Batista. “A gente também não tinha nada quando casou meu marido só tinha uma redinha (risos), mas a gente foi trabalhando e conseguindo as coisas com muita luta”, nos fala. Quando o casal veio morar no assentamento há vinte anos só haviam os lotes com as casas.A busca pela água era uma luta diária como ela nos conta: “Ah, a gente bebia água de barreiro, suja, uma água verde e que tinha que ir buscar longe de carro de boi, mas era o que tinha, ou bebia ou morria desede”.

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Sergipe

Realização Apoio

Renilde e sua mãe Dona Ilda

Projeto futuro, o ponto russo

Há dez anos chegaram ao assentamento as primeiras cisternas do P1MC- Programa Um Milhão de Cisternas de 16 mil litros de água para o consumo humano e a realidade daquele lugar começou a mudar. Renilde fala que a alegria foi tão grande que o povo não conseguia se conter. “Imagine só, beber uma água limpinha, tão clarinha e perto de casa, foi uma bênção, diz. Com o acesso à primeira água, a coisa já estava boa e melhorou mais ainda com a chegada da cisterna-calçadão do P1+2 (Programa Um Terra e Duas Àguas).

Essa agricultora arretada que já criava suas galinhas, seus porcos e suas vaquinhas com tanto zelo, produzindo requeijão e vendendo ovos para melhorar a renda familiar nos diz o seguinte: “ A gente que é agricultor/as sabe fazer as coisas, mas o jeito que os técnicos nos ajudam a fazer é melhor, a gente produz mais mesmo sem usar químico, aprende a fazer o manejo e as coisas vão sempre chegandopra gente”.

Renilde garante que depois da chegada das duas cisternas, da energia elétrica, da assistência técnica, de alguns projetos como o de galinheiros trazido pelo PDHC (Projeto Dom Helder Câmara) e os Programas do Governo Federal o PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) e o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos), a vida da sua família melhorou muito. “Então, a gente tem que ver o seguinte, o que o povo do sertão quer é apoio, se a gente conseguir juntar a nossa organização com esses projetos que vêm é só crescimento”, ela completa.

Hoje a família de Renilde tem em sua propriedade além das tecnologias sociais, 40 galinhascaipiras e cinco vacas. Com muito planejamento ela foi vendendo leite e ovos e com um dinheiro que recebeu de um milho que plantou conseguiu construir mais um dos seus sonhos: A Mercearia Jr. “A nossa vida é só melhoria, agora posso dizer que tiro em média dois mil reais por mês do nosso próprio trabalho... Do meu sertãozinho querido só saio parao cemitério”, diz relembrando sempre o seu histórico de luta desde os 10 anos de idade.

Os planos para o futuro são retomar o cultivo da horta agroecológica que por causa da última seca ela teve que escolher entre os animais ou horta, comprar um carro para facilitar a chegada das mercadorias para a mercearia e criar junto com as mulheres do assentamento uma cooperativa de Bordado de Ponto Russo, uma atividade que ela já tem o maior orgulho em apresentar. “Para você ver que as mulheres de Lagoa das Areias são porreta mesmo”, fala Renilde toda animada.