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8/12/2019 A Beira Da Vinganca http://slidepdf.com/reader/full/a-beira-da-vinganca 1/33  1 Á Á B B E E I I R R A D D A V V I I N N G G A A N N Ç Ç A Mônica Souza Tradução: Jossi Borges Revisão: Luciana Schaffer

A Beira Da Vinganca

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ÁÁ BBEEIIRRAA DDAA VVIINNGGAANNÇÇAA 

Mônica Souza

Tradução: Jossi BorgesRevisão: Luciana Schaffer

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Prólogo

Em um tempo antes do tempo, nesses últimos dias antes das casas de barro eos arados de pedra, nas dunas onde mais tarde se elevariam as montanhas Ur

dando passo a Babilônia e Assíria, Os Sete se encaravam com as almas que lhestinham convocado.

Era o crepúsculo, e muito mais escuro que a noite, que estava caindo.

Para o olho humano, Os Sete pareciam nada mais que resplendores, elevandodo deserto para as estrelas como pilares, sujeitando o céu. Tocavam-se os uns aosoutros como antigos amantes, e falavam tão livremente como eternoscompanheiros.

E então um vento seco avivou os murmúrios da areia entre as dunas, e ossacerdotes dos homens começaram seus letais conjuros…

Sons odiosos para os ouvidos dos Sete!Gritando, abraçaram-se uns aos outros como meninos. Feridos. Confusos.

Acaso não tinham vindo para lhes servir? Por que seus antigos amigos lhescausavam tanto dor, tanto dano? Os Sete não possuíam nomes próprios pelo quesabiam os sacerdotes, que simplesmente lhes chamavam segundo suas naturezasanimais, nomes traduzidos mais tarde como: Leopardo, Víbora, Elefante, Falcão,Crocodilo, Lobo e Leão.

Para os sacerdotes dos homens, Os Sete encarnavam uma ameaçainexprimível. Guardiães da autêntica magia, esgrimidores dos Antigos Poderes, Os

Sete eram bastante fortes para destruir a maré crescente dos homens.De modo que os sacerdotes se dispuseram a destruí-los.

E assim é que os sacerdotes tiveram êxito.

Quase.

Em um esforço desesperado por escapar da prisão letal, Os Sete realizaramum feitiço final e depois liberaram sua força vital para assegurá-la da reencarnaçãode acordo com as antigas leis espirituais, para retornarem como humanos naaparência. Destinados a não recordar sua autêntica identidade até o momento daseguinte morte ou até que o verdadeiro sangue finalmente corresse pelas veias

certas.Como uivaram os sacerdotes quando Os Sete desapareceram! Como rasgaram

seus hábitos negros quando as dunas exalaram o resultado do feitiço: seteguardiões, a imagem de seus professores… Leopardo, Víbora, Elefante, Falcão,Crocodilo, Lobo e Leão.

E assim foi como nasceram os Montre, observadores concebidos pelo feitiçocomo encarnações defensoras de Os Sete, aquelas almas mais antigas, chamados

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mais tarde Redevence. Os Montre seriam caminhantes da noite, atados as suasformas espirituais durante o dia, mas completamente humanos —e famintos— soba luz da lua. Desde o começo, odiaram aos inimigos de seus professores espirituais.Odiaram aos sacerdotes dos homens.

Como um sozinho, as bestas avançaram para os sacerdotes, trocandolentamente de forma animal para as formidáveis formas humanas enquanto aescuridão reclamava as áridas planícies.

Aterrados, sabendo que os guardiões não poderiam ser derrotados pornenhuma magia conhecida sobre esta Terra, os sacerdotes recuaram. Quão únicopuderam fazer foi tomar um retalho de poder do feitiço do Redevence. Suficientepara rechaçar aos guardiões… ou isso esperavam fervorosamente.

E assim foi que nasceram os Empêche. Gêmeos idênticos dos Montre, osEmpêche foram criados para procurar e destruir o Redevence. Os Empêche seriamcaminhantes do dia, sujeitos a suas formas espirituais durante a noite, mas

completamente humanos, e famintos, sob a luz do sol. Desde o começo elestambém odiaram aos inimigos de seus professores.

Como um sozinho, os musculosos homens se enfrentaram com os Montre,trocando lentamente de humanos a bestas formidáveis enquanto os raios da luacintilavam nas areias coloridas.

Inclusive os sacerdotes souberam que a luta acabaria em empate antes decomeçar.

Logo escaparam, levando os seus guardiões Empêche com eles.

E assim terminou a batalha. 

 E assim a batalha nunca terminou, para sempre e por toda a eternidade.

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Capítulo 1

15 de Julho, 1843

«Se alguma vez vir um gato malhado, pequena, um gato que não deveria existir nesta parte do mundo, corra como se os deuses descarregassem toda sua ira. Não olhe para trás.Não olhe a nenhuma parte.

E se vir dois gatos malhados, pequena… reze. Isso é tudo o que posso dizer, masescute. Isso é tudo o que lembro… assim deve ser o mais importante de tudo». 

Ruli Danbala

15 de Julho, 1863

O sol do entardecer bronzeava a pele de Ezri Danbala enquanto trabalhava

com a afiada pá, afundando-a na terra seca do território do Arizona. Vestiaunicamente uma saia vermelha de pano. A blusa de algodão rodeava sua cintura,deixando que seus seios sentissem o contato ardente do sol, como recebendo beijosfamintos.

Como o contato de um amante, com a paixão de um amante.

O púbis de Ezri pulsou sob sua pesada saia, um momento estranho para queisso ocorresse. Mas ela supôs que era culpa do sol. Vergonha deveria dar ao sol porlhe provocar sonhos sobre um amante que a excitaria, que procuraria suasatisfação e seu prazer, e que não fugiria temeroso de sua independência.

Tirando um torrão de terra, Ezri aprofundou o buraco enquanto o ventoquente levantava o pó e sussurrava entre os pinheiros sedentos ao redor da beirado acampamento. O som seco lhe recordou o pouco que lhe restava no mundo:uma carreta coberta, dois cavalos pastando a escassa erva a pequena distância eum velho cão cego.

Branco.

Batata Loa era branco, grande e peludo, com uma pelagem tão pura como aneve fresca. O cão freqüentemente fazia-a perguntar-se se o espírito de um urso seequivocou escolhendo um corpo canino para habitá-lo. Batata Loa tinha feito todoo interminável caminho de Louisiana até este bosque desértico deixado da mão deDeus, trotando todo o tempo. Seu marido, Delmont, tinha obrigado o cão acaminhar atrás da carreta porque o bastardo esperava que Batata Loa morresse.Delmont tentava matar tudo o que a Ezri importava, provavelmente esperandodeixá-la sem nada exceto ele.

Ezri fez uma pausa em sua escavação outra vez, desta vez o tempo suficientepara tossir, esfregar seu ventre inchado pela gravidez e desejar que o sol

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terminasse sua jornada diária. Logo, muito em breve, seu bebê se reuniria com elanesta vida.

Delmont havia feito sexo, deixou-a grávida e tentou governá-la, mas nunca aamou.  Mais, non. Por isso é que nunca se casou com ele. Ela não poderia amaralguém tão fraco e tão mesquinho.

Às vezes Ezri pensava que Delmont fantasiava com a idéia de assassiná-la,mas então não teria uma mulher a quem odiar e insultar. Assim tinha seempenhado em assassinar as coisas mais preciosas para ela. Seus gatos. Seuspássaros. Seus bebês, os cães… especialmente Batata Loa. Todas as criaturas que sesentiam atraídos por ela devido a esse dom especial herdado de Ruli Danbala, suamãe crioula de pele cor café, e inclusive de Aristide LeBron, seu excêntrico e muitobranco pai de cabelo dourado.

LeBron, um dos homens mais ricos de Nova Orleans, não tinha ocultado ofato de ter uma filha mestiça. Vinte e cinco anos atrás, o dia em que Ezri nasceu o

louco liberou seus escravos, enviou a sua esposa branca para seus parentes deBoston, e levou a Ruli e Ezri para sua mansão de colunas brancas. Contratou aosmelhores tutores para Ezri, e se ocupou de que fosse educada tanto nas tradiçõeseuropéias como nas crioulas. Ezri lia ao Shakespeare ao mesmo tempo em queaprendia a forma correta de construir um Voudon Oum'phor, um templo para oque os cristãos chamavam culto ao diabo. Hoodoo. Conjuros.

Vodu.

Oui. É o melhor que sabem fazer para dizer Voudon. Das antigas palavras —Vo—: introspecção, e —du—: no desconhecido.

De acordo com a experiência do Ezri os bons tempos das grandes mansões deNova Orleáns tinham muito pouco que ver com a introspecção no desconhecido.

«É uma menina especial», havia-lhe dita Batata LeBron já naquele tempoquando a Ezri nunca faltava amor e ternura. «Uma filha de ambos os mundos. Temmais em seu interior do que a gente compreende. E recordará o que sua mãe não pode.»

Recordar.

Rappelez ( recordar-se).

Recordar.

Ezri suspirou.Tinha escutado essa palavra, junto com a crítica advertência de sua mãe sobre

os gatos salpicados, quase cada dia até que seus pais fossem assassinados.

Em certo modo, quase sentia falta da litania.

