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12 INTRODUÇÃO O CAI - Centro de Atendimento Intensivo de Belford Roxo é umas das unidades de privação de liberdade do DEGASE - Departamento Geral de Ações Socioeducativas do Rio de Janeiro. A unidade atende adolescentes do sexo masculino que cometeram ato infracional advindos da Baixada Fluminense e demais regiões do interior do Estado para o cumprimento de sua medida socioeducativa de internação. O profissional de Serviço Social está inserido no sistema socioeducativo e atua através do acompanhamento técnico social aos adolescentes institucionalizados e seus familiares, sempre na perspectiva da garantia de direitos e em consonância com os pressupostos do Código de Ética Profissional de 1993. As ações profissionais do assistente social não devem deste modo, ser reduzidas a intervenções pontuais na realidade, já que o espaço de atuação na execução de medida socioeducativa de internação é um espaço muito significativo e requer uma constante luta na efetivação da cidadania plena dos adolescentes em conflito com a lei. Diante disso, esta pesquisa tem como objetivo discutir a atuação do assistente social dentro do sistema socioeducativo, mediante a seu compromisso histórico com a garantia de direitos dos cidadãos, e assim entender as estratégias utilizadas em sua intervenção diante das demandas postas pela realidade de cada usuário. O presente trabalho esta estruturado em três capítulos, o primeiro discorre sobre o problema de pesquisa, e as

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INTRODUÇÃO

O CAI - Centro de Atendimento Intensivo de Belford Roxo é umas das unidades de

privação de liberdade do DEGASE - Departamento Geral de Ações Socioeducativas do Rio

de Janeiro. A unidade atende adolescentes do sexo masculino que cometeram ato infracional

advindos da Baixada Fluminense e demais regiões do interior do Estado para o cumprimento

de sua medida socioeducativa de internação.

O profissional de Serviço Social está inserido no sistema socioeducativo e atua através

do acompanhamento técnico social aos adolescentes institucionalizados e seus familiares,

sempre na perspectiva da garantia de direitos e em consonância com os pressupostos do

Código de Ética Profissional de 1993. As ações profissionais do assistente social não devem

deste modo, ser reduzidas a intervenções pontuais na realidade, já que o espaço de atuação na

execução de medida socioeducativa de internação é um espaço muito significativo e requer

uma constante luta na efetivação da cidadania plena dos adolescentes em conflito com a lei.

Diante disso, esta pesquisa tem como objetivo discutir a atuação do assistente social

dentro do sistema socioeducativo, mediante a seu compromisso histórico com a garantia de

direitos dos cidadãos, e assim entender as estratégias utilizadas em sua intervenção diante das

demandas postas pela realidade de cada usuário.

O presente trabalho esta estruturado em três capítulos, o primeiro discorre sobre o

problema de pesquisa, e as indagações que motivaram a escolha do tema, a importância e a

sua contribuição para os envolvidos nesta temática, e os objetivos a serem alcançados pela

pesquisa realizada.

O segundo capítulo da revisão de literatura, apresentamos os elementos que compõe o

estudo iniciando-se pela contextualização histórica da política de atendimento a criança e ao

adolescente no Brasil, o conceito sobre a socioeducação e o sistema socioeducativo do Rio de

Janeiro, discutimos também as características do adolescente em conflito com a lei, as

medidas socioeducativas e as desigualdades sociais experimentadas por eles, e finalmente a

importância da atuação do Serviço Social na execução da medida socioeducativa de

internação.

O terceiro capítulo deste estudo apresenta a metodologia utilizada na pesquisa de

campo e também a análise de dados das informações coletadas nas entrevistas realizadas com

os assistentes sociais que atuam no CAI Belford Roxo.

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Por fim, as considerações finais acerca da pesquisa realizada, onde se destaca o grande

desafio enfrentado pelos profissionais de Serviço Social em sua atuação profissional no

sistema socioeducativo.

 

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CAPÍTULO I – O PROBLEMA DE PESQUISA

1.1 - Apresentação do problema.

O DEGASE - Departamento Geral de Ações Socioeducativas é o órgão da Secretaria de

Estado de Educação do Rio de Janeiro, e foi criado através do decreto n° 18493 de 26 de

Janeiro de 1993. É um órgão do Poder Executivo do Estado do Rio de Janeiro responsável

pela execução das medidas socioeducativas, preconizado pelo Estatuto da Criança e do

Adolescente (ECA), aplicadas pelo Poder Judiciário aos jovens em conflito com a lei.

A unidade do DEGASE na qual estaremos tomando por base de pesquisa é o CAI -

Centro de Atendimento Intensivo de Belford Roxo, inaugurado em 21 de Agosto de 1998,

para atender aos adolescentes do sexo masculino com a faixa etária entre 14 a 21 anos, com a

capacidade para atender até 90 adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa de

internação.

O CAI Belford Roxo foi implantado com a finalidade de efetivar a regionalização do

atendimento aos adolescentes autores de ato infracional, buscando assim a preservação dos

vínculos de afetividade e afinidade com as pessoas de referência que o adolescente convive ou

mantém proximidade. Pauta-se nos paradigmas de proteção social do Estado e da sociedade

civil, preconizados na Constituição Federal de 1988, no Estatuto da Criança e do Adolescente

– ECA, no Sistema Nacional de Ações Socioeducativas (SINASE), no Plano Nacional de

Convivência Familiar e Comunitária (PNCFC), na Lei Orgânica da Assistência – LOAS,

Plano Nacional de Assistência Social (PNAS) / Sistema Único de Assistência Social (SUAS)

e no Sistema Único de Saúde (SUS).

O CAI possui como objetivo cumprir os preceitos legais estabelecidos pela política

dos direitos humanos no atendimento ao adolescente em conflito com a lei em regime de

internação provisória e de internação.

A instituição considera ser fundamental trabalhar numa metodologia do

desenvolvimento integral do adolescente diante do seu processo de reeducação, tendo a

perspectiva de romper com a prática do ato infracional, colaborando com a

construção/reconstrução do projeto de vida desses adolescentes, através do acesso às

oportunidades para ampliação do seu universo cultural, de suas habilidades e competências,

bem como de suas relações familiares e comunitárias.

Na busca da materialização dessas ações socioeducativas, o grande desafio é garantir

a qualificação dos adolescentes em conformidade com o art.124, Inciso XI do ECA. Assim, a

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instituição possui parcerias com a finalidade de propiciar recursos na inserção dos

adolescentes no mundo do trabalho.

Em 2001, dentro da estrutura do CAI – Belford Roxo foi inaugurado o Colégio

Estadual Jornalista Barbosa Lima Sobrinho com a finalidade de disponibilizar o ensino

fundamental e médio para atender as demandas educacionais dos adolescentes em

cumprimento de medida socioeducativa.

Neste contexto, a equipe de profissionais do CAI Belford Roxo tem como meta a

humanização do atendimento, acreditando no processo de reeducação do adolescente através

da construção de seu projeto de vida, indo ao encontro e em consonância com as legislações

pertinentes e com a Política Nacional de Atendimento Socioeducativo.

A responsabilidade da instituição por intermédio de seus técnicos é acolher, cuidar,

acompanhar, atender e tratar o adolescente, bem como buscar formas de atendimento às

demandas socioeconômicas, que envolvem seu usuário e sua família. Por isso se faz tão

importante à articulação entre as políticas vigentes no nosso Estado.

O assistente social na unidade de privação de liberdade possui inúmeras atribuições,

que perpassam por várias atividades de extrema importância no tratar do adolescente como

sujeito de direitos, ou seja, como cidadãos.

Entre suas ações estão o atendimento e acompanhamento técnico-social aos

adolescentes, familiares e responsáveis durante o aguardo de decisão judicial bem como

durante o cumprimento de medida socioeducativa; Acompanhamento ao adolescente em seu

processo de (re) avaliação das medidas socioeducativas no Juizado da Infância e da

Juventude, quando avaliada a necessidade técnica; Atuação na construção de ações do campo

socioeducativo pertinentes à questão racial, de gênero, geracional, da família, da seguridade

social, da religião, do trabalho, emprego e geração de renda, respeitando a diversidade e os

grupos socialmente discriminados; Democratização das informações referentes à dinâmica

institucional junto aos usuários e responsáveis, com base na legislação vigente, facilitando o

seu acesso aos direitos e serviços existentes na rede intra e extra institucional; Elaboração de

pareceres e relatórios sociais para subsidiar o judiciário, projetos de intervenção e de outra

natureza pertinentes ao Serviço Social e de caráter multidisciplinar e interdisciplinar, entre

outras ações.

As indagações sobre “A atuação do assistente social junto aos adolescentes em

cumprimento de medida socioeducativa de internação”, surgiu a partir da vivência no campo

de estágio no sistema socioeducativo, realizado no Centro de Atendimento Intensivo de

Belford Roxo.

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Um dos fatores predominantes desta escolha perpassa pelo desafio enfrentado pelo

assistente social no seu cotidiano profissional e na formulação de estratégias de intervenção,

que venham proporcionar a esses adolescentes em conflito com a lei, mediante as

problemáticas que os envolve, o acesso aos direitos a eles garantidos pelo Estatuto da Criança

e do Adolescente (ECA) e o Sistema Nacional de Ações Socioeducativas (SINASE).

As demandas enfrentadas no campo socioeducativo requerem do profissional de

Serviço Social juntamente com a equipe multidisciplinar ações que busquem discutir e

problematizar as dificuldades que emergem da complexidade referente à garantia de direitos

destes usuários. O objetivo maior está em atender desde as necessidades mais básicas destes

adolescentes até sua integração plena à sociedade, e mais ainda, a preservação da sua

dignidade física, moral e emocional diante da condição peculiar da privação de liberdade.

A atuação do assistente social não pode ser reduzida a ações pontuais, pois sua atuação

deve ir além do âmbito da aparência, há necessidade de um comprometimento com a

construção de uma ação transformadora da realidade, criando meios para que esses

adolescentes sejam autores de uma nova história de vida. Por isso as inquietudes em relação

às demandas apresentadas no seu cotidiano, desencadearam um processo de reflexões, sobre

os inúmeros desafios enfrentados na atuação do profissional de Serviço Social no sistema

socioeducativo. A escassez de políticas públicas, a ineficiência da articulação da rede estadual

e municipal, a burocracia da instituição, são alguns destes desafios. Como este profissional

poderá intervir de forma eficaz e propositiva na vida destes adolescentes oriundos de uma

realidade de vulnerabilidade social, extrema pobreza e perda dos vínculos familiares?

Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente no art. 4º É dever da família, da

comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a

efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao

lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência

familiar e comunitária.

Por isso enfatizamos a importância do profissional de Serviço Social no sistema

socioeducativo e na promoção da defesa intransigente dos direitos humanos, contra o

preconceito, a recusa do arbítrio, consolidação da cidadania, tomando como referência os

princípios fundamentais do seu Código de Ética Profissional, visando concretizar os avanços

contidos na legislação e contribuir para efetiva cidadania dos adolescentes em conflito com a

lei.

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1.2 - Relevância do estudo

Destacamos a relevância deste estudo para o assistente social do sistema socioeducativo e

de todos aqueles profissionais de serviço social que tenham interesse sobre o tema

pesquisado, pois o assistente social é um profissional capacitado em desvelar a realidade e

suas complexidades sociais, seu objeto de trabalho são as múltiplas expressões da questão

social.1

Sendo assim é necessário construir estratégias de intervenção referenciadas pelo seu

Projeto Ético-Político, visando o comprometimento com as classes minoritárias, na defesa de

seus direitos, e na busca incessante pela democracia. A partir deste estudo o profissional do

sistema socioeducativo terá a oportunidade de refletir sobre as dimensões investigativas e

interventivas que contribuam com sua prática cotidiana, uma vez que um novo conhecimento

produz subsídios para novas propostas de atuação.

Um dos princípios fundamentais do Serviço Social é o compromisso com os serviços

prestados à população e o seu aprimoramento intelectual, na perspectiva da competência

profissional. A contribuição desta pesquisa também será valiosa para a instituição, que

poderá juntamente com a equipe de Serviço Social avaliar suas práticas institucionais e propor

novas formas de intervenção.

Aos adolescentes do sistema socioeducativo e os seus familiares a contribuição do

estudo constituirá na possibilidade da construção de um atendimento técnico mais crítico e

propositivo, o que refletirá em um acolhimento e uma abordagem voltada para o contexto

social e econômico de cada família.

O trabalho do assistente social no sistema socioeducativo é de suma importância, sua

contribuição perpassa pela construção de meios favoráveis ao adolescente em conflito com a

lei em sua reintegração ao convívio familiar e social e no rompimento com a prática do ato

infracional.

1 “A questão social não é senão as expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção mais além da caridade e repressão” CARVALHO e IAMAMOTO, (2008, p.77)

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1.3 - Objetivos do estudo:

1.3.1. Objetivo Geral:

Analisar a atuação do assistente social junto aos adolescentes em cumprimento de

medida socioeducativa de internação no CAI-Centro de Atendimento Intensivo de Belford

Roxo.

1.3.2. Objetivo Específico:

Identificar as características dos adolescentes que cumprem medida socioeducativa de

internação no Centro de Atendimento Intensivo de Belford Roxo.

Identificar qual foi a contribuição do ECA e do SINASE para o sistema

socioeducativo em especial a para MSE de internação.

Identificar se o viés da aplicação da medida socioeducativa de internação na unidade

CAI Belford Roxo perpassa pelo cunho educativo ou meramente punitivo.

Verificar se a medida socioeducativa de internação contribui efetivamente para o

rompimento do adolescente com o ato infracional e para o seu processo de

ressocialização.

Verificar como assistente social, viabiliza o acesso aos direitos previstos no ECA e no

SINASE.

Identificar a contribuição do assistente social, na reintegração do adolescente á

convivência familiar e comunitária.

Identificar as estratégias encontradas pelo assistente social para que a sua atuação

profissional seja critica e propositiva.

2. CAPITULO II - REVISÃO DE LITERATURA

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2.1. A política de atendimento a criança e ao adolescente: da Doutrina da Situação

Irregular a Doutrina da Proteção Integral.

No período colonial a forma mais eficiente em relação ao tratamento das crianças era

através dos catequizadores, que usavam o método da separação das crianças indígenas e

negras de seus pais para que as mesmas assimilassem mais facilmente os costumes, a cultura e

a religião dos portugueses.

As instituições para educação de meninos surgiram no Brasil colonial com a ação educacional jesuíta, que implantou escolas elementares (de ler, escrever e contar) para crianças pequenas indígenas e dos vilarejos, e criou colégios para a formação de religiosos e instrução superior de filhos das camadas mais privilegiadas da população. Os jesuítas constituíam os principais agentes educacionais até meados do século XVIII, quando foram expulsos pelo Marquês de Pombal em 1759. “Outras ordens religiosas instalaram seminários, colégios para órfãos e recolhimento de órfãs na segunda metade do século XVIII” (Scheuler: 2001). “Neste trabalho, nos detivemos nas analises de instituições asilares para crianças desvalidas, abandonadas e órfãs, criadas no Brasil nos dois últimos séculos”. (Rizzini, 2004, p.25).

Em 1551 a primeira casa de recolhimento de criança no Brasil, surge como uma

iniciativa da igreja e não do Estado. Com o passar do tempo essa modalidade de atendimento

foi se ampliando a ponto de inaugurarem novos colégios e casas de recolhimentos ou

internatos com a mesma perspectiva de reprodução da cultura portuguesa.

A partir do século XVIII, a questão da criança passa a preocupar a sociedade e as

autoridades, em face da normalidade com relação à prática de abandonos de bebês recém-

nascidos nas portas das igrejas, dos internatos, das residências, nas ruas, que na sua maioria,

eram crianças oriundas de relações consideradas ilícitas (as relações sexuais entre senhores e

escravas ou índias eram uma prática comum) pela igreja. Em resposta a tais acontecimentos

ainda no Brasil colônia, o império português designou a irmandade de misericórdia esta

responsabilidade, que instalou no país a Roda de Expostos para atender à internação de

crianças ilegítimas.

Uma modalidade de atendimento a bebês abandonados de longa duração foi o sistema da roda de expostos, surgido no período colonial por iniciativa da Santa Casa de Misericórdia e somente extinto na república. No século XVIII, Salvador, Rio de Janeiro e Recife, instalaram suas Casas de Expostos, que recebiam bebês deixados na roda e mantendo no anonimato o autor ou autora do abandono. Até o século XIX, outras dez Rodas de Expostos surgiram no país, tendo o sistema persistido até meados do século XX. (Marcílio: 1997b, p 52).

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Segundo Marcílio (1997), o sistema das Rodas de Expostos surgiu na Europa católica,

em países como França e Portugal, e atendeu a milhares de crianças abandonadas. O

atendimento a números tão elevados de bebês era possibilitado através do sistema de criação

externa por amas-de-leite, contratadas pela Santa Casa de cada cidade, por sua vez, a

mortalidade era alta, cerca de 90% das crianças morriam. Era necessário manter as amas-de-

leite nas Santas Casas devido ao grande numero de lactantes. No Brasil muitas escravas eram

alugadas por seus proprietários e serviram nessa função. As amas-de-leite frequentemente

eram acusadas de maus tratos aos expostos, pelas misericórdias e pelos higienistas que

passaram a se ocupar do tema no século XIX.

