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OS SIMPÓSIOS DA EDITORIAL Cáritas Editorial Po N.º 03 | FEVEREIRO 2016 A ALIANÇA DO PENSAR E DO FAZER NA CÁRITAS DIOCESANA DE SANTARÉM

A Aliança do Pensar e do Fazer na Cáritas Diocesana de Santarém

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OS SIMPÓSIOS DA EDITORIAL

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N.º 03 | FEVEREIRO 2016

A ALIANÇA DO PENSARE DO FAZER NACÁRITAS DIOCESANADE SANTARÉM

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EDITORIAL CÁRITAS

Praça Pasteur, nº 11 ‑ 2.º, Esq.1000 ‑238 [email protected]. +351 911 597 808, fax. +351 218 454 221

ÍNDICEA ALIANÇA DO PENSAR E DO FAZER EM SANTARÉM 3

ENTREVISTA AO PE. ANÍBAL VIEIRAVigário geral da Diocese de Santarém 4

DESEMPREGO DE LONGA DURAÇÃO, RENDIMENTO SOCIAL DE INSERÇÃO, EDUCAÇÃO E EMOÇÃOApresentação de Aida Ferreira 6

ENTREVISTA À DRA. TÚLIA SÁ CORREIAPresidente da Cáritas Diocesana de Santarém 9

O RENDIMENTO SOCIAL DE INSERÇÃO – UM CAMINHO PARA A EMPREGABILIDADEApresentação de Mafalda Ferreira Santos 11

INTERVENÇÕESVasco Nobre Miguel e Luís Salgado de Matos 13

ENTREVISTA AO PROF. DOUTOR JORGE JUSTINOPresidente do Instituto Politécnico de Santarém 15

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A ALIANÇA DO PENSAR E DO FAZER

A ALIANÇA DO PENSARE DO FAZEREM SANTARÉM

No passado mês de novembro, a Aliança do Pensar e do Fazer jun‑tou a Cáritas Portuguesa, a Cári‑tas Diocesana de Santarém e o Instituto Politécnico de Santarém (IPSantarém) numa iniciativa que teve como fim a apresentação e o lançamento de duas obras da Editorial Cáritas.Neste evento, que decorreu no dia 27, no auditório da Escola Superior de Gestão e Tecnologia do IPSantarém, as obras apresen‑tadas tiveram como foco os pro‑blemas sociais do desemprego de longa duração, abordado na obra de Aida Ferreira, que procura es‑sencialmente pensar sobre a mis‑são das(os) Assistentes Sociais, em especial, o imperativo de con‑ciliação entre a esfera pessoal e a coletiva, a assistencial e a estru‑tural, a local e a global; e a obra de Mafalda Ferreira Santos que aborda a relação entre o Rendi‑mento Social de Inserção (RSI) e a empregabilidade, no distrito de Lisboa.Para o Prof. Doutor Jorge Jus‑tino, Presidente do IPSantarém, esta foi uma iniciativa de extrema

importância que se mostrou uma grande oportunidade de levar até à comunidade o trabalho que a Cáritas desenvolve, sobretudo ao nível do pensar o social. Eugénio Fonseca, Presidente da Cáritas Portuguesa, refere neste âmbito que estas apresentações são sem‑pre momentos de grande relevo, uma vez que permitem dar a co‑nhecer o trabalho da Cáritas Por‑tuguesa a este nível, mas sobretu‑do como uma forma de estreitar relações entre a Cáritas nacional, a Cáritas Diocesana e uma insti‑tuição de ensino de relevo.Este encontro serviu ainda para o fortalecimento da relação entre estas entidades, que se viu forta‑lecida e sustentada por um pro‑tocolo celebrado neste dia e que pretende premiar as melhores teses de mestrado do IPSantarém na área social, publicando‑as atra‑vés da Editorial Cáritas, e divul‑gando‑as posteriormente a nível nacional.O Presidente da Cáritas Portu‑guesa referiu ainda aquele que tem vindo a ser o ponto diferenciador da Editorial Cáritas, referindo que

este é um projeto essencialmente criado, não “para vender livros ou para dar sustentabilidade finan‑ceira à Cáritas, mas para que seja agente transformador da socieda‑de. Só publicamos livros que con‑tribuam para a missão da Cáritas e de temas que se insiram na mis‑são mais abrangente da Igreja”.Este encontro contou ainda com a presença do Vigário Geral da diocese de Santarém, assistente da Cáritas de Santarém e diversas individualidades ligadas ao traba‑lho social na diocese.

