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A CONTRIBUIÇÃO DA EDUCAÇÃO PARA A PRESERVAÇÃO DO MEIO
AMBIENTE A PARTIR DA AGENDA 21 ESCOLAR
Ruth Rosa Rodmann Elias1
Marines Luiza Guerra Dotto2
RESUMO
O presente trabalho se insere na área: “O Debate atual sobre Políticas Públicas para o meio ambiente, a saúde, a educação e a cidadania”, no Programa de Desenvolvimento Educacional-PDE 2010. Dentro das disciplinas técnicas, compreende uma proposta de intervenção pedagógica na área da gestão escolar, com ênfase no meio ambiente. O trabalho objetivou a implementação da Agenda 21 Escolar do Colégio Humberto de Alencar Castelo Branco, em Jesuítas, PR. Isso foi feito através da revisão teórica de conceitos chaves da gestão e do meio ambiente na escola, ou seja, o que é a Agenda 21 Escolar e a importância do Plano Politico Pedagógico, amarrado a várias Leis educacionais, como documento maior que organiza toda a gestão da escola. A partir dessa fundamentação, estruturou-se uma pesquisa feita através de um questionário aplicado na comunidade escolar do Colégio, cujo qual demostrou os principais desafios ambientais da escola em relação a sua comunidade. A partir dos resultados dessa pesquisa elegeram-se metas pedagógicas para com o meio ambiente. Dessa forma, tornar-se-á possível visualizar novas práticas educativas para com o meio ambiente, partindo-se do contexto escolar e usando a Agenda 21 escolar para diagnosticar os problemas ambientais da escola e mobilizar a comunidade para resolvê-los a partir de novas e interdisciplinares posturas pedagógicas.
Palavras- chave: Educação Ambiental, Agenda 21 escolar, Gestão.
1. INTRODUÇÃO
O presente estudo desenvolveu-se no intuito de reorganizar a Agenda 21
Escolar no Colégio Humberto de Alencar Castelo Branco, em Jesuítas, PR, ou seja,
organizar um trabalho que visasse a contribuição da educação ao meio ambiente,
1 Psicologia Educacional e Arte e Educação, Esquema II e Matemática, Col.Est.Humberto de A.Castelo Branco-EFMP. 2 Ms.,Engenharia da Produção, Bacharel em Ciências Contábeis, Professora Assistente A da Universidade Estadual Oeste do Paraná – UNIOESTE.
na área temática: “O Debate atual sobre Políticas Públicas para o meio ambiente, a
saúde a educação e a cidadania”. O problema abordado foi: Qual a contribuição da
Agenda 21 Escolar e do P.P.P. na preservação do meio ambiente e na formação do
cidadão?
A relevância do estudo está, no âmbito da gestão escolar, em refletir sobre as
políticas públicas e sua efetivação no Plano Político Pedagógico-P.P.P. escolar,
contribuindo assim para a formulação de uma proposta de desenvolvimento
educacional que contemple o meio ambiente, a educação, a saúde e a cidadania,
através da proposta que a Agenda 21 Escolar. O P.P.P. e a Agenda 21 Escolar
envolvem muitos conceitos, pautados em Leis, que não fazem parte do foco dos
estudantes e que são de difícil compreensão até para os educadores. Dessa forma,
acaba-se por criar barreiras na utilização destas abordagens.
O artigo é a síntese de um trabalho desenvolvido durante dois anos de estudo
(2010/2011). Organiza-se de forma a explicitar como diferentes Leis organizam a
educação (primeira seção), o que é o Plano Politico Pedagógico e como a gestão
está atrelada ao mesmo (segunda seção). Em seguida, é trabalhado o que é a
Agenda 21 escolar e como o estado do Paraná trata esta questão. Essa revisão
teórica compreende o primeiro ano de estudo no PDE.3
Por fim, a quarta seção traz o resultado da pesquisa realizada com os
membros da comunidade escolar, que versa sobre a relação entre o trabalho
pedagógico e o meio ambiente, que projetos a escola em questão já trabalha e o
que, na opinião dos entrevistados, pode ser melhorado, a partir da Implementação
do Projeto Politico Pedagógico. Essa etapa do estudo foi efetivada no terceiro
semestre do programa.
