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A CONTRIBUIÇÃO DA ANÁLISE DE
REDES SOCIAIS PARA A
DISSEMINAÇÃO DA INFORMAÇÃO NO
CONTEXTO DA GESTÃO DO
CONHECIMENTO: UM ESTUDO DE
CASO EM UMA INDÚSTRIA DE
CONFECÇÕES EM CAMPINA GRANDE -
PB.
Raquel Andrade Barros (UFPB)
Nívea Marcela M. Nascimento Macedo (UFPB)
As pessoas são os melhores meios de circulação de informação, assim,
a capacidade de utilização dessa informação depende em grande parte
da forma como os indivíduos cooperam. Dessa forma, o artigo objetiva
mostrar a importância da análise dde redes sociais para a
disseminação da informação no contexto da gestão do conhecimento.
Para isto, foi realizado um estudo de caso em uma pequena indústria
de confecções de Campina Grande - PB. O estudo caracteriza-se como
abordagem quali-quantitativa, uma vez que utilizou-se para análise da
rede social o software UCINET, que trabalhou os dados, cálculos e
gráficos, além da observação direta. Assim, pretendeu-se verificar
como as informações circulam sob a estrutura de rede dentro da
associação. Os resultados mostram que o foco não está mais no
indivíduo, mas no grupo que atua na empresa. E a técnica da Análise
de Redes Sociais permitiu diagnosticar as interações que ocorrem
relacionadas à comunicação e os fluxos de informação, contribuindo
para aperfeiçoar as práticas de gestão do conhecimento nas
organizações e identificar pontos problemáticos a serem trabalhados.
Palavras-chaves: Gestão da informação, análise de redes sociais,
sociometria
XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão.
Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009
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1. Introdução
A era industrial foi um período caracterizado pelo domínio dos ativos tangíveis, alto
nível de hierarquia e trabalhadores tidos apenas como processadores de recursos físicos para
criar esses produtos tangíveis. A informação utilizada apenas como instrumento de controle
tinha seu fluxo mantido via hierarquia organizacional.
Após meados da década de 70, observa-se uma ruptura dos padrões das formas de
produção, produtos e formatos organizacionais. A produção diferenciada, uso intensivo da
informação, integração horizontal das diversas funções empresariais, polivalência da força do
trabalho e novas tecnologias da informação e de telecomunicações são algumas características
do novo modelo de produção flexível. A esta ruptura dá-se o nome de paradigma tecno-
econômico que, segundo Freeman e Perez (1986), são tecnologias difundidas que influenciam
o comportamento das firmas e indústrias por todo sistema econômico.
Imputam-se ao paradigma todas as transformações radicais, que por sua vez são
reflexo da velocidade com a qual as tecnologias da informação surgem. A difusão destas
tecnologias abrange diversas áreas do conhecimento, como informática, telecomunicações,
engenharia de sistemas e software, enfim, todos os setores da economia (LASTRES e
FERRAZ, 1999).
Apesar de decisiva, a utilização da informação como uma arma competitiva tornou-se
um clichê popular, mas, ainda há uma acentuada falta de compreensão das questões que
determinam a influência da informação sobre uma determinada organização e os processos
que irão permitir uma boa coordenação da tecnologia e da estratégia competitiva. A
subutilização da informação é um grave problema que enfrentam ambos, os trabalhadores e
gestores empresariais.
Além da dificuldade em obter e processar informações estratégicas, as empresas
enfrentam o problema da falta de cooperação, fato que pode barrar por completo o propósito
de intensificar o fluxo de comunicação entre seus funcionários. As pessoas são os melhores
meios de circulação de informação, portanto, a capacidade de utilização da informação
depende em grande parte da forma como os indivíduos cooperam.
Dessa forma, o artigo objetiva mostrar a importância da análise de redes sociais para a
disseminação da informação no contexto da gestão do conhecimento. Para isto, foi realizado
um estudo de caso em uma pequena indústria de confecções de Campina Grande – PB. O
estudo caracteriza-se como abordagem quali-quantitativa, uma vez que utilizou-se a análise da
rede social através de cálculos, gráficos e observação direta. Assim, pretendeu-se verificar
como as informações circulam sob a estrutura de rede dentro da associação.