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Editorial Cáritas (EC): Em de-zembro a Editorial Cáritas e a Cáritas de Santarém estiveram no Instituto Politécnico de San-tarém para a apresentação de dois títulos ligados à ação so-cial. Estando há muitos anos envolvido no trabalho da Cá-ritas, como vê o investimento nesta “aliança entre o pensar e o fazer”?

PE. aníbal ViEira (aV): Na cami‑nhada vivencial a palavra prece‑de a ação. Na primeira página da Bíblia (Gn 1,3) temos a Palavra de Deus a preceder a criação, assim também na Anunciação a Nossa Senhora, na vida de Je‑sus e na revelação de Deus ao longo da história de Salvação. A ação caritativa da Igreja necessi‑ta de ser avaliada e pensada de modo a melhor servir em cada tempo as pessoas. Na prática do dia‑a‑dia estamos sujeitos a mui‑tas pressões para responder ao

imediato e é necessário respon‑der, em parte, sem esquecer que no serviço da caridade também somos peregrinos “há uma meta a alcançar”, não somos meros distribuidores de bens somos construtores da “civilização do amor” com os pobres e frágeis.

EC: Enquanto assistente ecle-siástico da Cáritas de Santa-rém, como acha que este pro-jeto da Cáritas pode potenciar o seu trabalho social e a sua a intervenção ao nível da cons-ciencialização para estes temas na diocese de Santarém?

P. aV: A formação do povo de Deus e, particularmente, dos agentes de pastoral é funda‑mental para que a Igreja cum‑pra a sua missão. A leitura é um dos melhores meios de forma‑ção que temos ao nosso dispor e que permite ser gerido em articulação com muitos outros

compromissos que temos. O conhecimento da doutrina, a avaliação de práticas e projetos, a reflexão temática e a partilha de saberes e de experiências são ferramentas que iluminam a caminhada, ajudam à constru‑ção de relações, evitando que cada um se feche e realize bem e apenas as suas tarefas.

EC: Pode este projeto da Edito-rial chegar a outras cidades da diocese? De que forma?

P. aV: Nos encontros da Cá‑ritas e nas reuniões de clero têm sido dado a conhecer al‑guns livros, obras que a própria Instituição adquiriu. A diocese é relativamente pequenas e não tem senão duas livrarias católicas onde os livros já es‑tão presentes pela distribuido‑ra oficial. Penso que o projeto precisa de ir fazendo o seu caminho de modo a não ser

ENTREVISTA AOPE. ANÍBAL VIEIRAVIGÁRIO GERAL DA DIOCESE DE SANTARÉM

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entendido como um projeto comercial. Há um desafio constante de procurar envolver leigos na sua divulgação. O envolvimento de pessoas e instituições não eclesiásticas, como aconteceu com Instituto Politécnico de Santarém, pode ser um bom meio.

EC: Quanto aos vários títulos já publicados pela Editorial, que papel podem estes ter na forma-ção clerical ao nível dos fundamentos da Doutri-na Social da Igreja?

P. aV: Não há formação clerical. O clericalismo nunca deu bom resultado. Há clérigos (bispos, pa‑dres e diáconos) e que por razão da missão que está confiada a cada um necessitam de formação permanente. A diversidade dos temas e a preo‑cupação de publicar temas dos vários âmbitos da caridade da Igreja bem como divulgar o testemu‑nho de homens e mulheres que souberam tradu‑zir em obras credíveis o Evangelho são uma boa ajuda para formação dos clérigos, mas cada um é que tomará a decisão de fazer ou não.

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DESEMPREGO DE LONGA DURAÇÃO, RENDIMENTO SOCIAL DE INSERÇÃO, EDUCAÇÃO E EMOÇÃOAPRESENTAÇÃO DE AIDA FERREIRA*