Concluiu-se que a gestão escolar demanda um conhecimento amplo de
diferentes níveis da educação. Dentre os muitos desafios impostos a Escola, o meio
ambiente é um dos mais complexos, pois perpassa diferentes disciplinas e faz parte
de uma realidade imediata. Trabalhos como este podem levar a reflexão e tomada
de postura por pais, alunos, educadores e comunidade.
3 Programa de Desenvolvimento Educacional ofertado aos professores da rede estadual de Educação
do Paraná.
2. AS LEIS BRASILEIRAS E A GESTÃO ESCOLAR
Como o trabalho idealizado é um aprofundamento de estudo na área da
gestão escolar, esse envolve a compreensão das Leis e políticas públicas que são
responsáveis pelo funcionamento escolar. Ressalta-se que o uso destas Leis é
constante na administração diária da aprendizagem. O trato com o meio ambiente
decorre do exercício consciente dessas Leis na escola, na medida em que as
mesmas defendem uma postura cidadã.
As Leis, mesmo na educação, são o resultado de discursos e ideologias. O
discurso é uma prática não apenas de representação do mundo, mas de
significação do mundo, constituindo-se e construindo o mundo em significado
(FAIRCLOUGH, 1992, p. 90, 91). Com isso, entende-se que cada Lei está a serviço
de um discurso. É a forma particular de uma instituição ou um grupo ver as ações e
ideologias. A Lei carrega uma ideologia, ou seja:
Ideologia é o significado mobilizado por formas simbólicas (ações, imagens, textos) que servem para estabelecer e sustentar relações de dominação: estabelecer relações de dominação no sentido de que o significado pode criar e instituir essas relações; sustentar, no sentido de que o significado serve para manter e reproduzir relações de dominação por meio dos processos de produção de texto (THOMPSON, 1984, p. 58).
É possível argumentar que determinados usos da linguagem e de outras
formas simbólicas são ideológicos. Uma Lei é uma ideologia, isto é, serve, em
circunstâncias específicas, para estabelecer ou manter relações de domínio.
Destaca como as instituições se comportarão para com a educação. Também pode
trazer uma possível libertação ou mudança de “status social”. Isto vale para a
educação e para todos os campos de atuação social.
Torna-se palmável pensar na história da educação brasileira e seus
protagonistas mediante o estudo das Leis e seus contextos culturais. Sendo assim, é
preciso retomar algumas das principais Leis, estatutos e documentos que estruturam
e são responsáveis pelo que é a educação na atualidade. Estão sintetizados no
quadro 1, onde a primeira coluna cita a Lei e a segunda faz um breve comentário
sobre a mesma:
Documentos Referência/ Assunto
Lei 4024\61 Lei que tramitou por 13 anos e estruturou o ensino num esquema muito próximo ao atual.
Lei 5697\71 Ampliou a obrigatoriedade do ensino e mudou o currículo. Constituição da Republica Federativa do Brasil (1988)
Traz a educação como um direito.
ECA (1992) Garantiu a defesa do adolescente e atualmente causa polêmica pelas diferentes interpretações.
Lei 9394\96 Conhecida como Lei Darci Ribeiro, é a que comanda a educação hoje.
Lei da pré-escola Decreto-Lei n. 147/97, que estabelece o regime jurídico do desenvolvimento e expansão da educação pré-escolar e define o respectivo sistema de organização e financiamento.
Leis para a inclusão Um exemplo é o Art. 208, Inciso III, da Constituição de 88. Lei de educação ambiental Lei 9795/99 Dispõe sobre a educação ambiental, institui a
Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências.
Lei da educação a distância Portaria n° 4.059, de 10 de dezembro de 2004 e Decreto nº. 5.622, de 19 de dezembro de 2005.
Lei federal nº. 10.639 Lei sobre a cultura africana nos currículos. Plano Decenal da Educação Iniciado em 1990, consiste-se de teses e estratégias que
estavam sendo formuladas nos foros internacionais mais significativos na área da melhoria da educação básica (MENESES, 2002).
