3. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL A Constituio e o Supremo 4 edio
Braslia 2011
4. ISBN: 978-85-61435-29-5 Secretaria do Tribunal Alcides Diniz
da Silva Secretaria de Documentao Janeth Aparecida Dias de Melo
Coordenadoria de Divulgao de Jurisprudncia Andreia Fernandes de
Siqueira Equipe tcnica: Bruno Silva Alvim Cerri (estagirio), Cntia
Machado Gonalves Soares, Elba Souza de Albuquerque e Silva, Erich
Oliveira Rocha, Gil Wadson Moura Jnior, Graciliano de Almeida
Barreto Neto, Ivson Brando Faria Valdetaro, Juliana Aparecida de
Souza Figueiredo, Larissa Luiza Braga e Silva (estagiria), Priscila
Heringer Cerqueira Pooter e Valquirio Cubo Junior Reviso: Amlia
Lopes Dias de Arajo, Divina Clia Duarte Pereira, Flvia Teixeira da
Silva, Janana Lima Arruda, Lilian de Lima Falco Braga, Patrcia
Keico Honda e Rochelle Quito Projeto grfico: Eduardo Franco Dias
Capa: Eduardo Franco Dias e Ludmila Araujo Diagramao: Dbora Harumi
Shimoda Carvalho e Eduardo Franco Dias Dados Internacionais de
Catalogao na Publicao (CIP) (Supremo Tribunal Federal Biblioteca
Ministro Victor Nunes Leal) Brasil. Supremo Tribunal Federal (STF).
A Constituio e o Supremo [recurso eletrnico] / Supremo Tribunal
Federal. 4. ed. Braslia : Secretaria de Documentao, 2011. Modo de
acesso: World Wide Web : . ISBN: 978-85-61435-29-5. 1. Direito
constitucional, Brasil. 2. Tribunal Supremo, Brasil. 3. Constituio,
Brasil. I. Ttulo. CDD-341.419104 Seo de Distribuio de Edies Maria
Cristina Hilrio da Silva Supremo Tribunal Federal, Anexo II-A,
Cobertura, Sala C-624 Praa dos Trs Poderes 70175-900 Braslia-DF
[email protected] Fone: (61) 3217-4780
5. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL Ministro Antonio Cezar Peluso
(25-6-2003), Presidente Ministro Carlos Augusto Ayres de Freitas
Britto (25-6-2003), Vice-Presidente Ministro Jos Celso de Mello
Filho (17-8-1989) Ministro Marco Aurlio Mendes de Farias Mello
(13-6-1990) Ministro Gilmar Ferreira Mendes (20-6-2002) Ministro
Joaquim Benedito Barbosa Gomes (25-6-2003) Ministro Enrique Ricardo
Lewandowski (16-3-2006) Ministra Crmen Lcia Antunes Rocha
(21-6-2006) Ministro Jos Antonio Dias Toffoli (23-10-2009) Ministro
Luiz Fux (3-3-2011) Ministra Rosa Maria Weber Candiota da Rosa
(19-12-2011)
6. INTRODUO Passados mais de vinte anos da promulgao da
Constituio de 1988, a sociedade brasileira continua a enfrentar o
permanente desafio de garantir a efetividade dos direitos
fundamentais. A obra que o leitor tem neste momento nas mos A
Constituio e o Supremo representa estmulo adicional inafastvel
reflexo acerca da concretizao e atualizao da Constituio Cidad. A
jurisprudncia do Supremo Tribunal Federal constitui um conjunto de
decises essenciais para a preservao das garantias expressas no
texto constitucional. Alm disso, a plena aplicao da Constituio tem
o poder de apaziguar os conflitos sociais ao reforar regras que
possibilitam a adoo de solues eficazes para demandas sociais cada
vez mais complexas. Nesse sentido, a atuao da Corte Suprema oferece
sociedade brasileira critrios de identidade e estabilizao
institucional das legtimas disputas polticas e sociais. Por meio de
suas decises, o Supremo Tribunal Federal vem exercendo papel de
destaque na consolidao da democracia brasileira. O compromisso do
STF com a aplicao da Constituio e das leis legitimamente editadas
representa a afirmao inequvoca da supremacia da legalidade
democrtica, a prevalncia de uma ordem jurdica justa e a vigncia dos
grandes ideais humanitrios consubstanciados no rol de direitos
fundamentais. Verdadeiro testemunho do compromisso cvico do Supremo
Tribunal Federal com o Estado Democrtico de direito, esta obra, j
clssica, representa legado da nossa Suprema Corte s futuras geraes
ao difundir o conhecimento das suas decises a respeito de cada uma
das normas da Constituio de 1988. Esta nova edio, que j soma mais
de duas mil pginas, traz uma diagramao diferenciada para facilitar
a leitura e simplificar a pesquisa. A fonte, o espao entre os
pargrafos e a margem interna foram aumentados, a fim de melhorar a
legibilidade do texto; foram inseridos marcadores para facilitar a
localizao de cada comentrio; e a impresso passou a ser feita em
duas cores, o que melhorou significativamente a apresentao da obra.
Com esses pormenores, cuidadosamente estudados, procurou-se
oferecer um texto mais atraente para o leitor. Alm de estudantes,
acadmicos, magistrados, advogados e profissionais do direito em
geral, esta obra tem pblico-alvo evidente: os cidados brasileiros.
E em nome deles que agradeo aos servidores do Supremo Tribunal
Federal que tornaram possvel a continuidade deste belo projeto,
agora em sua quarta edio. Braslia, novembro de 2011. Ministro Cezar
Peluso Presidente do Supremo Tribunal Federal
7. SUMRIO Siglas e Abreviaturas 10 Prembulo 12 Ttulo I Dos
Princpios Fundamentais (arts. 1 a 4) 13 Ttulo II Dos Direitos e
Garantias Fundamentais 62 Captulo I Dos Direitos e Deveres
Individuais e Coletivos (art. 5) 62 Captulo II Dos Direitos Sociais
(arts. 6 a 11) 594 Captulo III Da Nacionalidade (arts. 12 e 13) 638
Captulo IV Dos Direitos Polticos (arts. 14 a 16) 643 Captulo V Dos
Partidos Polticos (art. 17) 665 Ttulo III Da Organizao do Estado
672 Captulo I Da Organizao Poltico-Administrativa (arts. 18 e 19)
672 Captulo II Da Unio (arts. 20 a 24) 689 Captulo III Dos Estados
Federados (arts. 25 a 28) 754 Captulo IV Dos Municpios (arts. 29 a
31) 764 Captulo V Do Distrito Federal e dos Territrios 781 Seo I Do
Distrito Federal (art. 32) 781 Seo II Dos Territrios (art. 33) 784
Captulo VI Da Interveno (arts. 34 a 36) 784 Captulo VII Da
Administrao Pblica 794 Seo I Disposies Gerais (arts. 37 e 38) 794
Seo II Dos Servidores Pblicos (arts. 39 a 41) 923 Seo III Dos
Militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territrios (art.
42) 961 Seo IV Das Regies (art. 43) 962 Ttulo IV Da Organizao dos
Poderes 964 Captulo I Do Poder Legislativo 964 Seo I Do Congresso
Nacional (arts. 44 a 47) 964 Seo II Das Atribuies do Congresso
Nacional (arts. 48 a 50) 967 Seo III Da Cmara dos Deputados (art.
51) 975 Seo IV Do Senado Federal (art. 52) 978 Seo V Dos Deputados
e dos Senadores (arts. 53 a 56) 985 Seo VI Das Reunies (art. 57)
1004 Seo VII Das Comisses (art. 58) 1006 Seo VIII Do Processo
Legislativo 1015 Subseo I Disposio Geral (art. 59) 1015 Subseo II
Da Emenda Constituio (art. 60) 1020 Subseo III Das Leis (arts. 61 a
69) 1029
8. Seo IX Da Fiscalizao Contbil, Financeira e Oramentria (arts.
70 a 75) 1066 Captulo II Do Poder Executivo 1091 Seo I Do
Presidente e do Vice-Presidente da Repblica (arts. 76 a 83) 1091
Seo II Das Atribuies do Presidente da Repblica (art. 84) 1096 Seo
III Da Responsabilidade do Presidente da Repblica (arts. 85 e 86)
1109 Seo IV Dos Ministros de Estado (arts. 87 e 88) 1116 Seo V Do
Conselho da Repblica e do Conselho de Defesa Nacional 1119 Subseo I
Do Conselho da Repblica (arts. 89 e 90) 1119 Subseo II Do Conselho
de Defesa Nacional (art. 91) 1119 Captulo III Do Poder Judicirio
1120 Seo I Disposies Gerais (arts. 92 a 100) 1120 Seo II Do Supremo
Tribunal Federal (arts. 101 a 103-B) 1208 Seo III Do Superior
Tribunal de Justia (arts. 104 e 105) 1422 Seo IV Dos Tribunais
Regionais Federais e dos Juzes Federais (arts. 106 a 110) 1449 Seo
V Dos Tribunais e Juzes do Trabalho (arts. 111 a 117) 1477 Seo VI
Dos Tribunais e Juzes Eleitorais (arts. 118 a 121) 1497 Seo VII Dos
Tribunais e Juzes Militares (arts. 122 a 124) 1500 Seo VIII Dos
Tribunais e Juzes dos Estados (arts. 125 e 126) 1512 Captulo IV Das
Funes Essenciais Justia 1524 Seo I Do Ministrio Pblico (arts. 127 a
130-A) 1524 Seo II Da Advocacia Pblica (arts. 131 e 132) 1582 Seo
III Da Advocacia e da Defensoria Pblica (arts. 133 a 135) 1587
Ttulo V Da Defesa do Estado e das Instituies Democrticas 1612
Captulo I Do Estado de Defesa e do Estado de Stio 1612 Seo I Do
Estado de Defesa (art. 136) 1612 Seo II Do Estado de Stio (arts.
137 a 139) 1613 Seo III Disposies Gerais (arts. 140 e 141) 1614
Captulo II Das Foras Armadas (arts. 142 e 143) 1614 Captulo III Da
Segurana Pblica (art. 144) 1621 Ttulo VI Da Tributao e do Oramento
Captulo I Do Sistema Tributrio Nacional Seo I Dos Princpios Gerais
(arts. 145 a 149-A) Seo II Das Limitaes do Poder de Tributar (arts.
150 a 152) Seo III Dos Impostos da Unio (arts. 153 e 154) Seo IV
Dos Impostos dos Estados e do Distrito Federal (art. 155) Seo V Dos
Impostos dos Municpios (art. 156) Seo VI Da Repartio das Receitas
Tributrias (arts. 157 a 162) Captulo II Das Finanas Pblicas Seo I
Normas Gerais (arts. 163 e 164) Seo II Dos Oramentos (arts. 165 a
169) 1631 1631 1631 1663 1723 1736 1765 1771 1781 1781 1783
9. Ttulo VII Da Ordem Econmica e Financeira Captulo I Dos
Princpios Gerais da Atividade Econmica (arts. 170 a 181) Captulo II
Da Poltica Urbana (arts. 182 e 183) Captulo III Da Poltica Agrcola
e Fundiria e da Reforma Agrria (arts. 184 a 191) Captulo IV Do
Sistema Financeiro Nacional (art. 192) 1806 1806 1843 Ttulo VIII Da
Ordem Social Captulo I Disposio Geral (art. 193) Captulo II Da
Seguridade Social Seo I Disposies Gerais (arts. 194 e 195) Seo II
Da Sade (arts. 196 a 200) Seo III Da Previdncia Social (arts. 201 e
202) Seo IV Da Assistncia Social (arts. 203 e 204) Captulo III Da
Educao, da Cultura e do Desporto Seo I Da Educao (arts. 205 a 214)
Seo II Da Cultura (arts. 215 e 216) Seo III Do Desporto (art. 217)
Captulo IV Da Cincia e Tecnologia (arts. 218 e 219) Captulo V Da
Comunicao Social (arts. 220 a 224) Captulo VI Do Meio Ambiente
(art. 225) Captulo VII Da Famlia, da Criana, do Adolescente, do
Jovem e do Idoso (arts. 226 a 230) Captulo VIII Dos ndios (arts.
