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4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
A APROPRIAÇÃO TURÍSTICA DO CONHECIMENTO E A BUSCA POR INOVAÇÕES NA APRENDIZAGEM HUMANA CONTEMPORANÊA: a leitura
ambiental e o estudo de paisagens como metodologia diferenciada no desenvolvimento cognitivo
ANDRADE, VAGNER L. (1); FERREIRA, MARINA M. B. (2)
1. Programa Agente Ambientais em Ação - Rede Ação Ambiental. Guia de turismo e graduando de
Licenciatura em Ciências Biológicas pela Universidade de Franca (UNIFRAN). Praça Quatorze Bis, 130, Apto 906, Bela Vista, São Paulo – SP CEP 03240-400
E-mail: [email protected]
2. Escola Canadense Maple Bear Belo Horizonte. Bacharela em Turismo pela Universidade Federal de Minas Gerais – MG e graduada em Pedagogia (Licenciatura – EAD) pelo Centro Universitário UNISEB COC Belo Horizonte. Alameda dos Comerciantes, 295, Bl 02, Apto 204 – Bairro Cabral, Contagem –
MG - CEP: 31145-688. E-mail: [email protected] RESUMO A partir da análise das origens educacionais do turismo é possível perceber uma nítida relação entre esta atividade humana, o desenvolvimento cognitivo e consecutiva aprendizagem humana. O presente trabalho desenvolve uma discussão teórica sobre as relações epistemológicas e fenomenológicas entre Aprendizagem Humana, Desenvolvimento Cognitivo, Ensino/Aprendizagem, Interdisciplinaridade e Turismo Pedagógico, tendo como base a psicologia do desenvolvimento e os estudos da cognição humana, com breve destaque para Jean Piaget, pesquisador suíço e seu contemporâneo, o pesquisador russo Lev Vygotsky. O trabalho busca fundamentar as relações estabelecidas entre o turismo pedagógico e o desenvolvimento cognitivo de alunos da Educação Básica (Educação infantil, Ensino fundamental e Ensino médio), Ensino superior, Ensino profissionalizante, Educação especial, Educação à distância, Educação de jovens e adultos, bem como à nova proposta curricular de Educação camponesa, Educação indígena e Educação afrodescendente. Apresenta a fundamentação teórica da conceituação de turismo e sua conexão com a educação. Por último, apresentam contribuições para se pensar algumas relações entre o turismo pedagógico e os processos convencionais de aprendizado, ainda vigentes. Assim o trabalho apresenta ainda contribuições metodológicas para a abordagem integrada de Ecologia, História e Geografia atrelada aos conteúdos curriculares convencionais. Quando se pensa metodologicamente numa atividade de Turismo Pedagógico, observa-se no centro do processo, o aluno enquanto sujeito e principal construtor de seu próprio aprendizado, influenciado por alguns elementos essenciais como: a sociedade em que vive, o meio em que a experiência turística ocorre, os outros sujeitos, e por fim, dele mesmo. Palavras-Chave: Aprendizagem Humana; Desenvolvimento Cognitivo; Turismo Pedagógico
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INTRODUÇÃO Cronologicamente, todo homem passa por mudanças nas diversas fases fisiológicas da vida,
que se sucedem do nascimento à fase adulta. A construção do pensamento e da inteligência,
enquanto característica diferencial da espécie ocorre ao longo de todo processo de
desenvolvimento biológico do ser humano. Alguns teóricos dizem que o homem se
desenvolve biologicamente e se estabelece socialmente utilizando-se das mais variadas
formas de contato e interação com ele mesmo, com o outro e com o meio. Neste contexto, o
aprendizado consolida-se de maneiras diversas, iniciando-se pela socialização familiar,
perpassando pelo ambiente escolar e prosseguindo por toda a vida adulta, adequando-se à
complexidade da vida em sociedade. Jean Piaget, pesquisador suíço, analisando
cuidadosamente o comportamento de seus três filhos, produziu relevante obra sobre a
psicologia do desenvolvimento da criança, revolucionando os estudos da cognição humana.
Contemporaneamente a Piaget, o pesquisador russo Lev Vygotsky, se concentrou na
interação entre desenvolvimento do pensamento infantil e a influência do adulto-educador, ou
de outra criança, no aprendizado e no desenvolvimento. Além desses, vários teóricos
estudam as relações entre o desenvolvimento cognitivo e o ensino/aprendizagem visando
reformulações. Perceber o mundo para nele intervir de maneira harmônica e equitativa é uma
das premissas pedagógicas que moldam novos projetos educacionais. Assim, a
aprendizagem é fomentada por diversos meios e mecanismos, dentro os quais, a interação
com outro e com o meio, já que estes dispõem de características que induzem e promovem a
experiência através da descoberta, da busca pelo conhecimento e da procura pelo novo
(BOSSI, 2008).
