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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE
Formação continuada em Educação / 2008 _______________________________________________________________
SANDRA APARECIDA CORACINI VARAGO
A ARTE DE PLANEJAR: ARTICULAÇÃO
CONTEÚDO/METODOLOGIA
PARANAVAÍ
2009
2
SANDRA APARECIDA CORACINI VARAGO
A ARTE DE PLANEJAR: ARTICULAÇÃO
CONTEÚDO/METODOLOGIA
Artigo apresentado à Secretaria de Estado da Educação do Paraná / PDE - Programa de Desenvolvimento Educacional, produzido em parceria com a Faculdade Estadual de Educação, Ciências e Letras de Paranavaí-FAFIPA. Orientadora: Profª Me. Nilva de Oliveira Brito dos Santos
PARANAVAÍ
2009
3 A ARTE DE PLANEJAR: ARTICULAÇÃO CONTEÚDO/METODOLO GIA1
VARAGO, Sandra Aparecida Coracini2 SANTOS, Nilva de Oliveira Brito dos3
RESUMO O presente trabalho direciona o olhar para o planejamento/plano de trabalho docente. Os desacertos quanto à elaboração e execução do planejamento, porém mais especificamente a articulação conteúdo/metodologia, constitui o objeto de estudo. Evidenciar a necessidade desta articulação é o objetivo geral. Quanto aos específicos, destacam-se: caracterizar o cotidiano escolar, evidenciando a relação projeto político-pedagógico e o planejamento de ensino; retomar as concepções pedagógicas, base teórica para pensar o planejamento e, propiciar aos alunos, dinâmicas de construção do planejamento. Uma pesquisa qualitativa, numa abordagem dialética recorrendo a um referencial teórico produzido na área constitui o caminho a ser percorrido. Como espaço de investigação, o Curso de Formação de Docentes e, neste, os sujeitos da pesquisa, alunos da disciplina de Estágio Supervisionado. Buscou-se a presença do planejamento, nas diferentes concepções pedagógicas. Numa perspectiva Histórico-Crítica, o planejamento terá como referência a totalidade social. A intervenção pedagógica propicia ao estagiário a percepção da dicotomia entre o projeto institucional e o efetivado na sala de aula. A compreensão do planejamento enquanto instrumento essencial no trabalho educativo, construído de forma articulada, possibilita ao professor assumir uma postura coerente à teoria que fundamenta o projeto político-pedagógico da escola. Palavras-chave : Professor. Planejamento. Articulação conteúdo/ metodologia.
1 Artigo apresentado ao Programa de Desenvolvimento Educacional- SEED/PR. 2 Professora PDE- Docente da Rede Publica Estadual de Educação - SEED/PR. 3 Professora Mestre – Docente da Faculdade Estadual de Educação de Paranavaí– FAFIPA.
4 ABSTRACT
The present work directs the look for the plain planning/of teaching work. The mistakes how much to the elaboration and execution of the planning, however more specifically the joint content/methodology, constitutes the study object. To evidence the necessity of this joint is the general objective. How much to the specific ones, they are distinguished: to characterize the daily pertaining to school, evidencing the relation politician-pedagogical project and the planning of education; to retake the conceptions, theoretical base pedagogical to think the planning and, to propitiate the pupils, dynamic of construction of the planning. One searches qualitative, in a boarding dialectic appealing to a produced theoretical referencial in the area constitutes the way to be covered. As inquiry space , the Course of Formation of Professors and, in this, the citizens of the research, pupils of discipline of Supervised Period of training. It searched presence of the planning, in the different pedagogical conceptions. In a Description-Critical perspective, the planning will have as reference the social totality. The pedagogical intervention propitiates to the trainee the perception of the dichotomy between the institucional project and the accomplished one in the classroom. The understanding of the planning while essential instrument in the educative work, constructed of articulated form, makes possible the professor to assume a coherent position to the theory that bases the politician-pedagogical project of the school.
Key words: Teacher.Planning. Joint Content / Methodology.
5 INTRODUÇÃO
O planejamento constitui uma necessidade, nas mais diferentes áreas da
atividade humana. Planejar envolve análise do contexto social, das condições
presentes, bem como a busca de alternativas para superação das dificuldades com
vistas a alcançar objetivos pensados, previstos e desejados.
Segundo Libâneo (1994, p.222), “planejamento é um processo de
racionalização, organização e coordenação da ação docente, articulando a atividade
escolar e a problemática do contexto social”.
A atuação docente na disciplina de Estágio Supervisionado, no Curso de
Formação de Docentes da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental,
em nível médio, nas modalidades: Normal e Aproveitamento de Estudos e a
observação da Prática de Formação dos discentes/estágiários, no cotidiano escolar,
tem evidenciado situações questionáveis na prática pedagógica como a percepção
de lacunas na elaboração, execução e avaliação do planejamento de ensino/plano
de trabalho docente.
Esse quadro delineado remete aos questionamentos: Uma das
dificuldades de efetivação do trabalho pedagógico não estaria relacionada à
ausência de fundamentação teórica do professor quanto à compreensão do que seja
metodologia e sua articulação ao conteúdo de ensino? Que ações precisam ser
desencadeadas para inserção do jovem que hoje ingressa/frequenta o curso de
formação inicial de docentes, no exercício do planejamento/plano de trabalho
docente, numa perspectiva crítica?
A reflexão sobre essa problemática constitui o foco da pesquisa, cujo
objetivo geral está centrado na necessidade de se evidenciar a articulação
conteúdo/metodologia no desenvolvimento da prática pedagógica, caminhos para a
superação dos desacertos entre concepção e execução do planejamento de ensino.
