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7/29/2019 A ARTE NO PROCESSO DE CONSTRUO DA PESQUISA ACADEMICA
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A ARTE NO PROCESSO DE CONSTRUO DA PESQUISAACADMICA
Vincius Souza de Azevedo - USP
RESUMO
Este artigo descreve a construo de uma pesquisa de Ps-graduao em nvelStricto Sensu, em que os processos e procedimentos artsticos foram o principalmeio. Utilizando tcnicas de desenho, colagem, bordado e escultura, diversosconceitos e dados da realidade da pesquisa foram articulados para a elaborao dadissertao. A vivncia dos elementos da arte, tais como, imaginao criadora,explorao de materiais plsticos e visuais, pensamento tcito e esttico, propiciouuma aproximao especial ao trabalho, reafirmando a importncia da arte noprocesso de construo de conhecimento, particularmente no campo acadmico.
Palavras-chave: Pesquisa, Arte, Criatividade, Educao.
ABSTRACT
This article describes the construction of a stricto sensu postgraduateresearch in which the artistic process and procedures were the major means.Various concepts and data collected from a practical experience were articulatedusing drawning tecniques, collage, embroidery and sculpture to achieve the
dissertation. The experience with artistic procedures such as the creative imaginationand exploration of plastic and visual materials, as well as intuitive and aesthetic
thought, gave the work a specific approach and was crucial to argue for theimportance of art in the construction of knowledge, especially in the academic field.
Key words: Searching, Art, Creativity, Education.
Durante a realizao da minha pesquisa para obteno do Mestrado
realizei uma srie de aes de carter esttico com o objetivo de clarear meu
objeto de pesquisa e delinear meu campo de trabalho para a dissertao.Estas aes estiveram o tempo todo referenciados na pesquisa acadmica,
sendo este o seu foco central, numa juno coerente entre arte e
conhecimento. O presente artigo tem como proposta a descrio deste
processo, de maneira a compartilhar esta experincia, alm de propor
reflexes acerca desta forma de construir conhecimentos.
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O ttulo da minha dissertao A aprendizagem significativa e a
narrao de estrias1 tradicionais: experincias estticas em escolas pblicas
na favela da Mar e fala sobre a importncia da presena da arte, por meio
da narrao de estrias, no cotidiano escolar. O substrato da pesquisa foi
uma experincia que realizei como narrador de estrias em duas escolas
pblicas na favela da Mar, no Rio de Janeiro. Este trabalho faz parte das
aes do Programa Criana na Mar, realizado pela REDES da Mar em 9
escolas pblicas da localidade2.
O ponto de partida da pesquisa aconteceu durante uma das disciplinas
(A arte da narrativa na formao do educador artista, ministrada pela Prof
Dr Regina Machado), cursada no 1 semestre do curso (maro de 2009).Logo no primeiro encontro, a docente solicitou que elaborssemos um quadro
de perguntas sobre nossa pesquisa, elegssemos a pergunta central e
expressssemos essa pergunta por meio de uma imagem, utilizando caneta
e papel. Trata-se de uma tcnica elaborada por ela, denominada Tiro ao
alvo, que parte exatamente deste princpio: a elaborao de perguntas de
forma plstica, por meio de desenhos3.
Minha pergunta central foi o que se aprende e o que se ensina ao
ouvir estrias?. Para expressar os contedos da pergunta, desenhei uma
imagem bem simples, em que um narrador estava diante de um grupo de
crianas, numa sala de aulas.
Neste mesmo encontro fizemos uma apreciao coletiva do desenho
de cada um e, a partir deste dia, cada um deveria conduzir seu tiro ao alvo
da forma e no ritmo que lhe fosse mais conveniente.
1 Na dissertao, fiz a opo pela grafia tradicional estrias para designar todo o tipo denarrativas de carter ficcional, em distino histria que designa os fatos e acontecimentos reais.Mantenho a grafia no artigo.
2 A dissertao est disponvel em...
3 A docente descreve a ideia do tiro ao alvo em sua tese de doutoramento Arte Educao e oconto de tradio oral: Elementos para uma pedagogia do imaginrio (p. 324).
