A Dívida Ecológica Brasileira

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  • 1. 1A dvida ecolgica brasileira. Quem deve a quem?* Jean-Pierre Leroy**Julho 2000 I. Introduo Parte do planeta drena, por meio do comrcio e da dvida, osnossos recursos naturais para seu proveito. Internamente, umaminoria tambm se apropria da maior fatia deles. Nesses complexosmecanismos de transferncia, depredao e extino de recursosnaturais, atribumos uma responsabilidade desigual humanidade.Certasnaes, certasclasses sociais detmumamaiorresponsabilidade do que outras. Dizemos que os primeiros criaramuma dvida ecolgica, dvida que simboliza essa responsabilidadedesigual. No se trata aqui de entrar no campo de uma v contabilidademas, antes de tudo, de afirmar, do ponto de vista poltico,ideolgico, tico e cultural que, se a humanidade no seu conjunto* Agradeo as contribuies de Tereza Urban, Srgio Schlesinger, Jos Augusto Pdua e Henri Acselrad. ** Educador, coordenador de meio ambiente e desenvolvimento da Fase, coordenador executivo do Projeto Brasil Sustentvel e Democrtico.

2. 2temcontas a prestar vida,ao planeta,mascararessaresponsabilidade desigual seria mais uma vez fazer o jogo dospoderosos e nos conformar com a perpetuao da sua dominao. II. O conceito de dvida ecolgicaCom o desenvolvimento histrico do capitalismo industrial,ampliou-se o processo no qual o modelo de desenvolvimento sesustenta pelo consumo da natureza(osrecursosminerais eflorestais, a biodiversidade, os solos, as guas etc.) e pelaexplorao do trabalho humano. Este consumo, indiscriminado epraticamente gratuito, da natureza e do trabalho humano, feitos custas da destruio e da exaurio do meio ambiente e dosrecursos naturais. Conseqentemente, s custas da possibilidadedahumanidadenoseu conjunto e, maisespecificamente, dossetoressociais demenor renda,queso os mais diretamenteafetados pela degradao do espao, disporem deste ambiente edestesrecursos nosentido degarantir oseubem-estareapossibilidade de um desenvolvimento sustentvel e democrtico. Omodelodominantefaz-seporintermdio doduplomovimento deopresso e sobre-explorao de grande parte da humanidade e domeio natural. Surgem da os conceitos de dvida social e dedvida ecolgica. O objeto dessa segunda dvida, segundo alguns analistas,pode serdefinidocomo o patrimniovitalda natureza, 3. 3necessriopara seuequilbrio esua reproduo,que foiconsumido e no restitudo a ela. Este patrimnio compreendetanto os recursos naturais quanto as condies ecolgicas (purezado ar, da gua, da atmosfera etc.) (Robleto e Marcelo,s.d.). Umgrupo de cientistas norte-americanos conseguiu listar 17 formasdeservio quea naturezapodeproporcionar aoser humano:regulao hdrica, de gases, climtica e de distrbios fsicos,abastecimento d'gua, controle deeroso e reteno desedimentos, formao de solos, ciclo de nutrientes, tratamento dedetritos, polinizao, controle biolgico, refgios de fauna,produodealimentos,matria-prima, recursos genticos,recreao e cultura. A durabilidade dos benefcios decorrentes da natureza ou, nocaso, dos servios que presta humanidade, depende da manutenodos processos ecolgicos e da diversidade biolgica, postos emrisco pelaexploraoexcessiva dos recursosnaturaisepeladestruio dos hbitats pelo homem. Temos portanto uma enormedvida para com a natureza. Mas, desde j, parece claro que otermo dvida no totalmente adequado. De um lado, a naturezano vai reclamar algo que lhe seria devido; do outro, a naturezano podeser vistacomo umnegcio.Deveservistano seuconjunto como a herana da humanidade que, justamente porque novista, dentrode umaperspectivamercantil,comosendo aexplorar e exaurir, precisa ser mantida e manejada para garantir 4. 4qualidade de vida para hoje e para o futuro. Usamos porm o termodvidaecolgicana tentativa dedefinir responsabilidadeseabrir a possibilidade de penalidades para os que transformaramessa herana da humanidade em base para uma acumulao privadadesenfreada.Nesta perspectiva, como o capitalismo industrial constituiu-se de forma dominante nos pases do Norte, veremos que a dvidaecolgica basicamente da sua responsabilidade.Se h dvida, h credor e devedor. Quem esse credor?Se a natureza que foi afetada, ela a credora? a ela que se deve?A natureza por si no tem voz nem fala, no podendo declarar-secredora. So os seres humanos, certos setores sociais mais do queoutros, que foram privados destes recursos, que so credores emnome dela e no seu prprio. Em nome dela? Quer dizer que anatureza tem direitos e que ns cobramos por ela esses direitos?O credor ambiental, de fato, a unidade socioambiental afetadapor uma dvida ecolgica. H dvida ecolgica, porexemplo, porque a apropriaoprivada esgota as reservas de minrio de ferro no entorno de BeloHorizonte e de Itabira, deixando as serras, matas e cerrado numestado de total desolao. O credor, desta forma, a prpriaserra e a prpria floresta?Pensamos ser mais correto afirmarque os credores so a populao de Belo Horizonte e a de Itabira,afetadosna suaqualidadedevida, noseu futuro e na 5. 