A mandíbula de Ezri se esticou enquanto lutava com o calor seco, a fadiga daviagem e sua tarefa. O querido bebê em seu ventre estava estranhamente quieto,

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como se suportasse o cansaço para ela. Os pensamentos a respeito de seus pais lheprovocaram uma profunda dor, como se seu coração não quisesse seguir pulsando.

Mas devia fazê-lo. E devia seguir cavando.

A pá emitiu um forte som quando a afundou no chão de novo.

Os aldeãos de Nova Orleáns, brancos e negros, sentiam-se um tantointranqüilos com respeito ao LeBron e especialmente com a Ruli. Para falar averdade, Ezri também pensava que seus pais eram estranhos. Às vezes. O resto dotempo, simplesmente lhes amava.

A gente dizia que LeBron tinha levado a uma bruxa de alma antiga a sua casa,uma mam’bo, uma imperatriz do vodu. Mais de um murmurava que o próprioLeBron se iniciou nas artes escuras. Mas para Ezri, nada em sua vida, ou em seupai e mãe, era escuro… exceto a pele de Ruli, é obvio.

No que concernia a Ezri, possuía o cabelo como o ébano e o brilho interno

herdados de sua mãe. Por parte de seu pai tinha herdado os olhos cor safira e suaobstinação. A mescla de ambos lhe tinha outorgado uma pele dourada e um acentoprovocado pelo dialeto. As únicas vezes que sua pele se voltava mais escura eraquando se bronzeava.

Como agora.

Aqui fora em nenhuma parte, Arizona, cavando uma tumba para umbastardo sem valia que tinha obrigado o seu cão a caminhar durante muitasmilhas.

Maldito seja...

E maldita eu seja por me atar com ele. Se tivesse estado em meu normal,nunca teria suportado ao Delmont.

Vinte e cinco anos. Sem lar. Perdida em meio de um nada. Maltrapilha.Grávida. E uma assassina.

Isto não era o que tinha planejado Ezri para si mesma, e certamente não o queseus pais trataram de lhe dar. Mas enquanto a tensão piorava e a Guerra Civilrondava o sul como uma escura ave de rapina, seus pais tinham sido assassinadospor sua aberta indiferença para os costumes sociais.

Tinham queimado a casa da infância de Ezri. Tinham-na açoitado, quase

pendurado, e finalmente a tinham arrojado às ruas para vagar, aturdida, até quetinha terminado no lado errado do Lago Pontchartrain.

Aí foi onde Delmont a resgatou. Converteu-a em sua garota mulata, e sededicou a presumir dela com todos seus parentes. Até que começou a golpear detal maneira que deixou de parecer bonita. Até que a guerra chegou de verdade aosul.

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Então abandonaram Nova Orleáns, realizando uma dura viagem para o oestecomo tantos outros. A intenção era ir à Califórnia, mas finalmente Delmont tinhatrocado de idéia justo no dia anterior. Deteve-se aqui, a cem milhas de nenhumaparte, a borda do deserto.

Delmont desejava ficar. Queria que Ezri vivesse em uma granja poeirentaencaixada na ladeira de uma montanha, sobre uma pronunciada queda com umavista panorâmica… mais, non. Obrigado, mas não.

Mas sendo sincera, Ezri sabia que era muito apropriado. Viveria onde sempretinha vivido. Onde supunha que permaneceria o resto de sua vida.

Na borda.

 Justo na borda cruel e implacável.

Tirou um pouco mais de terra e logo olhou a Batata Loa, quem estava sentadoa curta distância dela, mantendo seus olhos cegos concentrados em cada um dos

movimentos dela.Delmont tinha mostrado o pior dele querendo matar ao pobre cão.

Embora Batata Loa tivesse ignorado ao asno. O cão nunca perdeu seu passoseguindo a carreta. O ataque de um morteiro arruinou seus olhos deixando-lhecego, e uma raiz afiada cortou-lhe completamente um dos dedos da pata. Aindaassim, Batata não diminuiu seu passo. Nem sequer tinha coxeado.

Ezri emitiu um som de beijo para o cão, quem bateu brandamente sua caudacontra o chão, à sombra da carreta.

Batata sabia. OH, sim. Sabia.

Finalmente Mama se ocupou de remediar o assunto.

—Doce cão. —Ezri tirou outra pazada de terra do fosso. Agora podia estar depé dentro do buraco. Já quase era de 6x6 pés—. Agora é meu único apaixonado,oui?

O cão não respondeu, embora não teve que fazê-lo. Ezri podia perceber seuassentimento.

O oco que cavava era o bastante bom para o Delmont, já que não pensava lhedar ao filho de puta um caixão adequado. Olhou para sua esquerda e cuspiu sobreo cadáver. A boca lhe doeu pelo esforço, ainda machucada pelo último murro doDelmont.

Por todos os deuses e ritos do vodu (eram muitos para nomeá-los um a um),nunca voltaria a agüentar outro golpe de um homem. Esfregou a parte de atrás dapá. A pá que tinha matado o bastardo e que agora a ajudava a cavar sua tumba.

—Avisei-te que só me golpearia uma vez mais -disse ao morto Delmont—.Supus que saberia o que queria dizer.

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Capítulo 2

 Justo no momento em que Ezri arrastava o peso morto do Delmont para o

interior da recente tumba, cheirou algo estranho. Parecido ao ferro quente de umaforja. Enrugou o nariz e baixou a vista para o Delmont. Já estava empestando?Porque cheirava como a pequenas coisas mortas, a enxofre, amargo e… mau. 

Um uivo que gelava o sangue se elevou atrás dela, de alguma parte entre ospinheiros secos e escuros. Batata Loa se esticou. O cabelo de sua nuca se arrepiou ecomeçou a grunhir baixo. Ezri levantou a mão para defender seus olhos do solpoente… e chegou a ver um ligeiro movimento. Suave como a manteiga, fluindo junto ao tronco da árvore mais próxima.

Era um puma? Ou alguma espécie de gato montês?

«Se alguma vez vir um gato pintalgado, pequena, um gato que não deveria existirnesta parte do mundo...»

A advertência de sua mãe varreu ao Ezri como uma onda inoportuna.

Raaaaooooowwwrr!

Arrepiou-se. Quase no mesmo instante, a dor atravessou seu ventre inchado.

—Agora não - murmurou, acariciando a arredondada cúpula de carne queainda sustentava a sua descendência… embora parecesse não por muito maistempo—. Maldição. Fica quieto, pequeno. Por favor.

E então escutou-se outro uivo… justo em frente! E outro brilho de cormanteiga entre os pinheiros.

Ezri chutou terra sobre o corpo do Delmont, no caso de seu aroma estavaatraindo aos depredadores.

O sol estava a ponto de sumir. As sombras jogavam malotes passados à mentedo Ezri e a seus sentidos.

Um rangido a fez girar em circulo, e viu um homem sem camisa que seseparava das árvores saindo à luz.

Um raio não poderia ter golpeado Ezri com mais rapidez que o medo que

atravessou seu corpo. Pensou em colocar a blusa, mas não tinha sentido. O homem já tinha visto o que tinha que ver.

Era dourado, desde seu cabelo comprido e ondulante até sua pele. E possuíaum brilho, um resplendor especial, como se formasse parte do sol. Seus olhos erammais azuis que os seus. Este não era como Delmont. Este tipo se erguia como umaárvore, de músculos firmes e mandíbula quadrada. Era um magnífico exemplo devirilidade. Uma marca resplandecia sobre seu ombro direito. Ezri pensou que

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devia ser algum tipo de estrela. Desde sete pontas, profundamente impressa nacarne dourada do homem. Um anel prateado cintilava no terceiro dedo de sua mãodireita, e ia vestido com uns calções brancos atados à cintura mediante um cordãoamarelo.

Baixo esse cordão… OH, senhor. O tamanho desse pênis… hmmm, hmmm.

Os mamilos do Ezri ficaram duros como as pedras com as quais brigou para cavara tumba do Delmont.

Sentiu-se estúpida e aturdida… e úmida entre as pernas. Com a mão apoiadasobre o ventre, balançou-se, cravando os olhos sobre o estranho com aspecto dedeus.

Batata Loa se levantou ladrando ferozmente, mas o homem moveu uma mãoe o cão calou e se recostou, como se de repente tivesse muito sono.

Os pensamentos do Ezri se esclareceram em um instante.

— Monsieur , você deve ser um deus. Um verdadeiro Louva. Deve ser o mesmoLegba. —Apertou a ensangüentada pá—. Mas se lhe fizer mal a meu cão com suamagia, meterei-lhe nesta tumba. Justo ao lado do primeiro bastardo.

Ante isto, o homem riu.

Esse som… Ezri quase se deprimiu para ouvi-lo. Tão doce. Parecido à harpade um anjo, mas grave e retumbante. Tão completamente masculino.

—Seja, petite chou —O carinhoso término francês soava tão bem de seus lábios.Seu acento era perfeito, culto, próprio da classe alta de Nova Orleáns ou dopróprio Paris, poderia apostar Ezri—. Não machucarei a seu valente companheiro.

Seu olhar se passeou da tumba para os nus peitos do Ezri, elevando-a logopara encontrar-se com seus olhos.

Ezri se sentiu tocada. Acariciada. Excitada.

Não estava segura de que gostava da sensação, nem se a desejava, mastampouco lhe desagradou.