Perceber é sair das barreiras existentes, das salas fechadas e ir para o mundo, para lê-lo,
entendê-lo e atuar sobre ele de maneira consciente, crítica e coesa. Neste âmbito, as
atividades pedagógicas de Turismo Educacional, são ferramentas essenciais ao processo de
ensino/aprendizagem por viabilizarem o estudo de paisagens e a leitura ambiental com
vivência “in loco” do meio, numa perspectiva interdisciplinar. A prática do Turismo escolar, por
sua vez, cresceu nos últimos anos com o surgimento de diversas empresas especializadas na
área, devido a mudanças nos moldes pedagógicos, à valorização do ensino-aprendizagem
fora da sala de aula, a proposta de um currículo interdisciplinar, dentre outros aspectos. Esta
tipologia turística consiste em viagens com finalidade de aprendizagem e vivência prática
conjugando o lazer e o lúdico com o conhecimento científico apresentado em sala de aula.
Através da “saída a campo”, que propicia a leitura ambiental e o estudo de paisagens nota-se
a importância de formação de uma consciência crítica nos alunos para que eles analisem o
ambiente natural e social que os cercam, bem como as relações estabelecidas entre ambos. A
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saída do âmbito escolar desperta a curiosidade pelos locais visitados/observados, permitindo
contato e interação com os companheiros de viagem e grupos sociais locais, oportunizando
ao sujeito a busca por mais informações e envolvimento direto com conteúdos
correlacionados.
Assim sendo, no turismo escolar, o “material didático” passa a ser o ambiente a ser percebido,
“lido” e interpretado, e o aluno, agora na qualidade de turista, é quem experiencia, questiona e
aprende conteúdos pedagógicos e informações desse ambiente. Com este mecanismo
didático-pedagógico, os alunos saem dos limites da sala de aula, explorando suas
potencialidades através da investigação, do reconhecimento e da análise, transformando-os
em cidadãos conscientes e atuantes na comunidade. Assim no turismo escolar, a participação
social se efetiva como instrumento pedagógico transpondo os muros institucionais,
mobilizando a comunidade e a escola na percepção e análise crítica da realidade local. A
percepção, a interpretação e a crítica certamente levarão à reflexão e a ação necessárias à
transformação da sociedade em um lugar mais justo e harmônico, onde todos tenham acesso
à vida plena. Neste contexto, o turismo escolar contribui para o fortalecimento da proposta
pedagógica ao perpassar fenomenologicamente os campos do turismo, da psicologia e da
educação, enfatizando a importância das atividades extraclasse para a consolidação do
aprendizado dos alunos da Educação Básica Educação infantil, Ensino fundamental e Ensino
médio, Ensino superior, Ensino profissionalizante, Educação especial, Educação à distância,
Educação de jovens e adultos, bem como a novos formatos curriculares em implantação no
Brasil como a Educação camponesa, a Educação indígena e a Educação afrodescendente
(AMATUZZI, 1996). Assim, o presente trabalho problematiza como a atividade turística de
leitura ambiental e estudo de paisagens propicia elementos significativos de aprendizagem de
crianças, jovens e adultos, inseridos nas diversas modalidades educacionais do país.
CONCEITUAÇÃO PEDAGÓGICA DE TURISMO E FUNDAMENTAÇÃO
TEÓRICA DE DESENVOLVIMENTO COGNITIVO: o turismo e sua relação
com a educação
A busca pela novidade e pelo conhecimento sempre fez parte da motivação humana para
empreender viagens, transformando as perspectivas sociais e existenciais. Perceber a
dinâmica de tais transformações inserindo-as no processo educativo é uma forma de inovar,
de romper com o tradicionalismo que historicamente molda a formação humana. Afinal, o que
é o conceito de Turismo e, portanto de Turista? O turismo é um fenômeno humano altamente
complexo e carregado de objetividade e subjetividade. Teoricamente, diversas áreas do
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conhecimento como a Administração, a Antropologia, a Economia, a Geografia, a História, e a
Sociologia enfatizam seu ponto de vista e define conceitualmente como acontece o
fenômeno1 das viagens. Para Moesch (2000, p.12), a respeito do conceito do Turista:
“um indivíduo em viagem, cuja decisão para o deslocamento foi tomada com base em percepções, interpretações, motivações, restrições e incentivos, representando manifestações, atitudes e atividades, relacionadas a fatores psicológicos, educacionais, culturais, técnicos, econômicos, sociais e políticos”.
