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A crise estrutural do capital na economia brasileira e o fenômeno da uberização David Deccache

A crise estrutural do capital na economia brasileira -senges crise... · • ABERTURA COMERCIAL • LIBERALIZAÇÃO FINANCEIRA E • AUSTERIDADE FISCAL. Jonathan David Ostry, atual

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A crise estrutural do capital na economia brasileira e o fenômeno da

uberizaçãoDavid Deccache

I. Como a crise se apresenta?Conjuntura e manifestação da crise estrutural

Como a crise se apresenta?• A grande recessão do biênio 2015-2016

• A suposta a suposta crise fiscal

• Desemprego

• Queda dos salários

• Elevação da informalidade no mundo do trabalho

• Desmonte do estado de bem-estar social

• Crescimento no Brasil x Resto do Mundo

1) A grande recessão do biênio 2015-2016

Diagnóstico convencional

• Descontrole da relação dívida/PIB

• Déficit primário em 2014

• Descontrole dos gastos

Dívida líquida do setor público (%PIB)

• Em Janeiro de 2003 era de 60,26% em relação ao PIB

• Em dezembro de 2014, o momento da virada à austeridade, estava em apenas 32,59% do PIB.

• Em Janeiro de 2018, três anos após o início do programa de austeridade, chegou a 51,78% do PIB

Austericídio e a suposta a suposta crise fiscal

DÍVIDA LÍQUIDA TOTAL (DLSP) – (% PIB)

Dívida Bruta do Setor Público

• Em dezembro de 2014, era de 57,19% do PIB

• Em janeiro de 2018 chegou a 74,54% do PIB

DÍVIDA BRUTA

Resultado primário

3,24

3,69 3,74

3,2 3,24 3,33

1,94

2,62

2,94

2,18

1,72

-0,5

7

-1,8

8

-2,5

-1,9 -1

,8

-1,8

-1,1

-0,4

2 0 0 3 2 0 0 4 2 0 0 5 2 0 0 6 2 0 0 7 2 0 0 8 2 0 0 9 2 0 1 0 2 0 1 1 2 0 1 2 2 0 1 3 2 0 1 4 2 0 1 5 2 0 1 6 2 0 1 7 2 0 1 8 2 0 1 9 2 0 2 0 2 0 2 1

DESEMPREGO• Em dezembro de 2014, o desemprego era de 6,5%, o menor nível

da série histórica

• Em janeiro de 2018 chegou a 12,2%

• A taxa de subutilização da força de trabalho (desocupados; subocupados e a força potencial) foi de 24,7% no 1º trimestre de 2018, a maior da série histórica da PNAD Contínua, iniciada em 2012.

• No último trimestre de 2014, antes do ajuste, tinha sido de apenas 15,4%.

• HOJE FALTA TRABALHO PARA 27,7 MILHÕES DE PESSOAS

Desemprego: taxa de desocupação(IBGE)

Queda dos salários (dados da OIT)

a maior queda de salários em termos reais entre todos os países do G-20 em 2016

• A queda no salário real do brasileiro em 2016 foi de 6,2%. Em 2015, a perda foi de 3,7%.

• Descontando a inflação, o poder aquisitivo do brasileiro aumentou em 4% em 2012, 1,9% em 2013 e 2,7% em 2014.

Elevação da informalidade no mundo do trabalho

PESSOAS OCUPADAS COM E SEM CARTEIRA NO SETOR PRIVADO

Razão entre o nº de pessoas ocupadas no setor privado sem carteira e com carteira (Fonte IBGE – elaboração

própria)

Indicador = (pessoas trabalhando por conta própria)/(com carteira)

O teto dos gastos e o desmonte do estado de bem-estar social

•A Saúde pode perder até R$ 743 bilhões no período de vigência do teto (IPEA)

•Já a Educação pode ter perdas no Orçamento de até R$ 25,5 bilhões por ano, segundo estudo técnico da Consultoria de Orçamento da Câmara dos Deputados.

