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A dúbia exclusão de jovens do interior
Grazielle Betina Brandt
Sílvio Marcus de Souza Correa
Para quem trabalha com o desenvolvimento local e
regional no Brasil, o êxodo rural é um tema freqüente nos
debates e acusa, geralmente, o esvaziamento em certas
comunidades rurais de seus jovens. Embora a intensidade
dos fluxos migratórios tenha uma relação com a economia
das localidades rurais, a migração de jovens do interior não
se reduz às desigualdades de chances entre o meio rural e o
urbano. A exclusão dos jovens do interior não é apenas um
problema de ordem estrutural. Trata-se também de uma
questão cultural atrelada à lógica da ocupação e transmissão
fundiária e à sua organização sócio-econômica (Brumer et al.
2002).
A atual exclusão de jovens do interior tem a acumulação
flexível (Harvey, 1992) como contexto. Trata-se igualmente
de um desdobramento de difícil diagnóstico da “privatização”
de certos territórios (Reboratti, 2002) com implicações no
presente e no futuro dos jovens do meio rural. Os
desdobramentos do processo de desenvolvimento regional
“globalizado” em certos territórios têm sido alvo de
pesquisas em diversas áreas como a economia (Graziano da
Silva, 1994), a geografia (Etges, 2001) e a sociologia
(Brumer et al., 2002).
A literatura especializada revela que a exclusão social do
jovem na hinterlândia brasileira também difere conforme a
matriz histórica de cada região e está ligada às
transformações territoriais contemporâneas que “globalizam”
algumas regiões em detrimento de outras. Neste contexto de
desigualdade regional pode-se analisar o fenômeno da
exclusão dos jovens do interior através do modelo de
ajustamento da oferta e da procura de trabalho (labor-force
adjustement model) entre regiões. Conforme este modelo,
uma parte da população economicamente ativa de uma
região migra para uma outra, se seus salários e/ou suas
chances e condições de trabalho forem melhores do que na
região de origem (Han 2000, p.173). Mas o aumento da
oferta de mão-de-obra interfere nos salários e nas condições
empregatícias existentes e pode tornar uma região menos
atraente. Assim, uma região pode ter a evasão de mão-de-
obra estancada se os atrativos (pull factors) diminuírem
alhures ou se ela ter seus próprios atrativos incrementados.
Trata-se da função de equilíbrio da migração da força de
trabalho em termos de mercado inter-regional.
Diferente desta dinâmica cíclica do labor-force
adjustement model, o modelo centro-periferia da migração
acusa a desigual realidade política e econômica inter-regional
como responsável pela manutenção ou aumento das
disparidades regionais. Para Ghosh (1996, p.83), a evasão
de força de trabalho de regiões estagnadas influencia
negativamente o seu desenvolvimento econômico e suas
perspectivas. A concentração do capital humano em certas
áreas de uma região pode não apenas provocar um
desequilíbrio intra-regional, mas também inter-regional. Se o
desenvolvimento de certas localidades ocorre em detrimento
de outras vizinhas, a tendência para uma migração,
geralmente caracterizada pelo flight from land, aumenta.
Isso porque os indivíduos potencialmente migrantes
procuram localidades que possam corresponder às suas
expectativas pessoais e/ou profissionais. Trata-se da
convergência entre suas ambições pessoais e representações
construídas e/ou adquiridas sobre o lugar de destino. As
representações, no entanto, são construções individuais e
coletivas oriundas de diversas informações sobre chances de
ocupação no mercado de trabalho e custos com mudança, de
moradia e de vida.
Mas mesmo em regiões “globalizadas”, com economias
agro-exportadoras e de modernos pacotes tecnológicos, a
exclusão dos jovens se apresenta igualmente. Resta saber se
2
2
o atual êxodo rural, principalmente de jovens, acusa uma
nova forma de organização sócio-econômica do meio rural na
qual o monopólio tecnológico das empresas agro-
exportadoras contribui significativamente para a exclusão
destes jovens. Estes “excluídos do interior” tentam cumprir
na cidade com o seu destino prometeico de se apoderar
daqueles conhecimentos e de um modo de vida que não lhes
foram acessíveis no meio rural. Assim, a emigração da
hinterlândia não estaria ligada apenas à procura de uma
melhor ocupação, mas também de um outro modo de vida
(Roy, 1992).
A migração de jovens do interior tem sido estudada em
países setentrionais de grande extensão geográfica como o
Canadá (Roy, 1992; Camiré et al., 1994; Cote, 1997;
Gauthier, 1997). Também em países sul-americanos com
diferentes extensões territoriais e diversos modos de
ocupação como Paraguai (Spindola, 2002), Chile (Donoso,
2002), Uruguai (Romero, 2002), Argentina (Nuñez, 2002) e
Brasil (Brumer et al., 2002), estudos recentes têm
contribuído para compreender os impasses enfrentados pela
juventude rural.
A partir do contexto latino-americano, elegemos como
estudo de caso a região da fumicultura no Brasil meridional
para, através de uma análise secundária dos dados do
Instituto Souza Cruz, buscar compreender a percepção de
exclusão/inclusão dos jovens rurais. Acreditamos que a
decisão de migrar seja um processo racional que não ocorre
subitamente, mas sim de forma gradual em que vários
fatores interferem desde aqueles intrafamiliares como
aqueles externos à família. Desse modo, nossa análise visa
apontar para latentes descontentamentos dos jovens de
famílias fumicultoras do Brasil meridional que podem
contribuir para a decisão de migrar e, por conseguinte, de
(auto-) exclusão do interior. No que concerne à exclusão
dos jovens de famílias fumicultoras, pretendemos igualmente
avaliar a interferência das multinacionais na reprodução
social dos fumicultores através do impacto do programa “o
futuro é agora”. 1
Tradição e modernidade na fumicultura
A região do Vale do Rio Pardo apresenta a maior área de
cultivo de fumo no Estado do Rio Grande do Sul com cerca
de 60% da sua produção destinada à exportação.2 Além do
grande envolvimento da sua área e população agrícola com a
fumicultura, em três cidades (Santa Cruz do Sul, Vera Cruz e
Venâncio Aires) estão concentradas algumas das principais
empresas multinacionais onde ocorrem o beneficiamento,
armazenamento e comercialização do fumo. Assim, a cadeia
produtiva da agroindústria fumageira na região envolve
trabalhadores rurais e urbanos interligando igualmente este
mercado (regional) com os mercados nacional e
internacional.