Os higienistas, em geral médicos, preocupados com a alta mortalidade infantil nas cidades brasileiras, tinham como proposta intervir no maio ambiente, nas condições higiênicas das instituições que abrigavam crianças, e nas famílias... Estabeleceu-se, no meio médico, um debate sobre a melhor forma de se cuidar dos expostos, o que efetivamente determinou uma melhoria nas condições de higiene na Casa dos Expostos. (Rizzini, Pilotti, 2011, p. 21)

Para Marcilio (2009), apesar de ser de cunho missionário e religioso à “Roda dos

Expostos”, cumpriu um papel muito importante por mais de um século e meio, por ser a única

instituição de assistência à criança abandonada em todo o Brasil, evitando o abandono nas

ruas ao relento, nas portas das igrejas, por mães que não tinham condições de criá-los ou pela

desonra de gerar um filho ilegítimo. As crianças permaneciam na instituição até que

completassem a idade útil para realizar atividades laborais.

As crianças enjeitadas nas Rodas eram alimentadas por amas-de-leite alugadas e também entregues a famílias, mediante pequenas pensões. Em geral, a assistência prestada pela Casa dos Expostos perdurava em torno de sete anos. A partir daí, a criança ficava como qualquer outro órfão, à mercê da determinação do Juiz, que decidia sobre o destino de acordo com os interesses de quem o quisesse manter. Era comum que fossem utilizadas para o trabalho desde pequenas. (Rizzini, Pilotti, 2011, p. 19).

A primeira mudança gradativa no atendimento educacional dos órfãos foi com a

instalação de escolas primárias e de treinamento nas oficinas, em especial os da Marinha e do

Exército. Segundo Rizzini (2011), nas últimas décadas do século introduziu-se o aprendizado

de tipografia. Novas matérias foram adotadas, conforme as necessidades profissionais da

época, como o desenho e a geometria.

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A criança pobre era considerada perigosa para sociedade referenciando-a pelo termo

“menor”, este conceito efetivava-se a partir de um tratamento higienista, proposto por

médicos da época trazidos da Europa que ficou conhecido como “Movimento Higienista”.

[...] As medidas higiênicas pensadas na época apontam para a retirada dessas crianças das ruas e sua conseqüente internação em Instituições [...] era urgente e indispensável reprimir a vagabundagem, o vício e o crime com a criança de colônias correcionais, preservando, ao mesmo tempo, a mocidade que para aquela se dirigia, por meio de uma educação em instituições apropriadas”. (Rizzini, Irmã: 1993, p.19).

As autoridades, em especial os médicos, pregavam a assistência à infância segundo

bases científicas, ou seja, métodos baseados na racionalidade contrapondo-se a maioria das

entidades de assistência da época. Médicos e juristas adotavam medidas higienistas

recolhendo os menores também conhecidos como males sociais,desvalidos, viciosos, que

proliferavam doenças nas ruas. O termo menor se dá para consolidar, designar a criança como

objeto da justiça e da assistência, no termo jurídico para diferenciar de criança protegida e

menor abandonado.

Embora fosse medida usada com muita cautela, por impor ao Estado a responsabilidade de tutela da criança retirada da família, a ameaça da perda do pátrio-poder, na medida em que estava nas mãos dos representantes dos poderes públicos decidirem como o indivíduo deveria ser educado, e quando poderia retornar ao seu meio. (RIZZINI & Rizzini, 2004, p.70).

O Movimento dos Reformadores se propunha a defesa ao direito da criança, na

proposta de projetos, tendo a criança como foco na obtenção de trabalhos que pudessem

colaborar para a manutenção da integridade e defesa da sociedade. Em 1830 o código criminal

do império já determinava a internação em casas de correção aos menores de 14 anos, com

discernimento. No inicio de século XX o Congresso Nacional já discutia a implantação de

uma política chamada de “Assistência de Proteção aos Menores Abandonados e

Delinquentes”.

Em 1903, foi criada a Escola Correcional de 15 de Novembro. A partir dos anos 20 a

infância pobre se tornou objeto da alçada jurídica com a autorização da criação do primeiro

Juizado de Menores no Brasil em 1923 e em 1924 foram criados os Conselhos de Assistência

e Proteção dos Menores e o Abrigo de Menores. Todas essas legislações foram consolidadas

no Código de Menores em 1927. O juizado de menores era identificado como aquele que

atendia a infância pobre, a criança que fazia parte da elite era atendida na Vara de Família.

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Os meios especializados cobravam dos poderes públicos a centralização da assistência, acusada de não passar de uma “caridade oficial,” sem uma orientação unificada e dentro dos moldes preconizados pelos avanços da ciência. A movimentação em torno da elaboração de leis para a proteção e assistência à infância também é intensa, culminando na criação, no Rio de Janeiro no primeiro juizado de menores no país e na aprovação do Código de Menores em 1927, idealizado por Mello Mattos – primeiro juiz de menores do país e de mais longa permanência de 1924, até o ano de seu falecimento em 1934. (Rizzini, Irma, 1993, p.69).

A partir dos anos 30 pode-se distinguir a intervenção crescente do Estado na

articulação na economia, na política e no social, na qual as questões relativas à infância pobre

tornam-se uma preocupação pública. Foram criadas as delegacias de menores para onde eram

enviados os meninos encontrados na rua e considerados suspeitos de vício e crime. Em 1941

foi criado o SAM (Serviço de Atendimento ao Menor), vinculado ao Ministério da Justiça e

Negócios Interiores que igualmente ao Código de Menores, foi uma conquista dos atores do

Estado juntamente com a sociedade civil no tratamento do problema do menor como uma

questão social, porém num viés repressivo, autoritário e conservador.

O Serviço de Atendimento ao Menor (SAM) ligado ao então Ministério da Justiça e do Interior, tinha o objetivo de proporcionar em todo o território nacional, uma assistência social sob qualquer forma, aos menores carentes e infratores da lei penal (MPAS/FUNABEM, 1984). A criação dessa instituição agregava uma perspectiva corretiva alguns objetivos de natureza protecionista, valorizando-se a necessidade de estudos e pesquisas, bem como uma assistência psicopedagoga os menores considerados carentes e delinquentes. Estes objetivos institucionais não se concretizaram por duas razões: de uma parte, a assistência financeira que estava prevista para os estados da federação não se materializou e, de outro, as escolas de reeducação aplicavam como instrumentos de correção a coerção, a disciplina e os maus tratos. (MPAS/FUNABEM, 1987, p. 11-34)

Faleiros (2004) esclarece que se implantou uma política governamental em parceria

com o empresariado com o intuito de proporcionar ao jovem formação profissional para

inseri-lo na indústria. Criou-se então o SENAI e SENAC no início da década de 40, a partir de

uma política de governo junto a empresários, para a implementação na formação profissional

de jovens no mercado industrial através de descontos em folha dos empregados para a sua

manutenção. No entanto, a população infantil de um modo geral não teve acesso nem ao

ensino publico, nem ao privado.

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Ainda de acordo com Faleiros (2004) o SAM foi muito criticado pela Igreja Católica,

pela sociedade civil e até mesmo pelo Estado, em face aos métodos corretivos onde às

crianças eram torturadas, surradas e violentadas. Ao invés de ser um sistema de proteção, era

coercivo e repressivo culminando assim em sua extinção no ano de 1964, em seu lugar foi

criada a (FUNABEM) Fundação Nacional do Bem Estar do Menor. A FUNABEM surge

independente do Ministério da Justiça, com autonomia e com propósito de evitar a internação

de menores. Faleiros (2004) diz que o projeto de segurança nacional incorporou-se a

FUNABEM mantendo a vertente repressiva e responsabilizando a família pelo abandono das

crianças.

A “Segurança Nacional” tornou-se o sustentáculo ideológico de nosso órgão de proteção aos menores [...] a tônica era a da valorização da vida familiar e da “integração do menor na comunidade”. O monte “internar em último caso”. (RIZZINI & Rizzini: 2004; p.36).

Faleiros aponta que “a FUNABEM estabeleceu um sistema conluio público/privado,

com ênfase nos convênios com Estados, alguns Municípios e com entidades privadas, cuja

maioria visava possibilitar internações e distribuições per capitas”.(2004,p.8). Ainda segundo

o autor, nos Estados foram criadas as FEBEM’S (Fundação do Bem-Estar do Menor), que se

transformaram em centros de internamento tanto para os abandonados como para os avaliados

perigosos, geralmente após passagem nos centros de recepção e triagem.

A FEBEM surge com atenção específica e voltada a observar a política estabelecida e

a executar, nos Estados, as ações apropriadas a essa política.

O artigo 4° do estatuto da FUNABEM, aprovado pelo decreto 56.575 de 14 de julho

de 1965, continha em seu principal objetivo a formulação e a implementação da Política de

Bem Estar do Menor, a partir do estudo do problema, planejando soluções, além de orientar e

coordenar a supervisão das instituições que executam esta política, assegurando os programas

visando à integração do menor à comunidade, entre outras ações. Ao contrário do que

propunha a FUNABEM não reduziu o número de marginalização.

Em 1979, foi criado o Novo Código de Menores onde se estabelece a doutrina da

situação irregular, o abandono e a pobreza significava incapacidade da família,

comportamento impróprio, descumprimento das regras jurídicas e sociais, ou seja, “culpando-

se a vítima de uma realidade injusta por esta mesma realidade” (Faleiros, 2004, p.8).

Faleiros (2004) destaca que o código de 1979, como no código de 1927, a pobreza

ainda era considerada como um defeito dos indivíduos aponta também que, a criança só tinha

direito quando encontrava-se em risco, ou seja, em caso de doença social irregular.

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O juiz tinha total poder de decisão sobre a vida e o futuro das crianças, era ele quem

determinava se elas seriam internadas, colocadas em família substituta, adotadas, ou punidas e

também obtinha o poder sobre a culpabilização dos pais e responsáveis.

A doutrina da situação irregular possui um elemento bem peculiar quando se pensa

sobre a perspectiva de atendimento que se pretende facultar à criança e ao adolescente: a

institucionalização.

A colocação da criança e do adolescente em instituições como medida de proteção contra os desvios causados pelas condições sociais, econômicas e morais das famílias em situação de pobreza ou como medida corretiva de desvios, ao longo da história brasileira, cristalizou a experiência das chamadas instituições totais, onde crianças e adolescentes viviam sob-rígida disciplina e afastados da convivência familiar e comunitária, visto que quase todas as atividades pertinentes a suas vidas eram realizadas intramuros. (Rizinni, Irmã, 1993)

Neste movimento de institucionalização desta população, utilizou-se um processo

educativo pautado pelo medo, pelo poder da autoridade e pelo uso da disciplina de forma

ilegal e promiscua. Assim sendo, a doutrina da situação irregular foi uma concepção

hegemônica na sociedade brasileira por mais de seis décadas, de 1927 com o Código de Mello

Mattos, até a década de 90 com o Estatuto da Criança e do Adolescente.

Romper com a dimensão da doutrina da situação irregular exigiu grande empenho por

parte dos segmentos da sociedade que ansiavam implementar uma nova doutrina, a doutrina

da proteção integral. Segundo Faleiros (2004, p. 9), “Em oposição à situação da doutrina

irregular foram se desenvolvendo concepções e movimentos que colocavam a criança como

sujeito de direito, de acordo com a doutrina da proteção integral”.

Nos meados dos anos 1980 a sociedade mobilizou-se para que crianças e adolescentes

deixassem de ter o tratamento de confinamento e repressão exercido no período da ditadura.

Cabe ressaltar, que em 1984 temos o primeiro encontro do Movimento Nacional de

Meninos e Meninas de Rua (MNMMR) que foi fundamental para garantir as importantes

conquistas no que tange à infância e a adolescência advinda dos anos posteriores.

Em 1988 temos a elaboração de nossa Constituição Federal que tem em seu texto

constitucional, o artigo 227, a proposta de que, com absoluta prioridade, sejam garantidos os

direitos da criança e do adolescente.

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à

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liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (C/F, 1988, art.227)

Dois anos depois efetiva-se a regulamentação deste artigo constitucional com a

aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), lei 8069/90, que estabelece a

normatização do sistema de garantia dos direitos das crianças e dos adolescentes brasileiros.

A partir desta lei a preocupação com a criança e o adolescente é deslocada da visão de

correção/punição para a visão de prevenção/proteção. A responsabilidade pelos cuidados da

criança, antes reservada inteiramente à família, é agora referida ao universo mais amplo da

sociedade e do Estado.

O ECA em seu artigo quarto, reintera o que já está disposto na Constituição Federal,

em seu artigo 227; ou seja, que a família, juntamente com o poder público e a sociedade, tem

o dever de assegurar todo o conjunto de direitos que garanta o pleno desenvolvimento de suas

crianças e adolescentes, destacando novamente a importância ao direito à convivência

familiar e comunitária.

É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. (ECA, art.4)

Vale destacar a importância da década de 90 como um marco na mudança do

paradigma de atendimento à população infanto-juvenil. No entanto, os Conselhos de Direito

da Criança e do Adolescente são parte fundamental na luta em defesa do fortalecimento e

ampliação do sistema de garantia de direitos da população infanto-juvenil no Brasil.

A doutrina da proteção integral ou do 'melhor interesse da criança' inaugura uma nova ordem jurídico-constitucional que passa a exigir uma mentalidade que tenha por objetivo a garantia de direitos humanos, no caso, de direitos fundamentais infanto-juvenis. Isto aponta para o desafio de uma mudança cultural indispensável à superação de uma visão paternalista, e que tenha os adultos como centro, até então predominante, para um novo campo estratégico de saberes, reordenamento de práticas institucionais, políticas públicas e modo específico de cuidados dos filhos. (Silva e Silva, 2005, p.32)

A prática centenária da institucionalização e repressão de crianças e adolescentes que

foi apresentada anteriormente neste texto, prevaleceu em grande parte do século XX, a partir

do ECA , muda-se a direção, tendo como foco principal proporcionar a estes sujeitos o direito

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à convivência familiar e comunitária. O Plano Nacional de Convivência Familiar e

Comunitária (2010, p.34) destaca o papel das instituições diante do esforço de manter estes

vínculos:

Os espaços e as instituições sociais são, portanto, mediadores das relações que as crianças e os adolescentes estabelecem, contribuindo para a construção de relações afetivas e de suas identidades individual e coletiva. Nessa direção, se o afastamento do convívio familiar for necessário, as crianças e adolescentes devem, na medida do possível, permanecer no contexto social que lhes é familiar. Além de muito importante para o desenvolvimento pessoal, a convivência comunitária favorável contribui para o fortalecimento dos vínculos familiares e a inserção social da família.

Contudo, mesmo com essa grande mudança ainda observaram-se nesta década

presente, crianças com famílias em vulnerabilidade social tendo como a única alternativa de

rompimento do ciclo de pobreza e violência, o acolhimento institucional. Prevalece ainda,

uma postura dúbia e discriminatória em relação às crianças pobres: são defendidas pela

sociedade quando necessitam de proteção, no entanto, desde que as mesmas não sejam vistas

como ameaça por esta mesma sociedade que as defende. Diante desta contradição posta na

sociedade o Estatuto da Criança e do Adolescente traz um importante avanço no que tange ao

tratamento imposto ao adolescente em conflito com a lei, às medidas socioeducativas devem

ser encaradas não mais como uma medida repressiva e de isolamento, porém como um

processo de sanção de viés educativo, com a perspectiva de inclusão social.

2.2. A socioeducação e o sistema socioeducativo do Estado do Rio de Janeiro.

A construção do conceito de socioeducação está marcada pela ideia de educação para a

vida em sociedade. A educação diz respeito à formação dos sujeitos sociais, que ocorre

através da apreensão de conhecimento e das formas de sociabilidade num dado contexto. Ela

se constrói na apreensão de conteúdos já acumulados na sociedade (sejam eles aplicados nas

disciplinas escolares ou não), mas se potencializa com base nos esforços de produzir crítica e

transformação do real. A dinâmica construída em torno do aprender a pensar e a agir está

vinculada à compreensão do significado sócio-histórico da existência dos sujeitos e das

condições objetivas em que ela se realiza. Tal processo se materializa nas relações sociais

construídas, pois é a partir das mesmas que é constituída a produção de valores, de costumes e

das práticas sociais predominantes.

No contexto brasileiro podem ser encontradas diferenciações importantes que servem

para elucidar a construção do conceito de socioeducação presente na realidade das políticas

públicas.

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Saviani (2011) destaca as iniciativas estatais voltadas para o trabalho, referenciadas no

ideário do pleno emprego e sua substituição, a partir da década de noventa, por um

investimento no campo da empregabilidade como alternativa à escassez de novos postos de

trabalho. As perdas do trabalhador decorrentes de um desemprego estrutural são amortecidas

por uma política de educação que, através de estratégias de capacitação e formação voltadas

para os interesses do capital, mantém os indivíduos empregados, sem que tal condição passe

necessariamente pelo vínculo com o mercado formal. É a educação a serviço da conformação

a uma lógica mais desigual, própria do modo de produção vigente.