Estas duas obras apresentam‑se como complementares, na me‑dida em que o Desemprego de Longa Duração (DLD) consti‑tui‑se na maior parte das vezes num percurso descendente para a situação de pobreza relativa ou absoluta e até de exclusão social sendo, portanto necessário a atri‑buição de mínimos sociais como o Rendimento Social de Inserção (RSI), no caso português. E, se os liberais do século XIX conside‑ravam os pobres culpados da sua condição por serem preguiço‑sos por “natureza”, não havendo consequentemente necessidade da intervenção do Estado, mas apenas da caridade dos mais afor‑tunados, os neoliberais da atua‑lidade, ainda vão rebuscar este pensamento de há cem anos para justificarem a não intervenção do Estado através do RSI, porque só é pobre quem não quer trabalhar,

trabalho há muito, seja pago a que preço for, mas as pessoas querem é “emprego” e não “trabalho.” Será de bom senso desmistificar estas duas noções que se ouvem nos media, em debates, na rua e em todo o lado. Assim, o “em‑prego” é trabalho duradouro, es‑tável, não tendo que ser sempre dependente da mesma entidade patronal, mas quando se perde dá direitos sociais, tais como o subsí‑dio de desemprego e a contagem de tempo para a aposentação. O “trabalho” é inseguro, pode ser trabalho precário, sazonal, à ta‑refa, biscate, entre outras moda‑lidades, muitas vezes executado para sobrevivência, sem padrão de pagamento, de que resulta naturalmente o não acesso a di‑reitos enquanto é exercido, mas também no futuro. Há ainda, a im‑possibilidade de organização da vida pessoal e familiar de forma

“Mas, na realidade Portugal é dos países com menos qualificação escolar da União Europeia (UE), havendo ainda muito a fazer neste setor, embora no pós 25 de Abril tenham sido realizados esforços para colmatar o grande analfabetismo e baixa escolaridade existente no Estado Novo. ”

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estável a médio e longo prazo. Muitas vezes estas situações se confundem com o DLD signifi‑cando que quanto maior for tem‑po de afastamento do mundo do emprego maior será a dificuldade de acesso ao mesmo.O DLD é considerado com a du‑ração de mais de um ano e até três anos e entre três a cinco anos é designado desemprego de longuís‑sima duração. Portugal é um dos países da União Europeia onde o DLD tem maior crescimento. De 1992 a 2014 aumentou de 1,5 para 8,4 sendo ultrapassado em 2014 pela Croácia, 10,1; Espanha, 12,9 e Grécia 19,5. De realçar que a me‑dia europeia no mesmo ano é de 5, 1. (Pordata, 2015).São os países nórdicos, que man‑tém o índice mais baixo de DLD. Começando pela Noruega com 0, 8; (este com o mais elevado ín‑dice de desenvolvimento humano desde há anos, relativamente a 188 Estados membros das Na‑ções Unidas), segue‑se a Suécia, 1,5; Dinamarca, 1,7; Finlândia, 1,9 e Países Baixos, 3,0.Na investigação realizada no livro acima referido verifica-se que tal fato é devido à organização do Estado Social, sobretudo à inter‑venção do Estado na fiscalidade, na redistribuição de recursos, na criação de emprego, partindo prioritariamente de um dos prin‑cípios da revolução francesa – o da igualdade. É através da cons‑trução de maior igualdade entre os cidadãos pela solidariedade, isto é, in solidum significando “uns pelos outros”, como princípio re‑publicano onde o Estado tem a responsabilidade de garantir os direitos dos pobres e excluídos

para igual liberdade a que todo o ser humano aspira e tem direito. Por esta razão, e considerando que o modelo nórdico ou escan‑dinavo do Welfare State (Espin‑g‑Andersen, 1990) é aquele que garante um conjunto de direitos sociais a um nível mais elevado interessa também perceber qual a intervenção desses Estados ao nível da educação, por ter sido um dos aspetos mais debatido no Simpósio.A importância de bolsas de estu‑do naquele Instituto e ainda o es‑forço do seu Presidente para aju‑dar alunos com mais dificuldades

económicas em troca de algum trabalho no mesmo Instituto, le‑vou à reflexão de como a edu‑cação é um dos elementos fun‑damentais proporcionador da mobilidade social e do acesso mais fácil ao emprego após a for‑mação académica. Não se igno‑rou também o fato de muitas ve‑zes haver um aproveitamento do mercado de trabalho em selecio‑nar os mais habilitados para tra‑balho que outrora era realizado por pessoas menos qualificadas. Apesar desta realidade tem‑se verificado que os mais habilita‑dos são os que conseguem mais