Embora sem drástica alteração na estrutura minifundiária
e no regime de trabalho familiar, a interferência empresarial
na fumicultura desarticulou algumas tradicionais formas
cooperativas de trabalho ao tratar isoladamente com os
produtores. Os fumicultores contam hoje apenas com dois
tipos tradicionais de mão-de-obra: os familiares
(recrutamento interno) e os Knechter (recrutamento
externo), geralmente, provenientes da vizinhança. Em
ambos os casos, a população juvenil é a mais recrutada. No
caso do recrutamento interno, porém, os jovens ocupam
1 O programa “o futuro é agora” é um investimento na área social que se
caracteriza pela ação em conjunto de entidades representativas das indústrias e dos produtores de fumo (Sindifumo e Afubra). 2 Com base no Anuário Brasileiro do Fumo (2001:10), o Estado do Rio Grande do Sul aparece como o maior produtor de fumo no Brasil. Dados do Sindicato da Indústria do Fumo (SINDIFUMO) apontam a fumicultura presente em 680 municípios dos Estados meridionais do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Ela é uma atividade econômica que envolve cerca de 150 mil famílias de pequenos agricultores, garantindo a ocupação de mais de 750 mil pessoas no meio rural.
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certas funções que variam conforme o gênero. Em geral, as
meninas ocupam funções domésticas que permitem liberar
as mulheres adultas (mãe, tia, avó) para o plantio, colheita,
triagem ou secagem do fumo. Já os meninos ocupam
funções diretas na fumicultura. Preferencialmente são
também meninos os que se recrutam externamente quando
necessário.
Apesar dessas relações de trabalho tradicionais e da
existência de uma associação nacional dos fumicultores
(Afubra), as modernas formas contratuais vigentes entre
produtores e empresas contribuem para uma desarticulação
dos produtores enquanto grupo sócio-profissional e, por
conseguinte, para uma perda de autonomia.3
Exemplo da perda de autonomia é a intervenção recente
das empresas fumageiras na erradicação do trabalho infantil
através do programa “o futuro é agora” que pode servir de
catalisador da exclusão de jovens do interior. Ao contrário do
que preconizam os organizadores do programa, a
erradicação do trabalho infanto-juvenil na fumicultura acaba
por impedir o aprendizado dos jovens agricultores pela via
tradicional, comprometendo mesmo a reprodução social dos
fumicultores.
Não se trata aqui, obviamente, de defender o trabalho
infanto-juvenil, mas de conjeturar sobre a exclusão imediata
dos jovens do processo produtivo e a exclusão longo prazo
que pode representar a obstrução de sua formação
tradicional enquanto agricultor. Para aqueles que, durante
sua juventude, não foram a campo aprender a faina agrícola,
3 Nas últimas décadas do século XX, as análises de viés marxista (Etges 1991, Vogt 1997, Silveira 1997) acentuaram a perda de autonomia dos fumicultores e os desdobramentos sócio-espaciais para a região do Vale do Rio Pardo. A partir do approach de Wallerstein para análise econômica do sistema mundial, Zündorf (1998) demonstrou com acuidade as relações interorganizacionais entre países periféricos e centrais envolvidos com a economia internacional do fumo.
a falta desse conhecimento empírico pode redundar numa
(in)voluntária urbanidade.
Mas se o flight from land era freqüentemente analisado
sob uma ótica mecanicista, na qual o meio rural apresentava
uma série de push factors enquanto o meio urbano pull
factors à migração, sabe-se hoje que as cidades apresentam
suas hordas de favelados, muitos deles “excluídos do
interior”. A exclusão não é um apanágio da hinterlândia.
Então, como compreender a intermitente emigração de
jovens rurais frente às agruras urbanas?
No século XX, o êxodo rural teve sua lógica vinculada à
modernização do Brasil que – através do binômio da
urbanização/industrialização – havia promovido uma grande
migração interna. Atualmente ela é impelida não somente
pela força da tradição, mas também pela modernização
presente no meio rural. Se a modernização urbana havia
atraído parcelas da população rural, hoje é a modernização
da agricultura, especialmente exportadora, que expulsa
aqueles alienados das novas tecnologias ou lhes impõe
relações de trabalho subalternas (Gnaccarini, 1993). A
modernização conservadora do campo não favoreceu a
democratização da agricultura seja no que se refere ao
acesso à propriedade ou às novas tecnologias e maquinários.
Agricultores sem condições de competir no mercado do
agrobusiness tendem a buscar novas ocupações profissionais
não-agrícolas que implicam em pluriatividade (Graziano da
Silva, 1999) e, em muitos casos, na migração para a cidade
ou a continuar sua agricultura tradicional e defasada
tecnologicamente que lhe condiciona não mais que a
subsistência.
Além do gap tecnológico e da falta de condições para um
desenvolvimento rural sustentável, outras limitações
objetivas do meio rural (sucessão fundiária ou parcelamento
da propriedade familiar etc) comprometem o devir
profissional dos jovens agricultores que deixam, muitas
vezes, a pobreza rural pela urbana.