Constituem os objetivos específicos: caracterizar o cotidiano escolar,
evidenciando a relação projeto político-pedagógico e o planejamento de
ensino/plano de trabalho docente; buscar nas concepções pedagógicas as bases
para discussão da necessidade do planejamento/plano de trabalho docente e as
perspectivas de construção deste; estabelecer relações entre conteúdo/metodologia,
quando da elaboração e execução do planejamento/plano de trabalho docente;
6 socializar a fundamentação teórica produzida, enquanto apropriação do
conhecimento para transformação da prática pedagógica e propiciar aos alunos do
Curso de Formação de Docentes da Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino
Fundamental, na modalidade Aproveitamento de Estudos, na disciplina de Estágio
Supervisionado / Prática de Formação, dinâmicas de construção do
planejamento/plano de trabalho docente.
O Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE é uma possibilidade
de Formação Continuada, que se apresenta e instiga à busca de uma
fundamentação teórica e intervenção pedagógica na escola, neste caso, a relação
conteúdo/metodologia. Em que pese a discussão focada em um dos momentos do
planejamento, sabe-se, no entanto, que os demais elementos são fundamentais
uma vez que compõem um todo articulado.
A experiência, bem como as leituras efetuadas, têm mostrado que, no
cotidiano da sala de aula, há ênfase nos conteúdos em detrimento da metodologia.
Para Vasconcelos (1998, p.98), “a aquisição do saber pressupõe uma mediação
metodológica que articule o saber escolar e as necessidades concretas de vida dos
alunos”.
Por considerar que os métodos propiciam a correspondência dos conteúdos
com os interesses dos alunos, os estudos se apresentam enquanto possibilidades
para uma intervenção no espaço escolar, subsidiando os futuros docentes.
O ESPAÇO ESCOLAR E A QUESTÃO DO PLANEJAMENTO
Iniciar uma reflexão sobre o planejamento/plano de trabalho docente, numa
perspectiva dialética, instiga a pensar o espaço em que aquele se inscreve, a
escola.
No final do século XX e início do Século XXI, novas exigências são
colocadas para a escola, tendo em vista o esgotamento do modelo de gestão
baseado em um poder centralizado. Discussões sobre a autonomia da escola se
fazem presentes nos debates desencadeados no país sobre gestão democrática..
Autonomia expressa na própria Constituição Federal de 1988, ao estabelecer no
artigo 206:
7
I - igualdade de condições para acesso e permanência na escola; II- liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; III - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; IV – valorização dos profissionais de ensino, [...]; VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei; VII - garantia de padrão de qualidade( BRASIL, 1989, p137-38).
Autonomia de uma instituição “remete-nos para regras e orientações criadas
pelos próprios sujeitos das ações educativas, sem imposições externas.” (Veiga
1997, p.19). Uma escola autônoma constrói sua identidade, seu projeto. Projeto
este, cuja exigência para construção fica evidenciada na legislação educacional.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB 9394/96,
estabelece:
Art.12 - Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de: I - elaborar e executar sua proposta pedagógica; [...] IV - velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente. Art. 13 – Os docentes incumbir-se-ão de: I - participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino. II- elaborar e cumprir o plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino. Art. 14 – Os sistemas de ensino definirão as normas de gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as peculiaridades e conforme os seguintes princípios: participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola. [grifo nosso].
Em que pese o aspecto legal, a necessidade de discussão sobre o
planejamento se apresenta aos profissionais envolvidos com a educação.
Planejamento para se construir o projeto político-pedagógico, a proposta pedagógica
e o próprio plano de trabalho docente.
Quanto à construção do projeto político-pedagógico, por refletir a realidade
da instituição escolar, situada em um contexto que a influencia e que pode ser
influenciado por ela, conforme destaca Veiga (1998) a adesão voluntária de todos os
segmentos da instituição, os atores sociais, é fundamental.
8 O projeto constitui importante instrumento de organização da atividade
pedagógica na medida em que produz transformação constante na consciência dos
educadores, quando da sua elaboração coletiva e articulada, visando à escola como
um todo.
Segundo Santos (2005a, p.84):
O projeto pedagógico deve ser o resultado de um processo coletivo de discussão e decisão do colegiado escolar sobre os princípios comuns: filosóficos, epistemológicos e didático-metodológicos, que orientam as ações pedagógicas, administrativas e comunitárias da instituição.
A construção do projeto da escola não se resume à elaboração de um plano
escrito por alguns sujeitos da instituição para o cumprimento de formalidades
exigidas por instâncias superiores, mas de um planejamento, uma ação mental,
concebida de forma participativa, solidária, com possibilidades de legitimação e
superação da alienação docente. Ou seja, o projeto coletivo não se trata apenas da
soma dos projetos individuais de cada segmento da escola, mas, de um projeto
comum que tenha como intencionalidade a melhoria do processo de ensino e
aprendizagem.
Os professores (as) serão profissionais mais respeitados quando puderem explicar as razões de seus atos, os motivos pelos quais tomam umas decisões e não outras, quando ampararem suas ações na experiência depurada de seus colegas e quando souberem argumentar tudo isso numa linguagem além do senso comum, incorporando as tradições de pensamento que mais contribuíram para extrair o significado da realidade do ensino institucionalizado. (SACRISTÁN, 2000, p.11)
Quanto ao plano de trabalho docente, este significa a organização das ações
docentes no cotidiano da sala de aula, em consonância com os pressupostos
estabelecidos no projeto político-pedagógico. O não-envolvimento do docente na
elaboração do projeto, mesmo estando presente na instituição, ou a falta de
conhecimento sobre o mesmo por ter ingressado nesse espaço, após a sua
construção, faz com que a prática pedagógica aconteça dissociada do proposto pelo
coletivo da escola.
9 Ao dirigir o olhar para uma instituição escolar, seja ela pública ou privada, da
educação infantil ao ensino superior, constata-se a necessidade de elaboração de
um planejamento de ensino.