5possibilidade de usufruir corretamente o seu patrimnio coletivo.Mas se essa dvida lhes fosse paga, deveria servir para recomporas serras e o cerrado, recriando condies de habitabilidade equalidadede vidaao recomporomeio ambiente comasuabiodiversidade, seu papel sobre o microclima etc.Pensemos,porexemplo, naFazenda Cristalina no Par,propriedade da Volkswagen nos anos 70, onde foram derrubados equeimadosde umasvez dezenas de milhares dehectaresdeFloresta Amaznica. No a floresta que pode gritar por reparos.Mas so os setores mais organizados e conscientes do povo - aosquais tambm deveriam se juntar os governantes - que reclamam.Somos credores porque essa floresta e suas riquezas, exploradasde forma predatria, esto nos fazendo falta.Assim,o credor primeiramente a populaodiretamenteafetada hoje, bem como as geraesfuturas, que esto sendoprivadas das alternativas oferecidas por esses recursos que noexistem mais, j que os acontecimentos de 30 anos atrs nosafetam hoje. Tambm o conjunto dos cidados, mesmo os que noforam atingidos diretamente pela frente agropecuria que invadiua Amaznia nos anos 70, pode se sentir vtima e lesado na medidaem que, preocupado com o futuro do pas, perceba que o modeloimplantadominou a possibilidadede promover naAmaznia umdesenvolvimento que garanta justia social sem destruir a enormesociobiodiversidade da regio. O credor, alm disso, pode ser a 6. 6instncia institucional querepresenteosinteresses dessapopulao: seja o Municpio, ou um conjunto de municpios, oEstado ou a Unio. E tambm, em um sentido mais profundo, aprpria humanidade, embora no exista uma instncia institucionalque possa responder por ela, pois as perdas da natureza impedemque a natureza continue a prestar os servios que so essenciais humanidade. Por todos esses motivos que dizemos que o credor uma unidade socioambiental, assim como se poderia dizer que advida ecolgico-social.Quem o devedor? De um modo geral, poderamos responder queso os consumidores do Norte e do Sul, pois toda a destruiosocioambiental se processa em nome de um mercado, ao mesmo tempoprodutor e a servio de uma sociedade de consumo. Boa parte dahumanidade assim culpada e/ou cmplice pela dvida. O Norteconsome mais,masnobasta responder que so ospasesindustrializados os responsveis, por causa do seupadro deproduo e consumo. Ao responsabilizar apenas um modelo geral dedesenvolvimento, evagamenteum conjuntodepases ricos,dilumos as responsabilidades. No se trata de afirmar exatamentede quem se vai cobrar a dvida ecolgica. preciso, porm,distinguire hierarquizaras responsabilidades, oque muitasvezes uma tarefa complexa.Quem mais responsvel pelo efeito-estufa? fundamentalatribuir a cada pas industrializado, incluindo as suas foras 7. 7econmicas dominantes, a sua cota, para depois acompanhar os seusesforos, se houver, epression-lodeformaespecfica. importante distinguir o que devido atividade industrial e oque devido queima de florestas. Na contribuio das queimadasao efeito-estufa, por exemplo,queem grande parte soresponsabilidade do Brasil, preciso definir quem so os atoresconcretosdeste impacto. As queimadas forameso produzidasmuitas vezes no Brasil por dinmicas e agentes externos, como nocaso j mencionado da Fazenda Cristalina. Existe tambm todo ummodelo de tecnologia agrcola que induz os agricultores ao tratoinsustentvel da terra e dos seus ecossistemas. A quem reclamarpela dvida desse modelo? s multinacionais da agroindstria, comcerteza,mastambm FAO,quedefendeu entusiasticamente aRevoluo Verde, s agncias multilaterais de financiamento dodesenvolvimento (BIRD e BID), sem falar da responsabilidade dasagnciasgovernamentais.Hierarquizamosas responsabilidades,mas no negamos que a mo que manipula a motosserra e queima ofsforo nem sempre inocente. Apontar os principais culpados nodeve significar se eximir das suas prprias responsabilidades. As agnciasmultilaterais - agentesda modernizaodocapital - que promoveram e financiaram as prticas de devastaoe contaminao, xodoeconcentrao urbana,expansodaindstria e da fronteira agrcola que geraram o quadro atual, tmumaresponsabilidadeespecial.Praticamentetodosos grandes 8. 