21
Revista Eletrônica Gestão e Negócios – Volume – nº 1 – 2016. A Contabilidade como Instrumento de Evidenciação de Informações Ambientais Valéria Botelho Cordeiro 1 Prof. Msc. Ricardo Pereira Rios 2 RESUMO A questão ambiental tem sido bastante discutida nos dias atuais, visto que muitos se preocupam com o patrimônio natural da humanidade. Como consequência, vem se transformando em um importante diferencial competitivo para as organizações. Do ponto de vista da contabilidade, o que se pode medir e fazer constar nas demonstrações contábeis são os eventos e transações econômico-financeiros, que refletem a interação da empresa com o meio ambiente. Nesse sentido, observou-se a necessidade de verificar de que forma as informações ambientais são evidenciadas nos demonstrativos financeiros das organizações, bem como demonstrar a relação existente entre o meio ambiente e o meio empresarial. Com o objetivo de analisar a evidenciação das informações de natureza ambiental, nos relatórios contábeis das Sociedades Anônimas, utilizou-se uma pesquisa exploratória e documental, buscando demonstrar se tais informações são evidenciadas de forma completa e transparente. Constatou-se dessa análise que as empresas pesquisadas evidenciam de maneira satisfatória o critério da inteiração com o meio ambiente. Contudo notou-se que a divulgação dessas informações tem maior preocupação em mostrar uma boa imagem da empresa, do que propriamente refletir ações sustentáveis aos usuários e à sociedade como um todo. Palavras-chave: Meio Ambiente, Evidenciação, Contabilidade Ambiental, Impacto Ambiental. 1 Bacharelanda em Ciências Contábeis pela Faculdade de Administração e Ciências Contábeis de São Roque, 2016. 2 Mestre em Ciências Contábeis pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP, Pós Graduado em Gestão Empresarial pela Universidade Nove de Julho, Bacharel em Ciências Contábeis pela Faculdade de Administração e Ciências Contábeis de São Roque. Atua na área Contábil Tributária há 20 anos. Professor Universitário, atuando também como docente em cursos e palestras com temas voltados área contábil tributária há mais de 05 anos. Coordenador do Curso de Ciências Contábeis da Faculdade de Administração e Ciências Contábeis de São Roque. Co-autor do livro: "Normas e Práticas Contábeis: Uma introdução", obra premiada na categoria Livro de Contabilidade no "Troféu Cultura Econômica 2012" – Rio Grande do Sul.

A Contabilidade como Instrumento de Evidenciação de ...s3.uninove.br/app/uploads/2016/12/08101805/1481210285-Valeria... · A contabilidade ambiental não é uma nova ciência, mas

  • Upload
    hathuan

  • View
    214

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Revista Eletrônica Gestão e Negócios – Volume – nº 1 – 2016.

A Contabilidade como Instrumento de Evidenciação de

Informações Ambientais

Valéria Botelho Cordeiro1

Prof. Msc. Ricardo Pereira Rios2

RESUMO A questão ambiental tem sido bastante discutida nos dias atuais, visto que muitos se preocupam com o patrimônio natural da humanidade. Como consequência, vem se transformando em um importante diferencial competitivo para as organizações. Do ponto de vista da contabilidade, o que se pode medir e fazer constar nas demonstrações contábeis são os eventos e transações econômico-financeiros, que refletem a interação da empresa com o meio ambiente. Nesse sentido, observou-se a necessidade de verificar de que forma as informações ambientais são evidenciadas nos demonstrativos financeiros das organizações, bem como demonstrar a relação existente entre o meio ambiente e o meio empresarial. Com o objetivo de analisar a evidenciação das informações de natureza ambiental, nos relatórios contábeis das Sociedades Anônimas, utilizou-se uma pesquisa exploratória e documental, buscando demonstrar se tais informações são evidenciadas de forma completa e transparente. Constatou-se dessa análise que as empresas pesquisadas evidenciam de maneira satisfatória o critério da inteiração com o meio ambiente. Contudo notou-se que a divulgação dessas informações tem maior preocupação em mostrar uma boa imagem da empresa, do que propriamente refletir ações sustentáveis aos usuários e à sociedade como um todo.

Palavras-chave: Meio Ambiente, Evidenciação, Contabilidade Ambiental, Impacto

Ambiental.

1 Bacharelanda em Ciências Contábeis pela Faculdade de Administração e Ciências Contábeis de São Roque, 2016.

2 Mestre em Ciências Contábeis pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP, Pós Graduado em Gestão Empresarial pela Universidade Nove de Julho, Bacharel em Ciências Contábeis pela Faculdade de Administração e Ciências Contábeis de São Roque. Atua na área Contábil Tributária há 20 anos. Professor Universitário, atuando também como docente em cursos e palestras com temas voltados área contábil tributária há mais de 05 anos. Coordenador do Curso de Ciências Contábeis da Faculdade de Administração e Ciências Contábeis de São Roque. Co-autor do livro: "Normas e Práticas Contábeis: Uma introdução", obra premiada na categoria Livro de Contabilidade no "Troféu Cultura Econômica 2012" – Rio Grande do Sul.

2

Revista Eletrônica Gestão e Negócios – Volume – nº 1 – 2016.

INTRODUÇÃO

O combate a todas as formas de degradação do meio ambiente é uma

obrigação de toda sociedade. É sabido que várias áreas do conhecimento já estão

se empenhando em contribuir para essa causa. De acordo com seu campo de

atuação, impõe-se também nesse contexto a participação da ciência contábil, ainda

porque os eventos e transações de natureza ambiental representam grandezas

relevantes, e com isso causam significativo impacto na situação econômico-

financeira das empresas.