O presente trabalho encontra-se dividido em três partes além desta introdução e das
considerações finais. A primeira parte aborda as questões teórico-conceituais da gestão do
conhecimento, redes sociais, sua análise e abordagens. A segunda trata dos aspectos
metodológicos da pesquisa. E por fim os resultados obtidos após aplicação da metodologia.
2. Abordagens teóricas
2.1. Gestão do conhecimento
É unânime no meio empresarial a admissão do diferencial competitivo em
determinado negócio estar baseado em três aspectos fundamentais: conhecer o mercado,
desenvolver práticas de excelência que façam a diferença e saber vender, e vender o que
produz. Contudo, o sucesso desse tripé requer das empresas o desenvolvimento de estratégias
baseadas na informação e no conhecimento.
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Em alguns estudos sobre a cultura organizacional consta a presença do conhecimento,
mas que, de antemão, não consideram a capacidade de criar conhecimento pelo homem, sendo
este apenas uma máquina para processar os conhecimentos que lhe são repassados. Apesar de
definir que cada empresa possui uma cultura organizacional, derivada de “experiências
compartilhadas”, “visão compartilhada” e “experiência de grupo”, estes aspectos não são
suficientes pelas razões acima explicitadas. Sempre tratam os trabalhadores como
colaboradores passivos e não ativos no processo de disseminação de informação e criação do
conhecimento (NONAKA e TAKEUCHI, 1997).
As organizações do conhecimento são tratadas por Sveiby (1998) como sendo aquelas
que de forma sistemática sempre criam conhecimento, onde os profissionais são altamente
qualificados e a maior parte dos ativos é intangível. Angeloni e Fernandes (2000) resumem e
apresentam graficamente o ponto de vista do autor supracitado: Figura 1: organizações de conhecimento
Fonte: ANGELONI e FERNANDES (2000, pg. 5)
Ao observar a figura constata-se o funcionamento da organização como um fluxo contínuo de transferência de informação, desde o funcionário, passando pelas estruturas internas e externas. Dessa forma, a organização assume o caráter de uma rede, onde os relacionamentos e o nível de cooperação é o que determina o nível de fluxo de informação.
Além de Sveiby, Stewart (1998) também conceitua a organização do conhecimento como sendo aquela que utiliza de forma massiva o conhecimento e substituem por informação os seus estoques, como também por conhecimento seus ativos fixos. O meso autor defende que o capital intelectual pode ser usado no ganho de vantagem diferencial através de três formas:
Capital humano: conhecimento, habilidades e experiências das pessoas; Capital estrutural: capacidade estrutural; Capital do cliente: legitimidade dos relacionamentos entre a empresa e
seus clientes; Contudo, as empresas encontram-se distantes dessa realidade ou modelos
de organizações propostos pelos autores acima, principalmente no Brasil, que a passos lentos começa a se dar conta da importância do uso da informação para
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criação do conhecimento, realização de inovações e, consequentemente, vantagem competitiva.
A promoção de um ambiente inovador requer, fundamentalmente, o desenvolvimento
de um ambiente que incite o aprendizado interativo, ou seja, o compartilhamento de
conhecimentos. O conhecimento se torna, nesta era da informação, portanto, a chave para o
sucesso da inovação (LASTRES e FERRAZ, 1999).
Em BESSANT et al. (1999), o aprendizado é caracterizado da seguinte forma:
Que o mesmo não é automático; é necessário investimento explícito para
aprender. O aprendizado pode envolver o domínio e a mudança desde
tarefas corriqueiras como processos mais intensivos em conhecimento e
transformações radicais; sendo que quanto mais radical a mudança, maior a
necessidade do investimento em aprendizado. Aprender a aprender é
fundamental e envolve tanto componentes formais como aqueles tácitos (e
portanto seu caráter interativo e dependente do contexto). (p.50)
Além de um ambiente inovador, em que procedimento de trocas de informações e
compartilhamento de conhecimento são fatores necessários dado o atual contexto competitivo,
há, com isso, a necessidade de estímulos à cooperação e criação de redes sociais de
compartilhamento de experiências e informação. Neste contexto, a análise de redes sociais,
através da sociometria, pode auxiliar na manutenção do espaço de compartilhamento.