231 e 232) 1864 1864 1864 1864 1893 1904 1919 1921 1921 1933 1937
1939 1940 1952 Ttulo IX Das Disposies Constitucionais Gerais (arts.
233 a 250) 1989 Ato das Disposies Constitucionais Transitrias
(arts. 1 a 94) 2010 1847 1863 1963 1981
10. SIGLAS E ABREVIATURAS AC Ao Cautelar ac.Acrdo ACi Apelao
Cvel ACO Ao Cvel Originria ADCAo Declaratria de Constitucionalidade
ADCTAto das Disposies Constitucionais Transitrias ADIAo Direta de
Inconstitucionalidade ADPFArguio de Descumprimento de Preceito
Fundamental AgR Agravo Regimental AGU Advocacia-Geral da Unio AI
Agravo de Instrumento AO Ao Originria AOE Ao Originria Especial AOR
Ao Ordinria Regressiva AP Ao Penal AR Ao Rescisria CA Conflito de
Atribuies CB Constituio do Brasil CCCdigo Civil/Conflito de
Competncia CF Constituio Federal CJ Conflito de Jurisdio CJF
Conselho da Justia Federal CLTConsolidao das Leis do Trabalho CNJ
Conselho Nacional de Justia CP Cdigo Penal CPC Cdigo de Processo
Civil CPF Cadastro de Pessoas Fsicas CPIComisso Parlamentar de
Inqurito CPM Cdigo Penal Militar CPMIComisso Parlamentar Mista de
Inqurito CPP Cdigo de Processo Penal CPPMCdigo de Processo Penal
Militar CRCarta Rogatria/Constituio da Repblica CTN Cdigo Tributrio
Nacional DJ Dirio da Justia DJE Dirio da Justia eletrnico
DLDecreto-Lei DOU Dirio Oficial da Unio EC Emenda Constitucional ED
Embargos de Declarao EDv Embargos de Divergncia EI Embargos
Infringentes ExtExtradio FGTSFundo de Garantia do Tempo de Servio
GDAMB Gratificao de Desempenho de Atividade Tcnico Administrativa
do Meio Ambiente GDPGTASGratificao de Desempenho de Atividade
Tcnico Administrativa e de Suporte GDPST Gratificao de Desempenho
da Carreira da Previdncia, da Sade e do Trabalho HC Habeas Corpus
HD Habeas Data IbamaInstituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renovveis IBGEInstituto Brasileiro de Geografia e
Estatstica ICMSImposto sobre Circulao de Mercadorias e Servios IF
Interveno Federal IncraInstituto Nacional de Colonizao e Reforma
Agrria INPCndice Nacional de Preos ao Consumidor InqInqurito
INSSInstituto Nacional do Seguro Social
11. IPIImposto sobre Produtos Industrializados IPTUImposto
Predial e Territorial Urbano IPVAImposto sobre Propriedade de
Veculos Automotores ISS Imposto sobre Servios ITR Imposto
Territorial Rural LC Lei Complementar LCP Lei de Contravenes Penais
LDOLei de Diretrizes Oramentrias LEP Lei de Execues Penais LICCLei
de Introduo ao Cdigo Civil LomanLei Orgnica da Magistratura
Nacional LRFLei de Responsabilidade Fiscal MC Medida Cautelar MI
Mandado de Injuno Min.Ministro MP Medida Provisria MPDFTMinistrio
Pblico do Distrito Federal e Territrios MPF Ministrio Pblico
Federal MPM Ministrio Pblico Militar MPTMinistrio Pblico do
Trabalho MPU Ministrio Pblico da Unio MS Mandado de Segurana
ONUOrganizao das Naes Unidas p/para PDVPrograma de Demisso
Voluntria PetPetio PGRProcuradoria-Geral da
Repblica/Procurador-Geral da Repblica PPEPriso Preventiva para
Extradio QO Questo de Ordem RC Recurso Criminal RclReclamao RE
Recurso Extraordinrio REFReferendo RefisPrograma de Recuperao
Fiscal Rel.Relator RHC Recurso em Habeas Corpus RHD Recurso em
Habeas Data RISTFRegimento Interno do Supremo Tribunal Federal
RISTJRegimento Interno do Superior Tribunal de Justia RMSRecurso em
Mandado de Segurana RpRepresentao SE Sentena Estrangeira SECSentena
Estrangeira Contestada SL Suspenso de Liminar SS Suspenso de
Segurana STASuspenso de Tutela Antecipada STF Supremo Tribunal
Federal STJ Superior Tribunal de Justia STM Superior Tribunal
Militar SUS Sistema nico de Sade TCDFTribunal de Contas do Distrito
Federal TCU Tribunal de Contas da Unio TJDFTTribunal de Justia do
Distrito Federal e Territrios TRE Tribunal Regional Eleitoral TRF
Tribunal Regional Federal TRTTribunal Regional do Trabalho TSE
Tribunal Superior Eleitoral
12. CONSTITUIO DA REPBLICA FEDERATIVA DO BRASIL PREMBULO Ns,
representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional
Constituinte para instituir um Estado Democrtico, destinado a
assegurar o exerccio dos direitos sociais e individuais, a
liberdade, a segurana, o bem estar, o desenvolvimento, a igualdade
e a justia como valores supremos de uma sociedade fraterna,
pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e
comprometida, na ordem interna e internacional, com a soluo pacfica
das controvrsias, promulgamos, sob a proteo de Deus, a seguinte
CONSTITUIO DA REPBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. Devem ser postos em
relevo os valores que norteiam a Constituio e que devem servir de
orientao para a correta interpretao e aplicao das normas
constitucionais e apreciao da subsuno, ou no, da Lei 8.899/1994 a
elas. Vale, assim, uma palavra, ainda que brevssima, ao Prembulo da
Constituio, no qual se contm a explicitao dos valores que dominam a
obra constitucional de 1988 (...). No apenas o Estado haver de ser
convocado para formular as polticas pblicas que podem conduzir ao
bemestar, igualdade e justia, mas a sociedade haver de se organizar
segundo aqueles valores, a fim de que se firme como uma comunidade
fraterna, pluralista e sem preconceitos (...). E,referindose,
expressamente, ao Prembulo da Constituio brasileira de 1988,
escolia Jos Afonso da Silva que O Estado Democrtico de Direito
destinase a assegurar o exerccio de determinados valores supremos.
Assegurar tem, no contexto, funo de garantia
dogmticoconstitucional; no, porm, de garantia dos valores
abstratamente considerados, mas do seu exerccio. Este signo
desempenha, a, funo pragmtica, porque, com o objetivo de assegurar,
tem o efeito imediato de prescrever ao Estado uma ao em favor da
efetiva realizao dos ditos valores em direo (funo diretiva) de
destinatrios das normas constitucionais que do a esses valores
contedo especfico (...). Naesteira destes valores supremos
explicitados no Prembulo da Constituio brasileira de 1988 que se
afirma, nas normas constitucionais vigentes, o princpio jurdico da
solidariedade. (ADI2.649, voto da Rel. Min. Crmen Lcia, julgamento
em 852008, Plenrio, DJE de 17102008.) Prembulo da Constituio: no
constitui norma central. Invocao da proteo de Deus: no se trata de
norma de reproduo obrigatria na Constituio estadual, no tendo fora
normativa. (ADI2.076, Rel. Min. Carlos Velloso, julgamento em
1582002, Plenrio, DJ de 882003.) 12
13. Art.1, caput TTULO I Dos Princpios Fundamentais Art.1 A
Repblica Federativa do Brasil, formada pela unio indissolvel dos
Estados e Municpios e do Distrito Federal, constituise em Estado
Democrtico de Direito e tem como fundamentos: Lei 6.683/1979, a
chamada lei de anistia. (...) princpio democrtico e princpio repu-
blicano: no violao. (...) No Estado Democrtico de Direito, o Poder
Judicirio no est autorizado a alterar, a dar outra redao, diversa
da nele contemplada, a texto normativo. Pode, a partir dele,
produzir distintas normas. Mas nem mesmo o STF est autorizado a
rescrever leis de anistia. Reviso de lei de anistia, se mudanas do
tempo e da sociedade a impuserem, haver ou no de ser feita pelo
Poder Legislativo, no pelo Poder Judicirio. (ADPF153, Rel. Min.
Eros Grau, julgamento em 2942010, Plenrio, DJE de 682010.) Controle
jurisdicional da atividade persecutria do Estado: uma exigncia
inerente ao Estado Democrtico de Direito. OEstado no tem o direito
de exercer, sem base jurdica idnea e suporte ftico adequado, o
poder persecutrio de que se acha investido, pois lhe vedado, tica e
juridicamente, agir de modo arbitrrio, seja fazendo instaurar
investigaes policiais infundadas, seja promovendo acusaes formais
temerrias, notadamente naqueles casos em que os fatos subjacentes
persecutio criminis revelamse destitudos de tipicidade penal.
Precedentes. (HC98.237, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em
15122009, Segunda Turma, DJE de 682010.) A LEP de ser interpretada
com os olhos postos em seu art.1. Artigo que institui a lgica da
prevalncia de mecanismos de reincluso social (e no de excluso do
sujeito apenado) no exame dos direitos e deveres dos sentenciados.
Isso para favorecer, sempre que possvel, a reduo de distncia entre
a populao intramuros penitencirios e a comunidade extramuros. Essa
particular forma de parametrar a interpretao da lei (no caso, a
LEP) a que mais se aproxima da CF, que faz da cidadania e da
dignidade da pessoa humana dois de seus fundamentos (incisosII e
III do art.1). Areintegrao social dos apenados , justamente,
pontual densificao de ambos os fundamentos constitucionais.
(HC99.652, Rel. Min. Ayres Britto, julgamento em 3112009, Primeira
Turma, DJE de 4122009.) A plena liberdade de imprensa um patrimnio
imaterial que corresponde ao mais elo- quente atestado de evoluo
polticocultural de todo um povo. Pelo seu reconhecido condo de
vitalizar por muitos modos a Constituio, tirandoa mais vezes do
papel, a imprensa passa a manter com a democracia a mais entranhada
relao de mtua dependncia ou retroalimentao. Assim visualizada como
verdadeira irm siamesa da democracia, a imprensa passa a desfrutar
de uma liberdade de atuao ainda maior que a liberdade de
pensamento, de informao e de expresso dos indivduos em si mesmos
considerados. O5 do art.220 apresentase como norma constitucional
de concretizao de um pluralismo finalmente compreendido como
fundamento das sociedades autenticamente democrticas; isto , o
pluralismo como a virtude democrtica da respeitosa convivncia dos
contrrios. Aimprensa livre , ela mesma, plural, devido a que so
constitucionalmente proibidas a oligopolizao e a monopolizao do
setor (5 do art.220 da CF). Aproibio do monoplio e do oligoplio
como novo e autnomo fator de conteno de abusos do chamado poder
social da 13
14. Art.1, caput imprensa. (ADPF130, Rel. Min. Ayres Britto,
julgamento em 3042009, Plenrio, DJE de 6112009.) No mesmo sentido:
ADI4.451MCREF, Rel. Min. Ayres Britto, julgamento em 292010,
Plenrio, DJE de 172011. O Estado de Direito viabiliza a preservao
das prticas democrticas e, especialmente, o direito de defesa.