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facilmente trabalho/emprego. Mas, na realidade Portugal é dos países com menos qualificação escolar da União Europeia (UE), havendo ainda muito a fazer neste setor, embora no pós 25 de Abril tenham sido realizados esforços para colmatar o grande analfabe‑tismo e baixa escolaridade exis‑tente no Estado Novo. Assim, em 2014 a população entre 25 e 64 anos com pelo menos o ensino secundário completo é para a UE28 de 76% e para Portugal de 43,3%. A seguir a Portugal surge apenas Malta com 42,2%. É evidente que o investimento do Estado na proteção ao estudante traduz‑se na maior possibilidade de acesso ao ensino, mas está conexado com as despesas que o Estado tem na ajuda financeira aos alunos em % da despesa pú‑blica dedicada à educação. Assim, só havendo dados disponíveis de 2010 para a UE27 e para grande parte dos países, verifica-se que Portugal gasta 5,0% enquanto os países nórdicos acima referidos gastam o que a seguir é indicado. Noruega, 15,4%; Suécia, 10,9; Paí‑ses Baixos, 12,0%; Finlândia, 6,5% e Dinamarca, 14,8%. (Prodata, 2015)Sendo Portugal um dos países semiperiféricos da Europa apre‑senta debilidades sociais que se traduzem também em grandes desigualdades. São desigualdades económicas entre os mais ricos e os mais pobres, que têm aumen‑tado mesmo em tempos de crise, e desigualdades territoriais den‑tro do mesmo espaço português. Estas são designadas de interiori‑dades, de um Portugal profundo, mas também de “territórios de

exclusão”, onde o acesso à edu‑cação é muito dificultado ou até quase impossível para quem não tem meios económicos, nem co‑nhecimentos, nem orientações, para sair da sua pequenina aldeia e quebrar hábitos de viver repro‑duzidos desde sempre. Foram es‑tas lembranças vividas pela autora deste texto que conduziram a um momento de grande emoção par‑tilhado com os presentes. Foi nos anos 50, numa pequena aldeia do distrito de Santarém, concelho de Ferreira‑do Zêze‑re, freguesia de Areias que aos 6 anos de idade quis logo ir para a escola, quando só poderia ir aos 7 anos. Conseguiu entrar com pe‑dido da mãe à professora. Aos 10 anos voltou a querer continuar a estudar, ser professora primá‑ria, única profissão que conhecia para mulher, diferente das traba‑lhadoras da aldeia. Durante um ano não deixou de insistir, chorar, implorar até que os pais se infor‑maram de como proceder e lá foi para Tomar para a Escola Indus‑trial e Comercial‑Jacome Ratton, onde tirou o curso de Forma‑ção Feminina e ganhou todos os prémios, de matemática, fim de curso e salão de estética. Tomou sozinha conta de si, vivendo em quartos alugados sendo obrigada a trabalhar para quem alugava o quarto. Mas tinha um objetivo muito determinado, por isso mes‑mo aguentou e não desistiu. Tinha também como suporte funda‑mental o grande apoio e amor da família muito unida, pais e dois ir‑mãos mais velhos. Mas, ao contrá‑rio, havia toda uma aldeia contra a família e menina porque as pes‑soas não aceitavam a ousadia de

alguém querer ser diferente, isto é, “ser senhora” como diziam. Os ataques à família eram constantes. Mas em férias escolares o alvo era a estudante, surgia a troça, a ridicularização, a calúnia o que hoje é chamado de bullying. Aos 16 anos continuou os estudos em Lisboa e não mais parou. Tirou ba‑charelato, licenciatura, mestrado e doutoramento. Fez assim a sua mobilidade social pela educação porque queria saber sempre mais, perceber as pessoas e o mundo. Foi possível com a licenciatura em Serviço Social desempenhar funções relevantes durante e de‑pois da Revolução de 25 de Abril. Mas o desejo de ser professora concretizou‑se desde há 20 anos, após mestrado e recentemente doutoramento. É a realização de um sonho de menina tornado realidade com muita persistência, dificuldades, mas também gran‑des alegrias. A alegria de aprender, de saber e querer saber sempre mais.

* Docente na Universidade Lusófona

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A ALIANÇA DO PENSAR E DO FAZER

Editorial Cáritas (EC): A Edi-torial Cáritas tem sido um pro-jeto estratégico da Cáritas em Portugal. Como vê esta aposta numa “Aliança entre o Pensar e o Fazer”? Qual a sua pertinência a nível local para a Cáritas Dio-cesana de Santarém?

túlia sá CorrEia (tsC): Esta aposta que acabou por tornar‑se no fundo a assinatura des‑te projecto da Cáritas, é uma aposta que se interliga entre o “ Pensar e o Fazer” e o “Fa‑zer a Pensar”. Da nossa parte, a Cáritas Diocesana de San‑tarém é uma Cáritas aberta e disponível para acolher todas as iniciativas, apoiando natural‑mente os projetos da Cáritas Portuguesa com os quais parti‑lha os mesmos princípios.