8projetos desenvolvimentistas do pas, a partir de 1964, tiveram achancela do BID e do BIRD. O modo como foi aberta a BR-364 naAmaznia Oriental, entre Cuiab e Rio Branco, foi catastrficopara o meio ambiente, os povos indgenas e para a maioria doscolonos que chegaram no seu rastro. Neste caso, o prprio BancoMundial, financiador da estrada por intermdio do Polonoroeste,admitiu sua responsabilidade.Deve-seassim, namedida dopossvel, distinguir osresponsveis: governoscentrais dospases industrializados, governos locais, agncias internacionaisde cooperao, empresas transnacionais etc.Desde j, importante afirmar que a dvida ecolgica no meramente externa. O Polonoroeste foi um programa brasileiro,concebido portecnocratasbrasileiros. O MinistriodaAgricultura,a Embrapa, aEmater egrande parteda pesquisaagronmica brasileira implementaram de forma conjunta um modeloagrcola altamente mecanizado e quimificado, que vem provocandomarginalizao social e degradao ambiental.A maior parte damadeira amaznica, cerca de 78%, consumida internamente,especialmente pelos setores de maior renda dos centros urbanos doSul e Sudeste. Cerca de 40% dos brasileiros compartilham, dealgum modo, os padres perdulrios de produo e consumo vigentesnos pases do Norte. Assim, as chamadas elites brasileiras, doempresariado, da poltica, da tecnoburocracia, com a participaoe/ou a omisso de boa parte da sociedade, so co-autores, mesmo 9. 9que s vezes scomo coadjuvantes, dadvida ecolgicabrasileira. III. O contedo da dvida ecolgica Em relao ao Brasil,quaissoos principais itensdadvida ecolgica dos pases do Norte ?1.Os pases industrializados so os principais responsveispelacontaminao da atmosfera, peloefeitoestufa,emparticular pelas emisses de dixido de carbono (CO2) e peladiminuio da camada de oznio que protege a atmosfera, comaemissodeCFCs(clorofluorcarbonos).Avalia-sequeaconcentrao de CO2 na atmosfera passou de 280 ppm para 360ppm atualmente (Martinez-Alier, s.d.).O impacto das atividades industriais, em particular no quese refere aoar, ultrapassaasfronteiras dospasesindustrializados. oplanetainteiroque estsendoprogressivamente atingido, pois o efeito estufa provoca umaumento gradativo da temperatura que pode afetar o nvel dosoceanos (desapareceriam zonas costeiras e ilhas), ampliar aszonas dedesertificao e degradar reasflorestaiseagricultveis, deslocando populaes locais. A diminuio dacamadadeoznio, por suavez,faz com que os raiosultravioleta atinjam mais intensamente a Terra, ameaando a 10. 10natureza, aagricultura ea sade.verdadequeessesimpactossedo em proporesainda difceisdeseremmensuradas.Issonoeliminao fatodequeo Norte,principalmente, se apropriade um bem coletivo dahumanidade, o ar, sem qualquer pagamento ou compensao peloseu uso. Frente a essas ameaas, que pesam sobre toda ahumanidade, no difcil concluir que o Norte, mais do queo Sul,tem grandesobrigaesno sentidodeencontrarsolues que previnam e reduzam esses impactos, modificandodrasticamente seu modo de produo e de consumo apoiando aconservao e a recuperao dos recursos naturais e do meioambiente. Aqui tambm, essa oposio Norte-Sul precisa sermatizada.O sul estno norte e vice-versa. Parcelapondervel da sociedade brasileira se beneficia do mesmopadro de produo e consumo e o defende.Almdessadvidageral paracomo Sul, as atividadesindustriais do Norte geram uma dvida mais precisa, emboratambm no mensurada. O aumento do CO2 na atmosfera s no maior porque se d um processo de reabsoro de carbono. Boapartedocarbono produzidopelas atividadeshumanasenaturais(incndios naturais, vulces etc.)absorvidopelos oceanos, florestas e cerrados. Por isso, fala-se queso sumidouros ou poos de carbono. O Brasil, detentor degrande parte da Floresta Amaznica e de um rico cerrado, 11. 11 estaria sendo, desta forma, extremamente til aos pases do Norte. E oferece esse servio ambiental gratuitamente. Mas quem,noBrasil,credor dessadvida?Sabe-seque a permanncia das florestas tem muito a ver com as populaes que as habitam e as suas estratgias de sobrevivncia. graas borracha e aos seringueiros que parte da Floresta Amaznica oriental ficouem p. Dificilmente pode-se imaginar uma florestaconservada sem a participao dos povosindgenas, dos extrativistase do campesinato tradicional. Pois seles,devidamenteapoiadospor polticas e instituies pblicas e pela sociedade civil nacional e internacional e preparados para isso, podem fazer frente ao acelerado processo de destruio em curso.2. Os pasesindustrializadosfomentaramumarevoluo tecnolgicanaagriculturachamada RevoluoVerde. Esta revoluoaumentou consideravelmente,pelomenosa curto prazo, a produtividade da agricultura, de tal modo que o mundo hoje produz o suficiente para satisfazer a fome da humanidade. Esta satisfao no acontece, porm, justamente porque aRevoluo Verde aprofundouadependncia da agricultura s agroindstrias e ao mercado mundial, dominado pelos pases do Norte, e expulsou a maioria do campesinato para as periferias urbanas. Ao impor uma agricultura baseada na mecanizao intensiva e 12. 