Essa definição enfoca majoritariamente à experiência de viagem do indivíduo, do que
propriamente o período de duração da viagem. A Organização Mundial do Turismo (OMT)
apud Bossi (2008, p. 09), para finalidades estatísticas, determina que para ser considerado
turista, é necessário que o indivíduo desloque-se voluntariamente por 24 horas ou mais para
um local diferente da sua residência ou trabalho sem motivações lucrativas explícitas. Por
outro lado, popularmente o turismo está associado a palavras como conhecer, desvendar,
passear, viajar. Ousby diz que
Viajar foi um instrumento que guiou o espírito de investigação no período da Pós-reforma que valorizava o conhecimento empírico sobre a especulação abstrata ou o aprendizado apenas pelo livro, derivado meramente da
tradição. (OUSBY,1990, apud MACHIN, 2007)
Assim acredita-se que grande parte da demanda turística nasceu por objetivos educacionais.
Desde os tempos antigos, as peregrinações religiosas eram vistas como formas primárias de
educação informal, pois traziam os devotos para mais próximo dos lugares sagrados e os
introduziam em novas experiências e conhecimentos (JABLONSKI,1996 in MACHIN, 2007) .
O “Grand Tour”, enraizado no reinado da rainha inglesa Elizabeth I, era um conjunto de
excursões, de filhos das famílias ricas, com o objetivo de conhecimento e aprendizagem de
outras culturas e povos. De acordo com Moesch (2000), o Turismo:
é uma combinação complexa de inter-relacionamentos entre produção e serviços, em cuja composição integram-se uma prática social com base cultural, com herança histórica, a um meio ambiente diverso, cartografia natural, relações sociais de hospitalidade, troca de informações interculturais. (MOESCH, 2000, p. 09)
É impossível, por exemplo, tratar do Turismo sem citar suas múltiplas relações com a cultura,
o lazer e o aprendizado. O pesquisador Nelson Marcelino, diz que as atividades culturais de
1 A idéia de fenômeno utilizado aqui está baseada no conceito advindo do ramo da filosofia representando “aquilo que se manifesta por si mesmo em determinado meio ou condição, ou mesmo “aquilo que aparece à consciência, aquilo que é percebido pelos sentidos.” Fonte: Grande Enciclopédia Larousse Cultural (1998)
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lazer podem ser compreendidas como facilitadoras de experiências significativas de
aprendizado ao propiciarem a “oportunidade de conhecimento da sensibilidade, de percepção
social e experiências sugestivas” (MARCELINO, 1996, p. 74, apud GONÇALVES, 2007).
Gonçalves (2007) demonstra que:
a atividade turística proporciona um contato com os demais interesses do lazer: artísticos, físicos, manuais, intelectuais e sociais, devendo ser entendido como uma atividade cultural de lazer, oportunidade de aprendizado, convívio social e experiências únicas. (GONÇALVES, 2007, p.38) 2
De acordo com Machin (2007), a primeira viagem com o desejo de educar, foi organizada em
1841, por Thomas Cook, que levou quinhentas pessoas de Leicester a Loughborugh, no
Reino Unido para um congresso sobre o alcoolismo objetivando conscientizar e educar as
pessoas sobre esta temática (MACHIN, 2007). Beni (2002) definiu o Turismo Pedagógico
como a:
retomada da antiga prática amplamente utilizada na Europa e principalmente nos Estados Unidos por colégios e Universidade particulares, e também adotada no Brasil por algumas escolas de elite, que consistia na organização de viagens culturais mediante o acompanhamento de professores especializados da própria instituição de ensino com programa de aulas e visitas a pontos históricos ou de interesse para o desenvolvimento educacional dos estudantes. (BENI, 2002 apud RAYKIL e RAYKIL, 2007)
A tipologia do Turismo Pedagógico, Turismo Educacional, de Estudo do Meio ou
“Aulas-passeio” surge nessa relação teórica entre o Lazer, Turismo e a Educação,
contemplando o turista com motivações educacionais. Suas experiências e propostas
objetivam transpor o conhecimento teórico-científico para o ambiente extra-escolar, atingindo
especialmente o público infanto-juvenil da Educação Básica, em especial, Educação Infantil,
Ensinos Fundamental e Médio. Outro teórico, Peccatiello (2007) define que o Turismo
Pedagógico:
é composto basicamente por viagens de estudo do meio, realizadas por instituições de ensino com o objetivo maior de geração de conhecimento, constituindo-se numa ferramenta didática que pode ser utilizada pelos educadores a fim de facilitar e melhorar o processo de aprendizagem. (PECCATIELLO, 2007)
2Entende-se aqui o lazer de acordo com Bossi (2008) que utiliza a definição de Dumazedier: “Um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se, entreter-se ou, ainda para desenvolver sua informação ou formação desinteressada, sua participação social voluntária ou sua livre capacidade criadora após livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais. (DUMAZEDIER, 1976,p.34 apud GONÇALVES,2007,p.32)
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De acordo com Gonçalves (2007, p. 15), esse segmento: “caracteriza-se primordialmente
como uma prática centrada no ser, na experiência pessoal do aluno, em suas sensações e
emoções, promovendo uma mudança de olhar que reflita em sua realidade.” Raykil e Raykil
(2007) relatam que o pedagogo Celéstin Freinet3, na década de 1920, já sugeria, a aula
passeio, onde o aluno seria protagonista e,portanto considerado sujeito, sendo assim “o
centro da construção de seu conhecimento”.