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Figura 1 - A sala de aula
Ao comentar o meu desenho, chamou-me ateno a ideia que uma
pessoa teve de que o adulto estava maior do que as crianas, revelando uma
certa hierarquia. Alm deste, outros comentrios foram feitos e, ao refazer o
desenho, coloquei o narrador numa posio central, porm buscando uma
relao que no fosse hierrquica. Alm disso, cada criana recebeu uma
forma diferente, caracterizando suas peculiaridades e elas foram dispostas
sobre uma difana pauta musical, enquanto o narrador assumiu a postura
corporal de um maestro, que apontava para uma porta aberta, na qual se
podem ver faixas com as cores do arco-ris. Ao lado da porta, uma janela
panormica, com uma bela paisagem, onde se pode ver um caminho que
parece sair da porta e rumar em direo a uma floresta ao longe.
Figura 2 - Sala de aula com porta e janela
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Esta janela estava presente no primeiro desenho, mas quase como
uma decorao. Alis, mais parecia um quadro abstrato do que uma janela.
No segundo desenho, ela no s aparece bem definida, como a parte mais
bem definida do desenho, juntamente com a porta, onde o espectador mais
pousa os olhos, pois tudo parece levar a elas. A porta no aparece no
primeiro e sua apario est diretamente ligada importncia que a janela
passa a ter no desenho.
Na aula seguinte, dentre diversos contedos, conversamos sobre a
dificuldade de professores e alunos lidarem com o erro e como a sala de aula
tem sido um lugar de certezas, em vez de se caracterizar como um espao
de dvidas, de pesquisas e experimentaes. Neste momento, dei-me contade que estava procurando o meu alvo no lugar das certezas, pois o desenho
estava ambientado na sala de aula. Fiz uma relao imediata com um trecho
do livro Acordais (MACHADO, 2004, p. 27), em que a autora relaciona a
subjetividade com uma grande floresta e que no cotidiano normal, o indivduo
acessa apenas as rvores mais perifricas de sua floresta, nunca
alcanando as rvores mais profundas da parte mais densa e que as estrias
tradicionais e a prpria arte tm o poder de permitir ao sujeito tocar essasrvores. A partir da, estava claro que eu precisava penetrar essa floresta (a
que aparecia na janela da sala, no desenho) e empreender uma busca das
minhas perguntas nesse campo.
Para materializar essa imagem, fiz uma colagem utilizando uma
ilustrao em preto e branco de um narrador em alguma tribo de algum lugar
do mundo, em que parecem todos estar numa floresta e o narrador ocupa um
lugar central e todos permanecem sentados em sua volta. Alguns parecem
assustados, outros riem, outros prestam ateno com seriedade. Em volta
desta ilustrao, desenhei uma grande e colorida floresta, com um caminho
no centro feito com as faixas do arco-ris.
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Figura 3 - A floresta
Pronto, eu estava no meio da floresta, lugar obscuro e ao mesmo
tempo atraente, para voltar a me perguntar: o que se aprende e o que se
ensina ao ouvir estrias?
Ao realizar o terceiro desenho, deparei com um desafio, pois fiz um
movimento muito brusco, que me levava para um lugar, como disse,
incmodo e fascinante. Para onde ir agora?
J que o que me levou a este lugar foi um movimento de aprofundar,
resolvi continuar aprofundando: como num zoom na imagem, mergulhei
dentro da roda do narrador, buscando uma sntese visual do que acontecia ali
dentro. Da surgiu o smbolo da espiral: partindo do narrador e envolvendo
cada um dos participantes da roda, enxerguei uma espiral, contendo eligando todos eles. Ao raciocinar sobre o desenho, cheguei concluso que
o incio da espiral no o narrador, pois ele prprio vem de uma espiral de
volta maior, que comea l nos seus antepassados. Neste momento, a
pergunta inicial sofreu uma pequena, mas significativa modificao, pois
passei a pensar na experincia do narrador ao narrar e o que ele tambm
pode aprender ao contar uma estria. A pergunta ento passou a ser: O que
se aprende e o que se ensina quando se ouve e quando se contaestrias?