12 pesada,no usodeprodutosqumicos(fertilizantese agrotxicos) e sementes hbridas, esse modelo produziu e continua a produzir uma srie de impactos: degradao do solo, poluio das guas, eroso gentica, novas pragas. Estesimpactos so particularmentesensveisnos pases tropicais, com solos mais frgeis, forte insolao e maior biodiversidade. Trata-se, assim, de um modelo de agricultura que, de um lado, projeta o Brasil como grande produtor e exportadore,dooutro, empobrecenosso territrio, hipotecando o futuro e levando ocupao indiscriminada de terras novas em prejuzo da manuteno das nossas florestas e cerrados. Mais ainda, promove a expulso do campo e a extino progressivada agricultura familiar,por exigir concentrao de terra, e afeta, em propores insuspeitadas, a sade dos trabalhadores e consumidores, especialmente a das mulheres e crianas. A imposio indiscriminada desse modelo, por causa desses impactos, exige reparo.3. A biodiversidade um setor em que a dvida ecolgica se mostra extremamente complexa e confusa, mas no menos real. Por um lado,assistimos destruio formidvelda diversidade biolgica e, por outro, ainda somos detentores da maior diversidade do planeta. O mundo se beneficiou dos nossos recursos fitogenticos agrcolas e silvestres, tanto quanto nos beneficiamos dos recursos recebidos de outras 13. 13regies.Com asinovaes recentesnabiotecnologia,noentanto, provvel que o fluxo se desequilibre de vez e quenossos ecossistemastropicais,muito maisricos embiodiversidade do que os ecossistemas de pases temperados efrios, passem a fornecer muito mais recursos biolgicos egenticos do que os que receberemos de fora.Faz 10 000 anos que comeou o melhoramento dos recursosbiolgicos e genticos na agricultura, e que esses recursoscomearam a circular pelo mundo. O milho originrio de umarea que cobre parte do Mxico, Honduras e Guatemala; abatata veio dos Andes; o arroz e a soja da China. O milhoexpandiu-se primeiro pelasAmricas.Aolongo do tempo,povos indgenas e pequenos produtores melhoraram as suassementes em funo do clima local, do solo, dos usos quequeriam dar s suas variedades, do tempo de trabalho exigidoetc. O Brasildispunha assim deum patrimnio ricoediversificado de sementes crioulas, mas no podia se dizerproprietrio. Assuas sementescrioulaseram,e so,propriedade tanto dospequenos produtores que as mantmquanto dos povos indgenas do Mxico e da Amrica Central. Eos agricultores do Sul da Europa ou da sia, que passaram acultivar o milho, tambm fizeram as suas melhorias. A baseda alimentao dahumanidade hoje vemassimde trocascentenrias emilenares entrecontinentes.Aquiestum 14. 14verdadeiro patrimniomundial oferecido por centenasdegeraes de camponeses humanidade que mostra os limites doconceito de dvida ambiental.As indstrias sementeiras transnacionais querem o monoplioda produo e da venda das sementes. A lei de cultivares,votada em 1998, caminha no sentido de restringir os direitoscoletivos dos agricultores sobre as sementes. Mas o fato queassementes melhoradas,hbridas etransgnicasnoforam inventadas a partir do nada. Nelas existem genes desementes produzidas, sem direito de propriedade, porgeraes de agricultores. Se triunfar a apropriao, por umanfima minoria, desse patrimnio coletivo, caber a cobranadeumadvidada qualseriam hojecredores,no Brasil,dezenas demilharesde agricultoresfamiliarese povosindgenas cultivadores, como no caso dos Xavantes. Seria umadvidade quantificao monetria edefinioexata doscredores impossveis. Na realidade, a apropriao privada derecursos que, at ento, eram bem comum dos agricultores e,por intermdiodeles,da humanidade,cria,paraessasempresas, uma dvida impagvel. mais uma dvida polticaque sinaliza um conflito entre duas concepes do mundo.O mesmoprocesso est acontecendocom os recursosfitogenticos silvestres. Se, em geral, no foram melhoradospelos sculos,foramtransformados eusados com muita 15. 