Upload
others
View
0
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher
EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (ÍZA) DE DIREITO DA VARA DA
FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE __________.
A Lei nº. 11340 de 2006, conhecida como Lei
Maria da Penha completará 10 anos de vigência
em agosto de 2016.
A DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO, no
exercício das atribuições previstas no artigo 5º, III e VI, alínea “g”, da Lei Complementar Estadual nº
988 de 09 de janeiro de 2006 e artigo 4º, inciso XI, da Lei Complementar 80/94, pelo Defensor
Público que esta subscreve, vem, com fundamento nos artigos 1º, III; 5º, caput e inciso LXXIV; artigo
134 e 226, § 8º, todos da Constituição Federal, artigos 3º, 4º, 8º, item 4, da Convenção
Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra a Mulher (Convenção de Belém
do Pará), artigo 237 e seguintes da Constituição do Estado de São Paulo, art. 5º, II da Lei 7.347/85,
com redação dada pela Lei 11.448/07, artigos 8º, I; 11, III; e 35, II da Lei 11.340/2006 e artigo 300 do
Código de Processo Civil, propor:
AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA LIMINAR DE URGÊNCIA
em face da FAZENDA PÚBLICA DO MUNICÍPIO ___________, pessoa jurídica de direito público,
situada na ___________________________________, nesta cidade e comarca, por seu
representante legal e da FAZENDA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO, pessoa jurídica de direito
público interno, com sede na capital do Estado, na pessoa de seu representante legal – Procurador
Geral do Estado - com domicílio na Rua Pamplona, 227, 7º andar, cidade de São Paulo, Estado de São
Paulo, CEP 01405-000, pelos motivos fáticos e jurídicos que passa a expor.
DOS FATOS
Rua Boa Vista, 103, 10º andar, São Paulo, SP,CEP 01014000, Telefone: (11) 3101 0155 ramal 233/238,
Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher
Os Dados da Organização Mundial de Saúde1 indicam que a
violência doméstica ou familiar contra a mulher alcança status de epidemia mundial.
Já a Fundação Perseu Abramo, em pesquisa realizada no ano
de 20012, chegou à mesma conclusão, destacando que pelo menos 6,8 milhões, dentre as brasileiras
vivas, já foram espancadas ao menos uma vez, projetando-se cerca de 2,1 milhões de mulheres
espancadas por ano no país, 175 mil/mês, 5,8 mil/dia, 243/hora ou 4/minuto – uma a cada 15
segundos.
Conforme relatório elaborado pela Deputada Federal Jandira
Feghali 3, de cada cem mulheres assassinadas no Brasil, setenta são vítimas no âmbito de suas
relações domésticas.
Uma outra pesquisa, desenvolvida entre os anos de 2001 e
2002, pela Organização Mundial de Saúde4, no município de São Paulo indicou que 27% das mulheres
da capital relataram algum episódio de violência física cometida pelo parceiro ou ex-parceiro ao
longo da vida.
No município de ___________, conforme os dados da
Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, a Delegacia da Defesa da Mulher de
_________instaurou, no ano de ________, _________________________ inquéritos policiais para
apurar relatos de violência doméstica contra a mulher.
Também conforme os dados da Secretaria de Segurança
Pública do Estado de São Paulo, a Delegacia da Defesa da Mulher de ______________ instaurou, no
1 Estudio multipaís de la OMS sobre salud de la mujer y violencia doméstica contra la mujer. Disponível em http://www.who.int/gender/violence/who_multicountry_study/summary_report/chapter1/es/index3.html, acesso em 04/02/2008 às 14h:39m.2 Mulher brasileira nos espaços públicos e privados, pesquisa nacional realizada com uma amostra de 2.502 entrevistas pessoais e domiciliares, estratificadas em cotas de idade e peso geográfico por natureza e porte do município, segundo dados da Contagem Populacional do IBGE/1996 e do Censo Demográfico, IBGE 2000.3 Exposição de Motivos do Projeto de Lei nº 4.559/2004, disponível em http://www.camara.gov.br/sileg/integras/256085.pdf 4 OMS/FMUSP/CFSS/SOS Corpo/ FSPUSP/UFPE, 2000/2001 - Violência Contra a Mulher e Saúde no Brasil. Foram estudados 2.163 domicílios em São Paulo e 2.136 em Pernambuco
Rua Boa Vista, 103, 10º andar, São Paulo, SP,CEP 01014000, Telefone: (11) 3101 0155 ramal 233/238,
Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher
ano de 2015, ____________________ inquéritos policiais para apurar relatos de violência doméstica
contra a mulher.
Igualmente conforme os dados da Secretaria de Segurança
Pública do Estado de São Paulo, a Delegacia da Defesa da Mulher de __________________ instaurou,
somente nos __________, ____________________________ inquéritos policiais para apurar relatos
de violência doméstica contra a mulher.
Além disso, diariamente, a Unidade da Defensoria Pública do
Estado, em _______________, atende a um número significativo de mulheres e crianças vítimas da
violência doméstica e familiar.
Entretanto, é cediço que o número de notificações oficiais está
longe de corresponder ao número real, dado o temor da vítima em denunciar seu agressor, dentre
outros motivos, por não ter para onde ir.
São recorrentes os relatos nos casos de separação litigiosa,
dissolução de união estável, investigação de paternidade e divórcio direto, além das medidas
cautelares pertinentes, que dão conta de anos de espancamentos, humilhações, e violências de toda
ordem, sem que a vítima tivesse denunciado seu agressor.
Trata-se de uma violência invisível, desenvolvida no seio do lar,
muitas vezes, sem testemunhas, amparada pela falsa crença social de que “em briga de marido e
mulher, ninguém mete a colher”.
Embora a violência baseada no gênero atinja
indiscriminadamente todas as classes sociais é a mulher pobre que mais se ressente da falta de
apoio estatal nos casos de violência doméstica ou familiar.
À mulher pobre, geralmente, restam apenas duas opções: ou
continua a conviver com o agressor, submetendo-se a toda sorte de violência, sempre cíclica e
Rua Boa Vista, 103, 10º andar, São Paulo, SP,CEP 01014000, Telefone: (11) 3101 0155 ramal 233/238,
Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher
crescente, ou sai de casa, acochambrando-se em casa de familiares ou vizinhos, cujos endereços são
conhecidos pelo agressor, tornando-a vulnerável a novos ataques.
Atualmente, no Município de ________, as mulheres e seus
filhos vítimas da violência doméstica e familiar são encaminhadas para a CASA DE PASSAGEM DE
_________ (conforme resposta da Secretária de Assistência Social em anexo), local totalmente
inadequado, pois, além de ter endereço conhecido - expondo a vítima aos ataques de seu agressor -
proporciona tão somente local para pernoite e, ainda, a casa foi criada para o abrigo da população de
rua migrante, itinerante e os munícipes em situação de rua, ou seja, pessoas em situações sociais
totalmente diversas.
Ou seja, não há na Comarca qualquer política pública
adequada para acolhimento provisório de mulheres, acompanhadas ou não de seus filhos, em
situação de risco de perder a vida, lesão, em sofrimento físico, psicológico, ameaças, em razão da
violência doméstica ou familiar.
Diante desse quadro fático indigno, foi instaurado por esta
Defensoria Pública _______________, o procedimento administrativo de nº. ________________,
para apurar a omissão do Município ___________ e Estado de São Paulo na implementação de uma
rede adequada para acolhimento da mulher vítima de violência doméstica ou familiar.
Conforme ofício encaminhado pela Secretária de Assistência
Social do Município não há na rede municipal uma política de acolhimento adequada para as
mulheres vítimas de violência doméstica ou familiar.
Assim, ficou evidenciado a ausência na rede municipal de
_________________de CASA ABRIGO DE ACOLHIMENTO PROVISÓRIO das mulheres, acompanhadas
ou não de seus filhos, em situação de risco de morte ou ameaça em razão da violência doméstica ou
familiar, causadora de lesão, sofrimento físico, psicológico ou dano moral.
Rua Boa Vista, 103, 10º andar, São Paulo, SP,CEP 01014000, Telefone: (11) 3101 0155 ramal 233/238,
Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher
Em vista disso, foi expedida a RECOMENDAÇÃO
ADMINISTRATIVA Nº ______________ ao PREFEITO MUNICIPAL DE ___________ para que o
MUNICÍPIO DE ________ dando corpo ao comando contido no artigo 35 da Lei 11.340/06, bem
como aos preceitos constitucionais e internacionais invocados, implante, em prazo não superior a
180 dias, CASA ABRIGO de acolhimento provisório para mulheres, acompanhadas ou não de seus
filhos, em situação de risco de morte ou ameaças em razão da violência doméstica ou familiar,
causadora de lesão, sofrimento físico, psicológico ou dano moral., em local seguro, adequado e
mantido em sigilo, dotado de equipe multidisciplinar especializada nesse tipo de atendimento
(Recomendação em anexo).
Em resposta, o Município de __________ reconheceu que na
última Conferência Municipal foi aprovada a proposta de criação de uma casa abrigo para
mulheres, mas que no momento seria inviável a implantação de uma casa abrigo para mulheres
(ofício em anexo), colocando-se o Município aberto para o diálogo com outros municípios, mas sem
informar qualquer política alternativa que poderia suprir a CASA ABRIGO.
Em outros termos, o Município de __________ negou o
atendimento à recomendação e informou que somente estava aberto para o diálogo com outros
Municípios para a implementação da casa abrigo, sem ao menor indicar a implementação ainda que
provisória de outra política pública adequada que suprisse a construção de uma casa abrigo no
Município.
Na resposta ainda tentou justificar que seria inviável a
implantação da Casa Abrigo ou qualquer outra política de acolhimento similar porquanto entende
que somente a Secretária de Assistência Social deveria arcar com o custeio da implantação dessa
política, mas que referida Secretária tem orçamento municipal limitado somente de 2% por cento.