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Figura 4 - A espiral do narrador
Em paralelo a este movimento, estava acontecendo uma outra
disciplina (Professores de arte: formao e prtica educativa, ministrada
pela Prof. Dr. Sumaya Moraes), em que discutamos o sentido para cada
um de aprender e ensinar arte. No desenrolar da disciplina, formulamos uma
pequena expresso, com frases e palavras, sobre nossas trajetrias como
indivduos (nossas experincias formativas) e sobre o significado de ensinar
arte para cada um de ns. Para encaminhar a continuao do trabalho na
disciplina, a docente solicitou um desenho que materializasse essa
formulao e nos apresentou um pequeno pedao de pano para realiz-lo. A
partir de minha experincia com bordados em miangas, preparei um
desenho bordando no centro do pano pequenos fios de contas, com coraes
nas pontas, simbolizando cada um dos alunos do curso, tendo a docente no
centro e de onde sai uma espiral dourada, que se desenvolve por todo o
pano at sair dele, quando comea a formar a borda do prprio pano,
contornando o espao onde os coraes se encontram e a espiral aparece.
As palavras que escrevi para significar o ensino da arte para mim foram:
Encontro com o outro / Ensinar e aprender com o outro / Crescer /
Pertencimento / Satisfao.
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Figura 5 - Bordado da espiral
Importante marcar que o bordado foi feito no mesmo dia, praticamente,
que o desenho da roda do narrador e que os dois guardam uma ntima
relao. como se o desenho fosse um zoom de aproximao e o bordadoum zoom de afastamento no sentido ascendente, quer dizer, como se o
bordado fosse um viso area do desenho. Uma viso area que tambm
expressa as relaes subjetivas inerentes ao encontro que acontece ali.
A realizao do bordado ao mesmo tempo que fazia o desenho foi
uma experincia fundante, que me proporcionou um olhar especial para o
trabalho da minha pesquisa, pois representou uma apropriao poetica do
meu projeto, radicalizando a experincia proposta pela atividade do tiro ao
alvo. A realizao desses trabalhos foi fruto de um processo criativo em que
estavam em jogo, tanto os contedos desenvolvidos nas disciplinas, quanto a
proposio que eu fazia para a pesquisa, alm claro do meu envolvimento
com isso tudo, num verdadeiro processo artstico.
Paralelamente, por sugesto da orientadora, havia iniciado a
elaborao de uma sequncia em que fosse possvel a visualizao dodesencadeamento da minha pesquisa, partindo do mesmo raciocnio que ela
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adota para o entendimento das estrias: elas se desenrolam como um trem,
onde cada vago puxado por outro e todos eles surgem a partir de uma
locomotiva que abre e desencadeia o trem todo (MACHADO, 2004, p. 44). Ao
mesmo tempo, tambm por sugesto dela, comecei a elaborar um cabedal
de perguntas relacionadas proposio da dissertao e que traziam
questes que eu gostaria de abordar. Desta forma, desenhei uma espiral, em
que cada vago era formado por um tema, indicado pela construo do trem
e depois recheado com as perguntas que foram organizadas de acordo com
cada tema.
Figura 6 - Trem da pesquisa.
Em que O espao significativo de ensino-aprendizagem a
locomotiva, seguida de Atividade esttica, depois Arte no cotidiano
escolar, e Estrias tradicionais, depois Narrao de estrias, seguido de
Escolas condicionadas e condicionantes e Subjetividade de professores e
alunos.
No houve preocupaes com certo ou errado, mas com
parecenas, intimidades, aproximaes, afastamentos. Meu objetivo era,
primordialmente, aprender a perguntar e relacionar este movimento com a
construo de um trabalho de pesquisa.
Passado algum tempo, j cursando outras disciplinas (Arte-educao
e Museologia: Introduo ao Estudo da Apreciao Esttica em Exposies,
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ministrada pela Prof. Dr. Maria Chsritina Rizzi e Ensino, Cotidiano Escolar,
Cultura e suas Representaes, ministrada pela Prof. Dr. Sonia Teresinha
Penin), elaborei um novo trem para a pesquisa, que tivesse mais a ver com
as experincias que havia empreendido at ento. Neste novo trem, a
orientadora sugeriu que eu comeasse a definir campos de interesse dentro
de cada vago e que eu elaborasse um mapa que demonstrasse o territrio
por onde pretendo passar com o trem.