É possível identificar a presença do planejamento de ensino no conjunto das
concepções pedagógicas: Liberal e Progressista. A Pedagogia Liberal inicia-se com
a tendência Tradicional. Para Libâneo (1998), neste contexto, a transmissão da
cultura é feita a partir dos conteúdos acumulados historicamente pelo homem, num
processo cumulativo, sem reconstrução ou questionamento. Ao professor cabe
passar o conteúdo na forma de verdade absoluta. A aprendizagem se dá de forma
receptiva, automática, sem que seja necessário acionar as habilidades mentais do
aluno, além da memorização. Para tanto, lança-se mão do método intuitivo, baseado
na estimulação dos sentidos e na observação, enfatizando-se a assimilação passiva,
através da repetição e da exposição verbal. Este método, por sua vez, envolve cinco
passos, segundo Herbart: preparação do aluno; apresentação dos pontos-chave;
assimilação do conhecimento novo; generalização dos aspectos particulares aos
gerais e aplicação de exercícios. Na escola tradicional, o professor, à sua maneira,
elabora seu plano de aula e este ato resume-se na preparação das aulas a partir do
conteúdo que se quer transmitir.
No final do século XIX, como contraposição à Tendência Tradicional, surge o
movimento da pedagogia ativa. Na Tendência Escolanovista, segundo Libâneo
(1998), o método de ensino de Dewey solicita do professor o planejamento de
atividades adequadas à natureza do aluno e às etapas de seu desenvolvimento.
Este método caracteriza-se em cinco passos: colocar o aluno numa situação de
experiência; estimular a reflexão através do problema; dispor ao aluno instruções
para a pesquisa; o professor ajudar discretamente na descoberta de soluções e
seleção de uma solução para um problema prático de uma situação vivida pelo
aluno. O método promove a autoaprendizagem do aluno, ou seja, o ‘aprender a
aprender’.
Desenvolvendo-se no Brasil na década de 1950 e constituindo-se como
tendência na década de 1960, a Pedagogia Tecnicista, segundo Libâneo (1998), tem
como princípios a racionalidade, a eficiência, a produtividade e a neutralidade
científica. Observa-se, no âmbito educacional, enorme distância entre o
planejamento preparado por especialistas e não por professores. “O professor é um
10 administrador e executor do planejamento” (LIBÂNEO, 1994, p. 68). O planejamento,
neste caso, apresenta-se ligado à ideia de produtividade, devendo ser elaborado a
partir de uma orientação tecnicista e mecânica, envolvendo elementos tais como: o
diagnóstico; a definição de objetivos; a seleção de conteúdos (levando-se em
consideração os objetivos); as estratégias de ensino e a avaliação. A escola
desenvolve atividades parceladas e fragmentadas através de propostas sistêmicas
como o microensino, o tele-ensino, a instrução programada, siga o modelo, entre
outras. O método utilizado e a transmissão e recepção de informações submetem o
aluno a um processo de controle do comportamento, a fim de que os objetivos
operacionais previamente estabelecidos possam ser atingidos. Trata-se do
“aprender fazendo”.
Na metade da década de 1970, muitos estudiosos e pesquisadores na área
educacional passam a se preocupar com a elaboração de propostas que visam
tornar possível uma escola articulada com os interesses da população, constituindo-
se, portanto, o movimento Progressista. Uma vertente desta Pedagogia é a
Tendência Histórico-Crítica, delineada por Saviani. Para este educador, o método de
ensino é o método da prática social. Diferentemente do método de Herbart, da
pedagogia tradicional e do método de Dewey, pedagogia escolanovista, o método da
prática social tem como ponto de partida e de chegada, no processo de ensino, a
prática social.
O movimento que vai da síncrese (‘a visão caótica do todo’) à síntese (‘uma rica totalidade de determinações e de relações numerosas) ,pela mediação da análise (‘as abstrações e determinações mais amplas’) constitui uma orientação segura tanto para o processo de descoberta de novos conhecimentos (o método científico) como para o processo de transmissão-assimilação de conhecimentos (o método de ensino) (SAVIANI, 2005, p.74).
A realidade é o ponto fundamental do método da prática social. Neste, a
análise é conduzida pelo professor, porém, o aluno percorre com a atividade de seu
pensamento.
Estruturado na forma de momentos articulados, o ponto de partida é a
prática social inicial. O primeiro passo da ação docente em sala de aula é identificar
os conceitos espontâneos dos alunos por intermédio da prática social. O segundo
momento é a problematização. Este tem como objetivos questionar, analisar,
11 interrogar a prática social, abordando o conteúdo em suas diversas dimensões. O
terceiro momento, a instrumentalização, consiste em buscar as formas de superação
dos conceitos espontâneos pela utilização de ações didático-pedagógicas diretivas,
portanto, pensadas, planejadas para que a apropriação do conhecimento científico
historicamente acumulado aconteça. O quarto momento é a catarse. É fase em que
o aluno sistematiza o que aprendeu em relação aos conteúdos trabalhados nas
fases anteriores, através da elaboração de sínteses. O quinto momento é a prática
social final. Nesta etapa, todas as dimensões do conteúdo deverão ser retomadas
de forma consciente, na busca de uma nova forma de ação, em que são mostrados
as intenções e os compromissos sociais do aluno.
Gasparin (2007), ao estabelecer uma didática para a Pedagogia Histórico-
Crítica, destaca que o ponto de partida desse novo método não será a escola, nem a
sala de aula, mas a totalidade social e que a leitura dessa realidade, de forma
crítica, possibilita enunciar uma nova prática pedagógica. Esta prática pedagógica
toma como referencial o método dialético.
Essa metodologia dialética do conhecimento perpassa todo o trabalho docente-discente, estruturando e desenvolvendo o processo de construção do conhecimento escolar, tanto no que se refere à nova forma de o professor estudar e preparar os conteúdos e elaborar e executar seu projeto de ensino, como às respectivas ações dos alunos (GASPARIM, 2007, p.5).