15cincia por geraes depovosindgenasepopulaestradicionais. So objeto,hoje,deuma vastaoperaopermanente, clandestina ou oficial, de biopirataria. Grandeslaboratrios podem vir a reconhecer a sua dvida e concordarem pagarroyaltiesaos povosepasesdosquais seoriginaram componentes dos seus produtos. Mas, e os povosvizinhos e os outros pases que tambm chegaram s mesmasdescobertas? preciso contestar as regras de patenteamentodefinidas pela OMC Organizao Mundial de Comrcio. Elaslevam apropriaoporumlaboratrio ou firmatransnacional,porexemplo,dousoteraputico dedeterminada planta em detrimento de um povo indgena que ausava tradicionalmenteou s custas de umlaboratrionacional que no teve condio de requerer o patenteamentoem tempo. Aqui tambm, v-se que estamos num terreno em quefica claro que a dvida no pode ser tratada em termosmeramente comerciais. uma questo de poder.4. Historicamente, o Brasil umgrandeexportador dematrias-primas e commodities. Essas matrias-primas ou sorecursos naturais diretamenteextradosda natureza eenviadossem qualquerprocessamento (toras demadeira,minrio de ferro etc.), ou so produtos que passaram por umprocessamento mnimo (pelotas de ferro, tbuas de madeira,alumnio,soja). Se o perodo colonial conseguiuquase 16. 16acabar com o pau-brasil e o peixe-boi, alm de exaurirasminas de ouro de Minas, isso no foi nada em comparaoquantitativa com o processo de transferncia de riquezaspromovido pela Revoluo Industrial e acelerado nas ltimasdcadas. Como amplamente sabido, a pauta de exportao dospases daAmrica Latina, sobretudo,de produtosprimrios, enquantoa de importao,sobretudo,deprodutosmanufaturados,com maisvalor agregado. Precisaentocompensaressedficit com um maior volume deexportao,portantocomuma maiorsobreexploraodosrecursos naturais e do meio ambiente.Em 1980, as minas de mangans da Serra do Navio j tinhamsido transferidas para formar estoques nos Estados Unidos. OAmap se beneficiou pouqussimo dessa gigantesca operao devenda e o atual governo do Amap, que se considera credor,reclama. Comeavaentoafuncionara todovaporaexportaode ferro deCarajs. Nessa dcada, oBrasilimplementavaumaflorescente agroindstriadepapelecelulose e se firmava como grande exportador de soja e dealumnio. Asminas de bauxita do Par,prximas,eapossibilidade de dispor, numa indstria extremamente eletro-intensiva,da eletricidade deTucuru,vendida apreosaltamente subsidiados,facilitaram aimplantaodemultinacionais da indstria do alumnio. 17. 17A necessidade de garantir o fornecimento de energia baratapara as indstrias de processamento de alumnio leva, de umlado, a que as empresas privadas de fornecimento de energiacobrem um preo alto dos consumidores domsticos e diminuamos subsdios concedidos aos consumidores de baixa renda, deforma a garantir os seus lucros. Leva, por outro lado, a queo Estado e as empresas privadas acelerem os projetos deconstruo de barragens e usinas termoeltricas. o caso,por exemplo, da construo da barragem de Tucuru, pois ofechamento das suas comportas, no incio dos anos 80, foiapressado em funo da demanda industrial para a produo dealumnio.Quem so os credoresnessecaso?Osatingidospelas barragens que perderamsuasterrasou foram malreassentados,emum ambiente hostil eimprprioparaaproduo agrcola eoextrativismo; os ribeirinhos doTocantins afetados nas suas atividades agrcolas e de pesca;os usuriosdo rio comovia de comunicao,jqueabarragem foi construdasemeclusa; ascomunidades emunicpiosdaregio que notiveramacessoenergiaeltricae viram desaparecer sobas guas centenas demilhares de hectares de floresta. Quem so os devedores? Asmultinacionais diretamentebeneficiadas, como a americanaAlcoa e a canadense Alcan, a Companhia Vale do Rio Doce e,de modo mais geral, os pases importadores de alumnio.Empleno comeo do ano 2000, reativa-se a proposta da usina de 18. 18 BeloMonte,norio Xingu, e devrias outrasno rio Tocantins. Se o tratamento dado aos atingidos e ao meio ambiente,em projetospblicosfinanciadospeloBanco Mundial, j era precrio,pode-se imaginaro que vai acontecercomessesprojetossendo implantadospela iniciativa privada. Vale lembrar que so s exemplos, pois a poltica de fomento s grandesbarragenshidroeltricas, implantadasob a orientao do Banco Mundial, produziu e ainda produz, em todo o pas, enormes impactos ambientais e sociais. A indstria de papel e celulose, ao mesmo tempo que inicia processos de concentrao, continua a se expandir e, assim comoas outrasmonoculturas, ofazem detrimentoda ampliao de terras disponveis para a reforma agrria. Alm disso, beneficia-se da devastao promovida pelo latifndio, ocupando as terras degradadas por ele. Isso quando no a promovediretamente.Contribui decisivamente,onde se implanta, para o empobrecimento da biodiversidade, deixando os habitantes locais sem alternativa econmica. Parte da produo de pinus e de eucalipto dirige-se para a indstria da construo civil e para a produo de carvo vegetal. preciso perguntar quem so os credores e devedores deste processo.5. A deciso do governo brasileiro de completar a sua insero 19. 