Definidos os novos vages (A estria resolve algo dentro de mim,
Subjetividade de professores e alunos, A arte de narrar, Estrias,
Caractersticas da escola, Arte no cotidiano escolar), comecei a pensar
como eles se relacionavam no espao e como eles se desenrolavam nele.Novamente, a espiral apareceu com muita fora e no houve muitas dvidas
em me utilizar desta forma para definir o campo espacial de desenvolvimento
dos vages e deles no espao.
Figura 7 - Mapa e trem da pesquisa.
A elaborao deste novo trem foi outra experincia esttica
interessante, pois vivenciei o trabalho do processo criativo novamente,
utilizando de movimentos muito ligados criao artstica para construir o
mapa.
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Ao rechear os vages e elaborar um conceito-chave inicial (a histria
resolve algo dentro de mim e de quem ouve), vrias relaes foram surgindo
entre os diversos conceitos, ideias e campos de conhecimento assinalados.
A histria resolve algo dentro de mim tem uma relao com Arte no
cotidiano escolar e Subjetividade de professores, alunos e narradores;
Arte no cotidiano escolar, por sua vez, se relaciona com A arte de narrar.
Para alm da linha da espiral, ento, desenhei linhas que demonstrassem
estas relaes, e cheguei a um novo desenho, cuja forma bsica eram essas
linhas. Articulei, ento, essa forma com duas outras que surgiram durante o
processo a espiral e o infinito (). A espiral como trajetria dentro da
paisagem da minha pesquisa. O infinito como sntese das relaes
complexas entre ensinar-aprender-contar-ouvir.
Ensinar Contar
Aprender Ouvir
Onde ensinarest para aprender, assim como contarest para ouvir.
Ao mesmo tempo, ensinar e contar guardam uma ntima relao, como
tambm aprendere ouvir. Porm, esta relao no se d de forma estanque,pelo contrrio, os elementos se dialetizam ao mesmo tempo que se
contrapem, gerando uma relao complexa (MORIN, 1977, p.?). Ento,
aprender e contar tambm se relacionam, porque posso aprender quando
conto uma histria e ouvir e ensinar precisam ser caractersticas do mesmo
ato, de forma a garantir uma verdadeira prtica educativa baseada no
dilogo, que se manifesta tanto para o narrador quanto para a audincia
(tambm para professor e aluno). E nesta relao complexa que se d asignificao do ensino-aprendizado pela narrao de estrias. Sendo assim,
fazendo ligaes entre estes nomes, surgiu o smbolo do infinito: um arco que
liga ensinar e aprender, outro arco que liga contar e ouvir e ainda um X que
liga ensinar e ouvir, aprender e contar.
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Figura 8 - Articulaes plsticas do mapa e do trem.
Estas reflexes foram o substrato que alimentaram o processo criativo
do mapa da pesquisa, proposto pela orientadora. Relacionando os quatro
elementos (ensinar, aprender, ouvir e contar) aos vages do trem que eu j
havia desenhado e complementando com o conceito-chave e com a arte
como espao significativo, constru um desenho, uma estrutura formal, de
carter esttico, que indica a dinmica da dissertao, alm de fornecer
subsdios para a realizao da pesquisa.
Figura 9 - Diagrama sntese.
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Onde: P Pergunta-chave
E Escola e cotidiano
S Subjetividade de alunos, professores e narradores
H Histrias tradicionais
N A arte da narrativa
A Arte como campo de conhecimento
Este diagrama sofreu novas interferncias quando da qualificao do
projeto. Segundo a banca, seu carter tridimensional era inerente e deveriaser explorado, em uma continuao do trabalho.
Seguindo esta orientao, realizei alguns estudos tridimensionais,
construindo a forma do diagrama no espao, o que me trouxe novas
reflexes. Experimentei o vime, um material orgnico, muito utilizado na
fabricao de mveis, mas que no correspondeu s necessidades do
estudo, pois no teve elasticidade suficiente para a construo da figura.
Depois tentei o arame, um material muito propcio ao experimento por ser
bastante malevel. Pensei ainda em utilizar sucata para a construo do
diagrama, porm as experincias com arame me trouxeram algumas
reflexes que me satisfizeram no mbito da pesquisa.