Planejar, elaborar, executar e avaliar as ações docentes e discentes,
considerando-se os pressupostos da Pedagogia Histórico-Crítica, exige repensar a
formação do próprio professor.
O PROFESSOR: FORMAÇÃO E ATUAÇÃO
Estudos mais recentes a respeito do Curso de Formação de Professores,
Modalidade Normal, nível médio, revelam que a Lei 5692/71 estabeleceu um modelo
de educação voltado para o atendimento das demandas do mercado de trabalho,
nos moldes taylorista/fordista, conferindo ao Curso de Magistério condições
precárias para o exercício da docência e desqualificação significativa na formação
dos futuros professores.
12 A Lei 9394/96 retoma a aprendizagem como foco de preocupações e
confere especial destaque às novas incumbências dos professores, ampliando
legalmente o atendimento à criança. Quanto à legislação, esta preconiza uma
formação consistente e, sobretudo, a exigência de profissionais com formação
específica.
Em 2003, a Secretaria de Estado da Educação do Paraná, ao estruturar uma
proposta para o retorno da formação de professores em nível médio: Curso de
Formação de Docentes, da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino
Fundamental, em nível médio, na modalidade Normal, enfatiza que o currículo é
constituído de conhecimentos produzidos historicamente e, como tais, devem estar
presentes na formação dos professores em seu processo de escolarização.
Em razão disso, vale ressaltar que a Proposta de Adequação Curricular para
o Curso de Formação de Professores na Modalidade Normal do Estado do Paraná,
tendo como eixo: o trabalho como princípio educativo; a práxis como princípio
curricular; o direito da criança ao atendimento escolar considera que o professor é
fundamental nesse processo, quando compreende os vínculos de sua prática com a
prática social.
O professor tem o papel de mediador nesse contexto, ao instrumentalizar o
aluno com bases científicas. O conhecimento escolar passa a ser o núcleo
fundamental da sua práxis. “A formação do professor pressupõe o domínio dos
conteúdos que serão objetos do processo ensino-aprendizagem e, por outro, o
domínio das formas através das quais se realiza este processo” (SEED-PR, 2006).
Inserida na matriz curricular do Curso, a disciplina de Estágio
Supervisionado/Prática de Formação evidencia a necessidade de um trabalho
coletivo da instituição, articulado ao Projeto Político-Pedagógico, ou seja, todos os
professores responsáveis pela formação do educador deverão participar, em
diferentes níveis, da formação teórico-prática do seu aluno.
Ainda sobre essa questão, a ementa da referida disciplina, na 3ª série,
objetiva encaminhar os alunos ao espaço escolar, tendo como pressuposto que a
realidade não é fragmentada. Ou seja, o Estágio Supervisionado deverá garantir a
possibilidade ao aluno de vivenciar as práticas pedagógicas nas escolas. É nesse
espaço que o futuro professor desenvolve de fato a práxis profissional e elabora uma
prática educativa, a partir das teorias estudadas.
13 Para Pimenta (2004, p.39), “o reducionismo dos estágios às perspectivas da
prática instrumental e do criticismo expõe os problemas na formação profissional
docente”. Em razão disso, o professor da disciplina de Prática de Formação/Estágio
Supervisionado deve explicitar aos alunos, futuros professores, que o estágio é
teoria e prática (e não teoria ou prática), evitando o empobrecimento das práticas
nas escolas.
A perspectiva técnica no estágio gera um distanciamento da vida e do trabalho concreto que ocorre nas escolas, uma vez que as disciplinas que compõem os cursos de formação não estabelecem os nexos entre os conteúdos (teorias?) que desenvolvem e a realidade nos quais o ensino ocorre (PIMENTA; LIMA, 2001, p 39).
O estágio deve possibilitar ao aluno a compreensão da complexidade da
práxis educativa, preparando-o para a inserção no campo profissional, de forma
consciente e alicerçada nos fundamentos teóricos das disciplinas, cujo foco de
discussão é o processo dialético de desenvolvimento do homem historicamente
situado. Neste processo, a questão da articulação conteúdo/metodologia no plano
de trabalho docente que será efetivado nas escolas estagiadas, na prática de
formação, constitui o foco de reflexão.
PLANEJAMENTO DE ENSINO/PLANO DE TRABALHO DOCENTE:
ARTICULAÇÃO CONTEÚDO/METODOLOGIA
O planejar constitui uma ação consciente, tendo como referência o
contexto que envolve a escola e os diferentes segmentos que compõem o processo
ensino/aprendizagem. Isso leva a pensar que os momentos do planejamento, entre
eles, o conteúdo e a metodologia, carregam implicações sociais. “Os conteúdos (e,
no caso, os conteúdos escolares) não existem sem estarem informados por um
método, por uma visão com a qual se trata a realidade “(LUCKESI, 1990, p. 150).
De acordo com o dicionário Aurélio (1986), método significa caminho para
se chegar a um fim. Caminho pelo qual se atinge um objetivo. Ou seja, o método
torna-se o caminho racional para se descobrir a verdade ou resolver um problema.
Para Luckesi (1990), a origem da palavra método encontra-se em duas
palavras gregas: meta (=para) + odos (=caminho), ou seja, no seu sentido
14 etimológico, método significa caminho para se chegar a um determinado fim. Porém,
os fins a serem atingidos nos remetem a pelo menos duas perspectivas de
compreensão do método. Sob a ótica teórico-metodológica, significa um modo de se
abordar a realidade, seja para a produção de conhecimentos, seja para o
encaminhamento de ações. Sob a ótica técnico-metodológica, significa a definição
dos modos de se atingir resultados desejados, os objetivos definidos.