EC: No mês passado decorreu em Santarém a apresentação de dois títulos da Editorial no

Instituto Politécnico de Santa-rém. Qual o contributo desta apresentação para a relação da Cáritas de Santarém com esta e outras instituições de ensino a nível local? Estão pensadas al-gumas iniciativas no futuro que permitam dar continuidade a este projeto?

tsC: Tendo já sido estabelecido com a Escola Superior de Edu‑cação do Instituto Politécnico de Santarém, um protocolo, no sentido de proporcionarmos aos alunos estágios na área da Educação Social, esta apresen‑tação veio reforçar os laços de aproximação, de partilha e de visibilidade, dando‑nos a opor‑tunidade de apresentarmos as linhas que orientam a Cáritas Diocesana no seu trabalho.O protocolo estabelecido agora com a Cáritas Portuguesa e o IP Santarém será certamente mais um passo nesta aproximação e

na relação entre estas organiza‑ções que certamente não ficará confinada a esta iniciativa.

EC: Esse protocolo que foi assi-nado com o Instituto Politécnico de Santarém tem como objetivo premiar a melhor tese de mes-trado da instituição. Este preten-de ser um contributo para ambas as instituições, mas também um projeto impulsionador de uma aproximação aos mais jovens?

tsC: Este projeto é sem dúvida uma mais‑valia para as institui‑ções que nele estão envolvidas. Contudo, aproximar e sensibili‑zar os mais jovens para a reali‑dade, proporcionando‑lhes um contato direto com as vivências locais, é um dos seus principais objectivos que espero que seja cumprido daqui para a frente.

EC: Ao nível das comunidades paroquiais, de que forma pode

ENTREVISTA ÀDRA. TÚLIA SÁ CORREIAPRESIDENTE DA CÁRITAS DIOCESANA DE SANTARÉM

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a Editorial Cáritas tornar-se uma mais-valia? Qual o papel que pode ter em áreas como a for-mação dos agentes sociais?

tsC: O papel da Editorial Cáritas junto das co‑munidades paroquiais vai depender sempre da abertura que os grupos paroquiais vão demons‑trar. Acredito neste projeto e penso contudo que pode ser uma mais valia ao nível da forma‑ção dos agentes sociais. Aqui convém registar que as principais dificuldades se prenderão com o elevado nível etário de voluntários que for‑mam os mesmos.

EC: Sendo este um projeto da Cáritas a nível nacional, que pretende chegar a todas as dioce-ses do país, gostaríamos que nos deixasse um testemunho para que outras Cáritas conheçam o envolvimento de Santarém nesta iniciativa…

tsC: Aqui na Cáritas Diocesana de Santarém abraçámos este projeto com algumas reservas, uma vez que era novo e desconhecíamos o seu potencial e o seu impacto. Porém, e desde o primeiro encontro, verificámos que era positi‑vo, pela visibilidade, como atrás referi, que deu à própria Cáritas, mas também pela oportunidade que nos dá de explorar um caminho diferente daquele por que temos seguido, uma área total‑mente nova.Os contactos feitos com a autarquia, dizendo‑lhe “estamos aqui”, bem como o convite feito a outras instituições que aderiram e participaram, foi sem dúvida um dos pontos mais positivos.Por sua vez, os livros apresentados contribuíram para abrir horizontes, aumentar aprendizagens e reforçar laços de amizade.

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A ALIANÇA DO PENSAR E DO FAZER

O RENDIMENTO SOCIAL DE INSERÇÃO UM CAMINHO PARA A EMPREGABILIDADEAPRESENTAÇÃO DE MAFALDA FERREIRA SANTOS

Comecei a minha apresentação com agradecimento a todos os presentes, com especial atenção para amigos e família. Em seguida explanei sobre o obje‑tivo do estudo que desenvolvi no âmbito do Mestrado em Gestão e Políticas Públicas no Instituto Su‑perior de Ciências Sociais e Polí‑ticas da Universidade de Lisboa, e que deu origem ao presente livro, e que se prendeu com estabelecer uma relação entre a formulação da medida Rendimento Social de Inserção e a sua Implementação no terreno, verificar a viabilidade de aceitação social de condições para a sua reformulação, tal como, analisar a aceitação de prestação de trabalho cívico qualificante, por contra partida de prestação pecuniária. Para que fosse possível aos leito‑res compreender a dimensão das conclusões do estudo defini o conceito de Políticas Públicas, tal como o Processo Político, isto é, desde da identificação da sua per‑tinência até à implementação no terreno.

