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Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (ÍZA) DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE __________. A Lei nº. 11340 de 2006, conhecida como Lei Maria da Penha completará 10 anos de vigência em agosto de 2016. A DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO, no exercício das atribuições previstas no artigo 5º, III e VI, alínea “g”, da Lei Complementar Estadual nº 988 de 09 de janeiro de 2006 e artigo 4º, inciso XI, da Lei Complementar 80/94, pelo Defensor Público que esta subscreve, vem, com fundamento nos artigos 1º, III; 5º, caput e inciso LXXIV; artigo 134 e 226, § 8º, todos da Constituição Federal, artigos 3º, 4º, 8º, item 4, da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra a Mulher (Convenção de Belém do Pará), artigo 237 e seguintes da Constituição do Estado de São Paulo, art. 5º, II da Lei 7.347/85, com redação dada pela Lei 11.448/07, artigos 8º, I; 11, III; e 35, II da Lei 11.340/2006 e artigo 300 do Código de Processo Civil, propor: AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA LIMINAR DE URGÊNCIA Rua Boa Vista, 103, 10º andar, São Paulo, SP,CEP 01014000, Telefone: (11) 3101 0155 ramal 233/238, [email protected]

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Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher

EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (ÍZA) DE DIREITO DA VARA DA

FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE __________.

A Lei nº. 11340 de 2006, conhecida como Lei

Maria da Penha completará 10 anos de vigência

em agosto de 2016.

A DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO, no

exercício das atribuições previstas no artigo 5º, III e VI, alínea “g”, da Lei Complementar Estadual nº

988 de 09 de janeiro de 2006 e artigo 4º, inciso XI, da Lei Complementar 80/94, pelo Defensor

Público que esta subscreve, vem, com fundamento nos artigos 1º, III; 5º, caput e inciso LXXIV; artigo

134 e 226, § 8º, todos da Constituição Federal, artigos 3º, 4º, 8º, item 4, da Convenção

Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra a Mulher (Convenção de Belém

do Pará), artigo 237 e seguintes da Constituição do Estado de São Paulo, art. 5º, II da Lei 7.347/85,

com redação dada pela Lei 11.448/07, artigos 8º, I; 11, III; e 35, II da Lei 11.340/2006 e artigo 300 do

Código de Processo Civil, propor:

AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA LIMINAR DE URGÊNCIA

em face da FAZENDA PÚBLICA DO MUNICÍPIO ___________, pessoa jurídica de direito público,

situada na ___________________________________, nesta cidade e comarca, por seu

representante legal e da FAZENDA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO, pessoa jurídica de direito

público interno, com sede na capital do Estado, na pessoa de seu representante legal – Procurador

Geral do Estado - com domicílio na Rua Pamplona, 227, 7º andar, cidade de São Paulo, Estado de São

Paulo, CEP 01405-000, pelos motivos fáticos e jurídicos que passa a expor.

DOS FATOS

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Os Dados da Organização Mundial de Saúde1 indicam que a

violência doméstica ou familiar contra a mulher alcança status de epidemia mundial.

Já a Fundação Perseu Abramo, em pesquisa realizada no ano

de 20012, chegou à mesma conclusão, destacando que pelo menos 6,8 milhões, dentre as brasileiras

vivas, já foram espancadas ao menos uma vez, projetando-se cerca de 2,1 milhões de mulheres

espancadas por ano no país, 175 mil/mês, 5,8 mil/dia, 243/hora ou 4/minuto – uma a cada 15

segundos.

Conforme relatório elaborado pela Deputada Federal Jandira

Feghali 3, de cada cem mulheres assassinadas no Brasil, setenta são vítimas no âmbito de suas

relações domésticas.

Uma outra pesquisa, desenvolvida entre os anos de 2001 e

2002, pela Organização Mundial de Saúde4, no município de São Paulo indicou que 27% das mulheres

da capital relataram algum episódio de violência física cometida pelo parceiro ou ex-parceiro ao

longo da vida.

No município de ___________, conforme os dados da

Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, a Delegacia da Defesa da Mulher de

_________instaurou, no ano de ________, _________________________ inquéritos policiais para

apurar relatos de violência doméstica contra a mulher.

Também conforme os dados da Secretaria de Segurança

Pública do Estado de São Paulo, a Delegacia da Defesa da Mulher de ______________ instaurou, no

1 Estudio multipaís de la OMS sobre salud de la mujer y violencia doméstica contra la mujer. Disponível em http://www.who.int/gender/violence/who_multicountry_study/summary_report/chapter1/es/index3.html, acesso em 04/02/2008 às 14h:39m.2 Mulher brasileira nos espaços públicos e privados, pesquisa nacional realizada com uma amostra de 2.502 entrevistas pessoais e domiciliares, estratificadas em cotas de idade e peso geográfico por natureza e porte do município, segundo dados da Contagem Populacional do IBGE/1996 e do Censo Demográfico, IBGE 2000.3 Exposição de Motivos do Projeto de Lei nº 4.559/2004, disponível em http://www.camara.gov.br/sileg/integras/256085.pdf 4 OMS/FMUSP/CFSS/SOS Corpo/ FSPUSP/UFPE, 2000/2001 - Violência Contra a Mulher e Saúde no Brasil. Foram estudados 2.163 domicílios em São Paulo e 2.136 em Pernambuco

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ano de 2015, ____________________ inquéritos policiais para apurar relatos de violência doméstica

contra a mulher.

Igualmente conforme os dados da Secretaria de Segurança

Pública do Estado de São Paulo, a Delegacia da Defesa da Mulher de __________________ instaurou,

somente nos __________, ____________________________ inquéritos policiais para apurar relatos

de violência doméstica contra a mulher.

Além disso, diariamente, a Unidade da Defensoria Pública do

Estado, em _______________, atende a um número significativo de mulheres e crianças vítimas da

violência doméstica e familiar.

Entretanto, é cediço que o número de notificações oficiais está

longe de corresponder ao número real, dado o temor da vítima em denunciar seu agressor, dentre

outros motivos, por não ter para onde ir.

São recorrentes os relatos nos casos de separação litigiosa,

dissolução de união estável, investigação de paternidade e divórcio direto, além das medidas

cautelares pertinentes, que dão conta de anos de espancamentos, humilhações, e violências de toda

ordem, sem que a vítima tivesse denunciado seu agressor.

Trata-se de uma violência invisível, desenvolvida no seio do lar,

muitas vezes, sem testemunhas, amparada pela falsa crença social de que “em briga de marido e

mulher, ninguém mete a colher”.

Embora a violência baseada no gênero atinja

indiscriminadamente todas as classes sociais é a mulher pobre que mais se ressente da falta de

apoio estatal nos casos de violência doméstica ou familiar.

À mulher pobre, geralmente, restam apenas duas opções: ou

continua a conviver com o agressor, submetendo-se a toda sorte de violência, sempre cíclica e

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crescente, ou sai de casa, acochambrando-se em casa de familiares ou vizinhos, cujos endereços são

conhecidos pelo agressor, tornando-a vulnerável a novos ataques.

Atualmente, no Município de ________, as mulheres e seus

filhos vítimas da violência doméstica e familiar são encaminhadas para a CASA DE PASSAGEM DE

_________ (conforme resposta da Secretária de Assistência Social em anexo), local totalmente

inadequado, pois, além de ter endereço conhecido - expondo a vítima aos ataques de seu agressor -

proporciona tão somente local para pernoite e, ainda, a casa foi criada para o abrigo da população de

rua migrante, itinerante e os munícipes em situação de rua, ou seja, pessoas em situações sociais

totalmente diversas.

Ou seja, não há na Comarca qualquer política pública

adequada para acolhimento provisório de mulheres, acompanhadas ou não de seus filhos, em

situação de risco de perder a vida, lesão, em sofrimento físico, psicológico, ameaças, em razão da

violência doméstica ou familiar.

Diante desse quadro fático indigno, foi instaurado por esta

Defensoria Pública _______________, o procedimento administrativo de nº. ________________,

para apurar a omissão do Município ___________ e Estado de São Paulo na implementação de uma

rede adequada para acolhimento da mulher vítima de violência doméstica ou familiar.

Conforme ofício encaminhado pela Secretária de Assistência

Social do Município não há na rede municipal uma política de acolhimento adequada para as

mulheres vítimas de violência doméstica ou familiar.

Assim, ficou evidenciado a ausência na rede municipal de

_________________de CASA ABRIGO DE ACOLHIMENTO PROVISÓRIO das mulheres, acompanhadas

ou não de seus filhos, em situação de risco de morte ou ameaça em razão da violência doméstica ou

familiar, causadora de lesão, sofrimento físico, psicológico ou dano moral.

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Em vista disso, foi expedida a RECOMENDAÇÃO

ADMINISTRATIVA Nº ______________ ao PREFEITO MUNICIPAL DE ___________ para que o

MUNICÍPIO DE ________ dando corpo ao comando contido no artigo 35 da Lei 11.340/06, bem

como aos preceitos constitucionais e internacionais invocados, implante, em prazo não superior a

180 dias, CASA ABRIGO de acolhimento provisório para mulheres, acompanhadas ou não de seus

filhos, em situação de risco de morte ou ameaças em razão da violência doméstica ou familiar,

causadora de lesão, sofrimento físico, psicológico ou dano moral., em local seguro, adequado e

mantido em sigilo, dotado de equipe multidisciplinar especializada nesse tipo de atendimento

(Recomendação em anexo).