A contabilidade ambiental não é uma nova ciência, mas sim, uma segmentação da tradicional, já amplamente conhecida. Adaptando o objetivo desta última, podemos definir como objetivo da contabilidade ambiental: identificar, mensurar e esclarecer os eventos e transações econômico-financeiros que estejam relacionados com a proteção, preservação e recuperação ambiental, ocorridos em um determinado período, visando a evidenciação da situação patrimonial de uma entidade. (Ribeiro, 2010, p.45)

O tema ‘A Contabilidade como instrumento de evidenciação de informações

ambientais’ está de acordo com a área de interesse de estudo do curso de

bacharelado em Ciências Contábeis, uma vez que demonstra ser um assunto de

suma importância para os dias atuais.

A escolha deste tema se deu pela necessidade de melhorar a forma como

são evidenciadas as informações ambientais, para que de fato os investidores e a

sociedade sejam informados de maneira mais transparente e completa,

contemplando assim a relação entre o patrimônio da entidade e o patrimônio da

humanidade, evidenciando a forma como os objetivos econômicos destas entidades

foram alcançados e os impactos causados pela atividade desempenhada com a

exploração dos recursos naturais que as circundam. Dessa forma a contabilidade,

como ciência social que é, buscaria satisfazer a uma sociedade cada vez mais

interessada no relacionamento das empresas com o meio ambiente, com isso a

contabilidade estaria cumprindo sua função social ao refletir as ações sustentáveis

das entidades, sejam elas impostas em cumprimentos a obrigações legais, seja por

pressão da sociedade como um todo.

3

Revista Eletrônica Gestão e Negócios – Volume – nº 1 – 2016.

Nesse sentido a pesquisa buscará responder ao seguinte questionamento: Na

divulgação dos relatórios financeiros das empresas analisadas, as informações

ambientais são evidenciadas de forma transparente à sociedade?

Este trabalho tem como objetivo geral analisar a evidenciação nos relatórios

contábeis das Sociedades Anônimas sobre fatos que impactam o meio ambiente e a

evidenciação decorrente dessas informações nos relatórios contábeis das empresas.

Como objetivos específicos, será realizada uma pesquisa bibliográfica, que visa

buscar informações em fontes como livros, artigos, bem com nos relatórios internos

das empresas, disponibilizados nos sites oficiais das empresas.

1. REFERENCIAL TEÓRICO

A seguir apresenta-se o referencial teórico sobre o tema.

1.1 EVIDENCIAÇÃO (DISCLOSURE)

A evidenciação ou disclosure é um compromisso inalienável da Contabilidade

com seus usuários e com os próprios objetivos, e suas formas de evidenciação

podem variar, mas a essência é sempre a mesma: apresentar a informação

quantitativa e qualitativa nos demonstrativos formais, a fim de propiciar uma base

adequada de informação para o usuário.

Verifica-se que os objetivos da Contabilidade somente poderão ser plenamente

alcançados se os relatórios forem convenientemente apresentados, de tal forma que

o maior número possível de pessoas possa compreendê-los e utilizá-los para tomar

suas decisões.

Iudícibus (2010, p.110) traz um trecho importante retirado do Accounting

Research Study nº1, editado pelo AICPA, em 1961, que diz que “Os demonstrativos

contábeis deveriam evidenciar o que for necessário, a fim de não torná-los

enganosos”. De acordo ainda com o autor os conteúdos das informações que serão

evidenciadas devem respeitar o conceito da relevância:

4

Revista Eletrônica Gestão e Negócios – Volume – nº 1 – 2016.

Com relação à quantidade de evidenciação, muitas expressões e conceitos têm sido utilizados; alguns falam em evidenciação adequada (adequate disclosure), outros ainda em evidenciação justa (fair disclosure) e outros ainda em evidenciação plena (full disclosure). Na verdade, não existe diferença efetiva entre tais conceitos, embora tenham sido utilizados com significados distintos; toda informação para o usuário precisa ser, ao mesmo tempo, adequada, justa e plena, pelo menos no que se refere ao detalhe que está sendo evidenciado. Afinal o sentido da evidenciação é que a informação que não for relevante deve ser omitida a fim de tornar os demonstrativos contábeis significativos e possíveis de serem entendidos plenamente. (IUDICIBUS, 2010, p. 111)

As informações que serão evidenciadas devem levar em consideração

conceitos como a materialidade e relevância, pois estes possuem ligação direta e

podem referir-se a informações quantitativas e qualitativas. “[...] é preciso

avaliarmos, embora seja difícil, se esta informação aumentará a relevância a ponto

de justificar o aumento da complexidade de sua análise”. (IUDÍCIBUS, 2010, p.112)

As formas de evidenciação disponíveis são realizadas através dos

demonstrativos contábeis, notas explicativas, quadros e demonstrativos

suplementares, comentários do auditor e em relatórios da administração. Porém, no

Brasil, a forma principal de evidenciação utilizada pela Lei das Sociedades por ações

são as notas explicativas.

1.2 CONTABILIDADE AMBIENTAL

Segundo Costa (2012, p. 28) “A contabilidade, uma das ciências mais antigas

do mundo, originou-se com o intuito de quantificar a riqueza humana, ou seja, o

patrimônio [...]”. Porém, segundo o mesmo autor o comportamento funcional da

riqueza precisa atender ao indivíduo, mas, igualmente, ao ambiente onde este se

insere.