Lei das cotas raciais-3.627/2004
O projeto institui Sistema Especial de Reserva de Vagas para estudantes egressos de escolas públicas, em especial negros e indígenas, nas instituições públicas federais de educação superior.
Quadro 1: Documentos que regem a educação. Fonte: Agenda 21 escolar, Brasil (1996), Saviani (1992).
Todos estes documentos são os responsáveis pela organização do ensino
brasileiro. Eles representam uma evolução na forma de olhar para a sociedade e a
educação. Cada Lei representou a instalação de um paradigma de desenvolvimento
da sociedade, organizando a escola para aquele momento. Dessa forma, a
educação que começou a ter efetivação com a Lei 4.024, teve seu momento de
ensino profissionalizante na Lei 5692\71, saltos qualitativos como a Constituição e o
ECA ; efetivação de uma Lei para a democratização do ensino (9394\96), para
contemplar também as novas tecnologias, com a Lei do ensino a distância. Todavia,
o trabalho com o meio ambiente, mediante Leis, tem pouco mais de uma década,
como se viu no quadro anterior.4 Por isso é indispensável um olhar crítico e
questionador, que sabe que as escolhas e atitudes não são neutras, são o resultado
de um jogo complexo de poder. “O discurso não é simplesmente o que traduz as
lutas ou os sistemas de dominação, mas o porquê, aquilo pelo que se luta, o poder
4 Há muitas Leis para o cuidado com o meio ambiente, prevendo-se até multas, mas o trabalho com a
educação em Lei só começou em 1999.
cuja posse se procura” (FOUCAULT, 1996, p. 10).
3. PLANO POLÍTICO PEDAGÓGICO E GESTÃO ESCOLAR
As Leis efetivam-se na prática escolar em ação pedagógica, administrativa e
social através do P.P.P. O projeto pedagógico tem estas duas dimensões porque: "é
político no sentido de compromisso com a formação do cidadão para um tipo de
sociedade" (ANDRÉ, 2001, p. 189). E é pedagógico porque possibilita a efetivação
da intencionalidade da escola, que é a formação do cidadão participativo,
responsável, compromissado, crítico e criativo". (VEIGA, 2001, p. 12).
Assim sendo, a "dimensão política se cumpre na medida em que em que ela
se realiza enquanto prática especificamente pedagógica" (VEIGA, 2001, p. 13).
Assumindo esta lógica dialética e pensando nas Leis educacionais e sua evolução, é
preciso traçar alguns questionamentos, tais como a relação entre aprendizagem,
cidadania, saúde e meio ambiente. Cabe ao Plano Político Pedagógico contemplar
toda esta rede e transpor a complexa engrenagem em um plano didático que integre
diferentes esferas e setores que coexistem nas escolas.
A tarefa, enquanto educadores e cidadãos comprometidos com o nosso
tempo e espaço, é compreender o discurso oculto atrás desses textos, é lutar por um
mundo melhor através de educação, um ensino que consiga realmente capacitar os
indivíduos para que estes possam ser realmente chamados de cidadãos.
A instrução é, pois, o único dos serviços encarregados à administração pública que não consome o capital nele investido, mas incorpora-o sob uma nova forma: o capital que representam os indivíduos a quem instrui” (SAVIANI,1983, p. 34).
Observando essa lógica, fica evidente que a gestão escolar não se faz sem
dar conta de todas estas variáveis. Escola, família e Estado podem fazer um novo
projeto social de educação. Mas para isso, é preciso diálogo e deixar ‘o aluno da
escola pública como centro das atenções’. Os docentes não podem fechar os olhos
à força que as políticas públicas exercem dentro das escolas. O P.P.P deve ser a
síntese desta postura.
4. AGENDA 21 E EDUCAÇÃO AMBIENTAL
A agenda 21 local faz parte de uma concepção de trabalho maior, a Agenda
21. Este termo foi cunhado em 1992, na Conferencia das Nações Unidas sobre o
Meio Ambiente e Desenvolvimento, a ECO-92. Retoma a Conferencia de Estocolmo,
de 1972, nas questões referentes à sustentabilidade, buscando então firmar uma
Agenda de ações para o século XXI. Dessa forma, 179 paises assumiram em 92, os
passos e metas discutidas nesta agenda, a fim de buscar padrões de
sustentabilidade (SOUZA, 2006, p. 57).