Em resposta, o Município de __________ reconheceu que na

última Conferência Municipal foi aprovada a proposta de criação de uma casa abrigo para

mulheres, mas que no momento seria inviável a implantação de uma casa abrigo para mulheres

(ofício em anexo), colocando-se o Município aberto para o diálogo com outros municípios, mas sem

informar qualquer política alternativa que poderia suprir a CASA ABRIGO.

Em outros termos, o Município de __________ negou o

atendimento à recomendação e informou que somente estava aberto para o diálogo com outros

Municípios para a implementação da casa abrigo, sem ao menor indicar a implementação ainda que

provisória de outra política pública adequada que suprisse a construção de uma casa abrigo no

Município.

Na resposta ainda tentou justificar que seria inviável a

implantação da Casa Abrigo ou qualquer outra política de acolhimento similar porquanto entende

que somente a Secretária de Assistência Social deveria arcar com o custeio da implantação dessa

política, mas que referida Secretária tem orçamento municipal limitado somente de 2% por cento.

Como se as demais secretárias não tivessem o dever de

contribuir para a implantação dessa política ou houvesse vinculação às políticas públicas para

mulheres ao orçamento da Secretária de Assistência Social.

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O mais absurdo é que na proposta de orçamento da Casa

Abrigo, vincula ao orçamento da Secretária de Assistência Social até mesmo para a disponibilização

de um guarda municipal.

Ou seja, não houve qualquer justificativa plausível para a

ausência de política pública adequada para as mulheres de __________vítimas de violência

doméstica.

A omissão das autoridades municipais e estaduais em

implementar o abrigo para mulheres vítimas de violência, não encontra justificativa plausível nem

mesmo na ausência de verbas, vez que a construção e manutenção de tais programas conta com o

apoio financeiro do Governo Federal, que já beneficiou dezenas de municípios brasileiros.

Em síntese, atualmente, não há CASA ABRIGO DE

ACOLHIMENTO PROVISÓRIO em __________, nem QUALQUER política pública adequada para as

mulheres para o acolhimento provisório.

No caso informa o município que adota como medidas

totalmente inadequadas:

1) O acolhimento das mulheres e seus filhos na CASA DE PASSAGEM;

2) Ou o acolhimento das mulheres na CASA DE PASSAGEM e seus filhos

infantes na CASA DE ACOLHIMENTO PROVISÓRIA, separando-os de sua

genitora, subvertendo a utilização da casa de acolhimento para crianças e

adolescentes.

A situação alarmante e desumana que são submetidas as

mulheres ante a ausência da política pública para a mulher pode ser constatada facilmente no caso

concreto ocorrido com uma usuária da Defensoria Pública em __________ e seus dois filhos que

foram encaminhados a esta instituição pela própria rede de assistência social municipal e ensejou a

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propositura de ação de obrigação de fazer em face do Município de __________ e Estado de São

Paulo proposta perante a ____ª Vara Criminal da Comarca de __________ – Anexo Infância e

Juventude.

A usuária e seus filhos, crianças, viviam em um galpão alugado

informalmente pelo ex-companheiro da representante legal no valor de R$ 300,00 (trezentos reais),

local insalubre, precário e sem segurança, sendo o aluguel custeado pelo ex-companheiro da

representante legal.

Se a grave situação social não bastasse, a representante legal e

as crianças passaram a ser vítimas de um ciclo de violência doméstica perpetradas pelo ex-

companheiro em face da representante legal, cujos atos eram praticados em frente dos infantes.

E como sofria constantes atos de violência doméstica não

conseguia estabelecer com o ex-companheiro outra forma de pagamento de aluguel em outro local,

haja vista que é dependente financeiramente dele.

Após este ciclo de violência doméstica sofrido pela

representante legal e as crianças e a ausência de política pública para resguardar a integridade física

e psicológica da usuária e seus filhos, no dia 28 de fevereiro de 2016, a representante legal

compareceu à DDM/__________ para relatar que o agressor lhe feriu gravemente com um soco na

boca que provocou a perda de dois dentes permanentes e um terceiro que é pivô.

Em vista desses fatos, ou seja, em vista principalmente da

ausência de CASA ABRIGO DE ACOLHIMENTO PROVISÓRIO em __________, ou QUALQUER política

pública adequada alternativa adequada para as mulheres, o CREAS e o Acolhimento Institucional da

Crianças tiveram que acolher as crianças no Acolhimento Institucional de __________, com a

genitora pernoitando na CASA DE PASSAGEM (equipamento de atendimento para população em

situação de rua e migrantes).

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No caso em comento, que exemplifica e justifica a propositura

da presente ação civil pública, os únicos motivos para encaminhamento das crianças e da mulher

vítima de violência doméstica para a casa de acolhimento são:

A) A carência de recursos da família para conseguir uma moradia digna,

B) A dependência econômica da representante legal do agressor, seu ex-

companheiro e o ciclo de violência doméstica sofrido pela representante

legal e pelas crianças.

C) A ausência de CASA ABRIGO DE ACOLHIMENTO PROVISÓRIO em

__________, ou QUALQUER política pública adequada alternativa

adequada para as mulheres.

Nesse sentido, a Mantenedora Vicente Decária, casa de

acolhimento provisório institucional afirmou que o único motivo do encaminhamento é que o

Município não dispõe de equipamento que atenda mulheres de violência doméstica, assim fez-se

necessário acolher as crianças PROVISORIAMENTE para que o CREAS junto da rede de proteção

possa realizar as devidas articulações para a efetivação da garantia de direito da família.

Ainda, o CREAS tentou as devidas articulações com a Secretária

de Assistência Social de São Paulo, mas sem sucesso, o que corrobora com as afirmações de que não

há qualquer política pública adequada no Município de Jacareí para atender e acolher de forma

adequada as mulheres e seus filhos vítimas de violência doméstica, seja no âmbito municipal, seja no

âmbito estadual.

O referido caso em concreto demonstra e exemplifica um caso

dentre vários em que ocorrem a omissão do Município de Jacareí e do Estado de São Paulo, que

obrigam as mulheres principalmente pobres, acompanhadas ou não de seus filhos, em situação de

risco de morte ou ameaça em razão da violência doméstica ou familiar, causadora de lesão,

sofrimento físico, psicológico ou dano moral:

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1) A continuar a conviver com o agressor, submetendo-se a toda sorte

de violência, sempre cíclica e crescente,

2) A sair de casa, acochambrando-se em casa de familiares ou vizinhos,

cujos endereços são conhecidos pelo agressor, tornando-a vulnerável a

novos ataques.

3) A ir para a CASA DE PASSAGEM com seus filhos, local totalmente

inadequado, pois, além de ter endereço conhecido - expondo a vítima aos

ataques de seu agressor - proporciona tão somente local para pernoite e,

ainda, a casa foi criada para o abrigo da população de rua migrante,

itinerante e os munícipes em situação de rua, ou seja, pessoas em

situações sociais totalmente diversas.

4) Ou o acolhimento das mulheres na CASA DE PASSAGEM e seus filhos

infantes na CASA DE ACOLHIMENTO PROVISÓRIA, separando-os de sua

genitora, subvertendo a utilização da casa de acolhimento para crianças e

adolescentes.

Por todo exposto, não encontrando qualquer eco aos apelos

formulados, não restou outra alternativa, senão palmilhar a via judicial, para a satisfação dos direitos

Metaindividuais aqui questionados.

DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

DA LEGITIMIDADE DA DEFENSORIA PÚBLICA PARA A TUTELA

DE INTERESSES METAINDIVIDUAIS

De início, importante informar que nos autos da Ação Direta

de Inconstitucionalidade 3943/ Distrito Federal, de relatoria da Ministra Cármen Lúcia, o Supremo

Tribunal Federal reconheceu a constitucionalidade das normativas que preveem a legitimidade da

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Defensoria Pública para tutela de interesses transindividuais (coletivos em sentido estrito e difusos)

e individuais homogêneos, encerrando a celeuma sobre o tema:

“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEGITIMIDADE ATIVA DA

DEFENSORIA PÚBLICA PARA AJUIZAR AÇÃO CIVIL PÚBLICA (ART. 5º, INC.

II, DA LEI N. 7.347/1985, ALTERADO PELO ART. 2º DA LEI N. 11.448/2007).

TUTELA DE INTERESSES TRANSINDIVIDUAIS (COLETIVOS STRITO SENSU E

DIFUSOS) E INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. DEFENSORIA PÚBLICA:

INSTITUIÇÃO ESSENCIAL À FUNÇÃO JURISDICIONAL. ACESSO À JUSTIÇA.

NECESSITADO: DEFINIÇÃO SEGUNDO PRINCÍPIOS HERMENÊUTICOS

GARANTIDORES DA FORÇA NORMATIVA DA CONSTITUIÇÃO E DA

MÁXIMA EFETIVIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS: ART. 5º, INCS.