Freinet era francês. Foi um dos motivadores que suscitaram o movimento da Escola Moderna. Este movimento propõe uma metodologia baseada na cooperação e respeito mútuo. Para Freinet : "ninguém avança sozinho em sua aprendizagem, a cooperação é fundamental". A aprendizagem através da experiência se faz mais eficaz, porque se o aluno faz um experimento e dá certo, ele o repetirá e avançará no procedimento; porém não avançará sozinho, precisará da cooperação do professor. Ele não desvalorizava o aprender, mas achava que tudo deveria passar pela experiência de vida, para que o aprendizado fosse integrado ao que se aprendia, e isso só é possível pela ação, através do trabalho. (BOSSI, 2008)
Freinet apud Raykil e Raykil (2007) atesta que esta aula passeio consistia em atividades
extraclasses, onde se valorizavam as necessidades vitais do ser humano: criar, se expressar,
se comunicar, viver em grupo, ter sucesso, agir-descobrir, se organizar. A autora cita ainda
Peccatiello (2007) que apresenta um novo conceito no turismo pedagógico: o de
“aluno-turista”:
“... o aprendiz ao passar da condição de aluno para “aluno-turista” é beneficiado pela aproximação com o real, um espaço que pode até mesmo fazer parte de seu cotidiano e, teoricamente, não oferecer nada de novo. Mas quando este espaço (ambiente) passa a ter a função de um livro e a visão do aluno é para ele voltada através do estímulo do professor, o caminho para a aprendizagem é facilitado tornando-a mais pragmática e menos restritiva a conteúdos curriculares já que se manifesta com a vivência, experiência e socialização.” (PECCATIELLO, 2007)
DESENVOLVIMENTO COGNITIVO E APRENDIZAGEM HUMANA: origens educacionais do turismo Machin (2007) ainda coloca que em meados do século XIX e em paralelo com o começo da
educação formal para grupos de várias idades, a prática de visitas diárias ou excursões
anuais ao campo foi estabelecida entre as pessoas que viviam nas cidades. E essas visitas
não eram “escapismo” ou entretenimento, mas, sobretudo progresso e desenvolvimento
pessoal denominado “self-improvement”. Reynolds (1901) apud Machin, (2007, p. 04), relata
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que John Ruskin já previa: “o campo vai se tornar uma sala de aula externa, ao ar livre, um
museu divino utilizado pelos nossos professores”.
Como Machin atenta, muitos viajavam para visitar cidades industriais, já nos anos de 1780,
prática que perdurou até o século XX, com expressivo número de fábricas de manufatura
abrindo suas portas para receber visitantes. Ainda no começo do século XX, James
Fairgrieve, treinou professores de geografia, para promover interesse das crianças de
Londres em excursões escolares e de férias. Conforme o próprio Fairgrieve (1926), relatou
que “isso é um benefício não apenas ao entendimento de outras localidades, mas ao
entendimento de sua própria cidade: até que ela seja vista na sua posição neste mundo, ela
nunca será realmente compreendida”. (FAIRGRIEVE, 1926 apud MACHIN, 2007)
O crescimento e a diversidade de modelos escolares, emergentes no século XIX, permitiram
experimentações em termos de organização e currículo (MACHIN, 2007). As idéias de
Rousseau sobre a importância do desenvolvimento individual influenciaram algumas
inovações nos espaços de ensino, visando atender melhor as necessidades dos alunos. Na
Inglaterra, por exemplo, em 1889, Cecil Reddie fundou a Abbotsholme School, um lugar que
levava o menino a ser “treinado como viver”, através de atividades ao ar livre, todos os dias,
como esportes, banhos de rio, carpintaria e jardinagem (Lawson and Silver, 1973) in Machin
(2007). Na Alemanha, a idéia de excursões escolares cresceu rapidamente com a formação
do movimento “wandervogel4” em Jena em janeiro de 1907. (MACHIN, 2007), cujo objetivo
era:
“promover caminhadas e excursões para garotos alemães nas suas próprias e em outras vizinhanças, e, através disso, despertar neles o gosto pelas belezas da natureza e dá-los oportunidades de aprender a conhecer a sua terra lar, a Alemanha, e seu povo em “primeira mão”. (THOMSON & HAEHNEL, 1909 apud MACHIN, 2007)
Nos últimos anos, tours em casas históricas, castelos e defesas marítimas, jardins e parques
de campo, museus a céu aberto, parques nacionais, zoológicos e centros de vida marinha,
núcleos de patrimônio e centros interativos de ciência, fábricas e visitas a locais de trabalho,
surgiram em todos os locais do mundo, disseminando a prática de excursões com objetivos
pedagógicos de ensino. Porém no Brasil, a modalidade pedagógica de Turismo é um dos
segmentos mais recentes do Turismo tendo surgido apenas nos anos finais do século XX
4 Wandervogel foi o nome adotado pelo movimento popular dos grupos jovens alemães a partir de 1896. O nome pode ser traduzido como “pássaros migratórios” e o ethos do movimento era se libertar das restrições da sociedade e voltar para a natureza e liberdade. (fonte: Wikipédia, 2008)
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(GONÇALVES, 2007). Com o aparecimento no mercado de empresas especializadas e
educadores, o Turismo Pedagógico se amplia cada vez mais para atender à demanda das
escolas e instituições que buscam novas metodologias de ensino-aprendizagem, de âmbito
mais interdisciplinar. O destaque fica com a leitura ambiental e o estudo das paisagens
visitadas, intercalando conceitos e referências que permeiam e conectam os diferentes
currículos pedagógicos (Figura 01). Através de uma base fenomenológica que perpassa os
campos da ecologia, da educação, da geografia, da história, da psicologia nota-se que as
atividades externas, quando bem planejadas e executadas permitem aos alunos
estabelecerem uma série de relações e conexões com a sociedade, com o meio, o outro e
consigo mesmo.