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Deve-se destacar, no entanto, uma dicotomia equivocada
que se tem para a representação do urbano e do rural e que
está presente não apenas no imaginário juvenil (LeBlanc,
2000), mas também nas próprias origens do pensamento
sociológico (Martins, 2001). Desde Marx houve uma
preferência pelas transformações sociais no meio urbano.
Marx não poupou críticas à peasant culture tal como na
ruidosa expressão Idiotismus des Landlebens. Atualmente,
há duas visões antagônicas sobre o rural em que uma
(Veiga, 2000; Martins, 2001) acusa essa antevisão marxiana
equivocada sobre a urbanização do campo, enquanto outra a
defende (Graziano da Silva, 1999; Soto, 2002). Como
ressaltou Schrader (2001, p.31), cientistas sociais a serviço
de uma política de desenvolvimento associaram a peasant
culture a atitudes apáticas, recalcitrantes às inovações e
conservadoras. Martins (2001, p.07) sentencia, por seu
turno, a sociologia rural por ter se deixado seduzir pelo
engodo da promissora modernização econômica enquanto
antecâmara da modernização social e do bem estar das
populações rurais ou ruralizadas.
Tendo a modernidade como paradigma e explicitada no
binômio da urbanização/industrialização, a representação do
meio rural foi, em geral, antagônica do meio urbano. Como
acusa Martins (2001, p.06), “o mundo rural tornou-se objeto
de estudo e de interesses dos sociólogos rurais pelo „lado
negativo‟, por aquilo que parecia incongruente com as
fantasias da modernidade. Não por aquilo que as populações
rurais eram e, sim, por aquilo que os sociólogos gostariam
que elas fossem”.
A partir dessa visão dicotômica entre o rural e o urbano,
o primeiro foi visto como tradicional e o segundo como
moderno. A cultura urbana seria dinâmica, criativa e
inovadora enquanto a peasant culture se apresentaria como
estática, repetitiva e conservadora. A cultura urbana estaria
associada à escrita enquanto aquela campônia à tradição
oral. A representação dicotômica entre o rural e o urbano
pode ser observada na tabela abaixo estruturada a partir da
caracterização antagônica para sociedades tradicionais e
modernas de Lepsius (1977).
Dimensão Sociedade
tradicional
Sociedade moderna
Estrutura social Homogênea Heterogênea
Controle social Direto Indireto
Sistema
normativo
Consistente Inconsistente
Recrutamento Atribuído Adquirido
Inovações
técnicas
Poucas Muitas
Setor econômico Agrário Industrial
Ocupação
espacial
Rural Urbana
Forma social Comunitária Societária
Participação
política
Baixa Alta
Comunicação Pessoal
Direta
Impessoal
c/ intermediação
Como já ressaltou Oliven (1988, p.30-31), a teoria da
modernização visou justificar o desenvolvimento de certas
sociedades (=modernas) e o subdesenvolvimento de outras
(=tradicionais) tendo as diferenças culturais como
responsáveis pelas suas diferenças econômicas e sociais.
Esse dualismo (tradição/modernidade) corresponderia à
mesma lógica do binômio Gemeinschaft/Gesellschaft de
Tönnies ou do continuum rural-urbano de Redfield que
redundou numa compreensão do mundo rural e agrícola
como antípoda do urbano. Tal dicotomia enquanto forma de
etnocentrismo ocidental foi primorosamente analisada por
Hauser (1975). Assim, algumas instituições, como a escola,
foram vistas como apanágios urbanos. Dessa forma, o
5
5
incremento das redes de comunicação, ensino e transporte
no meio rural foi visto equivocadamente como “urbanização”
do rural. Isso não significa dizer que não há uma influência,
às vezes avassaladora, da globalização sobre a chamada
peasant culture.
Sob o manto da globalização, a escolarização e o
aprendizado de novas técnicas pelos jovens do interior
tendem a ser conditio sine qua non para sua inserção no
mercado de trabalho. No caso da fumicultura, significa que
as técnicas tradicionais transmitidas pelo pai se tornam
desfavoráveis frente à competitividade do setor agro-
exportador, o qual tem-se uma avançada tecnologia.
A desautorização dos conhecimentos empíricos dos pais pelo
know-how de técnicos agrícolas tem contribuído para acirrar
o conflito intergeracional no meio rural e, por conseguinte, a
crise da peasant culture. Tal conflito e crise colocam em
xeque o próprio poder anteriormente atribuído ao
proprietário rural, pois como observou Dahrendorf (1959,
17), o poder do proprietário rural não se baseava no fato de
ter ele dinheiro, terra ou prestígio, mas no fato de ser ele um
proprietário rural como seus ancestrais o haviam sido desde
tempos imemoriais.
No que tange aos fumicultores do Brasil meridional,
suas estratégias de reprodução social e sua imobilidade
social se defrontam com a atual interferência das
multinacionais na erradicação do trabalho infantil e juvenil.
Para os jovens, além do conflito entre o tradicional e o
moderno que a erradicação do trabalho infantil e juvenil
representa, tem-se ainda uma singularidade, ou seja, o
acirramento do complexo de castração simbólica que
representa a atuação dos técnicos. Submetidos não apenas à
tradicional autoridade paterna, mas também a uma moderna
tecnocracia alienígena, os jovens têm poucas chances de
autonomia no meio rural.
Mais do que melhores chances de emprego ou aspiração de
ascensão social, os jovens impelidos para as cidades têm
como principal push factor de sua (auto-) exclusão do
interior o mal-estar provido pela modernização do rural e
pela tradição da peasant culture. Com base nos dados do
Instituto Souza Cruz relativos ao censo realizado em 2000
pela Vox Populi, 52% dos jovens entrevistados (filhos de
fumicultores) responderam que – se pudessem escolher –
sairiam do campo. Em relação ao gosto pela atividade rural,
a tabela abaixo demonstra uma percepção diferenciada entre
produtores rurais e seus filhos.