Especificando a política pública em estudo, o Rendimento Social de Inserção tem na sua génese providenciar o desenvolvimen‑to de condições de autonomia económica e social, a famílias que temporariamente careçam de um rendimento mínimo de subsistên‑cia. Assim, de acordo com o De‑creto‑Lei n.º 283/2003, de 8 de Novembro, os objetivos funda‑mentais são “reforçar a natureza social e promover efectivamente a inclusão dos mais carenciados, privilegiando a inserção” social e profissional de pessoas ou famílias que se encontrem numa situação de carência económica grave. Referi ainda que o RSI é uma Polí‑tica Pública que se apresenta sob duas formas, as transferências monetárias para os beneficiários e o desenvolvimento de progra‑mas que visem a inserção social e profissional. No entanto, no con‑texto da crise económico‑social que tem constrangido Portugal nos últimos anos, a discussão re‑lativamente a este programa tem‑se intensificado, uma vez que se

“(...) Atualmente, da parte da classe política em Portugal, existe um desconhecimento profundo sobre a génese da política e também sobre o processo de implementação de políticas públicas”

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procura debater a eficiência dos recursos e da despesa do Estado, nomeadamente, no que respei‑ta ao Orçamento da Segurança Social. Neste seguimento, o debate po‑lítico‑partidário tem centrado a discussão relativamente ao pro‑grama apenas em questões que se relacionam com juízos de valor face aos beneficiários, nas quais, ora se defende que as transferên‑cias monetárias podem represen‑tar um desincentivo à inserção no mercado de trabalho, ora se de‑fende que as mesmas são funda‑mentais para atenuar as diferen‑ças no que respeita à distribuição do rendimento, o que tem vindo a fomentar um sentimento de es‑tigma relativamente aos benefi‑ciários do RSI. Foi também referido que o estudo desenvolvido contemplou a pers‑petiva sobre o Empreendedoris‑mo enquanto alavanca no âmbito das Políticas Activas de Emprego e Inserção. Para tal, teve-se como referência os programas CRIA(C)TIVIDADE da Cáritas Portuguesa (realizou‑se entrevista à Dra. Ma‑ria Teresa Fonseca) e Banco de Inovação Social da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (entrevis‑ta à Dra. Maria José Rodrigues. Antes de apresentar as principais conclusões do estudo mencionei que foram realizados 100 inquéri‑tos a beneficiários da medida no distrito de Lisboa e foram reali‑zadas mais duas entrevistas se‑miestruturadas a empresários no supra referido distrito. Por mim, destaquei algumas das conclusões que me pareceram mais significativas, designadamen‑te o facto da Comissão Nacional

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do Rendimento Social de Inserção (CNRSI) que garantia o acompa‑nhamento adequado da evolução da medida e sua implementação, tal como a sua avaliação, ter sido extinta em 2011 pelo Governo português. Tendo sido extinta a CNRSI, dei‑xaram de ser produzidos os rela‑tórios semestrais o que inibiu a aquisição de dados importantes atualizados como os indicadores de situação (beneficiários sobre a população), indicadores sobre a medida (titulares sobre beneficiá‑rios; contratos de inserção sobre beneficiários) e de indicadores de diagnóstico como a percentagem de saídas da medida por motivo. Deste modo, reforcei que atual‑mente, da parte da classe política em Portugal, existe um desconhe‑cimento profundo sobre a génese

da política e também sobre o pro‑cesso de implementação de políti‑cas públicas. Por fim, expos que uma outra mais-valia à reformulação da medida tem como base a determinação da efi‑ciência dos recursos e da despesa do Estado, nomeadamente, no que respeita ao Orçamento da Segu‑rança Social, uma vez que o objec‑tivo do RSI não corresponde a uma maior pressão na despesa da Segu‑rança Social, mas sim, servir de su‑porte e acelerador a um regresso à vida activa e que o empreende‑dorismo, quer seja através da cria‑ção da microempresa ou através da actividade por conta própria, pode representar uma possível solução à integração social de todos os indivíduos e uma das soluções ao desemprego.

