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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE BELAS-ARTES
A COLEÇÃO OSTEOLÓGICA DA FACULDADE DE
BELAS-ARTES: INVENTARIAÇÃO E
PRESERVAÇÃO DA COLEÇÃO DEDICADA AO
ENSINO
Diana Moreira Dinis
Dissertação
Mestrado em Museologia e Museografia
Dissertação orientada pela Professora Doutora Alice Nogueira Alves e pela Professora
Doutora Isabel Maria Dinis Correia Ritto
2016
i
DECLARAÇÂO DE AUTORIA
Eu Diana Moreira Dinis, declaro que a presente dissertação de mestrado intitulada “A
coleção osteológica da Faculdade de Belas-Artes: inventariação e preservação da coleção
dedicada ao ensino”, é o resultado da minha investigação pessoal e independente. O
conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão devidamente mencionadas na
bibliografia ou outras listagens de fontes documentais, tal como todas as citações diretas ou
indiretas têm devida indicação ao longo do trabalho segundo as normas académicas.
O Candidato
Lisboa, 30 de dezembro de 2016
ii
RESUMO
A presente dissertação consiste no estudo, inventariação e preservação da coleção osteológica
dedicada ao ensino da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa (FBAUL). Esta
coleção é formada por 199 elementos ósseos isolados, que agora foram integrados em 59
fichas de inventário. Abrange material osteológico humano, mas também material não-
humano. Entre eles estão esqueletos articulados, esqueletos não-articulados, peças ósseas
isoladas e fragmentos de osso.
Os espécimes osteológicos aqui apresentados são utilizados como materiais didáticos no
âmbito do modelo de educação artística institucionalizada pelas academias e escolas de belas-
artes desde o Renascimento italiano até aos nossos dias. O tipo de prática artística defendida
por este modelo consistia na representação do nu, e, para se alcançar esse propósito, era
necessário o estudo das estruturas osteológicas e miológicas do corpo humano.
A coleção em estudo foi encontrada dissociada do seu valor patrimonial, e exposta a
condições pouco favoráveis à sua preservação. De forma a se contornar este problema, foi
elaborado o inventário dos ossos e iniciada a implementação de um conjunto de práticas e
dos procedimentos mais adequados para uma coleção desta natureza.
Por fim, é apresentado um conjunto de propostas para trabalhos futuros, no sentido da
documentação, informatização, preservação e divulgação da coleção, à luz do que se tem
realizado na instituição, com o recurso e adaptação às novas tecnologias.
Palavras-Chave:
Academia / Escola de Belas-Artes; Ossos; Osteologia; Inventário; Preservação.
iii
ABSTRACT
This dissertation consists of the study, inventory and preservation of the osteological
collection devoted to the courses in the Fine Arts College of the University of Lisbon
(FBAUL). This collection comprises 199 individual bone elements, now integrated into 59
inventory forms. It includes both human and non-human osteological material, among which
there are articulated and disarticulated skeletons, individual bones and bone fragments.
The osteological specimens presented here have been used as teaching tools in the visual arts
education model implemented by academies and fine arts schools since the Italian
Renaissance. The type of artistic practice supported by this model consisted in nude
representations, which therefore implied the study of osteological and myological structures
of the human body.
The collection being studied was found decoupled from its patrimonial value and exposed
to conditions unfavourable to its preservation. In order to overcome this problem, a bone
inventory has been made as well as the implementation of a set of practices and procedures
most suitable for a collection such as this.
Finally, this dissertation presents a series of proposals for future studies aiming to document,
computerise, preserve and promote the collection in the light of what has been accomplished
in the institution through the use of and adaptation to new technologies.
Keywords:
Academy / Fine Arts School; Bones; Osteology; Inventory; Preservation.
iv
AGRADECIMENTOS
À minha orientadora, Prof.ª Doutora Alice Alves, e à minha coorientadora, Prof.ª Doutora
Isabel Ritto, louvo e agradeço encarecidamente todo o apoio, disponibilidade, paciência,
extensas e minuciosas correções e dedicação. De facto, foram ambas cruciais em todo o
processo de realização deste trabalho, e trarei sempre na minha memória o modo como o
seu papel foi indispensável. É-me impossível imaginar o que teria sido esta dissertação
sem a sua valorosa ajuda.
À Prof.ª Marta Frade, a quem devo o tema desta dissertação, agradeço o seu incentivo e
a motivação que inspira.
À Prof.ª Doutora Luísa Capucho Arruda pela ponte que estabeleceu entre o presente
trabalho e o Museu Nacional de História Natural e da Ciência (MUHNAC). Agradeço
também todo o seu apoio, principalmente nos tempos de maior necessidade.
À curadora do MUHNAC, Maria Susana de Jesus Garcia, agradeço por me ter recebido
tão atenciosamente no seu Laboratório de Antropologia, pela sabedoria e experiência que
partilhou comigo, por tanto o que me ensinou em apenas três meses e por se ter deslocado
à FBAUL para dar o seu valioso contributo no processo de documentação do material
osteológico.
Devo também os meus agradecimentos a Catarina Teixeira, conservadora do MUHNAC,
a quem valorizo a simpatia, a prontidão e a disponibilidade na cedência de dados úteis
para este trabalho.
Às restantes instituições visitadas no âmbito da presente dissertação. Ao Museu Nacional
de Arqueologia (MNA), particularmente à conservadora deste museu, Ana Santos,
agradeço pelo tempo dispendido e por me ter facultado informações pertinentes para a
investigação de campo realizada. Ao Laboratório de Arqueociências da Direção-Geral do
Património Cultural (LARC-DGPC) e aos seus investigadores, Simon Davis, Carlos
Pimenta e Sónia Gabriel, que me acolheram amavelmente no seu espaço de trabalho, e
me mostraram as suas interessantes coleções, bem como pela sua contagiante dedicação
e entusiasmo pelo trabalho de investigação.
Aos docentes da FBAUL, José Bernardo, Artur Ramos, Henrique Dias Costa, Manuel
San-Payo, António Pedro Marques e Américo Marcelino, agradeço e estimo a sua
atenção, os esclarecimentos úteis e a disponibilidade oferecidas. Agradeço em especial
v
ao professor José Bernardo, pelas preciosas sugestões no começo deste trabalho, e ao
professor Artur Ramos, por me deixar participar em algumas das suas frutuosas aulas.
À Ana Mafalda Cardeira agradeço a preciosa ajuda no processo de distinção entre os
ossos e as reproduções em plástico.
Ao Project Lab da FBAUL, e aos seus técnicos, João Costa e João Rocha, com quem
espero trabalhar futuramente, por receberem o projeto da digitalização e impressão
tridimensional dos ossos. Não poderia deixar de mencionar que é ao João Costa que esta
ideia deve ser atribuída.
Aos técnicos de fotografia e de multimédia, mas também aos funcionários da FBAUL,
indispensáveis para a concretização do trabalho nas suas vertentes técnicas e práticas.
À gentil Maria João Marques pelo seu contributo na tradução do resumo.
À Susana Moreira e ao Ricardo Sousa, pelo tempo que dispenderam na edição das
fotografias dos ossos.
Às pessoas que me são próximas, a minha mãe e restante família, obrigada pelo calor e o
abrigo que representam.
Obrigada Susana, Luísa, Frederico e Ricardo, pela presença, muita paciência e apoio
incondicionais ao longo desta aventura.
vi
À memória do meu pai.
vii
ÍNDICE
ÍNDICE DE IMAGENS
ÍNDICE DE TABELAS
SIGLAS
1. INTRODUÇÃO............................................................................................................1
1.1. Tema, problemática e objetivos .................................................................................1
1.2. Metodologias..............................................................................................................4
1.3. Estado da arte.............................................................................................................4
1.4. Estrutura.....................................................................................................................6
2. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA...................................................................9
3. INVESTIGAÇÃO DE CAMPO................................................................................25
3.1. Museu Nacional de História Natural e da Ciência........................................26
3.2. Museu Nacional de Arqueologia...................................................................29
3.3. Laboratório de Arqueociências da Direção-Geral do Património Cultural....31
4. SOBRE A COLEÇÃO...............................................................................................35
4.1. Identificação, categorização e organização..................................................35
4.2. Descrição da coleção.....................................................................................39
4.2.1. Material osteológico humano.........................................................39
4.2.1.1. Esqueletos articulados.....................................................39
4.2.1.2. Esqueletos não-articulados..............................................42
4.2.1.3. Peças ósseas.....................................................................45
4.2.1.3.1. Cabeça óssea.....................................................45
4.2.1.3.2. Coluna vertebral................................................49
4.2.1.3.3. Tórax.................................................................50
4.2.1.3.4. Cíngulo do membro superior.............................51
4.2.1.3.5. Braço e antebraço..............................................52
4.2.1.3.6. Mão...................................................................53
4.2.1.3.7. Cíngulo do membro inferior..............................54
4.2.1.3.8. Coxa e perna......................................................55
4.2.1.3.9. Pé......................................................................57
4.2.1.4. Fragmentos osteológicos humanos..................................58
4.2.2. Material osteológico não-humano..................................................59
viii
4.2.3. Fragmento ósseo.............................................................................60
5. DOCUMENTAÇÃO..................................................................................................62
5.1. Atribuição do número de inventário.............................................................62
5.2. Construção da ficha de inventário................................................................64
5.3. Descrição da ficha.........................................................................................70
5.4. Outra documentação associada.....................................................................72
6. PRESERVAÇÃO.......................................................................................................74
6.1. Marcação dos espécimes...............................................................................77
6.2. Controlo e monitorização ambiental e biológica..........................................80
6.3. Armazenamento e acondicionamento...........................................................83
6.4. Manuseamento..............................................................................................85
6.5. Segurança......................................................................................................88
6.6. Acesso...........................................................................................................89
6.7. Sensibilização e formação.............................................................................93
7. CONCLUSÃO............................................................................................................95
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................100
ANEXOS (CD-ROM)..................................................................................................107
A.1. Fichas de inventário....................................................................................107
A.2. Proposta de numeração (conjuntos)............................................................344
A.3. Proposta de marcação.................................................................................347
A.4. Propostas de documentação........................................................................352
A.4.1. Ficha de requisição de material osteológico (ensino)...................352
A.4.2. Ficha de registo de deslocação e localização da coleção osteológica
(ensino)...................................................................................................354
A.4.3. Ficha de registo de recolha e utilizacão da coleção osteológica
(ensino)...................................................................................................355
ix
ÍNDICE DE IMAGENS
Figura 1. Enea Vico after Baccio Bandinelli. The Academy of Baccio Bandinelli. C. 1544......................10
Figura 2. Cornelis Cort (after Jan van der Straet, called Stradanus). The Practitioners of the Visual Arts.
1578……………………………………………………………………………………………………......11
Figura 3. Pietro Francesco Alberti. Academia d’ Pitori, c. 1600……………………….………………...12
Figura 4. Leonardo da Vinci. Two drawings of the skull seen from the left, the one below squared for
proportion. With notes on the drawings, 1489…………………………………………………………....12
Figura 5. De Humani Corporis Fabrica Librorum Epitome por Andreas Vesalius, 1543.........................13
Figura 6. Ludovico Cigoli. Écorché Statuette, c. 1580…………………………………………………...13
Figura 7. Johann Zoffany, Hunter Lecturing at the Royal Academy, c. 1772……………………………14
Figura 8. Francois Sallé, The Anatomy Lesson at the École des Beaux-Arts, Paris, 1888……………….15
Figura 9. Jean-Antoine Houdon. L’ Ecorché. 1767………………………………………………………16
Figura 10. Smugglerius. W. Pink, after Agostino Carlini. 1834………………………………………….16
Figura 11. Jean-Galbert Salvage. Anatomie du gladiateur combattant, applicable aux beaux arts, ou Traité
des os, des muscles, du mécanisme des mouvemens, des proportions et des caractéres du corps humain.
1812…………………………………………………………………………………………………….….17
Figura 12. Jean-Galbert Salvage. Anatomie du gladiateur combattant, applicable aux beaux arts, ou Traité
des os, des muscles, du mécanisme des mouvemens, des proportions et des caractéres du corps humain.
1812………………………………………………………………………………………………………. 17
Figura 13. Paul Richer. Modèle masculin nu, barbu, bras tendu, posant à côté d'un squelette (designação
posteriormente atribuída). 1905....................................................................................................................18
Figura 14. Isabelle Bauret. Cours de François Fontaine. 1982. Local: Anfiteatro de morfologia...............19
Figura 15. Isabelle Bauret. Cours de François Fontaine. 1982. Local: Anfiteatro de morfologia...............19
Figura 16. Ecorché de Houdon. 1871. Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. Nº de
inventário: FBAUL / ESC / 747....................................................................................................................21
Figura 17. José Ferreira Chaves. Modelo Anatómico – esqueleto. 1857-58. Nº de inventário:
FBAUL/366/DA..........................................................................................................................................23
Figura 18. Maria Helena Vieira da Silva. Desenho anatómico [pé], 1927.................................................23
Figura 19. Beatriz Manteigas. Desenho de modelo. 2013............................................................................24
Figura 20. Cláudia Santos. Estudos da estrutura do pé I. 2014..................................................................24
Figura 21. Osso natural. Mafalda Cardeira, 2015.......................................................................................36
Figura 22. Osso natural. Mafalda Cardeira, 2015........................................................................................36
x
Figura 23. Osso artificial em plástico. Mafalda Cardeira, 2015...................................................................37
Figura 24. Osso artificial em plástico. Mafalda Cardeira, 2015...................................................................37
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1. Esqueletos articulados: elementos por inventário e proposta da sua numeração....................39-40
Tabela 2. Esqueletos não-articulados: elementos por inventário e proposta da sua numeração...................43
Tabela 3. Cabeça óssea: elementos por inventário e proposta da sua numeração..................................46-47
Tabela 4. Coluna vertebral: elementos por inventário e proposta da sua numeração....................................49
Tabela 5. Tórax: elementos por inventário e proposta da sua numeração.....................................................50
Tabela 6. Cíngulo do membro superior: elementos por inventário e proposta da sua numeração.................51
Tabela 7. Braço e antebraço: elementos por inventário e proposta da sua numeração..................................52
Tabela 8. Mão: elementos por inventário e proposta da sua numeração.......................................................53
Tabela 9. Cíngulo do membro inferior: elementos por inventário e proposta da sua numeração.................54
Tabela 10. Coxa e perna: elementos por inventário e proposta da sua numeração.......................................55
Tabela 11. Pé: elementos por inventário e proposta da sua numeração........................................................57
Tabela 12. Fragmentos osteológicos humanos: elementos por inventário e proposta da sua numeração.....58
Tabela 13. Material osteológico não-humano: elementos por inventário e proposta da sua numeração.......59
Tabela 14. Fragmento ósseo: elementos por inventário e proposta da sua numeração.................................60
Tabela 15. Protocolo de marcação da colecção de esqueletos identificados (Museu Bocage):
Orientações..........................................................................................................................79
Tabela 16. Normas de manuseamento da coleção osteológica da FBAUL..................................................87
Tabela 17. Normas gerais de acesso à coleção osteológica da FBAUL...............................................90-91
xi
SIGLAS
ABAL – Academia de Belas-Artes de Lisboa
CIDOC – International Committee for Documentation
DCMS - Department for Culture, Media and Sport
DGPC - Direção-Geral do Património Cultural
FBAUL - Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa
ICOM – International Council of Museums
IMC - Instituto dos Museus e da Conservação
IPM - Instituto Português dos Museus
LARC - Laboratório de Arqueociências da Direção-Geral do Património Cultural
MNA - Museu Nacional de Arqueologia
MUHNAC - Museu Nacional de História Natural e da Ciência
1
1. INTRODUÇÃO
1.1. Tema, problemática e objetivos
A dissertação que aqui se apresenta tem como objetivo a elaboração de processos de
documentação adaptados à coleção osteológica da FBAUL, bem como contribuir
valorosamente no sentido da seleção e implementação das melhores práticas e
procedimentos para a preservação destes espécimes.
A coleção da FBAUL é formada por 199 elementos osteológicos, sendo constituída por
esqueletos articulados e não-articulados, de natureza humana na sua maioria, mas também
não-humana. Estes elementos fazem parte de um conjunto de materiais didáticos
utilizados para o ensino da instituição, herdados das Academias e Escolas de Belas-Artes,
existentes desde o Renascimento italiano do século XV até aos nossos dias, e que
permanecem nesta instituição enquanto recursos de apoio para o ensino do desenho,
desenho anatómico, anatomia/antropometria e anatomia artística. O material osteológico
da FBAUL é património científico, constituindo o reflexo de um modelo de ensino
institucionalizado pelas academias de arte, bem como, numa perspetiva geral, um símbolo
do diálogo entre a Ciência e a Arte presente na história da educação artística europeia.
Também é um dos objetivos deste trabalho, através de um breve enquadramento cultural
e institucional, demonstrar e corroborar o valor deste espólio enquanto património.
Na FBAUL, para além destes modelos osteológicos, existem outros ossos, também
tridimensionais, como algumas reproduções em plástico e modelos em gesso para o apoio
da transmissão de conhecimentos anatómicos. A par destes útlimos, são utilizados
modelos digitais tridimensionais do corpo humano ou, como atualmente se tem vindo a
procurar introduzir no âmbito do ensino anatómico na instituição, as impressões 3D de
modelos digitais1. Estes materiais didáticos deveriam ser igualmente inventariados e
abrangidos num plano de práticas e procedimentos adequados para a sua preservação. No
entanto, embora pertençam também a um espólio utilizado no âmbito da educação
artística, estes espécimes, sendo de uma natureza diferente da coleção osteológica,
1 Refere-se aqui ao modelo didático proposto por Henrique Costa, professor na FBAUL, através da sua
Tese de Doutoramento intitulada de Projeto Original de Modelo Tridimensional Para Anatomia Artística:
Constituição Osteológica e Miológica do Corpo Humano, em 2014, orientada pela Prof.ª Isabel Ritto, que
consiste num modelo digital da estrutura osteológica e miológica do corpo humano, gratuito para o público
em geral e reproduzível a baixo custo através da impressão 3D. Relativamente aos modelos digitais
tridimensionais, estes poderão ser consultados no sítio da internet: http://p3d.in/u/nrq978.
2
requerem outro género de práticas de documentação e de conservação a investigar, a
refletir e a implementar de modo independente e distinto, não sendo, por isso, incluídos
neste trabalho.
No espaço onde se sabe ter sido a capela do antigo Convento de São Francisco de Lisboa,
existem também ossos sepultados que mereceriam ser igualmente tratados. Tendo em
conta as caraterísticas dos materiais que compõem estes objetos orgânicos, é possível que
estes ossos já se encontrem num avançado estado de degradação, sendo recomendável a
averiguação imediata deste caso. Contudo, estes ossos não se inserem no contexto de
ensino e, por esse motivo, também não foram integrados nesta coleção. Por outro lado,
esta é uma situação a ser tratada por profissionais competentes, dado o contexto
arqueológico e antropológico que lhe é inerente.
Urgia inventariar e preservar o material osteológico com fins pedagógicos porque o seu
valor enquanto património, relativo aos aspetos culturais e artísticos já mencionados, se
encontrava perdido ou dissociado dos seus elementos. Este é um problema igualmente
detetado na maioria dos restantes modelos didáticos da FBAUL (excetuando a coleção de
gessos). Os exemplares aqui estudados não são provenientes de uma fábrica, não sendo
produzidos em série, nem facilmente substituíveis. Os ossos são restos mortais, partes
remanescentes de corpos humanos que merecem um tratamento digno, respeitoso e
consciente. Este aspeto está relacionado com questões éticas, reconhecidas pelas
instituições competentes da área do património, como é possível verificar no código de
ética do International Council of Museums (ICOM), elaborado a partir da perspetiva dos
museus de história natural (ICOM, 2013), ou no código de ética do ICOM (2006), onde
os restos mortais são considerados como “materiais culturais ‘sensíveis’” (2006, secção
2.5, para.1) cuja aquisição só deveria ser realizada “somente se puderem ser conservados
em segurança e tratados com respeito” (2006, secção 2.5, para.1). A sua pesquisa, tendo
em conta o teor antropológico associado a este género de coleções, apenas deve ser
realizada “de acordo com normas profissionais, levando-se em consideração, quando
conhecidos, os interesses e as crenças da comunidade e dos grupos étnicos ou religiosos
dos quais os bens se originaram” (ICOM, 2006, secção 2.5, para.1). Estas questões
também foram refletidas no seio da arqueologia e da antropologia, por ter sido no âmbito
destas áreas que se recolheu um grande número de coleções osteológicas (Mincer, 2015).
3
Outra problemática que este trabalho pretende igualmente abordar, bem como responder,
é a do desconhecimento e desvalorização do património da FBAUL por parte da sua
comunidade académica. Este aspeto já foi tratado por Beatriz Bento na sua dissertação de
mestrado apresentada em 2015, IN SITU: Um projeto de trabalho com a comunidade
para a conservação do património da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de
Lisboa. Contudo, neste caso, pretende-se oferecer uma resposta direcionada
especificamente para a coleção osteológica dedicada ao ensino.
Neste contexto, a temática deste trabalho surge num panorama de reconhecimento do
património da FBAUL, do valor das suas coleções e da sua preservação, que se observa
tanto na proposta de Beatriz Bento, como nas práticas e procedimentos promovidos pelo
projeto CAREFUL - Implementação de um Plano de Conservação Preventiva nos acervos
da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, um projeto criado em 2013,
nesta instituição, pelas professoras Alice Nogueira Alves, Luísa Arruda e Marta Frade.
Ainda antes deste, em 2009 foi criado o Museu Virtual da FBAUL, uma plataforma on-
line de divulgação e pesquisa das coleções dos principais acervos da instituição, para a
qual se pretende contribuir com a integração de mais uma coleção, como se verá adiante
neste trabalho. Este Museu Virtual consiste numa proposta de Alberto Faria, no âmbito
da sua dissertação de mestrado em Museologia e Museografia, orientada pela Professora
Luísa Arruda, que se transformou num projeto posteriormente implementado ao abrigo
da secção Francisco de Holanda do Centro de Investigação e Estudos em Belas-Artes da
Faculdade (CIEBA) (Faria, 2011). Mais tarde, este Museu Virtual veio também a ser
atualizado com uma visita virtual aos espaços da FBAUL, um trabalho realizado por Ana
Mafalda Cardeira, Camila Mortari, Paulo Alves, João Murtinheira e Gonçalo Branco,
alunos da Universidade de Lisboa.
Por outro lado, este tema insere-se igualmente num contexto de um crescente trabalho no
sentido da valorização e inventariação do património cultural e científico da Universidade
de Lisboa, onde se destaca a obra publicada na coordenação de Marta C. Lourenço e
Maria João Neto, Património da Universidade de Lisboa. Ciência e Arte (2011), ou o
trabalho de campo desenvolvido por Marta C. Lourenço, Ana Mehnert Pascoal e Ana
Catarina Teixeira da Silva, tratado pela última no seu trabalho de projeto de Mestrado em
Museologia intitulado Património Cultural da Universidade de Lisboa: Levantamento e
contributo para a sua valorização (2012).
4
1.2. Metodologias
A elaboração deste trabalho teve o seu desenvolvimento estruturado por três processos
metodológicos distintos.
Num primeiro momento, foi realizado um estágio curricular no Museu Nacional de
História Natural e da Ciência, de modo a observar, aprender e adquirir os meios, métodos
e práticas de inventariação e preservação de coleções desta natureza. A par desta
experiência, julgou-se necessário o estudo de outros casos, de forma a reunir diferentes
práticas e procedimentos que poderiam vir a ser pertinentes a este trabalho. Foi também
durante a investigação de campo que se agruparam algumas das referências bibliográficas
utilizadas no processo de identificação, organização, documentação e preservação de
coleções osteológicas.
Posteriormente, ou, numa segunda fase, foram comparados os conhecimentos e dados
adquiridos no decurso da investigação de campo efetuada, às referências bibliográficas
de interesse, fossem elas elaboradas num âmbito geral por entidades competentes,
originadas no seio do trabalho científico dedicado aos materiais orgânicos ou
exclusivamente ao material osteológico. Nesse momento, foram examinadas quais as
práticas de inventariação e preservação mais adequadas para os ossos, no campo teórico
e no prático.
O terceiro momento trata também dos procedimentos considerados adequados, sobre os
quais incidiu uma reflexão relacionada com a sua exequibilidade e pertinência para o
espólio de ossos dedicados ao ensino da FBAUL. Ajustadas estas medidas, procedeu-se
à sua implementação no processo de documentação e nas propostas de preservação para
a coleção em estudo.
1.3. Estado da Arte
Ao longo da presente dissertação são apresentadas as fontes consultadas no processo de
inventariação, bem como as relativas ao tema da preservação dos ossos. Contudo, é
indispensável a reunião das principais referências relacionadas com as quatro principais
questões deste trabalho.
Para o primeiro tema, a contextualização dos ossos no modelo de ensino artístico das
academias de arte, recorreu-se essencialmente à indispensável tese de doutoramento de
5
Maria Helena Lisboa, As Academias e Escolas de Belas-Artes e o Ensino Artístico (1836-
1910) (2007), onde foi possível perceber, tanto o panorama europeu, como o lisboeta.
Transversais aos dois panoramas referidos, foram os conhecimentos adquiridos com a
tese de doutoramento de José Bernardo, A coleção de Escultura da Faculdade de Belas-
Artes: A formação do gosto e o ensino do desenho (2013). Relativamente ao contexto
europeu a que se concerne o modelo de educação em questão, o estudo de conhecimentos
anatómicos no âmbito desse modelo, bem como a utilização dos ossos que lhe é inerente,
foi essencialmente consultada a obra Spectacular Bodies: The Art and Science of the
Human Body from Leonardo to Now, referente à exposição concebida em 2011, da
Hayward Gallery (Kemp & Wallace, 2011), onde foram encontrados os dados históricos
e factuais ou as produções artísticas essenciais para o enquadramento pretendido. É de
mencionar a obra consultada de Carl Goldstein, Teaching Art – Academies and Schools
from Vasari to Albers (1996), em que se destaca no tema das academias de arte europeias.
Igualmente referente a este tema, e de um indiscutível contributo para ele, está a obra de
Nikolaus Pevsner, Academies of Art: Past and Present (1940), cuja consulta foi constante
no decurso desta pesquisa.
As principais fontes utilizadas para a identificação dos diversos espécimes osteológicos,
são: The Human Bone Manual (White & Folkens, 2005), Anatomia Humana da
Locomoção (Pina, 2014) e a tese de doutoramento de Henrique Costa, Projeto Original
de Modelo Tridimensional Para Anatomia Artística: Constituição Osteológica e
Miológica do Corpo Humano (2014). Estas referências constituíram igualmente uma
ajuda na categorização e na organização da coleção, tendo-se em consideração as noções
anatómicas nelas contidas.