Direito a, salvo circunstncias excepcionais, no sermos presos seno
aps a efetiva comprovao da prtica de um crime. Por isso usufrumos a
tranquilidade que advm da segurana de sabermos que, se um irmo,
amigo ou parente prximo vier a ser acusado de ter cometido algo
ilcito, no ser arrebatado de ns e submetido a ferros sem antes se
valer de todos os meios de defesa em qualquer circunstncia disposio
de todos. (...) O que caracteriza a sociedade moderna, permitindo o
aparecimento do Estado moderno, , por um lado, a diviso do
trabalho; por outro, a monopolizao da tributao e da violncia fsica.
Emnenhuma sociedade na qual a desordem tenha sido superada,
admitese que todos cumpram as mesmas funes. Ocombate criminalidade
misso tpica e privativa da administrao (no do Judicirio), atravs da
polcia, como se l nos incisosdo art.144 da Constituio, e do
Ministrio Pblico, a quem compete, privativamente, promover a ao
penal pblica (art.129, I). (HC95.009, Rel. Min. Eros Grau,
julgamento em 6112008, Plenrio, DJE de 19122008.) Ao direta de
inconstitucionalidade: Associao Brasileira das Empresas de Trans-
porte Rodovirio Intermunicipal, Interestadual e Internacional de
Passageiros(ABRATI). Constitucionalidade da Lei 8.899, de 2961994,
que concede passe livre s pessoas portadoras de deficincia. Alegao
de afronta aos princpios da ordem econmica, da isonomia, da livre
iniciativa e do direito de propriedade, alm de ausncia de indicao
de fonte de custeio (arts.1, IV; 5, XXII; e 170 da CF):
improcedncia. Aautora, associao de classe, teve sua legitimidade
para ajuizar ao direta de inconstitucionalidade reconhecida a
partir do julgamento da ADI3.153AgR, Rel. Min. Celso de Mello, DJ
de 992005. Pertinncia temtica entre as finalidades da autora e a
matria veiculada na lei questionada reconhecida. Em3032007, o
Brasil assinou, na sede da ONU, a Conveno sobre os Direitos das
Pessoas com Deficincia, bem como seu Protocolo Facultativo,
comprometendose a implementar medidas para dar efetividade ao que
foi ajustado. ALei 8.899/1994 parte das polticas pblicas para
inserir os portadores de necessidades especiais na sociedade e
objetiva a igualdade de oportunidades e a humanizao das relaes
sociais, em cumprimento aos fundamentos da Repblica de cidadania e
dignidade da pessoa humana, o que se concretiza pela definio de
meios para que eles sejam alcanados. (ADI2.649, Rel. Min. Crmen
Lcia, julgamento em 852008, Plenrio, DJE de 17102008.) Segundo a
nova redao acrescentada ao Ato das Disposies Constitucionais Gerais
e Transitrias da Constituio de Mato Grosso do Sul, introduzida pela
EC35/2006, os exgovernadores sulmatogrossenses que exerceram
mandato integral, em carter permanente, receberiam subsdio mensal e
vitalcio, igual ao percebido pelo governador do Estado. Previso de
que esse benefcio seria transferido ao cnjuge suprstite, reduzido
metade do valor devido ao titular. Novigente ordenamento
republicano e democrtico brasileiro, os cargos polticos de chefia
do Poder Executivo no so exercidos nem ocupados em carter
permanente, por serem os mandatos temporrios e seus ocupantes,
transitrios. Conquanto a norma faa meno ao termo benefcio, no se
tem configurado esse instituto de direito administrativo e
previdencirio, que requer atual e presente desempenho de cargo
pblico. 14
15. Art.1, caput Afronta o equilbrio federativo e os princpios
da igualdade, da impessoalidade, da moralidade pblica e da
responsabilidade dos gastos pblicos (arts.1; 5, caput; 25, 1; 37,
caput e XIII; 169, 1, I e II; e 195, 5, da CR). Precedentes. Ao
direta de inconstitucionalidade julgada procedente, para declarar a
inconstitucionalidade do art.29A e seus pargrafos do Ato das
Disposies Constitucionais Gerais e Transitrias da Constituio do
Estado de Mato Grosso do Sul. (ADI3.853, Rel. Min. Crmen Lcia,
julgamento em 1292007, Plenrio, DJ de 26102007.) Estipulao do
cumprimento da pena em regime inicialmente fechado. Fundamenta- o
baseada apenas nos aspectos inerentes ao tipo penal, no
reconhecimento da gravidade objetiva do delito e na formulao de
juzo negativo em torno da reprovabilidade da conduta delituosa.
Constrangimento ilegal caracterizado. Pedido deferido. Odiscurso
judicial, que se apoia, exclusivamente, no reconhecimento da
gravidade objetiva do crime e que se cinge, para efeito de
exacerbao punitiva, a tpicos sentenciais meramente retricos,
eivados de pura generalidade, destitudos de qualquer fundamentao
substancial e reveladores de linguagem tpica dos partidrios do
direito penal simblico ou, at mesmo, do direito penal do inimigo,
culmina por infringir os princpios liberais consagrados pela ordem
democrtica na qual se estrutura o Estado de Direito, expondo, com
esse comportamento (em tudo colidente com os parmetros delineados
na Smula 719/STF), uma viso autoritria e nulificadora do regime das
liberdades pblicas em nosso Pas. Precedentes. (HC85.531, Rel. Min.
Celso de Mello, julgamento em 2232005, Segunda Turma, DJ de
14112007.) Vide: HC100.678, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,
julgamento em 452010, Primeira Turma, DJE de 172010. improcedente a
ao. Emprimeiro lugar, no encontro ofensa ao princpio federativo, a
qual, no entender da autora, estaria na feio assimtrica que a norma
estadual impugnada deu a um dos aspectos do correspondente processo
legislativo em relao ao modelo federal. Ora, a exigncia constante
do art.112, 2, da Constituio fluminense consagra mera restrio
material atividade do legislador estadual, que com ela se v
impedido de conceder gratuidade sem proceder necessria indicao da
fonte de custeio. assente a jurisprudncia da Corte no sentido de
que as regras do processo legislativo federal que devem
reproduzidas no mbito estadual so apenas as de cunho substantivo,
coisa que se no reconhece ao dispositivo atacado. que este no se
destina a promover alteraes no perfil do processo legislativo,
considerado em si mesmo; voltase, antes, a estabelecer restries
quanto a um produto especfico do processo e que so eventuais leis
sobre gratuidades. ,por isso, equivocado ver qualquer relao de
contrariedade entre as limitaes constitucionais vinculadas ao
princpio federativo e a norma sob anlise, que delas no desbordou.
(...) Alm disso, conforme sobrelevou a AGU, os princpios
constitucionais apontados como violados so bastante abrangentes
(...). Realizandose o cotejo entre o artigo impugnado nestes autos
e os preceitos constitucionais adotados como parmetro de sua
constitucionalidade, no se vislumbra qualquer incompatibilidade, at
porque se trata de disposies desprovidas de correlao especfica. Da
chegarse, sem dificuldade, concluso de que a norma estadual no
vulnera o princpio federativo, consagrado nos arts.1, caput, 18 e
25 da CF. (ADI3.225, voto do Rel. Min. Cezar Peluso, julgamento em
1792007, Plenrio, DJ de 26102007.) Extradio e necessidade de
observncia dos parmetros do devido processo legal, do Estado de
Direito e do respeito aos direitos humanos. CB, arts.5, 1, e 60, 4.
Trfico 15
16. Art.1, caput de entorpecentes. Associao delituosa e
confabulao. Tipificaes correspondentes no direito brasileiro (...).
Obrigao do STF de manter e observar os parmetros do devido processo
legal, do Estado de Direito e dos direitos humanos. (Ext 986, Rel.
Min. Eros Grau, julgamento em 1582007, Plenrio, DJ de 5102007.)
Mandado de segurana impetrado pelo Partido dos Democratas(DEM)
contra ato do presidente da Cmara dos Deputados. Natureza jurdica e
efeitos da deciso do TSE na Consulta 1.398/2007. Natureza e
titularidade do mandato legislativo. Ospartidos polticos e os
eleitos no sistema representativo proporcional. Fidelidade
partidria. Efeitos da desfiliao partidria pelo eleito: perda do
direito de continuar a exercer o mandato eletivo. Distino entre
sano por ilcito e sacrifcio do direito por prtica lcita e
juridicamente consequente. Impertinncia da invocao do art.55 da CR.
Direito do impetrante de manter o nmero de cadeiras obtidas na
Cmara dos Deputados nas eleies. Direito ampla defesa do parlamentar
que se desfilie do partido poltico. Princpio da segurana jurdica e
modulao dos efeitos da mudana de orientao jurisprudencial: marco
temporal fixado em 2732007. (...) Mandado de segurana contra ato do
presidente da Cmara dos Deputados. Vacncia dos cargos de deputado
federal dos litisconsortes passivos, deputados federais eleitos
pelo partido impetrante e transferidos, por vontade prpria, para
outra agremiao no curso do mandato. (...) Resposta do TSE consulta
eleitoral no tem natureza jurisdicional nem efeito vinculante.
Mandado de segurana impetrado contra ato concreto praticado pelo
presidente da Cmara dos Deputados, sem relao de dependncia
necessria com a resposta Consulta 1.398 do TSE. OCdigo Eleitoral,
recepcionado como lei material complementar na parte que disciplina
a organizao e a competncia da Justia Eleitoral (art.121 da
Constituio de 1988), estabelece, no incisoXII do art.23, entre as
competncias privativas do TSE responder, sobre matria eleitoral, s
consultas que lhe forem feitas em tese por autoridade com jurisdio
federal ou rgo nacional de partido poltico. Aexpresso matria
eleitoral garante ao TSE a titularidade da competncia para se
manifestar em todas as consultas que tenham como fundamento matria
eleitoral, independente do instrumento normativo no qual esteja
includo. NoBrasil, a eleio de deputados fazse pelo sistema da
representao proporcional, por lista aberta, uninominal. Nosistema
que acolhe como se d no Brasil desde a Constituio de 1934 a
representao proporcional para a eleio de deputados e vereadores, o
eleitor exerce a sua liberdade de escolha apenas entre os
candidatos registrados pelo partido poltico, sendo eles, portanto,
seguidores necessrios do programa partidrio de sua opo.
Odestinatrio do voto o partido poltico viabilizador da candidatura
por ele oferecida. Oeleito vinculase, necessariamente, a
determinado partido poltico e tem em seu programa e iderio o norte
de sua atuao, a ele se subordinando por fora de lei (art.24 da Lei
9.096/1995). No pode, ento, o eleito afastarse do que suposto pelo
mandante o eleitor, com base na legislao vigente que determina ser
exclusivamente partidria a escolha por ele feita. Injurdico o
descompromisso do eleito com o partido o que se estende ao eleitor
pela ruptura da equao polticojurdica estabelecida. Afidelidade
partidria corolrio lgicojurdico necessrio do sistema constitucional
vigente, sem necessidade de sua expresso literal. Sem ela no h
ateno aos princpios obrigatrios que informam o ordenamento
constitucional. Adesfiliao partidria como causa do afastamento do
parlamentar do cargo no qual se investira no configura,
expressamente, pela Constituio, hiptese de cassao de mandato.