O professor deve ser o mediador no processo de ensino / aprendizagem, na
perspectiva de crescimento intelectual dos alunos. Em razão disso, deve propiciar
situações que colaborem para que o aluno aprenda de fato e possa intervir de forma
crítica na sociedade, definindo o método de trabalho e adotando metodologias
adequadas para que os objetivos propostos sejam atingidos.
Priorizar o desenvolvimento da autonomia intelectual, o domínio de diferentes
formas de linguagem, estabelecendo situações significativas de aprendizagem que
levem os alunos a se relacionar efetivamente com o conhecimento, constitui tarefa
docente, opções numa perspectiva crítica.
A opção pelo método, no plano de trabalho docente, a ser efetivado na
escola, não parte simplesmente de uma escolha pessoal, mas requer o
conhecimento do Projeto Político-Pedagógico da escola, uma vez que este, ao ser
pensado e elaborado pelos diferentes segmentos da instituição, contempla uma
corrente pedagógica. Se a instituição escolar fez a opção por trabalhar numa
perspectiva tradicional, ao professor basta apenas conhecer a matéria a ser
ensinada. No entanto, numa perspectiva crítica, educação e sociedade estão
articuladas. Partir da prática, teorizá-la e voltar à prática.
Como um dos mediadores sociais entre o universal da sociedade e o
particular do educando, o educador deve compreender a realidade
com a qual trabalha; ter clareza do comprometimento político de sua
ação e competência científica e técnica suficiente para desempenhá-
la. (SANTOS, 2005b. p.160)
O que se observa, no entanto, é que nem sempre o proposto, por não se ter
fundamentação teórica ou por não se conhecer o conteúdo contido no projeto da
instituição, é vivenciado no cotidiano escolar. Ao professor cabe conhecer o projeto
institucional e, a partir daí, pensar a sala de aula enquanto espaço possível para o
15 planejamento de ensino/plano de trabalho docente. Planejamento este que
considere os diferentes momentos, de forma articulada.
A tarefa de planejar constitui ação essencial para além de uma
concepção mecânica, tecnicista e burocrática.
A INTERVENÇÃO
A partir dos estudos efetuados e levando-se em consideração o contexto de
atuação, buscou-se analisar o projeto político-pedagógico, a prática do
planejamento/plano de trabalho docente e, neste, a possibilidade da articulação
conteúdo/metodologia.
Para o desenvolvimento da investigação, utilizando-se o enfoque qualitativo,
numa abordagem dialética, a sala de aula constituiu o campo de pesquisa.
A Unidade Didática, modalidade pedagógica escolhida, estruturada em
Momentos, porém, articulados entre si, propiciou a realização de leituras, discussões
e produção pelos sujeitos da pesquisa, no caso, 22 alunos do Curso de Formação
de Docentes, na modalidade Aproveitamento de Estudos, da disciplina de Prática de
Formação / Estágio Supervisionado, de um colégio da rede pública estadual, no ano
de 2009. Desses alunos, um do sexo masculino e 21 do sexo feminino, que já
concluíram o Ensino médio e estão cursando, hoje, o último ano do novo curso.
Desde o início, percebeu-se interesse pelo trabalho e todos se colocaram à
disposição para contribuir. Os sujeitos da pesquisa são identificados pela letra A e
um respectivo número, atribuído aleatoriamente.
O material coletado, a produção dos discentes, demonstra a seriedade com
que estes participaram da pesquisa e que têm olhos atentos e aproveitam a
oportunidade para evidenciar conhecimentos sobre o planejamento de ensino/plano
de trabalho docente.
Inicialmente, foi efetuada socialização do tema aos alunos, objetivando
conhecer a vivência dos mesmos quanto ao exercício do planejamento, bem como a
viabilidade do desenvolvimento das atividades.
No primeiro momento, a formação inicial de professores, contexto histórico,
legislação que regulamenta o referido curso, matriz curricular e as exigências que se
colocam ao professor hoje se fizeram presentes nas discussões. Contextualizou-se
16 o Curso de Formação de Professores, nível médio, aproveitamento de estudos,
enfatizando-se que a nova proposta, em vigência a partir de 2003, tem como eixos:
o trabalho como princípio educativo; a práxis como princípio curricular; e o direito da
criança ao atendimento escolar.
A partir dessas reflexões, tendo como apoio os recursos multimídia, propôs-
se uma atividade de aprofundamento que envolveu as Diretrizes Curriculares do
Curso de Formação de Docentes, na modalidade Aproveitamento de Estudos, e a
ementa da disciplina de Prática de Formação / Estágio Supervisionado.
A produção dos alunos constituiu registro do quanto consideram
fundamental ao docente a questão da formação inicial para que possa dar conta da
prática pedagógica, conforme registro de alguns deles.
É através desse conhecimento que obtemos o embasamento teórico para o planejamento de nossas aulas práticas. Na teoria parece ser tudo simples, mas quando entramos em sala nos deparamos com a realidade, que nem sempre é o idealizado por nós (A 21). [...] ensinar (dar aula) é coisa séria. [...] sem planejar e estudar muito não terá êxito (A 10).
Percebe-se, no primeiro momento, que os alunos demonstraram certa
inquietação em relação ao tema, mas, por outro lado, também apresentaram postura
crítica quanto à práxis educativa.
O segundo momento, previsto na Unidade Didática, trouxe para o centro das
discussões o projeto político-pedagógico e a necessidade do envolvimento dos
docentes na sua construção. Fez-se a análise do Projeto Político-Pedagógico da
instituição, campo de pesquisa, evidenciando ser este a identidade da escola. Um
projeto que deve ser construído coletivamente.
Quanto ao planejamento de ensino/plano de trabalho docente necessário se
faz pensá-lo com base no que foi proposto no projeto a fim de que se possa atingir
os objetivos: a produção e socialização do conhecimento. O não-envolvimento do
docente na elaboração do projeto, ou a falta de conhecimento, faz com que este
realize uma prática pedagógica dissociada do proposto pelo coletivo da escola. A
coerência entre as Diretrizes Curriculares e a Proposta Pedagógica da Escola deve
refletir–se no plano de Trabalho Docente.