Como se as demais secretárias não tivessem o dever de
contribuir para a implantação dessa política ou houvesse vinculação às políticas públicas para
mulheres ao orçamento da Secretária de Assistência Social.
Rua Boa Vista, 103, 10º andar, São Paulo, SP,CEP 01014000, Telefone: (11) 3101 0155 ramal 233/238,
Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher
O mais absurdo é que na proposta de orçamento da Casa
Abrigo, vincula ao orçamento da Secretária de Assistência Social até mesmo para a disponibilização
de um guarda municipal.
Ou seja, não houve qualquer justificativa plausível para a
ausência de política pública adequada para as mulheres de __________vítimas de violência
doméstica.
A omissão das autoridades municipais e estaduais em
implementar o abrigo para mulheres vítimas de violência, não encontra justificativa plausível nem
mesmo na ausência de verbas, vez que a construção e manutenção de tais programas conta com o
apoio financeiro do Governo Federal, que já beneficiou dezenas de municípios brasileiros.
Em síntese, atualmente, não há CASA ABRIGO DE
ACOLHIMENTO PROVISÓRIO em __________, nem QUALQUER política pública adequada para as
mulheres para o acolhimento provisório.
No caso informa o município que adota como medidas
totalmente inadequadas:
1) O acolhimento das mulheres e seus filhos na CASA DE PASSAGEM;
2) Ou o acolhimento das mulheres na CASA DE PASSAGEM e seus filhos
infantes na CASA DE ACOLHIMENTO PROVISÓRIA, separando-os de sua
genitora, subvertendo a utilização da casa de acolhimento para crianças e
adolescentes.
A situação alarmante e desumana que são submetidas as
mulheres ante a ausência da política pública para a mulher pode ser constatada facilmente no caso
concreto ocorrido com uma usuária da Defensoria Pública em __________ e seus dois filhos que
foram encaminhados a esta instituição pela própria rede de assistência social municipal e ensejou a
Rua Boa Vista, 103, 10º andar, São Paulo, SP,CEP 01014000, Telefone: (11) 3101 0155 ramal 233/238,
Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher
propositura de ação de obrigação de fazer em face do Município de __________ e Estado de São
Paulo proposta perante a ____ª Vara Criminal da Comarca de __________ – Anexo Infância e
Juventude.
A usuária e seus filhos, crianças, viviam em um galpão alugado
informalmente pelo ex-companheiro da representante legal no valor de R$ 300,00 (trezentos reais),
local insalubre, precário e sem segurança, sendo o aluguel custeado pelo ex-companheiro da
representante legal.
Se a grave situação social não bastasse, a representante legal e
as crianças passaram a ser vítimas de um ciclo de violência doméstica perpetradas pelo ex-
companheiro em face da representante legal, cujos atos eram praticados em frente dos infantes.
E como sofria constantes atos de violência doméstica não
conseguia estabelecer com o ex-companheiro outra forma de pagamento de aluguel em outro local,
haja vista que é dependente financeiramente dele.
Após este ciclo de violência doméstica sofrido pela
representante legal e as crianças e a ausência de política pública para resguardar a integridade física
e psicológica da usuária e seus filhos, no dia 28 de fevereiro de 2016, a representante legal
compareceu à DDM/__________ para relatar que o agressor lhe feriu gravemente com um soco na
boca que provocou a perda de dois dentes permanentes e um terceiro que é pivô.
Em vista desses fatos, ou seja, em vista principalmente da
ausência de CASA ABRIGO DE ACOLHIMENTO PROVISÓRIO em __________, ou QUALQUER política
pública adequada alternativa adequada para as mulheres, o CREAS e o Acolhimento Institucional da
Crianças tiveram que acolher as crianças no Acolhimento Institucional de __________, com a
genitora pernoitando na CASA DE PASSAGEM (equipamento de atendimento para população em
situação de rua e migrantes).
Rua Boa Vista, 103, 10º andar, São Paulo, SP,CEP 01014000, Telefone: (11) 3101 0155 ramal 233/238,
Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher
No caso em comento, que exemplifica e justifica a propositura
da presente ação civil pública, os únicos motivos para encaminhamento das crianças e da mulher
vítima de violência doméstica para a casa de acolhimento são:
A) A carência de recursos da família para conseguir uma moradia digna,
B) A dependência econômica da representante legal do agressor, seu ex-
companheiro e o ciclo de violência doméstica sofrido pela representante
legal e pelas crianças.
C) A ausência de CASA ABRIGO DE ACOLHIMENTO PROVISÓRIO em
__________, ou QUALQUER política pública adequada alternativa
adequada para as mulheres.
Nesse sentido, a Mantenedora Vicente Decária, casa de
acolhimento provisório institucional afirmou que o único motivo do encaminhamento é que o
Município não dispõe de equipamento que atenda mulheres de violência doméstica, assim fez-se
necessário acolher as crianças PROVISORIAMENTE para que o CREAS junto da rede de proteção
possa realizar as devidas articulações para a efetivação da garantia de direito da família.
Ainda, o CREAS tentou as devidas articulações com a Secretária
de Assistência Social de São Paulo, mas sem sucesso, o que corrobora com as afirmações de que não
há qualquer política pública adequada no Município de Jacareí para atender e acolher de forma
adequada as mulheres e seus filhos vítimas de violência doméstica, seja no âmbito municipal, seja no
âmbito estadual.
O referido caso em concreto demonstra e exemplifica um caso
dentre vários em que ocorrem a omissão do Município de Jacareí e do Estado de São Paulo, que
obrigam as mulheres principalmente pobres, acompanhadas ou não de seus filhos, em situação de
risco de morte ou ameaça em razão da violência doméstica ou familiar, causadora de lesão,
sofrimento físico, psicológico ou dano moral:
Rua Boa Vista, 103, 10º andar, São Paulo, SP,CEP 01014000, Telefone: (11) 3101 0155 ramal 233/238,
Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher
1) A continuar a conviver com o agressor, submetendo-se a toda sorte
de violência, sempre cíclica e crescente,
2) A sair de casa, acochambrando-se em casa de familiares ou vizinhos,
cujos endereços são conhecidos pelo agressor, tornando-a vulnerável a
novos ataques.
3) A ir para a CASA DE PASSAGEM com seus filhos, local totalmente
inadequado, pois, além de ter endereço conhecido - expondo a vítima aos
ataques de seu agressor - proporciona tão somente local para pernoite e,
ainda, a casa foi criada para o abrigo da população de rua migrante,
itinerante e os munícipes em situação de rua, ou seja, pessoas em
situações sociais totalmente diversas.
4) Ou o acolhimento das mulheres na CASA DE PASSAGEM e seus filhos
infantes na CASA DE ACOLHIMENTO PROVISÓRIA, separando-os de sua
genitora, subvertendo a utilização da casa de acolhimento para crianças e
adolescentes.
Por todo exposto, não encontrando qualquer eco aos apelos
formulados, não restou outra alternativa, senão palmilhar a via judicial, para a satisfação dos direitos
Metaindividuais aqui questionados.
DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS
DA LEGITIMIDADE DA DEFENSORIA PÚBLICA PARA A TUTELA
DE INTERESSES METAINDIVIDUAIS
De início, importante informar que nos autos da Ação Direta
de Inconstitucionalidade 3943/ Distrito Federal, de relatoria da Ministra Cármen Lúcia, o Supremo
Tribunal Federal reconheceu a constitucionalidade das normativas que preveem a legitimidade da
Rua Boa Vista, 103, 10º andar, São Paulo, SP,CEP 01014000, Telefone: (11) 3101 0155 ramal 233/238,
Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher
Defensoria Pública para tutela de interesses transindividuais (coletivos em sentido estrito e difusos)
e individuais homogêneos, encerrando a celeuma sobre o tema:
“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEGITIMIDADE ATIVA DA
DEFENSORIA PÚBLICA PARA AJUIZAR AÇÃO CIVIL PÚBLICA (ART. 5º, INC.
II, DA LEI N. 7.347/1985, ALTERADO PELO ART. 2º DA LEI N. 11.448/2007).
TUTELA DE INTERESSES TRANSINDIVIDUAIS (COLETIVOS STRITO SENSU E
DIFUSOS) E INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. DEFENSORIA PÚBLICA:
INSTITUIÇÃO ESSENCIAL À FUNÇÃO JURISDICIONAL. ACESSO À JUSTIÇA.
NECESSITADO: DEFINIÇÃO SEGUNDO PRINCÍPIOS HERMENÊUTICOS
GARANTIDORES DA FORÇA NORMATIVA DA CONSTITUIÇÃO E DA
MÁXIMA EFETIVIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS: ART. 5º, INCS.
XXXV, LXXIV, LXXVIII, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. INEXISTÊNCIA DE
NORMA DE EXCLUSIVIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA AJUIZAMENTO
DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA. AUSÊNCIA DE PREJUÍZO INSTITUCIONAL DO
MINISTÉRIO PÚBLICO PELO RECONHECIMENTO DA LEGITIMIDADE DA
DEFENSORIA PÚBLICA. AÇÃO JULGADA IMPROCEDENTE.” (Ação Direta de
Inconstitucionalidade 3943/ Distrito Federal, de relatoria da Ministra
Cármen Lúcia, Supremo Tribunal Federal, j. 7/05/2015). (Grifos Nossos).
Nesse sentido, o artigo 134, caput, da Constituição Federal
com redação dada pela Emenda Constitucional nº. 80/2014, prevê que:
“A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à função
jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do
regime democrático, fundamentalmente, a orientação jurídica, a
promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e
extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma integral e
gratuita, aos necessitados, na forma do inciso LXXIV do art. 5º desta
Constituição Federal.” (Grifos Atuais).