II. O boom da uberização no Brasil

Avanço tecnológico e retrocesso das relações trabalhistas: o velho novo mundo do trabalho

O boom da uberização no Brasil para além da UBER

Número de motoristas cadastrados no Uber cresce 900% entre 2016 e 2017 no

Brasil• A uber está em 65 países.

• A uber está presente em mais de 600 cidades no Mundo

• Destas 600, mais de 100 são no Brasil

• Dos mais de 3 milhões de motoristas espalhados por todo mundo, 500 mil estão concentrados no Brasil, ou seja, 1/6 dos motoristas da Uber em todo mundo

• Dos 75 milhões de usuários em todo mundo, 20 milhões estão no Brasil, ou seja, o Brasil concentra 26,6% de todos os usuários da empresa a nível global

PARCERIA OU PRECARIZAÇÃO ?! ESTIMATIVAS DE GANHOS LÍQUIDOS DOS MOTORISTAS DE UBER

• 25% DOS GANHOS BRUTOS SÃO DESTINADOS A UBER

• 35%, APROXIMADAMENTE, É GASTO COM COMBUSTÍVEL

• 1.700 REAIS POR MÊS PARA A LOCAÇÃO DE UM MODELO BÁSICO

• O MOTORISTAS AINDA ASSUMEM OS CUSTOS COM POSSÍVEIS DANOS DO CARRO.

• HÁ O RISCO DO MOTORISTA, POR MOTIVO DE SAÚDE, NÃO PODER TRABALHAR E, MESMO ASSIM, CONTINUARÁ ARCANDO COM OS CUSTOS DO ALUGUEL DO CARRO.

• CERCA DE 1/3 DO TEMPO O MOTORISTA FICA OCIOSO, À DISPOSIÇÃO DA UBER, PORÉM SEM SER REMUNERADO

III. As causas estruturais da criseCrise estrutural, neoliberalismo, modelo liberal

periférico e os aspectos políticos do pleno emprego

1) A CRISE ESTRUTURAL DO CAPITAL

• A CRISE DOS ANOS 60/70:

• SUPERACUMULAÇÃO/SUPERPRODUÇÃO DE CAPITAL QUE SE MANIFESTA NA QUEDA DAS TAXAS DE LUCROS (Carcanholo, 2010)

PANORAMA GERAL DA CRISE ESTRUTURAL E A GÊNESE DO NEOLIBERALISMO (ANTUNES, 2000)

• (1) forte redução das taxas de lucro, em virtude da elevação do preço da força de trabalho (custo salarial), conquista obtida no período do WelfareState ;

• (2) hipertrofia da esfera financeira: A LÓGICA DO CAPITAL FICTÍCIO

• (3) aumento da concentração de capitais (fusões e aquisições), o que tende a aumentar a pressão sobre a taxa de lucro;

• (4) crise do Welfare State e, em específico, “crise fiscal do Estado”;

• (5) privatizações, desregulamentação e flexibilização dos processos produtivos e dos mercados.

• (6) a exacerbação da transferência de recursos da periferia para o centro, que permitem impulsionar a dinâmica de acumulação nos principais países capitalistas (Carcanholo, 2010)

• (7) Abertura Comercial • (8) Liberalização Financeira

O TRIPÉ NEOLIBERAL:

• ABERTURA COMERCIAL

• LIBERALIZAÇÃO FINANCEIRA E

• AUSTERIDADE FISCAL

Jonathan David Ostry, atual vice-diretor do Departamento de Pesquisa do Fundo Monetário Internacional, definiu a agenda neoliberal como

• A agenda neoliberal - literalmente - em dois pontos:

• (i) o aumento da concorrência - alcançada através da desregulamentação e da abertura dos mercados internos, incluindo os mercados financeiros, à concorrência estrangeira.

• (ii) um papel menor para o estado, alcançado por meio de privatizações e limites à capacidade dos governos de administrar déficits fiscais e acumular dívidas.

• Há ainda o terceiro ponto não mencionado por ele: a recuperação de níveis “disciplinadores” de desemprego.