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INTERVENÇÕESVASCO NOBRE MIGUEL E LUÍS SALGADO DE MATOS *

No âmbito do protocolo de co‑laboração entre a TREint. Asso‑ciates e Instituto Politécnico de Santarém, e face ao desafio lan‑çado pela autora do livro em de‑senvolver o mesmo estudo para o distrito de Santarém, a TREint aceitou esse mesmo desafio em apoiar o desenvolvimento do es‑tudo para o distrito de Santarém. Neste seguimento, procedi à apresentação da empresa, em que defini as nossas Missão – Formar, Apoiar a criação de novas empre‑sas; Ser one stop source para em‑presas que se queiram internacio‑nalizar – e Visão – Ser um player relevante em criação de novos horizontes de negócio. Ao expor os nossos valores, ex‑pliquei que temos todos o inte‑resse no âmbito da nossa Res‑ponsabilidade Social dar suporte ao desenvolvimento de estudos que justifiquem a capacitação dos cidadãos indo ao encontro do conceito de Governance e da efi‑cácia e eficiência da Políticas Pú‑blicas sobre a forma de Políticas Sociais.

Embora as nossas áreas de atua‑ção incidam no Empreendedo‑rismo, Formação, Internacio‑nalização, Business Intelligence, E‑Commerce, temos também um enfoque na Economia Social, sen‑do para nós fundamental discutir e participar nas mudanças que se podem operar no âmbito das Po‑líticas Sociais.

Vasco Nobre Miguel * COO da TREint. Associates

O livro “Rendimento Social de Inserção, um Caminho para a Em‑pregabilidade – Estudo de Caso no Distrito de Lisboa”, de Mafal‑da Ferreira dos Santos, é um es‑tudo rigoroso da relação entre o rendimento social de inserção e a empregabilidade no distrito de Lisboa. Não hesito em lhe dar a nota de modelar no seu género. O livro compõe‑se de cinco partes:

• Depois de uma breve intro‑dução, Mafalda Ferreira dos

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“O livro “Rendimento Social de Inserção, um Caminho para a Empregabilidade – Estudo de Caso no Distrito de Lisboa”, de Mafalda Ferreira dos Santos, é um estudo rigoroso da relação entre o rendimento social de inserção e a empregabilidade no distrito de Lisboa.”

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Santos enquadra o seu problema social na teoria das políticas públicas e do Estado Social.• A segunda parte, consagrada à metodologia e ao desenho da pesquisa, revela a origem do presente livro, uma tese universitária de mestrado, orienta‑da no ISCSP pela Profª Doutora Engrácia Cardim.• A terceira parte analisa exaustivamente a le‑gislação do rendimento social de inserção e os instrumentos que o precederam.• A quarta parte começa por apresentar perce‑ções do rendimento social de inserção, construí‑das a partir de entrevistas a titulares dele, a em‑preendedores do programa CRIA(C)TIVIDADE, da Cáritas Portuguesa, a representantes desta, da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e de PMEs locais; conclui analisando os dados obtidos.• A quinta e última parte propõe conclusões sobre o problema analisado; destaquemos duas, além do entrosamento com a problemática do (micro)empreendedorismo: é insuficiente conhe‑cimento social daquele instrumento; «a presta‑ção de trabalho cívico qualificante em troca da prestação pecuniária, é um factor determinante não apenas para se manterem activos, mas tam‑bém para se sentirem capacitados para uma in‑tegração sustentável no mercado de trabalho».

Sem as referências bibliográficas e anexos, são ape‑nas 83 páginas informativas e claras. A autora aliviou o texto de muitos dados úteis inserindo‑os devida‑mente sintetizados em tabelas que formam os ane‑xos: a política social europeia, a evolução do sistema de segurança social (do século XV ao século XXI); o enquadramento socioeconómico do rendimento social de inserção (desemprego, emigração, cons‑tituição de sociedades e sua dissolução), uma pre‑ciosa análise da legislação do rendimento social de inserção, sumariando as disposições legais, de modo diacrónico e por temas; por fim, apresenta os dados quantitativos da sua pesquisa. O leitor, que generosamente tem querido acompa‑nhar-me nesta breve apresentação ao estudo Ren‑dimento Social de Inserção, um Caminho para a Empregabilidade – Estudo de Caso no Distrito de Lisboa, de Mafalda Ferreira dos Santos, já começou por certo a intuir porque o classifiquei da modelar:

• Tem a coragem de aproveitar o ensejo de um trabalho universitário para aplicar o método

rigoroso da ciência social a um problema de atualidade e para monitorizar um instrumento de política social – e teve essa coragem apesar de não ignorar que esse instrumento é alvo de querelas político‑partidárias;• Apresenta conclusões modestas mas seguras e úteis à política social;• Sem deixar de ser uma boa introdução para leigos interessados, é um excelente instrumento de traba‑lho para os profissionais da área estudada.