Figura 01 – esquema de conceitos chave em leitura ambiental e estudo de paisagens Fonte: Andrade (2007)
Mas o porquê dessas adequações e transformações na atualidade? As constantes
discussões e contribuições da Educação Básica (Educação infantil, Ensino fundamental e
Ensino médio), Ensino superior, Ensino profissionalizante, Educação especial, Educação à
distância, Educação de jovens e adultos, bem como à nova proposta curricular da Educação
Cultural Educação camponesa, Educação indígena e Educação afrodescendente visam
reformular os processos de ensino para que os mesmos contribuam efetivamente para a
formação plena e o desenvolvimento intelectual, físico, social, moral, emocional e espiritual do
ser humano. Nas diversas modalidades de ensino, os sujeitos socioculturais inseridos
recebem grande quantidade de informações técnicas/teóricas que perpassam por diversos
saberes e campos científicos objetivando a construção de um processo contínuo de
Interdisciplinaridade, Transdisciplinaridade e Transversalidade. Atualmente os currículos
predominantes vertem para uma formação ampla e integrada que agregam atitudes,
conceitos e procedimentos nas áreas de Artes, Cultura, Cidadania, Ecologia, Esportes, Ética,
Geografia, História, Lazer, Literatura, Matemática, Português, Religiosidade e Saúde. Mas
estas discussões não se limitam apenas ao espaço físico da sala, onde apenas se fala ou se
ouve. Ver e vivenciar os inúmeros conceitos discutidos em sala de aula é uma forma coerente
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para se consolidar nos alunos, o comprometimento com atitudes, hábitos e valores
verdadeiros. O Turismo ao ofertar roteiros de circuitos didático-pedagógicos, apresenta-se
como um recurso didático voltado ao enriquecimento curricular permitindo através da saída de
campo, à vivência e consolidação de todo o procedimento de ensino-aprendizagem e
processos sociais correlacionados. Neste contexto, a questão central a ser respondida é: “o
Turismo, traz contribuições pedagógicas ao aprendizado e desenvolvimento cognitivo de uma
criança? A área do turismo pedagógico apresenta significativa e extensa bibliografia sobre a
importância das atividades de turismo para o aprendizado dos alunos da educação
contemporânea.