No processo de inventariação recorreu-se a referências criadas para os diversos tipos de
coleções, como as publicadas pelo ICOM (Roberts, 2004), as elaboradas pelas instituições
de interesse do território português, nomeadamente, as normas de inventário
disponibilizadas on-line pela Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) (Instituto
dos Museus e da Conservação [IMC], 2000; IMC, 2010). Também se tiveram em
consideração as fichas de inventário criadas para as diferentes coleções da FBAUL
(Cardeira, 2015; Faria, 2008; Madeira, 2005; Bernardo, 2013; Franco, 2011; Franco,
2014). As fontes seguidas para o trabalho da construção de uma ficha de inventário
adaptada a uma coleção osteológica foram, para a além do manual referido anteriormente,
The Human Bone Manual, as publicações Guidelines to the Standards for Recording
6
Human Remains (Brickley & McKinley, 2004), Conceitos e Métodos em Curadoria de
Coleções Osteológicas Humanas (Lessa, 2011), e o notável trabalho realizado neste
âmbito por Buikstra e Ubelaker, Standards for Data Collection from Human Skeletal
Remains (Haas, Buikstra, Ubelaker, Aftandilian & Field Museum of Natural History,
1994).
Por fim, resta referir que para a problemática da preservação de uma coleção osteológica,
tiveram-se em conta as recomendações gerais publicadas através de entidades
competentes como as do ICOM, em Como gerir um Museu: manual prático (Boylan,
2004), e do Instituto dos Museus e da Conservação (IMC, 2007), bem como ao abrigo da
entidade que antecedeu esta última, o Instituto Português de Museus (IPM, 2004).
Contudo, as fontes mais utilizadas foram as relativas à preservação dos ossos,
salientando-se neste campo o contributo oferecido pelo Governo do Canadá, que se
encontra disponível on-line: Basic care – Ivory, horn, bone and antler objects (“Basic
care,” 2016) e Care of Ivory, Bone, Horn, and Antler (Stone, 2010). Foram também
consultadas as referências conhecidas através da experiência com o MUHNAC. Entre
elas estão as obras e publicações mencionadas anteriormente referentes aos processos de
documentação pensados para coleções desta natureza, bem como outras fontes publicadas
ao abrigo de entidades britânicas: Guidance for the Care of Human Remains in Museums,
através do Department for Culture, Media and Sport (DCMS, 2005), ou, Guidance for
best practice for treatment of human remains excavated from Christian burial grounds in
England (2005), resultante da parceria de The Church of England com a entidade gestora
do património inglês, English Heritage.
1.4. Estrutura
No capítulo inicial de contextualização histórica, são brevemente enquadrados os ossos
no contexto de um modelo de ensino artístico intrínseco às academias e escolas de arte.
Através de demonstrações factuais e históricas, brevemente delineadas a par das práticas
de ensino e produção artísticas pertinentes, será demonstrada a utilização destes materiais
pedagógicos para a transmissão de conhecimentos anatómicos desde o Renascimento
italiano até à atualidade portuguesa, no contexto da instituição de ensino superior lisboeta,
a FBAUL.
7
Na Investigação de Campo será apresentado o que foi observado nas instituições visitadas
no decurso deste trabalho. Inicia-se pelo Museu Nacional de História Natural e da
Ciência, onde foi realizado o estágio curricular e se obteve, pela primeira vez, um contacto
com a prática da documentação e preservação de material osteológico. De seguida, serão
examinadas outras duas entidades: o Museu Nacional de Arqueologia e o Laboratório de
Arqueociências da DGPC, que complementam os conhecimentos adquiridos no primeiro
caso.
No capitulo seguinte, sobre a coleção, consta, em primeiro lugar, uma abordagem ao
processo de identificação, categorização e organização da coleção. A segunda parte deste
capítulo é composta pela descrição do espólio osteológico, onde serão apresentados,
através da ordem categórica em que os seus elementos foram organizados, os inventários
que o integram, quantos e quais elementos existentes em cada um, sendo também
mencionadas as principais caraterísticas e o estado de conservação dos espécimes
inventariados.
O quinto capítulo, relacionado com a documentação, abarca quatro assuntos distintos,
mas que se relacionam com o trabalho central desta dissertação: a inventariação do
material osteológico. O primeiro assunto consiste na atribuição do número de inventário,
o segundo, na construção de uma ficha, seguido pela sua descrição, e, por fim, a
apresentação de outra documentação associada à ficha elaborada, cuja criação se julgou
pertinente.
As questões relacionadas com a preservação, o segundo tema essencial deste trabalho,
encontram-se no sexto capítulo. Esta parte está dividida em diversos tópicos, relativos à
preservação dos espécimes osteológicos, nomeadamente: a marcação dos espécimes, o
controlo e a monitorização ambiental e biológica, o armazenamento e o
acondicionamento, o manuseamento, a segurança, o acesso, mas também, a sensibilização
e a formação. Aqui encontram-se as recomendações para a preservação ideal dos ossos,
realizadas por entidades competentes, mas também são mencionadas algumas ações já
postas em prática, efetuadas para um mesmo fim.
Em sétimo e último lugar, encontra-se a conclusão, um capítulo dedicado ao trabalho
futuro, que reúne uma série de propostas a realizar no sentido da documentação, da
informatização, da execução de procedimentos e da aquisição de recursos que visam a
8
preservação, mas também da divulgação e a reprodução bidimensional e tridimensional
dos ossos dedicados ao ensino na FBAUL.
9
2. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA
A presença de material osteológico na FBAUL responde às exigências do modelo de
educação artística implementada pelas suas instituições antecedentes, cuja primeira foi a
Academia de Belas-Artes de Lisboa (ABAL).
A anatomia foi uma das principais disciplinas selecionadas para integrar o programa
educativo das primeiras academias europeias. A importância desta disciplina está ligada
ao principal objetivo estético e artístico do Renascimento italiano: a representação da
figura humana (Lisboa, 2007, p. 425). Para o ensino académico, o corpo humano é o
principal objeto de representação, destacando-se aí a temática do nu. Este factor distingue
as Academias de Arte de outros modelos de ensino artístico que surgiram na mesma época
(Goldstein, 1996), constituindo uma prática central nas academias (Clark, 1972, p. 270).
Para a representação do nu era necessário estudar a anatomia do corpo humano, isto é,
estudar o esqueleto e, em seguida, os músculos, dos mais profundos aos de superfície
(Bernardo, 2013, p. 122). Este facto justifica a necessidade da integração da disciplina de
anatomia nos planos de estudo destas primeiras academias e, por consequência, a
presença de ossos para servirem como materiais didáticos nestas instituições. Como se
pode ver na figura seguinte, um retrato de uma das primeiras academias existentes, a
Academia de Baccio Bandinelli (figura 1), os esqueletos encontram-se representados
entre as cópias de esculturas clássicas.
10
Figura 1. Enea Vico after Baccio Bandinelli. The Academy of Baccio Bandinelli. C. 1544. Fonte:
http://www.metmuseum.org/toah/works-of-art/17.50.16-35/
Este modelo de ensino artístico foi influenciado e fundamentado por tratadistas, teóricos
e estudiosos do Renascimento. Leon Battista Alberti, um dos primeiros tratadistas,
considerado o “enformador da doutrina das Academias de Arte” (Lisboa, 2007, p. 419),
defende, no seu tratado Della Pittura, como é primordial a representação e a construção
do nu a partir da estrutura osteológica e da estrutura miológica:
… just as for clothed figure we first have to draw the naked body beneath and
then cover it with clothes, so in painting the nude the bones and muscles must be
arranged first, and then covered with appropriate flesh and skin in such a way
that it is not difficult to perceive the positions of the muscles.
(Alberti, 2004, p. 72)
A ligação entre a prática artística renascentista e o processo de estudo das estruturas
internas do corpo humano também é demonstrada na gravura do século XVII, realizada
por Cornelis Cort (figura 2) ou na de Pietro Francesco Alberti de cerca de 1600 (figura
3). Nestas imagens representativas da cultura estética e academista da época
renascentista, onde figuram as principais expressões artísticas como a Escultura e a
11
Pintura, para além de aparecer representado um esqueleto articulado a ser desenhado por
jovens artistas, observa-se igualmente o método de estudo da estrutura miológica através
de um corpo esfolado ou de um corpo dissecado.
Este era um processo valorizado e desempenhado pelos ilustres artistas do Renascimento
italiano, incluíndo Leonardo Da Vinci através dos seus desenhos anatómicos (Bernardo,
2013, p. 122). Para exemplificar, note-se os desenhos de cabeças ósseas seccionadas
realizados por este artista (figura 4).
Figura 2. Cornelis Cort (after Jan van der Straet, called Stradanus). The Practitioners of the Visual Arts. 1578.
Fonte: http://www.metmuseum.org/art/collection/search/369581
12
Figura 3. Pietro Francesco Alberti. Academia d’ Pitori, c. 1600. Fonte:
http://www.britishmuseum.org/research/collection_online/collection_object_details.aspx?objectId=1432269&p
artId=1
Figura 4. Leonardo da Vinci. Two drawings of the skull seen from the left, the one below squared for proportion.
With notes on the drawings, 1489. Fonte: https://www.royalcollection.org.uk/collection/919057/recto-the-skull-
sectioned-verso-the-cranium
13
De facto, para o apoio do ensino anatómico nas academias de arte, para além dos
esqueletos, também eram utilizados corpos humanos dissecados. Sabe-se hoje que as
aulas de anatomia da Accademia del Disegno, formada por Vasari, tinham lugar no
Hospital S. Maria Novella (Kemp & Wallace, 2000, p.72), e que Michelangelo realizava
dissecações pelas próprias mãos, em corpos humanos ou não-humanos. Se não existiam
dissecações ou corpos dissecados, eram disponilizados grandes livros de imagens ou
gravuras anatómicas para o apoio ao ensino (Kemp & Wallace, 2000, p.83), como a obra
de referência de Vesalius (figura 5). Também existiam as figuras tridimensionais do corpo
esfolado, mais especificamente os écorchés (Kemp & Wallace, 2000, p.75), como é o
caso do esfolado realizado por Ludovico Cigoli (figura 6).
Figura 5 (à esquerda). Retirado da obra De Humani Corporis Fabrica Librorum Epitome por Andreas Vesalius,
1543. Fonte: http://special.lib.gla.ac.uk/anatomy/vesalius.html. Figura 6 (à direita). Ludovico Cigoli. Écorché
Statuette, c. 1580. Fonte: http://collections.vam.ac.uk/item/O89467/anatomical-figure-statuette-cigoli-ludovico/
O modelo institucional académico criado em Itália expandiu-se no território europeu
durante os séculos XVII e XVIII (Lisboa, 2007, p. 424), e, com ele, os materiais didáticos
utilizados para o apoio ao ensino. As academias de arte italianas, bem como as europeias
que se seguiram, conservaram o ensino da anatomia até ao século XX, nomeando,
inclusivamente, professores de anatomia da área da medicina para lecionar esta disciplina
14
(Kemp & Wallace, 2000, p.75). Também mantiveram a utilização dos materiais didáticos
necessários, como é o caso dos ossos. Tanto na Royal Academy of Art de Londres, no
século XVIII (figura 7) – onde é apresentado o professor de anatomia William Hunter
(1718 - 1783) - como na École des Beaux-Arts francesa no século seguinte (figura 8), os
ossos e esqueletos articulados fazem parte dos retratos das aulas de anatomia, sendo
representados a par dos modelos tridimensionais do esfolado e com o modelo vivo.
Figura 7. Johann Zoffany, Hunter Lecturing at the Royal Academy, c. 1772. Fonte:
http://artuk.org/discover/artworks/william-hunter-17181783-192542
15
Figura 8. Francois Sallé, The Anatomy Lesson at the École des Beaux-Arts, Paris, 1888. Fonte:
https://www.artgallery.nsw.gov.au/collection/works/728/
Nos séculos XVIII e XIX permaneciam a fundamentação da prática artística através de
conhecimentos anatómicos. Embora os esfolados tenham sido produzidos nas mais
diversas versões ao longo dos séculos (Kemp & Wallace, 2000, p. 78), em 1767, Jean-
Antoine Houdon concebeu o seu, que acabou por ser uma das estátuas anatómicas mais
utilizadas nas academias (Costa, 2014, p.25) (figura 9). Podiam também ser executados
moldes diretos do corpo humano esfolado para o apoio ao ensino à anatomia, como por
exemplo o Smugglerius (figura 10) (Kemp & Wallace, 2000, p. 85), um molde realizado
originalmente em 1775, para o professor de anatomia William Hunter, anteriormente
mencionado.
16
Figura 9 (à esquerda). Jean-Antoine Houdon. L’ Ecorché. 1767. Fonte: http://www.artcyclopedia.com/feature-
2003-06-Houdon-Ecorche.html. Figura 10 (à direita). Smugglerius. W. Pink, after Agostino Carlini. 1834.
Fonte: https://www.royalacademy.org.uk/article/object-of-the-month-october-2014
Nesta altura, assiste-se igualmente à realização de desenhos e gravuras anatómicas a partir
das poses de esculturas clássicas, sendo os ossos e músculos representados acompanhados
pela respetiva nomenclatura anatómica. As gravuras publicadas em 1812, por Jean-
Galbert Salvage (figuras 11 e 12), são exemplos a referir desta prática. Estas gravuras
integram o livro intitulado Anatomie du gladiateur combattant, applicable aux beaux
arts, ou Traité des os, des muscles, du mécanisme des mouvemens, des proportions et des
caractéres du corps humain, uma obra para artistas com um teor didático, incluindo
alguns ensaios escritos ilustrados (Lifchez, 2009, pp.170-171). Também John Flaxman,
membro da Royal Academy of London e professor de escultura no início do século XIX,
tinha na sua posse um esqueleto articulado (Kemp & Wallace, 2000, p. 88). Terá sido este
panorama académico e estético que influenciou o modelo de educação artística criado no
território português.
17
Figura 11 e Figura 12. Jean-Galbert Salvage. Retirado da obra Anatomie du gladiateur combattant, applicable
aux beaux arts, ou Traité des os, des muscles, du mécanisme des mouvemens, des proportions et des caractéres du
corps humain. 1812. Fonte:
http://search.wellcomelibrary.org/iii/encore/record/C__Rb1296970__SAnatomie%20du%20gladiateur%20co
mbattant%2C%20applicable%20aux%20beaux%20arts__Orightresult__X6;jsessionid=58B7298B3F75C832
AB380B0978CE9BD2?lang=eng&suite=cobalt
Maria Helena Lisboa aponta especificamente a École des Beaux-Arts de Paris como a
entidade que mais marcou as instituições de ensino artístico portuguesas (2007, p. 463),
mas também outras duas instituições antecedentes: a Accademia di San Luca em Roma,
dos finais do século XVI, e a Académie de Peinture et de Sculpture de Paris, constituída
no século XIX, com base no modelo utilizado na academia italiana (2007, p. 442), e que
influenciou a posterior academia parisiense (2007, p. 462), referida em primeiro lugar.
As práticas, métodos e materiais de ensino artístico francês viriam a ser aplicados no caso
lisboeta, como salienta Maria Helena Lisboa, afirmando também que as academias
portuguesas, cujas fundações remontam à década de 30 do século XIX, possuíam uma
base de aprendizagem comum às instituições francesa e italiana: o ensino do desenho
centrado na figura humana (2007, p. 463). O processo de aprendizagem em questão
consistia, numa primeira fase, no estudo de desenhos e estampas, seguida dos modelos
tridimensionais e, por fim, do modelo vivo (Lisboa, 2007, p. 463). Esta última fase – o
desenho do natural – foi elaborada pela academia francesa (Lisboa, 2007, p. 444).
Esta tradição mantém-se até ao século XX, conforme se pode ratificar nos registos
fotográficos realizados na École des Beaux-Arts parisiense em que os ossos e esqueletos
18
articulados estão presentes (figura 13) e constituem ainda objetos de recurso no âmbito
do ensino no decorrer das unidades curriculares nos anos 80 do século XX, utilizados a
par do modelo vivo (figuras 14. e 15.).
Figura 13. Paul Richer. Modèle masculin nu, barbu, bras tendu, posant à côté d'un squelette (designação
posteriormente atribuída). 1905. Fonte: http://www.ensba.fr/ow2/catzarts/voir.xsp?id=00101-
83118&qid=sdx_q4&n=6&sf=&e=
19
Figura 14. Isabelle Bauret. Cours de François Fontaine. 1982. Local: Anfiteatro de morfologia. Fonte:
http://www.ensba.fr/ow2/catzarts/voir.xsp?id=00101-83272&qid=sdx_q0&n=9&e=. Figura 15. Isabelle Bauret.
Cours de François Fontaine. 1982. Local: Anfiteatro de morfologia. Fonte:
http://www.ensba.fr/ow2/catzarts/voir.xsp?id=00101-83271&qid=sdx_q1&n=25&sf=&e=
Contudo, este modelo de ensino foi implementado tardiamente, tendo as academias de
arte portuguesas sido fundadas com uma diferença de cerca de dois séculos relativamente
à data de criação das restantes academias europeias (Lisboa, 2007, p. 13). Anteriormente
à fundação da primeira academia lisboeta no século XIX, existiram diversas tentativas
fracassadas de instauração de uma estrutura de educação dedicada às áreas artísticas.
Entre estas, distingue-se a Academia do Nu, criada em 1780 por Cyrillo Volkmar
Machado, que se manteve em atividade apenas até ao ano seguinte, e fracassou uma nova
tentativa de reabertura em 1785 (Lisboa, 2007, p. 41, p. 430).
Influenciado pela cultura italiana, graças à sua estadia e ao seu percurso académico em
Roma, Cyrillo concebeu a sua academia com base no que aprendeu nessa cidade
(Bernardo, 2013, p. 178) com a intenção de estabelecer a prática do estudo da figura
humana nua (Lisboa, 2007, p. 41). Embora a existência desta academia tenha sido
efémera, sabe-se que o estudo das estruturas anatómicas do corpo humano era aqui
realizado. Luísa Arruda constatou que Cyrillo efetuava alguns desenhos das estruturas
osteológica e miológica, sendo estas acompanhadas de algumas notas de conteúdo
20
anatómico, provavelmente para fins de apoio às demonstrações teóricas nas suas aulas
(1999, pp. 18-21; 2016, pp. 67-68).
Na Academia de Belas-Artes de Lisboa (ABAL), criada em 1836, a preocupação pela
transmissão do conhecimento anatómico no ensino foi evidente desde o início. Nos
documentos estatutários relativos a esse momento, referia-se que, na Aula de Desenho, o
professor deverá abordar “noções de anatomia applicada ao Desenho” (Faria, 2012, pp.
127-128). No entanto, a implementação da disciplina de anatomia enquanto unidade
independente, organizada e lecionada por professores especializados, foi tardia em
relação aos casos franceses (Lisboa, 2007, p. 443), anteriormente abordados. Só passados
vinte e nove anos da fundação da Academia lisboeta, se inicia o ensino autónomo da
anatomia, em 1865, (Lisboa, 2007, p. 466; Faria, 2012, p. 128), depois de diversas
tentativas anteriores (Faria, 2012, p. 128).
O corpo teórico e tratadístico português terá igualmente contribuído para a posição
estética e a prática artística procuradas no âmbito do ensino artístico em Lisboa. Ainda
no século XVI, Francisco de Holanda (1517-1585), marcado pelo Renascimento italiano
(Mendonça, 2014, p. 61), defende, no seu tratado Do Tirar o Pólo Natural, de 1549, que,
para os artistas conseguirem representar a figura humana nua convenientemente,
deveriam, em primeiro lugar, aprender a desenhar os ossos e a carne e, só depois, as
roupas e os ornamentos (Faria, 2012, p. 127). Machado de Castro (1731-1822) no
Dicionário de Escultura, inclui a definição de “Anatomia externa”, afirmando que o
estudo anatómico deverá encontrar-se na base da aprendizagem artística:
ANATOMIA EXTERNA. A palavra Anatomia he muito peculiar nas Artes do
Desenho, pelo grande estudo que devem fazer os Applicados às Bellas Artes,
especialmente á Escultura, e Pintura, na pélle, e tambem em alguns ossos, e
musculos como capazes de dar áquella muitas das suas principaes feições.
(Castro, 1937, p. 22)
Contudo, a obra teórica que poderá ter marcado diretamente a educação artística lisboeta
foi a elaborada por Francisco de Assis Rodrigues (1801-1877), professor de escultura da
ABAL. De facto, em 1838, a instituição adquiriu cinquenta exemplares da sua obra
Methodo das Proporções, e Anatomia do Corpo Humano, Dedicado á Mocidade
Estudiosa, que se applica ás Artes do Dezenho, publicada dois anos antes. Neste tratado
21
são introduzidas algumas noções anatómicas, que o autor afirma terem de ser
complementadas pelo estudo dos autores clássicos e pela sua aplicação ao estudo do
modelo natural (Faria, 2012, p. 131).
A Academia de Lisboa, influenciada pela teoria e prática da educação artística europeia,
adota, deste modo, a anatomia no seu modelo de ensino. Naturalmente, veio também a
recorrer aos mesmos materiais didáticos utilizados para o ensino anatómico nas suas
instituições de referência, entre os quais se encontravam os esqueletos.
Os primeiros exemplares osteológicos utilizados para complementar o estudo anatómico
na Academia lisboeta, foram solicitados à Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, em 1852,
uma data anterior à criação da Aula da Anatomia (Lisboa, 2007, p. 284). Mais tarde, em
1866, foi requisitado outro esqueleto para substituir um exemplar degradado (Lisboa,
2007, p. 284). Consta que, nesta mesma data, era no Hospital de S. José de Lisboa que se
lecionava anatomia e se observavam cadáveres para a aquisição de conhecimentos
anatómicos (Faria, 2012, p. 129). Em 1871, chega à ABAL o écorché de Houdon, a
primeira estátua anatómica de tamanho natural desta instituição, que ainda existe
atualmente (figura 16) (Mendonça, 2014, p. 96), fazendo parte integrante da coleção de
escultura da FBAUL.
Figura 16. Ecorché de Houdon. 1871. Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. Nº de inventário:
FBAUL / ESC / 747. Fonte: Retirado da ficha de inventário da estátuta anatómica presente na tese de
doutoramento de José Bernardo, autor deste registo, apresentada em 2013.
22
Não foi possível confirmar se os objetos didáticos osteológicos adquiridos no mesmo
século da fundação da ABAL são os esqueletos e ossos atualmente presentes na FBAUL.
Os desenhos anatómicos da coleção de desenho antigo da FBAUL comprovam a
existência e utilização destes materiais didáticos em meados do século XIX, bem como a
busca dos objetivos de representação académicos. A título de exemplo, veja-se o desenho
Modelo Anatómico – esqueleto por José Ferreira Chaves (1838-1899), realizado entre
1857 e 1858 (figura 18) (Faria, 2012, p. 132), onde é apresentada a nomenclatura dos
elementos osteológicos.
Depois da reforma do ensino artístico de 1881 (Lisboa, 2007, p. 64) – e com ela a
separação da Academia da Escola de Belas-Artes de Lisboa (Calado, 2000, p. 41) – o
estudo anatómico a partir do desenho das estruturas osteológicas continuou a constituir
uma prática constante.
Os diversos trabalhos realizados no âmbito da unidade curricular da Anatomia Artística
da Escola de Belas-Artes de Lisboa, lecionada por Henrique de Vilhena, e reunidos pelo
mesmo entre 1905 e 1938, quando foi responsável pela disciplina nesta instituição (Alves
& Ruivo, 2011, p.17), também ilustram esse facto. Entre eles constam alguns desenhos
anatómicos da autoria de Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992) (figura 19) datados
de 1927 (Alves & Ruivo, 2011, p. 55), demonstrando novamente uma preocupação em
fazer acompanhar a representação dos ossos com alguns apontamentos de teor anatómico.
23
Figura 17. José Ferreira Chaves. Modelo Anatómico – esqueleto. 1857-58. Nº de inventário: FBAUL/366/DA.
Fonte: http://museuvirtual.belasartes.ulisboa.pt/desenho/detail.php?dl=0&inv=FBAUL%2F366%2FDA
Figura 18. Maria Helena Vieira da Silva. Desenho anatómico [pé], 1927. Fonte: Retirado da publicação relativa
à exposição Gabinete de Anatomia, coordenada por Manuel Valente Alves, em 2011.
A instituição de ensino artístico lisboeta do século XXI mantém a anatomia enquanto
cadeira independente, ou enquanto campo de conhecimento complementar, para o ensino
do desenho da figura humana. Atualmente, o desenho do modelo vivo nu e o desenho
24
anatómico são ainda procurados no âmbito dos programas curriculares da instituição. As
regulares e atuais mostras de trabalhos e estudos anatómicos da autoria dos alunos da
FBAUL corroboram estas afirmações. Entre as exposições realizadas recentemente
encontram-se Anatomia Artística: a memória do corpo (“Anatomia artística,” 2014;
“Anatomia artística,” s.d.), de 2014, ou Desenho e Anatomia (“Desenho e anatomia,”
2015; “Desenho e anatomia,” s.d.), de 2015, sob a coordenação da atual professora de
Anatomia Artística e Anatomia/ Antropometria da FBAUL, a Professora Doutora Isabel
Ritto. Nestas mostras figuraram diversos desenhos de estruturas osteológicas elaborados
desde 2010 (figuras 19 e 20). No entanto, verifica-se que os modelos osteológicos naturais
sejam cada vez menos procurados em contexto de aula.
No século XX surgiram os esqueletos de plástico, modelos mais económicos (Costa,
2014, p. 28), e deve ter sido por esse motivo que os esqueletos humanos terão caído em
desuso.
Figura 19 (à esquerda). Beatriz Manteigas. Desenho de modelo. 2013. Fonte: Retirado do folheto da exposição
de 2014, Anatomia artística: a memória do corpo, cedido pelo Gabinete de comunicação e imagem da FBAUL.
Figura 20 (à direita). Cláudia Santos. Estudos da estrutura do pé I. 2014. Fonte: Retirado do folheto da
exposição de 2015, Desenho e Anatomia, cedido pelo Gabinete de comunicação e imagem da FBAUL.
25
3. INVESTIGAÇÃO DE CAMPO
Para a realização deste trabalho revelou-se de absoluta importância observarem-se de
perto e atentamente práticas de inventariação e de preservação de coleções osteológicas.
Apenas dessa forma se conseguiríam desenvolver conhecimentos-base concretos e
positivos, de modo a complementar as fontes bibliográficas sobre a documentação destes
espécimes.
O presente capítulo pretende apresentar três instituições da área de Lisboa, que ajudaram
a refletir sobre as práticas implementadas nos espólios semelhantes aos aqui em estudo.
A primeira, é o Museu Nacional de História Natural e da Ciência (MUHNAC), instituição
reconhecida pela sua coleção osteológica/antropológica relativa à população lisboeta,
onde se realizou um estágio curricular. A atual curadora, a Professora Doutora Maria
Susana de Jesus Garcia orientou durante dois meses o trabalho realizado na Coleção Luís
Lopes, pertencente à instituição.
Para se reunirem mais e diversificadas práticas e metodologias para a documentação, bem
como de outros procedimentos de preservação, visitaram-se também duas outras
instituições possuidoras de coleções osteológicas. Com esse objetivo, escolheram-se o
Museu Nacional de Arqueologia (MNA), que incorpora espécimes osteológicos
recuperados em contexto arqueológico e em território português, e o Laboratório de
Arqueociências da DGPC (LARC), associado à investigação científica acerca das
populações ancestrais e da sua relação com o meio ambiente num âmbito interdisciplinar.