A busca é por uma sociedade sustentável. Com este objetivo, este trato
social, denominado de Agenda 21, foi assumido de forma global por todos os paises
que lá estavam, mas incorporavam os diferentes setores destas sociedades. Assim,
o setor político e civíl de cada sociedade deveria assumir em conjunto a proposta. É
por isso que se definiu uma Agenda 21 global e a partir dela a Agenda 21 brasileira,
cujos parâmetros serviriam para pensar na mesma Agenda 21 com metas locais. Na
Agenda 21 brasileira, encontram-se os seguintes temas e áreas de atuação:
• Para o campo, através do Tema Agricultura Sustentável;
• Para o meio urbano, com as Cidades Sustentáveis;
• Para os setores estratégicos de transportes, energia e comunicações,
questões-chave do Tema Infraestrutura e Integração Regional;
• Para a proteção e uso sustentável dos recursos naturais, o tema Gestão dos
Recursos Naturais;
• Para reduzir as disparidades sociais, o tema Redução das Desigualdades
Sociais;
• Para a Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Sustentável (AGENDA
21 BRASILEIRA, 2004, p.8).
A partir da Agenda 21 brasileira, é possível perceber as grandes demandas
sociais. Estas metas são parâmetros para indicar o que as pequenas comunidades
podem fazer para melhorar o seu próprio meio, criando assim metas locais. A
Agenda 21 escolar deve se responsabilizar em usar o ambiente escolar para
promover esta reflexão. Sua criação representa uma caminhada e evolução no trato
com o conhecimento e a vida.
Em consonância com a Agenda 21, o estudo da teoria e da prática em
Educação Ambiental identificam e assumem as seis concepções paradigmáticas
sobre o ambiente, já citadas. A influência dessas diferentes concepções podem ser
observadas na abordagem pedagógica e nas estratégias sugeridas pelos diferentes
autores ou educadores (SAUVÉ, 1996). Sendo assim é possível:
Conceber o ambiente como natureza, para ser apreciado, respeitado, preservado; Ambiente como um recurso para ser gerenciado segundo os princípios de desenvolvimento sustentável e de divisão eqüitativa; Ver o ambiente como um problema para ser resolvido, pois é o sistema de suporte da vida que está sendo ameaçado pela poluição e degradação; Ambiente como lugar para viver, conhecendo e aprendendo sobre planejamento e cuidando desse espaço; Ambiente como biosfera, mundo de interdependência entre os seres vivos e inanimados; Ambiente como projeto comunitário, onde somos envolvidos (SAUVÉ, 1996, p. 13).
Há, portando, muitas formas de perceber o meio ambiente. Todo o trabalho
feito em relação meio ambiente tem a função de contribuir com a formação de
cidadãos conscientes, aptos a atuar na realidade sócio-ambiental, comprometido
com a vida e todos os diferentes ambientes percebidos. Esta é uma proposta que
vem sendo construída ao longo da evolução da escola brasileira. Não se trata de
uma disciplina específica, mas de uma forma de percepção do trabalho escolar em
relação à promoção de valores indissociáveis à prática humana.
As Diretrizes Curriculares para a Educação do Paraná (2010) contemplam a
Educação Ambiental em várias disciplinas, pensando-a como um elemento
integrador, que une diferentes conteúdos e metodologias. Esse conceito é prevista
na Lei de educação ambiental (Lei 9795/99). É conteúdo de Ciência, Biologia e
Geografia, sendo também enfoque pedagógico das demais disciplinas.