XXXV, LXXIV, LXXVIII, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. INEXISTÊNCIA DE

NORMA DE EXCLUSIVIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA AJUIZAMENTO

DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA. AUSÊNCIA DE PREJUÍZO INSTITUCIONAL DO

MINISTÉRIO PÚBLICO PELO RECONHECIMENTO DA LEGITIMIDADE DA

DEFENSORIA PÚBLICA. AÇÃO JULGADA IMPROCEDENTE.” (Ação Direta de

Inconstitucionalidade 3943/ Distrito Federal, de relatoria da Ministra

Cármen Lúcia, Supremo Tribunal Federal, j. 7/05/2015). (Grifos Nossos).

Nesse sentido, o artigo 134, caput, da Constituição Federal

com redação dada pela Emenda Constitucional nº. 80/2014, prevê que:

“A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à função

jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do

regime democrático, fundamentalmente, a orientação jurídica, a

promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e

extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma integral e

gratuita, aos necessitados, na forma do inciso LXXIV do art. 5º desta

Constituição Federal.” (Grifos Atuais).

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Ademais, as alterações introduzidas pela Lei nº 11.448, de 15

de janeiro de 2007, na Lei de Ação Civil Pública (Lei nº 7.347/85), também trouxe a previsão da

legitimidade da Defensoria Pública para propor ação civil pública na defesa de interesses

Metaindividuais, sobretudo quando a ação envolva o interesse de grupo de hipossuficientes

econômicos.

Igualmente, conforme artigo 4º, inciso XI, Lei Complementar

80/94 cabe à Defensoria Pública como função institucional exercer a defesa dos interesses

individuais e coletivos da mulher vítima de violência doméstica e familiar, in verbis:

“Art. 4º São funções institucionais da Defensoria Pública, dentre outras:

XI – exercer a defesa dos interesses individuais e coletivos da criança e do

adolescente, do idoso, da pessoa portadora de necessidades especiais, da

mulher vítima de violência doméstica e familiar e de outros grupos sociais

vulneráveis que mereçam proteção especial do Estado; (Redação dada pela

Lei Complementar nº 132, de 2009) ” (grifos atuais).

Corroborando os argumentos expendidos, temos no art. 28 da

Lei 11.340/06, a seguinte previsão:

“Art. 28. É garantido a toda mulher em situação de violência doméstica e

familiar o acesso aos serviços de Defensoria Pública ou de Assistência

Judiciária Gratuita, nos termos da lei, em sede policial e judicial, mediante

atendimento específico e humanizado.”

Na espécie vertente, percebe-se, sem maiores dificuldades,

que a tutela pleiteada versa precipuamente sobre interesses da parcela mais pobre e discriminada

da população de Jacareí: as mulheres vítimas da violência doméstica ou familiar, que não têm para

onde ir.

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Por certo, tal legitimação se coaduna com os elevados

princípios inscritos nos artigos 5º, inciso LXXIV e 134 da Carta Política, que consagram a

essencialidade da Defensoria Pública para a função jurisdicional do Estado, oportunizando o tão

almejado acesso à justiça.

O acesso à justiça, como é cediço, não se confunde com o

acesso ao judiciário. Vai além, reclamando o apeio em uma ordem jurídica justa. E não há falar em

ordem jurídica justa, sem se assegurar aos hipossuficientes os instrumentos eficazes de defesa dos

seus direitos.

Demonstrada, portanto, a legitimidade ativa, verificaremos,

em seguida, a legitimidade do ente municipal para integrar a relação jurídico-processual no polo

passivo da demanda.

DA LEGITIMIDADE PASSIVA E SOLIDÁRIA DO MUNICÍPIO DE

__________ E DO ESTADO DE SÃO PAULO

A Lei nº. 11.340 de 7 de agosto de 2006 criou mecanismos

para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da

Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra

as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a

Mulher.

Nesse sentido o artigo 35, da Lei 11.340 de 7 de agosto de

2006 determinou que que a União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios poderão criar e

promover, no limite das respectivas competências:

“(...)

II - Casas-Abrigos para mulheres e respectivos dependentes menores em

situação de violência doméstica e familiar. (grifos atuais)”.

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Resta claro, portanto, o poder-dever dos Estados e Municípios

de implementar a política pública requerida, criando: Casas-Abrigos para mulheres e respectivos

dependentes menores em situação de violência doméstica e familiar.

Já o art. 204 da Carta Magna estabelece as diretrizes das ações

governamentais na política de assistência social, reservando as esferas estadual e municipal a

atuação na coordenação e execução de programas de assistência social.

“Art. 204. As ações governamentais na área da assistência social serão

realizadas com recursos do orçamento da seguridade social, previstos no

art. 195, além de outras fontes, e organizadas com base nas seguintes

diretrizes:

I - Descentralização político-administrativa, cabendo a coordenação e as

normas gerais à esfera federal e a coordenação e a execução dos

respectivos programas às esferas estadual e municipal, bem como a

entidades beneficentes e de assistência social”. (Grifos nossos).

Também a Resolução nº. 109, de 11 de novembro de 2009, do

Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) que aprovou a TIPIFICAÇÃO NACIONAL DE SERVIÇOS

SOCIOASSISTENCIAIS, estabeleceu como serviço de proteção social especial de alta complexidade o

acolhimento provisório para mulheres, acompanhada ou não de seus filhos, em situação de risco de

morte ou ameaças em razão da violência doméstica ou familiar, causadora de lesão, sofrimento

físico, psicológico ou dano moral.

Por fim, a Constituição Federal, no art. 30, V, estabeleceu

dentre as competências dos municípios, a organização e prestação de serviços públicos de interesse

local.

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Versando a presente lide, no estado das asserções iniciais,

sobre a recusa e omissão dos administradores municipais e estaduais em implementar comando

imperativo, revela-se irrefutável a legitimação do ente municipal e estadual para figurar no polo

passivo da presente demanda.

DO DIREITO À PRESERVAÇÃO DA INTEGRIDADE FÍSICA DAS

MULHERES VÍTIMAS DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA NO ÂMBITO DAS RELAÇÕES DOMÉSTICAS E

FAMILIARES

O direito à vida, à integridade física, moral, psíquica e

patrimonial das mulheres vítimas da violência doméstica e familiar, reveste-se da mais alta

significação, reclamando não apenas solidariedade ou simpatia, mas antes, exigem atitudes

concretas do Poder Público para sua efetiva realização.

No magistério de LENZA5, o Direito à vida abrange dois

aspectos: o direito de não ser privado da vida, ou seja, morto, e o direito de ter uma vida digna.

Sobre o primeiro aspecto, o direito a não ser privado da vida,

não soa admissível que o Estado, através de seus agentes, continue assistindo inerte, o espetáculo

dantesco de desrespeito à integridade física, psíquica, moral, sexual e patrimonial das mulheres e

crianças de Jacareí.

Vítimas da covardia utilitária de cônjuges e companheiros, as

mulheres que, diariamente, acorrem aos órgãos de atendimento (Delegacia de Mulheres, Defensoria

Pública, Hospitais Públicos, entre outros) não encontram a saída necessária para romper com o ciclo

de violência e, muitas vezes, preservar sua própria existência. A omissão estatal, em providenciar

abrigo para as mulheres em risco de morte, transforma-o em corresponsável pelas lesões,

deformidades e óbitos ocorridos.

5 Pedro Lenza. Direito Constitucional Esquematizado. 11.ed. São Paulo: Método, 2007. p. 701.Rua Boa Vista, 103, 10º andar, São Paulo, SP,CEP 01014000,

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Ao permitir que a violência chegue ao seu limite extremo, por

falta de um local adequado para abrigar as vítimas da violência, o ente demandado revela, a não

mais poder, um descompromisso com a preservação da integridade física de suas munícipes.

Abordada invariavelmente como questão de índole privada,

refletindo situações ocorridas em sua maior parte no interior do “sagrado espaço do lar”, a questão

da violência contra a mulher foi, durante largo tempo, negligenciada pelas autoridades públicas,

reforçando nos agressores a sensação de completa impunidade.

Na visão de BRAGHINI6, a submissão das mulheres a situações

crônicas de violência doméstica não prescinde da análise dos fatores sociais envolvidos, dos quais

destacam os chamados fatores estruturais, entendidos como “uma dimensão possível da condição

feminina. Neste sentido, estudos histórico-antropológicos já evidenciaram que as mulheres são

dotadas de uma existência relativa e dependente em todas as esferas sociais. Logo, quando se trata

de optar entre apanhar ou garantir a subsistência pessoal e da prole, torna-se mais seguro continuar

apanhando”.

O problema adquire cores de dramaticidade quando se sabe

que “um assassinato é o último grau de toda escalada de violência, que começa com agressões

verbais (violência psicológica), reincide em freqüentes espancamentos até culminar na morte da

vítima”7.

O art. 5º, caput, da Carta Política de 1988, consagra o direito à

vida, assegurando a integridade bio-físico-psíquica do indivíduo, com reflexos importantes na tutela

da mulher vitimada.

Inobstante irradiar seus efeitos sobre todos os indivíduos, a

garantia do direito à vida assume aspecto de sobrelevada importância em relação à mulher vitimada,

em risco de morte, eis que somente se tornará efetiva com a criação e implementação de

6 Lucélia Braghini. Cenas Repetitivas de Violência Doméstica. São Paulo: Unicamp, 2000. pp. 23/24.7 Idem. p. 19.

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mecanismos que coíbam a violência no âmbito das relações domésticas e familiares, promessa

inscrita no art. 226, § 8º da Constituição Federal.