2.2. Redes sociais: análise e abordagens
Verifica-se dentre os estudos já efetuados sobre redes sociais que o consenso é de que
significa, segundo Bastos e Santos (2007), interações que visam à comunicação, troca e ajuda
mútua, e emerge a partir de interesses compartilhados e de situações vivenciadas por um
grupo de pessoas.
Ainda para estes autores, as redes sociais constituem um recurso teórico e
metodológico especialmente útil para os estudos que tomam as organizações como sistemas
de significados construídos nas relações e conexões existentes entre os membros
organizacionais.
O estudo das estruturas sociais dentro da empresa podem fornecer subsídios à
observação e implementação de melhorias do ponto de vista tanto do fluxo de informações
quanto dos processos de trabalho e relações sociais cotidianas. A informação pode ser um
importante componente deste processo, uma vez que sem informação precisa e correta é
impossível construir uma base sólida e duradoura de relações interpessoais e para a eficiente
realização das atividades. Muito pode ser inferido a partir da análise das relações sociais entre
indivíduos de um grupo. Considera-se assim, o conceito de redes sociais como sendo os laços
que cada indivíduo tem com outros, podendo esses laços serem alguns, poucos ou muitos.
As redes sociais caracterizam-se, dessa forma como o conjunto de indivíduos que
fazem parte de um grupo e as relações (laços) e comportamentos que mantêm uns com os
outros. O estudo das redes sociais permite descrever a estrutura do grupo, criando imagens,
direcionando ações e verificando aquelas que mais afetam positivamente ou negativamente o
andamento das atividades. Ainda o estudo dessas relações permite a verificação de sua
influência na própria estrutura de indivíduos.
Pode-se considerar, por conseguinte, que o estudo das redes e estruturas sociais pode
dar subsídios a melhores formas de gerir a comunicação, uma vez que a análise das relações
permite identificar possíveis resistências e vulnerabilidades no processo de trocas de
informações dentro de um grupo. Processo de informação este demasiado importante para a
eficiência, inovação e maximização de resultados de uma tarefa dentro da empresa.
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Redes Sociais segundo Wasserman e Faust (1994) referem-se a um conjunto de atores
(ou organizações ou outras entidades) conectados por relacionamentos sociais, motivadas pela
amizade, relações de trabalho, troca de informação, etc. As redes desenvolvem-se a cada
contato mantido, provocando a construção social do indivíduo e, quando vistas por suas
relações, podem identificar coesões e similaridades, em ações recíprocas de indivíduos que
agem como um único corpo social (cooperativa).
Tomaél (2005) explica que a cooperação entre atores requer uma ampliação, ou o
recuo de fronteiras de ações individuais e organizacionais estando livres às negociações e
predispostos ao compartilhamento de informação e conhecimento para o bem comum.
Com isso, alguns atores da rede podem ter muitas ou poucas interligações e
compartilhamento de informações com outros atores, dependendo de seu nível de interação.
Leal (2005) infere que o fato de o ator ter maior número de ligações na rede pode significar a
presença de maior número de oportunidades para o mesmo, uma vez que ele terá mais
escolhas e um maior número de caminhos alternativos.
Wasserman e Faust (1994) apontam quatro pontos importantes sobre análises de redes:
Os atores e suas ligações são vistas como interdependentes ao invés de
independentes ou unidades autônomas;
Ligações, relações entre os atores, são canais para a transferência ou fluxo de
recursos (materiais, tangíveis ou intangíveis);
Os modelos de redes que focam os indivíduos percebem a estrutura de rede
como fonte de oportunidades ou restrições para as ações individuais;
Os modelos de redes conceituam a estrutura (social, econômica, política etc.)
como padrões de relações entre os atores.
Para Wasserman e Faust (1994) os atores mais importantes são localizados em
posições estratégicas das redes, tanto centralidade quanto prestígio são índices de importância
dos atores nas redes sociais.
Alguns autores afirmam que a posição de centralidade indica a posição de um ator em
relação às trocas e às comunicações na rede, considerando-se a quantidade de ligações que se
colocam entre eles.