O quanto gosta
da atividade
rural?
Filhos de
produtores
Produtores rurais
Muito/demais 29,2% 61,5%
Mais ou menos 45,9% 28,6%
Nada/pouco 24,7% 9,7%
Não respondeu 0,2% 0,2%
Total 100% 100%
Um dos motivos para a distinta percepção da
atividade rural entre gerações e da forte tendência a migrar
por parte dos jovens da hinterlândia é a sua escolarização
superior aquela dos pais. Embora a juventude rural
apresente uma curta trajetória escolar, esta já lhe incita
maiores aspirações em relação à geração anterior,
principalmente no que concerne à mobilidade social. A
mobilidade social implica, muitas vezes, numa mobilidade
espacial, ou seja, migrar para a cidade. Para os jovens
entrevistados, no entanto, a questão do trabalho, seja no
meio rural ou urbano, se mostrou como indubitável via de
inclusão. Em relação ao trabalho de menores de 16 anos, a
tabela abaixo mostra que – mesmo tendo uma postura
diferenciada daquela dos pais – os jovens manifestam uma
tímida tendência em prol da erradicação do trabalho infanto-
juvenil.
6
6
Favorabilidade ao
trabalho de
menores de 16
anos
Filhos de
produtores
Produtores rurais
Desfavorável 23,2% 17,4%
Indiferente 49,4% 40,7%
Favorável 27,4% 41,9%
Total 100% 100%
Ainda em relação ao trabalho infantil, a tabela abaixo
demonstra que os jovens a percebem de forma distinta
conforme a faixa etária.
Favorabilidade
ao trabalho
infantil
Filhos de produtores Total
Desfavorável Indiferente Favorável
< 12 anos 38,1% 51,6% 10,3% 100%
13 a 16 anos 10,9% 58,7% 30,4% 100%
> 16 anos 3,7% 33,8% 62,5% 100%
Ainda com base nos dados do Instituto Souza Cruz, a
impressão sobre o trabalho infantil dos entrevistados
(produtores rurais e filhos) acusa uma maior indiferença
entre os jovens (66,7%) do que entre os adultos (58,7%).
Tal indiferença pode demonstrar talvez uma outra noção de
trabalho na propriedade rural, ao menos entre famílias
fumicultoras, que teria uma dimensão social importante para
a inclusão de menores de 16 anos não apenas na família,
mas na comunidade a qual pertence.
A inclusão social através do trabalho
Se para um jovem urbano a evasão escolar, em geral,
redunda na exclusão social, para um jovem do meio rural é a
negação de certas atividades domésticas que pode
comprometer sua inclusão social. A partir dos dados já
referidos, percebe-se que o trabalho de menores é, no
contexto da peasant culture, uma forma de prevenção contra
a exclusão social porque o jovem “apreende uma profissão”,
“ajuda no orçamento familiar”, “não fica ocioso” e “cria
responsabilidade”.
Mas uma campanha em prol da erradicação do
trabalho infanto-juvenil tem destaque na mídia da sociedade
hodierna. Este movimento tem como principais porta-vozes a
OIT (Organização Internacional do Trabalho) e a UNICEF
(Fundo das Nações Unidas para o Desenvolvimento da
Criança). A intenção primordial é proteger e promover os
direitos de todas as crianças, especialmente o direito à
educação gratuita e de qualidade, deixando as crianças livres
da exploração econômica e de qualquer trabalho que
prejudique seu desenvolvimento físico, espiritual, mental,
moral ou social.
No discurso destas entidades, as crianças são
percebidas como sujeitos de direitos, que precisam ser
respeitados em sua condição peculiar de pessoas em
desenvolvimento e que devem, para isto obter prioridade
absoluta, sendo a eliminação do trabalho infantil condição
fundamental para a garantia destes direitos. Contudo,
conforme mostra o estudo de Siqueira (1999), a própria OIT
reconhece o trabalho infantil como sendo um tema de difícil
compreensão, pois nem todas as sociedades utilizam os
mesmos critérios para interagir sobre o problema. Da mesma
forma, percebe-se que não existe uma distinção conceitual
clara entre o que venha a ser “trabalho infantil” em relação à
“exploração infantil”. Sob este prisma, percebemos que o
trabalho de crianças constitui-se numa escala que vai desde
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trabalhos leves e casuais até a completa exploração destas
crianças.
No polêmico debate sobre o trabalho infantil e juvenil, tem-
se uma florescência da produção acadêmica brasileira a
partir da década de 90 (Ferreira 2001). Segundo Rizzini
(1996, p.35), desde a última década há no Brasil um
confronto de posturas entre aqueles que acreditam na
precocidade da formação profissional educando a criança
pelo e para o trabalho e dos que defendem radicalmente o
fim do trabalho infantil.