17 Tendo como eixo a relação: Planejamento de Ensino/Plano de Trabalho
Docente e o Projeto Político-Pedagógico, solicitou-se aos alunos uma produção,
baseada no enunciado:
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB 9394/96, estabelece
em seu Art. 13, Inciso II, que caberá aos docentes: “elaborar e cumprir o plano de
trabalho, segundo a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino”. Diante de
tal exigência e, após estudos do Projeto Político-Pedagógico do colégio, enumere
situações do cotidiano de sala de aula, evidenciando a existência, ou não, de uma
relação entre os planejamentos de ensino/plano de trabalho docente e o referido
projeto institucional.
O tema proposto suscitou algumas reflexões, dentre elas:
Analisando os professores, podemos perceber que muitos têm dificuldades em planejar suas aulas de acordo com o PPP da escola (A 11 e A 18). Não sabem ensinar o que realmente precisamos e necessitamos, por serem muito tradicionais, a ponto de não se esforçarem, ou mesmo, por comodismo (A 18). [...] há educadores que trabalham de forma repetitiva, impedindo o crescimento do aluno e fugindo do proposto no PPP (A 15).
A dificuldade de alguns professores no desenvolvimento da prática
pedagógica fica evidenciada no registro acima, confirmando o que muitos
educadores/ pesquisadores, e esta docente/pesquisadora têm observado ao longo
da caminhada profissional: planejamento desvinculado da realidade social.
O estudo sobre planejamento nas diferentes concepções pedagógicas, da
Pedagogia Tradicional à Pedagogia Histórico-Crítica, constitui o conteúdo do terceiro
momento. Na busca de melhor compreensão das concepções pedagógicas, faz-se a
leitura e discussão do Capítulo Um: As teorias da educação e o problema da
marginalidade do livro: Escola e Democracia (SAVIANI, 2005, p. 03–34). Buscar
essa aproximação deve ser atitude constante do professor preocupado com um
processo ensino/aprendizagem fundamentado no conhecimento científico produzido
historicamente.
Nessa perspectiva as concepções pedagógicas estruturadas historicamente
e suas respectivas tendências constituem o eixo para se pensar o planejamento de
18 ensino. Na sequência, propôs-se aos alunos uma reflexão sobre as concepções
pedagógicas que identificasse a concepção que fundamenta o Projeto Político-
Pedagógico da sua escola e, consequentemente, o planejamento de ensino/plano de
trabalho docente.
Durante o encontro, os alunos debateram, fizeram perguntas e se
posicionaram sobre a concepção pedagógica, pressuposto filosófico/sociológico que
norteia o Projeto Político Pedagógico da Instituição, campo da presente pesquisa,
identificando-a no texto do documento.
É a Histórico-Crítica, porque tem como objetivo levar os alunos a serem seres pensantes, críticos, questionadores. [...] capazes de transformar a sociedade com ações pensadas, planejadas para que a apropriação do conhecimento científico aconteça (A 8). Trata-se da pedagogia Histórico-Crítica, onde se entende que o plano de Trabalho Docente deve ser baseado na análise da realidade, contextualizando todos os seus aspectos (A 15). Dentro da concepção Histórico-Crítica podemos pontuar o objetivo da Instituição que é o de transformar o indivíduo dentro da sociedade, tendo este uma visão crítica (A 12). Nesta concepção o professor deve vincular teoria e prática a partir da realidade do aluno (A 20).
Nesse momento da caminhada, percebe-se, com muita propriedade, que o
trabalho vem instigando os alunos a pensarem sobre o proposto pelos diferentes
segmentos da instituição quando da elaboração do documento e o plano de trabalho
docente. Plano este, pensado enquanto processo de intervenção na realidade.
Delineou-se, no quarto momento, a questão da articulação conteúdo /
metodologia, eixo central de discussão neste estudo. A problemática sobre o
planejamento de ensino remete à questão do método, que será utilizado pelo
educando / futuro professor ao elaborar o plano de trabalho docente a ser efetivado
nas escolas estagiadas. Ou seja, a escolha do método requer o conhecimento das
teorias pedagógicas para que se possa elaborar um planejamento organizado e
coerente com o proposto no Projeto da escola. Buscando uma compreensão crítica
sobre método: sentido e significado, os alunos efetuaram leitura e discussão do
19 Capítulo Nove: Procedimentos de Ensino do livro: Filosofia da Educação (LUCKESI,
1990, p.147-159).
Ao final do encontro, propôs-se repensar o método: critérios a serem
utilizados pelo professor a fim de que o método de ensino proposto perpasse o
planejamento, da elaboração à avaliação. A atividade instigou reflexões, tais como:
[...] em primeiro lugar deve conhecer o Projeto Político Pedagógico da Escola (A 18). Os principais critérios são: rever o PPP da Escola; ler sobre as Diretrizes Curriculares; reestruturar o seu planejamento [...]; analisar sua metodologia fundamentada teoricamente (A 9). Conhecer o PPP da escola; estudar a realidade da sala de aula; ter uma boa fundamentação teórica; ter um bom conhecimento; buscar teorias (A 1).
O projeto é um instrumento norteador da ação educativa da escola em sua
totalidade. Uma vez construído, define os critérios para a seleção dos conteúdos e a
metodologia, o que fica evidenciado nas reflexões dos alunos.
Ao observar a prática pedagógica, percebem-se, na maioria das vezes,
lacunas na elaboração, execução e avaliação do planejamento de ensino/plano de
trabalho docente, ou seja, ausência de articulação com o contexto escolar. Não há
relação deste com o projeto político-pedagógico da escola. Nesse sentido, conhecer
o projeto institucional e a proposta pedagógica constitui tarefa fundamental de todo
educador ao iniciar a construção de seu planejamento/plano de trabalho docente.