A chamada “pedagogia das competências” também está articulada ao cumprimento de

objetivos operacionais num processo de adaptação dos sujeitos ao meio, que se daria através

da adoção de comportamentos flexíveis diante de condições objetivas adversas. Em

decorrência disso, tem-se o reforço da responsabilidade do Estado em face do seu

compromisso com os cidadãos e o estímulo à busca individual dos sujeitos pelo sucesso a ser

conquistado no mercado. Esta orientação educacional tão funcional à doutrina neoliberal não

está restrita aos espaços de aprendizagem tradicional como as escolas, foi replicada nas

diversas instituições presentes na vida social, assim como no próprio sistema socioeducativo.

Diante da histórica fragilidade em torno da qualidade do atendimento aos adolescentes

em cumprimento de medida socioeducativa, vale a atenção às referências teóricas, políticas e

éticas que conduzem a implantação do sistema. Reconhecendo o SINASE como processo em

andamento, ainda é prematuro analisar os caminhos assumidos pelo sistema socioeducativo a

partir das orientações apresentadas pelo Governo Federal, através da Secretaria de Direitos

Humanos, órgão responsável pela coordenação da política.

SINASE é a sigla utilizada para designar o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo, destinado a regulamentar a forma como o Poder Público, por seus mais diversos órgãos e agentes, deverá prestar o atendimento especializado ao quais adolescentes autores de ato infracional têm direito. O SINASE foi originalmente instituído pela Resolução nº 119/2006, do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente - CONANDA, e foi recentemente aprovado pela Lei nº 12.594, de 18 de janeiro de 2012, que trouxe uma série de inovações no que diz respeito à aplicação e execução de medidas socioeducativas a adolescentes autores de ato infracional, dispondo desde a parte conceitual até o financiamento do Sistema Socioeducativo, definindo papeis e responsabilidades, bem como procurando corrigir algumas distorções verificadas quando do atendimento dessa importante e complexa demanda. (SINASE, 2006, p.15).

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A construção do SINASE pode ser considerada fruto do embate entre Estado e

sociedade civil, respondendo parcialmente às demandas operacionais decorrentes da aplicação

das medidas socioeducativas, e é sem dúvida um avanço, diante das demais experiências

democráticas brasileiras. Calcado em princípios de direitos humanos, o sistema interliga

políticas públicas, através do Sistema de Garantia de Direitos (SGD) e trazendo orientações

baseadas na pedagogia e na ética, que atuam na perspectiva de ampliação da proteção social e

emancipação dos sujeitos. Contudo, sofre as consequências de ser gestado no atual estágio do

capitalismo, em que as ações de criminalização da pobreza se estabelecem em meio à

consolidação de mecanismos cada vez mais seletivos e controladores da população que utiliza

a política de assistência social.

O acompanhamento das medidas socioeducativas de privação de liberdade (internação

e semiliberdade) são executadas nas unidades estaduais e as medidas de meio aberto

(liberdade assistida) nos municípios através dos Centros de Referência Especializada de

Assistência Social (CREAS). A sobrevivência dos programas socioeducativos está ligada à

superação das divergências e superposições de gestão entre as políticas de direitos humanos e

de assistência social que dão suporte às ações referentes às medidas socioeducativas de

internação, semiliberdade e de meio aberto, respectivamente. Distinções significativas nas

equipes, nas orientações e nos acúmulos teóricos e técnicos são alguns aspectos que precisam

ser ressaltados diante da conhecida desarticulação entre as políticas sociais, que trazem

consequências perversas para o usuário e suas famílias.

Políticas Sociais Básicas: São aquelas cujos bens e serviços repassados são considerados direito de todos e dever do Estado. Devem ter, portanto, uma cobertura universal (Ex.: educação e saúde). As Políticas de Assistência Social: Não são consideradas direito de todos e dever do Estado, não sendo, portanto, universais. As políticas de assistência social dirigem-se a pessoas, grupos ou comunidades que se encontrem em estado de necessidade, ou seja, incapacitados, temporária ou permanentemente, de prover por si mesmos as suas necessidades básicas (Ex.: renda mínima, cesta básica, albergues etc.). (SINASE, 2006, p.24).

No campo da assistência social, as medidas socioeducativas em meio aberto se

constituem num serviço de atenção socioassistencial de proteção especial absorvido pelo

atendimento à violação de direitos na média complexidade. A inclusão das modalidades neste

equipamento favorece a incorporação dos adolescentes e famílias em espaços dissociados

daqueles que tradicionalmente marcam o acesso dos autores de ato infracional.

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A metodologia desenvolvida por Costa (2006) parece emergir como uma tendência

nas interpretações sobre socioeducação apresentadas pelos programas de privação de

liberdade. Ao conceito é atribuído o potencial de transformação do adolescente transgressor

da ordem, em cidadão com plenos direitos.

A implantação da socioeducação não deve estar dissociada da participação da

sociedade, do acesso a políticas públicas, do questionamento e do enfrentamento da

desigualdade, sob pena de despolitização dos direitos embutidos na referida política. Esta

afirmação está diretamente vinculada à participação da família e da comunidade prevista nos

princípios definidos para execução das medidas socioeducativas.

O surgimento do DEGASE se deu no governo Leonel Brizola que possuía uma

atuação fortemente vinculada aos movimentos populares na década de 90. Neste período a

FUNABEM já havia sido extinta, a FCBIA e posteriormente a CBIA, faziam um caótico

processo de transição e precisavam se desvencilhar do atendimento direto. Havia a

necessidade de dar uma solução política, que foi a assunção do sistema socioeducativo pelo

governo do Estadual. Moreira (2005) explica que, ONGS e prefeituras recebiam verbas da

União, gerenciavam as unidades e contratavam profissionais com vínculos empregatícios e

também em forma de contratações por meio de terceirização. O ECA ao tratar de

descentralização vai evidenciar a participação dos municípios na execução da política. De

acordo com Souza (2008, p.65).

Municipalizar o atendimento às medidas socioeducativas em meio aberto significa dizer que o Município deve elaborar e implementar sua política de atendimento socioeducativo a adolescentes que cumprem medida de prestação de serviço à comunidade ou Liberdade Assistida, utilizando sua rede local de serviços públicos(estrutura material, órgãos,agentes e equipamentos públicos), e tendo os atores locais como protagonistas.

Moreira (2005) esclarece que, o programa amparado por diversos artigos da

Constituição Federal e do próprio Estatuto, tinham como objetivo integrar, órgãos, programas

e projetos das Secretarias de Estado além dos Conselhos da Criança e do Adolescente, das

instancias, dos Poderes Executivos, e Judiciários que incorporassem aos adolescentes como

sujeito de direitos. Nessa perspectiva as atribuições básicas do DEGASE como departamento

executor das medidas socioeducativas eram:

A promoção, a coordenação e controle das ações pertinentes à prevenção, à ocorrência

de ameaça ou violação dos direitos da criança e do adolescente.

A defesa e garantia dos direitos fundamentais e do direito fundamental.

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Integração operacional dos órgãos judiciário, defensoria pública, segurança pública e

assistência social.

Execução dos programas de atendimento às medidas socioeducativas e às medidas de

proteção específica quando aplicadas correlatas às primeiras.

Estudo, pesquisa, formação, capacitação e desenvolvimento de recursos humanos nas

áreas de atuação do departamento.

A descentralização do sistema socioeducativo do Rio de Janeiro ficou caracterizada

pelo repasse das unidades que estavam em poder do Governo Federal para o Estado do Rio de

Janeiro, numa transição curta e de muitos impasses.

A inexistência de previsão de recursos para manutenção, provisão e para garantia de mínimos institucionais, a falta de responsabilidade do Estado e a falta de partilhamento de encargos expressam a política preponderante no sistema socioeducativo no Rio de Janeiro. (Moreira, 2006 p.27)

Ainda segundo Moreira (2006), além da perda orçamentária derivado das decisões

políticas, essa população em situação de risco possui pouquíssimas alternativas de escolha,

pois ao mesmo tempo em que é ameaçada pela dificuldade de acessar seus direitos, ameaça os

demais por estar em situação de vulnerabilidade. As diversas categorias profissionais atuantes

no sistema socioeducativo são orientadas a aturem baseadas na perspectiva da doutrina de

proteção integral. No entanto, em se tratando da aplicabilidade da lei, as atuações são

caracterizadas pela violação de direitos, nas palavras de Moreira (2006), “Quanto mais tempo

o adolescente permanece internado, maiores são as chances dele legitimar o sistema de

atendimento”.

No DEGASE seu objetivo é “reeducar” indivíduos para o convívio social baseado

nos padrões atuais de comportamento. Moreira (2006, p.29) esclarece que:

No DEGASE, o modelo de gestão é centralizado e atravessado pelas articulações políticas de favorecimento e de clientelismo, já consolidadas no Estado brasileiro. Os mecanismos de administração construídos não implicam na participação dos diversos segmentos institucionais, seja nas deliberações dos rumos da execução da política, seja no reordenamento das ações já consideradas obsoletas. A inexistência de uma interlocução ativa e participativa entre os vários atores sociais presentes na referida política é um dos entraves fundamentais nesse processo de trabalho.

O Centro de Socioeducação Professor Gelso de Carvalho Amaral - CENSE GCA -

unidade administrativa do Departamento Geral de Ações Socioeducativas - DEGASE, tem como

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atribuição recepcionar e acolher todos os adolescentes do sexo masculino, em razão de suspeição

ou cometimento de ato infracional, na jurisdição de todo o Estado do Rio de Janeiro - como é

possível verificar detalhadamente no “ANEXO A” deste trabalho - visando encaminhá-los para o

cumprimento das determinações judiciais, sejam elas medidas protetivas ou medidas

socioeducativas – Art. 101 e Art. 112, respectivamente, da Lei Federal nº 8.069/90, o Estatuto da

Criança e do adolescente.

Juridicamente, por estar situado na Comarca da Capital – Rio de Janeiro, os adolescentes

oriundos dos demais municípios do Estado somente são encaminhados através de determinações

Judiciais das diversas Varas da Infância e Juventude dos municípios de todo o Estado. Já nos

casos da Jurisdição da Capital, os adolescentes ingressam diretamente através da Delegacia de

Proteção à Criança e ao Adolescente - DPCA - da Comarca da Capital, que podem ou não tê-los

encaminhados à oitiva do Ministério Público no Juizado da Infância e da Juventude da Capital. O

CENSE- GCA tem capacidade para acolher 56 adolescentes em seus alojamentos (a unidade vive

em intensa rotina de superlotação) também tem como atribuição encaminhar os adolescentes

oriundos da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente - DPCA - da Comarca da Capital

que ainda não tenham participado de oitiva com o Ministério Público do Juizado da Infância e da

Juventude da Capital em até 24 horas. Sobre a internação provisória como determina o ECA em

seu art.108

A internação, antes da sentença, pode ser determinada pelo prazo máximo de quarenta e cinco dias. A decisão deverá ser fundamentada e basear-se em indícios suficientes de autoria e materialidade, demonstrada a necessidade imperiosa da medida. (Lei 8.069/90 ECA).

O DEGASE possui seis unidades de internação. Destas, cinco são masculinas e uma

feminina: CENSE Dom Bosco (internação provisória), Escola João Luís Alves, o CENSE

Professor: Antonio Carlos Gomes da Costa (unidade feminina), na Ilha do Governador; O

Educandário Santo Expedito, em Bangu; CAI-Baixada, em Belford Roxo (internação e

internação provisória) e o CAI - Campos dos Goytacazes (internação e internação provisória).

O DEGASE possui também 17 CRIAADS (Centros de Recursos Integrados de Atendimento

ao Adolescente), que são Unidades de semiliberdade. Na capital, na Ilha do Governador, em

Bangu, Penha, Santa Cruz e Ricardo de Albuquerque (unidade feminina). No grande Rio, em

Niterói, São Gonçalo, Nova Iguaçu, Duque de Caxias e Nilópolis. No interior, em

Teresópolis, Nova Friburgo, Cabo Frio, Macaé, Campos, Volta Redonda e Barra mansa.

Dentro do contexto de atendimento ao adolescente institucionalizado, o investimento

na efetivação do Plano Individual de Atendimento (PIA), “instrumento de previsão, registro e

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gestão das atividades a serem desenvolvidas com o adolescente” (Lei 12.594/12, art.52), é o

procedimento que contribui para o exercício da cidadania e obriga necessariamente ao

questionamento sobre a hierarquização de conteúdos abordados durante a execução da

medida, de acordo com o SINASE (2006, p.52), o PIA “constitui-se numa importante

ferramenta no acompanhamento da evolução pessoal e social do adolescente e na conquista de

metas e compromissos pactuados com esse adolescente e sua família durante o cumprimento

da MSE”. É fundamental que as abordagens e intervenções sejam, de fato, individualizadas e

permanentemente monitoradas detectando eventuais problemas de execução e refletindo junto

com o adolescente um novo caminho a seguir.

A transformação do PIA em ferramenta pedagógica precisa de práticas

socioeducativas positivas onde os profissionais envolvidos no Sistema de Garantia de Direitos

reconheçam as distinções entre a responsabilização judicial e a punição, segundo Schmidt

(2011, p.26), “[...] as instituições criadas para “ensinar” o cumprimento da lei, são as

primeiras a descumpri-la por meio de constantes e graves violações de direitos.”, ainda de

acordo com a autora, mudam-se os procedimentos, porém ainda há muito a ser feito para a

superação da tutela na intervenção do Estado nas demandas por direitos da juventude. Mesmo

sendo determinado por lei, o PIA enfrenta grandes dificuldades para sua implantação

principalmente no CAI Belford Roxo, já que suas instalações arquitetônicas precárias , seu

contingente de profissionais bem abaixo do quantitativo ideal e a própria dinâmica de

funcionamento da instituição são entraves bem palpáveis para a efetivação deste plano em

questão.

A gestão do atendimento socioeducativo de internação ainda perpassa por uma

abordagem residual, paliativa e de caráter retributivo, na sua maioria sem efetivo impacto na

vida dos adolescentes privados de liberdade.

Aguinsky apud Schmidt (2011) destaca que, os progressos acerca do sistema

socioeducativo introduzidos pelo SINASE, afirmam a necessidade de transformações

permanentes na realidade do atendimento ao adolescente em conflito com a lei. Ainda de

acordo com a autora, diminuir a distância entre a socioeducação que temos na privação de

liberdade, e a socioeducação que necessita ser construída para atingirmos consonância com os

marcos de direitos humanos ainda é um longo trajeto a ser percorrido.

2.3. O adolescente em conflito com a lei e as medidas socioeducativas

Quem são e onde estão estes adolescentes? Para que possamos discutir sobre este

público, é de suma importância conhecê-los.

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De acordo com o Levantamento Nacional do Atendimento Socioeducativo ao

Adolescente em Conflito com a Lei, coordenada pela Secretaria de Direitos Humanos da

Presidência da República (SDHPR), relata um aumento de 4,50% do ano de 2010 em relação

ao ano de 2009, no quantitativo de adolescentes em conflito com a lei, que foram

institucionalizados. No período de novembro de 2010 este número era de 17.703

adolescentes, sendo 12.041 em internação, 3.934 em internação provisória e 1.728 em medida

de semiliberdade. Sendo desse total, 94,94% de homens e 5,6% de mulheres.

Uma pesquisa nacional realizada pelo CNJ entre 2010 e 2011 também suscita dados

relevantes sobre o perfil dos adolescentes em tela, de acordo com a pesquisa 8% dos

adolescentes não eram alfabetizados, quanto à escolaridade 86% ainda não havia concluído a

formação básica, ressaltando que a última série cursada foi a quinta e sexta série do ensino

fundamental. A respeito das relações familiares, 14% dos jovens têm filhos, no tocante a sua

criação, 43% forma criados pela mãe, 4% somente pelo pai, 38% por ambos e 17% pelos

avós. No que consiste a substâncias psicoativas, 75% faziam uso de drogas ilícitas, sendo a

maconha a mais citada, seguida da cocaína. A alta incidência no uso de drogas pode desta

forma, contribuir para a ocorrência dos atos infracionais.

Mas especificamente sobre os adolescentes do Estado do Rio de Janeiro o Instituto de

Segurança Pública realizou uma pesquisa, que está inserida no relatório Dossiê Criança e

Adolescente 2012, tomando como base o ano de 2011, que revela um pouco do perfil dos

adolescentes apreendidos por cometimento de ato infracional. Foram apreendidos no ano de

2011, 3.466 adolescentes, dos quais a maior concentração espacial foi na Baixada

Fluminense, com cerca de 1011 jovens, representando 29,2% do total.

Na capital o percentual ficou em 27,6%, no interior da capital 27,5% e na região da

Grande Niterói cerca de 15,8% do total de apreensões. Na cidade do Rio de Janeiro foi onde

ocorreu o maior número de apreensões, seguida respectivamente pelo município de Duque de

Caxias. Também no Rio, o percentual masculino supera o feminino, com 91,8% contra 7,3%

do total. Com relação às idades o maior percentual está entre os jovens de 16 a 17 anos com

71%, seguidos de 27,2% dos que estão entre 13 e 15 anos de idade.

Os jovens de cor parda somam um quantitativo de 47,9%, os negros 30,1%, os brancos

18,3% e os não brancos um total de 78%. Verifica-se que a maior parte dos adolescentes

apreendidos em situação de conflito com a lei residia na capital do Estado, com 35,35% dos

casos, 22,2% são do interior, 18,6% da Baixada Fluminense, sendo sua maioria do município

de Duque de Caxias, 11% da grande Niterói e sem informação de residência 12,7%. A maior

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parte dos envolvimentos ilícitos dos adolescentes está ligada as drogas com aproximadamente

39,9%, os roubos 18,6%, furtos 12%, envolvimento com armas 9,55%, receptação de 3,6%.