De modo a tirar o máximo partido deste processo de investigação de campo, foi criada
uma ficha de análise das instituições. Este documento, seguiu a proposta de “modelo da
ficha utilizada para recolha de informações” apresentada por Joana Amaral (2011, p. 88),
na sua dissertação de mestrado. Da ficha referida relacionaram-se os tópicos principais e
aqueles que pareceram melhor adequados à pesquisa: generalizaram-se os campos de
informação, de forma a permitir um preenchimento potencialmente adaptável aos
diferentes casos, e aberto a observações específicas em cada campo. A nova ficha de
análise, a utilizar neste trabalho, inicia-se pelo nome da instituição, bem como por
informações sobre o edifício e a área de reserva/acervo. Em seguida, surge um campo
para assinalar a existência, ou não, de uma ficha de inventário e/ou da sua informatização,
deixando-se espaço para complementar com alguma informação que se julgue pertinente
26
(visto ser este o foco essencial da análise pretendida). Adicionaram-se ainda espaços para
descrever as condições de acesso e de segurança, e sobre o controlo e monitorização das
condições ambientais e biológicas. A recomendação do modelo de Joana Amaral
relativamente aos critérios de organização e sistemas de localização dos objetos foi
também aplicado e especialmente utilizado no segundo caso aqui estudado, como se irá
deduzir das páginas seguintes. Os dados sobre o manuseamento e a circulação de objetos,
incluíndo as restrições e o equipamento utilizado, também foram integrados nesta ficha,
seguidos de um campo acerca do pessoal de acesso/gestão de pessoal. O campo dedicado
a outras observações encerra esta ficha.
3.1. Museu Nacional de História Natural e da Ciência
O espólio com que se trabalhou nesta instituição, denominado por Coleção Luís Lopes,
conhecido também por “Coleção de Lisboa” (Cardoso, 2006, p. 173), é fundamental, por
constituir uma rica fonte de estudo para a antropologia física portuguesa, bem como para
outras áreas relacionadas com o estudo anatómico e patológico do ser humano. A coleção
atual, colhida nos cemitérios lisboetas Alto de S. João, dos Prazeres e de Benfica, é
constituída por 1692 esqueletos e cerca de 75 indivíduos não identificados. Grande parte
da coleção (1552 esqueletos) foi adquirida entre 1980 e 1991. Os restantes cento e
quarenta indivíduos são resultado de aquisições posteriores (Cardoso, 2006, p. 174).
O primeiro contacto com as práticas museais relativas a coleções osteológicas consistiu,
essencialmente, na colaboração no processo reestruturação da documentação,
identificação/marcação e acondicionamento dos esqueletos desta coleção. Cada esqueleto
possuía apenas duas fichas de inventariação efetuadas em anteriores e diferentes datas.
Estas incluíam apenas os seguintes campos: o número de inventário, a informação sobre
a sua proveniência, o nome do defunto e o seu sexo.
Atualmente, está em curso uma inventariação mais completa e detalhada, feita em suporte
de papel. Este documento será armazenado junto dos ossos e da referida documentação
antecedente. Este procedimento foi realizado durante o estágio curricular tal como o
registo das informações recolhidas dos esqueletos em formato digital numa base de dados.
Esta colaboração, facultou uma boa experiência na identificação anatómica, nos
conhecimentos sobre o modo como se efetua a determinação do sexo, a estimativa de
idade à morte e a recolha de dados métricos para o cálculo da estatura do esqueleto.
27
Também se trabalharam noções sobre outras observações pontuais de interesse, como as
de ordem patológica, a identificar nos esqueletos da coleção - informações
imprescindíveis para a sua inventariação idealmente completa. Por fim, aprenderam-se os
procedimentos a seguir no manuseamento, no acondicionamento, no armazenamento e na
segurança dos elementos osteológicos.
A ficha de inventário em implementação na coleção osteológica do MUHNAC serve,
naturalmente, a necessária finalidade de investigação antropológica da população
lisboeta. A sua estrutura apresenta, para além das informações base - o nome da coleção
(número de inventário), estimativa de sexo e estimativa de idade à morte -, uma
representação gráfica da grande maioria dos ossos de um esqueleto humano em posição
anatómica, separados entre si e as suas extremidades, com o fim de se marcar ali cada
porção óssea presente. A representação dos ossos das mãos, dos pés, das costelas e do
hióide, surgem num esquema onde se assinala apenas se estão (P) presentes ou (A)
ausentes. No mesmo tipo de esquema, pede-se que se confirme a presença de outros
materiais como as matérias orgânicas (cabelo, unhas, encéfalo) ou de espólio material do
defunto (o sudário, crucifixo, fotografia e outros objetos pessoais). Em seguida, existe
ainda espaço para notas ou observações, geralmente patológicas, e um quadro dedicado
às datas de observação, bem como aos nomes dos observadores - o pessoal responsável
pelo preenchimento da ficha de inventário.
A Coleção Luís Lopes possui também a sua documentação em formato digital (Excel),
como mencionado anteriormente. A sua estrutura reflete de modo exponencial a sua
utilidade para a investigação na área da Antropologia. Os campos integrantes procuram
detalhes relevantes sobre o esqueleto identificado, nomeadamente: se a sínfise púbica e a
superfície auricular (porções referentes aos ossos coxais) estão presentes, informações
utilizadas na determinação do sexo e estimativa da idade, qual a medida do comprimento
bicondilar femoral do osso fémur esquerdo - para a determinação da estatura do esqueleto
(e, quando ausente, regista-se a mesma medida mas do mesmo osso do lado direito) -, ou
quais as patologias identificadas. Estes dados são úteis para a posterior investigação de
metodologias de recolha de informações sobre esqueletos e para o estudo de populações
humanas. Como observado durante a colaboração com o museu, o acesso a estes dados
sobre esqueletos específicos com determinadas caraterísticas (de idade, sexo, estatura,
proveniência, patologias, entre outros), é facilitado devido ao seu registo informático.
28
No âmbito do estágio em questão, para além do processo de inventariação referido no
MUHNAC, também se realizou a verificação da marcação do número de inventário em
cada espécime. Cada vez que se encontrava em falta algum número, procedia-se à sua
identificação.
A marcação de um objeto orgânico, como o osso, tem as suas especificidades. Como se
sabe, o osso está cheio de superfícies de formas e texturas irregulares e, muitas vezes, a
sua superfície encontra-se bastante porosa. Para este procedimento é utilizado um
Protocolo de marcação óssea da coleção de esqueletos identificados (Museu Bocage)
(Campanacho, Gomes & Cardoso, s.d.) (Anexo A.3), no qual se estabelecem úteis normas
para identificação óssea. Neste protocolo são oferecidas orientações sobre a forma de se
fazerem as marcações, e em que área de cada osso a efetuar. Ao se seguirem estas normas,
não só é garantida uma leitura legível em todos os elementos osteológicos, como é
efetivada uma marcação coerente em toda a coleção. Por essa razão, e tendo em conta a
importância que este protocolo teve no museu, optou-se por se seguir o mesmo
documento e as orientações nele contidas, na coleção da FBAUL.
Como foi referido anteriormente, o estágio no MUHNAC permitiu igualmente perceber
os procedimentos da conservação (acondicionamento, armazenamento e segurança) dos
espécimes osteológicos naquela instituição, tendo-se conhecido algumas das suas várias
reservas de esqueletos humanos. Conforme o espaço, podem encontrar-se diversas formas
de armazenamento.
No caso da Coleção Luís Lopes, os esqueletos estão guardados no piso sobre o
Laboratório de Antropologia, estando armazenados em armários de metal, sempre
identificados, cada um na sua gaveta. O número de inventário que correspondia ao
esqueleto apresentava-se no exterior dessa gaveta, bem como estava referido no corredor
do respetivo armário. O material osteológico não entra em contacto com o material destes
armários, estando acomodado em películas de polietileno (PE). A arrumação é cuidadosa,
sendo os ossos mais pesados colocados por baixo dos mais leves e frágeis.
Em outros espaços que tivemos oportunidade de conhecer, os ossos estão armazenados
em contentores de polietileno, acomodados sob uma película de plástico de bolha. Os
ossos pequenos estão acomodados em sacos de polietileno de baixa densidade, com um
fecho hermético, devidamente identificados, e divididos na generalidade por vértebras,
29
costelas, ossos das mãos, dos pés, dentes ou outros fragmentos ósseos. Na eventualidade
de existir um osso bastante frágil, este é acomodado de parte, entre uma película de
plástico de bolha ou em folha de polietileno.
A conservadora responsável do MUHNAC, Catarina Teixeira, informou a autora da
presente dissertação sobre as práticas de controlo e monitorização ambientais e biológicas
seguidas. Segundo esta conservadora, as áreas de reserva do museu onde se encontra a
Coleção Luís Lopes, estão preparadas para receber espólios osteológicos como o
mencionado, embora os espaços pertençam a um edifício não projetado para albergar uma
instituição museal. No entanto, as reservas estão em reorganização/reestruturação,
decorrendo atualmente um registo de dados relativos à temperatura e humidade relativa
destes espaços, efetuado por meio de um data logger digital. Nesta instituição, é o próprio
curador da coleção que trata de a monitorizar, sendo por esse motivo que durante o estágio
se tratou da verificação do estado de conservação dos espécimes no contexto da reserva,
bem como da limpeza de equipamentos de armazenamento dos ossos e da subsituição de
alguns materiais de acondicionamento, paralelamente ao processo de documentação dos
espécimes. Resta referir que a limpeza destes espaços é realizada uma vez por mês.
No Laboratório de Antropologia, os ossos são manuseados com luvas de látex, ou, embora
mais raramente, luvas brancas de algodão, usando os colaboradores bata branca durante
o processo. O transporte dos ossos, entre a reserva e o local de trabalho, é feito somente
por pessoal autorizado. Os espécimes são sempre transportados em caixa de polietileno,
forrada a folha de plástico bolha/ de polietileno, e transportados para o andar superior,
onde estão as reservas, num elevador apropriado.
Quanto à segurança dos esqueletos da Coleção Luís Lopes, tanto o laboratório como a
reserva são espaços de acesso restrito apenas ao pessoal autorizado, ou a pessoas
acompanhadas pelos responsáveis pela coleção, sendo este realizado através de um
sistema de abertura e segurança com um código instalado na porta. Os espaços estão
equipados com material de deteção de fogo e extinção de incêndio (extintores).
3.2 Museu Nacional de Arqueologia
O panorama geral sobre a inventariação dos ossos existentes nesta instituição foi
fornecido pela Doutora Ana Santos, conservadora do MNA. Dentro dos espaços do
histórico edifício onde se encontra este museu há espécimes osteológicos provenientes de
30
escavações arqueológicas, que são sobretudo usados para investigação académica, devido
à sua importância na análise e estabelecimento de datações. A estrutura e o critério de
informatização dos dados relativos a estes espécimes são pensados e focados no registo
acerca do contexto do achado e registados no início da ficha de inventário da instituição.
Na sua primeira parte, a ficha ostenta um quadro geral, solicitando a localização, a
fotografia e/ou o desenho do achado arqueológico, e a datação, informações muito
importantes que complementam os próprios achados. Contudo, são os campos da segunda
parte que aqui interessam: a informação sobre o esqueleto em depósito, qual o seu estado
de conservação, que partes do esqueleto existem e as alterações tafonómicas. É também
discriminado o número de vértebras, de costelas, de metacarpos (ossos da mão) e de
metatarsos (ossos do pé). Mais adiante, há o desenho de um esqueleto humano, dos dentes
da maxila e da mandíbula e diversos desenhos (perspetivas) da cabeça óssea e dos seus
ossos, que devem ser preenchidos de acordo com os elementos presentes. No fim, há uma
tabela para apontar informações sobre as extremidades (superiores ou proximais,
inferiores ou distais) e as diáfises (corpos) dos ossos longos, e se os mesmos estão
completos.
A informação sobre o material osteológico encontra-se informatizada de forma elementar,
pelo que foi possível apurar, sendo o acesso ao material feito através deste sistema
informático, de acordo com o número de identificação do espécime.
Com a visita a esta instituição, também se pretendeu adquirir algumas noções sobre os
procedimentos de conservação ali aplicados. Apesar de não se ter conhecido a área de
reserva do material osteológico, a conservadora do museu informou que este espaço não
era climatizado. A adaptação deste local a reserva do museu, implica que as condições
ambientais não são específicas para os ossos, encontrando-se a coleção de cerâmica em
iguais circunstâncias.
O manuseamento dos ossos do MNA não tem restrições definidas. A necessidade de um
manuseio frequente, em especial por parte dos investigadores, explica este facto. Esta
questão aproxima-se do caso da FBAUL, onde os ossos são manuseados regularmente
para cumprirem a sua função.
Os materiais de armazenamento e acondicionamento são as caixas de polipropileno
canelado (PP), para a maioria dos ossos, e os sacos de plástico herméticos, em polietileno
31
(PE), para os ossos pequenos ou fragmentos. Todas as caixas e sacos observados
encontravam-se identificados. Quando é necessário, e de forma a prevenir o choque e a
conferir estabilidade, existe a espuma em polietileno (PE) onde é escavada a forma do
espécime que ali encaixa perfeitamente, ou é colocado um saco de pequenas bolas de
poliestireno (PS) de baixo e/ou entre os espécimes.
Finalmente, tal como acontece no caso do MUHNAC, apenas o pessoal responsável pelo
inventário ou outras pessoas autorizadas dentro da instituição podem aceder aos espaços
de trabalho, bem como às reservas do material osteológico. Não se deve deixar de referir
que, sendo estes espaços localizados num piso acima do utilizado pelo público visitante
do museu, o seu acesso acontece apenas mediante a autorização pelo pessoal da
instituição, que controla as entradas e as saídas. Está também assegurado o controlo de
riscos, principalmente contra os incêndios.
3.3 Laboratório de Arqueociências da Direção-Geral do Património Cultural
O Laboratório de Arqueociências (LARC) possui um conjunto de exemplares importantes
para as mais variadas disciplinas que estudam as populações ancestrais humanas e a sua
relação com o meio ambiente, sendo regularmente visitada por estudantes, investigadores
e profissionais.
Esta instituição suscitou interesse para este trabalho devido ao número considerável de
espécimes osteológicos faunísticos que incorpora, geralmente de contexto arqueológico,
necessários à sua investigação. Embora constitua um centro de investigação cujos
principais objetivos não incluem a musealização dos seus espécimes, os seus atuais
investigadores estão conscientes da importância da salvaguarda e da conservação deste
material, e seguem várias metodologias para a documentação do conjunto e para o seu
acondicionamento.
O LARC e os espaços de trabalho dos investigadores, foram apresentados e explicados
por Simon Davis, Carlos Pimenta e Sónia Gabriel. Graças à sua acessibilidade e
disponibilidade pronta, explorou-se o modo como o material arqueofaunístico ali presente
era armazenado, acondicionado e documentado. Segundo Carlos Pimenta, o espaço
original desta coleção encontrava-se no local onde está hoje o edifício do novo Museu
dos Coches, sítio onde teria melhores condições, de um modo geral. Atualmente, o LARC
está sediado no n.º 2 da Rua da Bica ao Marquês da Ajuda, confinado a espaços exíguos,
32
sendo parte da coleção albergada pelo MUHNAC. Por essa razão, a área de reserva é a
mesma onde trabalham os investigadores. A equipa de investigação é responsável pela
gestão e organização dos materiais, bem como pelo respetivo tratamento de informação,
consoante a área de especialidade de cada um dos seus elementos. Mesmo com estas
escassas condições, são feitos os possíveis para uma boa organização e documentação do
objeto de estudo.
Aqui não existe um documento a que se possa chamar de ficha de inventário de museu.
No entanto, observou-se um procedimento semelhante que consiste na identificação do
espécime onde consta o número de objecto(s), contexto do achado - frequentemente
arqueológico -, a espécie, o sexo, e o código criado pelo laboratório, correspondente à
presença de determinados elementos osteológicos ou ao seu grau de completude. Assim
que o espécime dá entrada no laboratório, passa por este processo de documentação. Para
além disso, é importante referir que os espécimes osteológicos do LARC estão
documentados tanto em papel, como informaticamente numa base de dados Access - no
qual se identifica o número por espécie/sexo/elemento anatómico, sendo possível fazer a
busca a partir do número de identificação ou pelo nome da espécie. Estes dados
encontram-se igualmente numa plataforma on-line, segundo informou Carlos Pimenta.
Porém, são as práticas e critérios de identificação e organização aqui observadas que
interessa descrever, examinar e transportar para este trabalho.
No LARC, o material osteológico integra o que laboratório intitula por Osteoteca, uma
coleção que conta atualmente com 2572 esqueletos de animais de 459 espécies diferentes
(peixes, anfíbios, aves e mamíferos) (Direção-Geral do Património Cultural [DGPC],
s.d.). Visto que os esqueletos a incorporar nesta coleção surgem num estado de
conservação debilitado, devido ao seu contexto de achado arqueológico, o LARC
construiu sistemas e critérios de organização distintos que facilitam identificação desses
ossos e a sua distinção através da classe, da parte do esqueleto, da dimensão, da família,
do género e da espécie.
Os sistemas de organização da Osteoteca consistem em três divisões ou coleções
diferentes (Moreno-García, Pimenta, Davis & Gabriel, 2003, pp. 257-259), como se
observou na visita ao LARC. A primeira é a designada Coleção Índice, que serve o
propósito frequente e diário da fácil identificação do material osteológico. Esta encontra-
se organizada em gavetas que correspondem a um único elemento anatómico, sendo o seu
33
conteúdo também estruturado em células, pequenos compartimentos, onde se colocam e
se distinguem os diferentes exemplares por determinadas super-famílias e por sexo, nos
casos em que se suspeitam o dimorfismo sexual dos ossos. Para complementar esta
primeira divisão, foi também criada a Coleção de Referência, com o objetivo de satisfazer
quaisquer dúvidas relacionadas com as variações morfológicas. Por essa razão, a segunda
coleção está em gavetas, desta vez relativas aos grupos taxonómicos, e nas células
constam na generalidade por três elementos, um pertencente a um macho, o outro a uma
fêmea, e ainda a um juvenil. Por fim, o terceiro componente é a Coleção de Reserva, cujo
espólio alberga os restantes exemplares da Osteoteca, incluíndo alguns esqueletos já
representados nas coleções referidas anteriormente, para fins de estudo relacionados com
a diversidade entre as espécies.
A prática da marcação dos ossos é também efetuada neste laboratório através de tinta
negra indelével, referindo, regra geral, o número de ordem, membro e lado a que
pertencem e, no caso dos espécimes das coleções-índice, são igualmente acrescentados o
nome científico da espécie e, quando identificado, o sexo (Moreno-García et al., 2003, p.
244).
Esta Osteoteca mostra como é possível tornar uma coleção mais facilmente acessível,
unicamente por meio da identificação e da organização da sua coleção, com base nas
necessidades ou fins da sua utilização no LARC. Foram estes procedimentos que se
almejaram transpor para a coleção osteológica da FBAUL, quando se distinguiram os
seus diferentes elementos por categorias distintas, enumeradas no capítulo seguinte. Os
seus critérios de armazenamento observados neste laboratório, bem como os de
acondicionamento, poderão também ser utilizados para a idealização de melhores práticas
a concretizar nesse sentido relativamente à coleção em questão neste trabalho.
Neste local existe não só uma diversidade osteológica animal como dos materiais de
armazenamento e acondicionamento dos espécimes presentes. Há gavetas em metal,
caixas de cartão, gavetas e caixas de madeira (de pinho), bem como contentores em
plástico. O equipamento constituído por gavetas é destinado às coleções-índice, como foi
referido anteriormente, e as caixas e contentores de plástico guardam o espólio relativo à
coleção de reserva. Dentro das gavetas, estão diferentes materiais como a folha de cortiça,
servindo de base de assentamento dos ossos. Cada elemento osteológico está separado
por ripas de madeira ou tiras de cartão K-Line®. Nas caixas de papel, de madeira e
34
contentores, os ossos encontram-se em sacos de plástico. Entre os materiais de
armazenamento e acondicionamento encontram-se ainda caixas em plástico transparentes
utilizadas sobretudo quando se tratam de espécimes de dimensão muito pequena, cabendo
nas curtas células das gavetas ou tabuleiros, ou existindo como material de organização
no interior dos contentores de dimensões superiores ali comparecentes.
Alguns destes materiais poderão não ser os mais adequados. Como foi demonstrado pelo
investigador Carlos Pimenta, através de um caso encontrado entre a coleção durante a
nossa visita, em que um dos espécimes exibidos tinha sinais de deterioração provocada
por insetos, observando-se a sua presença na superfície dos ossos. Este estado de
conservação pode estar relacionado ao uso de materiais de acondicionamento menos
adequados, como as caixas de madeira, visto que esse material e os seus derivados
poderão levar ao aparecimento de atividade biológica (Lessa, 2011, p. 12). Como afirma
o mesmo investigador, o estado destes espécimes também poderá ser resultado dos
vestígios da carne ou outros elementos orgânicos do corpo animal ainda presentes nos
ossos, pois estes são trazidos diretamente de reservas naturais após o seu falecimento.
Contudo, a madeira, ou os seus derivados, para além de serem suscetíveis a estes ataques,
não deixam de ser um material prejudicial ao espólio devido à libertação de gases ácidos
(IMC, 2007, p. 125) o que deverá ter agravado o estado de conservação destes espécimes.
É provável que o nível de deterioração destes ossos seja também provocado pelas
condições do espaço e pelas ambientais. Embora haja preocupação com a manutenção
dos locais e contentores dos espécimes, ela é pouco constante e invariável, resultando
numa coleção vulnerável. Nesta estrutura de investigação, observaram-se algumas
diferenças no que concerne ao modo de acondicionamento da coleção e dos seus critérios
de preservação, uma vez que a instituição não é vocacionada para a área da museologia.
A visita a uma entidade detentora de material osteológico como a LARC foi fundamental
na medida em que partilha com a FBAUL objetivos e vocação diferentes aos de uma
instituição museológica. Este laboratório, permitiu refletir sobre uma forma de pensar e
estruturar uma coleção fora do contexto museológico, fundamentada por critérios
relativos à sua função e finalidade, o que motivou a mesma prática para a coleção
osteológica da FBAUL.
35
4. SOBRE A COLEÇÃO
4.1. Identificação, categorização e organização
O primeiro passo para a inventariação dos espécimes em questão consistiu na sua
identificação e separação das reproduções de ossos. A grande maioria dos ossos, no estado
em que foram encontrados no começo deste trabalho, estavam armazenados sem distinção
entre si e as reproduções, o que dificultava significativamente o rápido acesso aos
exemplares osteológicos para, por exemplo, demonstração nas aulas, bem como colocava
em risco a sua integridade física, quando não se sabia diferenciar os frágeis objetos
naturais dos resistentes objetos plásticos. Para resolver esta questão foram necessárias
atentas observações a olho nu de modo a se compreender qual a natureza material
presente. Entre as caraterísticas facilmente observáveis para a realização desta distinção
estão o peso2, o osso esponjoso visível, mas, também, as texturas e coloração das
superfícies3.
Contudo, houve casos particulares que suscitaram dúvidas, razão pela qual se recorreu a
um microscópio digital, o Dino-Lite Pro HR, com o apoio de Ana Mafalda Cardeira.
Através deste pequeno aparelho, conseguiram-se obter imagens suficientemente
ampliadas, onde se observam as estruturas irregulares e esponjosas dos ossos (como os
arcos e lâminas que formam o singular padrão do osso esponjoso) e as compactas e
fechadas superfícies de uma cabeça óssea em PVC4, cujo resultado está nas imagens que
se seguem.
2 As reproduções produzidas, possivelmente em policloreto de vinilo (PVC), de um plástico flexível, mas
maciço, são mais pesadas do que o osso natural, dado que este, embora compacto na superfície exterior (o
designado osso compacto), é esponjoso no seu interior (osso esponjoso) ou mesmo oco (cavidades
medulares). 3 As reproduções são tendencialmente de um branco titânio e têm textura relativamente homogénea e lisa,
ao contrário da cor de marfim/osso e textura irregular encontradas na maioria dos ossos.
36
Figuras 21 e 22. (coluna à esquerda) Osso natural. Figuras 23 e 24. (coluna à direita) Osso artificial em
plástico. Imagens captadas por microscópio Dino-Lite Pro Hr, série AM7000, 5 mpx. Escala 0.1 mm. Autoria:
Ana Mafalda Cardeira, 2015.
Para além dos fatores mencionados anteriormente, sabe-se que os modelos em plástico,
mesmo quando reproduzidos através de um molde direto do natural, nunca têm a
complexidade, organicidade e variedade morfológica - como são exemplos os canais,
suturas, depressões, sulcos, fossas - inconfundivelmente exclusivas ao osso.
Na fase seguinte, foi feito um esforço para se diferenciarem os esqueletos, os ossos ou os
fragmentos presentes na coleção da FBAUL. Primeiramente separou-se todo o material
osteológico humano do não-humano. Em seguida distinguiram-se as peças osteológicas
por elemento anatómico e lado do corpo a que pertenciam, depois, por dimensões e por
sexo. Foi também útil ter em conta as dimensões, procurar a existência de quaisquer sinais
patológicos, bem como fazer combinar as suturas, faces articulares e não-articulares, no
37
sentido de se conseguirem associar os elementos osteológicos. Na maioria dos casos,
analizaram-se os fatores de preservação, incluindo a cor, a textura e, por vezes, as
caraterísticas relacionadas ao tipo de coleção (por serem instrumentos de ensino e de
manuseamento frequente em aula) e as inscrições, neste caso, refletindo-se sobre
quaisquer semelhanças entre a cor, o tipo de letra e o material utilizado.
Não foi possível obter um número preciso de esqueletos presentes visto não se possuírem
meios, métodos ou tecnologias para chegar a este tipo de conclusões. No entanto, foram
detetados dois grupos distintos: o material osteológico humano e o não-humano. Do
primeiro grupo foram identificados cinco esqueletos articulados diferentes, quatro
esqueletos não-articulados; foram discriminadas quinze cabeças ósseas, dezasseis
vértebras, cinquenta e três costelas (vinte e duas direitas e trinta e uma esquerdas), dois
esternos, duas clavículas, uma escápula, três úmeros, duas ulnas, um rádio, quatorze ossos
da mão (um carpal, seis metacarpais e quatro falanges próximais, duas falanges médias e
uma falange distal), um sacro, dois coxais, três fémures, três tíbias, uma fíbula e, vinte e
dois ossos do pé (cinco ossos do tarso, oito metatarsais, três falanges próximais, três
falanges médias e três falanges distais). Por fim, restaram ainda dois fragmentos de
esqueletos articulados e três fragmentos de uma cabeça óssea. Já o segundo grupo
incorpora uma cabeça óssea, duas mandíbulas, um elemento de um tórax (constituído por
uma costela e uma vértebra) bem como um sacro não-humanos. Por último,
acrescentamos o fragmento de esterno, o qual não foi possível determinar se é humano
ou não.
O processo seguinte consistiu na estruturação da coleção através da categorização e
enumeração dos espécimes identificados. Nesta fase teve-se em conta a origem, a
aquisição, a proveniência e a datação da coleção de ossos, porém estes dados são, na sua
grande maioria, ainda desconhecidos. Como o âmbito deste trabalho se prendia à
inventariação da coleção, será interessante um aprofundamento futuro sobre a coleção
através da consulta de várias fontes documentais que poderão existir no Arquivo da
Academia Nacional de Belas Artes, no Arquivo da Biblioteca da FBAUL ou no Arquivo
da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, a antiga Escola Médica. Como foi
visto no capítulo anterior, segundo Maria Helena Lisboa, foi nesta última instituição que
terão sido adquiridos esqueletos para as fundações institucionais da FBAUL (Lisboa,
2007, p.284). No entanto, não se conseguiu verificar se alguns dos espécimes existentes
na FBAUL correspondem a estas referências.