Por cima dela, o sol finalmente caiu atrás de sua barreira de nuvens. Aescuridão avançou a rastros pelo claro.

O homem dourado percorreu o céu com o olhar.

—Está obscurecendo, Alain - sussurrou uma voz atrás dela.—Você, estúpido Empêche.

Ela se girou tão velozmente que quase perdeu o equilibro e depois tampou aboca para não gritar.

Um gato malhado tinha entrado no claro, com passos tão ligeiros que Ezri nãotinha ouvido sequer o estalo de um ramo.

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Um gato malhado que falava… e então esse gato malhado… se transformou.

Lentamente, dolorosamente. Crescendo em estatura, crescendo até…converter-se em um homem. Quase um gêmeo do primeiro intruso na frente deEzri.

Este homem tinha a pele dourada como o primeiro, mas seu cabelo era negro.Seus olhos eram como brilhantes pedaços de obsidiana. Era alto igual, igualmentemusculoso, igualmente atrativo e atraente com seus ajustados calções vermelhos.Uma estrela de ébano com sete pontas cobria seu ombro esquerdo, e um anelprateado brilhava no terceiro dedo de sua mão esquerda.

Não existia nenhum resplendor divino ao redor deste homem. As hipnóticassombras acompanhavam seus sutis movimentos enquanto se agachava, passandoseu olhar de Ezri ao homem chamado Alain. E sua voz, pelo pouco que ela tinhaescutado, não tinha um acento culto. Mais, non.

Puro cajún dos pântanos. Tão úmido que ela quase podia sentir o sufocantecalor deslizando-se por seus lábios… seu pescoço… seus nus e franzidos mamilos. 

O primeiro homem a tinha excitado. Este segundo homem fazia com que seuclitóris lhe doesse. Ezri nunca tinha conhecido semelhante desejo em toda sua vida.

Como podia desejar algo ou a alguém tal como se encontrava… coberta com opó do Arizona, esgotada pelas semanas de viagem, sentindo-se pesada pelo bebê emanchada pelo sangue do Delmont?

Mas o fazia. Por todos os deuses, o fazia.

Se o absurdo e potencialmente perigo da situação não a mantivesse

firmemente sujeita, teria se masturbado no ato.—Típico de um lento Montre. —A anteriormente cálida voz do Alain se

transformou em gelo—. Chega tarde como sempre, grosseiro.

O homem moreno riu. O som rouco e vibrante acariciou o clitóris de Ezricomo se fosse uma língua chamejante.

—Parece-me que chego bem a tempo.

Ezri se separou da tumba, dirigindo-se para Batata Loa e a carreta, de ondepoderia ver ambos os gigantes. Continuou aferrando firmemente a pá, pronta parautilizá-la se fosse necessário. Como se servisse de algo frente a esses dois

idênticos… o que?

Deuses? Loas do vodu? Demônios?

Porque fossem o que fossem, não eram homens normais. Disso Ezri estavasegura.

«Se alguma vez vir um gato malhado , pequena… e se vir dois gatos malhados…» 

Mas estes não eram gatos. Não realmente, verdade?

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Outra dor aguda se cravou no ventre do Ezri, e ambos os homens voltaram oolhar para ela.

Sabem, —pensou ela com uma labareda de desespero. —  o esforço… sentemminha dor!

Tinham vindo em busca do menino, então? Seu inocente bebê não nascido?Sua única razão de viver?

A fúria invadiu a mente do Ezri, fazendo jogo com a dor. Levantou a pá emconseqüência.

—Terão que me matar —gritou, parecendo o dobro de valente do que sesentia.

Ambos os homens abriram seus lábios cheios e tentadores, mostrando umasrelampejantes presas brancas se sobressaindo da parte superior e inferior de suasmandíbulas.

Presas letais e curvadas… que cresciam ainda mais.

Capítulo 3

Méchant, ou Chant para as poucas almas que lhe conheciam, mantinha àmulher ao alcance de sua visão enquanto soltava um poderoso rugido.

Esta era a encarnação da Ezruli, um dos Sete do Redevence, a alma que eletinha estado observando de longe e desde sua encantada infância.

Embora, isto tinha ocorrido faz anos. Agora, ela era… mais formosa do quetinha esperado. Como se ela tivesse unido seu sangue de antiga Nubian e a dosVelhos Poderes conhecidos só pelos Redevence. E ela cheirava… melhor do que eletinha esperado. Como Artêmis doce sob toda essa sujeira, suor, sangue eassassinato. Pelo Anu, inclusive aqueles aromas terrosos a faziam mais atrativa.

Mais vivo. 

Ele chiou suas presas uma vez mais. Duas vezes. A herança antiga que oobrigava a proteger a linhagem do Redevence misturado com um pouco maispessoal. Algo raramente conhecido pelo Chant apesar de seus aparentemente

intermináveis anos.Um desejo perverso e possessivo.

Em algum lugar nas frias profundidades do coração de seu escuro defensor,quis que esta Ezruli vivesse, embora ela estivesse só há minutos ou horas da morte,ou os Velhos Poderes não o teriam convocado.

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Do outro lado do claro, Alain entrecerrou seus brilhantes olhos e os fixou noChant. O bramido acautelando o desafio encheu o árido ar.

Os instintos do Chant se elevaram. Tratou de forçar seus pensamentos namulher, mas não pôde. Sua pele dourada, com aqueles frios olhos de cristal, orevolto cabelo escuro sobre as curvas perfeitas de seus ombros e seus mamilosamplos e suspensórios. De cor veio. De cor sangue. 

Sua garganta ressecada pela viagem lhe queimou ao contrair-se por essespensamentos proibidos.

Proteger. Proibido. Estes eram os deveres do Montre. Nunca, alimentar-sede um Redevence. Nunca sobre um Redevence.

Alain se inclinou para a esquerda, silencioso em seu movimento.

Chant lhe seguiu facilmente à direita.

Um lento e terrível baile, isso era. Espreitar uma das sete almas mais velhas

e vivas como prêmio.Com esta Ezruli como prêmio, acrescentou Chant, sentindo outra vez esse

desejo possessivo. E logo a maior parte de sua atenção concentrada no Alain, emseu Nêmeses, o sol que odiava.

Tendo em conta meia dúzia de oportunidades, Alain atacaria à mulher e aobebê que ela levava em seu interior e o mataria rapidamente.

 Mais, oui. Mas não o bastante rápido pensou Chant apertando suas presas. Suaforça cresceu quando o sol se afundou mais pelo horizonte. O poder físico do Alaincomo um humano diminuiria. Em qualquer segundo, este Empêche usaria sua

força no seguinte movimento para lhe ferir gravemente.Sem adverti-lo, Alain saltou para a mulher, com os braços estendidos, seus

dedos se converteram em garras de animal enquanto voava.

O fedor do ferro a fundir-se bloqueou outros aromas no nariz do Chant.Saltou da mesma maneira que um leopardo faria normalmente, sentindo o poderdos tendões e os ossos ao alimentar-se de seu grande salto.

Chocou-se no ar contra Alain, antes que o bastardo Empêche pusesse umasó garra sobre sua presa. A dor palpitou no corpo do Chant como cem martelosquando caiu sobre o chão com o Alain. Com a pele rasgada. Alain era meio besta

agora, mas ainda sustentando-se obstinadamente em sua forma humana. Asgrandes unhas afiadas rasgaram o peito do Chant, a seus flancos.

Da mesma maneira que o fogo, queimavam. As facas, cortavam.

Chant rugiu, mas se negou a perder sua vantagem.

Alain rugiu para trás justo quando Chant lhe agarrou pelo cangote peludo.

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A mulher não gritou. Por isso, e pelo espírito antigo intranqüilo em suaalma, Chant a respeitava.

Alain lutou com força contra a apreensão implacável do Chant. O lábio doChant se franziu como carne aquecida pelo sol que ele sustentava.

—  Te condene no último círculo do inferno!—  Grunhiu Alain quando amudança tomou seus ombros, seu pescoço. Tratou de ficar de pé, mas não podiavencer a força do Chant. A mente do Empêche se encheu de imagens de matar amulher. Ezri, chamada assim neste tempo, neste lugar.

Alain queria assassinar Ezri, matar seu bebê, e assim eliminar um dosRedevence e Chant tinha sido criado para protegê-los.

As feridas do Chant pareciam como se as unhas tivessem perfurado suacarne, mas de todos os modos sustentou ao bastardo, rugindo e gritando ao mesmotempo. Lutou para conseguir que suas presas se aproximassem da garganta doAlain. Rasgar a carne e sangue de um Empêche, sobre tudo de este, dar-lhe-ia umgrande prazer, embora isto não matasse ao Alain. Só alguém apropriado poderiatomar a faísca de vida do mal nascido.

Vous NE lui nuirez ps, disse-lhe Chant a seu gêmeo mentalmente, foi quantopôde fazer naqueles escassos momentos do crepúsculo de cada dia, quando elespoderiam escolher a mesma forma e assim poder ver o pensamento de outros. Vocênão a danificará.

Vejo que não esqueceste o francês formal apesar de visitar os bairros baixos. Alainempurrou uma garra perigosamente perto do olho do Chant. Parece que você gostamuito desta reencarnação. A que se deve, irmão? Quer sexo com ela?