A possibilidade de construção do planejamento numa perspectiva crítica,
partindo da prática social e retornando à prática social, constitui o foco do quinto
momento.
A “Arte de Planejar” implica posicionamento e decisão. De posse de alguns
planos de trabalho docente, já efetivados, no cotidiano da sala de aula, à luz do
referencial teórico: Uma didática para a Pedagogia Histórico-Crítica. (GASPARIN,
2007, p 01-11), solicitou-se aos alunos que identificassem a concepção pedagógica
nos planos e a relação destes com o Projeto Político-Pedagógico. Nos relatos
abaixo, observa-se claramente a leitura dos discentes quanto à questão.
20
Com a análise, pude perceber que os professores são muito diferentes, pois um tem sua metodologia tradicional, onde o professor detém o conhecimento pleno e passa a seu aluno sem sequer saber o que ele pensa. O outro é inovador, trazendo para sua aula vários tipos de estratégias, contextualiza, exemplifica, fazendo com que seu aluno questione, busque, pesquise, se interesse pelo seu aprendizado, que seja mais prazeroso e significativo (A 14). No primeiro planejamento [...] percebo um professor que se mantém ao ensino tradicional [...] uma aula expositiva. Sua metodologia não apresenta uma prática social inicial. Nesta aula o aluno não pensa, apenas recebe informações pautadas pelo professor. Já, no outro, [...] a metodologia é abrangente, apresenta diferentes recursos, contextualiza e leva o aluno à reflexão [...] interage com o aluno e o mesmo participa da aula com seus conhecimentos prévios. O aluno adquire estímulo para aprender (A 21). No primeiro, podemos constatar uma concepção tradicional. [...] aulas expositivas, sem contextualização e utilização de poucos recursos. O aluno não é instigado a buscar novas fontes de aprendizado. [...] não há uma relação dialética. No segundo, o professor amplia a metodologia, contextualiza e trabalha de forma interdisciplinar. [...] utiliza várias técnicas e diversos recursos, possibilitando ao aluno novas experimentações. Num processo dinâmico, o professor coloca o aluno frente à realidade (A 11).
A atividade proporcionou momentos de descoberta e reconhecimento das
teorias estudadas no transcorrer das aulas, bem como da necessidade de um
posicionamento crítico frente à práxis educativa.
Para fechar a Unidade, aos alunos foram propostas dinâmicas de construção
do planejamento, constituindo-se o sexto momento. Ressaltou-se aos futuros
educadores a necessidade de uma fundamentação, respaldada por uma teoria
crítica que os capacitassem a atuar no cotidiano escolar e, em especial, no espaço
da sala de aula, com segurança. Após a elaboração do planejamento/plano de
trabalho docente tendo por base o referencial teórico-metodológico estudado,
solicitou-se a esses educandos, futuros educadores que relacionassem os passos
principais na elaboração do Plano de Trabalho Docente, bem como a importância da
articulação conteúdo/metodologia nesse processo, numa perspectiva histórico-
crítica.
Em primeiro lugar, o professor deve conhecer a concepção pedagógica da escola e o PPP; deve conhecer seus alunos para melhor adequar sua prática docente; adequar sua metodologia com os conteúdos, contemplando as necessidades de aprendizagem de seus
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alunos, de forma clara e contextualizada; elaborar seu planejamento de forma flexível (A 11). Primeiramente o professor deve conhecer a concepção pedagógica que a escola segue; ter conhecimento do conteúdo que a irá aplicar; analisar e fazer a articulação do conteúdo com a metodologia; Qual o meu objetivo? O que eu quero que meu aluno compreenda? Como vou alcançar esses objetivos? A partir desses questionamentos, escolher método que contextualize a realidade dos alunos. Ao aplicar o planejamento, o professor deve ter consciência que de que ele é flexível e sujeito a mudanças (A 20).
A oportunidade de elaboração de Planos de Trabalho Docente
fundamentado na teoria estudada, no transcorrer do projeto de implementação, foi
de suma importância, principalmente porque os alunos puderam vivenciar o
processo de construção numa perspectiva crítica. O projeto não para por aqui.
Considerando que o eixo principal da disciplina de Estágio Supervisionado é a Ação
Docente, os estagiários deverão elaborar muitos Planos de Trabalho Docente para
efetivação nas escolas estagiadas.
Na última etapa da implementação na escola, solicitou-se aos futuros
educadores que pontuassem as contribuições do projeto “A arte de planejar:
articulação conteúdo/metodologia”, quanto à postura enquanto professor (plano de
trabalho docente), como também a relevância dos temas abordados para a melhoria
do processo ensino/aprendizagem e, consequentemente, da qualidade da educação
escolar.
Adquiri muitos conhecimentos e tive compreensão da práxis educativa. [...] passei a olhar a escola como um todo. [...] o professor deve ser o mediador no processo de ensino e aprendizagem, na perspectiva de crescimento intelectual dos alunos. Ou seja, deve propiciar situações, nas quais o aluno aprenda de fato e possa intervir de forma crítica na sociedade (A 8). É de suma importância um professor ter um plano de trabalho coerente à proposta da sua escola (A1). [...] concluí que esse projeto é fundamental para nossa vida enquanto educador. [...] devemos dar importância a coerência entre o método e o conteúdo a ser trabalhado; devemos conhecer as diferentes concepções pedagógicas; [...] ter domínio dos conteúdos que serão objetos do processo de ensino e aprendizagem. Assim, a melhoria da educação se dará quando formarmos alunos que irão à busca de informações, reflitam[sic] sobre elas, tornando-se críticos e transformadores na sociedade em que vivem (A 2).