Odesligamento do parlamentar do mandato, em razo da ruptura,
imotivada e assumida no exerccio de sua liberdade pessoal, do
vnculo partidrio que assumira, no 16
17. Art.1, caput sistema de representao poltica proporcional,
provoca o desprovimento automtico do cargo. Alicitude da desfiliao
no juridicamente inconsequente, importando em sacrifcio do direito
pelo eleito, no sano por ilcito, que no se d na espcie. direito do
partido poltico manter o nmero de cadeiras obtidas nas eleies
proporcionais. garantido o direito ampla defesa do parlamentar que
se desfilie de partido poltico. Razes de segurana jurdica, e que se
impem tambm na evoluo jurisprudencial, determinam seja o cuidado
novo sobre tema antigo pela jurisdio concebido como forma de
certeza, e no causa de sobressaltos para os cidados. No tendo
havido mudanas na legislao sobre o tema, temse reconhecido o
direito de o impetrante titularizar os mandatos por ele obtidos nas
eleies de 2006, mas com modulao dos efeitos dessa deciso para que
se produzam eles a partir da data da resposta do TSE Consulta
1.398/2007. (MS26.604, Rel. Min. Crmen Lcia, julgamento em 4102007,
Plenrio, DJE de 3102008.) No mesmo sentido: MS26.603, Rel. Min.
Celso de Mello, julgamento em 4102007, Plenrio, DJE de 19122008;
MS26.602, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 4102007, Plenrio, DJE
de 17102008. Ao direta de inconstitucionalidade. Art.75, 2, da
Constituio de Gois. Dupla vacncia dos cargos de prefeito e
viceprefeito. Competncia legislativa municipal. Domnio normativo da
lei orgnica. Afronta aos arts.1 e 29 da CR. Opoder constituinte dos
Es a t dosmembros est limitado pelos princpios da CR, que lhes
assegura autonomia com condicionantes, entre as quais se tem o
respeito organizao autnoma dos Municpios, tambm assegurada
constitucionalmente. Oart.30, I, da CR outorga aos Municpios a
atribuio de legislar sobre assuntos de interesse local. Avocao
sucessria dos cargos de prefeito e vice prefeito pese no mbito da
autonomia poltica local, em caso de dupla vacncia. Aodisciplinar
matria, cuja competncia exclusiva dos Municpios, o art.75, 2, da
Constituio de Gois fere a autonomia desses entes, mitigandolhes a
capacidade de autoorganizao e de autogoverno e limitando a sua
autonomia poltica assegurada pela Constituio brasileira. Ao direta
de inconstitucionalidade julgada procedente. (ADI3.549, Rel. Min.
Crmen Lcia, julgamento em 1792007, Plenrio, DJ de 31102007.) Vide:
ADI4.298MC, Rel. Min. Cezar Peluso, julgamento em 7102009, Plenrio,
DJE de 27112009; ADI1.057MC, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento
em 2041994, Plenrio, DJ de 642001. O postulado republicano que
repele privilgios e no tolera discriminaes impede que prevalea a
prerrogativa de foro, perante o STF, nas infraes penais comuns,
mesmo que a prtica delituosa tenha ocorrido durante o perodo de
atividade funcional, se sobrevier a cessao da investidura do
indiciado, denunciado ou ru no cargo, funo ou mandato cuja
titularidade (desde que subsistente) qualificase como o nico fator
de legitimao constitucional apto a fazer instaurar a competncia
penal originria da Suprema Corte (CF, art.102, I, b e c).
Cancelamento da Smula 394/STF (RTJ179/912913). Nada pode autorizar
o desequilbrio entre os cidados da Repblica. Oreconhecimento da
prerrogativa de foro, perante o STF, nos ilcitos penais comuns, em
favor de exocupantes de cargos pblicos ou de extitulares de
mandatos eletivos transgride valor fundamental prpria configurao da
ideia republicana, que se orienta pelo vetor axiolgico da
igualdade. Aprerrogativa de foro outorgada, constitucionalmente,
ratione muneris, a significar, portanto, que deferida em razo de
cargo ou de mandato ainda titularizado por aquele que sofre
persecuo penal instaurada pelo Estado, sob pena de tal prerrogativa
descaracterizandose em sua essncia mesma degradarse condio de
inaceitvel privilgio de carter pessoal. Precedentes. (Inq1.376AgR,
Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 1522007, Plenrio, DJ de
1632007.) 17
18. Art.1, caput A questo do federalismo no sistema
constitucional brasileiro. O surgimento da ideia federalista no
Imprio. O modelo federal e a pluralidade de ordens jurdicas (ordem
jurdica total e ordens jurdicas parciais). A repartio
constitucional de competncias: poderes enumerados (explcitos ou
implcitos) e poderes residuais. (ADI2.995, Rel. Min. Celso de
Mello, julgamento em 13122006, Plenrio, DJ de 2892007.) No mesmo
sentido: ADI3.189, ADI3.293 e ADI3.148, Rel. Min. Celso de Mello,
julgamento em 13122006, Plenrio, DJ de 2892007. Governador e
vicegovernador do Estado. Afastamento do Pas por qualquer tempo.
Necessidade de autorizao da Assembleia Legislativa, sob pena de
perda do cargo. Alegada ofensa ao postulado da separao de poderes.
Medida cautelar deferida. Afiscalizao parlamentar como instrumento
constitucional de controle do Poder Executivo: governador de Estado
e ausncia do territrio nacional. OPoder Executivo, nos regimes
democrticos, h de ser um poder constitucionalmente sujeito
fiscalizao parlamentar e permanentemente exposto ao controle
polticoadministrativo do Poder Legislativo. Anecessidade de ampla
fiscalizao parlamentar das atividades do Executivo a partir do
controle exercido sobre o prprio chefe desse Poder do Estado traduz
exigncia plenamente compatvel com o postulado do Estado Democrtico
de Direito (CF, art.1, caput) e com as consequncias polticojurdicas
que derivam da consagrao constitucional do princpio republicano e
da separao de poderes. Aautorizao parlamentar a que se refere o
texto da CR (prevista em norma que remonta ao perodo imperial)
necessria para legitimar, em determinada situao, a ausncia do chefe
do Poder Executivo (ou de seu vice) do territrio nacional configura
um desses instrumentos constitucionais de controle do Legislativo
sobre atos e comportamentos dos nossos governantes. Plausibilidade
jurdica da pretenso de inconstitucionalidade que sustenta no se
revelar possvel, ao Estadomembro, ainda que no mbito de sua prpria
Constituio, estabelecer exigncia de autorizao ao chefe do Poder
Executivo local, para afastarse, por qualquer tempo, do territrio
do Pas. Referncia temporal que no encontra parmetro na CR.
(ADI775MC, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 23101992,
Plenrio, DJ de 1122006.) Inexistente atribuio de competncia
exclusiva Unio, no ofende a CB norma consti- tucional estadual que
dispe sobre aplicao, interpretao e integrao de textos normativos
estaduais, em conformidade com a LICC. No h falarse em quebra do
pacto federativo e do princpio da interdependncia e harmonia entre
os Poderes em razo da aplicao de princpios jurdicos ditos federais
na interpretao de textos normativos estaduais. Princpios so normas
jurdicas de um determinado direito, no caso, do direito brasileiro.
No h princpios jurdicos aplicveis no territrio de um, mas no de
outro ente federativo, sendo descabida a classificao dos princpios
em federais e estaduais. (ADI246, Rel. Min. Eros Grau, julgamento
em 16122004, Plenrio, DJ de 2942005.) O pacto federativo,
sustentandose na harmonia que deve presidir as relaes institucio-
nais entre as comunidades polticas que compem o Estado Federal,
legitima as restries de ordem constitucional que afetam o exerccio,
pelos Estadosmembros e Distrito Federal, de sua competncia
normativa em tema de exonerao tributria pertinente ao ICMS.
(ADI1.247MC, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 1781995,
Plenrio, DJ de 891995.) Se certo que a nova Carta Poltica contempla
um elenco menos abrangente de princpios constitucionais sensveis, a
denotar, com isso, a expanso de poderes jurdicos na esfera 18
19. Art.1, caput e I das coletividades autnomas locais, o mesmo
no se pode afirmar quanto aos princpios federais extensveis e aos
princpios constitucionais estabelecidos, os quais, embora
disseminados pelo texto constitucional, posto que no tpica a sua
localizao, configuram acervo expressivo de limitaes dessa autonomia
local, cuja identificao at mesmo pelos efeitos restritivos que
deles decorrem impese realizar. Aquesto da necessria observncia, ou
no, pelos Estadosmembros, das normas e princpios inerentes ao
processo legislativo, provoca a discusso sobre o alcance do poder
jurdico da Unio Federal de impor, ou no, s demais pessoas estatais
que integram a estrutura da Federao, o respeito incondicional a
padres heternomos por ela prpria institudos como fatores de
compulsria aplicao. (...) Da resoluo dessa questo central, emergir
a definio do modelo de Federao a ser efetivamente observado nas
prticas institucionais. (ADI216MC, Rel. p/o ac. Min. Celso de
Mello, julgamento em 2351990, Plenrio, DJ de 751993.) I a
soberania; Negativa, pelo presidente da Repblica, de entrega do
extraditando ao pas requerente. (...) O Tratado de Extradio entre a
Repblica Federativa do Brasil e a Repblica Italiana, no seu
art.III, 1, f, permite a no entrega do cidado da parte requerente
quando a parte requerida tiver razes ponderveis para supor que a
pessoa reclamada ser submetida a atos de perseguio. (...) Deveras,
antes de deliberar sobre a existncia de poderes discricionrios do
presidente da Repblica em matria de extradio, ou mesmo se essa
autoridade se manteve nos lindes da deciso proferida pelo Colegiado
anteriormente, necessrio definir se o ato do chefe de Estado
sindicvel pelo Judicirio, em abstrato. Oart.1 da Constituio assenta
como um dos fundamentos do Estado brasileiro a sua soberania que
significa o poder poltico supremo dentro do territrio, e, no plano
internacional, no tocante s relaes da Repblica Federativa do Brasil
com outros Estados soberanos, nos termos do art.4, I, da Carta
Magna. Asoberania nacional no plano transnacional fundase no
princpio da independncia nacional, efetivada pelo presidente da
Repblica, consoante suas atribuies previstas no art.84, VII e VIII,
da Lei Maior. Asoberania, dicotomizada em interna e externa, tem na
primeira a exteriorizao da vontade popular (art.14 da CRFB) atravs
dos representantes do povo no parlamento e no governo; na segunda,
a sua expresso no plano internacional, por meio do presidente da
Repblica. Nocampo da soberania, relativamente extradio, assente que
o ato de entrega do extraditando exclusivo, da competncia
indeclinvel do presidente da Repblica, conforme consagrado na
Constituio, nas leis, nos tratados e na prpria deciso do Egrgio STF
na Ext 1.085. Odescumprimento do Tratado, em tese, gera uma lide
entre Estados soberanos, cuja resoluo no compete ao STF, que no
exerce soberania internacional, mxime para impor a vontade da
Repblica Italiana ao chefe de Estado brasileiro, cogitandose de
mediao da Corte Internacional de Haia, nos termos do art.92 da
Carta das Naes Unidas de 1945. (Rcl 11.243, Rel. p/o ac. Min. Luiz
Fux, julgamento em 862011, Plenrio, DJE de 5102011.) As terras
indgenas versadas pela CF de 1988 fazem parte de um territrio
estatalbrasi leiro sobre o qual incide, com exclusividade, o
direito nacional. Ecomo tudo o mais que faz parte do domnio de
qualquer das pessoas federadas brasileiras, so terras que se
submetem unicamente ao primeiro dos princpios regentes das relaes
internacionais da Repblica Federativa do Brasil: a soberania ou
independncia nacional (incisoI do art.1 da CF). 19
20. Art.1, I e II (...) H compatibilidade entre o usufruto de
terras indgenas e faixa de fronteira. Longe de se pr como um ponto