38
Os espólios osteológicos provenientes de um contexto arqueológico devem ser
organizados e armazenados por indivíduos (The Church of England & English Heritage,
2005, p. 48; Lessa, 2011, p. 8), procedimento este que foi observado nas instituições
visitadas no âmbito deste trabalho. Para a coleção da FBAUL propõe-se a mesma prática
no processo de organização e enumeração. Não obstante, o processo em questão foi
complementado por outros critérios adaptados à coleção. No projeto de organização aqui
apresentado decidiu-se organizar a coleção pelos seguintes parâmetros: humano - não-
humano; articulado – não-articulado; completo - incompleto; posição anatómica. Deste
modo, obtiveram-se as seguintes categorias:
material osteológico humano:
esqueletos articulados,
esqueletos não-articulados,
peças ósseas;
fragmentos osteológicos;
material osteológico não-humano;
outros fragmentos ósseos.
Esta categorização e os critérios de organização referidos foram utilizados para a
enumeração dos espécimes da coleção da FBAUL. Depois de estabelecidas as principais
categorias, foi possível integrar os diversos espécimes e ordená-los dentro de cada uma,
seguindo precisamente os mesmos critérios mencionados anteriormente. Foi a partir desta
ordem que surgiram os primeiros cinquenta e oito números de inventário da coleção
osteológica da FBAUL, e se iniciou o seu processo de inventariação: a construção da
ficha de inventário-base e o preenchimento de uma ficha para cada elemento/conjunto.
Contudo, a documentação dos espécimes será tratada no próximo capítulo, por abranger
procedimentos dissemelhantes, mais complexos e detalhados.
39
4.2. DESCRIÇÃO DA COLEÇÃO
4.2.1. Material osteológico humano
4.2.1.1. Esqueletos articulados
A primeira categoria é constituída pelos exemplares articulados da coleção da FBAUL.
São os mais completos da nossa coleção, embora, infelizmente, as montagens iniciais
destes objetos tenham sofrido algumas alterações. Apenas um dos esqueletos articulados
se encontra num suporte vertical. Também se observou que cada esqueleto, mesmo sendo
articulado, possui diversas partes que não se encontram articuladas. Na tabela seguinte,
estão descritos quais e quantos elementos compôem os cinco primeiros números do
inventário osteológico, bem como os restantes exemplares desta coleção.
Tabela 1. Esqueletos articulados: elementos por inventário e proposta da sua numeração.
Nº de inventário Elemento(s)/elementos de conjunto/fragmento(s)
presentes
Total de
elementos
por
inventário
FBAUL/AN/OST/1 Esqueleto humano articulado (incompleto):
- Vértebras cervicais (5), torácicas (12), lombares (5) e
sagradas (sacro) (1), costelas (24), esterno (1), clavículas (2),
escápulas (2) e coxais (2) (FBAUL/AN/OST/1).
1
FBAUL/AN/OST/2 Esqueleto humano articulado (incompleto):
- calote craniana (1) (FBAUL/AN/OST/2/a);
- vértebras (24) - atlas, áxis e restantes cervicais (7), torácicas
(12), lombares (5) -, tórax - costelas (24) e esterno (1) -,
clavículas (2) e escápulas (2). Úmero (1), ulna (1) e rádio (1)
esquerdos (FBAUL/AN/OST/2/b);
- ossos da mão direita (25) (faltam falanges média e distal do
dedo indicador). (FBAUL/AN/OST/2/c);
- sacro (1), cóccix (vértebra superior) (1), coxais (2), fémur
(1), tíbia (1), fíbula (1) e ossos do pé direitos (25)
(FBAUL/AN/OST/2/d);
- fémur (1), tíbia (1), fíbula (1) e ossos do pé esquerdo (26)
(FBAUL/AN/OST/2/e).
5
40
FBAUL/AN/OST/3 Esqueleto humano articulado (incompleto):
- fragmentos (não-articulados) da cabeça óssea – parietal
direito (1) (FBAUL/AN/OST/3/a), parietal esquerdo (1)
(FBAUL/AN/OST/3/b), temporal direito (1)
(FBAUL/AN/OST/3/c), temporal esquerdo (1)
(FBAUL/AN/OST/3/d) e occipital (1)
(FBAUL/AN/OST/3/e);
- Vértebras – atlas, áxis e restantes cervicais (7), torácicas
(12) e lombares (5) -, tórax – esterno (1) (reprodução),
costelas (24) -, clavículas (2), escápulas (2), úmero direito
(1), ulna direita (1), sacro (1), coxais (2) e fémures (2)
(FBAUL/AN/OST/3/f);
- Patela (1), tíbia (1), fíbula (1) e ossos do pé direitos (24)
(FBAUL/AN/OST/3/g).
7
FBAUL/AN/OST/4 Esqueleto humano articulado (incompleto):
- Úmero (1), ulna (1) e rádio (1) direitos
(FBAUL/AN/OST/4).
1
FBAUL/AN/OST/5 Esqueleto humano articulado (incompleto):
- Ossos do pé direito. Ossos do tarso – tálus (1), calcâneo (1),
cubóide (1), navicular (1), cuneiformes medial (1),
intermédio (1) e lateral (1) -, metatarsos (5) e falanges –
proximais (5), médias (4) e distais (3) (FBAUL/AN/OST/5).
1
Como se observa na tabela acima, o primeiro espécime da coleção é o esqueleto de
suporte vertical (FBAUL/AN/OST/1). O esqueleto do sexo feminino está incompleto,
restando somente a caixa torácica, a coluna vertebral e o cíngulo do membro inferior,
elementos articulados através de arame e de uma resina (substituindo as cartilagens
costais). A sua caraterística única entre os demais é o suporte, que apresenta uma
configuração e materiais pouco atuais. É giratório, permitindo uma rotação a 180º num
plano axial. A parte inferior do suporte divide-se em quatro fitas metálicas, apoiadas numa
base circular, do mesmo material, e aparafusada a uma placa de madeira, possuindo esta,
na face superior, quatro puxadores em cada canto. Apresenta ainda materiais
possivelmente aplicados após a criação do objeto, como o couro e as ripas de madeira,
com o presumível objetivo de manter o esqueleto imóvel e na posição vertical. Será este
o seu suporte original? Se sim, terá sido criado em que época? Fica por apurar quando foi
montado, por que entidade(s) ou quando terá chegado às instalações da instituição.
Os restantes casos, apresentados na tabela, oferecem ainda menos pistas. Do segundo ao
quinto número de inventário, encontram-se objetos semelhantes ao que se descreve
41
acima. No entanto, estão desprovidos de suporte, algumas das suas partes foram separadas
e, atualmente, não se encontram todos os ossos dos esqueletos existentes.
O segundo esqueleto articulado (FBAUL/AN/OST/2) é o mais completo de toda a coleção
(em termos de quantidade de ossos que fazem parte de um esqueleto), não tendo sido
incluído no primeiro número do inventário devido à inexistência de um suporte vertical.
Contudo, estão ausentes a calote craniana, os ossos do braço e do antebraço direito, os
ossos da mão esquerda, a patela direita e a patela esquerda. Durante as observações
realizadas, verificou-se que este esqueleto terá pertencido a um adulto do sexo masculino.
Este esqueleto também é articulado mediante a utilização de metal, resina e, da mesma
forma que o primeiro, consolidado na área das suas articulações com couro. Neste caso,
tal como as cartilagens costais são substituídas por estruturas em resina, como se observa
em todos os esqueletos articulados, há porções de cortiça que imitam os discos
intervertebrais. O tratamento aplicado à superfície, cujo material e motivo é por agora
desconhecido da autora do presente trabalho (mas decerto possível de ser identificado em
laboratório competente), conferindo uma tonalidade geral mais escurecida aos esqueletos,
é comum na grande maioria dos exemplares osteológicos. Assim se verifica no espécime
em questão, notando-se o desvanecimento desta camada em todos os elementos presentes.
Parece verosímil afirmar que a aplicação deste material deve ter tido fins preventivos
visto que, esta coleção existe para ser manuseada frequentemente.
Quanto ao terceiro esqueleto articulado (FBAUL/AN/OST/3), um adulto que se pensa ser
do sexo feminino, restam sete partes não-articuladas no total. À semelhança dos casos
acima descritos, as suas porções de esqueleto articuladas são unidas através de metal
(arames, chapas e molas), do feltro (discos cartilaginosos vertebrais, ou outros tecidos
cartilaginosos), resina (cartilagens costais e esterno), e algumas consolidações feitas com
a cortiça, exceto a cabeça óssea: os parietais, os temporais e o occipital, também não-
articulados entre si. Neste exemplar observam-se um maior número de ossos articulados
em relação aos caso anteriores, nomeadamente: os da coluna vertebral, os do tórax
(excluíndo o esterno), as duas clavículas, as duas escápulas, o úmero e a ulna direitos, os
dois coxais, o sacro e, por último, os fémures. Difere dos restantes espécimes articulados,
pois o seu esterno foi substituído por uma reprodução em resina, o mesmo material com
que são imitadas as cartilagens costais em todos os esqueletos articulados. No entanto,
infortunadamente, este esqueleto encontra-se no pior estado de conservação entre os
espécimes articulados: as suas costelas estão fraturadas, as superfícies articulares
42
degradadas, as porções ósseas, em especial as próximas da zona atravessada pelos arames,
estão deterioradas (dada a força e o peso exercidos pelos ossos no manuseio do esqueleto).
Concluíndo, apresentam-se os dois últimos números de inventário desta categoria. O
primeiro caso consiste num braço direito articulado (FBAUL/AN/OST/4), constituído
pelo úmero, o rádio e a ulna, os quais se articulam por intermédio do metal.
Lamentavelmente, o restante esqueleto permaneceu ausente até à realização deste
trabalho, não tendo sido possível estabelecer qualquer relação com os outros exemplares.
Ainda que se possuam poucos ossos deste esqueleto identificado, conseguiu-se estimar a
sua idade adulta e o seu sexo feminino. Em segundo e último lugar, apresenta-se um pé
direito articulado (FBAUL/AN/OST/5). Através do arame em metal, estão articulados os
três grupos de ossos do pé humano: os sete ossos curtos do tarso, os cinco metatarsos e
as falanges. São, na sua maioria, elementos osteológicos de dimensões pequenas, portanto
de fácil dispersão e degradação, tendo as suas falanges distais deterioradas, faltando
também os exemplares do mesmo grupo, pertencentes ao quarto e ao quinto dedo.
4.2.1.2. Esqueletos não-articulados
Nesta categoria estão incorporados todos os esqueletos não-articulados. Considerou-se
como um esqueleto quando se conseguiu equiparar e articular um osso com outro através
dos métodos já mencionados: facetas articulares, dimensões, cor ou tratamento. Neste
processo definiram-se quatro números de inventário.
43
Tabela 2. Esqueletos não-articulados: elementos por inventário e proposta da sua numeração.
Nº de inventário Elemento(s)/elementos de conjunto/fragmento(s)
presentes
Total de
elementos por
inventário
FBAUL/AN/OST/6 Esqueleto humano (incompleto):
- clavícula direita (1) (FBAUL/AN/OST/6/a).
- vértebras – cervical (1) (FBAUL/AN/OST/6/b), torácica
(1) (FBAUL/AN/OST/6/c) e lombares (2)
(FBAUL/AN/OST/6/d, e);
- escápula esquerda (1) (FBAUL/AN/OST/6/f);
- úmero direito (1) (FBAUL/AN/OST/6/g);
- rádio esquerdo (1) (FBAUL/AN/OST/6/h);
- sacro (1) (FBAUL/AN/OST/6/i);
- coxal esquerdo (1) (FBAUL/AN/OST/6/j);
- fémur direito (1) (FBAUL/AN/OST/6/l);
- tíbia direita (1) (FBAUL/AN/OST/6/m);
- fíbula direita (1) (FBAUL/AN/OST/6/n).
10
FBAUL/AN/OST/7 Esqueleto humano (incompleto)
- vértebras: cervicais (3) (FBAUL/AN/OST/7/a, b, c),
torácicas (12) (FBAUL/AN/OST/7/d, e, f, g, h, i, j, l, m, n,
o, p), lombares (5) (FBAUL/AN/OST/7/q, r, s, t, u) e
sagradas (sacro) (1) (FBAUL/AN/OST/7/v).
21
FBAUL/AN/OST/8 Esqueleto humano (incompleto):
- rádio direito (1) (FBAUL/AN/OST/8/a);
- coxal esquerdo (1) (FBAUL/AN/OST/8/b);
- fíbula esquerda (1) (FBAUL/AN/OST/8/c).
3
FBAUL/AN/OST/9 Esqueleto humano (incompleto):
- calcâneo direito (1) (FBAUL/AN/OST/9/a);
- tálus esquerdo (1) (FBAUL/AN/OST/9/b).
2
O primeiro número desta categoria (FBAUL/AN/OST/6) pertence a um esqueleto
humano, incompleto, do sexo masculino e com uma idade estimadamente adulta. Este
44
esqueleto possui uma peculiaridade, pois apresenta diversas inscrições de conteúdo
anatómico em todos os elementos existentes, localizada nas diáfises (corpos) ou nas
respetivas porções a que se referem. A nomenclatura osteológica surge num material e
tipo de letra caraterísticos das últimas décadas.
Uma coluna vertebral, que terá pertencido a um adulto, representa o segundo esqueleto
humano não-articulado (FBAUL/AN/OST/7). Entre as quatro partes que compôem a
coluna, estão presentes: três das sete vértebras cervicais (não estando incluído neste
número o atlas e o áxis), as doze torácicas, as cinco lombares e as sagradas (sacro -
constituído por cinco elementos vertebrais fundidos). De modo a compreender estas
vértebras como pertencentes a um esqueleto individual, foi necessário experimentar a sua
coaptação. Também a morfologia e as cores ajudaram neste processo, bem como os sinais
patológicos presentes em algumas destas vértebras. Os vestígios de resina que existem à
superfície das faces articulares, nas vistas superior e inferior destas vértebras, declaram a
evidente integração destes elementos num esqueleto articulado, agora desmembrado e
inexistente.
Do esqueleto seguinte (FBAUL/AN/OST/8), de um adulto do sexo feminino, não
resistiram mais do que três ossos: um do antebraço direito (rádio), um do cíngulo do
membro inferior (coxal esquerdo) e outro da perna esquerda (fíbula). Estes elementos são
reconhecidos rapidamente devido à sua dimensão reduzida e à sua cor escura, esta
igualmente detetada no seu osso esponjoso exposto. O seu estado de conservação resume-
se às extremidades degradadas (nomeadamente, a extremidade proximal do rádio, a
extremidade proximal da fíbula e, o coxal, da porção postero-superior à porção postero-
inferior da espinha ilíaca), a importantes superfícies em desgaste (sínfise púbica e
superfície auricular) ou a porções ausentes (extremidade distal do rádio). Estes ossos, em
especial a fíbula, apresentam manchas esverdeadas na sua superfície, que poderão ter sido
resultantes do contacto com um metal em corrosão. O seu osso coxal possui algumas
perfurações, o que poderá indicar uma anterior incorporação num esqueleto articulado.
No entanto, os restantes elementos não apresentam manipulações do género, apenas as
manchas esverdeadas do osso rádio, que não indicam a associação ao metal utilizado para
se articular um esqueleto. No mesmo osso foram detetadas algumas inscrições, que ainda
estão por identificar.
45
O último elemento deste grupo (FBAUL/AN/OST/9) é constituído por apenas dois ossos
do tarso - um calcâneo direito e um tálus esquerdo – possivelmente pertencentes a um
esqueleto do sexo feminino. São notáveis pela sua pequena dimensão e pela sua
tonalidade escura. No calcâneo, foi possível detetar um caráter não-métrico na porção
dorsal, um sinal patológico que o distingue.
4.2.1.3. Peças ósseas
Esta categoria subdivide-se em nove, dizendo cada uma respeito aos diferentes elementos
ou conjuntos osteológicos. Estas subcategorias são organizadas por uma ordem anatómica
ou descritiva. Aqui, encontram-se os ossos isolados, ou seja, com os quais não foram
identificados outro(s) semelhante(s), constituindo um esqueleto identificado. Os
seguintes ossos foram encarados como objetos independentes e sujeitos a uma ficha de
inventário individual. No entanto, quando o mesmo tipo de osso se repete muitas vezes
foi considerado como um conjunto e integrou-se numa só ficha de inventário. Dentro da
coleção foi necessário criar um conjunto de vértebras, costelas, ossos da mão e ossos do
pé. Cada conjunto poderá ter ainda as suas próprias subdivisões, quando oportunas, como
se verá adiante. Todas estas subcategorias são úteis a nível prático na aula, na medida em
que, efetivamente, facilitam o acesso rápido a um elemento ou conjunto específico através
de uma lista metódica e ordenada.
4.2.1.3.1. Cabeça óssea
Na coleção em estudo estão presentes quinze cabeças ósseas isoladas. Tal como se
verifica com os mesmos elementos osteológicos pertencentes aos esqueletos articulados
e não-articulados desta coleção, as cabeças ósseas desta categoria são seccionadas
horizontalmente, dividindo-se em duas partes diferentes: a calote craniana e a porção
inferior. O seccionamento das cabeças ósseas possivelmente foi realizado para a
observação da face endocraniana, ou do seu interior.
46
Tabela 3. Cabeça óssea: elementos por inventário e proposta da sua numeração.
Nº de inventário Elemento(s)/elementos de conjunto/fragmento(s)
presentes
Total de
elementos por
inventário
FBAUL/AN/OST/10 Cabeça óssea humana (incompleta):
- calote craniana (1) (FBAUL/AN/OST/10/a);
- porção inferior da cabeça óssea (1)
(FBAUL/AN/OST/10/b);
- mandíbula (1) (FBAUL/AN/OST/10/c);
3
FBAUL/AN/OST/11 Cabeça óssea humana (incompleta):
- cabeça óssea sem mandíbula (1) (FBAUL/AN/OST/11).
1
FBAUL/AN/OST/12 Cabeça óssea humana (incompleta):
- porção inferior da cabeça óssea (1)
(FBAUL/AN/OST/12).
1
FBAUL/AN/OST/13 Cabeça óssea humana (incompleta):
- porção inferior da cabeça óssea (1)
(FBAUL/AN/OST/13).
1
FBAUL/AN/OST/14 Cabeça óssea humana (incompleta):
- metade do lado direito da cabeça óssea (1)
(FBAUL/AN/OST/14).
1
FBAUL/AN/OST/15 Cabeça óssea humana (incompleta):
- ossos do crânio - frontal (1), etmóide (1), esfenóide (1) - e
da face - maxilas (2), zigomáticos (2), palatinos (2), nasais
(2), lacrimais (2), vómer (1) e concha nasal inferior direita
(1) (FBAUL/AN/OST/15/a);
- parietal esquerdo (1) (FBAUL/AN/OST/15/b);
- parietal direito (1) (FBAUL/AN/OST/15/c).
3
FBAUL/AN/OST/16 Cabeça óssea humana (incompleta):
- frontal (1) (FBAUL/AN/OST/16/a);
- parietal esquerdo (1) (FBAUL/AN/OST/16/b);
- temporal esquerdo (1) (FBAUL/AN/OST/16/c).
3
FBAUL/AN/OST/17 Cabeça óssea humana (incompleta):
- calote craniana (1) (FBAUL/AN/OST/17).
1
47
FBAUL/AN/OST/18 Cabeça óssea humana (incompleta):
- calote craniana (1) (FBAUL/AN/OST/18).
1
FBAUL/AN/OST/19 Cabeça óssea humana (incompleta):
- calote craniana (1) (FBAUL/AN/OST/19).
1
FBAUL/AN/OST/20 Cabeça óssea humana (incompleta):
- calote craniana (1) (FBAUL/AN/OST/20).
1
FBAUL/AN/OST/21 Parietal humano:
- parietal direito (1) (FBAUL/AN/OST/21).
1
FBAUL/AN/OST/22 Parietal humano:
- parietal esquerdo (1) (FBAUL/AN/OST/22).
1
FBAUL/AN/OST/23 Frontal humano:
- metade direita do frontal (1) (FBAUL/AN/OST/23).
1
FBAUL/AN/OST/24 Zigomático humano:
- zigomático esquerdo (1) (FBAUL/AN/OST/24).
1
FBAUL/AN/OST/25 Mandíbula humana:
- mandíbula (1) (FBAUL/AN/OST/25).
1
Existem apenas duas cabeças ósseas relativamente completas (FBAUL/AN/OST/10 e
FBAUL/AN/OST/11) e, por esse motivo, constituem os dois primeiros números de
inventário desta categoria. São ambas pertencentes a um adulto do sexo masculino. A
primeira, encontra-se incompleta devido à dentição em falta. A segunda, o único espécime
na coleção atual que não apresenta o referido corte horizontal, apresenta uma significativa
deterioração do processo mastoide e do zigomático direitos, não tendo sido encontrada a
sua mandíbula.
As próximas cabeças ósseas estão consideravelmente mais incompletas que nos casos
anteriores. A estes elementos (FBAUL/AN/OST/12 e FBAUL/AN/OST/13) restaram
somente a porção inferior da cabeça óssea (resultante do seu seccionamento) e falta-lhes
a mandíbula. Estes dois espécimes do sexo masculino poderiam ser confundíveis na sua
descrição, porém distinguem-se pelo ângulo entre os ossos frontal e nasais, sendo o
48
segundo substancialmente mais acentuado, ou ainda pela fratura deste último, numa vista
lateral.
Quanto ao elemento que se segue (FBAUL/AN/OST/14), este foi submetido a um corte
sagital, encontrando-se somente presente o seu lado direito, caraterística que não foi
observada em mais nenhum outro espécime desta coleção. Outro fator que o distingue é
a sua perda dentária ante mortem dos pré-molares e molares superiores direitos. De referir
será também outro caso distinto, uma cabeça óssea possivelmente pertencente a um
indivíduo do sexo masculino (FBAUL/AN/OST/15) composta por três elementos
diferentes - o primeiro consiste num parietal direito, o segundo é formado por diversos
ossos da cabeça óssea e o terceiro é um parietal esquerdo. Esta cabeça óssea distingue-se
não só pela cor branca e textura muito lisa na face exterior dos seus elementos, que
contrastam com as suas faces endocranianas muito escuras e com as superfícies mais
texturadas. Apresenta também, na porção interior e superior das suas órbitas, a patologia
cribra orbitalia. O próximo elemento inventariado (FBAUL/AN/OST/16) é composto
por três elementos, que correspondem a apenas três ossos (frontal, parietal e temporal
esquerdo). Relativamente a este foi possível estimar o possível sexo masculino e deduzir
a idade jovem adulta.
Os espécimes seguintes (FBAUL/AN/OST/17 - FBAUL/AN/OST/20) são representados
por porções superiores da cabeça óssea humana seccionada, as calotes cranianas, distintas
pela sua forma de abóbada. Estes espécimes são secções superiores constituídas pelos
ossos frontal, parietais direito e esquerdo e, por vezes, uma pequena porção do occipital,
formando um só elemento, naturalmente soldado, articulado através das suturas serráteis
(imóveis).
As duas primeiras calotes cranianas são efetivamente idênticas (FBAU/AN/OST/17 e
FBAUL/AN/OST/18). Estas apresentam, numa área medial da vista superior, as suas
articulações num estado de fusão avançado. Não obstante, o décimo sétimo elemento
possui marcas que se pensa resultarem do contacto com fogo, fazendo-o destacar do
número seguinte. A porção seguinte (FBAUL/AN/OST/19) distingue-se pela sua fratura
total post mortem num plano coronal, que a divide em duas partes. O elemento que se
segue (FBAUL/AN/OST/20) carateriza-se pelas manipulações que sofreu, como um corte
diagonal na vista anterior ou, os orifícios realizados na área das suas suturas e, outros
dois, lateralmente, numa porção inferior junto à secção (aparentemente preenchidos com
49
metal). Já os próximos elementos, um parietal direito (FBAUL/AN/OST/21) e um parietal
esquerdo (FBAUL/AN/OST/22) foram apenas destacados do grupo osteológico a que
pertenciam, a cabeça óssea, não possuindo quaisquer sinais de outro tipo de
manipulações.
Para concluir esta categoria, são apresentados os três espécimes restantes. O
antepenúltimo é um osso frontal (FBAUL/AN/OST/23), do qual se encontra unicamente
a metade do lado direito, sendo por isso possível observar a sua sutura metópica junto à
linha média. O penúltimo, consiste no osso zigomático esquerdo (FBAUL/AN/OST/24),
pertencente aos ossos da face. A última peça óssea desta categoria, é o único elemento
osteológico humano nesta coleção que se determinou pertencer a um esqueleto não-
adulto. Este elemento consiste numa mandíbula (FBAUL/AN/OST/25) para a qual foram
estimados os 18 meses de idade, aproximadamente.
4.2.1.3.2. Coluna vertebral
Tabela 4. Coluna vertebral: elementos por inventário e proposta da sua numeração.
Nº de inventário Elemento(s)/elementos de
conjunto/fragmento(s) presentes
Total de elementos
por inventário
FBAUL/AN/OST/26 Vértebras:
- cervicais (4) (FBAUL/AN/OST/26/C/a, b, c, d);
- torácicas (9) (FBAUL/AN/OST/26/T/ a, b, c, d,
e, f, g, h, i);
- lombares (3) (FBAUL/AN/OST/26/L/ a, b, c).
16
FBAUL/AN/OST/27 Sacro humano:
- sacro (1).
1
Esta categoria é constituída por um conjunto de vértebras humanas
(FBAUL/AN/OST/26) – composto por exemplares das vértebras cervicais (não se
encontrando o atlas e o áxis aqui representados), das torácicas e das lombares – e por um
sacro (FBAUL/AN/OST/27). São as vértebras sagradas que formam este último
espécime. Mas, visto que o sacro é um elemento único e sexualmente dimórfico (Costa,
2014, p. 83), este osso foi distinguido dos restantes elementos da coluna vertebral para
50
integrar uma ficha de inventário individual. O cóccix pertence igualmente à coluna
vertebral, contudo não existe nenhum exemplar isolado nesta coleção.
Alguns destes ossos apresentam vestígios de resina, sinal de que pertenceram a esqueletos
articulados. Estão presentes inscrições na superfície das vértebras, nomeadamente do
processo espinhoso. O estado de conservação destes frágeis elementos é mau,
encontrando-se alguns dos seus processos espinhosos fraturados.
4.2.1.3.3. Tórax
Tabela 5. Tórax: elementos por inventário e proposta da sua numeração.
Nº de inventário Elemento(s)/elementos de
conjunto/fragmento(s) presentes
Total de elementos
por inventário
FBAUL/AN/OST/28 Costelas direitas:
- primeira (3) (FBAUL/AN/OST/28/1/a, b, c);
- verdadeira (13) (FBAUL/AN/OST/28/V/a, b, c, d,
e, f, g, h, i, j, l, m, n);
- décima (1) (FBAUL/AN/OST/28/10/a);
- décima primeira (3) (FBAUL/AN/OST/28/11/a, b,
c);
- décima segunda (2) (FBAUL/AN/OST/28/12/a, b).