Na centralidade de intermediação é medido o potencial dos indivíduos que servem de
intermediários; sendo ponte, mediando as interações e assim facilitando o fluxo de
informações, a interação entre atores não adjacentes pode depender de outros atores, que
podem potencialmente ter algum controle sobre as interações entre dois atores não adjacentes
(ROSSONI, 2006).
De acordo com Marteleto (2001), a análise das redes não constitui um fim em si
mesma. Ela é um meio para realizar uma análise estrutural cujo objetivo é mostrar em que a
forma da rede é explicativa dos fenômenos analisados. E ainda, os fenômenos são quase que
totalmente informais. A autora afirma que nas redes sociais, há valorização dos elos informais
e relações, em detrimento das estruturas hierárquicas.
As redes sociais têm o capital social de uma associação, empresa ou grupo, e sua
totalidade não pode ser definida como a soma das partes dos envolvidos, mas como a análise
de toda a conjuntura das atividades relacionadas. Alguns autores enfocam que as redes estão
situadas dentro de outras redes, evidenciando uma visão sistêmica em que o mesmo indivíduo
pode representar diversos papéis sociais e estruturais. Dentro das redes ainda, as relações
podem representar uma ampla variedade de conteúdo e formas, em que nada pode ser
desvinculado do contexto em que se insere.
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A compreensão da dinâmica de grupo não pode ser baseada apenas nos atributos
individuais dos participantes, mas, principalmente, nas relações que eles desenvolvem entre
si. Assim sendo, para compreender e melhorar uma empresa parte-se do princípio de que a
mesma depende do grupo, da dinâmica das pessoas que fazem parte dela. Para melhorar então
dado grupo de pessoas, é necessária a relevância das interações do conjunto de pessoas, não
de cada indivíduo em particular.
De acordo com Scott (2000), é possível identificar, entre os anos 1930 e 1940, duas
principais fontes de contribuições nas ciências humanas e sociais que configuraram o campo
de estudos sobre redes sociais: na psicologia, aparecem os trabalhos pioneiros de Moreno,
Lewin e Heider; na sociologia/antropologia, encontram-se as escolas de Harvard e de
Manchester.
Entretanto a base para o entendimento das redes sociais está na teoria de Jacob Levi
Moreno (1889-1974) que trabalhou com sociogramas e matrizes sociais em 1934. Moreno
desenvolveu métodos de medição e análise de diagramas e sociogramas de papéis de
indivíduos e grupos.
A sociometria, por sua vez, (“socius”= social; “metrum”= medida), é o estudo
matemático de características psicológicas dos conjuntos sociais a partir de métodos
quantitativos (SIMÕES et. al. 1998). O sociograma, ferramenta da sociometria, é um
diagrama que representa as forças de atração, repulsão e indiferença que operam nos grupos e
as conexões entre os indivíduos que o compõe.
Mapear as estruturas no sociograma permite ao pesquisador visualizar os canais de
comunicação, identificar líderes e conexões entre as pessoas. O sociograma é um diagrama
que representa as forças de atração, repulsão e indiferença que operam nos grupos (BASTOS
e SANTOS, 2007).
Estudar as redes através de sociogramas pode colocar-se como um instrumento de
compreensão de como funcionam estas estruturas e suas influências no cotidiano e nas
estruturas formais da empresa. Pode ser possível com isso identificar pontos a serem
trabalhados para a eficiência da disseminação e troca de informações entre o grupo, bem
como fortalecer a interação e os fatores contribuintes para efetiva cooperação entre os
membros.
Pode-se considerar que as relações entre pessoas são movidas por processos de
influências mútuas; características do ambiente, bem como pessoais e intrínsecas ao ser
humano são primordialmente consideradas no momento de estudar e conhecer os motivos e
fatores que mais afetam as ações entre pessoas.
Com o objetivo de promover uma melhora nas atividades produtivas, muitas empresas
passam a verificar e considerar os motivos que levam a uma maior interação no trabalho, à
troca de experiências e idéias, ao compartilhamento de informações e por conseqüência a
geração de conhecimento.
Nesse sentido, a consideração do tipo e nível de relação e interação entre as pessoas,
como exemplo a cooperação entre membros de uma empresa, pode ser vista como um fator
importante no momento da relevância de aspectos interferentes no trabalho e na realização das
atividades cotidianas, e como forma de promover uma melhor adequação aos requisitos do
contexto atual de negócios, que impõe uma melhor gestão do conhecimento.