de fragilidade estrutural das faixas de fronteira, a permanente
alocao indgena nesses estratgicos espaos em muito facilita e at
obriga que as instituies de Estado (Foras Armadas e Polcia Federal,
principalmente) se faam tambm presentes com seus postos de
vigilncia, equipamentos, batalhes, companhias e agentes. Sem
precisar de licena de quem quer que seja para fazlo. Mecanismos,
esses, a serem aproveitados como oportunidade mpar para
conscientizar ainda mais os nossos indgenas, instrulos (a partir
dos conscritos), alertlos contra a influncia eventualmente mals de
certas organizaes no governamentais estrangeiras, mobilizlos em
defesa da soberania nacional e reforar neles o inato sentimento de
brasilidade. Misso favorecida pelo fato de serem os nossos ndios as
primeiras pessoas a revelar devoo pelo nosso Pas (eles, os ndios,
que em toda nossa histria contriburam decisivamente para a defesa e
integridade do territrio nacional) e at hoje dar mostras de
conhecerem o seu interior e as suas bordas mais que ningum. (Pet
3.388, Rel. Min. Ayres Britto, julgamento em 1932009, Plenrio, DJE
de 172010.) A imprescindibilidade do uso do idioma nacional nos
atos processuais, alm de correspon- der a uma exigncia que decorre
de razes vinculadas prpria soberania nacional, constitui projeo
concretizadora da norma inscrita no art.13, caput, da Carta
Federal, que proclama ser a lngua portuguesa o idioma oficial da
Repblica Federativa do Brasil. (HC72.391QO, Rel. Min. Celso de
Mello, julgamento em 831995, Plenrio, DJE de 1731995.) II a
cidadania; A segurana do procedimento de identificao dos eleitores
brasileiros no ato de votao ainda apresenta deficincias que no
foram definitivamente solucionadas. Apostergao do implemento de
projetos como a unificao das identidades civil e eleitoral num s
documento propiciou, at os dias atuais, a ocorrncia de inmeras
fraudes ligadas ao exerccio do voto. Aapresentao do atual ttulo de
eleitor, por si s, j no oferece qualquer garantia de lisura nesse
momento crucial de revelao da vontade do eleitorado. Por outro
lado, as experincias das ltimas eleies realizadas no Brasil
demonstraram uma maior confiabilidade na identificao aferida com
base em documentos oficiais de identidade dotados de fotografia, a
saber: as carteiras de identidade, de trabalho e de motorista, o
certificado de reservista e o passaporte. Anorma contestada,
surgida com a edio da Lei 12.034/2009, teve o propsito de alcanar
maior segurana no processo de reconhecimento dos eleitores. Por
isso, estabeleceu, j para as eleies gerais de 2010, a
obrigatoriedade da apresentao, no momento da votao, de documento
oficial de identificao com foto. Reconhecimento, em exame
prefacial, de plausibilidade jurdica da alegao de ofensa ao
princpio constitucional da razoabilidade na interpretao dos
dispositivos impugnados que impea de votar o eleitor que, embora
apto a prestar identificao mediante a apresentao de documento
oficial com fotografia, no esteja portando seu ttulo eleitoral.
Medida cautelar deferida para dar s normas ora impugnadas
interpretao conforme CF, no sentido de que apenas a ausncia de
documento oficial de identidade com fotografia impede o exerccio do
direito de voto. (ADI4.467MC, Rel. Min. Ellen Gracie, julgamento em
3092010, Plenrio, DJE de 162011.) A Lei 8.899/1994 parte das
polticas pblicas para inserir os portadores de necessidades
especiais na sociedade e objetiva a igualdade de oportunidades e a
humanizao das relaes sociais, em cumprimento aos fundamentos da
Repblica de cidadania e dignidade da 20
21. Art.1, II e III pessoa humana, o que se concretiza pela
definio de meios para que eles sejam alcanados. (ADI2.649, Rel.
Min. Crmen Lcia, julgamento em 852008, Plenrio, DJE de 17102008.)
Ningum obrigado a cumprir ordem ilegal, ou a ela se submeter, ainda
que emanada de autoridade judicial. Mais: dever de cidadania oporse
ordem ilegal; caso contrrio, negase o Estado de Direito. (HC73.454,
Rel. Min. Maurcio Corra, julgamento em 2241996, Segunda Turma, DJ
de 761996.) III a dignidade da pessoa humana; direito do defensor,
no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de
prova que, j documentados em procedimento investigatrio realizado
por rgo com competncia de polcia judiciria, digam respeito ao
exerccio do direito de defesa. (Smula Vinculante 14.) S lcito o uso
de algemas em casos de resistncia e de fundado receio de fuga ou de
perigo integridade fsica prpria ou alheia, por parte do preso ou de
terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de
responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da
autoridade e de nulidade da priso ou do ato processual a que se
refere, sem prejuzo da responsabilidade civil do Estado. (Smula
Vinculante 11.) Nota: O Plenrio do STF, no julgamento da ADI3.510,
declarou a constitucionalidade do art.5 da Lei de Biossegurana (Lei
11.105/2005), por entender que as pesquisas com cluas l tronco
embrionrias no violam o direito vida ou o princpio da dignidade da
pessoa humana. A pesquisa cientfica com clulastronco embrionrias,
autorizada pela Lei 11.105/2005, objetiva o enfrentamento e cura de
patologias e traumatismos que severamente limitam, atormentam,
infelicitam, desesperam e no raras vezes degradam a vida de
expressivo contingente populacional (ilustrativamente, atrofias
espinhais progressivas, distrofias musculares, a esclerose mltipla
e a lateral amiotrfica, as neuropatias e as doenas do neurnio
motor). Aescolha feita pela Lei de Biossegurana no significou um
desprezo ou desapreo pelo embrio in vitro, porm uma mais firme
disposio para encurtar caminhos que possam levar superao do
infortnio alheio. Isto no mbito de um ordenamento constitucional
que desde o seu prembulo qualifica a liberdade, a segurana, o
bemestar, o desenvolvimento, a igualdade e a justia como valores
supremos de uma sociedade mais que tudo fraterna. Oque j significa
incorporar o advento do constitucionalismo fraternal s relaes
humanas, a traduzir verdadeira comunho de vida ou vida social em
clima de transbordante solidariedade em benefcio da sade e contra
eventuais tramas do acaso e at dos golpes da prpria natureza.
Contexto de solidria, compassiva ou fraternal legalidade que, longe
de traduzir desprezo ou desrespeito aos congelados embries in
vitro, significa apreo e reverncia a criaturas humanas que sofrem e
se desesperam. Inexistncia de ofensas ao direito vida e da
dignidade da pessoa humana, pois a pesquisa com clulastronco
embrionrias (inviveis biologicamente ou para os fins a que se
destinam) significa a celebrao solidria da vida e alento aos que se
acham margem do exerccio concreto e inalienvel dos direitos
felicidade e do viver com dignidade (Min. Celso de Mello). (...) A
Lei de Biossegurana caracterizase como regrao legal a salvo da
mcula do aodamento, da insuficincia protetiva ou do vcio da
arbitrariedade em matria to religiosa, filosfica e eticamente
sensvel como a da biotecnologia na rea da medicina e da gentica
humana. Tratase de um conjunto normativo que 21
22. Art.1, III parte do pressuposto da intrnseca dignidade de
toda forma de vida humana, ou que tenha potencialidade para tanto.
ALei de Biossegurana no conceitua as categorias mentais ou
entidades biomdicas a que se refere, mas nem por isso impede a
facilitada exegese dos seus textos, pois de se presumir que
recepcionou tais categorias e as que lhe so correlatas com o
significado que elas portam no mbito das cincias mdicas e
biolgicas. (ADI3.510, Rel. Min. Ayres Britto, julgamento em
2952008, Plenrio, DJE de 2852010.) cabvel habeas corpus para
apreciar toda e qualquer medida que possa, em tese, acarre- tar
constrangimento liberdade de locomoo ou, ainda, agravar as restries
a esse direito. Esse o entendimento da Segunda Turma ao deferir
habeas corpus para assegurar a detento em estabelecimento prisional
o direito de receber visitas de seus filhos e enteados. (...) De
incio, rememorouse que a jurisprudncia hodierna da Corte estabelece
srias ressalvas ao cabimento do writ, no sentido de que supe
violao, de forma mais direta, ao menos em exame superficial,
liberdade de ir e vir dos cidados. Afirmouse que essa orientao,
entretanto, no inviabilizaria, por completo, o processo de ampliao
progressiva que essa garantia pudesse vir a desempenhar no sistema
jurdico brasileiro, sobretudo para conferir fora normativa mais
robusta Constituio. Arespeito, ponderouse que o Supremo tem
alargado o campo de abrangncia dessa ao constitucional, como no
caso de impetraes contra instaurao de inqurito criminal para tomada
de depoimento, indiciamento de determinada pessoa, recebimento de
denncia, sentena de pronncia no mbito do processo do Jri e deciso
condenatria, entre outras. Enfatizouse que a Constituio teria o
princpio da humanidade como norte e asseguraria aos presidirios o
respeito integridade fsica e moral [CF, art.5: XLIX (...)]. (...)
Aludiuse que a visitao seria desdobramento do direito de ir e vir,
na medida em que seu empece agravaria a situao do apenado.
(HC107.701, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 1392011, Segunda
Turma, Informativo 640.) Em concluso, a Segunda Turma concedeu a
ordem para afastar o bice da substituio da pena privativa de
liberdade por restritiva de direito a estrangeiro no residente no
pas. (...) Consignou, de incio, que o fato de o estrangeiro no
possuir domiclio no territrio brasileiro no afastaria, por si s, o
benefcio da substituio da pena. (...) No se trataria, pois, de
critrio que valorizasse a residncia como elemento normativo em si
mesmo. Assentou que a interpretao do art.5, caput, da CF no deveria
ser literal, porque, de outra forma, os estrangeiros no residentes
estariam alijados da titularidade de todos os direitos
fundamentais. Ressaltou a existncia de direitos assegurados a
todos, independentemente da nacionalidade do indivduo, porquanto
considerados emanaes necessrias do princpio da dignidade da pessoa
humana. (...) Nesse ponto, concluiu que o fato de o paciente no
possuir domiclio no Brasil no legitimaria a adoo de tratamento
distintivo e superou essa objeo. (HC94.477, Rel. Min. Gilmar
Mendes, julgamento em 692011, Segunda Turma, Informativo 639.)
Vide: HC94.016, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 1692008,
Segunda Turma, DJE de 2722009. A clusula da reserva do possvel que
no pode ser invocada, pelo Poder Pblico, com o propsito de fraudar,
de frustrar e de inviabilizar a implementao de polticas pblicas
definidas na prpria Constituio encontra insupervel limitao na
garantia constitucional do mnimo existencial, que representa, no
contexto de nosso ordenamento positivo, emanao direta do postulado
da essencial dignidade da pessoa humana. (...) A noo de mnimo
existencial, que resulta, por implicitude, de determinados
preceitos constitucionais (CF, art.1, III, e art.3, III),
compreende um complexo de prerrogativas cuja concretizao revelase
capaz 22
23. Art.1, III de garantir condies adequadas de existncia
digna, em ordem a assegurar, pessoa, acesso efetivo ao direito
geral de liberdade e, tambm, a prestaes positivas originrias do
Estado, viabilizadoras da plena fruio de direitos sociais bsicos,
tais como o direito educao, o direito proteo integral da criana e
do adolescente, o direito sade, o direito assistncia social, o
direito moradia, o direito alimentao e o direito segurana. Declarao
Universal dos Direitos da Pessoa Humana, de 1948 (Artigo XXV).