19naeconomiainternacionaleassegurar ocumprimentodasmetas acertadas com o FMI e o Banco Mundial, o que implicano pagamento em dia da sua dvida financeira, entre outrasconseqncias,faz com que ocorra recessoedesindustrializao no pas. Sobram na pauta exportadora,fora alguns poucos produtos mais elaborados, os tradicionaisprodutos primrios,conforme a nossahistricavocao.Coloco vocao destacada,pois no uma coisanatural.Produzir e exportar matrias-primas nos foi imposto. slembrar que, no sculo XVII, a rainha de Portugal, Maria I,proibiu as manufaturas no Brasil; que, em 1917, o industrialnordestinoDelmiro Gouveia foi assassinado, provavelmentenuma tentativa dos ingleses de impedirem a implantao daindstria txtil no pas; que o processo de integrao economia internacional conduzidoaferro efogo pelogovernoFernando HenriqueCardosoproduzum incio dedesindustrializao.Onosso enorme dficit torna imperativo, na lgica dopoder, o aumento ao mximo do volume das exportaes, jque,comomostramos, oseu valor tendea baixar. Issosignifica uma explorao mais intensa dos recursos naturaisedomeio ambiente,com todasas suasconseqnciasperversas no plano socioambiental. No caso da agricultura,secundariza-se qualquer poltica agrria e agrcola que no 20. 20seja subordinadaexportao. Acelera-sea ocupaodafronteira agrcola, comprometendo o futuro do Cerrado e daAmaznia. Quem deve ser culpado por esse processo? IV. As estratgias do Norte frente s suas responsabilidades Quais so, hoje, as posies do Norte em relao sua dvidaecolgica para com o Sul?1. Os pases industrializados no reconhecem explicitamente essa dvida, mas j reconhecem formalmente a sua responsabilidade para com o patrimnio da natureza. A Agenda XXI, elaborada na Conferncia das NaesUnidas parao Meio Ambientee o Desenvolvimento - Rio 92 , constata no seu captulo 4 que as principaiscausas da deteriorao ininterruptado meio ambiente mundial so os padres insustentveis de consumo e produo, especialmente nos pases industrializados. Motivo de sria preocupao, tais padres de consumo e produo provocam o agravamento da pobreza e dos desequilbriosquot; (Agenda XXI, cap. 4. 4.3). Quando, na seo IV, a Agenda XXI trata dos meios de sua implementao, de uma certa maneira ela reconhece asconseqncias dessefato, ao dizer que os pases desenvolvidos reafirmam seu compromissode alcanara meta aceita pelas Naes Unidas de destinar 0,7 por cento do PNB (ProdutoNacional Bruto) paraassistncia oficial ao desenvolvimento (33.13). 21. 212. Cuidadosamente, no se faz no texto nenhuma ligao entre aresponsabilidade dos pases desenvolvidos e a ajuda que elesse declaramprontosa daraosoutrospases.Mas osingredientes para falar da sua dvida ecolgica esto dados:esto a o reconhecimento pblico, da parte dos governos dospases industrializados, que seu modelo de consumo e produonos prejudica e a promessa (evidentemente no cumprida)demais ajuda.Vale notar que a dvida aqui no reconhecida como sendomeramente econmica.Oseu reconhecimentopelos governosconfirma que ela , antes de tudo, uma dvida poltica.3. H uma tendncia para subordinar as exportaes e importaesa condicionalidades ambientais e sociais, criando um novo tipode protecionismo. Os Estados Unidos, a Europa e o Japo, porexemplo, importariam madeira brasileira somente se isto nocontribusse para adestruio da floresta; acar, somentese no houvesse trabalho de menores no corte da cana; carnebovina, se no houvesse trabalho escravo na ponta, na fazenda;manufaturados,s se fossemrespeitadas as Convenestrabalhistas da Organizao Internacional do Trabalho. Seriauma posio correta se essas clusulas no partissem sempredos pases hegemnicos, como salienta Joan Martinez-Alier, ese no fossem acionadas, em geral, somente emfuno dosinteressesdopas importador.O mercadodaChina,por 22. 22exemplo, tograndeeimportante queosEstadosUnidosignoramnaprticaosproblemas comosdireitoshumanosnaquele pas. Algumas poucas empresas, associadas inclusive aempresas norte-americanas,estodevastandoas florestasnativas do Chile para plantao de pinheiros e contribuem paraa expulso de comunidades indgenas Mapuches e para a suamarginalizao semqueissoemocioneosEstados UnidosdaAmrica. O desastre social e ambiental provocado pela barragemde Tucurununca impediu japoneses,norte-americanos oualemes de comprar o nosso alumnio.Se recusamos esseuso oportunistae imperialistadascondicionalidades, nocompartilhamosa posio do governobrasileiro que recusa esse princpio. Dizemos no ao uso quefazemdelassetoreseconmicosdoNortepara manter a suasupremacia; sim a acordos internacionais aos quais todos devemse submeter. A ns tambm interessa que as empresas localizadasno Brasil respeitem o trabalhador e o meio ambiente.4. Apeloao patrimnio mundial.AAmazniavista comopatrimnio mundial da humanidade e, por isso, segundo algunstericos epolticos depases do Norte, eventualmentepoderiam ser justificadas intervenes visando manter a suaintegridade fsica. O Programa de Preservao das FlorestasTropicais, mais conhecido como PPG7, inscreve-se nessa linha,embora de modo cuidadoso. Podemos ver nessa atitude, da parte 23. 