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INTRODUÇÃO A água é fundamental para à vida e à sobrevivência dos seres vivos, e uma boa qualidade no tratamento traz benefícios e proteção à saúde da população. As medidas adotadas para certificar essa qualidade, estão no desenvolvimento de ações que garantirão à segurança do fornecimento de água através da eliminação ou redução de agentes patogênicos que causam danos à saúde da população (BRASIL, 1990). De todas as matérias primas, a água é a principal constituinte utilizado na formulação e fabricação de cosméticos e além de usada como solvente de componentes constitui parte significativa da maioria dos cosméticos (ALVES, 2009). Como não existem parâmetros farmacopeicos, estabelecidos pelos órgãos legais, referentes à qualidade da água a ser utilizada nas formulações de cosméticos, estes parâmetros são estabelecidos pela própria, no caso, indústria, de acordo com a finalidade das preparações. Existe uma tendência no mercado de se usar como padrões os estabelecidos pela indústria farmacêutica, que segue basicamente as farmacopéias americana e/ou européia. Às quais trazem “Como requisitos mínimos, a água deve ser PW (Purified Water – para o português, água purificada), com condutividade menor que 1,3S/cm, COT (Carbono Orgânico Total) menor do que 500ppb” (LIMA, Erlon).

A Água e a Indústria de Cosméticos

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INTRODUÇÃO

A água é fundamental para à vida e à sobrevivência dos seres vivos, e

uma boa qualidade no tratamento traz benefícios e proteção à saúde da

população. As medidas adotadas para certificar essa qualidade, estão no

desenvolvimento de ações que garantirão à segurança do fornecimento de

água através da eliminação ou redução de agentes patogênicos que causam

danos à saúde da população (BRASIL, 1990).

De todas as matérias primas, a água é a principal constituinte utilizado

na formulação e fabricação de cosméticos e além de usada como solvente de

componentes constitui parte significativa da maioria dos cosméticos (ALVES,

2009).

Como não existem parâmetros farmacopeicos, estabelecidos pelos

órgãos legais, referentes à qualidade da água a ser utilizada nas formulações

de cosméticos, estes parâmetros são estabelecidos pela própria, no caso,

indústria, de acordo com a finalidade das preparações. Existe uma tendência

no mercado de se usar como padrões os estabelecidos pela indústria

farmacêutica, que segue basicamente as farmacopéias americana e/ou

européia. Às quais trazem “Como requisitos mínimos, a água deve ser PW

(Purified Water – para o português, água purificada), com condutividade menor

que 1,3S/cm, COT (Carbono Orgânico Total) menor do que 500ppb” (LIMA,

Erlon).

Esta afirmação é confirmada com o exposto pela ANVISA (Agência

Nacional de Vigilância Sanitária) em seu Guia de Qualidade para Sistemas de

Purificação de Água para Uso Farmacêutico do ano de 2013:

“No Brasil, os requisitos de qualidade da água para

uso farmacêutico são estabelecidos em normas técnicas de

Boas Práticas de Fabricação (BPF) e também na

Farmacopeia Brasileira. O regulamento técnico vigente que

descreve os princípios de BPF é a RDC nº. 17, de Abril de

2010 e a Farmacopeia Brasileira, 5º Edição, que foi

estabelecida pela RDC nº. 49, de 23 de Novembro de

Page 2: A Água e a Indústria de Cosméticos

2010. Apesar de esses documentos serem publicados pela

Anvisa, seus conteúdos são fundamentados em

recomendações internacionais, fazendo com que estejam

em consonância com as tendências mundiais (ANVISA,

2013)”.

Assim, e de acordo com a 5ª edição da Farmacopeia Brasileira, os

parâmetros físico-químicos e microbiológicos estabelecidos para água

purificada são, segundo ensaios de pureza (BRASIL, 2010):

Acidez: Não deve desenvolver coloração avermelhada em testes

químicos;

Alcalinidade: Não deve desenvolver coloração azulada em testes

químicos;

Amônio: máximo de 0,2ppm;

Cálcio e Magnésio: Aparecimento de coloração azulada límpida;

Cloretos: Sem alteração na aparência por pelo menos 15 minutos;

Nitratos: Máximo de 0,2ppm;

Sulfatos: Sem alteração na aparência por pelo menos 1 hora;

Metais Pesados: Máximo 0,1ppm;

Resíduos de Evaporação: Máximo de 1mg;

Condutividade de 0,1 a 1,3S/cm a 25°C;

Resistividade maior que 1,0MΩ-cm;

COT menor que 0,50mg/L;

Contagem total de bactérias menor que 100UFC/mL;

Ausência de Pseudomonas e outros microrganismos patogênicos;

Endotoxinas menor que 0,25UI de endotoxinas/mL.

De acordo com o Dossiê Técnico para o controle de qualidade de

produtos e cosméticos, os tipos de água comumente utilizados são: Água

Desmineralizada; Água de Osmose; Água Destilada; Água Potável (Rede

Pública ou Poço Artesiano). Sendo dentre estas a água purificada a mais

utilizada (MOUSSAVOU; DUTRA, 2012).