Luís Salgado de Matos

Livro: “Rendimento Social de Inserção – Um caminho para a empregabilidade”, de Mafalda Ferreira Santos

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A ALIANÇA DO PENSAR E DO FAZER

Editorial Cáritas (EC): O lan-çamento do livro “Rendimento Social de Inserção” e a apresen-tação da obra “Serviço Social de Longa Duração” da Editorial Cáritas foram objeto de uma sessão no Auditório da Escola Superior de Gestão e Tecnolo-gia do Instituto Politécnico de Santarém. Enquanto presiden-te do IP de Santarém, como en-tende esta relação de proximi-dade com a Editorial Cáritas?

JorgE Justino (JJ): Esta proxi‑midade é da maior relevân‑cia. O Instituto Politécnico de Santarém tem dado uma grande importância à área so‑cial, particularmente no apoio aos estudantes mais carencia‑dos. Também tem organizado sessões para receção de bens, nomeadamente vestuário e ali‑mentos para as pessoas mais necessitadas.Neste contexto, uma parce‑ria com a Cáritas facilita, ain‑da mais, a concretização dos nossos objetivos com fins humanitários.

EC: A Editorial Cáritas preten-de, juntamente com a Cáritas Diocesana e o IP Santarém, atribuir um prémio às melhores teses de mestrado e fazer desse prémio uma homenagem a uma figura transformadora da or-dem social no último século na diocese. Que importância atri-bui à preocupação da Editorial Cáritas em lembrar estas per-sonalidades? Que figura desta-caria na diocese de Santarém?

JJ: TA atribuição de prémios às melhores teses de mestrado vai incentivar os estudantes a um aprofundamento do estu‑do na área social. Também é legítima a recompensa de um trabalho bem realizado, o que leva os candidatos a terem uma motivação ainda maior.A figura que gostaria de ver distinguida na diocese de San‑tarém era a do atual Bispo, Sua Excelência Reverendíssima D. Manuel Pelino Domingues.

EC: O protocolo assinado com a Editorial, um incentivo à

investigação que premeia a investigação na área social, é certamente uma iniciativa bem acolhida pelo IP Santarém, mas também pelos seus alunos. De que forma gostaria de ver esta parceria entre a Escola e a Cári-tas aprofundada no futuro?

JJ: É nosso entendimento que os protocolos em que o IP‑Santarém é parceiro devem ser desenvolvidos em ter‑mos práticos e não passarem de intenções. Acresce que o envolvimento de estudantes responsabiliza, ainda mais, o cumprimento das diretivas por parte da instituição e o seu de‑senvolvimento no futuro.O Instituto Politécnico de San‑tarém deve ser um polo dina‑mizador da região, em termos de desenvolvimento, ciência e cultura.

EC: Uma acção do IP de San-tarém que não passou desper-cebida, como pode imaginar, à Cáritas Portuguesa foi a solici-tação à Secretaria de Estado do

ENTREVISTA AOPROF. DOUTOR JORGE JUSTINOPRESIDENTE DO INSTITUTO POLITÉCNICO DE SANTARÉM

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Ensino Superior de Informação sobre como poderão ser aco-lhidos os novos migrantes nos cursos regulares constantes da oferta formativa do Instituto. Gostaria de comentar esta vossa preocupação?

JJ: Esta nossa preocupação já está a ser concretizada, em virtude de nos termos responsabiliza‑do com o Governo português e com a Europa (Alemanha), pela ministração da formação de li‑cenciaturas e mestrados a 16 estudantes sírios, incluindo alo‑jamento e alimentação.Esta parceria envolve, para além do IPSantarém, a Câmara Mu‑nicipal de Santarém e a Santa Casa da Misericórdia de San‑tarém. Muito gostaríamos de incluir neste projeto, a Cáritas Portuguesa.

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