A CONCENTRAÇÃO DO PODER ECONÔMICO E A FUNÇÃO PREVENTIVA DO CADE

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A CONCENTRAO DO PODER ECONMICO E A FUNO PREVENTIVA DO CADEA CONCENTRAO DO PODER ECONMICO E A FUNO PREVENTIVA DO CADERevista do IBRAC Direito da Concorrncia, Consumo e Comrcio Internacional | vol. 4 | p. 5 | Jan / 1997 | DTR\2011\4876 Pedro Dutra rea do Direito: Financeiro e Econmico Sumrio: - I DO DIREITO - II CONCLUSO Poder Econmico: conquista, uso e abuso CADE: funo preventiva e funo repressiva Efeitos do ato de concentrao: projeo; planos do mercado concorrencial ndices de jurisdio: expresso de mercado e porte econmico Concentrao do poder econmico em um mesmo mercado: com ou sem adio de fraes de mercado. CADE: jurisdio; efeitos irradiados sobre o mercado brasileiro. A empresa X atua no mercado de servios de *** na Europa, onde tem sede, nos Estados Unidos e em alguns pases da sia, porm no opera no mercado brasileiro e tampouco no mercado criado no mbito do Mercosul. Exibindo um faturamento bruto anual superior a dez bilhes de dlares, pretende formar uma joint-venture com a empresa Y, que atua tambm no mercado de servios de ***, mas exclusivamente no Brasil, na regio ***, da qual detm cerca de 50% (cinqenta por cento) da frao do respectivo mercado relevante, com um faturamento anual superior a 1,0 bilho de reais. Nos termos da joint-venture, 50% (cinqenta por cento) das aes ordinrias do capital social da empresa Y sero adquiridas pela empresa X. Consulta-me a empresa X se a regra do art. 54, da Lei n 8.884/94, incide sobre os efeitos a decorrer de ato jurdico de integrao no qual essa empresa ir figurar. I DO DIREITO 1. A livre-concorrncia um dos princpios constitucionais a reger a ordem econmica do pas (art. 170, IV) e por essa razo entendeu o legislador proteg-la, por meio de Lei especfica. (art. 174, 4, tambm da Carta Federal). A proteo livre-concorrncia tem por objeto a preveno e a represso ao abuso do poder econmico, 1 que empresas exeram ou possam eventualmente exercer em sua atuao nos mercados onde ofertem ou procurem bens e servios. A Lei brasileira que especificamente trata do abuso do poder econmico de n 8.884/94; seguindo a experincia centenria norte-americana, tambm absorvida pela norma europia, estruturou a defesa da livre concorrncia a partir da a) represso s infraes ordem concorrencial e do b) controle dos efeitos da concentrao do poder econmico que resultem de atos jurdicos de integrao empresarial. 2. Embora distintos quanto aos seus planos objetivos, a infrao ordem concorrencial e o controle dos efeitos da concentrao do poder econmico nela projetados artigos 20 e 21, e 54, respectivamente, da Lei citada defluem ambos de uma mesma fonte: o poder econmico da empresa e o seu uso, efetivo ou potencial, nos mercados relevantes de bens e servios. Ordinariamente conquista poder a empresa que cresce por seus prprios meios, lisamente disputando com as demais; ou seja, por meio do crescimento interno da empresa internal growth2 forma consagrada de celebrao dos efeitos salutares da livre con-Pgina 1A CONCENTRAO DO PODER ECONMICO E A FUNO PREVENTIVA DO CADEcorrncia, pois traduz a justa retribuio a uma empresa competitiva, atuante em um mercado aberto. Ao contrrio, o crescimento extraordinrio. Nesse, em razo de ato jurdico de integrao aquisio, fuso, ciso, joint-ventures, contratos de fornecimento, de prestao de servios de longa durao, ou por qualquer outra forma o poder econmico de uma empresa outra se transfere. Numa palavra, centros de poder econmico, antes independentes, 3 por fora de um ato jurdico de integrao empresarial, concentram-se, formando um nico, em mos de uma determinada empresa. No resultando do livre jogo da concorrncia, o poder