Rua Boa Vista, 103, 10º andar, São Paulo, SP,CEP 01014000, Telefone: (11) 3101 0155 ramal 233/238,
Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher
Ademais, as alterações introduzidas pela Lei nº 11.448, de 15
de janeiro de 2007, na Lei de Ação Civil Pública (Lei nº 7.347/85), também trouxe a previsão da
legitimidade da Defensoria Pública para propor ação civil pública na defesa de interesses
Metaindividuais, sobretudo quando a ação envolva o interesse de grupo de hipossuficientes
econômicos.
Igualmente, conforme artigo 4º, inciso XI, Lei Complementar
80/94 cabe à Defensoria Pública como função institucional exercer a defesa dos interesses
individuais e coletivos da mulher vítima de violência doméstica e familiar, in verbis:
“Art. 4º São funções institucionais da Defensoria Pública, dentre outras:
XI – exercer a defesa dos interesses individuais e coletivos da criança e do
adolescente, do idoso, da pessoa portadora de necessidades especiais, da
mulher vítima de violência doméstica e familiar e de outros grupos sociais
vulneráveis que mereçam proteção especial do Estado; (Redação dada pela
Lei Complementar nº 132, de 2009) ” (grifos atuais).
Corroborando os argumentos expendidos, temos no art. 28 da
Lei 11.340/06, a seguinte previsão:
“Art. 28. É garantido a toda mulher em situação de violência doméstica e
familiar o acesso aos serviços de Defensoria Pública ou de Assistência
Judiciária Gratuita, nos termos da lei, em sede policial e judicial, mediante
atendimento específico e humanizado.”
Na espécie vertente, percebe-se, sem maiores dificuldades,
que a tutela pleiteada versa precipuamente sobre interesses da parcela mais pobre e discriminada
da população de Jacareí: as mulheres vítimas da violência doméstica ou familiar, que não têm para
onde ir.
Rua Boa Vista, 103, 10º andar, São Paulo, SP,CEP 01014000, Telefone: (11) 3101 0155 ramal 233/238,
Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher
Por certo, tal legitimação se coaduna com os elevados
princípios inscritos nos artigos 5º, inciso LXXIV e 134 da Carta Política, que consagram a
essencialidade da Defensoria Pública para a função jurisdicional do Estado, oportunizando o tão
almejado acesso à justiça.
O acesso à justiça, como é cediço, não se confunde com o
acesso ao judiciário. Vai além, reclamando o apeio em uma ordem jurídica justa. E não há falar em
ordem jurídica justa, sem se assegurar aos hipossuficientes os instrumentos eficazes de defesa dos
seus direitos.
Demonstrada, portanto, a legitimidade ativa, verificaremos,
em seguida, a legitimidade do ente municipal para integrar a relação jurídico-processual no polo
passivo da demanda.
DA LEGITIMIDADE PASSIVA E SOLIDÁRIA DO MUNICÍPIO DE
__________ E DO ESTADO DE SÃO PAULO
A Lei nº. 11.340 de 7 de agosto de 2006 criou mecanismos
para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da
Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra
as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a
Mulher.
Nesse sentido o artigo 35, da Lei 11.340 de 7 de agosto de
2006 determinou que que a União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios poderão criar e
promover, no limite das respectivas competências:
“(...)
II - Casas-Abrigos para mulheres e respectivos dependentes menores em
situação de violência doméstica e familiar. (grifos atuais)”.
Rua Boa Vista, 103, 10º andar, São Paulo, SP,CEP 01014000, Telefone: (11) 3101 0155 ramal 233/238,
Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher
Resta claro, portanto, o poder-dever dos Estados e Municípios
de implementar a política pública requerida, criando: Casas-Abrigos para mulheres e respectivos
dependentes menores em situação de violência doméstica e familiar.
Já o art. 204 da Carta Magna estabelece as diretrizes das ações
governamentais na política de assistência social, reservando as esferas estadual e municipal a
atuação na coordenação e execução de programas de assistência social.
“Art. 204. As ações governamentais na área da assistência social serão
realizadas com recursos do orçamento da seguridade social, previstos no
art. 195, além de outras fontes, e organizadas com base nas seguintes
diretrizes:
I - Descentralização político-administrativa, cabendo a coordenação e as
normas gerais à esfera federal e a coordenação e a execução dos
respectivos programas às esferas estadual e municipal, bem como a
entidades beneficentes e de assistência social”. (Grifos nossos).
Também a Resolução nº. 109, de 11 de novembro de 2009, do
Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) que aprovou a TIPIFICAÇÃO NACIONAL DE SERVIÇOS
SOCIOASSISTENCIAIS, estabeleceu como serviço de proteção social especial de alta complexidade o
acolhimento provisório para mulheres, acompanhada ou não de seus filhos, em situação de risco de
morte ou ameaças em razão da violência doméstica ou familiar, causadora de lesão, sofrimento
físico, psicológico ou dano moral.
Por fim, a Constituição Federal, no art. 30, V, estabeleceu
dentre as competências dos municípios, a organização e prestação de serviços públicos de interesse
local.
Rua Boa Vista, 103, 10º andar, São Paulo, SP,CEP 01014000, Telefone: (11) 3101 0155 ramal 233/238,
Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher
Versando a presente lide, no estado das asserções iniciais,
sobre a recusa e omissão dos administradores municipais e estaduais em implementar comando
imperativo, revela-se irrefutável a legitimação do ente municipal e estadual para figurar no polo
passivo da presente demanda.
DO DIREITO À PRESERVAÇÃO DA INTEGRIDADE FÍSICA DAS
MULHERES VÍTIMAS DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA NO ÂMBITO DAS RELAÇÕES DOMÉSTICAS E
FAMILIARES
O direito à vida, à integridade física, moral, psíquica e
patrimonial das mulheres vítimas da violência doméstica e familiar, reveste-se da mais alta
significação, reclamando não apenas solidariedade ou simpatia, mas antes, exigem atitudes
concretas do Poder Público para sua efetiva realização.
No magistério de LENZA5, o Direito à vida abrange dois
aspectos: o direito de não ser privado da vida, ou seja, morto, e o direito de ter uma vida digna.
Sobre o primeiro aspecto, o direito a não ser privado da vida,
não soa admissível que o Estado, através de seus agentes, continue assistindo inerte, o espetáculo
dantesco de desrespeito à integridade física, psíquica, moral, sexual e patrimonial das mulheres e
crianças de Jacareí.
Vítimas da covardia utilitária de cônjuges e companheiros, as
mulheres que, diariamente, acorrem aos órgãos de atendimento (Delegacia de Mulheres, Defensoria
Pública, Hospitais Públicos, entre outros) não encontram a saída necessária para romper com o ciclo
de violência e, muitas vezes, preservar sua própria existência. A omissão estatal, em providenciar
abrigo para as mulheres em risco de morte, transforma-o em corresponsável pelas lesões,
deformidades e óbitos ocorridos.
5 Pedro Lenza. Direito Constitucional Esquematizado. 11.ed. São Paulo: Método, 2007. p. 701.Rua Boa Vista, 103, 10º andar, São Paulo, SP,CEP 01014000,
Telefone: (11) 3101 0155 ramal 233/238,[email protected]
Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher
Ao permitir que a violência chegue ao seu limite extremo, por
falta de um local adequado para abrigar as vítimas da violência, o ente demandado revela, a não
mais poder, um descompromisso com a preservação da integridade física de suas munícipes.
Abordada invariavelmente como questão de índole privada,
refletindo situações ocorridas em sua maior parte no interior do “sagrado espaço do lar”, a questão
da violência contra a mulher foi, durante largo tempo, negligenciada pelas autoridades públicas,
reforçando nos agressores a sensação de completa impunidade.
Na visão de BRAGHINI6, a submissão das mulheres a situações
crônicas de violência doméstica não prescinde da análise dos fatores sociais envolvidos, dos quais
destacam os chamados fatores estruturais, entendidos como “uma dimensão possível da condição
feminina. Neste sentido, estudos histórico-antropológicos já evidenciaram que as mulheres são
dotadas de uma existência relativa e dependente em todas as esferas sociais. Logo, quando se trata
de optar entre apanhar ou garantir a subsistência pessoal e da prole, torna-se mais seguro continuar
apanhando”.
O problema adquire cores de dramaticidade quando se sabe
que “um assassinato é o último grau de toda escalada de violência, que começa com agressões
verbais (violência psicológica), reincide em freqüentes espancamentos até culminar na morte da
vítima”7.
O art. 5º, caput, da Carta Política de 1988, consagra o direito à
vida, assegurando a integridade bio-físico-psíquica do indivíduo, com reflexos importantes na tutela
da mulher vitimada.
Inobstante irradiar seus efeitos sobre todos os indivíduos, a
garantia do direito à vida assume aspecto de sobrelevada importância em relação à mulher vitimada,
em risco de morte, eis que somente se tornará efetiva com a criação e implementação de
6 Lucélia Braghini. Cenas Repetitivas de Violência Doméstica. São Paulo: Unicamp, 2000. pp. 23/24.7 Idem. p. 19.
Rua Boa Vista, 103, 10º andar, São Paulo, SP,CEP 01014000, Telefone: (11) 3101 0155 ramal 233/238,
Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher
mecanismos que coíbam a violência no âmbito das relações domésticas e familiares, promessa
inscrita no art. 226, § 8º da Constituição Federal.
Assim, “não basta que um direito seja reconhecido e
declarado, é necessário garanti-lo, porque virão ocasiões em que será discutido e violado”8.
Signatário da Convenção sobre a Eliminação de Todas as
Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e
Erradicar a Violência contra a Mulher, o Brasil assumiu o compromisso internacional de coibir a
violência doméstica e familiar contra a mulher.
Alinhando-se a Constituição portuguesa de 1976, mais
especificamente em seu artigo 18, a Constituição brasileira firma no § 1°, do artigo 5°, que “ as
normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata”. Logo após, no §
2°, anuncia que “os direitos e garantias fundamentais expressos nesta Constituição não excluem
outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em
que a República Federativa do Brasil seja parte”.