O estado do Paraná planeja colocar a Educação Ambiental em todas as
escolas. Segundo o site do portal da educação dia a dia: “O objetivo é a construção
e implementação de Agendas 21 escolares, como forma de trabalhar a educação
ambiental nas escolas da rede estadual de ensino” (DIA a DIA, 2010). É uma
maneira de organizar o trabalho escolar como parte de um projeto maior de
sustentabilidade, que olhe quem são os alunos, qual é a comunidade da escola, que
problemas interferem na qualidade de vida e que são focos de reflexão na
aprendizagem. Pensar assim é olhar para as drogas, a violência, a aprendizagem, o
bairro, as questões de saúde e do meio ambiente, o tipo de trabalho do local que se
vive e até a formação docente.
Com este objetivo, a partir de Branco (2008, p. 48-49), os passos para
repensar a Agenda 21 no contexto local e escolar são:
• Mobilizar a sociedade e o governo;
• Criar o fórum da agenda 21 local;
• Fazer um diagnóstico participativo de todos os problemas da
comunidade e da escola;
• Elaborar um plano local de desenvolvimento sustentável;
• Implementar o plano local de desenvolvimento sustentável;
• Monitorar, avaliar e rever o plano local de desenvolvimento sustentável,
tarefa que deverá ser continua e permanente.
Para que estas ações sejam possibilitadas, recorre-se aos PCNs Meio
Ambiente e saúde (1997, p.53). Neles, os objetivos gerais de meio ambiente para o
ensino fundamental são:
a) Conhecer e compreender, de modo integrado e sistêmico, as noções
básicas relacionadas ao meio ambiente;
b) Adotar posturas na escola, em casa e em sua comunidade que os levem a
interações construtivas, justas e ambientalmente sustentáveis;
c) Observar e analisar fatos e situações do ponto de vista ambiental, de
modo crítico, reconhecendo a necessidade e as oportunidades de atuar de
modo reativo e propositivo para garantir um meio ambiente saudável e a
boa qualidade de vida;
d) Perceber, em diversos fenômenos naturais, encadeamentos e relações de
causa-efeito que condicionam a vida no espaço (geográfico) e no tempo
(histórico), utilizando essa percepção para posicionar-se criticamente
diante das condições ambientais de seu meio;
e) Compreender a necessidade e dominar alguns procedimentos de
conservação e manejo dos recursos naturais com os quais interagem,
aplicando-os no dia a dia;
f) Perceber, apreciar e valorizar a diversidade natural e sociocultural,
adotando posturas de respeito aos diferentes aspectos e formas do
patrimônio natural, étnico e cultural;
g) Identificar-se como parte integrante da natureza, percebendo os processos
pessoais como elementos fundamentais para uma atuação criativa,
responsável e respeitosa em relação ao meio ambiente.
Transpor esses objetivos em praticas educacionais é função do educador.
Não há sociedade e nem educação neutra. Compreender a legislação educacional e
situar a escola em seu meio é assumir o ato político que é educar. É ser um ser
político enquanto educador e usar esta política para melhorar a própria educação.
5. IMPLEMENTAÇÃO DA PROPOSTA PEDAGÓGICA
A implementação de ações na Proposta Pedagógica do Colégio acontece
mediante a tomada da opinião da comunidade escolar. Isso foi feito através de um
questionário trabalhado com membros da equipe pedagógica, da APMF, do conselho
e do grêmio estudantil entre os meses de agosto e outubro de 2011. Foram
tabulados 21 questionários.5
As perguntas feitas partem do princípio que a escola deve tomar diferentes
ações para interagir com o meio ambiente, formando assim cidadãos. Dessa forma,
questionaram-se como essas relações estão sendo estabelecidas.
O resultado da pesquisa encontra-se abaixo tabulado. A primeira pergunta
buscou a percepção de qual é o perfil da comunidade.
5 Realizaram-se dois encontros para obter todos os questionários. O primeiro apresentou o P.P.P. do
Colégio e a Agenda 21 existente. O segundo apresentou a proposta de estudo e aplicou o questionário, recolhendo-o em seguida.
Gráfico 1: Perfil econômico da comunidade de Jesuítas. Fonte: Pesquisa realizada com os membros do conselho escolar, APMF e grêmio estudantil. PDE-2010 (Disciplinas Técnicas).