A questão ecológica tem-se tornado um assunto bastante discutido

atualmente. Isso porque muitos se preocupam com o patrimônio natural da

humanidade, e essa crescente conscientização tem se estendido às entidades, em

relação às transações econômico-financeiras, que refletem a interação empresa e

meio ambiente. Até porque os eventos e transações de natureza ambiental

5

Revista Eletrônica Gestão e Negócios – Volume – nº 1 – 2016.

representam grandezas relevantes, e causam significativo impacto na situação

econômico-financeiro dessas empresas.

Tinoco e Kraemer (2004, p. 59 apud COSTA, 2012, pg. 34) enfatizam que “A

diferença entre a contabilidade ambiental e a contabilidade tradicional alicerça-se no

cunho ambicioso da primeira, haja vista buscar conhecer as externalidades

negativas e registrar, mensurar, avaliar e divulgar todos os eventos ambientais”.

Ribeiro (2010, p.45), define como os objetivos da contabilidade ambiental:

identificar, mensurar, e esclarecer os eventos e transações econômico-financeiros que estejam relacionados com a proteção, preservação e recuperação ambiental, ocorridos em um determinado período, visando a evidenciação da situação patrimonial de uma entidade.

Neste contexto para Costa (2012, p.29) “[...] Contabilidade Ambiental é a

contabilização dos benefícios e prejuízos que o desenvolvimento de um produto, ou

serviço, pode trazer ao meio ambiente [...]”.

O autor define Contabilidade Ambiental como o estudo do patrimônio

ambiental, bens, direitos e obrigações ambientais das entidades. Seu objetivo é

fornecer aos seus usuários, internos e externos, informações sobre os eventos

ambientais que causam modificações na situação patrimonial, bem como realizar

sua identificação, mensuração e evidenciação.

1.2.1 INFORMAÇÕES AMBIENTAIS

A evidenciação nas demonstrações contábeis dos eventos econômico-

financeiros de natureza ambiental é uma das contribuições ao processo de

preservação e proteção nessa área. Atualmente tais informações possuem, quando

muito, menções no relatório da diretoria, mas já existe uma pressão do mercado

empresarial, para que sejam atendidas tais menções nos relatórios anuais.

Para Costa e Marion (2007), as empresas se preocupam em evidenciar as

informações ambientais e de responsabilidade social, com o intuito de agregar à sua

6

Revista Eletrônica Gestão e Negócios – Volume – nº 1 – 2016.

imagem confiabilidade, pois, uma vez que tornam claras as informações, podem

auxiliar em tomadas de decisões dos investidores.

“A evidenciação das informações de natureza ambiental deve ser realizada de

forma segregada, visando informar o usuário sobre a forma de interação da empresa

com o meio ambiente”. (RIBEIRO, 2010, p.48)

A autora destaca que na última década houve importantes mudanças no

comportamento empresarial, fazendo com que os relatórios anuais se tornassem

ricos em informações, ainda que limitadas às de natureza qualitativa. Tais mudanças

são decorrentes da globalização de mercados, e outro fato que motivou esse

aumento foi o uso dos gastos relacionados com as ações ambientais para promover

a imagem da empresa.

Ribeiro (2010, p. 126) destaca ainda que circula atualmente uma grande

quantidade de informações de natureza ambiental, em especial por meio da Internet:

Tais informações são descritivas, limitando-se na maioria dos casos a mencionar que “a empresa investiu na preservação do meio ambiente”. Mesmo quando citam os montantes, não informam se eles foram registrados como despesas ou como investimentos, além de não estabelecer qualquer relação entre eles e outros elementos das demonstrações contábeis [...]

Na visão de Tinoco e Kraemer (2011, p. 62) a informação na forma como é

feita no Brasil:

não atende ao preceito básico de evidenciação da situação das organizações, registrando basicamente seus eventos operacionais, não captando a inserção das entidades na vida social, a forma com que elas se relacionam com seus colaboradores, seus fornecedores, os usuários de seus serviços, o Governo, enfim, os parceiros de suas atividades , seus stakeholders.

Para os autores a crítica a ser feita a esse tipo de postura passa pela geração

de relatórios contábeis e sociais que superem as limitações ortodoxas às quais a

contabilidade se mantém presa e permitam relacionar o desempenho econômico e

financeiro ao desempenho operacional, ambiental e social “[...] a sociedade merece

ser informada desses esforços e sua divulgação é positiva para as organizações,

quer do ponto de vista de sua imagem, quer do ponto de vista de melhoria e

7

Revista Eletrônica Gestão e Negócios – Volume – nº 1 – 2016.

qualificação da informação contábil, econômica, social e ambiental”. (TINOCO e

KRAEMER, 2011, p.63).

1.2.1.1 NBC T 15- INFORMAÇÕES DE NATUREZA SOCIAL E AMBIENTAL

Esta norma elaborada pelo Conselho Federal de Contabilidade, NBC T 15-

Informações de Natureza Social e Ambiental, em vigor desde 1º de janeiro de 2006,

estabelece procedimentos para a evidenciação de informações ambientais, com o

objetivo de demonstrar à sociedade a participação e a responsabilidade social da

entidade.