É assim que, para PIOVESAN9, todos os tratados que versem
sobre direitos humanos têm natureza constitucional, sendo que uns são materialmente
constitucionais e outros são material e formalmente constitucionais.
Destarte, ao ratificar a Convenção de Belém do Pará, em 27 de
novembro de 1995, promulgada pelo Decreto nº 1.973/96, o Brasil incorporou, em seu
ordenamento jurídico positivo, em patamar constitucional, a promessa de prevenir, punir e erradicar
a violência contra mulher, constituindo ser descumprimento, quer por ação ou por omissão, grave
violação dos direitos humanos.
8 Maurice Hauriou. Derecho publico Y Constitucional. P. 120. Citado por José Afonso da Silva. Op. cit. p. 185.9 Flávia Piovesan. Tratados Internacionais de proteção dos Direitos Humanos e a Constituição Federal de 1988. Boletim IBCCRIM, n.153, p.9, 08/2005.
Rua Boa Vista, 103, 10º andar, São Paulo, SP,CEP 01014000, Telefone: (11) 3101 0155 ramal 233/238,
Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher
A Convenção de Belém do Pará, em seu artigo 4º, assim
dispõe:
Artigo 4º
Toda mulher tem direito ao reconhecimento, gozo, exercícios e proteção de
todos os direitos humanos e às liberdades consagradas pelos instrumentos
regionais e internacionais sobre direitos humanos. Estes direitos
compreendem , entre outros:
1. o direito a que se respeite sua vida;
2. o direito a que se respeite sua integridade física, psíquica e moral;
3. o direito à liberdade e à segurança pessoais;
4. o direito a não ser submetida a torturas;
5. o direito a que se refere a dignidade inerente a sua pessoa e que se
proteja sua família;
6. o direito à igualdade de proteção perante a lei e da lei;
7. o direito a um recurso simples e rápido diante dos tribunais
competentes, que a ampare contra atos que violem seus direitos;
8. o direito à liberdade de associação;
9. o direito à liberdade de professar a religião e as próprias crenças, de
acordo com a lei;
10. o direito de ter igualdade de acesso às funções públicas de seu país e a
participar nos assuntos públicos, incluindo a tomada de decisões. (grifos
atuais).
Em sintonia com esses elevados princípios, nossa Carta Magna
erigiu a família como base da sociedade e alvo de especial proteção do Estado, comprometendo-se a
implementar mecanismos que coíbam a violência no âmbito das relações domésticas e familiares
(art. 226 e seu § 8º).
Rua Boa Vista, 103, 10º andar, São Paulo, SP,CEP 01014000, Telefone: (11) 3101 0155 ramal 233/238,
Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher
Dando corpo a essa promessa constitucional de preservação
de incolumidade dos membros do grupo familiar, em especial as mulheres, o legislador ordinário ,
através de paulatinas modificações legislativas, trouxe ao mundo jurídico uma série de diplomas
legais na tentativa de mitigar ou erradicar a crescente escalada da violência doméstica e familiar,
que tinha como sujeito passivo, invariavelmente, mulheres e crianças.
Aliás, não se pode olvidar que o Estado Brasileiro foi
condenado internacionalmente, em 2001, por negligência e omissão em relação à violência
doméstica.
Assim, foi editada a lei nacional nº 10.455/02, que
acrescentou o parágrafo único ao art. 69 da Lei 9.099/95, autorizando o afastamento do agressor do
lar conjugal em casos de violência doméstica. Editou-se ainda, a Lei nº 10.886/04, incluindo o § 9º ao
art. 129 do Código Penal Brasileiro, acrescentando o tipo de lesão corporal decorrente da violência
doméstica, com aumento no preceito cominatório de três para seis meses de detenção.
Tais alterações legislativas revelaram-se insuficientes para
deter a progressiva escalada da violência contra a mulher.
Em 07 de agosto de 2006, foi sancionada pelo Presidente da
República a Lei Nacional nº 11.340 que entrou em vigor em 22 de setembro do mesmo ano.
Denominada “Lei Maria da Penha”, em homenagem à Ilustre
Farmacêutica Maria da Penha Maia Fernandes, símbolo da resistência e da luta pelo fim da violência
contra a mulher, a Lei 11.340/06 trouxe importantes avanços à efetivação dos sobreditos
mecanismos de prevenção e erradicação da violência no âmbito doméstico e familiar.
Dentre os seus inovadores dispositivos, dá-se destaque às
medidas protetivas de urgência, que garantem a incolumidade física das vítimas, especialmente os
artigos 23, I e 35, II, abaixo reproduzidos:
Rua Boa Vista, 103, 10º andar, São Paulo, SP,CEP 01014000, Telefone: (11) 3101 0155 ramal 233/238,
Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher
Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de outras medidas:
I – encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou
comunitário de proteção ou de atendimento;
(...)
Art. 35. A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios poderão
criar e promover, no limite das respectivas competências:
(...)
II – Casas-abrigos para mulheres e respectivos dependentes menores em
situação de violência doméstica e familiar;
(...)
Releva destacar que o plexo normativo que compõe o sistema
de proteção às vítimas da violência doméstica e familiar tem por escopo garantir, com absoluta
primazia, a integridade física da vítima e seus dependentes e não somente a colaboração na
persecução criminal.
Tal observação é importante, para que se diferenciem as
medidas previstas na Lei Maria da Penha, com as previstas Lei n° 9.807 de 13 de julho de 1999
(Proteção às Testemunhas), que têm objetos e finalidades diversas, eis que esta última se destina às
vítimas e testemunhas ameaçadas em razão de colaborarem com a investigação ou processo
criminal.
Vê-se que até o Judiciário encontra-se limitado em sua
atuação, pois o Município não dispõe de programa oficial de proteção, para onde possam ser
encaminhadas as vítimas de violência doméstica e familiar que se encontrem em risco de perder a
vida.
No caso nem se argumente que o fornecimento de auxílio em
pecúnia para que a vítima alugue um imóvel ou a locação de um imóvel pelos entes demandados
para as mulheres nesta situação constitui programa de proteção adequado definitivo para as
Rua Boa Vista, 103, 10º andar, São Paulo, SP,CEP 01014000, Telefone: (11) 3101 0155 ramal 233/238,
Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher
mulheres, pois esta solução, que será requerida em caráter provisório até a implementação da casa
abrigo, já que não há qualquer política pública adequada no município de acolhimento,é ideal para
as mulheres que não se encontram em risco de morte e não têm para onde ir, mas que se revela
inócua, para aquelas mulheres que têm sua existência ameaçada pelo agressor.
Vários casos demonstram o quão cruel pode ser o descaso e a
omissão estatal, porquanto muitas mulheres permanecem convivendo com o agressor por não para
onde ir.
A preservação da integridade física das mulheres de Jacareí,
vitimadas pela violência doméstica e familiar deve ser assegurada pelo Poder Público, como
expressão do respeito à cidadania e, principalmente, à dignidade do ser humano.
A dignidade da pessoa humana é o mais elevado valor dentro
da graduação hierárquica dos valores constitucionalmente consagrados, sendo diretriz inafastável
no processo constitucional de formação das leis e base interpretativa para todas as normas jurídicas.
Pressupõe sustentáculo do Estado Democrático de Direito, colocando a pessoa como valor fonte de
todos os valores, objetivo supremo de preservação e ampliação social. Sua importância é
demonstrada pelos doutos lusitanos Joaquim José Gomes Canotilho e Vital Moreira10 :
“A dignidade da pessoa humana é um standart de proteção universal que
obriga à adopção de convenções e medidas internacionais contra a
violação da dignidade da pessoa humana e à formatação de um direito
internacional adequado à protecção da dignidade da pessoa humana não
apenas como ser humano individual e concretamente considerado, mas
também da dignidade humana referente a entidades coletivas”.
O Direito à Vida e à Dignidade da Pessoa Humana. É que se
veicula na presente lide.
10 Constituição da República Portuguesa Anotada. Volume 1. Artigos 1° a 107. São Paulo e Coimbra: Revistas dos Tribunais e Editora Coimbra, 2007, p. 200.
Rua Boa Vista, 103, 10º andar, São Paulo, SP,CEP 01014000, Telefone: (11) 3101 0155 ramal 233/238,
Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher
Mora do Poder Público Municipal e Estadual
Demonstrada, ainda que de forma sucinta, o direito das
mulheres de Jacareí à efetiva proteção à incolumidade física e preservação da vida, o Poder
Executivo Municipal e Estadual se encontra em mora, eis que existe, desde 2006, comando legal
expresso, determinando a criação e manutenção de abrigo para mulheres vítimas de violência.
Senão vejamos.
Decorridos quase dez anos da promulgação da Lei Maria da
Penha, as mulheres e crianças de __________ continuam sem alternativa para abrigamento seguro
e adequado, em caso de ameaça de violência doméstica ou familiar.
A omissão das autoridades municipais e estaduais em
implementar o abrigo para mulheres vítimas de violência, não encontra justificativa plausível nem
mesmo na ausência de verbas, vez que a construção e manutenção de tais programas conta com o
apoio financeiro do Governo Federal, que já beneficiou dezenas de municípios brasileiros.
Nem mesmo a alegação de discricionariedade pode ser
considerada, já que na formação do juízo de conveniência e oportunidade não se pode sopesar com
nenhum outro bem jurídico, o direito à vida.
Governar é fazer escolhas. Não se cansam de repetir os
ocupantes dos cargos públicos. Entretanto, dentre as escolhas possíveis, não há a opção de nada
fazer.
