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Cioran
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21/09/2015 A crítica à tradição filosófica: o pensamento orgânico de Cioran | Colunas Tortas
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(https://colunastortas.files.wordpress.com/2015/08/cioran.jpg)Emil Cioran
A crítica à tradição filosófica: o pensamentoorgânico de Cioran
AGOSTO 17, 2015 POR VICTÓRIA MONTEIRO1
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“Afastei‑me da filosofia no momento em que se tornou impossível para mim descobrir em Kantalguma fraqueza humana, algum acento de verdadeira tristeza”. [1]
Em sua obra, o pensador franco‑romeno Emil Cioran, que leu os moralistas franceses, filósofosalemães como Hegel, Kant, Nietzsche, Schopenhauer, entre muitos outros, escreve, em seu tomsempre lírico, sobre a inanidade da filosofia.
Em última instância, o exercício filosófico seria ineficaz em seu objetivo, qual seja: o de elucidar
21/09/2015 A crítica à tradição filosófica: o pensamento orgânico de Cioran | Colunas Tortas
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Em última instância, o exercício filosófico seria ineficaz em seu objetivo, qual seja: o de elucidare conhecer, de modo a fazer cessar a aflição que há frente ao desconhecido. Neste objetivo, dizCioran, a filosofia é diminuída frente à música, à literatura e à poesia, pois “não se pode eludir aexistência com explicações, só se pode suportá‑la, amá‑la ou odiá‑la, adorá‑la ou temê‑la (…).” [2]
Veja também: O fanatismo: ideias transformadas em deuses(https://colunastortas.wordpress.com/2015/07/30/o‑fanatismo‑ideias‑transformadas‑em‑deuses/)
Tido muitas vezes como filósofo “irracional”, Cioran é, na verdade, um antirracionalista eautodenominado antifilósofo; alguém que optou por delimitar a razão como recurso.Muito pouco dos sofrimentos humanos está presente na Filosofia, o que torna seu exercíciorespeitável, mas não fecundo. Esta é sua principal crítica à tradição filosófica, academicista econceitualista, e seu desconforto frente a esta aparece cedo, em seu segundo livro, escrito emsua língua materna em 1934 aos 24 anos de idade:
“A filosofia é a expressão da intranquilidade dos homens impessoais. Por isso nos ajuda tão pouco acompreender, em sua totalidade, as vivências dramáticas e últimas.”[3]
Ou seja, ela nos afasta daquilo que Cioran trabalha em toda sua obra: sua origem orgânica, nodesespero da carne. Por isso seu pensamento é tido como “fisiológico”, e aqui vale lembrar aimportância crucial da experiência da insônia vivida pelo pensador durante sua juventude, aqual o fez ter uma percepção do Tempo e do Vazio exclusiva àqueles que são desprovidos dailusão de “recomeço” fornecida por uma noite de sono.
“Diante do homem abstrato, que pensa pelo prazer de pensar, surge o homem orgânico, que pensa soba determinação de um equilíbrio vital que está além da ciência e além da arte. Gosto do pensamentoque mantém o aroma de sangue e de carne e prefiro mil vezes, à abstração vazia, a reflexão gerada poruma efervescência sexual ou por uma depressão nervosa. (…) é infinitamente mais importantequestão do sofrimento que a do silogismo (…). Cabe lembrar que a filosofia é a arte de mascararsensações e suplícios íntimos a fim de enganar o mundo sobre as verdadeiras raízes do filosofar.” [4]
As “definições” são tentativas falhas
É por meio da palavra que tentamos elucidar nossa existência de modo a melhor suportá‑la.Isso fica evidente na poesia, que Cioran reconhece ser mais eficaz, neste sentido, do que afilosofia. Ele confessa ter escrito seus livros (que não à toa são dotados de extremo lirismo) emtentativas de autopreservação, pois “um livro é um suicídio adiado” [5].
No entanto, as definições, diz ele, tentam cumprir o mesmo papel, e pecam ao tentá‑lo. Elas sãomeras tentativas de nos sobrepormos ao Nada: o Ser só se define por desespero.
“É o uso do conceito que nos torna donos de nossos temores. Dizemos: a Morte, e esta abstração nosexima de experimentar sua infinitude e seu horror.” [6]
Sua compreensão de “conhecimento” em muito assemelha‑se à de Nietzsche, no sentido de queos conceitos são um produto “demasiado humano” para serem tomados como representaçãofiel da realidade. O “vício de definir” faz de nós tanto assassinos, já que sempre teremosdefinições limitadas dos objetos, assim como vítimas, pois em seguida curvamo‑nos a nossasdefinições.
O que importa, porém, não é exatamente se o discurso é capaz de exprimir a realidade, ou se
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(https://colunastortas.files.wordpress.com/2015/08/durer_fallofman_300dpi.jpg)Adão e Eva – Albrecht Dürer, 1504
O que importa, porém, não é exatamente se o discurso é capaz de exprimir a realidade, ou sepodemos conhecê‑la, mas sim que, por mais que possamos conhecê‑la e que o discurso de fato aexprima, é uma ilusão pensar que isso pode nos ajudar a suportar a existência tal como ela nos édada: de valor ínfimo, e na qual todo ato é um empreendimento cego frente à nossatemporalidade.
“Nossas verdades não valem mais que as de nossos antepassados. Depois de haver substituído seusmitos e seus símbolos por conceitos, nos julgamos mais “avançados”; mas esses mitos e esses símbolosnão exprimem menos que nossos conceitos. A Árvore da Vida, a Serpente, Eva e o Paraíso significamtanto como: Vida, Conhecimento, Tentação, Inconsciente. (…) e, se os deuses já não intervêm nosacontecimentos, nem por isso tais acontecimentos são mais explicáveis nem menos desconcertantes:apenas, um aparato de fórmulas substitui a pompa das antigas lendas, sem que por isso as constantesda vida humana encontrem‑se modificadas, pois a ciência não as apreende mais intimamente que osrelatos poéticos.” [7]
Referências
[1] Breviário de decomposição, p.68. Tradução: José Thomaz Brum. Rio de Janeiro: Rocco, 2011[2] Breviário de decomposição, p. 69.[3] O livro das ilusões, p. 18‑19. Tradução: José Thomaz Brum. Rio de Janeiro: Rocco, 2013[4] Nos cumes do desespero, p.34 e p.42. Tradução: Fernando Klabin. São Paulo: Hedra, 2012[5] Do inconveniente de ter nascido, p. 91.Tradução: Manuel de Freitas. Lisboa: Letra Livre,2010[6] Breviário de decomposição, p. 144.[7] Breviário de decomposição, p. 180.
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