A Demonstração de Informações de Natureza Social e Ambiental, quando

elaborada deve evidenciar os dados e as informações de natureza social e

ambiental da entidade, extraídos ou não da contabilidade, de acordo com os

procedimentos determinados pela norma.

Para fins desta norma, o CFC estabelece o que entende por informações de

natureza social e ambiental:

a) a geração e a distribuição de riqueza;

b) os recursos humanos;

c) a interação da entidade com o ambiente externo; e

d) a interação com o meio ambiente.

Nas informações relativas à interação da entidade com o meio ambiente,

devem ser evidenciados:

a) investimentos e gastos com manutenção nos processos operacionais para a

melhoria do meio ambiente;

b) investimentos e gastos com a preservação e/ou recuperação de ambientes

degradados;

c) investimentos e gastos com a educação ambiental para empregados,

terceirizados, autônomos e administradores da entidade;

d) investimentos e gastos com educação ambiental para a comunidade;

e) investimentos e gastos com outros projetos ambientais;

8

Revista Eletrônica Gestão e Negócios – Volume – nº 1 – 2016.

f) quantidade de processos ambientais, administrativos e judiciais movidos contra a

entidade;

g) valor das multas e das indenizações relativas à matéria ambiental, determinadas

administrativa e/ou judicialmente;

h) passivos e contingências ambientais

A demonstração quando divulgada, deve ser efetuada como informação

complementar às demonstrações contábeis, não se confundindo com as notas

explicativas.

1.3 FORMAS DE EVIDENCIAÇÃO DA CONTABILIDADE AMBIENTAL

De acordo com Tinoco e Kraemer (2011, p. 232) as principais formas de

evidenciação pelas entidades são:

a) Forma e disposição dos demonstrativos contábeis e formais; b) Informação entre parênteses; c) notas explicativas; d) quadros e demonstrativos suplementares; e) comentários do auditor; f) relatório do conselho de administração.

Ribeiro (2010, p. 141) ressalta que existe uma quantidade razoável de

orientações quanto à forma e conteúdo de natureza ambiental:

Apesar da falta de normalização legal quanto à forma e o conteúdo da divulgação das informações de natureza ambiental [...] há duas linhas de pensamento: uma que propõe a implementação de um novo relatório apenso às demonstrações contábeis, o qual trataria somente das questões ambientais; e outra que sugere a inclusão desses dados nas atuais demonstrações, mantendo o modelo já utilizado, mas apresentando contas e notas explicativas específicas [...].

Sobre esse aspecto a autora afirma que nas duas últimas décadas, o

surgimento de várias discussões sobre a contabilidade ambiental, e algumas formas

de divulgação da interação da empresa com o meio ambiente têm sido sugeridas

como a Global Reporting Initiative (GRI), Eco-Management and Audit Scheme-

9

Revista Eletrônica Gestão e Negócios – Volume – nº 1 – 2016.

(EMAS), Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE), entre outras

de natureza geral.

Porém no Brasil, a forma principal de evidenciação utilizada pelas empresas

conforme a Lei das Sociedades por ações são as notas explicativas.

Costa (2012, p. 48) também aborda essas linhas de pensamento quando

afirma que “há duas possibilidades de divulgação ambiental: uma nas

demonstrações financeiras já existentes e outra em relatórios contábeis agregativos

(separados) [...]”.

Segundo o autor na evidenciação ambiental através das demonstrações

financeiras, as empresas não devem sintetizar as contas de forma geral. Haveria a

necessidade de se criar, por exemplo, um grupo de contas e subcontas específicas

para as contas ambientais. Já na evidenciação através dos relatórios agregativos, as

empresas teriam dois caminhos a trilhar; um seria a elaboração de um Balanço

Patrimonial e uma Demonstração de Resultado do Exercício exclusivamente

pertinente às questões ambientais e a outra seria a adoção do Balanço Social,

utilizando o modelo sugerido pelo IBASE.

1.3.1 BALANÇO SOCIAL

“Nos últimos anos especialmente na Europa, surgiu novo relatório, elaborado

com base em informações da contabilidade, que foi denominado de Balanço Social”

(TINOCO e KRAEMER, 2011, p.63)

Segundo Costa (2012, p.175) “[...] começaram a elaborar um modelo de

demonstração social para a prestação de contas junto ao público, como forma de

reagir às pressões vindas da sociedade por uma nova postura ética [...]”.

De acordo com Iudícibus (2000, p. 31 apud COSTA, 2012, p. 176):

o Balanço Social busca demonstrar o grau de responsabilidade social assumido pela empresa e assim prestar contas à sociedade pelo uso do patrimônio público, constituído dos recursos naturais, humanos e o direito de conviver e usufruir dos benefícios da sociedade em que atua.

10

Revista Eletrônica Gestão e Negócios – Volume – nº 1 – 2016.

Tinoco e Kraemer (2011, p. 63), esclarecem os objetivos do balanço social:

“Balanço Social é um instrumento de gestão e de informação que visa evidenciar de

forma mais transparente possível, informações contábeis, econômicas, ambientais e

sociais, do desempenho das entidades, aos mais diferenciados usuários”.

No entendimento desses autores a informação social, ambiental, a geração

de valor adicionado e a informação econômica devem caminhar e ser divulgadas

juntas, como já é feito por empresas dos países europeus e dos Estados Unidos.

Para Ribeiro (2010, p.15) “em síntese, o Balanço Social, no sentido mais

amplo, deve refletir toda a responsabilidade da empresa com a sociedade [...]”.