O que podemos observar e comprovar é que apesar dos adolescentes em conflito com

a lei, exercerem na sociedade um clamor quase que uníssono pela redução da maioridade

penal e punição através de medidas de maior duração, o envolvimento desses adolescentes

com atos infracionais mais graves como tentativa de homicídio é de 1,3%, estupro e

homicídio doloso somam 0,2%, um percentual que não chega a 3% dos atos cometidos por

eles. Na pesquisa constatou-se que 82,5% dos casos de envolvimento com drogas estão

ligados ao tráfico de entorpecentes e apenas 17,5% ligados ao porte ou uso dessas substâncias.

Do ano de 2005 até 2011 houve 16.119 apreensões de adolescentes no Estado do Rio de

Janeiro, sendo que a maior quantidade de adolescentes apreendidos ocorreu em 2011, e o

menor número, em 2008.

Diante dos dados apresentados por estas pesquisas, podemos verificar o crescimento

no número de adolescentes envolvidos em atos infracionais, tornando-se cada vez mais

necessária uma ação efetiva por parte do Estado. Mas o descaso e a descontinuidade na

formulação de políticas e ações voltadas para a atenção de crianças e adolescentes tem

agravado e contribuído para a inserção do adolescente no mundo da ilicitude. Antes que o

adolescente venha a desrespeitar as leis impostas na sociedade, ele foi desrespeitado em seus

direitos essenciais. Volpi (2011) destaca a importância de criar mecanismos de controle para

efetivação do Estatuto da Criança e do Adolescente, talvez assim possamos em longo prazo,

mudar essa estatística tão excludente e desigual que vivem os adolescentes autores de ato

infracional.

Podemos destacar o que está descrito no Sistema Nacional de Atendimento

Socioeducativo (2006), que a situação do adolescente em conflito com a lei não exclui a

aplicação do princípio constitucional de prioridade absoluta, sendo assim, todos os direitos

preconizados no ECA, devem contemplar a elaboração das políticas públicas desenvolvidas

para esses adolescentes. De acordo com o SINASE (2006, p.23): “O SINASE constitui-se

uma política pública destinada à inclusão do adolescente em conflito com a lei que se

correlaciona e demanda iniciativas dos diferentes campos das políticas públicas sociais”.

Ele é um guia orientador da execução das medidas socioeducativas, reafirmando a

orientação do ECA sobre a perspectiva pedagógica da aplicação da medida sustentada nos

princípios dos direitos humanos.

Ao adolescente autor de ato infracional são designadas medidas de caráter

socioeducativo, no entanto, antes de decorrermos sobre as medidas socioeducativas,

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trataremos de definir o que é um ato infracional. Segundo artigo 103 do ECA “considera-se

ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção penal”, verificada a prática do

ato infracional, o adolescente é submetido pela a autoridade competente às seguintes medidas

socioeducativas , previstas no artigo 112 do ECA:

I- Advertência;II- obrigação de repara o dano;III- prestação de serviço à comunidade;IV- liberdade assistida;V- inserção em regime de semi-liberdade;VI- internação em estabelecimento educacional;VII- qualquer uma das previstas no art.101, I a V.§1º A medida aplicada ao adolescente levará em conta a sua capacidade de cumpri-la, as circunstâncias e a gravidade da infração.

Conforme o SINASE (2006, p.28):

Observar rigorosamente o devido processo legal para o adolescente acusado da prática de ato infracional significa elevá-lo efetivamente à posição de sujeito de direitos. Nesse sentido, não pode haver outras considerações que não a defesa intransigente do direito de liberdade do adolescente no processo judicial de apuração de sua responsabilidade.

Costa (1996, p. 92) defende que “[...] não estamos diante de um infrator que, por acaso

é adolescente, mas de um adolescente, que, por circunstâncias, cometeu um ato infracional”.

Sendo assim, as medidas socioeducativas não devem rompem com os direitos

regulamentos em lei, ao contrário, espera-se que este processo seja uma possibilidade real de

garantia de direitos sociais, civis e políticos e de retomada da cidadania. Segundo Volpi

(2011, p.17):

As garantias necessárias à justa aplicação das medidas socioeducativas não podem prescindir da proibição de detenções ilegais ou arbitrárias (ECA, art.106) como forma de contrapor-se à cultura predominante dos agentes de segurança, que se orientam por critérios extremamente subjetivos e preconceituosos, criminalizando especialmente pobres e negros.

A execução das medidas socioeducativas deverá pautar-se em nove princípios básicos,

descritos na lei do SINASE em seu artigo 35, são eles:

I - legalidade, não podendo o adolescente receber tratamento mais gravoso do que o conferido ao adulto; II - excepcionalidade da intervenção judicial e da imposição de medidas, favorecendo-se meios de autocomposição de conflitos; 

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III - prioridade a práticas ou medidas que sejam restaurativas e, sempre que possível, atendam às necessidades das vítimas; 

IV - proporcionalidade em relação à ofensa cometida; V - brevidade da medida em resposta ao ato cometido, em especial o respeito ao que dispõe o art. 122 da Lei n o 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente); VI - individualização, considerando-se a idade, capacidades e circunstâncias pessoais do adolescente; VII - mínima intervenção, restrita ao necessário para a realização dos objetivos da medida; VIII - não discriminação do adolescente, notadamente em razão de etnia, gênero, nacionalidade, classe social, orientação religiosa, política ou sexual, ou associação ou pertencimento a qualquer minoria ou status; e. IX - fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários no processo socioeducativo.

As medidas socioeducativas devem ser aplicadas de acordo com as características do

ato infracional cometido pelo adolescente, segundo Volpi (2011, p.20) as medidas

socioeducativas possuem dois aspectos opostos, o coercitivo uma vez que traz ao adolescente

a punição pelo ato cometido e o educativo no sentido da proteção integral, proporcionando o

acesso à formação e a informação.

Aprofundando um pouco mais sobre a MSE de internação, compreende-se por uma

medida privativa de liberdade e que está sujeita aos princípios da brevidade, excepcionalidade

e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento (art. 121 do ECA). De acordo

com o SINASE (2006), “Esses princípios são complementares e estão fundamentados na

premissa de que o processo socioeducativo não se pode desenvolver em situação de

isolamento do convívio social.” Toda medida socioeducativa, principalmente a de privação de

liberdade, somente será aplicada quando for absolutamente necessário, obedecendo aos

critérios definidos em lei, ela não possui prazo determinado, no entanto, deverá ser avaliada

no prazo máximo de 6 (seis) meses e não ultrapassar a duração de 3(três) anos. Freitas (2011,

p.35) destaca que:

A medida de internação pode ser considerada a mais restritiva, visto que é a de privação completa de liberdade, ficando o adolescente afastado do convívio diário com sua família e a comunidade. De acordo com o ECA, a medida de internação só poderá ser aplicada em caso de ato infracional grave, descumprimento de medida anterior ou quando o adolescente cometer o mesmo ato infracional diversas vezes.

Segundo o ECA em seu artigo 123, a internação deverá ser cumprida em entidade

exclusiva para adolescentes separados por critérios de idade, porte físico e gravidade da

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infração. A restrição da liberdade não deve vir acompanhada de restrições de direitos

constitucionais, significando apenas uma limitação no direito de ir e vir.

Durante o processo de internação o adolescente deverá participar de projetos

pedagógicos, frequentar o ensino regular e cursos profissionalizantes, além de atividades

esportivas e culturais. Além disso, deverá a instituição de internação providenciar, caso o

adolescente não possua, documentação civil, para que o mesmo possa efetivamente gozar de

sua plena cidadania.

O ECA no seu artigo 124 prevê e garante ao adolescente durante o seu processo de

internação os seguintes direitos : ser informado de sua situação processual, ser tratado com

respeito e dignidade, receber visitas, corresponder-se com familiares e amigos, entre outros.

Estes procedimentos garantidos na legislação perpassam pelo comprometimento ético de

todos os atores envolvidos no processo e na execução da medida socioeducativa, cabendo ao

Estado de acordo com o ECA, a tarefa de zelar pela integridade física e moral dos

adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa de internação. (art.125).

De acordo com o CONANDA “os programas de execução de medida socioeducativas

devem oferecer condições que garantam o acesso dos adolescentes socioeducandos às

oportunidades de superação de sua situação em conflito com a lei”. (art.19, §3º). Conforme

adverte Volpi (2011, p.42):

A aplicação de medidas socioeducativas não pode acontecer isolada do contexto social, político e econômico em que está envolvido o adolescente. Antes de tudo é preciso que o Estado organize políticas públicas para assegurar, com prioridade absoluta, os direitos infanto-juvenis. Somente com os direitos à convivência familiar e comunitária, à saúde, à educação, à cultura, esporte e lazer, e demais direitos universalizados, será possível diminuir significativamente a prática de atos infracionais cometidos por adolescentes.

As medidas socioeducativas devem contribuir de forma eficaz na formação do

adolescente como cidadão conhecedor de seus direitos e deveres, podendo assim vir a ser o

protagonista de sua própria história, capacitado a mudar e redirecionar os rumos do seu

presente e optando por um futuro distante da prática de atos infracionais.

Desenvolvendo sua capacidade de tomar decisões fundamentais, com critérios para avaliar situações relacionadas ao interesse próprio e ao bem comum, aprendendo com a experiência acumulada individual e social, potencializando sua competência pessoal, relacional, cognitiva e produtiva. (SINASE, 2006, p.46).

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De acordo com Volpi (2011), as medidas socioeducativas mostram-se eficazes,

quando devidamente aplicadas e supervisionadas, é necessário criar mecanismos de controle

para fazer valer o que está determinado no Estatuto.

2.4. O adolescente e as desigualdades sociais

Na opinião de Iamamoto (2011, p.264), “A Carta Constitucional trouxe uma

ampliação do campo dos direitos sociais (...). A normatização desses direitos abre novas

frentes de lutas no zelo pela sua efetivação, preservando o princípio da universalidade em sua

abrangência a todos os cidadãos”.

Com a implementação do ECA, o Brasil avançou para um novo paradigma de

atendimento a este segmento tão importante da nossa sociedade. Entretanto, após várias

conquistas obtidas, estamos muito longe de alcançar à cidadania plena de crianças e

adolescentes no Brasil. Segundo Rosa (2010, p. 197) “É erro pensar que a letra da lei impõe

sua prática, pois a realidade mostra ao contrário”.

De acordo com Schmidt (2011, p.24), “[...] as lutas por direitos não cessam com a

aprovação de uma legislação. A mobilização pela defesa e efetivação é uma luta constante e

cotidiana, que deve ser construída de forma cada vez mais organizada pela base de uma

sociedade”. Ainda segundo a conquista de direitos, Bobbio (1992, p.5) afirma:

[...] que os direitos do homem, por mais fundamentais que sejam, são direitos históricos, ou seja, nascidos em certas circunstâncias, caracterizadas por lutas em defesa de novas liberdades contra velhos poderes, e nascidos de modo gradual, não todos de uma vez, e nem de uma vez por todas.

Vivemos em um país de desigualdades, onde crianças e adolescentes experimentam a

escassez de políticas públicas eficientes e voltadas para suas necessidades, à diminuição de

investimentos, na área da saúde, segurança, educação, lazer e cultura, condicionam esses

adolescentes a um longo e perverso processo de exclusão social. Tanto crianças como

adolescentes merecem proteção, oportunidades e garantia do mínimo para sua sobrevivência,

em condições dignas para seu desenvolvimento físico, psicológico e mental, além do

reconhecimento de sua existência e de seu valor.

Segundo a UNICEF, “Realizar os direitos dos adolescentes e promover seu

desenvolvimento são ações que demandam uma profunda compreensão das circunstâncias em

que vivem.” De acordo com o Relatório Situação Mundial da Infância 2011, publicado pelo

UNICEF, “O Brasil é um país jovem: 30% dos seus 191milhões de habitantes têm menos de

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18 anos e 11% da população possuem entre 12 e 17 anos, uma população de mais de 21

milhões de adolescentes. Por isso, é essencial que o Brasil atenda às necessidades específicas

da adolescência em suas políticas”.

No entanto é notório que no Brasil, a igualdade de acesso da população aos direitos

fundamentais, é muito desigual, onde a concentração de renda é um dos maiores reflexos

dessa desigualdade, onde os 10% mais ricos concentram 75,4% da riqueza do nosso país.

Cerca 55% das crianças com até seis anos de idade estão abaixo da linha da pobreza. Entre

crianças e adolescentes de 7 a 14 anos, o percentual de pobres é de 50% e entre os jovens com

idade de 15 a 17 anos, de 40%. (IBGE 2007). Nas palavras de Castel,

A insegurança social não alimenta somente a pobreza. Ela age como um princípio de desmoralização, de dissociação social à maneira de um vírus que impregna a vida cotidiana. Dissolvem os laços sociais e mina as estruturas psíquicas dos indivíduos. (2005.p.31)

A Família, a sociedade e o governo precisam descobrir a adolescência sob a

perspectiva da equidade, promovendo seu desenvolvimento a partir de uma abordagem que

reduza os impactos negativos das desigualdades sociais, promovendo políticas públicas que

sejam universais e focalizadas nas demandas e nas necessidades deste segmento.

Para Iamamoto (2004, apud SCHIMT, 2011, p.265) diz que:

[...] è atribuir visibilidade e transparência a esses sujeitos de direitos: o seu modo de vida, cultura, padrões de sociabilidade, dilemas de identidade, suas necessidade, suas lutas pelo reconhecimento efetivo da cidadania, seus sonhos e esperanças, afirmando o direito de ser criança para aqueles que vivem a experiência de uma infância negada e de uma juventude desenraizada.

Nesse contexto de desigualdade social, o adolescente em conflito com a lei é o reflexo

mais nítido do processo de exclusão social. São adolescentes que cometeram um ato ilícito,

que infringiram as leis impostas a sociedade, sendo vítimas da falta de oportunidades e das

injustiças que assolam as camadas mais pobres da população. No entanto apesar da sociedade

mobilizar-se para o enfrentamento das questões associadas às violações de direitos de crianças

e adolescentes o mesmo não acontece com os adolescentes infratores. Para Volpi,

Os adolescentes em conflito com a lei, embora sejam componentes do mesmo quadro supracitado, não encontram eco para a defesa dos seus direitos, pois, pela condição de terem praticado um ato infracional, são desqualificados enquanto adolescentes. A segurança é entendida como a fórmula mágica de “proteger a sociedade (entenda-se, pessoas e seu

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patrimônio) da violência produzida por desajustados sociais que precisam ser recuperados e reincluídos”. É difícil, para o senso comum, juntar a idéia de segurança e cidadania. Reconhecer no agressor um cidadão parece exercício difícil e, para alguns, inapropriado. (2011.p.9)

Para que possamos compreender a realidade vivida por este segmento da nossa

sociedade torna-se necessário entender todo o contexto social em que vive o adolescente em

conflito com a lei, a pobreza, o preconceito, a desproteção familiar, a exploração, as drogas, a

violência, a evasão escolar, a exploração infantil, consequências de um cenário de grave

omissão do Estado. Não podemos identificar esses adolescentes a partir de seus atos ilícitos,

há uma história a ser contada, uma realidade de privações e complexidades que levam esses

adolescentes a considerar a criminalidade como a única saída para suas necessidades

econômicas e sociais, e considerando também a sua busca incessante de aceitação que é

natural nesta etapa da vida.

De acordo com Schmidt (2009) há ainda muito a aprender sobre o fenômeno da

adolescência, é uma fase marcada por transformações, frustrações, dúvidas e incertezas. Uma

busca de afirmação de identidade e de um sentido para o futuro. Os adolescentes brasileiros

sofrem duplamente seus conflitos, a adolescência por si só e as dificuldades advindas da

exclusão vivida em seu cotidiano.

A garantia dos direitos dos adolescentes em conflito com a lei perpassa pela

integralidade de ações governamentais que venham oportunizar chances de transformação de

futuro e de construção de cidadania, compreendida por Coutinho (2000, p.50) como:

[...] A capacidade conquistada por alguns indivíduos, ou (no caso de uma democracia efetiva) por todos os indivíduos, de se apropriarem dos bens socialmente criados, de atualizarem todas as potencialidades de realização humana abertas pela vida social em cada contexto historicamente determinado.

Os adolescentes que cometem ato infracional deveriam ser alvo de preocupação e

cuidados especiais, no entanto, são vitimas de preconceitos impostos pela mídia, onde suas

práticas suscitam na sociedade civil um desejo irracional de punição, tornando-os uma ameaça

que deve ser extirpada o mais rápido possível do meio social. Segundo Rosa (2010, p.184),

“São filhos para os quais a sociedade não reservou lugar e acabam vivendo espalhados pelas

cidades, nas ruas, onde gradativamente se encaminham para a prática de atos infracionais.”