Na região do Vale do Rio Pardo, uma parca produção
acadêmica local sobre o tema (Silva 2000; Hoelzel 2000)
provou que a erradicação do trabalho infantil é ainda uma
utopia. Os poucos artigos (Cadoná 2001, Hillesheim, 2001)
apresentam, por seu turno, divergências. Fruto de pesquisa
de caráter regional e realizada com crianças trabalhadoras
nas lavouras de fumo, Cadoná (2001) enfoca o trabalho
infantil enquanto necessidade inerente ao processo produtivo
desenvolvido pelas famílias. Afirma ainda que as crianças
compartilham com os pais as preocupações relativas à
produção e, por isso, sua condição infantil é tolhida pela sua
condição precocemente „adulta‟, uma vez que seu tempo de
ser criança é envolvido pelo tempo de ser adulto através da
atividade produtiva e do compromisso com o trabalho. Sua
visão dicotômica e impregnada de valores burgueses, no
sentido etimológico do termo, elimina uma componente
importante da peasant culture que é a própria função
sociológica do trabalho, através da qual todos os indivíduos,
de acordo com sua faixa etária e gênero, participam e
interagem com o grupo a qual pertencem. Já Hillesheim
(2001) mostra que, apesar das intensas campanhas de
erradicação do trabalho infantil, o trabalho parece ser algo
“incorporado” pelas crianças. Desta forma, as crianças
encaram o trabalho como uma prática educativa, pois o
brincar acontece, em muitas situações, nos mesmos espaços
e tempos do trabalho. A ponderação de Hillesheim pode
também ser endossada pelos dados da tabela abaixo:
Aspecto lúdico do trabalho na
propriedade rural
Filhos de produtores
Nada divertido 10,6%
Pouco divertido 17,2%
Mais ou menos divertido 40,3%
Divertido 24,8%
Muito divertido 6,4%
Não respondeu/não sabe 0,6%
Total 100% Base: 83,9% do total de filhos de produtores responderam a esta questão.
Conforme Hillesheim (2001, p.116), o trabalho é
considerado a partir de uma instância formativa e de
solidariedade. Assim, o trabalho infantil e juvenil na
fumicultura deve ser analisado por um viés sócio-cultural da
estrutura social camponesa destas famílias. Como salienta
Martins (1997, p.62), “o primado do trabalho é, na verdade,
o primado da família. O trabalho reproduz a família na
medida em que assegura a ampliação da propriedade na
extensão de sobrevivência de todos os seus membros. É
assegurando a existência da propriedade que o pai de família
cumpre o seu dever de garantir aos filhos a terra suficiente
para que possam, por sua vez, constituir família”.
Uma limitação da literatura local é, no entanto, o
emprego de um approach teórico prêt-à-porter sem
comprovação empírica e cuja inconsistência se verifica ao
cotejá-la com a literatura internacional (Cadima, 1995;
Zeiher, 1996; LeBlanc, 2000 Hengst, 2002), principalmente
das últimas décadas, pois diversas publicações internacionais
acusam um novo paradigma no estudo da infância. Entre
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elas, destacam-se as publicações de Allison James e Alan
Prout (1990) e Jens Qvortrup (1994).
Frente à exploração e às nefastas conseqüências de
certos trabalhos infantil e juvenil, a literatura internacional
confunde, no entanto, diversos labores desempenhados por
jovens e crianças. No Brasil, muitos trabalhos, especialmente
domésticos, foram envolvidos no turbilhão de acusações,
geralmente, baseadas no estatuto dos direitos da criança e
do adolescente em vigor há poucos anos no país. Sem muita
distinção entre labores que seguem uma lógica de
reprodução social familiar e outros que danificam física e
psicologicamente a criança, o discurso pela erradicação do
trabalho infantil tem enfatizado a necessidade de garantir à
formação escolar básica para as crianças. Porém, a
erradicação do trabalho infantil na fumicultura, imposta
através de um contrato pelas empresas aos seus
fumicultores, não trás consigo alternativas para crianças e
jovens, uma vez que já foi constatada uma falta de
condições objetivas (estabelecimentos de ensino, meios de
transporte etc.) para a continuidade da formação escolar,
especialmente de ensino médio, no meio rural
(Brandt/Correa, 2002).
Cabe destacar que a questão do trabalho infantil na
cadeia produtiva da fumicultura pode estar associada com a
preparação para um futuro profissional. Atrelando a lógica da
sucessão fundiária com a da reprodução biológica e social do
grupo familiar, o agricultor tem sobre a sua prole a
expectativa de continuidade para a qual se faz necessário o
conhecimento da faina agrícola. Assim, a criança se prepara
e se qualifica para o trabalho já no interior do núcleo
familiar, cuja residência é ao mesmo tempo local de trabalho
tal como na tradicional Bauerhof. Ao ser incluída numa
dinâmica doméstica de atividades laborais, se atribui à
criança e/ou ao jovem um lugar junto ao grupo familiar que
tem a ver com a orientação coletiva no meio rural. Ao
contrário da divisão familiar do trabalho, regida por critérios
como gênero e faixa etária e que coloca as crianças e os
jovens em relações de interdependência com o grupo, a
escolarização é um processo de acumulação de capital
cultural sem necessário atrelamento com o grupo familiar.
Em muitos casos, a escolarização pode representar uma
futura emancipação do jovem frente ao grupo familiar,
principalmente através de uma nova inserção ocupacional no
mercado de trabalho. Cabe lembrar que, no meio rural, a
capacidade laboral de um jovem é considerada um
importante vetor de reconhecimento que lhe permite
acumular um capital social para além das relações familiares,
isto é, a vizinhança e toda a sua comunidade rural. Por isso,
o fato de ser um bom aluno não basta para uma criança ou
um jovem no meio rural adquirir reconhecimento. Há de
cumprir satisfatoriamente com as demais expectativas frente
aos papéis que lhes são atribuídos pelas relações sociais que
caracterizam a agricultura familiar. Através da pesquisa
realizada pela Vox Populi (2000) se percebe o predomínio de
uma orientação coletiva do labor infanto-juvenil.
Por que uma criança vai trabalhar de
vontade própria
Filhos de
produtores
Para ocupar o tempo livre 16,3%
Seguir o exemplo dos pais 17,1%
Interesse de aprender a trabalhar 17,5%
Por gostar de trabalhar na roça 5,7%
Para ajudar os pais 26,4%
Para ter seu próprio dinheiro 0,8%
Para não ficar em casa sozinho 0%
Outros 0%
Não sabe 16,3% Base: 41,3% do total de entrevistados que foram trabalhar por vontade própria.