Costa (2012, p.183) afirma que “para fins de aplicação das informações

obrigatórias no balanço social, utilizaram-se as constantes na NBC-15- Informações

de Natureza Social e Ambiental”.

Apesar de não haver, até o presente momento, uma regulamentação

específica, no Brasil, sobre a obrigatoriedade de publicação do Balanço Social,

alguns órgãos regulamentadores, como a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e

o CFC, emitiram algumas instruções, que devem nortear a publicação dos

respectivos balanços.

1.3.2 BALANÇO AMBIENTAL

O Balanço Ambiental é uma demonstração das contas que evidenciam as

relações do patrimônio com o meio ambiente. Segundo Iudícibus (2000, p.31 apud

COSTA, 2012, p.184):

o Balanço Ambiental reflete a postura da empresa em relação aos recursos naturais, compreendendo os gastos com preservação, proteção e recuperação destes; os investimentos em equipamentos e tecnologias voltados à área ambiental e os passivos ambientais.

Para a publicação desse tipo de demonstrativo não existe exigência legal,

porém é notória a existência de pressão da sociedade e daqueles que se utilizam

das informações, como bancos, fornecedores, funcionários, investidores, etc.

11

Revista Eletrônica Gestão e Negócios – Volume – nº 1 – 2016.

O modelo de Balanço Social proposto pela IBASE apresenta indicadores

ambientais, mas esses não satisfazem às necessidades de informações.

Normalmente as empresas que apresentam o Balanço Social procuram apresentar

também outro documento intitulado Relatório Ambiental, cujo conteúdo tem natureza

dissertativa e não é estruturado em forma de quadros demonstrativos.

1.3.2 DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO

Segundo Tinoco e Kraimer (2011) mais recentemente, a Lei nº 11.638, de

28.12.2007 alterou dispositivos da Lei nº 6.404/76, instituiu a obrigação das

empresas de capital aberto em elaborar a Demonstração do Valor Adicionado

(DVA), bem como a Demonstração dos Fluxos de Caixa para empresas de grande

porte.

Essa demonstração evidencia de forma transparente o valor agregado gerado

em relação à receita gerada pela empresa e sua repartição aos segmentos

beneficiários, que são: o pessoal que trabalha na empresa, os acionistas que

investem recursos, o Estado que se apropria dos tributos e os financiadores

externos, que são remunerados através de juros.

Para Costa (2012, p. 189) “A Demonstração do Valor Adicionado (DVA) é o

informe contábil que evidencia, de forma sintética, os valores correspondentes à

formação da riqueza gerada pela empresa em determinado período e sua respectiva

distribuição”.

Ribeiro (2010, p. 16) relata que “A DVA, é, pois uma forma de evidenciar a

função social da empresa e sua contribuição para formar a riqueza global do país, o

PIB [...]”.

Em geral, as demonstrações contábeis tradicionais não refletem o importante papel social e econômico que as empresas exercem nas diferentes regiões onde atuam. Por isso o grande diferencial da DVA é sua capacidade de evidenciar os destinatários da riqueza gerada, além dos acionistas. Da mesma forma, evidenciam o lucro da empresa e como ele foi calculado, visando aos investidores. (RIBEIRO, 2010, p. 16)

12

Revista Eletrônica Gestão e Negócios – Volume – nº 1 – 2016.

2. METODOLOGIA

Para a presente pesquisa utilizou-se o método dedutivo que, segundo Marconi

e Lakatos (2003) é a pesquisa que parte de pressupostos já estabelecidos

anteriormente.

Esta pesquisa apresentou-se sobre o conceito de pesquisa do tipo exploratório,

que segundo Gil (2010, p.27) "[...] têm como propósito proporcionar maior

familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir

hipóteses”.

Caracterizou-se ainda por ser do tipo descritivo, que segundo o mesmo autor

compreende em descrever as características de um determinado grupo, ou seja,

apresentando as características das empresas.

A presente pesquisa utilizou-se de procedimentos de pesquisa documental,

que segundo Gil (2002, p.45) “vale-se de materiais que não recebem ainda

tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os

objetivos da pesquisa".

Quanto à abordagem, a pesquisa apresentou-se sob caráter qualitativo, pois os

dados foram analisados individualmente em relação a parâmetros estabelecidos,

não apresentando seus resultados de forma numérica. E sob a forma de pesquisa

quantitativa, uma vez que esse tipo de pesquisa se traduz por tudo aquilo que pode

ser quantificável, ou seja, para obter a análise dos dados houve a necessidade de

traduzir em números.

Foram selecionadas 03 empresas de capital aberto, listadas na Bolsa de

Valores de São Paulo, levando-se em consideração o impacto que essas

organizações causam no mercado. Em se tratando de empresas de capital aberto os

investidores cada vez mais se atentam a dados ambientais com o intuito de saber se

a empresa é correta ecologicamente.

A coleta dos dados foi realizada por meio de acesso aos sites oficiais

analisando-se individualmente as 03 empresas selecionadas, através das

demonstrações financeiras, dos Balanços Sociais e Sustentáveis, e com o auxilio

das notas explicativas para a evidenciação das informações ambientais.

13

Revista Eletrônica Gestão e Negócios – Volume – nº 1 – 2016.

Nessa análise foi verificado apenas o critério relacionado à interação com o

meio ambiente, que corresponde a um, do total de quatro critérios de evidenciação

das informações de natureza social e ambiental, exigidos pela NBC T-15.