Ressoa evidente que a persistir a omissão do Poder Público em
implementar a casa abrigo (com os contornos desenhados pela Lei 11.340/06), destinada a acolher e
proteger as mulheres vítimas da violência doméstica e familiar do município, constituindo violenta
agressão ao Princípio da Separação dos Poderes, a inércia estatal equivalerá à revogação, por via
transversa, do dispositivo discutido, votado e aprovado pelos representantes do povo.
Rua Boa Vista, 103, 10º andar, São Paulo, SP,CEP 01014000, Telefone: (11) 3101 0155 ramal 233/238,
Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher
Os contornos até da Casa Abrigo foram até mesmo já
delineados na Resolução nº. 109, de 11 de novembro de 2009, do Conselho Nacional de Assistência
Social (CNAS) que aprovou a TIPIFICAÇÃO NACIONAL DE SERVIÇOS SOCIOASSISTENCIAIS e
estabeleceu como serviço de proteção social especial de alta complexidade o acolhimento provisório
para mulheres, acompanhada ou não de seus filhos, em situação de risco de morte ou ameaças em
razão da violência doméstica ou familiar, causadora de lesão, sofrimento físico, psicológico ou
dano moral.
É certo que a discricionariedade da Administração tem como
limite as garantias constitucionais individuais, que não devem ser desrespeitadas sob o falso
argumento de falta de razoabilidade e proporcionalidade.
Aparece às escâncaras que o lapso de quase dez anos é mais
que suficiente para que a norma contida na Lei 11.340/2006 encontrasse realização.
Presentes, portanto, os motivos determinantes para
acolhimento, na forma determinada lei 11340/2006, das mulheres vítimas de violência doméstica e
familiar, não há motivo plausível para a persistência da mora do executivo municipal e estadual.
Conforme abordaremos em seguida, o surrado argumento da
aplicação da teoria alienígena da “reserva do possível”, também em nada favorece os
administradores municipais, senão vejamos.
Da Inaplicabilidade da Teoria da Reserva do Possível
Recorrentemente, o Poder Público tem buscado fundamento
de validade em sua atuação desidiosa ou omissiva na chamada Teoria da Reserva do Possível.
Rua Boa Vista, 103, 10º andar, São Paulo, SP,CEP 01014000, Telefone: (11) 3101 0155 ramal 233/238,
Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher
Lastreado no bordão “infinidade de demandas X finitude dos
recursos”, justificam-se omissões como resultado de escolhas políticas, que se pretendem
insindicáveis em sede judicial.
Dentro desse contexto, cresce, estonteantemente, os
atentados contra a Constituição. É que o superávit de normatividade e o déficit de aplicabilidade das
normas constitucionais encontram amparo em teorias como estas, que, invariavelmente, excluem
do rol de preponderância aplicativa, os direitos e garantias fundamentais individuais e sociais.
No espinhoso mister de interpretação do direito, sobretudo no
plano do direito constitucional moderno, as ideias de unidade, sistematização, proporcionalidade,
máxima efetividade e concordância prática, integram a materialidade do ordenamento jurídico
como um todo, sobrepondo, axiologicamente, a vida e a dignidade humana em face de qualquer
interesse pecuniário, o que impõe aos administradores das funções Republicanas, sua integral
observância, não deixando, assim, esvair as conquistas democráticas esculpidas na Magna Carta,
expressão moderna da vedação ao retrocesso.
Durante largo período, a fruição dos direitos fundamentais,
consagrados constitucionalmente, foi tida como mera expectativa, revestindo diversos Estatutos
Políticos de vangloriosas formalidades e nenhuma aplicabilidade. Com isso, o império
antidemocrático e fascista que assolou grande parte do século XX, encontrou na teoria das normas
programáticas formas de mitigar a aplicação da Constituição, estabelecendo – o constituinte –
premissas destinadas a vincular apenas formalmente, pro futuro, as ações dos diversos órgãos do
Estado, conspurcando, de maneira peremptória, a força normativa da Constituição.
Decorrência do princípio da isonomia material, a ideia fonte
do mínimo existencial reveste e complementa o princípio da dignidade da pessoa humana,
desaguando – e aí podemos verificar a coexistência – na necessidade da eficácia dos direitos sociais.
Doutrinariamente, como é sabido, o mínimo existencial
divide-se em três momentos distintos: a) saúde; b) educação; c) moradia. Essas são necessidades
Rua Boa Vista, 103, 10º andar, São Paulo, SP,CEP 01014000, Telefone: (11) 3101 0155 ramal 233/238,
Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher
globantes e vitais, ensejando uma postura positiva por parte do Estado, relegando outros interesses
ou os protraindo em sua implementação.
Assim, a ação ou omissão estatal ou legislativa que conspirar,
notoriamente, contra os postulados do mínimo existencial, renegando a implementação de projetos
sociais básicos para a subsistência humana, como é o caso da implantação da casa abrigo, deve ser
taxado de violador dos valores predominantes da Constituição.
A liberdade de atuação da Administração ou da função
Legislativa não se sobrepõe aos princípios fundamentais exalantes da Carta Política, pois,
parafraseando o eloquente português Jorge Miranda11, “a liberdade de conformação do legislador,
(e acrescentamos, do administrador!), a sua discricionariedade, começa onde acaba a interpretação
que lhe cabe fazer das normas constitucionais”.
É oportuno ressaltar os dizeres de Marcelo Novelino12, quando assevera:
“O aspecto distintivo fundamental entre os direitos que compõem o
mínimo existencial e os outros direitos sociais, está no fato de que aqueles,
por serem direitos mínimos imprescindíveis a uma vida digna, não se
submetem à reserva do possível”.
Insistimos: os direitos sociais não devem sofrer interpretações
que restrinjam sua eficácia. Sua característica fundamental consiste em obrigar o Estado a um agir
configurado dentro dos ditames estabelecidos pela Constituição Federal, estabelecendo um
posicionamento ímpar ao indivíduo que poderá, sempre que insatisfeito, exigir prestações de
natureza jurídica ou material, permitindo, assim, a fruição efetiva dos direitos fundamentais.
11 MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional. Tomo VI. Inconstitucionalidade e Garantia da Constituição. Coimbra: Coimbra, 2001, p. 43.12 NOVELINO, Marcelo. O Conteúdo Jurídico da Dignidade da Pessoa Humana in Leituras Complementares de Constitucional – Direitos Fundamentais. Salvador: Jus Podivm, 2007, 2° edição, p. 125.
Rua Boa Vista, 103, 10º andar, São Paulo, SP,CEP 01014000, Telefone: (11) 3101 0155 ramal 233/238,
Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher
A propósito, segue-se a intelectual doutrina de Dirley da
Cunha Júnior :
“Hodiernamente, assiste-se, sem dúvida, ‘a deslocação da doutrina dos
direitos fundamentais dentro da reserva de lei para a doutrina da reserva
de lei dentro dos direitos fundamentais’. E isso tem propiciado uma
mudança paradigmática, que envolve a idéia de que os direitos
fundamentais não precisam de regulamentação para serem desfrutados e
incidirem, podendo ser imediatamente invocados por seus titulares, ainda
que haja falta ou deficiência da lei”.
A teoria da reserva do possível é o mais tormentoso obstáculo
que os preservadores de interesses individuais fincam no direito constitucional brasileiro para
impedir a atuação governamental e legislativa na aplicação dos direitos sociais figurados em nossa
Lex Fundamentalis.
Originária da Alemanha, a teoria da reserva do possível é aqui
entendida como a possibilidade (disponibilidade) de recursos públicos para o fiel reconhecimento e
aplicação dos direitos sociais. A dependência de recursos financeiros faz com que os direitos sociais
restem inaplicáveis no transcorrer do lapso em que perdure a escassez orçamentária.
Desenvolvida em um país onde mínimo existencial é
integralmente satisfeito, a reserva do possível não merece amparo na realidade nacional que nos
cerceia. Por isso, digna de louvores, encontra-se necessário estampar a observação crítica de Dirley
da Cunha Júnior13 :
“Apesar das grandes contribuições que a doutrina estrangeira tem dado ao
direito brasileiro, proporcionando indiscutivelmente consideráveis avanços
na literatura jurídica nacional, é preciso deixar bem claro, contudo, que é
extremamente discutível e de duvidosa pertinência o translado de teorias
13 Idem. op. cit, p. 435.Rua Boa Vista, 103, 10º andar, São Paulo, SP,CEP 01014000,
Telefone: (11) 3101 0155 ramal 233/238,[email protected]
Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher
jurídicas desenvolvidas em países de bases cultural, econômica, social e
histórica próprias, para outros países cujos modelos jurídicos estão sujeitos
a condicionamentos socioeconômicos e políticos completamente
diferentes. Os institutos jurídico-constitucionais devem ser compreendidos
a partir da história e das condições socioeconômicas do país em que se
desenvolveram, de modo que é impossível ‘transportar-se um instituto
jurídico de uma sociedade para outra, sem se levar em conta os
condicionamentos a que estão sujeitos todos os modelos jurídicos’. É
condição primeira para qualquer estudo dos fenômenos jurídicos no âmbito
do direito comparado, o prévio conhecimento do direito estrangeiro à vista
do meio social e político em que ele se aplica, o que exige,
conseqüentemente, uma compreensão primária da história política e social
daquele país. Há casos em que não raro, os mesmos textos legais e
procedimentos jurídicos produzem efeitos jurídicos distintos, quando não
utilizados em domínios político-sociais diferentes, como o alemão e o
brasileiro, por exemplo. A propósito, é completamente sem sentido aplicar,
descuidadosamente e sem critérios, ao Brasil, um país em desenvolvimento
ou periférico, teorias jurídicas hauridas de países desenvolvidos ou centrais.
A adoção de soluções estrangeiras nem sempre se compatibiliza com a
realidade jurídica e material do Estado brasileiro”.