econmico conquistado por meio de ato jurdico de integrao empresarial em princpio refoge ordem concorrencial, e por essa razo quer a Lei examinar-lhe os efeitos. Em si, o poder econmico , e deve ser, desejado por toda e qualquer empresa que compea. A Constituio Federal ( LGL 1988\3 ) e a Lei ordinria reprimem e previnem apenas o seu exerccio abusivo, nas diversas formas em que ele se expresse. A Lei n 8.884/94 nomeia vrios tipos de condutas infrativas ordem concorrencial art. 21 tendo elas base, necessariamente, o abuso do poder econmico exercido pelo infrator, como se tem disposto no art. 20, da mesma Lei. Abuso o uso que se perverteu. o uso de um em detrimento de outro. Abusa do seu poder uma empresa quando o emprega em seu benefcio exclusivo, custa de outra, ou de outras empresas. Os exemplos de infrao referidos no art. 21 acima citado tm, todos, em sua raiz, o poder econmico de determinada empresa abusivamente exercido, porque s empresa que disponha de tal poder poder agir independentemente da ao das demais, e assim impor ao mercado sua conduta. As violaes ordem concorrencial objetivam-se na conduta da empresa infrativa em um dado mercado relevante por vezes em mais de um e so assim perceptveis, pois seus efeitos ou so imediatamente sentidos ou no demoram por materializar-se. Ao abuso do poder econmico, em qualquer de suas formas, dirige-se o poder-dever de reprimi-lo, conferido em Lei ao Conselho Administrativo de Defesa Econmica CADE. (arts. 1, e 7, inciso II). E a esse mesmo rgo de defesa da concorrncia, tambm conferido o poder-dever de prevenir abusos do poder econmico, dizendo a Lei que tal funo h de ser exercida, em forma prescrita e exclusivamente pelo CADE 4, toda vez que ocorrer uma soma do poder econmico de duas ou mais empresas antes independentes, resultante de um ato jurdico de integrao e cujos elementos externos so medidos em ndices relativos ao mercado relevante em causa ou ao porte econmico dos figurantes do ato jurdico. (arts. 7, inciso XII, e 54, 3). 3. A Lei brasileira, artigo 54, refere, em forma elptica, ato de concentrao; entenda-se, todavia: ato jurdico que importe na concentrao do poder econmico de duas ou mais empresas, antes independentes. Desprezada a forma do ato jurdico de integrao empresarial aquisio, ciso, fuso, joint-venture, contratos de longa durao, etc. interessa ao controle preventivo do CADE os efeitos a irradiar, ou j irradiados, 5 desse ato sobre o mercado concorrencial. Esse o entendimento do CADE, recentemente reafirmado: No caput do art. 54, a Lei estipula que devero ser submetidos apreciao do Conselho os atos, sob qualquer forma manifestados, que possam limitar ou prejudicar a livre concorrncia ou resultar na dominao de mercados relevantes de bens ou servios. O exame dos atos de concentrao econmica visa assim a prevenir os seus efeitos anticoncorrenciais potenciais quando identificados. (AC n 30/96. Conselheiro Paulo Dyrceu Pinheiro, Relator-Voto). Os efeitos da concentrao do poder econmico, ou do ato de concentrao, conforme a linguagem da Lei, no se projetam sobre todo mercado concorrencial, mas especial-Pgina 2A CONCENTRAO DO PODER ECONMICO E A FUNO PREVENTIVA DO CADEmente sobre mercado(s) relevante(s), de bens ou servios, afetado(s) pelas empresas que iro concentrar seu poder econmico. Essa concentrao vestir a empresa concentrada com mais poder, reforando-lhe a posio em seu respectivo mercado relevante, e, em alguns casos, em mercados relevantes prximos ou conexos ao que atua diretamente. Da dizer a Lei 8.884/94, no caput de seu artigo 54, sucessivamente, mercados relevantes e posio dominante, para considerar os dois planos do mercado concorrencial aos quais os efeitos do poder econmico concentrado se dirigem e aos quais