2.1 EMPRESAS ANALISADAS

Para melhor demonstração sobre os dados coletados na pesquisa efetuada,

será feita a análise de empresas conforme descrito a seguir, visando agregar maior

entendimento.

2.1.1 BRF S.A

A BRF S.A. é uma companhia de capital aberto no Brasil e está, portanto,

sujeita às exigências da Lei das Sociedades por Ações e às regras e regulamentos

da Comissão de Valores Mobiliários do Brasil (CVM). Tem sede a Rua Hungria,

1400, 5º andar, Jardim Europa, São Paulo.

Possui capital aberto desde 1980 e integra a BM&FBOVESPA no segmento de

Novo Mercado, desde 2006 (código de negociação: BRFS3). Também tem papéis

negociados na NYSE (ADR nível III). Desde 2005, a BRF integra o Índice de

Sustentabilidade Empresarial da BM&FBOVESPA (ISE), refletindo seu compromisso

com o desenvolvimento sustentável.

A BRF S.A. é uma empresa de alimentos sediados no Brasil, ocupando a

terceira posição mundial no abate de aves, segundo a Watt Global Media. Seus

produtos estão presentes em 95% dos lares brasileiros. Entre suas marcas

consagradas no Brasil e no exterior estão: Sadia, Perdigão, Qualy, Chester, Dánica,

Perdix, Paty e Vieníssima.

A BRF — Antiga Brasil Foods S.A. — é um conglomerado brasileiro do ramo

alimentício, que surgiu através da fusão das ações da Sadia S.A. ao capital social da

Perdigão S.A.. Há mais de 80 anos no mercado, desde a fundação da primeira

fábrica na cidade de Videira em 1934, atua nos segmentos de carnes, alimentos

processados.

14

Revista Eletrônica Gestão e Negócios – Volume – nº 1 – 2016.

2.1.2 NATURA COSMÉTICOS S.A

A Natura Cosméticos S.A. (“Sociedade”) é uma sociedade anônima de capital

aberto listada no segmento especial denominado Novo Mercado da

BM&FBOVESPA S.A. - Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros, sob o código

“NATU3”, com sede no Brasil, na Cidade de São Paulo, Estado de São Paulo, na

Avenida Alexandre Colares, n°. 1188, Vila Jaguara, CEP 05106-000.

A Natura é uma empresa brasileira que atua no setor de produtos de

tratamento para o rosto e o corpo, banho, óleos corporais, perfumaria, cabelos,

proteção solar, e infantil. Fundada em 1969 por Antônio Luiz Seabra, hoje está

presente no Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, México, Peru, Venezuela e França,

com planos de expansão para os Estados Unidos da América. O número de

funcionários, chamados na empresa de "colaboradores", atingiu 7.000 em 2013 e o

de consultoras estimado em 1,5 milhão.

2.1.3 JBS S.A

A JBS S.A. ("JBS" ou "Controladora"), é uma sociedade anônima de capital

aberto listada no nível Novo Mercado da BM&FBOVESPA S.A. - Bolsa de Valores,

Mercadorias e Futuros, sob o código "JBSS3", e no mercado de balcão NYSE -

Bolsa de Valores de Nova York (ADR nível I) sob o código "JBSAY".

A JBS junto com suas controladas ("Companhia" ou "Consolidado") é líder

global no processamento de proteína animal. É uma Companhia de alimentos com

mais de 60 anos de tradição, operando em mais de 20 países, a companhia atende

uma base de mais de 300 mil clientes em mais de 150 países por meio de um

variado portfólio de produtos e marcas.

3. RESULTADOS

De acordo com os dados coletados, elaborou-se um quadro para melhor

demonstração sobre a evidenciação das informações ambientais, baseadas na NBC

T 15 – Informações de Natureza Social e Ambiental.

15

Revista Eletrônica Gestão e Negócios – Volume – nº 1 – 2016.

Quadro 1: Evidenciação da Interação com o Meio Ambiente

Evidenciação BRF S.A. Natura S.A JBS S.A. Investimentos e gastos com processos operacionais para melhoria do meio ambiente

Evidencia Evidencia Evidencia

Investimentos e gastos com a preservação e/ou recuperação do meio ambiente

Evidencia Evidencia Evidencia

Investimentos e gastos com a educação ambiental (empregados, terceirizados...)

Evidencia Não ocorreu Evidencia

Investimentos e gastos com educação ambiental para a comunidade

Evidencia Evidencia Não ocorreu

Investimentos e gastos com outros projetos ambientais

Evidencia Evidencia Evidencia

Quantidade de processos ambientais movidos contra a entidade

Não ocorreu

Evidencia

Não ocorreu

Valor das multas relativas à matéria ambiental Não ocorreu Evidencia

Não ocorreu

Fonte: elaborado pela autora com base nos dados coletados

Ressalta-se que para a análise das empresas citadas no quadro acima,

utilizou-se demonstrativos como Balanço Social e Notas Explicativas, DVA e os

Relatórios Anuais e de Sustentabilidade. E com isso, foi possível obter as

informações necessárias para um melhor resultado da análise.

Em seu Relatório Anual e de Sustentabilidade a BRF, evidencia as questões

ambientais e mantém diversas iniciativas para utilizar de forma eficiente os recursos

naturais e mitigar os impactos de suas operações sobre o meio ambiente. Cabe

ressaltar que a empresa também segue uma Política de Meio Ambiente, a qual

determina patamares mínimos de desempenho ambiental, possuindo uma equipe

técnica especializada, que participa de todas as fases dos projetos, desde a

concepção até a implementação. Busca promover uma avaliação consistente dos

impactos ambientais e priorizar a ecoeficiência dos processos e equipamentos

utilizados.