Assim, “não basta que um direito seja reconhecido e

declarado, é necessário garanti-lo, porque virão ocasiões em que será discutido e violado”8.

Signatário da Convenção sobre a Eliminação de Todas as

Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e

Erradicar a Violência contra a Mulher, o Brasil assumiu o compromisso internacional de coibir a

violência doméstica e familiar contra a mulher.

Alinhando-se a Constituição portuguesa de 1976, mais

especificamente em seu artigo 18, a Constituição brasileira firma no § 1°, do artigo 5°, que “ as

normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata”. Logo após, no §

2°, anuncia que “os direitos e garantias fundamentais expressos nesta Constituição não excluem

outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em

que a República Federativa do Brasil seja parte”.

É assim que, para PIOVESAN9, todos os tratados que versem

sobre direitos humanos têm natureza constitucional, sendo que uns são materialmente

constitucionais e outros são material e formalmente constitucionais.

Destarte, ao ratificar a Convenção de Belém do Pará, em 27 de

novembro de 1995, promulgada pelo Decreto nº 1.973/96, o Brasil incorporou, em seu

ordenamento jurídico positivo, em patamar constitucional, a promessa de prevenir, punir e erradicar

a violência contra mulher, constituindo ser descumprimento, quer por ação ou por omissão, grave

violação dos direitos humanos.

8 Maurice Hauriou. Derecho publico Y Constitucional. P. 120. Citado por José Afonso da Silva. Op. cit. p. 185.9 Flávia Piovesan. Tratados Internacionais de proteção dos Direitos Humanos e a Constituição Federal de 1988. Boletim IBCCRIM, n.153, p.9, 08/2005.

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A Convenção de Belém do Pará, em seu artigo 4º, assim

dispõe:

Artigo 4º

Toda mulher tem direito ao reconhecimento, gozo, exercícios e proteção de

todos os direitos humanos e às liberdades consagradas pelos instrumentos

regionais e internacionais sobre direitos humanos. Estes direitos

compreendem , entre outros:

1. o direito a que se respeite sua vida;

2. o direito a que se respeite sua integridade física, psíquica e moral;

3. o direito à liberdade e à segurança pessoais;

4. o direito a não ser submetida a torturas;

5. o direito a que se refere a dignidade inerente a sua pessoa e que se

proteja sua família;

6. o direito à igualdade de proteção perante a lei e da lei;

7. o direito a um recurso simples e rápido diante dos tribunais

competentes, que a ampare contra atos que violem seus direitos;

8. o direito à liberdade de associação;

9. o direito à liberdade de professar a religião e as próprias crenças, de

acordo com a lei;

10. o direito de ter igualdade de acesso às funções públicas de seu país e a

participar nos assuntos públicos, incluindo a tomada de decisões. (grifos

atuais).

Em sintonia com esses elevados princípios, nossa Carta Magna

erigiu a família como base da sociedade e alvo de especial proteção do Estado, comprometendo-se a

implementar mecanismos que coíbam a violência no âmbito das relações domésticas e familiares

(art. 226 e seu § 8º).

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Dando corpo a essa promessa constitucional de preservação

de incolumidade dos membros do grupo familiar, em especial as mulheres, o legislador ordinário ,

através de paulatinas modificações legislativas, trouxe ao mundo jurídico uma série de diplomas

legais na tentativa de mitigar ou erradicar a crescente escalada da violência doméstica e familiar,

que tinha como sujeito passivo, invariavelmente, mulheres e crianças.

Aliás, não se pode olvidar que o Estado Brasileiro foi

condenado internacionalmente, em 2001, por negligência e omissão em relação à violência

doméstica.

Assim, foi editada a lei nacional nº 10.455/02, que

acrescentou o parágrafo único ao art. 69 da Lei 9.099/95, autorizando o afastamento do agressor do

lar conjugal em casos de violência doméstica. Editou-se ainda, a Lei nº 10.886/04, incluindo o § 9º ao

art. 129 do Código Penal Brasileiro, acrescentando o tipo de lesão corporal decorrente da violência

doméstica, com aumento no preceito cominatório de três para seis meses de detenção.

Tais alterações legislativas revelaram-se insuficientes para

deter a progressiva escalada da violência contra a mulher.

Em 07 de agosto de 2006, foi sancionada pelo Presidente da

República a Lei Nacional nº 11.340 que entrou em vigor em 22 de setembro do mesmo ano.

Denominada “Lei Maria da Penha”, em homenagem à Ilustre

Farmacêutica Maria da Penha Maia Fernandes, símbolo da resistência e da luta pelo fim da violência

contra a mulher, a Lei 11.340/06 trouxe importantes avanços à efetivação dos sobreditos

mecanismos de prevenção e erradicação da violência no âmbito doméstico e familiar.

Dentre os seus inovadores dispositivos, dá-se destaque às

medidas protetivas de urgência, que garantem a incolumidade física das vítimas, especialmente os

artigos 23, I e 35, II, abaixo reproduzidos:

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Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de outras medidas:

I – encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou

comunitário de proteção ou de atendimento;

(...)

Art. 35. A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios poderão

criar e promover, no limite das respectivas competências:

(...)

II – Casas-abrigos para mulheres e respectivos dependentes menores em

situação de violência doméstica e familiar;

(...)

Releva destacar que o plexo normativo que compõe o sistema

de proteção às vítimas da violência doméstica e familiar tem por escopo garantir, com absoluta

primazia, a integridade física da vítima e seus dependentes e não somente a colaboração na

persecução criminal.

Tal observação é importante, para que se diferenciem as

medidas previstas na Lei Maria da Penha, com as previstas Lei n° 9.807 de 13 de julho de 1999

(Proteção às Testemunhas), que têm objetos e finalidades diversas, eis que esta última se destina às

vítimas e testemunhas ameaçadas em razão de colaborarem com a investigação ou processo

criminal.

Vê-se que até o Judiciário encontra-se limitado em sua

atuação, pois o Município não dispõe de programa oficial de proteção, para onde possam ser

encaminhadas as vítimas de violência doméstica e familiar que se encontrem em risco de perder a

vida.

No caso nem se argumente que o fornecimento de auxílio em

pecúnia para que a vítima alugue um imóvel ou a locação de um imóvel pelos entes demandados

para as mulheres nesta situação constitui programa de proteção adequado definitivo para as

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mulheres, pois esta solução, que será requerida em caráter provisório até a implementação da casa

abrigo, já que não há qualquer política pública adequada no município de acolhimento,é ideal para

as mulheres que não se encontram em risco de morte e não têm para onde ir, mas que se revela

inócua, para aquelas mulheres que têm sua existência ameaçada pelo agressor.

Vários casos demonstram o quão cruel pode ser o descaso e a

omissão estatal, porquanto muitas mulheres permanecem convivendo com o agressor por não para

onde ir.

A preservação da integridade física das mulheres de Jacareí,

vitimadas pela violência doméstica e familiar deve ser assegurada pelo Poder Público, como

expressão do respeito à cidadania e, principalmente, à dignidade do ser humano.

A dignidade da pessoa humana é o mais elevado valor dentro

da graduação hierárquica dos valores constitucionalmente consagrados, sendo diretriz inafastável

no processo constitucional de formação das leis e base interpretativa para todas as normas jurídicas.

Pressupõe sustentáculo do Estado Democrático de Direito, colocando a pessoa como valor fonte de

todos os valores, objetivo supremo de preservação e ampliação social. Sua importância é

demonstrada pelos doutos lusitanos Joaquim José Gomes Canotilho e Vital Moreira10 :

“A dignidade da pessoa humana é um standart de proteção universal que

obriga à adopção de convenções e medidas internacionais contra a

violação da dignidade da pessoa humana e à formatação de um direito

internacional adequado à protecção da dignidade da pessoa humana não

apenas como ser humano individual e concretamente considerado, mas

também da dignidade humana referente a entidades coletivas”.

O Direito à Vida e à Dignidade da Pessoa Humana. É que se

veicula na presente lide.

10 Constituição da República Portuguesa Anotada. Volume 1. Artigos 1° a 107. São Paulo e Coimbra: Revistas dos Tribunais e Editora Coimbra, 2007, p. 200.

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Mora do Poder Público Municipal e Estadual

Demonstrada, ainda que de forma sucinta, o direito das

mulheres de Jacareí à efetiva proteção à incolumidade física e preservação da vida, o Poder

Executivo Municipal e Estadual se encontra em mora, eis que existe, desde 2006, comando legal

expresso, determinando a criação e manutenção de abrigo para mulheres vítimas de violência.

Senão vejamos.

Decorridos quase dez anos da promulgação da Lei Maria da

Penha, as mulheres e crianças de __________ continuam sem alternativa para abrigamento seguro

e adequado, em caso de ameaça de violência doméstica ou familiar.

A omissão das autoridades municipais e estaduais em

implementar o abrigo para mulheres vítimas de violência, não encontra justificativa plausível nem

mesmo na ausência de verbas, vez que a construção e manutenção de tais programas conta com o

apoio financeiro do Governo Federal, que já beneficiou dezenas de municípios brasileiros.