23de certos pasesdo Norte,umaperspectiva estratgicadesegurana ecolgica: importante assegurar a preservao daFloresta Amaznica (e o acesso a ela) por sua importncia paraa manuteno da sade climtica e da biodiversidade planetria(fazendodela uma reserva paraassegurarofuturo dasbiotecnologias) e por seu papel na absoro do carbono. A preservao dessa grande floresta implica enorme benefcio para ahumanidade. Mas ela brasileira e habitada porpovosindgenas, populaes tradicionais, pequenos produtores rurais e uma grande populao urbana que tm toda capacidade, se lhes forem garantidas as condies para isso, de gerir esse patrimnio. O PPG7, doao a fundo perdido, no um presente mas uma nfima retribuio. No porissoquepodeserdesperdiado.Aparticipao da sociedade civil em alguns dos seus componentes poderia ser estendida.5. A privatizao. Falamoseconomistasambientais:O quepblico no bem cuidado. Atribuindo-se valor monetrio aosbens danatureza,havermaior interesseem preserv-los.Privatizam-se reas de conservao, a gua, amanh o ar. Faz-se comqueomeio ambienteentrenuma lgicademercado,caminho trilhadopela economia ambiental que,ao tentarinternalizar, nopreodas mercadorias,todosos custosambientais, acaba reduzindo o meio ambiente a uma mercadoria 24. 24 que se compra e se vende. Um dosargumentos dos que querem privatizaros servios deabastecimentodegua queo fornecedor,quevailucrar com avenda dagua,vai ter interesse em preservar as fontes de gua e que o cliente, ao pagarpelagua (subentendido:e muito)vai us-la com parcimnia. Isso esquecer que, mais uma vez, os pobres podem ser excludos do acesso gua e que os fornecedores podem se interessar mais pelo tratamento qumico da gua e por aumentos de preos em caso deescassezdoquepelaproteo das nascentes e das matas ciliares dos rios.6. Converso de ttulos dadvidaexterna emrecursos para projetos ambientais. Trata-se de ummecanismono qualentidades ecolgicasinternacionais adquirem, no mercadosecundrio,ttulos da dvida externa de pases onde estiveremdispostos a investir em projetos de conservao e, deposse desses ttulos, depois os doam a uma entidadeecolgica do pas em questo. Esta, por sua vez, trocaesses ttulos, junto ao Tesouro Nacional, por moedalocal a ser utilizada na implantao do referidoprojeto (Abdala, 1995). AONGFunatura, junto comanorte-americana TheNature Conservancy, sob orientao do Ibama, utiliza esse mecanismo para um programa de conservao e manejo do parque nacional GrandeSerto, Veredas.Notemos informaosobre outras experincias.7.Empresrios e/ou ONGscompram extenses defloresta ou 25. 25 cerrado, vendendo a natureza em pedaos para pessoas dos pases do Norte, que assim pensam contribuir para a preservao da mesma. assimque uma empresaholandesa vendena Holanda rvores de uma fazenda na Ilha de Maraj. O proprietrio da fazenda vai poder assim manter as rvores em p, sem precisar derrub-las para explorao tradicional.Vendedorese compradores ficam satisfeitos, um com o bolso e os outros com a sua conscincia.8. Na mesmalinha,estse discutindooMecanismode DesenvolvimentoLimpo(CDM,em ingls), promovidopelo ProtocolodeQuioto,estabelecidonumadasreuniesdos governos do mundo que tratam da aplicao da Conveno sobre Mudana de Clima, aprovada durante a Unced - Rio 92. Empresas poluentes mantm um direito de continuar poluindo como esto poluindo hoje (ou de reduzir menos do que deveriam), sob a condio de que cuidem da manuteno da natureza em outro lugar e/ou promovam a diminuio deemisses de poluentes em outros pases. Quem contribui para a produo de CO2 (gs carbnico), como o caso da indstria automobilstica, financiar, por exemplo, o plantio de florestas que absorvem o mesmo CO2. o seqestro florestal de carbono, a floresta sendo o sumidouro do qual j falamos. assim que a montadora francesa Peugeot, junto com a ONG Pro-natura, implantou um grande projeto de reflorestamento no Mato Grosso, que serviria de sumidouro. Vale 26. 