2.1. TURISMO PEDAGÓGICO E APRENDIZADO: algumas relações
Quando se pensa metodologicamente numa atividade de Turismo e propõe-se um estudo de
paisagens, observa-se no centro do processo pedagógico, o aluno enquanto sujeito e
principal construtor de seu próprio aprendizado, influenciado por alguns elementos essenciais
como: a sociedade em que vive, o meio em que a experiência turística ocorre, os outros
sujeitos, e por fim, dele mesmo. O que poderá ocorrer como resposta ao aprendizado, é a
utilização dessas normas e valores em outros contextos da vida do aluno, como no ambiente
familiar e na escola, reproduzindo-os até a vida adulta. Este sujeito, por sua vez, age na
sociedade na medida em que aprende dela valores dos quais se apropria. Segundo Bossi:
A sociedade é a responsável por apresentar ao sujeito as normas e valores sociais que a regem. Durante uma experiência de turismo pedagógico, os visitantes geralmente são apresentados a normas de conduta e comportamento adequado aos locais que visitam. No caso de igrejas, por exemplo, é provável que os turistas sejam orientados a falarem em baixo tom, não tocarem em peças de ornamentação ou mesmo retirarem chapéus e bonés em sinal de respeito. Durante as experiências de turismo, também é possível que noções de coleguismo e respeito mútuo sejam ensinadas. A boa convivência com os outros participantes da excursão, e o respeito aos responsáveis pela organização como os guias de turismo e os professores, também são elementos presentes durante uma vivência de Turismo Pedagógico. (BOSSI, 2008)
Além de estabelecer relação com os valores impressos pela vida em sociedade, a experiência
de Turismo Pedagógico propicia aos discentes uma proximidade maior com o meio ambiente,
aqui denominado como apenas como meio (Figura 02). O meio, por sua vez, é o responsável
por enviar estímulos, informações e novas sensações ao sujeito, proporcionando a
visualização do real, facilitando o processo de aprendizado, na medida em que provoca
estímulos passíveis à percepção individual e a apropriação de conhecimentos. Além do meio,
durante as excursões ou viagens de turismo, o outro, na figura do professor, do colega, do
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orientador ou do guia também exerce influências diretas e indiretas no processo de
desenvolvimento cognitivo:
Os outros sujeitos podem ser vistos como mediadores no processo de aprendizado das crianças em vivências de turismo pedagógico. O compartilhar de experiências e a troca de informações e conhecimento que ocorre entre os sujeitos são impulsionadores do processo de aprendizado, e em conseqüência do desenvolvimento cognitivo. O outro/mediador é ainda o responsável em afetar a Zona de Desenvolvimento Proximal (de Vygotsky) do sujeito. A distância entre o que o indivíduo é capaz de realizar, ou já sabe, sem a ajuda de alguém, e aquilo que ele pode fazer com a colaboração de outros de seu grupo social, pode ser diminuída durante uma vivência de turismo pedagógico. (BOSSI, 2008)
Figura 02– Esquema anterior de percepção do meio transposta para uma situação real. Fonte: Esquema de Bossi (2008) sobre fotografia de Gleice Santos Silva (2015)
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Da mesma maneira que é afetado pelo outro, o sujeito, em vivências de turismo pedagógico, é
levado a um diálogo5 com ele mesmo. Neste momento, o individuo tem espaço para refletir,
dialogar consigo mesmo, e buscar dentro de si, elementos que sirvam de motivadores ao seu
aprendizado. Esse diálogo interno nem sempre é presente no momento das excursões, visto
que para que ele exista é necessário talvez um agente impulsionador, como o professor ou o
guia, bem como outros fatores tais como: tempo de reflexão suficiente, nível de
desenvolvimento cognitivo adequado, e principalmente, uma pré-disposição do sujeito em
dialogar internamente. Além dessas figuras que dialogam com o individuo: a sociedade, o
meio, o outro e ele mesmo (Figura 03); há alguns fatores externos que afetam diretamente o
sujeito em seu processo de aprendizado durante uma vivência de turismo pedagógico, com
destaque para a expectativa e a curiosidade, as informações repassadas e a experiência
vivenciada.
A expectativa da viagem é uma delas. Esta é a fase primordial, na qual os anseios, a curiosidade e o desejo de vivenciar essa experiência, aumentam a vontade de aprender durante a viagem. Peccatiello (2007) ressalta que nas três etapas do turismo pedagógico (no momento anterior, ou seja, o da expectativa; na viagem em si; e em momento posterior) é possível trabalhar instrumentos de aprendizagem tais como leitura, escrita, conceitos, atitudes, valores, aliando a interdisciplinaridade dos conteúdos escolares com o fator lúdico da atividade. Nesta etapa, a da expectativa, é provável que a criança se aproprie do conhecimento dado em sala de aula para posteriormente utilizá-lo quando vivenciá-lo in loco. (BOSSI, 2008)
Figura 03 - Percepção visual e o conjunto das demais capacidades perceptivas mediada pela intuição Fonte: Esquema de Bossi (2008) sobre fotografia de Gleice Santos Silva (2015)
5 Entende-se aqui a palavra diálogo no seu sentido original: “uma corrente de significados que flui entre nós e por nosso intermédio, que nos atravessa.” (BOSSI, 2008). Esta compreensão se deve a fato da etimologia da palavra derivada do grego dialogos, onde Logos significa “palavra” ou “significado da palavra” e dia, significa “através”.(BOHM, 2005).
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Acredita-se que a curiosidade também é um fator que impulsiona o aprendizado. De acordo
com Schmidlhuber: “O aspecto exploratório da aprendizagem está relacionado a algo, que
geralmente se denomina “curiosidade”.” (SCHMIDLHUBER apud ASSMAN, 2004, p.177).
Assman alerta que essa curiosidade precisa de ser alimentada, gerando constantemente um
desejo pela aprendizagem. Segundo ele, “aprende-se na medida em que o aprendente nutre
um desejo continuado de aprender, ou, o que é quase a mesma coisa, uma curiosidade
profunda e persistente como hábito (ASSMAN, 2004, p. 214)”.