Nem mesmo a alegação de discricionariedade pode ser

considerada, já que na formação do juízo de conveniência e oportunidade não se pode sopesar com

nenhum outro bem jurídico, o direito à vida.

Governar é fazer escolhas. Não se cansam de repetir os

ocupantes dos cargos públicos. Entretanto, dentre as escolhas possíveis, não há a opção de nada

fazer.

Ressoa evidente que a persistir a omissão do Poder Público em

implementar a casa abrigo (com os contornos desenhados pela Lei 11.340/06), destinada a acolher e

proteger as mulheres vítimas da violência doméstica e familiar do município, constituindo violenta

agressão ao Princípio da Separação dos Poderes, a inércia estatal equivalerá à revogação, por via

transversa, do dispositivo discutido, votado e aprovado pelos representantes do povo.

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Os contornos até da Casa Abrigo foram até mesmo já

delineados na Resolução nº. 109, de 11 de novembro de 2009, do Conselho Nacional de Assistência

Social (CNAS) que aprovou a TIPIFICAÇÃO NACIONAL DE SERVIÇOS SOCIOASSISTENCIAIS e

estabeleceu como serviço de proteção social especial de alta complexidade o acolhimento provisório

para mulheres, acompanhada ou não de seus filhos, em situação de risco de morte ou ameaças em

razão da violência doméstica ou familiar, causadora de lesão, sofrimento físico, psicológico ou

dano moral.

É certo que a discricionariedade da Administração tem como

limite as garantias constitucionais individuais, que não devem ser desrespeitadas sob o falso

argumento de falta de razoabilidade e proporcionalidade.

Aparece às escâncaras que o lapso de quase dez anos é mais

que suficiente para que a norma contida na Lei 11.340/2006 encontrasse realização.

Presentes, portanto, os motivos determinantes para

acolhimento, na forma determinada lei 11340/2006, das mulheres vítimas de violência doméstica e

familiar, não há motivo plausível para a persistência da mora do executivo municipal e estadual.

Conforme abordaremos em seguida, o surrado argumento da

aplicação da teoria alienígena da “reserva do possível”, também em nada favorece os

administradores municipais, senão vejamos.

Da Inaplicabilidade da Teoria da Reserva do Possível

Recorrentemente, o Poder Público tem buscado fundamento

de validade em sua atuação desidiosa ou omissiva na chamada Teoria da Reserva do Possível.

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Lastreado no bordão “infinidade de demandas X finitude dos

recursos”, justificam-se omissões como resultado de escolhas políticas, que se pretendem

insindicáveis em sede judicial.

Dentro desse contexto, cresce, estonteantemente, os

atentados contra a Constituição. É que o superávit de normatividade e o déficit de aplicabilidade das

normas constitucionais encontram amparo em teorias como estas, que, invariavelmente, excluem

do rol de preponderância aplicativa, os direitos e garantias fundamentais individuais e sociais.

No espinhoso mister de interpretação do direito, sobretudo no

plano do direito constitucional moderno, as ideias de unidade, sistematização, proporcionalidade,

máxima efetividade e concordância prática, integram a materialidade do ordenamento jurídico

como um todo, sobrepondo, axiologicamente, a vida e a dignidade humana em face de qualquer

interesse pecuniário, o que impõe aos administradores das funções Republicanas, sua integral

observância, não deixando, assim, esvair as conquistas democráticas esculpidas na Magna Carta,

expressão moderna da vedação ao retrocesso.

Durante largo período, a fruição dos direitos fundamentais,

consagrados constitucionalmente, foi tida como mera expectativa, revestindo diversos Estatutos

Políticos de vangloriosas formalidades e nenhuma aplicabilidade. Com isso, o império

antidemocrático e fascista que assolou grande parte do século XX, encontrou na teoria das normas

programáticas formas de mitigar a aplicação da Constituição, estabelecendo – o constituinte –

premissas destinadas a vincular apenas formalmente, pro futuro, as ações dos diversos órgãos do

Estado, conspurcando, de maneira peremptória, a força normativa da Constituição.

Decorrência do princípio da isonomia material, a ideia fonte

do mínimo existencial reveste e complementa o princípio da dignidade da pessoa humana,

desaguando – e aí podemos verificar a coexistência – na necessidade da eficácia dos direitos sociais.

Doutrinariamente, como é sabido, o mínimo existencial

divide-se em três momentos distintos: a) saúde; b) educação; c) moradia. Essas são necessidades

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globantes e vitais, ensejando uma postura positiva por parte do Estado, relegando outros interesses

ou os protraindo em sua implementação.

Assim, a ação ou omissão estatal ou legislativa que conspirar,

notoriamente, contra os postulados do mínimo existencial, renegando a implementação de projetos

sociais básicos para a subsistência humana, como é o caso da implantação da casa abrigo, deve ser

taxado de violador dos valores predominantes da Constituição.

A liberdade de atuação da Administração ou da função

Legislativa não se sobrepõe aos princípios fundamentais exalantes da Carta Política, pois,

parafraseando o eloquente português Jorge Miranda11, “a liberdade de conformação do legislador,

(e acrescentamos, do administrador!), a sua discricionariedade, começa onde acaba a interpretação

que lhe cabe fazer das normas constitucionais”.

É oportuno ressaltar os dizeres de Marcelo Novelino12, quando assevera:

“O aspecto distintivo fundamental entre os direitos que compõem o

mínimo existencial e os outros direitos sociais, está no fato de que aqueles,

por serem direitos mínimos imprescindíveis a uma vida digna, não se

submetem à reserva do possível”.

Insistimos: os direitos sociais não devem sofrer interpretações

que restrinjam sua eficácia. Sua característica fundamental consiste em obrigar o Estado a um agir

configurado dentro dos ditames estabelecidos pela Constituição Federal, estabelecendo um

posicionamento ímpar ao indivíduo que poderá, sempre que insatisfeito, exigir prestações de

natureza jurídica ou material, permitindo, assim, a fruição efetiva dos direitos fundamentais.

11 MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional. Tomo VI. Inconstitucionalidade e Garantia da Constituição. Coimbra: Coimbra, 2001, p. 43.12 NOVELINO, Marcelo. O Conteúdo Jurídico da Dignidade da Pessoa Humana in Leituras Complementares de Constitucional – Direitos Fundamentais. Salvador: Jus Podivm, 2007, 2° edição, p. 125.

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A propósito, segue-se a intelectual doutrina de Dirley da

Cunha Júnior :

“Hodiernamente, assiste-se, sem dúvida, ‘a deslocação da doutrina dos

direitos fundamentais dentro da reserva de lei para a doutrina da reserva

de lei dentro dos direitos fundamentais’. E isso tem propiciado uma

mudança paradigmática, que envolve a idéia de que os direitos

fundamentais não precisam de regulamentação para serem desfrutados e

incidirem, podendo ser imediatamente invocados por seus titulares, ainda

que haja falta ou deficiência da lei”.

A teoria da reserva do possível é o mais tormentoso obstáculo

que os preservadores de interesses individuais fincam no direito constitucional brasileiro para

impedir a atuação governamental e legislativa na aplicação dos direitos sociais figurados em nossa

Lex Fundamentalis.

Originária da Alemanha, a teoria da reserva do possível é aqui

entendida como a possibilidade (disponibilidade) de recursos públicos para o fiel reconhecimento e

aplicação dos direitos sociais. A dependência de recursos financeiros faz com que os direitos sociais

restem inaplicáveis no transcorrer do lapso em que perdure a escassez orçamentária.

Desenvolvida em um país onde mínimo existencial é

integralmente satisfeito, a reserva do possível não merece amparo na realidade nacional que nos

cerceia. Por isso, digna de louvores, encontra-se necessário estampar a observação crítica de Dirley

da Cunha Júnior13 :

“Apesar das grandes contribuições que a doutrina estrangeira tem dado ao

direito brasileiro, proporcionando indiscutivelmente consideráveis avanços

na literatura jurídica nacional, é preciso deixar bem claro, contudo, que é

extremamente discutível e de duvidosa pertinência o translado de teorias

13 Idem. op. cit, p. 435.Rua Boa Vista, 103, 10º andar, São Paulo, SP,CEP 01014000,

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jurídicas desenvolvidas em países de bases cultural, econômica, social e

histórica próprias, para outros países cujos modelos jurídicos estão sujeitos

a condicionamentos socioeconômicos e políticos completamente

diferentes. Os institutos jurídico-constitucionais devem ser compreendidos

a partir da história e das condições socioeconômicas do país em que se

desenvolveram, de modo que é impossível ‘transportar-se um instituto

jurídico de uma sociedade para outra, sem se levar em conta os

condicionamentos a que estão sujeitos todos os modelos jurídicos’. É

condição primeira para qualquer estudo dos fenômenos jurídicos no âmbito

do direito comparado, o prévio conhecimento do direito estrangeiro à vista

do meio social e político em que ele se aplica, o que exige,

conseqüentemente, uma compreensão primária da história política e social

daquele país. Há casos em que não raro, os mesmos textos legais e

procedimentos jurídicos produzem efeitos jurídicos distintos, quando não

utilizados em domínios político-sociais diferentes, como o alemão e o

brasileiro, por exemplo. A propósito, é completamente sem sentido aplicar,

descuidadosamente e sem critérios, ao Brasil, um país em desenvolvimento

ou periférico, teorias jurídicas hauridas de países desenvolvidos ou centrais.