26 notar que esse projeto j produziu uma catstrofe ambiental ao usar, no preparo do terreno, um poderoso desfolhante.Sob umaaparnciaengenhosade contribuiopara a recuperao das florestas dos pases do Sul (ou, mais provvel, para a substituio de florestas nativas por monoculturas de rvores) e de ajuda implementao de processos e atividades no poluentesousuamelhoria nessespases,pode ser interpretado como uma forma perversa das indstrias e grandes poluidores dos pases do Norte continuarem a produzir de modo insustentvel e sem freios. pelo menos assim que os EUA entendem. De qualquer modo, se no est ainda totalmente claro o que vai entrar noMecanismo de Desenvolvimento Limpo, no h dvida que vaise expandirequea sociedade tem que se preparar para no deixar essa discusso entregue ao governo e ao empresariado.9. Enfim, no vamos esquecer que continua predominando um outro tipo de comportamento: empresas que vendem em pases do Sul agrotxicos,remdios, alimentos, eletrodomsticos, carros e outros produtos j proibidos em seus pases de origem; pases ou indstrias que transferem para o Sul o seu lixo txico; empresas poluentes e/ou grandes consumidores de energia que se instalamnoSul. assim queoJapotem uma invejvel qualidade ambiental, para um pas industrializado, s custas de pases como oBrasil,grandeexportadorpara o Japo de 27. 27alumnio, ferro, soja etc.V. ConclusoCriticamos a economia ambiental quandodissemosque elatende a submeter o meio ambiente s regras do mercado. Mas, aofalar de dvida ecolgica, no incorremos no risco de receber amesma crtica? Dvida se mensura, se calcula, tem valor. Se paga(ou no se paga), vista, a prazo, parcelada ou no etc. Paraefeitodeargumentaopoltica, de fato,entramosna lgicamercantil. Mas os exemplos que demos mostraram que impossvelsubordinar toda essa dvida a uma lgica de mercado. Acima dapropriedade privada, o meio ambiente coloca-se como herana dospovos que nele vivem e o manejam. Alm de ser, por extenso,herana de toda a humanidade. Nota-se que falamos aqui de herana e no de patrimnio. Anatureza existe independentemente de ns.Ela no a nossapropriedade. Herdamos dela, mas no se tornou nosso patrimnio,nossa propriedade sobre a qual poderamos dispor ao nosso belprazer. Os valores de igualdade, de solidariedade, de justia ede respeito imensa diversidade social e biolgica transcendem odireito individual de propriedade. E so eles que se impem comocritrios ltimos no tratamento das relaes entre povos e naese das nossas relaes com a natureza. Se a humanidade no seuconjunto no soube bem administrar essa herana, no se podeabstrair, contudo, as responsabilidadesconcretas que certos 28. 28setores da sociedade, em particular as classes dominantes e seusaliados, governos e empresas possuem por sua destruio, e anecessidade de lutar politicamente pela correo e compensaodestes males, sob as mais diversas formas.Onde possvel a quantificao da dvidaecolgica, osrecursos obtidos com o seu pagamento devem ser utilizados para arecomposio da qualidade ambiental e a formulao e implantaode modelos de desenvolvimento que, baseando-se nas condies easpiraes decada pas,consagrem os princpiosdesustentabilidade ambiental edeeqidadesocial (Robleto eMarcelo, s.d.). Neste sentido, a dvida pode ser paga por meio dediferentes formasde transferncia de recursos: dinheiro,tecnologias,conhecimentos,informaesetc, sempresobfortecontrole sociale em benefcio, primeiramente,dos setoressociais mais diretamente afetados pelos danos ambientais que ageraram.Mas, voltamos a insistir, no se pode reduzir a questo dadvida ecolgica suadimenso econmica.umadvidaessencialmente poltica e histrica. Por isso, seu tratamentodeve ser poltico. Assim, quando defendemos o pagamento dessadvida, quando possvel, numa perspectiva poltica, que issocontribua para mudanas reais no modelo de desenvolvimento e paraa afirmao econmica e poltica dos setores que foram esmagadose dos que resistem aos estragos do modelo colonial passado e 29. 29mercantil hoje dominante. Bibliografia:ACCION ECOLGICA (Equador). Deuda, derechos humanos y democracia.In: Ponencia para el encuentro de la Coalicion Latinoamericana yCaribea- Jubileo2000.Buenos Aires,Argentina, 20/22desetembro.LLOSA, Slvia.O CDMe florestas: polmica e oportunidade.Projeto Brasil Sustentvel e Democrtico. Fase, 2000. Mimeo.MARTINES-ALIER, Joan. Deuda ecolgicavs. Deuda externa. Unaperspectivalatinoamericana. Campaa Internacionalpor elreconocimento y el reclamo de la deuda externa. Quito, Ecuador,s.d.ROBLETO, Maria Luisa, WILFREDO, Marcelo. La deuda ecologica. Unaperspectiva sociopoltica.Santiago,Chile : Instituto deEcologia Poltica, s.d.SOARES, Adriano Campolino et ali. Milho crioulo. Conservao euso da biodiversidade. Rede Projetos Tecnologias Alternativas.Rio de Janeiro : AS-PTA, 1998.