A tabela acima permite inferir uma dimensão social ao
labor infanto-juvenil na qual tem lugar uma relação
9
9
econômica com os pais permeada por valores e
comportamentos de socialização como, por exemplo, ocupar
o tempo livre, seguir o exemplo dos pais, interesse de
aprender a trabalhar e por gostar da roça. Estes fatores
reunidos mostram um percentual de 56,6% e revelam a
dimensão social que envolve o trabalho infanto-juvenil na
fumicultura.
Mas a simultaneidade entre estudo e trabalho não é
um apanágio dos jovens do interior do Brasil meridional,
embora Rizzini (1996, p. 51) tenha observado que as taxas
de atividade ocupacional mais elevadas de crianças e
adolescentes encontram-se no Sul do país, uma das regiões
que apresenta as melhores condições de vida no país.
Conforme análise dos dados do PNAD de 1990 o fato de boa
parte das crianças e adolescentes entre 10-17 anos
trabalharem no Sul não interfere na sua escolarização, se
comparando às demais regiões do país. No Sul, cuja
população, no geral, tem melhores condições de vida do que
a média nacional, o trabalho infantil e juvenil parece estar
mais condicionado a fatores culturais do que pela pobreza.
Não significa, contudo, minimizar a relação entre o ingresso
precoce no mercado de trabalho e a situação de pobreza de
muitas crianças e adolescentes como mostrou Alvin (1996).
Ainda sobre o universo valórico dos agricultores,
Martins (1993) apontou para as singularidades da infância no
meio rural. Ao estudar um grupo de agricultores gaúchos, na
sua maioria de origem alemã e italiana, o sociólogo percebeu
que a migração para o Mato Grosso não foi suficiente para
corroer o seu capital cultural que basicamente está
fundamentado no trabalho e na família. Sabe-se, no entanto,
que no meio rural, especialmente onde houve colonização
alemã, o trabalho infantil se caracteriza pela sua condição
extra-classe, sendo a escolarização uma prioridade histórica
da comunidade teuto-brasileira.
Desde a sua fase pioneira, a área de colonização
alemã no Rio Grande do Sul sempre apresentou índices
elevados de alfabetização. Para Santa Cruz do Sul, Kipper
(1979) demonstrou como a própria população colonial
buscou atender a demanda escolar através da auto-gestão
de instituições criadas pela própria comunidade local.
Estudar e trabalhar são atividades compatíveis no meio
colonial; aliás, trata-se de uma tendência nacional. Segundo
Pastore e Silva (2000:12), “os brasileiros começam a
trabalhar muito cedo. Entretanto, o trabalho não é obstáculo
para uma boa parcela de jovens continuarem seus estudos.
Os dados de 1996 mostraram que a maioria dos estudantes
do ensino médio conciliou trabalho com estudo durante o
curso (60%). No período noturno, essa proporção chegou a
72%”. Levison (1993, 88) também afirma que no Brasil
meridional, as taxas de emprego e freqüência escolar são
elevadas, além de ser menor a defasagem série/escola. O
trabalho, contudo, não é o motivo mais alegado para
justificar a interrupção dos estudos. Para ele, o sistema de
ensino é um dos motivos que levam os menores a
interromper seus estudos, seja por problemas ligados a rede
escolar, “a escola era longe”, “não tinha escola”, “não tinha
vaga”, e, principalmente, por situações ligadas à própria
estrutura de ensino, no que se refere a organização,
conteúdo e a didática”.
No caso específico da região da fumicultura, a maior
demanda pelo trabalho infanto-juvenil ocorre nos meses de
férias escolares; assim, a evasão escolar no meio rural tem
muito pouco a ver com a fumicultura. Os dados do censo
elaborado pelo Instituto Vox Populi (2000), também
permitem inferir que a baixa escolaridade e a evasão escolar
estão ligadas a uma deficitária infra-estrutura escolar no
meio rural. Percebe-se que a falta de escola próxima, de
maior oferta de séries pela escola mais próxima, de
transporte escolar e de vagas na escola são responsáveis por
37,5% dos motivos apontados para não freqüentar ou
continuar a freqüentar a escola. A falta de interesse dos pais
foi responsável apenas por 3,7% e a necessidade de
10
10
trabalhar (não necessariamente na fumicultura) por 16% dos
casos.
Considerando o percentual da freqüência do
cumprimento de todas as séries oferecidas pela instituição de
ensino mais próxima enquanto motivo para não freqüentar
(mais) a escola e tendo como variável de controle a faixa
etária das crianças e jovens em idade escolar, percebe-se
que a interrupção dos estudos é maior entre os
adolescentes. Dos jovens entre 14 e 15 anos, 8,5%
declararam já ter cursado todas as séries oferecidas pela
escola mais próxima. Esse percentual sobe para 10,7% entre
os adolescentes de 16 a 17 anos e para 23,1% para jovens
de 18 anos. Estes índices permitem inferir que as causas da
curta trajetória escolar da população rural são várias. Entre
elas, destaca-se a falta de escolas de ensino fundamental
completo e médio in loco. Em termos de mobilidade social,
Pastore e Silva (2000:09) comprovaram que a educação foi a
estratégia mais empregada pelos jovens urbanos para
ingressar nos postos de trabalho do mercado formal. Já no
meio rural, uma vez cursadas as séries oferecidas pela
escola local, os jovens tendem a seguir o seu “destino
social”. Trata-se aqui do peso da herança social para a (i)
mobilidade intergeracional.