(ARE639.337AgR, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 2382011,
Segunda Turma, DJE de 1592011.) Reconhecimento e qualificao da unio
homoafetiva como entidade familiar. OSTF apoiandose em valiosa
hermenutica construtiva e invocando princpios essenciais (como os
da dignidade da pessoa humana, da liberdade, da autodeterminao, da
igualdade, do pluralismo, da intimidade, da no discriminao e da
busca da felicidade) reconhece assistir, a qualquer pessoa, o
direito fundamental orientao sexual, havendo proclamado, por isso
mesmo, a plena legitimidade ticojurdica da unio homoafetiva como
entidade familiar, atribuindolhe, em consequncia, verdadeiro
estatuto de cidadania, em ordem a permitir que se extraiam, em
favor de parceiros homossexuais, relevantes consequncias no plano
do direito, notadamente no campo previdencirio, e, tambm, na esfera
das relaes sociais e familiares. Aextenso, s unies homoafetivas, do
mesmo regime jurdico aplicvel unio estvel entre pessoas de gnero
distinto justificase e legitimase pela direta incidncia, dentre
outros, dos princpios constitucionais da igualdade, da liberdade,
da dignidade, da segurana jurdica e do postulado constitucional
implcito que consagra o direito busca da felicidade, os quais
configuram, numa estrita dimenso que privilegia o sentido de
incluso decorrente da prpria CR (art.1, III, e art.3, IV),
fundamentos autnomos e suficientes aptos a conferir suporte
legitimador qualificao das conjugalidades entre pessoas do mesmo
sexo como espcie do gnero entidade familiar. (...) O postulado da
dignidade da pessoa humana, que representa considerada a
centralidade desse princpio essencial (CF, art.1, III)
significativo vetor interpretativo, verdadeiro valorfonte que
conforma e inspira todo o ordenamento constitucional vigente em
nosso Pas, traduz, de modo expressivo, um dos fundamentos em que se
assenta, entre ns, a ordem republicana e democrtica consagrada pelo
sistema de direito constitucional positivo. (...) O princpio
constitucional da busca da felicidade, que decorre, por
implicitude, do ncleo de que se irradia o postulado da dignidade da
pessoa humana, assume papel de extremo relevo no processo de
afirmao, gozo e expanso dos direitos fundamentais, qualificandose,
em funo de sua prpria teleologia, como fator de neutralizao de
prticas ou de omisses lesivas cuja ocorrncia possa comprometer,
afetar ou, at mesmo, esterilizar direitos e franquias individuais.
Assiste, por isso mesmo, a todos, sem qualquer excluso, o direito
busca da felicidade, verdadeiro postulado constitucional implcito,
que se qualifica como expresso de uma ideiafora que deriva do
princpio da essencial dignidade da pessoa humana. (RE477.554AgR,
Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 1682011, Segunda Turma, DJE
de 2682011.) No mesmo sentido: ADI4.277 e ADPF132, Rel. Min. Ayres
Britto, julgamento em 552011, Plenrio, DJE de 14102011. (...) a
dignidade da pessoa humana precede a Constituio de 1988 e esta no
poderia ter sido contrariada, em seu art.1, III, anteriormente a
sua vigncia. Aarguente desqualifica fatos histricos que antecederam
a aprovao, pelo Congresso Nacional, da Lei 6.683/1979. (...) A
inicial ignora o momento talvez mais importante da luta pela
redemocratizao do pas, o da batalha da anistia, autntica batalha.
Toda a gente que conhece nossa Histria sabe que esse acordo poltico
existiu, resultando no texto da Lei 6.683/1979. (...) Tem razo a
arguente 23
24. Art.1, III ao afirmar que a dignidade no tem preo. Ascoisas
tm preo, as pessoas tm dignidade. Adignidade no tem preo, vale para
todos quantos participam do humano. Estamos, todavia, em perigo
quando algum se arroga o direito de tomar o que pertence dignidade
da pessoa humana como um seu valor (valor de quem se arrogue a
tanto). que, ento, o valor do humano assume forma na substncia e
medida de quem o afirme e o pretende impor na qualidade e
quantidade em que o mensure. Ento o valor da dignidade da pessoa
humana j no ser mais valor do humano, de todos quantos pertencem
humanidade, porm de quem o proclame conforme o seu critrio
particular. Estamos ento em perigo, submissos tirania dos valores.
(...) Sem de qualquer modo negar o que diz a arguente ao proclamar
que a dignidade no tem preo (o que subscrevo), tenho que a
indignidade que o cometimento de qualquer crime expressa no pode
ser retribuda com a proclamao de que o instituto da anistia viola a
dignidade humana. (...) O argumento descolado da dignidade da
pessoa humana para afirmar a invalidade da conexo criminal que
aproveitaria aos agentes polticos que praticaram crimes comuns
contra opositores polticos, presos ou no, durante o regime militar,
esse argumento no prospera. (ADPF153, voto do Rel. Min. Eros Grau,
julgamento em 2942010, Plenrio, DJE de 682010.) Trfico de
entorpecentes. (...) Priso em flagrante. bice ao apelo em
liberdade. In cons i ucionalidade: necessidade de adequao do
preceito veiculado pelo art.44 da Lei tt 11.343/2006 e do art.5,
XLII, aos arts.1, III, e 5, LIV e LVII, da CB. (...) Apelao em
liberdade negada sob o fundamento de que o art.44 da Lei
11.343/2006 veda a liberdade provisria ao preso em flagrante por
trfico de entorpecentes. Entendimento respaldado na
inafianabilidade desse crime, estabelecida no art.5, XLIII, da CB.
Afronta escancarada aos princpios da presuno de inocncia, do devido
processo legal e da dignidade da pessoa humana. Inexistncia de
antinomias na Constituio. Necessidade de adequao, a esses
princpios, da norma infraconstitucional e da veiculada no art.5,
XLIII, da CB. Aregra estabelecida na Constituio, bem assim na
legislao infraconstitucional, a liberdade. Apriso faz exceo a essa
regra, de modo que, a admitirse que o art.5, XLIII, estabelece, alm
das restries nele contidas, vedao liberdade provisria, o conflito
entre normas estaria instalado. Ainafianabilidade no pode e no deve
considerados os princpios da presuno de inocncia, da dignidade da
pessoa humana, da ampla defesa e do devido processo legal
constituir causa impeditiva da liberdade provisria. No se nega a
acentuada nocividade da conduta do traficante de entorpecentes.
Nocividade afervel pelos malefcios provocados no que concerne sade
pblica, exposta a sociedade a danos concretos e a riscos iminentes.
No obstante, a regra consagrada no ordenamento jurdico brasileiro a
liberdade; a priso, a exceo. Aregra cede a ela em situaes marcadas
pela demonstrao cabal da necessidade da segregao ante tempus.
Impese, porm, ao juiz, nesse caso, o dever de explicitar as razes
pelas quais algum deva ser preso cautelarmente, assim permanecendo.
(HC101.505, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 15122009, Segunda
Turma, DJE de 1222010.) No mesmo sentido: HC100.185, Rel. Min.
Gilmar Mendes, julgamento em 862010, Segunda Turma, DJE de 682010;
HC100.742, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 3112009, Segunda
Turma, DJE de 192011; HC101.055, Rel. Min. Cezar Peluso, julgamento
em 3112009, Segunda Turma, DJE de 18122009. Emsentido contrrio:
HC93.229, Rel. Min. Crmen Lcia, julgamento em 142008, Primeira
Turma, DJE de 2542008. Vide: HC99.717, Rel. Min. Ricardo
Lewandowski, julgamento em 9112010, Primeira Turma, DJE de
25112010. 24
25. Art.1, III Inconstitucionalidade da chamada execuo
antecipada da pena. Art.5, LVII, da CF. Dignidade da pessoa humana.
Art.1, III, da CF. Oart.637 do CPP estabelece que (o) recurso
extraordinrio no tem efeito suspensivo, e uma vez arrazoados pelo
recorrido os autos do traslado, os originais baixaro primeira
instncia para a execuo da sentena. ALEP condicionou a execuo da
pena privativa de liberdade ao trnsito em julgado da sentena
condenatria. ACB de 1988 definiu, em seu art.5, LVII, que ningum
ser considerado culpado at o trnsito em julgado de sentena penal
condenatria. Da que os preceitos veiculados pela Lei 7.210/1984,
alm de adequados ordem constitucional vigente, sobrepemse, temporal
e materialmente, ao disposto no art.637 do CPP. Apriso antes do
trnsito em julgado da condenao somente pode ser decretada a ttulo
cautelar. (...) A Corte que vigorosamente prestigia o disposto no
preceito constitucional em nome da garantia da propriedade no a
deve negar quando se trate da garantia da liberdade, mesmo porque a
propriedade tem mais a ver com as elites; a ameaa s liberdades
alcana de modo efetivo as classes subalternas. Nas democracias
mesmo os criminosos so sujeitos de direitos. No perdem essa
qualidade, para se transformarem em objetos processuais. So
pessoas, inseridas entre aquelas beneficiadas pela afirmao
constitucional da sua dignidade (art.1, III, da CB). inadmissvel a
sua excluso social, sem que sejam consideradas, em quaisquer
circunstncias, as singularidades de cada infrao penal, o que
somente se pode apurar plenamente quando transitada em julgado a
condenao de cada qual. Ordem concedida. (HC94.408, Rel. Min. Eros
Grau, julgamento em 1022009, Segunda Turma, DJE de 2732009.) Priso
preventiva. (...) Autos instrudos com documentos comprobatrios do
debili- tado estado de sade do paciente, que provavelmente definhar
na priso sem a assistncia mdica de que necessita, o estabelecimento
prisional reconhecendo no ter condies de prestla. Oart.117 da LEP
determina, nas hipteses mencionadas em seus incisos, o recolhimento
do apenado, que se encontre no regime aberto, em residncia
particular. Emque pese a situao do paciente no se enquadrar nas
hipteses legais, a excepcionalidade do caso enseja o afastamento da
Smula 691/STF e impe seja a priso domiciliar deferida, pena de
violao do princpio da dignidade da pessoa humana (art.1, III, da
CF). (HC98.675, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 962009, Segunda
Turma, DJE de 2182009.) No mesmo sentido: RHC94.358, Rel. Min.
Celso de Mello, julgamento em 2942008, Segunda Turma, Informativo
504. Lei do Crime Organizado (art.7). Vedao legal apriorstica de
liberdade provisria. Conveno de Palermo (art.11). Inadmissibilidade
de sua invocao. (...) Clusulas inscritas nos textos de tratados
internacionais que imponham a compulsria adoo, por autoridades
judicirias nacionais, de medidas de privao cautelar da liberdade
individual, ou que vedem, em carter imperativo, a concesso de
liberdade provisria, no podem prevalecer em nosso sistema de
direito positivo, sob pena de ofensa presuno de inocncia, dentre
outros princpios constitucionais que informam e compem o estatuto
jurdico daqueles que sofrem persecuo penal instaurada pelo Estado.