Embora vivamos em um ambiente onde a maior parte das pessoas ainda
more no sitio, a renda proveniente da agricultura já não é a fomentadora da
economia da região. Isso mostra uma transição de base agraria para o comércio
está acontecendo e acaba deixando a comunidade perdida quanto a seus costumes,
objetivos e previsões. Os jovens moram no sitio, trabalham na cidade e não
pretendem continuar tocando a terra de seus pais. Nossa educação deveria ajudar
esses jovens com esse desafio.6
A segunda pergunta compreendia os problemas ambientais da comunidade a
qual pertence a nossa escola:
Gráfico 2: Problemas Ambientais da comunidade de Jesuítas. Fonte: Pesquisa realizada com os membros do conselho escolar, APMF e grêmio estudantil. PDE-2010 (Disciplinas Técnicas).
6 Muitos trabalhos e artigos sobre agronegócio já abordam a problemática da sucessão familiar nas pequenas
propriedades.
Interessante perceber que a dengue, problema de saúde que vem afligindo
nosso município nos últimos anos, não teve representatividade no questionário.
Também não há projetos pedagógicos específicos no P.P.P. que prevejam a questão.
A terceira pergunta buscou os principais problemas sociais que contribuem
para o desequilíbrio ambiental em nossa comunidade:
Gráfico 3: Principais problemas sociais que contribuem para o desequilíbrio ambiental em nossa comunidade. Fonte: Pesquisa realizada com os membros do conselho escolar, APMF e grêmio estudantil. PDE-2010(Disciplinas Técnicas).
As respostas apontam para um conjunto de situações que precisam ser
trabalhadas, em contexto, para a superação do desequilíbrio ambiental. A Agenda 21
Escolar contempla essa contextualização, quanto trata do ambiente como todo o
entorno do aluno e de sua comunidade. É preciso que nossos cidadãos tenham uma
rede social complexa a seu dispor para que tenham qualidade de vida. É por isso
que o emprego (item com maior relevância) implica diretamente no sucesso das
pessoas.
A próxima questão trata dos problemas referentes à escola que contribuem
para o desequilíbrio ambiental. A pesquisa apontou, entre todos os participantes,
quatro elementos:
• Má formação docente;
• Participação insuficiente dos pais;
• Indisciplina dos alunos;
• Falta de motivação para os estudos por parte dos alunos.
Não houve a soberania de um elemento sobre o outro nas respostas, mas sim
o apontamento para o conjunto de fatores como determinantes dos resultados da
aprendizagem. A resposta também demonstrou como os pais percebem todo o
entorno escolar, como os mesmos veem que é preciso um suporte educacional para
que haja um bom ambiente e todos os projetos educacionais se cumpram.
Já o trabalho da escola em relação ao meio ambiente e as questões sociais
foi assim comentado:
Gráfico 4: o trabalho da escola em relação ao meio ambiente e as questoes sociais. Fonte: Pesquisa realizada com os membros do conselho escolar, APMF e grêmio estudantil. PDE-2010(Disciplinas Técnicas).
Novamente a visão global da comunidade se deflagrou, ou seja, os
entrevistados demonstram que compreendem que muito está se fazendo, enquanto
escola, mas que poderia ser melhor se houvesse mais suporte, se a escola tivesse
mais autonomia e maior diálogo com outros setores sociais.
Na sequência, pediu-se quais projetos poderiam ser desenvolvidos na escola
tratando das questões ambientais e também sociais. Nesse item, ganharam votação
os seguintes projetos:
• Industrialização do sabão caseiro reaproveitando o óleo usado;
• Venda do papel usado na escola para a reciclagem;
• Palestras sobre as drogas e a violência.
Atualmente, embora o P.P.P. da escola contemple o ultimo item, na prática
nada acontece. É preciso efetivar essas ideias, ou seja, fazer com que os
professores abracem esses projetos.
Outra questão é sobre a contribuição do Município para a preservação do
ambiente da nossa bacia hidrográfica:
Gráfico 5: Contribuição do município para a preservação do meio ambiente a a bacia hidrgráfica. Fonte: Pesquisa realizada com os membros do conselho escolar, APMF e grêmio estudantil. PDE-2010(Disciplinas Técnicas).