Utilizando mais peso para dominar a seu gêmeo dourado, Chant desviouseu olhar a Ezri, quem ainda estava apoiava na carruagem descoberta. Elasustentava seu grande ventre, e suas fossas nasais estavam dilatadas pela força desua respiração. As cristas de seus peitos pareciam enormes. Com necessidade dealívio. O brilho do suor sobre sua pele era dourado fazendo que Chant quisessedirigir sua língua sobre cada centímetro de sua carne.

Pelos antigos deuses, sim. Ele queria possuí-la agora, amadurecida e fértilcomo estava. Mas esperaria para possuí-la até que tivesse entregado sua preciosacarga. Quereria provavelmente possuí-la a cada século a partir de agora, masChant tinha sido deixado neste lugar para guardar a seus herdeiros.

Uma loucura que rasgou seu coração justo quando ele captou o aroma decamomila e sangue fresco que irradiava da mulher. Abriu sua boca mostrando suaspresas para lhe dizer seus sentimentos, mas em troca ladrou:

—Traz uma corda, Ezri. Tem uma na carruagem, oui?

A mulher o contemplou, e logo olhou ao Alain, quem estava quasetotalmente em sua forma noturna. Sua expressão furiosa comunicou duas coisas.

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Em primeiro lugar, não gostava que lhe desse ordens, qualquer homem. Esegundo, ela não sabia em que besta—homem confiar, que havia sido humano e sefez gato, ou o que tinha sido gato e se converteu em humano.

—Escolhe bem, e logo, —repôs Chant, utilizando toda sua força para sujeitarao Alain que se retorcia mais duramente na terra. —Deve confiar em um de nós. Eeu, só te salvei.

Ezri pareceu considerar isto, então assobiou a seu cão, possivelmente seuanimal domestico, e desapareceu no outro lado da carruagem. Em uns segundos,um cilindro de corda foi arrojado por cima da carruagem, caindo ao lado do Chant.

Ele o agarrou com uma mão, murmurado um feitiço rápido para reforçar osnós, logo começou a atar as pernas do Alain.

O Empêche foi reduzido com uivos e vaias, já que era agora estava tudo naescuridão, e todos os vestígios humanos o abandonaram. Ele poderia ter falado setivesse escolhido, mas com o humor que se encontrava teria tirado mais doleopardo que havia em seu interior.

Realizando-o rapidamente, e sem perder sangue já que ele não se alimentoufazia mais de um dia, Chant retrocedeu um passo do enorme e inquieto leopardo,localizando um pau, começou a desenhar uma estrela de sete pontas ao redor dabesta.

Alain se agitou e grunhiu. Se seus olhos de leopardo pudessem ter matado,Chant se teria caído morto a um só passo.

Mas Chant se protegeu com salvaguardas, utilizando um dialeto aplacadorda cidade que tinha chamado casa desde sua formação.

—Nenhum vagabundeio esta noite, mon ami. Mais non, estará sentado aquimesmo.

E isto, seria amanhã quando Alain recuperasse sua força e se expressasse deforma humana, rompendo a magia da estrela. Chant tinha toda a noite paraconseguir um lugar seguro para Ezri. Só umas curtas horas para escondê-la,ajudando-a a nascer o seu bebê, então os espíritos seriam o melhor amparo.

E logo ela viverá. E talvez, só talvez, ela será um. O primeiro do Redevence pararecordar.

E que passará depois…a ela…a mim…ao mundo?Haveria depois tempo suficiente para essas profundas perguntas quando ele

tivesse concluído seu trabalho. Chant se girou rapidamente para a carruagem, jácomeçando sua transformação voluntária em leopardo, esta vez preparado paratransformar-se.

Mas Ezri tinha fugido.

Blasfemou e quase se mordeu na fúria.

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Deve confiar em um de nós, havia-a dito.

Pelo visto, equivocou-se.

Capítulo 4

Ezri correu como sua mãe lhe disse que corresse se alguma vez via um gatomalhado, como se os deuses lançassem toda sua fúria. Seus pés pareciam voarcomo por arte de magia, Batata Loa corria ao mesmo tempo dela, e nenhum dosdois voltava à cabeça para olhar para trás. A respiração de Ezri se fazia cada vezmais trabalhosa enquanto seus peitos inchados ricocheteavam.

Isto não era como ela tinha suposto que seria. Em todos os pesadelos de suainfância tinha tido muitas probabilidades. Meio morta de fome, moribunda desede, coberta com o sangue de um homem morto, grávida de nove meses e a ponto

de parir, agora não tinha nenhuma probabilidade. O temor a rasgava como asdores do parto.

Detrás dela, os sobrenaturais gritos aumentaram da clareira do bosque.

Um desses gatos, está matando ao outro. Seu coração começou a pulsar maisrápido.

E logo ela cheirou esse aroma outra vez. Enxofre. Ferro fundido. Não! Não!Ela agarrou a barriga enquanto os dores a faziam tropeçar.

Algo bateu o ar da noite por cima dela, agitando os ressecados pinheiros.

Ezri tropeçou outra vez, olhou para cima e umas garras a sujeitaram pelosombros. Firmemente mas com suavidade.

Ela gritou enquanto algo escuro e sólido a arrastou a ela e a Batata Loa daterra como se não pesassem mais que coelhos.

O cão uivou.

— Nos deixe em paz! —Ezri dava golpes às garras, mas era em vão. Antesque pudesse aceitar o que ocorria, a pressão em seus ombros diminuiu. As garrasse elevaram mais e mais alto, até que ela e seu cão descansaram em um ninho aospés do pássaro. Como uma princesa e um cão de caça em sua carruagem.

O vento quente formou redemoinhos através do corpo seminu de Ezri.

Sua cabeça começou a dar voltas e outra dor de parto abraçou-a jogando-apara trás contra os barrotes de couro. A luz de lua jogou contra a criatura quehavia a trazido, e Ezri pensou que se parecia com um pássaro com cabeça de gato eo corpo coberto de cabelo.

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Papai Loa ladrou, e Ezri começou a gritar outra vez, em parte pelo medo epela dor e a frustração que sentia, mas uma tranqüilizadora voz se abateu atravésde seus pensamentos.

—T e relaxe, MA boo…

MA Boo. Ezri não tinha ouvido esse apelido em anos. Não desde que seu paio disse por última vez a sua mãe, antes que todas as desgraças ocorressem.Recordou uma imagem do pântano, úmido pelo calor e cheio de segredos. De umaboa classe de segredos. Os que buscas como se fossem tesouros. Dos que nãorompem o coração.

Ezri sentiu como descia a calma, como se a magia a enviasse.

De fato, provavelmente assim era. Suas pálpebras se agitavam e suas mãosuma vez mais se cavaram protegendo sua barriga.

O pânico não continuou em seu coração. Ela acreditou, ao menos nesse

momento, que seu bebê podia estar a salvo.A dor do parto crescia uma e outra vez, mas sentia a sensação distante.

Quase como se alguém mais compartilhasse a dor. Ezri supôs que estavasonhando, ou que estava morta.

—  É um Deus? —murmurou ela ao ouvido do pássaro—gato que amantinha prisioneira.

Uma sensual risada foi a resposta, percorrendo com um agradável comichãoo corpo inteiro do Ezri.

—Mais non, pois não, Boo. Em todo caso o seria você...

Chant voou como nunca tinha voado antes, sulcando o céu repleto deestrelas. Um rastro de nuvens de enxofre marcava sua esteira, como conseqüênciade seu exaustivo vôo. Sua magia não duraria muito tempo. O bebê poderia chegare Ezri morreria antes que ele aterrissasse.

— Não! —Um rugido de fúria pela impotência saiu dele.

Ele sentia a sua presa baixo ele, um humano e um animal vivos,aterrorizados onde estavam, paralisados pelo som.

Pelo Anu, se ele não se alimentasse logo, perderia a consciência e assimficaria até que alguém de sua espécie o encontrasse e o restabelecesse. Ou até queum Empêche fosse procurar um mam'bo para exorcizar sua morte.

Os batimentos do coração de Ezri ressonavam em sua cabeça e em seucoração. A fome lhe ardia carbonizando as outras sensações mas ele lutou contra afebre de sangue com cada grama de seu autocontrole.

Chant queria que esta mulher vivesse, e inclusive seu instinto, sua próprianatureza lhe conduzia a deleitar-se em seu calor, sua vida. Ele queria romper cada

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tabu, lutar contra a mesma magia que fez a ele, e mordê-la, profunda e firmemente.Esvaziá-la e lhe fazer o amor enquanto se transformava.

Era tudo o que ele podia fazer para manter o feitiço de cicatrizaçãoenquanto permaneciam no ar.

Tinha que levar Ezri fazia a tina da Atachaflaya, à segurança da casa da Lua.Seu feudo, aos subúrbios da infame Cane Island.

— Meu refúgio...

Se ele a levava até ali, então teria uma possibilidade de salvá-la, a ela e aomenino.

— Mas, então, quem os salvará de mim?

* * * * *

No momento seguinte Ezri soube foi que Batata Loa soltou um gemidosuave, e ela ouviu o som da água a seus pés.

Então, percebeu que uns fortes braços a pressionavam apertadamente contraum musculoso peito tão duro como uma pedra. Ela se movia rápido, prisioneira,mas esta vez levada cuidadosamente pelo escuro Louva que lutou com o gato doArizona.

E o que era este homem, além disso, um Deus, ou um gato malhadotambém?