Para obtenção de água com características que estejam em

consonância com a legislação utilizam-se métodos de purificação. Os métodos

Page 3: A Água e a Indústria de Cosméticos

mais utilizados são: Destilação; Deionização; Osmose reversa; Adsorção em

carvão ativado; Filtração em microporo; Ultra filtração; Foto-oxidação.

Este trabalho tem como objetivo descrever de forma clara e objetiva os

critérios exigidos pelos órgãos legais sobre o tipo adequado de água a ser

utilizada nas formulações de cosméticos em uma indústria de pequeno porte,

assim como descrever de forma detalhada todo o processo de controle de

qualidade desta água desde sua entrada na indústria até o seu descarte.

ÁGUA

Como não existem normas regulamentadoras que exijam qual o tipo

ideal de água a ser utilizado em formulações cosméticas, preconiza-se utilizar

água purificada, contudo, água desmineralizada, água de osmose e água

potável (rede pública ou poço artesiano).

De acordo com a literatura consultada, os tipos de água citados acima

possuem as seguintes características (BRASIL, 2010):

Água purificada: Produzida a partir da água potável ou da água reagente

e deve atender às especificações expressas na farmacopeia. Apresenta

níveis variáveis de contaminação orgânica e bacteriana. Pode ser obtida

por osmose reversa ou por uma combinação de técnicas de purificação.

Água potável: Ponto de partida para qualquer processo de purificação de

água para fins farmacêuticos. Obtida do tratamento da água retirada de

mananciais. É empregada nas etapas iniciais de procedimentos de

limpeza e como fonte de obtenção de água de mais alto grau de pureza.

Água desmineralizada:

Água de osmose:

Água destilada:

ÁGUA IDEAL

Page 4: A Água e a Indústria de Cosméticos

Assim como mencionado anteriormente, o processo de produção da

indústria de cosméticos utiliza água purificada como ingrediente na preparação

de aditivos, limpeza de equipamentos críticos e na composição dos produtos.

Esta água, oriunda da ETA (Estação de Tratamento de Água), sendo, portanto

denominada potável, antes de ser utilizada nas formulações deve passar por

algumas etapas que ao final tornariam esta água, antes imprópria para a

indústria, em uma água mais adequada, pura, com parâmetros físico-químicos

e microbiológicos em consonância com o preconizado para uso em indústrias

farmacêuticas.

A água ideal deve conter os seguintes parâmetros:

Parâmetro Critério de Qualidade

pH 5 ~ 7

Condutividade 0,6 ~ 4,7 mS/cm a 20°C

Contagem Bacteriológica < 100 ufc/100 ml

COT <500 ppb

Para que a qualidade exigida seja atingida, algumas tecnologias devem

ser obrigatoriamente usadas. Contudo, mesmo que o processo de tratamento

selecionado seja capaz de produzir água na quantidade e com o grau de

qualidade exigido, os procedimentos adotados para a operação dos processos

de seu tratamento e de sua armazenagem e distribuição também irão

influenciar na sua qualidade, assim como das condições sanitárias dos

equipamentos e de demais dispositivos envolvidos no sistema de produção,

distribuição e uso da água. Desse modo, torna-se importante que se disponha

de dispositivos e/ou procedimentos capazes de monitorar a qualidade da água

antes de sua utilização, com o objetivo de verificar se esta continua atendendo

aos padrões de qualidade exigidos para seu respectivo uso (Mierzwa, 2000;

Muradian Filho, 2006; Parker, 2005).

Tabela 1: Parâmetros Fisico-Quimicos e microbiológicos da água purificada.

Page 5: A Água e a Indústria de Cosméticos

Para a obtenção de água com esse padrão de qualidade os seguintes

tratamentos são possíveis, partindo-se da água potável disponível (ALVES,

2009):

Sistema de troca iônica

Sistema de osmose reversa

Sistemas de destilação

Troca iônica

Mais utilizado por seu menor custo.

Procedimento: água potável passa por sistemas de filtração em leito de

areia (para retirar sólidos em suspensão) e também em leito de carvão ativado

(para remoção de cloro livre).

Água passa por leitos de resina catiônica (remoção dos cátions Ca++, K++,

Na+, Mg++, substituídos por hidrogênio). Depois passa por leitos de resina

aniônica (ocorre a troca dos ânions SO4-2, NO3

-, Cl-, HCO3-, HSiO3

-, por ânion

hidroxila (OH).

Figura 1: Processo de dismineralização por troca iônica (ALVES, 2009).

Page 6: A Água e a Indústria de Cosméticos

Há o sistema de resinas catiônicas e aniônicas em um mesmo leito/leito

misto. Comum usar em águas brasileiras, estas possuem baixa salinidade. O

sistema de leito misto torna o processo mais econômico por possuir uma

quantidade menor de componentes (ALVES, 2009).