“A chamada reserva do possível foi desenvolvida na Alemanha, num
contexto jurídico e social totalmente distinto da realidade histórico-
concreta brasileira. Nestas diferentes ordens jurídicas concretas não
variam apenas as formas de lutas, conquistas e realização e satisfação dos
direitos, mas também os próprios paradigmas jurídicos aos quais se
sujeitam. Assim, enquanto a Alemanha se insere entre os chamados países
centrais, onde já existe um padrão ótimo de bem-estar social, o Brasil
ainda é considerado um país periférico, onde milhares de pessoas não têm
o que comer e são desprovidas de condições mínimas de existência digna,
seja na área da saúde, educação, trabalho e moradia, seja na área da
Rua Boa Vista, 103, 10º andar, São Paulo, SP,CEP 01014000, Telefone: (11) 3101 0155 ramal 233/238,
Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher
assistência e previdência sociais, de tal modo que a efetividade dos direitos
sociais ainda depende da luta pelo direito entendida como processo de
transformações econômicas e sociais, na medida em que estas forem
necessárias para a concretização desses direitos”.
A posição jurisprudencial brasileira tem colocado pás de cal na
doutrina que defende o não intervencionismo judicial na esfera da omissão prestacional do poder
público, bem como negar aplicabilidade à tese da reserva do possível, em favor da maior eficácia dos
direitos sociais fundamentais.
O Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, no
recurso de apelação n° 596.017, tendo como relator o Desembargador Sérgio Gischkow Pereira,
assim assentou seu posicionamento:
“A Constituição Federal, em seu artigo 227, define como prioridade
absoluta as questões de interesse da criança e do adolescente; assim, não
pode o Estado-membro, alegando insuficiência orçamentária, desobrigar-
se da implantação de programa de internação e semi-liberdade para
adolescentes infratores, podendo o Ministério Público ajuizar ação civil
pública para que a Administração Estadual cumpra tal previsão legal, não
se tratando, na hipótese, de afronta ao poder discricionário do
administrador público, mas de exigir-lhe a observância de mandamento
constitucional”.
Na análise do processo de Arguição de Descumprimento de
Preceito Fundamental n° 45, julgada prejudicada pela superveniente perda do objeto, o Ministro
Relator Celso de Mello teceu eloquentes comentários sobre o tema, sendo curial sua transposição
para melhor compreensão do tema:
“É certo que não se inclui, ordinariamente, no âmbito das funções
institucionais do Poder Judiciário - e nas desta Suprema Corte, em especial -
Rua Boa Vista, 103, 10º andar, São Paulo, SP,CEP 01014000, Telefone: (11) 3101 0155 ramal 233/238,
Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher
a atribuição de formular e de implementar políticas públicas (JOSÉ CARLOS
VIEIRA DE ANDRADE, ‘Os Direitos Fundamentais na Constituição
Portuguesa de 1976’, p. 207, item n. 05, 1987, Almedina, Coimbra), pois,
nesse domínio, o encargo reside, primariamente, nos Poderes Legislativo e
Executivo”.
“Tal incumbência, no entanto, embora em bases excepcionais, poderá
atribuir-se ao Poder Judiciário, se e quando os órgãos estatais
competentes, por descumprirem os encargos político-jurídicos que sobre
eles incidem, vierem a comprometer, com tal comportamento, a eficácia e
a integridade de direitos individuais e/ou coletivos impregnados de
estatura constitucional, ainda que derivados de cláusulas revestidas de
conteúdo programático”.
“Cabe assinalar, presente esse contexto – consoante já proclamou esta
Suprema Corte – que o caráter programático das regras inscritas no texto
da Carta Política ‘não pode converter-se em promessa constitucional
inconseqüente, sob pena de o Poder Público, fraudando justas expectativas
nele depositadas pela coletividade, substituir, de maneira ilegítima, o
cumprimento de seu impostergável dever, por um gesto irresponsável de
infidelidade governamental ao que determina a própria Lei Fundamental
do Estado’ (RTJ 175/1212-1213, Rel. Min. CELSO DE MELLO)”.
“Não deixo de conferir, no entanto, assentadas tais premissas, significativo
relevo ao tema pertinente à ‘reserva do possível’ (STEPHEN HOLMES/CASS
R. SUNSTEIN, “The Cost of Rights”, 1999, Norton, New York), notadamente
em sede de efetivação e implementação (sempre onerosas) dos direitos de
segunda geração (direitos econômicos, sociais e culturais), cujo
adimplemento, pelo Poder Público, impõe e exige, deste, prestações
estatais positivas concretizadoras de tais prerrogativas individuais e/ou
coletivas”.
Rua Boa Vista, 103, 10º andar, São Paulo, SP,CEP 01014000, Telefone: (11) 3101 0155 ramal 233/238,
Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher
“É que a realização dos direitos econômicos, sociais e culturais – além de
caracterizar-se pela gradualidade de seu processo de concretização –
depende, em grande medida, de um inescapável vínculo financeiro
subordinado às possibilidades orçamentárias do Estado, de tal modo que,
comprovada, objetivamente, a incapacidade econômico-financeira da
pessoa estatal, desta não se poderá razoavelmente exigir, considerada a
limitação material referida, a imediata efetivação do comando fundado no
texto da Carta Política”.
“Não se mostrará lícito, no entanto, ao Poder Público, em tal hipótese –
mediante indevida manipulação de sua atividade financeira e/ou político-
administrativa – criar obstáculo artificial que revele o ilegítimo, arbitrário e
censurável propósito de fraudar, de frustrar e de inviabilizar o
estabelecimento e a preservação, em favor da pessoa e dos cidadãos, de
condições materiais mínimas de existência”.
“Cumpre advertir, desse modo, que a cláusula da ‘reserva do possível’ –
ressalvada a ocorrência de justo motivo objetivamente aferível – não pode
ser invocada, pelo Estado, com a finalidade de exonerar-se do
cumprimento de suas obrigações constitucionais, notadamente quando,
dessa conduta governamental negativa, puder resultar nulificação ou, até
mesmo, aniquilação de direitos constitucionais impregnados de um sentido
de essencial fundamentalidade”.
(...).
“Não obstante a formulação e a execução de políticas públicas dependam
de opções políticas a cargo daqueles que, por delegação popular,
receberam investidura em mandato eletivo, cumpre reconhecer que não se
Rua Boa Vista, 103, 10º andar, São Paulo, SP,CEP 01014000, Telefone: (11) 3101 0155 ramal 233/238,
Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher
revela absoluta, nesse domínio, a liberdade de conformação do legislador,
nem a de atuação do Poder Executivo”.
“É que, se tais Poderes do Estado agirem de modo irrazoável ou
procederem com a clara intenção de neutralizar, comprometendo-a, a
eficácia dos direitos sociais, econômicos e culturais, afetando, como
decorrência causal de uma injustificável inércia estatal ou de um abusivo
comportamento governamental, aquele núcleo intangível
consubstanciador de um conjunto irredutível de condições mínimas
necessárias a uma existência digna e essenciais à própria sobrevivência do
indivíduo, aí, então, justificar-se-á, como precedentemente já enfatizado - e
até mesmo por razões fundadas em um imperativo ético-jurídico -, a
possibilidade de intervenção do Poder Judiciário, em ordem a viabilizar, a
todos, o acesso aos bens cuja fruição lhes haja sido injustamente recusada
pelo Estado”.
Concluindo, magistralmente, seu entendimento sobre a
matéria, fundamenta, em último momento, o Ministro Celso Mello, sua explanação com as
observações de Andreas Joachim Krell:
“No entanto, parece-nos cada vez mais necessária a revisão do vetusto
dogma da Separação dos Poderes em relação ao controle dos gastos
públicos e da prestação dos serviços básicos no Estado Social, visto que os
Poderes Legislativo e Executivo no Brasil se mostraram incapazes de
garantir um cumprimento racional dos respectivos preceitos
constitucionais”.
(...).
“Muitos autores e juízes não aceitam, até hoje, uma obrigação do Estado
de prover diretamente uma prestação a cada pessoa necessitada de
Rua Boa Vista, 103, 10º andar, São Paulo, SP,CEP 01014000, Telefone: (11) 3101 0155 ramal 233/238,
Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher
alguma atividade de atendimento médico, ensino, de moradia ou
alimentação. Nem a doutrina nem a jurisprudência têm percebido o
alcance das normas constitucionais programáticas sobre direitos sociais,
nem lhes dado aplicação adequada como princípios-condição da justiça
social”.
“A negação de qualquer tipo de obrigação a ser cumprida na base dos
Direitos Fundamentais Sociais tem como conseqüência a renúncia de
reconhecê-los como verdadeiros direitos. (...) Em geral, está crescendo o
grupo daqueles que consideram os princípios constitucionais e as normas
sobre direitos sociais como fonte de direitos e obrigações e admitem a
intervenção do Judiciário em caso de omissões inconstitucionais”.
Ainda na esteira de Dirley da Cunha Júnior, pela extrema
pertinência ao caso vertente, cumpre ressaltar:
“não podemos concordar com aqueles que sustentam, com base na
doutrina estrangeira, encontrar-se a eficácia dos direitos fundamentais dependente do limite fático
da reserva do possível, porque sempre haverá um meio de remanejar os recursos disponíveis,
retirando-os de outras áreas (transporte, fomento econômico, serviço da dívida, etc.), onde sua
aplicação não está intimamente ligada aos direitos mais essenciais do homem, como a vida, a
integridade física, a saúde e a educação, por exemplo”. (...) os problemas de ‘caixa’ não podem ser
guinados a obstáculos à efetivação dos direitos fundamentais sociais, pois imaginar que a realização
desses direitos depende de ‘caixas cheios’ do Estado significa reduzir a sua eficácia a zero, o que
representaria uma violenta frustração da vontade constituinte”.
O direito das mulheres que sofrem com a brutal e covarde
violência doméstica e familiar deve ser objeto de prestações positivas do Estado, ultrapassando as
meras promessas de implementação de políticas sociais, efetivando, em nível máximo, a proteção
emanada da Constituição.