22
FBAUL/AN/OST/29 Costelas esquerdas:
- primeira (2) (FBAUL/AN/OST/29/1/a, b);
- segunda (1) FBAUL/AN/OST/29/2/a);
- verdadeira (17) FBAUL/AN/OST/29/V/a, b, c, d,
e, f, g, h, i, j, l, m, n, o, p, r, s);
- décima (5) FBAUL/AN/OST/29/10/a, b, c, d, e);
- décima primeira (3) FBAUL/AN/OST/29/11/a, b,
c);
- décima segunda (3) FBAUL/AN/OST/29/12/a, b,
c).
31
FBAUL/AN/OST/30 Esterno humano (1) (FBAUL/AN/OST/30). 1
FBAUL/AN/OST/31 Esterno humano (1) (FBAUL/AN/OST/31). 1
51
Em cada conjunto de costelas apresentado, são discriminados os diversos tipos existentes
deste osso que foram possíveis de identificar. São eles a primeira, a segunda, a décima, a
décima primeira e a décima segunda costelas. As restantes, cujo número não foi
identificado, são neste trabalho designadas como costelas verdadeiras. A maioria das
costelas apresentam vestígios ou pequenas porções de resina (material utilizado para as
reproduções da cartilagem costal nos esqueletos articulados) na extremidade anterior e na
extremidade posterior. Existe uma particularidade num exemplar de uma primeira costela
direita e noutro exemplar de uma décima segunda costela esquerda: uma inscrição que se
julga ser de uma data diferente à utilizada atualmente. No caso da costela direita está
inscrito “1ª Costella” e na costela esquerda consta a inscrição “12ª Cost.”.
A coleção possui dois esternos, também eles outrora pertencentes a um esqueleto
articulado (FBAUL/AN/OST/30 e FBAUL/AN/OST/31), como se pode concluir pela
presença das reproduções das cartilagens costais inseridas em algumas das suas incisuras.
4.2.1.3.4. Cíngulo do membro superior
Tabela 6. Cíngulo do membro superior: elementos por inventário e proposta da sua numeração.
Nº de inventário Elemento(s)/elementos de
conjunto/fragmento(s) presentes
Total de elementos
por inventário
FBAUL/AN/OST/32 Clavícula humana:
- clavícula direita (1) (FBAUL/AN/OST/32).
1
FBAUL/AN/OST/33 Clavícula humana:
- clavícula esquerda (1) (FBAUL/AN/OST/33).
1
FBAUL/AN/OST/34 Escápula humana:
- escápula esquerda (1) (FBAUL/AN/OST/34).
1
Do cíngulo do membro superior, constituído pela clavícula e pela escápula, a coleção
possui somente três exemplares: uma clavícula direita (FBAUL/AN/OST/32), uma
clavícula esquerda (FBAUL/AN/OST/33) e uma escápula esquerda
(FBAUL/AN/OST/34). A primeira clavícula possui duas perfurações, uma na
extremidade acromial e outra localizada numa porção lateral do corpo, representando
possíveis sinais da sua integração num esqueleto articulado. Ao contrário da primeira, a
52
clavícula esquerda não indica ter sido parte constituinte de um esqueleto articulado, visto
não apresentar quaisquer sinais disso, distinguindo-se apenas pelas suas extremidades
praticamente inexistentes dado o seu mau estado de conservação. A única escápula
existente nesta categoria pertence a um adulto e também se encontra degradada,
nomeadamente o seu ângulo superior.
4.2.1.3.5. Braço e antebraço
Esta coleção osteológica tem três exemplares de úmeros esquerdos (FBAUL/AN/OST/35,
FBAUL/AN/OST/36 e FBAUL/AN/OST/37), ossos correspondentes ao braço humano.
Possui igualmente três espécimes do antebraço: uma ulna direita (FBAUL/AN/OST/38),
uma ulna esquerda (FBAUL/AN/OST/39) e um rádio esquerdo (FBAUL/AN/OST/40).
Tabela 7. Braço e antebraço: elementos por inventário e proposta da sua numeração.
Nº de inventário Elemento(s)/elementos de
conjunto/fragmento(s) presentes
Total de elementos
por inventário
FBAUL/AN/OST/35 Úmero humano:
- úmero esquerdo (1) (FBAUL/AN/OST/35).
1
FBAUL/AN/OST/36 Úmero humano:
- úmero esquerdo (1) (FBAUL/AN/OST/36).
1
FBAUL/AN/OST/37 Úmero humano (incompleto):
- úmero esquerdo (1) (FBAUL/AN/OST/37).
1
FBAUL/AN/OST/38 Ulna humana:
- ulna direita (1) (FBAUL/AN/OST/38).
1
FBAUL/AN/OST/39 Ulna humana:
- ulna esquerda (1) (FBAUL/AN/OST/39).
1
FBAUL/AN/OST/40 Rádio humano:
- rádio esquerdo (1) (FBAUL/AN/OST/40).
1
Dos três úmeros do inventário, foi apenas do primeiro exemplar que se determinou o sexo
e se estimou a idade do esqueleto a que pertencia - um jovem adulto do sexo masculino.
Este encontra-se num estado de conservação deficiente, tendo as suas extremidades
53
degradadas. Os dois úmeros seguintes apresentam-se num estado de conservação mau: o
segundo úmero encontra-se degradado ao ponto de ser possível a observação do seu canal
medular e o terceiro já não possui a sua cabeça. Ainda assim, deste último resistiram
algumas inscrições, embora já desvanecidas, com uma caligrafia antiga idêntica à
observada noutros elementos osteológicos da coleção. Todavia, também aqui fica por
decifrar o que está gravado na superfície do osso.
Tanto a ulna direita como a ulna esquerda não demonstram grandes falhas relativamente
à sua conservação, excetuando alguma degradação dos limites das faces articulares da
extremidade superior da ulna esquerda. As duas distinguem-se essencialmente pelas
diferenças cromáticas, de textura ou outras superficiais: a primeira é de uma cor de
marfim/osso predominante, possui um evidente tratamento de superfície, de uma cor
amarelada, nas faces articulares da extremidade superior e o seu osso compacto apresenta-
se polido ou lustroso; a segunda ulna, menos polida e lustrosa, possui uma cor de
marfim/osso uniforme, exceto a sua extremidade inferior avermelhada. O rádio tem as
mesmas caraterísticas que a ulna esquerda.
4.2.1.3.6. Mão
Tabela 8. Mão: elementos por inventário e proposta da sua numeração.
Nº de inventário Elemento(s)/elementos de
conjunto/fragmento(s) presentes
Total de
elementos por
inventário
FBAUL/AN/OST/41 Ossos de mão humana:
- carpais (1): capitado esquerdo (1)
(FBAUL/AN/OST/41/C-E/a);
- metacarpais direitos (3): primeiro (1)
(FBAUL/AN/OST/41/1MC-D/a), segundo (1)
(FBAUL/AN/OST/41/2MC-D/a) e terceiro (1)
(FBAUL/AN/OST/41/3MC-D/a);
- metacarpais esquerdos (3): terceiro (1)
(FBAUL/AN/OST/41/3MC-E/a), quarto (1)
(FBAUL/AN/OST/41/4MC-E/a) e quinto (1)
(FBAUL/AN/OST/41/5MC-E/a);
- falanges (7): proximais (4) (FBAUL/AN/OST/41/FP/a,
b, c, d), médias (2) (FBAUL/AN/OST/41/FM/a, b) e distal
(1) (FBAUL/AN/OST/41/FD/a).
14
54
O terceiro conjunto osteológico da coleção é composto pelos ossos da mão humana
(FBAUL/AN/OST/41) e é constituído por um total de quatorze exemplares de esqueletos
humanos. Não foi possível compôr uma mão por completo, mesmo com ossos de
diferentes esqueletos, no entanto, os três grandes grupos encontram-se representados
neste conjunto: os carpais, os metacarpais, e as falanges. Embora pertença igualmente ao
membro superior, os ossos da mão foram categorizados à parte dos ossos do braço e do
antebraço, devido à necessidade de subcategorizar o presente grupo.
Relativamente ao grupo dos ossos do carpo, a coleção atualmente possui apenas um
elemento, o capitado da mão esquerda. Do grupo dos metacarpais existem três exemplares
da mão direita – o primeiro, o segundo e o terceiro metacarpais - e três da mão esquerda
– o terceiro, o quarto e o quinto metacarpais. Dos cincos dedos estão presentes quatro
falanges proximais, duas falanges médias e uma falange distal. É neste grupo que se
encontra uma falange distal cuja perfuração - que vai desde a sua face articular proximal
à sua cabeça (porção distal) - indica a hipótese de ter pertencido a um esqueleto articulado.
4.2.1.3.7. Cíngulo do membro inferior
Tabela 9. Cíngulo do membro inferior: elementos por inventário e proposta da sua numeração.
Nº de inventário Elemento(s)/elementos de
conjunto/fragmento(s) presentes
Total de elementos
por inventário
FBAUL/AN/OST/42 Coxal humano:
- coxal direito (1) (FBAUL/AN/OST/42).
1
FBAUL/AN/OST/43 Coxal humano:
- coxal esquerdo (1) (FBAUL/AN/OST/43).
1
São dois os coxais de diferentes esqueletos que constituem esta categoria: o coxal direito
(FBAUL/AN/OST/42) e o coxal esquerdo (FBAUL/AN/OST/43). As vértebras sagradas
(sacro) e as vértebras coccígeas (cóccix) que pertencem a este cíngulo foram
anteriormente integradas na categoria da coluna vertebral e, por esse motivo, não são aqui
incluídas. O coxal direito, notável pela sua cor acastanhada, terá sido um elemento que
compôs um esqueleto jovem e, possivelmente, do sexo feminino. Relativamente ao coxal
55
esquerdo, cujo estado de degradação é avançado - nomeadamente a superfície auricular
e a sínfise púbica -, foi determinado o seu sexo masculino.
4.2.1.3.8. Coxa e perna
Tabela 10. Coxa e perna: elementos por inventário e proposta da sua numeração.
Nº de inventário Elemento(s)/elementos de
conjunto/fragmento(s) presentes
Total de elementos
por inventário
FBAUL/AN/OST/44 Fémur humano:
- fémur direito (1) (FBAUL/AN/OST/44).
1
FBAUL/AN/OST/45 Fémur humano:
- fémur esquerdo (1) (FBAUL/AN/OST/45).
1
FBAUL/AN/OST/46 Fémur humano:
- fémur esquerdo (1) (FBAUL/AN/OST/46).
1
FBAUL/AN/OST/47 Tíbia humana:
- tíbia direita (1) (FBAUL/AN/OST/47).
1
FBAUL/AN/OST/48 Tíbia humana:
- tíbia esquerda (1) (FBAUL/AN/OST/48).
1
FBAUL/AN/OST/49 Tíbia humana:
- tíbia esquerda (1) (FBAUL/AN/OST/49).
1
FBAUL/AN/OST/50 Fíbula humana:
- fíbula esquerda (1) (FBAUL/AN/OST/50).
1
Nesta categoria estão inseridos exemplares do fémur, da tíbia e da fíbula. Atualmente,
não está incluída a patela, dado que não existe nenhum exemplar isolado desse elemento
osteológico, também pertencente à coxa e à perna.
A coleção possui três exemplares do fémur, sendo o primeiro pertencente ao lado direito
(FBAUL/AN/OST/44) e os dois seguintes ao lado esquerdo (FBAUL/AN/OST/45 e
FBAUL/AN/OST/46). O primeiro distingue-se pelas suas faces articulares, que se
encontram revestidas por uma camada de tratamento superficial, já referida
56
anteriormente. E, enquanto este exemplar apresenta um estado de conservação regular, os
dois fémures esquerdos que se seguem possuem as suas extremidades degradadas.
Na FBAUL existem três exemplares isolados da tíbia. Os dois primeiros
(FBAUL/AN/OST/47 e FBAUL/AN/OST/48) apresentam caraterísticas semelhantes. As
suas extremidades superiores foram submetidas a um corte medial, preenchido com placa
de metal fixa através de um arame atravessando lateralmente os côndilos da tíbia.
Possuem igualmente metal instalado nas suas tuberosidades, observáveis na vista anterior,
e apresentam algumas perfurações nas suas extremidades inferiores. Estes aspetos
indicam que estes espécimes poderão ter pertencido a um esqueleto articulado. A terceira
tíbia (FBAUL/AN/OST/49), cujo estado de deterioração é mau, não apresenta qualquer
indício de que ter integrado um exemplar osteológico articulado.
Resta referir uma fíbula (FBAUL/AN/OST/50) que constitui o único exemplar isolado
deste osso. Este espécime distingue-se pela sua extremidade superior avermelhada, bem
como pelas suas extremidades degradadas.
57
4.2.1.3.9. Pé
Tabela 11. Pé: elementos por inventário e proposta da sua numeração.
Nº de inventário Elemento(s)/elementos de
conjunto/fragmento(s) presentes
Total de
elementos por
inventário
FBAUL/AN/OST/44 Ossos do pé humano:
Tarsais (5): calcâneo direito (1)
(FBAUL/AN/OST/44/Co-D/a), cuneiforme medial
direito (1) (FBAUL/AN/OST/44/CM-D/a)
naviculares esquerdos (2) (FBAUL/AN/OST/44/N-
E/a, c) e cubóide esquerdo (1)
(FBAUL/AN/OST/44/Ce-E/a);
- Metatarsais direitos (5): primeiro (1)
(FBAUL/AN/OST/44/1MT-D/a), segundo (1)
(FBAUL/AN/OST/44/2MT-D/a), terceiro (1)
(FBAUL/AN/OST/44/3MT-D/a), quarto (1)
(FBAUL/AN/OST/44/4MT-D/a) e quinto (1)
(FBAUL/AN/OST/44/5MT-D/a);
- Metatarsais esquerdos (3): terceiro (1)
(FBAUL/AN/OST/44/3MT-E/a), quarto (1)
(FBAUL/AN/OST/44/4MT-E/a) e quinto (1)
(FBAUL/AN/OST/44/5MT-E/a);
- Falanges (9): proximais (3)
(FBAUL/AN/OST/44/FP/a, b, c) médias (3)
(FBAUL/AN/OST/44/FM/a, b, c) e distais (3)
(FBAUL/AN/OST/44/FD/a).
16
No total, a coleção possui vinte e dois ossos isolados pertencentes ao pé humano que
constituem um único inventário (FBAUL/AN/OST/51). Desta parte do corpo, encontram-
se representados os seus três grandes grupos. Dos tarsos, existe um calcâneo direito, um
cuneiforme medial direito, dois naviculares esquerdos e um cubóide esquerdo. Dos
metatarsais estão presentes um exemplar do primeiro, do segundo, do terceiro, do quarto
e do quinto pertencentes ao lado direito, mas também um exemplar do terceiro, do quarto
e do quinto do lado esquerdo. Relativamente ao grupo dos dedos, existem três falanges
proximais, três falanges médias e três falanges distais.
Deste conjunto destacam-se uma das falanges médias e uma das falanges distais, pois
apresentam perfurações. Sendo o mesmo tipo de intervenções efetuadas no material
osteológico já observadas noutros exemplares da coleção, que significam a possível
integração destes ossos num esqueleto articulado.
58
4.2.1.4. Fragmentos osteológicos humanos
A presente categoria abarca os espécimes que constituem apenas uma pequena porção do
elemento osteológico a que se referem. Depois de reunidos estes elementos da coleção,
constatou-se a existência de duas subcategorias e, deste modo, foram criadas duas fichas
de inventário distintas: uma para os fragmentos de esqueletos articulados
(FBAUL/AN/OST/52), outra para os fragmentos de cabeça óssea (FBAUL/AN/OST/53).
Tabela 12. Fragmentos osteológicos humanos: elementos por inventário e proposta da sua
numeração.
Nº de inventário Elemento(s)/elementos de
conjunto/fragmento(s) presentes
Total de elementos
por inventário
FBAUL/AN/OST/52 Fragmentos de esqueleto humano articulado:
- fragmento de uma costela (1)
(FBAUL/AN/OST/52/a);
- fragmento de reprodução de cartilagens costais (1)
(FBAUL/AN/OST/52/b).
2
FBAUL/AN/OST/53 Fragmentos de esqueleto humano
- fragmento do osso temporal (1)
(FBAUL/AN/OST/53/a);
- fragmento de osso de uma cabeça óssea não
identificado (1) (FBAUL/AN/OST/53/b).
2
O primeiro grupo incorpora um fragmento de costela e parte de uma reprodução de duas
cartilagens costais. A costela presente é constituída atualmente por um corpo, este em
grande parte ausente, e pela extremidade posterior, onde existe um arame. Os dois
fragmentos seguintes, as reproduções das cartilagens, possuem arames instalados
lateralmente.
Os fragmentos de esqueletos humanos identificados, que constituem o segundo grupo,
incluem uma porção do temporal esquerdo, o rochedo - a porção de formato piramidal
apenas visível na face endocraniana, onde se reconhece especialmente uma profunda
cavidade (referente ao ouvido humano) -, e uma pequena porção de outro osso não
identificado, pertencente à abóbada craniana (possível frontal, parietal ou occipital).
59
4.2.2. Material osteológico não-humano
Tabela 13. Material osteológico não-humano: elementos por inventário e proposta da sua
numeração.
Nº de inventário Elemento(s)/elementos de
conjunto/fragmento(s) presentes
Total de elementos
por inventário
FBAUL/AN/OST/54 Cabeça óssea não-humana:
- calote craniana (1) (FBAUL/AN/OST/54/a);
- porção inferior da cabeça óssea (1)
(FBAUL/AN/OST/54/b);
- mandíbula (1) (FBAUL/AN/OST/54/c).
3
FBAUL/AN/OST/55 Mandíbula não-humana:
- mandíbula (1) (FBAUL/AN/OST/55).
1
FBAUL/AN/OST/56 Mandíbula não-humana:
- mandíbula (1) (FBAUL/AN/OST/56).
1
FBAUL/AN/OST/57 Fragmentos de esqueleto não-humano:
- vértebra e costela (fundidas) (1)
(FBAUL/AN/OST/57).
1
FBAUL/AN/OST/58 Sacro não-humano:
- sacro (1) (FBAUL/AN/OST/58).
1
Os ossos não-humanos são provenientes de diferentes espécies, estando algumas ainda
por definir. O primeiro espécime (FBAUL/AN/OST/54) é a única cabeça óssea completa
nesta categoria. Tal como as cabeças ósseas humanas, este elemento osteológico foi
seccionado e, consequentemente, dividido em três porções diferentes: a calote craniana,
a porção inferior e, por fim, a mandíbula. Este espécime distingue-se pelos seus sinais
patológicos nas maxilas: as cavidades na superfície exterior e inferior junto aos alvéolos
e dentes.
Seguem-se duas mandíbulas, distintas tanto pela escala como pela morfologia. A primeira
(FBAUL/AN/OST/55), distingue-se pelas suas dimensões muito superiores,
comparativamente à dos humanos, pela sua grande extensão num plano horizontal e pela
sua robustez. É o exemplar não-humano, e único exemplar osteológico, que faz parte do
60
espólio de objetos em disposição para a representação de materiais orgânicos na disciplina
de Desenho da FBAUL. O seu estado de conservação é mau, pois apresenta fraturas,
dentição em falta e sujidade acumulada nas suas superfícies. Somente deste espécie, em
toda a coleção osteológica sobre a qual descrevemos, temos informação referente ao seu
historial. A mandíbula foi cedida aos espaços da faculdade pelo atual Professor Doutor
Henrique Dias Costa.
A mandíbula seguinte (FBAUL/AN/OST/56) de espécie desconhecida, assemelha-se
bastante à de um ser humano. No entanto, existem diferenças notáveis como o tamanho e
a escala um pouco menores, o formato retangular comparativamente com a forma de
ferradura da mandíbula humana, ou os caninos, que apresentam a mesma forma, mas mais
proeminentes.
Uma costela fraturada fundida a um fragmento de vértebra constituem outro espécime de
origem e espécie desconhecida (FBAUL/AN/OST/57). A descrição da costela aproxima-
se à de uma costela humana (osso estreito e curvo, de um corpo e duas extremidades),
embora apresente um tamanho menor, uma curvatura muito pouco acentuada e dois sulcos
(vincos ou regos) costais, em vez de apenas um. O fragmento de vértebra, fundido à
respetiva costela, possui também um tamanho menor e um processo transverso com uma
morfologia diferente relativamente à mesma porção vertebral do ser humano.
O quinto elemento deste grupo de material osteológico não-humano é um sacro
(FBAUL/AN/OST/58). Tal como nos caso anteriores, não se identificou qual espécie a
que terá pertencido. Este osso assemelha-se ao sacro humano, embora existam
divergências morfológicas e dimensionais. Para além do seu tamanho ser menor, possui
uma configuração significativamente retangular.
4.2.3. Fragmento ósseo
Tabela 14. Fragmento ósseo: elementos por inventário e proposta da sua numeração.
Nº de inventário Elemento(s)/elementos de
conjunto/fragmento(s) presentes
Total de elementos
por inventário
FBAUL/AN/OST/59 Fragmento ósseo:
- porção de esterno (1).
1
61
Nesta última categoria encontra-se apenas um elemento, uma porção inferior de um
esterno (FBAUL/AN/OST/59). É semelhante a um esterno humano, possuindo duas faces
e apresentando diversas incisuras articulares condrais nas margens laterais, onde se
inseriam as costelas. Contudo, não foi possível confirmar a sua origem.
62
5. DOCUMENTAÇÃO
5.1. Atribuição do número de inventário
A numeração é um procedimento essencial para a inventariação e preservação dos
espécimes osteológicos da FBAUL. Esta prática consiste no estabelecimento da
associação de um código a um objeto de museu e à sua documentação, um procedimento
que se pode revelar útil caso o objeto seja roubado ou extraviado (Roberts, 2004, p. 38;
White & Folkens, 2005, p. 358). Com a atribuição de um código alfanumérico, e sua
posterior marcação nos objetos, pretende-se cumprir o objetivo deste trabalho: garantir a
proteção e permanência da informação dos ossos, seja ela o próprio objeto ou a sua
documentação. Com a adoção da prática de numeração dos espécimes, associada à
documentação e procedimentos de preservação, espera-se contribuir para a legitimação
destes ossos enquanto parte dos acervos da FBAUL.
A elaboração do número de inventário para a coleção osteológica da FBAUL segue a
estrutura dos existentes nas outras coleções da FBAUL. Os códigos alfa-numéricos
utilizados nesta instituição, refletem, tal como na escolha dos campos, como se mostrará
neste capítulo, uma inclinação para o uso das sugestões das Normas de Inventário da
DGPC, mais especificamente as dedicadas às artes plásticas e decorativas (IPM, 2000).
As suas orientações neste campo são as recomendadas nas normas que utilizaremos
igualmente no processo de escolha de campos a integrar na ficha de inventário, referido
no ponto seguinte. A estrutura em questão é uma numeração sequencial e única, precedida
de uma sigla (maiúsculas), identificando a instituição em causa (IPM, 2000, p. 25), bem
como, a referência (no caso das fichas da FBAUL, é alfabética) à coleção ou à secção a
que pertence o objeto (IPM, 2000, p. 26). Embora a ordem destes elementos
alfanuméricos possa variar entre as fichas dos diferentes acervos desta instituição, teve-
se o cuidado de manter a presença de cada elemento existente nelas.
Sendo assim, o número de inventário da coleção osteológica é estruturado, por intermédio
de barras (/), na seguinte ordem de comparência: sigla da instituição (FBAUL); sigla
relativa à secção (Anatomia); sigla correspondente à coleção (Osteologia); e, por fim,
pelo número de inventário, como por exemplo: FBAUL/AN/OST/1. Deve referir-se que
esta estrutura demonstra a consciência da autora da presente dissertação perante a
63
possibilidade da incorporação de outra ou mais coleções na secção de Anatomia da
FBAUL.
Como se sabe, esta coleção possui números de inventário com diversos elementos ou
vários exemplares de um mesmo osso. É recomendado, no caso do objeto ser composto
por duas ou mais partes, que sejam atribuídas às diferentes partes números separados,
subdividindo o número do objeto (Roberts, 2004, p. 39). Assim sendo, o número de
inventário poderá sofrer desdobramentos, cujo tipo irá sendo adaptado a cada caso.
Os esqueletos articulados com diversos elementos não-articulados entre si, terão o mesmo
número de inventário, mas seguido de uma barra (/) e de uma letra minúscula (a, b, c,...),
nomeada sucessivamente para cada elemento consoante a ordem da posição anatómica.
O mesmo sistema se aplica aos diversos elementos de um esqueleto não-articulado ou de
um grupo anatómico (como o de uma cabeça óssea).
Já os conjuntos de ossos presentes na coleção, que apresentam múltiplos exemplares,
possuem desdobramentos específicos. São os casos onde se conseguem distinguir, entre
os seus elementos constituintes, os diversos grupos ou classificações anatómicas. A
estrutura de numeração destes conjuntos é a mesma que a anterior, contudo é seguida de
um código identificativo alfanumérico do grupo a que pertence o elemento, também
separado por uma barra (/), sendo as letras presentes maiúsculas. Quando os ossos do
conjunto são identificados, o código que lhes é proposto neste trabalho refere-se à sua
denominação anatomicamente correta e representa a sua inicial, ou as suas iniciais,
correspondente(s). Quando aplicável, e caso seja identificado o lado dos elementos de
conjunto (exceto no caso das costelas direitas e das costelas esquerdas que já se encontram
em inventários distintos), acrescenta-se ao código a letra D, para um osso pertencente ao
lado direito, e a letra E, para um osso do lado esquerdo. O código relativo ao lado do osso
é separado por um hífen (-) e consta a seguir ao código identificativo do grupo anatómico
ou ao código referente à denominação do osso.
No capítulo anterior, são apresentados os números de inventário propostos para cada
elemento, elementos de conjunto ou fragmentos integrantes de cada ficha. Anexada à
presente dissertação, encontra-se uma proposta de numeração para todos os elementos
referentes aos grupos anatómicos – vértebras (FBAUL/AN/OST/26), costelas direitas
(FBAUL/AN/OST/28), costelas esquerdas (FBAUL/AN/OST/29), ossos da mão
64
(FBAUL/AN/OST/41) e ossos do pé (FBAUL/AN/OST/51) (anexo A.2.) – mesmo que
alguns destes elementos ainda não existam, até à data de entrega deste trabalho, na nossa
coleção.
5.2. Construção da ficha de inventário
O processo de construção da ficha de inventário da coleção osteológica da FBAUL, ou a
escolha dos seus campos, teve como alicerce a reunião de conclusões retiradas das
investigações de campo, juntamente com as referências bibliográficas de interesse. O
processo de estruturação da ficha de inventário teve em conta, sobretudo, os campos
aconselhados universalmente por instituições competentes, mas, também se baseou, de
modo a complementar estas orientações gerais, nas fontes documentais pertinentes para
este tipo de coleções.