Ainda de acordo com Rosa,

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Na medida em que a criança e o adolescente cometem um delito, aos olhos da sociedade tornam-se “bandidos” e lhes retiram a característica fundamental de ser humano em processo de desenvolvimento. O atendimento a esse segmento ainda se restringe ao reconhecimento, a exclusão social, as ações policiais. (2010, p.185)

É importante destacar a necessidade da união de forças para o enfrentamento desta

problemática acerca dos adolescentes em conflito com a lei, tanto da esfera governamental

quanto da sociedade civil organizada, no intuito de promover ações que distanciem os

adolescentes dos motivos que geraram a prática do ato infracional, e consequentemente sua

privação de liberdade. Grande parte de crianças e adolescentes ainda vivem impossibilitados

de gozar sua infância e adolescência de forma digna, a carência de investimentos públicos

eficazes, limita as chances de mudança em sua perspectiva de vida futura, tornando-os

vulneráveis a todo tipo de exploração.

O coordenador do Programa de Cidadania dos Adolescentes do Fundo das Nações

Unidas para o Desenvolvimento da Infância (UNICEF), Mario Volpi, destaca a desigualdade

como um obstáculo para as políticas e programas criados para a promoção de direitos de

crianças e adolescentes.

A precoce inserção na criminalidade e a convivência estreita com a violência faz com

que esses adolescentes vivam a ambiguidade de serem vítimas e vitimizadores, atores de uma

história permeada por insegurança e medo do amanhã. Rizzini aponta que,

São exemplos vivos das contradições de nossos tempos, entre o discurso emergente de direitos e a real situação de agravamento das desigualdades socioeconômicas. Defende-se o direito que as crianças e adolescentes têm à convivência familiar e comunitária, porém, não se lhes asseguram sequer condições mínimas para que possam sobreviver dignamente e permanecer em seus lares. Pelo contrário, como veremos no relato de suas vidas, eles.Parecem nascer sem lugar no mundo. Suas vidas são marcadas, desde o início, por adversidades contínuas, forçando-os a circunstâncias desumanas, que vão compondo o pano de fundo de suas trajetórias. “Embora ocupem as ruas com sede de viver, suas histórias são pautadas por episódios de fome, brigas, desastre, mortes, perdas, falta de opção, de apoio, de tudo” (Rizzini et all, 2003, p.12)

Segundo Enide Rocha, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

(IPEA), especializada na área dos direitos da infância e da adolescência, afirma que o

desrespeito aos direitos dos adolescentes aumenta a vulnerabilidade. "Envolve-se em um

delito quem já estava fora de qualquer mecanismo lícito de ascensão social, como a escola e

o trabalho legal". Para Rizzini, devemos estar efetivamente convictos da importância do

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investimento na juventude, se quisermos enfrentar os desafios para a reversão deste quadro.

Se os direitos de crianças e adolescentes fizessem parte das principais metas

governamentais, a realidade vigente seria muito melhor do que experimentamos hoje. Apesar

do Estatuto da Criança e do Adolescente definir prioridade nas políticas públicas destinadas a

este segmento, o Estado deixa de cumprir seu papel essencial, omitindo direitos

conquistados. Conforme as palavras de Gomes da Costa (1990, p.74),

O maior patrimônio de uma nação é o seu povo. O maior patrimônio de um povo são suas crianças e os seus jovens. O modelo econômico, político e social vigente no Brasil nas últimas décadas ignorou, de forma sistemática, esta verdade elementar.

É urgente um posicionamento de enfrentamento a esta problemática não somente pelo

governo, mas por todos nós cidadãos.

2.5. O assistente social e sua atuação no processo de execução da medida socioeducativa

de internação.

O Serviço Social surge no Brasil nos anos de 1930, atrelada à ideologia dominante e a

doutrina social da Igreja Católica que tinha o objetivo de recristianização da sociedade. De

acordo com Iamamoto (2008) o Serviço social surge da iniciativa de grupos ligados à classe

dominante, que se expressavam através da igreja.

As bases para sua implantação deu-se a partir do reconhecimento das tensões sociais,

advindas do agravamento da questão social com o processo de industrialização que trouxe

consigo um aumento considerável da população operária nas grandes cidades. Eles se

amontoavam nas cidades vivendo em condições insalubres, desumanas e precárias, próximo

das indústrias, sendo sujeitos a excessivas horas de trabalho. Uma fase de uma progressiva

miséria e exploração de homens, mulheres e crianças, que vieram a motivar estes

trabalhadores na luta por melhores condições de vida.

Diante de todo esse contexto o Serviço Social foi incorporado pelo Estado para

implementação de políticas assistenciais de caráter interventivo, buscando atenuar os conflitos

de classes, garantirem a disciplina e a reprodução da força do trabalho, e essa foi à primeira

missão do Serviço Social no Brasil. De acordo com Iamamoto (2008) a profissão se

caracteriza de forma ideologicamente interventiva na vida dos trabalhadores, com base

assistencial e com efeitos políticos, buscando o enquadramento dos trabalhadores nas relações

vigentes e reforçando a colaboração mútua entre trabalho e capital. Ainda segundo a autora,

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visando conter o avanço do proletariado, impedindo suas lutas e conquistas. O Serviço Social,

era visto como atividade auxiliar e subsidiária no exercício do controle social.

A expansão da profissão ocorre somente a partir de 1945, visando atender as

exigências e necessidades de aprofundamento do capitalismo no país, motivada pelas

mudanças pós-Segunda Guerra Mundial. No entanto, argumenta Silva (2008, p. 2-3), que:

O aprofundamento dessa ordem societária (necessariamente contraditória), marcada pela modernização conservadora do país ao longo das décadas de 40, 50, 60 e 70 do século XX, impôs à profissão uma revisão do ‘Serviço Social tradicional’, manifestada no chamado ‘processo de reconceituação’, que, com todos os seus limites, teve o mérito de recolocar questões centrais para o Serviço Social: a formação profissional (nos seus aspectos teórico-metodológico, técnico-instrumental e interventivo), a interlocução com outras áreas do conhecimento, a importância da pesquisa e da produção de conhecimentos no âmbito da profissão, entre outros aspectos.

Inicialmente Serviço Social caracterizou-se pela formação de profissionais destinados

a atuarem nos problemas sociais, como uma consequência das transformações econômicas e

industriais, surgidas a partir da segunda metade do século XIX. Iamamoto retrata que:

A ruptura com a herança conservadora se expressa como uma procura, uma luta por alcançar novas bases de legitimidade da ação profissional do Assistente Social, que, reconhecendo as contradições sociais presentes nas condições do exercício profissional, busca colocar-se, objetivamente, a serviço dos interesses dos usuários, isto é, dos setores dominados da sociedade. (2008, p.37)

Não obstante, novas idéias foram somando-se aos princípios bases do Serviço Social,

auxiliando, assim, em sua profissionalização. Diante disso, profundas foram as

transformações registradas para a profissão após as duas grandes guerras. Pode-se afirmar

então que o assistente social na atualidade assumiu novos contornos em seu perfil

profissional, bem diferente do ostentado no início do século passado.

O Serviço Social surgiu como um instrumento do capital para a manutenção da ordem

vigente, no entanto, apesar deste histórico inicial subjugado a classe burguesa, a profissão

avançou no decorrer de sua trajetória, criando mecanismos para a mudança de perspectiva de

atuação profissional, através da Lei de Regulamentação da Profissão e do Código de Ética

Profissionais ambas promulgadas em 1993, que destaca o seu compromisso com o

reconhecimento da liberdade como valor ético central.

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O Serviço Social se propõe a releituras críticas de sua intervenção, por isso torna-se

importante se apropriar de sua história, e segundo Iamamoto (2011, p.20):

[...] para garantir uma sintonia do Serviço Social com os tempos atuais, é necessário romper com uma visão endógena, focalista (...) do Serviço Social. Alargar horizontes, olhar mais longe (...). Extrapolar o Serviço Social para melhor apreendê-lo na história da sociedade da qual ele é parte e expressão. (...) para que se possam captar as novas mediações e requalificar o fazer profissional, identificando suas particularidades e descobrir alternativas de ação.

As expressões da questão social surgem da contradição capital trabalho e passa a ser a

matéria-prima da intervenção do profissional de Serviço Social. De acordo com Iamamoto

(2011, p.62):

O objeto de trabalho (...) é a questão social. É ela em suas múltiplas expressões, que provoca a necessidade da ação profissional junto à criança e ao adolescente, ao idoso, a situações de violência contra a mulher, a luta pela terra etc. Essas expressões da questão social são a matéria-prima ou o objeto do trabalho profissional.

A problemática do adolescente em conflito com a lei é uma dessas expressões, que

exige do assistente social um posicionamento ético-político pautado na garantia de direitos

desses cidadãos, mesmo que estes tenham transgredido a lei.

A intervenção do assistente social na execução da medida socioeducativa de

internação é um desafio complexo e demanda deste profissional um novo olhar, novos

conhecimentos e novas práticas, conforme a realidade e o momento histórico em que está

intervindo, deixando de ser somente um mero executor de tarefas, e assumindo um papel de

formulador de propostas de superação das expressões da questão social que se manifesta na

vida do sujeito.

Como afirma Iamamoto (2011, p.63), “Sendo assim, o conhecimento não é só um

verniz que se sobrepõe superficialmente à prática profissional, podendo ser dispensado: mas é

um meio pelo qual é possível decifrar a realidade e clarear a condução do trabalho a ser

realizado”.

O Serviço Social encontra-se inserido em todas as unidades do DEGASE, as de

semiliberdade, internação provisória e internação, a medida de liberdade assistida é executada

pelos Centros de Referência de Assistência Social dos municípios. Em se tratando da medida

de internação, especificamente dentro do CAI – Centro de Atendimento Intensivo de Belford

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Roxo, o assistente social atua de acordo com sua especificidade, em consonância com uma

equipe interdisciplinar, conforme as atribuições de cada profissional dentro do processo

socioeducativo. O adolescente ingressa na unidade transferido da internação provisória depois

da determinação da medida a ser cumprida, por mandado de busca e apreensão, ou quando sua

medida sofre o processo de regressão, por descumprimento da mesma ou por uma sanção

determinada pelo Juiz. Após a entrada do adolescente, ele recebe o primeiro atendimento

realizado por um membro da equipe técnica que pode ser o assistente social, o psicólogo ou o

pedagogo.

O primeiro atendimento consiste no acolhimento deste adolescente, no esclarecimento

acerca dos seus direitos e deveres dentro da instituição, informando-o do cotidiano

institucional e inicialmente coletando dados pessoais e informações sobre a sua vida

pregressa, sendo este o primeiro passo para a inserção do adolescente na unidade que

cumprirá sua MSE de internação. Logo me seguida, o profissional que o atendeu entrará em

contato com sua família comunicando a internação do adolescente na unidade, elucidando as

dúvidas que no momento se mostrem pertinentes. O adolescente na unidade de internação

CAI- Belford Roxo e sua respectiva família serão acompanhados pelo assistente social que

atuará sistematicamente na execução do seu processo de MSE, pois mesmo que o adolescente

esteja privado de liberdade por cometimento de ato infracional é primordial que essa privação

de liberdade não seja permeada pela privação de direitos, tomando como base de atendimento

o seu compromisso com os princípios fundamentais do Código de Ética da profissão, a defesa

intransigente dos direitos humanos, a ampliação da cidadania e também o compromisso com

os serviços prestados a seus usuários..

O assistente social tem sido chamado a intervir na realidade e essa intervenção não

pode ser pontual, mas transformadora, assim como coloca Iamamoto (2011), ir além das

rotinas institucionais detectando tendências e possibilidades a partir do movimento da

realidade para que possam ser impulsionadas pelo profissional, como também descreve

Rodrigues (1999 apud Freitas 2010, p.39), “É através da intervenção que se operam os

significados, os rumos, as mediações, a intencionalidade da ação profissional, revelando,

assim, os valores morais, éticos e políticos”.

A MSE de internação, é a privação completa da liberdade, restringe o adolescente do

convívio com a sociedade e sua família, do seu direito de ir e vir, no entanto, a família é parte

integrante do processo socioeducativo sendo importante que esse processo seja construído em

conjunto com o adolescente. Sendo assim, o adolescente poderá a partir de reflexões

propostas pelo assistente social e o apoio familiar, descobrir seus limites e suas

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potencialidades, bem como novas formas de ver o mundo, proporcionando uma consciência

crítica da realidade vivida por ele, descobrindo-se um ser humano em constante transformação

capaz de romper com atitudes que sejam prejudiciais e comprometam sua vida e seu futuro.

Iamamoto (2004) destaca, sobre a especificidade do trabalho profissional com a

juventude, que os assistentes sociais são chamados a contribuir na reconstrução das raízes

sociais da infância e juventude, na luta dos direitos sociais e humanos no cotidiano da vida

social de um segmento que vem sendo paulatinamente destituído de direitos e privado de

condições para o exercício da cidadania. A atuação do assistente social na execução de MSE

de internação também perpassa pelo fato de possibilitar ao adolescente uma reflexão sobre o

ato praticado e a dimensão do impacto desse ato em sua vida e na vida do outro, pois apesar

de terem violado os direitos de terceiros, não deixam de ser adolescentes e sujeito de direitos.

Conduzir o adolescente a responsabilização dos seus atos, não através de um olhar

discriminador, mas permitindo a esse sujeito conquistar e se fortalecer diante das dificuldades

impostas pelo seu contexto social. Sendo assim, é de total importância que o assistente social

em um movimento dialético, assuma um papel de constante enfrentamento das múltiplas

expressões da questão social que são enfrentadas pelo adolescente e suas famílias. Para

Iamamoto (2011, p. 38), essas expressões da questão social, “[...] vêm afetando não só os

direitos sociais, mas o próprio direito a vida”. Para a autora “decifrar a questão social é

também demonstrar as particulares formas de luta, de resistência material e simbólica

acionadas pelos indivíduos sociais á questão social”. (2011, p.59).

Desta forma é necessário o diálogo constante com outras políticas sociais, como a

assistência social, a saúde, a educação e a segurança pública, no intuito de minimizar as

desigualdades vividas por estes sujeitos sociais. É fundamental que o assistente social, interaja

com a rede, para o fortalecimento desse vínculo familiar, apesar da escassez de investimentos

na área social voltada para o atendimento de crianças e adolescentes, a articulação extramuros

torna-se uma ação necessária no acompanhamento da medida socioeducativa e também após

seu cumprimento, de acordo com Amaro (2006, p.243) “a idéia de rede está associada á

articulação racional e política de esforços e recursos, mediante a ação conjugada e

compartilhada de diferentes políticas, organizações e atores sociais”.

Os eixos da política da assistência social são importantes no atendimento ao

adolescente em conflito com a lei, a autonomia, a resiliência, o empoderamento e o

protagonismo, podem contribuir para a obtenção de sua cidadania plena, a recuperação de sua

autoestima, e o resgate do seu valor perante a sociedade.

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As mudanças podem e devem ser incentivadas, desde que estejam em sintonia com a

realidade vivida por estes atores.

A perspectiva de trabalho entre privação de liberdade e efetivação de direitos

apresenta-se ao assistente social como um desafio constante, um ideal a ser perseguido

mediante as impossibilidades impostas pelo sistema socioeducativo vigente, onde avanços

foram percebidos, porém os profissionais envolvidos na execução das medidas de internação,

ainda enfrentam muitos entraves em sua atuação profissional.

O assistente social frente a esta demanda, deverá pautar sua intervenção de forma a

compreender que o adolescente em conflito com a lei, é um ser em desenvolvimento, que

sofreu as mazelas impostas pelo sistema excludente do capitalismo, e que seu

comprometimento ético-político é com a efetivação na garantia dos direitos, na

operacionalização da medida socioeducativa e na potencialização da capacidade de

emancipação do adolescente, visando minimizar os conflitos decorrentes dos atos cometidos

por eles, possibilitando a estes sujeitos a construção de projetos de vida, nos quais lhes

permitam a superação da prática que o levou a institucionalização e a privação da liberdade. O

adolescente deve ser o alvo principal de nossa práxis, o centro de nossa atuação profissional.

Martinelli (1999, p.13) destaca:

Não obstante estejamos trabalhando em profissões que são eminentemente sociais, nem sempre percebemos exatamente quem é esse outro com o qual trabalhamos. Nem sempre temos claro que sujeito é esse. Em quantos momentos esse outro é visto de forma vulgarizada, banalizada, como se o centro de referência da prática fosse o profissional que a realiza e não o sujeito que a constrói conosco.

É necessário buscar penetrar, conhecer, sair do concreto, do limitado e descobrir o que

envolve a realidade do sujeito que será naquele momento objeto de sua intervenção.

A ação propositiva dos assistentes sociais no sistema socioeducativo prima por realizar

sua ação com eficiência e comprometimento, mesmo com toda dificuldade percebida diante

do limite institucional e da cultura de encarceramento e punição que se enfrenta em uma

instituição total como a internação. O agravamento da questão social tem contribuído

consideravelmente para o aumento da demanda de atendimento nas instituições de privação

de liberdade e isso influencia na qualidade do atendimento oferecido pelos profissionais,

fazendo com que muitas vezes não lhe seja permitido avançar numa análise mais profunda do

caso que demanda sua intervenção. O profissional também sofre com a falta de investimento

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do Estado nas instituições de socioeducação, sendo sobrecarregado em suas tarefas, porém, ao

mesmo tempo, cobrado para que defenda os interesses dessa instituição.