Outro elemento imprescindível ao processo de aprendizado no turismo pedagógico são as
informações técnicas que são repassadas, observando sua adequação didática ao que esta
sendo estudado em sala de aula naquele momento. Durante as vivências, o sujeito é
bombardeado por elas, e mesmo inconscientemente, delas se apropria. Placas, mapas,
manuais e principalmente o conhecimento transmitido pelos guias e os responsáveis técnicos
pelos locais contemplados em uma visita pedagógica, afetam no aprendizado dos alunos.
Neste aspecto, as experiências individuais de cada discente, também são importantes no
processo de aprendizado durante o Turismo Pedagógico. O que já se vivenciou, ou já se ouviu
falar, dentro e fora de sala de aula, serão averiguados no momento da viagem. O conteúdo e
outros elementos repassados pelo professor, ou estudado em casa são base para a busca por
um aprendizado. Experiências podem ser compartilhadas, mas seus resultados ao processo
de desenvolvimento individual só são eficazes se elas forem vivenciadas. Desta forma, a
dúvida (Figura 04) como a necessidade de um esquema explicativo foi algo que sempre
moldou a existência humana destacando-se à contribuição do turismo para o
desenvolvimento cognitivo (Bossi, 2008). A vivência in loco pode responder as dúvidas
pré-existentes, gerar conhecimento e, principalmente, criar outros questionamentos, atuando
como impulsionador de um novo aprendizado e, conseqüentemente, do desenvolvimento
cognitivo. De acordo com Bahl, (2003):
“O homem em viagem não é o mesmo homem do seu ambiente habitual e, sobretudo, quando retorna de uma viagem, ele não é o mesmo de antes, pois a experiência da viagem o faz evoluir, acrescentar um conhecimento ou perder uma ilusão”. (BAHL, 2003 apud PECCATIELLO 2007).
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Figura 04 – A dúvida enquanto mediadora do sujeito e sua percepção única e particular de mundo Fonte: fotografia de Vagner Luciano de Andrade (2016)
Não se volta de uma boa viagem sem trazer impresso em si mesmo, algo diferente, de
marcante, de prazeroso, de inesquecível. A experiência, o que realmente passa e toca no
íntimo, gera um indivíduo mais aberto à novidade, motivado ao aprendizado, sensível às
diferenças, à interação e à partilha com o outro. A experiência do turismo pode gerar um
indivíduo que se propõe a ser cada vez mais completo, em sua essência. Desta forma,
acredita-se que com um planejamento adequado das atividades de turismo pedagógico, em
que se considere as expectativas, as necessidades e os desejos dos discentes enquanto
sujeitos socioculturais, aliadas à proposta educacional da instituição escolar, podem trazer
notórias contribuições didáticas ao aprendizado e em conseqüência ao desenvolvimento
cognitivo dos alunos. De acordo com Morin apud Gonçalves (2007, p. 20), a escola precisa ter
a preocupação de ser um componente dentro da educação global das pessoas para o mundo
dos lugares, das sensações e das emoções, fazendo-os questionar, permitindo a cada um à
procura de sua realização como pessoa.
Como alerta Gonçalves (2007, p.15), o profissional que desenvolve atividades de Turismo
Pedagógico “atua como educador, otimizando oportunidades de aprendência aos alunos de
modo holístico, educando para e pelo lazer.” Observa-se que o turismo é visto por muitos
autores (MOESCH, GONÇALVES, MARCELINO) como um fenômeno subjetivo e que pode
ser classificado como uma atividade de lazer e oportunidade de aprendizado e experiências. A
percepção e compreensão das diferentes paisagens naturais, rurais ou urbanas, é uma das
muitas possibilidades do fazer pedagógico aplicado ao turismo, quando este viabiliza
diferentes conteúdos a serem abordados a partir da saída a campo e das múltiplas vivências
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proporcionadas pelo mesmo. Para se repensar uma prática integradora e perceptiva de
educação ambiental a partir de conteúdos formatados, faz-se indispensável elencar um
mosaico de paisagens e a partir dele explorar possibilidades didático-pedagógicas de leitura e
interpretação ambiental do meio, identificando diferentes espacialidades e temporalidades.
Tendo por base, a perspectiva sócio-interacionista e sociocultural de Lev Vygotsky,
conclui-se, que é o aprendizado que possibilita, movimenta e impulsiona o desenvolvimento
(REGO, 2007). Influenciados por novos moldes escolares que trabalham com a questão da
interdisciplinaridade, ou seja, da interdependência entre os diversos ramos do conhecimento
(GOULART, 1995), as instituições escolares têm buscado empresas especializadas em
turismo pedagógico como ferramenta complementar ao ensino formal. De acordo com Raykil
e Raykil (2007), o Turismo Pedagógico representa também a oportunidade de explorar a
relação homem-espaço, nas mais variadas perspectivas de análise do conhecimento humano
(geográfico, físico, biológico, ecológico) de forma interativa, divertida e multidisciplinar.