Avedao apriorstica de concesso de liberdade provisria repelida pela
jurisprudncia do STF, que a considera incompatvel com a presuno de
inocncia e com a garantia do due process, dentre outros princpios
consagrados na CR, independentemente da gravidade objetiva do
delito. Precedente: ADI3.112/ DF. Ainterdio legal in abstracto,
vedatria da concesso de liberdade provisria, incide na mesma
censura que o Plenrio do STF estendeu ao art.21 do Estatuto do
Desarmamento (ADI3.112/DF), considerados os postulados da presuno
de inocncia, do due process of 25
26. Art.1, III law, da dignidade da pessoa humana e da
proporcionalidade, analisado este na perspectiva da proibio do
excesso. Olegislador no pode substituirse ao juiz na aferio da
existncia de situao de real necessidade capaz de viabilizar a
utilizao, em cada situao ocorrente, do instrumento de tutela
cautelar penal. Cabe, unicamente, ao Poder Judicirio, aferir a
existncia, ou no, em cada caso, da necessidade concreta de se
decretar a priso cautelar. (HC94.404, Rel. Min. Celso de Mello,
julgamento em 18112008, Segunda Turma, DJE de 1862010.) Em sentido
contrrio: HC89.143, Rel. Min. Ellen Gracie, julgamento em 1062008,
Segunda Turma, DJE de 2762008. Controvrsia a propsito da
possibilidade, ou no, de concesso de liberdade provisria ao preso
em flagrante por trfico de entorpecentes. Irrelevncia para o caso
concreto, face a sua peculiaridade. Paciente primria, de bons
antecedentes, com emprego e residncia fixos, flagrada com pequena
quantidade de maconha quando visitava o marido na penitenciria.
Liberdade provisria deferida pelo juiz da causa, posteriormente
cassada pelo tribunal de justia local. Mandado de priso expedido h
cinco anos, no cumprido devido a irregularidade no cadastramento do
endereo da paciente. Supervenincia de doena contagiosa (aids),
acarretando outros males. Inteno, da paciente, de entregarse
autoridade policial. Entrega no concretizada ante o medo de morrer
no presdio, deixando desamparada a filha menor. Dizer peculiaridade
do caso concreto dizer exceo. Exceo que se impe seja capturada pelo
ordenamento jurdico, mesmo porque a afirmao da dignidade da pessoa
humana acode paciente. Atransgresso lei punida de modo que a lei (=
o direito) seja restabelecida. Nesse sentido, a condenao
restabelece o direito, restabelece a ordem, alm de pretender
reparar o dano sofrido pela vtima. Apriso preventiva antecipa o
restabelecimento a longo termo do direito; promove imediatamente a
ordem. Mas apenas imediatamente, j que haver sempre o risco, em
qualquer processo, de ao final verificarse que o imediato
restabelecimento da ordem transgrediu a prpria ordem, porque no era
devido. Ajustia produzida pelo Estado moderno condena para
restabelecer o direito que ele mesmo pe, para restabelecer a ordem,
pretendendo reparar os danos sofridos pela vtima. Mas a vtima no
caso dos autos no identificada. a prpria sociedade, beneficiria de
vingana que como que a pacifica em face, talvez, da frustrao que
resulta de sua incapacidade de punir os grandes impostores.
Devingana se trata, pois certo que manter presa em condies
intolerveis uma pessoa doente no restabelece a ordem, alm de nada
reparar. Apaciente apresenta estado de sade debilitado e dela
depende, inclusive economicamente, uma filha. Submetla ao crcere,
isso incompatvel com o direito, ainda que se possa ter como
adequado regra. Da que a captura da exceo se impe. Ordem deferida,
a fim de que a paciente permanea em liberdade at o trnsito em
julgado de eventual sentena penal condenatria. (HC94.916, Rel. Min.
Eros Grau, julgamento em 3092008, Segunda Turma, DJE de 12122008.)
A natureza jurdica da regresso de regime lastreada nas hipteses do
art.118, I, da LEP sancionatria, enquanto aquela baseada no
incisoII tem por escopo a correta individualizao da pena. Aregresso
aplicada sob o fundamento do art.118, I, segunda parte, no ofende
ao princpio da presuno de inocncia ou ao vetor estrutural da
dignidade da pessoa humana. Incidncia do teor da Smula Vinculante
9/STF quanto perda dos dias remidos. (HC93.782, Rel. Min. Ricardo
Lewandowski, julgamento em 1692008, Primeira Turma, DJE de
17102008.) No mesmo sentido: HC100.953, Rel. Min. Ellen Gracie,
julgamento em 1632010, Segunda Turma, DJE de 942010; HC95.984, Rel.
Min. Cezar Peluso, julgamento em 1022009, Segunda Turma, DJE de
852009. 26
27. Art.1, III O julgamento perante o Tribunal do Jri no requer
a custdia preventiva do acusado, at ento simples acusado incisoLVII
do art.5 da Lei Maior. Hoje no necessria sequer a presena do
acusado (...). Diante disso, indagase: surge harmnico com a
Constituio mantlo, no recinto, com algemas? A resposta mostrase
iniludivelmente negativa. Emprimeiro lugar, levem em conta o
princpio da no culpabilidade. certo que foi submetida ao veredicto
dos jurados pessoa acusada da prtica de crime doloso contra a vida,
mas que merecia o tratamento devido aos humanos, aos que vivem em
um Estado Democrtico de Direito. Segundo o art.1 da Carta Federal,
a prpria Repblica tem como fundamento a dignidade da pessoa humana.
Daleitura do rol das garantias constitucionais art.5, depreendese a
preocupao em resguardar a figura do preso. (...) Ora, estes
preceitos a configurarem garantias dos brasileiros e dos
estrangeiros residentes no Pas repousam no inafastvel tratamento
humanitrio do cidado, na necessidade de lhe ser preservada a
dignidade. Manter o acusado em audincia, com algema, sem que
demonstrada, ante prticas anteriores, a periculosidade, significa
colocar a defesa, antecipadamente, em patamar inferior, no bastasse
a situao de todo degradante. (...) Quanto ao fato de apenas dois
policiais civis fazerem a segurana no momento, a deficincia da
estrutura do Estado no autorizava o desrespeito dignidade do
envolvido. Incumbia, sim, inexistente o necessrio aparato de
segurana, o adiamento da sesso, preservandose o valor maior, porque
inerente ao cidado. (HC91.952, voto do Rel. Min. Marco Aurlio,
julgamento em 782008, Plenrio, DJE de 19122008.) Vide: Rcl9.468AgR,
Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 2432011, Plenrio, DJE
de 1142011. A Lei 8.899/1994 parte das polticas pblicas para
inserir os portadores de neces- sidades especiais na sociedade e
objetiva a igualdade de oportunidades e a humanizao das relaes
sociais, em cumprimento aos fundamentos da Repblica de cidadania e
dignidade da pessoa humana, o que se concretiza pela definio de
meios para que eles sejam alcanados. (ADI2.649, Rel. Min. Crmen
Lcia, julgamento em 852008, Plenrio, DJE de 17102008.) O Tribunal,
por maioria, deu provimento a agravo regimental interposto em
suspenso de tutela antecipada para manter deciso interlocutria
proferida por desembargador do Tribunal de Justia do Estado de
Pernambuco, que concedera parcialmente pedido formulado em ao de
indenizao por perdas e danos morais e materiais para determinar que
o mencionado Estadomembro pagasse todas as despesas necessrias
realizao de cirurgia de implante de Marcapasso Diafragmtico
Muscular(MDM) no agravante, com o profissional por este requerido.
Naespcie, o agravante, que teria ficado tetraplgico em decorrncia
de assalto ocorrido em via pblica, ajuizara a ao indenizatria, em
que objetiva a responsabilizao do Estado de Pernambuco pelo custo
decorrente da referida cirurgia, que devolver ao autor a condio de
respirar sem a dependncia do respirador mecnico. (...) Concluiuse
que a realidade da vida to pulsante na espcie imporia o provimento
do recurso, a fim de reconhecer ao agravante, que inclusive poderia
correr risco de morte, o direito de buscar autonomia existencial,
desvinculandose de um respirador artificial que o mantm ligado a um
leito hospitalar depois de meses em estado de coma,
implementandose, com isso, o direito busca da felicidade, que um
consectrio do princpio da dignidade da pessoa humana. (STA223AgR,
Rel. p/o ac. Min. Celso de Mello, julgamento em 1442008, Plenrio,
Informativo 502.) 27
28. Art.1, III Uso de substncia entorpecente. Princpio da
insignificncia. Aplicao no mbito da Justia Militar. (...) Princpio
da dignidade da pessoa humana. Paciente, militar, preso em
flagrante dentro da unidade militar, quando fumava um cigarro de
maconha e tinha consigo outros trs. Condenao por posse e uso de
entorpecentes. No aplicao do princpio da insignificncia, em prol da
sade, disciplina e hierarquia militares. Amnima ofensividade da
conduta, a ausncia de periculosidade social da ao, o reduzido grau
de reprovabilidade do comportamento e a inexpressividade da leso
jurdica constituem os requisitos de ordem objetiva autorizadores da
aplicao do princpio da insignificncia. ALei 11.343/2006 nova Lei de
Drogas veda a priso do usurio. Prev, contra ele, apenas a lavratura
de termo circunstanciado. Preocupao do Estado em mudar a viso que
se tem em relao aos usurios de drogas. Punio severa e exemplar deve
ser reservada aos traficantes, no alcanando os usurios. Aestes
devem ser oferecidas polticas sociais eficientes para recuperlos do
vcio. OSTM no cogitou da aplicao da Lei 11.343/2006. No obstante,
cabe a esta Corte fazlo, incumbindolhe confrontar o princpio da
especialidade da lei penal militar, bice aplicao da nova Lei de
Drogas, com o princpio da dignidade humana, arrolado na CB de modo
destacado, incisivo, vigoroso, como princpio fundamental (...).
Excluso das fileiras do Exrcito: punio suficiente para que restem
preservadas a disciplina e hierarquia militares, indispensveis ao
regular funcionamento de qualquer instituio militar. Aaplicao do
princpio da insignificncia no caso se impe; a uma, porque presentes
seus requisitos de natureza objetiva; a duas, em virtude da
dignidade da pessoa humana. Ordem concedida. (HC92.961, Rel. Min.
Eros Grau, julgamento em 11122007, Segunda Turma, DJE de 2222008.)
No mesmo sentido: HC90.125, Rel. p/o ac. Min. Eros Grau, julgamento
em 2462008, Segunda Turma, DJE de 592008. Emsentido contrrio:
HC105.695, Rel. Min. Ellen Gracie, julgamento em 30112010, Segunda
Turma, DJE de 2222011; HC104.784, Rel. Min. Gilmar Mendes,
julgamento em 26102010, Segunda Turma, DJE de 22112010; HC104.838,
Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgamento em 26102010, Segunda Turma,
DJE de 22112010; HC103.684, Rel. Min. Ayres Britto, julgamento em
21102010, Plenrio, DJE de 1342011. Ato do TCU. (...) Penses civil e
militar. Militar reformado sob a CF de 1967. Cumu- latividade.
(...) Ainrcia da Corte de Contas, por sete anos, consolidou de
forma positiva a expectativa da viva, no tocante ao recebimento de
verba de carter alimentar. Este aspecto temporal diz intimamente
com o princpio da segurana jurdica, projeo objetiva do princpio da
dignidade da pessoa humana e elemento conceitual do Estado de
Direito. (MS24.448, Rel. Min. Ayres Britto, julgamento em 2792007,
Plenrio, DJ de 14112007.) (...) a exigncia constante do art.112, 2,
da Constituio fluminense consagra mera restrio material atividade
do legislador estadual, que com ela se v impedido de conceder
gratuidade sem proceder necessria indicao da fonte de custeio.