A adoção de soluções estrangeiras nem sempre se compatibiliza com a

realidade jurídica e material do Estado brasileiro”.

“A chamada reserva do possível foi desenvolvida na Alemanha, num

contexto jurídico e social totalmente distinto da realidade histórico-

concreta brasileira. Nestas diferentes ordens jurídicas concretas não

variam apenas as formas de lutas, conquistas e realização e satisfação dos

direitos, mas também os próprios paradigmas jurídicos aos quais se

sujeitam. Assim, enquanto a Alemanha se insere entre os chamados países

centrais, onde já existe um padrão ótimo de bem-estar social, o Brasil

ainda é considerado um país periférico, onde milhares de pessoas não têm

o que comer e são desprovidas de condições mínimas de existência digna,

seja na área da saúde, educação, trabalho e moradia, seja na área da

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assistência e previdência sociais, de tal modo que a efetividade dos direitos

sociais ainda depende da luta pelo direito entendida como processo de

transformações econômicas e sociais, na medida em que estas forem

necessárias para a concretização desses direitos”.

A posição jurisprudencial brasileira tem colocado pás de cal na

doutrina que defende o não intervencionismo judicial na esfera da omissão prestacional do poder

público, bem como negar aplicabilidade à tese da reserva do possível, em favor da maior eficácia dos

direitos sociais fundamentais.

O Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, no

recurso de apelação n° 596.017, tendo como relator o Desembargador Sérgio Gischkow Pereira,

assim assentou seu posicionamento:

“A Constituição Federal, em seu artigo 227, define como prioridade

absoluta as questões de interesse da criança e do adolescente; assim, não

pode o Estado-membro, alegando insuficiência orçamentária, desobrigar-

se da implantação de programa de internação e semi-liberdade para

adolescentes infratores, podendo o Ministério Público ajuizar ação civil

pública para que a Administração Estadual cumpra tal previsão legal, não

se tratando, na hipótese, de afronta ao poder discricionário do

administrador público, mas de exigir-lhe a observância de mandamento

constitucional”.

Na análise do processo de Arguição de Descumprimento de

Preceito Fundamental n° 45, julgada prejudicada pela superveniente perda do objeto, o Ministro

Relator Celso de Mello teceu eloquentes comentários sobre o tema, sendo curial sua transposição

para melhor compreensão do tema:

“É certo que não se inclui, ordinariamente, no âmbito das funções

institucionais do Poder Judiciário - e nas desta Suprema Corte, em especial -

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a atribuição de formular e de implementar políticas públicas (JOSÉ CARLOS

VIEIRA DE ANDRADE, ‘Os Direitos Fundamentais na Constituição

Portuguesa de 1976’, p. 207, item n. 05, 1987, Almedina, Coimbra), pois,

nesse domínio, o encargo reside, primariamente, nos Poderes Legislativo e

Executivo”.

“Tal incumbência, no entanto, embora em bases excepcionais, poderá

atribuir-se ao Poder Judiciário, se e quando os órgãos estatais

competentes, por descumprirem os encargos político-jurídicos que sobre

eles incidem, vierem a comprometer, com tal comportamento, a eficácia e

a integridade de direitos individuais e/ou coletivos impregnados de

estatura constitucional, ainda que derivados de cláusulas revestidas de

conteúdo programático”.

“Cabe assinalar, presente esse contexto – consoante já proclamou esta

Suprema Corte – que o caráter programático das regras inscritas no texto

da Carta Política ‘não pode converter-se em promessa constitucional

inconseqüente, sob pena de o Poder Público, fraudando justas expectativas

nele depositadas pela coletividade, substituir, de maneira ilegítima, o

cumprimento de seu impostergável dever, por um gesto irresponsável de

infidelidade governamental ao que determina a própria Lei Fundamental

do Estado’ (RTJ 175/1212-1213, Rel. Min. CELSO DE MELLO)”.

“Não deixo de conferir, no entanto, assentadas tais premissas, significativo

relevo ao tema pertinente à ‘reserva do possível’ (STEPHEN HOLMES/CASS

R. SUNSTEIN, “The Cost of Rights”, 1999, Norton, New York), notadamente

em sede de efetivação e implementação (sempre onerosas) dos direitos de

segunda geração (direitos econômicos, sociais e culturais), cujo

adimplemento, pelo Poder Público, impõe e exige, deste, prestações

estatais positivas concretizadoras de tais prerrogativas individuais e/ou

coletivas”.

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“É que a realização dos direitos econômicos, sociais e culturais – além de

caracterizar-se pela gradualidade de seu processo de concretização –

depende, em grande medida, de um inescapável vínculo financeiro

subordinado às possibilidades orçamentárias do Estado, de tal modo que,

comprovada, objetivamente, a incapacidade econômico-financeira da

pessoa estatal, desta não se poderá razoavelmente exigir, considerada a

limitação material referida, a imediata efetivação do comando fundado no

texto da Carta Política”.

“Não se mostrará lícito, no entanto, ao Poder Público, em tal hipótese –

mediante indevida manipulação de sua atividade financeira e/ou político-

administrativa – criar obstáculo artificial que revele o ilegítimo, arbitrário e

censurável propósito de fraudar, de frustrar e de inviabilizar o

estabelecimento e a preservação, em favor da pessoa e dos cidadãos, de

condições materiais mínimas de existência”.

“Cumpre advertir, desse modo, que a cláusula da ‘reserva do possível’ –

ressalvada a ocorrência de justo motivo objetivamente aferível – não pode

ser invocada, pelo Estado, com a finalidade de exonerar-se do

cumprimento de suas obrigações constitucionais, notadamente quando,

dessa conduta governamental negativa, puder resultar nulificação ou, até

mesmo, aniquilação de direitos constitucionais impregnados de um sentido

de essencial fundamentalidade”.

(...).

“Não obstante a formulação e a execução de políticas públicas dependam

de opções políticas a cargo daqueles que, por delegação popular,

receberam investidura em mandato eletivo, cumpre reconhecer que não se

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revela absoluta, nesse domínio, a liberdade de conformação do legislador,

nem a de atuação do Poder Executivo”.

“É que, se tais Poderes do Estado agirem de modo irrazoável ou

procederem com a clara intenção de neutralizar, comprometendo-a, a

eficácia dos direitos sociais, econômicos e culturais, afetando, como

decorrência causal de uma injustificável inércia estatal ou de um abusivo

comportamento governamental, aquele núcleo intangível

consubstanciador de um conjunto irredutível de condições mínimas

necessárias a uma existência digna e essenciais à própria sobrevivência do

indivíduo, aí, então, justificar-se-á, como precedentemente já enfatizado - e

até mesmo por razões fundadas em um imperativo ético-jurídico -, a

possibilidade de intervenção do Poder Judiciário, em ordem a viabilizar, a

todos, o acesso aos bens cuja fruição lhes haja sido injustamente recusada

pelo Estado”.

Concluindo, magistralmente, seu entendimento sobre a

matéria, fundamenta, em último momento, o Ministro Celso Mello, sua explanação com as

observações de Andreas Joachim Krell:

“No entanto, parece-nos cada vez mais necessária a revisão do vetusto

dogma da Separação dos Poderes em relação ao controle dos gastos

públicos e da prestação dos serviços básicos no Estado Social, visto que os

Poderes Legislativo e Executivo no Brasil se mostraram incapazes de

garantir um cumprimento racional dos respectivos preceitos

constitucionais”.

(...).

“Muitos autores e juízes não aceitam, até hoje, uma obrigação do Estado

de prover diretamente uma prestação a cada pessoa necessitada de

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alguma atividade de atendimento médico, ensino, de moradia ou

alimentação. Nem a doutrina nem a jurisprudência têm percebido o

alcance das normas constitucionais programáticas sobre direitos sociais,

nem lhes dado aplicação adequada como princípios-condição da justiça

social”.

“A negação de qualquer tipo de obrigação a ser cumprida na base dos

Direitos Fundamentais Sociais tem como conseqüência a renúncia de

reconhecê-los como verdadeiros direitos. (...) Em geral, está crescendo o

grupo daqueles que consideram os princípios constitucionais e as normas

sobre direitos sociais como fonte de direitos e obrigações e admitem a

intervenção do Judiciário em caso de omissões inconstitucionais”.

Ainda na esteira de Dirley da Cunha Júnior, pela extrema

pertinência ao caso vertente, cumpre ressaltar:

“não podemos concordar com aqueles que sustentam, com base na

doutrina estrangeira, encontrar-se a eficácia dos direitos fundamentais dependente do limite fático

da reserva do possível, porque sempre haverá um meio de remanejar os recursos disponíveis,

retirando-os de outras áreas (transporte, fomento econômico, serviço da dívida, etc.), onde sua

aplicação não está intimamente ligada aos direitos mais essenciais do homem, como a vida, a

integridade física, a saúde e a educação, por exemplo”. (...) os problemas de ‘caixa’ não podem ser

guinados a obstáculos à efetivação dos direitos fundamentais sociais, pois imaginar que a realização

desses direitos depende de ‘caixas cheios’ do Estado significa reduzir a sua eficácia a zero, o que

representaria uma violenta frustração da vontade constituinte”.