Considerando esses entraves no cotidiano da sua prática profissional, o assistente

social deve lutar para que não seja absorvido por uma prática mecanicista e imediatista,

entendemos que o acúmulo teórico-metodológico proporciona ao profissional condição para

firmar sua prática numa análise crítica, distanciada do senso comum e do conservadorismo

que permeiam os profissionais do Serviço Social ainda nesses tempos. A defesa do Projeto

Ético-Político requer assumir uma conduta contrária à ordem vigente combatendo as

injustiças sociais, a exploração advinda da opressão capitalista e as práticas meramente

assistencialistas.

Combater as práticas coercitivas e violentas que ainda fazem parte da dinâmica

institucional numa unidade de internação é um desafio constante, sendo necessário que o

profissional de Serviço Social reafirme seu compromisso cotidianamente com seu Código de

Ética na recusa do arbítrio e do autoritarismo, atitudes frequentemente observadas no trato

com os adolescentes acautelados.

No entanto, estes empecilhos não podem se tornar um estímulo negativo para a

atuação profissional e sim um fator desencadeador de estratégias que busquem efetivar

dignidade e respeito na vida dos adolescentes atendidos na instituição. Deve-se acreditar na

possibilidade de ações efetivamente socioeducativas, bem como, vir a possibilitar a

visibilidade a esses sujeitos sociais perante o Estado e a sociedade civil.

A contradição entre privação de direitos e privação de liberdade se apresenta ao

assistente social executor de MSE como um ideal a ser defendido e conquistado, contudo

sabemos que o conhecimento é a melhor arma para a ruptura da alienação e a busca da

autonomia, viabilizar o acesso a este conhecimento é um dos papéis principais do profissional

de Serviço Social dentro desse contexto de dominação, privação e exclusão, imposta pelo

sistema socioeducativo vigente.

3. CAPÍTULO III – A PESQUISA DE CAMPO

3.1- Metodologia

A metodologia é construída para explicar ou compreender de forma minuciosa,

rigorosa, detalhada e exata um fenômeno, um processo ou um conjunto de fenômenos e

processos.

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Segundo Minayo (2012, p.16), “entende-se por pesquisa a atividade básica da ciência

na sua indagação e construção da realidade. Esta alimenta a atividade de ensino e a atualiza

frente à realidade do mundo, embora seja uma prática teórica, a pesquisa vincula pensamento

e ação”.

Dessa forma podemos afirmar que a metodologia é a explicitação do tipo de pesquisa

dos instrumentos utilizados (questionário, entrevista, etc.), ainda de acordo com Minayo

(2012, p.14) a metodologia:

É o caminho do pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade. Ou seja, a metodologia inclui simultaneamente a teoria da abordagem (o método), os instrumentos de operacionalização do conhecimento (as técnicas) e a criatividade do pesquisador (sua experiência, sua capacidade pessoal e sua sensibilidade).

A metodologia apresenta como a pesquisa será realizada, indicando a obtenção e a

forma do manuseio das informações.

3.1.1 - Tipo de Pesquisa

Este projeto consistirá em uma investigação no campo das políticas onde o método

escolhido foi à pesquisa qualitativa, uma vez que será realizada uma pesquisa bibliográfica.

A pesquisa qualitativa trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. O conjunto de dados qualitativos se complementa, pois a realidade abrangida por eles interage dinamicamente, excluindo qualquer dicotomia. (Minayo, 2012. p. 21).

Desta forma conclui-se que, os procedimentos de coleta, interpretação e análise dos

dados são mais flexíveis e podem ser construídos ao longo do processo. A análise, apesar de

ocorrer desde o início do processo, se torna mais sistemática e formal após o encerramento da

coleta de dados, quando se transforma em um processo indutivo, interativo e recorrente,

porque o avaliador, muitas vezes, volta às fontes para confirmar e ampliar os dados e para

validar os resultados e conclusões. Os estudos qualitativos respondem a questões muito

particulares, preocupando-se com um nível de realidade que não pode ser quantificado.

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3.1.2 - Universo/Amostra

Nessa seção delimita-se o universo da pesquisa, ou seja, a população e a amostra que

serão pesquisadas. Segundo Gil (2010) universo ou população é um conjunto definido de

elementos que possuem determinadas características. Enquanto a amostra é subconjunto desse

universo, a amostra deve ser obtida de uma população específica e homogênea por um

processo probabilístico aleatório, por meio do qual se estabelecem ou se estimam as

características do mesmo.

O estudo foi realizado com o quantitativo de 05 assistentes sociais definindo assim

uma amostra do quantitativo total de 06 profissionais correspondente ao quadro técnico do

serviço social da unidade CAI Belford Roxo.

3.1.3 - Instrumento/Procedimento

O instrumento de pesquisa utilizado para coleta de dados foi à entrevista semi-

estruturada e a interação face a face, pois de acordo com Magalhães,

(...) permite que a enunciação de um discurso se expresse não só pela palavra, mas também pelo olhar, pela linguagem gestual, pela entonação, que vão contextualizar e, possivelmente, identificar subjetividades de uma forma mais evidenciada. Sob esses enfoques, pode-se dizer que o discurso direto se expressa uma interação dinâmica. (2003, p.29)

Segundo Minayo, “A entrevista tem o objetivo de construir informações pertinentes

para um objeto de pesquisa, e abordagem pelo entrevistador, de temas igualmente pertinentes

com vistas a este objetivo”. (2012.p.64). A entrevista destinada aos profissionais de Serviço

Social, através de 7 (sete) perguntas realizadas no mês de setembro de 2013 com objetivo de

entender a dinâmica da atuação do assistente social dentro da unidade de internação CAI

Belford Roxo no acompanhamento de seus usuários , perpassando pelo sistema

socioeducativo e as medidas socioeducativas.

3.2 – Análise de dados

3.2.1- Eixo 1- O sistema socioeducativo e as medidas socioeducativas

3.2.1.1. As características dos adolescentes que cumprem MSE de internação no CAI

Belford Roxo.

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Nas entrevistas realizadas podemos verificar uma fala significativa pontuando as

seguintes características percebidas pelos assistentes sociais em relação a seus usuários, quais

sejam:

O CAI Belford Roxo é uma instituição estadual responsável por executar a MSE de

internação aos adolescentes do sexo masculino provenientes da região da Baixada Fluminense

e interior do Estado do Rio de Janeiro. Segundo os profissionais, o CAI Belford Roxo tem

como demanda adolescente na faixa etária predominante entre 15 a 17 anos, grande parte

estão em sua 1ª passagem pelo sistema socioeducativo, advindos em sua maioria de

comunidades da baixada fluminense, com maior incidência de adolescentes do município de

Duque de Caxias. Percebe-se a contingência superior de adolescentes negros, geralmente

cursando o ensino fundamental incompleto, alguns não passam de analfabetos funcionais.

Como descreve as falas abaixo:

No meu módulo, (...) são adolescentes de 1ª passagem (...) teoricamente não eram pra estar aqui (...). (Entrevistado 1)

A maioria da baixada, de Duque de Caxias, maioria do meu módulo está por tráfico (...). (Entrevistado 2)

Eu vejo uma frequência muito grande de meninos negros, analfabetos ou quando inserido e numa escola não dominam conteúdo passado, filhos de mãe solteira (...). (Entrevistado 3)

(...) há prevalência entre 16 e 17 anos, negros ou pardos, com baixíssima escolaridade (...) além de ligações com o tráfico. (entrevistado 4)

Os adolescentes em conflito com a lei pertencem em sua maioria há famílias pobres

que vivem em condições de vulnerabilidade social e que sofrem as consequências advindas da

escassez de investimentos em políticas públicas efetivas voltadas a crianças e adolescentes.

Esses adolescentes são frutos amargos das expressões da questão social, que não

podemos tocar, porém podemos sentir , através da falta de oportunidade que ela gera, através

do desemprego, do analfabetismo, da fome, da miséria, e principalmente da violência, o que

torna a nossa sociedade cada vez mais desigual. Segundo Iamamoto e Carvalho (2008, p.77),

a questão social “É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o

proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção mais além da

caridade e repressão”. O que podemos identificar na fala abaixo:

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(...) provenientes de famílias pobres, a maioria das famílias não tem uma inserção no mercado formal de trabalho... E o menino aprende o não emprego que resulta na criminalização da pobreza. (Entrevistado 5 )

Em relação ao ato infracional, os profissionais destacam o envolvimento com o tráfico

de drogas local e o uso de drogas, como característica presente na maioria de seus usuários.

No que tange o contexto sociofamiliar às experiências perpassam por situações de violência

doméstica, família extensa, muitos criados por mães solteiras ou somente por suas avós. De

acordo com a fala dos profissionais estes adolescentes sofrem desde a infância a

criminalização da pobreza e destacam a falta de oportunidades como um dos motivos que o

levaram a cometer o ato infracional. Como foi dito por uma das profissionais entrevistadas:

(...) acham que pra situação dele mudar ele tem que mudar de localidade, e muitos devido a situação socioeconômica não conseguem e tem que voltar para o mesmo local que foi apreendido da primeira vez. (...) saem daqui e continuam nas atividades ilícitas. (...) não consegue algo diferente até mesmo pela falta de oportunidade acabam retornando para atividade anterior, neste caso em sua maioria, o tráfico de drogas. (Entrevistado 1)

Podemos observar a predominância no sistema socioeducativo de adolescentes que se

envolvem muito cedo com a criminalidade através do ingresso no mundo do tráfico de drogas.

Ações preventivas que possibilitem reduzir as desigualdades sociais deveriam ser

prioridade, o adolescente em conflito com a lei é o reflexo materializado de um processo real

de exclusão, o Estado possui uma preocupação muito maior com ações punitivas e coercitivas

e esse descaso tem contribuído para a inserção de muitos adolescentes no mundo da ilicitude.

Os assistentes sociais do CAI Belford Roxo vivem entre a socioeducação utópica

pregada pelo Estado e a realidade vivida na instituição, é necessário que compreendam quem

são e como vivem este segmento da sociedade e a partir deste conhecimento criar ações para o

enfrentamento desta problemática. Volpi (2011) destaca a importância de criar mecanismos

de controle para efetivação do Estatuto da Criança e do Adolescente. Entender os fatores que

levaram este adolescente a “escolher” cometer o ato infracional é imprescindível para o

assistente social nos dias atuais.

Vivemos em um país desigual e o resultado se reflete em unidades socioeducativas de

internação superlotadas, adolescentes que sofrem com a exclusão social e econômica, que não

tem acesso à educação, lazer, cultura, saúde e são condicionados a viver a margem desta

sociedade excludente e discriminatória. Segundo Rosa (2010, p.197) “É erro pensar que a

letra da lei impõe sua prática, pois a realidade mostra ao contrário”.

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3.2.1.2. A contribuição do ECA e do SINASE para o sistema socioeducativo em especial

a para MSE de internação.

Nas entrevistas realizadas, pudemos verificar uma fala significativa quanto a

contribuição do ECA e do SINASE para o sistema socioeducativo em especial para a medida

socioeducativa de internação, a nossa Constituição Federal de 1988, já declarava em seu

artigo 227 a prioridade no tratamento aos direitos das crianças e adolescentes, dois anos

depois o ECA vêm para ratificar os direitos e deveres e dispor sobre a proteção integral à

criança e ao adolescente, assim dispõe em seu art. 2° esclarecendo sobre a faixa etária

inseridas nesta proteção: “Considera-se criança para todos os efeitos da lei, a pessoa até doze

anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos incompletos.

Na contemporaneidade do Estado brasileiro o ECA e o SINASE se tornaram leis de

referências, bases norteadoras no atendimento ao adolescente em conflito com a lei.

O SINASE foi regulamentado para atender especialmente este público, objetivando

um tratamento deste sujeito como um ser de direitos, mas não o isentando de suas

responsabilidades.

Sabemos que, a infância e a adolescência no Brasil eram tratadas de forma moralista,

conservadora, com discriminações, explorações, violência e sem direito algum. Sobre o

processo de construção do ECA, Silva observa:

(...) é no movimento endógeno e exógeno que consideramos o ECA uma conquista tardia das lutas sociais. o ECA não foi uma dádiva do Estado, mas uma vitória da sociedade civil, das lutas sociais e reflete ganhos fundamentais que os movimentos sociais têm sabido construir. Ocorre que foi uma conquista obtida tardiamente nos marcos do neoliberalismo, nos quais os direitos estão ameaçados, precários e reduzidos, criando um impasse na cidadania de crianças, no sentido de tê-las conquistada formalmente, sem, no entanto, existirem condições reais de ser efetivada e usufruída. (2005, p. 36)

Nas falas a seguir podemos verificar que a efetivação das legislações é um desafio

constante, principalmente para o assistente social do CAI Belford Roxo, pois no sistema

socioeducativo atual ainda pode-se perceber alguns ranços que fazem lembrar práticas de

décadas passadas.

(...) acho que é importante o respaldo legal, mas tem seus problemas, na pratica permanece muita coisa daquela época da situação irregular né, até a forma dos agentes tratarem os meninos, agente percebe essa lógica que em fim (...). (entrevistada 03)

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(...) nós temos uma herança até patrimonial, todo patrimônio do Estado do Rio de Janeiro do DEGASE é patrimônio do antigo código de menores, todo aparato equipamento (...). (entrevistada 05)

(...). nós temos uma linha política extremamente conservadora, onde está um embate muito grande político dessas duas tendências a do conservadorismo e do cautelismo (...). (entrevistada 05)

Cabe ressaltar que em relação a sua implementação, o sistema socioeducativo enfrenta

grandes dificuldades de aplicabilidade. Houve avanços consideráveis, no entanto para muitos

profissionais do Serviço Social do CAI Belford Roxo ainda há muito a fazer. Em relação à

estrutura física da instituição, ainda existem alojamentos em condições insalubres, geralmente

com lotação maior do que a unidade comporta, mais um demonstrativo de que violação de

direitos é constante, infelizmente a teoria está longe de se consolidar na prática, é o que

perceberemos nas falas dos profissionais a seguir:

O Estatuto e o SINASE foram importantes pra medida de internação à medida que ele vai acabar dando aquele cunho socioeducativo uma reeducação no trabalho com o adolescente... questão da punição eles puniam o adolescentes que cometiam ato infracional não era trabalhado com eles o sentido de mudança de vida. (entrevistada 01).

Não está funcionando, é bonito no papel. O que consta no SINASE não está acontecendo, em relação à equipe, em relação a tudo não está funcionando só está no papel ainda (...). (entrevistada 02).

O SINASE determina não só a forma como deve ser tratado o adolescente em conflito

com a lei, mas define arquitetonicamente como esse espaço de socioeducação deve ser

construído para atender esta demanda e realmente contribuir para que este jovem reflita e saia

desta condição de adolescente em conflito com a lei e retorne ao seu convívio familiar e

comunitário.

(...) No que tange o SINASE, sem dúvida que sua existência formal é imensurável, no entanto, são enormes os entraves estruturais, de recursos humanos e a ausência de vontade política para sua efetivação plena (...). (entrevistada 02)

Cabe ressaltar que a instituição tem a obrigação de cumprir a lei, os profissionais de

Serviço Social e a sociedade devem poder participar deste processo, cobrando resultados da

instituição, procedendo às denúncias ao Ministério Público, participando dos conselhos e

exigindo cumprimento da lei, e consequentemente a melhoria no atendimento. O art. 95 do

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ECA determina que: “As entidades governamentais e não governamentais no art. 90 serão

fiscalizadas pelo Judiciário, pelo Ministério Público e pelos Conselhos Tutelares”.

Sendo assim, os profissionais envolvidos na execução de MSE, principalmente o

assistente social, poderão ver os resultados destas ações refletidas no cotidiano da instituição

e em sua atuação profissional. Esse esforço mútuo com certeza trará benefícios para

profissionais, famílias e usuários.

3.2.1.3. A aplicação das medidas socioeducativas.

Nas entrevistas realizadas verificaremos uma fala significativa pontuando o viés das

medidas socioeducativas percebidas pelos assistentes sociais, quais sejam:

As medidas socioeducativas, contrariando a legislação, trazem em seu bojo, ainda nos

dias de hoje, muito do aspecto meramente punitivo, destacando-se fala das entrevistadas da

unidade pesquisada uma prática da socioeducação permeada por sanções e coerções.

Podemos ilustrar os dados acima, com os seguintes depoimentos abaixo:

(...) hoje a gente não pode dizer que trabalha totalmente com socioeducação, infelizmente há algumas pessoas que trabalham com aspecto meramente punitivo. ”(Entrevistado 1)

(...) a medida ela é socioeducativa, o que faz ficar diferente é o método da unidade. (Entrevistado 2)

Deveria ser educativo, mas agente vê sanção sobre sanção (...). (Entrevistado 5 )

De acordo com Aguinsky apud Schmidt (2011) os progressos do sistema

socioeducativo introduzidos pelo SINASE, afirmam a necessidade de transformações

permanentes na realidade do atendimento ao adolescente em conflito com a lei. Diminuir a

distância entre a socioeducação que temos na privação de liberdade, e a socioeducação que

necessita ser construída para atingirmos consonância com os marcos de direitos humanos

ainda é um longo trajeto a ser percorrido.