Nessa resposta, a comunidade assume o seu papel (a responsabilidade social
pública e politica) na preservação dos rios. Vive-se um impasse, pois os agricultores
veem a situação ambiental de seus sítios, sobretudo de seus rios. Todavia, a grande
maioria não tem coragem de abrir mão do lucro, de plantar menos e de dar valor as
nascentes. Sendo assim, se o Município não leva essa questão a sério, certamente
o faz pela própria pressão dos cidadãos. É um dilema que envolve a toda a
sociedade. Queremos lucrar, mas não queremos deixar de poluir. A próxima
pergunta confirma esse paradoxo, ou seja, o grau de importância dada aos rios da
região oeste, em especial os de nossa cidade:
Gráfico 6: Importância dada aos rios da região oeste. Fonte: Pesquisa realizada com os membros do
conselho escolar, APMF e grêmio estudantil. PDE-2010 (Disciplinas Técnicas).
A próxima pergunta pediu aos contribuintes se O P.P.P. (Projeto Político
Pedagógico) da escola Colégio Humberto de Alencar Castelo Branco contempla as
questões ambientais e a educação para a cidadania. Eles (comunidade) precisavam
dizer se conheciam o documento e a articulação entre todos esses projetos na
escola.
Gráfico 7: Em que medida a comunidade conhece o Plano Político Pedagógico de nossa escola e sua relação com o meio ambiente. Fonte: Pesquisa realizada com os membros do conselho escolar, APMF e grêmio estudantil. PDE-2010 (Disciplinas Técnicas).7
Esse gráfico retoma os resultados dos dois anteriores. Há uma preocupação
da escola e do Município para com a situação ambiental. A proposta da escola é
levada a comunidade por meio de reuniões. Mas há interesses políticos e
econômicos que envolvem o meio ambiente e que são de difícil trato, sobretudo no 7 Dois questionários apontaram a necessidade de haver palestras didáticas para que os pais e
membros da comunidade entendam o que é o P.P.P. e sua utilidade prática.
que tange a agricultura e ao uso dos rios. A comunidade assume esse dilema e sua
parcela de culpa.
Mediante essa caminhada, uma das perguntas finais era saber quais
Entidades deveriam ser articuladas pela escola, a fim de desenvolver um trabalho
referente ao meio ambiente e cidadania, estabelecendo parcerias e trabalho coletivo.
Foram citadas as seguintes entidades:
• Prefeitura;
• Conselho tutelar;
• EMATER;
• Secretaria de saúde.
A partir dessa caminhada, as últimas perguntas foram sobre em que medida o
meio ambiente imediato da escola reflete posturas sociais e ambientais na
sociedade e como era a sustentabilidade de nosso município.
Gráfico 8: A escola se refletindo no meio ambiente. Fonte: Pesquisa realizada com os membros do conselho escolar, APMF e grêmio estudantil. PDE-2010 (Disciplinas Técnicas).
Novamente os entrevistados demonstram compreender como a escola
depende de uma complexa rede para funcionar, de forma que a mesma demonstra o
que está acontecendo lá fora. Ela é uma sociedade e também reflete uma
sociedade. É uma dupla significação de um discurso (FAIRCLOUGH, 1992). Essa
visão também está na última questão:
Gráfico 9: A sustentabilidade do município de Jesuítas. Fonte: Pesquisa realizada com os membros do conselho escolar, APMF e grêmio estudantil. PDE-2010 (Disciplinas Técnicas).
Portanto, a implementação da Agenda 21 Escolar para 2012 deve apresentar
os seguintes itens
• Dialogo com diferentes Entidades Sociais do Município;
• Efetivação de projetos práticos para com o meio ambiente;
• Palestras sobre diferentes assuntos que envolvem a vida do educando, em
todo o seu contexto escolar;
• Trabalho de apoio ao jovem que não tem mais perspectiva no campo;
• Trabalhar com situações que visualizem a formação para o trabalho.