O direito das mulheres que sofrem com a brutal e covarde

violência doméstica e familiar deve ser objeto de prestações positivas do Estado, ultrapassando as

meras promessas de implementação de políticas sociais, efetivando, em nível máximo, a proteção

emanada da Constituição.

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Quantas mulheres de Jacareí precisarão ainda ser mutiladas,

violentadas, agredidas e mortas, para que o Poder Público rompa sua degradante inércia, criando e

mantendo um local digno e seguro que proteja as vítimas de violência doméstica e familiar?

Certamente, não haverá inauguração ou descerramento de

placas, dado o caráter sigiloso da localização da casa abrigo, entretanto, muitas vidas poderão ser

salvas.

Por derradeiro, para que não pairem dúvidas, antecipamos o

inevitável debate acerca da violação do princípio da separação dos poderes, cantinela também

recorrente, que tenta justificar a impossibilidade de o Judiciário imiscuir-se nos assuntos

administrativos.

Da Não violação ao Princípio da Separação dos Poderes

A função jurisdicional tomou relevo inigualável com o advento

da Constituição de 1988.

O direito fundamental de acesso ao poder judiciário, é o

sustentáculo do Estado Democrático de Direito.

A eficácia plena e a aplicabilidade imediata dos direitos

fundamentais e sociais é o instrumento democrático para o substancial alcance dos objetivos

fundamentais da República Federativa do Brasil, sobretudo a realização plena do respeito à

dignidade do ser humano.

Por conta disso, no cerne da aplicação dos princípios

estruturais do neoconstitucionalismo, impõe-nos alguns questionamentos, tais como: é possível

relegar os direitos fundamentais da pessoa humana com escopo de preservar o dogma da separação

dos poderes? Como proceder em aplicar os direitos fundamentais quando sua aplicação fica adstrita

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ao campo arbitrário do executivo ou legislativo? A quem realmente vincula os direitos

fundamentais?

As respostas a essas questões tornam-se cristalinas ao

percebemos que a teoria constitucional da tripartição de funções não possuiu, hoje, o poderio de

ditar as formas de aplicação da Constituição. Esta, por meio do Poder Constituinte, fixou os modos e

as medidas de sua própria aplicação, instituindo-as como pilares monolíticos do sistema

jurisdicional-político vigente.

Dessarte, se é verdadeiro que não pode o judiciário substituir

o administrador público, não menos verdadeiro é o fato de que não pode o administrador se

transformar em legislador negativo, “revogando” tacitamente, por sua perene inação, dispositivos

legais discutidos, votados e aprovados pela Casa do Povo, como verificado na espécie.

O dogma da separação dos poderes envereda, hoje, na ideia

de independência e não intervenção na esfera de competências dos poderes entre si. As funções

atípicas dos poderes são postulados consagrados no nosso quadro constitucional.

É com maestria que o Eminente Ministro Eros Roberto Grau14 afirma:

“O juiz não é, tão somente, (...), a boca que pronuncia as palavras da lei.

Está, ele também, tal qual a autoridade administrativa – e, bem assim, o

membro do Poder Legislativo -, vinculado pelo exercício de uma função,

isto é, de um poder-dever. Neste exercício, que é desenvolvido em clima de

interdependência e não de independência de Poderes, a ele incumbe,

sempre que isso se imponha como indispensável à efetividade do direito,

integrar o ordenamento jurídico, até o ponto, se necessário, de inová-lo

primariamente. O processo de aplicação do direito mediante a tomada de

decisões judiciais, todo ele – aliás – é um processo perene de recriação e

mesmo de renovação (atualização) do direito. Por isso que, se tanto se 14 Apud CUNHA JÚNIOR, Dirley da. A Efetividade dos Direitos Fundamentais Sociais e a Reserva do Possível in Leituras Complementares de Constitucional – Direitos Fundamentais. Salvador: Jus Podivm, 2007, 2° edição, p. 401.

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tornar imprescindível para que um direito com aplicação imediata

constitucionalmente assegurada possa ser exeqüível, deverá o Poder

Judiciário, caso por caso, nas decisões que tomar, não apenas reproduzir

direito – evidentemente retido pelos princípios jurídicos”.

Não há que se falar, portanto, em impossibilidade de

intervenção do Judiciário na questão dado o princípio da separação dos poderes, vez que no estado

democrático de direito, todos, inclusive o Estado-Administração, se submetem à jurisdição.

DA TUTELA ANTECIPADA DE URGÊNCIA

Conforme já cediço nem se argumente que o fornecimento de

auxílio em pecúnia para que a vítima alugue um imóvel ou a locação de um imóvel pelos entes

demandados para as mulheres nesta situação constitui programa de proteção adequado definitivo

para as mulheres, pois esta solução, que será requerida em caráter provisório até a implementação

da casa abrigo, já que não há qualquer política pública adequada no município de acolhimento , é

ideal para as mulheres que não se encontram em risco de morte e não têm para onde ir, mas que

se revela inócua, para aquelas mulheres que têm sua existência ameaçada pelo agressor.

Contudo, até que seja implementado a Casa –Abrigo há de ser

adotada uma política pública alternativa transitória por meio da disponibilização de: 1) Auxílio em

pecúnia suficiente para aluguel de um imóvel ou 2) A locação de um imóvel pelos entes

demandados, para todas as mulheres , que necessitem de abrigamento e acolhimento provisório,

acompanhadas ou não de seus filhos, em situação de risco de morte ou ameaça em razão da

violência doméstica ou familiar, causadora de lesão, sofrimento físico, psicológico ou dano moral,

mediante solicitação do Poder Judiciário, Ministério Público, Defensoria Pública, Delegacia de

Defesa da Mulher de Jacareí (DDM/ __________ ) ou solicitação direta da vítima, até que a

desnecessidade do abrigamento ou acolhimento provisório seja constatada por equipe

multidisciplinar responsável pelo atendimento da mulher no Município de Jacareí (que atualmente

é o CREAS - Centro de referência especializado de assistência social.

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A solicitação pelo Poder Judiciário, Ministério Público,

Defensoria Pública, Delegacia de Defesa da Mulher de Jacareí (DDM/JACAREÍ) ou solicitação direta

da vítima tem como fundamento o inciso I, do artigo 8º, da Lei 11340/06 que estabelece como

diretriz da política pública que visa coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher: a

integração operacional do Poder Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública com as

áreas de segurança pública, assistência social, saúde, educação, trabalho e habitação.

A necessidade de atendimento liminar e provisório desta

política é patente, porquanto evidente que não há CASA ABRIGO DE ACOLHIMENTO PROVISÓRIO

em __________, nem QUALQUER política pública adequada para as mulheres para o acolhimento

provisório.

A antecipação da tutela depende dos requisitos estampados no

art. 300 do Código de Processo Civil, quais sejam, o perigo de dano e a probabilidade do direito.

No presente caso está cabalmente demonstrado, em grau de

cognição sumária, conforme documentos que acompanham a presente inicial, a existência de

provas a conferir veracidade às afirmações tecidas, especialmente no que a necessidade de

atendimento provisório por meio de programa alternativo, provisório e liminar.

A antecipação de tutela vem ao encontro da necessidade de

transpor dois obstáculos à adequada entrega da prestação jurisdicional, a saber, a duração e o custo

do processo, que, como é evidente, fazem-se sentir de forma muito mais intensa no caso daqueles

economicamente menos favorecidos.

Assim, num primeiro momento, teve o legislador, a intenção

de resguardar situações de urgência. Daí porque, por exemplo, o Código de Processo Civil permite a

antecipação de tutela quando houver perigo de dano.

Conforme palavras de Antônio Santos Abrantes Geraldes:

“Entre uma decisão, porventura mais segura, mas tardia e outra, mais célere e eficaz, apesar de

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fundada num critério de julgamento menos rigoroso e, por isso, potenciador de maiores riscos de

insegurança, o legislador não hesitou em dar prevalência à celeridade, em situações em que os

prejuízos emergentes da demora do processo definitivo superem os que resultem da concessão da

medida cautelar”.15

Afirma Bedaque que: “Em substituição ao longo processo de

cognição plena, com todas as garantias a ele inerentes, surge a idéia de uma tutela mais rápida, com

cognição limitada, que possibilite à parte obter antecipadamente o resultado da atuação

jurisdicional. Afirma-se, mesmo, que o futuro do processo civil será dominado pelos provimentos

urgentes e provisórios”.16

Excelência, soa inegável estar previsto na Constituição Federal,

no artigo 5º, inciso XXXV, tanto a proteção contra a lesão de direito, restaurando-o, como em face da

ameaça, o que, de fato, abrange as medidas antecipatórias de tutela e as ações cautelares.

A antecipação da tutela prescinde da certeza e segurança

resultante de uma tutela lastreada em cognição plena e exauriente. Exatamente por isso, a decisão

antecipatória de tutela pode ser modificada ou revogada a qualquer tempo.