(...) Por fim, tambm infrutfero o argumento de desrespeito ao
princpio da dignidade da pessoa humana. Seu fundamento seria porque
a norma (...) retira do legislador, de modo peremptrio, a
possibilidade de implementar polticas necessrias a reduzir
desigualdades sociais e favorecer camadas menos abastadas da
populao, permitindolhes acesso gratuito a servios pblicos prestados
em mbito estadual; a regra (...) tem por objetivo evitar que,
atravs de lei, venham a ser concedidas a determinados indivduos
gratuidades, o preceito questionado (...) exclui desde logo a
possibilidade de implementao de medidas nesse sentido (concesso de
gratuidade em matria de transportes pblicos), j que estabelece um
bice da fonte 28
29. Art.1, III de custeio. Sucede que dessa frgil premissa no
se segue a concluso pretendida, pois falsa a suposio de que a mera
necessidade de indicao da fonte de custeio da gratuidade importaria
inviabilidade desta. Aexigncia de indicao da fonte de custeio para
autorizar gratuidade na fruio de servios pblicos em nada impede
sejam estes prestados graciosamente, donde no agride nenhum direito
fundamental do cidado. Amedida revestese, alis, de providencial
austeridade, uma vez que se preordena a garantir a gesto responsvel
da coisa pblica, o equilbrio na equao econmicofinanceira
informadora dos contratos administrativos e, em ltima anlise, a
prpria viabilidade e continuidade dos servios pblicos e das
gratuidades concedidas. (ADI3.225, voto do Rel. Min. Cezar Peluso,
julgamento em 1792007, Plenrio, DJ de 26102007.) Arguio de
incompetncia da Justia Federal. Improcedncia: o nmero de 180
pessoas reduzidas condio anloga a de escravo suficiente
caracterizao do delito contra a organizao do trabalho, cujo
julgamento compete Justia Federal. (HC91.959, Rel. Min. Eros Grau,
julgamento em 9102007, Segunda Turma, DJE de 2222008.) A Constituio
de 1988 traz um robusto conjunto normativo que visa proteo e efe-
tivao dos direitos fundamentais do ser humano. Aexistncia de
trabalhadores a laborar sob escolta, alguns acorrentados, em situao
de total violao da liberdade e da autodeterminao de cada um,
configura crime contra a organizao do trabalho. Quaisquer condutas
que possam ser tidas como violadoras no somente do sistema de rgos
e instituies com atribuies para proteger os direitos e deveres dos
trabalhadores, mas tambm dos prprios trabalhadores, atingindoos em
esferas que lhes so mais caras, em que a Constituio lhes confere
proteo mxima, so enquadrveis na categoria dos crimes contra a
organizao do trabalho, se praticadas no contexto das relaes de
trabalho. (RE398.041, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgamento em
30112006, Plenrio, DJE de 19122008.) No mesmo sentido: RE541.627,
Rel. Min. Ellen Gracie, julgamento em 14102008, Segunda Turma, DJE
de 21112008. O direito de defesa constitui pedra angular do sistema
de proteo dos direitos individu- ais e materializa uma das
expresses do princpio da dignidade da pessoa humana. Diante da
ausncia de intimao de defensor pblico para fins de julgamento do
recurso, constatase, no caso concreto, que o constrangimento
alegado inegvel. Noque se refere prerrogativa da intimao pessoal,
nos termos do art.5, 5, da Lei 1.060/1950, a jurisprudncia desta
Corte se firmou no sentido de que essa h de ser respeitada.
(HC89.176, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 2282006, Segunda
Turma, DJ de 2292006.) Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional
(Lei 7.492, de 1986). Crime societrio. Alegada inpcia da denncia,
por ausncia de indicao da conduta individualizada dos acusados.
Mudana de orientao jurisprudencial, que, no caso de crimes
societrios, entendia ser apta a denncia que no individualizasse as
condutas de cada indiciado, bastando a indicao de que os acusados
fossem de algum modo responsveis pela conduo da sociedade comercial
sob a qual foram supostamente praticados os delitos. (...)
Necessidade de individualizao das respectivas condutas dos
indiciados. Observncia dos princpios do devido processo legal (CF,
art.5, LIV), da ampla defesa, contraditrio (CF, art.5, LV) e da
dignidade da pessoa humana (CF, art.1, III). (HC86.879, Rel. p/o
ac. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 2122006, Segunda Turma, DJ de
1662006.) No mesmo sen tido: HC105.953MC, Rel. Min. Celso de Mello,
deciso monocrtica, julgamento em 5112010, DJE de 11112010. 29
30. Art.1, III Arguio de descumprimento de preceito
fundamental. Adequao. Interrupo da gravi- dez. Feto anencfalo.
Poltica judiciria. Macroprocesso. Tanto quanto possvel, h de ser
dada sequncia a processo objetivo, chegandose, de imediato, a
pronunciamento do STF. Emjogo valores consagrados na Lei
Fundamental como o so os da dignidade da pessoa humana, da sade, da
liberdade e autonomia da manifestao da vontade e da legalidade,
considerados a interrupo da gravidez de feto anencfalo e os
enfoques diversificados sobre a configurao do crime de aborto,
adequada surge a arguio de descumprimento de preceito fundamental.
Arguio de descumprimento de preceito fundamental. Liminar.
Anencefalia. Interrupo da gravidez. Glosa penal. Processos em
curso. Suspenso. Pendente de julgamento a arguio de descumprimento
de preceito fundamental, processos criminais em curso, em face da
interrupo da gravidez no caso de anencefalia, devem ficar suspensos
at o crivo final do STF. Arguio de descumprimento de preceito
fundamental. Liminar. Anencefalia. Interrupo da gravidez. Glosa
penal. Afastamento. Mitigao. Nadico da ilustrada maioria,
entendimento em relao ao qual guardo reserva, no prevalece, em
arguio de descumprimento de preceito fundamental, liminar no
sentido de afastar a glosa penal relativamente queles que venham a
participar da interrupo da gravidez no caso de anencefalia.
(ADPF54QO, Rel. Min. Marco Aurlio, julgamento em 2742005, Plenrio,
DJ de 3182007.) A durao prolongada, abusiva e irrazovel da priso
cautelar de algum ofende, de modo frontal, o postulado da dignidade
da pessoa humana, que representa considerada a centralidade desse
princpio essencial (CF, art.1, III) significativo vetor
interpretativo, verdadeiro valorfonte que conforma e inspira todo o
ordenamento constitucional vigente em nosso Pas e que traduz, de
modo expressivo, um dos fundamentos em que se assenta, entre ns, a
ordem republicana e democrtica consagrada pelo sistema de direito
constitucional positivo. (HC85.237, Rel. Min. Celso de Mello,
julgamento em 1732005, Plenrio, DJ de 2942005.) No mesmo sentido:
HC98.621, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 2332010,
Primeira Turma, DJE de 2342010; HC95.634, Rel. Min. Ellen Gracie,
julgamento em 262009, Segunda Turma, DJE de 1962009; HC95.492, Rel.
Min. Cezar Peluso, julgamento em 1032009, Segunda Turma, DJE de
852009. Denncia. Estado de Direito. Direitos fundamentais. Princpio
da dignidade da pessoa humana. Requisitos do art.41 do CPP no
preenchidos. Atcnica da denncia (art.41 do CPP) tem merecido
reflexo no plano da dogmtica constitucional, associada
especialmente ao direito de defesa. (...) Denncias genricas, que no
descrevem os fatos na sua devida conformao, no se coadunam com os
postulados bsicos do Estado de Direito. Violao ao princpio da
dignidade da pessoa humana. No difcil perceber os danos que a mera
existncia de uma ao penal impe ao indivduo. Necessidade de rigor e
prudncia daqueles que tm o poder de iniciativa nas aes penais e
daqueles que podem decidir sobre o seu curso. (HC84.409, Rel. p/o
ac. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 14122004, Segunda Turma, DJ
de 1982005.) O direito ao nome inserese no conceito de dignidade da
pessoa humana, princpio alado a fundamento da Repblica Federativa
do Brasil (CF, art.1, III). (RE248.869, voto do Rel. Min. Maurcio
Corra, julgamento em 782003, Plenrio, DJ de 1232004.) O fato de o
paciente estar condenado por delito tipificado como hediondo no
enseja, por si s, uma proibio objetiva incondicional concesso de
priso domiciliar, pois a dignidade da pessoa humana, especialmente
a dos idosos, sempre ser preponderante, dada a 30
31. Art.1, III sua condio de princpio fundamental da Repblica
(art.1, III, da CF/1988). Por outro lado, incontroverso que essa
mesma dignidade se encontrar ameaada nas hipteses excepcionalssimas
em que o apenado idoso estiver acometido de doena grave que exija
cuidados especiais, os quais no podem ser fornecidos no local da
custdia ou em estabelecimento hospitalar adequado. (HC83.358, Rel.
Min. Ayres Britto, julgamento em 452004, Primeira Turma, DJ de
462004.) Sendo fundamento da Repblica Federativa do Brasil a
dignidade da pessoa humana, o exame da constitucionalidade de ato
normativo fazse considerada a impossibilidade de o Diploma Maior
permitir a explorao do homem pelo homem. Ocredenciamento de
profissionais do volante para atuar na praa implica ato do
administrador que atende s exigncias prprias permisso e que
objetiva, em verdadeiro saneamento social, o endosso de lei
viabilizadora da transformao, balizada no tempo, de taxistas
auxiliares em permissionrios. (RE359.444, Rel. p/o ac. Min. Marco
Aurlio, julgamento em 2432004, Plenrio, DJ de 2852004.) Fundamento
do ncleo do pensamento do nacionalsocialismo de que os judeus e os
arianos formam raas distintas. Osprimeiros seriam raa inferior,
nefasta e infecta, caractersticas suficientes para justificar a
segregao e o extermnio: inconciabilidade com os padres ticos e
morais definidos na Carta Poltica do Brasil e do mundo
contemporneo, sob os quais se ergue e se harmoniza o Estado
Democrtico. Estigmas que por si s evidenciam crime de racismo.
Concepo atentatria dos princpios nos quais se erige e se organiza a
sociedade humana, baseada na respeitabilidade e dignidade do ser
humano e de sua pacfica convivncia no meio social. Condutas e
evocaes aticas e imorais que implicam repulsiva ao estatal por se
revestirem de densa intolerabilidade, de sorte a afrontar o
ordenamento infraconstitucional e constitucional do Pas. (HC82.424,
Rel. p/o ac. Min. Presidente Maurcio Corra, julgamento em 1792003,
Plenrio, DJ de 1932004.) A mera instaurao de inqurito, quando
evidente a atipicidade da conduta, constitui meio hbil a impor
violao aos direitos fundamentais, em especial ao princpio da
dignidade humana. (HC82.969, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em
3092003, Segunda Turma, DJ de 17102003.) A simples referncia
normativa tortura, constante da descrio tpica consubstanciada no
art.233 do Estatuto da Criana e do Adolescente, exterioriza um
universo conceitual impregnado de noes com que o senso comum e o
sentimento de decncia das pessoas identificam as condutas
aviltantes que traduzem, na concreo de sua prtica, o gesto ominoso
de ofensa dignidade da pessoa humana. Atortura constitui a negao
arbitrria dos direitos humanos, pois reflete enquanto prtica
ilegtima, imoral e abusiva um inaceitvel ensaio