Dentro da Unidade CAI Belford Roxo ainda podemos observar uma contradição muito

grande entre o velho e o novo, concepções contraditórias que influenciam diretamente no

trabalho dos profissionais de Serviço Social que defendem a efetivação do ECA e do

SINASE. É uma luta dentro dos limites das fronteiras estabelecidas pela instituição e por seus

vários atores.

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Outro aspecto relatado é a presença de uma atitude preconceituosa e discriminatória de

alguns atores envolvidos na execução das medidas socioeducativas em relação ao adolescente

em conflito com a lei e ao ato praticado. É como se a medida imposta pelo judiciário não

fosse suficiente, há uma reprodução muito presente da vingança social dentro da unidade.

Destaca-se também na fala das assistentes sociais os problemas advindos das rotinas

institucionais, da superlotação, da repressão e da falta de respeito à individualidade do

adolescente o que dificulta consideravelmente a prática socioeducativa. Como podemos

destacar nas falas abaixo:

Não cabe a gente julgar o adolescente, nosso trabalho é estar trabalhando com ele, tentando o fazer modificar de vida, refletir sobre novas perspectivas, só que infelizmente as pessoas sabem o que ele cometeu lá fora, aqui dentro ele tem que sofrer, tem que ser punido pelo que cometeu, ele já foi julgado, ele já teve o processo dele, a medida já foi determinada, cabe nosso papel aqui fazer com que essa medida seja cumprida e que ele saia daqui diferente (...). (entrevistado 1)

(...) na prática permanecem coisas do passado e com certeza as medidas têm sido aplicadas com viés punitivo, é um Estado totalmente moralista (...) (Entrevistado 3)

Deveria ser educativa, mas a gente vê sanção sobre sanção (...). A própria aplicabilidade da medida tem o que a gente estava falando do viés político, o que o Rio de janeiro está até 2016 se preparando para uma série de eventos, onde se tem o mito da cidade maravilhosa e as instituições penais e socioeducativas estão lotadas (...). (Entrevistado 4)

É necessário deixar claro que estes adolescentes são autores de atos infracionais, mas

também são vítimas, quais ações governamentais têm sido realizadas para que o sistema

socioeducativo venha a imprimir nestes adolescentes a perspectiva de que suas vidas após o

cumprimento da medida irão mudar de direção.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (1990) foi uma das maiores conquistas para a

garantia de direitos deste segmento, no entanto, ainda podemos ver muito descaso na

efetivação da lei, principalmente no que tange a socioeducação. Como destaca Moreira

(2006,p.27) “...a desresponsabilização do Estado e a falta de partilhamento de encargos

expressam a política preponderante no sistema socioeducativo no Rio de Janeiro”.

3.2.1.4. A contribuição da MSE de internação para o rompimento do adolescente com o

ato infracional e para o seu processo de ressocialização.

Nas entrevistas realizadas podemos verificar uma fala significava pontuando sobre a

contribuição da MSE de internação para o rompimento do adolescente com o ato infracional e

para o seu processo de ressocialização revelando que:

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A medida socioeducativa de internação de forma geral não contribui de maneira

efetiva para a ressocialização e para o rompimento com o ato infracional, como podemos

ilustrar nas falas abaixo:

Ela não contribui, pode contribuir para alguns (...) para que a internação mude deve haver outras ações...” (Entrevistado 2)

(...) eu avalio que a internação faz retroceder muito e me preocupo então, eu não vejo a internação como uma medida de ressocializar, não vejo. (Entrevistado 3)

Houve em sua maioria uma fala uníssona destacando a importância de o Estado

investir em políticas públicas que evitem que este adolescente ingresse no sistema

socioeducativo, trabalhar a prevenção e não recorrer à institucionalização indiscriminada

como principal solução do problema do envolvimento de adolescentes com a ilicitude.

Completam ainda que entre os adolescentes haja um sentimento de intensa revolta, e

constatam que a internação está surtindo como uma resposta contrária à esperada pela

legislação e pela sociedade. Segue os depoimentos abaixo:

(...) acabam ganhando internação em vez de serem trabalhados e ressocializados eles acabam piorando eles acabam ficando revoltados. Eu acho assim o mais ideal é você trabalhar com ele enquanto está na sociedade (...). Enquanto o sistema de proteção de garantia de direitos ele não funciona acaba sendo necessária recorrer à medida socioeducativa no caso, isso é o extremo(...) não é pro garoto chegar aqui, o ideal que o adolescente fosse acompanhado pelo conselho, pela rede externa, lá fora, pelo serviço de saúde, assistência pra que somente em último caso ele viesse parar aqui, mas infelizmente está ao contrário, ele para aqui e daqui ele começa acesso a rede. (Entrevistado 1)

Pra existir uma socioeducação, pra que a internação mude tem que acontecer outras ações, devia fazer um curso aqui e ter aproveitamento num estágio numa empresa, pra tentar mudar. (Entrevistado 2)

Não seria a medida o dispositivo para ligar ou desligar o ato infracional. Eu acho que há outras políticas que não são acionadas. (Entrevistado 5)

Mediante aos depoimentos colhidos nas entrevistas podemos destacar que a medida

socioeducativa de internação, ainda está longe de ressocializar e fazer com que o adolescente

institucionalizado saia daquele local pronto para uma nova vida. É muito além do que

“prender” é investir em políticas sociais na área da educação, saúde, esporte, lazer entre outras

e que contribuirão para que este adolescente não retorne a praticar tais atos. O Sistema

Nacional de Atendimento Socioeducativo (2006), diz que a situação do adolescente em

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conflito com a lei não exclui a aplicação do princípio constitucional de prioridade absoluta,

sendo assim, todos os direitos preconizados no ECA, devem contemplar a elaboração das

políticas públicas desenvolvidas para esses adolescentes. De acordo com o Ministério da

Saúde (2006 p.35-36)

Numa sociedade com tantas desigualdades como a brasileira, esse fato precisa ser analisado de forma associada à violência estrutural e à questão de classe, pois a quase totalidade dos que estão em regime de medida socioeducativa são meninos e meninas pobres. Nesses casos, junta-se a situação de precariedade social com os preconceitos e as dificuldades, por parte dos jovens, de pensar um projeto de vida, fora das condições estruturais desfavoráveis. Sobretudo nas grandes cidades, muitos ficam entre a escolha de inserção no mercado varejista de drogas, no subemprego ou nos empregos desqualificados, pois é também aos mais pobres que faltam estudos formais e qualificação profissional.

O agravamento e o aumento do envolvimento de adolescentes com atos infracionais

são uma realidade que deve ser enfrentada através de políticas públicas e programas de

prevenção para que esses adolescentes não precisem de ressocialização e sim de um

desenvolvimento saudável dentro do contexto social em que estão inseridos.

3.2.2 - Eixo 2 – As medidas socioeducativas e o Serviço Social

3.2.2.1. A viabilização do acesso aos direitos previstos no ECA e no SINASE.

Nas entrevistas realizadas pudemos verificar uma fala significativa quanto as

estratégias utilizadas pelas assistentes sociais para viabilizarem os direitos previstos no ECA e

no SINASE, buscando romper com os paradigmas do Código de Menores e ainda promover a

proteção integral frente aos limites institucionais, pontuando que trabalhar e viabilizar os

direitos dos adolescentes dentro do sistema socioeducativo, em especial no CAI Belford

Roxo, só será possível com a articulação entre todos os agentes envolvidos na execução da

medida socioeducativa.

Os profissionais ressaltam a importância de uma escuta sensível e individualizada

respeitando a personalidade de cada adolescente, a orientação para que seja despertada sua

cidadania e o exercício dela para obtenção de um melhor entendimento de seus direitos

sociais, civis e políticos, tendo como foco principal conquistá-los dentro do espaço

institucional. O Estado é responsável pela integridade física, psicológica e moral destes

adolescentes e quando há violação destes direitos, os profissionais orientam a proceder com

denúncias aos órgãos competentes. Foi possível perceber que nos dias atuais ainda há um

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índice elevado de violência física, superlotações e abuso de poder por parte dos agentes

socioeducadores. Infelizmente esta é a realidade atual que perpassa o cotidiano do sistema

socioeducativo.

No que se refere às medidas socioeducativas, o Estatuto insere-se na natureza penal,

mas com finalidade pedagógica, ou seja, aqueles que defendem que o ECA se concretiza

apenas para a proteção dos jovens desconhecem a natureza das medidas, bem como a

realidade vivenciada por centenas de adolescentes privados de liberdade em instituições que,

criadas para “ensinar” o cumprimento da lei, são as primeiras a descumpri-las por meio de

constantes e graves violações de direitos. Isso remete a realidade recorrente brasileira de

penalização da pobreza.

(...) A socioeducação tem que ser feita com a participação de todos os agentes, ou seja, dos atores sociais que estão aqui trabalhando com os adolescentes (...). (Entrevistado 01)

(...) quando o menino coloca alguma situação de agressão (...) eu acho que minimamente trazer essas questões pra discussão não só com os colegas, como com a direção (...). (Entrevistado 03)

(...) é um direito do adolescente de não ser mal tratado com seu corpo, ele ter sua preservação, sua integridade física. (...)Eu acho que você tem que ter seus instrumentos profissionais bem claros (...) estar sempre estudando par ter respaldo legal.”(Entrevistado 05)

É importante destacar que a mudança de paradigma rompeu, sim, com a lógica do

Código de Menores, porém para os adolescentes que cometem atos infracionais a lógica da

penalização da pobreza perpetua-se com outras faces. Sobre a manutenção da lógica

capitalista Silva refere-se:

(...) é preciso deixar claro que o conteúdo filosófico do ECA não contém a negação e a ruptura com o código, como é tão propalado pelos militantes do movimento pela infância. O projeto de sociedade capitalista se manteve inalterado na estruturação do ECA, mostrando que seus alicerces são pautados na questão da prevenção geral, que remete a “periculosidade juvenil”, isto é à perspectiva criminológica face aos adolescentes em conflito com a lei. (2005 p. 45)

Muda-se a roupagem, mas as bases continuam as mesmas, é o que se percebe na

seguinte fala:

Aqui nos temos um limite institucional, como você vai garantir direito a 180/190 adolescentes em uma casa que comporta 120, e o SINASE diz que eu tenho que ter 90 adolescentes dentro de uma unidade. Então assim, é

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muito contraditório, como você garante direitos se você não está conseguindo respeitar o que a lei de uma certa forma diz, vai ter limites. (entrevistado 01)

O assistente social não garante direitos sozinho, ele faz parte de uma equipe técnica

que realiza um trabalho multidisciplinar, que busca articular as estratégias de atendimento

considerando as especificidades que a instituição apresenta. Com tudo cabe ressaltar a

importância de estar sempre respaldado teoricamente nas legislações vigentes do país, na

política setorial que orienta seu espaço profissional e nas demais políticas sociais.

3.2.2.2. A contribuição do assistente social na reintegração do adolescente á convivência

familiar e comunitária.

Nas entrevistas realizadas podemos verificar uma fala significativa pontuando a

concepção dos assistentes sociais, referentes à sua contribuição na reintegração do

adolescente a convivência familiar e comunitária.

Destacando o trabalho realizado com o intuito de reconstruir e fortalecer o vínculo

rompido, com foco principal no regresso deste adolescente ao seio familiar e societário após o

cumprimento da medida socioeducativa.

Os profissionais relatam uma grande dificuldade para realização do acompanhamento

sistemático dos familiares destes adolescentes, pois verbalizam que não há espaço físico e

nem tempo suficiente para atendimento e orientação dos mesmos, já que o único momento

disponível para atendê-los é o horário de visita na unidade, que acontece apenas duas vezes

por semana sendo dividida em dois grupos distintos.

Como podemos verificar na fala do profissional abaixo:

(...) tem adolescentes que chegam aqui com os vínculos familiares totalmente rompidos, então você vai trabalhando no sentido que eles sejam integrados, você tem que pensar na saída do adolescente da unidade (...) claro que têm suas dificuldades, a gente não têm espaço para atender família, você fica restrito ao horário da visita, ai infelizmente você tem que tirar o tempo do menino da visita dele, existem alguns limites. Mas é possível de certa forma tá atendendo a família e o adolescente ali, tá observando como é o contato dele com a família, se não tá legal, já começa observar e trabalhando isso com ele. (Entrevistado 01)

Mesmo diante do obstáculo estrutural e institucional, e das dificuldades de

viabilização da rede, os profissionais se empenham em orientar e aproximar as famílias de

seus adolescentes, mediante ao acesso a leitura de cartas e de uma busca incessante em

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viabilizar a visita de pais, avós e irmãos, já que outras pessoas somente têm o acesso através

de autorização judicial.

Ele não está desintegrado da convivência, ele está na privação de liberdade. É o direito dele de ir e vir que está restrito, mas ele tem a carta, ele tem a visita, eu acho que o importante é fazer que o adolescente tenha essa consciência de que ele está privado de liberdade, mas a condição (...) não o desintegra, afasta, é um afastamento da convivência mais presente, presença física(...). (Entrevistado 5)

Torna-se primordial o contato com a rede assistencial principalmente encaminhando a

família para o CREAS de sua região iniciando-se assim um acompanhamento sócio familiar e

de inserção em programas sócio assistenciais, pois o adolescente poderá vir a ser

acompanhado no futuro pelo mesmo equipamento. Se sua medida vier a progredir para o

cumprimento da liberdade assistida, quanto antes for estabelecido este contato, esta

articulação entre instituição, família e rede, mais produtivo será o acompanhamento do

adolescente egresso. O Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de

Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária (2010, p.34) destaca que

“Além de muito importante para o desenvolvimento pessoal, a convivência comunitária

favorável contribui para o fortalecimento dos vínculos familiares e a inserção social da

família.”.

Cabe ressaltar a relevância de uma reflexão conjunta de pais e filhos sobre estratégias

de enfrentamento as causas que o levaram a cometer o ato infracional. O trabalho de

aproximação ou reaproximação, na concepção dos profissionais de Serviço Social é um

desafio, dificultado por questões que vão além das suas possibilidades técnicas.

(...) ele vai sair daqui, ele vai ter que ficar com essa família, (...) então é um momento que a gente trabalha para ir fortalecendo, eles mesmos, pela carência deles, eles têm que voltar a se reconhecer. (Entrevistado 2)

(...) mostrar que suas famílias não são “desestruturadas” ou culpadas. Mas que são vítimas da barbárie inerente ao modo capitalista vigente. (Entrevistada 04)

Ainda segundo Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de

Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária (2010 p.54),

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Do ponto de vista do direito a convivência familiar e comunitária, as medidas socioeducativas restritivas da liberdade impõem, obviamente, limites à convivência cotidiana dos adolescentes com suas famílias e comunidades, o que não significa excluir a família do processo pedagógico empreendido pelos adolescentes.

De uma forma geral, os profissionais ficam impossibilitados de acompanhar o

adolescente após a sua liberação do sistema socioeducativo. Como segue em depoimento

abaixo:

São poucas as situações, mas acontece dos familiares retornaram dizendo como tá o menino e eu mesmo procuro fazer os contatos pra saber como está (...) Eu consigo ver que de certa forma eu contribuí é quando eu tenho esse retorno da família ou o próprio adolescente (...). (entrevistado 03)

Cabe ao Estado zelar pelo atendimento as necessidades dos adolescentes em conflito

com a lei e de suas famílias, proporcionando-lhes condições de fortalecimento e de

desempenhar o seu papel, que é indispensável, no relacionamento desse adolescente com a

sociedade. Investindo em políticas públicas, criando subsídios para proteger e prevenir que

estes adolescentes não cheguem ao sistema socioeducativo, e se chegarem, que possam sair

socializados com um novo projeto para sua vida.

3.2.2.3. Estratégias encontradas para que sua atuação profissional seja critica e

propositiva.

Na entrevista realizada com os assistentes sociais, quando perguntado sobre a sua

atuação profissional e suas estratégias de intervenção para com os adolescentes em

cumprimento de medida socioeducativa.

Destacam como instrumento de suma importância em sua atuação profissional

aperfeiçoar seu conhecimento teórico, através do domínio das leis que regulamentam a

socioeducação, e principalmente a Lei de Regulamentação da Profissão, o Código de Ética

Profissional.