Um gato que podia tomar forma humana. Ou um humano que podiatransformar-se em gato

Então Ezri sentiu o úmido ar da noite. Que lavou sua pele seca como umbanho de bem-vinda. As rãs coaxaram em uma sinfonia virtual, e os grilos, SantoDeus, os grilos!

O único lugar ruidoso de noite. O único lugar onde se sentia tão curvada,assombrosamente ardente.

Abriu completamente os olhos e Ezri vislumbrou as vistas oferecidas pelaflorescente lua.

As árvores semelhavam esqueléticos dedos através das estrelas. O líquenpendurava em cortinas de ramo em ramo. Magras trepadeiras se retorciam com asgrossas, constrangendo às árvores jovens sem piedade. A luz da lua cintilava naágua negra do pântano, quebrada unicamente pelos maciços troncos e as raízes dosciprestes conhecidos popularmente como — joelhos. —  As serpentes deslizavamaqui e lá através da tinta mortífera, ou se enrolavam e penduravam dos ramosmais baixos. Os mochos ululavam sobre as rãs e os grilos e outros sons, chiados e

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gritos anódinos que Ezri não podia identificar, enchiam seus ouvidos. Oscaçadores e os caçados, jogando um jogo interminável enquanto transcorria a noite.

—O pântano, —murmurou ela, aferrando-se fortemente ao suave e duropescoço e ombros do homem. Baixou-a até a tina. —Trouxeste-me para casa paramorrer.

Nisto, o homem desacelerou seu comprido passado o suficiente paragrunhir:

—Não morrerá, nem você nem o menino. Dou-te minha palavra.

O grave sussurro do homem se mesclava com os sons do pântano, e seu tatose mesclava com o sensual calor.

Ezri sentiu as carícias em seu corpo, mente e alma. Ela se sobressaltou pelaintimidade, ainda se encontrava abraçando ao homem com força. Seus sentidosextra-sensoriais lhe deram uma cotovelada. Dizendo-lhe que deveria reconhecê-lo,

que ela o tinha conhecido em algum momento do passado. Em outro lugar, emoutra vida. No seu abraço se sentia poderosa, reconfortada, e mais que nada, bom.

—  Quem é? —Perguntou ela enquanto apertava sua barriga. O enjôo lhechegou antes que o homem pudesse responder, mas repentinamente, Ezrirecordou. Inclusive enquanto se afundava nas profundidades traiçoeiras das águasdo pântano tão negras como o ébano, Ezri recordou.

—Méchant. Chama-te Méchant, e é… seu ah… sempre foste… meu.

O desespero se apoderou do Chant enquanto ele chutava as obscurecidasportas de carvalho da Casa da Lua. Ignorando ao cão que o seguia, ignorando os

candelabros que se acendiam a seu passo, ele caminhou a grandes passos atravésdo mármore vermelho esculpido à mão e subiu pela escada larga que dominava ovestíbulo.

A habitação principal estava situada ao final de um comprido corredor noterceiro piso. A cama de Chant era um dossel de quatro colunas coberta de lençóisnegros de seda e cortinas que tinham permanecido ali desde que ele tinha estadona França. Ele achava essas lembranças reconfortantes, e algumas vezes práticas.

Com infinito cuidado, colocou Ezri na cama e a apoiou em um montão detravesseiros.

Suas pálpebras pestanejaram. Durante um breve momento, ela abriu seuscristalinos olhos.

—O bebê. Já vem.

—Sei. —O pulso do Chant se acelerou pela debilidade devido a falta dealimento.

Uma vez mais, Ezri se perdeu na inconsciência.

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Contemplando as finas linhas de sua cara, Chant levantou seus quadris edeslizou um travesseiro sob seu traseiro. Todo o referente a esta mulher o levava anovas alturas de amparo, por sua força e sua coragem desde sua antiga almaescondida dentro de seu ser.

Ezri não se debateu enquanto lentamente lhe tirava a suja saia e preparava ocampo para o parto, um parto em caminho e que ia ser mau, por isso ele podiadizer.

Rompeu águas. Já sangrava.

A febre de sangue golpeou os sentidos do Chant. Ele se mordeu a língua emum esforço por refrear o desejo e agüentar a urgência de uma forma mais fácil.Podia sentir já suas presas afundando-se no doce pescoço do Ezri. Como sepudesse sentir o toque dela, o sangue, o corpo, e o espírito.

— Não! —Negou com a cabeça e se levantou. Não podia se alimentar doRedevence. Ele não o faria.

E então Ezri lhe agarrou pelos ombros.

O movimento e sua força sobressaltaram tanto ao Chant que ele grunhiu equase a mordeu por instinto, embora conseguisse manter a boca fechada.

Ezri estava… flutuando. Seu corpo arroxeado, sujo de terra ia à deriva juntocom seu olhar, e ela mantinha seus dedos firmemente presos a sua garganta. Seusolhos, uma vez penetrantes e diretos, agora enfastiados o atravessavam com oardor da ponta de um diamante.

—Estamo-lo conseguindo. —Murmurou ela, mas a ressonância de sua voz

agitou o ar como o estrondo de um trovão.Chat não podia falar. Como ele olhava fixamente Ezri, viu a mudança, a

mescla, de tudo o que ela era e o que podia ser. Viu a mulher completamentehumana, e viu sua força de espírito.

—Não nos deixe morrer, —ordenou Ezri. Não nos deixe morrer, sua vozmais humana ecoou.

Seu espírito o enfrentou, e Ezri se deu conta de que agarrava ao Chant. Elase voltou a afundar contra os travesseiros, arrastando seus largos dedos por seupeito até seu estômago. Com seus olhos, com seu esperançoso meio sorriso, ela

implorou por sua vida. Pela vida de seu bebê.A febre de sangue e a confusão envolviam Chant, atravessado por um

desejo entristecedor de render-se a seus instintos, às ordens de seu principalespírito.

—Não sabe o que está pedindo, —respondeu-lhe, suas palavras não maisásperas que a areia no vento.

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Mas parte de Ezri não sabia. A parte eterna dela tinha falado, e suareencarnação humana estava de acordo.

—Não nos deixe morrer.

Seus olhos começaram a pestanejar, e com isso, a energia de sua vida e a do

bebê. O futuro da linhagem de Ezri, e possivelmente o futuro de mundo foramguiando a decisão do Chant.

—Por favor, —murmurou Ezri enquanto ela começava a atravessar ainconsciência.

Tão indefesa. Tão séria.

Sua humilde súplica tirou um rugido de negação das profundidades doChant.

Ele descendeu voando rapidamente, enredou seus braços ao redor de Ezri, eaproximou sua cabeça a seu lado. Seu vulnerável pescoço e sua garganta

avermelharam sua visão.Como a desértica brisa, sua voz mental queimou seus pensamentos.

—Sempre foste meu.

—E você sempre foste minha, —grunhiu ele, logo afundou suas presas norio doce de Ezri minguando sua vida.

Capítulo 5

Ezri voltou em si lentamente, como se navegasse à terra de uma grandealtura.

Com os olhos ainda fechados, ela pensou primeiro em seu bebê.

— Ela está viva?

—Sim, —uma voz em sua mente murmurou, tão amavelmente que a Ezrinão lhe ocorreu reagir. —Ela está dormindo, como o fazem todas as descendentesRedevence no primeiro dia de vida. Ela não despertará até a manhã, e você saberá, pois seuleite subirá. Não tenha medo. Ela está mais segura agora, inclusive, que em seu ventre.

— Onde está ela? —Ezri se inquietou.—Estira a mão com seus pensamentos, chére. —A profunda voz acariciou os

nervos do Ezri, acalmando-a. Ela estirou seus sentidos, e então ela sentiu a seu bebê ,sua preciosa filha. Viva, sã, e dormindo uns poucos quartos mais acima. Ezri podiaouvir os suaves suspiros infantis de sua filha, mesclados com os roncos de cão deBatata Loa enquanto ele vigiava à menina, quase tudo camuflado pela cacofonia dopântano fora.

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—Posso-os ouvir. Mas... Isso é impossível.

A seguinte coisa que Ezri entendeu foi que ela estava nua.

O mormaço do bayou lambia sua pele como uma língua quente, fazendo aseus mamilos gotejar e enrugar-se. Ela não sofreu os dores do parto, nem dor pelos

arranhões e machucados, e em segundos, Ezri captou um terceiro feito. Ela tinhasido curada. De volta a seu estado original, como se nunca tivesse sido golpeada,nunca ido ao oeste, nem sido mordida por...

Seus olhos se abriram repentinamente.

Ela tratou de mover-se, mas percebeu que braceletes de metal e argolas nostornozelos a sujeitavam com força contra uma pedra coberta de pele, e seus pésdescansavam sobre a mesma suave frescura. Ela estava com os membrosestendidos em alguma espécie de porão com uma só janela. Fora, podia ver umameia lua, quase tão brilhante como o sol, resplandecendo através de pontas decipreste e intermináveis verdes e musgo.

E ele  estava ali, passando sob a janela, ainda vestido com nada mais queumas ajustadas calças de montar vermelhas.

O homem sombra. A besta escura que se converteu de leopardo a pássaro —gato e havia a trazido aqui, ...

— O que me tem feito? —Ezri atirou de suas ataduras, mas o movimento fezestalar uma rápida quebra de onda de fogo através de cada veia, cada tendão.