Assim, a seção a seguir apresenta a metodologia utilizada para realização do estudo
proposto.
3. Aspectos metodológicos
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A pesquisa caracteriza-se como um estudo de caso no qual se buscou mostrar a
importância da análise de redes sociais para a disseminação da informação no contexto da
gestão do conhecimento. Assim, a coleta de dados se deu através da aplicação de um
questionário com seis membros de uma pequena indústria de confecções situada em Campina
Grande – PB, responsáveis pela criação de novos produtos
A aplicação do questionário objetivou coletar informações acerca do relacionamento
das pessoas do grupo analisado. E de forma clara compreender a forma de trabalho e como as
relações acontecem dentro do grupo. Assim, as etapas da pesquisa são contempladas a seguir:
Figura 2: Etapas da fase de metodologia do estudo
Fonte: Elaboração Própria
A quarta etapa da pesquisa consiste na análise das informações coletadas com o
questionário. A elaboração das diversas redes de relacionamento se deu com a utilização de
um software UCINET. Este software constrói os sociogramas que mostram as interações
existentes entre os membros do grupo, identificando as pessoas que mais se relacionam com
outras e as que menos se relacionam, como também identifica os indivíduos os quais são mais
socilitados. Além da apresentação visual da rede de relacionamentos tem-se a análise
quantitativa que também é realizada através do software.
Assim, a análise quantitativa é realizada por meio de métricas explicitadas no quadro
01 a seguir:
Métrica Descrição Cálculo
In-degree centrality É o número de setas que entram
em um nó em um dado tipo de
rede. Fornece uma perspectiva
de centralidade local.
Somatório das setas que entram
no nó.
Out-degree centrality É o número de setas que saem de
um nó em um dado tipo de rede.
Fornece uma perspectiva de
centralidade local.
Somatório das setas que saem do
nó.
Quadro 01: métricas de análise da rede social
Fonte: adaptado de GUIMARÃES e MELO (2005)
Também são estabelecidas as métricas de densidade, que se refere ao número de
conexões possíveis em uma rede de relacionamentos, bem como a reciprocidade, que é a
porcentagem das conexões que são bidirecionais.
Estabelecidos os métodos de análise dos resultados, o produto desta é: uma rede em
que se encontram os nós representados pelas pessoas do grupo e os vértices estabelecem os
relacionamentos. Assim, têm-se um conjunto de indicadores referentes à rede e essas
informações servem de subsídios para a etapa a seguir que é a apresentação dos resultados.
4. Resultados e discussões
A seção destinada aos resultados da pesquisa está dividida em três partes, quais sejam:
mapeamento da rede de relações, comunicação na rede e conhecimento para ajudar os demais.
4.1 Mapeamento da rede de relações
A primeira rede mapeada pelo estudo procurou verificar se os membros se relacionam
entre si dentro do grupo da empresa, ou seja, quem conhece quem. Assim, conforme figura 02
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a seguir, cada nó representa uma pessoa da empresa ligada a área de criação de produtos. Os
pontos destacados em amarelo representam as pessoas que assumem cargo de diretoria. Figura 02: Rede de relações
Fonte: Elaboração Própria
Para esta rede, identificou-se uma densidade de 1, o que significa dizer que de todos os
relacionamentos possíveis na rede de relações, 100% delas estão presentes. E a mensuração da
reciprocidade, a partir do software indicou que de todos os relacionamentos possíveis e
existentes, 100% delas são bidirecionais.
Para as métricas, os resultados in-degree e out-degree podem ser observados na tabela
01 a seguir: Nós no mapeamento da rede de
conhecimento In-Degree Out-Degree
X5 5 5
X1 5 5
X3 5 5
X4 5 5
X6 5 5
X2 5 5
Tabela 01: Métricas in-degree e out-degree para os nós no mapeamento da rede de conhecimento.