Assim, a tutela antecipada pode ser deferida em face de prova

inequívoca do direito perseguido, sendo imprescindível, ainda, o convencimento do juiz acerca da

verossimilhança do pedido, o que, aliás, exige a máxima probabilidade do direito da parte que pugna

por esta espécie de provimento. Sobre o tema vale aqui registrar o magistério de Ernane Fidélis dos

Santos:

"As condições gerais da antecipação são a existência de prova inequívoca e

o convencimento do juiz da verossimilhança da alegação, isto é, da

procedência do que se pede. Prova inequívoca não é prova pré-constituída,

mas a que permite, por si só ou em conexão necessária com outras também

15 Temas da reforma do processo civil. Coimbra: Almedina, 1998. V. III, p. 87 (procedimento cautelar comum). 16 José Roberto dos Santos Bedaque. Tutela cautelar e tutela antecipada: tutelas sumárias e de urgência (tentativa de sistematização). 4ª Ed. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 119.

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já existentes, pelo menos em juízo provisório, definir o fato, isto é, tê-lo por

verdadeiro. Exemplos: a qualidade de funcionário público do autor com a

respectiva declaração do direito pleiteado, a prova contratual do negócio e

dos efeitos reclamados, a transcrição provando a propriedade, o acidente

informado por exame pericial com o cálculo dos danos, a lesão por auto de

corpo de delito etc. A antecipação pode ser dada a qualquer momento do

processo, mas, se não houver prova inequívoca, isto é, a que, desde já e por

si só, permita a compreensão do fato, com juízo de certeza, pelo menos

provisória, não será possível, mormente quando o entendimento do juiz

dependa da colheita de outros elementos probatórios, para, depois, em

análise do conjunto, extrair a conclusão. Por isso é que se afasta, na

antecipação, para tal fim, qualquer possibilidade de justificação prévia. No

processo cautelar, para a concessão da cautela, exige-se apenas o fumus

boni iuris, isto é, a simples possibilidade de ser a pretensão satisfeita. Na

antecipação, há de haver verossimilhança, isto é, juízo de convencimento

da definição jurídica pleiteada, apenas que não definitivo. Por isso não se

diz apenas verdadeiro (vero), mas verossímil.(...)" ( Manual de Direito

Processual Civil. vol. 1. 9ª Ed. Saraiva. p. 345/346).

No presente caso, mostra-se plenamente cabível tal medida,

salientando que se não decidida com a primazia do princípio da celeridade e efetividade da

prestação jurisdicional, é passível a ocorrência de danos irreparáveis ou de difícil reparação pela

demora do julgado, podendo culminar sequelas irreversíveis às mulheres vítimas de violência

doméstica que necessitam de acolhimento provisório para afastar-se do ciclo de violência e salvar

suas vidas.

A probabilidade do direito encontra-se em toda

fundamentação acima exposta.

Dessa forma, é de se conceder a TUTELA ANTECIPADA DE

URGÊNCIA a fim de determinar, improrrogavelmente, de forma liminar, provisória e solidária, até a

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implementação de Casa- Abrigo, que o Município de __________ /SP e o Estado de São Paulo,

disponibilizem política pública consistente em:

1) Um Auxílio em pecúnia suficiente para que todas as mulheres, que

necessitem de abrigamento e acolhimento provisório, acompanhadas ou

não de seus filhos, em situação de risco de morte ou ameaça em razão da

violência doméstica ou familiar, causadora de lesão, sofrimento físico,

psicológico ou dano moral, aluguem um imóvel, mediante solicitação do

Poder Judiciário, Ministério Público, Defensoria Pública, Delegacia de

Defesa da Mulher de Jacareí (DDM/__________ ) ou solicitação direta da

vítima até que a desnecessidade do abrigamento ou acolhimento

provisório seja constatada por equipe multidisciplinar responsável pelo

atendimento da mulher no Município de Jacareí (que atualmente é o

CREAS - Centro de referência especializado de assistência social).

OU;

2) Um pagamento, na qualidade de locatários, de um imóvel, e ceda

gratuitamente, à todas as mulheres, que necessitem de abrigamento e

acolhimento provisório, acompanhadas ou não de seus filhos, em situação

de risco de morte ou ameaça em razão da violência doméstica ou familiar,

causadora de lesão, sofrimento físico, psicológico ou dano moral, mediante

solicitação do Poder Judiciário, Ministério Público, Defensoria Pública,

Delegacia de Defesa da Mulher de Jacareí (DDM/__________ ) ou

solicitação direta vítima até que a desnecessidade do abrigamento ou

acolhimento provisório seja constatada por equipe multidisciplinar

responsável pelo atendimento da mulher no Município de Jacareí (que

atualmente é o CREAS - Centro de referência especializado de assistência

social).

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Sob pena de cominação de multa diária, em caso de

descumprimento, a ser fixada prudentemente por Vossa Excelência, sem prejuízo de outras sanções

penais, administrativas e processuais cabíveis;

Por todo o exposto, é a presente para requerer:

DOS PEDIDOS

1) A antecipação dos efeitos da TUTELA ANTECIPADA

DE URGÊNCIA a fim de determinar, improrrogavelmente, de forma liminar, provisória e solidária,

até a implementação de Casa- Abrigo, que o Município de __________ /SP e o Estado de São Paulo,

disponibilizem política pública consistente em:

A) Um Auxílio em pecúnia suficiente para que todas as mulheres, que

necessitem de abrigamento e acolhimento provisório, acompanhadas

ou não de seus filhos, em situação de risco de morte ou ameaça em

razão da violência doméstica ou familiar, causadora de lesão,

sofrimento físico, psicológico ou dano moral, aluguem um imóvel,

mediante solicitação do Poder Judiciário, Ministério Público, Defensoria

Pública, Delegacia de Defesa da Mulher de Jacareí (DDM/JACAREÍ) ou

solicitação direta da vítima, até que a desnecessidade do abrigamento

ou acolhimento provisório seja constatada por equipe multidisciplinar

responsável pelo atendimento da mulher no Município de Jacareí (que

atualmente é o CREAS - Centro de referência especializado de

assistência social).

OU;

B) Um pagamento, na qualidade de locatários, de um imóvel, e ceda

gratuitamente, à todas as mulheres, que necessitem de abrigamento e

acolhimento provisório, acompanhadas ou não de seus filhos, em

Rua Boa Vista, 103, 10º andar, São Paulo, SP,CEP 01014000, Telefone: (11) 3101 0155 ramal 233/238,

[email protected]

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Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher

situação de risco de morte ou ameaça em razão da violência doméstica

ou familiar, causadora de lesão, sofrimento físico, psicológico ou dano

moral, mediante solicitação do Poder Judiciário, Ministério Público,

Defensoria Pública, Delegacia de Defesa da Mulher de Jacareí

(DDM/__________) ou solicitação direta da vítima, até que a

desnecessidade do abrigamento ou acolhimento provisório seja

constatada por equipe multidisciplinar responsável pelo atendimento

da mulher no Município de Jacareí (que atualmente é o CREAS -

Centro de referência especializado de assistência social).

Sob pena de cominação de multa diária, em caso de

descumprimento, a ser fixada prudentemente por Vossa Excelência, sem prejuízo de outras sanções

penais, administrativas e processuais cabíveis;

2) Que os entes demandados, dando corpo aos

comandos contido nos artigos 23 e 35 da Lei 11.340/06, bem como aos preceitos constitucionais

invocados, sejam condenados na obrigação de implementarem, em prazo não superior a 180 dias,

contados da consolidação da próxima Lei Orçamentária Anual (2017), Casa- Abrigo de Acolhimento

Provisório, para mulheres de __________, acompanhadas ou não de seus filhos, em situação de

risco de morte ou ameaças, em razão da violência doméstica ou familiar, causadora de lesão,

sofrimento físico, psicológico ou dano moral, em local seguro, adequado e mantido em sigilo,

dotado de equipe multidisciplinar especializada nesse tipo de atendimento, respeitados ainda as

delineações previstas na Resolução nº. 109 de 11 de novembro de 2009, pelo Conselho Nacional de

Assistência Social (CNAS), garantindo-se ainda a participação e controle social na implementação

da política pública, ora requerida, sob pena de cominação de multa diária, em caso de

descumprimento, a ser fixada prudentemente por Vossa Excelência, sem prejuízo de outras sanções

penais, administrativas e processuais cabíveis;

3) A citação pessoal dos réus, nas pessoas de seus

representantes legais para, querendo, apresentarem defesa técnica, sob pena de incorrerem nos

Rua Boa Vista, 103, 10º andar, São Paulo, SP,CEP 01014000, Telefone: (11) 3101 0155 ramal 233/238,

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Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher

efeitos da revelia, bem como a intimação do Município e do Estado para cumprimento da eventual

liminar.

4) A intimação do órgão do ministério público para

todos os termos do presente, em obediência ao art. 5º, § 1º da lei 7.347/85.

5) Pretende provar o alegado por todos os meios de

prova em direito admitidos, especialmente documental suplementar, testemunhal, estudo social e

pericial, caso necessário.

6) Sejam os réus condenados ao pagamento das custas

processuais, honorários advocatícios e demais cominações legais em favor da Escola Superior da

Defensoria Pública do Estado;

7) A observância às prerrogativas insculpidas nos artigos

186 do Código de Processo Civil, a saber: intimação pessoal e prazo em dobro para a prática de todos

os atos processuais.

Atribui-se à causa o valor de R$ 100.000,00 (cem mil Reais).

Nestes termos, pede deferimento.

Cidade, data.

______________________________________

DEFENSOR PÚBLICO

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