A dificuldade em fazer a espiral no arame, por exemplo, chamou-me
ateno para a sua delicadeza. O arame mostrava-se para mim com
caracterstica, ao mesmo tempo, forte e delicada. Traduzi, na mesma hora,para o espao de significao que as estrias proporcionam. Forte e
delicado, porm no se pode usar a fora para manter a delicadeza, pois,
assim, ela se desfaz. A fora est nela por si mesma e a alcanamos por
meio da delicadeza. ao contrrio! Quer dizer, no se consegue espao de
ensino-aprendizagem significativo (delicado) com fora, mas sim alcanamos
a fora deste espao com a delicadeza.
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Observei isso na construo da espiral. O arame no me obedecia,
ele fazia o que queria, aquilo que sua natureza ordenava. Meu papel era
ouvir4 esta natureza e, numa atitude delicada, sugerir possveis caminhos a
seguir, caminhos onde pudssemos nos encontrar, num movimento
satisfatrio para ambos. Para mim, o lugar onde os significados
expressassem algo que eu queria dizer, que achava importante ficar marcado
para a abertura de novas possibilidades para o outro. Para o arame, a
assuno de uma forma que o tornasse menos linear, opaco e superficial.
O resultado foi uma espiral que no acontece dentro dos princpios da
Geometria Descritiva (visto que no obedece s leis de construo da
espiral), mas que expressam o encontro de duas vontades. Mas, afinal decontas, qual mesmo o objetivo da educao? Impor as leis e os princpios
de uma cincia, ou possibilitar novos encontros com a realidade? No fazia
parte da proposta do estudo um mergulho nos fundamentos da educao na
contemporaneidade, porm, ao se pensar na construo de um espao
significativo de ensino-aprendizagem, necessrio o questionamento de
algumas contradies presentes na escola hoje em dia. Um deles
justamente o acmulo e supervalorizao de um conhecimentoenciclopdico em detrimento formao do sujeito voltada mais para a sua
relao com a vida e sua capacidade de no s apreender, mas tambm
construir conhecimentos.
Ainda dentro desta reflexo, e a partir de questes levantadas tambm
pela banca de qualificao, a dinmica do diagrama me fez pensar que no
tenho que forar a entrada de temas em sua estrutura. Se cheguei ideia do
infinito pensando na relao complexa entre ensinar-aprender-contar-ouvir,
ento estes so os elementos do diagrama.
No posso deixar de pensar na espiral: retorno ao comeo, porm o
percurso enriquece o processo de tal forma que percebo o caminho um nvel
acima do ponto de partida.
4 As palavras indicadas entre aspas dizem respeito metfora de um dilogo imaginado entreeu e o arame, no processo de construo do trabalho.
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Figura 10 - Diagrama em 3D.
O processo acima descrito foi o ponto de partida para a construo da
dissertao. Da vieram as pesquisas de campo, a pesquisa bibliogrfica, a
elaborao do sumrio e dos textos que compem o trabalho. Meu alvo
possibilitou um foco direto no objeto de pesquisa e delineou de forma quase
natural o percurso que tomaria a partir de ento. Mergulhar no campo da arte
para realizar o trabalho, utilizando de processos, procedimentos, princpios e
elementos deste campo foi a prpria vivncia da aprendizagem significativa
por meio da arte, uma coerncia mpar no processo como um todo, alm de
um enorme prazer em realizar o estudo.
Minha experincia com a tcnica de tiro ao alvo representou a
vivncia da arte como fundamento do conhecimento, consolidando o meu
entendimento acerca das possibilidades e da importncia da arte na
formao do sujeito. Representou, principalmente, uma experincia esttica
com o processo do curso de Ps-graduao, proporcionando-me muito mais
do que um ttulo de mestre, mas a ampliao de meus horizontes comoartista e educador.
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Vincius Souza de Azevedo
Mestre pela ECA/USP, na linha de pesquisa Fundamentos do ensino eaprendizagem da arte, sob orientao da Prof Dr Regina Machado. Atualmente, professor de Artes Visuais do 1 segmento do Ensino fundamental na Escola Projeto21, em Curitiba e pesquisador do Grupo Multidisciplinar de Estudo e Pesquisa em
Arte e Educao, ligado ao Programa de Ps-Graduao de Artes Visuais daECA/USP.