OSMOSE REVERSA

A água potável passa por um conjunto de elementos de membranas

semipermeáveis, que permitem que a água permeie através da membrana

deixando na corrente original os íons e outras impurezas indesejáveis. Essa

tecnologia é pouco utilizada devido ao seu alto custo (ALVES, 2009).

Um sistema de osmose reversa depende dos seguintes fatores (ALVES,

2009):

Temperatura: a rejeição de sais diminui com o aumento de temperatura;

Pressão: a rejeição aumenta com o aumento da pressão;

PH: a rejeição é relativamente constante na faixa de PH de operação;

Concentração de sais: a qualidade do permeado diminui com o

aumento da concentração de sais na água de alimentação;

Rendimento: a qualidade do permeado diminui com o aumento do

rendimento da membrana;

Figura 2: Processo de purificação por osmose reversa (ALVES, 2009).

Page 7: A Água e a Indústria de Cosméticos

A água potável que alimenta o sistema de osmose reversa deve ser pré-

tratada para que esteja livre de impurezas e de cloro que podem danificar ou

reduzir a vida útil das membranas (ALVES, 2009).

DESTILAÇÃO

O terceiro processo para purificação de água, a destilação, é mais

empregado na indústria farmacêutica para obtenção de água estéril em

pequenas quantidades. Como meio de obtenção de grandes quantidades de

água purificada a destilação apresenta custo elevado, em decorrência da

energia envolvida. Além da energia consumida para o sistema de evaporação é

necessário igualmente um sistema de refrigeração para condensar o vapor

para fase líquida. Tudo isso faz com que seja um sistema não utilizado nas

operações indústrias da indústria de cosméticos (ALVES, 2009).

Outro aspecto importante é a presença na água de contaminantes

microbiológicos. Se houver a proliferação de microrganismo nos cosméticos, o

resultado será a inutilização do produto devido ao desenvolvimento de odores

desagradáveis. A tudo isso se soma o mais grave que é o risco potencial a

saúde do consumidor.

A portaria 518/2004 contem todas as informações referentes à

potabilidade da água. Contudo, para a indústria de cosméticos não existe uma

legislação nacional e mesmo internacional que especifique os padrões de

qualidade necessários para o uso da água nesse seguimento industrial.

Em geral, na indústria cosmética a água é empregada nos seguintes

processos: Como matéria prima que deve ser incorporada ao produto podendo

variar de 20% a 80% da composição típica; Como diluente ou veiculo na

preparação de matérias primas como no caso de corantes e aditivos; Na

lavagem e limpeza de tanques, equipamentos e utensílios utilizados nos

processos de fabricação; Na lavagem e limpeza de pisos e ambientes de

fabricação; No transporte de resíduos em geral, como enfluente nos processos

de fabricação; Como meio de resfriamento e aquecimento; Para consumo e

uso na higiene pessoal dos empregados da empresa; Para limpeza de ruas e

Page 8: A Água e a Indústria de Cosméticos

áreas externas bem como irrigações de jardins e lâminas d’água decorativos

para efeitos paisagísticos.

Tratamento de efluentes

Além do consumo e, portanto, da retirada dos mananciais de grandes volumes

de água, necessários ao processo produtivo nas indústrias, outra questão

essencial é como retornar essa água ao ambiente e em que condições.

Após a sua utilização, nos diferentes processos e também pela população de

um empreendimento industrial, a água acumulará impurezas e contaminantes

que levarão a alterações de suas características:

Físicas: gases ou sólidos (suspensos, coloidais ou dissolvidos); Químicas: substância inorgânicas ou orgânicas; Biológicas: seres vivos (animais, vegetais e microorganismos).

Assim essas águas residuárias devem ser tratadas adequadamente para que

atendam aos padrões de qualidade que possibilitem seu lançamento nos

corpos hídricos.

Referências

ALVES, S. S. Conservação e Reuso de Água em Indústrias da Cosméticos:

Estudo de Caso da Natura Cosméticos. ed. rev. São aulo, 2009. 130p.

ANVISA. Guia de Controle para Sistemas de Purificação de Água para Uso

Farmacêutico. Brasília, 2013.

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BRASIL. Farmacopeia Brasileira – Volumes I e II. Agência Nacional de

Vigilância Sanitária – ANVISA. Brasília: Anvisa, 2010. 524p.

MOUSSAVOU, U. P. A.; DUTRA, V. C. Controle de Qualidade de Produtos

Cosméticos [Dossiê Técnico]. Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas –

SBRT. Rede de Tecnologia e Inovação do Rio de Janeiro – REDETEC. Rio de

Janeiro, 2012. 40p

MORENO, A. H.; TOZO, G. C. G.; SALGADO, H. R. N. Avaliação da

Qualidade da Água purificada em Farmácias Magistrais da Região de São

José do Rio Preto, SP. Revista de Ciências Farmacêuticas Básica e Aplicada.

2011. 69-75p.