Rua Boa Vista, 103, 10º andar, São Paulo, SP,CEP 01014000, Telefone: (11) 3101 0155 ramal 233/238,
Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher
Quantas mulheres de Jacareí precisarão ainda ser mutiladas,
violentadas, agredidas e mortas, para que o Poder Público rompa sua degradante inércia, criando e
mantendo um local digno e seguro que proteja as vítimas de violência doméstica e familiar?
Certamente, não haverá inauguração ou descerramento de
placas, dado o caráter sigiloso da localização da casa abrigo, entretanto, muitas vidas poderão ser
salvas.
Por derradeiro, para que não pairem dúvidas, antecipamos o
inevitável debate acerca da violação do princípio da separação dos poderes, cantinela também
recorrente, que tenta justificar a impossibilidade de o Judiciário imiscuir-se nos assuntos
administrativos.
Da Não violação ao Princípio da Separação dos Poderes
A função jurisdicional tomou relevo inigualável com o advento
da Constituição de 1988.
O direito fundamental de acesso ao poder judiciário, é o
sustentáculo do Estado Democrático de Direito.
A eficácia plena e a aplicabilidade imediata dos direitos
fundamentais e sociais é o instrumento democrático para o substancial alcance dos objetivos
fundamentais da República Federativa do Brasil, sobretudo a realização plena do respeito à
dignidade do ser humano.
Por conta disso, no cerne da aplicação dos princípios
estruturais do neoconstitucionalismo, impõe-nos alguns questionamentos, tais como: é possível
relegar os direitos fundamentais da pessoa humana com escopo de preservar o dogma da separação
dos poderes? Como proceder em aplicar os direitos fundamentais quando sua aplicação fica adstrita
Rua Boa Vista, 103, 10º andar, São Paulo, SP,CEP 01014000, Telefone: (11) 3101 0155 ramal 233/238,
Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher
ao campo arbitrário do executivo ou legislativo? A quem realmente vincula os direitos
fundamentais?
As respostas a essas questões tornam-se cristalinas ao
percebemos que a teoria constitucional da tripartição de funções não possuiu, hoje, o poderio de
ditar as formas de aplicação da Constituição. Esta, por meio do Poder Constituinte, fixou os modos e
as medidas de sua própria aplicação, instituindo-as como pilares monolíticos do sistema
jurisdicional-político vigente.
Dessarte, se é verdadeiro que não pode o judiciário substituir
o administrador público, não menos verdadeiro é o fato de que não pode o administrador se
transformar em legislador negativo, “revogando” tacitamente, por sua perene inação, dispositivos
legais discutidos, votados e aprovados pela Casa do Povo, como verificado na espécie.
O dogma da separação dos poderes envereda, hoje, na ideia
de independência e não intervenção na esfera de competências dos poderes entre si. As funções
atípicas dos poderes são postulados consagrados no nosso quadro constitucional.
É com maestria que o Eminente Ministro Eros Roberto Grau14 afirma:
“O juiz não é, tão somente, (...), a boca que pronuncia as palavras da lei.
Está, ele também, tal qual a autoridade administrativa – e, bem assim, o
membro do Poder Legislativo -, vinculado pelo exercício de uma função,
isto é, de um poder-dever. Neste exercício, que é desenvolvido em clima de
interdependência e não de independência de Poderes, a ele incumbe,
sempre que isso se imponha como indispensável à efetividade do direito,
integrar o ordenamento jurídico, até o ponto, se necessário, de inová-lo
primariamente. O processo de aplicação do direito mediante a tomada de
decisões judiciais, todo ele – aliás – é um processo perene de recriação e
mesmo de renovação (atualização) do direito. Por isso que, se tanto se 14 Apud CUNHA JÚNIOR, Dirley da. A Efetividade dos Direitos Fundamentais Sociais e a Reserva do Possível in Leituras Complementares de Constitucional – Direitos Fundamentais. Salvador: Jus Podivm, 2007, 2° edição, p. 401.
Rua Boa Vista, 103, 10º andar, São Paulo, SP,CEP 01014000, Telefone: (11) 3101 0155 ramal 233/238,
Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher
tornar imprescindível para que um direito com aplicação imediata
constitucionalmente assegurada possa ser exeqüível, deverá o Poder
Judiciário, caso por caso, nas decisões que tomar, não apenas reproduzir
direito – evidentemente retido pelos princípios jurídicos”.
Não há que se falar, portanto, em impossibilidade de
intervenção do Judiciário na questão dado o princípio da separação dos poderes, vez que no estado
democrático de direito, todos, inclusive o Estado-Administração, se submetem à jurisdição.
DA TUTELA ANTECIPADA DE URGÊNCIA
Conforme já cediço nem se argumente que o fornecimento de
auxílio em pecúnia para que a vítima alugue um imóvel ou a locação de um imóvel pelos entes
demandados para as mulheres nesta situação constitui programa de proteção adequado definitivo
para as mulheres, pois esta solução, que será requerida em caráter provisório até a implementação
da casa abrigo, já que não há qualquer política pública adequada no município de acolhimento , é
ideal para as mulheres que não se encontram em risco de morte e não têm para onde ir, mas que
se revela inócua, para aquelas mulheres que têm sua existência ameaçada pelo agressor.
Contudo, até que seja implementado a Casa –Abrigo há de ser
adotada uma política pública alternativa transitória por meio da disponibilização de: 1) Auxílio em
pecúnia suficiente para aluguel de um imóvel ou 2) A locação de um imóvel pelos entes
demandados, para todas as mulheres , que necessitem de abrigamento e acolhimento provisório,
acompanhadas ou não de seus filhos, em situação de risco de morte ou ameaça em razão da
violência doméstica ou familiar, causadora de lesão, sofrimento físico, psicológico ou dano moral,
mediante solicitação do Poder Judiciário, Ministério Público, Defensoria Pública, Delegacia de
Defesa da Mulher de Jacareí (DDM/ __________ ) ou solicitação direta da vítima, até que a
desnecessidade do abrigamento ou acolhimento provisório seja constatada por equipe
multidisciplinar responsável pelo atendimento da mulher no Município de Jacareí (que atualmente
é o CREAS - Centro de referência especializado de assistência social.
Rua Boa Vista, 103, 10º andar, São Paulo, SP,CEP 01014000, Telefone: (11) 3101 0155 ramal 233/238,
Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher
A solicitação pelo Poder Judiciário, Ministério Público,
Defensoria Pública, Delegacia de Defesa da Mulher de Jacareí (DDM/JACAREÍ) ou solicitação direta
da vítima tem como fundamento o inciso I, do artigo 8º, da Lei 11340/06 que estabelece como
diretriz da política pública que visa coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher: a
integração operacional do Poder Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública com as
áreas de segurança pública, assistência social, saúde, educação, trabalho e habitação.
A necessidade de atendimento liminar e provisório desta
política é patente, porquanto evidente que não há CASA ABRIGO DE ACOLHIMENTO PROVISÓRIO
em __________, nem QUALQUER política pública adequada para as mulheres para o acolhimento
provisório.
A antecipação da tutela depende dos requisitos estampados no
art. 300 do Código de Processo Civil, quais sejam, o perigo de dano e a probabilidade do direito.
No presente caso está cabalmente demonstrado, em grau de
cognição sumária, conforme documentos que acompanham a presente inicial, a existência de
provas a conferir veracidade às afirmações tecidas, especialmente no que a necessidade de
atendimento provisório por meio de programa alternativo, provisório e liminar.
A antecipação de tutela vem ao encontro da necessidade de
transpor dois obstáculos à adequada entrega da prestação jurisdicional, a saber, a duração e o custo
do processo, que, como é evidente, fazem-se sentir de forma muito mais intensa no caso daqueles
economicamente menos favorecidos.
Assim, num primeiro momento, teve o legislador, a intenção
de resguardar situações de urgência. Daí porque, por exemplo, o Código de Processo Civil permite a
antecipação de tutela quando houver perigo de dano.
Conforme palavras de Antônio Santos Abrantes Geraldes:
“Entre uma decisão, porventura mais segura, mas tardia e outra, mais célere e eficaz, apesar de
Rua Boa Vista, 103, 10º andar, São Paulo, SP,CEP 01014000, Telefone: (11) 3101 0155 ramal 233/238,
Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher
fundada num critério de julgamento menos rigoroso e, por isso, potenciador de maiores riscos de
insegurança, o legislador não hesitou em dar prevalência à celeridade, em situações em que os
prejuízos emergentes da demora do processo definitivo superem os que resultem da concessão da
medida cautelar”.15
Afirma Bedaque que: “Em substituição ao longo processo de
cognição plena, com todas as garantias a ele inerentes, surge a idéia de uma tutela mais rápida, com
cognição limitada, que possibilite à parte obter antecipadamente o resultado da atuação
jurisdicional. Afirma-se, mesmo, que o futuro do processo civil será dominado pelos provimentos
urgentes e provisórios”.16
Excelência, soa inegável estar previsto na Constituição Federal,
no artigo 5º, inciso XXXV, tanto a proteção contra a lesão de direito, restaurando-o, como em face da
ameaça, o que, de fato, abrange as medidas antecipatórias de tutela e as ações cautelares.
A antecipação da tutela prescinde da certeza e segurança
resultante de uma tutela lastreada em cognição plena e exauriente. Exatamente por isso, a decisão
antecipatória de tutela pode ser modificada ou revogada a qualquer tempo.