Caberá aos professores, com conhecimentos didáticos e pedagógicos,
transformar esses desafios em conhecimentos sobre o assunto. O P.P.P. mostra a
direção, mas a estrada será trilhada por educadores e alunos.
Este é um trabalho integrador. Um caminho viável é o desenvolvimento de
projetos educacionais. A proposta de trabalho com projetos vem sendo amadurecida
ao longo das últimas décadas de ensino. Estava presente nos PCNs (1997) que
trouxeram o meio ambiente, a sexualidade e a cidadania como temas transversais.
Também estão nas Diretrizes Gerais da Educação do Estado do Paraná (2010),
quando esta assume a proposta de Demerval Saviani (1992) de método de
aprendizagem, que seria:
• A prática social inicial (1º passo) que é comum ao professor e aluno, sendo a
bagagem cultural que ambos trazem de sua realidade para dentro da escola;
• A problematização (2º passo) trata-se de detectar que questões precisam ser
resolvidas no âmbito da prática social e, em conseqüência que conhecimento
é necessário dominar;
• A instrumentalização (3º passo) trata-se da apropriação pelas camadas
populares das ferramentas culturais necessárias a luta social que travam
diuturnamente para se libertar das condições de abuso em que vivem;
• A “Catarse” (4º passo) que é a incorporação dos instrumentos culturais,
transformando agora em elementos ativos de transformação social;
• Por último a prática social final (5º passo) sendo a nova postura que o
educando deve assumir perante a sociedade. (SAVIANI, 1992, p.80).
Cada aula deve trazer encaminhamentos que efetivem esta mudança. É parte
da aula a apresentação do conteúdo, a motivação, a problemática, o diálogo, a
fixação do conteúdo visto e a avaliação. E todos estes itens precisam ter uma
relação de dialogo, de forma que o aluno entenda o porquê esta aprendendo. Este
raciocínio envolve planejamento e organização.
A metodologia de projetos retoma os passos de um plano de ensino. A
agenda 21 nas escolas se propõe a pensar estas ações partindo da essência da
escola e as suas diversidades. O conteúdo de todas as disciplinas deve convergir
para o propósito maior que neste caso, além dos objetivos próprios da educação, é
compreender o ciclo da vida e a cada ser humano como um pequeno elemento da
mesma.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A teoria organizada demonstrou como o P.P.P. da Escola e a Agenda 21
Escolar são documentos gestores organizadores da vida escolar. Já a pesquisa
realizada possibilitou criar metas para melhorar o planejamento pedagógico
mediante o diagnóstico da realidade ambiental dessa escola (Colégio Estadual
Humberto de Alencar Castelo Branco).
A partir da revisão literária, tornou-se possível compreender a relação
existente entre as politicas públicas para a educação e o Plano Político Pedagógico
que traduz, na prática, esse direcionamento. A Agenda 21 Escolar é apenas uma
parte desse documento, mas também é um projeto que trata da observação de todo
o meio ambiente escolar, enfocando a busca por um diagnóstico preciso que
fomente novas práticas escolares voltadas para a cidadania.
Todos os membros da comunidade, mas, sobretudo os educadores devem
compreender essas relações. A compreensão corresponde a educação ambiental e
a escolha por novos comportamentos faz parte da cidadania. Mas isso acontecerá
mediante aulas interdisciplinares. Essa é competência do professor.
A possibilidade de estudos como este pode estar preparando o educador para
compreender sua prática, retomar discussões teóricas e efetivar novos projetos
educacionais. Há muito a ser considerado no processo educativo, mas é preciso que
o professor compreenda e assuma essa caminhada.
O P.P.P. e a Agenda 21 escolar são retomados anualmente. Há, pois, um ano
para fazer com que as metas transponham-se em projetos de ensino e cheguem a
representar formação para o educando. O meio ambiente como um todo agradece.
REFERÊNCIAS
AGENDA 21 BRASILEIRA : resultado da consulta nacional / Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 21 Nacional. 2. ed. Brasília : Ministério do Meio Ambiente, 2004. Disponível em < http://www.sedema.piracicaba.sp.gov.br/arquivos/consulta2edicao.pdf>. Acesso em 23 de setembro de 2010.
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