Os campos de inventariação recomendados para contextos gerais pelo compêndio Como
Gerir um Museu: Manual Prático (Boylan, 2004), que reúne exemplos estabelecidos por
entidades competentes das mais diversas áreas, foram um dos primeiros elementos a ser
considerados. A par destes, teve-se também em conta os campos empregues nos
inventários das coleções da FBAUL - a coleção de azulejaria antiga (Cardeira, 2015), de
desenho antigo (Faria, 2008), de gravura antiga (Madeira, 2005), de escultura (Bernardo,
2013) e de pintura (Franco, 2014; Franco, 2011), ainda em processo. A ficha de inventário
do acervo escultórico da FBAUL, por José Bernardo, apresentado no âmbito da sua tese
de doutoramento A Colecção de Escultura da Faculdade de Belas-Artes: A formação do
gosto e o ensino do Desenho (Bernardo, 2013), serviu de inspiração formal para a
elaboração da estrutura das primeiras fichas do acervo de anatomia.
As coleções da FBAUL e a sua inventariação, carecem de uma norma, ou política de
inventário, estabelecida pela instituição a que pertencem. Contrariando o facto de não
partilharem uma base normativa institucional, os inventários da FBAUL tentam
reproduzir as mesmas condutas apresentadas nas normas de inventário da DGPC, como
foi referido anteriormente. As recomendações feitas pela entidade responsável pelo
património português foram, por essa razão, também tidas em consideração no processo
de elaboração da ficha da coleção osteológica.
Ao se analisarem as normas da DGPC dedicadas às Artes Plásticas (IPM, 2000), utilizadas
na Faculdade, constatou-se que as normas e campos aconselhados para a inventariação de
65
objetos de foro artístico não se enquadravam exatamente na ficha para uma coleção
osteológica, ou seja, ligada a uma área científica como a anatomia. Sendo assim, recorreu-
se às Normas Gerais: Ciência e Técnica (IMC, 2010), criadas por uma entidade
antecedente à DGPC, cujas orientações e campos se julgaram mais apropriados para o
caso presente.
Porém, mesmo adaptando-se ao género de coleção, constatou-se que estas normas eram
genéricas para uns espécimes tão específicos como os elementos remanescentes
osteológicos humanos. Esta questão foi resolvida por meio do processo de investigação
de campo, bem como das bases teóricas sobre a inventariação e preservação dos ossos em
contexto arqueológico, algumas destas adquiridas nas instituições mencionadas neste
trabalho.
Nesta fase é crucial reforçar a importância da investigação de campo. Pois foi no seio das
áreas científicas das instituições observadas no âmbito desta dissertação, como a
arqueologia e a antropologia, que se desenvolveram princípios, modelos e metodologias
para uma documentação idealmente completa de espécimes osteológicos. Estes
conhecimentos foram utilizados para particularizar a estrutura da ficha de inventário dos
ossos da FBAUL e para complementar as normas e os campos genéricos aconselhados,
já apresentados anteriormente. Para colmatar estas lacunas, seguiram-se as orientações
para uma documentação minuciosa relativa aos ossos humanos, dadas em Guidelines to
the Standards for Recording Human Remains (Brickley & McKinley, 2004) e outro, em
língua portuguesa, Conceitos e Métodos em Curadoria de Colecções Osteológicas
Humanas, de Andrea Lessa (2011), que também apresenta indicações de outros
procedimentos de preservação para o tipo de coleções em questão.
A referência bibliográfica que mais contribuiu para o presente trabalho foi a obra The
Human Bone Manual (White & Folkens, 2005), usada no Laboratório de Antropologia
do MUHNAC. Este manual reúne primorosos registos fotográficos de cada osso do
esqueleto humano, bem como informações úteis para o seu processo de identificação.
Constituiu igualmente uma ferramenta indispensável para a seleção e execução dos
métodos de análise e de recolha de informação sobre os ossos, nomeadamente a
determinação do sexo e a estimativa de idade à morte, mas também para a documentação
do material osteológico. Em The Human Bone Manual (White & Folkens, 2005), está
citado um dos primeiros avanços no sentido da conceção de uma ficha padrão para a
66
recolha de informação de um esqueleto, a obra Standards for Data Collection from
Human Skeletal Remains (Haas et al., 1994). Nessa obra citada estão anexadas diversas
fichas para a documentação de material osteológico. Para além dos campos enunciados
acerca do contexto do achado, solicitando os nomes e os números correspondentes, os
números do esqueleto ou do enterro, a atual localização de coleção, o observador e a data,
também fazem parte destas fichas os desenhos do esqueleto, dos ossos e dos dentes, em
diferentes perspetivas a preencher conforme a sua presença. Existem igualmente tabelas
e esquemas onde se assinalam quais as extremidades e faces articulares presentes, a
determinação do sexo, a estimativa de idade, as caraterísticas métricas e as não-métricas,
as observações patológicas e as observações tafonómicas.
Nas atuais instituições museológicas lisboetas observam-se procedimentos de
documentação semelhantes aos descritos acima. O teor de informação a recolher sobre os
espécimes osteológicos parece ser idêntico, tanto a nível prático, como na primeira
conceção de um documento padrão criado em terreno americano para o uso de
osteologistas, arqueólogos e antropólogos, constituído por desenhos/esquemas de
esqueletos em posição anatómica, registo dos ossos, de porções de ossos e dos dentes,
consoante a sua presença, a identificação do sexo e a estimativa de idade, observações
métricas e não-métricas e observações patológicas.
Sobre estes critérios, campos e/ou métodos de recolha de informação, que foram obtidos
num contexto teórico-prático, desenvolveu-se uma reflexão relativa à sua pertinência, ou
não, para as práticas de documentação da coleção osteológica da FBAUL, com base no
conhecimento sobre os fins para que esta é utilizada.
Os campos concernentes às circunstâncias ou contexto do esqueleto como achado não
foram incorporadas na ficha de inventário da FBAUL, porque não existe informação
sobre a origem/proveniência dos ossos pertencentes à coleção. Presume-se que este
material osteológico tenha sido trazido já tratado, manipulado e articulado, sendo,
possivelmente, proveniente de instituições de medicina e não de contextos arqueológicos,
conforme se verificou no exemplo anterior. Contudo, não foi ainda possível confirmar
esta possibilidade.
Questionou-se também a aplicabilidade dos desenhos dos ossos, transversais tanto à
generalidade das fontes bibliográficas acerca do registo documental de espécimes
67
osteológicos, bem como nos processos de documentação do MUHNAC e do MNA a
preencher consoante a sua existência. Ao que tudo indica, é comum e recomendável,
como se viu nas referências teóricas, uma ficha de inventário osteológica com a
representação de um esqueleto completo, de cada osso individualmente e dos dentes, por
facilitar a rápida identificação dos elementos presentes do conjunto. No entanto, os
sistemas de registo de informação apresentados com as composições gráficas de
esqueletos/ ossos/ dentes poderão não funcionar na perfeição no caso da especificidade
da coleção da FBAUL. Uma das razões para esta afirmação, prende-se ao facto de
existirem esqueletos articulados com diversas partes não-articuladas. Paralelamente ao
esquema, teria de haver um modo de referir que os ossos estão articulados (ou não) e com
quais. No contexto de aula interessa saber quais os ossos que existem, mas também os
que estão articulados ou não. Poderá querer utilizar-se apenas um elemento osteológico
não-articulado ou três elementos específicos articulados para a demonstração da sua
articulação no corpo humano. Por essa razão, concluiu-se que talvez fizesse mais sentido
optar por uma estrutura que apresentasse estes dados e caraterísticas de uma forma direta
e simplificada, adaptando-se às diferentes formas e números. Outro motivo pelo qual o
sistema em questão se considerou prescindível, esteve relacionado com o facto de se
tratarem de grupos de um mesmo elemento osteológico, pois só uma parte desse tipo de
esquema e tabelas seria aproveitado ou, ainda, no caso de o espécime ser não-humano,
toda esse sistema seria totalmente dispensável.
Também se decidiu não incluir as tabelas ou esquemas para assinalar a presença, ou não,
das porções específicas e faces articulares dos ossos, na ficha de inventário da FBAUL;
visto que a documentação destes aspetos se prende, geralmente, com a sua utilização para
investigação em metodologias de recolha de informação sobre os ossos no âmbito da
antropologia e da arqueologia. O registo sobre a presença dos ossos e respetivas porções
será apenas efetuado no campo relativo à conservação dos espécimes que integram a
ficha, como se verá no ponto seguinte.
Não se incluíndo estes desenhos e esquemas dos ossos na ficha de inventário, foi
necessário elaborar uma forma de documentar quantos elementos se encontram presentes
por ficha. Para resolver esta questão, considerou-se um campo designado por
“ossos/fragmentos presentes” a integrar na estrutura da ficha de inventário, que consiste
num espaço para se registar não só quais os ossos ou fragmentos existentes, mas também
qualquer informação sobre a sua apresentação quantitativa e estrutural (articulados ou
68
não, e com que ossos), sem ser necessário especificar se o material osteológico é humano
ou não-humano. Para complementar este campo, e de forma a auxiliar a rápida
identificação e avaliação do espécime, na mesma página devem ser integradas fotografias
de cada espécime ou grupo de espécimes. Através desta forma de registo, pretende-se
que, tanto os exemplares osteológicos unidos entre si através de metal, da resina e de
outros materiais, como os ossos não-humanos, sejam documentados mais
satisfatoriamente.
Entre os fatores selecionados para serem incluídos na ficha de inventário, estão a
determinação do sexo e a estimativa de idade do esqueleto, dados considerados como
fundamentais nas referências teóricas e nas recolhidas na investigação de campo, reunidas
ao longo do presente trabalho. Normalmente, a importância da colheita e permanência
destes aspetos está relacionada, tal como no caso do registo sobre porções específicas de
ossos, às metodologias de investigação antropológicas. Assim sendo, poderia concluir-se
que estas informações são desnecessárias no caso de uma coleção dedicada ao ensino.
Contudo, encontraram-se três razões para se proceder contrariamente. Em primeiro lugar,
porque nos programas curriculares das cadeiras relativas à representação da figura
humana da FBAUL, ou ao ensino artístico anatómico, tanto em contexto teórico como
prático, os parâmetros de sexo e idade são, efetivamente, considerados. Em segundo,
porque a identificação do sexo e a estimativa de idade está inteiramente relacionada com
as variações morfológicas (da forma), topográficas (do grafismo das superfícies) e
dimensionais dos ossos (White & Folkens, 2005, p. 31-33) e, por essa razão, interessa à
comunidade académica ter disponibilizadas informações relativas ao sexo. Desta forma,
a documentação de uma coleção capaz de demonstrar a associação de um esqueleto ou
osso com certa idade/sexo que, por sua vez, significa x forma, y tipografia ou z dimensão,
será útil na propagação de conhecimentos científicos pertinentes à fiel e naturalista,
representação da figura humana. Por outro lado, o registo destas informações referentes
ao sexo e à idade poderão igualmente constituir dados úteis à identificação dos ossos no
caso de perda ou de furto.
Tendo em conta os motivos apresentados, as informações acerca do sexo e da idade dos
esqueletos e, sempre que possível, sobre quais as caraterísticas dos ossos utilizadas para
a sua identificação ou estimativa, irão constar na ficha de inventário da coleção
osteológica da FBAUL.
69
Os elementos orgânicos, materiais e objetos respeitantes ou pertencentes ao esqueleto de
contexto arqueológicos, foram excluídos da ficha de inventário, porque, como já foi
referido anteriormente, ainda não se sabe qual é a proveniência destes espécimes
osteológicos. Também por este motivo as observações tafonómicas não serão incluídas.
Este tipo de esclarecimentos documentais sobre os esqueletos prendem-se com as suas
alterações biológicas, químicas e físicas post mortem, inerentes ao contacto com os mais
diversos agentes exteriores, sendo estes agentes normalmente associados a um contexto
arqueológico (White & Folkens, 2005, pp. 49-50) e, por essa razão, solicitados na
documentação de material osteológico. Visto que estas informações poderão não ser
aplicáveis, pois não se sabe se os espécimes foram encontrados num tipo de contexto
referido acima, são excluídas.
No entanto, a coleção osteológica da FBAUL apresenta diversas caraterísticas de cor e
textura que merecem ser apontadas, porque estas ajudam na identificação dos seus
espécimes. De modo a ser possível acrescentar estas informações ao inventário
osteológico, foi criado o campo “observações de cor/textura”. Este campo poderá incluir,
ao contrário das observações tafonómicas, tanto as caraterísticas associadas às
modificações ante mortem como às modificações post mortem. Estes aspectos foram
destacados para um campo distinto com o objetivo de os tornar mais acessíveis,
permitindo a rápida identificação dos elementos integrantes da ficha.
Relativamente às observações patológicas, seria necessário um especialista na matéria
para realizar este levantamento e o seu respetivo registo. Não obstante, quando se
observam quaisquer indícios patológicos nos ossos, estes dados deverão constar na
descrição geral ou nas observações. O ensino artístico anatómico não aprofunda esta
temática e é rara a sua referência nas estruturas curriculares da FBAUL, contudo, todas
as informações acerca dos espécimes presentes poderão ser úteis para a sua identificação
em qualquer tipo de situação.
Por fim, é necessário mencionar que a recolha de determinadas informações como o sexo,
a idade e as patologias existentes, requer a utilização de metodologias específicas,
elaboradas no âmbito da investigação científica nas áreas da osteologia, da antropologia
e da arqueologia. A grande maioria destes métodos são os apresentados na referência já
mencionada anteriormente, The Human Bone Manual (White & Folkens, 2005). No
presente caso, referem-se os métodos utilizados no Laboratório de Antropologia do
70
MUHNAC, onde se obteve igualmente conhecimento e alguma experiência quanto à sua
aplicação em virtude da documentação que se realizou sobre a Coleção Luís Lopes.
Foram estas noções e aptidões adquiridas que, posteriormente. se viriam a usar no
levantamento de informação sobre os espécimes da coleção osteológica da FBAUL.
Ainda assim, pediu-se à curadora responsável pela Coleção Luís Lopes, a Professora
Doutora Maria Susana de Jesus Garcia, ajuda no processo de retificação dos resultados
da aplicação das metodologias referidas, bem como da recolha das caraterísticas métricas
de alguns dos ossos, parâmetros utilizados para servir os métodos de recolha de
informações do sexo, da idade e das patologias dos ossos, ou, simplesmente, para o registo
essencial de quaisquer medidas relevantes para a sua identificação/documentação.
5.3. Descrição da ficha
A ficha de inventário osteológica da FBAUL (anexo A.1) apresenta, na parte que se
poderá designar como o cabeçalho, o logotipo da instituição, acompanhado pela
identificação do acervo (anatomia), do inventário (da coleção osteológica) e da data.
Em seguida, destaca-se uma primeira tabela com os campos Categoria, Subcategoria, e
Nº de Inventário. Estas informações constam também nas restantes páginas.
Na tabela seguinte, estão outros campos obrigatórios, mas também específicos. Em
primeiro lugar a Denominação, seguida pela Data, e pelas específicações sobre a
natureza material e dimensional do(s) espécime(s), bem como respetivas estruturas que
o(s) sustem(êm), em Materiais e Dimensões. Seguem-se outros cinco campos. Os
primeiros três solicitam informações ainda por averiguar ou investigar, sendo estes as
Marcas/inscrições, a Proveniência/produção e o contexto da Aquisição. Os dois
campos seguintes, são a sua Localização (normal, reserva), ou a sua Localização atual,
visto haver possibilidade desta coleção sair do local a onde está localizada, para outros
espaços da instituição. A encerrar esta mesma tabela, está o campo Osso(s)/fragmento(s)
presentes, cuja apresentação e fundamentação da escolha foi explicada no ponto anterior
do presente capítulo. Aqui se enumeram os elementos osteológicos pertencentes ao
inventário, bem como a respetiva quantidade, a sua apresentação estrutural e a sua
apresentação segmentária. Este último campo aparece na primeira página com o objetivo
de ajudar significativamente na rápida identificação, no acesso e na arrumação do(s)
elemento(s) levantado(s) do local de reserva. Também para facilitar este processo,
71
deixou-se lugar para dois registos visuais, mais especificamente, duas fotografias, do(s)
espécime(s) e respetivos Números de identificação de imagem.
Outra tabela, reservada à Descrição do(s) objeto(s), ocupa a segunda página da ficha e é
constituída por seis campos. O primeiro é designado por Geral, extensão do nome da
tabela, espaço para traçar um sucinto retrato do(s) espécime(s), do geral para o particular,
onde se devem igualmente deixar algumas observações patológicas e variações
morfológicas. Quaisquer outros dados que caraterizem este(s) espécime(s) estão nos
restantes campos. São eles a Estimativa de idade à morte e, quando possível, a porção
óssea utilizada para a estimativa, bem como o Sexo identificado, aplicando-se a mesma
recomendação do campo anterior. Segue-se a Dentição, onde se registam quais os dentes
presentes por extenso (sem códigos, desenhos ou esquemas), tal como outras observações
relativas a estes elementos. Para complementar as dimensões gerais solicitadas na
primeira página, existe igualmente o campo Outras dimensões, espaço reservado às
medidas dos ossos, nomeadamente das distintivas porções de determinados ossos, cujo
fim reside, como já foi referido no ponto anterior deste capítulo, não só na identificação
do osso como, por exemplo, na estimativa de idade à morte ou na determinação do sexo
do esqueleto em questão. Para concluir, resta-nos o campo já abordado e justificado, sobre
as Observações de cor/textura que foram constatadas durante o processo de
documentação.
Na terceira página encontram-se os campos relativos à conservação do(s) espécime(s)
osteológico(s), sendo eles: o Estado de conservação, onde deverá ser referido, segundo
as normas da DGPC, um dos seguintes níveis muito bom, bom, regular, deficiente, mau
(IPM, 2000, p. 55; IMC, 2010, p. 89), bem como a Data em que foram efetuadas tais
apreciações e qual o(a) Observador(a) das mesmas. São também solicitadas
Especificações do estado de conservação, espaço para a fundamentação da classificação
efetuada no campo sobre o estado de conservação, enumerando quais os principais
problemas identificados. Em seguida, há espaço para os imprescindíveis registos dos
nomes/entidades responsáveis e a data das Intervenções de conservação e restauro,
campo que se espera preencher futuramente. Na mesma tabela, existe um último campo,
Outras observações, útil para dados adicionais, relacionados com a conservação dos
ossos e, normalmente, associadas ao seu historial biográfico e funcional, isto é, à sua
utilização enquanto material didático.
72
A última tabela apresenta um primeiro campo que não foi proposto em nenhuma das
normas, exemplos de ficha de inventário, ou outras referências e fórmulas examinadas
neste trabalho. Trata-se do campo Enquadramento institucional, que pretende abordar,
num texto sucinto, a razão e importância pela qual estes esqueletos existem e permanecem
atualmente na FBAUL. Estas informações são integradas com o propósito de
contextualizar esta coleção, devido à ausência do seu historial/origem ou da sua
proveniência, servindo de complemento a estas lacunas. Posteriormente, insere-se a
indispensável Bibliografia, campo onde devem constar as referências utilizadas para a
construção da ficha e para o processo de recolha de informações sobre os ossos. A ficha
de inventário termina com a anotação do nome da pessoa responsável pelo preenchimento
dos seus campos (Preenchido por:), a Data e, por fim, a Última atualização da ficha.
5.4. Outra documentação associada
Nas recomendações sobre campos de inventariação reunidas por Andrew Roberts consta,
entre os campos relativos à descrição do objeto, a entrada: Número de referência da
imagem (Roberts, 2004, p. 40, p. 51). Sobre este campo o autor afirma que qualquer
informação sobre fotografias ou imagens digitais poderá ser utilizada para identificar o
objeto de museu em caso de roubo, para além dos investigadores e do público. Tendo em
conta a importância dos registos visuais a integrar nas fichas de inventário, não só por
uma questão de preservação, mas também de investigação e de estudo dos espécimes, foi
anexado à ficha o seguinte módulo: o Registo de imagem e multimédia da coleção
osteológica da FBAUL.
Neste documento, e precedidas pelo mesmo cabeçalho da ficha e da tabela correspondente
aos campos Categoria, Subcategoria e Nº de inventário, estão apresentadas todas as
imagens existentes de cada espécime, em pequeno formato, com a devida identificação.
Aqui deverão constar todas as fotografias e outros registos visuais do(s) osso(s) e/ou
fragmento(s), resultantes da sua documentação, mas também resultantes de outros
contextos como os da investigação, do estudo e da conservação e restauro. Neste
repertório gráfico deverão encontrar-se igualmente incluídos os registos bidimensionais
e tridimensionais relativos ao trabalho que será proposto mais adiante na presente
dissertação: o scan e a impressão 3D dos ossos da coleção. Estes registos consistem no
conjunto de fotografias para a modelação 3D dos ossos da FBAUL, na modelação digital
73
criada posteriormente (a partir do referido conjunto de fotografias) e, por fim, nas
impressões 3D dessas modelações digitais.
A seguir a estas imagens ou registo de multimédia, está a tabela cujos campos enumeram
todos os registos visuais presentes na coleção através do Nº de identificação de imagem,
incluíndo os códigos que aparecem junto das imagens apresentadas tanto na ficha de
inventário como na documentação aqui em questão. Na mesma tabela, é igualmente
inserido o Tipo de imagem (fotografia, desenho ou outro), onde está armazenada
(Localização), e qual o(a) Autor(a) e Data destes registos.
Através desta documentação, pretende-se que todo o registo visual efetuado a partir do
material osteológico inventariado se torne mais acessível à comunidade académica e
pessoal interessado devidamente autorizado. Para além de contribuir para a rápida
identificação de cada osso, esta documentação deverá igualmente servir o principal
motivo da existência dos espécimes osteológicos na FBAUL, o da sua utilização para o
ensino e para o estudo anatómico.
74
6. PRESERVAÇÃO
A coleção osteológica da FBAUL é maioritariamente composta por ossos. Contudo,
outros materiais integram também os esqueletos humanos articulados e, por esse motivo,
deverão ser considerados nas questões relacionadas com a preservação deste espólio.
Estão presentes a madeira, a cortiça, o feltro, o couro, o cordel de sisal, o metal e,
provavelmente, a resina, este último permanecendo ainda por confirmar. Detetou-se
igualmente a aplicação de tratamentos de superfície dos ossos, um procedimento que se
pensa estar relacionado com a preservação dos espécimes desta coleção. No entanto, não
foi ainda possível conferir qual o material ou a data da sua aplicação. Dado que ficam por
apurar alguns dos materiais presentes nestes objetos articulados, este capítulo foca-se na
preservação dos materiais osteológicos.
Os ossos encontram-se entre os materiais orgânicos celulares muito sensíveis (Rivière,
1989, p. 226). São formados por compostos orgânicos que lhes conferem a capacidade de
crescimento e de reparação, mas também por compostos inorgânicos que lhes dão dureza
e rigidez (Stone, 2010, p. 1). A sua estrutura molecular e celular é constituída pelo mineral
hidroxiapatite (uma forma de fosfato de cálcio), compondo a grande parte do material
inorgânico do osso, e por moléculas de colagénio (proteína), responsáveis pela formação
de fibras flexíveis e ligeiramente elásticas no osso, representando cerca de 90% do
material orgânico existente (White & Folkens, 2005, p. 42).
Para além de serem orgânicos, os ossos são também higroscópicos, isto é, são capazes de
absorver humidade (Lessa, 2011, p. 5, p. 13). São suscetíveis à humidade relativa e às
temperaturas incorretas, especialmente às suas variações bruscas (Rivière, 1989, p. 226;
Lessa, 2011, p. 5; “Basic care,” 2016; Stone, 2010, p. 3; DCMS, 2005, p. 18), tal como à
luz e à radiação ultravioleta (Rivière, 1989, p. 226; DCMS, 2005, p. 18; White & Folkens,
2005, p. 358; Lessa, 2011, p. 5; Stone, 2010, p. 3).
Stefan Michalski reuniu uma lista dos agentes de deterioração presentes na generalidade
dos acervos (2004, pp. 57-58). Segundo o autor, são nove os que apresentam maior
incidência: as forças físicas diretas, os ladrões, os vândalos e o pessoal distraído, o
incêndio, a água, as pragas, os contaminantes, a radiação, a temperatura incorreta e a
humidade relativa incorreta. Para além dos agentes apontados por este autor, há ainda um
75
último agente acrescentado por R. Robert Waller e Paisley S. Cato, publicado on-line pelo
Governo do Canadá: a dissociação (Waller & Cato, 2016).
Observando a coleção osteológica da FBAUL é possível detetar a presença das forças
físicas e de pessoal menos cuidadoso. Os elementos osteológicos ausentes parecem
constituir uma norma entre os inventários da coleção, bem como ossos fraturados,
superfícies ósseas degradadas ou ainda, provavelmente queimadas. Os agentes como as
forças físicas diretas, mas também os ladrões, os vândalos e o pessoal distraído
representam um risco para a coleção devido à sua utilização normal e frequente.
Relativamente ao fogo, este parece ser um fator conhecido pelos espaços do antigo
convento de S. Francisco nos últimos séculos (Calado, 2000). Este agente deverá ser
considerado como um risco a prevenir com especial atenção, devido à grande dificuldade
no seu controlo (Lessa, 2011, p. 14). Para o seu combate, a Faculdade possui os
equipamentos necessários, obrigatórios por lei.
Grande parte da coleção osteológica da FBAUL encontra-se na sala 3.63 com condições
ambientais pouco favoráveis à preservação deste espólio. É possível que esta coleção seja
afetada por humidade e correntes de ar. Um dos dois armários em metal onde estão
armazenados os ossos situa-se perto de uma janela, o outro localiza-se junto a uma parede
interior. A sala possui três paredes exteriores. A sua porta não apresenta as caraterísticas
necessárias para impedir a passagem de ar, poluentes ou organismos nocivos, mas as
janelas aparentam estar suficientemente calafetadas. É também importante referir a
existência de flutuações de temperatura e de humidade relativa devido à presença de um
grande número de pessoas dentro da sala no decorrer das unidades curriculares, situação
recorrente durante o período de aulas do ano letivo. Pelo que foi possível observar, este
fator humano influencia o estado de limpeza desta sala, encontrando-se, por vezes,
vestígios da presença de comida e de bebida ou outros tipos de lixo orgânico. A grande
maioria da coleção é protegida da luz direta, visto que se encontra, no interior dos
armários de metal. Por outro lado, as janelas presentes na sala possuem cortinas que
impedem a entrada da direta luz.
Outra pequena parte deste espólio osteológico é constituída por dois espécimes que se
encontram em dois locais diferentes da instituição. Um deles é o esqueleto humano
articulado fixo em suporte, FBAUL/AN/OST/1, guardado nas salas de desenho 3.67 e
76
3.69. Este espécime, não está protegido das radiações de luz visível e ultravioleta, por
meio do seu armazenamento, e está exposto às flutuações das condições exteriores
provocadas pelo fator humano, referidas anteriormente. Na sua constante movimentação
entre as duas salas de desenho 3.67 e 3.69, facto constatado no decorrer do
desenvolvimento deste trabalho, os poluentes e os organismos nocivos que os diferentes
materiais e suportes para a prática do desenho podem atrair, juntamente com o facto de
estar em constante exposição aos diversos fatores, pois nunca se encontra armazenado,
tornam-no o elemento mais suscetível de se degradar na coleção. Este esqueleto articulado
em suporte, apresenta vestígios de ataque biológico, não nos ossos presentes, mas na sua
base de madeira em contacto com o pavimento, também em madeira, sendo o único
exemplar da coleção nestas condições.