Assim, a tutela antecipada pode ser deferida em face de prova
inequívoca do direito perseguido, sendo imprescindível, ainda, o convencimento do juiz acerca da
verossimilhança do pedido, o que, aliás, exige a máxima probabilidade do direito da parte que pugna
por esta espécie de provimento. Sobre o tema vale aqui registrar o magistério de Ernane Fidélis dos
Santos:
"As condições gerais da antecipação são a existência de prova inequívoca e
o convencimento do juiz da verossimilhança da alegação, isto é, da
procedência do que se pede. Prova inequívoca não é prova pré-constituída,
mas a que permite, por si só ou em conexão necessária com outras também
15 Temas da reforma do processo civil. Coimbra: Almedina, 1998. V. III, p. 87 (procedimento cautelar comum). 16 José Roberto dos Santos Bedaque. Tutela cautelar e tutela antecipada: tutelas sumárias e de urgência (tentativa de sistematização). 4ª Ed. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 119.
Rua Boa Vista, 103, 10º andar, São Paulo, SP,CEP 01014000, Telefone: (11) 3101 0155 ramal 233/238,
Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher
já existentes, pelo menos em juízo provisório, definir o fato, isto é, tê-lo por
verdadeiro. Exemplos: a qualidade de funcionário público do autor com a
respectiva declaração do direito pleiteado, a prova contratual do negócio e
dos efeitos reclamados, a transcrição provando a propriedade, o acidente
informado por exame pericial com o cálculo dos danos, a lesão por auto de
corpo de delito etc. A antecipação pode ser dada a qualquer momento do
processo, mas, se não houver prova inequívoca, isto é, a que, desde já e por
si só, permita a compreensão do fato, com juízo de certeza, pelo menos
provisória, não será possível, mormente quando o entendimento do juiz
dependa da colheita de outros elementos probatórios, para, depois, em
análise do conjunto, extrair a conclusão. Por isso é que se afasta, na
antecipação, para tal fim, qualquer possibilidade de justificação prévia. No
processo cautelar, para a concessão da cautela, exige-se apenas o fumus
boni iuris, isto é, a simples possibilidade de ser a pretensão satisfeita. Na
antecipação, há de haver verossimilhança, isto é, juízo de convencimento
da definição jurídica pleiteada, apenas que não definitivo. Por isso não se
diz apenas verdadeiro (vero), mas verossímil.(...)" ( Manual de Direito
Processual Civil. vol. 1. 9ª Ed. Saraiva. p. 345/346).
No presente caso, mostra-se plenamente cabível tal medida,
salientando que se não decidida com a primazia do princípio da celeridade e efetividade da
prestação jurisdicional, é passível a ocorrência de danos irreparáveis ou de difícil reparação pela
demora do julgado, podendo culminar sequelas irreversíveis às mulheres vítimas de violência
doméstica que necessitam de acolhimento provisório para afastar-se do ciclo de violência e salvar
suas vidas.
A probabilidade do direito encontra-se em toda
fundamentação acima exposta.
Dessa forma, é de se conceder a TUTELA ANTECIPADA DE
URGÊNCIA a fim de determinar, improrrogavelmente, de forma liminar, provisória e solidária, até a
Rua Boa Vista, 103, 10º andar, São Paulo, SP,CEP 01014000, Telefone: (11) 3101 0155 ramal 233/238,
Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher
implementação de Casa- Abrigo, que o Município de __________ /SP e o Estado de São Paulo,
disponibilizem política pública consistente em:
1) Um Auxílio em pecúnia suficiente para que todas as mulheres, que
necessitem de abrigamento e acolhimento provisório, acompanhadas ou
não de seus filhos, em situação de risco de morte ou ameaça em razão da
violência doméstica ou familiar, causadora de lesão, sofrimento físico,
psicológico ou dano moral, aluguem um imóvel, mediante solicitação do
Poder Judiciário, Ministério Público, Defensoria Pública, Delegacia de
Defesa da Mulher de Jacareí (DDM/__________ ) ou solicitação direta da
vítima até que a desnecessidade do abrigamento ou acolhimento
provisório seja constatada por equipe multidisciplinar responsável pelo
atendimento da mulher no Município de Jacareí (que atualmente é o
CREAS - Centro de referência especializado de assistência social).
OU;
2) Um pagamento, na qualidade de locatários, de um imóvel, e ceda
gratuitamente, à todas as mulheres, que necessitem de abrigamento e
acolhimento provisório, acompanhadas ou não de seus filhos, em situação
de risco de morte ou ameaça em razão da violência doméstica ou familiar,
causadora de lesão, sofrimento físico, psicológico ou dano moral, mediante
solicitação do Poder Judiciário, Ministério Público, Defensoria Pública,
Delegacia de Defesa da Mulher de Jacareí (DDM/__________ ) ou
solicitação direta vítima até que a desnecessidade do abrigamento ou
acolhimento provisório seja constatada por equipe multidisciplinar
responsável pelo atendimento da mulher no Município de Jacareí (que
atualmente é o CREAS - Centro de referência especializado de assistência
social).
Rua Boa Vista, 103, 10º andar, São Paulo, SP,CEP 01014000, Telefone: (11) 3101 0155 ramal 233/238,
Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher
Sob pena de cominação de multa diária, em caso de
descumprimento, a ser fixada prudentemente por Vossa Excelência, sem prejuízo de outras sanções
penais, administrativas e processuais cabíveis;
Por todo o exposto, é a presente para requerer:
DOS PEDIDOS
1) A antecipação dos efeitos da TUTELA ANTECIPADA
DE URGÊNCIA a fim de determinar, improrrogavelmente, de forma liminar, provisória e solidária,
até a implementação de Casa- Abrigo, que o Município de __________ /SP e o Estado de São Paulo,
disponibilizem política pública consistente em:
A) Um Auxílio em pecúnia suficiente para que todas as mulheres, que
necessitem de abrigamento e acolhimento provisório, acompanhadas
ou não de seus filhos, em situação de risco de morte ou ameaça em
razão da violência doméstica ou familiar, causadora de lesão,
sofrimento físico, psicológico ou dano moral, aluguem um imóvel,
mediante solicitação do Poder Judiciário, Ministério Público, Defensoria
Pública, Delegacia de Defesa da Mulher de Jacareí (DDM/JACAREÍ) ou
solicitação direta da vítima, até que a desnecessidade do abrigamento
ou acolhimento provisório seja constatada por equipe multidisciplinar
responsável pelo atendimento da mulher no Município de Jacareí (que
atualmente é o CREAS - Centro de referência especializado de
assistência social).
OU;
B) Um pagamento, na qualidade de locatários, de um imóvel, e ceda
gratuitamente, à todas as mulheres, que necessitem de abrigamento e
acolhimento provisório, acompanhadas ou não de seus filhos, em
Rua Boa Vista, 103, 10º andar, São Paulo, SP,CEP 01014000, Telefone: (11) 3101 0155 ramal 233/238,
Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher
situação de risco de morte ou ameaça em razão da violência doméstica
ou familiar, causadora de lesão, sofrimento físico, psicológico ou dano
moral, mediante solicitação do Poder Judiciário, Ministério Público,
Defensoria Pública, Delegacia de Defesa da Mulher de Jacareí
(DDM/__________) ou solicitação direta da vítima, até que a
desnecessidade do abrigamento ou acolhimento provisório seja
constatada por equipe multidisciplinar responsável pelo atendimento
da mulher no Município de Jacareí (que atualmente é o CREAS -
Centro de referência especializado de assistência social).
Sob pena de cominação de multa diária, em caso de
descumprimento, a ser fixada prudentemente por Vossa Excelência, sem prejuízo de outras sanções
penais, administrativas e processuais cabíveis;
2) Que os entes demandados, dando corpo aos
comandos contido nos artigos 23 e 35 da Lei 11.340/06, bem como aos preceitos constitucionais
invocados, sejam condenados na obrigação de implementarem, em prazo não superior a 180 dias,
contados da consolidação da próxima Lei Orçamentária Anual (2017), Casa- Abrigo de Acolhimento
Provisório, para mulheres de __________, acompanhadas ou não de seus filhos, em situação de
risco de morte ou ameaças, em razão da violência doméstica ou familiar, causadora de lesão,
sofrimento físico, psicológico ou dano moral, em local seguro, adequado e mantido em sigilo,
dotado de equipe multidisciplinar especializada nesse tipo de atendimento, respeitados ainda as
delineações previstas na Resolução nº. 109 de 11 de novembro de 2009, pelo Conselho Nacional de
Assistência Social (CNAS), garantindo-se ainda a participação e controle social na implementação
da política pública, ora requerida, sob pena de cominação de multa diária, em caso de
descumprimento, a ser fixada prudentemente por Vossa Excelência, sem prejuízo de outras sanções
penais, administrativas e processuais cabíveis;
3) A citação pessoal dos réus, nas pessoas de seus
representantes legais para, querendo, apresentarem defesa técnica, sob pena de incorrerem nos
Rua Boa Vista, 103, 10º andar, São Paulo, SP,CEP 01014000, Telefone: (11) 3101 0155 ramal 233/238,
Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher
efeitos da revelia, bem como a intimação do Município e do Estado para cumprimento da eventual
liminar.
4) A intimação do órgão do ministério público para
todos os termos do presente, em obediência ao art. 5º, § 1º da lei 7.347/85.
5) Pretende provar o alegado por todos os meios de
prova em direito admitidos, especialmente documental suplementar, testemunhal, estudo social e
pericial, caso necessário.
6) Sejam os réus condenados ao pagamento das custas
processuais, honorários advocatícios e demais cominações legais em favor da Escola Superior da
Defensoria Pública do Estado;
7) A observância às prerrogativas insculpidas nos artigos
186 do Código de Processo Civil, a saber: intimação pessoal e prazo em dobro para a prática de todos
os atos processuais.
Atribui-se à causa o valor de R$ 100.000,00 (cem mil Reais).
Nestes termos, pede deferimento.
Cidade, data.
______________________________________
DEFENSOR PÚBLICO
Rua Boa Vista, 103, 10º andar, São Paulo, SP,CEP 01014000, Telefone: (11) 3101 0155 ramal 233/238,