Pastore e Silva (2000:55) observaram que, entre os
trabalhadores rurais no Brasil, 90% têm sua origem no
mesmo estrato sócio-ocupacional. No caso do Vale do Rio
Pardo, a limitada oferta escolar no meio rural e a iminência
de laborar, acabam por ratificar o “destino social” de muitos
jovens. Outros migram para a cidade na busca de uma
alternativa à sina campesina. A emigração de jovens acaba
desativando a vida social, econômica e cultural no meio rural
e excluindo do interior, geralmente, aqueles mais capazes,
cuja escolaridade – embora superior à média local – costuma
ser mínima ou mesmo insuficiente frente ao mercado de
trabalho urbano. Por isso, a exclusão do interior não garante
ao jovem uma inclusão urbana.
Portanto, se na cidade a escolarização serve de
indicador da capacidade de trabalho do jovem e lhe permite
uma melhor inserção no mercado de trabalho, no meio rural
a inclusão social do jovem se dá principalmente pelo
reconhecimento de sua capacidade de trabalho cujo
indicador é também o conhecimento acumulado, porém de
forma informal e não escolar. Jovens ociosos são,
geralmente, excluídos de suas respectivas famílias e
comunidades rurais ou então estigmatizados o que pode ter
diversos desdobramentos de exclusão através de recusas
(empregatícia, matrimonial, de herança etc.) pelo próprio
ingroup. Cabe lembrar que o excluído não é necessariamente
aquele que se encontra em situação de carência material,
mas pode ser aquele que não é reconhecido como sujeito
[trabalhador], sendo assim estigmatizado por uma
determinada comunidade (Nascimento, 1994).
O futuro é agora, a exclusão se faz hoje
A campanha contra o trabalho infanto-juvenil na
fumicultura surgiu sob as tempestivas campanhas
antitabagistas e na vaga dos protestos contra as formas de
trabalho compulsório no mundo contemporâneo, dos quais
as principais vítimas são crianças, mulheres e minorias
étnicas. A Junta de Curadores do Fundo Voluntário das
Nações Unidas Contra as Formas Contemporâneas de
Escravidão (Board of Trustees of the UN Voluntary Fund on
the Contemporany Forms of Slavery) e o movimento
Antislavery International estimam a população atual de
“escravos” em 200 milhões. Segundo Martins (2001:08),
essa população é vitimada pela decomposição do mundo
rural que resultou de intervenções de “engenharia social”
modernizadora.
Nesse contexto, as empresas fumageiras buscam
minimizar o desgaste de sua imagem com investimentos na
área social. A recente campanha pela erradicação do
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11
trabalho infanto-juvenil na fumicultura surgiu dessa
preocupação em preservar a imagem dessas empresas como
também em evitar possíveis boicotes internacionais ao fumo
brasileiro. Paradoxalmente, a organização econômica
baseada no regime familiar e no minifúndio, caracterizada
pela policultura, e que permitiu durante mais de um século o
baixo custo da produção do fumo e a sobrevivência das
famílias de agricultores, agora é vista como ameaça à cadeia
produtiva fumageira e à imagem desse complexo.
Apesar desse programa se mostrar em prol da
escolarização da população rural, cabe destacar o grande
equívoco da orientação etnocêntrica e dicotômica do mesmo.
Tal orientação se revela no entendimento conceitual de
certas palavras como trabalho e escolarização que não têm
necessariamente a mesma correlação no meio rural e
urbano. A educação formal (=escolar) no meio urbano é feita
muitas vezes sem uma práxis. Já no meio rural, o leque de
opções profissionais é mais reduzido e sua aprendizagem é
quase imprescindível de uma práxis. Assim, o jovem
agricultor aprende sua profissão basicamente de forma
hereditária, isto é, através do exercício da faina agrícola
junto ao seu pai que aprendera a atividade agrícola da
mesma forma.
Com a introdução do programa “o futuro é agora”, ao
fumicultor lhe é atribuído a responsabilidade de erradicar o
trabalho infantil na sua propriedade. Tal programa visa,
através das chamadas “ações de conscientização”, que os
fumicultores incorporem os valores da campanha contra as
formas de trabalho infantil. O dispositivo cultural do
fumicultor passa a ser determinado por circunstâncias
relativas às interações globais entre instituições como a OIT
e a UNICEF. O legado cultural e social da população rural fica
suscetível às manobras empresariais, elaboradas e
determinadas por causas múltiplas, resultando em conflitos
simbólicos movidos por descontentamentos culturais, sociais
e econômicos.
O trabalho infanto-juvenil na fumicultura é, portanto,
para muitas famílias uma forma de aprendizagem
profissional. A unidade produtiva da agricultura familiar não
deixa de ser uma unidade produtiva de saberes tradicionais e
distintos daqueles ensinados na escola. Atividades escolares
e domésticas são complementares na Bildung de crianças em
comunidades rurais teuto-brasileiras. Erradicar o trabalho
infantil da forma como se propõe, isto é, antecipando o
futuro é, em outras palavras, fazer hodierna a exclusão dos
jovens.
A percepção da exclusão/inclusão
A dubiedade da exclusão do interior se evidencia ao
se estudar o perfil do jovem emigrante. Percebe-se que, em
geral, são aqueles mais aptos, isto é, com uma escolarização
superior a média no meio rural, que abandonam o campo
(Abramovay 19??). Significa que quanto mais completa a
escolarização, mais o jovem tem sua expectativa frente ao
futuro aumentada. Futuro esse que não se vislumbra na
reprodução social e sim na mobilidade espacial e social, isto
é, migração para onde as chances parecem promissoras.
A análise secundária dos dados do Instituto Souza
Cruz permite inferir que a dicotomia entre o rural e o urbano
ainda está presente no jovem brasileiro tal como no jovem
canadense (LeBlanc 2000) apesar das eventuais diferenças
entre as realidades regionais (rural e urbana).