Nesse sentido foi criado O ReciclAção, um projeto de educação ambiental,

mobilização comunitária e gestão de resíduos sólidos, que tem como objetivo

erradicar os riscos socioambientais, entre outros impactos econômicos indiretos

identificados pela BRF, como: poluição de recursos hídricos em eventuais

rompimentos de taludes/barragens e problemas em captações de água a jusante

dos rios utilizados para descartar efluentes industriais.

16

Revista Eletrônica Gestão e Negócios – Volume – nº 1 – 2016.

A Natura reconhece os impactos significativos que sua presença pode gerar

na dinâmica socioeconômica e ambiental dos municípios onde atua. Em 2015,

desenvolveram, em parceria com o Instituto Ipsos, a adaptação inédita do

instrumento Índice de Progresso Social (IPS) para mensurar qualidade de vida e o

impacto socioambiental.

Preocupada com essa questão, a empresa divulgou em suas Notas

Explicativas, investimentos para a implantação de projetos capazes de eliminar o

excesso de carbono na atmosfera, denominados: Créditos de Carbono-Programa

Carbono Neutro, em que a empresa assumiu com seus colaboradores, clientes,

fornecedores e acionistas o compromisso de ser uma empresa Carbono Neutro, que

consiste em neutralizar suas emissões de Gases do Efeito Estufa - GEEs, em sua

cadeia completa de produção, desde a extração das matérias-primas até o pós-

consumo. Esse compromisso, apesar de não ser uma obrigação legal, já que o

Brasil apesar de ser um país signatário do Protocolo de Quioto não apresenta meta

de redução, é considerada uma obrigação construtiva, conforme o IAS 37 -

Provisões, Passivos Contingentes e Ativos Contingentes, que determina o

reconhecimento de uma provisão nas demonstrações financeiras se esta for

passível de desembolso e mensurável.

Em linha com suas crenças e princípios, a empresa optou por realizar

algumas aquisições de créditos de carbono através do investimento em projetos com

benefícios socioambientais oriundos do mercado voluntário. Dessa forma, os gastos

incorridos gerarão créditos de carbono após a finalização ou maturação desses

projetos.

Com os dados levantados, verificou-se que a empresa JBS S.A. não

menciona em suas notas explicativas informações ambientais. Contudo no relatório

anual e de sustentabilidade há um tópico específico denominado “desempenho

ambiental” que trata sobre a gestão dos recursos naturais.

A JBS demonstra um forte compromisso com o meio ambiente e no uso

eficiente dos recursos naturais. Na prática, esse compromisso se manifesta por meio

de três vertentes:

17

Revista Eletrônica Gestão e Negócios – Volume – nº 1 – 2016.

- A primeira é o estabelecimento de metas e o monitoramento diário dos indicadores

ambientais, realizado por uma equipe técnica qualificada, treinada e dedicada à

gestão ambiental de cada unidade da companhia;

- A segunda reflete o plano anual de investimentos para melhorias ambientais, no

qual são definidos os investimentos e projetos prioritários, e finalmente, o

engajamento dos colaboradores e dos fornecedores nos temas correspondentes e

sensíveis a essa questão.

- A terceira vertente diz respeito à cadeia de fornecedores de matéria-prima, que

deve estar em total conformidade com as políticas e os critérios socioambientais da

companhia. Para assegurar uma compra de matéria-prima 100% responsável, a JBS

utiliza mecanismos contratuais e realiza o monitoramento socioambiental das

fazendas fornecedoras de gado, por meio de modernas tecnologias geoespaciais,

baseadas em imagens de satélites e mapas das propriedades.

A unidade JBS Carnes Brasil possui um plano anual de investimentos para

melhorias ambientais com foco no tratamento de efluentes, no gerenciamento de

resíduos sólidos, nas emissões atmosféricas e de gases de efeito estufa (GEE) e na

gestão no uso de água. Esse plano foi traçado com base em um amplo diagnóstico

ambiental realizado pela companhia em 2010, para identificar oportunidades de

melhorias dos indicadores ambientais das unidades processadoras de carne bovina

no Brasil.

Em 2014, a JBS deu um importante passo para o monitoramento de seu

desempenho ambiental, por meio da aquisição de um software especializado na

gestão de indicadores de meio ambiente e de sustentabilidade. Essa ferramenta de

gestão está sendo utilizada por todas as unidades da JBS no Brasil – JBS Carnes,

JBS Couros, JBS Foods e Novos Negócios – com o objetivo de padronizar a gestão

ambiental das plantas e também de melhorar a gestão corporativa dos indicadores

de sustentabilidade. Esse software permite identificar, mensurar os impactos

positivos e negativos e acompanhar o desempenho das metas. Além da melhora na

gestão dos indicadores ambientais, espera-se também que o novo sistema leve a

melhora do relato (integralidade, consistência, transparência e exatidão das

informações) da companhia, entre outros benefícios.

18

Revista Eletrônica Gestão e Negócios – Volume – nº 1 – 2016.

Abaixo, apresenta-se o quadro nº 2 identificando os percentuais de

evidenciação verificados nas empresas analisadas.