Fonte: Elaboração Própria
A tabela acima mostra que todos os nós possuem igual métrica in e out-degree. Em
que pode-se verificar que os membros do grupo se conhecem bem e interagem com todos os
outros em sua relação de trabalho cotidiana. Este pode ser um fator característico e necessário
às organizações que geram conhecimento e que implementam inovações em seus processos e
produtos. Assim, pode-se considerar que a empresa possui um ambiente propício à
disseminação da informação e por conseqüência à uma gestão do conhecimento eficiente, uma
vez que todos os membros do grupo de trabalho pesquisados mostraram se conhecer e
estabeleceram interações no âmbito de suas tarefas diárias. Tal fato se dá em razão da
empresa ser de pequeno porte e as atividades desenvolvidas no departamento de criação
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solicitarem uma rede com alta porcentagem de conhecimento entre os nós para o
desenvolvimento de novos produtos.
4.2 Mapeamento da rede de comunicação
A segunda etapa foi o mapeamento da rede de comunicação entre os membros do
departamento, ou seja, se as pessoas recorrem umas às outras na forma de transmissão de
informações, idéias ou ajuda relacionadas ao âmbito de suas atividades no trabalho. De forma
gráfica se pode observar como se dá essa comunicação entre os membros para esses assuntos
relacionados ao trabalho, conforme figura 03 a seguir: Figura 03: Rede de comunicação
Fonte: Elaboração própria
A densidade de comunicação na rede possui o valor de 0,7333, o que implica dizer que
de todas as relações possíveis nesta rede, 73,33% delas estão presentes. No que se refere à
reciprocidade o valor obtido foi de 0,8333, ou seja, 83,33% das relações de comunicação são
bidirecionais.
As métricas in e out-degree obtiveram os seguintes resultados, expostos na tabela 02 a
seguir: Nós no mapeamento da rede de
comunicação In-Degree Out-Degree
X5 3 4
X1 4 2
X3 5 5
X4 3 3
X6 2 3
X2 5 5
Tabela 02: Métricas in-degree e out-degree para os nós no mapeamento da rede de comunicação
Fonte: Elaboração Própria
A partir da tabela acima, observa-se:
Os nós X3 e X2 estão em maior evidência que os demais, visto que possuem suas
métricas in e out-degree no valor máximo que cada um pode assumir, o que significa
que possuem o maior número de comunicação na rede;
O nó X5 apresenta comunicação regular entre os membros, com in-degree = 3 e out-
degree = 4;
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Os nós X1 e X4 possuem comunicação regular e o somatório de suas métricas tem
igual valor 6;
O nó X6 é o que possui menor capacidade de articulação dentro da rede, o somatório
de suas métricas tem como resultado 5.
Pode-se verificar que a maioria dos nós apresentam comunicação regular, apesar da
relevância no item anterior de que todos os integrantes do grupo se conhecem. Para um
processo eficiente de disseminação de informações e conseqüente aprimoramento do trabalho,
é decisiva a comunicação entre as pessoas e a transmissão de dados e mensagens relacionados
ao trabalho. Assim, a comunicação entre os indivíduos pode contribuir para uma boa gestão
do conhecimento, mas não se mostra suficiente no campo da empresa pesquisada.
O tempo de empresa e experiência não afeta na capacidade de comunicação nesta rede
estudada. Outras razões afetam a comunicação. Entretanto, investigar essas razões não é o
objeto do estudo, uma vez que esse tipo de investigação requer maior tempo e outros métodos
para obtenção dos dados.
4.3 Mapeamento de rede de conhecimento para ajuda
A terceira e última fase foi o mapeamento da rede de conhecimento para ajuda no
trabalho, como as pessoas facilitam o trabalho umas das outras ou auxiliam mutuamente os
que fazem parte de seu grupo. A figura 04 a seguir apresenta graficamente como ocorre e se
ocorre a troca de conhecimento para ajuda entre os nós:
Figura 04: Rede de conhecimento para ajuda
Fonte: Elaboração própria
A rede possui uma densidade de comunicação para ajuda no trabalho de 0,7667. O que
implica na existência de 76,67% das relações possíveis acontecendo na rede. E a
reciprocidade dessas conexões assume um valor de 0,7692, correspondendo a 76,92% das
relações existentes como bidirecionais.