os ndices de jurisdio do 3, do artigo 54, se referem: o(s) mercado(s) relevante(s) em causa, e a posio da empresa concentrada no mercado concorrencial, em qualquer de seus planos. A afastar-se, portanto, a meu juzo, a interpretao redutora que veja a incidncia da regra do artigo 54, da Lei citada, exclusivamente a partir do alcance do ndice de jurisdio que refere os efeitos da concentrao do poder econmico projetados sobre um mesmo mercado e que, por essa forma, resulta na soma de fraes desse mercado 6, qual seja, a hiptese, por elipse dita, de concentrao horizontal 7. A regra geral do citado artigo 54, contida em seu caput, visa prevenir que os efeitos da concentrao do poder econmico que se projetem sobre o mercado concorrencial nele possam, por alguma forma, eliminar ou restringir a livre-concorrncia. Especificamente, previne os efeitos projetados sobre quaisquer mercados relevantes de bens ou servios, para evitar que empresa, a deter o poder econmico concentrado, domine um ou mais de um desses mercados, a ponto de poder regul-los arbitrariamente, inclusive para neles impedir ou dificultar a entrada de novos concorrentes. Por essa razo, previu o legislador, e no s o brasileiro, ndice de jurisdio para medir tambm o porte econmico das empresas, figurantes em atos jurdicos de integrao, a incidir alternativamente ao ndice a medir a concentrao do poder econmico cujos efeitos se projetem em um mesmo mercado relevante. Nesse sentido o comando do 3, do citado artigo 54, fixa o ndice de jurisdio R$ 400.000.000,00 de faturamento bruto anual para aferir o porte econmico de empresa figurante em ato jurdico de integrao, ao lado do ndice de jurisdio relativo aos 20% de frao de um mesmo mercado relevante. Ao estabelecer ndice capaz de medir o porte econmico de empresas, quis o legislador trazer ao exame, exclusivo e compulsrio, do CADE, todos os efeitos da concentrao do poder econmico, projetados sobre qualquer dos planos do mercado concorrencial, a fim de no apenas tratar desses efeitos quando eles se projetam em um mesmo mercado relevante, isto , no plano horizontal. Nessa linha, o entendimento recente do CADE, como se tem em voto do Conselheiro Lenidas Rangel Xausa: O encaminhamento do ato apreciao dos rgos de defesa da concorrncia deu-se em funo do critrio de faturamento. J decidiu o Plenrio deste Colegiado, em sesso de 19.06.1996, ao apreciar o Ato de Concentrao n 28/95 que, a teor do art. 54, pargrafo 3 da Lei n 8.884/94 so obrigatoriamente apreciados pelo CADE os Atos em que qualquer dos participantes, ainda que no exterior, detenha faturamento superior a R$ 400 milhes. 8 Note-se, ainda, que a hiptese da projeo dos efeitos da concentrao do poder econmico projetados sobre um mesmo mercado relevante por elipse dita concentrao horizontal pode ocorrer inclusive sem resultar na soma de fraes desse mercado. Faz exemplo o caso em questo: a empresa X, embora preste o mesmo servio relevante prestado pela empresa Y, no detm frao no mercado relevante no Brasil, onde esta atua; mas ingressar no mercado relevante brasileiro, integrando seu poder econmico ao da empresa Y. Portanto, sobre o mercado relevante brasileiro sero proje-Pgina 3A CONCENTRAO DO PODER ECONMICO E A FUNO PREVENTIVA DO CADEtados os efeitos da concentrao do poder econmico de ambas as empresas, em razo da celebrao da joint-venture. Ou seja, haver concentrao do poder econmico no mercado relevante de servios de ***, mesmo nele no havendo soma de fraes de mercado. 