A outra peça óssea existente fora da sala 3.63 é uma mandíbula não-humana,
FBAUL/AN/OST/55, presente na sala 0.01. Tal como o espécime mencionado
anteriormente, encontra-se suscetível aos poluentes e ao fator humano. A própria
mandíbula aponta para a presença destes fatores através do pó alojado ou dos sinais do
contacto com barro na sua superfície, utilizado para se fazerem moldes. A temperatura e
humidade relativa relacionadas ao fator humano, poderá ter aqui menos impacto devido
à maior área desta sala. O comportamento deste conjunto de fatores fica ainda por apurar,
bem como o seu controlo e monitorização neste espaço amplo, sem janelas, com apenas
a sua porta para a circulação do ar. A porta da sala abre para um pátio exterior, o que
poderá influenciar a estabilidade das condições ambientais, embora apresente
caraterísticas que permitam isolar o interior das condições ambientais exteriores. A
entrada de luz desta sala de desenho situa-se no teto e, como foi possível observar, confere
bastante quantidade de luz ao espaço, talvez com valores indesejáveis. Todavia, é o fator
da dissociação que parece constituir uma preocupação urgente. A dissociação está
relacionada com o contexto anterior dos objetos, abrangendo os aspetos inteletuais e
relativos ao seu valor cultural, não visando nos restantes agentes (Waller & Cato, 2016).
São estes aspetos que se constataram dissociados dos espécimes osteológicos da FBAUL.
O seu valor enquanto património de uma instituição de ensino artístico encontra-se
perdido e a sua contextualização de aquisição e utilização ainda por apurar. O trabalho de
documentação anteriormente apresentado neste trabalho terá sido um passo para
contornar a perda de alguns aspetos inteletuais e de valorização destes objetos. Não
obstante, a prevenção da dissociação, ou da informação relativa às peças ósseas e ao seu
77
valor cultural, merece uma complexa e meticulosa prevenção em diversos campos de ação
para além da inventariação.
O objetivo deste capítulo é o de dar enfoque às práticas e procedimentos necessários para
a conservação a longo prazo dos ossos dedicados ao ensino da FBAUL, da sua informação
e do seu valor enquanto património. Pretende-se aqui apresentar dados indispensáveis
para a realização de uma ideal gestão/prevenção, não só dos agentes enfatizados, como
dos mais incidentes nesta coleção - as condições ambientais incorretas, as forças físicas,
o pessoal negligente ou distraído, o fogo e a dissociação -, mas também dos restantes
agentes mencionados: a água, as pragas e os contaminantes. Nas páginas seguintes, são
aprofundados os aspetos que influenciam o estado de conservação desta coleção
osteológica, sendo referidas práticas observadas nas instituições examinadas e as
recomendações teóricas reunidas, informações estas que se pensa serem úteis, ora para a
análise e deteção dos agentes de degradação do espólio em questão, ora para a elaboração
e implementação de um plano ideal de prevenção/gestão desses agentes. Ao longo do
presente capítulo, vão ser mencionadas algumas das ações já realizadas no sentido da
preservação dos ossos, sugestões criadas a partir dos recursos existentes na FBAUL, bem
como algumas propostas elaboradas com o mesmo objetivo de preservação.
6.1. Marcação dos espécimes
A importância da atribuição de um número de inventário ao objeto, anteriormente referida
neste trabalho, consiste no vínculo que se cria entre o objeto do museu e a sua
documentação. No entanto, essa ligação só é efetivada depois da marcação ou
identificação do número de inventário no prório objeto. Este procedimento é crucial, seja
realizado numa etiqueta colada ao objeto, ou escrita no próprio objeto (Roberts, 2004, p.
38). No presente ponto apresentam-se sugestões de materiais e métodos para a futura
concretização da marcação dos espécimes osteológicos da FBAUL. Esta é uma prática
indispensável para que seja prevenida a dissociação dos ossos da sua própria
documentação.
Para se proceder a uma proposta de produtos para marcação, foi necessário conhecer quais
os materiais e métodos aplicados em coleções osteológicas. As visitas às instituições
contribuiram efetivamente para este processo. Na marcação dos ossos da “Coleção de
Lisboa” do MUHNAC é aplicada uma camada de verniz (resina acrílica), sendo a
78
marcação realizada com uma caneta permanente preta, de tinta à base de água
(equivalente à tinta-da-china), e resistente a borrões. Posteriormente, aplica-se outra
camada de verniz. Noutra instituição, o LARC, foi possível apurar que é também utilizada
uma tinta negra indelével.
Nas referências teóricas relativas à marcação de espécimes osteológicos recomendam-se
a tinta permanente, à prova de água, para a marcação, bem como uma camada de verniz
para proteger o osso e outra camada para fixar a marcação (White & Folkens, 2005, p.
358). Aconselha-se igualmente a utilização de nanquim preto (tinta-da-china) sobre uma
base de solução de acetato de polivinil (PVAc), diluído (Lessa, 2011, p. 11), ou ainda,
mais especificamente, uma resina acrílica para a capa de proteção do osso e do número
(International Committee for Documentation [CIDOC], 1994).
Relativamente ao caso da coleção da FBAUL, sabe-se que existe resina acrílica Paraloid
B72 na instituição, material aconselhado para este género de coleções, como se viu
previamente. Por essa razão, será este o material selecionado enquanto capa de proteção
do osso e do número de inventário, evitando-se a aquisição de novos recursos para a
concretização do procedimento. De qualquer forma, o uso de um verniz sem identificação
da sua composição química não é recomendado para a marcação de objetos de museu,
visto que esta pode variar ou não ser evidente (CIDOC, 1994). Quanto ao material para a
inscrição do número de inventário, propõe-se uma caneta específica, adequada para
arquivo, cujas caraterísticas se equiparem às soluções sugeridas tanto nas instituições
visitadas como nas referências bibliográficas: tinta permanente e indelével, de PH neutro,
resistente a borrões, à prova de água e quimicamente estável quando seca. A ordem de
aplicação destes materiais deverá ser idêntica à observada no MUHNAC, escrevendo-se
o número sobre uma base da solução transparente, sendo este posteriormente selado com
o mesmo material depois de seco. Esta sequência de aplicação dos materiais é
recomendada em fontes bibliográficas de interesse para este trabalho (Ladkin, 2004, p.
22; White & Folkens, 2005, p. 358).
Neste ponto, pretende-se também sugerir alguns métodos de marcação dos ossos da
coleção da FBAUL. Em primeiro lugar, é essencial que todos os elementos pertencentes
aos esqueletos e conjuntos osteológicos sejam identificados com o respetivo número, cuja
estrutura foi proposta no primeiro ponto do capítulo anterior, código esse já atribuído
consoante a múltiplicidade de grupos e elementos anatómicos. A conduta de numeração
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distinta atribuída a diferentes peças relativas a um só objeto é crucial em situações em
que estas peças são separadas (Roberts, 2004, p. 39), ocorrências frequentes com os
espécimes osteológicos da FBAUL. Em segundo, outro ponto igualmente importante, é o
local do osso onde deverão ser registados os números de identificação.
Parece não existir concordância relativamente à porção óssea a marcar nas diferentes
referências teóricas (Lessa, 2011, p. 11), mas é essencial que se estabeleçam métodos
consistentes para a sua realização (CIDOC, 1994). A metodologia coerente de marcação
é também um procedimento recomendado para a prevenção dos riscos relativos à
dissociação (Waller & Cato, 2016). A solução para esta questão foi abordada no capítulo
referente à investigação de campo, onde se refere a adaptação de um protocolo existente,
empregue no Laboratório de Antropologia do MUHNAC para a coleção osteológica da
FBAUL. Este documento elaborado por Vanessa Campanacho, José Gomes e Hugo
Cardoso (s.d.) (anexo A.3), anteriormente citado, o Protocolo de marcação da coleção
de esqueletos identificados (Museu Bocage), contém as seguintes orientações:
Tabela 15. Protocolo de marcação da colecção de esqueletos identificados (Museu Bocage):
Orientações.
1. O esqueleto tem de ser marcado com o número que está na respectiva gaveta;
2. A marcação deve ser o mais subtil possível devendo, no entanto, ficar claro o número
marcado;
3. O número a marcar deve estar orientado segundo a orientação anatómica;
4. Usar uma primeira camada de verniz na zona onde se vai marcar e deixar secar. Escrever
o número com tinta da china, deixar secar, e depois passar novamente com uma segunda
camada de verniz;
5. Não marcar nas superfícies articulares; marcar em zonas lisas não articulares e menos
escuras;
6. Não marcar sobre lesões patológicas ou zonas que apresentam destruição pós-mortem da
superfície do osso;
7. Para cada osso está definida uma zona principal e uma zona alternativa de marcação. Esta
serve como orientação para a marcação;
8. Não marcar: hióide, dentes, falanges distais da mão e do pé, sesamóides, tiróide ossificada
ou outras ossificações (ex: pleura, aorta, etc). Estes devem ficar num saco marcado com o
respectivo número de colecção.
Algumas das normas que figuram neste protocolo são compatíveis com as sugestões
mencionadas de marcação em bibliografia de referência, como por exemplo, a norma de
não escrever diretamente na superfície do objeto e num local que impeça a observação de
detalhes ou porções relevantes ao estudo, bem como a relacionada ao armazenamento dos
espécimes de dimensão pequena num recipiente próprio, aconselhando-se a marcação do
80
número no próprio recipiente (Ladkin, 2004, pp. 22-23; CIDOC, 1994; White & Folkens,
2005, p. 358).
No protocolo do MUHNAC as porções ósseas principais ou alternativas, selecionadas
para receber a marcação do número de inventário, seguem as orientações citadas
anteriormente, e poderão ser consultadas nos anexos do presente trabalho. As porções
selecionadas para a marcação de alguns ossos, no entanto, poderão não conter espaço
suficiente para receber os números de inventário extensos criados para a coleção da
FBAUL. Caso se verifique a falta de espaço para a marcação do respetivo número nas
porções ósseas recomendadas ou alternativas, deverá ser executado um procedimento
igual ao especificado para os espécimes de pequena dimensão, isto é, o seu
acondicionamento em sacos herméticos de polietileno e a marcação do número de
inventário nesse elemento, nunca no próprio osso ou superfície articular.
6.2. Controlo e monitorização ambiental e biológica
Os valores de temperatura indicados para os espaços de reserva de espólios osteológicos
rondam os 20℃ (IPM, 2004, p. 32), nunca ultrapassando os 25℃ (Stone, 2010, p. 3).
Quanto à humidade relativa, recomendam-se valores entre os 45-55% (Stone, 2010, p. 3),
os 55-60% (IPM, 2004, p. 32), ou ainda os 35-70%, mas não mais do que 85% (DCMS,
2005, p. 18). No início deste capítulo foi referida a predisposição dos ossos aos valores
menos apropriados destes parâmetros. Contudo, a prioridade deverá ser o controlo nas
mudanças bruscas de temperatura e de humidade relativas, pois estas variações favorecem
a contração e dilatação dos ossos, o que poderá provocar danos severos, expressos através
de fissuras e alterações na sua forma (Lessa 2011, p. 5; Stone, 2010, p. 3). As rápidas
mudanças das condições ambientais nunca devem ser superiores a 10% em 24 horas
(IMC, 2007, p. 60).
A reserva de Antropologia do MUHNAC, onde está a Coleção Luís Lopes, encontra-se
em avaliação da temperatura e humidade relativa, tendo os resultados sido cedidos pela
conservadora do museu, Catarina Teixeira. Estes dados mostram que neste espaço
específico, durante sete dias do mês de novembro de 2016, o padrão da variação dos
valores de humidade relativa ronda os 5% e o padrão de desvio dos valores de
temperatura, foi de cerca de 0,8%. O valor mínimo de humidade relativa chegou aos 45%
e o valor máximo aos 65%. As temperaturas máximas nesta reserva cercaram os 23°C e
81
as temperaturas mínimas os 19°C, arredondadamente. Constata-se assim que estes dados
de medição do MUHNAC acompanham a média dos valores de referência apontados
pelas fontes bibliográficas referidas anteriormente. Por esse motivo, podem funcionar
como valores de referência no presente trabalho.
Os níveis adequados de luz a que os ossos estão expostos devem também ser verificados,
visto este fator ser cumulativo e irreversível. Os valores recomendados variam entre os
90 e os 100 lux (IPM, 2004, p. 32), os valores menores de 150 lux (Stone, 2010, p. 3;
Trindade, 1994, p. 164) ou de 200 lux (IMC, 2007, p. 98) - este último valor é aplicável
a exposições diárias de sete horas. Os números de referência relativos às radiações
ultravioletas, estabelecidos para o material osteológico, são no máximo de 75 µW/lm
(Stone, 2010, p. 3) para um período contínuo de sete horas por dia (IMC, 2007, p. 98).
As coleções de bens etnográficos ou de materiais orgânicos são muito suscetíveis a
ataques biológicos (IMC, 2007, p. 44). No entanto, também se afirma que os espécimes
osteológicos raramente são atacados por insetos (Stone, 2010, p. 2). Nas instituições
museológicas visitadas não foram observados vestígios da presença de agentes
biológicos, estando apenas representados em casos pontuais no LARC, mas essa
ocorrência, como foi afirmado anteriormente, deve estar relacionada com os vestígios de
carne e outros elementos orgânicos pertencentes ao corpo do animal recolhido.
No caso da coleção osteológica da FBAUL, a análise dos agentes de degradação e das
suas fontes, bem como o seu controlo e a monitorização, poderá ser dificultoso em termos
logísticos, tanto a nível do pessoal como dos materiais e dos equipamentos. Existem
métodos tanto passivos como ativos para o efetivo controlo e monitorização dos agentes,
devendo a prioridade ser dada aos métodos passivos (IMC, 2007, p. 61).
A FBAUL encontra-se albergada num edifício histórico. Para os casos de museus em
edifícios históricos, poderão ser realizadas alterações estruturais em alguns espaços,
instalados equipamentos de controlo, como humidificadores ou desumidificadores, ar
condicionado, aquecedores ou absorventes, como sílica gel, para o controlo de pequenos
volumes de ar (IMC, 2007, p. 62). No entanto, se se verificar impossível o controlo e
monitorização destes fatores realizados por equipamentos específicos, aconselha-se a
utilização de um equipamento pensado e construído para o efeito, como o mobiliário
compactador de estruturas modulares para o armazenamento de ossos (Lessa, 2011, p. 14;
82
Stone, 1989, p. 2). Este tipo de equipamento bem vedado, é um recurso adequado para
manter os ossos protegidos das alterações bruscas de temperatura e da humidade relativa
exteriores, mas também de poluentes (Stone, 2010, p. 2). Este equipamento não pode ser
exposto à luz direta pois esta radiação poderá provocar rápidas flutuações de temperatura
e humidade indesejadas no seu interior (Stone, 2010, p. 3). Os ossos não devem encontrar-
se perto de quaisquer equipamentos de controlo ambiental, de janelas e de paredes
exteriores (“Basic care,” 2016) e, consequentemente, assume-se que o equipamento que
alberga o material osteológico também deverá ter um tratamento idêntico.
Seguindo estas recomendações, considera-se essencial a aquisição de mobiliário bem
vedado, colocado num espaço onde não esteja exposto à luz direta do sol. A par deste
procedimento a comunidade académica poderá também ser sensibilizada para as
condições ambientais e biológicas favoráveis aos ossos e responsabilizada por ações que
danifiquem estes bens - a proibição da comida e bebida nestes espaços é essencial (Lessa,
2011, p. 14; IMC, 2007, p. 67), bem como a limpeza cuidada e frequente dos espaços e
do meio envolvente (IMC, 2007, p. 66-67). Estas práticas deverão ser implementadas
tanto através da sensibilização, mas também garantidas por intermédio de orientações e
normas a constar nos espaços que albergam estes espécimes, cujas diretrizes serão
abordadas nas seguintes páginas deste trabalho.
Quanto ao esqueleto em suporte (FBAUL/AN/OST/1), de momento, é recomendável o
seu revestimento por uma película em polietileno, para sua proteção contra os poluentes
(IMC, 2007, p. 64), visto não existir atualmente qualquer equipamento que permita
armazenar um espécime destas dimensões e caraterísticas, deverá seguir-se este
procedimento quando não estiver a ser utilizado.
A aquisição de equipamento para o armazenamento deste esqueleto seria útil para a sua
proteção contra as mudanças bruscas de temperatura e humidade relativa. No entanto, e
visto que esse recurso não existe, a comunidade académica deverá ser informada,
sensibilizada e responsabilizada para não colocar este objeto próximo dos focos de luz,
das janelas, das portas, das paredes exteriores, das correntes de ar ou da radiação solar
direta (IMC, 2007, p. 61). Alguns recursos como as cortinas ou lonas para as janelas das
salas onde se encontra este esqueleto articulado, poderiam constituir um método passivo
a adotar no controlo da luz direta. O controlo biológico concernente a este espécime
deverá ser realizado após a análise da existência de zonas de atividade dos organismos
83
nocivos. Pensa-se que a implementação de normas para o adequado tratamento ou
manuseamento dos ossos, bem como a sensibilização para as boas práticas dentro da sala
e meio envolvente, poderão contribuir para a minimização do risco de danos causados por
organismos nocivos, constituindo estas apenas soluções a curto prazo.
Para a mandíbula não-humana aconselha-se um tratamento semelhante ao caso anterior.
Todavia, as suas dimensões possibilitam o seu armazenamento em armário de metal e
acondicionamento em película de polietileno, recursos estes existentes na Faculdade,
sendo este um procedimento a efetuar assim que o espécime for retirado da exposição de
materiais orgânicos. Apenas a sua exposição aos focos de luz será de difícil controlo, bem
como à radiação solar direta, devido à entrada desta radiação se encontrar localizada no
teto da sala.
Apesar de estas serem as condições ideais, a utilização dos espécimes em contexto de sala
de aula dificulta a sua total concretização. No entanto, se os exemplares estiverem
devidamente acondicionados enquanto não estão a ser utilizados, será uma melhoria
significativa e um grande contributo para o seu estado de conservação e preservação a
médio e longo prazo.
6.3. Armazenamento e acondicionamento
Este ponto apresenta os procedimentos de armazenamento e acondicionamento que foram
postos em prática, ou que deverão ser considerados para os espécimes osteológicos da
FBAUL. Foram fundamentados pelas advertências teóricas relacionadas com os ossos e
baseados ora nas práticas observadas nas instituições visitadas, ora numa breve análise
dos agentes de deterioração destes objetos.
Os materiais e equipamentos observados, tanto no MUHNAC como no MNA, parecem
idênticos aos aconselhados para o acondicionamento e o armazenamento para a
generalidade dos bens culturais (IMC, 2007, p. 129), bem como para este género de
coleções (Stone, 2010, p. 2; Lessa, 2011, p. 12). Entre eles estão as gavetas em metal, as
caixas em polipropileno (canelado), os sacos herméticos, a película e a espuma em
polietileno (PE), ou o polipropileno em pequenas bolas. Ambos os casos são bons
exemplos para a coleção da FBAUL.
84
Apesar de nestes casos se terem encontrado os materiais ideais para a conservação dos
exemplares osteológicos, no LARC, como já se viu, as práticas não são as mais
adequadas, sendo um exemplo da presença da madeira ou cortiça como materiais de
armazenamento e acondicionamento. No entanto, a sua Osteoteca conta com métodos de
organização e disposição que podem servir de exemplo para o caso em questão, embora
a sua concretização tenha de ser efetivada por intermédio de materiais mais apropriados,
de modo a prevenir os riscos de perda ou danos dos espécimes. A FBAUL já dispõe de
alguns materiais e equipamentos para o acondicionamento dos ossos da sua coleção.
Quando se iniciou este trabalho, os elementos osteológicos estavam empilhados, devido
à falta de espaço, não apresentando qualquer ordem ou identificação, facto que punha em
risco a sua integridade física.
A questão da falta de espaço resolveu-se com um segundo armário de metal, contendo
igualmente prateleiras e uma fechadura em canhão, com chave, como acontecia no
existente. Aumentou-se o espaço, mas não o suficiente para caberem os esqueletos
articulados, que permanecem ainda confinados às prateleiras. Para a
acomodação/acondicionamento dos ossos neste espaços, usaram-se contentores em
polietileno e película de polietileno (PE).
A ordem de disposição dos espécimes é a correspondente à ordem deste inventário que,
por sua vez, segue os parâmetros utilizados para a classificação e posterior atribuição do
número de inventário. Cada espécime está identificado no local específico de reserva com
o respetivo número de inventário e com uma referência ao seu estado de conservação (útil
para o cumprimento das normas de manuseamento e procedimentos de requisição dos
ossos, como se verá adiante). Esta identificação encontra-se na respetiva prateleira e/ou
contentor, bem como no exterior do armário. Para os ossos pequenos, aplica-se o mesmo
processo de identificação recomendado anteriormente, da sua colocação em sacos
herméticos de polietileno, identificados no exterior. Desta forma, facilita-se o acesso e
arrumação dos ossos e evita-se o manuseamento desnecessário e moroso do restante
material osteológico, nomeadamente no contexto de aula.
Como referido no início deste trabalho, não existia distinção entre os ossos e as
reproduções em plástico na sua arrumação. Alguns plásticos e polímoros, libertam
aditivos ou produtos de degradação nocivos (plastificantes ou corantes) (IMC, 2007, p.
85
128). De facto, o policloreto de vinilo (PVC) (IMC, 2007, p. 129), material que parece
ser o componente destas reproduções, é excluído enquanto material para armazenamento
e acondicionamento. Por essa razão, procedeu-se à arrumação das reproduções numa
prateleira diferente, dado que é provável estes plásticos representarem um perigo de
contaminação química para os ossos. Sugere-se, deste modo, que seja sempre efetuada a
arrumação das reproduções em plástico num local diferente dos exemplares osteológicos.
As práticas que têm vindo a ser aqui descritas são referentes à grande maioria dos
espécimes osteológicos da coleção da FBAUL. Falta mencionar os dois espécimes
utilizados noutras salas. O esqueleto articulado em suporte e a mandíbula não-humana
(FBAUL/AN/OST/1 e FBAUL/AN/OST/55). Relativamente ao armazenamento e
acondicionamento destas duas peças ósseas, já foram referidas quais as práticas a tomar
no ponto anterior: o revestimento do esqueleto em suporte, e o armazenamento da
mandíbula num equipamento semelhante à restante coleção, num armário de metal, e o
seu acondicionamento em polietileno, assim que for retirada do local onde se encontra.
6.4. Manuseamento
O manuseamento e a movimentação do acervo coloca-o em risco elevado (Ladkin, 2004,
p. 27). Os ossos da coleção osteológica da FBAUL são constantemente utilizados e
manuseados. As suas superfícies encontram-se bastante polidas e lustrosas possivelmente
devido à aplicação do tratamento de superfície, mas também pelo seu uso frequente.
Talvez seja o manuseamento incorreto que está relacionado a alguns dos processos de
degradação detetados. Durante a realização deste trabalho, apurou-se que o contacto dos
ossos com os óleos naturais da pele humana resulta em manchas e no escurecimento da
sua superfície (“Basic care,” 2016).
No MUHNAC, os ossos eram manuseados com o devido cuidado, sendo o contacto com
as mãos evitado através do uso de luvas de látex e algodão, como foi observado. Na
segunda instituição, o MNA, sabe-se que não existiam este tipo de normas,
inclusivamente no contexto de visitas de pessoal externo ao museu. No LARC, e
relativamente aos ossos limpos (sem vestígios de carne) pertencentes às coleções
conhecidas no âmbito desta dissertação, não se observou o uso de luvas, mas a precaução
no seu manuseamento era máxima.
86
No caso da FBAUL não se aconselha a utilização das luvas de algodão. A experiência
ganha na colaboração com o MUHNAC mostrou que os ossos frágeis, com superfícies
rugosas e/ou osso esponjoso, podem enlaçar-se com as fibras do tecido das luvas,
resultando num manuseamento pouco controlado e, por esse motivo, colocando em risco
a integridade dos espécimes. Desta forma, sugere-se apenas o uso das luvas de látex.
Todavia, no caso da FBAUL, o manuseamento dos ossos com luvas em contexto de aula,
poderá ser uma prática difícil de atingir em termos logísticos.
Segundo algumas referências bibliográficas, o manuseamento dos ossos só deverá ser
realizado após a garantia de as mãos terem sido lavadas e secas (“Basic care”, 2016).
Neste contexto, sugerem-se dois tipos de procedimentos: o uso das luvas obrigatório para
contextos de investigação, de estudo ou de documentação realizada por pessoal
responsável ou autorizado e, em circunstâncias de manuseamento por diversas pessoas,
como no caso das aulas, a implementação do uso de luvas facultativo, mas vivamente
recomendado. No caso da não utilização das luvas, aconselha-se a verificação da limpeza
das mãos. Esta última sugestão foi considerada para este caso, uma vez que é
logisticamente praticável, graças ao lavatório existente na sala de anatomia – 3.63. Esta
conduta deve ser executada paralelamente a outras normas, implementadas dentro da sala
onde se encontra o acervo anatómico, entre as quais a proibição de comer e beber, já
referida, de modo a se conseguir assegurar uma proteção coerente e permanente destes
ossos dedicados ao ensino.
Para garantir que as boas práticas de manuseamento dos ossos sejam efetuadas, bem como
estruturadas, permanente e coerentemente, foi criado um documento normativo, a
implementar no local de reserva do material osteológico. Este documento é intitulado por
Normas de manuseamento da coleção osteológica da FBAUL, baseado nas diretrizes
aconselhadas pelo IMC, relativas ao manuseamento, no contexto da circulação de bens
culturais de um museu (2007, pp. 83-85), aqui ligeiramente adaptadas para o caso em
estudo.
87
Tabela 16. Normas de manuseamento da coleção osteológica da FBAUL.
Normas de manuseamento da coleção osteológica da FBAUL
As seguintes normas têm o objetivo de garantir a proteção da integridade dos ossos e evitar
danos durante o seu manuseamento.
- Ter sempre as mãos lavadas, limpas e secas antes do manuseamento;
- Não comer ou beber na sala onde estejam ossos.
- Não tirar fotografias/outros registos sem o conhecimento do(a) responsável pelo acervo
- O manuseamento desnecessário dos esqueletos e das peças ósseas deve ser evitado, em
especial dos esqueletos articulados;
- Não manusear material osteológico cujo estado de conservação seja classificado de MAU;
- Evitar o manuseamento de ossos num estado de conservação DEFICIENTE. Quando a
operação de manuseamento for imperativa, deve ter-se especial cuidado;
- O manuseamento e o movimento das peças ósseas deverão ser sempre efetuados com cuidado,
atenção, concentração e total segurança;
- Antes de se proceder ao manuseamento deverá verificar-se o estado de conservação do
material osteológico, quais os pontos seguros para segurar e quais os pontos ou superfícies
frágeis a evitar;
- Não manusear ossos fraturados;
- Não pegar em zonas vulneráveis;
- Usar luvas em látex (evitar luvas de algodão) com o tamanho correto;
- Atenção ao vestuário muito amplo, as mangas largas ou ao uso de acessórios, como lenços,
pulseiras, e colares compridos. Aconselha-se a que se retirem estes adereços e que o vestuário
seja substituído ou coberto com vestuário mais adequado (como, por exemplo, uma bata);
- Nunca realizar o manuseamento em simultâneo com qualquer outra atividade;
- Utilizar sempre as duas mãos durante o manuseamento;
- Quando os esqueletos/peças ósseas são compostos por diversas partes, deverá ser evitada a
articulação e o manuseamento dessas partes. O ideal é manusear as partes separadamente;
- Quando os ossos são de pequenas dimensões, poderão ser suportados por uma mão,
colocando-se a outra em forma de concha por baixo;
- Substituir as luvas para o manuseamento de diferentes materiais, como por exemplo, o metal
dos esqueletos articulados, as reproduções ósseas em plástico ou outros objetos;
- Não riscar objetos;
- Não utilizar barro, plasticina, qualquer tipo de tintas ou fitas adesivas em contacto direto
com o material osteológico.