Com base nos dados já referidos, o elevado
percentual (52%) de jovens potencialmente migrantes
permite inferir uma percepção do seu milieu social e
geográfico como uma zona precária ou de exclusão (Castels
1996). A tabela abaixo demonstra a percepção dos jovens e
dos adultos frente ao futuro.
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Como será o
futuro do lugar
onde vive?
Filhos de
produtores
Produtores
Vai piorar 11,9% 21,7%
Vai ficar como
está
37,0% 29,1%
Vai melhorar 39,2% 34,8%
Não sabe 11,9% 14,5%
100% 100%
Mas não basta apenas perceber a zona de exclusão ou
a zona de precariedade onde se encontra, mas ter condições
subjetivas e objetivas para migrar. Sabe-se, contudo, que
aqueles otimistas frente ao futuro no meio rural tendem à
permanência enquanto que os pessimistas apresentam maior
predisposição para migrar, especialmente quando seu capital
cultural escolar é superior à média. Mas não seria a
escolarização uma variável explicativa ao pessimismo de
certos jovens do interior?4
Para os jovens do meio rural, o reconhecimento de
suas condições para o trabalho lhes garante uma inserção
preliminar que redunda numa inclusão quase automática à
comunidade local, porém não lhes garante uma estabilidade
longo prazo devido às mudanças imprimidas ao meio rural
nas últimas décadas, especialmente naquelas regiões
“globalizáveis”. No meio urbano, os jovens têm diante de si
um mercado de trabalho maior e diversificado, porém sua
inserção não é facilitada pela condição urbana. A
concorrência também é mais acirrada e a flexibilização do
mercado faz com que os jovens, em geral, obtenham
4 A forma como os dados do Instituto Souza Cruz foram disponibilizados não nos permite correlacionar o pessimismo com o grau de escolaridade dos jovens entrevistados. Assim que uma série de possibilidades de análise (de regressão, de fator etc) não teve lugar nesse estudo.
subempregos de alta rotatividade. A precariedade desta zona
imprime nos jovens um sentimento de incerteza que pode
ser traduzido num sentimento de exclusão independente da
sua geografia (rural ou urbana).
Considerações finais
A questão da exclusão vem suscitando controvérsias,
principalmente, devido à sua intransparência teórica. Sob o
termo “excluído” se entende, geralmente, quem está fora do
mercado de trabalho e sem condições de competir e
consumir. No meio urbano, percebe-se que muitos deles
formam um grupo que poderíamos chamar dos “excluídos”
do interior. Trata-se daqueles com origem na hinterlândia,
mas que não encontraram uma ocupação e, por conseguinte,
um reconhecimento social nem no meio rural nem no
urbano. A modernização da agricultura no país tem
imprimido mudanças no meio rural. Sua alteração serviu
para estudos que retomam certos conceitos como o
“rururbano” ou que sugerem um novo paradigma para o
chamado “novo rural”. Nesse sentido, a escolarização se
tornou um imperativo às populações rurais e a erradicação
do trabalho infantil um cavalo-de-batalha de certas empresas
envolvidas com a agricultura. Entre elas, destaca-se o pool
de empresas ligadas à agro-indústria do fumo no Brasil
meridional.
A modernização imposta por essas empresas não
significa a abolição total das práticas tradicionais. O trabalho
infanto-juvenil é uma práxis a qual se busca erradicar.
Presente nas pequenas famílias de agricultores inseridas na
cadeia produtiva da fumicultura no Brasil meridional, ele faz
parte de uma lógica de reprodução social. Neste sentido,
erradicar o trabalho infantil e juvenil na fumicultura é alterar
não apenas as relações de trabalho na fumicultura, mas,
sobretudo, a própria orientação de valores dos fumicultores.
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Mas o programa “o futuro é agora”, ao buscar
erradicar o trabalho infanto-juvenil da fumicultura sem
atentar para os seus significados social no mundo rural,
econômico na agricultura familiar e cultural na área de
colonização alemã, pode comprometer o seu próprio sucesso.
A dúbia exclusão do trabalho infantil se torna explícita no
momento que se depara com o problema de condenação
simplista atribuído a todo trabalho infantil (real ou potencial),
ao generalizar a priori qualquer atividade laboral de crianças
e jovens como situação de risco para o seu desenvolvimento.
A interdição laboral promove um hiato na socialização dos
jovens rurais e contribui para uma perda de orientação e de
autoridade dos pais no que concerne ao encaminhamento
dos filhos às formas adaptativas da vida adulta.
A exclusão do jovem do interior é hoje não apenas
fruto da tradição do meio rural, mas também de sua
modernização. Modernização imposta de forma tecnocrática
que pouco contribuir para a ramificação das artérias
democráticas no campo tão importante para a oxigenação
das comunidades rurais. A erradicação do trabalho de
menores de 16 anos, tal como propõe o programa “o futuro é
agora”, não trás consigo alternativas inclusivas aos jovens do
interior que carecem de condições objetivas
(estabelecimento de ensino, meios de transporte,
professores etc) in loco para continuar seus estudos.
Conforme os próprios dados do Instituto Souza Cruz, uma
“maior valorização do produto” e “maior incentivo à produção
agrícola” poderiam igualmente evitar a exclusão do interior
daqueles seus elementos mais dinâmicos, ou seja, os jovens.
Desse modo, o aumento do ganho real com a fumicultura
poderia ser a melhor forma de liberar os braços de menores
de 16 anos, fazendo essa prática diminuir até se tornar, onde
ainda prevalecer, apenas um anacronismo cultural. Caso
contrário, ela continuará não apenas tendo validade na
peasant culture como, principalmente, sentido econômico.
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