4. No todos os efeitos determina a Lei ao CADE examinar, seno aqueles irradiados, ou a irradiar, de ato jurdico de integrao de empresas, antes independentes, e que se projetem sobre um mesmo mercado relevante, resultando na soma de fraes desse mercado igual ou superior ao ndice de 20%. E, tambm, sero examinados os efeitos de atos jurdicos de integrao de empresas os quais um dos figurantes exiba faturamento anual equivalente ou superior ao ndice de R$ 400.000.000,00 9. Ou seja, so tais ndices, ndices de jurisdio, a alertar o interesse do rgo julgador e a deflagrar-lhe a atuao, e servem para fixar a linha a determinar o exerccio da funo preventiva do rgo de defesa da concorrncia. A atual ou potencial nocividade dos efeitos da concentrao do poder econmico, sobre o mercado concorrencial, s ser determinada, e de forma exclusiva, pela avaliao promovida pelo CADE, pois a ele cabe, fixar, no caso dado, o nvel de concentrao do poder econmico que entender nocivo ordem concorrencial. 10 Assim, no est preso o CADE, ou o intrprete, (m) sugesto presuntiva contida na parte inicial da rubrica legal ora citada. 11 5. No caso ora analisado, as duas empresas, sendo que uma delas operando no Brasil, exibem faturamento superior ao ndice fixado em Lei, o que, a meu juzo, basta a mover o CADE ao exame dos efeitos do ato jurdico de joint-venture. E, se desse ato jurdico de integrao do poder econmico das duas empresas no resulta uma soma de fraes no mercado relevante de servios de ***, na regio ***, deve-se, porm, ter em conta, como acima dito, que a empresa X somar seu poder econmico ao da empresa Y nesse mesmo mercado. Portanto, os efeitos dessa concentrao, ainda que sem a adio de fraes desse mercado, iro nele projetar seus efeitos, sendo que dele, alis, a empresa Y j detm frao superior a 50%. Pode-se ento dizer que, no caso presente, os efeitos da concentrao do poder econmico de ambas as empresas projetamse no mesmo mercado, isto , no mesmo plano horizontal. 6. No se pe aqui, a meu juzo, a questo da territorialidade em relao aplicao da Lei n 8.884, pois a prpria norma define como sendo o mbito de sua aplicao o territrio brasileiro atingido pelos efeitos da concentrao econmica. A discusso que se abriu sobre essa questo seria sobre ter ou no o CADE poderes para barrar efeitos de ato jurdico de integrao celebrado por empresas situadas no exterior. Sem dvida, entendo ter o CADE poderes para barrar tais efeitos quando repercutem eles no mercado concorrencial brasileiro, pois a Lei 8.884/94 trata dos efeitos de atos jurdicos de integrao que importem em concentrao do poder econmico, e no da natureza, ou da forma, deles. No caso em questo, o fato de uma das empresas figurantes do ato de concentrao atuar no mercado brasileiro, por si s, afasta qualquer discusso sobre os limites territoriais da ao do CADE, no exerccio de sua funo preventiva, em relao a atos de concentrao econmica, como o ora analisado. II CONCLUSO vista do que acima se exps, concluo: 1) A concentrao, cujos efeitos sobre o mercado concorrencial determinou o legislador ao CADE avaliar, a do poder econmico de duas ou mais empresas antes independentes resultante de um ato jurdico de integrao no caso, uma joint-venture. 2) Os ndices de jurisdio estabelecidos no 3, do art. 54, da Lei citada, a deflagrar oPgina 4A CONCENTRAO DO PODER ECONMICO E A FUNO PREVENTIVA DO CADEcontrole do CADE sobre atos de concentrao, tomam por base critrios distintos, mas ambos relativos ao poder econmico e a sua expresso: a frao do mercado relevante, detidas pelas empresas figurantes do ato, que se vai ou no somar em razo do ato de concentrao; e o porte econmico dos figurantes no ato jurdico de integrao. 3) Incidindo qualquer um dos ndices de jurisdio, dever o ato jurdico de integrao ser submetido ao controle, exclusivo, do CADE. 4) No caso presente, o servio relevante o de ***, prestado tanto pela empresa X quanto pela empresa Y; e o mercado relevante a regio *** do pas, onde j atua a empresa Y, dele detendo 50%. 