Concordamos com Peccatiello (2007) que afirma que na viagem é possível estimular o
imaginário do aluno criando um ambiente propício à investigação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A percepção além de ser uma área de estudo das Neurociências, é também uma das escolas
geográficas que propõem uma nova forma de analisar a conturbada relação entre homem e
natureza. Assim, numa perspectiva fenomenológica, através dos cinco sentidos é possível
perceber, interpretar e analisar as diferentes materializações do conflito entre ser humano e
meio ambiente. A educação ambiental, através da contemplação, da percepção, da
interpretação, da interação e da reflexão, tem um papel relevante na contemporaneidade ao
socializar informações que efetivamente convoque cada um à ação individual ou coletiva para
se mudar a realidade socioambiental.
O turismo pedagógico, assim como qualquer atividade turística deve ser visto como um
fenômeno humanamente complexo. Esta modalidade pedagógica de turismo, que já foi
chamada na prática de aulas passeio, bastante utilizada pelo pedagogo Freinet, é presente na
Europa há bastante tempo, mas é um nicho ainda recente no Brasil. Aliás, os deslocamentos
turísticos com objetivos de ensino-aprendizado datam da era das peregrinações religiosas e
posteriormente do fenômeno do Grand Tour com a Rainha Elizabeth I.
Portanto, é importante que as atividades nesse campo considerem prioritariamente o sujeito:
seus anseios, necessidades, expectativas, curiosidades, escolhas, satisfações, frustrações e
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experiências como objeto principal de análise. O aprendizado é um processo bastante
complexo e deve ser situado a partir de cada indivíduo. Cada ser humano é único e
experiencia o mundo de forma distinta, percebendo o meio de maneira diversa. O sujeito é o
grande responsável pelo aprendizado durante a atividade de turismo pedagógico. Ele age e
interage com a sociedade, com o meio e com outros sujeitos numa busca pelo conhecimento.
É desta maneira que se desenvolve e se torna um sujeito social.
Vygotsky trabalha com a noção do sujeito interativo, que adquire conhecimentos a
partir das relações que faz com o meio e com os demais sujeitos, realizando trocas por um
processo de mediação, se desenvolve gradativamente na medida em que aprende. Quando
se trata a aprendizagem como uma construção do conhecimento de base histórica e social,
acredita-se ainda que as vivências de turismo pedagógico possam proporcionar aos sujeitos a
experiência de trocas e interações nos aspectos intrapessoal e interpessoais, fatores
essenciais ao processo de aprendizado. Observa-se também que o comportamento e a
capacidade cognitiva de um indivíduo dependem de suas experiências, de sua história
educativa e que sempre terão relações com as características do grupo social e da época em
que está inserido. Isto se deve justamente pela capacidade e necessidade do sujeito em se
envolver com a sociedade e apropriar-se dela. Neste contexto, observa-se que a escola tem
importante papel no desenvolvimento cognitivo e aprendizagem dos discentes, por trabalhar
com conceitos abstratos e complexos, promovendo a aproximação do indivíduo com
situações práticas da vida em sociedade. A instituição educacional deve assim, ter uma visão
ampla da proposta do turismo pedagógico quando escolher inserir esta atividade como uma
estratégia de ensino-aprendizagem, procurando organizá-la de acordo com a realidade social
de seus alunos tais como suas necessidades, seu nível de aprendizado, e a contextualização
com o conteúdo dado em sala de aula.
Neste contexto, o profissional que desenvolve atividade de Turismo Pedagógico seja ele um
turismólogo, ou mesmo o professor, tem uma responsabilidade enorme quanto ao sucesso ou
o fracasso da experiência turística. Deve ele saber que o aprendizado ocorre de maneira
individual, respeitando a capacidade e nível de percepção de cada aluno-turista, ao mesmo
passo que ele está intimamente ligado à maneira como se dá o processo da viagem. É
importante que o responsável tenha conhecimento do grupo que está liderando para que
possa trazer informações significativas, bem como adaptar-se à realidade social dos turistas.
Este deve também se apropriar da filosofia educacional da instituição para que trabalhe em
concordância com os temas e conteúdos ensinados em sala de aula. Desta maneira
observamos que ele precisa buscar constante a autoformação e especialização para que a
experiência de turismo seja proveitosa ao público. Observamos que o turismo cria espaços e
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dá liberdade ao aluno de aprender, em diversos níveis, e futuramente transmitir suas
experiências a outros. A expectativa da viagem é contagiante, as informações são
compartilhadas, experiências já vivenciadas pelos sujeitos são transmitidas e tornam-se
impulsionadoras aos demais, e a curiosidade traz êxtase e motiva ainda mais a criança a
aprender. O turismo visto pelo âmbito da experiência é capaz de gerar em nós um
aprendizado que ultrapassa o acúmulo de informações. As saídas da rotina e do nosso
“hábitat”, aliados a um despertar para o olhar o ambiente “com outros olhos” geram um
aprendizado a vários níveis.
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