O homem sombra, Méchant, ou Chant como ele se chamava, manteve seupasseio. Podia-lhe ver como se o porão fora tão brilhante como o dia. A curva de

seus músculos, o fogo de seus olhos quando ele se deteve para contemplá-la, atoda ela, desde sua cabeça à ponta de seus pés, e para cima outra vez. Cada poucossegundos, ele grunhia como o leopardo que tinha sido quando ela o encontrou pelaprimeira vez. Seu ereto membro pressionava enquanto entrava e saía dos lugaressombrios do quarto.

Apesar de seu medo e confusão, o corpo do Ezri começou a sofrer. Elaqueria que ele se roçasse contra ela, compartilhar o calor do bayou. Ela queria essepênis duro e rápido dentro dela, bombeando-a até que gritasse.

—É a mudança. —Murmurou Chant. —Seus sentidos, suas emoções,inclusive sua carne fica mais viva durante a primeira —febre de sangue—.

Ezri chiou seus dentes. Não. Presas. Ela tinha presas.

O perfume do homem, mescla de almíscar e terra fresca a atraía, junto com orubor em suas bochechas.

Sangue. Seu sangue.

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Em sua mente, ela se viu montando seu rígido membro e destroçando seupescoço. Eles compartilhariam seu sangue como um elixir. Uma sombra de antigopoder a apanhou, e Ezri teve um brilho de tudo, passado, presente, futuro. Suamente se abriu e contraiu como o universo, engendrando estrelas e cometas eintermináveis profundidades negras. Ela conheceu exatamente quem era ela e

quem tinha sido, e soube o que era agora.Um híbrido. Montre e Redevence. Um caminhante noturno, e um dos

guardiães eternos de Terra. Um humano poderia chamá-la vampira, mas isso seriasimples. Entretanto, uma coisa era certa. Ela tinha a sede de uma vampira normal.Se cinco pescoços fossem despidos frente a ela, beberia de cada um até secá-los semuma segunda consideração.

Ezri tremeu, e a sombra de onisciência se voltou ligeira. Deixou-a tãorapidamente como veio, e Ezri voltou em si outra vez, mas realçada. Nua, excitada,e atada com cadeias a uma parede perto do mais atrativo homem—criatura que ela

alguma vez tivesse conhecido.—Vêem para cá. —Demandou ela. —Desejo-te.

Chant deteve seus passos.

—É a febre de sangue. O impulso de alimentar-se e o desejo a formar umcasal não pode ser separado entre o Criador e sua Criação.

Ezri fez chiar suas presas outra vez. O ciúmes percorreram suas veias comoum Voudon tamborilando.

—Quantas tem feito? —Ela corcoveou em suas cadeias. —  me diga, ouquando for livre, matar-te-ei!

O homem sombra se aproximou dela, fluindo através da luz de lua comomercúrio. Ele não a tocou, não. Parou perto, tão perto de sua carne que ela podiasentir sua pele zumbindo pela dela. Os mamilos do Ezri estavam tão duros que lhedoíam. Seu montículo pulsava com a esperança que Chant fraquejasse o controle ea tomasse contra a parede, duro e rápido e sem piedade.

—Não me ameace, chére.  —Seu tom baixou tanto que a fez tremer e doermais ainda. Um delicioso aroma de cobre a fez ver tudo vermelho, literalmente,desejar mordê-lo e possuí-lo ao mesmo tempo.

— Agora. Agora. Agora!

—Não. —Chant respirava duro. —Se tomar, será quando Eu  o dita. ComoCriador, devo ser o professor aqui. Não iremos mais longe, deusa ou não,permanecerá presa, até que entenda isso.

—Não sou uma deusa. —Ezri arremeteu contra seus braceletes, masentretanto falhou em tocar carne. Ela desejava a Chant mais do que alguma veztinha desejado a um homem.

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As escuras sobrancelhas do Chant se arquearam. Ele se aproximou umpouco mais e Ezri sentiu que vaga-lumes piscavam em sua mente. Os pensamentosdele contra os seus. Por um momento, ela entendeu sua luta, a necessidade derebater seus poderes contra os dela, protegê-los a todos.

—Ela está ali, mas não de tudo, —disse ele mais para si mesmo que para ela,mas Ezri soube o que quis dizer. —Uma parte de sua essência emigrou. —Eracerto.

A antiga alma que tinha sido uma parte do Ezri se foi parcialmente, eentretanto, mais presente que nunca antes. Ezri podia recordar partes do passado epedaços do futuro que ela tinha visto. Ela reteve o conhecimento da origem doChant, e o que ela se tornou. Por isso respeita a Chant, Ezri podia sentir-lhelutando com seus próprios desejos físicos.

—Febre de sangue, —chamou-a ele.

Ela se estirou uma vez mais, trabalhando para esfregar seu corpo contra odele, mas ele a evitou. Moveu-se só uma fração. Tão perto que um dedo nãopassaria entre eles, mas ainda tão longe.

—Tome. —Suplicou ela, mais excitada que nunca

Um beijo, um toque. Se ele não a tocava logo, ela morreria de desejo.

Na luz chapeada da lua, os lábios do Chant se curvaram. Suas presasbrilharam, estremecendo e aterrorizando Ezri.

—Se quiser alívio tão desesperadamente, o que entregará em troca?

Ezri lutou contra suas cadeias o suficientemente forte para romper ossos.

—Algo.

—Algo, Professor .

Chant casualmente beliscou seus mamilos antes que ela pudesse lhe dizerque se fosse ao diabo. Ezri gritou. Seu corpo estremeceu. Ela gemeu pela força comque sua alma o desejava, e o fogo em seu montículo se tornou insuportável.

—Úmida. Doces Deuses. Poderia colocar dois homens dentro e possuí-laambos. Mas não submeto a ninguém. A ninguém!

—Se foste violada, chére. Vítima de um homem que não se controlou melhor

que um porco em uma pocilga.Outra vez, Chant acariciou seus mamilos, e outra vez, Ezri gritou. Suas

carícias se sentiam como ferros de marcar, marcando-a como sua propriedade.

—Não sou esse homem. Mais, non. Creia-me!

Lutando com o desejo de jogar mão de maldições Voudon que logorecordava, Ezri olhou com raiva os insondáveis olhos do Chant. Seu corpo estirado

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como uma corda de tripa, a ponto de romper-se. Seus mamilos, pulsando pelocalor de seu toque, empurrando como varinhas mágicas. E entre suas pernas, oardor… o desejo. Sua garganta estava ressecada, mas ela ansiava ao único homemque poderia saciar sua sede.

Este homem.

Sempre meu. E eu, sempre dela. Fá-lo. Lhe diga o que ele quer. Algo para o ter mais perto.

—Acredito-te. —Murmurou ela.

Chant riu e beliscou forte seus mamilos.

—Não, não o faz, —desafiou-a ele enquanto ela corcoveava e chorava. —Mas o fará, MA boo. Isso o juro, sim. Isso o garanto.

—Vai te ao Diabo. —Ezri tentou morder a cara do Chant, mas só mordeu ar.

Outra vez, sua risada encheu o espaço ao redor deles. Logo, sua expressãotrocou a uma de luxuriosos olhos vermelhos. Ele pressionou para frente e estirouseus braços, juntando seus corpos dos ombros até os dedos do pé, e a beijou,lentamente, profundamente, explorando sua alma com sua língua exigente.

Gemendo, Ezri encontrou seu beijo, sentiu o doce aguilhão de suas presascontra seus lábios.

Tudo se sentia tão diferente, mas tão correto.

Ela tinha que ter a este homem, e logo. Talvez mais que uma vez. Talvezpara sempre.

Capítulo 6

Enlouquecido pela febre de sangue, Chant logo conseguiu retirar do beijo econtemplar seu prêmio. O calor flamejou entre eles, lhe queimando por dentro epor fora. Seu membro parecia como rocha fundida, e não queria nada mais quesaborear Ezri outra vez. Sua essência, tão doce, tão diferente de qualquer que elealguma vez tivesse conhecido. Sabor de vinho antigo, perfeitamente conservado.

Estava ainda bêbado de salvá-la e saboreá-la.E contudo, não poderia ser estúpido. Essa parte da velha alma dentro dela

era mais poderosa que algo conhecido na Terra. Poderia matá-lo com uma palavra,e com tudo a tinha feito dele.

Era o Criador. O Amo. Isso não se podia discutir, por sua segurança e a sua.Pela segurança do mundo.

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Estava louco, por unir seu poder com o seu? Tinha criado um monstro alémde todo cálculo?

Estudou Ezri com seu olhar fixo filtrado por sangue, sentindo seu palpitantecalor ao longo de sua exposta pele.

Não.Esta mulher não era um monstro. Era uma beleza clássica nos inícios de sua

primeira febre de sangue, querendo, precisando intercambiá-la com seu Criadorpara sobreviver.

—Ezri, a febre de sangue incrementa seu desejo, —começou ele a explicar,mas ela o cortou com um grunhido.

—Queria-te antes que me mordesse. —Investiu contra suas restrições,persuadindo-o, esfregando seus duros mamilos contra seu peito. O contato fez queo pênis do Chant pulsasse. —Antes. Antes, Demônios! Maldita seja!