5) Iguais os servios relevantes de ambas as empresas, o faturamento de cada uma delas supera um dos ndices de jurisdio previstos em Lei. E, em que pese no mercado *** no vir ocorrer soma de fraes, nele que iro repercutir os efeitos da concentrao do poder econmico das duas empresas, em razo da joint-venture a ser firmada por elas. 6) O poder econmico de ambas as empresas, como o de qualquer outra, deve ser entendido como acervo de recursos no s capitalsticos, mas tambm gerenciais, administrativos e de tecnologia. No fora assim, a concentrao do poder econmico entre a empresa X e a empresa Y, a ocorrer por meio da joint-venture, dificilmente se justificaria, em termos empresariais. Ao final, entendo que o ato de concentrao a ser firmado pela empresa X e pela empresa Y, por importar em concentrao do poder econmico, seus efeitos projetarem-se inequivocamente sobre o mercado concorrencial e, tambm, por serem alcanados os ndices de jurisdio previstos, deve ser submetido ao controle do CADE, nos termos do art. 54, da Lei. n 8.884/94. Entendo, em conseqncia, que a no submisso do ato jurdico em causa ao controle do CADE poder expor a Consulente s penas previstas no 5, do art. 54, da Lei n 8.884/94. 1 claro o comando do art. 174, 4 da Constituio Federal ( LGL 1988\3 ) : A Lei reprimir o abuso do poder econmico que vise dominao dos mercados, eliminao da concorrncia e ao aumento arbitrrio de lucros. (grifo). Note-se que o abuso do poder econmico, pois, em mercados concorrenciais, o poder ser sempre determinado e, portanto, identificado. 2 A expresso, popularizada por BORK, foi empregada ao incio da dcada de 1950 pela Federal Trade Commission. 3 A independncia aqui referida a ausncia de vnculos quaisquer, como, por exemplo, contratuais, e no apenas de natureza acionria. 4 Assim deciso do CADE, negando expressamente capacidade ao Secretrio de Direito Econmico de sugerir arquivamento, em feitos relativos a ato de concentrao : s fls. 616 usque 632, o R. Despacho de 30 de novembro de 1995, da Dra. Rosangela Mara O.Onofre, Tcnica do Departamento de Proteo e Defesa Econmica DPDE, da Secretaria de Direito Econmico do Ministrio da Justia, sugeriu o encaminhamento do Processo ao CADE, com proposta de arquivamento. Aprovada a sugesto pelo Diretor substituto, do DPDE, foram os autos remetidos ao ilustre Secretrio de Direito Econmico para apreciao. Este, porm, exorbitou de suas atribuies, no momento em que, fl. 633, alm de aprovar o referido Despacho para o que era competente determinou o arquivamento do processo e seu encaminhamento ao CADE, para providenciar. Providenciar o qu? O arquivamento? Para melhor compreenso, transcrevo o aludido despacho, in verbis: Na forma do despacho supra. Arquive-se. Ao CADE para providenciar.Pgina 5A CONCENTRAO DO PODER ECONMICO E A FUNO PREVENTIVA DO CADE[ass.] Aurlio Wander Chaves Bastos/Secretrio de Direito Econmico. () verdade que, ao ser publicado o Despacho no Dirio Oficial da Unio () o equvoco foi corrigido (): determino o encaminhamento dos autos ao Conselho Administrativo de Defesa Econmica CADE, com proposta de arquivamento, visto que o ato realizado no se inclui entre aqueles que o artigo 54, da Lei n. 8.884/94, visa [sic] reprimir. () No posso concordar, portanto, com o primeiro Despacho do ilustre Secretrio de Direito Econmico do Ministrio da Justia (fl. 633), que determinou o arquivamento do processo, ante a alegada ausncia simultnea dos dois pressupostos para o exame do ato, pelo CADE, contidos no dispositivo acima transcrito. A Secretaria de Direito Econmico do Ministrio da Justia, nos atos de concentrao, atua apenas no exame, que equivale instruo do processo, a teor da norma contida no art. 54, 4 e 6, da Lei n 8.884, de 11 de junho de 1994. Ao CADE, sim, compete a apreciao, o julgamento, do ato, aprovando-o ou determinando o seu desfazimento,ex viocaputdo referido art. 54. in Ato de Concentrao n 28/95 19 de junho de 1996 Conselheiro Rodrigues Chaves. 