- Não armazenar reproduções em plástico, ou quaisquer outros objetos, junto aos ossos.
A implementação destas normas deverá ser realizada não só pela pessoa responsável pelo
acervo de anatomia, mas também por toda a comunidade académica. As orientações e
normas para o manuseamento correto desta coleção terão igualmente de fazer parte do
conteúdo a transmitir nas ações de sensibilização, educação e formação, dirigidas aos
docentes, discentes e funcionários.
88
6.5. Segurança
No segundo capítulo foi possível mostrar que as instituições museológicas examinadas
para este trabalho tomam uma postura preventiva relativamente à segurança dos seus
acervos, coleções e objetos. Detetaram-se medidas e equipamentos de prevenção e
extinção de fogo, mas também restrições de acesso, apenas ao pessoal autorizado ou a
pessoas acompanhadas por responsáveis da instituição. Esses acessos eram controlados
por vigilantes ou através da abertura das portas com um código.
O tópico da segurança associado a um museu é representado, não só pelas medidas ou
ações a tomar relativamente à proteção de determinados objetos museológicos, mas
também ao edifício, às coleções e às pessoas (IMC, 2007, p. 54), fatores a considerar num
plano ideal de conservação da instituição. No entanto, para esta proteção ser efetiva, todos
deverão cooperar no sentido de se evitarem acidentes, de se prevenirem incêndios, mas
também, de se estar atento para se evitarem roubos, vandalismo e comportamentos
negligentes (IMC, 2007, pp. 54-55; Jirásek, 2004, pp. 193-194). O autor mencionado
anteriormente, Stefan Michalski, quando se refere às diversas áreas ou atividades para a
gestão deste tipo de agentes, aponta que o pessoal do museu deverá intervir na deteção,
no controlo e na resposta de emergência (IPM, 2004, p. 58).
No que concerne à proteção e integridade dos ossos relativamente aos incêndios,
aconselha-se o cuidado de se evitar o armazenamento de materiais inflamáveis nas áreas
de reserva e a colocação de extintores em locais estratégicos e de fácil alcance (Lessa,
2011, p. 14). Para a extinção do fogo são desaconselhados meios ou sistemas aquosos,
sendo a melhor opção o pó químico e o CO2 (Lessa, 2011, p. 14). Já nas indicações
relativas ao acesso de materiais osteológicos, recomenda-se que as suas reservas se
localizem em áreas de pouca circulação, e que o espaço seja trancado quando a coleção
não estiver a ser utilizada (Lessa, 2011, p. 14).
Os agentes como o roubo, o vandalismo e o incêndio, devem sempre ser abrangidos no
plano de segurança de um museu, pois estão entre os mais frequentes nestas instituições,
o que também acontece na FBAUL. Como foi referido, a apresentação atual da coleção
desta instituição de ensino artístico facilita este tipo de acontecimentos.
A FBAUL possui equipamentos de extinção do fogo, como extintores situados próximos
das salas onde se encontram os ossos, e uma empresa de segurança e vigilância que
89
controla o acesso às salas de aula onde se encontram estes objetos. Sendo uma coleção de
utilização frequente, será impraticável mantê-la reservada em espaços de pouca
circulação e distante de um grande número de pessoas. No entanto, os armários onde os
ossos se encontram, como referido, têm canhão de chave, impedindo o seu fácil acesso a
pessoal não autorizado.
6.6. Acesso
Como foi anteriormente mencionado, o fator humano pode ser uma das fontes de perigo
mais recorrentes, não só para as coleções ou acervos em geral, como também para o caso
da coleção osteológica da FBAUL. Numa instituição museológica, o pessoal interno é
considerado não só como um fator de prevenção, mas também enquanto potencial fator
de risco, pois possui a experiência e a facilidade de acesso à coleção (IMC, 2007, p. 48).
Os riscos mais comuns causados pelo pessoal interno de um museu, são a negligência e
o desconhecimento (IMC, 2007, p. 48). Anteriormente referiu-se que, segundo Beatriz
Bento (2016), este é um problema existente nesta instituição. Relativamente à coleção
osteológica em específico, pelo que foi aqui já constatado, é certo que esta foi afetada
pelos aspetos mencionados.
Para se controlar o fator humano enquanto fonte de perigo, são aqui propostos alguns
processos documentais, como as normas de acesso à coleção e de questões relacionadas
com a sua deslocação dirigidas a toda a comunidade académica, bem como ao pessoal
externo. As normas e procedimentos que constam nas páginas seguintes foram elaborados
com o apoio de diversas fontes bibliográficas onde se encontram recomendadas práticas
deste género (Lessa, 2011, pp. 14-15; The Church of England & English Heritage, 2005,
pp. 48-49; Ladkin, 2004, p. 27; Roberts, 2004, p. 39). Deste modo, pretende-se contribuir
com alguns avanços para se assegurar a preservação e segurança da coleção que
atualmente existe. Convém sublinhar que os seguintes procedimentos só deverão ser
realizados após a marcação dos espécimes.
Em primeiro lugar, apresenta-se uma proposta de diretrizes que determina quem poderá
aceder à coleção ou proceder à sua deslocação, bem como quais condições e limites para
esse acesso. Trata-se de um documento designado por Normas gerais de acesso e
deslocação da coleção osteológica da FBAUL, cuja elaboração teve como principal base
as práticas aconselhadas pela seguinte referência teórica relacionada com coleções
90
osteológicas provenientes de contexto arqueológico: Guidance for best practice for
treatment of human remains (The Church of England & English Heritage, 2005). Estas
normas e práticas foram adaptadas ao uso e necessidades da coleção em estudo.
Tabela 17. Normas gerais de acesso à coleção osteológica da FBAUL.
Normas gerais de acesso e deslocação da coleção osteológica da FBAUL:
- O acesso ao material osteológico e à respetiva documentação, bem como o
requerimento dos ossos, é gerido pelo pessoal responsável (professor(a) responsável
pelo acervo de anatomia) e pode ser efetuado por docentes da FBAUL e por discentes
inscritos no grau de mestrado e doutoramento da mesma instituição, desde que
autorizados pelo pessoal responsável.
- O acesso, observação e manuseamento da coleção osteológica da FBAUL por parte
dos estudantes de licenciatura e de pós-graduação desta instituição, da restante
comunidade académica, bem como de pessoal externo, deve ser acompanhado pelo
pessoal responsável, em conformidade com as normas de tratamento e manuseamento
relativas à coleção.
- Fora do contexto e horários das unidades curriculares, estes procedimentos deverão
ser efetuados num local preparado para o efeito e nunca em grupos numerosos.
- O requerimento do material osteológico e da sua deslocação para outro local da
FBAUL é permitido. Este procedimento é restrito à comunidade docente, mas também
à discente qualificada, depois de reunidas as condições documentais necessárias,
referidas no ponto seguinte. Dependerá igualmente da garantia da existência de
recursos, de meios e do conhecimento dos procedimentos indispensáveis à preservação
e segurança do material osteológico requisitado.
- O requerimento do material, prática mencionada no ponto anterior, só deverá ser
efetuado após a reunião da documentação necessária e da aprovação pelo pessoal
responsável, nomeadamente:
- Ficha de requisição de material osteológico (ensino) da FBAUL devidamente
preenchida;
- a carta de recomendação do(s) orientador(es), caso seja discente interno
qualificado.
- Os empréstimos de material osteológico para o exterior da FBAUL, ou outras
instituições, deverão ser evitados devido ao estado de conservação generalizado da
coleção. Contudo, caso a importância do motivo de empréstimo seja extrema, e o
material a requisitar não se encontre num estado de conservação classificado de
deficiente ou mau, deverão ser aplicadas as normas e procedimentos essenciais para
a sua realização, os processos documentais e práticos de preservação e segurança
para a circulação de bens móveis estabelecidas pelas instituições oficiais, tendo em
conta o que se encontra preconizado para a coleção da FBAUL.
- Independentemente do contexto de utilização e requisição do material osteológico,
todos os registos fotográficos dos ossos, ou outros, bem como moldes, limpezas e
manipulações, só poderão ser efetuados pelo pessoal responsável ou pelo pessoal
mencionado no primeiro ponto, necessitando este último da autorização do(a)
91
responsável pela reserva, e somente após a aprovação de uma justificação
suficientemente relevante para a sua realização.
- Caso se autorizem e sejam concretizadas as situações referidas no ponto anterior, os
interessados deverão ser acompanhados/orientados em todo o processo, pelo pessoal
responsável e por especialistas durante a realização dos procedimentos. Deverão
também registar em relatório, obrigatoriamente, todos os procedimentos efetuados,
bem como referi-los e anexá-los à documentação referente ao material osteológico
utilizado (fichas de inventário).
Apresentadas as normas gerais que definem o pessoal autorizado e os condicionamentos
e limitações do seu acesso à coleção e os procedimentos de deslocação, deve-se ainda
discorrer acerca dos restantes processos documentais necessários para a realização destes
procedimentos.
Como referido nas normas anteriormente apresentadas, na eventualidade de surgirem
pedidos realizados por pessoal interno da FBAUL, dentro das condições mencionadas,
com o objetivo de deslocar o material osteológico para outros espaços da instituição, os
interessados deverão proceder ao preenchimento da Ficha de requisição de material
osteológico da FBAUL (anexo A.4.1). Este documento apresenta um cabeçalho, que se
assemelha ao da restante documentação relativa à coleção osteológica, contendo o
logotipo da instituição, a referência ao acervo e a designação da presente ficha, fazendo
igualmente menção à coleção em questão. De seguida, são pedidas informações sobre a
entidade requerente (nome, número de identificação, morada e contactos). Prossegue com
uma tabela onde deverá constar o material osteológico a requisitar, sendo uma primeira
coluna relativa ao total de peças ósseas, a segunda, concernente ao(s) número(s) de
inventário, à designação das peças ósseas e ao seu estado de conservação. Numa terceira
coluna, podem ser incluídas quaisquer observações relativas aos espécimes requisitados.
Estes dados servirão para comparação com a informação a ser dada no ato da devolução
do material osteológico. Desta forma, é possível verificar se o número de peças é idêntico,
se são as mesmas, ou se o estado de conservação de cada uma se mantém. A ficha é
constituída por mais quatro partes. A primeira é formada por diversos campos que
solicitam informações relativas ao âmbito do requerimento, ao período de utilização e ao
local de armazenamento dos espécimes ao longo do período de requisição. Por fim, existe
também espaço para uma explanação dos motivos da requisição. Estes dados deverão ser
analisados e tidos em conta para a cedência ou não destes espécimes, pois se se detetarem
92
condições, práticas ou procedimentos que poderão danificar estes bens, a autorização para
a sua requisição deverá ser recusada. A parte que se segue, é dedicada ao responsável do
acervo, onde deverá ser assinalada qual a documentação necessária, bem como se
confirma a existência de condições de manuseamento, transporte, armazenamento e
acondicionamento cruciais para a efetivação do requerimento do material osteológico.
A terceira e quarta partes são referentes à entrega das peças ósseas requisitadas. A terceira
parte contém um espaço para as assinaturas do(a) responsável do acervo e do(a)
requerente, bem como a data da requisição. A quarta e última parte, onde, para além das
assinaturas e datas, consta uma tabela que solicita as seguintes informações, para
comparação aos dados da tabela referente ao acto da requisição: a quantidade de material
osteológico devolvido, os números de inventário, a designação das peças e o respetivo
estado de conservação ou, ainda, outras observações que se julguem relevantes.
Na ficha de requisição de material osteológico é solicitado o preenchimento da Ficha de
registo de deslocação e localização da coleção osteológica da FBAUL (anexo A.4.2).
Esta é estruturada pelos seguintes campos: elemento(s)/ osso(s)/ fragmento(s)
deslocado(s) (localização de reserva), nova localização, data da deslocação, data de
retorno, nome do requerente-projeto/motivo, assinatura do(a) requerente e assinatura
do(a) responsável. Este procedimento está relacionado tanto com a requisição do material
osteológico para outros locais na Faculdade, mas também com outros possíveis contextos
de utilização. A prática do registo da movimentação destes objetos poderá ajudar na
diminuição do risco de roubo ou extravio (Roberts, 2004, p. 39), motivo pelo qual, o
preenchimento deste documento é obrigatório para o acesso e requisição do material
osteológico.
Neste trabalho, propõe-se também o preenchimento do Registo de recolha e utilização da
coleção osteológica da FBAUL (anexo A.4.3), documento direcionado para os contextos
de aula, em que é necessário um levantamento rápido de material osteológico. A própria
estrutura deste documento visa o seu preenchimento de forma simples e direta. Esta ficha
deverá ser empregue cada vez que a coleção for utilizada para requisição em aula ou
outras situações. Um exemplo em que é necessário o acesso rápido às peças ósseas será a
realização de uma ação de sensibilização para preservação dos ossos direcionada para a
comunidade académica. O documento em questão é constituído pelos seguintes campos:
unidade curricular/ motivo de recolha, data, número de elementos recolhidos, número de
93
inventário – elemento(s)/ osso(s)/ fragmento(s)- estado de conservação, confirmação de
depósito (de todas as peças ósseas), verificação do estado de conservação, observações,
assinatura do(a) responsável.
Por norma, a documentação que tem vindo a ser apresentada, possui campos cujo objetivo
é verificar que nenhuma peça óssea foi roubada ou danificada. É igualmente importante
a efetivação destes processos documentais, na medida em que, somente através destes
será possível avaliar quais os motivos de utilização e de movimentação desta coleção,
permitindo a renovação de normas e práticas e a sua adequação aos novos contextos, caso
necessário.
6.7. Sensibilização e formação
Atualmente, o património da FBAUL tem sido alvo de projetos de preservação focados
na sensibilização e formação de toda a sua comunidade académica. O projeto de
preservação central desta instituição, já apresentado no primeiro capítulo, o CAREFUL -
Implementação de um Plano de Conservação Preventiva nos acervos da Faculdade de
Belas-Artes da Universidade de Lisboa, promove a educação e sensibilização da
comunidade académica como um dos pontos essenciais deste plano, defendendo e
fundamentando esta afirmação através do papel da participação da comunidade
académica para a preservação e incrementação das coleções desta instituição (Alves,
Frade & Alcobia, 2014, p. 42).
Como tem vindo a ser enfatizado neste projeto, é importante a cooperação por parte da
comunidade para a preservação do espólio da faculdade. Este facto deve-se ao recorrente
uso e/ou usufruto que esta tem dado ao seu património, constatação que o plano de
preservação mencionado enfatiza e pretende solucionar.
Como desenvolvimento deste ponto do CAREFUL, deve-se referir o projeto elaborado
por Beatriz Bento, em 2015, no âmbito da sua dissertação de mestrado em museologia e
museografia, também anteriormente mencionado. Neste trabalho são apresentadas
diversas atividades e intervenções, atualmente em processo de implementação, que visam
a relação ativa entre a comunidade da FBAUL e o espólio artístico da instituição, através
do diálogo, do conhecimento e da divulgação, alertando para a necessidade da urgente
preservação do património existente. Este trabalho vem como resposta ao
desconhecimento do valor cultural, artístico e identitário do património da FBAUL pela
94
comunidade em geral, expresso nas ações e intervenções negligentes que se verificam
periodicamente (Bento, 2015, p. 40).
Relativamente à coleção osteológica da FBAUL, é notória a ausência e a degradação das
peças ósseas, muito possivelmente, relacionadas com a problemática referida no trabalho
de Beatriz Bento: o raro reconhecimento destes espólios enquanto património, ou seja,
como objetos de um valor inestimável a preservar e a resguardar do vandalismo e da sua
extraviação. Por esse motivo, a coleção osteológica da FBAUL utilizada para ensino
deverá integrar este panorama de ações educativas e de sensibilização da comunidade
académica, de modo a minimizarem-se os atos de negligência, distração ou vandalismo.
Recomenda-se aqui a realização de ações de sensibilização e de formação, com base nas
orientações apresentadas no plano de conservação preventiva CAREFUL: a formação de
docentes e discentes, dos funcionários e, ainda, do público exterior, mas também a
colocação de tabelas nos espaços onde se encontram as peças, a penalização de
comportamentos incorretos, a responsabilização pelas peças deslocadas das reservas e o
direcionamento de trabalhos de disciplinas obrigatórias para o estudo das coleções (Alves
et al., 2014, pp. 42-43). É importante que a sensibilização e a formação abordem questões
relativas não só à importância da preservação dos ossos, mas também sobre questões
éticas, mencionadas anteriormente na introdução, inerentes a uma coleção desta natureza.
Espera-se que estas práticas estejam igualmente associadas à divulgação da coleção
osteológica da FBAUL, objeto de algumas propostas no capítulo seguinte.
95
7. CONCLUSÃO
Neste capítulo, em jeito de conclusão, apresentam-se diversas propostas para trabalhos
futuros. As seguintes sugestões são urgentes, pois remetem para a preservação dos ossos
da FBAUL. Por outro lado, também são pertinentes, porque surgem num contexto dos
vários procedimentos museológicos que têm vindo a ser implementados nesta instituição.
Em primeiro lugar, é necessário afirmar aqui a importância da marcação dos espécimes
osteológicos, de forma prevenir-se a ação dos agentes de degradação apontados no
capítulo anterior, em especial a dissociação das peças ósseas da sua informação e do seu
valor patrimonial. Sublinhe-se que, somente após este procedimento, o acesso e a
requisição de material osteológico pela comunidade académica ou pessoal externo poderá
ser efetuado.
A segunda proposta está relacionada com a documentação da coleção. Considera-se
essencial a investigação das proveniências e das circunstâncias de aquisição deste espólio
osteológico, dado que estas informações poderão oferecer às peças ósseas novos
enquadramentos históricos, culturais e institucionais, fundamentais para a sua valorização
enquanto património.
Em terceiro lugar, mas não menos importante, propõe-se uma reflexão sobre as práticas
mais adequadas de armazenamento e acondicionamento para esta coleção de ossos, bem
como a sua exequibilidade e concretização. Já foram apresentados alguns procedimentos
desta natureza neste trabalho, conforme os recursos existentes na instituição. Contudo,
sugere-se a aquisição de equipamentos e materiais apropriados para uma coleção
osteológica, pois, tal como está previsto nos códigos de ética para os museus referidos no
primeiro capítulo, as coleções deste género merecem o seu armazenamento e
acondicionamento dignos.
No entanto, antes da adoção destas medidas ideais de acondicionamento, urge determinar
a natureza dos restantes materiais que integram a coleção e o estudo das condições
ambientais, através de equipamentos e métodos apropriados, não só dos espaços onde os
espécimes se encontram armazenados, mas também do seu meio envolvente.
96
Para além de se recorrer a práticas mais adequadas, considera-se que seria interessante,
antes da aquisição de quaisquer equipamentos e materiais pré-fabricados com este fim,
apostar na reflexão e na elaboração de soluções adaptadas a cada caso e, se possível,
proceder-se à conceção e construção desses recursos. Esta proposta deve-se à diversidade
de formas, dimensões e funções que a coleção possui. O esqueleto articulado em suporte
da coleção (FBAUL/AN/OST/1), por exemplo, poderia receber uma base que facilitasse
a sua deslocação entre as salas de desenho para as quais é normalmente requisitado.
Quanto aos esqueletos articulados mais completos, atualmente desmantelados
(FBAUL/AN/OST/2 e FBAUL/AN/OST/3), porque não projetar uma estrutura e um
suporte de forma a colocá-los na posição vertical e anatómica? Caso se adquirissem
gavetas em materiais adequados e que isolassem bem o espaço de acomodação dos ossos
de pequena dimensão, talvez se pudessem aplicar sistemas minuciosos para a sua
organização e acondicionamento, inspirados pelos métodos de organização observados
no LARC, já apresentados nesta dissertação.
A proposta seguinte prende-se com a criação de um ou mais sistemas de informatização
para a coleção osteológica da FBAUL. A sistematização da informação já foi
implementada noutras coleções desta instituição. A título de exemplo, apresenta-se a base
de dados em excell criada para a Coleção de Azulejo (Cardeira, 2015) ou uma base de
dados desenvolvida a par das práticas atuais da museologia, gerada no programa
Filemaker, como foi o caso da Coleção de Desenho Antigo (Faria, 2008). Recentemente
foi adquirido o sistema/ programa InArt para a inventariação da coleção, no entanto a
migração dos dados ainda não começou a ser realizada.
A documentação informatizada representa igualmente uma prática observada nas
instituições observadas: o MUHNAC e o MNA, através de uma base de dados Excell, ou
no LARC, por intermédio de uma base de dados Access, que, segundo foi dito pelos
responsáveis deste laboratório, também se encontra disponível on-line. Esta prática está
associada à facilidade de acesso à informação relativa à coleção e a cada espécime a ela
pertencente. Nos casos anteriormente apresentados, foi constatada a utilização da mesma
base de dados tanto pelos profissionais e investigadores como pelo público em geral.
Deste modo, sugere-se que a informação sobre a coleção osteológica da FBAUL seja
sistematizada tanto numa base de dados para utilização no Acervo de Anatomia, como
também em suportes mais acessíveis às pessoas externas interessadas, sendo esta sugestão
relacionada com a proposta seguinte.
97
Outro campo de ação onde se deverá trabalhar futuramente será o da divulgação do
património osteológico, isto é, a integração da coleção no Museu Virtual da FBAUL
(http://museuvirtual.belasartes.ulisboa.pt/). Atualmente ainda só se encontram
disponibilizadas as coleção de desenho antigo, inventariada por Alberto Faria, e a de
gravura, inventariada por Maria Teresa Madeira. Além de contribuir para a divulgação
deste espólio enquanto património, a integração da coleção osteológica no Museu Virtual,
permitirá a acessibilidade e disponibilidade dos registos de imagem e multimédia
relativos à coleção ao público externo. O acesso público a este tipo de registos é útil, caso
algum objeto seja roubado (Roberts, 2004, p. 51).
É também necessário explorar práticas de sensibilização e formação da comunidade
académica da FBAUL e do público exterior, tais como as sugeridas pelo projeto
CAREFUL e as desenvolvidas na dissertação de Beatriz Bento, que foram anteriormente
referidas. Por motivos relacionados com a sua divulgação e preservação, pensa-se ser
urgente pôr em prática procedimentos deste teor, relativamente à coleção osteológica da
FBAUL. Neste contexto de práticas típicas de Museu movidas pela sensibilização,
divulgação e preservação do património da Faculdade, pensa-se também que faria sentido
conceber uma exposição projetada para a galeria da FBAUL, na qual se integrasse a
coleção osteológica em questão. Considera-se igualmente que os ossos utilizados para o
ensino artístico trariam para o espaço expositivo abordagens interessantes relacionadas à
sua função e aos motivos da sua presença nesta instituição. Sendo assim, talvez fosse
pertinente colocar num mesmo espaço estes espécimes osteológicos em diálogo com os
restantes materiais didáticos - dos modelos anatómicos em gesso aos modelos anatómicos
tridimensionais criados em programas informáticos, referidos posteriormente neste
capítulo -, mas também com os resultados da sua utilização - os desenhos anatómicos ou
outras produções artísticas relevantes. Deste modo, seria possível criar um discurso
fundamentado e coerente acerca deste património peculiar e intrínseco à própria conceção
da FBAUL, permitindo a divulgação e a afirmação do estatuto e do valor cultural de um
património a preservar. A oportunidade de exibição e colocação deste espólio num mesmo
local, aberto à comunidade académica, mas também ao pessoal externo, poderia
igualmente fomentar e promover a curiosidade, a discussão e a investigação dedicada a
este conjunto patrimonial em reconhecimento.
Em último lugar, propõe-se aqui a digitalização e a impressão 3D dos espécimes
osteológicos, e a integração dos seus resultados entre o espólio de materiais didáticos da
98
Faculdade. Este processo pode ser realizado nas instalações do Project Lab da FBAUL,
laboratório de design de equipamento, tendo sido um dos seus técnicos, João Costa, que
sugeriu a digitalização e impressão 3D dos ossos. Relativamente à digitalização
tridimensional, seria também pertinente a criação de modelos tridimensionais digitais dos
ossos de modo a servirem como modelos didáticos. Eventualmente, também seria
interessante desenvolver um programa informático para a visualização destes modelos
digitais, que pudesse tanto compôr o repertório de registo de imagem e multimédia da
coleção osteológica da FBAUL, como possivelmente constituir um complemento à base
de dados a integrar o Museu Virtual da instituição. Este procedimento poderá ser
realizado por meio da fotogrametria, processo de digitalização que resulta da reunião de
diversas imagens estáticas dos objetos, posteriormente utilizadas para a criação de uma
malha tridimensional, que por sua vez poderá ser impressa também tridimensionalmente.
A concretização desta proposta, poderia tanto trazer valiosos materiais didáticos para o
ensino na FBAUL, como, possivelmente, contribuir para a preservação do material
osteológico, dado que a disponibilização destas reproduções de ossos, sejam elas digitais
ou impressas, deverá diminuir a necessidade de recorrer ao espólio original.
Esta proposta não será a única desta natureza a ser realizada na FBAUL. A já referida
tese de doutoramento do Professor Doutor Henrique Dias Costa (Costa, 2014), consiste
na proposta da modelação tridimensional da estrutura osteológica e miológica do corpo
humano, a impressão dos modelos tridimensionais resultantes dessa modelação e a
visualização dos modelos digitais através de programas informáticos, recursos criados
para utilização no contexto de ensino na FBAUL.
O que se sugere aqui é a digitalização e a impressão tridimensional de modelos naturais,
únicos na sua forma, topologia e dimensão, distinguindo-se, por isso, dos modelos
tridimensionais digitais propostos no trabalho referido, previamente modelados por
intermédio de programas informáticos. Nesse caso, a sua forma é simplificada, com o
propósito de evidenciar as estruturas mais importantes para o estudo da Anatomia
Artística (Costa, 2014, p. 6), e resulta da reunião de diversas referências bidimensionais
e tridimensionais, incluíndo os esqueletos humanos desta coleção.
Por fim, pretende-se apenas enfatizar que, apesar do uso desta coleção em aula ter
decrescido exponencialmente, e a tendência seja a de continuar nessa direção, com o
aparecimento dos modelos de plástico, e dos digitais, o seu valor cresce e torna-se mais
99
crucial e incomparável no âmbito do ensino. Será difícil produzir e substituir um material
didático tão fiel à unicidade, organicidade e dinamismo de um esqueleto humano. O
material osteológico constitui um papel crucial para a compreensão da sua densidade real
e estrutural, do seu volume e da sua morfologia, essenciais para a definição do corpo. Os
ossos pertencentes à coleção osteológica da FBAUL são, por esse motivo, merecedores
de todos os esforços para a sua preservação ideal, possibilitando a sua função enquanto
modelos didáticos.
100
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