Uivou, muito agudo e muito penetrante, e ele logo que conteve o som comum beijo antes que ela despertasse ao cão dormido acima e ficasse a ladrar. Parteda consciência do Chant monitorava ao bebê todo o tempo, com a ajuda de umagora transformado, vidente e voluntariosa Batata Loa.

O cão era um formidável guardião certamente.

Os lábios flexíveis e desejosos do Ezri, roçavam-se contra sua boca. Suaspresas, novas e afiadas, rasparam sua língua, logo sua bochecha. Queria seupescoço, e ele quis dar-lhe mas passo a passo.

Contendo seus próprios desejos à força de vontade, Chant se retirou outra

vez e usou sua rapidez e sua prática, para imobilizar Ezri duramente contra aparede, tocando somente suas mãos. Levantou seu joelho e acariciou suasvulneráveis dobras, devagar e brandamente, e logo ele exerceu pressão para cima,pressionando sua fatia até que ela gemeu implorando misericórdia.

—Eu tenho o controle aqui, Ezri. Pelo bem de todos os envolvidos, deveaceitar minhas instruções sem dúvida nenhuma, ao menos em sua primeira febrede sangue, ou isto terminará.

— Matar-me-ia, depois de me salvar? —Ela montou seu joelho o melhor quepôde com os tornozelos afiançados em suas pernas e as mãos firmemente sujeitas.

Chant vacilou. A qualquer outro haveria dito que sim e ele teria feito justamente isso. Mas a esta…… a mataria? Ele poderia quando muito pô-la emperigo?

—Não posso te matar, chérie. Mas posso levar a ti e ao menino com MamamRubie, a mam'bo que há concha abaixo. Manman, saberá o que fazer contigo, sim.

Outra vez, ele moveu seu joelho contra seus úmidos lábios inferiores.

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—Mas poderia te manter comigo. Te dar a atenção que merece.

Ezri gemeu enquanto ele mantinha seus impulsos lentos, movendo sua coxaacima e abaixo por toda a longitude de seu centro.

—Me diga o que quer, Ezri. —Chant pressionou mais duro suas mãos e

beliscou seu lábio inferior com suas presas. —  Serei seu amo, ou te levarei comMamam antes do amanhecer?

—Essa não é uma eleição justa. Ah, Meu Deus! Quero-te. —estremeceu-secontra sua perna, seus sucos escorregando-se em cima da apertado tecido de suascalças.

O aroma almiscarado da mulher se misturou com o ruído surdo de sanguetrocado em seus doces venha. Chant teve vertigem, mas se sustentou a si mesmo ea ela.

— O que quer? —Perguntou outra vez. — E quanto o quer?

Ezri estalou suas presas juntas, quase capturando seu pescoço. Ele usou seu joelho e se alavancou para controlá-la, apertando-a contra suas costas. Parte delequeria lhe fazer o amor lentamente, até que ela não tivesse alternativa, a não ser sósubmeter-se. A parte mais sábia dele soube que ela tinha que render-sevoluntariamente, totalmente, ou ele teria que cumprir sua ameaça.

—Não perguntarei outra vez, —advertiu, sua voz não mais que um chiadono quente ar do bayou.

— Ah, Demônios! —Ezri se deslizou por sua perna até onde pôde. — Queroque tome assim, sujeita. Me encha. Possui-me agora!

—  Possui-me agora, amo. —Chant lançou um olhar furioso a seus olhosdesafiantes. —Te submeta Ezri. Confia em mim.

Por um comprido momento, ele temeu que a perdesse, que nunca teria oque ele desesperadamente desejava.

E logo Ezri fechou os olhos.

— Possui-me Amo, - murmurou. —Por favor.

Chant soltou um suspirou que se converteu em um gemido quando, aindamantendo suas mãos contra suas, inclinou-se e levou seu duro mamilo corvermelho a sua boca, e o chupou duramente.

Tão suave, e ao mesmo tempo tão áspero como uma pedra quente. Com sualíngua, jogou com a ponta do mamilo, e com suas presas, acariciou gentilmenteprimeiro um lado, e logo o outro.

Ezri se sacudiu e gritou.

Só seu agarre e os braceletes de ferro a mantiveram em seu lugar.

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Cuidadosamente, cravou gentilmente perto de seu mamilo e se deu o gostode saborear seu prazer. O forte sabor do sangue em sua língua tornou sua visão emum profundo vermelho, e Ezri sentiu sua conexão realçada instantaneamente.

—Me morda mais forte —implorou. —Bebe mais profundamente.

—Não, —disse-lhe Chant telepaticamente. —Quando eu diga, e não antes. Mantém seu lugar, Ezri, e aprende antes que me veja forçado a te ensinar.

Os calafrios percorreram o corpo do Ezri ante suas palavras. Seuspensamentos foram desafiantes, mas em voz alta ela disse:

—Sim, amo.

Por todos os deuses, ele queria empurrar dentro dela tão profundamentepara parti-la em dois. Queria tudo dela e mais. E ainda ele obrigou a si mesmo atomar-se tempo.

Lento e gentil, ele arrastou suas presas e língua a seu outro peito e beliscou e

chupou até que Ezri quase se soltou de seus braceletes de ferro e de seu firmeagarre. Ele poderia dizer que ela estava afundando-se mais na mudança,rendendo-se mais e mais para sua primeira febre de sangue.

O momento perfeito se aproximou, satisfazendo a Chant. Ele sabia que nãopoderia esperar mais tempo tampouco.

Capítulo 7

Ezri se encontrava a beira do colapso, entre a explosão e a inconsciência. Asuave respiração do Chant, o aço de suas presas, a forma em que a sujeitava,firmemente, possesivamente, contra a parede, tomando tudo o que eralegitimamente dele, nenhuma de suas fantasias tinha sido tão perfeita.

Por todos os deuses. Sou um vampiro, murmurava-lhe uma parte de sua mente.Uma muito diminuta. O resto simplesmente se vangloriava desta especialpercepção, da consciência sensorial, e de seu Criador. Agora soube muito mais arespeito de seu infinito passado, a respeito do Montre. Como se a primeira dentadado Chant lhe tivesse despertado seu adormecido cérebro.

Por isso respeita a seu Criador, seu Amo, Chant a saboreava como se foraum banquete, primeiro um mamilo e logo o outro. Depois seu ombro, lhe dandouma pequena dentada, fazendo fluir seu doce sangue. O necessário. Sem excesso.A seguir afastando suas mãos de seu corpo e sujeitando suas mãos com os grilhões,deslizando sua boca por seu estômago… e agora… 

Quando Chant moveu a língua e as presas para o aberto, exposto e inchadomontículo, Ezri se estremeceu fora de controle. Deu-lhe diminutas dentadas naponta e na base e logo sugou seus clitóris como se o movimento pudesse tomar

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toda a noite. Durante todo esse tempo, era consciente da diminuta quantidade desangue que desembocava em suas presas, engolia sua garganta e se misturava comseus sucos.

Está-me bebendo totalmente. Completamente. Ezri gozou no mesmo instante emque teve esse pensamento, gritando mais forte do que imaginou.

Estando meio inconsciente contra a parede, com as pernas e braçosestendidos, ele continuou lambendo, sugando e saboreando todo o tempo quequis.

E o fez durante muito, muito tempo.

—Goze por mim outra vez,  —murmurou-lhe mentalmente, dando umpequeno golpe com sua língua no palpitante clitóris.

—Não posso, —disse sem fôlego, mas só conseguiu que Chant aumentasseseus esforços.

Continuou chupando, continuou bebendo, e deslizou profundamente trêsdedos em sua abertura, enterrando-os até os nódulos.

— Sim! —Ezri balançou os quadris, desejando poder afundar-se mais abaixoe introduzir sua mão até chegar ao cotovelo.

Que Chant rugisse um grunhido de prazer, provocou nela ainda maiscalafrios. Ele introduziu seus dedos uma e outra vez, empurrando, explorando-a,conduzindo-a para a beira da loucura, antes que, em efeito, goza-se outra vezfazendo o que seu Amo lhe tinha exigido.

O Amo, por agora. O amo, sempre? Perdi o julgamento? 

Ele continuou a possuí-la com os dedos, mais forte, logo mais suave.Rápido, logo mais lento. Ezri se sentiu incapaz de lhe deter. Seus mamilos lhepalpitavam e se incharam ainda mais, e quando gozou de novo, esticou-sesujeitando-se aos braceletes de metal.

Depois Chant ficou de pé, aparentemente satisfeito com sua submissão, etirou as calças.

Os olhos do Ezri se dilataram. Seu membro parecia enorme. E tão, tão bom.Como uma barra dourada palpitante de seda, mas dura como o ferro.

— Me dê isso, Amo, —suplicou mentalmente antes de mudar de opinião. —Introduz isso em mim como se fosse um touro.

—Não um touro, chére.  —Chant se adiantou e tocou seus clitóris com aponta de sua poderosa arma. —Pantera. Sou, somos leopardos em espírito de noitee em forma durante o dia.

— Maldição, Sim. —Ezri se balançou até onde pôde, incitando à dura carnepara sua dolorida entrada. Logo recordando, adicionou, — Amo.

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—  Quando tomar, não terei misericórdia, e não a terá você. A febre dosangue reclamará a ambos. Entende-o?

Todo o corpo do Ezri tremeu de antecipação.

— Sim, Amo.