5 A irradiar, se a submisso do ato de concentrao ao CADE se der previamente sua plena eficcia. Irradiados, se a submisso ao CADE ocorrer j produzindo o ato de concentrao, plenamente, todos os seus efeitos.(art. 54, 9). 6 concentrao econmica () resultante em 20% (vinte por cento) de um mercado relevante (3, parte do artigo 54). 7 A distino da concentrao do poder econmico em horizontal, vertical e de conglomerado serve antes a propsitos metodolgicos; esses so os planos sobre os quais os efeitos da concentrao do poder econmico se projetam, no mbito do mercado concorrencial. Historicamente, varia o nmero dessas formas de projeo dos efeitos da concentrao de poder econmico sobre o mercado concorrencial; e consequentemente a anlise delas e as respectivas posies doutrinrias; certo, contudo, que a forma horizontal apresenta-se, sempre, em nmero superior s demais. 8 In Ato de Concentrao n 49/95. 9 Em palestra proferida no Plenrio do CADE, a esse propsito observvamos: Os ndices previstos no 3, do artigo 54, 20% do mercado relevante ou 400 milhes de reais so exclusivamente ndices de jurisdio, nada mais. Vale dizer, o legislador quer que o CADE conhea os atos cuja expresso de mercado, ou monetria, de seus celebrantes, ou de um deles, ultrapassem esses umbrais. Assim, iro eles ao controle do rgo de defesa da concorrncia porque h uma expectativa que essa possa vir a ser ofendida. () 20% um nmero aleatrio, uma questo de grau que se liga ou deveria ligar-se concentrao geral da economia. 400 milhes de reais so 400 milhes de faturamento, faturamento bruto da empresa e no por linha de produto ou servio. () A idia do legislador brasileiro, e de todos os legisladores, estabelecer uma referncia que mea o porte econmico da empresa. O que cuida a norma do porte econmico, () do poder econmico A Concentrao do Poder Econmico: Aspectos Jurdicos do art. 54, da Lei 8.884/94. in Revista do Ibrac, Vol.3, n 8, agosto 1996, p. 14. 10 Par.3;, do inciso IV, fine do artigo 20 da Lei citada. 11 Assim comentamos esse ponto, em oportunidade anterior: a devida concentrao do poder ser aquela necessria competitividade da indstria, desde que no importe significativa restrio concorrncia. Ento () pode-se aceitar esse dispositivo legal que diz que 20% de participao em um determinado mercado relevante presume con-Pgina 6A CONCENTRAO DO PODER ECONMICO E A FUNO PREVENTIVA DO CADEcentrao? Que presuno essa? Qual o dado de experincia que tomou o legislador nacional para estabelec-la? A que serve portanto essa presuno? Ns que conhecemos a trajetria da Lei sabemos que isso a foi posto como uma tentativa ideolgica de punir grandes grupos, o que um contra-senso, pois quem tem a tarefa de fiscalizar o mercado concorrencial o CADE e no um legislador ideolgico. Ento, essa presuno carece de valor, de fundamento e para no ser lida, at porque o Pargrafo 3 em seu final diz, em boa hora, que o CADE poder alterar esse percentual. Ora, o CADE que vai dizer o que concentrado e o que no concentrado porque cada caso um caso, cada setor um setor. 20% pode ser um ndice a medir uma altssima concentrao em um determinado mercado, e 80% no ser, em outro. Portanto, cabe, nos termos da Lei, ao CADE decidir que ndice reprovvel de concentrao, e no seguir presunes que se prestam, sempre, a assaltos reacionrios, de toda sorte, como essa. A Concentrao do Poder Econmico: Aspectos Jurdicos do art. 54, da Lei 8.884/94. in Revista do Ibrac, Vol.3, n 8, agosto 1996, p. 16 .Pgina 7A CONCENTRAO DO PODER ECONMICO E A FUNO PREVENTIVA DO CADEPgina 8