Quadro 2: Evidenciação nas empresas

Empresa % de Evidenciação BRF S.A. 71,43% Natura S.A. 85,71% JBS S.A. 57,14%

Fonte: elaborado pela autora com base nos dados coletados

Os percentuais exibidos no quadro acima foram obtidos pela divisão do número

de itens evidenciados pelas empresas pelo total de itens analisados, conforme o

critério da interação com o meio ambiente, estabelecido pela NBC T-15. Desta

divisão obteve-se um valor decimal que fora multiplicado por 100, resultando nos

percentuais apresentados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente artigo analisou a contabilidade como instrumento de evidenciação

das informações ambientais em um grupo de empresas de capital aberto, que se

destacam por possuírem alto nível de divulgação em seus demonstrativos

financeiros.

Por meio das análises, pode-se perceber que as principais ferramentas para a

divulgação utilizada pelas empresas foram os Relatórios Anuais e de

sustentabilidade. Notou-se ainda a ausência da divulgação nas notas explicativas

com relação a ativos e passivos ambientais, a criação de provisões e reservas para

atender a casos de acidentes ecológicos, dentre outras informações relevantes.

Tornou-se evidente nas análises realizadas que, tanto a BRF S/A, quanto a

NATURA COSMÉTICOS S/A e JBS S/A têm evidenciado de forma suficiente as

informações relacionadas ao critério da Interação com o meio ambiente,

evidenciando os investimentos e ações que foram tomados ao longo dos anos,

19

Revista Eletrônica Gestão e Negócios – Volume – nº 1 – 2016.

como: projetos ambientais e sociais que visaram a conscientização de

colaboradores e comunidades, informando inclusive gastos relacionados à educação

ambiental, além de terem ressaltado uma preocupação com o gerenciamento dos

seus processo produtivos, a fim de implantarem políticas e normas ligadas à

sustentabilidade. No entanto não foram mencionados nos relatórios possíveis

infrações e multas sofridas por estas empresas relacionadas aos impactos causados

no ambiente explorado por suas atividades.

Dentre as empresas analisadas, observou se que a NATURA é a que mais se

destacou na evidenciação dessas informações, ainda que não tenha feito de forma

completa. De modo que dentre as 03 empresas é a que possui maior nível de

evidenciação, com 85,71%, demonstrando com isso maior evidenciação do critério

de sua interação com o meio ambiente.

Constatou-se, portanto, que o nível de evidenciação realizado nas empresas

atende de modo satisfatório ao critério de evidenciação estabelecido pela NBC T-15.

Por outro lado notou-se que na evidenciação houve uma preocupação excessiva

com a melhoria da imagem da empresa, maior do que demonstrar as ações

sustentáveis aplicadas para eliminar os riscos ambientais das atividades.

REFERÊNCIAS

BRF FOODS S.A. Disponível em: <http://ri.brf-global.com>. Acesso em: 21 de Abr.2016. COSTA, Rodrigo Simão da; MARION, José Carlos. A uniformidade na evidenciação das informações ambientais. Dissertação. Programa de Educação da Pontifica Universidade Católica de São Paulo, 2007, p. 25-28. COSTA, Carlos Alexandre Gehm da. Contabilidade Ambiental: Mensuração, Evidenciação e Transparência. São Paulo: Atlas, 2012. p 2-14; p. 27-73; p. 189-197. GIL. Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2010. p. 7785.

20

Revista Eletrônica Gestão e Negócios – Volume – nº 1 – 2016.

IUDÍCIBUS, Sérgio de. Teoria da Contabilidade. São Paulo: Atlas, 2010. p.110-116. JBS S.A. Disponível em: <http://relatorioanual.jbs.com.br/compromisso-ambiental/> .Acesso em: 23 de abr.2016. LAKATOS, Eva Maria. MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de Metodologia Científica. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2003. NATURA COSMÉTICOS S.A. Disponível em: <http://natu.infoinvest.com.br/>. Acesso em: 22 de abr. 2016 RIBEIRO, Maísa de Souza. Contabilidade Ambiental. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 48; p. 107-141. SÁ, Nívea Vasconcelos de Almeida, et. al. Diretrizes para elaboração de Trabalhos Acadêmicos, 2012. 91 p. Faculdade de Administração e Ciências Contábeis de São Roque. TINOCO, João Eduardo Prudêncio; KRAEMER Maria Elisabeth Pereira. Contabilidade e Gestão Ambiental. São Paulo: Atlas, 2011, p. 42-47; p. 62-80; p. 88-109; p. 232-243. REFERÊNCIAS CONSULTADAS BRASIL. Resolução CFC nº 1.003, de 19 de agosto de 2004. Aprova a Norma Brasileira de Contabilidade (NBC) T-15- Informações de natureza Social e Ambiental. Disponível em: <http://www1.cfc.org.br> Acesso em: 22 abr. 2016 CARVALHO, Gardênia Maria Braga de. A Contabilidade Como Instrumento de Evidenciação de Fatos Ambientais. Dissertação (Mestrado do Curso de Desenvolvimento e Meio Ambiente) PRODEMA – UFPI – Campus Universitário Petrônio Portela. Teresina, 2005.

21

Revista Eletrônica Gestão e Negócios – Volume – nº 1 – 2016.

ROSSI, Mariana Ferreira. RIOS, Ricardo Pereira. A importância da Contabilidade Ambiental na Evidenciação de Investimentos Sustentáveis. Revista Eletrônica Gestão e Negócios. São Roque, v. 5, nº 1, p. 1-20, 2014.