Durante uns quantos segundos se mantiveram silenciosos, contemplando-se. De novo sujeitou suas mãos e o vértice de seu membro se deteve entre seusinchados lábios.

— É minha, —disse Chant. — Agora e sempre.

—Sempre fui tua, - respondeu-lhe, referindo-se ao passado e ao presente.

Antes de ter a possibilidade de aprofundar nesse pensamento, Chant seaproximou mais, agarrou seus quadris, e se introduziu com um impulso tão duroque a golpeou para trás contra o muro de pedra revestido de peles.

Seu próprio grito quase a ensurdeceu. Percebeu-se de que, decididamente,foi um pouco parecido ao que tivesse feito um felino, mais um uivo que um somcompletamente humano.

Chant parecia uma suave e ardente pedra dentro dela; dilatando-a tudo oque podia dilatar-se e enchendo seu centro tão profundamente como pôde.

Não podia mover-se. Os braceletes a sujeitavam firmemente, e sabia queestava totalmente a sua mercê.

A fúria misturada com a alegria, misturou-se a sua vez com a excitação,fazendo que se sentisse a beira da loucura.

Febre de sangue. A visão lhe tingiu profundamente de vermelho, e as veias do Chant

pareceram resplandecer sob sua pele, quando empurrou nela uma vez e logo duasvezes.

Apoiou a cabeça contra a parede e uivou de novo. Isto era perfeito. Ele eraperfeito.

— Possui-me! —gritou fora de si. — Por favor Amo!

E Chant acessou, mergulhando-se ainda mais profunda e duramente.

Ezri se sentiu romper e voltar a unir em uma só vez. Nunca tinha imaginadoque existisse tal prazer. Nunca sonhou que pudesse arder dessa maneira.

—Tenho sede. Maldição. Estou tão sedenta!

Seus ombros, seus braços e suas nadegas se esfregavam contra a paredequando o membro do Chant se afundava uma e outra vez nela, ancorando-a aochão com sua firme e férrea sujeição. Os braceletes a sujeitavam fortemente, dandoa aparência de que a obrigavam a manter-se aberta, sem obstruções para ele. E

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desejou poder abrir-se ainda mais. Seu peito se esfregou fortemente contra seussensíveis mamilos, fazendo que ofegasse com cada impulso.

O clímax se concentrou em seu interior, no corpo e na alma, e quando o fez,não conseguiu separar sua vista do pescoço do Chant. Quis lhe morder, comer-lhetotalmente.

— Fá-lo, —ordenou-lhe, voltando a cabeça e lhe oferecendo a melhor veia.Golpeou com força com seu falo, insistindo, lhe aproximando o pescoço quando oorgasmo se propagou pelo corpo do Ezri. Suas presas, novas e inexperientes,afundaram-se profunda e violentamente no Chant, e sua enriquecedora essênciafluiu para sua sedenta garganta.

Chant soltou um grunhido e redobrou a velocidade e a força de seusimpulsos.

Ezri não pensou que pudesse agüentar a deliciosa mescla de prazer e dor,mas não pôde deixar de beber. O metal que a sujeitava se moveu e de repente suasmãos e seus pés se viram livres. Colocou seus braços ao redor dos ombros de seuamante, as pernas ao redor de suas coxas, e se apoiou nele quando empurrou emseu centro e derramou sua ardente semente.

Por instinto, Ezri soltou sua dentada e lhe mostrou seu pescoço.

O feroz rugido do leopardo encheu seus ouvidos pouco antes que tomasseseu presente com um selvagem e bem-vindo poder.

Sangue…fluindo...misturando-se…trocando… 

O atordoamento invadiu a consciência do Ezri, e seu mundo se estremeceu

no mesmo momento em que Chant se endureceu de novo em sua fenda.—Toda a noite ,  - murmurou quando, gulosamente, tragava o que lhe tinha

devotado, e começava de novo seus lentos e enlouquecedores movimentos. —Vocêtransará toda a noite, e a seguinte, e a seguinte. É minha, para sempre. Feita paramim.

—Sim,  Amo. —O corpo do Ezri se submeteu lhe transmitindo seu amor, seucontrole, sua confiança. —E você é meu, feito para mim.

Epílogo.

17 De Julho, 1863

14 Rue Do Soleil

Paris, França

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O sol por fim saía sobre o horizonte francês.

Alain fez uma rápida comprovação mental procurando passantes casuais, enão encontrando nenhum, se moveu da sombria esquina do pátio ao privadocorredor empedrado perto de sua porta. Completamente banhado pela luz, ele seconverteu à forma humana. Também sua fome despertou além do suportável,igual ao fez seu temperamento.

—Se esse Méchant, esse bastardo Montre pensa que ele pode me manterlonge da cadela Redevence por sempre, então… 

—Bem, bem, —chegou uma sedosa voz feminina desde detrás dele, —sonhei-o, mas não podia acreditar. —Incomodando, intrigando.

Girando-se rápido, Alain contemplou à mulher mais exótica que ele algumavez tivesse visto. O cabelo mais negro que as noites que ele odiava, seus olhos tãoescuros e imensamente profundos, e seus lábios. Mais vermelhos que o sangue. Opênis de Alain se endureceu, e sua sede se incrementou. Ele apertou os punhospara abster-se de agarrar a esta imprudente intrusa e mordê-la lentamente, só pelopuro prazer do ato.

Ela não era francesa, não. Egípcia, Possivelmente. Ou talvez… 

—Uma mescla, —Ofereceu ela com seu acento ligeiro, misterioso. — ROM,em realidade. Ah, Sinto muito. Romaní. Mas me pode chamar Bohémien. Meunome é Sashi, e não tenho medo de seus muitos poderes.

Alain ficou rígido. Uma telepata. —Maldição. —E ela tinha ouvido tudo.Visto tudo.

—  O que é o que quer uma cigana de mim? —Ele se expressou com umgrunhido, inquieto, sentindo-se mais leopardo do que ele preferia a esta tenra hora.A essência de seus rios internos, de seu ligeiro perfume de mel e especiarias,conduziu-lhe perto da febre de sangue.

—Isso poderia te surpreender. —Os olhos do Sashi brilharamintermitentemente, e em um rápido movimento ainda para que Alain se desseconta, ela deu um passo adiante e agarrou sua palpitante ereção. — Faz dois dias, omundo trocou em formas mais profundas das que você poderia entender. —Elaacariciou sua ereção lentamente através de suas calças enquanto aproximava seuslábios delicados a só um sussurro dele. —Temos um propósito em comum, você e

eu.

* * *

17 De Julho, 1863

Atchafalya Basin, Louisiana

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Em Alguma Parte Perto Do Cane Island

O coração do Chant golpeava enquanto ele estava ombro com ombro com oEzri em sua forma de leopardo, ficando com o olhar fixo no impossível.

Ruli... O sussurro da mente do Ezri do nome de sua filha comunicou suaimpressão.

Exaustos e ainda doloridos pelo emparelhamento rude da noite anterior,eles tinham chegado a este quarto com apenas uma preocupação enquanto o diarompia no Bayou.

Proteger à menina. Salvar o legado da Redevence. Mas, como podiamrelegar dois seres sua forma de leopardo durante o cuidado diurno de uma meninahumana? Deixar sozinha a uma menina humana, uma adolescente humana… mas,aparentemente, esse não seria um problema depois de tudo.

—  Como ocorreu isto? —Perguntou Ezri, olhando para baixo ao belofilhotinho de leopardo em seu cubículo provisório de mantas, folhas, e ostravesseiros do Chant.

Chant deixou cair sua cabeça e acariciou com o nariz o filhotinhoadormecido. Ela se moveu, logo tamborilou seu nariz, girou-se, e se voltou emseguida para dormir.

—  Não tenho idéia, —Murmurou ele por fim. —  Exceto ela ainda estavaatada a ti, a seu sangue, quando nos vimos forçados a te salvar.

—  E agora ela é um híbrido, como eu. Parte Montre, parte Redevence. —

Ezri soou em conflito, mas excitada.—Ao menos… ao menos será mais fácil assim. 

Ela, também, farejou ao diminuto filhotinho.

Esta vez, Ruli despertou com alguma moléstia. Quando ela abriu seus olhos,tinham uma incandescência que Chant instantaneamente reconheceu.

— Atrás, Boo, —ordenou, mas foi muito tarde.

O filhotinho moveu sua cauda e deixou escapar um diminuto rugido.

A terra se estremeceu violentamente, e as paredes da Casa da Luaestralaram. Com um ruído mais forte que o trovão, a casa grande pareceu estalarao redor deles, ficando derrubada em muitas pilhas de rochas e lascas.

Nenhuma peça dos escombros tocou a Chant ou Ezri. Eles ficaram de pé nabeira do único alpendre de pisos intacto, agradecendo ao destino não ter estado noporão secreto.

 Justo na beira.

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— A velha alma, a parte que lhe deixaste. —Chant começou, mas Ezri lhecortou assentindo.

—Como nós seremos. —Ele começou de novo, mas foi então quando Chantviu a resposta nos olhos incandescentes de Ezri. Ela grunhiu brandamente,inclinou-se mais sobre o filhotinho, e ficou nariz com nariz com sua filha.

— Tem alguns maneiras para aprender, pequena, —lhe disse com voz firme,com a voz confiada de uma mulher acostumada a viver na beira. — E muito porrecordar, mais oui.

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