•Trata-se de uma ideologia que busca a mercantilização

generalizada de todas as esferas da vida.

IMPACTOS DO NEOLIBERALISMO

• DESEMPREGO: Na Europa, na era do Estado de bem-estar social, a média de desemprego era de aproximadamente 2,6%. Já com a consolidação do neoliberalismo, na década de 1990, o desemprego alcançou uma média de 10,7%

• TAXA DE LUCRO: Segundo Perry Anderson, nos anos 70, a taxa de lucro das indústrias nos países da OCDE caiu em cerca de 4,2%, nos anos 80 aumentou 4,7%. Essa recuperação foi ainda mais impressionante na Europa Ocidental como um todo, de 5,4 pontos negativos para 5,3 pontos positivos.

• CRESCIMENTO: enquanto a Europa Ocidental cresceu 4,81% por ano durante a "Era de Ouro" do Estado de bem-estar social (1950-1973), no período de implementação e consolidação do Neoliberalismo (entre 1973 e 1998), o crescimento despenca para míseros 2,11% ao ano.

O MODELO NEOLIBERAL PERIFÉRICO E A REGRESSÃO ESTRUTURAL DA ECONOMIA

BRASILEIRA

• Características marcantes:

• 1) liberalização comercial e financeira

• 2) privatização e desregulação;

• 3) subordinação e vulnerabilidade externa estrutural;

• 4) dominância do capital financeiro.

Complexidade econômica: ubiquidade e diversidade de produtos encontrados na sua pauta exportadora.

IV. Austeridade e uberizaçãoCrise fiscal ou projeto estrutural ?

OS ASPECTOS POLÍTICOS DO PLENO EMPREGOe a manifestação da crise brasileira

• Se a austeridade não serve para controlar a dívida ou os déficits, para que serve?

• 1) elevação brutal do desemprego que muda a correlação de forças capital x trabalho

• 2) privatizações

• 3) desmonte do estado de bem-estar social, o que inclui, obviamente, a previdência social.

Distribuição Funcional da Renda, Brasil, 2000-2015(Dados do professor Adalmir Marquetti)

Queda dos salários (dados da OIT)

a maior queda de salários em termos reais entre todos os países do G-20 em 2016

• A queda no salário real do brasileiro em 2016 foi de 6,2%. Em 2015, a perda foi de 3,7%.

• Descontando a inflação, o poder aquisitivo do brasileiro aumentou em 4% em 2012, 1,9% em 2013 e 2,7% em 2014.

Fatores exógenos da crise

O MUNDO PÓS 2008: COMÉRCIO INTERNACIONAL

O MUNDO PÓS 2008: FLUXO DE CAPITAIS

Há saída ? Por um projeto de desenvolvimento com inclusão social

CONDIÇÕES DE SOLVÊNCIA EXTERNA FAVORÁVEIS1) Reservas internacionais – Conceito liquidez –

US$(milhões)

0,0000

50.000,0000

100.000,0000

150.000,0000

200.000,0000

250.000,0000

300.000,0000

350.000,0000

400.000,0000

1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

2) PASSÍVO EXTERNO LÍQUIDO EM DÓLARES/PASSIVO EXT. LÍQ. TOTAL

2003 = 75%2010 = 35%2014 = 40%

3) Dívida interna desindexada do câmbio

PRIMEIRO PASSO

• REVERSÃO IMEDIATA DO TETO DOS GASTOS E RECUPERAÇÃO DOS INVESTIMENTOS PÚBLICOS

• E QUAIS INVESTIMENTOS?

• atendimento às demandas concretas da sociedade por melhores serviços de saúde e educação, transporte urbano e interurbano, moradia, cultura, saneamento básico e pela preservação do meio-ambiente.

“As idéias de economistas e filósofos políticos são mais poderosas do que é comumente entendido. Na verdade, o mundo é governado por pouco mais. Homens práticos que acreditam ser bastante isentos de quaisquer influências intelectuais, geralmente são escravos de algum economista defunto.” (John Maynard Keynes)