22
Este projeto veio elucidar muitas dificuldades que encontrei no início do curso. Muitos termos eram utilizados, mas não faziam sentido. Falávamos, fazíamos sem saber o porquê e para quê[sic] devíamos planejar uma aula. Aprendi que todo planejamento tem uma intenção. Que todo planejamento deve estar pautado na teoria pedagógica definida pela escola. O aluno deste curso necessita desses conhecimentos. O que temos é muito fragmentado. Nestes termos, teríamos profissionais melhor preparados, transformadores, instigadores e críticos, geradores de ideias, capazes de mudar a sua história (A 21). Com o projeto A Arte de Planejar: Articulação conteúdo/metodologia, o grupo, de um modo geral, se apropriou de um conhecimento que até o presente momento não havia ocorrido. [...] nos levou a refletir de forma diferenciada sobre o que é realmente planejar. Compreender as teorias é essencial para que o professor possa decidir para que planejar, para quem planejar, o que alcançar e de que forma alcançar. Numa pedagogia Histórico-Crítica é essencial colocar a prática social como ponto de partida e de chegada do processo de ensino. Hoje posso dizer que sei o porquê do planejamento, [...] é uma ação crítica sobre as teorias e o conteúdo a ser aplicado (A 12).
Os alunos enfatizaram as contribuições que o trabalho trouxe para a
formação profissional e para a prática educativa a ser efetivada nas escolas
estagiadas.
Nas palavras da Equipe Pedagógica é possível fazer a leitura do que o
trabalho propiciou aos alunos.
Com esta atividade ficou muito claro para quem acompanhou o Projeto da Professora PDE, que os futuros educadores, agora, têm um “norte” para desenvolver o Plano de Trabalho Docente quando se tornarem profissionais. Estes sim poderão ser professores críticos, sabendo definir melhor o terreno [sic] que estão pisando e, principalmente para onde querem ir.
Ao longo da caminhada, todo educador deve assumir o planejamento como
ação pedagógica crítica, oportunizando aos alunos a (re) elaboração dos conteúdos
e a produção de novos conhecimentos.
Numa perspectiva Histórico-Crítica, o planejamento será construído pelo
professor na perspectiva de que o aluno possa ultrapassar suas necessidades,
compreender a realidade social, bem como sua própria existência.
23 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A implementação do Projeto possibilitou pensar sobre a necessidade de
organização prévia das atividades de sala de aula, bem como a articulação
conteúdo/metodologia. Quanto ao aluno, futuro professor, foi fundamental a
oportunidade de compreensão dos vínculos da prática pedagógica com a prática
social e que o método de ensino constitui elemento fundamental para organizar o
caminho a ser percorrido pela ação pedagógica. O método não significa pretexto
para a ação didática, mas instrumental teórico-prático que proporciona a apropriação
dos elementos culturais.
A leitura e análise de planos de trabalho docente efetivados no cotidiano da
instituição escolar constituíram, sem sombra de dúvida, o ponto culminante do
projeto de implementação. Os discentes constataram uma distância entre a teoria
que fundamenta o Projeto Político Pedagógico e o registrado no cotidiano escolar,
desacertos entre concepção e execução. Uma dicotomia entre o estruturado e o
executado. A ausência de entendimento por parte de alguns professores sobre a
importância de um planejamento que, de fato, represente a prática de sala de aula
que não seja baseada no espontaneísmo.
Uma alternativa para que tal postura aconteça está na fundamentação teórica,
bem como na leitura de documentos propostos pela instituição: projeto da escola e
planos de trabalho elaborados por professores, na perspectiva de identificação da
base teórico-filosófica que os sustentam.
A relação teoria/prática trabalhada com os discentes, colocando-os numa
dinâmica de planejamento, possibilitou não somente que recorressem aos estudos
efetuados, bem como demonstrassem capacidade de elaborar um planejamento de
forma crítica e criativa, articulando todos os momentos com o projeto institucional.
Aprender a planejar precisa acontecer muito antes de se ingressar em uma
sala de aula. Teoria e prática são elementos que devem ser trabalhados de forma
integrada e indissociável. Realmente, não há como se elaborar um plano de trabalho
docente sem conhecimento das concepções pedagógicas e seus pressupostos
teóricos. Pressupostos estes, filosóficos, epistemológicos e metodológicos,
presentes no projeto político pedagógico da escola na qual se trabalha.
24 É preciso repensar a escola, reorganizá-la. Esta prática deve ter como
fundamento um planejamento/plano de trabalho docente que possa superar a atual
concepção e prática pedagógica presentes no cotidiano escolar. A fundamentação,
respaldada por uma teoria crítica, capacita os docentes a atuarem no cotidiano
escolar e, em especial, no espaço da sala de aula, com segurança.
Capacidade criadora, criativa e investigativa são características fundamentais
ao educador para que possa desenvolver uma prática docente coerente com o
planejado. Ao docente não basta apenas cumprir mecanicamente o proposto no
planejamento / plano de trabalho docente, mas contribuir, interagir, adquirir e
produzir o conhecimento, comprometido com um projeto político, social e
pedagógico de qualidade, caminhos para a democratização da escola pública.
Considera-se, finalmente, que se o planejamento escolar for reconhecido
como instrumento essencial na organização, reflexão e reestruturação do trabalho
educativo, os professores, ao elaborarem o Plano de Trabalho Docente, assumirão
postura coerente à teoria presente no projeto institucional e que fundamenta o
processo de ensino / aprendizagem.
Preparar o futuro docente para o exercício da prática pedagógica, entendendo
os princípios que a fundamentam e, através do planejamento de ensino/plano de
trabalho docente, transformar suas ações no espaço de sala de aula constitui a
contribuição. “Planejar é uma Arte” e o Planejamento/Plano de Trabalho Docente
não deve ser considerado apenas um detalhe, mas sim a alma do processo
educativo.
REFERÊNCIAS
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