Os resultados das métricas in-degree e out-degree são observados na tabela 03 a
seguir: Nós no mapeamento da rede de
conhecimento In-Degree Out-Degree
X5 2 4
X1 4 3
X3 5 3
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X4 3 3
X6 3 3
X2 5 5
Tabela 03: Métricas in-degree e out-degree para os nós no mapeamento da rede de conhecimento para ajuda
Fonte: Elaboração Própria
Os resultados das métricas indicam maior igualdade nas conexões entre os nós da rede.
Conforme tabela 03 acima, constata-se:
O nó X2 está em evidência na rede de conhecimento para ajuda no trabalho, já que
possui maior somatório das métricas e em seguida o nó X3 também com grande
evidência;
Os demais nós apresentam métricas regulares que não representam problemas para a
organização.
Verifica-se que as métricas demonstram a existência de um ambiente favorável à ajuda
e auxílio entre os integrantes do grupo na realização de seu trabalho. A maioria dos nós está
ligada uns aos outros. Nesse sentido, a disseminação de informações neste aspecto é
considerada consistente e marcante, visto que as pessoas se ajudam e para isso trocam
opiniões e informações.
Esse contexto implica em um meio favorável à gestão do conhecimento, ao
desenvolvimento de ações e atitudes voltadas à inovação, ao aprimoramento do trabalho e
preparo dos funcionários. Assim, a análise das redes sociais na indústria de confecções
estudada foi satisfatória, cujas conclusões se apresentam no último tópico a seguir.
5. Considerações finais
O estudo objetivou mostrar a importância da análise de redes sociais para a
disseminação da informação no contexto da gestão do conhecimento. Assim, o estudo dessas
redes e estruturas oferecem subsídios para aperfeiçoar as formas de gestão e comunicação
dentro das organizações, uma vez que permite identificar resistências e vulnerabilidades no
processo de trocas de informações dentro do grupo.
É possível, através do estudo das redes sociais, verificar os pontos a serem melhor
trabalhados, e se a empresa possui um compartilhamento de informações amplo, que propicie
as ferramentas necessárias a uma eficiente gestão do conhecimento. A rede de relações e de
ajuda mútua pontua as interações e o auxílio existente entre os membros. A rede de
comunicação é crucial no momento de considerar se os indivíduos trocam informações, idéias
e como fazem isso.
Dessa forma, pode-se verificar se as informações e a comunicação existente no grupo
de trabalho da indústria de confecções são suficientes ou podem ser vistas como um passo
importante para a gestão do conhecimento na empresa.
A indústria de confecções pesquisada apresenta um ambiente propício à troca e fluxo
contínuo de informações, conforme dados analisados. Apesar de alguns indivíduos
apresentarem baixas métricas, isto não interfere na comunicação da rede, visto que algumas
atividades que são desenvolvidas pelas pessoas não necessitam diretamente do conhecimento
dos demais, pela própria característica do setor.
Considera-se, a partir das métricas e técnicas utilizadas no presente estudo, a
importância da temática de observar não mais o indivíduo como um elemento sozinho ou
isolado do processo, mas sim o grupo de indivíduos inseridos no contexto de uma
organização, tratando questões, trocando informações, experiências e idéias. Esse é o contexto
necessário a gestão do conhecimento. E antes de qualquer implementação ou
desenvolvimento de um plano para compartilhamento de informações e conhecimento, é
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necessária a ponderação dos tipos e freqüência das relações no trabalho, observando se e
como ocorrem a comunicação entre as pessoas de um dado grupo em uma empresa.
Com a visualização da empresa como um agente constituído de pessoas que
interagem-se umas com as outras, é possível uma compreensão mais abrangente e
aprofundada acerca do ambiente e dos processos de gestão. E principalmente, é possível
identificar os pontos emergenciais de ações necessárias, como exemplos, pessoas isoladas no
trabalho, conflitos envolvendo agentes do processo ou linhas de ação para aumento da
comunicação interna e por conseqüência o aumento do nível de colaboração.
6. Referências ANGELONI, M. T.; FERNANDES, C. B. Organizações de conhecimento: dos modelos à aplicação prática.
Anais do I Encontro Nacional de Estudos Organizacionais – ENEO. Curitiba, 2000.
BASTOS, A. V.; SANTOS, M. V. Redes Sociais informais e compartilhamento de significados sobre mudança
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