A partir deste conhecimento teórico que poderão refletir e intervir de forma crítica no

seu agir frente a seu usuário. De acordo com Sousa (2008) é necessário que o profissional de

Serviço Social acompanhe as mudanças da realidade social, que se atualize, para que não

venha reproduzir mecanicamente suas atividades profissionais, além disso, o conhecimento

traz possibilidades para que haja proposta de mudança nesta realidade. Assim destaca também

Iamamoto (2011), o exercício da profissão de assistente social é ir além das rotinas

institucionais detectando tendências e possibilidades a partir do movimento da realidade para

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que possam ser impulsionadas pelo profissional. Como podemos ilustrar abaixo, destacando

as seguintes falas:

Eu acho que o papel do assistente social é justamente ter esse cuidado constante de ver o adolescente como sujeito de direito, eu acho que a gente que tá aqui na instituição tem o papel fundamental de trazer essa leitura (...) uma leitura abrangente da realidade. Essa leitura abrangente favorece muito nosso trabalho com os meninos nessa situação de infração (...) o serviço social em esse olhar mais ampliado, eu acho isso uma grande vantagem da nossa profissão. O projeto ético político e o código de ética são fundamentais para a gente ter uma prática comprometida com o trabalho (...) esses dois instrumentos como forma de dar possibilidade de ir além da demanda, pra além do ato infracional. (Entrevistado 3)

É importante que nós tenhamos esse parâmetro da atuação bem presente dentro da gente, à questão teórica deve estar bem presente. (entrevistado 5)

Os profissionais destacam em suas falas que o comprometimento ético, na defesa da

democracia, da autonomia e da emancipação são princípios que não podem deixar de fazer

parte do seu atendimento ao adolescente em conflito com a lei, apesar dos inúmeros entraves

que surgem durante o processo de atendimento a seus usuários. Posicionam-se também

contrários a qualquer tipo de violação de direitos, buscando trabalhar de forma a respeita-los

como sujeito em desenvolvimento, que possuem uma personalidade única, desta forma, faz-se

necessário um olhar amplo e abrangente da situação de cada indivíduo, que está inserido em

um determinado grupo social, e essas peculiaridades devem ser consideradas. Como destaca

Sousa (2008, p. 129):

Os seres humanos são seres essencialmente sociais, ou seja, vivem em uma determinada sociedade. E essa sociedade é uma totalidade. Nenhuma situação pode ser considerada apenas em sua singularidade, pois senão corre-se o sério risco de se perder de vista a dimensão social da vida humana. Portanto, qualquer situação que chega ao Serviço Social deve ser analisada a partir de duas dimensões: a da singularidade e a da universalidade. É na relação entre a universalidade e a singularidade que se torna possível apreender as particularidades de uma determinada situação.

Entendemos que o fato de estar privado de liberdade não o isenta de ser considerado e

respeitado como cidadão. Como destaca a seguinte fala:

Trabalhar esses adolescentes como indivíduo, com respeito, quando você respeita o sujeito, o adolescente (...) que tem uma personalidade, uma identidade, isso é importante, ele não é um número, não é mais um aqui dentro, ele tem um nome ele é uma pessoa, tem que ser respeitado na sua identidade na sua formação no seu desenvolvimento. (Entrevistado 1)

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Mediante a fala dos profissionais do CAI Belford Roxo pode-se compreender que

buscam honrar seus princípios éticos, mesmo enfrentando diante de si, uma barreira diária e

complexa na efetivação dos direitos garantidos por lei a esses usuários. Os assistentes sociais

são diariamente desafiados em suas possibilidades em gerar estratégias para atender a uma

demanda cada vez maior dentro da Unidade do CAI Belford Roxo.

Os profissionais reconhecem a importância de buscar alternativas para melhorar seu

atendimento, de não acomodar-se, não se influenciar pelo conservadorismo que ainda existe

dentro do sistema socioeducativo, fugir do mecanicismo que ainda está presente em nossos

dias. De acordo com Sousa (2008), desenvolver a capacidade de ser criativo, utilizando os

instrumentos conhecidos pela profissão e também criando novos mecanismos que venham a

gerar mudanças na realidade social, pois este posicionamento é essencial no desempenho de

suas atribuições profissionais.

Identificou-se também que a interação multidisciplinar é uma das estratégias para

ultrapassar limites enfrentados no cotidiano institucional. Sendo assim, ações em conjunto

podem ser mais eficazes na promoção da garantia de direitos preconizados no Estatuto da

Criança e do Adolescente.

(...) a integração com outros profissionais, (.) você estando em conjunto com outros profissionais (...), aos poucos você consegue inserir nesse sistema no sentido de garantir direitos. (Entrevistado 1)

Importante ressaltar as dificuldades enfrentadas pelos profissionais concernentes à

superlotação, a falta de investimentos do Estado para a efetivação do SINASE, a violência

institucional, o posicionamento preconceituoso e limitado de alguns atores envolvidos no

processo socioeducativo, estes são fatores que dificultam o trabalho socioeducativo do

assistente social. Segundo Schimdt (2011, p.26), “[.] as instituições criadas para “ensinar” o

cumprimento da lei, são as primeiras a descumpri-la por meio de constantes e graves

violações de direitos”. Como destacamos a seguir:

(...) há pessoas que ainda tem uma visão arcaica da questão dos direitos. (...) querendo ou não você está debaixo de uma instituição, você está vendo que eles estão violando direitos dentro de uma unidade, como é que você trabalhará com essa violação de direitos se você faz parte desta unidade. É um tema muito complicado e a gente tem que estar sempre de certa forma buscando que esses direitos desses adolescentes sejam garantidos (...). (Entrevistado 1)

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(...) por que têm muitos colegas que assim o menino é o ato, ele é o homicídio, é o tráfico, tem muitos colegas que na fala e até no atendimento vão reproduzindo né aquela coisa do menino tá limitado ao que aconteceu. E gente eu só estou aqui é por causa dos meninos né se eu não acreditar minimamente no que eu faço não faz sentido eu estar aqui, a tudo bem é um vínculo é uma matricula por que a gente não tem como, você tá no sistema DEGASE e não acreditar, se você tá aqui você vai pra sala se arrastando, não vai querer atender, vai fugir dos meninos. Não me vejo daqui a dez anos no DEGASE por que o sistema é tão perverso que tende a trazer isso pra gente essa tentativa de não continuar. (Entrevistado 3)

Podemos observar claramente a partir desses fatos expostos, que a atuação do

assistente social é permeada por constantes desafios e que, por conseguinte sua ação sofre

impactos negativos já que as condições da instituição ainda não são adequadas para um

atendimento socioeducativo conforme o exigido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente,

Aguinsky apud Schmidt (2011) destaca que, os progressos acerca do sistema socioeducativo

introduzidos pelo SINASE, afirmam a necessidade de transformações permanentes na

realidade do atendimento ao adolescente em conflito com a lei.

Ainda sobre as estratégias usadas nos atendimentos dizem que a criatividade, o

respeito, a escuta, e a boa acolhida refletem de maneira positiva no relacionamento com seus

usuários. Como diz Iamamoto (2011, p.20):

Um dos maiores desafios que o Assistente Social vive no presente é desenvolver sua capacidade de decifrar a realidade e construir propostas de trabalho criativas e capazes de preservar e efetivar direitos, a partir de demandas emergentes no cotidiano.

Outro fator importante no atendimento socioeducativo é não deixar de entender a

trajetória do adolescente, suas necessidades básicas, ir além das demandas, realizando um

trabalho constante de reflexão sobre a questão social e suas refrações. Como observamos nas

falas abaixo relacionadas:

A nossa profissão, é uma profissão que está sempre de certa forma buscando algo diferente, algo novo (...) estar sempre ultrapassando limites. (Entrevistado 1)

Cabe ao assistente social promover, juntamente com a equipe técnica uma boa acolhida ao adolescente procurando entender as múltiplas determinações da questão social que atravessam a trajetória do jovem e de sua família numa perspectiva da proteção integral. Quanto às estratégias é preciso ter criatividade, tendo em vista o desmonte do Estado e o conservadorismo ainda muito presente no judiciário. (Entrevistado 4)

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É importante que o profissional de Serviço Social possa ter a clareza das demandas

deste segmento da sociedade, e dos reflexos do processo de exclusão sofridos por ela, de

acordo com Iamamoto (2004, apud SCHIMT, 2011, p.265) é necessário,

[...] atribuir visibilidade e transparência a esses sujeitos de direitos: o seu modo de vida, cultura, padrões de sociabilidade, dilemas de identidade, suas necessidade, suas lutas pelo reconhecimento efetivo da cidadania, seus sonhos e esperanças, afirmando o direito de ser criança para aqueles que vivem a experiência de uma infância negada e de uma juventude desenraizada.

Diante de tudo que foi exposto, pode-se compreender que a atuação do assistente

social do CAI Belford Roxo é voltada para a efetivação da garantia de direitos, para a

conquista de melhorias do atendimento de seus usuários, no entanto, enfrentam-se inúmeros

obstáculos para a conclusão de propostas que venham superar estas impossibilidades. Os

compromissos com o Código de Ética da profissão, em seus princípios fundamentais é uma

luta constante e árdua para aqueles que atuam no sistema socioeducativo. Iamamoto (2004)

destaca a importância da contribuição do assistente social na reconstrução das raízes da

infância e da juventude, na luta pelos direitos sociais e humanos no cotidiano da vida social de

um segmento destituído de direitos e privado de condições para o exercício de sua cidadania.

As estratégias usadas pelos profissionais do CAI Belford Roxo perpassam por ações

em um movimento dialético, assumindo um papel de constante enfrentamento das múltiplas

expressões da questão social que envolve os usuários do sistema socioeducativo, em especial

os que cumprem medida socioeducativa de internação.

Segundo Iamamoto (2011) as expressões da questão social afetam não somente os

direitos do cidadão, mas sua vida. A intervenção do assistente social requer estratégias

constantes no seu cotidiano, o comprometimento com o Projeto Ético-político proporciona

condições para uma análise da realidade de forma crítica, propositiva e distanciada do senso

comum, prática que deve ser repudiada pelos profissionais de Serviço Social. Ainda segundo

Iamamoto (2011, p.55), “(...) articular a profissão e a realidade é um dos maiores desafios,

pois, entende-se que o Serviço Social não atua apenas sobre a realidade, mas atua na

realidade.” Os empecilhos enfrentados na prática socioeducativa não devem desestimular a

atuação do assistente social e sim reforça-la na busca constante pela efetivação da plena

cidadania dos adolescentes em conflito com a lei.

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Considerações Finais

No processo de construção desta pesquisa, apresentou-se um resgate histórico no

âmbito político, econômico e social no que se refere ao tratamento dispensado à criança e ao

adolescente no Brasil ao longo da história.

Analisaram-se também as transformações no âmbito das políticas sociais voltadas a

crianças e adolescentes, a partir da elaboração da Constituição Federal de 1988, que em seu

texto constitucional, no artigo 227, traz a proposta de que, com absoluta prioridade, sejam

garantidos os direitos de crianças e de adolescentes no país.

Dois anos depois efetiva-se a regulamentação deste artigo constitucional com a

aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), lei 8069/90, que estabelece a

normatização do Sistema de Garantia de Direitos, e em 18 de janeiro de 2012 aprova-se a lei

12.594 e institui o Sistema Nacional de Medidas Socioeducativas (SINASE) que trouxe uma

série de inovações no que diz respeito à aplicação e a execução de medidas socioeducativas a

adolescentes autores de ato infracional.

Com a realização deste estudo foi possível compreender que uma grande parcela de

adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa é proveniente de famílias em

vulnerabilidade social, com baixa escolaridade, em sua maioria de negros e moradores de

comunidades em áreas de risco. Esses dados nos fazem refletir sobre o agravamento da

questão social que se expressa, infelizmente, através do aumento do índice de adolescentes

inseridos no sistema socioeducativo. Acerca do sistema socioeducativo, no que diz respeito ao

Centro de Integração Intensivo de Belford Roxo pode-se constatar de forma geral atuações

ainda marcadas pela violência, o preconceito e a falta de respeito ao indivíduo, um tratamento

ainda permeado por sanções e punições, ainda bem distante do ideário proposto pelo ECA e

pelo SINASE. Como já destacamos anteriormente, a restrição da liberdade não deve vir

acompanhada de restrições de direitos, já que esses adolescentes sofrem a escassez de

investimento do Estado em políticas que venham a priorizar suas necessidades e seus direitos,

optando por uma ação muito mais higienista e imediatista do que o combate aos motivos que

levaram este adolescente ao ato infracional.

Diante destes aspectos relevantes, concluímos nesta pesquisa que a atuação dos

assistentes sociais, está diante de grandes desafios para a efetivação e a garantia dos direitos

dos usuários do sistema socioeducativo. O profissional enfrenta os limites impostos pela

instituição, pela relação de poder e pelos interesses políticos que impedem a formalização dos

direitos garantidos em lei. A superlotação e a falta de investimentos em infraestrutura são

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alguns dos entraves que estão diante do profissional de Serviço Social e que requererá do

mesmo uma postura criativa no atendimento realizado cotidianamente dentro da unidade.

A equipe de Serviço Social do CAI Belford Roxo se respalda nos referenciais teóricos

e metodológicos da profissão e nas legislações pertinentes à política social setorial, atuando

de forma critica e propositiva, agindo estrategicamente no enfrentamento a violação de

direitos dos adolescentes privados de liberdade.

Evidencia-se uma luta constante para efetivação do Código de Ética profissional,

buscando ter clareza do seu papel e do posicionamento a ser tomado diante dos limites e

desafios impostos pela instituição no qual atua. O assistente social do CAI Belford Roxo

assume a sua postura de mediador, sendo esta ação de suma importância diante dos conflitos

existentes dentro deste espaço institucional, mesmo em tempos atuais, não esconde seu cunho

moralizador e coercitivo.

Enfim, podemos ainda destacar que o profissional de Serviço Social atuante no CAI

Belford tem diante de si barreiras a transpor, sua luta necessita da parceria com a sociedade

civil, buscando adquirir um olhar mais focalizado nos problemas sociais e econômicos que

afetam adolescentes em conflito com a lei e suas famílias. Diminuir a distância entre o real e

o ideal, é uma construção que requer do assistente social um compromisso que vai além do

mero tecnicismo e de uma visão legalista, requer um comprometimento que priorize o usuário

enquanto sujeito de direitos, acreditando em sua capacidade de transformação e de que este

adolescente será capaz de protagonizar o inicio de uma nova história. Esse é um dos grandes

desafios no sistema socioeducativo.

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UNICEF: Infância e adolescência no Brasil. Disponível em: http://www.unicef.org/brazil/pt/activities_9381.htm Acessado em: Maio de 2013.

VOLPI, Mário (org.). O Adolescente e o Ato Infracional. 9º edição. São Paulo: Cortez, 2011.

ZAMORA, Maria Helena, (orgs), PARA ALEM DAS GRADES: Elementos para a transformação do sistema socioeducativo. Rio de janeiro: Ed. PUC – Rio; São Paulo: Loyola, 2005.

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ANEXO A - Fluxograma detalhado da entrada do adolescente autor de ato infracional no sistema socioeducativo do Rio e Janeiro

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ANEXO B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

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Declaro, por meio deste termo, que concordei participar da pesquisa de campo, mediante

concessão de entrevista, referente ao Trabalho de Conclusão de Curso de Serviço Social intitulado

_________________________________________desenvolvido pelas alunas de graduação da

Universidade UNIGRANRIO,_________________________________________________ e

_____________________________________.

Estou ciente que por intermédio deste Termo, são garantidos a mim os seguintes direitos:

1) solicitar, a qualquer tempo, maiores esclarecimentos sobre a utilização dos dados; 2) sigilo

absoluto sobre seu nome, apelido, data de nascimento, número de documentos pessoais, local de

trabalho, endereço residencial, estabelecimento educacional que estuda, bem como quaisquer

outras informações que possam levar a uma identificação pessoal; 3) a ampla possibilidade de

negar-se a dar quaisquer informações para além do perguntado e que julgue ser prejudicial a sua

integridade física, moral e social; 4) recusar a dar informações que julgue prejudiciais a minha

pessoa; 5) a opção de solicitar que determinadas falas e/ou declarações fornecidas aos

profissionais não sejam utilizadas ou incluídas em qualquer documento, seja ele oficial ou não,

que será prontamente atendida; 6) desistir, a qualquer tempo, solicitando a não utilização dos

dados para fim deste ou de qualquer outro estudo.

Declaro que autorizei a gravação da entrevista, com a finalidade exclusiva de garantir a

fidelidade dos dados coletados e que após a entrevista será transcrita e o acesso e a análise dos

dados coletados se farão apenas pela pesquisadora e/ou sua orientadora. E que uma cópia assinada

deste Termo de Consentimento Livre e Esclarecida, foi deixada comigo conforme recomendações

da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP).

Fui também informada sobre os contatos da pesquisadora responsável, a quem poderei

contatar/consultar a qualquer momento que julgar necessário pelo telefone (21) ______________

ou pelo e-mail __________________________.

Rio de Janeiro, / / 2013.

Assinatura da participante:

_______________________________________________________

Assinatura da pesquisadora:

______________________________________________________

APÊNDICE A – Roteiro utilizado na pesquisa de campo

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1. Quais as características dos adolescentes que cumprem MSE de internação no CAI Belford

Roxo, na percepção dos assistentes sociais?

2 Na sua opinião, qual foi a contribuição do ECA e de SINASE para o sistema

socioeducativo em especial para a MSE de internação?

3. Como você vê a aplicação das medidas socioeducativas, com viés educativo ou meramente

punitivo?

4. Em sua opinião, a MSE de internação contribui efetivamente para o rompimento do

adolescente com o ato infracional e para o seu processo de ressocialização.

5. De que forma você, como assistente social, tenta viabilizar o acesso aos direitos previstos

no ECA e no SINASE, buscando romper com os paradigmas do código de menores e ainda

promover a proteção integral dentro dos limites da instituição socioeducativa?

6. Qual a sua contribuição, como assistente social, na reintegração do adolescente á

convivência familiar e comunitária?

7. Quais as estratégias encontradas para que sua atuação profissional seja critica e propositiva,

tomando como base o código de ética profissional e o projeto ético político da profissão, e

como essa atuação reflete em sua intervenção junto ao adolescente em cumprimento de

medida socioeducativa de internação?

 

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